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II Seminário Iniciação Científica – IFTM, Campus Uberaba, MG. 20 de outubro de 2009.
QUALIDADE FÍSICO-QUÍMICA DE MÉIS COMERCIALIZADOS NO
MUNICÍPIO DE UBERABA
BRAGA, K. A.1; SILVA, M.B.L.2; PEREIRA, L.A.3; BESSA, J.A.2
1Estudante 6° período em Tecnologia em Alimentos - bolsista PIBIC-IFTM.
2Prof. IFTM – Campus Uberaba; e-mail: [email protected]; [email protected]
3Estudante 6° período em Tecnologia em Alimentos – Técnico em Alimentos.
RESUMO O mel é considerado um dos alimentos mais puros da natureza, apreciado por seu sabor
característico e considerável valor nutritivo, seu preço é relativamente alto, o que incentiva
muitas vezes a sua adulteração. O objetivo deste trabalho foi avaliar a qualidade dos méis
comercializados no município de Uberaba-MG. As análises foram realizadas em amostras de
méis de 16 marcas comerciais para as seguintes análises físico-químicas: umidade, reação de
Fiehe (hidroximetilfurfural), acidez livre, sólidos insolúveis em água, reação de lund e
açúcares redutores. Os resultados das análises foram comparados aos limites propostos pela
da Instrução Normativa nº11, de 20 de outubro de 2000 do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento. Os resultados das análises dos méis indicam que algumas amostras
estiveram fora da conformidade: sólidos insolúveis (87% das amostras), umidade (25% das
amostras), reação de lund (31% das amostras), Reação de Fiehe (56% das amostras),açúcar
redutor(62%) e acidez (12%).Apenas uma amostra obteve resultados satisfatórios para todas
análises realizadas. Recomenda-se preparação profissional para os apicultores nos aspectos
relacionados ao manejo, colheita e extração do mel, visando melhorar a qualidade do produto
comercializado na região pesquisada.
Palavras-chave: comercialização; mel; qualidade físico-química.
INTRODUÇÃO
A legislação brasileira define mel como produto alimentício produzido pelas abelhas
melíferas, a partir do néctar das flores ou das secreções procedentes de partes vivas das
plantas ou de secreções de insetos sugadores de plantas que ficam sobre partes vivas de
plantas, que as abelhas recolhem, transformam, combinam com substâncias específicas
próprias, armazenam e deixam madurar nos favos da colméia (BRASIL, 2000). A elaboração
do mel resulta em duas reações principais que ocorrem no néctar, sendo uma física pela
desidratação, por meio da evaporação na colméia e absorção no papo das abelhas e a outra
reação, química, pela transformação da sacarose em glicose e frutose, por meio da ação da
enzima invertase (LENGLER, 2000). A criação racional de abelhas, constitui-se de uma
atividade em que se consegue obter bons resultados econômicos, ecológicos e sociais
(RODRIGUES, 2004). O mel é considerado o produto apícola mais fácil de ser explorado,
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sendo também o mais conhecido e aquele com maiores possibilidades de comercialização.
Após sua colheita o mel continua sofrendo modificações físicas, químicas e sensoriais,
gerando a necessidade de produzi-lo dentro de níveis elevados de qualidade, controlando
todas as etapas do seu processamento, afim de que se possa garantir um produto de qualidade.
No campo, o controle da qualidade deve iniciar no manejo das colméias, indo desde a escolha
do local do apiário até a extração na casa do mel (SOUZA, 2006). As análises físico-químicas
contribuem na fiscalização de méis importados e no controle da qualidade do mel produzido
internamente. Os resultados são comparados com os padrões oficiais internacionais e com os
estabelecidos pelo próprio país, protegendo o consumidor de adquirir um produto adulterado
ou de baixa qualidade (MARCHINI, 2004). A avaliação físico-química dos constituintes do
mel é necessária, uma vez que estes influenciam a qualidade durante a estocagem, a
cristalização, a textura, o aroma e a qualidade nutricional. O Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento, como instituição fiscalizadora, possui papel importante na
orientação das unidades de campo e entrepostos de mel (SOUZA, 2006). Este trabalho tem
como objetivo estudar a qualidade físico-química dos méis comercializados no município de
Uberaba.
MATERIAL E MÉTODOS
Amostras de dezesseis marcas de mel registrados no S.I.F (Sistema de Inspeção Federal) ou
no S.I.M (Sistema de Inspeção Municipal) foram avaliadas. As amostras foram adquiridas em
pontos que comercializam produtos apícolas, como: supermercados, farmácias, lojas de
produtos apícolas e em lojas de produtos naturais. Em seguida as amostras foram conduzidas
ao Laboratório de Bromatologia do Instituto Federal de Educação do Triângulo Mineiro –
Campus Uberaba para subseqüentes análises em duplicatas: Determinação da umidade: O
método utilizado foi o refratométrico (BRASIL, 2000). Determinação de acidez: A
determinação da acidez seguiu o método recomendado por BRASIL (2000). Determinação
reação de Lund: Esta prova foi realizada seguindo-se as Normas Analíticas do Instituto
Adolfo Lutz (PREGNOLATTO & PREGNOLATTO, 1985). Determinação de fiehe
(HMF): A reação de Fiehe foi determinada segundo o método das Normas Analíticas do
Instituto Adolfo Lutz (PREGNOLATTO & PREGNOLATTO, 1985). Determinação de
sólidos insolúveis: Foram utilizados o método de filtração em cadinhos porosos (BRASIL
2000). Determinação de açúcares redutores: Os açúcares redutores foram quantificados por
titulometria (BRASIL 2000).
