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Especialização em Análise e Manejo de Sistemas socioecológicos Enfoque ecossistêmico em saúde: do conhecimento popular e tradicional ao ecossanitarismo. Professor Antônio Ruas Biólogo, Médico Veterinário, Mestre em Parasitologia, Doutor em Biociências

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Especialização em Análise e Manejo de

Sistemas socioecológicos Enfoque ecossistêmico em saúde: do conhecimento

popular e tradicional ao ecossanitarismo. Professor Antônio Ruas

Biólogo, Médico Veterinário, Mestre em Parasitologia, Doutor

em Biociências

1. Ecossustentabilidade, conhecimento tradicional e

saúde.

Ementa

Fundamentos da Ecologia Política, Antropologia Ecológica,

Ecologia Cultural e outras concepções teóricas ecologicamente

orientadas. Introdução aos dualismos, ontogenias e

identidades culturais na relação natureza e cultura. A

modernidade e a relação entre sociedades e natureza. A

atualidade do debate sobre injustiças sociais e

insustentabilidade da economia globalizada. Histórico e

contextos das correntes políticas e do ativismo ecologista. O

ecologismo relacionado ao conhecimento tradicional e popular.

A ecossustentabilidade, o conhecimento popular e tradicional e

a relação com o desenvolvimento sustentável. A concepção

ecossistêmica na saúde coletiva e o planejamento popular nas

dimensões ecológica e sanitária.

1. Ecossustentabilidade, conhecimento tradicional e

saúde.

Objetivos

O reconhecimento da insustentabilidade dos modelos

desenvolvimentistas concentradores e esgotadores dos

recursos naturais. O reconhecimento do conhecimento

tradicional e popular para a sustentabilidade a partir de uma

avaliação relativista das relações ecológicas e sanitárias

propostas pelas comunidades populares e tradicionais.

Valorizar o meio ambiente, a biodiversidade, a promoção da

saúde e o pertencimento ecológico a partir do legado cultural

tradicional e popular. Contribuir para o trabalho acadêmico

integrado às demandas das comunidades tradicionais e

populares.

• 1. Ecossustentabilidade, conhecimento tradicional e

saúde.

• Referências básicas• ALIER, J. M. O ecologismo dos pobres: conflitos ambientais e linguagens

de valoração. São Paulo: Contexto, 2007.

• BECK, U. Sociedade de risco. Rumo a uma outra modernidade. 2 ed. São

Paulo, Ed. 34, 2010.

• CÂMARA, V. M. de. Epidemiologia e ambiente. In: Medronho et al.

Epidemiologia. São Paulo: Atheneu, 2009.

• DESCOLLÁ, P. Más allá de la naturaleza y de la cultura. In: Martinez, L. M.

(ed). Cultura y Naturaleza, pp. 75 – 98. Bogotá: Jardín Botánico de Bogotá,

José Celestino Mutis, 2011.

• DIEGUES, A. C. S. O mito moderno da natureza intocada. 6. ed. São

Paulo: Hucitec: Nupaub – USP/CEC, 2008.

• GOULD, K. A.; PELLOW, D. N. & SHNAIBERG, A. The treadmill of

production. Injustice & unsustainability in the global economy. Boulder, CO,

Paradigm Publishers, 2008.

• 1. Ecossustentabilidade, conhecimento tradicional e

saúde.

• MINAYO, M. C. S. de. Saúde e ambiente: uma relação necessária. In.

Campos, G. W. Sousa de (org.). Tratado de saúde coletiva, pp. 79 – 108. 2ª

ed. São Paulo. Hucitec, 2012.

• MINAYO, M. C. S. de & MIRANDA, A. C. de (org). Saúde e ambiente

sustentável: estreitando nós. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2002.

• MORIN, E. O método II: a vida da vida. Porto Alegre: Sulina, 2005.

• SÁ, R. F. de; ARAÚJO, J. A.; FREIRE, M. S. M.; SALLES, R. S.; CHUMA,

J.; ROYAMA, H.; YUASA, M.; YAMAMOTO, S.; MENEZES FILHO, A.;

NISHIDA, M.; TRINDADE, C. M. A.; OLIVEIRA, A. A. de Manual do método

Bambu: construindo municípios saudáveis. Recife: Editora Universitária da

UFPE, 2007.

