os antigos alunos de dom bosco
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Carta do Pe. Edigio Viganò aos AADB
Caros Irmãos:
Tenho a alegria de vos transmitir uma saudação
especial e a bênção apostólica do Santo Padre. De
facto, dia 13 de Fevereiro, o Reitor-Mor e o seu
Conselho foram recebidos em audiência particular
pelo Sumo Pontífice. Quisemos ir agradecer-lhe por
tudo aquilo que nos concedeu em vista das
celebrações centenárias de 1988, em particular o
Breve Apostólico sobre o "Ano de Graça" especial e
a promessa duma viagem sua a Turim na primeira
quinzena de Setembro de 1988.
A audiência decorreu em clima familiar e em
colóquio amigável, em que pudemos constatar uma
vez mais a predilecção do Papa pelos jovens, a sua
profunda admiração por Dom Bosco e o apreço
paterno que nutre pela nossa Congregação e por
toda a Família Salesiana. Regozijou-se ao saber o
número dos componentes da nossa Família. Entre
os diversos comentários que então fez sobre
pessoas e actividades, recordou-nos que nós
somos "carismáticos dos jovens" e, ao despedir-se,
repetiu, sorrindo, que o devemos ser sobretudo
neste tempo de viragem cultural. Foi uma
antecipação significativa da densidade espiritual e
eclesial com que esperamos comemorar o
acontecimento centenário.
Com esta encorajante audiência encerrámos
também a sessão plenária do Conselho Geral,
reunido desde o dia 1 de Dezembro durante mais
de dois meses de trabalho. Entre outras coisas,
tivemos ocasião de examinar, discutir e aprovar
mais de 40 Capítulos Provinciais. Foi gratificante
verificar a seriedade e a maneira prática com que
foram elaborados os Directórios provinciais. Cada
vez me convenço mais de que o Senhor nos quer
bem e nos acompanha no estabelecimento de
bases sólidas para um futuro melhor.
Preparar-nos-emos para exprimir juntos o nosso
obrigado a Deus Pai, com um acto particularmente
significativo. No dia 14 de Maio de 1988 – como se
diz neste mesmo número dos Actos – renovaremos
(nas províncias e nas casas) a nossa profissão
religiosa. É um sábado do mês de Nossa Senhora
Auxiliadora: recorda-nos o aniversário da profissão
salesiana de Dom Bosco e dos seus primeiros
jovens escolhidos de Valdocco. Naquele dia a
Congregação sentir-se-á espiritualmente renovada
e disposta a enfrentar os novos tempos com o
mesmo ardor e a mesma audácia criativa do
Fundador.
Tomemos consciência disso já a partir deste
momento e preparemo-nos, pessoal e
comunitáriamente1.
O artigo 5 das Constituições
O lema deste ano, cujo comentário espero que
tenhais meditado, convida-nos a intensificar a
comunhão e a acção da Família Salesiana para que
possa caminhar para o ano 88 (e para mais além!)
como um verdadeiro “Movimento eclesial” de
missionários dos jovens. Os vários grupos
consagrados da Família dispõem já dos seus textos
e subsídios, inspirados na renovação conciliar, que
os podem guiar no sentido de uma maior
autenticidade.
Ulteriormente os Cooperadores elaboraram o novo
texto do seu Regulamento de Vida Apostólica do
qual, espero que todos tenham recebido um
exemplar. Numa carta circular animei-vos a fazer
por compreender bem o pensamento de Dom
Bosco a este respeito e a assumir pessoal e
comunitariamente a responsabilidade da sua
animação2.
1 Cf. ACG 319. 2 Cf. ACG 318.
Desejo agora reflectir e aprofundar convosco a
importância dos Antigos Alunos, a natureza da sua
Associação e a razão específica da sua
participação na Família e, portanto, na missão de
Dom Bosco.
Penso ser este um tema fundamental na renovação
da nossa Congregação. É dever de cada um dos
Salesianos reflectir sobre ele, e as comunidades
provinciais e locais são convidadas a rever e
corroborar a sua corresponsabilidade concreta no
tocante à animação e à revitalização desta imensa
e promissora Associação.
Efectivamente, o coração e a actividade do
salesiano não podem esgotar-se no interior da sua
casa. As reflexões que passo a apresentar-vos
podem considerar-se um aprofundamento e um
desenvolvimento quer da carta sobre a Família
Salesiana3 quer da carta sobre a promoção do
Leigo4.
O ponto de partida e de referência é o artigo 5 das
Constituições, o qual afirma que os Antigos Alunos
fazem parte da Família Salesiana. E dá como razão
da sua pertença a “educação recebida”: esta
3 Cf. ACG 304, Abril-Junho, 1982. 4 Cf. ACG 317, Abril-Junho, 1986.
educação faz nascer, de facto, neles, níveis
diferentes de participação mais ou menos estreita
na missão salesiana no mundo. O recente “Guia
para a Leitura das Constituições Salesianas” nota
que «os Antigos Alunos estão particularmente
preparados, precisamente pela educação recebida,
para assumirem uma responsabilidade de
colaboração em consonância com as finalidades
próprias do projecto salesiano. A opção
evangelizadora feita por não poucos deles não
constitui uma alternativa ao título da “educação
recebida”, mas é uma expressão privilegiada da
mesma: não se trata, pois, de um título diferente a
aplicar a uma espécie de novo grupo»5. Penso que
o que se afirma no artigo 5 requer uma atenção
mais detida da nossa parte; servirá para nos
recordar alguns compromissos concretos que não
devemos transcurar e que exigem de nós ideias
claras e sentido de responsabilidade.
A educação recebida
O título de pertença dos Antigos Alunos à Família
Salesiana pela “educação recebida” é denso de
conteúdos e carregado de valores. Leva-nos a fazer
um sério exame de consciência acerca da nossa 5 “Il progetto di vita dei Salesiani di Don Bosco - G u i da a l l a l e t t u r a d e l l e
C os t i t u z i on i s a les i a ne”, p.115.
actividade educativa e pastoral. Um olhar para a
história das origens revelar-nos-á a sua
importância, fazendo-nos ver os vínculos que
derivam duma autêntica pedagogia salesiana.
A Associação dos Antigos Alunos não teve
directamente um “fundador”; como escreve o Pe.
Ceria, ela nasceu «com a força das coisas que
devem a origem e a vida a causas naturais e
espontâneas»6; brotou do espírito de família do
Sistema Preventivo no Oratório de Valdocco. O
próprio Dom Bosco escreveu que o seu estilo de
educação «torna o aluno amigo e faz com que o
educador possa falar-lhe com a linguagem do
coração quer no tempo da educação, quer depois
quando já inserido na vida social e profissional»7. É
um método educativo que originou profundas
mudanças de comportamento (por exemplo, Miguel
Magone), levou aos cumes da santidade (por
exemplo, Domingos Sávio) e gerou uma comunhão
permanente de ideais e de sentimentos com os
educadores ao longo de toda a vida (lembrar o caso
dos Antigos Alunos). A atmosfera de convívio, de
alegria, de promoção e de amizade, respirada por
jovens de origem, cultura e condições sociais
diferentes, tem em si a força de gerar entre
6 E.Ceria: "Annali" I, 715. 7 "O Sistema Preventivo", Constituições p. 256.
educadores e educandos uma espécie de
parentesco espiritual com laços de mútuo apreço,
afecto e ideais de vida que se prolongam no tempo.
«Os antigos alunos sentiam-se amados por Dom
Bosco não como simples discípulos, mas como
filhos, pelo que, uma vez adultos, surgiu como coisa
natural entre eles o pensamento do retorno à casa
paterna. É assim que continua a repetir-se este
retorno espontâneo às casas de educação onde é
semeado aquele “sensus revertendi” sentido pelos
Antigos Alunos e se trabalha com o mesmo espírito
e método de Dom Bosco. O Movimento dos Antigos
Alunos não foi, por conseguinte, instituído pelos
educadores como associação pós-escolar com
elementos selectos, com fins associativos, mas
nasceu por si», com a vitalidade de um carisma nas
suas origens8.
17 Anos com Dom Bosco
O grupo dos Antigos Alunos começou a ganhar
consistência ainda em vida de Dom Bosco. Os seus
começos datam de 1870 no dia da sua festa, 24 de
Junho. Naquele ano reuniram-se oficialmente uma
dúzia de antigos alunos; elegeram como chefe o
8 Cf. U.Bastas i , "Guida organizzat iva del Movimento Exallievi di Don Bosco", Turim 1965, p. 8.
simpático e generoso Carlos Gastini, que sempre
considerou o Oratório como a sua segunda família;
comprometeram-se a juntar um número maior de
aderentes; nomearam em seguida uma comissão
para organizar melhor aquelas manifestações
anuais de afecto e gratidão.
