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Princípios de Direito Tributário Internacional Clara Gomes Moreira

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Page 1: Princípios de Direito Tributário Internacional Clara Gomes Moreira

Princípios de Direito Tributário

InternacionalClara Gomes Moreira

Page 2: Princípios de Direito Tributário Internacional Clara Gomes Moreira

Qual é o objeto do Direito Tributário Internacional? Situações da vida, cujo caráter internacional envolva duas ou

mais ordens jurídicas dotadas de poder para tributar, conforme critério de conexão;

“Pense-se na tributação de uma empresa de navegação marítima, cuja sede social esteja no Panamá, cuja administração efetiva esteja em Londres, cujo capital social seja controlado por residentes dos Estados Unidos e cujos lucros advenham de tráfego marítimo realizado nas Ilhas gregas.” (XAVIER, Alberto. Direito Tributário Internacional no Brasil. Rio de Janeiro: Forense, 2010)

Dupla ou plúrima tributação: quando o elemento de conexão desencadeia a incidência ou aplicação da lei tributária interna de mais de um país.

Page 3: Princípios de Direito Tributário Internacional Clara Gomes Moreira

Princípios do Direito Tributário Internacional Princípio da Territorialidade;

Princípio da Universalidade;

Princípio da Não-Discriminação;

Princípio do “Efeito Negativo” dos Tratados.

Page 4: Princípios de Direito Tributário Internacional Clara Gomes Moreira

Critérios de Conexão X Princípios de Conexão Os critérios de conexão material e pessoal

fundamentam o poder tributário, uma vez que estabelecem um vínculo entre o fato da vida e o sistema jurídico; ao passo que os princípios de conexão da Territorialidade e da Universalidade determinam o alcance dessa prerrogativa;

Assim, tem-se que:1) Tributação com base na territorialidade - critério de

conexão material;2) Tributação com base na universalidade - critério de

conexão pessoal.

Page 5: Princípios de Direito Tributário Internacional Clara Gomes Moreira

Critérios de ConexãoCritério de Conexão Material ou Objetivo Relaciona-se com o fato jurídico tributário;

Ex.: Local do exercício da atividade, do pagamento da renda, da celebração do contrato, da situação dos bens e direitos;

Imposto de Renda (“IR”): O critério de conexão material ou objetivo é o local de consumação e de produção do rendimento tributável, ou seja, a fonte efetiva de renda;

(!) Lembrando que a renda é produto da força econômica de uma atividade produtiva relacionada com o próprio uso de capital, desenvolvida pelo trabalho humano ou decorrentes da aplicação conjunta de ambos.

Page 6: Princípios de Direito Tributário Internacional Clara Gomes Moreira

Critérios de ConexãoCritério de Conexão Pessoal ou Subjetiva Relaciona-se com a noção de residência ou domicílio

(permanência das indivíduos em um território), ou da nacionalidade;

Problema: A ausência de uniformidade desses conceitos jurídicos, importa, por vezes, na pluritributação de um mesmo indivíduo.

Page 7: Princípios de Direito Tributário Internacional Clara Gomes Moreira

Princípio da Territorialidade Noção de soberania de um ordenamento jurídico sobre um

determinado espaço territorial, especialmente, no que concerne à atividade tributária;

“Soberania tributária, significando o poder institucionalizado que coloca o Estado como sujeito da ordem mundial, proporcionando-lhe autonomia e independência na determinação dos fatos tributários e nos procedimentos de arrecadação e fiscalização dos tributos, nos termos das autolimitações de fontes originariamente internas e constitucionais, bem como de fontes internacionais.”(TÔRRES, Heleno Taveira. Princípio da Territorialidade e Tributação de Não-residentes no Brasil. Prestações de Serviços no Exterior. Fonte de Produção e Fonte de Pagamento. In: TÔRRES, Heleno Taveira (coord.). Direito Tributário Internacional Aplicado. São Paulo: Quartier Latin, 2003, p. 71-108.)

