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RELATÓRIO FINAL DO PROGRAMA DE PESQUISA E MONITORAMENTO DE FAUNA CINEGÉTICA DO RIO GRANDE DO SUL PERÍODO 2000-2001 Contrato de Serviço FZBRS/FAURGS EXECUTOR DO CONTRATO DE SERVIÇO FAURGS-UFRGS: Prof. João Oldair Menegheti, Dep. de Zoologia, IBIOC/UFRGS. EQUIPE EXECUTORA: Prof. João Oldair Menegheti, Dep. de Zoologia, IBIOC/UFRGS. Coord. Téc. do Projeto Pesquisa e Monitoramento de Perdiz Coord. Téc. do Projeto Barreiras de Pesquisa e Fiscalização de Caça Coord. Téc. do Projeto de Pesquisa e Monitoramento das Marrecas de Caça no Cone Sul das Américas Biól. Demétrio Luis Guadagnin, FAURGS Coord. Téc. do Projeto Pesquisa e Monitoramento de Pomba-de-bando e Pombão Coord. Téc. do Projeto Censo Terrestre de Marrecas de Caça Biól. João Carlos Pradella Dotto, FAURGS Coord. Téc. do Projeto Censo Aéreo de Marrecas de Caça Porto Alegre, 12 de março de 2001.

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RELATÓRIO FINAL DO PROGRAMA DE

PESQUISA E MONITORAMENTO DE FAUNA CINEGÉTICA DO RIO GRANDE DO SUL

PERÍODO 2000-2001

Contrato de Serviço FZBRS/FAURGS

EXECUTOR DO CONTRATO DE SERVIÇO FAURGS-UFRGS:

Prof. João Oldair Menegheti, Dep. de Zoologia, IBIOC/UFRGS.

EQUIPE EXECUTORA:

Prof. João Oldair Menegheti, Dep. de Zoologia, IBIOC/UFRGS. Coord. Téc. do Projeto Pesquisa e Monitoramento de Perdiz

Coord. Téc. do Projeto Barreiras de Pesquisa e Fiscalização de Caça Coord. Téc. do Projeto de Pesquisa e Monitoramento das Marrecas de Caça no Cone Sul

das Américas

Biól. Demétrio Luis Guadagnin, FAURGS Coord. Téc. do Projeto Pesquisa e Monitoramento de Pomba-de-bando e Pombão

Coord. Téc. do Projeto Censo Terrestre de Marrecas de Caça

Biól. João Carlos Pradella Dotto, FAURGS Coord. Téc. do Projeto Censo Aéreo de Marrecas de Caça

Porto Alegre, 12 de março de 2001.

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I. INTRODUÇÃO

A temporada de caça 2000, transcorreu como nos últimos anos sob moratória de caça ao marrecão:

em cada grupo de caçadores legais, acompanhantes alegadamente não caçadores. Ao cruzarem-se as informações, número de participantes do grupo - caçadores e não-caçadores e número de armas que conduzem, frequentemente coincidem. Formalmente, os caçadores que caçam sem estarem licenciados para tal, cometem o ilícito. A atividade cinegética no RS vive uma situação insólita: a convivência de caçadores legalizados e furtivos em mesmos grupos. Isto é uma novidade, porque os caçadores do RS sempre proclamaram que o maior inimigo do caçador legalizado é o furtivo. Portanto, haveria uma distorção dos fatos: pois antagônicos estariam convivendo fraternalmente em comunidade. Como explicar esta contradição? Certamente os legais não consideram seus acompanhantes ilegais como furtivos, que devem ser combatidos. Muitas vezes são parceiros de anos de caçada. Justificam isto sim, que este tipo de furtividade foi gerada por motivos alheios à vontade dos caçadores. É explicada como resultado de medidas recentes tomadas pelo Governo Central do país. A primeira delas foi a elevação do valor da taxa de licenciamento de caça para o RS, determinada pelo IBAMA, sob atmosfera de baixa inflação. Ao passar para R$ 300,00, o valor da taxa mais que duplicou. Outra medida simultânea à primeira, veio contribuir para o descontentamento dos caçadores do RS: a elevação da taxa de trânsito por território nacional, de caça abatida em países vizinhos. É um hábito frequente, o de caçar no Uruguai ou em províncias da Argentina. Além de pagar o licenciamento nestes países vizinhos, são obrigados a pagar mais R$ 300,00 para adquirir a guia de trânsito brasileira.

Deve-se ter em conta que os caçadores já tem normalmente outras despesas para se licenciar. Pagam as anuidades dos clubes de caça, pois o pedido de licenciamento de cada caçador deve vir através dos mesmos. Pagam uma taxa à Federação Gaúcha de Caça e Tiro para sua manutenção e implementação de projetos de interesse do caçador. Pagam taxa ao Governo do Estado para que se desenvolva pesquisa e monitoramento com os animais de caça.

No total, cada caçador precisa despender uma soma enorme para se licenciar anualmente, sem sombra a dúvida um dos montantes mais altos conhecidos. Foi um desestímulo ao caçador do Estado, jogando à furtividade parte da comunidade e provocando desistência da outra parte. Uma terceira fração de caçadores, pequena em relação ao que era, segue se licenciando. Olhando em perspectiva, pode-se avaliar que foi um erro estratégico. Apesar de toda mobilização promovida pelas lideranças dos caçadores em torno de pleito - redução da taxa, este problema segue igual até hoje. No I Seminário de Gestores de Fauna Cinegética do Cone Sul das Américas, realizado em Porto Alegre, em novembro de 1999, foi sugerido e votado como uma das moções do evento: que o IBAMA desdobrasse a taxa de licenciamento anual, segundo a modalidade, metade do valor seria para caça de campo e a outra metade para caça de banhado. O caçador poderia optar por uma modalidade, por outra ou por ambas. Na primeira poderia caçar perdiz (codorna) (Nothura maculosa) e pombas, na segunda, marrecas. As aves consideradas prejudiciais ao cultivo de grãos, caturrita (Myiopsitta monachus) e garibaldi (Agelaius ruficapillus), caberia ao IBAMA determinar se poderiam ser caçadas em uma ou outra modalidade, ou em ambas.

Um fato acontecido em 1998 contribuiu para acentuar ainda mais o desalento entre a comunidade de caçadores do RS. O IBAMA declarou moratória temporária de caça à ave de maior valor cinegético no RS: o marrecão (Netta peposaca). O argumento foi o declínio que acontecia na quantidade de imigrantes ao RS, denunciado pelo próprio grupo de pesquisa FEPAM-UFRGS-FZBRS, em relatório apresentado em março de 2000. A questão que se colocava era: o declínio corresponderia a uma redução no tamanho da população? O IBAMA comprometeu-se, a realizar ou promover estudos na Argentina, onde ficam os principais sítios de nidificação da espécie. Ficou estabelecido que a moratória teria dois anos de validade. Passados os dois anos, em 2000, os caçadores esperavam com expectativa pela decisão. Por dificuldades desconhecidas, o IBAMA, através do CEMAVE, não concluiu os estudos iniciados na província de Santa Fé. O IBAMA então determinou que a moratória de caça ao marrecão seguiria na temporada de 2000. O caçador gaúcho, em geral, não sabe caçar as duas outras espécies de marrecas: marreca-caneleira (Dendrocygna viduata) e marreca-piadeira (D. viduata).

Os custos altos de licenciamento e as três temporadas de caça sob moratória do marrecão têm mantido a anômala convivência do caçador legalizado com o furtivo. O receio dos responsáveis pela caça amadorista no Estado é de que a repetição anual dessa irregularidade possa se institucionalizar, transformando-se em prática usual do caçador. Se isto viesse a acontecer, seria um retrocesso que deixaria sequelas importantes. Para que haja um corte neste processo, é necessário tomar medidas corajosas, tais como promover o desdobramento da licença de caça e decidir o quanto antes, a respeito da moratória do marrecão.

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Para decidir sobre o marrecão, o IBAMA contará com os dados obtidos em censos efetuados durante o inverno de 2000 no RS, no pampa úmido da Argentina e humedais do Uruguai. Desta forma terá uma idéia das magnitudes dos contingentes de marrecões presentes nas três regiões, quase à mesma época.

Duas foram as novidades no plano de pesquisa e monitoramento das aves de caça, período 2000-01: pela primeira vez censaram-se marrecas na Argentina e Uruguai no inverno. A segunda é que a avaliação das densidades relativas da pomba-de-bando (Zenaida auriculata) e pombão (Columba picazuro) foram obtidas através de sete expedições a campo, com periodicidade de 45 dias. O objetivo foi determinar as densidades relativas correspondentes ao período do ano em que ambas espécies eram mais ativas e vocalizavam mais frequentemente.

Manteve-se a conquista alcançada no período 1999-2000 quanto aos censos aéreos de marrecas. Além de desenvolver um censo completo, incluindo a Planície Costeira, a fronteira oeste e fronteira sudoeste do Estado, executaram-se dois censos expeditos na Planície Costeira e que antecederam ao primeiro. Os objetivos foram de verificar com que intensidade se deu a entrada do marrecão através da Planície Costeira e como variou sua abundância durante o inverno.

Outro aspecto a salientar em relação aos censos aéreos de marrecas é que pelo fato da paisagem nas regiões oeste e sudoeste serem muito dinâmicas, o processamento dos dados foi modificado. A grande parte das terras úmidas das duas regiões onde se encontram marrecas, são açudes utilizados para irrigação de arroz, como bebedouros para o gado ou para ambos fins. Como o controle da água é feito através de comportas esvaziam e enchem os açudes com muita facilidade. Alguns dos açudes são desativados e novos criados. Este dinamismo determinou que vários desses corpos de água que eram trabalhados como pontos, com metodologia de contagem correspondente, fossem contados como transectos, com outra metodologia. Para tornar as contagens comparáveis, teve que se ajustar as contagens de anos anteriores. Em consequência, mudaram os totais de marrecas contadas nos anos anteriores, a partir de 1995. Maiores detalhes sobre este ajuste se explicitam na metodologia do censo aéreo.

Em parte por falta de tempo e, em parte por falta de recurso financeiro, foi impossível avaliar-se a nidificação de marrecão e marreca-caneleira durante o verão de 2001, na Argentina. Em parte o impedimento foi consequência de uma demanda dos órgãos estadual (Fundação Zoobotânica do RS) e federal (IBAMA) no sentido de que o estudo de marrecas estivesse redigido e as recomendações elaboradas um mês antes do usual. É o que no momento se está procurando atender.

Durante a temporada de caça de 2000, a FEPAM, encarregada até então da pesquisa com animais cinegéticos do RS, repassou sob a forma de convênio a atribuição à FZBRS. Ao longo do período de estudo 2000-2001, a FZBRS encarregou-se plenamente de gerir o tema caça no Estado. Portanto, neste período de estudo a FZBRS contratou o estudo com a Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (FAURGS).

I.1 HOMENAGEM ESPECIAL O documento técnico-científico que ora é encaminhado às autoridades nacional e estadual que tem

como título “Relatório Final do Programa de Pesquisa e Monitoramento de Fauna Cinegética do Rio Grande do Sul. Período 2000 – 2001”, é dedicado a Carlos Henrique Menke, o “João Grande” das crõnicas do velho “Correião”, como era carinhosamente chamado o Correio do Povo. Líder inconteste dos caçadores conscientes do RS e cronista de caças e caçadas, amante da natureza e apoiador vigilante de estudos e pesquisas sobre a fauna cinegética.

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II. MÉTODOS II.1 CENSO AÉREO Assim como ocorreu no ano de 1999, com o objetivo de melhor investigar a variação da intensidade de imigração de marrecas ao RS, decidiu-se também realizar três censos aéreos. Dois deles com característica de censos “expeditos”, executados somente na região da Planície Costeira, e um terceiro censo, denominado de “completo” incluindo as três regiões. A seleção da Planície Costeira para realização dos dois censos expeditos é citado em MENEGHETI et al. (2000) em que se destacam; 1) constituir-se em rota importante de marrecas imigrantes ao RS; 2) possuir grandes áreas contínuas de terras úmidas; 3) ter uma série temporal de abundância de marrecas na região que seria incrementada com mais três censos em um ano; 4) necessidade de reduzir, de forma expressiva, os custos dos censos expeditos. O primeiro censo, denominado “Expedito I”, foi realizado entre 26 e 28 de julho de 2000. Em contagem de transecto, foram percorridos 1.132,87 km, totalizando uma área de 169,93 km2. Em 46 pontos de contagem o total de área censada foi de 73,44 km2. Esse primeiro censo correspondeu a 14 horas e 43 minutos de vôo. Efetuou-se o segundo censo, denominado “Expedito II”, entre 31 de agosto e 2 de setembro de 2000, totalizando 1.080,37 km em contagem de transecto, cuja área foi calculada em 162,05 km2. Também nessa oportunidade foram censados 46 pontos de contagem cuja soma das superfícies foi de 73, 44 km2. O tempo total de vôo foi 14 horas e 05 minutos. Efetuou-se o terceiro censo, denominado “Censo Completo”, nas regiões da Planície Costeira, Oeste e Sudoeste. Na primeira região, entre 5 e 7 de outubro de 2000, totalizou 1.191,12 km em contagem de transecto ( área de 178,67 km2), 47 pontos de contagem com superfícies medidas de 74,89 km2, em um tempo de vôo igual a 16 horas e 07 minutos. Censaram-se as regiões Oeste e Sudoeste, entre 27 e 29 de setembro, completando 569,75 km em contagem de transecto e 169 pontos. O total de horas de vôo para as duas regiões foi de 22 horas e 14 minutos. Pelo terceiro ano consecutivo utilizou-se um helicóptero de dois lugares, modelo ROBINSON R-22 para a identificação e contagem aérea das marrecas de valor cinegético em ambientes de terras úmidas. Adotaram-se dois procedimentos de amostragem: o primeiro foi denominado de contagem em pontos e o segundo contagem em transectos. Em ambos, as aves foram computadas, individualmente, ou aos pares, quando encontradas em pequenos bandos e, por soma de estimativas de subgrupos, quando em bandos maiores. As espécies de marrecas foram identificadas do ar através dos padrões de coloração e das características de vôo. A contagem em pontos seguiu a metodologia proposta por Tamisier (1965), com adaptações. Consistiu em sobrevoar uma área com limites, facilmente constatáveis no terreno e com dimensões que permitiram identificar e contar, com segurança, indivíduos das espécies de marrecas presentes no ambiente. A altura, a velocidade e o tempo de contagem em cada ambiente variaram, a fim de atender ao princípio de contagem total dos indivíduos de cada espécie de marreca nos pontos. Para a seleção dos pontos de contagem também foram obedecidos os seguintes critérios: a) ambientes lênticos ou lóticos naturais, semi-naturais ou artificiais que potencialmente ou reconhecidamente são áreas de concentração de marrecas; b) ambientes relativamente estáveis no tempo, o que possibilita a repetição dos procedimentos em momentos subsequentes; c) ambientes vegetados, porém só quando há possibilidade de visualização de aves pousadas; d) ambientes cuja forma geométrica e tamanho permitem o sobrevôo unidirecional, a fim de evitar a sobreposição das contagens; d) ambientes censados em anos anteriores para ampliação da série histórica, incrementando a confiabilidade das estimativas. Para a contagem em transectos seguiu-se a metodologia proposta por Caughley (1977), adaptada às condições locais a partir de vôos-teste e experiência adquirida em trabalhos anteriores. Adotou-se uma faixa de 150 m de largura para cada transecto. Os limites desta faixa no terreno foram obtidos a partir da projeção de marcações feitas na bolha da aeronave, em frente ao contador, que ocupou o banco do lado esquerdo, possibilitando a contagem com visão frontal em relação ao sentido de deslocamento. As aves encontradas dentro da faixa de 150m foram anotadas como “em transecto” ou “ dentro-de-transecto” (DT) e as contagens analisadas quantitativamente. As aves observadas fora da faixa demarcada, também foram contadas, sendo anotadas como “fora-de-transecto” (FT) e consideradas somente com o objetivo de complementar informações, quando necessário. Os transectos foram efetuados em ambientes previamente selecionados a partir de cartas temáticas do exército e experiências anteriores,

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obedecendo os seguintes critérios: a) áreas úmidas cujos limites, dimensões e forma geométrica não possibilitam a contagem como pontos; b) ambientes com alta probabilidade de encontrar concentrações de marrecas; c) ambientes próximos a grandes lagos e lagunas ou rios, com várzeas frequentemente inundáveis e, portanto, muito dinâmicos; d) transectos já censados em anos anteriores para incremento da série temporal.

