tese reconquistar a une 49-conune

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PRÉ – TESE 49° Congresso da UNE 29 de junho a 3 de julho, Goiânia/GO Elogio da Dialética A injustiça avança hoje a passo firme Os tiranos fazem planos para dez mil anos O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são Nenhuma voz além da dos que mandam E em todos os mercados proclama a exploração; isto é apenas o meu começo Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem Aquilo que nòs queremos nunca mais o alcançaremos Quem ainda está vivo não diga: nunca O que é seguro não é seguro As coisas não continuarão a ser como são Depois de falarem os dominantes Falarão os dominados Quem pois ousa dizer: nunca De quem depende que a opressão prossiga? De nòs De quem depende que ela acabe? Também de nòs O que é esmagado que se levante! O que está perdido, lute! O que sabe ao que se chegou, que há aì que o retenha E nunca será: ainda hoje Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã Para a luta e para os estudantes!

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Page 1: Tese Reconquistar a UNE 49-CONUNE

PRÉ – TESE

49° Congresso da UNE

29 de junho a 3 de julho, Goiânia/GO

Elogio da Dialética

A injustiça avança hoje a passo firme Os tiranos fazem planos para dez mil anos

O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são Nenhuma voz além da dos que mandam

E em todos os mercados proclama a exploração; isto é apenas o meu começo

Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem

Aquilo que nòs queremos nunca mais o alcançaremos

Quem ainda está vivo não diga: nunca O que é seguro não é seguro

As coisas não continuarão a ser como são Depois de falarem os dominantes

Falarão os dominados Quem pois ousa dizer: nunca

De quem depende que a opressão prossiga? De nòs De quem depende que ela acabe? Também de nòs

O que é esmagado que se levante! O que está perdido, lute!

O que sabe ao que se chegou, que há aì que o retenha E nunca será: ainda hoje

Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã

Para a luta e para os estudantes!

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(Bertold Brecht

EPÍGRAFE Porque então nos encontramos aqui de novo?

. Porque aqui é nosso lugar. Os velhos e os novos

guerreiros, com nossas lanças, burricos, escudos,

sanchos e panças. E continuamos tão teimosos quanto antes. Tão cheios de sonhos e idéias malucas

quanto antes. Absolutamente convencidos de que é

preciso construir outro mundo.

É verdade que muitos têm desistido no meio

do caminho. Isso acontece. É verdade também que outros

talvez tenham mesmo é mudado de lado. Outros

muitos estão decepcionados. Não deixam de ter sua

razão. Afinal, foram duas décadas (e milhares de

pequenas e grandes batalhas) para tentar galgar os

muros daquele planalto seco. Nós também estivemos nestas batalhas – em

corpo, em alma e em identificação. Só que o sistema

de moer gente viva não foi desmontado – nem mesmo

arranhado. Dono de banco continua contando dólar.

A máquina de guerra do império está mais eficiente e cruel.

E nem todos acordaram ainda.

Nós fazemos parte daqueles que nunca

acreditaram que apenas registrar votos eletrônicos

de quando em vez iria construir o mundo justo com

o qual sonhamos. Somos daquela turma que nunca cultivou líderes iluminados e que sempre prefeririu

as ruas aos gabinetes com ar-condicionado e tapetes

verdes aveludados. Daqueles que nunca negaram –

pelo contrário – os pequenos avanços. Sem

transformar esses necessários e diminutos avanços em nossa meta final.

Queremos então avisar e gritar bem alto: não

mudamos de lado. E continuamos chamando as

coisas pelo seu nome. Direita é direita, esquerda é

esquerda. Todo projeto e toda ação está a serviço de

uma classe. Tirar direito não é fazer justiça. O neoliberalismo não acabou. O governo FH teima em

não terminar, alma penada arrastando suas

correntes pelos corredores da capital Ah, e é bom

escrever: a luta de classes continua, crudelíssima! E

nosso lado é o dos de baixo. Por isso, continuamos

socialistas. Por isso, nosso lugar é o mesmo de sempre.

Dele nunca saímos. E nem pretendemos.

Nosso lugar é junto aos estudantes, junto às

ruas, junto às greves, no meio das ocupações, na

luta nossa de cada dia. Metendo o dedo em cada ferida, apontando de novo cada injustiça.

Por isso avisamos aos navegantes

desavisados: o sonho não acabou. Aos que

desfraldaram as bandeiras e trocaram a camiseta

surrada por gravata listrada, relatório e fala

empolada: boa viagem. Mas não contem conosco. O nosso caminho é outro. O de sempre. E por isso

estamos aqui de novo. Para fazer acontecer mais um

encontro de gente rebelde: o 49º Congresso da UNE.

Bom congresso a todos os quixotes lutadores. Porque o tempo não pára. E as ruas têm pressa!

É preciso derrotar os banqueiros

para ter educação!

“Os poderosos podem matar uma, duas, três rosas, mas jamais poderão deter

a primavera inteira” (Che Guevara)

Durante os anos 90 o país viveu sob a hegemonia neoliberal dos tucanos. Foram anos em que assistimos às privatizações do setor elétrico, das telecomunicações, dos bancos estaduais e a aplicação da política do estado mínimo avançou. Na educação vimos as universidades públicas cada vez mais sucateadas e indefesas frente à privatização pela carência de financiamento público. Enquanto isso, as instituições privadas avançaram desenfreadamente, lucrando milhões com financiamento público através do BNDES. Essas eram opções claras do modelo aplicado por Collor, Itamar Franco e FHC.

A crise social e a dependência externa do país se agravaram com esse modelo. A doutrina neoliberal já mostrava seu fracasso no segundo governo de FHC, sendo derrotado eleitoralmente em outubro de 2002 com a vitória da candidatura Lula. O povo votou pela mudança: por outro modelo econômico, pelo crescimento com geração de emprego e distribuição de renda, pelo fim das privatizações e pela recuperação e expansão do ensino público e gratuito. De fato, o grande derrotado nesta eleição foi o modelo neoliberal - radicalizado pelo governo FHC. Cansado do desemprego, do emprego precário, da redução do poder aquisitivo e do baixo crescimento. Sem dúvida esse foi um “basta” à política neoliberal no Brasil. Contudo, a frente que elegeu Lula traz em si uma blindagem devido ao leque de alianças forjado. No interior do governo existem interesses contraditórios. De um lado, setores do campo democrático e popular e de outro, os setores do empresariado, representados por Roberto Rodrigues, Furlan e o próprio vice-presidente José Alencar. Já no processo de composição do governo os desafios aumentavam com a presença do capital financeiro através de

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Henrique Meireles, ex-presidente do Bank Boston, o banco responsável pela quebra da Argentina no governo de La Rua. Isso mostra que o desafio apresentado aos setores dos movimentos sociais vai muito além de apenas eleger Lula. O enfretamento entre esses setores se dá na sociedade. O que assistimos até agora, foi à manutenção da agenda econômica conservadora, herdada de FHC, fortemente apoiada pela grande mídia (Rede Globo), pelas pressões internacionais e pelo próprio bloco da oposição de direita ao governo (PSDB/PFL). A continuidade da combinação de altas taxas de juros e o superávit fiscal primário de 4,5% do PIB, destinados ao pagamento da dívida externa, assim como a política cambial favorável ao fluxo de capitais especulativos, resulta na frustração do projeto democrático e popular que atenda às necessidades da maioria da sociedade brasileira, na medida em que inviabiliza projetos avançados que, de fato, atendam suas demandas e reafirma a dependência do país em relação ao mercado financeiro. Neste sentido, a atual política econômica é o principal obstáculo à retomada do crescimento com distribuição de renda e valorização do trabalho, impedindo as transformações necessárias para os setores populares do país. A luta dos movimentos sociais e da população, que construiu e votou na candidatura Lula, para derrotar o neoliberalismo e melhorar a vida do povo brasileiro continua mesmo com vitória eleitoral. Essa luta deve ter seu eixo central na exigência de que a burguesia e seus interesses sejam retirados do Governo, na recusa da ALCA, na suspensão do pagamento da Dívida Externa, pela democratização dos meios de comunicação e no combate ao latifúndio com a implementação de uma Reforma Agrária segundo os moldes do MST. A disputa sobre os rumos do governo torna-se presente no cotidiano dos movimentos sociais e demais setores populares. Só a mobilização social pode pressionar o governo a cumprir as reivindicações históricas dos movimentos sociais. Estes, juntamente com outras entidades, devem manter a sua autonomia e seu caráter reivindicatório, intensificando, desta maneira, a luta por outra política econômica que permita o atendimento às suas bandeiras.

Novos ventos pela América Latina!

Com a reeleição de Bush, o imperialismo

norte-americano toma dimensões jamais vistas. As ameaças de intervenção militar do governo imperialista a diversos países como o Irã, a guerra no Iraque e, recentemente, as pressões políticas aos países da América Latina, as ameaças de morte ao Presidente da Venezuela Hugo Chávez, são ações que demonstram que o grande “xerife” do mundo está

ainda mais fortalecido e não poupa forças para manter sua dominação política, econômica e militar.

Por outro lado, as resistências aumentam. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, enfrenta as forças conservadoras e o imperialismo através de medidas para a reforma agrária, saúde e educação, estabelecendo acordos com o Brasil no que diz respeito a oleodutos, estradas, ferrovias. A eleição de Tabaré Vasquez, no Uruguai, e a possível eleição da Esquerda, no México, acenam para uma nova oportunidade histórica para o avanço das forças democráticas e populares na América Latina, agora em um contexto de hegemonia do neoliberalismo. A presença do governo Lula, Hugo Chávez, Fidel Castro de Cuba, Kirchner, que tem enfrentado a dívida externa na Argentina, Tabaré Vázquez no Uruguai e a possível vitória da esquerda no México, já fala por si só.

Na Argentina vimos uma demonstração de que é possível enfrentar o FMI e o capital financeiro. O presidente Kirchner, que está longe de ser um socialista, abriu um processo de renegociação da dívida que significou a revisão de 70% da dívida daquele país. Isso mostra que a idéia do pensamento único neoliberal está errado e é possível uma saída deste modelo.

Sem dúvida podemos afirmar que a eleição de Lula em 2002 foi uma das responsáveis por esse avanço das forças populares pela América Latina. Muitas atitudes do governo vêm contribuindo para a formação de nosso novo bloco latino-americano, como o envio de barris de petróleo para Venezuela. Porém, não podemos afirmar que nesses dois anos de governo Lula os ventos de combate ao neoliberalismo vem soprando mais fora do Brasil do que internamente.

