patologia do sono

Upload: ze-cunha-coutinho

Post on 10-Jan-2016

19 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Aula sobre patlogia do sono.

TRANSCRIPT

  • Pgina 1 de 35

    Temas da Aula

    Introduo 2

    O Sono e Suas Funes 3

    Sono 3

    Funes do Sono 4

    Caractersticas de um Sono Saudvel 5

    Diagnstico das Perturbaes do Sono 7

    Histria Clnica 7

    Exame Objectivo 9

    Exames Complementares de Diagnstico 10

    Algumas Perturbaes do Sono 11

    Insnia 11

    Sindroma de Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) 14

    Narcolepsia 18

    Terrores Nocturnos 20

    Distrbio dos Movimentos Peridicos dos Membros (PLMD) 21

    Sindroma das Pernas Inquietas 22

    Bruxismo 23

    Sonambulismo 24

    Parassnias do Sono Paradoxal (REM) 25

    Doenas Circadirias 26

    Sonolncia Diurna Excessiva (SDE) 29

    CASOS CLNICOS 31

    Caso Clnico I 31

    Caso Clnico II 33

    Caso Clnico III 34

    Bibliografia

    Anotada correspondente de 2006/2007, Sara Patrocnio

    Ferro J., Pimentel J. Neurologia, Princpios, Diagnstico e Tratamento. Lidel

    Anotadas do 4 Ano 2007/08 Data: 12 de Novembro de 2007

    Disciplina: Neurologia Prof.: Carla Bentes

    Tema do Seminrio: Patologia do Sono

    Autores: Catarina Figueiras

    Equipa Revisora: Carlos Vila Nova e Pedro Freitas

  • Patologia do Sono

    Pgina 2 de 35

    Introduo

    As patologias do sono so, de facto, importantes a ter em conta uma vez que:

    1/3 da populao ter uma perturbao do sono durante a vida;

    1/3 dos adultos esto em privao de sono as pessoas esto a dormir

    cada vez menos;

    1/5 dos adultos tm insnia crnica;

    1/3 dos doentes que recorrem ao mdico tm insnia, no entanto,

    improvvel que o motivo da consulta seja a patologia do sono.

    Foram realizados diversos estudos que confirmam a correlao entre a

    patologia do sono e o aumento de:

    Risco cardiovascular e de morte a privao do sono aumenta a presso

    arterial e dormir mal aumenta este risco nos dez anos seguintes;

    Risco de obesidade/sindroma metablico a privao do sono aumenta o

    cortisol, reduz a leptina e aumenta o risco de Diabetes; o SAOS1 aumenta a

    resistncia insulina e o risco de diabetes independente da obesidade;

    Risco neurocognitivo a fragmentao e privao do sono diminuem o

    desempenho psicomotor; em vrios testes, provocam lapsos de ateno e

    dificuldade de concentrao, aumentam o tempo de reaco, originam

    sensao de fadiga, mau humor, irritabilidade e confuso, diminuindo a

    memria para eventos recentes;

    Risco psicolgico e sobre a qualidade de vida a insnia crnica e a

    privao de sono aumentam o risco de depresso/ansiedade/suicdio,

    diminuem a capacidade de trabalho por fadiga e sonolncia, reduzem a

    qualidade de vida e aumentam o consumo dos recursos de sade;

    Risco de acidentes 27% dos acidentes (que causam 83% das mortes) so

    por sonolncia ou perda de conhecimento, sendo este risco maior quando

    associado a consumo de lcool.

    Constata-se que a patologia do sono pode causar doenas sistmicas

    (depresso, HTA, diabetes, obesidade, sindroma metablico, doena

    cardiovascular), as quais, por sua vez, podem ser causadoras de patologia do sono.

    1 SAOS Sindroma de Apneia Obstrutiva Crnica

  • Patologia do Sono

    Pgina 3 de 35

    O Sono e Suas Funes

    SONO

    O sono designado por um estado de imobilidade parcial, durante o qual se

    est parcialmente desconectado do ambiente circundante. caracterizado

    objectivamente com base em critrios comportamentais e neurofisiolgicos:

    a) Critrios Comportamentais:

    Mobilidade nula ou ligeiras;

    Olhos fechados;

    Resposta reduzida a estmulos exteriores;

    Posio caracterstica;

    Reversibilidade.

    b) Critrios Neurofisiolgicos:

    Electroencefalograma (EEG);

    Electrooculograma (EOG);

    Electromiograma (EMG).

    O sono depende tambm de diversos parmetros que variam ao longo das

    suas diferentes fases. Estes parmetros variveis so:

    Estado de conscincia;

    Funes cognitivas;

    Actividade elctrica cerebral;

    Movimentos oculares;

    Movimentos e posio do corpo;

    Actividade cardiovascular;

    Actividade respiratria;

    Temperatura.

    As fases do sono tambm

    variam. As crianas tm mais sono

    lento profundo, havendo diminuio

    significativa das fases 3/4 do NREM

    na adolescncia e no idoso. Pelo

    contrrio, os episdios de viglia e a

    fase 1 aumentam com a idade.

    Viglia Sono NREM

    Sono REM

    EEG Rpido Lento Rpido EMG ++ + 0 EOG ++ +/- +++ Pulso ++ + varivel

    Respirao | | | varivel Temperatura ++ - varivel Pensamento ++ - sonhos

  • Patologia do Sono

    Pgina 4 de 35

    FUNES DO SONO

    Embora no se saiba ainda muito bem quais so as funes do sono, existem

    algumas hipteses colocadas a este respeito:

    Conservao de energia e activao dos processos anablicos

    2/3 da secreo diria de HCl ocorre durante o sono;

    Uma maior durao de NREM melhora o prognstico das infeces

    bacterianas;

    A privao do sono pode suprimir o sistema imunitrio.

    Termorregulao cerebral

    Controlo homeosttico da temperatura do crebro

    Desenvolvimento cerebral

    Durante o sono REM, existe uma grande actividade neuronal, sendo

    provvel que esta influencie o desenvolvimento sinptico;

    O REM poder facilitar o desenvolvimento das redes neuronais.

    Plasticidade cerebral

    Processamento de traos mnsicos:

    Sono NREM Formao de memrias (reactivao circuitos hipocampo-

    neocorticais formados durante a aprendizagem em viglia);

    Sono REM Consolidao das novas memrias.

    Aumento da temperatura corporal Sono NREM

    Diminuio da utilizao de energia e metabolismo cerebral

  • Patologia do Sono

    Pgina 5 de 35

    Caractersticas de um Sono Saudvel

    Sono REM

    O despertar (com estmulos poucos

    significativos) tem um alto limiar

    Sono NREM

    Fase 1

    Fase 2

    Fase 3

    Fase 4

    Durante o sono, h trs estados funcionais: viglia, sono lento (NREM

    dividido em quatro fases2) e sono paradoxal (REM), os quais alternam com

    regularidade em episdios sucessivos que duram cerca de 90 minutos (os ciclos de

    sono). Em cada noite, realizam-se entre quatro a seis ciclos de sono (6,5 a 8,5h).

