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NOV/DEZ 2018 36 ORGANIZAR A RESISTÊNCIA E UNIR AS FORÇAS POPULARES, DEMOCRÁTICAS E PATRIÓTICAS CONTRA O FASCISMO! PÁGINAS 06 E 07 UNIDOS CONTRA O TRABALHADOR! TEMER E BOLSONARO FAKE NEWS caixa 2

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NOV/DEZ 2018

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ORGANIZAR A RESISTÊNCIA E UNIR AS FORÇAS POPULARES,DEMOCRÁTICAS E PATRIÓTICAS CONTRA O FASCISMO!

PÁGINAS06 E 07

UNIDOS CONTRA O TRABALHADOR!TEMER E BOLSONARO

FAKENEWS

caixa 2

02

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A maior parte da população brasileira rejeitou o voto no candidato do PSL. É preciso desde já organizar a resistên-cia, que será dura e difícil, mas que tende a crescer a partir do momento em que as pessoas que acreditaram neste projeto se derem conta de que foram enganadas de forma inescrupu-losa. É preciso imediatamente que todas as forças populares e democráti-cas se unam em torno da construção de uma ampla frente antifascista, que deverá mobilizar os diversos setores sociais descontentes com a eleição de Bolsonaro e aqueles e aquelas que terão seus direitos atingidos pelos ataques que virão. No interior da frente democrá-tica antifascista (que deverá congregar movimentos, partidos e entidades representativas de um amplo espectro de forças democráticas, progressistas e até liberais) e sobretudo nas lutas populares e no movimento sindical e operário, é preciso prioritariamente fortalecer a unidade das organizações políticas e sociais anticapitalistas e anti-imperialistas em todo o Brasil. Somente a classe trabalhadora organi-zada derrota o fascismo!Ousar lutar, ousar vencer!

Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro (PCB)

Bolsonaro deverá aprofundar as medidas de criminalização aos movi-mentos sociais, ao ativismo social e político de todos os matizes e à esquer-da em particular. Vai querer fazer avan-çar rapidamente o processo de privati-zações das estatais, a subordinação aos interesses do imperialismo estadu-nidense e a entrega das riquezas nacio-nais, conforme o novo presidente anunciou em campanha, dizendo inclu-sive que a “Amazônia não é nossa”. Pretende ainda acelerar a reti-rada dos direitos civis, políticos, sociais e trabalhistas, destruir o Sistema Único de Saúde para favorecer as grandes empresas gestoras dos planos priva-dos de saúde, privatizar a educação pública, implantando os cursos à dis-tância desde o ensino fundamental, além de instituir por lei o famigerado projeto da Escola sem Partido, isto é, da Escola com Mordaça. O fascismo brasileiro está em marcha, mesclando características dos fascismos tradicionais – como o uso da violência contra a esquerda e o movi-mento operário organizado, o ódio à razão, à cultura e ao conhecimento, a utilização de símbolos e palavras de ordem xenofóbicas, a ideologia ultra-conservadora em todos os campos – com uma proposta econômica ultrali-beral e desnacionalizante. Mas eles não jogam sozinhos.

O povo brasileiro se defronta com um novo momento da dominação capitalista em nosso país. Com a vitória de Bolsonaro nas eleições presidencia-is, superado o ciclo da conciliação de classes, estaremos diante de um Esta-do de exceção institucionalizado, for-temente militarizado, com um Con-gresso mais conservador que o atual e um Judiciário controlado. O novo governo conta ainda com o apoio de grupos paramilitares fascistas e do respaldo social obtido através da pro-paganda ideológica anticomunista e antidemocrática entre vários setores da sociedade. Por meio de um mafioso esquema de propaganda fraudulenta financiado por grandes empresários e disseminada por grupos ultraconser-vadores, tendo à frente pastores ines-crupulosos de igrejas neopentecosta-is, foi capaz de espalhar a irracionalida-de e o ódio e capturar corações e men-tes de setores populares e da classe trabalhadora. Conseguiram convencer de que o mal maior a se combater no Brasil é a corrupção do PT, como se este partido tivesse inventado a cor-rupção, sistêmica no capitalismo, que ocorreu em grande escala inclusive durante os governos militares nasci-dos do golpe de 1964, quando a censu-ra, o terror e o medo impediam que fosse tornada pública e punida.

EDITORIAL

Novembro/Dezembro 2018 - Ano 04

O Poder Popular, um jornal a serviço das lutas populares e da Revolução Socialista.Órgão oficial do Partido Comunista Brasileiro (PCB)Conselho Editorial: Ricardo Costa, Eduardo Serra, Edmílson Costa,Roberto Arrais (jornalista responsável – 985/DRT – FENAJ).Diagramação: Mauricio SouzaColaboradores desta Edição: Coordenação do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro de SP,

Antônio Lima Junior, Caio Andrade, Gabriel Landi Fazzio, Mauro Luís Iasi e Mariana Nogueira.

Endereço Eletrônico: www.pcb.org.br Contato: [email protected] Nacional do PCB: Rua da Lapa, 180, Gr 801 - Centro - Rio de Janeiro - RJ - CEP.: 20.021-180Telefax.: (21) 2262-0855 e (21) 2509-3843.

Organizar a resistência e unir asforças populares, democráticas e

patrióticas contra o fascismo!

LUTA POR DIREITOS

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quase um ano da reforma, o desem-prego e a informalidade seguem ele-vados. Dados do Ministério do Traba-lho apontam que, desde a aprovação da reforma até julho, foram gerados apenas 50.545 postos de empregos formais. Por outro lado, entre dezem-bro de 2014 e dezembro de 2017, 2,9 milhões de empregos com carteira assinada foram fechados, uma média de 79,5 mil postos de trabalho a menos por mês.

