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MORTE! NÃO À REFORMA DA PREVIDENCIA: Edição 18 FEV/2017 Ano 03 Brutais ataques ao povo, aos trabalhadores e às trabalhadoras EDITORIAL p.02

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MORTE!

NÃOÀ

REFORMADA

PREVIDENCIA:

Edição 18

FEV/2017

Ano 03

Brutais ataques ao povo, aostrabalhadores e às trabalhadoras

EDITORIAL p.02

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EX

PE

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EFevereiro 2017 - Ano 03

Comissão Nacional de Comunicação: Ricardo Costa, Ivan Pinheiro, Edmílson Costa, Otávio Dutra, Roberto

Telefax.: (21) 2262-0855 e (21) 2509-3843.

Diagramação: Mauricio Souza.

Brutais ataques aopovo e aos trabalhadores

Governo Temer acelera o retrocesso na legislação social

tação de forma célere. Esse conjunto de medidas só é possível devido ao apoio que o governo golpista recebe do Legis-lativo, do Judiciário e da mídia burguesa, que tudo fazem para favorecer e justifi-car os interesses dos banqueiros, do agro-negócio, das multinacionais, dos políti-cos que lhes dão sustentação e do Estado repressor. Assistimos à criminalização dos movimentos populares, com uma esca-lada crescente da repressão. A violência do Estado atinge drasticamente as comu-nidades proletárias, em especial os jovens negros de baixa renda, as comu-nidades indígenas, quilombolas, traba-lhadores rurais, LGBTT etc. Medidas semelhantes foram adotadas em vários países da Europa, com resultados catastróficos para seus povos. Anuncia-se a entrada do Brasil na Idade das Trevas, a não ser que os movi-mentos populares, dos trabalhadores, dos estudantes intensifiquem e deem início a um novo ciclo de lutas e conquis-tas, já que os processos eleitorais e polí-ticos da chamada Nova República se mostraram incapazes de dar seguimento às conquistas consagradas na Constitui-ção de 1988. É urgente a unidade de todas as organizações representativas dos trabalhadores e movimentos popula-res em torno de um grande Bloco de Lutas Anticapitalista.

com restrições de investimentos, cortes salariais e de ascensão funcional. O quar-to e o quinto passos são as contrarrefor-mas trabalhista e previdenciária. A primeira prevê, na prática, o fim da Consolidação das Leis do Traba-lho (CLT), com a prevalência do negoci-ado sobre o legislado: um acordo feito entre uma empresa e seus funcionários pode jogar por terra todas as conquistas obtidas pelos trabalhadores ao longo de mais de um século de lutas, que são garantidas em lei. Além disso, a amplia-ção da terceirização reduzirá mais direi-tos, cortará salários, aumentará jornadas de trabalho e o desemprego, que já atinge mais de 12 milhões de pessoas, segundo os critérios do IBGE. Voltaremos aos primórdios da revolução industrial, com a maximização da exploração da mão de obra. A reforma previdenciária pre-tende desvincular o reajuste dos aposen-tados do reajuste do salário mínimo, aumentar a idade mínima para a aposen-tadoria e o valor da contribuição dos trabalhadores da ativa, unificar servido-res públicos e trabalhadores da iniciativa privada em um mesmo plano de aposen-tadoria, com perdas para ambos os seto-res. Junto a isso há os ataques aos benefi-ciários do auxílio-doença, invalidez etc. Várias dessas ações estavam previstas durante o governo Dilma, que enfrentava resistências para sua implan-

Os primeiros passos do ilegíti-mo governo Temer demonstram cabal-mente o interesse da burguesia em se livrar do governo petista e aprofundar mais rapidamente os ataques aos direitos sociais e trabalhistas. A burguesia brasi-leira tem pressa em ampliar ao máximo o grau de exploração sobre os trabalhado-res, a fim de recuperar as taxas de lucro combalidas pela crise do capital. A primeira medida foi retirar a obrigatoriedade de participação da Petrobrás na exploração do pré-sal, entregando-o para as multinacionais, além da privatização da BR Distribuido-ra e da Liquigás. O segundo passo foi o pacote que incluiu a privatização de cinco hidrelétricas, sete distribuidoras de energia, parte da Companhia de Pes-quisa e Recursos Minerais, três empre-sas de saneamento, três ferrovias, dois terminais portuários, quatro aeroportos e duas rodovias, além da loteria instantâ-nea. O pacote prevê o financiamento de R$ 30 bilhões por parte do BNDES e da Caixa, via fundo de investimentos do FGTS, para assegurar a entrada de R$ 24 bilhões aos cofres públicos! Pagamos seis bilhões a mais para a iniciativa pri-vada ficar com patrimônio público e setores estratégicos da economia. O terceiro passo foi o congela-mento dos recursos destinados à educa-ção e a saúde através da PEC 55, que afeta os serviços e os servidores públicos

EDITORIAL

O Poder Popular, um jornal a serviço das lutas populares e da Revolução Socialista.

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do pensionista, caso este também seja aposentado, será reduzida em 50%. O aumento da idade da aposentadoria para 65 anos para mulheres, professores do ensino médio e fundamental e traba-lhadores rurais é absurdo, pois não leva em consideração suas características específicas: a tríplice jornada de trabalho da mulher e as exigências das condições de trabalho de professores e trabalhado-res rurais. Também os servidores públi-cos serão prejudicados, pois serão inclu-ídos no regime geral da Previdência, apesar de terem contratos diferenciados, não contarem com FGTS e contribuírem sobre o salário bruto, ao contrário das demais categorias. A proposta chega ao ponto de prever que, para conseguir a aposentado-ria integral, serão necessários 49 anos de contribuição, o que implica em começar a trabalhar e contribuir com apenas 16 anos de idade! Outro ponto cruel da contrarre-forma é o adiamento da idade para 70 anos para recebimento do benefício daqueles com renda familiar per capita inferior a um quarto do salário mínimo. Os mais vulneráveis sempre são os mais prejudicados. São vários os artigos da PEC 287 que prejudicam os trabalhadores, aposentados e pensionistas. Essa pro-posta vem em conjunto com a proposta de alteração da legislação trabalhista, cortando inúmeros direitos e favorecen-do os patrões. São duas faces da mesma direção política de um governo total-mente subserviente ao capital.

