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PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO Processo 04/354.389/2004 SECRETARIA MUNICIPAL DE FAZENDA Data da Autuação: 22/12/2004 CONSELHO DE CONTRIBUINTES Rubrica: fls. 882 Acórdão nº 12.290 Sessão do dia 29 de setembro de 2011. RECURSO VOLUNTÁRIO Nº 10.139 Recorrente: PINHEIRO NETO ADVOGADOS Recorrido: COORDENADOR DA COORDENADORIA DE REVISÃO E JULGAMENTO TRIBUTÁRIOS Relator: Conselheiro ABEL MENDES PINHEIRO JUNIOR Representante da Fazenda: MARIO MOREIRA PADRÃO NETO Designado para redigir o voto vencedor do mérito (item 2 do Auto de Infração): Conselheiro ALFREDO LOPES DE SOUZA JUNIOR ISS NULIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO POR FALTA DE PREVISÃO LEGAL PARA SUA REALIZAÇÃO Não constitui nulidade a retificação de Auto de Infração efetivada em consonância com o art. 68 e 75 do Decreto nº 14.602/96. Preliminar rejeitada. Decisão unânime. ISS COISA JULGADA - SOCIEDADE UNIPROFISSIONAL Configurada a coisa julgada e preenchidos os requisitos contidos no § 3º do artigo 9º do Decreto-lei nº 406/68, a recorrente há de se configurar como sociedade uniprofissional. Recurso voluntário provido. Decisão por maioria. ISS SOCIEDADES UNIPROFISSIONAIS DOCUMENTO FISCAL As sociedades uniprofissionais de serviços advocatícios, que recolhem o tributo em valor fixo por profissional habilitado, estão obrigadas à inscrição no cadastro de contribuintes do Município e, por consequência, obrigadas a possuir notas fiscais. Inteligência do art. 48 da Lei nº 691/84 c/c o artigo 182, inciso I, do Decreto nº 10.514/91. Recurso voluntário improvido. Decisão por maioria. IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS

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CONSELHO DE CONTRIBUINTES Rubrica: fls. 882

Acórdão nº 12.290

Sessão do dia 29 de setembro de 2011. RECURSO VOLUNTÁRIO Nº 10.139 Recorrente: PINHEIRO NETO ADVOGADOS Recorrido: COORDENADOR DA COORDENADORIA DE REVISÃO E JULGAMENTO TRIBUTÁRIOS Relator: Conselheiro ABEL MENDES PINHEIRO JUNIOR Representante da Fazenda: MARIO MOREIRA PADRÃO NETO Designado para redigir o voto vencedor do mérito (item 2 do Auto de Infração): Conselheiro ALFREDO LOPES DE SOUZA JUNIOR

ISS – NULIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO POR

FALTA DE PREVISÃO LEGAL PARA SUA REALIZAÇÃO

Não constitui nulidade a retificação de Auto

de Infração efetivada em consonância com o art. 68 e 75 do Decreto nº 14.602/96. Preliminar rejeitada. Decisão unânime.

ISS – COISA JULGADA - SOCIEDADE UNIPROFISSIONAL

Configurada a coisa julgada e preenchidos os

requisitos contidos no § 3º do artigo 9º do Decreto-lei nº 406/68, a recorrente há de se configurar como sociedade uniprofissional. Recurso voluntário provido. Decisão por maioria.

ISS – SOCIEDADES UNIPROFISSIONAIS – DOCUMENTO FISCAL

As sociedades uniprofissionais de serviços

advocatícios, que recolhem o tributo em valor fixo por profissional habilitado, estão obrigadas à inscrição no cadastro de contribuintes do Município e, por consequência, obrigadas a possuir notas fiscais. Inteligência do art. 48 da Lei nº 691/84 c/c o artigo 182, inciso I, do Decreto nº 10.514/91. Recurso voluntário improvido. Decisão por maioria.

IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS

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Acórdão nº 12.290

R E L A T Ó R I O

Adoto o relatório da douta Representação da Fazenda, de fls. 823/829, que passa

a fazer parte integrante do presente. “Trata-se da análise de recurso voluntário referente ao Auto de Infração Nº

100.736 de 20 de dezembro de 2004.

DOS FATOS O Auto de Infração Nº 100.736 de 20 de dezembro de 2004 (fls.02/04) foi objeto

de 3 termos de retificação, lavrados em 14/01/05 (fls.27/29), 14/04/05 (fl.135/135/v) e 13/05/05 (fl.140), os 2 últimos publicados no D.O.RIO (fls.139 e 143), em virtude de o Contribuinte ter se recusado a recebê-los. O primeiro termo de retificação, lavrado antes da apresentação da impugnação, para a correção do valor do ISS devido (fl.26v), consignou as infringências abaixo transcritas:

1. O Art.44, observado o art.178, ambos da Lei 691/84 (código 1112430). Penalidade: art.51, inciso I, item 2, alínea “d”, da Lei 691/84, com a multa prevista no valor de 60% do imposto devido, pela seguinte ocorrência: insuficiência de recolhimento do Imposto Sobre Serviços de advocacia, previsto no item 17.13, do art.8º, da Lei 691/84, no período contínuo de julho de 2000 a junho de 2004, em virtude de ter errado na determinação da base de cálculo ao recolher o referido imposto pelo sistema fixo e não com base no movimento econômico como devia. Base de cálculo apurada, no valor original de R$54.908.180,61 (cinqüenta e quatro milhões, novecentos e oito mil, cento e oitenta reais e sessenta e um centavos), e débito do ISS, no valor histórico de R$2.579.925,88 (dois milhões, quinhentos e setenta e nove mil, novecentos e vinte e cinco reais e oitenta e oito centavos) conforme o constante do Quadro Demonstrativo 01 anexo, parte integrante desta Notificação Fiscal. 2. O artigo 48, da Lei 691/84, combinado com o artigo 182, inciso 1, do Decreto 10514/91, por não possuir Nota Fiscal de Serviços, modelo 1 (Código: 1210041). Penalidade: artigo 51, inciso II, item 1, alínea “a”, da Lei 691/84. Valor da multa formal: R$1.572,16 (mil quinhentos e setenta e dois reais e dezesseis centavos).

Em sua impugnação, apresentada em 15/02/05, às fls.35/62, o Contribuinte

alegou, em resumo:

Por ser sociedade uniprofissional, judicialmente reconhecida como tal, fato este informado ao fiscal autuante, vem recolhendo o ISS calculado com base no número de profissionais habilitados, de acordo com o disposto no art.29 da Lei Municipal nº 691/84 e, posteriormente, no art.5º da Lei nº 3.720/04;

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Acórdão nº 12.290

O auto de infração padece do vício de nulidade, na medida em que preteriu o direito de defesa da Impugnante, por não explicar, de forma circunstanciada, os motivos pelos quais a fiscalização entendeu que a Impugnante deveria ter recolhido o ISS com base no seu movimento econômico, limitando-se a afirmar que a Impugnante deveria tê-lo feito. Sem contar o fato de que o auto de infração não traz o valor consolidado do crédito tributário exigido, não se revestindo, portanto, de liquidez e certeza, o que compromete a sua validade;

A Impugnante teve o seu direito de recolher o ISS com base em valores fixos expressamente reconhecido nos autos do Mandado de Segurança nº 269/2004 (Apelação Cível nº 95.001.01137), no qual questionou a exigência do ISS nos termos da Lei nº 2.080/93, ocasião em que foi reconhecido pelo Poder Judiciário o seu caráter de sociedade uniprofissional, para fins de recolhimento do ISS com base no critério fixo;

A fiscalização municipal vem se aproveitando da disposição introduzida pelo art.6º, inciso IV, da Lei nº 3.720/04, que prevê que as sociedades que se revestirem de caráter empresarial não estão sujeitas ao critério fixo de tributação, para exigir o ISS de sociedades uniprofissionais sobre o seu movimento econômico. Ainda que a Impugnante se revestisse de caráter empresarial, o que não ocorre, a cobrança do ISS sobre seu movimento econômico somente seria válida após a entrada em vigor da Lei nº 3.720/04. Portanto, no tocante ao período anterior à vigência da referida lei, a autuação ora combatida é improcedente, pela completa ausência de base legal;

Havendo uma decisão judicial que consigna expressamente que a Impugnante é sociedade uniprofissional, a fiscalização municipal jamais poderia questionar a sua natureza como tal, a pretexto de exigir o ISS sobre o seu movimento financeiro;

Considerando que o art.16, caput, da Lei nº 8.906/94 (Estatuto da Advocacia e da OAB), prevê que não serão admitidas a registro nos quadros da OAB as sociedades de advogados que apresentem forma ou características mercantis, resta claro que todas as sociedades de advogados regularmente inscritas na OAB, como é o caso da Impugnante, devem estar sujeitas à cobrança do ISS com base no critério fixo;

O art.17 do Estatuto da Advocacia e da OAB prevê que os sócios respondem subsidiária e ilimitadamente, isto é, com o seu próprio patrimônio pessoal, pelos danos causados a terceiros. Além disso, o art.15, §3º, da mesma lei, determina que as procurações devem ser outorgadas individualmente aos advogados, e não em nome da sociedade. Essas regras afastam qualquer possibilidade de que as sociedades de advogados venham a ser consideradas sociedades de caráter empresarial. Transcreve doutrina (fls.51/52) e decisão do STJ (fls.52/53), neste mesmo sentido;

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Acórdão nº 12.290

No segundo item da autuação está sendo exigida multa por descumprimento de obrigação acessória, sob a alegação de que a Impugnante não possúi Nota Fiscal de Serviços Modelo 1. Embora não haja, atualmente, previsão expressa na legislação dispensando as sociedades uniprofissionais de emitir nostas fiscais de serviços, o que havia anteriormente na redação do item 7, §2º, do art.182 do Decreto nº 10.514/91 (Regulamento do ISS), a Impugnante entende que as referidas sociedades não estão obrigadas a emitir o dito documento, porque tais documentos se prestam ao controle dos valores devidos pelos contribuintes a título de ISS quando o seu cálculo se faz sobre o preço dos serviços prestados. A dispensa da emissão das referidas notas fiscais decorre da própria sistemática de recolhimento do ISS aplicável às sociedades uniprofissionais;

A Impugnante roga que, ao menos, na remota hipótese de a autuação ser julgada procedente, o que se admite apenas a título de argumentação, seja afastada por completo a abusiva multa de 60% aplicada, ou, no mínimo, reduzida a um montante compatível com a suposta infração cometida.

Em 14/04/05, às fls.135/135v, foi lavrado o segundo termo de retificação,

publicado no D.O.RIO de 25/04/05 (fl.139), em função da recusa da Recorrente em tomar ciência do mesmo, conforme informação de fl.135v. Em 13/05/05, às fls.140/140v, foi lavrado o terceiro termo de retificação, publicado no D.O.RIO de 18/05/05 (fl.143), em função da recusa da Recorrente em tomar ciência do mesmo, conforme informação de fl.140v. À descrição da ocorrência relativa ao item 1 da autuação – insuficiência no recolhimento do ISS – foi acrescido o trecho abaixo transcrito, da terceira retificação:

[....] por erro na determinação da base de cálculo na prestação de serviço de advocacia, previsto no inciso LXXXVIII do artigo 8º da Lei 691/84, e, após sua alteração pela Lei 3691/2003, no inciso 17.13 também do artigo 8º da mesma Lei 691/84, tributável à alíquota de 5% (cinco por cento) consoante o parágrafo 2º do art.33 da Lei 691/84, com a redação da Lei 1513/89 e o inciso I do art.33 da Lei 691/84, com redação da Lei 3691/2003, no período contínuo de julho de 2000 a junho de 2004. A empresa recolheu o ISS como uniprofissional indevidamente, nos termos dos itens 1 e 5 do parágrafo único, do art.29 da Lei 691/84 com as alterações promovidas pela Lei no. 2.596, de 29/12/1999 e pela Lei no. 3.018, de 27/04/2000 e posteriormente nos termos dos incisos I, IV e V do art.6º da Lei 3720/2004. Pelas seguintes razões: a) A pequena participação dos sócios na prestação de serviços face ao enorme volume de serviços prestados pela sociedade. Constatação feita na documentação de cobrança de serviços prestados apresentada pelo contribuinte, denominada de “Notas de honorários e/ou despesas” de Nos. 25546 de 25.3.04 a 30649 de 17.6.04 e contendo serviços prestados no mês de março/2004, onde se constata que os sócios da filial Rio trabalharam apenas 304,71 hs (média diária de 1,73 hs/dia útil) resultando em honorários que representam apenas 13% dos honorários e serviços faturados no mês pela filial. Observados também a receita bruta mensal constante dos demonstrativos de receita bruta mensal da filial Rio (jul/2000 a jun/2004) e os balanços anuais e respectivos demonstrativos dos resultados dos exercícios (2000 a 2003); b) Distribuir parte dos lucros conforme deliberação de fração dos sócios e parte observando a participação de cada sócio no capital social, indicando que os mesmos recebem contrapartida financeira desproporcional ao trabalho que efetivamente realizam sob a forma de distribuição de lucros. Constatações baseadas nos Memorandos de Lucros para Distribuição de 5.8.2003 e 26.1.2004, recibos de pagamento dos

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Acórdão nº 12.290

sócios da filial Rio (jan a dez/2003) e nas cláusulas presentes nas alterações do contrato socil desde 19.8.1993: cláusulas: 7, 11, 15 item ii “d”, 16 e 17; c) Adotar organização empresarial, “advocacia-empresa”, fato de conhecimento geral, e divulgado pelo próprio contribuinte em material de propaganda da empresa. Constatação feita na brochura de “Apresentação da empresa” às fls.10, 1º e 2º parágrafos, no livro de “Comemoração dos 60 anos da sociedade” às fls.45 – item 9, fls.54 – 2º parágrafo, fls.55, fls.57 – parágrafos 4º e 5º, fls.66 – 2º parágrafo, fls.71 – 2º e 4º parágrafos, fls.74 – 2º parágrafo, fls.89 – 3º parágrafo e às fls.133 do Livro J. M. Pinheiro Neto – O Advogado, Editora Green Forest do Brasil, 1ª edição (Nov/2004), bem como nos demonstrativos contábeis acima já citados e no balancete de verificação de maio/2004, conta aluguéis a pagar no. 210108; d) Ao exercer atividade diversa da habilitação profissional dos sócios, como as de tradutor, as de despachante e as de auditor de RH. Atividades estas declaradas, nos documentos de cobrança de serviços prestados pela sociedade Nos. 30649, 30646, 30473, emitidos em 17.6.04, 17.6.04 e 16.6.04, respectivamente, e também às fls.57, parágrafo último, da brochura de “apresentação da sociedade”, bem como o texto dedicado aos “Paralegais” no livro de “Comemoração dos 60 anos” (publicado em 2002).

