histÓria da igreja - dom bosco

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HISTRIA DA IGREJADom Bosco, santo fundador dos Salesianos, recebeu de Deus um carisma especial no trato com os jovens, aos quais dedicou toda sua vida. Dentre os muitos escritos de Dom Bosco, que infelizmente no so divulgados, mesmo pela Editora Salesiana, como se esperaria, est a "Histria Eclesistica", que na sua linguagem simples, direta e dinmica, elaborada pelo santo para ser agradvel ao leitor jovem, incrivelmente, ainda hoje, aps quase 140 anos, atual no seu objetivo.Por esta razo foi ela, a , a nossa escolhida para ilustrar a pgina HISTRIA DA IGREJA do "Duc in altum!", mesmo que para isso tenhamos tido que esperar 6 anos, desde a

fundao do site, para encontrarmos um exemplar do livro de Dom Bosco.

Querido pai Dom Bosco, pedimos vossa intercesso para que a transcrio da vossa "Histria Eclesistica" possa, ainda hoje, servir de instrumento para instruir e inflamar os coraes jovens, de todas as idades, ao amor Santa Madre Igreja Catlica Apostlica Romana. Amm. 8 de maio de 2008.

DOM BOSCO - HISTRIA ECLESISTICA APROVAO

De s. Excia. Revma. o Sr. Arcebispo de Turim Tendo ns lido e atentamente examinado o "Compndio de Histria Eclesistica" escrito pelo muito Reverendo Padre Joo Bosco, fundador da Congregao de So Francisco de Sales, e tendo-o achado muito oportuno e apto para dar os conhecimentos suficientes de uma coisa to necessria hoje em dia, como a Histria de Jesus Cristo, a todos aqueles que por qualquer motivo no podem dedicar-se a um estudo mais profundo e vasto da mesma, no s o aprovamos, mas tambm ardorosamente o recomendamos a todas aquelas pessoas que tm zelo por nossa Santa Religio, e particularmente a todos os professores de escola, e a todos os que se dedicam a instruir de modo cristo a mocidade. Turim, Seminrio So Jos, 1872. Loureno ArcebispoNOES PRELIMINARES

Histria Eclesistica e suas divises - Igreja Catlica - Hierarquia da Igreja: Papa, Cardeais, Bispos, Padres. Procos - Conclios: gerais, nacionais, provinciais e diocesanos. I. Histrias Eclesistica e suas divises - Histria Eclesistica a narrao dos fatos que tem relao com a Igreja Catlica, fundada por nosso divino Redentor Jesus Cristo, acompanhada das razes que explicam esses mesmos fatos. A histria se distingue da crnica; esta registra simplesmente os fatos segundo a ordem cronolgica em que sucederam, aquela intercala a relao dos fatos com as observaes que melhor os aclaram e explicam, para poder deste modo deduzir utilssimos conhecimentos e ensinamentos prticos. A histria se divide em seis idades, determinadas pelas pocas em que aconteceu algum fato extraordinrio ou alguma mudana notvel nos costumes. A primeira poca data desde a fundao da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, e se estende at a converso do Imperador Constantino o Grande, acontecida no ano 312 da era crist.

A segunda poca comea com a converso de Constantino e chega at a apario do Maometismo no ano 622. A terceira poca vai desde a apario do Maometismo at o II conclio de Latro em 1215. A quarta poca inicia-se com a celebrao deste Conclio e vai at a reforma de Lutero em 1517. A quinta poca comea com a reforma de Lutero e chega at a morte de Pio VI em 1799. A sexta poca comea com a morte de Pio VI e chega at o Conclio Vaticano I em 1869-70. II. Igreja Catlica - A Igreja Catlica a congregao dos que professam na ntegra a f e a doutrina de Jesus Cristo, e respeitam a autoridade do Soberano Pontfice, constitudo pelo mesmo Jesus Cristo como Vigrio e supremo Chefe visvel da Igreja. III. Hierarquia da Igreja - Nesta congregao de fiis existe uma hierarquia eclesistica, isto , uma ordem de ministros sagrados estabelecidos para conservar, propagar e governar a mesma Igreja. Esta Hierarquia em parte foi instituda por Nosso Senhor Jesus Cristo e completada pela Igreja, no exerccio da faculdade que recebeu das mos do mesmo. Nosso Senhor Jesus Cristo estabeleceu: 1. O Papa, que o Bispo dos Bispos. 2. Os Bispos, que alm do poder de consagrar o Corpo e Sangue do Redentor e perdoar os pecados, tem a faculdade de comunicar a outrem o mesmo poder, consagrando os Sacerdotes. 3. Os Sacerdotes, que podem consagrar o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo e redimir os pecados, porm no podem transmitir a outrem este poder. 4. Os Diconos ou ministros, que devem ajudar os Bispos e os Sacerdotes no desempenho do seu sagrado ministrio. A Igreja estabeleceu: 1. Dividir em certa maneira, em vrias ordens as atribuies dos diconos, ajuntando os subdiconos, aclitos, leitores, exorcistas e hostirios. 2. Que entre os Sacerdotes, alguns tivessem o cuidado de alguma parte da Diocese; isto , do rebanho confiado aos cuidados do Bispo, dando-lhes o nome e ofcio de Procos, dividindo assim a Diocese em Parquias. 3. Que os Bispos tivessem o governo de uma Diocese, e que as Dioceses fossem reunidas em Provncias, presididas por um Arcebispo, com jurisdio sobre os Bispos da mesma Provncia, chamados sulfragneos. 4. Que em alguns reinos e imprios houvesse, frente de vrias Provncias, um Bispo Primaz ou Patriarca, do qual depende os mesmos Arcebispos e as Provncias por eles governadas. 5. Finalmente que os Bispos das cidades mais circunvizinhas de Roma, capital do Catolicismo, e os Sacerdotes e Diconos adidos s principais Igrejas da Cidade Eterna formassem como o Senado do Soberano Pontfice, quanto ao privilgio de eleger o Papa, e ajudassem a este na administrao da Igreja Universal. A estes foi dado o nome de Cardeais porque todos eles tomam o ttulo de uma Igreja a cujo servio se acham ligados como portas de um edifcio a seus gonzos (em latim cardines). De modo que a Hierarquia instituda por Jesus Cristo e completada mais tarde pela Igreja, compe-se: 1. do Papa; 2. dos Cardeais; 3. dos Patriarcas; 4. dos Arcebispos; 5. dos Bispos; 6. dos Sacerdotes (Presbteros); 7. dos Diconos; 8. dos Subdiconos (extinto pelo Papa Paulo VI, atravs do Motu Proprio Ministeria Quaedam de 15 de agosto de 1972); 9. dos Aclitos e Leitores (incluso nos Diconos) IV. Conclios - Os Conclios so assemblias de Bispos, convocadas para tratar das questes religiosas e falar sobre as mesmas. Os Conclios podem ser: Ecumnicos ou Gerais, Nacionais e Provinciais. Conclio Ecumnico a reunio de todos, ou de uma grande parte dos Bispos da Igreja Catlica, aos quais convoca e preside pessoalmente ou por delegao, o mesmo Sumo Pontfice. O Conclio Geraldecide em ltima instncia as controvrsias religiosas e ditas leis gerais para toda Igreja; porm, nem as

sentenas, nem as leis do Conclios Gerais tem fora alguma, antes de serem aprovadas pelo Papa; de modo que, o Conclio Geral legitimamente congregado representa toda a Igreja Universal; e suas sentenas, quando trazem a aprovao do Papa, sendo infAliveis, devero ser tidas como artigos de f.

O Conclio Nacional a reunio dos Bispos de uma nao ou de um reino, convocados pelo Patriarca ou pelo Primaz, ou mesmo por um Bispo da Provncia, nomeado para este efeito pelo Sumo Pontfice. O Conclio Provincial a reunio dos Bispos de uma mesma Provncia, convocados pelo Metropolitano, isto , pelo Arcebispo, ou mesmo por outro Bispo coprovinciano, delegado pelo Soberano Pontfice. Tambm existem os Conclios Diocesanos, que consistem na reunio de todos os Procos e demais eclesisticos eminentes de uma Diocese, convocados por seu Bispo. Advirta-se, entretanto, que toda autoridade destes Conclios em resolver questes religiosas, ou ditar sentenas relacionadas com elas, compete exclusivamente ao Bispo; em quanto que nos Conclios Gerais, Nacionais e Provinciais todos os Bispos congregados tm a faculdade de proferir um juzo deliberativo. Nos Conclios Diocesanos os Procos so simples conselheiros, nos demais Conclios, os Bispos so juzes.

PRIMEIRA POCADesde a fundao da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, at a converso de Constantino, o Grande. (ano 312 da era crist).