As propostas de mudanças na Previdência apresentadas pelo governo golpista visam, acima de tudo, garantir o pagamento da dívida pública, criada pelos governos burgueses para benefici-ar o sistema financeiro. Querem transfe-rir recursos da Seguridade Social, da qual faz parte a Previdência, para o paga-mento dessa dívida, artificialmente inchada para favorecer banqueiros. Ao mesmo tempo, querem fortalecer os planos de previdência privada, operados por bancos e seguradoras. A contrarreforma da Previdên-cia Social está em tramitação no Con-gresso através da PEC 287 (Proposta de Emenda Constitucional), enviada pelo ilegítimo governo Temer. Seu pressu-posto é de que existe déficit na Previdên-cia, o que não corresponde à realidade. A Previdência faz parte da Seguridade Social, que é composta pela própria Pre-vidência, mais a Saúde e a Assistência Social. Seu superávit em 2015 foi de R$ 11,2 bilhões, ao contrário do alegado déficit de R$ 85,8 bilhões alardeado pelo governo em sua falsa propaganda. Os recursos da Seguridade Soci-al advêm das contribuições dos salários dos trabalhadores, dos lucros das empre-sas através da CSLL (Contribuição Soci-al sobre o Lucro Líquido) e de toda a sociedade via Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social). Também são fontes de receita as taxa-ções sobre as importações de bens e ser-viços e sobre as loterias, os concursos de prognósticos. A soma desses recursos de 2010 a 2015 totalizou superávit de R$

Reforma da Previdência sófavorece o sistema financeiro

Mudanças na aposentadoriadestroem direitos dos trabalhadores

UNIDADE CLASSISTA

357,8 bilhões. Daí o interesse do sistema financeiro e a subserviência do governo aos grupos capitalistas. Outro fator a considerar são as contribuições dos próprios trabalhado-res, pois, com cerca de 12 milhões de desempregados e 64 milhões de subem-pregados, obviamente os recursos arre-cadados são menores do que poderiam. Ou seja, em vez de promover emprego e renda, o bem-estar social, o ilegítimo governo opta por beneficiar o sistema financeiro e prejudicar a população.Propostas indecentes

As propostas contidas na contrarreforma da Previdência prejudicam aposentados, pensionistas, trabalhadores na ativa e jovens que integrarão o mercado de tra-balho. Os aposentados não terão mais seus benefícios (na verdade, o retorno das suas contribuições) em paridade com os salários, já que terão correção apenas pela inflação do ano anterior, enquanto os salários, dependendo das categorias em luta, podem alcançar rea-justes acima da inflação. Os pensionistas também serão prejudicados, já que, com o falecimento do beneficiário, a receita

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Crise do capital provocadesemprego e desesperança

Um em cada cinco jovens na América Latina não estuda nem trabalha

JUVENTUDE

nômica dos países da América Latina, que não alteraram substancialmente suas estruturas internas, ainda muito depen-dentes dos capitais externos e da venda de commodities. A desvalorização des-ses produtos no mercado internacional significou a perda de um dos principais pontos de sustentação de políticas socia-is compensatórias, o que gradativamente desgastou o apoio popular aos governos. Tudo isto só faz demonstrar o fracasso do modelo de “governança” pautado numa perspectiva de consenso ampliado, em que o caso mais emblemá-tico foi o brasileiro, durante os governos petistas, os quais, por meio de uma polí-tica de conciliação de classes, buscavam integrar de modo apassivador os setores populares por meio do consumo. Gover-nos puro sangue da burguesia, como os de Macri na Argentina e Temer no Brasil adotam agora medidas antipopulares, visando à destruição das legislações sociais e usando de coerção aberta para garantir a ordem sob um regime que, para se manter, terá que aumentar a exploração de todos os trabalhadores. Apesar dos ataques do imperia-lismo e da burguesia aos trabalhadores e à juventude em toda América Latina, as mobilizações populares, as lutas lidera-das por estudantes e jovens proletários em todo o continente são as únicas espe-ranças de superação do quadro atual tão adverso, desde que sejam abandonadas as ideias e práticas de colaboração com os representantes do capital e se aponte claramente a alternativa política no rumo do poder popular e do socialismo. Afinal, é impossível humanizar o capita-lismo.

como a possuir uma grande vantagem sobre a Europa, os EUA e outras regiões mais desenvolvidas: é muito jovem, pois 1/4 da sua população tem entre 15 e 29 anos. No entanto, quase 30% desta mesma população vive na pobreza, afe-tando especialmente os jovens, que não têm boas expectativas quanto ao seu futuro. Além disso, durante a última década, menos de um terço dos jovens latino-americanos com idade entre 25 e 29 anos recebeu alguma educação em faculdades, universidades e institutos técnicos de nível superior. Um terço deles – 43 milhões – não completou o ensino secundário e não cursa escola alguma. Por conta deste quadro de desesperança, o relatório indica a des-confiança da juventude nos processos eleitorais das autoproclamadas demo-cracias burguesas.

A CRISE ECONÔMICA

E A ONDA CONSERVADORA

A conjuntura econômica contri-buiu para o desencadear de crises políti-cas e o avanço do conservadorismo. Após anos de liderança dos chamados “governos progressistas”, que, em dis-tintos modos e grau de profundidade, obtiveram avanços de algumas pautas de reivindicações populares, no qual o caso venezuelano foi, sem dúvida alguma, o mais expressivo, o continente vive agora um momento de retrocesso profundo, com governos cada vez mais alinhados ao imperialismo e aos monopólios. O alto grau de instabilidade política revela a grande debilidade eco-

Segundo a OIT (Organização Mundial do Trabalho), no início dessa década existiam aproximadamente 250 milhões de desempregados em todo o mundo, o que corresponde a cerca de 10% da força de trabalho. O agravamen-to da crise mundial do capitalismo, com reflexos mais intensos nos países subde-senvolvidos, empurrou, muito recente-mente, 32 milhões de jovens latino-americanos entre 15 e 29 anos para o desemprego. Hoje, um em cada cinco jovens não estuda nem trabalha na Amé-rica Latina.

