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PENSANDO A INDISCIPLINA NO CONTEXTO ESCOLAR

Autor: Heliana Borges de Paiva

Orientador: Prof. Dr. Américo Agostinho Rodrigues Walger

Resumo

Este artigo procurou, com base em pesquisa teórica e de campo, analisar as causas e consequências da indisciplina escolar, perpassando pelas questões familiares, as relações professor-aluno e professor conhecimento, bem como a organização escolar e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Enfatizou-se a necessidade de pensar a escola na sua relação com a família e a comunidade em que está inserida.

Palavras-chave: Indisciplina, família, professor, escola-comunidade, ECA

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1. Introdução

A indisciplina escolar vem sendo motivo de preocupação e angústia de

toda comunidade escolar que parece estar desorientada e despreparada para a criança

e o adolescente da sociedade atual. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),

erroneamente interpretado pelo senso comum, acaba por disseminar a ideia de que aos

pais é proibido educar e impor limites à seus filhos. Os educadores não inovaram o

processo didático pedagógico que continua nos mesmos moldes de décadas passadas

e, somado a esses problemas, existe a questão do consumismo. Segundo Vasconcellos

(2010) "quem manda hoje na criança e no jovem não é tanto o pai, o político, o

professor, mas o mercado, materializado nas marcas, nas grifes da moda" (p. 31).

Desta forma, pode-se questionar quais são as causas da indiscplina na

escola? Há pais que transferem a responsabilidade de educar os filhos para a escola,

outros que são permissivos e acreditam que se impor limites e cobrar responsabilidade

dos filhos, poderão ser punidos por pensar que a Lei não os permite ensinar aos filhos a

ter responsabilidades, compromisso e limites. Além disso, muitos professores ainda

estão trabalhando com os mesmos recursos de alguns anos atrás. A tecnologia ainda é

um obstáculo ao trabalho docente. Poucos a utilizam para ensinar. Perdem com isso a

oportunidade de tornar suas aulas mais atraentes aos jovens que diariamente utilizam

estas ferramentas.

Outra situação importante é a do corpo discente que até duas décadas atrás

estavam excluídos da escola e hoje tem que frequentar a escola. Nesse sentido a

indisciplina “pode estar indicando o impacto do ingresso de um novo sujeito histórico,

com outras demandas e valores numa ordem arcaica e despreparada para absorvê-lo

plenamente” (Aquino,1996,p. 45).

Em decorrência desse saber não sabido, os alunos estão se mostrando

desinteressados, não participam das aulas, não fazem atividades, “matam” aulas e não

se apropriam dos conteúdos. Alunos que estão no ensino médio não dominam as

quatros operações matemáticas fundamentais e não interpretam textos, porém

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navegam pela internet e baixam conteúdos para os trabalhos solicitados pelos

professores.

Quais as possibilidades existentes para modificar esse quadro desolador e

angustiante que tem se mostrado aos educadores? Acredita-se que o investimento na

relação professor-aluno é fundamental uma vez que:

O lugar do professor é imediatamente relativo ao do aluno, e vice-versa. Isto significa que o que deve regular a relação é uma proposta de trabalho fundada intrinsecamente no conhecimento. Por meio dela, pode-se fundar e/ou resgatar a moralidade discente na medida em que o trabalho do conhecimento pressupõe a observância de regras, de semelhanças e diferenças, de regularidades e exceções (Aquino,1996, pp. 50,51)

Os questionamentos levantados nesse artigo são baseados nos acontecimentos

cotidianos enfrentados na escola e que após estudos teóricos e pesquisa de campo

ficou evidenciado que as questões de ordem disciplinar são resultados de um jogo de

“empurra-empurra" tanto no que se refere às responsabilidades dos pais na educação

de seus filhos, quanto o papel dos educadores que deveria ser o de realizar a

construção do conhecimento.

Nessa direção é que propomos desenvolver esse trabalho com base na pesquisa

de campo e nas literaturas pertinentes.

2. Cotidiano da escola

A (in)disciplina em sala de aula e na escola tem sido uma preocupação crescente

nos últimos anos entre os educadores. Pesquisas pedagógicas mostram o quanto se

perde tempo em sala de aula com questões de disciplina, em detrimento da interação

do aluno com o conhecimento e com a realidade (Vasconcellos, 2010,p.13).

