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LETRAS LIBRAS|207 POLÍTICA E GESTÃO DA EDUCAÇÃO

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LETRAS LIBRAS|207

POLÍTICA E GESTÃO DA EDUCAÇÃO

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POLÍTICA E GESTÃO DA EDUCAÇÃO

Maria da Luz Olegário

Patrícia Guedes Corrêa Gondim

Caro (a) aluno (a):

Se você chegou até aqui, isso significa que foram muitos os obstáculos vencidos. Por isso,

parabéns!

Neste primeiro momento, iremos discutir, juntos/as, sobre o seguinte tema: política e

gestão da educação. Não é possível fazer uma boa discussão sobre esse assunto sem um esforço

individual, ou seja, cada um/a precisará investir tempo em leituras para que possamos atingir os

objetivos propostos nesta etapa de estudo.

O debate sobre a educação envolve muito mais que teorias parciais sobre o ser humano,

interpretações pedagógicas, psicológicas, históricas ou filosóficas. A educação pode se configurar

como um diálogo do ser humano consigo mesmo. Um diálogo que se constitui pela história, ou

melhor, pela história das culturas humanas.

Parafraseando Noronha (2006) questiono e levo, você, aluno/a a pensar junto comigo: o

que significa educar o ser humano, o cidadão, a pessoa, no contexto de uma atualidade tão

complexa? Para realizar tal façanha, no decorrer deste estudo, faremos discussões teóricas,

exercícios e reflexões sobre a temática.

A tarefa da educação, ao longo do tempo, sempre foi a de forjar através do discurso a

imagem do ser humano preocupado com o presente ou futuro, com base na memória de algum

passado digno de ser lembrado.

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Trata-se, pois, de tarefa do presente discutir políticas de educação voltadas para o outro e

que sejam condizentes com o tempo de hoje, com as recomendações de uma Educação para

Todos, em todo mundo.

A nova ordem social e histórica no contexto educacional significa atenção às novas

exigências sociais, proporcionando a superação dos problemas existentes objetivando uma

sociedade mais justa e menos excludente

.

Bons estudos para todos e todas.

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FONTE: http://trabalhodegeografiasalesiano.blogspot.com/2009/04/um-pouquinho-sobre-globalizacao.html

“Uma premissa desse

debate é a constatação

histórica de que o homem -

o ser humano ou o bicho

homem, como se queira -

tem sua vida dependente

de dois tipos de cuidados

essenciais: saúde e

educação”

UNIDADE I

Globalização e educação: um cenário para novas políticas

O contexto atual é marcado pelo agravamento de crises generalizadas nas mais diversas

esferas sociais do mundo, acarretando incertezas e

imprevisibilidades decorrentes, muitas vezes, da

multiplicidade de sentidos em disputa. A área da

educação, por situar-se num espaço fértil de relações de

poder, representa um lócus de interesses e impasses

políticos e econômicos, os quais colocam a educação em

um terreno movediço. Estes interesses são materializados,

a partir de discursos que buscam alojar-se no cerne do

sistema educacional, a dizer: as políticas educacionais,

alcançando legitimidade e amplitude. Desta forma, torna-se fundamental a análise destes

discursos e da racionalidade que os permeiam, bem como a ideia de buscar alternativas contra-

hegemônicas aos paradigmas que se impõem.

Pretende-se, neste momento abordar, de forma sucinta, a educação atual, a partir da

discussão de algumas premissas que apontam para o estabelecimento de um compromisso fixo no

que se referem às políticas educacionais, no contexto da sociedade global. Partindo disso, discute-

se a possibilidade da construção de uma agenda contra-hegemônica

a este modelo imposto, tendo como princípio norteador as

políticas de inclusão.

Globalização

Quando se fala em globalização, esta palavra por si

só, não apresenta valoração. O significado, a priori, não

revela uma essência e, portanto, pode ser entendida de várias

formas, dependendo dos sujeitos e contextos. Em alguns contextos

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FONTE: http://www.galizacig.com/avantar/opinion/10-12-2009/chegou-a-hora-de-por-fim-a-globalizacao

adquire uma conotação de necessidade, em outros, aponta para uma catástrofe capaz de gerar

inúmeras crises e angústias, em instituições e sujeitos (FERREIRA, 2004).

IMPORTANTE SABER QUE:

Pode-se dizer, então, que a globalização é o que marca fundamentalmente a sociedade

contemporânea, fruto das diásporas globais que, por sua vez, são frutos do capitalismo como

modo de produção e processo de civilização. Essa realidade muda, consideravelmente, os espaços

sociais, psicológicos, ideológicos que são usados até então, como referência. A formação desta

sociedade global “incute em praticamente todas as realidades preexistentes novos significados,

outras conotações” (IANNI, 1995, p. 163). Trata-se de significados e conotações ainda não

totalmente desvelados, representando um desafio epistemológico às Ciências Humanas e Sociais.

A sociedade como um todo sofre a interferência deste processo que se organiza a nível global. As relações entre países, grupos sociais, Estados e nações são reformuladas.

A globalização pode assim ser definida como a intensificação das relações sociais em escala mundial, que ligam localidades distantes de tal maneira que acontecimentos locais são modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas de distância e vice-versa (GIDDENS, 1991, p. 69).

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Dentre estas reformulações, a mudança no papel do Estado frente à sociedade civil traz

profundas alterações no processo de construção e gerenciamento das políticas públicas, o que

leva, quase sempre, a uma desconfiguração da função destas políticas.

Neoliberalismo

Falar de globalização é remeter a outro conceito bastante difundido e conhecido, que é o

neoliberalismo, ou seja, o capitalismo de “cara nova”, nesse novo contexto globalizante.

A interferência do projeto neoliberal, no governo dos Estados, implica na redução de sua

interferência frente às questões sociais (Estado Mínino), deixando a sociedade vulnerável às

iniciativas do mercado que, de fato, é quem dita as regras. Dessa forma, as políticas públicas que

resultariam da interferência do Estado na garantia do bem-estar social da população, traduzem-se

em medidas assistencialistas e compensatórias, definidas pelos interesses de um mercado

exploratório que tem como único objetivo o lucro.

NEOLIBERALISMO

POR UM LADO

“(...) trata-se de uma alternativa de poder extremamente vigorosa

constituída por uma série de estratégias políticas, econômicas e

jurídicas orientadas para encontrar uma saída dominante

para a crise capitalista que se inicia ao final dos anos 60 e que se manifesta claramente já nos anos

70 (GENTILLI, 2005, p. 34)”.

POR OUTRO LADO

“(...) expressa e sintetiza um ambicioso projeto de reforma

ideológica de nossas sociedades a construção e a difusão de um

novo senso comum que fornece coerência, sentido e uma pretensa

legitimidade às propostas de reforma impulsionadas pelo bloco dominante (GENTILLI, 2005, p. 34)

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Estes interesses capitais podem ser percebidos nos discursos híbridos dos organismos

internacionais, de caráter intergovernamental, (ONU, UNESCO, FMI, Banco Mundial) que atuam

no sentido de estabelecer uma visão comparativa da educação e na formulação de leis gerais, que

compõe uma agenda fixa para a educação (TEODORO, 2001), ou, nas palavras de Dale (2001), uma

agenda estruturada globalmente.

