recurso voluntÁrio nº 16.331 ... - centro de...

13
CONSELHO DE CONTRIBUINTES Processo nº Data da autuação: Rubrica: 04/351.239/2012 24/07/2012 Fls. 129 Acórdão nº 15.239 ACÓRDÃO MANTIDO. NÃO HOUVE INTERPOSIÇÃO DE PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO. Sessão do dia 22 de outubro de 2015. RECURSO VOLUNTÁRIO Nº 16.331 Recorrente: JARDIM DE ALAH CENTRO CIRÚRGICO LTDA. Recorrido: COORDENADOR DA COORDENADORIA DE REVISÃO E JULGAMENTO TRIBUTÁRIOS Relator: Conselheiro ROBERTO LIRA DE PAULA Representante da Fazenda: MARIO MOREIRA PADRÃO NETO Designado para redigir o voto vencedor: Conselheiro DOMINGOS TRAVAGLIA ISS – AUTO DE INFRAÇÃO – SERVIÇOS MÉDICOS OFTALMOLÓGICOS – ALÍQUOTA REDUZIDA – INAPLICABILIDADE A atividade de serviços médicos oftalmológicos, enquanto não exercidos por clínica médica com internação, assim conceituada em normas da ABNT e pela ANVISA, não fazem jus à alíquota do ISS prevista no item 10 do inciso II do art. 33 da Lei nº 691/84. Recurso voluntário improvido. Decisão pelo voto de desempate. IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS R E L A T Ó R I O Adoto o relatório da Representação da Fazenda, de fls. 116/119, que passa a fazer parte integrante do presente. “Trata-se de recurso voluntário relativo à decisão da F/SUBTF/CRJ que julgou improcedente a impugnação apresentada e manteve o Auto de Infração nº 102.441/12.

Upload: nguyenkhue

Post on 07-Feb-2019

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

CONSELHO DE CONTRIBUINTES

Processo nº Data da autuação: Rubrica:

04/351.239/2012 24/07/2012

Fls. 129

Acórdão nº 15.239

ACÓRDÃO MANTIDO. NÃO HOUVE INTERPOSIÇÃO DE PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO.

Sessão do dia 22 de outubro de 2015. RECURSO VOLUNTÁRIO Nº 16.331 Recorrente: JARDIM DE ALAH CENTRO CIRÚRGICO LTDA. Recorrido: COORDENADOR DA COORDENADORIA DE REVISÃO E

JULGAMENTO TRIBUTÁRIOS Relator: Conselheiro ROBERTO LIRA DE PAULA Representante da Fazenda: MARIO MOREIRA PADRÃO NETO Designado para redigir o voto vencedor: Conselheiro DOMINGOS TRAVAGLIA

ISS – AUTO DE INFRAÇÃO – SERVIÇOS MÉDICOS OFTALMOLÓGICOS – ALÍQUOTA

REDUZIDA – INAPLICABILIDADE

A atividade de serviços médicos oftalmológicos, enquanto não exercidos por clínica médica com internação, assim conceituada em normas da ABNT e pela ANVISA, não fazem jus à alíquota do ISS prevista no item 10 do inciso II do art. 33 da Lei nº 691/84. Recurso voluntário improvido. Decisão pelo voto de desempate.

IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS

R E L A T Ó R I O Adoto o relatório da Representação da Fazenda, de fls. 116/119, que passa a fazer

parte integrante do presente. “Trata-se de recurso voluntário relativo à decisão da F/SUBTF/CRJ que julgou

improcedente a impugnação apresentada e manteve o Auto de Infração nº 102.441/12.

