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MONITORAMENTO DA FAUNA DE VERTEBRADOS TERRESTRES UHE MAUÁ VOLUME III: Subsídios Técnicos ao Resgate de Fauna Relatório Parcial 12 Fevereiro de 2011

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MONITORAMENTO DA FAUNA DE VERTEBRADOS TERRESTRES

UHE MAUÁ

VOLUME III: Subsídios Técnicos ao Resgate de Fauna

Relatório Parcial 12

Fevereiro de 2011

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COORDENAÇÃO E EXECUÇÃO

Equipe Técnica

_______________________________ Alberto Urben-Filho

Biólogo, CRBio: 25255-07D, CTF: 96670 Coordenação técnica Geral

_______________________________

Marcelo A.Villegas Vallejos Biólogo, CRBio: 50725-07D, CTF: 1039117

Avifauna

_______________________________

Gilberto Alves de Souza Filho Biólogo, CRBio: 30568-07D, CTF: 2825958

Reptiliofauna

_______________________________

Fernando José Venâncio Biólogo, CRBio: 53.827-03/07D, CTF:1821013

Mastozoofauna

_______________________________

Lucas Ribeiro Mariotto Biólogo, CRBio: 63.847-03/07D, CTF:1844434

Anfibiofauna

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REVISÃO E ORGANIZAÇÃO EDITORIAL Marcelo Alejandro Villegas Vallejos

Alberto Urben-Filho Fernando Costa Straube (Técnico, CTF: 324515)

TÉCNICOS COLABORADORES Carlos Eduardo Conte

Gledson Vigiano Bianconi Leonardo Rafael Deconto

AUXILIARES DE CAMPO

Albert Gallon de Aguiar Alexandre Camargo de Azevedo

Beatrice Stein Boraschi dos Santos Conrado Augusto Vieira

Crasso Paulo Bosco Breviglieri Cristiano de Carvalho

Danilo José Vieira Capela Darlene da Silva Gonçalves

Janael Ricetti Marcelo Augusto da Silva

Michele Fernandes Gonçalves Nelson Rodrigues da Silva

Tamara Molin Urubatan Moura Skerrat Suckow

COMPANHA PARANAENSE DE ENERGIA (COPEL)

Júlia Azevedo Santos

Representante técnica da Copel (Cláusula XIII, item 5, Contrato CCC-Copel n° 43311/2009)

Bióloga, CRBio 45250/07

Referenciação sugerida: HORI. 2011. Monitoramento da Fauna de Vertebrados Terrestres na UHE Mauá, Volume III:

Subsídios Técnicos ao Resgate de Fauna, Relatório Parcial 12 (fevereiro de 2011). Curitiba, Hori Consultoria Ambiental e Copel Geração e Distribuição. Relatório técnico de distribuição restrita. 122 pp.

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UHE Mauá Programa de Monitoramento da Fauna

Relatório Parcial 12 – Volume 3

Fevereiro de 2011

SUMÁRIO I. EMENTA 3 II. INTRODUÇÃO 4 III. OBJETIVOS GERAIS 8 IV. RESGATES DE FAUNA: CONCEPÇÃO E GERAÇÃO DE CONHECIMENTO 9 V. LOGÍSTICA DE PREPARAÇÃO E DE EXECUÇÃO 15

V.1. Uso e aplicação de informações primárias 15 V.2. Treinamento e facilidades técnicas 17 V.3. Planejamento de tempo e área de cobertura 19 V.4. Conhecendo o protocolo 22 V.5. Preparação e cuidados: antes e durante o resgate 25 V.6. Procedimentos gerais 31 V.7. Localização, captura, acondicionamento, destinação 33 V.8. Animais domésticos 39 V.9. Situações ímpares 40 V.10. Unicidade de registros 42

VI. ADVERTÊNCIAS PARA A EXECUÇÃO DO RESGATE DE FAUNA 46

VI.1. Classificação Topológica da nidificação das aves 47 VI.2. Tópicos relevantes para a Herpetofauna 52 VI.3. Tópicos Relevantes para a Mastozoofauna 54 VI.4. Tópicos Relevantes para a Anurofauna 59

VII. INSTRUÇÕES SOBRE PROCEDIMENTOS, CAPTURA E ENCAMINHAMENTO 62

VII.1. Métodos de captura, contenção e acondicionamento de Aves 63 VII.2. Métodos de captura, contenção e acondicionamento de Répteis 70 VII.3. Métodos de captura, contenção e acondicionamento de Mamíferos 79 VII.4. Métodos de captura, contenção e acondicionamento de Anfíbios 90

VIII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E LITERATURA CONSULTADA 95 IX. APÊNDICE 97

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UHE Mauá Programa de Monitoramento da Fauna

Relatório Parcial 12 – Volume 3

Fevereiro de 2011

LISTA DE FIGURAS

LOGÍSTICA DE PREPARAÇÃO E DE EXECUÇÃO FIGURA V.1. Aspectos do trabalho de resgate de fauna embarcado durante o enchimento dos

reservatórios das UHE Salto Caxias em outubro de 1998. 23

FIGURA V.2. Para facilitar o rápido reconhecimento e precauções para manejo de animais perigosos como serpentes peçonhentas, é aconselhável a inclusão de mecanismo de alerta, como uma fita vermelha, na parte externa do recipiente (Acervo Hori Consultoria Ambiental).

32

FIGURA V.3. Animais com filhotes podem manifestar reações muito mais ativas de reação, alterando seu temperamento trivial e, por esse motivo, devem recber cuidados especiais (Acervo Hori Consultoria Ambiental).

36

FIGURA V.4. Mesmo protegidos pela caixa de contenção, muitos animais tentarão escapar, gerando ferimento, algumas vezes extensos e que se localizam exatamente nos seus órgãos de defesa (Acervo Hori Consultoria Ambiental).

38

INSTRUÇÕES SOBRE PROCEDIMENTOS, CAPTURA E ENCAMINHAMENTO FIGURA VII.1. Ocos de árvores poderão conter elementos de reprodução de aves e deverão ser

prescrutrados com máximo cuidado (Acervo Hori Consultoria Ambiental). 63

FIGURA VII.2. Devido à sua fragilidade, ninhegos carecem de cuidados especiais que vão desde a captura até o correto acondicionamento temporário, eventualmente com a preparação de abrigos improvisados (Acervo Hori Consultoria Ambiental).

64

FIGURA VII.3. Cada grupo de ave, mesmo que muitos desses animais não apresentem risco importane de defesa, deverá ser manejado de acordo com o seus sitema de defesa e as contingências (Acervo Hori Consultoria Ambiental).

66

FIGURA VII.4. O Ponto de Imobilização Primária (PIP), no caso de aves de rapina está em seus membros posteriores (Acervo Hori Consultoria Ambiental).

67

FIGURA VII.5. A contenção de um gavião poderá ser facilitada com o uso de uma toalha que ajude a imobilizar seus tarsos e garras (Acervo Hori Consultoria Ambiental).

69

FIGURA VII.6. Uma das formas de contenção de ave de pequeno porte é a apreensão de suas tíbias, o mais proximamente possível do corpo, momento que facilita a observação do estado de saúde e, ainda, permite a documentação fotográfica (Acervo Hori Consultoria Ambiental).

70

FIGURA VII.7. Lagartos pequenos devem ser contidos com cuidado para não causar ferimentos ou fraturas e, ao mesmo tempo, proteger o resgatador de seus mecanismos de defesa. (Acervo Hori Consultoria Ambiental).

73

FIGURA VII.8. Venenosas ou não, muitas serpentes são agressivas e a contenção de sua cabeça será forma alternativa para o manejo (Acervo Hori Consultoria Ambiental).

76

FIGURA VII.9. Captura de serpente com gancho, visando a sua inclusão em recipiente de contenção (Acervo Hori Consultoria Ambiental).

77

FIGURA VII.10. Mesmo que se suponha que uma coral seja falsa, ela deverá ser manejada como qualquer outra serpente (Acervo Hori Consultoria Ambiental). O teiú (Tupinambis merianae) requer cuidados especiais de contenção, atentando-se para o pescoço (PIP) e base da cauda (PIS).

79

FIGURA VII.11. Ao conter um animal qualquer, o resgatador deverá considerar o tipo de deslocamento que ele usa, dando-lhe algum conforto: a permissão para que agarre-se à luva poderá, de certa forma, acalmá-lo. (Acervo Hori Consultoria Ambiental).

81

FIGURA VII.12. Marsupiais de porte médio podem ser bastante agressivos, mas sua contenção é facilitada se houver imobilização da cabeça e uso do ponto de imbolização secundário, representado pela cauda (Acervo Hori Consultoria Ambiental).

82

FIGURA VII.13. Forma correta de contenção de um tatu, evitando contato com sua boca e especialmente com as poderosas garras (Acervo Hori Consultoria Ambiental).

83

FIGURA VII.14. Vendar os olhos, especialmente no caso de animais altamente estressáveis como os veados, poderá ajudar na contenção (Acervo Hori Consultoria Ambiental). O Ponto de Imobilização Primária, no caso de um ouriço, é a extremidade da cauda.

88

FIGURA VII.15. Técnica de contenção de anfíbios anuros (Acervo Hori Consultoria Ambiental). 92

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UHE Mauá Programa de Monitoramento da Fauna

Relatório Parcial 12 – Volume 3

Fevereiro de 2011

LISTA DE TABELAS

ADVERTÊNCIAS PARA A EXECUÇÃO DO RESGATE DE FAUNA TABELA VI.1. Síntese da riqueza avifaunística por local de nidificação e potencialidade de encontro

de ninhos durante os trabalhos de resgate e salvamento da fauna na área de influência direta da UHE Mauá.

49

TABELA VI.2. Lista de espécies de aves conforme local de nidificação e potencialidade de encontro de ninhos durante os trabalhos de resgate e salvamento da fauna na área de influência direta da UHE Mauá.

50

TABELA VI.3. Lista de espécies de mamíferos de grande potencial de deslocamento e sem restrições de ambientes particularizados de possível encontro durante os trabalhos de resgate de fauna da UHE Mauá.

55

TABELA VI.4. Mamíferos de pequeno porte não-voadores de possível encontro durante o trabalho de resgate de fauna da UHE Mauá, associados às suas áreas de ocorrência nas unidades amostrais consideradas no Monitoramento.

56

APÊNDICE

Manual de Campo preparado pela HORI CONSULTORIA AMBIENTAL por ocasião do Resgate de Fauna para a Fase I (Desmate para a Instalação do Canteiro de Obras) da UHE Mauá (Junho de 2008).

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UHE Mauá Programa de Monitoramento da Fauna

Relatório Parcial 12 – Volume 3 Fevereiro de 2011

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I

EMENTA

O presente documento faz parte de uma série de relatórios técnicos que atendem a requisitos

parciais do Contrato CCC-Copel N° 43311/2009, celebrado entre a Copel Geração e Transmissão

S.A. e a Urben-Filho e Straube Consultores S/S Ltda (Hori Consultoria Ambiental), o qual que

define os termos de serviços especializados para o monitoramento da fauna na região do

empreendimento Usina Hidrelétrica (UHE) Mauá, compreendendo os quatro grupos de

vertebrados terrestres silvestres (aves, répteis, mamíferos e anfíbios). O relatório encontra-se

organizado em três volumes, sendo o primeiro uma síntese consolidada macrorregional da

macrofauna terrestre dentro das áreas de influências do empreendimento; o segundo volume

trata dos resultados do monitoramento in situ durante os períodos que compreendem o

estudo pré-impacto (1ª Fase) supressão da vegetação (2ª Fase), enchimento do reservatório

(3ª Fase) e pós-enchimento (4ª ° Fase); e o terceiro, por sua vez, apresenta subsídios aos

trabalhos de resgate e realocação de fauna baseando-se, para isso, na organização dirigida de

informações coligidas em campo.

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UHE Mauá Programa de Monitoramento da Fauna

Relatório Parcial 12 – Volume 3 Fevereiro de 2011

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II

INTRODUÇÃO

Resgates de fauna (RFs) são tacitamente admitidos (embora não oficialmente conceituados)

como o grande universo de atividades que compõem esforços organizados e multidisciplinares

objetivando a captura e destinação de animais durante episódios que impactem, ativa ou

passivamente, o meio-ambiente. Em virtude de certos conceitos legais, não se incluem nessa

abordagem os peixes e demais organismos aquáticos, visto serem considerados, pela

legislação vigente, como “recursos pesqueiros”, cabendo-lhes, desta forma, um planejamento

específico.

Possivelmente o primeiro RF de grande porte realizado no Brasil e que mereça menção, alude

ao enchimento, em 1982, do Reservatório da UHE Itaipu (Rio Paraná), uma enorme extensão

somando 1.350 km2 entre os extintos Saltos das Sete Quedas, perto da cidade de Guaíra e as

imediações de Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná. Para a ação de salvamento, que contou com

técnicos dos três países da fronteira, deu-se o nome de Mymba Kuéra, lembrando a segunda

língua oficial praticada no Paraguai (guarani) e, cujo significado é referente ao coletivo de

animais (mymba = animal + kuera = muitos). De acordo com a região geográfica, o plano foi

dividido em Operações Mymba Kuéra I, II e III, respectivamente referentes ao canal de desvio,

à reserva de Alvorada e ao reservatório propriamente dito.

O projeto iniciou-se, de fato, em 1977 com o inventário preliminar de aves, mamíferos, répteis

e alguns invertebrados de grupos selecionados, visando a um maior conhecimento faunístico

da macrorregião, como subsídio ao futuro plano de resgate. No Brasil, pouco se fez nesse

sentido e, se algo de porte merece crédito, ele é sem dúvida remetido ao esforço

governamental paraguaio. Isso porque, desde esse ano, funcionou – e se encontra até hoje em

plena atividade – o Museu Forestal de Itaipu, associado a um pequeno parque zoológico de

visitação pública sediado em Cidade do Leste. Da parte brasileira, apenas um pequeno grupo

do Museu de História Natural Capão da Imbuia foi convocado, participando das ações de

resgate e, eventualmente colecionando espécimes para seu acervo. A documentação escrita

formada consta de poucos títulos, com destaque para um resumo de congresso (Scherer-Neto

et al., 1983) e um artigo técnico sobre a composição de avifauna (Scherer-Neto, 1983), sendo

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Relatório Parcial 12 – Volume 3 Fevereiro de 2011

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ambos restritos ao extinto Parque Nacional de Sete Quedas. Um pequeno esforço posterior,

mais como ação de rescaldo, ocorreu com o levantamento da avifauna dos refúgios biológicos

de Bela Vista e Santa Helena, capitaneado por Pedro Scherer-Neto e que resultou em algumas

publicações (Seger et al., 1993; Lara, 1994).

Esforços realmente bem estruturados, embora tardios, por parte do governo brasileiro,

ocorreram apenas em 1988, com o registro oficial do “Criadouro de Animais Silvestres” da

Itaipu Binacional, situado no Refúgio Biológico de Bela Vista (Foz do Iguaçu) e que, hoje em dia,

é considerado uma das principais instituições do País nas áreas de pesquisa e proteção da

fauna silvestre (Santos, 2007).

Com exceção do trabalho dedicado de colecionamento (para o qual destacamos no nome de

estudiosos paraguaios como Julio Duarte Van Humbeck, Nelson Pérez Villamayor, Andrés

Colmán Jara, Guillermo Caballero e Cirilo Cabrera) que formou grandes e significativas

coleções de fauna, flora, arqueologia, dendrologia, mineralogia e outras, merece destaque a

criação das citadas reservas biológicas, pela Itaipu. Essas áreas, algumas delas resolvendo

antigas pendências territoriais entre o Brasil e o Paraguai, visavam não somente à proteção da

natureza local como medida mitigatória do empreendimento, mas também eram o destino

final dos animais resgatados na operação.

Apesar do trabalho hercúleo de salvamento consignado à Mymba Kuera, nada se sabe sobre o

destino de grande parte do material, somando mais de 7.500 mamíferos, quase 2.000 aves e

cerca de cinco milhares de aracnídeos. Isso porque o protocolo de trabalho, embora

organizado no sentido logístico, era feito sem muito critério técnico, sem planos de realocação

e, especialmente, sem um sistema de registros que perenizasse as informações obtidas.

Estima-se que a operação resultou no resgate de mais de 30 mil animais, sendo que maior

parte constituída por serpentes e, dentre essas, sabe-se que as peçonhentas foram

encaminhadas para institutos brasileiros de produção de soro antiofídico (Chena & Huerta,

1987), notadamente o Instituto Butantã.

De uma forma geral, quase nada se produziu no sentido literário ou técnico, sobre os

resultados dessas iniciativas, o qual muitas vezes ficou restrito a documentações fotográficas

de má qualidade confinadas a acervos privados ou relatórios de circulação restrita.

Praticamente o mesmo se observou nos RFs de outras hidrelétricas contemporâneas como

Tucuruí (1984), Porto Primavera (1988) e Balbina (1988). Embora tais empreendimentos

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tenham sido estudados, em alguns casos rica e profundamente, dos anos 90 até os dias de

hoje, pouco se fez durante o evento particularíssimo de enchimento dos reservatórios, sendo

que uma das poucas exceções de contribuição científica de fato, está no estudo de Willis e

Oniki (1988).

Essa lamentável condição gerou problemas técnicos ímpares. O principal deles é logístico, pela

necessidade, a cada plano de construção de empreendimentos de grande porte, de se planejar

novas diretrizes, normalmente começando da “estaca zero” e sem um procedimento

protocolar normatizado. Isso inclui carência de conhecimentos sobre as composições

faunísticas das regiões biogeográficas o que, caso existisse, resultaria em planos realmente

inteligentes de destinação do material porventura obtido.

Também preocupante é a raridade de estudos dos mais variados tipos e enfoques,

precisamente no momento da formação dos reservatórios. Esses chamados monitoramentos

poderiam, com efeito, fornecer bases valiosas sobre o real impacto das obras sobre a

comunidade biológica local e contribuir com a planificação das atividades de engenharia,

visando à redução mínima dos custos ambientais de todo o processo.

Ao mesmo tempo em que vemos uma grande carência de material técnico disponível, também

os órgãos ambientais pecam pela morosidade de seus processos de normatização. Embora os

RFs tenham sido tradicionalmente incluídos na pauta de planejamento da construção de

grandes empreendimentos so setor elétrico há quase três décadas, o instrumento legal mais

específico surgiu apenas em 2007, com o lançamento da Instrução Normativa n° 146/2007

(DOU 11 de fevereiro de 2007). Essa normatização estabelece critérios para procedimentos

ligados ao manejo de fauna silvestre (levantamento, monitoramento, salvamento, resgate e

destinação) em áreas de influência de empreendimentos e atividades consideradas efetiva ou

potencialmente causadoras de impacto à fauna sujeitas ao licenciamento ambiental, como

definido pela Lei n° 6938/1981 (Política Nacional de Meio Ambiente) e pelas Resoluções

Conama n° 001/1986 (Estudos de Impactos Ambientais) e n° 237/1997 (Procedimentos e

critérios para licenciamento ambiental). Nesse contexto, a referida IN refere-se à necessidade,

a ser definida pelo Ibama, de se realizar o “Programa de Resgate ou Salvamento de Fauna”, no

âmbito do Plano Básico Ambiental (PBA) ou do Plano de Controle Ambiental (PCA); também

considera o Programa de Resgate de Ictiofauna, embora em outros termos e com capitulação

específica.

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Relatório Parcial 12 – Volume 3 Fevereiro de 2011

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O presente documento aqui apresentado, longe de definitivo até pelo caráter precário de todo

o universo de informações referentes à temática, aparece em um momento estratégico.

Antecede a formação do reservatório da UHE Mauá e, desta forma, pode ser considerado

como baliza para a definição de protocolo e métodos para o plano de resgate e

aproveitamento científico a ser instituído durante o citado advento. Seu conteúdo apresenta

uma miscelânea de sugestões destinadas ao aprimoramento do desempenho das atividades a

serem realizadas, mediante experiências captadas em trabalhos similares realizados no Estado

do Paraná.

Como forma de enriquecimento são apresentados relatos de caso alusivos a temas de

interesse do ponto de vista dos resgates de fauna por ocasião da formação de reservatórios de

grandes hidrelétricas, cabendo informar que a equipe da Hori Consultoria Ambiental

participou, direta ou indiretamente, dos resgates decorrentes do enchimento dos

reservatórios da UHE de Segredo (3-26 de julho de 1992), Derivação do Jordão (24 de abril a 4

de maio de 1996), UHE Salto Caxias (6 a 15 de outubro de 1998), da Fase I da UHE Mauá (julho

de 2008 a janeiro de 2009) e de diversos outros empreendimentos similares no Estado do

Paraná e outras regiões do Brasil.

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Relatório Parcial 12 – Volume 3 Fevereiro de 2011

8

III

OBJETIVOS GERAIS

De antemão ressalta-se que este documento não pretende – de forma alguma – ingerir sobre

planos protocolares já discutidos, planejados e estabelecidos, cabendo-lhe tão-somente suprir

algumas lacunas que a literatura técnica ainda contém, bem como aderir fraternalmente a um

interesse comum de que o trabalho seja levado a efeito com o máximo de aproveitamento.

Sua finalidade primordial está na publicação de informações, conceitos e experiências, em

grande parte inéditas, das quais o corpo técnico da Hori Consultoria Ambiental dispõe e que

foram colhidas e organizadas ao longo de várias décadas.

Os objetivos secundários que podem ser indicados são:

contribuir à formação de concepção universal sobre os resgates de

fauna;

produzir conceituação de objetos ainda obscuros por parte da

literatura técnica e legislação pertinente;

oferecer sugestões para a idealização logística;

esclarecer aspectos fundamentais da conduta dos profissionais

envolvidos nos trabalhos de salvamento e aproveitamento;

apontar sinteticamente padrões de temperamento dos animais a

serem contactados, bem como de um mínimo de teoria sobre as

mais adequadas formas de abordagem, captura e

acondicionamento preliminar;

subsidiar ações de resgate, com base no grande universo de

informações gerados quando dos trabalhos de monitoramento de

fauna, por meio de um sistema integrado.

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9

IV

RESGATES DE FAUNA: CONCEPÇÃO E GERAÇÃO DE CONHECIMENTO

“Assumindo nossa posição de país líder em diversidade biológica, o impacto destes empreendimentos, especialmente sobre a fauna terrestre, tem sido considerável. Embora tenha sempre existido preocupação constante em minimizar seus efeitos por parte dos consórcios ou das empresas executoras, a comunidade científica brasileira pouco tem refletido sobre as várias etapas do processo de instalação das hidroelétricas.” (Miguel Trefaut Rodrigues, 1999).

Embora sejam fontes indiscutíveis de subsídios científicos, os resultados normalmente

decorrentes de RFs costumam ser desprezados ou criticados por pesquisadores em virtude da

dificuldade de organizar numérica, geográfica e ecologicamente todo o aporte de informações

obtidas. Isso porque os dados – em geral – acabam por se parecerem com um enorme e

confuso universo de detalhes colhidos ao acaso e sem nenhuma potencial correlação que

possa ser avaliada do ponto de vista estatístico.

Além disso, a unicidade de alguns eventos que ocorrem e são testemunhados os reputa como

dificilmente analisados e, desta forma, desprezados em estudos mais profundos, em virtude da

escassez de informações a eles agregadas.

A verdade, no entanto, é que tanto quanto criticados os resgates de fauna, eles são, em

relação de inversa proporcionalidade, subsidiados por textos técnicos de boa qualidade. Esse

panorama faz com que a própria palavra dos críticos seja posta em dúvida, em virtude do

empirismo, de pressupostos e de sua própria omissão.

Pode-se verificar, por exemplo, que uma simples pesquisa pela ferramenta de busca mais

popular da Rede Mundial de Computadores (www.google.com.br) sob “resgates de fauna” ou

formatos similares, gera milhares de entradas, em grande parte associadas a empresas de

consultoria que se declaram aptas a procedê-los. A conclusão a priori que pode ser tirada é

que existiria, no Brasil, uma infinidade de profissionais capacitados e empresas qualificadas

para esse tipo de atividade em todo o País.

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Relatório Parcial 12 – Volume 3 Fevereiro de 2011

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É curioso, no entanto, que o padrão logístico e de protocolo para tratamento de informações

dos resgates de fauna realizados no Brasil, mantenha ainda um aspecto artesanal e fortemente

precário, dependente que é, das exigências fantasiosas da mídia e de concepções

individualistas da opinião pública. Essa situação, aliás, é comparável ao que ocorreu em Itaipu,

há quase 30 anos atrás, quando o foco principal da imprensa era puramente imediatista.

Visava única e exclusivamente ao salvamento dos animais e a todos os aspectos

sensacionalistas envolvidos, sem considerar as questões futuras, ou seja, os planos e pontos

para a realocação, o acompanhamento desses indivíduos e todos os prejuízos ambientais

subsequentes, que obviamente ocorreram sem sequer serem documentados.

Para Rodrigues (1999), há décadas observa-se uma série de erros logísticos e metodológicos

em cadeia:

“...nunca se formou no país um grupo coordenador e de monitoramento especializado na área de biodiversidade, que acompanhasse o impacto destes empreendimentos, gerando novos conhecimentos para aplicá-los em projetos futuros. Os projetos foram sendo realizados individualmente, sem a necessária articulação entre diversas áreas de conhecimento, que permitiria formar um corpo de pessoal qualificado que, monitorando e coordenando as atividades de resgate, pudesse: (i) gerar conhecimento científico relevante utilizando métodos padronizados de amostragem, (ii) acumular coleções em grandes Museus que permitissem assegurar informação sobre a biodiversidade do país, (iii) formar especialistas qualificados na área, (iv) acumular informações a cada novo empreendimento realizado que permitissem sínteses comparativas do conhecimento obtido, traçando novas linhas de investigação pura e aplicada possibilitando delinear estratégias de implantação de hidroelétricas que considerassem seu impacto sobre a conservação”.

Todo o esforço, então, dedicado pelos críticos, simplesmente omitiu o real problema

ambiental, que se concentra indiscutivelmente nas fases imediatamente posteriores ao

enchimento do reservatório e que correspondem ao período mais importante do ponto de

vista biológico: a readaptação.

Nesse sentido em particular, a visão geral dos leigos e muitas vezes dos próprios técnicos

envolvidos, costuma criar um conflito com os trabalhos previstos ou em curso, seja por uma

correlação errônea dos custos ambientais dos empreendimentos e os técnicos empenhados

nos salvamentos dos animais e plantas, seja por aspectos conceituais mais básicos de

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Relatório Parcial 12 – Volume 3 Fevereiro de 2011

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procedimento científico (por exemplo, coleta de animais para coleções científicas). Esse

procedimento é - via de regra - instintivo mas move-se por ímpeto e disposição extremada e,

eventualmente, pode comprometer seriamente estudos em curso, os quais visam justamente

à elucidação de questões até então desconhecidas.

Ao mesmo tempo que existem tantos profissionais supostamente habilitados para os RFs, o

que se observa do ponto de vista técnico é exatamente o contrário. Uma outra busca, agora

por meio de ferramentas mais restritivas, em obras específicas na literatura científica (p.ex.

GoogleScholar, GoogleBooks, Scielo, portais acadêmicos, etc) sob as palavras-chave “resgates

de fauna” chega a ser decepcionante. Obtém-se não mais do que algumas dezenas de

entradas, muitas vezes sem um contexto bem claro e raramente oferecendo canais realmente

efetivos de informação.

Essa referência, admitimos, não é perfeitamente associável ao aqui apresentado, em virtude

da omissão, bastante comum e até deliberadamente estratégica, do nome dos

empreendimentos, seus financiadores, nos títulos das obras, em suas palavras-chave e,

inclusive, no próprio corpo do texto. Isso se deve, basicamente, a exigências de reserva – nem

sempre contratual – por parte dos empreendedores, com relação às informações colhidas em

tais atividades. Tal situação, e sua interpretação, é totalmente estranha, visto que grande

parte dos relatórios e estudos ambientais oficiais são disponíveis para consulta pública nos

órgãos ambientais e, ainda, por meio de acesso livre pela internet (Vasconcelos, 2006;

Vasconcelos & Straube, 2006).

Quando citados e nominados RFs específicos nas produções técnicas, os próprios

pesquisadores se encarregam de destacar esse tipo de oportunidade, como um meio único e

particular para a obtenção de copioso – e frequentemente raro – material com finalidade

científica (Freitas & Silva, 2005; Furtado & Calleffo, 2008). Silva-Jr. et al. (2005) são

incisivos, inclusive, ao afirmar:

“Os resultados deixam claros que, em contraste com o desenvolvimento gerado, ou a ser gerado, por empreendimentos dessa natureza (hidrelétricas), muitos dados importantes não se tornam conhecidos, mas que deveriam garantidos como testemunho científico em museus e coleções zoológicas, e divulgados adequadamente”.

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E são endossados por Rodrigues (1999):

“Nenhum método de coleta permite conhecer tão precisamente a composição local de espécies quanto a coleta propiciada pelo enchimento dos reservatórios”.

Brazil (2009) vai adiante, aludindo também à formação de novos valores:

“Nesse contexto, os grandes momentos de aprendizagem e intercâmbio de saberes, têm sido os trabalhos de campo durante as consultorias e assessorias às Empresas públicas ou particulares, como os resgates de fauna na UHE Pedra do Cavalo (1982), UHE-Itaparica (1988-1999), UHE-Xingó (1994), UHE-Serra da Mesa (1997), Resgate de Fauna da FORD (1999) e do Ecoresort Terravista (2001). Foram esses trabalhos, também, que permitiram o crescimento do acervo das coleções científicas e didáticas dos grupos animais, consolidando as coleções, que atualmente integram o Museu de Zoologia da UFBA.”

Marinho-Filho (1999), abordando a questão, chega a conclusões similares:

“Entretanto, na área ambiental anda não conseguiu promover a mesma linha de ação [da obtida pelas empresas do setor elétrico]. Ao longo dos últimos quase 20 anos, premido pela legislação ambiental e pela visibilidade e porte de seus empreendimentos, o setor já desembolsou cifras fabulosas em estudos técnico-científicos realizados nas principais bacias hidrográfias e ecossistemas do país. Movimentou uma legião de técnicos e pesquisadores que com maior ou menor competência e eficiência aqui e acolá, produziram uma vasta gama de documentos contendo registros e avaliações importantes, mas que permanecem nas gavetas e estantes das próprias empresas. Em alguns casos trata-se de estudos abrangentes, muitas vezes pioneiros, quando não únicos nas regiões em que foram realizados. Financiou dezenas de operações de resgate, com imenso potencial de geração de dados originais sobre os padrões de ocorrência, abundância e distribuição de espécies. Promoveu a coleta e preparação de um volume de material zoológico comparável ao disponível nas coleções dos maiores e mais importantes museus do país. Entretanto, o setor se beneficia pouco do próprio conhecimento que ajudou a gerar e até hoje permanecem as mesmas dúvidas sobre a eficiência e adequação da relação custo-benefício de muitas práticas consagradas e em uso pelo próprio setor”.

Esse tipo de confronto evidencia não somente a grande massa de críticos que desponta nos

círculos sociais e políticos brasileiros e que se opõem frontal e ativamente contra os resgates

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de fauna, inclusive atribuindo aos técnicos nele envolvidos certas qualidades pejorativas.