E mais: o índice de desemprego entre os jovens brasileiros alcança 30%. Nosso país apresenta a segunda maior taxa de desemprego na Améri-ca Latina, atrás apenas do Haiti, país dilacerado pela guerra civil e pelo rastro de uma ocupação militar inter-nacional que só fez aumentar os pro-blemas do seu povo. Neste contexto em que os jovens das famílias da clas-se trabalhadora representam um número avolumado do exército indus-trial de reserva, a “carteira verde e amarela” criará uma subcategoria de trabalhadores ainda mais precariza-dos, pressionando para pior as condi-ções já muito ruins de trabalho do conjunto dos assalariados.

Diante deste quadro, não há outra saída: continuar organizando a luta para combater os novos ataques dos governantes e capitalistas contra a classe trabalhadora.

Assim que saiu o resultado das eleições, o presidente golpista Michel Temer parabenizou Jair Bolsonaro, chamando sua vitória de “histórica” e deixando claro que estará lado a lado do novo governante para implementar os duros ataques contra a classe traba-lhadora, planejados para favorecer os capitalistas que apoiaram o candidato fascista. Antes mesmo do resultado eleitoral final, Temer baixou o Decreto nº 9.527, assinado juntamente com o general Etchegoyen, um quadro do velho SNI da ditadura que atuou na coordenação de campanha de Bolso-naro. A medida, que cria uma “Força-Tarefa de inteligência para o enfrenta-mento ao crime organizado”, tem a clara intenção de criminalizar os movi-mentos populares e organizações de esquerda no Brasil, antecipando um dos itens do programa de governo do PSL: “tipificar como terrorismo as invasões de propriedades rurais e urba-nas no território brasileiro”, dentre outras ameaças aos lutadores e lutado-ras sociais. Neste período de transição até a posse do novo governo, o moribundo Temer fará de tudo para facilitar a apro-vação do pacote de maldades que inte-ressa a Bolsonaro implementar antes que ele assuma a presidência, para evitar maiores desgastes com a popula-ção que o elegeu sem perceber o desastre que está por vir, a exemplo da

Temer e Bolsonarounidos contra os(as)

trabalhadores(as)

Reforma da Previdência (leia o próximo artigo desta edição) e do projeto da “Escola sem Partido”, que visa a impor a mordaça a professores e professoras, proibir o debate político na escola, impedir a reflexão crítica e criminalizar o trabalho docente.

Mais ataques aos direitossociais e trabalhistas

Além disso, Bolsonaro preten-de implantar a carteira de trabalho "verde e amarela", através da qual os jovens entre 20 e 25 anos deverão optar por contratos precários de traba-lho, com menos direitos ainda do que os que restaram após a aprovação da contrarreforma trabalhista de Temer. Pela proposta, o contrato individual entre trabalhador e empregado preva-lece em relação à Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Durante a campanha, o presi-dente eleito declarou abertamente que o povo “terá que escolher entre ter emprego ou ter direitos”. Esse discurso é absolutamente coerente com sua prática política: como deputado há 27 anos, Bolsonaro nunca defendeu os interesses dos trabalhadores e dos pobres. Pelo contrário, votou a favor da reforma trabalhista de Temer, usando a mesma ladainha dos grandes empre-sários segundo a qual era necessária a “modernização” das relações de traba-lho para reduzir o desemprego. Após

REFORMA DA PREVIDÊNCIA

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espécie de Internacional econômica ultraliberal, fundada por intelectuais de direita em 1947 na Suíça para atacar as políticas de bem-estar e os direitos dos trabalhadores, como forma de garantir a ampla liberdade de mercado e os lucros dos capitalistas. No Chile, os economistas neoliberais – com a ajuda da ditadura sanguinária de Pinochet, que assassinou milhares de opositores e calou à força a classe trabalhadora – aplicaram seus planos de favorecimen-to aos grupos capitalistas. É exatamente o mesmo que Paulo Guedes e Bolsonaro querem aplicar no Brasil. Com um governo mili-tarizado e impondo a criminalização dos movimentos sociais, pretendem decretar uma reforma da Previdência nociva aos trabalhadores, aprofundar o desmonte da educação e da saúde públicas, privatizar empresas estatais, entregar nossas riquezas ao capital estrangeiro, promover o desmatamen-to e a destruição do meio ambiente, retirar mais direitos sociais e trabalhis-tas para baratear a força de trabalho, garantir os lucros dos agiotas internaci-onais e subordinar plenamente o país ao imperialismo. Onde essas medidas foram adotadas a fundo, como na Grécia, Espanha, Itália e agora a Argentina, a economia entrou em bancarrota e quem sofreu foram os/as trabalhado-res/as e a população mais pobre, com redução de salários e mais desempre-go. Teremos muita luta pela frente!

é usado para pagar as taxas da segura-dora, ou seja, da empresa privada que administra o negócio. No Chile, a experiência com o sistema de capitalização aconteceu na época da ditadura militar do general Pinochet e gerou uma grave crise na hora de pagar as aposentadorias. As pessoas começaram a se aposentar com uma renda em torno de 20% a 30% do que elas recebiam na ativa. Hoje, o Estado chileno está tendo que complementar a renda dos mais pobres, porque o benefício recebido é totalmente insuficiente para sobrevi-ver.