    Assim, em cada ciclo h uma alternncia entre a progresso para o sono mais

    profundo e mais superficial, que eventualmente terminar num despertar transitrio.

    O sono lento, que compreende a 80% do sono, ocorre predominantemente no

    1/3 inicial da noite (a maior parte do tempo, na fase 2), sendo que as patologias do

    sono NREM, como, por exemplo, o sonambulismo, ocorrero principalmente na

    parte inicial do sono. As crianas sofrem mais de sonambulismo, devido ao facto que

    terem mais sono lento profundo.

    2 No Vero deste ano (2007), deixou-se de considerar a fase 4, sendo o sono no REM composto por

    trs fases. A fase 3 e 4 foram uniformizadas, sendo denominada de sono lento profundo.

    1 2

    3 4

    REM Viglia

    CICLO DO SONO

    Aumento do limiar para o despertar

    Sono Lento Profundo

    Fig. 1 - Hipnografia Representao grfica da evoluo das fases do sono ao longo de uma noite de sono.

  • Patologia do Sono

    Pgina 6 de 35

    O sono REM, que corresponde a 20% do sono, ocorre predominantemente na

    parte final do sono, sendo que o distrbio do comportamento associado ao sono

    REM (patologia em que h perda da atonia muscular) se ir manifestar

    principalmente algum tempo antes do doente acordar.

    As caractersticas do sono evoluem com a idade, nomeadamente a

    organizao circadiria do sono, o tempo total de sono e os parmetros e fases do

    sono.

    3 O recm-nascido dorme vrias vezes ao dia.

    4 Refere-se a um episdio nocturno e sesta.

    Fragmentao do sono consoante a idade

    Recm-nascido Sono Polifsico3

    Criana com 2 anos Sono Bifsico4

    Criana em idade escolar Sono Monofsico

    Adulto Sono Monofsico

    Idoso Sono Bi ou Polifsico

    Relao entre o nmero de horas de sono e a idade

    Recm-nascido 16-18 horas

    Beb com 6 meses 14-15 horas

    Criana com 3-4 anos 12 horas

    Criana com 10-12 anos 10 horas

    Adolescentes 8-9 horas

    Adultos 7-8 horas

    Idosos 5-6 horas

    NREM

    REM

    FASE 1

    FASE 2

    FASE 3

    FASE 4 80%

    20%

    Com a progresso da idade, h tendncia para acordar e adormecer mais cedo.

    Com a progresso da idade, o nmero de horas que se dorme diminui.

  • Patologia do Sono

    Pgina 7 de 35

    Diagnstico das Perturbaes do Sono

    O diagnstico das perturbaes do sono realizado com base na Histria

    Clnica, no Exame Objectivo e nos Meios Complementares de Diagnstico.

    HISTRIA CLNICA

    necessrio ter em conta diversos aspectos, tais como:

    Idade de incio/durao da sintomatologia;

    Sintomas referidos pelo doente;

    Sintomas referidos pelo companheiro;

    Actividades dirias mais perturbadas (ex.: conduo, actividades

    profissionais, sociais ou de lazer).

    Os sintomas referidos pelo doente podem ocorrer em diferentes fases do dia:

    Ao adormecer insnia, estices, alucinaes;

    Durante a noite insnia, formigueiros, dores, estices, cefaleias,

    nictria, falta de ar;

    Ao despertar cefaleias, estices, boca seca, cansao, mordedura da

    lngua, alucinaes, paralisia do sono;

    Durante o dia sonolncia, cansao, cefaleias, dificuldades de ateno e

    concentrao, alteraes de memria ou de humor.

    Os sintomas referidos pelo companheiro/familiar podem complementar as

    queixas j mencionadas pelo doente, na medida em que retratam o comportamento

    deste enquanto dorme.

    Exemplos destes sintomas so: ressonar, parar de respirar, dar pontaps,

    ranger os dentes ou fazer outros rudos, falar, andar, fazer coisas sem sentido e

    agresso fsica.

  • Patologia do Sono

    Pgina 8 de 35

    importante tambm averiguar a existncia de sintomas de narcolepsia,

    nomeadamente:

    Cataplexia perda do tnus muscular em situaes emocionais intensas,

    tais como o riso;

    Paralisia do sono incapacidade de se mexer estando acordado (no

    incio do sono ou ao acordar);

    Alucinaes hipnaggicas engano sensorial, frequentemente visual,

    ocorrendo no incio do sono.

    importante referir a possvel presena de sintomas de

    depresso/psicopatologia, que devem ser investigados.

    Aquando da realizao da histria clnica devem ser pesquisados hbitos

    alimentares, toxiflicos, histria farmacolgica, doenas mdicas, neurolgicas ou

    psiquitricas e antecedentes familiares.

    A avaliao do problema clnico pode ser quantificada recorrendo a escalas de

    sonolncia:

    Epworth Sleepness Scale (ESS)5,

    Stanfort Sleepness Scale (SSS),

    Pittsburg Sleep Quality Inventory (PSQI).

    A importncia das escalas de sonolncia incide no facto de ser difcil distinguir

    fadiga de sonolncia excessiva diurna e de ser difcil quantificar o grau de

    sonolncia diurna.

    O doente pode ainda elaborar um dirio do sono, onde relata os seus hbitos

    de sono, tais como:

    Hora de deitar e de acordar;

    Nmero mdio de horas na cama;

    Nmero mdio de horas de sono.

    5 A ESS a escala mais importante e ser abordada mais frente.

  • Patologia do Sono

    Pgina 9 de 35

    Exemplo de Escala de Sonolncia de Epworth6:

    Qual a probabilidade adormecer (dormitar) nas seguintes circunstncias?

    Sentado a ler ___

    A ver TV ___

    Sentado inactivo num lugar pblico (teatro, reunio) ___

    Como passageiro num carro durante uma hora consecutiva ___

    Deitado a descansar tarde ___

    Sentado a falar com algum ___

    Sentado tranquilamente depois de um almoo sem lcool ___

    Num carro, parado alguns minutos numa fila de trnsito ___

    0 = nunca

    1 = probabilidade baixa

    2 = probabilidade mdia

    3 = probabilidade elevada

    Uma pontuao inferior a 10 indica est geralmente associada a uma boa qualidade de

    sono.

    EXAME OBJECTIVO

    O exame objectivo engloba o exame geral e o exame neurolgico (incluindo

    avaliao do estado mental). O exame geral visa avaliar diversos parmetros:

    Peso e altura (IMC);

    Permetro do pescoo e do abdmen;

    Fossas nasais, orofaringe, morfologia da face;

    Tenso arterial e pulso;

    Frequncia e padro respiratrio;

    Auscultao pulmonar e cardaca;

    Palpao da tiride;

    Sinais de insuficincia respiratria ou renal, alterao endocrinolgica

    (hipotiroidismo/acromeglia).

