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OURO PRETO / LARGO DO COIMBRA A MÍDIA IMPRESSA COMO FONTE DE MANIFESTAÇÃO POPULAR E DISSEMINAÇÃO HISTÓRICA. OLIVEIRA, ADRIANA G. 1. UFMG. FACULDADE DE ARQUITETURA - MACPS Rua Carlos Sá, 190 AP 201, Santa Amélia, Belo Horizonte, CEP: 31550-200 MG. [email protected] RESUMO Antiga sede da capital mineira, monumento nacional e patrimônio cultural da Humanidade Ouro Preto se destacam pelo conjunto singular de fatos históricos, que fazem desta cidade uma referencia patrimonial e urbanística no Brasil e no mundo. Composta por doze distritos mais o distrito sede, Ouro Preto data de 1698, elevada a categoria de vila em 1711. Símbolo da construção da identidade nacional, Ouro Preto ganha destaque aos olhos dos órgãos de patrimônio no inicio do Século XX. Esta “seleção” define os rumos de crescimento da cidade, bem como limita sua amplitude como ambiente vivido e experimentado pela população local, gerando conflitos diversos entre a preservação e o cotidiano da cidade e seus moradores. O artigo tem como objeto de estudo e delimitação de análise o Largo do Coimbra, espaço tradicional de encontro da população local e de viajantes, fonte de conhecimento e comunicação da cidade, mas que ao longo dos anos sofre diversas interferências que tentam afasta-lo de seu legado inicial. A análise abrange toda a sua trajetória histórica e as inúmeras interferências sofridas. Buscando avaliar a atuação das mídias impressas, ao longo da trajetória histórica do Largo do Coimbra em Ouro Preto, bem como levantar e identificar registros formais e informais da atuação do SPHAN e da prefeitura junto a comunidade local desta cidade, em resposta as manifestações registradas. O estudo apresentado será fundamentado em pesquisa documental realizada em diversos arquivos, tais como, da 13ª Superintendencia do IPHAN, do arquivo público de Ouro Preto, da Biblioteca pública de Ouro Preto e pesquisa virtual, sendo analisados documentos, processos administrativos, ofícios, memorandos, relatórios e jornais da época, fotos e imagens, além de relatos de moradores residentes na cidade. Palavras-chave: Ouro Preto; Mídia Impressa; Largo do Coimbra.

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OURO PRETO / LARGO DO COIMBRA – A MÍDIA IMPRESSA COMO FONTE DE MANIFESTAÇÃO POPULAR E DISSEMINAÇÃO

HISTÓRICA.

OLIVEIRA, ADRIANA G.

1. UFMG. FACULDADE DE ARQUITETURA - MACPS

Rua Carlos Sá, 190 – AP 201, Santa Amélia, Belo Horizonte, CEP: 31550-200 – MG. [email protected]

RESUMO

Antiga sede da capital mineira, monumento nacional e patrimônio cultural da Humanidade Ouro Preto se destacam pelo conjunto singular de fatos históricos, que fazem desta cidade uma referencia patrimonial e urbanística no Brasil e no mundo. Composta por doze distritos mais o distrito sede, Ouro Preto data de 1698, elevada a categoria de vila em 1711. Símbolo da construção da identidade nacional, Ouro Preto ganha destaque aos olhos dos órgãos de patrimônio no inicio do Século XX. Esta “seleção” define os rumos de crescimento da cidade, bem como limita sua amplitude como ambiente vivido e experimentado pela população local, gerando conflitos diversos entre a preservação e o cotidiano da cidade e seus moradores. O artigo tem como objeto de estudo e delimitação de análise o Largo do Coimbra, espaço tradicional de encontro da população local e de viajantes, fonte de conhecimento e comunicação da cidade, mas que ao longo dos anos sofre diversas interferências que tentam afasta-lo de seu legado inicial. A análise abrange toda a sua trajetória histórica e as inúmeras interferências sofridas. Buscando avaliar a atuação das mídias impressas, ao longo da trajetória histórica do Largo do Coimbra em Ouro Preto, bem como levantar e identificar registros formais e informais da atuação do SPHAN e da prefeitura junto a comunidade local desta cidade, em resposta as manifestações registradas. O estudo apresentado será fundamentado em pesquisa documental realizada em diversos arquivos, tais como, da 13ª Superintendencia do IPHAN, do arquivo público de Ouro Preto, da Biblioteca pública de Ouro Preto e pesquisa virtual, sendo analisados documentos, processos administrativos, ofícios, memorandos, relatórios e jornais da época, fotos e imagens, além de relatos de moradores residentes na cidade.

