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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

A POPULAÇÃO DO PÓS-ÊXODO RURAL EM FRANCISCO ALVES:

Agricultura Familiar Como Alternativa

Edna Paiva Damasceno1

Victor da Assunção Borsato2

Resumo: As últimas décadas do século XX e o início do século XXI estão sendo marcados por

mudanças significativas e que afetam a forma de pensar e de agir do homem. A proposta de intervenção na escola teve como objetivo proporcionar uma visão das transformações que ocorreram no espaço rural, da mobilização populacional e suas consequências, caracterizando a população da microrregião de Umuarama, especificamente a do município de Francisco Alves. Enfocando a agricultura familiar como alternativa e possibilidades para o desenvolvimento local. Sabendo-se que a grande maioria dos agricultores está se envelhecendo e os descendentes diretos e herdeiros das propriedades, por vários motivos, não estão motivados a permanecerem no meio rural, dando, dessa forma, continuidade à produção agrícola; principalmente a de produtos que abastecem os mercados locais. Mediante a essa afirmação, qual será o futuro da agricultura familiar? Considerando o próprio sistema local, que produzem grande parte da alimentação e em pequenas propriedades, a qual utiliza mão de obra local. O projeto de intervenção envolveu a comunidade escolar, focando as transformações no campo, a mobilidade da população e mostrando que a agricultura familiar é de importância fundamental, tanto para fixação do homem no campo como na produção de alimentos. A Unidade Didática trabalhou com os alunos da Escola Estadual do Campo Padre Antonio Vieira, apoiando-se em pesquisas de campo, textos, charges, poemas, figuras, vídeo e entrevista com pioneiros do município.

Palavras–chave: Transformação da Paisagem. Êxodo Rural. Agricultura Familiar.

1 Professora integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), licenciada em

geografia pela UNIPAR. Educadora do Ensino Fundamental e Médio da rede púbica do Estado do Paraná lotada na Escola Estadual do Campo Padre Antonio Vieira, município de Francisco Alves [email protected]

2 Orientador: Professor Adjunto do Departamento de geografia da FECILCAM de Campo Mourão.

"Victor Borsato’’ <[email protected]>,

INTRODUÇÃO

O motivo inicial para o desenvolvimento do presente artigo partiu da

necessidade de discutir as mudanças significativas ocorridas nas últimas décadas

do século XX e no início do século XXI, que afetaram a forma de pensar e de agir do

homem. Essas transformações estão vinculadas ao nível de desenvolvimento

científico-tecnológico que propiciaram relações sociais e ampliaram os horizontes da

criação, inovação e reinvenção do saber-fazer humano, imprimindo um novo ritmo

de vida. Assinalado pela aceleração do tempo e pelo encurtamento das distâncias.

Analisando esse período, “acelerações são momentos culminantes na História,

como se abrigassem forças concentradas, explodindo para criarem o novo”

(SANTOS, 1994, p. 29).

O momento histórico é marcado pelas transformações, consequência da

Revolução Técnico-Científica, sendo que o carro chefe é a eletrônica e as

consequências finais dessas transformações despontarão no meio ambiente e na

organização social, constituindo-se faces do processo de mudanças econômicas,

políticas e culturais que delinearam um novo padrão tecnológico e um novo perfil

social. Dessa forma, o espaço geográfico também, seja na mobilização da

população, seja na organização social, refletirá essas transformações.

Na microrregião de Umuarama, ainda se observa o deslocamento da

população do campo para a cidade, mais especificamente no município de Francisco

Alves e que, nada mais são do que deslocamentos por circunstâncias diversas,

objeto de investigação.

De acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Geografia

DCEs – Paraná (2008) é objeto de estudo da Geografia o espaço geográfico,

produzido e reproduzido continuamente pela sociedade, agrupado por fatos sociais e

culturais, entre outros; portanto, estudar Geografia proporciona uma compreensão

mais ampla sobre o mundo. Ela estuda as relações entre o espaço local, regional e

global, bem como a movimentação e os deslocamentos dos ocupantes de todo esse

espaço geográfico.

Com este propósito entende-se que seja importante estudar o processo da

dinâmica do espaço e a mobilização populacional da microrregião de Umuarama,

abordando desde a escala global até a local. Mediante essa constatação, colocam-

se alguns questionamentos: Por que a população dos pequenos municípios vem

diminuindo? Para onde essas pessoas migram? E por que migram? Quais as

atividades agrícolas mais desenvolvidas no município? Quais as tecnologias

empregadas? Quais as dificuldades encontradas hoje na agricultura? A agricultura

familiar seria uma solução para fixar homem no campo e promover o

desenvolvimento local no município de Francisco Alves?

O presente estudo teve como objetivo estimular o pensamento crítico do

educando a estudar o local e entender as diversas mudanças que ocorreram na

agricultura, tornando-os capazes de pensar esse espaço e perceber-se como parte

integrante na sua transformação.

Foi elaborada uma “Unidade Didática” com textos selecionados, charges,

poemas, músicas, figuras, teatro, aula de campo, entrevista por meio de

questionários com pioneiros do município. Organizada em quatorze etapas e

aplicado em 48 horas aulas.

A implementação pedagógica foi direcionada aos educandos do 9° ano e

alguns alunos do 6°e 7°ano do ensino fundamental da Escola Estadual do Campo

Padre Antonio Vieira, que participaram como voluntários, pois a apresentação do

projeto despertou a curiosidade de todo o alunado.