Tais números foram apresenta-dos pelo relatório “Perspectivas Econô-micas da América Latina”, da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), uma organização internacional defensora da economia de livre mercado, composta por representações de países com eleva-do PIB per capita, ou seja, os ditos países desenvolvidos no âmbito do sistema capitalista. A pesquisa desta entidade insuspeita, segundo critérios burgueses, ainda aponta que cerca de 64% dos jovens latino-americanos vivem em lares pobres e “vulneráveis”. A América Latina é apontada

NA AMÉRICA LATINA,

32 MILHÕES DE JOVENS

ENTRE 15 E 29 ANOS ESTÃO DESEMPREGADOS; 64% DOS JOVENS VIVEM NA POBREZA; MENOS DE UM TERÇO DOS

JOVENS ENTRE 25 E 29 ANOS POSSUI EDUCAÇÃO DE

NÍVEL SUPERIOR.

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O DESMONTE DA UNIVERSIDADE PÚBLICA

Privatizações, terceirizações, ataques aos direitos dos trabalhadorese da população: o caminho da mercantilização da educação

EDUCAÇÃO

ciamento Estudantil (Fies) e também concentra 40% das matrículas de Ensino à Distância (EAD) do país. A Kroton que já era a maior empresa em serviços de educação privada no mundo em valor de mercado, bem mais à frente da segunda colocada, a norte-americana Graham Holdings, se tornará ainda maior. Desde o início desta década, a Kroton foi impulsionada pela política educacional do governo federal, que prioriza o investimento de dinheiro público em educação privada. Entre 2010 e 2014, o governo repassou mais de R$ 30 bilhões para os tubarões do ensino por meio do Fies, e a Kroton é a maior beneficiária. O orçamento anual de investimentos em todas as Instituições Federais de Ensino (IFEs) não ultrapas-sou R$ 2,59 bilhões em 2014. Universi-dades públicas em todo o país recebem cada vez menos investimentos e veem seus orçamentos serem reduzidos, com ameaças inclusive de fechamento de instituições tradicionais como a Univer-sidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Uma nova onda de ocupações estudantis, manifestações e greves docentes é necessária para resistir ao avanço da mercantilização, concentra-ção e centralização do capital na educa-ção superior. É preciso avançar na luta pela construção do Projeto Classista e Democrático de Educação e da universi-dade popular como contraponto à uni-versidade do capital.

res e as trabalhadoras terceirizados, com salários aviltantes e péssimas condições de trabalho. Se os investimentos efetua-dos pelo Reuni não foram capazes de promover uma expansão com qualidade, a situação tende a piorar devido aos cor-tes orçamentários anunciados a partir deste ano.

Em 2016, efetuou-se a compra da universidade Estácio Participações S.A pela Kroton Educacional S.A, por um montante de cerca de R$ 5,5 bilhões. Esta empresa multinacional da educa-ção, que antes atuava nos mercados de ensino presencial das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país, com as marcas Anhanguera, Fama, LFG, Pitá-goras, Unic, Uniderp, Unime e Unopar, passa a ter presença nas regiões de atua-ção da Estácio, como o Nordeste e alguns estados do Norte. Com esta aqui-sição, a Kroton passa a reunir 1,6 milhão de estudantes, sendo 60% destes presen-ciais matriculados pelo Fundo de Finan-

Os ataques ao ensino universitá-rio público e gratuito se aprofundaram no governo Temer. A Câmara dos Depu-tados aprovou o texto-base da proposta de emenda à Constituição (PEC nº 395/14) que permite a cobrança, pelas universidades públicas, de mensalidade para cursos de extensão, pós-graduação lato sensu e mestrados profissionais. Fica mantida, por enquanto a gratuidade nos cursos de graduação, residência na área da saúde e cursos de formação pro-fissional na área de ensino. A PEC altera o artigo nº 206 da Constituição para não promover a extensão do princípio da “gratuidade do ensino público em esta-belecimentos oficiais" aos casos de pós-graduação, cursos de extensão e mestra-do. Há também uma proposta de cobrança de matrículas nas universida-des públicas de autoria do Senador Bispo Crivella, recentemente eleito pre-feito do Rio de Janeiro, através do proje-to de lei nº 782/2015. Com o pretexto de que estudantes de famílias abastadas contribuam de acordo com a sua renda, o projeto pretende instituir, gradualmente, o pagamento de matrícula nos cursos universitários. A situação das universidades federais vem se agravando nos últimos anos. Já em 2015, com as três rodadas de ajustes fiscais promovidas pelo governo Dilma sob o ministério Levy, grandes universidades federais fecharam as por-tas por tempo determinado por não terem recursos para pagar os trabalhado-

O processo de centralização do capital como investimento

privado na educação continua a pleno vapor. No mercado de empresas de educação priva-

da, de 2007 para cá, foram mais de 170 fusões e aquisi-ções, com um volume movi-

mentado de cerca de

R$ 13,77 bilhões.

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chama Real, na Inglaterra, Libra, em Portugal, Euro, e assim por diante. Num mesmo país o dinheiro pode mudar de nome, como já aconteceu muitas vezes no Brasil e nos países da zona do Euro. Em Portugal, até o ano 2000, o dinheiro se chamava Escudo, na Espanha era Peso, na França era Franco. O nome que o dinheiro recebe, por si só, não tem importância. O que importa é a relação de valor que se estabelece entre as dife-rentes moedas, ou seja, o quanto cada unidade de uma moeda representa de riqueza, de dinheiro.

