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Recanto das Letras

Séries de Web Produção Capítulo 21

Recuperando a Paixão

Novela de José Pereira

Escrita por

José Pereira

Versão Internacional de

“Recuperando a Paixão” (2015)

Personagens deste capítulo

ALTAMIRO

ANGÉLICA

AMÉLIA

ANDRESSA

BIANCA

CARINA

CARLOS

DANIEL

DANILO

DIEGO

EDUARDO

FERNANDO

GERALDO

GISELE

HELEN

IRENE

JACKELINE

JEFERSON

JÚLIO

MÁRCIA

MAURÍCIO

MICHELE

NAYARA

NEUSA

NILZA

PATRÍCIA

RODOLFO

SANDRA

SEBASTIÃO

VÍTOR

Recuperando a Paixão Capítulo 21 Pág.: 1

CENA 1. CASA DE DANIEL. COZINHA. INTERIOR. NOITE.

A família Ferreira janta, clima chato. Danilo decide

quebra-lo.

Danilo — Aconteceu outra coisa ruim?

Daniel — (duro) Foi você quem denunciou a

briga de semana passada para as redes

sociais?

Helen — Calma, querido, como pensou/

Daniel — (corta) Estou atirando pra todos os

lados. Ela deve ter contado.

Danilo — Michele? Contou sim, mas que histó-

ria é essa de vazamento?

Helen — Alguém postou em uma página de humor

que tem aos montes e agora ninguém es-

tá querendo se empregar com a gente.

Danilo — (a Daniel) E você está esperando que

eu responda “sim”?

Daniel — Apenas responda.

Danilo — Recuso-me.

Daniel — (irônico) Já que você gosta de fuçar

onde não deve, que tal botar seu dote

de Sherlock para descobrir quem foi?

Daniel se levanta bruscamente após a frase e sai. He-

len e Danilo permanecem, constrangidos.

Corta para:

CENA 2. CASA DE SEBASTIÃO. SALA. INTERIOR. MANHÃ.

Dia seguinte. Maurício em mais uma visita, sentado no

sofá. Sebastião o recebe.

Maurício — Tião, minha irmã já pode saber o que

aconteceu a Edu?

Sebastião — Quando ela parar de fornicar com o

chefe, aí você conta.

Maurício — (irando-se) Pode parar com isso,

Tião! Sabe muito bem que isso não está

acontecendo.

Sebastião — Eu sei mesmo? Edu ainda está muito

fraco.

Maurício — (desconfiando) Depois eu dou uma


olhada.

Diego aparece, chateado.

Diego — Tio, já está sabendo do fracasso da

transportadora?

Sebastião — Não se preocupe, sobrinho, você vai

conseguir alguma coisa.

Diego — Tô ansioso, Finho foi ver se tem va-

ga na obra.

Maurício — Já trabalhou nisso, rapaz?

Diego — Nunquinha, mas não sou retardado.

Precisa de faculdade ou experiência

para revirar massa de cimento?

Os dois mais velhos riem.

Corta para:

CENA 3. PRÉDIO EM OBRAS. INTERIOR. MANHÃ.

Jeferson está fazendo a pergunta a seu superior.

Geraldo — Olha, amigo, o chefão de todos nós

disse que não está contratando mais

ninguém. Se dependesse de mim...

Jeferson — Diego vai surtar.

Geraldo — Trouxe ao menos uma referência? Não

vou exigir currículo com pós-

graduação, mas...

Jeferson — O rapaz vem da roça de Baixo Guandu.

Geraldo — Ai, assim fica mais difícil de eu

perguntar. Só porque você é meu chega-

do, tentarei.

Jeferson — Não se culpe se não conseguir.

Corta para:

CENA 4. CENTRO. RUA. EXTERIOR. MANHÃ.

Fernando e Irene juntos mais uma vez, andando para o

trabalho. Chegam ao ponto em que vão se separar e pa-

ram, conversa segue.

Fernando — E então, já conseguiram preencher a

outra turma?

Irene — (desalentada) Ai, Fernando, se você

soubesse... Não, deve saber, soube que


o Sr. Ferreira foi te questionar.

Fernando — (maldoso) Foi soltando fumaça, mas

joguei água fria. E ainda quis invadir

meu call center, interrogar Eduardo e

Carlos! Não o deixei.

Irene — Fernando, espero mesmo que você não

tenha algo a ver.

Fernando — Não, querida, ainda que eu esteja

achando muito divertido, não faria al-

go assim. Júlio Raion também ficou sa-

bendo e disse que se for coisa de al-

guma assessoria ele poderia cessar a

parceria.

Irene — E com muita razão, afinal estão fa-

lando da Moneycard.

Fernando — Agora vamos combinar que se as moças

não se rebelassem contigo a tal briga

jamais teria existido.

Irene — Não pretendo baixar a guarda com

aquelas destrambelhadas, elas têm de

bater a meta e eu me assegurarei dis-

so. Melhor seguir, Fernando.

Fernando e Irene trocam um rápido beijo e se afastam.

Corta para:

CENA 5. MONEYCARD. ATENDIMENTO. INTERIOR. MANHÃ.

Andressa entre outros funcionários passando pelo aten-

dimento para a área em que trabalham. CAM enquadra em

Júlio conversando com Vítor, áudio começa assim que

Andressa se aproxima deles.

Júlio — E agora o povo que não tem coisa me-

lhor a fazer está compartilhando como

se fosse fofoca de comadre.

Vítor — Acha que alguém da própria empresa

seria capaz?

Júlio — (com Andressa praticamente passando

ao lado) Somente alguém da Cobrasil ou

eu teríamos condições, se bem que eu

também...


Neste ponto do diálogo Andressa para e intervém.

