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Maio de 2005 PROPAGANDA DE MEDICAMENTOS Medicamento e lucro: uma associação pouco saudável Ministério da Saúde Fundação Oswaldo Cruz Escola Nacional de Saúde Pública Coordenação de Pós-Graduação

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Page 1: PROPAGANDA DE MEDICAMENTOS Medicamento e lucro: … · A propaganda, ao divulgar os medicamentos como produto de consumo, tende, entre outras coisas, a induzir a auto-medicação,

Maio de 2005

PROPAGANDA DE MEDICAMENTOS

Medicamento e lucro: uma associação pouco saudável

Ministério da Saúde

Fundação Oswaldo Cruz

Escola Nacional de Saúde Pública

Coordenação de Pós-Graduação

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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SÉRGIO AROUCA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM VIGILÂNCIA SANITÁRIA DE MEDICAMENTOS

PROPAGANDA DE MEDICAMENTOS

Medicamentos e lucro: uma associação pouco saudável

Bibiana Custódio

Scheila Locha Zangali Vargas

ORIENTADORA: Ana Beatriz Marinho de Noronha

Monografia apresentada à Escola

Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca

(Ensp/Fiocruz), como requisito para a

obtenção do grau de Especialista em

Vigilância Sanitária de Medicamentos.

RIO DE JANEIRO

MAIO DE 2005

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Dedicamos este trabalho aos nossos pais e irmãos e a todos

aqueles que se preocupam sinceramente com a Saúde

Pública.

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AGRADECIMENTOS:

A nossa orientadora, Ana Beatriz, por absolutamente tudo.

Aos colegas e amigos do curso.

À professora Valéria Lagrange, pela paciência e incentivo.

Aos amigos Silvia e Alex, que efetivamente ajudaram com

as imagens.

A Leonardo e Guilherme pela dedicação em montar os

cartazes.

A Xavier e Cristiano pelo carinho, incentivo e

compreensão.

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“A educação de pacientes – e médicos – é

importante demais para ser deixada para a

indústria farmacêutica, com suas campanhas

pseudo-educacionais elaboradas, acima de

tudo, para a promoção dos medicamentos.”

Sidney M. Wolfe

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RESUMO

Neste trabalho analisamos propagandas de medicamentos veiculadas em revistas

supostamente dirigidas ao profissional de saúde. Essas propagandas foram coletadas de

novembro de 2003 a fevereiro de 2005 e analisadas de acordo com a legislação vigente,

RDC 102/00, e de acordo com o discurso utilizado pelas agências de publicidade.

Selecionamos 20 peças publicitárias divididas em duas categorias:

medicamentos de venda livre e medicamentos de venda sob prescrição médica.

Verificamos que a adequação à legislação acontece em todas as peças de medicamentos

de venda livre e em apenas duas propagandas de medicamentos com venda sob

prescrição médica a legislação é cumprida em sua totalidade. Devido ao meio de

comunicação em que são publicadas, o apelo para o lucro está sempre presente, já que o

intuito do comércio é, evidentemente, lucrar.

Com a constatação de que a legislação em vigor não contempla a prática da

promoção de medicamentos de forma detalhada e clara, permitindo que a saúde e o

comércio de medicamentos sejam banalizados através de anúncios grosseiros,

sugerimos a proibição desse tipo de propaganda. Torna-se impossível determinar o que

pode e o que não pode ser dito em propagandas desse tipo de produto, uma vez que as

empresas de publicidade se utilizam de uma linguagem que visa, exclusivamente,

exaltar os benefícios dos produtos, favorecendo o mau uso dos medicamentos .

PALAVRAS-CHAVE: vigilância sanitária, propaganda de medicamentos, linguagem

da propaganda, regulação da propaganda, saúde.

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ABSTRACT

In this paper were analysed medicine advertisings placed in supposedly health

professionals driven magazines that circulate in chemist’s. These adverts were collected

from November, 2003 to February, 2005, analysed according to the in force legislation,

RDC 102/00, and to what concerns the used speech by publicity companies.

Twenty “peças publicitárias” were selected and divided into two categories: the

over-the-counter drugs (eleven peças) and the on prescription drugs (nine peças). It was

verified that every over-the-counter medicines were suitable to the legislation, and that

only two on prescription drugs accomplish the law. Such advertising makes use of a

language that makes clear that the main public of such magazines is not the health

professional, but the ones who were interested in selling: the salesmen and the shop

assistants. Due to the means by which such propaganda is published, the profit appeal in

always present, even because the aim of the commerce is, evidently, to gain money.

As it was observed that the in force legislation does no contemplate the practise

of promoting medicine in a clear and detailed way, permitting the human health and the

medicine commerce to be banalized in such rough adverts, we suggest the prohibition of

this kind of propaganda, since it is difficult to specify the appropriate language to be

used in advertising this kind of product. Besides that, making use of a language that

aims exclusively exalting the benefits of the products they advertise, publicity

companies are favouring the bad use of medicine.

KEYWORDS: health vigilance, medicine advertising, health, advertising’s language,

advertising’s regulation.

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SUMARIO

Lista de Quadros e Figuras..............................................................................vi Lista Siglas e Abreviaturas.............................................................................vii

1. Introdução.................................................................................................. 1

2. Saúde: Direito de Todos, Dever do Estado..............................................3 2.1. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária ......................................... 4

2.1.1. Política para regulamentação de medicamentos no Brasil...................... 5

3. Medicamento como Mercadoria para Obtenção de Saúde.................... 6 3.1. O comércio de medicamentos e a prática da auto-medicação ............ 8

3.2. O uso racional de medicamentos....................................................... 11

4. A Indústria Farmacêutica ....................................................................... 14 4.1. Novos tempos, novas estratégias ...................................................... 14

4.2. A indústria farmacêutica no Brasil...................................................... 16

5. A Promoção Comercial dos Medicamentos.......................................... 18 5.1. Um objetivo, várias práticas ............................................................... 19

5.2. A linguagem da propaganda .............................................................. 23

5.3. A regulação da propaganda de medicamentos.................................. 25

6. Metodologia ............................................................................................. 31 6.1. O objeto de estudo............................................................................. 31

6.2. Análise de adequação à legislação.................................................... 33

6.3. Análise da linguagem da propaganda................................................ 34

7. Resultados e Discussão......................................................................... 46

8. Conclusão e Sugestão............................................................................ 51 8.1. Sugestão 1......................................................................................... 53

8.2. Sugestão 2......................................................................................... 54

9. Referências Bibliográficas ..................................................................... 55

Anexo: RDC 102/00

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LISTA DE QUADROS E FIGURAS

Quadro 1: Relação das peças publicitárias analisadas ............................................... 32 Quadro 2: Propaganda de MIPs: adequação à legislação vigente.............................. 33 Quadro 3: Propaganda de MVSPs: adequação à legislação vigente.......................... 33 Peça 1: Sorine.............................................................................................................. 34 Peça 2: Transpulmin .................................................................................................... 34 Peça 3: Silomat ............................................................................................................ 35 Peça 4: Buscopan ........................................................................................................ 35 Peça 5: Lamisil ............................................................................................................. 36 Peças 6 e 7: Coristina D (1) e (2)................................................................................. 36 Peça 8: Bufferin Cardio ................................................................................................ 37 Peça 9: Life Vit ............................................................................................................. 38 Peça 10: Calcium Sandoz ............................................................................................ 38 Peça 11: Neurosedol.................................................................................................... 39 Peça 12: Actos ............................................................................................................. 40 Peça 13: Cebrilin .......................................................................................................... 41 Peça 14: Zetron............................................................................................................ 41 Peça 15: Alerfin ............................................................................................................ 42 Peça 16: Vigamox ........................................................................................................ 42 Peça 17: Fungonax ...................................................................................................... 43 Peça 18: Vioxx ............................................................................................................. 43 Peça 19: Adoless ......................................................................................................... 44 Peça 20: Ecator............................................................................................................ 44

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária

CFM – Conselho Federal de Medicina

CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito

DCB – Denominação Comum Brasileira

DCI – Denominação Comum Internacional

DEF – Dicionário de Especialidades Farmacêuticas

EUA – Estados Unidos da América

FDA – Food and Drug Administration

Fiocruz – Fundação Oswaldo Cruz

GFIMP – Gerência de Fiscalização e Controle de Medicamentos e Produtos

GPROP – Gerência de Monitoramento e Fiscalização de Propaganda, Promoção e de

Informação de Produtos Sujeitos à Vigilância Sanitária

INPI – Instituto Nacional de Propriedade Intelectual

IOC – Instituto Oswaldo Cruz

MIP – Medicamentos Isentos de Prescrição

MP – Medida Provisória

OMS – Organização Mundial da Saúde

PNM – Política Nacional de Medicamentos

RDC – Resolução da Diretoria Colegiada

SNVS – Sistema Nacional de Vigilância Sanitária

SNVS/MS – Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde

Sobravime – Sociedade Brasileira de Vigilância de Medicamentos

SUS – Sistema Único de Saúde

VSP – Venda Sob Prescrição

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1. INTRODUÇÃO

A propaganda de medicamentos representa um dos principais recursos de

marketing utilizados pela indústria farmacêutica. Ela tem como objetivo persuadir as

pessoas a comprarem esses produtos, ainda que não tenham real necessidade de

consumí-los. De forma geral, a propaganda de medicamentos não alerta os usuários

sobre os riscos sanitários envolvidos no consumo indiscriminado de substâncias

farmacológicas e nem para o fato de que todo medicamento, mesmo de venda sem

prescrição médica, deve ser consumido com consciência e responsabilidade.

A propaganda, ao divulgar os medicamentos como produto de consumo, tende,

entre outras coisas, a induzir a auto-medicação, agravar patologias ou sintomas,

incentivar a aquisição de produto ineficazes ou inadequados e ampliar os gastos do

Sistema de Saúde, inclusive no que diz respeito ao tratamento de intoxicação

medicamentosa, que ocupa o primeiro lugar no ranking de intoxicações nos centros de

controle de toxicologia e farmacovigilância do Brasil.

Por tudo isso, o tema, que vem exigindo uma atenção crescente das autoridades

de saúde, das agências regulatórias e de inúmeros pesquisadores das áreas da Saúde

Pública e da Comunicação, despertou nosso interesse e se tornou objeto desta

monografia, cujo propósito é analisar de que forma vem sendo feita a propaganda de

medicamentos de venda livre e de venda sob prescrição médica, em publicações

supostamente dirigidas aos profissionais de saúde.

Após um breve histórico de como se organizou o sistema público de saúde no

Brasil e de como a Vigilância Sanitária está inserida nesse sistema, passamos a discutir,

a inversão dos valores da sociedade atual, na qual o consumo abusivo de medicamentos

se dá sem a devida importância dos riscos envolvidos e o comércio farmacêutico se

aproveita da ausência de fiscalização e punições efetivas por parte do Estado para

prestar serviços, muitas vezes, desqualificados à população, visando somente o lucro

que o uso incorreto dos medicamentos pode gerar.

Em seguida, falaremos do uso racional de medicamentos, considerando que um

tratamento bem prescrito e cumprido propicia benefícios para o usuário e para o Estado.

A evolução da indústria farmacêutica no mundo e no Brasil é mostrada no capítulo 4 e,

no capítulo 5, são lembradas as estratégias da indústria para seduzir desde quem

prescreve e dispensa, passando por balconistas de farmácias, até o consumidor e o

conflito entre os interesses sociais e os interesses econômicos das indústrias. Discutimos

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também a linguagem utilizada pela propaganda e mostramos a evolução da legislação

que regula a propaganda de medicamentos no Brasil.

No capítulo 6, apresentamos a análise de 20 peças publicitárias divulgadas em

revistas com distribuição no comércio farmacêutico. As peças publicitárias foram

analisadas de acordo com o discurso utilizado e de acordo com a adequação à legislação

vigente.

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2. SAÚDE: DIREITO DE TODOS, DEVER DO ESTADO

Durante muito tempo, o sistema público de saúde brasileiro foi organizado

segundo o modelo médico-assistencial e só tinha direito ao benefício os trabalhadores

que contribuíam para a Previdência Social. Com o fim do Regime Militar e a

democratização nos anos 80, consagrados pela campanha para eleições diretas para a

Presidência da República e pela instalação da Assembléia Constituinte 1, deu-se início

um processo de organização política no Brasil, tornando possível um debate político na

área da saúde e uma luta pela melhoria das condições sociais. Nessa luta destacou-se o

Movimento Sanitário, que teve na convocação e realização da 8ª Conferência Nacional

de Saúde, em 1986, uma de suas mais significativas conquistas. O objetivo da

Conferência era discutir mudanças na estrutura e na política de saúde no país, o que

resultou em várias propostas, reunidas no projeto da Reforma Sanitária Brasileira 2, 3.

Em 5 de outubro de 1988, foi promulgada a nova Constituição Brasileira, que

acolheu grande parte das propostas sugeridas pelo movimento de Reforma Sanitária 1,

garantindo o direito constitucional à saúde 2. Além disso, determina em seu Artigo 198:

As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: II – atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III – participação da comunidade.

E em seu Artigo 200:

Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: I – controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde e participar da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e outros insumos; II – executar ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador; (...) VII – participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos.

A Lei 8.080 4, de 19 de setembro de 1990 – a Lei Orgânica da Saúde – detalha

os objetivos, atribuições e as ações do Sistema Único de Saúde (SUS). Um de seus

objetivos é dar assistência à população por meio de ações que devem promover,

proteger e recuperar a saúde, realizando de maneira integrada as ações assistenciais e as

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atividades preventivas (Art. 5, inciso III). Em seu campo de atuação estão incluídas as

ações de vigilância sanitária, epidemiológica, saúde do trabalhador e assistência

terapêutica e farmacêutica.

No 1o parágrafo do Art. 6, vigilância sanitária é definida como:

Um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde...

