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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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LITERATURA E OUTRAS LINGUAGENS: alamedas à formação de

leitores críticos

Martinha Aparecida da Silva [email protected]

Marly Catarina Soares [email protected]

Resumo: Este artigo apresenta uma sistematização do PDE e os resultados obtidos da experiência

pedagógica desenvolvida em sala de aula, tendo como título Literatura e outras linguagens: alamedas

à formação de leitores críticos. Através dessas formas de arte, foi possível entrar em contato com

temas humanos complexos de forma prazerosa. Isso contribuiu para que o aluno entendesse melhor

a si mesmo, o outro e compreendesse a sociedade capitalista em que vivemos, na qual as pessoas

são levadas ao individualismo. Para a aplicação desse Projeto de Implementação, embasou-se no

Método Recepcional, segundo sugestão nas Diretrizes Curriculares Estaduais (2008), adaptando-o

conforme necessário. Nessa investigação buscaram-se referências nos autores Tzvetan Todorov,

Antonio Cândido, DCES, entre outros. Dessa forma, este artigo contempla os três momentos

vivenciados no PDE, destacando a implementação, a qual culminou nesta reflexão sobre a prática.

Essa proposta foi desenvolvida com os alunos do Ensino Médio, no Colégio Estadual Padre Carlos

Zelesny, em Ponta Grossa, Paraná. Percebeu-se que este projeto veio contribuir de forma

significativa à vida desses adolescentes, já que houve um despertar para as artes literárias e visuais,

um olhar reflexivo às músicas de sua preferência e também àquelas propostas nas atividades.

Palavras-Chave: Literatura; leitores críticos; relações humanas.

1. Introdução

A formação do leitor é um dos objetivos do Ensino Básico, devendo, portanto,

ser preocupação constante na disciplina de Língua Portuguesa. Contudo,

enfrentamos muitas dificuldades para formar esse leitor. Além disso, o trabalho com

a Literatura no Ensino Médio, embora seja previsto nas Diretrizes Curriculares

Estaduais, tem contribuído de forma insuficiente na formação do ser humano. Isso é

visível entre nós professores de Língua Portuguesa, uma vez que existe uma

preocupação em ensinar para o PSS e o Vestibular, organizando planejamentos

numa sequência que parte das origens literárias à contemporaneidade.

Nessa perspectiva, Todorov (2009, p. 27) diz “Ler poemas e romances não

conduzem à reflexão sobre a condição humana, sobre o indivíduo e a sociedade, o

amor, a alegria, o desespero.” Assim, ao refletir sobre os atores do Ensino Médio e

as angústias vivenciadas no cotidiano escolar, nasceu essa proposta desafiadora,

Professora do Quadro Próprio do Magistério do Estado do Paraná da disciplina de Língua Portuguesa, com especialização em Interdisciplinaridade na Educação Básica e, em Arte Educação, participante do Programa de Desenvolvimento Educacional PDE 2014. Professora Orientadora PDE. Professora Doutora da Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG; Departamento de Letras Vernáculas.

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contudo, imperativa para que fosse possível uma aproximação às características

desses sujeitos em formação. Acreditando ser prazeroso trabalhar as linguagens de

forma interdisciplinar, busquei neste Projeto, produzir um material que possibilitasse

ao aluno fazer reflexões e que isso o levasse a correlacionar os assuntos com outras

áreas de conhecimento, favorecendo assim seu crescimento intelectual e humano.

A compreensão das atitudes do homem nas suas relações com o outro, com

a natureza, enfim, dele com o mundo, constituem tarefa muito complexa. Por isso,

essa alternativa para o trabalho com a literatura em sala de aula conectada a outras

linguagens foi elaborada embasando-se no Método Recepcional, adaptando-o

conforme necessário, segundo sugestão nas Diretrizes Curriculares Estaduais

(2008). Como nesse método, a tarefa do professor é a de propor leituras mais

próximas do gosto do aluno, iniciou-se com textos musicais da preferência desse

adolescente e, num processo gradual, apresentou-se textos que o distanciassem de

seu universo de referências.

Desta forma, este artigo apresenta a Implementação da Produção Didático-

Pedagógica realizada com alunos do Ensino Médio – 1º Ano, no Colégio Estadual

Padre Carlos Zelesny, em Ponta Grossa. Não houve nenhuma intenção, porém, em

exaurir esta investigação, uma vez que todo conhecimento produzido sempre poderá

ser expandido e novas conclusões podem ser elaboradas. Assim, foram elencadas

sugestões que pudessem contribuir no desenvolvimento da consciência crítica do

educando, sobre sua realidade social através da leitura reflexiva de textos literários,

musicais e artes visuais com a aspiração de que se ampliasse seu horizonte de

expectativas e, consequentemente sua visão de mundo.

