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pcb.org.br [email protected] Acesse o conteúdo através do seu aparelho móvel. EDITORIAL PÁG. 02 JORNAL Um jornal a serviço da revolução socialista. Edição 03 Mai Jun 2015 \ Ano 01 \ 04 a 07 06 \ Osasco-SP ENCONTRO NACIONAL DA ORGANIZAR LUTAR VENCER

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EDITORIAL

PÁG. 02

JORNAL

Um jornal a serviço da revolução socialista.

Edição 03

Mai Jun 2015\

Ano 01

\

04 a 07 06\Osasco-SP

ENCONTRONACIONAL DA

ORGANIZAR LUTAR VENCER

A conjuntura brasileira atual demonstra que está se esgotando o ciclo do PT, após 12 anos de conciliação com a burguesia e da política de governabili-dade a todo custo, através de acordos e coligações com os partidos conserva-dores. Juntamente com o ciclo petista se esgota a chamada estratégia Democrática e Popular, a qual, formu-lada por grupos de esquerda no período final da ditadura, nos anos 1970, partia do princípio de que bastava fortalecer a "sociedade civil" no contraponto ao Estado forte para que a "transição democrática" se desse sob hegemonia dos setores populares. Na sociedade civil também atuam as organizações representativas dos interesses capitalistas, e a estratégia vencedora foi a da transição pelo alto, conduzida pela burguesia. O fortaleci-mento da sociedade civil, com a ultrapassagem do regime autocrático e a consolidação do Estado Democrático de Direi to, acabou por afirmar plenamente a hegemonia burguesa no Brasil, que, progressivamente, ao longo das últimas décadas, restringiu os espaços de manifestação política e social da classe trabalhadora e dos movimentos populares. No governo, o PT apostou que seria possível contornar a luta de classes por

meio de um pacto nacional que deixas-se a burguesia ganhar seus lucros e ampliar seus negócios, inclusive no cenário internacional, com a justificati-va de que este seria o único caminho viável para a obtenção de reformas sociais. Mas a estratégia de promover programas compensatórios para superar a miséria absoluta e de estimu-lar o consumo popular (na verdade, um brutal endividamento financeiro que só veio a favorecer os bancos) como forma de integração dos mais pobres à sociedade contribuiu tão somente para o fortalecimento do capitalismo e para o crescimento de uma onda conserva-dora que, aproveitando-se da fragilida-de do segundo governo Dilma, preten-de agora impor derrotas históricas aos trabalhadores. No Congresso Nacional, estão em vias de ser aprovadas contrarreformas de cunho social e político, modificando a legislação com ataques diretos aos direitos sociais e políticos, como a maior elitização do processo eleitoral, a legalização da repressão da pobreza e dos movimentos populares, a redução da maioridade penal e a retirada de direitos trabalhistas. Da parte do governo, há a aplicação de um ajuste fiscal neoliberal, um pacotaço de medidas que pretende aprofundar as

privatizações e desvalorizar a força de trabalho. Mais uma vez a crise econô-mica está sendo resolvida às custas do arrocho sobre a classe trabalhadora. Exemplo mais gritante desta ofensi-va é o projeto de lei 4.330, que generali-za as terceirizações, precarizando ainda mais o trabalho em todos os ramos econômicos. Trata-se do maior retro-cesso da história do país para os trabalhadores, pois, além de violar os principais direitos previstos na legisla-ção trabalhista, fragiliza os sindicatos, aumenta o desemprego e rebaixa salários, intensificando a exploração. Os trabalhadores só poderão vencer essa batalha se houver muita organiza-ção e mobilização. Para além das manifestações de rua, é preciso organizar a luta a partir dos locais de trabalho, com paralisações da produção capazes de mostrar a força real dos trabalhadores e de contrariar os interesses dos capitalistas. O movimen-to sindical e popular combativo necessita unir forças para preparar uma ampla GREVE GERAL que ponha um freio ao projeto de terceirização e aos ajustes fiscais do governo, apontando para a formação da frente anticapitalis-ta, no rumo do Poder Popular e do Socialismo.

Avançar nas lutas, rumo à greve geral

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EDITORIAL

O Poder Popular, um jornal a serviço da revolução socialista.

Órgão oficial do Partido Comunista Brasileiro (PCB).

Comissão Nacional de Comunicação: Ricardo Costa, Ivan Pinheiro, Edmílson Costa, Otávio Dutra, Roberto Arrais

(jornalista responsável - 985/DRT - FENAJ). Diagramação: Mauricio Souza.

Endereço eletrônico: www.pcb.org.br. Contato: [email protected].

