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OURO PRETO / LARGO DO COIMBRA – A MÍDIA IMPRESSA COMO FONTE DE MANIFESTAÇÃO POPULAR E DISSEMINAÇÃO
HISTÓRICA.
OLIVEIRA, ADRIANA G.
1. UFMG. FACULDADE DE ARQUITETURA - MACPS
Rua Carlos Sá, 190 – AP 201, Santa Amélia, Belo Horizonte, CEP: 31550-200 – MG. [email protected]
RESUMO
Antiga sede da capital mineira, monumento nacional e patrimônio cultural da Humanidade Ouro Preto se destacam pelo conjunto singular de fatos históricos, que fazem desta cidade uma referencia patrimonial e urbanística no Brasil e no mundo. Composta por doze distritos mais o distrito sede, Ouro Preto data de 1698, elevada a categoria de vila em 1711. Símbolo da construção da identidade nacional, Ouro Preto ganha destaque aos olhos dos órgãos de patrimônio no inicio do Século XX. Esta “seleção” define os rumos de crescimento da cidade, bem como limita sua amplitude como ambiente vivido e experimentado pela população local, gerando conflitos diversos entre a preservação e o cotidiano da cidade e seus moradores. O artigo tem como objeto de estudo e delimitação de análise o Largo do Coimbra, espaço tradicional de encontro da população local e de viajantes, fonte de conhecimento e comunicação da cidade, mas que ao longo dos anos sofre diversas interferências que tentam afasta-lo de seu legado inicial. A análise abrange toda a sua trajetória histórica e as inúmeras interferências sofridas. Buscando avaliar a atuação das mídias impressas, ao longo da trajetória histórica do Largo do Coimbra em Ouro Preto, bem como levantar e identificar registros formais e informais da atuação do SPHAN e da prefeitura junto a comunidade local desta cidade, em resposta as manifestações registradas. O estudo apresentado será fundamentado em pesquisa documental realizada em diversos arquivos, tais como, da 13ª Superintendencia do IPHAN, do arquivo público de Ouro Preto, da Biblioteca pública de Ouro Preto e pesquisa virtual, sendo analisados documentos, processos administrativos, ofícios, memorandos, relatórios e jornais da época, fotos e imagens, além de relatos de moradores residentes na cidade.
Palavras-chave: Ouro Preto; Mídia Impressa; Largo do Coimbra.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
1. Introdução
Ao longo dos anos a mídia impressa atravessou vários estágios de desenvolvimento, esta
evolução sempre esteve associada ao desenvolvimento das sociedades a sua volta, sua
atuação como fonte de informação e meio de propagação de ideias contribui de forma direta
nas mudanças políticas, sociais e culturais das cidades.
No contexto cultural de Ouro Preto a mídia impressa teve papel fundamental na
disseminação de ideias, na informação da população, além de ter desenvolvido um papel
importante como espaço de manifestação da sociedade as deliberações governamentais,
representando um singular registro da história Ouro-pretana, sendo uma referencia dispersa
em arquivos, que contam as multe facetas da historia desta cidade ícone do histórico
nacional.
Característica de seu histórico de preservação da história e da vivencia da cidade, Ouro
Preto possui uma rica estrutura de arquivos que preservam paginas valiosas do cotidiano
desta cidade, das tradições pulares, das mudanças de governo, dos registros de
tombamento, dentro outros.
Paginas de uma história que representa, não apenas a trajetória heroína do povo mineiro,
mas a tradição e a essência de uma nação. Ouro Preto carrega em seus arquivos e em
cada canto da cidade atual a história da nação, é a tradição viva do povo brasileiro.
O artigo é fundamentado em pesquisa documental realizada em diversos arquivos, tais
como, a 13ª Superintendencia do IPHAN, o arquivo público de Ouro Preto, a Biblioteca
pública de Ouro Preto, pesquisa virtual em sites dos arquivos e da prefeitura de Ouro Preto,
sendo analisados documentos com intuito de avaliar a trajetória da mídia impressa, bem
como a qualidade de preservação destas publicações.