As informação obtidas nas contagens fora-de-transecto são consideradas qualitativas porque: a) a impossibilidade de se obter estimativas da área censada, uma vez que a superfície que se varre em contagem fora-de-transecto, é indeterminável e variável; b) a impossibilidade de se medir a distância entre as aves e o limite da faixa de transecto; c) a área fora-de-transecto pode não coincidir com áreas preferenciais das marrecas e d) as contagens nessa modalidade são eventuais e dependem as vezes da ausência de marrecas dentro-de-transecto, para onde está voltada a atenção do observador. Pelo exposto, é de se esperar que as contagens de aves fora-de-transecto sejam baixas, e efetivamente são, quando comparadas a outras modalidade. A seleção da posição geográfica dos pontos e transectos e consequentemente das rotas de vôo foi determinada também em função da possibilidade de um vôo com segurança, proximidade de outras áreas de interesse, custos financeiros menores e adequação à autonomia de vôo da aeronave. O comprimento de cada transecto variou em razão da heterogeneidade da paisagem, da existência de referências adequadas no terreno, das divisas municipais (para atender à necessidade de regionalização) e do tempo de vôo. Para os vôos em transecto adotou-se a altura padrão de 200 pés, estabelecida para atender a exigência de se provocar o levante dos bandos de marrecas, condição que favorece a identificação e contagem das aves. Excepcionalmente, por determinantes meteorológicos, foi necessário realizar vôos a 150 pés. Diante desta possibilidade, previamente foram colocadas marcações adicionais na bolha do helicóptero para delimitar a projeção de 150 m no terreno a 150 pés de altura. A velocidade foi de aproximadamente 110 km/hora onde os ambientes não estavam localizados próximos entre si e/ou quando a abundância de marrecas era pequena, e de 85 km/h sobre os ambientes preferenciais das aves. Em cada um destes estratos a velocidade de solo foi mantida a mais constante possível, de modo a não alterar a probabilidade de visualização das aves, o que exigiu correções na velocidade relativa (velocidade da aeronave dentro da massa de ar), uma vez que o vento pode mudar freqüentemente de velocidade e direção. Conforme recomendação técnica, fizeram-se interrupções nas contagens durante os vôos para evitar a fadiga e a hipnose de vôo do responsável pela contagem, que são fatores causadores de contagens tendenciosas. Durante a interrupção, procedeu-se ao registro da hora e da posição geográfica, através da leitura de G.P.S. e de outras informações sobre os ambientes sobrevoados. Não houve estas interrupções durante a contagem de bandos. Gravaram-se todas as informações obtidas durante os vôos em microfitas cassete e registraram-se imagens em diapositivos. Os registros de alguns bandos em diapositivos possibilitou a conferência e correção dos dados em laboratório e a avaliação do erro do contador na estimativa dos bandos. A seleção do bando a ser fotografado não é aleatória, pois há necessidade de boas condição de luz, velocidade entre outras, para se obter imagens de qualidade.

As informações geográficas foram obtidas com GPS Garmin, modelo 12 canais. As informações sobre as condições ambientais, número e identificação das marrecas e outras consideradas relevantes foram descritas pelo biólogo contador, situado no banco esquerdo da aeronave, e em comunicação constante com o piloto, por meio do intercomunicador, ao qual foi adaptado um micro gravador. As informações contidas nas microfitas foram posteriormente digitadas em banco de dados.

II.1.1 Análise das flutuações populacionais das marrecas de caça

Uma das novas tarefas do grupo de trabalho de pesquisa em 2000, foi a da elaboração de uma nova base de dados para as regiões Sudoeste e Oeste dos transectos.

A elaboração desta nova base de dados, possibilitou o resgate de contagens desaproveitadas de censos aéreos anteriores, desde 1995. Em anos anteriores, só se alcançava a comparabilidade interanual, ao considerarem-se os transectos repetidamente censados em todos os anos que compõem a série temporal. Com a medição das superfícies de pontos e transectos de contagem na Planície Costeira do RS, iniciado em 1999, priorizou-se a elaboração de um banco de dados para as três regiões. Para tal, levou-se em conta todos os registros, independentes de terem se repetidos ou não. Face a possibilidade de se determinar densidades de marrecas de caça (indivíduos/km2), foi possível resgatar essa informação. Além da melhoria na qualidade da informação sobre abundância das marrecas de caça, aumentou a

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abrangência geográfica e o tamanho da amostragem em campo. A possibilidade de processar-se a informação quantitativa de marrecas em base a superfície de

pontos e transectos, contempla com a devida flexibilidade o quase sempre inevitável fato de ter-se que modificar uma pequena fração da rota de vôo, ano a ano, devido a: 1) desativação de açudes ou drenagens de banhados; 2) necessidade de otimização de roteiros diante de recursos financeiros limitados; 3) o constante surgimento de novos pontos e transectos, porque eram desconhecidos, ou ignoradas suas importâncias, ou ainda porque novos corpos de água artificiais foram criados por proprietários rurais. A necessidade de se buscar novas áreas, atende: ao dinamismo hídrico dos humedais, à capacidade de deslocamento das aves e à exigência do método, que prevê sobrevôo sobre áreas preferenciais.

Os critérios adotados para a inclusão ou exclusão de áreas geográficas correspondentes aos transectos, para as regiões Oeste e Sudoeste, na nova base de dados foram: 1) áreas que foram abandonadas ao longo da série e que tenham sido censadas, no mínimo, em 50% da série temporal; 2) áreas que sejam promissoras para futuros censos, possibilitando a repetição nos próximos anos; 3) áreas que sejam representativas dos diferentes estratos ambientais da região, atendendo a exigência de censo com abrangência geográfica; 4) que a diferença entre o total de quilômetros percorridos em transecto de cada ano, medida linear, não ultrapasse a 10% do valor da média interanuais, da série temporal.

É importante atentar que, diante das considerações anteriores, haverá discrepância entre os dados publicados no presente informe técnico, com os dos anos anteriores. Como exemplo refira-se que as contagens totais de marrecas entre 1995 e 1999 para as regiões Sudoeste e Oeste serão maiores no presente relatório.

Os dados de transectos que compõe a nova base para as três regiões do Estado estão contidos na tabela.II.1.1 Tabela II.1.1- Número de transectos de contagem e respectivas medidas lineares e de superfície, que compõem a base de dados dos censos aéreos de final de inverno, início de primavera. Humedais do RS. 1995 – 2000. Ano No transectos Comprimento total (km) Área total (Km2 )

1995 47 1.715,40 257,31 1996 47 1.690,80 253,62 1997 49 1.780,33 267,05 1998 51 1.748,13 262,22 1999 52 1.843,87 276,58 2000 51 1.760,87 264,13 Média 50 1756,57 263,49 DP 2,17 53,47 8,02 II.1.2 Regiões amostradas nos censos terrestres e aéreos de marrecas Os municípios que concentram áreas úmidas e que foram incluídos na base de dados de ambos os censos foram agrupados em três regiões, descritas em (MENEGHETI et al. 1998) a saber: 1. Planície Costeira; 2. Região Oeste; 3. Região Sudoeste. Entretanto os municípios amostrados foram: Acequá, Alegrete, Arambaré, Arroio Grande, Bagé, Barra do Quaraí, Cacequi, Cachoeira do Sul, Camaquã, Capão do Leão, Capivari, Cidreira, Cristal, Dom Pedrito, Hulha Negra, Itaqui, Jaguarão, Maçambará, Maquiné, Mostardas, Osório, Palmares do Sul, Pelotas, Pinhal, Rio Grande, Rio Pardo, Rosário do Sul, Santa Vitória do Palmar, São Borja, São Gabriel, São José do Norte, São Lourenço do Sul, São Sepé, Tapes, Tavares, Tramandaí, Turuçú, Uruguaiana e Viamão. II.3 OBTENÇÃO E ANÁLISE DE DADOS BIOLÓGICOS

Obtiveram-se dados biológicos das marrecas piadeira e caneleira, em 13 barreiras de fiscalização de caça. Nos dias e locais das barreiras, montaram-se laboratórios volantes para exame biológico das marrecas abatidas por caçadores. No segundo fim-de-semana da temporada, com a abertura simultânea da caça de campo e de banhado, foram necessárias três barreiras simultâneas. Em três fins-de-semana foram realizadas barreiras duplas, e em seis datas, barreiras simples. Locais, datas e número de participante das barreiras estão na tabela II.3.1.

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Tabela II.3.1.- Locais, datas e número de participantes das barreiras de pesquisa e fiscalização de caça, para monitoramento de anatideos de valor cinegético no Rio Grande do Sul. 2000.

Locais – Rodovias Datas Município N°participantes BR - 290 18 e 19 de junho Pantano Grande 5 BR - 116 18 e 19 de junho Camaquã 4 BR - 116 02 e 03 de julho Camaquã 5 RST - 101 02 e 03 de julho Palmares do Sul 3 BR - 116 09 e 10 de julho Camaquã 5 RST – 101 09 e 10 de julho Palmares do Sul 3 RST – 101 16 e 17 de julho Palmares do Sul 3 RST – 101 23 e 24 de julho Palmares do Sul 3 RST – 101 30 e 31 de julho Palmares do Sul 3 RST – 101 06 e 07 de agosto Palmares do Sul 3 RST – 101 13 e 14 de agosto Palmares do Sul 3 RST – 101 20 e 21 de agosto Palmares do Sul 3 RST – 101 27 e 28 de agosto Palmares do Sul 3

O alto número de barreiras realizadas no ano de 2000, deveu-se à exigência de um maior esforço

de campo na obtenção de amostragem mínima para efeito de determinação de dados biológicos da marreca-caneleira. Esta espécie, por suas características de distribuição espacial, que dificulta ser localizada por caçadores, e por ter cota semanal baixa, de 5 indivíduos, é menos capturada. Por isto a demanda de maior esforço de campo. Os locais de amostragem foram instalados junto a Postos da Polícia Rodoviária Federal, Polícia Rodoviária Estadual e posto de pesagem de veículos de maior porte em Palmares do Sul. A área de domínio do posto de Camaquã inclui o sul da Planície Costeira, parte da costa oeste da laguna dos Patos e costa oeste do lago Mirim. No sul da Planície Costeira houve caça de marrecas, em especial, nos seguintes municípios: Santa Vitória do Palmar, Rio Grande. No oeste do lago Mirim, nos municípios de Jaguarão e Arroio Grande. Na costa oeste da laguna dos Patos, houve caça nos municípios de Pelotas, São Lourenço do Sul, Cristal, Turuçú do Sul, Arambaré e de Camaquã. A área de domínio do Posto de Palmares do Sul corresponde à região da costa leste da laguna dos Patos (parte do Litoral Médio), onde houve abate de marrecas nos municípios de Mostardas e parte de Palmares do Sul. Outros municípios próximos aos mencionados, não foram amostrados, devido à posição dos postos fixos de barreiras que tem sido determinados pelas autoridades rodoviárias e/ou por apresentarem um mínimo de infra-estrutura para montagem do laboratório volante. II.3.1 Estrutura populacional das marrecas de caça II.3.1.1 Razão de sexo das marrecas de caça A razão de sexo é definida como a proporção de machos na população. A razão de sexo determinada no presente trabalho para as espécies de caça é, em realidade, a combinação de duas: as razões de sexo terciária e quaternária. A terciária está incluída no período de tempo compreendido pelo final de cuidado de prole de um indivíduo jovem, até a primeira maturação das gônadas. A quaternária corresponde à razão de sexo observado no estrato de adultos. Ambas são consideradas em conjunto no presente documento. Efetuou-se a identificação de sexo das marrecas piadeira e caneleira mediante o exame das gônadas dos indivíduos abatidos por caçadores, que eram retidos para averiguação em barreiras de fiscalização de caça do IBAMA e das Patrulhas Ambientais da Brigada Militar do RS. Mesmo as marrecas evisceradas pelos caçadores em campo, prática mais frequentemente adotada no RS, têm, em geral, as gônadas intactas. Quando as marrecas não estavam evisceradas, fazia-se um corte cuidadoso desde a cloaca até poder visualizar as gônadas. Porém como é uma prática demorada, diante do acúmulo de caçadores nas barreiras, nos horários de maior fluxo, procedia-se a um exame mais rápido, que era a identificação de sexo por eversão de cloaca.