A formulação de políticas educativas, particularmente nos países de

periferia (e da semiperiferia) do sistema mundial, começou a depender,

cada vez mais da legitimação e da assistência técnica das organizações

internacionais, o que permitiu, nos anos sessenta, uma rápida difusão das

teorias do capital humano e da planificação educacional, núcleo duro das

teorias da modernização, tão em voga neste período de euforia, em que a

educação se tornou um instrumento obrigatório da auto-realização

individual, do progresso social e da prosperidade econômica (HUSÉN, 1979

apud TEODORO, 2001 p. 127).

A pauta (leis gerais) que compõe esta agenda é construída, geralmente, nos seminários,

congressos, workshops, estudos, exames, organizados por estas organizações internacionais. Dão

a ideia de democracia, pois se compõe por representantes de todos os países, criando, assim, uma

atmosfera de maior legitimidade social. Nas palavras de Teodoro (2001, p. 127), estes espaços

permitem ainda “criar vastas redes de contatos, de financiamentos e de permuta de informação e

de conhecimento entre autoridades político-administrativas de âmbito nacional, atores sociais,

experts e investigadores universitários”, impulsionando uma internacionalização dos problemas

educacionais.

Teodoro (2001) afirma que o desenvolvimento destas redes implicou na construção de

uma concepção de Educação Comparada – base da formulação das leis gerais da agenda

educacional – que se estrutura a partir de quatro elementos fundamentais, a saber: ideologia do

progresso, um conceito de ciência, a ideia do estado-nação e a definição do método comparativo.

O primeiro traduz-se na ideia de educação como sinônimo de desenvolvimento, o que cria a

convicção de que a ampliação e a qualificação de sistemas de ensino promovem,

indiscutivelmente, o desenvolvimento socioeconômico.

FONTE: http://www.cartapotiguar.com.br/?p=6586

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O segundo elemento, um conceito de ciência, centra-se na concepção positivista das

ciências sociais, concebida a partir da segunda metade do século XIX, que confere à ciência – neste

contexto, à Educação Comparada – “o papel de estabelecer leis gerais sobre o funcionamento dos

sistemas educativos, legitimando a retórica da racionalização do ensino e da eficácia das políticas

educativas, apontada como cerne de toda a ação reformadora” (NÓVOA, 1995, p. 127). A ideia do

Estado-nação, o terceiro elemento, parte do entendimento de nação como um espaço privilegiado

de investigação, conduzindo, em geral, a estudos que procuram traças linhas de semelhanças e

diferenças entre os países. E, por último, o método comparativo, com sua aura de objetividade e

seu princípio de quantificação, deixa para segundo plano a análise dos dados e desvia o problema

da construção destes dados e do embasamento teórico que lhe dá sustentação.

A partir disso, percebe-se um tipo de análise que apresenta um conhecimento limitado da

realidade. Parte de uma única visão de educação que é por si só restrita, que serve apenas para a

legitimação de um projeto de sociedade que parte do âmago de uma racionalidade intrínseca ao

projeto econômico neoliberal. Este projeto infiltra-se em todos os âmbitos sociais, como forma de

manutenção e sobrevivência do modo de produção e civilização capitalista.

No campo educacional, os constantes empreendimentos, estudos e publicações das

organizações internacionais cumprem

(...) um decisivo papel na normalização das políticas educativas nacionais, estabelecendo uma agenda que fixa não apenas as prioridades, mas igualmente as formas como os problemas se colocam e equacionam, e que constituem uma forma de fixação de um mandato, mais ou menos explícito conforme a centralidade dos países (TEODORO, 2001 p. 128).

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FONTE: http://betossanto.blogspot.com/2009/08/os-quatro-pilares-da-educacao-para-o.html

Os Pilares da Educação

A Comissão Internacional sobre a

Educação para o século XXI, da

Organização das Nações Unidas para a

Educação, Ciência e Cultura (UNESCO),

com a qual colaboraram educadores

do mundo inteiro, desenvolveu

trabalhos de 1993 a 1996 sobre o

pensamento pedagógico oficial da

humanidade.

O resultado desses trabalhos ficou conhecido como “Relatório Jacques Delors”, publicado

no Brasil sob o título de Educação – um tesouro a descobrir cujo foco é apresentar os quatro

pilares da educação para o século que se iniciava.

Para o Relatório Delors “a educação é um bem coletivo que deve ser acessível a todos” e

não pode ser objeto de uma simples regulação do mercado. Dessa maneira, cabe à Política da

educação “iluminar o futuro por uma visão a longo prazo” (DELORS et al, 1996, p. 28-175).

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Estes princípios têm sido “acolhidos” de tal forma pelas escolas que acabou por se

constituir em princípios filosóficos e pedagógicos para muitas instituições de ensino, uma vez que

as orientações deste relatório foram utilizadas como referência e fundamento para os Parâmetros

Curriculares Nacionais para a Educação Básica, transformando-se em princípios axiológicos.

Aprender a conhecer

“(...) visa não tanto a aquisição de

um repertório de saberes codificados, mas antes o domínio

dos próprios instrumentos de conhecimento pode ser

considerado, simultaneamente, como um meio e como uma finalidade da vida humana”.

Aprender a fazer

“(...) estreitamente ligada à

questão da formação profissional: como ensinar o

aluno a pôr em prática os seus conhecimentos (...)”.

Aprender a conviver

“(...) a educação deve utilizar

duas vias complementares (...): a descoberta progressiva do outro

(...) e, ao longo da vida, a participação em projetos comuns

(...)”.

Aprender a ser

“(...) a educação deve contribuir

para o desenvolvimento total da pessoa – espírito e corpo, inteligência, sensibilidade,

sentido estético, responsabilidade pessoal,

espiritualidade”.

DELORS, 2006, p. 90 – 99.

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Essa mudança de paradigma passa, entretanto, por mudanças significativas, não apenas de

práticas pedagógicas, mas também de concepções que orientam as mesmas, de forma que se

possa superar ensino focado no conteúdo cujo objetivo final é a aquisição de conhecimentos.

Este projeto, por certo, associa-se a uma concepção diferente: a educação que promove o

desenvolvimento do potencial humano e de competências e habilidades: aprender a conhecer,

aprender a fazer, aprender a viver e aprender a ser.

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FONTE: http://www.dicaslegais.net/educacao-no-brasil-e-a-melhor-do-mundo/

UNIDADE II

POLÍTICA E GESTÃO DA EDUCAÇÃO NO CONTEXTO BRASILEIRO

E o que dizer sobre o desenvolvimento de reflexões e

desafios educacionais no âmbito brasileiro?

O Estado, as políticas educacionais e a escola

no Brasil, historicamente têm se constituído como

um marco regulador e reforçador de uma educação

que divide, ou seja, marcada pela exclusão.

