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Processo nº Data da autuação: Rubrica: 04/353.017/2008 15/01/2008 Fls. 176 CONSELHO DE CONTRIBUINTES Acórdão nº 16.524 Sessão do dia 04 de setembro de 2018. RECURSO VOLUNTÁRIO Nº 12.608 Recorrente: MULICEIRO SERVIÇOS MARÍTIMOS LTDA. Recorrido: COORDENADOR DA COORDENADORIA DE REVISÃO E JULGAMENTO TRIBUTÁRIOS Relatora: Conselheira DIRCE MARIA SALES RODRIGUES Representante da Fazenda: FERNANDO MIGUEZ BASTOS DA SILVA ISS – PRELIMINAR DE NULIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO Improcede a arguição de nulidade quando o lançamento observou todos os requisitos previstos na legislação pertinente, e não restou comprovado nos autos qualquer prejuízo ao pleno exercício do direito de defesa do contribuinte. Preliminar rejeitada. Decisão unânime. ISS – DECADÊNCIA DO DIREITO DE CONSTITUIR O CRÉDITO TRIBUTÁRIO Nos lançamentos por homologação, quando não houver a antecipação do imposto, a contagem do prazo do direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário rege-se pelo art. 173, inciso I, do Código Tributário Nacional. ISS – SERVIÇO DE REBOQUE DE EMBARCAÇÕES – INCIDÊNCIA A rebocagem marítima, auxiliar do serviço portuário de atracação, não se confunde com o de transporte marítimo, caracterizando-se como espécie do gênero contido no inciso LXXXVII do art. 8º da Lei nº 691, de 1984. ISS – AFRETAMENTO DE EMBARCAÇÕES A CASCO NU – NÃO INCIDÊNCIA Não incide o ISS no afretamento de embarcações a casco nu, por se tratar de

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Processo nº Data da autuação: Rubrica:

04/353.017/2008 15/01/2008

Fls. 176

CONSELHO DE CONTRIBUINTES Acórdão nº 16.524

Sessão do dia 04 de setembro de 2018. RECURSO VOLUNTÁRIO Nº 12.608 Recorrente: MULICEIRO SERVIÇOS MARÍTIMOS LTDA. Recorrido: COORDENADOR DA COORDENADORIA DE REVISÃO E

JULGAMENTO TRIBUTÁRIOS Relatora: Conselheira DIRCE MARIA SALES RODRIGUES Representante da Fazenda: FERNANDO MIGUEZ BASTOS DA SILVA

ISS – PRELIMINAR DE NULIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO

Improcede a arguição de nulidade quando

o lançamento observou todos os requisitos previstos na legislação pertinente, e não restou comprovado nos autos qualquer prejuízo ao pleno exercício do direito de defesa do contribuinte. Preliminar rejeitada. Decisão unânime.

ISS – DECADÊNCIA DO DIREITO DE CONSTITUIR O CRÉDITO TRIBUTÁRIO

Nos lançamentos por homologação,

quando não houver a antecipação do imposto, a contagem do prazo do direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário rege-se pelo art. 173, inciso I, do Código Tributário Nacional.

ISS – SERVIÇO DE REBOQUE DE EMBARCAÇÕES – INCIDÊNCIA

A rebocagem marítima, auxiliar do serviço

portuário de atracação, não se confunde com o de transporte marítimo, caracterizando-se como espécie do gênero contido no inciso LXXXVII do art. 8º da Lei nº 691, de 1984.

ISS – AFRETAMENTO DE EMBARCAÇÕES A CASCO NU – NÃO INCIDÊNCIA

Não incide o ISS no afretamento de

embarcações a casco nu, por se tratar de

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atividade caracterizada como locação de bem móvel pura e simples, nos termos do art. 2º da Instrução Normativa SMF nº 15, de 2012.

ISS – DOMICÍLIO TRIBUTÁRIO – LOCAL DO ESTABELECIMENTO PRESTADOR Os serviços de reboque de embarcações,

prestados em águas territoriais brasileiras, sujeitam-se à lei nacional quanto à determinação do domicílio tributário, devendo o imposto ser recolhido no local do estabelecimento prestador, conforme o art. 12, alínea “a” do Decreto-lei nº 406, de 1968, ou no local do porto, de acordo com o art. 3º, inciso XXII, da Lei Complementar nº 116, de 2003, observado o período da ocorrência do fato gerador.

