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44 Nesta análise, a maneira como o discurso médico colaborou na promoção de uma nova forma de relação mãe-filhos, pelo favorecimento de características específicas para o papel materno, ocupa lugar central. Enfoca-se, assim, a participação da Medicina e também da Psicologia, em sua aliança com a família, na instituição das novas configurações que os processos de subjetivação têm assumido na atualidade. A produção da subjetividade é tomada aqui como um processo que determina “a maneira de os Resumo: Neste artigo, discute-se a naturalização de conceitos e práticas relacionadas à maternidade e aos cuidados maternos, associando-se sua construção social às modificações pelas quais a família tem passado, na Europa e no Brasil, a partir das transformações que permitiram a organização dos Estados modernos e acompanharam a instalação da ordem econômica burguesa. Enfoca-se a maneira como o discurso médico colaborou na promoção de novas formas de relação familiar pelo favorecimento de características específicas para o papel materno, destacando-se a participação tanto da Medicina quanto da Psicologia na instituição das novas configurações que os processos de subjetivação têm assumido na atualidade. Palavras-Chave: Maternidade, família, modernidade, Psicologia. Abstract: In this article it is discussed the naturalization of concepts and practices related to maternity and to maternal care, associating their social construction to the modifications family has gone through, in Europe and Brazil, since the transformations that allowed the modern States arrangement and followed the installation of the bourgeois economical order. It is focused the way medical speech collaborated in the promotion of new types of familiar relationship in support of specific characteristics to the maternal function, detaching the partnership of Medicine as well as Psychology in the institution of the new arrangement that the subjective processes have assumed nowadays. Key Words: Maternity, family, modernity, Psychology. A Maternidade na História e a História dos Cuidados Maternos The maternity in history and the history of the maternal care A proposta deste artigo é discutir, a partir de uma revisão bibliográfica, a naturalização de conceitos e práticas relacionadas à maternidade e aos cuidados maternos, associando-se sua construção social às modificações pelas quais a família tem passado na Europa e no Brasil. Essas modificações articulam-se às transformações econômicas que permitiram a organização dos Estados modernos e acompanharam a instalação da ordem econômica burguesa, a partir do século XVII, em um amplo movimento de constituição das chamadas sociedades disciplinares (Deleuze, 1992). Leonardo da Vinci Solange Maria Sobottka Rolim de Moura Psicóloga, Mestre em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista – UNESP – Campus de Assis Maria de Fátima Araújo Psicóloga. Doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo. Docente da Universidade Estadual Paulista – UNESP – Campus de Assis PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2004, 24 (1), 44-55

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Nesta análise, a maneira como o discurso médicocolaborou na promoção de uma nova forma derelação mãe-filhos, pelo favorecimento decaracterísticas específicas para o papel materno,ocupa lugar central. Enfoca-se, assim, aparticipação da Medicina e também da Psicologia,em sua aliança com a família, na instituição dasnovas configurações que os processos desubjetivação têm assumido na atualidade.

A produção da subjetividade é tomada aqui comoum processo que determina “a maneira de os

Resumo: Neste artigo, discute-se a naturalização de conceitos e práticas relacionadas à maternidade e aoscuidados maternos, associando-se sua construção social às modificações pelas quais a família tem passado,na Europa e no Brasil, a partir das transformações que permitiram a organização dos Estados modernos eacompanharam a instalação da ordem econômica burguesa. Enfoca-se a maneira como o discurso médicocolaborou na promoção de novas formas de relação familiar pelo favorecimento de características específicaspara o papel materno, destacando-se a participação tanto da Medicina quanto da Psicologia na instituiçãodas novas configurações que os processos de subjetivação têm assumido na atualidade.Palavras-Chave: Maternidade, família, modernidade, Psicologia.

Abstract: In this article it is discussed the naturalization of concepts and practices related to maternity andto maternal care, associating their social construction to the modifications family has gone through, inEurope and Brazil, since the transformations that allowed the modern States arrangement and followed theinstallation of the bourgeois economical order. It is focused the way medical speech collaborated in thepromotion of new types of familiar relationship in support of specific characteristics to the maternalfunction, detaching the partnership of Medicine as well as Psychology in the institution of the newarrangement that the subjective processes have assumed nowadays.Key Words: Maternity, family, modernity, Psychology.

A Maternidade na Históriae a História dos Cuidados Maternos

The maternity in history and the history of the maternal care

A proposta deste artigo é discutir, a partir de umarevisão bibliográfica, a naturalização de conceitose práticas relacionadas à maternidade e aoscuidados maternos, associando-se sua construçãosocial às modificações pelas quais a família tempassado na Europa e no Brasil. Essas modificaçõesarticulam-se às transformações econômicas quepermitiram a organização dos Estados modernos eacompanharam a instalação da ordem econômicaburguesa, a partir do século XVII, em um amplomovimento de constituição das chamadassociedades disciplinares (Deleuze, 1992).

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Solange MariaSobottka Rolim de

Moura

Psicóloga, Mestre emPsicologia pela

Universidade EstadualPaulista –

UNESP – Campus deAssis

Maria deFátima Araújo

Psicóloga. Doutora emPsicologia pela

Universidade de SãoPaulo. Docente da

UniversidadeEstadual Paulista –

UNESP – Campus deAssis

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indivíduos perceberem o mundo e apreenderemsistemas de valores e sistemas de submissão”(Carvalho, 1997), que modela, portanto, seuscomportamentos, sua percepção, sua memória,sua sensibilidade e a forma como se relacionam.Parte-se, pois, da idéia de que, historicamente, ovalor dado ao relacionamento mãe-criança nemsempre foi o mesmo, sendo que as variações queas concepções e práticas relacionadas àmaternagem apresentam são produzidas por umasérie de agenciamentos sociais, dentre os quais osdiscursos e práticas científicas assumem umimportante papel.

Durante um longo período, a maternagem foipensada como intrinsecamente relacionada àmaternidade, como função feminina porexcelência, concernente à natureza da mulher,embora alguns autores apontem para o fato deque essa dedicação da mulher ao papel maternodeva-se muito mais “a uma transposição social ecultural das suas capacidades de dar à luz eamamentar” (Chodorow, 1990). Na verdade,diversas revisões históricas acerca da instituiçãofamiliar (Ariés, 1981, Badinter, 1985, Chodorow,1990, Donzelot, 1986) sugerem que a exaltaçãoao amor materno é fato relativamente recentedentro da história da civilização ocidental,constituindo-se esse tipo de vínculo,tradicionalmente descrito como “instintivo” e“natural”, em um mito construído pelos discursosfilosófico, médico e político a partir do século XVIII.

