58 coneg da une
DESCRIPTION
Tese Rebele-se para o 58 Coneg da UNETRANSCRIPT
58º CONEG da UNE – Rio de Janeiro – 22 a 25 de abril de 2010
Projeto:
Educação, Terra, Trabalho e Democracia
Eixos:
1. Introdução
2. Controlar as reservas naturais do Brasil
3. Defendemos a volta do monopólio estatal do petróleo
4. A dívida eterna brasileira
5. As privatizações são um crime contra o País
6. Nacionalização da Terra e ampla reforma agrária.
7. Democracia Brasileira
8. Nosso direito ao transporte e a viver nas cidades
9. Como o nosso país deve se inserir no mundo?
10. Abrir os arquivos da ditadura
11. Dinheiro público para a educação pública
12. Educação não é mercadoria
13. Educação é um direito para todos e todas
14. Abaixo a repressão nas universidades!
15. Livre expressão de verdade.
16. Meia-Entrada e passe-livre: um direito dos estudantes!
17. Cultura
18. Esporte para todos e todas
19. Saúde não é mercadoria!
20. Em defesa do combate as opressões
21. Conclusão
1) Introdução
A União Nacional dos Estudantes, em coerência com sua história de lutas e de defesa
intransigente dos interesses do povo brasileiro, lança o atual documento Educação,
Terra, Trabalho e Democracia, com propostas e análises sobre o país que são frutos do
debate acumulado com a base do movimento estudantil e do diálogo fraterno com
pensadores, intelectuais, artistas e com entidades do movimento social brasileiro
identificados com um projeto de nação livre da submissão imposta pelo imperialismo e
capaz de garantir a democracia para o povo, ao invés dos privilégios dos grupos
capitalistas.
O Brasil tem seus recursos naturais e o trabalho do seu povo profundamente explorado,
o que torna possível ser simultaneamente a 9 economia do mundo e o 8 país em
desigualdade, segundo o índice de Gini.
Em 2010 o calendário eleitoral sugere a necessária reflexão sobre o futuro do nosso
país. Evidentemente, como entidade do movimento social organizado, fazemos essa
reflexão a partir do ponto de vista das classes trabalhadoras e oprimidas, a partir do
ponto de vista dos que constroem a riqueza e que, nesses cinco séculos de nossa
história, não têm recebido o fruto desse trabalho.
Esta é uma reflexão que vai muito além do próprio debate eleitoral, muitas vezes
limitado, refletindo apenas uma disputa pelo poder entre os que pouco se diferem no
conteúdo político. Acreditamos que o atual projeto deve ser construído e impulsionado
dentro de cada universidade, nas lutas cotidianas que fazem o movimento estudantil e
outros movimentos sociais, organizados numa frente anti-imperialista, também com o
objetivo de influenciar e pressionar os que deterão os mandatos instituicionais para que
ajam no sentido de melhorar as condições de vida do povo alterarando a correlação de
forças vigente na sociedade brasileira.
Nesse sentido, chamamos todos e todas estudantes para participar ativamente da luta
para transformar o atual projeto em realidade, construindo e fortalecendo entidades
estudantis por todas as universidades desse país, por um movimento estudantil
democrático, rebelde e combativo. Vamos juntos lutar por um Brasil soberano e
socialista!
2) Controlar as reservas naturais do Brasil
Na atual fase do capitalismo, a fase imperialista, as potências mundiais travam guerras
de rapina pelo controle das reservas naturais e das fontes de matérias-primas
estratégicas. Foi por matéria-prima que o imperialismo estadunidense invadiu o Iraque e
o Afeganistão e segue lançando ameaças contra o Irã e a Venezuela. Essa sanha por
matérias-primas vem destruindo o meio ambiente, promovendo o consumo
insustentável, queimando combustíveis fósseis que aquecem o planeta e ameaçam as
condições de vida.
O Brasil é país estratégico para o controle dessas reservas, principalmente no atual
momento em que foram descobertas, na camada pré-sal do litoral brasileiro, fontes de
petróleo que estão estimadas em 100 bilhões de barris.
É parte da história do nosso país a participação popular na defesa do uso soberano das
nossas reservas naturais, em especial o petróleo. Foi o povo nas ruas, e com participação
fundamental da UNE e dos estudantes, quem tornou possível a construção da Petrobrás
e a aprovação de leis que garantiram o monopólio estatal do Petróleo, livrando as nossas
reservas da sanha de lucro dos monopólios imperialistas.
No entanto, em 1995, o governo de Fernando Henrique Cardoso vendeu esse nosso
direito quebrando o monopólio estatal através da lei 9748/97. A partir desse momento
teve inicio a privatização do petróleo brasileiro através dos nefastos leilões de poços
petrolíferos, organizados pela Agência Nacional do Petróleo – ANP. Teve inicio
também a privatização da própria Petrobrás, que hoje tem a maioria das suas ações em
mãos privadas deixando, portanto, de ser uma empresa 100% pública.
Desde então, a política de leilões do petróleo brasileiro foi seguida e nos governos de
FHC e Lula foram promovidos, respectivamente, 4 e 5 licitações que possibilitaram,
inclusive, a entrega de 30% da área do pré-sal. Graças a esses leilões e à política de
entrega dos recursos naturais do país é que empresas como a OGX, do bilionário Eike
Batista, assumiram o controle de blocos em Cabo Frio (RJ) se apropriando das riquezas
nacionais.
Portanto, é fundamental darmos um basta a essa entrega dos recursos naturais e colocar
a serviço do povo brasileiro as riquezas advindas do petróleo e da exploração do pré-sal.
Defendemos uma Petrobrás 100% pública, a reversão dos leilões já realizados e a
retomada desses blocos para controle do Estado brasileiro.
No que tange a exploração de outros recursos como os hídricos, vemos a lógica de
mercado se repetir, como no caso da transposição do Rio São Francisco, obra que
beneficiará principalmente o agronegócio, e no caso da hidrelétrica de Belo Monte,
projeto que vem da ditadura e servirá ao enriquecimento de monopólios industriais.
Ambos os projetos carregam a marca da destruição do meio ambiente e da agressão às
comunidades locais.