O que abrange o controle de bens de consumo, em todas as suas etapas, e a

prestação de serviços que se relacionem direta ou indiretamente com a saúde.

2.1. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária

A criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pela Lei 9.7825

de 27 de janeiro de 1999, atendeu às diretrizes do Plano de Reforma do Aparelho do

Estado. Trata-se de uma Agência Regulatória, ou seja, autarquia sob regime especial

vinculada ao Ministério da Saúde por meio de um contrato de gestão e caracterizada

pela independência administrativa, pela estabilidade de seus dirigentes e pela autonomia

financeira. Sua finalidade institucional é:

Promover a proteção da saúde da população por intermédio do controle sanitário da produção e da comercialização de produtos e serviços submetidos à vigilância sanitária, inclusive, seus ambientes e processos, bem como o controle de portos, aeroportos e fronteiras.

Ao ser criada, a Anvisa incorporou as competências da extinta Secretaria

Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde (SNVS/MS), além de outras,

como: coordenação do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS); execução do

Programa Nacional de Sangue e Hemoderivados e do Programa Nacional de Prevenção

e Controle de Infecções Hospitalares; monitoramento de preços de medicamentos e de

produtos para a saúde; aplicação de penalidades por concorrência desleal ou preços

excessivos; regulamentação sanitária de derivados do tabaco; assessoramento técnico ao

Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI); intervenção temporária na

administração de entidades produtoras que utilizam recursos públicos e dos prestadores

de serviços ou produtores exclusivos ou estratégicos para o abastecimento do mercado

nacional, em casos específicos; fiscalização da propaganda e publicidade de produtos

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sob regime de vigilância sanitária e concessão do certificado de cumprimento de Boas

Práticas de Fabricação, entre outras 6.

A Anvisa ampliou o alcance de sua captação para as propagandas de

medicamentos em todo o país, desenvolvendo parcerias com universidades brasileiras,

visando capilarizar a discussão do tema na comunidade acadêmica e, conseqüentemente,

sensibilizar futuros profissionais, cumprindo seu papel educacional dentro da regulação.

Assim, teve início o Projeto de Monitoração de Propaganda e Publicidade de

Medicamentos abrangendo todas as regiões do país.

2.1.1. Política para regulamentação de medicamentos no Brasil

De acordo com a Política Nacional de Medicamentos do Ministério da Saúde

(PNM) e com a Lei de criação da Anvisa, no ano de 2003, a Agência redefiniu as regras

para o registro de medicamentos no Brasil e sua renovação. As mudanças basearam-se

em alguns pontos, dentre eles: a redefinição das categorias de venda para medicamentos

isentos de prescrição médica, com prescrição médica e controlados; a redução da

assimetria de informação (diferenças dos níveis de informação na cadeia prescritor-

farmácia-paciente) e aumento do controle sobre o direcionamento e conteúdo adequados

da propaganda de medicamentos 7.

Foi criada uma legislação específica para a definição de medicamentos de venda

sem prescrição a partir de uma lista que contempla três quesitos definidos a priori, e que

os medicamentos devem preencher: grupo terapêutico, indicações terapêuticas e

exceções. Em função de um grande número de propagandas de medicamentos que não

estavam sujeitos à prescrição, porém com indicações terapêuticas cuja eficácia é

controvertida, alguns medicamentos foram incluídos como de venda com prescrição

médica. Por exemplo: probióticos e anti-sépticos locais.

As bulas e rótulos – instrumentos de informação sobre medicamentos dirigidos

aos pacientes, dispensadores e prescritores por parte da indústria – costumavam ser

usados para fins de marketing e não havia controle por parte da Vigilância Sanitária. Foi

lançado um Compêndio de Bulas de Medicamentos com conteúdo validado pela

Vigilância, a fim de suprir a necessidade de informação e contribuir para o

aperfeiçoamento das ações de assistência farmacêutica.

As propagandas de medicamentos passaram a ser monitoradas por meio de um

convênio com universidades, como já citado, aqueles que violarem as leis e divulgarem

falsas informações estarão sujeitos a multas e processos judiciais 7.

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3. MEDICAMENTO COMO MERCADORIA PARA OBTENÇÃO DE SAÚDE

“Eu estaria dizendo futilidades se considerasse que as

empresas multinacionais operam nos países menos desenvolvidos para o bem-estar daqueles países. Eles não são frades franciscanos, são homens de negócios” 8 (1997a, p.269).

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), “saúde é um estado

completo de bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doenças” e

conforme é definido pela Constituição Federal Brasileira 9, em seu artigo 196, a saúde é

um direito de todos e dever do Estado, o que deve ser garantido através de políticas

sociais e econômicas com o objetivo de diminuir o risco de doença ou outros agravos 10

(grifos nossos). Dizem respeito à saúde as ações que se destinam a garantir às pessoas e

à coletividade condições de bem-estar físico, mental e social 4 .

Baseado nas definições acima, a saúde só tem sentido quando acoplada à

doença, à ameaça de morte, à dor ou ao desprazer 11, sendo essas condições negativas as

responsáveis pela sua existência. A sensação de que algo pode ameaçar a integridade do

organismo é um importante fator que motiva as pessoas a consumirem medicamentos,

mas não é o único 12.

Saúde, atualmente, pode ser, e muitas vezes está, associada à juventude e à

beleza, fazendo com que os medicamentos acabem sendo utilizados não só para a cura

ou alívio de doenças específicas, mas também na busca da eterna juventude.

As diferentes fases da vida humana deixam de ser valorizadas enquanto

processo natural e, de uma simples sucessão de etapas, se convertem em uma seqüência

de períodos que necessitam de consumo terapêutico diferentes. É o caso, por exemplo,

das fórmulas milagrosas para emagrecimento, para adquirir massa muscular, para evitar

a calvície ou sinais de envelhecimento e também para compensar conseqüências de

práticas ou hábitos de vida caracterizados pela sociedade como danosos à saúde:

medicamentos digestivos ou emagrecedores para quem come demais, vitaminas,

suplementos alimentares para quem se alimenta de forma apressada ou errada,

analgésicos para dores de cabeça (que podem ser causadas por vários motivos, como

alimentação, poluição, cansaço, ressaca, exposição prolongada a tela de computador),

etc.12

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A saúde é oferecida como mercadoria e os medicamentos acabam sendo

identificados como produtos que solucionam um determinado estado de carência 11. A

noção de que os medicamentos envolvem riscos e podem ser uma ameaça eminente à

saúde e, em muitos casos, à própria vida do indivíduo, no entanto, é pouco valorizada.

A propaganda, associada à facilidade de acesso aos medicamentos em farmácias,

supermercados e até em camelôs, cria a ilusão de que os medicamentos são produtos

livres de efeitos graves e em nenhum momento chama atenção para o fato de que:

“Medicamentos podem aliviar, controlar ou eventualmente contribuir na cura de enfermidades específicas, mas o caminho para um estado de saúde melhor passa necessariamente por uma transformação cultural e social” 12 (2003a, p.25).

Ao longo do tempo, tanto os prescritores quanto a população em geral acataram

a idéia de que estar grávida, ser recém-nascido, estar na menopausa ou na terceira idade

são situações que requerem cuidados médicos 13. Uma mudança cultural que acaba por

intensificar conceitos distorcidos e prejudiciais presentes na sociedade 14 e torna

possível atribuir aos indivíduos a condição de carentes e necessitados de saúde ou, mais

especificamente, de produtos de saúde 11.

Simultaneamente a essa mudança cultural, a permanente evolução da prática

médica demanda que, cada vez mais, novas drogas sejam incorporadas ao arsenal

terapêutico disponível para tratar uma determinada enfermidade, ampliando

significativamente o peso da indústria farmacêutica, principal responsável pela pesquisa

e desenvolvimento dessas novas drogas que, uma vez aprovadas, precisam ser

introduzidas no mercado como qualquer outra mercadoria.

Para isso, a indústria de medicamentos investe enormes somas de recursos

financeiros e utiliza um sem número de estratégias de marketing, as quais, num

movimento circular, acabam (re)influenciando, a seu favor, os hábitos de prescrição e

consumo de medicamentos.

O grande problema é que, enquanto os sistemas de saúde no mundo

contemporâneo seguem sendo, basicamente, guiados por um sistema de valores, não é

possível cobrar do mercado valores morais, uma vez que, na busca do lucro, ele trabalha

com outra lógica que não é a sanitária. Dessa forma, cabe ao Estado, regulamentar a

produção e a venda de medicamentos, por meio de um conjunto de leis, regulamentos e

outros instrumentos legais, garantindo que os interesses da população sejam

preservados15.

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3.1. O comércio de medicamentos e a prática da auto-medicação

Em 2000, a estimativa era que o mercado mundial de medicamentos mobilizava

cerca de 400 bilhões de dólares 16. Nesse quadro o Brasil, que está entre os dez maiores

mercados, a Argentina e o México representavam cerca de 75% do mercado

farmacêutico na América Latina 16. A idéia predominantemente mercantilista na área do

comércio farmacêutico afeta principalmente os países pobres ou em desenvolvimento,

nos quais a cidadania não está plenamente estabelecida e a capacidade reguladora e

fiscalizadora do Estado é frágil, determinando a predominância dos interesses privados

sobre os coletivos.

Um fato facilmente comprovado é que nesses países existe geralmente um

número exorbitante de pontos de venda de medicamentos prestando, na maioria dos

casos, serviços desqualificados à população. No Brasil, por exemplo, há em média uma

farmácia para cada três mil habitantes, enquanto o preconizado como ideal pela OMS é

de uma farmácia para cada oito a dez mil habitantes, o que se vê é um excesso de pelo

menos 30 mil farmácias. Para piorar a situação, apenas 4% delas pertencem a

farmacêuticos, enquanto nos países desenvolvidos, somente esses profissionais podem

ser proprietários desses estabelecimentos 12.

As farmácias, que se constituem no principal agente dispensador de

medicamentos à população, transformaram-se em negócio bastante rentável e

multiplicaram-se em todo o país, igualando sua forma de atuar ao senso comum do

comércio, sem dar importância à natureza e às exigências legais do varejo farmacêutico.

Para se ter idéia da gravidade do problema, basta olhar o resultado da Comissão

Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Medicamentos, sobre o mercado nacional de

medicamentos sob prescrição. De acordo com os números apresentados, os

medicamentos sob prescrição, que representam a maior fatia do mercado farmacêutico

brasileiro – cerca de 92% do faturamento total e de 88% das unidades vendidas – são

vendidos, freqüentemente, sem contra apresentação de receita médica. Transformadas

num comércio que não considera a natureza especial do medicamento, acabam

prestando um serviço de péssima qualidade com resultados que, apesar de não terem

sido extensivamente avaliados, indicam sérios prejuízos para a economia e,

principalmente, para a saúde dos indivíduos e da sociedade 10.

Ainda de acordo com a CPI, esses estabelecimentos estruturaram uma lógica e

uma forma de ação muito aquém do que preconiza a racionalidade da ciência e o

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compromisso social que sua atividade envolve, e aproveitando-se da ausência de

fiscalização e de punições por parte do Estado, executam uma série de ações antiéticas e

ilegais, dentre as quais, venda sem prescrição, venda de produtos com prazo de validade

vencido, venda forçada, promoções, brindes e venda de outros tipos de mercadorias 10.

O presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), citando artigo da

Sociedade Brasileira de Vigilância de Medicamentos (Sobravime), compara o mercado

farmacêutico brasileiro a um mercado persa e denuncia uma situação de grande

seriedade para a saúde pública.

Esses estabelecimentos vendem de tudo, desde medicamentos até refrigerante, ursinho de pelúcia; e participam de verdadeiras guerras para atrair clientela, oferecendo descontos, lista de medicamentos com descontos especiais, etc. (...) o balconista de farmácia se encontra, ao arrepio da lei, investido de um profissional que prescreve, dispensa e empurra medicamentos, em atitude de desrespeito com a população, em flagrante exercício ilegal da medicina e da farmácia 10 (2000, p. 126).

Com poucas exceções, as farmácias e drogarias transformaram-se em fonte de

informações distorcidas sobre os medicamentos, palco de corrupções, por atuarem

transgredindo a lei, fonte de disseminação de drogas e tóxicos, de riscos de acidentes

farmacológicos e de banalização do consumo. O farmacêutico, profissional que poderia

fazer valer a visão sanitária e científica nesse tipo de comércio, não está presente ou não

tem força para reverter o senso comercial predominante. Além disso, os balconistas e

donos de estabelecimentos, ainda recebem toda a sorte de estímulos das indústrias e dos

atacadistas para forçarem a venda de seus produtos. Os próprios estabelecimentos

utilizam as mesmas estratégias de propaganda, sorteios e distribuição de brindes para

atrair os clientes 10.

A falta de regulamentação do comércio acaba, portanto, sendo um dos motivos do

uso indiscriminado de medicamentos, mas não é o único. A OMS recomenda cerca de

300 substâncias farmacológicas básicas para tratar as doenças mais comuns nos países

em desenvolvimento, no Brasil, no entanto, estão disponíveis para venda mais de 5.200

produtos com 9.200 apresentações. Isso prejudica a fiscalização, o controle de qualidade

e dos preços, confunde os consumidores e também profissionais de saúde, o que

dificulta um conhecimento suficiente dos produtos para promover uma utilização mais

segura: muitos deles são considerados novidades, mas não diferem significativamente

dos já existentes 12. A velocidade da introdução de novos medicamentos no mercado

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10

também condiciona rápida difusão de uso, comprometendo uma avaliação rigorosa

sobre o impacto clínico real de tal adoção terapêutica 16.

Outra causa do uso desmedido de medicamentos refere-se à compulsão dos

pacientes por “tomar remédios”, constituindo uma das pressões para a “necessidade” da

prescrição medicamentosa. Às expectativas dos pacientes, somam-se as próprias crenças

do prescritor, seu comodismo (aceitar a imposição de prescrever um medicamento

“livra-o” rapidamente de doentes crônicos e poliqueixosos) e seu desconhecimento.