2. Acesso real à literatura

A alteridade no processo da Educação se faz pertinente num mundo em que

a sensibilidade humana embrutece. Como fruto de uma sociedade capitalista, o

homem nem sempre percebe que se transformou num ser individualista, egoísta e,

frequentemente, desumano. Isso é visível no ambiente escolar e nas salas de aula.

Nesse contexto, necessário se fez repensar as aulas de literatura, as quais muitas

vezes ainda resumiam-se ao ensino da história e de gêneros literários.

Harmuch (2011), no artigo “Às voltas com Pinóquio: Leitura Literária na

formação docente” diz

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No final de suas aventuras, Pinóquio permanece incapaz de aplicar os livros e seus ensinamentos à experiência de si mesmo e do mundo, como parece continuar acontecendo com a maioria dos alunos que recebem, ao longo de todo o Ensino Médio, informações sobre literatura, sem ter real acesso a ela. (HARMUCH, 2011, p. 161)

Portanto, é imprescindível um novo olhar às discussões em torno do currículo

e, consequentemente, dos planejamentos anuais dessa disciplina.

Vale ressaltar que o indivíduo precisa da literatura para viver melhor, para ser

feliz, pois ela o ajuda no entendimento de seus próprios sentimentos e, por

conseguinte, na compreensão do outro ser humano. Podemos encontrar

considerações pertinentes, sobre as contribuições que a literatura traz à apreensão

das relações humanas em Tzevetan Todorov (2009, p. 23).

Mais densa e mais eloquente que a vida cotidiana, mas não radicalmente diferente, a literatura amplia nosso universo, incita-nos a imaginar outras maneiras de concebê-lo e organizá-lo. Somos todos feitos do que os outros seres humanos nos dão: primeiro nossos pais, depois aqueles que nos cercam; a literatura abre ao infinito essa possibilidade de interação com os outros e, por isso, nos enriquece infinitamente. Ela nos proporciona sensações insubstituíveis que fazem o mundo real se tornar mais pleno de sentido e mais belo. Longe de ser um simples entretenimento, uma distração reservada às pessoas educadas, ela permite que cada um responda melhor à sua vocação de ser humano. (TODOROV, 2009, p. 23)

Inegável as afirmações desse autor. Toda poesia, romance, conto, crônica

traz em si um sol, aquecendo a alma e iluminando o pensamento. Na arte literária

encontram-se excelentes textos, os quais podem envolver e emocionar, levando a

caminhos inusitados. A confirmação de que o leitor participa de uma leitura literária

de forma dinâmica encontra-se em Antonio Candido (1967):

A literatura é, pois, um sistema vivo de obras, agindo umas sobre as outras e sobre os leitores; e só vive na medida em que estes a vivem, decifrando-a, aceitando-a, deformando-a. A obra não é produto fixo, unívoco ante qualquer público; nem este é passivo, homogênio, registrando uniformemente o seu efeito. São dois termos que atuam um sobre o outro, e aos quais se junta o autor, termo inicial desse processo de circulação literária, para configurar a realidade da literatura atuando no tempo. (CANDIDO, 1967, p. 86- 87)

Configura-se, desse modo, a ação das obras literárias sobre os leitores.

Segundo as DCES (2008) “O primeiro olhar para o texto literário, tanto para o Ensino

fundamental como do Ensino Médio, deve ser de sensibilidade, de identificação”.

Assim, levar às salas de aula textos que fossem atrativos, nos quais o aluno se

identificasse e percebesse as contradições vividas pelos personagens, foi um

diferencial nessa implementação.

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O professor, conforme as DCES (2008), “deve estimular o aluno a projetar-se

na narrativa e identificar-se com algum personagem”. Contribuições relevantes

ampliando essas reflexões são encontradas em Todorov, (2009) ao afirmar que

O Idiota, de Dostoievski, pode ser lido e compreendido por inúmeros leitores, provenientes de épocas e culturas muito diferentes; um comentário filosófico sobre o mesmo romance ou a mesma temática seria acessível apenas à minoria habituada a frequentar esse tipo de texto. Entretanto, para aqueles que os compreendem, os propósitos dos filósofos têm a vantagem de apresentar proposições inequívocas, ao passo que as metáforas do poeta e as peripécias vividas pelas personagens do romance ensejam múltiplas interpretações. (TODOROV, 2009, p. 78)

O escritor na medida em cria um acontecimento ou um objeto permite ao leitor

a liberdade para participar dessa criação e, assim o faz ativo nesse processo de

recepção. Palavras, ideias, histórias: a obra literária produz inquietação, desperta a

capacidade de interpretação, associação. Desconstrução de estereótipos e

preconceitos, principalmente, aqueles vinculados na mídia e, estão de certa forma,

sendo instalados nos espíritos dos adolescentes, podem receber, também, ajuda da

literatura. Encontrar personagens e conhecê-los, perceber sua singularidade, amplia

o horizonte do estudante.