    6 Epworth Hospital, Melbourne, Austrlia

  • Patologia do Sono

    Pgina 10 de 35

    EXAMES COMPLEMENTARES DE DIAGNSTICO

    Os exames complementares de diagnstico a utilizar nas patologias do sono

    so inmeros:

    Estudo poligrfico do sono (Polissonografia PSG)7;

    Teste de Latncia Mltipla do Sono (TLMS)8;

    Teste de Manuteno da Viglia (TMV)9;

    Actigrafia10;

    EEG com sono aps privao;

    Testes de desempenho / Avaliao neuropsicolgica;

    Potenciais evocados cognitivos;

    Avaliao laboratorial / Estudo gentico;

    Imagiologia.

    7 Consiste na medio de parmetros biofisiolgicos enquanto o doente dorme.

    8 Este teste fornece informao objectiva acerca da tendncia de cada indivduo para adormecer.

    9 Mede o tempo que o indivduo consegue estar acordado.

    10 Permite medir a qualidade do sono em indivduos portadores de patologias do sono.

    EOG (electrooculograma)

    EEG

    EMG mento

    ECG

    EMG MIs

    Ressonar

    Fluxo oronasal

    Sp02

    Pulso

    Respirao torcica e abdominal

    Polissonografia

  • Patologia do Sono

    Pgina 11 de 35

    Algumas Perturbaes do Sono

    Existem 85 doenas do sono, classificadas em oito categorias major:

    1. Insnias;

    2. Perturbaes respiratrias relacionadas com o sono;

    3. Hipersnias no devidas a perturbaes respiratrias;

    4. Perturbaes do ritmo circadirio;

    5. Parassnias (comportamentos anormais durante o sono);

    6. Perturbaes do movimento relacionadas com o sono;

    7. Sintomas isolados, variantes aparentemente normais e assuntos no resolvidos;

    8. Outras perturbaes do sono.

    INSNIA

    A insnia uma reduo patolgica do tempo de sono nocturno. Consiste

    numa sensao subjectiva de dormir mal ou de ter um sono no reparador. Este tipo

    de perturbao do sono muito comum, pode estar associada a outras doenas,

    resultar da medicao ou reflectir o estilo de vida. As formas de ocorrncia da

    insnia so caractersticas e utilizadas no diagnstico diferencial:

    insnia inicial sugere estados de tenso e ansiedade;

    insnia intermdia ocorre em muitas doenas mdicas, neurolgicas

    ou psiquitricas;

    insnia terminal caracterstica de doenas afectivas, traduzindo-se

    num acordar precoce.

    As queixas de insnia so mais frequentes no sexo feminino e em certos

    grupos de risco. Com o aumento da idade, regista-se tambm um aumento da

    percentagem de pessoas com insnia.

    As queixas de insnia so frequentes em doenas mdicas, com

    agravamento nocturno de certos sintomas, devido ao decbito, nomeadamente

    cardiovasculares, pulmonares e urinrios. As dores tambm dificultam o sono, tendo

    algumas agravamento nocturno. A ansiedade provoca insnia devido ao excesso de

    tenso no momento de ir dormir, dificuldade em relaxar, pensamentos que no

    param e preocupaes excessivas.

  • Patologia do Sono

    Pgina 12 de 35

    Assim sendo, existem diversos factores que facilitam o surgimento de

    insnia:

    Trabalho por turnos;

    Stress;

    Algumas doenas crnicas:

    Depresso,

    Doena cardaca congestiva,

    Insuficincia respiratria,

    Dores nas costas,

    Prostatismo.

    A insnia pode ainda ser provocada por inmeros medicamentos:

    Beta-bloqueantes;

    Antagonistas 5-HT;

    Antidepressivos (Venlafaxina);

    Antilipdicos (Sinvastatina e Lovastatina);

    Metilxantinas (Teofiina).

    De notar que pode surgir insnia aps a paragem de hipnticos tomados

    cronicamente.

    A reduo do tempo de sono nocturno tem consequncias nefastas na vida

    das pessoas, nomeadamente:

    Sensao subjectiva de ter dormido pouco;

    Fadiga e falta de vigor;

    Ansiedade e tenso psquica;

    Falta de concentrao;

    Confuso;

    Dores de cabea;

    Depresso;

    Incapacidade de parar um pouco;

    Perfeccionismo;

    Acidentes menores, sonolncia.

  • Patologia do Sono

    Pgina 13 de 35

    Tendo em conta o diagnstico, existem vrios mtodos usados na avaliao

    de uma insnia:

    Escalas de sonolncia;

    Dirio do sono;

    Temperatura;

    Actigrafia;

    Polissonografia.

    O tratamento da insnia feito com recurso a diferentes medidas:

    A higiene do sono decisiva na teraputica, sendo necessrio favorecer a

    tendncia natural para dormir, fortalecer os factores circadirios, evitar

    txicos e diminuir o estado de alerta ao deitar.

    A terapia comportamental inclui tcnicas de relaxamento, controlo do

    estmulo e biofeedback. Uma tcnica cognitivo-comportamental bem

    ajustada eficaz em 70 a 80% dos doentes.

    A teraputica farmacolgica pode incidir na utilizao de hipnticos (ex.:

    benzodiazepinas), de antidepressivos ou de melatonina.

    Hipnograma de um caso de insnia com despertar precoce. A arquitectura do sono na primeira metade da noite normal, excepto pela latncia reduzida ao sono REM. A doente permaneceu acordada por quase duas horas, retornando a um sono fragmentado.

    Hipnograma de um caso de insnia com dificuldade em iniciar o sono. Aps trs horas de latncia, o doente entra em sono com arquitectura normal.

    Devem ser sempre feitos

    So desejveis

  • Patologia do Sono

    Pgina 14 de 35

    SINDROMA DE APNEIA OBSTRUTIVA DO SONO (SAOS)

    A apneia obstrutiva define-se por episdios recorrentes e frequentes de apneia

    ou hipopneia por obstruo das vias respiratrias associada a um esforo

    ventilatrio.

    Ocorre no sono e est geralmente associada a uma reduo da oxigenao

    sangunea. , portanto, uma perturbao respiratria relacionada com o sono.

    Atinge cerca de 1 a 2% da populao, sendo mais frequente no sexo masculino

    (85-90%) e aumenta de frequncia com a idade (predomnio entre os 40 e 60 anos).

    1-4% dos homens adultos;

    4-8% dos homens entre os 40-60 anos;

    2% das mulheres entre os 40-60 anos.