Ilustra também, que a maioria dos estudiosos portadores das mais elevadas credenciais

acadêmicas também se omitem da discussão, porque além de não produzirem informações

realmente aplicáveis ao contexto, quando o fazem, baseiam-se em questões empíricas, muitas

vezes oriundas de outras regiões ecológicas do mundo.

Mas esse ciclo vicioso pode ser alterado, desde que haja comprometimento por parte da

comunidade científica que, de fato, é a responsável pela produção de resultados e conclusões

ligadas à ciência e tecnologia. Caso contrário, a situação se estenderá por muitas décadas sem

uma resolução mais concreta e repetindo ad eternum, as mesmas condições observadas há

mais de três décadas.

Com relação aos aspectos econômicos, pode-se lembrar que só o Resgate de Fauna realizado

para a UHE Tucuruí (Operação Curupira), demandou um total de 30 milhões de dólares para a

Eletronorte (Peres & Johns, 1992). Ao mesmo tempo, é inaceitável que cifras igualmente altas,

sejam aplicadas pelos centros de pesquisas (governamentais ou particulares) em expedições

para obtenção de material biológico e que não se aproveite, por uma razão ou outra, a

inevitável condição oferecida por um empreendimento de grande porte. Aqui aderimos às

palavras de Rodrigues (1999): “Considerando o montante de recursos até hoje investidos pelas

empresas envolvidas em relatórios de impacto ambiental, levantamentos faunísticos e

atividades relacionadas, verificamos que sua contribuição para o avanço do conhecimento

sobre a biodiversidade brasileira foi muito pequeno”.

De uma forma geral, a sociedade brasileira não está preparada para a absorção conceitual das

inúmeras tentativas de mitigar impactos ambientais resultantes de obras de pequeno a grande

porte. Há um forte componente midiático equivocado e eventualmente subliminar que, além

de dificultar todos os tipos de trabalhos ligados a tais empreendimentos, ainda se fortalece

pelo apoio popular, nem sempre representado pelos setores mais esclarecidos.

Não há nenhuma dúvida que todos os empreendimentos são impactantes ao ambiente, assim

como o próprio uso que as diferentes culturas fazem uso dele. E, também, que geralmente as

dimensões das obras são diretamente proporcionais aos respectivos impactos gerados.

Experiências realizadas em outros países (p.ex. Guiana Francesa: Vié, 1999), mostram que o

problema não é só brasileiro, assim como a sua solução:

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“Many wildlife rescues have been carried out over the past few decades but most were not documented and were controversial. [...] In addition to saving lives and being desirable from an ethical point of view, such operations can be very valuable for both biological research and conservation, and are certainly preferable than the alternative: to do nothing”.

Tratando das ações de realozação dos animais capturados, esse mesmo autor conclui:

“The successful results of the translocation, the large amount of original data obtained, the interest shown by scientists in our samples and the subsequent new conservation impetus that appeared in the government corroborate our initial conviction that the operation was worthwhile.”

Independente da magnitude, localização, efeitos e consequências imediatas ou a longo-prazo,

os RFs parecem insubstituíveis e, desta forma, merecem tratamento à altura. Sob esse ponto

de vista, é obvio que estudos elaborados que contemplem o estado natural das áreas de

influências sejam suficientemente descritas e mensuradas, extensamente avaliadas ao longo

de todo o processo de impactação e, por conseguinte, tratadas de maneira racional, de acordo

com um aporte efetivo e organizado de informações.

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V

LOGÍSTICA DE PREPARAÇÃO E DE EXECUÇÃO

Embora não pretenda, o presente documento, a determinação de protocolos ou quaisquer

outros tipos de normatizações, atribuições unica e exclusivamente cabíveis à autoridade da

equipe responsável pelo RF, consideram-se úteis algumas instruções, sugestões e mesmo

abordagens mais profundas sobre certos tópicos, abaixo capitulados, cuja atenção poderá

trazer resultados importantes ao RF em si, mas também complementar a outros trabalhos

similares a serem realizados.

V.1. Uso e aplicação de informações primárias

Um resgate de fauna dito ideal, que é realizado quando do enchimento de reservatórios de

grande porte, abrange várias etapas do ponto de vista técnico e que devem ser associadas a

um intercâmbio com os diversos setores de engenharia e planificação.

A primeira delas refere-se ao estudo prévio, o mais completo possível, de composição

faunística. A exemplo da citada iniciativa dos técnicos paraguaios da Itaipu, é imperativo

conhecer – e documentar - as espécies que ocorrem na área a ser contemplada pelo

empreendimento, bem como – respeitadas algumas limitações de cunho ecológico – de toda a

macrorregião, direta ou indiretamente envolvida. Para tanto, deve-se obter um inventário

minimamente conclusivo de todo e qualquer grupo de organismos que possam ser

considerados para salvamento ou aproveitamento. É importante frisar que tais dados têm

importância estratégica, uma vez que influenciarão todo o sistema de operação da obra e

tratarão de dados consideráveis em procedimentos triviais ou particulares.

Embora pareça utópica, ressalta-se também a necessidade clara de um prévio conhecimento

também das preferências ecológicas dos organismos, em especial de suas áreas de vida, locais

de ocorrência e, ainda, de estimativas populacionais, mesmo que preliminares. Essa grande

quantidade de informações será de grande utilidade em vários processos logísticos ligados ao

RF, uma vez que permeiam as possibilidades estratégicas de minimização de impactos, aos

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planos de realocação, ao conceito geográfico associado e mesmo à formação de recursos

humanos indispensáveis ao trabalho.

A macrorregião onde situa-se a UHE Mauá conta com um considerável refinamento de

informações técnicas dispersas, porém, facilmente organizáveis, e referentes a muitos grupos

animais ali ocorrentes. Graças a essa facilidade, torna-se muito mais viável a adequação de tais

dados às situações em que se farão necessários, sendo que em grande parte essas informações

encontram-se consolidadas em documentos anteriormente produzidos (vide Volumes 1 e 2).

A fase seguinte, mais importante no contexto de obtenção de informações, alude ao

monitoramento que se estende em períodos antecedente, concomitante e precedente ao

enchimento de um reservatório. Aliados a um plano metodológico bem planejado, esses

estudos podem fornecer parâmetros especialmente importantes, tanto com a finalidade de

produção de conhecimento em si, quanto para delinear as próprias atividades de engenharia a

serem levadas a efeito. O fundamento dessa filosofia é até certo ponto óbvio: é necessário

acompanhar profundamente todo o processo biológico, desde aquele que vem antes do

impacto, informando sobre as condições ditas “originais”, até o momento em que a

intervenção acontece, mas também as consequências do impacto em si, ao longo do tempo

(imediatamente após a conclusão do reservatório e um considerável período depois dele).

Nesse sentido, o estudo de monitoramento de fauna que vem sendo realizado no período

anterior ao enchimento do reservatório da UHE Mauá, descrito e detalhado neste e em

relatórios anteriores, merece atenção especial. Isso porque ele se trata da única fonte de

informações disponíveis e sistematizadas que mostram “como eram as características

qualitativas e quantitativas da fauna, antes de ocorrer a intervenção maior sobre a biota”. E,

obviamente, será o único instrumento disponível para se avaliar os reais efeitos ambientais do

empreendimento, quando do desmate e da formação do reservatório. E seu período de

apreciação vai além, incluindo o tempo posterior a esse advento, o que permitirá concluir com

muito detalhamento e propriedade, as tantas adaptações suscetíveis – ou não – de ocorrência

por parte de sua comunidade faunística autóctone.

Nesse sentido, lembramos as palavras de Romero et al. (2001: o grifo é nosso), referente à

deficiência observada quando da formação do reservatório da UHE Porto Primavera:

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“O Estudo de Impacto Ambiental da UHE Eng. Sérgio Motta difere de outros na análise dos efeitos adversos e benefícios promovidos, pois as obras relativas à sua implantação tiveram início em 1977, há mais de duas décadas. Houve, assim, tempo hábil para compreender a força do projeto para gerar impactos e a capacidade da região de absorvê-los. O tempo decorrido entre o início da implantação e o Estudo de Impacto Ambiental – EIA, ELETROBRÁS (1994) mais de uma década, permitiu entender as relações entre o empreendimento nas suas várias etapas e a região onde se localiza. Se por um lado, do ponto de vista analítico, esta particularidade do estudo representou uma vantagem, por outro, foi difícil resgatar e isolar os impactos já incorporados ao meio ambiente, do suposto desenvolvimento da região, sem o empreendimento. Deste modo, as análises iniciais tiveram como ponto de partida a sistematização dos impactos ambientais já desencadeados pelo empreendimento, ao longo de todo o ciclo de implantação, e aqueles que ainda iriam promover interferências na dinâmica ambiental”.

Essa preleção informa sobre a riqueza de dados disponíveis em alguns empreendimentos do

setor elétrico mas, ao mesmo tempo, refere-se à inexistência de conhecimento sobre quesitos

anteriores a ele, desde que organizadamente obtidos. A importância do desenvolvimento – e

continuidade – do trabalho de Monitoramento, por assim dizer, eleva-se no contexto

geográfico: muito mais do que informar sobre tais situações no âmbito regional, servirá como

ponto de partida e fundamento para muitos outros empreendimentos que sejam realizados no

Paraná e em muitas outras regiões brasileiras. Será agregado ao até então parco universo de

conceitos e informações disponíveis na literatura técnica.

Sob esse ponto de vista parece fundamental que haja uma constante e cuidadosa interação

entre os trabalhos do RF e do Monitoramento, não somente participativa mas, especialmente,

complementar.

V.2. Treinamento e facilidades técnicas

Destacadas as virtudes das etapas que antecedem o enchimento de um reservatório, deve-se

então enfocar os objetivos primevos da ação mitigatória subsequente, referente

especificamente ao resgate de fauna, uma ação importante mas puramente pontual no

contexto cronológico.

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Como dito anteriormente, não há absolutamente como iniciar um RF sem se ter um profundo

conhecimento da composição faunística, da vegetação e de itens básicos da geografia da

região a ser considerada. A equipe envolvida na organização desses trabalhos obriga-se, desta

forma, a atuar inicialmente como compiladora de informações, buscando produzir, com base

em dados de base (literatura, em museus e outros meios que antecedem ao esforço de

campo), uma lista o mais completa possível das espécies que ocorrem na área diretamente

afetada mas também em todo o seu entorno. A abrangência geográfica poderá variar

bastante, em especial no tocante ao desprezo a certas condições ambientais (vegetação,

relevo, clima, etc) incompatíveis com o ponto onde ocorrerá o empreendimento.

Ao mesmo tempo em que é importante a apreciação global de biodiversidade, também são

fundamentais os meios para que ela atinja eficientemente o corpo técnico. Afinal, uma das

carências mais notáveis quando da preparação de um trabalho de resgate faunístico é, sem

dúvida, a escassez de profissionais habilitados para tanto que oferece um claro reflexo do

descuido destinado a estudantes quando de sua formação universitária.

Embora muitos técnicos aderidos ao esforço de resgate sejam formados e portadores de

credenciais que o capacitem a tal trabalho, são raros – e quando muito por esforços próprios –

os que fetivamente possuem noções, práticas e experiências para o trabalho, captura,

contenção e manejo de animais silvestres. Além disso, mais incomuns são aqueles que detêm

conhecimento sobre destinação e uso que se pode fazer das informações porventura colhidas

nesses processos.

Sob esse panorama é extremamente sugestiva a organização de curso de treinamento, com

cargas horárias apreciavelmente robustas e orientação de profissionais experientes, mediante

abordagens teóricas e práticas, ilustrativas, repetitivas e consolidadoras. Lembramos que o

bom andamento de uma contenção animal somente poderá ser realizado se o responsável por

ela tenha perfeito domínio da prática, bem como uma situação clara de estabilidade

emocional, o que resultará na factibilidade do processo e mesmo na segurança dele e de sua

equipe.

Além disso, nada se compara, na praticidade e cumprimento de função didática, a um

documento impresso e encadernado que pode ser levado ao campo ou lido em momentos de

folga. Ele, além de proporcionar leitura agradável, ainda fortalecerá a formação do

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profissional, surpreendentemente privado, em sua trajetória, por material escrito que lhe

ampare ou que supra suas deficiências de conhecimento.

Caberá, com efeito, aos organizadores dos RFs a produção de textos simplificados tratando de

temas gerais, mas também de assuntos particulares da logística definida para a organização e

que, em cada situação, agrega advertências e orientação distintas.

Haja vista que as fontes bibliográficas são muito importantes, não apenas como ferramentas

de consulta mas também de informação aplicada a vários contextos, é de grande interesse

que, por ocasião de um RF, seja composta uma biblioteca provisória, de fácil acesso, em

localização estratégica e acessível a todos os profissionais. Essa facilidade permitirá, por parte

dos técnicos envolvidos, a consulta de textos mais fundamentais sobre fauna, flora e outros

assuntos ligados diretamente ao esforço de campo. Tal estrutura pode, ainda, ficar livre para

leigos e outras pessoas que porventura visitem o Centro de Triagem, lembrando que muitas

vezes, a participação da comunidade do entorno e mesmo de trabalhadores da obra, pode ser

importantíssima para a obtenção de resultados complementares. Dentre alguns desses,

incluem-se reconhecimento rápido de certas espécies de interesse conservacionista em

situações de perigo, permitindo a inclusão de atendimento prioritário.

Especialmente importantes, de acordo com a temática, são os guias de campo de vários tipos

para identificações de organismos (principalmente daqueles considerados no programa de RF),

os manuais de métodos de conservação de material zoológico e botânico e diversos itens da

relativamente vasta literatura pertinente, incluindo fontes primárias sobre vegetais superiores,

vegetação e mesmo temáticas mais afastadas como clima, relevo, geomorfologia, cartografia,

astronomia, etc.

V.3. Planejamento de tempo e área de cobertura

Sobre a UHE Samuel (Rondônia), Fearnside (2005) assim se manifesta, com relação à

importância de um planejamento anterior, incluindo o projeto para RFs:

“The lessons of Samuel include the need to consider a full range of alternatives prior to making decisions in practice and the importance of

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adhering to the logical sequence of decision making, where information is gathered and compared prior to the decision”.

Embora em alguns casos seguidos à risca, em outros observa-se que mesmo sob conclusões

bem elaboradas de consultores, as sugestões oferecidas não seguem o planejamento

apresentado. Para a UHE Tucuruí, o ecólogo Robert Goodland (1978) preparou um programa

de desmatamento, junto com um inventário social e cultural das comunidades afetadas, em

paralelo a um levantamento dos sítios antropológicos e arqueológicos da região, bem como

um inventário da fauna e flora silvestres e uma lista completa com todos os tipos de

infraestruturas para levar à cabo a proposta. Nessa preleção, que antecedeu em vários anos a

construção do empreendimento, reforçou a necessidade de um trabalho profundo de resgate

de fauna, associando o projeto a uma série de necessidade preementes em trabalhos deste

tipo.

De uma forma geral, o planejamento para o bom-termo de um RF estará diretamente

relacionado com os recursos humanos, financeiros e logísticos previstos ou postos à disposição

dos coordenadores. No entanto, esses componentes dependerão fortemente das

contingências verificadas ao longo do processo de enchimento, necessitando obrigatoriamente

de algum grau de flexibilidade.

A previsão para o enchimento completo do reservatório é talvez a informação mais

importante e inclusive estratégica, em virtude dos desdobramentos dela decorrentes. Cabe

lembrar que esse tempo, definido de acordo com o regime pluvial – e fluvial – da época

enfocada será o determinante para a locação de equipes, para a organização de escalas de

trabalho e para a correta organização e disponibilização de equipamento.

Nesse sentido, cabe ressaltar que são profundamente distintos, no resultado qualitativo e

quantitativo (vide Peres & Johns, 1992), os resultados decorrentes de RFs por água e por terra,

levados a efeito quando do desmate prévio da margem e, ainda, do momento de completa

repleção do reservatório. De ambos os lados temos animais que encontram-se em situações

problemáicas, defensivas, de estresse ou óbito iminente. E isso observa-se nos mais variados

graus, determinados por variáveis como localização, abordagem, manejo, guarda temporária,

destinação e pela enorme variabilidade de respostas específicas e individuais de cada

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organismo. Por causa disso, também a logística, instrumentação e o treinamento deve ser

diferenciado.

A localização de animais que tentam se refugiar da ação de desmate ou da elevação do nível

das águas, é direta no caso da situação terrestre, sendo que os mesmos devem ser buscados

na cota de enchimento do reservatório e em uma faixa de largura pré-estabelecida da faixa

contígua a ela. Via de regra as ações de captura são escassas e raras, em virtude do potencial

de vagilidade dos animais e, ainda, da disponibilidade de conxeções de hábitats que permita

sua fuga para determinada direção.

Em trabalhos embarcados, a procura se dá geralmente na linha da água, levando-se em conta

que uma vez submersos, os indivíduos mostrarão apenas uma pequena parte do corpo, a qual

precisa ser rapidamente identificada, pela experiência ou treinamento, visando a uma captura

o mais rápida possível. Em caso de formação de ilhas, ou mesmo de insularização de copas de

árvores, a situação mais frequente é também localizada na linha da água; raramente os

animais irão se posicionar no alto das árvores, caso específicos de algumas espécies

arborícolas.

Esse tipo de conceito deve ser disseminado entre a equipe técnica como forma de otimizar a

abordagem e localização dos animais, aspecto muito dificultado em decorrência das condições

visuais. A busca embarcada, no contexto da procura e encontro de animais poderá – inclusive

– gerar situações absolutamente inesperadas e muito distintas do cenário natural, em virtude

do isolamento imposto a eles.

Alguns momentos, por exemplo, são críticos durante os resgates por terra e especialmente

embarcados como, por exemplo, no caso de localização de animais de grande porte,

eventualmente formadores de bandos, o que demandará esforço coletivo individualizado e

gradual, bem como um correto encaminhamento, dito emergencial, para o centro de triagem.

Situação comum engloba situações de ilhas de pequenas dimensões mas rica e variada fauna

ali confinada. Nesse momento, é possível constatar a convivência não-violenta, embora não

necessariamente amistosa, de espécies de predadores e presas, concentrados em um único

local, muitas vezes a poucos centímetros um do outro. Nesse sentido, torna-se factível flagrar,

por várias horas, jararacas lado a lado de roedores, assim como outros tipos de serpentes com

anfíbios anuros e esses mesmos animais com abundante fauna de invertebrados.

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Para tais casos anormais de capturas em larga escala, será apreciável uma preparação prévia

de sistemas de comunicação e transporte, integrando equipes que se encontram em ação por

terra e em água e eventualmente alocação de estruturas temporárias de atendimento médico-

veterinário.

V.4. Conhecendo o protocolo

De antemão distinguimos aqui as fases protocolares iniciais levadas a efeito durante um RF e

que se constituem da localização, abordagem, captura, contenção, manuseio,

acondicionamento, registro e encaminhamento dos animais. Esses itens serão abordados, com

algum detalhamento, no presente documento nos capítulos subsequentes.

Uma vez tendo eles cumpridos, passa-se à fase seguinte, não contemplada neste documento

mas que merece conceituação pela importância refletida nas estapas anteriores. Entende-se

por salvamento de animais todo o procedimento que se segue a partir de sua entrega ao

centro de triagem, seguida por atendimento veterinário e realocação. O indivíduo submetido a

esse processo, então, teria sua integridade física garantida e, eventualmente melhorada,

mediante cuidados sanitários e posterior soltura em locais adequados do ponto de vista

ecológico. Por outro lado, o aproveitamento refere-se ao encaminhamento a processos de

conservação com finalidade científica, aos quais incluem-se eutanásia o mais indolor possível,

correta preparação e conservação, rotulagem, registro e inclusão definitiva em coleção

científica. Lembramos que nem sempre esses processos podem ser seguidos à risca, em um

sistema dicotômico de opção, uma vez que mesmo que um determinado organismo seja

selecionado para realocação, ele poderá ir a óbito, não obstante o esforço e dedicação do

médico veterinário e, nesse caso, passará a integrar o grupo de aproveitamento.

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FIGURA V.1. Aspectos do trabalho de resgate de fauna embarcado durante o enchimento do s reservatórios das UHE Salto Caxias em outubro de 1998 (foto: Sérgio A.A.Morato) (esquerda) e Segredo (julho de 1992) (Acervo Hori Consultoria Ambiental) (direita acima e abaixo).

O destino a ser dado aos animais obtidos durante o resgate é motivo de preocupação

constante, merecedor de um detalhado planejamento que ao mesmo tempo supra as

finalidades propostas ao RF e contribua de forma rica e eficaz com informações passíveis de

utilização ao empreendimento e em outras situações futuras.

Caberá unica e exclusivamente à coordenação do RF toda e qualquer ação a ser realizada para

tanto, não somente com relação aos planos idealizados como a eventuais decisões

emergenciais surgidas por ocasião de situações especiais.

Não obstante, toda a equipe envolvida precisa estar ciente e informada de como transcorrerá

o processo final previsto, resultante de apenas dois caminhos, uma vez chegado cada indivíduo

ao centro de triagem e manifestados, como mencionado acima, em salvamento

(compreendendo o respectivo atendimento médico-veterinário e realocação) aproveitamento,

mediante preservação e encaminhamento que, neste caso, pode ser uma coleção científica (no

caso de espécimes), centro produtor de imunobiológicos (animais vivos para a produção de

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soros e medicamentos) ou um criatório científico (animais vivos com finalidade de reprodução,

repovoamento, etc).

Um dos assuntos protocolares mais relevantes de interrelação com o RF é a interação desta

trabalho com o Monitoramento que se encontra em andamento. De uma forma geral, essa

conexão deverá ser observada com relação aos indivíduos previamente marcados durante o

Monitoramento, sendo imperativa a elaboração, e cumprimento à risca, de uma rotina de

procedimentos de campo baseada no correto registro de cada evento de encontro, de forma a

permitir o bom emprego, e enriquecimento, de suas informações. Com isso, os tipos de

marcações utilizadas, e o reconhecimento delas, devem ser da ciência de todos os envolvidos

no resgate para que nenhum espécime individualizado tenha essa informação omitida dos

registros por lapso ou descuido. Nesse sentido deverá existir plena interatividade entre ambos

os trabalhos, evitando-se baixas desnecessárias ou destinações incoerentes com ambos os

propósitos.

O sistema de marcação, incluindo valores brutos e individualizados a respeito dos indivíduos

de aves, répteis, mamíferos e anfíbios marcados até o presente momento no Monitoramento,

encontra-se apresentado no Volume 2 deste Relatório.

Os dados a serem colhidos por ocasião de capturas de animais marcados durante o RF são:

1. Identificação ao mais preciso nível taxonômico possível;

2. Localização e identificação da marca (inclusive se

alfanumerada);

3. Data e horário da captura;

4. Local, menção obrigatória de coordenadas geográficas;

5. Dados complementares (tipo de captura, decorrência do

desmate ou alagamento, animal encontrado morto, etc);

6. Outros dados pertinentes (comportamento, estado físico

geral);

7. Destino (se translocado, sacrificado, descartado,

colecionado, etc);

8. Data (com coordenadas geográficas) e local do destino (no

caso de translocação).

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Ato contínuo ao registro dessas informações, aguarda-se a notificação oficial no momento

oportuno, por parte da coordenação do RF, aos coordenadores do Monitoramento.

Cabe ressaltar que a observação das marcações realizadas pela equipe de monitoramento

servem-se de lastro técnico para a compreensão e mensuração dos impactos gerados sobre a

comunidade faunística local. Nesse sentido, salienta-se que os indivíduos resgatados e

realocados em áreas próximas aos locais de monitoramento não devem ser marcados, a fim de

não causar repetições de individualizações durante a continuidade do presente programa, o

que poderia causar sérios agravos à avaliação de certos detalhes de cunho populaconal e

ecológico.

Ademais, para os exemplares resgatados e soltos em áreas distantes das unidades estudadas

pela equipe de monitoramento, sugere-se a marcação diferenciada destes indivíduos, bem

como a tomadas de seus dados biométricos, para um futuro monitoramento de suas

populações nestes novos locais.

V.5. Preparação e cuidados: antes e durante o resgate

Inicialmente é necessário ressaltar que, ao momento da saída diária que compõe a rotina do

resgatador, ele deverá necessariamente realizar um revisão completa de todos os

componentes necessários para o seu trabalho. Lembrará que, embora improvisações sejam

muitas vezes necessárias e até obrigatórias em determinadas situações, precisa estar munido

de todo o equipamento e preparado física e emocionalmente para todas as eventualidades.

Um equipamento mínimo para o esforço de trabalho é composto por instrumentação de: a.

captura e contenção; b. documentação e registro; c. coleta e conservação; d. proteção

individual. Esse elementos devem ser postos à disposição dos profissionais pela equipe de

coordenação que ficará encarregada também da organização para sua oferta diária, bem como

reposição e reparos, no caso de perdas ou avarias. Lembrando que cada situação é particular,

caberá também aos coordenadores a inclusão de outros tipos de materiais julgados relevantes

e a elaboração de protocolo para registro, bem como disponibilização de equipamentos para

documentação.

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De uma forma geral, o resgatador irá realizar a conferência e checagem da presença e bom

funcionamento dos suprimentos a ele confiados. Essa atividade, para a chegada a um bom-

termo, necessitará se tornar na rotina que vai desde o carregamento dos veículos que levarão

os materiais à beira do reservatório, até a sua entrada nas embarcações.

A vestimenta do resgatador também é aspecto importantíssimo para seu trabalho. Ele, antes

de embarcar, deverá refletir sobre as condições meteorológicas (inclusive chuvas –

eventualmente muito intensas), considerando que estando a bordo em um trabalho de

deslocamento constante, a temperatura é muito inferior àquela de terra e, assim, sua

proteção deve ser antecipadamente prevista. Além disso, é fundamental a proteção contra os

raios solares, cuja malignidade é obscurecida pelo efeito do vento. Para tanto sugere-se o uso

de camisas de mangas longas, preferencialmente de cores claras, uma vez que têm menor

absorção de calor proveniente de irradição solar. Elas irão evitar ferimentos ocasionados por

folhas cortantes ou urticantes, por espinhos e, ainda, picadas de insetos, aracnídeos ou

miriápodos, alguns deles muito perigosos. Não à toa são considerados itens indispensáveis do

equipamento de proteção individual (EPI) e também prestam-se a protegê-lo

complementarmente dos próprios animais a serem capturados.

No mesmo sentido, ressalta-se a necessidade de manter pernas das calças sempre por baixo

das meias, assim como a camisa por dentro das calças. Esse pequeno cuidado poderá evitar a

entrada de pequenos animais, alguns deles venenosos, por dentro da roupa o que gera

situações não apenas constrangedoras como perigosíssimas. Episódios envolvendo entrada, na

embarcação, de pequenos animais como formigas, aranhas, escorpiões e centopeias são

bastante comuns, sendo possível imaginar que tipo de ocorrência causariam em momentos de

distração ao terem acesso a partes sensíveis do corpo.

Não são apenas as ações preventivas que antecedem o embarque que merecem destaque.

Durante o momento de resgate, é necessário levar em conta diversos cuidados. Lembramos

que os mamíferos em especial (com menor importância as aves e répteis) são potenciais

vetores de doenças que podem ser transmitidas pelo simples contato físico. Será necessário,

então, fazer uma razoável assepsia das mãos logo após manipular um animal, usando-se a

própria água do reservatório e sabão neutro ou, em casos especiais, com álcool 70% que será

levado junto ao equipamento.

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É comum que, meio a um processo de captura, alguns materiais possam ser esquecidos

temporariamente na embarcação, momento em que uma distração pode gerar

aborrecimentos. Uma mochila, por exemplo, cheia de fivelas e dobras do tecido, pode se

transformar em abrigo para pequenos animais, os quais terão chances de entrar em contato

com o corpo ao vesti-la; o mesmo se aplica para bonés, agasalhos, perneiras etc. Todo e

qualquer material que esteja na embarcação necessita ser revisado atentamente antes de dele

se fazer uso: lâminas cortantes de canivetes, facas e facões merecem cuidado especial,

particularmente durante a movimentação do barco. Quando não utilizados, deve-se mantê-los

permanentemente embainhados.

O trabalho de resgate de fauna é inteiramente dependente do procedimento que se tomará

pouco antes e ao tempo do primeiro contato, geralmente visual, com os animais. Um conceito

fundamental, no entanto, deve primariamente ser atentado para a manutenção do bem-estar

físico e emocional do resgatador. As ações preventinas, desta forma, são não apenas úteis

como necessárias. Um exemplo está no encontro com um tronco flutuante, um camalote ou

um móvel abandonado, estruturas que eventualmente poderiam abrigar um animal. Nessas

situações, o profissional deverá usar um gancho ou pinça para averiguá-lo, com o máximo de

cuidado uma faca ou facão e - jamais - as mãos nuas e desarmadas. É importante a recordação

constante de que a água é um obstáculo importante para evitar embarques indesejáveis; com

isso, o material investigado deve ser mantido a uma certa distância que permita ao mesmo

tempo o acesso e uma condição mínima de afastamento.

O segundo aspecto liga-se à rápida e preventiva decisão do destino a ser dado ao organismo

localizado. Isso dependerá da factibilidade logística, do acesso, da segurança do resgatador e

de sua equipe, do estado do animal a ser abordado e, também, da necessária condução da

solução. Durante um resgate de fauna, todo esse universo de situações aparecerão

aletoriamente apresentadas ao profissional, de forma que seu bom-senso e iniciativa serão

definitivos e, em geral, dependerão de alguns conhecimentos prévios e da adoção de medidas

rápidas e eficientes.

Antes de se proceder esforços para capturar um animal, visando ao seu salvamento ou

aproveitamento, é necessária a lembrança de duas alternativas que se relacionam com a

preservação de sua integridade.

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É regra que, ao se deparar com um momento que impossibilite a captura, por dificuldade de

acesso, presença de potenciais agravantes ou pela própria natureza comportamental ou

ocasional do animal, o resgatador deverá comunicar-se com seus líderes e, se houver risco

iminente, deverá se deslocar com segurança para outro ponto afastado, preferencialmente

que lhe permita visualização do episódio.

Caso fique confirmado que a situação não oferece riscos e que a distância entre o animal e a

embarcação seja segura, ele poderá – então – proceder a condução do indivíduo para as

margens do reservatório, por meio de um gancho, de forma a induzir orientadamente a sua

natação para local seguro.

Uma dessas duas opções, ou ambas, também deverá ser considerada se o resgatador não tiver

suficiente conhecimento das características de defesa do animal abordado. Capturas, manejo e

contenção de animais – de qualquer tipo – somente poderão ser realizadas se houver total

domínio da situação e, desta forma, se o resgatador não se sentir seguro para alguma captura,

seja qual for o animal, deverá solicitar apoio de sua equipe ou do grupo de coordenação. Se

nem com essa colaboração isso for possível, é necessário que o libere, pensando-se sempre

em preservar a sua integridade física.

De acordo com o grupo zoológico, é necessário tomar algumas atitudes defensivas que

somente são conhecidas com a experiência. Nesse sentido, é obrigatório ter o devido respeito

por todo e qualquer animal, especialmente aquele que ao resgatador são desconhecidos ou

que nunca havia sido manejado por ele. Afinal, todos os animais possuem mecanismos de

defesa e muitos deles podem ser agressivos ou causar sérios danos à saúde humana.