Assim, a festa foi ganhando consistência de ano
para ano, transformando-se num verdadeiro triunfo
do reconhecimento. Passados alguns anos teve de
se proceder à divisão da manifestação em dois
encontros: no domingo para os Antigos Alunos
leigos, e na quinta-feira para os Antigos Alunos
sacerdotes; estes últimos eram bastantes e a eles o
bom Pai recomendava continuamente o interesse
pela juventude9. A pouco e pouco, sobretudo
depois da morte de Dom Bosco, subdividiram-se
em grupos locais, em uniões e sociedades, até à
verdadeira organização promovida pelo Pe. Filipe
Rinaldi.
O período que vai de 1870 até 1888, ou seja, os 17
anos de relações directas com Dom Bosco ainda
vivo, constituem para nós um momento privilegiado
sobre o qual importa reflectir; assim poderemos
captar mais claramente o significado do título de
pertença à Família pela “educação recebida”. 9 Cf. MB 14, 512-514.
Sabemos como Bosco amava os seus alunos; uma
vez terminado o currículo educativo, não os
esquecia: seguia-os, ajudava-os, convidava-os,
acolhia-os, encorajava-os, continuava a orientá-los
advertia-os se fosse o caso, preocupava-se com o
seu bem especialmente espiritual.
«Vejo – disse-lhes num daqueles numerosos
encontros – que alguns de vós já estão calvos, e
outros têm cabelos brancos e rugas na testa. Já
não sois aqueles jovenzinhos que eu idolatrava;
mas agora sinto-me ainda mais ligado a vós do que
então, porque a vossa presença dá-me a certeza de
que estão bem enraizados no vosso coração
aqueles princípios da nossa santa religião que eu
vos transmiti e que norteiam a vossa vida. Além
disso, quero-vos ainda mais, porque dais
testemunho de que o vosso coração está sempre
com Dom Bosco... e podeis crer que sou todo vosso
no que faço e no que penso. Então éreis um
pequeno rebanho: agora este rebanho cresceu,
cresceu muito, e há-de crescer ainda mais. Cada
um de vós será uma luz que brilha no meio do
mundo, e com o vosso exemplo ensinareis aos
outros como se deve fazer o bem e evitar o mal.
Estou certo de que haveis de continuar a ser a
consolação de Dom Bosco»10.
E noutra ocasião: «Uma coisa vos tenho
recomendado de modo particular, meus queridos
filhos, e é esta: onde quer que vos encontreis,
mostrai-vos sempre bons cristãos e homens
íntegros... Muitos de vós já constituíram família.
Pois bem, a educação que recebestes no Oratório
de Dom Bosco procurai comunicá-la aos vossos
entes queridos»11.
Naquelas reuniões de antigos alunos o querido Pai
– refere o cón. Barrone – «nunca deixava de os
exortar a serem perseverantes em testemunhar no
meio da sociedade o espírito do Oratório; e muitos
deles aproveitavam da circunstância para lhe
pedirem conselho»12.
Em 1883, durante a sua viagem a Paris, o próprio
Dom Bosco, falando do seu método educativo,
respondia a quem levantava dúvidas acerca da
perseverança dos jovens aprendizes, uma vez
saídos do Oratório, para ingressarem no exército ou
no mundo do trabalho: «Em Turim – disse –,
10 MB 17, 173-174. 11 MB 14, 511. 12 MB 9, 885-886.
sábado à tarde e domingo de manhã, muitos vêm
confessar-se. E é notório que no exército italiano os
que provêm dos nossos estabelecimentos são
praticantes; de facto, até lhes chamam os
'bosquianos'. Encontram-se em todos os graus da
hierarquia militar»13.
E no dia 26 de Julho de 1884, à maneira de
testamento, recomendava aos antigos alunos:
«Onde quer que estejais, lembrai-vos sempre que
sois filhos de Dom Bosco, filhos do Oratório. Felizes
de vós se nunca esquecerdes aqueles princípios
que procurei inculcar em vossos corações desde a
vossa meninice»14.
Igualmente nas outras casas salesianas de recente
fundação se verificava esta comunhão de vida em
virtude da “educação recebida”! Assim, por
exemplo, em Montevideu sob a orientação do Pe.
Lasagna, que para aí levou o espírito do Oratório,
não poucos jovens «quer quando iam a férias, quer
depois de deixarem o colégio, introduziam nas suas
terras verdadeiros oratórios festivos», e assim se foi
formando uma organização de oratórios presidida
pelo antigo aluno Dr. Lenguas com um pequeno
regulamento com o sugestivo título: “Oratórios
13 MB 16, 167. 14 MB 17, 489.
festivos de Montevideu geridos pelos Antigos
Alunos do Colégio Pio”15.
Durante os anos de contacto directo com Dom
Bosco surgiram iniciativas particularmente
significativas para os antigos alunos.
A primeira data do ano de 1876, altura em que Dom
Bosco pôde lançar finalmente a Pia União dos
Cooperadores Salesianos depois de largos anos de
experiências e projectos. Ele atribuía muita
importância a esta sua preocupação de Fundador e
convidava os antigos alunos mais empenhados a
inscrever-se nesta Pia União.
Numa das manifestações dos Antigos Alunos Dom
Bosco disse: «A proposta feita a cada um de vós no
sentido de incrementar a obra dos Cooperadores
Salesianos é uma proposta das mais belas, porque
os Cooperadores são aqueles que sustentam as
obras que Deus realiza por meio dos Salesianos...
Trata-se de uma obra pensada para sacudir a
inércia instalada em muitos cristãos, e difundir a
energia da caridade»16.
15 MB 13, 164. 16 MB 18, 160-161.
Assim, em 1877 – como escreve o Pe. Favini (in
"Don Bosco e gli Exallievi") – “os Cooperadores
apareciam oficialmente pela primeira vez; e, dado
que os antigos alunos acorriam à porfia a inscrever-
se na Pia União (como atesta uma carta do cón.
Anfossi: MB 13,612), estavam provavelmente na
primeira fila» na manifestação dos Antigos Alunos17.
A segunda data do ano de 1878: Dom Bosco
propõe aos Antigos Alunos uma “sociedade de
socorro mútuo” para fazer face às dificuldades:
«Fazei com que esta iniciativa não redunde só em
vosso proveito, mas se estenda também aos jovens
de bom comportamento provindos do Oratório, ou
aos vossos colegas, e a todos os que aqui se
encontram»18. Carlos Gastini, chefe dos antigos
alunos, pensou logo na organização, servindo-se
dum estatuto compilado anos atrás pelo próprio
Dom Bosco e destinado a uma instituição idêntica
entre jovens operários19.
Por conseguinte, Dom Bosco oferecia aos seus
jovens a possibilidade de fazerem frutificar a
"educação recebida", quer no grupo mais
empenhado dos antigos alunos, quer na Pia União
17 U. Bastasi, "Guida organizzativa del Movimento Exallievi di Don Bosco", p. 235 EE MB 13, 758. 18 MB 13, 759. 19 MB 13, 759.
dos Cooperadores, quer na vida sacerdotal e
religiosa, quer na sua Congregação Salesiana. O
que interessa sublinhar é a importância que ele
atribuía à fecundidade operativa da educação
recebida no Oratório.
O P. Rinaldi, inspirador e organizador
Depois da morte de Dom Bosco os antigos alunos
continuaram com o Pe. Rua os seus encontros
anuais, fazendo da festa do Reitor-Mor o grande dia
da gratidão. A partir da altura em que o Pe. Rua
chamou da Espanha, onde era Provincial, o Pe.
Filipe Rinaldi para Turim a fim de lhe confiar o
importante cargo de seu Vigário ou Prefeito-geral
(ou seja, a partir de 1 de Abril de 1901), os vários
grupos dos antigos alunos ganharam um
extraordinário animador e um organizador eficiente.
Durante os vinte anos em que desempenhou o
cargo de Prefeito-Geral, o Pe. Rinaldi conseguiu
desbravar o terreno com humilde discrição, fazendo
com que aparecessem em primeiro plano os
próprios antigos alunos, bem como algum salesiano
colaborando mais estreitamente com ele; e desta
maneira foi possível dar uma estrutura orgânica a
um movimento de amizade, de gratidão, de ideais
de vida que fizesse da “educação recebida” uma
força mais viva e operante.
