publicidade e lovemarks: o amor além da razão no caso havaianas

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  • 7/31/2019 Publicidade e Lovemarks: o amor alm da razo no caso Havaianas

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    Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXXXII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Curitiba, PR 4 a 7 de setembro de 2009

    sentimentos e o fascnio que as marcas despertam nas pessoas. As lovemarks estabelecem uma

    relao emocional com o consumidor, indo alm da razo, objetivo final de qualquer empresa.

    No mercado brasileiro, notamos a existncia de poucos casos representativos daslovemarks, e entre eles, destacamos as Havaianas. Esta marca, que j possua uma base slida

    no mercado nacional, passou por uma grande transformao tanto organizacional como

    mercadolgica a fim de se adequar s necessidades de suas consumidoras.

    Nesse contexto, o objetivo geral deste trabalho entender como um grupo de

    consumidoras brasileiras adultas comporta-se frente a estas mudanas por parte da marca

    Havaianas, visvel nos produtos e na publicidade. Em conseqncia, poderemos observar se esta

    marca um exemplo de lovemark.

    Este artigo est dividido em trs partes. Primeiro, apresentamos a estratgia terico-

    metodolgica adotada para desenvolver o estudo. Depois, discutimos as teorias sobre marketing,

    marcas, posicionamento, recepo da publicidade e comportamento do consumidor. Por fim,

    apresentamos os dados referentes ao estudo emprico realizado com consumidoras mulheres da

    marcaHavaianas, seguido das consideraes finais.

    2. Estratgia terico-metodolgica

    Centrado na questo da recepo da publicidade e o comportamento da consumidora

    frente a mudanas da marca Havaianas, este trabalho envolve uma pesquisa emprica de vis

    qualitativo j que, segundo Bauer e Gaskell (2002, p. 23), esse tipo de pesquisa faz uma

    interpretao de textos a fim de conseguir os resultados esperados, e usando como prottipo as

    entrevistas de profundidade. Assim, permite observar o que a consumidora pensa e/ou sente a

    respeito de algo, neste caso a marcaHavaianas.

    No processo comunicativo que contextualiza este trabalho, escolhemos a recepo como

    perspectiva de anlise, uma vez que nos interessa saber como a publicidade realizada pelo

    produtor percebida pelos consumidores e receptores. Por serem altamente subjetivas, as

    percepes dos receptores iro contribuir para uma viso mais rica e detalhada do universo

    pesquisado. Dados sobre a produo, por outro lado, seriam restritos s decises relativas

    marcaHavaianas no universo das agncias ou da empresa.

    Partindo dessa escolha de trabalhar qualitativamente com a recepo, a pesquisa se

    desenvolve em duas etapas, uma terica e outra emprica.

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    Na etapa terica, coletamos dados em livros e artigos sobre os temas marca e

    posicionamento, de Al Ries (2000) e Rafael Sampaio (2002). Sobre marketing, adotamos as

    idias de Philip Kotler (1998); sobre comportamento do consumidor e lovemarks, partimos dasidias de Ana Carolina Escosteguy (2005), Michael Solomon (2002), James Engel (2000),

    Christiane Gade (1998) e Kevin Roberts (2004). Estes dados foram condensados para dar base

    terica ao estudo emprico.

    Na segunda etapa, emprica, coletaremos dados junto s consumidoras atravs da tcnica

    de entrevista em profundidade, j que a proposta compreender a opinio e o contexto onde elas

    esto inseridas. Queremos avaliar, com a entrevista, a recepo da publicidade e o

    comportamento do consumo em relao ao passado, presente e futuro. Como a razo e a emoo

    foram percebidas e/ou trabalhadas; quais os tempos e espaos vividos/consumidos/gastos com a

    publicidade e com o consumo.

    A marca escolhida para ser o objeto de estudo foi as Havaianas porque, segundo

    cremos, possui uma trajetria que exemplifica a evoluo do mercado publicitrio nacional,

    podendo constituir-se uma lovemark: inicialmente, a produo e a comunicao eram massivas;

    hoje, com a mudana de posicionamento, h segmentao de produtos e uma publicidade focada

    num targetespecfico (MELLO, 2006).

