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PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPO GRANDE
ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO - SEMED
REFERENCIAL CURRICULAR DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO
3º ao 9º ano do Ensino Fundamental
2008
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NELSON TRAD FILHO
Prefeito Municipal
MARIA CECILIA AMENDOLA DA MOTTA
Secretária Municipal de Educação
ALELIS IZABEL DE OLIVEIRA GOMES
Diretora - Executiva
ANGELA MARIA DE BRITO
Coordenadora – Geral de Gestão de Políticas Educacionais
SORAYA REGINA DE HUNGRIA CRUZ
Coordenadora – Geral de Gestão Estratégica
CÍCERO ROSA VILELA
Coordenador – Geral de Gestão Administrativa e Financeira
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COORDENAÇÃO GERAL
Angela Maria de Brito - SEMED Ana Olíria Ferreira Alves - SEMED Osmar Martins - SEMED
CONSULTORA
Olga Maria dos Reis Ferro - UEMS [email protected]
PARTICIPAÇÃO TÉCNICA PEDAGÓGICA
Ana Olíria Ferreira Alves - SEMED
FICHA TÉCNICA DOS AUTORES:
Adriana Cercarioli: Licenciatura Plena em Letras com habilitação em Língua Portuguesa, Língua Inglesa e suas respectivas literaturas; Pós-graduação – especialização: Linguagem: Leitura e Redação; SEMED – e-mail: [email protected] Ana Olíria Ferreira Alves: Licenciatura em Pedagogia com habilitação em educação infantil, séries iniciais do ensino fundamental e supervisão escolar/UCDB; Pós-graduação – especialização: Organização do trabalho didático do professor alfabetizador dos anos iniciais/IESF; SEMED – e-mail: [email protected] Angela Maria de Brito: Licenciatura em Pedagogia/UCDB; Mestre em Educação/UFSCAR; Coordenadora – Geral de Gestão de Políticas Educacionais do Departamento de Educação Básica/ SEMED – e-mail: [email protected] Adriano da Fonseca Melo: Licenciatura em Matemática; Planejamento Educacional – Universidade Salgado de Oliveira, Organização do trabalho pedagógico, em educação matemática, do professor das séries iniciais do Ensino Fundamental/UNIDERP; SEMED Mestrando em Educação Matemática/UFMS – e-mail: [email protected] Ana Aparecida da Silva: Licenciatura em Letras (Licenciatura plena)/FUCMAT;Pós graduação – especialização: Planejamento Educacional - Universidade Salgado Filho – e-mail: [email protected] Anderson Martins Corrêa: Licenciatura em Matemática/UFMS; Pós-graduação – especialização: Educação Matemática/UNIDERP; Mestrando em Educação Matemática/UFMS; SEMED – e-mail: [email protected] Analice Teresinha Talgatti Silva: Licenciatura em Geografia (licenciatura e bacharelado)/UCDB; Pós-graduação – especialização: Métodos e Técnicas de Ensino/UNIDERP; SEMED – e-mail: [email protected] Ana Cláudia Gonçalves de Araújo Pereira: Licenciatura em Pedagogia; Pós-graduação – especialização: Organização do trabalho didático do professor alfabetizador dos anos iniciais/IESF; Professora da REME. Ana Lúcia Serrou Castilho: Licenciatura em Artes Visuais; Pós-graduação – especialização: Didática do ensino Superior/UCDB; SEMED – e-mail: [email protected] Carolina Monteiro Santee: Licenciatura em Letras; Mestre em Educação/UFMS; Doutoranda em Educação/UFMS; Professora no curso de Letras/UFMS Cátia Fabiane Reis Castro de Oliveira: Licenciatura em Pedagogia/UFMS; Pós-graduação – especialização: Métodos e Técnicas de Ensino/UNIDERP; SEMED – e-mail: [email protected]
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Cláudia Renata Rodrigues Xavier: Licenciatura em Educação Física/UFMS; Pós-graduação – especialização: Dança – Educação Física/FMU/SP; SEMED; Mestranda em Educação/UFMS – e-mail: [email protected] Cleide Pereira Gomes: Licenciatura em Letras (Português/ Ingles); Pós-graduação – especialização: Metodologia do Ensino, Metodologia do ensino Superior e Informática na Educação; Mestre em Ciências da Educação/UTCD; SEMED – e-mail: [email protected] Clodoaldo Soares Rodrigues: Licenciatura em matemática; Pós-graduação: Educação Matemática; SEMED; e-mail: [email protected] Cristiane Miranda Magalhães Gondin: Licenciatura em Biologia (Licenciatura e Bacharelado)/UCDB; Pós-graduação – especialização: Organização do trabalho pedagógico, em educação matemática, do professor das séries iniciais do Ensino Fundamental/UNIDERP, Pós-graduanda em Práticas Pedagógicas com ênfase em História, Geografia e Ciências; SEMED – e-mail: [email protected] Eracilda Conceição Gonçalves Gama: Licenciatura em Pedagogia com habilitação na pré-escola, séries iniciais e disciplinas pedagógicas do 2º grau /UFMS; Pós-graduação - especialização: Metodologia do ensino/FIFASUL; Organização do trabalho didático do professor alfabetizador dos anos iniciais/IESF; Mestranda em Educação/UTCD. Evanir Bordim Sandim: Licenciatura em Pedagogia; Pós-graduação – especialização: Gestão escolar; SEMED – e-mail: [email protected] Jucleides Silveira Pael Alcará: Licenciatura Plena em História; Pós-graduação – especialização: Métodos de Ensino no Curso Superior; SEMED – e-mail: [email protected] Kely Fabricia Pereira Nogueira: Licenciatura em Matemática; Pós-graduação – especialização: Matemática para o Ensino Médio e Fundamental/UNIDERP, Organização do trabalho didático do professor de Matemática dos anos iniciais/UNIDERP; Mestranda em Educação/UTCD; SEMED – e-mail: [email protected] Gilce Maria Neves Biancão: Licenciatura em Pedagogia; Pós-graduação – especialização: Organização do trabalho didático do professor alfabetizador dos anos iniciais/IESF; Professora da REME. Gildo Ribeiro do Nascimento Maior: Licenciatura em Filosofia com habilitação em História, Psicologia e Sociologia – e-mail: [email protected] Leila Mateus Potric – Licenciatura em pedagogia; Pós-graduação – especialização; Pós-graduação – especialização: Organização do trabalho didático do professor alfabetizador dos anos iniciais/IESF. Leize Demétrio da Silva: Licenciatura em Educação Física – UFMS; Pós - graduação – especialização: Educação Física Escolar/UFMS; SEMED – e-mail: [email protected] Leni Castilho Ferreira de Arruda – Licenciatura em pedagogia; Pós - graduação – especialização: Alfabetização - e-mail: [email protected] Leusa de Melo Secchi: Licenciatura em Pedagogia; Mestre em Educação/UFMS; Professora do Centro Universitário de Campo Grande/UNAES; SEMED – e-mail: [email protected] Liliana Gonzaga de Azevedo Martins: Licenciatura em pedagogia; Mestre em Educação /UCDB; SEMED – e-mail: [email protected] Luis Eduardo Moraes Sinésio: Licenciatura em Educação Física/UFMS; Mestre em Educação/UFMS; SEMED – e-mail: Magali Luzio: Licenciatura em História/FUCMAT; Pós-graduação – especialização: Formação de Ensino; Mestre em Desenvolvimento Local/UCDB; SEMED – e-mail: [email protected] Marcia Vanderlei de Souza Esbrana: Licenciatura em Letras (licenciatura plena – inglês/ português/ espanhol/ literaturas)/UFMS; Mestre em Lingüística/UnB; Doutoranda em Educação/UFMS; SEMED – e-mail: [email protected] Maria Ângela Arruda Fachini: Licenciatura em Pedagogia/FUCMAT; Mestre em Educação/UFMS; SEMED – e-mail: [email protected]
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Maria das Dores Dias Acosta: Licenciatura Plena em Letras com habilitação em Língua Portuguesa e Espanhola/UFMS; Pós-graduação – especialização: Língua e Literaturas Espanhola e Hispano-Americana/ centro Universitário Leonardo da Vinci; SEMED – e-mail: [email protected] Maria da Graça Vinholi: Licenciatura em Pedagogia e Letras; Pós-graduação – especialização: Educação à Distância/ UNB, Mídias na Educação/PUC/RJ, Tecnologias na Educação/ UFRP, Metodologias do Ensino Superior/FEPV; Mestre em Educação/UFSCAR; SEMED – e-mail: [email protected] ; [email protected] Maria de Lourdes Alencar Lima: Licenciatura em Pedagogia com habilitação em séries iniciais e Orientação educacional; Pós-graduação – especialização: Psicopedagogia; SEMED – e-mail: [email protected] Maria Lionete da Silva Ribeiro: Licenciatura em Ciências Plena/UNOESTE; Graduação em Pedagogia (administração)/UNOESTE; Pós-graduação – especialização: Planejamento educacional – Universidade Salgado de Oliveira; Organização do trabalho didático do professor alfabetizador dos anos iniciais/IESF; Mestranda em Educação/UTCD; SEMED – e-mail: [email protected] Michelle Bittar: Licenciatura em Biologia (licenciatura e bacharelado)/UCDB; Mestre em Educação/UCDB – e-mail: [email protected] Nelagley Marques: Licenciatura em Letras com licenciatura Plena e Bacharelado em Tradutor Intérprete/UNIDERP; Pós-graduação – especialização: Tendências contemporâneas do Ensino na Língua Inglesa/UNIDERP; SEMED - e-mail: [email protected] Olavo Costa Barrios Filho: Licenciatura em História/UCDB; Pós-graduação – especialização: História Regional/UFMS; SEMED – e-mail: [email protected] Olga Maria dos Reis Ferro: Licenciatura em Pedagogia; Mestre em Educação/UFMS; Doutoranda em Educação/UFMS; Professora da UEMS – e-mail: [email protected] Osmar Martins: Licenciatura em Geografia (licenciatura e bacharelado)/UCDB; Pós-graduação – especialização: Educação e Meio Ambiente/UNIC; SEMED – e-mail: [email protected] Regina Magna Rangel Martins: Licenciatura em Pedagogia; Pós-graduação – especialização: Organização do trabalho didático do professor alfabetizador dos anos iniciais/IESF; SEMED – e-mail: [email protected] Rita de Cássia de Barros Galícia: Licenciatura em História; Pós-graduação – especialização: Métodos e Técnicas de Ensino/UNIDERP; SEMED – e-mail: [email protected] Rosa Maria Dalpiaz Dias: Licenciatura em Ciências com habilitação em Matemática/FUCMAT; Pós-graduação – especialização: Matemática Superior – PUC/MG; SEMED – e-mail: [email protected] Ruth Aquino: Licenciatura em Pedagogia; Pós-graduação – especialização: Políticas Públicas e Gestão Educacional no Contexto Intercultural/UCDB; SEMED – e-mail: [email protected] Sidnei Camargo: Licenciatura em Pedagogia/ Administração Escolar; Licenciatura em Letras; Licenciatura em Educação Artística; Licenciatura em instrumento Piano; Pos - graduação – especialização: Música Brasileira/UFMT, Metodologia do Ensino Superior; SEMED – e-mail: [email protected] Sônia Fenelon Filártiga: Licenciatura em Pedagogia; Pós-graduação – especialização: Educação Especial/UFMS/UERJ; SEMED – e-mail: [email protected] Sônia dos Santos Boiarenco Amorim: Licenciatura em Geografia (licenciatura e bacharelado)/UCDB; Pós-graduação – especialização: Organização do trabalho pedagógico, em educação matemática, do professor das séries iniciais do Ensino Fundamental/UNIDERP; SEMED – e-mail: [email protected] Vera Lúcia Penzo Fernandes: Licenciatura em Educação Artística com habilitação em Artes Plásticas; Mestre em Educação/UFMS; Doutoranda em Educação/UFMS; SEMED – e-mail: [email protected]
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Vera Mattos: Licenciatura em Ciências Biológicas – licenciatura plena e bacharelado – USU/RJ; Pós-graduação – especialização: Citologia/ USO/RJ; Mestre em Educação/UFMS; Doutoranda em Educação/UFMS; Professora no curso de Biologia/UEMS – e-mail: [email protected]
PARECERISTAS
Professor Especialista Ari Fernando Bittar – Educação Física/UFMS Professora Doutora Cláudia Aparecida Stefane - Educação Física/UFMS Professora Mestre Izabel Cristina Silva – História/UCDB Professora Doutora Maria Augusta de Castilho – História/UCDB Professora Especialista Magda Simoni De Toni – Artes Visuais/SEMED Professora Mestre Nilcéia Protásio Campos – Música/UFMS Professora Mestre Lúcia Monte Serrat Alves Bueno – Artes Visuais/UFMS Professora Mestre Maria Celene Nessimian – Artes Visuais/UFMS Professora Mestre Carolina Monteiro Santee – Língua Estrangeira/UFMS Professora Mestre Elismar Bertolucci de Araújo Anastácio – Língua Portuguesa/UNIDERP Professor Doutor Edgar Aparecido Costa – Geografia/UFMS Professor Mestre Jarbas Antônio Guedes – Matemática/UNIDERP
Professor Mestra Eugênia Aparecida dos Santos - Matemática/UNIDERP Professora Pós-Doutora Marilena Bittar – Matemática/UFMS Professor Pós-Doutor José Luiz Magalhães de Freitas - Matemática/UFMS Professora Doutora Ângela Maria Zanon – Biologia/UFMS
COLABORADORES
Adriano da Fonseca Melo Alex da Costa Mendes Alexandrino Martinez Filho Cristiane Miranda Magalhães Gondin Michelle Bittar Rogério Lopes Paulino Thiago Jordão
REVISÃO
Itamar Soares de Arruda - SEMED Maraglai dos Santos Peres - SEMED Maria Stela Lopes Bomfim – IESF Marcia Vanderlei de Souza Esbrana – SEMED ILUSTRAÇÃO DA CAPA
“A escola que queremos” Adrielly Pereira Cavalcanti – 7 anos Escola Municipal João Evangelista Vieira de Almeida
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO .................................................................................................................. 13
REFERENCIAL CURRICULAR PARA O ENSINO FUNDAMENTAL DE 9 ANOS DA
REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE CAMPO GRANDE - MATO GROSSO DO SUL .... 15
1. A ORGANIZAÇÃO DO CURRÍCULO DO ENSINO FUNDAMENTAL DO 1° AO 9°
ANO NA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE CAMPO GRANDE, MS. .......................... 17
1.1 Por que trabalhar com eixos formadores do cidadão no currículo? ................................... 20
2. ITINERÁRIOS CIENTÍFICOS E CULTURAIS COMO MATRIZ DE INTEGRAÇÃO
HORIZONTAL E VERTICAL DA FORMAÇÃO HUMANA .............................................. 21
3. PERFIL DO PROFESSOR .................................................................................................. 26
4. A FUNÇÃO MEDIADORA DA ESCOLA ......................................................................... 30
5. PERFIL DO ALUNO ........................................................................................................... 31
6. PERFIL DA EQUIPE TÉCNICA PEDAGÓGICA DA ESCOLA ...................................... 36
6.1 O papel do corpo técnico nas unidades escolares da Rede Municipal de Ensino .............. 38
7. GESTÃO ESCOLAR: A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE DEMOCRACIA............ 40
8. LIVRO DIDÁTICO: LIMITES E POSSIBILIDADES ....................................................... 43
9. ORGANIZAÇÃO DOS ESPAÇOS ESCOLARES: A BIBLIOTECA ............................... 45
10. A INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO .............................................................................. 46
11. AVALIAÇÃO NA REDE MUNICIPAL DE ENSINO ..................................................... 50
12. CENÁRIOS DA VIDA URBANA: HISTÓRIA, CONCEPÇÃO, ORGANIZAÇÃO,
CONDIÇÕES E PERSPECTIVAS .......................................................................................... 53
13. MOVIMENTOS SOCIAIS DO CAMPO E EDUCAÇÃO: HISTÓRICO, CONCEPÇÃO
E ORGANIZAÇÃO ................................................................................................................. 54
14. MOVIMENTOS INDÍGENAS E EDUCAÇÃO: HISTÓRICO, CONCEPÇÃO E
ORGANIZAÇÃO ..................................................................................................................... 57
15. POLÍTICAS AFIRMATIVAS: FUNDAMENTAÇÕES E PARÂMETROS PARA O
CONTEXTO EDUCACIONAL .............................................................................................. 59
16. MOVIMENTO DE MULHERES (GÊNERO) E EDUCAÇÃO: HISTÓRICO,
CONCEPÇÃO E ORGANIZAÇÃO ........................................................................................ 63
17. POLÍTICAS E PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO ESPECIAL, NA PERSPECTIVA DA
EDUCAÇÃO INCLUSIVA ..................................................................................................... 66
HISTÓRIA .............................................................................................................................. 73
1. FUNDAMENTOS DA HISTÓRIA ..................................................................................... 75
10
2. OBJETIVO DO ENSINO DE HISTÓRIA .......................................................................... 81
3. ABORDAGEM SOCIAL DOS CONTEÚDOS POR MEIO DOS SEUS FUNDAMENTOS
.................................................................................................................................................. 82
4. CONTEÚDOS PARA O 3º AO 9º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL ....................... 83
4.1. Conteúdos para o 3º ano do ensino fundamental .............................................................. 83
4.1.1 Eixo - Relações Sociais da Cultura e do Trabalho .......................................................... 83
4.1.2 Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 3º ano do ensino fundamental .................................................................................................................................................. 83
4.2 Conteúdos para o 4º ano do ensino fundamental ............................................................... 84
4.2.1 Eixo - Relações Sociais da Cultura e do Trabalho .......................................................... 84
4.2.2 Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 4º ano do ensino fundamental .................................................................................................................................................. 84
4.3 Conteúdos para o 5º ano do ensino fundamental ............................................................... 85
4.3.1 Eixo - Relações Sociais da Cultura e do Trabalho .......................................................... 85
4.3.2 Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 5º ano do ensino fundamental .................................................................................................................................................. 85
4.4 Conteúdos para o 6º ano do ensino fundamental ............................................................... 86
4.4.1 Eixo - Relações Sociais da Cultura e do Trabalho .......................................................... 86
4.4.2 Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 6º ano do ensino fundamental .................................................................................................................................................. 86
4.5 Conteúdos para o 7º ano do ensino fundamental ............................................................... 87
4.5.1 Eixo - Relações Sociais da Cultura e do Trabalho .......................................................... 87
4.5.2 Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 7º ano do ensino fundamental .................................................................................................................................................. 87
4.6 Conteúdos para o 8º ano do ensino fundamental ............................................................... 88
4.6.1 Eixo - Relações Sociais da Cultura e do Trabalho .......................................................... 88
4.6.2 Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 8º ano do ensino fundamental .................................................................................................................................................. 89
4.7 Conteúdos para o 9º ano do ensino fundamental ............................................................... 90
4.7.1 Eixo - Relações Sociais da Cultura e do Trabalho .......................................................... 90
4.7.2 Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 9º ano do ensino fundamental .................................................................................................................................................. 90
5. METODOLOGIA PARA O ENSINO DE HISTÓRIA ....................................................... 91
6. ITINERÁRIOS CIENTÍFICOS E CULTURAIS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA ....... 95
7. AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE HISTÓRIA .............................. 97
GEOGRAFIA ....................................................................................................................... 101
1. FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA ............................................................................... 103
11
2. OBJETIVOS DO ENSINO DE GEOGRAFIA .................................................................. 111
3. ABORDAGEM SOCIAL DOS CONTEÚDOS POR MEIO DE SEUS FUNDAMENTOS
................................................................................................................................................ 112
4. CONTEÚDOS PARA O 3º AO 9º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL ..................... 113
4.1 Conteúdos para o 3° ano do ensino fundamental ............................................................. 113
4.1.1 Eixo - O homem e a construção do espaço ................................................................... 113
4.1.2 A relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 3° ano do ensino fundamental ............................................................................................................................ 114
4.2 Conteúdos para o 4° ano do ensino fundamental ............................................................. 114
4.2.1 Eixo - O homem e a construção do espaço ................................................................... 114
4.2.2 A Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 4° ano do ensino fundamental ............................................................................................................................ 115
4.3 Conteúdos para o 5° ano do ensino fundamental ............................................................. 116
4.3.1 Eixo - O homem e a construção do espaço ................................................................... 116
4.3.2 A Relevância social da aprendizagem para o 5° ano do ensino fundamental ............... 116
4.4 Conteúdos para o 6° ano do ensino fundamental ............................................................. 117
4.4.1 Eixo - O homem e a construção do espaço ................................................................... 117
4.4.2 A Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 6° ano do ensino fundamental ............................................................................................................................ 117
4.5 Conteúdos para o 7° ano do ensino fundamental ............................................................. 118
4.5.1 Eixo - O homem e a construção do espaço ................................................................... 118
4.5.2 A Relevância social da aprendizagem para o 7° ano do ensino fundamental ............... 118
4.6 Conteúdos para o 8° ano do ensino fundamental ............................................................. 119
4.6.1 Eixo - O homem e a construção do espaço ................................................................... 119
4.6.2 Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 8° ano do ensino fundamental ................................................................................................................................................ 120
4.7 Conteúdos para o 9° ano do ensino fundamental ............................................................. 121
4.7.1 Eixo - O homem e a construção do espaço ................................................................... 121
4.7.2 A Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 9° ano do ensino fundamental ............................................................................................................................ 122
5. METODOLOGIA PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA ................................................. 123
6. ITINERÁRIOS CIENTÍFICOS E CULTURAIS PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA . 130
7. AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA ............... 133
ENSINO RELIGIOSO ......................................................................................................... 137
1. FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO ................................................................. 139
1.2 O Ensino Religioso no currículo do ensino fundamental ................................................. 143
12
2. OBJETIVOS DO ENSINO RELIGIOSO .......................................................................... 144
3. ABORDAGEM SOCIAL DOS CONTEÚDOS POR MEIO DOS SEUS FUNDAMENTOS
................................................................................................................................................ 144
4. CONTEÚDOS PARA O 3º AO 9º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL ..................... 146
4.1 Conteúdos para o 3º ano do ensino fundamental ............................................................. 146
4.1.1 Eixo - Ethos Alteridade ................................................................................................. 146
4.1.2 Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 3° ano do ensino fundamental ................................................................................................................................................ 146
4.2 Conteúdos para o 4º ano do ensino fundamental ............................................................. 147
4.2.1 Eixo - Escrituras sagradas ............................................................................................. 147
4.2.2 Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 4° ano do ensino fundamental ................................................................................................................................................ 147
4.3 Conteúdos para o 5º ano do ensino fundamental ............................................................. 147
4.3.1 Eixo - Escrituras sagradas: história das narrativas sagradas (orais e escritas) .............. 147
4.3.2 Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 5° ano do ensino fundamental ................................................................................................................................................ 148
4.4 Conteúdos para o 6º ano do ensino fundamental ............................................................. 148
4.4.1 Eixo - Culturas e tradições religiosas: sociologia e tradição religiosa .......................... 148
4.4.2 Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 6° ano ensino fundamental 148
4.5 Conteúdos para o 7º ano do ensino fundamental ............................................................. 149
4.5.1 Eixo - culturas e tradições religiosas: sociologia e tradição religiosa ........................... 149
4.5.2 Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 7° ano do ensino fundamental ................................................................................................................................................ 149
4.6 Conteúdos para o 8º ano do ensino fundamental ............................................................. 150
4.6.1 Eixo - Ritos: Espiritualidade ......................................................................................... 150
4.6.2 Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 8° ano do ensino fundamental ................................................................................................................................................ 150
4.7 Conteúdos para o 9º ano do ensino fundamental ............................................................. 150
4.7.2 Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 9° ano do ensino fundamental ................................................................................................................................................ 151
5. METODOLOGIA PARA O ENSINO RELIGIOSO ......................................................... 151
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APRESENTAÇÃO
A Prefeitura Municipal de Campo Grande tem como uma de suas metas prioritárias a
qualidade da educação que oferece aos seus munícipes, e por meio da Secretaria Municipal de
Educação/SEMED, implementa e desenvolve ações que propõem subsidiar o trabalho docente
e, conseqüentemente, favorecer a melhoria do processo de ensino e de aprendizagem.
Nesse sentido, a construção do Referencial Curricular para o Ensino Fundamental,
que ora apresentamos, teve início em 2005, com vistas a dar apoio ao trabalho pedagógico e
ao plano de ensino dos professores, e melhorar a qualidade do ensino nas escolas.
Para a elaboração, contou-se com a participação dos professores da Rede Municipal
de Ensino/REME, os quais, nos encontros para estudos, apresentaram sugestões, cujas
propostas foram analisadas e sistematizadas pelos técnicos da Coordenadoria-Geral de Gestão
de Políticas Educacionais, que procuraram garantir que permanecesse a essência do currículo
pensado pelos profissionais educadores da REME.
Com a promulgação da Lei n. 11.274, de 6 de fevereiro de 2006, que dispõe sobre a
duração de nove anos para o Ensino Fundamental, houve, portanto, a necessidade de se
fundamentar o referido documento nos aspectos teóricos, metodológicos e organizacionais,
visando atender aos pressupostos dessa legislação que fundamentam o Referencial Curricular,
que são a busca da totalidade social e histórica da formação do cidadão, compreendida como
uma educação que oportuniza aos alunos entenderem o funcionamento dos valores cultural,
estético, político e econômico da sociedade da qual faz parte, e conforme o nível de
compreensão, em consonância com a política de educação do município de Campo Grande.
Assim, espera-se que este documento, elaborado coletivamente, possa funcionar
como uma nova organização do trabalho didático do professor das escolas da REME.
Para isso, é salutar que seja objeto de constante estudo e revisão. Quando chegamos à
reflexão crítica daquilo que nós mesmos fazemos, é porque nossa prática vem alcançando o
sonhado salto qualitativo.
Maria Cecilia Amendola da Motta
Secretária Municipal de Educação
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REFERENCIAL CURRICULAR PARA O ENSINO FUNDAMENTAL DE 9
ANOS DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE CAMPO GRANDE - MATO
GROSSO DO SUL
Caro professor,
O documento foi elaborado pela equipe da Coordenadoria Geral de Políticas
Educacionais – CGPE, da Secretaria Municipal de Educação (SEMED), com o objetivo de
sistematizar a proposta curricular apresentada pelos professores atuantes nas escolas da Rede
Municipal de Ensino (REME).
Este trabalho teve início no ano de 2005, por meio de reuniões, debates, pesquisa nos
quais os professores da REME puderam apresentar suas propostas para compor o currículo que
queriam desenvolver nas escolas municipais de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Após essa
participação e contribuição, a SEMED realizou no Programa de Formação Continuada, a síntese
das propostas curriculares apresentadas pelos professores, de modo a sintetizar, num único
documento, a essência do currículo pensado e elaborado pelos profissionais das escolas da
REME.
As respostas sobre o que as escolas desejavam para o currículo permitiram a realização
de um trabalho pedagógico em grupo, bem como trouxeram novas expectativas para a
(re)construção e sistematização do referencial curricular norteador do trabalho didático do
professor do Ensino Fundamental da REME.
Ao definir os princípios gerais do referencial curricular da REME, coube aos
profissionais da divisão de currículo da Secretaria Municipal de Educação fundamentar e
sistematizar essas propostas. Para isso, optou-se por selecionar uma diversidade de obras que
discutissem o pensamento humano e a educação no interior da sociedade contemporânea.
Existe uma expectativa muito grande em relação à qualidade da educação brasileira e,
particularmente, uma preocupação com a qualidade da educação do Município de Campo Grande-
MS, expressa neste texto. Acredita-se que um trabalho em equipe, como esse que foi desenvolvido,
aponta caminhos favoráveis para efetivação de um trabalho didático concernente às necessidades
campo-grandenses.
Propõe-se uma educação que valorize a potencialidade de todos os alunos, a capacidade
que eles têm de aprender e (re)elaborar conhecimento, de ver na sociedade o que se passa, mesmo
que pelo olhar sincrético do senso comum. Por isso, cabe à escola ajudar crianças, jovens e adultos a
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sistematizar os seus conhecimentos para que a aprendizagem seja significativa e uma ferramenta
somativa aos eventos de transformação da sociedade. É importante lembrar, que existe, também,
uma expectativa da sociedade e dos órgãos institucionais da educação sobre a capacidade de
aprendizagem do professor. Por isso, professor, está embutido neste discurso a esperança de que
você consiga cuidar bem de sua própria aprendizagem, que tenha o desejo e as condições
necessárias para estudar e pesquisar permanentemente, porque esta é uma condição ímpar para que
seus alunos tenham sucesso na escola e na vida.
Frente à atual crise do sistema capitalista, não é fácil para a escola sistematizar um
Referencial Curricular que dê conta de abarcar todas as reivindicações da sociedade para com a
educação. A sociedade atual traz necessidades materiais e espirituais resultantes do modo de
organização de produção da sociedade, que, em seu movimento de reprodução do capital produz
simultaneamente, a miséria humana, como condição da própria sobrevivência do capital. Essa
questão impõe aos educadores novas formas de pensar a educação por meio da formação
humanística – científica que busca a construção de uma sociedade mais humana. Essa
responsabilidade implica um trabalho de equipe formada por pesquisadores, administradores e
professores como articuladores e executores da formação humana.
Todavia, é importante acentuar que a crise do capital atinge todos os setores da sociedade e
nos resultados da aprendizagem das crianças e jovens. Então, os problemas da educação expressos
na escola, não decorrem somente da pouca formação e aprendizagem do professor, mas resulta de
um conjunto de fatores complexos, inerentes ao próprio movimento social, político e econômico da
sociedade capitalista contemporânea. E é justamente por isso que o professor precisa estudar
permanentemente, pois a educação é palco de embate político e ideológico refletido nas práticas
escolares.
O pressuposto teórico é a busca da totalidade social e histórica da formação do cidadão,
entendida como uma educação cuja organização do trabalho didático do professor é desenvolver,
nas crianças e jovens do Ensino Fundamental, a compreensão de como funciona a sociedade em
seus aspectos social, cultural, político e econômico, de acordo com o nível de conhecimento que
esses educandos possam alcançar no seu momento de estudo, numa perspectiva do salto
qualitativo do conhecimento.
Desse modo, o papel do professor é oferecer às crianças, aos jovens e aos adultos
situações didáticas adequadas às necessidades e às possibilidades de aprendizagem conforme com
a capacidade e a potencialidade que eles têm de aprender e de sistematizar o conhecimento.
Assim, espera-se que este documento, elaborado coletivamente, seja norteador do
trabalho didático do professor das escolas públicas do Ensino Fundamental da REME, de forma a
17
ampliar a aprendizagem das crianças, dos jovens e dos adultos. É importante que seja tomado
como objeto de constante estudo e crítica. Quando chegamos ao ponto da reflexão crítica daquilo
que nós mesmos fazemos significa que a nossa prática tem alcançado o sonhado salto qualitativo.
Profissionais da equipe da Divisão de Currículo da SEMED e Profª. MSc e consultora da
escrita deste referencial curricular, Olga Maria dos Reis Ferro/UEMS.
1. A ORGANIZAÇÃO DO CURRÍCULO DO ENSINO FUNDAMENTAL DO
1° AO 9° ANO NA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE CAMPO GRANDE,
MS.
Ana Olíria Ferreira Alves Olga Maria dos Reis Ferro
Osmar Martins
O currículo do ensino fundamental do 1° ao 9° ano, na Rede Municipal de Ensino de
Campo Grande-MS terá como orientação para a sua organização pedagógica, o “Plano
Municipal de Educação: o futuro da educação é a gente que faz (2007-2016)” e os
“Referenciais Curriculares para o Ensino Fundamental de 9 anos da Rede Municipal de
Ensino de Campo Grande-MS”, elaborado pelos professores das escolas municipais e equipe
da Divisão do Ensino Fundamental da Secretaria Municipal de Educação - SEMED. Neste
documento, a definição e distribuição das áreas de conhecimento, divididas em base comum e
partes diversificadas do currículo, atende ao texto do artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional-LDB, n° 9394, de 20 de dezembro de 1996, que assim determina: “Os
currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser
complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte
diversificada” (BRASIL, 1996).
Essa definição de um currículo dividido em base comum e partes diversificadas,
atende ao cumprimento do artigo 210 da Constituição Federal de 1988, que determina como
dever do Estado para com a educação, fixar “conteúdos” mínimos para o Ensino
Fundamental, de maneira a assegurar a formação básica comum e respeito aos valores
culturais e artísticos, nacionais e regionais”. Também é disposto que “o ensino fundamental é
obrigatório para os alunos na idade própria e que o Estado tem o dever de oferecer
atendimento às crianças de zero a seis anos”.
18
Com as determinações oriundas das relações sociais, políticas e econômicas da
sociedade contemporânea surge a necessidade de se trabalhar em prol da melhoria da
qualidade de ensino, compreendendo que a permanência dos alunos na escola deve ser
ampliada por meio da jornada diária. Para solução de tal necessidade social, em maio de 2005,
entrou em vigor a Lei n° 11.114 que altera a LDB - Lei de Diretrizes e Bases, preconizando
que a matrícula no Ensino Fundamental passaria a ser obrigatória aos seis anos de idade, com
duração do tempo de ensino fundamental de 8 para 9 anos.
O ingresso das crianças com seis anos no ensino de nove anos é abordado na
Resolução de 03/08/2005, em seu artigo 1° e estabelece que: “a antecipação da
obrigatoriedade de matrícula no Ensino Fundamental aos seis anos de idade implica na
ampliação da duração do Ensino Fundamental para nove anos”; em seu artigo 2°, essa mesma
Resolução prevê “que a organização do Ensino Fundamental para nove anos e Educação
Infantil adotará a seguinte nomenclatura”:
Etapa de ensino Faixa etária prevista Duração Educação Infantil até 5 anos de idade Creche até 3 anos de idade Pré Escola 4 e 5 anos de idade Ensino Fundamental até 14 anos 9 anos Anos Iniciais de 6 a 10 anos 5 anos Anos Finais de 11 a 14 anos 4 anos
Fonte: Ministério da Educação/ Secretaria de Educação Básica.Maio, 2006.
Contudo, em Mato Grosso do Sul, devido ao movimento organizado de pais, cujos
filhos completariam 6 anos até dezembro do ano de sua matrícula, o Conselho Municipal de
Educação, assim deliberou:
A deliberação CME/MS nº 685 de 05-12-2007 altera os dispositivos das deliberações CME/MS nº 559/2006, 596/2006,620/2007 e 627/2007, que dispõem sobre a ampliação do ensino fundamental para 9 anos no Sistema Municipal. Art. 2º. II. “A criança que irá completar 6 anos até dezembro poderá ser matriculada no 1º ano do ensino fundamental”.
O ensino fundamental ampliado para 9 anos deve assegurar que sejam contempladas
no currículo, as expectativas das crianças que completarão a idade de 6 anos até o mês de
dezembro do ano de sua matrícula no ensino fundamental e o desenvolvimento de seus
aspectos físico, psicológico, intelectual, social e cognitivo.
19
Nesta perspectiva, propor um currículo que leve em conta esses aspectos é pensar
numa proposta coerente com as especificidades das crianças de 5 e 6 anos, assim como os
demais alunos em suas respectivas faixas etárias.
O currículo reelaborado é um norteador para a escola e deve ter como foco o que está
previsto no artigo 8° da Deliberação CME/MS n° 559, de 19 de outubro de 2006, que
estabelece: A ampliação do ensino fundamental de nove anos requer a reorganização do
projeto político-pedagógico da instituição de ensino em consonância com as diretrizes
emanadas do Conselho Nacional de Educação, da Secretaria Municipal de Educação e as
normas deste Conselho.
Portanto, toda organização da escola gira em torno desse currículo, tendo, como
ponto de partida, o propósito de melhorar a qualidade do processo ensino-aprendizagem em
todos os anos do ensino fundamental. Com essa finalidade foram construídos, coletivamente,
os “Referenciais Curriculares para o Ensino Fundamental de 9 anos da Rede Municipal de
Ensino de Campo Grande-MS”. Reafirma-se, portanto, que este documento foi estruturado de
forma a estimular a intencionalidade de se materializar, na escola pública, novas
possibilidades de renovação do trabalho pedagógico. Desta forma se estrutura o documento:
� CADERNO I - DOCUMENTO INTRODUTÓRIO E ALFABETIZAÇÃO
� CADERNO II - DOCUMENTO INTRODUTÓRIO E EIXO 1 - LINGUAGENS,
ESTÉTICA, CULTURA E SUAS TECNOLOGIAS:
- Língua Portuguesa;
- Língua Estrangeira;
- Artes;
- Educação Física.
� CADERNO III - DOCUMENTO INTRODUTÓRIO E EIXO 2 - SOCIEDADE,
POLÍTICA, ECONOMIA E SUAS TECNOLOGIAS:
- História;
- Geografia;
- Ensino Religioso.
� CADERNO IV - DOCUMENTO INTRODUTÓRIO E EIXO 3 - CIÊNCIAS DA
NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS:
- Matemática;
- Ciências.
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1.1 Por que trabalhar com eixos formadores do cidadão no currículo?
A proposta de trabalhar com eixos formadores do cidadão neste currículo tem como
objetivo, promover a mediação entre os conteúdos das diferentes áreas do conhecimento e a
vida em sociedade. Nessa perspectiva as diferentes áreas do conhecimento consistem em uma
forma específica vinculada ao conteúdo científico de cada área do conhecimento e a vida e
sociedade consiste em uma formação geral, que envolve conhecimento do ser humano como
um todo, em suas relações com a sociedade e, com a natureza e consigo mesmo. Tratam-se,
portanto de conhecimentos que requer do professor saberes a cerca da filosofia, da história, da
sociologia, da psicologia e, no campo dessas ciências, destacar sociedade, ética, política,
economia, tecnologia, estética, natureza, entre outras.
Assim, não se trata de trabalhar por projetos ou interdisciplinarmente para dar conta
da formação específica e geral do aluno, mas fazer com que Linguagens, estética, cultura e
suas tecnologias; Sociedade, política, economia e suas tecnologias; Ciências da natureza
e suas tecnologias e Itinerários científicos e culturais constituam-se em instrumentos que
permitem as crianças e aos jovens subsidiar, compreender e questionar, a realidade em que
vivem e intervir na historicidade social de seu tempo.
21
2. ITINERÁRIOS* CIENTÍFICOS E CULTURAIS COMO MATRIZ DE
INTEGRAÇÃO HORIZONTAL E VERTICAL DA FORMAÇÃO HUMANA
Olga Maria dos Reis Ferro
Na perspectiva dos fundamentos deste referencial curricular, os Itinerários
científicos e culturais não são temas transversais. As temáticas que o Ministério de Educação
e Cultura (MEC) convencionou chamar de temas transversais, nos Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN/1996), não co-existem de forma paralela neste currículo, uma vez que a
substância deste documento são todas as temáticas sociais que precisam ser estudadas e
discutidas, conforme as necessidades a serem sanadas pelas pessoas em espaços e tempos
determinados historicamente. Então, vale indagar: o que são os Itinerários científicos e
culturais na perspectiva deste referencial curricular? Quais são os objetivos das atividades
pedagógicas e temáticas sociais de relevância, a serem estudadas e discutidas no ensino
fundamental?