As funções da moeda

A primeira e mais antiga função da moeda é ser intermediária de troca. Para facilitar as trocas, desde os tempos mais remotos, escolheu-se uma merca-doria, por exemplo, o sal, o milho, o arroz, o cobre, a prata, o ouro, etc. para ser intermediária nas trocas. Mesmo hoje, quando usamos a moeda de papel ou o cartão de débito, para nós, trabalha-dores, a moeda é apenas um intermediá-rio de troca, pois nós vendemos nosso trabalho em troca de um punhado de moedas e com essa moeda compramos comida, roupas, aluguel, transporte, etc. Nós passamos a vida toda trocando nossa força de trabalho por tudo aquilo que necessitamos para sobreviver, mas

de moeda que será usada para comprar os bens necessários para a sua sobrevi-vência. A vida de todos e do próprio capi-talismo, obrigatoriamente, passa pelo mercado, pela troca, e, em consequên-cia, pela moeda.

As diferenças entremoeda e dinheiro

Moeda, tão cobiçada por todos, tem diferentes funções na nossa socieda-de. É preciso entender a diferença entre dinheiro e moeda, o que não chega a ser tão complexo: dinheiro é a forma mais abstrata da riqueza, ou seja, no capitalis-mo, como o objetivo da classe dominan-te é a acumulação permanente do capital, para ela, não interessa a forma material da riqueza, não interessa acumular coi-sas, e sim, capital. Portanto, o dinheiro é a riqueza desprovida de suas formas corpóreas. Por exemplo, um carro é uma riqueza produzida cuja função é auxiliar a locomoção das pessoas, mas, para os donos da fábrica de carros, não interes-sam os carros em si, interessa apenas o quanto de dinheiro eles receberão com a venda dos carros. Dinheiro, portanto, é a riqueza em sua forma mais geral, univer-sal. Moeda é o nome que o dinheiro recebe em cada nação, é a nacionalidade do dinheiro. No Brasil, o dinheiro se

O número anterior de O Poder Popular trouxe o primeiro artigo de uma série que pretendemos apresentar para aprofundar a compreensão das verdadei-ras causas da crise capitalista. Nele, apre-sentamos os motivos para pôr fim à inflação e os fundamentos do Plano Real. Nesse artigo, pretendemos apro-fundar o debate sobre a necessidade de combater a inflação para, a partir daí, observar como a dívida pública é impor-tante para a classe dominante. Compreender a economia não é difícil, pois economia é o estudo do pro-cesso de produção e das relações sociais de produção. Vale dizer: o que se produz, como se produz, onde se produz, quais são as técnicas de produção e, funda-mentalmente, quem produz e quais as relações que são estabelecidas para se produzir. Por exemplo, numa sociedade escravista antiga, os escravos produziam tudo o que era necessário para a existên-cia daquela sociedade e, obviamente, a relação entre a classe dominante e os trabalhadores era a relação escravista, portanto, os trabalhadores eram uma propriedade dos senhores. Não há troca entre um escravo e seu senhor. Na sociedade capitalista, a rela-ção social de produção é o assalariamen-to, ou seja, os trabalhadores produzem, mas, como são formalmente livres, rece-bem em troca da força de trabalho vendi-da uma quantidade de dinheiro em forma

As verdadeiras causas dacrise econômica e do chamado

“desequilíbrio scal” no Brasil – PARTE 2

ECONOMIA

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relação aos bens produzidos, ou seja, se há inflação, a riqueza capitalista que está na forma de moeda também perde valor. Mas não só essa riqueza perde valor: como o capital investido na produção é registrado na forma de moeda, os papeis que representam essa propriedade do capital também perdem valor. Por exem-plo, um capitalista que investiu seu dinheiro (R$ 1 milhão) em ações de uma empresa possui, nominalmente, uma parte da empresa. No entanto, essa parte está expressa em moeda e, se houver inflação, não há correção monetária dos preços das ações; assim, haverá perda real para esse capitalista, mesmo que a empresa dê lucro. Como a dominância do capita-lismo atual é dada pelo capital financei-ro, todos os instrumentos que esse capi-tal possui para se apropriar da mais-valia produzida na sociedade estão denomina-dos em moeda. Por isso, conter a inflação é sua principal preocupação. A crise, o ajuste fiscal, as medi-das econômicas e políticas adotadas estão relacionadas com instrumentos utilizados para que, tanto o dinheiro, quanto a moeda não sofram qualquer tipo de avaria. Foi necessário, inclusive, criar um Banco específico para cuidar desse assunto. O Banco Central não é como qualquer Banco e sua atuação é fundamental, tanto para manter e prote-ger a moeda, quanto para fazer com que todo o sistema monetário e financeiro, além do próprio sistema produtivo, sobreviva às crises que o processo de produção capitalista cria por suas própri-as contradições. No próximo número apresenta-remos as funções do Banco Central, como é sua atuação para a política mone-tária e como afeta a dívida pública.

A quarta função da moeda é tipicamente capitalista, é ser meio de pagamento, e essa função é a mais complicada de se entender, mas é a mais importante para o sistema do capital. A forma mais simples de definir essa função da moeda seria dizer que, como meio de pagamento, a moeda permite saldar qualquer dívida em qualquer momento, porém, não é assim tão simples. Como meio de paga-mento, a moeda permite deslocar, no tempo, as trocas. Sem a moeda, a troca – e todo processo de produção – só pode ser imediata, ou seja, trocar uma coisa por outra coisa, produzir um objeto para satisfazer uma necessidade imediata; no máximo, pode-se armazenar esse objeto produzido para trocar no futuro. Com a moeda, o sistema capitalista pode ligar o presente ao futuro. Qualquer contrato feito no mercado, cujo vencimento não é imediato, deve ter seus valores expres-sos em moeda e esta, como meio de paga-mento, será o mecanismo de saldar esse contrato. Uma pessoa que vende sua força de trabalho para outra faz um con-trato, mesmo que seja um contrato “de boca”. Essa pessoa efetua o trabalho e, só no futuro, receberá o pagamento (em moeda) correspondente. Um capitalista pode comprar um título da dívida públi-ca cujo vencimento será depois de um ano; tanto esse título quanto os juros que serão pagos – no futuro – estarão deno-minados em moeda.