Andressa — Perdão, senhores, comentavam sobre o

que aconteceu na Cobrasil?

Vítor — Bom-dia, Andressa. Bem, era sua an-

tiga empresa, certo? Eu bem te disse

que ela não te merecia.

Júlio — Agora entendo por que pediu demis-

são.

Andressa — Senhores, posso assegurar que nin-

guém da empresa seria tão tolo a ponto

de espalhar um caso desses na Inter-

net. Eu ainda mantenho contato.

Júlio — Desconfia de outra assessoria?

Andressa — Não. Apenas sei que a pessoa que

iniciou a briga não é digna de confi-

ança. Com licença.

Andressa se afasta, deixando Júlio e Vítor pensativos.

Corta para:

CENA 6. ED. RIBAMAR. SAGUÃO. INTERIOR. MANHÃ.

Jeferson está conversando com Amélia. Pessoas ao redor

passando por eles, entrando e saindo do prédio.

Amélia — Sério mesmo, logo o Edu?

Jeferson — Edu às vezes parece uma criança.

Muita proteção do pai dá nisso.

Amélia — Ai, Finho, não começa com a lenga-

lenga de “meu pai prefere meu irmão”.

Jeferson — (desespero) Mas, é verdade, Amélia!

Por isso eu nem contei a ele, pois se-

ria capaz de passar pano para Eduardo.

Agora se fosse eu...

Amélia — (reconciliadora) Ai, você por ser

maduro não faria uma coisa dessas.

Bem, espero que ele tenha aprendido a

lição. E Carina seguirá sem saber dele

em casa? Eu não contei, todos pensam

que ele ainda está na Intercob.

Jeferson — Não, ainda não querem que contem,

que Edu ao melhorar conte pessoalmente


a ela. Mas, pode ter certeza de que

ele pretende voltar, caso ainda esteja

disponível a vaga.

Amélia — (sorri) Vou torcer para que sim. Pa-

ra tanto, melhor que tudo fique entre

nós, senão nem Helen vai querê-lo

mais.

Jeferson — Muito obrigado, Amélia. Melhor vol-

tar para a obra. Bom serviço!

Jeferson volta e sai. Amélia vai para a roleta, passa,

e entra no elevador. Close nela, sorrindo, pensando.

Amélia — (pensando) Tomara mesmo que Eduardo

retorne, assim ele mantém aquela Cari-

na na linha e sobra espaço para mim, o

meu espaço, com Daniel.

Porta do elevador se fecha.

Corta para:

CENA 7. COBRASIL. CALL CENTER. INTERIOR. MANHÃ.

Uma semana depois, dia 18/02. Nilza em pé, com uma fo-

lha em mãos, relata total quinzenal das cobradoras.

Nilza — Bem, meninas, aqui está o ranking da

metade do mês de fevereiro:

Jackeline: R$ 2.205,00

Amélia: R$ 2.160,00

Nayara: R$ 2.028,00

Márcia: R$ 1.960,00

Irene: R$ 1.882,00

Carina: R$ 1.745,00

Patrícia: R$ 1.690,00

Bianca: R$ 1.195,00

Gisele: R$ 400,00

TOTAL: R$ 15.615,00

Jackeline — Não acredito, estou em primeiro lu-

gar!

Todas batem palmas. Close em Gisele que não bate.

Nilza — Por enquanto está, Jackie. Bem, gen-

te, é um alívio saber que nesse mês

receberemos muito mais do que o mês


passado.

Helen — Janeiro nós recebemos mais de R$

19.000,00; se na metade de fevereiro

já estamos com R$ 15.000,00...

Irene — É sinal de que estamos crescendo,

ainda temos o resto do mês para rece-

ber muito mais!

Nilza — E com Michele no Consórcio Feliz, a

empresa finalmente poderá respirar

sossegada. Agora podem voltar ao tra-

balho.

Todas sentam em seus lugares. Corta para Gisele e Pa-

trícia, seguem em pé conversando baixo.

Gisele — Não acredito, estou em última de no-

vo! Carina, como sempre, na minha

frente, como ela consegue?

Patrícia — Já desistiu do seu plano de fisgar

Daniel Ferreira?

Gisele — Nunca! Tenho que ser implacável esse

mês, vou trabalhar como se estivesse

na Intercob.

Patrícia — Cuidado, amiga, não vire louca como

a Irene.

Corta para Carina entrando no call center. Bianca a

observa triste.

Bianca — Algum problema, Carina?

Carina — Faz uma semana que não vejo Edu. Nem

sei como ele está.

Bianca suspira e decide revelar tudo.

Bianca — Não sabe? Ora, está em casa.

Carina — (surpresa) Em casa? Não está traba-

lhando na Intercob?

Bianca — Olha, o Jeferson me convidou para

sair. Enquanto estávamos jantando, eu

casualmente perguntei por seu irmão e

ele disse que estava bem, em casa,

descansando.

Carina — Descansando, de quê?

Bianca — Nossa, amiga, você não soube de nada


a semana inteira?

Carina — Não, eu pensei que ele estava muito

ocupado na Intercob. Mas, no almoço,

eu vou perguntar a Finho.

Bianca senta em seu lugar, cara de dever cumprido.

Corta para:

CENA 8. PRÉDIO EM OBRAS. INTERIOR. MANHÃ.

Jeferson e Geraldo agora estão na instalação elétrica.

Jeferson — Não parou aqui nem uma vez, para

perguntar por ele, Geraldo.

Geraldo — Ela deve estar chateada mesmo.

Jeferson — E tudo por culpa desse chefe maldi-

to. Tomara que essa Cobrasil vá à fa-

lência. Não! Ela tem de continuar

aberta para Edu entrar.

Geraldo — Pensei que seu pai não quisesse mais

isso para ele.