Os novos ventos precisam soprar no Brasil!

Lutar para mudar os rumos antes que seja tarde!

No Brasil, o quadro das eleições de 2002

esteve inserido em um momento de rebaixamento programático e estratégico do bloco democrático e popular ao longo da década de 90. Passados quase dois anos das eleições presidenciais, as políticas e medidas que vêm sendo adotadas não indicam uma superação do modelo neoliberal. Em que pesem os esforços do conjunto do movimento social, diversos setores, e mesmo internamente, o governo mantém e vem consolidando a política naquilo que é essencial. No plano da política econômica, a marca desta opção é o comprometimento assumido pelo

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governo para com os credores internacionais e relacionado à elevação da meta de superávit primário.

Não devemos nos iludir com os resultados de crescimento do ano de 2004. Mesmo durante o período FHC aconteceram momentos de crescimento semelhante ao ocorrido agora. Esse processo é natural devido ao quadro prolongado de recessão e decréscimo da economia. É importante lembrar que a economia mundial teve crescimento no ano de 2004 e a maioria dos países ditos em desenvolvimento tiveram crescimentos maiores que o do Brasil. A Argentina, que decretou moratória à dívida externa, teve crescimento de pouco mais de 7%, sendo cerca de 2% maior que o crescimento brasileiro. Isso mostra que a moratória pode significar um bom negócio. Além disso, vimos que esse processo não vem acompanhado de distribuição de renda e melhoria real da vida da maioria da população. Portanto, o que assistimos está longe de gerar a solução para os problemas brasileiros e ser o tão anunciado “espetáculo do crescimento”.

A eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE) para a Presidência da Câmara, a decisão do COPOM (Comissão de Política Econômica) de continuar aumentando a taxa de juros, o agravamento da situação social e dos conflitos daí resultantes (vide o assassinato da irmã Dorothy Stang no Pará e de dois sem-teto em Goiânia), marcam a conjuntura neste início de 2005, indicando que se faz necessária uma mudança imediata nos rumos do Governo Lula.

Como resultado disso, a derrota do campo democrático e popular nas eleições municipais em 2004, combinados com a eleição do Dep. Federal Severino Cavalcanti para presidente da Câmara dos Deputados mostra que a elite conservadora desse país continua viva e forte. A direita brasileira não está disposta a “terceirizar” a implementação do modelo neoliberal que opera com todo empenho para derrotar o governo do PT. Percebemos que a divisão desse setor ocorrida nas eleições de 2002 virou página do passado e trabalha em plena sintonia para buscar uma nova vitória eleitoral em 2006. Ou o governo Lula muda seus rumos logo ou poderá ser tarde demais.

O conjunto das opções feitas pelo governo Lula orienta não só a política econômica, mas também as políticas setoriais e as medidas legislativas de iniciativa do Executivo. Isso se comprova no contingenciamento no orçamento federal, deixando cada vez mais claro que, mesmo naqueles setores onde parece haver uma efetiva disposição de implementar políticas em favor da transformação social, a prioridade em se “honrar os compromissos”, garantindo “confiança e credibilidade” dos credores, tornam-se obstáculos intransponíveis.

Esse conjunto de elementos tem criado todo tipo de abertura para o avanço da iniciativa privada sobre a economia e as políticas públicas brasileiras,

inclusive na educação. Os exemplos mais abrangentes disso são as Reformas Previdenciária e Tributária, já aprovadas, e as Reformas Sindical e Trabalhista, em andamento. Além destas, merecem destaque as leis de Falências, as PPP´s, os transgênicos e a MP do Meirelles.

Sendo assim, devemos lutar por mudanças imediatas na política econômica. Estas mudanças não devem se limitar à troca de cargos acessórios do Banco Central ou do Ministério da Fazenda. A mudança dos nomeados para os cargos deve ser conseqüência de mudanças na política econômica, combinada com a demissão de todos os quadros do governo vinculados ao pensamento neoliberal.

Mais do que não renovar o acordo com o FMI, necessário se faz construir as condições para a suspensão do pagamento da dívida externa com auditoria, acabar com o Superávit Primário de 4,5%, reduzir os juros e garantir a inversão de prioridades dos fundos públicos. Estas são condições fundamentais para o governo fazer as transformações estruturais de que o país precisa como a Reforma Agrária, Urbana e a transformação da universidade brasileira.

Não podemos permitir que a posição da direção majoritária da UNE (UJS/PCdoB) seja a postura do conjunto do movimento estudantil. A opção deles é ser base de sustentação do governo ao invés de ser uma grande entidade estudantil reivindicatória e mobilizadora. Se esta postura prevalecer, assistiremos à continuidade do imobilismo da nossa entidade nacional - a UNE, o que dificultará sobremaneira a possibilidade de alcançar nossos objetivos. Por isso, as mobilizações têm que tomar as ruas do país, alcançar cada sala de aula nas universidades, cada acampamento por reforma agrária, cada campanha salarial, nas quais não devemos titubear em denunciar de maneira clara as atuais opções adotadas pelo governo federal e exigir as mudanças necessárias para a maioria da população brasileira. O tempo não pára e as ruas têm pressa! Vamos à luta para mudar os rumos do governo Lula!

Mudança imediata da política econômica: Fora Palocci e Henrique Meirelles e toda a equipe econômica ligada ao pensamento neoliberal!

Não a autonomia do Banco Central; Suspensão do pagamento da dívida

externa – auditoria já! Não a ALCA; Fim do Superávit Primário e redução dos

juros; Reforma Agrária e Urbana Já! Não a esse Reforma Sindical! Pela retirada

da PEC 369

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UNIVERSIDADE PÚBLICA: luta histórica

pela sua defesa!

Os longos anos 90 na Universidade brasileira foram de ataque direto ao ensino público e favorecimento da iniciativa privada. O chamado “Consenso de Washington” orientou a implementação da cartilha neoliberal nos chamados países “em desenvolvimento”, através do Estado mínimo para os investimentos sociais - e máximo para os bancos, para o agronegócio e para o sistema financeiro, através dos governos Collor, Itamar e FHC, renderam a destruição da universidade pública brasileira e uma ampla mercantilização do ensino. Esse período foi marcado pela expansão exorbitante do ensino privado no país, chegando a atingir mais de 80% das matrículas do ensino superior. Isso foi patrocinado pelos financiamentos públicos através do BNDES, bem como por um amplo e radical processo de sucateamento da Universidade Pública, por meio de corte de verbas, tendo como contrapartida grandes greves como a de 1998 e de 2001. Ambas conseguiram importantes vitórias como a retirada da PEC 370, que redefinia a autonomia universitária, e a manutenção do Regime Jurídico Único para o funcionalismo público, além de conquistar verbas para a assistência estudantil, mesmo que insuficientes. O movimento de educação sempre lutou por uma Universidade Pública, gratuita laica e de qualidade referenciada socialmente. Essa luta sempre esteve acompanhada da necessidade da universidade brasileira desempenhar um papel estratégico na soberania do país. A garantia de sua autonomia para a produção de ciência e tecnologia para o interesse da grande maioria da população são elementos essenciais para tal. O combate aos interesses privados na universidade pública, como conseqüência da privatização branca, foi acompanhado de um amplo processo de mobilização e luta na qual produziu o “Plano Nacional de Educação – Proposta da Sociedade Brasileira” que sistematizou medidas profundas de recuperação e expansão do ensino público. Esse plano, aprovado no congresso nacional em 2001, sofreu vários vetos pelo governo FHC. Os setores que resistiram a esse desmonte da educação pública brasileira fizeram uma aposta em 2002. Nas universidades brasileiras a candidatura Lula tinha mais de 80% de apoio. O programa “Uma Escola do Tamanho do Brasil”, apesar de fazer parte do rebaixamento programático, tinha como eixo o fortalecimento do ensino público, reversão do modelo neoliberal e atendia boa parte das reivindicações do movimento social de educação.

A Reforma Universitária

Com a vitória de Lula em 2002 imaginou-se que o país iria ter um maior espaço para as reivindicações dos movimentos sociais. Amplos setores começaram a reivindicar a necessidade de uma reforma estrutural na universidade brasileira. Essa reforma passava pela recomposição de perdas do período neoliberal e pela necessidade em mudar profundamente as estruturas da universidade brasileira. Contudo, o que assistimos no primeiro ano de governo foram as opções de continuidade prevalecerem sobre as mudanças. Já no final de 2003 ficaram claras as opções, tanto da política econômica como da política de alianças, eram um entrave para se iniciar qualquer processo de reforma progressista, sob a pena de transformá-la em mero ajuste neoliberal. Dessa maneira, percebemos que o centro da ação do movimento estudantil deveriam ser as reivindicações históricas e a ênfase na recomposição de perdas, ou seja, um plano emergencial para as universidades públicas brasileiras. Em 2004, fomos surpreendidos com projeto que implementava uma reforma universitária que tinha mais proximidade com as políticas do Banco Mundial do que as defesas históricas do ME. O PROUNI (Programa Universidade Para Todos) e a Lei de Inovação Tecnológica são os principais exemplos. Mesmo as diretrizes do MEC, apresentavam um largo espaço para efetivação da política neoliberal na educação. Isso obrigou o movimento estudantil a sair de uma pauta propositiva para uma pauta de resistência e combate à política que vinha sendo implementada. Se o cenário já era improvável para uma reforma, ele seria muito mais difícil para resistir. Chegamos ao final de 2004 com todos esses projetos aprovados e o governo foi vitorioso nesse embate. Vitorioso não só na aprovação dos projetos, mas também, na opinião pública. O governo conseguiu convencer a maioria da população de suas posições. A radicalidade que o MEC operou para tentar cooptar os movimentos sociais e a ampla campanha publicitária foram fatores decisivos para essa derrota política do movimento de educação combativa. Contudo, os tubarões do ensino mostraram toda sua força no congresso nacional ao transformar o péssimo PROUNI em catastrófico. Por outro lado, o MEC ficou pressionado por parte do ME que foi para o enfretamento direto. Esse embate fez com que o MEC tivesse que recuar e fazer pequenas concessões em sua política. Falamos pequenas porque, comparadas às conquistas do setor privado, elas são irrisórias.