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados de cada um dos indicadores de qualidade dos méis comercializados em Uberaba
foram comparados com os limites impostos pela legislação vigente e especificados na Tabela
1-que indica valores das análises físico-quimicas das 16 amostras.
Tabela 1. Resultados obtidos nas Análises Físico-Químicas das 16 amostras de méis.
Nº
Amostra
%
Umidade
Acidez
(meq/kg)
Reação de
Lund
Reação de
Fiehe
% Sólidos
Insolúveis
% de Açucar
Redutor
1 17,9 22,75
0.6 - 3.0 ml Negativo 1,380 65,867
2 17,8 30,72 0.6 - 3.0 ml Negativo 1,330 62,930
3 20,5 31,42 0.6 - 3.0 ml Positivo 3,170 62,532
4 18,3 36,87 < 0.6 ml Positivo 6,790 63,333
5 17,5 17,29 < 0.6 ml Negativo 1,870 65,000
6 18,3 24,86 0.6 - 3.0 ml Positivo 1,110 63,742
7 20,4 21,30 0.6 - 3.0 ml Positivo 0,370 64,156
8 18,0 27,18 0.6 - 3.0 ml Negativo 0,440 66,757
9 20,0 42,00 0.6 - 3.0 ml Positivo 0,690 66,309
10 19,0 19,30 < 0.6 ml Negativo 2,140 63,742
11 17,3 22,40 0.6 - 3.0 ml Negativo 0,970 66,757
12 20,4 27,65 0.6 - 3.0 ml Positivo 1,110 64,575
13 21,0 35,28 0.6 - 3.0 ml Positivo 0,870 67,211
14 18,6 21,68 < 0.6 ml Negativo 2,350 64,156
15 18,0 25,27 < 0.6 ml Positivo 1,700 62,138
16 19,9 44,78 0.6 - 3.0 ml Positivo 1,840 64,575
As características físico-químicas do mel de acordo com a Instrução Normativa nº11, de 20 de
outubro de 2000 (Brasil, 2000), estão especificadas a seguir na Tabela 2.
Tabela 2. Limites estabelecidos pela Instrução Normativa nº11
Umidade máximo 20 g/100g;
Acidez máximo 50 meq/kg
Sacarose máximo 6 g/100g;
Açúcar redutor mínimo 65 g/100g;
Resíduo mineral fixo máximo 0,6 g/100 g;
Sólidos Insolúveis em água máximo 0,1 g/100 g;
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Os limites para reação de Fiehe e Lund disponível na Portaria n. 5 (Brasil, 1985) estão
descritos na Tabela 3.
Tabela 3. Limites estabelecidos para Reação de Fiehe e Lund
Reação de Fiehe negativa;
Reação de Lund máximo 3,0 mL e mínimo 0,6 mL;
De acordo com a comparação dos resultados obtidos (Tabela 1) com os limites previstos na
legislação vigente (Tabelas 2 e 3), quinze amostras se encontram fora dos parâmetros físico-
químicos definidos pela Instrução Normativa n°11 do MAPA, sendo que apenas uma amostra
encontra-se de acordo com todos limites especificados. Quanto à prova de umidade 25% das
amostras estão acima do padrão. Valores inferiores aos desta pesquisa foi relatado por Arruda
(2003) em méis oriundos da região da Chapada do Araripe no Estado do Ceará encontrou
valor médio de 15,70% de umidade. Para acidez livre, todas as amostras estiveram de acordo
com o exposto na Instrução Normativa n°11 do MAPA. A prova de Lund fora do intervalo
estabelecido para o precipitado indica que houve adição de proteínas ou perdas durante o
processo (CANO et al. 1993). Os valores da prova de fiehe (Hidroximetilfurfural) indicaram
que 56% das amostras estão em desacordo com a legislação. O mel contém pequena
quantidade de HMF (hidroximetilfurfural), mas com o armazenamento prolongado em
temperatura ambiente alta e/ou superaquecimento este teor se eleva, ocorrendo alteração na
sua qualidade e perda de enzimas. Quanto ao teor de sólidos insolúveis, os resultados
indicaram 87% de reprovação, os quais são sedimentos normais presentes nos méis ou
possíveis contaminações oriundas do processo de colheita e processamento do mel. Rodrigues
(2000) encontrou valor médio de 0,010% de sólidos insolúveis em amostras produzidas no
Estado da Paraíba, resultado inferior ao encontrado neste estudo. A maioria das amostras
(62%) apresentaram resultados insatisfatórios para açúcares redutores. Cruz et al. (2005)
obtiveram o valor médio de 63,30% em méis comercializados no município de Itapetinga no
Estado da Bahia.
CONCLUSÕES
Das 16 amostras analisadas apenas uma apresentou-se dentro de todos os padrões
estabelecidos pelo Ministério da Agricultura e do Abastecimento, como mel apto para
consumo de mesa, demonstrando um alto índice de reprovação das amostras de méis
avaliadas, quando comparadas aos limites especificados pela legislação. Este resultado indica
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a necessidade da produção do mel ser acompanhado de índices de qualidade adequados para o
consumo.
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