alimentos irradiados

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UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇAO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM VIGILÂNCIA SANITÁRIA E CONTROLE DE QUALIDADE DOS ALIMENTOS IRRADIAÇÃO DE ALIMENTOS NO BRASIL: REVISÃO André Luiz Barbosa de Lima Natal, maio de 2014.

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Alimentos Irradiados

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  • UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO PR-REITORIA DE PESQUISA E PS-GRADUAO

    COORDENAO DE PS-GRADUAAO

    CURSO DE PS-GRADUAO LATO SENSU EM

    VIGILNCIA SANITRIA E CONTROLE DE QUALIDADE DOS ALIMENTOS

    IRRADIAO DE ALIMENTOS NO BRASIL: REVISO

    Andr Luiz Barbosa de Lima

    Natal, maio de 2014.

  • Andr Luiz Barbosa de Lima

    Aluno do Curso de Especializao Lato sensu em

    Vigilncia Sanitria e Controle de Qualidade dos Alimentos

    IRRADIAO DE ALIMENTOS NO BRASIL: REVISO

    Natal, maio de 2014

    Trabalho de Concluso do Curso de Ps-

    Graduao Lato sensu em Vigilncia Sanitria e

    Controle de Qualidade dos Alimentos,

    apresentado Universidade Castelo Branco,

    como requisito parcial para a obteno de Ttulo

    de Especialista em Vigilncia Sanitria e Controle

    de Qualidade dos Alimentos, sob a orientao da

    Professora MSc. Marta Maria B. B. S. Xavier.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo a professora e orientadora MSc. Marta Xavier que me apoiou

    bastante na concluso de mais uma etapa da minha formao profissional e

    acadmica; aos meus pais que sempre depositaram em mim a confiana necessria

    para me impulsionar adiante e conseguir enfrentar os desafios da vida e a minha

    querida filha Maria Eduarda Lima que sempre ser uma inspirao para mim.

    Agradeo tambm todos os funcionrios do Instituto de Ps-graduao Qualittas

    pela ajuda e compreenso, especialmente a Sra. Adriana Incio (secretaria

    acadmica) e Daiane Marques (apoio de educao distncia) que sempre se

    mostraram bastante atenciosas comigo.

  • LIMA, A. L. B. Alimentos irradiados no Brasil: Reviso.

    RESUMO

    Os alimentos irradiados se tornaram uma realidade prxima dos brasileiros na ltima dcada. Diversos produtos alimentcios so produzidos e submetidos tecnologia de irradiao para estender seu prazo de validade, reduzir perdas ps-colheita e oferecer alimentos mais seguros sob o ponto de vista microbiolgico. A legislao sanitria brasileira obriga que todo alimento embalado e irradiado contenha informaes padronizadas na rotulagem que indiquem o uso da irradiao como processo tecnolgico de conservao. Porm, os consumidores ainda conhecem pouco sobre esta alternativa tecnolgica, e consequentemente, a expectativa que apresentem atitudes nulas ou pouco favorveis em relao aos alimentos irradiados mesmo que os consumam sem perceber. So necessrias polticas especialmente voltadas segurana alimentar, educao em sade e de incentivo participao comunitria quanto insero de novas tecnologias de alimentos e de controles sanitrios. Palavras-chave: Irradiao de alimentos. Qualidade. Prazo de validade. Conservao de alimentos.

  • LIMA, A. L. B. Irradiated foods in Brazil: Review.

    ABSTRACT

    Irradiated foods have become a near reality of Brazilians in the last decade. Several foodstuffs are produced and submitted to irradiation technology to extend its shelf life, reduce post- harvest losses and provide safer food under the microbiological point of view. The Brazilian law requires that all packaged and irradiated food containing standardized labeling information indicating the use of irradiation as technological process of conservation. However, consumers still know little about this alternative technology, and hence are expected to show no or little favorable attitudes toward irradiated consuming the same foods without notice. Food security, education especially targeted policies are needed for health and to encourage community participation as the insertion of new technologies of food and sanitary controls. Key words: Food irradiation. Quality. Shelf life. Food preservation.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Interao da radiao com a matria.........................................................26 Figura 2: Instalao de irradiao comercial por Co-60 tipo Pallet...........................32 Figura 3: Smbolo internacional Radura...................................................................38

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1: Comparao de irradiadores de radionucldeos e aceleradores de eltrons ....................................................................................................................................25 Tabela 2: Ao da irradiao sobre os alimentos......................................................31 Tabela 3: Diretrizes da Poltica Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional (SAN) e os Programas e Aes do Governo Federal do Brasil............................................41

  • SUMRIO

    RESUMO..................................................................................................................... 4 ABSTRACT................................................................................................................. 5 LISTA DE FIGURAS................................................................................................... 6 LISTA DE TABELAS.................................................................................................. 7 1 INTRODUO......................................................................................................... 8 2 REVISO DE LITERATURA................................................................................. 11

    2.1 USO DE RADIAO EM ALIMENTOS.......................................................... 11 2.2 ALIMENTAO E NUTRIO ...................................................................... 12 2.3 IRRADIAO DE ALIMENTOS NO BRASIL...................................................15 2.4 EFEITOS DA IRRADIAO NOS ALIMENTOS ............................................ 18 2.5 AVALIAO DE RISCO DOS ALIMENTOS IRRADIADOS........................... 21 2.6 PRINCPIOS DA IRRADIAO...................................................................... 22

    2.6.1 Efeitos fsicos........................................................................................... 25 2.6.2 Efeitos qumicos....................................................................................... 26 2.6.3 Efeitos biolgicos..................................................................................... 28

    2.7 CLASSIFICAO DAS IRRADIAES......................................................... 30 2.8 INSTALAES DE IRRADIAO GAMA...................................................... 32 2.9 ACELERADORES DE ELTRONS................................................................ 33 2.10 PROCESSOS DE INTERAO DE RAIOS-X.............................................. 33 2.11 LEGISLAO DE IRRADIAO DE ALIMENTOS ..................................... 34 2.12 SMBOLO RADURA.................................................................................... 37 2.13 O CONSUMIDOR E OS ALIMENTOS IRRADIADOS .................................. 38 2.14 POLTICA DE ALIMENTOS E NUTRIO, E A SEGURANA ALIMENTAR......................................................................................................... 40

    3 CONCLUSES ..................................................................................................... 42 4 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ..................................................................... 43

  • 8

    1 INTRODUO

    A irradiao de alimentos um processo tecnolgico que envolve o uso de

    radiao ionizante para aumentar a segurana e estender o prazo de validade de

    uma grande variedade de alimentos. Alm disso, tem sido usado em outras reas

    potenciais como a produo de alimentos fermentados, produtos alimentcios secos,

    reduo de alrgenos alimentares, reduo de anti-nutrientes, aumento da atividade

    antioxidante, reduo de carcinognicos nos alimentos e alimentos para pacientes

    imunossuprimidos hospitalizados.

    No entanto, um assunto controverso e de publicidade adversa quando

    comparado com outros mtodos de conservao de alimentos. Em muitos pases,

    incluindo o Brasil, a irradiao tem sido vista com desconfiana pelo pblico como

    resultado dos registros adversos e frequentemente mal informados pela mdia.

    Alm de no ser uma ideia nova, diversas pesquisas tm sido desenvolvidas

    nas ltimas cinco dcadas e a segurana deste tipo de tecnologia foi estabelecida

    com grande satisfao de boa parte dos cientistas na rea.

    Porm, sabido que a maioria dos consumidores ainda no conhece sobre a

    irradiao de alimentos e diversas interpretaes errneas so feitas, principalmente

    ao considerar este tipo de alimento como radioativo.

    Estabelece-se que, aps receberem informaes cientficas sobre esta

    tecnologia, h uma boa aceitao dos alimentos irradiados por grande parte dos

    consumidores.

    Colocar a educao popular como uma estratgia poltica e metodolgica na

    ao do Ministrio da Sade permite que se trabalhe na perspectiva da integralidade

    de saberes e de prticas, pois proporciona o encontro com outros espaos, com

  • 9

    outros agentes e com tecnologias que se colocam a favor da vida, da dignidade e do

    respeito ao outro. Trabalhar com a educao popular em sade qualifica a relao

    entre os cidados, definidos constitucionalmente como sujeitos do direito sade, pois

    pauta-se na subjetividade inerente aos seres humanos.

    Mas, a introduo de novas tecnologias para o processamento e conservao

    de alimentos no tem sido acompanhada de polticas de disseminao de informao

    suficientes ao pblico consumidor sobre seus benefcios ou malefcios, principalmente

    na apresentao dos riscos toxicolgicos destes alimentos.

    O conhecimento cientfico sobre os alimentos irradiados ainda est muito contido

    nos espaos limitados s instalaes industriais, rgos reguladores e comunidades

    cientficas. Portanto, necessita estar acessvel ao pblico de maneira estratgica

    atravs do fortalecimento das polticas de educao sanitria e tecnolgica de

    alimentos.

    A rotulagem de alimentos, cujas informaes devem ser claras, precisas e

    ostensivas, um instrumento imprescindvel para que os consumidores possam decidir

    por um alimento seguro e saudvel, portanto, se expressando na qualidade de vida e

    sade destes indivduos.

    No se trata apenas de uma lgica de obteno de produtos pelo consumidor,

    mas de ordenamento da cadeia produtiva de alimentos com uma repercusso na

    qualidade de rastreabilidade de cada produto alimentcio, que traz para o consumidor o

    senso da participao social na regulao sanitria.

    Os alimentos irradiados, assim como outros alimentos submetidos ao tratamento

    de novas tecnologias de processamento e conservao, so alvo de discusso atual,

    principalmente pelas potencialidades de insero no mercado consumidor; porm, no

    simplesmente como um enfoque da tecnologia per se, mas pela sua relao prxima

    na trade alimentao-sade-doena.

    Hoje em dia, o consumidor frequentemente solicitado a tomar decises na

    compra de diversos produtos alimentcios sem ter o conhecimento necessrio para tais

    decises e, por outro lado, a publicidade pesada traz imagens irreais ou fictcias sobre

    tais alimentos.

    Considerando-se a importncia da irradiao de alimentos como tecnologia

    utilizada na conservao de alimentos, dentre tantas finalidades em que pode ser

  • 10

    empregada, este estudo teve como objetivo relatar, atravs da reviso de literatura,

    esta tcnica utilizada no Brasil, sob diversos aspectos tcnicos e legais no campo da

    alimentao, visando a obteno do alimento seguro evitando assim os agravos que

    poderiam ser causados sade coletiva numa escolha de consumo inadequado.

  • 11

    2 REVISO BIBLIOGRFICA 2.1 USO DE RADIAO EM ALIMENTOS

    A irradiao de alimentos definida pela Agncia Internacional de Energia

    Atmica (IAEA) como o processo envolvendo a exposio do alimento, embalado ou

    a granel, aos raios gama, raios X ou feixes de eltrons numa sala especial e por

    uma durao especfica (HENSON, 1995).

    todo alimento que tenha sido intencionalmente submetido ao processo de

    irradiao com radiao ionizante (BRASIL, 2001).