Sede Nacional do PCB: Rua da Lapa, 180, Gr. 801 - Centro - Rio de Janeiro - RJ - CEP.: 20.021-180.

Telefax.: (21) 2262-0855 e (21) 2509-3843.EX

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A comunista Marta Jane, do Partido Comunista Brasileiro (PCB), assumiu a vaga de vereadora na semana do aniversário de 93 anos do PCB, devido à licença solidária do titular Elias Vaz. Primeira suplente da coligação PCB-PSOL, durante o breve mandato chamou a atenção da população e das redes sociais, onde se dizia que ela fez mais em dois dias do que muitos parlamentares em quatro anos. Em duas sessões apresentou uma série de requerimentos e projetos, promoveu no auditório da Câmara o evento que celebrou os 93 anos do Partido e foi uma das primeiras a assinar requerimento em favor da Comissão Especial que investigará as empresas que operam de forma abusiva o transporte coletivo na cidade. Nos dias 25 e 26 de março, após reunir-se com organizações populares, entidades estudantis, sindicatos, associações culturais e movimentos que lutam por moradia, Marta Jane apresentou projetos e requerimentos visando a: equiparação do vencimento

básico dos profissionais da Educação com servidores de escolaridade equivalente; abertura das planilhas das empresas de ônibus, com a ampla publicidade dos seus lucros; mudança de nome da Avenida Castelo Branco para Bernardo Élis, escritor que denunciou o latifúndio e o coronelismo em suas obras, dentre outras iniciativas.Juntamente com a Fundação Dinarco Reis, promoveu evento em comemora-ção ao aniversário do PCB e em homenagem a militantes históricos. Foram lembrados os camaradas que participaram da resistência armada nas lutas camponesas de Trombas e Formoso (César Machado, Dirce Machado, Carmelita de Castro, Carmina Marinho, Josefa Marinho e Joana Marinho); os que ajudaram a construir o partido nas décadas de 1940 e 1950, como José Moraes e Sebastião de Abreu, um dos fundadores do PCB em Goiás, vereador eleito em 1950; os militantes Maria Eloá, da região de Rio Verde e Jataí, Lauro Braga, da Imprensa Popular de Alagoas e que hoje vive em

Goiás, Horieste Gomes e Roberto Prateado, que foram presos enfrentan-do a ditadura nas décadas de 1960 e 1970. Também foram homenageados os camaradas já falecidos Paulo Fernandes, responsável pela reorgani-zação do PCB em 2000, Ismael Silva de Jesus, dirigente comunista assassinado dentro do quartel do exército, com apenas 18 anos. Ainda foi lembrado, no ano do centenário de seu nascimento, o camarada Bernardo Élis. Em seu último discurso, Marta Jane denunciou o favorecimento às grandes empresas, a repressão às lutas popula-res e a criminalização dos movimentos sociais no Estado, a exemplo do que ocorreu durante as manifestações contra o aumento das passagens. Em seu breve mandato, a vereadora e o PCB de Goiás, em sintonia com os movimentos populares, souberam de modo exemplar usar o limitado espaço da institucionalidade burguesa em favor da luta anticapitalista e da construção do Poder Popular.

Marta Jane, um furacãocomunista em Goiânia

csunidadeclassista.blogspot.com.br Acesse o conteúdo atravésdo seu aparelho móvel.

Os escândalos na Petrobras escancararam as relações promíscuas entre dirigentes do governo Dilma e da companhia com grandes empreiteiras, fruto da opção do PT em garantir a governabilidade a qualquer preço. Esta política se utiliza da corrupção, dentre outros mecanismos, para manter a base de apoio de partidos burgueses e setores capitalistas ao governo liderado por PT e PMDB. Sabemos muito bem que a corrupção é própria do sistema capitalista, que se nutre da exploração dos trabalhadores e do individualismo extremo, em que vale tudo para se obter os lucros e o enriquecimento de uns poucos. Sabemos também que não é de ho je que governantes e donos de empresas trocam favores para que seus interesses pessoais e de alguns grupos se coloquem acima das necessidades da população, que vê os imensos recursos públicos, resultado do trabalho penoso da maioria, servir apenas para abastecer a ganância da minoria exploradora. Grandes empreiteiras ganharam expressão nos anos 1950, período de expansão da economia em meio ao