CAPTULO I Maria Santssima e So Jos - Nascimento do Salvador - Adorao dos Reis Magos Degolao dos Inocentes - A Sagrada Famlia no Egito - Disputa com os Doutores -So Joo Batista - Batismo de Jesus. Maria Santssima e So Jos - Aproximava-se o tempo para os quais os profetas tinham fixado a vinda do Salvador: todo o mundo esperava um mestre que, baixando do Cu, trouxesse terra uma regra segura para discernir a verdade do erro e reformar assim os costumes depravados dos homens. Depois de 4.000 anos de contnuos suspiros, Deus decretou o cumprimento do mistrio da Redeno. Uma Virgem chamada Maria, foi a mulher venturosa que Deus escolheu para ser me de seu Divino Filho. So Joaquim e Santa Ana, ambos descendentes da real estirpe de Davi, e da Tribo de Jud, foram os pais de Maria. Sendo j velhos, e faltando-lhes prole, dirigiram ao Cu suas oraes, e o Senhor os ouviu, concedendo-lhes uma filha a que chamaram Maria. Aos trs anos de idade foi esta apresentada ao Templo, para que, juntamente com as outras virgens, no exerccio da piedade e do trabalho se preparasse desde ento para ser digna me do Salvador do mundo. (So Joo Damasceno) Tendo chegado idade de tomar estado, respondendo a uma voz celeste, foi desposada com So Jos, varo santssimo, oriundo de Nazar, o qual viveu com ela como se fosse uma irm. Depois de breve tempo, o Arcanjo Gabriel foi enviado para anunciar a Maria a sublime dignidade de me de Deus. Certificada Maria que tudo era obra do Esprito Santo submeteu-se Vontade do Altssimo, dizendo ao Anjo: Eis aqui a serva do Senhor; faase em mim segundo a tua palavra. Nascimento do Salvador - Corria o ano 4.000 da criao do mundo e Herodes, chamado o Grande, reinava na Judia. Maria Santssima e So Jos, obedecendo s ordens do Imperador Romano, Csar Augusto, se transportaram para Belm, pequena cidade da Judia para inscreverem seus nomes nos registros do imprio. Estando as casas da Cidade cheias de forasteiros, tiveram de sair da e alojar-se em uma gruta que servia de estbulo, onde se achavam dois animais.

Em to humilde local, meia-noite de 25 de dezembro, nasceu o Senhor do Cu e da terra. Nesse mesmo instante, um anjo revestido de luz deslumbrante, anunciou a boa nova a uns pastores que velavam guardando seus rebanhos, enquanto que uma multido de anjos fazia ressoar nos ares aquelas palavras celestiais: "Glria Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade". Os pastores cheios de admirao por to inslitos portentos, correram pressurosos a Belm e encontraram ali o celestial Menino. Depois de o haverem adorado e reconhecido como seu verdadeiro Deus e Salvador, cheios de alegria voltaram a seus rebanhos bendizendo ao Altssimo. Aos oito dias de seu nascimento o Menino foi circuncidado e foi lhe posto o adorvel nome de Jesus, que quer dizer Salvador, como o tinha ordenado o anjo antes do seu nascimento. Adorao dos Reis Magos - Algum tempo depois, alguns sbios do Oriente, guiados por uma estrela prodigiosa, que ento apareceu em suas regies, dirigiram-se Jerusalm para adorar o recm-nascido Messias. Chegando Jerusalm perguntaram a Herodes onde havia nascido o rei dos Judeus. A to estranha pergunta perturbou-se Herodes; reuniu em Conclio os Prncipes e Sacerdotes e os Doutores da Lei e lhes perguntou onde havia de nascer o Messias. A Assemblia declarou que devia nascer em Belm de Jud, segundo a profecia de Miquias, que, falando do nascimento do Messias, disse: " E tu, Belm de Jud, no s a menor entre as principais de Jud, porque de ti nascer o chefe que governar meu povo de Israel." Com tais informaes saram de Jerusalm os piedosos Reis e acompanhando o curso da estrela milagrosa chegaram onde se achava o divino Infante, e humildemente prostrados ofereceram-lhe ouro, incenso e mirra. Em seguida, avisados por um Anjo, regressaram por outro caminho a sua ptria. Degolao dos Inocentes e fuga para o Egito - Herodes ao despedir os Reis recomendou-lhes encarecidamente que passassem por seu palcio e o inteirassem de quanto se referia ao novo rei, com o fim, porm, de faz-lo perecer, temendo que crescendo o despojasse do seu trono. Mas, tendo esperado inutilmente pela volta dos reis, e presumindo por ventura alguma coisa do acontecido no templo, agitado por mil suspeitas, lavrou um decreto em que ordenava a degolao de todos os meninos que no tendo chegado ainda aos dois anos de idade se achassem em Belm e suas circunvizinhaas. Deus, porm, enviou um anjo que comunicou em sonhos a Jos as brutais disposies de Herodes, pelo que Jos fugiu para o Egito com Maria e o Menino. Da s voltou depois que o anjo anunciou a morte de Herodes. Havendo morrido Herodes, a Sagrada Famlia regressou a Nazar, sua ptria, cumprindo-se assim a profecia de Osias que havia dito em nome de Deus: Desde o Egito eu chamei meu filho. (Osias, cap. 2) Disputa com os Doutores - Jos e Maria juntamente com Jesus, viviam tranquilos em sua ptria, ganhando o po com o trabalho de suas mos. Na idade de doze anos, tendo ido Jesus com seus pais a Jerusalm para celebrar a Pscoa, perdeu-se. Jos e Maria debulhados em pranto, procuraram-no por trs dias com incrvel ansiedade; finalmente puderam encontra-lo no templo enquanto disputava com os Doutores da lei aos quais causava grande admirao com suas sbias perguntas e respostas. Vendo-o Maria lhe disse: "Filho porque procedeste assim conosco? V como teu pai e eu angustiados te procurvamos". Jesus lhe respondeu: "Porque me procurveis? No sabeis que nas coisas que so de meu pai me convm estar?" este o ltimo fato que nos narra o Evangelho da infncia de Jesus, que depois de regressar a Nazar, submisso e

obediente a Maria e a So Jos, se ocupou nos humildes trabalhos de simples arteso, at aos 30 anos de idade. So Joo Batista - Quando o anjo anunciou a Maria a sublime dignidade de Me de Deus, disse-lhe tambm que sua prima Isabel, apesar de sua avanada idade, daria luz um filho destinado por Deus para preparar a receberem o Messias. Maria, sabedora, pela revelao de um anjo, das maravilhas que Deus estava obrando na pessoa de sua prima Isabel, foi logo a sua casa visit-la e esteve com ela trs meses. Seis meses antes do nascimento do Salvador, Isabel deu luz o filho prometido que recebeu o nome de Joo ao qual se acrescentou mais tarde o apelido de Batista, porque batizava as multides. Este menino foi o precursor do Messias. Para fugir aos tumultos do sculo, retirou-se, ainda muito criana soledade do deserto onde levou uma vida anglica; seu alimento se compunha de gafanhotos e mel silvestre e no tinha outra vestimenta alm da pele de um cameio e um cinturo de couro. Estava Joopelos trinta anos de idade quando recebeu ordem do Senhor de ir s margens do Jordo

para pregar a penitncia e anunciar a chegada do Messias. Todos corriam para ouvir seus sermes e muitos recebiam o batismo. Batismo de Jesus - Jesus aos 30 anos de idade saiu de Nazar para chegar s margens do Jordo, e receber tambm Ele o batismo. So Joo como nunca o tinha visto, no o conhecia ainda; entretanto iluminado pelo Esprito Santo, correu a seu encontro nas margens do Jordo, gritando para a multido que o acompanhava: "Eis aqui o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo". Falando em seguida a Jesus, disse-lhe: "Tu queres que eu te batize, entretanto eu sou quem deveria ser batizado por ti". Respondeu-lhe Jesus: "Deixa agora porque assim nos convm observar toda justia". Chegou So Joo e o batizou. Terminada a augusta cerimnia, abriram-se de repente os cus, e o Esprito Santo em forma de pomba, desceu sobre a cabea de Jesus Cristo, fazendo ouvir ao mesmo tempo uma voz que disse: "Este meu dileto filho, em quem pus as minhas complacncias". Deste modo, Jesus foi proclamado solenemente verdadeiro filho de Deus, enviado para salvar os homens. CAPTULO II Vocao dos Apstolos - Igreja de Jesus Cristo - So Pedro chefe da Igreja - Explicaes - Portas do Inferno - Chaves do Paraso - Primado de So Pedro e de seus sucessores Infalibilidade dos Sumos Pontfices. Vocao dos Apstolos - Na idade de trinta anos comeou o Salvador a pregar sua doutrina. Seus estupendos milagres assombravam as turbas que pasmadas o seguiam por toda parte. Pra o xito de seus fins sacrossantos escolheu Jesus, de entre seus adidos, doze homens aos quais chamou Apstolos. Eis aqui seus nomes: Pedro e seu irmo Andr, Tiago - o maior, Joo - Evangelista, Filipe, Bartolomeu, Matheus, Thom, Tiago - o menor, Simo - o zeloso, Judas Tadeu e Judas Iscariotes. Este ltimo foi quem mais tarde traiu o seu divino Mestre. Estes Apstolos eram uns pobres e simples pescadores, e Jesus Cristo lhes confiou o depsito da f e os enviou a pregar o Evangelho por todo o mundo, afim de que, como observa Santo Ambrsio, a converso do mundo no fosse atribuda sabedoria ou ao poder ao poder dos homens, seno unicamente divina virtude . (Santo Ambrsio in C. VI, Lucas) Igreja de Jesus Cristo - Por Igreja de Jesus Cristo se entende a congregao dos fiis cristos espalhados por toda a terra, que vivem debaixo da obedincia do Papa, isto ,