Palavras-chave: Ouro Preto; Mídia Impressa; Largo do Coimbra.

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1. Introdução

Ao longo dos anos a mídia impressa atravessou vários estágios de desenvolvimento, esta

evolução sempre esteve associada ao desenvolvimento das sociedades a sua volta, sua

atuação como fonte de informação e meio de propagação de ideias contribui de forma direta

nas mudanças políticas, sociais e culturais das cidades.

No contexto cultural de Ouro Preto a mídia impressa teve papel fundamental na

disseminação de ideias, na informação da população, além de ter desenvolvido um papel

importante como espaço de manifestação da sociedade as deliberações governamentais,

representando um singular registro da história Ouro-pretana, sendo uma referencia dispersa

em arquivos, que contam as multe facetas da historia desta cidade ícone do histórico

nacional.

Característica de seu histórico de preservação da história e da vivencia da cidade, Ouro

Preto possui uma rica estrutura de arquivos que preservam paginas valiosas do cotidiano

desta cidade, das tradições pulares, das mudanças de governo, dos registros de

tombamento, dentro outros.

Paginas de uma história que representa, não apenas a trajetória heroína do povo mineiro,

mas a tradição e a essência de uma nação. Ouro Preto carrega em seus arquivos e em

cada canto da cidade atual a história da nação, é a tradição viva do povo brasileiro.

O artigo é fundamentado em pesquisa documental realizada em diversos arquivos, tais

como, a 13ª Superintendencia do IPHAN, o arquivo público de Ouro Preto, a Biblioteca

pública de Ouro Preto, pesquisa virtual em sites dos arquivos e da prefeitura de Ouro Preto,

sendo analisados documentos com intuito de avaliar a trajetória da mídia impressa, bem

como a qualidade de preservação destas publicações.

O artigo tem como objeto de estudo o Largo do Coimbra, espaço tradicional de encontro da

população local e de viajantes, comumente relatado em publicações impressas dos jornais

da cidade, além de processos administrativos, ofícios, memorandos, relatórios, além de ser

uma espaço de referencia nos relatos pessoais de moradores residentes na cidade.

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2. Referencial Teórico

2.1- História da Mídia impressa.

A arte de se comunicar permeia a vida humana ao longo da evolução, as primeiras

manifestações de comunicação humana se deram pela arte rupestre, onde os homens

representavam nas rochas atividades cotidianas ou representações do imaginário,

demonstrando um intrínseco anseio pelo ato de comunicar.

No século VI A.C., com o advento da fabricação do papel pelos chineses, esta ação ganha

singular transformação, permitindo o registro de saberes. Até a Idade Média a informação

ainda era muito controlada, se restringindo aos copistas e aos escribas, que faziam copias

de textos religiosos, literários e filosóficos. Mas com o desenvolvimento das navegações e a

necessidade de se registrar as novas culturas descobertas, bem como a preservação da

cultura europeia para gerações futuras, a arte da escrita ganha espaço, viabilizando a troca

de mercadorias e de informações.

Mas é em 1438 (data estimada), quando Gutenberg imprime a Bíblia de 42 linhas,

aprimorando a invenção da imprensa, que a comunicação ganha força e representatividade

no registro de culturas, já que permitia a reprodução da informação em larga escala.