Nesta direção figura a realidade vivenciada nas escolas, onde os professores

passam a maior parte de sua aula tentando trazer os alunos para a sala de aula,

organizar a turma e, quando conseguem tornar o ambiente apropriado para começar a

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passar os conteúdos preparados, acaba o tempo da aula. Os alunos, por sua vez, se

mostram desinteressados nos conteúdos preparados pelo professor, não têm limites,

ficam provocando uns aos outros, se ausentam da sala quando têm vontade,

parecendo sentir necessidade de estar constantemente desafiando todas as pessoas

que estão envolvidas na comunidade escolar (diretor, pedagogo, professor, inspetor de

alunos etc).

Portanto faz-se necessário uma análise e uma reflexão sócio-cultural sobre a

disciplina a fim de compreender e interpretar os diferentes comportamentos que muitas

vezes são confundidos como um ato indisciplinar. Observa-se muitas vezes que a

atitude de indisciplina não passa de manifestação de descontentamento e insatisfação

diante de uma situação que é alheia à sua realidade.

3. Conceito de disciplina

Segundo o dicionário Aurélio (1964), a definição de disciplina é “regime de ordem

imposta ou livremente consentida” e, disciplinamento é “ação ou efeito de

disciplinar”(p.946).

O dicionário Caldas Aulete(1980), por exemplo, registra no verbete disciplina

seis significados. Irei, porém, mencionar somente o sexto que é o que melhor define a

disciplina escolar: “conjunto de prescrições ou regras destinadas a manter a boa ordem

resultante da observância dessas prescrições e regras(...)”. (p. 1246).

Se entendemos que a educação é um processo de humanização e, para

humanizar, é necessário organizar, não parece possível ensinar em um ambiente em

que não existe acordos, regras, limites e respeito. E aqui pode residir uma das causas

da indisciplina na escola.

4. Descontentamento e insatisfação

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Percebe-se que existe uma insatisfação explícita e constante em nossas escolas,

tanto por parte dos alunos, quanto dos pais e educadores. A pergunta a ser feita é o

que está causando essa insatisfação e descontentamento?

Em nossa pesquisa de campo, pedimos aos alunos para imaginar uma escola

ideal e ouvimos as seguintes sugestões:

• Sala de informática para os alunos na qual os computadores funcionem;

• Professores mais educados e de bom humor;

• Novas metodologias de ensino;

• Escola mais organizada;

• Mais disciplina dos alunos;

• Promover palestras;

• Projetos esportivos;

• Criar mais regras.

Ficou evidenciado que os nossos alunos sabem o que querem e que não estão

satisfeitos com a escola da maneira que está posta. Eles também estão descontentes

com a organização da escola, com o professor, com a falta de disciplina e de regras. “O

que está ocorrendo é que tanto o professor, quanto a escola e a família não estão com

seus autogovernos definidos, ficando os alunos desorientados também”. (Vasconcellos,

2010, p.31).

Esta análise indica que os alunos esperam encontrar na escola um espaço com

ordem e limites. Um ambiente de aprendizagem pautado no respeito e na construção

coletiva das regras. Os alunos atuais não aceitam imposições sem questionar, ou seja,

as regras precisam estar pautadas em objetivos pré-estabelecidos e que venham ao

encontro dos interesses comuns. Não é mais possível impor regras prontas e acabadas

e sim construídas no coletivo da escola.

Essa dicotomia do aluno sentir falta de limites e ao mesmo tempo ser

indisciplinado, pode estar justificada na definição de Vascocellos (2010) que aponta que

está havendo na sociedade atual uma crise de sentidos e limites:

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Quer se superar o velho, mas não se sabe bem como é o novo (...) há crise de autoridade em nível social, mudanças no sistema de valores. Constatamos que as agências produtoras dos sentidos ( partidos, igreja, família, escola e ciência) estão em crise. É a crise da disciplina no contexto da pós-modernidade. (p.30)

Acredita-se que por ser a escola um espaço onde as diferentes classes sociais

estão sendo obrigadas a conviver e, consequentemente, socializar as suas diferenças

em um espaço restrito e com profissionais despreparados para lidar com essas

adversidades (as universidades e outras instituições de ensino não estão preparadas

ou estão engatinhando, no sentido de formar profissionais que estejam preparados para

lidar com tantas diferenças)¹ é o que parece indicar ser uma das causas que

Vasconcellos chamou de crise de autoridade.