Em 17/06/05, às fls.155/191, a Recorrente apresentou impugnação ao último

Termo de Retificação lavrado, na qual ratifica suas alegações anteriores e acrescenta, em resumo:

Em razão da consistência dos argumentos lançados pela impugnante na impugnação ao primeiro termo de retificação do auto de infração, o Fiscal autuante, antevendo que o auto seria cancelado, decidiu retificar o mesmo, alterando os fundamentos da autuação, em procedimento totalmente inaceitável, no qual detalhou os motivos pelos quais entende que a Impugnante não faz juz ao recolhimento do ISS com base no critério fixo por profissional habilitado;

O art.145, inciso II, do Código Tributário Nacional, veda que o lançamento tributário regularmente notificado ao contribuinte seja alterado por iniciativa de ofício da autoridade lançadora, salvo nas hipóteses expressamente previstas no seu art.149, nas quais não se enquadra o presente caso;

Transcreve doutrina, no sentido de que o erro de fato é passível de modificação espontânea pela Administração, mas não o erro de direito, ou seja, o lançamento se torna imutável para a autoridade, exceto por erro de fato;

O art.75 do Decreto Municipal nº 14.602/96, utilizado pelo Fiscal autuante para embasar o procedimento de retificação adotado no caso, é totalmente ilegal, em face do que dispõem os artigos 145, III, e 149 do CTN;

Pelo exposto, o termo de retificação deve ser simplesmente ignorado, em virtude de absoluta nulidade;

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Acórdão nº 12.290

O fato de os sócios da Impugnante trabalharem proporcionalmente menos do que os demais integrantes não descaracteriza a sua natureza uniprofissional. Os sócios são profissionais mais experientes, que coordenam o trabalho desenvolvido por suas equipes, orienando e revisando todos os serviços prestados, assumindo a responsabilidade por seu resultado;

Ao contrário do alegado pelo Fiscal autuante, o fato de a Impugnante prestar serviços de tradutor, despachante e auditor de RH não a caracteriza como sociedade empresarial. Isto porque estes serviços são apenas auxiliares em relação à atividade principal da Impugnante, que é a prestação de serviços de advocacia. São atividades-meio desempenhadas para a consecução da sua atividade-fim.

Em 17/09/05, às fls.236/278, o Fiscal autuante apresentou informação

fundamentada, nos termos do art.86 do Decreto nº 14.602/96, registrando, em apertadíssima síntese:

A fiscalização foi realizada em virtude do comando existente no processo 11/002.445/96, relativo ao acompanhamento pela Procuradoria Geral do Município da ação judicial da própria Impugnante, com a observância de orientação também emanada pela PGM, constante do processo 11/000.660/03;

A autuada exerce atividades diversas da habilitação profissional dos sócios e está organizada como empresa;

Junta cópias de alguns dos documentos cuja análise levou-o a concluir pela lavratura do auto de infração, às fls.279/705.

Em 27/12/05, à fl.709, o Coordenador da Coordenadoria de Revisão e Julgamento

Tributários solicitou pronunciamento da Procuradoria Geral do Município, em face da alegação da Impugnante de que o auto de infração guerreado não poderia exigir ISS calculado sobre o movimento econômico, em face de decisão judicial transitada em julgado.

O Procurador do Município Bruno Klapper Lopes informou, à fl.713:

No tocante ao Mandado de Segurança nº 1994.001.018086-4 (tombo nº 269/2004), cumpre informar o trânsito em julgado da sentença prolatada pelo juízo da 12ª Vara de Fazenda Pública do TJRJ que concedeu a segurança pretendida, no sentido de considerar inconstitucional a Lei. 2.080/93, declarando a impetrante desobrigada do recolhimento do ISSQN calculado sobre o movimento econômico e determinando a cobrança do ISSQN com base no Decreto-Lei nº 406/68.

O Procurador do Município José Eduardo Cavalcanti de Albuquerque, à fl.713,

exarou o seguinte despacho:

À F/SUBG. De acordo com os termos da sentença, procede a alegação contida na impugnação de fls.155/191.

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Acórdão nº 12.290

Cópia da referida sentença foi juntada, às fls.714/732. Às fls.735/740, foi juntada, a pedido do Contribuinte, cópia do Acórdão Nº 6.413

do Conselho de Contribuintes do Município do Rio de Janeiro (decisão por maioria de 5x3), de cuja ementa consta que é irrelevante, para a fruição do tratamento fiscal destinado às sociedades uniprofissionais, o percentual de distribuição de lucro constante de seus atos constitutivos.

Em 24/08/06, à fl.772, o Coordenador da Coordenadoria de Revisão e Julgamento

Tributários, com base no parecer de fls.742/771, julgou improcedente a impugnação apresentada e manteve integralmente o Auto de Infração Nº 100.736, lavrado em 20/12/04 e retificado em 14/01/05, 14/04/05 e 13/05/05.

Em 22/12/06, o Recorrente apresentou recurso voluntário de fls.778/814, no qual

ratifica suas alegações anteriores e acrescenta:

A própria Procuradoria do Município do Rio de Janeiro concordou expressamente com a improcedência da autuação, diante do fato de que a Recorrente tem em seu favor uma decisão judicial transitada em julgado, que reconhece o seu direito de recolher o ISS calculado de acordo com o número de profissionais habilitados, na forma do Decreto-Lei nº 406/68 (art.3º, §9º);

O órgão julgador de primeira instância, que havia determinado a manifestação da Procuradoria Tributária do Município, simplesmente ignorou tal manifestação, decidindo em sentido diametralmente oposto;

Não merece prosperar a afirmação contida na decisão recorrida, de que o manto da coisa julgada não alcançaria os fatos geradores do ISS abrangidos pela autuação, ocorridos na vigência das Leis Municipais n

os 2.956/99 e 3.720/04. Segundo a decisão ora recorrida, a

decisão transitada em julgado nos autos do processo judicial se aplicaria apenas ao período em que esteve em vigor a Lei Municipal nº 2.080/93, a qual foi questionada naqueles autos. A decisão recorrida, também, sustenta que as alterações promovidas pelas Leis Municipais n

os 2.956/99 e 3.720/04, no que diz respeito à cobrança do ISS das

sociedades uniprofissionais, teriam criado uma nova ordem legal de tributação à qual a Recorrente estaria sujeita;

Independentemente do que dispõe a legislação municipal, o fato é que a Recorrente teve expressamente reconhecido, pelo Poder Judiciário, o direito de recolher o ISS com base na legislação federal que rege a matéria, no caso, o Decreto-Lei nº 406/68 (art.3º, §9º). Assim, a coisa julgada se fez com base na legislação complementar federal, restando evidente que a coisa julgada formada no processo nº 94.001.018086-4 continua protegendo a Recorrente, de modo que ela não mais precisa se submeter à legislação municipal, razão pela qual não há que se falar na aplicação de uma nova ordem legal de tributação instituída pelas Leis Municipais n

os 2.956/99 e 3.720/04;

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CONSELHO DE CONTRIBUINTES Rubrica: fls. 882

Acórdão nº 12.290

O fato dos serviços de tradutor, despachante e auditor de RH serem prestados em grande escala não significa que sejam prestados de forma autônoma. Isso se deve ao grande volume de casos cuidados pela Recorrente, no curso de suas atividades.”

A Representação da Fazenda requer o improvimento do recurso.

É o relatório.

VOTO Conselheiro RELATOR

Trata-se de litígio tributário instaurado pela apresentação tempestiva de

impugnação ao auto de infração n.º 100.736, lavrado em 20/12/2004, contra o escritório PINHEIRO NETO ADVOGADOS, sob a alegação de que o Recorrente deveria ter recolhido, no período de julho de 2000 e junho de 2004, o ISS calculado com base no seu movimento econômico, à alíquota de 5%, e multa pelo descumprimento de obrigação acessória, sob a Alegação de que o Recorrente não emite Nota Fiscal de Serviços. Seguirei a ordem cronológica sugerida pela PROMOÇÃO do Representante da

Fazenda:

O Recurso Voluntário do Recorrente se apresentou com o objetivo de se destacar pontos pelos quais solicita que seja provido, a saber:

QUANTO À NULIDADE DE TERMO DE RETIFICAÇÃO DO AUTO DE INFRAÇÃO POR FALTA DE PREVISÃO LEGAL PARA SUA REALIZAÇÃO

O auto de infração foi objeto de 3 termos de retificação, lavrados em 14/01/2005, 14/04/2005 e 13/05/2005.

Segundo o recorrente o auto de infração lavrado originalmente trazia

fundamentação breve e singela, limitando-se a mencionar que o Recorrente supostamente teria “errado na determinação da base de cálculo, ao recolher o referido imposto pelo sistema fixo e não com base no movimento econômico como devia”. Mas, ao invés de simplesmente anular o auto de infração e lavrar outro, pela fundamentação que reputava adequada, como deveria logo ter feito, o Recorrido tentou corrigir a fragilidade da fundamentação inicial por meio da lavratura de termos de retificação.

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Acórdão nº 12.290

Como muito bem promovido pela Representação da Fazenda, nas retificações, não

houve mudança de critério jurídico, mas apenas a introdução de elemento cuja ausência implicava exigência em desacordo com a norma regulamentar vigente. Tais retificações, em realidade, foram realizadas em homenagem ao princípio da legalidade.

Frise-se que a 1ª retificação do lançamento corrigiu erro de fato (valor do ISS

devido) e que as 2ª e 3ª retificações, além de não terem alterado a fundamentação jurídica do lançamento original (art 44, observado o art 178, ambos da Lei 691/84), não introduziram no lançamento a cobrança de qualquer diferença de tributo, como também, foram realizadas em consonância com os dispositivos da legislação municipal que dispõem sobre as retificações de ofício, em harmonia com o disposto nos artigos 145, III, e 149, I, do CTN, e que seria improcedente a alegação de que o artigo 75 do Decreto nº 14.602/96 é ilegal.

Voto pela REJEIÇÃO desta preliminar, comungando com a Representação da

Fazenda.

QUANTO À OCORRÊNCIA DE OFENSA À COISA JULGADA

Cumpre salientar que recentemente, julgando casos análogos – Pedido de Reconsideração nº 1.237, na sessão de 13/08/2009 da Sociedade DANNEMANN SIEMSEN, BIGLER & IPANEMA MOREIRA LTDA. e Recurso Voluntário nº 10.134, na sessão de 02/06/2008 da Sociedade Domingues e Pinho Contadores Ltda, esse Egrégio Conselho cancelou as exigências fiscais.

A coisa julgada formada em torno do direito do Recorrente de recolher o ISS nos

termos do § 3º do artigo 9º do Decreto-Lei nº 406/1968, concedido às sociedades uniprofissionais. Foi precisamente o reconhecimento desse direito que foi requerido pelo Recorrente nos autos do Mandado de Segurança nº 1994.001.018086-4, que veio a ser acolhido pelo v. acórdão proferido pelo Egrégio Tribunal de Alçada Cível do Estado do Rio de Janeiro naquele processo e que se consolidou de forma definitiva e imutável com o trânsito em julgado da referida decisão judicial.

O instituto da coisa julgada é justamente conferir proteção, segurança e

estabilidade às partes e situações consolidadas sob o seu manto, impedindo-se que as mesmas voltem a ser questionadas reiterada e indefinidamente.

Para demonstrar este entendimento, o Recorrente anexou parecer nesse sentido e

especificamente para este caso elaborado pelo Professor Ricardo Lobo Torres, que, com muita propriedade afirma que “o art. 9º, § 3º do DL 406/68, com as ulteriores modificações introduzidas por leis complementares federais, está em vigor até hoje” (item 65 do parecer) e que o artigo 6º da Lei Municipal nº 3.720/2004 deve ser analisado à luz do referido dispositivo em vigor.

Nesse sentido, o parecer conclui que não se poderia descaracterizar a qualidade

uniprofissional do Recorrente, quando existe decisão judicial transitada em julgado reconhecendo que o mesmo atende aos requisitos legais e tem o direito líquido e certo para ser tributado como tal.

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Acórdão nº 12.290

Para o Professor Ricardo Lobo Torres, as alterações na legislação municipal não

justificam a revisão da coisa julgada, tendo em vista que “a coisa julgada formada naqueles autos [do mandado de segurança impetrado em nome do Recorrente] se consubstancia no direito subjetivo líquido e certo de o escritório Pinheiro Neto Advogados recolher o ISS por quantia fixa, na sistemática do Decreto-lei 406/68 e alterações posteriores, enquanto continuarem válidas as normas da lei complementar federal e persistir, como persiste, a mesma situação fática”.

Este entendimento está perfeitamente alinhado com os recentes precedentes

analisados por esse E. Conselho de Contribuintes. Peço vênia aos Senhores Conselheiros para relembrar o voto vencedor do Dr.

Fernando da Costa Guimarães constante do Acórdão nº 11.144 referente ao RV 10.134 do escritório Domingues e Pinho Contadores Ltda., como segue:

Votei pelo acolhimento da preliminar de coisa julgada, pelas mesmas razões constantes do voto que declarei, no julgamento do RV 10.235, de que resultou o Acórdão nº 10.769, de 27/01/2009, cujo teor transcrevo: A questão central deste processo consiste em determinar se a Recorrente está sujeita ao pagamento do ISS calculado sobre o preço de seus serviços ou de valores fixos, como sociedade uniprofissional. Entendo, porém, que a controvérsia está preclusa. A Colenda 6ª Câmara do tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro julgando apelação interposta pela ora Recorrente contra decisão denegatória do mandado de segurança preventivo, por ela impetrado contra autoridade fazendária do Município do Rio de Janeiro, por maioria de votos, deu provimento ao recurso “para que a tributação seja feita consoante o disposto no § 3º do art. 9º do Decreto-Lei nº 406/68” (fl. 141). A decisão transitou em julgado. Não há, pois, como se pretender que a segurança tenha sido concedida tão somente para proteger a contribuinte contra exigências formuladas com base na Lei nº 2.080/93. Tenho sustentado sempre, neste Conselho de Contribuintes e fora dele entendimento de que o tratamento diferenciado concedido a determinadas sociedades profissionais pelo § 3 º do art. 9º do decreto-lei nº 406/68 ser incompatível com a Constituição Federal de 1988, conforme salientado pelo eminente Desembargador RONALD VALLADARES, relator vencido no citado julgamento (fls. 142/145). Não vejo, porém, como validar auto de infração que se opõe a decisão judicial transitada em julgado que determinou fosse a Recorrente tributada “consoante disposto no § 3° do art. 9° do Decreto-Lei nº 406/68”. É de ser rejeitado o argumento de que a segurança fora concedida tão somente para afastar a aplicação da Lei nº 2.080/93 ora Recorrente.

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Acórdão nº 12.290

Tenha-se presente que não se está diante de decisão de ação direta de inconstitucionalidade dirigida contra a Lei nº 2.080/93 e sim de mandado de segurança preventivo que não se opôs, nem se poderia opor, contra lei em tese. A concessão de mandado de segurança pressupõe o reconhecimento da existência de direito líquido e certo, ou seja, aquele que tenha por suporte fazer previamente comprovados ou não negados pela autoridade coatora. Ao conceder segurança determinando que a Impetrante fosse tributada “consoante o disposto no § 3º do art. 9º do Decreto-lei nº 406/6.8”, que dispõe sobre a tributação própria das sociedades uniprofissionais, o tribunal reconheceu que a sociedade preenchia todos os pressupostos fáticos que, segundo a lei complementar federal, identificam a sociedade uniprofissional, não podendo a municipal negar o tratamento especial a quem preencha esses pressupostos, nem portanto, acrescentar exigências nela não contidas. Certamente que, se uma sociedade anônima impetrasse mandado de segurança opondo-se à Lei nº 2.080/93 e pretendendo ver reconhecido seu direito a tributação como sociedade uniprofissional, o manado de segurança seria denegado, não por se entender legítima a citada lei municipal, mas por não preencher a sociedade anônima impetrante os pressupostos exigidos na lei federal para ser reconhecida como sociedade uniprofissional. Em face ao exposto, votei pelo PROVIMENTO do recurso voluntário, a fim de determinar o cancelamento do auto de infração.

O Recorrente teve seu direito de recolher o ISS com base em valores fixos, nos

termos do artigo 9º, § 3º, do Decreto-lei nº 406/68, expressamente reconhecido por decisão transitada em julgado, proferida nos autos do Mandado de Segurança nº 94.001.018086-4, ocasião em que foi reconhecido pelo Poder Judiciário o seu caráter de sociedade uniprofissional, para fins de recolhimento do ISS com base no critério fixo.