Nova contribuição encontra-se em Todorov (2009), que diz: “Sendo o objeto

da literatura a própria condição humana, aquele que a lê e a compreende se tornará

não um especialista em análise literária, mas um conhecedor do ser humano.” Ainda

segundo esse autor, o ensino da literatura nessa perspectiva pode contribuir:

[...] Se entendermos assim a literatura e orientarmos dessa maneira o seu ensino, que ajuda mais preciosa poderia encontrar estudante de direito ou de ciências políticas, o futuro assistente social ou psicoterapeuta, o historiador ou o sociólogo? Ter como professores Shakespeare, Sófocles, Dostoievski e Proust não é tirar proveito de um ensino excepcional? E não se vê que mesmo um futuro médico, para exercer o seu ofício, teria mais a aprender com esses mesmos professores do que com os manuais preparatórios para concurso que hoje determinam o seu destino? Assim, os estudos literários encontrariam o seu lugar no coração das humanidades, ao lado da história dos eventos e das ideias [...] (TODOROV, 2009, ps. 92, 93)

A literatura tanto auxilia na construção do homem, tornando-o consciente,

capaz de discernir entre liberdade e opressão, democracia ou outros regimes

totalitários, quanto como da relação dele e a vida profissional. A ausência da leitura

numa sociedade impede a formação integral do indivíduo. Ler é, portanto, saber. O

espírito encontra a felicidade, vê a desgraça, sente o próximo, dá valor e consegue

colocar-se no lugar do outro.

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Encontra-se em Geraldi (1990 apud DCES) considerações importantes no

sentido de que o professor ao dar a palavra ao aluno através de poemas, contos,

romances, crônicas – precisa aceitá-la e devolvê-la ao aluno

É devolvendo o direito à palavra – e na nossa sociedade isto inclui o direito

à palavra escrita – que talvez possamos um dia ler a história contida, e não

contada, da grande maioria que hoje ocupa os bancos das escolas públicas.

(GERALDI, 1990 apud DCES, p. 38)

Para que, assim, o ato de ler e escrever sejam, segundo as Diretrizes

Curriculares Estaduais (2008, p. 39) “um instrumento legítimo de luta e

posicionamento [...] de posse desse instrumento, possam assumir uma postura de

cidadãos ativos na sociedade brasileira.” Dessa forma, nas salas de aula, a partir

dos textos musicais, textos visuais e arte literária oportunizou-se discussões sobre o

papel da educação, a qual faz parte da transformação social, política e econômica

de um cidadão. Entretanto, orientou-se o estudante de que a escola não é

responsável pelos problemas sociais de uma comunidade, como na maioria das

vezes alguns segmentos da sociedade tencionam a fazer. Assim, favorecendo

compreensão do papel social da escola, seu objetivo principal: o conhecimento.

Sabe-se que as palavras estão carregadas de conteúdo ideológico, “elas são

tecidas a partir de uma multidão de fios ideológicos e servem de trama a todas as

relações sociais em todos os domínios.” (BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1999, p. 41 apud

DCES, 2008, p. 50). Procurou-se, portanto, através das leituras realizadas,

oportunizar maior reflexão aos alunos, para que percebessem as ideologias

presentes em cada discurso.

2.1 Considerações dos professores cursistas referentes ao Projeto de

Intervenção Pedagógica

As contribuições do GTR – Grupo de Trabalho em Rede – no momento em

que foi socializado o Projeto de Intervenção Pedagógica foram substanciais, uma

vez que possibilitou a troca de ideias e dos fundamentos teóricos relacionados à

temática proposta. Os professores (as), em geral, consideraram o tema do projeto

muito importante para o desenvolvimento da leitura, enfatizando que a Literatura é a

responsável, não só na formação de leitores, como também de escritores.

Destacaram que a temática voltada à sensibilização do aluno (ser humano) através

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da literatura e outras linguagens, pode contribuir para o desenvolvimento de pessoas

sensíveis. Além disso, o grupo considerou que se faz necessário provocar o aluno a

aprender de outras formas, isto é, usando outras linguagens. Houve reflexão

referente às informações que nosso educando recebe da mídia, as quais interferem

na formação de leitores literários, sobretudo, críticos. Também questionaram sobre o

sistema de blocos, o qual não possibilita tempo adequado à apreciação da literatura.