Jeferson — (amargurado) Pai pensa demais no

bem-estar de Edu. Já comigo...

Corta para:

CENA 9. CASA DE SEBASTIÃO. SALA. INTERIOR. MANHÃ.

Eduardo no sofá assistindo televisão, Diego ao lado

novamente checando os classificados.

Diego — (empolgado) Olha isso, primo! Anún-

cio de emprego na Cobrasil! E a vaga é

exclusiva ao sexo masculino.

Eduardo sorri, era a chance que esperava.

Eduardo — Olha, primo, por que você não tenta?

Diego — Ai, eu tenho medo de ser um desastre

na entrevista, essas empresas devem

ser muito exigentes!

Eduardo — Nada, Diego. Se quiser eu posso até

ajudá-lo.

Diego — Como?

Eduardo — Simples. Primeiro eu me emprego lá,

depois te chamo.

Corta para:


CENA 10. MONEYCARD. CALL CENTER. INTERIOR. MANHÃ.

Andressa e Neusa caminham para seus lugares, ao redor

delas movimentação de funcionários fazendo o mesmo.

Neusa — E até agora ninguém soube quem fez

aquela fofoca?

Andressa — Ai, minha filha, só polícia agindo

se quiserem mesmo saber. Povinho se

aproveita do anonimato da Internet.

Neusa — Revoltante, ainda mais quando pensam

que alguém da minha ex-empresa pudesse

estar por trás disso.

Andressa — Sem ofensas, Neusa, mas também che-

guei a pensar.

Neusa — (ofendida) Tenho certeza que ninguém

que conheço seria capaz. Somos todos

profissionais.

Andressa — (cautelosa) Talvez o dono...

Neusa — Fernando Gonçalves não seria besta

de arriscar seu pescoço.

Vítor para diante das duas.

Vítor — Estão sabendo? Hoje terá reunião com

todos os donos das assessorias na sala

de Raion para discutir sobre isso.

Raion tomou como algo pessoal.

Andressa — Se fosse coisa da Cobrasil já teria

cortado relações, que bom que ele rea-

giu da mesma forma com a empresa sendo

a vítima da fofoca.

Vítor — De uma coisa é certa, Raion é justo

e correto. Não tem favoritismo com ne-

nhuma assessoria, basta ela se esfor-

çar e gerar bons resultados que ele se

alegra.

Andressa — Fico mais tranquila.

Neusa chega a sua mesa. Vítor e Andressa continuam an-

dando para a deles.

Corta para:


CENA 11. COBRASIL. SALA DE HELEN. INTERIOR. MANHÃ.

Helen e Irene conversam sobre o ranking, atenção em

Gisele.

Helen — (exasperada) Essa inútil da Gisele

só está com quatrocentos paus enquanto

todas estão com mil, dois mil reais!

Todas estão recebendo o dobro que o

mês passado, menos ela.

Irene — O que faço, Helen? Se eu falo alguma

coisa, sou sempre o carrasco, a neta

de Hitler, etc.

Helen — Não se deixe levar por esses comen-

tários, Irene, faça o seu trabalho co-

mo supervisora.

Irene — OK, tentarei mais uma conversa com

ela. E então, será que ainda acharemos

candidatos para ajudar Michele?

Helen — Mandei repetir o anúncio nos classi-

ficados, espero que apareça alguém.

Corta para:

CENA 12. MONEYCARD. SALA DE JÚLIO. INTERIOR. MANHÃ.

Júlio em pé, mesa dele empurrada para a parede dando

espaço para diversas cadeiras, onde os donos das as-

sessorias se encontram. Destaque para Daniel, sentado

na frente, olhando rancorosamente para Fernando, lá

atrás, sorrindo de deboche. Fala de Júlio segue duran-

te esta sequência.

Júlio — Muito obrigado por estarem presen-

tes, caros parceiros! (Close nele)

Chamei-os para discutir um problema

que me deixou muito contrariado desde

semana passada. Nosso colega Daniel

Ferreira, dono da empresa Cobrasil,

foi vítima das redes sociais, onde ir-

responsáveis se valem do anonimato pa-

ra espalhar o que não lhes dizem res-

peito. Aconteceu um incidente na em-

presa, e esse incidente se espalhou


Internet afora.

Fernando — (interrompendo) Melhor se tal inci-

dente nunca tivesse ocorrido.

Os demais riem. Close em Júlio, que segue sério. De-

pois em Daniel, furioso.

Daniel — Eu só digo em minha defesa que o in-

cidente envolveu alguém que veio da

Intercob.

Os demais pressentem treta, clima fica pesado. Close

em Fernando deixando de rir, fechando a cara a seguir.

Júlio — Continuando, cavalheiros, quero dei-

xar claro que, uma vez que jamais sa-

beremos o culpado dessa desfaçatez, só

me resta deixar o alerta. Quando al-

guém tenta manchar a reputação de uma

assessoria, está envolvendo também o

nome da Moneycard. A direção me deu a

liberdade de encerrar o contrato suma-

riamente caso algo do tipo volte a

acontecer e viermos a descobrir o/a

responsável.

Todos ficam sérios, perplexos.

Júlio — Não me interessa se tal assessoria

está em primeiro ou último lugar, não

queremos esse tipo de golpe baixo ro-

lando entre vocês. Espero que possam

alertar a todos os seus funcionários

para que tal episódio não se repita.

Estamos entendidos?

Todos acenam afirmativos, um tanto assustados. Close

em Daniel, satisfeito pela defesa.

Corta para:

CENA 13. CASA DE SEBASTIÃO. COZINHA. INTERIOR. MANHÃ.

Sebastião e Diego lavam as vasilhas. Eduardo aparece

diante deles, arrumado. Ele está bem melhor. Os dois

olham para ele interrogativos.