    A irradiao elogiada como um mtodo seguro e efetivo de processamento

    de alimentos que pode reduzir o risco de intoxicao alimentar e conservar os

    alimentos sem prejuzo sade e com efeitos mnimos na qualidade nutricional

    (KOUBA, 2003).

    a tecnologia de processamento voltada na melhoria da segurana

    alimentar que ganhou o interesse dos pesquisadores nos campos da cincia dos

    alimentos e pesquisas do consumidor no mundo inteiro durante a ltima dcada

    (BEHRENS et al., 2009).

    O uso da radiao para esterilizao de gneros alimentcios continua

    controverso. A Organizao das Naes Unidas para Agricultura e Alimentao

    (FAO) estima que 25% de toda produo de alimentos seja perdida por insetos,

    bactrias e roedores aps a colheita (BORGES, 2002; KFERSTEIN, 1990).

    A radiao tem o potencial para melhorar esta situao de diversas formas:

    a baixa dose de irradiao (1 kGy) causa inibio de brotamento, retarda o

    amadurecimento, inativa parasitas e ajuda na desinfestao de insetos. A dose

    mdia (1-10 kGy) reduz o nmero de organismos deteriorantes e patgenos nos

  • 12

    alimentos, enquanto a dose alta (>10 kGy) reduz os nmeros esterilidade

    (HERRERO; DE AVILA, 2006).

    Estas vantagens potenciais da irradiao de alimentos foram comparadas

    quelas da pasteurizao do leite. No entanto, as preocupaes continuam com

    relao destruio de vitaminas, formao de xidos lipdicos alterando odores e

    sabores e a gerao de outros produtos radiolticos dos carboidratos, protenas e

    lipdios. Alm disso, a irradiao de alimentos no inativa toxinas perigosas que

    tenham sido produzidas por bactrias antes da irradiao. Nestes casos, tais como o

    Clostridium botulinum, a toxina produzida pela bactria, mas no somente a

    bactria em si, que constitui o perigo sade. Os esporos bacterianos, vrus e

    prons podem sobreviver s doses usadas para alimentos irradiados dessa forma,

    destruir simplesmente a bactria no garante que o alimento seja seguro (FRAISE;

    LAMBERT; MAILLARD, 2004; PARNES; LICHTENSTEIN, 2004).

    2.2 ALIMENTAO E NUTRIO

    Dois grandes eixos de interesse no campo da Alimentao e Nutrio foram

    identificados por Prado et al. (2011): (1) alimentao e cultura; e (2) polticas de

    alimentao e nutrio no Brasil. Eles explicam que uma parcela importante dos

    grupos de pesquisa que se voltam ao estudo da Alimentao no Brasil

    [...] encontra-se dirigida para estudos de cunho socioantropolgico voltados para a alimentao e cultura que exploram aspectos relacionados com a sade; so investigaes empreendidas principalmente por pesquisadores com formao em cursos de mestrado e doutorado em sade coletiva e, mais recentemente, em programas situados no campo da alimentao e nutrio. Outras abordagens culturais tambm esto presentes, sem que haja, necessariamente, relao com questes atinentes sade ou a doenas, como o caso de investigaes dirigidas comida e religio, ao consumo alimentar e comunicao, alm de temas como: cozinhas regionais, alimentao de migrantes, tradies alimentares e modernidade, comida e estilos de vida, comida e identidade, entre outros. A vida moderna, associada ao desenvolvimento de novas tecnologias

    aplicadas rea de alimentos, impulsionou o aumento do consumo de produtos

    industrializados. Por outro lado, as indstrias de alimentos investem cada vez mais

    recursos em propaganda de seus produtos, com o objetivo de conquistar novos e

    fieis consumidores. Neste contexto, com um mercado em expanso, surge tambm

    um novo perfil de consumo, o novo consumidor deseja alimentos equilibrados do

  • 13

    ponto de vista nutricional, de fcil preparo e sensorialmente atraentes. As cincias

    da sade tomam emprestado o objeto de estudo das cincias sociais para

    compreender como as estratgias da publicidade vm influenciando novos hbitos

    (MARINS; ARAJO; JACOB, 2011).

    A rotulagem tem como funo bsica fornecer populao uma srie de

    informaes relativas aos alimentos e a sua composio, alm de permitir o

    rastreamento dos mesmos, constituindo-se, portanto, em elemento fundamental para

    a sade coletiva (CARNEIRO et al., 2011).

    Alm de fornecer segurana ao consumidor, a rotulagem tambm

    proporciona uma diferenciao de marketing de um produto/marca para outro. Para

    que a rotulagem de alimentos sirva como orientao ao consumidor sobre a

    qualidade e a quantidade dos constituintes nutricionais dos produtos, possibilitando

    a escolha alimentar mais apropriada, as informaes devem ser corretas e

    fidedignas, o que impacta na adoo de prticas alimentares e no estilo de vida

    saudveis (RIBEIRO; MARIN, 2012).

    A legislao sanitria tem a finalidade de estabelecer critrios higinicos-

    sanitrios para que os alimentos disponveis ao consumo apresentem qualidade e

    segurana e no coloquem em risco a sade do consumidor. Assim, erros nas

    informaes da rotulagem ou da propaganda do alimento comprometem toda a

    cadeia produtiva e aquele que deve ser protegido do risco acaba ficando ainda mais

    exposto. O compromisso com a sade do consumidor deve ser primeiramente

    pactuado entre um Estado compromissado e uma indstria cumpridora dos preceitos

    legais. Um novo perfil de consumidores, preocupados com a estreita relao

    alimentao-sade-doena, vem exigindo das indstrias alimentcias novas

    estratgias de mercado (MARINS; ARAJO; JACOB, 2011).

    O processo de irradiao surge como resposta necessidade de produtos

    alimentares seguros, em razo da crescente demanda da populao mundial,

    reduzindo as perdas por deteriorao e prevenindo as enfermidades veiculadas por

    alimentos (GERMANO; GERMANO, 2010).

    A incidncia global de doenas transmitidas por alimentos difcil de

    estimar, mas foi relatado que s em 2005 1,8 milhes de pessoas morreram de

    doenas diarreicas. Grande parte destes casos pode ser atribuda contaminao

    de alimento e gua potvel. Em pases industrializados, a porcentagem da

  • 14

    populao que sofre de doenas transmitidas por alimentos a cada ano foi maior que

    30%. Nos Estados Unidos, por exemplo, estima-se que cerca de 76 milhes de

    doenas transmitidas por alimentos ocorrem a cada ano, resultando em 325 mil

    hospitalizaes e cinco mil mortes. A contaminao alimentar causa um enorme

    transtorno social e econmico nas comunidades e seus sistemas de sade. Nos

    Estados Unidos, estima-se que as doenas causadas pelos principais patgenos

    acarretam uma perda de mais de 35 bilhes de dlares anualmente (1997) em

    custos mdicos e perda de produtividade (GERMANO; GERMANO, 2010; WORLD

    HEALTH ORGANIZATION, 2012).

    A presena no alimento de microrganismos tais como espcies de

    Salmonella spp., Escherichia coli O157:H7, Listeria monocytogenes, Yersinia

    enterocolitica, um problema de preocupao crescente para as autoridades de

    sade pblica em todo o mundo (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2012,

    XAVIER, 2010).

    Na tentativa de reduzir ou eliminar os riscos resultantes, medidas como as

    regulaes de Sistemas de Anlise de Perigos e Pontos Crticos de Controle

    (APPCC) tm sido publicadas em muitos pases. Para garantir que estes produtos

    sejam consistentemente livres de patgenos, a irradiao em doses inferiores a 10

    kGy poderia ser considerada um Ponto Crtico de Controle (PCC) nas plantas

    APPCC para estes produtos (FOOD AGRICULTURE ORGANIZATION/

    NTERNATIONAL ATOMIC ENERGY AGENCY/WORLD HEALTH ORGANIZATION,

    1999).

    No Brasil, o Ministrio da Agricultura publicou a Portaria n 46, que instituiu o

    Sistema APPCC a ser implantado nas indstrias de produtos de origem animal sob

    regime do Servio de Inspeo Federal (SIF) com o objetivo de prevenir ou

    minimizar a contaminao destes produtos (BRASIL, 1998).

    Enquanto que a Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA) participa,

    conveniada ao Servio Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), do Projeto

    APPCC, desenvolvido para garantir a produo de alimentos seguros sade do

    consumidor. Uma das aes do projeto a criao do Sistema APPCC, que tem

    como pr-requisitos as Boas Prticas de Fabricao e a Resoluo RDC/ANVISA n

    275, sobre os Procedimentos Padres de Higiene Operacional (PPHO) (BRASIL,

    2002).

  • 15

    O uso de alimentos irradiados est a critrio das instalaes de servios de

    alimentao e um grande mercado potencial de alimentos irradiados so as

    unidades de sade. Elas podem fazer uso desses alimentos irradiados para

    minimizar a sua responsabilidade legal da ameaa de doenas transmitidas por

    alimentos que possam colocar ainda mais em risco pacientes com sistemas

    imunolgicos enfraquecidos. Os pacientes imunossuprimidos internados em

    unidades de sade para receber transplantes de medula ssea, por exemplo, devem

    consumir alimentos esterilizados e os alimentos irradiados so muito mais palatveis

    do que os alimentos autoclavados (DONG et al., 1992; SILVA, et al., 2010).

    A irradiao de alimentos foi reconhecida como um mtodo confivel e

    seguro para a conservao de alimentos e para melhoria da qualidade higinica e do

    valor nutricional do alimento. Alm do controle de microrganismos de inmeros

    produtos alimentares, a irradiao de alimentos pode ser usada para reduzir

    diversos agentes carcinognicos e fatores anti-nutricionais, tais como o gossipol,

    cido ftico e os inibidores de tripsina e tanina, alm da reduo de alrgenos e do

    aumento da atividade antioxidante de alimentos (ARVANITOYANNIS, 2010,

    XAVIER, 2010).

    Como resultado da melhor qualidade higinico-sanitria, constata-se a

    reduo dos custos mdico-hospitalares, decorrentes da queda de produtividade

    devida ao absentesmo por doena transmitida por alimentos (GERMANO;

    GERMANO, 2010).

    2.3 IRRADIAO DE ALIMENTOS NO BRASIL

    A partir da descoberta dos raios X e da quebra do urnio em polnio e radio

    com acompanhamento da produo de radiao em 1899, o uso da radiao

    ionizante para preservar alimentos pela destruio de microrganismos deteriorantes

    foi proposto. A irradiao de alimentos foi economicamente invivel nos Estados

    Unidos at a Segunda Guerra Mundial, por causa do elevado custo das fontes de

    radiao ionizante. Nos anos 40, as mquinas que podiam produzir feixes de

    eltrons de alta energia de at 24 milhes de eltron volts tornaram-se viveis.

    Tambm os radionucldeos produzidos pelo homem como o Cobalto-60 e o Csio-

    137, que emitem raios gama durante seu decaimento radioativo, tornaram-se

  • 16

    disponveis atravs do desenvolvimento da energia atmica. A disponibilidade

    destas fontes estimulou a pesquisa em irradiao de alimentos objetivada no

    desenvolvimento dos processos comerciais. Em meados dos anos 40, o interesse na

    irradiao de alimentos foi renovado quando foi sugerido que os aceleradores de

    eltrons poderiam ser usados para preservar os alimentos (NOLLET; TOLDR,

    2006).