• FILLION, M. & LEMIRE, M. Degradação ambiental, mercúrio e saúde no

Tapajós. Projeto Caruso. Universidade de Brasília, 2008. Cartilha.

• 1. Ecossustentabilidade, conhecimento tradicional e saúde.

• Avaliação

• Relatório e apresentação do exercício da oficina Bambu de

planejamento comunitário.

• O relatório deve conter todas as etapas do método Bambu.

• A apresentação deve ser na forma de seminário com debate

aberto ao público.

• 2. Conceituações em saúde e ambiente

A Constituição Brasileira define no artigo 196: “saúde édireito de todos e dever do Estado, garantido mediantepolíticas sociais e econômicas que visem à redução do riscode doença e de outros agravos e ao acesso universal eigualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteçãoe recuperação.”

• 2. Conceituações em saúde e ambiente

Em 1990 foi promulgada a lei 8080 que normatizou o deverdo Estado: “ a saúde tem fatores determinantes econdicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, osaneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, aeducação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens eserviços essenciais; os níveis de saúde da populaçãoexpressam a organização social e econômica do País.”

O conceito apresentado pela OMS até os dias de hoje, é oponto de partida: “ saúde é o estado de completo bem estarfísico, mental e social, e não apenas a ausência de doença”.Foi cunhado pelo croata sanitarista Andrija Stampar eadotado pela Organização em 1946.

Qual a relação desta definição ampla com a integridadeambiental?

•3. Trajetória do conceito de sustentabilidade.

• Ecossustentabilidade e ecossanitarismo são conceitos novos

que partem do pertencimento ecológico dos seres humanos.

• Partem da valorização da integridade ambiental em referência a

um meio ambiente do qual os seres humanos pertencem e é

único até o presente conhecimento.

• A ecossustentabilidade coloca os valores ecológicos como

fundamentais.

• O enfoque ecossistêmico e o ecossanitarismo enfocam os

avanços na saúde humana a partir da ecossustentabilidade como

veremos.

3. Saúde, meio ambiente e sustentabilidade.

A primeira conferência marcante sobre o Meio Ambiente foi a

Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente em

Estocolmo em 1972.

Na conferência, foram aproveitadas resoluções anteriores

para um debate sobre direitos humanos e meio ambiente. Foi

criado o conceito de ecodesenvolvimento.

A conferência resultou na Declaração de Estocolmo.

Basicamente estabeleceu diretrizes para o desenvolvimento

econômico compatível com a preservação de recursos

naturais. O princípio básico era o do desenvolvimento

tecnológico resolutivo dos problemas ambientais pelos países

mais ricos e o apoio destes aos países mais pobres.

Recomendou o controle populacional nestes países,.

3. Saúde, meio ambiente e sustentabilidade.

Extratos importantes desta resolução são:

- A proteção e o melhoramento do meio ambiente humano é uma questão

fundamental que afeta o bem estar dos povos e o desenvolvimento

econômico do mundo inteiro, um desejo urgente dos povos de todo o

mundo e um dever de todos os governos.

- O homem tem o direito fundamenta à liberdade, à igualdade e ao desfrute

de condições de vida adequadas em um meio ambiente de qualidade tal

que lhe permita levar uma vida digna e gozar de bem estar, tendo a solene

obrigação de proteger e melhorar o meio ambiente para as gerações

presentes e futuras.

Logo após este período, vários acidentes gravíssimos com

produtos químicos ou resíduos nucleares impulsionaram este

debate como em Three Mile Island (Estados Unidos),

Minamata (Japão), Bhopal (Índia) e Chernobyl (Ucrânia).

3. Saúde, meio ambiente e sustentabilidade.

Em 1983 a ONU criou a Comissão Mundial sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento, tendo como objetivo reexaminar

as questões sobre meio ambiente após Estocolmo.

Entre 1983 e 1987 foi estabelecida a Comissão Mundial

sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como

Comissão Brundtland (1983 – 1987). A Comissão foi formada

nas Nações Unidas para angariar argumentos a favor da idéia

de que meio ambiente e desenvolvimento são

interdependentes.