do Sumo Pontfice de Roma. Chama-se Igreja de Jesus Cristo, porque Ele mesmo a fundou durante sua peregrinao sobre a terra, e porque saiu de seu abrasado Corao e foi consagrada e santificada com seu Sangue; chama-se tambm assim porque todos os filhos da Igreja constituem uma s pessoa com Jesus Cristo por meio da f, da esperana e da caridade. Jesus Cristo a encheu de seu Esprito Santo a quem enviou para que permanecesse com ela e lhe ensinasse toda a verdade at consumao dos sculos. Os Apstolos foram os primeiros mestres e propagadores da Igreja; e a todos eles, em diversas ocasies, dirigiu Jesus estas palavras: "No fostes vs quem me escolhestes; mas eu vos escolhi e vos coloquei para que vades e produzais frutos; e que vosso fruto permanea. Foi-me dado todo o poder no Cu e na terra: assim como meu Pai celeste me enviou, assim tambm eu vos envio. O que desatardes na terra, ser tambm desatado no Cu. Aos que perdoardes os pecados sero perdoados; e aos que os retiverdes, sero retidos... Quem vos ouve, a mim ouve, quem vos despreza, despreza a mim e a quem me enviou.Quando comparecerdes em presena dos reis e governadores, no vos preocupeis com o

que deveis responder. O Consolador, o Esprito Santo que meu Pai enviar em meu nome, Ele vos ensinar todas as coisas. Ele vos dar cincia e saber a que no podero resistir nem contradizer todos os vossos adversrios. Ide pois, eu sou o que vos envia: pregai o Evangelho a toda criatura ensinando e batizando em nome do Pai, do Filho, e do Esprito Santo. O que crer e for batizado ser salvo, porm o que no crer ser condenado... Eu subo a meu Pai celeste, mas no vos deixo ss e permanecerei convosco todos os dias at a consumao dos sculos". Com estas palavras instituiu Jesus Cristo a grande Sociedade religiosa, ou a Igreja cuja administrao, como se tem visto, confiou aos Apstolos aos quais prometeu sua assistncia contnua at o fim dos sculos. So Pedro chefe da Igreja - O Salvador para demonstrar a necessidade de uma autoridade suprema na Igreja, a comparou sucessivamente a um reino e a uma repblica bem administrados, fazenda de um grande Senhor, e a uma nmerosa famlia, coisas todas que no podem subsistir sem uma autoridade que governe e dite leis, vele sobre sua observncia, reprima aos rebeldes e recompense aos que as observam. O mesmo se d com a Igreja Catlica: chefe absoluto, supremo e invisvel da Igreja Jesus Cristo, seu fundador: e chefe visvel institudo pelo prprio Jesus Cristo So Pedro. De entre os Apstolos, disse So Jernimo, escolheu Jesus a So Pedro para dar-lhe a preeminncia sobre todos os outros, afim de que a autoridade divinamente instituda, desvanecesse de antemo todo pretexto de discrdia e de cisma. Eis aqui como So Pedro foi institudo Chefe Supremo da Igreja: Estando Jesus Cristo certo dia nos confins de Cesrea de Felipe, depois de ter orado, por algum tempo, perguntou a seus Apstolos: "Que dizem de mim os homens? Um Apstolo respondeu dizendo: Alguns dizem que sois o Profeta Elias". Outro replicou: "Disseram-me muito que reis Jeremias ou Joo Batista ou algum dos profetas que tinha ressuscitado". O Salvador torna a perguntar: "Porm vs, quem dizeis que eu sou?" Tomando ento a palavra Simo Pedro disse: "Vs sois o Filho do Deus vivo que veio a este mundo". Disse-lhe ento Jesus: "s bem-aventurado, Simo, filho de Joo; porque o que disseste no te foi revelado pelos homens seno por meu Pai celeste; eu e de digo que s Pedro e sobre esta pedra edificarei minha Igreja e as portas do Inferno no prevalecero contra ela. E a ti darei as chaves das portas do Cu e tudo o que ligares na terra ser ligado no Cu e tudo o que desligares na terra ser tambm desligado no Cu". (Mat. C. 16)

Explicaes - Estes fatos e estas palavras merecem alguma explicao. Pedro permaneceu silencioso enquanto Jesus no deu a conhecer seno o desejo de saber o que diziam os homens acerca de sua pessoa; mas quando convidou os Apstolos para exporem seu modo de pensar, Pedro, no mesmo instante falou, como se falasse em nome de todos, porque ele j gozava de certa primazia ou superioridade sobre os demais companheiros. Pedro, pois, divinamente inspirado, disse: Vs sois o cristo: que era o mesmo de dizer: Vs sois o Messias prometido por Deus, que veio para salvar os homens. Filho de Deus vivo: ele aplica a Deus o epteto de vivo, para diferenci-lo das falsas divindades dos idlatras, que sendo fabricadas pelas mos dos homens, no tem vida. Isto tambm equivalia a dizer: Vs sois o verdadeiro Filho de Deus, o Filho do Pai Eterno, e por isso sois com Ele Criador e Senhor absoluto de todas as coisas. Em seguida Jesus Cristo, com o fim de premi-lo por sua f, chamou-o de bem-aventurado, dando-lhe depois os motivos porque desde o dia que o havia seguido, lhe tinha mudado o nome de Simo pelo de Pedro, assim falando: "Tu s Pedro e sobre esta pedra, edificarei a minha Igreja". Do mesmo modo Deus mudou o nome de Abro para Abrao quando estabeleceu que ele seria o pai de todos os crentes; o de Sarai em Sara quando lhe prometeu o nascimento prodigioso de um filho; e o de Jac em Israel quando lhe garantiu que de sua estirpe nasceria o Salvador. Jesus outrossim chamava bem-aventurado a So Pedro, porque tudo o que este tinha dito no lhe tinha sido revelado pelos homens, seno por seu Pai celeste. Aqui transluz a divina assistncia pessoa de So Pedro desde o mesmo instante em acabava de ser eleito o chefe da Igreja; assistncia que continuou por toda a sua vida e que continuar nos romanos Pontfices at a consumao dos sculos. Jesus disse em seguida: "Sobre esta pedra edificarei a minha Igreja". Com estas palavras quis dizer: Tu, Pedro sers na Igreja o que nos edifcios so os alicerces; os alicerces constituem a parte principal, a mais indispensvel de uma casa, visto sobre eles descansar todo o edifcio; assim tambm tu, Pedro sers o fundamento da minha Igreja, isto , exercers nela a autoridade suprema que te outorgo, a Igreja se conserve, e permanea firme e inabalvel. Sobre ti, a quem eu chamei Pedro, como sobre uma rocha e uma pedra firmssima, por minha virtude eterna, eu levanto o edifcio eterno da minha Igreja, que descansando sobre ti, ser forte e invencvel contra todos os ataques de seus inimigos. assim como no h edifcio sem base, assim tambm no h Igreja sem Pedro. Uma casa sem alicerce no pode ser erguida, e se o , precipita-se ao primeiro impulso; assim tambm toda a Igreja que se quiser erigir sem Pedro no poder erguer-se, e se o fizer cair ao primeiro sopro. Nos edifcios as partes que no descansam sobre os alicerces desabam e caem, assim tambm na minha Igreja todo aquele que se separa de Pedro precipita-se no erro e se perde. Portas do Inferno - As portas do Inferno so constitudas pelo poder de Satans e representam as perseguies, as heresias, os erros, os esforos e as artimanhas que emprega o demnio para deitar por terra a Igreja. Todas estas potncias infernais, juntas ou separadas podero, sim, declarar guerra aberta Igreja, obriga-la a estar sempre sob as armas, e por no caminho da perdio os que no forem suficientemente humildes, mortificados e vigilantes na orao; mas nunca podero venc-la, antes com todos os seus esforos no conseguiro mais do que aumentar a glria da Esposa do Redentor.

