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Edição 21 MAI/JUN/2017 Ano 03 Grandes empresas sonegam a Previdência IMPERIALISMO E SIONISMO MASSACRAM POVO PALESTINO PÁGS 8 E 9 E QUEM VAI PAGAR É O TRABALHADOR?

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Edição 21

MAI/JUN/2017

Ano 03

Grandesempresassonegam aPrevidência

IMPERIALISMO E SIONISMOMASSACRAM POVO PALESTINO

PÁGS 8 E 9

E QUEM VAIPAGAR É OTRABALHADOR?

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EMaio/Junho 2017 - Ano 03

Comissão Nacional de Comunicação: Ricardo Costa, Ivan Pinheiro, Edmílson Costa, Roberto Arrais

Telefax.: (21) 2262-0855 e (21) 2509-3843.

Diagramação: Mauricio Souza.

É hora de seguir na ofensiva para derrotaro governo usurpador e suas reformas!

de rua, capazes de inviabilizar a repres-são. Uma coisa é reprimir cinco ou dez mil manifestantes. Outra é atacar uma manifestação de 100 ou 200 mil pessoas. O movimento de 28 de abril foi um bom ensaio geral para as jornadas de lutas que virão, mostrando o potencial de luta e organização dos trabalhadores, esquecido nos anos do pacto social petis-ta. No entanto, um dia de paralisação não é suficiente para acuar esse governo que está disposto a tudo para aprovar seus “pacotes de maldades”. A luta deve conti-nuar! Está na ordem do dia a constru-ção do Encontro Nacional da Classe Tra-balhadora e do Movimento Popular, um fórum permanente de mobilizações e organização das lutas que reúna as orga-nizações sindicais e populares combati-vas, que mantenha a unidade na luta con-tra os ataques do capital, mas recuse, ao mesmo tempo, as saídas conciliatórias e reformistas que vicejam no interior dos movimentos sociais. O ENCLAT deve se voltar à elaboração de um programa anticapitalista para o país, produzido a partir das bases do movimento operário e popular, um projeto político sob a lógica dos interesses populares, no rumo do Poder Popular e do Socialismo.

Vale lembrar ainda que a greve geral de 28 de abril não caiu do céu nem foi fruto da espontaneidade das massas, que de uma hora outra resolveram cruzar os braços contra o governo e seus patroci-nadores. As manifestações contra o golpe vinham sendo realizadas já há algum tempo, muito embora ainda fossem difu-sas e com elevado grau de espontaneida-de. E revelaram, de forma pedagógica, o imenso potencial dos trabalhadores na luta por seus direitos e por uma vida melhor, demonstrando cabalmente que a classe trabalhadora é a força mais impor-tante de um país. Nas novas condições e diante da heterogeneidade das regiões e da luta social brasileira, a esquerda deve não só intensificar as gestões para manter a unidade dos trabalhadores, mas também combinar diversas formas de luta contra a burguesia e o aparato repressivo. É fun-damental parar as fábricas, o comércio e o transporte, mas também é muito impor-tante formar e fortalecer os Comitês Popu-lares Contra as Reformas e multiplicar de maneira acelerada os comandos móveis para parar a circulação nas grandes metrópoles. Quanto maior for o número de comandos populares, mais dificulda-des terá o aparato militar para reprimir os lutadores. E todo esse trabalho deverá ser condensado em grandes manifestações

Da histórica jornada de lutas do dia 28/04 participaram cerca de 40 milhões de trabalhadores de Norte a Sul do País, de acordo com as centrais sindi-cais que convocaram a greve geral. Da Zona Franca de Manaus, no Estado do Amazonas, passando pelas plataformas marítimas da Petrobrás, metalúrgicos da região Centro-Sul, petroleiros de vários Estados, os transportes em geral (metrô, ônibus e trens), estivadores, milhões de professores municipais, estaduais e das universidades, inclusive professores da rede privada, bancários das principais cidades brasileiras, serviços em geral. Até o comércio em algumas grandes capitais paralisou suas atividades. Os primeiros ensinamentos da greve geral revelam que, quando os tra-balhadores, o movimento popular e da juventude entram em cena de forma uni-tária, são capazes de mover montanhas. A greve demonstrou que os trabalhadores entram em cena quando as condições objetivas e subjetivas estão maduras para grandes ações de massa. Porém, mesmo diante do movimento vitorioso, não se pode cair no ufanismo: este foi o primeiro ensaio geral de uma longa jornada de lutas, cujo desfecho será mais ou menos profundo de acordo com a intensidade das ações do movimento operário nos próximos meses.

EDITORIAL

O Poder Popular, um jornal a serviço das lutas populares e da Revolução Socialista.

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de 1988 inspiraram-se “modelo triparti-te” de financiamento da Seguridade Social, comum nos regimes de Estado de Bem-Estar Social europeus, segundo o qual trabalhadores, empregadores e Estado são igualmente responsáveis pelo provimento das receitas para as políticas voltadas aos sistemas nacionais de proteção. Este modelo garante que haja uma base ampla e diversificada de finan-ciamento da Seguridade, evitando que a maior parte das contribuições recaia sobre os rendimentos do trabalho, pois a lógica é que funcione como um sistema solidário. Portanto, as fontes de financia-mento incluem, além das contribuições dos trabalhadores e aquelas sobre a folha de pagamento, a receita, faturamento ou lucro das empresas (Cofins) e CSLL, das loterias e apostas de qualquer natureza, das importações de bens ou serviços, etc. Ficam mais do que evidentes os objetivos do governo Temer com a pro-posta de reforma: no lugar de obrigar que a Constituição de 1988 seja cumprida, age no sentido de favorecer apenas os interesses das grandes empresas e dos bancos, permitindo o enorme calote dos capitalistas à Previdência e, na prática, dando fim às aposentadorias. Querem forçar o trabalhador a fazer um plano de previdência privada. Do contrário, vai morrer trabalhando. Por tudo isso, só nos resta manter acesa a chama da luta.