Eduardo — Pai, já me decidi. Vou voltar para

Carina e para a Cobrasil.


Sebastião — Meu filho, você tem certeza de que

quer isso?

Eduardo — Mais do que nunca, pai. Era o que eu

deveria ter feito antes.

Diego — (esperançoso) E depois, tio, ele vai

arranjar para mim também uma vaga.

Eduardo — (rindo) Não seja ansioso, primo.

Sebastião — Ela não apareceu aqui nenhum dia pa-

ra perguntar por ti.

Eduardo — É porque ela pensa que estou na In-

tercob. Mas, depois que ela me ver lá,

tudo será como antes.

Sebastião fecha a torneira.

Sebastião — (rendendo-se) É impressionante como

você ama a Carina, filho.

Eduardo — Eu a amo mais do que tudo, papai.

Bem, deixe-me ir. Tchau!

Corta para:

CENA 14. COBRASIL. SALA DE DANIEL. INTERIOR. MANHÃ.

Passa-se algumas horas, Daniel de volta à empresa está

orientando Michele com o consórcio.

Daniel — Se esse cliente não pagar mais uma

vez o acordo, Michele, alerte-o de que

daremos busca e apreensão da sua moto.

Michele — (inocente) Coitado, senhor, isso é

mesmo necessário?

Daniel — É a lei, Michele. Consórcio é mais

complexo do que a Moneycard.

Michele — O senhor é advogado, certo?

Daniel — Sim, se ainda estou com a Cobrasil

em pé, é por causa disso. Atuo como

tal nas horas vagas.

Michele — Mas nessas últimas semanas vejo o

senhor direto aqui.

Daniel — Sim, desde janeiro não tenho outro

caso, por isso estou mais concentrado

na nossa empresa.

Michele — Então tá. Voltarei para minha mesa.


Michele sai.

Corta para:

CENA 15. CASA DE MAURÍCIO. SALA. INTERIOR. MANHÃ.

Maurício está examinando Eduardo.

Maurício — Sim, está tudo em ordem, paciente.

(ele e Eduardo gargalham) Sério, Edu-

ardo, você está ótimo.

Eduardo — O coração tem de estar em ordem para

fortes emoções.

Maurício — Então, vai se empregar na Cobrasil.

Eduardo — Assim espero, amigo. Tenho que recu-

perar crédito de clientes e o amor de

Carina.

Maurício — Olha, Edu, eu estive com ela na se-

mana passada e conversamos. Ela nunca

pensou em romper contigo, só estava

chateada. Como ela estava muito nervo-

sa, não lhe contei da sua ida ao hos-

pital.

Eduardo — Como? Nem o pessoal lá de casa! Ca-

ramba, como eu suspeitava, ela deve

pensar que eu estou na Intercob.

Maurício — Ora, melhor que você mesmo conte. Já

chega dela receber notícias suas de

terceiros.

Eduardo — Então, doutor, o paciente convales-

cido se retira!

Corta para:

CENA 16. COBRASIL. SALA DE DANIEL. INTERIOR. MANHÃ.

Daniel está com Helen e Nilza, contando a novidade.

Daniel — Portanto o Sr. Raion deu um ultima-

to, alertando a todos que se da próxi-

ma vez descobrirem o culpado, a asses-

soria responsável terá o contrato en-

cerrado sumariamente. E não importa se

ela é a número 1. Problemas da empresa

ficam na empresa.


Helen — (satisfeita) Muito bem! E como ficou

a cara de Gonçalves?

Daniel — (dá de ombros) Nem quis olhar para

ele, Helen, mas com certeza estava com

cara de maracujá igual aos demais.

Pensavam que podiam zoar da gente por

sermos, no momento, o último do ran-

king... Bem, isso mudou!

Nilza — Sim, isso mostra que Raion não tem

favoritismo. Bem, todos estão avisa-

dos.

Helen — Avisarei a Irene para comunicar às

meninas.

Daniel — Espero que quando a poeira baixar

que possam vir mais candidatos. Miche-

le está morrendo de tédio em trabalhar

sozinha.

Corta para:

CENA 17. INTERCOB. SALA DE FERNANDO. INTERIOR. MANHÃ.

Carlos entra, encontra Fernando se servindo de algo

bem forte.

Carlos — Fernando, vai me desculpar, mas às

vezes penso que você deveria beber ou-

tras coisas quando em serviço.

Fernando — (vira o copo de uma vez) Nos filmes

americanos eles bebem, por que não

posso?

Carlos — (afasta a garrafa) Porque nos filmes

eles não ficam bêbedos, e provavelmen-

te nem é bebida de verdade na garrafa.

Você precisa ficar sóbrio para sua em-

presa.

Fernando — Fico fulo da vida quando vejo Raion

apoiar os perdedores.

Carlos — (sentando-se) Como foi a reunião?

Fernando — Mal! Achei que Raion fosse dispensar

a Fossasil por causa da fofoca que fi-

zeram na Internet, e eis que ele deci-


de classifica-la como vítima! E ainda

alertou a todos nós que se da próxima

vez descobrirem o culpado, a assesso-

ria responsável será expulsa sem dó.

Carlos — Ora, mas isso é exagero! Digamos que

tivesse sido um parente de um funcio-

nário, toda a empresa iria pagar?

Fernando — Para você ver! Se Raion continuar

dando moral para o fracassado do Fer-

reira, ele vai se armar de valor para

crescer e nos enfrentar futuramente!

Isso não pode acontecer jamais.

Carlos — Para, Fernando, não vamos ter medo

da Cobrasil caso ela suba de ranking,

nós nos garantimos.

Fernando — (serve-se de novo) Eu só vou ficar

tranquilo enquanto a Bostasil ficar

sempre em último até a Moneycard se

cansar.