“Os meios de comunicação são rodas de fiar no mundo moderno e, ao usar estes meios, os seres humanos fabricam teias de significação para si mesmos” (THOMPSON, 1998,20)

A partir deste momento, passa-se a registrar os acontecimentos das sociedades, surgindo,

no século XV as primeiras impressões da humanidade:

As gazetas: que traziam informações sobre o cotidiano das pessoas.

Os pasquins: folhetos com noticias sobre desgraças alheias.

Os libelos: folhas de caráter opinativo.

A combinação destes impressos, no século XVII, resultou no gênero intitulado jornalismo.

Mas o impresso ganhou espaço de forma distinta em cada nação. Instrumento de estimulo

ao pensamento e a compreensão do que acontece ao seu redor, o impresso passa a ser

visto, por muitos governantes, como instrumento capaz de incitar pessoas a reflexão e

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possível contestação ao governo vigente. É diante deste cenário que a imprensa inicia seu

eterno duelo contra a censura e a restrição do conhecimento.

Após a Revolução Francesa o jornal ganha espaço, propagando os ideais da revolução,

neste momento singular da história o público que se interessa pela informação impressa

cresce significativamente, na busca por informações sobre os ideais da revolução.

Mas foi a Revolução industrial o principal combustível da propagação do jornalismo e da

mídia impressa. Com a construção de maquinário de impressão, a confecção ganhou

proporções industriais agilizando o processo de impressão, de forma a trazer a noticia até o

leitor em um tempo significativamente próximo aos fatos.

Ao longo da história, embora foco constante da censura e do controle dos governos em

vigência, a essência da mídia impressa sempre buscou a informação. As mídias impressas

nascem neste propósito, o de informar as pessoas sobre o que acontecem a sua volta,

permitindo a elas uma reflexão sobre o mundo em que vivem.

Nem sempre a mídia impressa consegue cumprir seu propósito com êxito, como exemplo, a

I e II Guerras Mundiais, onde os meios de comunicação sofrem clara censura. As

informações divulgadas eram avaliadas e direcionadas segundo o interesse dos governos.

“A declaração Francesa de 1789 já antecipava este direito, ao afirmar não apenas a liberdade de opinião – artigo 10 -, mas também a livre comunicação das ideias e opiniões , que é considerado, no artigo 11, um dos mais preciosos direitos do homem. Na declaração Universal dos Direitos do Homem, o direito à informação está contemplado no art. 19 nos seguintes termos: Todo individuo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão.” (FONSECA, 1999. P.6)

Referindo-se ao direito de informação, Fonseca cita a declaração Universal dos Direitos do

Homem, de 1948, que garante esse direito em seu art. 19.

2.2. Ouro Preto

A origem da cidade de Ouro Preto data de 1698, no arraial de Padre Faria (Natural de São

Paulo, foi capelão de bandeiras, e na região da atual Ouro Preto, encontrou grande

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quantidade de ouro), fundando o arraial juntamente com o bandeirante Antônio Dias de

Oliveira, pelo Coronel Tomás Lopes de Camargo e um irmão deste.

Pela junção dos Arrais, tornou-se sede do conselho e elevada a vila, em 1711 com o nome

de Vila Rica. Pouco tempo depois, já em 1920 foi escolhida para ser a capital da Capitania

de Minas Gerais e em 1823, ganha o titulo de Imperial Cidade, conferido por D. Pedro I,

permanecendo como capital da Província e depois como capital do Estado, até o ano de

1897, quando, principalmente pela falta de alternativas viáveis de crescimento e

desenvolvimento físico urbano, opta-se por transferir a capital, nascendo assim a cidade de

Belo Horizonte, situada no antigo Curral Del’Rey, planejada e estruturada para comportar o

crescimento acelerado de uma capital. para Belo Horizonte, cidade concebida para este fim.