Dinamicamente, no caso de muitos animais sujeitos à captura, de diferentes grupos e variadas

formas de defesa, o profissional precisa definir rapidamente qual será sua estratégia,

priorizando animais maiores e com maior potencial de fuga mas, em muitos casos, visando ao

seu próprio bem-estar. Em tais situações, pode-se dividir esforços entre os integrantes da

equipe, mediante uma – e única – voz de comando, delegando funções a cada um dos

integrantes, de acordo com as atenções e possibilidades de máximo aproveitamento.

Ao longo do dia os animais respondem de maneira diferente, com relação à tentativa de fuga,

caso estejam privados de liberdade em caixas de contenção ou recipientes. Répteis, por

exemplo, por suas características fisiológicas, parecem lentos e passivos quando em contato

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com a água fria ou em temperatura amenas. Conforme o dia vai esquentando, aumentarão seu

metabolismo consideravelmente, muitas vezes esboçando reações inesperadas e até violentas.

Em tais situações poderão escapar de sacos plásticos ou de pano ou, ainda, tentarão fugir

mesmo de caixas bem reforçadas de madeira, atingindo seu objetivo por meio de constantes

tentativas de passagem através das frestas. Revisões frequentes do estado dos organismos

capturados e das boas condições de embalagem de contenção são muito importantes por essa

razão.

Outro detalhe relaciona-se à segurança da equipe. São especialmente críticos os momentos

em que, por distração, algum animal – eventualmente perigoso – foge dentro da embarcação.

Embora seu interesse seja apenas de fuga, tentará se defender de todas as maneiras possíveis

dos potenciais agressores que dividem espaço com ele. Em caso de tal contingência, o barco

deverá ser conduzido calmamente até a margem do reservatório e, após todos os passageiros

desembarcados, devidamente solucionado o inconveniente. Em hipótese alguma qualquer

membro da equipe deverá saltar na água, visto o risco evidente de afogamento e mesmo de

contatos secundários com outros animais que estejam flutuando no reservatório.

Adicionalmente, é importante lembrar que a abordagem a um animal porventura em situação

dificultada pode gerar, caso feita sem qualquer tipo de precaução, em acidentes até mesmo

fatais. Nesse sentido, cabe uma instrução prévia aos condutores de embarcações sobre o

procedimento que deverão tomar no caso de eventos que revelem perigosos à equipe que se

encontra sob sua responsabilidade.

Uma situação típica, observada frequentemente em RFs é a aproximação do barco na direção

de colônias de insetos voadores como vespas e principalmente abelhas, de maneira desatenta

e impetuosa, no momento em que se aborda algum animal. É importante a atenção no sentido

de que, com o represamento do rio e a elevação do nível da água, esses animais estarão

igualmente acuados pelo evento, concentrando-se em locais ainda não submersos.

Eventualmente estarão aos milhares, talvez aos milhões, abrigados em buracos de árvores

mortas, fendas nas rochas e outras reentrâncias. Vespas, tendo algumas espécies

bastante grandes e formadoras de enormes colônias, ao serem excluídas de seus refúgios,

ajuntam-se sob folhas formando o que se chama popularmente de “cachopas”. Sob essa frágil

situação, tornam-se muito mais agressivas do que normalmente já são, atacando severa e

ativamente a todo o invasor que dali se aproxime. Da mesma maneira, uma colmeia de

abelhas que passaria despercebida na mata, poderá se configurar como um pequeno toco

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emerso e ali estarão em grandes quantidades, profundamente contrariadas com a nova

situação. E o problema é ainda mais agravado pelo odor emanado pelo combustível do barco

e, especialmente, pelo ruído que produz.

Esse panorama é simplesmente perfeito para um acidente de grandes proporções, caso a

embarcação colida mesmo suavemente contra esse obstáculo ou caso se aproxime demais da

fonte de perigo. Nessas situações, ainda que muitos integrantes da equipe sejam atingidos por

algumas ferroadas, será importante a ação imediata e tranquila por parte do condutor do

barco. Ele deverá acionar a marcha-a-ré, sem muita aceleração, de forma a produzir o mínimo

de ruidos e de oscilações na água e afastar-se, antes com pequena velocidade e, em seguida

aumentando-a, até que todos estejam livres do problema.

Caso semelhante ocorre durante uma abordagem a copas ilhadas de árvores, especialmente

quando ainda disponham de alguma altura de vegetação ainda emersa. Tal como na situação

anterior é necessário um senso especial de observação no concerne a animais que ali poderão

ficar muito próximos da cabeça, do pescoço e outras regiões mais críticas. Em diversos

momentos, por exemplo, a copa ilhada é um ponto de grande convergência de animais, desde

serpentes, aranhas, lagartas urticantes e vários outros. Sugere-se que antes de invadir o

espaço, contorne-o na tentativa de identificar potenciais agravos para, então, passar ao

trabalho propriamente dito. É inaceitável, desta forma, um desmedido e descontrolado ataque

a uma copada isolada por meio de investida unidirecional da embarcação, especialmente se

for necessário o uso de facões para facilitar o deslocamento. Essa tarefa deverá ser realizada

com cuidado e atenção, evitando não somente contato com animais eventualmente perigosos

como ferimentos decorrentes do mal uso de intrumentos de corte.

Aranhas, algumas delas muito grandes e perigosas, possuem um hábito peculiar de defesa, em

situações de enchimentos de reservatórios. Embora elas permaneçam fixadas à parte ainda

emersa de ramos e galhos, bem na linha de água, ao menor sinal de aproximação,

mergulharão garradas a essas estruturas, formando um bolsão de ar protegido pela tensão

superficial. Uma aranha-armadeira (Phoneutria) poderá, inclusive, submergir um metro ou

mais graças a essa facilidade, de forma que, com a passagem da embarcação, várias delas

assim procederão e, muitas vezes, passam despercebidas de toda a equipe, mantendo-se

abaixo da água. Com base nessa descrição cabe lembrar que deve-se tomar um certo cuidado

ao afundar as mãos na água do reservatório, especialmente acompanhando-se materiais

porventura ali existentes: o contato com um animal desses será muito provável.

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Outra possibilidade de risco iminente que deve ser levada em consideração refere-se ao

desembarque que eventualmente será realizado por questões logísticas ou mesmo para

atender a necessidades fisiológicas dos integrantes da equipe. Ao sair da embarcação, o

profissional costuma se esquecer que os resgates de fauna são momentos críticos em que a

água avança rapidamente, expulsando diversos tipos de animais, pequenos e grandes de seus

esconderijos. Alguns desses momentos, em certas áreas especiais, ocorre uma assustadora

corrida de formigas, vespas sem asas, aranhas, escorpiões, centopeias e muitos outros

invertebrados que se deslocam desesperadamente pelo solo, saindo de frestas onde jamais se

esperaria conter tamanha biodiversidade.

V.6. Procedimentos gerais

De uma forma geral, todos os animais localizados – desde que comprovadamente submetidos

a riscos contra sua integridade física – serão capturados com utilização de métodos que gerem

um mínimo de contato físico, visual e auditivo. Esse cuidado visa à preservação da saúde dos

animais, em particular de situações de estresse, levando-se em consideração os detalhes

específicos do metabolismo do animal manipulado.

O protocolo de destinação de cada indivíduo, embora definido pela equipe responsável pela

coordenação do resgate, deverá conter a coleta de informações minimamente aproveitáveis

para o devido encaminhamento dos espécimes, sejam eles vivos ou encontrados mortos. Com

isso, ao tempo em que os animais são capturados e acondicionados, serão preenchidas as

fichas de captura, contendo informações como identificação preliminar, local e data de coleta,

nome dos coletores, informações clínicas e o que mais se julgue pertinente. É obrigatório

incluir, junto aos exemplares capturados e coletados, uma ficha provisória de coleta, contendo

as seguintes informações:

No de campo Espécie ou identificação prévia Local de captura (preferencialmente com coordenadas geográficas) Data de captura Horário de captura Coletor(es)

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No caso de organismos venenosos ou extremamente agressivos, sugere-se a fixação, em local

visível na parte externa do recipiente de contenção, de uma fita vermelha ou petrecho similar,

que permita o rápido reconhecimento da periculosidade. Esse alerta evitará ou reduzirá o

acesso ao animal, restrito ao momento especialmente definido para tanto.

FIGURA V.2. Para facilitar o rápido reconhecimento e precauções para manejo de animais perigosos como serpentes peçonhentas, é aconselhável a inclusão de mecanismo de alerta, como uma fita vermelha, na parte externa do recipiente (Acervo Hori Consultoria Ambiental).

Uma vez concluído o trabalho de campo, todo o material recolhido será deslocado ao Centro

de Triagem, que procederá o encaminhamento de cada organismo e decidirá o seu destino, de

acordo com o planejamento pré-estabelecido. O profissional envolvido no resgate, então,

deverá respeitar a prioridade para animais vivos (antes os feridos ou debilitados, depois os

saudáveis), os quais serão encaminhados aos cuidados do médico veterinário para

atendimento imediato.

Todos os animais, inclusive os mortos, serão entregues em seguida, seguindo-se as

recomendações anteriormente definidas mas, em algumas situações, como em caso de

estresse iminente, o animal será encaminhado imediatamente após sua captura e contenção,

prevendo-se alternativas para imediato retorno de campo, mediante comunicação por

telefone ou rádio.

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V.7. Localização, captura, acondicionamento, destinação

Inicialmente é importante recordar que o resgatador deverá obrigatoriamente ter noção de

toda a macrofauna que potencialmente será atingida por ocasião do enchimento do

reservatório, inclusive com suas denominações científicas e populares. Para toda a área de

influência da UHE Mauá essas informações estão disponíveis nos relatórios temáticos do

Monitoramento que ali vem sendo realizado, mas também na literatura especializada.

A localização dos animais durante os deslocamentos fluviais é um dos fatores que determinará

o sucesso de empreitada. A atenção dada ao momento, o senso de observação particular de

cada pessoa e o constante interesse pela procura são variáveis que participam do processo.

Para um RF embarcado e necessário proceder buscas, que podem ser ativas, seletivas ou

passivas. O primeiro caso ocorre quando percorre-se o trecho fluvial, inclusive suas margens,

buscando-se animais por rastreamento visual. Em certos momentos será possível flagrar

algumas situações peculiares que poderão permitir melhores resultados, como copas de

árvores emersas, concentrações de certas plantas, detalhes orográficos, concentração de

material flutuante, etc. Com isso, a busca torna-se seletiva, uma vez que há uma opção

particular e iminentemente rica, acessada durante a busca ativa. Já a busca passiva

compreende os momentos em que a embarcação segue em velocidade de cruzeiro ao longo da

lâmina d’água, sem objetivos estabelecidos, deixando que o acaso se encarregue de trazer as

novidades.

Ainda que as duas técnicas de procura sejam mais eficientes e permitam localizações mais

frequentes de animais, durante o processo de RF, o profissional irá utilizar as três formas de

atendimento. Para tanto, ele poderá usar a vista desarmada ou instrumentos pessoais ou de

uso comum como binóculos. Esses equipamentos, no entanto, embora sejam de grande valia,

desde que corretamente utilizados, devem ser usados com cautela, em virtude da

luminosidade refletida pelo espelho d’água, que pode causar danos à visão.

Deve-se ter em mente, também, que serão raros os casos de animais que se mostrarão ao

observador.Como dito acima, eventos de exposição visual e sonora exagerada por parte dos

animais são muito raros e possivelmente formados apenas nos imaginários daqueles que não

vivem diretamente as situações como essa. A fauna, como um todo, de organismos pequenos

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e grandes, encontrar-se-á oculta, escondida e severamente afetada pela invasão de seus

esconderijos pelo nível da água, que cresce rapidamente. Com isso, aqui vai uma dica para

todos os dias e todos os momentos de um RF: o resgatador apenas eventualmente deverá

procurar por animais nas copadas visíveis e, ainda assim, não esperando encontrar muita

representatividade. O ponto a ser focalizado está na lâmina d’água! Essa região visual

concentrará a maior parte dos animais, que poderão estar agarrados a ramos e gravetos que

ainda não submergiram, a materiais flutuantes e mesmo podem se encontrar em plena

flutuação. Para esse último caso, ajudará - e muito - o cuidado que se terá ao notar pequenas

marolas que se aproximam da embarcação: são indicativos de que algum animal está a nadar

nas proximidades.

Para a captura de um animal de qual grupo seja, deve-se inicialmente observá-lo. É

fundamental, antes de tudo, reconhecer a que grupo pertence e refletir sobre as suas formas

de defesa e possibilidades de fuga. O resgatador precisa avaliá-lo visualmente do ponto de

vista de saúde e integridade física e disposição. Está intacto, ferido, debilitado, desorientado?

Seu vigor está normalizado? Em seguida passa-se à contingência: qual o seu tamanho e em que

situação se encontra: é possível abordá-lo e, caso positivo, como fazer isso? E mais: há espaço

para manejá-lo?

Respondidas essas perguntas, passa-se ao desenho mental que se fará dele. O primeiro ponto

está nos locais onde estão suas defesas e como ela poderá usá-las para se proteger do

capturador ou mesmo empreender a fuga. Logo após, mentaliza-se um ponto de imobilização

primária (PIP) para apreendê-lo e, se possível, um ponto secundário (PIS), que complementará

o manejo. O PIP é aquela região corpórea onde as mãos ou sua extensão (equipamento)

deverão ser usadas, aplicando força suficiente para evitar uma reação. Esse local pode ser

definido como a região do corpo do animal que esteja mais próxima e ao mesmo tempo

inacessível de seu principal mecanismo de defesa. Para a grande maioria dos animais grandes,

vertebrados terrestres, esse ponto será o pescoço, considerado o ponto fraco padrão, uma vez

que sua imobilização permite a inviabilidade da defesa, geralmente representada pela boca e

dentes. Já o ponto secundário é uma outra área do corpo que permite complementar a

imobilização, uma vez isolado o principal meio de defesa, visando à redução de seus

movimentos.

Casos clássicos estão entre os mamíferos e serpentes. Sabendo-se que a defesa de muitos

deles está na dentição, o PIP será o pescoço, protegendo o manipulador de um ataque com a

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boca. Nesses casos, o ponto secundário pode ser a cauda, ou mesmo as cinturas escapulares

ou pélvicas. Mas a regra não é invariável, como observam-se em inúmeros exemplos mais

cuidadosamente detalhados a seguir. Um tamanduá, por exemplo, defende-se com as

poderosas unhas dos membros anteriores; logo, ainda que o procedimento não seja tão

simples, a cintura escapular deverá ser considerado o ponto de imobilização primário. Gaviões

grandes e corujas, ainda, usam especialmente as garras – e não o bico – de forma que ambas

as tíbias serão o ponto primário, cabendo ao pescoço a fixação como ponto secundário de

imobilização.

Além dos pontos de imobilização, o resgatador precisa sempre recordar que há um outro

detalhe a seu favor, que se chama força centrífuga. Essa característica determinará o

movimento definido pela pessoa que captura o animal, no sentido de manter o órgão de

defesa do animal o mais distante possível de seu corpo. Sabe-se que cada caso será particular,

de acordo com vários fatores mas, é possível exemplificar. Uma serpente pequena não

venenosa que esteja em natação no reservatório, poderá ser capturada pela cauda, ao tempo

em que o manipulador realize movimentos circulares, girando o corpo do animal e, com isso,

mantendo-se a cabeça seguramente distanciada de suas mãos. Essa pode ser uma estratégia

interessante para agilizar o processo de captura, seguida pela aplicação do protocolo trivial

com uso do gancho. Eventualmente, poderá ser aplicada para outros animais, como marsupiais

grandes que não tenham cauda preênsil, tal como o gambá (Didelphis) e algumas cuícas

(Philander, Metachirus) e até certos roedores.

Algo importante relaciona-se com o fato de alguns indivíduos apresentarem reações diferentes

de outros, de acordo com a situação, época do ano, presença de filhotes, proximidade com

território ou abrigo, ferimentos, mutilações e mesmo como consequência da variação normal

de temperamento inerente à espécie. Por esse motivo, cabe um exame cuidadoso de cada

situação, avaliando previamente as tentativas de defesa manifestadas aos primeiros contatos

e já se planejando a abordagem.

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FIGURA V.3. Animais com filhotes podem manifestar reações muito mais ativas de reação, alterando seu temperamento trivial e, por esse motivo, devem recber cuidados especiais (Acervo Hori Consultoria Ambiental).

Outra regra que é geral mas sujeita a alterações episódicas, é a forma com que se inclui um

organismo no recipiente de contenção que poderá ser um saco plástico ou de aniagem, uma

caixa de madeira de dimensões variáveis ou um pote plástico do tipo baleiro. De uma forma

geral, ao incluir ali um animal, perigoso ou não, deve-se inserir primeiramente a sua porção

corporal posterior e, aos poucos, com todo o cuidado e delicadeza, o resto do corpo e, por fim,

a cabeça. Em diversas situações esse procedimento poderá ser dificultado, em virtude da

agilidade do animal, da perícia do manipulador, das condições disponíveis e da abertura do

recipiente. Invariavelmente torna-se necessária a repetição da tentativa de inclusão, tantas

vezes quanto forem necessárias.

Deve-se também considerar que todos os animais tentam se defender a uma abordagem ou

tentativa de captura, atos reconhecidos por eles como uma prática de predação.

Invariavelmente irão tentar fugir e, se necessário, utilizrão de sues mecanismos de defesa,

eventualmente eficientemente, sendo que muitos deles são, em diferentes níveis, perigosos

para o Homem. Procedimentos de engodo também são comuns. eles servem-se não somente

para o empreendimento de fuga mas também para facilitar o uso de suas defesas. Certos

animais, por exemplo, emitem sons muito altos, com frequência esganiçados e agudos – estão

manifestando um engodo sonoro que visam minar o estado emocional do agressor. Outros,

por sua vez, movimentam a cauda de maneira acintosa, chamando a atenção do capturador

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para essa estrutura e, desta forma, aumentando a possibilidade de por em ação sua defesa

principal que pode ser a fuga ou uma reação ativa.

Com isso, percebe-se que além da estabilidade psicológica, o resgatador não poderá ser

influenciado por eventualidades que tirem seu foco de atenção, situação extensiva ao formato,

cor e mímica facial. Mesmo que pareça aceitável uma certa afeição por alguns organismos,

visto sua beleza ou comportamento ilusivamente dócil, o profissional precisa sempre

considerar que a ação de defesa estará pronta para uso, a qualquer momento.

Um aspecto importante a ser considerado é o tratamento dado aos organismos porventura

resgatados, quando de seu transporte na embarcação. Tipicamente, o esforço de trabalho de

um RF percorre um dia inteiro, desde a manhã até o fim da tarde que, desconsideradas as

eventuais intempéries, passa por períodos de oscilação da temperatura.

Considerando-se que um salvamento denota no máximo esforço para manter-se o animal nas

melhores condições físicas e psicológicas possíveis, é necessário cumprir certos requisitos.

Cada animal possui um tipo diferenciado de resposta aos momentos em que é mantido

recluso, mesmo que por período temporário, em espaço limitado e sujeito a contato visual e

auditivo externo. A máxima que deve ser verificada relaciona-se ao conforto a ele destinado

quando devidamente acondicionado. Isso reduzirá os efeitos negativos do impactos causados

ao seu território, da abordagem, captura, contenção e manejo. Caberá ao resgatador tomar as

devidas providências nesse sentido, seja pela redução ou isolamento do ambiente onde está

recluso, seja pela tentativa de mantê-lo em local menos suscetível a impactos decorrentes do

transporte.

Alguns animais se manterão calmos e tranquilos, abrigando-se no material a eles confiado no

interior do recipiente de contenção; outros, porém, mesmo que isso seja virtualmente

impossível, tentarão fugir incessantemente, usando de todas as suas forças e mecanismos de

locomoção para tanto. Com isso, é comum que se firam, especialmente pelo contato repetitivo

com certas estruturas, como grades e frestas, situação que se reflete, em geral na porção

média do focinho, na boca e nas unhas.

A preparação do material para o trabalho de resgate deverá refletir sobre tais recipientes,

evitando-se pontos de convergência para tentativas de evasão e especialmente elementos

inaceitáveis decorrentes de manufatura, como farpas, pregos expostos e vãos.

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FIGURA V.4. Mesmo protegidos pela caixa de contenção, muitos animais tentarão escapar, gerando ferimento, algumas vezes extensos e que se localizam exatamente nos seus órgãos de defesa (Acervo Hori Consultoria Ambiental).

O resgatador, logo após a captura e inclusão no recipiente, precisa tratar do ambiente externo

e interno. Primeiramente visará à redução de ruídos desnecessários no interior de

embarcação, movimentos bruscos, impactos, colisões, etc e, ainda, provendo o animal de um

isolamento visual se possível completo. Internamente, precisa provê-lo de materiais que

favoreçam sua tranquilidade. Essa manobra deverá ser amparada pelo conhecimento dos

hábitos do organismo considerado e também de seu porte e situação emocional. Um

mamífero grande poderá precisar de uma pequena caixa de papelão ou mesmo um pedaço de

isopor, onde possa se esconder e preservar sua temperatura corporal. A essa condição deve-se

adiconar folhiço, ramos pequenos e mesmo pedaços de pano ou papel picado, elmentos que

também poderão ser oferecidos a pequenos roedores. Já um animal subterrâneo, como

serpente fossorial, poderão ser acompanhadas de um punhado de terra, preferencialmente

com porções de material orgânico. Anfíbios, em geral, mas alguns outros animais também,

necessitam de constante contato com umidade; ao resgatador carece atentar a esse quesito,

porém, evitando-se depósitos exagerados de água, o que poderia resultar em afogamento ou

total desconforto.

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Um vez contido em recipiente adequado e confortável, não será necessário oferecer alimento

que provavelmente será recusado e, quando aceito, poderá gerar regurgitamento, agravando

estado de saúde do organismo. Quando muito, em casos particulares, pode-se oferecer água,

desde que o manejo assim permite e, em casos de temperaturas externas muito elevadas.

V.8. Animais domésticos

Casos de encontros de animais domésticos em situação de perigo, durante os RFs não são

comuns, em vista que se esperam os devidos cuidados de remoção, nos momentos

adequados, por parte de seus proprietários.

Todos eles devem ser abordados pela embarcação com total tranquilidade e pequena

velocidade, mantendo-se uma certa distância de segurança, respeitada de acordo com a

possibilidade de investida e também o porte. Animais grandes como bovinos (vacas, bois,

touros, terneiros), equinos (cavalos), asininos (burros, jumentos) e muares (mulas) e médios

como ovinos (carneiros, ovelhas), caprinos (bodes e cabras) e suínos (porcos) devem ser

conduzidos para a margem do reservatório em formação. Procede-se, em seguida, a

notificação da equipe de coordenação para que proceda os contatos com o propreitário, caso

possível. Mesmo os animais médios jamais devem ser sequer cogitados a serem embarcados,

ainda que o seu porte pareça aceitável ou por se tratarem de filhotes (leitões, cabritos etc).

Outros animais como cães, gatos, coelhos, aves domésticas (patos, gansos, galos, galinhas, etc)

poderão ser manejados, de acordo com suas dimensões, tal como se procede pelos métodos

protocolares. Desta forma, as regras estipuladas para animais silvestres devem ser igualmente

seguidas para os domésticos, tanto no tocante à segurança quanto do conceito prévio e

decorrentes cuidados que se terão para o animal sob risco.

Há de refletir sempre que tais animais, embora habituados com a presença humana,

encontram-se sob forte pressão ambiental e provavelmente em vias de estresse. Não há,

então, como tratá-los tal e qual seria feito em situações normais.

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V.9. Situações ímpares

Determinadas condições ambientais, orográficas ou edafológicas podem favorecer a existência

de situações diferenciadas no meio a ser abordado durante um resgate de fauna. Quanto a

isso, cabe lembrar que o resgatador, além de seu trabalho rotineiro, precisa também se

manter atentos a certas situações favoráveis à futura captura de animais. Tal aspecto acaba

obrigando também uma observação atenta de determinadas situações e planejamento para

visita ou orientação de outras equipes para fazê-la, algumas horas ou mesmo dias depois.

Um exemplo clássico, que deve sempre ser lembrado pela equipe que determina a logística

dos RFs, refere-se à formação de ilhas. Pequenos, médios e grandes perímetros que

porventura se formem durante o enchimento do reservatório merecem cuidado extra. Eles

devem ser cuidadosamente identificados e localizados mediante análise de cartas geográficas.

Isso porque é exatamente nesses locais que muitos espécimes ficarão isolados e factíveis de

salvamento, em decorrência do gradual afastamento com as conexões físicas com as margens.

Nesse sentido, o termo “ilha” não se aplica exclusivamente a porções de solo ou rochas

expostas que são gradativamente submersas pela lâmina de água. Também aludem às copas

das árvores, notadamente as de grande porte e especialmente palmeiras que favorecerão tal

situação, nem sempre de maneira isolada mas, para piorar o problema, também com

pequenas conexões lineares criadas pelo contato entre os extremos dos ramos ou frondes

foliares.

Copas de árvores em vias de submersão aparecem como rosetas semiesféricas e, caso a copa

de árvore sejam muito grande, o animal poderá passar de um lado a outro da estrutura, ao

perceber que está sendo perseguido. Isso resultará em tentativas circulares repetitivas ao

redor da copa, seguidamente malograda pela fuga para o extremo oposto dela. Caso não seja

possível um abordagem direta no sentido diamétrico, a equipe deverá proceder o corte de

alguns ramos, visando ao acesso do núcleo da roseta, onde poderá realizar seu trabalho de

apanha do animal porventura ali localizado. O mesmo deverá ser realizado no caso de haver

pequena copada ainda intacta, alguns metros acima do nível de água, obedecendo-se

obviamente, todas as precauções de segurança. Em casos extremos é possível que se faça

necessário o abate da árvore, momento que apenas poderá ser contornado com a participação

de profissional habilitado ao uso de motosserra.

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Grandes paredões rochosos, os localmente denominados “peraus”, abriga não apenas uma

flora particularíssima, com plantas rupícolas adaptadas à condição e que são diferentes do

padrão da vegetação predominante. Ali podem se concentrar animais diferentes daqueles que

foram encontrados ao longo do dia de trabalho em outros tipos de paisagem. Embora essas

formações rochosas não mereçam atenção imediata para salvamento de animais, visto

estarem nas margens do reservatório, elas poderão contribuir com espécies interessantíssimas

– e dificilmente acessáveis normalmente - do ponto de vista científico. Em certas situações,

ainda, um platô que sirva como abrigo temporário a alguns animais e que não permita sua fuga

para locais de relevo menos acentuado, deverá ser abordado, atentando-se para todas as

precauções quanto á integridade de embarcação, nessa situação altamente suscetível a

impactos perigosos com as pedras.

Certas associações de plantas no solo de uma vegetação natural, como por exemplo as

grandes touceiras da bromélia terrestre (Bromelia antiacantha), permitem, em situações

normais, um grande aglomerado de animais dos mais variados grupos, desde mamíferos,

répteis e ninhegos de aves até pequenos insetos, aranhas e escorpiões. No caso do

enchimento de um reservatório, esses mesmos locais continuarão frequentados enquanto

ocorre a repleção pelo nível de água e, por essa característica, tornar-se-ão situações especiais

para a obtenção e captura de diversos tipos de organismos, eventualmente em enormes

quantidades.

À medida que o reservatório vai sendo preenchido, o profissional deverá prestar atenção em

tais situações, prevendo o momento em que esses pontos críticos estarão “no ponto”. Quando

isso ocorrer, poderá dirigir-se para ali, eventualmente com auxílio de outras equipes, para um

esforço concentrado. Ressalta-se que não será incomum, ao iniciar um esforço sob tais

condições, que uma ou várias equipes tenham trabalho contínuo por vários dias, na tentativa

de salvar ou aproveitar a fauna ali disponível. Cabe, então, a aplicação da advertência citada

linhas acima, com relação a contatos múltiplos com vários tipos de animais e com relação ao

planejamento emergencial de prioridade de acesso e dedicação a cada um deles.

Com efeito, ao momento do enchimento de um reservatório, dependendo do tipo e dimensão

do empreendimento, ocorre a instalação de grandes tambores de plástico ou metal flutuantes

e unidos entre si por conexões de cabo de aço. Essas estruturas são chamadas de log booms e

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são colocadas nas proximidades da barragem, com a finalidade de reter uma grande

quantidade de resíduos que causaria danos à estrutura.

Visto sua conformação visando à filtragem de elementos de grande porte como troncos,

galhos, móveis e outras estruturas domésticas (eletrodomésticos grandes, tábuas, vigas),

também ali se estabelecem materiais pequenos, trazidos pela corrente fluvial. Essa condição

propicia a formação de um gigantesco camalote com resíduos de todos os tamanhos ali

concentrados.

Em virtude da situação, porém, não são admitidas embarcações com motor e, para compensar

isso, se faz necessário o uso de botes infláveis ou outros tipos de barcos movidos a remo. O

acesso ao enorme camalote é complicado, pois o deslocamento torna-se difícil devido à

tranqueira que se forma. Trata-se de uma oportunidade rara para obtenção de animais,

geralmente de pequeno porte, visto que muitos deles se agrupam, graças à condição única.

Tanto quanto rica essa situação também oferece respeitáveis riscos ao resgatador, em virtude

do contato com pontes de acesso à embarcação, por todo o seu perímetro, dificultando muito

a devida proteção no caso de entrada de certos organismos.

V.10. Unicidade de registros

Por sua natureza de restrição temporal, observa-se que grande parte das informações colhidas

em RFs apresentam-se em unicidade ou, quando muito, em amostras numericamente

insuficientes para eventuais aplicações estatísticas. Os próprios objetivos da empreitada

dificultam, também por questões logísticas, a coleta de dados, alguns deles de grande

relevância mas frequentemente ignorados por essa limitação.

No entanto, não há nenhuma dúvida de que certos detalhes potencialmente colhidos durante

os RFs, mesmo que com pequena representatividade, poderão servir como ponto de partida

para pesquisas diversas, assim como pelo valor descritivo em certos assuntos de história

natural.

Como mencionado anteriormente, o Brasil carece severamente de literatura que em base os

procedimentos a serem realizados durante RFs mas, também é óbvio que, se fosse possível

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somar as informações obtidas durante tais eventos, o grau de conhecimento aumentaria

consideravelmente.

Desta forma, além do grande universo de dados que pode ser colhido em RFs, diversas

informações paralelas, não necessariamente referentes às espécies capturadas, podem e

devem ser obtidas.

Algo que pouco se observa, por exemplo, é ligado à ciência da Etologia, que estuda o

comportamento e, inclusive, tem se destacado no cenário das ciências puras como mecanismo

de aplicações em várias situações, inclusive tecnológicas. Relevante interesse observa-se no

comportamento de certas espécies sedentárias ao se deparar com o enchimento de

reservatórios ou mesmo a privação de seus hábitats originais. Quais delas são mais atingidas

nessas situações e a que ponto seus territórios poderão ser transferidos para as imediações ou

simplesmente erradicados? Uma resposta como essa dificilmente seria colhida durante um RF

mas, apesar de sua relevância no contexto ambiental, lhe caberia ao menos uma certa

quantidade de observações que colaborassem com conclusões futuras unindo os padrões

constatados em diversas regiões sob mesmo tipo de ação impactante.