Inicialmente estimada em R$ 432,9 milhões, devido à omissão dos débitos relativos à Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins), Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e PIS, o montan-te de dívidas de empresas com a Previ-dência foi atualizado pela Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, indicando que o montante das 118,7 mil empresas devedoras chega a R$ 935 bilhões! A maior sonegadora é a Vale, com R$ 12,7 bilhões, seguida pela hol-ding Carital Brasil (antiga Parmalat), cujo ex-diretor financeiro da empresa, Carlos de Souza Monteiro, foi condena-do, em 2014, a mais de sete anos de pri-são e pagamento de indenização de R$ 1 milhão ao Fisco por sonegação e danos morais coletivos. O Bradesco, que comercializa previdência privada e tem interesse direto na reforma da Previdên-cia, deve R$ 1,5 bilhão. A economista Anelise Manga-nelli, do Dieese/RS, que elaborou o estu-do sobre as sonegações, esclarece que os totais que vinham sendo divulgados, atingindo R$ 432,9 bilhões, representam débitos de contribuições previdenciárias dos empregadores e dos segurados, con-tribuições devidas a terceiros, assim entendidos outras entidades e fundos, e a contribuição para o salário-educação. Não estão incluídas nessas dívidas os valores devidos à Previdência relativos a Contribuição para o Financiamento da

Seguridade Social (Cofins), Contribui-ção Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e PIS.No total de R$ 935 bilhões, verifica-se que, além dos R$ 307,7 bilhões de débi-tos relativos ao Cofins, ainda há R$ 194,9 bilhões relativos ao PIS e Contri-buição Social sobre o Lucro Líquido. Destaca-se ainda que entre esses totais estão apenas aqueles devedores com dívidas acima de R$ 100 mil, devendo, portanto, ser um débito ainda maior. Enquanto a dívida ativa cresce a um ritmo de aproximadamente 15% ao ano, as políticas neoliberais implementadas no país desde Collor e FHC, sem que os governos petistas interrompessem tais medidas, reduzem o tamanho da m´quina pública. Em 2008, havia 4,1 mil auditores fiscais vinculados à Secretaria da Receita Previdenciária, atuando no combate à inadimplência e à sonegação das contribuições previdenciárias. Hoje, há somente cerca de 900 auditores fisca-is da Receita Federal no trabalho voltado às contribuições previdenciárias. Estes dados comprovam ser falsa a argumentação usada pelo gover-no para aprovar a proposta de reforma da Previdência, segundo a qual o sistema é deficitário. A Constituição Federal de 1988 concebeu o direito à Previdência Social como parte integrante da Seguri-dade Social, um amplo sistema de prote-ção social ao cidadão. Para organizar e financiar a Seguridade, os constituintes

Overdadeiro“rombo” daPrevidência:empresas sonegam quase R$ 1 trilhão

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ECONOMIA

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UNIDADE CLASSISTA

Superior do Trabalho e pelos Tribunais Regionais do Trabalho “não poderão restringir direitos legalmente previstos e nem criar obrigações que não estejam previstas em lei”. Para os casos de flexi-bilização de direitos previstos em lei por negociação coletiva, as vantagens com-pensatórias aos trabalhadores passam a ser opcionais e não mais obrigatórias. A ausência de contrapartidas não implica em anulação da convenção. E caso a flexibilização seja anulada judicialmen-te, a vantagem compensatória, se existir, também será nula. Além disso, ações (individuais ou coletivas) que tenham por objetivo anular cláusulas das negoci-ações coletivas deverão ter os sindicatos que as assinaram como 'litisconsortes necessários'. Ou seja, eles precisam ser parte.

HOME OFFICE OU TELETRABALHO

O substitutivo cria a modalidade de contratação para o trabalho em casa, mas não estabelece qualquer regramento em relação ao número de horas. Confor-me o texto, “a prestação de serviços na modalidade de teletrabalho deverá cons-tar expressamente do contrato individual de trabalho, que especificará as ativida-des que serão realizadas pelo emprega-do”. Responsabilidades sobre aquisição e manutenção de equipamentos, infraes-trutura e reembolso de despesas ao empregado deverão ser previstas em

JORNADA DE TRABALHO

Empregados e patrões poderão negociar uma carga horária de até 12 horas por dia e uma jornada de até 48 horas por semana. Hoje, a CLT prevê uma jornada semanal máxima de 44 horas. A jornada de 12 horas poderá ser realizada desde que seguida por 36 horas de descanso.

FÉRIAS

Poderão ser divididas em até três períodos. Cada um deles não pode ser inferior a cinco dias corridos ou supe-rior a 14 dias corridos. As férias não podem começar dois dias antes de um feriado ou fim de semana. Pela CLT, as férias podem ser divididas em até dois períodos, nenhum deles inferior a 10 dias.

CONVENÇÕES E JUSTIÇA DO TRABALHO

O substitutivo manteve o texto do Executivo, prevendo que a Justiça do Trabalho, ao examinar convenção ou acordo coletivo, balize sua atuação “pelo princípio da intervenção mínima na autonomia da vontade coletiva”. A Justi-ça do Trabalho também deverá analisar exclusivamente a “conformidade dos elementos essenciais do negócio jurídi-co”. Súmulas e outros enunciados de jurisprudência editados pelo Tribunal

Temer ascendeu à presidência, através das mais espúrias manobras, para implementar de forma mais ágil e incisiva os projetos da burguesia de reti-rada de direitos dos trabalhadores. Trata-se da maior ofensiva capitalista nesse sentido desde que a CLT foi implantada. Eis aqui parte do retrocesso a que os trabalhadores estarão submetidos:

ACORDADO SOBRE LEGISLADO

Se aprovada a reforma, os acor-dos entre patrões e empregados prevale-cem sobre a lei em 16 temas: jornada de trabalho, banco de horas, adesão ao Pro-grama Seguro-Desemprego, plano de cargos, salários e funções; representante dos trabalhadores no local de trabalho; troca do dia de feriado; prorrogação de jornada em ambientes insalubres sem licença prévia das autoridades compe-tentes do Ministério do Trabalho e inter-valo intrajornada. Substitutivo apresen-tado ao texto original fixou 29 direitos que não podem ser reduzidos ou supri-midos por negociação: salário-mínimo, FGTS, repouso semanal remunerado, horas-extras, remuneração de férias, medidas de proteção legal de crianças e adolescentes, aposentadoria, igualdade de direitos entre trabalhadores com vín-culo empregatício permanente e traba-lhadores avulsos, salário-família, direito de greve e licenças maternidade e pater-nidade.