CONSELHO DE CONTRIBUINTES

Processo nº Data da autuação: Rubrica:

04/351.239/2012 24/07/2012

Fls. 129

Acórdão nº 15.239

DOS FATOS A Representação da Fazenda pede licença para transcrever o relatório da lavra do

parecerista da F/SUBTF/CRJ, por sua clareza (fls.83/85):

Trata-se de impugnação total e tempestiva, a Auto de Infração lavrado em desfavor da empresa em epígrafe, conforme informação contida em fls. 64, o qual compõe-se de dois itens. O item 01 impugnado, refere-se à insuficiência no pagamento do ISS devido sobre a prestação de serviços de assistência médica, previstos no item 4.03 do Art. 8º da Lei 691/84, com redação dada pela Lei 3.961/2003, em face de erro na determinação da base de cálculo do imposto, no período descontínuos de junho de 2007 a março de 2012 (Código de Infração nº 1112430), abatidos previamente os valores recolhidos, e aplicada a alíquota de 5%, conforme quadro demonstrativo nº 1. O item 02 da autuação refere-se à falta de pagamento do ISS devido sobre a prestação de serviços de assistência médica, previstos no item 4.03 do Art. 8º da Lei 691/84, com redação dada pela Lei 3.961/2003, nas competências abril e maio de 2012 (Código de Infração nº 1111035), aplicada a alíquota de 5% sobre a base de cálculo, conforme quadro demonstrativo nº 2. A impugnação de fls. 20/26 sustenta, sinteticamente, a improcedência da autuação, pelo fato de que se qualificar para o uso da alíquota de 2%, prevista no item 10, do inciso II, do Art. 33 da Lei 691/84, a qual vinha sendo adotada desde a autuação sofrida a 09/09/2005, resultante no processo administrativo 04/351.240/2005, no qual a autuante promoveu sua informação fundamentada asseverando que a autuada se tratava de centro médico que efetuava internações de curta duração – regime de “day clinic” – e, com isso, justificando a cobrança então feita, com a alíquota de 2% a partir de dezembro de 2003. Pede, por fim, seja julgado improcedente o Auto de Infração, por ausência de embasamento legal e afronta à promoção e parecer acostados, oriundos do processo 04/351.240/2005. Em estrita observância ou Art. 86 do Decreto 14.602/96, o autor do procedimento ofereceu, em fls. 66/81, informação fundamentada onde inicia por justificar a autuação porque a autuada considerava-se, erroneamente, sociedade uniprofissional, recolhendo o ISS com insuficiência, por este motivo. Que, quanto à argumentação sobre a alíquota incidente, a melhor interpretação do item 10, do inciso II, do Art. 33 da Lei 691/84 com redação dada pela Lei 3.691/2003, é a de que só aplicável a alíquota de 2% sob a condição da aptidão para efetuar internações, como se depreende do texto legal. Que, na ausência de definição da própria lei, do que entende por “internações”, há que se lançar mão da definição oferecida pela ANVISA, que por sua vez utiliza-se do conceito dado pela ABNT, que assim se manifesta: “INTERNAÇÃO – admissão de um paciente para ocupar um leito

CONSELHO DE CONTRIBUINTES

Processo nº Data da autuação: Rubrica:

04/351.239/2012 24/07/2012

Fls. 129

Acórdão nº 15.239

hospitalar, por um período igual ou maior que 24 horas.”. Que a ação fiscal desenvolvida confirmou os sofisticados equipamentos e estrutura para cirurgias oculares, mas nenhuma para a internação nos moldes requeridos pela definição da ANVISA/ABNT. Que, na realidade, a impugnante se caracteriza como um centro cirúrgico ambulatorial, no qual não se demanda internação dos pacientes. Que, há previsão contratual (contrato social) de prestação de serviços médicos oftalmológicos sem internação. Descreve a maioria dos serviços prestados pela impugnante, demonstrando prescindirem de internação. Que, quanto ao lançamento anterior, não tem o mesmo, o condão de balizar lançamentos futuros, eis que as conjunturas podem ser diferentes. Que o lançamento somente se vincula pela consulta formulada. Propõe o indeferimento da impugnação apresentada, e pela manutenção integral do Auto de Infração.