A pesquisa contribuiu para com a compreensão das principais transformações

ocorridas no espaço rural, a partir da modernização da agricultura. O qual teve como

principais características a mecanização, a concentração fundiária e o êxodo rural.

Sendo assim, a agricultura familiar pode ser a solução para geração de

produtividade, rentabilidade e incentivo a permanência do homem no campo.

1. O MUNICÍPIO DE FRANCISCO ALVES

O processo de colonização do Norte do Paraná implantado a partir de 1930

insere-se, em nível nacional, num contexto da expansão da economia capitalista,

fundamentada no cultivo do café e em um novo modelo de acumulação de capital.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2014), o início

da colonização do território de Francisco Alves ocorreu na década de 1950. Nesse

período, as terras da região eram tomadas pelas florestas, denominada pelos

colonizadores de matas verdejantes, árvores frondosas, que sustentavam uma rica

fauna, constituídos por animais, conhecidos popularmente como: anta, catetos,

porco do mato, jaguatirica entre outros, e pássaros tais como: papagaio-chuá,

codorna, macuco, saracura, rolinhas, anu-preto, papa-lagartas entre outros.

Segundo o Manual Técnico da Vegetação Brasileira (IBGE, 2012), a vegetação

natural que recobria os solos da região era a Floresta Estacional Semidecidual

Submontana.

O município encontra-se localizado no noroeste do Paraná, numa altitude

média de 339 metros na latitude 24°3’30’’ sul e 53°50´52” oeste. Nessa região havia

uma estrada que ligava a cidade de Maringá à Guaíra, por onde trafegavam

principalmente os carros do exército. Foi passando por este caminho que os

primeiros colonizadores, abriram picada na mata e iniciou-se um pequeno povoado,

isto ocorreu em meados de 1952 (IBGE, 2012).

No Brasil a estrada mais antiga conforme Basso, foi no século XVI chamado de Caminho de Peabiru, que ligava o Brasil até o Peru (Bolívia) passava pelo Paraná, Paraguai, Bolívia, a Cordilheira dos Andes e terminava no sul do Peru, onde pegava parte do Oceano Pacífico, sua principal função era guiar migrações indígenas, mas também serviu para facilitar a circulação de mercadorias e missões religiosas. (FRANZ e SEBERINO, 2014 p.12)

Com a chegada dos primeiros colonizadores à região, também chamados

pioneiros, iniciaram-se as primeiras construções, as quais utilizaram madeiras

extraídas da região. As primeiras edificações abrigavam um hotel, um armazém e

um bar. Na sequência foi construída uma capela, uma farmácia, residências e mais

estabelecimentos comerciais. Também foi implantada uma serraria para exploração

de madeira, que era transportada através do rio Piquiri. (HISTÓRICO do

MUNICÍPIO, 2003).

As dificuldades eram muitas, os meios de transportes eram precários, alguns

usavam carro-de-boi para levar doentes até as cidades vizinhas e transportar os

gêneros de primeiras necessidades. A coragem dos pioneiros abrindo espaço na

mata virgem, plantando feijão, café e outras culturas deu origem ao povoamento do

município.

Os primeiros colonizadores de Francisco Alves foram: o Senhor Ibrahim Abud

Neto, João Cortez Capel e outros. O nome Francisco Alves foi à homenagem ao

saudoso cantor (HISTÓRICO do MUNICÍPIO, 2003). Francisco Alves, por solicitação

de Silvio Caldas. Como simbologia o município tem o violão, também em

homenagem ao cantor e compositor Francisco Alves, que com seu violão e suas

belas melodias inspirou o nome dado ao município (HISTÓRICO do MUNICÍPIO,

2003).

Francisco Alves está localizado no Terceiro Planalto Paranaense, na

mesorregião noroeste paranaense e inserido na Microrregião de Umuarama.

Figura 01 - Localização da área de estudo a partir do continente Sul Americano – América do Sul /Brasil, Estado do Paraná, Microrregião de Umuarama e município de Francisco Alves

Fonte: IPARDES/ MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PAR ANÁ

De acordo com IBGE Censo de 2010 (IBGE, 2010), o movimento de pessoas

que saem da zona rural para a cidade, que teve início na década de 1970, está

perdendo a força. Nas décadas de 1970 e 1980 os grandes movimentos migratórios

ocorriam em função da mecanização da agricultura e, consequentemente na

diminuição da mão de obra necessária às atividades rurais, principalmente no cultivo

do café. Atualmente, esse movimento continua ocorrendo, porém em uma escala

menor.

Com o êxodo rural, diversos municípios pequenos como Francisco Alves,

foram perdendo seus habitantes para os grandes centros e também para aqueles

que buscaram novas frentes pioneiras. Uma parcela da população que saía do

campo procurava os grandes centros, onde a oferta de trabalho era maiores.

Deixaram as estruturas físicas em suas propriedades e foram tentar uma nova vida.

Tinham um sonho de melhorar as condições de vida e até acumular riqueza. No

entanto, quase sempre essas perspectivas foram frustradas, pela dura realidade

vivenciada nos grandes centros. Uma parcela da população que migrou do campo

fixou-se nas pequenas cidades, muitos deles continuaram desenvolvendo atividades

nas propriedades rurais como assalariados.