    Fundada na dcada de 60, possuam um perfil funcional e no-esttico: as sandlias

    eram baratas, no possuam valor agregado ou pblico especfico. Isso fez com que ela logo

    saturasse seu mercado, congelando seu crescimento, acarretando queda no lucro. Em 1994,

    aconteceu uma remodelao no mix de marketing, modificando o produto em si (novas cores e

    modelos), mudanas nos pontos de venda, no preo e, posicionamento deixou de ser uma

    commoditty para atingir o status de objeto de desejo (MELLO, 2006).

    Mudanas no posicionamento so aes complexas e arriscadas, e sua anlise torna-se

    complicada quando os dados no so de fcil acesso. Este foi um fator determinante para se

    fazer um estudo de caso, alm do fato de que queremos analisar como um posicionamento pode

    fortalecer a marca e sua relao com os consumidores, como o caso das Havaianas e porque

    permite uma anlise profunda de um assunto especfico, dentro do contexto onde o fenmeno

    ocorre.

    As percepes do consumidor neste trabalho so exploradas atravs de uma unidade

    social compreendida por mulheres de 20 a 45 anos de classes AB e CD, habitantes da cidade de

    Pelotas, no perodo de novembro de 2007. O gnero feminino foi escolhido porque estas

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    caracterizam o maior nmero de consumidoras da marca, com idade entre 20 e 45 anos, que

    permite uma comparao entre as experincias de mulheres que passaram pelo reposicionamento

    de marca e pelas que apenas vivenciaram a mudana das Havaianas. As classes sociais eleitasforam AB e CD, as quais possibilitam experincias diferentes com a marca em relao

    publicidade, mas tambm o consumo.

    Selecionamos um grupo de oito mulheres dentro desta faixa etria, diferenciadas apenas

    pela classe social onde se inserem: quatro AB e quatro CD. Com elas, foram realizadas

    entrevistas em profundidade para observar sua opinio e percepes sobre a publicidade da

    marca e prticas de consumo do produto.

    A estratgia metodolgica desta pesquisa qualitativa dividida em trs partes, e guiada

    por trs instrumentos que apresentamos a seguir: um questionrio averiguando informaes

    pessoais; um roteiro sobre consumo da marca e um roteiro com questes sobre a publicidade das

    Havaianas.

    Roteiro para Entrevista sobre o Consumo:

    1. H quanto tempo tu s consumidora das Havaianas?

    2. Quais os principais motivos te levaram compra desta marca?

    3. Lembras qual foi a primeira Havaianas que compraste?

    4. Lembras de alguma propaganda antiga da marca? Podes me contar?

    5. Lembras de alguma propaganda atual da marca? Podes me contar?

    6. Tens interesse de comprar mais Havaianas? Por que? A curto ou a longo prazo? Por que?

    7. Solicitar que a entrevistada leve, no prximo encontro, o par de Havaianas que mais gostar.

    Questionrio de Informaes Pessoais

    1. Nome

    2. Idade

    3. Escolaridade

    4. Ocupao

    5. Religio

    6. Estado Civil

    7. Composio Familiar

    8. Renda

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    Roteiro para Entrevista sobre a publicidade.

    1. (solicitando que a informante mostre as Havaianas que trouxe). Quando tu compraste estas

    Havaianas que trouxestes? Podes me contar o processo da compra?

    2. (expondo informante as peas publicitrias eleitas a partir dos relatos no primeiro encontro). Lembra

    de alguma destas propagandas? O que tu pensa ou sente quando assistes?

    3. Notaste alguma mudana na publicidade das Havaianas ao longo do tempo? Se sim, em que sentido?

    4. Achas que alguma vez compraste algum chinelo Havaianas porque viu algum ator usando na

    propaganda?