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A obtenção da razão de sexo das marrecas piadeira e caneleira, a partir de indivíduos abatidos por caçadores, não é tendenciosa. É impossível haver determinismo na captura de indivíduos de um sexo em detrimento de outro, pois não apresentam dimorfismo sexual evidente. Tampouco é possível diferenciar o sexo por comportamento das marrecas durante o período de inatividade gonadal, não havendo, portanto, grau de vulnerabilidade diferente entre macho e fêmea. Supõe-se que uma das fontes de tendenciosidade possam ser deslocamentos estratificados segundo o sexo. É possível que, em deslocamento, um dos sexos chegue e saia em maioria ao outro polo de migração. Assim, a razão de sexo obtida, não seria real. No entanto, é possível diminuir esta tendenciosidade, efetuando-se a amostragem no momento em que a maior parte dos migrantes já tenham chegado ao polo de migração, sem ter iniciado ainda o retorno. Uma outra fonte de tendenciosidade pode ser o que Tamisier constatou para as marrecas européias: hierarquia entre indivíduos de uma mesma espécie. Isto poderia determinar que durante a invernagem de marrecas, os machos estivessem separados das fêmeas, os jovens separados dos adultos e os casais junto com os machos. No entanto, espera-se que esta fonte mantenha-se minimizada em seus efeitos, pois a amostragem é espacialmente abrangente, porque os caçadores portam marrecas de várias origens. II.3.1.2 Razão etária de marrecas de caça A razão etária aqui considerada é igual ao número de marrecas jovens em relação ao número de marrecas adultas. É fundamental que se tenha idéia aproximada da capacidade de renovação populacional de uma espécie quando sua população sofre pressão de extração pelo homem. A razão etária é um dos instrumentos adotados como expressão desta renovação. É válido, em especial, quando determinada imediatamente antes da estação de reprodução subsequente, quando já recrutou a maior parte dos jovens que sobreviveram. O recrutamento se dá quando um jovem, já independente de cuidados parentais, alcança plena capacidade de vôo, podendo, tal qual um adulto, ser abatido por caçadores. Considerando-se o estado eviscerado que a maior parte das marrecas chegam às barreiras de fiscalização de caça do RS, é o exame do oviduto, a técnica mais usada para identificar-se se um indivíduo é jovem ou adulto. O oviduto com a espessura de um fio identifica uma marreca jovem. Após a primeira postura de ovos de uma fêmea, o oviduto já dilatado pela passagem dos ovos, não volta à condição anterior. A técnica é confiável para as espécies de marrecas que tenham duas características reprodutivas: 1) um período de inatividade gonadal que coincida com a temporada de caça; 2) jovens que não nidifiquem na mesma estação em que nasceram. Com todos os cuidados já referidos, há um lapso de tempo dentro do qual a técnica é confiável. Já no final deste período, tanto os ovidutos das jovens, quanto os das adultas começam a desenvolver-se, preparando-se para a futura e imediata estação de reprodução. Alargam-se e já não é mais possível distinguir-se a fêmea jovem da adulta. Há uma desvantagem óbvia, na determinação da razão etária, a partir do exame do oviduto: tem validade só para fêmea. Se a razão de sexo terciária fosse previamente conhecida, poder-se-ia calcular, do total, quantos indivíduos eram machos jovens e quantos eram fêmeas jovens. Diante de seu desconhecimento, uma alternativa é admitir que não tenha havido mudança na razão de sexo terciária, desde a primária. Por um lado, porque que fêmeas e machos das marrecas em foco, não evidenciam diferença morfológica em sua ontogênese. Por outro, porque o mesmo ocorre com seus comportamentos que não chegam a determinar diferente grau de risco ao perigo a um ou a outro sexo. Portanto, é possível supor que a razão de sexo terciária seja de 1:1 para marrecas que preenchem estes requisitos. É o caso das marrecas piadeira e caneleira, cujas razões de sexo terciárias são desconhecidas. Entre os machos, há outra técnica possível de ser aplicada que é o exame do estado do pênis. Tanto o pênis de piadeira jovem, quanto o de caneleira jovem são atrofiados, vermiformes. Diferem completamente dos pênis dos adultos. É um ótimo critério de diferenciação de idade. Infelizmente, com o tipo de evisceração praticada pelos caçadores do RS, o pênis é frequentemente extraído ou parcialmente destruído, em ambas as espécies de marrecas. A presença ou não da Bursa de Fabricius permite também estimar a razão etária de ambos os sexos, de marrecas piadeira e caneleira. Trata-se de estrutura que só aparece bem diferenciada em aves jovens. Entretanto, tal qual o que se passa com o pênis, a Bursa é frequentemente extraída ou destruída quando a cloaca é cortada para facilitar a saída das vísceras. Como a renovação populacional está fundamentada na fertilidade e longevidade das fêmeas, não há grande prejuízo para a gestão sustentada das marrecas piadeira e caneleira, a incerteza que cerca as razões etárias de machos no RS.

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III. RESULTADOS E DISCUSSÃO

1 MONITORAMENTO DE ANATÍDEOS 1.1 Censo aéreo ....dotto.... 1.2 Censo terrestre 1.2.1 Estatística descritiva do censo terrestre de 2000 Nas contagens terrestres por pontos em todas as regiões, foi registrado um total de 23.924 marrecas das três espécies de maior interesse cinegético (Tab. 1). A marreca-piadeira foi a mais abundante, com 78,16% dos indivíduos e a marreca-caneleira a menos abundante, com 8,20% dos indivíduos. O que concorda com os resultados dos anos anteriores e também do censo aéreo. Do mesmo modo, a maioria das aves foram observadas nos pontos, em proporção equivalente aos anos anteriores (83,88%), . Tabela 1 - Número de marrecões, marrecas-piadeira e marrecas-caneleira contadas no censo terrestre de setembro de 2000.

Marrecão Marreca-piadeira

Marreca-caneleira

pontos 1.734 16.872 1.461 transectos 1.529 1.828 500 total 3.263 18.700 1.961

As contagens nos pontos indicaram que a maiores concentrações de marrecões no período do monitoramento foram na região Sudoeste (Tab. 2), ao contrário do padrão mais generalizado de maiores contagens na zona costeira. As contagens em trasectos, por outro lado, indicaram maiores concentrações na zona costeira, conforme encontrado nos anos anteriores (Tab. 3). No caso da marreca-piadeira, as contagens tanto em pontos (Tab. 4) quanto em transectos (Tab. 5) apresentaram no ano de 2000 o mesmo padrão encontrado nos anos anteriores, qual seja, concentrações maiores na zona costeira. A marreca-caneleira mostrou uma abundância similar nas três regiões amostradas, considerando os pontos de contagem (Tab. 6). Por outro lado, as contagens em transectos indicaram uma concentração maior na zona costeira (Tab. 7). Tabela 2 - Resumo estatístico das contagens de marrecão nos pontos do censo terrestre de setembro/2000. Zona Costeira Região Sudoeste Região Oeste Total Média 10,5484 28,5385 5,15789 13,6535Mediana 0 0 0 0Desvio padrão 47,7918 84,1727 20,2906 54,4717Curtose 29,9174 11,5644 30,4021 28,3045Assimetria 5,43266 3,45595 5,21626 5,19796Mínimo 0 0 0 0Máximo 266 359 134 359Soma 327 1113 294 1734Número de pontos 31 39 57 127Nível de confiança (90.0%) 14,5687 22,724 4,49499 8,00942

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Tabela 3 - Resumo estatístico das contagens de marrecões nos transectos do censo terrestre de Setembro/2000. Zona Costeira Região Sudoeste Região Oeste Total Média 156,875 17 0,5 54,60714286Mediana 8 0 0 0Desvio padrão 322,368661 66,9367861 1 183,8548822Curtose 5,535867165 15,99598832 4 18,76426139Assimetria 2,349000328 3,999295205 2 4,181668716Mínimo 0 0 0 0Máximo 912 268 2 912Soma 1255 272 2 1529Número de transectos 8 16 4 28Nível de confiança (90,0%) 215,9335869 29,33590058 1,176681508 59,18126541 Tabela 4 - Resumo estatístico das contagens de marreca-piadeira nos pontos do censo terrestre do Setembro/2000.

Zona Costeira Região Sudoeste Região Oeste Total Média 188,935 119,923 111,193 132,85Mediana 15 2 7 6Desvio padrão 395,290 331,456 304,069 335,361Curtose 8,110 15,670 16,870 12,283Assimetria 2,881 3,821 3,930 3,47929Mínimo 0 0 0 0Máximo 1624 1721 1747 1747Soma 5857 4677 6338 16872Número de pontos 31 39 57 127Nível de confiança (90,0%) 215,9335869 29,33590058 1,176681508 59,18126541 Tabela 5 - Resumo estatístico das contagens de marrecas-piadeira nos transectos do censo terrestre do Setembro/2000. Zona Costeira Região Sudoeste Região Oeste Total Média 84,625 64,25 30,75 65,28571429Mediana 61,5 0 14 0Desvio padrão 97,01242557 131,118013 44,82094005 111,8142829Curtose -1,52359372 1,703869315 2,051964261 1,692876025Assimetria 0,517037444 1,82807806 1,533034197 1,685103505Mínimo 0 0 0 0Máximo 237 378 95 378Soma 677 1028 123 1828Número de transectos 8 16 4 28Nível de confiança (90,0%) 64,98225034 57,46414219 52,73997131 35,99203172

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Tabela 6 - Resumo estatístico das contagens de marreca-caneleira nos pontos do censo terrestre do inverno/2000.

Zona Costeira Região Sudoeste Região Oeste Total Média 13,6535 13,6535 10,7368 11,5952Mediana 0 0 0 0Desvio padrão 54,4717 54,4717 50,7541 50,7844Curtose 28,3045 28,3045 50,188 39,1307Assimetria 5,19796 5,19796 6,92309 6,04304Mínimo 0 0 0 0Máximo 359 359 376 376Soma 1734 1734 612 1461Número de pontos 127 127 57 126Nível de confiança (90.0%) 8,00942 8,00942 11,2436 7,49727 Tabela 7 - Resumo estatístico das contagens de marreca-caneleira nos transectos do censo terrestre do inverno/2000. Zona Costeira Região Sudoeste Região Oeste 2000 Média 58 1,5 3 17,85714Mediana 3,5 0 0 0Desvio padrão 146,149 3,141 6 78,84101Curtose 7,906 3,563 4 27,64534Assimetria 2,807 2,124 2 5,244098Mínimo 0 0 0 0Máximo 419 10 12 419Soma 464 24 12 500Número de transectos 8 16 4 28Nível de confiança (90,0%) 97,896 1,377 7,060 25,37823 A distribuição das espécies de anatídeos no Rio Grande do Sul está relacionada à disponibilidade dos hábitats requeridos para alimentação, descanso e refúgio, além de outras condições ambientais. A abundância de marreca-piadeira, marreca-caneleira e marrecão, nas diferentes regiões do Estado, deve refletir a disponibilidade destes fatores no período em que as contagens terrestres são efetuadas. A zona costeira é a região com maior superfície de áreas úmidas, como banhados naturais, plantações de arroz irrigado, açudes rasos, entre outros. Nesta região são esperadas as mairoes contagens das três espécies de maior interesse cinegético. No período do censo do ano 2000, entretanto, mais marrecões foram encontrados na região sudoeste, e abundâncias semelhantes de marreca-caneleira foram encontradas em todas as regiões. É provável que tal situação seja consequência da situação de enchente verificada na zona costeira na época daqiele censo, que pode ter resultado num afugentamento das aves dos locais normalmente frequentados. Tal evidência é reforçada pelo fato de que, nos transectos, as adundâncias verificadas correspondem às esperadas. Esta situação deve ser levada em conta quando comparados os dados deste ano com os dos anos anteriores, especialmente nas análises dos pontos de contagem. Na comparação com os resultados do censo aéreo, é possível afirmar que, especialmente na região da planície costeira, o censo terrestre do ano 2000 não capturou as grandes concentrações de aves que invernaram no Rio Grande do Sul. No censo aéreo, as as contagens em pontos registraram um queda acentuada em relação aos anos anteriores (Tab. XXXX- Dotto), um padrão semelhante ao encontrado nos pontos do censo terrestre. Por outro lado, as contagens aéreas em transectos registraram grandes concentrações de aves em ambientes que não são acessíveis pelas contagens terrestres. Além disso, os transectos terrestres, onde muitas aves foram registradas, representam uma fração pequena do esforço de amostragem do censo terrestre, portanto, o número de aves ali registrado não foi suficiente para

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compensar a queda verificada nos pontos. O contrário ocorreu no censo aéreo, onde as contagens em transectos representam uma fração significativa do esforço amostral.

O padrão fortemente agregado característico das espécies nos meses de comportamento de invernagem, que se verifica através da grande variação de abundância entre os pontos e entre os transectos do censo terrestre (Tab.s 2 a 4), indica que as aves não se distribuem por todos os hábitats disponíveis mas, ao contrário, concentram-se em grandes bandos em alguns poucos sítios, deixando outros desocupados. Nos relatórios apresentados nos anos anteriores já se demonstrou que este padrão se acentua nos anos de grandes migrações, os seja, ainda que muitas aves migrem, sua detecção não necessariamente se torna mais fácil. Esta condição também ajuda a entender por que a grande abundância verificada no censo aéreo não foi verificada também no censo terrestre. 1.1.2. Análise das flutuações populacionais entre 1989 e 2000 O número de pontos e transectos onde foram realizadas contagens, variaram de ano para ano, devido a alterações do ambiente ou dificuldade de acesso (Tabs. 8 e 9). Os primeiros anos foram pouco amostrados, tendo se realizado um grande esforço a partir do ano de 1995, após o período de interrupção do monitoramento (anos 1993 e 1994). A modalidade de contagem em transectos só foi iniciada, de forma complementar, a partir de 1995. Nota-se que a zona costeira participou no censo com um número bastante superior de pontos que as demais regiões até o ano de 1995. A partir do ano de 1996 e, principalmente 1997, as regiões Sudoeste e Oeste passaram a contribuir de tanto ou até mais que a zona costeira no total de pontos. Tabela 8 - Número de pontos do censo terrestre entre os anos de 1989 e 2000. REGIÃO 1989 1990 1991 1992 1995 1996 1997 1998 1999 2000Zona Costeira 11 17 19 21 52 74 67 79 34 31Região Sudoeste 9 9 10 9 37 37 41 43 34 38Região Oeste 0 10 10 0 33 58 47 55 29 57Total 20 36 39 30 122 169 155 177 97 126 Tabela 9 - Número de transectos do censo terrestre entre os anos de 1989 e 2000.