Segundo Fever (1999), os profissionais da saúde têm acesso limitado à informação

objetiva sobre os fármacos que prescrevem e dispensam, devendo-se tal fato mais à

negligência e à falta de hábito de busca do que à real indisponibilidade da informação 16.

Deve-se também observar que se o brasileiro tende a se auto-medicar, pode ser

porque não encontra posto de saúde perto de casa, precisa dispor de tempo livre para

ficar horas, dias ou meses em uma fila para ser atendido por um médico. Além disso, o

baixo poder aquisitivo da população aliado à precariedade dos serviços de saúde são um

contraste com a facilidade de se obter medicamentos - sem precisar pagar consulta e

sem receita médica - em qualquer farmácia, local em que geralmente se encontra o

estímulo do balconista interessado em ganhar comissão pela venda. Entre as camadas

privilegiadas, com amplo acesso aos serviços médicos isto também ocorre, na medida

em que existe uma tendência de tomar um comprimido ao menor sintoma de mal estar, e

até preventivamente, na busca de solução imediata de enfermidades a fim de não

interromper as atividades cotidianas ou possibilitar um pronto retorno a elas 12.

A inoperância da legislação se estende também aos funcionários das farmácias

que, na ausência do farmacêutico e contrariando a determinação da lei, praticam

facilmente a chamada “empurroterapia”, estimulada por laboratórios que pagam

comissões ou dão prêmios aos proprietários para incentivar a maior comercialização de

seus produtos 12.

A decisão de tomar um medicamento pode ser resultado de uma prescrição

médica, mas isso não acontece com freqüência no Brasil. Pelo menos 35% dos

medicamentos são adquiridos por “auto-prescrição”, isso quer dizer que para cada dois

medicamentos devidamente receitados pelo menos um é consumido com base na

própria experiência, no palpite de um vizinho, na dica de um conhecido, na propaganda,

na sugestão do balconista da farmácia ou de outros profissionais não legalmente

habilitados 12.

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11

Ainda de acordo com a autora, os prejuízos mais freqüentes da auto-medicação

são: gastos supérfluos, atraso no diagnóstico e na terapêutica adequada, reações

alérgicas, intoxicação, agressões ao sistema digestivo, entre outros. Alguns desses

efeitos ficam mascarados, outros se confundem com os sintomas e efeitos da doença,

criando novos problemas, podendo ser graves a ponto de levar o paciente a uma

internação hospitalar ou até à morte. Também é possível citar os erros mais comuns que

podem causar reações de grandes proporções, como: medicamentos impróprios, dose

errada, freqüência inadequada, período insuficiente ou demasiado de consumo,

combinação com outros fármacos ou com drogas. Os hipocondríacos são os mais

vulneráveis aos riscos, os que sofrem de doenças crônicas e fazem uso contínuo de

medicamentos também estão expostos 12.

Vale lembrar, que os medicamentos classificados como medicamentos isentos de

prescrição médica, os chamados OTC (“over the counter”) ou de venda livre, o são por

apresentarem algumas características: seus benefícios superam os riscos, o potencial de

uso abusivo e incorreto é baixo, eles podem ser adequadamente indicados, o consumidor

tem possibilidade de se auto-diagnosticar, não é necessário acompanhamento médico

para o uso efetivo e seguro do medicamento. Entretanto, isso não significa que estejam

isentos de riscos 17.

De um modo geral, as soluções propostas passam pela educação e informação

da população, maior controle das vendas com e sem prescrição, melhor acesso aos

serviços de saúde, adoção de critérios éticos para a promoção de medicamentos, retirada

do mercado de numerosas especialidades farmacêuticas carentes de eficácia ou de

segurança e, incentivo de terapêuticas não medicamentosas. Essas soluções dependem,

em sua maioria, de mudanças na política de saúde do país, na organização do sistema

médico e sanitário e no comportamento da indústria farmacêutica 12.

3.2. O uso racional de medicamentos

Em 1985, durante a Conferência Mundial sobre o Uso Racional de

Medicamentos, realizada em Nairobi, definiu-se:

Existe uso racional quando os pacientes recebem medicamentos apropriados a suas necessidades clínicas, em doses adequadas às particularidades individuais, por período de tempo adequado e com baixo custo para eles e sua comunidade 16 (2004, p.91).

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12

A ênfase no correto emprego dos medicamentos prende-se à natureza desses

produtos. Os fármacos são substâncias estranhas ao organismo que, se bem indicados e

administrados em dose adequada, por via correta, no momento certo e pelo tempo

necessário, têm grande valor na terapêutica contemporânea, mas que também podem

resultar em sérios efeitos adversos. Tratamentos medicamentosos não são

invariavelmente seguidos de melhora clínica, podem causar reações que exijam a

interrupção do tratamento, e em casos graves podem levar à hospitalização do paciente e

até à morte 12. Também podem gerar problemas médicos, constituindo a doença

iatrogênica, o que parece ter sido esquecido por médicos e pacientes, uma vez que 50%

a 70% das consultas originam prescrições medicamentosas 16. Por tudo isso, faz-se

necessário que médicos e pacientes estejam alertas sobre os possíveis riscos 12.

Medicamentos racionalmente selecionados e prescritos propiciam benefícios

individuais, institucionais e nacionais. Para o usuário, a escolha racional proporciona a

garantia de eficácia, segurança, conveniência e menor custo. Institucionalmente, há

melhoria do padrão de atendimento e significativa redução de gastos. No plano

nacional, a legislação pautada em evidências definidoras de condutas racionais acarreta

conseqüências positivas sobre mortalidade, morbidade e qualidade de vida da

população 16.

Para realizar uso racional de medicamentos é preciso selecionar informações

pertinentes e fidedignas, para tanto fortemente embasadas por conhecimentos sólidos,

isentos e confiáveis 16.

Em vários países, uma parte da população em situação de extrema necessidade

não tem acesso a programas de medicamentos. A maioria das pessoas que tem acesso os

consome de maneira inadequada, com conseqüências para sua saúde e para o sistema

econômico 15. No Brasil, a situação não é diferente e a maior causa de intoxicações se

deve ao consumo abusivo de medicamentos, devido à liberalidade e permissividade das

farmácias, à ilegalidade e à desqualificação do comércio farmacêutico 10.

A questão do uso racional de medicamentos está presente na PNM, que

reconhece que o processo indutor do uso irracional e desnecessário de medicamentos e

o estímulo a auto-medicação, presentes na sociedade brasileira, são fatores que

promovem um aumento na demanda por medicamentos e, conseqüentemente, nos

problemas oriundos dessa prática. Para corrigir essa situação, a PNM afirma que é

necessário que se promova o uso racional, por meio da reorientação dessas práticas e do

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13

desenvolvimento de um processo educativo, tanto para as equipes de saúde – com

incentivo a atividades de educação continuada para profissionais prescritores e

dispensadores e com a adequação dos currículos dos cursos de formação dos

profissionais de saúde – quanto para o usuário, que deve ser alertado sobre os riscos da

auto-medicação, da interrupção e da troca da medicação prescrita, como também sobre a

necessidade de receita médica no que diz respeito a dispensação de medicamentos

tarjados 18.

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14

4. A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

O homem busca curar suas enfermidades desde os primórdios da história e para

isso, utilizou recursos bastante diversificados, de origem mineral, animal e vegetal ou de

natureza mágico-religiosa.

O que atualmente se conhece como indústria farmacêutica é muito recente. Suas

bases podem ser apreendidas em alguns feitos marcantes nos campos da Farmácia, da

Química e da Microbiologia, ocorridos principalmente na segunda metade do século

XIX. A Farmácia surgiu como uma arte baseada na mescla de crenças e poções. Mesmo

desconhecendo o mecanismo de ação dos agentes terapêuticos então utilizados,

começou a dispor de algumas pistas válidas para o desenvolvimento inicial do que seria

a atual indústria farmacêutica, assim como a própria Farmácia e a Farmacognosia.

Hipócrates foi o pioneiro no estabelecimento das bases diagnósticas de muitas

enfermidades. Entretanto, no que se refere ao começo de uma terapêutica, os maiores

méritos devem ser dados a Galeno, quem inaugurou a farmácia – do vocábulo egípcio

ph-ar-maki, que significa “a que procura saúde”. Outra interpretação atribui o termo que

deu origem às palavras farmácia/farmacologia ao grego phármakon, que significa

“droga que cura ou que pode ser nociva; um remédio que propicia a cura;

medicamento”19.

Nessa trajetória mais recente, século XIX, cabe salientar um primeiro achado

relevante, ocorrido em 1805: a descoberta da morfina no ópio, que estimulou a extração

de diversos alcalóides por parte de investigadores da França e Alemanha. Em 1824,

Emmanuel Merck estabeleceu na Alemanha um laboratório químico orientado para a

produção desses novos alcalóides, embrião da futura grande empresa E. Merck. Em

1828, ocorreu outro evento significativo: a síntese de um composto orgânico, a uréia, a

partir de compostos inorgânicos, cloreto de amônia e cianeto de prata. A partir deste

período, muitas descobertas e investigações foram realizadas e empresas européias

iniciaram sua produção, como a Bayer, que introduziu a fenacetina no mercado, em

1888, para combater a febre e a dor e dez anos mais tarde sintetizou a aspirina, um dos

medicamentos mais utilizados mundialmente 19.

4.1. Novos tempos, novas estratégias

Os anos imediatamente posteriores à Segunda Guerra Mundial, entre 1940 e

1960, são conhecidos como Idade de Ouro da indústria farmacêutica, devido ao

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15

desenvolvimento da síntese farmacêutica e, com isso, chegada de uma grande

quantidade de produtos ao mercado. A produção em larga escala de medicamentos

como a penicilina (para atender aos feridos de guerra), a fenilbutazona (para o

tratamento de artrites), a isoniazida (para a tuberculose), as vitaminas B12 (para anemia

megaloblástica), hipnosedantes (para o tratamento do sofrimento mental), os primeiros

anovulatórios orais (para a contracepção), os antitrombóticos, antihipertensivos e

antiarrítmicos (para tratar as doenças cardiovasculares) e os primeiros princípios ativos

para o controle de neoplasias, ao mesmo tempo em que representava um fantástico

avanço científico, elevava o medicamento à categoria dos demais produtos compatíveis

com os novos mecanismos de acumulação de capital 19.

Após essa fase de consideráveis conquistas, houve um período de letargia, anos

80, no que se refere à descoberta de fármacos que representassem avanços terapêuticos

efetivos. Esse fato se deu, principalmente, por dois fatores considerados relevantes: a) o

rigor do padrão de eficácia e segurança impostos pelas autoridades regulamentadoras de

governos para a aprovação de novos produtos, especialmente a “Food and Drug

Administration” (FDA), EUA, considerada padrão mundial; b) exaustão de

conhecimentos médico-científicos que haviam suportado o desenvolvimento acelerado

da quimioterapia 20. Também é preciso associar esse período aos interesses de mercado,

já que os custos são crescentes, o tempo necessário para a investigação e

desenvolvimento de novos fármacos é extenso, e ainda, somente um de cada dez

fármacos que entram na fase de ensaios clínicos chega ao mercado. Com isso, começou

a surgir uma grande quantidade de “novidades”, que não passam de uma nova roupagem

dada a produtos anteriormente existentes, conhecidos como fármacos me-too 21.

A fim de superar as dificuldades advindas dos fatos relatados, a indústria

farmacêutica passou a adotar três estratégias: associações de empresas, mercadização

(termo usado em substituição ao termo marketing) e continuação da busca por

inovações 20.

Atualmente, para o lançamento de um novo produto, há um dispêndio financeiro

muito maior para as atividades de pesquisa e desenvolvimento e também para a

mercadização, resultando na novidade chamada “merger” mania (mania de fusão de

empresas). Dessa forma, é possível contornar tais dificuldades através da busca do

atendimento aos padrões internacionais de qualidade com diminuição dos custos

daquelas atividades. Com isso, o mercado farmacêutico mundial, que já era considerado

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16

bastante oligopolizado, ficou ainda mais concentrado com essas associações de

empresas. Para manter o domínio sobre seus mercados e controle sobre o saber

tecnológico, os grandes conglomerados estabeleceram agressiva política em relação à

lei de proteção de patentes para novas descobertas e à mercadização dos produtos 20.

As inovações constituem-se, hoje, em grande parte, numa tentativa de resgate da

competitividade que tende a diminuir com os produtos que terão suas patentes vencidas.

Com isso, o investimento passou a basear-se em modelagem molecular, biotecnologia,

novos polímeros degradáveis para liberação lenta de princípios ativos, etc. Apesar dos

inquestionáveis benefícios trazidos por essas inovações, questiona-se a grande quantia

investida em produtos que se tornaram, ou podem se tornar cada vez mais inacessíveis à

grande maioria da população 20.

4.2. A indústria farmacêutica no Brasil

No Brasil, até os anos 30, o desenvolvimento alcançado pela indústria

farmacêutica foi praticamente igual ao observado em outros países, onde as unidades de

produção existentes tinham origem familiar e reduzidas dimensões em sua maioria. A

necessidade de enfrentar algumas doenças infecciosas de caráter epidêmico estimulou a

criação de laboratórios estatais que passaram a fabricar soros e vacinas. Dois deles

existem até hoje e continuam contribuindo de forma significativa com as mudanças

ocorridas na situação sanitária do país: o Instituto Oswaldo Cruz (IOC), fundado em

1902, hoje Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto Butantã, fundado em 1889 19.