    Em 1983, a Comisso do Codex Alimentarius considerou que os alimentos

    irradiados at 10 kGy fossem seguros e assim os testes toxicolgicos no foram

    mais necessrios. Em 1988, a junta formada pela Food Agriculture Organization

    (FAO), a World Health Organization (WHO), a International Atomic Energy

    Agency (IAEA) e o Centro de Comrcio Internacional United Nations Conference

    on Trade and Development (UNCTAD) General Agreement on Tariffs and Trade

    (GATT) - organizou a conferncia sobre a aceitao, controle e mercado de

    alimentos irradiados em Genebra, na Sua (DIEHL, 2002; EHLERMANN, 1993;

    ARVANITOYANNIS, 2010).

    O uso de irradiao de alimentos foi endossado por especialistas

    designados pelos governos de 57 pases. A WHO, FAO e IAEA, atravs do Grupo

    International Consultative Group on Food Irradiation (ICGFI), convocaram um grupo

    de estudo em Genebra em setembro de 1997 para estudar os dados disponveis

    sobre segurana e industrializao de alimentos irradiados em doses maiores que

    10 kGy (FARKAS, 2006; HOGAN, 2006).

    Este estudo, baseado em evidncias cientficas extensivas, confirmou que

    os alimentos poderiam ser submetidos a qualquer dose sem que produzisse efeito

    prejudicial s indstrias. O grupo de estudo concluiu que a irradiao em alta dose,

    conduzida de acordo com as boas prticas de fabricao e irradiao, poderia ser

    aplicada aos diversos tipos de alimentos para melhorar sua qualidade higinica,

    torn-los com vida de prateleira estvel e produzir produtos especiais (SUN, 2005).

    Os primeiros artigos que foram publicados sobre irradiao de alimentos no

    Brasil datam de 1968. A seo de Entomologia do Centro de Energia Nuclear para

    Agricultura (CENA) da Universidade de So Paulo (USP), Piracicaba, So Paulo,

    desenvolveu um grande nmero de pesquisas sobre a irradiao de alimentos e

    insetos. O CENA realizou o estudo da influncia da radiao gama em pestes que

    infestam lavouras brasileiras, a radio-sensibilidade dos insetos alimentados com

  • 17

    dietas irradiadas, a extenso da vida til de carne de aves e desinfestao de frutas

    e flores. Estes ltimos estudos foram realizados em parceria com o Instituto de

    Pesquisas Energticas e Nucleares (IPEN). Nos ltimos anos, alguns trabalhos de

    interesse sobre a homeostase de radiao aplicadas a cebola ou tomates foram

    realizados. Entre 1968 e 1970, alguns estudos foram desenvolvidos na Universidade

    Federal do Rio Grande do Sul (UFRS). A Comisso Nacional de Energia Nuclear

    (CNEN) e o Instituto Militar de Engenharia (IME) no Rio de Janeiro dedicaram

    algumas pesquisas e revises internacionais trabalhadas entre 1978 e 1981. Desde

    1991, a pesquisa sobre irradiao de alimentos tambm ocupou espao no IPEN em

    So Paulo, um dos institutos que pertence ao CNEN (DEL-MASTRO, 1999;

    ORNELLAS et al., 2006).

    O presidente Emlio Garrastazu Mdici sancionou o Decreto-lei n 72.718

    que estabelece as normas gerais de irradiao de alimentos no Brasil. Este diploma

    legal define que todos os alimentos irradiados devem obedecer s normas

    elaboradas pelo rgo competente do Ministrio da Sade e os estabelecimentos

    industrializadores devem ser licenciados pela autoridade competente e com

    autorizao da CNEN (BRASIL, 1973).

    Aps 28 anos, foi publicado o Regulamento Tcnico para Irradiao de

    Alimento, aprovado pela Resoluo RDC/ANVISA n 21 e baseou-se inclusive no

    documento preliminar de Norma para as Boas Prticas de Irradiao de Alimentos,

    no Relatrio n 890 da Srie de relatrios da WHO, que trata sobre a irradiao em

    altas doses e no Codex STAN 106-1983 Normas Gerais do Codex para Alimentos

    Irradiados (BRASIL, 2001).

    O Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento publicou a Instruo

    Normativa n 9, que libera e regulamenta o uso da radiao ionizante como

    tratamento fitossanitrio no gerenciamento do risco de pragas em todo territrio

    brasileiro (BRASIL, 2011).

    No Brasil, de acordo com o Centro de Gesto e Estudos Estratgicos

    (2010), h atualmente cinco organizaes que irradiam alimentos, inclusive frutas,

    frutos e especiarias em escala comercial, sendo que todas utilizam irradiadores de

    grande porte de radiao Co-60 e Csio-137, como se segue: Em 1980, a CBE Embrarad iniciou sua primeira unidade de processamento

    na cidade de Cotia/SP, irradiando alimentos como carnes, carnes processadas, derivados de soja, embutidos, enzimas, ervas, farinhas, frutas, frutas secas e cristalizadas, frutos do mar, gros e cereais, legumes e verduras, nozes, pes e bolos, especiarias como pimenta,

  • 18

    cominho, pprica, dentre outras. Em 1999, na cidade de Jarinu/SP, a segunda unidade foi inaugurada, mas da mesma forma que a primeira, o maior volume de material irradiado pertence rea mdica e farmacutica.

    O IPEN CNEN/SP, fundado em 1956 como Instituto de Energia Atmica, possui um irradiador de Co-60 com mltiplos propsitos tipo compacto no Centro de Tecnologia das Radiaes (TR). inteiramente nacional e indito em muitas de suas caractersticas tcnicas. Utiliza a radiao gama para processar continuamente os produtos e ou matrias-primas para desinfestao e preservao de produtos alimentcios como especiarias, ervas aromticas liofilizadas, protenas de origem animal e vegetal e frutas.

    O CENA/USP est anexo a Escola de Agronomia Luiz de Queiroz (ESALQ/USP). Atravs de seu laboratrio de Irradiao e Radioentomologia presta servios a unidades da USP e empresas privadas com irradiao gama.

    A Aceltron Irradiao Industrial est localizada no Municpio de Iraj/RJ. a nica na Amrica do Sul a prestar servios de irradiao industrial, utilizando aceleradores lineares de eltrons (LINAC) para irradiar alimentos.

    O Centro Tecnolgico do Exrcito (CTEx), localizado na cidade do Rio de Janeiro, atravs de sua seo de Defesa Nuclear, Diviso de Defesa Qumica, Biolgica e Nuclear (DQBN), possui equipamentos de irradiao gama disponibilizados para a rea de alimentos, incluindo frutas e tubrculos.

    2.4 EFEITOS DA IRRADIAO NOS ALIMENTOS

    O principal benefcio da irradiao de alimentos que, em doses permitidas,

    reduz virtualmente todos os patgenos comuns, tais como Salmonella (vrias

    espcies), Campylobacter jejuni, Escherichia coli O157:H7, Listeria monocytogenes

    e Staphylococcus aureus associados com a produo de carne, aves e outros

    (AIEW et al., 2010; CRAWFORD; ROSSET, 2002; RUFF, 1996).

    Como os patgenos na carne e aves cruas podem ser substancialmente

    reduzidos pela irradiao em dose baixa, os efeitos da contaminao cruzada nos

    alimentos so diminudos. A irradiao assegura tambm que o alimento seguro

    at mesmo se no estiver completamente cozido. Alguns contaminantes

    microbiolgicos so resistentes irradiao, incluindo vrus, bactrias esporuladas,

    alguns bolores e leveduras e os prons (os agentes responsveis pela encefalopatia

    espongiforme bovina ou doena da vaca louca) (DERUITER; DWYER, 2002;

    PARNES; LICHTENSTEIN, 2004).

    A resposta da World Health Organization (WHO) questo do efeito da

    irradiao de alimentos sobre a segurana alimentar foi claramente apresentada

    quando, em colaborao com a Food Agriculture Organization (FAO), foi publicado

    um livrete em 1988, intitulado Food Irradiation: A Technique for Preserving and

    Improving the Safety of Food. Os ministros de sade dos pases onde a irradiao

    de certos gneros alimentcios permitida, tais como Blgica, Frana, Holanda,

  • 19

    Inglaterra e outros 30, incluindo o Brasil, obviamente partilham esta opinio (DIEHL,

    1993).

    A utilizao da radiao de alimentos em doses maiores que 10 kGy tem

    sido utilizada amplamente para produo de alimentos destinados a pacientes

    hospitalizados imunocomprometidos (FOOD AGRICULTURE

    ORGANIZATION/INTERNATIONAL ATOMIC ENERGY AGENCY/WORLD HEALTH

    ORGANIZATION,1999). Para este propsito, a Holanda permite uma dose mdia de 75 kGy. Alguns outros pases, tais como no Reino Unido, permitem a esterilizao por radiao de dietas hospitalares, mas no especificam a dose limite de radiao para esta aplicao. A frica do Sul permitiu a comercializao de produtos crneos com vida de prateleira estvel a uma dose mnima de 45 kGy e considerveis quantidades de tais produtos foram comercializados recentemente. Claramente, h razes tecnolgicas para o uso das doses mais elevadas de radiao que 10 kGy.

    Outras vantagens da irradiao de alimentos so as seguintes: um

    processo frio (alimento mais natural); trata slidos, alimentos crus, portanto, o

    conceito de pasteurizao fria que erroneamente empregado; tem efetividade

    eliminar insetos; penetrante (especialmente os processos atravs da utilizao

    com feixe de eltrons e raios X); o tratamento pode ser realizado no alimento em sua

    embalagem final; e no h resduos qumicos (ASHLEY et al., 2004;

    ARVANITOYANNIS, 2010; DIEHL, 1993; INTERNATIONAL ATOMIC ENERGY

    AGENCY, 2001, XAVIER, 2010).

    A irradiao de alimentos um processo til que pode ajudar a proteger o

    pblico das doenas transmitidas por alimentos (DIEHL, 1993; HOEFER et al.,

    2006).

    No entanto, o mtodo no um substituto do processo de Boas Prticas de

    Fabricao (GMP). O processo de irradiao causa somente um leve aumento na

    temperatura e consequentemente os produtos alimentcios crus, tais como carnes de

    aves, continuam crus aps o tratamento (HENSON, 1995).

    A irradiao no pode melhorar a qualidade dos produtos alimentcios de m

    qualidade, assim como qualquer outro processo tecnolgico em alimentos, porque

    no reverte os processos fisiolgicos e qumicos envolvidos na decomposio. A

    irradiao pode frequentemente ter um efeito indesejvel no sabor, odor e textura do

    alimento. Por exemplo, o suno pode tornar-se vermelho, frutas e vegetais podem

  • 20

    murchar e ovos podem perder a cor e tornarem-se menos consistentes

    (ARVANITOYANNIS, 2010; DIEHL, 1993; XAVIER, 2010).

    A irradiao destri a composio qumica de tudo no alimento e no apenas

    as bactrias nocivas, que a indstria alimentcia frequentemente afirma. Dezenas de

    novos produtos qumicos radiolticos so formados pela irradiao; estes no

    ocorrem naturalmente no alimento e nunca foi realizado um estudo aprofundado de

    sua segurana, como a 2-dodecilciclobutanona (2-DCB), verificou-se que promove

    danos genticos e celulares em clulas de ratos e humanas (DELINCE; POOL-

    ZOBEL, 1998; DELINCE et al., 2002).