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O principal recuo do MEC devido à mobilização estudantil foi o Anteprojeto de Lei Orgânica para as Universidades Brasileiras apresentado em dezembro de 2004. Em sua maioria o projeto traz pontos negativos, confusos e alguns pontos positivos que são bandeiras históricas do movimento de educação. Diante desse quadro, o cenário é muito complexo para o ME no ano de 2005, pois vamos ter que enfrentar a implementação das medidas aprovadas em 2004 e afinar uma tática frente ao anteprojeto de reforma universitária que evite mais vitórias para o setor privado. Vamos enfrentar essa Reforma Universitária Com a aprovação do PROUNI e da Lei de Inovação Tecnológica, da regulamentação das fundações privadas, devemos nos preparar para enfrentá-las nas universidades. É certo que temos que continuar na luta pela revogação dessas leis e reafirmar nossas lutas históricas como a concessão de bolsas através dos lucros das universidades privadas, o fim das fundações de direito privado, o fim dos cursos pagos e a implementação de uma verdadeira extensão universitária. Porém, isso faz parte de uma luta mais geral. O fato é que não podemos descuidar da luta local e dos enfretamentos com as direções das universidades que são em sua maioria extremamente conservadoras sejam elas públicas ou privadas. Precisamos nos preocupar com o enfretamento local, pois não queremos transformar a luta contra essa reforma universitária em uma luta que tenha como fim tentar derrotar o governo Lula. Acreditamos nesse enfretamento pela defesa de uma universidade pública e gratuita, no qual o ME deve cumprir um papel protagonista. Ignorar essa nova fase de luta contra essa reforma e ficar buscando somente o debate mais geral só serve para aqueles que querem fazer sua autoconstrução e têm pouco compromisso com a luta real do ME brasileiro. O PROUNI as Universidades Pagas: combater os tubarões do ensino. A luta pelo direito de estudar! A grande maioria dos estudantes brasileiros estuda nas universidades privadas, sejam elas filantrópicas, comunitárias ou com fins lucrativos. A expansão do ensino privado no Brasil chega a mais de 80% das matrículas no ensino superior. Nesse sentido, entendemos necessário o Movimento Estudantil ter uma pauta de luta para os estudantes dessas instituições.

No entanto, acreditamos que a luta nas universidades pagas deve estar em sintonia com o nosso objetivo estratégico, ou seja, a Universalização do Ensino Público e Gratuito. Dessa forma, cada vez, menos pessoas necessitarão pagar

para estudar, pois temos como princípio a educação como um direito, nunca devendo servir como mercadoria.

O setor da educação privada é o terceiro setor que mais lucra no mercado brasileiro, por conta das verdadeiras fábricas de diplomas que encontramos em cada esquina. As chamadas filantrópicas, comunitárias, têm a obrigação de garantir 20% de seu lucro em ações sociais, como bolsas, atividades comunitárias, etc... O problema é que essa definição abre a possibilidade de se justificar muita coisa em nome da filantropia. Ou seja, a maioria das filantrópicas maquia as “ações sociais” que garantem a elas esse título e passam a exercer a “Pilantropia”.

Com o resultado de anos de privatização e elitização do ensino superior grande parte da juventude brasileira está à margem do ensino superior. O governo se aproveitou dessa exclusão e usou o caráter populista do PROUNI para buscar apoio nesse programa. Primeiro que estabeleceu uma lógica que qualquer coisa serve para esses setores; segundo que, cerca de 100 mil estudantes entraram por esse mecanismo e não podemos deixar de fazer o debate fraterno com esses estudantes sobre a questão central do PROUNI. Esse programa garante o desvio de verbas públicas e a legalização dos lucros dessas universidades. Em muitas universidades já houve a “migração” de filantrópicas para privadas, pois agora, com o PROUNI, pagam menos impostos. Universidades, como a Estácio de Sá, já optaram por esse mecanismo, o que permite a elas uma maior margem de lucro e a possibilidade de maiores aumentos de mensalidades. Esse ponto é fundamental para mostrar que a desregulamentação que esse programa promoveu nas universidades privadas e o favorecimento que esse setor teve com essa medida. Outro ponto polêmico que afetou grande parte dos estudantes de escolas pagas foi a redução do número de bolsas e o corte de bolsas concedidas aos estudantes já matriculados antes do PROUNI. Com esse programa o percentual de bolsas foi reduzido e, agora, sendo obrigatório somente para aqueles que fizeram o vestibular. Isso deixou milhares de estudantes sem possibilidade de continuar seus estudos. Não podemos titubear nesses casos e abrir um amplo processo de luta nessas universidades para garantir o retorno dessas bolsas. Além do mais, não dá para abrir mão de que a qualidade de ensino seja garantida, e de que haja democracia interna, com eleição de dirigentes e participação dos estudantes de forma paritária nos conselhos, além de um novo tipo de crédito educativo que beneficie o

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estudante, e não a instituição, com verbas oriundas de fundos não públicos, como depósitos compulsórios dos bancos no Banco Central.

É necessário o fim do FIES (Financiamento Estudantil), pois este, além de vir de verbas públicas, acaba por endividar o recém formado, favorecendo muito mais os bancos pelos seus altos juros. É possível cobrar taxas dos donos de escolas pagas e, com elas, custear o ensino de quem não consegue vagas em universidades públicas. Acreditamos que outras medidas devem ser adotadas para solucionar o problema dos estudantes das privadas. A exigência de bolsas vinculadas aos lucros dessas universidades é uma delas. É urgente uma nova lei de mensalidades que regule os sucessivos aumentos abusivos de mensalidades e que assegure a não punição do estudante inadimplente, pois o acesso à educação é um direito. Ainda, é fundamental combater os cursos seqüenciais nas privadas e reivindicar qualidade na educação com a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Todas essas lutas dos estudantes das escolas pagas têm um caráter emergencial, de garantir a permanência na escola. É preciso lutar incessantemente pela garantia de ampliação do acesso às atuais universidades públicas (com a criação de novas vagas, principalmente em cursos noturnos), além da criação de mais universidades para as regiões mais necessitadas do país.

Não a mercantilização do ensino; Verbas públicas somente para a

educação pública; Pela Revogação do PROUNI; Pelo fim do FIES. Empréstimo bancário

não dá! Redução de mensalidade! Inadimplência não é crime. Pelo direito

ao acesso e permanência nas universidades; Por bolsas concedidas pelos lucros das

universidades privadas; Pela abertura dos livros caixas,

publicação da planilha de custos; Pela ocupação de vagas ociosas nas

universidades privadas sem ônus ao Estado; Pelo fim dos cursos de dois anos, pela

qualidade de ensino e setores em luta; Por uma nova lei de mensalidades; Lutar pela proibição de financiamento de campanhas eleitorais por parte das mantenedoras de universidades privadas; Pela restrição do capital estrangeiro da universidade; Garantia de liberdade para organização sindical e estudantil e espaço físico para DA’s, CA’s, DCE’s, UEE’s;

A Lei de Inovação Tecnológica O enfretamento a medidas semelhantes a essa já tem grandes proporções em muitas universidades, como a luta contra a privatização interna através das fundações de direito privado. Nessas fundações, boa parte dos professores já fazia pesquisa privada e abandonavam as salas de aula. A Lei de Inovação Tecnológica agrava esse quadro e terá uma força muito grande nos cursos de tecnologia. É preciso combater a formação de empresas de base tecnológica (dos próprios professores) para fins de cumprir essa parceria de financiamento privado de pesquisas nas universidades públicas. Lutar contra o afastamento dos professores para empresas privadas com finalidade de produzir pesquisas privadas. Impedir contratos das universidades com empresas privadas para utilização das dependências públicas para a produção de pesquisas privadas. É preciso denunciar ainda a garantia de exclusividade das empresas privadas que financiam a pesquisa, inclusive com a “mordaça” dos professores e estudantes que não serão permitidos divulgar os resultados das pesquisas. Ainda, essa lei irá concretizar a prestação de serviços na universidade, compreendendo o estudante como mão-de-obra, principalmente, se combinarmos as conseqüências dessa lei à proposta de primeiro emprego acadêmico contida no Anteprojeto de Lei para as Universidades Brasileiras. Certamente, boa parte desses contratos de gestão e de produção de pesquisa deverá passar por colegiados e conselhos das universidades. O ME deve estar organizado para fazer o debate e o enfretamento necessário nesses espaços, compreendendo a hegemonia conservadora que temos na maioria de nossas universidades. O enfretamento a essa lei não será fácil, pois boa parte dessa política já foi implementada nas universidades no período de Paulo Renato/FHC. Mesmo assim, devemos estar preparados para conseguir vitórias locais como já conseguimos em outras vezes como o caso da Fundação Baiana de Cardiologia ou com os cursos pagos na Federal de Santa Maria e em todos os lugares que já combatíamos a privatização interna das universidades públicas.

Pela revogação da Lei de Inovação Tecnológica;

Pelo fim das fundações de direito privado; por orçamento global nas universidades;

Pelo fim das agências de fomento e pela destinação de suas receitas diretamente para as universidades;

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Pela extensão universitária gratuita e em todos os campos do saber;

Pelo reajuste e ampliação de todas as bolsas de pesquisa.

O Anteprojeto de Lei Orgânica para as

Universidades Brasileiras Em dezembro de 2004 o MEC divulgou, oficialmente, o anteprojeto de lei orgânica para as universidades brasileiras. Primeiramente, é importante perceber que o MEC tenta resumir a reforma universitária a essa lei e isso representa um grande equívoco, pois não podemos esquecer das medidas aprovadas no ano de 2004. Sem dúvida com um projeto finalizado o processo de debate político muda de forma, principalmente, pelo método de debate pouco definido pelo MEC. Quando foi divulgada a lei, o MEC tinha o prazo de emendas até o dia 15 de fevereiro e devido à pressão de diversas entidades foi prorrogado até dia 1º de abril. Se o MEC pecou ao encaminhar medidas em separado durante o ano de 2004, para mascarar a reforma universitária em curso, desta vez, pecou pelo tamanho e o conteúdo da lei. Muito do anteprojeto já é lei ou garantia constitucional que não precisava ser repetido. Entretanto, isso é fundamental para buscar uma máscara mais progressista ao anteprojeto, e faz com que o MEC confunda o que é política e o que deve ser lei. Esse é um dos problemas centrais da proposta, pois grande parte das boas medidas que constam do projeto poderiam ser resolvidos com vontade política do executivo. Quando da ocasião do lançamento do anteprojeto, o setor das universidades privadas em conjunto com a grande mídia promoveu um verdadeiro ataque à proposta. Esse ataque tem como foco a tentativa do MEC de promover algumas regulamentações frente ao ensino superior privado. Não é pelo motivo que a direita e os tubarões do ensino estão combatendo o anteprojeto; é que, por si só, dará um mérito progressista ao anteprojeto. Não podemos confundir o ataque da direita em defesa de suas regalias com os avanços para a educação brasileira. A gritaria geral dos donos de universidades deve-se, principalmente, ao fato de que eles não estão a fim de abrir mão de nada e sabem, muito bem, o seu peso político na hora de encaminhar essa lei no congresso nacional, como vimos com o PROUNI. Esses ataques não transformam o projeto em uma proposta de esquerda ou avançada.