A crescente defasagem tecnológica decorrente da lógica capitalista

predominante, na qual se incluem os interesses de ampliação do mercado, iniciou o

processo de desnacionalização da produção de medicamentos no Brasil. Principalmente

a partir dos anos 50, as inovações introduzidas no mercado mundial chegavam

rapidamente ao país, e o domínio do capital estrangeiro começou a fazer-se presente,

tanto em termos de vendas, como em relação ao controle das matérias-primas e das

especialidades farmacêuticas. No fim dos anos 80, verificou-se um crescimento no

número de empresas multinacionais, detentoras da maior porcentagem de vendas, ao

mesmo tempo em que se observava uma redução no número de empresas nacionais 19.

A proliferação artificial de produtos reflete uma ação crescente e desmedida dos

laboratórios na conquista de mercado: cada indústria monta sua linha de produção e

disputa os clientes. Na maioria dos casos variam as marcas, a apresentação farmacêutica

(injetável, cápsula, comprimido, gotas, suspensão, pomada, etc.), a concentração, as

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17

cores, as embalagens, e, principalmente, os preços, sendo a composição básica a mesma.

Entre os freqüentes lançamentos, ao lado de poucos fármacos que representam real

avanço terapêutico, há produtos desprovidos de eficácia, segurança e fundamentação

científica, e um vasto número de novidades supérfluas que não passam de uma nova

roupagem dos medicamentos já existentes 12.

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18

5. A PROMOÇÃO COMERCIAL DOS MEDICAMENTOS

Segundo a OMS (1988), a promoção de medicamentos refere-se a todas as

atividades informativas e de persuasão que realizam os produtores de medicamentos a

fim de induzir a prescrição, a provisão, a aquisição ou a utilização de medicamentos.

Considerando que o medicamento não é um bem de consumo como outro qualquer, o

próprio termo persuasão aqui empregado gera um certo paradoxo. Por mais que as

empresas desejem passar a imagem de que o alvo de suas atividades é a saúde e o bem-

estar da sociedade, a prática, particularmente nos países em desenvolvimento, evidencia

uma orientação marcadamente dirigida ao retorno econômico 19. “A indústria é impelida

pela busca do lucro” 8 (1997a, p.269).

Desde o início do século XX, a propaganda de produtos farmacêuticos aparece

com certa força. Aliás, na própria história da propaganda no Brasil, nota-se que os

primeiros anunciantes eram desse setor. Mensagens em bondes, em um tempo em que

não havia mídia eletrônica, como as do xarope Rhum Creosotado, criadas pelo escritor

Casemiro de Abreu, já prometiam curar os doentes de bronquite. Com a chegada da

mídia eletrônica e crescimento da mídia impressa, os investimentos das indústrias

farmacêuticas em propaganda cresceram muito. Alguns anunciantes dessa época estão

até hoje no mercado, incluindo a maior peça publicitária da década de trinta: o Jeca

Tatu, criado por Monteiro Lobato para o Biotônico Fontoura 22.

A indústria farmacêutica gasta excessivamente na publicidade de seus produtos,

algo próximo do custo de produção de medicamentos. Gasta-se mais dinheiro na

propaganda do que em pesquisa e desenvolvimento de novos fármacos. Indícios

mostram que esse investimento é pago pelo incremento das vendas, contribuindo para

que a indústria farmacêutica esteja entre as mais lucrativas do mundo 23.

As campanhas são planejadas para atingir desde o médico e o farmacêutico, até o

dono da farmácia, o balconista e o paciente, conseguindo influenciar a prescrição, a

dispensação, a venda e o consumo de medicamentos, além de ser considerada como

atualização terapêutica pelos profissionais da área de saúde 24. A mídia é vista como

uma poderosa ferramenta, capaz de “motivar a demanda pelo consumidor final, formar

opinião entre os que prescrevem e exercer pressão sobre as políticas públicas” 20 (1999,

p.170). Por essas razões, a propaganda de medicamentos é indicada pelo Relatório Final

da CPI de Medicamentos da Câmara dos Deputados, finalizado em maio de 2000, como

um dos principais problemas relacionados ao mercado farmacêutico no Brasil. “A CPI

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19

apontou a inexistência de regulação da propaganda de medicamentos como uma questão

que deveria ser urgentemente tratada” 13 (2003b, p.13). Na verdade, essa discussão vem

sendo travada há muitos anos. O que precisa acontecer é uma maior

intervenção/fiscalização do poder público no cumprimento da regulação da propaganda,

para que o medicamento seja utilizado de acordo com as necessidades da população e

não pela interferência dos mecanismos de promoção de seus fabricantes 13. O poder da

propaganda da indústria farmacêutica reforça as idéias mágicas sobre os medicamentos

e induz o emprego do que é mais novo e mais caro, utilizando argumentos como “o

mais novo é o melhor”, “fármacos de última geração superam os análogos já

existentes”, induzindo que o emprego de medicamentos soluciona problemas até então

insolúveis. Tudo isso está em boletins informativos, bulas e propagandas pagas 16.

Na tentativa de elevar o padrão de consumo dos medicamentos, a indústria

farmacêutica – associada à rede distribuidora de medicamentos, às agências de

publicidade e às poderosas empresas de mídia impressa e eletrônica – tem utilizado

diferentes formas de propaganda dirigidas aos profissionais de saúde e ao público leigo

em geral 12. Essa atividade gasta entre 15 e 25% do faturamento global dos produtores,

visando, claramente, objetivos mais comerciais que sanitários, visto o caráter

tendencioso desse tipo de informação 25. O fato de existirem várias opções

farmacêuticas para o mesmo fim, faz da propaganda e de outras técnicas de mercado

elementos diferenciais para vender mais ou menos um produto 12.

5.1. Um objetivo, várias práticas

A indústria lança mão de meios diretos e indiretos para efetuar sua

publicidade. Os meios classificados como diretos são os anúncios em revistas médicas e

em meios de comunicação de massa como televisão, rádios e outdoors, as visitas de

propagandistas aos consultórios e farmácias, a distribuição de amostras grátis, revistas e

outros materiais impressos, e atividades de relações públicas, como brindes diversos,

financiamento de recepções ou coquetéis em congressos, jantares, patrocínio de viagens,

etc.

A publicidade indireta diz respeito ao financiamento de programas de educação

continuada, de associações profissionais ou de revistas médicas, eventos ditos

científicos, além da produção de material tido como educativo, acrescido do

relacionamento com autoridades sanitárias, políticos, professores e especialistas

famosos, os chamados “opinion-makers” 25. Esses profissionais, peritos em determinada

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20

área da Medicina, publicam artigos de revisão ou opinião, ensaios clínicos e realizam

palestras objetivando mudar a opinião dos prescritores. Os ensaios clínicos –

financiados pelas indústrias (estudos de semeação) – são, em geral, estudos de coorte

não controlados, inadequadamente planejados e podem ser considerados de natureza

promocional, aparecendo ao final dos mesmos, não raras vezes, os nomes dos

profissionais que já aderiram ao produto em questão 8, 26.

“A propaganda consegue alterar o padrão de prescrição dos médicos, sendo

considerada, ainda, uma das principais fontes para a sua atualização terapêutica” 22. Um

exemplo é o uso do Dicionário de Especialidades Farmacêuticas (DEF), um veículo de

propaganda, praticamente uma coletânea de bulas, publicado pelas indústrias e

largamente utilizado pelos prescritores como fonte de informações terapêuticas, em

detrimento das chamadas fontes de informação profissional: textos de farmacologia e/ou

terapêutica, livros especializados, centros de consulta terapêutica e de informação sobre

medicamentos, boletins, formulários de medicamentos ou guias terapêuticos 25.

Existem estudos que evidenciam a existência de uma relação direta entre os

medicamentos mais anunciados em revistas médicas e a freqüência de sua prescrição 27,

25. Um outro estudo conclui que 50% dos anúncios em revistas médicas não apresentam

as advertências e precauções quanto ao uso dos medicamentos, e 40% deles não incluem

contra-indicações, nem reações adversas, totalmente em desacordo com os critérios

éticos para a promoção dos medicamentos, propostos pela OMS, a fim de assegurar os

direitos dos consumidores 28.

Dados mostram que mais da metade dos gastos com publicidade feitos pelas

empresas recaem sobre o propagandista. Estudos realizados com o propósito de

identificar as fontes de informação e de influência sobre a prescrição determinaram o

lugar de destaque ocupado por esse profissional. É através dele que chega aos médicos,

em geral, o conhecimento da presença de um novo produto/medicamento no mercado.

Evidências também mostram que o contato pessoal tem maior eficácia sobre o

comportamento do prescritor, e que a informação oral, normalmente, é mais retida e

utilizada que a informação escrita 25. Um propagandista das Filipinas declarou: “a

relação médico-propagandista tende a ser íntima, pessoal. É necessário tornar-se

disponível, fazer amizade com os médicos. Aí então – se eles se recordam de você, se

você fez algo especial para eles – prescreverão seu produto” 8 (1997a, p.271).

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21

Uma observação importante deve ser levada em conta, os propagandistas

dificilmente fornecem, voluntariamente, informações sobre os efeitos colaterais, contra-

indicações ou precauções quanto ao uso dos medicamentos 8. O CFM, em sua

Resolução no 1595 de maio de 2000, alertou e proibiu a classe médica de vincular “a

prescrição médica ao recebimento de vantagens materiais oferecidas por agentes

econômicos interessados na produção ou comercialização de produtos farmacêuticos ou

equipamentos de uso na área médica” 29 (2004, p.38).

O propagandista não fornece “informações” sobre os medicamentos somente aos

médicos, os balconistas de farmácias e drogarias também são público-alvo. Muitas

indústrias oferecem um benefício ao balconista toda vez que vender um medicamento,

ou à própria farmácia, toda vez que comprar o produto. Esse benefício – bonificação -

pode ser em forma de brinde de uma unidade do produto para cada uma comprada ou

vendida, presentes como bicicleta, DVD, televisão, geladeira, etc, por meta de vendas

cumprida. Os medicamentos promovidos dessa forma são apelidados de BO (bom para

otário), muitas vezes custam mais que os comumente receitados pelos médicos e têm

relevância terapêutica duvidosa 10. Essa prática é mais utilizada por empresas pequenas,

com dificuldades de penetrar no mercado dominado pelas multinacionais.

Atualmente, a propaganda dirige-se cada vez mais ao consumidor, o que

aumenta drasticamente o uso de medicamentos, enfatizando os benefícios e não os

problemas advindos de seu uso. Não tem o objetivo de educar, mas sim de estimular o

consumo 16. Dessa forma, esse artifício visa somente aumentar as vendas e releva

conflitos entre os interesses sociais de saúde e os interesses comerciais das indústrias

farmacêuticas. Essa propaganda não controlada pelas autoridades sanitárias configura

um fato muito grave, visto que expõe a saúde e a economia da população a sérios

prejuízos, como as reações já citadas anteriormente 12.

Sob o ponto de vista da saúde pública, a publicidade nos meios de comunicação

tem a função de induzir o uso indiscriminado, encarecer o custo dos produtos e

deseducar as pessoas sobre seu efetivo papel na recuperação da saúde. Atende aos

interesses lucrativos dos laboratórios, dos veículos de comunicação e dos profissionais

da propaganda. Ainda, segundo a autora, o cumprimento das leis que regulamentam a

propaganda de medicamentos no país raramente é observado na íntegra. A estrutura

quase de monopólio do setor, de caráter internacional, tem sido um entrave poderoso a

qualquer tentativa séria de regulamentação. Do ponto de vista publicitário, a informação

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sobre os riscos de um medicamento seria uma espécie de contrapropaganda, sendo uma

contra-indicação do produto 12.

A propaganda nos meios de comunicação de massa, por sua vez, estimula a auto-

medicação por explorar o desconhecimento dos possíveis consumidores sobre os

produtos e seus efeitos adversos, mas não é a única vilã. A auto-medicação pode ter

origem na herança cultural ou folclórica de um povo, em orientação profissional prévia,

ou ainda ser simplesmente instintiva, sem qualquer base racional 12.

Diretamente junto à população consumidora de produtos farmacêuticos, a

propaganda é utilizada como um instrumento a mais para reforçar a cultura da

medicalização da vida. Esse fator atua, associado à ideologia de consumo disseminada

na sociedade, como o caminho mais rápido para se alcançar a saúde, o bem estar e a

felicidade almejada por todos 12.

A comercialização de associações irracionais e de medicamentos com princípios

ativos que não possuem valor científico são práticas comumente utilizadas pela

indústria farmacêutica em países pouco desenvolvidos, onde grande parte da população

não tem fácil acesso à informação precisa 8.

Em 1986, o mercado brasileiro tinha 532 antibióticos, dos quais quase 75% eram

associações. Quase todos os produtos associados apresentam problemas cruciais:

freqüentemente são associações irracionais; tendem a ser usados para uma grande

variedade de problemas; e possuem ingredientes ativos combinados em quantidades

fixas, tornando impossível fazer o ajuste de um sem alterar a quantidade do outro

componente. Conseqüentemente, pacientes podem receber a dose adequada de um

deles, em demasiado ou de menos de outro. Uma pesquisa mencionada por Lexchin

(1997a), mostrou que de 464 produtos antidiarréicos, comercializados em 12 países em

desenvolvimento, 224 (40,3%) continham agentes antimicrobianos. De acordo com a

OMS, antibióticos só podem ser usados para disenteria e suspeita de cólera, para

diarréias de outras etiologias os antibióticos não têm nenhum valor prático e não devem

ser administrados 8.

Medicamentos vendidos no México, Brasil, África de língua inglesa e francesa,

Oriente Médio e Índia pelas vinte maiores indústrias farmacêuticas européias, foram

classificados como essenciais e não essenciais, baseando-se na Lista Modelo de

Medicamentos Essenciais de 1988 da OMS. De 3.021 produtos, apenas 482 (16%) eram

essenciais ou equivalentes a um medicamento essencial 8.