ISS – PEDIDO DE PERÍCIA Indefere-se o pedido de perícia quando não

houver nos autos dúvidas que justifiquem a realização desse procedimento.

Recurso voluntário parcialmente provido.

Decisão unânime.

IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS

R E L A T Ó R I O

Adoto o relatório da Representação da Fazenda, de fls. 164/166, que

passa a fazer parte integrante do presente.

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CONSELHO DE CONTRIBUINTES Acórdão nº 16.524

“Trata-se de Recurso Voluntário interposto por MULICEIRO SERVIÇOS MARÍTIMOS LTDA, frente à decisão do Senhor Coordenador da Coordenadoria de Revisão e Julgamento Tributários (F/SUBTF/CRJ), às fls. 89/102, que julgou apenas parcialmente procedente a impugnação apresentada ao Auto de Infração no 107.742, de 15.01.2008.

A notificação fiscal em referência é constituída de duas ocorrências.

O item I registra a falta de recolhimento do ISS devido por operações realizadas no período contínuo de setembro/2002 a dezembro/2003, concernentes a serviços portuários, previstos no inciso LXXXVII do art. 8º da Lei nº 691/1984, na redação dada pela Lei nº 1.194/1987, conforme Quadro Demonstrativo I anexo.

O item II registra o recolhimento insuficiente do ISS devido pela atividade de locação, realizadas no período contínuo de setembro/2002 a agosto/2007, por considerá-la não tributável, conforme Quadro Demonstrativo II anexo.

Em sua impugnação, às fls. 12/35, o contribuinte havia alegado, em apertada síntese:

– preliminarmente, que o Auto de Infração era nulo por não descrever de forma circunstanciada os fatos que justificaram a exigência fiscal e por haver erro na quantificação dos serviços;

– no mérito, que prestou serviços de transportes marítimos, que não são tributáveis, por terem sido realizados em águas da União;

– que os serviços de rebocagem não são serviços portuários e não podem ser tributados por não haver previsão na lista de serviços;

– que os serviços portuários tributáveis são apenas os prestados pela Cia Docas e não aqueles prestados pelas empresas privadas de transportes marítimos de passageiros ou de cargas;

– que também realiza afretamento de embarcações a casco nu, que não pode ser tributado pelo ISS, por caracterizar locação de bens móveis, conforme decidido pelo STF no RE 116.121-3/SP.

O autor do procedimento fiscal ofereceu informação fundamentada, às fls. 78/79, propugnando pela manutenção integral do Auto de Infração.

Conforme determinado pela Coordenadoria de Revisão e Julgamento Tributários (F/SUBTF/CRJ), às fls. 81/82, o Auto de Infração foi retificado, nos termos de fls. 85/87. Cientificado da retificação e da reabertura do prazo impugnatório, o contribuinte optou por não aditar a impugnação.

A Coordenadoria de Revisão e Julgamento Tributários (F/SUBTF/CRJ), em decisão de fls. 89/52, rejeitou a alegação de nulidade e julgou parcialmente procedente a impugnação apresentada, nos moldes do Termo de Retificação de fls. 85, mantendo o Auto de Infração guerreado, sob os seguintes fundamentos, em

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resumo:

– quanto à alegação de nulidade, que o contribuinte possuía total condição para instaurar o contraditório e que de fato o fez, não restando demonstrado qualquer prejuízo ao seu direito de defesa;

– quanto ao mérito (item I), que os serviços de rebocagem são serviços acessórios aos serviços portuários, conforme previsto no inciso LXXXVII do art. 8º da Lei nº 691/1984, portanto, tributáveis pelo ISS;

– ainda quanto ao mérito (item II), que a locação de bens móveis é serviço e, portanto, sujeita-se à incidência do ISS.