Carlos não concorda, mas decide se calar e retirar.

Corta para:

INTERVALO COMERCIAL

CENA 18. COBRASIL. SALA DE DANIEL/ RECEPÇÃO. INTERIOR.

MANHÃ.

Carina abre a porta e fica no limiar, receosa.

Daniel — Pode entrar, Carina.

Carina — Daniel, essas nossas conversas não

poderiam acontecer em outro lugar?

Irene já sabe que venho cá.

Daniel — Que me importa o que Irene pensa?

Por acaso ela é uma espiã que vai con-

tar tudo a Helen?

Carina — Não sei por que, mas sinto que é as-

sim mesmo.

Daniel — Ora, não vamos começar com essas te-

orias da conspiração. Anda, me diz.

(se aproxima dela) Como está passando?


Carina — Estou muito bem, já recebi bem mais

do que janeiro, e ainda estamos na me-

tade de fevereiro. Creio alcançar os

cinco mil.

Daniel — Não estava falando disso, Carina.

(se aproxima mais) Rompeu com Eduardo?

Carina — (se afastando) Não rompi, apenas es-

tamos ocupados em caminhos opostos.

Ele na Intercob e eu aqui.

Daniel — (indo atrás) Mas bem que você o que-

ria aqui, não? Pena que ele foi tão

covarde...

Carina — (exasperada) Não foi covardia, é que

ele não suporta nem ouvir teu nome!

Daniel — Mas, ao menos podia fazer um esforço

pela amada, não?

Carina — Você realmente está passando dos li-

mites, Daniel! Voltarei para minha me-

sa, já que não vamos falar de traba-

lho.

Daniel — Carina, volte aqui!

Carina sai sem olhar para trás. Corta para a RECEPÇÃO,

Carina prestes a atravessar para o call center até ver

Eduardo entrando. Sem ver Carina, Eduardo vai para a

bancada onde está Sandra.

Sandra — Eduardo, o senhor de volta?

Eduardo — Bom dia, Sandra. Eu quero falar com

Dª Helen.

Sandra — Ela vai te matar com esse “dona”. Só

um minuto.

Sandra sai. Eduardo fica esperando quando ouve uma

voz.

Carina — Veio falar com Helen?

Eduardo se vira e vê sua amada. Os dois se abraçam.

Carina — Eduardo, meu amor!

Eduardo — Carina, meu amor!

Os dois se beijam ardorosamente. Breve insert de Dani-

el que aparece no corredor e os vê.

Carina — Arrastou um pouco a perna, meu bem?


Eduardo — Tive um probleminha de saúde, queri-

da, mas tudo bem. Eu voltei, Carina,

quero que Dª Helen me dê a vaga. Me

perdoe, meu bem, eu jamais deveria ter

aceito a proposta de Carlos.

Ele a beija. Novo close em Daniel cada vez com mais

fúria observando os dois.

Carina — Você é quem deve me perdoar, eu fui

uma boba, você estava doente e eu não

fui te visitar, pensando que você es-

tava trabalhando. O que teve?

Eduardo — Maurício disse que foi uma isquemia

leve.

Carina — Isquemia não deixa a perna arrastan-

do... Tem certeza de que não foi algo

mais forte, um derrame?

Eduardo — (rindo) Derrame? Só se eu tive de-

pois e não percebi. Mas esquece isso,

Carina, estou bem, agora. Ah, olá Da-

niel.

Carina se vira levando o maior susto. Eduardo põe o

braço em volta dela para protegê-la.

Daniel — Veio aqui apenas para atrapalhar mi-

nha funcionária, rapaz?

Eduardo — Não, eu também vim ser funcionário

teu.

Daniel — Para de bobagens, cara, eu...

Helen aparece.

Helen — Não acredito, você voltou, Eduardo?

Vamos agora conversar em minha sala.

Carina, por favor, volte ao trabalho.

E você, querido, que faz aqui parado

no corredor?

Eduardo sorri ironicamente para Daniel. Carina vai

correndo para a sala.

Daniel — Não pense que sua vida aqui será fá-

cil, rapaz!

Daniel sai de volta para sua sala.

Corta para:


CENA 19. BAIXO GUANDU. CASA DE ALTAMIRO. SALA. MANHÃ.

Imagem da casa simples da roça de onde veio Diego.

Corta para o INTERIOR, na SALA, mostrando uma senhora

assistindo televisão, é Angélica. A seguir entra Alta-

miro, ainda vigoroso do trabalho rural apesar da idade

e aparência.

Altamiro — Mulher, já sabe se Diego arranjou

alguma coisa? Não quero que ele cause

maiores despesas a meu irmão.

Angélica — Por que homens sempre são duros com

os filhos? Se Diego fosse menina, você

a carregaria no colo até hoje.

Altamiro — (sorri de leve) A vida é dura com os

homens, querida; vocês têm muita sor-

te.

Angélica — Eu hein, há pouco estava com as va-

cas.

Altamiro — Pois bem, ele não telefonou?

Angélica — Ainda não, vai que dessa vez ele

conseguiu e agora não pode falar?

Altamiro — Não entendo por que ele não preferiu

ficar aqui e tentar no mercado onde

está o irmão dele.

Angélica — (melancólica) Se os dois não brigas-

sem tanto...

Altamiro se aproxima de Angélica e faz carinho em sua

cabeça para acalmá-la.

Corta para:

CENA 20. COBRASIL. CALL CENTER/ SALA DE HELEN/ SALA DE

DANIEL. INTERIOR. MANHÃ.

No CALL CENTER, Carina entra e suspira.

Carina — Que cena!

Irene — O que aconteceu, Carina?

Carina — Meu namorado voltou, ele está falan-

do com Helen e pedindo outra chance!

Todas vibram. Irene as repreende.