O artigo tem como objeto de estudo o Largo do Coimbra, espaço tradicional de encontro da
população local e de viajantes, comumente relatado em publicações impressas dos jornais
da cidade, além de processos administrativos, ofícios, memorandos, relatórios, além de ser
uma espaço de referencia nos relatos pessoais de moradores residentes na cidade.
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2. Referencial Teórico
2.1- História da Mídia impressa.
A arte de se comunicar permeia a vida humana ao longo da evolução, as primeiras
manifestações de comunicação humana se deram pela arte rupestre, onde os homens
representavam nas rochas atividades cotidianas ou representações do imaginário,
demonstrando um intrínseco anseio pelo ato de comunicar.
No século VI A.C., com o advento da fabricação do papel pelos chineses, esta ação ganha
singular transformação, permitindo o registro de saberes. Até a Idade Média a informação
ainda era muito controlada, se restringindo aos copistas e aos escribas, que faziam copias
de textos religiosos, literários e filosóficos. Mas com o desenvolvimento das navegações e a
necessidade de se registrar as novas culturas descobertas, bem como a preservação da
cultura europeia para gerações futuras, a arte da escrita ganha espaço, viabilizando a troca
de mercadorias e de informações.
Mas é em 1438 (data estimada), quando Gutenberg imprime a Bíblia de 42 linhas,
aprimorando a invenção da imprensa, que a comunicação ganha força e representatividade
no registro de culturas, já que permitia a reprodução da informação em larga escala.
“Os meios de comunicação são rodas de fiar no mundo moderno e, ao usar estes meios, os seres humanos fabricam teias de significação para si mesmos” (THOMPSON, 1998,20)
A partir deste momento, passa-se a registrar os acontecimentos das sociedades, surgindo,
no século XV as primeiras impressões da humanidade:
As gazetas: que traziam informações sobre o cotidiano das pessoas.
Os pasquins: folhetos com noticias sobre desgraças alheias.
Os libelos: folhas de caráter opinativo.
A combinação destes impressos, no século XVII, resultou no gênero intitulado jornalismo.
Mas o impresso ganhou espaço de forma distinta em cada nação. Instrumento de estimulo
ao pensamento e a compreensão do que acontece ao seu redor, o impresso passa a ser
visto, por muitos governantes, como instrumento capaz de incitar pessoas a reflexão e
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possível contestação ao governo vigente. É diante deste cenário que a imprensa inicia seu
eterno duelo contra a censura e a restrição do conhecimento.
Após a Revolução Francesa o jornal ganha espaço, propagando os ideais da revolução,
neste momento singular da história o público que se interessa pela informação impressa
cresce significativamente, na busca por informações sobre os ideais da revolução.
Mas foi a Revolução industrial o principal combustível da propagação do jornalismo e da
mídia impressa. Com a construção de maquinário de impressão, a confecção ganhou
proporções industriais agilizando o processo de impressão, de forma a trazer a noticia até o
leitor em um tempo significativamente próximo aos fatos.
Ao longo da história, embora foco constante da censura e do controle dos governos em
vigência, a essência da mídia impressa sempre buscou a informação. As mídias impressas
nascem neste propósito, o de informar as pessoas sobre o que acontecem a sua volta,
permitindo a elas uma reflexão sobre o mundo em que vivem.
Nem sempre a mídia impressa consegue cumprir seu propósito com êxito, como exemplo, a
I e II Guerras Mundiais, onde os meios de comunicação sofrem clara censura. As
informações divulgadas eram avaliadas e direcionadas segundo o interesse dos governos.
“A declaração Francesa de 1789 já antecipava este direito, ao afirmar não apenas a liberdade de opinião – artigo 10 -, mas também a livre comunicação das ideias e opiniões , que é considerado, no artigo 11, um dos mais preciosos direitos do homem. Na declaração Universal dos Direitos do Homem, o direito à informação está contemplado no art. 19 nos seguintes termos: Todo individuo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão.” (FONSECA, 1999. P.6)
Referindo-se ao direito de informação, Fonseca cita a declaração Universal dos Direitos do
Homem, de 1948, que garante esse direito em seu art. 19.