    5. Alguma outra propaganda das Havaianas pode ter influenciado na compra deste chinelo?

    3. Discusso terica

    A comunicao persuasiva, para que atinja seus propostos, precisa entender os diversos

    mecanismos do processo comunicativo, conhecer o comportamento do seu consumidor e o

    complexo mercado no qual est inserido. Primeiramente, preciso adequar o produto ou servio

    s necessidades do mercado atravs composto de marketing, que so o conjunto de ferramentas

    que a empresa usa para atingir seus objetivos de marketing no mercado-alvo (KOTLER, 1998,

    p. 97), fazendo parte os chamados quatro Ps do Marketing: produto, preo, praa e promoo.

    Entretanto, no basta ter um bom produto (uma vez que isso o bsico que o mercado

    espera, devido fartura de opes disponveis em cada segmento); com um preo atraente (lei da

    oferta e da procura, tambm no um diferencial) e ser acessvel aos consumidores (com a

    globalizao, as distncias se tornam cada vez menores) - a empresa precisa fazer-se conhecer

    no mercado, diferenciar-se dos concorrentes e ser lembrada.

    Esta comunicao realizada principalmente pela publicidade que, segundo Kotler

    (1998, p. 554), uma das ferramentas mais comuns que as empresas usam para dirigir

    comunicaes persuasivas aos compradores e pblicos-alvos. Nas atuais condies, entretanto,

    se faz necessrio achar um diferencial, algo que destaque o produto ou servio em relao aos

    demais. Um exemplo disso como a empresa posiciona-se no mercado.

    Um bom posicionamento parte da definio de foco, seleo de targete concentrao

    de foras para atuar no mercado (RIES, 1996, p. 47), ou seja, preciso uma anlise do contexto

    onde a empresa est inserida, a fim de adequar seus esforos comunicativos e mercadolgicos.

    De certa forma, realiza-se um processo de afunilamento das relaes com o mercado,

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    elegendo-se um segmento do mercado ou do pblico-alvo que teoricamente estaria interessado

    no produto ou servio e prope-se aes especificamente para esta fatia do target, buscando um

    share of mindmaior e especifico, j que

    sem relevncia no mercado e para seu target que fundamentada justamente noposicionamento competitivo nenhuma marca tem chance de prosperar e todos osinvestimentos feitos, por maiores e melhores que sejam, acabam desaparecendo porfalta de base (RIES, 1996, p. 39).

    Neste ambiente competitivo, algo se torna maior que o prprio bem ou servio oferecido

    pela empresa a marca. Atualmente, ela se transformou no item mais valioso das empresas,

    fenmeno este derivado diretamente da expanso da concorrncia, do crescimento da

    comoditizao dos produtos e servios e da banalizao das tecnologias de produo e gesto

    (SAMPAIO, 2002, p. 23).

    A marca deve reunir todos os elementos que a empresa deseja passar ao mercado,

    representar a sntese da experincia de valor vivida pelos consumidores (SAMPAIO, 2002, p.

    26), objetiva e subjetivamente. Com o propsito bsico da diferenciao no mercado e

    memorizao/reconhecimento por parte do pblico, e, por ligar-se ao consumidor principalmente

    de forma subjetiva, a marca vende muito mais que o contedo material ou simblico do produto

    ou servio: vende sensao, experincia. As marcas que conseguem uma conexo real com o

    consumidor podem tornar-se lovemarks produtos ou servios que possuem uma fidelidade

    acima da mdia por parte de seus consumidores

    Mercadologicamente, importante que as marcas deixem de ser objetos que satisfazem

    apenas as necessidades reais, passando a serem produtos que preenchem os desejos mais

    profundos dos consumidores. Os consumidores esto procura de conexes novas e

    emocionais literalmente procuram algo para amar (ROBERTS, 2005), pois apresentam

    expectativas cada vez maiores em relao a tudo e a todos, precisando de um estmulo

    emocional que os auxilie na tomada de decises.

    Assim, a marca que transmitir mistrio, sensualidade e intimidade (ROBERTS, 2005,

    p. 75) ao consumidor obter um amor alm da razoo consumidor ir se sentir dono da marca,a premissa bsica das lovemarks. A satisfao do cliente se mede na quantidade de amor que ele

    coloca na marca que utiliza, este o diferencial entre uma marca que meramente utilizada e as

    outras que so amadas.

