relações raciais: referencias técnicas para a prática da(o) psicóloga(o)

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Conselho Federal de Psicologia Referências técnicas para Prática de Psicólogas(os) em políticas publicas de relações racias / Conselho Federal de Psicologia. - Brasília: CFP, 2013. p.58 ISBN: 9788589208673 1. Psicólogos 2. Políticas Públicas 3. Relações raciais, racismo institucional.

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Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.

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CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA

Centro de Referências Técnicas em Psicologia e Políticas Públicas

Comissão de elaboração

Marilda Castelar Conselheira Federal Responsável

Especialistas

Ana Luísa de Araújo Dias Cecilia Maria Vieira

Clélia Prestes Zerbini Lia Vainer Schucman

Maria Aparecida Silva Bento Maria Lúcia da Silva

Elisabete Figueroa dos Santos Willivane Ferreira de Melo Luciene da silva Lacerda

Colaboradoras

Eliane Costa Glória Maria Machado Pimentel Mateus de Castro Castelluccio

Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática da(o) Psicóloga(o)

Brasília, Dezembro de 2013

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Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.

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É permitida a reprodução desta publicação, desde que sem alterações e citada a fonte. Disponível

também em: www.cfp.org.br e em crepop.pol.org.br

1ª edição – 2013

Projeto Gráfico –

Diagramação –

Revisão – Liberdade de Expressão

Coordenação Geral/ CFP

Yvone Magalhães Duarte

Coordenação de Comunicação Social

Fernanda de Araújo Mendes

André Almeida (Editoração)

Equipe Técnica do Crepop/CFP

Monalisa Barros e Márcia Mansur Saadalah /Conselheiras responsáveis

Natasha Ramos Reis da Fonseca/Coordenadora Técnica

Klebiston Tchavo dos Reis Ferreira /Assistente administrativo

Equipe Técnica/CRPs

Renata Leporace Farret (CRP 01 – DF), Thelma Torres (CRP 02 – PE), Glória Pimentel(CRP 03 –

BA), Luciana Franco de Assis e Leiliana Sousa (CRP04 – MG), Fernada Haikal (CRP 05 – RJ),

Edson Ferreira (CRP 06 – SP), Carolina dos Reis (CRP 07 – RS), Ana Inês Souza (CRP 08 – PR),

Marlene Barbaresco (CRP09 – GO/TO), Letícia Maria S. Palheta (CRP 10 – PA/AP), Djanira Luiza

Martins de Sousa (CRP11 – CE/PI/MA), Juliana Ried (CRP 12 – SC), Katiúska Araújo Duarte (CRP

13 – PB), Keila de Oliveira (CRP14 – MS), Eduardo Augusto de Almeida (CRP15 – AL), Patrícia

Mattos Caldeira Brant Littig (CRP16 – ES), Zilanda Pereira de Lima (CRP17 – RN), Fabiana Tozi

Vieira (CRP18 – MT), Lidiane de Melo Drapala (CRP19 – SE), Vanessa Miranda (CRP20 –

AM/RR/RO/AC)

Referências bibliográficas conforme ABNT NBR 6022, de 2003, 6023, de 2002, 6029, de 2006 e

10520, de 2002.

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Direitos para esta edição – Conselho Federal de Psicologia: SAF/SUL Quadra 2,Bloco B, Edifício

Via Office, térreo, sala 104, 70070-600, Brasília-DF

(61) 2109-0107 /E-mail: [email protected] /www.cfp.org.br

Impresso no Brasil – Dezembro de 2013

Catalogação na publicação

Biblioteca Dante Moreira Leite

Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo

Conselho Federal de Psicologia

Referências técnicas para Prática de Psicólogas(os) em políticas publicas de relações racias /

Conselho Federal de Psicologia. - Brasília: CFP, 2013.

p.58

ISBN: 9788589208673

1. Psicólogos 2. Políticas Públicas 3. Relações raciais, racismo institucional

I. Título.

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Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.

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XV Plenário

Gestão 2011-2013

Diretoria

Aluízio Lopes de Brito – Presidente

Humberto Cota Verona – Presidente licenciado

Deise Maria do Nascimento – Secretária

Monalisa Nascimento dos Santos Barros – Tesoureira

Conselheiros efetivos

Ana Luiza de Souza Castro

Secretária Região Sul

Flávia Cristina Silveira Lemos

Secretária Região Norte

Heloiza Helena Mendonça A. Massanaro

Secretária Região Centro-Oeste

Marilda Castelar

Secretário Região Nordeste

Marilene Proença Rebello de Souza

Secretária Região Sudeste

Clara Goldman Ribemboim – Vice-presidente

Conselheiros suplentes

Celso Francisco Tondin

Henrique José Leal Ferreira Rodrigues

Maria Ermínia Ciliberti

Sandra Maria Francisco de Amorim

Tânia Suely Azevedo Brasileiro

Roseli Goffman

Conselheiros suplentes

Angela Maria Pires Caniato

Márcia Mansur Saadallah

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Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.

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Conselheiros responsáveis:

Conselho Federal de Psicologia:

Márcia Mansur Saadalah e Monalisa Nascimento dos Santos Barrros

CRPs

Wagner Gonçalves Saltorato (CRP 01 – DF), Laís de Souza Monteiro (CRP 02 –PE), Denise Viana

Silva/ Verena Souza Souto (CRP 03 – BA), Marcus Macedo da Silva (CRP04 – MG), Analícia

Martins de Sousa (CRP 05 – RJ), Maria Ermínia Ciliberti (CRP 06 – SP), Alexandra Ximendes

(CRP 07 – RS), Liliane Ocalxuk (CRP 08 – PR), Wadson Arantes Gama (CRP 09 – GO), Maria

Eunice Figueiredo Guedes (CRP 10 – PA/AP), Aluisio Ferreira de Lima (CRP 11 – CE), Ana Maria

Pereira Lopes Lopes (CRP 12 – SC), Carla de Sant’ana Brandão Costa (CRP 13 – PB), Zaira de

Andrade Lopes (CRP14 – MS), Laeuza Farias (CRP15 – AL), Andrea dos Santos Nascimento/

Karina de Andrade Fonseca (CRP16 – ES), Julianne de Souza Soares (CRP17 – RN), Marisa

Helena Alves (CRP18 – MT) André Luiz Mandarino Borges (CRP19 – SE), Selma de Jesus Cobra

(CRP20 – AM/RR/RO/AC), Palônia Andrade Arrais (CRP21—PI), Jaqueline Lopes Teixeira

(CRP22—MA) e Jaqueline Medeiros Silva Calafate (CRP23 –TO)

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Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.

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APRESENTAÇÃO

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) apresenta à categoria e à sociedade o

documento Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática das (os) psicólogas

(os), produzido a partir do terceiro circuito1 da metodologia do Centro de Referência

Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (Crepop). Essa referência foi construída com

base nos princípios éticos e políticos norteadores do trabalho das (os) psicólogas (os) e

nos elementos sensíveis que perpassavam as desigualdades raciais no Brasil na

atualidade. A proposta desse documento é instalar uma reflexão sobre a atuação e

compromissos da Psicologia no campo das relações raciais e mais especificamente do

sofrimento psíquico oriundo do racismo presente na sociedade brasileira, partindo da

elaboração de diretrizes compartilhadas e legitimadas pela participação crítica da

categoria a partir de suas contribuições.

A presente referência reflete o processo de diálogo que os Conselhos vêm

construindo com a categoria, o movimento negro e a sociedade em suas diversas esferas

de manifestação, no sentido de se legitimar como instância reguladora do exercício

profissional. Por meios cada vez mais democráticos, esse diálogo tem se pautado por

uma política de reconhecimento mútuo entre os profissionais e pela construção coletiva

de uma plataforma profissional que seja também ética e política. Neste sentido, esta

publicação marca mais um passo no movimento de aproximação da Psicologia no campo

das Recentes Políticas de Promoção da Igualdade Racial.

A priorização da produção de referências para atuação profissional de psicólogas

(os) surgiu a partir de uma demanda da categoria, observada no VII Congresso Nacional

de Psicologia-CNP, realizado em 2007 que sugeriu o tema para pesquisa no Crepop, no

intuito de mapear as experiências de atuação de psicólogas (os) já existentes e realizar

pesquisas acerca da presença e atuação de psicólogas (os) nas políticas públicas

dirigidas a este seguimento historicamente excluído em nossa sociedade. O Crepop após

investigar as políticas de promoção da igualdade racial, com a participação potencializada

de psicólogas (os) organizadoras (res) do I PSINEP, I Encontro Nacional de Psicólogas

(os) Negras (os) e Pesquisadoras (res) e, ao mesmo tempo a fim de incentivar a

1 O terceiro circuito consiste no processo de elaboração de referências técnicas, específicas para cada área investigada

com a participação de uma equipe Ah-doc. As referências produzidas devem considerar a realidade da prática apresentada pela investigação, mas também proporcionar o reconhecimento do melhor que pode ser feito pelos psicólogos, na direção do estabelecimento de pactos da categoria sobre o seu fazer.

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discussão com a categoria, o Sistema Conselhos opta por produzir uma Referência

Técnica para a prática da Psicologia no campo das Relações raciais e das recentes

Políticas Públicas de Promoção da Igualdade Racial que se iniciam de forma mais

contundente apenas do século XXI, retomando uma etapa da metodologia do Crepop, já

antes utilizada de convocação de uma comissão Ah-doc com psicólogas (os) e

especialistas que possuem relevante contribuição nesta pauta. Espera-se contribuições

da categoria a partir de suas vivencias sugestões de formas de atuação para o

enfrentamento do racismo, nos mais diversos campos de atuação profissional.

Dessa forma, mantemos o compromisso do Conselho Federal e dos Regionais de

Psicologia ao abordar tema tão complexo e relevante para o país, de forma a qualificar

as(os) psicólogas(os) em todos os seus espaços de atuação.

ALUÍZIO LOPES DE BRITO

Presidente do Conselho Federal de Psicologia

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Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.

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INTRODUÇÃO

O Crepop – Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas -

O Crepop consiste em uma ação do Sistema Conselhos de Psicologia que dá

continuidade ao projeto Banco Social de Serviços em Psicologia, referindo-se a uma nova

etapa na construção da presença social da profissão de psicóloga (o) no Brasil.

Constituiu-se em uma maneira de observar a atuação da (o) psicóloga (o) e do movimento

da Psicologia no seu protagonismo social.

Nesse sentido, a ideia fundamental é produzir informação qualificada para que o

Sistema Conselhos possa implementar novas propostas de articulação política visando a

maior reflexão e elaboração de políticas públicas que valorizem o cidadão enquanto

sujeito de direitos, além de orientar a categoria sobre os princípios éticos e democráticos

para cada política pública.

Dessa forma, o objetivo central do Crepop se constituiu para garantir que esse

compromisso social seja ampliado no aspecto da participação das (os) psicólogas (os)

nas políticas públicas.

Entre as metas do Crepop, estão, também, a ampliação da atuação da (o)

psicóloga (o) na esfera pública, contribuindo para a expansão da Psicologia na sociedade

e para a promoção dos Direitos Humanos, bem como a sistematização e a disseminação

do conhecimento da Psicologia e suas práticas nas políticas públicas, oferecendo

referências para atuação profissional nesse campo.

Cabe também ao Crepop identificar oportunidades estratégicas de participação da

Psicologia nas políticas públicas, além de promover a interlocução da Psicologia com

espaços de formulação, gestão e execução em políticas públicas.

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Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.

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Objetivo e Metodologia

O conjunto de ações em pesquisa desenvolvidas pelo Sistema Conselhos de

Psicologia, por meio do Crepop, está organizado a partir da diretriz Investigação

Permanente em Psicologia e Políticas Públicas, que consiste em pesquisar nacionalmente

o fazer das (os) psicólogas (os) diante das especificidades regionais.

A proposta de investigar a atuação de psicólogas (os) em políticas públicas

específicas visa a apreender sobre a prática profissional da (o) psicóloga (o). Todas as

áreas são eleitas a partir de critérios como: tradição na Psicologia; abrangência territorial;

existência de marcos lógicos e legais e o caráter social ou emergencial dos serviços

prestados.

A indicação para pesquisar através do Crepop a presença e as experiências de

psicólogas (os) nas políticas públicas de relações raciais como área de atuação

profissional de psicólogas (os) surgiu a partir de uma demanda da categoria observada no

VII CNP, realizado em 2010. Esse tema emergiu junto a tantos outros que apontavam

para o Sistema Conselhos a necessidade de maior qualificação e orientação para a

prática nos serviços públicos.

Um importante marco da preocupação do Sistema Conselhos com esta atuação é a

Resolução do CFP N º18/2002 que estabelece normas de atuação para psicólogas (os)

em relação ao preconceito e à discriminação racial.