É certo que o projeto traz alguns pontos positivos no que diz respeito à regulamentação do ensino privado e ao financiamento do ensino público. Isso sem dúvida foi fruto a pressão política que o ME impôs ao MEC no ano de 2004, promovendo uma verdadeira “perseguição” ao ministro Tarso Genro. Contudo, existem questões

extremamente polêmicas e centrais na proposta que complicam o caráter mais geral do texto.

Nesse contexto, fica inviável fazer somente o debate de mérito sobre a lei, pois dessa maneira estaremos fazendo coro com os tubarões de ensino que querem derrubar os poucos pontos positivos que constam da lei ou mesmo modificá-los de maneira a favorecê-los. Sabemos que hoje eles têm força política para aprovar o que quiserem. Ao mesmo tempo, não podemos hipotecar o apoio a esse projeto que altera algumas estruturas centrais do ensino superior e que comprometem conquistas históricas do movimento de educação.

Percebemos que o cenário exige que tenhamos um debate sobre o mérito da lei e um debate sobre a correlação de forças na sociedade e a tática para se efetivar mudanças na educação brasileira. Reafirmamos que a atual conjuntura, não favorece tais mudanças estruturais no sentido das reivindicações do movimento de educação e que se deve trabalhar para acumular forças para poder deslocá-la para a esquerda. O próprio governo se apropria desse debate para justificar as políticas de continuidade, as quais ele não teria força suficiente para mudar.

Uma análise geral do anteprojeto

O problema central dessa proposta é o

abandono das idéias de se reverter o quadro de desmonte do ensino superior feito pelo modelo neoliberal e simplesmente buscar uma regulamentação para que ele funcione melhor. Ao propor tais medidas a lei acaba por aceitar e legitimar estruturas que foram construídas pelo modelo neoliberal. Se for certo afirmarmos que a lei não é um aprofundamento do modelo, é certo dizer que faz muito pouco para revertê-lo.

O projeto está dividido em 100 artigos e que existem pontos positivos, dúbios e inconclusos e negativos. Dos pontos positivos vale destacar a retirada dos aposentados e pensionistas da folha da educação que representa um avanço, porém, traz um impacto orçamentário imediato que, se não for acompanhado de reajustes anuais em poucos anos voltaremos aos patamares atuais. A tentativa de restrição do capital estrangeiro na educação é fundamental para enfrentar a questão dos acordos da OMC e mesmo da negociação da ALCA e, por último, estabelecer regras claras para algumas normas de funcionamento e credenciamento das instituições privadas é positivo. Contudo, as medidas ainda são extremamente limitadas, não discutem questões como as mensalidades e colocado em conjunto com o ensino público

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acaba por empurrar lógicas do ensino privado para o público.

Estes pontos dúbios ou inconclusos deixam margem para grandes dúvidas e abrem lacunas que podem ter sido deixadas, de propósito ou não. Porém, não queremos aqui fazer uma avaliação de juízos e de valores sobre essas iniciativas. A questão do orçamento global é uma reivindicação histórica, porém da forma em que está estabelecida na lei deixa muitas dúvidas. Não fica claro se as universidades terão a opção de não receber o orçamento global, ficam vagas no texto o papel e o fim das fundações, além de outras questões. A estimativa de se expandir o ensino público para 40% do total das vagas do ensino superior aparentemente é positivo, porém a lei define ensino superior em vários cursos o que não garante que essa expansão seja na graduação, ou mesmo, a lei não diz se serão presenciais e, principalmente, não decorre como será financiada essa expansão. Ainda, fica em aberto o ensino à distância, pois poderá ser compreendido como uma forma de expansão, pois, essa é uma pressão muito forte dos tubarões do ensino.

A questão do orçamento das universidades é um ponto que o MEC vem fazendo muita propaganda, mas na verdade, não tem impacto nenhum se a política econômica for mantida. A subvinculação de 75% dos 18% destinados à educação não garante um acréscimo de recursos. Os dados coletados pela ANDIFES na secretaria de orçamento e planejamento do MEC mostram que hoje já são gastos cerca de 78% dos 18%. Isso porque a Desvinculação de Receitas da União – DRU – retira recursos para pagamento de juros da dívida antes das divisões constitucionais. Vale lembrar que a DRU foi prorrogada pelo Governo Lula até 2007 e que isso é ponto central da política econômica do Palocci e, o pior, é que não dá sinais que será alterada.

Os pontos negativos da lei têm como alvo principal as universidades públicas. Podemos começar com a indicação do Conselho Nacional de Educação- CNE - como órgão regulador do sistema federal de ensino superior. Esse órgão foi criado de maneira a favorecer os empresários da educação e tem em sua composição uma grande hegemonia. Sem uma reformulação do CNE é impossível aceitar que ele seja responsável por essa tarefa.

A lei institui uma nova forma de organização do ensino superior brasileiro criando o sistema federal de ensino superior. O grande problema desse ponto é que o MEC coloca as instituições públicas e privadas a cumprirem o mesmo papel frente à sociedade. Uma das conseqüências disso é o abandono da bandeira da universalização do ensino público. Na própria lei coloca que a busca de universalização o ensino privado deve cumprir essa função pública. Não somos contra que o Estado regulamente o ensino privado, pelo contrário, mas

isso, de maneira alguma, pode se ocorrer nos mesmos moldes da universidade pública.

Desta maneira existe uma busca de critérios para criação e reconhecimento de instituições. Criam-se novas regras para definição de Universidade, Centros Universitários e Faculdade. O primeiro problema é instituir os centros universitários como uma das modalidades de organização. Esse modelo foi derrotado na LDB e teve que ser instituído por decreto. Torna-se mais preocupante quando a lei define que existirão centros universitários federais.

A lei, ao buscar alterar o artigo 44 da LDB, transforma todos os cursos pós-médios em ensino superior. Isso representa uma fragmentação dos cursos de ensino superior e traz alguns problemas no que diz respeito aos cursos seqüenciais. Ao tentar retirar o status de pós-graduação das especializações e afetar diretamente a iniciativa privada, ela permite que a universidade pública possa efetivar esse curso de maneira paga. Na lei um ponto preocupante é a garantia de gratuidade somente para a pós-graduação e graduação. Não podemos aceitar isso, pois é o rebaixamento do artigo 206 da Constituição Federal de 1988 que garante gratuidade a todos os cursos de ensino superior em estabelecimentos oficiais.

Para terminar, devemos fazer uma crítica ao caráter limitado que a proposta tem em mudar as estruturas de gestão da universidade. A bandeira pela democratização da gestão da universidade é antiga e a lei passa por cima dessa demanda, garantindo a hegemonia docente nos órgãos de decisão. Além desse ponto, a lei não toca nas mudanças estruturais da universidade, no que diz respeito, a pedagogia e organização interna.

Chegamos à conclusão do caráter limitado da lei que mescla pontos positivos com pontos negativos. Percebemos o limite que a lei tem em reverter a organização neoliberal promovida por Paulo Renato/FHC e promove uma limitada tentativa de regulamentação, acabando por legitimar as lógicas impostas pelo modelo neoliberal. Nesse contexto, os pontos positivos se diluem na lei e perdem boa parte do seu caráter progressista. Sem dúvida, a melhor forma de efetivar tais medidas seria um comprometimento maior de ações do executivo que caminhem nessa direção.

Pare essa Reforma Universitária! Não ao envio da lei orgânica ao

Congresso Nacional Durante o ano de 2004 vimos o processo de reforma universitária ser iniciado com medidas polêmicas atacando a educação

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pública. Já no inicio desse ano foi possível visualizar que era impossível aprovar qualquer reforma progressista devido à conjuntura geral do movimento social e do governo. Esse quadro se agravou com a aprovação das medidas já citadas e ficou ainda pior com a eleição do Dep. Severino Cavalcanti (PP-PE) para a presidência da Câmara dos Deputados. A inviabilidade de se encaminhar qualquer reforma ao Congresso Nacional é adversa por três fatores centrais: 1- as opções do governo e a conjuntura dos movimentos sociais; 2- a divisão do movimento social sobre o tema; 3- o caráter conservador do congresso nacional. Acreditava-se que o governo Lula iria deslocar a correlação de forças para esquerda e, com isso, o refluxo dos movimentos sociais poderia se encerrar. Dessa maneira teríamos como encurralar a elite do país e conseguir reformas que ampliassem o direito da maioria da população. Aconteceu ao contrário! O Governo optou por uma política conservadora que afastou parte de sua base social, não enfrentou a direita e preferiu a lógica de aproximação com alianças polêmicas e com isso pouco mudou no refluxo dos movimentos sociais. Com a manutenção da hegemonia do capital financeiro fica improvável que esse setor irá fazer concessões a maioria da população. O que se confirma é exatamente o contrário: buscam mecanismos para ampliar sua hegemonia e retirar as poucas garantias e direitos que os setores populares possuem. Diante disso, fica muito arriscado abrir qualquer processo de transformações estruturais em um período em que seus inimigos estão mais fortalecidos e tem todas as armas para vencer a guerra. Podemos acabar “com o feitiço virando contra o feiticeiro”. Diante das opções do governo o movimento social, além de continuar no refluxo, acaba sendo afastado e entrando em crise com governo. Isso leva termos diferentes análises sobre o caráter do governo e sobre qual tática deve ser adotada frente a ele. A proposta de reforma universitária é um desses pontos que divide o movimento social. A proposta governamental não tem uma opinião única no movimento social e por isso deixa ainda mais desfavorável a possibilidade de se enfrentar a hegemonia do capital e aprovar qualquer que seja o projeto de reforma que se aproxime de nossas bandeiras históricas. Pois isso, não permite ampla mobilização social que supere a correlação de forças desfavorável no Congresso Nacional. Portanto temos um quadro de refluxo e divisão dos movimentos sociais e ampla hegemonia do capital na sociedade. O Congresso Nacional é um terreno pantanoso e o berço dos favorecimentos para elite brasileira. Dessa maneira o poder político-social, para enfrentar a batalha nesse terreno, torna-se extremamente desfavorável para uma briga político-ideológica. Portanto, seria um