Muitos dados como esse, desde que devidamente subsidiados, poderão ser colhidos de forma

naturalística e pontual, ao tempo em que ocorre o RF. Animais sujeitos à alteração das

condições biológicas de seu território, reagem de várias maneiras, de acordo com inúmeras

variáveis como confinamento, detalhes de microhábitats, gregarismo, sazonalidade,

disponibilidade de recursos alimentares e outros. Por esse motivo, o registro e, se possível,

documentação desse tipo de informação deve ser estimulado e organizado, uma vez que

possivelmente terá utilidade futura.

Outro assunto totalmente negligenciado, ou superficialmente tratado, em RFs alude às

informações sobre a causa mortis de muitos indivíduos que são localizados e coletados

durante a privação de seu ambiente, decorrente de ações de desmate ou do enchimento dos

reservatórios. É curioso que tão pouco interesse se dê a esses episódios, especialmente

quando um único indivíduo pode fornecer dados valiosíssimos sobre a condição ambiental

daquela situação, tal como abordado acima. Tópicos referentes à fisiologia dos organismos

frente a uma ação impactante aderem à importância de dados únicos, funcionando como

depositários de informações facilmente relacionadas com a alteração dos hábitats. Estudos de

mecanismos de estresse (em parte já razoavelmente explorados na literatura técnica: vide

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Acco et al., 1999), definição de valores de referência hematológicos, bioquímicos, hormonais,

etc, são apenas alguns dos itens que, com alguma criatividade, poderão ser abordados,

resultando em mecanismos de acesso a conclusões mais profundas sobre o impacto de um

empreendimento.

Embora já considerados no foco de alguns estudos acadêmicos (p.ex. doutorando Elmer

A.Genoy-Porto: Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, São Paulo), parece

estranho que ao mesmo tempo em que se presuma (esse é o termo mais apropriado) que

centenas – eventualmente milhares – de organismos virão a óbito em decorrência das ações

consecutivas dos RFs, pouco se fez até então no sentido de esclarecer decisivamente quais

seriam as causas dessa mortalidade (Peres & Johns, 1992).

Resgates de fauna são também excelentes oportunidades, por exemplo, para a coleta de

material genético e biomolecular, visando a avaliações de fluxo gênico, variabilidade genética,

populações, estruturas de parentesco familiar, DNA mitocondrial, polimorfismo enzimático,

estrutura cromossômica, padrões hematológicos e muitas outras (Salim et al., 2001; Bonvicino

et al., 2001; Grego et al., 2001; Satake, 2006). Isso se deve em virtude do copioso material que

pode ser colhido, nem sempre necessitando do sacrifício dos exemplares e sobre o qual assim

se manifesta Inglêz (2006):

“No enchimento de lagos artificiais, o resgate de fauna é a alternativa escolhida na tentativa de minimizar os enormes danos que estão sendo causados ao ambiente, uma vez que a maior parte dos indivíduos das áreas afetadas não resistira ao alagamento. Nesse contexto há a oportunidade de coleta de amostras biológicas para estudos genéticos, especialmente para grupos de difícil acesso como os primatas. Esse tipo de coleta torna-se interessante na medida em que informações genéticas são escassas para a maioria das espécies silvestres sul-americanas”.

Embora pouco explorado o campo parasitológico é de grande importância e também deve ser

considerado. Barrella & Silva (2003), por exemplo, investigaram o grau de infestação e

prevalência de certos trematódeos na cavidade digestória de serpentes capturadas em um RF

realizado no estado de São Paulo, confrontando valores com as condições decorrentes do

novo ambiente. A notável participação de muitas espécies silvestres (especialmente

mamíferos e aves) como vetores ou transportadores de doenças humanas volta-se, ainda, às

questões de saúde pública o que eleva estudos, ou simples colecionamento de informações,

desse tipo a um patamar de grande prioridade.

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Nesse sentido, além da necessidade de uma certa criatividade e algum aparelhamento por

parte os organizadores e consultores técnicos ligados ao planejamento dos RFs, também

considera-se indispensável um conhecimento prévio sobre o protocolo mínimo de coleta

dessas informações, assim como o treinamento de profissionais que irão procedê-la. Com um

pequeno esforço de organização, será possível a coleta, organização e mesmo um

direcionamento efetivo dos dados, no sentido se serem publicados e torná-los acessíveis para

pesquisas futuras de confronto.

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VI

ADVERTÊNCIAS PARA A EXECUÇÃO DO RESGATE DE FAUNA Considerando-se a importância do estudo que se encontra em realização ao avaliar a fauna de

vertebrados terrestres das áreas a serem afetadas pela instalação do empreendimento UHE

Mauá, e com o propósito de oferecer subsídios aos trabalhos de salvamento e aproveitamento

da fauna, assim como contribuir ao direcionamento dos esforços de solturas (realocações) na

área de estudo, algumas análises contextualizadas são aqui fornecidas. Nesse sentido,

pretende-se que estas informações sejam úteis, entre outras finalidades, às seguintes

decisões:

- Diagnosticar a comunidade faunística a ser afetada, indicando espécies mais sensíveis e que possivelmente deverão sofrer maior atenção e mesmo intervenção por parte das equipes de resgate da fauna;

- Indicar a ocorrência de deslocamentos de diferentes grupos da

fauna quando do início dos trabalhos de desmate, buscando reconhcer a causalidade desses movimentos (p. ex. indivíduos vagantes, busca de novos territórios, fuga de jovens, alterações de áreas de forrageamento);

- Contribuir à seleção de sítios para soltura de espécimes da fauna

com base em dados de ocorrência/abundância ou características ambientais das mesmas espécies ou táxons ecologicamente relacionados.

Mesmo munidos de dados detalhados e colhidos na própria área a ser afetada, deve-se ter em

mente que as informações aqui apresentadas originam-se de um estudo não isento de

subjetividades e os resultados obtidos pelo Monitoramento devem ser cuidadosamente

avaliados e adequados à realidade e viabilidade dos trabalhos a realizar. Não obstante, e

mesmo considerando que se desconhecem muitas informações importantes acerca da história

natural de grande parte das espécies envolvidas (p. ex. áreas de vida na área de estudo,

padrões de deslocamento circadiano/circanual, densidade demográfica, padrões de ocupação

da paisagem etc), acredita-se que, à medida que novas informações sejam acumuladas, o

cruzamento destas com aquelas geradas pelos trabalhos de resgate de fauna poderá fomentar

de forma positiva o presente programa ambiental, de forma a maximizar a eficácia dos

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trabalhos e melhorar a interpretação das alterações bióticas a que as comunidades ora

estudadas estarão sujeitas.

VI.1. Classificação topológica da nidificação das aves

A biologia reprodutiva de grande parte das aves neotropicais permanece desconhecida e ainda

pouco estudada pela comunidade técnico-científica (Stutchbury & Morton, 2001). Dentro

deste tópico, um dos aspectos mais relevantes quanto à tomada de medidas conservacionistas

é a biologia da nidificação, ou seja, informações sobre a localização dos ninhos, suas

características estruturais, número e dados bionômicos de ovos, épocas de nidificação etc.

Antes do Século XX esse tipo de informação era divulgada em forma de notas ou relatos

episódicos ou anedóticos, tais como as breves, mas detalhadas considerações de Goeldi

(1894); ou ainda em catálogos mais abrangentes, mas publicados em línguas estrangeiras (e.g.

Nehrkorn, 1899; 1910). Somente a partir do início do século passado é que se apresentaram,

no Brasil, dados acerca da nidologia e oologia de aves indígenas (Euler, 1900; Ihering, 1900;

Snethlage, 1935; Pinto, 1953). Algumas obras recentes abordam o tema com maior

profundidade, já com o intuito de sistematizar os dados até então disponíveis (Belton, 1994;

Sick, 1997), mas versam sobre relativamente poucas espécies da vasta riqueza avifaunística

encontrada no Brasil. Outros textos apresentam novas informações pontuais, em geral como

parte de estudos da história natural de algumas espécies (p.ex. Aguilar et al., 1999; 2000;

Marini et al., 1997; 2007; Legal, 2007; Sousa & Marini, 2007; Faria et al., 2008; Silva et al.,

2008).

Tendo em vista o atual grau de informações sobre biologia da nidificação de aves brasileiras

presentes na literatura, e com o intuito de subsidiar e nortear os esforços de busca de ninhos e

espécies a serem potencialmente alvos de salvamento durante o resgate de fauna para

instalação da UHE Mauá, neste breve ensaio apresenta-se de forma simplificada uma

classificação das aves encontradas nas áreas diretamente afetadas pelo empreendimento.

Como resultado deste esforço espera-se contribuir para diminuir a mortandade de ninhegos

ou, caso o salvamento não seja possível, aumentar a eficácia do aproveitamento científico do

material coletado.

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Realizou-se uma busca na literatura corrente visando a formação de uma classificação das

espécies de aves brasileiras quanto aos locais que utilizam para construção de seus ninhos,

restringindo-se a táxons silvícolas e àquelas espécies com registros confirmados na área de

estudo. Para tanto, recorreu-se às obras supracitadas, e se estabeleceram sete grupos de

estratos para nidificação das aves, atentando-se para algumas particularidades biológicas:

a. ninhos estabelecidos em cavidades naturais ou artificiais (em árvores, troncos ou rochas);

b. ninhos escavados no solo, usualmente em barrancos; c. ninhos construídos sobre o solo, diretamente sobre o chão ou

entremeado a matéria vegetal; d. espécies nidoparasitas, que põe seus ovos em ninhos de outras

espécies; e. ninhos construídos nos estratos florestais, sendo eles:

e.1. baixo, de 1 a 5 m de altura; e.2. médio, entre 6 e 10 m de altura; e.3. alto, acima de 10 m de altura.

Adicionalmente, dado que a área de estudo apresenta grande riqueza avifaunística não

plenamente contemplada por nossa amostragem, instituiu-se uma segunda classificação, mais

subjetiva, de probabilidades de encontro de ninhos na AID de acordo com a compatibilidade

de preferência de hábitats e abundância relativa das espécies na área a ser diretamente

afetada.

A menor probabilidade de ocorrência (apenas um símbolo +) refere-se a espécies que ocorrem

ou potencialmente ocorrem na macrorregião, mas são táxons altamente sensíveis às

modificações de paisagem e que não foram encontradas até então durante os estudos em

campo, pressupondo-se que o encontro de ninhos destas espécies seja difícil ou até

improvável; também estão incluídas neste grupo aquelas que, embora constatadas durante o

presente estudo, são táxons possivelmente muito raros e pouco abundantes na AID.

Espécies de provável ocorrência (++), por sua vez, são aquelas que já foram constatadas nas

áreas diretamente afetadas e apresentam abundância relativa moderada. Já as espécies de

alta probabilidade de ocorrência (+++) se mostraram bastante comuns durante os estudos,

com base na experiência acumulada no decorrer do trabalho em diversos pontos da AID.

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Com base no exposto, e tendo em mente que se aproxima a estação reprodutiva no local,

sugere-se que sejam realizadas buscas anteriores à supressão, visando a identificar locais

utilizados para nidificação. Adicionalmente, maior atenção pode ser dedicada a espécies que

nidificam no sub-bosque florestal e em cavidades naturais, ou seja, ocos de árvores e

cavidades em rochas. Nestas buscas deve-se atentar não somente às estruturas, mas

principalmente aos padrões comportamentais das aves em estudo.

Em nossa apreciação classificamos 176 espécies segundo os critérios acima. Grande parte

delas nidificam no estrato baixo da mata (n = 47) ou em cavidades naturais (n = 43). Segundo

nossa análise de potencialidades de encontro de ninhos, 41% das espécies, quase metade de

toda a riqueza computada, tem grande possibilidade de ter ninhos encontrados por serem

relativamente comuns na área de influência direta. Sínteses cruzando estas duas informações

são apresentadas nas TABELAS VI.1 e VI.2.

TABELA VI.1. Síntese da riqueza avifaunística por local de nidificação e potencialidade de encontro de ninhos durante os trabalhos de resgate e salvamento da fauna na área de influência direta da UHE Mauá.

LOCAL POTENCIALIDADE DE ENCONTRO

TOTAL + ++ +++

Cavidades 7 24 12 43 Escavações 0 4 7 11

Solo 3 7 7 17 Nidoparasita 0 1 0 1 Estrato baixo 7 14 26 47 Estrato médio 7 12 17 33

Estrato alto 6 11 7 24 TOTAL 27 73 76 176

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TABELA VI.2. Lista de espécies de aves conforme local de nidificação e potencialidade de encontro de ninhos durante os trabalhos de resgate e salvamento da fauna na área de influência direta da UHE Mauá. Espécies assinaladas com asterisco (*) indicam que sua classificação nidológica se baseou por comparação com táxons ecologicamente similares.

Local Potencialidade de encontro de ninhos

Cavidades

+++ ++ +

Aratinga leucophthalma Pyrrhura frontalis Trogon surrucura

Ramphastos dicolorus Pteroglossus bailloni Picumnus temminckii Veniliornis spilogaster

Sittasomus griseicapillus Dendrocolaptes platyrostris

Xiphorhynchus fuscus Campylorhamphus falcularius

Sirystes sibilator

Micrastur ruficollis Micrastur semitorquatus

Aratinga auricapillus Forpus xanthopterygius

Pionopsitta pileata Pionus maximiliani

Megascops atricapilla Pulsatrix koeniswaldiana

Strix hylophila Glaucidium brasilianum Chaetura cinereiventris

Trogon rufus Melanerpes flavifrons

Piculus aurulentus Colaptes melanochloros

Dryocopus lineatus Xiphocolaptes albicollis

Xenops rutilans Colonia colonus

Myiodynastes maculatus Myiarchus swainsoni

Tityra cayana Pygochelidon cyanoleuca

Progne chalybea

Primolius maracana Brotogeris tirica

Amazona vinacea Colaptes campestris Dryocopus galeatus

Xenops minutus Tityra inquisitor

Local Potencialidade de encontro de ninhos

Escavações

+++ ++ +

Baryphthengus ruficapillus Nonnula rubecula

Philydor rufum Automolus leucophthalmus

Megaceryle torquata Malacoptila striata Sclerurus scansor

Lochmias nematura Stelgidopteryx ruficollis

Tersina viridis Philydor lichtensteini*

-

Local Potencialidade de encontro de ninhos

Solo

+++ ++ + Crypturellus obsoletus Pyriglena leucoptera

Grallaria varia Chamaeza campanisona Basileuterus culicivorus

Basileuterus leucoblepharus Psilorhamphus guttatus*

Crypturellus tataupa Odontophorus capueira

Cathartes aura Nyctiphrynus ocellatus

Eleoscytalopus indigoticus Chamaeza meruloides

Arremon semitorquatus

Sarcoramphus papa Lurocalis semitorquatus Macropsalis forcipata

Local Potencialidade de encontro de ninhos

Nidoparasita +++ ++ +

- Dromococcyx pavoninus -

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Local Potencialidade de encontro de ninhos

Baixo

+++ ++ + Geotrygon montana

Leptotila rufaxilla Phaethornis eurynome Thalurania glaucopis Leucochloris albicollis

Thamnophilus caerulescens Dysithamnus mentalis Drymophila rubricollis Drymophila ochropyga

Drymophila malura Conopophaga lineata Synallaxis ruficapilla Mionectes rufiventris

Leptopogon amaurocephalus Hemitriccus diops

Myiornis auricularis Platyrinchus mystaceus

Lathrotriccus euleri Contopus cinereus

Chiroxiphia caudata Saltator similis

Trichothraupis melanops Tachyphonus coronatus

Habia rubica Mackenziaena severa*

Saltator fuliginosus*

Aramides saracura Leptotila verreauxi

Chlorostilbon lucidus Batara cinerea

Synallaxis cinerascens Synallaxis spixi

Poecilotriccus plumbeiceps Todirostrum poliocephalum

Capsiempis flaveola Onychorhynchus swainsoni

Myiophobus fasciatus Haplospiza unicolor Poospiza cabanisi

Geothlypis aequinoctialis

Aramides cajanea Claravis pretiosa

Eupetomena macroura Hemitriccus obsoletus

Myiobius barbatus Coryphospingus cucullatus Cyanoloxia glaucocaerulea

Local Potencialidade de encontro de ninhos

Médio

+++ ++ + Penelope obscura

Piaya cayana Cranioleuca obsoleta Myiopagis caniceps Myiozetetes similis

Pitangus sulphuratus Pachyramphus castaneus

Cyclarhis gujanensis Vireo olivaceus

Turdus rufiventris Turdus albicollis

Hemithraupis guira Cacicus chrysopterus Cacicus haemorrhous Euphonia chlorotica Schiffornis virescen* Euphonia chalybea*

Phyllomyias virescens Phyllomyias fasciatus

Camptostoma obsoletum Phylloscartes ventralis

Tolmomyias sulphurescens Pachyramphus polychopterus

Pachyramphus validus Turdus leucomelas

Turdus amaurochalinus Thraupis sayaca

Euphonia violacea Pyrrhocoma ruficeps*

Turdus flavipes Thlypopsis sordida

Thraupis bonariensis Piranga flava

Local Potencialidade de encontro de ninhos

Alto

+++ ++ +

Patagioenas picazuro Patagioenas plumbea

Tyrannus melancholicus Cyanocorax chrysops

Parula pitiayumi Chlorophonia cyanea

Conirostrum speciosum*

Mesembrinibis cayennensis Elanoides forficatus

Rupornis magnirostris Caracara plancus

Milvago chimachima Patagioenas cayennensis Megarynchus pitangua Pipraeidea melanonota

Cyanoloxia moesta Herpsilochmus rufimarginatu*

Cissopis leverianus*

Leptodon cayanensis Accipiter striatus

Percnohierax leucorrhous Buteo brachyurus

Spizaetus melanoleucus Herpetotheres cachinnans

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VI.2. Tópicos relevantes para a herpetofauna

Os répteis são, seguramente, um dos grupos mais trabalhados em RFs, principalmente pelo

fato de serem organismos de baixa vagilidade e que se utilizam com grande propriedade de

seus recursos de defesa, incluindo manifestações elusivas como a camuflagem e inúmeros

comportamentos para busca de abrigos durante a fuga. Por esses motivos, aliados a outros

diversos de natureza metabólica, costumam ser um dos mais destacados integrantes

vislumbrados em tais atividades.

De fato, durante a primeira fase do resgate da UHE Mauá, quando do desmate para instalação

do canteiro de obras (LACTEC, 2009), observou-se que, dentre todos os vertebrados terrestres

contemplados, os répteis excederam consideravelmente em número os demais grupos

faunísticos. Essa situação, alías, foi observada em todos os tipos de trabalhos similares

realizados em outras regiões paranaenses e de outros pontos do Brasil.

As duas espécies mais comumente resgatadas naquela primeira etapa, foram a iguaninha

(Enyalius perditus) e a jararaca (Bothropoides jararaca), resultado similar ao encontrado

durante o Monitoramento. Embora deva-se considerar que as casualidades, contingências e os

métodos de encontro, durante o resgate e o monitoramento são naturalmente distintos, a

predominância de ambas as espécies durante os estudos são forte indicativos que, de fato, se

tratam dos táxons mais comuns na região aqui considerada, do ponto de vista de

potencialidade de contato.

Um segundo aspecto revelado no Monitoramento é a constatação da importância de certos

microhábitats na ocupação da reptiliofauna ao longo da área de estudo. Nesse sentido, torna-

se importante destacar o hábitat preferencial, ou com maior probabilidade de encontro, de

algumas espécies de interesse conservacionista ou ecológico (p.ex. ameaçadas, endêmicas, de

baixa vagilidade) potencialmente habitantes da macrorregião.

Essa particularidade aponta para a relevância estratégica de buscas ativas, por parte da equipe

de resgate em pontos de grande riqueza filética e mesmo convergência populacional,

localmente identificados como as áreas de encostas e orografia mais acentuada e os fundos de

vale, ou seja, talvegues do sistema hidrográfico local. Esses microhábitats devem ser

prescrutados com atenção especial, com o intuito de localizações particulares de elementos-

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chave, eventualmente em consideráveis populações. A proposta deverá ser acompanhada de

afugentamento, quando do episódio de desmate, seguida de acompanhamento visando a

completa certeza de que tais animais foram efetivamente deslocados para pontos seguros.

Durante o resgate embarcado, embora tais condições ambientais estejam em muito menor

número e representatividade, os espécimes devem ser capturados e sua destinação obeceder

o processo protoclar pré-estabelecido.

Já no caso de espécies fossoriais, cuja guilda inclui animais de encontro muito improvável

mesmo na busca ativa, se faz necessário um acompanhamento mais dedicado durante o

enchimento, quando essas espécies escapam do solo encharcado, subindo à superfície para

empreender fuga. Recomenda-se, então, realizar as buscas nas imediações da linha de água,

preferencialmente no maior número de pontos possível.

Os répteis, quando refugiados em estruturas sem contato com a água (árvores emergentes no

espelho d’água, pequenas ilhas) tendem a se manter na linha de água, evitando escalar a

muita altura, à exceção, evidentemente, de espécies arborícolas e semiarborícolas. O

conhecimento desse tipo de comportamento, pouco mais detalhado no capítulo seguinte, será

decisivo para o sucesso e representatividade do trabalho.

Entre as áreas amostrais estudadas, a Unidade Frente/APP (localizada junto ao futuro

reservatório) foi a que apresentou a maior diversidade de espécies. Tal fato denota grande

preocupação visto ser esta área a mais diretamente atingida pela supressão vegetacional.

Dentre as espécies observadas se destacam formas florestais sensíveis a alterações no

ambiente natural como a iguaninha (Enyalius perditus) e a jiboinha (Tropidodryas striaticeps),

lembrando que a primeira espécie é bastante abundante localmente e, por sua vez, a segunda,

aparentemente rara.

De um modo geral, as espécies de répteis florestais são bastante vulneráveis a perda da

cobertura florestal por serem incapazes de suportar as altas temperaturas de ambientes

abertos recém-estabelecidos e para os quais há uma grande dificuldade de adaptação. Esse

detalhe evidencia a importância dos RFs a serem realizados junto às atividades de

desmatamento, para garantir a sobrevivência dos animais que porventura não se desloquem

naturalmente para áreas próximas ainda intactas.

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Por fim, com relação às marcações dos indivíduos resgatados e cuja soltura se dará, conforme

instruído acima, razoavelmente distanciada das unidades de monitoramento pré-impacto,

sugere-se os mesmos métodos aplicados durante o Monitoramento, a saber: para lagartos a

ablação de falanges e para as serpentes a marcação de escamas ventrais pelo método de

tatuagem a quente. O método de amputação dos artelhos consiste em cortar os dedos dos pés

representando as unidades (numeração crescente da esquerda para direita e de dentro para

fora) e os dedos dos membros anteriores representando as dezenas (também da esquerda

para direita e de dentro para fora). Neste sistema, o animal poderá perder até dois dedos (não

consecutivos) e poderão ser marcados até 109 indivíduos. Ressalta-se, porém, para a não

amputação do primeiro dedo, tanto das mãos quanto pés, em espécies semiarborícolas

(diminuindo a quantidade de indivíduos que poderão ser marcados para 49 exemplares). Esse

procedimento visa à preservação de eventuais danos aos diversoa padrões de deslocamento.

Já o método de tatuagem a quente consiste na marcação por cauterização de escamas

ventrais, utilizando-se de um pequeno aparelho elétrico de solda. A marcação é feita a partir

da primeira escama ventral, logo acima da cloacal, de modo que o primeiro indivíduo

capturado pertencente à determinada espécie terá sua primeira escama ventral tatuada, o

segundo indivíduo a sua segunda escama ventral tatuada e assim sucessivamente. Detalhes

dessas técnicas encontram-se no Volue 2 deste Relatório.

VI.3. Tópicos relevantes para a mastozoofauna

Os mamíferos estão entre os grupos zoológicos mais intensamente estudados, porém, ainda

profundamente carentes de informações das mais básicas e principalmente alusivas à história

natural. Deste modo, o intuito de subsidiar os esforços para salvaguardar das espécies deste

grupo é escasso e pouco comentado de forma prática e coesa em ambiente natural.

A área de estudo apresenta grande riqueza prevista de mamíferos tanto de pequeno quanto

de médio grande porte, alguns deles ainda não plenamente contemplados pelo

Monitoramento. No entanto, é possível estabelecer uma estimativa simples da probabilidade

de encontro desses animais dado às características como agilidade de fuga e área de vida das

espécies em questão, baseadas plenamente nas espécies até agora constatadas pelos

trabalhos de Monitoramento. Cabe lembrar que alguns grupos taxonômicos aqui não são

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tratados, dada a sua agilidade e rapidez em fuga e, assim, sua representação em RFs será

improvável, exceto em casos de debilidade ou porte de ferimentos. Estas espécies têm maior

chance de evasão, em processos impactantes ativos, em decorrência de suas características de

áreas de vida e de variações inerentes às próprias espécies, como o caso de alguns carnívoros

e dos representantes da ordem Artiodactyla.

Por outro lado, razão pela qual estão enfatizados na TABELA VI.3, outros grupos merecem

destaque por sua constituição física, preferências ecológicas e mesmo capacidades de

deslocamento, de certa forma relacionados com o metabolismo. Essas espécies embora

constatadas durante o Monitoramento, não mostram restrições particulares a determinados

tipos de ambientes, sendo passíveis de localização por toda a extensão do futuro reservatório.

Destacam-se, nesse sentido, os mamíferos de hábito arborícolas e os que apresentam menor

vagilidade, como o caso dos tamanduás (Myrmecophagidae), tatus (Dasypodidae) e do ouriço-

cacheiro (Sphiggurus villosus). Na situação particular dos primatas, note-se que possuem

grande capacidade de fuga, porém, deve-se atentar em especial às diversas expressões

impactantes, as quais terão desdobramentos distintos, tanto no momento do desmate, quanto

do enchimento do reservatório. Em ambos os casos, não obstante a fuga pareça facilitada por

meio de trânsito ao longo dos estratos arbóreos, esses animais poderão ser isolados em

manifestações insulares terrestres (árvores de grande porte isoladas do contexto da paisagem

geral) ou aquáticas (copas ilhadas de árvores).

TABELA VI.3. Lista de espécies de mamíferos de grande potencial de deslocamento e sem restrições de ambientes particularizados de possível encontro durante os trabalhos de resgate de fauna da UHE Mauá. LEGENDA: TF, terrícola e fossorial; Te, terrícola; Es, escansorial; Ar, arborícola.

TAXON LOCOMOÇÃO

Cingulata

Cabassous tatouay TF

Dasypus novemcinctus TF

Euphractus sexcinctus TF

Pilosa

Tamandua tetradactyla Te

Lagomorpha

Sylvilagus brasiliensis Te

Carnivora

Cerdocyon thous Te

Chrysocyon brachyurus Te

Eira barbara Te

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Galictis cuja Te

Nasua nasua Te

Procyon cancrivorus Es

Rodentia

Cavia aprea Te

Cuniculus paca Te

Dasyprocta azarae Te

Sphiggurus villosus Ar

Kannabateomys amblyonyx Ar

Se por um lado, alguns mamíferos apresentam uma dispersão ampla, outros possuem, em

variadas escalas, restrições notáveis a determinados nichos, que determinam sua

concentração pontual em decorrência de certos detalhes de microhábitats. Esses animais,

mostrando certo confinamento a pontos particulares, são indicados na TABELA VI.4 que, além

disso, indica as unidades amostrais onde foram constatados durante o Monitoramento.

TABELA VI.4. Mamíferos de pequeno porte não-voadores de possível encontro durante o trabalho de resgate de fauna da UHE Mauá, associados às suas áreas de ocorrência nas unidades amostrais consideradas no Monitoramento. LEGENDA: UFA, Unidade Frente/APP; ULI, Unidade Linhão; UCO, Unidade Controle. Tipos de locomoção: Es, escansorial; Ar, arborícola; Te, terrícola; SA, semi-aquático; SF, semifossorial.

TAXON OCORRÊNCIA LOCOMOÇÃO

Didelphimorphia

Didelphis albiventris UFA, ULI Es

Didelphis aurita UFA, ULI, UCO

Gracilinanus microtarsus UFA, ULI, UCO Ar

Gracilinanus agilis UFA, UCO Ar

Monodelphis americana ULI Te

Monodelphis iheringi UFA, ULI, UCO Te

Monodelphis sorex UFA, ULI, UCO Te

Rodentia

Guerlinguetus ingrami UFA, ULI, UCO Ar

Akodontini UFA, ULI, UCO Te

Bibimys labiosus ULI, UCO

Brucepattersonius ihering UFA, ULI, UCO Te

Euryoryzomys russatus UFA, ULI Te

Juliomys pictipes UFA, ULI, UCO Te

Necromys lasiurus ULI Te

Nectomys squamipes ULI SA

Oligoryzomys flavescens UFA, ULI, UCO Te

Oligoryzomys nigripes UFA, ULI, UCO Te

Oxymycterus judex UFA, ULI SF

Thaptomys nigrita UFA, ULI, UCO Te

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A presença repetida e restritiva a alguns microambientes notada no monitoramento pode, em

certas situações, ser determinante para a localização de animais sob risco. Em um sentido

geral, ambientes preservados ou pouco modificados terão maiores riquezas de espécies, bem

como mais considerável representação filética, o que se manifesta em particular ao longo dos

fundos de vale e das encostas. Essas situações são determinantes para a localização de

indivíduos sob risco, uma vez que naturalmente ali é que ocorrem as maiores diversidades, tal

como verificado no Monitoramento. Fundos de vale constituem-se de linhas planas onde se

desenvolvem múltiplas associações de plantas, tanto florestais, quanto arbóreas e mesmo

herbáceas, aspectos que são eventualmente atrativos para a presença de mamíferos. Esse

aspecto é evidenciado pela abundância de outro elemento importante, a água, partícipe das

exigências ecológicas das maior parte dos mamíferos locais, direta (ambiente de vida) ou

indiretamente (disponbilidade de dessedentação). Por sua vez, as vegetações de encosta, mas

apenas no caso do padrão florestal, propiciam uma concentração de adensamentos de

ramagem, distribuída ao longo de agregados de vegetação que obedecem um padrão

orográfico diferenciado daquele onde o relevo é mais suave. Todas essas situações devem ser

consideradas, no RF, para a busca e localização de mamíferos, visando à sua maior

representatividade quali e quantitaviva.

Algumas espécies de pequenos roedores e marsupiais poderão ser alvo de contato direto

devido à abrangência mais restrita da área de vida e de aspectos comportamentais específicos.

Desta forma, o encontro com esses animais será determinado pela busca no ambiente

particular ou em situações notáveis, eventualmente ligadas ao ciclo circadiano. No caso dos

gambás (Didelphidae) a situação mais comum, durante o dia, é a sua observação durante o dia,

quando abrigam-se em ocos de árvores, fendas de rochas e outros lugares que possibilitam

segurança ao animal, visto seus hábitos de vida predominantemente noturnos; contudo, as

espécies deste grupo podem se locomover com certo desembaraço durante o dia, de forma

que, por ocasião de um RF, há grandes chances de localizá-los em plena natação no

reservatório em enchimento ou mesmo procedendo fuga em decorrência de ações de

desmate. Esses organismos possuem locomoção lenta e, assim, são de fácil captura em campo,

podendo ser realocadas em áreas florestadas, visto não apresentarem restrições ou afinidades

de monta com ambientes específicos.