O diferencial na concepção histórica de Ouro Preto é a preservação de seu legado histórico

e patrimonial, o que lhe rendeu, em 1933 o titulo de Patrimônio Nacional. Reconhecida

mundialmente pela arquitetura colonial singular e pela preservação da histórica trajetória de

lutas do povo brasileiro, em 5 de Setembro de 1980, a cidade é declarada Patrimônio

Cultural da Humanidade, titulo proferido na sessão do Comitê de Patrimônio Mundial da

UNESCO, reunido neste ano em Paris.

Atualmente compõem Ouro preto os seguintes distritos: Cachoeira do Campo, Amarantina,

Glaura (Casa Branca), São Bartolomeu, Santo Antônio do Leite, Rodrigo Silva, Miguel

Burnier, Engenheiro Correia, Santa Rita, Santo Antônio do Salto, Antônio Pereira e Lavras

Novas.

2.3. A mídia em Ouro Preto

A construção da identidade de Ouro Preto passa pela singular trajetória histórica desta

cidade, símbolo da mineiridade e dos valores de nação idealizados pela saudosa equipe de

Lúcio Costa. De valor histórico e artístico inestimável, Ouro Preto concentra em sua História

uma sequencia singular de fatos que a fazem representar um “lugar de memória”

Em 1823, após a Independência do Brasil, Vila Rica recebeu o título de Imperial Cidade, conferido por D. Pedro I do Brasil, tornando-se oficialmente capital da então província das Minas Gerais e passando a ser designada como Imperial Cidade de Ouro Preto. Em 1839 foi criada a Escola de Farmácia e em 1876 a Escola de Minas. Foi sede do movimento revolucionário conhecido como Inconfidência Mineira. Foi a capital da província e mais tarde do estado, até 1897. A antiga capital de Minas conservou grande parte de seus monumentos coloniais e em 1933 foi elevada a Patrimônio Nacional, sendo, cinco anos depois, tombada pela

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instituição que hoje é o IPHAN. Em 5 de setembro de 1980, na quarta sessão do Comitê do Patrimônio Mundial da UNESCO, realizada em Paris, Ouro Preto foi declarada Patrimônio Cultural da Humanidade. (BOHRER. ALEX. Acessado em http://www.ouropreto.mg.gov.br/historia)

Firmada no respeito às tradições, costumes e legados de sua trajetória, a tradição e a

cultura de Ouro Preto vencem séculos. Instrumento fundamental de narrativa desta trajetória

a mídia impressa ganha singular importância em Ouro Preto como instrumento de

preservação da história desta cidade, bem como instrumento de manifestação e divulgação

por parte da população, dos problemas da cidade.

Figura 01 - Jornais do resgate das serestas às festas juninas e a reedição do Triunfo Eucarístico de

1733.

Como é possível identificar no impresso acima (Figura 01), é constante a participação

popular nas publicações impressas da cidade. Estas publicações abrangem informações do

cotidiano da cidade, insatisfações populares ou narrativas sobre fatos de relevância para a

população local.

Os impressos em Ouro Preto representam uma narrativa histórica dos acontecimentos da

cidade, eles tinham o intuito informativo a cidade e aos distritos próximos sobre os

acontecimentos da região bem como informas sobre a atuação governamental frente aos

conflitos encontrados.

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Figura 02 – Impresso do arquivo Público de Ouro preto.

No impresso acima, composto por reportagem referente a um incêndio ocorrido na cidade, é

possível perceber a qualidade de conservação do impresso, composta pela descrição oficial,

com desenhos que ilustram os fatos ocorridos e relatados na reportagem. A documentação

encontrada nos arquivos é de fácil acesso, compostas por identificação que contempla o

ano e o impresso de referencia.

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3. Metodologia

3.1 Métodos de pesquisa

O método é o caminho a ser percorrido, demarcado, do começo ao fim, por fases ou etapas. E como pesquisa tem por objetivo um problema a ser resolvido, o método serve de guia para o estudo sistemático do enunciado, compreensão e busca de solução do referido problema (RUDIO, 1999, p.86)

Segundo Tondato (2007), a pesquisa é um instrumento estratégico, que aponta soluções,

pois fornece elementos para analisar uma situação, dentro de um contexto. Os benefícios da

aplicação de pesquisa neste artigo é compreender como se dá a o empoderamento da

população de Ouro Preto com a mídia local ao longo do tempo, e sua relação com o poder

público, dando destaque ao espaço de convivência do Largo do Coimbra, que será

abordado como estudo de caso, devido as singularidades representativas como ambiente de

convívio e referencia de luta e apropriação, pela população de Ouro Preto.