    Um estudo conduzido por um grupo de cientistas franceses e alemes em

    um projeto de trs anos fundado pela Unio Europeia revelou atividade txica,

    genotxica e promotora de crescimento tumoral devido substncia 2-DCB

    (STEFANOVA; VASILEV; SPASSOV, 2010).

    O consumo de alimento irradiado pode resultar numa possvel acumulao

    significante de 2-DCB nos tecidos adiposos dos consumidores. As consequncias

    para a sade em longo prazo desta observao no so claras atualmente (ASHLEY

    et al., 2004).

    O Clostridium botulinum e sua toxina so mais resistentes radiao que

    qualquer outro microrganismo que possa estar presente nos alimentos. Se os

    esporos sobreviverem ao tratamento de irradiao, a estocagem prolongada do

    alimento em temperaturas elevadas poder favorecer a germinao e produo de

    toxina e criar uma situao extremamente perigosa (KRAYBILL; WHITEHAIR, 1967).

    Os riscos de botulismo so os mesmos de outros processos no

    esterilizantes e requer os mesmos cuidados no manejo (KILCAST, 1995).

    O Grupo de Estudo formado pela Food Agriculture Organization (FAO);

    International Atomic Energy Agency (IAEA); World Health Organization (WHO)

    (1999) sobre a Irradiao em Dose Elevada (Salubridade do Alimento Irradiado com

    Doses acima de 10 kGy), concluram que: O alimento irradiado a qualquer dose apropriada para alcanar o objetivo tecnolgico pretendido seguro para consumo e nutricionalmente adequado. Esta concluso baseada na evidncia cientfica extensiva que este processo de preservao pode ser usado efetivamente para eliminar esporos de linhagens proteolticas de Clostridium botulinum e todos os microrganismos deteriorantes, isso no compromete o valor nutricional dos alimentos, e isso no resulta em qualquer perigo toxicolgico. Reconhecendo que, na prtica, as doses aplicadas para eliminar os perigos biolgicos estariam abaixo daquelas utilizadas que poderiam comprometer a qualidade sensorial, o Grupo de Estudo concluiu que nenhum limite de dose superior necessrio ser institudo. Assim, os alimentos

  • 21

    irradiados so considerados saudveis em toda faixa de dose tecnologicamente til abaixo de 10 kGy a doses acima de 10 kGy imaginadas.

    De qualquer forma, mais estudos aprofundados sobre os riscos de alimentos

    irradiados forneceriam uma maior segurana na utilizao destes (SCHREIDER,

    2003).

    2.5 AVALIAO DE RISCO DOS ALIMENTOS IRRADIADOS

    A avaliao de risco um processo sistemtico utilizado para identificar

    riscos apresentados por certas atividades de sade humana ou ambientais.

    Segundo Schreider (2003) executar uma anlise de risco uma tarefa complexa e

    muitas vezes confusa. A anlise de risco simplesmente um processo de

    identificao do potencial para um possvel perigo ocorrer num particular conjunto de

    bens ou processos e de determinao do impacto.

    importante enfatizar que poucos estudos foram realizados nesta rea e

    sua validade limitada. Dessa forma, h uma necessidade priorizada para conduzir

    estudos epidemiolgicos com relao avaliao de risco do consumo de alimentos

    irradiados para animais e humanos. Tais estudos so previstos fornecer melhores

    vises sobre o risco envolvido na exposio irradiao e consumo de alimentos

    irradiados (ARVANITOYANNIS, 2010).

    Tendo-se em vista que cada vez mais a inocuidade microbiolgica dos

    alimentos uma preocupao, muito importante que os consumidores estejam

    tranquilizados com os estudos e processos que tm determinado as concluses

    sobre a inocuidade e salubridade dos alimentos irradiados. importante destacar

    que de 1200 trabalhos publicados nenhum tem um estudo cientifico consistente e

    reproduzvel que demonstre ou sugira que o consumo de um alimento irradiado

    represente algum aumento de risco ao consumidor (ROSSI et al., 2009).

    No entanto, os benefcios da expanso desta tecnologia e os riscos

    envolvidos devem ser amplamente debatidos. Os profissionais de sade devem

    participar no dilogo. Como acontecem com qualquer tecnologia, consequncias

    imprevistas so possveis, portanto, a monitorizao cuidadosa e avaliao contnua

    deste e de todas as tcnicas de processamento de alimentos so precaues

    prudentes (SHEA, 2000).

  • 22

    2.6 PRINCPIOS DA IRRADIAO

    A irradiao literalmente significa exposio radiao (ARVANITOYANNIS,

    2010).

    A radiao pode ser classificada em dois grupos: eletromagntico e

    particulado. A radiao eletromagntica inclui os raios gama, raios X, luz ultravioleta

    e visvel, raios infravermelhos e energia de micro-ondas. A radiao particulada

    inclui os raios alfa, raios beta (eltrons de alta energia), nutrons e prtons (FRAISE;

    LAMBERT; MAILLARD, 2004).

    Os tomos so feitos de trs tipos de partculas: prtons, nutrons e

    eltrons, que Nollet; Toldr (2006) explicaram que: Estas partculas so mantidas juntas por energia e o ncleo atmico contm prtons (carregados positivamente) e nutrons (no carregados) na proporo de 1:1 a 1:1,5. Se qualquer mudana do nmero e disposio nas foras das partculas nucleares ocorrer, eles perdem balano e consequentemente tornam-se um tomo instvel ou radioativo. Este tomo instvel pode se estabilizar novamente pela emisso de energia para rebalancear o ncleo. Para emitir energia, os eltrons so removidos da camada externa dos tomos e os nveis de energia de eltrons so alterados medida que os eltrons retornam aos seus nveis originais. Esta energia eletromagntica e sua emisso, como partculas ou ondas, chamada radiao.

    Na prtica, trs tipos de radiao podem ser usados para preservao dos

    alimentos: raios gama ( ), raios X ou feixes de eltrons de alta energia (partculas )

    (ARVANITOYANNIS, 2010; MOSTAFAVI et al., 2010; XAVIER, 2010).

    Estas so chamadas radiaes ionizantes. Embora os equipamentos e

    propriedades sejam diferentes, os trs tipos de radiao so todos capazes de

    produzir ionizao e excitao dos tomos no material alvo, mas sua energia

    limitada visto que no interage com o ncleo para induzir radioatividade (TUCKER,

    2008).

    Os raios gama e X so parte do espectro eletromagntico e so idnticos em

    suas propriedades fsicas, embora sejam diferentes na origem (BRENNAN;

    GRANDISON; MICHAEL, 2012).

    Estes raios formam parte tambm do espectro eletromagntico como as

    ondas de radio, micro-ondas, raios ultravioletas e raios de luz visvel. So da regio

    do espectro de ondas de comprimento curto e de alta energia, podendo penetrar nos

  • 23

    alimentos a uma profundidade de vrias dezenas de centmetros

    (ARVANITOYANNIS, 2010).

    Fraise et al. (2004) relataram que diferente dos raios gama e feixes de

    eltrons, a luz ultravioleta no uma radiao ionizante. Esta causa excitao dos

    tomos dentro das molculas, promovendo eltrons dentro de suas rbitas atmicas,

    mas no remove os eltrons para produzir ons. A radiao ultravioleta tem pouco

    poder de penetrao atravs dos slidos e extensivamente absorvida por vidros e

    plsticos. Tem sido utilizada na desinfeco de gua para consumo e gua livre de

    pirognios.

    A energia das partculas constituintes ou ftons de radiaes ionizantes

    expressa em eltron-volts (eV) ou mais convenientemente em megaeltron-volts (1

    MeV = 1,602 x 10-13 J). Um eltron-volt igual a energia cintica ganha por um

    eltron acelerado atravs de uma diferena potencial de 1V. Uma distino

    importante e algumas vezes confusa existe entre a energia e a dose de radiao.

    Quando as radiaes ionizantes penetram o alimento, a energia absorvida. Isto a

    dose absorvida e expressa em Grays (Gy), onde 1Gy igual a energia absorvida

    de 1 Jkg-1. Ento, enquanto a energia de radiao uma propriedade fixa para um

    tipo particular de radiao, a dose absorvida variar em relao intensidade das

    radiaes, tempo de exposio e composio do alimento (ADROVIC, 2012;

    ARVANITOYANNIS, 2010; BRENNAN et al., 2012).

    Vital (2005) apud Xavier (2010)1 citou que existem diferentes tipos de

    tomos de cada elemento; estes so referidos como istopos. Alguns istopos so

    radioativos, outros no. Os istopos radioativos so instveis. Estes decaem em

    outros istopos liberando radiao. Cada istopo radioativo, radionucldeo, tem uma

    taxa especfica de desintegrao, sua meia vida.

    Os raios gama so produzidos dos radioistopos e, portanto, apresentam

    energias fixas. Na prtica, o cobalto 60 (Co-60) a principal fonte de istopo.

    produzido em reatores especficos e cerca de 80% do suprimento mundial

    produzido no Canad. O Co-60 produzido do Co-59 no radioativo, que

    comprimido em pequenos pellets e colocado dentro de tubos de ao inox ou de

    1 XAVIER, M. M. B. B. S. Efeitos da radiao gama em corao de frango resfriado anlises: bacteriolgicas fsico-qumicas e sensoriais. Niteri, 2010. 120 f. Dissertao (Mestrado em Higiene Veterinria e Processamento Tecnolgico de Produtos de Origem Animal) Faculdade de Veterinria, Universidade Federal Fluminense, Niteri. 2010.

  • 24

    varetas um pouco maiores que um lpis. Estes so bombardeados com nutrons

    num reator nuclear por um perodo de aproximadamente um ano para produzir Co-

    60 altamente purificado que produz radiao gama durante sua decomposio para

    nquel-60 estvel com energias de 1,17 e 1,33 MeV. Um radioistopo alternativo o

    Csio-137 (Cs-137), que um subproduto do reprocessamento de combustvel

    nuclear e muito menos usado que o Co-60. O Co-60 tem uma meia vida

    aproximada de 5,3 anos e sua radioatividade se reduz 1% por ms, portanto deve

    ser reposto em intervalos adequados (TUCKER, 2008; FRAISE et al., 2004;

    BRENNAN et al., 2012).

    J os feixes de eltrons so produzidos em aceleradores, assim como os

    raios X (ARVANITOYANNIS, 2010; BRENNAN; GRANDISON; MICHAEL, 2012).

    A meia vida curta do Co-60 significa que a fonte esgotada em

    aproximadamente 1% por ms. Esta depleo deve ser considerada nos clculos de

    dose e requer que os tubos sejam substitudos periodicamente. Na prtica, varetas

    individuais so substitudas em rotao em intervalos, mantendo a energia total da

    fonte num nvel relativamente constante. Uma vareta individual pode ser utilizada por

    3-4 meias vidas quando a atividade tiver decado cerca de 10% de seu nvel original.

    Quando no est em uso, a fonte normalmente colocada sob profundidade

    suficiente de gua para absorver completamente a radiao na superfcie de forma

    que o pessoal possa entrar de forma segura na rea da clula de radiao para

    carregar ou descarregar os radionucldeos (BRENNAN et al., 2012; PARNES;

    LICHTENSTEIN, 2004).