REGIÃO 1995 1996 1997 1998 1999 2000 Zona Costeira 17 26 29 34 6 8 Região Sudoeste 16 19 18 17 16 16 Região Oeste 8 10 7 11 0 4 Total 41 55 54 62 22 28

O número total de aves censadas a cada ano, portanto deve ser ponderado pelo número de pontos e pela sua distribuição geográfica para poder avaliar criteriosamente as flutuações populacionais das espécies de interesse. Analisando o número médio de marrecões por ponto de contagem verificamos que as maiores abundâncias foram registradas nos anos de 1990 e 1995 e as menores nos anos de 1998 e 2000 (Tab. 10). Estes anos foram também os que apresentaram as maiores variações de abundância entre pontos. A análise estas variações sugere que os anos de 1990 e 1995 registraram abundâncias significativamente maiores que os demais e que, possivelmente, os anos de 1998 e 2000 apresentram uma abundância significativamente inferior aos demais. Estes resultados são particularmente influenciados pelas contagens na zona costeira, onde são registradas as maiores abundâncias e onde se concentraram as contagens até o ano de 1995.

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Tabela 10 - Número total de marrecões censados em cada região considerando o total de pontos.

REGIÃO 1989 1990 1991 1992 1995 1996 1997 1998 1999 2000Zona Costeira 467 5682 700 1889 1648

77699 5548 1332 1593 327

Região Sudoeste 451 682 157 451 1078 532 339 29 706 1113Região Oeste - 1828 698 - 2473 2468 933 70 1034 294Total 918 8192 1555 2340 2003

81069

96820 1431 3333 1734

O número médio de marrecões por transecto entre os anos de 1995 e 2000 (Tab. 11) reforça a idéia de que o ano de 1995 registrou grande abundância da espécie, porém, no caso do ano 2000, sugere que houve um deslocamento dos hábitats preferenciais tradicionalmente utilizados e que são censados como pontos, para hábitats alternativos criados ou que se tornaram adequados como consequência das enchentes, principalmente na zona costeira. Tabela 11 - Número total de marrecões censados em cada região considerando o total de transectos.

REGIÃO 1995 1996 1997 1998 1999 2000Zona Costeira 5555 117 547 428 225 1255Região Sudoeste

616 155 398 8 0 272

Região Oeste 429 170 1436 54 0 2Total 6600 442 2381 490 225 1529

Analisando o número médio de marrecas-piadeira por ponto de contagem verificamos que as maiores abundâncias foram registradas nos anos de 1990, 1995 e 2000 e as menores nos anos de 1998 e 1999 (Tab. 12). Os primeiros anos amostrados registraram totais maiores, mas também maiores variações entre pontos. A análise destas variações indica que não é possível afirmar que as diferenças entre os anos sejam significativas. Cada região apresentou um padrão particular de flutuação do número médio de marrecas, com amplitudes maiores que quando tomadas em conjunto, porém em anos diferenciados, o que resulta numa relativa estabilidade ao longo dos anos. Tabela 12 - Número total de marrecas-piadeira censadas em cada região considerando o total de pontos.

REGIÃO 1989 1990 1991 1992 1995 1996 1997 1998 1999 2000 Zona Costeira 21.63

9 26.50

015.26

623.16

325.72

7 37.88

2 46.09

5 17.13

9 21.42

0 9.225

Região Sudoeste

1.586 979 1.661 1.586 4.223 1.495 3.005 4.218 2.632 4.677

Região Oeste 2.437 3.253 7.853 6.390 4.218 13.719

11.197

6.338

Total 23.225

29.916

20.180

24.749

37.803

45.767

53.318

35.076

35.249

20.240

O número médio de marrecas-piadeira por transecto entre os anos de 1995 e 2000 (Tab. 13) reforça a idéia de que o ano de 1995 registrou grande abundância da espécie e o ano de 1999 uma pequena abundância, entretanto, as marrecas-piadeira não ocorreram de forma abundante nos transectos do ano 2000. Este resultado foi particularmente influenciado pela baixa abundância registrada nos transectos da zona costeira. Conforme já comentado, havia uma situação de enchentes na planície costeira por ocasião do censo que deve ter influenciado este resultado.

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Tabela 13 - Número total de marrecas-piadeira censadas em cada região considerando o total de transectos.

REGIÃO 1995 1996 1997 1998 1999 2000Zona Costeira 6206 1735 13320 14284 2055 677Região Sudoeste

2786 1116 1105 684 301 1028

Região Oeste 20967 2991 15981 11315 0 123Total 29959 5842 30406 26283 2356 1828

Analisando o número médio de marrecas-caneleira por ponto de contagem verificamos que a abundância apresenta uma tendência de redução contínua nos anos de 1989 a 2000. (Tab. 14). Esta tendência já havia sido detectada nos anos anteriores e não apresentou alteração no ano 2000. De um modo geral, todas as regiões amostradas apresentaram padrão semelhante, com a única excessão de um incremento nas contagens da região sudoeste em 1995. Tabela 14- Número total de marrecas-caneleira censadas em cada região considerando o total de pontos.

REGIÃO 1989 1990 1991 1992 1995 1996 1997 1998 1999 2000Zona Costeira 7.859 8.121 6.204 7.517 4.086 7.436 5.888 2.515 3.298 569 Região Sudoeste

1.037 239 1.233 1.037 206 148 217 267 81 280

Região Oeste 698 1.159 2.902 1.128 664 50 223 612 Total 8.896 9.058 8.596 8.554 7.194 8.712 6.769 2.832 3.602 1.461 O número médio de marrecas-caneleira por transecto entre os anos de 1995 e 2000 (Tab. 15) não sugere a mesma tendência verificada nos pontos. Uma abundância excepcional foi registrada no ano de 1999 indicam que contagens excepcionais ocorreram nos anos de 1995 e 1997, não havendo diferenças importantes entre os outros anos. Analisando cada região em separado percebe-se que o resultado geral é bastante influenciado pelas contagens na zona costeira, onde são registradas as maiores abundâncias por transecto. Tabela 15 - Número total de marrecas-piadeira censadas em cada região considerando o total de transectos.

REGIÃO 1995 1996 1997 1998 1999 2000Zona Costeira 1468 6 488 386 1713 464Região Sudoeste

144 34 282 0 2 24

Região Oeste 0 103 1470 207 12Total 1612 143 2240 593 1715 500

Comparando as análises realizadas para as três espécies, é interessante notar que elas são

consistentes quanto aos anos de maior e menor abundância, um fato já mencionado no relatório do anterior e que se repetiu também em 2000. Para todas as espécies, as maiores contagens foram realizadas nos primeiros anos da série, antes da interrupção em 1992 e 1992. Do mesmo modo, os anos de 1998 e 2000, no final da série, foram os anos de menores contagens. Tais tendências populacionais similares sugerem similaridade ecológica ou causas similares. Além disso, intervalos de confiança grandes significam mudanças no número de indivíduos em um dado sítio, percebidas como erráticas. Em conjunto, estas evidências sugerem que as flutuações populacionais percebidas provavelmente são resultantes de modificações na distribuição espacial devidas a deslocamentos de hábitat entre os anos. Nos anos de baixas contagens as aves podem estar se concentrando em outras regiões ou hábitats não censados.

Comparando estes resultados com as tendências detectadas através do censo aéreo, verifica-se novamente que foi no ano 2000 que houve uma discrepância entre os métodos de monitoramente, que contrasta com a concordância geral verificada de 1995 a 1999.

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As análises comparativas, tanto dos resultados do último ano quanto das flutuações populacionais de 1995 até o momento, indicam ambas que o ano 2000 apresentou um quadro atípico. A condição de enchente na palnície costeira, associada a baixa representatividade dos transectos nesta região e neste ano, resultou em que o censo terrestre não tenha tido êxito em capturar com fidelidade a abundância de marrecas que efetivamente infernou no Rio Grande do Sul, conforme consistentemente verificado nos três censos aéreos realizados. Felizmente, a estratégia do programa de monitoramento de utilizar simultaneamente diferentes técnicas de censo permitiu detectar tal discrepância. III- 3 RAZÃO DE SEXO E RAZÃO ETÁRIA DAS MARRECAS DE CAÇA III.3.1 Razão de sexo de marreca-caneleira

Nos últimos anos tem-se dado importância crescente ao estudo da marreca-caneleira a fim de ajustar uma gestão sustentável da espécie como recurso usufruído pela caça esportiva. Em 2000, este cuidado expressou-se, além de outras formas, pela busca de otimização entre o esforço de trabalho junto às barreiras de pesquisa e fiscalização de caça e o rendimento, refletido no número de exemplares examinados. O grande objetivo era alcançar a amostragem mínima para sistema binário, como macho-fêmea. Foi difícil, por duas razões. A primeira é devido a cota máxima de abate ter sido baixa em 2000, cinco peças por semana para cada caçador. Se necessitaria examinar as cotas de marreca-caneleira trazidas por um expressivo número de caçadores. A segunda razão é que a marreca-caneleira sempre foi caça eventual. Ou seja, era abatida sempre que caçando marrecão, surgisse uma marreca-caneleira na mira. Ou então era caçada face a ausência de marrecão no umedal. Porém, a partir da vigência da moratória de caça ao marrecão, o quadro mudou completamente, pois a marreca-caneleira junto com a marreca-piadeira, passaram a constituir-se nos alvos principais. Ante a presença do caçador, o vôo-reação ao alarme de ambas é bem diferente do executado pelo marrecão. Os caçadores do RS alegam não saber caçar as marrecas caneleira e piadeira, e o dizem com toda a razão, pois a prática é diferente da exercida para marrecão. Em consequência os rendimentos de caça são relativamente baixos, sendo pouco frequente o caçador que traz cota plena, ainda que informe ter a marreca-caneleira estado presente no umedal em que caçava.

Procurou-se estar atento à movimentação dos bandos de marreca-caneleira, informação prestada por colaboradores voluntários ou mesmo por caçadores. A idéia foi de postar barreiras nos acessos mais frequentes a estes sítios. Com muito esforço conseguiu-se examinar cerca de 500 marrecas-caneleira.

O resultado foi uma razão de sexo igual a 1,34:1,00, correspondendo à percentagem de 57,27% de machos. Aplicado o teste Qui-quadrado 2X2, houve diferença significativa (p<5%). A diferença entre machos e fêmeas em 2000, pode ser considerado como esperado. Em anos anteriores, sempre que houve diferença significativa da razão 1:1, foi em favor dos machos e, em alguns deles, com razões de sexos maiores do que a de 2000. Em 1984, a razão de sexos foi de 1,64:1,00; em 1986, de 1,45:1,00; mais recentemente, em 1997, foi de 1,38:1,00.

III.3.2 Razão de sexo de marreca-piadeira

Foram examinadas 1.380 marrecas-piadeira em 2000, das quais 878 em barreira de fiscalização de caça situada em Palmares do Sul e 502 exemplares em Camaquã. As barreiras de Palmares do Sul amostraram marrecas-piadeira presentes em umedais do próprio município, de Mostardas. As barreiras efetuadas em Camaquã amostraram marrecas originárias do sul do Estado, em especial, Arroio Grande, Jaguarão e Santa Vitória do Palmar. A razão de sexos foi igual a 1,29:1,00. Aplicado o teste do Qui-quadrado, a decisão foi de rejeitar a hipótese nulidade. Portanto, há diferença significativa entre as percentagens de machos e de fêmeas (p<5%), em favor dos machos. O valor obtido em 2000 está dentro da normalidade. Toda vez que houve diferença significativa na contribuição relativa entre ambos sexos, em anos anteriores, favoreceu aos machos (1996, 1998, 1999). III.3.3 Razão etária de marreca-caneleira

Nem sempre nos últimos anos foi possível determinar a razão etária de marreca-caneleira, por razões já mencionadas anteriormente quando se comentou sobre as dificuldades para determinação da razão de sexos da espécie. O problema se acentua ainda mais com a determinação da razão etária. Em

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geral, determina-se somente a razão etária no estrato das fêmeas. Porque mesmo com a evisceração pós-abate com o fim de preservar a carne, promovida pelos caçadores, o oviduto, em geral, permanece. Mesmo assim, já no final de temporada, o oviduto das fêmeas desenvolvem-se, preparando-se para a próxima estação de acasalamento. No caso de machos, ainda que o estado de desenvolvimento do pênis seja um bom indicador, ele é muitas vezes extraído no ato da evisceração. Além disto, há anos em que as barreiras de meados a final de agosto são desconsideradas, devido ao desenvolvimento do pênis do jovem, levando à identificação equivocada. O ano de 1999 foi um bom exemplo para evidenciar as dificuldades em determinar razão etária. Pôde-se examinar 41 ovidutos, o que impossibilitou identificá-la.

Em 2000 examinaram-se 169 ovidutos, obtendo-se uma razão etária igual a 0,67:1,00, correspondendo a uma percentagem de jovens igual a 40,24%. Em machos obteve-se uma percentagem assemelhada ao se adotar a presença-ausência da Bursa de Fabricius como indicador. Para 211 bursas de machos examinadas a razão etária foi de 0,83:1,00, correspondendo a uma percentagem de jovens de 45,50%. Este é um valor que se pode considerar como intermediário para a espécie. Por exemplo, em 1995, de 73 ovidutos examinados, 37% eram de fêmeas jovens. Em 1998, a percentagem de fêmeas jovens ficou acima de 50%. A razão etária foi de 1,47:1,00.

III.3.4 Razão etária de marreca-piadeira

Em 2000 examinaram-se 456 ovidutos. Destes, 45,62% eram ovidutos de fêmeas. É também considerado como valor intermediário para a espécie e, portanto, dentro da normalidade. Uma vez que, em anos anteriores, a percentagem de marrecas-piadeira jovens variou de um mínimo de 39% em 1995 a um máximo de 50,15% em 1998.

III.4 AVALIAÇÃO DO POTENCIAL CINEGÉTICO DA MARRECA-PÉ-VERMELHO

O objetivo central desse estudo é avaliar os estoques de marreca-pé-vermelho, focando a

possibilidade de seu usufruto pela caça amadorista. Uma vez que presentemente seja talvez a única espécie de marreca passível de ser caçada, além das outras três que têm sido liberadas à caça nos últimos anos, já discutidas previamente.