Foram ouvidos argumentos da agricultura, silvicultura, setor

de água, energia, transferência de tecnologia e

desenvolvimento cuidadoso em geral. O Relatório denominado

“Nosso Futuro Comum, no final, definiu desenvolvimento

sustentável como detalhado anteriormente.

3. Saúde, meio ambiente e sustentabilidade.

O chamado Relatório Bruntland conceituou pele primeira vez

o Desenvolvimento Sustentável como:

“Desenvolvimento sustentável é um processo de

transformação no qual a exploração dos recursos, a direção

dos investimentos, a orientação do desenvolvimento

tecnológico e a mudança institucional se harmonizam e reforça

o potencial presente e futuro, a fim de atender às necessidades

e aspirações futuras ... é aquele que atende às necessidades

do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações

futuras atenderem as suas próprias necessidades.“

3. Saúde, meio ambiente e sustentabilidade.

Uma declaração importante do Relatório Bruntland foi:

“ A década presente (1980), tem sido marcada por um recuo nas

preocupações sociais. Cientistas chamam a nossa atenção para

problemas complexo e urgentes referentes à nossa sobrevivência: o

aquecimento global, as ameaças à camada de ozônio, os desertos

avançando em áreas cultiváveis. A resposta tem sido de solicitar cada

vez mais detalhes e, afinal, encaminhar os problemas para

instituições mal equipadas para lidar com eles” (WCED 1987).

O Relatório Bruntland teve rápida e ampla repercussão

internacional e os princípios do desenvolvimento sustentável

estão na base da Agenda 21, documento aprovado por mais de

180 países durante a realização da Conferência das Nações

Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no

Rio de Janeiro em 1992.

3. Saúde, meio ambiente e sustentabilidade.

• A ECO-92 é como ficou conhecida a Conferência das Naçõpes

Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável –

CNUMAD.

• A ECO-92 corroborou o desenvolvimento sustentável do

Relatório Bruntland e avançou na questão das desigualdades

sociais, como determinante da degradação ambiental e sanitária.

• O Princípio 15 da precaução é um ponto importante da

conferência:

•“... Com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deverá

ser amplamente observado pelos estados, de acordo com as suas

capacidades. Quando houver ameaça de danos graves ou irrevesíveis, a

ausência de certeza científica absoluta não será utilizada como razão

para o adiamento de medidas economicamente viáveis para prevenir a

degradação ambiental.

3. Saúde, meio ambiente e sustentabilidade.

• Os principais documentos da ECO-92 foram:

• Convenção sobre Biodiversidade;

• Convenção sobre mudança Climática;

• Declaração de Princípios do Rio

• Agenda 21

3. Saúde, meio ambiente e sustentabilidade.

• Alguns dos capítulos importantes da Agenda 21 são os

seguintes. Observar o capítulo sobre a saúde humana.

• 1. Cooperação Internacional para acelerar o desenvolvimento

sustentável dos países em desenvolvimento e políticas internas

correlatadas.

• 2. Combate à pobreza.

• 3. Mudança dos padrões de consumo.

• 4. Proteção e promoção das condições da saúde humana.

• 5. Proteção da atmosfera.

• 6. Combate ao desflorestamento.

• 7. Promoção do desenvolvimento rural e agrícola sustentável.

• 3. Saúde, meio ambiente e sustentabilidade.

• Para concluir, em 1996, após a ECO-92 o Conselho Consultivo

Alemão para Mudanças Globais (WBGU) elaborou um quadro de

tendências de agravamento da degradação ambiental sendo as

principais:

• 1. Cultivo excessivo de terras marginais;

• 2. Exploração excessiva dos ecossistemas naturais;

• 3. Degradação ambiental pelo abandono de práticas de agricultura

tradicionais;

• 4. Utilização não sustentável do solo e corpos de água pelos sistemas

agro-industriais;

• 5. Degradação ambiental pela depleção de recursos não renováveis.

• 6. Degradação da natureza para fins recreacionais;

• 7. Uso de armas em conflitos militares;

• 8. Introdução de projetos energéticos ou industriais de grande escala;

• 3. Saúde, meio ambiente e sustentabilidade.