O combate à inação

Se para os trabalhadores a moeda serve para adquirir coisas que são necessárias para sua sobrevivência, para os capitalistas ela é muito mais do que isso. Como o objetivo dos capitalistas é acumular capital (de preferência na forma de dinheiro, a forma mais abstrata da riqueza), se a moeda perde valor, em

essa troca não é direta, ela passa por um intermediário que é a moeda. No entan-to, no capitalismo, a posse da moeda representa um direito sobre uma riqueza real, quer dizer, o possuidor da moeda pode trocá-la por qualquer produto.A segunda função da moeda é ser unida-de de conta. Por essa função, o valor das mercadorias é expresso por uma quanti-dade de moeda. É importante saber que o valor das mercadorias não é definido pela moeda, mas ganha visibilidade através dela. O valor das mercadorias depende da quantidade de trabalho huma-no socialmente necessário para sua pro-dução; no entanto, no mercado, esse valor está escrito em moeda. Por exem-plo, uma toalha de renda feita à mão pelas rendeiras do Ceará custa R$ 150,00, e uma toalha do mesmo tama-nho, mas de renda feita à máquina, custa R$ 35,00. Como toalhas, as duas são iguais e servem para a mesma coisa, no entanto, a primeira deu muito mais tra-balho para ser feita, por isso vale mais, enquanto a segunda deu muito menos trabalho, e vale menos. Mas os preços das toalhas não foram expressos em trabalho e sim em Reais (Moeda). Essa função da moeda é fundamental para o capitalismo porque, ao mesmo tempo em que encobre o trabalho, o verdadeiro responsável pela criação da riqueza, permite estabelecer um sistema de trocas universal. A terceira função da moeda é ser reserva de valor. A moeda em si não tem valor (é apenas um pedaço de papel pin-tado ou um número registrado na conta corrente de alguém), o que tem valor são as coisas, as riquezas produzidas pelo trabalho humano. No entanto, como no capitalismo tudo passa pela troca, uma pessoa pode manter sua riqueza na forma de moeda e, assim, a qualquer momento, pode adquirir uma riqueza real ou qualquer bem que desejar. Nós, trabalhadores, dificilmente consegui-mos guardar um pouco de moeda, mas se assim fazemos é porque sabemos que, a qualquer momento, podemos precisar de um remédio, ou de alguma coisa não prevista, e a moeda permite comprá-la. Entretanto, para os capitalistas, manter seu capital na forma de moeda é impor-tante para aproveitar o melhor momento para investir ou especular e, assim, ampliar sua riqueza.

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Rubin e Henry Paulsen foram secretári-os do Tesouro dos EUA nos governos Clinton e Obama, respectivamente. Ambos são do Goldman Sachs, assim como Steve Mnuchin, secretário de Donald Trump. Não é por acaso que a Europa e os EUA se encontram em crise.O Banco Central dos EUA (Federal Reserve) é composto por 12 bancos cen-trais regionais, cujos principais acionis-tas são os Rothschild, Warburg Bank, Lehman Brothers, Lazard Brothers, Kuhn Loeb Bank, Israel Moses Seif Bank, Goldman Sachs e JP Morgan Chase Bank. Ou seja, alguns dos maio-res bancos privados controlam a política monetária e a econômica do país mais rico do mundo. Da mesma maneira, controlam o Banco Central da Europa, da Inglaterra, do Japão e da maioria dos países, inclusi-ve do Brasil. Não à toa, fazem a mídia empresarial e políticos corruptos defen-derem a “autonomia dos bancos centra-is”, mera cantilena para poder utilizar essas instituições de acordo com seus interesses.

Histórico

Por trás de todos esses bancos está o Bank for International Settlements (BIS), o Banco de Pagamentos Interna-cionais. Criado em 1930 pelos bancos da Inglaterra e da Alemanha, teve como primeiro presidente o banqueiro Gates McGarrah de Rockefeller.É uma instituição única, sediada na Suí-ça, protegida por tratados internacionais,

Os bancos são os verdadeiros donos do mundo. Controlam o sistema financeiro de cerca de 200 países, as principais empresas de petróleo, de mine-ração, de commodities em geral. Impõem e depõem governos, usam a mídia empresarial de acordo com seus interesses.Os 28 maiores bancos do mundo têm mais recursos que as dívidas públicas da maioria dos países juntos, algo em torno de US$ 50 trilhões. Concentram 90% dos ativos financeiros bancários, apesar de existirem milhares de bancos planeta afora. A gestão dos derivativos feita pelos bancos – operações futuras – representa cerca de US$ 700 trilhões, o equivalente a dez vezes o PIB mundial. Ao mesmo tempo, a movimentação cam-bial é de US$ 6 bilhões diários, na qual apenas cinco bancos controlam 51% do mercado. É o chamado capital fictício.Para conseguir tanto dinheiro, os bancos utilizam-se das estruturas de poder dos países capitalistas, cujos sucessivos governos lhes são subservientes. Assim, Mário Draghi, presidente do Banco Cen-tral Europeu e presidente do Grupo de Governadores e Chefes de Supervisão do Banco de Pagamentos Internacionais (BIS, da sigla em inglês), foi vice-presidente do Goldman Sachs Europa. Mario Monti, também italiano, primei-ro-ministro de seu país entre 2011 e 2013, foi conselheiro internacional do Goldman Sachs (2005). Já Luís de Guin-dos, ex-ministro da Economia da Espa-nha, foi do Lehman Brothers. Robert

