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poesia

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  • Gilberto Porto Lamaison

    O Tropeiro ainda vive

    Me disseram que tropeiro no existe mais

    Que restam apenas alguns velhos contadores de causo

    Mentira, o tropeiro ainda vive, ainda madruga longe de casa

    Ainda fervilha a brasa no negrume das cambonas

    E o caminho se resume, em tirar um mau costume de alguma mula redomona

    Tem um amigo em cada pouso, um verso pra cada ocasio

    dono de um corao que mal lhe cabe por dentro

    Por conta das lonjuras, traz saudades j maduras, e mal matadas no peito

    Aaahh... Saudade companheira

    Como se fosse um guaipeca, num gole de pura se aquieta e com qualquer tragada se exalta

    No vai com a tropa nem parcereia

    E por soqueando lgrimas vagueia do ponteiro, at o culatra

    Me disseram que tropeiro no existe mais

    Pois existe, e existe ainda os que do pouso pra os tropeiros

    Amigos, hospitaleiros, geralmente um velho vaqueiro que o deixa revirado numjeito

    E espeta uma ponta de peito, e oferece um vinho serrano

    Este, sabe com exatido de quem a tropa que veio ou que foi

    Tem na ponta da lngua o preo do boi, do muar, do porco, da ovelha...

    Sempre tem uma gua aporriada, pra desafiar a peonada em troco de uma botella

  • Tropeiro, ainda faz dos pelegos grandes catres improvisados

    Travesseiro do socado, e fronha do tirador

    E descansa o corpo cansado junto ao carnal colorado

    Do poncho, seu cobertor

    Ainda escuto o aboio, ainda vejo o alvoroo da indiada de pelo grosso

    Atirando n'gua uma tropa parelha

    Fazendo sem ter noo, o progresso da nao no estalo da aoiteira

    Meu bisav, meu av, e meu pai foram tropeiros

    Eu, por direito sou herdeiro dessa sina teatina

    Volta no tempo minha alma, cada vez que aperto a cincha da palavra pra apartar a uma rima

    Sou tropeiro de um novo tempo, mas tambm canto o aboio comprido

    Sei das picadas e seus perigos, da aoiteira fao melodias

    Encilho a memoria dos mais velhos, meu cavalo o verso sem mistrio

    E minha tropa, a poesia

    por isso que digo que o tropeiro cada vez mais altivo

    Continua vivo em cada letra que se atira do corao pra o papel

    E pra quem diz que o tropeiro se perdeu, eu retruco

    mentira!