Avançar na lutapelos direitos

da classetrabalhadora!

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empresa de pequeno porte, a multa pre-vista era de R$ 1 mil. A regra vigente estabelece multa de um salário-mínimo regional, por empregado, acrescido de igual valor em cada reincidência.

CONTRIBUIÇÃO SINDICAL

O substitutivo retira a obrigato-riedade da contribuição sindical para trabalhadores e empregadores. Atual-mente descontada no contracheque uma vez ao ano, para trabalhadores sindicali-zados ou não, a contribuição correspon-de a um dia de trabalho, no caso dos empregados, e a um percentual do capi-tal social da empresa, no caso dos empregadores.

HORAS EXTRAS

O substitutivo prevê duas possi-bilidades de jornada de trabalho em regi-me de tempo parcial: de 26 horas sema-nais ou de 30 horas semanais. A legisla-ção atual estabelece como regime parci-al o de 25 horas semanais e veda a reali-zação de horas extras. O substitutivo mantém a proibição para os casos de 30 horas semanais, mas permite a realiza-ção de até seis horas extras semanais nas jornadas de 26 horas semanais. A hora extra terá 50% de acréscimo sobre o salário-hora normal. Também pode ser compensada até a semana seguinte a que aconteceu. Caso isso não ocorra, deve ser paga. Para o regime de trabalho nor-mal ficou mantido o máximo de duas horas extras diárias. O texto eleva o per-centual da hora extra do regime de traba-lho normal dos atuais 20% para 50%.

TERCEIRIZAÇÃO

O substitutivo altera alguns pontos da Lei da Terceirização, sancio-

contrato escrito. O item doenças e aci-dentes de trabalho é abordado superfici-almente. Críticos da reforma apontam que a inclusão do home office, sem maiores detalhamentos, teve o propósito de fortalecer o discurso de 'modernidade' da proposta.

CONTRATO PORJORNADA OU HORA

O substitutivo cria também o chamado trabalho intermitente, quando a contratação ocorre por jornadas, horas, dias ou meses, e de forma não contínua, cabendo ao empregador o pagamento das horas trabalhadas. O contrato deve ser celebrado por escrito e conter o valor da hora de serviço, que não pode ser inferior ao valor horário do salário míni-mo ou àquele pago aos demais emprega-dos que exerçam a mesma função, em contratos intermitentes ou não. Ao final de cada período de prestação de serviço, o empregado receberá, além da remune-ração, férias proporcionais acrescidas de um terço; 13º proporcional e repouso semanal remunerado. O empregador deverá recolher a contribuição previden-ciária e o FGTS.

MULTA POR NÃO CONTRATADOS

Pelo substitutivo, o empregador que mantiver empregado não registrado ficará sujeito a multa de R$ 3 mil por empregado, acrescido de igual valor em cada reincidência. No caso de microem-presa ou empresa de pequeno porte, o valor final da multa será de R$ 800 por empregado não registrado. O texto origi-nal da reforma estipulava multa de R$ 6 mil por empregado não registrado, acrescido de igual valor em cada reinci-dência. No caso de microempresa ou

nada em março. Por exemplo: fixa um prazo de 18 meses entre a demissão de um trabalhador e sua recontratação, como terceirizado, pela mesma empresa. Estabelece ainda para o terceirizado que trabalhe nas dependências da empresa as mesmas condições dos empregados diretos para alimentação em refeitórios, transporte, atendimento médico e ambu-latorial e treinamento. Mas se o número de terceirizados for superior a 20% do total de empregados diretos, os serviços de alimentação e atendimento ambulato-rial poderão ocorrer em outro local. Além disso, o substitutivo reforça que a terceirização pode acontecer em todas as atividades, inclusive a atividade-fim. O texto é considerado um 'aprimoramento' na Lei de Terceirização, que não era tão clara, e poderia permitir interpretações judiciais diversas. Como se vê, são profundos e violentos os ataques. A legislação traba-lhista, conquistada a duras penas por trabalhadores e trabalhadoras através de lutas, greves, mobilizações e diversas formas de pressões exercidas sobre o patronato e os governos durante déca-das, está sendo jogada no lixo pelo governo usurpador. A hora é de manter a unidade do movimento sindical e popu-lar, continuar nas ruas, organizar a classe trabalhadora e a juventude em seus loca-is de trabalho, moradia e estudo, para derrotar o governo e frear a ofensiva do capital.

Nenhum direito a menos!Contra as reformas trabalhistae da previdência! Fora Temer!

Por um Encontro Nacionalda Classe Trabalhadora.

Unir as lutas paraemancipar a classe!

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discursou, em 22 de maio, para os dele-gados à Primeira Reunião Nacional de Deputados Camponeses. Suas propostas eram muito claras: todas as terras dos grandes proprietários e da Igreja deveri-am ser imediata e gratuitamente entre-gues àqueles que nelas trabalhavam, com a abolição da propriedade privada. As eleições de maio/junho em vários sovietes deram a maioria aos bolchevi-ques, começando a alterar a correlação de forças em favor dos que pregavam abertamente a revolução socialista. Das 700 cadeiras do Soviete de Deputados Operários de Moscou, 230 passaram a pertencer aos bolcheviques e seus alia-dos. Seis dentre dez sovietes regionais encontravam-se sob sua influência. Na Instrução aos candidatos proletários aos sovietes, Lênin frisava que o deputado eleito deveria ser inimigo da guerra impe-rialista e lutar para que o governo propu-sesse sem demora o armistício a todos os países em guerra, com a libertação dos povos até então dominados. Alastrava-se pela Rússia a pala-vra de ordem “Todo Poder aos Sovie-tes!”.