Em seu Recurso Voluntário, às fls. 113/139, o Recorrente alega, em apertada síntese:

– preliminarmente, que o Auto de Infração é nulo porque não nomeou nem quantificou, de forma circunstanciada, os serviços que considera genericamente como sendo portuários, também deixando de tipificar a atividade de locação de bens móveis;

– no mérito, que opera exclusivamente como empresa de navegação mercante de apoio marítimo, na prestação de serviços de rebocagem, que nada mais é do que transporte marítimo;

– presta seus serviços de navegação exclusivamente no mar territorial da União Federal, nas quais se incluem as águas que circundam o Município do Rio de Janeiro, mas que não se contém nos seus limites geográficos;

– como se constata, os rebocadores do Recorrente prestam seus serviços na rebocagem marítima, procedendo ao reboque de chatas e balsas e no auxílio às manobras de atracação e desatracação de navios;

– os serviços de rebocagem de chatas e balsas não se enquadram no item LXXXVII da lista de serviços;

– os serviços portuários tributáveis são apenas os prestados pela Cia Docas e não aqueles prestados pelas empresas privadas de transportes marítimos de passageiros ou de cargas;

– o emprego de analogia não pode gerar, no direito tributário, a criação de novos fatos geradores, os quais, obviamente, só passam a pertencer ao mundo jurídico após instituídos por lei complementar e não através de simples interpretações, como pretende a municipalidade;

– com a entrada em vigor da Lei Complementar nº 116/2003, dúvidas não mais existem de que os aludidos serviços, antes de sua vigência, não eram tributados pelo ISS;

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– além dos serviços de rebocadores, o Recorrente também afreta (ou loca) suas embarcações, a casco nu (notas fiscais nos 0850, 0832, 0881 e 0882 – docs. 01 a 04), através de contrato, pelo qual transfere para o afretador ou locatário, o uso e gozo da coisa, assumindo ele a responsabilidade de tripular a embarcação, custear sua manutenção, etc, praticando verdadeira operação de dar;

– a locação de bens móveis não pode ser tributada pelo ISS, conforme decidido pelo STF no RE 116.121-3/SP, por não caracterizar um prestare ou um facere.

Requer o Recorrente seja dado provimento ao recurso, para tornar insubsistente a autuação, com a sua consequente anulação.

Protesta, finalmente, pela produção de prova pericial, conforme os quesitos e indicação de assistente técnico, às fls. 139/140, com a finalidade de demonstrar que os serviços de rebocagem que presta estão fora dos limites do Município do Rio de Janeiro e que não podem ser considerados como portuários, já que prestados ao largo da Baía de Guanabara.”

A Representação da Fazenda requereu a rejeição da preliminar de nulidade do Auto de Infração, suscitada pelo Contribuinte e, no mérito, opinou pelo provimento parcial do recurso.

É o relatório.

V O T O

O recurso voluntário ora analisado foi interposto em face da decisão do

Coordenador da Coordenadoria de Revisão e Julgamento Tributários que julgou parcialmente procedente a impugnação ao Auto de Infração nº 107742, lavrado em 15 de janeiro de 2008, relativo ao Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza. Restou mantido o auto de infração com a redação dada pelo Termo de Retificação de fls.85/87, lavrado em 27 de novembro de 2008.

Conforme já destacado no relatório inicial, o litígio diz respeito ao não

recolhimento do ISS devido por operações relativas a serviços portuários, previstos no art. 8º, inciso LXXXVII, da Lei nº 691, de 1984, na redação dada pela Lei nº 1.194, de 1987(item I); e ao recolhimento insuficiente do ISS devido pela atividade de locação prevista no art. 8º, inciso LXXXVII, da Lei nº 691, de 1984, na redação dada pela Lei nº 1.194, de 1987 e, posteriormente, no art. 8º, item 3, da Lei nº 691, de 1984, na redação dada pela Lei nº 3.691, de 2003 (item II).

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Na peça recursal, o Contribuinte reiterou os argumentos apresentados na

impugnação. Solicitou, de início, a nulidade do auto de infração, apontando falhas na identificação dos serviços considerados tributáveis, o que, a seu ver, conduziu ao cerceamento do direito constitucional à ampla defesa.