Em 05/09/13, à fl.89, o Coordenador da Coordenadoria de Revisão e Julgamento

Tributários, com base no parecer de fls.85/88, julgou improcedente a impugnação e manteve o Auto de Infração nº 102.441/12.

Em 17/12/13, às fls.98/111, foi interposto recurso voluntário, no qual a Recorrente

transcreve, integralmente, o parecer que embasou a decisão recorrida (fls.85/88), bem como trechos da lavra da Fiscal de Rendas autora do Auto de Infração nº 101.008/05 (processo 04/351.240/05), nos quais há menções à “Resolução CREMERJ nº 180/2001, que dispõe sobre as Normas Mínimas para o Funcionamento dos Complexo cirúrgicos para procedimentos com Internação de Curta Permanência no Estado do Rio de Janeiro”, bem como à “pagamentos efetuados pela CABERJ (exercícios 1999 a 2004) ao Centro Cirúrgico Jardim de Alah, onde é registrado, com clareza, o tipo de guia de pagamento feito ao Jardim de Alah Centro Cirúrgico: Internação Hospitalar” (fls.103/104), e alega, em resumo:

Não abandonou sua tese de uniprofissionalidade, não tendo abordado tal matéria em virtude da mesma não constar da autuação. Transcreve sentença proferida pelo Juízo da 12ª Vara de Fazenda Pública, na qual é declarado “inexistir relação obrigacional tributária quanto ao ISS, fora o contexto fixo e per capita” (fls.105/106). Transcreve, também, Acórdão da 18ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça, que reformou a mencionada decisão, do qual consta que “A autora desempenha a atividade de clínica como empresa, junção de capital e trabalho com vocação para o lucro. E nesse segmento empresarial, não há ISS por valor fixo, mas base imponível composta pelo preço dos serviços, melhor e único fator a definir a capacidade contributiva.” (fls.107/108). O causídico patrocinador das ações judicial e administrativa não abdicou de suas convicções sobre a questão da uniprofissionalidade, somente não a trazendo à presente lide, por respeitar a coisa soberanamente julgada;

Internações sob o sistema “day clinic” são voltadas para a realização de procedimentos cirúrgicos de médio e pequeno porte, que demandam curta permanência de internação do

CONSELHO DE CONTRIBUINTES

Processo nº Data da autuação: Rubrica:

04/351.239/2012 24/07/2012

Fls. 129

Acórdão nº 15.239

paciente (no máximo 12 horas). No que diz respeito a tal tipo de internação, a Resolução nº 180/2001 do CREMERJ, que dispõe sobre as Normas Mínimas para o Funcionamento dos Complexos Cirúrgicos para Procedimentos com Internação de Curta Permanência no ERJ, está em perfeita consonância com os fundamentos expedidos pelo agente público que lavrou o laudo técnico fundamentado enquadrando a Recorrente à alíquota de ISSQN de 2%;

“a Resolução nº 50 RDC de 21/02/02 e o Ministério da Saúde citado pelo Recorrido com o objetivo de dar consistência em sua fundamentação não se aplica a espécie por falta de previsão legal em nosso ordenamento jurídico tributário que envolva relações jurídicas entre Contribuinte e Fisco, portanto, INAPLICÁVEL à questão”. O texto citado pelo Recorrido dispõe sobre o regulamento técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde, portanto, afastada sua aplicabilidade na área tributária.

Ao final, a Recorrente requer seja declarada a improcedência do lançamento

guerreado, por restar comprovada, em seu entender, a insubsistência da imposição da alíquota de 5%, bem como afronta a promoção e parecer da lavra de agentes públicos, no processo 04/351.240/2005.