Esse tema, entretanto, é emergente na Psicologia e ainda não tem políticas que

definam de forma explicita a atuação da (o) psicóloga (o). Sendo assim, este documento

foi produzido de acordo com a metodologia de elaboração de referências técnicas para

temas emergentes a partir de marcos lógicos legais das políticas já instituídas e da

reconhecida contribuição dos especialistas no campo das práticas psicológicas referente

às relações étnicas e raciais.

A proposta do Crepop de construir referência para atuação da Psicologia no campo

das políticas públicas relativas às relações raciais vem corroborar o fazer específico de

nossa profissão, dialogar com aqueles que historicamente foram excluídos e também

busca oferecer subsídios para que se reflita acerca do tema. Apontando as contradições

da Psicologia como uma ciência e que, por muito tempo, seja pela invisibilidade, ou seja,

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pela cumplicidade, manteve-se alheia aos processos de exclusão e sofrimento psíquico

da população negra e afrodescendente brasileira.

Processo de Elaboração de Referência Técnica

Os Documentos de Referência são recursos que o Conselho Federal de Psicologia

oferece às (aos) psicólogas (os) que atuam no âmbito das políticas públicas como auxílio

para qualificação e orientação de sua prática profissional. Sua redação é elaborada por

uma Comissão Ad-hoc composta por um grupo de especialistas reconhecidos por suas

qualificações técnicas e científicas, por um conselheiro do CFP, mais um conselheiro do

Comitê Consultivo e uma (um) técnica (o) do Crepop. O convite aos especialistas é feito

pelo CFP e não implica remuneração, sobretudo, porque muitos desses são profissionais

que já vêm trabalhando na organização de política pública específica e recebem a

convocação como uma oportunidade de intervirem na organização da sua área de

atuação e pesquisa.

Nessa perspectiva, espera-se que esse processo de elaboração de referências

técnicas reflita a realidade da prática profissional e permita também que o trabalho que

vem sendo desenvolvido de modo pioneiro por muitas (os) psicólogas (os) possa ser

compartilhado, criticado e aprimorado, para uma maior qualificação da prática psicológica

no âmbito das Políticas Públicas (CFP, 2012).

Para construir as Referências Técnicas para Atuação da Psicologia no Campo das

Políticas Públicas de Relações Raciais, foi formada uma Comissão em 2011 com um

grupo de especialistas indicadas pelos plenários dos Conselhos Regionais de Psicologia e

pelo plenário do Conselho Federal. Assim, essa Comissão foi composta por especialistas

que voluntariamente buscaram qualificar a discussão sobre a atuação das (os) psicólogas

(os) neste campo.

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Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.

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O Processo de Consulta Pública

A metodologia de elaboração de referências do Sistema Conselhos de

Psicologia/Rede Crepop utiliza o processo de consulta pública como uma etapa do

processo de referenciação e qualificação da prática profissional das (os) psicólogas (os)

em políticas públicas.

A Consulta Pública é um sistema utilizado em várias instâncias, inclusive

governamentais, com o objetivo de auxiliar na elaboração e coleta de opiniões da

sociedade sobre temas relevantes. Esse sistema articula representatividade e sociedade,

trazendo novas contribuições para formulação e definição de políticas públicas. O sistema

de consulta pública amplia a discussão da coisa pública, coletando de forma fácil, ágil e

com baixo custo às proposições da sociedade.

Para o Conselho Federal de Psicologia, o mecanismo de Consultas Públicas se

mostra útil por colher contribuições, tanto de setores especializados quanto da sociedade

em geral e, sobretudo, das (os) psicólogas (os), sobre as políticas e os documentos que

irão orientar as diversas práticas da Psicologia nas Políticas Públicas.

Para o Sistema Conselhos de Psicologia/Rede Crepop, a ferramenta de consulta

pública abre a possibilidade de ampla discussão sobre a atuação da Psicologia no campo

das políticas públicas de Relações Raciais, permitindo a participação e contribuição de

toda a categoria na construção sobre esse fazer da (o) psicóloga (o). Por meio da

consulta pública, o processo de elaboração do documento torna-se democrático e

transparente para a categoria e toda a sociedade.

Deste modo, faz-se urgente que as (os) psicólogas (os), entendendo a Psicologia,

enquanto ciência e profissão reflitam e posicionem-se a respeito dessa demanda

recorrente da população negra e afrodescendente. Para, não só, aprofundar seu

conhecimento sobre as questões étnicas e raciais, mas também para produzir um saber

embasado na realidade social e cultural desse seguimento social.

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Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.

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EIXO 1: DIMENSÃO ÉTICO-POLÍTICO-JURÍDICA DA TEMÁTICA ESPECÍFICA EM FOCO

Compreender as relações raciais no Brasil exige contextualizar e historicizar quais

são os processos sociais, culturais, jurídicos, éticos e políticos que construíram a

sociedade brasileira e caracterizam, sobretudo, suas disparidades, desigualdades e

contradições, principalmente aquelas estabelecidas a partir da cor e/ou raça.

1. Reconhecer o problema para pensar a intervenção: O Racismo Enquanto Fato

Social

Ao discutir o racismo a partir da noção de fato social, diz-se deste, maneiras de ser

estabelecidas, ou habituadas na sociedade que afetam as ações dos sujeitos. Além de,

apresentar, como característica própria, a existência fora das consciências individuais,

são exteriores ao indivíduo, bem como se impõem a ele, independentemente da sua

vontade. Evidenciando-se frente às tentativas de se opor e resistir às forças coercitivas

(DURKHEIM, 1995).

É na resistência às convenções sociais que se torna perceptível o imperativo social

implícito nas atitudes que se tem no dia a dia. Ao perceber-se sendo discriminado,

penalizado ou apontado por um posicionamento diferente do estabelecido,

convencionado. A coerção deixa de ser sentida na habituação às convenções, quando

elas passam a ser naturalizadas nas relações sociais (DURKHEIM, 1995).

Diante de um posicionamento declarado contra o racismo, é possível que logo

manifestem questionamentos diversos acerca da conduta caracterizada como racista.

Invariavelmente, justifica-se a atitude racista por outras questões que não o preconceito e

a discriminação racial, talvez numa tentativa de que tal caracterização não seja repetida,

mantendo-se assim, a crença de que o racismo não existe ao evitar falar do assunto

(DOMINGOS, 2005; MUNANGA, 2008).

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Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.

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Em busca de considerar o conceito de racismo, numa perspectiva mais sociológica,

entende-se por este:

Uma ideologia essencialista que postula a divisão da humanidade em grandes

grupos chamados raças contrastadas que têm características físicas hereditárias

comuns, sendo estes últimos suportes das características psicológicas, morais,

intelectuais e estéticas e se situam numa escala de valores desiguais. Visto deste

ponto de vista, o racismo é uma crença na existência das raças naturalmente

hierarquizadas... (MUNANGA, 2003, p.6,7)

Dessa maneira, sempre existiriam raças superiores e inferiores. O estabelecimento

de critérios de elegibilidade para essa superioridade ou inferioridade pode ser arbitrário,

influenciado pelas dinâmicas sociais, culturais, econômicas e também históricas (LOPES,

2008).

Nas concepções de raça e etnia, que abrangem o aspecto social, Raça ―refere-se a

um conjunto de ascendentes e descendentes de uma família ou de um povo, os quais

conservam, por disposições hereditárias, caracteres físicos, culturais, ou outros,

semelhantes.‖ Diz-se de etnia, "um grupo ou categoria de pessoas conectadas por uma

origem comum" (ALGARVE, 2004, p.19).

Dessa forma, constata-se que a ideia de democracia racial se institucionalizou nos

contextos social, econômico e cultural da sociedade brasileira. Esta contribui para a

produção de representações sociais sobre uma convivência harmoniosa entre brancas

(os) e negras (os), ambos desfrutando de iguais oportunidades de existência. Contudo,

essas representações são puramente ideológicas, a serviço da manutenção de uma

lógica social excludente que impossibilita o tratamento adequado de problemas sociais

oriundos das relações raciais no Brasil (DOMINGOS, 2005; MUNANGA, 2008).

A crença da inferioridade das raças está enraizada na população e qualquer ação

que vai de encontro a essa crença é repreendida, como por exemplo, o número de negras

(os) na universidade que é inversamente proporcional a seu quantitativo populacional. Ao

tentar se atribuir essa realidade ao racismo surgem teorias, baseadas em casos isolados,

de que isso não é um problema social, pois, existiriam pessoas que não aptas para entrar

na universidade. Do mesmo modo, diante dos programas governamentais de reparação,

por exemplo, alguns segmentos da população logo reagem dizendo que as cotas irão

diminuir a qualidade das (os) profissionais formados, entretanto os estudos realizados por

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Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.

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universidades que adotaram o programa de cotas apontam o contrário (MACHADO,

2004).

Assim, o racismo é um fenômeno complexo e pode ser percebido na sociedade de

maneira mais evidente por meio das práticas discriminatórias. Estes modelos de pensar e

agir estão postos na sociedade de maneira convencional, coercitiva, de modo que negras

(os) e brancas (os) apresentam condutas que alimentam no imaginário social a

representação de superioridade entre as raças, sendo destinado a (o) negra (o) menor

importância ou valor dentro da sociedade. E, para além das atitudes preconceituosas,

com as quais o indivíduo lida constantemente, existem também os preconceitos que já

foram internalizados e não mais percebidos, como é o caso dos estigmas e estereótipos a

respeito da pessoa negra (TRINDADE; ACEVEDO, 2010).

Os estereótipos podem ser concebidos como crenças generalizadas, que, não

necessariamente têm fundamento na realidade, contudo, são resistentes a novas

informações, referem-se aos atributos pessoais de um grupo de pessoas e teriam como

função simplificar a maneira pela qual o mundo é interpretado. Ademais, o estigma pode

ser produto na sociedade da ação dos preconceitos e estereótipos sobre determinado

grupo (INSTITUTO AMMA PSIQUE e NEGRITUDE, 2008; MYERS, 2000).

Sobre preconceito, é possível compreender seu conceito já a partir da etimologia

da palavra que:

... do latim prae, antes, e conceptu, conceito, este termo pode ser definido como o

conjunto de crenças e valores apreendidos que levam um indivíduo ou um grupo

a nutrir opiniões a favor ou contra os membros de determinados grupos, antes de

uma efetiva experiência com estes (CASHMORE2, 2000,p.196 apud ALGARVE,

2004, p.24)

Entende-se por estigma:

Um atributo que constantemente provoca descrédito sobre um indivíduo a tal

ponto de reduzi-lo e fragmentá-lo [...] carregam ou estão geralmente associados a

diversos aspectos de caráter negativo [...] são criações sociais que se originam

de atitudes carregadas de pré-conceitos de pessoas de um grupo sobre o outro...

(TRINDADE; ACEVEDO, 2010, p.56)

2 CASHMORE, E. Dicionário de Relações Étnicas e Raciais. São Paulo: Summus, 2000.

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Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.

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A definição destes conceitos se faz necessária, pois, tal compreensão é

fundamental para a discussão acerca da questão racial no Brasil, tratada a seguir. E em

virtude da proposta deste guia de referência para atuação de psicólogas (os) nas políticas

de promoção da igualdade racial.

2. Movimentos Sociais e a Psicologia no Contexto das Relações Raciais Brasileira

Vale lembrar que, no Brasil, há mais negras (os) que não negras (os). No censo de

2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o percentual de

pessoas que se definiram como negras e pardas superou o de quem se autodeclarou

como branca: 50,7% e 47,7%, respectivamente. Não se trata, portanto, de uma minoria ou

de um segmento: estamos falando da população majoritária de um país.

A sociedade brasileira, especificamente entre as décadas de 1980 e 1990,

mobilizou-se e, por meio dos movimentos sociais, passou a exigir do Estado brasileiro a

criação e implementação de políticas públicas de atenção para todos os grupos

historicamente discriminados no país. Assim, os movimentos sociais proporcionaram à

sociedade a oportunidade de se organizar por novas demandas (GONH, 2002). Na forma

de um debate, estabeleceu-se, por meio desses movimentos, uma nova pauta com novos

espaços de discussão para a promoção e a defesa dos direitos humanos.

Parte dessas demandas foi absorvida pelo Movimento Negro no Brasil mesmo

antes de seu surgimento oficial no século XIX, enquanto representação da resistência

das(os) negras(os) na Pós-Abolição. Porém, somente recentemente, no século XXI, os

resultados do movimento passaram a influenciar as(os) profissionais da Psicologia e, na

atualidade, o tema ascende na Psicologia, que ganha um pouco mais de abertura para

colocar seu conhecimento cientifico e seus serviços à disposição da reflexão sobre as

Relações Raciais no Brasil, em especial, sobre o racismo ou ao que se convencionou

chamar de racismo institucional.

O termo - racismo institucional - foi cunhado e divulgado pelos ativistas integrantes

do grupo Panteras Negras StokelyCarmichael e Charles Hamilton em 1967. Define-se por

ser um racismo sistêmico, pois se constitui como um mecanismo estrutural que garante a

exclusão seletiva dos grupos racialmente subordinados - negros, indígenas, ciganos, para

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Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.