Quando o papel da mulher nessa relação éfocalizado, a função biológica da maternidadedeve ser, a princípio, distinta daquilo que seconvenciona denominar cuidados maternos oupráticas de maternagem. Sobre essas práticas, acultura nas diversas sociedades tem estabelecidoconvenções guiadas pela produção dos maisvariados campos de conhecimento. É importantetambém lembrar que o papel materno deve sempreser considerado de forma relativa e tridimensional,decorrendo daí a impossibilidade de compreenderas modificações nele ocorridas sem fazer referênciaaos demais membros do microssistema familiar (pai-mãe-filhos).

Da Idade Média ao Renascimento:a transformação das práticas dematernagem na Europa

Badinter (1985) recuperou a condição dematernagem comum na Europa, especificamentena França, até meados do século XVIII. Em seutrabalho, identificou a desvalorização dada àmaternidade em toda a Idade Média e mesmo naAntigüidade como relacionada à ênfase no poder

A Maternidade na História e a História dos Cuidados Maternos

paterno que acompanhava a autoridade marital.O homem era, então, percebido como superior àmulher e à criança, diferença essa concebida comoinerente à natureza humana, que o dotaria, pois,de uma autoridade natural sobre a esposa e osfilhos.

A constituição da família, portanto, diferia muito,até o século XVIII, das formas de organizaçãoencontradas posteriormente e que se tornarampredominantes no período moderno,caracterizadas por sentimentos de ternura eintimidade ligando pais e filhos ou pela valorizaçãoda criança. Se o homem ocupava então o lugarcentral da família, a condição da esposaequiparava-se à da criança, ou seja, era desubmissão a sua autoridade. O casamentorealizado por contrato, segundo as necessidadeseconômicas e as alianças políticas das famílias,inibia qualquer expressão de afetividade entre oscônjuges, sendo o amor conjugal consideradodesnecessário a um bom casamento. Nessecontexto, a posição ocupada pela criança tambémdiferia daquela experimentada posteriormente.

Ariés (1981), em trabalho no qual discute odesenvolvimento do sentimento de infância naEuropa, sugere que seu aparecimento se relacionaàs transformações pelas quais a família medievalteria passado até adquirir as característicasidentificadas na modernidade. De acordo comesse autor, na Idade Média as criançaspermaneciam vinculadas às suas famílias porpouco tempo, até entre os 07 e 10 anos, quandoeram entregues a outras famílias (por contrato ounão) para receberem instrução na condição deaprendizes. A aprendizagem não se exercia nacondição formal da escola, mas confundia-se como exercício das tarefas domésticas cotidianas, sendoo convívio constante com os adultos parte desseprocesso.

Assim que podia prescindir dos cuidados da mãeou da ama, a criança passava à condiçãosemelhante à do adulto, misturando-se a eles emtodas as atividades sociais. A criança pequena nãoera tida em conta, o que, de acordo com Ariés (op.cit.) justificava-se em parte pela fragilidade física,que tornava sua sobrevivência pouco provável nascondições da época. Badinter (1985, p. 87),contudo, examinando a justificativa corrente aodesinteresse materno até o século XVIII, qual seja,a elevada mortalidade infantil no período (daordem de 25% dos nascidos vivos) que nãopermitiria à mulher apegar-se a uma criatura comtão poucas possibilidades de sobrevivência, inverteessa afirmativa, questionando se não seriajustamente a falta de apego das mulheres a seusfilhos que determinaria a alta mortalidade.

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Ariés (1981) informa-nos que, já a partir do séculoXVII, algumas transformações indicam aemergência de um novo sentimento familiarassociado à valorização da infância. Entre elas,podemos citar a modificação dos hábitoseducacionais, passando-se da aprendizagemcotidiana exercida no ambiente doméstico àescolarização maciça da infância e a modificaçãoda condição de transmissão de bens, passando-sea reconhecer a igualdade entre os filhos no direitoà herança.

Essas modificações, porém, instauraram-selentamente, não sem resistências, de forma quesomente no último terço do século XVIII suadisseminação é mais evidente. O foco ideológicodesloca-se progressivamente da autoridade paternaao amor materno, pois a nova ordem econômicaque passa a vigorar com a ascensão da burguesiaenquanto classe social impunha como imperativo,entre outros, a sobrevivência das crianças.

Após 1760, inúmeras publicações passaram aexaltar o “amor materno” como um valor aomesmo tempo natural e social, favorável à espéciee à sociedade, incentivando a mulher a assumirdiretamente os cuidados com a prole. Dessa forma,em defesa da criança dois diferentes discursosconfluíram para modificar a atitude da mulherperante os filhos: (1) um discurso econômico,apoiado em estudos demográficos, quedemonstrava a importância do numeráriopopulacional para um país e alertava quanto aosperigos (e prejuízos) decorrentes de um supostodeclínio populacional em toda a Europa e (2) umanova filosofia – o liberalismo – que se aliava aodiscurso econômico, favorecendo ideais deliberdade, igualdade e felicidade individual (cf.Badinter, 1985).

No campo das relações sociais, assistiu-se, a partirde então, ao desenvolvimento da noção de vidaprivada.

“Estudos atuais mostram como a vida coletiva vaidando lugar a um espaço privado de vida. As casasmodificam sua arquitetura para reservar aosindivíduos locais privados; os nomes seindividualizam; roupas, guardanapos e lençóisganham marcas, de modo a permitir suaidentificação. A vida do trabalho sai da casa para afábrica, modificando o caráter da vida pública. Acasa torna-se lugar reservado à família que, em seuinterior, divide espaços, de forma a permitir lugaresmais individuais e privados” (Bock, 2001, p.19).

A relação conjugal modificou-se, uma vez que oantigo casamento por contrato não eraconveniente aos novos ideais libertários eigualitários, passando o casamento por amor para

a ordem do dia. A felicidade conjugal ganhouimportância para a família e, ainda que a distinçãoentre homem e mulher permanecesse, aconsciência social modificou-se em relação aosentido da família e da infância, alterandoprofundamente as relações marido-esposa e pais-filhos.