Em 1906 fundou com os antigos alunos em Turim o
"Circulo João Bosco" que bem depressa deu corpo
a uma das melhores companhias teatrais
salesianas, vindo a tornar-se modelo para
organizações similares.
Em 1907 recomendava a um salesiano enviado
para Espanha: «Cuida muito dos antigos alunos:
eles são a nossa coroa; ou, por outra, são a nossa
própria razão de ser, pois sendo nós uma
Congregação de educadores, é óbvio que não
educamos para o colégio, mas para a vida. Ora
bem, a verdadeira vida, a vida real para eles,
começa quando deixam as nossas Casas»20.
Ao sentido de animação o Pe. Rinaldi juntava o
sentido, de largo alcance, da necessidade de uma
organização, sugerindo modalidades concretas. No
dia 25 de Junho de 1909 lançou a ideia de uma
Confederação internacional. Para promovê-la
socorreu-se da benemérita “Comissão dos Antigos
Alunos de Dom Bosco” que promovia os encontros
anuais em Valdocco, já desde os tempos de
Gastini. A estrutura nasceu formalmente no l 20 U.Bastas i , o.c , p. 20.
Congresso Internacional dos Antigos Alunos em
1911 como Federação das várias uniões locais,
círculos e sociedades. Até então chamavam-se
“Antigos Alunos”; a partir dessa data (e já antes
com o Pe. Rinaldi) passaram a chamar-se “Ex-
-alunos”.
Em Junho de 1912 ficou constituído o “Conselho
directivo” e foi nomeado o primeiro Presidente na
pessoa do Prof. Piero Gribaudi. «Com razão se
escreveu – comenta o Pe. Ceria – que este
representou um facto novo na história da
pedagogia»21.
Naqueles anos o Pe. Rinaldi, confessor das Irmãs e
assíduo animador do Oratório feminino por elas
dirigido, preocupou-se também com a organização
das Antigas Alunas das Filhas de Maria Auxiliadora,
a fim de se desenvolverem e estruturarem também
elas em federação.
Como Reitor-Mor interessou-se constantemente
pelo bom funcionamento e pela vitalidade da União
Ex-alunos e sofria ao saber que nem todos os
salesianos tinham compreendido ainda a sua
importância; por isso a recomendava aos cuidados
dos provinciais e dos directores: «Alguns – disse 21 E.Ceria, "Annali" 1, 712.
num encontro de 25 provinciais e 300 directores em
Valsalice, em 1926 – pensam que a Organização
dos Antigos Alunos é uma obra inútil, e por isso a
transcuram. A esses recordo que os Antigos Alunos
são o fruto do nosso trabalho. Nas nossas casas
não trabalhamos para sermos remunerados ou para
conseguirmos que os alunos sejam bons apenas
durante o tempo em que estão connosco, mas para
fazer deles bons cristãos. Por isso, a organização é
obra de perseverança: por meio dela queremos
reencaminhá-
-los, se andam extraviados; ... sacrificámo-nos por
eles e o nosso sacrifício não pode ficar perdido»22.
Encontrando-se numa reunião de Antigos Alunos –
atesta o cav. Artur Poesio – e «tendo-se apercebido
de que estavam bastante preocupados com a
cobertura completa da despesa de 1.500 liras, que
representava o custo do almoço, para não agravar
de forma alguma as finanças da casa salesiana, o
Servo de Deus, embora sensibilizado com o facto,
não se coibiu de declarar que, mesmo que uma
Casa Salesiana tivesse em caixa somente 1.500
liras, ele concordaria em que fossem utilizadas para
pagar o almoço dos antigos alunos, pois nenhum
sacrifício teria sido tão grato ao seu coração, desde
22 ACS 36, p. 518.
que contribuísse para reunir junto de si os seus
caros filhos»23.
Observa o Pe. Ceria: «Foi dito de forma escultórica
e com toda a verdade que o Pe. Rinaldi organizou
com golpe de génio o Movimento dos Antigos
Alunos, em vista de fazer dele uma força viva,
orgânica e actuante no mundo do bem»24.
Caros Irmãos, quis sublinhar, ainda que breve-
mente, a obra e o pensamento do Pe. Rinaldi, já
que a sua figura renasce hoje nos nossos corações
na perspectiva da sua próxima beatificação. Acerca
dele disse o Pe. Francesia (que viveu muitos anos
ao lado do nosso Fundador) que só lhe faltava a
voz para se identificar com Dom Bosco. Ele foi um
fidelíssimo e operoso discípulo do Pai cujo coração
e magnanimidade penetrou e a partir dele soube
fazer desabrochar alguns germes fecundos ainda
em embrião.
Conhecemos, por exemplo, a história das
Voluntárias de D. Bosco; também a dos Antigos
Alunos é igualmente clara.
Escreve, efectivamente, o cav. Artur Poesio: «A
eloquência do Pe. Rinaldi era simples, espontânea,
23 Congregação para a causa dos Santos, Positio, Roma 1972, p. 32. 24 E.Ceria, "Vita del Servo di Dio Sac. Filippo Rinaldi", SEI, Turim, p. 252.
paterna e convincente. Uma só vez assumiu um
aspecto e uma linguagem de autoridade, ao
declarar, na sua qualidade de Reitor-Mor da
Sociedade Salesiana, que a organização dos
Antigos Alunos deve ser incluída no número
daquelas "novas famílias" que floresceram na santa
Igreja por mérito de Dom Bosco e a que se alude no
‘Oremus’ próprio do Santo»25.
Que a intercessão do Pe. Rinaldi nos ajude a
promover, na Igreja renovada do Vaticano II, a
promissora Associação dos Antigos Alunos como
Grupo dinâmico da Família Salesiana.
Antigos Alunos “de Dom Bosco”
Importa notar que a denominação dada aos antigos
alunos das nossas Casas não é a de Antigos
Alunos "Salesianos", mas a de Antigos Alunos "de
Dom Bosco". Considero-a uma opção que,
formulada historicamente pela primeira vez no
Oratório e perpetuada depois no tempo e no
espaço, é para nós verdadeira e concretamente
programática. Os Antigos Alunos nasceram,
digamos assim, por autogeração (como vimos) da
"educação recebida" de Dom Bosco e dos seus
primeiros colaboradores. 25 Congregação para a causa dos Santos, Positio, 1972, p. 28.
Uma educação que criou vínculos vitais e que quis
exprimir-se sempre e unicamente em nome daquele
que a inspirara e desenvolvera sob o impulso do
coração e com genialidade pedagógica, e na qual
concentrara todos as suas capacidades e dons
extraordinários ao transmiti-la aos seus: «Basta que
sejais jovens, para que eu vos ame; por vós estudo,
por vós trabalho, por vós vivo, por vós estou
disposto a dar a vida»26.
Dom Bosco dedicou-se a fundo à educação dos
jovens com toda o ardor do seu coração oratoriano,
«com firmeza e constância, no meio de obstáculos
e dificuldades: ‘Não deu passo, não disse palavra,
nada empreendeu que não tivesse em vista a
salvação da juventude’»27. Os seus alunos
experimentaram-no pessoalmente e sentiram
nascer dentro de si os vínculos profundos de
filiação, de reconhecimento e de testemunho dos
valores contidos na sua amorosa obra educativa.
É nele que encontramos o segredo original e as
riquezas pedagógicas de uma educação que cria
laços de família.
26 Cf. C 14. 27 Cf. C 21.
No 1º Congresso dos Antigos Alunos, em 1911,
ficou decidido levantar um monumento a memória
de Dom Bosco na Praça de Maria Auxiliadora em
Valdocco. A publicação mensal “Federazione”,
iniciada em 1913, acolhia a adesão entusiasta e a
colaboração de numerosos Antigos Alunos e
Antigas Alunas que aí figuravam sem distinção28.
De entre os 62 esboços, foi escolhido, a custo, o do
artista Caetano Gellini.
O primeiro presidente dos Antigos Alunos, Prof.
Gribaudi, deu a motivação da escolha ao escrever
que «num monumento erguido nos prados de
Valdocco Dom Bosco só podia ser representado no
meio de jovens. Sempre o tínhamos visto assim. Eu
próprio que, apesar de ter apenas dez anos quando
entrei para o Oratório, fiquei admirado ao ver a
multidão de rapazes que o assediavam, sempre
que passava pelo recreio. Corríamos todos para ele
e ficávamos satisfeitos se conseguíamos tocar-lhe
nem que fosse só com um dedo na mão; e sorria-
nos com aqueles seus escuros olhos vivíssimos. É
que ele era Dom Bosco, o nosso pai, o pai dos
gaiatos que éramos nós»29.