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citar a realidade latino-americana e brasileira da diáspora africana - atuando como

alavanca importante da exclusão diferenciada de diferentes sujeitos nesses grupos.

(BRASIL, Seppir, 2013)

Trata-se da forma estratégica como o racismo garante a apropriação dos resultados positivos da produção de riquezas pelos segmentos raciais privilegiados na sociedade, ao mesmo tempo em que ajuda a manter a fragmentação da distribuição destes resultados no seu interior. O racismo institucional ou sistêmico opera de forma a induzir, manter e condicionar a organização e a ação do Estado, suas instituições e políticas públicas – atuando também nas instituições privadas, produzindo e reproduzindo a hierarquia racial. (BRASIL, SEPPIR, 2013)

A prática de racismo institucional pode ser considerada, na atualidade, a principal

responsável pelas violações de direitos das (os) negras (os) e afrodescendentes.

Praticada em estruturas públicas e privadas do país, essa prática é marcada pelo

tratamento diferenciado, desigual, parco com negras (os) e afrodescendentes em políticas

como a de educação, trabalho e segurança pública e também nos meios de comunicação

brasileiros.

Assim, desde sempre, enfrentar o racismo de forma sistemática é central para que

o desenvolvimento do Brasil não se dê sem a conquista de fato da democracia racial.

3. A política Nacional de Promoção da Igualdade Racial

O Governo Federal, por meio da Medida Provisória Nº111/2003, convertida na lei

nº 10.678/03, criou a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial –

SEPPIR com status de Ministério, e instituiu a Política Nacional de Promoção da

Igualdade Racial. Considerada a primeira resposta efetiva oferecida por um governo a

uma antiga reivindicação do Movimento Negro, no sentido de implementação de uma

política específica, foi baseada, dentre outros instrumentos, na Convenção Internacional

sobre Eliminação de todas as formas de Discriminação, da Assembléia Geral das Nações

Unidas, de 1965; no Documento Brasil sem Racismo, elaborado para o programa de

governo do Partido dos Trabalhadores - PT no ano de 2002; e no Plano de Ação de

Durban, produto da III Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial,

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Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.

18

Xenofobia e Intolerância Correlata, ocorrida na cidade de Durban – África do Sul, em

2001.

Trata-se de uma política transversal e intersetorial, que mobiliza, além dos diversos

órgãos públicos, a sociedade civil e o setor empresarial. Sendo assim, foi elaborada

baseada em seis linhas de ação, a saber: Implementação de um modelo de gestão da

política de promoção da igualdade racial, com a preocupação de capacitar gestores e

lideranças de movimentos sociais e fortalecimento institucional da política e

aperfeiçoamento dos marcos legais; Apoio às comunidades remanescentes de quilombos,

visando o desenvolvimento das comunidades; Ações Afirmativas, referente ao incentivo a

adoção de ações afirmativas por empresas e universidades; Desenvolvimento e inclusão

social, buscando introduzir o recorte racial nos programas governamentais; Relações

Internacionais, de modo a estimular aproximação com países africanos e/ou com países

de alto contingente populacional afrodescendente; e, por fim, a Produção de

Conhecimento.

Para além das ações vinculadas diretamente a SEPPIR, outras ações e programas

ressaltam o caráter intersetorial da política, por exemplo:

A Cor da Cultura - projeto educativo de valorização da cultura afro-brasileira por

meio de programas audiovisuais. Parceria entre o Ministério da Educação e Cultura

(MEC), Fundação Cultural Palmares (FCP), Canal Futura, Petrobrás e Centro de

Informação e Documentação do Artista Negro (CIDAN). Iniciado em 2004, o projeto está

apoiado na Lei 10.639/03, que estabelece o ensino da história da África e das (os) negras

(os) nas escolas brasileiras;

Saúde da População Negra - Em 2009, através da Portaria nº992, o Ministério da

Saúde (MS) instituiu a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. Entre as

diretrizes da Portaria estão a inclusão dos temas Racismo e Saúde da População Negra

nos processos de formação e educação permanente das (os) trabalhadoras (es) da saúde

e no exercício do controle social da saúde; e o reconhecimento dos saberes e práticas

populares de saúde, incluindo aqueles preservados por religiões de matrizes africanas;

Planseq Afro-descendente – Plano Setorial de Qualificação, uma ação do

Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), oferece a oportunidade de qualificação para o

exercício de profissões, aprendizagem sobre a teoria e aplicação da Consolidação das

Leis Trabalhistas (CLT), os princípios de Segurança no Trabalho e Noções de Cidadania.

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Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.

19

Tem foco em cinco eixos do setor de serviços: curso de operadora (or) de telemarketing,

consultora (or) de vendas, recepcionista, promotora (or) de vendas e cuidados de pessoas

com anemia falciforme;

Planseq -Trabalho Doméstico e Cidadão (TDC) :Desenvolvido em parceria entre

a SEPPIR o MTE e a Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas, trata-se da

primeira iniciativa de governo exclusivamente voltada para a qualificação social e

profissional das (os) trabalhadoras (res) domésticas (os). Além de oferecer qualificação

social e profissional, o TDC abrange questões fundamentais para o exercício da cidadania,

como a elevação de escolaridade, o fortalecimento da auto-organização das (os)

trabalhadoras (res) domésticas (os) e o desenvolvimento de projetos para intervenção em

políticas públicas.

PIBIC Ações Afirmativas – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica

(PIBIC). O Ministério da Ciência e Tecnologia, através do Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) assinou, em 2009, um acordo de

cooperação com a SEPPIR para a distribuição de bolsas a alunos que entraram nas

universidades públicas através do sistema de ações afirmativas. O objetivo é estimular a

renovação acadêmica e enfrentar a evasão escolar.

Programa Brasil Quilombola (PBQ): a partir do Decreto Nº 6.261/2007 reúne

ações do governo federal para as comunidades remanescentes de quilombos. As metas e

recursos do PBQ envolvem 23 ministérios e órgãos federais. Dentre as principais

realizações estão: Regularização Fundiária, Certificação, Luz para Todos, Bolsa Família,

Desenvolvimento local, Desenvolvimento agrário.

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Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.

20

4. Alguns Marcos Lógicos, Legais e outros Documentos

Marcos Lógicos

Nº PUBLICAÇÃO ANO EMENTA / LINK

01

Mapa da

População

Negra

2000

Estudos sociodemográficos e análises espaciais referentes aos municípios com a

existência de comunidades remanescentes de quilombos. Confira também o mapa da

distribuição espacial da população segundo cor ou raça- Pretos e Pardos – 2000.

LINK: http://www.seppir.gov.br/publicacoes/mapaibge.pdf

02 Declaração

de Durban 2001

Declaração e Programa de Ação adotados na III Conferência Mundial de Combate ao

Racismo, Discriminação Racial, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata.

Serviu para reforçar o compromisso das nações em torno do cumprimento da Declaração

e Plano de Ação de Durban, com o revigoramento das ações e iniciativas e soluções

práticas no combate ao racismo.

LINK: http://www.inesc.org.br/biblioteca/legislacao/Declaracao_Durban.pdf/

03

Programa

Brasil

Quilombola

2004

Programa Brasil Quilombola, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da

Igualdade Racial – SEPPIR, que se constitui em uma política de Estado para atenção e

cuidado às áreas remanescentes de Quilombos.

LINK: http://www.seppir.gov.br/publicacoes/brasilquilombola_2004.pdf

04

Política

Nacional de

Saúde

Integral da

População

Negra

2007

Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, da Secretaria Especial de

Políticas de Promoção da Igualdade Racial – SEPPIR, que define os princípios, a marca,

os objetivos, as diretrizes, as estratégias e as responsabilidades de gestão, voltados para

a melhoria das condições de saúde desse segmento da população.

LINK:

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_saude_populacao_negra.pdf

05

Plano

Nacional de

Promoção da

Igualdade

Racial

(Planapir)

2009

Idealizado em 2005, com base nas propostas apresentadas na I Conferência Nacional de

Promoção da Igualdade Racial (Conapir), o Plano indica ao Estado as metas para

superar as desigualdades raciais existentes no Brasil, por meio da adoção de políticas de

ações afirmativas, associadas às políticas universais.

LINK: http://www.seppir.gov.br/planapir

06

Relatório de

Avaliação do

Plano

Plurianual

(PPA) 2008-

2011

2011

A contínua melhoria da qualidade de políticas públicas e sua efetividade junto à

sociedade é um princípio que eleva os desafios para a gestão pública e ressalta a

importância da avaliação da ação governamental. Nesse sentido, os resultados

apresentados no Relatório de Avaliação do PPA 2008 – 2011 devem ser debatidos, de

modo a permitir o avanço da democracia na interação entre o Estado e a sociedade.

LINK: http://www.cgu.gov.br/publicacoes/AvaliacaoPPA/index.asp

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Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.

21

Marcos Legais

Nº PUBLICAÇÃO ANO EMENTA / LINK

01 Decreto nº

65.810 1969

Promulga a Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial.

LINK: http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=94836

02

Constituição

da República

Federativa do

Brasil

1988 Art. 5º da Constituição Federal: Decreta a prática do racismo como crime inafiançável e imprescritível.

LINK: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm

03

Constituição

da República

Federativa do

Brasil

1988

Art. 68 ADCT (Ato das Disposições Constitucionais Transitórias) da Constituição Federal: Garante às comunidades remanescentes de quilombos o título definitivo das terras que ocupam.

LINK: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm#adct

04 Lei nº 7.716 1989

Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor.

LINK1: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7716.htm

LINK2: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/Mensagem_Veto/anterior_98/VEP-LEI-7716-1989.pdf

05 Lei nº 9.459 1997

Altera os arts. 1º e 20 da Lei nº 7.716, de 5 de Janeiro de 1989, que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, e acrescenta parágrafo no art. 140 do decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940.

LINK: http://www.palmares.gov.br/wp-content/uploads/2010/11/legis04.pdf

06 Lei nº 10.639 2003 Inclui nas Diretrizes e Bases da Educação Nacional a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira" no currículo oficial da Rede de Ensino.

LINK: http://www.palmares.gov.br/wp-content/uploads/2010/11/legis05.pdf

07 Decreto nº

4.886 2003 Institui a Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial – PNPIR.

LINK: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2003/D4886.htm

08 Decreto nº

4.887 2003

Regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos Quilombos.

LINK: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2003/d4887.htm

09 Lei nº 10.678 2003 Cria a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, da Presidência da República, e dá outras providências.

LINK: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.678.htm

10

Decreto s/nº,

de 08 de

Novembro de

2005

2005

Institui o Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) para elaborar proposta de formulação do Plano Nacional de Políticas de Promoção de Igualdade Racial, e dá outras providências.

LINK: http://www.sintese.com/norma_integra.asp?id=2287

11 Decreto nº 2007 Institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais.

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Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.

22

6.040 LINK: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6040.htm

12 Decreto nº

6.261 2007

Dispõe sobre a gestão integrada para o desenvolvimento da Agenda Social Quilombola no âmbito do Programa Brasil Quilombolas, e dá outras providências.

LINK:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Decreto/ D6261.htm

13

Decreto de 7

de Novembro

de 2008

2008 Dá nova redação ao art. 1o do Decreto de 19 de outubro de 2007, que convoca a II Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial.

LINK:http://www.planalto.gov.br/ccivil03/Ato2007-2010/2008/Dnn/Dnn11824.htm

14 Decreto nº

6.509 2008

Dá nova redação a dispositivos do Decreto no 4.885, de 20 de novembro de 2003, que dispõe sobre a composição, estruturação, competências e funcionamento do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial - CNPIR, e dá outras providências. LINK:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6509.htm# art2

15 Decreto nº

6.872 2009

Cria o Plano Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Planapir). Após ser pactuado em praticamente todos os ministérios civis, sob a coordenação da Casa Civil e da Secretaria Adjunta da Seppir, o Planapir foi publicado em decreto do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

LINK:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D6872.htm

16 Lei nº 12.288 2010

Institui o Estatuto da Igualdade Racial. Altera as Leis nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989; nº 9.029, de 13 de abril de 1995; nº 7.347, de 24 de julho de 1985; e nº 10.778, de 24 de novembro de 2003.

LINK:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12288.htm

17 Lei nº 12.314 2010

Altera as Leis nº 10.683, de 28 de maio de 2003, que dispõe sobre a organização da Presidência da República e dos Ministérios; 8.745, de 9 de dezembro de 1993, que dispõe sobre a contratação por tempo determinado para atender à necessidade temporária de excepcional interesse público; e de 8.029, de 12 de abril de 1990, que dispõe sobre a extinção e dissolução de entidades da administração pública federal; revoga dispositivos da Lei nº 10.678, de 23 de maio de 2003; e dá outras providências.

LINK:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/ l12314.htm

18 Decreto nº

7.261 2010

Aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República, e dá outras providências.