Articulando-se aos interesses econômicos doEstado, um outro discurso proferido por médicos,moralistas, administradores e chefes de políciareforçava a necessidade de a mulher ocupar-secom os filhos. Tal discurso baseava-se,principalmente, no argumento de que essa seria aforma “natural” de cuidados com a criança e, porisso, a mais adequada; uma vez que só a mulherera capaz de gestar e parir, seriam, pois,concernentes apenas à “natureza feminina” aeducação e os cuidados com a prole.

Em estudo que denominou “história dasmentalidades”, Donzelot (1986), baseando-se nostrabalhos de Foucault, identificou nas chamadastecnologias políticas

1 os elementos portadores das

transformações que se verificaram nas condiçõesde vida na França a partir do século XVIII e tambémem outros países da Europa.

Em seu trabalho, o autor sugere que, embora otema do cuidado com as crianças tenha se tornadorecorrente na França a partir de meados do séculoXVIII, nas publicações elaboradas por médicos,administradores e outros que questionavam oshábitos educativos em vigor, essa crítica, porém,não se mostrava homogênea, mas distinta segundoa camada da população a que se dirigia.

De acordo com Donzelot (op. cit.), sobre a camadamais pobre da população incidia uma crítica pelaausência de uma “economia social”. A críticadirigia-se tanto à prática da criação de filhos poramas-de-leite mercenárias quanto ao abandonode menores em hospícios. Ambas as ações tinhamcomo conseqüência uma elevada mortalidade deindivíduos; a última, especialmente, exigiainvestimentos do Estado dos quais a sociedadeextraia mínimo benefício posterior, pois apopulação carente atendida nos hospíciosraramente chegava à idade adulta, quando poderiaentão compensar os investimentos do poderpúblico através do trabalho. Em outro extremo, acrítica que incidia sobre a camada mais rica dapopulação tinha um foco diferente, nesse casodirigido à ausência de uma “economia do corpo”.A necessidade de sobrevivência das criançasrequeria, também nos segmentos mais abastadosda sociedade, a modificação de hábitos antigos,como o recurso ao aleitamento mercenário. Exigia,

Solange Maria Sobottka Rolim de Moura & Maria de Fátima Araújo

“Estudos atuaismostram como a vida

coletiva vai dandolugar a um espaçoprivado de vida. As

casas modificam suaarquitetura para

reservar aos indivíduoslocais privados; os

nomes seindividualizam;

roupas, guardanapose lençóis ganham

marcas, de modo apermitir sua

identificação. A vidado trabalho sai da

casa para a fábrica,modificando o

caráter da vidapública. A casa torna-

se lugar reservado àfamília que, em seu

interior, divideespaços, de forma apermitir lugares mais

individuais e privados”

Bock

1 As tecnologias políticas podemser entendidas como um conjuntode práticas que investirão sobreo corpo, a saúde, as formas dealimentar e morar, enfim, oespaço completo da existênciahumana.

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além disso, a alteração da forma como as criançasricas eram educadas, em geral afastadas da famíliae reclusas em internatos e conventos até seu ingressono mundo social adulto.

Em função das diversas críticas, “conservar acriança” significou, segundo Donzelot, (op. cit.)intervir nas famílias e reorganizar oscomportamentos educativos em torno de doispólos, com estratégias diferentes porque dirigidasa classes distintas da população. Nas camadasabastadas, o cuidado com a criança apoiou-se nadifusão da medicina doméstica enquantoconjunto de técnicas que permitiram às classesburguesas retirar seus filhos da “influência negativa”dos serviçais, colocando-os sob o domínio dospais – introduzindo, portanto, na família, uma“economia do corpo”, na qual a disciplina, atravésda vigilância e minucioso controle, ter-se-iamostrado essencial. Já nas camadas populares, essaintervenção apoiou-se nas estratégias da filantropiaque, distinguindo-se das formas de caridadeexercidas no antigo regime, englobavam “todas asformas de direção da vida dos pobres com oobjetivo de diminuir o custo social de suareprodução” (Donzelot, 1986,p.22), ou seja, pelaintrodução de uma “economia social” quecompreenderia o desenvolvimento de um extensoe coeso aparato de tutela a essas famílias.

Nos segmentos economicamente mais favorecidosda sociedade, a ligação entre médico e famíliateria produzido modificações profundas naorganização familiar: o fechamento da famíliasobre si mesma, um controle maior sobre aeducação e os hábitos de todos os seus membros,e a aliança entre o médico e a mãe que teriabeneficiado a ambos – à mulher, promovendo-asocialmente em função do desempenho adequadode seu papel materno; e ao médico, que teve seupoder reforçado contra as antigas estruturas detratamento e cuidados leigos, e também contra adisciplina religiosa e as formas tradicionais deeducação (internato).

Se nas camadas altas houve a ênfase nos laçosafetivos, nas camadas populares esses mesmos laçosforam progressivamente desfeitos e substituídospelas políticas sociais de intervenção. Nessessegmentos, as estratégias de intervenção ter-se-iamvoltado muito mais para o “entrave de liberdades”,tais como o abandono de crianças (assumido ounão pelos pais), as uniões livres (concubinato) e asações de mendicância e vagabundagem. Em taisfamílias, observou-se um progressivo isolamento,operado pela redução de sua “extensividade como campo social”, ou seja, pela desarticulação deantigas redes de relação e troca de favorecimentos.Uma vez isolada, tornou-se mais fácil ao complexotutelar controlar a família em seus desvios(Donzelot, 1986, p.47).

Essas estratégias diferenciadas repercutiram emdiferentes posicionamentos assumidos pela mulhere pela criança, conforme a classe social a quepertenciam, e seu sucesso permitiu a presença doEstado diante de cada indivíduo através da família,ou seja, a passagem de um governo das famíliaspara um governo através da família.

Com relação à mulher, especificamente, nota-seque, a partir do século XVIII e principalmente noséculo XIX, desenhou-se uma nova imagem de suarelação com a maternidade, segundo a qual obebê e a criança transformam-se nos objetosprivilegiados da atenção materna. A devoção epresença vigilantes da mãe surgem como valoresessenciais, sem os quais os cuidados necessários àpreservação da criança não poderiam mais se dar.A ampliação das responsabilidades maternas fez-se acompanhar, portanto, de uma crescentevalorização da mulher-mãe, a “rainha do lar”,dotada de poder e respeitabilidade desde que nãotranscendesse o domínio doméstico.