3) Defendemos a volta do monopólio estatal do petróleo
Foi através do esforço e do investimento do Estado brasileiro que o petróleo da camada
pré-sal foi descoberto e é para atender os problemas e necessidades do nosso povo que
ele deve ser utilizado. Apenas com o petróleo brasileiro livre da exploração das
petrolíferas capitalistas e com a Petrobrás verdadeiramente pública é que conseguiremos
destinar essa riqueza para os interesses do povo brasileiro e destinar 50% desses
recursos para o financiamento e o fortalecimento da educação pública. Defendemos,
também, o investimento de parte desses recursos, através de um fundo, no
desenvolvimento de energias alternativas afim de superar a lógica de destruição do meio
ambiente.
- Fim dos leilões do Petróleo! Leilão é privatização! Extinção da Agência Nacional do
Petróleo!
- Pelo Monopólio estatal do petróleo e revogação da lei 9748/97!
- Pela reestatização da Petrobrás.
- 50% dos recursos do pré-sal para a educação pública.
- Investimento de parte dos recursos do Pré-sal no desenvolvimento de energias
alternativas.
4) A dívida eterna brasileira
A dívida pública, ou seja, a soma das dívidas interna e externa do Brasil, está na fonte
dos principais problemas sociais que vive o nosso país. A cada ano são bilhões gastos
em seu pagamento, enquanto recursos para as áreas sociais, em especial na moradia,
educação e saúde são cortados.
Para se ter uma idéia, o orçamento previsto para a educação em 2010 não ultrapassa a
marca de 2% do total do orçamento federal, enquanto que os custos da dívida pública
representam um comprometimento de quase 30% desse mesmo orçamento, alcançando
a marca de R$ 596 bilhões. Pior: mesmo pagando tanto dinheiro, a dívida, ao invés de
diminuir, cresceu.
Ainda que pese toda a propaganda falando que a dívida externa brasileira acabou e
mesmo com o governo federal tendo entregado mais de R$ 14 bilhões ao famigerado
Fundo Monetário Internacional – FMI, a dívida ultrapassa R$ 1,2 trilhões.
A verdade é que a dívida pública brasileira é uma grande fraude, que começou no
século XIX com a cobrança indevida por parte da Inglaterra para reconhecer a
independência brasileira; cresceu com os empréstimos tomados pelo governo imperial
brasileiro para realizar a guerra do Paraguai; se tornou gigante durante a ditadura militar
que realizou um falso milagre econômico, tomando dinheiro emprestado para realizar
obras faraônicas e enriquecer quem já era muito rico; e se tornou impagável durante o
governo FHC com sua política de juros exorbitantes e a emissão de títulos da dívida
brasileira reajustados para assegurar lucros aos especuladores e grandes banqueiros. Em
todos esses episódios, o povo brasileiro nunca foi consultado sobre a tomada de
empréstimos, e muito menos os recursos foram utilizados em benefício do nosso povo.
É necessário realizar uma auditoria em toda a nossa dívida, interna e externa. Nessa
auditoria descobriremos certamente que somos credores, e muito do que nos foi roubado
precisa ser imediatamente devolvido pelas potências imperialistas.
O Brasil não será capaz de financiar dignamente a educação enquanto seguir pagando
bilhões todos os anos aos banqueiros. Apenas o fim do pagamento da dívida permitirá
ao Estado deter os recursos para sanar os problemas sociais que vive o povo brasileiro.
- Fim do pagamento da dívida pública. Usar o dinheiro público para financiar áreas
sociais.
- Auditoria nas dívidas interna e externa do Brasil.
- Redução das taxas de juros com o objetivo de desonerar as dívidas dos mais pobres.
- Imposto progressivo sobre as grandes fortunas.
5) As privatizações são um crime contra o País
Na década de noventa, durante o governo Collor de Melo, teve início no Brasil um
movimento de privatização da maioria das nossas empresas estatais que constitui um
dos maiores crimes contra os interesses do povo brasileiro.
Esse movimento de privatização, aprofundado durante o governo FHC, foi responsável
pela entrega aos monopólios estrangeiros da mineradora Vale do Rio Doce, da
siderúrgica CSN, da aeroespacial Embraer, de todas as nossas empresas de
Telecomunicações, da absoluta maioria dos bancos estaduais, das empresas de energia
elétrica em cada estado, além de outras mais. Foram privatizadas 68 empresas federais
apenas nos 8 anos do governo FHC o que resultou, também, na demissão de mais de
600 mil trabalhadores.
A verdade é que grande parte dessas privatizações foram fraudulentas, verdadeiras
doações do Estado brasileiro aos monopólios privados. Como exemplo, temos o caso da
Vale do Rio Doce, companhia que foi vendida em 1997 e que, em 2005, teve um lucro
12 vezes maior do que o valor pago para adquirir a empresa. Também podemos citar
aqui a empresa de energia do estado do Rio de Janeiro, denominada Light, que foi
comprada pelo fundo de investimentos espanhol AES com o dinheiro emprestado pelo
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES. Até hoje a AES
não pagou grande parte do dinheiro emprestado pelo banco, mas segue como dona de
grande parte das ações da Light.
Os resultados das privatizações logo puderam ser sentidos pelos trabalhadores e o povo
brasileiro: demissões em massa, concentração de riqueza e encarecimento dos serviços
por todos os lados. Na telefonia, o Brasil paga a segunda tarifa mais cara do mundo,
ficando atrás apenas da África do Sul. Em vários estados, o preço da energia elétrica é
um verdadeiro roubo. E mais, na recente crise econômica que abateu os países
capitalistas, apenas a Vale do Rio Doce demitiu 1.300 trabalhadores, mesmo com tantos
bilhões acumulados ao longo dos últimos anos.
No entanto, o governo Lula não foi capaz de tomar medidas sérias contra as
privatizações. Ao invés de realizar uma Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI que
investigasse as privatizações e de realizar a necessária reestatização de várias empresas,
o atual governo deu seguimento à política privatista, vendendo as rodovias federais
Régis Bittencourt (São Paulo-Curitiba) e Fernão Dias (São Paulo-Belo Horizonte),
continuando a política de leiloar os poços de petróleo, e ainda defendendo a entrega dos
aeroportos brasileiros para o controle da iniciativa privada como forma de “modernizá-
los”, valendo-se do mesmo discurso que levou às privatizações na década de 90.
Também são instrumentos de privatização, agora por meio de gestão, a implantação de
Organizações Sociais (OS), OSCIPs, Fundações Estatais de Direito Privado,
financiando entes privados através do dinheiro público. As Parcerias Público Privadas –
PPP, foram as principais apostas do governo no último período e não passam da
privatização de serviços fundamentais que o estado tem obrigação legal de oferecer.