melhores salários, condições dignas de trabalho, segurança no emprego. Os patrões aproveitavam-se da situação de crise para impor arrocho salarial, demis-sões, sabotagem da economia e locautes, para desqualificar o “governo incapaz”. Por sua vez, os trabalhadores não se sentiam representados pelo governo de coalizão, e novas greves explodiram, acompanhadas de ocupações de fábricas e organização de comitês de autogestão das mesmas. Nos campos, os campone-ses esperavam medidas no sentido da redução dos valores de arrendamento da terra, utilização equilibrada das florestas e pastagens e redistribuição da riqueza. Muitos passaram a se apropriar das ter-ras desocupadas, apoderando-se tam-bém do material agrícola e do gado arrendado. Eram formados comitês nas aldeias, que reavaliavam as taxas de aluguéis, definiam o uso das pastagens, etc. Os grandes proprietários reagiam, exigindo do governo medidas contra a “anarquia” e interrompendo as semea-duras, uma espécie de locaute rural. Um número cada vez maior de pessoas aderia às ideias de Lênin, que

Convencidos do seu total isola-mento perante as massas populares, o Governo Provisório anunciou a intenção de formar um governo de coalizão, para o qual buscava atrair “as forças ativas e criadoras do país”, ou seja, os sovietes. Em 1° de maio, o Comitê Executivo do Soviete de Petrogrado aprovou, por 44 votos de mencheviques, SR e outros contra 19 votos de bolcheviques e men-cheviques internacionalistas (corrente esta liderada por L. Martov, a qual, após a Revolução de Fevereiro, passou a apoi-ar a linha política bolchevique), a pro-posta. Com isso, em 05 de maio, foi orga-nizado o primeiro governo de coalizão, com a presença de mencheviques e esse-ristas, tendo como destaque a figura de Alexandre Kerenski no Ministério da Guerra e Marinha, membro da facção trudovik (trabalhista) e vice-presidente do Soviete de Petrogrado que já havia sido nomeado Ministro da Justiça em março. O povo continuava mobilizado. Em Petrogrado, Moscou, Odessa e dema-is centros urbanos, realizavam-se comí-cios e manifestações em defesa de

A REVOLUÇÃO MÊS A MÊSMAIO DE 1917: TODO PODER AOS SOVIETES!

100 ANOS DA REVOLUÇÃO RUSSA

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no, que insistia em manter a Rússia na guerra. Em 18 de junho, uma grandiosa manifestação teve lugar em Petrogrado. Cerca de meio milhão de pessoas carre-gavam cartazes e faixas, clamando as palavras de ordens dos bolcheviques. Operários e soldados de Moscou, Riga, Kiev e outras cidades também saíram às ruas. A ação decisiva dos bolcheviques nas ruas marcou uma virada nos rumos da conjuntura no país, aprofundando a radicalização dos eventos no rumo do enfrentamento aberto ao Governo Provi-sório. Assim escreveu Lênin em artigo no Pravda: O 18 de Junho entrará, de um modo ou de outro, na história da revolu-ção russa como um dia de viragem. A posição recíproca das classes, a sua cor-relação na luta entre si, a sua força, espe-cialmente em comparação com a força dos partidos — tudo isto se revelou na manifestação de domingo de maneira tão nítida, tão clara, tão impressionante, que, seja qual for o curso e seja qual for o ritmo do desenvolvimento do futuro, o que se ganhou em consciência e em cla-reza é gigantesco.(...)A unidade em torno das palavras de ordem, entre as quais tinham enorme preponderância: “todo o poder aos Sovi-

No dia 03 de junho, reunia-se o Primeiro Congresso Nacional dos Sovi-etes, da qual participaram 822 delegados com direito a voto. Destes, 105 eram bolcheviques, 285 do SR e 248 menche-viques. O líder dos mencheviques, Tse-reteli, afirmava: “No momento, não há na Rússia um partido político que clame pelo poder”. Ao que foi retrucado por Lênin: “Tal partido existe!”. Lênin pas-sou a apresentar o programa político dos bolcheviques: “A passagem do poder ao proletariado revolucionário, com apoio dos camponeses pobres, significa a evolução para a luta revolucionária pela paz”. E criticou asperamente as contra-dições e ambiguidades presentes nas falas e atitudes dos mencheviques. O Governo Provisório tentava dar respostas fazendo avançar as posi-ções militares russas contra os alemães, acreditando que uma grande vitória na guerra pudesse lhe fazer recuperar o prestígio junto às massas. Kerenski pro-metia reavivar o entusiasmo e a discipli-na do exército russo, ao mesmo tempo em que adotava medidas severas contra as deserções. A ofensiva militar russa, lançada a 16 de junho, redundou em 7 mil homens mortos e 36 mil feridos, ao final da frustrada aventura. O retumban-te fracasso jogou mais lenha na fogueira da insatisfação popular contra o gover-

etes”, “abaixo os dez ministros capitalis-tas”, “nem paz separada com os alemães, nem tratados secretos com os capitalis-tas anglo-franceses”, etc. Ninguém que tenha visto a manifestação ficou com a menor dúvida sobre a vitória destas pala-vras de ordem entre a vanguarda organi-zada das massas de operários e soldados da Rússia. (...)Basta de vacilações, dizia a vanguarda do proletariado, a vanguarda das massas de operários e soldados da Rússia. A política de confiança nos capitalistas, no seu governo, nos seus vãos esforços reformadores, na sua guerra, na sua polí-tica de ofensiva, é uma política desespe-rada. A sua falência é inevitável. Será também a falência dos partidos gover-nantes dos socialistas-revolucionários e mencheviques. (...)Que o povo rompa com a política de confiança nos capitalistas, que deposite a confiança na classe revolucionária, no proletariado. Nele e só nele está a fonte da força. Nele e só nele está a garantia de que servirá os interesses da maioria, os interesses dos trabalhadores e explora-dos, esmagados pela guerra e pelo capi-tal, capazes de vencer a guerra e o capi-tal!

JUNHO DE 1917:

SIM, ESSE PARTIDO EXISTE!