2.2. Ouro Preto
A origem da cidade de Ouro Preto data de 1698, no arraial de Padre Faria (Natural de São
Paulo, foi capelão de bandeiras, e na região da atual Ouro Preto, encontrou grande
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quantidade de ouro), fundando o arraial juntamente com o bandeirante Antônio Dias de
Oliveira, pelo Coronel Tomás Lopes de Camargo e um irmão deste.
Pela junção dos Arrais, tornou-se sede do conselho e elevada a vila, em 1711 com o nome
de Vila Rica. Pouco tempo depois, já em 1920 foi escolhida para ser a capital da Capitania
de Minas Gerais e em 1823, ganha o titulo de Imperial Cidade, conferido por D. Pedro I,
permanecendo como capital da Província e depois como capital do Estado, até o ano de
1897, quando, principalmente pela falta de alternativas viáveis de crescimento e
desenvolvimento físico urbano, opta-se por transferir a capital, nascendo assim a cidade de
Belo Horizonte, situada no antigo Curral Del’Rey, planejada e estruturada para comportar o
crescimento acelerado de uma capital. para Belo Horizonte, cidade concebida para este fim.
O diferencial na concepção histórica de Ouro Preto é a preservação de seu legado histórico
e patrimonial, o que lhe rendeu, em 1933 o titulo de Patrimônio Nacional. Reconhecida
mundialmente pela arquitetura colonial singular e pela preservação da histórica trajetória de
lutas do povo brasileiro, em 5 de Setembro de 1980, a cidade é declarada Patrimônio
Cultural da Humanidade, titulo proferido na sessão do Comitê de Patrimônio Mundial da
UNESCO, reunido neste ano em Paris.
Atualmente compõem Ouro preto os seguintes distritos: Cachoeira do Campo, Amarantina,
Glaura (Casa Branca), São Bartolomeu, Santo Antônio do Leite, Rodrigo Silva, Miguel
Burnier, Engenheiro Correia, Santa Rita, Santo Antônio do Salto, Antônio Pereira e Lavras
Novas.
2.3. A mídia em Ouro Preto
A construção da identidade de Ouro Preto passa pela singular trajetória histórica desta
cidade, símbolo da mineiridade e dos valores de nação idealizados pela saudosa equipe de
Lúcio Costa. De valor histórico e artístico inestimável, Ouro Preto concentra em sua História
uma sequencia singular de fatos que a fazem representar um “lugar de memória”
Em 1823, após a Independência do Brasil, Vila Rica recebeu o título de Imperial Cidade, conferido por D. Pedro I do Brasil, tornando-se oficialmente capital da então província das Minas Gerais e passando a ser designada como Imperial Cidade de Ouro Preto. Em 1839 foi criada a Escola de Farmácia e em 1876 a Escola de Minas. Foi sede do movimento revolucionário conhecido como Inconfidência Mineira. Foi a capital da província e mais tarde do estado, até 1897. A antiga capital de Minas conservou grande parte de seus monumentos coloniais e em 1933 foi elevada a Patrimônio Nacional, sendo, cinco anos depois, tombada pela
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instituição que hoje é o IPHAN. Em 5 de setembro de 1980, na quarta sessão do Comitê do Patrimônio Mundial da UNESCO, realizada em Paris, Ouro Preto foi declarada Patrimônio Cultural da Humanidade. (BOHRER. ALEX. Acessado em http://www.ouropreto.mg.gov.br/historia)
Firmada no respeito às tradições, costumes e legados de sua trajetória, a tradição e a
cultura de Ouro Preto vencem séculos. Instrumento fundamental de narrativa desta trajetória
a mídia impressa ganha singular importância em Ouro Preto como instrumento de
preservação da história desta cidade, bem como instrumento de manifestação e divulgação
por parte da população, dos problemas da cidade.
Figura 01 - Jornais do resgate das serestas às festas juninas e a reedição do Triunfo Eucarístico de
1733.