LINK:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Decreto/D7261. htm

19 Lei nº 12.519 2011

Institui o dia 20 de novembro como Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra (BRASIL, 2011). O reconhecimento, em 2012, pelo Supremo Tribunal Federal (STF) como prática constitucional a adoção da política pública de cotas para negros nas universidades públicas brasileiras.

LINK:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12519.htm

20 Lei nº 12.391 2011

Inscreve no livro dos Heróis da Pátria os nomes dos heróis da “Revolta dos Búzios” - João de Deus do Nascimento, Lucas Dantas de Amorim Torres, Manoel Faustino Santos Lira e Luiz Gonzaga das Virgens e Veiga.

LINK:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12391.htm

21 Lei nº 12.735 2012 Tipifica condutas realizadas mediante uso de sistema eletrônico, digital ou similares, que sejam praticadas contra sistemas informatizados e similares; e dá outras providências.

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Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.

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LINK:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12735.htm

Resoluções

5. Serviços e Dispositivos

Tendo em vista o caráter intersetorial, Todas as ações da SEPPIR estão vinculadas a

outros programas e ministérios. Não havendo serviços específicos.

Apesar do número de ações efetivamente relacionados à política ser pequeno a

incorporação desta em outros setores é facilmente percebida, bem como a contribuição

da sociedade civil no incentivo e implementação das ações.

Entretanto, foram identificados núcleos, centros de estudo e pesquisa, alguns ligados

a universidades federais e estaduais, com atividade de estudo e produção de

conhecimento sobre a diversidade étnico-cultural.

Neste sentido é importante destacar o Encontro Nacional de Psicólogos (as)

Negros(as) e Pesquisadores - PSINEP, que a partir de articulações iniciadas,

oficialmente, no ano de 2008, um grupo de psicólogos (as), pesquisadores (as) da

temática racial e ativistas de organizações do movimento social brasileiro organizou o I

PSINEP ocorrido em outubro de 2010 e antes foram realizados seis encontros

preparatórios em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Goiás, Salvador, Brasília e São Paulo.

Nº PUBLICAÇÃO ANO EMENTA / LINK

01 Resolução

CFP n.º 18 2002

Estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação ao preconceito e à discriminação racial.

LINK: http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2002/12/ resolucao 2002_18.PDF

02 Resoluções

da II Conapir 2009

Propostas aprovadas durante a II Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial.

LINK: http://www.seppir.gov.br/publicacoes/iiconapir.pdf

03 Resoluções

da III Conapir

2013 Propostas aprovadas durante a III Conferência Nacional de

Promoção da Igualdade Racial.

LINK

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Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.

24

O Encontro contou com a adesão do Sistema Conselhos de Psicologia, apresentando

resultados significativos para a construção de estratégicas, ações e conhecimentos

acerca do impacto do racismo na construção da subjetividade dos brasileiros e rompendo

com as ideias superficiais na Psicologia sobre as relações raciais no Brasil. Deste modo,

e dando visibilidade ao papel da Psicologia para a concretização de uma sociedade justa

democrática e livre do racismo.

Um dos importantes desdobramentos deste encontro foi a criação da Articulação

Nacional de Psicólogas (os) Negras (os) e Pesquisadoras (es) de Relações Raciais e

Subjetividades – ANPSINEP, e tem como missão de ―Articular a produção de

conhecimento e a ação política, no campo da Psicologia, sobre o impacto do racismo na

construção das subjetividades e nas relações raciais”. E organizar outros encontros

nacionais, como o II PSINEP previsto para 2014.

6. Espaços para atuação de psicólogas (os):

Em relação à atuação da (o) psicóloga (o) é identificada, com raras exceções, uma

indefinição do fazer nestas políticas. Muitas (os) destas (es), apesar de realizarem

atividades propostas na Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial, nos espaços

de atuação, não visualizam o seu fazer como contemplando tais ações e sim como algo

que faz parte da rotina de trabalho considerando a realidade da população usuária dos

serviços públicos, na sua maioria afrodescendentes.

Não fica explicito, dentro dos programas, ações de intervenção social, mas sim, ações

de cunho estratégico, logo as (os) psicólogas (os) não estão alocados de forma definida

nos programas.

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Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.

25

6.1 Alguns aspectos importantes na atuação de psicólogas(os) nos campos tradicionais:

Saúde

O Sistema Único de Saúde (SUS) e a Reforma Psiquiátrica da Saúde Mental vêm

sendo constantemente ameaçados, por equipes descomprometidas com as reformas, e

lutas sociais históricas que os originaram. Na formação e na educação permanente dos

profissionais ―psi‖ o Plano Nacional de Saúde Integral da População Negra precisa ser

estudado e incorporado. A tarefa é identificar práticas, processos e métodos culturalmente

apropriados para a cura/tratamento da saúde da população negra – terapia pos-

colonialista. A categoria de análise cor/raça deve ser considerada como componente

importante dos determinantes sociais da saúde e o quesito cor/raça nos sistemas de

informação de saúde precisam ser tratados e estarem presentes na organização dos

serviços de saúde e nas ações de promoção e prevenção. (AKINYELA, 2002)

Educação

No contexto da educação brasileira temos a conquista da Lei 10.639 de 21 de

março de 2003 que torna obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira e

africana em todas as escolas públicas e particulares. Essa lei é acompanhada do Parecer

CNE/CP 003/2004 que orienta diretrizes nacionais para a educação das relações

etnicorraciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. Este Parecer

é um importante documento que foi redigido após ampla consulta nacional ao Movimento

Negro e contém conceitos importantes relacionados a políticas de reparação, de

reconhecimento e de valorização de ações afirmativas; e ao que significa educar para as

relações etnicorraciais, apresentando princípios para esta, sendo: consciência política e

histórica da diversidade, fortalecimento de identidades e de direitos, ações educativas de

combate ao racismo e a discriminações. Os profissionais ―psi‖ tem papel fundamental na

transformação destes processos educativos, pois eles estão intimamente relacionados à

identidade social e cultural do povo brasileiro como um todo.

Assistência Social

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Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.

26

O Sistema Único de Assistência Social (SUAS) foi construído olhando-se para o

SUS, é importante que os profissionais da Psicologia atuantes no SUAS estejam atentos

aos caminhos da política pública. Considerando a temática racial e/ou da população negra

e afrodescendente. Pois, é essa população, a (o) principal beneficiária (o) do sistema.

Psicólogas (os) que atuam nos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS), em

especial o CRAS Quilombola, os Centros de Referência da Assistência Social

Especializada (CREAS), com destaque para o CREAS População em situação de Rua,

precisam identificar (assim como vem fazendo a Educação e a Saúde) o perfil da

população atendida e organização do atendimento em consonância com a especificidade

desta.

Nas organizações/instituições/empresas

Embora as organizações/instituições/empresas proclamem suas intenções de não

discriminar; o que se entende é que é necessário criar procedimentos e normas

administrativas para prevenir a ocorrência da discriminação e promover ações que

busquem corrigir as desigualdades e garantir a igualdade de oportunidades e tratamento

no trabalho.

A (O) psicóloga (o) organizacional e do trabalho são figuras fundamentais neste

contexto, no sentido de que podem desenvolver um papel estratégico na promoção da

igualdade racial no trabalho já que frequentemente atuam como mediadores nas relações

que se estabelecem entre empregadoras (es) e trabalhadoras (es).

As recentes mudanças no mundo do trabalho, as novas formas de organização, a

reestruturação produtiva e a globalização colocam novos desafios para as instituições

ligadas ao mercado de trabalho, principalmente no que diz respeito a processos de

exclusão de grupos que se tornaram vulneráveis ao longo da história. No entanto,

prevalece ainda uma grande dificuldade para a abordagem das desigualdades raciais.

Não raro, o termo diversidade é utilizado pelas instituições do Estado e pelas (os)

empregadoras (es) para relativizar e evitar o enfrentamento da discriminação racial.

Assim, é fundamental focalizar, compreender e problematizar o trabalho da (o)

psicóloga (o) organizacional e do trabalho e no interior das organizações. Ademais, o

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Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.

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desafio do enfrentamento ao racismo institucional está posto às políticas públicas e

também à atuação da psicologia.

Contudo, fica o questionamento: como partir ao enfrentamento desse complexo

quadro? Como avançar concretamente na superação do racismo e das desigualdades

raciais? Como a atuação da Psicologia por meio da sua entrada cada vez maior nas

políticas públicas pode contribuir a esse processo?

Sem dúvida, há um grande desafio pela frente, mas que deve ser tomado como

elemento primordial na construção de uma sociedade mais justa e verdadeiramente

equânime.

EIXO 2: O RACISMO INSTITUCIONAL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS

1. O Racismo Na Sociedade Brasileira

O Brasil, última nação das Américas a abolir a escravidão, manteve o regime

escravocrata por mais de 300 anos em vigor usando a mão de obra das (os) negras (os)

trazidos do continente africano.

Estes uma vez separados de seus laços de relações pessoais, desconhecedores da

língua e dos costumes da nova terra, passaram a ser entendidos como propriedade, uma

peça ou coisa, perdendo sua origem. Assim, se produziu e disseminou uma imagem da

(o) negra (o) desumanizada e destituída de identidade (SCHWARCZ, 2001; INSTITUTO

AMMA PSIQUE e NEGRITUDE, 2008).

Ao fim do processo de escravização, a (o) negra (o) é submetido a outras

circunstâncias não menos devastadoras para sua subjetividade como, por exemplo, a

exclusão do processo produtivo a partir da abolição da escravatura. A abolição promoveu

uma situação social onde foram reforçados estigmas e estereótipos sobre a figura da (o)

negra (o), tais como: pecadoras (es), desprovidas (os) de inteligência, desordeiras (os),

maliciosas (os), sujas (os), animais, entre outros, que se propagaram na sociedade.

Concomitantemente, uma série de novos modelos teóricos internacionais negava a

igualdade e a transformavam em matéria de utopia. Portanto, passou-se a divulgar teorias

racistas em que as desigualdades sociais eram naturalizadas, tendo por base uma ciência

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Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.

28

positiva e determinista (SCHWARCZ, 2001; INSTITUTO AMMA PSIQUE e NEGRITUDE,

2008; TRINDADE; ACEVEDO, 2010).

Dessa maneira, a concepção de raça era introduzida a partir de uma perspectiva

biológica da época e a definição dos grupos reconhecidos como superiores em função de

características e aparência físicas, garantindo a esse grupo a condição de humano, de

sujeito de direitos, que pode exercer sua cidadania.

Assim, diante da promessa de uma igualdade jurídica, que colocaria as (os) negras

(os) numa condição de cidadãos, que até então lhe havia sido negada, a resposta foi a

comprovação científica da desigualdade biológica entre os homens, justificando a

escravidão a partir de uma suposta inferioridade do negro e a crença na supremacia de

um grupo sobre o outro sustentada pela ciência do século XIX. (SCHWARCZ, 2001;

INSTITUTO AMMA PSIQUE e NEGRITUDE, 2008; TRINDADE; ACEVEDO, 2010).

Entretanto, no Brasil, a miscigenação foi vista como uma solução para o que se

considerava o fracasso do país, devido ao número de negras (os) que aqui existiam. As

teorias serviram para explicar a desigualdade social como resultado da inferioridade racial

e apostaram numa miscigenação positiva.

A partir da segunda metade do século XIX, há uma entrada maciça de imigrantes

brancas (os), dando corpo no Brasil a um pensamento bastante particular que descobre

no cruzamento entre as raças a possibilidades de branqueamento. Dessa forma,

paralelamente ao processo que culminaria com a libertação das (os) escravas (os),

iniciou-se uma intensa política de incentivo à imigração européia (SCHWARCZ, 2001;

CARONE, 2009; MUNANGA, 2008).

A abolição se realizou a partir de três grandes leis abolicionistas; Ventre Livre

(1871), Sexagenários (1885) e Áurea (1888), cronologia revela o andamento moderado do

processo. Contudo, antes da Lei Áurea, que aboliu a escravidão, muitos já haviam

concretizado sua liberdade. Neste processo de libertação dos negros escravos não se

previam projetos de incorporação da mão-de-obra e nem ressarcimento (SCHWARCZ,

2001).

O resultado foi jogar essa imensa população, num processo de competição desigual,

com a mão-de-obra imigrante e branca. Ademais, ao invés do estabelecimento de

ideologias raciais oficiais, passou a ser projetada uma imagem de democracia racial,

ocultando a violência que foi o processo de escravidão no Brasil, bem como das diversas

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revoltas e revoluções lideradas ou realizadas com a colaboração das (os) negras (os)

(SCHWARCZ, 2001; HOFBAUER, 19993 apud TRINDADE; ACEVEDO, 2010).

Nesse contexto, não se percebiam no país manifestações de conflito étnico ou

regional, além de nenhuma medida racial oficial ter sido instituída até aquela época.