28 E.Ceria, o.c, p. 254. 29 E.Ceria, o.c, p. 256.
Devido à primeira guerra mundial, a inauguração do
monumento só veio a realizar-se no dia 23 de Maio
de 1920. Foi uma apoteose, com três congressos
internacionais: o dos Cooperadores, o dos Antigos
Alunos e o das Antigas Alunas, com representantes
de umas 23 nações.
Quem passa por Valdocco e contempla o grandioso
monumento não pode deixar de pensar no
significado vivo e mundial da “educação recebida”
nas instituições de Dom Bosco.
Falar hoje de “educação recebida”, para indicar o
título de pertença dos Antigos Alunos à Família
Salesiana, significa reevocar a vivência carismática
das origens e considerar o seu prolongamento e
desenvolvimento homogéneo durante estes mais
de cem anos.
Encontramo-nos, portanto, em presença de um
título de pertença que faz parte do genuíno carisma
do Fundador. Para melhor compreender a sua
natureza e clarificar as suas exigências, práticas e
organizativas, na actual viragem cultural e eclesial,
é preciso remontar ao Sistema Preventivo.
Os valores da educação salesiana
A educação é algo mais e algo diferente duma
simples inserção no ambiente e na cultura próprios
duma sociedade. Hoje é sem dúvida preciso ter em
conta a profunda evolução humana em curso, quer
no mundo quer na Igreja, com a problemática daí
decorrente: do ponto de vista negativo, o pluralismo
relativista, a desorientação doutrinal e ética, os
sistemas políticos totalitários, as situações
económicas injustas, os conflitos e os
antagonismos, o laicismo e o ateísmo, a crise
familiar, a marginalização e as novas formas de
abandono da juventude; do ponto de vista positivo,
um surgir de valores humanos promovidos pelos
sinais dos tempos, as corajosas perspectivas
eclesiais apresentadas pelo Concilio, o grande
compromisso de uma nova evangelização, um
sentido mais concreto da solidariedade e da paz,
uma vontade decidida de abrir espaços à civilização
do amor, etc. Tudo isto mostra a extraordinária
urgência de iluminar e formar melhor a liberdade do
homem desde a sua juventude.
O momento histórico que atravessamos coloca a
educação em primeiro plano, levantando ao mesmo
tempo numerosos problemas de avaliação e de
prospecção no que se refere aos fins, conteúdos,
métodos, meios e instituições. Impõe-se uma
concepção renovada de educação que seja
concreta e pontual, não abstracta e genérica,
integralmente humana e actual, de harmonia com
as exigências de cada país; empenhada em
formular objectivos e traçar estratégias, à luz de
uma autêntica visão antropológica e de fé;
apontando para uma liberdade amadurecida e recta
mediante processos de crescimento diferenciados
de harmonia com as fases etárias e os condicio-
nalismos existenciais; capaz de discernimento
crítico na promoção da pessoa de modo a não ser
modelada por modas e ideologias; verdadeiramente
libertadora de opressões e de tabus; realista e
criativa e, por isso mesmo, aberta a uma contínua
autoavaliação de acordo com um projecto de vida.
Não nos é possível deter-nos aqui a aprofundar
problemática tão vasta e complexa. Todavia, se
estamos apostados em relançar os Antigos Alunos,
para não serem meros “ex-escolares” mas um
verdadeiro Grupo da Família Salesiana, devemos
ter como ponto de referência o Sistema Preventivo
de Dom Bosco, em vista de captar os seus grandes
princípios e aprofundar com perspectivas de futuro
as suas linhas mestras; só desta forma se manterá
vivo e fecundo, para os nossos Antigos Alunos, o
título de pertença pela “educação recebida”.
O Sistema Preventivo é considerado uma das
componentes do carisma de Dom Bosco; foi neste
sentido que houve um repensamento profundo nos
nossos trabalhos pós-conciliares, especialmente no
CapítuIo Geral XXI.
A educação é para nós o caminho através do qual
se processa a consagração apostólica salesiana;
nós evangelizamos "educando"; produzimos cultura
“educando”; participamos no compromisso pela
justiça e pela paz “educando”; promovemos a
pessoa “educando”; edificamos a Igreja “educando”;
fazemos pastoral (juvenil, vocacional e popular)
“educando”. Se fazemos pastoral “educando”, quer
dizer, entre outras coisas, que os nossos Antigos
Alunos não provêm apenas das escolas mas de
todo os tipos de presença e de centros juvenis em
que actuamos “educando”.
O Sistema Preventivo, como declarou o Capítulo
Geral XXI, «não aponta somente para um conjunto
de conteúdos a transmitir ou para uma série de
métodos e de processos a comunicar; ele não se
reduz a pura pedagogia nem a mera catequese. O
Sistema Preventivo, tal como foi vivido por Dom
Bosco e pelos seus continuadores, sempre
apareceu como síntese rica de conteúdos e de
métodos; de processos de promoção humana e, ao
mesmo tempo, de anúncio evangélico e de
aprofundamento da vida cristã. Nas suas metas,
nos seus conteúdos, nos seus momentos de
actuação concreta reivindica simultaneamente as
três palavras com que Dom Bosco o definia: razão,
religião, amabilidade»30.
Este trinómio atravessará os séculos. A nós, hoje,
cabe-nos repensar a sua aplicação segundo as
diferentes culturas em que trabalhamos, mas
olhando sempre para o Oratório de Dom Bosco
como modelo em que temos de inspirar-nos.
Vamos pois reflectir, ainda que rapidamente, sobre
alguns pontos que hoje nos parecem óbvios, mas
que interpelam a nossa renovação pedagógica
tendo em vista o relançamento dos Antigos Alunos
e dos fins concretos da sua Associação.
O termo “razão”, além do “bom senso”de fundo, faz
hoje apelo às diversas disciplinas antropológicas
que constituem aquele conjunto de “ciências da
educação” de cujo desenvolvimento, reflexão e
docência se ocupam também duas Faculdades
salesianas em Roma: a da Universidade Pontifícia
Salesiana (UPS) e o “Auxilium” das Filhas de Maria
Auxiliadora. As diferentes culturas e mudanças 30 CG 21, 80.
provocadas pelos sinais dos tempos reclamam
novas competências nos educadores e a
capacidade de revisão contínua do projecto
educativo em acção.
A visão humanista, na integralidade dos seus
conteúdos, a formação da liberdade para a
prossecução e promoção do bem (preventividade!),
a concepção genuína do amor e a visão objectiva
da sexualidade, a proposta de ideais em que a vida
apareça como missão, a responsabilidade de uma
competência profissional, o encaminhamento para o
mundo do trabalho, o recto discernimento moral da
consciência, o sentido da solidariedade, a projecção
familiar e política da vida, as realidades da ordem
temporal na sua autêntica laicidade, a dignidade e o
papel da mulher, os grandes horizontes da justiça e
da paz, a iniciação à promoção dos valores
humanos em colaboração com todos os homens de
boa vontade, uma correcta disciplina de vida, etc.,
são outros tantos desafios concretos para os
educadores de hoje a fim de que a sua actividade
pedagógica se processe deveras segundo a
“razão”.
O termo “religião” constitui para Dom Bosco uma
componente absolutamente indispensável da
educação. No núcleo central de todas as culturas
encontram-se sempre valores religiosos; até
mesmo numa hipotética cultura ateia está no
centro, como fermento da sua estruturação, a
negação de Deus. A religião para Dom Bosco é o
motivo e o motor de toda a sua opção pedagógica.
Para ele dizer “religião” era o mesmo que dizer “Fé
católica”; ele educou para o Evangelho de Cristo,
promovendo e fazendo amadurecer
pedagogicamente a opção baptismal dos seus
jovens.
Hoje o Vaticano II abriu largos espaços de
renovação a este respeito, o que exige de nós,
educadores, uma acentuada novidade de
competências evangelizadoras e catequéticas.