No mérito, alegou que opera como empresa de navegação mercantil de

apoio marítimo, com a prestação de serviços de rebocagem, que consiste na atividade de transporte marítimo; reivindicou a não incidência do ISS sobre as atividades relacionadas no lançamento, porquanto, além de não estarem tipificados no elenco da Lista de Serviços que integra a Lei Complementar nº 56/87, foram prestados fora dos limites geográficos do Município do Rio de Janeiro, sendo que, para a comprovação desse fato, solicitou a produção de prova pericial.

A princípio, cabe apreciar o pedido de nulidade do auto de infração. O Recorrente alegou cerceamento do seu direito de defesa, em razão de

não terem sido discriminados nem quantificados na peça fiscal os serviços considerados como serviços portuários. Além disso, apontou que o Fiscal de Rendas autuante não esclareceu os motivos que o levaram a enquadrar os serviços prestados como sendo aqueles previstos no inciso LXXXVII do art. 8º da Lei nº 691, de 1984.

Por certo são nulos os atos praticados e as decisões proferidas com preterição ou prejuízo do direito de defesa do contribuinte, conforme disposto no art. 40, inciso II, do Decreto “N” nº 14.602, de 1996. Entretanto, há de ser provado que realmente ocorreu o cerceamento de tal direito.

Neste caso, não assiste razão ao Recorrente, porquanto o auto de

infração possui todos os informes necessários à compreensão de tudo que foi considerado infração, do que está sendo tributado e das penalidades aplicadas. Não restou constatada qualquer omissão dos elementos descritos no art. 68 do Decreto “N” nº 14.602, de 1996.

Nota-se que o Contribuinte detinha a total condição para instaurar um

litígio, porquanto sabia exatamente do que se tratava a exigência fiscal. As peças contestatórias, tanto a impugnação como o recurso, evidenciam sua percepção das razões de fato e de direito que nortearam o lançamento.

Por entender que o auto de infração foi corretamente lavrado, e por não

se perceber qualquer prejuízo ao direito de defesa do Autuado, NEGO ACOLHIDA à preliminar de nulidade do lançamento.

No que concerne ao mérito, cabe inicialmente analisar o lançamento

quanto à questão da decadência em relação às competências de setembro a novembro de 2002, porque se trata de matéria de ordem pública, que deve ser apreciada pelo julgador ainda que não contestada pelo interessado.

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Embora o ISS seja um tributo sujeito ao lançamento por homologação, não pode ser aplicado ao caso o prazo de cinco anos, previsto no § 4º do artigo 150 do Código Tributário Nacional – CTN e contado a partir da data da ocorrência do fato gerador, porquanto, conforme quadros demonstrativos de fls. 86/87, o imposto referente ao período registrado no auto de infração não fora pago, o que torna impossível sua homologação.

Observa-se que tanto a jurisprudência como a doutrina dominante

defendem que, quando inexistir a antecipação de qualquer pagamento, mesmo nos impostos de lançamento por homologação, aplica-se o disposto no artigo 173, inciso I, do CTN.

A respeito do tema, assim se manifestou Ricardo Lobo Torres em seu

“Curso de Direito Financeiro e Tributário”, 17ª edição, pág. 285, onde tratou o pagamento antecipado pelo sujeito passivo como forma de autolançamento ou lançamento antecipado, sujeito a homologação:

Seja como for, no prazo de cinco anos, se tiver acontecido a antecipação do pagamento, dar-se-á a homologação, expressa ou tácita. Ultrapassado o lustro e ressalvados os casos de existência de dolo, fraude ou simulação, o Fisco não mais poderá proceder ao lançamento ex officio, pois se trata de um prazo decadencial. E se não houver a antecipação do lançamento? Logicamente não se iniciará o prazo de decadência, pois não cabe cogitar de homologação se inexistiu o autolançamento ou pagamento prévio. O que a Administração controla é o ato do contribuinte, o pagamento por ele antecipado. Inexistindo este, inexistirá a possibilidade de homologação e, consequentemente, não se iniciará o prazo decadencial.