Irene — Falem baixo, meninas!


Nayara — Ora, Irene, deixe-nos comemorar.

Irene — Está bem, mas vamos continuar com o

serviço. (pensando) Meu Deus, ele vol-

tou. Meu amor voltou...

Corta para a SALA DE HELEN, ela está com Eduardo cui-

dando dos detalhes.

Helen — Não ligue para meu marido, Eduardo,

você será bem-vindo.

Eduardo — Helen, eu prometo não ligar para

mais nada.

Helen — Assim é que se diz. Olhe, Eduardo,

aquela nossa proposta anterior ainda

está de pé. Você será responsável pela

cobrança do Consórcio Feliz. A Michele

já está cobrando, mas está sozinha.

Até pus anúncio...

Eduardo — Exato, Helen, e meu primo o viu. Ele

veio da roça e está procurando um em-

prego; mas assim como eu não tem expe-

riência.

Helen — Traga-o, Eduardo, precisamos de toda

a ajuda possível. Venha, vou te mos-

trar a sala em que você vai trabalhar.

Corta para a SALA DE DANIEL, onde ele está tentando

digitar no computador, mas não consegue se concentrar.

Daniel — Droga! Ele voltou. Voltou para tirar

Carina de mim... Até quando ele vai

compreender que ela é minha? Vou em-

pregá-lo... Mas o pagarei com dinhei-

ro, não com a Carina. Isso eu não vou

tolerar... Jamais!

Close no rosto de Daniel, o ciúme bem estampado.

Corta para:

CENA 21. PRÉDIO EM OBRAS. EXTERIOR. MEIO-DIA.

Jeferson, do lado de fora, encontra Carina e Eduardo

caminhando juntos.

Jeferson — (sorrindo) Pelo visto deu tudo cer-

to. Começa amanhã, Edu?


Eduardo — Amanhã. Michele vibrou. E de quebra

consegui vaga para Diego.

Jeferson — (surpreso) Diego? O guri não tem ex-

periência nisso, o chefe está com pa-

ciência para ele aprender?

Eduardo — Eu já disse que quem manda lá é Dª

Helen.

Carina — (feliz) Ai, amor, corta esse “dona”

que ela fica só o veneno.

Eduardo — Eu não serei como o marido que falta

com o respeito para o sexo oposto, mas

já que ela insiste...

Jeferson — (maroto) E ele, como ficou?

Eduardo — (tranquilão) Ah, que vá pra China,

tem mulher e supostas amantes à dispo-

sição, pra quê colocar Nina na lista?

Se bem que com esse tipo de atitude

prevejo que ele vai envelhecer sozi-

nho.

Carina — Já nosso futuro...

Eduardo a abraça de lado. Jeferson só os dentes na

rua.

Jeferson — Gente, vou voltar pro trampo.

Corta para:

CENA 22. RESTAURANTE CHIQUE. INTERIOR. MEIO-DIA.

Danilo e Michele almoçam e conversam.

Danilo — Que boa notícia, Michele, enfim você

terá companhia na sala.

Michele — E estamos felizes também pelo fato

de que será Eduardo, conforme planeja-

do desde o início.

Danilo — Quanto a isso, que treta que se for-

mou, hein? Meu pai chegou a me acusar

de ter postado o relato da briga na

Internet.

Michele — (cautelosa) Danilo, será que seu pai

está todo esquisito assim... Por causa

da Carina?


Danilo — Carina e o fato de que estamos des-

cobrindo suas canalhices. Helen está

se aproveitando e tomando as rédeas da

empresa, em vez dele dar a volta por

cima, tentar se regenerar.

Michele — Lá na empresa as meninas têm uma le-

ve suspeita.

Danilo — Por favor, Michele, não vá contar

para elas. Deixe-as suspeitarem. Quan-

to menos comentários, melhor para a

permanência de Eduardo. Posso estar

enganado, mas sinto que com ele lá

dentro Carina será um item a menos na

lista do conquistador.

Michele — Ela mesma demonstra estar mais firme

e forte com ele.

Os dois continuam a comer.

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CENA 23. MONEYCARD. COZINHA. INTERIOR. MEIO-DIA.

Andressa lendo as mensagens de Nilza com sorriso no

rosto. Neusa a seu lado.

Andressa — Que grande dia! O namorado da Carina

decidiu ficar na Cobrasil. E o Sr.

Raion defendeu a empresa sobre aquela

fofoca.

Neusa — Estou por fora da primeira parte,

mas que bom que a reunião de hoje ter-

minou bem.

Andressa — O Sr. Raion disse que se da próxima

vez for descoberto o culpado, a asses-

soria será penalizada. Não importa se

é a número 1.

Neusa — Xi, então não haverá próxima, quem

seria o louco de fazer de novo?

As duas dão risadas.

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CENA 24. CASA DE SEBASTIÃO. SALA. INTERIOR. TARDE.


Sebastião recebe Eduardo, ansioso. Diego aparece a se-

guir.

Eduardo — Deu tudo certo, pai.

Sebastião — Eles te aceitaram mesmo depois dos

contratempos?

Eduardo — Nem vi o Ferreira direito. A esposa,

Dª Helen, é quem cuidou de tudo para

mim. E ainda tem mais, consegui que

ela aceitasse Diego.

Diego — (vibrando) Sério? Enfim tenho empre-

go? Legal!

Sebastião — (estranhando) Como é? A empresa vai

aceitar dois marmanjos sem experiên-

cia?

Eduardo — Se a gente não começar de algum lu-

gar, nunca teremos a tal experiência.

Diego — Mal posso esperar para ligar a meus

pais! Acho que vou fazer isso agora

mesmo.

Diego sai para o quarto. Sebastião se senta no sofá.