Por outro lado, os membros do gênero Monodelphis inclui animais que necessitam de um

ambiente particular de solo, contendo serapilheira, sendo predominantemente terrícolas e

buscando alimento e abrigo em florestas em razoável estado de conservação. Já as espécies do

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gênero Gracilinanus, embora igualmente restritas a ambientes pouco modificado, utilizam-se

predominantemente do estrato arbóreo, apresentando – para tanto – importante adaptações

estruturais. Isso foi bem demonstrado durante o Monitoramento, visto que tais espécies foram

amostradas principalmente em armadilhas posicionadas em trepadeiras e/ou galhos de

árvores, deste modo enfatizando um hábito de vida arborícola. Esses animais, quando

realocados, devem ser soltos em ambientes ricos em cipós e um dossel contínuo, deste modo

facilitando a sua fuga e abrigo.

Para os pequenos roedores, e de uma forma bem geral, apenas a espécie Nectomys squamipes

tem grande afinidade com corpos d’água, possuindo adaptações para a natação; a espécie

quando realocada deve ser liberada em pontos que contenham uma mínima condição hídrica,

notavelmente em margens de riachos, arroios e mesmo de hábitats lóticos. Por outro lado, das

demais espécies de pequenos roedores até o momento inventariadas, apenas Juliomys pictipes

possui certa afinidade com os hábitos arborícolas, ainda que seja considerada, por alguns

autores (Fonseca et al., 1996), como terrícola.

O grupo que abarca a família dos cricetídeos, o qual aguarda grande representatividade

durante os trabalhos de RF, inclui espécies terrícolas por natureza, aspecto evidenciado duante

o Monitoramento e em todas as unidades amostrais.

Com relação ao contato físico com os mamíferos por ocasião do RF, cabe ressaltar que há

possibilidade de óbitos, o que se revela em especial quando se utiliza a técnica de imobilização

e que pode desencadear mecanismos de estresse, entre a as circunstâncias observadas in loco

do manuseio e destino final. Nestes casos sempre se preconiza o afugentamento natural que

ocorre na maioria das vezes, facilitando a fuga do animal envolvido.

Em últimos casos, para a salvaguarda e para garantir a integridade física, é que se deve utilizar

a contenção e consequente realocação. Com efeito, o aproveitamento do material biológico

também é de extrema importância e, assim, todo animal encontrado sem vida deve ser

diretamente quando possível congelado e rotulado, para depois ser depositado em uma

coleção científica credenciada. A utilização das peles e carcaças e/ou outro material oriundos

da fauna é de grande valia científica e, por essa razão, tais organismos devem ser preservados

sempre que possível.

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VI.4. Tópicos relevantes para a anurofauna

Anfíbios, e notadamente anuros, são organismos costumeiramente negligenciados em RFs em

decorrência de suas dimensões, pouco apelo midiático e pela falsa ideia de que podem se

adaptar com facilidade a quaisquer situações decorrentes de um impacto ligado ao ambiente

aquático.

No entanto, o Monitoramento levado a efeito até o presente na UHE Mauá evidenciou uma

diferenciada riqueza de espécies de acordo com os sítios amostrais, mostrando que, tal como

observado para os demais grupos zoológicos, certos detalhes ambientais são decisivos para a

ocorrência das espécies, sob variados graus de restrição.

Até o presente momento, a área que apresentou maior riqueza e abundância de espécies de

anfíbios foi a UFA-APP, especificamente o ponto A desta unidade. Os sítios reprodutivos

amostrados foram: um riacho que percorre toda a encosta e na região jusante é represado por

uma estrada, formando uma lagoa, porém mais a jusante volta a percorrer normalmente até

desembocar no rio Tibagi; e uma outra lagoa permanente formada pelo represamento da água

devido à estrada de acesso. Tratam-se, desta forma, de condições únicas que deverão merecer

no tocante ao salvamento dos animais, durante o processo de desmate e enchimento do

reservatório.

A UFA será, por certo, a área mais severamente impactada pelo reservatório, causando o

deslocamento de diversas espécies de anfíbios e promovendo uma completa

descaracterização do hábitat. Ressalva-se que as lagoas destes ambientes já eram

constantemente alteradas devido à atividade de silvicultura e, desta forma, grande parte da

anurofauna ali ocorrente já se encontrava de alguma maneira adaptada a estes impactos.

Apesar do impacto evidente, o reservatório também criará novas condições para que algumas

espécies sejam beneficiadas, como os membros do gênero Rhinella, que já foram observados

se reproduzindo mesmo nas margens do Rio Tibagi. Outras espécies como Leptodactylus

latrans e do gênero Hypsiboas, espécies de grande porte, também poderão vir a se reproduzir

na margem do reservatório, desde que haja condições mínimas de conformação vegetacional.

Por outro lado, espécies de pequeno porte não serão propriamente capazes de ocupar este

novo hábitat, sendo forçadas a procurar locais onde disponham de lagoas permanentes ou

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temporárias para se reproduzir. Ainda é preciso identificar e quantificar quais e quantas

espécies irão permanecer ou não nestes ambientes, ainda que seja esperada uma mudança na

composição. Nesse sentido, as informações colhidas e devidamente registradas durante o RF

poderão significar aporte valiosos de informações para os estudos do Monitoramento.

A formação de ilhas, ou mesmo de estruturas isoladas, quando do momento da formação do

reservatório irá isolar algumas espécies de pequeno porte que não serão capazes que

atravessar o reservatório, incluindo formas jovens com pequeno potencial de deslocamento e

mais das vezes confinadas às margens semilênticas dos corpos d’água. Com o enchimento,

muitas espécies irão se refugiar nestas ilhas, sendo altamente passíveis de localização, por

meio de buscas simples.

Uma das situações problemáticas a ser observada durante o RF da UHE Mauá é alusivo ao

confinamento de certas populações de anfíbios que, durante o Monitoramento, foi

evidenciado pela presença de espécies territorialistas e de área de vida restrita, como

mostraram os dados de recaptura nos transectos. A espécie Aplastodiscus albosignatus, por

exemplo, é uma espécie estenóica e aloantrópica, que necessita de vegetação arbórea para se

abrigar e de riachos para se reproduzir. Com o desmate e o enchimento, alguns indivíduos irão

se deslocar para áreas adjacentes já habitadas por outros indivíduos da sua espécie, sendo

viável a busca mais intensificada nos arredores dos locais com tais características. A mesma

situação acontecerá com as espécies Crossodactylus sp. e Scinax aff. catharinae que

evidenciaram ter uma área de vida fixa, porém nenhum comportamento territorial, ao

contrário de A. albosignatus, que constantemente é encontrada em atividade de vocalização, o

que provavelmente é para delimitação de territórios.

Mais informações são necessárias para afirmar aspectos episódicos e localizados de aplicação

em RFs, porém algumas espécies como: Bokermannohyla circumdata, Rhinella abei e

Ischnocnema henselii, que já foram encontradas nos transectos do Monitoramento,

demonstram um comportamento não-territorial, e suas áreas de vida não são restritas, o que

gera uma boa capacidade de se deslocar pelo ambiente e, talvez, uma maior taxa de encontros

mais notável do que para as demais, bem como em locais muito mais diversificados.

É necessário, antes de tudo, conhecer previamente o tipo de ambiente que estas espécies

ocorrem, notadamente áreas abertas, florestais, bordas de florestas, riachos, lagoas

permanentes, folhiço e etc. o que facilitará a sua localização e as estratégias de abordagem

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para captura. No tocante à realocação, essas informações são fundamentais, em virtude do

imperativo de conrrespondência mínima entre ambientes que foram verificadas e os futuros

pontos se soltura. Esses critérios devem ser estendidos aos modos reprodutivos (cf. Haddad &

Prado, 2005), indicativos básicos da condição específica de territorialidade.

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62

VII

INSTRUÇÕES SOBRE PROCEDIMENTOS, CAPTURA E

ENCAMINHAMENTO

Resgates de fauna, para os leigos e mesmo profissionais inexperientes, compõem um universo

imaginário irreal reforçado pelas informações fantasiosas que são veiculadas pela mídia.

Espera-se, inadvertidamente, que o trabalho será facilmente realizado por meio de agradáveis

passeios fluviais quando, na copa ilhada de árvores, aparecerão diversos tipos de organismos,

ativos e facilmente encontrados. Imagina-se também que serão flagrados animais grandes,

com aparência dócil e mansos, repletos de gratidão pelo trabalho de salvamento que lhes será

proporcionado. Movem-se também pelo falso destino dos animais, todos liberados em seu

ambiente natural e, com isso, tornando-se novamente aptos à pertencer à biodiversidade

local, equilibrada e natural.

A realidade, porém, é muito distante dessa concepção. O trabalho é duro e cansativo, sujeito

às intempéries e à exaustão física e psicológica. Um único dia de trabalho, apesar de

estimulado pelo intuito previsto, pode trazer agravos importantes à saúde como resfriados,

insolações, queimaduras solares e ferimentos de variados níveis de gravidade. A busca por

animais é difícil e nem sempre compensadora, sendo possível o retorno com apenas alguns

indivíduos pequenos e, na maior parte do tempo, quase não se vêem animais de grande porte.

Todos esses obstáculos, no entanto, podem ser de certa forma contornados, desde que sejam

tomadas certas precauções que vão da preocupação com a segurança, pontualidade e espírito

de equipe até os protocolos básicos para entre a constatação e o devido encaminhamento dos

animais.

O presente texto é uma breve instrução que se refere às ações necessárias, por parte do

resgatador, durante o trabalho que se estende entre o deslocamento intencional ao longo do

rio, ou melhor, do reservatório em vias de enchimento, até o momento em que o animal

capturado é entregue ao centro de triagem para recepção.

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63

VII.1. Métodos de captura, contenção e acondicionamento de

aves

As aves constituem-se de um grupo de pequena importância por ocasião de RFs decorrentes

do enchimento de reservatórios para aproveitamento hidrelétrico. O poder de voo e mesmo

quando dele privados, a grande habilidade para dispersão, são as características que justificam

essa afirmação. Graças a isso, quase todos os indivíduos podem se evadir com grande

facilidade do agente impactante, geralmente sem nenhuma necessidade de intervenção.

Apenas dois poréns devem ser considerados e com frequência merecem consideração desde

as fases de planejamento. Tratam-se dos indivíduos que ainda se encontram em fases infantis

ou juvenis e aqueles que, por alguma razão, encontram-se feridos ou desorientados.

Pode-se encontrar ninhegos e mesmo animais subadultos diretamente em seus sítios

reprodutivos, ou seja, ninhos, plataformas em ramificações ou em rochas e em cavidades

(ocos) de árvores de maior porte. O cuidado destinado a aves eventualmente assim

encontradas deve ser máximo, visando-se a manutenção o mais próxima possível da condição

em que se encontravam e procedendo-se a destinação imediata para o Centro de Triagem, em

inversa proporção ao seu estádio etário.

FIGURA VII.1. Ocos de árvores poderão conter elementos de reprodução de aves e deverão ser prescrutrados com máximo cuidado (Acervo Hori Consultoria Ambiental).

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Desnecessário lembrar que quanto menos desenvolvidos, os indivíduos merecerão mais

atenção e cuidado, no sentido de se preservá-los de intempéries e principalmente para a

manutenção de condições físicas e térmicas confortáveis. Ninhos contendo ovos e filhotes,

desta forma, deverão ser colhidos inteiros e embalados de maneira a protegê-los dos raios

solares, da visão da movimentação de dentro da embarcação e preferencialmente também de

ruídos ali formados. Para isso, é possível usar uma embalagem plástica grande, respeitando-se

a presença de orifícios que permitam a respiração dos animais e a colocação do lote em ponto

maximamente protegido. Indivíduos de maior porte, já quase prontos para voar, poderão ser

acondicionados em sacos de pano, preferencialmente suspensos por um cordão.

Generalizadamente, para as aves, essa prática é das mais eficientes, visto que possibilitam

uma certa proteção contra o frio e isolamento visual, deixando os indivíduos mais ou menos

confortáveis e calmos.

No caso de ser impossível a coleta do ninho ou do material onde estavam os animais ou ovos,

o resgatador precisa buscar por reproduzir as condições oferecidas e, para isso, poderá usar

pedaços de algodão ou tecido macio, de forma a oferecer um substrato agradável.

FIGURA VII.2. Devido à sua fragilidade, ninhegos carecem de cuidados especiais que vão desde a captura até o correto acondicionamento temporário, eventualmente com a preparação de abrigos improvisados (Acervo Hori Consultoria Ambiental).

Com relação às aves adultas, espera-se que um RF apenas contemplará indivíduos que estejam

privados de algum detalhe de suas condições naturais e que impossibilitem ou dificultem sua

fuga para locais seguros. Um desses casos alude ás aves estritamente florestais, muitas delas

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com pequeno potencial de voo e que se tornam desorientadas quando privadas de seu

território usual, em particular quando não encontram caminhos, ou corredores de mata, que

possibilitem a sua transferência para locais com qualidade ambiental similar à anterior. Deve-

se considerar que muitas espécies que frequentam as copas, poderão acabar ilhadas se

permanecerem nesse microhábitat enquanto o reservatório está sendo enchido.

Caso particular há entre as aves que utilizam-se de pousos coletivos de repouso noturno,

estruturas que, além da função congregativa de descanso diário, também servem-se como

elementos de orientação. Aves aquáticas, psitacídeos e outros representantes gregários

incluem-se nesse grupo.

Em todas as situações acima descritas, o resgatador deverá intervir, abordar e – se possível –

capturar os animais envolvidos. Em nenhuma situação poderá, deliberadamente, proceder

translocação destes animais, mesmo que lhe pareça a decisão mais acertada. Ocorre que

muitas espécies podem estar feridas ou debilitadas e, desta forma, as suas chances de

sobrevivência tornam-se mínimas. Além disso, algumas aves, territoriais ou gregárias por

natureza, não irão suportar a substituição de sua área de vida, processo que – nos RFs – tem

abordagem particularizada e desenvolvida previamente.

Embora pareça estranho, maior parte das aves, em caso de emergência, conseguirá nadar,

atividade que torna-se facilitada pela presença dos ossos ocos, que lhes dão grande leveza e

flutuabilidade. Desde que maior parte de suas penas não se molhe, agitarão ordenadamente

as pernas e se deslocarão, ainda que de maneira estranha, para as margens.

Algo referente às aves e que poderá ocorrer duranto o RF da UHE Mauá é o fato de, por

ocasião do enchimento, pedaços de redes ou fragmentos de linhadas, antes guardadas nas

margens da antiga calha do rio, sejam submersas. Tais estruturas tornam-se potenciais riscos

às aves mergulhadoras que certamente ficarão suscetíveis a ali se emaranhar ou se prender.

A maior parte das aves detém pouca ou nenhuma estrutura importante de defesa que possa

gerar agravos importantes ao resgatador. A maioria é tímida e, geralmente, manifesta-se

apenas por intensos movimentos corporais, na tentativa de se desvencilhar do manipulador.

Grandes e médios tinamídeos, patos (Anatidae), jacus (Cracidae), saracuras (Rallidae), pombas

(Columbidae) e alguns outros, em virtude de suas dimensões precisam de atenção uma vez

que costumam desferir, além de tentativas de agressão com as unhas, golpes fortes de asa,

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situação em que obtém sua evasão. Embora sejam animais fáceis de manejar, demandarão de

certa impressão de força, em especial para uma efetiva imobilização das asas.

FIGURA VII.3. Cada grupo de ave, mesmo que muitos desses animais não apresentem risco importane de defesa, deverá ser manejado de acordo com o seus sitema de defesa e as contingências (Acervo Hori Consultoria Ambiental).

Alguns grupos, no entanto, merecem cuidados especiais, em particular pela presença de

estruturas ofensivas que serão usadas em tais ocasiões. Aves aquáticas, como garças, biguás,

socós e outras espécies de bico longo e reto possuem uma estratégia até certo ponto perigosa

de defesa: visam aos olhos do agressor. Munidos por forte musculatura do pescoço e de

alavancas possibilitadas pelo seu formato curvilíneo, preparam a investida e lançam sua

cabeça como um dardo, com plena consciência do estrago que causarão. O PIP para essas aves

será, então, o pescoço que deverá ser atingido mediante um rápido e eficiente golpe frontal;

em seguida, atinge-se o seu PIS que, em vez da cauda, serão as tíbias, tanto mais próximo

possível seja do corpo.

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Embora pareça estranho, todas as aves de rapina usam com muito mais propriedade as garras

do que o bico; incluem-se aí os urubus (Cathartiformes), gaviões e falcões (Accipitriformes e

Falconiformes) de todos os portes e as corujas (Strigiformes). Os primeiros, inclusive, poderão

regurgitar alimento anteriormente ingerido (carne em decomposição) que consistirá de

situação problemática, tanto do ponto de vista emocional quanto sanitário.

O maior problema está, no entanto, nas garras, estruturas muito bem posicionadas na

extremidade dos membros posteriores, amparadas por poderosa musculatura e notável

desenvolvimento de tendões. Deve-se ter absoluto cuidado, ao manejar um animal desses pois

o fechamento das garras sobre as mãos ou outra parte do corpo é extremamente dolorosa e

muitas vezes dependente de grande habilidade para o desvencilhamento. O PIP para aves de

rapina, desta forma, será representado pelos membros posteriores, precisamente no ponto

contíguo aos dedos, cabendo como PIS o pescoço, visando à imobilização de sua defesa

sceundária, o bico.

FIGURA VII.4. O Ponto de Imobilização Primária (PIP), no caso de aves de rapina está em seus membros posteriores (Acervo Hori Consultoria Ambiental).

Lembra-se ainda que muitas aves que se alimentam de fontes animais (peixes, outras aves,

mamíferos) detêm quantidade apreciável de material em decomposição acumulado em seus

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bicos e garras. Contato com tais elementos, invariavelmente patogênicos, devem ser evitados

ao máximo.

O grupo que efetivamente usa o bico para a tentativa de agressão ao manipulador engloba os

psitacídeos, tucanos (Ramphastidae) e os grandes pica-paus (Picidae). Essas aves, trepadoras

por excelência, possuem fortes garras que serão usadas para arranhar o oponente mas o seu

sistema defensivo principal está no bico. Para esses exemplos, o PIP é o pescoço, na base do

crânio e o PIS, se necessário será também representado pelas tíbias. Lembramos que

psitacídeos grandes podem ferir a pele, graças ao aparato muscular e à proporção do bico; da

mesma forma, um grande pica-pau, se preso apenas pelas tíbias, irá bicar com extremo vigor a

mão de quem o manipula e poderá, inclusive causar fratura dos ossos do carpo. Mesmo com a

proteção de luvas de raspa a ação será bastante dolorosa, de forma que é necessária a sua

imobilização adequada.

Uma estratégia interessante para a captura e mesmo manejo de aves que possam ferir o

resgatador está no uso de tecidos, por exemplo, uma toalha, que servirá como ponto de

apreensão para as garras, evitando o contato com a pele e facilitando a contenção.

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FIGURA VII.5. A contenção de um gavião poderá ser facilitada com o uso de uma toalha que ajude a imobilizar seus tarsos e garras (Acervo Hori Consultoria Ambiental).

Os outros grupos de aves usam bicos e garras de maneira variada, de acordo com o

comportamento inato e com o porte e desenvolvimento ósteomuscular. Tentativas de

agressão, por parte delas, gerarão apenas bicadas ou arranhões sem importância, muito

raramente promovendo pequenas escoriações.

O padrão de contenção de aves pequenas, dispõe de duas manobras que permitam sua

imobilização e mesmo a averiguação das estruturas corpóreas. Para a primeira delas, inclui-se

a ave em decúbito dorsal em contato com a mão espalmada, com o pescoço (PIP) fixado pelos

dedos indicador e médio, procedendo-se o fechamento da mão. Essa clássica técnica permite

não apenas um perfeito domínio da situação mas também um certo conforto para o animal

que terá suas asas sem qualquer possibilidade de movimentação. A outra manobra consiste na

apreensão das tíbias entre os dedos polegar e indicador (FIGURA VII.6,dir; ou entre o indicador

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e médio, FIGURA VII.6,esq.), técnica que favorecerá a observação (e também e documentação

fotográfica) do corpo, na vista dorsal. Esse estratégia deverá ser realizada com muito cuidado e

por pequeno espaço de tempo, principalmente evitando-se a fixação pelos tarsos, o que

poderá resultar em fraturas, visto a fragilidade de tais elementos.

FIGURA VII.6. Uma das formas de contenção de ave de pequeno porte é a apreensão de suas tíbias, o mais proximamente possível do corpo, momento que facilita a observação do estado de saúde e, ainda, permite a documentação fotográfica (Acervo Hori Consultoria Ambiental).

Um tipo de regra para quase todos os casos de incidentes envolvendo aves é a seguinte: jamais

se deve puxar rapidamente a parte do corpo humano eventualmente agredida, ao momento

em que isso ocorre. O processo deve ser lento e calmo. Muitas estruturas, em especial bicos,

possuem bordos cortantes e, embora a ave não tenham força muscular para magoar a pele

humana, será exatamente a reação desatenta a rápida que poderá causar ferimentos.

VII.2. Métodos de captura, contenção e acondicionamento de

répteis

Os répteis são altamente diversificados e com relações não bem esclarecidas, embora o grupo

assim denominado seja comprovadamente formado por agrupamentos artificiais sem nenhum

parentesco próximo. Adotando-se o sistema tradicional de classificação (bastante útil no

tocante aos formatos corporais homogêneos) e lembrando-se que os crocodilianos (jacarés)

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não tem representantes na área de trabalho, pode-se distinguir quatro grupos morfológicos de

répteis, com relação aos propósitos aqui abordados.

O primeiro deles engloba os quelônios, também chamados de cágados ou tartarugas que são

animais aquáticos e, por esse motivo merecem pouco destaque em RFs para o enchimento de

reservatórios, visto sua possibilidade de fuga e, com efeito, de possível expansão populacional

futura. Na área da UHE Mauá não ocorrem jabutis, quelônios que poderiam gerar algum tipo

de preocupação por serem adaptados à vida terrestre e pela grande possibilidade de

afogamento.

No caso de cágados debilitados ou feridos, deve-se capturá-los com um puçá ou à mão livre,

caso seja possível aproximar-se do indivíduo visado. A carapaça que possui, embora seja um

meio de proteção, também é um ponto fraco, visto que oferecerá total segurança para a

contenção e manipulação por parte do resgatador. Graças a isso, a abordagem pode ser feita

por um movimento lateral usando a mão em pinça, tendo o polegar sobre a carapaça e os

demais dedos sobre o plastrão. Nessa situação o animal tentará movimentar os membros

anteriores, armados de unhas que, embora pequenas e finas, poderão causar pequenos

ferimentos. Então, ao ser retirado da água, deverá logo ser acondicionado em um recipiente

protegido e resistente, uma vez que tentará constantemente a fuga, com uso dos membros e

da cabeça. Deverá haver um certo cuidado quanto à aproximação dos dedos à sua boca

córnea, especialmente no caso de animais grandes como o cágado-de-barbelas-pintado

(Phrynops geoffroanus) e mesmo alguns menores. Um menor descuido favorecerá uma

mordida, causando ferimento pequeno e mesmo dificuldade de livrar o dedo de sua boca; e

não há dúvida de que, se isso for facilitado, o animal tentará fazê-lo.

O segundo grupo engloba as anfisbenas, ou cobras-de-duas-cabeças, répteis fossoriais,

geralmente unicolores, dotados de olhos rudimentares e extremidades corporais romboides.

Tal como no caso dos anfíbios chamados de cobras-cegas, esses animais – embora raros –

poderão ser encontrados em números razoáveis durante o enchimento do reservatório, em

virtude da situação única que os força a destituir seus esconderijos. Devido ao seu

comportamento e ambiente (galerias subterrâneas) em que vivem, têm forte musculatura,

especialmente nas partes anteriores do corpo, reagindo à captura com movimentos laterais

surpreendentemente fortes, procurando os interstíticios da mão humana. Nessas ocasiões

tentam morder mas, pelo fato de possuirem uma boca muito pequena, apenas conseguirão

em pequenas dobras de pele ou na porção fina que existe entre os dedos. Se o fizerem,

causarão ferimentos pequenos e superficiais. Para capturá-los, desta forma, é necessário o uso

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de uma pinça ou mesmo as mãos protegidas por luva de raspa; caso utilize-se as mãos nuas,

deve-se atentar para seus movimentos, controlando-se sua cabeça. A contenção temporária

de anfisbenas deverá ser uma embalagem de plástico grosso, contendo solo e serapilheira

úmidos, para que possam se refugiar sem riscos de insolação ou ressecamento cutâneo.

O terceiro grupo refere-se aos chamados sáurios ou, generalizadamente, lagartos. Ocorrem

em quase todos os tipos de ambientes e também os exploram de várias maneiras, existindo

espécies terrestres e arborícolas. Por causa disso, devem ser buscados tanto em natação na

lâmina d’água quanto em material flutuante, especialmente troncos rugosos de casca

destacável, folhas e ramos.

Como um todo são animais delicados, apesar da pele grossa, e muitos são muito ágeis, fugindo

com grande velocidade e inclusive nadando com desembaraço. O ponto para apreensão é o

pescoço, que será acessado por um rápido movimento de mão. Muitos deles tentarão morder

o capturador, condição impossível se bem presos, ainda que mantenham a boca totalmente

aberta, aguardando algum momento de distração. A técnica de pinçamento do animal para

contê-lo poderá ser aplicada tanto nos indivíduos porventura agarrados a troncos quanto

naqueles que se encontram flutuando. Casos comuns são de saltos para a água, buscando-se

nadar para fugir; no entanto, eles não mergulharão, salvo em condições especiais e, assim,

uma enredada por puçá será mais do que suficiente para capturá-lo.

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FIGURA VII.7. Lagartos pequenos devem ser contidos com cuidado para não causar ferimentos ou fraturas e, ao mesmo tempo, proteger o resgatador de seus mecanismos de defesa. (Acervo Hori Consultoria Ambiental).

A maior preocupação para o manejo de lagartos tem relação com a saúde do animal. Várias

espécies são delicadas e, nesse sentido, o resgatador deverá tomar cuidado com a pressão

exercida sobre o corpo para não feri-lo irremediavelmente.Além disso, muitos grupos (na área

de estudo representados pelas família Anguidae, Gekkonidae, Gymnophthalmidae, Scincidae e

Teiidae) possuem um meio de defesa denominado autotomia caudal. Isso significa que, caso

sejam capturados pela cauda, realizarão certos movimentos de contração muscular que

culminará em alguns segundos no desligamento dessa estrutura a partir do corpo. Se o

profissional que for capturá-lo segurar apenas pela cauda, poderá ficar apenas com ela nas

mãos, enquanto o animal foge rapidamente. Os demais grupos não possuem essa

peculiaridade. Com isso, vale lembrar que caso o resgatador não saiba reconhcer esses grupos,

não deverá contar com a cauda como ponto de apreensão. O mesmo se aplica para as

chamadas cobras-de-vidro (Ophiodes) que embora sejam ápodas (com somente dois vestígios

de membros posteriores na parte posterior do corpo) e lembrem uma serpente, também

apresentam tal característica.

Um caso atípico entre os lagartos é o grande teiú (Tupinambis merianae) que, ao contrário de

seus pequenos parentes, pode apresentar grande porte, chegando a superar os 1,5 metros de

comprimento. Esses animais os quais espera-se sejam comumente capturados no RF da UHE

Mauá são notadamente problemáticos no contexto de captura, manejo e acondicionamento

temporário. Embora o método para captura seja mais ou menos o mesmo do que se propõe

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para os outros lagartos, ele é um animal especialmente forte e agressivo, portando não

somente uma boca grande, armada de uma miríade de dentes afiados amparados por

poderosa musculatura crainana mas, também, garras que utiliza com maestria e uma cauda

eficiente para o chicoteamento. Para completar, também possui o dom da autotomia e, com

isso, perde-se – em parte – uma possibilidade de ponto de apoio durante a contenção.

Tipicamente, um teiú será localizado visualmente na lâmina de água do reservatório, sob

rochas ainda não submersas, em troncos flutuantes ou mesmo agarrado à ramagem das copas

das árvores, procurando escalá-las. Também é comum ser flagrado em flutuação ou mesmo

desenvolvendo natação serpentiforme. Para abordá-lo é necessária uma aproximação que

permite ser alcançado e, em seguida, a contenção com puçá, retirando-o o mais rapidamente

possível da água. São muito comuns os indivíduos que ao perceber a presença humana,

mergulham, aparecendo a muitos metros adiante e repetindo tal manobra quantas vezes for

necessário. No caso de malogro da ação com puçá, essa será, sem dúvida a consequência e

dificilmente poderá ser remediada, visto sua grande agilidade também no ambiente aquático.

De qualquer forma, uma vez aprisionado no coador do puçá, o animal deverá ser manejado do

lado de fora da embarcação, utilizando-se das bordas da mesma como ponto de apoio para

ele, ao tempo em que se procede a imobilização da cabeça. Feito isso, o próximo passo será a

contenção do corpo, visto que seu porte exige um segundo ponto de apoio para tanto. O local

para pinçamento é a cintura pélvica ou, para os mais habilitado, a base da cauda. Ocorre que a

autotomia, nesta espécie, ocorre somente do terço final para o ápice da cauda e, desta forma,

segurá-lo pela base, não terá esse efeito.

Invariavelmente, sob tais condições, um teiú adulto irá se debater de todas as formas,

procurando morder com sua boca constantemente escancarada, arranhando com as garras e

agitando intensamente a longa cauda. O resgatador deverá ao mesmo tempo manter a

tranquilidade necessária, acreditando no seu poder de contê-lo e aceitando pequenas as ações

de agressão provindas das unhas e cauda.

Mas não é somente o manejo do animal que é problemático. Em decorrência de seu porte,

bem como da pequena flexibilidade corporal, agravada pelo risco de romper-se a cauda,

também é dificultosa a sua inclusão em recipiente de contenção. Caso o indivíduo não caiba

nas caixas disponibilizadas, ele poderá ser guardado em saco de aniagem em local protegido.

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E, de qualquer forma, será obrigatória uma constante revisão de seu estado de saúde ao longo

da jornada diária, bem como da possiblidade de vir, por alguma razão, a escapar.

O quarto e último grupo dos répteis abarca representantes tipicamente temidos pelo Homem,

em virtude de todos os mitos criados sobre eles e dos reais riscos de acidentes. São as

serpentes, representadas – área de estudo – por pouco mais de 30 espécies dos mais variados

tipos de coloração e hábitos. Durante o RF da UHE Mauá serão flagradas e capturadas tanto

animais médios quanto pequenos, arborícolas e terrícolas, agressivos e dóceis e, para

completar, com diferentes (ou ausente) tipos de venenos e mecanismos para inoculação. Por

se tratar de um grupo grandemente heterogêneo é que se aconselha a um tratamento

invariável de segurança máxima, mesmo que dirigido a animais que sejam, por natureza,

inofensivos – o que, aliás, é comum.