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23

A promoção farmacêutica, hipertrofiada e distorcida, traz sérias conseqüências

para a saúde pública. Entre elas destacam-se: o fracasso do tratamento por escolha

inadequada do medicamento, a falta de aderência ao tratamento por impossibilidade de

comprar um medicamento muito caro, erros de utilização e de armazenamento, as

exposições indevidas a reações adversas que podem causar intoxicações e até levar à

morte, o aumento da resistência bacteriana, os péssimos hábitos de prescrição e de

consumo, além do desperdício de dinheiro do indivíduo e da instituição com

medicamentos inúteis e desnecessários 29.

5.2. A linguagem da propaganda

A propaganda existe desde tempos remotos e, já na Roma Antiga, tinha um

espaço garantido na vida do Império. As paredes das casas que ficavam de frente para as

ruas de maior movimento nas cidades eram disputadíssimas, como as páginas de uma

grande revista e os intervalos comerciais do horário nobre. As mensagens publicitárias

eram escritas em vermelho ou preto sobre as paredes pintadas de branco, para chamar

mais a atenção. Mais tarde, na própria Roma, já católica, a Igreja criou uma

congregação religiosa para “propagar a fé”, origem, aliás, da palavra “propaganda”.

Hoje, em absoluta maioria, o Ocidente é cristão 30.

É fato incontestável que todos os integrantes das sociedades modernas de

consumo são influenciáveis pela propaganda. “A propaganda seduz nossos sentidos,

mexe com nossos desejos, revolve nossas aspirações, fala com nosso inconsciente, nos

propõe novas experiências, novas atitudes, novas ações” 30 (1997, p.7). Sempre há uma

mensagem publicitária que nos atrai, interessa e convence.

Por ser um instrumento de ação muito poderosa, capaz de proporcionar inúmeros

benefícios para quem a utiliza, a propaganda traz em si o grande perigo de ser mal

empregada. É uma atividade bastante complexa, conta com a alta tecnologia, muita

experiência acumulada e requer talentos específicos para manipulá-la da forma mais

convincente.

A propaganda não é apenas uma forma de arte; não chega a ser uma ciência, mas

é mais que uma simples técnica – é uma mistura dessas três coisas. Ela pode ser

definida como “a manipulação planejada da comunicação visando, pela persuasão,

promover comportamentos em benefício do anunciante que a utiliza” 25 (grifos nossos),

ou como define o Dicionário de Comunicação 31, é o “conjunto das técnicas e

atividades de informação e de persuasão, destinadas a influenciar as opiniões, os

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24

sentimentos e as atitudes do público num determinado sentido”. A legislação vigente

define propaganda como:

Conjunto de técnicas utilizadas com objetivo de divulgar conhecimentos e/ou promover adesão a princípios, idéias ou teorias, visando exercer influência sobre o público através de ações que objetivem promover determinado medicamento com fins comerciais (2000, p. 2) 32.

A principal função da propaganda, portanto, é, por um lado, disseminar

informações, raciocínios e idéias que permitam aos consumidores estarem informados

sobre os produtos e serviços existentes e à sua disposição e, por outro, possibilitar aos

anunciantes o aumento de seus negócios, através da conquista de mais consumidores.

As principais tarefas da propaganda, como instrumento de promoção de vendas e

negócios, são:

- Divulgação da marca (de produto ou serviço) ou empresa para torná-la mais

íntima dos consumidores que já a conhecem ou fazê-la conhecida;

- Promoção da marca ou empresa, visando aumentar sua presença entre os

consumidores ou ressaltando seus aspectos mais competitivos em relação ao

que existe no mercado e é oferecido pela concorrência;

- Criação do mercado para a marca ou empresa através da conquista de

consumidores;

- Expansão do mercado através da conquista de mais consumidores;

- Correção do mercado, quando a imagem da marca ou empresa não estiver

sendo percebida de maneira adequada pelos consumidores ou quando esses

não estiverem corretamente informados sobre as características e vantagens

do produto ou serviço do anunciante;

- Educação do mercado, quando o consumo depender da formação de uma

atitude ou hábito do consumidor;

- Consolidação do mercado, quando o importante for solidificar uma posição

conquistada, pela reafirmação das qualidades da marca ou empresa;

- Manutenção do mercado, por meio da constante reafirmação das

características e vantagens da marca ou empresa e da ação de resposta aos

ataques e esforços da concorrência.

A propaganda chega ao público, ao consumidor, por meio de um veículo.

Atualmente, os veículos publicitários mais importantes – também chamados de meios

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25

de comunicação - são a televisão, o rádio, o jornal, a revista, o cinema, o outdoor, o

cartaz, os diversos tipos de propaganda ao ar livre e a mala direta 30.

A propaganda mistura apelos lógicos e emocionais, informação e argumentação,

medo e inveja, fascínio pelo novo e necessidade de segurança. Além de muitos outros

elementos, paradoxais e antagônicos à primeira vista, que ela junta e combina para

atingir seu propósito maior de gerar nos consumidores, pela persuasão, comportamentos

que beneficiem o anunciante que a utiliza. Para isso, ela precisa atender a alguns

princípios básicos, são eles:

- Criatividade, para chamar a atenção do consumidor. É a primeira

dificuldade a enfrentar;

- Emoção e interesse, para que a atenção do consumidor, eventualmente

conquistada, continue por todo o comercial ou anúncio;

- Pertinência, para motivar o consumidor a atingir o objetivo da propaganda;

- Compreensão, para que o consumidor sinta e entenda fácil e claramente a

mensagem que se deseja passar.

Em um primeiro momento, a propaganda é uma sensação que se aceita ou

rejeita. Em um segundo momento, é uma mensagem que emociona ou não e,

finalmente, em um terceiro momento, a propaganda persuade, convence pela lógica

(objetiva ou mesmo subjetiva), ou não atinge o efeito desejado.

É importante lembrar que a propaganda é um instrumento de extraordinária força

no meio ambiente em que vivemos e que sua influência sobre a vida das pessoas, dos

grupos, das comunidades e da sociedade tem-se revelado cada dia maior. Mesmo nessa

situação bastante favorável, é preciso ter em mente que conquistar a atenção do

consumidor é uma tarefa muito difícil, até mesmo para a propaganda 30.

5.3. A regulação da propaganda de medicamentos

A saúde da população não depende somente dos serviços de saúde, e menos

ainda do uso de medicamentos. Sabe-se que muitos fatores incidem no estado de saúde,

como a moradia, água potável, nutrição, educação e lazer. Porém, na prática, grande

parte dos investimentos em saúde é direcionada para a prestação de serviços em saúde, e

os medicamentos ocupam um lugar dominante no sistema de saúde e no tratamento das

doenças. A porcentagem dedicada à utilização de medicamentos varia de 8% em alguns

países desenvolvidos até 40% para alguns países em desenvolvimento. Desde a década

Page 36: PROPAGANDA DE MEDICAMENTOS Medicamento e lucro: … · A propaganda, ao divulgar os medicamentos como produto de consumo, tende, entre outras coisas, a induzir a auto-medicação,

26

de 50, a pesquisa tem apresentado enorme contribuição ao desenvolvimento das opções

terapêuticas na medicina 33.

Tanto no mundo industrializado como nos países em desenvolvimento, a

criação, produção e venda de medicamentos estão sujeitas a um conjunto de leis,

regulamentos administrativos e regulamentações técnicas que tratam, basicamente, da

eficácia, segurança e qualidade dos medicamentos e aspectos de gastos e preços. Devido

ao fato de o medicamento ser diferente, em importantes aspectos, de outros bens de

consumo, o mercado farmacêutico não se auto-regula e, por essa razão, requer uma

intervenção constante do Estado 33.

A questão relacionada com a propaganda (publicidade) de medicamentos e

outros produtos submetidos ao regime de vigilância sanitária é complexa, posto que tem

implicações nos campos da saúde pública, econômico e ético. Não se trata de

interferência do Estado na ordem privada e, sim, da prevalência do interesse público

sobre o interesse privado.

A mensagem publicitária pode educar ou deseducar, formar opinião ou agredi-la,

ser moral ou imoral, sugerir condutas de ordem ou desordem social, influir na procura,

nos preços, nos mercados, podendo, ademais, ser um fator benéfico ou maléfico para a

economia nacional. Logo, o Estado tem o direito e o dever de regular o exercício da

propaganda na forma que melhor consulte aos interesses coletivos. Não se deve

esquecer que os veículos de maior penetração, através dos quais aquela se realiza, são a

televisão e o rádio, serviços concedidos pelo Estado; portanto, serviços públicos sobre

os quais o poder concernente exerce – e tem o dever de exercer – permanente vigilância

quanto aos padrões de qualidade, inclusive para a saúde do consumidor 34.

Várias são as técnicas de legislar sobre a propaganda. No Brasil, historicamente,

verifica-se que o Decreto 20.377/31, do Governo Provisório, revogado pela Lei

5.991/73 35, dispunha que era terminantemente proibido anunciar especialidades

farmacêuticas atribuindo-lhes propriedades ou efeitos não considerados e aceitos por

ocasião do então denominado licenciamento. Vedava, também, o anúncio de

especialidades farmacêuticas por meio de indicações terapêuticas com insinuação de

respostas por intermédio de caixas postais, institutos, residências e outros meios.

A Lei 6.360/76 36, em seu Art. 58, regulamentada pelo Decreto 79.094/77 37,

condicionou a propaganda, sob qualquer forma, divulgação e meio de comunicação dos

produtos sob vigilância sanitária que enuncia (medicamentos, drogas, insumos

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27

farmacêuticos, cosméticos, saneantes domissanitários e correlatos) à prévia autorização

do Ministério da Saúde, cometendo ao regulamento da lei dispor sobre a execução desse

preceito, a fim de elucidá-lo, facilitando a sua aplicação e, ao mesmo tempo, suprir

eventuais lacunas da lei regulamentada. Quando se tratar de droga, medicamento ou

qualquer outro produto com a exigência de venda sujeita a prescrição médica ou

odontológica, a propaganda ficará restrita a publicações que se destinem exclusivamente

à distribuição a médicos, cirurgiões-dentistas e farmacêuticos. A propaganda dos

medicamentos de venda livre, dos produtos dietéticos, dos saneantes domissanitários, de

cosméticos e de produtos de higiene, será de objeto de normas específicas a serem

dispostas em regulamento.

A Lei 6.437/77 38, que configura infrações à legislação sanitária federal,

estabelece as sanções respectivas, e dá outras providências, trata também de abusos

referentes à propaganda e publicidade de medicamentos.

Art. 10. São infrações sanitárias: V – fazer propaganda de produtos sob vigilância sanitária, alimentos e outros, contrariando a legislação sanitária: pena – advertência, proibição de propaganda, suspensão de venda, imposição de mensagem retificadora, suspensão de propaganda e publicidade e multa. (redação dada pela MP no 2.190-34, de 23 de agosto de 2001) Art. 29. Nas transgressões que independam de análises ou perícias, inclusive por desacato à autoridade sanitária, o processo obedecerá a rito sumaríssimo e será considerado concluso caso o infrator não apresente recurso no prazo de 15 (quinze) dias.

Com a Constituição Federal de 1988, nos precisos termos do seu § 4o do Art.

220, que garante à pessoa e à família a proteção pelo Estado em relação à propaganda

de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos a sua saúde e ao meio ambiente,

impondo, inclusive, restrições legais à propaganda de medicamentos, foi aprovada a Lei

9.294/96 39, regulamentada pelo Decreto 2.018/96 40.

A referida lei dispõe sobre as restrições ao uso e à propaganda de produtos

fumígenos, bebidas alcoólicas, medicamentos, terapias e defensivos agrícolas. O

Decreto dispõe em seu Art. 10 que a propaganda de medicamentos e terapias de

qualquer tipo ou espécie poderá ser feita em publicações especializadas dirigidas direta

e especificamente a profissionais e instituições de saúde. A propaganda de

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28

medicamentos, drogas ou qualquer outro produto submetido à vigilância sanitária, cuja

venda dependa de prescrição por médico ou cirurgião dentista somente poderá ser feita

junto a esses profissionais, através de publicações específicas. Já os medicamentos

anódinos e de venda livre, assim classificados pelo Ministério da Saúde, poderão ser

anunciados nos órgãos de comunicação social, desde que autorizados pelo próprio

Ministério e obedecendo a algumas condições; entre elas a obrigatoriedade das

declarações de contra-indicações, indicações, cuidados e advertências sobre o uso do

produto e seu uso abusivo, conforme o indicado pela autoridade classificatória.

Em 12 de maio de 1998, a Portaria SVS/MS 344 41, que aprova o Regulamento

Técnico sobre substâncias e medicamentos sujeito a controle especial, em seu Artigo 91,

novamente determina que a propaganda de substâncias e medicamentos constantes em

suas listas e suas atualizações somente poderá ser efetuada em revista ou publicação

técnico-científica de circulação restrita a profissionais de saúde.

Em 1999, já após a criação da Anvisa, foi realizada a Consulta Pública n° 5, que

deu à população possibilidade de participar da construção democrática do regulamento

para a propaganda de medicamentos, prevista na Lei 6.360/76 36.

Em 25 de agosto de 2000, a Portaria 593 42 cria, na Agência, a Gerência de

Fiscalização e Controle de Medicamentos e Produtos (GFIMP), responsável pelo

controle, acompanhamento e fiscalização da propaganda e publicidade de produtos

submetidos ao regime de vigilância sanitária. Isto reforçou o que já havia sido

estabelecido pela Constituição Federal de 1988, que garante à pessoa e à família a

proteção, pelo Estado, em relação à propaganda de produtos, práticas e serviços que

possam ser nocivos a sua saúde e ao meio ambiente, impondo, inclusive, restrições

legais à propaganda de medicamentos.