É importante reconhecer que a transferência da população do campo para a cidade não foi um fenômeno provocado apenas pela modernização agrícola. A substituição do café por culturas oleaginosas diminuiu significativamente a utilização de mão de obra no meio rural, já que a soja e o trigo, por exemplo, não eram plantações permanentes, pois estavam inclusas no sistema de rotação de culturas, além de contarem com um elevado nível de mecanização, dispensando a utilização de grande quantidade de mão de obra (PRIOI, et al, 2012, p. 123).

Os pequenos produtores e os nãos proprietários foram os mais prejudicados

com a mecanização das atividades no campo. Eles migraram paras as cidades, as

quais, na grande maioria, não possuíam infraestrutura para absorver o grande

contingente, gerando o “inchaço” das cidades. Porém, não lhes restou outra saída a

não ser, regressar para as pequenas cidades e se sujeitarem a ofertarem mão de

obra temporária na cidade ou no campo, transformando-se em “boias frias”, ou seja,

um trabalho temporário, ocupados em algumas épocas do ano.

(...) o inchaço do setor terciário e, conseqüentemente a formação do setor informal, é fruto da falta de condições das cidades de oferecer, oportunidades aos migrantes que chegam do campo e de outras áreas urbanas de menor porte, e também aos habitantes dos próprios centros urbanos que estão excluídos dos setores formais da economia (PORTO, p. 5).

Dessa forma, diversos problemas se emergiram, pois eles ficam sem trabalho

durante meses, nesse período, realizam pequenos serviços urbanos com a

finalidade de complementar a renda familiar.

Por outro lado, a modernização da agricultura no Estado do Paraná foi

acompanhada de mudanças que historicamente ocorrem na instalação da base

técnica do campo. Essa mudança desencadeou problemas sociais, a falta de

trabalho no campo, o êxodo rural, a concentração fundiária a partir dos anos de

1970 e o desemprego no campo (PRIORI, et al, 2012).

A estrutura fundiária na região do município de Francisco Alves, constituída

inicialmente por pequenas e médias propriedades, foi remodelada com as

transformações e modernização das atividades e sistema produtivo. Como nas

demais regiões paranaenses, inúmeras pequenas e médias propriedades foram

adquiridas por um único produtor. Dessa forma, houve redução das pequenas

propriedades e de arrendatários. Segundo Priori et al (2012) na década de 1970

foram eliminados no Paraná 100.385 estabelecimentos agropecuários.

Entre 1970 e 1980, todos os municípios da microrregião de Umuarama

registram elevadas perdas de população rural, embora a grande maioria tivesse

apresentado um crescimento urbano. Prevaleceram taxas negativas para o total da

população da maioria dos municípios. Nas décadas seguintes, esses processos

demonstram continuidade, ainda com tendências de arrefecimento dos ritmos

(IPARDES, 2013).

Como consequência desse processo excludente, proporcionado pela

modernização agrícola no Paraná, principalmente a partir dos anos de 1970,

começou a migração, reduzindo-se a população do município (Tabela 01) o

município perdeu, depois de 1980, 43,6% da população. Naquele ano a população

rural totalizava 10.065 habitantes e hoje com apenas 2.184 habitantes (IBGE, 2010).

Entre os fatores que explicam a redução na população, devemos considerar: a

ocorrência da geada de 1975; falta de uma política agrícola definida por parte dos

governos (Municipais estaduais e federais); substituição do homem pelas máquinas

nas grandes lavouras; vendas de pequenas propriedades para o vizinho ou para o

grande proprietário.

Tabela 01 - Mobilidade da população de Francisco Alves para os anos intercensitários,

estimativas preliminares dos totais populacionais.

ANO URBANA RURAL TOTAL

1970 Sem dados Sem dados Sem dados

1980 4.653 10.065 14.718

1991 4.313 4.892 9.205

2000 4.110 2.846 6.956

2001 Sem dados Sem dados 6.990*

2002 Sem dados Sem dados 6.483*

2003 Sem dados Sem dados 6.263*

2004 Sem dados Sem dados 5.802*

2005 Sem dados Sem dados 5.547*

2006 Sem dados Sem dados Sem dados

2007 Sem dados Sem dados 6.342*

2010 4.234 2.184 6.418

Fonte: Prefeitura Municipal de Francisco Alves. *Estimativa da população residente

A paisagem do meio rural, ainda mostra as ruínas das casas, terreirões,

tulhas, pequenos currais, igrejas, campo de futebol, entre outros, deixados pelos

antigos trabalhadores, muitas dessas edificações foram construídas com madeira de

lei “peroba rosa” (Aspidosperma polyneuron), poços, pomares, barracões

comunitários, igrejas, campo de futebol.

3. AGRICULTURA – FAMILIAR

A agricultura familiar é uma modalidade de atividades agrícola que vem

ganhando destaque porque a produção está voltada para atender as necessidades

dos agricultores, aqueles diretamente envolvidos na produção e no mercado local.