Um governo ditatorialpara aplicar um programa

ultraliberal

O guru econômico de Bolsona-ro é da escola de Chicago, que forma economistas dentro da cartilha mais radical do neoliberalismo. Paulo Gue-des, PhD de Chicago, trabalhou no Departamento de Economia da Univer-sidade do Chile no começo da década de 1980, anos depois de Milton Fried-man ter visitado o país e convencido Pinochet a adotar o receituário econô-mico ultraliberal, quando então disse a famosa frase: “é melhor cortar o rabo do cachorro de uma só vez do que em pedacinhos”. Friedman foi um dos fundado-res da Sociedade de Mont Pelerin, uma

Paulo Guedes, o futuro minis-tro da Fazenda do governo Jair Bolso-naro, já anunciou que, em seu pacote econômico, uma das principais medi-das, para “controlar gastos”, será a aprovação da Reforma da Previdência, assim como a aceleração das privatiza-ções e o “enxugamento da máquina pública”, ou seja, novos ataques aos direitos dos servidores e cortes de ver-bas de programas sociais. Os cerca de 51 milhões de tra-balhadores que contribuem com o INSS correm o risco de ver o sonho da aposentadoria ir por água abaixo. Em substituição ao sistema atual, a Refor-ma da Previdência proposta por Jair Bolsonaro consegue ser ainda pior do que aquela apresentada por Temer e que não conseguiu apoio da maioria dos deputados antes do processo elei-toral deste ano. A equipe do presidente eleito defende a criação de um modelo de capitalização com contas individuais, modelo que foi adotado na Argentina e no Chile com resultados catastróficos para a população. Nos dois casos, os governos tiveram que voltar atrás e fazer novas reformas. Nos anos de 1990, a Argentina optou por um mode-lo de contribuição que migrava para um sistema privado. A experiência com o regime de capitalização demonstrou ser um verdadeiro fracasso, porque apenas dois terços das contribuições mensais dos/as trabalhadores/as vão para o fundo de previdência. Um terço

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Proposta deBolsonaro ameaça a

aposentadoria detodos os brasileiros

UNIDADE CLASSISTA

Venha construir a Unidade Classista! www.unidadeclassista.org.br

aposentadoria, conforme pode se verificar no texto da página 4 desta edição. Isso tudo em meio à aplicação vigente da Emenda Constitucional 95 (PEC do “teto dos gastos”), que impôs cortes violentos dos recursos para políticas sociais na Saúde, Educação e Assistência Social. Está em curso um processo de ampliação da superexplo-ração do trabalho, com o objetivo de desvalorizar profundamente a força de trabalho como forma de enfrentamen-to à crise mundial do capitalismo no interesse dos grandes empresários, dos monopólios internacionais e do imperialismo. Somente a ação organizada da classe trabalhadora, através de seus sindicatos, movimentos e associações, será capaz de retomar as mobilizações populares para o combate à política de Bolsonaro e dos patrões de destruição dos direitos sociais e trabalhistas. É preciso superar o quanto antes o atual quadro de dispersão e divisão das enti-dades representativas dos/as trabalha-dores/as e setores populares e realizar o Encontro Nacional da Classe Traba-lhadora. Este encontro deverá, funda-mentalmente, discutir e aprovar um plano comum de resistência e luta, assim como criar um Fórum Nacional de Mobilização que congregue todas as organizações sindicais e populares dispostas a cerrar fileiras contra os ataques do capital e o avanço do fascis-mo em nosso país.

resta de liberdades democráticas, dire-itos sociais e trabalhistas, precisamos urgentemente superar a dispersão do movimento sindical classista e dos movimentos populares de luta. A con-juntura nos impõe, mais do que nunca, muita unidade para resistir à ofensiva da burguesa.

Pela realização doEncontro Nacional daClasse Trabalhadora

(ENCLAT)

Com a eleição de Jair Bolsona-ro, os direitos trabalhistas, já bastante reduzidos com a aprovação da reforma trabalhista de Temer, estão ainda mais ameaçados. Além da proposta da “car-teira de trabalho verde e amarela” (ver artigo da página 3), para instituir con-tratos de trabalho mais precários, estão na berlinda os reajustes salariais, com a introdução de um redutor na fórmula de reajuste do salário mínimo, em substituição à atual, que, mesmo sendo insuficiente para atender as necessidades da classe trabalhadora, leva em consideração a inflação do ano anterior pelo INPC, acrescida da varia-ção do PIB de dois anos antes. Além de cogitar alterar o funci-onamento do FGTS, autorizando a apli-cação de seus recursos no mercado de capitais, a equipe econômica de Bolso-naro ameaça abertamente o direito à

A grave crise que assola a eco-nomia nacional desde 2014, o esgota-mento do período de conciliação de classes e a falência da chamada Nova República são alguns dos elementos mais importantes que determinaram o fim do pacto social vigente no Brasil desde a década de 1980. Nesse contex-to, direitos elementares que nossa classe conquistou ao longo de todo o século passado tem sido frontalmente atacados pela grande burguesia. Desde 2015, pelo menos, seto-res de extrema direita em nosso país, associados ao imperialismo, têm inten-sificado suas ações políticas no sentido de disputar a consciência das massas, de forma cada vez mais explícita e dire-ta. Enxergamos com muita preocupa-ção o risco de que, em pouco tempo, se consolide um movimento neofacista no Brasil, a exemplo do que já ocorre em outros países. O processo em questão é uma ameaça muito séria ao conjunto da classe trabalhadora latino-americana em geral e brasileira em particular. Já é possível verificar, inclusive, o recrudes-cimento da violência física e simbólica contra a esquerda em diversos esta-dos. A praga do fascismo precisa ser enfrentada em cada local de trabalho, estudo e moradia. O fascismo só será efetivamente barrado nas ruas, com a classe trabalhadora unida e organiza-da. Para defender o que ainda

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É preciso superar adispersão para resistiraos novos ataques daburguesia e ao fascismo

UNIDADECLASSISTA!