    O aumento recente da prevalncia desta perturbao do sono deve-se ao

    aumento do reconhecimento desta situao, bem como ao aumento dos factores de

    risco (peso e idade). Durante este sindroma, ocorre o seguinte:

    Colapso da faringe

    Apneia/Hipopneia

    PaO2 PaCO2

    Esforo inspiratrio

    Despertar

    Reabertura da faringe

    Vias areas normais

    Vias areas obstrudas

    Apneias/Hipopneias

    Policitmia rubra Cor pulmonale crnico Alteraes

    cognitivas

    PaO2

    Fragmentao do sono

    Despertar

    Sonolncia

    actividade simptica

    Alt. crebro e cardiovasculares HTA, cardiopatia isqumica, arritmias

    nocturnas, HTP

    Complicaes

    Acidentes

  • Patologia do Sono

    Pgina 15 de 35

    Os factores de risco podem ser:

    Anatmicos

    Obesidade / Aumento do permetro do pescoo e abdmen;

    Hipotiroidismo;

    Cavidade farngea de pequenas dimenses;

    Alterao da estrutura orofacial (dimenso e forma):

    Macroglossia,

    Hiperplasia amigdalina,

    Palato pendente,

    Alteraes mandibulares (retro/micrognatismo).

    Funcionais

    lcool;

    Sedativos.

    Os sintomas mais caractersticos deste sindroma so:

    Sonolncia diurna excessiva;

    Sono no reparador / Cansao ao acordar;

    Fadiga;

    Despertares e acordares frequentes durante o sono;

    Acordar com falta de ar;

    Cefaleias matinais;

    Boca seca ao acordar;

    Enurese, nictria;

    Alteraes de memria e do humor;

    Impotncia sexual.

    H ainda que ter em conta os sintomas relatados pelo companheiro, tais como:

    Paragens respiratrias que resolvem com um rudo intenso;

    Agravamento recente do ressonar (frequentemente associado a aumento

    recente de peso).

  • Patologia do Sono

    Pgina 16 de 35

    No exame objectivo e no estudo laboratorial dos doentes com suspeita de

    apneia, h a considerar, especialmente, os seguintes aspectos:

    1. Caracterizao da obesidade;

    2. Avaliao da regio oro-naso-maxilo-facial;

    3. Polissonografia;

    4. Avaliao imagiolgica cranio-facial, TAC das fossas nasais e faringe;

    5. Rotinas laboratoriais (pode existir policitmia, hipercolesterolmia, diabetes);

    6. Provas funcionais respiratrias (gasimetria frequentemente normal; nos

    casos mais graves pode existir hipoxmia com hipercpnia);

    7. Avaliao cardiovascular (medio da TA e realizao de ECG).

    Ressonar sncrono com a respirao. No h apneias, mas h arritmias no EEG e o pulso perifrico irregular

    Polissonografia numa apneia de sono. Respirao peridica com interrupo quase total do fluxo areo, da respirao torcica e abdominal.

  • Patologia do Sono

    Pgina 17 de 35

    Verifica-se, portanto, que esta perturbao muito grave e pode ter

    complicaes srias, da que seja necessrio encontrar um tratamento adequado.

    O primeiro passo da atitude teraputica consiste em explicar ao doente, de

    forma clara e simples, no que consiste a sua doena e quais os riscos que corre.

    O segundo centra-se na explicao das possibilidades de tratamento.

    Existem diversas medidas gerais a ser aplicadas, nomeadamente:

    Perda de peso a obesidade cervical leva ao colapso das vias areas;

    10% de perda de peso associa-se a 26% de reduo do ndice de

    apneia/hipopneia;

    Evitar jantares abundantes;

    Evitar o consumo de lcool provoca o aumento do nmero e durao

    de apneias;

    Evitar o consumo de sedativos ex.: flurazepam com agravamento

    comprovado da SAOS;

    Evitar o consumo de tabaco aumenta a sonolncia diurna e provoca

    edema das vias areas superiores;

    Higiene do sono sono fragmentado leva a um aumento do colapso das

    vias areas;

    Posio corporal dormir em decbito lateral (bola de tnis), elevar a

    cabeceira da cama.

    Em termos especficos, as atitudes teraputicas que resolvem mecanicamente

    o problema da obstruo so de momento as nicas vlidas. Entre elas sobressai,

    tanto na eficcia como no reduzido nmero de efeitos colaterais, a CPAP (presso

    positiva contnua nasal) ou a auto-CPAP

    (presso com ajuste automtico), nas quais se

    recorre a um aparelho com mscara aplicada

    ao nariz ou ao nariz e boca.

    Para alm destas opes teraputicas, possvel recorrer a outras medidas,

    tais como prteses de avano mandibular (indicao especfica nos casos de

    mandbula curta); cirurgias ORL e maxilo-facial.

  • Patologia do Sono

    Pgina 18 de 35

    NARCOLEPSIA

    A narcolepsia uma doena pouco frequente,

    atingindo 0,03-0,16% da populao geral. A curva de

    distribuio da idade de incio da narcolepsia tem um

    pico na segunda dcada de vida, pelos 14 anos. O

    sintoma que surge mais precocemente a sonolncia

    excessiva, seguindo-se um perodo varivel de tempo

    at ao surgimento de cataplexia (1 a 30 anos).

    uma doena gentica ligada ao sistema HLA, na qual existe uma anomalia

    do sono paradoxal. caracterizada por sonolncia excessiva, qual se associa

    cataplexia, paralisias do sono e alucinaes hipnaggicas. Podem existir outros

    sintomas, tais como: insnia com grande dificuldade em adormecer noite, sono

    nocturno fragmentado e depresso.

    A sonolncia excessiva manifesta-se por episdios relativamente breves

    (microssonos), os quais duram em mdia 10 a 20 minutos. O doente acorda fresco e

    restabelecido, para algum tempo depois ter novo ataque irresistvel. Os episdios

    interpem-se com as actividades quotidianas de um modo semelhante ao que se

    observa noutras situaes clnicas; no entanto, existe sempre um fundo de

    sonolncia.

    A cataplexia consiste numa perda sbita e bilateral do tnus muscular, sem

    perda dos sentidos, provocada por emoes fortes. A hipotonia sbita e fugaz,

    durando segundos ou poucos minutos, tem variaes de intensidade e localizao,

    podendo atingir apenas alguns segmentos ou todo o corpo. H regies mais

    frequentemente atingidas: plpebras (com ptose), pescoo (com queda da cabea),

    mandbula, msculos fonadores (com fala presa), joelhos, mos (doente deixa cair

    os objectos) e msculos posturais (com queda sbita no cho).

    As alucinaes hipnaggicas so vises assustadoras que surgem no

    adormecer. O doente pode ver monstros, sentir coisas a passar pelo corpo, pensar

    que esto ladres em casa, etc. As alucinaes no so perigosas, nem significam

    que exista uma perturbao mental ou psiquitrica, so apenas muito desagradveis

    e os doentes no as referem espontaneamente.