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    Nesse contexto, compreendemos que o consumidor realiza suas prticas, considerando

    no s suas necessidades racionais, mas emocionais. Afinal, produto deve realizar a tarefa a qual

    se prope com qualidade e, alm disso, deve transmitir uma satisfao de uso, ou seja, aquelasensao de conforto, liberdade, atualidade que envolve a marca do produto e/ou servio

    utilizado.

    A complexidade das marcas revela que a arte de conquistar o consumidor um trabalho

    comunicacional que rene variveis racionais e, principalmente, emocionais, elemento este

    altamente subjetivo e de difcil compreenso. Dessa forma, para conhecer o processo, preciso

    ter claro como a comunicao mercadolgica se desenvolve at chegar ao consumidor e tentar

    seduzi-lo.

    As prticas de recepo, ou como o receptor recebe as mensagens emitidas, so, para

    Piedras (2005, p. 78), o lugar da interpretao leitura ou apropriao - das mensagens, e

    contam com mltiplas lgicas segundo as quais podem operar, resultando disso sua natureza

    ambgua e contraditria. So prticas no institucionais, existentes no ambiente cotidiano,

    resultado da interao do receptor com os meios massivos. Piedras tambm afirma que essa

    prtica no tem objetivo claro, so permeados pela subjetividade, podendo ir desde o interesse

    pela informao ao entretenimento ou ao consumo de bens e servios anunciados (PIEDRAS,

    2005, p.79).

    O receptor da publicidade tem um papel ativo na interpretao dos textos e imagens,

    numa relao complexificada pela proximidade. Essa interpretao ou os usos que faz das

    mensagens publicitrias so inalienveis do contexto dessas pessoas (ESCOSTEGUY, 2005). A

    esto contidos diversos condicionamentos, como a idade, a renda, a personalidade do consumidor.

    A publicidade tem um papel importante no conhecimento do produto e na tomada de deciso, mas

    cabe lembrar que ela no consegue, sozinha, motivar a compra.

    preciso, ento, decidir entre aquilo que se quer e aquilo que pode, de fato, possuir, j

    que as necessidades e desejos so infinitos (GADE, 1998, p. 01). Trata-se do momento do

    processo decisrio, onde o consumidor tem de pesar os prs e contras de determinado produto ou

    servio ou se deixar levar por um impulso irresistvel, comprando itens que talvez no usem

    jamais (GADE, 2000, p. 239). Tal impulso pode ser motivado pela persuaso exercida por meio

    da comunicao massiva, onde a publicidade trabalhou os melhores atributos do produto ou

    servio a fim de estimular a compra.

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    Entretanto, existem outros fatores que trabalham em parceria com os esforos

    comunicacionais, condicionando o consumo. Tais aspectos podem ser divididos em duas

    categorias: os pessoais e subjetivos e os coletivos.Os aspectos pessoais e subjetivos so os elementos que possuem grande peso na hora da

    deciso de consumo e, por isso, so alvos de aes constantes dos profissionais de marketing,

    como o conhecimento que o consumidor possui sobre um determinado produto ou servio e sua

    personalidade (ENGEL, 2000, p. 283).

    Tais caractersticas pessoais e subjetivas influenciam, de certa forma, a maneira como a

    pessoa enxerga e absorve a publicidade, bem como os produtos disponveis ao consumo. Porm,

    no se pode esquecer que o homem, por viver em sociedade, tambm influenciado pelas

    pessoas ao seu redor, bem como pela sua idade, sua classe social, busca por status. So esses os

    fatores coletivos.

    Dessa forma, o comportamento do consumidor uma complexidade sugestionada por

    diversos condicionamentos. A publicidade tem um papel importante no conhecimento do

    produto e na tomada de deciso, mas cabe lembrar que ela no consegue, sozinha, motivar a

    compra.

    4. Estudo emprico

    Aps esse levantamento terico, partimos para o estudo emprico em que foram

    entrevistadas um total de oito mulheres, quatro de classe AB e quatro de classe CD, com idade

    entre 20 e 45 anos, na cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul. O primeiro contato para a coleta

    de aconteceu quando pedimos autorizao para a realizao da entrevista, das fotos e da

    gravao da mesma. As entrevistas ocorreram no ms de novembro de 2007, durando cada uma

    em mdia vinte minutos.