Porém, cresciam os argumentos favoráveis ao branqueamento, reforçados por uma

pressão cultural exercida pela elite branca colonizadora que de forma imperativa estavam

colocados como ideal de ser humano branco e cristão, restando ao negro a negação da

sua própria existência. Assim, a inexistência de categorias explícitas de dominação racial

incentivava ainda mais o investimento na imagem oficial de um paraíso racial e na

recriação de uma história em que a miscigenação apareceria associada a uma herança

portuguesa e a sua suposta tolerância racial manifesta num modelo escravocrata mais

brando (SCHWARCZ, 2001; DOMINGOS, 2005; CARONE, 2009).

Diferentemente do que aconteceu em outros países que escravizaram os negros, a

abolição da escravidão no Brasil foi transmitida historicamente como um presente por

parte do grupo dominante, naturalizando uma hierarquia social e a aceitação da existência

de diferenças raciais e biológicas entre os grupos. A cultura da miscigenação trouxe

consigo a lógica de que quanto mais branco, melhor, superior. Ser branco passa a ter

peso de status social, atributo de valor relevante na sociedade. Com o passar dos anos,

vão se criando novas formas de manutenção desse pensamento, porém, de forma

subentendida, tornando cada vez mais difícil revelar o problema para encarar a situação

(SCHWARCZ, 2001; BENTO, 2009).

As manifestações racistas cotidianas são veladas e a diversidade dos seus impactos

na vida de negras (os) e brancas (os) é ocultada numa tendência a fugir ou esquecer as

condições de discriminado e de discriminador vivenciadas pelos sujeitos.

A institucionalização dessa prática pode ser observada em questões históricas das

políticas de saúde nas quais se refletem essas desigualdades, a partir de dados

epidemiológicos que evidenciavam a diminuição da qualidade e da expectativa de vida da

população negra, tanto pelas altas taxas de morte materna e infantil, como pela violência

vivenciada, de forma mais intensa, por esse grupo populacional.

O racismo institucional possibilita a não percepção real do racismo, muitas vezes

3 HOFBAUER, A. Uma história de branquitude, ou o negro em questão. Tese (Doutorado em Ciência Social)- Faculdade

de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, 1999.

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embutido nas instituições públicas e privadas, sobretudo porque o Brasil constituiu-se

sobre o mito da democracia racial 4 , ou seja, sobre a naturalização da ideia de que

vivemos em uma sociedade integrada e igualitária, sem diferença de tratamento entre

negros e brancos. Esse mito se consolida juntamente com a negação da existência do

racismo, pois não se fala de algo que não existe.

A máxima da democracia racial torna-se amplamente difundida, seja na imprensa ou

na produção literária como em certas obras de Monteiro Lobato que, desde o início do

século XX, como uma das mais bem sucedidas políticas culturais de inibição das

manifestações contra essas ações discriminatórias.

Desse modo, pesquisadores como Hasenbalg (1979/2005), Hasenbalg e Silva

(1988), Guimarães (1999/2009), Bento (2002) e Telles (2003) ratificam que o racismo

institucional é um reflexo do processo histórico de desigualdade vivido cotidianamente

pelas (os) negras (os) e afrodescendentes no Brasil e está intrinsecamente associado ao

racismo.

Para tais autores, o racismo, institucional ou não, estrutura o Estado brasileiro. Ele é

um dos principais organizadores das desigualdades materiais e simbólicas vividas pelo

povo brasileiro. Ele estrutura as condições e possibilidades de trabalho, de estudo, de

vínculo (incluindo o casamento e os vínculos amistosos), de liberdade, de lugar (ou não

lugar) onde morar, a forma de morrer etc. Afeta a possibilidade de as (os) negras (os)

garantirem o presente, planejarem o futuro, realizarem sonhos, satisfazerem

necessidades. Também afeta as condições materiais e simbólicas das (os) brancas (os),

que, de maneira geral, usufruem das situações mais privilegiadas.

Considerar as relações raciais no Brasil é certamente um tema que traz à tona

muitas discussões. O debate racial neste país passa pela trajetória histórica, desde o

período da escravidão, seguindo na constituição da população brasileira marcada pela

miscigenação racial. A construção racial foi, nos diferentes momentos da história, sendo

perpassada, moldada e também reproduzida por participações de diversos segmentos,

como academia, movimentos sociais e também do Estado, particularmente por meio das

políticas públicas.

4 Mito da Democracia Racial: Termo utilizado por Gilberto Freire em sua obra Casa Grande e Senzala.

Também utilizado por Florestan Fernandes ao se reportar ao trabalho de Gilberto Freire.

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2. Políticas Públicas em meio ao Racismo institucional

Tem-se, aqui, a noção de políticas públicas como meios fundamentais do alcance do

Estado a toda população, primando pela garantia de direitos fundamentais como saúde,

educação, habitação, lazer, cultura, segurança e assistência social. As políticas públicas

estão pautadas na democratização de recursos e enfrentamento das desigualdades,

melhorando as condições de vida dos cidadãos. Contudo, o racismo presente na

sociedade brasileira impacta também no nível das políticas públicas, por meio do

chamado racismo institucional (RI).

Cunhado na década de 60, nos Estados Unidos, o conceito de racismo institucional

(RI) destaca a falha do Estado em prover assistência igualitária devido à origem étnica,

cor e cultura de determinados grupos. Desse modo, o RI expõe e mantém determinados

grupos, como negros e índios, em condições desfavoráveis de vida, bem como em

menores condições de acesso a serviços e pior qualidade de assistência.

O racismo institucional pode ser evidenciado por meio de duas dimensões

interdependentes de análise: a dimensão político-programática e a dimensão das

relações interpessoais.

A dimensão político-programática está relacionada a ações amplas, voltadas à

coletividade, cujo impacto no sujeito é posterior à ação maior, como consequência desta.

Refere-se a prioridades e escolhas de gestão que privilegiam ou negligenciam

determinados aspectos, infligindo condições desfavoráveis de vida à população negra

e/ou corroborando o imaginário social de inferioridade. Desse modo, fazem parte dessa

dimensão:

- A forma submissa e caricaturada como as (os) negras (os) do período colonial são

retratados nos livros escolares. O não reconhecimento das (os) líderes e das diversas

formas de resistência negra à escravização e a não consideração destes como parte

relevante do conteúdo a ser trabalhado nas aulas de história.

- O não investimento no combate de doenças e agravos mais prevalentes na

população negra, levando a alta morbimortalidade por condições que poderiam ser

evitadas por meio de políticas públicas eficazes.

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- A manutenção da percepção errônea e limitada da cultura negra como folclore, não

valorizando a relevante contribuição dessa população à cultura brasileira.

Já a dimensão das relações interpessoais destaca as formas de se relacionar

estabelecidas entre as diversas pessoas envolvidas nas políticas públicas. Inclui a relação

entre gestores e profissionais, entre profissionais e usuárias (os) e entre os próprios

profissionais. São ações diretas, voltadas a sujeitos, apresentadas como descrédito,

desmerecimento e desvalorização daquelas (es) atrizes (atores) sociais devido a sua

cor/origem étnicarracial. Assim, profissionais negras (os) são considerados menos

competentes e usuárias (os) negras (os) são percebidos como problema ou não recebem

o mesmo tratamento que usuárias (os) brancas (os). São exemplos dessa dimensão:

- Crianças negras na escola são consideradas crianças ―problema‖, tendo menor

investimento por parte de educadores.

- A não qualificação da existência de um sofrimento psíquico oriundo do racismo

acarreta a culpabilização da pessoa negra em processos terapêuticos.

- Hesitação/recusa de usuárias (os) em ser atendidos por profissionais negras (os).

- Consultas de mulheres negras em serviço de saúde durar menos que consultas de

mulheres brancas.

- Profissionais em cargos de chefia indicarem que profissionais negras (os) devem

prender o cabelo quando a função realizada não exige cabelo preso e outros profissionais

não negras(os) não recebem a mesma orientação.

- Agentes de saúde com atribuições de realizar visita domiciliar não entrar em

terreiros de religiões de matriz africana, não atendendo à população que ali reside.

O tratamento diferenciado não é explicitamente atribuído à cor da pele e à origem

étnicarracial. De modo geral, as pessoas costumam negar que a raça/cor seja o motivo

das atitudes em questão. Contudo, a sistemática com que essas situações ocorrem, bem

como, a ausência de outros fatores que possam explicar a situação, torna o quadro

bastante visível. È necessário fazer uma reflexão, considerar as pessoas brancas que são

atendidas/trabalham no mesmo serviço e perceber como o processo se desenvolve com

elas, se as mesmas atitudes e tratamentos diferenciados também ocorrem, se a

percepção negativa também está presente. Dada a não verbalização, a expressão do RI

na dimensão pessoal nem sempre é fácil de perceber, até mesmo pela vítima, mas, em

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maior ou menor grau, tem impacto negativo sobre o sujeito que é vítima da violência, que

pode se sentir diminuído, constantemente desafiado e humilhado.

No caso das (os) usuárias (os), por ter a sensação de que não é bem recebido, a

reação pode ser não buscar mais o serviço, evadir-se da escola, não procurar mais

atendimento nas Unidades de Saúde ou Centros de Referência de Assistência Social

(CRAS), entre outros. Portanto, combater o racismo institucional, particularmente na

dimensão interpessoal, está diretamente relacionado a acolhimento e humanização da

assistência, temas tão caros a atuação das (os) psicólogas (os).

A Psicologia está presentes em muitos campos de atuação profissional com equipes

multiprofissionais de saúde, educação, assistência, segurança, judiciário, sistema

prisional, trânsito, cultura, esporte, trabalho, pesquisa etc. Mas é importante sempre nos

questionarmos acerca de: com que compromisso social? Utilizando quais princípios e

teorias? Preparados para uma atuação inclusiva de fato? Como são abordados os mais

diversos sofrimentos psíquicos? Quais as ferramentas que disponíveis para a intervenção

no campo das relações raciais nos mais diversos contextos? Para então, desse modo,

continuar avançando na construção da Psicologia enquanto ciência e Profissão.

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EIXO 3: PSICOLOGIA E A ÁREA EM FOCO

Contribuições Históricas da Psicologia com as Relações Raciais

A discussão sobre das relações raciais teve importância fundamental na formação

da autoimagem brasileira, sendo recorrente nas produções sociológicas e literárias a

partir da segunda metade do século XIX: o Brasil se definia pela raça. A partir de 1870,

foram introduzidas no Brasil, ideias tais como o positivismo, o evolucionismo social e o

darwinismo [social] que seriam utilizados como importantes aportes teóricos para a

construção das teorias sobre a relação entre raça e alienação mental (ODA, 2001).

A Escola Nina Rodrigues, Afrânio Peixoto, Arthur Ramos - para citar os mais

importantes - são os principais pensadores do ideário eugenista e também higienista,

aplicado ao Brasil no século XIX e primeira metade do século XX e incluem, em suas

teorias, a ideia de degenerescência racial, introdução do elemento europeu para

melhoramento racial e a criação das instituições totais para segregação das pessoas

consideradas não normais.

O exemplo da Escola Nina Rodrigues, que se autorretratava como um grupo de

intelectuais lutando pela implantação do progresso científico no país deixava implícita a

visão da ciência como anjo tutelar da sociedade (CORRÊA, 2001).

Assim como Nina Rodrigues, Arthur Ramos teve suas ideias fundamentadas no

pensamento racial europeu, instrumental, conservador e autoritário, que definia identidade

nacional respaldando-se nas hierarquias sociais já bastante cristalizadas do Velho Mundo,

pensando a nação brasileira em termos raciais, antes mesmo de ser pensada em termos

de cultura ou economia (MENEZES, 2002).

Desse modo, formaram-se os Serviços de Higiene Mental, os Centros de

Orientação Infantil e Juvenil e dos Setores de Psicologia Clínica das décadas seguintes.

Nesse sentido, vale lembrar que o ―espaço psi‖, que se estrutura no Brasil nos anos 30,

40, e 50 do século XX é feito em cima da ―carência‖, da ―falta‖ das crianças ―problemas‖,

das crianças com ―dificuldades‖ de aprendizagem e/ou emocional‖ (COIMBRA, 1995;

PATTO, 1990).

Vale lembrar, ainda, que a lei que dispõe sobre os cursos de formação em

Psicologia e regulamenta a profissão de psicóloga (o) (Lei nº 4.119/62) em seu artigo 13,§

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1º afirma que:

Constitui função privativa da (o) Psicóloga (o) a utilização de métodos e técnicas psicológicas com os seguintes objetivos: a) diagnóstico psicológico; b) orientação e seleção profissional; c) orientação psicopedagógica; d) solução de problemas de ajustamento.

Embora essas práticas mencionadas acima continuem coexistindo em muitos

campos de atuação profissional. Muitas mudanças que se processaram na Psicologia e

em suas práticas avançaram desde então.