Como o próprio nome diz, trata-se de uma atividade escolar que envolve a ciência e
a cultura como uma matriz de integração horizontal e vertical que visa uma formação
plena do cidadão. Vamos à raiz dessas palavras para descobrir os seus significados.
1. CIÊNCIA: [...] As considerações (crítica) de Claude Bernard a respeito (da Ciência positiva) são muito interessantes: “A simples constatação dos fatos”, diz ele, “nunca chegará a construir uma ciência. Podem se multiplicar fatos e observações, mas isso não levará à compreensão de nada. Para aprender, é preciso, necessariamente, raciocinar sobre o que se observou, comparar os fatos e julgá-los com outros fatos que servem de controle” (ABBAGNANO, 1998, p. 138)
2. CULTURA: [...] Este termo tem dois significados. No primeiro o mais antigo, significa a formação do homem, sua melhoria e seu refinamento, [...] O segundo significado, indica o produto dessa formação, ou seja, o conjunto dos modos de viver e de pensar cultivados, civilizados, polidos, que também costumam ser indicados pelo nome de civilização (ABBAGNANO, 1998, p. 225).
Podemos inferir que, na perspectiva deste referencial curricular, ciência e cultura
formam a matriz impulsionadora da integração horizontal e vertical do currículo do ensino
1* O termo itinerário foi desenvolvido por Renato Janine Ribeiro, no Projeto do Curso de Graduação de Humanidades da USP. Ver RIBEIRO, Renato Janine (org) Humanidades: um novo curso na USP. São Paulo: EDUSP, 2001.
22
fundamental, numa relação intrínseca entre educação e sociedade. Assim, o fundamento que
dá unidade a este currículo é a concepção de que a humanização do ser humano é o princípio
e o fim da sociedade, produzida historicamente. A produção de uma sociedade humanizada
depende, entre outras coisas, da democratização do acesso ao conhecimento. Segundo
Figueira (1995), o homem produz conhecimento à medida que tem necessidade dele como um
instrumento de utilidade real para resolver as suas problemáticas da vida em sociedade, e para
Marx (1988), o conhecimento instrumentaliza o homem a entrar em relação com os outros e
com a natureza, modificando-a e a si mesmo. No interior dessa dialética o conhecimento é
entendido como a objetivação das idéias.
O que significam idéias objetivadas? Significa afirmar que não são produzidas fora
das relações sociais. São objetivadas porque “as características quantitativas e qualitativas da
mente são determinadas pela atividade prática dos homens” (PALANGANA e HOFF, 1993,
p. 21). Assim, não é a consciência que determina as atividades práticas dos homens, mas são
as suas necessidades materiais e espirituais que lhe determinam a consciência, pois o homem
é um ser social, como esclarece Pires (2007, p. 02):
[...] antes de mais nada, um ser corpóreo, real e objetivo; um ser que tem existência material e que tem uma atividade vital que não se reduz à consciência, embora a envolva. [...] Os mesmos homens que estabelecem as relações sociais de acordo com a sua produtividade material, produzem, também, os princípios, as idéias e as categorias de acordo com suas relações sociais. Assim, estas idéias, estas categorias são tão pouco eternas quanto às relações que exprimem. São produtos históricos e transitórios.
Por isso, o desenvolvimento das idéias no plano individual nada mais é do que a
apropriação e a transformação do que já está posto no mundo social. Transpondo essa
concepção para a escola a pergunta que se faz é: como os professores e os alunos podem
sistematizar o conhecimento numa intrínseca relação entre teoria e prática?
Sabemos que existe um pensamento acadêmico preconizado afirmando que no nível
da educação básica é impossível fazer ciência nos moldes como é concebida culturalmente. Se
a função da escola é socializar e sistematizar o conhecimento e, também ensinar a pensar e a
aprender, ela pode e deve ser uma escola criadora e desenvolver com seus alunos
aprendizagens sustentadas por ensaios científicos.
Nessa direção a proposta de se desenvolverem atividades de itinerários científicos e
culturais no ensino fundamental rompe a crença de que nesse nível de ensino o aluno não é
capaz de pensar com lógica, de articular alguns ensaios de pensamento formalizado acerca do
mundo que o cerca, uma vez que acreditamos que as crianças e jovens envolvidos nesse nível
23
de ensino, na sociedade contemporânea, trazem conhecimentos advindos de informações
intercambiadas nos mais diversos e avançados sistemas (tecnológicos) de comunicação.
Sendo assim, acreditamos na possibilidade de desenvolver um trabalho didático
revolucionário, não na ciência de ponta, mas em termos de ensaios científicos e culturais, que
propiciam a integração da iniciação científica no estudo dos conteúdos do ensino básico desde
o nível fundamental.
Desenvolver ensaio científico é possível, na medida em que se valoriza a riqueza dos
conhecimentos vivenciados por crianças e jovens, em suas comunidades que ao se relacionar
como o universo do saber sobre o conjunto da sociedade que eles acessam, seja pela escola,
seja pelos meios de comunicação.
Segundo Alves (2003), a escola precisa acreditar na relação entre conhecimento
singular e universal, a fim de fazer as crianças e jovens avançarem do conhecimento
sincrético para o pensamento lógico.
Não é surpresa para ninguém que as crianças ao ingressarem na escola, não têm,
ainda, o conhecimento formal necessário à produção da ciência. Contudo, nada impede que
essas crianças sejam capazes de, partindo de temáticas sociais propostas, ler e estudar textos
diversos, discutir com os professores e colegas determinados fundamentos, levantar,
interpretar e sistematizar dados, conforme o seu nível de aprendizagem; a partir de temáticas
sociais, estabelecer relações entre um fenômeno e outro, comparar um fato singular com seus
determinantes universais, diferençar um fato do outro, com a mediação do professor que, é
um pesquisador por natureza.
Assim, o que se propõe na escola com a temática “itinerários científicos e culturais”
é que os primeiros ensaios de produção de ciências realizados pelas crianças e jovens do
ensino fundamental não sejam desvinculados da cultura singular/universal, mas integrados e
articulados ao processo de resgate histórico e valorização da cultura que lhes é pertinente,
como conhecimentos civilizatórios da natureza humana.
Sem dúvida, essa é uma função social, entre tantas outras, que a escola pública deve
desenvolver. Para tanto é necessário que se repense a organização do trabalho didático, não se
limitando apenas ao espaço escolar, mas ao contexto social. A idéia do trabalho com dos
itinerários científicos e culturais configura-se na necessidade de atribuir ao ensino o aspecto
da formação total das crianças e dos jovens. Quando o professor aborda a questão da
“reciclagem do lixo” deve perguntar a si mesmo e às pessoas que o cercam que está contido
nesse trabalho pedagógico em termos de ciência e cultura? O que fazer, por exemplo, com as
baterias de celulares que não têm mais validade? Quais são as necessidades e os impactos
24
sociais que causam na sua fase de produção e utilização? No que se refere à ciência
contemporânea, a idéia é de transformação da matéria orgânica retirada da natureza para uma
determinada utilidade social que, tendo atingido o objetivo do sistema capitalista, que é
produzir mais capital, chegou ao seu fim, uma vez que não funciona mais.
Investigar essas questões é fazer ensaio de ciência, por outro lado, quando o
professor discute com seus alunos a cultura do uso do celular, a mudança de comportamento
de quem o usa, seja para a economia de tempo e fadiga no acesso e socialização da
informação e interlocução com outras pessoas, seja para o entendimento do processo de
produção e circulação da mercadoria, está discutindo a cultura local e global; a organização
do trabalho e do processo produtivo; comportamento, que, na sociedade contemporânea, é
determinado pelos ditames da produção e reprodução do capital. Realizar um trabalho
didático dessa natureza é primar pela formação do cidadão na sua totalidade, no que confere
àquele assunto trabalhado.
A fim de atender às exigências da sociedade vigente, a escola deve ser um espaço
que propicie o intercâmbio científico e cultural baseado na interação e civilidade humana.
Para isso, precisa oportunizar condições e ambientes diferenciados de aprendizagem que
ultrapassa as quatro paredes da sala de aula e o livro didático.
Na perspectiva da organização do trabalho didático com os itinerários científicos e
culturais, a educação processada dentro da instituição escolar deverá estar relacionada com o
estudo e discussão de temáticas sociais que atendam às necessidades das crianças e dos
jovens.
Por isso, uma das funções da escola é produzir meios para que as crianças e jovens do
ensino fundamental compreendam o funcionamento político, social e econômico da sociedade em
que vivem. Isso pode ser feito por meio da apreensão dos conhecimentos historicamente
construídos e socialmente disponibilizados e, principalmente, por meio da releitura crítica desses
conhecimentos, ou seja, ler as obras clássicas2, reinventar o conhecimento, escrever os seus
próprios textos de forma que possam transformar a si mesmos e a sociedade na qual estão
2 Clássicas são aquelas obras de literatura, de filosofia, de política, etc., que permaneceram no tempo e continuam sendo buscadas como fontes do conhecimento. E continuarão desempenhando essas funções pelo fato de terem registrado com riqueza de minúcias e muita inspiração, as contradições históricas de seu tempo. Elas são produções ideológicas, pois estreitamente ligadas às classes sociais e aos interesses que delas emanam, mas são também meios privilegiados e indispensáveis para que o homem reconstitua a trajetória humana e descubra o caráter histórico de todas as coisas que produz. (ALVES, Gilberto Luiz. As funções da escola pública de educação geral sob o imperialismo. Revista Novos Rumos, São Paulo, v. 16, p. 112, 1999).
25
inseridos. A concepção desenvolvida por Ribeiro (2001) e reafirmada por Souza (2007) sustenta a
importância dos itinerários científicos e culturais, no trabalho didático da escola, como
possibilidade de desenvolver a formação humana à sua totalidade.
Segundo Martins (2007), a escola precisa ser reinventada, revolucionar o seu
trabalho pedagógico, trabalhar componentes curriculares que envolvam a ciência e
transformem a cultura do cidadão, numa perspectiva de totalidade.
[...] outro componente revolucionário da educação: a cultura, no seu amplo e fundamental sentido. Uma revolução na educação pressupõe o currículo revolucionado pelos mecanismos de acesso à grande cultura, já na escola elementar: o teatro, a música, a literatura, a ciência, a pintura, a escultura, a fotografia e, sobretudo, a poesia. Porque sem poesia, a escola fenece e a educação sucumbe (O Estado de SP, 2007).
Nesse contexto, os itinerários científicos culturais, no ensino fundamental, surgem
como um princípio metodológico, como afirma Gramsci (1988), que pode auxiliar os
professores, as crianças e os jovens do ensino fundamental a sistematizar os conhecimentos
apreendidos e reformulados historicamente. As temáticas que o Ministério de Educação e
Cultura (MEC) convencionou chamar de temas transversais, nos Parâmetros Curriculares
Nacionais (BRASIL, 1996), não existem concomitantemente ao currículo, uma vez que é a
substância do próprio currículo.
Toda saída da sala de aula deve ter objetivo a prática de ensaios científicos e a
ampliação da cultura das crianças e jovens. O professor deve partir de eixos temáticos, cujos
temas sociais, expressam a necessidade real do grupo que busca reelaborar conceitos, valores,
para sistematizá-los conforme o seu nível de entendimento e aprendizagem. Nesse sentido,
seu papel é de pesquisador capaz de observar e planejar situações diferenciadas, para atender
às necessidades de aprendizagem da sala de aula.
Essa ação deve ser intencionalmente organizada pelo professor, pela equipe técnica-
pedagógica da escola e discutida com as crianças e jovens. Estes poderão participar de alguns
momentos do planejamento como forma de conhecer o processo desde os primeiros passos da
elaboração dos eventos científicos e culturais a serem realizados, até o seu ponto de chegada que é
o conhecimento sistematizado e socializado, por isso. a importância de leitura dos clássicos da
pesquisa mais elaborada na biblioteca, em museus, em arquivos públicos, na Internet, entre outros
locais de busca do conhecimento e informação historicamente produzidos.
Dessa forma, o professor estará contribuindo para desenvolver nas crianças e nos
jovens do ensino fundamental um perfil social e cultural mais elaborado.
26
3. PERFIL DO PROFESSOR
Analice Teresinha Talgatti Silva Rosa Maria Dalpiaz Dias
Sônia dos Santos Boiarenco Amorin
Teus ombros suportam o mundo e ele Não pesa mais que a mão de uma criança.
(Carlos Drummond de Andrade)
A educação passa por uma fase de transição em sua história e enfrenta desafios
sendo, talvez, o principal deles um paradoxo de nosso tempo: a busca da harmonização entre
quantidade e qualidade. A sociedade contemporânea impõe às práticas educacionais muitas
responsabilidades que exigem dos educadores constantes reflexões sobre a compreensão e
organização de seu trabalho didático. Essa exigência, que é global, pode ser constatada no
trecho do Relatório da UNESCO:
Pede-se muito aos professores, demasiado até. Espera-se que remediem as falhas de outras instituições, também elas com responsabilidades no campo da educação e formação de jovens. Pede-se-lhes muito, agora que o mundo exterior invade cada vez mais a escola, principalmente através de novos meios de informação e de comunicação. De fato, os professores têm a sua frente jovens cada vez menos enquadrados pelas famílias ou pelos movimentos religiosos, mas cada vez mais informados, terão de ter em conta este novo contexto, se quiserem fazer-se ouvir e compreender pelos jovens, transmitir-lhes o gosto de aprender, explicar-lhes que informação não é conhecimento e que este exige esforço, atenção, rigor, vontade (DELORS, 1999, p. 26 ).
O texto desse relatório convoca o professor a realizar novas reflexões sobre a história
das pedagogias mais difundidas, seus métodos e o seu papel no interior de cada uma delas.
Para tanto, os textos de Saviani (1995), sobre essa temática são esclarecedores. Segundo esse
autor, na Pedagogia Tradicional, a educação era direito de todos e dever do Estado, pois este
lema era defendido pela burguesia do século XIX devido à necessidade de sua consolidação
no poder. A pessoa que ficasse à margem desse processo era ignorante. A escola tinha como
objetivo difundir a instrução, transmitir os conhecimentos acumulados pela humanidade e
sistematizados logicamente. O conhecimento, por sua vez, era centrado no professor, que
transmitia o acervo cultural aos alunos que o assimilava.
Sobre a Pedagogia Nova, Saviani (1995) afirma que esta mantinha a crença no poder
da escola, capaz de promover a função de equalização social, num momento histórico (anos
30 e 40 do século XX) em que a desigualdade social tornou-se exacerbada no Brasil – quem
27
estivesse à margem do processo era o rejeitado. A Pedagogia Nova tinha como preocupação
“os anormais”. A partir das experiências levadas a efeito por Maria Montessori com crianças
“anormais” é que se pretendeu generalizar procedimentos pedagógicos para o conjunto do
sistema escolar. Saviani (1995, p. 19) afirma que essa Pedagogia Nova promoveu “[...] uma
espécie de biopsicologização da sociedade, da educação e da escola. Para a Pedagogia
escolanovista os homens são essencialmente diferentes, não se repetem, cada individuo é
único.” Segundo o autor, a Escola Nova acredita que:
[...] a marginalidade não pode ser explicada pelas diferenças entre os homens, quaisquer que elas sejam: não apenas diferenças de cor, de raça, de credo ou de classe, o que já era defendido pela pedagogia tradicional; mas também diferenças no domínio do conhecimento, na participação do saber, no desempenho cognitivo (SAVIANI, p. 20).
A educação, nessa pedagogia, tinha como função ajustar, adaptar os indivíduos à
sociedade, incutindo neles o sentimento de aceitação dos demais e pelos demais, inclusive a
aceitação do modelo de sociedade na qual eles viviam.
Na primeira metade do século XX, toma força, na educação brasileira, a pedagogia
tecnicista, na qual o processo educativo passa a ser objetivo e operacional, igualado ao
trabalho fabril. Segundo Saviani (1995, p. 24):
[...] o elemento principal passa a ser a organização racional dos meios, ocupando professor e aluno posição secundária, relegados que são à condição de executores de um processo cuja concepção, planejamento, coordenação e controle ficam a cargo de especialistas supostamente habilitados, neutros, objetivos, imparciais. A organização do processo converte-se na garantia da eficiência, compensando e corrigindo as deficiências do professor e maximizando os efeitos de sua intervenção.
Na Pedagogia Tecnicista, quem está à margem desse processo é o incompetente, o
ineficiente, o improdutivo. A educação tem como função proporcionar um efetivo
treinamento para execução das múltiplas tarefas demandadas continuamente pelo sistema
social.
Na trajetória da história da educação brasileira os professores, ao reproduzirem essas
pedagogias, sem que se dessem conta, além de provocar uma descontinuidade, uma
heterogeneidade e uma fragmentação do trabalho didático, agravaram o processo de
marginalidade e aprimoraram a qualidade do ensino destinado às elites.
O exposto acima evidencia que na sociedade contemporânea existem grandes
desafios a serem superados pelo professor, tais como: desenvolver habilidades para
contextualizar e integrar conhecimentos, para compreender qualquer informação em seu
28
contexto, para expor e trabalhar os problemas, para ser mais tolerante com colegas de
trabalho, com alunos-pares e poderem enfrentar situações complexas, solucionando-as. Tardif
(2005, p. 35) observa o seguinte:
A docência é um trabalho cujo objeto não é constituído de matéria inerte ou de símbolos, mas de relações humanas com pessoas capazes de iniciativa e dotadas de uma certa capacidade de resistir ou de participar da ação dos professores.
Diante do exposto, faz-se necessário uma reflexão, pois de acordo com o mesmo
autor, “[...] ensinar é trabalhar com seres humanos, sobre seres humanos e para seres
humanos” (TARDIF, 2005, p. 31). Nesse contexto, temos como concepção de ser humano,
um ser histórico que constrói o seu meio e se constrói diante de um universo em constante
transformação.
Na atualidade, as exigências impostas pela educação ao professor mudam sua função
pois, ao mesmo tempo em que tem que formar seres humanos capazes de se situarem
corretamente no mundo, modificando a sociedade e a si mesmos, precisa atender como (e para
que) a economia neoliberal vem pensando a educação. Nessa perspectiva, a educação passa a
ser concebida como mercadoria. A educação entendida como mercadoria reproduz e amplia as
desigualdades, sem extirpar as mazelas da ignorância. É educação apenas para a produção
setorial, para formação de mão-de-obra especializada para o trabalho, cujo fim é uma
educação apenas consumista, que não produz a formação humanística-científica necessária
para o homem enfrentar as problemáticas da sociedade contemporânea, que se tornou
extremamente complexa.
Na perspectiva de uma educação humanística-científica, o professor seria menos um
formador e mais um mediador entre o aluno, o conhecimento e sua relação com as práticas
dos homens em sociedade, cujo valor está na utilidade. Segundo Saviani (1995, p. 79) esse
docente buscará métodos que:
[...] estimularão a atividade e iniciativa dos alunos sem abrir mão, porém, da iniciativa do professor; favorecerão o diálogo dos alunos entre si e com o professor, mas sem deixar de valorizar o diálogo com a cultura acumulada historicamente; levarão em conta os interesses dos alunos, os ritmos de aprendizagem e o desenvolvimento psicológico mas sem perder de vista a sistematização lógica dos conhecimentos, sua ordenação e gradação para efeitos do processo de transmissão-assimilação dos conteúdos cognitivos; [...] que mantêm continuamente presente a vinculação entre educação e sociedade.
29
O perfil do professor começa a ser apresentado a partir de um trabalho fortemente
contextualizado, concreto, posicionado, marcado pela pesquisa. Segundo Demo (1998, p. 8)
“[...] manter a proposta de que a base da educação escolar é a pesquisa, não a aula, ou o
ambiente de socialização, ou a ambiência física, ou o mero contato entre professor e aluno”.
O professor que trabalha a educação com base em pesquisas propõe um ensino pelo
questionamento, constrói e reconstrói o conhecimento junto com seu aluno e desenvolve
competência humana. Para Luckesi (1994 p. 115-116):
[...] o educador deve possuir algumas qualidades, tais como: compreensão da realidade com o qual trabalha, comprometimento político, competência no campo teórico do conhecimento em que atua e competência técnico-profissional. [...] Torna-se, além da competência teórica, técnica e política, uma paixão pelo que faz. [...] O processo educativo exige envolvimento afetivo. Daí vem a ‘arte de ensinar’.
Hoje se exige dos professores o desempenho de uma ampla tarefa: a de produzir uma
nova instituição educacional pública. Nesse sentido, Alves (2001, p. 271) faz a seguinte
abordagem:
A esperança é a de que os educadores, colocando-se na perspectiva da transformação social, fujam ao peso das rotinas seculares e ao corporativismo e enfrentam os problemas da escola pública contemporânea e façam avançar tanto a organização do trabalho didático quanto a incorporação das novas funções sociais da instituição, exigindo o zelo de todos pela oferta de serviços eficazes.
Contudo, os professores freqüentemente falam sobre as dificuldades que enfrentam
para produzir uma nova escola. Reclamam das dificuldades de aprendizagem das crianças e
jovens, da desmotivação para o estudo, para a leitura e para a discussão de temas mais
complexos. A esse respeito, Malaguti (2005, p. 01) oferece as seguintes considerações:
[...] os alunos atuais foram colocados nessa situação. É uma geração cujos poderes de crítica e questionamento foram enfraquecidos ou mesmo anulados. Estes jovens aprenderam que o individualismo, o egoísmo, o esforço isolado e a desconfiança em relação aos outros conduzem ao sucesso na vida profissional. De forma aparentemente paradoxal, também foram conduzidos a incorporar a “mesmice” e a aceitação passiva como ideais positivos e fatores de integração econômica. Sucumbiram, ainda, ao “conhecimento” fácil divulgado via internet, aos caminhos do sucesso apontados pelos “gurus do auto-conhecimento” ou do “como vencer na vida em “sete etapas”.
Para Malaguti (2005), o modo de ser das crianças e dos jovens de hoje é um produto
histórico, portanto, social e, como tal, precisa ser enxergado. Nessa perspectiva, o professor não
30
pode ver o aluno apenas com o foco na educação, mas preciso enxergá-lo com uma lupa que foca
a sociedade como um todo, pois ele é fruto dessa sociedade contemporânea que requer do
educador uma nova leitura de mundo. As crianças e os jovens dessa sociedade reivindicam outras
necessidades de formação, diferentes das de outros tempos e para atender a essa demanda, o
professor precisa ser, antes de tudo, um pesquisador. Esse é o desafio que se impõe a ele.
4. A FUNÇÃO MEDIADORA DA ESCOLA
Maria de Lourdes Alencar Lima
A escola contemporânea é uma instituição cujo papel consiste na socialização do
saber sistematizado (SAVIANI, 2003). É função primeira e específica da escola, a
apropriação e a socialização do conhecimento historicamente acumulado pela humanidade, a
fim de que as crianças e os jovens, ao entrarem em contato com esse conhecimento possam
reelaborá-lo e colocá-lo a serviço de suas necessidades sociais. Portanto, a escola existe para
disponibilizar o acesso e a permanência das novas gerações ao saber sistematizado, à cultura
erudita, à cultura letrada.
Assim, a escola, ao realizar as ações pedagógicas propicia aos alunos um salto
qualitativo no acréscimo do conhecimento, valorizando, no processo pedagógico, o
desenvolvimento da aprendizagem dos alunos respeitando ritmo, nível de envolvimento bem
como os limites de cada aluno.
Todavia, é importante lembrar que, na contemporaneidade, a escola. como instituição
não deve limitar suas funções sociais apenas em proporcionar as crianças e aos jovens o
acesso ao conhecimento científico e à cultura singular e universal, mas organizar para se
tornar um espaço que concretiza esse conhecimento. Em função da crise do capital que atinge,
em particular, as camadas médias e pobres da sociedade, as demandas sociais para a escola
contemporânea se multiplicaram, como afirma Alves (2001, p. 213)
[...] a escola pública, ao ser chamada a atender demandas da sociedade capitalista que, até então, lhe eram estranhas, foi assaltada pelas mais díspares motivações, provenientes tanto do Estado como da família. As novas funções sociais da escola emergiram com força torrencial e contribuíram, também, para relegar a finalidade maior da instituição a um segundo plano. [...]
31
O autor chama a atenção sobre a necessidade da escola olhar para além de seu
interior e analisar as contradições inerentes ao movimento de produção da vida na sociedade
capitalista da qual fazem parte seus alunos. A exacerbação da pobreza, o desemprego e a
necessidade dos pais trabalharem horas a fio fora de casa tem exigido da escola de ensino
fundamental educar e cuidar do ser humano, em todos os aspectos que ele necessita para
crescer com saúde, com educação e com condições de civilizar-se.
As escolas da Rede Municipal de Ensino de Campo Grande, Mato Grosso do Sul,
possuem, em sua estrutura, espaços adequados e formas de organização do trabalho didático
que permitem concretizar a educação com a participação de todos os envolvidos no processo
de ensino e aprendizagem.
5. PERFIL DO ALUNO
Ana Olíria Ferreira Alves Maria de Lourdes Alencar Lima
A formação das crianças e dos jovens é a preocupação da escola na sociedade
contemporânea. Conhecer quem freqüenta essa instituição nos impõe a fazer algumas
indagações relevantes, tais como: quem é o aluno da REME? Que cidadão pretende formar?
Qual será a atuação desse cidadão no mercado de trabalho? Como aproveitam o tempo para
ampliar o conhecimento sistematizado pela escola? Cada vez mais precisamos refletir sobre
essas questões, pois permeiam todo o trabalho didático.
O trabalho didático está a serviço das crianças e dos jovens, portanto é pertinente que
se conheça quem freqüenta as escolas. Para conhecê-los, é mister aprender que todos que a
freqüentam são diferentes em gêneros, etnias, classe social, idades, mas possuem uma mesma
especificidade no sentido de que estão ali para aprender. O olhar para a diversidade contida na
escola faz com que tracemos o perfil das crianças e dos jovens que queremos formar.
Nesse olhar poderemos descobrir a bagagem que traz a infância, e a adolescência
pois, cada tempo histórico produz determinadas necessidades à formação humana. A partir
dessa aproximação podemos perceber as necessidades reais das crianças e dos jovens no
contexto atual.
As crianças e os jovens que freqüentam a escola hoje, possuem características
diferentes daqueles em que só ouviam passivamente sobre o que lhes era transmitido na
32
escola. Apresentam ideais que precisam ser levados em consideração, pois ouvi-los é uma
forma de valorizá-los. Segundo Arroyo:
[...] Há muitas formas dos alunos(as) falarem de suas vidas, de suas trajetórias humanas e escolares. Dando voz àqueles que por tempo foram silenciados, suas auto-imagens podem destruir tantas imagens estereotipadas que pesam sobre eles. Suas falas podem ser menos preconceituosas do que tantos discursos da mídia, da política e até da pedagogia. Nada melhor para rever nosso olhar sobre a infância, adolescência e juventude do que confrontá-lo com seu próprio olhar (ARROYO, 2004, p. 81).
Refletir sobre as características dessas crianças e jovens é imprescindível para a
construção da formação humana, pois dependendo da forma como são tratados também será a
maneira pela qual entendemos a educação. Se olharmos a educação pelo prisma da passividade,
será a de transmissão do conhecimento, mas se a olharmos como forma de construção ativa,
então, ela poderá ser um instrumento da construção da autonomia do ser humano.
Estamos caminhando para o real sentido em relação à aprendizagem, reivindicado
pela sociedade contemporânea. Temos no interior das escolas da REME crianças e jovens
com histórias próprias e reais, que na sua trajetória de vida trazem marcas que precisam ser
consideradas.
A trajetória de vida das crianças e dos jovens podem ser cheias de luzes e sombras,
por isso a importância de fazer da escola um lugar que oportunize a eles construir uma
experiência digna da formação humana.
Nesse sentido, não podemos separar as trajetórias escolares das trajetórias humanas,
pois, o que se aprende na escola precisa fazer relação com a vida. A educação é um direito de
todos, mas não pode estar desarticulada da realidade social. Talvez seja, nesse sentido, que
enfrentamos os maiores problemas em relação à aprendizagem das crianças e dos jovens, que
se mostram, às vezes, desestimulados para freqüentar a escola, por não ver nela a relação com
sua trajetória de vida.
A Divisão de Coordenação de Ações Educacionais, realizou no mês de julho de
2007, uma pesquisa por amostragem com aproximadamente 400 alunos, do 6º ao 9º ano do
Ensino Fundamental, com o objetivo de conhecer a realidade da Rede Municipal de Ensino de
Campo Grande, Mato Grosso do Sul, aponta o seguinte perfil dos alunos que freqüentam as
escolas municipais:
� os alunos da REME, moram próximo da escola; em sua maioria, moram com os
pais, embora muitos moram com outros (avó, tia);
33
� 30% dos alunos fazem aula no projeto que funciona nos Centros Comunitários dos
bairros, o restante fica em casa para cuidar dos irmãos e dos afazeres domésticos;
� cerca de 90% das famílias possuem uma religião.
O nosso aluno vem de toda parte do Brasil, cidades vizinhas e de países vizinhos
como Paraguai, Bolívia e até do Japão. Conforme a pesquisa apontou, o nosso alunado gosta
da escola, dos professores, gosta muito das aulas de educação física e das atividades
comemorativas; gosta do lanche e da hora do recreio. Na opinião da maioria, as escolas
deveriam construir mais quadras e espaços para o lazer. Segundo eles, a escola deveria ser
mais alegre, com cores e pinturas artísticas. Outro item abordado com muita freqüência diz
respeito ao comportamento dos alunos, que precisam ser mais educados e disciplinados,
segundo eles próprios sugerem. A maioria dos alunos disse que a escola está boa, mas precisa
melhorar sempre.
Os dados acima permitem concluir que a escola é fundamental na vida do aluno, é
mais que uma extensão da própria família, todavia a escola pública precisa melhorar as suas
condições de atendimento às reais necessidades dos alunos. Elucidativo deste apelo dos
alunos é o conteúdo das duas redações que se seguem:
Apresentamos uma visão ampla dos que freqüentam as escolas, porém isso não é
generalizado. Muitas crianças e jovens gostam e acreditam nela. Estar na escola é privilégio
de poucos, no entanto somente nela é que sistematizam conhecimentos que não são vistos no
cotidiano. Explicitamos que o perfil das crianças e dos jovens nos tempos atuais requer uma
escola com características diferenciadas, tanto ao que se refere ao espaço físico, quanto à
formação docente.
Apenas apresentar a eles uma escola com espaços agradáveis de aprendizagem não se
caracteriza como motivadora do sucesso. Estar atento a indagações sobre qual escola querem
as crianças e jovens é o ponto de partida para a democratização da escola. Nas redações a
seguir é possível fazer uma análise sobre esse perfil e a escola que eles esperam.
34
Redação 1
Escola Municipal Nerone Maiolino
Aluno: Wanderlan da Silva Moreira Júnior
7º ano D vespertino
Novembro de 2007
Concurso de redação: “A escola que queremos”
“A ESCOLA QUE QUEREMOS”
35
Escola Municipal Professora Ione Catarina Gianotti Igydio
Aluna: Letícia Barbosa Lopes
6º ano C vespertino
Professora: Lúcia Maria Oliveira
Novembro de 2007
Concurso de redação: “A escola que queremos”
36
6. PERFIL DA EQUIPE TÉCNICA PEDAGÓGICA DA ESCOLA
Evanir Bordim Sandim
“Precisamos conhecer o que fomos, para compreender o que somos e decidir
sobre o que seremos”. Paulo Freire (1993, p. 33).
A escola, como local privilegiado de acesso à educação, propicia a produção do
conhecimento, a interação social e a construção histórica do sujeito. O processo de construção
do Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de 9 anos, da REME, impõe-nos a
necessidade de refletir sobre a atuação do Corpo Técnico da Escola (Diretor, Supervisor
Escolar, Orientador Educacional e Apoio Pedagógico), numa perspectiva de um trabalho
coletivo na organização escolar. A especificidade do trabalho de cada um deve existir;
contudo, deve haver também, uma articulação entre as áreas específicas, pois dela resulta a
compreensão do trabalho pedagógico em sua totalidade.
Começaremos com uma retomada histórica, para o entendimento de alguns entraves
que se colocam no exercício da função dos técnicos (Diretor, Supervisor Escolar, Orientador
Educacional) dentro do ambiente escolar. Primeiramente configurou-se como uma ação de
“controle”, permeada por uma visão de fiscalização das práticas pedagógicas.
As ações pertinentes a administrar, supervisionar e orientar, sempre existiram por
uma necessidade da humanidade; mas com a consolidação do capitalismo urbano-industrial,
tornou-se premente suas intencionalidades, de acordo com as Teorias da Administração
Empresarial, cujo objetivo é a produtividade, eficiência e eficácia, sistematizadas no controle
dos que administram sobre os que executam.
Essa intencionalidade chega, também, ao espaço escolar, prevalecendo as questões
administrativas sobre os aspectos pedagógicos, caracterizando a reprodução do sistema social
dentro do contexto escolar. Nesse sentido, a administração educacional tinha os mesmos
princípios da administração empresarial, que era controlar para reproduzir o capital, conforme
os interesses do sistema.
Houve a reformulação dos cursos de Pedagogia no Brasil, conforme o Parecer do
Conselho Federal de Educação (CFE) n°252/69 que normatiza, como curso de graduação
responsável pela formação dos profissionais, as habilitações para Administração Escolar,
Supervisão Escolar e Orientação Educacional para as unidades e sistemas escolares. Nesse
sentido, Saviani (1997, p. 104) esclarece-nos que:
37
Nessa reformulação do curso de Pedagogia, a influência tecnicista já estava bem presente. O curso é organizado mais tarde a base de formação de técnicos e de habilitações profissionais e reflete aquela formação básica, formação geral, que era a marca anterior do curso de Pedagogia.
Com o intuito de cientificizar a prática pedagógica dentro de uma visão empresarial,
houve uma divisão na organização do trabalho dentro das unidades escolares e, como
conseqüência, uma fragmentação dos conhecimentos a serem transmitidos, uma separação
entre teoria e prática. A teoria ficou sob a responsabilidade dos especialistas (equipe técnica)
os quais “pensavam” a educação, e a prática coube aos professores, que a executavam. A
Política de Educação da Rede Municipal de Ensino de Campo Grande (2006, p. 30)
recomenda a superação da dicotomia entre teoria e prática no trabalho da equipe técnica
pedagógica da escola:
A prática pedagógica possui uma dimensão investigativa e constitui uma forma de construção e de reconstrução do conhecimento. A participação na elaboração de uma proposta pedagógica institucional, de projetos e programas envolve a definição de um aporte teórico, da seleção bibliográfica e de materiais pedagógicos, dentre outros que implicam uma atividade investigativa que precisa ser valorizada, pois os profissionais da educação devem, a partir de uma reflexão teórica, superar a cultura da fragmentação do processo de ensino e de aprendizagem disseminada historicamente.
Como proposta de reflexão sobre a prática pedagógica nas unidades escolares,
acreditamos numa articulação entre os profissionais, pautada num repensar coletivo sobre a
lógica da construção do conhecimento e sua aplicação no contexto social; um repensar do
professor sobre sua prática docente, mesmo que na função de Diretor, Supervisor Escolar e
Orientador Educacional, a fim de superar a fragmentação entre o pensar e o agir, entre a
centralização do poder e o reforço do trabalho coletivo nas unidades escolares.
Como premissa da reflexão surge a necessidade de muito estudo, pesquisa e
formação permanente em serviço, por parte de todos os envolvidos no processo de ensino e de
aprendizagem, garantida por meio do investimento no Programa de Formação Continuada da
Rede Municipal de Ensino (REME). Nessa proposta, a equipe técnica pedagógica da escola é
vista como a grande responsável pela organização, promoção e execução dos eventos de
formação continuada, no trabalho dos profissionais da educação na escola.
Sabemos que os estudos dos professores não se restringem aos momentos de
formação por meio de cursos, palestras e oficinas pedagógicas, mas prosseguem em outros
momentos na escola, com a mediação da equipe técnica pedagógica que propicia sessões de
estudo, com acesso à fundamentação teórica e a aplicabilidade na prática pedagógica, nas
próprias unidades escolares. A equipe técnica pedagógica é responsável pelo cultivo da
38
prática da leitura e da pesquisa dos professores. Para isso, essa equipe também precisa ser
estudiosa, pesquisadora. Uma vez fortalecida pelo estudo e pesquisa, juntamente com os
professores, cabe à equipe técnica pedagógica da escola, também, o papel de envolver a
comunidade escolar, como um todo, nas atividades da escola.
É responsabilidade do Corpo Técnico das unidades escolares a mobilização de toda
a comunidade educativa, para a construção do Projeto Político-Pedagógico, que contemple a
realização da mediação entre o conhecimento da prática social e o conhecimento formal,
sistematizado, possibilitando formas de acesso ao conhecimento científico. Sendo assim,
Rangel apud Placo (1994, p. 147) afirma que:
Sem perder de vista o princípio de que a escola não pode dar conta dos problemas sociais, especialmente num tempo em que esses problemas se potencializam com os reflexos e implicações da globalização, da desigualdade e da pobreza, podem-se ampliar os debates sobre o que a formação educativa no âmbito de suas possibilidades e como área em que se (re)constroem saberes e atitudes, pode fazer “por um mundo melhor”: expressão e esperança que se mantêm no senso e sentimento comum
O ambiente escolar apresenta, questões que, vão além dos conteúdos específicos do
currículo que requerem um trabalho inter e transdisciplinar de formação/ação educativa. O
corpo técnico em sincronia com os professores auxilia a tomar consciência das dimensões
envolvidas em sua prática e desenvolver projetos que trabalhem temas como: ética, meio
ambiente natural e social, pluralidade cultural, e outros, oportunizando momentos do ensino
para aprendizagem e do ensino com pesquisa.
6.1 O papel do corpo técnico nas unidades escolares da Rede Municipal de Ensino
Com a concepção de que o objeto de trabalho do corpo técnico deve estar voltado
para o processo de produção do conhecimento, abordaremos sobre os papéis dessa equipe
técnica dentro das unidades escolares.
É papel da Direção da escola ter uma visão específica e geral do trabalho escolar. Cabe à
gestão promover discussões sobre as políticas educacionais junto à comunidade escolar,
objetivando a melhoria da qualidade de ensino, criando momentos de conscientização dessa
comunidade sobre os problemas cotidianos, vinculados à realidade social em que a escola está
inserida. Ao mesmo tempo, a gestão deverá envolver os professores nesse trabalho, para
atualização de conhecimentos, de forma que junto as crianças e jovens contribua para a
transformação desse contexto social. Essa prática levará ao compromisso de mudança e à
mobilização para a construção do Projeto Político-Pedagógico da unidade escolar.
39
Segundo Pinzan e Maccarini (2003, p. 21) a Supervisão Escolar, comprometida com
o trabalho coletivo, contribui na formação do professor na medida em que:
Não se limita ao controle, ou ao repasse de técnicas aos professores, mas no sentido de oferecer-lhes assessoramento teórico-metodológico diante dos problemas educacionais cotidianos, cria momentos de reflexão teórico-prática e, com o respaldo da fundamentação teórica e uma visão do ato de ensinar e de aprender como algo articulado, coordena tais discussões.