INTERNACIONAL

Os donos do mundo

fora do alcance de qualquer governo, política monetária ou controle. Tem apenas 140 clientes, mas lucra bilhões de dólares anualmente, totalmente livres de impostos. É o Banco Central dos bancos centrais, detém 10% das reservas mone-tárias de cerca de 80 bancos centrais mundiais e do FMI, entre outras. É con-trolado pelas oito instituições mais pode-rosas do planeta: Goldman Sachs, Roc-kefellers, Lehmans e Kuhn Loebs (Nova Iorque), Rothschilds (Paris e Londres), Warburgs (Hamburgo), Lazards (Parise Israel Moses Seifs (Roma). São os ver-dadeiros donos do mundo. Cabe destacar que essas institui-ções agem estrategicamente. Assim, em 1944, quando já se delineava a derrota da Alemanha na II Guerra Mundial, firma-ram o Acordo de Bretton Woods, que fundou o FMI, o Banco Mundial e esta-beleceu o dólar como moeda de troca do sistema financeiro internacional, com a garantia de que US$ 35 equivalessem a uma onça troy de ouro (unidade de peso equivalente a 31 gramas). Em 1971, o ex-presidente dos EUA, Richard Nixon, acabou com a garantia do dólar através do ouro. Atualmente, apenas Cuba, Coréia do Norte e Irã têm bancos centra-is não atrelados ao sistema financeiro mundial, dominado pelos grandes ban-cos privados. Isso explica o ódio da mídia empresarial a esses países. As informações contidas nesta matéria foram obtidas em diversos tex-tos divulgados amplamente na internet, portanto de domínio público.

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em 10% do PIB mundial. Contribuem para isso o modelo biologicista, que traz o curativismo para o centro de suas ações, necessitando para tal a incorpora-ção e utilização não racional de novas tecnologias, o hospital como local privi-legiado das ações em saúde, a medica-mentalização da sociedade, tudo para garantir altos lucros ao complexo médi-co-hospitalar-farmacêutico. No atual momento do processo de acumulação capitalista, o avanço sobre o fundo público constitui o princi-pal movimento do capital na consolida-ção de seus interesses. A proposta de Cobertura Universal de Saúde apresen-tada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) representa a tentativa de legiti-mação desse processo, ao reservar ao Estado a responsabilidade somente por aqueles que não podem custear seus cuidados, cabendo, aos demais, recorrer à iniciativa privada para o provimento das ações em saúde. No Brasil, os chamados “Novos Modelos de Gestão” (Organizações Sociais, Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, Serviço Social Autônomo) aprofundam a privatização do sistema público de Saúde, desrespon-sabilizando o Estado da execução dos serviços e submetendo a população à lógica do mercado. O setor privatista recebe apoio escancarado dos governan-tes burgueses, conquistando, inclusive, espaço para investimentos do capital internacional em setores da saúde.

túrbios mentais, associados também às exigências de um estilo de vida que não encontra condições para sua satisfação. O estilo de vida imposto à popu-lação em geral trouxe novos problemas de saúde, como a obesidade, doenças crônico-degenerativas, neoplasias, etc., que passaram a coexistir com aquelas ainda não superadas, como as doenças infectocontagiosas. Os impactos disso para a classe trabalhadora são ainda mais gritantes, uma vez que não encontram a retaguarda de um sistema de saúde capaz de resolver os problemas. Outros processos inerentes à atual fase do capitalismo, como a utiliza-ção do espaço urbano para a valorização do capital e a ocupação desordenada das cidades, são responsáveis pela piora da qualidade de vida, ao empurrar os traba-lhadores para áreas mais distantes, des-providas de infraestrutura necessária de transporte, escola, saneamento básico, condições dignas de moradia, etc, o que também contribuiu para a difusão de novas doenças transmitidas por vetores (dengue, chikungunya, zika vírus). No campo, a utilização cada vez maior de agrotóxicos para a produção de alimentos, nos moldes do modelo empresarial do agronegócio, vem a cada dia trazendo mais veneno à mesa dos trabalhadores, com repercussões catas-tróficas. Ao lado de tudo isso, a saúde cumpre um papel importante para o pro-cesso de acumulação capitalista: os gas-tos mundiais com saúde são estimados

Nos diversos momentos da his-tória da humanidade o conceito de saú-de, a compreensão do processo de adoe-cimento, os perfis patológicos e as for-mas estruturadas de cuidado variaram de acordo com o grau de desenvolvimento das forças produtivas (conhecimento, nível de desenvolvimento tecnológico e meios disponíveis), das relações sociais de produção hegemônicas na sociedade e dos elementos da superestrutura deles decorrentes.

Nas sociedades capitalistas, os processos de adoecimento da classe trabalhadora são condicionados às ativi-dades produtivas desempenhadas e a outros aspectos da vida, permeados pelas contradições criadas pelo sistema.Não só a saúde física dos indivíduos se encontra comprometida com o processo de exploração a que está submetida a classe trabalhadora. Cada vez mais fica evidente o quanto que este processo contribui para o aparecimento e recru-descimento de inúmeras doenças e dis-

A indústria da doença no capitalismo

SAÚDE PÚBLICA

Na contramão das privatizações e da indústria capitalista da doença está o movimento por uma Saúde

pública 100% estatal, de qualidade e sob o controle

dos trabalhadores, luta que deve ser abraçada por todas as organizações populares.

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O Bloco Comuna que Pariu! se mobiliza para mais um carnaval. Depois de cantar “O Petróleo tem que ser nos-so!”, “Somos todos MST”, homenagear Oscar Niemeyer, destacar a luta das mulheres e dos negros, agora o Comuna apresenta a luta da população LGBTT. Fundado em 2009 pela UJC do Rio de Janeiro, o Comuna que Pariu! se tornou um forte fenômeno cultural do Rio de Janeiro, extrapolando o carnaval e se apresentando em atividades cultura-is, atos políticos, passeatas e manifesta-ções. Reorganizado a partir de 2013 pela Célula de Cultura do PCB-RJ, o Bloco passou a ter sua própria bateria, compos-ta por militantes de diversos grupos, setores e ativistas progressistas, socialis-tas e comunistas. Publicamente assumi-do como um bloco revolucionário do proletariado e como um bloco do PCB, o Comuna se tornou uma ampla referência de luta cultural, não apenas no Rio, mas em todo o país. Hoje militantes do PCB e simpatizantes organizam experiências similares em diversos estados. O Comuna que Pariu! mantém sua identidade, utilizando da ironia, da brincadeira para falar muito sério. Escancara para o centro do debate o que de fato se esconde por trás do discurso preconceituoso e da forma conservadora e reacionária de ver a vida e as pessoas, e n q u a d r a d a s n u m m o d e l o p r é -estabelecido de família e de relaciona-mento. Assim canta o Comuna: “(...) A família Doriana vai sambar na margarina ... Olhe em volta de você, amar não tem nada de mal (...) O meu desejo que te incomoda?/ Não empata minha foda/ É o meu desejo tua ferida? / vai cuidar de tua

LGBT tem classeComuna que Pariu! no carnaval 2017:

“As bi, as gays, as trans e as sapatão /tão juntas no Comuna pra fazer revolução!”