    As fontes de raios gama, feixes de eltrons e raios X so usadas para uma

    variedade de processos industriais. Segundo Arvanitoyannis (2010) a radiao gama

    preferida porque pode penetrar profundamente, enquanto que os feixes de

    eltrons penetram o alimento a uma profundidade de apenas 3,8 cm. Os raios X so

    capazes de irradiar itens mais espessos, mas o processo extremamente caro e de

    energia intensiva. Grandes quantidades de alimento teriam que ser irradiados para

    torna-la acessvel. importante ressaltar que as instalaes de irradiao de

    alimentos no se tornam radioativas e no criam lixo radioativo.

    Os feixes de eltrons e os raios X so fontes de mquinas que so

    alimentadas por eletricidade (CENTRO DE GESTO E ESTUDOS

    ESTRATGICOS, 2010).

  • 25

    Portanto, exibem um espectro contnuo de energias dependendo do tipo e

    condies da maquinaria. Detm uma vantagem importante sobre os istopos na

    medida em que podem ser ligados ou desligados e no podem ser de modo algum

    relacionados indstria nuclear (BRENNAN; GRANDISON; MICHAEL, 2012).

    Os modos de ao da radiao ionizante podem ser considerados em trs

    fases: A ao fsica primria da radiao sobre os tomos; as consequncias

    qumicas destas aes fsicas; as consequncias biolgicas para as clulas vivas do

    alimento ou organismos contaminantes.

    IRRADIADORES DE RADIONUCLDEOS ACELERADORES DE ELTRONS Bom poder de penetrao dos raios gama; pode ser usado para tratar alimentos em grandes unidades de embalagem; Taxa de dose baixa; Alta confiabilidade;Necessita repor a fonte de radionucldeos.

    Poder de penetrao relativamentelimitado(5a8cm); Taxa de dose alta, varivel; permitealtataxadetransferncia(p.ex.gros); Mais sensveis degradao;necessidade de pessoal especializado paramanutenoregular; Requerimentos altos de energia erefrigerao; Amquinapodeserdesligada; Pequenas unidades de equipamentopodemserintegradasnaproduo.

    2.6.1 Efeitos fsicos

    Embora as energias dos trs tipos de radiao sejam comparveis e os

    resultados de ionizao sejam os mesmos, h diferenas no modo de ao de cada

    um. Brennan et al. (2012) relataram que os eltrons de alta energia interagem com a

    rbita de eltrons do meio, doando sua energia. Os eltrons orbitais so ejetados do

    tomo inteiramente, resultando na ionizao, ou movidos para uma rbita de energia

    mais alta, resultando na excitao. Os eltrons ejetados (secundrios) de energia

    suficiente podem continuar a produzir outras ionizaes e excitaes em torno dos

    tomos (Figura 1A).

    Os raios X e gama podem ser considerados ftons e a interao mais

    importante pelo efeito Compton (Figura 1B e 1C). Os ftons incidentes ejetam

    eltrons dos tomos no material alvo, doando alguma energia e mudando a direo.

    Tabela 01: Comparao de irradiadores de radionucldeos e aceleradores de eltrons.

    Fonte: Arvanitoyannis (2010).

  • 26

    Um nico fton pode fazer surgir muitos efeitos Compton e podem penetrar

    profundamente no material alvo. Os eltrons ejetados que tm energia suficiente

    (aproximadamente 100 eV) passam ao invs de causar muitas outras excitaes e

    ionizaes. Tais eltrons so conhecidos como raios delta. Tem sido calculado que

    um simples efeito Compton pode resultar em 30.000-40.000 ionizaes e 45.000-

    80.000 excitaes (BRENNAN et al., 2012; GAONKAR, 1995; MOOSEKIAN et al.,

    2012).

    A rede resultante destes efeitos fsicos primrios a deposio de energia

    no material, dando surgimento a molculas excitadas e ons. Estes efeitos no so

    especficos, sem preferncia por quaisquer tomos ou molculas particulares. uma

    caracterstica essencial que as radiaes no tenham energia suficiente para

    interagir com o ncleo, desalojando prtons e nutrons, caso contrrio a

    radioatividade poderia ser induzida nos tomos alvo. Por esta razo, as energias so

    limitadas a 5 e 10 MeV para os raios X e eltrons, respectivamente. O Co-60 produz

    raios gama de energia fixa bem abaixo do que necessrio para interferir com o

    ncleo (ROSSI et al., 2009; BRENNAN et al., 2012).

    2.6.2 Efeitos qumicos

    As mudanas qumicas induzidas pela radiao produzidas pelos

    prtons de raios gama e X ou por feixes de eltrons so exatamente as mesmas

    porque as ionizaes e excitaes so produzidas por eltrons de alta energia em

    ambos os casos. No entanto, uma diferena importante entre os ftons e os eltrons

    A

    B

    C

    Figura 1A, 1B, 1C: Interao da radiao com a matria (Adaptado de Brennan et al., 2012). (1A) Radiao de eltron; 1 feixe de eltron primrio, 2 profundidade de penetrao, 3 eltrons secundrios, 4 meio irradiado. (1B) Radiao gama e X; 1 ftons de raio gama ou X, 2 eltrons Compton, 3 eltrons secundrios, e 4 meio irradiado. (1C) Efeito Compton.

  • 27

    de alta energia a profundidade de penetrao no alimento. Os eltrons doam sua

    energia dentro de poucos centmetros da superfcie do alimento dependendo de sua

    energia, enquanto os raios gama e X penetram muito mais profundamente. Nos

    eltrons pode ser visto que a dose efetiva maior a certa distncia do alimento

    quanto mais eltrons secundrios forem produzidos nessa distncia. Os eltrons

    primrios perdem energia por interagirem com a gua, de modo que o limite prtico

    para a irradiao por eltrons seja cerca de 4 cm usando a energia mxima

    permitida (10 MeV). Os raios gama, no entanto, tornam-se esgotados continuamente

    medida que penetram o alvo e a profundidade efetiva muito maior. Os raios X

    permitem um padro semelhante s radiaes do Co-60. A irradiao de dupla face

    permite o tratamento de embalagens mais espessas de alimento, mas ainda

    ligeiramente limitada para eltrons (aproximadamente 8 cm) (ARVANITOYANNIS,

    2010; BRENNAN et al., 2012; NOLLET; TOLDR, 2006; TUCKER, 2008).

    Os efeitos qumicos secundrios da irradiao resultam da quebra das

    molculas excitadas e ons e sua reao com molculas vizinhas, dando uma

    cascata de reaes. O processo completo pela qual estas reaes geram produtos

    estveis finais conhecido como radilise (DERUITER; DWYER, 2002,

    XAVIER,2010).

    Os ons e molculas excitadas contm quantidades anormais de energia que

    so perdidas pela combinao dos processos fsicos (fluorescncia, converso ao

    calor, ou transferncia para molculas vizinhas) e reaes qumicas. Isto ocorre

    independentemente de se tratar de componentes livres ou moleculares. As reaes

    primrias incluem a isomerizao e dissociao das molculas e reaes com

    espcies vizinhas. Os novos produtos formados incluem os radicais livres, que so

    tomos ou molculas com um ou mais eltrons no pareados que ficam disponveis

    para formar ligaes qumicas e so ento altamente reativas. Devido maioria dos

    alimentos conter quantidades substanciais de gua e os microrganismos

    contaminantes conterem gua em sua estrutura celular, os produtos radiolticos da

    gua so particularmente importantes. Estes incluem os radicais hidrognio e

    hidrxido (H, OH), eaq-, H2, H2O2 e H3O+. Estas espcies so altamente reativas

    quimicamente e reagem com muitas substncias, embora no com as molculas de

    gua (ARVANITOYANNIS, 2010; BRENNAN et al., 2012; KILCAST, 1995).

  • 28

    Na maioria dos alimentos os radicais livres apresentam tempo de vida curto

    (

  • 29

    organismo. A doena por radiao em seres humanos pode ser causada por to

    pouco quanto 0,35 Gy, enquanto uma dose de 6-8 Gy letal em aproximadamente

    100% dos indivduos. As clulas em diviso so geralmente mais sensveis. A

    toxicidade dos radionucldeos depende da absoro, distribuio no corpo, meia

    vida, eliminao de tempo de semivida, tipo de radiao emitida e sua energia.

    O mecanismo exato de ao sobre as clulas no est completamente

    elucidado, mas as mudanas qumicas descritas acima so conhecidas por alterar a

    estrutura da membrana celular, reduzir a atividade enzimtica, reduzir a sntese de

    cidos nuclicos, afetar o metabolismo energtico atravs da fosforilao e produzir

    mudanas composicionais no DNA celular. Esta ltima acredita-se ser de longe o

    componente mais importante da atividade, mas os efeitos de membrana podem

    desempenhar um papel adicional (CHIRINOS et al., 2002; BRENNAN et al., 2012).

    O dano no DNA pode ser causado pelo efeito direto atravs do qual as

    ionizaes e excitaes ocorrem nas molculas de cido nuclico em si.

    Alternativamente, as radiaes podem produzir radicais livres de outras molculas,

    especialmente da gua, que se difunde e causa dano ao DNA atravs de efeitos

    indiretos (CRAWFORD; RUFF, 1996; ARVANITOYANNIS, 2010). Os efeitos diretos

    predominam sob condies secas tais quando os esporos secos so irradiados,

    enquanto os efeitos indiretos so mais importantes sobre condies midas, tais

    como dentro das estruturas celulares de frutas e clulas bacterianas de vegetais

    (BRENNAN; GRANDISON; MICHAEL, 2012).

    A maioria das bactrias pode reparar quebras da fita-nica de DNA por

    meios enzimticos, mas so incapazes de restaurar um nmero significante de

    quebras de dupla-fita e ento continuam incapazes de se dividir (MOSELEY, 1990).

    Deve ser notado que o dano qumico marcantemente pequeno ao sistema

    necessrio para causar letalidade celular, porque as molculas de DNA so

    enormes se comparadas a outras molculas na clula e assim representam um

    grande alvo. No entanto, somente uma pequena quantidade de dano molcula

    necessria para render um dano celular irreparvel. Est claramente ilustrado em

    dois estudos citados por Brennan et al. (2012) que calcularam que durante a

    irradiao das clulas: a dose de radiao de 0,1 kGy danificar 2,8% das molculas

    de DNA, o que seria letal para a maioria das clulas, enquanto a atividade

    enzimtica somente cairia 0,14%, o que dificilmente detectvel, e somente 0,005%

  • 30

    das molculas de aminocidos seriam afetadas, o que completamente

    indetectvel; e a dose de 10 kGy afetaria 0,0072% das molculas de agua e 0,072%

    das molculas de glicose, mas uma simples molcula de DNA seria danificada em

    cerca de 4.000 locais, incluindo 70 quebras de dupla-fita.

    Isto fortuito para a irradiao de alimentos, tendo-se em vista que baixas

    doses so necessrias para a eficcia do processo que resulta em dano qumico

    mnimo ao alimento. O fenmeno tambm explica a variao nas doses letais entre

    organismos. O alvo representado pelo DNA nas clulas de mamferos

    consideravelmente maior que as clulas dos insetos, que por sua vez so maiores

    que o genoma das clulas bacterianas; consequentemente, a sensibilidade

    radiao permite o mesmo padro. Por outro lado, os vrus tm um contedo muito

    menor de cidos nuclicos e altas doses necessrias para sua eliminao fazem a

    irradiao um procedimento improvvel de tratamento. Felizmente, raro vrus

    transmitidos por alimentos causarem problemas de sade a humanos (ADROVIC,

    2012; BRENNAN et al., 2012KILCAST, 1995; KRAYBILL; WHITEHAIR, 1967).