Várias são as definições encontradas para a agricultura familiar, segundo

IBGE (2006), no que diz a Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006, a agricultura

familiar foi definida:

Art. 3º Para os efeitos desta Lei considera-se agricultor familiar e empreendedor familiar rural aquele que pratica atividades no meio rural, atendendo, simultaneamente, aos seguintes requisitos: I - não detenha, a qualquer título, área maior do que 4 (quatro) módulos fiscais; II - utilize predominantemente mão de obra da própria família nas atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento; III - tenha renda familiar predominantemente originada de atividades econômicas vinculadas ao próprio estabelecimento ou empreendimento; IV - dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família. A chamada agricultura familiar é constituída por pequenos e médios produtores representa uma imensa quantidade de produtores rurais no Brasil. São cerca de 4,5 milhões de estabelecimentos, dos quais 50% no Nordeste. O segmento detem 20% das terras e responde por 30% da produção global. Em alguns produtos básicos da dieta do brasileiro como o feijão, arroz, milho, hortaliças, mandioca e pequenos animais chegam a ser responsável por 60% da produção. Em geral, são agricultores com baixo nível de escolaridade e diversificam os produtos cultivados para diluir custos, aumentar a renda e aproveitar as oportunidades de oferta ambiental e disponibilidade de mão de obra (PORTUGUAL, 2004).

Com os avanços tecnológicos estendidos à agricultura a partir da década de

1970 os espaços rurais apresentaram e vêm apresentando mudanças significativas

em nível nacional, regional e local. Enquanto algumas áreas são destinadas à

agricultura comercial com o emprego de tecnologia de ponta, há alguns espaços

destinados à produção de alimentos e nos moldes tradicionais.

Os agricultores que se dedicam a essa atividade são geralmente, pequenos

proprietários que produzem para a subsistência e para comercializar os excedentes.

Em Francisco Alves, a grande maioria da produção é de gênero hortifrutigranjeiro.

Os hortifrutigranjeiros são culturas de alto potencial produtivo, podem ser

cultivados em pequenas áreas, apresentam rendimento satisfatório. A maioria dos

produtos são espécies destinadas ao cultivo comercial e há um predomínio da

Agricultura Familiar (MELO, 2007).

A produção e o manejo das atividades são realizados de forma sustentável,

os subprodutos, restos orgânicos são incorporados ao solo, dessa forma a aplicação

de fertilizante é mínima, considerando que a matéria orgânica é integrada ao solo.

O agricultor familiar utiliza todo o espaço de sua propriedade que é de

dimensão reduzida, pequenas ou micro propriedades. Há uma diversificação de

cultivos, os quais estão condicionados à estacionalidade, ou seja, para cada época

do ano se cultiva os gêneros que melhor se adapta às condições climáticas da

estação. A diversificação dos cultivares vem de encontro ao manejo adequado, pois

a rotatividade de cultivares potencializa a capacidade do solo, diminuindo a

necessidade de agrotóxicos e de outros insumos. De acordo a Companhia Nacional

de Abastecimento (CONAB, 2013).

A agricultura familiar gera mais de 80% da ocupação no setor rural e responde no Brasil por sete de cada dez empregos no campo e por cerca de 40% da produção agrícola. Atualmente a maior parte dos alimentos que abastecem a mesa dos brasileiros vem das pequenas propriedades. A agricultura familiar favorece o emprego de práticas produtivas ecologicamente mais equilibradas, como a diversificação de cultivos, o menor uso de insumos industriais e a preservação do patrimônio genético. Em 2009, cerca de 60% dos alimentos que compuseram a cesta alimentar distribuída pela Companhia Nacional de Abastecimento originaram-se da Agricultura Familiar (CONAB, 2013 - disponível http://www.conab.gov.br/ conteudos.php?a=1125 s.p.)

Segundo o censo IBGE, (2010) cerca de 15,65% da população brasileira

reside no campo e a realidade da maioria dos pequenos municípios é de predomínio

de características econômicas socioculturais rurais. Dessa forma, é interessante que

se valorizem as características socioculturais da população rural e também daquela

que vive do rural, ou seja, mora nas pequenas cidades e desenvolve atividades

rurais. A Figura 2 mostra exemplo da produção hortifrutigrangeiro do município de

Francisco Alves.

As condições da agricultura familiar são preocupantes, considerando-se que

as grandes maiorias dos agricultores estão se envelhecendo e os descendentes

diretos e herdeiros das propriedades não estão motivados a permanecerem no meio

rural e dar continuidade à produção agrícola; principalmente a de produtos que

abastecem os mercados locais. Mediante essa afirmação, qual será o futuro de

nossa agricultura, considerando o próprio sistema local, sabendo-se que a

alimentação básica ainda é produzida em pequenas propriedades e utiliza intensa

mão de obra?

Figura 02 – A foto ilustra os protudos hortifrutigranjeiro da agricultura fámiliar da Secretaria Municipal

de Educaçãode Francisco Alves – PR.

Fonte: autor (09/10/2012).

4. METODOLOGIA

As atividades propostas nesta unidade pedagógica apresentam os resultados

das ações que articularam os conteúdos de geografia com realidade sócio espacial

dos alunos da Escola Estadual do Campo Padre Antonio Vieira.

O desenvolvimento das atividades propostas teve como principal objetivo

proporcionar aos alunos uma visão das transformações do espaço e da mobilização

populacional, bem como suas consequências para o meio sócio rural, caracterizando

a população da microrregião de Umuarama, especificamente a do município de

Francisco Alves. Considerando-se os envelhecimentos dos agricultores e os

desinteresses na continuidade pelos descendentes que por vários fatores, não estão

motivados a permanecerem no meio rural e dar continuidade à produção agrícola.

Acredita-se, ser este um dos motivos que levou a população rural a buscar outros

meios de sobrevivência, o que está colaborando para o esvaziamento do território

rural.