• 9. Agricultura de métodos inadequados;

• 10. Crescimento econômico e urbano dissociado de conservação ambiental;

• 11. Desastres ambientais antropogênicos;

• 12. Difusão contínua de substância nocivas na biosfera;

• 13. Disposição descontrolada de resíduos sólidos e líquidos;

• 14. Contaminação química em larga escala devido a plantas industriais.

• Outras conferências internacionais sobre o meio ambiente

ocorreram ao longo da primeira década dos anos 2000.

• Em 2012 o Brasil sediou a Rio + 20 que produziu o documento “

O futuro que queremos.

3. Saúde, meio ambiente e sustentabilidade.

Em 2012 o Brasil sediou a Rio + 20 que produziu o

documento “ O futuro que queremos. No capítulo Saúde e

População lemos:

“Reconhecemos que a saúde é, simultaneamente, uma

condição prévia, um resultado e um indicador de todas as três

dimensões do desenvolvimento sustentável. Entendemos que

as metas de desenvolvimento sustentável só podem ser

alcançadas na ausência de uma alta prevalência de doenças

debilitantes transmissíveis ou não, e quando as populações

puderem atingir um bem-estar físico, mental e social. Estamos

convencidos de que é importante concentrar a ação sobre os

determinantes sociais e ambientais da saúde, tanto para os

pobres e os vulneráveis como para toda a população, para

criar sociedades inclusivas, justas, produtivas e saudáveis.

Apelamos para a plena realização do direito de se desfrutar do

mais alto nível de saúde física e mental”.

• 4. A Conferência de Ottawa e os modelos de atuação emsaúde ambiental: a Promoção da Saúde.

• Uma das conferências mais importantes na vinculação dasaúde com a integridade ambiental, determinantes, açõesdecentralizadas e sociais foi a Primeira ConferênciaInternacional sobre Promoção da Saúde, realizada em Ottawa,Canadá, em 1986. Assim Promoção da Saúde é:

• "...o processo de capacitação da comunidade para atuar namelhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo maiorparticipação no controle desse processo. Para atingir umestado de completo bem-estar físico, mental e social, osindivíduos e grupos devem saber identificar aspirações,satisfazer necessidades e modificar favoravelmente o meioambiente... Assim, a promoção à saúde não é responsabilidadeexclusiva do setor da saúde, e vai para além de um estilo devida saudável, na direção de um bem-estar global."

• 4. Conferência de Ottawa e os modelos de atuação emsaúde ambiental: a Promoção da Saúde.

Os principais determinantes a serem considerados para apromoção à saúde são na Carta de Ottawa os seguintes):

Paz,

Habitação,

Educação,

Alimentação,

Renda,

Ecossistema saudável,

Recursos renováveis,

Justiça social;

Eqüidade.

• No Brasil a APA ficou conhecida também como APSA, ouAtenção Primária em Saúde Ambiental.

• é um conceito e proposta de ação estatal-comunitáriabaseada na Atenção Primária.

• A Conferência Pan-Americana sobre Saúde e Ambiente noDesenvolvimento Sustentável–COPASADHS (1995) e outrosencontros posteriores definiram a APA como:

• “...uma estratégia de ação ambiental basicamente preventiva eparticipativa em nível local, que reconhece o direito do ser humano deviver em um ambiente saudável e adequado, e a ser informado sobre osrisco do ambiente em relação à saúde, bem-estar e sobrevivência, aomesmo tempo que define suas responsabilidades e deveres em relação áproteção, conservação e recuperação do ambiente e da saúde”.

• 5. Outras conferências: a APA ou Atenção PrimáriaAmbiental.

• Enfatizando a revalorização do nível local, a APA procura acriação e a consolidação de um nível primário ambiental quepermita fortalecer a gestão ambiental dos governos locaisatravés do fortalecimento das comunidades no âmbito dasustentabilidade local, a fim de estabelecer um nível degestão ambiental que inclua a todos os atores, em particularos governos municipais e comunidade organizada.

• O objetivo geral é alcançar as melhores condições de saúdee qualidade de vida dos cidadãos, através da proteção doambiente e do fortalecimento das comunidades no âmbito dasustentabilidade local. Para que isto seja alcançado, sepropõe os seguintes objetivos específicos:

• 5. Outras conferências: a APA ou Atenção PrimáriaAmbiental.