Dessa maneira, é questão central que se investigue e sejam tomadas medidas corretas
para sanar esse crime que lesa o nosso país e implementar a retomada das estatais
privatizadas. A reestatização das empresas brasileiras vai dotar o Estado das condições
econômicas de promover profundas transformações sociais, modificando a situação de
enormes desigualdades na qual o Brasil se encontra.
- Por uma CPI que investigue as privatizações.
- Pela reestatização das estatais privatizadas.
- Fim da PPP´s.
- Fim das gestão privatizantes das OS´s, OSCIPs e FEDP´s.
6) Terra para quem nela trabalha.
A concentração fundiária é uma das mais gritantes desigualdades existentes no Brasil.
Atualmente, mais de 80% da população brasileira vive em zonas urbanas. A ausência de
uma profunda reforma agrária no país gera a expulsão de milhões de pequenos
agricultores do campo. Como conseqüência há expansão desordenada das cidades e a
proliferações de favelas, demandando também uma reforma urbana.
De fato, as maiores propriedades rurais pertencem hoje aos grandes monopólios
industriais e financeiros que operam em várias áreas como o comércio, bancos, indústria
e, também, a agricultura. Apenas 46 grupos econômicos capitalistas controlam
sozinhos, mais de 20 milhões de hectares. Entre estes estão Itaú, Volkswagen, Bradesco,
HSBC e Banco Safra. O avanço do agronegócio introduziu a lógica capitalista mais
predatória no campo e nas regiões de floresta, levando a impactos socio-econômicos e
ambientais nessas regiões.
No total, o Brasil dispõe de 388 milhões de hectares de terras agriculturáveis. A
agricultura empresarial domina 70% dessa área, sendo que 172 milhões de hectares são
ocupados pela pecuária. Não bastasse menos de 1% dos proprietários, donos de
propriedades com mais de mil hectares, possuem 44% das terras, enquanto 53% dos
proprietários com menos de dez hectares controlam somente 3% das terras.
A verdade é que o Brasil não rompeu com o modelo de monocultura para exportação
que marca a nossa história, nos dias atuais com destaque para a soja e a cana-de-açúcar.
Enquanto que, segundo dados do IBGE, entre 1990 e 2006 ocorreu uma redução na
produção de alimentos, cresceu nesse mesmo período a área plantada da cana-de-açúcar
em 2,7 milhões de hectares. Já a área plantada do arroz que, segundo o último Censo
Agropecuário (1990), era de 4.233.000 hectares, caiu para 2.997.000 em 2007, ou seja,
em quinze anos o arroz perdeu 25% da sua área. Também percebe-se a extrema
precarização do trabalho nesses setores, através da superexploração do trabalhador rural
e, muitas vezes, até do uso do trabalho escravo.
Aliado a isso está a ampla utilização dos agrotóxicos que coloca em risco a vida dos
trabalhadores, as populações do entorno, a saúde de quem consome, e gera graves
conseqüências ambientais.
Até a produção de Biodiesel propagandeada pelo governo tem hoje 71% de sua
produção sob controle dos grandes latifundiários contra apenas 29% na agricultura
familiar. Além disso, a cada R$ 4 investidos diretamente na agricultura brasileira,
apenas R$ 1 é destinado para a agricultura familiar, enquanto que R$ 3 para as grandes
empresas capitalistas.
Resolver o problema da concentração fundiária no país é dar um passo fundamental no
sentido da solução dos principais problemas sociais brasileiros. Um verdadeiro projeto
popular para o Brasil não pode virar realidade sem a imediata nacionalização da terra e
a mais ampla reforma agrária.
- Nacionalização da terra e ampla reforma agrária, construída juntamente aos
movimentos sociais, com apoio técnico e crédito para os assentamentos, pequenos
agricultores e para a agricultura familiar.
- Fim do financiamento público ao agronegócio
- Contra a criminalização dos movimentos sociais.
7) Democracia Brasileira
No ultimo período o Brasil foi palco de grandes escândalos de corrupção que
evidenciaram a necessidade de uma verdadeira reforma política.
Mais recentemente, destacam-se a crise do senado centrada principalmente na figura de
José Sarney, os escândalos do Governo de Yeda Crusius no Rio Grande do Sul, que por
muito pouco não foi derrubada pelo povo em luta nesse estado, e a prisão do governador
do Distrito federal, José Roberto Arruda, peça chave de um esquema de desvio de
verbas publicas, denunciado por membros do próprio governo, que culminou na
cassação e prisão daquele governador.
Tais escândalos evidenciam a crise política do regime democrático burguês, inerente ao
capitalismo. Neste sentido precisamos avançar para uma reforma política que garanta o
aprimoramento e a maior utilização dos mecanismos de democracia direta:
- Financiamento público exclusivo de campanhas eleitorais;
- Pela aprovação do projeto ficha-limpa
- Realização de plebiscitos para que a população decida sobre os grandes temas
nacionais;
- Salários parlamentares definidos pela população e vinculados ao salário mínimo;
- Revogabilidade dos mandatos parlamentares;
Importante ressaltar que a verdadeira democracia popular será alcançada através da
construção de um novo sistema social, o Socialismo.
8) Nosso direito ao transporte e a viver nas cidades
As grandes cidades brasileiras vivem um processo de crescimento populacional
acelerado desde a década de 70. Hoje em dia, cidades do nordeste, norte e centro-oeste
já se comparam em população às cidades do sul e do sudeste enfrentando, todas elas,
problemas similares.
No Brasil, as estatísticas da urbanização são realmente preocupantes. 104 milhões de
brasileiros não têm acesso ao saneamento básico, e 71 milhões vivem em condições
precárias, como cortiços, favelas ou ocupações irregulares. Enquanto isso ocorre,
milhões de imóveis estão desocupados no Brasil, servindo à especulação imobiliária e
ao enriquecimento de empreiteiras e especuladores.
O Governo Lula não enfrentou com coragem esse problema, mas conciliou com o
interesse das empreiteiras. Tanto é que o programa “Minha Casa, Minha Vida”, carro-
chefe do governo federal para o setor, tem muito mais intenção de aquecer a indústria da
construção em um momento de crise do que o de dar casa para quem dela precisa. De 1
milhão de casas previstas para serem construídas no ano de 2010, apenas 6% foram
entregues e menos de 50% financiadas, e grande parte desses financiamentos, em
privilégio das faixas de renda de menor déficit habitacional. Segundo Heron Barroso, da
Central de Movimentos Populares – CMP: “O projeto Minha Casa, Minha Vida não
pode resolver o problema da habitação, pois está destinado para solucionar o problema
dos lucros das empresas. Só uma verdadeira reforma urbana pode resolver o problema
da habitação no Brasil”.