processo de desenvolvimento do c a p i t a l i s m o m o n o p o l i s t a e d a dependência ao imperialismo. Mas foi durante a ditadura imposta em 1964 que elas encontraram terreno propício para o crescimento de seus negócios e lucros. Em troca de contribuírem com o financiamento ao golpe militar e à repressão aos movimentos populares, ganharam de presente um decreto que transformava em reserva de mercado para um grupo de empreiteiras brasileiras as grandes obras tocadas pelo Estado d u r a n t e o c h a m a d o " m i l a g r e econômico". As gigantes da construção civil passaram a viver longo e próspero período de expansão, que continuou a ser estimulado pelos governos posteriores à ditadura, com destaque para FHC, responsável pelo avanço das práticas neoliberais e privatizantes. Na sequência, os governos petistas mantiveram sem escrúpulos os esquemas já existentes.A forte exposição dos escândalos da Petrobras na mídia tem também a intenção de desmoralizar ao máximo a empresa e apresentar a sua privatização plena como solução para tais problemas. Os abutres, interessados em que a

exploração do petróleo brasileiro seja t o t a l m e n t e c o n t r o l a d a p e l a s multinacionais, agora defendem que a Petrobras deixe de ser a operadora exclusiva dos campos do pré-sal, como se já não bastassem a quebra do monopólio estatal através da venda das ações na Bolsa de Nova Iorque e os leilões dos campos de petróleo. Entreguismo puro!Na contramão das práticas que visam desmantelar a Petrobras e facilitar o caminho da sua privatização total, é preciso fortalecer a campanha pela Petrobras 100% estatal sob controle dos trabalhadores. Além da prisão dos corruptos e corruptores, com o confisco de seus bens, é necessário que sejam criados mecanismos de controle popular sobre os rumos da empresa, com a participação efetiva dos trabalhadores nas tomadas de decisão, formação da empresa públ ica de pro je tos de engenharia e de construção civil, fim das terceirizações e utilização dos lucros obtidos pela Petrobras para atendimento às reais necessidades da população brasileira.

TODO O PETRÓLEOTEM QUE SER NOSSO!

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Petrobrás, 100% estatal sob controledos trabalhadores

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As causas profundas dacrise hídrica. A luta ambiental é umaluta anticapitalista.

A água doce representa apenas 3% do total de água na Terra. O uso intensivo deste recurso pode impedir sua renovação, pois apenas 1/3 desta água é acessível, a partir de rios, lagos, lençóis subterrâneos próximos à superfície e atmosfera. Sua manutenção depende da preservação da cobertura vegetal no seu entorno, o que, além de evitar a erosão das margens, gera parte da evaporação necessária para a formação da chuva, somando-se à umidade que vem da Amazônia para outras regiões, por correntes de ar úmido. O Brasil, que tem uma grande reserva de recursos hídricos (73% na Amazônia) e bom volume de chuvas, apresenta, hoje, um quadro de crise: em São Paulo, o maior reservatório esteve quase seco por meses. Houve queda na geração de hidroeletricidade, obrigando o sistema a acionar usinas termoelétricas, mais poluentes e mais caras. Cerca de 80% do consumo de água vem da agricultura e da indústria, sendo os 20% restantes gerados pelo consumo doméstico e outros usos. A elevada taxa de urbanização nos últimos anos e o uso intensivo de água nas grandes plantações e indústrias criam uma enorme pressão sobre o sistema hídrico. A redução das matas nas margens dos rios e lagos e ao longo dos terr i tór ios diminui a

evaporação e a retenção da água da chuva no solo. A falta de tratamento de efluentes industriais e de acesso ao saneamento básico – que atinge cerca de metade da população brasileira – torna a água de muitas reservas inviável para consumo, como no caso da represa Billings, em São Paulo, e de muitos outros mananciais.Ainda que se possa utilizar a água disponível de forma mais eficaz, com redução da poluição, tratamento da água para seu reaproveitamento, controle de desperdícios, adoção de tecnologias agrícolas e industriais menos intensivas e m á g u a e a t é c o m o u s o d a dessalinização da água do mar (solução cara que não produz muito volume de água potável), a situação tende a se agravar. Este quadro é o resultado do processo de desenvolvimento do capitalismo, que concentra a propriedade da terra no campo, forma grandes empresas industriais e induz à migração para as cidades.O estímulo à agricultura monocultora de e x p o r t a ç ã o e a o c o n s u m i s m o desenfreado cont r ibuem para o crescimento desordenado da economia sem qualquer planejamento na geração de energia e a ausência de moradia adequada para a população trabalhadora,

que evitasse a ocupação de encostas e margens dos rios. A isso se soma o uso de largas extensões de terra na Amazônia para extração de madeira e c r i a ç ã o e x t e n s i v a d e g a d o . Agronegócio e pecuaristas obtiveram vantagens no código florestal, como a permissão para o plantio em encostas e a redução de matas ciliares, entre outras. A luta pela sustentabilidade ambiental passa pela luta de classes, rumo à extinção da exploração do trabalho e ao usufruto dos recursos naturais pelos produtores diretos. Os territórios onde estão as riquezas ambientais como as águas de superfície e subterrâneas, os minérios, as florestas e sua biodiversidade são recursos coletivos, propriedades públicas, que devem ser utilizados com vistas à manutenção da vida e não para favorecer a propriedade privada, o capital e a mercantilização. É urgente a luta pelo fim do latifúndio capitalista, por moradia digna sem ocupação desordenada do solo nas cidades, adoção de novas tecnologias agrícolas e industriais para redução do uso de água e geração de energia a partir de fontes renováveis. A luta ambiental é, portanto, uma luta anticapitalista.