Finalmente no ano de 2000, é publicado um regulamento específico para esse

tema. Através da Resolução RDC 102 32, de 30 de novembro, foi aprovado o

regulamento que se aplica às propagandas, mensagens publicitárias e promocionais e

outras práticas cujo objeto seja a divulgação, promoção ou comercialização de

medicamentos de produção nacional ou não, quaisquer que sejam as formas e meios de

sua veiculação, incluindo as transmitidas no decorrer da programação normal das

emissoras de rádio e televisão. Nele, estão definidas as regras para a promoção de

medicamentos de venda livre e com venda sob prescrição médica em todos os meios de

comunicação, incluindo a internet, a rede mundial de computadores. O referido

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29

regulamento também estipula os requisitos para visitas de propagandistas de produtos

farmacêuticos, limitando sua ação somente aos profissionais de saúde habilitados a

prescrever e dispensar, sendo proibido oferecer prêmios aos prescritores ou

dispensadores, bem como aos que exercem a atividade de venda direta ao consumidor.

Além disso, também estipula critérios para distribuição de amostras grátis, sendo essas

destinadas exclusivamente aos profissionais habilitados.

Com o objetivo de garantir a segurança, eficácia e qualidade dos medicamentos,

promover seu uso racional e o acesso da população aos medicamentos essenciais criou-

se a PNM 18, em maio de 2001, com base nos princípios e diretrizes do SUS, a fim de

estabelecer uma relação de medicamentos essenciais, reorientar a assistência

farmacêutica, estimular a produção de medicamentos e o aprimoramento do

desempenho das ações de vigilância sanitária. Esse último objetivo terá como ponto

importante a consolidação do sistema de informação, que compreenderá, entre outros, o

controle da propaganda de medicamentos de venda livre e o controle da propaganda

realizada pelos fabricantes de medicamentos junto aos prescritores para que sejam

resguardados os padrões éticos.

Em 2001, a RDC 133 43, de 12 de julho, alterou a RDC 102/00 29, revogando o

parágrafo único do Art. 8°, Anexo I, que vedava a propaganda, para público leigo, de

descontos de preços de medicamentos de Venda sob Prescrição Médica.

A RDC 83 44, de 18 de março de 2002, determinou como medida de interesse

sanitário, considerando o risco à saúde, a proibição de veiculação de

propaganda/publicidade/promoção em território nacional de medicamentos contendo o

princípio ativo ácido acetilsalicílico e utilizassem expressões que fizessem referência

aos sintomas de outras patologias que se assemelhassem aos sintomas da dengue.

Ficaram excluídas da proibição as propagandas/publicidades/promoções que incluíssem

mensagens ressaltando que “o medicamento é contra-indicado em caso de suspeita de

dengue”.

Em 9 de fevereiro de 2004, por meio da Portaria 123 45, foi criada, na Anvisa, a

Gerência de Monitoramento e Fiscalização de Propaganda, Publicidade, Promoção e de

Informação de Produtos Sujeitos à Vigilância Sanitária (GPROP), sendo de sua

competência a avaliação, fiscalização, controle e acompanhamento da propaganda,

publicidade, promoção e informação desses produtos. Para isso, estabeleceu parcerias

com instituições de âmbito nacional para o fomento à pesquisa científica relativa a essa

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prática e aliou-se às gerências gerais de inspeção e registro de medicamentos com o

objetivo de apurar infrações sanitárias detectadas na monitoração da publicidade.

Também propôs um modelo de propaganda desses produtos, dentro do Sistema de

Informação em Vigilância Sanitária, visando o aprimoramento das ações de vigilância

sanitária e o desenvolvimento de educação em saúde.

Esse monitoramento pretende não só reduzir a exposição da população à

propaganda abusiva e enganosa, mas também, abordar as questões que são relevantes à

saúde pública, como por exemplo, a auto-medicação, as intoxicações e o uso

inadequado de medicamentos, visando minimizar os riscos a saúde, subsidiar o

aprimoramento da legislação e favorecer a elaboração de políticas de educação para a

população sobre os perigos da utilização inadequada de medicamentos.

Ainda no ano de 2004, a Resolução RDC 199 46, de 17 de agosto, (republicada

em 25 de agosto de 2004), permitiu às farmácias e drogarias a afixação de preços de

medicamentos nos locais internos dos estabelecimentos, visíveis ao público em geral e

também sua divulgação por qualquer outro meio, desde que o objetivo único seja

garantir aos cidadãos acesso a informações de diferentes preços praticados, tendo em

vista que o Código do Consumidor, Lei 8078 47 de 11 de setembro de 1990, assegura a

divulgação de todas as informações dos produtos expostos à venda quanto à quantidade,

características, composição, qualidade e preço, bem como os riscos que apresentem, e

também por considerar que a simples afixação de listas de preços de medicamentos

necessariamente não induz o consumidor a auto-medicação.

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31

6. METODOLOGIA

O poder da comunicação é tão decisivo quanto a própria pesquisa científica para

estudo de novos fármacos. A propaganda tem como princípios a simplificação, a

mensagem é condensada para fácil captação e recordação; a saturação, sua eficácia é

traduzida pela freqüência com que é repetida; a parcialidade, a informação nunca é

apresentada em sua totalidade; e a unilateralidade, onde a posição de quem emite a

informação é a de quem apresenta conclusões certas e incontroversas.

Os argumentos mais utilizados na propaganda de medicamentos destinada ao

público em geral, são: eficácia, segurança, comodidade posológica, rapidez de ação e

alta tolerabilidade. Além de argumentos escritos, elas utilizam vários recursos gráficos,

superlativos e frases de impacto, mantendo o nome comercial com muito mais destaque

do que o nome genérico, maculando inúmeras normas legais 24.

De forma geral, no caso das propagandas veiculadas em revistas dirigidas aos

profissionais de saúde, objeto de estudo deste trabalho, o quadro parece ser um pouco

diferente, uma vez que a propaganda está relacionada diretamente ao aspecto comercial:

a propaganda busca mostrar o potencial de lucro para o estabelecimento.

É, no entanto, a partir de uma análise mais acurada que poderemos observar os

aspectos mais marcantes desse tipo de propaganda.

6.1. O objeto de estudo

Foram selecionadas 20 peças publicitárias, sendo 11 de medicamentos de venda

livre e 09 de medicamentos de venda sob prescrição médica, publicadas em duas

revistas de circulação no comércio farmacêutico: ABC Farma e Guia da Farmácia. As

publicações, de novembro de 2003 a fevereiro de 2005, foram coletadas em duas

farmácias na cidade do Rio de Janeiro.

Primeiramente, foi feita uma análise da adequação dessas peças à legislação

vigente, a RDC 102/00. Nas propagandas de medicamentos de venda livre foi

pesquisada a presença ou não do nome do medicamento, denominação comum

brasileira/denominação comum internacional (DCB/DCI), número do registro,

advertência obrigatória e contra-indicações. Nas propagandas de medicamentos de

venda sob prescrição foi observado se apresentavam as contra-indicações, DCB/DCI,

número do registro, cuidados e advertências e referências bibliográficas. Em seguida,

analisou-se a linguagem empregada nessas propagandas.

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Quadro 1: Relação das peças publicitárias analisadas

Peça Produto (Categoria*) Laboratório Revista Mês/Ano Página

1 Sorine (MIP) Aché ABCFarma Jul/2004 capa

2 Transpulmin (MIP) Aché ABCFarma Jul/2004 capa

3 Silomat (MIP) Boehringer

Ingelheim Guia da Farmácia Ago/2004 25

4 Buscopan (MIP) Boehringer

Ingelheim ABCFarma Jun/2004 65

5 Lamisil (MIP) Novartis ABCFarma Jul/2004 capa

6 Coristina D (1) (MIP) Schering-Plough ABCFarma Jun/2004 51

7 Coristina D (2) (MIP) Schering-Plough Guia da Farmácia Ago/2004 43

8 Bufferin Cardio (MIP) Bristol-Myers

Squibb Guia da Farmácia Ago/2004 45

9 Life Vit (MIP) Luper ABCFarma Out/2004 69

10 Calcium Sandoz (MIP) Novartis Guia da Farmácia Nov/2004 29

11 Neurosedol (MIP) Não citado ABCFarma Out/2004 32/33

12 Actos (MVSP) Abbott Guia da Farmácia Set/2004 anexo

13 Cebrilin (MVSP) Libbs ABCFarma Set/2004 23

14 Zetron (MVSP) Libbs Guia da Farmácia Nov/2003 13

15 Alerfin (MVSP) Farmalab Chiesi Guia da Farmácia Jul/2004 63

16 Vigamox (MVSP) Alcon ABCFarma Out/2004 39

17 Fungonax (MVSP) Teuto Guia da Farmácia Fev/2005 19

18 Vioxx (MVSP) Merck Sharp &

Dohme Guia da Farmácia Set/2004 37

19 Adoless (MVSP) Farmoquímica Guia da Farmácia Set/2004 11

20 Ecator (MVSP) Torrent ABCFarma Out/2004 anexo

MIP: Medicamento isento de prescrição; MVSP: Medicamento de venda sob prescrição

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6.2. Análise de adequação à legislação

Quadro 2: Propaganda de MIPs: adequação à legislação vigente

Peça Produto Nome do

medicamento DCB/DCI e nº de

registro Advertência obrigatória

Contra Indicações

1 Sorine Sim Sim Sim Sim

2 Transpulmin Sim Sim Sim Sim

3 Silomat Sim Sim Sim Sim

4 Buscopan Sim Sim Sim Sim

5 Lamisil Sim Sim Sim Sim

6 Coristina D (1) Sim Sim Sim Sim

7 Coristina D (2) Sim Sim Sim Sim

8 Bufferin Cardio Sim Sim Sim Sim

9 Life Vit Sim Sim Sim Sim

10 Calcium Sandoz Sim Sim Sim Sim

11 Neurosedol Sim Sim Sim Sim

Quadro 3: Propaganda de MVSPs: adequação à legislação vigente

Peça (nº)

Produto Contra-

indicações DCB/DCI e nº de registro

Cuidados e advertências

Ref. Bibliog.

12 Actos Sim Sim Sim Sim

13 Cebrilin Sim Não (registro) Não Não

14 Zetron Sim Sim Sim Sim

15 Alerfin Sim Sim Sim Não

16 Vigamox Sim Sim Não Não

17 Fungonax Sim Sim Não Não

18 Vioxx Sim Sim Sim Não

19 Adoless Sim Sim Sim Sim

20 Ecator Sim Sim Sim Sim

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6.3. Análise da linguagem da propaganda

Peça 1: Sorine

A embalagem do medicamento

aparece em evidência nesta propaganda. As

frases no topo da página sugerem o período

de maior lucratividade do comerciante:

quando a temperatura estiver em baixa, os

negócios estarão em alta. Fazendo um jogo

de palavras que permite associar o produto

ao inverno, época de gripes e resfriados. O

texto é simples, objetivo e mostra em quais

canais será veiculada a “maior campanha da

história de Sorine”.

Peça 2: Transpulmin

A imagem do produto aparece em

evidência no centro da página. Sua maior

vantagem é a “herança de família”: o

potencial de vendas. O efeito terapêutico

não é sequer mencionado.

A propaganda não é direcionada ao

público infantil, mas a figura descontraída

da abelhinha remete ao público alvo e

lembra o sabor do xarope: mel.

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Peça 3: Silomat

A embalagem do produto é o

grande destaque dessa peça publicitária.

A frase “Agora Silomat é OTC.

Isso sim é incentivo de vendas”, também

aparece em evidência, demonstrando que

a tarja vermelha só existe para dificultar as

vendas. Com a mudança de categoria de

venda o produto poderá ficar exposto, ao

alcance do consumidor, aumentando o

lucro do comerciante.

Peça 4: Buscopan

A imagem de uma mão masculina

retirando a tarja vermelha da

embalagem do produto é o grande

destaque desta peça. O texto garante

que o produto é o mesmo, conhecido

em todo o mundo há 50 anos, só que

agora ainda mais ao alcance do cliente,

por estar do lado de fora do balcão, sem

necessidade de apresentação de receita

médica. A mensagem de que isso

aumentará as vendas (o lucro) é

subjetiva.

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Peça 5: Lamisil

A frase “Agora é OTC” aparece

escrita em vermelho e com letras

grandes, comemorando o fato de o

produto não ser mais tarjado, o que

dificultava as vendas. Essa frase e o

nome do medicamento são os destaques

da propaganda.

O produto é anunciado como

“líder mundial no tratamento da

frieira”, estimulando indiretamente a

“empurroterapia”.

O laboratório mostra que está

fazendo a sua parte anunciando o

produto em horário nobre, nos canais de

TV de maior audiência e que o

comerciante que não quiser perder a clientela deverá ter o produto em seu

estabelecimento ou vai “subir pelas paredes”.

Peças 6 e 7: Coristina D (1) e (2)

A primeira propaganda é dirigida ao consumidor. Mostra uma mulher,

aparentemente saudável, segurando um comprimido gigante de Coristina D, que permite

visualizar a “diferença” entre os outros medicamentos de mesma classe terapêutica: as

três camadas.

Três sintomas da gripe são enumerados, permitindo a associação com as três

camadas do comprimido. A embalagem do medicamento aparece no canto da página.

A segunda propaganda é visivelmente dirigida ao comerciante. A frase “Bom

pra gripe é Coristina D” muda para “Bom pra vender é Coristina D” e as três camadas

são associadas a três vantagens comerciais. O texto faz referência à “idade” do

medicamento e apela para a tradição de 50 anos no mercado, como sinal de

credibilidade. Faz agradecimentos a todos que participaram dessa trajetória e afirma que

continuará investindo forte na mídia. O texto é finalizado com uma frase que liga o

consumo terapêutico ao lucro: “Coristina D é bom pra gripe e para seu caixa”.

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Peça 8: Bufferin Cardio

Nesta peça, o foco principal é a

economia que o paciente irá fazer

utilizando o medicamento anunciado –

ele chega a ser 29% mais barato que

seus concorrentes.