Nas classes favorecidas, a mulher passou a assumir,além da função nutrícia, a de educadora e, muitasvezes, a de professora. À medida, porém, que asresponsabilidades aumentaram, cresceu tambéma valorização do devotamento e do sacrifíciofeminino em prol dos filhos e da família, quenovamente surgiram no discurso médico e filosóficocomo inerentes à natureza da mulher. Assim, sepor um lado as novas responsabilidades da mulherconferiam-lhe um novo status na família e nasociedade, afastar-se delas trazia enorme culpa,além de um novo sentimento de “anormalidade”,visto que contrariava a natureza, o que só podiaser explicado como desvio ou patologia.

À medida, porém,que asresponsabilidadesaumentaram,cresceu também avalorização dodevotamento e dosacrifício feminino emprol dos filhos e dafamília, quenovamente surgiramno discurso médico efilosófico comoinerentes à naturezada mulher.

A Maternidade na História e a História dos Cuidados Maternos

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Acompanhando essa valorização da maternidade,o papel paterno experimentou, também, a partirdo século XVIII, alterações marcadas pelo fortedeclínio de seu valor. Nas camadas populares dasociedade, a ausência paterna e o descumprimentode suas funções foram progressivamente assumidospelo Estado através de suas instituições. Nascamadas abastadas, foi o discurso do especialistaque acorreu à família oferecendo novo padrão deatitudes.

A esse respeito, Donzelot (1986) considerou que omovimento de isolamento da família em relação àcomunidade concorreu para sua progressivafragilização, especialmente agravada quando aautoridade paterna teve seu poder atenuado dianteda valorização da mulher como educadora e aliadado poder médico. Foram então os especialistas –no início os médicos higienistas, depois ospedagogos, os psiquiatras e mais tarde os psicólogose psicanalistas – que, através de suas intervenções,contribuíram para a construção de normativasdestinadas a regular a vida familiar e individual, asquais passaram a ser seguidas não mais a partir daimposição ou do receio da punição, mas pelodesejo cultivado e orientado de uma vida normale saudável.

A Transformação dos CuidadosMaternos no Brasil: do PeríodoColonial à Constituição do EstadoModerno

Enquanto na Europa o processo que modificou aintimidade e os sentimentos em relação à vidafamiliar acompanhou a constituição dos Estadosmodernos, acentuando-se a partir do período dasrevoluções liberais, no Brasil o mesmo processoseguiu a passagem do território da condição decolônia a nação. Nesse sentido, compreender ascaracterísticas da vida familiar e dos sentimentosrelativos à maternidade naquele período envolvecorrelações entre a própria estrutura dacolonização moderna e as manifestações deintimidade.

De acordo com Algranti (1997), entre os séculosXVI e XVIII, a organização familiar colonial foimarcada pelos mesmos elementos queinfluenciaram profundamente a formação dasociedade brasileira.

“Nos núcleos urbanos, o que se nota é umasociabilidade que corre de modopredominantemente fora de casa, pautada por ummundo em que todos se conhecem, e em que seidentificam socialmente pelas suas vestes, pelosofícios. (...) No mundo rural, as grandes distânciase o isolamento nem sempre favoreceram a

intimidade, quer pela presença de muitos escravosnos latifúndios, quer pelo próprio caráter dasrelações de dominação típicas da sociedadecolonial” (Algranti, op. cit., p.152).

No ambiente doméstico, notava-se umaindefinição de espaços privados. No interior dacasa, trabalho e convivência familiarsobrepunham-se, e pouca ou nenhuma distinçãose fazia no uso dos cômodos. Nas atividadescotidianas, geralmente relacionadas à subsistência,senhor e escravo conviviam lado a lado. Tambémno cuidado com a criança, nenhuma indicaçãorestou de que lhe fosse reservado um espaço ouuma forma de tratamento que a diferenciasse dosdemais membros da família.

Além da dificuldade em delimitar-se uma vidaprivada nesse período, estudos atuais questionama existência de uma forma única assumida pelafamília na colônia, tanto se for considerada toda aextensão temporal do período colonial (mais detrês séculos) quanto ao levar-se em conta adiversidade da ocupação do território na mesmaépoca, que se desenvolvia de forma variadaconforme a região.

“Tantas foram as formas que a família colonialassumiu, que a historiografia recente tem exploradoem detalhe suas origens e o caráter das uniões,enfatizando-lhe a multiplicidade e especificidadeem função das características regionais dacolonização e da estratificação social dosindivíduos” (Algranti, 1997, p.87).

No Brasil, assim como na Europa, odesenvolvimento da organização e dos sentimentospresentes na família moderna, incluindo aquelesrelacionados à maternidade e aos cuidadosmaternos, foi marcado pelas intensas modificaçõesocorridas pela ascensão burguesa no final doséculo XVIII, embora aqui revestidas decaracterísticas específicas à condição de país-colônia que se vê subitamente elevado à sede dogoverno português.

Com a transferência da família real e de toda acorte para o Rio de Janeiro no início do século XIXem conseqüência da instabilidade política vividapelos regimes absolutistas na Europa, aadministração portuguesa desenvolveu um novotipo de interesse pelas cidades brasileiras. Nessemovimento, promoveu-se uma “reeuropeização”dos costumes coloniais pela transposição, para oBrasil, de hábitos relativos a uma cultura gestadana Europa. Aliados à mulher e à criança,valorizando a “família amorosa”, durante o séculoXIX, os higienistas auxiliaram a família brasileira aassimilar novos valores, nuclearizando-se eurbanizando-se.

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Sob a influência das idéias de Foucault e seguindoo trabalho de Donzelot, Costa (1989) analisou amodificação de costumes e o processo dehigienização da família no Brasil, entre os séculosXVIII e XIX, que acompanharam a transformaçãoda família colonial. No movimento de progressiva“estatização” dos indivíduos, produziu-se o que oautor denominou “família colonizada”. O processoter-se-ia dirigido exclusivamente às famílias deextração elitista, não atingindo as camadas menosfavorecidas economicamente (que incluíam osescravos), embora o autor reconheça que o modelofamiliar dele resultante tenha-se mostradofortemente hegemônico por um longo período nasociedade brasileira.

Segundo Costa, o novo Estado brasileiroencontrava na família colonial um forte obstáculoà sua consolidação, em razão das característicasque esta foi adquirindo durante o extenso períodosubseqüente ao descobrimento até o século XVIII.Tendo-se instalado à distância do governo central,o colono estabeleceu-se como praticamente oúnico responsável pela ocupação do território; aintervenção da coroa portuguesa apenas ocorriaem situações graves, de ameaça ao seu poderio.Nessas condições, “a família ‘latifundiária’acumulou uma massa de poder que, em breve,competia com o poder da metrópole” (Costa, op.cit., p.36).