    Possveis causas

  • Patologia do Sono

    Pgina 19 de 35

    A paralisia do sono define-se como uma imobilidade do corpo e surge

    igualmente nas transies viglia-sono. transitria e particularmente assustadora

    nas primeiras ocorrncias, quando ainda novidade para o doente.

    A associao de alucinaes com paralisia do sono constitui um dos elementos

    mais apavorantes da narcolepsia. Ambos os fenmenos se relacionam com perodos

    de sono iniciados por sono paradoxal (SOREM)11.

    Os exames complementares de diagnstico desta perturbao do sono so:

    Polissonografia (PSG);

    Teste de Latncia Mltipla do Sono (TLMS);

    Vdeo-EEG com provas de estimulao so criadas situaes com

    forte carcter emocional, de modo a desencadear cataplexia;

    Tipagem HLA DQA1, DQB1, DR15.

    Existem vrios critrios de diagnstico da narcolepsia:

    1. Sonolncia diurna excessiva, que ocorre diariamente desde h pelo

    menos trs meses;

    2. Histria definitiva de cataplexia, definida como episdios sbitos e

    transitrios de perda de tnus muscular, desencadeados pelas emoes

    (quando a cataplexia j est presente);

    3. O diagnstico deve, sempre que possvel, ser confirmado por PSG

    nocturna, seguida de TLMS no dia seguinte. A latncia mdia do sono no

    TLMS inferior a oito minutos ou existem dois ou mais SOREMs aps

    sono nocturno suficiente, na noite que antecedeu o teste. Na poligrafia do

    sono nocturno, observa-se reduo da eficincia do sono, com frequentes

    perodos de viglia, aumento da fase 1, reduo do sono lento profundo e

    diminuio da latncia do sono REM.

    4. A hipersnia no melhor explicada por outra doena do sono,

    neurolgica ou mental, ou medicao. Apesar de ser uma doena

    conhecida h vrios anos, a narcolepsia , em geral, tardiamente

    diagnosticada e apenas 15 a 30% dos narcolpticos so diagnosticados

    ou tratados.

    11

    SOREM: sleep onset REM episode.

  • Patologia do Sono

    Pgina 20 de 35

    No tratamento da narcolepsia, necessrio controlar os hbitos do doente

    (sesta e horrio de sono regular) e o controlo farmacolgico dos sintomas.

    Assim sendo, as medidas teraputicas a tomar so:

    Higiene do sono;

    Sestas profilcticas;

    Toma de Modafinil12, para o tratamento da sonolncia excessiva

    (tambm se pode utilizar o oxibato de sdio);

    Toma de Venlafaxina13, para o tratamento dos sintomas de disfuno do

    sono REM.

    TERRORES NOCTURNOS

    Os terrores nocturnos so uma parassnia do sono profundo, ocorrendo

    principalmente no seu primeiro ciclo, ou seja, 60 a 90 minutos aps o adormecer.

    Consiste em crises de terror intenso, com gritos lancinantes, confuso e

    comportamento automtico, durante as quais a criana ou o adulto, no acorda

    nem sensvel s tentativas de consolo por parte dos pais ou companheiro. Durante

    a crise, ocorrem intensas manifestaes simpticas (sudao, taquipneia,

    taquicardia, etc.). Na manh seguinte, no h recordao do incidente.

    Este tipo de episdios so mais frequentes em crianas que dormem

    profundamente e podem ser desencadeados pelos activadores normais do sono

    profundo (exerccio fsico violento, privao do sono, febre, etc.).

    Os terrores nocturnos distinguem-se dos pesadelos, na medida em que estes

    correspondem a um acordar do sono REM, com lembrana de um sonho

    assustador, e sem manifestaes simpticas. Os pesadelos so universais e

    ocorrem em todas as idades.

    Os adultos com terrores nocturnos podem apresentar comportamentos violentos,

    podendo ser perigosos. No tratamento, utilizam-se benzodiazepinas em doses

    baixas ou tcnicas comportamentais.

    12

    Agonista dos receptores 2-adrenrgicos, com efeito sobre a sonolncia diurna, no parecendo eficaz relativamente aos restantes sintomas. 13

    Antidepressivo, inibidor da recaptao de noradrenalina.

  • Patologia do Sono

    Pgina 21 de 35

    DISTRBIO DOS MOVIMENTOS PERIDICOS DOS MEMBROS (PLMD)

    O distrbio dos movimentos peridicos dos membros uma das perturbaes

    do sono mais frequentes. A sua incidncia aumenta com a idade, sendo muito rara

    antes dos 30 anos e relativamente frequente aps os 50. Nos idosos, a prevalncia

    atinge os 17%, ocorrendo em 17% das insnias e 11% das hipersnias. O PLMD

    caracteriza-se pela existncia de movimentos do tipo mioclnico, repetitivos e

    estereotipados, separados por intervalos regulares. O movimento mais tpico a

    extenso do primeiro dedo do p, dorsiflexo do p, com flexo da perna e da coxa.

    O distrbio ocorre mais frequentemente nos membros inferiores.

    Esto por vezes associados ao acordar e o doente no tem conscincia da sua

    ocorrncia.

    Em termos clnicos, a patologia

    caracteriza-se por:

    Mltiplos acordares nocturnos;

    Dificuldade na induo do sono;

    Fadiga matinal;

    Sonolncia diurna;

    A maioria dos doentes no se

    apercebe dos movimentos.

    Esta perturbao do sono pode associar-se a outra doenas, em especial

    narcolepsia, apneia do sono, doena de Parkinson, crises epilpticas

    nocturnas, depresso e insuficincia renal.

    Pode estar tambm relacionado com certas medicaes (antidepressivos

    tricclicos) e com a interrupo de determinadas drogas ou txicos.

    Deve-se pensar nesta situao perante uma histria de sono agitado,

    sem ressonar, pontaps no companheiro e grande fadiga matinal!

    Nos canais PLM esquerdo e direito h movimentos que se repetem com intervalos de 20 a 25 segundos

  • Patologia do Sono

    Pgina 22 de 35

    Para identificar o PLMD, recorre-se polissonografia, onde so visveis as

    seguintes alteraes:

    Mais de trs movimentos consecutivos, com durao individual de 0,5-5

    segundos;

    Surgimento das clonias por salvas, com intervalos de 20-40 seg.;

    Clonias do origem a microdespertares (alertas), que influenciam

    negativamente a eficcia do sono;

    Mais de quatro movimentos por hora (considerado anormal).

    O tratamento desta patologia s iniciado aps confirmao da presena de

    movimentos peridicos num registo do sono e da existncia de perturbao do sono,

    e s deve ser iniciado quando excludas as doenas associadas. So utilizados

    agonistas dopaminrgicos.

    SINDROMA DAS PERNAS INQUIETAS

    O sindroma das pernas inquietas, que frequentemente se associa a

    movimentos peridicos do sono, tem subjacentes mecanismos dopaminrgicos e

    deficincias no metabolismo cerebral do ferro.