Page 8: Princípios de Direito Tributário Internacional Clara Gomes Moreira

Princípio da Territorialidade

Território é o espaço físico juridicamente delimitado sobre o qual o Estado exerce a sua soberania;

Territorialidade relacionada aos efeitos da norma jurídica tributária, no que se refere a sua eficácia no espaço;

O conceito de território fiscal coincide com aquele atribuído ao território propriamente dito, mesmo nas hipóteses de tributação com base em critério pessoal.

Page 9: Princípios de Direito Tributário Internacional Clara Gomes Moreira

Princípio da TerritorialidadeTerritorialidade Pura As leis tributárias internas se aplicam, exclusivamente, aos

fatos ocorridos no território da ordem jurídica a que pertencem, independentemente da localização do bem, ou da residência, domicílio e nacionalidade do sujeito passivo;

Não pode haver qualquer pretensão impositiva tributária sobre eventos ocorridos em território estrangeiro;

Não há norma tributária com eficácia ultraterritorial;

Ex.: O Brasil não pode tributar a renda de um maestro de nacionalidade alemã, residente na Áustria e que aufere a remuneração pela realização de concertos nos Estados Unidos.

Page 10: Princípios de Direito Tributário Internacional Clara Gomes Moreira

Princípio da TerritorialidadeTerritorialidade em Sentido Material Noção de vigência da norma tributário, ou seja, produção dos efeitos que lhe são

próprios: constituição do crédito tributário a ser exigido;

Há de se distinguir a atribuição de elemento de estraneidade para a localização dos elementos redituais*, da concepção de eficácia da lei no espaço;

Isto porque, na primeira hipótese, há tão-somente um efeito ultraterritorial na identificação do fato gerador (como os rendimentos percebidos no exterior por residentes brasileiros), sendo a incidência da norma restrita ao território nacional, bem como a obrigação tributária a ser formada. Por conseguinte, o crédito constituído será exigido sob os mesmos limites;

O Estado pode tributar seus residentes por eventos realizados no exterior;

A eficácia da lei para além dos limites territoriais consiste em imputação tributária alhures e, portanto, vedada, ao violar a soberania dos países.

* Formadores de um sistema específico.

Page 11: Princípios de Direito Tributário Internacional Clara Gomes Moreira

Princípio da TerritorialidadeTerritorialidade em Sentido Formal Noção de soberania, sob a acepção de que os Estados ao gozarem de

autodeterminação possuem, com exclusividade, o respectivo ordenamento jurídico, nos limites territoriais;

É vedada a aplicação de legislação alienígena;

Não pode o Estado estrangeiro promover ato atentatório à soberania de outro, por meio da persecução de pagamento de tributo, inclusive, sob a forma judicial ou administrativa de arrecadação, cobrança ou fiscalização, salvo acordos internacionais firmados entre os países-membros;

Pode o Brasil tributar os lucros auferidos por um residente no estrangeiro, porém não poderá executá-lo fora de seus limites territoriais;

É vedada a exigibilidade ou execução forçada de créditos tributários fora do território nacional. Mesmo porque nenhum Estado admitirá o exercício de atividade tributária in concreto por outro Estado.

Page 12: Princípios de Direito Tributário Internacional Clara Gomes Moreira

Princípio da TerritorialidadeTerritorialidade em Sentido Negativo Os órgãos estatais tem que aplicar, via de regra,

apenas as leis tributárias internas, não podendo desencadear os efeitos da norma estrangeira;

Admite-se, todavia, que a regra alienígena seja um pressuposto de aplicação da lei interna, para fins de definir questões prévias, como a qualidade de diplomata, a atribuição da nacionalidade ou a residência;

É vedada à lei estrangeira constituir crédito tributário.

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Princípio da TerritorialidadeTerritorialidade em Sentido Positivo

As leis tributárias internas aplicam-se, de modo generalizado, inclusive, aos estrangeiros residentes;

Requer-se que haja um mínimo de conexão.