Como foi argumentado em MENEGHETI et al. (2000), a marreca-pé-vermelho parece ser a mais residente das marrecas que ocorrem no Rio Grande do Sul e tal característica confere aos censos uma importância maior quando comparados com aqueles efetuados com marrecas migradoras. Desta forma, as variações quantitativas de marreca-pé-vermelho percebidas em censos refletem melhor as diferenças de abundância populacional no tempo e espaço.

Por outro lado, há várias restrições que se deve levar em conta ao proceder a uma análise de dados de marreca-pé-vermelho obtidos através de censo aéreo e que dificultam sua comparabilidade no tempo e no espaço (MENEGHETI et al., 2000). Algumas delas são inerentes à própria espécie, outras à metodologia adotada de censo. A primeira restrição é quanto o momento do censo aéreo que talvez fosse inoportuno. Os censos aéreos que compõem a série temporal de marreca-pé-vermelho são os denominados “completos”, efetuados no final do mês de setembro e/ou início de outubro. Os censos completos formam a maior série temporal de censo aéreo passível de análise no momento. Por experiência própria dos pesquisadores, acumulada nos primeiros anos de realização de censos expeditos, desenvolvidos anualmente antes do censo completo, sabe-se que os bandos maiores de marreca-pé-vermelho são mais frequentemente registrados durante o inverno. Já no final desta estação e inicio de primavera, as marrecas-pé-vermelho são mais encontradas aos pares, sugerindo que haja precocidade relativa dentro do mesmo ano, em seu acasalamento, quando comparada às marrecas de caça do RS. Portanto, a indagação de qual seria o melhor período do ano para censar essa espécie, tendo em vista suas características comportamentais e de distribuição entre outras.

A segunda e terceira restrições estão associadas e se referem por um lado ao grau de camuflagem da marreca-pé-vermelho e, por outro lado, a seu nível de irritabilidade ao ruído emitido pela aeronave. Sua camuflagem é tão bem ajustada às cores de fundo que, quando pousada, é difícil sua percepção em censo aéreo. A localização, identificação e contagem da marreca-pé-vermelho são factíveis quando obrigada a voar. Isto se deve às cores vivas de sua plumagem, e a sua forma de voar. A terceira restrição é sua relativa baixa irritabilidade à perturbação provocada pela passagem de uma aeronave a baixa altura e velocidade, quando comparada às três marrecas de caça do RS. Dependendo do ambiente, da presença de outras aves e de condições climáticas as marrecas-pé-vermelho podem permanecer pousadas, sem serem percebidas pelos observadores, resultando em subestimação de seus estoques.

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A quarta, diz respeito, a uma questão metodológica: a necessidade de troca de aeronave no ano de 1998, quando o Cessna 305 foi substituído por um helicóptero Robinson R-22. O helicóptero além de possuir formato diferente, produz ruídos peculiares. Estes dois fatores combinados, podem hipoteticamente, provocar um levante maior de marreca-pé-vermelho. Ao contraria, as contagem obtida com o Cessna estaria subestimada em relação à totalizada através do uso do Robinson.

Além de todas as restrições previamente expostas, qualquer conclusão sobre o atual estado de conservação da marreca-pé-vermelho deve ser cautelosa. A avaliação do padrão de incremento de uma população – nulo, positivo ou negativo - a partir de dados de seis anos de censos, pode representar um período curto e, consequentemente, originar estimadores pouco confiáveis. III.4.1 Análise das contagens aéreas totais e densidades da marreca-pé-vermelho obtidas na Planície Costeira e regiões Sudoeste e Oeste do Rio Grande do Sul, entre 1995 e 2000

As contagens de marrecas-pé-vermelho em pontos com áreas conhecidas na Planície Costeira, bem como em transectos nas três regiões, são apresentadas como densidade (marrecas/km 2) (Tab.III.4.1), e contagens totais (Tab III.4.2). Devido ao possível efeito nas contagens por troca de aeronave, comentada anteriormente, tomou-se a precaução, por um lado, de comparar entre si, os totais e as densidades médias estimados entre 1995 e 1997 e, de outro lado, os obtidos entre 1998 e 2000.

Tabela III.4.1 - Densidades (marrecas/km2), da marreca-pé-vermelho (Amazonetta brasiliensis) em pontos e transectos de contagens aéreas, efetuadas entre 1995 e 2000, na Planície Costeira (R1), Região Sudoeste (R2) e Região Oeste (R3). RS. 1995 1996 1997 1998 1999 2000 PO DT PO DT PO DT PO DT PO DT PO DT R1 0,53 0,78 1,10 1,44 0,14 1,10 1,02 2,82 3,04 6,07 1,00 3,34 R2 0,32 2,04 1,27 3,51 4,55 2,68 R3 2,81 1,37 0,88 1,78 4,88 6,43 PO- ponto DT – dentro do transecto – R1-Planície Costeira, R2-Região Sudoeste e R3-Região Oeste

Comparando a densidade de marreca-pé-vermelho nos três primeiros anos, observam-se padrões de variação distintos entre as Regiões 1 (Planície Costeira) e 2 (Região Sudoeste) e a Região 3 (Região Oeste). Nas duas primeiras, as densidades mais do que duplicaram, compensando o decréscimo na Região 3 que variou de 2,81 a 0,88 indivíduos/km 2.

Nos três últimos anos da série, observa-se um padrão de variação semelhante nas Regiões 1 e 2, ou seja, de uma densidade de marreca-pé-vermelho maior em 1999, e de um retorno em 2000 a valores semelhantes aos obtidos em 1998. Na Região 3, ocorreu um crescimento, em que a densidade aumentou de 1,78, a 4,88 indivíduos/km2, alcançando a 6,43 indivíduos/km 2 em 2000. O aumento de densidade na Região 3 em 2000, correspondeu a mais do que o dobro, da maior densidade da série de seis anos.

Outro instrumento para avaliação das variações de abundância da marreca-pé-vermelho é a contagem total das aves nas três regiões do Estado, a partir de 1995, pelo censo aéreo (Tab III.4. 2 ) Verifica-se que nos três primeiros anos nas Região 1 e 2, houve um aumento no número de aves contadas em 1996 e um decréscimo em 1997, ainda assim, com valores superiores ao primeiro ano. Na Região 3 os totais diminuíram de 142 em 1995, a 61 marrecas em 1997. Os totais de aves das três regiões, assim como ocorreu com as Regiões 1 e 2, aumentaram em 55,8 % em 1996, retornando no ano seguinte, a valores assemelhados aos do primeiro ano.

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Tabela III.4.2– Contagens totais de marreca-pé-vermelho (Amazonetta brasiliensis). na Planície Costeira(R1), Região Sudoeste(R2) e Região Oeste(R3). Censo aéreo – RS. 1995-2000.

Região 1995 1996 1997 1998 1999 2000 R1 181 371 234 683 1434 680 R2 73 179 92 224 508 309 R3 142 67 61 210 437 413 TOTAL 396 617 387 1117 2382 1402 R1- Planície Costeira; R2-Região Sudoeste; R3 - Região Oeste

Nos três últimos anos, quando foi utilizado o helicóptero para a execução do censo aéreo, as

contagens resultantes de marreca-pé-vermelho foram maiores que as dos três primeiros anos da série. As altas contagens em 1999 não se repetiram em 2000, embora neste ano, os números de indivíduos censados (regiões 1, 2 e 3) tenham sido iguais ou superiores as de 1998. Na Região 3, praticamente foi mantido em 2000 o relativo alto valor obtido em 1999.

Considerando os valores totais das três regiões em conjunto, embora em patamares diferentes, observa-se um pico em 1996, com retorno no ano subsequente aos valores de 1995 e outro pico no ano de 1999, com retorno a valores um pouco superiores a 1999.

III.4.2 Recomendações finais sobre a marreca-pé-vermelho

Ainda que nos dois últimos anos tenham se obtido as mais altas densidades até o presente, a

densidade máxima, ainda é inferior aos menores totais já obtidos com as outras espécies de marreca de caça. Entretanto nesse comparação temos que considerar importantes diferenças. Segundo MENEGHETI et al. (2000)..”...o marrecão e a marreca-caneleira estão em geral concentradas em bandos maiores no RS durante o período de invernagem. Já a marreca-pé-vermelho distribui-se espacialmente em bandos menores durante todo o ano, em especial como casais. Uma segunda diferença é que o marrecão e a marreca-caneleira, em suas maiores frações, estão praticamente restritos à metade do sul do Estado, exceto na Encosta do Sudeste, ao passo que a marreca-pé-vermelho está presente em todo o RS. O fato de ser bastante frequente, mas pouco abundante, por um lado confere à marreca-pé-vermelho uma maior vulnerabilidade e isto poderia conduzir à conclusão de que não possa ser caçada. No entanto, por outro lado, o fato de ocorrer em pequenos bandos, compensa a maior vulnerabilidade, no sentido de que para caçá-la em maior número, o caçador é obrigado a movimentar-se mais, pois lhe é exigido visitar várias propriedades rurais”.

A marreca-pé-vermelho possui características atraentes ao caçador. É uma ave de vôo rápido e, em geral baixo, características atraentes ao tiro esportivo. Porém, contraditoriamente, este tipo de vôo dificulta seu abate.

O grupo de trabalho mantém a posição assumida no ano passado, quando ventilou-se a possibilidade de em caráter experimental, incluir-se a marreca-pé-vermelho na portaria de caça. Isto seria feito com cota restrita de abate semanal, do tipo dois exemplares por semana. Esta alternativa deveria ser levada em conta se mantida ou não a moratória de caça ao marrecão por mais um ano. Também com o compromisso dos órgãos responsáveis pela fiscalização para que essa atividade seja planejada e executada plenamente de forma eficiente e em todo o estado do Rio Grande do Sul. Sabe-se que essa participação depende, entre outras fatores, de recurso humanos e financeiros suficientes, e também de convênios entre entidades federais, IBAMA, e estaduais Patrulhas Ambientais da Brigada Militar (PATRAM). Caso não haja este comprometimento a pressão sobre os estoques de marreca-pé-vermelho podem ser demasiados.

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IV- CENSO DE MARRECÃO NOS “BAÑADOS DEL ESTE” (URUGUAI) E PAMPA ÚMIDO (ARGENTINA). INVERNO DE 2000 IV.1 INTRODUÇÃO Em 1995, houve uma excepcional entrada de marrecões imigrantes ao RS. Isto foi percebido ao compararem-se os resultados obtidos em 1995 com os dos anos subsequentes. O total de marrecões alcançou ao total de 69.405 indivíduos. Chama-se a atenção de que o valor de 1995, está diferente do publicado em relatórios de anos anteriores. O mesmo é válido para 1996 a 1999. O fato é consequência dos novos humedais que passaram a ser considerados a partir de 2000, para as contagens de marrecas. A modificação está mencionada e justificada na Introdução Geral e nos Métodos do censo aéreo. A necessidade de ajuste deveu-se fundamentalmente ao dinamismo da paisagem nas regiões oeste e sudoeste do RS. Mesmo diante de um número alto de imigrantes em 1995, no momento de elaborar as recomendações de caça do marrecão para a temporada de 1996, optou-se por uma cota conservadora de abate máximo de 20 indivíduos por semana, por caçador. A recomendação representava uma redução expressiva da cota máxima praticada até 1991, de cerca de 33%. Depois de 1991, houve o estudo com animais de caça levado a cabo pelo Cemave em 1992. Em 1993 não houve pesquisa que desse suporte técnico à portaria de caça de 1994. Neste ano houve um estudo financiado pela FGCT, considerado como deficiente pela FEPAM. A consequência é que o IBAMA seguiu permitindo a caça de marrecão, porém com cotas pequenas. Por exemplo, diante de inexistência de estudo confiável em 1994, a portaria de caça de 1995 normatizou em cinco exemplares/ semana a cota máxima de abate de marrecão. A cota conservadora de marrecão proposta pela FEPAM, para 1996 continha três justificativas. A primeira delas é que, entre 1984 e 1991, houve tendência de queda dos rendimentos médios dos caçadores (Menegheti & Aranha, 1995). Em 1992, técnicos do Cemave, em censo aéreo de marrecas, ratificaram esta redução de marrecões. Desconhecidos os fatores causadores, este declínio poderia, ou não, estar expressando diminuição efetiva de tamanho da população de marrecão. A segunda justificativa era de que, coincidentemente, estava havendo uma seca no Médio e Baixo rio Paraná, e no Pampa Úmido da Argentina. Pensou-se – seria esta seca o fator a explicar o deslocamento do grande contingente de marrecões ao RS? Se a resposta fosse afirmativa, a tendência de redução da população do marrecão poderia estar sendo mascarada por um quadro irreal - o ocorrido em 1995. Finalmente, a terceira explicação era de que durante três anos, entre 1992 e 1994, o Grupo de Pesquisa do Governo do Estado do RS tinha perdido contato com o tema e não tinha conhecimento pleno do que havia se passado com o marrecão durante o período. Entre 1996 e 1998 houve um novo declínio gradual de marrecões imigrantes quando o total contado em censo aéreo, atingiu seu nível mais baixo, um pouco maior que 8.000 exemplares. Em 1999, apesar do aumento expressivo em relação ao ano anterior de quase 100%, o total de 1999, de cerca de 15.700 indivíduos, ficou muito aquém da média dos anos anteriores. Posteriormente, constatou-se que este padrão de aumento progressivo de imigrantes ratificou-se em 2000. Sem chegar a repetir o pico de 1995, voltou ao nível de 1996: em torno de 45.000 marrecões contados em censo aéreo. Repetiu-se, entre 1995 e 1998 (poderia ter iniciado em 1994 ou 1993), o que havia acontecido entre 1984 e 1991. A pergunta que se impõe, é: estes ciclos representariam o comportamento usual da variação de marrecão? É óbvio que esta pergunta não pode ser respondida em 2001, apenas com uma repetição do que seria supostamente um ciclo. De qualquer forma, pelo menos insinua-se a dúvida de que a diminuição de vários anos na intensidade de penetração de marrecões imigrantes, não se mantenha como tendência. A população parece ter condição de retomar com força a utilização dos sítios invernais no RS, ou de recuperar-se se o declínio de imigrantes for expressão de redução da população. No entanto, deve-se atentar se no futuro a recuperação da população de marrecão dá-se em patamar inferior, igual ou superior aos outros picos de imigrantes ao RS. Não voltou a se repetir, na análise do censo de marrecão em 2000, uma das dúvidas presentes na avaliação de 1995. Desta vez, através de censos parte terrestre e parte aéreo, obteve-se a tão desejada informação sobre o contingente de marrecões que permaneceu na Argentina e do contingente que tendo deslocado até o Uruguai, aí permaneceu, pelo menos até agosto de 2000. O resultado obtido é que uma quantidade expressiva de marrecões provavelmente não deslocou ao Uruguai e sul do Brasil, permanecendo na Argentina.