Chaves do Paraso - Jesus Cristo disse finalmente: "Eu te darei as chaves do reino dos cus". As chaves so o smbolo do poder. Quando o vendedor de uma casa entrega as chaves ao comprador d-lhe com elas a posse plena e absoluta da mesma casa; assim tambm quando se apresentam a um Rei as chaves de uma cidade simboliza-se com isto que a cidade o reconhece como Soberano; assim pois o haver entregue Nosso Senhor a Pedro as chaves do Reino dos Cus significa que ele foi feito dono, prncipe e governador supremo da Igreja. Por isso Nosso Senhor Jesus Cristo continuou dizendo a Pedro: "Tudo o que atares na terra ser atado no Cu; e tudo o que desatares na terra tambm ser desatado no Cu". Estas palavras pem em manifesto a suprema autoridade que foi dada a So Pedro; autoridade que obriga a conscincia dos homens com decretos e leis em ordem a seu bem espiritual e eterno; e por meio da qual se absolvem os pecados e as penas que impedem conseguir esse mesmo bem espiritual e eterno. bom notar aqui que tambm os outros Apstolos receberam de Jesus Cristo a faculdade de atar e desatar (Mt. c. 17). Mas esta faculdade no lhes foi conferida seno depois de terem sido ditas a So Pedro as palavras magnficas que precedem, para que compreendessem que sua autoridade devia permanecer subordinada de So Pedro, que foi feito seu prncipe e seu chefe, o qual tambm fora encarregado de conservar a unidade da f e da moral. Por isto os demais Apstolos e todos os Bispos que lhes sucedem devem depender de Pedro e dos Papas que tambm lhe sucedem para assim permanecerem perpetuamente unidos a Jesus Cristo, que do Cu assistir seu Vigrio e toda a Igreja at o fim dos sculos. Primado de So Pedro e de seus sucessores - Tendo ressuscitado o Salvador, antes de subir ao Cu, entregou de fato a So Pedro a faculdade que lhe havia prometido. Aparecendo a seus discpulos no lago de Genesar, depois de ter tomado com eles algum alimento para que melhor se assegurassem de sua ressurreio, dirigiu-se a Pedro e disse: "Simo filho de Joo, me amas tu?" "Senhor, respondeu Pedro, Vs bem sabeis que eu vos amo" Jesus lhe disse: "Apascenta meus cordeiros". O Senhor tornou a perguntar: "Simo filho de Joo, me amas tu?" "Senhor, respondeu incontinente So Pedro, Vs bem o sabeis que vos amo". Jesus lhe disse: "Apascenta meus cordeiros". Jesus lhe perguntou pela terceira vez: "Simo Pedro, me amas tu mais do que estes?" Pedro, vendo que o interrogava trs vezes sobre o mesmo assunto, perturbou-se. Nesse momento lembrou-se das promessas que outra vez lhe tinha feito e a que tinha faltado, temeu por isto que Jesus Cristo no gostasse de seus protestos, como se quisesse predizer-lhe coisas futuras. assim, pois, com a maior humildade, afirmou: "Senhor, Vs sabeis tudo, meu corao vos manifesto e por isso Vs tambm sabeis que vos amo." So Pedro naquele momento, estava seguro da sinceridade de seus afetos, mas no o estava igualmente para o futuro. Jesus que bem sabia o desejo que So Pedro tinha de am-lO, e a fraqueza de seus afetos, consolou-o dizendo: "Apascenta minhas ovelhas". Com estas palavras Jesus Cristo constitui So Pedro prncipe dos Apstolos, pastor universal da Igreja e de todos os cristos; porque todos os fiis cristos, espalhados por todas as partes do mundo e simbolizados pelos cordeiros, devem estar sujeitos ao chefe da Igreja, como os cordeiros esto a seus pastores; e as ovelhas simbolizadas pelos Bispos e demais ministros sagrados, posto que do alimento da doutrina celestial aos fiis cristos, devem faz-lo estando sempre em boa harmonia, unidos e submissos ao Supremo Pontfice, Vigrio de Jesus Cristo na terra. Apoiados nestas palavras de Jesus Cristo, os catlicos tm acreditado como verdade de f que So Pedro foi constitudo por Jesus Cristo, seu Vigrio na terra, e chefe supremo

e visvel da Igreja, e que recebeu d'Ele a plenitude da autoridade sobre os demais Apstolos e sobre todos os fiis. claro, pois, que a autoridade de Pedro deve durar enquanto durar a Igreja, isto , at o fim dos sculos, pois que certo que os alicerces devem durar o mesmo tempo que dura o edifcio que sobre ele descansa; e por isso, depois de Pedro, sua autoridade passar a seus sucessores, que so os Romanos Pontfices. Esta verdade se acha explicitamente exposta em centenas de documentos da antiguidade crist, e, entre outros, encontra-se formalmente declarada no Conclio Florentino nas seguintes palavras: "Ns definimos que a anta S Apostlica, e o Romano Pontfice o sucessor do Prncipe dos Apstolos, o verdadeiro Vigrio de Cristo, o chefe supremo de toda Igreja, o mestre e o pai de todos os cristos: e que a ele, na pessoa do bem-aventurado Pedro, foi dado, por Nosso Senhor Jesus Cristo, pleno poder de apascentar, reger e governar a Igreja universal. Infalibilidade dos Sumos Pontfices - Querendo So Pedro corresponder a tantas provas de benevolncia, e demonstrar ao mesmo tempo sua gratido ao Divino Salvador, havia declarado vrias vezes que estava pronto a dar sua vida por Ele. No obstante isto, o Divino Mestre o advertiu que no confiasse em suas prprias foras, mas sim no auxlio da divindade. Disse-lhe em seguida que cairia por fraqueza, assegurando-lhe sem embargo que depois se levantaria; encarregou-o de cuidar de seus irmos e de conserv-los firmes na f: "Tenho pedido por ti, Pedro, disse-lhe Jesus, para que no falte tua f; e tu, uma vez convertido, confirma teus irmos". (Luc. Cap. 22) Com estas palavras o divino Salvador prometeu uma particular assistncia ao chefe da Igreja, em virtude da qual nunca faltar sua f, antes ao contrrio contribuir para fortalecer aos demais pastores. Com elas assegurou a So Pedro o dom da infalibilidade, isto , o preservou do perigo de errar nas coisas que concernem f e aos costumes; porque disse a So Pedro que tinha pedido para que nunca faltasse sua f: assim sendo, quem poder por em dvida que a orao de Jesus Cristo tenha sido ouvida? E certamente nosso divino Salvador, assegurou a So Pedro que sua prece tinha sido plenamente escutada: por isso como legtima consequncia o encarregou de confirmar na f os demais Apstolos. No se pode, pois, por em dvida a infalibilidade de Pedro e de seus sucessores, sem afirmar que no foi ouvida a orao do Salvador, absurdo que nunca poder ser afirmado por um catlico. Apoiados pois, os catlicos de todos os tempos e de todos os lugares, nesta promessa de Jesus Cristo, sempre tem acreditado com muito poucas excees, que o Romano Pontfice, como sucessor de So Pedro, infalvel nas sentenas que profere em matria de f e de moral. Esta verdade foi depois definida na sesso 11 do Conclio do Vaticano (Vaticano I), como um artigo que devia necessariamente ser acreditado para se obter a salvao eterna. Eis as suas palavras: " Ns definimos, que o Romano Pontfice quando fala ex cathedra, isto , quando no exerccio do cargo de pastor e mestre de todos os cristos, por sua suprema autoridade apostlica, define alguma doutrina acerca da f ou dos costumes para norma de toda a Igreja pela divina assistncia que lhe foi prometida na pessoa do Bem-aventurado Pedro, goza da mesma infalibilidade, que o divino Redentor quis dar Igreja nas definies das doutrinas acerca da f ou dos costumes. Pelo que estas definies do Romano Pontfice so por si mesmas, e no pelo consentimento da Igreja, irreformveis. Que se algum ousar contradizer esta nossa definio, do que Deus nos guarde, seja excomungado".

CAPTULO III Ascenso de Nosso Senhor Jesus Cristo; os Apstolos no Cenculo - Vinda do Esprito Santo - Primeira pregao de So Pedro - Primeiro milagre de So Pedro - Primeiros Cristos e primeiros diconos - Perseguio em Jerusalm - Martrio de Santo Estevo e So Tiago Maior; So Pedro livre do crcere. Ascenso de Nosso Senhor Jesus Cristo; os Apstolos no Cenculo - O Salvador empregou os trs ltimos anos de sua vida mortal na pregao do Evangelho, observando rigorosamente todos os preceitos e conselhos que impunha aos outros, e confirmando sua doutrina com os maiores milagres. Dava vista aos cegos, ouvidos aos surdos, a palavra aos mudos, a sade aos enfermos, e a vida aos mortos; porm a nao judaica correspondeu a to assinalados benefcios com a mais negra ingratido, e com suas ameaas e gritos impeliu Pilatos a conden-lo morte, e morte de Cruz. Jesus permaneceu cerca de trs dias no sepulcro, ao cabo dos quais ressuscitou glorioso e triunfante. Deteve-se ainda quarenta dias com seus Apstolos para melhor os confirmar na f e esclarecer-lhes as coisas tocantes ao Reino de Deus. Dando assim cabal cumprimento obra de redeno do gnero humano, estando no cume do Monte das Oliveiras, subiu aos Cus, em presena dos Apstolos e de sua querida Me. Os discpulos obedecendo s ordens que tinham recebido de seu divino Mestre, voltaram Jerusalm e a se retiraram para o Cenculo: (chama-se assim um salo que servia de refeitrio ao dono da casa, mas que por obra dos Apstolos foi transformado no primeiro templo cristo.) Ali juntamente com Maria Santssima e outros fiis, cujo nmero chegava a aproximadamente 120, perseveravam na orao, esperando a vinda do Esprito Santo, como Jesus Cristo lhes havia prometido. Naquela santa comunidade So Pedro, pela primeira vez usou daquela suprema autoridade de que o havia investido Jesus quando o constituiu chefe da sua Igreja: dirigindo-se, pois, multido ali reunida disse: "Vares irmos; era necessrio que se cumprisse a Escritura que predisse o Esprito Santo pela boca de Davi acerca de Judas que foi o chefe dos que prenderam Jesus. Mas ele j recebeu recompensa de sua iniquidade: enforcando-se em uma rvore, rebentou pelo meio e se derramaram todas suas entranhas; porm como foi predito que outro devia substitu-lo no Apostolado, mister que elejamos a um dos que permaneceram conosco durante todo tempo que o Senhor viveu em nossa companhia." Todos aprovaram unnimes a proposta do prncipe dos Apstolos, e lhe apresentaram dois vares conhecidos por sua virtude e santidade: chamavam-se um Matias e outro Barnab. Depois de ter pedido ao Senhor que desse conhecer qual dos dois havia escolhido para seu Apstolo, deitaram a sorte e esta caiu sobre Matias que foi agregado aos Apstolos. Vinda do Esprito Santo - J haviam passado dez dias da Ascenso do Salvador, e ento justamente a nao judaica celebrava a festa de Pentecostes, isto , o dia quinquagsimo da sada do povo de Israel, do Egito. Os Apstolos juntamente com os demais discpulos continuaram no seu retiro perseverando na orao; pelas nove horas da manh, ouviu-se de repente um estrondo, assim como o sibilo de um vento impetuoso, e ao mesmo tempo apareceram chamas semelhantes a lnguas de fogo, que foram pousar visivelmente sobre a cabea de cada um deles. Desde esse momento todos ficaram cheios dos dons do Esprito Santo e