Conseqüência da atual política habitacional são as enchentes que todos os anos
provocam desastres nas grandes e pequenas cidades brasileiras. Em 2010, mais de 500
pessoas morreram em todo o país por morarem em condições tão precárias que não
puderam resistir às chuvas. Longe de serem naturais ou responsabilidade dos
moradores, as causas dessas mortes estão exatamente na política habitacional
atualmente adotada que privilegia os ricos expulsando os trabalhadores, em sua maioria
negros, para lugares cada vez mais distantes e precários. Prova disso é que em 2009,
apenas 0,01% do orçamento geral da união foi investido em habitação e apenas 0.08%
em saneamento básico.
A concentração urbana também leva a sérios problemas de transporte em praticamente
todas as cidades médias e grandes. Via de regra, o transporte público foi privatizado
sendo objeto de lucro na mão de um punhado de capitalistas. Dessa maneira, o preço
das tarifas de ônibus, trens, metrô e barcas é um verdadeiro absurdo, consumindo, em
média, 30% do orçamento de uma família trabalhadora. A falta de uma política de
transporte também afeta muito aos estudantes, tornando necessária uma política de
assistência estudantil nessa área. Dentre os estudantes que abandonam a universidade ou
a escola, 32% o fazem por não terem condições de arcar com altos preços das tarifas de
transporte. Dessa maneira, a defesa do passe-livre estudantil sob o controle dos
estudantes é parte fundamental na solução dos problemas do transporte público.
De fato, os problemas no transporte público urbano só podem ser resolvidos na base de
pesados investimentos públicos no transporte de massa, superando a cultura do carro e
do transporte individualizado. Isso só será possível quando encararmos o transporte
como um serviço e não como uma mercadoria. O transporte deve ser, portanto, um
serviço público oferecido pelo estado e um direito de todo o cidadão e cidadã.
- Pela Reforma Urbana com desapropriação dos terrenos e imóveis ociosos.
- Transporte público de qualidade: Dever do Estado e direito do povo.
- Estatização e controle popular do transporte público.
- Passe-livre estudantil em todos os municípios. Por uma lei federal que regulamente o
passe-livre sob controle dos estudantes.
9) Como o nosso país deve se inserir no mundo?
Virou moda afirmar que o Brasil está na boca do mundo. Seremos sede da Copa de
Futebol, das Olimpíadas e saímos na capa da revista Financial Times. Especialistas do
FMI e do Banco Mundial elogiam o país sempre que têm oportunidade. Lula, segundo
Barack Obama, é o cara e, ao que tudo indica, nosso país se tornou Pop.
As potências imperialistas sentem-se muito felizes e despreocupadas com essa “nova
ascensão brasileira”. Nada a estranhar, considerando que em 2009 as empresas
multinacionais instaladas no Brasil remeteram bilhões às suas matrizes e, durante a crise
econômica, os governos federal e de São Paulo doaram, juntos, R$ 8 bilhões às
montadoras estrangeiras instaladas no ABC paulista.
A verdade é que o Brasil vem fortalecendo nos últimos anos sua posição de sócio-
menor do imperialismo na região, compartilhando lucros que servem apenas para
enriquecer quem já é muito rico. Beneficiam-se dessa “nova” posição as grandes
empreiteiras como a Odebrechet e a OAS; a Sadia e a Perdigão que agora se fundiram
na megaempresa BrasilFoods; O Banco Itaú, que acaba de comprar o Unibanco; ou
mesmo o capitalista Abílio Diniz, dono do grupo Pão de Açúcar, que acaba de comprar
as Casas Bahia.
Ao mesmo tempo, o Brasil, 9° maior economia do mundo, se consolida como o país de
maior desigualdade social de toda a América Latina, de acordo com relatório do
Programa de Assentamentos Humanos da Organização das Nações Unidas (Habitat –
ONU) divulgado em 25 de março: os 10% mais ricos controlam 50,6% das riquezas,
enquanto os 10% mais pobres 0,8%.
Além de agravar as contradições sociais internas, para “ocupar” esse espaço
internacional, o imperialismo cobra compromissos para permitir o avanço da burguesia
brasileira sobre os mercados. Um dos mais vergonhosos foi, sem dúvida, o envio de
soldados brasileiros para cumprir o papel de tropa de invasão no território do Haiti,
fazendo o trabalho sujo dos EUA logo após a deposição e seqüestro de um presidente
democraticamente eleito, Jean Bertrand Aristide.
O Haiti tem uma combativa história de lutas que teve início com a conquista da primeira
república negra do mundo em 1804. Mas o imperialismo Francês invadiu militarmente o
país exigindo um pagamento 150 milhões de francos-ouro para reconhecer a
independência do Haiti. Logo após, foi a vez dos EUA, que invadiram o país em 1888,
1915, 1957 e 2004. Em uma dessas invasões, impuseram a ditadura sanguinária de
François Duvalier (Papa Doc) e de seu filho (Baby Doc). Logo se vê que os
responsáveis pela pobreza no Haiti não são nem a natureza nem, tampouco, alguma
maldição vudu. A causa está exatamente na violenta exploração imperialista realizada
naquele país, em grande parte das vezes, de armas na mão.
Vergonhosamente, o Brasil veio se somar a essa espoliação liderando a missão da ONU
que invadiu o país em 2004. Em cinco anos, as tropas da ONU gastaram mais de US$ 5
bilhões, mas apenas 15% desse dinheiro foi usado para alguma obra pública, o resto foi
utilizado para a manutenção da própria tropa.
Com o terremoto, foi possível ver claramente que o papel das tropas de invasão no
Haiti, tanto as da ONU quanto os mais de 20 mil soldados dos EUA que invadiram o
país, lá estão para defender a propriedade privada das empresas capitalistas e não a vida
do povo haitiano. Enquanto sobram soldados para atirar e bater no povo faminto que
está nas ruas sem casa, faltam médicos, enfermeiros, engenheiros e técnicos que não são
enviados pelos países imperialistas. Dessa maneira, o que o Haiti precisa é de uma
verdadeira ajuda humanitária e da retirada imediata das tropas de invasão.