Khouri² ao analisar as questões de ordem disciplinar escolar, aponta situações

que acreditamos ser uma realidade vivenciada em todas as escolas:

Contudo, Makarenko afirma que não é possível haver aprendizagem em um

ambiente de desordem e sem regras e que a criança e o adolescente tem que entender

que estudar significa esforço, trabalho, dedicação e disciplina. Mas essa disciplina não

pode ser imposta, ela deve ser construida no coletivo da escola onde os alunos sintam,

também, responsáveis pela sua organização. (...) “ a disciplina não se cria com algumas

medidas disciplinares, mas com todo o sistema educativo, com a organização de toda a

vida, com a soma de todas as influências que atuam sobre a criança" (Makarenko,

1978).

O que percebemos nesse sentido e, mais especificamente, no caso do inspetor

de alunos, é que foi delegado a esses profissionais autonomia de cuidar da disciplina

do aluno fora da sala de aula. Ocorre que no Estado do Paraná não existe essa função

no quadro dos funcionários. Assim acaba sendo designado para a função um

funcionário dos serviços gerais, pois existe o fato de que as nossas escolas não estão

acostumadas a planejar suas ações e decisões no coletivo e, consequentemente, a

escola acaba tornando-se um espaço onde todos tem “poder” mas ninguém se entende,

cada um fala a sua lingua e faz suas regras:

Na disciplina os elementos são intercambiáveis, pois cada um se define pelo lugar que se ocupa na série, e pela distância que os separa dos outros. A unidade não é portanto nem o território (unidade de dominação), nem o local

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( unidade de residência), mas a posição na fila: o lugar que alguém ocupa numa classificação, o ponto em que se cruzam uma linha e uma coluna, o intervalo numa série de intervalos que se pode percorrer sucessivamente. A disciplina, arte de se dispor em fila, e da técnica para a transformações dos arranjos. Ela individualiza os corpos por uma localização que não os implata, mas os distribui e os faz circular numa rede de relações (Foucault, 2010,p.140 e 150).

5. A atuação dos pais junto aos filhos e à escola

É comum ouvir a seguinte afirmação dos pais: “dou tudo que o meu filho pede,

até o que não posso, mas... faço um sacrifício e acabo comprando o que ele quer e não

adianta... ele não me obedece”.

Makarenko (2002) tem o seguinte pensamento sobre a afirmação supra-citada:

Esse é o presente mais horrível que os pais podem dar aos seus filhos. É um presente tão monstruoso que, se quiserem envenenar a vida de seus filhos, recomendamos que lhes dêem em grande dose a sua própria felicidade e os envenenarão (2002,p.356).

Percebe-se que grande parte dos pais perderam a sua autoridade perante os

filhos. Na reunião de pais, em nossa pesquisa de campo, perguntamos a eles quais

eram as maiores dificuldades que encontravam para educar os seus filhos? As

respostas foram:

• Que os filhos não obedecem;

• Não ajudam em casa;

• Só querem ficar assistindo televisão e/ou computador;

• Tudo o que vê, quer comprar;

• Que hoje não pode ensinar as crianças a trabalhar;

• Tem pouco tempo para ficar com os filhos, porque tem que trabalhar.

Tudo indica que a questão da indisciplina não está ocorrendo só na escola.

Assim como os professores, os pais também parecem estar sem saber o que fazer.

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Existem várias explicações para essa “crise de autoridade” na sociedade atual

( vide os estudos Vasconcellos, Makarenko, Foucault, Guirado, Aquino, Tiba, entre

outros). Gostaria de observar, porém, quatro aspectos que consideramos importantes e

que pode justificar o desabafo dos pais e o comportamento das crianças e dos jovens

de hoje. São eles:

1 - A educação dos filhos nos mesmos moldes em que os pais foram educados;

2 - A mãe que divide suas tarefas entre educar seus filhos e seu trabalho;

3 – Consumismo;

4 - Interpretação equivocada do ECA.

5.1 Os pais de ontem e os pais de hoje

Tudo indica que os pais contemporâneos também não estão conseguindo

acompanhar essas transformações que estão acontecendo em nossa sociedade. Tudo

está se desenvolvendo muito rápido, nossas crianças têm acesso à varias informações

que eles possuem hoje. Antes, o que os pais diziam era verdade e os filhos aceitavam

passivamente, sem questionar. Assim como alguns professores, os pais ainda seguem

o mesmo modelo de educação que receberam no seu desenvolvimento:

Assim, o que valia na educação dos pais tem que ser atualizado para os filhos. Não se consertam programas de computadores com prego e martelo, como não se prende o filho mais no quarto de castigo, tampouco os pais podem responder “ porque é assim e pronto!” ou mesmo “ porque eu quero e chega” e muito menos “porque quem manda aqui sou eu!” (Tiba,2007,p.36).