Importa saber assumir a herança profética do
Concílio. Em particular, o termo “religião”, além de
significar uma sensibilidade ecuménica renovada
entre cristãos não católicos, exige de muitos de nós
um conhecimento directo e a valorização daquelas
Religiões não cristãs que são praticadas em
numerosas zonas onde se encontram inseridos os
nossos centros educativos. A abertura ao
transcendente, a procura da verdade sobre Deus, a
pedagogia da oração, o valor das celebrações
culturais, o significado da fraternidade humana, a
sacralidade da vida, uma ética e uma
espiritualidade do comportamento, uma concreta
modalidade de ascese, a gratuidade do dom no
modo de viver e de trabalhar, os valores
particulares, bem como os defeitos próprios da
religiosidade popular, etc., são aspectos
importantes para uma pedagogia empenhada na
formação da liberdade no concreto.
Neste campo é muito delicado mas indispensável
ter os olhos atentos para saber individuar
objectivamente e saber intervir com prudência em
relação a certas atitudes supersticiosas e tabus
religioso-culturais contrários à dignidade da pessoa
humana e em manifesta contradição com a história
da salvação.
– Finalmente, o termo “amabilidade” comporta
aquele envolvimento afectivo na educação que é o
aspecto mais típico da metodologia pedagógica de
Dom Bosco. Consiste em criar um ambiente
educativo impregnado de espírito de família, de
confiança recíproca, de diálogo espontâneo, de
amizade, de alegria, de convivência amigável não
só no que respeita aos aspectos escolares mas
também às imensas possibilidades do tempo livre,
como o desporto, o teatro, a música, o
associativismo, às iniciativas de tipo social e
apostólico, numa palavra, aquele “clima
oratoriano”que faz com que a obra educativa seja
para os jovens “casa que acolhe, paróquia que
evangeliza, escola que forma para a vida e pátio
para se encontrarem como amigos e viverem em
alegria”31.
Este clima propicia e promove o protagonismo dos
próprios jovens através de iniciativas, grupos,
associações que dão sentido, utilidade e atracção
ao tempo livre.
A criação de semelhante “ambiente educativo”, em
que se desenvolvem relações cordiais entre
educadores e educandos é, sem dúvida, o
elemento que melhor assegura o nascer e o crescer
daqueles vínculos de afecto e de vida (como nas
relações de parentesco) que, uma vez concluída a
fase da educação juvenil, irão permanecer ao longo
da vida dos Antigos Alunos; é sobretudo por isso
que eles irão continuar a sentir-se família com Dom
Bosco e os seus salesianos.
Vários graus de assimilação dos valores
O artigo 5 das Constituições fala de educação
“recebida”. Não basta ter frequentado uma obra
salesiana para alguém se tornar um verdadeiro
antigo aluno ou ex-aluno.
31 C 40.
O prefixo ou partícula “ex” pode tornar-se ambíguo.
Se, efectivamente, indicasse apenas a condição de
quem, na sua juventude, passou por uma obra
salesiana e depois a deixou como se deixa uma
pensão ou como quem parte desiludido, não
serviria para indicar exactamente a natureza da
Associação e a pertença à Família Salesiana:
significaria apenas um grupo de antigos colegas
(poucos ou muitos, não interessa), pelos quais a
Associação se deveria interessar para lhes lembrar
alguns valores da educação que neles ficaram
apenas em embrião sendo depois abafados pelos
cardos e pela cizânia da vida.
Pelo contrário, aquele prefixo unido ao nome aluno
quer indicar de facto a realidade da assimilação de
muitos valores educativos, o seu amadurecimento
e, por conseguinte, a continuidade de uma atitude
de “formação permanente” ao longo da vida. É isto
que constitui a característica da natureza da
Associação.
Os Antigos Alunos unem-se e constituem a
Associação, porque se sentem ligados por laços de
gratidão e pensam que juntamente com os
Salesianos podem avivar os princípios da
“educação recebida”, a fim de os fazer frutificar.
É óbvio que a assimilação dos valores terá graus e
expressões diferentes conforme as culturas, as
religiões, a qualidade educativa da instituição, a
capacidade receptiva de cada um.
Em particular: os valores da “razão” e da “religião”
poderão desenvolver-se, em situações diferentes,
tendo em conta uma certa pluriformidade; ao nível
da “amabilidade”, pelo contrário, deveria notar-se
um intenso grau de presença em todas as obras
salesianas, tornando-se deste modo o critério para
avaliar a fidelidade ao Sistema Preventivo por parte
dos Salesianos e dos seus colaboradores em cada
uma das obras. É este o fio de ouro que abre
continuamente o caminho a toda a acção formativa,
ao longo da vida. Considero verdadeiramente
inexplicável o facto de que haja obras salesianas
que não tenham nem acompanhem os seus antigos
alunos; bem diversa é a história do Oratório de
Valdocco.
A consideração da variedade de modos e de graus
de participação está expressa no artigo
constitucional, ao afirmar que a pertença dos
Antigos Alunos à nossa Família «torna-se mais
estreita quando se comprometem a participar na
missão salesiana no mundo»32.
Antes de mais, é importante observar que cada
antigo aluno se relaciona com a Família Salesiana
através da sua Associação; existe também para ele,
assim como para os Salesianos, as Filhas de Maria
Auxiliadora e os Cooperadores, um compromisso
assumido pessoalmente: o de inscrever-se na
Associação, adquirindo assim em plenitude o título
de pertença a um dos Grupos “instituídos”33.
O seu “Grupo instituído” é uma "Associação que
tem como característica de base, comum a todos os
seus membros, a referência à “educação recebida”
e o propósito de fazê-la frutificar.
Uma “mais acentuada” intensidade do grau de
pertença exprimir-se-á de facto em modalidades
diversificadas, visto que “a missão salesiana no
mundo” pode ser vivida e participada em situações
religiosas e segundo convicções pessoais
objectivamente diferentes, desde que nos Antigos
Alunos associados permaneça um fundamento real
32 C 5. 33 Cf. "II progetto di vita dei Salesiani di Don Bosco - Guida alla lettura delle Costituzioni salesiane", p. 114.
de valores comuns em razão da “educação
recebida”.
Nos Estatutos da Associação lê-se que os Antigos
Alunos «se propõem consolidar o vínculo de
amizade que os liga aos seus educadores e os une
entre si, e conservar e desenvolver os princípios
que estiveram na base da sua formação, a fim de
os traduzirem em autênticos compromissos de
vida»34; e, ao falarem da Confederação Mundial,
afirmam que ela «tem como finalidade fazer com
que os sócios conservem, aprofundem e ponham
em prática os princípios educativos salesianos
recebidos»35.
Por conseguinte, a Associação dos Antigos Alunos
apresenta, enquanto tal, uma caracterização própria
“sem distinções étnicas nem religiosas”36. Por isso,
não é fácil estabelecer, a nível mundial de
Confederação, a variedade possível de graus de
“mais estreita” participação na missão salesiana;
mais à frente indicaremos algumas formas
concretas já experimentadas na prática vivida.
Aqui parece-nos importante observar que a vida da
Associação procede das bases, ou seja, das Uniões
34 Estatutos, art. 1. 35 Estatutos, art. 5. 36 Estatutos, art. 1, d.
ou Centros locais onde as pessoas se conhecem e
têm uma visão mais concreta e homogénea da
“educação recebida” e podem, por isso mesmo,
determinar na pratica em que é que consiste para
cada Centro ou União “uma participação mais
estreita na missão salesiana” no âmbito do
respectivo ambiente e situação religiosa, cultural e
social. Neste sentido ninguém estranhará que a
situação dos Antigos Alunos varie de lugar para
lugar. A tendência para estruturar demasiado a
níveis mais elevados pode ser prejudicial. A
animação mais incisiva e mais apropriada está
ligada, em primeiro lugar, à vitalidade dos grupos
locais. É para lá principalmente que é preciso
apontar como estratégia de encontro e de formação
permanente. A vida dos Centros locais é mais
facilmente captada e sentida pelos associados.
Certamente que uma adequada organização, a
nível provincial, nacional e mundial, é não só útil
como também necessária; mas ela deve ter em
vista servir, animar, sugerir, estimular, apoiar (por
vezes também suprir) as iniciativas próprias dos
Centros locais para que consigam fazer frutificar
concretamente a “educação recebida”.
Hoje, depois do Vaticano II, uma participação “mais
estreita” na missão salesiana pode vir a ser também
iluminada pelas orientações ecuménicas37, pela
abertura ao diálogo com as religiões não cristãs38 e
por actividades de serviço ao homem inclusive com
a colaboração de não-crentes de boa vontade39.