QUANTO À VERIFICAÇÃO DE HIPÓTESES EXCLUDENTES DA CONDIÇÃO DE SOCIEDADE UNIPROFISSIONAL

Em brilhante parecer também elaborado especificamente para este caso, pelo

ilustre Professor Fábio Ulhoa Coelho (Titular de Direito Comercial da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), anexado aos autos, o parecer esclarece que o Recorrente por ser uma sociedade de advogados regularmente inscrita na Ordem dos Advogados do Brasil, jamais pode ser caracterizado como uma sociedade empresária. Em seguida, são examinados os quatro principais pontos apontados como elementos de empresa, que supostamente desqualificariam o caráter uniprofissional do Recorrente, demonstrando-se as razões pelas quais os mesmos não se sustentam, sendo:

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Quanto à questão da “pequena participação dos sócios face ao enorme volume de serviços prestados pela sociedade” o parecer esclarece que esse fato não descaracteriza uma sociedade como não empresária havendo até mesmo dispositivo legal (art. 16, § 2º da Lei n º 8.906/1994) que admite uma plena desvinculação entre trabalho dos sócios e a sua participação nos resultados (fls. 35 e 36 do parecer), sem que isso descaracterize o caráter uniprofissional e não-empresário da sociedade.

Quanto à forma de distribuição dos lucros aos sócios, o parecer afirma categoricamente que o fato de esta se dar segundo a participação de cada um no capital social não retira o caráter uniprofissional e não-empresarial do Recorrente, pois, além de não haver qualquer disposição legal expressa nesse sentido, pelo contrário, como afirmado, a legislação admite a plena desvinculação desses elementos, sendo relevante que, no somatório de forças que caracteriza a sociedade uniprofissional, “cada profissional intelectual contribui com as suas aptidões subjetivas e todos podem contar, assim, com aquilo que falta a cada um, quando atua isoladamente” (fls. 27 do parecer). É precisamente nesse sentido que tem se alinhado a jurisprudência de E. Conselho, conforme se verifica, dentre inúmeros precedentes, dos seguintes Acórdãos: Acórdão nº8.338 de 26/04/2005; Acórdão nº 8.703 de 11/04/2006; Acórdão nº 8.503 de 10/11/2005; Acórdão nº 8.329 de 26/04/2005; e Acórdão nº 8.362 de 02/06/2005.

Quanto à “organização empresarial” do Recorrente, o parecer aborda que a existência de sócios-gerentes, comitê diretivo e grupo executivo, que supostamente descaracterizaria a natureza de sociedade uniprofissional, o parecer afirma que a forma de organização interna na medida em que “ uma sociedade uniprofissional, assim, não adquire caráter empresarial por adotar determinada estrutura administrativa (por exemplo, contar com um Conselho Diretor), porque tal implicação simplesmente não existe nos quadrantes do direito privado” (fls 29).

Cabe ressaltar, que este entendimento não é diferente daquele que tem sido

acolhido por este E. Conselho, como ficou evidente no julgamento do processo nº 04/384.771/2000, Acórdão nº 8.187, Relator: Conselheiro Pedro Antonio Batista Martins, Sessão de 02/12/2004, em que o fato de um dos sócios da sociedade assumir a posição de “sócio-gerente” foi reconhecido até mesmo como sendo uma “decisão saudável”.

Quanto às atividades exercidas pela Recorrente, que supostamente, seriam diversas à habilitação dos sócios - serviços de auditoria de recursos humanos (RH), tradutor e despachante – o parecer esclarece que são, em realidade serviços prestados “em conexão com os típicos da advocacia”, não havendo que se falar em “descaracterização como sociedade não empresária”, conforme podemos observar as fls 584 do processo Nota nº 30473 com o controle das atividades e serviços prestados ao cliente com o valor total dos referidos serviços.

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Acórdão nº 12.290

Essa visão fica ainda mais reforçada quando se verifica que os serviços de

“auditorias de RH” compreendem a análise jurídica da documentação fornecida pelo departamento de Recursos Humanos dos clientes para verificar o cumprimento da legislação trabalhista; as traduções em questão são de documentos de ou para clientes, sendo utilizadas nos casos patrocinados no escritório, que os serviços de “despachante” são atividades como registros de atos societários, obtenção de certidões junto a cartórios, reconhecimento e autenticação de firma, dentre outros realizados “contextualizados sempre na prestação de serviços advocatícios” fls 34 do parecer.

Nessa mesma linha, existem diversos precedentes desse E. Conselho, dentre eles o

Processo nº 04/351.256/2001, Acórdão nº 8.329, Relator designado para redigir o voto vencedor: Conselheiro Marco Aurélio Arruda de Oliveira, Sessão do dia 26/04/2005, ocasião em que se reconhece que a prestação de atividades por empregados não habilitados para o exercício da atividade fim não “descaracteriza” a pessoalidade do trabalho dos sócios, uma vez que a atividade fim de elaboração do laudo após a análise do material remanescente, somente poderá ser exercida pelo profissional médico especializado, que assumirá a responsabilidade pessoal naquela atividade, realizada em nome da sociedade”. QUANTO À OBRIGATORIEDADE DE EMISSÃO DE NOTAS FISCAIS DE SERVIÇOS

No segundo item da autuação é exigida a multa formal prevista no art. 51, inciso II, item 1, alínea “a” da Lei nº 691/84.

O Recorrente entende que as sociedades uniprofissonais não estão obrigadas a

emitir notas fiscais de serviços, porque tais documentos se prestariam ao controle dos valores devidos pelos contribuintes tributados sobre o preço dos serviços prestados. Alega o Recorrente, ainda, que a dispensa da emissão das referidas notas fiscais decorre da própria sistemática de recolhimento do ISS aplicável às sociedades uniprofissionais. Contudo, o próprio Recorrente admite que, atualmente, não há previsão expressa na legislação dispensando as sociedades uniprofissonais de emitir tais documentos , o que havia anteriormente na redação do tem 7, § 2º do art. 182 do Decreto nº 10.514/91.

Embora não haja, atualmente, previsão expressa na legislação dispensando as

sociedades unirpofissionais de emitir notas fiscais de serviços, entendo que as referidas sociedades não estão obrigadas a emitir o dito documento, como também proferido pelo E. Superior Tribunal de Justiça, que se aplica analogicamente o caso em tela na medida que reconhece que não se pode exigir do contribuinte o cumprimento de obrigações acessórias relacionadas ao recolhimento do tributo que não seja devido.

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QUANTO À MULTA PENAL

O Recorrente tem todas as características de sociedade uniprofissional, além de possuir decisão transitada em julgado dando o direito de recolher o ISS por alíquotas fixas definidas pela legislação. Dessa forma, não seria aplicável multa por erro de base de cálculo, falta de pagamento, além de não ter havido fraude ou sonegação, acompanhadas de dolo ou má-fé.

Entendo que não seria aplicável a menção de multa ao caso em questão e deixo o

tema para ser definido, seja pela ofensa a coisa julgada, seja no mérito da questão.

CONCLUSÃO/ MÉRITO

O Recorrente teve seu direito de recolher o ISS com base em valores fixos, nos termos do artigo 9º, § 3º, do Decreto-lei nº 406/68, expressamente reconhecido por decisão transitada em julgado, proferida nos autos do Mandado de Segurança nº 94.001.018086-4, ocasião em que foi reconhecido pelo Poder Judiciário o seu caráter de sociedade uniprofissional, para fins de recolhimento do ISS com base no critério fixo.

Além disso, o Recorrente demonstrou que das regras previstas no Estatuto da

Advocacia e da OAB (Lei nº 8.906/94) referentes às sociedades de advogados, infere-se que todas as sociedades dessa categoria fazem jus ao recolhimento do ISS de acordo com o critério fixo, em razão do caráter pessoal dos serviços que prestam e da vedação expressa que tenham natureza mercantil, empresarial. Como mencionado acima, esse entendimento é corroborado pela doutrina e pela jurisprudência, especialmente dos Tribunais Superiores.

As sociedades de advogados serão sempre sociedades simples, eis que a Lei nº

8906/94 já definiu o seu perfil. Impõe o registro de seus atos constitutivos na Ordem dos Advogados do Brasil, perante o Conselho Seccional cuja base territorial tiver sede; efetivado o registro adquiri a sociedade personalidade jurídica (§ 1º do art. 15). Seu objeto estará sempre limitado à prestação de serviços de advocacia por seus membros (caput, do art. 15), devendo as procurações ser individualmente outorgadas aos advogados, e não à sociedade, a qual será apenas indicada nos respectivos instrumentos. (Dados obtidos nas fls 806 – dos ensinamentos de Sérgio Campinho – O Direito de Empresa a Luz do Novo Código Civil).

Adicionalmente, recentemente, em 05 de abril de 2011, através do AgRg no

Agravo de Instrumento nº 1.361.783 – MG (2010/0185747-1), do Superior Tribunal de Justiça, tendo como Relator: Ministro Castro Meira e como Agravante : O Município de Belo Horizonte e como Agravado: Arges e Arges Advogados Associados, transcrevo abaixo o Item 2 da EMENTA:

A sociedade uniprofissional de advogados de natureza civil, qualquer que seja o conteúdo de seu contrato social, goza do tratamento tributário diferenciado previsto no art. 9º, §§ 1º e 3º, Decreto-Lei nº 406/68, não recolhendo o ISS com base no seu faturamento bruto, mas sim no valor fixo anual calculado de acordo com o número de profissionais que a integra.

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Foi demonstrado, para cada ponto que a Recorrente não se reveste de caráter

empresarial. Resta evidenciado o direito do Recorrente de recolher o ISS com base no número de profissionais habilitados, tal como sempre procedeu, e não com base em seu faturamento.

Pelos motivos acima expostos, voto pelo PROVIMENTO INTEGRAL do recurso

voluntário interposto, julgando totalmente improcedente o Auto de Infração nº 100.736, de 20/12/2004, determinando o seu cancelamento.

É o meu voto.

VOTO VENCEDOR (Quanto ao item 2 do Auto de Infração)

Conselheiro ALFREDO LOPES DE SOUZA JUNIOR Na sessão de julgamento havida no dia 25/08/2011, após o voto do Relator

Conselheiro ABEL MENDES PINHEIRO JÚNIOR, pelo provimento integral do recurso voluntário para cancelar o Auto de Infração nº 100.736, de 20/12/2004, solicitei vista dos autos para melhor examiná-los à luz dos sólidos argumentos defendidos pelo Recorrente e pela Representação da Fazenda em suas alegações.

Cuidaremos, portanto, de examinar os pontos suscitados no Recurso Voluntário de

fls. 778/814 e na promoção da Representação da Fazenda de fls. 830/857, de modo a melhor instruir este julgado.

DA NULIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO POR OFENSA AO ARTIGO 145, III E 149 DO CTN

Suscitou o Recorrente a nulidade do auto de infração a ter por base as três

retificações que foram promovidas pelo órgão lançador que, segundo o Recorrente, alterou o critério jurídico da autuação de modo a cercear o seu direito à ampla defesa, violando os artigos 145, III e 149, ambos do Código Tributário Nacional.

Alisando as três retificações ao auto de infração, feitas em 14/01/2005,

14/04/2005 e 13/05/2005, comungo com o entendimento exarado pelo Relator no sentido de não ter havido qualquer cerceamento do direito à defesa do Recorrente. Isto porque, em se tratando de retificações que importaram em simples correção de erro de fato, não caracterizando mudança da fundamentação jurídica do auto de infração original, o procedimento adotado pela fiscalização encontra respaldo nos artigos 75 e 78 do Decreto nº 14.602/96.

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Acórdão nº 12.290

Por estas razões, ratifico integralmente o voto do Conselheiro ABEL MENDES

PINHEIRO JÚNIOR, não acolhendo a preliminar de nulidade do auto de infração.

DA COISA JULGADA MATERIAL

O Recorrente logrou obter em seu favor acórdão transitado em julgado, proferido pela então Sexta Câmara Cível do extinto Tribunal de Alçada Cível do Estado do Rio de Janeiro, nos autos da Apelação Cível nº 1.137/95, cuja ementa é a seguinte:

TRIBUTÁRIO – I.S.S. – Sociedade uniprofissionais – Base de cálculo – Até que seja editada nova lei complementar sobre a matéria, continuam a viger as disposições do Dec. lei nº 406/68, alterado pelo Dec. lei nº 834/69, as quais foram recepcionadas pela atual Constituição Federal – Assim, o imposto reclamado, devido por tais sociedades, se regulará pelo § 3º do art. 9º daquele diploma legal, através do regime fixo anual, por profissional habilitado, que preste serviços em nome dessa sociedade. Desprovimento do recurso voluntário e confirmação do julgado, em reexame necessário.

O voto do Relator, Juiz LUIZ ODILON GOMES BANDEIRA, está assim redigido:

[....] E, em sendo assim, não poderia o Município alterá-la, ou extingui-la, pois em assim o fazendo, além de virtualmente estabelecer, para o caso, base de cálculo idêntica à do Imposto de Renda, malferiu a Lei Complementar, o referido Dec. lei nº 406/68, que regula o ISS. E isto ele não poderia fazê-lo, por lhe falecer competência para tal. Restou, pois demonstrado, a meu ver, o direito líquido e certo da Impetrante, de recolher o ISS na sistemática daquele Decreto-lei e não na forma exigida pelo Município, razão por que, mantendo-se integralmente a r. sentença recorrida, nega-se provimento ao recurso voluntário, dela interposto e, em reexame necessário, confirma-se o julgado do Primeiro Grau de Jurisdição. É como voto”.

A coisa julgada formada nos autos do processo judicial acima transcrito é peremptória e não admite dúvida ao garantir o direito subjetivo líquido e certo do Recorrente a recolher o ISS por quantia fixa, na sistemática do Decreto-Lei nº 406/68.

O artigo 9º, § 3º, do Decreto-Lei nº 406/68, por sua vez, encontra-se em plena

vigência, pois não houve revogação expressa pela Lei Complementar nº 116/03 ou mesmo tácita - por eventual conflito entre o seu texto e o existente na Lei Complementar nº 116/03.

Recepcionado o artigo 9º, § 3º do Decreto-Lei nº 406/68 pela Constituição Federal

de 1988 com status de lei complementar definidora do campo de incidência do ISS, não poderia a legislação municipal, inaugurada pela Lei nº 691/84, com alterações promovidas pelas Leis nºs 2.080/93, esta declarada inconstitucional pelo STF, 2.956/99, 3.691/03, esta revogada pela Lei nº 3.720/04, alterar o conceito de sociedade uniprofissional, mas somente para quantificar a base de cálculo do ISS fixo.

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Acórdão nº 12.290

A revisão da coisa julgada, no meu entender, somente caberia na hipótese do

artigo 471, I do Código de Processo Civil ou por ação rescisória, nas hipóteses ventiladas nos incisos I a IX do artigo 485 do mesmo código.

A ação rescisória, com o transcurso do prazo prescricional de dois anos a que

alude o artigo 495 do CPC, está descartada de plano. A revisão da coisa julgada na hipótese dos autos, ao meu ver, também improcede uma vez que a situação fática do Recorrente continua a mesma da época em que se materializou a coisa julgada, tendo em vista que o Recorrente continua sendo sociedade de advogados, registrada junto à Ordem dos Advogados do Brasil sob os ditames da Lei nº 8.906/94, além de manter a mesma estrutura societária.

Registre-se, outrossim, que a própria Procuradoria do Município, chamada a se

manifestar às fls. 709 dos presentes autos acerca da ocorrência da coisa julgada nos autos do Mandado de Segurança nº 1994.001.018086-4, expressamente afirmou que o alcance da decisão judicial desobrigou o impetrante, ora Recorrente, a recolher o ISS calculado sobre o movimento econômico, determinando seja sua cobrança efetuada segundo o Decreto-Lei nº 406/68.

A promoção do Procurador do Município não comporta dúvida:

À F/SUBG De acordo com os termos da referida sentença, procede a alegação contida na impugnação de fls. 155/191.

Concluo, portanto, no sentido de que a existência da coisa julgada proferida nos

autos do Mandado de Segurança nº 1994.001.018086-4 fulmina por completo a pretensão da autoridade lançadora em querer cobrar o ISS do Recorrente com base no movimento econômico.