À fl.112 foi juntada cópia da FIN nº 0075/2000-RF, da qual constam a informação

do trânsito em julgado de decisão favorável à pretensão da Recorrente de obter declaração de seu direito ao tratamento diferenciado das sociedades uniprofissionais, quanto ao ISS (processo 0115220-78.1999.8.19.0001), bem como a informação de que “O pedido foi julgado procedente, tendo sido declarada a inexistência de relação jurídico-tributária no que concerne à cobrança do ISSQN sobre o movimento econômico da pessoa jurídica e tendo sido o MRJ condenado a restituir à autora o excesso recolhido a título do tributo a partir de julho de 1996”.”

A Representação da Fazenda opinou pelo improvimento do recurso.

É o Relatório.

VOTO VENCIDO Conselheiro RELATOR

CONSELHO DE CONTRIBUINTES

Processo nº Data da autuação: Rubrica:

04/351.239/2012 24/07/2012

Fls. 129

Acórdão nº 15.239

O presente litígio, após o contribuinte ter visto seu intento de enquadramento como sociedade uniprofissional negado em decisão transitada em julgado no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, apurado pela representação da Fazenda, hoje se resume ao enquadramento do contribuinte no art. 33, II, 10, da Lei 691/84, que assim estabelece:

Art. 33 – O imposto será calculado aplicando-se sobre a base de cálculo as seguintes alíquotas: I – Alíquota genérica Serviços não especificados no inciso II ............................. 5% II – Alíquotas específicas: [...] 10 – Serviços de saúde e de assistência médica do subitem 4.03 da lista do art. 8º, prestados por hospitais, sanatórios, manicômios, casas de saúde, prontos-socorros e clínicas, todos aptos a efetuar internações ..................................... 2%.

A Fazenda não acatou sua solicitação sob os argumentos de “[Q]ue, há previsão

contratual (contrato social) de prestação de serviços médicos oftalmológicos sem internação”, e de que, segundo a ABNT, “INTERNAÇÃO – admissão de um paciente para ocupar um leito hospitalar, por um período igual ou maior que 24 horas.”, sendo esta, também, a posição da ANVISA, Agencia Nacional de Vigilância Sanitária. Outrossim, segundo o próprio relatório aqui apresentado, “[D]escreve a maioria dos serviços prestados pela impugnante, demonstrando prescindirem de internação”, registre-se, a Fazenda se refere à maioria dos serviços, e não a totalidade dos serviços. Se uma clinica faz algumas internações, esta clinica está apta a fazer internações.

Já o contribuinte, segundo o relatório, “sustenta, sinteticamente, a improcedência

da autuação, pelo fato de se qualificar para o uso da alíquota de 2%, prevista no item 10, do inciso II, do Art. 33 da Lei 691/84, a qual vinha sendo adotada desde a autuação sofrida a 09/09/2005, resultante no processo administrativo 04/351.240/2005, no qual a autuante promoveu sua informação fundamentada asseverando que a autuada se tratava de centro médico que efetuava internações de curta duração – regime de “day clinic” – e, com isso, justificando a cobrança então feita, com a alíquota de 2% a partir de dezembro de 2003”.

Por sua feita, observamos que o Contrato Social, constante dos autos, no qual a

Fazenda entende lhe dar razão para negar a aplicação de alíquota de 2%, como previsto no art. 33, II, 10, da Lei 691/84, posto que ali no referido documento contratual há a previsão da

CONSELHO DE CONTRIBUINTES

Processo nº Data da autuação: Rubrica:

04/351.239/2012 24/07/2012

Fls. 129

Acórdão nº 15.239

prestação de serviços médicos oftalmológicos sem internação, é datado de 28 de novembro de 2003. Por sua feita, entretanto, a “exposição de motivos” relativa á Resolução nº 1.886, do Conselho Federal de Medicina, que veio, de maneira interpretativa, a regulamentar a mudança de cirurgia ambulatorial para Cirurgia com Internação de Curta Permanência, é de 13 de novembro de 2008, cinco anos mais tarde, o que, por óbvio, era de desconhecimento dos servidores fazendários que atuaram no processo.