Enquanto isso, o imperialismo estadunidense reforça suas posições militares na América
do Sul. Em 2009, entraram em funcionamento mais sete bases militares dos EUA em
território colombiano, sete punhais encravados no coração do nosso continente.
Também em 2009, foi reativada a 4º Frota Naval para patrulhar o oceano atlântico. Essa
4º Frota conta, dentre outras coisas, com um porta-aviões nuclear, ainda que nenhum
país da região tenha acesso a qualquer armamento nuclear. Em Honduras, ficou
comprovada a participação de soldados da base militar dos EUA daquele país na
preparação do golpe militar de 2009, assim como aumentam as ameaças de golpe na
Venezuela e na Bolívia.
O Brasil só poderá jogar um papel realmente progressista na integração latino-
americana que está em curso quando romper com os interesses do imperialismo
estadunidense, denunciando seus crimes e sua política intervencionista na região. A
integração latino-americana só se tornará uma realidade se for realizada nos marcos da
solidariedade e do respeito aos direitos humanos, e não nos marcos das leis do mercado.
É de uma maneira soberana e solidária que o Brasil deve se inserir no mundo.
- Pela imediata retirada das tropas brasileiras no Haiti e envio de efetiva ajuda
humanitária.
- Por uma integração soberana e solidária da América Latina.
- Não à instalação de bases estadunidenses em território brasileiro. Fim do acordo de
cooperação militar Brasil-EUA.
- Retirada imediata das bases militares dos EUA da América Latina. Fim das
intervenções!
- Pela desativação da 4° Frota Naval norte-americana!
10) Abrir os arquivos da ditadura
O Brasil precisa resgatar a dívida histórica que segue tendo com os perseguidos pelo
regime ditatorial que vigorou no país entre 1964 e 1985. A ditadura militar perseguiu
milhares de brasileiros, matou e torturou mais de 500 dos melhores filhos do povo. Até
hoje, os arquivos secretos desse regime sombrio permanecem trancados, negando ao
conjunto da população o necessário conhecimento sobre a verdade e mantendo impunes
autores de crimes de lesa-humanidade.
A tortura é crime imprescritível segundo as regras do direito internacional. O Brasil
só poderá encarar os problemas atuais dos direitos humanos, como a situação desumana
de suas prisões, a tortura nas delegacias, o uso do “caveirão” e o assassinato de
inocentes, quando abrir os arquivos da ditadura e estabelecer o direito à verdade. O
lançamento do 3º Programa Nacional de Direitos Humanos, apesar de apontar em um
primeiro momento para o enfrentamento desses problemas, demonstrou, ao final, a
submissão do governo aos interesses mais retrógrados, modificando praticamente todos
os pontos avançados do programa.
- Pela abertura imediata dos arquivos da ditadura militar.
- Punição aos torturadores e agentes da ditadura.
- Pela implantação do Plano Nacional de Direitos Humanos elaborado pela sociedade.
11) Dinheiro público para a educação pública!
O Brasil, somados os investimentos dos governos federal, estaduais e municipais,
investe pouco mais do que 4% da sua riqueza produzida no período de um ano em
educação, valor que, de maneira nenhuma, corresponde à necessidade de retirar a dívida
histórica que o país tem com a educação. É um valor abaixo, inclusive, dos padrões
regionais, pois investimos proporcionalmente menos que países como Bolívia, Costa
Rica e Colômbia.
O principal entrave para o crescimento do financiamento da educação brasileira é o
pagamento da dívida pública. Através desse financiamento que o estado brasileiro faz
aos grandes bancos e especuladores, vai pelo ralo quase 30% do nosso orçamento. É
esse o dinheiro que falta para financiar a educação.
É necessário investir 10% do nosso PIB em educação por conta de toda dívida histórica
que o Brasil tem com a educação. Ainda temos quase 30% da população no
Analfabetismo funcional; mais de 80% da juventude fora das universidades e, dos que
ingressam no ensino superior, 88% o fazem nas faculdades pagas; uma série de exames
compravam a cada ano que o nível de aprendizagem no ensino básico está muito aquém
do necessário, em especial, nos conhecimentos básicos sobre matemática e português.
A aprovação pelo congresso nacional do fim da Desvinculação das Receitas da União –
DRU pode abrir espaço para um aumento importante no financiamento da educação se
for devidamente fiscalizado e cobrado. Mas, para que situação atual mude, o Estado
brasileiro precisa ter a coragem de financiar a educação como se deve, investindo 10%
do nosso Produto Interno Bruto em educação pública.
- Dinheiro público para educação pública: 10% do PIB para educação!
12) Educação não é mercadoria
O setor privado avançou muito sobre a educação durante a década de 90 e na primeira
década do século XXI. Atualmente, 88% das matrículas do ensino superior estão em
instituições pagas, em sua maioria faculdades. As universidades pagas formam
verdadeiros conglomerados capitalistas que têm suas ações negociadas na bolsa de
valores. Esse é o caso da Kroton Educacional, Anhanguera, Estácio Part e SEB, que
juntas negociam ações na bolsa no valor de R$ 1,850 bilhões tendo 70% desse volume
com participação estrangeira. Esse capital estrangeiro está percebendo que o ensino
pago brasileiro é uma enorme fonte de lucros. Um fundo de capital europeu comprou
em 2006 a universidade Anhembi-Morumbi.
É evidente que toda essa expansão não seria possível sem o amplo apoio do Estado
brasileiro. O estado apoiou e apoia a expansão do ensino pago não oferecendo vagas
suficientes no ensino superior público; desregulamentando o ensino superior brasileiro,
permitindo, dessa forma, a abertura de cursos superiores sem nenhum critério ou
qualidade nas pagas; e não estabelecendo nenhuma lei de mensalidades ou cobrança de
taxas, permitindo os piores abusos contra os estudantes; e não garantindo democracia
nas instâncias deliberativas.
No atual governo, o financiamento estatal dos lucros dos capitalistas da educação
transformou-se em política oficial. Com o Programa Universidade para Todos – Prouni,
o governo estabeleceu uma política de isenção fiscal para os donos das universidades
pagas em troca das vagas que não são ocupadas em virtude do alto preço das
mensalidades. Segundo o presidente da Associação Brasileira das Mantenedoras de
Instituições Privadas, Gabriel Mario Rodrigues, com o Prouni o lucro das universidades
pagas de São Paulo duplicaram.