Entretanto, a racionalidade que se impõe pelos

distintos governos brasileiros aponta para a

necessidade de acompanhamento e reforma no

campo da educação, seguindo agendas internacionais, num esforço de superação das diferenças.

O ser humano, mais do que nunca, precisa tomar consciência de sua humanidade.

A escola, como a maioria há de concordar, é uma instituição dedicada, sobretudo, à

educação. Além da escola, não se pode negar a força educativa do convívio familiar. Além destes,

há outros espaços de saber, cujos conteúdos e mensagens podem e devem ser questionados.

Por isso, torna-se necessário compreender as relações de poder intrínsecas às relações

sociais, uma vez que é clara a percepção de que a melhoria na qualidade de vida, o

desenvolvimento das comunidades e a transformação do Brasil em uma nação desenvolvida, com

uma população saudável em todos os aspéctos, somente será possível com uma educação de

qualidade.

Para alcançar essa qualidade, entretanto, mudanças precisam acontecer no contexto

macro da educação barsielira. É importante que o Brasil, como nação, possa participar do

processo de globalização econômica e técnico-científica. Ressalte-se aqui que nenhuma ação local,

por si, é suficiente para promover avanços consistentes e que perdure na área de ensino. Aí reside

a importância da gestão educacional, na determinação desse novo destino, uma vez que, tendo

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FONTE: http://blog.cancaonova.com/maosqueevangelizam/tag/inclusao/

por base a mobilização de pessoas articuladas em equipe, permite articular ações e estabelecer a

devida mobilização de sujeitos e instituições.

Desse modo, falar de gestão educacional, é falar em âmbito macro, a partir dos órgãos

superiores dos sistemas de ensino e em âmbito micro, a partir das escolas. Precisamos,

necessariamente desses dois âmbitos de ação; não se pode focalizar unicamente a escola.

Gestão da educação: conceito

De origem latina, a palavra gestão, deriva-se do verbo latino gero, que significa levar sobre

si, carregar, chamar a si, executar, exercer (CURY, 2001). Gestão, então, implica um sujeito. Dessa

maneira, a gestão pode ser exercida de forma democrática, ou seja, as ações de gerenciamento

podem ser compartilhadas com todos, ser

resultado de um trabalho coletivo; ou ainda

de forma não democrática, cujas políticas

podem ser pensadas para atender a

interesses de grupos específicos.

Pode-se pensar, então, a partir do

exposto, o que significa gestão da educação.

Essa gestão, como em muitos outros casos, está altamente condicionada por seu objeto (a

educação), e pode estar restrita mais ou menos ao dia-a-dia, aos problemas do cotidiano escolar,

conforme o entendimento que se tenha de educação seja mais ou menos amplo.

Gerir é tomar decisões. Outro aspecto importante da gestão da educação, além da

preocupação sobre quais as decisões são tomadas, é quem toma as decisões. Por muito tempo,

naturalizou-se, sem questionamentos, uma hierarquia de poder, na gestão educacional. No

comando, encontram-se os pequenos grupos que decidem sobre as importantes orientações.

Se, nas esferas hierárquica de poder, as grandes orientações da educação são definidas por

pequenos grupos restritos, há um nível de decisões (portanto, de gestão) inferior a elas, no qual se

situam os/as educadores/as que atuam mais diretamente com os/as alunos/as. E o nível

intermediário de gestão é ocupado por professores/as e técnicos/as nas redes escolares.

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Há ainda um outro nível, preenchido por aquelas pessoas que, mesmo diretamente

implicadas nas práticas educacionais, mantêm-se predominantemente na condição de

educandos/as. Nessa condição, em relação à gestão da educação, as pessoas estão, sobretudo,

excluídas das grandes decisões. Os/as alunos/as são, na maioria das vezes, afastados/as da gestão

da educação, continuando apenas como objeto do empenho educativo dos educadores.

Segundo Lück (2008), no contexto da educação brasileira as questões de gestão

educacional receberam bastante atenção nos meados da década de 1990, quando se configurou

um conceito relativamente novo, superando a limitação do conceito de administração. Para esta

autora:

Caracterizadas as relações de poder que configuram a gestão da educação, dela decorre

um juízo sobre o aspecto da participação. Alguns dos principais problemas quanto à participação

em educação dizem respeito à existência de grupos de pessoas excluídos de certas práticas e

espaços educativos, como escolas, mas também por uma diversidade de outros, tais como praças

públicas, centros esportivos, centros de convivência, salas de exibição de cinema, de teatro, de

apresentações artísticas, de debate científico ou político em geral. Além dessas pessoas que não

participam dessas práticas educativas, há uma grande quantidade daquelas que participam e,

nesse caso, o problema está em não poderem decidir de quais ou de poderem decidir sobre as

orientações que tais práticas seguem. Assim, a gestão compreende arte de pensar, de agir e de

fazer acontecer.

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UMA EDUCAÇÃO PATA TODOS/AS

As lutas das vertentes mais progressivas em educação voltam-se e, foi sempre assim,

contra a exclusão. Estudos em diferentes abordagens buscam saber sobre os processos que fazem

permanecer os mecanismos geradores dessa exclusão.

Nos tempos atuais, a política da inclusão vem substituir a política da integração. Autores/as

diferenciam essas duas políticas. A inclusão seria uma iniciativa ligada à modificação das

estruturas e do funcionamento das escolas regulares, de forma a garantir lugar para todas as

diferenças.

A legislação brasileira ampara legalmente o caminho da inclusão através da Constituição

de 1988 a qual incorporou vários dispositivos sobre o direito das pessoas com deficiência, nos

espaços da saúde, educação, trabalho e assistência. No espaço da Educação, registrou-se o direito

público à educação de todos/as os/as brasileiros/as. O aparato legal pode assim ser evidenciado:

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Pode-se perceber, a partir do exposto que a gestão da educação está direta e

indiretamente ligada à dimensão pública e legal do fazer educativo, ou seja, à Política Educacional.

Assim como ocorre em outros setores de governo, as decisões são tomadas por grupos muito

reduzidos, especificamente dois tipos de autoridades: as do poder executivo e as acadêmicas. É

bastante comum a ocorrência de combinações ou de coincidências entre esses dois tipos de

autoridades, uma vez que integrantes de universidades compõem equipes ou assumem postos no

ministério ou em secretarias de educação.

No contexto da educação, em geral, ao se falar em participação, pensa-se logo no espaço

da escola e esquece-se do segmento de maior impacto sobre o sistema de ensino como um todo:

a gestão de sistema, realizada por organismos centrais – as secretarias de educação e respectivos

órgãos regionais (LÜCK, 2008).