    2.7 CLASSIFICAO DAS IRRADIAES

    A irradiao de alimentos (Tabela 2) pode ser subdividida em trs

    categorias, classificadas pela quantidade de radiao aplicada (INTERNATIONAL

    ATOMIC ENERGY AGENCY, 2002).

    Originalmente, em 1964, as subdivises propostas foram: radapertizao,

    radiciao e radurizao, mas os limites de dose no so bem estabelecidos

    (ARVANITOYANNIS, 2010; BRENNAN; GRANDISON; MICHAEL, 2012).

    Na verdade, esta classificao caiu em desuso e encontra-se obsoleta,

    sendo mais conveniente citar-se a dose e o objetivo da irradiao (EHLERMANN,

    2009; COUTO; SANTIAGO, 2010).

  • 31

    FUNO DOSE (kGy) PRODUTOS IRRADIADOS DOSE REDUZIDA (AT 1 KGY) Inibir a germinao 0,05-0,15 Batatas, cebolas, alho, raiz de gengibre e outros Eliminar insetos e parasitas 0,15-0,50 Cereais e legumes, frutas frescas e secas;

    pescados e carnes frescas e secas; carne de porco fresca

    Atrasar processos fisiolgicos 0,50-1,00 Frutas e hortalias frescas DOSE MDIA (1 A 10 KGY) Prolongar tempo de conservao 1,00-3,00 Pescado fresco Eliminar microrganismos de decomposio e patgenos

    1,00-7,00 Mariscos frescos e congelados, aves, carne crua ou congelada

    Melhorar as propriedades tecnolgicas do alimento

    2,00-7,00 Uvas (aumentando a produo de sumo), verduras desidratadas (diminui o tempo de coco)

    DOSE ELEVADA (10 A 50 KGY) Esterilizao industrial (juntamente ao calor suave)

    30,00-50,00 Carne, aves, mariscos, alimentos preparados, dietas hospitalares estreis

    Descontaminar certos aditivos alimentares e ingredientes

    10,00-50,00 Especiarias, preparaes enzimticas

    A radapertizao objetiva reduzir o nmero e/ou a atividade de

    microrganismos a um nvel que seja indetectvel. Alimentos apropriadamente

    embalados radapertizados se conservam por tempo indeterminado, sem

    refrigerao. Doses na variao de 25-50 kGy so normalmente necessrias. um

    efeito semelhante ao da esterilizao. A irradiao deve ser feita na embalagem final

    e o alimento tem de estar pronto para o consumo. A radiciao objetiva reduzir o

    nmero de fungos e bactrias viveis formadoras de esporos patognicas a um nvel

    indetectvel. Doses de 2-8 kGy so normalmente necessrias. Estes produtos

    necessitam ser mantidos sob refrigerao, porque ocorre apenas uma reduo

    parcial dos microrganismos. A radurizao um tratamento suficiente para melhorar

    a qualidade de conservao dos alimentos atravs da reduo substancial nos

    nmeros de organismos deteriorantes especficos viveis. Doses variam com o tipo

    de alimento e o nvel de contaminao, mas frequentemente variam de 1-5 kGy.

    Este processo inibe brotamentos e retarda o processo de amadurecimento e

    deteriorao de frutas e hortalias, alm de agir contra insetos (BRENNAN et al.,

    2012; COUTO; SANTIAGO, 2010).

    Tabela 2: Ao da irradiao sobre os alimentos.

    Fonte: World Health Organization (1988) apud Germano; Germano (2010).

  • 32

    2.8 INSTALAES DE IRRADIAO GAMA

    Todos os estabelecimentos de irradiao apresentam algumas

    caractersticas em comum. A instalao de irradiao gama consiste de uma fonte

    de irradiao, clula de irradiao (campo biolgico), painel da fonte, piscina de

    gua para estocagem da fonte, sistema de transporte do produto e de transio da

    fonte, armazm e sistema de controle automtico (ARVANITOYANNIS, 2010).

    O processo de irradiao ocorre na clula de irradiao protegida por um

    campo biolgico feito de paredes de concreto com espessura de 2,0m. Quando o

    irradiador desligado, o painel da fonte mantida numa piscina de gua com cerca

    de 6,0m de profundidade. Para ligar o dispositivo para a posio de radiao, a fonte

    puxada por meio de um pisto pneumtico e posicionada entre as tote box

    preenchidas com produtos. Os produtos a serem expostos irradiao so

    colocados dentro das caixas em suas prprias embalagens e levadas clula de

    irradiao por um sistema de esteiras. As caixas preenchidas com produtos so

    movidas em torno da fonte de forma stop and go e radiadas em diferentes

    posies, e ento so removidas da sala de radiao automaticamente pelo sistema

    de esteiras. O dispositivo de radiao e o sistema de esteiras so completamente

    controlados por um computador (ARVANITOYANNIS, 2010; NAYGA et al., 2005).

    Figura 02: Instalao de irradiao comercial por Co-60 tipo Pallet. Fonte: Arvanitoyannis (2010)

  • 33

    2.9 ACELERADORES DE ELTRONS

    A fonte de irradiao um acelerador de feixes de eltrons que no

    radioativa. Um acelerador de eltrons consiste de trs partes: (1) gerador de alta

    voltagem conectado a uma fonte ou pistola de eltrons; (2) tubo de acelerao

    avaliada; (3) sistema de escaneamento/focagem ou de alvo. A corrente de eltrons

    emitida da pistola de eltron injetada no tubo acelerador. A mquina gera e acelera

    os eltrons no vcuo. Devido pequena massa dos eltrons, eles no podem

    penetrar muito profundamente num produto. Alm disso, a densidade do produto

    pode afetar a penetrao de eltrons. Para serem teis para irradiao de alimentos,

    os eltrons devem ser acelerados a energias de no mnimo 5 MeV. A energia

    mxima aprovada para uso em alimentos 10 MeV. Quanto mais alta energia os

    eltrons tiverem maior a penetrao no produto. No entanto, em 5 MeV e ao irradiar

    o produto em ambos lados, o mximo de espessura que pode ser penetrada

    aproximadamente 3,8cm. Em 10 MeV e com irradiao bilateral, a espessura

    mxima que pode ser penetrada aproximadamente 8,9cm (ARVANITOYANNIS,

    2010; HOGAN, 2006).

    2.10 PROCESSOS DE INTERAO DE RAIOS-X

    O mtodo mais importante de produo de raios-X depende do processo

    conhecido como bremsstrahlung (do alemo que significa radiao de frenagem)

    (FARKAS, 2006).

    Os raios-X so produzidos quando as partculas carregadas, movidas numa

    velocidade muito alta, so desaceleradas rapidamente ao atingir um alvo. Um feixe

    de eltrons de alta velocidade direcionado para uma placa fina de metal pesado

    (normalmente tungstnio ou tntalo), produzindo um feixe de raios-X (ADROVIC,

    2012).

    Arvanitoyannis (2010) explicou que a frao de energia cintica dos eltrons

    que convertida em raios X (converso eficiente) to maior para absorvedores

    quanto maior o nmero atmico; ento, materiais como o tungstnio e tntalo so

    usados como conversores de raios-X. A eficincia de converso tambm aumenta

    com o aumento da energia do eltron. Em 5 MeV, aproximadamente 5% no

  • 34

    tungstnio, aumentando para aproximadamente 12,5% em 10 MeV. Ao contrrio das

    fontes de radionucldeos que emitem ftons praticamente monoenergticos, as

    fontes de raios-X emitem um espectro amplo de ftons de energia mxima at

    energia zero dos eltrons. Embora a penetrao em produtos seja aproximadamente

    a mesma para ambos os raios-X e gama, a produo de raios-X no atualmente

    econmica.

    Para o tratamento de alimentos, as mquinas de raios-X devem ser

    operadas em nvel de energia de 5 MeV ou mais baixa (INTERNATIONAL ATOMIC

    ENERGY AGENCY; MOSELEY, 1990).

    Esta restrio baseada na necessidade de prevenir radioatividade

    induzida. A produo de raios-X relativamente eficiente, mas pode ser competitiva

    com a radiao gama por plantas de alta capacidade. A possibilidade de usar feixes

    de eltrons e raios-X na mesma instalao de irradiao atrativa

    (ARVANITOYANNIS, 2010).

    2.11 LEGISLAO DE IRRADIAO DE ALIMENTOS

    A fiscalizao e a inspeo de alimentos, includo o controle de seu teor

    nutricional, bem como bebidas e guas para consumo atribuio do Sistema nico

    de Sade (SUS) atravs das aes da vigilncia sanitria e est garantida

    constitucionalmente. A vigilncia sanitria, conforme preconiza a Lei Federal n

    8.080, um conjunto de aes capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos

    sade e de intervir nos problemas sanitrios decorrentes do meio ambiente, da

    produo e circulao de bens e da prestao de servios de interesse da sade,

    abrangendo o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se

    relacionem com a sade, compreendidas todas as etapas e processos, da produo

    ao consumo (BRASIL, 1990).

    Cabe a Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA) a execuo

    desse conjunto de aes. Alm da atribuio regulatria, a ANVISA responsvel

    pela coordenao do Sistema Nacional de Vigilncia Sanitria (SNVS), de forma

    integrada com outros rgos pblicos relacionados direta ou indiretamente ao setor

    sade. Dentre os produtos que so sujeitos ao controle de fiscalizao sanitria pela

    ANVISA, merecem destaque os produtos com possibilidade de risco sade, dos

  • 35

    quais fazem parte os alimentos irradiados. Desta forma, a Vigilncia Sanitria deve

    compreender como se estabelece o processo do consumo como forma de melhor

    intervir, pois a divulgao de informaes incorretas, equivocadas ou incompletas

    pode acarretar danos sade. Para isso, h necessidade de instrumentos que

    protejam a sade coletiva, pois a relao da vigilncia sanitria com a sociedade

    deve estar pautada na noo de cidadania, de sujeitos de direitos e no apenas na

    de consumidores (MARINS; ARAJO; JACOB, 2011).

    Aith (2007), em sua obra dentro do contexto legislativo sanitrio, mencionou

    que existem normas jurdicas que foram criadas exclusiva ou principalmente para a

    proteo do direito sade, seja organizando as aes estatais para a prestao de

    servios de sade, seja estabelecendo infraes sanitrias e suas sanes. Estas

    normas formam o que aqui se denomina como fontes especficas do Direito

    Sanitrio. De outro lado, existem normas jurdicas que, embora no tenham sido

    editadas exclusiva ou principalmente editadas para a proteo do Direito Sade,

    possuem dispositivos de proteo do Direito Sade. So exemplos deste tipo de

    instrumento normativo: a Constituio Federal; o Cdigo Penal; o Cdigo Civil; o

    Cdigo do Consumidor, dentre outras leis e atos normativos que formam a base do

    ordenamento jurdico nacional e contm dispositivos de proteo do direito sade.