Resiste!

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em 1929, que falava da “vocação agrária do Brasil” e as prioridades do Estado Novo depois de 1937; na con-tradição entre a pregação moralista e anticorrupção das forças golpistas de 1964 e o entreguismo corrupto da ditadura por décadas. Podemos ver esse processo mesmo nos clássi-cos casos do nazi-fascismo europeu, quando a retórica nacionalista e a crítica ao grande capital se transfor-maram na aliança prática do capital financeiro e monopolista com o nazismo e o fascismo.

Uma política extrema aserviço do grande capital

A extrema direita é um ins-trumento do grande capital que lança mão da barbárie para salvar sua civilização diante do risco da democracia. Seu método é a estig-matização do inimigo, a manipula-ção dos valores da nação, da família, da moral, do perigo comunista, des-locando a responsabilidade pela crise e seus efeitos para os ombros

no público gratuito, a legalização do famigerado movimento “escola sem partido” para operar uma cruzada de perseguições políticas e obscuran-tistas no sistema educacional, a eli-minação de todos aos “ativismos”, o fim do 13º salário e do adicional de férias, entre outras sandices, foram divulgadas durante a campanha elei-toral. Mas o verdadeiro objetivo da extrema direita é outro. Pretende acirrar as contradições para vender a necessidade da ordem imposta vio-lentamente, seja pela interferência direta das forças armadas, seja atra-vés do controle da ordem institucio-nal, legislativa e judiciária. O proble-ma é que o acirramento foi funda-mental para ganhar as eleições, mas cria condições instáveis de governa-bilidade, levando à “inevitabilidade” da alternativa autoritária. A história nos ensina que os verdadeiros planos aparecem depo-is de soluções de força, como se veri-ficou na clara diferença entre os projetos da Aliança Liberal de Vargas

O fracasso dos governos de conciliação de classe e a total falta de estabilidade do governo que se seguiu ao golpe institucional, parla-mentar e midiático de 2016 gesta-ram as condições para o crescimento da extrema direita no Brasil. A desar-ticulação do PT, facilitada pela con-denação sem provas e prisão do ex-presidente Lula e associada à impos-sibilidade de a direita golpista encontrar uma alternativa viável do ponto de vista eleitoral, abriu espaço para que a opção reacionária se apre-sentasse com uma candidatura viá-vel eleitoralmente e ganhasse as eleições. O programa de Bolsonaro aponta para o que tem se chamado de “ultraliberalismo”: propostas como a total privatização dos servi-ços oferecidos pelo Estado, a cobrança do imposto de renda por meio de porcentagens iguais diante de uma realidade de profunda desi-gualdade entre os ganhos do capital e a renda da população, o desmonte das universidades federais e do ensi-

EM DEBATE

O FASCISMO BRASILEIRO EM MARCHA

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na perspectiva de entregar nossas riquezas de bandeja para o imperia-lismo, visto que sua consolidação é consequência direta dos interesses da burguesia internacional e de sua intervenção na política do continen-te, com vistas ao fim dos governos progressistas na América do Sul e a imposição de governos reacionários e liberais. A América Latina e o mundo vivem uma ofensiva imperialista poderosa frente a diversos esforços de resistência que estão se desen-volvendo. A estratégia dos EUA, neste momento, é tentar esmagar a resistência do povo da Venezuela, um país que não se submete aos inte-resses dos monopólios ianques. Por trás do discurso de combate ao “dita-dor” Maduro, há o interesse de priva-tizar as reservas de petróleo da Vene-zuela. Para isso, contam com o apoio da Colômbia e de países como Brasil, Chile e Argentina, ameaçando com uma intervenção militar. Apesar de tudo isto, é impor-tante considerar que, ainda que um pouco mais de 50 milhões de pesso-as tenha votado em Bolsonaro, exis-tem cerca de 80 milhões de pessoas que não o fizeram. Nosso grande desafio é desenvolver organizações capazes de construir e disputar, real-mente, o poder com o inimigo explo-rador, gerando uma cultura superior em nossas relações, em nosso proje-to de sociedade, demonstrando que, além de necessária, é possível a mudança. O momento exige a constru-ção do diálogo com todos aqueles que participaram do processo eleito-ral na campanha contra a eleição de Bolsonaro, construindo uma frente ampla e democrática, dentro da qual deve se fortalecer os setores da esquerda socialista, para que a resis-tência ao fascismo e aos ataques do capital possa se dar da maneira mais organizada e consequente possível.

contra a população negra e indíge-na, contra todos os movimentos sociais, contra a Amazônia. A derrota é das maiorias trabalhadoras que seguirão padecendo violências de diferentes tipos, desde a perda de direitos conquistados até o aumen-to da brutalidade no uso da força. Tudo isto, com uma forte cobertura midiática que busca instalar a crença de que essas medidas não são violen-tas, mas necessárias. O projeto, dirigido a partir dos centros imperialistas, com o mesmo chefe de estratégia que con-duziu a eleição de Donald Trump nos EUA, utilizou de todos os meios – na maioria deles utilizando esquemas fraudulentos e inescrupulosos de propaganda – para vencer. Apelou à história militar de Bolsonaro e esco-lheu um vice-presidente militar em um país no qual a transição para a democracia foi pactuada e negocia-da de cima pelos militares e onde a luta pela memória, justiça e punição dos responsáveis pela ditadura não conseguiu se impor.