Declaração Mundial de Educação para Todos

Um importante marco de referência de propostas participativas é a Declaração Mundial de

Educação para Todos, firmada na conferência da Tailândia, em 1990. Cada palavra desse

documento sugere extrair conclusões

e, sobretudo, a partir de cada uma delas,

inventar novas ações. Um exemplo disso é a

determinação de que se reduzam gastos

militares para ampliar investimentos em

educação ou, com a mesma finalidade, efetuar

renegociações de dívidas externas entre países

credores e devedores. Esta Declaração vai

muito além quanto ao caráter inovador

presente em sua visão de educação. Dentre

suas muitas proposições desafiadoras, três se

sobressaem pelo estímulo que fazem à criatividade, especialmente pelas implicações quanto à

gestão da educação. São proposições facilmente aceitas em palavras e dificilmente traduzidas em

atos. Uma delas é a de um conceito amplo de educação, entendida como aquela que se inicia com

o nascimento e dura ao longo de toda a vida. Com uma concepção tão ampla cabe, à gestão da

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educação, a tarefa de constituir sistemas educacionais que não se resumem a redes escolares,

mas que articulem estas a um alargado registro de agentes educativos.

A outra proposição a destacar é a que desloca o ensino da posição central que

convencionalmente veio ocupando, para colocar em seu lugar a aprendizagem. Não se trata de um

mero jogo de palavras, mas da admissão de que a aprendizagem é plural e que não decorre de

forma linear das atividades de ensino. É suficiente, para perceber essa mudança de enfoque, notar

que se costuma chamar as redes escolares de sistemas de ensino – é incomum referir-se a elas

como sistemas de aprendizagem – e uma expressão utilizada abundantemente nos meios

pedagógicos é “processo de ensino-aprendizagem” (com o hífen), o que deixa implícita a relação

direta e exclusiva de causa e efeito entre esses dois termos.

Não menos importante na Declaração é a ligação que ela estabelece entre educação e

necessidades básicas. Afirmar tal vínculo – a Declaração utiliza a expressão “necessidades básicas

de aprendizagem” – significa inclusive destituir de fundamento a crença de que a simples oferta

de escolarização deva ser a meta das políticas educacionais. Essa crença dá por suposto que tudo

o que se ensina e que se exige aprender na escola responde a necessidades das populações.

Uma concepção de educação nesses moldes - ampla e provocadora - é incompatível com

os costumes mais arraigados que compõem as práticas educativas, destacadamente os que se

apoiam na ideia reduzida de gestão da educação como gestão da educação escolar e, mais

precisamente, como gestão de unidades escolares.

As políticas educacionais adotadas por variados governos, em seus três níveis, algumas

vezes incorporaram a diretriz da democratização da gestão. Isso ocorreu nitidamente a partir da

primeira metade dos anos de 1980, com a retomada das eleições para governadores dos estados,

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no declínio do regime militar. Aquela diretriz chegou a fazer parte da Constituição, em seu artigo

206, como um dos princípios que “regem o ensino”: “gestão democrática do ensino em

estabelecimentos públicos na forma da lei”.

Os esforços empreendidos nessa direção permaneceram em grande medida no leito da

tradição que entende a educação estritamente como educação escolar, esta como ensino e o

ensino dissociado (ou condição remota) da satisfação de necessidades básicas. Em consequência,

a participação na gestão passou a referir-se a cada unidade escolar e não ao universo muito mais

amplo da política educacional.

Mesmo para a democratização da gestão da escola, os governos que a ela deram alguma

atenção concentraram-se na criação de meios institucionais de participação nas decisões,

envolvendo funcionários/as das escolas (docentes, técnicos/as e funcionários/as não docentes),

os/as alunos/as e os familiares destes/as, em geral, compreendidos na categoria “pais”. Esses

mecanismos institucionais consistiram principalmente de conselhos escolares ou da escolha de

diretoras de escolas com alguma forma de eleições nas quais também votam alunos/as e pais. A

informação disponível sobre o funcionamento desses mecanismos não é muito abrangente nem

sistemática. Mas as pesquisas que se fizeram a respeito indicaram efeitos muito tímidos da

existência desses mecanismos ou seu caráter demasiadamente formal. Mais recentemente,

algumas iniciativas vêm sendo tomadas para tratar a gestão da educação em seu sentido amplo.

Gestão democrática

Conhecida como sociedade do conhecimento, a

exigência atual é tanto da inclusão (a educação

como direito de todos/as e dever do Estado),

quanto de um padrão de qualidade que ponha o

conhecimento no centro das preocupações de uma

nação emancipada pela pesquisa científica séria,

crítica e compromissada com os valores

democráticos.

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Não precisamos somente de ideias; o debate da educação precisa ser principalmente

prático, no sentido de refletir, seja através de críticas ou proposituras, sobre demanda e

compromissos, os quais podem mobilizar educadores/as e instituições, na decisão, planejamento

e execução de políticas de educação.

Sabe-se, entretanto que aspectos políticos são predominantes quando a discussão é

educação, uma vez que querer algum projeto de vida ou algum projeto que envolva a sociedade

necessita tanto do saber-fazer quanto do poder-fazer. Afinal, “os saberes, quanto mais universais

se proclamam, mais legitimam e forçam as concentrações de poderes em políticas autoritárias”

(CUNHA, 2006).

O conceito de gestão democrática pressupõe a ação participativa em que as pessoas

identificam o problema e procuram resolver esse problema de forma conjunta. Assim, todos

constroem as soluções para os problemas identificados de forma coletiva a partir da experiência e

da partilha de conhecimento.

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Assim, a gestão da escola deve estar orientada e comprometida com o processo

democrático, ético da educação e com uma sociedade mais justa e igualitária. A preocupação

maior deve ser uma escola de qualidade para todos, ou seja uma escola inclusiva. Isto porque

segundo Skliar (2003, p. 29) “sem o outro não seríamos nada [...] porque a mesmidade não seria

mais do que um egoísmo apenas travestido [...], só ficaria a vacuidade e a opacidade de nós

mesmos [...].”.

O nosso posicionamento a respeito desse tema é a favor de uma gestão da educação

democrática e de políticas da educação que contemplem as necessidades de cada e que seja

construída por todos/as.

Avançamos nos estudos e pesquisas sobre a necessidade de entender a gestão

democrática como processo de construção, o que implicaria em mudanças culturais profundas.

Muito debatemos sobre entendê-la, não apenas como um meio, mas também como um fim, já

que a participação em si é pedagógica e estratégica, pois só aprendemos a participar,

participando.

Muito a sociedade lutou para garantir a gestão democrática como princípio

constitucional, mas implantá-la é um longo processo que requer diálogo e participação coletiva de

todos/as os/as envolvidos/as: pais, mães alunos/as, docentes, direção colegiada, enfim, a

sociedade como um todo, já que os rumos da educação transcendem a um governo, são decisões

de Estado, em todas as suas instâncias – escola, conselhos de educação, secretarias municipais e

estaduais, Ministério da Educação.

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LETRAS LIBRAS|228

GESTÃO DEMOCRÁTICA

Autonomia da escola, eleição de diretores/as e conselho escolar são alguns dos pilares

que materializam a gestão democrática, mas não são suficientes para mudar nossa histórica

cultura autoritária. Necessitamos de políticas que ampliem as possibilidades de democratização da

educação. Pesquisas demonstram que não analisamos gestão democrática em abstrato. Os

indicadores têm sido: o direito à educação, isto é: ampliou-se o acesso, a permanência, o

conhecimento? Melhorou o financiamento da educação? A valorização do magistério? Quer dizer,

para analisarmos se um sistema educacional avançou na gestão democrática e na qualidade da

educação, analisamos as políticas educacionais propostas, além dos índices quantitativos.