    Como explicitado anteriormente, a entrevista foi dividida em trs momentos, sendo aqui

    analisados os dois ltimos: prticas de consumo e recepo de publicidade, de acordo com suas

    idades e rendas. As peas publicitrias expostas na ltima etapa da entrevista foram duas, uma

    de televiso e uma de revista, veiculadas em outubro/novembro de 2007, escolhidas a partir das

    informaes das entrevistadas na primeira etapa da pesquisa e expostas abaixo.

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    Figura 02: anncio de televisorede Globo/ outubro de 2007 (retirado doyoutube).

    Figura 01: pea impressarevista Veja (7 de novembro de 2007).

    Na primeira etapa da entrevista, sobre a relao das mulheres com o consumo de

    Havaianas, todas afirmaram que consomemHavaianas desde jovens e crianas. As mulheres de

    classe AB informaram que isso se deve ao conforto, mas tambm apareceram respostas como a

    vontade de adquirir novos modelos e a capacidade de combinao do chinelo com vestimentas

    diversas. J as mulheres de classe CD destacaram basicamente a marca, tambm afirmando que

    o fazem porque todo mundo usa, e pelas suas caractersticas fsicas: ser leve, delicada e no

    deixar cheiro nos ps.

    Quando questionadas sobre os fatores que influenciaram na compra de Havaianas em

    geral, as opinies foram divididas proporcionalmente. Metade delas, independente da classe,

    - (HOMEM DE

    PALET) ENTO,

    ACHO QUE SOL

    - (HP) NOSSOS

    MODERNOS

    COMPUTADORES

    - (HP)...COMO ESS - (HP) J TEMOS

    ALGUMAS

    -(HP) CALMA, EU

    SEI

    - (HP) QUER UMA -(OFF.

    - (Homem de Palet)Ento, acho que

    solucionamos o seu caso.- (Homem de Camisa) Mas

    como?

    - (HP) Nossos modernoscomputadores apontam que

    quem levou todas as suasroupas usava uma das novas

    Havaianas...

    - (HP)...como essas aqui.- (HP) J temos algumas

    suspeitas. V at o vidro eveja se reconhece algum

    - (HC) Uau (respira).-(HP) Calma, eu sei que esse

    um momento difcil.(HC) , hm.

    - (HP) Quer uma aginhacom a car?

    -(OFF) Havaianas. Todomundo usa.

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    mais facilmente com a roupa e pela marca; j as mulheres entre 30 e 45 anos consomem pelo

    conforto e durabilidade.

    A idade no interfere na opinio sobre lembrana de publicidades antigas e novas, nemse elas tm interesse em adquirir novos modelos. Entretanto, enquanto as mais jovens compram

    por motivos variados, como por ter visto em meios de comunicao ou algum usando, a

    maioria das mulheres de mais idade compram por ver na loja, ou seja, influenciadas pelo ponto

    de venda.

    Outra diferena que as mulheres entre 20 e 26 anos no gostaram do anncio de

    televiso, afirmando ser idiota e um desperdcio de dinheiro, j as entrevistadas entre 30 e

    45 em geral gostaram do anncio de televiso. A mdia impressa agradou as mais jovens, mas

    para algumas das de mais idade ela era bonita, mas no lhes passava nada.

    Sobre a influncia da publicidade, a grande maioria das entrevistadas que tinham entre

    20 e 26 afirmou que influenciada pelos meios de comunicao de massa; em contrapartida, a

    maioria das que possuam maior idade responderam que no, ou seja, compram porque gostam.

    5. Anlise dos Resultados e Consideraes Finais

    A realizao deste estudo nos levou a dados empricos que apresentamos junto das

    nossas consideraes finais, no sem antes explicitar que a opo terico-metodolgica

    de realizar um estudo exploratrio qualitativo contando com apenas 8 informantes, trouxe

    algumas limitaes como por exemplo a impossibilidade de qualquer generalizao dos

    resultados, o que por sua vez no invalida o trabalho, mas expe a especificidade dos seus

    dados.