Nessa perspectiva, o supervisor escolar e os professores tornam-se parceiros na
mediação e no aperfeiçoamento do trabalho pedagógico na escola, a medida que suas práticas
se confrontam com questionamentos e fundamentos teórico-práticos, evocados por um ou por
outro, num movimento em que ambos se formam e se transformam, suprindo a carência dos
cursos de formação acadêmica.
O trabalho da Orientação Educacional tem uma função política que se solidifica
quando faz uma leitura crítica, permanente da sociedade e do mundo, procurando ir além dos
aspectos individuais das crianças e dos jovens, para envolvê-los nos aspectos políticos e
sociais do cidadão. Portanto, faz-se necessária uma articulação entre currículo-sociedade,
homem-natureza, homem-sociedade, escola-trabalho e escola-vida.
Quando enfatizo a função política, estou com isso querendo dizer que ele provavelmente desempenhará sua função de modo mais eficaz mudando a ênfase da sua atuação como orientador e deixando de se perder nas “parafernálias” principalmente burocráticas, para cuidar do essencial, cuidar dos conteúdos, da solidez dos conteúdos, auxiliando na elaboração e tentando garantir que os alunos os assimilem da forma mais consistente, mais duradoura possível (SAVIANI, 1997, p. 234).
Nessa concepção de atuação da orientação educacional, torna-se essencial a
mediação realizada, por esse profissional que auxilia na promoção de uma interação entre
crianças e jovens durante o processo de ensino e de aprendizagem. Dessa forma, não
concebemos a orientação educacional distanciada da prática pedagógica.
O papel da Educação no mundo atual coloca para a escola um horizonte mais amplo
e diversificado. É preciso ter em vista uma formação de alunos capazes de adquirir e
desenvolver novas competências, em função de novos saberes que se produzem e que
demandam um novo tipo de profissional preparado para poder lidar com novas tecnologias e
linguagens, capazes de responder a novos ritmos e processos reivindicados pela atual
sociedade. É preciso pois, garantir condições para que o Corpo Técnico se instrumentalize,
tendo em vista o processo de educação contínua e permanente frente aos desafios.
40
Acreditamos na construção de uma gestão democrática-participativa que atenda as essas
mudanças, sendo necessário, portanto, uma dinâmica de relacionamento de grupos pautada nos
princípios democráticos em que todos possam expor suas idéias, serem ouvidos, respeitados
havendo consenso nas decisões a partir dos objetivos traçados para a unidade escolar.
7. GESTÃO ESCOLAR: A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE
DEMOCRACIA
Maria Ângela de Arruda Fachini Liliana Gonzaga de Azevedo Martins
Regina Magna Rangel Martins
O debate sobre o aspecto democrático da educação vincula-se à idéia de participação
social e ampliação da consciência política. De acordo com Dourado (1998), as políticas
educacionais no Brasil vêm sendo pontuadas por mudanças de cunho legal/institucional. A
própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB/1996, torna-se um indicador
para as políticas educacionais no país e, conseqüentemente, para a discussão das políticas de
democratização da escola e sua gestão.
Com relação à democratização da gestão, vale ressaltar o papel e função social da
educação e da escolarização, bem como o da gestão da educação e os limites a ela impostos,
devido às transformações vivenciadas pelo mundo do trabalho, resultantes das políticas de
racionalização de produção. Segundo Dourado (1998, p. 79):
Situar as políticas de educação no Brasil e, no bojo dessas, as discussões sobre a gestão democrática, implica resgatar os vínculos e compromissos que norteiam a presente reflexão, pois convivemos com um leque amplo de interpretações e formulações reveladoras de distintas concepções acerca da natureza política e social da gestão democrática e dos processos de racionalização e participação, indo desde posturas de participação restrita e funcional atreladas às novas formas de controle social (qualidade total) até perspectivas de busca de participação efetiva, conseqüentemente, de participação cidadã.
A gestão democrática é entendida como um processo de aprendizado e de luta
política que não se limita à prática educativa, mas vislumbra a possibilidade de participação
efetiva de toda a comunidade escolar. É nesse processo democrático que se faz necessário
repensar as relações de poder. Ela não irá resolver todos os problemas da educação, mas sua
41
implementação é, hoje, uma exigência, sendo um dos caminhos para a democratização do
poder na escola e na própria sociedade.
Porém, não basta apenas garantir a participação direta ou indireta nas tomadas de
decisão, mas o entendimento, de quem participa, sobre as alternativas e condições postas, para
uma tomada de decisão consciente.
Nessa perspectiva, a gestão escolar tem papel fundamental quanto à promoção de
participação qualificada da comunidade. Uma gestão democrática traz inúmeras contribuições
à escola, além da participação dos diferentes atores da educação, contribuindo na
administração de cada unidade escolar.
Essa maneira democrática de administrar permite a valorização de cada membro
participante do processo escolar e, ainda, no entendimento político do ato pedagógico. Esse
aspecto permite a implantação e a implementação de um projeto político alinhado com os
anseios da comunidade interna e externa da escola pois, como nos alerta Libâneo (1993), a
educação escolar constitui-se num sistema de instrução e ensino com propósitos claros e
intencionais, sendo necessárias práticas sistematizadas e alto grau de organização por parte do
docente, que deve estar ligado intimamente às demais práticas sociais. A educação escolar
possibilita que se democratizem os conhecimentos e é na escola que os trabalhadores
continuam tendo a oportunidade de prover escolarização formal aos seus filhos, adquirindo
conhecimentos científicos e desenvolvendo a capacidade de pensar criticamente os problemas
e desafios estabelecidos pela realidade social.
Essa questão deixa clara a importância do enfoque pedagógico na condução de uma
gestão democrática preocupada com a apropriação do conhecimento pelo aluno. Assim, o
processo pedagógico deve ultrapassar a sala de aula, implicando mudanças em suas ações
cotidianas.
Para tanto, será necessário promover coletivamente uma gestão que esteja
diretamente voltada à construção de ações pedagógicas que proporcionem, as crianças e
jovens, o atendimento de sua produção de conhecimento e de suas necessidades emergentes
de cidadão.
As ações desenvolvidas pela gestão escolar devem se pautar numa prática mediadora,
na busca pela qualidade da educação, no trabalho coletivo e numa avaliação reflexiva e
contínua. Cabe à direção escolar o desafio de promover um trabalho no âmbito do espaço
escolar, tendo como foco uma gestão em sintonia com a realidade.
Discutir a questão da gestão escolar implica repensar as necessidades sociais de
nossa época referentes ao atendimento de nossa clientela escolar; refletir criticamente sobre o
42
que a escola ignorou e deixou de incorporar ao seu dia-a-dia; a simplificação do trabalho
didático e o uso de novas metodologias; a especialização do saber, implicando as diferentes
disciplinas do currículo escolar; as necessidades da clientela escolar e como a gestão e a
organização da escola estão inter-relacionadas a esses fatores.
Em uma perspectiva futurista, vislumbramos a gestão e organização da escola com a
implementação de uma jornada escolar integral, tal como prevê Alves (1998, p. 174-175):
“Merenda escolar, tratamento médico-odontológico, práticas desportivas e de lazer vêm se
incorporando ao cotidiano da escola contribuindo para a instauração da jornada escolar integral”.
Essa escola em período integral já faz parte de uma tendência contemporânea,
atendendo, assim, às necessidades da clientela escolar, que já não é a mesma de décadas
anteriores, essa “unidade escolar” é, muitas vezes, o único lugar de convivência na sociedade.
O que dá força a essa tendência é a urbanização acelerada: medo e temor nas ruas,
violência no trânsito, presença de gangues, dividindo as cidades em zonas de influência e de
controle, isolando nossas crianças em seus lares como ambientes de reclusão, visto que seus
pais estão distantes o dia inteiro, em atividades ligadas a empregos ou subempregos, ficando,
como alternativa à educação de seus filhos, o espaço escolar para a permanência e
convivência em período integral.
Essa tendência não é recente, visto que, em 1950, Teixeira (1971 apud ALVES,
2001, p. 278) concebia e inaugurava as primeiras unidades escolares com essas
características:
É contra essa tendência à simplificação destrutiva que se levanta este Centro Popular de Educação. Desejamos dar, de novo à escola primária, o seu dia letivo completo. Desejamos dar-lhe os seus seis anos de cursos. E desejamos dar-lhe seu programa completo de leitura, aritmética e escrita e mais ciências físicas e sociais, e mais artes industriais, desenho, música, dança e educação física. Além disso, desejamos que a escola eduque, forme hábitos, forme atitudes, cultive aspirações, prepare realmente a criança para a sua civilização – esta civilização tão difícil por ser uma civilização técnica e industrial e ainda mais difícil e complexa por estar em mutação permanente. E, além disso, desejamos que a escola dê saúde e alimente a criança, visto não ser possível educá-la no grau de desnutrição e abandono em que vive.
Para a concretização de um trabalho assim, exige-se a superação de práticas
pedagógicas que não respondem às necessidades contemporâneas, numa perspectiva histórica,
reestruturando a organização didática da escola, incorporando recursos tecnológicos
contemporâneos, tendo como instrumento os meios de comunicação de massa e a informática,
além da reintrodução das obras clássicas no trabalho didático do professor.
43
8. LIVRO DIDÁTICO: LIMITES E POSSIBILIDADES
Catia Fabiane Reis Castro Maria Lionete da Silva Ribeiro
Ao traçar um histórico do livro didático, é pertinente observar que antes da invenção
da imprensa a utilização dos livros era restrita. O ensino era pautado na oralidade, os poucos
pergaminhos que existiam eram apenas para garantir o registro das idéias daquela sociedade,
visto que todas as civilizações antigas que construíram sua própria escrita (Mesopotâmia,
Egito, entre outras) acabaram padronizando seus conhecimentos, formatando-os numa regra
ou num princípio geral concernente às suas necessidade e a sua cultura.
A escrita dos textos reproduzida nos livros era feita de forma manual pelos escribas,
o que demandava muito tempo, e essa demora impedia inovações na prática dos mestres e/ou
preceptores, por isso o ensino era baseado na oralidade, prática que perdurou desde a Grécia
Clássica e por um longo período da Idade Média. Nessa época a escrita dava ao seu produtor
it status e poder, e para isso o conhecimento da própria escrita era um bem que poucos
possuíam.
Nesse período, predominava a oralidade, e o papel do mestre era transmitir aos seus
discípulos os textos fielmente e, ainda, não era exigido dele que fosse especialista nos conteúdos
que ensinava, mas sim um generalista. Os discípulos aprendiam por repetição, memorização e
reproduziam com precisão os conteúdos impressos, pelos mestres, em suas mentes.
A incorporação dos tipos móveis de escrita criados por Gutemberg acelerou o processo
de impressão de um número cada vez maior de livros. Diante desse novo fato histórico, o livro
didático passou a ser um recurso constante na prática docente. Segundo Alves (2005), o livro
didático, criado por João Amós Comênio, foi e é uma condição necessária para o barateamento
do ensino na escola pública. Eis o que diz Alves (2005, p.75-80):
[...] a solução preconizada por Comenius deveria perseguir a queda dos custos da escola pública, condição sine qua non de sua universalização. A partir dessa premissa, a ninguém pode causar estranheza o fato de o ‘remédio para as dificuldades’ ser buscado, prioritariamente, na transformação do instrumental do trabalho do professor. [...] o manual didático, [...], possibilitou a queda dos custos da instrução pública. Com isso, atendeu a um pré-requisito necessário à universalização do ensino. Tornou-se esse instrumento, então, o ‘ponto central’ de uma ‘questão’ que, em última instância, tocava a ‘remuneração conveniente’ dos mestres e os ‘subsídios’ necessários à formação dos ‘filhos dos mais pobres’ (grifo do autor).
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Conforme Penteado (2001), muitas pesquisas foram realizadas tomando o livro
didático como objeto de estudo. Pesquisas isoladas datam de 1950, porém foi a partir da
década de 80 do século XX que se tornaram mais sistemáticas.
Penteado (2001, p. 57) afirma que o livro didático é como: “mercadoria componente
de cultura de massa, que veicula conhecimentos voltados para situações de ensino escolar,
seja no nível da reprodução ou do questionamento do social”.
Antes dos tipos móveis de impressão, os livros eram produzidos artesanalmente, um
a um, por isso o escriba que reproduzia o livro, geralmente nos monastérios, tinha o domínio
de todas as etapas desse trabalho.
Posteriormente os livros didáticos passaram a ser fabricados em escala industrial,
conforme a especialização do saber e a divisão do trabalho do modo de produção da sociedade
capitalista, em que cada operário executava somente uma etapa do processo de produção.
Nesse sentido o livro didático expressa as relações sociais de produção estabelecidas no
bojo da sociedade capitalista. É, portanto, uma mercadoria impregnada e objetivada pelas relações
sociais de como foi produzido e também pela maneira de como será utilizado, que é uma forma
social fundamentada pela especialização do saber e pela divisão do trabalho. Nesse caso, é um
instrumento que propicia a reprodução da conformação do trabalho na sociedade capitalista. Logo
a realização de um ou de outro aspecto (divisão do trabalho e especialização do saber) está
imbricado na prática pedagógica efetivada pelo professor no contexto da sala de aula.
Em 1997, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) editou o Guia do Livro
Didático com vistas a discutir os aspectos que devem ser avaliados na escolha desse material.
Nessa ocasião, a preocupação era com a qualidade das inúmeras obras disponíveis no
mercado editorial. Essa ação serviu para alavancar discussões da qualidade e eficácia do
material no trabalho didático do professor em sala de aula.
Também é possível afirmar que o uso alternativo do livro didático, por conta do
barateamento da educação, sempre foi uma prática estimulada pelo Estado, no interior das
escolas públicas, a tal ponto que os educadores, sem resistência, adotam o livro didático.
Nesse sentido, o professor precisa refletir sobre o uso do livro didático, uma vez que esse
material, via de regra, apresenta um conteúdo que não contempla a realidade social, e isso faz
com que a criança não perceba o real funcionamento da sociedade na qual ela vive. Isso pode
ser o disparador para uma série de questionamentos, por parte do professor juntamente com as
crianças, tais como: Qual é a realidade apresentada nesse livro? Como é a nossa realidade?
Existem outras realidades? Quais? Por que a nossa realidade é diferente da apresentada no
livro? Em que consiste essa diferença?
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Na alfabetização, o texto concorre para o letramento e é a base para se discutir todo o
conteúdo acerca do sistema convencional da escrita. Por isso, o professor, ao optar pelo livro
didático, precisa conferir se este apresenta:
� uma discussão sobre o trabalho didático com os quatro eixos da Língua
Portuguesa e seu uso nas modalidades oral e escrita;
� a seleção dos diferentes gêneros textuais;
� temas de interesse infantil;
� articulação com as demais áreas do conhecimento;
� as imagens são adequadas ao texto e ao contexto;
� favorece tanto o aprendizado do sistema de escrita quanto o desenvolvimento do
uso da língua escrita na leitura e na produção de textos;
� mobiliza os conhecimentos prévios acerca dos assuntos a serem trabalhados:
atividades lúdicas, desafiadoras e significativas, dentre outros.
O livro didático não é uma tecnologia primordial no processo de alfabetização das
crianças, é apenas uma ferramenta a mais, oferecida pelo Estado para facilitar a vida do
professor. Portanto, o livro didático, não deve ser o foco da alfabetização. É necessário que
sejam supridas as deficiências do livro didático ampliando a rede de informações disponíveis
às crianças, seja utilizando a biblioteca, seja utilizando a Internet e/ou outros portadores de
texto que possam subsidiar tanto o fazer pedagógico do profissional quanto nortear o acesso
ao conhecimento para a criança.
9. ORGANIZAÇÃO DOS ESPAÇOS ESCOLARES: A BIBLIOTECA
Maria da Graça Vinholi
Com o desenvolvimento e acesso às tecnologias da comunicação e informação o
mundo, hoje, passa por profundas transformações e de forma cada vez mais rápida. Mesmo
assim, vivencia-se uma época em que a falta de leitura é uma constante. Para interagir com as
mudanças que vêm acontecendo no mundo é necessário um conhecimento claro do que elas
significam e quais suas conseqüências. Para isso, a leitura, sob diversas formas, tem papel
fundamental.
A escola, inserida num contexto social que tem uma dinâmica de mudanças veloz,
continua ainda com práticas administrativas e pedagógicas que resistem às exigências dos
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novos cenários, que estabelecem relacionamentos entre atividades que antes não se
comunicavam. Nessa linha de pensamento, o CEMTE - Centro Municipal de Tecnologia
Educacional, órgão que coordena as bibliotecas da REME por meio da biblioteca/SEMED –
Secretaria Municipal de Educação, estimula o funcionamento das bibliotecas escolares de
modo menos formal e mais flexível, a fim de que não apenas se emprestem os livros, mas que
se promovam atrativos que despertem curiosidade, interesse e hábitos a partir das reflexões
sobre leitura de um mundo que se organiza diferentemente dos esquemas tradicionais.
Para exercer plenamente sua cidadania, a criança e o jovem precisam, não apenas ler,
mas interpretar e analisar o que lê despertar senso crítico, a sensibilidade, a emoção, a fim de que
possa interagir e tornar-se um agente de transformação. Nesse contexto, a biblioteca escolar
exerce um papel importante, pois pode disponibilizar livros e recursos que permitam à
aprendizagem para que os membros da comunidade escolar, tornem-se pensadores críticos e
utilizadores efetivos da informação em todos os suportes e meios de comunicação. As atividades
que estimulam o hábito da leitura, o conhecimento dos diferentes tipos de fontes informacionais
(livros, revistas, dicionários, entre outras) e a utilização metódica para obtenção de material
bibliográfico são fatores que influenciam o aprendizado nos diversos momentos da vida.
É relevante a necessidade de parcerias entre professores e assistentes de bibliotecas para
que se realize um trabalho de cooperação e participação, visando à melhoria do processo ensino-
aprendizagem. A biblioteca não pode ficar alheia aos acontecimentos do processo educativo;
assim procedendo, acarreta prejuízos para todos os interessados: o professor, que perde um grande
aliado em termos de apoio técnico-pedagógico; o assistente de biblioteca, que vê seus esforços se
perderem no vácuo das “impossibilidades” e, principalmente as crianças e os jovens, que deixam
de ter um grande instrumento de auxílio nas tarefas escolares e enriquecimento cultural na
ampliação de seus horizontes e na formação de uma visão crítica. Os professores e bibliotecários
devem reconhecer a importância das atividades a serem desenvolvidas e o quanto a biblioteca
pode oferecer à clientela a que se destina, tanto na área educacional como cultural.
10. A INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO
A história da sociedade, em pleno início do século XXI, apresenta novas funções
sociais à escola pública e, por conseguinte, novas formas de resolvê-las. No interior da atual
fase do capital financeiro, em que se convencionou a reestruturação produtiva orientada pela
47
economia política contemporânea, os desdobramentos cada vez mais sofisticados da divisão
do trabalho, o desenvolvimento da automatização e da informática, a crise endêmica em todos
os setores da sociedade e, em decorrência, a demanda real por escola e o elevado custo dos
sistemas educacionais públicos, impõem à escola de origem manufatureira, que se conservou,
a sua radical transformação. Segundo Alves (2005), impõe a sua “demolição” para ser criada
em seu lugar uma outra instituição.
O ponto de partida para a criação de uma nova escola é a mudança radical da
organização de seu trabalho didático, incorporando, por exemplo, as novas tecnologias, como
forma de produção de conhecimentos que possam instrumentalizar nossas crianças e prepará-
las para suas tomadas de decisão e, por conseguinte, interferir, de forma cidadã, na construção
da história humana.
O Centro Municipal de Tecnologia Educacional-CEMTE, órgão vinculado à
Secretaria Municipal de Educação-SEMED, de Campo Grande – MS, é uma instituição que
tem por princípio a apropriação das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) e
sua conseqüente inserção no processo educacional da Rede Municipal de Ensino-REME. A
proposta pedagógica do CEMTE incorpora como eixo das ações didático-metodológicas, a
educação pela informática, por entender que a educação exige mais do que simplesmente
preparar os alunos para o exercício de uma profissão de nível médio.
Assim sendo, a adoção de diversas tecnologias no contexto educacional adquire um
significado singular: contribuir para o desenvolvimento das estruturas cognitivas dos
alunos/usuários e para ampliar as suas possibilidades de análise da realidade, além de dotá-los
de conhecimentos técnicos para o exercício de toda profissão.
Também nessa perspectiva, as ações do CEMTE enfocam a capacitação dos
professores da REME, com os propósitos de:
� disseminar uma “cultura” de utilização dos diversos recursos tecnológicos postos
à disposição dos profissionais da educação;
� prover a Rede Municipal de Ensino dos instrumentos teóricos e práticos
produzidos pelas pesquisas em tecnologia educacional, na busca da qualificação do processo
ensino-aprendizagem.
Nesse sentido, o processo educacional a ser realizado pelo Núcleo de Tecnologia
Educacional/NTE enfatizará algumas categorias fundamentais para o incremento da sua
atuação pedagógica na escola, a saber:
� aprendizagem significativa (o que eu aprendo e para que eu aprendo).
� mapa conceitual (das idéias principais do texto);
48
� hiper-texto (um texto curto que comporta a entrada de muitos outros textos);
� multimídia (constituída por várias linguagens - oral e escrita - estética textual);
� Hipermídia.
Tais categorias configurarão a totalidade das ações empreendidas pela instituição,
caracterizando-se como o eixo da abordagem e aplicabilidade pedagógicas, na perspectiva de
contribuir para a modernização didático-metodológica do processo educacional empreendido
pela REME.
Certamente que os equipamentos tecnológicos são ferramentas poderosas de apoio ao
processo de aprendizagem, e esse valor não está intrínseco à tecnologia, mas muito mais na
proposta pedagógica que sustenta um projeto dessa natureza, e para isso muito ainda precisa
ser feito.
As tecnologias podem trazer vantagens à educação se houver mudanças no fazer
pedagógico no laço aluno-professor, conhecimento, tecnologias. Assim como a televisão, o
retro projetor e outros instrumentos, a exemplo o computador atuam como mediador cultural,
tendo este interativa que possibilita ao aluno recriar, hiper-realizar o mundo, e a utilização
adequada e planejada desse diferencial contribui qualitativamente no processo ensino-
aprendizagem.
O CEMTE é o órgão que coordena, capacita, acompanha e controla as atividades
relativas ao processo e desenvolvimento tecnológico de apoio à educação na Rede Municipal
de Ensino.
Tem a finalidade de implantar e implementar as salas de informática e biblioteca
escolar em todas as escolas da REME, e tornar disponível aos alunos os recursos da
informática educativa, biblioteca e TV Escola. É responsável pelo desenvolvimento dessas
tecnologias na Rede Municipal de Ensino e atendimento a todas as unidades escolares,
inclusive na área rural.
O programa de integração das tecnologias na educação objetiva contribuir no
fortalecimento de ambientes de aprendizagem, para isso utiliza as novas tecnologias e
privilegia a construção do conhecimento de forma coletiva e cooperativa. É orientado pelos
Parâmetros Curriculares Nacionais/PCN do Ensino Fundamental e pelas Diretrizes
Curriculares da Rede Municipal de Ensino, e segue a filosofia do PROINFO/Programa
Nacional de Informatização das Escolas Públicas:
Os profissionais envolvidos no Programa de integração das tecnologias são o
professor titular da série ou de componente curricular, o professor-instrutor, o auxiliar de
biblioteca e equipes técnico-pedagógicas da escola, da SEMED e do CEMTE;
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A utilização de blogs no processo educacional da REME é uma experiência
pedagógica que tem como objetivo geral desenvolver e disseminar uma metodologia de
utilização de blogs no âmbito do processo educacional da Rede Municipal de Ensino de
Campo Grande-MS, em todos os seus níveis. Tem como objetivos específicos:
� planejar, executar e avaliar uma experiência-piloto em escolas da REME, para
analisar o impacto da introdução da tecnologia dos Blogs no processo educacional;
� desenvolver massa-crítica na área para a disseminação da experiência às demais
escolas da Rede;
� produzir conhecimentos teórico-práticos sobre eventuais alterações cognitivas
ocorridas com os alunos participantes do ambiente.
O funcionamento das salas de informática segue o horário da escola. As aulas podem
ser pré estabelecidas pela direção ou professor instrutor, ou agendadas pelo professor regente,
de acordo com o horário de aulas da escola.
As atividades nas salas de informática desenvolvem-se sob a coordenação do
professor titular da série ou do componente curricular, e devem ser previamente planejadas,
sob a coordenação da equipe técnica pedagógica (supervisão escolar e/ou diretor-adjunto), e
contam com a participação do professor-instrutor no tocante à utilização dos recursos
disponíveis ou quanto aos nos equipamentos da sala de informática.
Os conteúdos são trabalhados através de projetos de aprendizagem ou atividades
direcionadas uso dos aplicativos disponíveis e outros recursos, como, os programas da TV
Escola (revistas, guias de programas e os cadernos de apoio às séries apresentadas por
disciplina), entrevistas, utilização de recursos da internet (sites educacionais, pesquisas, trocas
de correspondências) e softwares educacionais e outros.
Todas essas atividades partem do princípio de que a educação é um processo
comunicacional e democrático, pela participação dos sujeitos escolares na prática pedagógica
a partir da dimensão sociocultural.
A educação que prepara o ser para as incertezas da vida, que o auxilia na tomada de
decisões, é a que contribui, não somente com a coleção e armazenamento das informações,
que estão cada vez mais disponíveis. O que necessitamos hoje é saber processá-las
criticamente. ”Educar para este pensamento é a finalidade da educação do futuro, que deve
trabalhar na era planetária, para a identidade e a consciência terrena” (MORIN, 1999, p.64).
Na visão de Alves (2005), o trabalho didático da instituição escolar a ser construída
deve possibilitar, por exemplo, ao educando, acionar as informações e o conhecimento
diretamente na Internet, nos jornais e revistas de valor científico, na atividade laboral do
50
homem ou em outros veículos de informação e espaços físicos diferentes. Devem ser
incorporado por superação, sob a orientação do conhecimento universal que se encontra
sistematizado nas obras clássicas de outros e deste tempo, e sob a mediação do educador.
Na perspectiva dessa provocação, a sala de aula seria apenas um espaço particular,
em que educandos e educadores encontrar-se-iam para promover a conseqüente
sistematização dos assuntos pesquisados em outros tempos e espaços de veiculação da
informação e do conhecimento. Essa seria, então, a proposição que poderia marcar a diferença
no sentido de opor-se à escola existente. Efetivamente, o manual didático não tem fôlego para
mediar essa relação social de trabalho educativo.
Segundo Alves (2001 p. 13-16), qualquer programa ou política educacional que os
governos ou a própria escola criarem e executarem, se “não questionarem sequer a
organização manufatureira do trabalho didático e mantiverem os seculares instrumentos de
trabalho do professor”, estará preservando ou até acentuando a mesma estrutura de
organização do trabalho didático da escola originária do século XVII, criada por Comênio,
para aquele tempo histórico.
11. AVALIAÇÃO NA REDE MUNICIPAL DE ENSINO
Angela Maria de Brito
A avaliação, nas escolas da REME, visa superar o ato de medir quantitativamente
resultados, como único recurso de avaliar a aprendizagem, o que acaba sempre por confundir
o mais importante com o mais mensurável. Nesse sentido, a forma tradicional de se pensar
avaliação é superficial, pois sequer questiona os dados estatísticos obtidos a fim de estudá-los,
intervir e transformá-los.
Na perspectiva de uma escola diferente, de qualidade e comprometida com a
transformação social, a avaliação ultrapassa o caráter classificatório que leva a excluir ou
sentenciar, aprovar e reprovar. Parafraseando Hadji (2001) a qualidade da educação é
específica a cada contexto, implicando a capacidade de integração das dimensões político-
ideológica e tecnológica.
A avaliação deve ser abrangente para que possa contemplar tanto as questões ligadas
estritamente ao processo de ensino e aprendizagem, como as que se referem à organização do
trabalho escolar, à função socializadora e cultural, à formação das identidades, dos valores,
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enfim, à proposta pedagógica da escola. Assim, não mais procede pensar que o único avaliado é
o aluno em seu desempenho cognitivo. Avalia-se, também, para dimensionar a ação educativa,
para diagnosticar os entraves da proposta pedagógica em suas múltiplas dimensões. A avaliação
é um processo formativo e contínuo das ações educativas desenvolvidas na e pela escola.
Nesse sentido, a avaliação procura apreender a realidade escolar em sua totalidade,
rompendo com análises superficiais porque essas ocultam a especificidade da escola e a
problemática do sujeito, que não pode ser considerado como mero elemento isolado da
sociedade, mas como parte integrante da dinâmica social. Daí a necessidade de novas formas
e esquemas interpretativos, pautados em teorias abrangentes da educação e da sociedade.
A participação do professor na organização do trabalho escolar decorre do grau de
comprometimento dele, o que, por sua vez, reflete na qualidade do ensino em sala de aula. A
diretriz do trabalho escolar deve estar focada na construção de um objetivo comum, em que
fiquem definidos os fins que se pretende alcançar com o processo educativo escolar e os
meios necessários para sejam realmente atingidos.
A inexistência de uma diretriz teórica ou de um objetivo comum, que possibilite a
coordenação do esforço coletivo tem, como conseqüência mais imediata, uma prática escolar
marcada pela desarticulação, pelo trabalho solitário, por um currículo organizado em torno
dos conteúdos dispersos, fragmentados e sem significado para os alunos.
Para que a avaliação cumpra seu papel, faz-se necessário implementar, nas escolas,
uma sistemática de encontros para estudo, em que os professores e equipe técnica possam
analisar conjuntamente seu fazer pedagógico. A falta de comunicação entre os educadores,
para reflexão sobre práticas pedagógicas gera uma visão parcial, truncada do processo de
trabalho educativo e perde-se a possibilidade sobre o processo de ensino e aprendizagem,
razão de ser de seu fazer.
Além dos dados parciais, mensuráveis quantitativamente, é necessário ter em mente
que a educação, numa escola que se preocupa verdadeiramente com a real aprendizagem de
crianças e jovens, deve abranger os aspectos qualitativos. A qualidade não é dos meios, mas
dos fins. Não é de forma, mas de substância de conteúdo. Podemos afirmar que, somente o
homem, pode ser criativo e produzir qualidade.
É fundamental a análise do conteúdo, não do conteúdo de um discurso, porque esse é
apenas formal, mas do conteúdo da prática, no sentido de avaliar tanto os aspectos formais,
quanto os informais, que interferem na formação integral do aluno. A avaliação qualitativa
deve levar em consideração o seguinte:
52
� condições para que o aluno desenvolva a consciência crítica em direção à construção
da cidadania;
� convivência participativa dos alunos (até que ponto eles são meros objetos ou atores
sociais?);
� adequação política do material didático (até que ponto esse material é capaz de ajudar
o aluno a construir o sentido de sujeito de seu próprio desenvolvimento e do
coletivo?);
� capacidade político-pedagógica do professor (refere-se à prática de sua própria
cidadania) e
� convivência criativa entre escola e comunidade (que a escola seja espaço privilegiado
de descrição formação e de produção do conhecimento).
Com base nessas orientações gerais, a avaliação é tarefa e responsabilidades do
professor e da escola como um todo. Todavia, como não há prática que se garanta por si (uma
vez que se pode ter uma prática nova com postura velha), cabe trazer alguns indicadores de
mudança, alguns sinais que manifestam como a prática educativa tem mudado:
� maior proximidade professor-aluno;
� diminuição das queixas em relação aos alunos (os problemas passam a ser tratados
como desafios e não como álibi para não ensinar);
� mudança nas estratégias de sala de aula, por meio do replanejamento;
� aumento do registro por parte do professor (episódios de sala de aula, dúvidas, pontos
a serem observados, descobertas etc.);
� maior oportunidade de expressão dos alunos;
� mais liberdade em sala, menos medo de errar;
� ausência de tensão nos momentos mais específicos de avaliação;
� menor competição entre alunos, clima de maior verdade entre professor e alunos
(diminuição dos comportamentos estereotipados ou dissimulados);
� reflexão sobre a prática, por parte do professor, autolocalização do aluno no processo
de aprendizagem;
� aumento da pesquisa, por parte do professor (e dos alunos);
� maior cooperação entre colegas, maior tolerância com as diferenças;
� relação de maior proximidade com a comunidade;
� clima de envolvimento com o projeto pedagógico da escola.
53
12. CENÁRIOS DA VIDA URBANA: HISTÓRIA, CONCEPÇÃO,
ORGANIZAÇÃO, CONDIÇÕES E PERSPECTIVAS
Analice Talgatti Magali Luzio
Nos diferentes espaços e cenários geográficos é necessário compreender as
relações entre as condições de realização histórica e a nova revolução científica. Nesse
sentido, se retomarmos o passado, buscando a origem da vida urbana, adentrarmos em um
tempo longínquo e num espaço geográfico distante nos permitem conhecer os cenários
urbanos contemporâneos. Para Pinsky (1994, p. 43):
Não há como idealizar os homens conscientemente, decidindo-se a fundar uma cidade. Não há consciência individual ou de grupo que tenha levado pessoas a plantar os alicerces de agrupamentos urbanos no Egito ou na Mesopotâmia, a qual bandeirantes avant la lettre que, a partir de modelos e de acordo com os objetivos bem determinados, criavam as bases de futuras cidades pelo interior do Brasil.
As bases dos núcleos urbanos foram formadas às margens dos rios, pois como se
sabe, a água foi e continua sendo recurso fundamental para impulsionar o desenvolvimento
humano. A história revela essa verdade, com as primeiras civilizações que proliferaram, no
Egito, as margens do rio Nilo e, na Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates, lançando o
alicerce urbano para terras longínquas e desconhecidas.
O movimento de organização urbana guarda suas peculiaridades e depende da história
de cada lugar. A criação urbana é uma ação humana, pois o homem é um agente histórico. Do
movimento social das famílias e dos grupos organizados em determinado espaço geográfico
nascem as cidades, e tem sido assim desde o surgimento das primeiras civilizações. De acordo
com Tuan (1997), cidade significa civilidade. Essa palavra foi cunhada, pela primeira vez, em
meados do século XVIII e, inicialmente, significou apenas civilidade. A urbanidade é o que se
espera encontrar nas relações dos moradores da cidade, por meio das redes de relacionamentos
que permeiam esse espaço. Segundo Da Matta (1984, p. 31):
(...) a rua é espaço que permite a mediação pelo trabalho – o famoso “batente” nome já indicativo de um obstáculo que temos que cruzar, ultrapassar ou transpassar. Trabalho que no nosso sistema é concebido como castigo. E o nome diz tudo, pois a palavra deriva do latim, instrumento que na Roma Antiga, era um objeto de tortura, consistindo numa espécie de canga usada para suplicar escravos.
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Neste sentido, reúne os moradores de uma cidade e propicia o relacionamento deles.
É um espaço em que evidenciam as concepções e relações de trabalho de seus transeuntes.
Podendo perceber a presença das classes sociais – dominantes e dominadas – em seus
afazeres diários, o que sempre aconteceu desde a formação das primeiras civilizações. A casa
é outro espaço de convivência, mais restrito, onde se abrigam e vivem as pessoas que povoam
as cidades em busca de cidadania e trabalho.
No contexto da urbanidade defende-se o princípio de que a escola existe para servir a
sociedade. Assim, é importante que os educadores estejam preparados para formar crianças e
jovens capazes de conviver em sociedade civilizadamente, apreender o movimento dinâmico
e participa da construção do espaço urbano de forma consciente e cidadã.
13. MOVIMENTOS SOCIAIS DO CAMPO E EDUCAÇÃO: HISTÓRICO,
CONCEPÇÃO E ORGANIZAÇÃO
Adriana Cercarioli, Gildo Ribeiro do Nascimento Maior
Jucleides Silveira Pael Alcará
Na tentativa de caracterizar os movimentos sociais do campo, uma série de
conhecimentos vem sendo disseminada por diversos pesquisadores. Autores como Medeiros,
Grzybowski e Martins destacam-se na discussão da expropriação dos trabalhadores no espaço
rural. Em termos de história do Brasil, Florestan Fernandes, Caio Prado Júnior e Raymundo
Faoro, dentre outros, caracterizam a estrutura da sociedade brasileira, dentando delimitar os
elementos que provocaram eclosão, ampliação e visibilidade dos movimentos sociais do
campo, assim como identificar as raízes sócio-históricas das relações contraditórias entre
movimento social e Estado.
Vasculhando as raízes da organização da sociedade brasileira é possível encontrar os
fatores determinantes dos movimentos sociais, a saber: a concentração da propriedade; a
exploração de mão-de-obra; a relação patrão e empregado/escravo; o desenvolvimento do pai-
patrão visto desde o Estado clientelista, patrimonialista e as políticas populistas; a
dependência em relação ao capital externo e às relações econômico-financeiras
internacionais.
É preciso destacar aspectos contraditórios da sociedade brasileira presentes no
contexto das relações sociais capitalistas no campo, sendo possível visualizar a organização
55
de processos de resistência social e política. A trajetória histórica do país é definida pelas
lutas dos indígenas, povos da floresta e camponeses. Há um conjunto de características e
contradições que possibilitam a compreensão das relações de poder envolvendo a dominação
e subserviência.
Percebe–se no percurso dos movimentos sociais a busca pela liberdade, lutas contra a
opressão e pela organização de um modo de vida específico no campo. Segundo Martins
(1989, p. 17) “todas as grandes revoluções foram camponesas, total ou predominantemente”.
Os movimentos sociais do campo, assim como os outros movimentos sociais, possuem
características muito peculiares, dentre elas, aspectos revolucionários e reacionários.
Procuram manter de forma sistemática a formação política de sua militância.
Nesse contexto, os sujeitos do campo evidenciam-se pela dinamicidade das ações
advinda dos movimentos pioneiros, denominados messiânicos, cuja força e poder estão
presentes no Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) e o Movimento
Nacional dos Produtores (MNP).
O Messianismo adotou líderes que agiam como intermediadores da comunicação entre
Deus e o povo; a luta assumia caráter religioso. O movimento messiânico vai do período de 1889
a 1934. Os líderes mais conhecidos foram Antônio Conselheiro, em Canudos e José Maria, na
Guerra do Contestado. O segundo momento (1930 a 1954) é marcado pelos movimentos radicais
espontâneos que realizaram em todo o território ações voltadas para pressionar o governo de
Getúlio Vargas, que se posicionava contrário ao processo de reforma agrária.
O terceiro momento compreende o período de 1950 a 1964, no qual foram
organizados movimentos de caráter ideológico e de alcance nacional, destacando-se, entre
eles, a ULTAB (União dos Lavradores e Trabalhadores Rurais do Brasil), as Ligas
Camponesas e a MASTER (Movimento dos Agricultores sem Terra). Em 1962, o governo
João Goulart regulamentou o Sindicalismo Rural, surgindo, assim, a CONTAG
(Confederação dos Trabalhadores na Agricultura).
No período denominado militar ocorreu a polarização dos movimentos camponeses,
sendo a UDR (União dos Dirigentes Ruralistas) representada pelos grandes proprietários de
terra e a CPT (Comissão Pastoril da Terra) direcionada em defesa dos trabalhadores rurais e
pequenos agricultores. Com a redemocratização do país surge no cenário brasileiro o
Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST).