ELEIÇÃO DE DIRETORES/AS

CONSELHO

ESCOLAR

AUTONOMIA

DA

ESCOLA

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LETRAS LIBRAS|229

FONTE: http://gabyufpb.blogspot.com/2009/02/conhecendo-ldb.html

UNIDADE III

A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL E AS POLÍTICAS PARA

EDUCAÇÃO BÁSICA

As atuais políticas educacionais voltadas para a

inclusão sob a perspectiva de uma educação para todos/as e

para o desenvolvimento social, considera a necessidade de

ampliar o acesso às etapas da Educação Básica e promover

padrões de qualidade ao ensino público.

De acordo com a

Lei de Diretrizes e

Bases da

Educação, a Educação Básica no Brasil corresponde à

Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino

Médio e tem por finalidade desenvolver o/a

educando/a, assegurar-lhe a formação comum

indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe

meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores”

(Arts. 21 e 22).

Um pouco da atual LDB

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional é considerada a mais importante lei

educacional brasileira; pode ser considerada a

"Carta Magna" para a educação dos/as

brasileiros/as. Trata-se da legislação que

regulamenta o sistema educacional (público ou

privado) do Brasil (da educação básica ao ensino superior).

1ª LDB 1961

2ª LDB 1971

“A Educação Básica tem por

finalidade desenvolver o

educando, assegurar-lhe a

formação comum

indispensável para o

exercício da cidadania e

fornecer-lhe meios para

progredir no trabalho e em

estudos posteriores (LDB,

Art. 22).

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LETRAS LIBRAS|230

Com a promulgação da Constituição de 1988, a LDB anterior (5.692/71) foi considerada

obsoleta e no ano de 1996, o debate sobre a nova lei foi concluído, sendo, portanto, sancionada

pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e pelo ministro da educação Paulo Renato em 20 de

dezembro de 1996, a atual LDB (9393/96). Baseada no princípio do direito universal à educação

para todos/as, a nova LDB trouxe diversas mudanças em relação às leis anteriores, como a

inclusão da educação infantil (creches e pré-escolas) como primeira etapa da educação básica.

Nesse sentido, faz-se necessário compreender a influência da Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional 9.394/96 na mudança do panorama das políticas educacionais, principalmente,

na Educação Básica. Pois como ressalta Brzezinski:

A nova LDB (...) foi um novo passo firme na consolidação e na concretização de

muitas conquistas, de avanços significativos! Acreditava-se que a lei iria assegurar

não apenas princípios, mas, sobretudo compromissos e deveres aptos a

implementarem os direitos de outras tantas pessoas marginalizadas, sitiadas,

excluídas! Afinal, tinha-se a firme convicção de que a educação, pelo o que ela

pode trazer aos indivíduos, em termos de recursos para trabalho, para

sociabilidade e para a cultura, é a mediação significativa para as mediações da

existência histórica (BRZEZINSKI, 2008, p. 67).

As questões que se referem, no âmbito educacional, às políticas públicas para a Educação

Básica, tendo como fundamental as bases legais da atual LDB (9394/96), tomam como referência

três principais diretrizes: acesso e permanência de crianças e jovens na escola; gestão democrática

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LETRAS LIBRAS|231

e qualidade da educação. Ao fazer parte da agenda política, as diretrizes mencionadas, tornaram-

se a meta principal do governo nas duas últimas décadas, sendo, portanto, realizadas significativas

mudanças na estrutura e financiamento da educação no país.

Uma das mais recentes ações originada no governo de Luís Inácio Lula da Silva para a

ampliação da permanência na escola de alunos/as foi a mudança, já prevista no Plano Nacional de

Educação (2001), do Ensino Fundamental de oito anos

para nove anos baseada nas Leis 11.114/05 e

11.274/06.

De modo geral, porém, é possível considerar a

medida um avanço por ampliar o tempo de

escolaridade obrigatória, tendo em vista a tendência há

tempos discutida sobre iniciar a alfabetização no último

ano da pré-escola, ou seja, aos 6 anos. Nesta direção,

almeja-se que a medida venha favorecer e

efetivamente garantir uma educação de qualidade.

Permita no decorrer dos nove anos do ensino fundamental o desenvolvimento das habilidades e

competências necessárias dos/as educandos/as para que possam exercer com criticidade e

autonomia a sua cidadania. Pois como afirma Saviani (2008, p.91):

(...) se prevalecer à atual orientação das políticas educacionais de considerar a

escolarização como um ritual mecânico mais preocupado em assegurar

estatísticas aceitáveis pelos organismos internacionais do que em garantir a

efetiva aprendizagem das crianças, a extensão para nove anos não terá nenhuma

importância pedagógica.

Com o intuito de favorecer a melhoria das condições da oferta, da qualidade do ensino e

da perspectiva de valorização do magistério, o governo ampliou as possibilidades de

financiamento na educação partindo da descentralização dos recursos e da perspectiva da gestão

democrática.

Sobretudo, é preciso ressaltar que muitas outras mudanças foram realizadas no sistema de

ensino a partir da promulgação da atual LDB. Alguns exemplos: na direção do currículo nacional,

com a adoção dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), das Curriculares Nacionais (DCNs) e o

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LETRAS LIBRAS|232

programa de formação continuada denominado Parâmetros em Ação; na avaliação dos sistemas

de ensino, com a criação de instrumentos avaliativos estandartizados como o Sistema de

Avaliação da Educação Básica (SAEB), Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e Exame

Nacional do Desempenho de Estudante voltado para os cursos de Graduação (ENADE) e,

particularmente, no financiamento da educação, com a criação do Fundef , especificamente no

financiamento da educação, com a criação o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino

Fundamental e de Valorização do Magistério – Fundef.

Considerou-se, contudo que o Fundef ao tratar de questões referentes apenas ao ensino

Fundamental e, portanto, não atendendo à demanda da Educação Básica como um todo, deveria

ser substituído.

Após diversas discussões acerca da criação de um novo fundo, o Ministério da Educação

(MEC) apresentou o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de

Valorização dos Profissionais da Educação - Fundeb que foi finalmente aprovado em dezembro de

2006 pelo Congresso Nacional, através da Emenda Constitucional n° 53/2006. O Fundeb será

provisório, com prazo de vigência de 14 anos, e durante esse tempo os Estados e Municípios e o

Distrito Federal deverão investir os recursos na manutenção e desenvolvimento da educação

básica e na remuneração de seus profissionais.

Além da ampliação do financiamento, as etapas e modalidades da educação anteriormente

excluídas do FUNDEF, os recursos do Fundeb são distribuídos de acordo com o número de

matrículas de alunos/as.