DAS ATIVIDADES DO RECORRENTE

Ainda que os argumentos acima não bastassem para demonstrar o desacerto do lançamento, convém registrar que o Recorrente é sociedade de advogados registrada junto à Ordem dos Advogados do Brasil cuja legislação específica, Lei nº 8.904/94, expressamente dispõe que tal tipo societário somente comporta a associação entre advogados (art. 15, caput), havendo impedimento ao registro de sociedades de advogados que apresentem forma ou características mercantis (art. 16).

As alegações de que as características do Recorrente, que é notoriamente

conhecido no mercado por possuir bancas em diversas Cidades do País e no exterior, atuando nos mais diversos ramos do direito, ocupando escritórios de alto luxo, auferindo receitas no exterior, com grande número de sócios e pessoal administrativo, além de complexa estrutura societária a mim não lhe retira a natureza de sociedade de advogados.

Nem mesmo quando o Recorrente agrega aos seus serviços despesas com

tradução, locomoção, cópias, telefonemas, fax, hospedagem, etc teria o condão de retirar-lhe esta condição, dado que o estatuto da advocacia não faz qualquer distinção entre as sociedades de advogados.

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Não há, portanto, como querer classificar a sociedade de advogados como

„empresária‟ ao teor do que dispõe o artigo 966 do Código Civil, ainda mais porque o exercício profissional da advocacia depende da outorga de mandato na pessoa do advogado e não à sociedade, o que demonstra a pessoalidade e a responsabilidade do mesmo pelos serviços jurídicos prestados.

DA OBRIGATORIEDADE DE POSSUIR NOTAS FISCAIS

No segundo item da autuação é exigida a multa formal prevista no art.51, inciso II, item 1, alínea “a”, da Lei nº 691/84.

Sob este aspecto comungo com o entendimento exarado pela Representação da

Fazenda, porque considero que a posse de documento fiscal e o cumprimento das demais obrigações assessórias é inerente ao tipo societário ou mesmo à natureza dos serviços, ficando, ao meu ver, evidenciada a exigência da multa formal ao teor do que dispõe o artigo 48, da Lei nº 691/84 combinado com o artigo 182, inciso I, do Decreto nº 10514/91.

DA MULTA PENAL

Por considerar que a autuação carece de amparo legal, seja sob o ponto de vista da ocorrência da coisa julgada, seja pela própria natureza jurídica do Recorrente, corolário lógico é a extinção da multa penal imposta na autuação.

Ante o exposto, voto por DAR PARCIAL PROVIMENTO ao Recurso Voluntário

para cancelar o item 1 do Auto de Infração nº 100.736, de 20/12/2004, mantendo-se a aplicação da multa formal, em virtude do Contribuinte não possuir notas fiscais (item 2 da autuação).

É como voto.

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VOTO VENCIDO (Quanto ao item 1 do Auto de Infração)

Conselheiro DOMINGOS TRAVAGLIA

Acompanhando os pares quanto a não reconhecer no procedimento inaugural a alegada nulidade por cerceamento ao direito de defesa, fato não demonstrado à vista de todos, e, em maioria, relativamente à cominação de penalidade pela infração não possuir documentos fiscais, venho, porém, quanto ao mais, apresentar minhas razões para divergir do que se consagrou ao final na decisão do Colegiado.

Em primeiro lugar, hei de me manifestar contra a pretendida prejudicialidade

imposta ao exame do mérito da questão principal, sob o argumento de estar-se diante do albergue de coisa julgada judicial, ao fundamento de que a decisão proferida em face do Mandado de Segurança impetrado pela Recorrente nos idos de 1994 (1994.001.018086-4 – Tombo nº 269/2004 – conforme fls. 713 do presente) estaria comportando a amplitude que assim se lhe pretende atribuir.

Não é como vejo os efeitos da referida decisão, porém. Isto, sem qualquer

pretensão de desprestigiar respeitosas opiniões divergentes neste sentido, tendo em vista a complexidade do tema.

Porém, a nosso sentir, não se poderia ter por definitivo, num universo de reflexões

compreendendo o elenco dos princípios constitucionais inafastáveis, a consagração de coisa julgada quando se está diante de avaliações sobre fatos possivelmente não conhecidos, ou não explorados em plenitude (erro material), seja qual tenha sido a eventual causa para esse efeito, e, mais ainda, quando se tenha de avaliar as repercussões dos fatos diante de suporte legal diverso, porque sobrevindo no tempo, quando da formatação das judiciosas conclusões sobre a matéria submetida ao crivo do poder competente.

No primeiro caso, estaria eu desafiando a realidade se entendendo que todos os

fatos que hoje compõem a lide, por exemplo, e ainda mais outros que certamente permeiam o desenvolvimento dos negócios da pessoa jurídica autuada, puderam estar presentes, dando a oportunidade de os explorarem os respeitáveis sentenciantes na ação judicial. Não imagino tenha isso sido possível.

No outro caso, deve-se levar em conta que não há se perquirir sobre os efeitos da

decisão contra a constitucionalidade da Lei nº 2.080/1994, que se fez repercutir nas relações tributárias entre determinados contribuintes do ISS e a Prefeitura, uma vez que todo o período alcançado pelo lançamento inaugural abordou a infração, pagamento a menor por erro na identificação da base de cálculo, já sob a vigência de Lei diversa, superveniente, que, sob forma e definição de alcance emprestados pelo Legislador, reintroduziu o tratamento diferenciado na questão que se apresenta.

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Porque esgotando o tema no caso concreto, peço vênia para adotar, transcrevendo

a seguir, a promoção da douta Representação da Fazenda, tomando o circunstanciado encaminhamento que contém como se de minha lavra fosse.

DA INOCORRÊNCIA DE OFENSA À COISA JULGADA O art.92 do Decreto 2.477/80 dispõe: Art.92 – A execução definitiva ou provisória de decisão judicial será sempre precedida de audiência da Procuradoria Geral do Município, que orientará a Administração quanto aos atos a praticar. A Procuradoria Tributária do Município do Rio de Janeiro, por meio do Parecer PG/PTR/ 004/03-AVC, aprovado pelo Procurador Geral do Município, orientou a F/CIS quanto às sociedades uniprofissionais, aos limites da coisa julgada e à possibilidade de fiscalização destas empresas. As conclusões às quais chegou a PG/PTR, no referido parecer, encontram-se abaixo transcritas: a) se a questão relativa à natureza uniprofissional da sociedade autora foi objeto do pedido inicial e foi contemplada na parte dispositiva do decisum, não há como se rediscutir tal enquadramento. A única exceção seria a comprovação da alteração da situação fática que embasou a decisão judicial. Nesta hipótese, no entanto, o ônus da prova seria do Município; b) se a discussão acerca da alegada natureza uniprofissional da sociedade autora não foi objeto de pedido específico – servindo tão somente como motivação para o reconhecimento do benefício – o que transitou em julgado foi a parte da decisão que reconheceu o seu direito de recolher o ISS através de valor fixo, afastada a aplicação da Lei 2080/94 (artigo 469, I e II do CPC); c) Em relação ao período de tempo em que vigorou tal lei municipal, não pode a fiscalização realizar nenhuma atividade tendente a cobrar do autor o imposto sobre o preço do serviço, ainda que sob o argumento de não ter sido apreciada pelo Juízo alguma circunstância que lhe retire o caráter uniprofissional; d) Apesar de a questão relativa à qualificação da empresa ter servido, tão somente, como motivação para o reconhecimento do pedido autoral, a verdade é que a decisão, transitada em julgado, lhe reconheceu o direito de recolher o ISS em conformidade com o art.9º, parágrafo terceiro, do Decreto Lei 406/68, não havendo como, por vias transversas, alterar a coisa julgada material; e) No entanto, o aspecto temporal não pode ser olvidado. A partir da revogação da Lei nº 2080/94 e da vigência da que a sucedeu – Lei nº 2956/99 – deixa de ter aplicação a decisão judicial, pois passa a ser outro o fundamento legal da tributação. Logo, a partir do novo diploma legal, pode a Fazenda iniciar ação fiscal na empresa e, se for o caso, desenquadrá-la da condição de sociedade uniprofissional. Deve, no entanto, documentar todo o procedimento fiscal, colhendo documentação hábil e suficiente a fazer prova em sede judicial.

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f) Por outro lado, algumas decisões judiciais se referem a um período específico de tempo, delimitado no pedido inicial. Ex: ISS devido pelos serviços prestados entre os meses de março de 95 e julho de 96. Nessa hipótese, o Fisco Municipal poderá, através de fiscalização que demonstre o seu caráter empresarial, tributar o contribuinte com base na prestação de serviços, fora dos períodos alcançados pela ação declaratória. O reconhecimento do caráter uniprofissional da sociedade autora não foi alcançado pela coisa julgada material. A parte dispositiva da decisão prolatada pelo juízo da 12ª Vara de Fazenda Pública do TJRJ está abaixo transcrita (fl.732): NEGO APLICAÇÃO à lei nº 2.080/93, por inconstitucionalidade e ilegalidade. EM CONSEQUÊNCIA, denego o writ, relativamente à primeira autoridade impetrada e concedo-o, quanto à segunda, declarando a impetrante desobrigada do recolhimento do ISSQN como ali previsto, e determinando a cobrança do ISSQN, com base do decreto-lei nº 406/68, tornando, ademais, definitiva a liminar concedida. PAGARÁ o Município as custas do processo. SEM HONORÁRIOS, de acordo com os verbetes nº 512, de Súmula do egrégio Supremo Tribunal Federal, e 105, do colendo Tribunal de Justiça. SUBMETO a presente ao duplo grau obrigatório de jurisdição. Resta demonstrado que a decisão mencionada não declarou que a Recorrente é sociedade uniprofissional. Em realidade, o Juiz que proferiu a sentença indeferiu a terceira preliminar apresentada pela Procuradoria do Município, tendente à produção de provas de que a empresa atendia às exigências da legislação para o reconhecimento de sua qualidade de sociedade uniprofissional, nos seguintes termos (fl.724): 37. INSTA, ADEMAIS, OBSERVAR que a terceira preliminar, descrita no item 14, desta sentença, espelha forte contradição do Município, porque, então, teria alegado impossibilidade jurídica do pedido, ao argumento retro-analisado, para, logo a seguir, exigir prova pré-constituída de requisito também constante do dispositivo revogado, naquela mesma lei... 38. COMO SE NÃO BASTASSE, resulta óbvio que a impetrante recolhia o tributo nos termos do revogado artigo, presumindo-se que o Fisco Municipal era o primeiro a considerá-la sociedade uniprofissional... 39. REJEITO, PORTANTO, mais essa preliminar peremptória. Quando do julgamento da Apelação Cível nº 1.137/95, interposta pelo Município contra a decisão acima mencionada, a Sexta Câmara Cível do Tribunal de Alçada Cível do Estado do Rio de Janeiro proferiu acórdão cuja ementa está abaixo transcrita (fl.92):

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TRIBUTÁRIO – I.S.S. - Sociedades uniprofissionais – Base de cálculo – Até que seja editada nova lei complementar sobre a matéria, continuam a viger as disposições do Dec.-lei nº 406/68, alterado pelo Dec.-lei nº 834/69, as quais foram recepcionadas pela atual Constituição Federal – Assim, o imposto reclamado, devido por tais sociedades, se regulará pelo §3º do art.9º daquele diploma legal, através do regime fixo anual, por profissional habilitado, que preste serviços em nome dessa sociedade. Desprovimento do recurso voluntário e confirmação do julgado, em reexame necessário. A preliminar anteriormente mencionada foi reapresentada pelo Município e, mais uma vez, foi rejeitada, nos seguintes termos (fls.94/95): Despicienda a alegação de ser necessária a dilação probatória, para o deslinde de matéria fáctica, consubstanciada esta na qualidade de sociedade uniprofissional da Impetrante e na analogia traçada com os profissionais autônomos, com os quais pretende ela invocar tratamento isonômico. E se torna despicienda, porque o próprio instrumento societário, adunado às fls.16/27, entremostrou que os sócios dessa pessoa jurídica possuem idêntica profissão e que o objetivo da mesma é, exclusivamente, a prestação de serviços profissionais de advocacia em geral, de consultoria jurídica e a execução de encargos correlatos (fls.20), o que vem atender aos requisitos legais, para ela ser assim considerada. Ressalte-se, ademais, que dita sociedade estava inscrita no cadastro municipal do ISS (fls.28), com tais características, há vários exercícios, como se pode inferir da própria Alteração contratual acostada, não se evidenciando, nos autos, que tenha havido discussão anterior sobre esse ponto. Ora, se a Edilidade considerava a Impetrante, como sociedade uniprofissional, para fins de pagamento do ISS, desnecessária se tornava a produção de outras provas, para comprová-lo, inexistindo razões válidas, para se duvidar dessa qualidade. E a afirmação do Apelante, de que os sócios da Impetrante recebem contrapartida financeira, ou aportes de capital, desproporcional ao trabalho, que efetivamente realizam, sob a forma de distribuição de lucros, a lhe emprestar caráter empresarial, mereceria estar cumpridamente provada, o que ele não fez nestes autos. Mantém-se, pois, mais uma vez, a rejeição dessas prefaciais, rejeição essa que, ao contrário do que se asseverou, não implica em qualquer vulneração à norma do art.149, VIII, do Código Tributário Nacional. Assim, mais uma vez, a Justiça impediu a produção de provas requerida pelo Município, sem, contudo, ter declarado ser a Recorrente uma sociedade uniprofissional. Importante ressaltar que a situação fática que levou a Justiça a impedir a produção das provas consideradas necessárias pelo Município resumiu-se ao Contrato Social da Recorrente e ao fato de o Município não ter, anteriormente, questionado sua natureza.

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Vale lembrar que, conforme bem lançado no Parecer PG/PTR/ 004/03-AVC, mesmo que o caráter de sociedade uniprofissional da Recorrente tivesse sido reconhecido na decisão judicial transitada em julgado, o que nunca é demais repetir que não aconteceu, as provas produzidas pelo Fiscal de Rendas autuante seriam suficientes para demonstrar a alteração da situação fática analisada pela Justiça, à época, consubstanciada apenas no contrato social da Recorrente e em suposta inércia da Secretaria Municipal de Fazenda. Quanto à alegação da Recorrente no sentido de que o órgão julgador de primeira instância, que havia determinado a manifestação da Procuradoria Tributária do Município, simplesmente ignorou tal manifestação, decidindo em sentido diametralmente oposto, a Representação da Fazenda entende ser a mesma equivocada. Senão vejamos. Conforme anteriormente relatado, o Procurador do Município Bruno Klapper Lopes informou, à fl.713: No tocante ao Mandado de Segurança nº 1994.001.018086-4 (tombo nº 269/2004), cumpre informar o trânsito em julgado da sentença prolatada pelo juízo da 12ª Vara de Fazenda Pública do TJRJ que concedeu a segurança pretendida, no sentido de considerar inconstitucional a Lei. 2.080/93, declarando a impetrante desobrigada do recolhimento do ISSQN calculado sobre o movimento econômico e determinando a cobrança do ISSQN com base no Decreto-Lei nº 406/68. Após o despacho acima transcrito, o Procurador do Município José Eduardo Cavalcanti de Albuquerque, à mesma folha, exarou o seguinte despacho: À F/SUBG. De acordo com os termos da sentença, procede a alegação contida na impugnação de fls.155/191. No primeiro despacho acima transcrito, o Procurador do Município Bruno Klapper Lopes foi claro e preciso, ao informar que a decisão, por considerar inconstitucional a Lei nº 2.080/93, determinou a cobrança do ISS com base no Decreto-Lei nº 406/68. No segundo despacho, o Procurador do Município José Eduardo Cavalcanti de Albuquerque, com a devida vênia, foi pouco claro, ao não especificar qual das alegações contidas na impugnação ele considerava procedente. É nesta lacuna que a Recorrente pretende encontrar opinamento favorável a sua tese de impossibilidade de tributação de suas atividades com a utilização do movimento econômico como base de cálculo. A Representação da Fazenda entende que, em sua manifestação, o Procurador José Eduardo Cavalcanti de Albuquerque apenas corroborou o entendimento do Procurador Bruno Klapper Lopes, no sentido de que, uma vez considerada inconstitucional a Lei nº 2.080/93, foi garantido à Recorrente o direito de recolher o ISS com base no Decreto-Lei nº 406/68. Outra interpretação não pode ser dada ao segundo despacho, por uma razão muito simples: a decisão judicial em tela jamais reconheceu o caráter de sociedade uniprofissional da Recorrente, tendo produzido, tão somente, os efeitos discriminados no primeiro despacho.