comearam a falar diversas lnguas que antes ignoravam, das quais se valeram para publicar as maravilhas neles operadas e ensinar as verdades do Evangelho. Primeira pregao de So Pedro - Achava-se ento Jerusalm cheia de um grande nmero de judeus que tinham vindo para celebrar a festa de Pentecostes. Muitos dos que tinham ouvido o estrondo daquele vento impetuoso se dirigiam no mesmo instante para o Cenculo, e ouvindo aos Apstolos, antes homens rudes e ignorantes, falarem ao mesmo tempo idiomas de tantas naes, no sabiam compreender o que estavam vendo. So Pedro conhecido at ento como um pobre pescador, depois de recebido o Esprito Santo, sentiu-se cheio de tal fora e valor, que no hesitou em apresentar-se ao pblico e pregar a divindade de Jesus Cristo aos mesmos que poucos dias antes a gritos o tinham condenado morte. "Irmos, lhes disse, ouvi com ateno minhas palavras. O que vedes o cumprimento da profecia de Joel: suceder nos dias futuros, disse o Senhor, que eu derramarei meu Esprito sobre todos os homens, e profetizaro vossos filhos e vossas filhas, e vossos jovens tero vises, e vossos ancios tero sonhos. Todo aquele que invocar o nome do Senhor ser salvo.Vares de Israel, ouvi! A Jesus Nazareno, varo provado por Deus no meio de vs, com virtudes e prodgios, e sinais que Deus obrou por Ele no meio de vs, como tambm vs o sabeis: a este que por determinado conselho e prescincia de Deus vos foi entregue, matastes crucificando-o pelas mos dos malvados. Deus porm o ressuscitou porque Davi disse dele: No deixars minha alma no sepulcro, nem permitirs que teu Santo veja a corrupo. Davi no falava de si prprio, porque morreu e foi enterrado, e seu sepulcro est no meio de ns at hoje. Sendo pois profeta, e sabendo que com juramento havia Deus jurado que um de sua estirpe se assentaria em seu trono, prevenindo-lhe falou da ressurreio de Nosso Senhor Jesus Cristo, que no foi deixado no sepulcro, nem sua carne viu a corrupo. A este Jesus ressuscitou Deus, do que somos testemunhas todos ns. assim exaltado pela destra de Deus e tendo recebido de seu Pai a promessa do Esprito Santo, derramou este sobre ns, assim como vedes e ouvis. Saiba logo toda casa de Israel com maior certeza que Deus fez Senhor e Salvador de todos, a este Jesus, a quem vs crucificastes". Este admirvel discurso, fecundado pela graa de Deus, deu como resultado a converso de umas trs mil pessoas. Primeiro milagre de So Pedro - Na tarde desse mesmo dia, So Pedro e So Joo se dirigiam ao templo para fazer orao. Chegando porta da Casa do Senhor, reparou So Pedro num infeliz coxo de nascimento, que no podendo servir-se de suas pernas, para ali fazia-se levar todos os dias pra pedir esmola. So Pedro compadecido dele, o olhou e disse-lhe: " No tenho prata nem ouro, mas dou-te o que tenho: Em nome de Jesus Nazareno levanta-te e anda". O coxo se levantou; no mesmo instante se consolidaram as pernas e cheio de alegria comeo a caminhar. Em um momento correu pela cidade toda a fama de semelhante milagre, e o povo aglomerou-se ao redor de So Pedro para ouvi-lo falar, aproveitou-se da ocasio para pregar pela segunda vez, e o fez com tanta eficcia que mais de cinco mil pessoas, sem contar as mulheres e as crianas, decidiram-se a receber o batismo. Deste modo a Igreja, em breve tempo, pode reunir em seu seio mais de oito mil fiis, nmero que foi crescendo desde aquele dia. (Ano 30). Primeiros Cristos e primeiros diconos - Maravilhosa era a vida que levavam os primeiros cristos. Achavam-se estes de tal sorte unidos entre si, que conforme

expresso da Sagrada Escritura, formavam um s corao e uma s alma. No havia nobres entre eles, porque os ricos vendiam suas propriedades e entregavam o dinheiro aos Apstolos para que repartissem conforme as necessidades de cada um; escutavam com grande cuidado a Palavra de Deus; eram perseverantes na orao e assistiam com muita frequncia frao do po, isto , participao da Sagrada Eucaristia. assim era com esses homens, h pouco intemperantes, ambiciosos, avarentos e voluptuosos,ao conhecerem as verdades do Evangelho, confortados pela graa divina, se tornavam

humildes e mansos de corao, castos, mortificados, desprendidos dos bens terrestrese dispostos a dar a vida pelo nome de Jesus. Aumentando em seguida prodigiosamente

o nmero dos crentes, os Apstolos j no podiam atender as todas as necessidades que reclamava a sociedade nascente. Por isso determinaram nomear, conforme as instrues que tinham recebido do Divino Mestre, sete diconos ou ministros auxiliares, escolhendo-os entre os que se sobressaiam em virtude e graa do Esprito Santo. Repartir as esmolas, cuidar das vivas e dos rfos, assistir aos gapes, eram atribuies dos Diconos, que em certas circunstncias tambm podiam administrar o Sacramento do Batismo, e distribuir a Santa Eucaristia; mais tarde se lhes confiou igualmente a pregao da Palavra divina. Perseguio em Jerusalm - Conquanto os Apstolos pregassem a religio mais pura e santa que jamais viram os sculos, no obstante, desde o princpio da sua pregao, tiveram de lutar com gravssimas dificuldades, suscitadas especialmente por parte dos judeus. O povo em massa abraava a f e tambm muitssimos magnatas; porm os chefes da Sinagoga e os Fariseus, insensveis aos milagres, inocncia de vida, e santidade da doutrina dos Apstolos e seus discpulos, declararam contra eles a mais encarniada perseguio. Comearam por atacar os Apstolos; mas vencidos por eles, os denunciaram s autoridades que os mandaram aoitar cruelmente e lhes proibiram a pregao da doutrina de Jesus Cristo. Os Apstolos responderam com sossego e valor: " mister obedecer a Deus antes que aos homens". Contentes porque foram julgados dignos de padecer por seu Mestre, adquiriram novas foras; os mesmos aoites lhes inspiravam novos brios e valor. Martrio de Santo Estevo e So Tiago Maior; So Pedro livre do crcere - Santo Estevo, um dos sete diconos, foi a primeira vtima desta perseguio, sendo ao mesmo tempo o primeiro mrtir da f. Distinguia-se dentre os outros, pelos muitos milagres que fazia entre o povo e por seu extraordinrio saber. Os judeus queriam disputar com ele sobre o Evangelho, porm sempre ficavam confundidos porque ningum podia resistir ao Esprito Santo que falava por sua boca. Por isto se irritaram tanto seus inimigos que o arrastaram fora da cidade e o apedrejaram. Enquanto caia sobre ele uma chuva de pedras, imitando seu Divino Mestre, orava pelos que o apedrejavam dizendo: " Senhor Jesus, perdoa-lhes este pecado", e assim falando, dormiu no Senhor. Chama-se Protomrtir, porque foi o primeiro mrtir da Igreja que deu a vida por amor a Jesus Cristo. Pouco depois por ordem de Herodes cortaram a cabea de So Tiago. Vendo esse rei que perseguindo os cristos agradava aos judeus, tambm mandou por em priso So Pedro, para dar-lhe a morte depois das solenidades da Pscoa; porm um anjo enviado por Deus o livrou milagrosamente na noite que precedia o dia do suplcio. assim ficaram burlados os planos de Herodes. O primeiro perseguidor dos Cristos sobreviveu pouco tempo aos mrtires que havia sacrificado. Acometido de agudssimas dores intestinais, deixou de existir no mesmo momento em que vis aduladores proclamavam suas glrias chegando a ponto de o chamarem deus.