Na mesma linha, este Egrégio Conselho de Contribuintes já firmou

entendimento em relação à matéria ora julgada, tendo decidido por diversas vezes que, nos casos análogos a este, deve-se aplicar o disposto no artigo 173, inciso I, do CTN. Como exemplo, temos o Acórdão nº 10.749, prolatado na sessão do dia 16 de dezembro de 2008, com a seguinte ementa:

ISS – PRELIMINAR – DECADÊNCIA DO DIREITO DE CONSTITUIR O CRÉDITO TRIBUTÁRIO – Nos lançamentos por homologação, quando não houver a antecipação do imposto, a contagem do prazo do direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário rege-se pelo artigo 173, do Código Tributário Nacional. Preliminar rejeitada. Decisão unânime.

Desse modo, o prazo a ser aplicado para a hipótese deve seguir a regra disposta no inciso I do art. 173 do CTN, ou seja, o direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário extingue-se após 5 (cinco) anos, contados do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado.

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Os três meses mais remotos lançados pela Fiscalização Municipal foram setembro, outubro e novembro de 2002. Considerando a possibilidade de se efetuar o lançamento do imposto relativo a esse período no mesmo ano, o prazo decadencial para tal procedimento teve início em 1º de janeiro de 2003, isto é, no exercício seguinte, encerrando-se com o decurso do quinquênio após essa data, em 31 de dezembro de 2007.

Posto que o lançamento se deu em 15 de janeiro de 2008, com termo de

retificação lavrado em 27 de novembro de 2008, ocorreu a decadência do direito de o Fisco Municipal constituir o crédito tributário em relação ao período de setembro a novembro de 2002, com alcance aos dois itens do auto de infração.

Ainda como questão de mérito, cabe ressaltar que, de acordo com a

cláusula segunda da Consolidação do Contrato Social da Empresa, às fls.28/38, grafada após a quinta alteração contratual, a sociedade tem por objeto a prestação dos seguintes serviços:

a) Transporte marítimo de passageiros/práticos e cargas, na navegação interior de porto ou de apoio portuário, com embarcações próprias ou de terceiros; b) Serviços de rebocagem marítima, na navegação portuária ou costeira, com embarcações próprias ou de terceiros, para qualquer parte do mar territorial brasileiro; c) Transporte de água potável, combustíveis líquidos e lubrificantes, para instalações marítimas e terrestres, com embarcações, veículos e equipamentos próprios ou de terceiros; d) Afretamento e fretamento de embarcações tripuladas ou a casco nu; e e) Agenciamento e operação de serviços marítimos e portuários em terminais próprios ou de terceiros.

Alegou o Recorrente que opera exclusivamente como empresa de navegação mercante de apoio marítimo, na prestação de serviços de rebocagem, que, no seu entendimento, nada mais é do que transporte marítimo.

Esclareceu que os serviços de rebocagem prestados por suas

embarcações consistem no tracionamento de chatas e balsas supridas de água potável para abastecimento de navios e outras embarcações, e de outros meios flutuantes desprovidos de forca motriz, sendo que tais serviços são prestados na Baía de Guanabara. Complementou afirmando que também celebra contratos de afretamento de embarcações.

Procurou demonstrar em sua defesa que os serviços de rebocagem não

se submetem ao gravame do ISS, porquanto não constituem serviços portuários e, desse modo, não estão incluídos no inciso LXXXVII da lista de serviços disposta art. 8º da Lei nº 691, de 1984.

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Cabe lembrar que tanto a doutrina dominante quanto a jurisprudência

pacífica de nossos tribunais apontam que a lista de serviços, embora taxativa, admite interpretação extensiva.

Bernardo Ribeiro de Morais, em seu clássico Doutrina e Prática do

Imposto Sobre Serviços, já afirmava:

Embora taxativa, limitativa, a lista de serviços admite interpretação extensiva para as diversas atividades que enuncia. Cada item da lista de serviços abrange certas atividades, ali contidas de forma genérica, sem caráter específico rigoroso.

Nota-se que o dispositivo legal citado determina a incidência do ISS não só sobre os serviços portuários, utilização de porto, atracação, capatazia, armazenagem e suprimento de água, mas também os serviços acessórios aos serviços portuários. Por certo o serviço de rebocagem é um desses serviços acessórios, auxiliares aos serviços portuários de atracação, desatracação e suprimento de água. Assim sendo, e não havendo ressalva na norma legal, seus efeitos alcançam todo e qualquer prestador de serviços e não somente as modalidades de serviços portuários prestados pela Companhia Docas, conforme alegou o Recorrente.