Page 14: Princípios de Direito Tributário Internacional Clara Gomes Moreira

Princípio da TerritorialidadeTerritorialidade em Sentido Real Elementos materiais das situações da vida

Ex.: Local da situação dos bens, do exercício da atividade econômica, da fonte de produção, do pagamento de um rendimento, do estabelecimento permanente.

Page 15: Princípios de Direito Tributário Internacional Clara Gomes Moreira

Princípio da TerritorialidadeTerritorialidade em Sentido Pessoal Aspectos subjetivos do tributo, excluindo-se a

nacionalidade;

Ex.: Sede, domicílio, residência.

Page 16: Princípios de Direito Tributário Internacional Clara Gomes Moreira

Quadro Comparativo

Territorialidade em Sentido MaterialÂmbito de incidência espacial;Situações tributárias internacionais serão abrangidas por leis internas, conforme os critérios de conexão.

Territorialidade em Sentido FormalÂmbito de eficácia;As leis tributárias, apenas, são suscetíveis de execução forçada no território da ordem jurídica que integram.

Territorialidade em Sentido NegativoOs órgãos de aplicação do direito devem se pautar, exclusivamente, na lei tributária nacional.

Territorialidade em Sentido PositivoAs leis tributárias internas aplicam-se, de modo generalizado, no território nacional.

Territorialidade em Sentido RealElementos materiais das situações da vida.

Territorialidade em Sentido PessoalAspectos subjetivos do tributo.

Page 17: Princípios de Direito Tributário Internacional Clara Gomes Moreira

Princípio da Universalidade ou da Renda Mundial O Princípio da Universalidade permite que o Estado tribute fatos

alienígenas, desde que guardem qualquer relação com o território;

Origem: a globalização e o crescimento das relações econômicas internacionais, tornou a tributação pela territorialidade incapaz de tributar determinados fenômenos. Da mesma forma que o Estado almejava mais recursos para financiar seus crescentes gastos;

Os Estados queriam atingir fatos (rendas) produzidos por seus súditos em outros territórios;

Primeiro, países desenvolvidos, depois países em desenvolvimento.

Page 18: Princípios de Direito Tributário Internacional Clara Gomes Moreira

Princípio da Universalidade ou da Renda Mundial Interesse dos Estados de tributar os lucros auferidos por seu

residente (pessoa física ou jurídica) em investimentos no exterior;

Quatro fundamentos:1) Crescente movimentação de capital no cenário mundial;2) Combate à evasão fiscal e ao planejamento tributário

internacional;3) Necessidade de observar a progressividade da tributação;4) Manutenção da isonomia entre os residentes que investem em

território nacional e aqueles que optam por exercer atividade geradora de capital e renda em território estrangeiro;

*Alberto Xavier faz referência a um quinto fundamento: o desestímulo da exportação de capital.

Page 19: Princípios de Direito Tributário Internacional Clara Gomes Moreira

Princípio da Universalidade ou da Renda Mundial Não-residentes: Tributação nos limites territoriais

(critério material);

Residentes ou domiciliados: Tributados por eventos realizados no exterior (critério pessoal);

O Estado tributa todos os fatos jurídicos realizados por sujeitos que com ele mantenham vínculo de conexão pessoal (residência, domicílio ou nacionalidade), dentro ou fora do território, garantindo, assim, um alcance ultraterritorial às normas de direito tributário internacional.

Page 20: Princípios de Direito Tributário Internacional Clara Gomes Moreira

Princípio da UniversalidadeImposto de Renda Os rendimentos estrangeiros deverão estar inclusos

na base de cálculo do imposto, caso contrário, estar-se-ia atribuindo a esta hipótese alíquota inferior àquela devida pelos residentes que investem em território nacional, e nesse geram o crescimento econômico;

Respeito da isonomia e da capacidade contributiva

*Heleno Tôrres sustenta que, na hipótese de territorialidade pura, não haveria o respeito à isonomia e à capacidade contributiva

Page 21: Princípios de Direito Tributário Internacional Clara Gomes Moreira

Princípios de Conexão no Brasil De 1924 a 1939, às pessoas físicas aplicava-se o

princípio da territorialidade;Após a edição do Decreto-Lei nº. 1.168/39, às pessoas físicas aplicava-se o princípio da universalidade;

De 1924 a 1995, às pessoas jurídicas aplicava-se o princípio da territorialidade;Após a edição da Lei nº. 9.249/95, às pessoas jurídicas aplicava-se o princípio da universalidade.