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ENTREVISTA

A onda conservadora no mundo e aslutas na América Latina

Entrevista com Ivan Pinheiro, Secretário Geral do Partido Comunista Brasileiro (PCB)

1) O PODER POPULAR: A conjuntu-ra mundial de aprofundamento da crise do capitalismo aponta para o avanço dos atos imperialistas contra a soberania dos povos e para o crescimento do pensa-mento conservador, com a eclosão até de manifestações fascistas. Vivemos hoje mais claramente a dicotomia entre socialismo e barbárie? IVAN PINHEIRO: Essa dicotomia, evidenciada por Rosa Luxemburgo há um século, é de uma atualidade angusti-ante. Quanto mais se aprofunda sua crise, o capitalismo precisa retirar mais direitos sociais e trabalhistas e, para isso, precisa cada vez mais de repressão às lutas populares e proletárias e de restrição à liberdade de organização política e sindical. O agravamento das contradições interimperialistas radicali-za a disputa por matérias primas, mercados e posições estratégicas entre as potências. A barbárie já é uma realidade, com milhões de mortos e mutilados pelas guerras imperialistas, sobretudo no Oriente Médio e na África. Basta ver a catástrofe que atinge milhares de vítimas da violência nessas duas regiões, muitos morrendo nas águas do Mediterrâneo, fugindo do caos que a “civilização ocidental” provoca em seus países, em nome da “democracia”, e o rastro de

sangue contra populações civis, com a destruição de patrimônios da humanida-de provocados por organizações terroristas criadas como falsas bandeiras da ação do imperialismo. Preocupam-nos as tendências fascisti-zantes, que vicejam mais na Europa, onde a crise do capitalismo é mais acentuada. Como diz nossa camarada Zuleide, o socialismo não é uma fatali-dade, mas uma necessidade. Diante do acirramento da luta de classes, urge que o sindicalismo classista e o movimento comunista internacional revolucionário reforcem sua articulação e unidade de ação, superando e derrotando a atual hegemonia das organizações reformis-tas, que semeiam ilusões de que é possível humanizar e democratizar o capitalismo.

2) O PODER POPULAR: Na América Latina, o governo Obama, ao mesmo tempo em que acena com a liberalização das relações com Cuba, ameaça intervir militarmente na Venezuela. Como se explica esse quadro?

IVAN PINHEIRO: A aproximação do governo norte americano com Cuba não se inspira em razões nobres. Há uma motivação estratégica, de olho na reestruturação econômica em curso na Ilha. Os EUA precisam disputar influên-

cia e mercado com capitais brasileiros, russos e chineses e alimentam a obsessão por um abraço da morte, agora “suave”, ao socialismo cubano. Há também uma tentativa de simular que o imperialismo norte-americano “não é mais o mesmo”, tornando-se um vizinho amigo, com o objetivo de se aproximar de governos e povos que lhe são hostis. A dupla moral fica clara quando, ao mesmo tempo, os EUA insistem em desestabilizar a Venezuela e reforçam sua presença militar no continente. Em relação à Venezuela, o cínico decreto que considera este país uma ameaça à segurança nacional dos EUA foi um ato de desespero, após mais uma frustrada tentativa de golpe contra o governo bolivariano, com vistas a se apropriar da extraordinária reserva de petróleo venezuelana e destruir o processo de mudanças mais avançado na América Latina, o que impactaria negativamente a resistência dos povos da região e a correlação de forças no tabuleiro mundial. Creio que o tiro de Obama saiu pela culatra. Na Venezuela, uniu as massas em torno do governo Maduro e da experiência bolivariana, reforçou as milícias populares e ainda dividiu e enfraqueceu a oposição conservadora.

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Na Cúpula das Américas, o desastrado decreto isolou os EUA, chegando a obrigar Obama a vergonhosamente negar a ameaça que fizera e ainda ouvir o corajoso discurso de Raul Castro, denunciando o histórico de golpes do imperialismo contra Cuba e outros países na região e marcando os limites da aproximação entre os dois países, inclusive o respeito à opção do povo cubano pela construção do socialismo.