Em 2009, o governo federal radicalizou sua política de financiar os capitalistas do
ensino superior abrindo uma linha de crédito de mais de R$ 1 bilhão através do BNDES
para as universidades pagas. Esse dinheiro representa 8% do orçamento anual do
Ministério da Educação.
A educação é política estratégica para o futuro de qualquer país. Deixar a educação
à mercê do lucro e do mercado é entregar a formação dos futuros engenheiros, médicos,
professores etc. aos que desejam apenas enriquecer e ganhar dinheiro com ações na
bolsa. Educação não é mercadoria e, por isso, não deve ser objeto de lucro.
- Não ao capital estrangeiro na educação!
- Contra os aumentos das mensalidades!
- Fim do financiamento às instituições privadas!
- Que as bolsas do Prouni sejam imediatamente mantidas pelo lucro dos empresários em
substituição a isenção fiscal. Pela gradativa substituição das matrículas de todos os
estudantes do Prouni para instituições públicas.
- Pela estatização das instituições privadas.
13) Educação é um direito para todos e todas
A universalização do acesso ao ensino público ainda esta por tornar-se realidade no
Brasil. Ainda que no ensino fundamental estejamos perto da marca de 100% dos
estudantes em idade escolar matriculados, no ensino médio ainda estamos longe de
alcançar essa universalização e, no ensino superior, esse dado é ainda mais revoltante,
pois apenas 13% da juventude consegue acessá-lo.
Junto com a questão do acesso à educação estão outras duas: a da qualidade e a da
permanência.
No que se refere à qualidade, podemos observar que ainda estamos muito longe de
alcançá-la, por exemplo, no ensino fundamental no qual o ensino está quase
universalizado. Isso porque só é possível realizar a universalização com qualidade com
o aumento significativo de recursos para a educação, valorizando os professores,
produzindo material didático e garantindo a infra-estrutura.
Em geral, temos uma educação básica desligada da realidade, altos índices de
reprovação e uma má assimilação de conteúdos, fazendo com que estudantes de 10 ou
11 anos não adquiram a capacidade para ler e compreender um texto, ou fazer um
cálculos simples de matemática, por exemplo.
O atual processo de expansão do ensino superior, materializado na construção de
algumas universidades federais e de vários Institutos Federais de Educação Superior,
ainda que represente um passo adiante no sentido da necessária expansão do ensino
superior público, precisa observar exatamente o critério da qualidade. Não será com
metas de aprovação anacrônicas do Reuni, nem tampouco com a diminuição da relação
professor-aluno, que concretizaremos a qualidade que queremos no ensino superior.
Dessa forma, a unificação dos vestibulares com o “Novo ENEM” serviu apenas para
evidenciar essas limitações. Ao todo foram mais de 4,5 milhões de inscritos, para
concorrer às 300 mil vagas do Prouni e Sisu. Ou seja, há um déficit de mais de 4
milhões de vagas não absorvidas pelo Estado e é fundamental que possamos nos
debruçar sobre essa questão e, de forma decidida, decretar o fim do vestibular (que
serve apenas para mascarar essa exclusão) e garantir vagas para todos no acesso ao
Ensino Superior. Para tanto ,propomos a construção de mais universidades públicas, e
apresentamos como compromisso para suprir o déficit da educação brasileira a garantia,
em cinco anos, de vagas suficientes para os jovens em idade escolar.
Já no que se refere à permanência, existe a necessidade de ampliar as políticas de
assistência estudantil, como o passe-livre, a alimentação, o uniforme escolar, etc. O
novo Enem torna mais clara a necessidade de garantir essas políticas, por conta da
mobilidade. Para as universidades, é necessário que exista uma rubrica específica para a
assistência estudantil, servindo para o financiamento e a construção de restaurantes
universitários em todas as universidades, a ampliação e o reajuste das bolsas de estudo,
de trabalho e de pesquisa, e a garantia do passe-livre nos transportes públicos.
Os governos devem encarar de uma vez por todas a tarefa de universalizar o acesso a
todos os níveis de ensino, garantindo educação pública e de qualidade em todos os
níveis.
- Universalização do acesso ao ensino público.
- Livre acesso do povo à universidade! Por uma Universidade Popular!
- Por qualidade e condições de permanência.
- Por uma rubrica de permanência estudantil para o ensino superior.
- Por uma avaliação de verdade do Ensino Médio. Não ao ENEM e ao Vestibular.
- Contra a expansão do ensino a distancia em detrimento do ensino presencial.
Incorporação das novas tecnologias como auxiliares no processo de ensino-
aprendizagem.
14) Abaixo a repressão nas universidades!
Assistimos no último período a um crescimento da repressão policial e ao cerceamento
das liberdades democráticas no interior das universidades e escolas. A invasão da
polícia militar ao campus da Universidade de São Paulo em 2009 fez lembrar os tristes
momentos de ditadura militar que perseguiu e assassinou centenas de jovens no Brasil.
Esse, infelizmente, não foi um caso isolado. No final de 2008, a polícia militar invadiu o
campus da UFMG de maneira ilegal. Tornou-se normal o relato, em várias
universidades do país, de fichamento de estudantes por participação no movimento
estudantil e de agressão por parte de guardas terceirizados.
A verdade é que a tentativa de criminalizar os movimentos sociais brasileiros,
acompanhada de uma campanha suja promovida pela mídia dos ricos, também vem
atingindo o movimento estudantil. Querem taxar de baderneiro e perturbador da ordem
quem luta em defesa de uma educação e de um Brasil melhores. Querem fazer passar
por criminoso quem se rebela contra as injustiças e denuncia os crimes dos detentores
da riqueza e do poder.
Essa é uma campanha repressora que atinge a todos os estudantes. Antigamente abolido
das universidades, o jubilamento (ato de expulsar o estudante da universidade) voltou
com toda a força com a instituição do Reuni e suas artificiais metas de aprovação. O
jubilamento não é nada mais do que colocar nas costas dos estudantes toda a
responsabilidade pela assimilação do conhecimento, retirando as responsabilidades do
Estado e da instituição, que não oferecem condições de permanência e de assistência
estudantil.
Além disso, as universidades seguem com regras medievais no que se refere a sua
gestão. Na eleição dos órgãos dirigentes, os estudante e funcionários têm participação
irrisória, e a paridade nesses órgãos é impedida por todos os meios. A autonomia
universitária só poderá ser verdadeira na medida em que haja democracia, pois não pode
ser autônoma uma instituição governada por um grupo fechado e que não consulta a
comunidade nas suas decisões.