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A terceira inquietação presente em 1995, desvaneceu-se em 2000, porque o acompanhamento do processo de caça de marrecão vem sendo acompanhado sem solução de continuidade desde 1995. No inverno de 2000 censaram-se marrecas no Pampa Úmido da Argentina. Selecionaram-se duas regiões: o noroeste da província de Buenos Aires - sudoeste da província de Santa Fé e o sistema de humedais denominado “Encadenadas de Chascomús”, situado a sudeste da província de Buenos Aires). Dois aspectos contribuíram para a seleção das duas regiões. O primeiro é a importância que ambas têm para as marrecas. O diagnóstico foi elaborado a partir do exame da literatura especializada que, afortunadamente é prolífica, em especial sobre o sistema Chascomús. O segundo foram as facilidades de infraestrutura oferecidas localmente. IV.2 DESCRIÇÃO DAS REGIÕES OBSERVADAS IV.2.1. Critérios adotados para classificação do espaço físico do pampa úmido da Argentina e dos banhados do leste do Uruguai em regiões e sub-regiões

Regiões: espaço físico contendo características comuns. Estas características são de várias ordens: 1) como biomas, no caso da classificação adotada pela província de Santa Fé, que originam as denominadas “Regiones Naturales del Território Santafesino” (Sistema Provincial de Áreas Naturales Protegidas, 1997); 2) como bacias lacustres, bacias de desague e características geomorfológicas, no caso da classificação adotada pela província de Buenos Aires (Canevari e outros, 1998); 3) como bacia de desague no caso da classificação adotada para o Uruguai (bacia lacustre da Lagoa Mirim). Sub-regiões: determinadas por vários critérios, tais como: a) complexo de áreas úmidas encadeadas, portanto, compartilhando características límnicas semelhantes; b) áreas úmidas espacialmente discretas (como lagoas isoladas); c) outras com existência intermitente (como campos inundáveis), cujos limites são frequentemente difíceis de determinar. IV.2.2 Critérios adotados para seleção das áreas úmidas a serem visitadas e submetidas a observação e censo dentro das regiões e sub-regiões O primeiro e mais importante foi baseado nas informações mais recentes possíveis sobre a ocorrência e abundância de marrecão e/ou de caneleira em áreas úmidas dos Bañados del Este (Uruguai), do pampa úmido (Argentina) e do nordeste da Argentina. Neste sentido, foi muito importante a cooperação de investigadores dos dois países no sentido de participar do esforço para uso sustentado do recurso marrecas pela caça esportiva. Di Giácomo e Kaprovikas (1999) censaram aves aquáticas no noroeste da provincia de Buenos Aires (alta bacia do rio Salado), em outubro de 1999, e cederam seus dados de marrecão, caneleira e piadeira. O mesmo fizeram Vilches para “Las Encadenadas de Chascomús”, e Rilla e Aspiroz (com. pess., fevereiro 1999) para Bañados del Este. O segundo baseou-se nos registros do passado, através da consulta à literatura, desde os de Guillermo Hudson (observações efetuadas em campo, na Argentina até 1874), até os de Milton Weller (meados dos 1960) O terceiro baseou-se na troca de informação com os colegas Gabriel Marteleur, do Governo Províncial de Santa Fe e Alfredo Vilches e Gustavo Berasain de Chascomús, ambos funcionários do Governo Províncial de Buenos Aires. IV.2.3 Descrição de alguns humedais do leste do Uruguai, onde houve maiores concentrações das marrecas de caça do RS A) Várzeas do curso inferior do rio Tacuarí. Edafologia e uso econômico (segundo PROBIDES, 2000) O rio Tacuarí é um rio que nasce na serra. A planície de inundação do curso inferior do rio Tacuarí é considerada como área predominantemente arrozeira. Faz parte dos 19% da área total de cultivo de arroz nos departamentos de Rocha, Treinta y Tres e Cerro Largo. Quase todo o restante 81% da região é usada para pecuária. O desenvolvimento do cultivo de arroz irrigado na região é recente. Data dos últimos 20 anos. Da superfície total arrozeira, o arroz intensivo representa 38% do total, o sistema arrozeiro-pecuária

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corresponde a 53%, arroz sob palmares a 8%. O restante 1% representa o espelho de água das represas. Especificamente o curso inferior do Tacuarí está na categoria de arroz intensivo, o que significa que está baseado em rotações curtas e onde há maior número de granjas de arroz. Mais próximo à foz, as terras do terraço inferior da várzea do rio Tacuarí inundam-se de forma regular ou irregular pelo transbordamento do rio ou do lago Mirim. Os terraços médio e alto estão mais afastados do rio. Quanto a vegetação é formada de comunidades paludosas. O terraço alto da várzea do rio Tacuarí compreende as terras planas não-inundáveis pelos crescimentos periódicos dos rios e lagos. Apresentam solos imperfeitamente drenados. É formado por comunidade vegetal alterada com cultivo e restevas. O terraço médio da várzea do rio Tacuarí encontra-se em nível levemente inferior ao do terraço alto. Compreende as terras planas não-inundáveis pelos crescimentos periódicos dos rios e lagos. A transição entre ambos os terraços é geralmente gradual. Os solos são imperfeita e pobremente drenados, portanto retém água de chuva, a água que chega de enchentes excepcionais e a água que é puxada para a lavoura de arroz. É formado por comunidade vegetal alterada com cultivo e restevas. B1) Bañado de los Indios e a planície de inundação da Lagunas Negra O Bañado de los Indios contata ao sul, com a Laguna Negra; a sudoeste com serras rochosas; a sudeste e leste, com colinas cristalinas da serra de San Miguel; ao norte com o Canal 2; a noroeste e oeste com planícies de inundação de dois terraços, os altos e as intermediários, indiferenciadas, e onde se pratica cultivo de arroz consorciado com pecuária (PROBIDES, 2000). B2) Hidrologia do Bañado de los Indios, sua edafologia e uso econômico (segundo PROBIDES, 2000) O Bañado de los Indios e o Bañado Santa Teresa são justapostos, estando o primeiro mais a W e o segundo mais a E. Ao norte da linha de justaposição entre ambos inexistem obstáculos. A água flui livremente. No entanto, ao sul é interrompida por um afloramento cristalino que separa os dois banhados. Ambos fazem parte de uma mesma paisagem: a planície de inundação da Laguna Negra. Em condição de normalidade, o excedente de água da Laguna Negra invade os dois banhados. No passado, este excedente fluia para o norte, pelo arroio de los Indios , até chegar aos Bañados de San Miguel e, daí, extravasar no lago Mirim. A partir da década de 1980, o excesso de água da Laguna Negra passou a verter pelo Canal 2 e por outro canal que corta o Bañado Santa Teresa, ambos descarregando água para o Atlântico. Em especial, a construção do Canal 2, modificou a hidrologia do sistema de banhados. Cindiu-se em dois subsistemas: o formado pelos banhados de los Indios e Santa Teresa e o outro pelos Bañados de San Miguel. O resultado é que o lago Mirim passou a receber menor aporte de excedente de água da Laguna Negra. O Canal 2 tem 78 km de comprimento e atravessa os banhados internos de Rocha, desde o arroio Quebracho. Foi construído entre 1979 e 1981. O novo quadro hidrológico do sistema tendo 20 anos, que ajustes se processaram? Consumaram-se? Ou ainda estão acontecendo? Que repercussão teve sobre o marrecão? Infelizmente ninguém fez este tipo de avaliação à época. Ao norte do Canal 2 há 87.600 ha de banhado que perderam, contato pleno com os banhados situados ao sul, que totalizam 52.600 ha. Quando constituíam um só sistema, passado recente, os banhados atingiam a 140.200 ha. Em passado mais longínquo a superfície era bem maior, pois o último total mencionado representa cerca de 50% do que existiu no passado. Os que aceitam este percentual, estimam que a superfície original dos banhados atingia a cerca de 289.000 ha. Há autores que divergem e estimam em 30 a 35% de banhados remanescentes. Esses registram que a superfície original era de 325.000 ha. As obras para drenagem artificial dos banhados e para irrigação datam da primeira metade do século XX. O primeiro projeto global foi apresentado em 1930. Portanto, a convivência da população de marrecão com essas obras dura cerca de 70 anos. Porém parte das obras não foram totalmente funcionais. Outras ficaram incompletas. IV.2.4 Descrição geográfica da região do noroeste da província de Buenos Aires A região objeto do presente estudo situa-se no extremo noroeste da provincia de Buenos Aires e possui ao todo cerca de 1,2 milhão de ha (Di Giacomo e Kaprovikas, 1998). Formada pelos partidos de Gal. Arenales, Leandro N. Alem, Gal. Pinto, Ameghino e Gal. Villegas e seus povoados de Cel Granada,

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Los Callejones, El Peregrino, Germania, Ing. Balbin, Pichincha, Blaquier, J. B. Alberdi, Leandro Alem, Triunvirato, El Dorado, Aarón Castellanos, Diego de Alvear, Gunther e J. Orellano.

A região é chamada de Pampa Arenoso ou Pampa Interior. O relevo é caracterizado por antigas dunas parabólicas que originam gradientes variados de topografia e que ao mesmo tempo dificultam a drenagem das águas. A eventual acumulação de água forma milhares de pequenas lagunas temporárias (Di Giacomo e Kaprovikas, 1998).

A duração da expedição à região foi de quatro dias, entre 12 e 15 de agosto de 2000. A1) Descrição fisiográfica da região noroeste de Buenos Aires Segundo Guillermo A. Chini fez uma descrição fisiográfica preliminar da região correspondente ao NW da provincia de Bs.As. (Mapa Fisiográfico Integral. Plan Maestro Integral de la Cuenca del Río Salado. Subregión A1). Nessa região, encontraram-se três grandes setores: “vias de escorrimento e grandes lagos, planícies complexas, e zonas altas.” Os setores foram subdivididos em unidades menores com características próprias. O autor destaca o alto grau de heterogeneidade da sub-região, onde alternam-se lagunas, dunas e “vias de escorrimento” sem um padrão definido de drenagem. Para a confecção deste Plano, o autor usou cartas IGM 1:250000; Mapas Alcrow (topográfico, geomorfológico e de canalização; Atlas de Solos da República Argentina e “Ploteos Halcrow de imagens do satélite Landsat TM. A2) Setor de “planícies complexas”

No setor “planicies complexas” Chinni classifica quatro unidades: Unidade I, subunidade Ia: Baixios alongados. Aparecem lagunas permanentes e temporárias alternando com “tendidos” e dunas; terras “anegables a inundables”. Unidade I, subunidade Ib: Pastiçais de baixios alongados. Vegetação próxima a lagunas El Negro, Los Blancos, S/N e outras; “anegable a inundable”. Unidade II: Planície extensa e heterogênea. Alternam-se depressões e “cubetas”com zonas suavemente onduladas. Unidade III: Setor plano a plano côncavo. Planície alongada com depressões ocupadas por “cubetas” e lagunas, muitas vezes temporárias. Unidade IV: Planície variável com lagunas menores. Áreas menores com lagunas e algumas “vías de escurrimiento”. A3) Setor zonas altas

Todo este setor é de terras altas e não tem interesse para aves aquáticas. IV.2.5 Descrição da região do sudoeste da província de Santa Fé Importância da sub-região para marrecas A atividade no sul da “Provincia de Santa Fe” foi determinada pela importância de um sub-sistema: a Laguna La Picaza, que é um humedal que tem concentrado grande número de aves aquáticas, incluídas as marrecas. Sobre a Laguna La Picaza, Parafraseia-se ao biólogo de Santa Fe, Gabriel Marteleur: [...] "En lo que hace a lo que comentó Daniel Forcelli sobre "gran cantidad de aves en laguna La Picasa" , te informo que esa laguna está totalmente desbordada desde hace 2 años debido a precipitaciones pluviales muy intensas que llevaron a declarar a la zona en "área de desastre agropecuario", además es, dentro de la Provincia de Santa Fe y Provinciais aledañas [sic] (excepto Buenos Aires) por lo cual las aves acuáticas se han concentrado ahí."[...] Não somente a Laguna atraem muitas aves, mas também o terreno deprimido do entorno, facilmente inundável.

Na Estância Pichi Mahuida, próximo à cidade de Rufino há dois lagos de grande importância para aves aquáticas em geral e para marrecas, em particular. Isto fica claro aos se considerar os dados obtidos nos Censos Neotropicais coordenados pelo escritório de “Humedales para las Américas”, em B. Aires. IV.2.6 Descrição da região “Lagunas Encadenadas de Chascomús” Fisiografia As bacias do sistema Chascomús são em geral de fundo chato e rasas, chegando somente algumas delas, em épocas de grande chuvas, a cinco metros de profundidade (Olivier, 1961).