    A pesquisa realizada mostrou que estas mulheres que foram nossas

    informantes consomem desde sempre as sandlias Havaianas. Estas mulheres entre 30 e 45

    vivenciaram o antigo posicionamento das Havaianas, um chinelo barato e sem nenhum valor

    agregado, mas que conquistou seu mercado at o ponto de saturao (MELLO, 2004) e,

    juntamente com as entrevistadas de 20 a 26 anos, o novo posicionamento: uma marca mais

    moderna, com um mix de marketing reformulado a fim de se transformar num objeto de desejo

    (MELLO, 2004).

    A marca, ento, sempre foi forte; entretanto, foi apenas recentemente que ela se

    qualificou e diversificou, j que passou a reunir a sntese da experincia de valor vivida pelos

    consumidores (SAMPAIO, 2002, p. 26). Ou seja, ela passou a vender um pacote de

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    caractersticas que toda consumidora gostaria de sentir ou ser: jovem, moderna, descolada. Tais

    mudanas foram sentidas pelas consumidoras de mais idade, como VB, de 45 anos, a qual

    afirmou o seguinte, quando perguntada se havia notado alguma mudana na publicidade dasHavaianas ao longo do tempo: Sim, cada vez eles esto fazendo com mais tecnologia, mais

    modernas as propagandas.

    As entrevistadas tambm afirmaram que, alm de consumirem desde sempre, pretendem

    seguir este comportamento de compra. Assim, a pesquisa demonstra que as Havaianas so uma

    lovemark deste segmento de pblico. Ela conseguiu uma ligao verdadeira com suas

    consumidoras, uma verdadeira fidelidade acima da mdia (ROBERTS, 2005). Elas compram

    desde sempre e pretendem manter tal comportamento.

    Analisando as respostas obtidas, notamos que estas mulheres entre 20 e 26 anos sentem

    isso de maneira mais forte do que as mulheres de 30 a 45, talvez porque os apelos sejam mais

    explcitos a elas. Isso ficou claro no caso do anncio de televiso usado na entrevista, em que h

    a presena de diversas atrizes da rede de televiso Globo, aparentando ter no mximo 28 anos, e

    que so famosas e bonitas, tendo uma idade similar s das entrevistadas. Como Solomon afirma

    (2002, p. 351), temos mais tendncia a ter coisas em comum com pessoas de nossa prpria

    idade do que com as mais jovens ou mais velhas que ns . No caso do anncio de televiso, as

    chances das mulheres entre 20 e 26 quererem estar no lugar das atrizes que possuem essa idade

    so maiores do que as das mulheres entre 30 e 45.

    Outro dado que surgiu na pesquisa foi que, em geral, as mulheres entrevistadas da classe

    CD consomemHavaianas por causa da marca, especificamente EM respondeu que os motivos

    que a levam a consumir essa marca foi porque todo mundo usa. Isso reflete a busca por um

    pertencimento a uma classe social qual no pertence, como Solomon (2002, p. 326) afirmou:

    as pessoas so influenciadas pelo desejo de comprar uma classe social mais alta ou se

    envolver no processo de consumo conspcuo, atravs do qual o status ostentado. O

    consumidor deseja ascender a uma classe superior atravs do consumo, com o intuito de se sentir

    mais prximo das pessoas de seu grupo de referncia (SOLOMON, 2002, p. 320), e isso foi

    observado nos resultados das entrevistas.

    Como j abordado, as Havaianas so lovemarks de seu pblico-alvo, que estas

    consumidoras possuem rendas diferenciadas, mas que compartilham o desejo de atingir a

    imagem que a marca passa. Parece-nos que as Havaianas conseguem superar a desigualdade

    social brasileira atravs de um bom posicionamento. Ries (1996, p. 47) afirmou que um bom

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    posicionamento parte da definio de foco, seleo de target e concentrao de foras para

    atuar no mercado, e a marca faz isso deixando disposio da consumidora ofertas que vo de

    um valor extremamente acessvel para a classe CD a valores exorbitantes mesmo para a classeAB. Assim, ela vende uma imagem de modernidade e juventude cabvel a todas as classes de seu

    target, mas a preos que permitam a compra por todas elas.