Mediante essa constatação, foram selecionados textos, charges, poemas, os

quais foram lidos e debatidos em sala de aula e no laboratório de informática da

escola. Dando sequência, realizou-se uma aula de campo, na qual, o grupo circulou

o município, visitando fazendas, chácaras e observando as recituais deixada pelos

antigos ocupantes.

Sendo a agricultura familiar uma das atividades de grande importância na

produção de alimentos, buscou-se conduzir o aluno a perceber esta importância por

meio de visitas orientadas aos locais de produção “agricultura familiar” onde se

cultivam verduras, legumes e frutas. Dessa forma, os próprios alunos enumeraram

as transformações que viram no campo e a mobilização da população, comparando

com os textos que foram debatidos em aulas. Na oportunidade, mostrou-se também,

que a agricultura familiar é de grande importância para a renda daqueles envolvidos

na produção e para a população consumidora local. Importante também para fixação

do homem no campo.

Na produção “Unidade Didática” foi selecionada textos, charges, músicas,

figuras, a qual foi organizada em quatorze etapas e aplicada em 48 horas aulas.

A implementação pedagógica foi direcionada aos educandos do 9° ano e

alguns alunos do 6°e 7°ano do ensino fundamental da Escola Estadual do Campo

Padre Antonio Vieira. Participaram como voluntários, pois a apresentação do projeto

despertou a curiosidade de todo o alunado.

O trabalho teve duração de 48 (quarenta e oito) horas/aula, iniciando com

apresentação à classe do projeto e seus objetivos fazendo uso de questionamentos

sobre êxodo rural, sobre agricultura familiar e sobre as perspectivas de se trabalhar

como agricultores no futuro.

As respostas dadas aos questionamentos revelaram o conhecimento do

alunado sobre a temática. Verificou-se um conhecimento em nível do senso comum,

algo ainda um pouco distante da realidade intrínseca.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A implementação do projeto encerrou após aplicação das três etapas, as

quais foram subdivididas em quatorze atividades, Unidade Didática.

As atividades teveram início com a distribuição do material para trabalhar a

temática.

Na primeira atividade foram distribuídos mapas do Brasil, do Paraná, da

microrregião de Umuarama e do município de Francisco Alves.

Trabalhou-se a localização do Município de Francisco Alves nas diversas

escalas de grandeza. Ao observar os mapas apresentados, os alunos puderam

compreender as mais diversas escalas de representação; a global, a continental, em

países e as diversas escalas regionais até, por fim, a municipal.

Para avaliá-los, no laboratório de informática foram orientados a pesquisar no

site do IInstituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES),

onde visualizaram as divisões regionais do Paraná. Foi solicitado que se produzisse

um esboço das divisões regionais do Paraná. Verificou-se que 90% dos alunos foam

capazes de reproduzir um esboço da localização do município de Francisco Alves. O

restante apresentou algumas dificuldades nessa atividade.

A segunda atividade teve como foco a população. Como a mobilidade foi

intensa desde o início da ocupação do município. Apresentou-se uma tabela com

dados censitários. Os doados apresenta a população rural e urbana a partir de 1970.

Os alunos analisaram a tabela e foram questinados sobre a mobilidade e

também sobre os fatores que mais contribuiram com os moviventos populacionais.

Considerando que o munícipio perdeu um grande contigente na década de 1980.

Mais de 60% respondeu que a maioria dos agricultores foi expulsa do campo em

função da mecanização da agricultura e também da possibilidade de trabalho nas

grandes cidades.

Para complementar a ideias, os alunos foram informados dos problemas

decorrentes dessa migração.

Na terceira atividade foram trabalhadas as transformações no espaço rural do

município. Para introduzir foram apresentados textos do IPARDES

<http://www.ipardes.gov.br/cadernos/Montapdf.php?Município=87570> . E textos

(MOREIRA, 2005, p. 05) e um vídeo <www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/

vídeo/showVideo.php?video=10221> (SEED, 2007).

Em sala de aula foi abordada a expansão das propriedades rurais,

mecanização agrícola e o deslocamento do trabalhador do campo em direção à

cidade.

Os textos mostram que nas décadas de 1970 e 1980 a cultura do café e a do

algodão predominava, sendo que, gradativamente foram substituídas pelas culturas

de soja e milho.

Para complementar essa atividade, foi realizada uma aula de campo na área

rural em 13/05/2014. Nessa ocasião, os alunos tiveram oportunidade de conhecer

um pouco da história contada por alguns moradores, pela professora e pelas

observações às relictuais das edificações que ainda resistem ao tempo e verificar

que as transformações foram profundas e em um curto espaço de tempo.

Como a participação foi maciça, verifica-se que eles assimilaram que o

espaço rural sofreu profundas transformações e puderam compreender melhor os

números mostrados na tabela apresentada na segunda atividade.

Eles também puderam se aprofundar mais sobre essas transformações. Foi

solicitado para que eles trazessem para uma sessão de apresentação de fotos

antigas.

Percebeu-se que houve certa resistência, considerando que a grande maioria

dos pais ou familiares conservam como relíquias e não atenderam ao solicitado, por

isso, a sessão reunião contou com apenas dez fotografias.

As fotos mostraram as tulhas, os terreirões e algumas edificações de madeira

assim como as plantações de café em período de floração. Dessa forma se

completou a quarta atividade.

Uma das consequências mais marcantes para a região foi o êxodo rural. Para

explorar esse movimento com os alunos, trabalhou-se diversos textos e também um

poema, <http://www.guapos.com.br/mx/poesia.php?cdpoesia=580>, a qual foi declamada

pela aluna Tamires dos Santos Lazzari do 9º ano.