Nesse ambiente político, aliando mobilização e experimentação pedagógica, passam
a atuar, juntos, sindicatos de trabalhos rurais, organizações comunitárias do campo,
educadores ligados à resistência à ditadura militar, partidos políticos de esquerda, sindicatos e
56
associações de profissionais da educação, setores da Igreja Católica identificados com a
teologia da libertação e as organizações ligadas à reforma agrária, entre outras. O objetivo era
o estabelecimento de um sistema público de ensino para o campo, baseado no paradigma
pedagógico da educação como elemento de pertencimento cultural.
Percebem-se, nesse momento, as ações educativas do Movimento Nacional dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), da Comissão Pastoral da Terra (CPT), da
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG) e do Movimento
Eclesial de Base (MEB).
No final dos anos 1990, a proposta educativa construída passa a ser discutida no
contexto das reflexões sobre Educação do Campo, com o propósito de “conceber uma
educação básica do campo, voltada aos interesses e ao desenvolvimento sociocultural e
econômico dos povos que habitam e trabalham no campo, atendendo às suas diferenças
históricas e culturais” (ARROYO; CALDART; MOLINA, 2004, p. 27). Essa dinâmica
propiciou a elaboração das Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do
Campo, aprovadas em dezembro de 2001.
Educação é um direito social e não uma questão de mercado. A educação, como
organizadora e produtora da cultura – a cultura do campo – não pode permanecer seguindo a
lógica da exclusão do direito à educação de qualidade para todos.
A recriação do campo está vinculada à educação. Por meio dela se renovam valores,
atitudes, conhecimentos e práticas pertencentes aos habitantes do campo. Ela aguça a
recriação da identidade dos sujeitos na luta pelo direito social, porque possibilita a reflexão na
práxis da vida e da organização social do campo, buscando saídas e alternativas ao modelo de
desenvolvimento rural vigente.
Deve ficar claro que a proposta pedagógica para a Educação Básica ainda não está
concluída, e que os protagonistas desse ensaio são os educadores do campo, que vem
contribuindo com a sistematização de suas experiências na elaboração de uma fundamentação
teórica que sustente esta proposta.
Uma política de educação do campo precisa compreender que a cidade não é superior
ao campo. A partir dessa compreensão impõem-se novas relações baseadas na horizontalidade
e solidariedade entre campo e cidade, em face das formas de poder, de gestão das políticas de
produção econômica e do conhecimento.
57
14. MOVIMENTOS INDÍGENAS E EDUCAÇÃO: HISTÓRICO,
CONCEPÇÃO E ORGANIZAÇÃO
Jucleides Silveira Pael Alcará Gildo Ribeiro do Nascimento Maior
Com uma população de aproximadamente 600.000 habitantes, os povos indígenas, ao
longo de todo processo histórico do Brasil, têm seu registro marcado pela resistência contra a
violação e a conquista de seus TEKOHÁS (territórios tradicionais). As formas de resistência
desses povos eram determinadas tanto pela especificidade da frente de expansão, quanto pela
lógica cultural do povo que lutava pela sobrevivência. Essas ações foram motivadas pela
expansão do sistema capistalista (início do século XX) que, impunha a integração dos povos
indígenas devido ao avanço do agronegócio e ampliação do mercado.
Por acreditar que seria possível fazer a integração desses povos e para que isso
ocorresse com mais rapidez criou-se, criou-se, em 1910, o SPI (Serviço de Proteção ao Índio)
sob a presidência do Marechal Cândido Rondon. O SPI adotava, como principal função, a
transformação dos índios em cidadãos do século XX, no menor tempo possível. O problema
é que esse processo não respeitava as diversidades dos povos indígenas cujo início foi
marcado por violação de direitos. Forçado a rever suas ações, o SPI por determinação do
governo, passou a trabalhar como órgão protetor dos índios, sendo extinto em 1967 e
substituído pela FUNAI (Fundação Nacional do Índio) que mantinha a princípio o mesmo
objetivo.
Contrapondo-se a visão dos órgãos governamentais com relação aos povos indígenas,
a Igreja Católica, motivada pela Conferência Episcopal realizada em Medelim – Colômbia,
quando fez sua opção pelos pobres, constituiu em sua estrutura o CIMI- Comissão Indigenista
Missionária. Essa comissão desenvolveu um trabalho voltado para a organização e articulação
dos povos indígenas em conjunto com a UNI (União dos Povos Indígenas), criada sob a ótica
dos antropólogos e indigenistas em 1968.
A UNI, devido à extensão territorial do Brasil, passou a enfrentar algumas
dificuldades na articulação com os povos indígenas, favorecendo o surgimento de
organizações regionais como a UNI/AC e a Aty Guasu (Grande Assembléia), conforme é
apresentado por Lopes; Benzi Grupioni (1995, p.32):
Na sua maioria são organizações de caráter étnico de base local (por aldeia ou comunidade, como a Associação Xavante, a Associação das Comunidades Indígenas do Rio Içana (ACIRI), (...), o Conselho Indígena
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de Roraima (CIR), a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (CIAB).
Em 1992 foi criado o Conselho de Articulação dos Povos Indígenas do Brasil
(CAPOIB), com o intuito de responder nacionalmente às necessidades dos povos indígenas,
porém, não obteve bons resultados:
A organização de fóruns, assembléias e plenárias pelo movimento indígena garantem
a esses povos a possibilidade de buscar o fortalecimento das entidades, na perspectiva de
assegurar o papel de protagonistas no seu fazer-se, o que indica cada vez mais a necessidade
de conquista da autonomia do movimento e dos povos indígenas.
Atualmente o Estado de Mato Grosso do Sul tem uma população indígena de
aproximadamente 95.000 índios organizados em nove etnias: Guató, Guarani, Terena,
Kadwéu, Kaiowá, Ofaié, Kamba, Kinikinau e os Atikum. Povos como os Kamba, Kinikinau
e os Atikum ainda não obtiveram reconhecimento oficial. Justamente por constituir a segunda
maior população indígena do Brasil, o estado tem implementado uma política escolar
indígena capaz de atender à demanda dos diferentes povos.
A escola indígena, existente desde a colonização do Brasil até os dias atuais,
encontra-se norteada pela perspectiva integracionista. No campo da educação formal, a
integração foi efetivamente vinculada ao modelo de escola que lhes era imposto, antes pela
FUNAI e missões, hoje pelas redes públicas de ensino. A essência dessa escola sempre foi
integracionista, civilizatória, colonialista e destrutiva, possibilitando uma instrumentalização
para o confinamento e desintegração de diversas etnias no território brasileiro, “enfim um
paradigma pautado em mecanismos preconceituosos, discriminatórios e silenciadores das
culturas e seus conflitos” (NASCIMENTO, 2004, p.132).
Nas aldeias e nas áreas indígenas, a partir da década de 70, presenciaram-se
tentativas pioneiras de construção de uma educação escolar que contemplasse os interesses, os
direitos e as especificidades dos povos e culturas indígenas. Essa tendência ainda não atingiu
diversas localidades, apesar do processo educacional, mostrar-se consistente, fortalecido pelos
encontros e associações de professores índios.
É importante ressaltar que esse novo olhar direcionado para educação indígena
atentar-se para o entendimento histórico de formas próprias e pedagogias que respeitem
valores fundamentais, como a aprendizagem que se dá na família, na comunidade e no povo
indígena. Assim, o conceito de educação está intimamente ligado à cultura que orientará os
trabalhos escolares e a elaboração de uma nova política educacional.
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Segundo Price (1975), ao aceitar a escola, os índios a “ressiginificam”, conferindo-
lhe um novo valor: a possibilidade de decifrar o mundo “de fora”, “dos brancos”. O Estado
assume atitude de responsabilidade perante as expectativas dos povos indígenas para a
educação, fato comprovado pela divulgação da Constituição de 1988, que supera, no texto da
lei, a perspectiva histórica-integracionista, reconhecendo a pluralidade cultural, fazendo
prevalecer o direito à diferença e às especificidades étnico-culturais, cabendo à União
protegê-los.
Nesse contexto, os próprios povos indígenas discutem e procuram realizar seus
modelos e ideais de escola segundo seus interesses, suas necessidades imediatas e futuras,
isso implica transformar a “educação escolar para o índio” em “em educação escolar do
índio”.
Os encontros anuais representam momentos decisivos na educação indígena pois, as
articulações políticas tornam-se possíveis e as trocas de experiências proporcionam o
surgimento de uma nova concepção de educação escolar indígena, que respeita os
conhecimentos, as tradições e os costumes de cada povo, reconhecendo a identidade étnica.
É pertinente reconhecer a escola como aliada imprescindível na construção e
afirmação das identidades. Para tanto é preciso investir na construção de um mundo novo,
cuja educação veiculada nas escolas, em oposição ao individualismo tenha um movimento
que assegure o “viver bem” a todos os seres humanos, sem impedimento das múltiplas
diferenças que os distinguem, organizados numa humanidade justa e solidária.
15. POLÍTICAS AFIRMATIVAS: FUNDAMENTAÇÕES E PARÂMETROS
PARA O CONTEXTO EDUCACIONAL
Jucleides Silveira Alcará Pael
Considerando a inclusão social “meio” para a construção histórica de uma nova
sociedade que seja despida de preconceitos, discriminações e desigualdades, as Políticas
Afirmativas não devem esquivar-se do contexto da educação.
No universo das Políticas Públicas destacamos as Políticas de Ações Afirmativas
cujo objetivo é corrigir os efeitos presentes da discriminação praticada no passado,
concretizando o ideal de efetiva igualdade de acesso a bens fundamentais como educação e
emprego.
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Ações Afirmativas são um conjunto de Políticas Públicas de caráter compulsório,
facultativo ou voluntário concebidas com vistas à promoção de populações historicamente
discriminadas e ao combate à discriminação. Cotas são só uma delas, outras são: incentivos
fiscais para quem emprega negros, por exemplo.
Observa-se que não só a população negra, mas outros seguimentos da sociedade são
contemplados com políticas que visam à correção de distorções para, a partir daí, promover a
igualdade em todas as áreas: educação, saúde, economia e etc. Com o propósito de conferir
visibilidade à população negra, o Governo Federal, por meio da Secretaria de Comunicação
de Governo da Presidência da República, divulgou no dia 25 de fevereiro de 2003 o ofício
circular que traz a seguinte solicitação. “Toda a publicidade do Executivo Federal deverá
contemplar a diversidade racial brasileira, sempre que houver o uso de imagens de pessoas.
Os casos excepcionais deverão ser justificados, com base em critérios técnicos.”
O termo Ação Afirmativa chega ao Brasil carregado de uma diversidade de sentidos,
o que em grande parte reflete os debates e experiências históricas dos países em que foram
desenvolvidas. A expressão tem origem nos Estados Unidos, local que ainda hoje se constitui
como importante referência no assunto.
Nos anos 60, os norte-americanos viviam um momento de reivindicações
democráticas internas, expressas principalmente no movimento pelos direitos civis, cuja
bandeira central era a extensão da igualdade de oportunidades a todos. No período, começam
a ser eliminadas as leis segregacionistas vigentes no país, e o movimento negro surge como
uma das principais forças atuantes, com lideranças de projeção nacional, apoiado por liberais
e progressistas brancos, unidos numa ampla defesa de direitos.
É nesse contexto que se desenvolve a idéia de uma Ação Afirmativa, exigindo que o
Estado, para além de garantir leis anti-segregacionistas, viesse também a assumir uma postura
ativa para a melhoria das condições da população negra. Assumindo formas como: ações
voluntárias, de caráter obrigatório, ou uma estratégia mista; programas governamentais ou
privados; leis e orientações a partir de decisões jurídicas ou agências de fomento e regulação.
Seu público-alvo variou de acordo com as situações existentes e abrangeu grupos como
minorias étnicas e mulheres. As principais áreas contempladas foram o mercado de trabalho
com a contratação, qualificação e promoção de funcionários; o sistema educacional,
especialmente o ensino superior; e a representação política. Estabelecidos esses pontos
iniciais, podemos tratar das definições propriamente ditas do que seria a Ação Afirmativa.
Barbara Bergmann (1996, p. 7) entende, de maneira ampla, que:
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Ação Afirmativa é planejar e atuar no sentido de promover a representação de certos tipos de pessoas – aquelas pertencentes a grupos que tem sido subordinados ou excluídos – em determinados empregos ou escolas. É uma “companhia de seguros” tomando decisões para romper com sua tradição de promover a posições executivas unicamente homens brancos. É a comissão de admissão da universidade da Califórnia em Berkeley buscando elevar o número de negros nas classes ini ciais [...]. Ações Afirmativas podem ser um programa formal e escrito, um plano envolvendo múltiplas partes e com funcionários dele encarregados, ou pode ser atividade de um empresário que consultou sua consciência e decidiu fazer as coisas de uma maneira diferente.
Segundo os anais do documento “Perspectivas internacionais em Ação Afirmativa”,
resultado de um encontro de pesquisadores, ocorrido em agosto de 1982, no Centro de estudos
e Conferências de Bellagio, na Itália, a Ação Afirmativa pode ser uma preferência especial em
relação a membros de um grupo definido por etnia, religião língua ou sexo, com o propósito
de assegurar direito a poder, prestígio, riqueza (Contins, Sant’Ana, 1996, p. 209).
Essas definições introduzem a idéia da necessidade de promover a representação de
grupos inferiorizados na sociedade e conferir-lhes uma preferência a fim de garantir seu
acesso a determinados bens, econômicos ou não. Mas, por que deveríamos agir dessa forma, o
que justifica essa política?
Antonio Sergio Guimarães (1997) apresenta uma definição da Ação Afirmativa
baseada em seu fundamento jurídico e normativo. A convicção que se estabelece na Filosofia
do Direito, de que trata pessoas de fato desiguais como iguais, somente amplia a desigualdade
inicial entre elas, expressa uma crítica ao formalismo legal e também tem fundamentado
Políticas de Ação Afirmativa. Estas consistiriam em “promover privilégios de acesso a meios
fundamentais – educação e emprego, principalmente – a minorias étnicas, raciais ou sexuais
que, de outro modo, estariam deles excluídas, total ou parcialmente”. (1997, p. 223).
A Ação Afirmativa estaria ligada, também a sociedades democráticas, que teriam no
mérito individual e na igualdade de oportunidades seus principais valores. Desse modo, surge
“como aprimoramento jurídico de uma sociedade cujas normas e mores3 pautam-se pelo
princípio da igualdade de oportunidades na competição entre indivíduos livres”, justificando-
se a desigualdade de tratamento no acesso aos bens e aos meios apenas como forma de
restituir tal igualdade, devendo, por isso, tal ação ter caráter temporário, dentro de um âmbito
e escopo restrito (1997, p.233).
3 Mores – a palavra mores, neste contexto, significa moral.
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Essa definição sintetiza o que há de semelhante nas várias experiências de ação
afirmativa, qual seja, a idéia de restituição de uma igualdade que foi rompida ou que nunca
existiu. Na explicitação deste objetivo, também diferencia-se de práticas discriminatórias
raciais, étnicas ou sexuais, que têm como fim estabelecer uma situação de desigualdade entre
os grupos.
No material desenvolvido pelo Grupo de Trabalho Interministerial para a Valorização
da População Negra no Brasil, encontramos essa distinção, em que a Ação Afirmativa é
definida como uma medida que tem como objetivo. “...eliminar desigualdades historicamente
acumuladas, garantindo a igualdade de oportunidades e tratamento, bem como compensar
perdas provocadas pela discriminação e marginalização, decorrentes de motivos raciais,
étnicos, religiosos, de gênero e outros” (Santos, 1999, p.25).
Historicamente, as Políticas Públicas brasileiras têm-se caracterizado por adotar uma perspectiva social, com medidas redistributivas ou assistenciais contra a pobreza, baseadas em concepções de igualdade, sejam elas formuladas por políticos de esquerda ou direita (Munanga, 1996). Com a redemocratização do país, alguns movimentos sociais começaram a exigir uma postura mais ativa do Poder Público diante das questões como raça, gênero, etnia, e adoção de medidas específicas para sua solução, como as Ações Afirmativas.
Observar o modo como políticas que respondam a essas demandas vão sendo
constituídas e as implicações que trazem para a sociedade exige uma compreensão dos seus
antecedentes sociais e históricos e do desenvolvimento das conjunturas políticas e das ações
coletivas que as tornaram possíveis (GUIMARÃES, 1999).
Para tanto, é merecido conceder atenção especial em nossos currículos ao ensino da
cultura afro-brasileira “conforme o novo dispositivo legal, em que deverão ser contemplados
o estudo da África, assim como o dos africanos e a luta dos negros no Brasil”, mas não basta
ditar novas regras para o jogo, é preciso fazer com que estas medidas saiam do papel e
efetivem-se de fato nas escolas.
A partir dessas iniciativas a cultura do negro e do índio deixa de ser ícone figurativos
do folclore, passando a integrar a vida de cada cidadão brasileiro que a partir do
conhecimento de sua história será capaz de destituir a farsa que está por trás dos padrões de
beleza hegemonicamente construídos que não comportam a beleza do negro e índio, tratando-
os embora sua notada importância, como uma cultura a parte, Assim, Florestan afirma que:
[...] O negro permaneceu sempre condenado a um mundo que não se organizou para tratá-lo como ser humano e como ‘igual’. [...] Ao contrário, para participar desse mundo, o negro e o mulato se viram compelidos a se
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identificar com o branqueamento psicossocial e moral. Tiveram que sair de sua pele, simulando a condição humana-padrão do ‘mundo dos brancos’. [...] (FLORESTAN, 1971, p.15)
A lei nº 10.639 de 09 de janeiro de 2003, substituída pela Lei nº. 11.465/08 é um
marco importante para ampliar as discussões sobre o tema do negro. De acordo com a lei, as
áreas do conhecimento, devem incorporar a contribuição dos negros indígenas à cultura
brasileira. Todavia, os educadores não devem-se esquecer de contemplar os demais grupos
marginalizados decorrentes de motivos, étnicos, religiosos, de gêneros e outros que permeiam
em nossa sociedade, algo que sem dúvida não se esgota aqui, dado a complexidade do
assunto.
Portanto, torna-se a educação fator determinante quando se pensa em implementar
mudanças como estas apresentadas. Dentro dessa esfera de ensino-aprendizagem, podemos
formar novas concepções de inclusão social, discutindo efetivamente questões relacionadas
aos excluídos, oferecendo um currículo que contemple os anseios da sociedade brasileira,
assegurando a cada membro desta nação o pleno exercício de sua cidadania sem restrições de
etnia, ideologia política ou religiosa.
16. MOVIMENTO DE MULHERES (GÊNERO) E EDUCAÇÃO:
HISTÓRICO, CONCEPÇÃO E ORGANIZAÇÃO
Cláudia Renata Xavier Rodrigues Ruth Aquino Souza
Olavo Costa de Barrios Filho
A mobilização das mulheres na sociedade aconteceu gradativamente por meio da
participação política deflagrada no séc. XX e vista sob a perspectiva das mudanças sociais,
culturais e políticas.A implementação de políticas públicas para mulheres torna-se
fundamental a partir das evidências de desigualdades e discriminações sofridas por elas.
No Brasil, um dos fatores importantes na luta de igualdade de gênero e cidadania foi
a conquista do voto feminino, em 24 de fevereiro de 1932, pelo código eleitoral provisório
(Decreto 21076), após a intensa campanha nacional pelos direitos das mulheres ao voto
(BRASIL, 2007).
Essa conquista foi o fruto de uma longa luta iniciada antes mesmo da Proclamação
da República. Foi aprovada parcialmente pois permitia que somente as mulheres casadas e
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solteiras com renda própria tivessem esse direito básico para o pleno exercício da cidadania.
Em 1934 essas restrições ao voto feminino foram eliminadas no código eleitoral, embora a
obrigatoriedade do voto fosse um dever masculino.
Em 24 de fevereiro de 1932, por meio de decreto do presidente Getúlio Vargas, deu-
se o direito de voto às mulheres, mas sua obrigatoriedade se efetivou em 1946. Outro marco
histórico importante a ressaltar foi o do dia 8 de março – Dia Internacional da Mulher, que
surgiu para homenagear 129 mulheres queimadas vivas, em Nova Iorque, no ano de 1857, por
reivindicarem um salário justo e a redução da jornada de trabalho. A própria polícia trancara
as portas da fábrica e ateara fogo, resultando da morte dessas mulheres.
Naquele momento, estava sendo confeccionado um tecido de cor lilás, fato que
originou a cor do movimento pelos direitos das mulheres em todo mundo (BRASIL, 2007).
Acontecimentos como esses exemplificam o quanto é longa e árdua a trajetória percorrida nas
lutas pelos direitos à cidadania entre os inúmeros segmentos oprimidos por uma sociedade.
Nas décadas de 1970 e 1980, as mulheres brasileiras se organizaram nos movimentos
feministas, em que um dos objetivos era torná-las visível para a sociedade, através da
participação política, plena e não apenas como mãe amorosa e esposa dedicada.
Em termos de Políticas Públicas de educação, a inclusão da perspectiva de gênero é
bem recente e menos institucionalizada. A Constituição Federal de 1988 ofereceu a base para
as Políticas Públicas ao ressaltar a defesa ampla dos direitos “sem preconceitos de origem,
raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (BRASIL, 2001, Art. 31).
A perspectiva de gênero apresenta-se insuficiente à noção geral dos direitos e valores,
refletindo pouca visibilidade de mudanças concretas nos currículos de formação e na prática
docente.
No ano de 2000, o Brasil foi um dos 155 países a assinar a “Declaração de Jontien”,
elaborada na Conferência Mundial de Educação para Todos realizada em Dakar (Senegal).
Dentre as oito metas do Projeto Milênio, Segundo Vianna; Unbehaum (2006) está o “acesso
universal à educação primária até o ano de 2015 (meta 2) e a promoção à igualdade entre os
gêneros e emponderamento das mulheres (meta 3)” (p.409). Essas metas são necessárias para
melhorar as condições de vida das mulheres com o apoio das Organizações das Nações
Unidas - ONU.
O Relatório Nacional Brasileiro (2002), ratificado pelo Congresso Nacional e
entregue ao Comitê da Convenção para Eliminação de todas as Formas de Discriminação
contra a Mulher (Brasil, 2002), ressalta que na Constituição de Políticas Igualitárias de
Gênero existe ainda uma lacuna a ser preenchida pelo governo.
65
Nele consta, também, a da construção da igualdade na educação. Em seu décimo
artigo recomenda eliminar a discriminação contra a mulher na esfera da educação, propondo
que os estados lhe assegurem as mesmas condições oferecidas aos homens: carreira e
capacitação profissional, exames, instalações, material escolar e pessoal, docentes
capacitados, bolsas de estudo, participação ativa em esportes e na educação física; acesso ao
material informativo específico que contribua para assegurar a saúde e o bem-estar da família,
bem como a eliminação do conceito estereotipado dos papéis masculino e feminino em todos
os níveis e em todas as formas de ensino (BRASIL, 2002).
Atualmente, com sua entrada no mercado de trabalho e incorporação à vida pública,
ampliou-se seu acesso Educação. Lopes (2002, p.79) retrata a seguinte idéia:
Durante 322 anos - de 1500 a 1822 – período em que o Brasil foi Colônia de Portugal a Educação Feminina ficou restrita aos cuidados com a casa, o marido e os filhos. Instrução reservada aos filhos dos homens indígenas e dos colonos. [...] As influências a cultura árabe, naquele país, durante 800 anos, consideravam a mulher um ser inferior. [...] sem acesso à Arte de Ler e escrever.
A paridade de gênero nem sempre se traduz em maior igualdade e, mesmo a mulher
atingindo o nível acadêmico superior, ainda não se encontra em igualdade econômica e
política com o homem. É necessário que as Políticas Públicas Educacionais estejam
associadas a outras políticas, para que haja um significativo avanço no nível de escolaridade
das mulheres brasileiras, a fim de lhes conferir melhores oportunidades de igualdade no
mercado de trabalho e nas demais esferas sociais.
Gradativamente o termo “mulher” foi substituído por “gênero”, termo que surgiu no
mundo acadêmico, no momento em que as pesquisadoras feministas buscavam, através dos
chamados estudos sobre as mulheres, desnaturalizar a condição da mulher na sociedade
(Simião, 2000): “[...] era preciso encontrar conceitos que permitissem diferenciar aquilo que
as mulheres tinham de natural, permanente, e igual em todas as épocas e culturas” (2000 p.4-
5).
Para Scott (1990, p. 75), [...] “o termo ‘gênero’ constitui um dos aspectos daquilo
que se poderia chamar de busca de legitimidade acadêmica para estudos feministas, nos anos
80” (p.75). Algumas pesquisadoras resistiram em utilizar o termo “gênero” por entenderem
que “[...] o termo despolitizou a ação do movimento feminista, trocando um sujeito político
construído as duras penas, a mulher, por uma palavra bonita e pouca ameaçadora, a palavra
gênero” (SIMÃO, 2000, p. 4). Assim, enfrentando a oposição de alguns segmentos e
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recebendo apoio de outros, “gênero” foi se popularizando dentro do mundo acadêmico e fora
dele.
O gênero também pode ser visto a partir do sistema social de relacionamento entre os
indivíduos, abandonando a visão binária, a divisão de papéis e permitindo uma concepção
dinâmica de masculinidade e feminilidade, de acordo com a situação social em questão.
Permite ainda, ver pluralidade de homens e mulheres dentro de um contexto social, levando
em consideração vários fatores que influenciam na formação da personalidade do sujeito
(Costa, 1994).
Ao levar-se em conta a pluralidade, entende-se dentro da categoria de gênero, além
de homens e mulheres, também homossexuais, bissexuais e transexuais, considerando o
contexto em que o indivíduo está inserido segundo suas crenças, etnias, relações de poder que
formam sua identidade, moldando as escolhas que fazem, levando tanto homens como
mulheres a exercerem vários papéis e enfrentarem diferentes situações e pressões das mais
diversas maneiras.
A história que vivenciamos caminha para o desenvolvimento de perspectivas que
levem à reflexão sobre as estratégias políticas, visando um futuro melhor, possibilitando que o
gênero seja definido, estruturado e conjugado a uma visão de igualdade política e social que
compreenda não só o sexo, mas o credo, a classe e a raça.
17. POLÍTICAS E PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO ESPECIAL, NA
PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Sônia Fenelon Filártiga
O movimento mundial pela inclusão, como ação política, educacional, cultural e
social tem origem na afirmativa do Direito de Educação para Todos, desencadeando a defesa
do direito de todas as crianças e todos os jovens participarem do convívio de uma mesma
escola. Perpassa, também, por uma Educação que deve ser pensada em uma concepção de
direitos humanos, que conjuga igualdade e diferença como valores indissociáveis, definindo-
se como Educação Inclusiva.
Ressaltamos que no Brasil a educação inclusiva tem assumido espaço central em
estudos e debates, à luz de novos referenciais para a construção de sistemas educacionais que
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recebam todos os alunos, atendam às suas especificidades e promovam a melhoria da
qualidade da educação. O ponto de referência legal é a Constituição Federal de 1988, com os
indicativos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº. 9394, de 1996, que
define como responsabilidade do poder público: a efetivação da matrícula na rede regular de
ensino e a oferta de serviços por meio do Atendimento Educacional Especializado,
assegurando o acesso à escola e a permanência nela dos alunos com deficiência, transtornos
globais do desenvolvimento e altas habilidades.
A educação escolar inclusiva está se firmando no contexto da educação brasileira,
referendada por dados da Organização Mundial de Saúde e pelo Censo Escolar/MEC,
realizado anualmente em todas as escolas de educação básica, como forma de acompanhar o
processo de inclusão por meio dos indicadores: acesso à educação básica; oferta do
atendimento educacional especializado; matrícula na rede pública; acessibilidade nos prédios
escolares; inclusão nas classes comuns; número de municípios e de escolas com matrícula de
alunos com deficiências.
Ao firmarmos a Educação Especial, como Educação Inclusiva, devemos tê-la na
proposição central de uma educação para a diversidade, tratada a partir de sua projeção na
configuração do currículo, na organização educacional e na análise de novas diretrizes de
formação para profissionais da educação. Entender o processo educativo sob essa perspectiva
não será, apenas, criar espaços especializados para o aluno; é preciso reinventa-los para
proporcionar aos alunos especiais uma vida satisfatória e uma aprendizagem efetiva..
A educação inclusiva tem sido analisada no âmbito da justiça social e da pedagogia,
como formadora do profissional da educação, que orienta sua prática em uma abordagem
diversificada, flexível e colaborativa. A escola, ao construir a Proposta Político Pedagógica
deve inspirar-se em um currículo que favoreça o delineamento do processo escolar, tendo em
vista a diversidade das crianças e dos jovens e as peculiaridades locais.
A Política Nacional de Educação Especial reconhece e garante o direito de todos os
alunos de compartilhar um mesmo espaço escolar, sem discriminações de qualquer natureza
(BRASIL, 2007). O movimento atual de Educação Inclusiva traz, em seus pressupostos, a
possibilidade de transformação da escola em um espaço significativo de aprendizagem com
práticas pedagógicas que busquem o desenvolvimento emocional, intelectual e social de todos
os alunos, articulando os conceitos da construção do conhecimento, às situações vividas no
cotidiano escolar e familiar, aos saberes da comunidade (BRASIL, 2007).
Pensar a escola a partir desse movimento de Educação Especial, como Educação
Inclusiva, é oferecer para o aluno com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento
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e/ou altas habilidades, o Atendimento Educacional Especializado, compreendendo que as
pessoas se modificam transformando o contexto no qual estão inseridas. Educar é transformar
e o processo de inclusão escolar vem para esse fim.
69
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1. FUNDAMENTOS DA HISTÓRIA
Olavo Costa Barrios Filho
O papel da História é preservar, transmitir e entender as conquistas da humanidade,
articulada com o mundo no seu tempo e espaço, não resumindo em apenas tomar contato com
o passado, mas entender como esse passado construiu o presente. Hobsbawm (1998, p. 22)
enfatiza que “o passado é, portanto uma dimensão permanente da consciência humana, um
componente inevitável das instituições, valores e outros padrões da sociedade humana”.
O passado aparece, portanto, de maneira a imprimir significados às ações humanas
na constituição de uma cultura em que a história se apresenta como fundamental no processo
de formação da identidade do cidadão, nos diversos grupos sociais, em suas variadas formas
de participação, na construção de diferentes realidades, no presente e na projeção do futuro.
Podemos dizer que a História é uma ciência que visa, de forma rigorosamente
metodológica, enfrentar os problemas centrais da sociedade, como diz Hobsbawm (1998, p.
8), “contar a verdade sobre a história”, investigar o real, narrá-lo, descrevê-lo e analisá-lo,
conforme os dados e a concepção do investigador. Nenhuma pesquisa é neutra, é eivada das
opiniões do historiador, que mesmo embasado pelos dados historiográficos, narra o passado
ou o presente, na perspectiva das categorias de seu método e de suas próprias reflexões. É isto
que permite ao historiador, mesmo que momentaneamente, ter a ilusão de ter descoberto e
narrado a verdade sobre o passado ou o presente da história pesquisada. Hobsbawm (1998, p.
08) diz sobre a história do passado:
Nas últimas décadas, tornou-se moda, particularmente entre pessoas que se julgam de esquerda, negar a realidade objetiva seja acessível, uma vez que o que chamamos de “fatos” apenas existem como uma função de conhecimentos prévios formulados em termo dos mesmos. O passado que estudamos é só um constructo de nossas mentes. Esse constructo é, em princípio, tão válido quanto outro, quer possa ser apoiado pela lógica e por evidências, quer não. Na medida em que constitui parte de um sistema de crenças emocionalmente fortes, não há, por assim dizer, nenhum modo de decidir, em princípio, se o relato bíblico da criação da terra é inferior ao proposto pelas ciências naturais: apenas são diferentes. Qualquer tendência a duvidar disso é “positivismo”, nenhum termo desqualifica mais que este, exceto o empirismo.
Sobre a história do presente, Hobsbawm (1998, p. 08) afirma que:
Não é possível escrever a história do século XX como a de qualquer outra época, quando mais não fosse porque ninguém pode escrever sobre o seu próprio tempo de vida como pode (e deve) fazer em relação a uma época conhecida apenas de fora, em segunda ou terceira mão, por intermédio de fontes da época ou obras de historiadores posteriores. À medida que o historiador do século XX se aproxima do presente, fica cada vez mais dependente de dois tipos
76
de fonte: a imprensa diária ou periódica e os relatórios econômicos periódicos e outras pesquisas, compilações estatísticas e outras publicações de governos nacionais e instituições internacionais.
Segundo Hobsbawm (1998) os métodos mais utilizados pelos historiados, na
apreensão do real, são: o positivismo, o marxismo e os da escola dos Annales que vão pela via
do estruturalismo antropológico.
No Brasil, a História tornou-se obrigatória nos currículos escolares do ensino
elementar no final do século XIX, que era entendida como essencial para a formação do
cidadão, favorecendo a formação do espírito nacionalista de “amor à pátria”, de unidade
territorial e o espírito militarista. Uma outra corrente de intelectuais defendia a busca da
identidade nacional e as especificidades culturais e populacionais. Essa História continha uma
influência muito clara do positivismo, pois havia uma valorização de datas, fatos e
personagens, sem caráter explicativo ou preocupação global e sem visão de processo
histórico, constituindo-se num saber fragmentado e bastante despolitizado.
Essa corrente positivista surgiu muito forte na Europa e predominou no ensino de
história no Brasil. Assim, a História que chegou às escolas brasileiras e ao povo, é cheia de
mitos que precisam ser desfeitos para que os alunos tenham compreensão do real, pois é
apresentada como se fosse o que é por obra e graça apenas de grandes figuras históricas. A
história não é analisada e compreendida como produto da ação humana que põe em relação
toda a humanidade. O aluno não consegue dimensionar que a sociedade hoje, é o resultado do
modo como foi construída e, portanto, pode ser diferente se todos agirem no sentido de uma
mudança. Cada acontecimento deve ser analisado com os alunos para que aprendam à
concepção de mundo e de realidade que impera nesse momento histórico.
Desde a antiguidade homens e mulheres procuram pensar na educação de seus filhos,
porque educar foi um dos meios para assegurar a sobrevivência. Na comunidade primitiva a
educação era tarefa coletiva, cabendo aos mais velhos apresentar aos jovens e as crianças
valores do grupo, levando-os a adotar um determinado tipo de comportamento e assumir um
papel pré-determinado na estrutura social da época.
Povos caçadores e coletores, da comunidade primitiva, deixaram para a humanidade
a arte rupestre, que são pinturas nas paredes das grutas e abrigos sob rochas, usando como
matéria-prima sangue de animais, carvão vegetal, terra e suco de frutas silvestres,
representando cenas do cotidiano com uma linguagem socialmente mais articulada. À medida
que o homem assentou-se à terra e construiu cercanias, surgiu a necessidade de aprimorar seus
instrumentos, empregando ossos e chifres para fabricar ferramentas, construindo arcos,
77
primeiro mecanismo composto pelo cérebro humano para interferir na natureza a fim de
explorá-la.
Em algumas regiões a organização dos grupos começou a assumir características
diferentes, com o desenvolvimento de pequenas comunidades unidas por laço de parentesco
ou interesses comuns.
Com a produção do excedente4, as relações sociais de troca de produtos, tornaram-se
cada vez mais complexas. A memória humana não foi suficiente para anotar tudo com
exatidão, surgindo à necessidade de ter um instrumento capaz de sintetizar os anseios da
humanidade no âmbito social, político e econômico, surgindo à escrita, um sistema de sinais
pelo qual a linguagem verbal pudesse ser grafada, entendida e transmitida para outras pessoas.
Um dos maiores sistemas de escrita do mundo antigo foi desenvolvido pelos egípcios, assim
como os sumérios, que criaram sinais representando idéias, sons, coisas e objetos. Com a
criação do alfabeto fenício, a mentalidade do mundo antigo transformou ao desenvolver letras
que correspondiam aos sons da voz humana e a posteriori aperfeiçoada pelos gregos.
O pensamento dos gregos Platão e Aristóteles deu origem às correntes que
orientaram a construção da civilidade humana (Filosofia da Educação) reconhecidos até os
dias de hoje. Platão considerava que a sociedade não praticava uma democracia justa por falta
de ampliar e democratizar os conhecimentos filosóficos, em especial os governantes. Por
conta disso Platão formulou modelo de ensino que pudesse transformar a Grécia numa
sociedade ideal. Aristóteles, por sua vez, sistematizou uma filosofia que permitiu, ao governo
grego, organizar uma educação equilibrada com atividades físicas e intelectuais acessível ao
grande número de pessoas, aproximando-se mais do realismo.
Na sociedade romana onde a primeira instituição educacional era a família patriarcal,
o pai desempenhava a função de educador e senhor, cabendo a mãe o cuidado com os filhos.
Com a decadência do Império Romano, as invasões bárbaras intensificaram-se e mudanças
culturais ocorreram em toda Europa. A Bíblia era imposta pela Igreja Católica como uma
cartilha que mantinha viva sua ideologia.
Com o desenvolvimento de novos sistemas econômicos, políticos e sociais o
continente europeu viu as idéias, do início da Idade Moderna (1453 a 1789), ganhar forma,
introduzindo o princípio da disciplina intelectual e a noção de que por meio da razão e,
portanto, por meio do estudo atinge-se o conhecimento, a felicidade e a virtude. Esse era um
4 Excedente: Com a divisão do trabalho as pessoas se especializam fazendo com que a produção de alimentos aumente sobrando víveres para a comunidade
78
conceito de sociedade moderna defendido por Bacon na obra “Novum organum” (1620) e por
Descartes na obra “O discurso sobre o método” (1637).
A tradução desse novo mundo exaltava a liberdade de ação, de pensamento, de
independência e nutria o espírito, de autores que formulavam sátiras e utopias para comentar o
mundo como era e como gostaria que fosse. Nas sátiras destaca-se Rabelais com as obras “O
Gargantua” (1534) e “Pantagruel” (1532) e, também, Erasmo de Roterdan com a obra “Elogio
da loucura” (1509).
Assim, a transição da Idade Medieval para a Idade Moderna foi marcada por uma
grande transformação no mundo das idéias voltadas para a exploração da natureza, de tal sorte
que espírito impregnou os intelectuais que se dedicavam a educação do cidadão moderno.
A América, no século XVI, não representava apenas para os europeus a satisfação
eufórica do mundo material, mas também desafios pelas novidades e barreiras que antepôs
aos conquistadores seu imaginário da lenda do “El Dorado”5.
A transição entre o feudalismo e o capitalismo foi marcada pelo mercantilismo, cuja
organização do trabalho necessariamente era manufatureira, exigindo a divisão do trabalho e a
especialização do conhecimento.
Com o desenvolvimento do comércio, a colonização das Américas e decorrente
exploração, necessitou-se ampliar a produção das mercadorias. Assim, a Ciência avança e
uma nova classe de burgueses liberais e iluminados rompe com a Igreja Católica, o
absolutismo triunfa e a religião e o racionalismo procuram harmonizar-se entre si.