Nas universidades pagas, a situação é ainda pior. A gestão financeira dessas instituições
é, quase sempre, uma caixa-preta, a qual não têm acesso estudantes, professores ou
funcionários. A perseguição aos estudantes é institucionalizada através da instalação de
câmeras e a perseguição de guardas. Os professores e funcionários são, quase sempre,
proibidos de se organizarem em sindicatos. Os estudantes bolsistas são ameaçados
sempre que procuram denunciar uma injustiça.
A democracia no interior das universidades é uma tarefa ainda por realizar em nosso
país, e extremamente necessária se quisermos uma educação de qualidade.
- Gestão democrática: por paridade e eleições livres.
- Estudar é um direito: Abaixo o jubilamento!
- Contra a criminalização dos movimentos sociais!
15) Livre expressão de verdade.
O Brasil está marcado por uma absurda concentração e monopolização dos meios de
comunicação. Apenas 9 famílias (entre elas as famílias Frias, Abravanel, Civita e
Marinho) controlam cerca de 80% das difusoras de rádio, de televisão e dos grandes
jornais e revistas do país. Toda essa concentração só se viabiliza a partir do apoio e
proteção do Estado brasileiro, que renova as concessões sem nenhum controle social e
financia diretamente todos esses capitalistas da mídia através das propagandas oficiais e
do crédito fácil. Foi exatamente durante a ditadura militar que a família Marinho
construiu o império chamado TV Globo.
A monopolização da mídia distorce a realidade. Milhões de brasileiros e brasileiras só
têm acesso às informações e interpretações que esse punhado de famílias divulga.
Dessa maneira, a vulgarização da mulher, a permanência do racismo, do machismo e da
homofobia, a calúnia aos movimentos sociais, e o culto ao individualismo e ao
consumismo encontram na mídia brasileira seu melhor veículo de divulgação. Enquanto
isso, as rádios comunitárias são perseguidas e fechadas na base da violência pela Polícia
Federal, nunca na história desse país tantas rádios foram fechadas quanto nos últimos
oito anos.
Como se não bastasse, os capitalistas da mídia não têm nenhum pudor de se envolver
nos temas políticos, emitindo sua opinião sobre todo e cada assunto em debate no
cenário nacional. É fato comprovado que a participação da mídia elege e derruba os
políticos, forja escândalos e encobre casos flagrantes de corrupção.
Essa situação também impede que nosso povo se reencontre e conheça a cultura popular
e o folclore que são tão marcantes nos mais diversos cantos do país. Tudo que a mídia
toca ela transforma em mercadoria, massificando e banalizando manifestações culturais
que são, na origem, ricas e profundas. Desconhecendo nossa própria cultura, perdemos
muito da nossa soberania.
É tarefa urgente democratizar os meios de comunicação no país, revendo todas as
concessões vigentes e estabelecendo controle social. Ao lado disso, com o advento das
novas tecnologias digitais, cabe ao governo garantir canais de TV e estações de Rádio
para o movimento social organizado, permitindo que se expressem trabalhadores da
cidade, do campo, estudantes, etc.
No entanto, o que vimos nos últimos anos foi o aumento da repressão e perseguição
contra as rádios comunitárias, violentamente fechadas e impedidas de manterem seus
transmissores. Vimos também se gestar na Câmara dos Deputados um projeto de lei de
autoria do senador do PSDB, Eduardo Azeredo, que propõe perseguir diversas mídias
da internet, entre elas, as rádio web. As mudanças na política das comunicações devem
seguir exatamente o caminho contrário, ou seja, controlar socialmente os monopólios e
criar meios de desenvolvimento da mídia alternativa.
- Revisão das concessões e controle social sobre as rádios e televisões.
- Concessões de TV e Rádio para o movimento social organizado.
- Contra a repressão às rádios comunitárias.
- Contra o AI 5 digital.
16) Meia-Entrada e passe-livre: um direito dos estudantes!
Com base nas lutas e na reorganização do movimento estudantil, em especial na década
de 80, nos diversos estados brasileiros os estudantes conquistaram o direito ao meio-
passe e ao passe livre. Inúmeras passeatas, ocupações, pressões nas câmaras municipais
e assembléias legislativas garantiram esse direito e possibilitaram aos estudantes
unificar suas entidades e fortalecer suas mobilizações.
A meia-entrada, por sua vez, ganhou legislação nacional e através da emissão de
carteiras de estudante pelas entidades, o movimento estudantil passou ainda a obter uma
fonte de financiamento própria para lhe dar mais autonomia e capacidade de
enfrentamento.
Essas medidas nunca agradaram os empresários do transporte e do meio-cultural e
sempre fizeram todos os esforços para acabar com esse direito. No transporte, tentam
apresentar a população que ela paga a conta da meia-passagem e, na cultura, que o
aumento dos preços do cinema e do teatro acontecem também por conta dos estudantes.
Temos visto em todo o país novos ataques contra esse direito e alguns locais continuam
sem garantir o direito a meia-passagem para os estudantes como é o caso de Belo
Horizonte, e até mesmo o Rio de Janeiro onde os universitários são obrigados a pagar
passagem inteira.
Vale lembrar, também, que o controle desse processo, ou seja, a emissão dos
documentos de identificação estudantil e os cartões de transporte, em muitos locais
saíram das mãos dos estudantes e de suas entidades o que tem dado maior liberdade aos
capitalistas de limitar esses direitos. É preciso retomar esse controle para as mãos dos
estudantes e garantir que o direito a meia-passagem, ao passe livre e a meia-entrada seja
irrestrito, tendo nosso direito assegurado.
- Pela garantia da meia-entrada ilimitada.
- Em defesa do passe-livre em todos os estados
- Controle dos estudantes sob a emissão de carteiras de estudante
17) Cultura
Vivemos em um país onde a maioria da população não tem acesso a cultura. Dados do
próprio ministério da cultura comprovam essa afirmação: 72% da população brasileira
nunca assistiu a uma peça de teatro e (ou) cinema, 86% da população nunca visitou um
museu e chegamos ao absurdo dado de 30% de analfabetos funcionais no Brasil.
Na realidade, o povo brasileiro fica refém do mercado das grandes gravadoras e
empresas de entretenimento, que visa obter máximo de lucros através da cultura
alienante que tem o objeto de fortalecer as idéias da classe dominante. O que
precisamos é de uma política nacional de valorização da cultural popular. A UNE tem
uma grande tradição desse resgate em sua historia, ao organizar os Centros Populares de
Cultura, os (CPC’s), temos que seguir esse exemplo tornando o movimento estudantil
protagonista na utilização da cultura como arma de libertação dos trabalhadores de
demais oprimidos em nosso país.