Contudo, mesmo com a escassez de tempo, ponderaram que é possível incentivar o

hábito à leitura tornando-a prazerosa. Enfim, as considerações apontadas mostraram

que este projeto mobiliza o aluno para a leitura ao proporcionar acesso a vários

gêneros, conforme pode ser verificado nos relatos realizados pelos professores

participantes do GTR, doravante denominados: Professor 01, Professor 02, e assim

por diante.

Professor 01: “Acredito que um projeto que incentive a leitura, principalmente

de textos literários, que alavanque o contato dos alunos com outras linguagens, que

provoque estranhamento, sempre é válido. Precisamos ampliar os conhecimentos

dos nossos alunos, sua visão de mundo e até seu vocabulário. Através da literatura,

damos a eles esse acesso, além da possibilidade de sonhar e viajar pelo mundo da

leitura”. A proposta requer, realmente, aproximar o aluno da Literatura. Outras

linguagens, além de provocar, procuram estimular a leitura literária.

Professor 02: “A parte de que mais gostei foi a temática, voltada para a

sensibilização do aluno (ser humano) através da literatura. Os textos selecionados

também contemplam vários gêneros literários e são de extremo bom gosto”.

Professora 03: “A busca pela formação de leitores críticos é um dos grandes

desafios que enfrentamos em nosso cotidiano escolar. Além disso, a leitura literária

tem sido trabalhada, na maioria das vezes, apenas como forma de avaliação. Devido

a isso, o aluno acaba se distanciando da leitura de obras literárias, vista como

obrigatoriedade. Frente a esse desafio, o tema do seu projeto é muito pertinente.

Ainda, ao valorizar a leitura literária, os alunos perceberão que a mesma pode ser

concebida de forma prazerosa”. Acredito que a partir do momento em que as

informações sobre literatura deixarem de ser o foco da aprendizagem, nossos

alunos poderão ter real acesso a ela.

Professor 04: “Lendo a problematização de seu projeto, parece ser óbvia a resposta,

sim, a literatura e a arte sem dúvida nenhuma, contribuem para compreensão das

relações humanas na sociedade capitalista que vivemos. No entanto, é uma

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afirmação carregada de subjetividade, em que é muito difícil mensurar de que forma

se dá esta contribuição. Desenvolver a consciência crítica no aluno, seja como leitor,

ouvinte, expectador, é algo que nós da disciplina de Arte sempre tivemos como

objetivo principal. Porém, em tempos do ‘tudo pode’, em que ‘qualquer coisa tem

valor’ este discurso parecia estar esquecido. Que bom que ainda temos professores

preocupados em formar pessoas sensíveis, característica fundamental da

humanidade”.

Professor 05: “[...] ‘que o texto literário ocupe o centro do processo educacional’. Já

imaginaram se a escola, como um todo, assim entendesse? Seria a solução,

seríamos outra nação. (Vamos correr atrás disso. Utopia? Não creio)”.

Professor 06: “Lembro-me que na minha primeira aula de Filosofia na UFPR, no ano

de 2003, um professor comentou sobre o nível baixo de leitura e escrita com que os

alunos vinham do Ensino Médio. Eu estava assustado, pois sabia que seria exigido

muito trato com textos nos anos de curso. Depois da aula indaguei ao professor

sobre o melhor método para ler e escrever bem, assim como fazer uma boa

evolução nos argumentos filosóficos em meus textos. Ele simplesmente me

respondeu: ‘LEIA MUITA LITERATURA! Comece com Em busca do tempo perdido’.

Essa situação me veio em mente assim que li o projeto em questão. Confesso que o

achei maravilhoso e de uma riqueza humana imensa. Se o objetivo é ter esse ganho

na formação humana do aluno, então concordo que a literatura pode fornecer isso

como mais nenhuma área pode. A filosofia fornece momentos de reflexão ímpares

para quem a digere, mas até mesmo os filósofos tiveram na literatura uma grande

fonte. Nietzsche afirmou que Dostoievski lhe ensinou muito mais sobre o ser

humano que qualquer psicólogo. Albert Camus escreveu o Estrangeiro, obra com o

qual recebeu o Prêmio Nobel de literatura, em forma de prosa para que

entendessem seu existencialismo [...] que tocasse mais na alma do que no

intelecto”. O relato das experiências desse professor veio intensificar e comprovar

as palavras de Todorov (2009, p. 23) “A literatura não é um simples entretenimento,

distração reservada às pessoas educadas, ela permite que cada um responda

melhor à sua vocação de ser humano”.