Parece que “a família não está cumprindo sua tarefa de fazer a iniciação

civilizatória: estabelecer limites e desenvolver hábitos básicos (...)” ( Vasconcellos,

2010, p.26). Não estamos falando da disciplina apontada por Foucault - como uma

forma de dominação do indivíduo, através de punições do corpo e da alma - mas sim de

princípios básicos para o homem viver e conviver em sociedade.

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Nuco e Lerner(1996) encontraram uma forte influência da figura paterna na

inibição de comportamentos antissociais e de uso de drogas. Os autores verificaram

que em famílias cujos pais eram presentes e forneciam modelos morais adequados,

criando condições para que seus filhos exercitassem vários tipos de comportamentos

morais- como honestidade, generosidade, justiça, etc., não foram encontrados filhos

usuários de drogas e com comportamentos antissociais. O mesmo efeito não foi

encontrado quando as mães apresentavam esses atributos. Aparentemente a mulher

assumiu as funções de cuidadora e provedora, porém ainda não adquiriu o status de

referêncial moral para a sociedade.

5.2 Mães que dividem suas tarefas entre educar seus filhos e a sua profissão.

Para Souza (1997), a família atual encontra-se oscilante, pois ora utiliza o

pressuposto hierarquizado, ora assume o modelo igualitário. Em geral a coexistência

desses modelos invariavelmente vem confirmando uma inconsistente e ineficaz

funcionalidade educacional quanto ao estabelecimento de limites às crianças. A

ambiguidade suscitada pela pré-existência de relações familiares verticais e horizontais

excessivamente opostas parece ter-se radicalizado no tocante ao enfraquecimento da

figura de autoridade na sociedade contemporânea. Observa-se o surgimento e a

manutenção de inversão de papéis, o que torna provável que os filhos, desde a

infância, desconheçam a frustração estruturante que deveria ser exercida pelas figuras

paternais. As transformações sócio-históricas afetam consideravelmente a dinâmica e a

funcionalidade familiar.

Essa oscilação de modelos familiares pode ser decorrentes de várias

transformações que a sociedade sofreu ao longo da História, mas atendendo ao nosso

tema do artigo, vamos citar a questão da mulher no mercado de trabalho que parece

ser uma das causas dessa ambiguidade. Parece que a inserção da mulher no mercado

de trabalho acabou por trazer à mãe uma constante insatisfação, uma sensação de

culpa por estar pouco presente na vida de seus filhos e, como uma forma de redimir-se

de sua culpa perante os filhos, acabam recompensando-os com sua permissividade,

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dando aos filhos tudo o que desejam e, consequentemente, não acabam estabelecendo

limites e as regras acabam sendo abolidas da formação da criança e como

consequência há um prejuízo do seu desenvolvimento emocional, cognitivo, motor e

neurológico.

5.3 Consumismo

Adorno (1985), faz a seguinte análise das pesquisas de consumo:

Reduzidos a um simples material estatístico, os consumidores são distribuídos nos mapas dos institutos de pesquisa (que não se distingue mais dos de propaganda) em grupos de rendimentos assinalados por zonas vermelhas, verdes e Azuis. O esquematismo do procedimento mostra-se no fato de que os produtos mecanicamente diferenciados acabam por se revelar sempre como a mesma coisa (p.102).

Com efeito, a efetivação do poder de massificação que a mídia exerce sobre as

pessoas, as levam a consumir sempre mais e mais. E para atender essa “necessidade”

sem limites (muitas vezes compram produtos que não necessitam e/ou que já

possuíam, mas um novo lançamento as faz sucumbir aos apelos da mídia), os pais

precisam trabalhar mais, passam mais tempo fora de casa e longe de seus filhos, não

tem tempo para conversar e acompanhar a formação dos mesmos e acabam optando

por comprar televisor, computador e videogame para o quarto dos filhos e a família

passa a ficar cada um no seu espaço, distanciando cada vez mais um dos outros. Na

classe pobre o mesmo acontece, os pais tem que trabalhar mais para comprar a roupa

e o tênis de marca que o coleguinha da escola usa.