Como é possível identificar no impresso acima (Figura 01), é constante a participação
popular nas publicações impressas da cidade. Estas publicações abrangem informações do
cotidiano da cidade, insatisfações populares ou narrativas sobre fatos de relevância para a
população local.
Os impressos em Ouro Preto representam uma narrativa histórica dos acontecimentos da
cidade, eles tinham o intuito informativo a cidade e aos distritos próximos sobre os
acontecimentos da região bem como informas sobre a atuação governamental frente aos
conflitos encontrados.
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Figura 02 – Impresso do arquivo Público de Ouro preto.
No impresso acima, composto por reportagem referente a um incêndio ocorrido na cidade, é
possível perceber a qualidade de conservação do impresso, composta pela descrição oficial,
com desenhos que ilustram os fatos ocorridos e relatados na reportagem. A documentação
encontrada nos arquivos é de fácil acesso, compostas por identificação que contempla o
ano e o impresso de referencia.
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3. Metodologia
3.1 Métodos de pesquisa
O método é o caminho a ser percorrido, demarcado, do começo ao fim, por fases ou etapas. E como pesquisa tem por objetivo um problema a ser resolvido, o método serve de guia para o estudo sistemático do enunciado, compreensão e busca de solução do referido problema (RUDIO, 1999, p.86)
Segundo Tondato (2007), a pesquisa é um instrumento estratégico, que aponta soluções,
pois fornece elementos para analisar uma situação, dentro de um contexto. Os benefícios da
aplicação de pesquisa neste artigo é compreender como se dá a o empoderamento da
população de Ouro Preto com a mídia local ao longo do tempo, e sua relação com o poder
público, dando destaque ao espaço de convivência do Largo do Coimbra, que será
abordado como estudo de caso, devido as singularidades representativas como ambiente de
convívio e referencia de luta e apropriação, pela população de Ouro Preto.
A pesquisa neste contexto permite compreender o histórico da mídia e sua relevância junto
a singular trajetória desta cidade, bem como compreender a relação da população local com
este meio de comunicação, permitindo uma análise critica do empoderamento deste
instrumento de mídia de sua relevância histórica.
3.1.1 Pesquisas Qualitativas
A investigação qualitativa que defendemos substitui a resposta pela construção, à verificação pela elaboração e a neutralidade pela participação. O investigador entra no campo com o que lhe interessa investigar, no qual não supõe o encerramento no desenho metodológico de somente aquelas informações diretamente relacionadas com o problema explícito a priori no projeto, pois a investigação implica a emergência do novo nas idéias do investigador, processo em que a o marco teórico e a realidade se integram e se contradizem de formas diversas no curso da produção teórica. (GONZÁLEZ REY, 1998, p.42)
A pesquisa qualitativa não procura enumerar e revelar dados estatísticos, ela está baseada
em um plano estabelecido, levando em consideração hipóteses e objetivos claramente
definidos. Ela expressa teoria e dados, contexto e ação, pesquisador e objeto de estudo
(MAANEN, 1979, p. 520).
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Compreender e interpretar os fenômenos faz parte da pesquisa qualitativa, pois auxilia na
visão e resposta do problema e fornece um enfoque para o entendimento da realidade
proposta pelo projeto.
A fim de realizar uma avaliação atual, verídica e criteriosa da relação do uso da mídia
impressa pela população local, foram realizadas pesquisas documentais em períodos
históricos distintos, em documentação da do arquivo da 13ª Superintendencia do IPHAN, em
Belo Horizonte, do arquivo público de Ouro Preto, da Biblioteca pública de Ouro Preto, além
de pesquisa virtual, sendo analisados documentos, processos administrativos, ofícios,
memorandos, relatórios e jornais da época, além de relatos de moradores residentes na
cidade.
3.1.2 Pesquisas Bibliográficas
Neste artigo a pesquisa Bibliográfica será utilizada com o objetivo de identificar autores e
documentos pertinentes ao assunto, a fim de salientar informações que agreguem
fundamentação, com intuito de avaliar o problema proposto.
Dentre os muitos autores e organizações usados como referência e pesquisa, destacamos
IPHAN, Lakatos, Rúdio, Tondato, Braynes, Cruz e Ribeiro.