Os textos foram lidos em sala e debatidos com o grupo. Também resolveram

atividades de interpretação de textos. As respostas dos questionamentos foram da

mesma forma, debatidas. A participação foi maciça e por isso, verificou-se que a

grande maioria compreendeu as causas e as consequências do êxodo rural.

Uma das consequências do êxodo rural foi o “inchaço” das grandes cidades.

Para envolver os alunos nessa temática, eles desenvolveram uma pesquisa livre no

laboratório de informática. Foi solicitado para que organizassem textos e ideias que

mostrassem as condições de vida da população de baixa renda nas grandes

cidades.

Na sexta atividade, os alunos observaram e discutiram a política agrícola

naquele contexto, a falta de incentivos, os baixos valores pagos aos produtos

agrícolas e a veiculação pelos meios de comunicação de massa, elegendo as

cidades como o local de oportunidades, elencando assim, elementos que,

provavelmente se tornaram responsáveis pelo êxodo rural.

Nesta atividade, os alunos debateram também sobre os problemas

relacionados aos trabalhadores do campo quando migram para a cidade. O

analfabetismo, o trabalho informal, desestruturação da identidade com o lugar e com

as pessoas, tornando-se assim, vítimas do sistema econômico.

Os textos produzidos mostra que a maioria dos alunos elegeram as favelas

como uma das consequências do êxodo rural. Também observaram a falta de

estrutura das cidades, a deficiência nos transportes e as péssimas condições da

saúde.

Por outro lado, no campo, a alterações também foram profundas. A

mecanização das atividades agrícolas foi a principal. Além da modificação da

paisagem, novos produtos foram introduzidos. Essa temática foi abordada na sétima

atividade.

Nessa atividade foi projetodo o vídeo “Natureza Selvagem – parte 2

disponível em: <http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/video/showVideo.php?

video=11815> (SEED, 2007).

Os alunos foram orientados a fazer pesquisas em jornais e revistas. Para

complementar essa atividade, a sala foi dividida em cinco grupos. Solicitou-se que

cada grupo, por meio de desenho em cartaz, representasse o processo do êxodo

rural x modernização da agricultura.

Os grupos expuseram os resultados, também explicaram os elementos das

imagens e das ilustrações. Na sequência os trabalhos foram expostos no mural da

escola. Novamente a participação foi maciça.

A relação entre o espaço rural e o urbano foi o tema desenvolvido na oitava

atividade. Para aprofundar essa relação, selecionou-se um texto do Lucci (2012,

p.98). “o texto mostra a concentração das terras, a concentração de riquezas e a

relação entre os moradores do campo e das cidades”. O texto foi lido e debatido em

sala. No laboratório de informática, em dupla, os alunos fizeram pesquisas sobre as

influências da modernização da agricultura como unificadora dos espaços urbanos e

rurais, buscando textos e imagens que pudessem ajudá-los a identificar as

alterações provocadas pelo desenvolvimento tecnológico e científico na clássica

interdependência entre campo e cidade. As duplas apresentaram suas

considerações aos demais colegas.

Nesta atividade, foi possível observar o envolvimento dos alunos,

considerando o interesse e a participação. Eles citaram os meios de comunicação

de massa, a televisão, o telefone celular que se encontram dissiminado também no

campo. Da mesma forma, a cidade consome os produtos do campo.

Para explorar um pouco da história da colonização local, iniciou-se com a

história da colonização do estado do Paraná, considerando que Francisco Alves

localiza-se no extremo noroeste do Estado e foi uma das últimas áreas a ser

ocupada pela colonização moderna.

Para a nona atividade, o tema foi introduzido por meio da fala informal, foi

exposto um breve relato da colonização do Noroeste do Estado do Paraná,

enfocando a estrada de Ferro e o cultivo do café (Coffea arabica).

Para se aprofundar na história da colonização foi trabalhado o texto do

Oliveira, (2013 p. 33), outro do Serra (1983 p. 51) e dados do IBGE (2010). Os

textos e os dados do IBGE mostram a evolução da população no estado do Paraná

e também o declínio da produção do café e aumento da produção da soja, milho e

trigo.

Para avaliação, os alunos responderam duas questões sobre os dados do

IBGE (2010) e sobre os textos.

As respostas foram recolhidas e debatidas. A grande maioria acrescentou o

que os textos e a tabela do IBGE (2010) mostram que a região perdeu população,

vários deles indicaram que têm familiares morando em grandes cidades e que no

passado moraram na região.

Os dados e tabelas do IBGE (2010) mostram que houve uma concentração

de terras, mesmo assim há aqueles que se mantiveram ligado ao compo e à

pequena propriedade. Para sobreviver à concorrência aos produtos “commodes”

vários pequenos proprietários aderiram aos programas de incentivos tais como:

Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF) Programa Nacional de

Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Dessa forma, desenvolveu na região

a agricultura familiar.

Com objetivo de aprofundar nessa temática, trabalhou-se a décima atividade

por meo de textos, vídeos, comparações de figuras e um poema.

O primeiro texto lido e debatido foi organizado pela autora a partir dos textos

de Schneider (1999, p. 133), Portugal (2004), CONAB (2009) IBGE (2010). Também

se projetou o vídeo “Agricultura familiar a sua importância para o pequeno produtor”

disponível em:<www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/video/showVideo

php?video=10221> e por fim, o poema “Agricultura familiar” Rosa (2013). Também se

fez uma aula de campo, realizada em 13/05/2014. Nessa ocasião, visitou-se a

chácara do Sr. José Coronato.