3. Alternativas metodológicas à formação de leitores

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Nesse artigo optou-se pelo método Recepcional como encaminhamento

metodológico, elaborados pelas professoras Maria da Glória Bordini e Vera Teixeira

de Aguiar (1993 apud DCES, p. 74) que consiste em

[...] efetuar leituras compreensivas e críticas; ser receptivo a novos textos e a leitura de outrem; questionar as leituras efetuadas em relação ao seu próprio horizonte cultural; transformar os próprios horizontes de expectativas, bem como os do professor, da escola, da comunidade familiar e social. (DCES, 2008, p. 74)

Embora a literatura utilize outras áreas do conhecimento para haja

compreensão efetiva dessa linguagem, ainda assim o aluno não está habituado com

o trabalho interdisciplinar. Por isso, a metodologia que permeou essa prática, além

de despertar o interesse do leitor, procurou provocá-lo também, conforme se

apresenta a seguir.

Na Seção 1 “O que é Arte”, a sensibilização do aluno ocorreu conforme o

objetivo proposto: colocá-lo em contato com A Literatura e outras Linguagens

através da organização da sala – encartes de obras Visuais distribuídos em varais;

textos literários: poemas, contos, crônicas, romances; com fundo musical clássico –

tudo isso para apreciação e fruição. Nesse ambiente diferenciado, apresentei o

Projeto aos alunos, o qual trouxe de imediato várias indagações e certa surpresa.

Mesmo assim, houve alguns alunos que não se interessaram, fazendo comentários

como: “O que isso tem a ver com a matéria de Português?” Devido à agitação dos

alunos, não foi possível ouvir os relatos, segundo sugestão dada nesta seção 1. Por

isso, depois da apreciação e fruição solicitei à turma que registrasse suas

impressões e considerações através de um texto opinativo. Alguns trechos das

considerações realizadas pelos alunos a seguir:

a) “[...] momento único, primeira vez na escola, a sala parecia um museu, um

pouco inquieto, mas deu para apreciar as obras expostas a turma. Só

acho que nossa escola deveria ter mais momentos assim”.

b) “A música hum... era ótima, muito tranquila. Mas uma colega disse: ‘Seria

mais interessante se todos colaborassem’; concordo plenamente com ela.

Espero que tenha mais aula desse tipo”.

c) “Pra mim foi uma coisa nova, nunca tinha visto nada igual. As obras são

legais, algumas são estranhas”.

Em cada temática, de certa forma, foram exploradas as cinco etapas do Método Recepcional; como poderá ser verificado nos relatos mais adiante.

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d) “A ideia da professora foi interessante ao trazer coisas novas, mudando o

ambiente escolar”.

e) “Foi muito interessante, mas se a turma colaborasse seria muito legal”.

Sabemos que a linguagem artística é polissêmica, admite uma pluralidade de

sentidos, apelando à nossa capacidade para descobri-los. Como percebi que muitos

alunos possuíam dificuldades para interpretar, as atividades seguiram num ritmo

lento para que houvesse maior compreensão. Na sequência trabalhou-se com o

poema de Ferreira Gullar “Traduzir-se”, o qual trouxe muitas indagações sobre a

Arte.

Uma parte de mim

É todo mundo:

[...]

Foi disponibilizada ao aluno a biografia do autor, destacando sua contribuição

como prenunciador dos movimentos de vanguarda através da publicação do livro A

Luta Corporal. Na sequência, para despertar emoções, fazendo com que o aluno se

aproximasse da poesia prazerosamente, apresentamos o poema através de uma

leitura dramatizada, só a partir disso, houve indagação ao aluno sobre o que seria a

Arte em sua concepção.

Dando continuidade às reflexões, o aluno pode aumentar sua percepção

ouvindo a música “Traduzir-se” interpretada por Fagner. A partir disso, exploraram-

se alguns conceitos de arte. E como provocação, destaque à obra de Marcel

Duchamp – Fonte – será que podemos chamar esse objeto de arte?

Na explanação dos elementos distintos da arte visual, literária e musical

retomaram-se as linguagens através dos textos já apresentados, exemplificando

essas distinções.

Conforme as DCES (2008, p.50) “as práticas discursivas abrangem, além dos

textos escritos e falados, a integração da linguagem verbal com outras linguagens

(multiletramentos).” Como a preferência do adolescente pela música tornou-se

evidente na sociedade pós-moderna, decidiu-se optar também pela utilização dessa

linguagem para o ensino da literatura. Utilizou-se música contemporânea que

fizesse parte do cotidiano do aluno e que fosse de sua preferência. Em seguida, o

objetivo foi oportunizar músicas de outras épocas no questionamento e ampliação

de suas expectativas. Assim, investigou-se a preferência musical do aluno através

de entrevistas conhecidas como Bate-Bola: entrevistas curtinhas, pergunta-resposta.