3) O PODER POPULAR: Quais as perspectivas das forças populares e revolucionárias na América Latina, em especial com relação à luta pela paz na Colômbia? Quais os reflexos desta situação para o restante do continente?

IVAN PINHEIRO: A busca por uma solução política para o conflito militar e social colombiano é de interesse de todos os povos da América Latina, onde a Colômbia é a principal plataforma militar a serviço do imperialismo.

A burguesia colombiana e o imperialismo norte-americano não tomaram a iniciat iva de propor conversações com as FARC-EP por pacifismo ou qualquer motivação humanitária. A grande ofensiva bélica dos oito anos de governo Uribe (em que, note-se, Santos foi Ministro da Defesa) não foi capaz de derrotar militarmente a insurgência, mas gerou a ilusão de que a guerrilha estava debilitada. Nesse quadro é que o atual governo imaginou ser possível conquistar a sua versão de paz: rápida, sem grandes custos políticos, econômicos e sociais e com a desmobilização dos insurgentes. O objetivo principal do seu “pacifismo” é melhorar a imagem da Colômbia como um porto seguro para investimentos estrangeiros e entregar seu território às multinacionais, para a exploração intensiva na área de mineração, hidrocarburetos e agronegócio. Em verdade, o fértil e cobiçado território guerrilheiro (incluindo aí o do ELN e do

EPL) é o centro da disputa. O desafio dos diálogos de Havana é que as FARC não estão dispostas a entregar as armas, nem ser vítimas de mais um extermínio, como o da União Patriótica, nos anos 1980. Entendem a paz num sentido para além do aspecto militar, como um processo que signifique mudanças econômicas e sociais, em favor dos trabalhadores e do povo, e políticas, com o fim do paramilitarismo e da violência estatal, a libertação dos prisioneiros políticos. O protagonismo do movimento de massas colombiano, em especial da Marcha Patriótica, é que tem contribuído para garantir os diálogos de Havana e levar para a mesa as aspirações populares. A solidariedade internacionalista ao povo colombiano não é por uma paz a qualquer preço, uma paz de cemitérios. Não se pode abrir mão do direito dos povos à insurreição sem que sejam superadas as causas que deram origem ao conflito.

O Coletivo Gregório Bezerra (CGB) é uma frente de massas criada, em 2014, por militantes, simpatizantes e aliados do PCB para atuar de modo sistemático na luta pelas reformas agrária e urbana. O CGB possui uma coordenação geral e seções estaduais. Prepara seu primeiro Encontro Nacional, previsto para o segundo semestre de 2015, que debaterá os princípios teóricos para orientar a prática do coletivo, sua estrutura organizativa, as táticas de ação e o entendimento sobre a luta pela terra no campo e na cidade. Vamos também analisar as experiências de resistência das comunidades tradicionais, como indígenas, quilombolas, pescadores e ribeirinhos. O desenvolvimento do capitalismo no campo brasileiro foi e é marcado pela convivência entre duas tendências na modernização da agropecuária, as quais em outros países foram excluden-tes: a “via prussiana” (transição para o capitalismo sob domínio dos latifúndi-os) e a “via americana” (distribuição da

terra a pequenos proprietários). Ou seja, o capital e o Estado investiram na grande propriedade agropecuária exportadora e, ao mesmo tempo, com o objetivo de garantir o barateamento da reprodução da força de trabalho e ampliar a taxa de lucro, se obrigaram a incentivar também a agricultura campesina em cinturões verdes no entorno das grandes cidades. No presente, 80% da população rural é camponesa, contudo, apenas 20% desse campesinato tem acesso às condições mínimas de financiamento, produção e comercialização. No espaço urbano do país, a subordi-nação das instâncias estatais regulado-ras do uso do solo aos interesses do capital transformou a especulação imobiliária em um dos mais lucrativos setores, em detrimento do direito de moradia dos trabalhadores e do ordenamento racional das cidades. O latifúndio meramente especulativo, a modernização tecnológica constante do agronegócio e o desprezo estatal pela maior parte do campesinato provocam

um êxodo rural constante, com a alocação não planejada dos migrantes nas cidades, impondo a submoradia, a falta de saneamento, a ocupação irracional das áreas urbanas e os graves problemas no transporte público. O nome de Gregório Bezerra foi escolhido em homenagem ao bravo militante e dirigente comunista que se destacou na organização de sindicatos rurais e na luta pela reforma agrária no Brasil e que, por isso mesmo, foi um dos mais perseguidos e torturados pela ditadura instalada com o golpe de 1964. O exemplo de Gregório Bezerra, o heroico e inquebrantável camarada pernambucano, inspira e anima os militantes do Coletivo diante da enorme tarefa de atuar articulando a luta do campo e a luta urbana, já que as duas estão radicalmente ligadas e não podem ser entendidas e efetivadas isoladas uma da outra. Lutas que se farão com o ferro da coragem e a flor da fraternidade entre os trabalhadores do campo e da cidade.