Em uma pequena propriedade foi possível verificar a diversificação da

produção, bem como a demonstração de como cultivar alface, mostrado pelo senhor

José Coronato. Alguns alunos não tinham ideia das dificuldades enfrentadas pelo

agricultor nesta tarefa. Outros fizeram registros fotografando os cultivos observados.

Também questionaram o chacareiro sobre as atividades desenvolvidas no dia a dia.

A visita teve como finalidade mostrar ao aluno a realidade vivenciada pelos

pequenos agricultores e a importância dos mesmos na produção de alimentos para

a comunidade local, regional e nacional.

Na décima primeira atividade, após terem estudado a dinâmica do espaço e a

mobilização populacional e os aspectos que contribuíram para as transformações

das paisagens geográficas na escala nacional, regional e local. Foi realizada uma

visita ao espaço rural do município, em14/05/2014, tendo como objetivo principal, o

contato com a realidade do município e verificar “in locus” resquícios das

características das antigas propriedades de café e também das residências de

madeira no campo.

Por meio da observação, os alunos fizeram registros fotográficos para

contemplar a inter-relação presente entre os elementos do ambiente e da produção

social. Em sala de aula, foram organizados debates para apresentação dos

resultados observados.

Eles mostraram as fotografias das atividades agrícolas e sistemas agrícolas

observados tais como o emprego de tratores, colheitadeiras e outros.

Como as transformações e a modernização ocorreram também com os

objetos e utensilios domérticos. Os alunos foram convidados a coletarem objetos e

utensílios que foram utilizados em épocas passadas para serem expostos no

encerramento da implementação. Dentre os objetos expostos havia ferro de passar

à brasa, rádios, pilão, peneiras de café, rastelos, moinho de café, torrador de café,

chuveiro de balde, pratos, xícaras e tigelas de esmalte, entre outros. Todos expostos

à comunidade nas atividades de encerramento do projeto.

Com o objetivo de complmentar e aprofundar as temáticas abordadas,

organizou-se uma sessão de entrevistas com pioneiros. Foram entrevistados dez

pioneiros.

Orgnizaram as perguntas relacionadas ao ano em que chegaram à região, às

atividades agrícolas desenvolvidas, às dificuldades nos transportes, incentivos

governamentais da época, e sobre os atrativos.

As respostas foram anotadas e posteriomente analisadas.

As principais informações colhidas na entrevista foram com relação à faixa

etária dos entrevistados. Somente dois têm entre 50 e 60 anos; os demias têm mais

de 60 anos. Nas informações complementares, cinco disseram que vieram de outra

região do estado do Paraná; quatro de outros estados e um de outro país e a

década de 1960 foi a que mais recebeu colonizadores. Dos dez entrevistados, oito

chegaram a Francisco Alves na década de 1960.

Segundo os pioneiros entrevistados os produtos agrícola cultivados entre a

década de 1960 a 1980 eram arroz, café, feijão, milho, algodão, soja e amendoim.

As respostas mostram que apesar de o café ser o principal produto, eles

destacam aqueles que eram à base da alimentação das famílias e dos animais

domésticos. Considerando que o café, durante o período de sua formação não

produz, somente depois de quatro ou cinco anos que a planta frutifica. Dessa forma,

os proprietários eram auto suficente, ou seja, produziam para a sua subsistência.

Depois do início da produção do café, diminuia-se as plantas de milho, de arroz, de

feijão e outros que eram cultivados em consórcio com o café.

A grande maioria dos agricultores (entrevistados) destacam as geadas como

o fenômeno que mais desestimulou o cultivo do café e contribuiu para a quase

erradicação da cultura na região e também os desestímulos governamentais.

Segundo um dos entrevistados, para pleitear financiamento, teria que se

deslocar até Maringá, local onde havia o Banco do Brasil, único autorizado a

conceder financiamento aos agricultores.

Para concluir a participação dos alunos no projeto, foi trabalhada a música

“Meu reino encantado” de Reis e Machado (2000, faixa 1) e a peça teatral “Da Roça

à Periferia” de Kozer e Filizola (1996).

Para Viana (2000), a música como recurso didático em Geografia, consiste

em um enfoque pedagógico no qual, letras de músicas são trabalhadas como

componentes para a análise/reflexão de circunstâncias sociais e geográficas. Para

autora, a escolha das letras das canções não deve ser feita casualmente, mas

vinculada à ideia de relações entre globalização e mudanças no cotidiano

vivenciado.

Nessa atividade, a música “Meu Reino Encantado”. Os alunos tiveram a

oportunidade de ler, analisar, refletir, ouvir e cantar a música.

Eles comentaram que a mesma relata uma história entre o campo e a cidade,

e que no município de Francisco Alves existem situações semelhantes à da letra da

música, ou seja, famílias com sentimentos pelo local de vivência e por motivos

políticos e econômicos precisam sair desse local. Refletiram e debateram sobre as

transformações que a modernização da agricultura provocou ao longo do tempo.

Com relação à peça teatral, foram vários ensaios. A partir do momento em

que eles demostraram segurança, foi apresentada à comunidade local. Nessa

ocasião, também foi cantada a música “O Reino Encantado”.