    A prevalncia no adulto de 3% mas, na maioria dos casos, no reconhecida

    pelos clnicos. No idoso, significativamente maior, atingindo 9 a 20%.

    Os sintomas no so valorizados pelos doentes e consistem em movimentos

    irresistveis das pernas, desencadeados por sensaes disestsicas, como

    calor, ardor, impresso, simples vontade de mexer ou incapacidade de estar

    quieto. Os doentes pem os ps fora da cama, do pontaps ao companheiro, que

    pode ser perturbado por esta agitao motora. O surgimento dos movimentos tem

    uma evoluo circadiria, com agravamento vespertino (perto da hora de ir deitar), o

    que dificulta o adormecer.

    O diagnstico e avaliao da gravidade do sindroma podem ser avaliados

    atravs de questionrios padronizados.

    O tratamento semelhante ao do PLMD, sendo necessria a correco dos

    nveis de ferro, sempre que h um decrscimo deste e de ferritina.

  • Patologia do Sono

    Pgina 23 de 35

    BRUXISMO

    O bruxismo nocturno ocorre em cerca de 5 a 20% da populao geral,

    afectando ambos os sexos.

    Surge no fim da primeira e incio da segunda dcada de vida, persistindo com

    evoluo flutuante na idade adulta e diminuindo depois dos 40 anos. Quando se

    inicia antes dos dez anos, por norma, no se mantm na idade adulta. Os perodos

    de agravamento relacionam-se com situaes de fadiga e de stress.

    uma parassnia, que consiste em episdios repetitivos e involuntrios de

    ranger de dentes. considerado uma perturbao do movimento.

    Os episdios tm uma durao de poucos segundos (cerca de 5 segs.) e

    distribuem-se ao longo da noite, sendo mais frequentes a meio desta. Surgem em

    todas as fases do sono. A contraco simultnea dos msculos mastigadores

    antagonistas torna peculiar este movimento e diferencia-o da mastigao.

    Geralmente, os doentes no se recordam dos episdios, excepto quando so

    acordados pelo respectivo barulho. comum os doentes no saberem que tm

    bruxismo, sendo o mesmo descoberto atravs do testemunho do(a) companheiro(a)

    que com ele dorme, ou num consultrio de dentista. O rudo pode ser to intenso

    que ouvido por familiares em quartos contguos.

    Nos casos mais graves, h dores faciais matinais provocadas pelo esforo

    muscular, e destruio dos dentes e do esmalte dentrio, por atrito. Pode existir um

    sindroma de m ocluso dentria.

    Discute-se a hiptese de estar associado a determinadas caractersticas de

    personalidade, como traos obsessivos e perfeccionistas, bem como a tendncia

    para reprimir sentimentos de hostilidade.

    Nos casos de bruxismo, no existem repercusses acentuadas sobre o sono

    nocturno, tanto do ponto de vista subjectivo como poligrfico. Assim sendo, os

    doentes no se queixam de insnia nem de sonolncia diurna excessiva.

    O diagnstico desta perturbao , geralmente, fcil.

    O tratamento deve ser orientado conforme as caractersticas do caso clnico,

    podendo passar por correco das anomalias dentrias ou da m-ocluso, medida

    profilctica do desgaste dentrio, teraputica relaxante/sedativa ou tratamento com

    benzodiazepinas noite.

  • Patologia do Sono

    Pgina 24 de 35

    SONAMBULISMO

    O sonambulismo uma parassnia do sono NREM, que surge durante a

    infncia (dos 4 aos 8 anos) e, na maioria dos casos, desaparece espontaneamente

    no decorrer da adolescncia.

    Atinge cerca de 1 a 15% da populao geral e tem ntida incidncia familiar.

    Existem associaes entre o sonambolismo e outras patologias como o

    sindroma de apneia obstrutiva e a enxaqueca.

    Ocorre no sono lento (NREM), principalmente no sono lento profundo. Os

    episdios so desencadeados por despertares forados durante o sono lento

    profundo.

    fundamental fazer diagnstico diferencial com outras parassnias e com

    crises epilpticas. Nalguns casos, h necessidade de distinguir o sonambulismo de

    crise de epilepsia temporal ou frontal, que se manifestem por deambulao

    nocturna.

    Na epilepsia, os comportamentos tendem a ser mais violentos e estereotipados

    e ocorrem na segunda metade da noite, enquanto que o sonambulismo surge no

    primeiro tero da noite.

    O sonambulismo no provoca alteraes no EEG de rotina. No entanto, na

    poligrafia nocturna, existem anomalias (principalmente nas primeiras horas), com

    reduo das fases 3 e 4, frequentes transies entre sono lento e paradoxal e atraso

    do primeiro ciclo do sono REM.

    As orientaes teraputicas dependem das particularidades de cada caso.

    No obstante, de uma forma geral, til tomar medidas profilcticas, evitando os

    acidentes domsticos e reduzindo os factores desencadeantes (ex.: frmacos, febre

    e privao do sono).

    Os episdios de sonambolismo podem ser activados por frmacos (tioridazina,

    hidrato de cloral, ltio, perfenazina, desipramina), pela febre e pela privao de sono.

    Alguns casos podem justificar psicoterapia (face a problemas psicolgicos ou a

    conflitos familiares) e teraputica medicamentosa (diazepam e alprazolam).

  • Patologia do Sono

    Pgina 25 de 35

    PARASSNIAS DO SONO PARADOXAL (REM)

    As parassnias do sono paradoxal consistem na manifestao de

    comportamentos complexos, que incluem componentes onricas e surgem durante

    o sono paradoxal, que no tem atonia fisiolgica.

    Os comportamentos podem variar entre sonilquia, atitudes agressivas

    (socos ou pontaps) ou proezas atlticas (doente voa por cima da cama ou de

    outro obstculo).

    Os motivos da consulta so muitas vezes as equimoses, contuses ou

    fracturas do cnjuge ou do prprio doente.

    A frequncia dos episdios varia desde um episdio de duas em duas semanas

    at quatro episdios por noite.

    Os distrbios de comportamento do sono paradoxal so mais frequentes nos

    idosos, surgindo entre a quinta e stima dcadas de vida. Alguns autores referem

    uma maior incidncia no sexo masculino, bem como a ocorrncia de casos

    familiares.

    As parassnias do sono REM podem ser idiopticas ou sintomticas, estando

    nestes casos associadas a frmacos, acidentes vasculares, tumores, infeces e

    doenas degenerativas do SNC (doena de Parkinson, atrofia multissistmica,

    demncia dos corpos de Lewy).