suicídio político levarmos ao congresso nacional qualquer proposta de reforma universitária, independente do mérito da proposição, pois seu resultado final irá estar mais próximo das pautas da elite brasileira do que da necessidade da maioria do povo brasileiro. O anteprojeto jamais será aprovado da forma como está. Não será possível garantir, nem mesmo, os pontos positivos que ele contém. Isso só vai acontecer se o MEC enxugar o mesmo, ou seja, retirar os pontos que estão “comprando a briga” com os tubarões do ensino. Por isso, devemos decretar uma moratória tática para a reforma universitária, exigir que o governo pare esse processo de reforma universitária e não envie o anteprojeto ao congresso nacional. Isso NÃO quer dizer que achamos que o governo deve ficar parado ou que tudo deva ficar como está. Acreditamos que ele deve usar sua força político-social casada com ações do executivo, que não dependa do congresso nacional, para deslocar a correlação de forças para a esquerda e garantir melhorias na educação brasileira. Para isso, algumas iniciativas que estão no anteprojeto podem ser efetivadas como ação de governo a curto e médio prazo. Questões como o orçamento global, as regras de aberturas de cursos, a ampliação do número de vagas no ensino superior publico, o aumento de verbas, e outras medidas são perfeitamente possíveis de serem implementadas, sem depender da correlação de forças do Congresso Nacional. A realização de uma Conferência Nacional de Educação Superior, para aprofundar o tema, seria de grande importância. Nesse processo, poderíamos definir quais as ações prioritárias do governo, iniciarmos um processo que possa reverter o atual quadro e abrir caminho para uma possível reforma universitária. Essa iniciativa deve ter hegemonia da sociedade civil e do movimento de educação para que ela possa servir como alavanca de impulso para os movimentos sociais. Acreditamos que seja urgente congelar esse processo sob o risco de estarmos entregando aos donos de escolas privadas o papel protagonista dessa reforma universitária. Caso o governo mude suas opções políticas, altere os rumos da política econômica e inicie a recomposição de perdas e desmonte do ensino público, poderemos retomar a luta por uma reforma na universidade brasileira.

Pare essa Reforma Universitária! Não ao envio do anteprojeto ao Congresso Nacional;

Por uma conferência nacional de educação;

Derrubada dos vetos do PNE;

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7% do PIB para a educação; Retirada da DRU da educação; Plano Nacional de Assistência Estudantil com

rubrica própria – recuperação dos restaurantes universitários e moradias estudantis;

Paridade já! Eleições de dirigentes e composição dos conselhos de forma paritária;

Expansão de 40% vagas presenciais nas públicas até 2011;

Gratuidade em todos os níveis; Pelo fim dos cursos pagos e seqüenciais na

universidade pública; Não ao ensino a distância como meio de

mercantilização do ensino e único meio de formação;

Ampliação e reajuste do PET para outros cursos;

Cotas raciais e sociais por curso e por turno;

O PAPEL DO MOVIMENTO

ESTUDANTIL

Introdução O grande questionamento que existe hoje na maioria da militância estudantil é: como esse movimento, que já cumpriu tantas batalhas históricas, pode hoje ter um papel secundário? Para não cairmos nem no espontaneísmo, nem no vanguardismo, precisamos fazer um diagnóstico sobre o ME. A partir daí, elaboraremos uma estratégia e uma tática de atuação que não só supere a crise, mas que recoloque o ME à frente das grandes lutas da educação e ao lado da classe trabalhadora. O Movimento Estudantil como Movimento Social O movimento estudantil consiste em uma parcela da sociedade que se organiza a partir de um “lócus”, que é a escola ou universidade. Essa parcela da sociedade não é uma classe social. Os estudantes são uma categoria social que vivencia uma realidade e demandas específicas e gerais dentro de um mesmo local. A partir desta realidade social é que surge a sua organização e sua intervenção na sociedade. Desta maneira, o ME possui suas particularidades. A primeira delas é de ser policlassista, ou seja, existem estudantes e grupos de todas as classes sociais. A segunda, é a sua transitoriedade, ninguém é estudante para sempre. Essas características são fundamentais para debatermos e entendermos a ação do ME como movimento social. Dessa forma, o ME não possui uma origem (e uma formação) classista que o coloque no centro da luta de classes, o que traz e impõe limites à

organização estudantil. É através da opção política de parcela dos estudantes, prioritariamente dos seus dirigentes, que o ME se insere, ou não, na disputa geral da sociedade. Compreender esse caráter não-classista é necessário para percebemos a amplitude de sua base social, fruto de um processo histórico de exclusão dos segmentos populares. Estes elementos são fundamentais para se pensar as táticas de organização. Desta maneira, não adianta reproduzirmos métodos de organização do movimento sindical ou campesino para o ME, achando que iremos solucionar os seus problemas. O movimento estudantil deve produzir maneiras próprias de organização, o que não impede a realização de atividades em conjunto com os demais movimentos, visando troca de experiências. Durante a década de 60, o caráter do ME foi exaustivamente debatido. Existiam aqueles que defendiam a linha do ME-Partido, no qual somente os militantes de esquerda e socialista eram considerados militantes do ME. A linha majoritária considerava que o ME tinha que ser um movimento de massas, no qual todos os estudantes podiam fazer parte dele. O que não impossibilitava que aqueles (as) que eram de esquerda e socialista, disputassem as suas concepções e propostas e que o movimento pudesse ser dirigido pelos mesmos – o que de fato, o foi em quase toda a história das entidades nacionais.

Acreditamos que o ME deva ser de massas, onde todos os estudantes podem propor e construir o movimento. Contudo, não abriremos mão das nossas posições e opções: acreditamos na luta de classes e, frente a ela, temos lado e partido: o dos trabalhadores (as). Disputaremos nossa política em todos os espaços que atuarmos, pois é desta forma que disputamos hegemonia. Não escondemos de ninguém a nossa filiação e opção partidária, construindo a corrente e o partido nos movimentos sociais. É por isso que, apesar de assumirmos ser o movimento policlassista, acreditamos que as entidades devem ter lado, com nítido corte ideológico.

Voltemos à segunda particularidade do ME, a transitoriedade. Ela faz com que o movimento seja marcado por uma extrema dificuldade na transmissão de sua história, seus métodos de organização, suas pautas e etc. Ao contrário do movimento sindical, campesino ou partidário, nos quais seus militantes têm 10, 20,30 (...) anos de militância, o estudante não fica mais do que quatro ou cinco anos no “lócus”. Desta maneira, muitos saem da universidade sem conseguir transmitir o acúmulo adquirido em seus anos de atuação. Entender

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essa particularidade é muito importante na caracterização do ME e na posterior organização nas entidades e frente à sociedade. Essas duas características acima levam o ME para uma terceira particularidade, a conjuntural. O ME vem sendo determinado pela conjuntura e pouco consegue intervir e atuar nela para alcançar seus objetivos, como outros movimentos fazem. Ou seja, se a conjuntura é favorável às mobilizações, o ME pode mobilizar. Se não, ele tem pouca capacidade de sair do refluxo.

Hoje, isso torna o ME refém da realidade, dificultando que ele seja um dos sujeitos dela. Contudo, ao contrário das condições e das conseqüências de ser policlassista e transitório, a questão conjuntural pode ser superada com uma eficaz pauta e uma (re)organização das entidades estudantis, principalmente no que diz respeito a combater a falta de transmissão de sua história e experiência entre as gerações e as direções do Movimento Estudantil.

Um diagnóstico atual do Movimento Estudantil Que fatores perversos são esses, que fazem hoje as entidades nacionais, patrimônios da história, viverem uma crise que a muito deixou de ser uma crise de representatividade, chegando a ser uma crise de legitimidade? Os estudantes não só não vêem seus interesses representados, como a maioria não sabe o que é ou não reconhece UNE/UBES enquanto suas entidades, e instrumentos coletivos de organização. A sociedade não tem mais estas entidades como referências de rebeldia e contestação. Muitos acham que as entidades estudantis e o movimento como um todo, são propriedades de alguns, “os que mexem com política” ou “os estudantes profissionais” e que, portanto, não devem se aproximar nem se envolver, já que não é coisa sua. Ou passam a fazer parte das entidades para torná-las em clubes de amigos ou simplesmente entidades festivas. Mas, qual é o diagnóstico dessa crise? Ou melhor, que fatores determinam essa crise? Atribuímos, então, à crise, quatro fatores: * as especificidades próprias do ME; * a conjuntura desfavorável à organização coletiva; * a estrutura anacrônica, verticalizada, centralizada e burocrática e; * a sua atual direção imobilista e antidemocrática. Sobre as especificidades do ME, tratamos em suas características como movimento social. Salientamos que o costume da transmissão da experiência é uma das condições objetivas para evolução da organização estudantil. Além das dificuldades intrínsecas à sua lógica, o movimento enfrenta um problema comum a todos os movimentos sociais: a conjuntura desfavorável à organização coletiva. Todos os