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A Pampasia, definida como toda a vasta região oriental e setentrional da Argentina. É uma imensa bacia tectônica de afundamento (Graben) paulatinamente preenchida e nivelada por sedimentos, em sua maior parte continental (Olivier, 1961). O sistema de lagos de Chascomús está incluída na Pampasia Central e dentro desta, na zona deprimida, relacionada com a zona de maior afundamento do fundo rochoso do antigo Graben. Os lagos de Cahscomús estão na região caracterizada pela presença e “lagunas”pantanos e brejos. O sistema Chascomús não existia como tal no passado, pois fazia parte de um estuário de águas salobres de corrente moderada. Logo o movimento de epirogênese fez o mar se retirar, provocando deformações no leito primitivo do estuátrio, transformando-se assim na sérei de lagos inter-conectados, tais como: Vitel, Chascomús, Adela, del Burro, ChisChis, Tablillas e Barrancas. Em duas destas encontraram-se grandes concentrações de marrecão e de marreca-caneleira. Clima

Em relação ao comportamento das precipitações de chuvas, elas são bem distribuídas ao longo de todo o ano, tal como se dá no RS. Entretanto, diferencia-se do RS por chover menos, cerca de 900 mm (Olivier, 1959), quando comparado com os 1300 mm que aqui ocorre. Os períodos de maior precipitação também são distintos. Em Chascomús o período mais chuvoso é março e abril e junho, julho e agosto os meses mais secos. A região assemelha-se ao RS também diante dos eventos ENSO e La Niña. Tal como no RS, face incidência de ENSO, há precipitação de chuvas acima da média, sendo que em algumas ocasiões, causando enchentes. Cotejando os dados obtidos por Olivier (1959) com os contidos no livro de Arntz e Fahrbach (1996), percebe-se que precipitações anuais de chuva maiores que a média na região de Chascomús coincide com ENSOs. Como os de 1900, 1911-12, 1932 e 1940-41. Porém não somente ENSOs determinam enchentes na região, pois houve vários outros anos chuvosos com ausência de ENSO, tais como: 1914 e 1946, quando choveu 1.754 mm e 1.220 mm, respectivamente. O efeito de La Niña em Chascomús coincide com o que se passa no RS e Uruguai: é período de seca. Um bom exemplo foi o evento de La Niña em 1916, quando choveu apenas 482 mm em Chascomús (Olivier, 1961) e 436 mm no sudeste do Uruguai (Campal, 1969). O limite para haver secas notáveis na região de Chascomús é de 660 mm de chuva anual. Este é um dos graves desafios para a sobrevivência das marrecas que deslocam-se pelo Cone Sul das Américas: é que diante de eventos climáticos marcantes como secas e inundações provocados por La Niña e ENSO, toda a região sofre simultaneamente os mesmos efeitos. IV.3. METODOLOGIA UTILIZADA NOS CENSOS DE MARRECAS NO NOROESTE DA PROVÍNCIA DE Buenos Aires E SUL DA PROVÍNCIA DE Santa Fé Utilizaram-se três formas de censo de marrecas: através de transectos em carro, através de transecto aéreo e através de ponto de contagem. IV.3.1 Censo de marrecas através de transectos de carro

Deslocou-se em velocidades constantes, porém diferentes segundo intensidade de tráfego de dois tipos de vias. Vias pavimentadas com muito tráfego, imprimiu-se velocidade de 80 km/h. Em secundárias, com pouco tráfego, a velocidade média caiu para 40 km/h. A maior parte das contagens foi efetuada com as marrecas pousadas. Isto se deveu à coincidência entre o horário diurno de contagem e o período de inatividade da maior parte das marrecas. Afortunadamente foi baixa a proporção de marrecas contadas durante vôos paralelos à estrada ou cruzando-a. Parava-se em todo o humedal que contivesse marrecas. Como procedimento padrão, geralmente obedecido, fazia-se a contagem visual a olho nu, ou com auxílio de binóculo ou de luneta telescópica, na dependência do grau de dificuldade de identificação das marrecas associado à luminosidade. Esta mesma dependência não incluiu a distância perpendicular ao eixo de deslocamento do veículo. Houve um limite da faixa de observação relacionada à capacidade de percepção visual das marrecas. Foi de aproximadamente 200 m de cada lado da estrada. Quando se constataram marrecas fora desta faixa, em geral inidentificáveis, se as categorizaram como marrecas não identificadas. Em algumas oportunidades, dada a posição relativa do observador e do sol, mesmo estando dentro da faixa, também se usaram categorias taxonômicas mais abrangentes, tais como: marrecas não identificáveis, Anas spp., Anas

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georgica e/ou A. flavirostris. Estas categorias abrangentes fornecerão dois tipos de informação. Em primeiro lugar, para a valorização de determinados ambientes como sítios típicos de marrecas; em segundo lugar aproveitando suas contagens para interpolá-las em nível de espécie em enfoque regional, aproveitando-se as contribuições proporcionais de cada espécie de marreca em cada região. IV.3.2 Censo de marrecas através de transectos aéreos

Em 12 de agosto de 2000 fizeram-se contagens em transecto de faixa, com largura constante no terreno de 150 m. Foram cinco transectos aéreos com 30 km de comprimento completando no total, 1h32min. O primeiro transecto iniciou às 11h15min e o quinto encerrou às 12h47min. Abrangeu duas regiões próximas entre si. A primeira no “partido” de Gal. Arenales, sobre o grande sistema de humedais da laguna Mar Chiquita, suas várzeas de inundação e subsistemas aquáticos justapostos. A segunda, efetuada sobre humedais do “partido” de Gal. Pinto e de parte do “partido” de Lincoln. Utilizou-se uma aeronave com asa alta, Cessna 182. A altura de vôo foi de 300 pés e a velocidade de terreno de 160 km/h.

IV.3.3 Censo de marrecas através de pontos de contagem

Em humedais delimitáveis espacialmente, onde marrecas se concentravam e estavam perfeitamente visíveis, procedia-se a identificação e contagem cuidadosa com luneta telescópica ou com binóculo. IV.3.4 Metodologia utilizada nos censos de marrecas no sistema “Encadenadas de Chascomús” Utilizaram-se três formas de censo de marrecas: através de transectos náuticos efetuados em barco movido a motor, com controle de distância percorrida e tempo de atividade; através de transecto em camioneta, com controle de distância percorrida e tempo de atividade; através de ponto de contagem. a) Censo de marrecas em transectos de carro

Em 18 de agosto de 2000, deslocou-se em velocidade constante, de aproximadamente 10km/h, nas duas margem da Laguna San Jorge, por caminhos internos das estâncias visitadas. Percorreu-se uma distância de 5,5 km, incluídas as duas margens. A maior parte das contagens foi efetuada com as marrecas pousadas na margem ou nadando no corpo de água. Isto se deveu à coincidência entre o horário diurno de contagem e o período de inatividade da maior parte das marrecas. Não choveu durante toda a duração da expedição à região em foco. Como procedimento padrão, geralmente obedecido, fazia-se a contagem visual a olho nu, ou com auxílio de binóculo ou de luneta telescópica, na dependência do grau de dificuldade de identificação das marrecas associado à luminosidade e à distância. Houve um limite da faixa de observação relacionada à capacidade de percepção visual das marrecas. Foi de aproximadamente 200m em uma das margens da laguna. Quando se constataram marrecas fora desta faixa, em geral inindentificáveis, se as categorizaram como “marrecas não identificadas”. Em algumas oportunidades, dada a posição relativa do observador e do sol, mesmo estando dentro da faixa, também se usaram categorias taxonômicas mais abrangentes, tais como: “marrecas não identificáveis”, Anas spp., Anas georgica e/ou A. flavirostris. Estas categorias abrangentes servirão para dois tipos de informação. Em primeiro lugar, para a valorização de determinados ambientes como sítios típicos de marrecas; em segundo lugar, aproveitando suas contagens para interpolá-las em nível de espécie num enfoque regional, fazendo-se uso das contribuições proporcionais de cada espécie de marreca na região. b) Censo de marrecas em transectos náuticos Em 17 de agosto de 2000 fizeram-se contagens em transectos náuticos na Laguna Vitel e na Laguna Adela, com duração de 3h45min e 1h05min, respectivamente. Na primeira Laguna a distância percorrida em transecto foi de cerca de 19 km e na segunda, cerca de 7 km. Em 18 de agosto de 2000 efetuaram-se contagens em transecto náutico na Laguna La Salada de Monasterio que durou 1h44min, medindo cerca de 12 km Uma repetição de contagem na Laguna Adela e outra nova para Laguna Chis-Chis forma levadas a cabo em 19 de agosto de 2000. A duração na primeira foi de 1h08min e na segunda de 40min. A distância percorrida foi de 8 km em Adela e 5,7 km em Chis-Chis.

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IV.4 RESULTADOS OBTIDOS NOS CENSOS DE MARRECAS NO URUGUAI Na região de censo de marrecão, a distribuição de abundância respeitou o padrão típico observado no RS. Poucas áreas de grande concentração, descontinuadas por muitas áreas de rarefação de indivíduos. Em território uruguaio andou-se buscando marrecão por cerca de 310 km, durante aproximadamente 23h30min efetivamente em transecto. Foram quatro as áreas com presença de marrecão. Duas apresentaram concentrações importante de marrecão: a planície de inundação do curso inferior do rio Tacuarí, em primeiro lugar e o Bañado de los Indios que faz parte da planície de inundação da Laguna Negra. A primeira área situa-se no Departamento de Cerro Largo e a segunda no Departamento de Rocha. Ambas foram tratadas como pontos de contagem. Isto equivale dizer que foram contagens cuidadosamente executadas. As outras duas áreas onde se encontrou marrecão, mas rarefeitos, foram: a primeira, em transecto, na estrada entre Cebollatí e entroncamento para Lazcano ou La Coronilla; a segunda, também em transecto pela estrada que conduz a Montevideo, desde a aduana uruguaia ao entroncamento com Ruta 18. A primeira com 10 marrecões e a segunda com um único indivíduo. Os comprimento dos transectos foram, respectivamente de 36,6 km e 8 km. Ambos situados no departamento de Rocha. Chama a atenção que as duas regiões de maior concentração de marrecão, sofreram, há relativamente pouco tempo, profundas transformações ambientais. O terraço superior da planície de inundação do rio Tacuari, drenado para cultivo de arroz irrigado e com prática intensiva de cultivo. O sistema de banhados de Rocha, onde se encontra o Bañado de los Indios, com modificação expressiva da hidrologia com construção de canais que passaram a verter para o oceano Atlântico excedentes de água que se mantinham nos banhados. Coincidentemente ambos processos deram-se desde há 20 anos atrás. Seriam os marrecões resistentes a estas transformações de ambiente? Chama a atenção que, tanto no rio Tacuarí, quanto no Bañado de los Indios, há um mosaico de áreas preservadas e áreas modificadas. No primeiro sistema, dois outros terraços da planície de inundação estão preservados, em especial o do terraço inferior. No segundo, mesmo com as alterações hidrológicas, quando o excedente de água não é demasiado, os ambientes estão bem mantidos. De qualquer forma, são ambientes instáveis, aparentemente ainda em processo de ajuste. Talvez isto beneficie o marrecão. IV.4.1 Contagem de marrecão no curso inferior do rio Tacuarí e suas características ambientais O total de marrecão contado foi de 1.088 indivíduos. Fez-se a contagem do que provavelmente seria a antiga barranca do rio Tacuarí. Por mais que o rio cresça, suas águas não inundam o terreno superior da barranca. Os marrecões distribuíam-se pelo terraço superior da planície de inundação do rio Tacuarí que só deve inundar-se em cheias excepcionais. Esta dedução se faz, ao observar que os proprietários de terra do entorno plantam arroz irrigado exatamente no terraço superior. A fazenda onde se contaram marrecões, também planta arroz em terra baixa próxima à barranca. O próprio ambiente onde estavam os marrecões era uma resteva inundada de arroz. De longe foi impossível determinar-se com exatidão a idade da resteva. Parecia ser resteva do ano, safra 1999-2000, ou de idade de, no máximo, correspondentemente à safra anterior. Do alto da barranca via-se com clareza a paisagem. Estimou-se que a superfície contada do terraço superior foi igual a 10% da total, ou menos. A determinação desta percentagem não tem o objetivo de extrapolar o número de marrecões para toda a superfície do terraço superior. A intenção é sugerir que potencialmente poderia estar ocorrendo bastante mais marrecões do que o que se contou. IV.4.2 Contagem de marrecão no Bañado de los Indios e características ambientais

A área contada corresponde a uma pequena fração do B. de los Indios e a uma fração menor ainda, se considerado também o Bañado Santa Teresa. É de se esperar que um número bem maior de marrecões estivesse presente em todo o sistema. O marrecão nidifica nos dois banhados (PROBIDES, 2000). Contaram-se 306 marrecões. A área varrida com binóculo é fração de uma paisagem maior que inclui o Bañado de Santa Teresa a SE, Bañados de San Miguel ao norte e serra de San Miguel a leste. O Canal 2, construído para verter o excesso de água ao mar, corta todo o sistema em diagonal de NW a SE.

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O grande impacto ambiental deu-se a partir de 1980. Durante os 20 anos, um número ignorado de gerações de marrecão vem procurando ajustar-se às profundas transformações da paisagem. Parece ser pouco tempo e segue havendo nidificação de marrecão na área como se as modificações não o tivesse afetando. Lástima que não se tenha informação, anterior a 1980, sobre a quantidade de casais que costumava juntar-se na região durante a primavera e verão. Comparando-se com os dados atuais, poder-se-ia verificar se a permanência de reprodução na área é resultado de “fidelidade de sítio” ou não. A “fidelidade de sítio” é a compulsão que leva os indivíduos nascidos num determinado local, a ele voltarem para se reproduzir em anos sucessivos. Ignora-se por quanto tempo os indivíduos tornariam ao mesmo local para se reproduzir diante da inadequação ambiental, provocada por degradação. Há na literatura uma informação registrada por Pereyra (1937). Em visita a uma estância o autor soube que ovos de marrecão retirados de um ninho no campo foram incubados por galinhas. Nasceram vários filhotes que seguiram sendo cuidados por elas. Depois de adquirirem capacidade de vôo, abandonaram a estância. Pelo menos uma das fêmeas retorna a cada ano e nidifica no jardim da casa. Durante seis anos o fato se repetiu. A informação é confiável porque foi dada por um ornitólogo amador respeitado na Argentina. Não fora assim, Pereyra certamente não a teria citado em uma de suas publicações. O dado tem valor como indicador de que o marrecão tem “fidelidade de sítio”. É obvio que, por outro lado, os seis anos não possam ser considerados como duração padrão da “fidelidade de sítio”, por ter sido uma observação isolada. Outra restrição que se poderia fazer, é que esta fêmea se criou com galinha e poderia também ter, em parte, se domesticado. Aparentemente não foi suficiente para retê-la na volta da casa. Voou e só retornou na estação seguinte de nidificação.

A “fidelidade de sítio” parece afetar alguns indivíduos. Nem todos retornam. Desconhece-se qual a fração do total. Esta informação pode ser obtida em programas de anilhamento. Naturalmente a exigência é de que a captura seja efetuada na estação de reprodução, quando o marrecão está com plena capacidade de vôo. Nesta condição a captura é mais difícil, mas nada que possa ser insuperável. Demandaria um projeto especial, com formas de captura diferentes do que é usual. O usual é a captura ser efetuada durante o período de muda pós-reprodutiva, quando o marrecão está impossibilitado de voar.

Se for “fidelidade de sítio”, espera-se que esteja ocorrendo um declínio no número de casais que usam sistema de humedais da região, resultado da perda de ajuste (fitness) com o novo ambiente modificado. Isto porque na “fidelidade de sítio”, fêmeas e machos que ali nasceram, retornam, mesmo diante de condições ambientais adversas.