A estratégia imperialistana América Latina

Em todo o mundo, há em curso um processo de saturação com o siste-ma político liberal burguês e sua forma de representação que exclui a imensa maioria das pessoas da possi-bilidade de participação nas toma-das de decisão. O exercício da políti-ca caiu num pântano hediondo que provoca náusea aos povos. Diante disso, a burguesia incentiva os temo-res das pessoas para validar projetos de saque e repressão que, suposta-mente, solucionarão os problemas de insegurança com a utilização da força. O protofascismo brasileiro carrega consigo elementos tradicio-nais do fascismo, com uma mistura a propostas econômica ultraliberais,

de seus adversários. Por isso, não nos espanta que a mentira seja a principal arma política daqueles que defendem os interesses de uma minoria e precisam do apoio das mas-sas para suas aventuras. Não foi o Facebook nem o WhatsApp que cria-ram o fenômeno. Ainda que esses dispositivos sejam veículos eficien-tes da mentira e das falsificações, a “propaganda” é reconhecidamente um instrumento do fascismo, pois a verdade os destrói como a luz aos vampiros. A extrema direita desperta na sociedade forças reacionárias que ameaçam a integridade física e moral da maioria da população. Durante a campanha eleitoral foram centenas de atos violentos notifica-dos em que apoiadores de Bolsona-ro constrangeram, ameaçaram, agre-diram ou mataram pessoas, como no caso do mestre Moa do Katendê na Bahia. Após a divulgação do resulta-do, vieram os incêndios de acampa-mentos do MST, atentados a comu-nidades indígenas, invasões de assembleias sindicais e outros ata-ques. Essas agressões dão corpo a uma escalada de violência política que se soma a tantos outros casos como o assassinato de Marielle Fran-co, de Jorginho Guajajara e muitas outras lideranças indígenas ainda neste ano. A direita conquistou 301 dos 513 assentos na Câmara dos Deputa-dos (em 2014, tinham 238); o pro-gressismo passou de 166 a 137 depu-tados; e o centro baixou de 137 para 75. O bloco do agronegócio e contra qualquer reforma agrária tem duas centenas de deputados, o evangéli-co uns 76 e a “bancada da bala”, defensora da pena de morte e de armar a população, que não tinha senadores, passou a contar com 18 (dos 54 que compõem o Senado). Virá uma ofensiva ainda maior contra os direitos trabalhistas,

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recorde. A verdade é que o Judiciário está completamente nas mãos dos grandes grupos econômicos e é marca-do pela corrupção. Obras superfatura-das e propinas não são exclusividades do Executivo e do Legislativo. São os juízes que decidem eles próprios sobre seus salários exorbitantes e, com esse dinheiro, muitos se transformam em empresários, fazendeiros e investido-res da Bolsa. Em sua maioria, são os filhos dos ricos que têm condições de participar de concursos para a magis-tratura. Por esses e muitos outros moti-vos os juízes atuam, em geral, em bene-fício dos ricos e poderosos. Ao mesmo tempo, atingem os pobres com mão de ferro, autorizando a repressão aos movimentos de luta por melhores con-dições de vida e definindo duras penas para os mais pobres – enquanto os ricos se safam com os melhores advo-gados que o dinheiro pode comprar. Existem, é claro, juízes com espírito democrático e favoráveis às causas populares, como é o caso da Associação dos Juízes pela Democra-cia. Mas essa exceção apenas confirma a regra. A classe trabalhadora e a maio-ria oprimida da população só poderão conseguir justiça de verdade através da sua própria luta, enfrentando toda esta casta de juízes, promotores, generais e políticos que servem às classes domi-nantes, para tomar nas suas próprias mãos o direito de decidir sobre seu destino.

Sergio Moro não é uma exceção no judiciário brasileiro: posturas autoritá-rias, antipopulares e pró-empresários são regra na “Justiça”. O Poder Judiciá-rio é um dos poderes menos democrá-ticos e mais elitistas do Estado. É a últi-ma linha de defesa da classe dominan-te contra os interesses e necessidades dos trabalhadores e da maioria do povo.

Uma Justiça contra os pobres e a favor dos ricos

e poderosos

O Supremo Tribunal Federal, no fim de agosto de 2018, bateu o martelo no tema da terceirização, auto-rizando sua aplicação a todas as ativida-des da economia – o que vai resultar em perda de direitos, redução de salários e piores condições de trabalho para gran-de parte dos assalariados brasileiros. Mesmo nos casos em que os juízes aparecem como heróis do com-bate à corrupção, fica evidente sua seletividade e sua parcial idade. Enquanto alguns políticos são julgados a jato, outros ganham os privilégios da lentidão, que acaba levando à prescri-ção dos crimes – como no caso do Men-salão do PSDB, em Minas Gerais. No Estado de São Paulo, o mesmo PSDB parece ser intocável. Apesar dos diver-sos escândalos de corrupção envolven-do Geraldo Alckmin, o tucano atuou livremente na corrida presidencial, enquanto Lula foi julgado em tempo