As únicas diferenças, no trato ao animal e mesmo à busca que se deverá realizar para localizá-

lo, refere-se ao seu tamanho, condição que definirá o sucesso da captura. Serpentes

arborícolas (ou semi-arborícolas), algumas delas muito ágeis, poderão ser localizadas no alto

das copas ilhadas de árvores, eventualmente bem camufladas pelo colorido

predominantemente verde. Estarão enrodilhadas em postura típica, apoiadas pelos galhos

emersos e também pela folhagem; eventualmente poderão basearem-se sobre troncos,

frondes foliares flutuantes e espatas secas de palmeiras. Como um todo, as cobras arborícolas

são especialmente ágeis e várias delas são bastante agressivas, fixando a cauda em um

substrato e investindo contra o agressor, por meio de movimento circular do pescoço e botes

rápidos e precisos. São exemplos clássicos a cobra-cipó (Chironius bicarinatus) e a caninana

(Spilotes pullatus), essa última podendo atingir 3 metros de comprimento. Algumas serpentes

arborícolas, como a dormideira-das-árvores (Dipsas indica) são dóceis e dificilmente tentarão

reagir à contenção.

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FIGURA VII.8. Venenosas ou não, muitas serpentes são agressivas e a contenção de sua cabeça será forma alternativa para o manejo (Acervo Hori Consultoria Ambiental).

Já as serpentes terrícolas (p.ex. as muçuranas Boiruna e Clelia e as falsas-corais Oxyrhopus e

Erythrolamprus), graças à menor agilidade nas árvores, estarãomais disponíveis em camalotes

e troncos ou em árvores que possibilitem seu estabelecimentoe, assim como também poderão

aparecer apoiadas sobre touceiras ainda não submersas. Por sua vez, serpentes fossoriais ou

criptozóicas como as inofensivas cobras-da-terra (Atractus reticulatus)também ocuparão tais

estruturas, mas mostrando-se nitidamente contrariadas pela exposição aos raios solares que,

para eles, indica sujeição à insolação oupredação; o mesmo se pode dizer para as notáveis e

perigosíssimas corais (Micrurus).

É relativamente fácil localizar uma serpente quando do enchimento de um reservatório. Além

daquelas que poderão ser encontradas nas árvores, e que são minoria, a grande parte se

apresentará flutuando ou nadando, o que favorece – e muito – o contato e captura.

De uma forma geral, tal como acontece com os lagartos, as serpentes tentarão se evadir logo

que percebam que serão buscadas e, para isso, também procurarão pela água. Muitas delas,

porém, como no caso dos viperídeos (jararacas, jararacuçus, cascavel, urutu), costumam

permanecer imóveis, em postura de defesa, enrodilhadas sobre uma forquilha ou plataforma

de um ramo grosso. Nessa condição estarão com o “bote” preparado e, com relação a isso,

todos os cuidados de aproximação deverão ser levados em conta.

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Para a contenção, como dito anteriormente, deve-se seguir um protocolo básico e

homogêneo, independente do alegado conhecimento preliminar sobre o fato de serem

agressivas, venenosas e/ou perigosas. Para tanto, o primeiro contato é feito com um gancho,

que acessará a metade do corpo do animal, permitindo elevá-lo acima da lâmina d’água. Nessa

condição a serpente tentará escapar, mas a insistência do resgatador será decisiva, repetindo-

se o processo quantas vezes for necessário. Geralmente, naquela situação, o animal irá ficar

imóvel, sendo possível, após observar uma distância de segurança, aprisioná-lo também pela

cauda, com as mãos protegidas por luva de raspa, em uma manobra conjunta com a que se

procede como gancho.

FIGURA VII.9. Captura de serpente com gancho, visando a sua inclusão em recipiente de contenção (Acervo Hori Consultoria Ambiental).

Uma questão de incomodo diretamente proporcional ao tamanho da serpente está na sua

inclusão no recipiente de contenção. Mesmo adotando-se o procedimento já explicado acima

de deixar para o final a colocação da cabeça, o animal tentará fugir, ainda que pareça que a

nova condição lhe pareça segura. Muitas cobras aceitam perfeitamente a situação, entrando

nas caixas ou recipientes plásticos com grande tranquilidade. No entanto, a maioria delas,

enrodilha-se e procura retirar a parte posterior, ao tempo em que o manejador está quase

conseguindo incluí-la no recipiente. Trata-se de um trabalho de grande paciência e precaução,

somente atingido após algumas tentativas, quando ela afinal desiste da fuga.

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No caso de serpentes anormalmente grandes, ou pesadas, a estratégia poderá ser diferente,

mediante apreensão com puçá, arrastando-a pela água em direção à terra firme, onde – com

toda a precaução – se fará o manejo. Essa estratégia pode ser muito útil no caso de viperídeos

de porte respeitável, como algumas cascaveis e jaracacuçus.

No momento em que uma serpente morder a mão do resgatador, protegida por uma luva de

raspa – e isso é notavelmente comum em RFs – ele deverá ter calma e paciência. Evitará usar

instrumentos de metal para desvencilhar-se do agressor; isso poderá causar ferimentos na

boca do animal, que é um dos locais mais vulneráveis à entrada e desenvolvimento de

microorganismos patogênicos. Usará algum intrumento de madeira, ou pano, lembrando

sempre que a dentição é voltada para trás, logo, se puxar o corpo para trás o problema ficará

agravado e poderá inclusive ocorrer fratura de dentes. O movimento certo é o que

simultaneamente dirige-se para trás da boca, ao tempo em que a boca é aberta pelo

instrumento.

A fração de serpentes que gera maior preocupação em RFs, por vários motivos, são as cobras

venenosas e, em particular, as que apresentam o tipo de dentição chamado solenoglifodonte,

onde se enquadram as jararacas, jaracacuçus, urutus e cascaveis. Apesar da tensão do

momento, que será perdida com a prática, deve-se considerar que o protocolo de trabalho

aqui sugerido é plenamente seguro, desde que bem praticado e, além de um grau de atenção

um pouco maior, o tratamento dado às serpentes venenosas será rigorosamente o mesmo

destinado às outras espécies.

De qualquer forma, é prudente lembrar que, salvo em situações ocasionalíssimas em que haja

a presença de um especialista, o resgatador nunca deverá manusear uma cobra qualquer

atribuindo-lhe a virtude de ser inofensiva. Essa consideração alude em especial às corais, tanto

falsas quanto verdadeiras, caracterizadas – geralmente – pelos aneis intercalando cores

vistosas como o vermelho, o branco e o preto. Ocorre que há uma grande variação de

coloração entre as espécies ditas “verdadeiras”, inclusive com anomalias cromáticas que são

até comuns em certas populações. Da mesma forma, a exemplo de diversos outros

dipsadídeos, muitas corais falsas poderão morder e (tal como vários integrantes desta família)

são efetivamente venenosas, embora apresentem dentes inoculadores pouco funcionais e

localizados na parte posterior da arcada dentária (dentição opistoglifodonte).

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FIGURA VII.10. Mesmo que se suponha que uma coral seja falsa, ela deverá ser manejada como qualquer outra serpente (Acervo Hori Consultoria Ambiental) (esquerda). O teiú (Tupinambis merianae) requer cuidados especiais de contenção, atentando-se para o pescoço (PIP) e base da cauda (PIS) (Foto: Sérgio A.A.Morato) (direita).

VII.3. Métodos de captura, contenção e acondicionamento de

mamíferos

Os mamíferos constituem-se de uma das mais formidáveis expressões de diversidade animal.

Apresentam-se sob diversas formas e dimensões corpóreas, assim como metabolismo e

inúmeras maneiras de exploração do meio e, consequentemente, de mecanismos de defesa.

Por essa razão, merecem cuidados especiais e particularizados com relação à abordagem,

captura, contenção e manejo e aqui se enquadram os princípios anteriormente indicados de

segurança do resgatador e de sua equipe: animais exageradamente agressivos, especialmente

os grandes, e – ainda – aqueles que forem muito grandes, não deverão ser incluídos na

embarcação. Essa prática estará reservada apenas aos indivíduos pequenos, que possam ser

adequadamente imobilizados e corretamente locados em recipientes adequados, desde que

não favoreçam nenhum tipo de agravo físico para os integrantes do grupo.

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O primeiro grupo abordado é o dos marsupiais. Uma de suas características mais marcantes,

do ponto de vista de contenção, é o comportamento de abrir a boca (open mouth behavior)

logo após se verem acuados. Nessa ocasião, mantém a boca totalmente escancarada e

normalmente emitem um som sibilante tentando intimidar o agressor, às vezes constante, às

vezes explosivo. Não significará essa atitude que o animal esteja furioso e sim, que ele tenta

desviar a nossa atenção para empreender fuga. No entanto, pode-se dizer que quase todos

eles mordem, exceção feita apenas ( e eventualmente com exceções individuais) para os

pequenos marsupiais como a guaxica (Gracilinanus microtarsus), normalmente dóceis e

reagindo apenas para tentarem se esconder, arregalando os olhos e movimentando

rapidamente as orelhas, ao tempo em que enrodilham os dedos humanos com sua cauda

preênsil. Cabe lembrar que mesmo alguns marsupiais pequenos podem ser agressivos e usar a

dentição com grande propriedade, como no caso das pequenas ctitas Monodelphis

(eventualmente confundidas com roedores), que apresentam grande variação de

temperamentos.

Para todas as espécies, a cauda é um caminho interessante para auxílio na contenção, mas é

necessário saber se a espécie manejada é arborícola ou não; se for, ela a usará com grande

habilidade não somente para virar a cabeça e o corpo para cima como para aproximar a mão

do resgatador na direção de sua boca. A preensão da cauda, que deve ser feita do meio para a

base, deve acompanhar a permissão para que o animal se fixe com mãos e pés em um tronco

de árvore ou galho ou, se possível, a um terreno solo, onde agarrará fortemente o substrato.

Nessa condição torna-se possível acessar o pescoço, de forma a – com um golpe rápido e

certeiro – segurar sua cabeça, jamais soltando a cauda.

Por assim dizer, o PIP para um marsupial grande poderá ser – de acordo com as contingências

– a cauda ou o pescoço, cabendo ao outro o fator PIS. Desta forma, um marsupial bem

manejado apresenta-se preso pela cabeça e pela cauda. Para colocá-lo no recipiente de

contenção, que pode ser uma caixa de madeira ou um saco de pano, coloca-se antes a cauda,

depois o corpo e – por fim – a cabeça, que deve ser monitorada atenciosamente.

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FIGURA VII.11. Ao conter um animal qualquer, o resgatador deverá considerar o tipo de deslocamento que ele usa, dando-lhe algum conforto: a permissão para que agarre-se à luva poderá, de certa forma, acalmá-lo. (Acervo Hori Consultoria Ambiental).

Os gambás (Didelphis) são também agressivos e expressam o comportamento citado mas,

além disso, dotados de um outro mecanismo de defesa que é a emissão deliberada de uma

substância sulfonada irritante das mucosas, produzida por uma glândula na região anal. O

manejo desses animais deverá prever tal atitude, de forma a direcionar a parte ventral do

indivíduo para a água, evitando-se situações complicadas para o manipulador e os outros

membros da equipe.

Alguns marsupiais podem realizar tanatose, ao notarem que não têm condição para a fuga; o

corpo torna-se como se estivesse morto, os batimentos cardíacos e a temperatura caem

chegando a um extremo de estresse, que os torna totalmente inertes. O resgatador não deve

ser engando por esse comportamento; deverá checar os batimentos cardíacos e rapidamente

destiná-lo ao recipiente de contenção.

Determinadas situações como, por exemplo, uma fêmea com filhotes em desenvolvimento no

marsúpio, necessitam de atenção especial não somente porque demanda cuidados para vários

indivíduos (a mãe e sua cria) mas, em particular, porque o adulto torna-se especialmente

vigoroso, em um instinto de proteção aos filhotes. Em tais momentos, inclusive, essas fêmeas

se submetidas à anestesia, costumam demorar muito mais tempo do que se observa na média

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para o medicamento fazer efeito, dando uma ideia de como a situação oferecerá risco ao

manuseador.

Salvo em casos de desorientação ou ferimentos que assim se justifiquem, indivíduos de duas

espécies de marsupiais não necessitarão ser resgatados, caso sejam flagrados – mesmo no

meio do reservatório em formação. São a cuíca-d’água (Chironectes minimus) e a lutreolina

(Lutreolina crassicaudata), espécies altamente adaptadas à vida aquática e semiaquática,

sendo exímios nadadores e mergulhadores.

FIGURA VII.12. Marsupiais de porte médio podem ser bastante agressivos, mas sua contenção é facilitada se houver imobilização da cabeça e uso do ponto de imbolização secundário, representado pela cauda (Acervo Hori Consultoria Ambiental).

Com relação aos tatus (Dasypodidae), percebe-se que que o seu poder de defesa é logo

percebido à tentativa de capturá-lo. Reagem com golpes poderosos dos membros anteriores e

posteriores, que são potencializados pel ação dos músculos do tronco. Eventualmente poderão

vocalizar. Além disso, o corpo arredondado dificulta a imobilização, de deve ser feita

fortemente com uma das mãos, na região entre a cintura escapular e a pélvica; a outra mão

deve segurar a base da cauda, sempre colocando-se o animal com o ventre para cima. O PIP

para um tatu é exatamente essa região, quando o animal poderá ser elevado e apreendido

pelo meio do corpo (PIS).

Algumas espécies, como o tatu-galinha (Dasypus novemcinctus), dificilmente mordem,

contando com as grandes unhas como meio de agredir o manipulador. Outras, como o tatu-

peba (Euphractus sexcinctus) possuem dentição poderosa e podem morder, uma situação

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complicada, visto serem dotados de muitos dentes que, embora não propriamente agudos,

são suportados por músculos muito fortes.

Por serem animais muito vigorosos e adaptados à vida subterrânea, os cuidados para a

manutenção temporária na embarcação deverão ser redobrados, visto que utilizam-se das

garras para incessantes tentativas de fuga. De uma maneira geral, são animais calmos que

pouco se afetam pelo estresse de captura.

FIGURA VII.13. Forma correta de contenção de um tatu, evitando contato com sua boca e especialmente com as poderosas garras (Acervo Hori Consultoria Ambiental).

Tamanduás (Myrmecophagidae), por sua vez, constituem-se de um grupo muito problemático

para captura e contenção, que deverá ser realizada apenas por pessoas habilitadas e treinadas.

Embora aparentem serem tranquilos e não disponham de dentes, suas defesas são

compensadas pelas enormes unhas que, com toda certeza, serão usadas de maneira

desastrosa em caso de distração. Tamanduás-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) não

deverão ser capturados, em virtude das dimensões da embarcação; sugere-se então a

condução para as margens do reservatório ou, em casos especiais, o acionamento de equipe

especializada. Atenção extra será destinada aos tamanduás-mirins (Tamandua tetradactyla).

Para a captura, é necessária uma estratégia toda particular. Oferece-se um pedaço de madeira,

pedaço de galho ou tronco com até 10 cm de diâmetro, que rapidamente será abraçado pelo

animal. Ato contínuo, considera-se a extremidade desse instrumento como ponto de apoio,

mantido à distância do resgatador. Com isso pode-se acessar a extremidade da cauda, que irá

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enrodilhar-se nos dedos, estendendo-se o corpo. Aqui, então, teremos outra exceção: a

primeira parte a ser incluída no reciepiente de contenção será a porção anterior, deixando-

sepor último a cauda.

Ressalta-se que esse animal, embora aparente tranquilidade, é dotado de fortíssima

musculatura, utilizando-se com grande propriedade de sua cauda preênsil. Além disso, efetua

golpes rápidos e não-premeditados com suas unhas, parecendo inicialmente tranquilo mas

desferindo o golpe em questão de segundos. Acidentes desse tipo podem ser extremamente

problemáticos e causarão ferimentos bastante profundos, quase sempre necessitando de

atendimento médico. Atente-se, ainda, para o fato do comum equívoco de abordagem do

animal pela parte dorsal, na tentativa de se imobilizar os membros anteriores: sua

conformação corporal permitirá um rápido desvencilhamento pelo giro do corpo do animal e o

resultado será igualmente lamentável.

Além desses animais, pode-se destacar pela complexidade o grupo dos primatas que, apesar

de representados, na área de trabalho, apenas por duas espécies, enquadram uma

característica comportamental importante: o gregarismo.

Primatas geralmente defendem-se muito bem de tentativas de captura, usando a musculatura

e especialmente os dentes, instrumentos perigosos por causa da grande abertura da boca;

além disso muitos deles vivem em bandos, o que dificulta o processo emocional da equipe de

resgate, obrigada a atender vários indivíduos ao mesmo tempo o que poderá gerar desacertos

logísticos e mesmo acidentes.

Outro aspecto que dificulta o trabalho está no fato de serem animais, além de

surpreendentemente inteligentes, ágeis no deslocamento pela ramagem, passando de árvore

em árvore com grande destreza, dificultando muito o trabalho de abordagem, especialmente

quando encontra-se disponível um corredor de copas ilhadas de árvores.

O trabalho deverá ser muito bem coordenado, visando-se inicialmente a um indivíduo, depois

outro, até completar todo o trabalho com o bando, caso isso ocorra. Em virtude dessa

peculiaridade, primatas eventualmente localizados em grupos, deverão sofrer manejo

individual, embora seja necessária a atenção para todo o grupo. Nesse sentido, apesar da

manutenção temporária ser realizada em recipientes individuais de contenção, todo o grupo

deverá ser encaminhado em conjunto. Essa manobra visa à preservação de exigências

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comportamentais, em especial, para questões futuras de realocação, quando todo o bando

deverá ser liberado em conjunto.

Animais relativamente doceis são os lagomorfos, notadamente o tapiti (Sylvilagus brasiliensis)

e, com ressalvas, a lebre europeia (Lepus europaeus). Por suas deficiências no ambiente

aquático, deverão ser resgatados e devidamente acondicionados. A primeira espécie não é,

geralmente, agressiva e, a segunda, tentará morder o resgatador, desde que haja alguma

distração. Como um todo, o ponto frágil está na pele da porção dorsal do pescoço (cangote)

que pode ser utilizada como PIS quando o animal, uma vez elevado, acaba por permanecer

quase que totalmente inerte. A manobra seguinte estará na imobilização do pescoço que

isolará por completo todo a qualquer movimento dos dentes, diga-se de passagem, bastante

afiados. em seguida considera-se os membros anteriores, ambos, contidos com a outra mão,

em movimento divergente. É importante lembrar que o resgatador não deverá usar as orelhas

como PIP, uma vez que são estruturas frágeis e altamente vascularizadas que, com o

movimento do animal, poderão sofrer ferimentos e ruptura da cartilagem. Outro detalhe está

nos membros posteriores que são usados, quando se menos espera, para a tentativa de fuga,

por meio de golpes fortíssimos que poderão, inclusive, causar pequenos ferimentos.

Morcegos, por sua vez, não serão tônica muito importante em um RF, ao menos na área em

questão. Mesmo que seus abrigos sejam localizados em árvores, vertentes rochosas e outros

tipos de cavidades, eles costumam empreender fuga em voo, mesmo durante o dia. Ao mesmo

tempo que pequena dedicação deverá ser destinada a esses animais, também pequenas são as

preocupações quanto à contenção e manejo. Isso por que, além de animais pequenos, as suas

asas, desde que estendidas em movimento divergente, favorecerão uma situação bastante

confortável ao resgatador, enquanto o animal tente – na maioria das vezes – mordê-lo. Tal

procedimento, no entanto, não evitará que o indivíduo se debata fortemente para frente e

para trás, buscando a fuga. Por questões de preservação física e emocional do animal, deve-se

então proceder a sua imobilização usando-se o pescoço como PIP, sem qualquer necessidade

de acesso a um PIS.

Todos os carnívoros, como se sabe, são animais muito perigosos e, embora haja uma certa

atratividade em tê-los sob domínio, serão raras as oportunidades em que isso ocorrerá. O seu

elemento de defesa, além dos dentes, são as garras e ambos funcionam com grande eficiência

para tanto, potencializados por inúmeras adaptações musculares que tornam eficientes as

investidas de ataque contra eventuais manipuladores.

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Aqui uma das regras deve ser considerada com relação ao procedimento imperativo de evitar

riscos ao resgatador e sua equipe. Animais grandes jamais poderão ser resgatados para dentro

da embarcação cabendo, ao máximo, a sua condução orientada para a margem. Caso seja

absolutamente necessária a sua contenção, ainda que certos indivíduos aparentem

passividade ou tranquilidade, o que será feito é a imobilização com puçá e imediata inclusão

no recipiente de contenção, com o simples “virada” da rede, portanto, sem necessidade de

contenção direta ou contato manual. O laço-cambão também poderá, com mais segurança, ser

utilizado para o mesmo fim. Essa tática será observada apenas no caso de indivíduos

seriamente debilitados ou feridos e, mesmo assim, sob constante observação por parte de

todos os colegas.

Lembramos que situações de contenção de carnívoros por pessoal não habilitado pode gerar

complicações seríssimas e não somente com referência aos felinos e canídeos mas,

especialmente aos mustelídeos e procionídeos como o quati (Nasua nasua) que, além de

gregários e associativos, possuem dentes extremamente afiados, além de uma grande

disposição para morder (amplificada pela conformação do crânio e muscultatura envolvida) e

arranhar, bem como uma considerável agilidade para tanto. Outros carnívoros, embora menos

agressivos – em geral – além de meios de defesa similares, também irão manifestar outras

tentativas de ação. Alguns deles, como o o furão (Galictis cuja) se aproveitarão da

conformação longilínea do corpo para escapar do contedor. Cachorros-do-mato (Canidae) irão

gritar esganiçadamente, como berros de desespero quase humanos, comparáveis aos de uma

criança ou ao ganido muito fino de um cão doméstico. Esses sons, apesar de inócuos,

costumam afetar psicologicamente o manejador que deverá manter toda a calma e

tranquilidade possível.

O cuidado que deverá ser tomado com esses animais, mas também ao grupo dos porcos-do-

mato (Tayassuidae) que, por motivos semelhantes, incluem-se na advertência, deverá

contemplar primariamente a integridade do efetivo humano envolvido no resgate. Os

taiassuídeos são sempre extremamente agressivos e situações de ataque bem-sucedido serão

muito mais sérias do que aquelas observadas para os carnívoros. Sua dentição é muito bem

composta por caninos exageradamente desenvolvidos e a musculatura e compleição óssea da

mandíbula é realmente adaptada para mordidas terrivelmente complicadas. Além disso, por

apresentarem porte grande e formato corporal arredondado, dificilmente poderão ser

contidos pelo acesso a eventuais PIP e, quando muito, poucas pessoas terão a força e

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resistência suficiente para mantê-los imobilizados, visto que também usam as unhas de ambos

os membros como ferramentas de defesa.

Veados, embora se assemelhem, de certa forma, aos porcos-do-mato, deverão gerar outro

tipo de preocupação, uma vez que são animais com um sistema fisiológico complexo,

especialmente no que se refere ao estresse. Submetidos ao contato manual, à apreensão e a

todos os meios de contenção e manejo, aparentam inicialmente uma certa tranquilidade, vez

ou outra tentando se defender com o uso – eficiente – das pernas anteriores, providas de

grandes e afiadas unhas e também dos chifres, em muito casos ponteagudos. No entanto,

algumas horas depois, mesmo que se proceda sua soltura, ele poderá se tornar prostrado e ir a

óbito, sem nenhuma causa aparente.

Resguardados alguns cuidados, eles poderão ser capturados e manejados na embarcação,

desde que o profisisonal esteja atento às suas dimensões e possibilidades de reação. Veados

nadam com razoável habilidade; serão encontrados em tal circunstância na maior parte das

ocasiões. Desta forma, o PIP estará na cabeça, que poderá ser as orelhas, fixadas ao mesmo

tempo ou, no caso de animais que apresentem chifres, será exatamente nessas estruturas,

preferencialmente na porção basal, que favorece maior firmeza. O PIS deverá ser focado nos

membros posteriores mas é importante ressaltar que são animais frágeis que, pelo menor

descuido, poderão sofrer fraturas. A melhor situação para o manejo de um cervídeo é quando

estiver já deitado no interior da embarcação, após seus membros terem sido atados e

prosseguir o controle para os movimentos da cabeça.

A exemplo da técnica que poderá ser estendida a vários outros animais, a imobilização das

pernas poderá ser feita com uma fita esparadrapo, equipamento muito útil e resistente. Se

possível, deve-se procurar isolar também a sua visão, o que poderá ser conseguido com uma

bandagem não adesiva de tecido sobre os olhos.

Veados, como dito, são animais altamente suscetíveis ao estresse e, por assim dizer, precisam

ser encaminhados ao centro de triagem tão logo sejam capturados para atendimento e

cuidados veterinários.

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FIGURA VII.14. Vendar os olhos, especialmente no caso de animais altamente estressáveis como os veados, poderá ajudar na contenção (Acervo Hori Consultoria Ambiental) (esquerda). O Ponto de Imobilização Primária, no caso de um ouriço, é a extremidade da cauda (Foto: Sérgio A.A.Morato) (direita).

Já o grupo dos roedores, por sua grande diversificação, merece direcionamento

particularizado. Não estão incluídos aqui as capivaras (Hydrochaeris hydrochaerus) que por sua

natureza aquática e, ainda, pelo grande porte e potencial defensivo, não deverão ser

capturados. Em nenor escala, porém com mesma advertência, está o ratão-do-banhado

(Myocastor coypus). Excelente nadador, em silhueta de natação parecido com a lontra ele é

logo distinguido por manter os quadris para fora d’água, o que não acontece com aquele

mustelídeo, do qual se observa apenas a cabeça. Tanto a capivara quanto o ratão (e

adicionalmente também a agressiva paca Cuniculus paca) dificilmente necesitarão de algum

tipo de intervenção mas, caso isso seja obsolutamente necessário, como no caso de animais

debilitados, será necessa´ria uma atenção especial com relação aos cuidados citados acima de

dimensões, estado emocional e segurança da equipe de resgate. Embora tenham bocas

pequenas, ali estão incisivos fortes e afiados que certamente serão usados na defesa e

poderão causar ferimentos consideráveis. No caso da paca ressalta-se o temperamento

natural: são animais extremamente agressivos, investindo severamente contra o oponente.

Por sua vez, cabe lembrar que os pequenos roedores constituirão de um dos grupos mais

comuns em RFs, graças à sua riqueza de espécies e abundância populacional. São em geral

fáceis de abordar, capturar e conter, visto a inexpressividade de sua constituição

osteomuscular. Um pequeno rato silvestre observado em natação ou isolado em ilha, poderá

ser capturado com auxílio de um puçá e, em seguida, colocado no recipiente de contenção.

Quase sempre apenas tentará a fuga por meio de rápidos movimentos, com auxílio da cauda e

graças à sua grande agilidade.

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Uma vez contidos, o que poderá ser feito usando-se a cabeça como PIP (regra quase que geral

para roedores) e a base da cauda como PIS, são incluidos ao ambiente de reclusão temporária,

atentando-se para a disponibilização de farto material complementar como folhiço, ramos e

eventualmente algo que permita seu abrigo que será rapidamente organizado pelo próprio

animal. A ponta da cauda da maior parte dos pequenos roedores é bastante frágil e se descola

com facilidade; ela deverá ser evitada durante um processo de contenção.

Situação algo distinta encontra o preá (Cavia aperea), espécie dócil e raramente agressiva, que

poderá ser contida pela cabeça ou, ainda, pela cintura escapular. Para esse animal é necessário

o cuidado de evitar o puxamento da pele, uma vez que solta grande chumaços de pelo como

forma de defesa adicional. O preá, assim como vários outros roedores mais ativos, costuma se

debater bastante mesmo dentro da caixa de contenção, buscando a fuga por frestas ou por

pontos de entrada de luz. Nessa situação irão se ferir, em especial no focinho e nas unhas dos

membrosm anteriores. Para reduzir esse tipo de agravo a ideia é reduzir ao máximo o contato

do animal com o meio externo, como recobrimento do recipiente de contenção com uma folha

de jornal ou um pedaço de tecido.

Com relação à cutia (Dasyprocta azarae), será possível encontrá-la flutuando ou nadando no

reservatório em formação, prática que desempenha com grande habilidade, velocidade média

e com a cabeça e quadris emersos. Pode ser capturada diretamente pela apreensão de uma

das patas posteriores, para então – com muito cuidado – imobilizar a cabeça que é, na

realidade, o PIP. Em geral, especialmente os indivíduos cansados pela natação, ela não

demonstrará muita reação no manejo além de se debater vigorosamente, mas muitos poderão

responder com alguma agressividade, tentando morder. Ao ser elevada pela cabeça, solta o

corpo e, nessa situação deve-se controlar as patas posteriores, que têm unhas afiadas.

A situação final e bastante importante alude aos ouriços (Sphiggurus villosus), animais lentos,

de temperamento dócil mas bastante difíceis de serem capturados e manejados. O seu

revestimento cutâneo, formado por pelos modificados na forma de pontiagudos e flexíveis

estruturas espiniformes são o maior problema, porque não somente são muito resistente e de

fácil penetração na pele humaa mas, ainda, soltam-se da pele do animal, causando um quadro

bastante complicado, dolorido e de complicada reversão.

O ponto fraco de um ouriço coincide com um dos poucos locais de seu corpo onde não há

espinhos, a extremidade da cauda. Esse será o seu PIP e, com efeito, o PIS não existirá para

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uma situação de contenção ou deverá ser reconhecido de acordo com a situção, mesmo assim,

por pouco tempo. Mesmo com as mãos protegidas, o resgatador perceberá o quanto difícil é

capturar e conter um ouriço; as luvas irão ficar repletas de espinhos e, ainda, essa estrutura

dificultará bastante o acesso a pontos mais seguros de imobilização. Esses animais serão

encontrados tanto em flutuação na água, manifestando uma natação lenta mas eficiente, em

ilhas ou mesmo – e principalmente – na copa ainda emersa de árvores. O primeira atitude a

ser tomada para abordá-lo deve ser acompanhada de jogá-lo à agua quando, então, exporá a

ponta da cauda e poderá ser elevado por ela. Em seguida ele se contorcerá e tentará fazer com

que sua defesa cutânea atinja o capturador, o que poderá ser minimizado pela força centrífuga

destinada ao corpo do animal. Em vez dessa manobra é aconselhável o uso do puçá. Uma vez

abarcado por ele, torna-se possível incluí-lo no recipiente de contenção, com alguma facilidade

e segurança, visto que são animais notavelmente lentos.

VII.4. Métodos de captura, contenção e acondicionamento de

anfíbios

De uma forma geral, os anuros – quando do enchimento do reservatório – se abrigam, o que é

ressaltado também por seus hábitos preferencialmente noturnos. Durante o dia apenas se

movimentarão em decorrência de alguma situação especial que os obrigue a sair dos

esconderijos. Eventualmente eles irão, como resposta ao nível de água em progressão,

permanecerem agarrados à vegetação deslocando-se gradativamente para os pontos mais

altos. Isso pode ocorrer tanto em hábitats originalmente brejosos, quanto nas ramagens das

árvores. Esses são, desta forma, os tipos de situações mais adequadas para procurá-los. Como

um todo e que parece ser uma regra para muitos animais, eles poderão ser encontrados quase

que em contato com a linha de água, o que facilita inclusive a manutenção da umidade

corporal, fundamental para sua sobrevivência. Salvo em momentos em que haja locais

particulares que o guarneçam de umidade eles irão, mais raramente, ser encontrados no meio

da vegetação como, por exemplo, no receptáculo de bromélias, no interstício de epífitas e sob

a casca de troncos vivos ou mortos. Classicamente, porém, o lugar para localizá-los quando sob

tensão de fuga é a lâmina de água.