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A partir da revogação da Lei nº 2.080/94 e da vigência da que a sucedeu, a Lei nº 2.956/99, deixou de ter aplicação a decisão judicial em tela, haja vista que a tributação passou a ter outro fundamento legal. A Lei nº 2.956/99 reintroduziu na Lei nº 691/84 a tributação por valores fixos das sociedades uniprofissionais: Art. 33 - O imposto será calculado da seguinte forma: I - serviços prestados: [....] c) por sociedades uniprofissionais, de que trata o art. 29, observado o seu parágrafo único: (Lei nº 2.956 de 29.12.99) Sociedades uniprofissionais Imposto mensal por sócio ou profissional habilitado, empregado ou não Até cinco sócios ou profissionais habilitados 25,08 Ufir (Lei nº 3.018 de 27.04.2000) De seis a dez sócios ou profissionais habilitados No que exceder a cinco sócios ou profissionais habilitados, 50,16 Ufir (Lei nº 3.018 de 27.04.2000) Mais de dez sócios ou profissionais habilitados No que exceder a dez sócios ou profissionais habilitados, 75,24 Ufir (Lei nº 3.018 de 27.04.2000) Frise-se que na alínea “c” do art.33 da Lei nº 691/84, cuja redação foi dada pela Lei nº 2.956/99, há menção ao art.29 da Lei nº 691/84, reintroduzido pela Lei nº 2.956/99, em cujo parágrafo único estão elencadas condições excludentes da classificação como sociedade uniprofissional: Art. 29 - Quando os serviços a que se referem os incisos I, IV, VIII, XXV, LII, LXXXVIII, LXXXIX, XC, XCI e XCII do art. 8º forem prestados por sociedades uniprofissionais, o imposto será calculado de acordo com a alínea “c” do inciso I do art. 33, em relação a cada profissional habilitado, sócio, empregado ou não, que preste serviços em nome da sociedade, embora assumindo responsabilidade pessoal, nos termos da lei aplicável. Parágrafo Único - Não se considera uniprofissional, devendo pagar imposto sobre o preço do serviço prestado, aquela sociedade: 1 - cujos serviços não se caracterizem como trabalho pessoal dos sócios, e sim como trabalho da própria sociedade; 2 - cujos sócios não possuam, todos, a mesma habilitação profissional; 3 - que tenham como sócio pessoa jurídica; 4 - que tenham natureza comercial; 5 - que exerçam atividade diversa da habilitação profissional dos sócios. (grifos nossos)

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Desta forma, resta demonstrada a improcedência da alegação da Recorrente no sentido de que a fiscalização municipal vem se aproveitando da disposição introduzida pelo art.6º, inciso IV, da Lei nº 3.720/04, que prevê que as sociedades que se revestirem de caráter empresarial não estão sujeitas ao critério fixo de tributação, para exigir o ISS de sociedades uniprofissionais sobre o seu movimento econômico. A Recorrente entende que, ainda que se revestisse de caráter empresarial, o que acredita não ocorrer, a cobrança do ISS sobre seu movimento econômico somente seria válida após a entrada em vigor da Lei nº 3.720/04 cujo art.5º dispõe: Art. 6º Não se enquadram nas disposições do artigo anterior, devendo pagar o Imposto Sobre Serviços tendo como base de cálculo o total das receitas auferidas no mês de referência, as sociedades: I – cujos serviços não se caracterizem como trabalho pessoal dos sócios, e sim como trabalho da própria sociedade; II – cujos sócios não possuam, todos, a mesma habilitação profissional; III – que tenham como sócio pessoa jurídica; IV – que tenham natureza comercial ou empresarial; V – que exerçam atividade diversa da habilitação profissional dos sócios. (grifos nossos) É completamente equivocado tal entendimento, haja vista que, desde a reintrodução na Lei nº 691/84 da tributação por valores fixos para as sociedades uniprofissionais, promovida pela Lei nº 2.956/99, a ocorrência de qualquer das hipóteses excludentes da classificação como sociedade uniprofissional elencadas no art.29 da Lei nº 691/84, referido na alínea “c” do art.33 da mesma Lei, implicaria o pagamento do imposto sobre o preço do serviço prestado. Em outras palavras, o acréscimo da palavra empresarial no inciso IV da Lei nº 3.720/04 nada trouxe de novo em relação ao disposto no item 1 do parágrafo único do art.29 da Lei nº 691/84, com redação dada pela Lei nº 2.956/99, o qual, já tinha previsto que “não se considera uniprofissional, devendo pagar imposto sobre o preço do serviço prestado, aquela sociedade cujos serviços não se caracterizem como trabalho pessoal dos sócios, e sim como trabalho da própria sociedade”. Frise-se que a interpretação que a Representação da Fazenda dá ao art.29 da Lei nº 691/84, com redação dada pela Lei nº 2.956/99, cuja matriz é o §3º do art. 9º do Decreto-lei nº 406/68, está em perfeita harmonia com os posicionamentos pacíficos do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça, no sentido de que o caráter empresarial afasta o direito ao privilégio de que trata o art.9º do Decreto-Lei nº 406/68: A jurisprudência, na interpretação do disposto no § 3º, tem entendido, com acerto, que só tem direito à tributação do ISS sob o regime privilegiado a sociedade dita profissional, prestadora de serviços em que o sócio, empregado ou não, execute serviços pessoalmente, em nome da sociedade, mas assumindo responsabilidade pessoal. De modo que, se a sociedade perde essa característica de trabalho pessoal e adquire, pela sua dimensão econômica, forma empresarial, perde o caráter de sociedade profissional e deixa de fazer jus ao regime especial de tributação fixa. Essa, com efeito, é a melhor interpretação ao disposto no § 3º do art. 9º do Decreto-lei nº 406/68.

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Pela própria remissão contida no § 3º, não se pode deixar de considerar a estreita vinculação deste dispositivo com o § 1º, que previu o regime de tributação fixa para as hipóteses de prestação de serviços sob a forma de trabalho pessoal do próprio contribuinte. A intenção da Lei, ao estender o referido regime especial a determinados serviços prestados por sociedades, foi a de dar tratamento privilegiado àquelas sociedades em que o serviço seja prestado em caráter pessoal, como o prestado por pessoa física. A Lei complementar buscou tratar de modo igual situações semelhantes: a do profissional que presta serviços sob a forma de trabalho pessoal e a da sociedade profissional, em que cada profissional habilitado, sócio, empregado ou não, preste pessoalmente serviços em nome da sociedade, embora assumindo responsabilidade pessoal. Nem haveria razão para a Lei Complementar estender o regime tributário privilegiado a sociedades de cunho empresarial, em que a nota da profissionalidade e pessoalidade na prestação dos serviços não existe. (STF – RE 244.149-0/RJ, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, 1ª Turma, unânime, j. 06.03.2001, p. 20.04.2001) Imposto Sobre Serviços. Sociedade Civil. Benefício Tributário. Prestação de serviços em caráter empresarial. Sociedade que não reúne condições para caracterizar-se como sociedade uniprofissional ou pluriprofissional de prestação de serviços, pois organizada em forma empresarial, não merece

ser tributada à base dos incisos legais aplicáveis ao profissional liberal, senão que lhe cabe o tratamento genérico dado à empresa. Agravo regimental improvido. (STF – 1ª T – AI 90.410 – SP – 20.05.83 – RTJ 106/183) O parágrafo 3º do art. 9º do Decreto-lei nº 406, de 1968, ao referir-se a "serviços prestados por sociedades", alcança, 1imitadamente, aquelas em que os trabalhos resultantes conservam normalmente a marca individual de seus autores, e não aquelas em que os trabalhos são de produção promíscua ou indistinta. Por isso, menciona o Decreto-lei, no referido dispositivo, a propósito dos serviços prestados "em nome da sociedade", a responsabilidade pessoal do prestador, nos termos da lei aplicável. É o sócio, é o indivíduo, que transparece, diferentemente do que ocorre em sociedades prestadoras de serviços unificados pela marca comum, da empresa, não dos seus numerosos e indistintos autores. (STF – AgRg 80.985 6/SP, Rel. Min. Décio Miranda, 2ª Turma, unânime, j. 24.02.1981, p. 20.03.1981) ISS – Sociedades de profissionais autônomos – Caráter empresarial – Forma de Recolhimento. As sociedades profissionais sem caráter empresarial, com responsabilidade pessoal, têm direito ao privilégio previsto no artigo 9º, §3º do Decreto-lei 406/68. Recurso improvido. (STJ – 1ª T – Resp 130.827 – CE – Rel. Min. Garcia Vieira – 1.20.10.97 – DJU 01.12.97) (grifos nossos)

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A Recorrente defende, ainda, a tese de que a decisão judicial anteriormente comentada garantiu-lhe o direito de recolher o ISS, eternamente, com base no Decreto-Lei nº 406/68. Em outras palavras, a Recorrente entende que a Lei nº 2.956/99 ou qualquer outra que viesse a sucedê-la não teria eficácia em relação a suas atividades. Se tal entendimento estivesse correto, estaríamos diante de decisão judicial que teria usurpado do Município do Rio de Janeiro a competência de editar leis tributárias, a ele e a todos os municípios brasileiros atribuída pelo inciso III do art.156 da Constituição Federal: Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre: [....] III – serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, II, definidos em lei complementar.

DA VERIFICAÇÃO DE HIPÓTESES EXCLUDENTES DA CONDIÇÃO DE SOCIEDADE UNIPROFISSIONAL São abundantes as provas da ocorrência de hipóteses excludentes da condição de sociedade uniprofissional bem como da natureza empresarial da Recorrente, trazidas aos autos pelo Fiscal de Rendas autuante em seu relatório de fls.236/705, provas estas que o Município do Rio de Janeiro foi impedido de produzir no processo judicial anteriormente mencionado. Em substancioso parecer de fls.742/771, o parecerista da F/CRJ transcreveu às fls. 748/751, parte de um brilhante trabalho do ilustre Procurador do Município Ricardo Almeida Ribeiro da Silva, relativo aos aspectos que devem ser observados para o enquadramento ou não de sociedades no conceito de uniprofissional, bem como à interpretação do art.966 do Código Civil: Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou serviços. Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. (grifos nossos) O Procurador Ricardo Almeida Ribeiro da Silva esclarece que, embora a princípio a atividade intelectual não seja empresarial, se estiver presente em todos os elementos de uma empresa, ela será empresarial. Esta é a correta interpretação do parágrafo único do art.966 do Código Civil. O parecerista da F/CRJ destacou os principais pontos do trabalho do Procurador Ricardo Almeida Ribeiro da Silva e demonstrou, de forma clara e precisa, que os fatos apurados pelo Fiscal de Rendas autuante correspondem, exatamente, às situações que configuram a natureza empresarial. A Representação da Fazenda pede vênia para transcrever o seguinte trecho do parecer que embasou a decisão recorrida:

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Ponto 1 do trabalho do Procurador Ricardo Almeida: Não há como negar, portanto, que a associação de profissionais liberais, muitas vezes, ultrapassa o simples somatório de produções individuais, aumentando, em muitos casos, a capacidade contributiva e retirando a natureza pessoal do trabalho. Fatos apurados pelo Fiscal Rogério Martins relacionados com o ponto 1 acima destacado: Tendo a Impugnante cerca de 36.800 processos em curso na justiça, além de inúmeros outros casos no exterior (fora do alcance do Poder Judiciário pátrio e note-se que cerca de 1/4 da receita já é em moeda estrangeira - fonte : Balanço/2003), não é de admirar que devido à quantidade de casos e à natureza diversificada de seus serviços, deixem de atender e infringem em todo lugar, continuadamente, os requisitos previstos nos itens 1 e 5 do art. 29 da Lei no. 691/84, com alterações dadas pelas Leis no. 2.956/99 e 3.018/2000 e a partir da vigência da Lei 3.720, os requisitos previstos nos inciso I, IV e V do seu art. 6º. Vejamos as constatações : a)- Os seus serviços não se caracterizam como trabalho pessoal dos sócios pois o empenho pessoal destes, nos serviços advocatícios, é claramente pífio, devido a dedicarem aos serviços da sua habilitação, em média, menos de 1,73 hs /dia (demonstração às fls. 258-260). Essa medição foi possível, por que cobram por hora os serviços prestados por cada integrante, sócio ou empregado. Dessa forma, pode-se verificar não somente quantas horas trabalharam os sócios e os empregados, mas também qual foi a contribuição deles para a conta honorários. Diante dessa medição constata-se também que os sócios estão longe de exaurir o processo produtivo da prestação de serviços. Como veremos, não é apenas questão de falta de tempo para se dedicar às atividades advocatícias, uma vez que estão envolvidos também na administração da sociedade, onde lucram muito mais, ao fazerem uso, para tanto, do trabalho alheio. Por conseguinte, o trabalho que avulta é o trabalho da empresa, pois como demonstraremos também, mais de 90% dos serviços são executados pelos empregados. E é com o emprego intensivo de mão-de-obra que a empresa, como um todo, conseguia cuidar do andamento, já em 2002, de 28.000 casos. Cabe notar neste sentido, que sendo a sociedade, como um todo, constituída por 1200 integrantes incluindo os 60 sócios e que portanto a relação entre o número de sócios e o da mão-de-obra total da sociedade, já é bem desfavorável à tese da pessoalidade, pois os sócios representam apenas cerca de 5% da força de trabalho (60/1200 = 0,05), na Filial do Rio de Janeiro a quantidade de sócios é proporcionalmente menor ainda nessa relação , vejamos: Filial-Rio: 8 sócios / 170 integrantes =0,047. Não é de se estranhar, portanto, que diante de tantos casos para cuidar e do pouco empenho dos sócios, a forma de produzir os serviços que deveria ter caráter personalíssimo passou a ser, intermitentemente promíscua e indistinta (....) Por fim, a cláusula 17 do contrato social registra o seguinte: “...A clientela e os honorários profissionais pertencem à Sociedade e não aos sócios ou aos advogados que nela trabalham.” Ora, dessa forma a sociedade aqui não é então, apenas um instrumento de prestação de serviços a seus sócios (como reza a doutrina), ao ser dona inclusive dos honorários, ela passa a ser uma empresa como outra qualquer! E a razão lógica por traz disto é que os sócios precisam se apropriar dos lucros gerados pela sociedade de acordo com a sua