A aceitação pelo Juiz Sergio Moro ao convite feito por Jair Bolsona-ro para assumir a pasta do Ministério da Justiça em seu governo é uma demons-tração cabal da parcialidade política de toda a Operação Lava-Jato, cujo propó-sito maior sempre foi o de condenar sem provas e colocar na prisão o ex-presidente Lula, retirando-o da disputa nas eleições presidenciais de 2018, o que contribuiu sobremaneira para a vitória da extrema direita. O alinhamento de Sergio Moro à direita política e ao imperialismo nunca foi segredo. O Wikileaks (site especializado por vazar documentos internos do governo estadunidense) revelou, há tempos, a ligação entre Sergio Moro e o Departamento de Esta-do dos EUA, que apadrinhou sua carrei-ra jurídica desde 2009. A prática judicial de Moro sempre comprovou sua imparcialidade: de forma desproporci-onal, concentrou seus ataques aos dirigentes do PT, deixando passar toda uma série de crimes praticados pelos políticos da direita. Primeiro, Moro realizou ilegal-mente o vazamento de intercepções telefônicas de diversos políticos, em especial os do PT. Depois, inviabilizou a candidatura de Lula, a mais forte candi-datura da ala esquerda do regime bur-guês brasileiro, abrindo um caminho verdejante para Jair Bolsonaro percor-rer durante as eleições. Agora, com a vitória do candidato da extrema-direita, Moro está sendo devidamente recompensado por seus serviços sujos.

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Sergio Moro, adireita e oPoder judiciáriono Brasil

POLÍTICA

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processo saúde-doença dos trabalha-dores africanos e latino-americanos. A proposta de “Cobertura Uni-versal de Saúde” nega a saúde como direito universal, substituindo a defesa de sistemas públicos de saúde por ações e serviços destinados a uma parte da população dos países, a serem garantidos por parcerias público-privadas e processos de privatizações. É uma proposta neoliberal, seguindo a lógica de Estado mínimo, a serviço do capitalismo. A ênfase da proposta apre-sentada pelos organismos internacio-nais está na responsabilização das pes-soas por sua própria saúde, e não na oferta púbica de todos os serviços de saúde aos trabalhadores. Assim, se fragiliza a defesa do direito à saúde como dever do Estado, se fragmenta e estratifica a provisão dos serviços de saúde. A proposta de cobertura univer-sal transforma o direito à saúde em serviço a ser tratado como mercadoria. Na América Latina entidades como a Associação Latino-Americana de Medicina Social e o Conselho Nacio-nal de Saúde brasileiro se pronuncia-ram contrários a CUS e reafirmaram a necessária defesa de sistemas univer-sais de saúde públicos. Não iremos aceitar que o direito à saúde seja trata-do como mercadoria! A APS precisa ser 100% pública, integrante de um siste-ma universal com qualidade, financia-da e garantida pelo Estado e sob o comando da classe trabalhadora!

grande agitação social da envolvendo a classe trabalhadora, movimentos naci-onalistas, lutas socialistas e em defesa dos direitos humanos e civis. A atual conjuntura histórica, econômica, política e social é marcada por crescente processo de privatização de setores, como saúde e educação, que vêm se constituindo cada vez mais como espaços de valorização do capi-tal; pela influência do Complexo Médi-co-Industrial e Financeiro da Saúde, conformado pelas grandes corpora-ções privadas e os alinhamentos políti-cos que avançam em direção à financei-rização. Há crescente pressão de inte-resses privados nos sistemas públicos de saúde, o que aponta para um novo papel que o setor assume na economia capitalista.

A privatização daSaúde Pública

Considerando as contrarrefor-mas que reduzem direitos sociais, o avanço do autoritarismo, da xenofobia, a crise humanitária derivada de migra-ções forçadas, crise climática e ambien-tal, a defesa de uma APS não pode natu-ralizar as desigualdades produzidas pela ordem econômica vigente. A defe-sa da Atenção Primária não pode se isentar de incluir a denúncia da interde-pendência entre os países centrais e os periféricos, relações determinantes do

Nos dias 25 e 26 de outubro aconteceu a Conferência Global sobre Atenção Primária à Saúde (APS), na cidade de Astana, no Cazaquistão. Desta conferência participaram dele-gados de diversos países do mundo, incluindo representantes da América Latina e do Brasil. As instituições orga-nizadoras da conferência foram a Orga-nização Mundial de Saúde e o Fundo das Nações Unidas para a Infância, dois organismos internacionais que vêm contando com cada vez mais recursos financeiros de grupos privados e cor-porações de países centrais. O principal objetivo da conferência internacional foi a produção de um acordo entre os diversos países do mundo, periféricos e centrais, a respeito da Atenção Primá-ria à Saúde (APS). Pretendem, a partir de um documento que vinha sendo elaborado com contribuições de diver-sos países, consolidar a proposta de “Cobertura Universal de Saúde (CUS)”. A APS há 40 anos foi firmada na Conferência internacional de “Alma-Ata” como ampliação das ações de saúde a partir da relação entre as con-dições de vida das pessoas, o território e as unidades de saúde, responsabilida-de dos Estados, direito dos trabalhado-res e integrada a sistemas de saúde. A APS tinha relação direta com a luta pela redução de desigualdades e o fomento à participação social. Assim, ameaçava interesses privatistas e do capital industrial. Naquela conjuntura havia

MOVIMENTOS POPULARES

PELO DIREITO DOSTRABALHADORESÀ SAÚDE PÚBLICA!