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Nesse momento, indagou-se ao aluno: você sabia que por muito tempo, até o final

da Idade Média, as poesias eram feitas para serem cantadas? A partir disso,

solicitou-se ao aluno a música preferida dele: letra; áudio. Além disso, breve

biografia cantor/compositor, marcando uma data para entrega dessa pesquisa,

explicando à turma que ela seria necessária para o desenvolvimento da terceira

seção desse projeto.

De acordo com Silva (2002 apud DCES, 2008, p. 74) “O ensino da prática de

leitura requer um professor que além de posicionar-se como um leitor assíduo,

crítico e competente, entenda realmente a complexidade do ato de ler”. Segundo as

(DCES, 2008, p. 74).

Para a seleção dos textos é importante avaliar o contexto da sala de aula,

as experiências de leitura dos alunos, os horizontes de expectativas deles e

as sugestões sobre textos que gostariam de ler, para, então, oferecer textos

cada vez mais complexos, que possibilitem ampliar as leituras do educando.

Como estratégia para diagnosticar o interesse do aluno pela arte literária,

organizou-se visitas às bibliotecas da Escola, UEPG e Municipal, as quais os alunos

gostaram muito. Foi sugerido a eles que procurassem o romance – Pequeno

Príncipe para leitura, havendo grande interesse pela obra de Antoine de Saint-

Exupéry. Os alunos apreciaram muito a aula-passeio e iniciaram a leitura do

romance com entusiasmo.

Na segunda seção, uma investigação, através da oralidade, sobre o gosto

poético do aluno objetivou sensibilizá-lo à linguagem presente (arte poética) nos

textos tanto em prosa como em verso. Para isso a crônica – Se eu fosse pintor, de

Cecília Meireles contribuiu de forma decisiva, uma vez que esse texto permite

visualizar com mais facilidade a presença da poesia na prosa. A partir disso, foi

possível maior compreensão ao aluno de que só se produz um texto literário quando

a intenção do escritor vai além da mera informação ou de uma proposta de reflexão

sobre a condição humana. Sua intenção também deve estar voltada para a própria

elaboração da mensagem, selecionando e combinando as palavras de uma forma

muito especial. Dando continuidade a estas reflexões foi possível indagar: poesia e

poema querem dizer a mesma coisa? Salientando sempre a presença da linguagem

conotativa na arte literária.

Também nesta seção, usando procedimentos de leitura que viesse contribuir

na formação do leitor, destacaram-se as características dos gêneros de forma a

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fazê-los diferenciar pintura, poema e crônica. Como ruptura do horizonte de

expectativas, interpretou-se a obra “A Negra”, de Tarsila do Amaral; e o poema “Pai

João” de Jorge de Lima. Nessa análise foi possível identificar que, ao criar, somos

dominados pelo sentimento do belo, e isso é poesia. Desse modo, não só os

poemas, mas uma paisagem, uma pintura, uma foto, uma dança, um gesto, um

conto, uma crônica, por exemplo, podem estar carregados de poesia. A partir desses

textos foi possível perceber maior envolvimento dos educandos com as atividades

propostas.

Dando continuidade a esta Implementação, a terceira seção, intitulada

“Relações sociais – Intolerância”, leva a identificação das atitudes humanas através

da análise de quatro textos. O primeiro, a letra musical “O Lobo”, de Pitty; o

segundo, “Guernica”, de Pablo Picasso; o terceiro capítulo LIX – “Um encontro” e

capítulo LX – “O abraço”, ambos da obra “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de

Machado de Assis; o último, “O homem é o lobo do homem”, frase do filósofo inglês

Thomas Hobbes.

Ao iniciar esta seção, para atrair a atenção do aluno, organizou-se a turma em

equipe, a qual estava de posse do material solicitado na primeira seção: letra da

música preferida e, também, breve biografia do cantor/compositor. Em seguida, a

orientação era que elegessem uma das músicas do grupo para analisá-la. Desse

modo, sugeriu-se que procurassem descobrir que sentimentos aquela letra musical

despertava no leitor e que assunto era abordado. Além disso, orientou-se para que

observassem, considerando os textos já trabalhados nesta implementação, se havia

semelhança quanto à organização em versos e estrofes.

Ao longo dessa implementação verificamos alunos desinteressados, mesmo

quando trabalhamos com a preferência musical, alguns nem assim se motivaram.