Verifica-se que os documentos fiscais apresentados registram a

ocorrência dos serviços de rebocagem de embarcações, na maioria para suprimento de água, o que reforça tratar-se de prestação de serviços portuários tributados pelo ISS.

Este Egrégio Conselho assim vem decidindo questões semelhantes,

entendendo que, mesmo na vigência do art. 8º da Lei nº 691, de 1984, na redação anterior à dada pela Lei 3.691, de 2003, os serviços de rebocagem são acessórios aos serviços portuários e não serviços de transporte. Como exemplo, temos o Acórdão nº 9.309, da sessão do dia 18 de dezembro de 2006, com a seguinte ementa:

ISS – SERVIÇO DE REBOQUE MARÍTIMO – A rebocagem marítima, auxiliar do serviço portuário de atracação, não se confunde com o de transporte marítimo, caracterizando-se como espécie do gênero contido no inciso LXXXVII do artigo 8º da Lei nº 691/84. Recurso Voluntário improvido. Decisão unânime.

No que diz respeito ao domicílio tributário, não procede a alegação de impossibilidade de tributação dos serviços de rebocagem sob a justificativa de que foram prestados em águas da Baía de Guanabara. Peço vênia para transcrever

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trecho do esclarecedor pronunciamento do douto Representante da Fazenda a respeito de tal argumentação:

De outro giro, a tese de impossibilidade de tributação dos serviços de rebocagem pelo ISS, ao argumento de que são realizados nas águas da Baía de Guanabara, portanto, fora dos limites territoriais do Município, também não encontra eco neste E. Conselho de Contribuintes. Confira-se o decidido no Acórdão nº 9.309, de 18.12.2006, assim ementado: ISS – SERVIÇO DE REBOQUE MARÍTIMO – A rebocagem marítima, auxiliar do serviço portuário de atracação, não se confunde com o de transporte marítimo, caracterizando-se como espécie do gênero contido no inciso LXXXVII do art. 8º da Lei nº 691/84. ISS – LOCAL DA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO – Serviços prestados em águas territoriais brasileiras sujeitam-se à lei nacional, inclusive, antes da Lei Complementar nº 116/03, ao Decreto-lei nº 406/68, cujo art. 12, alínea “a”, que definia como local da prestação do serviço o do estabelecimento prestador. Recurso voluntário improvido. Decisão unânime. Pedimos vênia, uma vez mais, desta feita para destacar excerto do voto do i. Conselheiro Relator Dr. Fernando da Costa Guimarães, no referido julgado, no seguinte sentido: Nem se alegue que os serviços não podem ser tributados pelo Município por serem realizados em mar territorial que, pela Constituição Federal (art. 20, caput, inciso VI) é bem da União. Os terrenos de marinha também pertencem à União (art. 20, caput, VII) e nem por isto deixam de ser tributados os serviços prestados na orla marítima. Qualquer porção de território municipal integra também o território do Estado e o da União Federal, como acontece com as águas territoriais situadas na Baía de Guanabara (art. 18 da Lei Orgânica do Município do Rio de Janeiro). Seja como for, é indubitável que os referidos serviços são realizados em território nacional, sujeitando-se à legislação brasileira, inclusive o Decreto-lei nº 406/68, que definia como local da prestação do serviço, para efeito de incidência do ISS, aquele em se situava o estabelecimento prestador (art. 12, alínea “a”), no caso, o Município do Rio de Janeiro.

Em seguida, a Lei Complementar nº 116, de 2003, determina em seu art. 3º, inciso XXII, que no caso dos serviços portuários o imposto será devido no local do porto.