Um aspecto peculiar acentuado pelo Capítulo XXI40
é o dos Antigos Alunos católicos “que fizeram a
opção evangelizadora”. A sua participação “mais
estreita” aproxima-os muito dos Cooperadores
Salesianos. É exactamente por isso que são
convidados a inscrever--se entre os Cooperadores:
«A comunidade – afirmam os nossos
Regulamentos – ajude os mais sensíveis aos
valores salesianos a amadurecer a vocação de
Cooperadores»41. Todavia, as duas Associações
distinguem-se, enquanto tais, uma da outra. A dos
Antigos Alunos tem uma fisionomia própria,
relacionada com os fins, a comunhão e as
iniciativas decorrentes da “educação recebida”.
A Associação dos Cooperadores não é, em si
mesma, alternativa à dos Antigos Alunos; constitui,
pelo contrário, um centro de referência espiritual e
37 Cf. "Unitat is redintegrat io". 38 Cf. "Nostra aetate". 39 Cf. Instituição do Secretariado para os Não-crentes, Cúria Romana. 40 Cf. CG 21, 69. 41 Reg. 39.
eclesial para aqueles que fizeram a opção
evangelizadora.
Os Antigos Alunos “Cooperadores” assumem,
generosamente, como “leigos” convictos, as
finalidades da sua Associação de Antigos Alunos e
colocam à sua disposição as riquezas da graça de
Cristo segundo o espírito de Dom Bosco, para fazer
frutificar entre os associados e entre os antigos
companheiros afastados a “educação recebida”.
Por conseguinte, a assimilação dos valores do
Sistema Preventivo oferece uma variada gama de
possibilidades de mais ou menos estreita
participação na missão salesiana no mundo.
Naquilo que depende das nossas comunidades
assume uma importância extraordinária o cuidado
que os Provinciais e Directores (juntamente com os
seus Delegados) devem ter relativamente a uma
animação que assegure a fidelidade à Associação e
à inspiração genuína de Dom Bosco. Todos
devemos ter presente e imitar a compreensão, o
acolhimento, a dedicação e as iniciativas do nosso
Fundador e do Pe. Rinaldi. Não é tarefa fácil: são
precisas pessoas competentes e influentes que
saibam tratar com homens adultos e que
mantenham claro e actualizado o património dos
valores dos Sistema Preventivo.
Algumas formas de participação dos Antigos Alunos na missão de Dom Bosco
O título da educação recebida não é, como vimos,
algo de superficial que se sobreponha
artificialmente como a douradura de um metal.
Trata-se de uma realidade vital de gratidão, de
comunhão e de compromisso à luz do projecto
educativo vivido, com novas experiências de vida,
de trabalho, de estudo, de perspectivas pessoais e
sociais.
A natureza e a actividade da Associação está ligada
intrinsecamente a este título de pertença. Deve ser
capaz de descortinar os vastos horizontes que tem
pela frente sem se confundir nem com a
Associação dos Cooperadores, nem com qualquer
outra associação profana, adulterando assim a sua
identidade.
De que forma, portanto, a Associação dos Antigos
Alunos participa na vida e nas actividades da
Família Salesiana? Tentemos dar uma resposta
orientadora partindo da sua história e da sua
realidade actual.
– Uma primeira forma é o empenho na “formação
permanente” dos associados. Trata-se de uma
tarefa inerente à própria “educação recebida”,
enquanto qualquer tipo de educação
(especialmente neste momento de viragem cultural)
precisa de crescer e de adequar-se às novas
exigências de maneira contínua e actualizada. Os
Estatutos da Confederação Mundial afirmam que os
Antigos Alunos se propõem «conservar e
desenvolver os princípios que estiveram na base da
sua formação, a fim de os traduzirem em autênticos
compromissos de vida»42, e que «vêem no Reitor-
Mor a própria figura de Dom Bosco, reconhecendo-
o como guia; desejam a assistência dos Salesianos
para uma educação espiritual permanente, incisiva
e adequada»43.
Neste sector existe um âmbito muito concreto de
serviço de animação que cabe às comunidades
salesianas e aos irmãos no tocante aos Antigos
Alunos. Programar e promover iniciativas de
formação permanente é uma maneira de fazer com
que os Centros ou Uniões locais e as Federações
provinciais cresçam em qualidade, participando o
mais possível na missão.
42 Art. 1, b. 43 Art. 1, e.
– Outra actividade própria da Associação consiste
em pôr em pratica a exortação do próprio Dom
Bosco aos antigos alunos, no sentido de “se
manterem unidos e se ajudarem mutuamente”,
preocupando-se não somente com o aspecto
organizativo e funcional da Associação44, mas
também com a ajuda recíproca nas necessidades e,
sobretudo, mantendo um contacto benéfico com
antigos companheiros que andam afastados pelos
mais diversos motivos. É certo que aqueles que
«não estão inscritos num determinado Centro local
não são sócios efectivos da confederação, mas
nem por isso deixam de pertencer ao ‘Movimento
dos Antigos Alunos de Dom Bosco’»45. Por isso,
convém guardar os seus nomes num ficheiro
apropriado a fim de não ficarem esquecidos e para
serem convidados a participar nas actividades de
formação e de altruísmo.
Eis um campo de expansão natural da Associação
à qual podem dar uma valiosa ajuda os salesianos
que conheceram aqueles antigos alunos
eventualmente afastados.
– Outro empenho importante da Associação é o que
diz respeito à vida familiar de cada membro. Isto
supõe o conhecimento e a defesa dos direitos e
44 Cf. Documento anexo 5, 1. 45 Documento anexo 2.
deveres da família na sociedade. Nos Estatutos lê-
se que os Antigos Alunos se propõem promover e
defender os grandes valores da família humana46,
que atravessa hoje um grave momento de crise. E é
na família, como já sugeria Dom Bosco, que os
antigos alunos encontram também a maneira de
aplicar a metodologia pedagógica aprendida
durante os anos da educação.
Eis outra interpelação de grande actualidade para
medir o empenhamento pedagógico, de ontem e de
hoje, das nossas comunidades educativas. Como é
que se aplica o Sistema Preventivo (a introduzir
depois nas famílias)? Que formação se dá aos
jovens em vista do matrimónio? Em que é que
consiste programaticamente a educação para o
amor? Como se enfrentam as exigências de uma
correcta educação sexual? Que ética conjugal se
propõe? Como se insiste na sacralidade da vida?,
etc. Todos estes aspectos mostram--nos a urgência
de uma “pastoral familiar” concreta a projectar e
levar por diante, em sintonia com a pastoral juvenil,
nas nossas casas, conforme as possibilidades
inerentes ao tipo de presença educativa.
Recordemos a observação penetrante feita por um
Bispo na assembleia do Sínodo de 1980 sobre a 46 Cf. Estatutos 3, a.
família. Já me referi a ela numa carta circular,
chamando a atenção para o facto de que «o tema
da família, mais do que um sector para onde
devemos fazer convergir as nossas avaliações
programáticas, é uma perspectiva privilegiada a
partir da qual é preciso repensar e projectar duma
forma mais realista e inteligente, em consonância
com o projecto divino, toda a pastoral»47. Por
conseguinte, a nossa pastoral juvenil e os projectos
educativos concretos das províncias e das casas
devem saber ter na devida conta esta óptica
verdadeiramente estratégica. Disse então esse
Bispo: «A família é minúscula, mas encerra em si
uma energia superior à do átomo. A partir da
humilde pequenez de milhões de lares, a Igreja
pode relançar o poder do amor necessário para
fazer de si mesma o Sacramento da unidade entre
os homens»48.
Se a essência de toda a verdadeira educação
consiste em conduzir ao amor, será necessário que
toda a pastoral da Igreja (e portanto também a
nossa) una os seus esforços para fazer com que a
família humana se torne efectivamente “a escola do
amor”. Ajudemos os Antigos Alunos a tornar eficaz
a educação salesiana no seio das suas famílias.
47 ACG 229, Janeiro-Março, 1981, "Appell del Sinodo '80", p. 8. 48 Mons. Francisco J. Cox: 14.10.1980.
– Um outro compromisso que caracteriza a
actividade da Associação consiste em partilhar e
privilegiar o grande problema da educação da
juventude. Os Antigos Alunos afirmam que, «dada a
urgência do problema da juventude do nosso
tempo, a Associação empenha-se o mais possível
na realização de actividades capazes de interessar
os jovens nos diversos campos da acção
socioapostólica; promove e anima as suas
iniciativas e ajuda-os a assumir responsabilidades
em todos os níveis»49.