Sebastiao — Agora, meu filho, e quanto a Carina?

Encontrou-se com ela lá?

Eduardo — (sentando-se) Sim, pai. E nós reagi-

mos como se nunca tivéssemos brigado.

Passou a semana toda achando que eu

estava na Intercob.

Sebastião — E durante essa semana, nada com o

chefe?

Eduardo — Nada, pelo contrário, quando eu a

encontrei ela tinha acabado de dar um

fora no folgado. Quando ele me viu só

faltou enfartar. E a esposa mais que

depressa me levou a sua sala.

Sebastião — Olha, filho, estou disposto a dar

mais um voto de confiança em Carina,

se é assim que você deseja. Eu só que-

ro que você seja feliz.

Eduardo — E assim será, pai.

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CENA 25. COBRASIL. COZINHA. INTERIOR. TARDE.

Amélia na cozinha, na pausa, com celular perto do ros-

to conversando com Carlos em viva voz.

Amélia — (cel) Está sabendo, querido? Eduardo

veio aqui e decidiu trabalhar com a

gente!

Carlos — (off) Sério? Mas que merda!

Amélia — (cel) Como é? Que modos são esses,

quero vocabulário decente diante de

nosso filho!

Carlos — (off) Aff, só me consola o fato de

que Daniel vai ter que se conformar

com menos uma da lista dele.

Amélia — (cel/indignada) Para com isso, ho-

mem, parece que está obcecado! Tudo

gira em volta de ferrar Daniel, o que

ele fez de tão mal para você ficar com

esse ódio? Não creio que seja apenas

influencia de Gonçalves.

Carlos — (off) O fato dele se engraçar com

minha esposa não é motivo suficiente?

Amélia — (cel) Quantas vezes eu tenho/

Carlos — (off) Amélia, da tua parte creio que

não rolou nada, mas da parte dele, e

ainda mais sabendo desse negócio da

Carina, não me resta dúvidas de que

ele sim quis ter algo contigo!

Amélia — (cel) Pois bem, isso é assunto nos-

so. Deixe Eduardo fora disso, ele sem-

pre quis trabalhar aqui se não fosse a

interferência de vocês. São as coisas

tomando o curso natural.

Carlos — (off) Se você diz assim... Melhor

voltar ao serviço.

Amélia — (cel) Eu também, acabou minha pausa.

(desliga) Bem feito, seu otário!

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CENA 26. INTERCOB. SALA DE FERNANDO. INTERIOR. TARDE.

Fernando sentado, bebendo mais uma vez, demonstra leve

sinal de embriaguez. Carlos entra na sala, sem dizer

nada, se senta e também se serve. Fernando estranha.

Fernando — Ei, que houve para se juntar a mim?

Carlos — Minha esposa acaba de me ligar, di-

zendo que Eduardo está de volta à Co-

brasil.

Fernando rapidamente se levanta e pega outro copo da

prateleira. Fala enquanto se serve.

Fernando — Pegue o telefone dele e faça o im-

possível para que venha cá.

Carlos — Fernando, vamos esquecer que já é

página virada.

Fernando — Você quer perder seu posto de invic-

to para a Bostasil?

Carlos — Claro que não, mas Eduardo nem vai

cobrar para a Moneycard...

Fernando — E ele, aqui, faria isso! Carlos, sei

de cara quem tem potencial para chegar

longe, e é o que vejo em Eduardo. Se

ele não estiver conosco, Raion jamais

dispensará aquela joça, dando oportu-

nidade de dar a volta por cima.

Carlos — (impaciente) Não acha melhor deixar

que a Cobrasil suba os degraus para

que futuramente possamos nos enfrentar

cara a cara?

Fernando — (vira o copo com tudo) Quem está fa-

lando de enfrentamento? Meu lema é

eliminar qualquer opositor fraco com

potencial antes que se torne um pro-

blema.

Carlos — (constrangido) Ehr, isso não me pa-

rece atitude de vencedor, senão de co-

varde que teve a chance de vencer uma

vez.

Fernando — (irritando-se) O que quer dizer com

isso?


Carlos — Que nós não provaremos que somos o

melhor se escolhemos a dedo a quem en-

frentar. Seremos os melhores se ven-

cermos a qualquer um: Cobrasil, Recu-

pere, etc. Melhor voltar para minha

mesa.

Carlos se levanta e sai, deixando Fernando intrigado.

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CENA 27. CASA DE SEBASTIÃO. SALA. INTERIOR. NOITE.

Com Jeferson de volta, os demais comemoram o desfecho

da história.

Eduardo — Amanhã é o grande dia, Diego. Ligou

para tio Miro?

Diego — Sim, mamãe mais uma vez chorou, es-

tou cada vez mais sem jeito de ligar.

Sebastião — Lágrimas de felicidade, sobrinho. E

como Rodolfo reagiu?

Silêncio constrangedor.

Diego — Não vamos estragar o momento.

Sebastião — Diego, você até hoje não ligou para

seu irmão?

Diego — Eu não ligo em todos os sentidos.

Jeferson — Isso não está certo, primo, vamos

ter paz na família. Estou começando a

pensar que você veio para cá apenas

para se afastar dele.

Sebastião — Lamentarei profundamente se isso for

verdade, sobrinho.

Diego — (constrangido) Não, gente, não tem

nada a ver. Vamos ter calma. Eu prome-

to que vou telefonar, se vocês ficarem

tranquilos.

Eduardo — (feliz) Certo, e a ocasião está pe-

dindo a janta. Vou esquentá-la.

Eduardo e Diego vão para a cozinha. Sebastião dá pas-

sos também em direção, mas Jeferson o segura pelo bra-

ço.

Jeferson — Espere um pouco, pai, tem algo que o


senhor precisa saber. (tom) Vamos

aproveitar que Edu está longe, não

queremos mais um desgosto.