Geralmente, ao menor sinal de oscilação da água com a aproximação da embarcação, esses

animais fogem, por meio de mergulhos ou rápida natação por golpes rápidos de seus membros

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posteriores. Sua conformação fisiológica é totalmente preparada para situações como essa;

podem permanecer por longos períodos submersos ou com a delicada pele protegida pela

umidade oferecida pelo contato com a água.

O caso particular de sapos terrícolas merece, entretanto, algum atenção e aqui incluem-se os

integrantes das famílias Brachycephalidae, Bufonidae, Cycloramphidae e Microhylidae. Esses

anuros, embora tenham alguma destreza para a natação, poderão ter dificuldade para escapar

da água, em virtude de sua localização no novo corpo d’água criado pelo reservatório. Se

estiverem nas proximidades das margens, provavelmente conseguirão atingi-las com alguma

facilidade mas se, porventura, acabarem no centro do lago, deverão ser resgatados. De uma

forma geral, por questão conservativa, todo e qualquer anfíbio que se encontre afastado das

margens deverá ser abordado cuidadosamente e capturado.

Anfíbios geralmente são delicados e inofensivos e, quando muito podem causar apenas

pequenas situações de embaraço por parte do manuseador. A maior preocupação será a

manutenção da integridade do animal, que pode se ferir severamente (fraturas, rompimento

do epitélio) se manipulado de maneira exagerada ou por impressão de força excessiva. Ao

perceber que necessita capturar um anuro qualquer, a ação deve ser inicialmente lenta (para a

aproximação) e posteriormente muito rápida (para a captura). As mãos livres poderão ser

usadas para esse fim, fechando os dedos logo no momento do “bote”. Como são animais ágeis,

particularmente na água, é comum que ocorram fugas que dficilmente serão reparadas, visto

que esses animais mergulham frente a esse tipo de intervenção. No caso de captura, os

animais devem ser segurados com os dedos em pinça ou, dependendo do tamanho, com a

mão fechada, na altura da cintura pélvica, expondo as partes anteriores a partir dessa região

corporal.

Note-se que muitas rãs, especialmente as de grande porte, emitem sons “desesperados” ao

momento em que são apanhadas. O resgatador não deve considerar essa manobra sonora e

muito menos julgar, precipitadamente que esteja machucando o animal que assim procede

exclusivamente como defesa acústica agonística.

A preocupação seguinte está no acondicionamento preliminar, quando a embalagem de

contenção (geralmente um saco plástico) lhe deverá prover de certa liberdade de movimentos,

um certo grau de umidade e material que permita se esconder e fixar. O tamanho da

embalagem deverá ao mesmo tempo ser espaçoso para o animal e inteligentemente adaptável

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à contingência de espaço da embarcação, uma vez que deverá ser obrigatoriamente ficar

protegida de raios solares. No seu interior deve-se incluir pequena quantidade de água,

evitando-se o exagero, visto que o animal poderá se afogar. Também deve-se adicionar uma

certa quantidade de folhas e fragmentos de cascas que lhe dêem algum conforto e

possibilidade de se esconder do sol e de impactos.

FIGURA VII.15. Técnica de contenção de anfíbios anuros (Acervo Hori Consultoria Ambiental).

Alguns anfíbios podem causar certos constrangimentos para o resgatador, quase sempre de

pequena monta, mas que devem ser cuidadosamente evitados. Várias espécies de anuros

possuem toxinas que são liberadas pela pele, algumas delas de grande toxicidade. Esse

elemento tem dispersão passiva, ou seja, não há qualquer estrutura para inoculá-lo. De uma

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forma geral, porém, após o manejo, o resgatador deverá lavar as mãos e jamais levá-la à boca

ou à cavidade nasal e muito menos permitir que alguma secreção tenha contato com

ferimentos; o ideal, então, é o uso de luvas cirúrgicas. Algumas pessoas são fortemente

alérgicas ao contato com certos anuros, destacadamente dos gêneros Phasmahyla,

Phyllomedusa e Trachycephalus que, ao ser capturada, libera grande quantidade de muco

viscoso altamente pegajoso e que pode deflagar reações inesperadas, tópicas ou sistêmicas.

Não há porque temer a alegada periculosidade de um sapo-cururu (Chaunus ictericus) que, no

imaginário popular, ejacula veneno contra os olhos de quem o manipula. Isso não ocorre;

embora as bufotoxinas sejam um dos venenos animais mais poderosos que existem, ele jamais

conseguirá introduzi-lo ativa ou espontaneamente sob a pele humana. No máximo poderá

emitir um jato de urina, sem qualquer tipo de “mira” e que mais é eliminado pelo estresse da

captura do que propriamente pela tentativa de se desvencilhar da manipulação. Em quaisquer

das situações é interessante lavar as mãos logo após a manipulação, com a própria água do

reservatório, ocasionalmente usando meios abrasivos como a fricção com areia, por exemplo.

Alguns Leptodactylidae grandes, especialmente os machos adultos, são especial e até

disformemente musculosos. E sabem usar com propriedade tal característica. Eles devem ser

capturados com cuidado pois a menor distração que leve um dedo à sua região peitoral pode

resultar em um forte e dolorido abraço que, muitas vezes, faz com que o animal consiga

escapar para dentro da embarcação ou na água. A rã-martelo (Hypsiboas faber), embora em

menores proporções, também poderá se defender desta maneira.

Outra característica interessante é o comportamento de tanatose. Certos anuros (p.ex

Phyllomedusa) reagem fisiologicamente ao contato do potencial predador, encolhendo-se

totalmente, fechando os olhos e recolhendo os membros, sugerindo que estejam mortas; ao

menor sinal de distração por parte do resgatador, poderão retornar à sua condição natural e

se evadir discretamente. Essa estratégia poderá ser realizada também por alguns mamíferos e

mesmo aves.

Um grupo particular, de grande interesse zoológico são as cobras-cegas ou cecílias, anfíbios

serpentiformes, ápodos, de hábitos fossoriais. Elas se constituem de um grupo à parte dentre

os anfíbios, uma vez que vivem enterradas no solo. As situações de enchimento de

reservatórios, desta forma, são excelentes oportunidades para seu encontro, raramente

vislumbrado por buscas ativas em pesquisas que utilizam métodos tradicionais. Devem,

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portanto, ser procurados em natação desorientada na lâmina d’água, quando são facilmente

abordados, visto que não mergulham. Lembramos, porém, que esses animais podem, e

costumam, morder a pessoa que os tenta capturar. Embora seus dentes e abertura bucal

sejam inexpressivos, essa reação de defesa poderá causar ferimentos leves mas suscetíveis a

infecções.

Ao contrário dos demais anfíbios, a embalagem temporária para cobras-cegas devem conter

terra em quantidade sufiente que as permita se refugiar e deve igualmente se ater à proteção

contra o sol e calor excessivo, situação que lhes causa morte rápida.

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VIII

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IX

APÊNDICE Manual de Campo preparado pela HORI CONSULTORIA AMBIENTAL por ocasião do Resgate de Fauna para a Fase I (Desmate para a Instalação do Canteiro de Obras) da UHE Mauá (Junho de 2008). Esse documento teve livre distribuição entre os profissionais envolvidos no trabalho de campo, servindo-se de fonte de informação e consulta constante.

RESGATE DE FAUNA UHE-MAUÁ

MANUAL DE CAMPO

VOLUME I

Desmate para o Canteiro de Obras

Uso exclusivo para a orientação da equipe do

Resgate de Fauna da UHE-Mauá

REPRODUÇÃO PROIBIDA

Curitiba – Paraná – Brasil Julho de 2008

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INTRODUÇÃO

Não há dúvidas de que a construção de uma usina hidrelétrica causa impactos ambientais. Quando acessamos as poucas informações disponíveis sobre atividades de resgate de fauna nesse tipo de empreendimento, fica evidente a existência de danos nos dois principais componentes da diversidade: a riqueza e a abundância de espécies. As conseqüências mais severas (ou assim chamadas por serem diretamente percebidas) ocorrem no momento do desmate e enchimento do reservatório, no entanto, prejuízos são também computados em decorrência da formação de uma nova paisagem.

Entendemos que o controle e acompanhamento da supressão de hábitat por uma equipe técnica especializada e bem treinada, é essencial para mitigar danos sobre a diversidade faunística numa dada região. A importância dessa participação é ainda maior quando os esforços são bem orientados, de forma a abarcar todas as possibilidades esperadas num trabalho de campo intenso em número de pessoas, convivência, ritmo e riscos variados.

O objetivo deste material é apresentar de forma simples e direta orientações e esclarecimentos sobre as atividades de Resgate de Fauna da UHE-Mauá, em sua etapa “Desmate para o Canteiro de Obras”. Aqui constam informações sobre o local de trabalho, equipes e equipamentos, rotina diária e centro de triagem. São também abordados os critérios e locais para eventuais solturas de animais, como proceder em caso de acidente, ética, convivência na equipe e outras informações julgadas relevantes.

A partir de agora adotemos como compromisso, em tempo integral, uma atitude ética, positiva e, especialmente orientada para a ação em campo, seja ela qual for! ONDE TRABALHAREMOS

A área a que se refere esse plano de resgate restringe-se ao canteiro de obras da UHE Mauá, localizado nas adjacências da indústria de papel e celulose Klabin (município de Telêmaco Borba: margem direita do rio Tibagi) e em uma pequena área defronte à foz do rio das Antas (município de Ortigueira: margem esquerda).

A quase totalidade da área onde se insere o canteiro é de propriedade da Indústria Klabin de Papel e Celulose, a qual conta com uma área de 247.000 ha, dos quais 91.000 ha recobertos por florestas nativas, incluindo-se área de preservação como a RPPN Fazenda Monte Alegre. O local de desmate (área total de desmate: 91,13 ha), distinguido em várias frentes de trabalho, constitui-se dos setores destinados à construção das seguintes estruturas físicas: barragem, casa de forças e vertedouro, que são caracterizadas como definitivas, por não haver previsão de revegetação. Esses locais assentam-se em áreas principalmente recobertas por vegetação nativa em diferentes estádios sucessionais, a saber: 27,37 ha de floresta primária pouco alterada, 16,66 ha de floresta secundária em estádio avançado de regeneração e 4,35 ha de plantio de eucalipto. As estruturas tidas como provisórias, ou seja, para as quais será possível a recuperação das áreas degradadas, são: alojamentos, escritórios e estradas de acesso a essas instalações. De um modo geral encontram-se cobertas por plantios de árvores exóticas de propriedade da Klabin Papel e Celulose, nas seguintes proporções: 15,96 ha de plantios, 4,33 ha de floresta secundária em estádio avançado de regeneração e 2,66 ha de floresta primária pouco alterada.

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Sob esse panorama, as frentes de trabalho seguirão alguns critérios objetivando permitir o tráfego dos animais entre essas áreas minimizando-se a necessidade de intervenção humana, tais como:

o desmate dar-se-á sempre no sentido borda interior da mata, sempre direcionando-se ao maior maciço de floresta nativa adjacente ou o mais próxima possível;

evitar-se-á a formação de “ilhas” de vegetação, reduzindo as chances de isolamento dos representantes da fauna;

as frentes de trabalho não devem agir em locais distantes umas das outras, ocasionando o retorno dos animais devido a atividades de corte em área de tráfego.

NOSSA EQUIPE A nossa equipe é composta por um grande grupo de especialistas e colaboradores nos campos das ciências biológicas e da medicina veterinária. Todos eles dedicam-se ao estudo de grupos faunísticos específicos, mas todos são perfeitamente aptos e habilitados para o trabalho com todos os grupos de fauna. Esse time todo se revesará ao longo dos 60 dias previsto para a operação de resgate de fauna, de forma a termos sempre conosco sete pessoas com as seguintes atribuições:

1 médico veterinário 4 biólogos (sendo um coordenador) 2 auxiliares de campo

Cada um dos quatro biólogos acompanhará uma das quatro frentes de desmate, realizando capturas, coletas e todo o tipo de observações ligadas ao trabalho. Um dos auxiliares de campo se deslocará ativamente entre essas frentes, sob orientação do biólogo, suprindo a necessidade de auxílio na contenção de animais ou o transporte desses ao centro de triagem (C.T.). O outro auxiliar será o responsável pela recepção, etiquetagem e conservação de material biológico morto e, ainda, poderá colaborar com o médico veterinário, caso requisitado.

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O médico veterinário ficará de plantão no C.T., recebendo os animais capturados, os quais deverão receber exame clínico e encaminhados para a soltura ou ao criadouro científico (caso julgue-se necessário tratamento mais prolongado). QUAL EQUIPAMENTOS DEVEMOS PORTAR? Logo ao início do dia, ocorrerá a primeira fase do trabalho. Para isso, cada participante (biólogo e auxiliar) deverá conferir minusionamente o material a ser utilizado. Devemos ter sempre em mente que cada fase de ação corresponde a um tipo de material sendo, portanto, necessário – e obrigatório – carregar consigo: 1. EQUIPAMENTO DE CAPTURA E CONTENÇÃO:

Luvas de raspa (2 pares por equipe) Gancho (2 unidades por equipe) Puçá (1 unidade por equipe) Jacaré (1 unidade por equipe) Pinça (2 unidades por equipe) Bloco de anotações (individual) Lápis (individual) GPS (1 unidade por equipe) Relógio de pulso ou similar (individual)

2. EQUIPAMENTO DE ACONDICIONAMENTO DE ANIMAIS VIVOS:

Caixa de contenção (2 unidades por equipe) Sacos de pano (5 unidades por equipe)

3. EQUIPAMENTO DE COLETA:

Recipiente com formol 10% (4 unidades por equipe) Recipiente com álcool 70% (4 unidades por equipe)

4. EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPI):

Camisa ou camiseta de manga longa Capa de chuva Boné, chapéu ou similar (eventulmente capacete) Protetor solar Protetor auricular Perneira, bota ou similar

Se você quiser, poderá levar também outros equipamentos, a seu critério, como binóculo, máquina fotográfica, facas, facão, mochila, cantil etc. QUANTO TEMPO IREMOS TRABALHAR POR DIA?

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A jornada diária será de aproximadamente 10 horas. Todos os dias iniciaremos às 7:00 h com a reunião dos participantes no C.T., para a revisão do material de campo e para organizar detalhes de última hora, bem como para tomar conhecimento da escala de trabalho. Pouco menos de uma hora depois (7:45 h) seguiremos para as frentes de desmate, onde permaneceremos até por volta do meio-dia. Após o descanso de almoço (13:00 h), voltaremos à ativa e somente concluiremos nosso trabalho de campo por volta das 18:00 h. Depois disso vamos nos reunir novamente no C.T. para a recepção dos animais capturados e coletados, bem como para notificar o coordenador sobre eventuais necessidades ou problemas que porventura venham a ocorrer. O responsável pela triagem de animais coletados (mortos), bem como o médico-veterinário, terão rotina inconstante, que variará de acordo com a demanda de trabalho. A critério do coordenador, poderá ocorrer remanejamento de pessoal, caso ocorra algum imprevisto ou se o trabalho ficar muito volumoso. Lembremo-nos que o dia apenas acabará quando todos os animais coletados estiverem devidamente organizados e os animais vivos devidamente clinicados e em situações confortáveis. Em primeiro lugar o bem-estar de todos os animais que forem mantidos vivos e temporariamente sob nossa guarda e o aproveitamento integral de todas as informações que os animais coletados podem gerar. Assim, a nossa equipe apenas poderá descansar quando tudo estiver organizado e preparado para o dia seguinte.

Fluxograma de atividades

FASE O QUÊ ? QUANDO? ONDE?

1 Verificação do material de campo 7:00-7:45 h C.T.

2 Deslocamento às áreas de desmate 7:45-8:00 h Em trânsito

3 Captura e coleta 8:00-12:00 h Campo

4 Intervalo 12:00-13:00 h Em trânsito

5 Captura e coleta 13:00-18:00 h Campo

6 Retorno do trabalho de campo 18:00 h Em trânsito

7 Entrega de material vivo ao veterinário 18:00-19:00 h C.T.

8 Entrega de material coletado ao responsável pela triagem 18:00-19:00 h C.T.

9 Verificação do material de campo 18:00-19:00 h C.T.

10 Fim da jornada diária ~ 19:00 h COMO SERÁ O NOSSO TRABALHO DE CAMPO? Todo o processo de resgate faunístico se dividirá em quatro fases: 1. captura e contenção; 2. acondicionamento e rotulagem prévia; 3. triagem; 4. destinação. Durante o momento de desmate, bem como de todas as demais atividades que impliquem em retirada de vegetação nativa, em recuperação ou ruderal, os grupos de

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trabalhadores serão acompanhados por uma equipe minimamente composta por um biólogo que terá, de acordo com a situação, um auxiliar de campo o acompanhando. Esse pessoal estará devidamente munido de equipamentos apropriados para a captura, manipulação e guarda temporária de animais silvestres. De uma forma geral, todos os animais localizados – desde que comprovadamente submetidos a riscos contra sua integridade física – serão capturados com utilização de métodos que gerem um mínimo de contacto físico, visual e auditivo. Esse cuidado visa a preservação da saúde dos animais, em particular de situações de estresse, levando-se em consideração o animal manipulado. Animais de médio a pequeno porte, notadamente mamíferos arborícolas (p.ex. ouriços, esquilos, tamanduás-mirins, etc) e mesmo lagartos médios e pequenos, serão capturados com puçás e protegidos em caixas apropriadas de madeira; o mesmo será o procedimento destinado a serpentes, com o uso – porém – de ganchos ou “jacarés”. Ninhos de aves, desde que acompanhados de ovos e/ou filhotes (situação que se espera ser de mínima ocorrência, por ocasião da época do ano em que se realizará o resgate) serão também recolhidos; eles serão acondicionados em recipientes adequados, visando o encaminhamento imediato para o C.T. Invertebrados como aracnídeos (aranhas, escorpiões, opiliões) e miriápodos (centopéias) serão capturados com pinças e colecionados mediante imersão simples em meio alcoólico para aproveitamento científico. Exemplares de quaisquer grupos zoológicos que porventura sejam encontrados mortos serão acondicionados em sacos plásticos dentro dos quais inserir-se-ão as devidas informações sobre localidade e data de coleta bem como outros dados que se façam pertinentes. Posteriormente serão congelados (no caso de mamíferos e aves) ou fixados em formol (no caso dos demais organismos), em obediência às técnicas particulares para cada grupo zoológico e, em momento oportuno, encaminhados às coleções do Museu de História Natural Capão da Imbuia (Prefeitura Municipal de Curitiba) para inclusão e tombamento definitivo. Esse é o destino previsto de todo o material zoológico que seja obtido durante a operação de resgate. Ao tempo em que os animais são capturados e acondicionados, serão preenchidas as fichas de captura, contendo informações como identificação preliminar, local e data de coleta, nome dos coletores, informações clínicas e o que mais se façam pertinentes. É obrigatório incluir, junto aos exemplares capturados e coletados, uma ficha provisória de coleta, contendo as seguintes informações:

No de campo Espécie ou identificação prévia (p.ex. aranha, serpente não

identificada) Local de captura (incluindo coordenadas geográficas obtidas por GPS) Data de captura Horário de captura Coletores

Uma vez concluído o trabalho de campo, todo o material recolhido será encaminhado ao C.T., que procederá o encaminhamento de cada organismo. Será obedecida a prioridade para animais vivos, os quais serão encaminhados aos cuidados do médico veterinário para atendimento imediato. Todos os animais, inclusive os mortos, serão organizados de acordo com a situação e registrados em livro apropriado para este fim. Em algumas situações, como em caso de estresse iminente, o animal será encaminhado imediatamente após sua captura e contenção ao C.T.

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COMO FUNCIONARÁ O CENTRO DE TRIAGEM? O trabalho no C.T. compreenderá tanto no rápido encaminhamento de animais vivos para o médico veterinário, quanto na organização do material coletado em campo. Uma vez encaminhado, o espécime vivo será avaliado e, na dependência do quadro observado, submetido a intervenção clínica, condizente com os procedimentos triviais da especialidade veterinária. Além da rápida atenção ao indivíduo, serão obtidas informações básicas sobre ele, destacadamente identificação da espécie, mas também dados biométricos e pesagem e tomada de temperatura corpórea. Caso necessário, alguns indivíduos poderão permanecer retidos por pequeno lapso de tempo, visando seu reestabelecimento, a critério médico. Para tanto haverão locais adequados especialmente preparados, de forma aos animais contarem com máximo conforto e total isolamento do contacto com a equipe. O médico-veterinário poderá, a seu critério, requisitar a participação do auxiliar que estiver trabalhando na tarefa de rotulagem e organização das coletas, especialmente quando houver necessidade de colaboração para o manejo, manipulação e eventuais procedimentos clínicos e/ou cirúrgicos. Nenhuma pessoa externa à nossa equipe está autorizada a capturar, coletar ou manejar animais de quaisquer tipos e tampouco participar dos trabalhos de campo e muito menos do C.T. Embora essa seja uma eventualidade difícil de ser contida, ela deve ser evitada e movidos todos os esforços para que não ocorra. Os materiais de campo como um todo também são de uso exclusivo da equipe, cabendo a todos o correto uso e acondicionamento em local correto e organizado e uma dedicação de zelo especial por sua integridade. QUAIS ANIMAIS SERÃO SOLTOS E ONDE SERÃO LIBERADOS? A grande maioria de animais será colecionada, uma vez que será composta por invertebrados. Isso significa que eles serão sacrificados e aproveitados como espécimes para pesquisas, ficando todos depositados posteriormente em um museu. Apenas no caso de mamíferos e, eventualmente, aves ou répteis de grande porte ou, ainda, em algumas situações especiais, ocorrerá a soltura. Tendo-se constatado o bem estar físico do animal mediante avaliação do médico-veterinário, ele será reconduzido ao ponto mais próximo de onde fôra capturado desde que contando com o estado mais preservado condizente com seu hábitat. Na ocasião será rapidamente vistoriado e liberado de forma tranqüila e segura. Caberá ao biólogo responsável, após orientação do coordenador, o acompanhamento de todos os passos da soltura, incluindo o afastamento das pessoas e a visualização. Eventualmente poderá ser necessária uma nova captura, dependendo do quadro clínico do indivíduo, em especial quando ele se mostrar incapaz de se abrigar, ainda que por um pequeno período de tempo. Caso isso ocorra, os mesmos procedimentos alusivos à captura deverão ser realizados, inclusive com novo encaminhamento ao veterinário de plantão. Mas atenção! Caberá única e exclusivamente ao coordenador (se necessário após ouvir a opinião de sua equipe), a decisão de quando e onde o animal será liberado. Desta forma, durante o trabalho de acompanhamento do desmate, não será admitido que ninguém solte animais sem que tenha passado por todo o protocolo de registro e medicação e muito menos sem a concordância da coordenação.

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Há um detalhado plano de realocação que foi planejado com muita antecedência para que as solturas sejam o menos danosas possíveis ao animal e ao seu ambiente. O QUE DEVO FAZER NO CASO DE ALGUM ACIDENTE? Dificilmente ocorrerão acidentes se levarmos em consideração as regras de segurança do trabalho e, principalmente, se nos mantivermos atentos para os potenciais incidentes que ocorreriam em trabalhos deste tipo. Animais que podem ser perigosos para nossa saúde, principalmente por inocular veneno, são os miriápodos (lacraias ou centopéias), aracnídeos (escorpiões e aranhas) himenópteros (vespas, marimbondos, abelhas, mamangavas e formigas), lepidópteros (larvas de borboletas ou mariposas) e serpentes. Todos os outros animais também devem ser considerados perigosos, com pequena ou grande intensidade, poderão ser encontrados na área que vamos trabalhar e, muito provavelmente, todos nós teremos algum tipo de contacto com eles. Muito mais importante é a profilaxia, e por esse motivo, abaixo estão descritos alguns procedimentos

LEMBRE-SE SEMPRE:

Resgates de fauna são situações únicas que causam o aparecimento forçado de muitos tipos de animais, alguns deles perigosos e em quantidades muito maiores do que normalmente! Assim, todos devem prestar atenção nos seguintes itens: 1. Higiene após o manuseio de animais. Especialmente os mamíferos (com menor importância as aves e mesmo répteis), são potenciais vetores de doenças que podem ser transmitidas para nós pelo simples contacto físico. Tenha o cuidado de lavar cuidadosamente as mãos logo após manipular um animal. 2. Camisas de mangas compridas. Você sabe porque usar calças compridas quando está em trabalho de campo; então também sabe da importância das mangas compridas! Elas evitam ferimentos ocasionados por folhas cortantes ou urticantes, por espinhos e, ainda, picadas de insetos, alguns deles muito perigosos. Não à toa são considerados itens indispensáveis do equipamento de proteção individual (EPI). 3. Meias sobre as calças. Como você estará usando bota ou perneira, para evitar picadas de cobras e mesmo para amenizar eventuais impactos contra pedras e troncos, use sempre a perna da calça por dentro da meia. Isso evita que algum animal venenoso suba por dentro da calça, causando acidente. Assim, prefira meias longas com elástico; elas serão muito mais eficientes. 4. Cuidados na hora de vestir a mochila. Com base no ítem acima, lembre-se também de sua mochila. Se você deixá-la no chão, mesmo que por um rápido momento, poderá facilitar com que invertebrados picadores fiquem aderidos a ela e, então, possam ir para lugares sensíveis como o pescoço.

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5. Não ponha a mão em frestas. Encontrou um tronco caído ou quer revirar uma pedra para encontrar animais? Use o gancho ou a pinça. Com isso irá proteger seus dedos e mão de eventuais picadas, algumas delas dolorosas ou perigosas! 6. Atenção durante a captura. Se você não se sentir seguro para alguma captura, seja qual for o animal, solicite a ajuda. Se nem com essa colaboração isso for possível, libere-o. Preserve antes de tudo a sua integridade física. De acordo com o grupo zoológico, é necessário tomar algumas atitudes defensivas que somente são conhecidas com a experiência. Um exemplo clássico é o do tamanduá-mirim. Embora pareça um bicho de pelúcia que, além de tudo, não tem dentes, ele é extremamente perigoso pois utiliza com grande eficiência as suas unhas no caso de tentativa de contenção. Tenha respeito por todo e qualquer animal, especialmente aquele que você não conhece e que nunca manejou. Todos os animais possuem defesa e muitos deles podem ser agressivos ou causar sérios agravos à nossa saúde. 7. Cuidado com os instrumentos. Não seja negligente com instrumentos de trabalho; eles devem ser usados somente com a finalidade para a qual foram fabricados; evite usá-los com outros fins. 8. Cuidado com facas. Lembre-se: facas são perigosas! Tenha cuidado ao usá-las. Segure-as sempre com a lâmina apontada para baixo e corte tudo sobre uma tábua de madeira ou outra superfície dura. Mesmo que todos os procedimentos de segurança sejam fielmente considerados, é possível que alguns acidentes aconteçam. Se por acaso isso ocorrer,bian comunique imediatamente o coordenador, por meio do rádio-comunicador, para orientação sobre os cuidados a serem tomados. O maior problema, quando verificamos um acidente com animais, é a atitude a ser tomada logo após o evento. Tomar a iniciativa pode resolver precocemente diversos problemas e até salvar uma vida! No caso de picadas de animais peçonhentos ou de contacto com lagartas, você deverá proceder da seguinte forma, de acordo com o acontecimento. Mesmo que a pessoa não se identifique como alérgica, ela deverá ficar em observação nos seguintes casos: picadas de formigas, abelha, vespa, marimbondo ou contacto com lagartas de borboletas. Se após alguns minutos o local da picada ou contacto começar a formar um inchaço exagerado, especialmente com edema em locais diferentes de onde aconteceu a picada, ou se a pessoa atingida começar a se queixar de mal-estar, náuseas ou outros sintomas estranhos, será preciso procurar auxílio médico. Se ela for picada por muitos animais (dentre os citados acima) ou por escorpião, aranha ou centopéia deverá obrigatoriamente ser encaminhada a um posto de saúde ou à atenção de um médico. O mesmo, em qualquer situação, se for mordida por cobra, ainda que os demais a reconheçam como não-peçonhenta. Além disso, se a pessoa sofrer algum corte, queimadura ou torção que chamem a atenção pela profundidade ou extensão ou que possam levantar qualquer dúvida sobre necessidade de atendimento, não pense duas vezes: encaminhe-a para atendimento médico. Se ocorrer uma mordida ou arranhão devido à defesa de mamífero, ave ou lagarto, o mesmo deve ser feito. Não esperamos que acidentes ocorram, visto que temos uma equipe experiente e devidamente preparada para se proteger contra eles. De qualquer forma, você deve preencher a ficha individual que lhe será fornecida, informando o seu tipo sanguíneo, eventuais alergias e se usa algum medicamento cotidianamente.

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Tanto no caso de acidentes quanto em situações em que interações se façam necessárias, você deverá usar os rádios comunicadores. Quando precisar utilizá-los, procure falar apenas o necessário, respeitando o ouvinte.

_____________________________ Esperamos que essa operação de resgate de fauna seja produtiva para todos os pesquisadores e estudantes que, de uma forma ou de outra, irão obter muitas informações e aprendizado pelo convívio direto com os animais. Para que você se habitue aos grupos com que terá contato em campo, incluímos neste Manual listas de espécies já constatadas na região em estudos anteriores.

BOM TRABALHO!

LISTA DE FAUNA

VERTEBRADOS TERRESTRES DE INTERESSE PARA O RESGATE DE FAUNA (FASE I: DESMATE) DA

UHE-MAUÁ (TELÊMACO BORBA E ORTIGUEIRA – PARANÁ)

CLASSE LISSAMPHIBIA (anfíbios)

ORDEM ANURA FAMÍLIA BUFONIDAE Rhinella abei sapo Rhinella icterica sapo-cururu FAMÍLIA CENTROLENIDAE Hyalinobatrachium uranoscopum rã FAMÍLIA HYLIDAE Aplastodiscus albosignatus perereca Aplastodiscus perviridis perereca Bokermannohyla circumdata perereca Dendropsophus anceps perereca Dendropsophus microps perereca Dendropsophus minutus perereca Dendropsophus nanus perereca Dendropsophus sanborni perereca Hypsiboas albopunctatus perereca Hypsiboas faber ferreiro Hypsiboas prasinus perereca Hypsiboas semiguttatus perereca

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Phasmahyla sp. rã-macaco Phyllomedusa tetraploidea rã-macaco Scinax berthae perereca Scinax catharinae perereca Scinax fuscovarius perereca Scinax perereca perereca Scinax rizibilis perereca Scinax squalirostris perereca Scinax sp. (gr. x-signatus) perereca Sphaenorhynchus surdus rãzinha-verde Trachycephalus imitatrix rãzinha FAMÍLIA HYLODIDAE Crossodactylus sp. rãzinha-do-rio FAMÍLIA BRACHYCEPHALIDAE Ischnocnema guentheri sapinho FAMÍLIA CRAUGASTORIDAE Haddadus binotatus rãzinha FAMÍLIA LEPTODACTYLIDAE Leptodactylus fuscus rã Leptodactylus gracilis rã Leptodactylus mystacinus rã Leptodactylus notoaktites rã Leptodactylus ocellatus rã FAMÍLIA CYCLORAMPHIDAE Odontophrynus americanus sapo Proceratophrys avelinoi sapo-de-chifres FAMÍLIA LEUIPERIDAE Physalaemus cuvieri rã-cachorro Physalaemus gracilis rã-chorona FAMÍLIA MICROHYLIDAE Elachistocleis bicolor sapo FAMÍLIA RANIDAE Lithobates catesbeianus rã ORDEM GYMNOPHIONA FAMÍLIA CECILIIDAE cobra-cega

FONTES: Machado & Bernarde (2002); Rocha et al. (2003); Machado (2004); registros e observações inéditas de Carlos Eduardo Conte.