CULTURA

abalou o mundo, o Comuna fará sua homenagem à Revolução Bolchevique e à construção da União Soviética, execu-tando o samba do Cordão do Prata Preta (bloco da Saúde, bairro da região portuá-ria do Rio de Janeiro, padrinho do Comu-na que Pariu!, tem seu nome inspirado em liderança da Revolta da Vacina, o capoeirista Prata Preta), que este ano tem por enredo “Da estação Finlândia à Esta-ção Central – 100 Anos da Revolução Russa”, samba composto por membros do Comuna que Pariu! “Sou Prata Preta, também sou revolução (...) Jamais pen-sou minha vista, ver rasteira em czarista ... meu sonho é o Poder Popular / Unidos lutamos pelo fim do capital / resistimos 100 anos, taí o carnaval...”

Comuna que Pariu! 2017. Enredo: “As bi, as gays, as trans e as sapatão / tão juntas no Comuna pra fazer revolu-

ção!” Letra do Samba: Andrea Motta, Belle Lopes, Bil – Rait Buchecha, Manu da Cuica, Nina Rosa, Tiago

Sales e Victor Neves. Desfile: Segunda feira de carnaval na Rua Alcindo Gua-

nabara, Centro do Rio de Janeiro a partir das 14h.

Cordão do Prata Preta 2017. Enredo: Da Estação Finlândia a Esta-ção Central – 100 anos da Revolução

Russa. Letra do Samba: Bil Rait Buchecha, Belle Lopes, Bruno Muller, Caio Martins, Daniel Samam, Dani Brant, Elisa Monteiro, Heitor Cesar Oliveira, Juliana Fiuza, Lia Rocha, Rafael Maeiro, Munique Sá. Desfile:

Sábado de Carnaval na Praça da Har-monia, Saúde, Rio de Janeiro às 14h.

vida”. Numa sociedade dividida em classes sociais de interesses antagôni-cos, a classe detentora do poder econô-mico é sempre a classe possuidora dos mecanismos de reprodução ideológica dessa sociedade. As ideias dominantes são as ideias da classe dominante, inclu-sive entre os dominados.

O Comuna conclama a população LGBT à luta

contra o sistema capita-lista: “Olha aí/ sempre fui parte dessa história e .../

Olha, ninguém apaga minha memória/ Sou tra-balhadora, sou guerreira (...)/ Quero pra vida, bem

além do carnaval/ O direi-to de existir / quero meu

nome social!”

A população LGBT trabalhadora, além de sofrer todos os preconceitos e perse-guições geradas pela condição de classe, ainda sofre as manifestações de um sis-tema social excludente, opressor que a coloca em condições ainda mais desfa-voráveis. O Comuna traz essa população tantas vezes marginalizada e perseguida para o palco, colocando luz sobre a ques-tão da diversidade sexual e convocando para a luta contra o capital, por toda forma de amor, pelo socialismo. No centenário da Revolução que

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sas levantaram a tocha da revolução proletária e colo-caram o mundo em chamas. A Revolução de Fevereiro tinha início a partir deste dia.”

As greves e manifestações evo-luíram para uma revolta armada em 26 de fevereiro, forçando o Czar a enviar à capital grande parte do exército regular, mas soldados das guarnições de Volinsk e Petrogrado aderiram à insurreição. Os revoltosos ocuparam estações de trens, pontes, arsenais, telégrafo, correio e o forte de Petrogrado. A autocracia era derrubada. Em todo o país, Sovietes de Deputados dos Operários e Soldados anulavam as ordens dos governos nas cidades e assumiam o poder. Em Petro-grado, o Soviete era dirigido por men-cheviques e SRs, pois os bolcheviques se concentraram nas tarefas da luta revolu-cionária e muitos de seus dirigentes esta-vam presos ou exilados. Em 27 de fevereiro, um grupo de deputados da Duma instalou um Comitê Provisório, que não quis assumir o poder nem romper com a monarquia. A fúria da massa contra estas vacilações obrigou a que, em 2 de março, fosse instalado o Governo Provisório. Este, entretanto, era liderado por um membro da aristo-cracia russa, o príncipe Lvov, e basica-mente formado por representantes da burguesia e dos latifundiários. Estava concluída apenas a primeira etapa do processo revolucionário.

no calendário atual), com uma grande manifestação operária. Sobre este dia, a grande revolucionária feminista Alexan-dra Kollontai escreveria o seguinte, alguns anos depois:

Em 1917, no dia 8 de março (23 de fevereiro), Dia da Mulher Trabalhadora, elas saíram corajosamente às ruas de Petrogrado. As mulheres – algumas eram trabalhadoras, outras espo-sas de soldados – exigiram Pão para nossos lhos e O retorno de nossos maridos das t r inche i ras . Nes te momento decisivo os protes-tos das mulheres trabalha-doras representavam uma ameaça tão grande que até mesmo as forças de segu-rança do Czar não se atreve-ram a tomar as medidas habituais contra os rebeldes, mas olhavam confusas o mar tempestuoso da ira do povo. O Dia da Mulher Tra-balhadora, em 1917, tornou-se memorável na história. Neste dia as mulheres rus-