Sebastião — Aconteceu alguma coisa, Finho?

Jeferson — Eu andei conversando com Amélia. Na

verdade ela veio me procurar, preocu-

pada com toda essa história e a forma

em que Carlos tem se comportado. Pai,

(suspira) ela me confirmou que Carlos

estava sim usando Eduardo para fazer

guerrinha infantil com Daniel Ferrei-

ra.

Sebastião — (arregalado) Como é?

Jeferson — Schi! (mais baixo) Ela sem querer

contou a ele que Edu ia para a Cobra-

sil e Carlos no dia seguinte tinha

vindo cá fazer a maldita proposta.

Quando Amélia o questionou, ele admi-

tiu que só o fez para atingir Daniel.

Só que o mané não sabia que a ideia de

Edu trabalhar na Cobrasil não foi

ideia do chefe, e sim da esposa. Dani-

el é contra a presença de Edu.

Sebastião — Claro que é contra, sua chance de

conquistar Carina se reduz a zero.

Mas, quanta cara de pau do Carlos! Ne-

gou, e ainda na frente de Amélia,

quando eu fui lá perguntar francamen-

te! Bem que eu estava achando muita

coincidência ele ter aparecido de re-

pente com a proposta da Intercob.

Jeferson — E também muita coincidência ele ter

passado na entrevista sem nenhuma ex-

periência, quando todos comentam que

essa Intercob é muito exigente.

Sebastião — Carlos vai ter que me explicar es-

sa... (pondera) Melhor não, vou deixar

quieto. Mas, quando Edu pedir Carina

em noivado, pode ser que eu talvez me


esqueça de convidá-lo.

Jeferson — (sorri entendendo) Pode ser, né?

Sebastião — (sorri em cumplicidade) Você enten-

deu. Vou ajudar aqueles dois.

Da cozinha ouve-se barulho de tampa caindo. Sebastião

vai apressado ver o que é.

Corta para:

CENA 28. CASA DE ALTAMIRO. COZINHA. INTERIOR. NOITE.

Altamiro e Angélica à mesa, jantando. Entra Rodolfo, o

filho mais velho, se juntando a eles com o prato na

mão. Após breve oração, Angélica o informa.

Angélica — (emocionada) Seu irmão telefonou,

Dolfinho! Conseguiu arranjar emprego

na capital.

Rodolfo — O que ele vai fazer?

Altamiro — Vai trabalhar em um escritório, avi-

sando a pessoas caloteiras que preci-

sam pagar o débito.

Rodolfo — (zombador) Sério? O todo fortão, ma-

chão, homem rude do campo, vai pra ca-

pital trabalhar em telemarketing?

Angélica — Me parece um emprego promissor,

achei que precisasse ser advogado ou

cursar Direito para tanto.

Altamiro — Ele explicou que a empresa não exi-

giu experiência, eles vão ensinar do

zero.

A gargalhada de Rodolfo deixa os pais intrigados.

Rodolfo — Como Diego é sacana! Não tirou dois

minutos para explicar a vocês que o

serviço de telemarketing é tão fácil e

bobo de se aprender, e que é feito ma-

joritariamente por mulheres? São tipo

as telefonistas que existiam nos anos

cinquenta!

Altamiro — Como é, meu filho vai fazer serviço

de mulher?

Angélica — Podem parar vocês dois! Se Eduardo


também vai para lá, então não é “ser-

viço de mulher” como vocês pensam. E

tem que ser bastante macho pra sair

cobrando pessoas que não querem pagar.

Já que falou nos anos cinquenta, lem-

brem-se que nessa época o serviço de

cobrança era feito pessoalmente, na

casa do devedor! Na certa mudaram o

serviço para o telefone por questão de

segurança.

Altamiro — (compreendendo) Tem razão, querida,

sei até de um caso em que um pobre ra-

paz representando um banco levou um

tiro quando foi atrás de um desses

folgados.

Angélica — Então, pronto, assunto encerrado.

Vamos ficar felizes porque meu menino

arranjou alguma coisa que não é ilegal

ou imoral.

Rodolfo — (arrependido) Perdão, mãe...

Angélica sorri, afaga seu filho.

Angélica — Não precisa, filho.

Corta para:

CENA 29. CASA DE DANIEL. QUARTO. INTERIOR. NOITE.

Helen de camisola, deitada na cama, conversando por

celular com Irene. Planos alternados com Irene, na CA-

SA DE IRENE, QUARTO (INT/NOITE). Irene também de cami-

sola deitada na cama.

Helen — (cel) E então, amiga, pronta para

atacar amanhã?

Irene — (cel) Com certeza, querida. Carina

vai ver o que é bom pra tosse.

Helen — (cel) Enquanto isso vou me concen-

trando em ter Daniel em meus braços,

como disse o padre.

Irene — (cel) E quanto ao fofoqueiro do Fa-

ce, pelo visto vai ficar por isso mes-

mo, né?


Helen — (cel) Me alegra em ao menos saber

que a Intercob não vai tentar de novo.

Nada me tira da cabeça que foi um de-

les, em especial o corno marido da

Amélia.

Irene — (cel) Aff, essa pelo visto ainda não

desistiu.

Helen — (cel) Bem, com Carina fora da jogada

fica mais fácil de eu guerrear, Irene/

Helen se interrompe com a porta se abrindo e Daniel

aparecendo, ao fim da última frase.

Daniel — Olá, Helen, falando com Irene? Já se

tornaram tão amigas assim, ao ponto de

fofocarem por telefone?

Close em Helen, temendo o que Daniel tenha ouvido.

Corta.

FIM

recanto das letras capítulo 21 recuperando a paixão · recuperando a paixão capítulo 21 pág.:...

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