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Novembro/Dezembro 2018 - Ano 04

COLETIVO FEMINISTA ANA MONTENEGRO

dará sem a reação daqueles que têm seu lugar de poder posto em xeque e que já começaram a lançar mão de mecanismos de violência para garantir seus privilégios. Em períodos de crise econômi-ca e política, também são iminentes políticas de austeridade que atingem com mais força as mulheres trabalha-doras. A Reforma Trabalhista aprovada recai principalmente sobre os ombros das mulheres, que já recebem os meno-res salários, ocupam postos de traba-lhos considerados inferiores, sofrem assédio moral diariamente em seus empregos, além de enfrentar a tripla jornada, ao ser responsabilizada pelo serviço doméstico e de cuidado à famí-lia. Os cortes de gastos públicos, que incluem serviços de socialização dos cuidados como creches e hospitais, atingem diretamente as mulheres, aumentando a carga do trabalho doméstico. Reafirmamos que a luta pelo fim da opressão e exploração da mulher continua mais necessária do que nunca nos dias atuais. Apontamos, deste modo, para um horizonte que deve ser almejado por nós feministas classistas: o fortalecimento de um femi-nismo que abarque a organização da luta das mulheres trabalhadoras e se proponha a revolucionar a vida de toda a nossa classe.

tam na Justiça brasileira. Estes dados tornam-se ainda mais agravantes quando nos depara-mos com a atual conjuntura brasileira. Declarações homofóbicas, racistas e machistas ganharam lugar comum no Brasil e isto não é produto do acaso. Nos últimos anos enfrentamos ações institucionais e movimentos que ataca-vam e atacam diretamente pautas femi-nistas com o claro objetivo de deslegiti-mar a luta das mulheres e de retirar direitos conquistados ao longo de sécu-los de mobilizações e enfretamentos. Mulheres unidas contra os retrocessos.

Não nos calarão!

Desde projetos como o do Esta-tuto do Nascituro e o Estatuto da Famí-lia, até a Marcha com Deus pela Liber-dade, o Movimento pela Vida e as hosti-lizações acerca da suposta “Ideologia de Gênero”, tais ações anunciavam os retrocessos que hoje se materializam na figura de Jair Bolsonaro. O conser-vadorismo apregoado por setores reli-giosos e em nome de “família, moral e bons costumes” ganha aspectos fascis-tas ameaçando qualquer garantia de liberdade democrática. O discurso de ódio e a “guerra cultural” difundidos por tal candidatura demonstram que o combate à dominação patriarcal não se

O Brasil é um dos lugares mais perigosos para ser mulher no mundo. Segundo levantamentos feitos pela ONU, somos o quinto país com maior número de feminicídios do mundo. Apenas no ano de 2017, mais de 4.500 mulheres foram assassinadas, sendo 1.133 destes casos identificados como feminicídio. Os números em relação aos casos de estupro também são alar-mantes: em 2017 passaram de 60 mil, percentual que cresceu 8,4% em rela-ção ao ano interior. Além disso, de acordo com dados do Fórum Brasileiro de Seguran-ça Pública, ao menos 221.238 mulheres foram vítimas de violência doméstica no país em 2017 (606 casos por dia). De janeiro a julho de 2018, segundo o Ministério dos Direitos Humanos (MDH), a Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180) registrou 27 femini-cídios, 51 homicídios, 547 tentativas de feminicídios e 118 tentativas de homi-cídios. No mesmo período, os relatos de violência chegaram a quase 80 mil, sendo os maiores números referentes à violência física (37.396) e à violência psicológica (26.527), abrangendo desde cárcere privado a tráfico interna-cional de pessoas. Atualmente, segun-do o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), mais de 1 milhão de processos relativos à violência doméstica trami-

A LUTA DAS MULHERES SEGUE FIRME!

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AMÉRICA LATINA

O protagonismo da mulher cubanaque os homens e contam com um Plano de Ação Nacional em respeito à IV Conferência Mundial das Nações Unidas sobre a Mulher”. As cubanas recebem igual salário que os homens por trabalho de igual valor e têm direi-to a pensão por viuvez, invalidez total ou parcial, assim como a licença mater-nidade, garantida até um ano depois de nascido o bebê. Têm direito à terra, a receber créditos bancários, acesso à educação e à saúde públicas, gratuitas e universais de qualidade, assim como a seus direitos sexuais e reprodutivos. Não existe, no marco jurídico-legal cubano, nenhum tipo de discri-minação por conceito de gênero que impeça as mulheres rurais de viver como seres humanos em igualdade de direitos com os homens, tendo garan-tido inclusive o acesso à propriedade sobre a terra dentro da Constituição cubana. Exemplo disto é que, na Ilha, se concedeu a posse da terra, com pleno acesso a créditos, assistência técnica e outras oportunidades, a mais de 20 mil mulheres. A Organização Mundial de Saúde reconheceu Cuba como o primeiro país do mundo a eli-minar a transmissão materno-infantil do vírus do HIV e da sífilis congênita.

A mulher cubana no poder

A atual legislatura da Assem-bleia Nacional do Poder Popular pos-sui 322 mulheres entre seus 605 mem-bros (53,2%), o que faz do Parlamento cubano o segundo do planeta com

Enquanto no Brasil são alar-mantes os dados relativos à violência de gênero e cada vez mais se deterio-ram as condições de vida e trabalho das mulheres, em Cuba Socialista a inserção das cubanas no processo de desenvolvimento social, como benefi-ciárias e protagonistas ativas, se quali-fica como um dos fenômenos sociais mais exitosos do planeta. Cuba foi o primeiro país a assi-nar a Convenção Sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher em 1979 e o segundo a ratificá-la. Em 1996, quando prestou seu informe diante do Comitê de Espe-cialistas da CEDAW (sigla em inglês da Convenção), foi reconhecido o traba-lho desenvolvido no país em prol dos direitos humanos das mulheres. Apesar das circunstancias eco-nômicas e políticas em que se encon-tra o país desde 1989, como resultado da escalada do bloqueio econômico dos Estados Unidos, que provoca séri-as repercussões sobre a situação das mulheres e da infância, levando à dete-rioração da qualidade de vida do povo, Cuba não havia cessado de avançar até a conquista da plena igualdade entre os sexos. Além disso, continuou cum-prindo seus compromissos internacio-nais referentes à igualdade de gênero e aos direitos políticos e sociais das mulheres, incluídos na Declaração e Plataforma de Ação de Pequim e na Conferência sobre População e Desenvolvimento. As cubanas têm acesso à esfe-ra pública em igualdade de condições

maior participação das mulheres em órgãos legislativos, só superado por Ruanda (61,3%).