No século XVIII, denominado como século das luzes, os grandes pensadores
burgueses liberais, como Voltaire, Condorcet, Diderot, D’Alambert, Rousseau, entre outros,
em função da necessidade de se libertar de vez do modo de produção feudal, criam os
fundamentos do 3º Estado, ou seja, o Estado burguês. Os fundamentos desse estado eram: a
razão, o liberalismo, a liberdade, a fraternidade, a igualdade, a individualidade e a
democracia. Tratava de valores que despertava no ser humano a idéia de valorização dos
direitos civis e de cidadania. Para consolidação dessa ideologia burguesa a escola era de
fundamental importância, pois, seria a divulgadora de uma sociedade menos desigual e mais
progressista.
5 El Dorado:Essa lenda conta que um príncipe americano todas as manhãs ao banhar-se, seu corpo era coberto de fino ouro da cabeça aos pés. Esse príncipe possuía palácio todo em ouro, desapertando, assim, a cobiça dos europeus. Para maior aprofundamento ler Marco Pólo “O livro das maravilhas”.
79
A Revolução Francesa (1789) marca um dos acontecimentos político e social mais
importante da história mundial, porque a partir de então, o Estado ganha o dever de expandir a
educação por toda a França. A escola torna-se a instituição que poderia garantir certa
homogeneidade entre os cidadãos, e permitir uma diferenciação entre eles. Segundo
Thompson (1968 apud Goodsom, 1995) “a linha divisória que exclui tais escolas e certamente
os estilos de educação em classes de trabalho, foram os temores gerados pela Revolução
Francesa”. De fato a partir desta revolução, o Estado desempenhou o papel cada vez mais
importante no ato de organizar a escolarização e o currículo, afirmado por Goodsom: (1995,
p. 40-41):
As atitudes em relação à classe social, cultura e educação popular tornaram-se rígidas após a Revolução Francesa. Durante mais de um século, a maioria dos educadores da classe média não podia distinguir o trabalho de educação do trabalho de controle social. Foi a partir de então que o currículo escolar revestiu-se muitas vezes dos interesses de controle social com relação ao comum da massa trabalhadora.
A Revolução Industrial (1750) iniciada na Inglaterra ressoou em várias regiões do
mundo europeu, produzindo antagonismos de relações de classes sociais, como o proletariado
e a burguesia. Essa questão agravava-se à medida que a complexa organização do trabalho
permitia ao capitalista explorar exaustivamente a mão-de-obra humana.
No século XIX, na América Latina completou-se o processo de independência
política nas antigas colônias ibéricas. A África e a Ásia foram alvos de explorações
imperialistas do continente europeu, impondo sua força econômica e cultural.
No século XX, duas guerras mundiais produziram sofrimentos na história da
humanidade. Entre as guerras, ocorreram grandes eventos históricos, sendo a Revolução
Russa (1917), a crise mundial do capitalismo, a explosão da barbárie nazi-fascista, entre
outros.
O Brasil passava pela desarticulação da aliança entre os tradicionais detentores do
poder político e econômico e ao advento da chamada “Era Vargas” (1930 a 1945) marcada
pelo Populismo, ao mesmo tempo, articulado com a ditadura. Destacava entre as medidas
populistas da Era Vargas a proteção ao trabalho e ao trabalhador, bem como a presença de
prestações de serviços sociais por parte do Estado, entre eles a educação escolar de ensino
primário.
Um período de notável transformação social e crescimento econômico seguiu-se
depois da Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945) em várias partes do mundo ocidental. A
80
tecnologia deu um salto vertiginoso, proporcionando de um lado conforto e bem-estar, e de
outro, a exploração da mão-de-obra, criando a força de trabalho e a degradação ambiental.
A complexidade política e econômica da sociedade contemporânea evidenciam que a
escola continua sendo uma instituição responsável pela formação crítica, democrática e
cidadã. À medida que a sociedade capitalista tornou-se complexa, internamente ao meio
acadêmico, a produção historiográfica foi sendo renovada e revisanda na tentativa de
encontrar novas abordagens de pesquisas em História, novos rumos e novos problemas, com
novos espaços de investigação.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais de História, por exemplo, apontam para uma
educação escolar que possibilite compreender a cidadania como exercício de direitos e
deveres, como participação social e política, adotando no seu cotidiano atitudes de
solidariedade e cooperação, rejeitando injustiça e respeitando aos outros e a si (BRASIL,
1997, p.7).
Cabe a escola proporcionar aos alunos meios para que eles compreendam a
organização e o funcionamento da sociedade contemporânea à sua raiz, sempre estabelecendo
uma relação singular e universal sobre o objeto de estudo. Refere-se aqui, às problemáticas
mais latentes da sociedade contemporânea, tais como desemprego, pobreza, concentração de
renda, racismo, preconceitos de classes, machismo, entre outros.
O Brasil é um país multicultural, cabendo a História como ciência social, articulada
com outros componentes curriculares, contribuir para a construção do conhecimento e o
espírito de justiça, criticidade, solidariedade e o respeito à diversidade da sociedade brasileira,
aos indivíduos, opções políticas, diferentes etnias (sistematizando a Lei 11.465/2008),
orientações sexuais, formações religiosas, e outras condições sociais, permitindo que o
articule elementos para posicionar-se diante de situações opressivas na sociedade.
81
2. OBJETIVO DO ENSINO DE HISTÓRIA
Rita de Cássia de Barros Galícia
A História é uma ciência humana que nos oferece ferramentas para compreendermos
a realidade que nos cerca. Nesse sentido, a compreensão do conhecimento historicamente
acumulado e da própria História é condição indispensável tanto para o resgate da produção
cultural humana, quanto para a produção de novos conhecimentos que instrumentalizem os
cidadãos na luta pela construção de uma nova sociedade.
Assim, o ensino da História no Ensino Fundamental informa-se na perspectiva da
compreensão do ser social do ser humano, que se constitui na sua trajetória histórica, gotejada
pelas lutas de classes que se travam em âmbito social, político e econômico, em diferentes
estágios do conjunto da sociedade. Segundo Saviani, (1996, p. 75):
[...] a educação cabe historicamente o papel de socializar o conhecimento elaborado e formar o indivíduo para viver em sociedade. A vida humana em sociedade implica, por seu turno, a afirmação de que o ser humano vive em condições históricas determinadas. Ao mesmo tempo em que faz história, é também “feito” por ela.
Espera-se que o estudo da História, enquanto ciência humana, possa contribuir para
que os alunos percebam-se como agentes da produção da história humana e entendam
também, que para produzir história o homem precisa adquirir as condições materiais e
imateriais que o alimenta nesse processo.
O estudo da História precisa ainda, ser vista não como uma simples relação de fatos
desconexos e insignificantes, mas como um processo resultante das contradições das relações
sociais que se desenvolve e modificam impulsionadas pelas necessidades humanas e pela
produção de novas ferramentas de trabalho.
Como vimos, a História, enquanto ciência humana, constitui-se por produções,
interpretações e análises críticas dos fatos humanos. Assim, o ser humano transforma-se
naquele que faz história, exercitando a sua capacidade de enxergar os diversos movimentos
sociais, econômicos e políticas no âmbito da sociedade capitalista, cuja divisão do trabalho e a
especialização do conhecimento a torna seletiva e complexa.
O ser humano, constituído pelas relações sociais de trabalho, produz suas
necessidades e, as formas de resolvê-las. Nesse sentido, produz mecanismos de aprendizado
que movimentam o seu desenvolvimento e suas experiências atribuindo-lhes significados.
A interação da sociedade, o seu desenvolvimento e a construção da História
ocorreram com o progresso científico e tecnológico por meio do trabalho. O aluno ao tomar
82
contato com os conhecimentos, produzidos historicamente, transforma-se em agente de
intervenção da realidade, modificando-a e sendo modificado por ela, favorecendo, assim, uma
leitura critica de mundo de forma dinâmica e significativa. A aprendizagem do aluno torna-se
satisfatória quando ocorre o vínculo do conhecimento acerca do mundo, com o conteúdo
estudado e sistematizado na escola.
Nessa perspectiva, o ensino de História tem por objetivo evidenciar ao aluno que a
própria construção do conhecimento histórico nutre-se da aproximação entre a História e as
demais ciências humanas, ocupando, portanto um papel de destaque na formação da
cidadania. Cabe ao professor trabalhar não apenas conteúdos de vida do aluno, mas a partir
deles estabelecer relações da história de outros povos e civilizações, em tempos e lugares
diferentes da sociedade; estabelecer relações de semelhança, diferenças culturais, sociais e
econômicas dentro de seu grupo social, proporcionando condições para que conheça a si
próprio e aos outros.
3. ABORDAGEM SOCIAL DOS CONTEÚDOS POR MEIO DOS SEUS
FUNDAMENTOS
Magali Luzio Ferreira Olavo Costa Barrios Filho
O conteúdo de História a ser trabalhado no ensino fundamental é produzido nas
ações e relações humanas na sociedade, isto é, da pré-história aos dias atuais, como já
mencionados neste documento. A relação de conteúdos a serem trabalhados no ensino
fundamental foi selecionada e organizada pelos professores da disciplina de História da Rede
Municipal de Ensino e posteriormente sistematizado por um grupo menor de professores que
representaram os demais. Contudo, devido ampliação do ensino fundamental para 9 anos,
alguns conteúdos foram acrescentados e outros ampliados.
Abordar os conteúdos de História na perspectiva de seus fundamentos sociais
significa estuda-los inerentes à ação humana, introjetando-os no leito da história que os
produziu. Significa estudar a sua raíz com o rigor da ciência estabelecendo relações entre o
singular e universal. Macdonald (1996), em seus estudos nos dá um exemplo do que é
estabelecer essas relações, afirma que “na Roma antiga a educação voltada ao humanismo
culturalmente transcendia aos interesses locais e regionais, levando-os a uma cultura geral”.
83
A História presente no currículo escolar procura abordar a realidade social vigente
produzida no âmbito das relações sociais, políticas e econômicas de ontem e de hoje. Segundo
os PCN (1997), o papel da História é difundir e consolidar identidades, sejam étnicas,
culturais, religiosas, de classes ou grupos, de Estado ou global. Quanto à formação social e
intelectual dos indivíduos, a disciplina de História tem por objetivo, através dos estudos de
conteúdos e seus fundamentos sociais, formar cidadãos capazes de exercer uma postura
reflexiva e critica perante a sociedade, tendo a responsabilidade na construção de uma
sociedade democrática.
4. CONTEÚDOS PARA O 3º AO 9º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL
4.1. Conteúdos para o 3º ano do ensino fundamental
4.1.1 Eixo - Relações Sociais da Cultura e do Trabalho
� A origem e a formação do Município de Campo Grande;
� o trabalho como elemento constitutivo do município de Campo Grande e suas
transformações;
� aspectos administrativos do poder (legislativo, judiciário e executivo) municipal de
Campo Grande;
� símbolos de Campo Grande;
� migrações;
� comunidades, etnias e movimentos sociais e culturais em Campo Grande;
� o modo de vida de várias etnias que vivem na região urbana e rural de Campo
Grande.
4.1.2 Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 3º ano do ensino
fundamental
A relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 3º ano do Ensino
Fundamental contempla o eixo Relações Sociais da Cultura e do Trabalho, e espera-se que
no percurso dos estudos, o aluno seja capaz de compreender, a história do Município de
Campo Grande e seus respectivos símbolos e poderes (legislativo, judiciário e executivo),
partindo do próprio local e do trabalho que aglutinou as pessoas na formação do município;
compreender que o trabalho modifica-se conforme as necessidades das pessoas do município;
compreender o processo de migração e a presença de diferentes grupos sociais existentes em
Campo Grande, identificar o modo de vida de várias etnias que vivem na região urbana e rural
84
de Campo Grande, conhecendo a diversidade étnica pesquisar, debater, sistematizar e
socializar a formação de conceitos básicos para a compreensão do processo de construção da
sociedade brasileira e sua diversidade.
4.2 Conteúdos para o 4º ano do ensino fundamental
4.2.1 Eixo - Relações Sociais da Cultura e do Trabalho
� A origem e a formação do Estado de Mato Grosso do Sul;
� a História da divisão de Mato Grosso.
� o trabalho como elemento de desenvolvimento do Estado de Mato Grosso do Sul e
suas transformações;
� aspectos administrativos dos poderes (legislativo, judiciário e executivo) do Estado
de Mato Grosso do Sul;
� símbolos de Mato Grosso do Sul;
� as Migrações e suas influências na organização do trabalho produtivo;
� as Migrações e a formação de comunidades, etnias e movimentos sociais e culturais
em Mato Grosso do Sul.
4.2.2 Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 4º ano do ensino
fundamental
A relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 4º ano do Ensino
Fundamental contempla o eixo Relações Sociais da Cultura e do Trabalho, e que se
concretize espera-se que no processo dos estudos, o aluno seja capaz de identificar o
movimento divisionista de Estado de Mato Grosso e criação do Estado de Mato Grosso do
Sul, bem como a organização e função dos poderes (legislativo, judiciário e executivo), e a
criação dos símbolos do Estado; compreender que o processo de migração foi importante ao
crescimento do Estado de Mato Grosso do Sul e para a melhoria de condição de vida dos
próprios migrantes; compreender a cultura de Mato Grosso do Sul como resultante das
influências migratórias locais, nacionais e internacionais; possibilitando aos alunos a
oportunidade de conhecer os problemas que cercam a vida coletiva da cidade, bem como
pesquisar, debater, sistematizar e socializar os movimentos sociais como manifestação
política, econômica e cultural.
85
4.3 Conteúdos para o 5º ano do ensino fundamental
4.3.1 Eixo - Relações Sociais da Cultura e do Trabalho
� Brasil Colônia: sociedade e trabalho escravo.
� as principais atividades da economia colonial;
� a relação de escravidão entre senhores e negros;
� o trabalho escravo no Brasil atual;
� a diferença entre trabalho escravo e trabalho assalariado;
� formas de relações de trabalho como meeiros e a reendatários, ainda presentes no
Brasil;
� a diferença entre sociedade colonial brasileira e européia;
� conflito diplomático na América do Sul (Guerra do Paraguai);
� trabalho como elemento de desenvolvimento produtivo brasileiro e suas
transformações;
� as migrações e suas influências na organização do trabalho produtivo;
� as migrações e a formação de comunidades, etnias e movimentos sociais e culturais
em Mato Grosso do Sul;
� a realidade do negro e do índio no Brasil atual (Lei 11.465/2008);
� A organização nas relações de trabalho na atualidade.
4.3.2 Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 5º ano do ensino
fundamental
A relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 5º ano do Ensino
Fundamental contempla o eixo Relações Sociais da Cultura e do Trabalho, e para que se
concretize espera-se que no processo dos estudos, o aluno seja capaz de compreender a
estrutura social, política e econômica do Brasil Colônia; apontar as diferenças entre o trabalho
escravo e o assalariado, bem como as relações de trabalho como meeiros e reendatários;
estabelecer as diferenças entre a sociedade colonial brasileira e a européia no mesmo período;
entender as relações diplomáticas na América do Sul (Guerra do Paraguai), com seu
desenrolar até o armistício; compreender o trabalho dos imigrantes como elemento de
desenvolvimento produtivo brasileiro e suas transformações como formadores da comunidade
local, com suas diferentes etnias; pesquisar, debater, sistematizar e socializar os movimentos
sociais e culturais de ontem e hoje em Mato Grosso do Sul.
86
4.4 Conteúdos para o 6º ano do ensino fundamental
4.4.1 Eixo - Relações Sociais da Cultura e do Trabalho
� Introdução aos estudos históricos: fontes históricas, história da escola, tempo
cronológico, tempo histórico;
� pré-História Geral e do Brasil;
� mesopotâmia;
� egito;
� hebreus, Fenícios e Persas;
� antigüidade Clássica: Grécia;
� antiguidade Clássica: Roma.
4.4.2 Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 6º ano do ensino
fundamental
Ao abordarmos o eixo Relações Sociais da Cultura e do Trabalho espera-se que os
alunos interpretem dados e informações, construindo o pensamento para que tome decisões e
enfrente situações problemas. Nessa perspectiva o aluno será capaz de: estudar a história da
escola para que tenha integração entre esta e a história de vida; pesquisar, debater,
sistematizar e socializar a origem da humanidade e as primeiras comunidades humanas
trabalhando junto com Geografia e Ciências, pois, os conteúdos são semelhantes neste
primeiro momento facilitando a compreensão e a percepção dos alunos quanto às
permanências e mudanças ocorridas no tempo; entender que os povos que não possuíam a
escrita tinham história, rompendo com idéias eurocêntricas que povos sem escrita são povos
sem história; perceber que cada sociedade tinha sua história e apresentavam diferenças nos
modos de se organizarem, pois cada uma possuía seus valores (linguagem, técnicas, arte,
crenças.); compreender que a Pré-história também ocorreu no Brasil, e vários são os sítios
arqueológicos espalhados pelo país; apreender que os rios Nilo, Eufrates e Tigre ficavam no
Crescente Fértil e foram palcos do desenvolvimento de brilhantes civilizações humanas,
conhecidas como agrícolas, onde a luta pela sobrevivência impunha uma rigorosa disciplina
controlada pelos governantes e seus administradores; compreender as contribuições sociais,
econômicas, políticas e cultural deixadas pelos povos hebreus, persas e fenícios, para a
história da humanidade; entender que a Grécia Antiga organizou-se com base nas
comunidades gentílicas, evoluindo para cidades-estados e que apresentavam diferenças e
semelhanças entre si. Políticas indispensáveis para compreender a organização política, social
e econômica da Grécia Antiga; perceber que em alguns aspectos as histórias de Roma e da
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Grécia apresentam pontos em comum, como por exemplo, a escravidão que os gregos
estabeleceram e que os romanos desenvolveram e exploraram; entender que a aristocracia
romana dominou o poder político, mesmo quando os patrícios cederam alguns direitos aos
plebeus e que foram muitos os legados deixados por gregos e romanos para as sociedades
contemporâneas, como o direito romano, as olimpíadas, a democracia, e a arquitetura entre
outros.
4.5 Conteúdos para o 7º ano do ensino fundamental
4.5.1 Eixo - Relações Sociais da Cultura e do Trabalho
� Queda do Império Romano;
� feudalismo: Economia, Sociedade, Cultura e Poder;
� formação dos Estados Nacionais;
� renascimento;
� reformas religiosas;
� expansão marítima;
� mercantilismo;
� história da América;
� Brasil Colônia:
− administração colonial;
− economia colonial (açúcar, escravos, mercado interno e monopólio português);
− Brasil Holandês;
− mineração;
− continente africano: Economia, Sociedade, Política e Cultura;
− negros no Brasil colônia;
− expansão territorial do Brasil contrariando o Tratado de Tordesilhas;
− os espanhóis na região atual de Mato Grosso do Sul no período colonial;
− história dos indígenas do Mato Grosso do Sul.
4.5.2 Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 7º ano do ensino
fundamental
Ao abordarmos o eixo Relações Sociais da Cultura e do Trabalho espera-se que os
alunos interpretem dados e informações, construindo o pensamento para que tome decisões e
enfrentem situações problemas. Nessa perspectiva, o aluno será capaz de: compreender que
com a decadência do Império Romano ocorreu a transição para o surgimento do Feudalismo;
88
problematizar o conceito de Idade Média, levantando as razões que caracterizam este período
como obscuro, e intelectualmente pobre; pesquisar e socializar a originalidade das
construções góticas e românicas, dos vitrais, das obras sacras, da literatura, da música
gregoriana e o surgimento das universidades; compreender que o fim do Feudalismo foi
marcado por mudanças no contexto social, político, econômico e cultural, favorecendo o
crescimento urbano e comercial dando início aos tempos modernos e o fim da idade média;
entender que para alguns historiadores o crescimento das cidades e o grande desenvolvimento
comercial provocaram o final do feudalismo, e deixaram a burguesia em alta e os monarcas
buscaram cada vez mais se fortalecerem permitindo o surgir dos Estados Nacionais; refletir
que as mudanças ocorridas com a formação dos Estados Nacionais atingiram a maneira de
pensar da população da época; entender que durante o Renascimento valorizou-se o ser
humano e ocorreu uma grande produção artística; compreender que a Reforma Religiosa
rompeu com os dogmas da Igreja Católica; compreender que o espírito de aventura e as
necessidades de mercado motivaram os europeus a se lançarem em grandes viagens pelo
Oceano Atlântico; compreender o processo de administração político, econômico e social do
Brasil colônia; pesquisar, debater, sistematizar, socializar a economia, sociedade, política e
cultura do continente africano na época colonial; compreender e ressaltar a importância dos
nativos e negros africanos na construção da identidade brasileira (Lei 11.465/2008);
compreender as estratégias de luta dos escravos contra o cativeiro; conhecer que as primeiras
formas de exploração do Mato Grosso deu-se pelo sul (atual Mato Grosso do Sul), com os
espanhóis que aqui introduziram rebanhos bovinos na região do Pantanal, e as buscas
constantes de índios e riquezas (metais preciosos) desprezaram o Tratado de Tordesilhas,
conhecendo a localização dos aldeamentos e o uso da canoa e do cavalo, como fator relevante
para a cultura dos povos indígenas no sul de Mato Grosso.
4.6 Conteúdos para o 8º ano do ensino fundamental
4.6.1 Eixo - Relações Sociais da Cultura e do Trabalho
� Revolução Inglesa;
� Iluminismo;
� Revolução Industrial;
� Revolução Francesa;
� Era Napoleônica e o Congresso de Viena;
� independência do Brasil;
� Brasil Império (Primeiro Reinado, Regência e Segundo Reinado);
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� conflito diplomático Sul Americano (Guerra do Paraguai);
� economia de Mato Grosso no Brasil Império;
� imperialismo.
4.6.2 Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 8º ano do ensino
fundamental
Ao abordarmos o eixo Relações Sociais da Cultura e do Trabalho espera-se que os
alunos interpretem dados e informações, construindo o pensamento para que tome decisões e
enfrente situações problemas. Nesta perspectiva o aluno será capaz de: apreender os conceitos
fundamentais do Iluminismo para entender os movimentos sociais, políticos e econômicos das
Revoluções Burguesas; compreender que o processo de transformações que ocorreram no
século XVIII, intensificaram os ideais filosóficos e revolucionários do movimento,
estabelecendo relações com a história do Brasil; entender que com a Revolução Industrial
surge mudanças significativas no mundo do trabalho, na maneira de produção; entender que a
Revolução Francesa desencadeou mudanças profundas entre o processo produtivo feudal
decadente e o nascente processo produtivo capitalista burguês e a consolidação das lutas
políticas pelos ideais de liberdade e igualdade bem como a Declaração Universal dos Direitos
do Homem e do Cidadão; perceber as mudanças ocorridas no mapa da Europa com as
invasões napoleônicas e os reflexos destas invasões para a história do Brasil, bem como os
efeitos do Tratado de Versalhes para o continente europeu; estudar o processo de
independência do Brasil e compreender que a camada popular da sociedade brasileira foi
excluída de qualquer participação e direitos; compreender que a escravidão foi mantida com
o advento da monarquia em nosso país; perceber que com a instalação do Primeiro Reinado
no Brasil, transformações políticas ocorreram, obrigando o imperador a renunciar,
implantando o Período Regencial; compreender que este período decorre de motivos e
reações de agentes coletivos em busca de mudanças políticas e sociais da história brasileira;
estudar a Guerra do Paraguai, estabelecendo relações entre ela e os interesses dos países
platinos no controle da navegação na Bacia do Prata, enumerando os efeitos sociais políticos e
econômicos, para o Brasil e para o Paraguai a partir do final da guerra e suas conseqüências
para a América do Sul; ressaltar a participação indígena e dos afro-descendentes no conflito
sul americano – Guerra Paraguai; pesquisar, debater, sistematizar e socializar os elementos da
economia de Mato Grosso no período imperial; conceituar e entender os significados sociais,
políticos e econômico do imperialismo.
90
4.7 Conteúdos para o 9º ano do ensino fundamental
4.7.1 Eixo - Relações Sociais da Cultura e do Trabalho
� República Velha
� Primeira Guerra Mundial;
� Revolução Russa;
� Crise de 1929;
� a Era Vargas;
� Movimento Divisionista de Mato Grosso;
� Nazi-facismo;
� Segunda Guerra Mundial;
� Guerra Fria;
� Brasil democrático (1945-1964);
� Brasil ditadura (1964 - 1985);
� Brasil reabertura política 1985 – aos dias atuais;
� Tendências do Mundo atual:
− Oriente Médio;
− Guerra do Vietnã;
− apartheid;
− discriminação a grupos sociais e etnias
− revolução Cubana;
− blocos econômicos;
− terrorismo;
− entre outros.
4.7.2 Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 9º ano do ensino
fundamental
Ao abordarmos o eixo Relações Sociais da Cultura e do Trabalho espera-se que os
alunos interpretem textos de linguagem visual, verbal, e enunciados, dados e informações,
construindo o pensamento para que tome decisões, enfrente situações problemas, relacione
informações e construa argumentações consistentes. Nesta perspectiva espera-se que o aluno
seja capaz de: estudar a República Velha percebendo a concepção política do Brasil neste
período: política do café-com-leite, voto de cabresto, coronelismo, e as formas de expressão
dessas políticas nos dias de hoje; entender que a Primeira Guerra Mundial foi fruto das
tensões imperialistas entre as grandes potências mundiais, bem como o crescimento do
91
socialismo como resultado da bem sucedida Revolução Socialista de 1917 na Rússia,
causando, no entanto a radicalização política na Europa e em outros lugares do mundo
levando ao surgimento de regimes totalitários; discutir os problemas ao longo da República
Velha, e as constantes manifestações nos diversos segmentos da sociedade brasileira: a
Semana de Arte Moderna, o tenentismo e a Coluna Prestes; pesquisar, debater, sistematizar e
socializar os motivos que proporcionaram o surgimento do movimento divisionista de Mato
Grosso; relacionar o impacto da entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial e as forças
oposicionistas ao governo Vargas; compreender e ressaltar o enfoque na cultura brasileira
como a era do rádio, sendo o grande divulgador da música popular brasileira, e o meio de
comunicação mais eficaz da época, também o teatro de revista e o futebol no cenário cultural
do país; compreender que o período democrático passa por mudanças substanciais na política,
economia e na sociedade; estudar, na perspectiva da pesquisa, os regimes autoritários na
América Latina que ocorreram durante o contexto da Guerra Fria, evidenciando sempre as
constantes resistências de segmentos diferentes da sociedade civil contra os regimes militares;
apreender que o Mato Grosso do Sul foi criado por interesses políticos dos militares, os quais
exerciam o poder naquele período da história;entender que o período de reabertura política foi
uma reformulação de conceitos, ideologias e exercício para a cidadania; compreender os
impactos dos movimentos ou fenômenos característicos dos anos 60, Revolução Cubana e a
Guerra do Vietnã no mundo; estudar o apartheid, e demonstrar que foi uma luta dos negros
contra o racismo comparando com as lutas de combate ao preconceito em outros lugares do
mundo inclusive no Brasil; entender os efeitos dos atentados terroristas e a globalização
enfatizando os motivos e as conseqüências para a economia e a política mundial, inclusive a
“Doutrina Busch” que levou os norte americanos a invadirem o Afeganistão acabando com o
regime do Taliban e o Iraque retirando Sadan Houssein do poder.
5. METODOLOGIA PARA O ENSINO DE HISTÓRIA
Jucleides Silveira Pael Alcará
Uma das atividades inerentes ao ser humano é a constante indagação de sua origem e
destino, para obter respostas ele percorre diversos caminhos. Essa visão reflete-se como
metáfora permanente no trabalho do professor. A relevância da palavra método deve permear
o trabalho docente. Antes de suas escolhas, o professor deve ter consciência do objetivo
92
almejado. Derivado do grego methodos, formado por meta, “para” e hodos “caminho”; poder-
se-ia então, traduzir a palavra por “caminho para” ou então, “prosseguimento”, “pesquisa”.
A partir da década de 1980, em vários estados brasileiros permearam discussões e
debates em torno do ensino da História, os quais surgiram novas concepções que deveriam
servir de referência para os conteúdos e as metodologias de ensino.
Os métodos tradicionais de aprendizagem foram questionados, buscando alternativas
que levassem o aluno à construção do conhecimento histórico na sala de aula. Rompia-se
assim, com o ensino baseado na leitura de livros didáticos. O cinema, a música e a literatura
foram trazidos para as aulas de História como linguagens alternativas na construção do
conhecimento histórico.
Entretanto, essa mudança de perspectiva não atingiu, de forma generalizada, o ensino
de História. Nos anos finais do Ensino Fundamental, a História tem permanecido distante do
interesse dos alunos, porque o método dos professores permanece preso às fórmulas prontas
do discurso dos livros didáticos ou pautado nas práticas esporádicas determinadas pelo
calendário cívico. Daí a necessidade de reafirmar a importância da História no currículo
escolar e, acima de tudo, entender que essa disciplina pode desenvolver nos alunos a
consciência de que são seres humanos importantes na prática da cidadania.
Atualmente, as reformulações curriculares estão permeadas por discussões que
colocam em dúvida o que se ensina no Ensino Fundamental, Médio e também na
Universidade, levando em consideração questões pertinentes a relação com o “real mundo do
trabalho”, bem como a formação para a cidadania conforme afirma Bittencourt (1992, p.135):
As mudanças curriculares devem atender a uma articulação entre os fundamentos conceituais históricos, provenientes da ciência de referência, e as transformações pelas quais a sociedade tem passado, em especial as que se referem às novas gerações [...]. Diversidade cultural, problemas de identidade social e questões sobre as formas de apreensão e domínio das informações impostas pelos jovens formados pela mídia, com novas perspectivas e formas de comunicação, têm provocado mudanças no ato de conhecer e aprender o social.
Ao mesmo tempo em que houve necessidade de adequação de currículos ao mundo
contemporâneo, surgiu, também, a defesa de uma referência curricular global para todos os
estados brasileiros. A partir da Lei Federal n. 9394, de 20 de dezembro de 1996, a Secretaria
de Educação Fundamental do MEC propôs em 1997 os Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs). Seus defensores não pretendiam sugerir um currículo único a ser seguido em todo o
país, mas que servissem como referência em conteúdos e metodologias de ensino, numa
tentativa de diminuir as diferenças encontradas no ensino brasileiro.
93
A partir desse documento o ensino de História passou a adotar uma metodologia que
rompia com a didática de memorização de fatos, informação detalhada dos eventos, acúmulo
de dados sobre as circunstâncias nas quais ocorreram determinados fatos históricos. A
História não é simplesmente um relato de fatos periféricos, não é o elogio de figuras ilustres, é
nem um campo neutro, é um lugar de debate e também de conflitos. É um campo de pesquisa
e produção do saber que está longe de apontar para o consenso.
Não é fundamental somente o acervo de conhecimentos que se deve selecionar para
instruir, mas igualmente importante é a maneira como se deve realizar este ensino e o modo
como é aplicado, ou seja, a metodologia de trabalho na escola.
Ao professor cabe definir a metodologia a ser empregada e as regras para os
trabalhos individuais ou em grupo estabelecidas com antecedência. O ensino da história oral,
ao transpor ou recriar a metodologia, poderá ser realizado por meio de projetos, autobiografias
orais, entrevistas com pessoas da comunidade, história da localidade, livro de recordações,
investigação da origem de nomes dos espaços locais, história da escola, história de
construções locais, história de pessoas idosas da localidade, com base em uma temática,
história de pessoas idosas, com objetivo de recuperar a cronologia de fatos da localidade,
história do aluno, história de pessoas originais que vivem na localidade, história de famílias
(genealogias, arquivos e fotografias), história da indústria local, história das mulheres, dos
migrantes, dos imigrantes, história de um acontecimento local importante.
A adoção da metodologia da investigação, na sala de aula, implica algumas posturas
tanto da parte do professor quanto dos alunos. Do professor espera-se amplo domínio do
conteúdo a ser trabalhado, familiaridade com a produção do conhecimento histórico e seus
métodos, clara consciência dos objetivos a serem atingidos, cuidadosa seleção dos textos e
demais recursos de ensino-aprendizagem e conseqüente organização das atividades a
desenvolver. Estas últimas devem estar amarradas entre si, dispostas numa seqüência lógica,
prevendo-se momentos adquiridos em cada etapa e, ao final, a elaboração de uma síntese. Do
aluno espera-se uma postura ativa em todo o processo, e à ele devem-se oferecer condições
para exercer tal posição, para aprender pela descoberta. Utilizar os procedimentos
constitutivos da metodologia da investigação, que parte de problemas, para depois
desconstruir, reconstruir e construir discursos e, produzindo uma síntese.
O início da metodologia de investigação são as situações-problema, e para tanto é
preciso que o ponto de partida seja conhecido e do interesse dos alunos. Assim, são
constituídas em torno de elementos da realidade imediata dos alunos em sua experiência de
vida, com significância para os mesmos instigando-lhes o desejo de descobrir uma solução.
94
Cumpre frisar, três aspectos importantes: primeiro, a linguagem da formulação do
problema precisa ser acessível ou interessante para os alunos; em segundo lugar, o problema
pode ser gerado por um artifício criado pelo professor; e, em terceiro, as respostas para a
situação-problema estão no presente ou no passado, implicando a percepção de continuidades,
de rupturas, de diferenças ou semelhanças identificadas por meio de uma comparação
relativizadora entre experiências históricas distintas.
Os professores além de se preocuparem com a aplicação de uma metodologia
eficiente para a aprendizagem dos alunos, deverão analisar a capacidade que o livro didático
tem de propor bom trabalho no plano metodológico, isto é, a forma como os conteúdos são
desenvolvidos. É importante que o autor do livro explicite suas propostas metodológicas e,
seja coerente com elas. Não é suficiente enunciar, de maneira até sofisticada, metodologias
tentadoras e, no decorrer da exposição, continuar com as velhas fórmulas de descrever os
processos históricos.
No entanto, a grande dificuldade que emerge em qualquer metodologia de
investigação decorre da descoberta de um método de trabalho e, quando falta orientação,
muitas pesquisas transformam-se em simples compilação de dados ou pior, plágios
indecorosos, que, se não são inúteis para quem as solicitou de nada servem para a
aprendizagem do aluno.
Embora não exista apenas um método para efetuar uma boa pesquisa, esta necessita
sempre levar em conta os quatro princípios que alicerçam uma investigação e fazem despertar
autonomia no estudo:
� determinação do temor e da clareza dos objetivos da pesquisa;
� procura de informações não convencionais, como entrevistar profissionais e
especialistas, visita ao comércio, a uma indústria, filme ou novelas e outros;
� seleção e organização das fontes;
� apresentação dos resultados.
Procedendo-se à coleta de dados, após esses terem sido selecionados e organizados
de forma coerente e sistemática, a última etapa da pesquisa é a apresentação. Mesmo quando a
pesquisa apresenta-se na forma de um texto simples, cabe uma orientação sobre como
organizar parágrafos, qual sugestão é válida para o índice, a apresentação da bibliografia, das
citações e das notas. Outras vezes, os objetivos da pesquisa podem sugerir sua apresentação
em outras linguagens (coral, dramatização, painel, colagem e outros), circunstâncias que,
entretanto não devem dispensar registros. Um texto pode ser arquivado. Se a pesquisa for
apresentada como dramatização é importante que seja filmada ou que o texto que a ensejou
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possa figurar um registro do trabalho realizado. Os alunos, mesmo os menores, podem
organizar um portfólio ou minicurrículo, onde relacionam os trabalhos que fizeram e as
pesquisas das quais participaram.
Assim, pensamos uma prática pedagógica distanciada do “professor-enciclopédia”,
detentor do saber, buscando a construção de um “professor mediador”, que contribui para a
construção do conhecimento de seus alunos dentro e fora da sala de aula.
Nesse sentido, o professor de História ajuda o aluno a conhecer as ferramentas de
trabalho necessárias para aprender a pensar historicamente. Ele é o responsável por ensiná-lo
a valorizar a diversidade das fontes e dos pontos de vistas históricos, como levantar
problemas, procurando transformar, em cada aula, temas e problemáticas em narrativas
históricas. No ensino de História, os temas de estudo são necessariamente ligados e
perpassados por diversas leituras externas às aulas, sendo em muitos casos objeto de debates e
de controvérsias. O grande desafio enfrentado pelo professor é o de realizar a transposição
didática dos conteúdos e do procedimento histórico. A transposição didática é segundo
Schmidt e Cainelli(1989, p.14):
[...] Um processo de transformação científica, didática até sua tradução no campo escolar. Ela permite pensar a transformação de um saber científico e social que afeta os objetos de conhecimento em um saber a ensinar tal qual aparece nos programas manuais, na palavra do professor, considerados não somente científicos. [...] Isso significa, então, um verdadeiro processo de criação e não somente de simplificação, redução. [...].
Ensinar História significa dar condições ao aluno para poder participar do processo
do fazer e construir o conhecimento.
6. ITINERÁRIOS CIENTÍFICOS E CULTURAIS PARA O ENSINO DE
HISTÓRIA
Olavo Costa Barrios Filho
O ensino de História na escola é resultado do diálogo entre muitos interlocutores e
muitas fontes, sendo permanentemente reconstruído a partir de objetivos sociais, didáticos e
pedagógicos. Nesse sentido, o grande desafio do professor é ir além da sala de aula,
procurando assim, motivar os alunos a entender a complexa realidade do mundo atual e
incentivá-los à participação social como cidadãos ativos nas suas comunidades.
Para que de fato essas orientações concretizem-se e o trabalho do professor não se
limite às paredes da sala de aula, é necessário buscar alternativas, por meio de práticas
96
didáticas que proporcionem aos alunos saídas a campo, a fim de que possam coletar dados
que ampliem os saberes adquiridos nos textos históricos valorizando informações e
constatações de conhecimentos.
Proporcionar visitas no próprio ambiente escolar, como na biblioteca, na cantina, nos
setores administrativos e outros espaços, é de extrema importância para que os alunos dos
anos iniciais do Ensino Fundamental desenvolvam os valores estéticos e culturais. Nesse
sentido, o professor poderá levá-los a compreenderem e conhecerem o seu próprio espaço
para que saibam explicar, criticar e valorizar sua região, sua cidade, seu país e seu mundo.
É importante, também, promover visitas à museus, parques urbanos, igrejas, feiras e
teatros para que realizem estudos das localidades compreendendo obras de arte, construções,
campos cultivados, hortas, aglomerações urbanas, habitações, as ruas, modos de vida e
formas de organização do trabalho. Essas localidades compõem um cenário e estabelecem um
diálogo entre os conhecimentos histórico e artístico, desenvolvendo no aluno um olhar
indagador sobre a realidade, a fim de diminuir a distância entre o que se faz no espaço escolar
e o se que se exige socialmente.
Além das pesquisas de campo, o professor poderá utilizar como recursos didáticos de
promoção do conhecimento e ampliação da cultura, a música, as lendas folclóricas, as danças
regionais, a culinária local e regional, os costumes, os causos, as iconografias, os textos
clássicos, a literatura e as imagens tecnológicas que são as fotografias, cinema, televisão e
vinhetas como linguagens alternativas para construção do saber histórico.