Acostumados a ter tudo o que querem, na hora que querem e à falsa idéia de

que tudo tem que ser prazeroso, os pais deixararam de cumprir o seu papel moral e a

escola também deixou de passar conhecimentos específicos, passando a ser mais

permissiva e menos exigente com os alunos em assumir compromissos e

responsabilidades necessárias para a sua formação. Muitas vezes o conhecimento é

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banalisado. “Não é possível acreditar que todas as atividades de instrução e educação

desenvolvidas se baseiem apenas no interesse da criança” (Makarenko, 2002, p.159)

5.4 Interpretação equivocada do ECA

Constantemente somos surpreendidos com notícias de abusos contra a criança e

o adolescente. O ECA, no entanto, contempla todas as possibilidades de proteção

integral à infância e a juventude desde 1990, quando foi criado pela Lei 8.069/90.

Portanto, tudo indica que este Estatuto, embora seja referência mundial, ainda não foi

compreendido em sua legitimidade e fundamentos:

(...) formulação de políticas de atendimentos desta àrea vital, onde se estabelece a interface entre a uestão social, a cidadania e aprópria segurança pública, a conclusão óbvia que a própria segurança pública, inobstante seja fundamental e decisiva, somente se faz eficiente, em verdade não prescinde, se existir uma política pública de Estado, com diretrizes determinadas, fixando papéis e os espaços a serem cumpridos e ocupados por cada um. (SARAIVA,2005, p.10).

Entendemos que existe um grande abismo entre os fundamentos da lei e a sua

legitimidade. Isto parece justificado na postura dos membros dos Conselhos Tutelares

que, por mais improvável que pareça ser, interpretaram a Lei de maneira deturpada e,

como consequência,disseminam para a sociedade civil a ideia de que as crianças e os

adolescentes só têm direitos e não deveres. Os limites, as responsabilidades e o

compromisso, conceitos fundamentais para a formação do ser humano integral,

passaram a ser problemas tanto para a escola quanto aos pais, porque “não é mais

permitido” estabelecer estes princípios junto à criança e ao adolescente sob o risco de

sermos penalizados pela Lei.

Ao nosso ver, em cada município deveria existir, ao menos, um membro do

Conselho Tutelar que tivesse formação em Direito a fim de interpretar o ECA na sua

essência e, juntamente com o Conselho Municipal da Criança e do Adolescente

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(CMDCA), estabelecesse parcerias para o esclarecimento da Lei junto aos segmentos

da sociedade.

É comum assistirmos atitudes arbitrárias praticadas por Conselheiros Tutelares

que ora excedem em sua autoridade, ora fazem vistas grossas diante de situações que

mereceriam maior rigor da Lei. Um exemplo disso é que parece ser mais “natural” a Lei

ser aplicada aos menores infratores, visto que estes fazem parte de uma família de

poucas posses.

Ao que tudo indica, o Conselho Tutelar tem que se estruturar, há que se repensar

a sua composição e rever os critérios para a composição dos membros conselheiros e

sua forma de atuação tanto ao nível de sua própria constituição, quanto ao

esclarecimento do ECA. Não é a Lei que foi mal formulada, mas sua interpretação e a

atuação dos responsáveis pela sua legitimação que a deturpou. O que foi criado para

combater os abusos que as crianças e os adolescentes eram vítimadas, continuam

fazendo-as vítimas. Só que agora de outra maneira. Da forma que está sendo

interpretado, é negado à eles o acesso aos princípios básicos para a formação de um

indivíduo pleno , capaz de viver em sociedade, atuar e transformá-la. Estamos negando

o direito de aprender com seus pais a trabalhar, a ter limites, compromissos e

responsabilidades. O Art.4º do ECA descreve:

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à saúde, à alimentação,à educação, ao esporte, à lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e a convivência familiar e comunitária.(2008, p.16).

Contudo, nos relatos dos pais, está evidenciado que foi passado à eles a

informação de que não podem mais exigir de seus filhos que façam tarefas básicas

como as atividades da vida diária como arrumar suas camas, lavar louça, limpar quintal,

etc., ou seja, as tarefas da casa. Está claro que esta má interpretação do ECA está

negando às crianças e aos adolescentes o direito que o artigo acima lhe assegura.

Outro Artigo que também vale ser mencionado é o 6º, que diz:

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Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento. (2008,p18).