18) Esporte para todos e todas
Uma política popular para o esporte no Brasil é fundamental para garantir plenas
condições de desenvolvimentos para a juventude e os estudantes. Atualmente, vemos o
esporte transformado em mercadoria, refém das grandes corporações e das transações de
valores astronômicos nas transferências de atletas.
Com a preparação das Olimpíadas e da Copa do Mundo no Brasil esses problemas
tendem a se agravar, pois entram em cena empreiteiras e empresas de Marketing ávidas
pelo dinheiro público que está sendo investido. Quando da realização do Pan do Rio em
2008, podemos ver que as obras custaram bem mais do que o valor orçado, que
comunidades foram removidas e tiveram seus direitos sociais atacados, além das obras
não deixarem nenhum legado para o País, infelizmente, está realidade está projetada
para se repetir.
Necessitamos de políticas públicas do esporte que valorizem o esporte amador e a
educação esportiva em cada escola, investindo dinheiro público, prioritariamente, nessas
áreas.
- Investimento prioritário em esporte amador e na educação esportiva.
- Fiscalização e controle social sobre as obras e investimentos da Copa e das
Olimpíadas, priorizando solucionar os problemas sociais das grandes cidades, deixando
o legado dos equipamentos para o uso do povo e preservando os direitos sociais das
comunidades.
19) Saúde não é mercadoria!
A saúde que defendemos parte de uma concepção em que a doença e a saúde são
processos determinados pelas condições sociais as quais está submetida a grande
parcela da população explorada: saúde é moradia, é direito à cidade, é transporte de
qualidade e acessível a todos e todas, educação de qualidade e voltada para as
necessidades sociais, acesso à trabalho digno, à terra, condições ambientais que
possibilitem a sobrevivência das pessoas em vez de segregar e destruir o meio ambiente.
Pois se a saúde é um processo socialmente determinado, temos que socialmente
desconstruí-lo.
O sistema de saúde reflete necessariamente a concepção de saúde que temos. Por isso,
defendemos uma saúde baseada nos princípios fundantes do SUS, mas que no entanto
não abra possibilidades para que a iniciativa privada lucre em cima de um direito
fundamental nosso: o acesso à saúde.
- Por um sistema de saúde 100% público;
- fim do sistema complementar, com o devido ressarcimento aos cofres públicos;
- Posicionamento contrário ao corte de mais de 10 bilhões em verbas por conta da crise
mundial entre os anos de 2008 e 2009;
- Pela inclusão de políticas de saúde para os LGBTTT’s que capacitem os profissionais
de saúde e a população;
- Em defesa de políticas de saúde para as mulheres;
- Em defesa da legalização do aborto;
- Em defesa da luta do movimento anti-manicomial;
20) Em defesa do combate as opressões
A mídia divulga de forma bem veemente, que as opressões acabaram: que não temos
mais machismo, não temos mais racismo nem homofobia. Entretanto, fazendo uma
análise mais aprofundada acerca do assunto, percebemos que essa não é a realidade. A
bandeira de emancipação das mulheres, negr@s e homossexuais é colocada pelo
mercado enquanto direito de estar livre para consumir segundo as suas necessidades,
sobre ter um mercado que atenda às necessidades de consumo e subjetividades envoltas
pela diversidade e não como um direito.
Está escancarado nas manchetes de jornais, nas noticias da televisão o quanto a classe
trabalhadora negra, mulher, GLBTT, sofre duplamente, ou triplamente os impactos do
sistema capitalista, pois as opressões se acumulam, a trabalhadora pobre, negra e lésbica
sofre uma opressão bem mais aprofundada.
Sobre a descriminalização do aborto e sua legalização, a encaramos enquanto uma
questão de classe, sabendo que milhares de mulheres que não tem acesso a uma clínica
morrem todos os anos por abortos clandestinos. Precisamos de politicas que garantam
acesso gratuito e de qualidade à saúde e nos métodos contraceptivos, que poderiam
evitar a prática..
Nas universidades ou nos quadros de professores e doutores, notamos nitidamente o
local dos negr@s das mulheres e dos homossexuais, que pouco ocupam esses espaços.
A falta de acesso, de garantia de permanência, de creches nas universidades são
fundamentais para esses setores historicamente excluídos, como os negros. Uma educação
laica, não machista, não homofóbica, não racista, que de conta de trazer ao nosso pais uma formação
educacional de todas as histórias e culturas, não apenas eurocêntricas ao qual hoje aprendemos como
exemplo de sociedade ao qual devemos querer.
O debate de combate às opressões não é uma discussão pontual, mas se sustenta numa
crítica de que essas opressões são fundamentais para a manutenção dessa sociedade que
oprime e mata. Devemos apontar para a construção de uma sociedade supere todos os
tipos de opressões, percebendo que ela não é automática.
21) Conclusão
A verdadeira e profunda transformação do Brasil só pode ser obra da mobilização
intensa dos trabalhadores e trabalhadoras, da ação destemida dos movimentos sociais,
do debate e conscientização dos mais diversos setores da sociedade. Essa mudança
passa por uma política econômica popular, que gere emprego e renda para os mais
pobres, que nacionalize a riqueza e a produção e que coloque o estado a serviço dos
interesses populares. Os estudantes ocupam papel honroso nesse movimento,
apresentando suas propostas de lutas e batalhando lado a lado da classe trabalhadora.
O projeto que ora apresentamos é mais um instrumento desse processo de mobilização.
A UNE, retomando sua história, segue convicta que o futuro se constroi com nossas
proprias mãos, e que não podemos delegar a determinados políticos ou heróis as
mudanças que serão conseguidas apenas na base da mais ampla mobilização popular.
A implantação do projeto Educação, terra, trabalho e democracia, é um passo
importante no sentido de alcançarmos uma nova sociedade, baseada na harmonia, na
colaboração, no poder e na democracia populares, no respeito ao meio ambiente, na
igualdade entre homens e mulheres, onde não hajam nem opressões, nem privilégios e
muito menos acumulação privada de lucros. Essa sociedade, nova e melhor, chama-se
sociedade socialista.
58º Conselho Nacional de Entidades Gerais da União Nacional dos Estudantes
UFRJ – 24 de abril de 2010