3.1.3 Estudo de caso – Largo do Cimbra: Espaço de manifestação popular
No século XVIII a produção agrícola da região era destinada apenas ao abastecimento da
província, uma produção simples e de subsistência das famílias da região. A partir do sec.
XIX a população urbana da região cresce consideravelmente, concentrando nas cidades e
nos mercados o comercio dos alimentos produzidos na região.
Esta concentração em espaços destinados ao comercio permitiu o tabelamento das
mercadorias vendidas, a padronização e a fiscalização do que era e como era
comercializado na região.
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Figura 03 - APMOP - Fundo: CMOP - Caixa: Abastecimento - Ano: 1893
Ao visitar aos arquivos de Ouro Preto, pode-se encontrar uma vasta documentação que
descreve o controle de comercio de produtos na região. Destaca-se o Arquivo Municipal de
Ouro Preto, cujo acervo encontra-se uma série chamada “Abastecimento”, que possui
documentos referentes a contratos de fornecimento e controle da qualidade de produtos.
Em Ouro Preto destacou-se como zona de comercialização o Mercado Municipal, chamado
de Mercado de Antonio Dias, situado no Largo de Coimbra. Inicialmente, em meados do
Sec XIX o espaço funcionava com uma feira de produtos da região, além de ponto de
encontro de tropeiros, que usavam deste espaço para venda de produtos, comercio em
geral e parada para dar água e alimento aos animais.
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Figura 04 - Mercado da Freguesia de Antonio Dias, século XIX
No final do Séc. XIX este mercado foi demolido para dar espaço a uma construção moderna.
Segundo relatos de moradores e conforme comprovado em publicações que descrevem de
forma informal fatos do cotidiano da cidade de Ouro Preto, Mesmo com a demolição do
mercado e a posterior construção de um frigorífero, o espaço não perdeu sua essência
como ponto de encontro e troca de produtos. Há relatos de que ao longo do tempo, em meio
as novas construções ali abrigadas, as pessoas permaneciam no uso do espaço como
comercio informal, voltando sempre o bem para sua essência.
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Figura 05: Ilustração do Mercado de Antonio Dias, início da década de 1940
No inicio do Sec XX a construção é novamente demolida no intuito de “limpeza visual”
promovida pelo SPHAN neste período, na busca pela padronização colonial, criando maior
visibilidade a cidade monumento.
Todo este processo pode ser acompanhado pelos registros dos Jornais impressos da
cidade, que trazem uma riquíssima gama de informações sobre o que acontece na política,
na cidade e na região, nos contextualizando sobre os momentos históricos e sua ligação
com as mudanças deste espaço.
Outro ponto fundamental da mídia impressa é sua estreita relação com a população local,
abrindo espaço para manifestações públicas de desagrado da população com o que é feito
de seu patrimônio.
Neste contexto avaliamos a importância da participação popular e apropriação da
comunidade pelos bens culturais registrados (ou não), do espaço onde vivem. Somente
através desta apropriação é possível a real preservação do bem, não apenas em sua
estrutura física ou legal, mas na disseminação de sua memória e representatividade da
cultura local. Em pesquisa realizada nos arquivos de Ouro Preto, encontramos, ao longo dos
anos, diversos relatos da população frente a sua identificação com este espaço.
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Figura 06 – Jornal de Ouro Preto
Conforme descritos na reportagem acima, os arquivos da cidade de Ouro Preto carregam
em suas paginas preciosas narrativas do cotidiano simples desta cidade, paginas impressas
de uma trajetória de fatos históricos que compõem a tradição e a singularidade desta cidade
para a nação Brasileira.
A gama de impressos encontrados nos arquivos pesquisados e as informações contidas
nestas reportagens, demonstram e estreito laço entre a população e a mídia impressa. Este
veículo de comunicação era muito usado pela administração da cidade, para a ampla
divulgação de suas ações, bem como para comunicar a cidade de fatos de interesse
público, mas também, percebe-se, na maioria dos impressos, um interesse continuo em aliar
a informação oficial a opinião e manifestação da população. Com espaços exclusivamente
destinados e este tipo de postagem.