As imagens tecnológicas fazem parte do dia-a-dia das pessoas e envolvem o poder de
comunicação e a circulação social muito grande, exigindo uma interlocução sob a mediação do
professor na linha da oralidade e da escrita, onde o aluno passa a ser integrante do processo
histórico-social e estabelece novas formas de comunicação cultural com diferentes temas
estudados.
Cabe ao professor articular atividades para que os alunos possam desenvolver uma
leitura atenta do real e romper com o tradicional espaço de estudos em sala de aula. Uma boa
oportunidade é fazer um levantamento do patrimônio histórico do bairro, como feiras, igrejas,
praças, ruas, nome do bairro e o patrono da escola, utilizando-se da história oral e escrita.
A busca dos objetos do passado abre caminho para a produção do conhecimento e da
verdade. Conhecer locais e objetos permitem aos alunos refletir a importância de se preservar
e valorizar o patrimônio histórico social da cidade como os Museus José Antonio Pereira,
Museu de Arte Contemporânea - Marco, Museu de Imagem e do Som -MIS, Museu da Força
Expedicionária Brasileira-FEB, a Feira Central e seu entorno, a casa do Artesão, Morada dos
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Baís, Aldeia Urbana Marçal Tupay de Souza, Fundação de Cultura do Estado de Mato Grosso
do Sul, Mercado Municipal e seu entorno, Monumentos, Horto Florestal, Parque dos Poderes
e das Nações, entre outros.
Em qualquer circunstância é importante ressaltar que ao ensinar História, não se deve
restringir apenas ao levantamento de informações, mas, principalmente, partir dessas
constatações iniciais e estabelecer relações entre o singular e o universal: semelhanças,
diferenças, identidades, relações históricas, relações do cotidiano individual e social, no
sentido de compreender a construção de um modo de pensar a sociedade, de legitimar o
respeito e de atuar na preservação ou transformação do meio social, político e econômico.
7. AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE HISTÓRIA
Magali Luzio Ferreira
O ato de avaliar é uma ação inata, pois faz parte da criticidade humana. A avaliação
vem sofrendo mudanças com o passar do tempo e sua característica sempre é a do momento
histórico vivido. Vivemos em uma sociedade capitalista, em que predomina a mais valia,
impulsionada pelo “laissez faire6” em que o peso da avaliação está diretamente ligado a situação
e as transformações sociais, políticas e econômicas do momento. Assim, a avaliação escolar é
reflexo da sociedade atual. Apresenta um caráter classificatório que levam os avaliados a
competitividade em que os resultados acrescentam pouco ou quase nada, não só no crescimento
do conhecimento do avaliado, mas também em sua formação enquanto cidadão.
Antes de começarmos um estudo sobre avaliação escolar, precisamos primeiro
refletir o momento da aula, pois sabemos que os resultados alcançados refletem a ação da
prática pedagógica. Muitas vezes o professor na ânsia de fazer uma boa avaliação, uma prova
bem elaborada, faz para agradar a equipe técnica da escola. Começar a aula tendo como ponto
de partida o cotidiano e a resolução de situações-problema acaba possibilitando ao aluno o
primeiro contato com os acontecimentos atuais.
6 Laissez-faire é a contração da expressão em língua francesa laissez faire, laissez aller, laissez passer, que significa literalmente "deixai fazer, deixai ir, deixai passar".A expressão refere-se a uma ideologia econômica que surgiu no século XVIII, no período do Iluminismo, através de Montesquieu, que defendia a existência de mercado livre nas trocas comerciais internacionais, ao contrário do forte protecionismo baseado em elevadas tarifas alfandegárias, típicas do período do mercantilismo.
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Segundo Luckesi (1996), as pedagogias imprimem na avaliação da aprendizagem o
princípio do autoritarismo. Por meio da avaliação autoritária e classificatória promove-se
implacavelmente a seleção dos “bons” e dos “maus”. São pedagogias que vêem a educação e a
avaliação como princípios em si mesmos e não como um meio do processo ensino-aprendizagem,
ou ainda, como expressão das relações sociais contraditórias da existência humana.
Nesse sentido, essas pedagogias não tecem críticas ao sistema social, político e
econômico hegemônico, pois acreditam que o fracasso é de responsabilidade dos alunos e de
suas famílias. São procedimentos didáticos de pedagogias que não analisam os impactos que
as diferenças sociais causam nas possibilidades de aprendizagem das crianças das camadas
mais pobres. Segundo Luckesi (1996 p.32):
A prática da avaliação escolar, dentro do modelo liberal conservador, terá de ser, obrigatoriamente, autoritária, pois esse caráter pertence à essência dessa perspectiva de sociedade, que exige controle e enquadramento dos indivíduos nos parâmetros previamente estabelecidos de equilíbrio social, seja pela utilização de coações explícitas (nos modelos de avaliação em sala de aula), seja pelas (...) diversas modalidades de propaganda ideológica no discurso e nas atitudes autoritárias do professor. A avaliação educacional será, assim, um instrumento disciplinador não só das condutas cognitivas como também das condutas sociais do aluno, no contexto da sala de aula e da escola.
Trata-se de uma pedagogia, que dependendo do estágio do modo de produção
capitalista, ora coloca a ênfase no ensinar (racionalidade formal), ora no aprender
(racionalidade técnica), em ambos a avaliação assume contornos do mercado e cumpre o seu
papel conservador.
Para Luckesi (1996), a avaliação na escola deve ser diagnóstica e só tem sentido se
for utilizada como instrumento de transformação social (desenvolvimento da autonomia
intelectual e da capacidade de participação democrática). Defende ainda a prática da avaliação
inclusiva e humanizadora como condição de superação de autoritarismo e exclusão social
(causas, manifestações e conseqüências do autoritarismo). Nesse caso a escola deve planejar,
elaborar e aplicar a avaliação como ato subsidiário do processo ensino aprendizagem. A
avaliação processada dessa forma não é algo isolado em si mesma, mas pertencente a um
projeto pedagógico de educação, no qual os objetivos, os princípios, os métodos, as
metodologias, os conteúdos, as metas e ações serão os elementos orientadores da avaliação.
A metodologia de ensino está, pois associados a um processo mais complexo, que
envolve cuidado nos critérios de seleção de conteúdos, e encontram-se intimamente ligados à
avaliação. Uma concepção de metodologia de ensino articulada à relação entre conhecimento
prévio, conhecimento científico e conhecimento escolar conduz à revisão das maneiras de avaliar,
99
retoma a reflexão sobre o significado do “erro” e assume maior significação, ao englobar uma
visão crítica (e não punitiva) tanto do trabalho do aluno quanto do próprio trabalho docente.
A apresentação dos temas de estudo de História suscitará, em maior ou menor escala,
dependendo do nível e da composição social da classe, uma avaliação inicial por parte dos
alunos, que possuem, invariavelmente, um conhecimento prévio sobre temas e conceitos
propostos para estudo no decorrer das aulas, permitindo ao professor meios de avaliar os
próprios alunos e o curso em sua integralidade. Pode-se realizar uma avaliação:
� dos conhecimentos prévios e de como os alunos os organizam em relação aos
objetos a ser estudados, levando o professor a medir as diferenças entre as próprias
expectativas e a da classe;
� do que efetivamente ocorre na classe durante as seqüências de aprendizagem, pois
muitas vezes é difícil contornar conflitos entre o saber escolar e os provenientes da
opinião dos alunos – conflitos ou diferenças que provocam resistências e levam ao
malogro em certas etapas do trabalho em sala de aula (p.ex.,o problema do racismo,
de preconceitos raciais, sexuais, sociais, etc.);
� das mudanças dos alunos diante do objeto de estudo e da relação disso com a
eficácia da prática pedagógica do professor. Ao introduzir formas de registros no
começo e no término de um tema, torna-se possível perceber o impacto da
metodologia utilizada para enriquecer informações ou as mudanças da visão inicial
dos alunos sobre o objeto de estudo.
A metodologia de ensino está, associada a um processo mais complexo, o que
envolve cuidados nos critérios de seleção de conteúdos, e encontra-se intimamente ligadas à
avaliação. Uma concepção de método de ensino articulada à relação entre conhecimento
prévio, conhecimento científico e conhecimento escolar conduz à reformação dos métodos de
avaliação, retoma a reflexão sobre o significado do “erro” e assume maior significação, ao
englobar uma visão crítica (e não punitiva) tanto do trabalho do aluno quanto do próprio
trabalho docente.
A escola deve primar pela avaliação formativa que luta contra o fracasso escolar e as
desigualdades sociais. Para isso, tem que romper com as políticas autoritárias e com as
metodologias padronizadas que não respeitam a diversidade e a pluralidade cultural.
100
REFERÊNCIAS
BITTENCOURT, C. M. Capitalismo e cidadania nas atuais propostas curriculares de História. 1992.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: História e Geografia. Brasília: MEC/SEF, 1997.
GOODSOM, I. F. Currículo: teoria e história, Petrópolis, Vozes, 1995.
HOBSBAWM. E. J. Sobre História. Tradução Cid Knipel Moreira. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem escolar: abordagens sociológicas, políticas e pedagógicas. 3. ed. São Paulo: Cortez, 1996.
MACDONALD, F. Como seria sua vida na Idade Média. Tradução Maria de Fátima S. M. Marques. São Paulo: Scipione, 1996. (Coleção como seria sua vida?).
SAVIANI. D. Educação: do senso comum à consciência filosófica. 12. ed. Campinas, São Paulo: Autores Associados, 1996. (Col. Educação contemporânea).
SCHIMIDT, M. A.; CAINELLI, M. Ensinar História. 1 ed. São Paulo: Scipione, 2004.
103
1. FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA
Analice Teresinha Talgatti Silva Sônia dos Santos Boiarenco Amor
A Geografia é uma ciência que comporta importantes saberes, construídos
historicamente pela humanidade, é parte da área do conhecimento das Ciências Humana,
atuando ainda na interface das Ciências da Natureza. Justamente pela relevância que tem na
formação humana é que faz parte do currículo escolar.Uma área do conhecimento que tem por
características a descrição, a explicação, a análise crítica e um olhar pela totalidade da
formação humana. É uma Ciência que estuda, sobretudo a sociedade e por isso passa por
constantes transformações.
As bases conceituais da ciência geográfica estão presentes no saber humano desde a
aparição do homem na Terra e os primeiros escritos, que remontam à Antiguidade Clássica,
especificamente ao pensamento grego. A Geografia surgiu na Grécia clássica, com um
conteúdo correspondente às necessidades daquela época, como medição do espaço e a
discussão da forma da Terra (Geodésia7) ou descrição dos lugares (Heródoto8). Os
conhecimentos geográficos eram empregados também para desenhar caminhos e roteiros de
viagens. Nesse sentido, a Geografia passou a ser identificada com a cartografia e a
astronomia. Ainda hoje, encontramos essa visão, pois alguns leigos relacionam, o objeto de
estudo com sistema solar, os planetas e os mapas, apenas como a descrição da paisagem,
ficando inalterado até o final do século XVIII.
A Geografia foi sistematizada como ciência no início do século XIX, devido ao
processo de avanço e domínio das relações capitalistas de produção. Moraes (1983) expõe
sobre alguns pressupostos históricos que auxiliaram nessa sistematização, como: o
conhecimento da dimensão e da forma real dos continentes, constituindo um espaço mundial
que teve como centro difusor a Europa; a existência de um repositório de informações sobre
variados lugares da Terra, devido ao desenvolvimento do comércio colonial que levou os
estados europeus a precisarem de uma descrição dos recursos naturais das suas possessões,
gerando, dessa forma, informações mais sistematizadas e observações mais científicas desses
lugares; o aprimoramento das técnicas cartográficas, devido à necessidade dos navegadores
7 Geodésia: ciência que se ocupa da forma e da grandeza da Terra ou de uma parte da sua superfície. 8 Heródoto: Pai da História e Geografia.
104
calcularem as suas rotas, saberem a orientação das correntes marinhas e dos ventos
predominantes, além da localização correta dos portos.
Todo esse processo de sistematização da Geografia, seu posicionamento como uma
ciência particular e autônoma, foi um desdobramento das transformações operadas na vida
social, pela emergência do modo de produção capitalista. Esse processo teve início na
Alemanha, com os trabalhos dos geógrafos Karl Ritter e Alexandre Von Humboldt.
Ritter possuía uma formação filosófica e histórica, utilizou o princípio corológico9,
aperfeiçoou o método comparativo e estabeleceu o perfil e o rigor científico que ainda
faltavam à Geografia. Para ele, caberia à Geografia explicar a individualidade dos sistemas
naturais (uma área delimitada dotada de uma individualidade), ou melhor, a Geografia de
Ritter é, principalmente, um estudo dos lugares, uma busca da individualidade desses.
Humboldt possuía uma formação naturalista (geólogo e botânico). Para ele a
Geografia era como uma espécie de síntese de todos os conhecimentos relativos à Terra em
que o geógrafo deveria contemplar a paisagem de uma forma estética. Humboldt parte do
mesmo princípio e método de Ritter, mas o seu objeto de estudo é a globalidade do planeta
vista a partir da interação entre a esfera inorgânica, orgânica e humana, holisticamente
realizada pela ação intermediadora da esfera orgânica. Ele vai do recorte da formação vegetal
ao todo - o planeta Terra, de modo a voltar à geografia das plantas como elo costurador da
unidade do entrecortado das paisagens.
Ritter e Humboldt partem do Iluminismo de Kant, para designar a noção de natureza
como essência comum das coisas e de Schelling, do Romantismo alemão, para designar a
noção do significado distinto da natureza das coisas. O determinismo ambiental foi uma das
principais correntes filosóficas que influenciou o início da geografia alemã, fundamentada
nas teorias de Lamarck e Darwin, que dão destaque ao papel desempenhado pelas condições
ambientais na evolução das espécies, em que a adaptação ao meio seria um dos processos
fundamentais.
Essa corrente filosófica acreditava que o desenvolvimento econômico e social dos
países estava relacionado à sua localização espacial, isto é, países de clima temperado e frio
são áreas mais propícias e com maior facilidade para desenvolverem-se. Esses dois
geógrafos, Ritter e Humboldt, compõem a base da geografia tradicional alemã.
9 Corológico: ciência do passo da Biologia que versa sobre a distribuição geográfica dos vegetais nas suas diversas regiões do globo conforme as zonas climáticas e fatores que possibilitam a sua adaptação
105
Um revigoramento do processo de sistematização da Geografia na Alemanha ocorreu
com as formulações de Friedrich Ratzel. Esse geógrafo vivenciou a constituição real do
Estado nacional alemão e suas formulações só são compreensíveis em função da época e da
sociedade que as produziu. Uma grande repressão social interna e uma agressiva política
exterior completavam o quadro da Prússia em 1871, ano de constituição do império alemão. O
país emergia como mais uma unidade do centro do mundo capitalista industrializado, porém
sem colônias. A unificação tardia da Alemanha - que não impediu um relativo
desenvolvimento interno - deixou-a de fora da partilha dos territórios coloniais.
A geografia de Ratzel foi um instrumento poderoso de legitimação do expansionismo
alemão, pois definiu como objeto geográfico, o estudo da influência exercida pelas condições
naturais sobre a humanidade. Para esse geógrafo, quanto maior o vínculo com o solo, tanto
maior seria, para a sociedade, a necessidade de manter a sua posse. É por essa razão que a
sociedade cria o Estado. Nas palavras de Ratzel, “quando a sociedade se organiza para
defender o território, transforma-se em Estado. O progresso ou decadência de um Estado
dependeria de sua capacidade de expansão”. Por isso, elaborou o conceito de “espaço vital”,
que seria o necessário para a expansão territorial de um povo, no caso, o alemão. Daí se
desenvolveria a idéia de “espaço vital” tão apregoada por Hitler. A geografia proposta por
Ratzel privilegiou o elemento humano, manteve a idéia de uma ciência empírica cujos
procedimentos de análise seriam a observação e a descrição.
A importância maior da proposta de Ratzel reside no fato de haver trazido para o
debate geográfico os temas políticos e econômicos, colocando o homem no centro das
análises, mesmo que numa visão naturalizante e para legitimar interesses contrários ao
humanismo.
De acordo com Moraes (1983), a geografia de Ratzel legitimava a ação imperialista
alemã; por isso, era necessário, para a França, combatê-la. Nasce, assim, o pensamento
geográfico francês, com um novo paradigma: o possibilismo. O seu principal representante foi
Paul Vidal de La Blache, que deslocou o eixo da discussão geográfica da Alemanha para a
França, no final do século XIX.
Vidal de La Blache definiu o objeto da Geografia como a relação homem-natureza,
na perspectiva da paisagem. Colocou o homem como um ser ativo que sofre a influência do
meio, porém atua sobre este, transformando-o. A natureza passou a ser vista como
possibilidades para a ação humana; daí, a nomenclatura Possibilismo, atribuída a essa corrente
por Lucien Lebvre. Para La Blache, a diversidade dos meios explicaria a diversidade dos
gêneros de vida.
106
Num mesmo discurso, La Blache critica o expansionismo germânico, ao mesmo
tempo em que resguarda uma legitimação da ação colonial francesa. Segundo Lacoste (2006,
p.107):
Vidal de La Blache introduziu a idéia das descrições regionais aprofundadas, que são consideradas como a forma, a mais fina, do raciocínio geográfico [....] mostrou como as paisagens de uma região são o resultado das superposições, ao longo da história, das influências humanas e dos dados naturais. As paisagens que ele esmiúça e analisa são, essencialmente, uma herança histórica. Por causa disso, Vidal de La Blache combate com rigor a tese “determinista” segundo a qual os “dados naturais” (ou um dentre eles) exercem uma influência direta e determinante sobre os “fatos humanos” e ele dá um papel importante à história, para captar as relações entre os homens e os “fatos físicos”.
O conceito de região foi o balizamento central da geografia francesa. A região foi
sendo compreendida como um produto histórico, que expressaria a relação dos homens com a
natureza. Esse processo de historização do conceito de região expressou o próprio
fortalecimento da geografia humana, tal como proposta por La Blache. A idéia de região
propiciou o que viria a ser a majoritária e mais usual perspectiva de análise do pensamento
geográfico: a geografia regional.
De acordo com Lacoste (2006, p. 61):
[...] geografia regional consiste em constatar como evidência a existência, num país, de um certo número de regiões e descrevê-las, uma após as outras, ou analisar somente uma delas no seu relevo, seu clima, sua vegetação, sua população, suas cidades, sua agricultura, sua indústria, etc., cada uma considerada como um conjunto contendo outras regiões menores. Esse procedimento impregna, hoje, todo o discurso sobre a sociedade, toda a reflexão econômica, social e política, quer ela proceda de uma ideologia “de direita” ou “de esquerda”. É um dos obstáculos capitais que impedem de colocar os problemas da espacialidade diferencial, pois admiti-se, sem discussão, que só existe uma forma de dividir o espaço.
Para Moraes (1983, p. 72 ) “A geografia vidalina fala de população, de agrupamento,
e nunca de sociedade; fala de estabelecimentos humanos, não de relações sociais; fala das
técnicas e dos instrumentos de trabalho, porém não de processo de produção”. Enfim, sua
óptica é orientada para o produto da ação humana, não para os processos sociais que a
engendram.
Max Sorre (1984) apresentou a idéia de que a Geografia deve estudar as formas pelas
quais os homens organizam seu meio, entendendo o espaço como “a morada do homem”,
dessa forma avançou nas formulações de La Blache. O conceito central desenvolvido por
Sorre foi o de habitat, uma humanização do meio, que expressa as múltiplas relações entre o
107
homem e o ambiente que o envolve. A geografia de Sorre pode ser entendida como um estudo
da ecologia humana.
Humboldt, Ritter, Ratzel, Vidal de La Blache e Sorre são os principais geógrafos
formadores da Geografia Tradicional, marcada pela descrição, enumeração de dados e pela
memorização dos elementos que compõem as paisagens. Para Moraes (1983), a Geografia
Tradicional legou uma ciência elaborada com um corpo de conhecimentos sistematizados,
com uma relativa unidade e continuidade nas discussões. Os fundamentos que, mesmo
criticados por muitos geógrafos atuais, delimitaram um campo geral de investigações, e
articulando uma disciplina autônoma, ela conseguiu elaborar um rico acervo empírico, fruto
de um trabalho exaustivo de levantamento de realidades locais, e elaborou alguns conceitos,
como território, região, ambiente, habitat, área etc., que merecem ser rediscutidos, mas a
crítica a esses conceitos permitiu um avanço no pensamento geográfico.
Para Moreira (2006), essa Geografia Tradicional está baseada no modelo N-H-E, que
significa Natureza, Homem e Economia. A Geografia dos dias atuais está impregnada desse
modelo, que traz conceitos equivocados de natureza, homem e economia, os quais estão em
mutação. Para esse modelo, a natureza é restrita a uma esfera inorgânica, fragmentária e
físico-matemático do entorno natural. O geógrafo vê a natureza, vendo o relevo, o clima, a
vegetação, a hidrografia etc., resultante do caráter corológico dos estudos de La Blache, que
parte da idéia de que a organização espacial de uma sociedade inicia por sua base topográfica.
A ciência moderna, desde o seu nascimento, está comprometida com o projeto
histórico de construção técnica do capitalismo. E foi a física que se adequou a esse modelo,
pois privilegiou o desenvolvimento da exploração da natureza pela máquina. Daí o conceito
de natureza adquirir um sentido físico. “A natureza torna-se uma grande máquina, uma
engrenagem de movimentos precisos e perfeitos, que o homem pode controlar, transformar
em artefatos técnicos e explorar para fins econômicos” (MOREIRA, 2006, p. 60).
Essa concepção de movimento mecanicista da natureza, influenciada pela Física, está
em crise, devido ao desenvolvimento industrial que passa a utilizar novos conhecimentos
oriundos da Química e da Biologia, e busca um encaixe conceitual unitário para a natureza, o
homem e o mundo.
O modelo N-H-E concebe uma idéia de homem excluído da natureza e que também
não está situado na sociedade. Para esse modelo, segundo Moreira (2006, p. 77), “surge um
homem transformado em estatística tanto pelo lado da produção quanto pelo do consumo,
num mundo da natureza transformada em estoque de recursos naturais”.
108
O estudo econômico no modelo N-H-E, foca-se no conceito de industrialização como
o aumento e a difusão numérica dos estabelecimentos no espaço de um país, e na da teoria da
indústria como o estudo dos problemas e características da localização do estabelecimento.
Dessa forma, estuda a indústria pela indústria e o fenômeno da industrialização da sociedade
pelo aspecto basicamente estatístico.
O modelo N-H-E vê um ser humano atópico, não localizado na natureza e nem na
sociedade. Esse modelo da Geografia começa a ser criticado pelos geógrafos a partir da
década de 50. De acordo com Moraes (1983, p. 94):
O desenvolvimento do modo de produção capitalista havia superado seu estágio concorrencial, entrando na era monopolista [...] o liberalismo econômico estava já enterrado[...] propunha-se agora a ação do Estado na ordenação e regulação da vida econômica [...] a realidade do planejamento territorial colocava uma nova função para as ciências humanas [...] a necessidade de gerar um instrumental de intervenção, enfim uma feição mais tecnológica.
A Geografia Tradicional não apontava nessa direção, surgindo sua defasagem e crise.
Alguns geógrafos começam a percorrer outros caminhos e mudam suas análises da realidade.
Esse movimento de renovação não possui uma unidade. Tal fato provém da diversidade de
métodos de interpretação e de posicionamentos dos autores que o compõem.
Os geógrafos franceses Pierre George e Yves Lacoste iniciaram esse movimento de
renovação da Geografia. Criticam a postura positivista, combatem os projetos de ensino
quantitativo com a intenção de politizar o discurso geográfico. Juntos com R. Guglielmo e B.
Kaiser publicam o livro “Geografia Ativa”, que marca uma ruptura com relação à concepção
de uma Geografia desinteressada, puramente descritiva e explicativa, que havia prevalecido
na universidade, desde o início do século XX. Uma outra publicação importante foi de Yves
Lacoste, intitulada “Geografia - isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra”.
Para Lacoste (2006) existem duas formas de Geografia: aquela dos pesquisadores
universitários e dos professores, das teses e das monografias, das lições, da sala de aula e dos
livros didáticos; a outra, fundamental, praticada pelos estados-maiores, pelas grandes
empresas capitalistas, pelos aparelhos de Estado.
A primeira é recente, do século XIX, foi produzida especialmente para servir como
discurso ideológico de mistificação do espaço, de “cortina de fumaça” para escamotear a
importância estratégica do saber pensar o espaço e nele se organizar. A segunda é mais antiga
e surgiu com o advento dos primeiros mapas, e não chega a ser conhecida pela maioria da
população, pois não interessa ao sistema capitalista. Diz Lacoste (2006, p.24):
109
Hoje, mais do que nunca, são argumentos de tipo geográfico que impregnam o essencial do discurso político, quer se refiram aos problemas “regionalistas”, ou sobre os que giram, a nível planetário, em torno de “centro” e “periferia”, do “Norte” e do “Sul”.
De acordo com Lacoste (2006), a Geografia serve para fins políticos-militares sobre
o espaço geográfico para produzir e reproduzir esse espaço com vistas às lutas de classes,
especialmente como exercício de poder. Os conhecimentos geográficos são, para ele, um
saber estratégico, um instrumento de poder intimamente ligado às práticas estatais e militares.
Desde a década de 60 do século XX, os geógrafos brasileiros, como Milton Santos,
procuraram defender um maior comprometimento social da Geografia e princípios gerais que
norteassem a reflexão e a pesquisa geográfica. Procuravam não só novos rumos que
direcionassem as pesquisas, como novos caminhos metodológicos para atingir os fins
desejados. Segundo Andrade (1989), contestar a Geografia Tradicional era imprescindível,
mesmo que tal atitude tivesse que partir de correntes com posições e objetivos bastante
diversos.
Os neopositivistas deram mais importância aos métodos que aos fins; partiram,
portanto, para uma aplicação geral e indiscriminada dos métodos matemático-estatísiticos e
dos computadores, simplificavam os objetivos utilizando dados estatísticos carentes de
credibilidade; passaram a ver o Brasil um país de dimensão continental e altamente
diversificado nos aspectos físico, econômico e social, como uma unidade - posição útil ao
planejamento, sem preocupações ecológicas e sociais. Daí o apoio dos órgãos governamentais
que procuravam desenvolver a produção e as relações capitalistas sem a menor preocupação
com a qualidade de vida da população. Essa geografia conduziu a reflexão e o pensamento à
mais completa alienação da realidade nacional.
Por outro lado, uma outra corrente minoritária, na década de 60, começa a ganhar
prestígio e importância nos anos seguintes. Essa corrente procurou retirar dos estudos
geográficos anteriores o máximo de informações e manter a linha de respeito às diversidades
dentro da unidade, conduzindo o pensamento geográfico em direção à análise dos problemas
sócio-espaciais e a procura de caminhos que contribuíssem com o desenvolvimento real do país.
A partir de 1970, o debate na Geografia avançou, pois iniciaram-se renovações na
postura, na linguagem e nas propostas, necessárias à reflexão sobre a realidade, a sociedade e
a dinâmica do espaço ao qual pertence essa realidade. Trouxeram a dialética para o centro das
discussões geográficas.
Em 1978, Milton Santos, publica o livro “Por uma Geografia Nova”, em que analisa
a história do pensamento geográfico e reflete sobre a geografia crítica iniciada por Yves
110
Lacoste, Pierre George e outros. Além de Milton Santos, Ruy Moreira, Carlos Walter Porto
Gonçalves e outros geógrafos publicam importantes trabalhos e empenharam-se na crítica à
Geografia Tradicional.
Milton Santos (2002) introduziu o pensamento geográfico no âmbito do pensamento
social do país, deu visibilidade à geografia brasileira e auto-estima aos geógrafos. Destacou a
importância de que o espaço seja estudado não somente na sua forma, mas também na sua
estrutura, no seu processo e na sua função. Ganha força, então, o estudo das relações entre
técnica e espaço, das repercussões espaciais da revolução tecnológica, consagrando o período
histórico como técnico-científico-informacional, conseqüência espacial do período marcado
pela globalização da produção e do consumo.
Para Santos (2002), quanto mais os lugares se globalizam, mais se tornam singulares,
no sentido de que o arranjo que os elementos componentes do território têm em um
determinado lugar não será encontrado em nenhum outro. Assim, a própria globalização
acaba por produzir a fragmentação.
Nos últimos anos, um grande número de geógrafos interessados na discussão teórico-
metodológica da área, tem publicado livros e artigos, a partir de inquietações sobre a
Geografia ensinada nas escolas e nas universidades, permitindo que se faça a reconstrução da
história do pensamento geográfico e que se debatam as tendências de renovação na Geografia.
Dentre as correntes em debate estão a positivista, a neopositivista e a dialética, esta,
com destaque especial, por ser responsável por grande parte dos trabalhos produzidos. A
incorporação da dialética como método de investigação tem permitido que a Geografia
recupere a visão de totalidade perdida pelo positivismo e não utilizada pelo neopositivismo.
A Geografia que incorpora a dialética é uma geografia crítica, com uma dimensão
fundamental no currículo, um ensino que busca despertar nas crianças uma postura crítica
diante da realidade, comprometida com o homem e a sociedade, tal qual se apresentam -
divididos em classes com conflitos e contradições - e que contribua para a transformação da
sociedade.
111
2. OBJETIVOS DO ENSINO DE GEOGRAFIA
Analice Teresinha Talgatti Silva Sônia dos Santos Boiarenco Amorin
A Geografia tem preocupação em compreender e explicar de que maneira as
diferentes sociedades produzem e se organizam dentro do seu espaço; por isso, sociedade,
natureza, trabalho e tecnologia devem ser estudados simultaneamente. Dessa forma, os
alunos, ao se apropriarem desse conhecimento perceberão que a organização geográfica do
espaço é um produto das tensões geradas a partir das relações sociais existentes entre
contrários e destes com seu ambiente influenciando e influenciado pelas internalidades e
externalidades.
Assim, o ponto de partida para se ensinar Geografia é a própria realidade dos alunos,
ou seja, o lugar de convivência. Esse lugar de convivência deve ser compreendido como algo
em processo, em constante movimento, pois a produção do espaço nunca está pronta e
acabada.
Logo, a questão não será tomar a realidade como ponto de partida, mas o conceito
que se tem dela e de sua escala explicativa; não basta só trabalhar o local, mas estabelecer a
conexão entre o local e o global, de acordo com a visão de Straforini (2006, p. 92): “Com a
globalização e o avanço técnico, científico e informacional, o lugar não pode ser entendido
como uma categoria ou uma entidade que se encerra em si”.
Para que o aluno estabeleça a relação entre o lugar e o global e compreenda a idéia
de totalidade, é importante considerar as necessidades e as novas tendências do ensino da
Geografia. Nesse contexto, Cavalcanti (2001, p. 24) afirma que:
Entre o homem e o lugar existe uma dialética, um constante movimento: se o espaço contribui para a formação do ser humano, este, por sua vez, com sua intervenção, com seus gestos, com seu trabalho, com suas atividades, transforma constantemente o espaço. Não importa se refere a um indivíduo ou a uma sociedade ou nação. Em qualquer caso, o espaço e as próprias percepções e concepções sobre ele são construídos na prática social. Portanto, a consciência do espaço, ou a consciência da “geografia” do mundo, deve ser construída no decurso da formação humana, incluindo aí a formação escolar.
Para tanto, o mundo, no ensino da Geografia, deve ser debatido e problematizado
mais do que explicado; por meio dela é que o aluno compreende a relação de ocupação e
exploração da natureza pelo ser humano, através dos aspectos políticos, culturais, sociais e
econômicos. Portanto, o ensino da Geografia deve garantir que o aluno compreenda melhor o
mundo em que vive tornando-o um agente de transformação social.
112
Ao longo do processo escolar do Ensino Fundamental, o aluno deve ter a capacidade
de relacionar, interpretar e analisar os fatos geográficos, processos e forma de produção e
organização do espaço brasileiro e mundial, com visão crítica e reflexiva. Milton Santos faz a
seguinte abordagem que pode nortear essa postura:
Os geógrafos, ao lado de outros cientistas sociais, devem se preparar para colocar os fundamentos de um espaço verdadeiramente humano, um espaço que una os homens por e para seu trabalho, mas não para em seguida separar entre classes, entre exploradores e explorados; um espaço matéria inerte trabalhado pelo homem, mas não para se voltar contra ele; um espaço, natureza social aberta à contemplação direta dos seres humanos, e não um artifício; um espaço instrumento de reprodução da vida, e não uma mercadoria trabalhada por uma outra mercadoria, o homem artificializado (SANTOS, 2002, p.267).
Para tanto, o professor de Geografia deve oportunizar, no processo de formação do
aluno, a aquisição de uma postura de compreensão da necessidade de transformação social,
cabendo, a esse professor, efetivar seu trabalho levando em conta a realidade no seu conjunto
e o espaço que muda em função do ser humano - um ser histórico. Dessa maneira, o aluno,
consciente do fenômeno que estuda, poderá agir como sujeito ativo do processo de
organização e construção do espaço geográfico.
3. ABORDAGEM SOCIAL DOS CONTEÚDOS POR MEIO DE SEUS
FUNDAMENTOS
A Geografia cumpre sua função quando é capaz de levar o aluno a ler o mundo, ou
seja, quando oferece elementos – conteúdos – que permitem compreender como o espaço foi e
é produzido pelas sociedades, no âmbito das relações sociais, políticas e econômicas, de
forma a materializar os projetos de produção de vida humana. Observe-se, nesse sentido, a
contribuição de Lacoste (2006, p. 182):
É justamente o interesse crescente – e não o desinteresse – pelo que se passa no mundo que determina, em grande parte, as dificuldades dos professores de Geografia. Sem dúvida, no caso da Geografia, a relação pedagógica veio a ser transformada, pois o mestre não tem mais, como outrora e como ainda acontece com outras disciplinas, o monopólio da informação. [...] hoje, mestre e alunos recebem ao mesmo tempo, simultaneamente com as atualidades, uma massa de informações geográficas, caóticas. Geografia em pedaços, o ocasional, o espetacular, sem dúvida, mas Geografia de qualquer forma.
No mundo globalizado em que vivemos não há razão para decorarmos informações
estanques e desconexas, que são rapidamente esquecidas. A Internet, os computadores, os
CDs-rom, as redes de telefonia em fibra ótica e outros, estão para armazenar, processar e
transportar dados que são acessados quando necessários. O importante não é acumular
113
informações na memória e, sim, saber trabalhar com elas, transformando-as em
conhecimento.
O espaço geográfico é um produto histórico das atividades humanas que não ocorrem
de maneira uniforme no espaço e no tempo, mas diferentemente em determinados momentos
históricos. As transformações espaço-temporais provocadas pelo avanço da revolução
técnico-científica e da globalização, unidas às constantes mudanças no mercado de trabalho,
retratam o processo intenso de apropriação da natureza pela sociedade. Para que o aluno possa
compreender a criação e as transformações do espaço geográfico, o professor precisa trabalhar
os conteúdos de Geografia em sua raiz, estabelecendo, sempre, relações entre as conexões
singulares e universais inerentes ao movimento social de tecitura do conteúdo em estudo.
Trabalhar o conteúdo por meio de seus fundamentos exige que a escola não somente
realize a transmissão dos conhecimentos, mas que leve o aluno a analisar e questionar os
grandes problemas do mundo.
4. CONTEÚDOS PARA O 3º AO 9º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL
4.1 Conteúdos para o 3° ano do ensino fundamental
4.1.1 Eixo - O homem e a construção do espaço
O LUGAR E A PAISAGEM
� O homem como ser social;
� o trabalho;
� diferentes necessidades sociais;
� diferentes grupos sociais;
� diferentes modos de viver;
� espaço rural e urbano;
� o trabalho na cidade e no campo;
� espaços construídos e modificados por meio do trabalho humano;
� os impactos do trabalho humano ao meio ambiente;
� as modificações na natureza no local da moradia;
� as transformações da paisagem natural em paisagem humanizada;
� as pontos cardeais.
114
4.1.2 A relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 3° ano do ensino
fundamental
O estudo desses conteúdos é de importância para que o aluno compreenda que o
homem, enquanto ser social, para se humanizar, precisa de: trabalho, ferramentas ,, educação,
alimentação, moradia, saúde, convivência com os outros, solução para problemas e
necessidades, respeito pelo outro, ética, entre outras coisas; compreender a construção
gradativa do conceito de grupo social, abrangendo os grupos aos quais o aluno pertence e
outros , que formam a sociedade global; compreender as diferentes culturas, que resultam em
diferentes espaços produzidos e organizados para satisfazer as necessidades de cada
sociedade; entender a organização diferenciada entre espaço rural e urbano e saber explicar
que essa diferença decorre do trabalho humano; perceber que o espaço produzido e
organizado por uma sociedade gera novas necessidades no decorrer de um tempo cronológico,
ou seja, um tempo cultural e transforma esse espaço para satisfazer essas necessidades;
perceber como os seres humanos, por meio do trabalho, interferem na paisagem dos lugares;
saber que as transformações que os seres humanos provocam nas paisagens são necessárias
para suprir suas necessidades básicas, como moradia, alimentação, vestuário e transporte;
perceber, também, que as alterações nas paisagens podem ser realizadas de maneira
equilibrada e não agressiva, muita vezes com destruição da vegetação, matança de animais,
poluição do ambiente, modificação do relevo, entre outras formas de mudanças; saber
localizar-se no espaço; saber utilizar os diferentes materiais cartográficos.
4.2 Conteúdos para o 4° ano do ensino fundamental
4.2.1 Eixo - O homem e a construção do espaço
CIDADE
� Trabalho: organização e modo de produção em sua cidade;
� elementos de um mapa: Título, Legenda, Rosa-dos-ventos, Escala;
� diferentes tipos de mapas;
� diferentes espaços de seu município: Rua, Bairro, Região Urbana, Cidade;
� crescimento desordenado das cidades: problema de moradia, trânsito, poluição,
lixões, falta de infra-estrutura e serviços.
MUNICÍPIO
� Trabalho: organização e modo de produção em seu município;
� formação histórica do município;
� organização Política do município;
115
� diferentes costumes, hábitos, crença, lendas e particularidades culturais de diversos
povos que formam a população campo-grandense.
MEIO AMBIENTE
� Aspectos físicos (relevo, hidrografia, vegetação e clima) do município de Campo
Grande;
� limites;
� atividades econômicas do município;
� áreas verdes do município;
� problemas ambientais do município
4.2.2 A Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 4° ano do ensino
fundamental
Com o estudo desses conteúdos é importante que o aluno seja capaz de: compreender
que o mapa é uma representação em tamanho reduzido do espaço geográfico, de um
determinado lugar ou mesmo de todo o nosso planeta; conhecer os elementos que compõem
os mapas para ler e retirar as informações que eles trazem; compreender o espaço como
produto do trabalho e das relações sociais; compreender que a formação do espaço é
decorrente das formas pelas quais as pessoas se organizam para produzir os bens materiais
necessários à vida humana; compreender que é pelo trabalho que as pessoas se apropriam da
natureza e a transformam; compreender que o espaço geográfico não é estático, pois a
sociedade constrói conforme seus interesses em determinados momentos históricos, num
processo contínuo de transformação; compreender a razão pela qual a cidade existe, as
semelhanças e as diferenças entre o campo e a cidade, quanto às atividades produtivas e sua
interdependência, ao modo de vida, aos tipos de habitações e à paisagem de cada espaço;
compreender que o processo de construção do município depende de como as pessoas se
relacionam com a vida e a organizam, quer em relação ao trabalho, à saúde, a cultura e ao
lazer; conhecer as formas como o poder público arrecada dinheiro da população e os reverte
em serviços públicos; reconhecer a necessidade de preservar e conservar, não somente a
natureza, mas, também, as edificações que fazem parte da história do lugar, entender os vários
problemas urbanos ligados ao crescimento desordenado das cidades, tendo, como um dos seus
causadores, o êxodo rural; perceber a necessidade do planejamento dos espaços como
instrumento para a melhoria da qualidade de vida; além de identificar problemas ambientais
no município e em outros locais.