Entre as principais características da famíliacolonial, encontrava-se a valorização do poderpaterno. A mulher e os filhos, assim como os demaismembros da parentela, interessavam apenasenquanto elementos a serviço do patriarca, e viamna figura do homem não só o protetor, como opatrão, uma vez que a casa colonial funcionavacomo pequena unidade de produção,dependendo minimamente de outras instânciaspara organizar a satisfação de suas necessidadesde consumo.

“A higienização das cidades, estratégia do Estadomoderno, esbarrava freqüentemente nos hábitose condutas que repetiam a tradição familiar elevavam os indivíduos a não se subordinarem aosobjetivos do governo. A reconversão das famíliasao Estado pela higiene tornou-se uma tarefaurgente dos médicos. (...). No curso do SegundoImpério, sobretudo, a medicina social vai dirigir-se à família ‘burguesa’ citadina, procurandomodificar a conduta física, intelectual, moral,sexual e social dos seus membros com vistas à suaadaptação ao sistema econômico e político”(Costa,1989, p.30-33).

Segundo o mesmo autor, no Brasil, o processo de“estatização dos indivíduos” teve sobre a mulherum efeito específico: sua redução à figura da “mãe

higiênica”. Essa nova condição, contudo, só foipossível através da aliança da família com o podermédico. Dessa forma, tanto aqui como na Europa,para a produção da “mãe higiênica”, foifundamental o discurso higienista, no ataque tantoao aleitamento mercenário (no Brasil realizado porescravas) como responsável pela mortalidadeinfantil, quanto à suposta deformação moral dascrianças pelo cuidado e convivência com amas elacaios negros.

O comportamento comum na sociedade da época,de recusa ao aleitamento materno. foi codificadotambém no Brasil pelo discurso higiênico comouma infração às leis da natureza, o que permitiunão somente a culpabilização das infratoras, masa instalação de um sentimento de anomalia. Alémdisso, a insistência quanto à amamentação permitiuque se regulasse a vida da mulher, confinando-apor um longo período ao ambiente doméstico (osperíodos de aleitamento se estendiam por doisanos ou mais), porém voltando sua atenção aocuidado, à educação e à vigilância não só dacriança como também da família. Também aqui,os cuidados maternos passam a ser valorizados eesse novo olhar sobre a criança possibilitou amanifestação do “amor materno”, que tornou-senão somente desejável como “natural”. Assim, portodo o século XIX, deu-se a adaptação do modelode família burguesa européia à sociedade colonialbrasileira que, com o auxílio dos médicoshigienistas, adquiriu aqui um “colorido tropical”.

A Família Contemporânea e aConstituição da“Nova Maternidade”

Cabe agora refletir acerca das condições dematernagem e das características que o sentimentomaterno vem assumindo na sociedadecontemporânea. O papel da mulher no cuidadocom os filhos, segundo Chodorow (1990), tornou-se, no último século, tanto mais exclusivo quantomenor se tornava a determinação biológica para amaternidade. Enquanto as taxas de natalidadecaíam, a escolarização das crianças tornava-se maisprecoce e as mulheres mais presentes no mercadode trabalho, tanto mais crescia a ideologia da “mãemoral”.

“Nos Estados Unidos, o período capitalista inicialproduziu uma ideologia da ‘mãe moral’: as mulheresburguesas deviam agir ao mesmo tempo comoeducadoras e modelos morais para seus filhos, assimcomo alimentadoras e guias morais para seusmaridos na sua volta do mundo de trabalho imorale competitivo” (Chodorow, op.cit., p.19).

No curso do SegundoImpério, sobretudo, amedicina social vaidirigir-se à família‘burguesa’ citadina,procurandomodificar a condutafísica, intelectual,moral, sexual e socialdos seus membroscom vistas à suaadaptação aosistema econômico epolítico”

Costa

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A autora indica a psicologia e a sociologia pós-freudianas como importantes fontes dosargumentos que contribuíram para a idealizaçãoe o reforço do papel materno, na medida em queenfocaram a relação mãe-bebê como decisiva nodesenvolvimento da criança. Com relação a esseaspecto, cabe lembrar que autores como Klein(1986) e Winnicott (1983, 1988a, 1988b, 1993a,1993b) dedicaram-se exaustivamente ao estudo daschamadas relações objetais primitivas. Éfundamental, no trabalho de Winnicott, tanto avalorização do ambiente no desenvolvimentoinfantil, quanto o delineamento da figura da “mãededicada comum”, definida como aquela capazde “promover a integração das característicaspróprias de cada criança, diferenciando cada bebêde outro, a partir do apoio encontrado no egomaterno que age como facilitador da organizaçãodo próprio ego do bebê” (Winnicott, 1988b, p.494).

Construído predominantemente em conformidadecom uma perspectiva centrada no indivíduo, odiscurso psicanalítico passou a ser disseminadoamplamente na sociedade contemporânea, muitasvezes de forma pouco crítica. Estudos brasileirosrealizados na década de 80 tematizando a famíliae as modificações ocorridas nos processos desubjetivação (Salem,1985; Lo Bianco,1985;Almeida,1987), associaram tais mudanças àsalterações observadas na realidade concreta eapontaram para a influência do discurso daPsicanálise nesse movimento. Essa influência,denominada por alguns autores de “culturapsicanalítica”

2, teria contribuído para que aos

papéis materno e paterno fosse acrescida umaperspectiva cada vez mais individualizante.

Salem (1985), entrevistando casais logo após onascimento do primeiro filho, investigou asmodificações na constituição desses papéis emfunção da maneira como os mesmos casaisvivenciavam a gestação, ou seja, na efetivação deum projeto que denominou “casal grávido”

3.

Segundo a autora, na década de 80, asrepresentações de maternidade/paternidadedeixam de ser percebidas como auto-evidentes epassam a ser vistas como situações sujeitas àelaboração e discussão pelo casal. Esse processoexige forte investimento emocional do homem eda mulher, que devem buscar uma “novamaternidade” e uma “nova paternidade”correspondente. Na referida construção, avalorização do compromisso emocional do casalcom a criança intensifica-se, iniciando-se já nagravidez. A participação do pai no parto e noscuidados com o bebê surge como elementofundamental dessa experiência. Quanto à mulher,valoriza-se a dedicação total à criança,dispensando-se o auxílio de enfermeiras, babásou mesmo da família. O casal, portanto, deveassumir todos os cuidados com o bebê, desde oinício.