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Figura 07 - Jornal Ouro Preto, 1995.
Na reportagem apresentada (Figura 07), moradores e profissionais da comunicação,
demonstram grande afeição as tradições do espaço que compõem o Largo do Coimbra,
relatando o intuito de modificação vindo do poder público, mas salientando a importância da
participação popular no cuidado e na preservação de sua historia, representada em espaços
de tradição, física e oral de sua cidade.
Figura 08 - Jornal de Ouro Preto
Em artigos de jornais, encontrados nos arquivos da cidade de Ouro Preto, é comum
encontrar reportagens que descrevam a insatisfação da população frente a imposições do
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SPHAN, na cidade (figura 08). Muitas destas interferências visavam a construção da
imagem ideal da cidade em detrimento ao cotidiano e aspectos simples, mas simbólicos
para a comunidade local.
De acordo com o capítulo V, artigo 24 da lei 17/2002, cabe ao poder público não só a
documentação do bem cultural, como uma ampla divulgação e promoção, com a finalidade
de perpetuação do bem.
6. Conclusão
A mídia impressa, em sua multi funcionalidades, é fundamental para o registro e
preservação da história diária de um povo. Nela encontramos os muitos lados de uma
mesma ação, contemplando não apenas a história oficial e documental registrada nos órgão
de governo, mas abrindo um amplo espaço para as histórias anônimas do dia a dia da
população, refletindo sua relação com o bem e sua verdadeira opinião sobre o que acontece
a sua volta.
È claro que como todo meio de comunicação, a mídia impressa não está isenta de
direcionamento, ou mesmo interferência política e social em suas publicações, mas o que
vemos, na história deste canal, é uma busca constante pela idoneidade da informação.
A trajetória do Largo do Coimbra, em Ouro Preto representa com êxito está situação. Em
pesquisas aos muitos arquivos da cidade, e após analisar reportagens ao longo dos anos, é
possível perceber a busca constante por apresentar as faces de uma mesma situação.
Tendo em vista que, em muitos casos, é possível encontrar a informação oficial do tema
junto com manifestos sobre o mesmo assunto.
Ao longo da história da cidade, muitos impressos ganharam espaço, alguns mais político,
outros mais sociais, e esta mescla de informações representam o rico histórico documental
preservado em Ouro Preto.
O presente estudo foi fundamentado em pesquisa documental realizada em diversos
arquivos, tais como, da 13ª Superintendencia do IPHAN, do arquivo público de Ouro Preto,
da Biblioteca pública de Ouro Preto e pesquisa virtual, sendo analisados documentos,
processos administrativos, ofícios, memorandos, relatórios e jornais da época, fotos e
imagens, além de relatos de moradores residentes na cidade.
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Este artigo tem por adjetivo fomentar o interesse e a valorização da pesquisa aos arquivos
impressos da cidade de Ouro Preto, que possuem um potencial inestimável para pesquisas
acadêmicas. Salientamos a qualidade do material encontrado, bem como a disponibilidade
dos profissionais atrelados a este tema, que em grande parte, são os responsáveis pela
qualidade, identificação e preservação destes acervos.
Em muitas consultas aos arquivos físicos, era constante a presença de estudiosos do tema,
mas também era comum, encontrar moradores e admiradores da cidade de Ouro preto, que
usam destes preciosos arquivos para conhecer as singularidades históricas desta
encantadora cidade.
Assim, concluímos que a mídia impressa possui relação direta com a narrativa histórica da
cidade de Ouro Preto, documentando, preservando e propagando sua relevância para a
construção da identidade nacional.
O Largo do Coimbra se destaca neste contexto, pela trajetória de mudanças deste espaço,
que ao longo dos anos, muito se perdeu de seu registro formal, mas a mídia impressa se faz
presente em toda a narrativa, contextualizando as mudanças ocorridas e registrando não
apenas os fatos oficiais, mas a manifestação popular e a identificação popular com este
espaço de comercio.
7 – Referencias
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