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tante que já são mais de 600 mil “colo-nos” israelitas em territórios palestinos, caracterizando uma verdadeira campa-nha de limpeza étnica. O interesse do imperialismo no Oriente Médio é antigo. Consolidou-se em 1948 com a criação unilateral do Estado de Israel, fato histórico chamado de “Nakba” (Catástrofe), já que entre 1948 e 1949 cerca de 6,1 milhões de palestinos foram forçados a abandonar suas terras. Hoje, cerca de 7,9 milhões são refugiados do expansionismo sionis-ta, levando a que dois em cada cinco refugiados em âmbito mundial sejam palestinos. Recentemente, a ação imperia-lista no Oriente Médio atingiu duramen-te a Líbia e o Iraque, invadidos e domina-dos. Já há alguns anos, a Síria sofre uma guerra contra o terrorismo patrocinado pelos EUA, Israel, Arábia Saudita e Catar, com apoio da França e da Grã-Bretanha. O Irã é a jóia da coroa na região, mas até agora se mantém incólu-me, apesar de tudo. “Mas há razões para um otimis-mo cauteloso. A resistência do povo sírio e seus aliados, e a derrota dos planos de agressão imperialista na Síria, se conso-lidadas, representam um acontecimento de grande alcance. O poder do velho imperialismo euro-americano revela os seus limites. É também por isso que as mentiras midiáticas são cada vez mais

O Estado de Israel promove um verdadeiro massacre ao povo palestino com apoio ostensivo dos Estados Uni-dos: ano passado, ainda sob a adminis-tração Obama, foram destinados 38 bilhões de dólares de “ajuda” militar a Israel, o maior volume de recursos já direcionados a um país. Apesar de inúmeras resoluções da Assembleia Geral e do Conselho de Segurança da ONU e de tratados e prin-cípios do direito internacional, Israel continua promovendo um verdadeiro “apartheid” contra o povo palestino, disseminando discriminação, terrorismo de Estado, agressões, prisões arbitrárias, assassinatos e execuções sistemáticas. A mais recente agressão ao povo palestino se deu no dia 13 de fevereiro deste ano, quando o parlamento israelita aprovou uma lei cujos objetivos são formalizar a apropriação de terras alcan-çada durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967 (apesar da condenação da ONU e do direito internacional), e ainda legali-zar as cada vez mais frequentes ocupa-ções de terras que pertencem ao povo palestino. A chamada lei da “legalização” é também uma resposta do Estado sio-nista ao fato inédito ocorrido no início de fevereiro, com a retirada de alguns colo-nos, por decisão de seu próprio tribunal, de terras ocupadas ilegalmente. A ofen-siva de ocupações arbitrárias é tão gri-

INTERNACIONAL

delirantes”, afirma Jorge Cadima, em artigo publicado em ODiário.info.

UMA VITÓRIA POLÍTICA

No dia 23 de dezembro do ano passado, o Conselho de Segurança da ONU aprovou resolução em que “reafir-ma a inadmissibilidade de aquisição da terra pela força”, condena “todas as medi-das visando alterar a composição demo-gráfica, o caráter e o estatuto do Territó-rio Palestino ocupado desde 1967, inclu-indo Jerusalém Oriental”, reivindicada enquanto capital do Estado Palestino. Além disso, a resolução expres-sa “grave preocupação por continuadas atividades de colonização israelita esta-rem a pôr em grave risco a viabilidade de dois Estados – Israel e Palestina – basea-do nas linhas de 1967”. A recente declaração do primei-ro-ministro de Israel, Benjamin Netan-yahu, de que “não respeitará a resolução do Conselho de Segurança da ONU”, assim como seu anúncio de medidas de retaliação contra a Nova Zelândia e o Senegal, proponentes da proposta apro-vada, dão a medida da derrota política do Governo de Israel, mas, por outro lado, confirmam a sua atitude arrogante de desafio ao direito e a legalidade interna-cional, estimulada pela impunidade que tem gozado até agora. Infelizmente, essa nova vitória

O IMPERIALISMO E O SIONISMOMASSACRAM O POVO PALESTINO

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sob controle do exército israelense, o muro possibilita que Israel controle importantes recursos hídricos em uma região desolada, além de propiciar mão de obra barata para suas empresas, já que os trabalhadores vivem confinados.

RESISTÊNCIA

Em resposta às agressões do Estado de Israel, foi criada, em 1964, a Organização para Libertação da Palesti-na (OLP), que surgiu em defesa da liber-tação e autonomia da Palestina. Durante muitos anos foi considerada pelos EUA e Israel como “terrorista”, apenas por lutar pelo direito do seu povo. Em 1993 transformou-se na Autoridade Nacional Palestina, congregando diversas facções políticas, inclusive os refugiados. É reconhecida pela ONU como “observa-dora” e não como deveria, o legítimo governo do povo palestino, do Estado da Palestina. Somos solidários à luta pela causa palestina, associando-nos às suas principais bandeiras:

• O fim da ocupação israelita, o desman-telamento dos colonatos, do “Muro da Separação” e de todos os instrumentos de usurpação da terra palestina;• Pela libertação dos presos políticos palestinos das prisões israelitas;• Pelo fim do bloqueio à Faixa de Gaza;• Pelo direito do regresso dos refugiados.

Mas o Estado de Israel não esta-va satisfeito com “apenas” 57% do terri-tório da Palestina. Em 5 de junho de 1967, naquela que ficou conhecida como a Guerra dos Seis Dias, Israel derrotou o Egito, a Síria e a Jordânia, ocupando militarmente a Faixa de Gaza – perten-cente aos palestinos, mas administrada pelo Egito, assim como a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, administradas pela Jordânia, passando a ocupar 80% do território original da Palestina. Com a ocupação ilegal desses territórios, o Estado de Israel ampliou sua política de colonatos. Atualmente, cerca de 600 mil israelitas vivem na Faixa de Gaza, na Cisjordânia e em Jeru-salém Oriental, territórios tradicional-mente palestinos, reconhecidos até mesmo pela ONU em sua arbitrária deci-são de 1947. Nos 70 anos de ocupação que se completam em novembro deste ano, o Estado de Israel ocupou ilegalmente pela força das armas 80% do território palestino, separando famílias, prenden-do vozes discordantes, retirando quais-quer direitos daqueles que moram nos locais ocupados, agredindo e matando indiscriminadamente idosos, mulheres, crianças, jovens, trabalhadores. O ápice da repressão do Estado de Israel se consubstanciou com a cons-trução de um imenso muro isolando a maior parte da Palestina. Além de confi-nar o povo e obrigá-lo a se locomover

política do povo palestino em fóruns internacionais mais uma vez poderá se tornar letra morta, em função da incondi-cional sustentação política, econômica e militar que o imperialismo estaduniden-se garante ao Estado de Israel, por conta de seu papel como principal suporte dos Estados Unidos em suas agressões no Oriente Médio.