O contribuinte trouxe ainda a informação de extratos mensais de pagamento

efetuados pela CABERJ (uma das operadoras de saúde credenciadas pelo Município para atender aos servidores) por “internação hospitalar”.

Por sua feita, a Lei nº 9.656, de 3 de junho de 1998, que “Dispõe sobre os planos e

seguros privados de assistência à saúde”, estabelece que:

Art. 12. São facultadas a oferta, a contratação e a vigência dos produtos de que tratam o inciso I e o § 1º do art. 1º desta Lei, nas segmentações previstas nos incisos I a IV deste artigo, respeitadas as respectivas amplitudes de cobertura definidas no plano-referência de que trata o art. 10, segundo as seguintes exigências mínimas: ... II - quando incluir internação hospitalar: a) cobertura de internações hospitalares, vedada a limitação de prazo, valor máximo e quantidade, em clínicas básicas e especializadas, reconhecidas pelo Conselho Federal de Medicina, admitindo-se a exclusão dos procedimentos obstétricos; (Grifamos) [....]

Depreende-se, portanto, que, legalmente, através de lei federal, em relação a

internação hospitalar é vedada a limitação de prazo, independendo portanto se ela é de 12 horas, 24 horas, ou mais,ou, ainda mesmo, menos, para a cobrança de tais serviços, o é, por decorrência, também vedada tal limitação para enquadramento tributário de tais serviços.

Outrossim, como se pode verificar, o comando legal pleiteado pelo contribuinte

diz respeito especifica e estritamente a internação, não cabendo ao fisco municipal restringi-la.

Por fim, há que se observar que o contribuinte, antes recolhendo o tributo ISS

como sociedade uniprofissional, foi autuado, em procedimento fiscal datado de 2005, para pagar o imposto nos exatos termos previstos no art. 33, II, 10, da Lei nº 691/84, também conhecida como Código Tributário Municipal, por ter a autuante verificado que as cirurgias

CONSELHO DE CONTRIBUINTES

Processo nº Data da autuação: Rubrica:

04/351.239/2012 24/07/2012

Fls. 129

Acórdão nº 15.239

que alí ocorriam tinham, como ato suplementar, a internação tipo “day clinic”, ou seja, típica “Cirurgia com Internação de Curta Permanência”, nos moldes estabelecidos pela Resolução nº 1.886/2008, do Conselho Federal de Medicina.

Além do mais, este Conselheiro relator, como pode ser observado, grifou a parte

final do item 10, do inciso II, do art. 33, da Lei 691/84, transcrito no inicio do presente voto, que taxativamente diz estarem sujeitos à tributação de 2%, “hospitais, sanatórios,

manicômios, casas de saúde, prontos-socorros e clínicas, todos aptos a efetuar internações”. Não está inserto no item que tal tributação só beneficia à prestação de serviços de cirurgias com internações, mas sim àquelas unidades de saúde “aptas” a efetuar internações, o que, para mim, não se comprovou nos autos a falta de tal aptidão por parte da recorrente.

Sendo assim, DOU PROVIMENTO PARCIAL ao presente Recurso Voluntário,

reconhecendo ao contribuinte o direito de pagar o tributo ISS para sua atividade, como previsto no art. 33, II, 10, da Lei nº 691/84, que é de 2% (dois por cento) sobre seu movimento econômico, posto que houve, conforme a representação da Fazenda muito bem registrou, períodos pagos sobre o numero de profissionais, à exemplo de sociedade uniprofissional.

VOTO VENCEDOR Conselheiro DOMINGOS TRAVAGLIA

CONSELHO DE CONTRIBUINTES

Processo nº Data da autuação: Rubrica:

04/351.239/2012 24/07/2012

Fls. 129

Acórdão nº 15.239

Pedindo vênia para divergir do ilustre Conselheiro Relator, voto NEGANDO PROVIMENTO ao recurso voluntário interposto, certo que, acompanhando a exposição e os fundamentos apresentados pela douta Representação da Fazenda, que a seguir incorporo ao presente, não são aplicáveis à hipótese dos autos os termos do item 10 do inciso II do Art. 33 da Lei nº 691/84.