CAPTULO IV So Paulo e sua converso - Santa Tecla - Cornlio o Centurio abraa a f - Simo Mago. So Paulo e sua converso - Com a morte de Herodes cessou por algum tempo a perseguio de Jerusalm. Por este mesmo tempo realizou-se a converso de So Paulo m dos mais cruis perseguidores dos cristos, conhecido at ento pelo nome Saulo. Era ele natural de Tarso, capital da Cilcia; seus pais eram judeus da tribo de Benjamin. Dotado de engenho preclaro e de um carter ardente e empreendedor, foi enviado a Jerusalm para seguir seus estudos sob a direo de um clebre doutor da lei chamado Gamaliel. Este era Fariseu, isto , pertencia quela seita de judeus que se dedicavam especialmente observncia e ao estudo profundo da lei, enquanto que suapiedade no era mais do que uma simples exterioridade.So Paulo teve parte na morte

de Santo Estevo, pois que ele guardava as roupas dos que o apedrejavam; por isto, como observa Santo Agostinho, era de certo modo to culpvel quanto os que apedrejaram. Mas Santo Estevo morrendo rogara por ele, e Deus, que dono dos coraes, e querendo pode transformar um Tigre feroz num mansssimo cordeiro, ouviu a orao do primeiro mrtir e obrou aquele grande milagre da converso de Saulo. Eis como se realizou: com o fim de perseguir os cristos com maior autoridade e com maior xito, Saulo conseguira cartas do grande Sacerdote de Jerusalm, em que era autorizado a se por frente de certo nmero de soldados para ir em busca dos cristos na cidade de Damasco e lev-los a Jerusalm atados com cordas. Cheio de dio e furor j havia percorrido a maior parte da viagem, quando de repente viu-se rodeado de uma luz mais brilhante que a do Sol e ouviu uma voz que lhe disse: " Saulo, Saulo, porque me persegues"? Saulo ferido por aquelas palavras como por um raio, caiu por terra e com voz trmula, respondeu: "Quem sois vs, Senhor?" A voz continuou: " Eu sou Jesus a quem tu persegues. duro para ti recalcitrares contra o aguilho". "Que quereis que eu faa, Senhor?" Perguntou Saulo. "Levanta-te, acrescentou a voz, entra em Damasco, e ali ser-te- dito o que hs de fazer". Saulo levantou-se e abrindo os olhos conheceu que estava cego, de modo que teve que fazer-se levar cidade por seus companheiros. Ali recebeu o Batismo das mos de um discpulo chamado Ananias. Enquanto se lhe administrava este Sacramento, caram de seus olhos umas como escamas e tornou a ver como dantes; ento cheio de gratido para com Deus, comeou a pregar com grande zelo o Evangelho. Os que tinham conhecido o furor de Paulo em perseguir os cristos ficaram admirados vista daquela mudana to repentina; porm ele, vencendo todo respeito humano, no prestava ouvido ao que dizia o povo e discutia com os judeus, provando-lhes com a Sagrada Escritura e com os milagres, que Jesus Cristo era o Messias prometido pelos profetas, enviado por Deus para salvar os homens. A Igreja Catlica comemora anualmente a 25 de janeiro o portentoso acontecimento da converso de So Paulo. Santa Tecla - Entre os primeiros frutos da pregao de So Paulo conta-se a converso de Santa Tecla, que sofreu grandes e atrozes tormentos por confessar sua f. Conquanto por virtude divina, eles no lhe causassem a morte, considera-se entretanto, como a primeira mulher que ganhou a palma do martrio. Nasceu em Icnio, de pais nobres; na idade de 18 anos foi prometida a um jovem rico daquela cidade; porm ouvindo ela os sermes de So Paulo enamorou-se de tal modo da virtude da virgindade, que renunciou de bom grado quela vantajosa oferta. O jovem que pretendia a sua mo empregou todos os meios a seu alcance para faz-la mudar de propsito; mas em vo. Vendo-se enganado transformou seu amor puramente sensual

em dio, e conseguiu fazer padecer Santa virgem os mais cruis tormentos porque ela professava a f crist. Foi atirada fogueira ardente; porm fazendo o sinal da Cruz caiu do cu uma prodigiosa chuva que apagou o fogo. Atiraram-na depois aos touros, s feras e, por virtude divina sempre saiu intacta de todos os tormentos. Depois disto ainda viveu em paz por muitos anos, em sua ptria, at que cheia de mritos subiu ao seu Esposo Celeste na idade de noventa anos. Cornlio o Centurio abraa a f - A maior parte dos que at ento tinham abraado a f eram judeus, ou gentios que j tinham comeado a pertencer ao povo judeu submetendo-se circunciso. Mas, querendo Deus chamar todas as naes ao conhecimento da verdadeira religio segundo as divinas promessas, comeou por derramar suas bnos sobre a famlia de um Centurio romano chamado Cornlio. Morava ele em Cesaria, cidade martima do Mediterrneo; era amado de todos por sua probidade, temia a Deus, fazia abundantes esmolas, e orava frequentemente. Um dia enquanto estava em orao, apareceu-lhe um anjo e lhe disse: "Tuas oraes e tuas esmolas subiram at o Trono de Deus. Eis o que deves fazer: manda algum cidade de Jope em busca de Simo apelidado Pedro. Ele te ensinar o que deves fazer para salvar-te". assim que acabou de ouvir estas palavras, Cornlio enviou trs de seus servos a Jope. J estavam eles perto da cidade quando Deus por meio de uma viso fez conhecer a Pedro que tanto os judeus como os gentios eram chamados a seguir o Evangelho; por isto o Prncipe dos Apstolos partiu sem hesitar no outro dia com eles. Durante esse tempo o piedoso Cornlio reunira em sua casa os amigos e conhecidos para receber o Santo Apstolo; e apenas o viu, ajoelhou-se humildemente em sua presena. Pedro o levantou, entrou com ele em sua casa e comeou a instruir na f todos os que se achavam ali reunidos. Aida estava falando, quando o Esprito Santo baixou em forma sensvel sobre seus ouvintes e lhes comunicou o dom das lnguas, do mesmo modo que havia acontecido no Cenculo de Jerusalm. Por este motivo, Pedro incontinente os batizou e foram estes os primeiros gentios batizados sem ter sido antes circuncidados. Simo Mago - Acredita-se que o primeiro que comeou a difundir erros contra a f crist, foi um samaritano chamado Simo, e apelidado de Mago pelos sortilgios que operava para enganar o povo. Fingindo-se sequaz do Evangelho, conseguiu ser batizado; em seguida apresentou-se a So Pedro para comprar com dinheiro o poder de fazer milagres do mesmo modo que ele os fazia. Negou-se Pedro horrorizado e lhe respondeu: "teu dinheiro perea contigo, porque com ele acreditaste poder comprar os dons do Esprito Santo". Por isso declarou-se inimigo dos cristos e empregou toda espcie de artes e engano para opor-se aos progressos da f. Tambm foi a Roma para semear seus erros entre aquele povo mergulhado ainda na idolatria; mas querendo dar provas de seu poder elevando-se no ar sustentado visivelmente pelos demnios, So Pedro e So Paulo fizeram orao a Deus, e o infeliz Simo caiu vertiginosamente em terra e se fez em pedaos pondo-se em manifesto a impostura. CAPTULO V Separao dos Apstolos e seu Smbolo de F - Livros do Novo Testamento - Morte de Maria Santssima - Milagres de So Pedro - Conclio de Jerusalm - Perseguio de Nero - Martrio de So Pedro e So Paulo. Separao dos Apstolos e seu Smbolo de F - Os Apstolos comearam a pregar o Evangelho na Judia, no separando-se muito uns dos outros; porm quando reconheceram que tinha chegado o tempo de levar a luz da verdade a todas as naes,

determinaram, separar-se, repartindo-se o mundo, por assim dizer, escolhendo uma parte cada um para exercer o ministrio apostlico. antes porm de faz-lo, reuniramse e de comum acordo fizeram um compndio da Religio crist, que chegou at nssob o nome de Smbolo dos Apstolos e se chama comumente o CREDO. Depois de feito