“De um ponto de vista formal, esse arranjo contémum sabor de ‘déjà vu’: de fato, suas coincidênciascom a retórica rousseauniana sobre a ‘boa mãe’são patentes. Contudo, há uma autoconotaçãovanguardista reclamada pelos casais grávidos: elanão apenas se ancora na ênfase à participação dohomem desde a gravidez como também se afirma apartir do diálogo que estes casais estabelecem coma geração precedente” (Salem, 1985, pp.41-42).

Quanto ao último aspecto, estrutura-se uma novaideologia educacional que aponta as famílias deorigem do casal como modelo negativo, ao mesmotempo em que se ancora em valores como o afeto,a atenção à subjetividade e a um relacionamentomais igualitário e livre entre pais e filhos. O projetodo “casal grávido”, entretanto, só faz sentido dentrodo ideário do grupo social a que pertencem essesindivíduos, segundo o qual a própria representaçãode casal baseia-se na ética da igualdade entregêneros

4, “mas está também comprometido com

outras ondas ideológicas igualmente significativas,como a recente valorização do subjetivo, doemocional e dos aspectos psicológicos individuais“(Salem, op.cit., p.41).

A autora conclui pela dificuldade da efetivaçãodesse projeto, embora destaque que, na tentativade sua implementação, sejam significativas asrevisões efetivadas pelos casais com relação aospapéis materno e paterno. Aponta também para aimportância dos médicos obstetras, psicólogos eoutros técnicos envolvidos no acompanhamento

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2 A cultura psicanalítica podeser definida como o efeito dadifusão da Psicologia e,especialmente, da Psicanálisena sociedade, de forma que ocotidiano de um grupo passe aser compreendido e tematizadopor suas normas. A esserespeito, ver: Figueira, S. ACultura da Psicanálise. SãoPaulo: Brasiliense, 1985.

3 Comum nas camadas médiasurbanas cariocas na década de80, o “casal grávido”representava uma experiênciadiferenciada de gravidezcompartilhada pelo casal, cujoprojeto seria vivenciá-laenquanto unidade nuclearizadae individualizada, ou seja,destacada das redes deparentesco, distinguindo-se damaneira como casaistradicionais o fariam. Esseprojeto representaria, assim,uma acentuação do processo defechamento da família sobre seupróprio núcleo, característicodessa instituição no períodomoderno.

4 A respeito das modificaçõesobservadas nas famílias decamadas médias urbanas nasúltimas décadas do século XXno Brasil, guiadas pelo idealigualitário, ver: Araújo, M. F.Família Igualitária ouDemocrática? As TransformaçõesAtuais da Família no Brasil.Dissertação (Mestrado emPsicologia). PontifíciaUniversidade Católica, SãoPaulo,1993.

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do casal. Estes, ocupando um lugar queanteriormente era da família extensa, reforçariama contração da sociabilidade do casal, o queprogressivamente demandaria maior dependênciados mesmos especialistas.

No exame dos elementos envolvidos naconstrução dessa “nova maternidade”, Lo Bianco(1985) procurou delinear um de seus aspectos,que denominou “a psicologização do feto”

5. Tal

processo implicaria um tipo de relação com esteque anteciparia sua condição de bebê pelaatribuição de uma individualidade afetiva. Osprocedimentos médicos e de preparação para oparto incrementariam essa ideologia: os registrossonoros e de ultra-sonografias, permitindo avisualização do feto, antecipariam a atribuição desua identidade, permitindo desde cedo que amulher identificasse no futuro bebê característicaspróprias, uma personalidade individual.

Em sua análise, a autora inclui o processo nocontexto mais amplo das modificações socio-culturais que alteraram o papel materno, pelamodificação do próprio papel da mulher e dafamília nas últimas décadas do século XX. Se, nosúltimos dois séculos, o papel feminino foi marcadopor uma relativa estabilidade e por sua reduçãoao papel materno, na década de 80, embora essavinculação não tenha desaparecido, passou amostrar-se menos estável no contexto de algumasclasses sociais, particularmente nas camadasurbanas mais jovens.

De acordo com a autora, já não era mais possívelpensar o papel materno como o único disponívelpara as mulheres, embora permanecesse quaseobrigatório e claramente central. Percebia-se,então, “uma ênfase simultânea na importância eobrigatoriedade da maternidade e na importânciae possibilidade de desempenho em outros papéisnão relacionados ao ser mãe.” (Lo Bianco, 1985,p.97). Essa dupla ênfase passou a traduzir-se emuma experiência contraditória e ambivalente emrelação ao papel materno. A psicologização dofeto teria surgido no contexto dessa ambivalênciacomo tentativa de recriar a experiência maternaem novas bases.

Do mesmo modo observado por Salem (1985)nos relatos das experiências de “casais grávidos”,para as mulheres entrevistadas por Lo Biancomostrava-se fundamental preservar o valor damaternidade sem torná-la reprodução da formacomo vinha sendo tradicionalmente vivenciadapor outras mulheres.

“Há uma ênfase acentuada nesta relação (mãe-bebê), mas as normas para alcançá-la não sãoclaras. Há, pois, que buscá-las já, desde antes de a

maternidade tornar-se uma possibilidadeconcreta. Assim, a gravidez torna-se tema deescrutínio, e tudo que diz respeito a ela é remetidoà ordem dos sentimentos e preocupações paracom o feto. Este, por seu turno, é visto comorespondendo às atitudes maternas com grandeautonomia, isto é, fazendo valer suas supostascaracterísticas psíquicas. (...) É ainda consideradoparceiro de um diálogo e sujeito-objeto devigilância cuidadosa e detalhada” (Lo Bianco,1985, pp.110-111).

Embora valorizada e extremamente investidaafetivamente, a gravidez não podia tornar-se centrale exclusiva na vida das mulheres, o querepresentaria um retrocesso à forma tradicional devivenciá-la; o papel feminino deveria conter amaternidade, sem deixar-se englobar por ela.Contrariando tamanha ênfase na gestação e nofeto, surgia nas mulheres das classes médias umafreqüente irritação ao verem-se reduzidas ao papelmaterno, mesmo quando isso ocorria através degentilezas e concessões à sua condição de gestante.Mesmo o tradicional vestuário de grávida erarecusado, tendência que se confirmouposteriormente, até o total desaparecimento detrajes específicos da gravidez. Na década de 90, aexibição da barriga popularizou-se, porém sempreassociada a roupas que traduzissem juventudeadolescente e um padrão de elegância (ouextravagância) típico de mulheres não-grávidas.