CATÁSTROFE

No dia 29 de novembro de 1947 em uma votação apertada – 25 votos a favor, 13 contra e 17 abstenções – a ONU aprovou a criação do Estado de Israel. Escolheu, para tanto, ocupar o território dos palestinos. O imperialis-mo, majoritariamente estadunidense, colocava um fiel aliado no coração do Oriente Médio. Essa data é conhecida pelos palestinos como “Nakba”, que significa Catástrofe, já que a partir daquele dia seu povo passou a ser diuturnamente massa-crado. Na “divisão” de terras, 57% fica-ram para Israel e o restante seria para o previsto Estado da Palestina, que até hoje não foi criado oficialmente. A partir daí uma imensa leva de refugiados, entre cinco milhões e 800 mil e seis milhões e 100 mil, foram obri-gados a deixar suas terras, suas casas, seus lares, trabalhos, escolas. Tiveram suas terras usurpadas e seus direitos exterminados.

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Maio/Junho 2017 - Ano 03

Domingo, dia 07 de maio, acorda-mos com a dor de mais um de nós levado - Thadeu, trabalhador trans e negro, foi assassinado em sua casa na Bahia. Acorda-mos domingo como acordamos sábado, aliás, com a notícia da perda de Luana Muniz, trabalhadora travesti carioca, e como acordamos todos os dias, pela certeza ou pelo medo. Acordamos, aliás, como acordam dia a dia esposas de Amarildos e mães de Dandaras e Lauras, chorando assassinatos de Cláudias e familiares das vítimas do Caran-diru ou como a mãe periférica em pânico porque o filho, negro, ainda não chegou e a PM ronda - e acordamos, ainda assim, menos piores do que como Rafael Braga acordará pelos próximos 11 anos. E cada notícia que nos chega da barbárie diária, seja pela mídia ou pela proximidade, alimenta aqueles nos-sos conhecidos sentimentos de ódio e revolta - sem rosto, sem alvo, só ódio e revolta. Domingo foi a dor por Thadeu, trabalhador trans e negro, que nos reavivou essa dor. Toda manhã como essa ressoa, no fundo de nós, inevitavelmente, os “por quê?”, os “até quando?” e os “quando serei eu?”. Se as diversas formas de domina-ção e opressão que a nossa classe sofre têm raízes comuns, é fato que são diversas nas suas especificidades. Como ignorar que vivemos no país recordista mundial em assassinato de travestis e transexuais (e em buscas por pornografia trans na internet), ou que a população negra trabalhadora sofre um verdadeiro extermínio pelas mãos da socie-dade e do Estado? Como ignorar a composi-ção étnica do sistema carcerário, das regiões periféricas - ou da própria classe? Como ignorar que 90% da população de travestis e mulheres trans está relegada à prostituição, e que o suicídio ou a ideação suicida é uma realidade para cerca de 66% dos homens trans? O conjunto das precariedades típi-

TRANSFOBIA,LUTO E ÓDIO:

a cada dia, maisum de nós

COLETIVO LGBT COMUNISTA

primeiros passos (mais de três séculos!) de formação do capitalismo no Brasil e na pró-pria constituição da classe trabalhadora. As precariedades citadas não são expressão de uma exclusão social - ao con-trário, são o indicativo dos lugares exatos onde estamos convenientemente incluídas! Somos o exército industrial de reserva, man-tidas nas margens porque é fundamental para o sistema que essas margens existam; somos parte, com nossas opressões, do rebaixamen-to do valor da força de trabalho, da obsoles-cência programada da força de trabalho; estamos onde estamos porque é lucrativo demais, para os pretensos donos do mundo, que continuemos aqui e assim. Não é só cultural, não é só comportamental, não é “a maldade e o caráter de pessoas ruins”. É um mundo, um sistema, que nos reserva um lugar e um papel específicos na sua perpetua-ção. O ponto, aqui, não é o de justificar ou minimizar o problema. É o contrário: precisamos gritar e fazer saber que não é coisa pequena! Que não se resolve com cam-panhas informativas do Estado ou com pro-gramas de TV, que não é um problema de discursos equivocados ou de falta de consci-entização… Que é sério, profundo e sistêmi-co. Tampouco é intenção amenizar, de qual-quer forma, o ódio e a revolta. É também o contrário: que eles ganhem corpo, forma, rosto e alvo; que eles nos motivem a lutar, mais e mais, mesmo quando tudo parece dificultar e o desânimo parece engessar. Para que, juntos, coletivamente e organizados, reunamos força para destruir o que precisa ser destruído e, igualmente juntos, construir a nossa emancipação. Como classe e espé-cie, em toda a sua diversidade.

Leia o artigo na íntegra em https://pcb.org.br/portal2/14344#more-14344.