Se a explicação de continuidade de reprodução do marrecão na região não for a “fidelidade de sítio”, não teria havido perda de ajuste ambiental para a espécie. Neste caso, a alternativa de declínio dos casais seria a menos provável. Ou se manteria ou estaria aumentando. Pelas informações com os colegas locais, a manutenção do ajuste ambiental seja a explicação mais provável. O mosaico de ambientes proporcionado pelos banhados de SantaTeresa (ambientes preservados) e de los Indios (ambiente preservados e de cultivos e/ou restevas de arroz) parece ser interessante ao marrecão. Oferece sítios de nidificação, sítios para muda das penas das asas, sítios de alimentação, na resteva de arroz com grãos disponíveis, ou na carências destes, junto às formações de macrófitas aquáticas que fornecem sementes que são comidas. Os banhados de los Indios e de Santa Teresa inundam-se de maneira regular ou irregular pelo aumento do nível da Laguna Negra. São solos que retém água, por serem pobres ou muito pobremente drenados. As terras do B. de Santa Teresa têm uso dominantemente pastoril e excepcionalmente agrícola. Sabe-se que a pecuária extensiva, com lotação baixa, é menos agressiva ao ambiente que a cultura de arroz irrigado. Desta forma, de todos os banhados que compõem o grande sistema, o mais bem preservado é o de Santa Teresa. Há referência de que o marrecão usa este ambiente para nidificar (PROBIDES, 2000), porém não há informação sobre a intensidade do fenômeno. Grande parte do terreno do B. de los Indios, centro e norte, permanece submerso por alguns meses ou até todo o ano. São solos argilosos ou com horizontes superficiais turfosos sem alcalinidade e sem salinidade. Cultivam arroz irrigado. Também praticam a pecuária extensiva. IV.4.3 Resultados obtidos nos censos de marrecas efetuados no noroeste da província de Buenos Aires e sul da província de Santa Fé Transectos terrestres

O total de marrecões contados em pontos e em transectos de carro atingiu a 950 indivíduos. Foram contados em 35 ponto de contagens e em transectos Das três espécies de marrecas de caça no RS o marrecão foi o segundo mais abundante. Foi superado pela marreca-piadeira.

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Para que se tenha uma noção do que se investiu nos censos de marrecas da região, deslocou-se de carro em transectos, entre transectos e entre pontos, um total de 903 km. Em transecto efetivamente contando, percorreram-se cerca de 190 km. Portanto, a percentagem de transecto em relação à distância total percorrida foi igual a 20,64%. Treze foi o número de transectos de carro. A distância média por transecto de carro foi de 14,3 km (DP =12,1 km). A distância máxima percorrida em transecto de carro foi de 48,5 km e a mínima, de 4,7 km.

Foi em pastiçais periféricos da Laguna Mar Chiquita, inundados, com algo de vegetação emergente, o tipo de ambiente e a localização das maiores concentrações de marrecões. A densidade média por hectare foi aproximada a 100 indivíduos.

Transectos aéreos

Das duas áreas amostradas, a que se encontrou e contou marrecões foi a que incluiu a Laguna Mar Chiquita e seu entorno e o município de General Arenales. Tendo em vista o tamanho do sistema, a estimativa de marrecões indivíduos presentes totaliza 1.500 indivíduos. IV.4.4 Resultados obtidos nos censos de marrecas no sistema “Encadenadas de Chascomús”

Em todo o sistema Chascomús contaram-se 3.077 marrecões. Estavam praticamente concentrados em dois humedais conectados por um canal: as lagunas de Adela e Chischis. Contou-se aí um total de 2.837 marrecões. O transecto percorrido de barco em ambas lagunas totalizou 13,7 km. Percorreu-se esta distância bem próxima da margem, com presença de junco (Scirpus spp.) e de onde voou a maior parte dos marrecões. O índice de abundância - número médio de marrecões contado por quilômetro percorrido em transecto - foi igual a 207,08. A soma das superfícies de ambas lagunas foi de 3.550 ha. A densidade, marrecões/ha, foi igual a 0,7992, que é irreal dado que praticamente estavam ausentes do espelho de água sem macrófitas aquáticas e que constituía a maior parte de ambas lagunas.

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V. RECOMENDAÇÕES À PORTARIA DE CAÇA DE 2001

CAÇA DE BANHADO V.1 Zoneamento de caça, Temporada de caça e Cota máxima de abate da Marreca-piadeira O quadro a seguir resume as recomendações para a temporada de caça à marreca-piadeira em 2001:

Cota semanal máxima

por caçador

Duração da

temporada

Início da temporad

a

Fim da Temporad

a

Zoneamento

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12 semanas e 13 fins-

de-semana

01 de junho de

2001

27 de agosto de

2001

*Acequá, Alegrete, Arambaré, Arroio Grande, Bagé, Barra do Quaraí, Cacequi, Cachoeira do Sul, Camaquã, Candiota, Capão da Canoa, Capão do Leão, Capivari do Sul, Cerrito, Cristal, Chui, Cidreira, Dom Pedrito, Hulha Negra, Itaqui, Jaguarão, Livramento, Maçambará, Mostardas, Osório, Palmares do Sul, Pedro Osório, Pelotas, Pinhal, Quarai, Rio Pardo, Rio Grande, Rosário do Sul, * Santa Margarida do Sul, São Sepé, Santa Vitória do Palmar, Santo Antônio da Patrulha, São Borja, São Gabriel, São Lourenço do Sul, Tapes, Tramandaí, Triunfo, Turuçu, Uruguaiana, Viamão e Vila Nova do Sul.

* “Municípios criados em 1996 e não instalados”. Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Divisão de Cartografia do Estado (1997) Justificativas das recomendações da marreca-piadeira

As contagens totais da marreca-piadeira em 2000 foram quase idênticas à de 1999, (diferença apenas de 1.926 aves que equivalem a menos que 1,73%), quando ocorreu a segunda maior contagem de série temporal de seis anos. As baixas concentrações da marreca-piadeira nos pontos, foi compensada com uma das mais altas contagens em transecto, tornando 2000 o terceiro ano da série, em que as contagem foram acima de cem mil indivíduos. Comparando com a média da série, a de 2000 ficou um pouco acima evidenciando uma estabilidade, com valores acima da média. A marreca-piadeira é também entre as três espécies a que menos flutuações apresentou, com diferença entorno de 20%. Considerando somente na região da Planície Costeira, tanto na série de seis anos com três censo expeditos no ano 2000, a tendência é de aumento nas contagem nos últimos anos.

Os resultados obtidos em barreiras de fiscalização indicam que não houve alteração da razão etária e de sexo em relação aos anos anteriores. Embora abundante, esta marreca ainda é pouco procurada por caçadores amadoristas. Nota-se nos três últimos anos aumento na cota média de exemplares abatidos por caçador. No entanto, este crescimento ainda é lento. Seria desejável que, dada a condição presente do marrecão e da marreca-caneleira, o interesse do caçador pudesse deslocar-se para marreca-piadeira. Só com medidas continuadas de estímulo, se conseguirá algum resultado. Por este motivo, é que se recomenda a manutenção da cota máxima semanal de 25 marrecas-piadeira e uma temporada maior que a recomendada para a marreca-caneleira.

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V.2 Zoneamento de caça, Temporada de caça e Cota máxima de abate da Marreca-caneleira O quadro a seguir resume as recomendações para a temporada de caça à marreca-caneleira em 2001:

Cota semanal máxima

por caçador

Duração da

temporada

Início da temporad

a

Fim da Temporad

a

Zoneamento

cinco

08 semanas e 09 fins-

de-semana

29 de junho de

2001

27 de agosto de

2001

*Acequá, Alegrete, Arambaré, Arroio Grande, Bagé, Barra do Quaraí, Cacequi, Cachoeira do Sul, Camaquã, Candiota, Capão da Canoa, Capão do Leão, Capivari do Sul, Cerrito, Cristal, Chui, Cidreira, Dom Pedrito, Hulha Negra, Itaqui, Jaguarão, Livramento, Maçambará, Mostardas, Osório, Palmares do Sul, Pedro Osório, Pelotas, Pinhal, Quarai, Rio Pardo, Rio Grande, Rosário do Sul, * Santa Margarida do Sul, São Sepé, Santa Vitória do Palmar, Santo Antônio da Patrulha, São Borja, São Gabriel, São Lourenço do Sul, Tapes, Tramandaí, Triunfo, Turuçu, Uruguaiana, Viamão e Vila Nova do Sul.

* “Municípios criados em 1996 e não instalados”. Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Divisão de Cartografia do Estado (1997) Justificativas das recomendações da marreca-caneleira

Considerando as contagens totais nas três regiões, observa-se que a reversão no padrão de queda no número de marreca-caneleira em 1999, continuou em 2000, porém com uma magnitude bem maior. As contagens de 1999 triplicaram em relação às de 1998, e as contagens de 2000 equivalem a 3,2 vezes às de 1999, constituindo-se no maior número de marrecas-caneleira censadas no Estado, em censo aéreo, chegando a valores semelhantes a excepcional contagem obtida em 1995. Assim como ocorreu com as outras duas espécies, as contagens em pontos foram muito baixas, em contra partida as de transectos foram excepcionalmente altas. As altas contagens na Região da Planície Costeira, repetiram-se durante os três censo expeditos, evidenciando o padrão de grandes flutuações interanuais da espécie. Na análise da série temporal, é notória a semelhança nas tendências das variações de abundância entre a marreca-caneleira e o marrecão. Comparando as contagem totais das duas espécies, a marreca-caneleira apresenta valores que oscilam entre um terço e metade dos valores censados de marrecão, constituindo-se portanto das três espécies a menos abundante. Os resultados obtidos em barreiras de fiscalização indicam que não houve alteração da razão etária e de sexo em relação aos anos anteriores.

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V.3 Zoneamento de caça, Temporada de caça e Cota máxima de abate do Marrecão O quadro a seguir resume as recomendações para a temporada de caça do marrecão em 2001:

Cota semanal máxima

por caçador

Duração da

temporada

Início da temporad

a

Fim da Temporad

a

Zoneamento

cinco

08 semanas e 09 fins-

de-semana

29 de junho de

2001

27 de agosto de

2001

*Acequá, Alegrete, Arambaré, Arroio Grande, Bagé, Barra do Quaraí, Cacequi, Cachoeira do Sul, Camaquã, Candiota, Capão da Canoa, Capão do Leão, Capivari do Sul, Cerrito, Cristal, Chui, Cidreira, Dom Pedrito, Hulha Negra, Itaqui, Jaguarão, Livramento, Maçambará, Mostardas, Osório, Palmares do Sul, Pedro Osório, Pelotas, Pinhal, Quarai, Rio Pardo, Rio Grande, Rosário do Sul, * Santa Margarida do Sul, São Sepé, Santa Vitória do Palmar, Santo Antônio da Patrulha, São Borja, São Gabriel, São Lourenço do Sul, Tapes, Tramandaí, Triunfo, Turuçu, Uruguaiana, Viamão e Vila Nova do Sul.

* “Municípios criados em 1996 e não instalados”. Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Divisão de Cartografia do Estado (1997) Justificativas das recomendações de marrecão

Nas contagens totais de marrecão, é evidente que a reversão no padrão de queda no número de aves censadas ocorrida em 1999, prosseguiu em 2000, porém com magnitude bem maior. As contagens de 1999 praticamente duplicaram em relação às de 1998, e as contagens de 2000 equivalem a 2,9 vezes às de 1999, constituindo-se na segunda maior contagem de marrecão no Estado, em censo aéreo, chegando a valores semelhantes a 1996. Os valores obtidos em 2000 só foram inferiores a excepcional contagem de 1995. As altas contagem foram nas três regiões, sendo considerada a segunda maior contagem para as Regiões 2 e 3, e a terceira maior contagem para a Região 1. Portanto, fica evidente que houve expressivo fluxo migratório em 2000. Pela série temporal, o marrecão continua sendo a segunda espécie mais abundante do Estado, com grandes flutuações populacionais, ou pulsos migratórios.

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VI. AGRADECIMENTOS

O grupo de pesquisa e monitoramento de fauna cinegética da Fundação Zoobotânica do Rio

Grande do Sul RS e Universidade Federal do Rio Grande do Sul agradece: a) À Direção da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (FZB) pelo pronto atendimento das variadas demandas da pesquisa alvo do contrato de prestação de serviço celebrado com a FAURGS. b) À Direção do Museu de Ciências Naturais, por ter cedido seu técnicos e pessoal de apoio, pela cedência do espaço físico, e do equipamentos para expedições a campo. c) Ao comando da Policia Rodoviária Federal, pelo apoio dado durante a realização das Barreiras de Pesquisa e Fiscalização de Caça em rodovias federais. d) Ao comando da Policia Rodoviária Estadual, pelo apoio dado durante a realização das Barreiras de Pesquisa e Fiscalização de Caça em rodovias estaduais. e) Ao IBAMA regional por todo apoio dado em Barreiras de Pesquisa e Fiscalização de Caça, em especial ao setor de fiscalização. f) À Dirección de Fauna da provincia de Buenos Aires, por ter permitido a participação de seus técnicos biólogos Alfredo Vilches e Gustavo Berasain em expedições conjuntas na região de Chascomús. g) A estes dois colegas pela valiosa cooperação em campo e em gabinete e pelo empréstimo de bens pessoais, tais como veículo com tração 4X4 e motor de lancha. h) À Asociación Ornitológica del Plata pela participação dos biólogos Adrian di Giacomo e German Pugnali nas expedições do noroeste da província de Buenos Aires. i) A este dois colegas pela valiosa contribuição para o êxito dos censos de marrecão e de marrecas piadeira e caneleira na região. Agradecimentos também: Aos Tecnicos da Fundação Zoobotânica, biólogos: Maria Inês Burgues, Ricardo Aranha Ramos, Iury A. Accordi e André Franco Franceschini. Ao assessor da direção, Juliano Salomon. Ao pessoal de apoio e estagiários da Fundação Zoobotância: Ronaldo Costa da Silva, Fernando S. Stobbe, Beno Scherner Fernanda Chaves Cesar Jaqueline B. Siqueira, Cleodir José Mansan. Aos colegas amigos e colaboradores Amauri Freitas de Souza, Paola Becke Menegheti Lauren Betina Veronese, Eliana M. Da Ros Wendland, Ao amigo e competente piloto Cel. Luiz Gonzaga Hermes pelos serviços prestados e pelo convívio.