Segundo de Kozer e Filizola (1996) com projeto de dramatização é possível

estimular os alunos a se interessarem pelo estudo de geografia associando o

conteúdo com a realidade, oferecendo condições para o aluno expressar sua

criatividade na representação das peças teatrais, abrindo espaço para o surgimento

de compartilhar um trabalho coletivo possibilitando maior envolvimento no processo

de ensino aprendizagem.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As ações implementadas permitiram que os alunos do 9° ano e alguns alunos

do 6°e 7°ano do ensino fundamental da Escola Estadual do Campo Padre Antonio

Vieira participaram de uma proposta de análise da realidade local, promovendo um

estudo coletivo de ação-reflexão que proporcionou uma visão das transformações do

espaço e da mobilização populacional em que ocorrem no Brasil, e suas

consequências para o meio sócio rural, norteando os para uma melhor compreensão

de questões correlacionadas à cultura, relação social, trabalho e outras dimensões

que reforçam as diversidades vividas pelos mesmos. Privilegiou-se alunos e

professora como sujeitos produtores do conhecimento.

As atividades propostas pela unidade didática iniciaram-se com o estudo do

espaço local e suas transformaçõesl. Trabalhou-se a localização do Município de

Francisco Alves nas diversas escalas de grandeza. Ao observar os mapas

apresentados, os alunos puderam compreender as mais diversas escalas de

representação.

Contatou-se que o estudo do local é fundamental, pois aguça o desejo dos

alunos em pesquisar e compreender sobre a história local. Por outro lado, a aula de

campo oportunizou os alunos a aprender observar, experimentar e selecionar

informações.

Apesar da modernização da agricultura ter contribuído para a expansão da

produtividade, esse processo atingiu a base técnica, econômica e social da

agricultura, modificando o espaço agrário, pois houve aumento na produção agrícola

e expulsão dos trabalhadores rurais que não foram contemplados com a

modernização agrícola. A política agrícola, a falta de incentivos; os baixos preços de

produtos agrícolas; além dos incentivos veiculados pelos meios de comunicação de

massa, elegendo as cidades como o local de oportunidades, foram os principais

responsáveis pelo êxodo rural.

Com as transformações no campo em função da adoção das novas

tecnologias, o êxodo rural também afetou a região noroeste do Paraná e diversos

municípios como Francisco Alves foi perdendo seus habitantes para os grandes

centros e também para aqueles que buscaram as novas fronteiras como

alternativas.

Com relação à agricultura familiar, para o município de Francisco Alves,

constatou-se, que a maioria da produção é de gênero hortifrutigranjeiro. Os

trabalhadores que se dedicam a essa atividade são proprietários de uma reduzida

área de terra e que produzem, em primeiro lugar para subsistência e o excedente é

comercializado. Com a renda obtida, a maioria dos agricultores consegue sustentar

a família, porém é necessário mais incentivo governamental ao pequeno agricultor,

pois a luta dos mesmos não está focada somente nos melhores preços dos

produtos, e sim em créditos diferenciados, incentivos a tecnologias alternativas,

cursos preparatórios e palestras, visando melhoria na administração de sua

propriedade, cooperando, assim para permanência do homem no campo, visto que a

maior parte dos alimentos que abastecem a mesa dos brasileiros vêem das

pequenas propriedades.

Com a realização da pesquisa, foi possível contribuir de maneira significativa,

para a melhoria do ensino de geografia principalmente para desenvolver um olhar

indagador frente à realidade, buscando explicações e informações para mediar a

construção de novos conhecimentos sobre a dinâmica do espaço e a mobilização

populacional da microrregião de Umuarama especificamente a do município de

Francisco Alves.

7. REFERÊNCIAS

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VIANA, Adriane Monteiro. A Música como Recurso Didático em Geografia: uma abordagem da Geografia do Cotidiano . In: REGO, Nelson;

APÊNDICE A ─

Entrevistas: Pioneiros:

Alírio Emidio Toledo – entrevistado em 24/04/2014

Antonio Gonçalves – entrevistado em 24/04/2014

Antonia Maria de Oliveira – entrevistado em 24/04/2014

Manuel dos Passos Pio– entrevistado em 25/04/2014

Maria Aparecida dos Santos– entrevistado em 25/04/2014

Maria Leite da Silva Campos – entrevistado em 25/04/2014

Maria Selete Saldeira Bergamini – entrevistada em 26/04/2014

Neide de Oliveira Nogueira – entrevistado em 26/04/2014

Terezinha de Jesus da Silva Gonçalves – entrevistado em 28/04/2014

Vicente Soares da Silva – entrevistado em 28/04/2014

APÊNDICE B ─

Questões utilizadas na entrevista com os pioneiros e familiares que vivenciaram

o período das principais transformações no município. .

1. Nome completo:

2. Faixa etária: 30 - 40 ( ) 40 - 50 ( ) 50 - 60 ( ) 60 acima ( )

3. Local de onde veio e qual foi o ano que chegou a este município?

4. O que levou a escolher este município para morar?

5. Quais as dificuldades encontradas quando chegou?

6. Quais os pontos positivos que faz você permanecer nesse município até hoje?

7. Quais produtos agrícolas eram cultivados, na época de sua chegada?

8. Qual produto agrícola que predominava nessa época?

9. Que incentivo o governo oferecia ao agricultor naquela época?

10. Como era a cidade de Francisco Alves naquela época?

11. Como era a população de Francisco Alves, tinha mais gente morando na cidade ou no sítio?