Almeida (1987) também se propôs a discutir asituação da família brasileira no contexto demudança social e cultural acelerada, buscandocaptar os elementos que conduziriam à construçãodesse novo modelo de maternidade

6, alternativo

ao padrão vigente e que a autora denominou“paradigma alternativo”.

Em seu trabalho, identifica um processo denuclearização da família orientado pela ideologiaindividualista, segundo a qual a experiência dematernidade diria respeito somente ao casal e, emúltima instância, à vivência pessoal da mulher. Nadécada de 80, as mulheres passaram a vivenciar oque a autora denominou “sentimento modernode maternidade”. A família deixou de ser aprincipal referência na constituição deste modelo,sendo substituída pelo especialista ou por gruposde pares. A diferença desaparece como princípiológico e exclusivo na organização das experiênciassociais e familiares: homem/mulher, pai/mãe,marido/esposa, adulto/criança deixaram de ter seuspapéis sociais estabelecidos apenas a partir dediferenças sexuais e de uma estruturaçãohierárquica.

Na experiência pessoal, a vivência da gravidez nãoera mais percebida como qualitativamente diversa

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5 Através de entrevistas comgestantes de duas classessociais distintas, procurouidentificar a constituição deuma nova relação com o feto,que teria por base a buscado aperfeiçoamento na relaçãomaterno-infantil, levando-a aretroceder ao período pré-natal.

6 Procurando identificar taiselementos, entrevistou doisgrupos de mães pertencentes agerações distintas (gestantesdos anos 80 e suas mães, quetiveram os filhos na década de50), apreendendo, assim, duasexperiências distintas dematernidade.

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do período não-grávido, levando aodesaparecimento das distinções quanto à rotina,postura, vestuário. A presença do marido em todosos momentos da gestação passou a ser valorizada.A gestação, para essas mulheres, passava a serpercebida como escolha pessoal, devendo serproblematizados todos os aspectos relacionados àsua evolução.

Almeida (op. cit.) também destaca a relaçãoestabelecida pelas mulheres nos anos 1980 com oque chamou de “profissionais da gravidez”. Se,anteriormente, o acompanhamento da gestaçãorestringia-se ao obstetra, uma série de outrosprofissionais inseriu-se nesse processo: na época,passaram a estar presentes especialistas emPsicologia e em trabalhos de corpo aplicados àgravidez e ao parto. Esses profissionais tornaram-seresponsáveis, junto às mães, pela construção edivulgação de um “paradigma alternativo” naconcepção de maternidade.

Na visão da autora, o novo paradigma mostrava-seessencialmente reativo aos antigos valores e crenças,que passaram a ser atacados e atingidosbasicamente através de seus representantes - afamília de origem, a ideologia médica tradicional,mas também outras gestantes contemporâneas quenão se filiavam ao novo modelo. Uma postura deafastamento e crítica (superficial) era favorecida,especialmente através dos profissionais “psi” que,junto aos grupos de pares, passavam a ser tomadoscomo sede de estabelecimento de novos valores,supostamente porque incentivariam a emergênciade um desejo individual em relação àmaternidade.

Para Almeida (1987), essa atitude dos especialistasconteria, na verdade, um padrão disciplinador sutil.A ideologia alternativa não seria, contudo,percebida como tal, confundindo-se com a crençana aquisição de modalidades de liberação frentea condutas e valores antigos. Tais relações estariamcompreendidas, portanto, em um camporigorosamente disciplinar; sua “novidade” estariano fato de essas estratégias de controle econvencimento serem percebidas como

concernentes ao desejo do próprio sujeito, o quefavoreceria grandemente a adesão às normativas.

Se, na década de 80, os efeitos de uma progressivaindividualização e “psicologização” das relaçõesna sociedade se fizeram sentir de maneira maisaguda nas camadas urbanas da população,intelectualizadas e familiarizadas com o universode valores da classe média, nos últimos anos, aparticipação de profissionais “psi” em trabalhosdirigidos a outras camadas sociais acentuou-se. Oaumento dessa participação deu-se, em parte, emfunção do empobrecimento geral da populaçãodurante os anos críticos da década de 90, obrigandoesses profissionais a dirigirem-se a outros camposde trabalho além do consultório particular.Ocorreu também a partir do crescimentoassombroso no número de profissionais das áreas“psi” no mercado, em função do fenômenoconhecido como “boom da Psicanálise” nasdécadas anteriores.Esse momento trouxe, entreoutras coisas, um aumento na procura por cursosde formação em Psicologia e por instituições deformação de psicanalistas ou terapeutas deorientação analítica.

A penetração dessa forma de discurso favorecia eera favorecida pela ordem econômica vigente. Apresença de profissionais “psi” nos meios decomunicação de massa tornou-se cada vez maisfreqüente, veiculando conselhos e orientaçõesatravés de jornais, de revistas e da televisão. Suasabordagens, muitas vezes conferindo grande valoraos aspectos subjetivos das relações e aodesenvolvimento da individualidade, estimularamum aporte individual para questões nas quais ocontexto socioeconômico e político do Paísmostrava-se fortemente implicado. O mesmo tipode abordagem permitia ainda a generalização dealternativas específicas a um determinado contextopopulacional para toda a sociedade.

Além disso, a partir do final da década de 1970,um amplo movimento mundial no campo dasaúde modificou a maneira como os serviços deatenção à população se organizavam, propondoa revisão do próprio conceito de saúde

7. O

advento do chamado “paradigma biopsicossocial”,preconizando um novo tipo de intervenção atravésdas equipes multiprofissionais, levou um grandenúmero de psicólogos a atuações relacionadas aossetores básicos (chamados primários e secundários),ampliando intervenções antes dirigidas somenteàs instituições psiquiátricas para atingir as unidadesbásicas de saúde, os ambulatórios e hospitais gerais.A Psicologia, acompanhando a Medicina, passoua ter lugar em inúmeros programas de saúdepública, colaborando na organização de novas(novas?) formas de cuidado dispensado aosindivíduos.