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participação no capital social. Por isso, a divisão dos lucros, que nas verdadeiras sociedades uniprofissionais de advocacia, é normalmente resolvida com uma simples cláusula, tal como: – “O lucro será dividido de acordo com o trabalho de cada um”, aqui não pôde ser resolvida assim, e isto, simplesmente porque a divisão do lucro não é feita de acordo com o trabalho! Para isso centralizam a cobrança, o controle e o recolhimento dos honorários na empresa, e mais especificamente na Matriz, (onde está o Comitê Executivo e a gerência das finanças) e onde, posteriormente, alguns sócios em reunião, decidem sobre a divisão do lucro. Note-se, que para isso foram-lhes necessárias 3 cláusulas, todas remetendo à deliberação de parte dos sócios, em reuniões sem quorum mínimo! Afastam assim os critérios da repartição de lucros da natureza pessoal que seria relativo ao trabalho efetivamente desenvolvido por cada sócio. Lembramos que quanto a isto, solicitamos no verso da Intimação No. 39213, de 1/7/04 (fls. 06), as atas mencionadas na cláusula 7 do contrato social, de forma a podermos entender melhor como é feita a divisão de lucros. Não apresentaram! Informaram verbalmente que “não há atas! Ponto 2 do trabalho do Procurador Ricardo Almeida: A organização dessas grandes sociedades é patente, sendo certo que o elemento de empresa está presente seja no estabelecimento, seja na impessoalidade do serviço – efetivamente prestado pela sociedade, seja pela existência de várias filiais, seja pela utilização de marca comercial ou nome de fantasia por meio do qual o tomador é atraído à sociedade identificando-a pela marca que circula pelos meios de comunicação. Além disso, pouco importa o regime jurídico das pessoas que trabalharem para o empresário – trabalhista ou civil. Os colaboradores do empresário poderão ser empregados, regidos pelo direito civil. Pouco importa: o empresário sempre contrata pessoas para trabalhar, ele sempre organiza o trabalho de outrem, ainda que, contratualmente esses efetivos trabalhadores tenham mínimas cotas de participação, posto que se evidencia a existência de um capitalista que, com vistas a se valer do benefício tributário referente às sociedades uniprofissionais, verdadeiramente contrata os demais sócios, que não passam de trabalhadores, o que se percebe claramente na distribuição dos lucros, que não se dá proporcionalmente ao trabalho realizado, à quantidade de serviço prestado, mas em razão do número de cotas dos sócios, por exemplo. Fatos apurados pelo Fiscal Rogério Martins relacionados com o ponto 2 acima destacado: Cabe notar, que embora tenhamos conseguido constatar evidências recentes da natureza empresarial dessa sociedade, esta natureza já poderia ser constatada como já informamos desde 1966, pois mesmo lá no início, quando ainda era composta por apenas 4 sócios (fls. 296), a sociedade já era “organizada de forma empresarial”; conforme é declarado pelo próprio sócio fundador às fls. 45 (cópia às fls. 282). Vejamos algumas das suas declarações constantes das duas brochuras que se encontravam na sala de espera do escritório aqui do Rio. Uma denominada de “Livro de comemoração dos 60 anos da firma” e que é destinado à clientela e o menos luxuoso, destinado aos estagiários, denominado de “Livro de apresentação da sociedade”, ambos publicados em 2002 (Cópias de algumas páginas

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desses livros às fls. 279/298). Vejamos o que declara o referido sócio e fundador da sociedade: Em outubro de 1966, solicitou-se rigorosa observância quanto ao horário de trabalho, não se justificando entradas tardias e saídas antecipadas. (...) Esta exigência decorria em razão de o Escritório vir assumindo proporções cada vez maiores, necessitando de uma organização empresarial para o bom andamento dos serviços” (g.n.) Hoje, como se percebe no texto às fls. 295, sob o título “Uma cultura uniforme” esse caráter empresarial só fez desde então se solidificar. Às fls 39 do “livro de comemoração...” temos mais algumas informações a respeito da organização inicial dessa sociedade: Em reunião de 1967, as equipes foram informadas de que os advogados associados do então Pinheiro Neto e Gomes de Sousa estavam enquadrados na condição de empregados, passando a gozar dos benefícios e regalias da legislação trabalhista, tais como o décimo terceiro salário...”. “Afirmação cabal de que o escritório era uma empresa, uma sociedade. Não se tratava de um grupo de advogados que trabalhavam isoladamente, dividindo despesas. A idéia original tinha sido concretizada, a inovação funcionara. (g.n.) Ora, se em 1966, quando a sociedade ainda contava com apenas 4 sócios,

uma dezena e meia de empregados, uma centena de processos e o escritório ocupava apenas quatro salas (pertencentes ao sócio principal que acima nos referimos) já achavam então necessário adotar uma organização empresarial (!), o que devemos presumir agora, quando contam com 60 sócios, 1.140 empregados (fls. 299/300), 38.600 processos na justiça (fls. 299), ocupando a Matriz em São Paulo a área de 17.000* m², e mais as Filiais em Brasília, Londres e Rio, esta ocupando hoje a área de 4.500* m² ? (* Informação constante do Livro “JM Pinheiro Neto – O advogado” Editora Green Forest do Brasil/2004). Ponto 3 do trabalho do Procurador Ricardo Almeida: Salienta-se que a organização não compreende apenas a contratação de serviços, mas a organização de FATORES DE PRODUÇÃO, estes abrangendo capital, que abrange o estabelecimento (conjunto de bens utilizados pelo empresário na sua atividade econômica – estoque, matéria prima, dinheiro, marcas, automóveis, computadores etc.) e trabalho.

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Fatos apurados pelo Fiscal Rogério Martins relacionados com o ponto 3 acima destacado: A questão aqui, como se vê, não é a análise do faturamento, mas sim do motivo pelo qual os sócios da impugnante apesar de dizerem que a advocacia é atividade muito lucrativa (fls.305-321) resolveram se dedicar tão pouco eles mesmos à prestação desses serviços. O motivo fica claro, quando vemos os sócios ocupando cargos como os de “Diretor”, “Membro de Comitê Diretivo, “Membro do Grupo Executivo” e outros típicos da administração de empresas. E este motivo, como os números demonstram, é a maior produtividade e consequentemente a maior lucratividade que conseguem administrando os FATORES DE PRODUÇÃO do que se dedicando às atividades da sua habilitação. Neste contexto, cumpre observar a atuação dos sócios inclusive à luz do parágrafo único, do art. 966, do novo Código Civil (Lei no. 10.406, de 10/01/2002). Nos interessando no caso, mais especificamente, a exceção prevista nesse dispositivo. Vejamos o referido parágrafo; Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. (g.n.) Vamos esclarecer a questão com o ensinamento pertinente do Dr. Fabio Ulhoa Coelho, em parecer elaborado recentemente: (Para o Instituto de Registro de Títulos e Documentos e de Pessoas Jurídicas do Brasil, O Centro de Estudos e Distribuição de Títulos e Documentos de São Paulo e o Registro Civil das Pessoas Jurídicas do Rio de Janeiro) Há uma exceção, prevista no mesmo dispositivo legal (parágrafo único do art. 966), em que o profissional intelectual se ENQUADRA no conceito de empresário. Trata-se da hipótese em que o exercício da profissão constitui elemento de empresa, ou seja, sempre que o exercente de profissão intelectual dedicar-se mais à atividade típica de empresário - organização dos fatores de produção) do que propriamente à função científica, literária ou artística. Que é, como se depreende, o caso dos sócios da Impugnante. Devemos ressaltar que a natureza empresarial da sociedade é evidenciada, não somente em situações como as descritas acima, mas praticamente em todos os aspectos que se a examina, mesmos os mais simples. Por exemplo: mais de 80% das retiradas dos sócios é por conta da sua participação no capital social da empresa e não proporcionalmente ao trabalho que efetivamente realizam. A comprovação se encontra nos “Memorandos de Lucro para Distribuição (de 5.8.2003 e 26.1.2004) às fls.381-392, nos “Recibos de Pagamentos” da Filial Rio (jan. a dez./03) às fls. 398-448 já anteriormente citados e na luz dada pelas cláusulas contratuais 7, 11, 15-ii-d, 16 e 17. Quanto a essa distribuição, efetuada conforme deliberação de alguns sócios, deveremos notar quando da demonstração apresentada às fls. 267, que há até mesmo a impossibilidade matemática de que tal distribuição de lucros pudesse ocorrer de acordo com o empenho deles na sua atividade, pois como se comprova às fls.398 a 448, a parte relativa

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supostamente à sua produtividade que é a parte variável (vr-1 e vr-2) é mínima na proporção dos seus ganhos, e também como vimos às fls. 258, o próprio empenho no exercício profissional é mínimo quando não nulo. O quadro demonstrativo, às fls. 267, ilustra o que afirmamos acima. Cabe observar, que a afirmação da impugnante de que “não havia atas”, embora tenha nos impossibilitado de poder esclarecer com clareza como os sócios deliberam sobre a distribuição de lucros, podemos entretanto, ver, com base nos recibos de pagamentos aos sócios, da filial Rio, que os sócios recebem contrapartida financeira desproporcional ao trabalho que efetivamente realizam. Demonstra-se às fls. 267 que o sócio sênior, Luiz Fernando T. Pinto, principal quotista da Filial-Rio, detentor de 5% do capital social (350.000 quotas), recebeu, em 2003, R$ 660.000,00 por conta de suas cotas do capital social, o que é mais que a metade do total recebido por ele a títulos diversos no valor de R$ 1.163.279,00. Isso sem contar com as retiradas antecipadas por conta de lucros acumulados no valor de R$301.400,00, que são também distribuição de lucros (ver cláusula 7 do contrato social) e em razão da participação no capital. Ou seja, recebeu R$ 961.400,00 (=R$ 660.000,00 + R$ 301.400,00) ou cerca de 83 % do total em função da sua participação no capital social! Ver item 1 – “b” do Termo de Retificação às fls. 141-v. Já vimos que a empresa faz uso de fatores de produção significativos. Destacando-se aí a sua grande mão-de-obra em meio aos demais recursos disponíveis - Infra-estrutura e os investimentos oportunos em tecnologia, capital e os “Insumos” representados pela clientela no País e no exterior. Mas como em toda empresa, há uma série de atividades paralelas destinadas a manter o crescimento da lucratividade, assim não deve causar estranheza os investimentos na divulgação da “firma” como se constata na conta “Promoções” e a sub-conta Marketing das Demonstrações do Resultado do Exercícios de 2000 a 2003 (fls. 365, 370, 375 e 379). Os livros que publicaram em 2002 são exemplos desse “Marketing” destinado a promover a empresa junto ao mercado divulgando as várias áreas de atuação especializada (empresarial, contenciosa, fiscal-trabalhista, e etc...), mas o que se sobressai é a empresa. Ao folhearmos, mesmo de forma rápida, as publicações “Livro de apresentação ...” e o “Livro de comemoração ...” , podemos constatar que estamos diante de uma organização impossível de ser gerenciada de forma simples, como se faz nas sociedades tipicamente uniprofissionais. Cumpre observar que é exatamente essa “forma de produzir organizadamente” que, segundo o Prof. Waldírio Bulgarelli, caracteriza em “termos pragmáticos” a empresa. Esse foco na organização da empresa também já se constatava, deve-se notar, logo nas primeiras medidas disciplinares relativas ao horário de trabalho imposta pelo sócio fundador a todos, inclusive aos outros sócios, por ocasião do início da sociedade: “Pontualidade absoluta para todos os funcionários, estagiários, advogados, sócios.” (g.n.) (fls. 282)

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Note-se que esta determinação acima é tipicamente mais de um empresário do que de um membro de colegiado. Mas, poderia ainda se entender, até aqui, que se estava organizando somente o funcionamento do estabelecimento. Porém, quando se lê o texto, que abaixo reproduzimos, percebe-se que o que se visava mesmo era à constituição de uma empresa. Vejamos o que diz atualmente (2002) o próprio fundador da sociedade, que é para não restar dúvidas: “Todos os departamentos são comandados por funcionários que estão no Escritório há quinze, vinte ou trinta anos. (...) Celso Mori, por exemplo, foi admitido com 27 anos, como advogado associado, hoje faz parte do Grupo Executivo; Orlando Velocci entrou de calças curtas e atualmente ocupa o cargo de diretor administrativo. (g.n.) (...) e mais à frente, temos: “Hélio Nicoletti entrou aos 27 anos, no Contencioso, passou para o Empresarial, hoje pertence também ao Comitê Diretivo”; (ver cópia às fls. 295 ); às Fls. 90: “Clemência era bibliotecária, hoje é do Grupo Executivo, responsável pela administração, pelo grupo administrativo e pelas finanças. ” (ver cópia às fls.296). às fls. 93 temos ainda: No sétimo andar encontramos o Departamento dos Paralegais, o Arquivo de empresas, a Auditoria legal, o Setor de cálculos judiciais, o Paralegal contencioso e a Área trabalhista. Ora, a natureza da organização, que veio então a se evidenciar aqui, é a da “empresa”, pois os próprios sócios, chamados, por sinal, de “funcionários” pelo fundador, passam a ocupar cargos e a exercer funções, tal como os de Diretor, e a sociedade a se estruturar em Departamentos, Grupo Executivo e etc..., ou seja, a se organizarem, como empresa, e não somente o pessoal do “escritório” mas os sócios também! Cabe aqui notar que o termo “Filial” bem como “Matriz” que denotam organização e hierarquia empresarial, fazem parte da concepção organizacional da sociedade. Os honorários ganhos pelos sócios da Filial-Rio são faturados na Matriz em São Paulo, e lá ficam. O que não nos deve causar qualquer surpresa, pois como já vimos, a clientela e também os honorários, pertencem à sociedade e não aos sócios e advogados que prestam os serviços. Assim a centralização pela Matriz, onde estão o Comitê Diretivo e principalmente o Comitê Executivo, do faturamento e do recebimento dos honorários da empresa toda, é inclusive necessária, pois a distribuição dos lucros, como já informamos, não se faz como nas sociedades de trabalho (de acordo com o produzido por cada um). O sócio fundador, bem como o Grupo Executivo, agem há anos, como empresários; basta ver nesse sentido as medidas referentes à organização dos recursos (fatores de produção) destinados à produção de serviços, bem como as diretrizes relativas ao uso desses recursos.