Coletivo Gregório Bezerra:Um coletivo de ferro e de flor

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Maio - Junho 2015 - Ano 01

Avança a luta contra asprivatizações e pelo acessouniversal à saúde Nos dias 27, 28 e 29 de março aconteceu, na cidade do Rio de Janeiro, o V Encontro da Frente Nacional Contra a Privatização da Saúde. A crise do capital, seus impactos sobre a questão da saúde e as lutas de resistên-cia contra sua mercantilização foram os temas centrais das discussões. O seminário contou com a presença de participantes de Cuba, Colômbia, Equador, México, Venezuela e Portugal. Apesar de os diversos países apresentarem formas distintas de organização de seus sistemas nacionais de saúde, todos estão sob risco de desmonte neste momento. Na tentativa de minimizar a queda de lucratividade em outras áreas de atuação, o capital volta-se para setores em que possa manter seu processo de acumulação. Na saúde, isso se dá não mais apenas pela produção e venda de equipamen-tos e insumos para o setor, ou pela oferta direta de serviços privados, como planos e seguros de saúde, mas pela apropriação de percentuais cada vez maiores dos fundos públicos que deveriam ser destinados à estruturação e ao provimento de serviços de saúde à

população pelo próprio Estado. No Brasil, a privatização da saúde ocorre por meio de subvenções, isenções fiscais e perdão de dívidas para grandes hospitais particulares, expansão desordenada de planos de saúde, alocação progressiva de recur-sos junto ao setor privado, políticas diversas que tiram do Estado a respon-sabilidade pela prestação direta de serviços, que passa a ser feita por novas figuras jurídicas: Organizações Sociais, Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, Fundações Estatais de Direito Privado, Serviço Social Autônomo. Mas a principal e mais perversa forma de apropriação dos recursos públicos é a prioridade dada pelos governos para o pagamento de juros da dívida pública com vistas à garantia do superávit primário, retiran-do recursos da saúde. Esta é a política defendida pelo Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional: um sistema de saúde em que a atenção básica (expressa hoje pelo Programa de Saúde da Família) seja voltada para as populações mais pobres e a cargo do Estado, enquanto a

atenção especializada (especialidades médicas, hospitais e rede diagnóstica de mais alta tecnologia) fica a cargo de entes de caráter privado submetidos à l óg i ca do mercado . A p róp r i a Organização Mundial de Saúde vem adotando, no lugar de acesso universal, o termo cobertura universal, pelo qual cabe ao Estado atender somente àqueles que não podem arcar com os custos dos serviços, jogando no lixo o caráter público e universal das políticas de saúde, com prejuízo direto à classe trabalhadora. A Frente Nacional Contra a Privatização da Saúde é formada por fóruns estaduais e locais, movimentos sociais e partidos políticos. O seminá-rio, que contou com a participação de cerca de 600 pessoas, das mais distintas regiões do país, firmou compromisso de consolidar a relação entre os movimentos de resistência na área de saúde na América Latina. O PCB participa ativamente deste movimento, contribuindo para a luta dos trabalha-dores no combate aos processos de privatização e em defesa do direito universal à saúde.

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Sobre a origem anarquista do núcleo fundador do PCB muito já se pesquisou e publicou, não havendo aí qualquer contradição, visto que o anarquismo, até o início dos anos vinte do século passado, se constituía como corrente hegemônica no movimento operário brasileiro. A sua crise e posterior decadência, assim como a emergência do comunismo enquanto força política internacional após a Revolução Russa, criaram as condições favoráveis para a conversão ao marxismo de muitos militantes antes filiados ao anarquismo. Octavio Brandão, então um jovem promissor intelectual alagoano, percorreu este mesmo caminho, inicialmente se incorporando às fileiras anarquistas:“Em Maceió, em 1917, dei o segundo passo libertador. Tornei-me combaten-te da classe operária e militante no movimento popular, defensor das reivindicações imediatas, batedor e pioneiro na luta pela paz mundial, contra a guerra imperialista e o milita-rismo.” Desde 1918 manteve contato e enviou artigos para Astrojildo Pereira e Pedro Motta Lima. No jornal A Crônica