• a. Municípios saudáveis;

• b. Gestão ambiental local que inclua todos os atores locais;

• c. Fortalecer as comunidades para a sua sustentabilidadelocal;

• d. Formar lideranças ambientais;

• e. Interação entre o setor público e sociedade civil;

• c. Contribuir para que o Estado apoie as iniciativas locais einvista na proteção da saúde e meio ambiente.

• 5. Outras conferências: a APA ou Atenção PrimáriaAmbiental.

• Os princípios são mais amplos do que os da APS, estendo aação para toda a sociedade:

• a. Participação da comunidade;

• b. Organização;

• c. Prevenção e proteção ambiental;

• d. Solidariedade e equidade;

• e. Integralidade;

• f. Diversidade.

• 5. Outras conferências: a APA ou Atenção PrimáriaAmbiental.

• No Brasil, autores ligados ao CGVAM e universidadespropuseram que a APA fosse estudada e adotada comomodelo de promoção à saúde, de base comunitária, com adenominação de Atenção Primária em Saúde Ambiental.

• Segundo estes autores, a APA é uma estratégia promovidapelo setor saúde e o novo termo busca respeitar o setorsaúde como promotor do processo e recoloca a saúdeambiental como o objeto agregador das ações no nível local.

• A estratégia da APSA no Brasil somente ganha sentido sevisualizada como um componente da atenção básica. Afinal,seus princípios focalizam o papel do nível local na construçãode espaços saudáveis.

• 5. Outras conferências: a APA ou Atenção PrimáriaAmbiental.

6. Saúde e Ambiente: VAS

No âmbito do SUS a criação de uma vigilância específica, a

Vigilância Ambiental em Saúde – VAS visou a organização

das ações de promoção à saúde no ambiente.

A normatização das vigilâncias e da VAS encontra-se na

legislação do SUS, lei 8080, NOB SUS 96 e Normativa 01,

Portaria 1399/1999.

Assim, a vigilância ambiental em saúde é “um conjunto de

ações que proporciona o conhecimento e detecção de

mudança nos fatores determinantes e condicionantes do meio

ambiente que interferem na saúde humana, com a finalidade

de identificar as medidas de prevenção e controle dos fatores

de risco ambientais relacionados às doenças ou outros

agravos à saúde”.

6. Saúde e Ambiente: VAS

6. Saúde e Ambiente: a atuação da VAS é suficiente?

A atuação da VAS é importante, mas muito recortada.

Numa visão mais integrada, quais os principais aspectos da

degradação ambiental com repercussão na saúde? Poluição,

falta de saneamento, contaminações induzindo neoplasias,

proliferação de vetores e aumento de zoonoses em geral pelo

desequilíbrio ecológico que afeta várias populações animais,

entre outros. Os campos de atuação se superpõe e não há

uma coordenação unificada, nem relação adequada com um

ideia de APSA.

Problemas importantes: o aquecimento global, a depleação

da camada de ozônio, as chuvas ácidas, as doenças da falta

de saneamento, a poluição do ar, entre outras.

6. Saúde e Ambiente: a atuação da VAS é suficiente?

Segundo Minayo, a relação entre saúde e ambiente não é

dissociada da relação entre sociedades e ambiente. Temos

que considerar pertencimento ecológico dos seres humanos.

Problemas de saúde decorrentes são por exemplo:

3 milhões de crianças morrem por causas hídricas;

1 milhão de adultos por causas relacionadas ao ambiente de

trabalho;

80-90% dos casos de diarreia são causados por fatores

ambientais;

Doenças causadas pela falta de Saneamento

Doenças causadas pela falta de Saneamento

• Na Epidemiologia podemos pensar num risco epidemiológico,clássico e mais conhecido e num ambiental:

• 1. Numa metodologia indutiva, o risco apresenta-se como aprobabilidade de ocorrência.

• O risco epidemiológico ou populacional é expresso pelaincidência em taxas e coeficientes.

• O risco epidemiológico é a probabilidade de um evento mórbidoocorrer no período seguinte ao da constatação, dadas asmesmas condições ambientais.

• 2. Numa metodologia dedutiva, o risco apresenta-se comoestrutural, ambiental. Deriva da exposição e efeitosconhecidos.