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Há divisão de trabalho especializado em diversas estruturas organizacionais articuladas e hierarquicamente integradas. Criaram, como em qualquer empresa de grande porte, planos de carreira de longo prazo para a estabilização da mão-de-obra: “Hoje, adota-se o novo (porque os jovens chegam cheios de energia e idéias) sem esquecer o velho. Há cláusulas pétreas das quais não se abre mão, porque o Escritório se fez sobre esse pilar e se mantém em razão disso. Contratam-se advogados que demonstrem ambição e que se sujeitem ao Plano de Carreira estabelecido” (fls. 294/295) Todos os dados produzidos pelo fiscal autuante e trazidos à colação neste parecer são de uma clareza indiscutível. Contudo, se não bastasse a abundância de provas até aqui apresentadas, no sentido de demonstrar que estamos diante de uma mega empresa, foi também identificado que a Pinheiro Neto Advogados recebe parte dos lucros da Pinheiro Neto Empreendimento Ltda., conforme Memorando de 05/08/2003 às fls. 381. A insistência da impugnante em continuar recolhendo o ISS como se uniprofissional fosse não encontra qualquer pilar de sustentação, bem como não passa pelo crivo de uma mínima investigação, quanto mais pela investigação exaustiva, robusta e irretocável realizada pelo autor do procedimento fiscal. Por último, cabe também transcrever as seguintes decisões judiciais: A Quinta Câmara Cível da Comarca da Capital, tratando de caso semelhante, proferiu Acórdão, cuja ementa foi lavrada nos seguintes termos: “IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS DE QUALQUER NATUREZA CLÍNICA - SOCIEDADE UNIPROFISSIONAL - NÃO CARACTERIZAÇÃO LEGITIMIDADE DA COBRANÇA ISS. CLÍNICA. DEC. LEI 406/68. BASE DE CÁLCULO. 1- A Constituição da República, ao dispor sobre o sistema tributário nacional relaciona os tributos que cada ente federativo tem competência para exclusiva de instituir e, em harmonia com o princípio da distribuição rígida das suas rendas, remete à lei complementar, dentre outros, a definição dos fatos geradores, base de cálculo e contribuintes dos impostos. 2- Nesse aspecto, compatível com esse sistema, atribui-se ao município a competência para instituir o imposto sobre serviço prestado por clínica médica, como definido em lei complementar que estabelece a base de cálculo conforme o seu cunho empresarial ou caráter uniprofissional. 3- Nessas circunstâncias ao genericamente adotar os critérios de qualificação de sociedade uniprofissional, a norma da lei municipal observa o comando da lei complementar, harmoniza-se com a ordem constitucional e afigura-se válida e eficaz. Nesse âmbito, ao estabelecer a FIGURA DO GERENTE e a DELIBERAÇÃO DOS SÓCIOS SOBRE O DESTINO DO SEU LUCRO, inclusive a divisão, a clínica médica assume a qualidade de empresa, descaracteriza-se como sociedade uniprofissional em que os médicos rateiam as despesas e aproveitam-se individualmente dos seus lucros, e paga ISSQN calculado com base em seu movimento econômico. Tipo da Ação: APELAÇÃO CÍVEL - Processo: 2004.001.04009 Órgão Julgador: QUINTA CÂMARA CÍVEL Des. DES. MILTON FERNANDES DE SOUZA - Julgado em 04.05.2004 O STJ também já decidiu sobre questão semelhante no Recurso Especial 334.554, vejamos os termos da decisão:

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“TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL-ISS-SOCIEDADE POR COTAS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA - CLÍNICA MÉDICA - CARÁTER EMPRESARIAL - NÃO COMPROVADA CARACTERIZAÇÃO COMO SOCIEDADE UNIPROFISSIONAL - (...) É devido o ISS pelas sociedades profissionais quando estas assumem caráter empresarial. As sociedades civis, para terem direito ao tratamento privilegiado previsto pelo artigo 9o, parágrafo 3o do Decreto-Lei no. 406/68, tem que ser constituídas exclusivamente por médicos, ter por objeto social a prestação de serviço especializado, com responsabilidade pessoal e sem caráter empresarial. Recurso parcialmente conhecido, mas improvido. Vejamos o voto do revisor: NO CONTRATO SOCIAL JÁ SE VÊ QUE É EMPRESA, TEM DIRETOR, GERENTE, E COM TODA A CERTEZA DIVISÃO DE LUCROS. Então, é uma empresa. A verdadeira sociedade uniprofissional, que paga pelo sistema fixo, é, por exemplo: cinco médicos se juntam numa sociedade, rateiam as despesas, mas o lucro é de cada um. Quando se juntam numa clínica atuando como empresa comercial, a alíquota é pelo faturamento, pois se trata de uma verdadeira firma comercial, no caso aqui, uma clínica. Ainda, no mesmo Recurso Especial, o revisor ressalta: O regime de tributação fixa não alcança as sociedades uniprofissionais que assumiram típica VESTIMENTA EMPRESARIAL e não se comportam como sociedade de profissionais, pois de trabalho pessoal que era passou a assumir caráter organizacional, em que AVULTA O TRABALHO DE EMPREGADOS. A Representação da Fazenda entende que as sociedades uniprofissionais nada mais são do que a reunião de profissionais autônomos que, de fato na condição de autônomos e de direito em nome da sociedade, dividindo os custos fixos desta, prestam serviços. Este é, também, o entendimento de renomados mestres. Vejamos a seguinte lição do Professor Aires Barreto (ISS e as Sociedades de Profissionais, Revista do Direito Tributário, nº 57): “... a previsão de bases de cálculo diferentes para as sociedades de capital e para as sociedades de trabalho é a exigência dos princípios da isonomia e da capacidade contributiva. È que, diferentemente das sociedades de capital, as sociedades de profissionais representam reunião de esforços que, em nível de trabalho pessoal, cada sócio poderá desenvolver individualmente.” No mesmo sentido, o Professor Rubens Gomes de Souza leciona (Revista de Direito Público, vol. 20, pg.350): “... a forma societária poderá proporcionar aos profissionais melhores condições econômicas e financeiras, através da repartição eqüitativa dos proventos e dos encargos dos exercícios da atividade.”

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Acórdão nº 12.290

Resta demonstrada, portanto, a ocorrência não de uma, mas sim de várias das hipóteses de excludência da classificação de sociedade uniprofissional previstas no parágrafo único do art.29 da Lei nº 691/84 e no art.6º da Lei nº 3.720/04, anteriormente transcritos. Assim, à luz dos dispositivos legais anteriormente transcritos, bem como da doutrina e da jurisprudência colacionadas, a Recorrente não merece ser tributada à base dos incisos legais aplicáveis ao profissional liberal, cabendo-lhe o tratamento genérico dado às empresas, sob pena de agressão ao princípio da isonomia insculpido no inciso II do art.150 da Constituição Federal: Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios [....] II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos; (grifos nossos) A Recorrente alegou, também, que os arts.15 a 17 da Lei nº 8.906/94 (Estatuto da Advocacia e da OAB), que rezam, respectivamente, que as procurações devem ser outorgadas individualmente aos advogados, que não serão admitidas a registro nos quadros da OAB as sociedades de advogados que apresentem forma ou características mercantis e que os sócios respondem subsidiária e ilimitadamente pelos danos causados a terceiros, afastam qualquer possibilidade de que as sociedades de advogados venham a ser consideradas sociedades de caráter empresarial. Contudo, o Estatuto da Advocacia e da OAB não tem o condão de impedir que as fazendas municipais verifiquem se os escritórios de advocacia estão operando como sociedades uniprofissionais ou como empresas. Isto porque a OAB e as secretarias de fazenda dos municípios possuem competências diversas e sem qualquer interseção. Importante ressaltar que eventual inércia ou falta de interesse da OAB ou de qualquer município na fiscalização do cumprimento das normas contidas em suas respectivas esferas de competência jamais poderá prejudicar o pleno exercício da competência alheia. Em outras palavras, as normas relativas ao exercício da advocacia não têm o condão de substituir ou maniatar a atividade de fiscalização do ISS. Enquanto a verificação da observância das normas que regem o exercício da advocacia é encargo da OAB, a verificação da observância da legislação tributária relativa ao ISS é competência das secretarias de fazenda ou finanças dos municípios. DA OBRIGATORIEDADE DE EMISSÃO DE NOTAS FISCAIS DE SERVIÇOS No segundo item da autuação é exigida a multa formal prevista no art.51, inciso II, item 1, alínea “a”, da Lei nº 691/84: Art. 51 - As infrações apuradas por meio de procedimento fiscal ficam sujeitas às seguintes multas: [....]

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1 - documentos fiscais: a) sua inexistência: Multa: 1 (uma) UNIF por modelo exigível, por mês ou fração, a partir da obrigatoriedade; A Recorrente entende que as sociedades uniprofissionais não estão obrigadas a emitir notas fiscais de serviços, porque tais documentos se prestariam ao controle dos valores devidos pelos contribuintes tributados sobre o preço dos serviços prestados. Alega a Recorrente, ainda, que a dispensa da emissão das referidas notas fiscais decorre da própria sistemática de recolhimento do ISS aplicável às sociedades uniprofissionais. Contudo, a própria Recorrente admite que, atualmente, não há previsão expressa na legislação dispensando as sociedades uniprofissionais de emitir tais documentos, o que havia anteriormente na redação do item 7, §2º, do art.182 do Decreto nº 10.514/91. Desta forma, seu entendimento é totalmente desprovido de fundamentação legal. Frise-se que a infração de caráter formal sob análise não concorreu para o agravamento de infração relativa à obrigação principal. DA MULTA PENAL A Impugnante roga que, na hipótese de a autuação ser julgada procedente, seja afastada por completo a multa de 60%, por ela considerada abusiva, ou, no mínimo, reduzida a um montante compatível com a infração cometida, sem indicar que montante seria este e qual seria sua previsão legal. A multa relativa ao item 1 do auto de infração é prevista no art.51, inciso I., item 2, alínea “d”, da Lei nº 691/84: Art. 51 - As infrações apuradas por meio de procedimento fiscal ficam sujeitas às seguintes multas: I - relativamente ao pagamento do imposto: [....] 2 - falta de pagamento, quando houver: [....] d) erro na determinação da base de cálculo; [....] Multa: 60% (sessenta por cento) sobre o imposto apurado; Conforme anteriormente registrado, não cabem, na esfera administrativa, questionamentos sobre a constitucionalidade das leis vigentes. Considerando que a atividade de fiscalização é vinculada, outra não poderia ser a multa penal aplicada no caso em tela, em estrita observância do dispositivo legal acima referido.

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CONCLUSÃO Jamais chegou a este Conselho de Contribuintes processo no qual o recorrente que pleiteasse o direito de recolher o ISS como sociedade uniprofissional estivesse tão distante de tal classificação. A perplexidade que o volume e a robustez das provas juntadas aos autos causam a qualquer leitor atento e isento não pára de crescer, a cada nova leitura. Enquanto o sócio de uma sociedade uniprofissional, por maior que seja sua disposição para o trabalho, não pode dedicar-se a sua atividade laboral por mais de 16 horas/dia, haja vista a pessoalidade inerente a seu trabalho e a necessidade de 8 horas diárias de sono, o empresário pode ampliar suas atividades, através da utilização de fatores de produção, a limites inimagináveis, limites estes que ultrapassam em anos-luz ou em centenas de milhões de Reais por ano a capacidade de produção de um profissional autônomo. É oportuna a transcrição de alguns trechos do “Livro de Comemoração dos 60 Anos da Empresa”, que evidenciam a filosofia empresarial do sócio fundador da Recorrente: Em outubro de 1966, solicitou-se rigorosa observância quanto ao horário de trabalho, não se justificando entradas tardias e saídas antecipadas. Nas atas de reuniões deveria constar um subtítulo: atrasado. Esta exigência decorria em razão de o Escritório vir assumindo proporções cada vez maiores, necessitando de uma organização empresarial para o bom andamento dos serviços. (fl.282) Evitar mentalidade de “funcionário público acomodado” no acompanhamento dos casos, esclarecia uma reunião de janeiro de 1968. Os casos devem ser cuidados como se fossem do próprio advogado, com o máximo de interesse, bom senso, critério e iniciativa. (fl.282) O cliente recebe um número, que será sempre o mesmo. Os clientes não são do advogado. Claro que se um cliente gosta mais de um determinado advogado, então trata com ele. Mas o cliente é do Escritório, tudo é do Escritório. (fl.284) Contratam-se advogados que demonstrem ambição e que se sujeitem ao Plano de Carreira estabelecido. (fl.288) A rede interna, intranet, reúne quase mil micros Pentium e 31 servidores NT-Windows para correio eletrônico, explorer para internet/intranet, schedule para agenda eletrônica corporativa e vários sistemas de gerenciamento e informação. (fl.291) Ele criou as fichas de tempo, nas quais se marcava quanto tempo o advogado tinha ficado à disposição, trabalhando para um cliente. Foi o primeiro escritório no Brasil a instituir a contagem de tempo para pagamento de honorários, estabelecendo tabelas. O Escritório foi dividido em grupos, havendo, em cada um, cerca de dez membros. Cada advogado tem seu peso e o correspondente valor/hora. O tempo mínimo contado é de dez minutos. (fl.297)

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Acórdão nº 12.290

Mais do que lema, ou slogan, é um princípio. Preocupado com o desempenho da máquina, ele sempre acreditou que o crescimento do Escritório estava ligado a sua estrutura. Se esta funciona como uma linha de montagem na indústria automobilística, alavanca o crescimento, mantendo a essência. (fl.298) Pinheiro Neto é reconhecido como o grande advogado, provavelmente o maior na sua especialidade. Porém tem outra qualidade paralela, bastante desenvolvida: a do administrador. Ele sempre focou na máquina, investiu nela, estruturou-a, correu riscos, aceitou desafios, e manteve o Escritório com o pulso de um centralizador implacável. (fl.298) Antes de concluir a presente promoção, a Representação da Fazenda tecerá breves considerações finais. Considerando que as retificações de ofício do Auto de Infração Nº 100.736/04 têm respaldo na legislação municipal vigente; Considerando que não houve ofensa à coisa julgada e que a fiscalização foi realizada em total observância da orientação contida no Parecer PG/PTR/ 004/03-AVC; Considerando que os serviços de tradutor, despachante e consultor em RH são prestados em grande escala, nas palavras da própria Recorrente, e que a prestação de tais serviços, principalmente do último citado, não podendo ser considerada como acessória dos serviços de advocacia, evidencia a existência de atividades não caracterizáveis como trabalho pessoal dos sócios e, ainda, o exercício de atividades diversas da habilitação profissional dos sócios; A Cláusula 17 do Contrato Social da Recorrente (fl.80) dispõe: “É vedado aos sócios e aos advogados que trabalham na Sociedade prestar seus serviços profissionais sem que os honorários recebidos beneficiem a Sociedade. A clientela e os honorários profissionais pertencem à Sociedade e não aos sócios ou aos advogados que nela trabalham.”. Considerando que tal disposição afasta a pessoalidade na prestação dos serviços de advocacia, pessoalidade esta que deveria apoiar-se na confiança que o cliente deposita em seu advogado e não na empresa Recorrente; Considerando que a estrutura empresarial da Recorrente foi sobejamente demonstrada nos autos e é reconhecida, com justificável orgulho, por seu sócio fundador; Considerando que as características da Recorrente acima discriminadas, à luz da legislação, da doutrina e da jurisprudência transcritas na presente promoção implicam a perda do direito ao regime especial de tributação fixa; A Representação da Fazenda propõe o improvimento do presente recurso voluntário.

Por todo o exposto, acompanhando na íntegra a bem elaborada promoção da douta

Representação da Fazenda, votei pelo IMPROVIMENTO total do recurso voluntário interposto.

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DECLARAÇÃO DE VOTO Conselheiro FERNANDO DA COSTA GUIMARÃES

A questão central deste processo consiste em determinar se a Recorrente está sujeita ao pagamento do ISS calculado sobre o preço de seus serviços ou em valores fixos, como sociedade uniprofissional.

Tenho sustentado sempre, neste Conselho de Contribuintes e fora dele, o

entendimento de que o tratamento diferenciado concedido a determinadas sociedades profissionais pelo § 3º do art. 9º do Decreto-lei nº 406/68, é incompatível com a Constituição Federal de 1988, o que se torna ainda mais evidente, no caso dos autos.

Nem estou convencido de que a Recorrente preencha os requisitos previstos no

citado dispositivo legal, conforme demonstrado pela douta Representação da Fazenda, em seu substancioso parecer.

Entendo, porém, que a controvérsia está preclusa. Não vejo como validar auto de infração que se opõe a decisão judicial transitada

em julgado que determinou fosse a Recorrente tributada na condição de sociedade uniprofissional, enquanto a norma constante do § 3º do art. 9º do Decreto-lei nº 406/68 não fosse alterada por lei complementar federal.

Não há como se pretender que a segurança tenha sido concedida tão-somente para

proteger a contribuinte contra exigências formuladas com base na Lei nº 2.080/93. E de ser rejeitado o argumento de que a segurança fora concedida tão-somente

para afastar a aplicação da Lei nº 2.080/93 à ora Recorrente. Tenha-se presente que não se está diante de decisão de ação direta de

inconstitucionalidade dirigida contra a Lei n 2.080/93i e sim de mandado de segurança preventivo que não se opôs, nem se poderia opor, contra lei em tese.

A concessão de mandado de segurança pressupõe o reconhecimento da existência

de direito líquido e certo, ou seja, aquele que tenha por suporte fatos previamente comprovados ou não negados pela autoridade coatora.

Ao conceder segurança determinando que a Impetrante fosse tributada consoante

o disposto no § 3º do art. 9º do Decreto-lei nº 406/68, que dispõe sobre a tributação própria das sociedades uniprofissionais, o Tribunal reconheceu que a sociedade preenchia todos os pressupostos fáticos que, segundo a lei complementar federal, identificam a sociedade uniprofissional, não podendo a lei municipal negar o tratamento especial a quem preencha esses pressupostos, nem, portanto, acrescentar exigências nela não contidas.