Subversiva, Astrojildo comentou: “Octavio Brandão é seguramente um dos cérebros mais cultos e potentes do Brasil intelectual de agora.”. Morando no Rio de janeiro desde 1919, por conta das perseguições e ameaças sofridas em Alagoas, Brandão prossegue sua trajetória militante, colabora com jornais anarquistas, profere palestras em associações e sindicatos. É preso pela segunda vez, em 24 de março de 1920, por apoiar a greve dos ferroviários da Leopoldina. Através de Astrojildo, que havia rompido com os anarquistas, toma contato com a literatura marxista, lendo inicialmente O Estado e a Revolução e A Moléstia Infantil do Esquerdismo no Comunismo de Lenin, e O Manifesto Comunista de Marx e Engels. Sua entrada no PCB, fundado em março de 1922, não foi um gesto impulsivo. Pelo contrário, foi o resultado de uma reflexão profunda baseada em suas novas leituras, além das discussões com seus companheiros de luta. Em outubro de 1922, Octavio Brandão oficializa sua entrada no Partido. Sua adesão foi celebrada no ato de 07 de novembro, comemorativo do

quinto aniversário da Revolução Soviética, realizado na sede, lotada, do sindicato dos têxteis. O encontro do Partido ainda peque-no, carente de quadros, com o incansá-vel Octavio Brandão se revelaria bastante promissor. No ano seguinte à sua entrada, Octavio é eleito para o órgão máximo de direção, a Comissão Central Executiva. Desde então esteve à frente de inúmeras tarefas, com destaque para a reorganização dos comunistas a partir de células de empresa e o lançamento do novo jornal do PCB, A Classe Operária, em 1925. Neste mesmo ano, seu livro Agrarismo e Industrialismo, considerado uma primeira tentativa de análise marxista da formação social brasileira, serviria de matriz para as teses do II Congresso do Partido. Brandão pode até ter sido, como já foi dito de forma deselegante, “o Lenin que não deu certo”. Afinal, o Brasil não foi protagonista da 1ª Guerra Mundial, e a Revolução Socialista não aconte-ceu. Mas o resgate de sua memória tem todas as credenciais para servir como exemplo e inspiração às novas gerações de revolucionários brasileiros.

Octavio Brandão e os anosde formação do PCB

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Maio - Junho 2015 - Ano 01

ColetivoFeminista-ClassistaAna Montenegro

Acesse o conteúdo atravésdo seu aparelho móvel. anamontenegrosp.blogspot.com.br

Maio - Junho 2015 - Ano 01

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Ana Lima Carmo, conhecida como Ana Montenegro, nome assumido pela intensa atividade jornalística na imprensa comunista, nasceu em 13 de abril de 1915 na cidade de Quixeramobim, no interior do Ceará. Dizia ser “cearen-se de nascimento, carioca de cora-ção e baiana por escolha”, pois muito cedo mudou-se para o Rio de Janeiro, onde estudou Direito e Letras na antiga Universidade do Brasil (atual UFRJ) e depois radi-cou-se na Bahia. Entrou para o Partido Comunista (PCB) em 1945, no Dois de Julho, q u a n d o s e c o m e m o r a a Independência do Brasil na Bahia e teve sua ficha de filiação assinada por Carlos Marighella. Começou a escrever em publicações do Partido e a j u d o u a f u n d a r a U n i ã o Democrática das Mulheres da Bahia, para o qual criou o jornal O Momento Feminino. Teve papel destacado na organização do movimento de mulheres em todo o Brasil, ao participar da formação da Liga Feminina do Estado da Guanabara, do Comitê Feminino Pró-Democracia e da Frente Nacionalista Feminina. O feminis-mo de Ana Montenegro era umbili-calmente associado à luta de classes, como demonstra sua ativa participa-ção nas manifestações em apoio à ocupação do “Corta-braço”, realiza-

da, em 1947, por trabalhadores sem teto no bairro da Liberdade, em Salvador, movimento que se tornou símbolo da luta pela moradia na Bahia. A comunista Maria Brandão, dona da pensão onde se reuniam os militantes do PCB destacados a apoiar o movimento, era considera-da por Ana Montenegro grande exemplo da mulher que unia a luta contra as desigualdades ao combate à discriminação de gênero. Como jornalista, expressou seu compro-misso com as lutas políticas e sociais de seu tempo, com o femi-nismo e o socialismo nos artigos publicados na imprensa do PCB. Além de colaborar para a revista Seiva, escreveu para os jornais: O Momento, Classe Operária, Tribuna P o p u l a r , C o r r e i o d a Manhã, Imprensa Popular, Novos Rumos, etc. O golpe militar de 1964, perpetra-do com apoio e financiamento da burguesia brasileira associada ao i m p e r i a l i s m o , o b r i g o u A n a Montenegro a tomar o caminho do exílio, no México. Foi a primeira mulher exilada pela ditadura instalada no Brasil. Esteve em Cuba, onde encontrou-se com lideranças mundiais da luta antico-lonialista na África. Em seguida, se e s t a b e l e c e u e m B e r l i m , n a Alemanha Oriental, onde integrou a seção para a América Latina da Fe-