O texto utiliza termos de saúde, de

uma forma coloquial, para evidenciar

o uso terapêutico do medicamento:

“afina o sangue” (indicado como

inibidor da atividade plaquetária), sem

“espremer” o orçamento dos

pacientes, um ótimo argumento para

garantir as vendas. Ainda existe a

afirmação de que 81mg é a dose de

eficácia para o coração.

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Peça 9: Life Vit

A peça em questão afirma que

Life Vit é a dose diária de vida para

quem o consumir, apresenta suas

indicações e garante que o mesmo “está

fazendo o maior sucesso nos pontos de

venda”. A embalagem e o nome do

produto são os maiores destaques da

propaganda. A palavra ZINCO é

destacada da embalagem, demonstrando

que sua presença na fórmula é uma

grande vantagem para o produto.

Peça 10: Calcium Sandoz

A imagem da atriz Eliane Giardini, em maior destaque, aparece nesta peça

transmitindo a idéia de uma mulher feliz e saudável. A propaganda mostra que existe

um produto para cada fase da vida, desde a infância até a pós-menopausa, o que

confirma a idéia de que a vida se transformou simplesmente em diferentes fases de

consumo de medicamentos.

Mesmo a propaganda sendo dirigida para um público restrito (balconistas...), o

apelo visual remete facilmente ao público alvo do medicamento: as mulheres.

A propaganda garante a lucratividade do produto, e fala que ser líder de vendas é uma

arte, estimulando o comerciante a lucrar com os lançamentos.

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39

Peça 11: Neurosedol

O apresentador de televisão “Ratinho”, um formador de opinião pela função que

exerce, aparece como garoto-propaganda nesta peça e é o destaque da mesma,

juntamente com o medicamento que anuncia. Sua função é promover o produto e o

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40

texto garante que isso será feito durante seu programa. O foco da propaganda é o

comerciante de farmácia, que ficará muito mais tranqüilo tendo Neurosedol em sua

prateleira, já que isso aumentará suas vendas – “... ele faz muito bem para quem toma e,

principalmente, para quem vende”.

Peça 12: Actos

A manchete: “A notícia mais esperada do ano!” aguça a curiosidade do leitor. A

novidade é a RDC 200/04, que exclui da lista C1, anexo da Portaria 344/98, a

pioglitazona, entre outras substâncias.

A frase: “Agora muito mais fácil de vender” demonstra a satisfação em se ter

um medicamento de receituário simples, isento de controle especial. As palavras em

negrito são palavras-chaves, aparecem em tamanho e cor diferentes.

A propaganda se preocupa em mostrar o medicamento em suas diferentes

apresentações, a posologia e a indicação terapêutica - “todas as informações

necessárias” para que o comerciante realize suas vendas.

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41

Peça 13: Cebrilin

O destaque desta peça é a

embalagem do medicamento e uma mão

feminina mostrando o número três. O

mesmo pode representar a apresentação

do medicamento – embalagem com 30

comprimidos, 30 mg cada, ou as três

estratégias de venda listadas,

demonstrando que a divulgação está

sendo feita e que o retorno financeiro

será certo para o comerciante.

Peça 14: Zetron

A peça publicitária em questão,

como a maioria, dá destaque a

embalagem do medicamento e frases

relacionadas à venda e ao lucro

associadas, recomendando que o

comerciante não perca vendas e para isso

que acerte no estoque. Também é dito

que o preço este mais acessível.

A frase em destaque, logo abaixo

do nome do produto, garante que o

mesmo preserva a função sexual.

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Peça 15: Alerfin

O destaque da propaganda é a

figura de um homem, em preto e

branco, com nariz de palhaço,

semblante sério e preocupado. O nariz

de palhaço remete ao nariz de uma

pessoa com rinite alérgica – vermelho e

inchado. O nariz de palhaço aparece ao

lado da embalagem do medicamento,

associando-o ao doente, à doença e às

risadas de quem lucra com ele.

A frase: “Quem tem rinite

alérgica não vê graça, mas quem vende

vai rir à toa” desrespeita a condição do

doente, explorando a enfermidade como

meio de obtenção de lucro.

Peça 16: Vigamox

Os maiores destaques da peça são

o nome e o próprio medicamento. A

frase: “Esta gota vale ouro” sugere duplo

significado: ou o medicamento em

questão é realmente muito eficaz para a

indicação terapêutica, ou sua capacidade

de gerar lucro é muito grande.

Ainda existe a frase: “Um

antibiótico como nenhum outro”. A peça

utiliza a facilidade da posologia como

diferencial. Agora no Brasil, indica que

já existe em outros países e isso traz certa

confiabilidade ao produto.

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Peça 17: Fungonax

A propaganda sugere que por ser um

anti-micótico muito eficaz ou muito

divulgado só é fácil vê-lo parado na foto,

porque quando estiver no estoque vai vender

muito rápido, a procura será grande.

Peça 18: Vioxx

A frase que aparece em destaque

abrange grande parte da cadeia de

circulação dos medicamentos: o prescritor,

o dispensador e o paciente. O laboratório

afirma que todos fazem parte dessa

“história de sucesso”.

As cores escolhidas são vibrantes,

garantindo destaque ao nome do

medicamento. A embalagem do mesmo não

aparece e nem frases relacionadas a lucro e

vendas.

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Peça 19: Adoless

O nome do medicamento está em

destaque, e acima da marca, a frase: “o

lucro que você procura está na bolsa das

adolescentes”, aparece como uma

resposta salvadora de qualquer comércio.

Ainda existe uma frase que aconselha o

comerciante a aumentar seus estoques.

O desenho de uma adolescente

com visual moderno, a frase: “O

contraceptivo da adolescente” e uma

bolsinha com a embalagem do

medicamento reafirmam o público-alvo

do medicamento. Em destaque, aparece a

constatação de que o público adolescente

é um novo público e que não pára de crescer, dados de pesquisa do IBGE.

Adoless foi desenvolvido especialmente para as adolescentes, por ser discreto,

inteligente e eficaz. Estas três palavras neste caso podem ser interpretadas da seguinte

maneira: discreto porque é fácil esconder na bolsa, inteligente, porque o blister contém

quatro comprimidos inativos (o que não permite erro na posologia) e eficaz, adjetivo

dado pelo próprio laboratório na tentativa de obter confiança.

Peça 20: Ecator

A peça publicitária mostra um bolso de jaleco branco com várias canetas,

simbolizando um dos “instrumentos de trabalho” do prescritor e afirma que os

“ponteiros” já foram acertados com o receituário e serão agora acertados com as vendas.

O texto informa, claramente, como o investimento foi feito junto à classe médica para

aumentar as prescrições e garante o retorno financeiro às farmácias.

A última frase relaciona termos comuns à área de saúde com termos comerciais,

do tipo: pressão e preço e, aderência ao tratamento e vendas.

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O nome do medicamento aparece duas vezes em destaque e a embalagem do

mesmo aparece próxima à figura de um casal de meia idade, com aparência saudável,

praticando esporte e certamente com a pressão controlada.

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7. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Quanto à adequação à legislação vigente sobre o tema, constatou-se que todas as

peças selecionadas de medicamentos de venda livre, num total de 11 peças, atendem às

exigências da RDC 102/00. As categorias de análise – nome do medicamento,

DCB/DCI, número do registro, advertência obrigatória e contra-indicações – foram

selecionadas de acordo com as infrações mais freqüentemente registradas pelo Projeto

de Monitoração de Propaganda e Publicidade de Medicamentos, realizado pela Anvisa

no ano de 2004.

O nome do medicamento aparece em todas as peças, inclusive de forma

destacada. A DCB também aparece em todas as propagandas e, em sua maioria, na

própria embalagem do medicamento.

O número de registro do medicamento aparece também em todas as peças, mas,

na maioria das vezes, de forma quase ilegível, com tamanho de fonte muito pequeno.

Localiza-se no canto inferior ou na lateral da página das peças analisadas. O número de

registro é um item obrigatório na peça publicitária, porém, não existe uma norma de

padronização.

A mensagem de advertência obrigatória, presente em todas as peças analisadas,

também não aparece de uma forma padronizada. Apenas cinco peças respeitam o

disposto no Art. 12 da RDC 102/00, onde: os textos de advertência serão escritos em

letra de cor preta, padrão Univers 65 bold, sendo impresso sobre retângulo branco com

um filete interno emoldurando a advertência, sendo observado para páginas simples e

dupla letra de corpo 12. As propagandas de Sorine, Life Vit e Lamisil não respeitam o

tamanho da fonte, a propaganda de Bufferin Cardio não respeita o tamanho e o tipo de

fonte exigidos pela legislação. A peça de Neurosedol não contempla nenhuma

exigência: a mensagem não aparece sobre retângulo branco, a letra é de cor verde, o

tamanho da mesma e o tipo não correspondem ao exigido.

A categoria contra-indicações aparece em algumas peças somente para cumprir

exigência legal. A frase: “É contra-indicado em casos de hipersensibilidade ao princípio

ativo ou a um dos componentes da fórmula” é muito vaga para o público leigo. Em

apenas seis peças publicitárias – Silomat, Buscopan, Coristina D (1 e 2), Life Vit e

Calcium Sandoz – as contra-indicações estão presentes de forma mais detalhada, não se

restringindo apenas à hipersensibilidade aos componentes da fórmula. Talvez, a

resistência em apresentar claramente as contra-indicações de um medicamento,

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especialmente o de venda livre, esteja relacionada à diminuição de consumo do mesmo,

fazendo o papel de uma contra-propaganda. Em nosso cotidiano profissional – em

farmácias comerciais – é possível notar a falta de informação em grande parte da

população. Muitas vezes, o medicamento de escolha, o “mais eficaz”, é aquele que não

apresenta contra-indicações em sua embalagem.

As nove peças publicitárias de MVSP foram analisadas de acordo com as

seguintes categorias: contra-indicações, DCB/DCI, número de registro, cuidados e

advertências e referências bibliográficas, também selecionadas de acordo com o Projeto

de Monitoração.

Todas as peças apresentam as contra-indicações nos textos de bula. A leitura é

dificultada, devido ao tamanho da fonte e aos termos técnicos utilizados. Na propaganda

de Vioxx, a única contra-indicação relatada é “hipersensibilidade a qualquer

componente do produto”, o mesmo ocorre com Actos e Vigamox. A indústria

farmacêutica somente divulga o que lhe é favorável, a falta de informação ou

informações incompletas relacionadas às contra-indicações transmite a falsa idéia de

que o medicamento não oferece riscos à saúde. O recolhimento de Vioxx do mercado

pode confirmar essa afirmação.

A DCB aparece em todas as peças. O número de registro apenas não é observado

na propaganda de Cebrilin, medicamento de controle especial, vendido somente com a

retenção da receita. Essa informação aparece na propaganda de Fungonax, fora do texto

de bula e em tamanho de fonte maior. Nas outras peças, essa informação está presente

de maneira não padronizada, quase que escondida em meio aos textos das bulas.

O item de análise cuidados e advertências deve incluir as reações adversas mais

freqüentes e as interações medicamentosas, seguindo o disposto no inciso I do Art. 13,

RDC 102/00. Essas informações aparecem inseridas nos textos das bulas, dificultando a

leitura por apresentar fonte muito pequena. A propaganda de Cebrilin, mais uma vez

não cumpre as exigências da legislação. Seu texto de bula não contempla essa categoria,

somente apresenta as reações adversas e um tópico final, denominado especial, que

destaca a dose máxima recomendada para pacientes idosos e como deve ser o

tratamento para pacientes portadores de insuficiência renal ou hepática. Nas demais

propagandas essa categoria aparece como: “precauções e advertências”, “precauções”

ou como “advertências”.

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A propaganda de Fungonax não apresenta as reações adversas mais freqüentes e

a propaganda de Vigamox não contempla as interações medicamentosas. As peças de

Zetron, Alerfin, Vioxx, Adoless, Ecator e Actos cumprem o disposto na RDC 102/00.

Segundo a RDC, as citações, tabelas ou outras ilustrações extraídas de publicações

científicas utilizadas em qualquer propaganda, publicidade ou promoção, devem ser

fielmente reproduzidas e especificar a referência bibliográfica completa. De acordo com

essa questão, a propaganda de Zetron apresenta referência bibliográfica de publicação

científica; a propaganda de Adoless faz referência ao IBGE, por citar uma pesquisa

sobre o público adolescente; a propaganda de Ecator cita a revista ABC Farma como

fonte de preço de tratamento; a peça de Actos faz referência à própria bula do

medicamento por apresentar a posologia; as demais propagandas não apresentam

referências.

De acordo com a análise, somente o anúncio de Zetron cumpre realmente o

disposto pela legislação, vale lembrar que o estudo em questão não tem o objetivo de

confirmar a veracidade das informações. As referências bibliográficas citadas nas peças

de Adoless, Ecator e Actos não disponibilizam nenhum tipo de informação sobre o

medicamento, apenas cumprem exigência legal. As informações são apresentadas nas

bulas, como nas demais peças analisadas, sem nenhum tipo de referência bibliográfica,

refletindo o tipo de mídia em que as propagandas foram publicadas. Nesse tipo de

revista, dirigida ao comércio farmacêutico, o anunciante se preocupa em fornecer os

dados que garantam o aumento das vendas e tem o balconista como um forte aliado na

maioria das vezes, já que dificilmente ele questionará as informações descritas.

As propagandas de Vigamox e Zetron possuem a mensagem de advertência sem

necessidade, uma vez que propagandas de medicamentos sob prescrição médica só

podem ser veiculadas em revistas dirigidas aos profissionais de saúde. Essa categoria

somente é exigida em propagandas de medicamentos de venda livre.

Quando se tratar de medicamento à base de substâncias sujeitas a controle

especial, as limitações e advertências previstas na Portaria SVS/MS 344/98 deverão ser

respeitadas. A propaganda de medicamentos sujeitos a controle especial somente poderá

ser efetuada em revista ou publicação técnico-científica de circulação restrita a

profissionais de saúde. As propagandas de Cebrilin e Zetron não respeitam a

recomendação e são veiculadas em revistas não-científicas, contrariando a RDC 102/00

e a Port. SVS/MS 344/98.