A LDB (9394/96) no Título VI, principalmente, nos Artigos 61 ao 67, dedica atenção especial

às questões referentes aos profissionais da educação. Este documento

estabelece a finalidade e os fundamentos da formação profissional,

utilizando a expressão formação de profissionais da educação e, logo

depois, refere-se à formação de docentes. Segundo Freitas (1992),

profissional da educação é aquele que foi preparado para desempenhar

determinadas relações no interior da escola ou fora dela, onde o trato

com o trabalho pedagógico ocupa posição de destaque, constituindo

mesmo o núcleo central de sua formação.

FONTE:

http://sergioflima.pro.br/blogs/index.ph

p/sergio-blog/discurso-de-formatura

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LETRAS LIBRAS|233

A Lei defende como finalidade da formação dos profissionais da educação “atender aos

objetivos dos diferentes níveis e modalidades de ensino e às características de cada fase de

desenvolvimento do educando” (Art. 61). Assim, criar condições e meios para se atingir os objetivos

da educação básica é a razão de ser dos profissionais da educação. Formação com tal finalidade terá

por fundamentos, segundo a Lei, “a associação entre teorias e práticas, inclusive mediante capacitação

em serviço” e “o aproveitamento da formação e experiências anteriores”, adquiridas, estas, não só em

instituições de ensino, mas também em “outras atividades”, que não do ensino.

Outra norma estabelece que “a formação de docentes para atuar na educação básica far-

se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e

institutos superiores de educação (...)” (Art. 62). Ressalta-se que na ordem de disposições gerais, a

Nova LDB, em seu Art. 65, ainda explicita aspectos da formação docente, incluindo a prática de

ensino de, no mínimo, trezentas horas, consistindo essa prática, no dizer do Conselho Nacional de

Educação (CNE), o espaço por excelência da vinculação entre formação teórica e início da vivência

profissional, supervisionada pela instituição formadora. (CNE/MEC, 1997).

Mesmo de forma sucinta, é possível perceber que a Nova LDB vem defender a questão

do/a professor/a construir sua identidade relacionando-a com a prática e teoria; aponta a

necessidade do/a professor/a ser formado/a em licenciaturas que o/a preparem para o exercício

na educação básica. Outras questões seriam possíveis ser discutidas na perspectiva das

disposições que se referem aos profissionais da educação, e, em particular, da formação docente.

Conclui-se que a formação docente provoca uma intervenção direta na sociedade, no

sentido de garantir a função da escola, que é socializar saberes, produzir conhecimentos e formar

para o exercício crítico e autônomo da cidadania. Todavia, para que isto ocorra, os/as

professores/as precisam estar em processo constante de aperfeiçoamento, ou seja, devem estar

em contínuo processo de formação continuada.

Ressalta-se que as considerações neste texto devem trazer à tona reflexões acerca das

políticas educacionais na Educação Básica, sempre que possível, articuladas com as ações

educacionais desenvolvidas no âmbito local. É preciso, pois, considerar que as políticas devam

estar fundamentadas numa concepção ampla de educação que considere sua implementação em

consonância com a realidade de cada região, estado, município, bairro, escola; com os processos

de participação e decisões democráticas e implementação da autonomia nos espaços sociais além

do envolvimento efetivo com a sociedade civil organizada.

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LETRAS LIBRAS|234

FONTE: http://pedagogiaunesi.blogspot.com/2010/04/blog-post.html

O outro na educação inclusiva

Numa discussão sobre educação, de forma mais ampla, a educação especial tem sido

objeto de crítica com relação à distância, voluntária ou não. E, neste movimento de

reconfiguração, a educação de surdos vem tencionando o descolamento do debate que cerca a

educação especial e que a efetiva sob a perspectiva de práticas inclusivas no contexto de escola,

conhecida pela normalidade de regular/comum.

Da mesma forma, fazem parte do debate

educacional, quem são os sujeitos da educação,

e o que são as aprendizagens significativas.

Discursos presentes que definem uma

construção contínua de exclusão/inclusão.

As políticas da educação, sobretudo, a partir da década de 1990, traduziram, de maneira

restrita, o conceito de inclusão, passando a visualizar apenas o ensino regular como espaço de

conhecimento. A partir de reivindicações dos movimentos sociais e discussões em espaços

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LETRAS LIBRAS|235

escolares, o direito de todos e todas à educação, amplia seu conceito também para os espaços da

educação infantil, educação de jovens e adultos, educação para o trabalho, recortes de uma

educação marginalizada pelo financiamento público. A luta dos movimentos de direito ao acesso à

educação passam a exigir a qualidade e permanência na educação, numa revisão estratégica dos

espaços e contextos, sejam eles ‘especiais’ ou ‘comuns’.

Políticas de inclusão: outro olhar para a educação de surdos/as

Na esteira da redemocratização do País, os/as profissionais em educação, em parceria com

a comunidade, começam a movimentar-se para a definição de políticas educacionais de diálogo,

com a definição de uma gestão descentralizada, que estimule a participação e a autonomia.

Como resultado deste movimento deu-se a

introdução do conceito de gestão no debate

educacional diante da crítica ao caráter

conservador e autoritário do conceito de

administração.

Os anos de 1980 caracterizaram-se pela

participação popular na organização da sociedade

para reivindicação de seus direitos. Neste contexto,

os enfoques principais da educação também estavam vinculados à democracia, à gestão

democrática, a participação da comunidade e, portanto, os métodos de efetivação das

preocupações educacionais, características deste período deveriam envolver toda a comunidade.

Estas proposições partiam de produções teóricas desde o exílio, como por exemplo, de Paulo

Freire, defensor de que tal processo deveria basear-se no diálogo (MACHADO, 2006).

FONTE: http://www.tvediversao.com/2010/12/boletim-de-noticias-detetive-

particular.html

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LETRAS LIBRAS|236

Não se aceitava, neste período, mais a ideia de que democratizar a escola é simplesmente

garantir o acesso; luta-se também pela democratização das práticas pedagógicas, administrativas

e de gestão financeira das escolas, para garantir a permanência do/a aluno/a no sistema escolar.

Este pensamento conduz a importantes discussões na estruturação de propostas pedagógicas

inclusivas.

A democratização dos espaços com a participação mais ativa dos sujeitos da escola,

entretanto, não podia ser percebida na área da educação de surdos/as.

Nas discussões que envolvem a educação de surdos/as até meados dos anos 1990, os/as

alunos/as eram considerados/as incapazes de definir propostas para seus caminhos educacionais.

Os processos de “ouvintização”, traduzidos no colonialismo da língua e da cultura, impuseram

práticas de escolarização que ganharam força nas políticas afirmativas introduzidas pelo

movimento de inclusão. Um diálogo tenso entre educadores/as teve início no Brasil com a

formação de professores/as surdos/as que tencionaram, através de um movimento de

contracultura, espaços de discussão sobre a diferença surda (GIORDANI, 2010).