A pesquisa neste contexto permite compreender o histórico da mídia e sua relevância junto

a singular trajetória desta cidade, bem como compreender a relação da população local com

este meio de comunicação, permitindo uma análise critica do empoderamento deste

instrumento de mídia de sua relevância histórica.

3.1.1 Pesquisas Qualitativas

A investigação qualitativa que defendemos substitui a resposta pela construção, à verificação pela elaboração e a neutralidade pela participação. O investigador entra no campo com o que lhe interessa investigar, no qual não supõe o encerramento no desenho metodológico de somente aquelas informações diretamente relacionadas com o problema explícito a priori no projeto, pois a investigação implica a emergência do novo nas idéias do investigador, processo em que a o marco teórico e a realidade se integram e se contradizem de formas diversas no curso da produção teórica. (GONZÁLEZ REY, 1998, p.42)

A pesquisa qualitativa não procura enumerar e revelar dados estatísticos, ela está baseada

em um plano estabelecido, levando em consideração hipóteses e objetivos claramente

definidos. Ela expressa teoria e dados, contexto e ação, pesquisador e objeto de estudo

(MAANEN, 1979, p. 520).

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Compreender e interpretar os fenômenos faz parte da pesquisa qualitativa, pois auxilia na

visão e resposta do problema e fornece um enfoque para o entendimento da realidade

proposta pelo projeto.

A fim de realizar uma avaliação atual, verídica e criteriosa da relação do uso da mídia

impressa pela população local, foram realizadas pesquisas documentais em períodos

históricos distintos, em documentação da do arquivo da 13ª Superintendencia do IPHAN, em

Belo Horizonte, do arquivo público de Ouro Preto, da Biblioteca pública de Ouro Preto, além

de pesquisa virtual, sendo analisados documentos, processos administrativos, ofícios,

memorandos, relatórios e jornais da época, além de relatos de moradores residentes na

cidade.

3.1.2 Pesquisas Bibliográficas

Neste artigo a pesquisa Bibliográfica será utilizada com o objetivo de identificar autores e

documentos pertinentes ao assunto, a fim de salientar informações que agreguem

fundamentação, com intuito de avaliar o problema proposto.

Dentre os muitos autores e organizações usados como referência e pesquisa, destacamos

IPHAN, Lakatos, Rúdio, Tondato, Braynes, Cruz e Ribeiro.

3.1.3 Estudo de caso – Largo do Cimbra: Espaço de manifestação popular

No século XVIII a produção agrícola da região era destinada apenas ao abastecimento da

província, uma produção simples e de subsistência das famílias da região. A partir do sec.

XIX a população urbana da região cresce consideravelmente, concentrando nas cidades e

nos mercados o comercio dos alimentos produzidos na região.

Esta concentração em espaços destinados ao comercio permitiu o tabelamento das

mercadorias vendidas, a padronização e a fiscalização do que era e como era

comercializado na região.

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Figura 03 - APMOP - Fundo: CMOP - Caixa: Abastecimento - Ano: 1893

Ao visitar aos arquivos de Ouro Preto, pode-se encontrar uma vasta documentação que

descreve o controle de comercio de produtos na região. Destaca-se o Arquivo Municipal de

Ouro Preto, cujo acervo encontra-se uma série chamada “Abastecimento”, que possui

documentos referentes a contratos de fornecimento e controle da qualidade de produtos.