Veja-se:

Importante ressaltar que há inconsistência no pleito recursal, relativamente à tese defendida e o respectivo efeito pretendido, conforme adiante demonstrado.

A Recorrente defende a tese de que, na tributação pelo ISS de suas receitas, deve ser aplicada a alíquota de 2%. Em seu entender, o acolhimento desta tese implicaria a declaração de improcedência do auto de infração guerreado. Pela análise do Quadro Demonstrativo nº 01 (fls.03/05), Anexo ao Auto de Infração nº 102.441/12, podemos concluir que, no período de JUN/07 a MAR/12, a Recorrente recolheu o ISS por valores fixos, aplicando sobre base de cálculo fixa a alíquota de 2%, ao invés de 5%. Na coluna ISS pago, -há grupos de meses contíguos, nos quais os valores do imposto recolhido são constantes. Nos meses de 2008, por exemplo, o valor recolhido de R$503,22 resultou da aplicação da alíquota de 2% (ao invés de 5%) sobre a base de cálculo fixa definida no art.5º da Lei nº 3.720/04, considerados 9 profissionais. Desta forma, ainda que o Conselho de Contribuintes do Município do Rio de Janeiro viesse a entender que a alíquota de ISS aplicável ao caso em tela é de 2%, hipótese altamente improvável, tal alíquota seria aplicável sobre o movimento econômico da Recorrente (art.16 e art.33, inciso II, item 10, da Lei nº 691/84, com redação dada pela Lei nº 3.691/03) e não sobre a base de cálculo fixa definida no art.5º da Lei nº 3.720/04, de aplicação exclusiva às sociedades de profissionais:

Art. 16 – A base de cálculo é o preço do serviço.

§ 1º - Para os efeitos deste artigo, considera-se preço tudo o que for cobrado em virtude da prestação do serviço, em dinheiro, bens, serviços ou direitos, seja na conta ou não, inclusive a título de reembolso, reajustamento ou dispêndio de qualquer natureza, sem prejuízo do disposto nesta Seção.

CONSELHO DE CONTRIBUINTES

Processo nº Data da autuação: Rubrica:

04/351.239/2012 24/07/2012

Fls. 129

Acórdão nº 15.239

[....]

Art. 33 – O imposto será calculado aplicando-se sobre a base de cálculo as seguintes alíquotas:

I – Alíquota genérica

Serviços não especificados no inciso II ............................. 5%

II – Alíquotas específicas:

[....]

10 – Serviços de saúde e de assistência médica do subitem 4.03 da lista do art. 8º, prestados por hospitais, sanatórios, manicômios, casas de saúde, prontos-socorros e clínicas, todos aptos a efetuar internações ..................................... 2%

[....]

Art. 5º As sociedades constituídas de profissionais para o exercício de medicina, enfermagem, fonoaudiologia, medicina veterinária, contabilidade, agenciamento da propriedade industrial, advocacia, engenharia, arquitetura, agronomia, odontologia, economia e psicologia que prestem serviços em nome da empresa, embora assumindo responsabilidade pessoal, nos termos da lei aplicável, recolherão o Imposto Sobre Serviços, mensalmente, até o quinto dia útil seguinte ao do mês de referência, nos seguintes termos:

I – para cada profissional habilitado, sócio, empregado ou não, até o número de cinco, fica fixada em R$ 1.870,00 (mil oitocentos e setenta reais), por profissional habilitado, a base de cálculo;

II – para cada profissional habilitado, sócio, empregado ou não, que exceder a cinco e até dez, fica fixada em R$ 2.805,00 (dois mil oitocentos e cinco reais), por profissional habilitado excedente a cinco, a base de cálculo;

III – para cada profissional habilitado, sócio, empregado ou não, que exceder a dez, fica fixada em R$ 3.741,50 (três mil, setecentos e quarenta e um reais e cinquenta centavos), por profissional habilitado excedente a dez, a base de cálculo.