Políticas legais

LIBRAS

FONTE: http://www.concurseirinha.com.br/2010/09/21/direito-

constitucional-varias-apostilas/

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LETRAS LIBRAS|237

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LETRAS LIBRAS|238

FONTE: http://comunicarpib.blogspot.com/2010/06/como-posso-ser-interprete-de-libras.html

FONTE: http://www.todoespacoonline.com/links/buscadat.php?data=2010/11/22

UNIDADE IV

O INTÉRPRETE DE LIBRAS-LÍNGUA PORTUGUESA

O Decreto 5.626/ 2005 que trata DA GARANTIA DO DIREITO À EDUCAÇÃO DAS PESSOAS SURDAS

OU COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA, em seu capítulo VI:

Art. 22. As instituições federais de ensino responsáveis pela educação básica devem garantir a inclusão de

alunos surdos ou com deficiência auditiva,

por meio da organização de:

II - escolas bilíngües ou escolas comuns da

rede regular de ensino, abertas a alunos

surdos e ouvintes, para os anos finais do

ensino fundamental, ensino médio ou

educação profissional, com docentes das

diferentes áreas do conhecimento, cientes

da singularidade lingüística dos alunos

surdos, bem como com a presença de

tradutores e intérpretes de Libras - Língua

Portuguesa.

Art. 23. s instituições federais de ensino, de educação básica e superior, devem proporcionar aos alunos

surdos os serviços de tradutor e

intérprete de Libras - Língua Portuguesa

em sala de aula e em outros espaços

educacionais, bem como equipamentos e

tecnologias que viabilizem o acesso à

comunicação, à informação e à educação.

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LETRAS LIBRAS|239

§ 2º As instituições privadas e as públicas dos sistemas de ensino federal, estadual, municipal e do Distrito

Federal buscarão implementar as medidas referidas neste artigo como meio de assegurar aos alunos

surdos ou com deficiência auditiva o acesso à comunicação, à informação e à educação.

Professores/as e a educação de surdos/as

Professor/a Especializado em Educação Especial

Função:

Ø Desenvolver competências para identificar as necessidades educacionais especiais, definir e

implementar respostas educativas a essas necessidades, apoiar o/a docente da classe comum;

Ø Atuar nos processos de desenvolvimento e aprendizagem dos/as alunos/as, desenvolvendo

estratégias de flexibilização, adaptação curricular e práticas pedagógicas alternativas, entre outras;

F

Ø Cursos de licenciatura em educação especial ou em uma de suas áreas, preferencialmente de modo

concomitante e associado à licenciatura para educação infantil ou para os anos iniciais do ensino

fundamental;

Ø Complementação de estudos ou pós-graduação em áreas específicas da educação especial,

posterior à licenciatura nas diferentes áreas de conhecimento, para atuação nos anos finais do

ensino fundamental e no ensino médio (De acordo com o inciso III do artigo 59 da LDBEN).

ONTE: http://www.esar.edu.pt/portal/index.php/inicio/570-accao-de-formacao-qcurso-de-desenho-de-projectos-em-educacao-para-a-saudeq

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LETRAS LIBRAS|240

Professor/a Itinerante

Itinerância: serviço de orientação e supervisão pedagógica desenvolvida por professores/as

especializados/as que fazem visitas periódicas às escolas para trabalhar com os/as alunos/as que

apresentem necessidades educacionais especiais e com seus respectivos professores/as de classe comum

da rede regular de ensino (Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica)

Professor/a da sala comum capacitado

Ø Formação de nível médio ou superior, com a comprovação de que foram incluídos conteúdos ou

disciplinas sobre educação especial e desenvolvidas competências para: I - perceber as

necessidades educacionais especiais dos/as alunos/as; II - flexibilizar a ação pedagógica nas

diferentes áreas de conhecimento; III - avaliar continuamente a eficácia do processo educativo; IV

- atuar em equipe, inclusive com professores especializados em educação especial (De acordo com

o inciso III do artigo 59 da LDBEN).

ONTE: http://www.esar.edu.pt/portal/index.php/inicio/570-accao-de-formacao-qcurso-de-desenho-de-projectos-em-educacao-para-a-saudeq

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LETRAS LIBRAS|241

FONTE: http://misturao.blogspot.com/2011/05/professor-conectado.html

Capacitação de professores/as

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LETRAS LIBRAS|242

As Políticas Públicas falam não somente na formação de professores/as especializados/as,

mas também na capacitação dos professores da classe comum que devem estar minimamente

preparados/as para receber e dar condições do/a aluno/a surdo/a se integrar a ter acesso ao

conhecimento dentro da sala de aula. Os/as docentes, em qualquer modalidade, que estejam

inseridos no contexto da educação de surdos/as, necessitam de formação adequada para

trabalhar com esta realidade.

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LETRAS LIBRAS|243

FONTE: http://blog.opovo.com.br/propares/existem-muitas-formas-de-

preconceito/diferencas/

UNIDADE V

EDUCAÇÃO DAS DIFERENÇAS

A educação, que tem em si a preocupação com a produção, com competências

institucionalizadas, conhecimento aceitos, produz educadores/as em uma vocação de totalidade,

de presença e de permanência; docente que sabe e que institui saberes. E, com seu saber, seu

poder e sua vontade, pretende projetar

e fabricar a vida, o tempo, as palavras, o

pensamento e a normalidade no outro

(LARROSA, 2001). Educadores e

educadoras que, abraçados em projetos

missionários, projetam sua vida na vida

futura, seu tempo no tempo futuro e sua humanidade na humanidade futura.

As questões da diferença e da identidade cultural tornaram-se centrais nos discursos

educacionais. Num cenário mais amplo, ganham visibilidade grupos sociais e culturais que

reivindicam o direito à afirmação de sua identidade e o respeito à sua diferença. Identidade,

diferença, diversidade cultural são conceitos e palavras que parecem estar, nos dias de hoje, em

toda parte. Até parece que estão conosco há muito tempo, fazendo-nos esquecer que sua

introdução no discurso educacional é bastante recente (GIORDANI, 2010).

Pedagogia da diferença

A pedagogia da diferença fala de um Outro que se constitui na trama de sua identidade e,

por não haver apenas um traço identitário, não há argumentação que justifique dizer que

determinado sujeito se constitui pela ou a partir da sua deficiência, estabelecendo, assim, um

único espaço pedagógico capaz de oferecer-lhe o acesso ao conhecimento e aos bens culturais. O

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LETRAS LIBRAS|244

Outro, numa sociedade em que a identidade torna-se, cada vez mais, difusa e descentrada, se

expressa por meio da estranheza ao centro da normalidade, apagando suas características e

impossibilitando sua fixação.

Em uma proposta de educação inclusiva, tanto em escola regular/comum como em escolas

especiais, os/as gestores/as locais desempenham papel preponderante na sustentação das

políticas e na qualificação do debate pedagógico. É na figura do/a gestor/a que são depositados as

dificuldades legais, comunitários e a inquietação docente. É a ele atribuído:

E é nessa dicotomia entre a normatização educacional do Ministério da Educação e o

debate do movimento social dos/as surdos/as que o/a gestor/a local da unidade escolar se vê

pressionado a ocupar um lugar político.