movimentos sociais sofrem, cotidianamente, a dificuldade de organizar as pessoas numa sociedade impregnada pela ideologia neoliberal, baseada na lógica do individualismo, do consumismo, do imediatismo e da competição. Nos anos 90, o único movimento que não sofreu do mal do refluxo foi o MST, que absorveu o desempregado das grandes cidades. O terceiro motivo é a estrutura da maioria das entidades, baseada no tripé assembléia-conselho-diretoria verticalizada. Essa estrutura remonta aos sindicatos pelegos da década de 50. Além de ser antiga, foi uma mera transposição do modelo sindical para o estudantil. Este tripé é importante e deve ser usado, mas enquanto único método de organização coletiva é insuficiente, pois a participação dos estudantes se restringe basicamente à decisão do voto e da maioria. Assim, não incorpora, neste processo, a lógica das construções permanentes, de responsabilidade com as decisões e com o acúmulo coletivo, o que acaba sobrecarregando algumas diretorias. Os GT’s – Grupos de Trabalhos - adotados por inúmeras entidades sindicais, são modelos de trabalho permanente e de acúmulo coletivo da entidade, representando formas positivas de organização. Dessa forma, UNE/UBES muito pouco evoluíram e muito pouco sua atual direção majoritária faz para mudá-las. Cabe ressaltar que a última mudança real na estrutura da UNE foi a proporcionalidade criada nas gestões Petistas. A estrutura verticalizada atual incute a lógica autoritária de poder e de responsabilidade individual com as pastas/diretorias. Nada temos contra direção e hierarquia, contudo, ela deve ser democrática. As experiências de outras entidades do movimento estudantil e da própria FASUBRA – Federação Nacional dos Técnico-administrativos nos mostra que o modelo organizativo por coordenadorias e GT’s concretiza mais eficácia, elaboração e compromisso coletivo. Existem entidades presidencialistas que adotam estruturas que visam uma descentralização do poder. O certo é que, da forma que está a estrutura, ela impede um processo de organização coletiva e plural. O ME precisa fazer este debate sobre suas estruturas. Além do debate a respeito da estrutura em si, existe o problema dos fóruns do ME. Nos últimos sete anos, somente um Conselho Nacional de Entidades de Base (CA’s/DA’s) ocorreu. Enfim, a crise estrutural da UNE é profunda. A análise mais profunda da crise de estrutura nos leva ao último diagnóstico, da crise: a atual direção majoritária da UNE/UBES e hegemônica no movimento (UJS/PCdoB). Essa

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estrutura reflete uma política que é encaminhada na entidade durante os últimos quinze anos. A política é a seguinte: manter o aparelho é meta prioritária e de maior importância, antes mesmo da própria mobilização estudantil. Desta maneira, a direção majoritária permanece encastelada e pouco pode influenciar nos rumos e decisões do movimento. O papel do movimento estudantil nas lutas sociais

Como movimento social organizado, a partir de uma realidade social limitada e concreta, o ME tem como seu palco principal a intervenção na educação. A disputa entre os diferentes projetos e concepções de educação guarda estreita relação com a disputa de projetos de Estado e sociedade. Dentro das instituições de ensino é possível perceber, embora muitas vezes silenciosa e camuflada pela “neutralidade educacional”, a disputa de projetos de sociedade. É importante o Movimento Estudantil elaborar e construir bandeiras e ações concretas para que possa impulsionar a unidade dos movimentos sociais, afirmando nossa pauta específica atrelada à pauta geral que aglutina os Movimentos Sociais. A luta contra a mercantilização da educação está vinculada ao combate à ALCA, o debate acerca da reforma dos currículos e do processo de formação profissional não ocorre deslocado da discussão sobre as condições de trabalho e, consequentemente, das discussões sobre a reforma trabalhista.

Não podemos deixar que os debates das pautas específicas caiam na miopia política, onde as questões da educação não estão interligadas com as condições gerais da sociedade. É por isso que combatemos o “economicismo sindical”. Segundo a definição gramsciniana, a educação consiste em um aparelho privado de hegemonia. Desta forma, a disputa desse aparelho está diretamente ligada à disputa de hegemonia da sociedade.

Todos os movimentos sociais disputam parcela da sociedade. Essas disputas, em seus respectivos “lócus” de atuação, devem estar diretamente interligadas a suas concepções de sociedade. Cabe aos movimentos sociais que lutam pelo mesmo modelo de sociedade se aliarem para as disputas específicas e para as disputas gerais. Nenhum movimento social será vitorioso se carregar somente sua pauta corporativa. Dessa maneira, acreditamos que o ME deva se aliar aos trabalhadores e aos oprimidos pela superação do modo de produção capitalista. Deve ser aliado do MST pela reforma agrária, do movimento sindical na defesa dos direitos trabalhistas e sindicais, como os demais movimentos e entidades populares devem ser nossos aliados na luta pela educação pública e gratuita. O ME não

pode se fechar dentro das universidades, mas não pode se esquecer das lutas específicas, pois é através da luta naquele espaço que este pode se inserir nas lutas gerais.

Atual gestão da UNE:

Um balanço necessário!

Estamos nos aproximando do próximo

Congresso da UNE e percebemos que a situação de nossa entidade não mudou durante essa gestão. O desrespeito aos fóruns com esvaziamento político dos debates no interior da entidade, o “aniversário” de sete anos sem a realização de um conselho de entidades de base, a centralização das decisões e construções da entidade são marcas da política de sua direção majoritária UJS/PCdoB que se apresenta no 49º CONUNE com o nome “Na Pressão pelas Mudanças”. Contudo, a situação se agravou no último período com o atrelamento à pauta do governo e a “institucionalização” da entidade.

No ano passado a situação se aproximou do caos com adiamento do 53º CONEG e com a convocação desse conselho para agosto, no meio do período eleitoral, logo após os encontros de área e do recesso da maioria das universidades. Mais uma vez assistimos ao “espetáculo” do autoritarismo quando, novamente, a UNE não convoca o CONEB (Conselho Nacional de Entidades de Base), motivo pelo qual o CONEG (Conselho Nacional de Entidades Gerais) terminou com a agressão aos militantes dos campos de oposição pela segurança contratada pela direção majoritária, ou seja, de maneira lastimável.

As reuniões da entidade praticamente não aconteceram. Convocadas de última hora, muitas vezes, não conseguem cumprir a necessidade da pauta do movimento estudantil e inviabilizam a presença de grande parte da diretoria. A executiva da UNE praticamente não se reuniu. Se em gestões passadas esse era o único fórum que se reunia com freqüência, no ano passado ela se reuniu em ampla maioria das vezes graças à pauta do governo. Foi PROUNI, RONDON e outras pautas que sempre eram o centro das decisões. Isso leva a entidade a perder seu papel protagonista em intervir na conjuntura e assumir, meramente, um papel coadjuvante.

Para completar essa situação, a BIENAL veio “coroar” o final de uma gestão com o isolamento dos campos de oposição, por parte da direção majoritária. Sem fazer nenhum tipo

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de debate, a BIENAL serviu para a direção majoritária lançar sua tese pré-congresso da UNE. A comissão criada pela diretoria da UNE para discutir a BIENAL não se reuniu nenhuma vez. Dessa maneira, tivemos uma BIENAL esvaziada e com pouco impacto no movimento estudantil organizado.

A “institucionalização” da UNE Por diversas vezes vimos a direção

majoritária da UNE abrir mão do papel reivindicatório da entidade para assumir, meramente, um papel de uma ONG de ação social. Por outras, vimos assumir parcerias com setores conservadores e atrasados da sociedade que historicamente são combatidos pelo movimento social brasileiro, como a Rede Globo. Mas o mais revoltante é ver a direção majoritária da UNE servir cafezinho para o ministro Tarso Genro.

Grande parte das construções da UNE não conseguem ou não se tem interesse de ser auto-financiada pelo ME. Isso é condição fundamental para garantir a autonomia do movimento estudantil frente a qualquer instituição. É certo que assumir algumas parcerias com o poder público para realização são legítimas. Contudo, assumir essa parceria para somente defender a posição do governo federal é atrelar a entidade ao governo. A direção majoritária vem usando a UNE inúmeras vezes, somente para se inserir ou defender a pauta do governo. O atrelamento é nítido!

Uma dessas atitudes foi o projeto Rondon que foi usado pela ditadura militar para buscar cooptar os estudantes, principal foco de resistência à ditadura, para defender o regime. Independente de qual seja o governo, é um absurdo o uso da máquina pública para buscar cooptar o movimento social e atrela-lo ao governo. Desde que se começou a discussão desse projeto no interior do governo, a direção majoritária da UNE levou a entidade a defender “cegamente” essa iniciativa, onde nem mesmo criticou o antigo nome empurrando o movimento estudantil à condição de “ONG” responsável em propagandear e arregimentar os estudantes a participarem do projeto. Sem dúvida não é esse o papel que a UNE deve cumprir frente ao governo federal.

No debate da reforma universitária a direção majoritária da UNE foi a maior defensora das propostas do governo no movimento. Junto a eles, aliou-se mais o campo Mudança os quais rasgaram muitas bandeiras históricas do ME. A política desses setores contribuiu para paralisar o movimento estudantil, evitando as mobilizações e o enfrentamento necessário para o momento. Deixando a UNE fora das ruas e das mobilizações e, colocando-a, a servir cafezinho nos gabinetes verdes do Planalto.

O projeto de Memória do Movimento Estudantil é mais uma iniciativa na qual a direção

majoritária da UNE abrem mão do papel protagonista da entidade. Esse projeto seria uma importante iniciativa de resgate da história do ME e de trazer a história que nossos inimigos tentam apagar. Ao contrário disso, foi entregue a Fundação Roberto Marinho, através de uma parceria, a tarefa de receber, organizar e coordenar esse projeto. Essa fundação, que é vinculada a Rede Globo, terá o papel de reescrever a história do ME, tendo a UNE apenas como papel de vitrine do projeto. Mais grave do que isso é entregar a um inimigo histórico e defensor da ditadura militar o trabalho de fazer esse resgate. A UNE não pode deixar que seus “carrascos” sejam seus historiadores.

A Bienal da UNE é outra iniciativa que traz a polêmica aliança entre a direção majoritária e a Rede Globo. Além da falta de democracia interna na construção desse evento a opção foi colocar o maior símbolo da desqualificação cultural do país como o principal parceiro de um evento que deveria fortalecer a resistência da cultura popular e combater a cultura massificada. A Rede Globo é o maior símbolo do monopólio das comunicações e um dos maiores inimigos da luta dos movimentos sociais pela democratização da comunicação. Suas histórias são conhecidas na manipulação da opinião pública como na eleição presidencial de 1989.

Outro debate que precisa ser feito é sobre as carteiras estudantis. Nós defendemos o direito a meia-entrada e que exista uma forma de unificar as carteiras em nível nacional. Repudiamos a atitude que o ex-Ministro da Educação, Paulo Renato, editou uma Medida Provisória que atacava o movimento estudantil e acabava com a meia-entrada. Da mesma maneira repudiamos setores da sociedade que criam entidades fantasmas e cartoriais para fazer carteiras e extorquir o dinheiro dos estudantes brasileiros. Essa é uma luta que o movimento estudantil deve travar de maneira unitária. Com certeza, nessa gestão, a direção majoritária da UNE rompeu com o acúmulo e história da UNE, na luta contra os monopólios da comunicação, a luta da cultura popular e a luta dos diversos militantes do ME que morreram na ditadura militar.