Nesse artigo do ECA, está contido o direito que as nossas crianças e

adolescentes vêm sendo privados, ou seja, o direito de serem preparados para a vida

na coletividade. Mas como viver em grupo se a elas não estão sendo passados os

princípios fundamentais de convivência e respeito? Como afirma Pimenta (2010),

devemos entender que a educação é um processo de humanização, isto é, um

processo em que os seres humanos organizam intencionalmente para, em relação uns

aos outros, se apropriarem dos avanços civilizatórios em benefício da coletividade

humana.

Dessa maneira, nossas crianças estão sendo tolhidas do seu direito de conviver

em sociedade.

6. A relação professor-aluno e professor conhecimento

6.1 Relação professor-aluno

Segundo Vasconcellos “o professor anda confuso com tudo que vem

acontecendo com ele, com a escola e a sociedade. Há uma profunda mudança na

relação escola–sociedade e parece que não nos demos conta suficiente disto” (2010,

p.27).

O fato de a escola estar recebendo alunos das diversas classes sociais e de

diversas estrututas sociais, portanto pessoas com as mais variadas realidades tais

como família com diferentes estruturas, pais desempregados, alcoólatras, crianças que

convivem com a prostituição, não significa que essas crianças não são capazes de

aprender e a conviver socialmente. Parece que está ocorrendo no interior da escola

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uma espécie de “...medo perante a diversidade humana, a incapacidade de construir

um todo equilibrado na base das diferenças.” (Makarenko, 2002, p.274).

Constatamos em nossa pesquisa de campo que os alunos, na sua maioria,

perguntavam se poderiam ser trocados alguns professores, pois eles chegavam na

escola de mau humor e não explicavam a matéria e quando questionados, tratavam mal

e falavam vários adjetivos que diminuíam os alunos e as aulas eram sempre as

mesmas, cansativas e sem graça.

Para Aquino (1996) “(...) a escola possível está no coração mesmo da relação

professor-aluno, isto é, nos nossos vínculos cotidianos e, principalmente, na maneira

como nos posicionamos perante o nosso outro complementar...” (p.50). Parece que

está faltando a nós, professores, mudarmos nossa postura, a nossa didática e a nossa

prática de ensino, bem como a forma com que tratamos o nosso aluno. Se queremos

construir uma postura democrática em nossos alunos, temos que rever as nossas

ações que continuam sendo de coação e repressão . Um ambiente de respeito e de

princípios tem que partir do tratamento que a escola e, principalmente, o professor,

dispensa ao aluno. Segundo Vasconcellos:

O professor precisa exercer sua autoridade nos domínios:Intelectual - Ser capaz de refletir, não ser dogmático, nem fechado; ser capaz de rever os pontos de vista; demonstrar inteligência no trato com a realidade, apeender seu movimento, ir além do senso comum;Ético - ter princípios, estabelecer paâmetros e ser coerente; revelar senso de justiça; apresentar traços de firmeza de caráter, ter compromisso com o bem comum;Profissional - Ser competente; ter domínio da matéria e da metodolofia de trabalho; empregar com segurança os conitos e técnicas; ser interessado; demonstrar ânimo no que faz; preparar muito bem suas aulas; estar atualizado;Humano - Ser capaz de perceber e respeitar o outro como pessoa( 2010,P.54 e 55).

Portanto, se queremos disciplina, é necessário que os alunos participem dessa

construção, que professor e aluno elaborem as normas e regras de convivência, de

trabalho e das responsabilidades que não são só do aluno, mas também do professor.

Este deve manter o compromisso de ter uma postura de respeito com as diferenças,

com o tratamento dispensado ao aluno na convivência diária e com o conhecimento

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históricamente elaborado. Conhecer e trabalhar a realidade dos alunos, não significa

dizer que temos que partir de cada sujeito.

Gramsci (1968) estava convencido de que a tarefa fundamental da escola é a de

promover o desenvolvimento afetivo do aluno, na medida em que deve formá-lo o mais

completamente possível. Essa tarefa precípua da escola não se realiza através da

brincadeira, do divertimento e do ensino facilitado. Ao contrário, exige disciplina e a

escola deve habituar o aluno a trabalhar com disciplina e seriedade. Isto porque deve-

se convencer a muita gente que o estudo é também um trabalho, e muito fatigante, com

um tirocínio particular, próprio, não só muscular-nervoso mas intelectual: é um processo

de adaptação, é um hábito adquirido com esforço, aborrecimento e mesmo sofrimento.