deração Democrática Internacional de Mulheres (FDIM) e trabalhou na ONU e na UNESCO. Com a con-quista da anistia em 1979, voltou ao Brasil para continuar se dedicando às lutas políticas, ao movimento de mulheres e no combate ao racismo. Atuou no Fórum de Mulheres de Salvador e no Conselho Nacional d o s D i r e i t o s d a s M u l h e r e s (1985/1989). Publicou livros que refletiam sua experiência nas diversas frentes de combate: Mulh-eres – participação nas lutas popula-res, Uma história de lutas, Ser ou não ser feminista e Tempos de Exílio. Foi uma das principais lideranças do Movimento em Defesa do PCB, que enfrentou, de forma vitoriosa, a tentativa de destruição do Partido pelo grupo de liquidacionistas comandado pelo então deputado Roberto Freire. Falecida em 30 de março de 2006, Ana Montenegro nos legou signifi-cativa contribuição intelectual e seu exemplo de coragem e determina-ção para a continuidade das lutas contra as discriminações e a explo-ração capitalista. Em seu centenário de nascimento, o PCB e o Coletivo Feminista Classista que leva seu nome a homenageiam mantendo vivas as bandeiras da Liberdade, do Poder Popular e do Socialismo.

Ana Montenegro e o feminismo classista

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Maio - Junho 2015 - Ano 01

Diante dos olhos da classe trabalhadora e dos setores populares que resistem à investida das reformas estruturais e, pouco a pouco, começam a questionar o processo eleitoral e a falsa democracia, fica nítido que a crise de leg i t imidade da dominação burguesa não se dá apenas no âmbito de suas instituições como o Instituto Nacional Eleitoral, mas também em relação a todos os partidos eleitorais registrados, como reflexo da crise econômica e política que se revelou, em seu conjunto, após o assassinato e desaparição forçada dos 43 normalistas de Ayotzinapa. Ainda que o Partido Comunista do México (PCM), por princípio, não se abstenha de participar dos processos eleitorais, neste contexto específico de c r i se econômica e po l í t i ca do capitalismo, no caso atual do México, entendemos que votar é legitimar. Por i s so , cons ideramos necessár io questionar a falsa democracia e o regime dos partidos eleitorais que mascaram a ditadura dos monopólios, os quais, ao mesmo tempo em que, por meios publici tár ios, convoca a

população ao voto, são responsáveis pelas prisões, torturas e assassinatos de militantes comunistas, lutadores sociais, jornalistas e todos aqueles que se rebelam contra seu regime causador da fome e da miséria. Hoje, não apenas o movimento popular e dos professores do Estado de Guerrero se opõem ao processo eleitoral, mas a ele se somam o de Oaxaca, Chiapas e Michoacán, assim como de algumas regiões da República Mexicana. Este é o caso da rebelião dos cerca de 80 mil jornaleros de San Quintín, na Baixa Califórnia, que, com clareza, combatividade e organização, dão uma mostra ao conjunto do proletariado mexicano de que é possível lutar por melhores condições de trabalho e devolver o golpe aos exploradores. Tudo isto demonstra que o período da insubmissão continua, mesmo com toda a repressão, com as medidas de austeridade, os cortes nos gastos públicos, as demissões massivas e apesar de o regime de Enrique Peña Nieto querer dar por encerrado o caso Ayotzinapa. Portanto, é dever dos

revolucionários continuar fortalecendo as iniciat ivas pela criação dos conselhos populares, assembleias e espaços unitários de organização em nível local, estadual e nacional, com vistas a preparar a classe trabalhadora no exercício de seu poder desde os núcleos de trabalho, através de greves e paralisações, na perspectiva da ofensiva contra o regime e pela saída de Peña Nieto, fazendo avançar o processo pela instauração do poder operário e popular.

Nota de O Poder Popular: O caso dos 43 normalistas desaparecidos da Escola Normal Rural de Ayotzinapa, em setembro de 2014, é o elo de uma grande cadeia de genocídios praticados pelo Estado mexicano contra seus opositores políticos. Estes genocídios buscam aterrorizar e imobilizar a classe trabalhadora e o povo do México, que nos últimos anos manifestam uma crescente insubmissão frente ao poder dos monopólios e ao governo da oligarquia.

A luta de classes se agudiza noMéxico e o regime dos monopólios

perde legitimidadeEditorial de El Comunista, órgão oficial do Partido Comunista do México (abril de 2015)