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LETRAS LIBRAS|245

Um lugar em que não cabe apenas a reprodução da normativa, porque as dificuldades

externas se mantêm. Na educação de surdos, discutir a inclusão requer um deslocamento do

conceito estreito e simplista da tradução de inclusão como território, como espaço, como

concepção de uma escola em que a língua de sinais passe apenas pela tradução da língua oral.

O ensinar que se propõe emancipatório tem na prática da liberdade uma relação contrária

à síntese, à totalização, à generalização. O amor no ensinar e aprender consiste em estar

inquietado pelo mesmo. O mesmo que não se traduz na forma única do saber. O mesmo que

motiva, que desacomoda, que escreve seu texto, que compartilha sua leitura, que redescobre o

prazer e que se desafoga do erro. Uma pedagogia emancipatória pressupõe diálogos solidários

com a comunidade. Diálogos que se entrecruzam nos debates políticos em movimentos de

cidadania, do conhecimento cultural, significando o conhecimento escolarizado.

E, por isso, torna-se extremamente excludente a promulgação de políticas educacionais

alicerçadas em verdades prontas. Tomar o conceito de inclusão como permanência em territórios

únicos, em escolas normalizadas, que permitem a diversidade, mas que normalizam a diferença.

Práticas que formalizam em horários específicos o ensino da língua de sinais, sem permitir na sua

intensidade a vivência da língua, pois não é língua da escola, é língua da sala de aula. E, neste

entendimento, poucos são os gestores e gestoras (mais conhecidos/as como diretores/as) que

usam no cotidiano da escola de surdos/as ou com alunos/as surdos/as a língua de sinais sem a

necessidade de tradução, ou mesmo de fazer de conta que entende o que o/a discente lhe diz.

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LETRAS LIBRAS|246

É perceptível, dessa maneira, que nomear o que fazemos em educação é mais do que

simplesmente empregar palavras. As lutas pelos significados e pelo controle das palavras, a

imposição de certas palavras compreende um jogo mais do que as palavras falam. Capturar e

regular o diferente tranquiliza a escola, acalma as diferenças e mantêm o corpo curricular precioso

dos saberes de verdade. Uma pedagogia da emancipação pressupõe despojamento dos

educadores do conhecimento normativo das suas cartilhas de formação, abandono da tutela do

saber e promoção de ações protagonistas do ensinar na ética da solidariedade humana

(GIORDANI, 2010).

A emancipação não se esgota no esforço da conscientização, traduzida por alguns/as como

antigos valores. Ela se renova no sonho, na utopia, na denúncia e no anúncio (FREIRE, 2000). Sem

todos esses ingredientes, somados ao prazer e ao desejo, só nos resta o treinamento técnico na

normalização de mentes rápidas em um tempo da diferença traduzida nos sentimentos de

tolerância.

Nesse sentido, o grande desafio da sociedade contemporânea continua sendo o da justiça

e inclusão social. Afirma Dorziart (2009, p. 11) que

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LETRAS LIBRAS|247

A educação inclusiva configura-se como um movimento de intensa repercussão nos

espaços educacionais, no trabalho pedagógico das escolas, porque desafia os sistemas,

problematiza o campo educacional, com muitas perguntas e sem nenhuma resposta. O que se tem

de uno é o direito público subjetivo à educação de qualquer criança, com ou sem deficiência.

Neste sentido, espera-se que o processo de inclusão vá exigir profundas mudanças das escolas,

tarefa que deve ser mediada pelos/as gestores/as no diálogo entre os sistemas de ensino e a

comunidade escolar.

As políticas de gestão na educação de surdos/as, a partir do reconhecimento político da

surdez como diferença tenciona os discursos e as práticas clínicas hegemônicas. Este

reconhecimento implica a criação de serviços para instrumentalização de uma educação a partir

do princípio de equidade. A oficialização, no Brasil, em 2002, da Língua Brasileira de Sinais e sua

regulamentação através do decreto Presidencial em dezembro de 2005, apesar de possibilitar

interpretações que nos levam ao conceito de inclusão pelo viés da escola de e para ouvintes,

garante, em primeira instância, o direito do/a aluno/a surdo/a à língua de sinais em sua plenitude.

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LETRAS LIBRAS|248

A escola também se configura como espaços privilegiados para o encontro de pais e mães,

que criam grupos, comunidade, aproximam-se e procuram entender seus filhos e filhas. Uma

escola que entende o português como segunda língua, na compreensão de que ser segunda língua

não significa não ensinar o português ou reduzir o ensino da língua. Significa entender a língua

como língua estrangeira para o/a surdo/a e que, sendo língua oral, sempre vai ser artificial,

significa não traduzir o sucesso ou o fracasso escolar em escrever e ler bem o português.

Outras práticas precisariam ser inventadas, pela/na escola, para que possa, de fato, educar

também aqueles/as que querem fazer uma escrita de si e se reconhecer como surdos/as (e não

como deficientes da audição – uma compreensão sobre si igualmente legítima). Escutar a

demanda "desses grupos" e construir "com eles e elas" uma escola "para eles/as" poderia ser um

bom começo. Talvez com eles/as possamos romper com os sistemas emaranhados de verdades a

que os saberes sobre a surdez (entendida como patologia) se vinculam; o que poderia significar

abandonar as práticas disciplinares e de exclusão que esses sistemas de verdades legitimam.

Na democracia, a gestão escolar deve garantir que os interesses estarão submetidos à

discussão, à disputa e ao acordo das utopias e dos limites de um projeto político pedagógico

construído no intercâmbio e na dinâmica do jogo das subjetividades presentes no cotidiano das

relações escolares. As políticas públicas, para além das deliberações de gabinete, são constituídas

pelos saberes e fazeres que se desenvolvem nas escolas.

As questões da diferença e da identidade cultural tornaram-se temas centrais na área da

educação. Num cenário mais amplo, ganham visibilidade grupos sociais e culturais que reivindicam

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o direito à afirmação de sua identidade e o respeito à sua diferença. Identidade, diferença,

diversidade cultural são conceitos e palavras que parecem estar, nos dias de hoje, em toda parte.

Até parece que estão conosco há muito tempo, fazendo-nos esquecer de que sua introdução no

discurso educacional é bastante recente.

Nesse sentido, o propósito da pedagogia deveria ser aquele de não fazer de duas

inteligências uma inteligência só. Pois há embrutecimento quando se liga uma inteligência a uma

outra inteligência. O propósito da pedagogia não deveria ser o consenso que monopoliza, o

entendimento que cala. O propósito emancipatório da pedagogia é romper com o

‘embrutecimento’ do pensar, é divergir, é viver a diferença (GIORDANI, 2010).

Compreender o estar na escola como ato de cidadania é muito mais do que frequentar

suas turmas, avançar no conteúdo e receber o diploma de conclusão. Estar na escola é cidadania,

na medida em que as políticas de gestão democrática afinem seus discursos com as práticas de

escuta e deliberação coletiva. Tudo isso, a partir do olhar da comunidade que se articula com os

saberes acadêmicos, representados pela escola, enquanto instituição.

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