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As revistas analisadas, ABC Farma e Guia da Farmácia, intitulam-se revistas

dirigidas aos profissionais de saúde. Elas se dividem em um volume com a lista de

preços dos medicamentos (I) e outro contendo algumas matérias para “atualização” do

profissional (II). As peças publicitárias analisadas foram coletadas nos dois volumes

dessas revistas.

Essas revistas contêm em suas capas os seguintes dizeres: “Órgão Oficial da

Associação Brasileira do Comércio Farmacêutico destinado aos farmacêuticos

proprietários de farmácias ou drogarias.” (ABC Farma, Volume I), “Publicação

dirigida aos médicos, farmacêuticos, odontólogos e profissionais de saúde” (ABC

Farma, Volume II), “Revista dirigida aos profissionais de saúde.” (Guia da Farmácia) e

“Para consulta do consumidor” (Guia da Farmácia, Suplemento Lista de Preços). E

ainda na revista ABC Farma, consta um aviso: “os anúncios divulgando produtos ou

serviços publicados nesta revista são de total responsabilidade do anunciante”.

As frases de capa determinando o público alvo demonstram apenas um

cumprimento de exigências da RDC 102/00, uma vez que são veiculadas propagandas

de medicamentos sob prescrição, inclusive medicamentos controlados, o que não seria

permitido se a revista fosse dirigida ao público leigo. Sabemos que o balconista de

farmácia e a população em geral são o grande público leitor, e têm esse tipo de revista

disponível para livre consulta no balcão.

O volume I apresenta mensalmente a lista de preços dos medicamentos e o

volume II apresenta matérias de conteúdo não científico, reportagens que mostram as

redes de farmácias que mais lucram no país, estratégias para ganhar o mercado,

novidades no mercado farmacêutico, propagandas de medicamentos e outros assuntos

com teores que fogem ao rigor científico. Proibir o segundo volume é uma tarefa

delicada, cercearia a liberdade de imprensa, atitude impensável, mas proibir

definitivamente as propagandas veiculadas é possível, já que se trata de grave infração

sanitária.

A linguagem utilizada nas propagandas reafirma o que foi discutido

anteriormente – o público alvo. A maioria das peças traz a seguinte associação:

medicamento – venda – lucro, sendo que as expressões mais encontradas foram: vendas,

preço, investimento, caixa, líder de vendas, sucesso, pontos de vendas, líder de

mercado, lucro garantido, potencial de vendas, prepare seu estoque, mídia em horário

nobre, anos de tradição e ao alcance do consumidor. O Art. 14 da RDC 102/00 dispõe: é

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vedada a veiculação de propaganda e publicidade de medicamentos sujeitos à prescrição

dirigida a proprietários de farmácias não farmacêuticos, balconistas ou outras pessoas

não habilitadas para dispensação de medicamentos.

As propagandas de Silomat, Lamisil, Buscopan e Actos “comemoram” a

mudança de categoria de venda desses medicamentos. Os três primeiros passaram para a

categoria de medicamentos de venda isenta de prescrição, não possuem mais a tarja

vermelha com o dizer: venda sob prescrição médica. As três peças publicitárias

anunciam essa mudança como uma vitória para o comerciante. Os medicamentos

passam para o lado de fora do balcão, ao alcance do consumidor, aumentam as vendas

do estabelecimento e conseqüentemente aumentam os lucros. A peça do Buscopan

apresenta a novidade de forma sutil, não faz nenhuma referência direta a aumento de

vendas ou de lucros.

A peça de Actos apresenta a mudança de categoria como “a novidade mais

esperada do ano”. A substância pioglitazona foi excluída da Lista C1, Lista de Outras

Substâncias Sujeitas ao Controle Especial da Portaria SVS/MS 344/98, e passou a ser

um medicamento de receituário simples, facilitando as vendas na visão do comerciante

e do próprio anunciante do medicamento – a indústria.

Os anunciantes de Bufferin Cardio, Ecator e Lamisil fazem referência ao preço

do medicamento no texto da propaganda, como garantia de aderência ao tratamento e

conseqüente aumento de vendas. Os produtos mais antigos apelam para a tradição de

anos no mercado para garantir suas vendas, em contraste com os produtos de

lançamento mais recente (Coristina D, Buscopan, Transpulmin). Já a peça de Alerfin

ridiculariza a condição do doente para promover o produto.

A indústria farmacêutica transforma o profissional de saúde, principalmente o

prescritor, em um parceiro, um aliado nas vendas. Podemos constatar esse fato nas

propagandas de Cebrilin e Ecator. As peças divulgam que o prescritor já foi informado

sobre o produto em congressos, através de materiais promocionais e de visitas de

propagandistas. A partir dessa informação, o comerciante deve atualizar seu estoque,

porque os clientes vão procurar pelo produto e conseqüentemente as vendas vão

aumentar.

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8. CONCLUSÃO E SUGESTÃO

Os medicamentos passaram a ser tratados como simples produtos de consumo, o

que importa é sua capacidade de gerar lucro. As farmácias não são consideradas

estabelecimentos de saúde, mas sim, estabelecimentos puramente comerciais que

sofrem com a concorrência, disputam os “clientes” e vendem de tudo, inclusive,

medicamentos.

Em muitos desses estabelecimentos, os balconistas prescrevem com base na

propaganda e nos prêmios e incentivos dados pela indústria. Atividade perigosa para

medicamentos de venda livre e pior ainda para medicamentos de venda sob prescrição

médica. As pessoas precisam se conscientizar de que, se usado de forma incorreta, o

medicamento é uma arma que pode levar à morte. A educação continuada dos

profissionais de saúde e informação correta para a população se fazem necessárias. O

Estado deve garantir que os interesses coletivos prevaleçam sobre os privados através de

campanhas de conscientização e de rigor no cumprimento da legislação. A população

mais informada se defende melhor contra as armadilhas da indústria e do comércio.

Através deste estudo, pudemos observar um grande desrespeito a RDC 102/00.

Alguns problemas foram identificados, entre eles: a forma como a legislação aborda o

tema, a dificuldade de abrangência da fiscalização sanitária e a penalidade irrisória para

os laboratórios farmacêuticos.

A legislação em questão aborda vários aspectos da propaganda de medicamentos

de venda livre e aborda de uma forma muito generalizada os aspectos relacionados aos

medicamentos de venda sob prescrição médica, incluindo os medicamentos controlados

pela Portaria 344/98. Um outro agravante é que a propaganda é primeiramente

veiculada em mídia e, posteriormente, sofre o controle pelo Estado. Assim, os

anunciantes deixam de cumprir as exigências com facilidade e a população recebe a

informação incorreta ou abusiva e, na maioria das vezes, nem é esclarecida quanto a

isso.

A fiscalização da propaganda evoluiu muito nos últimos anos, com a criação da

Anvisa e com a implantação do Projeto de Monitoramento em parceria com

universidades públicas, mas ainda não é suficientemente efetiva. As penas ainda são

muito brandas, o valor da multa não traz prejuízos às indústrias multinacionais, as que

mais investem em propaganda.

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Considerando que este é um assunto polêmico, que a propaganda, por trabalhar

com palavras, duplo sentido e imagens, consegue facilmente burlar qualquer norma

restritiva imposta e que o conceito de medicamentos mudou (agora eles são produtos de

consumo que geram muito lucro), por que não mudar também a legislação? Por que não

lutar pela proibição da propaganda de medicamento, de qualquer categoria em qualquer

veículo de comunicação, independente do público a que for dirigido?

As doenças sempre existirão, muitas pessoas precisarão tomar medicamentos e a

indústria sempre terá lucro. A diferença é determinar como serão essas vendas,

regulando o número de pontos de vendas de medicamentos, por exemplo.

O enfoque deste trabalho é sanitário, priorizando o bem estar coletivo, com a

promoção e a proteção da saúde da população. As pessoas não deixarão de consumir

medicamentos e não existe intenção alguma de que a indústria pare de vendê-los. A

questão não é econômica, é social e, entre muitas outras coisas, é preciso ensinar à

população a consumir o medicamento quando houver real necessidade, para que ele se

torne um aliado à saúde e não um catalisador de problemas.

Dessa forma, gostaríamos de encerrar nosso trabalho, com duas propagandas “do

bem”, cuja intenção não é vender medicamento, mas sim, ajudar a construir uma

sociedade consciente.

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8.1. Sugestão 1

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8.2. Sugestão 2

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Bonfim, JRA, Bermudez, JAZ, organizadores. Medicamentos e a reforma do setor

saúde. São Paulo: HUCITEC/SOBRAVIME, 1999, p. 223-236.

27. Krupka, LR, Vener, AM. Prescription drug advertising: Trends and implications.

Social Science and Medicine, 20:191-197. 1985.

28. Barros, JAC, Joany, S. Anúncios de medicamentos em revistas médicas: ajudando a

promover a boa prescrição? Rio de Janeiro: Ciência & Saúde

Coletiva, v.7, n.4. 2002.

29. Vieira, RCPA. Propagandas de medicamentos distribuídas aos médicos: aspectos

legais, farmacológicos e de mercadização. [Tese de Doutorado]. Rio de Janeiro:

UERJ/IMS: 2004. 176f.

30. Sampaio R. Propaganda de A a Z: como usar a propaganda para construir marcas e

empresas de sucesso / Carlos Sampaio. Rio de Janeiro: Campus, ABR, 1997. 285p.

31. Rabaça, CA, Barbosa, G. Dicionário de Comunicação. São Paulo: Editora Ática,

1995.

32. Resolução RDC 102. Aprova o regulamento sobre propagandas, mensagens

publicitárias e promocionais e outras práticas cujo objeto seja a divulgação,

promoção ou comercialização de medicamentos. Diário Oficial da União 2000; 1

dez.

33. Joncheere, K. A necessidade e os elementos de uma política nacional de

medicamentos. In: Bonfim, JRA, Mercucci, VL, organizadores. A construção da

política de medicamentos. São Paulo: HUCITEC/SOBRAVIME, 1997, p. 49-63.

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34. Barreto, D. Curso de Direito Sanitário: Noções Básicas do Direito Administrativo e

Sanitário (Apostila utilizada no Curso de Especialização em Vigilância Sanitária de

Medicamentos/2004 – ENSP/FIOCRUZ). 2002.

35. Lei n ° 5.991. Dispõe sobre o controle sanitário do comércio de drogas,

medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos, e dá outras providências. Diário

Oficial da União 1973; 21 dez.

36. Lei no 6.360. Dispõe sobre a vigilância sanitária a que ficam sujeitos os

medicamentos, as drogas, os insumos farmacêuticos e correlatos, cosméticos,

saneantes e outros produtos, e dá outras providências. Diário Oficial da União 1976;

24 set.

37. Decreto n° 79.094. Regulamenta a Lei n° 6.360, de 23 de setembro de 1976, que

submete a sistema de vigilância sanitária os medicamentos, insumos farmacêuticos,

drogas, correlatos, cosméticos, produtos de higiene, saneantes e outros. Diário

Oficial da União 1977; 5 jan.

38. Lei n° 6.437. Configura infrações à legislação sanitária federal, estabelece as

sanções respectivas, e dá outras providências. Diário Oficial da União 1977; 24 ago.

39. Lei n° 9.294. Dispõe sobre as restrições ao uso e à propaganda de produtos

fumigantes, bebidas alcoólicas, medicamentos, terapias e defensivos agrícolas, nos

termos do § 4° do art. 220 da Constituição Federal. Diário Oficial da União 1996;

16 jul. (Alterada pela Lei n ° 10.167, de 27 de dezembro de 2000).

40. Decreto n° 2.018. Regulamenta a Lei n° 9.294, de 15 de julho de 1996, que dispõe

sobre as restrições ao uso e à propaganda de produtos fumígenos, bebidas

alcoólicas, medicamentos, terapias e defensivos agrícolas, nos termos do § 4° do art.

220 da Constituição. Diário Oficial da União 1996; 1 out.

41. Portaria n° 344. Aprova o Regulamento Técnico sobre substâncias e medicamentos

sujeitos a controle especial. Diário Oficial da União 1988; 12 mai.

42. Portaria n° 593. Emenda não oficial: Aprova o Regimento Interno e o Quadro

Demonstrativo de Cargos em Comissão da Anvisa. Diário Oficial da União 2000;

22 dez.

Page 69: PROPAGANDA DE MEDICAMENTOS Medicamento e lucro: … · A propaganda, ao divulgar os medicamentos como produto de consumo, tende, entre outras coisas, a induzir a auto-medicação,

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43. Resolução RDC n° 133. Permite às farmácias e drogarias a afixação de preços dos

medicamentos nas portas de entrada dos seus estabelecimentos e em outros locais

internos visíveis ao público em geral e sua divulgação através de outros meios com

o objetivo de informar aos cidadãos os preços praticados. Diário Oficial da União

2001; 13 jul.

44. Resolução RDC n° 83. Determina como medida de interesse sanitário, em

circunstância especial de risco à saúde, a proibição de veiculação de

propaganda/publicidade, em todo o território nacional, de medicamentos que

contenham o princípio ativo ácido acetilsalicílico e utilizem expressões que façam

referência aos sintomas de outras patologias que se assemelhem aos sintomas da

dengue. Diário Oficial da União 2002; 19 mar.

45. Portaria n° 123. Emenda não oficial: Altera regimento interno da Anvisa. Diário

Oficial da União 2004; 10 fev.

46. Resolução RDC n° 199. Permite às farmácias e drogarias a afixação dos preços dos

medicamentos nos locais internos dos estabelecimentos, visíveis ao público em

geral. Diário Oficial da União 2004; 25 ago.

47. Lei n° 8.078. Dispõe sobre a proteção do consumidor, e dá outras providências.

Diário Oficial da União 1990; 12 set.