    So normas jurdicas aqui denominadas fontes no especificas do Direito Sanitrio.

    O Cdigo de Defesa do Consumidor (BRASIL, 1990), assegura que todos os

    consumidores tm o direito de obter produtos alimentcios que contenham

    informaes de suas caractersticas e qualidades, quando refere que: Art. 31 A oferta e apresentao de produtos ou servios devem assegurar informaes corretas, claras, precisas, ostensivas e em lngua portuguesa sobre suas caractersticas, qualidades, quantidade, composio, preo, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam sade e segurana dos consumidores.

    A legislao de rotulagem d ao consumidor o direito informao, permite

    o rastreamento e o controle ps-comercializao de produtos alimentares. Dessa

    maneira possibilita o controle da qualidade de alimentos (RIBEIRO; MARIN, 2012).

    A Resoluo da Diretoria Colegiada da Agncia Nacional de Vigilncia

    Sanitria n 21 obriga que na rotulagem dos alimentos irradiados, alm dos dizeres

    exigidos para os alimentos em geral e especfico do alimento, deve constar no painel

    principal: ALIMENTO TRATADO POR PROCESSO DE IRRADIAO, com as

    letras de tamanho no inferior a um tero (1/3) do da letra de maior tamanho nos

  • 36

    dizeres de rotulagem e quando um produto irradiado for utilizado como ingrediente

    em outro alimento, deve declarar essa circunstncia na lista de ingredientes, entre

    parnteses, aps o nome do mesmo. Nos locais de exposio venda de produtos

    a granel irradiados deve ser afixado cartaz, placa ou assemelhado com esta

    informao (BRASIL, 2001).

    Segundo Del Mastro (1999), baseado nos estudos experimentais disponveis

    e nas estimativas tericas, o Comit da Junta de Especialistas da FAO/IAEA/WHO

    fez em 1981 uma recomendao que foi, desde 1985, includo na legislao

    brasileira para restringir as fontes de radiao para irradiao de alimento ao

    seguinte: Os raios gamas dos radionucldeos Co-60 (energia mxima 1,33 MeV) ou

    Cs-137 (energia mxima 0,66 MeV); os raios-X gerados das fontes das mquinas

    operam em ou abaixo de 5 MeV; os eltrons gerados das fontes das mquinas

    operam em ou abaixo de 10 MeV.

    A irradiao de boa parte de produtos gerados pelo agronegcio, alguns em

    curto prazo e outros em mdio prazo deve ser considerada alternativa tecnolgica

    emergente e caracterizada como limpa, segura e no trmica. Nestas condies,

    praticamente certo o aumento da utilizao desta tecnologia no Brasil e no exterior (

    CENTRO DE GESTO E ESTUDOS ESTRATGICOS, 2010).

    A variedade de aplicao da irradiao , em sntese, a chave mestra para

    sua expanso. uma tecnologia regulamentada internacionalmente e no Brasil

    pelas disposies do Decreto-Lei n 72.718, e da Resoluo RDC/ANVISA n 21. No

    Brasil no h mais restries em relao s doses a serem aplicadas de irradiao,

    no mais vigorando tambm uma lista restrita de alimentos autorizados para

    irradiao (BRASIL, 1973, BRASIL, 2001).

    A legislao permite a irradiao de alimentos desde que a dose mnima

    absorvida seja suficiente para alcanar a finalidade pretendida e que a dose mxima

    absorvida seja inferior quela que comprometeria as propriedades funcionais e os

    atributos sensoriais do alimento (POSTAL et al., 2009).

    Atravs da Instruo Normativa n 9, o Ministrio da Agricultura, Pecuria e

    Abastecimento resolve adotar as diretrizes da Norma Internacional para Medidas

    Fitossanitrias NIMF n 18 como orientao tcnica para o uso da irradiao como

    medida fitossanitria com o objetivo de prevenir a introduo ou disseminao de

    pragas quarentenrias regulamentadas no territrio brasileiro (BRASIL, 2011).

  • 37

    importante, nesta exposio contextual, se mencionar a existncia de um

    Cdigo Internacional Recomendado para o Tratamento dos Alimentos por Irradiao

    (CAC/RCP 19-1979, Rev.1-2003) que foi elaborado e publicado pelo Codex

    Alimentarius. Em suma, est aberto o caminho para o aproveitamento da aplicao

    de radiao ionizante para os alimentos e, em decorrncia, para as frutas, frutos e

    derivados processados no Brasil (CENTRO DE GESTO E ESTUDOS

    ESTRATGICOS, 2010).

    Novos irradiadores comerciais disponibilizados para irradiao foram

    recentemente encomendados no Brasil, China, ndia, Repblica da Coria, Mxico e

    Tailndia. Assim, calcula-se que anualmente so irradiadas e vendidas 700 mil

    toneladas de alimentos no mundo. O Brasil aparece com 23.000 toneladas de

    produtos irradiados, sendo 20.000 toneladas de especiarias e 3.000 entre gros e

    frutas, participou (2005) com 5,7% da produo total de produtos alimentcios

    irradiados ( CENTRO DE GESTO E ESTUDOS ESTRATGICOS, 2010; LIRIO,

    2010).

    2.12 SMBOLO RADURA

    Originalmente, o smbolo radura foi usado exclusivamente pela Planta Piloto

    de Irradiao de Alimentos, em Wageningen, Holanda, possuindo direitos autorais.

    O uso do logotipo foi tambm permitido para todos que aderissem as mesmas

    regras de qualidade. O smbolo foi tambm amplamente usado pela Energia Atmica

    da frica do Sul, incluindo na rotulagem o termo radurizado ao invs de irradiado; a

    palavra radurizado apareceu na parte inferior do crculo quebrado. Este uso do

    radurizado incluiu at mesmo refeies prontas estreis para entusiastas. E foi o

    ento presidente da Gammaster, Jan Leemhorst, quem propagou incansavelmente o

    uso deste logotipo internacionalmente. Por sua interveno, foi tambm includo nos

    padres do Codex Alimentarius sobre alimentos irradiados como uma opo ao

    alimento embalado irradiado (EHLERMANN, 2009).

    A palavra radura derivada da radurizao, um termo composto das letras

    iniciais da palavra radiao e o termo durus, que significa para duro ou durvel em

    Latim (Figura 3). Este smbolo tem sido usado para alimentos processados por

  • 38

    radiao ionizante. O Radura normalmente de cor verde e assemelha-se a uma

    planta num crculo (EHLERMANN, 2009; ROLLIN et al., 2011; STEWART, 2004).

    A metade superior do crculo tracejada. O smbolo pode ser interpretado da

    seguinte forma: o ponto central representa a fonte de radiao e os dois segmentos

    (folhas) representam a blindagem biolgica fornecida para proteger os trabalhadores

    e o ambiente. O uso do logotipo RADURA facultativo de acordo com os padres

    do Codex Alimentarius. No entanto, alguns pases, como os EUA, tornaram

    obrigatrio o uso deste smbolo, outros permitem seu uso opcional, enquanto outros

    pases, em particular os da Unio Europeia, no fornecem disposies para o uso

    deste logotipo internacional (JUNQUEIRA-GONALVES et al., 2011).

    O Brasil se aplica neste ltimo caso, enquanto que o Food and Drug

    Administration (FDA) nos EUA, desde 1986, obriga que os alimentos irradiados

    incluam na rotulagem os dizeres tratado com radiao ou tratado por irradiao junto

    com o smbolo radura, conforme o Code of Federal Regulations Title 21 Part 179 (21

    CFR1 79) (FOOD AND DRUG ADMINISTRATION, 1986).

    2.13 O CONSUMIDOR E OS ALIMENTOS IRRADIADOS

    As pesquisas apontam que muitos consumidores no conhecem sobre a

    tecnologia de irradiao de alimentos. No Brasil, sabe-se que h pouca informao

    sobre o conhecimento pblico da irradiao de alimentos, apoiando mais esforos

    educativos do consumidor, a fim de promover os alimentos irradiados (BEHRENS et

    al., 2009).

    Figura 3: Smbolo internacional radura. Fonte:

  • 39

    Espera-se que com programas educacionais efetivos os consumidores

    aceitem a irradiao de alimentos e existe uma correlao entre a educao do

    consumidor e a aceitao da irradiao de alimentos (DERUITER; DWYER, 2002).

    Embora a informao sobre irradiao contribua para um melhor

    entendimento da tecnologia, as dvidas e percepo de risco continuaram entre os

    consumidores brasileiros entrevistados (BEHRENS et al., 2009).

    Os consumidores ainda carecem de informaes importantes sobre a

    tecnologia de processamento de alimentos por irradiao. A aceitao destes

    produtos alimentcios depende da maneira como o pas direciona suas polticas de

    segurana alimentar e de educao sanitria, inclusive atravs do uso dos canais de

    mdia televisiva e outras fontes de disseminao da informao em massa. Assim,

    as instituies sanitrias reguladoras devem garantir melhores critrios de escolha e

    de deciso de compra sobre tais produtos por parte dos consumidores, pois as

    informaes contidas nos rtulos de alimentos irradiados so controversas, apesar

    de serem instrumentos suficientes de deteco de alimentos irradiados pelos

    consumidores (LIMA, 2012).

    A falta de conhecimento gera dvidas e colabora para um posicionamento de

    repulsa diante dos alimentos tratados por esta nova tecnologia (ORNELLAS et al.,

    2006).

    Alm disso, o conhecimento prvio pode estimular o pensamento sobre uma

    mensagem e ajudar as pessoas a fortalecer suas opinies iniciais (PETTY;

    WEGENER; FABRIGAR, 1997).

    importante notar que a chave para os problemas nucleares

    contemporneos parece apoiar-se principalmente sobre as cincias sociais e

    comportamentais do que sobre as cincias nucleares per se (TANAKA, 1998).

    Portanto, a perspectiva das cincias sociais sobre o risco amplia o escopo

    dos efeitos indesejveis, inclui outras maneiras de expressar possibilidades e

    probabilidades, e expande o horizonte de resultados, referindo-se s realidades

    socialmente construdas (RENN, 1998).

  • 40

    2.14 POLTICA DE ALIMENTOS E NUTRIO E DE SEGURANA ALIMENTAR

    A construo do Sistema Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional

    (SISAN) requer a adoo de um sistema de monitoramento que fornea

    periodicamente indicadores sobre a evoluo da realizao progressiva do Direito

    Humano Alimentao Adequada (DHAA) no Pas e da promoo da Soberania e

    Segurana Alimentar e Nutricional. Este monitoramento deve conter indicadores

    capazes de expressar as mltiplas dimenses da segurana alimentar e nutricional,

    alm de captar a diversidade cultural, territorial e regional do Pas, as desigualdades

    de gnero, tnicas e raciais e a condio particular dos povos indgenas e das

    comunidades tradicionais (BRASIL, 2010).

    Para tanto, o SISAN e a Poltica Nacional de Segurana Alimentar e

    Nutricional (PNSAN) tm a participao social como um importante elemento

    constitutivo desse processo, sendo sua principal expresso o Conselho Nacional de

    Segurana Alimentar e Nutricional (CONSEA) (BRASIL, 2009).