Dentre os movimentos de mudança da Psicologia, mas relacionados a este

contexto destacam-se: Nos anos 70 e 80, o Sistema Conselhos de Psicologia se engajou

no Movimento de Reforma Sanitária; nos anos 80 e 90, Movimento da Reforma

psiquiátrica e Luta Antimanicomial. Ainda nos anos 90 surgem mudanças significativas da

Profissão no Sistema Conselhos, instituindo o compromisso social da Psicologia - por

uma profissão diferente, é criada uma Comissão de Direitos Humanos no CFP e nos CRs.

Em 2000 e 2001, respectivamente, o Conselho Regional de São Paulo - CRPSP lança

duas publicações que introduzem no Sistema Conselhos a discussão sobre as ações

afirmativas e o debate sobre a inclusão no trabalho e os exemplos dos projetos de

Diversidade no Trabalho5. Em 2002, a Comissão Nacional de Direitos Humanos lança a

campanha ―O Preconceito Racial Humilha, A Humilhação Social Faz Sofrer‖ que propõe

pela primeira vez um debate nacional sobre o racismo no âmbito do Sistema Conselhos.

Neste mesmo ano é realizado o concurso de artigos e também pela primeira vez a revista

Ciência e Profissão publica um número especial sobre Relações Raciais.

E também como resultado dessa reflexão, o CFP publica a Resolução nº18/2002,

estabelece normas de atuação para as (os) psicólogas (os) em relação ao preconceito e à

discriminação racial. E, no ano seguinte, a Comissão de Direitos Humanos publica um

documento intitulado ―Os Direitos Humanos na prática profissional dos psicólogos‖ (2003).

A partir das palestras do Seminário Nacional da Comissão de Direitos Humanos, foi

publicado o livro da Comissão de Direitos Humanos ―Psicologia e Direitos Humanos:

subjetividade e exclusão‖ (2002). Fruto desse processo de discussão, em 2005, é lançado

o terceiro Código de Ética Profissional e tem seus princípios fundamentais baseados na

Declaração Universal dos Direitos Humanos. (CFP/CRP SP, 2013).

5 Ação afirmativa e diversidade no trabalho: desafios e possibilidades (Bento, 2000) e Inclusão no trabalho: desafios e

perspectivas (Bento e Castelar, 2001), ambos publicados pelo CRPSP e Casa do Psicólogo .

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Atualmente, diversas bibliografias trazem contribuições significativas para a

Psicologia das relações raciais. Refletindo, por exemplo, que, diante de tamanha

exposição a diversas vulnerabilidades, é de esperar-se que a população negra sofra os

efeitos psíquicos e psicossociais do racismo, podendo haver inclusive desenvolvimento de

enfrentamento da situação (NASCIMENTO, 2008; CARNEIRO e CURI, 1994; LOPES,

1994) e resiliência (PRESTES, 2012), mas, inúmeras outras vezes, tendo como resultado

danos e comprometimentos psicológicos, além de orgânicos, como descreve Werneck

(2006) e Santos (2004). Os efeitos psicológicos incluem comprometimento da autoestima,

com submissão ao processo identitário de branqueamento, como descrito por Bento, 2009,

entre outros efeitos. Outras teorias versaram sobre a formação da identidade negra

(SOUZA, 1990), o efeito do racismo nessa formação e na autoestima (SILVA, 1999;

PODKAMENI e GUIMARÃES, 2011), ou ainda sobre ―Negritude e sofrimento psíquico‖

(REIS FILHO, 2005). Nogueira (1999) informa sobre as questões simbólicas associadas

ao corpo negro.

Cabe citar o primoroso trabalho de organização de referências relacionadas à

temática das relações raciais em Psicologia. Trata-se do Guia de Referências 'Psicologia

e Relações Raciais', já em sua segunda edição, organizado pelo Grupo de Trabalho

―Psicologia e Relações Raciais‖ da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Regional

de Psicologia da Bahia. Disponível também no site do respectivo Conselho e no site do

CFP na página Relações Étnico-Raciais, traz uma relação de livros, artigos, legislação da

Psicologia, legislações e documentos gerais, leituras complementares, sites, fontes de

publicações online, filmes e documentários, museus e locais onde pesquisar, além de

receber novas contribuições online, no intuito de manter tais referências atualizadas.

Ainda, neste sentido, é importante destacar que na Psicologia ainda encontram-se

poucos trabalhos sobre a experiência e construções cotidianas do próprio sujeito branco,

como pessoa racializada. Trata-se da experiência da própria identidade branca que,

segundo Ruth Frankenber (2004), é vivida imaginariamente, como se fosse uma essência

herdada e um potencial que confere ao indivíduo poderes, privilégios e aptidões

intrínsecas.

Portanto, um dos trabalhos dentro da Psicologia deve ser o de demonstrar a

suposta neutralidade que faz com que grande parcela da sociedade tenha privilégios e

não os perceba. Maria Aparecida Bento (2002) argumenta que os brancos, em nossa

sociedade, agem por um mecanismo que ela denomina de pactos narcísicos, os quais

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constituem alianças inconscientes tecidas de modo a recalcar certos elementos (como,

por exemplo, a responsabilidade sobre a escravização dos negros, bem como a posterior

expropriação de uma série de possibilidades e direitos dessa população) e inculcar

crenças outras, de acordo com a necessidade psíquica dos grupos. Verifica-se haver algo

como um acordo entre os brancos, regido por crenças como superioridade e meritocracia,

de modo a justificar seus privilégios e as desvantagens das (os) negras (os).

Pensando no campo da Psicologia, algumas hipóteses foram feitas para justificar a

falta de estudos que pensam a branquitude. A primeira é o fato de que a grande maioria

das (os) psicólogas (os) e pesquisadoras (es) sejam brancas (os) e socializadas (os) entre

uma população que se acredita desracializada, colaborando para retificar a ideia de que

quem tem raça é o outro e mantendo a branquitude como identidade racial normativa. A

outra hipótese é a de que desvelar a branquitude é expor os privilégios simbólicos e

materiais que as (os) brancas (os) obtêm em uma estrutura racista e, assim, os estudos

sobre brancas (os) apontam que o ideal de igualdade racial em que as (os) brasileiras (os)

são socializadas (os) e operam para manter e legitimar as desigualdades raciais.

Autoras contemporâneas críticas da branquitude, como Schucman (2012), Bento

(2002), Piza (2002), assim como aqueles identificados como responsáveis pelos primeiros

estudos críticos da temática, apontam para a importância de estudar as (os) brancas (os),

com o intuito de desvelar o racismo, pois estes, intencionalmente ou não, têm um papel

importante na manutenção e legitimação das desigualdades raciais.

A segunda parcela significativa da sociedade, a população branca, também sofre

efeitos psíquicos do racismo, influenciada pelos elementos da branquitude, em forma de

uma identidade em parte incoerente, com privilégios e falsa crença em seu potencial e no

potencial de não brancas (os), incluindo amarelas (os), indígenas e, majoritariamente,

negras (os).

É importante que a branquitude seja desvelada.

As relações raciais no Brasil delimitam, portanto, espaços sociais pré-determinados

para diferentes sujeitos e têm como explicação sociológica e histórica, segundo

Gonçalves Filho (2008), a dominação política empenhada pelo grupo social branco, com

humilhação social do grupo social negro. Para a dominação política, foi utilizada como

estratégia o racismo, ou seja, a ideologia de superioridade, hierarquização e poder do

branco sobre os não brancos. O racismo, que foi estratégico em determinado momento

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histórico, continua servindo à manutenção de privilégios, reverberando, ainda hoje, na

sociedade brasileira em forma de preconceito racial e discriminação racial.

Para uma melhor compreensão dos assuntos tratados no presente documento:

entende-se que o preconceito racial pode ser definido como o conjunto de pensamentos e

sentimentos pejorativos em relação ao negro, fruto da internalização de representações

sociais estereotipadas, levando a percepções deturpadas, com disposição a avaliações,

crenças e afetos pré-determinados e negativos. Já a discriminação racial se refere a

comportamentos de distinção com prejuízo para negros, podendo se manifestar como

privação de direitos ou diferença de tratamento. Logo, racismo, preconceito e

discriminação são constituintes imbricados na dinâmica das relações raciais no Brasil e

devem ser considerados como determinantes sociais das desigualdades e das condições

de saúde (INSTITUTO AMMA PSIQUE e NEGRITUDE, 2008).

Delineada a sociedade brasileira em termos raciais e identificados seus

personagens, fica mais coerente pensar em suas necessidades, que ainda precisarão, na

prática profissional da (o) psicóloga (o), serem associadas a necessidades advindas dos

recortes de classe, gênero, geracional, entre outros. O que torna as relações raciais um

tema transversal também em todas as frentes de atuação profissional das (os) psicólogas

(os), conforme será tratado a seguir.

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EIXO 4: ATUAÇÃO DA(O) PSICÓLOGA(O) NA DESCONSTRUÇÃO DO RACISMO E

PROMOÇÃO DA IGUALDADE

Considerando-se o recorte racial, as necessidades da sociedade brasileira são de

igualdade racial, respeito à diversidade, equidade em saúde, para que, do ponto de vista

psicossocial, o racismo não seja um determinante de adoecimento psíquico.

Especialmente em políticas públicas, todas essas necessidades se repetem e ainda se

torna necessário adicionar a interferência e necessidade de enfrentamento do racismo

institucional.

Uma vez que a sociedade brasileira é majoritariamente negra, identificar-se como

branca, negando ou discriminando sua parcela afrodescendente é, no mínimo, um

problema de autoconceito, que compromete uma identificação nacional saudável e

realista, além de autoimprimir violências simbólicas diária e historicamente.

Diante desse quadro, a Psicologia brasileira posiciona-se como cúmplice do racismo,

tendo produzido conhecimento que o legitimasse, validando cientificamente estereótipos

infundados por meio de teorias eurocêntricas, muitas vezes, discriminatórias, inclusive por

tomar por padrão uma realidade que não contempla a diversidade brasileira. É também

conivente com sua perpetuação, silenciando-se diante dessa situação, deixando de dispor

de seu arsenal (justamente tão apropriado para questões de identidade, autoestima,

relacionamento interpessoal e dinâmicas psicossociais) para enfrentamento do problema,

omitindo-se de participar do enfrentamento político do racismo, silenciando a temática em

suas produções acadêmicas, não acolhendo seus efeitos diante de demandas

repetidamente escancaradas e ignoradas, reafirmando invisível a demanda de mais da

metade da população brasileira.

Para salientar a contradição e importância do enfrentamento do racismo proposto

neste eixo. Destacam-se dois dos princípios fundamentais de nosso código de Ética:

II. O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

III. O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisando crítica e historicamente a realidade política, econômica, social e cultural.

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Referenciando a prática no campo das políticas públicas de promoção da Igualdade

racial

Ao propor referências para o trabalho da (o) psicóloga (o) em políticas públicas com

atenção devida às relações raciais, é fundamental analisar o papel das políticas públicas

em relação à temática, para que a (o) psicóloga (o) tenha uma atuação comprometida

com as necessidades da população brasileira. É importante debater sobre a natureza das

ações desenvolvidas nos diversos serviços e como podem essas ações contemplar

efetivamente o recorte racial oferecendo às (os) usuárias (os) uma atuação condizente

com cada pessoa e cada contexto, podendo, ainda, contribuir com esse olhar diferenciado

em atuações interdisciplinares e estando de acordo com os princípios éticos que norteiam

a prática da (o) psicóloga (o).

A sociedade brasileira é formada por uma maioria negra, a qual, por influência do

racismo, encontra-se em condições de desigualdade em relação à população branca,

detentora do capital financeiro, poder político, melhores níveis de escolaridade, melhores

remunerações, melhores condições de acesso a trabalho e estudo, maior reconhecimento

profissional, conforme exposto por Jaccoud (2009), além de condições de maior

segurança pública e configurando-se como padrão de beleza e confiabilidade.

A população negra, além de não dispor dos privilégios citados, enfrenta diariamente

a insegurança de uma maior exposição à violência e à injustiça social, com imposição da

hegemonia branca, tendo de conviver com a intolerância e desrespeito de sua

religiosidade e não reconhecimento de sua contribuição histórica para a ciência e o

progresso do país, ou seja, com a negação e desvalorização da negritude na formação da

identidade brasileira. Cabe salientar que as condições desfavoráveis da população negra

em relação à população branca foram exaustivamente encontradas em pesquisas,

inclusive quando negras (os) e brancas (os) compartilham a mesma caracterização de

classe; o que denota como insuficiente e equivocada a argumentação de que o problema

do negro no Brasil é um problema de classe (BENTO, 1995; BENTO, 2000; CAMPANTE,

CRESPO & LEITE, 2004; DIEESE, 1999; HENRIQUE, 2001; PAIXÃO & CARVALHO,

2008; PAIXÃO & GOMES, 2008; SANTOS, 2009; SOARES, 2000).

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Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.