Todos nós conhecemos a urgência deste problema
e a necessidade de dar vida a múltiplas iniciativas
para colaborar, ainda que em âmbito restrito, no
sentido de encontrar soluções. Trata-se de um
problema universal; encontramo-lo em qualquer
parte do mundo, embora sejam diversas as
condições juvenis. Felizmente, também o espírito
de Dom Bosco é universal, e encontra-se vivo e
actuante em todos os continentes: um único
espírito, uma mesma missão, na pluralidade das
situações culturais, sociais e pastorais. Por que
valores terão os Antigos Alunos de nortear-se em
favor da juventude?
49 Documento anexo 5, 2.
Na fidelidade ao carisma de Dom Bosco eles
deverão ser capazes de analisar os problemas mais
urgentes dos jovens, tendo como ponto de
referência as três dimensões do Sistema
Preventivo. No âmbito da “razão”, os problemas
relativos aos valores humanos; no âmbito da
“religião”, os que se referem à fé e à espiritualidade
da vida; no âmbito da “amabilidade” os que dizem
respeito ao método, pensando na degradação da
escola (bastante generalizada) e sobretudo da
família e do amor: urge na verdade orientar-se por
critérios claros de uma metodologia pedagógica
válida a pôr em prática.
Trata-se de um compromisso que abre um amplo
panorama de intervenções.
Evidentemente que também aqui se torna
necessário rever toda a programação das nossas
comunidades educativas e o significado actual das
nossas obras, tendo em vista uma resposta prática
aos desafios que nos vêm dos jovens. Só assim
será possível orientar melhor as iniciativas dos
Antigos Alunos, robustecendo ou completando o
nosso tipo de intervenção com o deles e chegar até,
segundo as exigências concretas dos diversos
lugares, a levar por diante um plano de conjunto de
toda a Família Salesiana que aí trabalha.
– Uma outra finalidade que a Associação tem em
vista é a seguinte: «a defesa e promoção dos
valores inerentes à pessoa humana e o respeito
pela dignidade do homem»; e «a promoção e
elevação cultural, social, moral, espiritual, e
religiosa, de acordo com a educação recebida»50.
No seu “Documento anexo” (para a aplicação dos
Estatutos) os Antigos Alunos explicitam ainda mais
este sector de tipo sociocultural tão característico:
«estimular os Antigos Alunos a adquirir uma
correcta e sólida preparação sociopolítica – mais do
que urgente e necessária nos dias de hoje – que
não fique apenas em princípios teóricos, mas que
os leve a assumir o compromisso de cumprirem o
dever político de bons cidadãos e de se
empenharem em realizações sociais práticas, na
criação de associações de ajuda mútua, etc.»; e
ainda «impulsionar actividades apostólicas e
sociais, especialmente no que respeita à justiça, à
paz e à fraternidade»51.
Cumpre acrescentar a enorme importância que tem
hoje a comunicação social e como o uso dos seus
meios, inclusive os mais sofisticados, pode ser
aproveitado e orientado por não poucos Antigos
50 Estatutos 3, a. 51 Documento anexo, 5, d, c.
Alunos dotados de competência especial neste
domínio.
Esta finalidade supõe também uma “educação
recebida” de especial clareza e qualidade em
ordem à recta estruturação da ordem temporal. 0
Vaticano II e a doutrina social do Magistério abriram
aos educadores largos horizontes de renovação
que exigem competência e actualização contínua. A
nossa forma de educar, caros irmãos, precisa de
rever todo este sector, não para nos imiscuirmos
em política partidária, mas para pôr realmente em
prática tudo o que de fundamental nos propõe o
artigo 33 das nossas Constituições.
Devemos promover a justiça e a paz, “educando”; e
na educação devemos testemunhar concretamente
o nosso amor preferencial pelos pobres. Somos
chamados a realizar uma “educação libertadora”,
inspirando-nos na práxis vivida por Dom Bosco na
corrente secular da fé cristã continuamente
iluminada pelo Magistério vivo da Igreja. Os Antigos
Alunos esperam de nós orientações claras neste
sentido.
– A participação da Associação na missão de Dom
Bosco comporta, além disso, o propósito de
incrementar a comunhão activa com toda a Família
Salesiana e com cada um dos seus Grupos, quer a
nível de direcção mundial, quer a nível provincial e
local com as comunidades e pessoas inseridas no
mesmo contexto. O título de pertença em razão da
educação liga facilmente a Associação a todos os
membros da Família, mas de modo muito particular
aos três Grupos fundados por Dom Bosco:
Salesianos, Filhas de Maria Auxiliadora e
Cooperadores.
A renovação do carisma de Dom Bosco apela hoje
para os Antigos Alunos, no sentido de
intensificarem concretamente os vínculos de
participação e de comunhão sobretudo com estes
três Grupos, consoante a natureza e o papel próprio
de cada um deles.
Este objectivo deve ser continuamente recordado e
prosseguido pela nossa animação.
O artigo 5 das Constituições atribui a nós,
Salesianos, “por vontade do Fundador”, a não
indiferente responsabilidade de «manter a unidade
do espírito e promover o diálogo e a colaboração
fraterna para um enriquecimento recíproco e maior
fecundidade apostólica».
Infelizmente, há ainda alguns salesianos que preci-
sam de mudar de mentalidade a este respeito e de
considerar este aspecto como uma das “grandes
linhas sobre as quais é necessário concentrar toda
a nossa atenção e orientar para aí esforços
concretos”; como dizia o Reitor-Mor, Pe. Luís
Ricceri, ao apresentar os Actos do Capítulo Geral
especial: «É urgente retribuir às nossas
comunidades a dimensão de núcleo animador de
outras forças espirituais e apostólicas (as da
Família Salesiana!); elas próprias (as nossas
comunidades) tirarão daí grandes vantagens
espirituais e apostólicas»52. O saber cultivar e
intensificar as relações dos Antigos Alunos
connosco, antes de tudo connosco, e depois com
os outros Grupos (especialmente com os
Cooperadores), é uma tarefa por vezes delicada 52 L. Ricceri, CGE 20, p. XIX.
mas assaz fecunda que torna verdadeiramente
possível que a nossa Família se apresente, nos
diferentes contextos em que se insere, como um
“movimento eclesial” vivo e incisivo, tal como é
sugerido pelo Lema deste ano.
Um bom sinal da vontade política que manifestam
os Antigos Alunos, para porem em prática este
propósito, é o acordo que fizeram com a
Associação das Antigas Alunas das Filhas de Maria
Auxiliadora para a realização de um único
Congresso Internacional comum em Novembro de
1988, para comemorarem solenemente Dom
Bosco.
– Finalmente, uma outra tarefa não menos
importante é a de orientar os alunos finalistas no
sentido de os esclarecer sobre as vantagens de se
tornarem membros da Associação. A adesão dos
jovens interessa aos Antigos Alunos, porque
desejam ser um grupo “sempre jovem”; mas isto só
será possível se a Associação for continuamente
“revitalizada por milhares e milhares de jovens que
saem das obras salesianas”53.
Um compromisso tão louvável e vital, ao mesmo
tempo que representa para os Antigos Alunos uma 53 Documento anexo 1, b.
dedicação prática no sentido de um envolvimento
agradável aos jovens, exige das nossas
comunidades locais um trabalho inteligente e
concertado para orientar os alunos dos últimos
anos em vista de possibilidades concretas de um
maior crescimento salesiano dentro daqueles
Grupos da nossa Família mais consentâneos com o
respectivo projecto de vida, particularmente a favor
da Associação dos Antigos Alunos.
Por conseguinte, a maneira como a Associação dos
Antigos Alunos participa na missão de Dom Bosco
no mundo não é indiferente. Tem variadíssimas
possibilidades: acabámos de enumerar umas sete.
Tal participação constitui a prova real da sua
pertença à Família Salesiana, que se tornará cada
vez “mais estreita” conforme o grau de
compromisso demonstrado nas actividades
concretas acima referidas, sem excluir níveis
diferenciados que abrangem inclusivamente
modalidades ecuménicas, de diálogo inter-religioso
ou de simples boa vontade humana.
O papel das comunidades salesianas
As reflexões que temos vindo a fazer são um
convite dirigido aos Provinciais e Directores, como
também a cada um dos Irmãos, a que revejam a
sua sensibilidade, o trabalho pessoal e comunitário,
a qualidade e a eficácia dos serviços a prestar aos
Antigos Alunos. Há que prestar a maior atenção ao
artigo 39 dos Regulamentos.