    O enfoque de Segurana Alimentar e Nutricional (SAN) desenvolvido no Brasil

    atribui a essa noo o estatuto de um objetivo de poltica pblica, estratgico e

    permanente, caracterstica que a coloca entre as categorias nucleares para a

    formulao das opes de desenvolvimento de um pas. Ela rene as dimenses

    alimentar e nutricional, bem como associa as dimenses inseparveis da

    disponibilidade de bens food security e da qualidade desses bens food safety

    (BRASIL, 2009).

    O SISAN, bem como a poltica de SAN, se assentam em duas diretrizes

    fundamentais, cujos componentes esto enumerados na Tabela 3, a seguir: Intersetorialidade das aes, polticas e programas: as mltiplas dimenses que condicionam a segurana alimentar e nutricional dos indivduos, famlias, grupos sociais e

    tambm dos pases, requerem a formulao de programas integrados e a coordenao das

    aes dos vrios setores de governo, assim como demandam a superao da atuao

    setorializada das organizaes da sociedade civil; isso implica que a construo do Sistema

    Nacional igualmente intersetorial, em dilogo com os vrios sistemas de polticas pblicas

    existentes no Brasil como sade, educao, assistncia social, desenvolvimento agrrio e

    agrcola, meio ambiente.

    Participao social: aes conjuntas entre Estado e sociedade civil com vistas a superar concepes tecnocrticas e centralizadas de polticas pblicas; essa diretriz

    reflete tambm a j extensa experincia de democracia participativa na formulao de

  • 41

    polticas em diversos campos no Brasil, com a instituio de espaos pblicos (na forma de

    conferncias, conselhos, oramentos participativos e planos diretores urbanos) nas trs

    esferas de governo (nacional, estadual/distrital e municipal); mencione-se o conjunto de

    organizaes, redes e movimentos sociais que conduzem expressivo nmero de iniciativas

    prprias e em interao com programas de governo (BRASIL, 2010).

    Diretrizes da Poltica Nacional de SAN Programas e Aes do Governo Federal

    I. Promover o acesso universal alimentao adequada

    Transferncia de renda; alimentao escolar; alimentao do trabalhador; rede de equipamentos pblicos de alimentao e nutrio; distribuio de cestas de alimentos; garantia de preo mnimo para os produtos agroalimentares.

    II. Estruturar sistemas justos, de base agroecolgica e sustentveis de produo, extrao, processamento e distribuio de alimentos

    Apoio creditcio agricultura familiar; garantia de preos diferenciados; assistncia tcnica e extenso rural; reforma agrria; agricultura urbana e periurbana; abastecimento; pesca e aquicultura; economia solidria.

    III. Instituir processos permanentes de educao e capacitao em segurana alimentar e direito humano alimentao adequada

    Educao alimentar e nutricional nos sistemas pblicos; valorizao da cultura alimentar brasileira; formao em direito humano alimentao e mobilizao social para a conquista da SAN; formao de produtores e manipuladores de alimentos.

    IV. Ampliar e coordenar as aes de segurana alimentar e nutricional voltadas para povos indgenas e comunidades tradicionais

    Acesso aos territrios tradicionais e recursos naturais; incluso produtiva e fomento produo sustentvel; alimentao e nutrio indgena; distribuio de alimentos a grupos populacionais especficos; atendimento diferenciado em programas e aes de SAN.

    V. Fortalecer as aes de alimentao e nutrio em todos os nveis da ateno sade, de modo articulado s demais polticas de segurana alimentar e nutricional

    Vigilncia sanitria para a qualidade dos alimentos; nutrio na ateno bsica; vigilncia alimentar e nutricional; sade no Programa Bolsa Famlia; pro- moo da alimentao adequada; preveno e controle de carncias nutricionais; estruturao e implementao das aes de alimentao e nutrio nos estados e municpios.

    VI. Promover a soberania e segurana alimentar e nutricional em mbito internacional

    Negociaes internacionais; cooperao Sul-Sul na rea de SAN e de desenvolvimento agrcola; assistncia humanitria internacional.

    VII. Promover o acesso gua para consumo humano e para a produo de alimentos

    Estruturao do Sistema Nacional de Gesto dos Recursos Hdricos; gesto e revitalizao de bacias hidrogrficas; disponibilidade e acesso gua para alimentao e produo de alimentos; saneamento e qualidade da gua.

    .

    Tabela 3: Diretrizes da Poltica Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional (SAN) e os Programas e Aes do Governo Federal do Brasil.

    Fonte: Brasil (2009).

  • 42

    3 CONCLUSES

    A irradiao de alimentos uma tecnologia de processamento relativamente

    nova no Brasil e ainda demanda esforos para informar os consumidores sobre os

    benefcios, riscos e desafios, alm de uma abordagem sobre as perspectivas

    tecnolgicas presentes e futuras.

    Os rgos de regulamentao sanitria devem implementar polticas que

    direcionem melhor a informao dada nos rtulos dos alimentos irradiados ou

    daqueles irradiados e que so ingredientes em outros alimentos. Neste sentido,

    avalia-se que mais importante que a informao sobre o tipo de processamento

    executado em determinado alimento seu risco envolvido.

    Cada vez mais a inocuidade microbiolgica dos alimentos uma

    preocupao, muito importante que os consumidores estejam tranquilizados com

    os estudos e processos que tm determinado as concluses sobre a inocuidade e

    salubridade dos alimentos irradiados.

    importante destacar que de muitos trabalhos publicados nenhum tem um

    estudo cientifico consistente e reproduzvel que demonstre ou sugira que o consumo

    de um alimento irradiado represente algum aumento de risco ao consumidor.

    Com a elaborao deste estudo observou-se as duas faces envolvendo a

    irradiao de alimentos, a inocuidade do alimento e a necessidade de mais

    pesquisas envolvendo a sade do consumidor e os riscos de opo da escolha pelo

    produto submetido ao processo de irradiao.

  • 43

    4 REFERNCIAS BIBLIOGRAFICAS ADROVIC, F. Gamma radiation. 1a. ed. Rijeka: InTech, 2012. p. 320. AIEW, W.; NAYGA, R. M.; NICHOLS, J. P. The Promise of Food Irradiation: Will Consumers Accept It? Choices, v. 18, n. 3, p. 3134, 2010. AITH, F. Curso de direito sanitrio. 1a. ed. So Paulo: Quartier Latin, 2007. p. 265. ARVANITOYANNIS, I. S. Irradiation of Food Commodities: Techniques, Applications, Detection, Legislation, Safety and Consumer Opinion. 1a. ed. Nova Iorque: Academic Press, 2010. p. 710. ASHLEY, B. C. et al. Health concerns regarding consumption of irradiated food. International Journal of Hygiene and Environmental Health, v. 207, n. 6, p. 493504, jan. 2004. BEHRENS, J. H. et al. Brazilian consumer views on food irradiation. Innovative Food Science & Emerging Technologies, v. 10, n. 3, p. 383389, jul. 2009. BORGES, A. Avaliao bacteriolgica da linguia de frango frescal submetida a radiao gama. Niteri, 2002. 65 f. Trabalho de Concluso de Curso de Especializao em Irradiao em Alimentos - Faculdade de Veterinria - Universidade Federal Fluminense. Nitei, 2002. BRASIL. Caderno de Educao Popular e Sade. Srie B. Textos Bsicos de Sade. 1a. ed. Braslia: Ministrio da Sade, Secretaria de Gesto Estratgica e Participativa., 2007. p. 160p. _______. Construo do Sistema e da Poltica Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional: a experincia brasileira Expediente. 1a. ed. Braslia: CONSEA, 2009. p. 3567. _______. A Segurana Alimentar e Nutricional e o Direito Humano Alimentao Adequada no Brasil indicadores e monitoramento. Braslia: Conselho Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional, 2010. _______. Ministrio da Sade. Decreto n 72.718, de 29 de agosto de 1973. Estabelece normas gerais sobre irradiao de alimentos. Dirio Oficial da Unio, Braslia, DF, p. 8665, 30 de agosto de1973. Seo 1. ________. Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA). Resoluo RDC no 21, de 26 de janeiro de 2001. Aprova o Regulamento Tcnico para Irradiao de Alimentos. Dirio Oficial [da] Repblica Federativa do Brasil, Braslia, DF, 29 jan. 2001., 2001. ________. Portaria MAPA n 46, de 10/2/1998. Institui o Sistema de Anlise de Perigos e Pontos Crticos de Controle - APPCC a ser implantado, gradativamente,

  • 44

    nas indstrias de produtos de origem animal sob o regime do servio de inspeo federal - SIF, de acordo com o manual genrico de procedimentos. (Dirio Oficial da Unio, de 16/3/1998), Braslia. ________. Ministrio da Sade. Resoluo RDC n. 21, de 26 de janeiro de 2001. Aprova o Regulamento Tcnico para Irradiao de Alimentos, constante do Anexo desta Resoluo. Dirio Oficial [da] Repblica Federativa do Brasil. Braslia, DF, 29 de janeiro de 2001.

    ________. Lei Federal n 8.078, de 11/09/1990. Cdigo de Defesa do Consumidor (CDC). (Dirio Oficial da Unio, de 12/09/1990), Braslia. ________. Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA) n 275, de 21/10/2002. Produtores/Industrializadores de Alimentos e a Lista de Verificao das Boas Prticas de Fabricao em Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de Alimentos. (Dirio Oficial da Unio, de 6/11/2002), Braslia. _________. Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento. Instruo Normativa n 09, de 24/2/2011. Adota as diretrizes da Norma Internacional para Medidas Fitossanitrias - NIMF n 18 como orientao tcnica para o uso da irradiao como medida fitossanitria. (Dirio Oficial da Unio, de 25/2/2011), Braslia. _________. Decreto-Lei n 72.718, de 29/8/1973. Estabelece regras gerais sobre irradiao de alimentos. (Dirio Oficial da Unio, de 30/8/1973), Braslia. BRENNAN, J. G.; GRANDISON, A. S.; MICHAEL, H. Food processing handbook. 2a Ed. ed. Weinheim: Wiley-VCH Verlag & Co. KGaA, 2012. v. 1p. 777. CANESQUI, A. M. Produo Cientfica das Cincias Sociais e Humanas em Sade e Alguns Significados. Sade e Sociedade, v. 21, n. 1, p. 1523, 2012. CARNEIRO, S. et al. Avaliao da adequao da rotulagem de leite pasteurizado comercializado no Estado de So Paulo. Revista Higiene Alimentar, v. 25, n. Maro/Abril, p. 2224, 2011. CENTRO DE GESTO E ESTUDOS ESTRATGICOS (CGEE). Estudo da Cadeia de Suprimento do Programa Nuclear Brasileiro - Relatrio Parcial: Irradiadores e aplicaes. Disponvel em: . Acesso em: 21 abr. 2012. CHIRINOS, R. R. O. et al. Inactivation of Escherichia coli O157:H7 in hamburgers by gamma irradiation. Brazilian Journal of Microbiology, v. 1, n. 33, p. 5356, 2002. COUTO, R. R.; SANTIAGO, A. J. Radioatividade e Irradiao de Alimentos. Revista Cincias Exatas e Naturais, v. 12, n. 2, p. 20, 2010. CRAWFORD, L. M.; RUFF, E. H. A review of the safety of cold pasteurization through irradiation. Food Control, v. 7, n. 2, p. 8797, abr. 1996.

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    DELINCE, H. et al. Genotoxicity of 2-alkylcyclobutano