isto, separaram-se para levar o Evangelho a todas as naes. So Pedro ficou cerca de trs anos em Jerusalm, e obrigado pela perseguio, transladou-se para a Antioquia, que era ento a capital do Oriente. Nesta cidade cresceu tanto o nmero dos fiis, que para distingui-los dos outros comearam a cham-los cristos, que quer dizer sequazes de Jesus Cristo. Desde Antioquia So Pedro ia pregar nas cidades e povoaes vizinhas e depois de sete anos, isto , no ano 42 da era crist, foi a Roma. So Paulo levou a f Arbia, sia Menor, Macednia e Grcia, e depois foi unir-se a So Pedro na capital do Imprio Romano. So Tom pregou em Jerusalm, entre os Partos e nas ndias; So Joo Evangelista deteve-se especialmente na sia Menor; Santo Andr evangelizou os Citas e obteve a Palma do martrio em Patras cidade da Grcia; So Felipe foi a sia Menor; So Bartolomeu Armnia, onde padeceu um martrio atroz, sendo esfolado vivo; So Matheus trabalhou muito para a converso dos Etopes e foi coroar seu apostolado com o martrio na Prsia. So Tiago, o maior, evangelizou a Judia e tambm a Espanha. So Judas Tadeu pregou a f na Arbia, na Mesopotmia e na Armnia. assim depois de trinta anos da primeira pregao do Evangelho por So Pedro em Jerusalm, o verdadeiro Deus tinha adoradores em todas as partes do mundo at ento conhecido. Livros do Novo Testamento - Nosso Senhor Jesus Cristo, depois de haver pregado de viva voz sua doutrina, subiu aos Cus sem deix-la escrita nem reunida em livro algum ditado por Ele. Por que o fez assim? Para nos ensinar que Ele tinha feito depositrios de sua doutrina os Apstolos, isto , a Igreja que devia depois explic-la aos fiis: ensinando-nos tambm que o principal instrumento da sua palavra devia ser a viva vozda sua Igreja. Com efeito, nos primeiros tempos, durante o curso de no poucos anos, o

santo Evangelho foi conservado, ensinado e professado to somente por meio da palavra viva dos Apstolos e dos primeiros crentes. Nosso Senhor Jesus Cristo querendo, por outra parte, que ao menos uma grande parte da sua doutrina fosse confiada palavra escrita, por inspirao divina moveu alguns dos Apstolos e primeiros discpulos a por escrito sua vida e doutrina; e os livros por eles escritos formam juntos o que ns chamamos de Novo Testamento. Foram estes escritos: os quatro Evangelhos, escritos por So Matheus, So Marcos, So Lucas e So Joo; os Atos dos Apstolos; as quatorze epstolas de So Paulo, duas de So Pedro, uma de So Tiago, uma de So Judas, e finalmente, trs epstolas e o Apocalipse de So Joo. Estes livros sempre tm sido conservados em grande venerao por todos os cristos, pois que foram inspirados por Deus. Sem embargo, como j foi dito, no se acham neles todos os feitos da vida de Jesus Cristo, nem todas as verdades ensinadas por Ele. As verdades no escritas foram ensinadas e transmitidas pelos Apstolos e seus sucessores como um sagrado depsito que se chama Tradio divino-apostlica. A Tradio divinoapostlica contm as verdades que no se encontram escritas nos livros sagrados, a interpretao destes mesmos livros: por isso, quando a Igreja define um artigo de f que no est manifesto na sagrada Escritura, o tira desse depsito chamado Tradio. Da se tirou o dogma da Imaculada Conceio da Bem-aventurada Virgem Maria e da infalibilidade Pontifcia. Morte de Maria Santssima - O Doutor da Igreja So Joo Damasceno narra nestes ou semelhantes termos a morte ou assuno de Maria Santssima desta vida mortal para a glria do Cu, que se acredita tenha-se dado aos 62 anos de sua idade e doze depois da Ascenso do seu divino Filho.

Tendo chegado o tempo em que Deus queria livrar deste desterro a Rainha dos Anjos, os Apstolos que se achavam dispersos em diversas partes do mundo pregando o Evangelho, por virtude anglica encontraram-se todos reunidos em Jerusalm ao redor do leito de Maria juntamente com So Dionsio, bispo de Atenas e de So Timteo, bispo de feso. Maria exalou seu ltimo suspiro, no de dor, mas de puro amor de Deus, semelhana de quem docemente adormece. No mesmo instante ouviu-se naquela habitao uma salmodia celestial, cujos ecos ressoaram por trs dias e ainda continuaram enquanto se levava em procisso seu corpo para o horto de Getsmani para ser enterrado. So Tom no se achava presente quando se deu a preciosa morte de Maria, e tendo chegado ao terceiro dia, pediu por favor, j que no podia v-laviva, que ao menos se lhe permitisse, por uma vez mais venerar seu santo corpo. Com

este fim se dirigiu com os outros Apstolos ao sepulcro: quando chegaram, j tinham cessado os cnticos celestiais; abriram-no, olharam-no, porm no viram ali o corpo de Maria, mas somente os panos em que o tinham envolvido, os quais ainda exalavam perfumado odor. Cheios de admirao no puderam acreditar noutra coisa seno que o Deus Verbo, o Senhor da glria, o mesmo que setinha comprazido de encarnar-se na prpria pessoa da Virgem Maria, e tinha-se feito homem conservando intacta a virgindade de sua Me, tambm se tinha comprazido em honrar o seu corpo imaculado depois de sua morte, conservando-o incorrupto e transportando-o para o Cu antes da ressurreio comum e universal. A Santa Igreja celebra todos os anos, no dia 15 de agosto, a Solenidade desta maravilhosa Assuno de Maria. Milagres de So Pedro - Os meios principais de que se serviam os Apstolos para confirmar a doutrina que pregavam era a santidade de vida e os milagres. Os que faziam So Pedro eram tantos e to ruidosos que no s no nmero como em grandeza excediam aos do prprio Redentor: curava os enfermos de toda a classe, que a ele levavam em to grande nmero que quase se tornava impossvel aproximar-se dele. Por conseguinte nas praas e nas ruas e em qualquer parte por onde passava levavam-lhe grande nmero de enfermos, afim de ao menos os tocasse sua sombra, pois era suficiente para cur-los. Entre outros maravilhoso o milagre que operou em Jope ressuscitando uma Santa matrona anci, chamada Tabita, comumente conhecida pelo nome de me dos pobres. Tendo enviuvado, empregou suas grandes riquezas em socorrer os necessitados. Aflitos estes por terem perdido nela a sua me, foram procura de So Pedro para que viesse ressuscit-la. Este acudiu logo, e ao chegar casa da defunta, viu-se rodeado por uma multido de pobres, mergulhados na mais profunda dor, os quais lhe mostravam os vestidos e os calados que Tabita lhes tinha dado para se cobrirem. Pedro chorou com eles e, cheio de confiana em Deus, aproximou-se do cadver e disse em voz alta: " Tabita levanta-te!". No mesmo instante Tabita abriu os olhos e sentou-se. Quando se divulgou a notcia deste milagre, muitos daqueles cidados converteram-se verdadeira f. Conclio de Jerusalm - Desde o tempo dos Apstolos quando suscitavam-se questes concernentes religio, apelava-se para o Chefe da Igreja. Este, nos assuntos de maior importncia e quando achava conveniente, reunia os demais Apstolos e tambm os principais eclesisticos para que lhe ajudassem a conhecer a vontade do Senhor ou a promulgar e por imediatamente em execuo as resolues que se tomavam. a Sagrada Escritura recorda trs reunies especiais dos Apstolos em Jerusalm, celebradas com o fim de tratar de alguns assuntos concernentes ao bem dos fiis: aprimeira vez se reuniram afim de prepararem-se para receber o Esprito Santo, e eleger

a So Matias em lugar do traidor Judas; a segunda para escolher os sete Diconos; e a

terceira, que foi a que se chamou propriamente Conclio, e que serviu de certo modo de modelo aos Conclios que foram celebrados posteriormente pela Igreja, foi convocado para se decidir se j tinha chegado o tempo de suprir as cerimnias da lei mosaica, entre as quais se acham a circunciso e a abstinncia de carne de certos animais. Suscitou-se a questo na cidade de Antioquia, cujo fiis delegaram a So Paulo e So Barnab para que fosse consultar a So Pedro, que se achava ento em Jerusalm. So Pedro para definir mais formalmente o ponto, convocou os demais Apstolos e Eclesisticos que se achavam em Jerusalm; e tendo se reunido, ele como chefe, pastor supremo e vigrio de Jesus Cristo na terra, props a questo, falou acerca do que devia estabelecer-se, e depois de um longo e animado discurso pronunciou a sentena qual todos aderiram comeando por So Tiago o Menor. Em seguida foi formulado o decreto que devia ser enviado a todos os fiis, e que do teor seguinte: "Aprouve ao Esprito Santo e a ns outros, que no vos se impusesse mais carga do que a necessria, que vos abstenhais do sacrificado aos dolos, do sangue, do sufocado, da fornicao, das das quais coisas abstendo-vos, obrareis bem". Convm notar aqui que sendo a fornicao um pecado gravssimo, proibido pela prpria lei natural e pelo sexto preceito do declogo, parece que no era necessrio renovar a proibio: porm, acreditou-se necessrio proibi-la novamente de maneira mais explcita e clara porque os gentios que abraavam a f, antes de receberem as luzes do Santo Evangelho acreditavam que a fornicao no era pecado: tanto se lhes tinha ofuscado a luz da razo! Depois deste discurso j no teve vigor o preceito da antiga lei (ano 51). Perseguio de Nero - No reinado dos imperadores romanos dos trs primeiros sculos, desencadearam-se cruis e sangrentas perseguies contra os cristos, com o fim de impedir os progressos do Evangelho; as principais chegam ao nmero de dez. Para compreender as causas das perseguies mister advertir, que no imprio romano era rigorosamente proibido pregar ou professar novas crenas que no fossem aprovadas pelo Estado: por conseguinte todos os que pregavam ou professavam o Evangelho, nos pases submetidos aos Romanos, expunham-se a um evidente perigo de morte. outra causa destas perseguies era tambm a freqente confuso que havia entre cristos e judeus, pois a estes ltimos queriam destruir. Mas o principal pretexto era constitudo pelas graves calnias com que os pagos, e especialmente os sacerdotes dos dolos acusavam os cristos para torn-los odiosos diante das autoridades civis. Por estas razes foi perseguida a f com encarniamento logo que comeou a ser pregada em Roma. Nero, chamado na Histria o verdugo do gnero humano, fez incendiar Roma somente pelo prazer de v-la arder. Este fato, como de supor-se, excitou contra ele grande indignao, e este para se ver livre de semelhante crime, culpou aos cristos e os condenou morte. Em muito concorreu para que aumentasse sempre mais o dio contra os sequazes de Jesus Cristo, o ter as oraes de So Pedro e So Paulo causado a runa de Simo o Mago, e obtido a converso de muitos do prprio palcio imperial. Irritado contra eles, o imperador, como leo furioso contra um rebanho de cordeiros, inventou os mais cruis suplcios para os atormentar, e chegou a tal ponto sua crueldade, que os prprios pagos, compadecidos dos cristos, censuravam seus atos. Com efeito, por um excesso de crueldade, at ento desconhecida, fez cobrir alguns com peles de feras para arroj-los depois a ces esfaimados e a outros os fez envolver em trapos, coberto de piche e enxofre e atados depois a postes os fazia acender durante a noite para servirem de luminrias nos jogos dos circos.