Contudo, uma aluna ao analisar sua música preferida “Lepo lepo”, ficou muito

desapontada. Ao avançar nessa seção houve compreensão da maioria de que na

música são explorados todos os nossos sentimentos do dia a dia. Além disso,

conforme o desenvolvimento das atividades com essa linguagem, o aluno interou-se

de que nela também há polêmicas, protestos, registram-se acontecimentos que

estão ao lado daquele que escreve e interpreta a música, assim como ao redor

daqueles que as ouvem. Isso foi mais visível depois que ouviram e refletiram sobre o

tema apresentado na letra musical de Pitty. Conclusões de alguns alunos ao finalizar

essa seção:

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“O homem é inimigo de si mesmo”;

“O homem pode ter se desenvolvido, mas sua ignorância continua a mesma. Uns

acham que não, pois sua ignorância e seu egoísmo não o deixam ver a realidade”;

“O homem não tem compaixão mata sua própria espécie”;

“Os homens são tão cruéis!”;

“Nós continuamos fazendo as mesmas coisas erradas assim como os nossos

ancestrais”;

“Os homens estão cometendo os mesmos erros do passado”.

A Quarta seção oportunizou observações referentes ao processamento das

relações familiares em textos de diferentes gêneros. O primeiro, uma letra musical

“Pais e Filhos”, de Legião Urbana; o segundo, “As mãos de meu filho”, de Érico

Veríssimo, o terceiro, “O Peru de Natal” de Mário de Andrade, o quarto, um trecho

de “HAMLET”, DE William Shakespeare.

Foi possível a identificação do papel paterno no âmbito familiar, a localização

de informações explícitas indicativa das atitudes humanas nos diversos contextos

familiares. Tudo isso culminou na produção de um texto narrativo, no qual o aluno

pode expressar seus conflitos familiares. Na verdade, o aluno conseguiu através

dessas linguagens artísticas desabafar, demonstrando assim uma melhor

compreensão de sim mesmo e da realidade que o cerca.

A relação interpessoal, temática da quinta seção, sofreu alterações, já que

além do ritmo lento, devido às dificuldades do aluno para interpretar, conforme

relatado na primeira seção, ainda tivemos um semestre atípico – Copa do Mundo.

Isso justifica o fato de que os textos selecionados para esta seção fossem

orientados como pesquisa pelos alunos. Por isso, a letra musical “Monte Castelo”,

composição de Renato Russo; trecho Bíblico do Apóstolo Paulo (“1 Coríntios 13:1-

12”); “Almas perfumadas”, de Drummond direcionaram-se apenas a leituras

extraclasse.

Para essa seção também se planejou, a partir da leitura do romance “O

Pequeno Príncipe” – atividade extraclasse, cuja proposição se deu na seção 1 –

envolver os alunos na escrita de um roteiro da cena referente a um trecho dessa

obra de Antoine de Saint-Exupéry. No entanto, não houve tempo hábil para

conclusão essa atividade.

A última seção “Leitura de múltiplas linguagens” investiu-se numa

metodologia diferenciada oportunizando um passeio ao Museu Oscar Niemeyer. Isso

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possibilitou a compreensão da arte como saber cultural e estético e, sobretudo

ampliou a visão de mundo dos alunos. Além disso, levou-os a perceber a riqueza da

produção estética humana. Desse modo, essa seção trouxe contribuições

expressivas a essa Implementação. Em cada olhar do discente percebia-se um

brilho novo. E como a duração da visita era de quatro horas, alguns alunos ansiosos

indagavam: “Professora, será que haverá tempo para apreciarmos todas as obras”?

Outros afirmavam: “Professora, precisamos de mais tempo para fruição”. Constatou-

se que houve ampliação do horizonte de expectativas.

Todas essas reflexões culminaram para uma produção, a qual poderia ser

de um poema ou um conto, dando aos alunos algumas opções de tema, como “As

relações familiares; O amor; Tem gente com cheiro de sol quando acorda”? E

fechando esta implementação, oportunizou-se uma autoavaliação oral, na qual os

alunos comentaram sobre a sua aprendizagem durante o projeto. Destaque a

algumas produções escritas nessa fase final.

Aluno 01:

O Amor Eu queria amar Mas existe a traição Eu queria voar Mas não tenho asas Eu queria chorar Mas não tenho forças Mas para tudo isso existe uma solução: amar com o coração, voar com o pensamento e chorar com emoção.

Aluno 02:

As pessoas não sabem amar Existe um clima de ódio no ar As pessoas não sabem o que é amor As famílias estão perdendo seu valor!