Parágrafo único. Os valores previstos nos incisos I, II e III deste artigo aplicam-se cumulativamente.” (grifos nossos)

CONSELHO DE CONTRIBUINTES

Processo nº Data da autuação: Rubrica:

04/351.239/2012 24/07/2012

Fls. 129

Acórdão nº 15.239

No Quadro Demonstrativo nº 02 (fl.06), Anexo ao Auto de Infração nº 102.441/12, podemos verificar que, no período de ABR/12 a MAI/12, a Recorrente não recolheu ISS. Resta demonstrada, portanto, a inconsistência no pleito recursal, anteriormente aludida pela Representação da Fazenda.

Considerando que item 10, do inciso II, do art.33 da Lei nº 691/84 determina como condição para a aplicação da alíquota de 2% (ao invés da genérica de 5%) sobre o preço do serviço a aptidão do contribuinte a efetuar internações, é mandatória a perfeita compreensão do conceito oficial de internação. Andou bem o parecerista da F/SUBTF/CRJ, ao registrar (fls.86/87):

Comungamos da opinião da autuada, no sentido de que o cerne da questão esteja em identificar a alíquota incidente “in casu”, sem perder de vista, entretanto, a condição de estar “apta a efetuar internações”, de suma importância para o esclarecimento e deslinde da questão.

A promoção lavrada por força da autuação anterior, e acostada pela autuada como elemento de sua defesa, reconhece “in fine” que o Centro Cirúrgico

Jardim de Alah efetua internações de curta duração, em regime “day clinic”. Tal regime de internações se encontra regulado no Estado do Rio de Janeiro, pela Resolução CREMERJ nº 180/2001 (Dispõe sobre as “Normas Mínimas para o Funcionamento dos Complexos Cirúrgicos para Procedimentos com Internação de Curta Permanência no Estado do Rio de Janeiro" (negritos nossos)), e consiste na internação voltada para a realização de procedimentos cirúrgicos de médio e pequeno porte, que demandam curta permanência de internação do paciente, no máximo 12 horas (fonte: http://www.unimedaracatuba.com.br/ hospital/ day-clinic.php).

Entretanto, tanto a ANVISA (Resolução nº 50 RDC de 21/02/2002) quanto o Ministério da Saúde, ao publicar a “Padronização da Nomenclatura do Censo Hospitalar” em 2002, referem-se a “internação”, no sentido

estrito, da forma como conceituada pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), ou seja, definindo “internação” como a ocupação de leito por paciente em período nunca menor que 24 horas.

Não nos parece factível que o legislador tenha se referido a qualquer tipo de internação, ao criar o benefício de alíquota menos onerosa, pois os serviços de internação devidamente regularizados estão sujeitos à legislação específica, exigente no que concerne à segurança, higiene e controle do paciente, que exigem investimento em instalações, merecendo assim, a desoneração tributária em evidência. O mesmo não se pode dizer de um simples consultório médico no qual se coloque uma maca!

CONSELHO DE CONTRIBUINTES

Processo nº Data da autuação: Rubrica:

04/351.239/2012 24/07/2012

Fls. 129

Acórdão nº 15.239

Portanto, não resta dúvida que o regime de “day clinic”, ou internação de

curta permanência praticado pela ilustre defendente, não está contemplado nas “internações” a que se refere o item 10, do inciso II, do Art. 33 da Lei 691/84 com redação dada pela Lei 3.691/2003, visto não constituírem internações no sentido estrito. A ela, por conseguinte, não se aplica a alíquota privilegiada de 2%.