• 7. A Epidemiologia Ambiental e o paradigma do risco

• 7. A Epidemiologia Ambiental e o paradigma do risco

• Assim a EA ocupa-se dos estudo dos fatores ambientais quedeterminam a distribuição e as causas dos efeitos adversos àsaúde, doenças e agravos (Câmara).

• Parte da concepção de risco ambiental, assumindo riscoepidemiológico a partir do desenvolvimento da pesquisa.

• A principal aplicação da EA ocorre no monitoramento e estudosde avaliação de risco não biológicos, mas pode ser adaptado aosbiológicos.

• Nas avaliações de risco, são fundamentais a elaboração eaplicação de indicadores de saúde ambiental e de epidemiologiaambiental.

• Vários autores propõe um protocolo de indicadores para asavaliações de risco que contempla as categorias: forças motrizes,pressão, estado, exposição, efeitos e ações.

• Indicadores de Saúde Ambiental

• Os indicadores de Saúde Ambiental devem ser expressões da

relação entre ambiente e saúde passíveis de utilização na

avaliação, monitoramento e gestão das políticas de saúde.

Devem facilitar a interpretação destes contextos.

• Estes indicadores devem descrever contextos, descrever os

agentes poluentes, as formas de dispersão, exposição, efeitos

e orientar ações de promoção.

• Indicadores de Saúde Ambiental

• Forças motrizes: fatores que motivam e pressionam os

processos ambientais envolvidos, incluindo indicadores

econômicos, sociais, demográficos, antropológicos, etc.

• Pressão: com indicadores de ocupação humana e exploração

do ambiente, incluindo as evidências de lançamento de

poluentes no ambiente passados e presentes.

• Estado: indicadores de modificações ambientais causadas

pelas pressões. Inclui indicadores de alterações nos meios

fundamentais como ar, solo, água. Inclui também impactos

sobre a biodiversidade.

• Indicadores de Saúde Ambiental• Exposição: indicadores que se referem à interseção entre as

pessoas e os perigos existentes no ambiente. Inclui os

conceitos e medidas de emissão do poluente; dispersão no

meio ambiente e imissão, ou seja, de concentrações

ambientais do poluente. Inclui descritores dos agentes

causadores, conhecidos a partir de modelos laboratoriais. Por

exemplo:

• a) NOAEL - Nível máximo de dose observado antes do efeito

adverso;

• b) LOAEL - Menor nível de dose para efeito adverso observado

• Indicadores de Saúde Ambiental•

• Efeitos: repercussões adversas à saúde podem variar em tipo,

• intensidade e magnitude. Inclui os indicadores obtidos a partir

de estudos epidemiológicos antes ou depois dos estudos

clínicos. Pode propor indicadores clínicos específicos e depois

trabalhar com os clássicos incidência, prevalência, coeficientes

de mortalidade específica, etc.

• Ações: estes indicadores são de planejamento estratégico em

saúde e devem resultar de avaliações nesta linha. Destinam-se

a descrever melhorias na promoção da saúde.

• 8. Do enfoque ecossistêmico ao ecossanitarismo.

• O que é o enfoque ecossistêmico? Segundo Minayo,

fundamenta-se nas ideias e campos de atuação para

ecossistemas saudáveis e promoção da saúde.

• Como síntese objetiva a qualidade de vida social e saúde

ambiental do qual os humanos fazem parte.

• O conceito de ecossistema faz parte da visão sistêmica dos

seres vivos. Numa concepção aplicada, é um local, ou território

onde existem organismos vivos interagindo entre si e com o seu

ambiente físico.

• No contexto da saúde (ou saúde coletiva), podemos substituir

local por espaço organizado, as pessoas por atores sociais e

traçar um objetivo geral de saúde ambiental e humana.

• 8. Do enfoque ecossistêmico ao ecossanitarismo.

• O processo de avanço no enfoque ecossistêmico é o que

chamamos de ecossanitarismo.

• Este avanço pode ser tanto em estudos como em práticas.

• Na língua inglesa será chamado de “Ecohealth”.

• 8. Do enfoque ecossistêmico ao ecossanitarismo.

• Os diagramas ao lado indicam

• no primeiro caso um enfoque

•contrários à saúde coletiva e no

•segundo caso um enfoque

•pró-saúde e sustentável (Minayo).