cas da nossa experiência social tem lugares comuns: as relações acentuadamente precá-rias de acesso ao trabalho, com destaque para os trabalhos informais e de maior vulnerabi-lidade, como o trabalho sexual, nas centrais de call center ou no comércio ambulante e que implicam diretamente nas possibilida-des concretas de subsistência (e na sua for-ma); o acesso dificultado e inconsistente à saúde pública, sem que haja atendimentos específicos para necessidades específicas; a negação do acesso à educação e à formação de qualidade; o encarceramento em massa e os dois-pesos-duas-medidas da lei, acompa-nhados da perseguição e violência policial; a negação multifacetada do direito de acesso pleno ao espaço público (e portanto, também ao político), convertido em arena de violên-cias e exclusões; assim como as variadas consequências e implicações desse lugar de margem. É verdade que a forma que essa precarização assume é atravessada por um forte “caldo cultural” racista, LGBTfóbico e misógino que dá o tom dessas violências e parametriza comportamentos sociais e o tratamento que nos é direcionado nas rela-ções interpessoais, e que mesmo retroali-menta essa aparente exclusão. No entanto, esse “caldo cultural” não veio do nada nem é o ponto de partida do problema, ainda que lhe dê aparência. Gênero e racismo não são apenas tipos de dominação anteriores ao capitalismo que perduram até os tempos atuais. São dominações que perduraram porque foram instrumentalizadas, incorpo-radas, adaptadas e condicionadas para faze-rem parte da própria constituição e manuten-ção do capitalismo! O modelo tradicional de família foi e é fundamental para a organiza-ção tanto da hereditariedade da propriedade privada, para a burguesia, quanto para a reprodução da vida dos “indivíduos livres” para a classe trabalhadora; a escravização da população negra foi peça fundamental nos

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51 Coordenações Técnicas Locais da FUNAI no país, entre elas a CTL de Natal. O movimento indígena do RN encaminhou para o presidente da Funai, no dia 31 de março, o Manifesto dos Povos Indígenas do RN contra o Decreto nº 9.010, ocupamos a sede da CTL, em Natal, do dia 03 ao dia 07 de abril e reali-zamos um ato público na manhã do dia 06 de abril fechando o acesso ao aero-porto de São Gonçalo do Amarante, onde fomos retirados, depois de 2 horas, pela Polícia Militar do RN que nos agre-diu com bombas de gás e tiros de borra-cha. Participamos também do Acampa-mento Terra Livre (ATL) em Brasília – DF, no período de 24 a 28 de abril de 2017. 3)Qual análise que o movimento indígena do RN faz do atual momento político que atravessa o Brasil? O Governo Federal e o Congresso Nacio-nal, com sucessivos ataques aos direitos dos povos indígenas, vêm enfraquecen-do a política institucional de defesa dos direitos dos povos indígenas e intensifi-cando o processo de extinção da FUNAI. Não é de hoje que o Governo brasileiro vem tentando sucatear, descredibilizar e criminalizar a FUNAI para assim enfra-quecer os movimentos indígenas e tentar concluir o processo de “aculturação” dos povos indígenas, iniciado com a coloni-zação no século XVI. Não podemos esquecer que a FUNAI é um órgão públi-co e que devemos cobrar direto do Governo que a mesma tenha condições de atender as demandas dos povos indí-genas. Poderia começar com o Presiden-te da FUNAI sendo escolhido pelos representantes indígenas dentro do Con-selho Nacional de Política Indigenista – CNPI e não por indicação político-partidária. Acredito que o movimento indígena nacional não vai permitir que o órgão indigenista seja extinto como pro-põem vários projetos de lei apresentados e em tramitação no Congresso Nacional. A LUTA CONTINUA, cada dia mais árdua!

Tapuia-Paiacú, a maioria delas residindo na sede do município, pois perderam seu território de origem. A comunidade Ama-relão tem 290 famílias, 1.100 pessoas. E a comunidade Serrote de São Bento tem 95 famílias, 300 pessoas. Ambas de etnia potiguara, do Povo Mendonça, sobrevi-vem do beneficiamento da castanha de caju. O Assentamento Santa Terezinha, de etnia potiguara, do Povo Mendonça tem 195 famílias, 740 pessoas, resultan-te de uma luta conjunta com o Movimen-to dos Trabalhadores Rurais Sem Terras – MST, na década de 1990. Hoje as famí-lias indígenas reivindicam que a área, já demarcada pelo INCRA, passe para a responsabilidade da FUNAI. As famílias também sobrevivem do beneficiamento da castanha do caju. As comunidades Tapará, da etnia tapuia (120 famílias, 400 pessoas), e Catu, da etnia potiguara (203 famílias, 746 pessoas), sobrevivem da agricultura e do extrativismo. Há problemas com as usinas de cana de açúcar que tomaram suas terras e provo-cam poluição nos rios e plantações. A comunidade Sagi/Trabanda, de etnia potiguara (143 famílias, 562 pessoas), vive da pesca e da agricultura. Com rela-ção à demarcarão das terras, tem um GT de Demarcação da FUNAI no Sagi, desde 2014, mas ainda não finalizaram os trabalhos. Nas comunidades Amare-lão, Tapará, Catu e Caboclos foram fei-tas a Qualificação de Reinvindicação de Demarcação das Terras, pela Diretoria de Proteção Territorial – DPT/FUNAI. Até o momento nenhuma terra indígena foi demarcada no RN. 2)De que forma o Decreto nº 9.010 do governo federal atinge os Povos Indígenas no Brasil e especifica-mente no Rio Grande do Norte? Qual está sendo a reação do movimento indí-gena? O Decreto legitima mais um ata-que do Governo ANTI-INDÍGENA de Michel Temer, reforçando o claro objeti-vo de desmontar a FUNAI e acabar com a política indigenista no país. Esse decreto, entre outros ataques, extingue

A história dos Povos Indígenas em nosso país está marcada pela vio-lência de vários tipos e dimensões, desde o genocídio até as recorrentes tentativas de aniquilar suas culturas e seus meios de sobrevivência, como a terra e os recursos naturais nela exis-tentes. Apesar de tudo, os Povos Indí-genas resistem e mantêm a luta pela garantia de seus Territórios e direitos sociais. No Estado do Rio Grande do Norte, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) cerra fileiras com o movimento indígena, na perspectiva de romper o atual quadro de preconceito e invisibi-lidade e garantir a demarcação de todas as Terras Indígenas do Estado. Abaixo apresentamos a entre-vista realizada com a liderança indígena Tayse Campos, da Aldeia Amarelão e representante do Fórum de Lideranças Indígenas do Rio Grande do Norte. Leia a entrevista na íntegra no portal do PCB: https://pcb.org.br/portal2/14302#more-14302. 1)Quem São os Povos Indígenas do Rio Grande do Norte? Como vivem as suas comunidades (modo de vida e sobrevivência)? Os povos indígenas do RN são de 03 etnias: Potiguara, Tapuia e Tapuia-Paiacú. As comunidades que estão organizadas no movimento indíge-na do RN são os Caboclos (município de Açu); Apodi; Serrote de São Bento, Ama-relão e Assentamento Santa Terezinha (todas no município de João Câmara); Tapará (municípios de Macaíba e de São Gonçalo do Amarante); Catu (municípi-os de Goianinha e de Canguaretama) e Sagi/Trabanda (município de Baia For-mosa). A comunidade Caboclos do Açu, de etnia potiguara, tem 36 famílias, 120 pessoas. Sobrevive da agricultura, pesca e caça, plantando e trabalhando na terra que pertence a fazendeiros; outros traba-lham fora da comunidade. Falta água potável, renda e trabalho, assim como posto médico e escola. Apodi são 50 famílias indígenas, 120 pessoas, de etnia