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7 Em 1978, a ConferênciaInternacional Sobre AtençãoPrimária, realizada na cidadede Alma-Ata, reiterou a saúde –definida como um estadocompleto de bem-estar físico,mental e social – como um direitofundamental do homem, sendosua obtenção um importanteobjetivo social a ser perseguidopor todos os setores dacomunidade. Dessa forma,englobou a participação de todosos setores e campos de atividadesligados ao desenvolvimento deum país, através de esforçoscoordenados, para a organizaçãode serviços de prevenção,tratamento e reabilitação dosprincipais problemas de saúdeda comunidade. Nesses termos,a Declaração de Alma-Ata,subscrita pela AssembléiaMundial de Saúde e pelaAssembléia Geral das NaçõesUnidas, fomentou a inclusão deprofissionais de áreas não-médicas e de membros dacomunidade para que, com odevido treinamento social etécnico, atuassem com osprofissionais da área médica,como uma equipe, na abordagemde problemas de saúde.

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Em outro extremo, o progresso científicoproporcionado pela Medicina e pela tecnologiade ponta nas últimas décadas, aliado àstransformações do papel da mulher na sociedade(evidenciadas especialmente a partir domovimento feminista), tem trazido novas eimportantes questões para a família que certamenterepercutirão em novas possibilidades deconfiguração subjetiva. A mulher, depois deconquistar a liberdade de exercer sua sexualidadedesvinculada do matrimônio, de planejar e decidira maternidade, de adiá-la até o momento queconsidera propício às circunstâncias de sua vida,de interromper uma gestação por meios seguros(embora ilegais no Brasil), pode também optar porviver a maternidade sozinha, sem que isso signifiqueuma condenação social. Porém, mais que assumira maternidade fora da condição do casamento,hoje a mulher pode tornar-se mãe sem dependerda presença concreta de um companheiro,podendo fazê-lo amparada pelos avanços dastécnicas de fertilização assistida. Essas novastecnologias reprodutivas permitem a gestação emcondições anteriormente impensáveis, tanto doponto de vista médico quanto social. Aliadas aesses avanços, as técnicas de cuidados a recém-nascidos que reduzem drasticamente amortalidade de crianças, mesmo quando nascidasmuito prematuras ou gravemente doentes,certamente repercutirão na organização familiar enos sentimentos relacionados à maternidade.

Correia (1998), em um artigo em que reflete arespeito das novas tecnologias reprodutivas (NTRs),como a inseminação artificial, a fertilização in vitroe suas diversas variantes, incluindo doações decélulas reprodutivas (óvulos e espermatozóides) ede embriões, aluguel ou empréstimo de útero, atéa possibilidade de clonagem humana, consideraque “as NTRs constituem a etapa mais recente deum processo cujas origens remontam ao fim doséculo XVIII, pelo qual, historicamente, a funçãode cura da Medicina duplica-se em uma outrafunção, política, de criação e transmissão denormas.” (Correia, op. cit., pp.132-133). Sob esseponto de vista, uma tecnologia de ponta, quandodirigida a aspectos tão permeados de significaçãoquanto à produção e a manutenção da vidahumana, pode assumir um caráter não tãomoderno assim mas que, lembrando as antigaspráticas higienistas, reforça “o velho papel daMedicina na construção de significados em tornoda maternidade e da paternidade” (Correia, op.cit., p.132).

Será mais uma vez o discurso do especialista aauxiliar a família diante das novas alternativas derelação e de constituição subjetivas, que se inseremno campo do imaginário antes mesmo de setornarem uma possibilidade concreta para a

sociedade. Ao psicólogo certamente caberá algumpapel, uma vez que são justamente os processosde subjetivação o terreno privilegiado de seutrabalho. O exercício de sua função de forma críticae reflexiva quanto aos fundamentos econseqüências desses processos mostra-seessencial, sob pena de que seu discurso se reduza,como outros tantos, ao discurso da competência,tal como definido por Chauí (1982).

Para essa autora, o “discurso competente” é odiscurso instituído, cuja finalidade seria dissimular,sob uma capa de cientificidade, um trabalhoideológico de identificação de todos os sujeitossociais com uma imagem particular euniversalizante. A condição essencial para oprestígio e a eficácia do discurso da competênciaconsiste na afirmação da incompetência doshomens como sujeitos políticos e sociais válidos,ou seja, para sua disseminação, é preciso que hajaapenas homens reduzidos à condição de objetossociais.

O discurso competente realiza, assim, um duplomovimento: ao mesmo tempo em que afirma aincompetência dos homens, entra em cena paradevolver-lhes alguma competência,cientificamente embasada, porém realizada deforma individualizante. “Invalidados como seressociais e políticos, os homens seriam revalidadospor intermédio de uma competência que lhes dizrespeito enquanto sujeitos individuais ou pessoasprivadas” (Chauí, op. cit., p.12).

A competência lhes é devolvida, portanto, na formade uma série de discursos que ensinarão a cadaum como lidar com o mundo e como se relacionarcom o outro. Longe de promover um saberverdadeiro, uma reflexão autêntica sobre si mesmoe a realidade, os discursos da competênciadivulgam conhecimentos, ao mesmo tempo emque apagam diferenças, anulam as contradições efazem desaparecer o novo, o diverso. Na verdade,

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para o discurso competente (como discursoideológico), o “novo” só interessa quando perdeseu poder instituinte, tornando-se inócuo, infértil.

As novas questões trazidas à família nacontemporaneidade, especialmente no que dizrespeito às concepções acerca da maternidade dasquais trata este artigo, podem tornar-se elementosinstituintes, disparadores de novos processos desubjetivação que, nas palavras de Deleuze (1992,p.217), “só valem na medida em que, quando

acontecem, escapam tanto aos saberes constituídoscomo aos poderes dominantes”. Essas mesmasquestões podem, no entanto, ser capturadas pelointenso processo de modelação, de instituição devalores, que tem no especialista um importanteelemento para sua efetivação. O lugar doespecialista não é, porém, uma determinação:podemos posicionar-nos de outro modo, fazendode nosso trabalho uma oportunidade de criação ede ruptura com o instituído, um espaço de suapermanente desconstrução.

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Recebido 21/02/03 Aprovado 02/01/04

Solange Maria Sobottka Rolim de MouraRua Julio Prestes, 1380

Centro – Presidente Prudente – SP CEP 19015-210Email: [email protected]

Maria de Fátima AraújoDepartamento de Psicologia Clínica – UNESP

Av. Dom Antônio, 2100Parque Universitário – Assis – SP CEP 19800-000

Email: [email protected]

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