Contudo, diante dessa situação a direção majoritária vem tomando atitudes inaceitáveis. Com esses ataques é evidente que a arrecadação da UNE diminuiu e para tentar contornar essa crise vem buscando parcerias com as mantenedoras das instituições privadas. Inúmeras universidades privadas vêm transformando suas carteiras na carteira da UNE e tendo direito, inclusive, de propagandear seus logos na carteira ou mesmo ter diretores da entidade fazendo sua propaganda. Desta

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maneira, eles atrelam a carteira da entidade à direção dessas instituições que atacam a livre organização do ME. Acreditamos que a carteira da UNE deve ser uma opção dos estudantes e não uma imposição das autoritárias direções das universidades privadas.

Sem dúvida, não é ao lado de nossos inimigos que queremos ver a UNE. Ou mesmo atrelada ao Governo Federal. Defendemos que a UNE deve ter papel ativo nas mobilizações sociais, deve ir às ruas lutando contra o monopólio das telecomunicações, contra o capital financeiro, contra os tubarões de ensino e estando ao lado daqueles que são nossos aliados. Não podemos admitir esse processo de “institucionalização” da UNE. Portanto é urgente que todas as entidades estudantis participem do processo do congresso da UNE para lutar e mudar os rumos de nossa entidade nacional.

RECONQUISTAR A UNE para a LUTA e para os estudantes! CONLUTE não é a solução!

Recentemente vimos um setor do movimento estudantil (MRS/PSTU) chamar a CONLUTE (Coordenação de lutas estudantis) como uma alternativa à UNE. Acreditamos que essa alternativa é equivocada e que divide o movimento estudantil em um momento decisivo. Mesmo respeitando a opção que os companheiros fazem em querer organizar algo mais amplo do que o seu próprio campo. Estamos convencidos de que a CONLUTE não é alternativa enquanto forma de organização e luta a UNE. Para nós, que também somos oposição a maioria que hoje dirige a UNE, este é um debate caro, mas que não nos omitiremos.

Primeiramente, analisamos a CONLUTE a partir de uma compreensão de que o PSTU faz hoje um movimento casado de divisão da esquerda para fins meramente partidários. Esse é um grave erro que vem ocorrendo também no movimento sindical, a partir da saída do PSTU da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Assim, a CONLUTE é a tentativa de se forjar uma nova entidade nacional.

É certo que esquerda socialista brasileira vive um quadro de dispersão, é certo também que cada organização partidária é legítima para atuar como bem entender. Contudo, dividir as principais entidades construídas pelas lutas sociais, através de um profundo debate político e ideológico na classe trabalhadora, é um equivoco sem tamanho. É inadmissível que esse setor coloque seus interesses partidários a frente do movimento, é tão absurdo e aparelhista quanto à posição da UJS na UNE frente ao governo. Enfim, a CONLUTE não resolve os problemas do ME, serve somente para construção do PSTU. A CONLUTE vem se colocando como a representação estudantil onde a UNE não fala em nome dos estudantes. Perguntamos: quem fala é a

CONLUTE ou as entidades individualmente sem representação nacional? É muita arrogância desse setor se auto proclamar o “farol” do movimento estudantil e a “tábua da salvação” frente à necessidade de luta contra essa reforma universitária. Existem muitos setores e entidades que estão insatisfeitos com os atuais rumos da UNE. Acreditamos que estes setores e entidades devem estar nas ruas para fazer luta sem ter como objetivo central a divisão do movimento como quer esse setor. Fazemos e continuaremos a fazer luta para derrotar essa reforma universitária e para construirmos um movimento estudantil e uma UNE de Lutas e Democrática. Nós, do campo Reconquistar a UNE, jamais titubeamos em denunciar as práticas e opções da direção majoritária, em fazer luta em defesa dos estudantes e disputar os rumos da UNE com a clareza de que lado estamos. Mas, jamais propusemos que a UNE ou qualquer entidade estudantil se transformasse numa organização partidária, o que é bem diferente de defender que as organizações políticas e até partidárias possam atuar no movimento e disputar hegemonia. É dessa forma que atuamos no ME em cada CA/DA, Executiva ou Federação de curso, DCE, UEE, UNE, atos, greves e onde houver luta estudantil pelo país. A UNE é a entidade estudantil construída ao longo de muitos anos de luta e é um erro transferir a crítica para o conjunto da entidade. Essa crítica deve ser direcionada às posições da direção majoritária da entidade. Esse erro fortalece ainda mais a atual maioria, pois diminui a crítica às atuais opções adotadas por eles e entrega todo patrimônio da UNE para aqueles que a usam para seus interesses particulares. A UNE não é propriedade de nenhum grupo político, ela pertence a todos os estudantes, mas como os estudantes não são iguais e tem opiniões políticas diferentes, é legítimo que se organizem para disputar hegemonia coletivamente. Por isso é que devemos reivindicar a UNE em cada passeata, ocupação de reitoria e luta política na sociedade. Fazer isso é mostrar que o lugar dela é na rua e não nos gabinetes verdes e aveludados do planalto central como quer a direção majoritária. Desta disputa não abriremos mão. E ter esta postura não é se tornar refém da política recuada da UJS e demais. Ter esta posição é sim, disputar opinião e hegemonia com um conjunto maior de estudantes e entidades. Fazer esta movimentação é pôr em prática, novamente, a postura que os setores combativos do ME tiveram nas greves de 1998 e 2001, no Plebiscito do Provão, na Campanha contra a Mercantilização da Educação e em todos os momentos em que a maioria se omitiu em construir a luta estudantil.

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UMA ALTERNATIVA PARA A UNE E O ME

Nesse sentido, achamos que a primeira

tarefa daqueles que querem mudar o M.E. é derrotar a atual direção majoritária, porque ela se tornou um empecilho para o avanço e organização do M.E. É obvio que esse é um dos passos, pois, sem a politização do conjunto dos estudantes e o seu envolvimento no movimento estudantil através, da organização das entidades de base e gerais, nada mudará no M.E. Além disso, não basta derrotar a direção majoritária por si só. É fundamental ter um programa que apresente propostas concretas para a superação das debilidades do movimento e aponte uma perspectiva de luta e reivindicações.

Sem um programa efetivo, nada adiantará assumir a direção da UNE, porque não teremos sequer o que propor para o conjunto do movimento estudantil e repetiremos , talvez, os mesmos erros. É, por isso que para Reconquistar a UNE propomos algumas ações:

PROGRAMA DE DEMOCRATIZAÇÃO DA UNE

Hoje, para democratizar a UNE, não basta apenas fazer eleições diretas, mas é necessário um conjunto de ações em várias frentes, para que, de fato, a entidade se democratize e esteja mais perto do cotidiano dos estudantes. Ação na estrutura organizativa da UNE A UNE precisa mudar efetivamente suas estruturas para que ela seja dinâmica, democrática e mais representativa. Atualmente, as estruturas da UNE são arcaicas, verticalizadas, centralizadas, burocratizadas e, portanto, antidemocráticas. Por isso propomos:

Realização de um seminário nacional de organização do movimento estudantil, que apresente um projeto de reestruturação da UNE e reforma do seu estatuto;

Definição da periodicidade dos fóruns da UNE. A começar pelas reuniões da diretoria ampliada e executiva. Periodicidade do CONEG e CONEB. (o movimento estudantil brasileiro não pode ficar a mercê da vontade da direção majoritária, é preciso tradicionalizar algumas datas que garantam com ampla antecedência a organização para participar dos fóruns.);

Fim da Presidência da UNE! Pela criação da Coordenação Geral e a organização da Diretoria em Coordenadorias;• Montar grupos temáticos nacionais para subsidiar o trabalho político da entidade;

Exclusão das empresas privadas na confecção das carteiras estudantis! Descentralização da emissão, através das entidades estudantis, com a manutenção do caráter nacional através do selo da UNE.

Controle da movimentação financeira da UNE com orçamento elaborado por uma comissão de entidades e aprovado no CONEG.

Montar grupos temáticos que subsidie o trabalho político da entidade

Por seminário de Cultura democrático que tenha participação de todos os campos do ME e das entidades de base e gerais.

Ação na Política de Comunicação da UNE

Uma política de comunicação para a UNE tem que ter as seguintes características:

1) Democrática e Participativa; 2) Ágil, Dinâmica e Atualizada; 3)Massiva e que atinja a maior parte dos

estudantes; 4) Ser não só Informativa, mas também

Formativa. Nesta gestão a (ausência de) políticas de

comunicação levou a entidade ao pouco fluxo de troca informações com as entidades gerais e de base, quiçá com os estudantes. Isto isola a entidade, despontencializa suas ações e mobilizações, além de desgastá-la É nesse sentido que propomos:

Criar um jornal de circulação nacional

nas entidades estudantis, aberto a todas as opiniões do movimento estudantil (Se a UNE é a favor da democratização dos meios de comunicação como ela pode aceitar o monopólio dos seus meios de comunicação por apenas uma força política?);

Estruturar um conselho editorial dos meios de comunicação da UNE que tenha composição plural e proporcional;

Intensificar as visitas dos diretores da UNE nas universidades, com agendas previamente organizada e divulgada, deforma que as entidades de base e gerais possam preparar debates e passagens em salas de aula.

Aprovar no início de cada gestão o Plano de Visitas de forma que os diretores da UNE visitem todas ou quase todas as universidades do país (assim diminuindo o distanciamento da UNE e de seus

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diretores da realidade cotidiana dos estudantes.)

Ação Política da UNE na Juventude Brasileira

Ampliar a relação com demais movimentos

juvenis impulsionando o Fórum Nacional de Movimentos e Organizações Juvenis e participando da criação dos fóruns estaduais.

Realizar um novo encontro de diálogos dos movimentos e organizações juvenis.

Elaborar uma cartilha sobre juventude e política públicas para juventude para as entidades de base e gerais.

Organizar a Ação Política e Reivindicatória da UNE Para que o ME e UNE supere a condição de refém da conjuntura é preciso organizar coletivamente nossa pauta de reivindicações e que ela tenha ampla divulgação dentro do ME. Isso é condição fundamental para ampliarmos o caráter combativo e de luta do ME e sem dúvida ampliarmos nossas vitórias. Por isso propomos:

Elaborar a Agenda Política da UNE com os principais projetos, leis e medidas de interesse do movimento estudantil que estão em tramitação na institucionalidade de todos os níveis.