6.2 Relação professor- conhecimento

“Se o professor pautar os parâmetros relacionais no seu campo de

conhecimento, ele certamente será capaz de (re)inventar a moralidade discente”

(Aquino, 1996, p. 51). Há fortes indícios de que o professor, na ânsia de entender esse

novo alunado, passou a banalizar o conhecimento em detrimento da “crescente

psicologização do cotidiano escolar” (Lajonquiére, 1996, p.27), ou seja, passou a

preocupar-se mais com a subjetividade de cada aluno do que com o conhecimento, a

oferecer momentos de lazer. Criou-se uma impressão de que a escola tem que ser um

espaço de constante busca de realizações subjetivas, esquecendo sua principal função

que é a busca e a transmissão do conhecimento.

Outra questão, não menos importante, é a do preparo do professor. Acredito que

a profissão de nível superior mais acessível à classe trabalhadora é a do professor. As

faculdades de licenciatura oferecem um preço mais atraente e a educação a distância

(EaD). Estão oferecendo maior oportunidade à classe trabalhadora em ter acesso ao

nível superior. Ocorre que, nem todos os professores graduados sentem prazer no que

estão fazendo, acabam lecionando porque essa foi a melhor oportunidade de trabalho

que lhe apareceu e, como consequência, são professores descomprometidos com a

educação. Suas aulas são nos mesmos moldes de sua época de estudante (quadro

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negro e giz), só participam das atividades extra-classe quando são convocados. Parece

que (...) “há uma política definida visando embrutecer o povo, mantê-lo intelectualmente

pobre, ignorante, não só do saber sistematizado, mas da percepção de quem é ele

enquanto classe e enquanto sujeito histórico e cidadão” (Arroyo,1987, p.18).

Porém, se faz necessário enfatizar que existem muitos professores

comprometidos com a educação.

A escola não pode se confundir com um caos anárquico, onde cada um faz o que quer e vive ao seu bel-prazer. Ao contrário, o papel da escola é exigir o máximo possível do aluno e, ao mesmo tempo, distingui-lo com o maior respeito possível. O professor deve pautar suas ações na construção do conhecimento sólido, no respeito pelo aluno social, com história de vida em uma sociedade histórica e, não individual, olhar a criança e o adolescente como sujeitos da produção do saber e, portanto, capazes de construir junto com o coletivo da escola, uma instituição verdadeiramente democrática, onde possa participar das decisões e atuar de forma consciente, superando as ideologias e a pedagogia hegemônica que Lajonquiére enfatiza como uma das causas da indisciplina escolar.

Segundo Arroyo (1987):

(...) a qualidade relativa da escola é reforçada pela qualidade humana e social de suas condições materiais de existência (...) mas educando o educador por excelência, as estruturas circunstanciais, as estruturas, as relações sociais. É esse educador que precisa ser educado (p. 18).

Outra situação existente nas escolas é a interpretação de que a Educação

Dialética-Libertadora pedia que o professor tivesse uma postura mais permissiva e

menos exigente. Com esse “engano” o professor passou a ser extremamente

permissivo, pouco se cobra do aluno, as avaliações passaram a ser uma somatória de

atividades sem se preocupar com a apropriação do conhecimento. O importante é o

aluno fazer as atividades que, por sua vez possuem um valor e se completadas todas

as atividades, o aluno atinge a nota para passar de ano. Com isso, o professor acaba

por “cumprir” as exigencias da proposta pedagógica e não corre o risco de ter

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problemas com a reprovação, eximindo-se da culpa. Vasconcellos (2010) aponta que

essas proposições enganosas contrariam a Educação Dialética-Libertadora que propõe:

Um ensino extremamente exigente: o sugeito tem que ser muito competente para colaborar na transformação da realidade; mas ao mesmo tempo,Um ensino extremamente inteligente: uma educação que estje baseada em princípios científicos, na compreensão da estrutura do conhecimento e do processo de desenvolvimento do educando. O que tem que ser exigente são as aulas e não, separadamente, as normas ou as avaliações! (p.55).