As observações dos cursistas (GTR) referentes à Produção Didático-

Pedagógica foram, também, muito significativas. Mais uma vez o Grupo de Trabalho

em Rede trouxe iluminação a essas alamedas à formação de leitores críticos. Foram

análises que envolveram reflexões, as quais além de incentivos, acrescentaram

mais sugestões para esta Implementação.

Professora 01: “Li a sua Produção Didático-Pedagógica e fiquei encantada

com as seções envolvendo literatura, música, pintura... e estou certa de que seus

alunos já estão envolvidos. Com certeza, irei usar muitas atividades em minhas

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aulas, de agora em diante, porque nossos alunos têm, sim, capacidade de interagir

com as propostas sugeridas. Percebi que todas elas são muito criativas, porém

destaco o valor do trabalho com as músicas, porque os alunos têm um interesse

enorme por elas e trazer a Pitty, juntamente com textos clássicos foi bem

interessante. [...] Eu já procuro usar diversidade de textos num trabalho de

intertextualidade com meus alunos e, agora aproveitarei também muitas destas

ideias, que são pertinentes aos conteúdos que estou trabalhando”.

Professora 02: “Acredito que este modelo de proposta da professora muda de certa

forma a nossa pratica”.

Professora 03: “Ao ler e analisar suas atividades propostas me fez lembrar um frase

dita pelo presidente do Uruguai, José Muyica, em uma entrevista vinculada no Jornal

Metrô (01/04/2014) que diz: “Se queres mudar, não pode seguir fazendo a mesma

coisa”. Com certeza suas aulas de Língua Portuguesa no 1º ano do Ensino Médio

será um espaço provocador de experiência qualificada com literatura e com outras

linguagens”.

Professora 04: “A arte abre infinitas possibilidades de transformação de nossa

prática. Ao ler a produção, abri meu entendimento sobre esta importante área do

conhecimento”.

Professor 05: “Gostaria de parabenizá-la mais uma vez pelo projeto e, em especial,

pela produção didático-pedagógica. Fiquei impressionada ao ver como você

conseguiu aliar literatura e arte por meio de atividades tão diversas. Também adoro

trabalhar música em sala de aula! Acredito que você terá gratas surpresas durante a

realização do projeto, pois as atividades são atrativas e condizentes com a faixa

etária a que se destinam. Gostei muito da sua proposta, mas confesso que algumas

atividades me chamaram mais a atenção. Ao ler, por exemplo, a crônica “Se eu

fosse pintor”, fiquei imaginando um trabalho paralelo com a “Moça tecelã, [...]”

Professora 06: “Essa proposta abre muitas possibilidades de trabalho e

enriquecimento dos estudantes, parabéns! Sincronia e resgate da história por meio

de obras literárias, interdisciplinaridade pura”.

É gratificante perceber que este material possibilitou novos olhares para

nossa prática em sala de aula, configurando que estamos sempre em busca de

novas estratégias. Ainda que nem todos os alunos tenham se apropriado da

proposta, valeu o contato deles com um repertório diferenciado.

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4. Considerações finais

Nessas alamedas à formação de leitores críticos uma das práxis levou a

constatação de que se há alguma possibilidade de despertar no aluno um senso

crítico em relação às artes, investir em metodologias que busque alternativas para a

sua efetivação, deve ser preocupação constante na formação do leitor.

Atualmente o aluno chega ao Ensino Médio com falta de pré-requisitos para

as leituras literárias. No 1º Ano isso é muito visível, dificultando um trabalho de maior

qualidade. Contudo, deve-se continuar insistindo para que esse estudante tenha

acesso real à literatura. Acreditando nessa possibilidade, esse Artigo trouxe

alternativas, sugestões, as quais como se podem observar tiveram alguns percalços.

Porém, foi desempenhado com dedicação e obteve-se resultados satisfatórios.

Permeou este trabalho um tema muito pertinente em minha comunidade

escolar: alteridade. Enfocar esse assunto, levando o discente a perceber as relações

humanas complexas, foi decisivo na efetivação dessa implementação. Por isso, os

contos, crônicas, músicas e arte visual possibilitou reflexão sobre essas relações, de

modo a formar leitores críticos e também contribuindo para a formação humana.

Sabemos que ainda persiste uma educação seletiva. O Vestibular é uma das

seleções existentes. Esse Projeto de Intervenção Pedagógica, trouxe

questionamentos referentes à "ideologia existente entre nós professores de

Literatura de que temos de ensinar para o PSS e o Vestibular". Um dos desafios,

nesse sentido, é refletir sobre a nossa prática, procurando desenvolver uma

formação humana integral, a qual é reduzida - dentro desse quadro de seleção - à

unilateralidade.

5. Referências bibliográficas

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