• 8. Do enfoque ecossistêmico ao ecossanitarismo.

• A abordagem ecossistêmica apoia-se na hipótese :

• A melhor gestão reduz o aparecimento das doenças;

• Existe uma interação dinâmica entre os componentes do

ecossistema e a saúde humana;

• Os melhores projetos são interdisciplinares e participativos;

• A articulação entre os componentes da saúde e ecossistema

requer novas metodologias de avaliação de impacto.

• A abordagem indica:

• O enfoque deve ser na participação social, considerando-se a

participação comunitária como parte da outra mais ampla. Focar

unicamente no território comunitário tende ao isolamento do

problema e mais, pode levar à culpabilização da comunidade.

• 9. O Relatório Lalonde: marco zero do enfoque

ecossistêmico.

• O relatório Lalonde, “A new perspective of the helth of

Canadians” publicado pelo Ministro Lalonde em 1974 é

considerado uma antevisão do enfoque ecossistêmico.

• No relatório, Lalonde descontrói a abordagem assistencialista

da saúde e do risco como aferiação do ocorrido.

• De forma original aborda o risco ambiental como foco

importante de ação.

• 10. Saúde: uma abordagem ecossistêmica.

• O trabalho de Jean Lebel “Health an ecosystem approach”

também é considerado fundamental.

• Pela primeira vez traz a visão do Ecohealth, para nós o

ecossanitarismo.

• Principais conceitos:

• A saúde humana não pode ser considerada isolada;

• Depende muito da qualidade do ambiente onde as pessoas vivem;

• O ecossanitarismo é antropocêntrico, no sentido que parte da ação

antrópica;

• O ecossanitarismo baseia-se em três pilares:

• Transdisciplinariedade;

• Participação;

• Equidade.

• 11. Pesquisa com o enfoque do ecossanitarismo.

• Um outro trabalho importantíssimo é o de Dominique Charron,

“Ecohealth research in practice”.

• Charrón aborda principalmente a pesquisa com a perspectiva do

ecossanitarismo. Elenca alguns princípios:

• Princípio 1: Pensamento sistêmico: entender como o sistema age;

• Princípio 2: Pesquisa transdisciplinar: envolve a integração de saberes,

incluindo os comunitários;

• Princípio 3: Participação: envolver as lideranças comunitárias no mínimo;

entender que participação significa cooperação e solução;

• Princípio 4: sustentabilidade: entender que a sustentabilidade é parte da

mudança;

• Princípio 5: Equidade, paridade social e de gênero;

• Princípio 6: Conhecimento para ação: todo conhecimento é necessário para

qualquer ação e mudança: cientifico, comunitário, metodologia quantitativa e

qualitativa.

• Exemplo para discutir: projeto Caruso: mineração na Amazônia.

• 12. Ecossanitarismo e metodologias participativas e

comunitárias:

• O trabalho numa comunidade com a perspectiva do

ecossanitarismo não tem receita pronta.

• Há várias metodologias participativas que contemplam várias

etapas do process: PRA, RAP, ERP e Bambu entre outras.

• Basicamente sugere-se o que segue:

• i) Escolher um tema e um território;

• ii) Buscar aproximação com a comunidade envolvida; buscar lideranças ou

stakeholders (líderes de grupos importantes na comunidade); comunicar o

interesse em desenvolver o projeto; não demonstrar pressa;

• iii) Conseguir informações básicas sobre a comunidade e sobre o possível

problema central;

• iv) Realizar o diagnóstico, levantamento rápido, avaliação preliminar de

forma participativa;

• v) Desenvolver uma metodologia de planejamento participativo;

• vi) Utilizar a Educomunicação, registrar em vídeo-documentário, cartilha, etc.

• vii) Perseguir os objetivos, registrar academicamente.

• 12. Ecossanitarismo e metodologias participativas:

Levantamento Participativo Rural - PRA

• O Levantamento Participativo Rural ou PRA (participatory rural

appraisal) é um método de trabalho de apreciação de problemas

comunitários que contempla diagnóstico, planejamento e ações.

• O PRA usa várias técnicas, duas delas vamos detalhar: o mapa

comunitário e a caminhada do transecto.