Podemos distinguir dois momentos
complementares do nosso compromisso de
responsabilidade: o que se refere à qualidade da
educação que se ministra nas nossas obras, e o
que se refere directamente à vida e actividade da
Associação,
- Quanto ao primeiro momento (o da qualidade da
educação) já a ele nos referimos substancialmente,
ponto por ponto, ao considerarmos algumas
actividades realizadas pela Associação.
Poderíamos de novo acentuar aqui o pensamento
inequívoco de Dom Bosco e do Pe. Rinaldi: os
Antigos Alunos representam no mundo o fruto do
nosso trabalho. A educação das nossas instituições
está toda ela voltada, com sentido prático social e
eclesial, para a vida adulta do cidadão honrado e do
bom cristão? Procuramos, portanto, formar
autênticos Antigos Alunos? Promovemos uma
educação que garanta uma pertença ulterior à
Família Salesiana? Prescindir disto seria admitir
que o Sistema Preventivo de Dom Bosco está
ultrapassado.
– O segundo momento é constituído pelo cuidado e
animação da própria Associação. Se pensarmos no
número imenso dos nossos Antigos Alunos, se nos
capacitarmos de que a herança do espírito de Dom
Bosco está hoje muito viva e o seu trabalho é
positivo, se tivermos em conta a imensa e
crescente massa de jovens necessitados em
relação aos quais o nosso Fundador se sentiu
investido por Deus de uma missão particular,
escutaremos o apelo premente a atrair e estimular
todas as forças disponíveis da Família Salesiana;
nesta missão os Antigos Alunos representam sem
dúvida uma grande mina, rica de possibilidades.
Trata-se de uma providencial potencialidade
salesiana a ser incrementada em cada um dos
sectores de actividade supramencionados.
Podemos acrescentar aqui também o convite a
promover o voluntariado (especialmente dos
antigos alunos jovens) com múltiplas perspectivas
inclusive missionárias.
Trata-se, porém, de saber dialogar e fazer
comunhão de espírito e de propósitos com uma
Associação de pessoas maduras, que é por si
mesma multiplicadora de educação salesiana, e
portadora de uma admirável possibilidade de
colaboração e de gestação de novas e fecundas
iniciativas. Para tal fim é necessário que as nossas
comunidades tenham consciência disso e saibam
criar perspectivas válidas de futuro, desde que
sejam comunidades abertas, acolhedoras,
disponíveis e preparadas para o diálogo.
Nos programas de animação e de formação
permanente dos irmãos será preciso prever tempos
e formas de sensibilização que os envolvam no
conhecimento e na actuação das orientações dos
últimos Capítulos Gerais a este respeito.
O Provincial, em particular, considere importante a
designação de um Delegado provincial qualificado e
idóneo; planifique reuniões de Directores para os
levar a tomar consciência clara das
responsabilidades de animação e acção
condizentes com as respectivas comunidades e a
escolher, se for o caso, Delegados locais que
interpretem e traduzam na prática esta incumbência
de cada comunidade. E óbvio que os Delegados,
aos diferentes níveis, não devem substituir os
principais responsáveis da animação, ou seja, o
Provincial, o Director e a Comunidade, mas de
interpretar a sua vontade política de acção. Será
também conveniente manter um diálogo respeitoso
e prático com as Filhas de Maria Auxiliadora no que
toca à Associação das Antigas Alunas.
O Provincial e os Directores, no âmbito das suas
responsabilidades, valorizem a possibilidade de
consultas periódicas para avaliar a realidade dos
factos e para projectar no ambiente actividades de
interesse comum, sobretudo em favor da juventude.
Evidentemente, caros irmãos, esta tarefa radicada
no mandato constitucional recorda-nos uma vez
mais que a verdadeira identidade de uma
comunidade salesiana não consiste em fazer tudo
por si própria, mas em ser um verdadeiro “núcleo
animador” de muitas outras forças apostólicas e
sociais.
Importância vital da espiritualidade
O Lema de 1987 fala-nos da necessidade de nutrir
e tornar fecundas algumas “ideias-força” que
possam apresentar a Família Salesiana como um
Movimento eclesial com incidência na história. Sem
uma profunda energia mística não poderemos
arrastar ninguém nem conseguiremos ser nem
“missionários” nem “carismáticos” dos jovens.
Para que uma comunidade salesiana se torne
verdadeiramente “núcleo animador”, necessita de
que os seus membros sejam ricos de interioridade e
que nela vibre uma espiritualidade e se respire
comunitariamente uma renovada atmosfera
pentecostal. Hoje falamos de “espiritualidade
juvenil”, por estar toda ela orientada para a
educação e evangelização da juventude, mas visa,
em primeiro lugar e acima de tudo, os adultos da
nossa Família, a fim de que mantenham vivas em si
mesmos a paternidade e a maternidade educativa.
Uma descrição sintética autorizada do que vimos
dizendo encontramo-la no capítulo II das nossas
Constituições, onde se descreve o “espírito
salesiano” de Dom Bosco.
Trata-se de um estilo peculiar de ser discípulos do
Senhor; de um modo típico de viver no seu espírito;
de uma escuta contemplativa e operativa da
Palavra de Deus, à imitação de Maria; de um
frequente encontro eucarístico e penitenciai; de
uma experiência de fé, esperança e caridade
tendente a transformar o quotidiano; de fazer da
nossa vida um sacramento de salvação; de um
sinal escatológico da “força da ressurreição”54, em
sintonia com as energias frescas da juventude; de
uma irresistível paixão pelo Reino ("da mihi 54 C 63.
animas") em franca colaboração com os Pastores
da Igreja; de um amor capaz de levar à doação de
si mesmo no sacrifício; de alegria e optimismo
dentro de uma visão realista do pecado e do mal;
de flexibilidade, trabalho e temperança em
simplicidade de família; de facilidade espontânea
em comunicar própria de quem tem no coração
uma história de santidade a transmitir aos outros,
sobretudo aos jovens.
No XX Capítulo Geral declarámos guerra à
superficialidade espiritual; em vista do ano de 1988
propusemo-nos interiorizar o novo texto da nossa
Regra de vida e de relançar no tecido da nossa
existência a Profissão salesiana. Pois bem: toda a
Família Salesiana, e em particular os Cooperadores
e os Antigos Alunos, esperam de nós o contágio
vivo e salutar do espírito de Dom Bosco; os jovens
exigem de nós o testemunho de uma espiritualidade
atraente e adaptada à sua maneira de ser e as
energias simples mas poderosas de uma santidade
para a vida de todos os dias capaz de permear a
realidade, porventura monótona, do quotidiano, as
durezas da vida e os apelos das horas difíceis e
mais exigentes, através da transcendência
vivificante do espírito das Bem-aventuranças.
Semelhante espiritualidade torna-se necessária em
todas as culturas e concentra uma tal riqueza de
elementos vitais que pode ser partilhada mesmo
pelos cristãos não católicos, pelos membros de
Religiões não cristãs e até por não crentes de boa
vontade.
A experiência mais que secular da vitalidade do
espírito de Dom Bosco e os resultados concretos da
sua pedagogia em todos os continentes constituem
um válido apelo para nós, no sentido que
apostámos em ser como o Fundador verdadeiros
“carismáticos dos jovens”.
Concluindo
Todos nós desejamos de todo o coração e quanto
antes a beatificação do Pe. Rinaldi. Ele é o grande
inspirador da Associação dos Antigos Alunos e, lá
do céu, certamente vela por ela.
Proponhamo-nos todos obter de Deus, autor de
todo o bem, o “dom” do reconhecimento oficial da
sua santidade salesiana; será significativo e
benéfico para os jovens e para toda a nossa
Família; mas seria principalmente de grande
regozijo para as Voluntárias de Dom Bosco e para o
Antigos Alunos.
Que Nossa Senhora Auxiliadora apresente ao Pai,
durante os próximos meses, esta nossa insistente
oração:
“Senhor, que no Venerável Filipe Rinaldi, imagem
viva de Dom Bosco, destes novo vigor e mais
amplo desenvolvimento ao carisma da Família
Salesiana, glorificai este vosso Servo: tornai-nos
seus fiéis imitadores na capacidade de animação
de numerosos e válidos missionários dos jovens".
Que o Pe. Rinaldi interceda por nós, pelas Filhas de
Maria Auxiliadora, pelos Cooperadores e, de modo
particular, pelas Voluntárias de Dom Bosco e pelos
Antigos Alunos.
Na expectativa de 1988, saúda-vos com afecto
Roma, 19 de Março de 1987, festa de S. José
Pe. Egídio Viganò