Em 10 de fevereiro, o Comitê Bolchevique de Petrogrado programou uma greve para lembrar os dois anos da repressão que se abateu sobre os deputa-dos bolcheviques da Duma (Petrovski, Badaiev, Muranov, Chagov e Samoilov), os quais haviam sido julgados e conde-nados à deportação pelo tribunal czarista por terem sido contrários à guerra e por defenderem a derrubada do governo, com a transformação da guerra imperia-lista em guerra revolucionária. O des-contentamento generalizado das massas seria responsável pela eclosão de mais de 1.300 greves no mês de fevereiro, nas quais tomaram parte cerca de 670 mil trabalhadores. Apavorados com a ideia da revo-lução proletária, os representantes dos partidos burgueses (os “cadetes”, do KDT – Partido Democrata Constitucio-nal e os “outubristas”, da União de 17 de Outubro) pretendiam realizar, em 14 de fevereiro, uma passeata até o palácio onde a Duma realizava suas reuniões, para prestar solidariedade ao parlamen-to. Neste dia, milhares de operários de Petrogrado paralisavam 60 empresas e, no sentido contrário do chamado feito pela burguesia, enfrentaram a repressão policial ao organizarem um comício cujas palavras de ordem centrais eram: “Abaixo a autocracia!” e “Abaixo a guer-ra!”. Também se mobilizaram contra o governo, na capital do país, professores de escolas, universidades e dos institutos de engenharia. Nos dias seguintes, operários de outras fábricas entravam em greve, cul-minando em 23 de fevereiro (8 de março

100 anos da Revolução Socialista na Rússia

fevereiro de 1917: A hora da Luta aberta

HISTÓRIA

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MULHERES REVOLUCIONÁRIAS

Há cem anos, 200 mil tecelãs russas em greve percorreram as ruas de Petrogrado em luta pelo fim da I Guerra Mundial, pelo aumento dos salários, contra a fome e em comemoração ao Dia Internacional da Mulher Trabalhadora. Era o dia 23 de fevereiro de 1917, 08 de março pelo calendário ocidental. Poucos dias depois, ocorreu a Revolução de Fevereiro, que derrubou o Czar e insta-lou um governo provisório democrático-burguês. Uma etapa decisiva para a Revolução Bolchevique de Outubro. Essa greve deu início a diversos levantes, com as mulheres russas toman-do a frente de lutas pelo pão e pelo fim da guerra, as quais contribuíram para cons-truir a Revolução Socialista. Clara Zet-kin, militante do Partido Comunista Alemão, já havia proposto em 1910, durante o II Con gresso da Mulher Trabalhadora, a necessidade de ser criado um dia em homenagem à luta

A ORIGEM SOCIALISTADO DIA 8 DE MARÇO

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das mulheres. Foi decidido realizar o primeiro Dia Internacional da Mulher em 19 de março de 1911. Em 1913, a comemoração foi transferida para 08 de março.

O Oito de Março é o dia que comemora a história de luta das

mulheres em todo o mundo, uma luta por dignidade, igual-

dade de direitos e salários, e também por uma sociedade

justa e igualitária. Hoje, no Brasil, as mulheres recebem os piores salários e estão sub-metidas às piores condições de trabalho. As terceirizações atingem principalmen-te as mulheres, em funções semelhantes ao serviço doméstico: são faxineiras, cozinheiras, crecheiras, cuidadoras, copeiras, auxiliares de enfermagem e outras funções subalternas. O desemprego atinge principal-mente as mulheres, as primeiras a serem demitidas, pois podem engravidar e “onerar” a empresa. Ainda se considera que o salário da mulher é complementar ao do homem, quando, de fato, muitas mulheres são hoje a única fonte de renda da casa e sustentam as famílias mais pobres. A situação se agrava para a mulher negra, que recebe os salários mais baixos do país e realiza os trabalhos mais precários. As medidas de ajuste, adotadas desde o governo Dilma, atingem frontalmente as trabalhadoras, que têm mais dificuldade em conseguir o seguro desemprego e restrições à pensão por morte do marido. No governo Temer, o congelamento por vinte anos dos gastos públicos prejudi-cará setores já combalidos como a saúde e a educação. A retirada de direitos traba-lhistas e a proposta de reforma da previ-dência atingirão em cheio as trabalhado-ras, cuja idade mínima para aposentado-ria passará para 65 anos, mesma idade dos homens. Alega-se que as mulheres vivem mais que os homens, sem consi-derar as múltiplas jornadas enfrentadas por elas no seu dia a dia.

A legalização do aborto conti-nua um tabu e enfrenta retrocessos no Congresso Nacional, com a proposta do Direito do Nascituro, que pretende criar obstáculos para que as vítimas de estu-pro possam abortar. Querem criminali-zar os profissionais de saúde que assis-tem as mulheres nesses casos e proibir a distribuição da pílula do dia seguinte para as vítimas, ignorando que o aborto clandestino é a quarta causa de mortali-dade materna no país. As mulheres continuam sendo submetidas a várias violências cotidia-nas: a violência doméstica, caracteriza-da por agressões físicas e psicológicas, estupros e muitas vezes feminicídio, o assédio moral e sexual nos ambientes de trabalho, o abuso cotidiano dentro dos transportes coletivos, a cultura do estu-pro. O patriarcado e a consequente opressão das mulheres é milenar e ante-cede em muito o capitalismo, mas este sistema aumenta a exploração das mulheres, colocando-as em situação de inferioridade. Por isso, as comunistas afirmam que a luta pela igualdade das mulheres passa pela luta contra o capita-lismo.

Somente numa sociedade sem exploração, a sociedade socia-lista, mulheres e homens pode-

rão se emancipar de todas as opressões e da dominação de classe, gênero e raça/etnia.

O Dia Internacional de Mulher traz à luz a coragem de grandes feminis-tas e comunistas que sacrificaram seu trabalho, sua família e suas próprias vidas na luta pela dignidade de todas as mulheres e pela emancipação humana. Deve, também, nos lembrar das dificul-dades diárias de nossas companheiras, amigas, mães, irmãs e de todas as mulhe-res da classe trabalhadora, nos mostran-do que ainda há muito a se fazer, nos fortalecendo para nos organizarmos coletivamente e darmos continuidade a essa grande batalha.