    O diagnstico diferencial baseado apenas na histria clnica, mas pode

    implicar a realizao de um estudo polissonogrfico, com visualizao por vdeo, em

    laboratrio de sono e exames auxiliares de imagem (para excluir possveis leses do

    sistema nervoso). Geralmente, estas perturbaes no so diagnosticadas. No

    diagnstico diferencial, h a considerar crises epilpticas nocturnas, sonambulismo,

    distonia paroxstica nocturna, comportamentos motores relacionados com o

    sindroma da apneia do sono, movimentos peridicos do sono, situaes de stress

    ps-traumtico e as situaes psiquitricas.

    O tratamento simples, visto que os episdios so controlados com

    clonazepam.

  • Patologia do Sono

    Pgina 26 de 35

    DOENAS CIRCADIRIAS

    As doenas circadirias resultam de perturbaes dos mecanismos

    circadirios.

    Subdividem-se em:

    1. Trabalho por turnos;

    2. Disritmia circadiria ou jet lag;

    3. Sindroma de atraso na fase do sono;

    4. Sindroma de avano na fase do sono;

    5. Padro sono-viglia irregular;

    6. Sindroma do ciclo viglia-sono diferente de 24 horas.

    Trabalho por Turnos

    O trabalho por turnos muito comum hoje em dia.

    Quando se trabalha durante o dia, descansando-se durante a noite, o ritmo

    circadirio est de acordo com esta rotina. Nos trabalhadores por turnos, as fases de

    actividade e repouso esto desajustadas com os sincronizadores ambientais, o que

    conduz ao surgimento de insnia ou sonolncia diurna excessiva, as quais se

    estabelecem de forma transitria em relao com os respectivos horrios.

    Quando a actividade laboral predominantemente nocturna, h tendncia para

    sentir sonolncia durante o horrio de trabalho e necessidade de sestas no dia de

    folga.

    Os factores circadirios so de grande importncia. O ritmo circadirio

    incapaz de se sincronizar com a velocidade que a mudana de turnos requer,

    demorando mais de uma semana no caso do trabalho nocturno.

    Os trabalhadores nocturnos dormem menos 5 a 7 horas por semana. Esta

    diminuio do sono dirio feita custa da fase 2 e do sono REM, mantendo-se as

    fases 3 e 4 quase inalteradas. A latncia do sono , obviamente, menor.

    Esta privao crnica do sono afecta o humor e as capacidades de trabalho,

    que so recuperadas parcialmente nos dias de folga.

  • Patologia do Sono

    Pgina 27 de 35

    Disritmia Circadiria ou Jet Lag

    A disritmia circadiria resulta do desajustamento do relgio biolgico s

    solicitaes de um novo fuso horrio.

    O transporte areo muito comum hoje em dia, sendo cada vez maior o

    nmero de passageiros que viajam entre os vrios continentes, percorrendo vrios

    fusos horrios.

    Aps a chegada ao destino, os passageiros experimentam sensaes de mal-

    estar geral com alterao do padro do sono, incapacidade de dormir bem

    noite, fadiga diurna, cefaleias, perda de apetite e dificuldade de concentrao.

    Existem diversos factores causadores do jet-lag, alguns dos quais associados

    s caractersticas do voo em si (ex.: altitude, nvel de oxignio baixo, turbulncia,

    rudo, durao do voo, ansiedade, vibrao, etc.).

    A gravidade da disritmia circadiria est directamente relacionada com a

    direco do voo e o nmero de fusos horrios atravessados. Este ltimo determina a

    extenso do desfasamento e o nmero de dias necessrios para a ressincronizao

    completa.

    O tratamento desta perturbao pode ser feito recorrendo a benzodiazepinas

    de curta durao (utilizam-se apenas nas primeiras 48 horas aps a chegada) ou a

    melatonina.

    Sindroma de Atraso na Fase do Sono

    No sindroma de atraso na fase do sono, o sono nocturno surge atrasado

    relativamente aos tempos convencionais, isto , o doente adormece e acorda mais

    tarde que o usual. O adormecer espontneo ocorre depois das 2 horas da manh.

    No dia seguinte, as tentativas para acordar cedo so infrutferas.

    Os sintomas tm evoluo crnica, com durao de muitos meses ou anos, e

    incio frequentemente estabelecido na adolescncia, sem causas desencadeantes

    evidentes.

    O tratamento deste sindroma faz-se recorrendo a fototerapia matinal e

    melatonina nocturna.

  • Patologia do Sono

    Pgina 28 de 35

    Sindroma de Avano na Fase do Sono

    O sindroma de avano na fase do sono, extremamente raro, exactamente o

    oposto do quadro clnico acima descrito, ou seja, os doentes deitam-se e levantam-

    se muito cedo.

    O diagnstico estabelecido quando o doente se deita entre as 18 e as 21

    horas, e se levanta entre a 1 e as 5 horas da manh. Deve ser feito diagnstico

    diferencial com a reduo fisiolgica do sono e com manifestaes depressivas.

    A teraputica pode implicar, em alturas mais crticas (obrigaes sociais,

    festas), fototerapia nocturna.

    Padro Sono-Viglia Irregular

    O padro sono-viglia irregular corresponde a casos em que o sono total

    normal para a idade mas surge de forma irregular e imprevisvel ao longo do

    dia. Ocorre preferencialmente em doentes com patologia cerebral orgnica.

    Sindroma do Ciclo Vigilia-Sono Diferente de 24 Horas

    O sindroma do ciclo vigilia-sono diferente de 24 horas surge essencialmente

    em casos de cegueira de longa data, atraso mental e esquizofrenia grave. O ciclo

    do sono de 25 horas.

    As tentativas de sincronizao do sono para horrios convencionais so

    ineficazes e induzem sonolncia diurna e dificuldade no desempenho de tarefas.

  • Patologia do Sono

    Pgina 29 de 35

    SONOLNCIA DIURNA EXCESSIVA (SDE)

    Como j se viu, uma das principais consequncias das perturbaes do sono

    a sonolncia diurna excessiva.

    Este tipo de sonolncia ocorre em situaes em que o indivduo deveria estar

    acordado e alerta.

    um problema crnico em 5% da populao, sendo a queixa mais frequente

    avaliada em centros de medicina do sono.

    Por vezes, os doentes procuram o mdico por outro sintoma que no a SDE,

    como por exemplo, despertares nocturnos mltiplos.

    So vrias as causas de sonolncia diurna excessiva:

    Sindroma da apneia obstrutiva do sono;

    Sindroma da resistncia das vias areas superiores;

    Narcolepsia;

    Depresso;

    Movimentos peridicos dos membros durante o sono (PLMD);

    Hipersnia idioptica;

    Interrupo de estimulantes;

    Sindroma do sono insuficiente;

    Dependncia/abuso de drogas;

    Efeito secundrio da medicao;

    Hipersnia ps-traumtica.

    Os doentes com Distrbios dos Movimentos peridicos dos Membros (PLMD) e

    depresso tm, frequentemente, queixas de dificuldade em iniciar e manter o sono

    (insnia) e no SDE.