A luta dos povos indígenasdo Rio Grande do Norte

MOVIMENTOS POPULARES

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MULHERES REVOLUCIONÁRIAS

No momento em que, no Brasil e em todo o mundo, são cada vez mais recor-rentes os ataques de governos e capitalistas aos direitos de trabalhadoras e trabalhado-res, por meio de medidas que atingem, de forma ainda mais incisiva, as mulheres, é preciso resgatar o papel das mulheres revo-lucionárias russas, responsáveis pela con-quista de grandes avanços nas leis, após a Revolução de Outubro de 1917. Reproduzi-mos aqui resumo de artigo produzido por Margarida Botelho para a edição de maio/junho de 2017 da Revista O Militante, do Partido Comunista Português (PCP). O texto pode ser l ido na íntegra em: http://www.omilitante.pcp.pt/12-Outubro-e-os-direitos-das-mulheres.htm A Revolução de Outubro deu um impulso extraordinário à consagração dos direitos das mulheres, servindo de exemplo e estímulo à luta das mulheres de todo o mun-do. O processo de construção do socialismo na URSS manteve sempre no centro das suas preocupações a emancipação feminina. O desaparecimento da URSS levou a recuos brutais nas condições de vida das mulheres, não só nos antigos territórios soviéticos, como no plano internacional.

AS PRIMEIRAS DECISÕES

O primeiro Estado socialista do mundo, logo nos primeiros tempos da exis-tência, aboliu todas as leis que discrimina-vam a mulher no seio da família e da socieda-de. Logo no dia 8 de novembro de 1917, o decreto da Paz e da Terra determinava que o uso da terra era concedido a todos os cida-dãos, sem distinção de sexos. A 11 de novembro, foi aprovado o decreto que deter-minava as 8 horas de trabalho diárias, com pausas para descanso e refeições, fixava os

dias de descanso semanal, o direito a férias pagas e proibia o trabalho antes dos 14 anos. No mesmo dia, aprovou-se igualmente o decreto da Segurança Social, que previa proteção na doença, na velhice, no parto, na viuvez, etc. Dois dias depois, a primeira mulher ministra do mundo tomava posse como Comissária do Povo para a Segurança Social. Chamava-se Alexandra Kollontai e, tempos depois, viria a ser também a primeira mulher embaixadora do mundo (em 1922, na Suécia). A 31 de dezembro, foi aprovado o decreto que introduziu o casamento civil – que passou a ser o único reconhecido na lei –, legalizou o divórcio e acabou com a distin-ção entre filhos legítimos e ilegítimos. Em dezembro de 1918, foi publicado o Código de Trabalho. Abolia diversas discriminações (fim das restrições a profissões com base no sexo, proibição do despedimento de grávi-das, salário igual para trabalho igual, entre outras), e previa condições de apoio à família que pretendiam estimular que as mulheres trabalhassem e interviessem socialmente (licença de parto, dispensa para amamentar, etc). Quatro meses de licença de gravi-dez e parto, com salário integral, com a pos-sibilidade de ficar até um ano em casa com o bebê com o posto de trabalho salvaguardado, trabalhos mais leves no final da gravidez, foram direitos conquistados logo em 1918. O bem-estar das mulheres merecia constante investigação. A contracepção era gratuita. O Estado soviético desenvolveu uma rede de infraestruturas de apoio e proteção à infân-cia, com destaque para as creches e jardins de infância – com horários adaptados aos trabalhos por turnos, de caráter sazonal a acompanhar os períodos das colheitas, exis-tentes em universidades e na maior parte das empresas –, mas que incluíam também colô-

nias infantis, casas de campo estivais, estân-cias de turismo infantil, casas de pioneiros, etc. A legalização do abortoEm 1920, confrontado com as consequênci-as desastrosas do aborto clandestino (metade das mulheres sofriam infecções posteriores e 4% morriam, apesar de estar consagrada desde 1918 uma licença de três semanas com salário integral em caso de aborto, espontâ-neo ou provocado), o Governo soviético legaliza o aborto em meio hospitalar, publi-cando um decreto para “proteger a saúde das mulheres e considerando que o método da repressão neste campo não atinge este objeti-vo”. Os resultados foram positivos, não se verificando nenhuma morte nem nenhuma infecção na sequência dos abortos praticados nos serviços públicos, a partir de 1925, tendo diminuído a mortalidade infantil e aumenta-do a natalidade. Em 1937, esta legislação viria a ser radicalmente alterada. O Conselho dos Comissários do Povo da URSS decidiu proibir a prática do aborto, com exceção do aborto terapêutico, estabelecendo uma “crí-tica social” à mulher que o fizesse. Divulgar as conquistas das mulhe-res no quadro da Revolução de Outubro não tem apenas interesse histórico. Conhecer os direitos alcançados e a luta travada para os confirmar e aprofundar, avaliar aspectos decisivos para essas conquistas, como a arrumação das forças de classe ou a questão do Estado, aprender com as experiências e as limitações que se verificaram, refletir sobre o tempo durante o qual se perpetuam nas soci-edades determinadas mentalidades, são todos elementos que temos de ter em conta e continuar a aprofundar. Porque, também no que diz respeito à emancipação das mulhe-res, o socialismo é verdadeiramente uma exigência da atualidade e do futuro.

A REVOLUÇÃO DE OUTUBRO E OS

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