A Representação da Fazenda, ao contrário do que alega a Recorrente, entende ser não só legítima como obrigatória a utilização do conceito de internação dado pela ABNT e pela ANVISA, na definição da alíquota do ISS aplicável ao caso em questão, em face da compreensível inexistência de tal definição na legislação tributária.

Frise-se, por fim, que o posicionamento de autoridades fiscais no processo 04/351.240/05, no sentido da aplicação da alíquota de 2% sobre as receitas da Recorrente (prática por ela não adotada), não produz efeitos sobre o lançamento ora guerreado, haja vista não se amoldar às hipóteses previstas no art.100 do CTN:

Art. 100. São normas complementares das leis, dos tratados e das convenções internacionais e dos decretos:

I – os atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas;

II – as decisões dos órgãos singulares ou coletivos de jurisdição administrativa, a que a lei atribua eficácia normativa;

III – as práticas reiteradamente observadas pelas autoridades administrativas;

IV – os convênios que entre si celebrem a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios.

Parágrafo único. A observância das normas referidas neste artigo exclui a imposição de penalidades, a cobrança de juros de mora e a atualização do valor monetário da base de cálculo do tributo.

Ora, não se há de desconsiderar tratar-se de norma que estabelece tratamento diferenciado e mais benéfico aos casos ali descritos em relação à aplicação genérica da alíquota de 5% (cinco por cento) sobre as receitas de prestação de serviços.

E, como disposição desta natureza, a teor do art. 111 do Código Tributário Nacional, a interpretação que se lhe há de emprestar é restritiva, não sendo permitido ao intérprete incluir hipótese ali não expressamente prevista.

CONSELHO DE CONTRIBUINTES

Processo nº Data da autuação: Rubrica:

04/351.239/2012 24/07/2012

Fls. 129

Acórdão nº 15.239

Não é de mais sinalizar que, no caso, do conjunto de atividades alcançadas pela vontade do legislador, todas levam em conta a formação da base de cálculo legal para apuração do imposto sem deduções permitidas (mão de obra mais custos – hotelaria, medicamentos, disponibilidade de equipamentos, plantão médico etc.), pelo que, pode-se inferir, houve por bem vir a ser dosado o valor do tributo mediante a escolha da citada alíquota diferenciada para menor.

No caso, como ressaltado na promoção da douta Representação da Fazenda, a aptidão para efetuar internações, como condição ditada na Lei, não se acha presente, não sendo possível enveredar-se em interpretações outras que não a de utilização do conceito de internação dado pela ABNT e pela ANVISA, acima transcritas.

A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos em que é Recorrente: JARDIM DE

ALAH CENTRO CIRÚRGICO LTDA. e Recorrido: COORDENADOR DA COORDENADORIA DE REVISÃO E JULGAMENTO TRIBUTÁRIOS.

Acorda o Conselho de Contribuintes, pelo voto de desempate, negar provimento

ao recurso voluntário, nos termos do voto vencedor do Conselheiro DOMINGOS TRAVAGLIA.

Vencidos os Conselheiros RELATOR, ALBERTO SALEM FERNANDES,

ABEL MENDES PINHEIRO JUNIOR e o Suplente MAURÍCIO ALVAREZ CAMPOS, que davam provimento parcial ao recurso, nos termos do voto do primeiro.

Ausente da votação o Conselheiro ALFREDO LOPES DE SOUZA JUNIOR,

substituído pelo Suplente MAURÍCIO ALVAREZ CAMPOS. Conselho de Contribuintes do Município do Rio de Janeiro, 05 de novembro de

2015.

CONSELHO DE CONTRIBUINTES

Processo nº Data da autuação: Rubrica:

04/351.239/2012 24/07/2012

Fls. 129

Acórdão nº 15.239

DENISE CAMOLEZ PRESIDENTE

ROBERTO LIRA DE PAULA CONSELHEIRO RELATOR

DOMINGOS TRAVAGLIA CONSELHEIRO