    Existem diversas razes pelas quais se deve avaliar a SDE, nomeadamente,

    apoio do diagnstico, planeamento da estratgia teraputica, controlo da resposta

    ao tratamento e deciso quanto segurana individual/pblica.

  • Patologia do Sono

    Pgina 30 de 35

    Na generalidade dos casos, para a realizao dessa avaliao, deve-se ter em

    conta:

    Histria clnica;

    Escalas de sonolncia;

    Dirio do sono;

    Exame objectivo;

    Polissonografia.

    Em casos seleccionados, devem-se realizar outros exames, tais como:

    Teste de Latncia Mltipla do Sono (narcolepsia) / Teste de manuteno

    da viglia (TMV);

    Avaliao laboratorial (incluindo doseamento de frmacos/drogas);

    Tipagem HLA (narcolepsia).

    As escalas de sonolncia assumem um papel preponderante no diagnstico de

    SDE, porque:

    difcil distinguir fadiga de SDE;

    difcil quantificar o grau de sonolncia diurna (a gravidade

    subestimada pelo doente);

    Permite padronizar a avaliao deste sintoma (comparao intra e

    interpessoal);

    Algumas escalas correlacionam-se com medidas objectivas de SDE.

  • Patologia do Sono

    Pgina 31 de 35

    CASOS CLNICOS

    CASO CLNICO I

    Manuel, 60 anos

    A minha mulher pediu-me para vir consulta do sono. Eu no sei bem porqu.

    At acho que durmo muito bem. Adormeo com imensa facilidade! s vezes ainda

    estamos a ver televiso e eu j adormeci no sof, depois levanto-me vou para a

    cama e volto a adormecer sem problemas. Durmo a noite inteira, s me levanto para

    ir casa de banho mas volto a dormir sem problemas. De manh se me deixassem

    at continuava a dormir... Ela at diz que eu ressono e fao barulhos a respirar

    durante a noite mas eu no acredito. Eu acho que a minha mulher que devia vir

    consulta porque diz que no consegue dormir e h anos que toma comprimidos

    todas as noites.

    Maria, 57 anos

    Pois , Dr., o problema mesmo esse. Eu no consigo dormir porque ele

    passa a noite a ressonar e est cada vez pior desde que comeou a engordar! No

    incio, e para descansar alguma coisa, comecei a tomar comprimidos noite.

    Depois, passei a dormir no quarto ao lado mas nem assim consigo dormir! E se

    fosse s o ressonar! Por vezes apanho com cada susto! Ele pra de respirar vrias

    vezes durante a noite e no d por nada, nadinha! Depois recomea a respirar

    fazendo um barulho horrvel! E sabe, Dr., os problemas no ficam por aqui, ele j

    no me faz companhia porque est sempre a dormir. Adormece no sof a ver TV,

    adormece a ler o jornal, at j adormeceu mesa depois almoo! E o problema

    que no ms passado, quando fomos visitar os meus pais terra, amos tendo um

    acidente na auto-estrada, porque ele perdeu o controlo do carro! No sei qual o

    problema, mas sei que o meu marido tem que ter um...

  • Patologia do Sono

    Pgina 32 de 35

    Resumo

    Homem, 60 anos

    Roncopatia e Apneias presenciadas de agravamento recente

    ESE 16

    IMC 31 Kg/m2

    Macroglossia

    Pescoo curto e largo

    Permetro abdominal 120 cms

    HTA medicada mal controlada

    Diagnstico: Sindroma de Apneia Obstrutiva Nocturna.

    O doente est a maior parte do tempo do sono em fase 1, com mltiplos acordades e quase nunca est em sono profundo lento. Essa situao faz com que o sono no seja reparador e que o doente passe o dia com excessivo sono.

    Tempo Total do Sono

    Expresso poligrfica da apneia. Expresso poligrfica do ressonar.

  • Patologia do Sono

    Pgina 33 de 35

    CASO CLNICO II

    Manuela, 45 anos

    Passa a noite a dar pontaps, acordando o marido.

    Tem por vezes sensaes estranhas nos ps e nas pernas como se

    fossem alfinetes, que se agravam no final do dia, diminuem com o

    movimento e, quando existem, tornam o adormecer muito difcil.

    Acorda vrias vezes durante a noite mas no sabe porqu.

    Sente que o sono no reparador.

    Sem histria de roncopatia nem de cataplexia.

    O exame neurolgico normal.

    A avaliao laboratorial incluindo hemograma, estudo da cintica do ferro,

    glicmia, funo heptica e renal so normais.

    Diagnstico: Distrbios dos movimentos peridicos dos membros

  • Patologia do Sono

    Pgina 34 de 35

    CASO CLNICO III

    Rosa, 53 anos

    Desde os 17 anos refere episdios de quedas sbitas, desencadeados pela

    excitao (contextos agradveis e desagradveis).

    J fez vrios tratamentos, pois desde muito cedo passa a vida a dormir.

    Tem actualmente um sono muito fragmentado e mantm sonolncia diurna

    excessiva (ESE -17).

    Sonha muito, refere sonhos vividos e por vezes, ao adormecer, ouve vozes

    esquisitas ou v uns animais coloridos. Tem ainda pernas inquietas ao

    adormecer.

    Certos dias ao acordar, sente que no capaz de se mexer, embora j esteja

    acordada. Esta sensao muito angustiante.

    Tem o diagnstico de Depresso e est medicada com fluoxetina.

    Exame neurolgico normal.

    TLMS: sonolncia excessiva e anomalias do sono paradoxal com dois

    episdios de SOREM.

    PSG: insnia do incio do sono. Sono fragmentado e superficial.

    Marcada reduo da latncia do REM.

    A doente apresentava tambm:

    SDE, com episdios irresistveis de sono, refrescantes;

    Cataplexia: perda sbita e bilateral do tono muscular provocada por

    emoes fortes;

    Alucinaes hipnaggicas;

    Paralisia do sono;

    Sono nocturno fragmentado.

    Diagnstico: Narcolepsia com cataplexia

    Hipnograma

  • Patologia do Sono

    Pgina 35 de 35

    Higiene do Sono

    How to sleep B.E.T.T.E.R.

    Rhythm Dormir no escuro da noite Estar activo na fase clara do dia Manter um ritmo dirio constante

    Eating habits Evitar cafena Evitar bebidas alcolicas Comer de forma saudvel

    Tension

    Relaxar antes de ir para a cama

    Bedroom

    Confortvel e seguro Escuro e fresco Minimizar barulho e luz

    Exercise

    Actividade durante o dia, mas no junto hora de deitar

    Restringir a 8h ou menos Estabelecer o tempo necessrio para estar alerta durante o dia Sair da cama com o despertador Ir para a cama assim que se sente com sono, no ultrapassar a janela de oportunidade para dormir

    Time in bed