    As entrevistadas de mais idade notaram a mudana de posicionamento da marca ao

    longo do tempo; entretanto, nem elas ou as entrevistadas mais jovens esto gostando das peas,

    apesar de dizerem que em geral a publicidade est cada vez melhor. GS respondeu, quando

    perguntada sobre o que havia achado do anncio de televiso apresentado: Eu achei um

    desperdcio de dinheiro chamar todas essas pessoas pra fazer um comercial to sem graa; e

    EM: Eu achei bem idiota. No gostei. Achei que no tinha a ver com asHavaianas. Achei meio

    ilgico, nada a ver. J teve vrias melhores. Mesmo assim, todas responderam que vo seguir

    consumindo a marca.

    Este comportamento explicado no entendimento de que, neste caso, a publicidade no

    o nico fator influenciador no processo decisrio. A maneira como o receptor recebe as

    mensagens so prticas no institucionais (...) resultado da interao do receptor com os meios

    massivos (PIEDRAS, 2005, p. 78), e a interpretao desta mensagem est ligada ao ambie nte

    no qual o receptor est inserido.

    Observamos tambm que o ponto-de-venda influencia na hora da compra. Isso pode ser

    notado em duas situaes. VP, de 43 anos e classe AB, quando perguntada se algum tipo de

    propaganda tinha influenciado na compra de seu par deHavaianas favorito, respondeu: Essa eu

    vi na loja eu gostei. A mesma pergunta foi feita para CM, 26 anos e classe CD, e sua resposta

    foi: Eu tava na loja. Eu tinha visto de outra cor mas na hora no tinha. Claramente nenhuma

    das duas sentiu-se influenciada pelos esforos comunicacionais de mdia tradicional, mas sim

    pela ao no ponto-de-venda; de qualquer forma, foram atingidas pela promoo feita pela

    marca j que, segundo Kotler (1998, p. 98), ela inclui todas as atividades desempenhadas pela

    empresa para comunicar e promover seus produtos ao mercado-alvo.

    A marcaHavaianas remodelou o seu composto de marketing a fim de se adequar ao seu

    novo posicionamento, deixando de ser commodity para virar objeto de luxo (MELLO, 2004).

    Deste composto, alm do ponto-de-venda (praa) e promoo, tambm fazem parte o produto e

    o preo. As entrevistas confirmaram o xito dessa remodelao, uma vez que nos dados

    coletados os novos modelos e a qualidade do produto so citados como motivo de consumo,

  • 7/31/2019 Publicidade e Lovemarks: o amor alm da razo no caso Havaianas

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    Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXXXII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Curitiba, PR 4 a 7 de setembro de 2009

    MELLO, Bruno. Havaianas, o chinelo que virou artigo de moda. Disponvel emAcesso em: 30/07/2007

    ROBERTS, Kevin, Lovemarks: o futuro alm das marcas. So Paulo: Books, 2005.

    PIEDRAS, Elisa. A articulao da publicidade com o mundo social: a constituio do luxopublicitrio nas prticas de produo e de recepo. Porto Alegre: UFRGS, 2005. Dissertao,Faculdade de Biblioteconomia e Comunicao, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2005.

    PIEDRAS, Elisa. Publicidade, Representao e Identidade: a cultura brasileira na estratgia dasHavaianas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CINCIAS DA COMUNICAO, 27, 2004.

    Porto Alegre. Anais. So Paulo: Intercom, 2004. CD-ROM.

    RIES, Al. As 22 consagradas leis do marketing. So Paulo: Makron, 1993.

    SAMPAIO, Rafael. Marcas de A Z: como construir e manter marcas de sucesso. Rio de Janeiro:Campus, 2002.

    SOLOMON, Michael R. O comportamento do consumidor: comprando, possuindo e sendo. 5. ed.Porto Alegre: Bookmarks, 2002

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