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Acórdão nº 12.290

Certamente que, se uma sociedade anônima impetrasse mandado de segurança

opondo-se à Lei nº 2.080/93 e pretendendo ver reconhecido seu direito à tributação como sociedade uniprofissional, o mandado de segurança seria denegado, não por se entender legítima a citada lei municipal, mas por não preencher a sociedade anônima impetrante os pressupostos exigidos na lei federal para ser reconhecida como sociedade uniprofissional.

Por essa razão, votei pelo PROVIMENTO PARCIAL do Recurso Voluntário.

DECLARAÇÃO DE VOTO Conselheiro NEWTON SILVEIRA PALHANO DE JESUS

Após o voto do Relator pelo provimento integral do recurso de que trata o processo sob nosso exame, e levando em conta que nos debates se seguiram, dois dos Conselheiros representantes da Prefeitura (Drs. Domingos Travaglia e Dirce Rodrigues) já anteciparam seus votos pela sua improcedência, e, mais ainda com o pedido de vista e pronunciamento do Conselheiro Alfredo Lopes, atento este Relator de que tão enfáticas e brilhantes manifestações, - inclusive como as do Representante da Fazenda, Mário Padrão, e do patrono da recorrente, Dr. Carlos Bechara que as antecederam - , de que a matéria estava sendo conduzida face ao grande volume de informações dos autos, com riscos de desvio de foco com a interpretação de pequenos detalhes, entendeu este Conselheiro que havia, e há, necessidade de situar-se os pontos magnos do processo ou seja suas questões primárias, e cumprir em examiná-los antes de adentrarmos nos seus detalhamentos.

Assim, na sessão anterior, este Conselheiro ficou silente e apenas cuidou de

registrar estes pontos que lhe pareceram fundamentais para a boa e isenta apreciação do recurso.

Vejamos o que então se registrou. Existem, em preâmbulo processual, questões que – ainda que como preliminar

não tenham sido expressamente argüidas- nem por isso perdem sua importância para o correto trâmite da lide pois constituem questões prejudiciais de mérito, óbices estes que podem contaminar o decisório se as ignorarmos, sem sua devida precedência ao exame do mérito propriamente dito.

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CERCEAMENTO DE DEFESA

A recorrente expressa sua posição liminar de que a lançamento estaria eivado de

nulidade por haver sido lavrado sem atendimento aos requisitos necessários à boa e livre defesa do contribuinte, tal seja a devida e necessária fundamentação circunstanciada do fato gerador, e que, os atos posteriores da fiscalização ao buscar corrigir tais falhas, não poderiam ter sido admitidos, infringindo, assim, o art. 146 do C.T.N.

Este Conselho tem enfrentado alegações idênticas e as rechaçado quando o auto

de infração preenche os requisitos mínimos previstos para sua lavratura e o processo mostra que o contribuinte exerceu em sua plenitude seu direito de defesa e que não ocorreu desvio algum quanto aos fatos geradores do lançamento e nas correções efetuadas, fatos estes que, a todo tempo, sempre estiveram presentes nas impugnações apresentadas pelo recorrente.

Ora, estas ocorrências tem previsão legal nos artigos 68 (requisitos do auto), art.

75 (sua correção), e artigos 40 e 41 (requisitos para nulidade) que foram plenamente atendidos, não havendo suporte para a pretendida preliminar de nulidade. Não há, portanto, como ser acolhida.

COISA JULGADA

Já aqui a questão é prioritária e fundamental por envolver matéria preclusa em Mandado de Segurança, transitado em julgado, e sua apreciação há que anteceder o exame das condições fáticas que envolvem o mérito.

O referido Mandado consta integralmente dos autos, e renovamos trecho de sua

leitura (fls. 732) :

[....] determinando a cobrança do ISSQN como ali previsto, e determinando a cobrança do ISQN, com base no decreto-lei 406/68, tornando, ademais, definitiva a liminar concedida.

Resta pois, de forma clara e inequívoca, que a garantia do “mandamus” é a ali

expressa: “recolher o ISS na forma do decreto-lei 406/98.” Idêntica problemática- inclusive os pareceres com que a Representação da

Fazenda busca atrair a atenção do Julgador, ou seja, a de que o objeto daquele Mandado teria perdido efeito por se referir exclusivamente à inconstitucionalidade de Lei Municipal 2.080/93, o já foi examinada por este Conselho em caso idêntico, com substanciosa declaração de voto do eminente mestre Prof. Fernando Guimarães que deixamos de transcrever na certeza de que virá a ser confirmado pelo próprio neste julgamento, face a perfeita identidade de situações apresentadas em processos anteriores e com igual tentativa fazendária de superar o que ali está claro, tal seja, estar garantido à recorrente o recolhimento do ISS na forma estabelecida no Dec. Lei 406/68.

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O referido Mandado foi atacado pela Procuradoria do Município por Agravo

Especial e por Apelação sob os mesmos fundamentos ora utilizados pela Municipalidade para justificar sua atual pretensão de tributar a recorrente com base no seu faturamento e não na forma estabelecida pelo Decreto 406/68 em seu artigo 9º, § 3º, como lhe garantia o referido mandado.

Ambas as tentativas foram rechaçadas peremptoriamente pelo Judiciário que

mantiveram de forma expressa, o alcance da medida deferida, tal seja de que a recorrente faz jus à tributação prevista no referido decreto como entidade uniprofissional que é o requisito necessário, explícito e implícito, para a admissão daquele remédio jurídico, tal seja a sua condição de legitimidade para sua propositura. Se tal não houvesse entendido, o Julgador havia que indeferir a medida por ela requerida. Isto está também claramente expresso na parte expositiva do voto que gerou a ementa confirmadora daquele julgado como transcrevemos.

Assim, na Apelação Cível nº 1.137/95, interposta pelo Município contra a decisão

acima mencionada, a Sexta Câmara Cível do Tribunal de Alçada Cível do Estado do Rio de Janeiro proferiu acórdão cuja ementa está abaixo transcrita (fl.92):

TRIBUTÁRIO – I.S.S. - Sociedades uniprofissionais – Base de cálculo – Até que seja editada nova lei complementar sobre a matéria, continuam a viger as disposições do Dec.-lei nº 406/68, alterado pelo Dec.-lei nº 834/69, as quais foram recepcionadas pela atual Constituição Federal – Assim, o imposto reclamado, devido por tais sociedades, se regulará pelo §3º do art.9º daquele diploma legal, através do regime fixo anual, por profissional habilitado, que preste serviços em nome dessa sociedade. Desprovimento do recurso voluntário e confirmação do julgado, em reexame necessário.

E não se diga que ali apenas de cuidou de “inconstitucionalidade” do regramento

municipal vigente ou que não se reconheceu ali a “uniprofissionalidade” da recorrente, a leitura da parte expositiva que veio a gerar os acórdãos citados são de total precisão quanto a isto. Transcrevemos parte deles:

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Os grifos e os destaques são nossos.

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Também quanto à alegação de que este tratamento diferencial concedido à

recorrente constituiria infração de norma constitucional foi ali também examinado e devidamente expurgados pela distorção interpretativa que a inspirou:

Sem dúvida alguma foi por conhecerem perfeitamente os fundamentos e antecedentes destes julgados, que a Procuradoria, quando ouvida, se manifesta favoravelmente a sua aplicação na impugnação ora em exame, e é de tão solar clareza estes opinativos que não pudemos pretender extrair dela outra conclusão senão a que ali está posta:

1) fls. 709 - Despacho do Coordenador da Coordenadoria de Revisão e

Julgamento Tributários, Sr. Ricardo Araújo de Souza, solicitando pronunciamento da Procuradoria Geral do Município, a respeito da alegação, contida na impugnação da Recorrente (de fls. 155/191), de que o Auto de Infração nº 100.736 não poderia exigir o ISS calculado sobre o movimento econômico, referente ao período de julho de 2000 a junho de 2004, em face de decisão transitada em julgado, proferida nos autos do processo 269/2004 (Apelação Cível nº 95.001.01137).

Os destaques são nossos.

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2) fls. 713 - Promoção do Procurador do Município José Eduardo Cavalcanti

Albuquerque, afirmando que "de acordo com os termos da sentença, procede a alegação contida na impugnação de fls. 155/191".

Os destaques são nossos. Temos assim que nos desviarmos deste tema e sua aplicação ao presente

processo, traduz clara manobra de exclusivo interesse fazendário, justo ou não, que implica em duas impropriedades à boa técnica jurídica e mesmo administrativa- contenciosa: o descumprimento de ordem judicial expressa com ofensa à cousa julgada e desconsideração à orientação prestada pela Procuradoria no caso concreto, optando por aplicar tese generalista emanada por aquele órgão para casos diversos. Esclareça-se, por oportuno, que o engano deste opinativo é que o referido mandado em nenhum momento de fixou na declaração de inconstitucionalidade da Lei 2.080/93, nem poderia fazê-lo porque se trataria de matéria que excedia as limitações para tal instrumento - e isto está expresso nos votos então proferidos - , mas apenas no fato de que os seus requisitos essenciais, tais como: o reconhecimento da condição ativa da postulante e existirem riscos iminentes a seu direito líquido e certo, estavam atendidos e justificavam a medida requerida.

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Por tais razões, entendo que há de se dar fiel cumprimento à ordem judicial até

que, ou se edite nova lei complementar de efeito constitucional que altere o disposto no Decreto 406/68, ou que, através de ação judicial própria (ordinária ou mesmo rescisória) venha o Município a provar a ocorrência de alteração fática na forma da constituição ou conduta operacional da recorrente que a leve a perder a condição que anteriormente veio a lhe ser reconhecida judicialmente.

DO MÉRITO PROPRIAMENTE DITO

Não tendo havido alteração fática na forma da composição societária da requerente, nem mudanças na sua forma de atuação como sociedade de advogados que é, condições estas anteriormente reconhecidas, inclusive com registro na OAB de conformidade com a Lei 8.906/94, que impede o registro de sociedade de advogados que atue de forma mercantil, exigindo inclusive que as procurações sejam nominativas aos advogados e vinculando sua responsabilidade pessoal nos processos que lhes sejam confiados, não adentro no exame de indícios de desvio destas atividades como sociedade uniprofissional - tese esta, aliás, brilhante e entusiasticamente defendida pelo representante de Fazenda, Dr. Mário Padrão, no cumprimento da missão própria de sua representação – entendendo que a recorrente mantém a condição legal para ser tributada como sociedade uniprofissional por assim ter sido reconhecida, implícita e explicitamente, no mandado de segurança em vigor, até ato judicial que o revogue, e seja comprovada alteração fática relevante que o justifique, já que as condições que fundamentaram o decisório judicial se mantém inalteradas desde então.

Há, assim, que nos filiarmos ao voto do Relator que considerou que a recorrente

atende às condições estabelecidas para a fruição do tratamento diferenciado dispensado ás sociedade uniprofissionais, dando provimento ao recurso.

DA MULTA POR NÃO POSSUIR TALONÁRIO PARA EMISSÃO DE NOTAS FISCAIS

Refere-se a aplicação de multa prevista no art. 51, inciso II, do item 1, alínea “a” da Lei 691/84, por efeito do art. 48 da lei 691/84, combinado com o art. 182 - inciso I do Dec. 10.514/91, como expresso no auto de infração.

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A multa é, no caso, acessória da obrigação principal (o recolhimento do ISS pelo

faturamento) e, consequentemente, ligada a obrigatoriedade de emissão de nota fiscal para recolhimento do ISS, o que não é o caso da requerente, pelo menos até a criação da nota fiscal eletrônica: a nota carioca. Embora a legislação atual não exclua expressamente tal obrigatoriedade quando não se tem que emitir NF para efeito de recolhimento do ISS, como é o caso da requerente, silenciando a respeito, a legislação anterior a excluía expressamente, o que nos faz concluir estar a contribuinte dispensada desta obrigação acessória. Daí que as sociedades capituladas como uniprofissionais, principalmente os escritórios de advogados, entendem – e isto tem tido acolhimento em decisões judiciais- que estão dispensadas de tal formalidade, não possuindo o talonário por desnecessário às suas obrigações fiscais. De fato seria um exagero fiscal e burocrático tal exigência pela inutilidade de seu uso que apenas sobrecarregaria o contribuinte sem qualquer finalidade prática.

Assim no entendimento de que tal exigência é descabida, entendo, como o

Relator, que deva ser excluído o item do auto de infração a ele referente.

PENALIDADE POR RECOLHIMENTO INSUFICIENTE DO ISS

A multa relativa ao item 1 do auto de infração é prevista no art.51, inciso I., item 2, alínea “d”, da Lei nº 691/84:

Art. 51 - As infrações apuradas por meio de procedimento fiscal ficam sujeitas às seguintes multas: I - relativamente ao pagamento do imposto: [....] 2 - falta de pagamento, quando houver:

. . . d) erro na determinação da base de cálculo; [....] Multa: 60% (sessenta por cento) sobre o imposto apurado;

Conforme anteriormente registrado, não cabem, na esfera administrativa,

questionamentos sobre a constitucionalidade das leis vigentes. Considerando que a atividade de fiscalização é vinculada, outra não poderia ser a multa penal aplicada no caso em tela, em estrita observância do dispositivo legal acima referido, se devido o imposto, o que não é o caso.

Assim entendo que o tema não merece atenção especial deste Conselho, não só

por se tratar de mera aplicação de normativo vigente e claramente definido, como porque sua incidência somente virá a ocorrer em caso da manutenção do fato gerador que inspirou o lançamento, manutenção esta que está comprometida por força dos efeitos do Mandado de Segurança já analisado.

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EM CONCLUSÃO FINAL

Por todas as razões acima expostas e estando toda a matéria sendo apreciada em conjunto, o voto deste Conselheiro, acompanhando o voto do Conselheiro Relator, é pelo PROVIMENTO do recurso especialmente por força da nulidade que compromete o lançamento como matéria preclusa em procedimento judicial transitado em julgado.

A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos em que é Recorrente: PINHEIRO

NETO ADVOGADOS e Recorrido: COORDENADOR DA COORDENADORIA DE REVISÃO E JULGAMENTO TRIBUTÁRIOS.

Acorda o Conselho de Contribuintes; 1) Por unanimidade, rejeitar a preliminar de nulidade do auto de infração,

suscitada pelo Contribuinte, nos termos do voto do Relator. 2) No mérito: 2.1) Por maioria, quanto ao item 1 do Auto de Infração, dar provimento ao recurso

voluntário, nos termos do voto vencedor do Conselheiro Relator. Vencidos os Conselheiros DOMINGOS TRAVAGLIA e DIRCE MARIA SALES

RODRIGUES, que negavam provimento ao recurso, quanto a este item, nos termos do voto do primeiro.

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2.2) Por maioria, quanto ao item 2 do Auto de Infração, negar provimento ao

recurso voluntário, nos termos do voto vencedor do Conselheiro ALFREDO LOPES DE SOUZA JUNIOR.

Vencidos os Conselheiros RELATOR, NEWTON SILVEIRA PALHANO DE

JESUS e ROBERTO LIRA DE PAULA, que davam provimento ao recurso também quanto a este item, nos termos do voto do primeiro.

Os Conselheiros NEWTON SILVEIRA PALHANO DE JESUS e FERNANDO

DA COSTA GUIMARÃES apresentaram declaração de voto. Conselho de Contribuintes do Município do Rio de Janeiro, 27 de outubro de

2011.

DENISE CAMOLEZ PRESIDENTE

ABEL MENDES PINHEIRO JUNIOR CONSELHEIRO RELATOR

ALFREDO LOPES DE SOUZA JUNIOR CONSELHEIRO

DOMINGOS TRAVAGLIA CONSLHEIRO

FERNANDO DA COSTA GUIMARÃES CONSELHEIRO

NEWTON SILVEIRA PALHANO DE JESUS CONSELHEIRO