Por um Fórum de Públicas para elaborar um programa de reivindicações dos estudantes dessas universidades

Por um Encontro da PAGAS para elaborar um programa de reivindicações dos estudantes dessas universidades

Realização de um Seminário Nacional de Assistência Estudantil, com os moradores das casas de estudantes e demais setores da área para prepara a pauta local e nacional de luta pela assistência estudantil.

Realização de um Seminário Nacional sobre Reforma Curricular em conjunto com as federações e executivas de cursos.

Criação de um Grupo de Trabalho Nacional de Extensão Universitária, em conjunto com federações e executivas de cursos, para discutir e elaborar um política nacional de extensão da UNE e que termine com um Seminário Nacional de Extensão da UNE.

Participar ativamente no Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública

CONTRA TODA FORMA DE OPRESSÃO

“Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar

o que somos”

(Eduardo Galeano)

A igualdade foi erigida em preceito

universal lá pelos idos da Revolução Francesa (quem não conhece a máxima “Igualitè, Fraternitè, Liberte ”?). De lá pra cá, muita coisa mudou, e aprendemos que lutar pelo direito à igualdade e ao respeito mútuo é dever de todo indivíduo.

A União Nacional dos Estudantes tem o papel de impulsionar as lutas pelos direitos das mulheres, dos negros e dos homossexuais. Infelizmente, nossa entidade está aquém desta expectativa, na medida em que não pauta essas ações como essenciais para a disputa da transformação da sociedade. É necessária uma afirmação política da nossa entidade em apoio a esses segmentos.

MULHERES

“Mulher é bicho esquisito, todo mês

sangra (...) Por isso não provoque, é cor-de-rosa

choque”

As mulheres não precisam mais queimar sutiãs em praça pública, mas esta forma de opressão ainda é a primeira e mais generalizada relação de poder entre as pessoas em quase todas as sociedades. A emancipação feminina passa pelo combate ao machismo, à violência sexista, às desigualdades entre homens e mulheres. Dentro do ME, temos tido dificuldade em debater a questão de gênero de forma mais aprofundada, sem recorrer às análises maniqueístas, ao senso comum. O pensamento machista, que se abriga nas mentes de homens e mulheres, precisa ser exposto Este debate deve ser de todos aqueles que buscam compreender o papel da opressão de gênero na sociedade capitalista. Não basta ter uma Secretaria, na UNE, se ela não tem condições de funcionar na prática, por isso propomos:

Melhor funcionamento da Secretaria de Mulheres com base na aprovação de um orçamento para essa cadeira, a ser apresentado na reunião da Diretoria da UNE.

Realização do II Encontro de Mulheres da UNE.

Incentivar o debate sobre gênero nos meios de comunicação da UNE, como forma de integrar homens e mulheres neste debate.

NEGROS E NEGRAS

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“Respeitem meus cabelos, brancos. Chegou a hora de falar, vamos ser francos. Pois quando o preto fala o branco cala ou sai da sala com veludos no

tamanco”

Na construção do projeto democrático popular e na consolidação de uma estratégia para o Brasil, devemos respeitar a diversidade étnico-cultural existente no país, e incorporar o acúmulo das lutas contra a discriminação e o preconceito racial ao povo negro. O sistema educacional no Brasil reproduz, com freqüência, práticas discriminatórias e racistas. Existe um círculo vicioso que combina pobreza, fracasso escolar e marginalização social. Para combater isso, é importante a adoção de mecanismos que ampliem o ingresso e permanência de negros e negras na universidade. As Políticas de Ações Afirmativas visam eliminar desigualdades históricas, tendo com objetivo a igualdade de oportunidades. As cotas, hoje, surgem com essa perspectiva. A UNE deve fazer com que esse debate seja pautado em cada universidade, como forma de garantir o acesso de afro-descendentes ao ensino superior. É bom lembrar que políticas compensatórias como as cotas não resolvem todo o problema. Elas devem ser casadas com as lutas históricas do movimento estudantil em defesa de uma universidade pública e gratuita, com uma assistência estudantil que possibilite ao estudante algo tão importante quanto o acesso à universidade: sua permanência.

A UNE deve ser o elemento impulsionador de uma política concreta de inserção do povo negro nas universidades brasileiras. Por isso propomos:

Que nos congressos e conselhos da UNE (CONUNE, CONEGs e CONEBs) sejam formados GTs ou GDs específicos para discutir a questão da etnia.

Que a União Nacional dos Estudantes se posicione, publicamente, favorável às Políticas públicas que envolvam os negros e negras.

Melhor funcionamento da Secretaria de Combate ao Racismo, com base na aprovação de um orçamento para essa Secretaria, a ser apresentado na reunião da Diretoria da UNE.

Realização de um Seminário Nacional “A questão da Etnia nas Universidades” para discutir e aprovar políticas específicas e estratégias de atuação para a UNE. • Incentivar o debate sobre as cotas para os negros (as) nas Universidades, divulgando nos meios de comunicação da UNE como forma de ampliar o debate.

GAYS, LÉSBICAS, TRAVESTIS E TRANSEXUAIS

“eles” Os meninos e as meninas Os meninos e os meninos As meninas e as meninas

Eles só querem é gozar E que os deixem a sós Eles só querem amar

E que os deixem em paz (Cássia Eller)

A luta por uma sociedade mais justa e

igualitária envolve a conquista da liberdade dos indivíduos desenvolverem suas personalidades, identidades e sexualidade, libertos de qualquer coerção e discriminação. Ao contrário dos demais movimentos sociais, que sofreram refluxo na última década, o movimento homossexual explodiu. A Parada Gay de São Paulo já reúne meio milhão de pessoas! A cada ano, mais leis são aprovadas, em âmbito municipal, visando coibir a discriminação por orientação sexual. O ME deve pautar esse debate em seus fóruns de uma forma séria e respeitosa. Nos últimos CONUNEs, propostas sobre gays e lésbicas foram aprovadas simbolicamente e nada se fez durante as gestões da UJS/ PCdoB. Por isso propomos:

A criação de uma Diretoria de Gays, Lésbicas, travestis e transexuais da UNE;

Que nos congressos e conselhos da UNE (CONUNE, CONEGs e CONEBs – se este acontecer!) sejam formados GTs ou GDs específicos para discutir a sexualidade.

Que a Executiva da UNE se posicione publicamente favorável a questões públicas envolvendo gays e lésbicas.

Que a UNE organize um Seminário Nacional sobre diversidade sexual.

Que na Bienal da UNE ocorram oficinas específicas sobre sexualidade.

Legalizar as drogas

O debate sobre a questão da violência, do narcotráfico e da drogadição deve ser feito abertamente, sem moralismos ou hipocrisias. A maneira como a mídia e a maioria dos governos tratam o tema é parcial e equivocada, que esconde interesses escusos.

Afinal, o que são drogas? Drogas são substâncias tais como a cafeína, o álcool etílico,

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a nicotina, o thc, a cocaína, a heroína, e por aí vai, seus compostos e misturas. O ser humano se utiliza hoje e sempre se utilizou desse tipo de produto, ingerindo-o para obter estados alterados de consciência, os quais lhe causam prazer.

No presente momento histórico, alguns deles são legais e outros são ilegais. Todos eles produzem efeitos colaterais negativos à saúde humana em geral e, no limite, são capazes de levar à morte. No caso dos ilegais, contudo, tais efeitos deletérios à saúde se somam aos efeitos sociais negativos advindos da própria situação de ilegalidade.

O dependente químico ao invés de assistente social, médico, psicólogo e educador, que lhe dariam uma chance de se livrar do seu problema, recebe do Estado apenas a truculência policial, que o mantém na posição de eterno e lucrativo consumidor. Não é por acaso que algumas drogas são ilegais e outras são legais. Sabemos que o álcool, o tabaco, alguns remédios vendidos legalmente têm mais potencial de causar dependência do que várias drogas que hoje são ilegais. Então porque esse estigma sobre a maconha, o ecstasy, a cocaína e outros? Porque é melhor para quem produz e comercializa essas drogas que elas sejam ilegais. É mais lucrativo.

Esse negócio movimenta, estima-se, um trilhão de dólares ano após ano. Ganha de longe, em lucratividade, da produção e comercialização das drogas legais. A altíssima lucratividade só existe PORQUE existe a proibição legal.A política mais repressiva com relação às drogas é estimulada justamente pelos EUA, país líder em consumo. Ou seja, além da repressão não funcionar, ela faz parte do aparato policial militar norte-americano. Funcionam juntos, numa mistura de interesses políticos, econômicos e militares.

O consumo humano e conseqüentemente o comércio das drogas não deixará de existir no atual estágio da humanidade. Somente um moralista barato irá proclamar que numa sociedade onde se consomem gigantescas quantidades de drogas legalizadas não existirá demanda e mercado para outras drogas, estas não legalizadas. No exato instante em que a situação ilegal deixar de existir, contudo, a lucratividade de tal negócio irá reduzir-se drasticamente. A história da máfia ítalo estadunidense no período da “Lei Seca” demonstra claramente essa tese. Defender a extensão da norma legal à produção e à comercialização das drogas não significa fazer a apologia de sua utilização. Ao contrário, defender a legalização faz parte do combate à alienação das drogas, legais ou ilegais.

Ao contrário de “deixar rolar”, a extensão da norma legal à produção e comercialização das drogas, destruindo a base material das quadrilhas que realizam o tráfico, permitirá uma ação de saúde pública e de educação muito mais eficaz. As pessoas que adquiriram a doença da dependência química só

terão a ganhar com isso. Se no lugar do tráfico auferindo lucros existir a ação governamental de esclarecimento, educação e saúde, certamente muitas vidas serão salvas.

Reconquistar a UNE Rafael Pops – Vice Presidente da UNE (11) 91662426 - [email protected] Mauricio Piccin – Executiva da UNE (11) 91679892 – [email protected] Igor de Bearzi – Diretor de Movimentos Sociais da UNE Tadeu Brito – Diretor de Políticas Educacionais da UNE Graziela Rodrigues – Vice Presidente UNE/ES Vinícius da Silva – Diretor de Públicas da UNE