Outros números indicam a forte presença da mulher na sociedade cubana:• Graduadas em educação superior: 60,5 %;• Técnicas e profissionais: 67,2 %;• Força de trabalho no setor estatal civil: 49 %;• Dirigentes: 48,6 %;• Professoras, mestras e cientistas: 81,9 %;• 10 das 15 províncias cubanas são governadas por mulheres.

Grande parte dessas conquis-tas se deve à firme atuação da Federa-ção de Mulheres Cubanas (FMC), orga-nização que, desde sua fundação em 23 de agosto de 1960, luta em defesa de políticas e programas que garan-tam a presença da mulher em todos os âmbitos e níveis da sociedade. A FMC, em cujas fileiras atuam hoje cerca de quatro milhões de cubanas, tem, nas brigadas de saúde e trabalho social, duas de suas principais frentes. São promotoras voluntárias de saúde que desenvolvem ações de educação para melhorar a qualidade de vida da popu-lação. Com o seu trabalho voluntário cotidiano, contribuem de forma deci-siva para aprofundar as conquistas e os direitos obtidos no processo da Revolução Cubana.

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LuizMaranhão:o dirigente do PCB que uniu cristãos ecomunistas na luta contra a ditadura

HISTÓRIA

Nascido em 25 de janeiro de 1921 na cidade de Natal (RN), Luiz Ignácio Maranhão Filho era advogado, jornalista e professor universitário. Estudou no Atheneu Norteriograndense, escola em que mais tarde atuaria como professor. Lecio-nou também na Fundação José Augusto e na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Colaborou com diversas publica-ções do Rio Grande do Norte, particularmente com o Diário de Natal. Maranhão entrou para o PCB em 1945. Com o acirramento da Guerra Fria e a proibição de atuação legal dos comunis-tas, foi preso e duramente torturado no ano de 1952, na Base Aérea de Parnamirim (RN), onde funcionava, desde o Estado Novo, um campo de torturas ligado à Aeronáutica. Havia sido preso justamente por denunciar as sevícias sofridas pelos mili-tantes de esquerda naquele local. Em 1958, foi eleito Deputado Estadual pela legenda do Partido Trabalhista Nacional (PTN), mandato que exerceu até 1962. No início de 1964, visitou Cuba a convite de Fidel Castro, juntamente com Francisco Julião, o líder das Ligas Campo-nesas. Após o golpe militar, teve seus direitos políticos cassados, foi preso e levado para a ilha de Fernando de Noronha, jun-tamente com o governador de Pernambuco Miguel Arraes e seu irmão, Djalma Maranhão, prefeito de Natal, cuja gestão municipal estava engajada na mobilização pelas reformas de base. Djalma buscava aplicar as propostas de Paulo Freire na educação, através do programa de alfabetização que teve repercussão nacional: “De pé no chão também se aprende a ler”.Libertado no final do ano, Luiz Maranhão imediatamente passou a viver na clandestinidade, fixando-se no Rio de Janeiro. Neste período, atuou em diversas missões e comissões partidárias, tendo sido eleito para o Comitê Central do PCB no VI Con-gresso, em 1967. Maranhão foi o dirigente que mais trabalhou no PCB a relação entre cristãos e marxistas, na trilha do diálogo propos-to então pelo filósofo marxista Roger Garaudy, filiado ao Partido Comunista Francês. Maranhão entendia ser essencial a aproximação dos comunistas com a Igreja Católica no processo de construção da ampla frente democrática de oposição à ditadura. Por isso organizou a publicação de três encíclicas fundamentais na renovação da Igreja Católica – Populorum Pro-gressio, Pacem in Terris e Mater et Magistra – sob o título “A Marcha Social da Igreja”, com uma introdução de Alceu Amoroso Lima, destacado pensador cristão que adotava na imprensa o pseudônimo de Tristão de Ataíde. Apesar de absolvido pelo Superior Tribunal Militar em março de 1973 no IPM (Inquérito Policial Militar) aberto contra ele três anos antes, acabou sendo preso em 3 de abril de 1974 numa praça, na cidade de São Paulo. Maranhão foi um dos membros do Comitê Central do PCB assassinados na Operação Radar, desencadeada pelo regime para destruir a organiza-ção dos comunistas. Em 1975, um documento do CISA (Centro de Informações da Aeronáutica) em resposta à Campanha pelos Desapare-cidos, que alcançava repercussão internacional, revela a resposta oficial de que Luiz Ignácio Maranhão Filho e os demais dirigentes do PCB estavam “foragidos”. O texto dizia que o “velho comunista” Maranhão era “encarregado, dentro da estra-tégia fornecida pela Rússia, de orientar o PCB para utilizar a Igreja como cabeça de ponte ao seu trabalho”. Mais do que nunca é necessário reverenciar os nomes daqueles que, na luta em defesa dos direitos da classe traba-lhadora e pelas liberdades democráticas, foram torturados e mortos pela ditadura assassina de 1964-1985, que o presidente eleito em 2018 elogia e quer resgatar. Ditadura nunca mais! Em memória de Luiz Maranhão e de todos os que tombaram por nossa liberdade, nenhum minuto de silêncio, mas toda uma vida de lutas!