7. O envolvimento da comunidade escolar na organização da proposta escolar

A escola ainda não conseguiu superar a ideia de que não é a única detentora do conhecimento. Existe uma

grande resistência, por parte dos outros segmentos da comunidade escolar em atuar junto ao processo de construção

do Projeto Político Pedagógico e na tomada de decisões que compete aos segmentos próprios compostos no interior

da escola como o Conselho de Escola, APMFs e Grêmio Estudantil. A justificativa mais comum que se ouve é a de

que esses segmentos não se sentem preparados e não possuem conhecimentos suficientes para interferir no processo

de organização escolar, deixando a responsabilidade aos professores e gestores.

Todas as pessoas envolvidas no coletivo da escola são importantes e suas posturas e ações são partes

determinantes na construção de um processo democrático que só é possível se todos participarem das ações e

propostas planejadas com objetivos pré-estabelecidos. Makarenko defende a educação dos movimentos livres, dando

a cada educando a graciosidade de ser o que é, cada um com suas particularidades e seguro de si mesmo em suas

qualidades. (In:Luedemann, 2002, p.327)

Contudo, o que parece determinante na questão da disciplina é o envolvimento dos pais e a sua

conscientização de que a escola, sozinha, não dará conta de todas as atribuições que lhes são atribuídas, pois “... há

uma tendência de atribuir à escola funções que antes eram inerentes à família” (Vasconcellos, 2010, p.79). Se a

escola está convivendo com essa nova realidade, então, se faz necessário que os pais estejam mais presentes e

tenham conhecimento tanto das propostas pedagógicas quanto da elaboração das normas e regras de convivência,

assim como também das decisões que deverão ser tomadas para que sejam asseguradas as aplicações das sanções,

quando necessárias. Outro aspecto importante é que a escola e os pais falem a mesma linguagem e tenham a mesma

postura de cobrar responsabilidades, compromissos e limites. Não é possível superar a indisciplina com os pais

assumindo uma postura e a escola outra.

Portanto cabe a escola:

Lembrar e se fazer lembrar em alto e bom tom, aos seus alunos e sociedade, como um todo, que a sua finalidade principal é a preparação para o exercício da cidadania. E, para ser cidadão, são necessários sólidos conhecimentos, memória, respeito pelo espaço público, um conjunto mínimo de normas interpessoais, e diálogos francos entre olhares

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éticos. (La Taille, In: Aquino,1996, p.23).

A pergunta que devemos sempre fazer no coletivo da escola é:

Qual deve ser a independência e qual a liberdade que se deve conceder à criança? Em que medida há que “levá-la pela mão”? Até que ponto e o que pode ser permitido? O que deve ser proibido e o que pode ser deixado ao seu livre arbítrio?( IN:Makarenko, 2002, p.337)

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8. Conclusão

Esse artigo buscou abordar as causas e consequências das questões

disciplinares no interior das escolas públicas que vêm sendo motivo de preocupação

dos educadores. Muitos professores acreditam que a indisciplina é decorrente da falta

de limites que os pais não estabelecem aos filhos e a responsabilidade de educar é da

família e não da escola. Portanto, ficou evidenciado que a disciplina é responsabilidade

de todos os envolvidos no processo de formação da criança e do adolescente, uma vez

que a indisciplina nada mais é do que uma manifestação de descontentamento diante

da situação que está posta. Isto cabe tanto aos pais quanto à escola que devem

construir metas e objetivos pré-estabelecidos no coletivo da escola com o

comprometimento de todos na construção do processo ensino-aprendizagem e na

formação do indivíduo social. Contudo, há de ressaltar que existe uma preocupação

que deve ser analisada com urgência que é a de formação de professores que estão

saindo das instituições sem preparo para esse novo aluno que está posto.

1. Prova disso é a questão da inclusão, em que foram criadas leis, mas esqueceu-se de preparar os profissionais. Resultado, temos várias crianças “incluídas” no sistema de ensino. No entanto, estão muito longe de alcançar o seu espaço. Parece que só o professor, mesmo que despreparado, tem o dever de dar conta da inclusão. Não existe nas escolas nenhum profissional técnico, nem para fazer a avaliação e muito menos para diagnosticar a deficiência do aluno.

2. Khouri (1989) em seu texto disciplina X antidisciplina faz uma analogia das questões disciplinares usando como referência a obra de Foucault, em seu livro Vigiar e punir.

(...) diretores, professores, inspetores de alunos (...) recebem delegação de poder e complementa-se na tarefa de vigilância, de denuncias de irregularidades e até mesmo de atuação face à elas. (p.42).

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