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É fato que as (os) negras (os) se encontram em desvantagens de acesso a recursos

e bens posicionais, como bem pontuam os indicadores sociais relacionados aos índices

de mortalidade da população brasileira; no acesso ao sistema de ensino; na dinâmica do

mercado de trabalho; nas condições materiais de vida e no acesso ao poder institucional;

políticas públicas; e marcos legais. Esses dados estão expressos no Relatório Anual das

desigualdades Raciais no Brasil: 2007, 2008, produzido pelo Laboratório de Análises

Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais da UFRJ6, o qual

evidenciou uma importante realidade: os brasileiros brancos vivem em ―um país‖ com

Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) médio, equivalente à 44ª melhor posição do

mundo, enquanto que os brasileiros negros vivem ―em um Brasil‖ onde o IDH médio é

equivalente ao 104º lugar (PAIXÃO e CARVANO, 2008).

Uma forma de evidenciar e exemplificar as desigualdades existentes entre brancos

e negros é por meio da análise do diferencial salarial. Percebe-se que, à medida que se

caminha rumo ao topo da hierarquia de renda, é crescente o grau de discriminação e o

déficit salarial das (os) negras (os) em relação as (os) brancas (os) (BIRDEMAN e

GUIMARÃES, 2004; SOARES, 2000). No entanto, é possível notar que a discriminação

racial também se faz presente e forte dentre a classe de operárias (os) (BENTO, 1995),

principalmente no que tange ao tratamento dado as (os) negras (os) e às relações

estabelecidas entre trabalhadoras (es) brancas (os) e negras (os), demonstrando que

para aqueles que estão na base da sociedade, diante das mesmas condições de

exploração e escassez de recursos, a brancura é o elemento diferencial, o privilégio em si.

1. Estratégias e Possibilidades de Enfrentamento do Racismo Institucional nas

Políticas Públicas

Considerando a extrema necessidade de intervir nesse complexo cenário, são

destacados, a seguir, passos importantes a essa intervenção. Busca-se, aqui, contribuir

com ações desenvolvidas no âmbito da gestão que possibilitem a visualização e

enfrentamento das iniquidades.

6 Para um aprofundamento do tema ver os dados produzidos em: http://www.laeser.ie.ufrj.br/ relatorios_gerais.asp

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a) Quesito “Cor” - Para possibilitar a intervenção, torna-se fundamental conhecer

o panorama e identificar os pontos críticos. Assim, cabe inicialmente identificar as ações

já desenvolvidas pelos serviços e que podem evidenciar as desigualdades raciais. Para

tanto, é crucial que o quesito cor esteja presente nos formulários, fichas cadastrais das

(os) usuárias (os), de modo a poder visualizar o perfil da população atendida, bem como a

forma com que as ações alcançam os diferentes grupos raciais. Tal como a variável renda,

sexo e idade, a raça/cor é também de grande relevância ao conhecimento do perfil da (o)

usuária (o) atendida (o) e suas especificidades, e é elemento essencial ao

reconhecimento das desigualdades.

Primeiramente, cabe perguntar: o quesito cor faz parte do cadastro da população

atendida no serviço? Caso ele não conste nos formulários de rotina, cabe inseri-lo, de

modo a possibilitar traçar o perfil da população atendida, suas demandas e necessidades.

Nos casos em que o quesito raça/cor já faz parte dos documentos, cabe verificar

cuidadosamente a forma de apresentação do quesito e o modo do seu preenchimento, o

qual pode ser verificado através do padrão das respostas obtidas.

De modo a padronizar as informações, possibilitando o comparativo com dados da

população geral, o quesito cor deve ser apresentado de acordo com as categorias que

constam no IBGE, a saber: branca, parda, preta, amarela e indígena. Vale ressaltar que,

pelo IBGE, a soma das categorias parda e preta é o que corresponde à população negra.

Destaca-se, ainda, que a escolha da categoria não deve ser feita pela (o) profissional,

mas sim auto declarada, sendo considerada a resposta fornecida pela (o) usuária (o).

Outro ponto importante de ser analisado é o padrão de respostas ao quesito,

sendo importante considerar o número de formulários sem o preenchimento do quesito

cor. É comum que essa informação não seja considerada, o que pode apontar uma série

de questões que merecem ser trabalhadas mais detalhadamente. É possível que esse

fenômeno se deva a questões relativas tanto aos profissionais quanto aos usuários. As(os)

profissionais podem não considerar relevante o preenchimento desse item, ou mesmo

acreditar que podem ofender a(o) usuária(o) com a pergunta, em ambos os casos

evitando fazer o questionamento. Por outro lado, a(o) usuária(o) pode não saber como ou

não querer responder, evitando o questionamento e desejando seguir em frente no

preenchimento. Em ambos os casos, destaca-se a necessidade premente de trabalhar as

relações raciais com a equipe, para que esta tenha clareza quanto à importância do

quesito cor bem como das questões que ele faz emergir.

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Após ter os dados sobre o perfil racial da população atendida, cabe proceder à

análise, atentando para possíveis distorções e/ou diferenças nos serviços/ qualidade da

assistência oferecida. Se possível, verificar séries históricas, bem como fazer o

cruzamento do quesito raça/cor com outros dados, tais como gênero, idade e

escolaridade, considerando o aumento do acesso ao serviço/melhoria dos resultados. Ao

fazer esse movimento, diferenças significativas podem emergir, diferenças que

permaneceriam invisibilizadas, caso a raça/cor não fosse levada em consideração.

Exemplos:

Entre 1980 e 1991, a mortalidade infantil declinou consideravelmente no Brasil. Fatores como melhoria nas condições sanitárias, imunização, melhor acesso a condições de saúde e educação, entre outros, foram fundamentais a este avanço. Porém, ao desagregar o dado da mortalidade infantil por raça/cor, observa-se que a desigualdade já existente entre a morte de crianças brancas e negras aumentou. Em 1980, a cada 1000 nascidos vivos, morriam 96 crianças negras e 76 brancas; Em 1990, a cada 1000, morriam 72 negras e 43 brancas. Ou seja, em 1980, as crianças negras morriam 21% mais que crianças brancas e, em 1991, essa diferença aumentou para 40% (CUNHA apud OLIVEIRA, 2002; CUNHA apud LOPES 2004). Em fevereiro de 2011, o levantamento do Cadastro Nacional de Adoção (CNA), que reúne informações de pessoas interessadas em adotar e crianças/adolescentes disponíveis para a adoção, destacou dados importantes acerca do perfil de crianças desejadas. O levantamento indicou que, entre as 27.437 pessoas cadastradas como pretendentes 91% querem adotar crianças brancas. O levantamento aponta ainda que o número de crianças e adolescentes em condições de ser adotados é de 4.914, muito menor que o número de interessados em adotar. Contudo, as exigências dos pretendentes relativas à idade, ao sexo e a cor das crianças, muitas vezes, inviabilizam o processo de adoção, dado que a realidade das crianças a espera de uma família poucas vezes corresponde ao perfil desejado pelos pretendes de meninas, brancas e de até dois anos de idade. Essas análises evidenciam o quanto a raça/cor interfere na população e no alcance das políticas públicas a esta. Portanto, não considerar o quesito cor como relevante é silenciar a respeito das desigualdades já existentes, perpetuando-as e aprofundando-as cada vez mais.

b) Sensibilizar gestoras (es) e profissionais - Considerando a história de silêncio

da sociedade brasileira acerca da identidade racial e das desigualdades, faz-se de

extrema pertinência que gestoras (es) e profissionais da assistência tenham a

possibilidade de refletir sobre a questão antes de discuti-la com a população. É importante

que as (os) profissionais façam a reflexão sobre si próprios, como sujeitos constituídos em

uma sociedade cujo imaginário social demarca a (o) negra (o) em um lugar inferior,

oprimido e menos valorizado ocupando subempregos ou restritos a arte e esporte. Por

outro lado, cabe também a reflexão de que essa mesma sociedade valoriza socialmente a

população branca, tomando como ―natural‖ a melhor posição social ocupada por este

grupo.

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Essa naturalização de papéis pode ser percebida quando há certo desconforto e

estranhamento ao ver uma criança branca moradora de rua, como se essa criança não

devesse estar em tal condição, o que por outro lado não ocorre quando é uma criança

negra na mesma situação. O mesmo tipo de estranhamento é percebido quando um

adolescente branco é flagrado furtando ou usando drogas e quando uma criança branca é

deixada para adoção. Dessa forma, é de grande importância que a equipe que atua na

assistência direta à população possa refletir acerca dessas questões, refletindo e

desnaturalizando conceitos, de modo que a sua prática não venha a privilegiar nem

desfavorecer usuários por conta de sua origem étnica.

Nesse sentido, destaca-se o pioneirismo e relevância das psicólogas do Instituto

AMMA Psique Negritude, que desenvolveram uma metodologia de sensibilização de

gestores e profissionais para a identificação e abordagem do racismo institucional. Essa

metodologia foi testada e validada ao ser aplicada com gestores e servidores públicos das

cidades de Salvador/BA e Recife/PE, por meio do Programa de Combate ao Racismo

Institucional. Materiais decorrentes dessa experiência encontram-se indicados ao fim

deste guia, sendo um importante suporte a psicólogas (os) que busquem planejar e

desenvolver ações voltadas à temática.

2. Discriminação Institucional

Discriminação institucional pode ser entendida como ações no âmbito

organizacional ou da comunidade, que independem da intenção de discriminar, mas têm

impacto diferencial e negativo em membros de um grupo determinado. Por exemplo,

práticas informais que dificultam o acesso de empregadas (os) a experiências

significativas para ocupação de cargos de comando, bem como poucas oportunidades

para participarem de treinamentos de qualidade, gerando menor competitividade para

ascensão a cargos de direção. Nenhuma empresa brasileira declara por escrito: ―não

aceitamos negras (os) para o cargo de chefia‖. Mas o resultado é a quase invisibilidade

desse segmento nos lugares de comando das grandes empresas.

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Assim, na questão da discriminação institucional, importa pouco a intenção do

agente. O que interessa são os efeitos de sua ação. Esses efeitos só se verificam

perscrutando-se, por exemplo, o número de pessoas negras nos diferentes postos de

trabalho da empresa.

Práticas aparentemente neutras, no presente, refletem, perpetuam, o efeito de

discriminação praticada no passado. Haja vista que, crianças negras compõe, em

algumas instituições, o segmento majoritário de classes especiais que abrigam crianças

diagnosticadas como "problemas‖, gerando resistências e baixas expectativas quanto a

seu futuro, na(os) profissionais que cuidam delas.

No entanto, segundo Rosemberg (2012), o histórico de vida desse segmento pode

ajudar a entender isso. As crianças pequenas negras (0 a 6 anos) são o segmento social

brasileiro com o maior contingente de pobres e indigentes; vivem em domicílios com as

piores condições de saneamento básico; frequentam estabelecimentos educacionais com

piores condições de infraestrutura (água, luz, esgoto), escolas com brinquedos, livros e

espaços externos e internos insuficientes e inadequados; têm as (os) professoras (es)

com a mais baixa qualificação e pior remuneração do sistema educacional brasileiro; têm

o custo per capita mais baixo, foi o nível de ensino que menos cresceu durante a década

de 90. Ou seja, a história de discriminação sistêmica constitui um contexto com forte

impacto no desenvolvimento dessa criança.

Assim, a Discriminação institucional tem forte componente estrutural e histórico.

Muitas vezes, um (a) adolescente diagnosticado como difícil, como tendo problemas

emocionais, pois não aceita seu corpo ou sua identidade, pode ser alguém com uma

história de exclusão de equipamentos educacionais de boa qualidade, que lhe tivessem

possibilitado o contato com o patrimônio cultural de seus antepassados, por meio de

livros, brinquedos, ambiente físico, políticas educacionais em geral. Esse tipo de

discriminação pode ter o caráter rotineiro e contínuo. Nesse sentido, um diagnóstico na

instituição é de fundamental importância.

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a. Diagnosticando a Discriminação Institucional

Pode-se ter este diagnóstico a partir de algumas questões centrais:

Os projetos/programas da instituição ou da área contemplam a perspectiva racial?

Busca-se garantir que o perfil racial das (os) funcionárias (os) seja plural?

Procura-se assegurar que o perfil racial das chefias contemple negras (os)?

Preocupa-se em contemplar a perspectiva negra na concepção, implementação e

monitoramento dos projetos/políticas?

Os materiais de comunicação, os processos de formação, os instrumentos e

metodologias, os serviços, os produtos, o orçamento da instituição consideram e

incluem as questões raciais?