116
4.3 Conteúdos para o 5° ano do ensino fundamental
4.3.1 Eixo - O homem e a construção do espaço
PLANETA TERRA
� Sistema solar e movimentos da Terra.
ESTADO
� Mato Grosso do Sul: localização no Brasil e no mundo;
� formação histórica do Estado;
� limites e fronteiras.
ORGANIZAÇÃO POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO
� organização política do Estado;
� produção do espaço (atividades econômicas - formal e informal);
� tipos de trabalho e organização da economia predominante no Estado;
� população do Mato Grosso do Sul: origem, crescimento populacional, influência da
migração, aspectos culturais dos vários povos que integram o Estado.
ASPECTOS FÍSICOS
� relevo, hidrografia, vegetação e clima;
� problemas ambientais (queimadas, assoreamento, lixo e outros).
4.3.2 A Relevância social da aprendizagem para o 5° ano do ensino fundamental
Será relevante que o aluno, com o estudo desses conteúdos, seja capaz de:
identificar a Terra no Sistema Solar; reconhecer que a Terra faz parte de um conjunto de
astros que estão num espaço maior - o Universo; compreender que a Terra não é estática,
pois é dinâmica, movimenta-se; perceber que os dois principais movimentos
(rotação/translação) causam conseqüências na vida do planeta e influenciam o rítmo de vida
dos seres humanos; apreender o conceito de Estado, bem como de suas organização política
e econômica; reconhecer os aspectos físicos e a paisagem do Estado; reconhecer as funções
sociais do Estado; compreender o papel do Estado com relação aos os elementos sociais ou
humanos, ou seja, o povo e suas instituições organizadas politicamente; conhecer como se
formou a população do Estado, como tem crescido, a influência da migração e a
contribuição, à nossa cultura, de outros povos; reconhecer as paisagens naturais e as
construídas pelo ser humano: relevo, clima, vegetação e hidrografia; perceber que existem
diferentes formas de relevo, de vegetação, de clima, e passar a observar esses elementos
naturais no seu cotidiano; compreender que o ser humano é o agente transformador dessas
paisagens, por meio do trabalho desenvolvido na sociedade e a organização da economia;
117
perceber, também, que as alterações nas paisagens podem ser realizadas de maneira
equilibrada, quando planejadas, se levada em conta a sustentabilidade, ou agressiva,
causando problemas ambientais; identificar e diferenciar os limites e fronteiras do seu
estado, para compreender a organização política do país.
4.4 Conteúdos para o 6° ano do ensino fundamental
4.4.1 Eixo - O homem e a construção do espaço
A GEOGRAFIA COMO POSSIBILIDADE DE LEITURA E COMPREENSÃO DO
MUNDO
� Introdução à Geografia: conceito;
� espaço Natural e Geográfico;
� orientação: pontos cardeais e colaterais;
� coordenadas geográficas: linhas imaginárias e hemisférios terrestres;
� movimentos da Terra: Translação e Rotação;
� fusos horários;
� introdução Cartográfica: elementos de um mapa e tipos de mapas.
MEIO AMBIENTE
� O trabalho do ser humano como agente modificador do espaço: economia formal e
informal;
� litosfera: origem da Terra (eras geológicas), como se formaram os continentes,
processos de formação e transformação do relevo, formas de relevo, solo (formação,
ocupação e degradação) e tipos de solos de Mato Grosso do Sul;
� hidrosfera: importância da água, oceanos e mares, bacias hidrográficas brasileiras e
hidrografia do Mato Grosso do Sul;
� atmosfera: tempo e clima, climas do Brasil, alterações climáticas (efeito estufa,
chuva ácida, buraco na camada de ozônio), Protocolo de Kioto e Montreal;
� biomas brasileiros e áreas de preservação do Mato Grosso do Sul.
4.4.2 A Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 6° ano do ensino
fundamental
Com o estudo desses conteúdos espera-se que o aluno seja capaz de: interpretar e
explicar como os seres humanos produzem e organizam seu espaço e de que modo se
apropriam dele e, também, como a organização do espaço interfere e define as relações
118
sociais de produção da vida humana; saber orientar-se no espaço: direção, distância,
orientação, sistema de cores e de legendas, pontos cardeais e colaterais, localização, posição,
escala e dessa forma, ser capaz de ler mapas, que são importantes para explicação e
compreensão do espaço geográfico; conhecer os principais movimentos da Terra no espaço e
suas influências na vida das pessoas e da paisagem; identificar o tempo geológico, as
mudanças dos continentes, os processos de formação dos solos, das rochas e do relevo
aspectos importantes para levar o aluno a compreender que a natureza é formada por um
conjunto de partes que se relacionam e/ou interagem; entender o funcionamento da natureza, a
interdependência dos vários elementos que compõem seu quadro físico e as relações de
apropriação que o ser humano estabelece com ela, definindo o ambiente e suas permanentes
transformações; compreender a natureza como resultado da ação da sociedade e entendida
como recurso que é apropriado de acordo com os interesses e necessidades humanas.
4.5 Conteúdos para o 7° ano do ensino fundamental
4.5.1 Eixo - O homem e a construção do espaço
PAISAGENS E DIVERSIDADE TERRITORIAL NO BRASIL
� Localização geográfica do Brasil;
� formação socioeconômica do espaço brasileiro: ciclos econômicos e organização
política atual;
� população brasileira: diversidade de povos, movimentos migratórios, população
economicamente ativa, economia formal e informal, indicadores sociais brasileiros;
� urbanização brasileira: regiões metropolitanas, problemas sociais e ambientais das
cidades brasileiras;
� regionalização: oficial do IBGE e Geoeconômica;
� nordeste: aspectos físicos, humanos, econômicos e sub-regiões;
� Centro-Sul: aspectos físicos, humanos, econômicos (industrialização, agropecuária,
estrutura fundiária, meios de transporte, serviços e comércio) e conflitos urbanos e
rurais;
� Amazônia: aspectos físicos (aspectos naturais e sua interdependência), humanos
(ocupação e exploração) e econômicos (desenvolvimento sustentável e ecoturismo).
4.5.2 A Relevância social da aprendizagem para o 7° ano do ensino fundamental
Com o estudo desses conteúdos é importante que o aluno seja capaz de: compreender
que, pelo trabalho, ou seja, pelo modo de produção da vida humana o homem modifica a
119
natureza, retirando dela o que é necessário para sobreviver; entender a atual constituição do
território brasileiro, decorrente da época da chegada dos europeus e da ocupação do espaço
que se deu ao longo do tempo, vinculadas às atividades econômicas; compreender o processo
de urbanização brasileira por meio da industrialização a partir dos anos 40 e 50 do século
passado; entender que, com o crescimento das cidades, surgem as metrópoles e o ser humano
perde sua particularidade para se tornar multidão na qual, nem sempre as vontades e os
desejos são satisfeitos; refletir sobre a urbanização do ponto de vista dialético, sua evolução
histórica, comparar a dinâmica do fenômeno com a de outros países e analisar a segregação e
desigualdades humanas nas grandes cidades; analisar as redes e as hierarquias urbanas que
permitem ampliar a noção de organização do espaço geográfico em diferentes escalas;
compreender que o processo de regionalização envolve o reconhecimento das duas fontes
principais da variedade das paisagens - a natureza e a sociedade; identificar e comparar as
duas principais divisões regionais brasileiras – Cinco Macrorregiões (IBGE) e as
Geoeconômica, estudando esta última na sua totalidade regional.
4.6 Conteúdos para o 8° ano do ensino fundamental
4.6.1 Eixo - O homem e a construção do espaço
UM SÓ MUNDO E VÁRIOS CENÁRIOS GEOGRÁFICOS
� Os continentes: origem e deriva continental;
� regionalização mundial: física (os continentes) e econômica (Norte/Sul);
� revolução Industrial e Revolução Técnico-Científica;
� as origens históricas do desenvolvimento e do subdesenvolvimento: noções de
neocolonialismo e imperialismo;
� globalização: blocos econômicos mundiais e regionais;
� indicadores econômicos e sociais da riqueza – IDH.
AMÉRICA E VÁRIOS CENÁRIOS GEOGRÁFICOS
AMÉRICA
� Localização;
� aspectos Físicos;
� processo histórico de ocupação do continente;
� regionalização (física / sócio-histórica / econômica);
� América Anglo-Saxônica:
� aspectos humanos e econômicos;
� América Latina:
120
� aspectos humanos e econômicos.
4.6.2 Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 8° ano do ensino
fundamental
Com o estudo desses conteúdos é importante que o aluno seja capaz de: compreender
as estruturas internas de funcionamento dos elementos da natureza, fundamentais para
posterior entendimento dos mecanismos de rompimento do equilíbrio da paisagem natural;
compreender que a litosfera não é uma camada estática e que o conhecimento científico é
historicamente produzido, baseando-se em pressupostos e evidências, pois, assim, são
apresentados os fatos que comprovam a teoria da deriva continental; apreender a teoria das
placas tectônicas, associada à ocorrência de vulcões e terremotos, dobramentos e falhamentos;
compreender que a atual disposição dos continentes não é algo estático e, portanto, sofre
constantes transformações; compreender as mudanças implicadas nas relações de produção e
trabalho, em que a Revolução Industrial deu origem às características essenciais da sociedade
atual, tanto em termos de sua estrutura e superestrutura, como a formação de classes -
capitalistas e operários, quanto de organização do espaço geográfico, com expansão da
urbanização e a configuração de regiões industriais; entender como se configura a divisão
internacional de trabalho caracterizada pelo intercâmbio de mercadorias industriais por
matérias-primas minerais e gêneros tropicais; compreender que os espaços são criados de
formas diferenciadas por meio das condições materiais de produção e do estágio de
desenvolvimento das forças produtivas; apreender as origens da distinção econômica e social
entre os países desenvolvidos e os subdesenvolvidos, compreender o caráter estrutural dos
fenômenos do desenvolvimento e do subdesenvolvimento, em sua relação com a economia-
mundo; identificar os fluxos mundializados de mercadorias, capitais e informações que
caracterizam o mundo, hoje, criam redes hierárquicas de interdependência entre os países e as
regiões e alimentam o processo de globalização; identificar o surgimento dos blocos
econômicos internacionais, que ampliam a escala de atividades e de mercados das grandes
corporações, destacando os principais fluxos da globalização, evidenciando que sua
distribuição no espaço geográfico mundial é desigual; utilizar mapas e outros instrumentos de
localização de espaços, locais, nacionais e internacionais; localizar a América no mundo,
identificando seus aspectos naturais, como, também, o processo histórico de formação
territorial do continente americano.
121
4.7 Conteúdos para o 9° ano do ensino fundamental
4.7.1 Eixo - O homem e a construção do espaço
UM SÓ MUNDO E VÁRIOS CENÁRIOS GEOGRÁFICOS
� Estado, Território e Nação;
� I e II Guerras Mundiais;
� Guerra Fria: expansão do socialismo, alianças militares e políticas;
� Multipolarização;
� globalização cultural e econômica.
EUROPA E OS VÁRIOS CENÁRIOS GEOGRÁFICOS
EUROPA
� Localização geográfica;
� aspectos físicos e problemas ambientais;
� população européia: predomínio urbano, fluxo migratório (imigração ilegal),
predomínio de população idosa, xenofobia, as minorias étnicas e suas lutas e IDH;
� economia: economia dos principais países e a construção da UE.
ÁSIA E OS VÁRIOS CENÁRIOS GEOGRÁFICOS
ÁSIA
� Localização geográfica;
� regionalização da Ásia;
� aspectos físicos;
� população: diversidade cultural e religiosa;
� economia: Japão e Tigres Asiáticos, China, Índia e Oriente Médio;
� conflitos asiáticos.
ÁFRICA E OS VÁRIOS CENÁRIOS GEOGRÁFICOS
ÁFRICA
� Localização geográfica;
� processo de ocupação histórica: imperialismo;
� regionalização da África;
� aspectos físicos;
� população: distribuição, condições de vida e conflitos internos;
� economia africana;
� África do Sul: pós apartheid.
OCEANIA E OS VÁRIOS CENÁRIOS GEOGRÁFICOS
OCEANIA
122
� Localização geográfica;
� regionalização da Oceania;
� Austrália e Nova Zelândia: aspectos físicos e sócio-econômicos.
4.7.2 A Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 9° ano do ensino
fundamental
Com o estudo desses conteúdos espera-se que o aluno seja capaz de: realizar a
reconstituição da origem histórica do Estado e analisar sua organização interna, com seus
regimes políticos e formas de governo, além de fazer uma distinção conceitual entre Estado,
território e nação; compreender o mundo da Guerra Fria, época marcada pela bipolarização de
poder entre duas superpotências e pela corrida armamentista; situar, nesse período histórico, a
criação das organizações econômicas – Banco Mundial e FMI – na Conferência de Bretton
Woods, e políticas – ONU – na Conferência de São Francisco. Ainda nesse contexto, deve ser
resgatada a criação do Gatt, atual Organização Mundial do Comércio (OMC) e da
Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE); compreender que essas
organizações, tiveram um importante papel na estabilidade econômica e política do mundo
pós-Segunda Guerra Mundial; compreender a nova ordem mundial, marcada por uma situação
de indefinição das polaridades e pela emergência da globalização, situando, nesse contexto
histórico, o fim da divisão entre primeiro, segundo e terceiro mundos e o surgimento de novas
regionalizações, com o colapso do socialismo e a emergência dos novos países
industrializados; identificar as principais características naturais, políticas e econômicas da
Europa; analisar o processo de construção, consolidação e expansão da União Européia (UE)
e a realidade da Europa Oriental; destacar a formação da UE, desde seus passos iniciais até a
adoção da moeda única e a admissão de alguns países da Europa Oriental, anteriormente
socialistas e articulados politicamente com a ex-União Soviética; compreender o
esfacelamento político da antiga Europa Oriental, a formação de novos países e como esses se
sentem atraídos para fazer parte da União Européia; compreender que o outro pólo da disputa
pela influência política e econômica européia é a Rússia, centro da antiga URSS, conhecer a
dinâmica demográfica da Europa; observar e compreender as causas e as conseqüências da
diminuição da população em relação à população mundial; identificar a Europa como um dos
lugares onde a xenofobia é muito presente e, simultaneamente, estudar as questões étnico-
nacionalistas com as sócio-econômicas, pelo fato de que isso explica o desmembramento da
ex-União Soviética e da Iugoslávia, além de uma série de conflitos, separatistas ou não, em
diversas partes da Europa; identificar as principais características naturais, políticas, humanas
123
e econômicas do continente asiático, levando o aluno a concluir que esse continente é de
amplas dimensões e mostra realidades diversificadas; destacar que na Ásia o Japão é uma
poderosa economia dentro do panorama geográfico mundial, pois concentra cidades globais,
tecnopólos e grandes corporações transnacionais; compreender os fatores que fizeram desse
país uma potência da economia mundial, bem como sua articulação com o restante do mundo
e com os Tigres Asiáticos; analisar a China e a Índia em relação a suas políticas demográficas
e alguns aspectos que caracterizam o seu meio ambiente, como o clima de monções, além das
particularidades de sua dinâmica econômica, de seus problemas fronteiriços e dos conflitos
internos; identificar, no Oriente Médio, a grande riqueza natural, as jazidas petrolíferas, a
escassez de água, pois esses dois recursos naturais são as principais causas de conflitos nesta
região; compreender que os conflitos não são de origem religiosa mas, sobretudo de disputa
territorial e riquezas naturais; apreender a geografia africana destacando suas principais
características físicas, humanas e econômicas; compreender seus principais problemas sócio-
econômicos e o porquê da marginalização do continente no mundo globalizado, entendendo
que os séculos de exploração a que o continente foi submetido é que explicam a maioria das
tragédias africanas; perceber que o racismo é outro legado do colonialismo como foi o
Apartheid na África do Sul; perceber que a Oceania constitui um bom exemplo de que a
continuidade das terras emersas não é o único critério para a delimitação dos continentes, pois
esse continente possui uma multiplicidade de ilhas e de povos; conhecer noções básicas desse
continente para compreender as condições físicas da Austrália, o povoamento europeu nesse
país e na Nova Zelândia, com o resultante massacre das populações dos aborígenes, além dos
seus aspectos econômicos.
5. METODOLOGIA PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA
Analice Teresinha Talgatti Silva Sônia dos Santos Boiarenco Amorin
Durante muito tempo o ensino da Geografia, no Ensino Fundamental, caracterizou-se
por uma metodologia conservadora, marcada pela transmissão de um conjunto de fatos a
serem memorizados, não significativos para o aluno. Com grande ênfase em informações e
estatísticas, pouco se dava atenção aos procedimentos, às atitudes e aos comportamentos dos
alunos. De modo geral não eram considerados sujeitos que refletiam e analisavam o lugar
onde vivem, de forma a contextualizarem o que aprendiam. O professor que aplicava essa
124
metodologia conservadora esperava dos alunos somente o acúmulo de informações
sistematizadas e engessadas sobre tempo, clima, vegetação, hidrografia, relevo, solo e outros
conteúdos comuns à Geografia da época.
Contemporaneamente, acredita-se que o processo de aprendizagem é fruto de uma
construção pessoal, de caráter ativo, no qual intervêm o sujeito que aprende e os outros que
estão a sua volta. A capacidade de ler, compreender o mundo e nele atuar é uma construção
social que depende das relações que o ser humano estabelece com o meio. Mesmo a escola
mais tradicional abre espaço para que os problemas reais do mundo sejam discutidos e
aprofundados. Esse processo revela um outro aspecto importante: o de englobar abordagens
de várias outras áreas do conhecimento.
Um bom trabalho de estudo na área de Geografia provoca a necessidade de se
pesquisar e discutir questões históricas e científicas, produzir textos de síntese, levantar dados
numéricos e usar a matemática emvários de tipos de análises.
Desde a década de 80 do séc. XX, têm ocorrido, no Brasil, discussões em torno do
aspecto teórico-metodológico que envolve o ensino da Geografia. Essas discussões têm como
intenção levar o professor a se conscientizar da necessidade de suprimir a metodologia de
ensino pautada na transmissão mecânica dos conteúdos, pois não contribui para que o aluno
apreenda, na totalidade, acerca do seu espaço real, uma vez que fornece informações soltas
sobre o mundo, sem relação social alguma. Trata-se de um ensino pautado nos pressupostos
teóricos da Geografia Tradicional, com bases filosóficas no Positivismo.
O ensino da Geografia deve constituir-se de um conjunto de atividades
sistematizadas, planejadas, em torno das quais os conteúdos e as metodologias se articulem, e
o professor prepare suas ações para que o aluno participe e construa uma aprendizagem
significativa por meio desses conteúdos. Desse modo, é por meio deles que o aluno poderá
compreender o mundo com suas desigualdades na distribuição da renda e da riqueza, que se
manifestam no espaço pelas contradições do modo de produção capitalista, tanto no campo
quanto na cidade.
Segundo Duarte (1993), no processo de formação da pessoa, a prática pedagógica
exerce papel relevante pelo fato de ser a modalidade da prática social que leva o indivíduo a
se relacionar com o conhecimento histórico acumulado pela humanidade. É assim que a
pessoa se apropria do patrimônio cultural da humanidade e toma consciência de que sua
existência é determinada historicamente.
A prática pedagógica tem o papel fundamental na formação do indivíduo qual seja, o de ser mediadora entre vivência em si, espontânea, da genericidade e a
125
condução consciente com o processo histórico de objetivação universal e livre do gênero humano (DUARTE,1993, p.119).
A escola, para muitos, é o único contato sistematizado do conhecimento com o
mundo e, para que isso se torne significativo, é preciso que desde o início das atividades
escolares os professores prevejam práticas pedagógicas que visem ao exercício da cidadania.
É, pois, de grande importância, que o professor tome, como ponto de partida do
trabalho pedagógico, o trabalho humano, as relações sociais de trabalho, a formação de
grupos culturais vivenciada pelo aluno e amplie esses conhecimentos para outros grupos
sociais (negros, índios e outros).
O trabalho deve ser tratado sob o ponto de vista das contradições do modo de
produção no interior da sociedade capitalista, porém, o aluno deve perceber que a sociedade,
por conta da divisão do trabalho e das classes sociais, necessita de diversos tipos de
trabalhadores e todos, apesar das diferenças de remuneração e de qualificação, são
socialmente importantes e merecem respeito e valorização.
A apreensão do conceito de espaço geográfico pressupõe o trabalho de alfabetização
cartográfica como representação, localização e orientação espacial. O estudo desse conceito
de orientação espacial deve ter como referência a leitura de obras clássicas que discutem o
assunto, instrumentos de estudo do espaço e os conhecimentos que os alunos já tenham
construído em suas experiências pessoais. Vale ressaltar, aqui, quanto é importante, para as
pessoas, terem pontos de referência como auxílio para que se localizem, como por exemplo:
uma árvore, uma praça, um estabelecimento comercial e outros. Nesse sentido, é importante
que os alunos observem e descrevam o caminho que percorrem diariamente. Certamente terão
referências que marcam os trajetos que fazem para chegar a diferentes localidades.
As direções cardeais são convenções criadas pelo ser humano, trazidas pela
necessidade de orientação nos diferentes espaços. Assumindo diferentes posições e
acompanhando a variação de posicionamento dos objetos, o aluno perceberá que direita,
esquerda, frente e trás dependem da posição de quem observa, e isso é fundamental para ele.
O professor deve instigar o aluno a observar e perceber como os seres humanos, por
meio do trabalho, interferem na paisagem dos lugares. Poderão verificar as diferentes
transformações que as interferências humanas provocam na paisagem do lugar onde vivem,
destacando vantagens e desvantagens para a vida das pessoas, hoje e futuramente. Nesse
sentido, Brasil (2001) afirma que observar, localizar, relacionar, compreender, descrever,
expressar e representar são instrumentos cognitivos importantes para aprendizagem da
Geografia.
126
A Geografia, para Côrrea (1995, p. 16) possui um corpo conceitual que são requisitos
para análise dos fenômenos geográficos. Nesse sentido afirma que:
Como ciência social a Geografia tem como objeto de estudo a sociedade que, no entanto, é objetivada via cinco conceitos-chave que guardam entre si forte parentesco, pois todos se referem à ação humana modelando a superfície terrestre: paisagem, região, espaço, lugar e território.
Partindo desses conceitos-chave, Santos (1996, p.83) afirma que “a paisagem é o
conjunto de formas que, num dado momento, exprimem as heranças que representam as
sucessivas relações localizadas entre o homem e natureza”. Portanto, a paisagem é apenas o
que a nossa visão abarca da realidade. Embora as paisagens estejam cheias das relações
sociais, econômicas e políticas travadas entre os seres humanos, essas relações não são
facilmente percebidas por todas as pessoas, sendo necessário desvendá-las para que o espaço
geográfico possa ser apreendido em sua essência. Santos (2002, p.266) nos diz ainda que:
o risco é grande de tomar a aparência pela essência, de privilegiar a paisagem em detrimento da estrutura global que a anima, que quer dizer... o de confundir com a própria realidade as suas aparições pecaminosas. Para desmistificar o espaço, é preciso levar em conta dois dados essenciais: de um lado a paisagem, funcionalização da estrutura tecnoprodutiva e lugar de reificação; do outro lado, a sociedade local, a formação social que anima o espaço. Assim, desmistificaremos o espaço e o homem. Desmistificar o homem e o espaço é arrancar da natureza os símbolos que escondem sua verdade, que dizer tornar significativa a Natureza e tornar naturais os símbolos, é revalorizar o trabalho e revalorizar o próprio homem para que ele não seja mais tratado como valor de troca.
O conceito de lugar não deve ser compreendido só como localização espacial, mas
como espaço vivido, nosso dia-a-dia, perceber que o lugar é a fração do espaço onde se
estabelecem as relações entre as pessoas e dessas com a natureza. Segundo Carlos (1996,
p.20)
O lugar é a base da reprodução da vida e pode ser analisada pela tríade habitante-identidade-lugar. A cidade por exemplo, produz-se e revela-se no plano da vida e do indivíduo. Este plano é aquele do local. As relações que os indivíduos mantêm com os espaços habitados se exprimem todos os dias nos modos do uso, nas condições mais banais, no secundário, no acidental. É o espaço possível de ser sentido, pensado, apropriado e vivido através do corpo.... São os lugares que o homem habita dentro da cidade que dizem respeito a seu cotidiano e a seu modo de vida, onde se locomove, trabalha, passeia, flana, isto é, pelas formas através das quais o homem se apropria e que vão ganhando o significado dado pelo uso.
O conceito de território para Santos (2006, p. 19) deve ser compreendido além do seu
sentido restrito, que é um nome político para o espaço de um país e afirma que:
127
... a existência de um país supõe um território. Mas a existência de uma nação nem sempre é acompanhada da posse de um território e nem sempre supõe a existência de um Estado. Pode-se falar, portanto, de territorialidade sem Estado, mas é praticamente impossível nos referirmos a um Estado sem território.
Santos nos diz ainda:
Seja qual for o país e o estágio do seu desenvolvimento, há sempre nele uma configuração territorial formada pela constelação de recursos naturais, lagos, rios, planícies, montanhas e florestas e também de recursos criados: estradas de rodagem e de ferro, condutos de toda ordem, barragens, açudes, cidades, o que for. É esse conjunto de todos as coisas arranjadas em sistema que forma a configuração territorial cuja realidade e extensão se confundem com o próprio território de um país (1996, p. 75).
“A formação de um território dá às pessoas que nele habitam a consciência de sua
participação, provocando o sentido da territorialidade que, de forma subjetiva, cria uma
consciência de confraternização entre elas” (ANDRADE, 1995, p.20).
Hoje o conceito de região é intensamente discutido pelos geógrafos, devido às
transformações ocorridas no espaço resultantes do capitalismo. De acordo com Gomes:
É possível, então, compreender a região, na atualidade, como uma área formada por articulações particulares no quadro de uma sociedade globalizada. Essa região é definida a partir de recortes múltiplos, complexos e mutáveis, mas destacando-se, nesses recortes, elementos fundamentais, como a relação de pertencimento e identidade entre os homens e seu território, o jogo político no estabelecimento de regiões autônomas ante um poder central, a questão do controle e da gestão de um território (GOMES, 1995, p. 74).
Cabe, então, ao professor tratar esse conceito a partir de aspectos sociais, políticos e
econômicos, tal como se pode conferir no que sugere Carlos (2006, p.87):
O processo de produção modifica o relevo e interfere nas condições climáticas, muda ou inverte o curso dos rios, transforma as espécies vegetais, interfere no modo de vida do reino animal; tem no movimento o motor propulsor de seu relacionamento com a natureza, movimento dado pelas transformações ocorridas a partir do desenvolvimento das forças produtivas materiais da sociedade no processo de trabalho e da ampliação do conjunto de necessidades.
Assim, ao estudar um elemento da natureza buscar-se identificar as formas de sua
apropriação pela sociedade e suas transformações. Nessa perspectiva deve-se abordar os
conteúdos sobre a hidrografia, o clima, o relevo e a vegetação.
É importante que o professor inicie o estudo da Geografia partindo de uma realidade
local e amplie as relações para o âmbito regional, nacional, global até abranger o universal,
pois, a visão do conhecimento não depende apenas do entorno da comunidade escolar. Hoje, o
mundo é globalizado e todas as suas dimensões - o bairro ou o país, o local ou global, estão
128
numa íntima relação de proximidade. Callai (2003, p.131) salienta que o local se interliga
conforme os seus interesses locais ou universais, concretizando relações fundamentais.
No Ensino Fundamental, a Geografia pode ser, inicialmente relacionada com o local,
pelo simples fato de que todos os seres vivos ocupam um lugar no espaço. Dessa forma,
garante um conhecimento das diferentes paisagens e lugares do nosso planeta. Cabe, à escola,
ensinar os alunos observarem essas paisagens e esses acontecimentos, procurando perceber
como os elementos naturais lhe deram uma feição própria e como o ser humano, ao longo do
tempo, modificou e alterou esses espaços na medida de suas necessidades ou interesses por
meio do trabalho.
A Geografia contribui, certamente, para oferecer ao aluno maiores possibilidades de
ler e escrever o mundo. A construção cognitiva da noção de espaço, pelos alunos, vai da
ação/espaço vivido, passando pela construção do espaço representativo, chegando às relações
da descrição, representação gráfica e minuciosa do lugar, isto é, as relações de ordem,
vizinhança, separação, sucessão, envolvimento e continuidade; lateralidade de direita e
esquerda, frente e atrás, em cima e embaixo e ao lado e a noção de distância.
O ensino da Geografia requer diversas linguagens por meio das quais os alunos
entram em contato com o saber sistematizado. Uma dessas linguagens é a cartografia, que,
segundo Alves (2004) é:
Uma habilidade extraordinária que usamos o tempo todo, mas de que não temos consciência, é a capacidade de construir, na cabeça, as realidades virtuais chamadas mapas. Para nos entendermos na nossa casa temos de ter mapas dos seus cômodos e mapas dos lugares onde as coisas estão guardadas fazemos mapas da casa. Fazemos mapas da cidade, do mundo, do universo, sem mapas, seriamos, seres perdidos sem direção (Folha de São Paulo, 29 de junho de 2004).
O mapa é uma representação reduzida de um determinado espaço real, no qual a
informação é transmitida por meio de uma linguagem cartográfica. Para Almeida (2002, p.
15):
Ler mapas, portanto, significa dominar esse sistema semiótico, essa linguagem cartográfica. E preparar o aluno para essa leitura deve passar por preocupações metodológicas tão sérias quanto ensinar a ler e escrever, contar e fazer cálculos matemáticos.
Os PCN (2001) afirmam que é fundamental que o processo de construção da
linguagem gráfica se realize mediante o trabalho com a produção e a leitura de mapas
simples, em situações significativas de aprendizagem, nas quais os alunos tenham questões a
resolver, seja para comunicar, seja para obter e interpretar informações. É essencial, assim,
129
que o professor trabalhe com diferentes tipos de mapas, atlas, globo terrestre, plantas e
maquetes de boa qualidade e atualizados, em situações em que os alunos possam interagir
com eles e fazer uso cada vez mais preciso e adequado desse material.
Para que o aluno seja capaz de ler mapas é necessário que ocorra a alfabetização
cartográfica, que se refere ao processo de domínio e aprendizagem de uma linguagem
constituída de símbolos. Passini (1994, p.9) afirma que:
A educação para leitura de mapas deve ser entendida como o processo de aquisição, pelos alunos, de um conjunto de conhecimentos e habilidades para que consigam efetuar a leitura do espaço, representá-lo, e desta forma construir os conceitos das relações espaciais. Neste processo a função simbólica desempenha um importante papel para o preparo de leitores eficazes de mapas.
Na Geografia Tradicional os mapas, durante muitos anos, foram considerados
instrumentos de localização e descrição de fenômenos. Após um trabalho de reflexão a Geografia
crítica retoma a linguagem cartográfica como possibilidade metodológica para melhor
compreensão sobre a formação do espaço geográfico. Assim, o professor, ao trabalhar com
mapas, deve ultrapassar o nível de simples localização e passar para a análise, síntese e a
correlação de como esse espaço representado foi produzido, numa relação singular e universal.
Entender como o espaço se organiza pressupõe “sensibilidade geográfica”, requisito
necessário à análise das marcas nele inscritas, visíveis ou não. Por isso, deve o professor
trabalhar a ligação entre aquilo que o aluno vê com aquilo que ele sente:
Tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança é a paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca. Não é formada apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons etc [...]. A percepção é sempre um processo seletivo de apreensão” (SANTOS, 1996, p. 61-62).
Muitos elementos dessa organização espacial serão entendidos pelo aluno na medida
em que o trabalho do professor for aprofundado, o que exigirá, desse profissional pesquisas, a
fim de estar preparado para questionar a realidade a partir do espaço construído, pois as
informações que chegam de formas tão diversas exigem uma atualização contínua, capaz de
orientar na observação, na descrição, na análise e interpretação de dados e fatos, e na sua
representação, numa perspectiva de (re)significação de novos saberes e produção de
conhecimento escolar.
É importante que o aluno perceba que as informações sobre o mundo podem ser
registradas por meio de diferentes linguagens e que um mesmo assunto pode ser tratado sob
diferentes pontos de vista, dependendo do autor e da época em que as idéias são produzidas.
130
Por isso é importante o professor utilizar diferentes linguagens, como música, poesia,
fotografias, quadrinhos, pinturas, jornais e outros, no processo ensino-aprendizagem.
Entender que, para o aluno, o passeio pela cidade proporciona o acesso à pesquisa, é
a iniciação do aluno como pesquisador, descobrindo suas potencialidades, as quais servirão
para construção do seu conhecimento geográfico e como base para o seu desenvolvimento
pessoal e intelectual.
O estudo do meio é indispensável aos estudos geográficos, pois, ao fazê-lo, o aluno
pode observar in loco a realidade a ser estudada, permitindo-lhe a ampliação do conhecimento
sobre a realidade física, social e cultural do lugar de vivência e, até, de outros lugares,
espacial e temporalmente distantes, como uma cidade histórica, um museu, uma reserva
ecológica, entre outras.
O professor deve ser mediador das diversas inter-relações entre os conteúdos
específicos à Geografia, os saberes do aluno e os conhecimentos construídos pela
humanidade. Todas as questões, desde o espaço local até o espaço global, podem ser
analisadas na perspectiva geográfica, isto porque o espaço deve ser compreendido como
dimensão social.
O professor, ao explorar o espaço vivenciado, deve ter cuidado para não trabalhá-lo
como fim em si mesmo, mas para levar o aluno a visualizar todos os elementos da sociedade
que participam da produção do espaço em análise, ou seja, tanto aqueles que se originam das
relações diretas do ser humano com a natureza por meio do trabalho, como aqueles que
estabelecem relações ao longo da história, elementos determinantes na produção do espaço.
6. ITINERÁRIOS CIENTÍFICOS E CULTURAIS PARA O ENSINO DE
GEOGRAFIA
Analice Teresinha Talgatti Silva Sônia dos Santos Boiarenco Amorim
A Geografia está presente em todos os espaços próximos àquele em que se vive, é
parte da história de cada ser humano com suas particularidades. A visão do mundo se dá sobre
os significados desenvolvidos pela inteligência pessoal. Neves (2006) considera um erro o
professor não conhecer o aluno como ser humano que possui uma vivência de mundo, ainda
que pequena e particular. Portanto, a Geografia é um meio que contribui para essa relação
131
(aluno/mundo) e formação do aluno quando trabalhada efetivamente numa relação singular e
universal e não como fim em si mesmo.
É preciso que o professor crie situações didáticas diferenciadas, com objetivos claros,
para desenvolver nos alunos uma formação intelectual e social. Independentemente da faixa
etária, a metodologia deve ser diversificada, lúdica, interessante, desprendida da rotina de sala
de aula ou do uso de lousa e giz.
Assim, uma prática interessante e desafiadora é o Itinerário científico e Cultural para
o qual o professor planeja um roteiro voltado para seus conteúdos, usando instrumentos que
vão além das quatro paredes da sala de aula, como: visitar obras e indústrias, ver filmes e
documentários na escola e no cinema, ir ao teatro, promover city-tour em lugares que
propiciem estratégias de trabalho, cuja intenção é criar um clima de participação que permita
ao aluno e ao professor confrontarem idéias sobre os assuntos estudados.
Quando trabalhamos com o cinema, ou seja, com a sétima arte10, podemos perceber
que as produções cinematográficas são ferramentas e um subsídio cultural valiosíssimo. Com
esse recurso, o aluno é estimulado a investigar a construção de outros espaços, pois aprende
num espaço diferenciado e, quando retorna à sala de aula, tem condições de comparar suas
realidades e textos trabalhados com os espaços apreciados no filme e/ou documentários.
Pode-se, também, nesse momento, discutir valores como, amizade, misticismo, tramóias,
solidariedade e outros que contribuem para a formação humana. Se sair não for possível ou
viável poderá, a escola, proporcionar momentos que podem iniciar ou encerrar um assunto.
Um bom filme, indicado como recurso a conteúdos de Geografia é “O Dia Depois de
Amanhã”. Trata-se de mais uma ficção sobre o fim do mundo, diferente de como
conhecemos. Este filme aborda a questão climática que, após anos de desequilíbrio ecológico,
afeta o planeta de forma implacável.O ator Dennis Quaid é o professor Jack Hall, um cientista
que alerta sobre os perigos que a humanidade pode enfrentar caso o clima continue a ser
afetado. Os fenômenos naturais mais destrutivos são recriados em incríveis efeitos visuais:
tempestades, ondas gigantes, maremotos e posterior congelamento instantâneo, conseqüências
do descongelamento dos pólos terrestres. Depois disto o filme passa a focar a luta pela
sobrevivência de uns poucos seres humanos em New York, no que se supõe ser o início de
uma nova era glacial, com a metrópole tomada pelo gelo.
10 Como forma de registrar acontecimentos ou de narrar histórias, o Cinema é uma arte que geralmente se denomina a sétima arte, desde a publicação do Manifesto das Sete Artes pelo teórico italiano Ricciotto Canudo em 1911. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Cinema)
132
Esse recurso deve ser planejado previamente: assistir ao filme, anotar os aspectos
importantes, quais as relações com os objetivos a serem alcançados, enfim, explorar todas as
possibilidades que o recurso oferece para o desenvolvimento do trabalho pedagógico.
Pode-se, também, utilizar jornais e revistas que abrem a possibilidade de contato com
a realidade, uma vez que são mediadores reais entre a escola e o mundo, constituindo
excelente material para desenvolvimento de atividades de leitura e escrita. Com a utilização
de textos jornalísticos, revistas ou gibis podem-se discutir assuntos e temas do cotidiano, além
de estimular opiniões em relação a fatos reais com um modelo de língua padrão bastante
próximo do usado no dia-a-dia.
O professor poderá, também, apresentar aos seus alunos, textos clássicos, como
peças de teatro de autores do renascimento, um exemplo é a peça Galileu Galilei de Brecht. A
poesia e a música são outros recursos que podem ser utilizados como um Itinerário Científico
e Cultural, devendo ser explorados de maneira agradável com o jogo das palavras. Quando se
utiliza a música ou a poesia, dependendo da escolha, pode-se observar a natureza, situações de
guerra ou crise e outras características que podem ser discutidas, pois geralmente trazem
referências sociais e espaciais do seu tempo. Assim, podem-se estudar diversas formas de
viver e pensar da sociedade ou grupo, de outros povos e lugares por meio de seus artistas,
promovendo a construção do conhecimento de outras culturas, com outros diálogos
educativos. Um exemplo de música e poesia a serem trabalhadas é a “Música: Planeta água”
de Guilherme Arantes, sugestão que aparece em muitos livros para reflexão sobre a
importância da água na vida dos seres vivos.