Em Ouro Preto destacou-se como zona de comercialização o Mercado Municipal, chamado

de Mercado de Antonio Dias, situado no Largo de Coimbra. Inicialmente, em meados do

Sec XIX o espaço funcionava com uma feira de produtos da região, além de ponto de

encontro de tropeiros, que usavam deste espaço para venda de produtos, comercio em

geral e parada para dar água e alimento aos animais.

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Figura 04 - Mercado da Freguesia de Antonio Dias, século XIX

No final do Séc. XIX este mercado foi demolido para dar espaço a uma construção moderna.

Segundo relatos de moradores e conforme comprovado em publicações que descrevem de

forma informal fatos do cotidiano da cidade de Ouro Preto, Mesmo com a demolição do

mercado e a posterior construção de um frigorífero, o espaço não perdeu sua essência

como ponto de encontro e troca de produtos. Há relatos de que ao longo do tempo, em meio

as novas construções ali abrigadas, as pessoas permaneciam no uso do espaço como

comercio informal, voltando sempre o bem para sua essência.

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Figura 05: Ilustração do Mercado de Antonio Dias, início da década de 1940

No inicio do Sec XX a construção é novamente demolida no intuito de “limpeza visual”

promovida pelo SPHAN neste período, na busca pela padronização colonial, criando maior

visibilidade a cidade monumento.

Todo este processo pode ser acompanhado pelos registros dos Jornais impressos da

cidade, que trazem uma riquíssima gama de informações sobre o que acontece na política,

na cidade e na região, nos contextualizando sobre os momentos históricos e sua ligação

com as mudanças deste espaço.

Outro ponto fundamental da mídia impressa é sua estreita relação com a população local,

abrindo espaço para manifestações públicas de desagrado da população com o que é feito

de seu patrimônio.

Neste contexto avaliamos a importância da participação popular e apropriação da

comunidade pelos bens culturais registrados (ou não), do espaço onde vivem. Somente

através desta apropriação é possível a real preservação do bem, não apenas em sua

estrutura física ou legal, mas na disseminação de sua memória e representatividade da

cultura local. Em pesquisa realizada nos arquivos de Ouro Preto, encontramos, ao longo dos

anos, diversos relatos da população frente a sua identificação com este espaço.

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Figura 06 – Jornal de Ouro Preto

Conforme descritos na reportagem acima, os arquivos da cidade de Ouro Preto carregam

em suas paginas preciosas narrativas do cotidiano simples desta cidade, paginas impressas

de uma trajetória de fatos históricos que compõem a tradição e a singularidade desta cidade

para a nação Brasileira.

A gama de impressos encontrados nos arquivos pesquisados e as informações contidas

nestas reportagens, demonstram e estreito laço entre a população e a mídia impressa. Este

veículo de comunicação era muito usado pela administração da cidade, para a ampla

divulgação de suas ações, bem como para comunicar a cidade de fatos de interesse

público, mas também, percebe-se, na maioria dos impressos, um interesse continuo em aliar

a informação oficial a opinião e manifestação da população. Com espaços exclusivamente

destinados e este tipo de postagem.

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Figura 07 - Jornal Ouro Preto, 1995.

Na reportagem apresentada (Figura 07), moradores e profissionais da comunicação,

demonstram grande afeição as tradições do espaço que compõem o Largo do Coimbra,

relatando o intuito de modificação vindo do poder público, mas salientando a importância da

participação popular no cuidado e na preservação de sua historia, representada em espaços

de tradição, física e oral de sua cidade.

Figura 08 - Jornal de Ouro Preto

Em artigos de jornais, encontrados nos arquivos da cidade de Ouro Preto, é comum

encontrar reportagens que descrevam a insatisfação da população frente a imposições do

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SPHAN, na cidade (figura 08). Muitas destas interferências visavam a construção da

imagem ideal da cidade em detrimento ao cotidiano e aspectos simples, mas simbólicos

para a comunidade local.

De acordo com o capítulo V, artigo 24 da lei 17/2002, cabe ao poder público não só a

documentação do bem cultural, como uma ampla divulgação e promoção, com a finalidade

de perpetuação do bem.