Ou seja, o diagnóstico da discriminação institucional, pode ter, como ponto de

partida, o levantamento da história da instituição com as relações raciais e com pessoas

negras; pesquisas nos processos de recursos humanos; o censo de funcionárias (os), o

levantamento de práticas da organização com a comunidade, parceiros, bem como a

investigação a respeito do perfil da clientela, dos fornecedores, dos prestadores de

serviços em geral. Com base nesse diagnóstico, é possível identificar a discriminação

institucional e os elementos que obstaculizam a igualdade de oportunidade e tratamento e

traçar um plano de ação para democratizar a instituição. Esse plano de ação pode ser

construído, discutido e implementado assegurando corresponsabilidade dos funcionárias

(os), gestoras (es), parceiras (os), clientes.

Destaque-se ainda que o plano de ação necessita se refletir nos códigos de

conduta, na missão da instituição, nos princípios; enfim, na maneira como a instituição se

posiciona, interna e externamente.

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b. Enfrentando a Discriminação Institucional

Uma política de combate à discriminação institucional necessita estar apoiada em

valores éticos fundados na busca da igualdade e da justiça, fortemente conectada à

responsabilidade social das instituições.

Em sociedades desfiguradas por séculos de discriminação generalizada, não é

suficiente que as instituições se abstenham de discriminar, sendo necessária uma ação

positiva comprometida com a promoção da igualdade. Estamos, então, falando de ação

afirmativa que pode ser considerada uma política de promoção da igualdade ou ainda

política de inclusão. Trata-se de um comportamento ativo das instituições no sentido de

garantir, fomentar, propiciar a igualdade em contraposição à atitude negativa, passiva,

limitada à mera intenção de não discriminar. A nota característica da ação afirmativa,

portanto, distingue-se por um comportamento atuante das instituições, favorecendo a

criação de condições que permitam a todos beneficiar-se da igualdade de oportunidade e

de tratamento e eliminando qualquer fonte de discriminação, direta ou indireta.

Você sabe os efeitos psicossociais do racismo na constituição da subjetividade?

Como psicóloga (o), você já pensou em como o racismo pode afetar nas diversas áreas

da vida e do cotidiano de negras e negros brasileiras (os) e, ao mesmo tempo, privilegiar

pessoas brancas? Você já pensou que, como professor (a) e formador (a) de opinião, é

uma pessoa privilegiada para contribuir com a luta antirracista?

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EIXO 5: RELAÇÕES RACIAIS E O ENSINO DE PSICOLOGIA

Nos eixos anteriores, foi apresentado o histórico da psicologia na temática das

relações raciais. Neste capítulo, será apresentado um panorama geral sobre o que a

Psicologia está pensando e fazendo na temática das relações raciais, no âmbito

acadêmico.

Os trabalhos acadêmicos sobre a Psicologia das relações raciais, atualmente,

começam a tomar algum volume, mas, ínfimo diante da influência maciça dessas relações

na dinâmica social brasileira. Segundo Silva (2001, p. 3), ―esse fato revela a presença de

um pacto de omissão e cumplicidade da nossa disciplina para com o mito vigente,

hegemônico e opressivo, da existência de uma „democracia racial’‖.

Ferreira (2000), em sua tese de doutorado, fez uma revisão da literatura de 1987

a 1997, encontrando, dentre 4.911 trabalhos examinados (entre artigos de periódicos

brasileiros de Psicologia, dissertações e teses, tanto de doutorado quanto de livre-

docência) apenas três trabalhos publicados sobre a temática negra, além de outros nove

em processo de publicação. O silêncio quase absoluto e o parco conteúdo informam a

negação da temática na sociedade e repetida na Psicologia. Contudo, cabe salientar que,

na análise do pouco conteúdo encontrado, permite identifica-se o discurso da ciência

psicológica sobre essa população. Sendo um destes elementos discursivos a afirmação

da existência de preconceito, baseado em estereótipos, em relação a negras (os).

Em um importante mapeamento realizado por Santos (2010) aponta autores que

estão na base da Psicologia Social brasileira e abordaram as relações raciais.

Curiosamente, eles são os principais responsáveis pela organização dos primeiros cursos

de Psicologia Social no Brasil e, consequentemente, pela delimitação do campo da

Psicologia Social. Suas contribuições estão situadas entre a década de 1930 e 1950. São

eles: Raul Carlos Briquet (1887-1953); Donald Pierson (1900-1995); Aniela Meyer

Ginsberg (1902-1986); Arthur Ramos de Araújo Pereira (1903-1949); Virgínia Leone

Bicudo (1915-2003); e Dante Moreira Leite (1927-1976).

Porém, destaca-se a ambiguidade e o silenciamento que tem pautado o enfoque

das relações raciais dentro da Psicologia no Brasil. Pois, apesar de verificarmos estudos

fundantes da área de Psicologia Social, por exemplo, durante um longo período posterior

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à produção dos autores listados acima pelo professor Alessandro Santos (2011), a

Psicologia manteve-se reticente no que tange à temática etnicorracial.

Na busca por superar esta realidade, uma das funções do presente guia de

referência é dar força a um terceiro momento histórico da psicologia a respeito das

relações raciais, em que a Psicologia tenha voz e posicione-se no enfrentamento do

racismo, com teorias e práticas em prol da igualdade racial e saúde psíquica das (os)

brasileiras (os) das diversas configurações raciais.

Como bem expõe Silva (2001, p. 17), a Psicologia poderá contribuir para melhor

compreensão, enfrentamento e superação de sentimentos envolvidos em relações raciais

racistas, além de colocar sua teoria e técnica a serviço da compreensão sobre a

―construção subjetiva da negritude‖. E ainda afirma que o preconceito racial

―aprisiona energias sociais muito importantes. Temos então, na sociedade brasileira, um aprisionamento de energias e forças emocionais muito significativas. Não somente dos sujeitos que sofrem a discriminação e são limitados por isso, na expressão de todas as suas potencialidades, reduzidos aos limites que lhes são impostos em suas oportunidades, restringindo a diversidade que nos constitui. Mas, repetindo Guerreiro Ramos, o preconceito racial é uma ―patologia do branco racista‖, sendo que é justo pensar que por parte dos sujeitos que discriminam, se evidencia também um aprisionamento de importantes forças psíquicas, roubadas através do preconceito que eles alimentam em relação a um grande contingente de integrantes da sociedade na qual ele vive. Essas forças poderiam ser colocadas em uma sinergia – brancos e negros, transcendendo a questão étnica (sic) – rumo à construção de uma sociedade mais justa e igualitária, em benefício de todos que nela vivem (sic).‖(SILVA, 2001, p. 17)

De acordo com Ansara (2008), o sentimento de pertença ao grupo negro, por

parte de todas (os) as (os) brasileiras (os) que têm a parcela negra em sua constituição

social e, em especial, por parte de negras (os), permite a construção de uma identidade

coletiva saudável, estimulante de laços e coesão, instigante de perspectiva positiva em

relação a sua própria capacidade. Dessa forma, entende-se que a identidade individual

negra ou coletiva com reconhecimento da parcela negra, pautadas em valoração positiva

contribui para aumento da autoconfiança, autoestima e potencial da sociedade como um

todo.

Seria empobrecida a reflexão de que o compromisso da Psicologia com a

temática das relações raciais significaria algo específico da área de Psicologia Social, ou

mesmo que significaria a defesa do desenvolvimento de teorias e técnicas específicas

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Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.

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para essa população. Ambas as hipóteses podem contribuir para a temática, mas o

compromisso da Psicologia e de cada psicóloga (o) não se esgota aí. Este guia de

referências pretende incentivar a Psicologia das relações raciais menos como disciplina

ou particularidade e mais como tema a ser transversalizado em cada área, cada prática,

cada técnica, independentemente da (o) profissional ou beneficiária (o) serem negras (os),

afinal, como exposto até aqui, as relações raciais racistas como hoje configuradas no

Brasil atingem todas as cores/raças/etnias.

5.1 Formação para atuação em Psicologia

A formação da (o) psicóloga (o) é um momento privilegiado para a construção de

conhecimento, de saberes e de práticas sobre diversos assuntos vividos no cotidiano dos

sujeitos. Portanto, é nesse momento que se faz necessário apresentar aos estudantes

temas relevantes, para despertar o interesse na busca do conhecimento e possibilitar o

reconhecimento dos aspectos que envolvem as relações raciais e seus efeitos psíquicos

presentes no cotidiano em nossa sociedade. Ao mesmo tempo, a distribuição e frequência

dos temas tratados na graduação, ilustram o que, provavelmente, será considerado

relevante pelas (os) psicólogas (os) formadas (os).

Durante a formação, portanto, as teorias e as reflexões sobre elas devem fornecer

elementos para uma leitura crítica da realidade que permita formular e subsidiar as

práticas interventivas. Contudo, tal como já apontado neste guia, apesar das

preocupações e da luta contra a discriminação racial serem fundamentais para uma

sociedade mais justa e humana, nas grades curriculares das faculdades de Psicologia

brasileiras, ou mesmo nos conteúdos curriculares raramente encontramos qualquer

menção ao tema do racismo ou das relações raciais nas disciplinas obrigatórias. Esta é

uma situação que precisa ser modificada, pois, a categoria raça é um dos fatores que

constitui, diferencia, hierarquiza e localiza os sujeitos em nossa sociedade. Portanto, deve

ser inserida na formação das (os) profissionais da área.

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5.2 Desafios

Formar psicólogas (os) e professoras (es) que se sensibilizem para com a temática

racial e incluam-na de forma transversal nas diversas disciplinas da Psicologia. Nesse

sentido, vale salientar que o ensino de História da África e das Relações Raciais é uma

realidade apenas na formação de professoras (es) de poucos cursos como, por exemplo,

em Pedagogia, e podem ser úteis. No nosso caso, esses conteúdos devem estar

presentes de forma transversal em disciplinas ou conteúdos de Psicologia no ensino

médio, em cursos de curta duração, especializações e na graduação de vários cursos nas

áreas da saúde e das ciências sociais. Em todos esses espaços, torna-se fundamental a

sensibilização para os aspectos psicológicos envolvidos nas relações raciais no Brasil. No

fim do presente documento encontram-se algumas referências para este trabalho.

5.3 Propostas e caminhos possíveis

Propomos que – além de disciplinas específicas que denunciem o racismo,

trabalhem as identidades raciais negras de forma positivada, apresentem exemplos como

as (os) psicólogas (os) podem atuar na desconstrução dos preconceitos e das práticas

discriminatórias que compõem este contexto – o tema da raça e do racismo seja inserido

transversalmente na formação das (os) psicólogas (os) para que os efeitos psicossociais

do racismo em brancos e negros sejam compreendidos como fator na constituição dos

sujeitos. Desta forma, é preciso que as (os) atuais e futuras (os) psicólogas (os)

compreendam de forma mais ampla e específica como se dão as relações raciais

existentes na sociedade, e principalmente que há um sofrimento psíquico peculiar, sutil e

explícito presente no cotidiano da vida de pessoas negras; seja nas relações institucionais

em especial na escola, no trabalho, na família e também nas outras relações sociais como

no esporte, no lazer, nos cultos religiosos, na segregação territorial, na luta de classes,

etc.

5.4 Experiências Exitosas

Algumas experiências na formação já foram realizadas e pareceram exitosas.

Como, por exemplo, grupos de estudos focais sobre Racismo para reflexão sobre o tema

das relações raciais privilegiaram as leituras orientadas, resenhas com apresentação para

o coletivo; cinedebates, palestras em sala de aula; visita a museus, exposições

temporárias; participação em eventos diversos relacionados ao tema fora da universidade,

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onde os conteúdos abordados e as discussões estivessem relacionadas aos conceitos -

raça, branquitude e branqueamento no Brasil, assim como, a história e conquistas do

movimento negro; inclusão e exclusão no trabalho, medidas compensatórias e reparação

(ações afirmativas); identidade e o processo de tomada de consciência negra;

religiosidade africana e afro-brasileira; noções básicas sobre relações raciais, direitos

humanos, racismo, sofrimento psíquico e formas de intervenção. (CASTELAR e SANTOS

2012).

Nesse sentido, é estimulador saber que uma pesquisa feita com alunas (os) da

Universidade de São Paulo, pelo professor e pesquisador Alessandro Oliveira dos Santos

(2010) demonstrou que as (os) alunas (os) de Psicologia consideram a raça uma

categoria importante na compreensão das desigualdades e o tema relações étnico/raciais

relevante na formação e prática profissional da (o) psicóloga (o). Isso mostra uma

abertura para a abordagem desses temas e para o enfrentamento do racismo. Nessa

mesma pesquisa, ele constatou que havia, contudo, uma resistência das (os) professoras

(es) em falar do assunto, portanto, cabe a nós este primeiro passo. A mesma pesquisa

mostrou que a discussão sobre cotas raciais no ensino superior foi um dos fatores que

possibilitou falar abertamente do racismo e das relações étnico/raciais, em sala de aula.

Entretanto, até os dias atuais é comum presenciar sua radicalização nos debates travados

na academia, portanto, torna-se fundamental a divulgação das avaliações das diversas

experiências das diferentes universidades, além do aprofundamento das discussões.

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BIBLIOGRAFIA

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