CLASSE REPTILIA (répteis)

ORDEM TESTUDINATA SUBORDEM PLEURODIRA

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FAMÍLIA CHELIDAE Hydromedusa tectifera cágado Phrynops geoffroanus cágado SUBORDEM CRYPTODIRA FAMÍLIA EMYDIDAE Trachemys dorbigni cágado ORDEM SQUAMATA SUBORDEM AMPHISBAENIA FAMÍLIA AMPHISBAENIDAE Amphisbaenia mertensii cobra-cega SUBORDEM LACERTILIA FAMÍLIA LEIOSAURIDAE Enyalius perditus lagarto-verde FAMÍLIA TROPIDURIDAE Tropidurus torquatus lagarto-calango FAMÍLIA GEKKONIDAE Hemidactylus mabuia lagartixa-de-parede FAMÍLIA ANGUIDAE Ophiodes striatus cobra-de-vidro FAMÍLIA TEIIDAE Tupinambis merianae teiú FAMÍLIA SCINCIDAE Mabuya frenata lagartixa SUBORDEM SERPENTES FAMÍLIA ANOMALEPIDIDAE Liothyphlops beui cobra-cega FAMÍLIA TYPHLOPIDAE Typhlops brongersmianus cobra-cega Epicrates cenchria jibóia-arco-íris Eunectes murinus sucuri FAMÍLIA COLUBRIDAE Apostolepis dimidiata cobra Atractus reticulatus cobra Chironius bicarinatus cobra-cipó Chironius flavolineatus cobra-cipó Chironius laevicollis cobra-cipó Clelia plumbea muçurana Dipsas indica jararaquinha Erythrolamprus aesculapii falsa-coral Helicops infrataeniatus cobra-d’água Liophis miliaris cobra-d’água Liophis poecilogyrus cobra Mastigodryas bifossatus jararacuçu-do-brejo Oxyrhopus guibei falsa-coral Oxyrhopus petola falsa-coral Philodryas olfersii cobra-verde Philodryas patagoniensis papa-pinto Sibynomorphus mikanii dormideira Spilotes pullatus caninana

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Thamnodynastes strigatus cobra-espada Tomodon dorsatus cobra-de-boca-roxa Waglerophis merremii boipeva FAMÍLIA ELAPIDAE Micrurus corallinus coral Micrurus frontalis coral FAMÍLIA VIPERIDAE Bothrops jararaca jararaca Bothrops jararacussu jararacuçu Bothrops neuwiedii jararaca-pintada Crotalus durissus cascavel ORDEM CROCODILIA FAMÍLIA ALLIGATORIDAE Caiman latirostris jacaré-do-papo-amarelo Caiman yacare jacaré-do-pantanal

FONTE: Bernarde & Machado (2002).

CLASSE MAMMALIA (mamíferos)

ORDEM DIDELPHIMORPHIA FAMÍLIA DIDELPHIDAE Caluromys lanatus cuíca-lanosa Caluromys philander cuíca-lanosa Chironectes minimus cuíca-d’água Didelphis aurita gambá-de-orelha-preta Didelphis albiventris gambá-de-orelha-branca Gracilinanus microtarsus cuíca Lutreolina crassicaudata cuíca-rabo-grosso Marmosops incanus cuíca Metachirus nudicaudatus cuíca-quatro-olhos Micoureus paraguayanus cuíca Moodelphis americana catita Monodelphis dimidiata catita Monodelphis iheringi catita Monodelphis sorex catita Philander frenata cuíca-quatro-olhos ORDEM CINGULATA FAMÍLIA DASYPODIDAE Euphractus sexcinctus tatu-peba Cabassous tatouay tatu-do-rabo-mole Dasypus septemcinctus tatu-mulinha Dasypus novemcinctus tatu-galinha Dasypus hybridus tatu-mulinha ORDEM PILOSA FAMÍLIA MYRMECOPHAGIDAE Myrmecophaga tridactyla tamanduá-bandeira Tamandua tetradactyla tamanduá-mirim ORDEM PRIMATES FAMÍLIA ATELIDAE

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Alouatta guariba bugio FAMÍLIA CEBIDAE Cebus nigritus macaco-prego ORDEM LAGOMORPHA FAMÍLIA LEPORIDAE Sylvilagus brasiliensis tapeti Lepus europaeus lebre ORDEM CHIROPTERA FAMÍLIA PHYLLOSTOMIDAE Desmodus rotundus morcego-vampiro Diaemus youngi morcego-vampiro Diphylla ecaudata morcego-vampiro Anoura caudifera morcego Anoura geoffroyi morcego Glossophaga soricina morcego Chrotopterus auritus morcego Micronycteris megalotis morcego Mimon bennettii morcego Phyllostomus discolor morcego Phyllostomus hastatus morcego Tonatia bidens morcego Carollia perspicillata morcego Artibeus jamaicensis morcego Artibeus lituratus morcego Artibeus obscurus morcego Chiroderma doriae morcego Platyrrhinus lineatus morcego Pygoderma bilabiatum morcego Sturnira lilium morcego Uroderma bilobatum morcego Vampyressa pusilla morcego FAMILIA NOCTILIONIDAE Noctilio albiventris morcego Noctilio leporinus morcego FAMÍLIA MOLOSSIDAE Cynomops abrasus morcego Cynomops planirostris morcego Eumops auripendulus morcego Eumops bonariensis morcego Eumops glaucinus morcego Molossops temminckii morcego Molossus molossus morcego Molossus rufus morcego Nyctinomops laticaudatus morcego Nyctinomops macrotis morcego Promops nasutus morcego Tadarida brasiliensis morcego FAMÍLIA VESPERTILIONIDAE Eptesicus brasiliensis morcego Eptesicus diminutus morcego Eptesicus furinalis morcego Lasiurus blossevillii morcego Lasiurus cinereus morcego Lasiurus ega morcego

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Histiotus velatus morcego Myotis levis morcego Myotis nigricans morcego Myotis riparius morcego Myotis ruber morcego ORDEM CARNIVORA FAMÍLIA FELIDAE Leopardus pardalis jaguatirica Leopardus tigrinus gato-do-mato Leopardus wiedii gato-maracajá Puma concolor suçuarana, puma Puma yagouaroundi gato-mourisco Panthera onca onça-pintada FAMÍLIA CANIDAE Cerdocyon thous cachorro-do-mato Chrysocyon brachyurus lobo-guará Lycalopex gymnocercus cachorro-do-campo Lycalopex vetulus raposa-do-campo FAMÍLIA MUSTELIDAE Lontra longicaudis lontra Eira barbara irara Galictis cuja furão FAMÍLIA PROCYONIDAE Nasua nasua quati Procyon cancrivorus mão-pelada ORDEM PERISSODACTYLA FAMÍLIA TAPIRIDAE Tapirus terrestris anta ORDEM ARTIODACTYLA FAMÍLIA TAYASSUIDAE Pecari tajacu tateto Tayassu pecari queixada FAMÍLIA CERVIDAE Mazana americana veado-pardo Mazama gouazoupira veado-catingueiro Mazama nana veado-cambuta Ozotoceros bezoarticus veado-campeiro ORDEM RODENTIA FAMÍLIA SCIURIDAE Sciurus aestuans serelepe FAMÍLIA CRICETIDAE Akodon montensis rato-do-mato Akodon paranaensis rato-do-mato Brucepattersonius iheringi rato-do-mato Calomys sp. rato-do-mato Delomys dorsalis rato-do-mato Holochilus brasiliensis rato-do-mato Juliomys pictipes rato-do-mato Nectomys squamipes rato-d’água Oligoryzomys flavensces rato-do-mato Oligoryzomys nigripes rato-do-mato

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Oryzomys angouya rato-do-mato Oryzomys russatus rato-do-mato Oxymycterus judex rato-do-mato Thaptomys nigrita rato-do-mato Bolomys lasiurus rato-do-mato FAMÍLIA MURIDAE Mus musculus camundongo Rattus rattus rato Rattus norvegicus ratazana FAMÍLIA CAVIIDAE Cavia aperea preá FAMÍLIA HYDROCHAERIDAE Hydrochoerus hydrochaeris capivara FAMÍLIA CUNICULIDAE Cuniculus paca paca FAMÍLIA DASYPROCTIDAE Dasyprocta azarae cutia FAMÍLIA ERETHIZONTIDAE Sphiggurus villosus ouriço FAMÍLIA ECHIMYIDAE Kannabateomys amblyonyx rato-da-taquara Euryzygomatomys spinosus rato-de-espinho FAMILIA MYOCASTORIDAE Myocastor coypus ratão-do-banhado

FONTES: Reis, N. R. et al. 2005; registros e observações inéditas de G.V.Bianconi.

CLASSE AVES (aves)

ORDEM TINAMIFORMES FAMÍLIA TINAMIDAE Tinamus solitarius macuco Crypturellus parvirostris nambu-xororó Crypturellus tataupa nambu-xintã Crypturellus obsoletus nambu-guaçu Rhynchotus rufescens perdiz Nothura maculosa codorna ORDEM ANSERIFORMES FAMÍLIA ANATIDAE Amazonetta brasiliensis ananaí Cairina moschata pato-do-mato ORDEM GALLIFORMES FAMÍLIA CRACIDAE Penelope superciliaris jacu-pemba Penelope obscura jacu-guaçu

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FAMÍLIA ODONTOPHORIDAE Odontophorus capueira uru ORDEM PODICIPEDIFORMES FAMÍLIA PODICIPEDIDAE Podilymbus podiceps mergulhão ORDEM PELECANIFORMES FAMÍLIA PHALACROCORACIDAE Phalacrocorax brasilianus biguá ORDEM CICONIIFORMES FAMÍLIA ARDEIDAE Tigrisoma lineatum socó-boi Nycticorax nycticorax socó-dorminhoco Butorides striata socozinho Bubulcus ibis garça-vaqueira Ardea alba garça-branca-grande Syrigma sibilatrix maria-faceira Egretta thula garça-branca-pequen FAMÍLIA THRESKIORNITHIDAE Theristicus caudatus curucaca Mesembrinibis cayennensis corocoró ORDEM CATHARTIFORMES FAMÍLIA CATHARTIDAE Cathartes aura urubu-pimenta Coragyps atratus urubu Sarcoramphus papa urubu-rei ORDEM FALCONIFORMES FAMÍLIA ACCIPITRIDAE Leptodon cayanensis gavião-cinza Elanoides forficatus gavião-tesoura Elanus leucurus gavião-peneira Ictinia plumbea sovi Accipiter striatus gaviãozinho Geranospiza caerulescens gavião-pernilongo Heterospizias meridionalis gavião-caboclo Buteo melanoleucus águia-chilena Buteo swainsoni gavião-grande Buteo brachyurus gavião-rabo-curto Rupornis magnirostris gavião-carijó Spizaetus melanoleucus gavião-pato FAMÍLIA FALCONIDAE Caracara plancus carancho Milvago chimachima pinhé Falco femoralis falcão-de-coleira Falco sparverius quiriquiri Falco peregrinus falcão-peregrino Herpetotheres cachinnans acauã Micrastur ruficollis gavião-mateiro Micrastur semitorquatus gavião-relógio ORDEM GRUIFORMES FAMÍLIA RALLIDAE Aramides cajanea saracura

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Aramides saracura saracura-do-mato Pardirallus nigricans saracura-sanã Porzana albicollis sanã-carijó Porphyrio martinica frango-d’água-azul Gallinula chloropus frango-d’água FAMÍLIA CARIAMIDAE Cariama cristata seriema ORDEM CHARADRIIFORMES FAMÍLIA CHARADRIIDAE Vanellus chilensis quero-quero FAMÍLIA SCOLOPACIDAE Tringa solitaria maçarico Calidris melanotos maçarico-de-colete FAMÍLIA JACANIDAE Jacana jacana jaçanã ORDEM COLUMBIFORMES FAMÍLIA COLUMBIDAE Columbina talpacoti rolinha Columbina squammata fogo-apagou Columbina picui rolinha Claravis pretiosa pariri Columba livia pomba-doméstica Patagioenas speciosa pomba-do-orvalho Patagioenas picazuro pomba-asa-branca Patagioenas cayennensis pomba-preta Patagioenas plumbea pomba-galega Zenaida auriculata avoante Geotrygon montana paruru Leptotila verreauxi juriti Leptotila rufaxilla juriti ORDEM PSITTACIFORMES FAMÍLIA PSITTACIDAE Aratinga leucophthalma maritaca Pyrrhura frontalis tiriva Forpus xanthopterygius tuim Brotogeris tirica periquito-rico Pionopsitta pileata cuiucuiú Pionus maximiliani baitaca Amazona vinacea papagaio-de-peito-roxo ORDEM CUCULIFORMES FAMÍLIA CUCULIDAE Coccyzus americanus papa-lagartas Coccyzus melacoryphus papa-lagartas Piaya cayana alma-de-gato Crotophaga major anu-coroca Crotophaga ani anu-preto Guira guira anu-branco Tapera naevia saci Dromococcyx pavoninus peixe-frito ORDEM STRIGIFORMES FAMÍLIA TYTONIDAE Tyto alba suindara

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FAMÍLIA STRIGIDAE Megascops choliba coruja-do-mato Megascops sanctaecatharinae corujinha-sapo Pulsatrix koeniswaldiana murucututu Strix hylophila coruja-listrada Glaucidium brasilianum caburé Athene cunicularia coruja-buraqueira Rhinoptynx clamator coruja-orelhuda Asio flammeus mocho-do-banhado Asio stygius mocho-diabo ORDEM CAPRIMULGIFORMES FAMÍLIA NYCTIBIIDAE Nyctibius griseus urutau FAMÍLIA CAPRIMULGIDAE Lurocalis semitorquatus tuju Nyctidromus albicollis curiango Caprimulgus sericocaudatus curiango-asa-de-seda Macropsalis forcipata curiango-tesoura ORDEM APODIFORMES FAMÍLIA APODIDAE Cypseloides senex andorinhão-velho Streptoprocne zonaris andorinhão-de-coleira Chaetura cinereiventris andorinhão-cinzento Chaetura meridionalis andorinhão-do-temporal FAMÍLIA TROCHILIDAE Phaethornis pretrei limpa-casa Phaethornis eurynome beijaflor Eupetomena macroura beijaflor-tesoura Florisuga fusca beijaflor-rabo-branco Colibri serrirostris beijaflor-do-campo Anthracothorax nigricollis beijaflor-veste-negra Stephanoxis lalandi beijaflor-de-topete Chlorostilbon lucidus besourinho Thalurania glaucopis beijaflor-de-fronte-violeta Hylocharis sapphirina beijaflor-dourado Leucochloris albicollis beijaflor-de-papo-branco Amazilia lactea beijaflor-azul Calliphlox amethystina beijaflor-ametista ORDEM TROGONIFORMES FAMÍLIA TROGONIDAE Trogon surrucura surucuá-de-barriga-vermelha Trogon rufus surucuá-de-barriga-amarela ORDEM CORACIIFORMES FAMÍLIA ALCEDINIDAE Megaceryle torquata martim-pescador-grande Chloroceryle amazona martim-pescador-verde Chloroceryle americana martim-pescador-pequeno Chloroceryle aenea martim-pescador-anão FAMÍLIA MOMOTIDAE Baryphthengus ruficapillus juruva ORDEM GALBULIFORMES

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FAMÍLIA BUCCONIDAE Nystalus chacuru joão-bobo Malacoptila striata joão-barbudo Nonnula rubecula macuru ORDEM PICIFORMES FAMÍLIA RAMPHASTIDAE Pteroglossus bailloni araçari-banana Ramphastos dicolorus tucano-de-bico-verde FAMÍLIA PICIDAE Picumnus cirratus picapau-anão Picumnus temminckii picapau-anão-de-coleira Melanerpes flavifrons picapau-benedito Melanerpes candidus picapau-birro Veniliornis spilogaster picapau-verde-pequeno Piculus aurulentus picapau-dourado Colaptes melanochloros picapau-verde-barrado Colaptes campestris picapau-do-campo Celeus flavescens picapau-joão-velho Dryocopus lineatus picapau-de-banda-branca Campephilus robustus picapau-rei Campephilus melanoleucos picapau-rei ORDEM PASSERIFORMES FAMÍLIA THAMNOPHILIDAE Hypoedaleus guttatus chocão-carijó Batara cinerea papa-ovo Mackenziaena leachii brujara-assobiador Mackenziaena severa brujara Biatas nigropectus bigode Thamnophilus caerulescens choca-da-mata Thamnophilus ruficapillus choca-boné-vermelho Dysithamnus mentalis choca-pequena Dysithamnus xanthopterus choca-asa-vermelha Drymophila rubricollis choca-do-bambu Drymophila malura choca-da-tranqueira Pyriglena leucoptera papa-taoca FAMÍLIA CONOPOPHAGIDAE Conopophaga lineata chupa-dente FAMÍLIA GRALLARIIDAE Grallaria varia tovacuçu Hylopezus nattereri torom-torom FAMÍLIA RHINOCRYPTIDAE Psiloramphus guttatus macuquinho Scytalopus notorius macuquinho-preto Scytalopus indigoticus macuquinho-cinza FAMÍLIA FORMICARIIDAE Chamaeza campanisona tovaca Chamaeza ruficauda tovaca FAMÍLIA SCLERURIDAE Sclerurus scansor vira-folhas FAMÍLIA DENDROCOLAPTIDAE Dendrocincla turdina arapaçu-turdina

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Sittasomus griseicapillus arapaçu-verde Dendrocolaptes platyrostris arapaçu-riscado Xiphocolaptes albicollis arapaçu-grande Xiphorhynchus fuscus arapaçu Lepidocolaptes angustirostris arapaçu-do-cerrado Lepidocolaptes falcinellus arapaçu-escamoso Campylorhamphus trochilirostris arapaçu-bico-torto FAMÍLIA FURNARIIDAE Furnarius rufus joão-de-barro Leptasthenura setaria grimpeirinho-da-capoeira Leptasthenura striolata grimpeirinho Synallaxis ruficapilla joão-teneném Synallaxis cinerascens pupuí Synallaxis frontalis triclim Synallaxis spixi bentererê Certhiaxis cinnamomea curutié Cranioleuca obsoleta arredio-oliváceo Clibanornis dendrocolaptoides cisqueiro Anumbius annumbi pedreiro Anabacerthia amaurotis trepador-de-coroa Syndactyla rufosuperciliata trepador Philydor rufum limpa-folhas-baio Philydor lichtensteini limpa-folhas Automolus leucophthalmus barranqueiro Lochmias nematura joão-porca Heliobletus contaminatus trepador-quiete Xenops minutus bico-virado-liso Xenops rutilans bico-virado-carijó FAMÍLIA TYRANNIDAE Mionectes rufiventris supi Leptopogon amaurocephalus abre-asas Corythopis delalandi estalador Hemitriccus diops olho-falso Hemitriccus obsoletus olho-falso-marrom Hemitriccus nidipendulus tororõ-cinza Poecilotriccus plumbeiceps tororó Todirostrum cinereum relógio Phyllomyias griseocapilla piolhinho-cinza Phyllomyias virescens piolhinho-verde Phyllomyias fasciatus piolhinho Myiopagis caniceps tuque-cinza Myiopagis viridicata tuque-verde Elaenia flavogaster maria-é-dia Elaenia parvirostris tuque-de-crista Elaenia mesoleuca tuque Elaenia chiriquensis guaracava-do-cerrado Elaenia obscura guaracava-grande Camptostoma obsoletum risadinha Serpophaga nigricans joão-pobre Serpophaga subcristata alegrinho Capsiempis flaveola papamoscas-amarelo Euscarthmus meloryphus barulhento Phylloscartes paulista paulistinha Phylloscartes ventralis borboletinha Phylloscartes eximius mosqueteirinho Myiornis auricularis miudinho Tolmomyias sulphurescens bico-chato Onychorhynchus swainsoni maria-leque

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Platyrinchus mystaceus patinho Myiophobus fasciatus filipe Hirundinea ferruginea birro Lathrotriccus euleri enferrujado Cnemotriccus fuscatus enferrujado-grande Contopus cinereus piui Satrapa icterophrys siriri-amarelo Knipolegus cyanirostris maria-preta Pyrocephalus rubinus príncipe Xolmis cinereus noivinha Muscipipra vetula tesoura-cinza Arundinicola leucocephala freirinha Colonia colonus viuvinha Machetornis rixosa siriri-cavaleiro Legatus leucophaius bentevi-pirata Myiozetetes similis bentevizinho Pitangus sulphuratus bentevi Conopias trivirgata bentevi-mosqueteiro Myiodynastes maculatus bentevi-rajado Megarynchus pitangua neinei Empidonomus varius peitica Tyrannus melancholicus siriri Tyrannus savana tesourinha Sirystes sibilator papamoscas-assobiador Myiarchus swainsoni maria-cavaleira Myiarchus ferox irré FAMÍLIA COTINGIDAE Phibalura flavirostris tesoura-do-mato Procnias nudicollis araponga Pyroderus scutatus pavão FAMÍLIA PIPRIDAE Chiroxiphia caudata tangará FAMÍLIA TITYRIDAE Schiffornis virescens flautim Oxyruncus cristatus bico-agudo Tityra cayana araponguinha Tityra inquisitor araponguinha-preta Pachyramphus viridis caneleiro-verde Pachyramphus castaneus caneleirinho Pachyramphus polychopterus caneleiro-preto Pachyramphus validus caneleiro FAMÍLIA VIREONIDAE Cyclarhis gujanensis elvira Vireo olivaceus juruviara Hylophilus poicilotis verdinho FAMÍLIA CORVIDAE Cyanocorax caeruleus gralha-azul Cyanocorax chrysops gralha-amarela FAMÍLIA HIRUNDINIDAE Tachycineta albiventer andorinha-do-rio Tachycineta leucorrhoa andorinha-de-sobre-branco Pygochelidon cyanoleuca andorinha-pequena Stelgidopteryx ruficollis andorinha-de-barrano Progne tapera andorinha-marrom

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Progne chalybea andorinha-grande Alopochelidon fucata andorinha-do-campo FAMÍLIA DONACOBIIDAE Donacobius atricapilla FAMÍLIA TROGLODYTIDAE Troglodytes musculus corruíra FAMÍLIA TURDIDAE Turdus flavipes sabiá-preta Turdus subalaris sabiá-ferreira Turdus rufiventris sabiá-laranjeira Turdus leucomelas sabiá-barranco Turdus amaurochalinus sabiá-poca Turdus albicollis sabiá-coleira FAMÍLIA MIMIDAE Mimus saturninus sabiá-do-campo FAMÍLIA MOTACILLIDAE Anthus lutescens caminheiro Anthus hellmayri caminheiro Anthus nattereri caminheiro FAMÍLIA COEREBIDAE Coereba flaveola sebinho FAMÍLIA THRAUPIDAE Orchesticus abeillei Schistochlamys ruficapillus bico-de-veludo Cissopis leverianus tietinga Orthogonys chloricterus jacinto Pyrrhocoma ruficeps cabeça-castanha Thlypopsis sordida saíra-canário Trichothraupis melanops tié-de-topete Piranga flava sangue-de-boi Habia rubica tié-quati Tachyphonus coronatus tié-preto Thraupis sayaca sanhaço Thraupis bonariensis sanhaço-fura-laranja Stephanophorus diadematus sanhaço-frade Pipraeidea melanonota saíra-viúva Tangara peruviana saíra-castanha Tersina viridis saí-andorinha Dacnis cayana saí-azul Dacnis nigripes saí-azul Hemithraupis guira saí-de-máscara Conirostrum speciosum figuinha FAMÍLIA EMBERIZIDAE Zonotrichia capensis tico-tico Ammodramus humeralis tico-tico-rato Haplospiza unicolor cigarrinha-do-bambu Tiaris fuliginosa cigarrinha Donacospiza albifrons tico-tico-do-banhado Poospiza cabanisi tico-tico-da-taquara Sicalis flaveola canário-da-terra Sicalis luteola canario-do-campo Emberizoides herbicola tico-tico

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Embernagra platensis sabiá-do-banhado Volatinia jacarina tiziu Sporophila falcirostris coleiro-da-taquara Sporophila plumbea patativa Sporophila caerulescens coleirinho Sporophila angolensis curió Amaurospiza moesta negrinho-do-mato Arremon flavirostris tico-tico-da-mata Coryphospingus cucullatus tico-tico-rei FAMÍLIA CARDINALIDAE Saltator similis trinca-ferro Saltator grossus bico-de-pimenta Cyanocompsa brissonii azulão FAMÍLIA PARULIDAE Parula pitiayumi mariquita Geothlypis aequinoctialis pia-cobra Basileuterus culicivorus bispo Basileuterus leucoblepharus flautinha Phaeothlypis rivularis pula-pula-do-rio FAMÍLIA ICTERIDAE Cacicus chrysopterus japuíra Cacicus haemorrhous guaxo Icterus cayanensis encontro Gnorimopsar chopi chupim Agelasticus cyanopus carretão Agelasticus thilius dó-ré-mi Chrysomus ruficapillus garibaldi Pseudoleistes guirahuro chupim-do-brejo Molothrus bonariensis chupim Molothrus rufoaxillaris chupim-picumã Molothrus oryzivorus graúna Sturnella superciliaris polícia-inglesa Dolichonyx oryzivorus triste-pia FAMÍLIA FRINGILLIDAE Carduelis magellanica pintassilgo Euphonia chlorotica gaturamo Euphonia violacea gaturamo Euphonia chalybea gaturamo-verde Euphonia pectoralis gaturamo-serrador Chlorophonia cyanea bandeirinha FAMÍLIA PASSERIDAE Passer domesticus pardal FONTES: Estudo de Impacto Ambiental da Área de Influência UHE-Mauá (CNEC, 2004); Pinto (1938, 1944); Rodrigues et al. (1981) Anjos & Schuchmann (1997); Anjos et al. (1997); registros inéditos de A.Urben-Filho, F.C.Straube e L.R.Deconto.

______________________________

ALGUNS GRUPOS RELEVANTES DE INVERTEBRADOS 1. CLASSE TURBELLARIA (planárias terrestres) 2. CLASSE GASTROPODA (caracóis e lesmas terrestres)

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3. CLASSE DIPLOPODA (piolhos-de-cobra) 4. CLASSE CHILOPODA (centopéias, lacrais) 5. CLASSE INSECTA (insetos) ORDEM THYSANURA traças ORDEM COLLEMBOLA colêmbolos ORDEM EPHEMERIDA efemerópteros, plecópteros ORDEM ODONATA libélulas ORDEM ORTHOPTERA grilos, gafanhotos ORDEM PHASMIDA bichos-pau ORDEM DERMAPTERA tesourinhas ORDEM BLATTARIAE baratas ORDEM MANTODEA louva-a-deus ORDEM ISOPTERA cupins ORDEM CORRODENTIA psocópteros ORDEM MALLOPHAGA piolhos-das-aves ORDEM ANOPLURA piolhos-humanos ORDEM HEMIPTERA percevejos ORDEM HOMOPTERA cigarras ORDEM NEUROPTERA formigas-leões ORDEM LEPIDOPTERA borboletas ORDEM DIPTERA moscas, mosquitos ORDEM SIPHONAPTERA pulgas ORDEM COLEOPTERA besouros ORDEM HYMENOPTERA vespas, abelhas, formigas 6. CLASSE ARACHNIDA (aracnídeos)

ORDEM ARANEAE aranhas ORDEM ACARINA carrapatos ORDEM SCORPIONIDA escorpiões ORDEM CHELONETHIDA pseudo-escorpiões ORDEM OPILIONES opiliões

FONTES: Barnes (1984); Borror & Delong (1988). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Anjos, L. dos & Schuchmann, K.L. 1997. Biogeographical affinities of the avifauna of the Tibagi river

basin, Paraná drainage system, southern Brazil. Ecotropica 3(1):43-66. Anjos, L. dos; Schuchmann, K.L. & Berndt, R.A. 1997. Avifaunal composition, species richness, and status

in the Tibagi River Basin, Parana State, southern Brazil. Ornitologia Neotropical 8(2):145-173. Barnes, R.D. 1984. Zoologia dos invertebrados. São Paulo, Livraria Roca. 1179 p. Bernarde, P.S. & Machado, R.A. 2002. Fauna reptiliana da Bacia do rio Tibagi. In: p.291-296. M.E. Medri;

E.Bianchini; O.a.Shibatta & J.A.Pimenta (eds). A Bacia do rio Tibagi. Londrina, edição dos autores. Borror, D.J. & Delong, D.M. 1988. Introdução ao estudo dos insetos. Rio de Janeiro, Edgard Blücher. 653

p. CNEC. 2004. Estudo de impacto ambiental e relatório de impacto ambiental da UHE Mauá. São Paulo,

CNEC Engenharia Ltda. 5 volumes. Machado, R.A. 2004. Ecologia de assembléias de anfíbios anuros no município de Telêmaco Borba,

Paraná, sul do Brasil. Curitiba, Universidade Federal do Paraná. Tese de doutorado.

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Machado, R.A. & Bernarde, P.S. 2002. anurofauna da Bacia do rio Tibagi. In: p.297-306. M.E. Medri; E.Bianchini; O.a.Shibatta & J.A.Pimenta (eds). A Bacia do rio Tibagi. Londrina, edição dos autores.

Pinto, O.M.de O. 1938. Catalogo das aves do Brasil e lista dos exemplares que as representam no Museu Paulista: 1º parte, Aves não Passeriformes e Passeriformes não Oscines excluida a Fam.Tyrannidae e seguintes. Revista do Museu Paulista 22:1-566.

Pinto, O.M. de O. 1944. Catalogo das Aves do Brasil e lista dos exemplares na coleção do Departamento de Zoologia: 2º parte, Ordem Passeriformes (continuação): Superfamília Tyrannoidea e Subordem Passeres. São Paulo, Departamento de Zoologia. 700 pp.

Reis, N. R.; Peracchi, A.L.; Fandiño-Mariño, H. & Rocha, V. (eds.). 2005. Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná. Londrina, EdUEL. 202 p.

Rocha, V.L.; Machado, R.a.; Filipaki, I.S.N. & Pucci, J.A.L. 2003. A biodiversidade da Fazenda Monte Alegre da Klabin S.A. no estado do Paraná. Anais do 8o Congresso Florestal Brasileiro (São Paulo), volume 2, p.1-12.

Rodrigues, L.C.; Almeida, A.F. de; Kikuti, P. & Speltz, R.M. 1981. Estudo comparativo da avifauna em mata natural e em plantio homogêneo de Araucaria angustifolia (Bert.) O.Ktze. IPEC, Circular Técnica 132:1-7.

PREENCHA ESSA FICHA E MANTENHA-A CONSIGO DURANTE O TRABALHO NOME COMPLETO

TIPO SANGUÍNEO/RH

POSSUI ALGUM TIPO DE ALERGIA?

RG

NOMES E TELEFONES PARA CONTATO

CRBIO

CTF-IBAMA