Page 22: Princípios de Direito Tributário Internacional Clara Gomes Moreira

Regime Jurídico dos Não-Residentes Tributação com base na conexão material, a saber:

localização da fonte de produção dos rendimentos nos limites do território nacional;

Princípio da territorialidade pura: Impossibilidade de tributar os rendimentos produzidos no exterior;

Normalmente, há a retenção do imposto no momento em que a renda é produzida e disponibilizada ao beneficiário, considerando que eventual saída do não-residente do país, inviabiliza a sua cobrança.

Page 23: Princípios de Direito Tributário Internacional Clara Gomes Moreira

Regime Jurídico dos Não-Residentes Decreto nº 3.000/99

“Artigo 3º:  A renda e os proventos de qualquer natureza percebidos no País por residentes ou domiciliados no exterior ou a eles equiparados, conforme o disposto nos arts. 22, § 1º, e 682, estão sujeitos ao imposto de acordo com as disposições do Livro III (Decreto-Lei nº 5.844, de 1943, art. 97, e Lei nº 7.713, de 22 de dezembro de 1988, art. 3º, § 4º).”

Page 24: Princípios de Direito Tributário Internacional Clara Gomes Moreira

Regime Jurídico dos Residentes Residência: circunstância em que a pessoa jurídica ou

física se estabelece no território nacional e lá conduz sua atividade econômica;

Princípio da Universalidade: Não obstante os fatos jurídicos ocorram fora do território nacional, a vinculação do contribuinte pelo critério da residência viabiliza a coerção interna do sistema sobre ele.

Page 25: Princípios de Direito Tributário Internacional Clara Gomes Moreira

Princípio da Não-Discriminação

Base dos acordos de liberação de comércio e de integração econômica;

Determina a impossibilidade de atribuição de tratamento distinto a produtos originários dos Estados-membros, em relação aos similares nacionais.

Page 26: Princípios de Direito Tributário Internacional Clara Gomes Moreira

Princípio da Não-DiscriminaçãoMERCOSUL Tratado de Assunção

“Artigo 7: Em matéria de impostos, taxas e outros gravames internos, os produtos originários do território de um Estado Parte gozarão, nos outros Estados Partes, do mesmo tratamento que se aplique ao produto nacional.”

Page 27: Princípios de Direito Tributário Internacional Clara Gomes Moreira

Princípio da Não-DiscriminaçãoGeneral Agreement on Tariffs and Trade (“GATT”)“Article III: National Treatment on Internal Taxation

and Regulation[...]2.         The products of the territory of any contracting party imported into the territory of any other contracting party shall not be subject, directly or indirectly, to internal taxes or other internal charges of any kind in excess of those applied, directly or indirectly, to like domestic products. Moreover, no contracting party shall otherwise apply internal taxes or other internal charges to imported or domestic products in a manner contrary to the principles set forth in paragraph 1.”

Page 28: Princípios de Direito Tributário Internacional Clara Gomes Moreira

Princípio da Não-DiscriminaçãoUnião Européia (UE) Tratado de Roma de 1957

“Artigo 90: Nenhum Estado-Membro fará incidir, directa ou indirectamente, sobre os produtos dos outros Estados-Membros imposições internas, qualquer que seja a sua natureza, superiores às que incidam, directa ou indirectamente, sobre produtos nacionais similares. Além disso, nenhum Estado-Membro fará incidir sobre os produtos dos outros Estados-Membros imposições internas de modo a proteger indirectamente outras produções.”