Em relação aos serviços de afretamento de embarcações a casco nu,

alega o Recorrente que não cabe a tributação pelo ISS. A Lei nº 9.432, de 1997, que dispõe sobre a ordenação do transporte

aquaviário e dá outras providências, define em seu art. 2º os tipos de afretamento:

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Art. 2º Para os efeitos desta Lei, são estabelecidas as seguintes definições: I - afretamento a casco nu: contrato em virtude do qual o afretador tem a posse, o uso e o controle da embarcação, por tempo determinado, incluindo o direito de designar o comandante e a tripulação; II - afretamento por tempo: contrato em virtude do qual o afretador recebe a embarcação armada e tripulada, ou parte dela, para operá-la por tempo determinado; III - afretamento por viagem: contrato em virtude do qual o fretador se obriga a colocar o todo ou parte de uma embarcação, com tripulação, à disposição do afretador para efetuar transporte em uma ou mais viagens; [....] (sem grifos no original)

Com efeito, o afretamento de embarcações a casco nu, por constituir um contrato de afretamento não tripulado, ou seja, desacompanhado de qualquer prestação de serviço, pode ser definido como locação de bem móvel pura e simples, nos termos do art. 2º da Instrução Normativa SMF nº 15, de 2012.

Assim sendo, por força da Súmula Vinculante nº 31 do STF, a atividade

de afretamento de embarcações a casco nu não se sujeita à incidência do ISS. Cabe ressaltar que este egrégio Conselho de Contribuintes tem decidido

que a locação de embarcações está sujeita à incidência do imposto, apenas nos casos em que não se tratar de locação de bens móveis pura e simples, nos termos definidos no § 1º do art. 2º da Instrução Normativa SMF nº 15, de 2012.

Desse modo, concordo com a proposta do douto Representante da

Fazenda para que sejam excluídas do item II do Auto de Infração as receitas referentes às Notas Fiscais de Serviços nos 2434, 2503, 2571, 2607 e 3102, às fls. 70/74, cuja discriminação aponta a “locação a casco nu”, ressaltando serem essas as únicas provas colimadas para os autos.

Entretanto, em razão da decadência anteriormente suscitada, já foram

suprimidas as Notas Fiscais de Serviços nº 2434, de 09/09/2002, e nº 2503, de 30/10/2002, restando apenas as demais para exclusão.

Por fim, em relação ao pedido de perícia apresentado pelo Recorrente,

com a finalidade de demonstrar que os serviços de rebocagem que presta estão fora dos limites do município do Rio de Janeiro e que não podem ser considerados como portuários, já que prestados ao largo da Baía de Guanabara, cabe esclarecer que a apreciação dos quesitos formulados não demanda qualquer conhecimento técnico específico no assunto.

Deve-se entender a perícia como o instrumento probatório de que lança

mão o julgador apenas quando o fato em questão lhe suscita dúvidas, por estar a exigir conhecimentos técnicos especiais que, eventualmente, não possui.

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Indefiro, portanto, o pedido de perícia, por considerar o procedimento

desnecessário. Diante do exposto, voto pelo PROVIMENTO PARCIAL do recurso

voluntário, com vistas à reforma da decisão recorrida, de modo a excluir do Auto de Infração nº 107742, de 2008, com a redação dada pelo Termo de Retificação de fls.85/87, o período de setembro a novembro de 2002, com alcance nos dois itens, e as receitas referentes às Notas Fiscais de Serviços nºs 2571, 2607 e 3102, com cópias juntadas às fls. 72/74, que foram indevidamente incluídas no item II.

A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos em que é Recorrente:

MULICEIRO SERVIÇOS MARÍTIMOS LTDA. e Recorrido: COORDENADOR DA COORDENADORIA DE REVISÃO E JULGAMENTO TRIBUTÁRIOS.

Acorda o Conselho de Contribuintes: 1) Por unanimidade, rejeitar a preliminar de nulidade do Auto de Infração,

suscitada pelo Contribuinte, nos termos do voto da Relatora; e 2) No mérito, por unanimidade, dar provimento parcial ao recurso

voluntário, nos termos do voto da Relatora. Ausentes das votações os Conselheiros ROBERTO LIRA DE PAULA e

ALFREDO LOPES DE SOUZA JUNIOR, este substituído pelo Suplente EDUARDO GAZALE FÉO.

Conselho de Contribuintes do Município do Rio de Janeiro, 27 de

setembro de 2018.

DENISE CAMOLEZ PRESIDENTE

DIRCE MARIA SALES RODRIGUES CONSELHEIRA RELATORA