6. Conclusão

A mídia impressa, em sua multi funcionalidades, é fundamental para o registro e

preservação da história diária de um povo. Nela encontramos os muitos lados de uma

mesma ação, contemplando não apenas a história oficial e documental registrada nos órgão

de governo, mas abrindo um amplo espaço para as histórias anônimas do dia a dia da

população, refletindo sua relação com o bem e sua verdadeira opinião sobre o que acontece

a sua volta.

È claro que como todo meio de comunicação, a mídia impressa não está isenta de

direcionamento, ou mesmo interferência política e social em suas publicações, mas o que

vemos, na história deste canal, é uma busca constante pela idoneidade da informação.

A trajetória do Largo do Coimbra, em Ouro Preto representa com êxito está situação. Em

pesquisas aos muitos arquivos da cidade, e após analisar reportagens ao longo dos anos, é

possível perceber a busca constante por apresentar as faces de uma mesma situação.

Tendo em vista que, em muitos casos, é possível encontrar a informação oficial do tema

junto com manifestos sobre o mesmo assunto.

Ao longo da história da cidade, muitos impressos ganharam espaço, alguns mais político,

outros mais sociais, e esta mescla de informações representam o rico histórico documental

preservado em Ouro Preto.

O presente estudo foi fundamentado em pesquisa documental realizada em diversos

arquivos, tais como, da 13ª Superintendencia do IPHAN, do arquivo público de Ouro Preto,

da Biblioteca pública de Ouro Preto e pesquisa virtual, sendo analisados documentos,

processos administrativos, ofícios, memorandos, relatórios e jornais da época, fotos e

imagens, além de relatos de moradores residentes na cidade.

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Este artigo tem por adjetivo fomentar o interesse e a valorização da pesquisa aos arquivos

impressos da cidade de Ouro Preto, que possuem um potencial inestimável para pesquisas

acadêmicas. Salientamos a qualidade do material encontrado, bem como a disponibilidade

dos profissionais atrelados a este tema, que em grande parte, são os responsáveis pela

qualidade, identificação e preservação destes acervos.

Em muitas consultas aos arquivos físicos, era constante a presença de estudiosos do tema,

mas também era comum, encontrar moradores e admiradores da cidade de Ouro preto, que

usam destes preciosos arquivos para conhecer as singularidades históricas desta

encantadora cidade.

Assim, concluímos que a mídia impressa possui relação direta com a narrativa histórica da

cidade de Ouro Preto, documentando, preservando e propagando sua relevância para a

construção da identidade nacional.

O Largo do Coimbra se destaca neste contexto, pela trajetória de mudanças deste espaço,

que ao longo dos anos, muito se perdeu de seu registro formal, mas a mídia impressa se faz

presente em toda a narrativa, contextualizando as mudanças ocorridas e registrando não

apenas os fatos oficiais, mas a manifestação popular e a identificação popular com este

espaço de comercio.

7 – Referencias

FONSECA, Maria Cecília Londres. O patrimônio em processo: trajetória da política federal de preservação no Brasil. Rio de Janeiro: UFRJ;MinC – IPHAN, 2005. MOTTA, Lia. “A Sphan em Ouro Preto: uma história de conceitos e critérios”. In: Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. nº 22. Rio de Janeiro: Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional do Ministério da Cultura, 1987 ANDRADE, Rodrigo Melo Franco de. Rodrigo e o SPHAN; coletânea de textos sobre o patrimônio cultural. Rio de Janeiro: Ministério da Cultura, Fundação Pró-Memória, 1987. PESSOA, José. Lúcio Costa: Documentos de trabalho. Rio de Janeiro: IPHAN, 1999 CASTRIOTA, Leonardo Barci. Patrimônio Cultural: conceitos, políticas, instrumentos. São Paulo: Annablume; Belo Horizonte: IEDS, 2009. UNESCO. Recomendações de Paris – Recomendações sobre a salvaguarda da cultura tradicional e popular. França, 1989.

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4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

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