Vários trabalhos podem ser desenvolvidos tendo, como ponto de partida, a discussão
e análise de uma música; entretanto, é importante que esse trabalho avance para além da
mensagem transmitida pela letra dessa música, para que, em se tratando da disciplina
Geografia, alcancem-se os objetivos propostos para a atividade.
A seguir, apresentam-se algumas atividades que podem ser desenvolvidas, tendo-se
em mente as recomendações dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e das grandes
conferências da ONU/UNESCO (Organização das Nações Unidas/Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) para a Educação Ambiental:
� Analisar a forma como a água é tratada na escola e levantar possíveis soluções com os
alunos;
� organizar trabalhos de campo: visita a estação de captação e tratamento da água na
cidade;
� mapear os córregos próximos à escola;
133
� fazer registros fotográficos dos córregos próximos à escola, levantar problemas
ambientais e pensar em possíveis soluções;
� promover concursos de frases, poesias, fotos a respeito da água na escola, no bairro,
na cidade.
Levar o aluno para além da sala de aula estimula-o a perceber melhor o espaço em
que está inserido. O professor pode e deve criar Itinerários Científicos e Culturais dentro da
sua escola ou fora dela. Pode ser realizada a partir de planos pedagógicos que contemplem a
visitação de pontos turísticos da cidade de Campo Grande: Aeroporto Internacional,
monumentos (Monumento da Aviação, Cabeça de boi), Igrejas (Perpétuo Socorro, Igreja São
Benedito, Santo Antônio), praças (Araras, Indígenas, Ari Coelho, Rádio Clube), museus (da
FEB, MIS, MARCO, do Índio, José Antônio Pereira), Feira Central, Prefeitura Municipal,
Fórum, parques (Sóter, Nações Indígenas, Prosa, Airton Senna, Anhanduí, Laucídio Coelho),
teatros (Glauce Rocha, Aracy Balabanian, Manoel de Barros) e outros.
Nas séries iniciais do Ensino Fundamental é importante ressaltar o valor do brincar.
O professor deve, portanto, estar consciente da importância do papel pedagógico, educativo e
social que as atividades informais recreativas exercem.
A escola deve ser um ambiente estimulante, onde alunos possam explorar, imitar,
olhar, executar, expressar-se por meio da fala e em contato com pessoas de várias idades.
Cabe aos professores proporcionarem atividades diversificadas, criarem ambientes educativos
e desafiadores fora da sala de aula. “Brincar com criança não é perder tempo, é ganhá-lo, se é
triste ver meninos sem escolas, mais triste ainda é vê-los, sentados enfileirados em salas sem
ar, com exercícios, sem valor para a formação do homem”. (Carlos Drumonnd de Andrade)
7. AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM PARA O ENSINO DE
GEOGRAFIA
Analice Teresinha Talgatti Silva Sônia dos Santos Boiarenco Amorim
A avaliação é um elemento fundamental e inseparável da prática educativa, que permite
obter, em cada momento, informações pertinentes que facilitam a tomada de decisões no processo
de ensino e de aprendizagem. Por isso, não deve ficar restrita a um único momento e, sim,
estender-se ao longo de todo o processo educativo, de forma sistemática e global.
134
De um lado, a avaliação deve indicar os objetivos que vão sendo alcançados; de
outro, pode indicar os objetivos que tenham gerado dificuldades ou equívocos, em que nível,
como, quando e por quê.
A avaliação vista como acompanhamento da aprendizagem é contínua e é uma espécie de mapeamento que vai identificando as conquistas e os problemas dos alunos em seu desenvolvimento. Dessa forma, tem caráter investigativo e processual. Ao invés de estar a serviço, a avaliação passa a contribuir com a função básica da escola, que é promover o acesso ao conhecimento; e, para o professor, transforma-se num recurso preciso de diagnóstico (CENPEC, n.d.).
É fundamental que o professor conheça os interesses dos alunos, analise suas ações,
o universo social de onde vieram e o que já sabem em termos de conhecimento do mundo.
Essa realidade com a qual o professor lida diariamente fornece-lhe subsídios para saber de
onde partir e o que deve ser ampliado de forma a que seu trabalho não fique nem distante
dessa realidade nem restrito às limitações que ela impõe. No planejamento de trabalho,
devem-se levar em conta as hipóteses dos alunos em relação ao conhecimento geográfico, o
que são capazes de experienciar e os códigos com os quais estão familiarizados.
Os registros produzidos pelos alunos durante e depois das atividades têm função
essencial na avaliação: auxiliar esse aluno na organização de seus conhecimentos, validar o
que aprendeu, analisar o que descobriu e, especialmente, permitir que enquanto organiza seus
registros depois de uma atividade, reflita sobre suas ações, conquistas e sobre sua própria
aprendizagem.
O desenho livre e a representação cartográfica são formas importantes de registro,
por serem motivadoras e permitirem ensaios de uma representação do espaço. Ao desenhar, o
aluno coloca suas impressões na atividade sobre o que foi significativo para ele e toma
consciência de suas percepções. Não é aconselhável atribuir, ao desenho, uma leitura taxativa,
pautada unicamente na percepção do adulto, ou seja, não importa a qualidade estética do
desenho, mas o que ele representa para o aluno. O desenho pode fornecer pistas, não para
atribuição de nota, mas sim para um diagnóstico.
Avaliar durante o processo de ensino e não apenas no final do bimestre, oportuniza ao
professor, valer-se de suas observações e registros, além da análise das produções dos alunos para
colher dados regulares e saber se eles estão ou não se aproximando dos objetivos propostos.
Essa atitude do professor faz com que a avaliação esteja a serviço do processo de
aprendizagem e não meramente a atribuição de notas. Por isso é preciso ter clareza de uma
prática pedagógica que possibilite levar à frente uma ação planejada de avaliação da
aprendizagem, pois os resultados devem ser compatíveis com essa prática.
135
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139
1. FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO
Olga Maria dos Reis Ferro
As reflexões desenvolvidas nesse texto, acerca do Ensino Religioso, procuram
compreender o seu conceito captando as relações que se estabelecem entre o singular (o
ensino religioso na escola) e o universal (O Ser social do homem). Há uma vasta produção
literária que discute as religiões, desde a sua origem até os dias atuais, tanto no que diz
respeito a cada religião específica, quanto ao conjunto de diferentes religiões que atuam na
sociedade; contudo, no que diz respeito ao Ensino Religioso na escola, as fontes
bibliográficas ainda são incipientes. Pode-se dizer, portanto, que o Ensino Religioso, como
disciplina que compõe o currículo do Ensino Fundamental, ainda está sendo construído,
integrado a outras ciências humanas; particularmente, com a Filosofia, História, Sociologia,
Psicologia e outras ciências afins.
Assim, na escola, o ponto de partida da disciplina Ensino Religioso é sempre a
formação integral do aluno, suas necessidades e as formas de resolução dessas necessidades.
Nesse sentido, o professor dessa área do conhecimento precisa recorrer as questões clássicas
da Filosofia para saber quem é o homem que ele está formado. Dentre as indagações que o
professor faz, a mais latente diz respeito à própria identidade humana. Quem sou eu? Como
encontrar resposta a essa questão não de forma mítica, mas de forma racional? Pedro
Bandeira, no poema Identidade apresenta um personagem (um menino), a procura de sua
identidade. O curioso é que o menino procura a essência de sua identidade, nas coisas que lhe
parecem familiares e para isso, estabelece uma interlocução com personagens da literatura e
da vida real que provavelmente conhece; ora como heróis da literatura mitológica (Grécia
antiga), ora como bichos da natureza, ora como homens do nosso tempo, ora como modo
pelos quais seus pais ou amigos o chamam “o queridinho”, ora como a professora ou
professor da escola o trata “moleque mal criado”, por fim, o menino, depois de tentar ser
tantos outros diferentes dele, encontrou sua identidade naquilo que realmente estaria sendo, na
sua singularidade, “sou um menino”. Porém, a história nos diz que toda singularidade (nesse
caso, a identidade do menino) se constitui na sua relação com o universal (pela relação com
outros personagens da história, com a própria família e com a escola), e, nesse processo de
relação dialética, singular e universal se modificam. Eis o poema:
140
IDENTIDADE
Cavalgando no arco-íris Pedro Bandeira
Às vezes nem eu mesmo
sei quem sou Às vezes sou
“o meu queridinho” às vezes sou
“moleque mal criado”. Para mim
tem vezes que eu sou rei, herói voador,
jogador campeão. Às vezes sou pulga, sou mosca também, que voa e se esconde
de medo e de vergonha. Às vezes eu sou Hércules,
Sanção vencedor, Peito de aço,
goleador! Mas o que importa
que pensam de mim? Eu sou que sou
eu sou eu, sou assim
sou menino
Gramsci em seu livro Concepção dialética da história nos oferece uma rica
contribuição para o desenvolvimento dessa questão, na filosofia.
Que é o homem? É esta a primeira e principal pergunta da filosofia. Como compreendê-la? A definição pode ser encontrada no próprio homem, isto é, em cada homem singular, pode-se encontrar o que é cada “homem singular”. Mas não nos interessa o que é cada homem singular, problema que significa, ademais, o que é cada homem singular em cada momento singular. Se observarmos bem, veremos que – ao colocarmos a pergunta “o que é o homem” – queremos dizer: o que é que o homem pode se tornar, isto é, se o homem pode controlar o seu próprio destino, se ele pode “se fazer”, se ele pode criar sua própria vida. Digamos, portanto, que o homem é um processo, precisamente o processo de seus atos. Observando ainda melhor, a própria pergunta “o que é o homem” não é uma pergunta abstrata ou “objetiva”. Ela nasce do fato de termos refletido sobre nós mesmos e sobre os outros; e de querermos saber, de acordo com o que vivemos e refletimos, aquilo que somos, aquilo que podemos ser, se realmente – e dentro de que limites - somos “criadores de nos mesmos”, da nossa vida, do nosso destino. E nós queremos saber isso “hoje”, nas condições
141
de hoje da vida de “hoje”, e não de uma vida qualquer e de um homem qualquer” (GRAMSCI, 1995, p. 38).
Quando indagamos quem somos, na verdade, estamos à procura de uma resposta que
foge ao senso comum ou do pensamento idealista. Cada vez que entramos em diálogo com
pensadores como Gramsci, descobrimos, que o ser individual de cada um, na verdade é um ser
social que se constrói no interior da atividade humana. Assim, o homem se torna humano ou
desumano por meio de seus atos, mas esse processo de humanização ou desumanização não
ocorre somente pelo querer (vontade) do homem, pois sofre determinações do meio social e das
condições de vida que o homem tem. Nesse sentido, a História tem muito a nos dizer. No século
XV, Pico Della Mirandola já anunciava a idade moderna, nossa época. Época em que o homem,
despido da ciência da fé, passa a ser o obreiro de si próprio. E, impregnado pelo humanismo
renascentista, “exalta a dignidade e a liberdade do homem, reconhece seu lugar central na
natureza e o seu destino de animador desta”, (ABBAGNANO, 1999, p.519) e, por fim,
interpreta a mensagem de Deus-Pai, numa quase louvação ao homem carnal e terreno:
A ti, ó Adão, não te temos dado nem uma sede determinada, nem um aspecto peculiar, nem um múnus singular precisamente para que o lugar, a imagem e as tarefas que reclamas para ti, tudo isso tenhas e realizes, mas pelo mérito de tua vontade e livre consentimento. As outras criaturas já foram fixadas em sua constituição pelas leis por nós estatuídas. Tu, porém, não estás coarctado por amarra nenhuma. Antes, pela decisão do arbítrio, em cujas mãos te depositei, hás de predeterminar a tua compleição pessoal. Eu te coloquei no centro do mundo, a fim de poderes inspecionar, daí, de todos os lados, da maneira mais cômoda, tudo que existe. Não te fizemos nem celeste nem terreno, mortal ou imortal, de modo que assim, tu, por ti mesmo, qual modelador e escultor da própria imagem, segundo tua preferência e, por conseguinte, para tua glória, possas retratar a forma que gostaria de ostentar. Poderás descer ao nível dos seres baixos e embrutecidos; poderás, ao invés, por livre escolha da tua alma, subir aos patamares superiores, que são divinos (1999, p.53-54).
Aos arroubos do homem novo que Pico saudava, o mundo feudal já não mais poderia
empreender confrontos, dado que, à medida em que os homens engendravam novas formas de
pensamento, as velhas formas inventadas e artificiais da escolástica entravam em decadência.
Segundo Bertolt Brecht, na peça Vida de Galileu, “O tempo antigo passou, e agora é um
tempo novo. Logo a humanidade terá uma idéia clara de sua casa, do corpo celeste que ela
habita. O que está nos livros antigos não lhe basta mais” (1991, p.57.). Obviamente, que a
alusão de Brecht diz respeito aos livros do tempo da escolástica e não aos clássicos antigos,
como Platão e Aristóteles, que eram constantemente lidos pelos humanistas.
Ainda no século de Pico Della Mirandola, encontramos Ângelo Policiano e tomamos
conhecimento de um feito seu na Catedral de Florença, na abertura do ano escolar. Ali,
142
Ângelo Policiano profere um discurso a seus alunos, apoiado num texto escrito de próprio
punho, intitulado Lamia a Bruxa. “Lamia” era uma personagem da literatura mitológica
marcada pelo caráter traquino e devorador da intimidade alheia. Policiano, numa prelação, ao
mesmo tempo alegórica e intuitiva, usa “Lamia” para, juntamente com outros personagens
mitológicos, enredar “os conceitos de filósofo, de gramático e de outros ofícios intelectuais
que existiam no final do Quatrocentos, ao uso da estrutura curricular nas escolas e à forma de
viver e de pensar dos homens contemporâneos do autor” (HOFF, 1996, p.6). No texto de
Policiano, encontramos uma sentença extraída do livro Sabedoria do filósofo pitágorico
Arquitas. Ei-la:
O homem é de longe o mais inteligente dos animais e tem a força que pode tudo investigar e tem a ciência e a prudência para sua escolha. Deus supremo imprimiu e selou nele uma razão universal a fim de que distinga as espécies de todas as coisas e dê sentido a nomes e palavras da mesma forma como aos sons das vozes o tom preciso (POLICIANO, 1996, p.11).
Policiano, ao recuperar os clássicos antigos11, ao exaltar a inteligência do homem e a
razão universal, reveste-se de uma atitude política cujo conteúdo questiona a ordem social já
desfalecida e anuncia um novo tempo, consubstanciado nos pensamentos e práticas diferentes
daquelas da escolástica. Longe está, de Policiano, a idéia de imprimir à razão do presente os
fundamentos dos clássicos antigos; ocorre-lhe, isto sim, beber nos fundamentos antigos a
seiva para formular a razão do presente na busca de uma lógica para a verdade universal.
Sob o ponto de vista teológico, o homem, na sua origem é uma criação de Deus, mas
o que o homem faz na vida terrena é responsabilidade do próprio homem. Mas, nesse caso, é
importante perguntar quais são as condições sociais, portanto históricas, produzidas, no bojo
das quais o homem faz a si mesmo? É por isso que educar o homem é importante. A educação
é um instrumento que pode ajudar o homem a criar ‘ferramentas’ (meios) para enfrentar, com
civilidade, as adversidades da vida social, que são muitas e surgem a toda e hora. O ensino
religioso compõe o currículo de formação do aluno e, tal, como as demais disciplinas, cumpre
uma função importante na escola, que é a de preparar o aluno para a vida social. É por isso
11 Alves. G.L, em seu livro O pensamento burguês no Seminário de Olinda (1800-1836), no capítulo 2, quando estuda Azeredo Coutinho e o Pensamento Burguês Luso-Brasileiro, afirma que, “ o retorno aos primórdios do Humanismo permite ver que as aspirações burguesas, nessa fase, são ainda mais limitadas. Não dispondo de um projeto social, por força das próprias limitações impostas pela base material, a burguesia se volta para o passado, visando buscar matrizes e, sobre elas, construir suas propostas. Essa volta ao passado, aliás, está no âmago do Renascimento, movimento cujo pressuposto é o de que na Antigüidade clássica a humanidade alcançara a sua máxima realização. O retorno ao epicurismo, por exemplo, é uma tendência humanista que se encarna em reivindicações como a busca do prazer e da felicidade terrena. Essa reação contra a visão ascética da Igreja Católica se expressa na valorização da vida ativa” ( 1993, p.78)
143
que na seleção de conteúdos desta disciplina o foco não está nesta ou naquela religião e sim
em temáticas de formação humana geral, como: ética, cultura, moral, estética, entre outras. É
isso que o professor desta disciplina não pode perder de vista.
1.2 O Ensino Religioso no currículo do ensino fundamental
Ana Aparecida da Silva
Embora ainda não exista um consenso claro em relação ao Ensino Religioso, enquanto
disciplina nas escolas públicas, conforme referenda Faustino Teixeira (apud SENA p. 63),
grandes já são as conquistas conseguidas pelo Estado laico, em função de um trabalho ético em defesa da liberdade religiosa. É preciso lembrar da necessidade de tornar cada vez mais decisivo o respeito pela pluralidade religiosa de nossas crianças e de suas famílias, o que torna cada vez maior nossa responsabilidade enquanto educadores éticos ao pensar em organizar conteúdos que lhes garanta o direito a uma educação que promova a sua formação humana, sem esquecer de reconhecê-las como sujeitos históricos culturais em desenvolvimento.
Para tanto, não é pequeno o nosso desafio ao organizar o referencial curricular, que
se pretende não só nortear, mas principalmente, servir de suporte ao trabalho pedagógico das
escolas da REME voltado para o Ensino Religioso. Atualmente os pesquisadores têm se
preocupado com a construção de um currículo escolar que prime pela forma de compreensão
do homem na sua totalidade. Entre esses pesquisadores podemos citar Cordeiro (apud SILVA,
2004, p. 9), que estabelece a seguinte integração dos conhecimentos:
(a) superação das dicotomias entre ciências naturais e ciências humanas, pois todo conhecimento científico é também conhecimento social e daí, também, a superação das dicotomias natureza-cultura, natural-artificial, vivo-inanimado, mente-matéria, objetivo-subjetivo; b) todo conhecimento localizado é também conhecimento total e daí a necessidade de se ver o ser humano integrado à natureza e aos cosmos; c) todo conhecimento é dinâmico e integrativo e, por conseqüência, surge a necessidade de superar algumas teorias parciais ou procurar integrá-las a novos conhecimentos adquiridos; d) todo conhecimento científico e técnico deve ser canalizado, em última instância, para a melhoria da qualidade de vida humana; e) todo conhecimento deve ser também orientado para os ideais da democratização das sociedades humanas comandadas pelo ideal da construção de uma globalização alternativa; f) reconhece-se a fraqueza do pensamento racional como última instância para resolver todos os problemas e se reconhece a importância da educação emocional para a formação do ser humano.
A partir desta nova concepção de Ensino Religioso no âmbito escolar, que nos leva a
pensar sobre a importância da integração dos conhecimentos, fica evidente o papel dessa
disciplina na educação escolar. Pois é na escola que ocorre a discussão de forma teórico-
144
prático e a socialização do conhecimento, como pedra fundamental para o desenvolvimento
pleno da criança, desde seus primeiros anos de vida escolar.
2. OBJETIVOS DO ENSINO RELIGIOSO
O ser humano, na busca de sobreviver e dar significação para sua existência ao longo
da história desenvolveu as mais variadas formas de relacionamento consigo próprio, com a
sociedade e com a natureza. Na tentativa de superar sua limitação, sua finitude diante da
complexidade tecnológica, industrial, urbana, do racionalismo e da secularização, o ensino
religioso, no Ensino Fundamental objetiva, por meio de estudos e pesquisa, formar no aluno a
capacidade de:
� conhecer e respeitar a si mesmo e ao próximo;
� trabalhar em prol da construção da própria dignidade e das pessoas com as quais
convive;
� desenvolver valores como: ética, honestidade, justiça, amor ao próximo, bondade e
solidariedade;
� respeitar os movimentos sociais em favor das diversidades culturais, étnicas, e
religiosas, tanto locais, quanto no Brasil e no mundo, compreender a função social
desses movimentos com ética e sem proselitismo;
� trabalhar com aqueles que se encontram em situação de exclusão social,
promovendo formas voluntárias e autônomas de participação elevando a um
compromisso com as questões sociais e a uma possibilidade de intervenção, na
perspectiva de mudança para melhoria das condições de vida de todos, priorizando
as relações éticas e estéticas.
3. ABORDAGEM SOCIAL DOS CONTEÚDOS POR MEIO DOS SEUS
FUNDAMENTOS
Embora ainda não exista um consenso claro em relação ao Ensino Religioso, enquanto
disciplina nas escolas públicas, conforme referenda Faustino Teixeira (apud Sena p. 63), grandes
145
já são as conquistas conseguidas pelo Estado laico, em função de um trabalho ético em defesa da
liberdade religiosa. É preciso lembrar da necessidade de tornar cada vez mais decisivo o respeito
pela pluralidade religiosa dos alunos e de suas famílias, o que torna cada vez maior a
responsabilidade do professor ao pensar em organizar conteúdos que garanta aos alunos o direito
a uma educação que promova a sua formação humana, enquanto sujeitos históricos.
Para tanto, não foi pequeno o desafio dos professores para organizar esse referencial
curricular, cuja finalidade não foi só a de nortear, mas principalmente, servir de suporte ao
trabalho pedagógico da escola voltado para o Ensino Religioso que traz em seu bojo uma
considerável complexidade. Também, não é menos desafiadora a tarefa do professor que tem
nas mãos a responsabilidade de desenvolver o processo ensino e aprendizagem desta
disciplina na escola. Assim, caberá ao professor o cuidado de selecionar os conteúdos a serem
trabalhados com seus alunos considerando que a escola, por sua natureza histórica, tem uma
dupla função: trabalhar com conhecimentos humanos sistematizados, historicamente
produzidos e acumulados, e criar novos conhecimentos.
Todo o conhecimento humano torna-se patrimônio da humanidade. A sua utilização,
porém, depende de condições sociais e econômicas bem como das finalidades para as quais
são utilizados. Nem todo o conhecimento é de interesse de todos. Um conhecimento político
ou religioso pode não interessar a um grupo, mas, uma vez produzido, é patrimônio humano e
como tal deve estar disponível. O conhecimento religioso é um conhecimento disponível e,
por isso, a Escola não pode recusar-se a socializá-lo.
Por questões éticas e religiosas, e pela própria natureza da Escola, não é função dela
propor aos alunos conteúdos que propiciem a adesão e vivência desta ou daquela religião,
enquanto princípios de condutas religiosas e confessional, já que a escolha de um ou outro
credo é sempre prerrogativa do aluno juntamente com sua família e escolha.
É, no entanto, fundamental que a escola ao abraçar a proposta de oportunizar aos
alunos o contato com o conhecimento religioso, tenha antes de tudo, o cuidado de não fazê-lo
só para cumprir sua função. Mas que acima de tudo, a escola possa desempenhar o papel de
promovedora de uma educação que pode contribuir para tornar menos penosa a vida de
muitas pessoas. A começar pelo trato cuidadoso para com seus alunos.
Pensar em conteúdo de Ensino Religioso é pensar que em cada aluno habita
sentimentos, emoções, habilidades e competências diversas, ainda em desenvolvimento, a
mercê dos exemplos que tem em casa, na escola, na sociedade, na igreja, na mídia e em outros
canais de informação.
146
Pensar, enfim, em conteúdo de Ensino Religioso é organizá-lo de forma que o aluno
consiga administrar seus sentimentos, emoções, desafios diante da realidade em que vive, sem
perder de vista o espírito de luta por dias melhores, coragem para dizer sempre sim à vida
com sentimento de paz, amor, felicidade, conciliando convivências e situações.
Assim, os eixos didáticos condutores dos estudos, pesquisas e discussões na
disciplina de ensino religioso são:
� ethos: alteridade;
� escrituras sagradas: história das narrativas sagradas (orais e escritas);
� culturas e tradições religiosas: sociologia e tradição religiosa;
� ritos: espiritualidade.
4. CONTEÚDOS PARA O 3º AO 9º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL
4.1 Conteúdos para o 3º ano do ensino fundamental
4.1.1 Eixo - Ethos Alteridade
� As orientações para o relacionamento com o outro permeado de valores: família;
convivência humana; dignidade; o bem comum;
� as orientações para o relacionamento com o outro, permeado de valores: a pessoa
humana - ser; conviver é partilhar; eu e o outro;
� a identificação dos símbolos mais importantes de cada tradição religiosa: oração das
diversas tradições religiosas; símbolo de cada tradição religiosa (dos educandos);
� a idéia do Transcendente: a oração: diálogo com Deus e festas religiosas.
4.1.2 Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 3° ano do ensino
fundamental
Após estudos os alunos devem ser capaz de descobrir -se como pessoa capaz de:
amar a si mesmo, aos outros e a Deus; conviver com o outro de forma harmoniosa na partilha
dos bens, no respeito às diferenças, no diálogo; indicar alguns símbolos relevantes, sua
tradição religiosa e seus respectivos significados; respeitar o outro como um se que também
possui uma crença própria ( transcendência).
147
4.2 Conteúdos para o 4º ano do ensino fundamental
4.2.1 Eixo - Escrituras sagradas
� Conhecimento dos acontecimentos realizados, que originam os mitos, os segredos
sagrados e a formação dos textos; histórias de cada religião – criação do mundo e do
homem, conforme a religião dos alunos;
� a descrição de práticas religiosas significantes, elaboradas pelos diferentes grupos
religiosos:informação e manuseio dos livros sagrados das diferentes religiões; o
sentido dos livros de acordo com a religião dos educandos;
� a descrição de práticas religiosas significantes, elaboradas pelos diferentes grupos
religiosos; conhecer as orações das religiões estudadas (Ex: cultos, missas,
reuniões); festas, celebrações e seus significados;
� a descrição das representações do Transcendente: a divindade de toda religião;
experiências religiosas dos alunos.
4.2.2 Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 4° ano do ensino
fundamental
Após estudos os alunos devem ser capazes de conviver com o outro de forma
harmoniosa na partilha dos bens, no respeito às diferenças, no diálogo; dialogar com o outro,
observando as diferenças na prática religiosa; reconhecer as representações do transcendente
de cada tradição religiosas constituem-se num valor supremo da cada cultura; identificar as
várias cerimônias com as práticas religiosas e respeitar à religião do outro, a idéia que o outro
tem do Transcendente.
4.3 Conteúdos para o 5º ano do ensino fundamental
4.3.1 Eixo - Escrituras sagradas: história das narrativas sagradas (orais e escritas)
� Conhecimento dos acontecimentos realizados, que originam os mitos e segredos
sagrados e a formação dos textos: fé, vida de acordo com os livros sagrados;
significado da vida e da morte de acordo com cada religião;
� a descrição de práticas religiosas significantes, elaboradas pelos diferentes grupos
religiosos: oração; o que é religião; noções básicas das diversas religiões;
� a descrição de práticas religiosas significantes, elaboradas pelos diferentes grupos
religiosos: o significado da religião na vida e ação das pessoas; movimentos
religiosos; influências da religião nos costumes, linguagem e cultura do povo;
148
� a descrição das representações do Transcendente de cada tradição religiosa: a
religião e seus representantes, autoridade; a comunicação com o Transcendente, a
presença de Deus na comunidade.
4.3.2 Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 5° ano do ensino
fundamental
Após estudos os alunos devem ser capazes de adquirir bons hábitos de leitura de
livros sagrados; diálogo com o outro, observando a diferença na prática religiosa; reconhecer
a importância da religião na vida e nos costumes dos povos; desenvolver a sensibilidade no
trato cotidiano em relação a pessoas ou grupos, evitando juízos, atitudes de preconceitos.
4.4 Conteúdos para o 6º ano do ensino fundamental
4.4.1 Eixo - Culturas e tradições religiosas: sociologia e tradição religiosa
� A idéia do Transcendente nas diversas culturas e tradições religiosas: a cidadania
nos textos sagrados; as questões da necessidade de relacionamento entre as pessoas,
a auto-estima; influência e ações positivas e negativas do grupo na vida das pessoas,
na sociedade e na mídia;
� a descrição de práticas religiosas significantes, elaboradas pelos diferentes grupos
religiosos: oração; o que é religião; noções básicas das diversas religiões;
� a idéia de Transcendente no oriente e no ocidente, numa visão tradicional e atual: o
significado básico da religião para cada comunidade religiosa dos alunos; o papel da
religião na vida e ações das pessoas e sua visão de mundo, na prática da oração;
� a idéia do transcendente nas diversas culturas e tradições religiosas: a evolução da
estrutura religiosa nas organizações humanas no decorrer dos tempos; influência da
religião nas orações, nos costumes, na linguagem, na cultura do povo no decorrer
dos tempos.
4.4.2 Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 6° ano ensino
fundamental
Após estudos os alunos devem ser capazes de reconhecer a autoridade do discurso
religioso, fundamentando-se na verdade do Transcendente; comparar textos sagrados de
tradições religiosas diferentes para conhecimento e análise, sem criar polêmica; dialogar com
o outro, observando a diferença na prática religiosa; perceber a necessidade da prática de
149
oração em sua individualidade; reconhecimento o valor da socialização entre os seres
humanos, independente da cultura religiosa; adquirir bons hábitos de leitura de livros
sagrados e dialogar com o outro, observando a diferença na prática religiosa.
4.5 Conteúdos para o 7º ano do ensino fundamental
4.5.1 Eixo - culturas e tradições religiosas: sociologia e tradição religiosa
� A idéia do Transcendente nas diversas culturas e tradições religiosas: a cidadania
nos textos sagrados (religião de cada educando); a questão da necessidade de
relacionamento entre as pessoas, a auto-estima; influência e ações positivas e
negativas do grupo na vida das pessoas, na sociedade e na mídia;
� a autoridade do discurso religioso fundamentado na experiência mística do emissor
que a transmite como verdade do Transcendente para o povo: A experiência mística
(espiritual) do emissor com seu Deus. Ex.: Bíblia – (Moisés); Alcorão (Maomé) –
comparação dessas experiências sem polêmica;
� a descrição do contexto sócio-político e religioso determinante na redação final dos
textos sagrados: a análise do contexto cultural da época; descrição e comparação de
texto sagrado das diferentes tradições religiosas;
� a descrição do contexto sócio-político e religioso determinante na redação final dos
textos sagrados: as características sócio-políticas, (povo-governo) dentro do contexto
cultural de cada religião; relacionar costumes de cada sociedade religiosa permitindo
comparação sem juízo de valor.
4.5.2 Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 7° ano do ensino
fundamental
Após estudos os alunos devem ser capazes de descobrir a si como pessoa capaz de se
amar, aos outros e a Deus, comparar textos sagrados de tradições religiosas diferentes para
conhecimento e análise, sem criar polêmica; diferenciar idéias do Transcendente no oriente e
no ocidente – visão tradicional e atual; reconhecer a autoridade do discurso religioso,
fundamentando-se na verdade do Transcendente; observar de maneira geral e globalizada as
diferentes escrituras sagradas para poder respeitá-las democraticamente; desenvolver a
cidadania através, através do conhecimento reflexivo e analítico de cada texto sagrado e
compreender a importância da prática de oração nas diferentes culturas religiosas.
150
4.6 Conteúdos para o 8º ano do ensino fundamental
4.6.1 Eixo - Ritos: Espiritualidade
� Estudos dos métodos utilizados pelas diferentes tradições religiosas no
relacionamento do Transcendente, consigo mesmo, com os outros e com o mundo:
as diversas formas de oração; a visão religiosa dentro de uma sociedade capitalista;
� conhecimento do conjunto de normas de cada tradição religiosa apresentada para os
fiéis e no contexto da respectiva cultura: as exigências éticas do procedimento
humano nas perspectivas da tradição religiosa; o conjunto de mitos, crenças e
doutrinas que orientam a vida (em cada religião específica dos alunos);
� as possíveis respostas norteadoras do sentido da vida: ressurreição, reencarnação,
ancestral e nada.
4.6.2 Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 8° ano do ensino
fundamental
Após estudos os alunos devem ser capazes de apresentar sua verdade de fé (sua crença)
em sua vida; reconhecer a importância da religião para a vida; compreender o valor do sentido da
vida humana; viver de acordo com a resposta que orienta vida; conhecer as possíveis respostas
dadas perante o fato morte; respeitar às diferentes tradições religiosas (oral e escrita) das diversas
culturas e descobrir o valor de sua própria vida e da vida do seu semelhante.
4.7 Conteúdos para o 9º ano do ensino fundamental
4.7.1 Eixo - Ethos: valores e limites.
� As orientações para o relacionamento com o outro, permeado de valores:
- família;
- convivência humana;
- dignidade;
- o bem comum:
- a pessoa humana – o ser;
- conviver é partilhar;
- eu e o outro
� As determinações das tradições religiosas na construção mental do inconsciente
pessoal e coletivo.
� Conhecimento do conjunto de normas de cada tradição religiosa apresentada para os
fiéis e no contexto da respectiva cultura:
151
� a fundamentação dos limites éticos propostos pelas várias tradições religiosas;
� conhecimento do conjunto de normas de cada tradição religiosa: a experiência
religiosa na busca de superação da finitude humana; a verdade que orienta as
pessoas através da doutrina das tradições religiosas;
� as respostas elaboradas para vida além da morte pelas Tradições Religiosas
(ancestralidade, ressurreição, reencarnação, nada).
4.7.2 Relevância social da aprendizagem dos conteúdos para o 9° ano do ensino
fundamental
Após estudos os alunos devem ser capazes de descobrir a si como pessoa capaz de amar
a si, aos outros e a Deus, conviver com o outro de forma harmoniosa na partilha dos bens, no
respeito às diferenças, no diálogo, respeitar às diferentes tradições religiosas (oral e escrita) das
diversas culturas; conhecer das normas apresentadas aos fiéis nas diversas tradições religiosas;
desenvolver o sentido da religião para os valores, reconhecendo que tudo o que Deus criou está
em função da vida; descobrir do valor de sua própria vida e da vida de seu semelhante,
identificando os contravalores e aprendendo os limites e valorizar da vida.
5. METODOLOGIA PARA O ENSINO RELIGIOSO
O Ensino Religioso deverá ocorrer sob uma metodologia que possibilite aos alunos a
compreensão da sociedade em que vivem, o seu papel nessa sociedade, bem como os
princípios e o papel das diferentes instituições religiosas na sociedade. Trata-se de uma
metodologia que procura estudar os movimentos sociais em favor das diversidades culturais,
étnicas, e religiosas e suas manifestações na própria atividade laborativa do homem mediada
pelas relações sociais, políticas e econômicas do modo de produção da sociedade capitalista,
particularmente, a Ocidental. A proposta é estudar o fenômeno religioso numa intrínseca
relação com as práticas humanas, nas diferentes fases históricas do conjunto da sociedade.
Para isso faz-se necessário a recorrer sempre aos fundamentos do Ensino Religioso, na sua
tradição cultural, enquanto ferramenta de compreensão histórica do fenômeno religioso e seus
impactos na vida do homem, nas diversas fases históricas da sociedade.
A proposta é a de que esse estudo possa contribuir para a elevação do nível de
compreensão da sociedade, dos processos de formação da cidadania e da religiosidade. Nessa
152
perspectiva, o professor poderá propor atividades, para serem desenvolvidas em sala de aula
ou em outro espaço educativo, que assegurem a participação de todos os alunos e desperte
neles a disposição, vontade e necessidade de pesquisar - as temáticas eleitas ,- seja lendo,
discutindo, escrevendo e realizando atividades práticas de intervenção social. Para isso é
utilização de nossos conhecimentos prévios acerca da realidade singular que nos cerca, numa
relação intrínseca com os conhecimentos universais que já foram produzidos, estão
disponíveis e que podemos acionar, para explicar nossa realidade, como, por exemplo,
compreender o mundo que nos cerca, isento de preconceitos ou superstições.
Para isso é importante desenvolver nos alunos a necessidade de leitura, prévia, de
diversos textos (principalmente os clássicos) da literatura em questão, que discutem o
conhecimento humano. Estes textos poderão ser encontrados nas bibliotecas, arquivos de
instituições religiosas, internet, entre outras fontes.
A riqueza e o sucesso da aprendizagem na disciplina de Ensino Religioso dependerá
muito da disponibilidade e vontade, de professores e alunos, em adotar novas atitudes e
procedimentos de aprendizagem. Isto implica no desafio de saber lidar com erros e incertezas
sobre as questões, hipóteses e respostas que os sujeitos formulam para o conteúdo que estão
estudando. E é, justamente, para obter maior sucesso no estudo, que é necessário promover a
interação com os colegas e com aquelas pessoas que pressupomos saber mais que nós.
Daí a importância de uma atitude séria e organizada de estudo. Nesse sentido,
professores e alunos precisam adquirir habilidades, tais como: fazer consultas em livros,
dicionários, gramáticas, mapas, fontes documentais, etc.; elaborar glossários das palavras e
expressões desconhecidas, procurar entender o que lê (nem que para isso tenha que ler mais
de uma vez o mesmo texto), tomar notas, fazer síntese (resumo) dos textos lidos, redigir
pequenos textos, interpretar gráficos e dados, realizar experiências, investigar realidades
desconhecidas e discutir os resultados obtidos com os seus pares, bem como, compreender as
relações que existem entre os problemas da sociedade contemporânea, que é extremamente
complexa, as necessidades humanas produzidas, as formas de resolver essas necessidades e a
contribuição do conhecimento religioso para a compreensão e resolução dessas questões.
Como se observou na relação de conteúdos, o Ensino Religioso do 3º ao 9º ano
privilegiou os seguintes eixos de discussão:
� ethos: alteridade;
� escrituras sagradas: história das narrativas sagradas (orais e escritas);
� culturas e tradições religiosas: sociologia e tradição religiosa;
� ritos: espiritualidade.
153
O estudo de cada eixo pressupõe o resgate da história da religiosidade humana e sua
função social. Assim, a metodologia a ser desenvolvida na disciplina de Ensino Religioso
dependerá da realidade do momento, da escola, da turma, dos recursos materiais disponíveis e
principalmente dos objetivos que se desejem alcançar ao abordar determinados temas junto aos
alunos.
No Ensino Religioso, a avaliação é processual, ou seja, uma fonte para análise
individual de cada educando e a continuidade do processo de aprendizagem, sem que isto seja
visto como critério para aprovação ou reprovação.
REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, N. História da filosofia. 4. ed. trad. de Antonio Ramos Rosa e Antonio Borges Coelho. Lisboa: Editorial Presença, 1999.
SENA, L. (org.). Ensino religioso e formação docente: ciências da religião e ensino religioso em diálogo. São Paulo: Paulinas, 2006. (fundamentação)
SILVA, V. (org.). Ensino Religioso: educação centrada na vida: subsídio para a Formação de professores. São Paulo: Paulus, 2004. (Pedagogia e educação)