• 12. Ecossanitarismo e metodologias participativas:

Levantamento Participativo Rural – PRA: mapa participativo

• O mapa participativo ou comunitário é uma atividade

preferentemente feita a campo e consiste em marcar os aspectos

importantes da comunidade num mapa: casas, ruas ou vias,

matas, cursos d´água, aterros ou depósitos de lixo, etc. Será

sobre esta base que a discussão do projeto ocorrerá.

• Pode ser inteiramente desenhado ou ser completado sobre

uma base cartográfica (Google Earth ou Google Maps).

• A sugestão é que sejam indicados cursos d´água, vegetação,

depósitos de resíduos sólidos, pontos de despejo poluente, casas

cujos moradores informaram e distribuição das casas previstas no

projeto de forma geral.

• 12. Ecossanitarismo e metodologias participativas: Levantamento

Participativo Rural – PRA: mapa participativo: exemplo

• 12. Ecossanitarismo e metodologias participativas:

Levantamento Participativo Rural - PRA

• Caminhada em transecto é uma atividade de preenchimento de

planilha, com os detalhes já marcados no mapa: tipo de curso

d´água, tipo de mata, presença de animais, etc.

• Em outras metodologias é chamado de observações diretas.

• A seguir um exemplo de planilha para caminhada em transecto.

Recurso observado Detalhes Possível conflito

Acessos da comunidade (ruas,

passeios, calçadas)

Padrão das casas

Curso d´água (visão geral)

Mata ciliar

Mata interna

Animais na comunidade

Resíduos sólidos no terreno

Resíduos sólidos no curso d´água

Ponto de saída de esgoto

Banheiros externos

Outros (detalhar)

Planilha orientadora para caminhada em transecto

• 12. Ecossanitarismo e metodologias participativas:–

Avaliação rápida participativa e Estimativa rápida

participativa - RAP e ERP

• RAP (rapid assesssment procedures) e ERP (como é mais

conhecido no Brasil) são levantamentos com foco na saúde.

• Visam levantar problemas de saúde a partir de observações

diretas, documentação e entrevistas individuais com os

stakeholders.

• A etapa de planejamento comunitário e participativo é

fundamental nestes métodos.

• O RAP é mais etnográfico, aproximando-se dos estudos

antropológicos. Ambos preveem análises qualitativas das

entrevistas. Ambos preveem análises qualitativas das entrevistas.

Na ERP os questionários são semi-estruturados e simples.

• 12. Ecossanitarismo e metodologias participativas:– Avaliação

rápida participativa e Estimativa rápida participativa - RAP e

ERP – roteiro simples para entrevistas informais.

• Um exemplo de roteiro para avaliação inicial seria o que segue:

• Perguntar para moradores(as) em geral ou lideranças, também

chamadas de stakeholders:

• Quais os principais problemas da comunidade?

• Esta sanga (curso d´água) incomoda? Tem solução?

• O(a) senhor(a) aceitaria participar de uma iniciativa da UERGS,

trabalho comunitário para tentar achar estas soluções?

• Posteriormente em aula haverá o desenvolvimento do método

Bambu.

• 12. Ecossanitarismo e metodologias participativas:– o

Método Bambu

• O Método Bambu – construindo municípios saudáveis – é uma

metodologia de levantamento de problemas e planejamento de

ações especialmente desenhada para comunidades populares e

tradicionais (Víctora e Ruas Neto, 2013).

• O método Bambu tem como principais características: (i) a

fácil compreensão pelas lideranças comunitárias; (ii) a

viabilidade de execução nos locais de encontro das

comunidades por não exigir equipamentos eletrônicos; (iii) a

inserção numa dinâmica comunitária, com outras atividades de

grupo, evitando que o planejamento seja um momento

diferente e externo.

• Observar aspectos do manual.

• 13. Exercício em grupos.

• Vamos realizar um exercício de início de projeto de

ecossanitarismo.

• Mapa participativo;

• Caminhada em transecto;

• Em aula: desenvolver o método Bambu, como treinamento de

planejamento comunitário.

• 14. O vídeo comunitário.

• No atual projeto do professor, a etapa preliminar de diagnóstico

é seguida da fase de educomunicação com vídeo com imagens e

depoimentos. Consideramos válido para atrair stakeholders que

aceitam participar. A etapa de planejamento participativo será

com o Método Bambu.