Martrio de So Pedro e So Paulo - Os dois mrtires mais insgnes da perseguio de Nero foram os prncipes dos Apstolos, So Pedro e So Paulo. Conhecendo a violncia da perseguio, correram a Roma para administrar os consolos da religio e assistir aos que se achavam em perigo de perder a f. Acreditando Nero que com a morte dos chefes dos cristos eles se dispersariam e j no se falaria deles no mundo, mandou busc-los e encarcera-los na priso Mamertina, a mais escura de Roma, que se achava ao p do Capitlio. Apesar de metidos em algemas no deixaram os Apstolos de trabalhar para a salvao das almas, por meio dos sermes converteram os dois carcereiros Processo e Martiniano e mais quarenta e cinco companheiros seus. Estes receberam o batismo com gua que, a mandado de So Pedro, brotou milagrosamente num canto da priso, e que ainda em nossos dias continua brotando; todos eles morreram mrtires. Sabedor destas novas, irritou-se ainda mais Nero; ordenou que se desse a morte aos dois Apstolos, mandando que So Pedro fosse crucificado e So Paulo decapitado. So Pedro, por humildade, pediu que o crucificassem de cabea para baixo, e ganhou a palma do martrio no ano 67 da era vulgar, na idade de 86 anos. Sepultaram-no no Vaticano, no mesmo lugar onde,depois, Constantino edificou a grande Baslica de So Pedro. No mesmo dia em que so Pedro subiu ao Cu, So Paulo foi levado a trs milhas de Roma para um lugar denominadoguas Slvias, onde lhe cortaram a cabea. Esta caindo por terra, deu trs saltos, e em

cada um dos lugares onde tocou, brotaram outras tantas fontes que existem ainda hoje. CAPTULO VI So Lino Papa - Morte de Nero - Runa de Jerusalm e disperso dos Judeus - Trabalhos e martrio de So Lino.So Lino Papa - Devendo a Igreja de Jesus Cristo durar at a consumao dos sculos e

receber em seu seio materno todos os que quisessem se abrigar nele, tambm devia ter em todos os tempos um chefe visvel que visivelmente a governasse, por isso algum devia substituir So Pedro no governo da Igreja Universal! O primeiro sucessor de So Pedro foi So Lino, de Volterra, cidade da Toscana. Enviado a Roma por seus pais para cultivar os estudos, teve a felicidade de ouvir So Pedro que nesse tempo tinha comeado a pregar o Evangelho naquela cidade. instrudo na f por mestre to distinto, tornou-se muito depressa fervoroso cristo. A virtude, a cincia e o zelo do discpulo influram para que So Pedro o consagrasse sacerdote e o escolhesse para companheiro nas suas apostlicas peregrinaes. Acredita-se que quando So Pedro foi ao Conclio de Jerusalm, sagrou bispo a So Lino e o nomeou seu vigrio em Roma, enquanto durava sua ausncia. sua volta confiou-lhe uma importante misso na Glia, que ainda se achava mergulhada na idolatria. Chegando este a Besanon, encontrou prximo s portas da cidade um tribuno chamado Arnsio o qual lhe falou do seguinte modo: "- Quem s tu e donde vens? - Venho de Itlia, respondeu Lino. E para onde vais? - Vim aqui para pregar a religio de Jesus Cristo. - Que religio essa?" Lino comeou ento a falar-lhe da verdadeira f; desejando porm o tribuno que sua famlia tambm ouvisse o novo missionrio, levou-o sua casa. Ouvindo-o, todos se converteram e a casa de Arnsio se transformou em Igreja. Rebentando pouco depois a perseguio de Nero, Lino voltou a Roma para ajudar a So Pedro a quem efetivamente acompanhou no cumprimento dos deveres do santo ministrio e depois governou a Igreja, durante a priso dos Prncipes dos Apstolos. Tambm acompanhou ao martrio o seu querido mestre, e depois de sua morte, com a cooperao de So Marcelo e outros fiis, entre

os quais se faz meno de um chamado Apuleio, o sepultou aos ps do monte Vaticano, junto ao circo de Nero, como lugar mais seguro. Isto prova que entre os comensais deste perseguidor havia cristos ocultos, muito fervorosos e poderosos. Acreditasse que So Pedro receando que a Igreja, naqueles tempos calamitosos, ficasse sem pastor, nomeou aos santos Lino, Cleto, Clemente, e Anacleto para que sucessivamente fizessem suas vezes no pontificado; de acordo com isto So Lino sucedeu a So Pedro no ano 67 da nossa era. Durante seu pontificado deram-se muitos acontecimentos, entre os quais os mais notveis so a morte de Nero e a destruio de Jerusalm. Morte de Nero - Este tirano depois de ter posto em jogo toda sorte de crueldades contra os cristos, caiu no desprezo dos seus sditos, que se rebelaram contra ele e proclamaram outro imperador chamado Galba. Esta nova causou tal espanto a Nero que fora de si arrojou terra a mesa sobre que comia, quebrou em mil pedaos os vasos de grande valor, e deu com a cabea contra as paredes da casa. Quando lhe foi levada mais tarde, a notcia de que o Senado o tinha condenado morte, fugiu de seu palcio durante a noite, comeou a correr pela cidade implorando o socorro dos seus amigos; porm estes o rechaaram, porque os malvados no tm verdadeiros amigos. Buscando ainda algum meio de salvao, cobriu-se de um grande manto, e montado em um cavalo passou despercebido entre seus inimigos, ao mesmo tempo em que por todas as partes ouvia-se o grito de "morte a Nero!". Chegando casa de campo de seu criado chamado Fauno, tratou de esconder-se; porm vendo que ali estava rodeado de soldados, no sabendo o que fazer para no morrer em pblico, suicidou-se atravessando a garganta com um punhal. assim morreu esse monstro, cruel entre os mais cruis tiranos, e autor da primeira das dez grandes perseguies suscitadas pela poltica romana contra os cristos (ano 71 da nossa era). Runa de Jerusalm e disperso dos Judeus - A destruio de Jerusalm um dos acontecimentos mais terrveis que se registram nas pginas da histria. Os profetas tinham predito, com muitos sculos de antecipao, que os Judeus, por sua obstinao por desprezar o Evangelho, e como castigo do deicdio que tinham cometido na pessoa do Salvador, seriam expulsos dos seus pases e viveriam dispersos por todo o mundo, sem rei, sem templos e sem sacerdotes, Jesus em termos ainda mais claros, tambm tinha vaticinado que os judeus seriam sitiados em Jerusalm e reduzidos a uma penria inaudita; que se destruiria sua cidade, se incendiaria seu templo, e que se dispersaria seu povo; e acrescentou ainda que todas essas coisas se cumpririam antes que morresse aquela gerao a que ele falava. Deus, infinitamente, misericordioso, quis avisar mais uma vez aquele povo por meio da pregao, das admoestaes dos Apstolos, e de muitos sinais espantosos que nos narram vrios historiadores entre eles alguns judeus. Jos Flavio, por exemplo, judeu douto, que teve grande parte naqueles desastres, conta, entre outras coisas, que no dia de Pentecostes se fez ouvir uma voz no templo, que sem se saber de onde saia, fazia ressoar estas palavras: "saiamos daqui, saiamos daqui". Um homem chamado Anano que tinha ido da roa a Jerusalm para assistir festa dos Tabernculos, ainda antes de que se falasse da guerra, comeou a gritar de improviso pelos ngulos da cidade: "Ai do Templo, ai de Jerusalm! voz do oriente, voz do ocidente, voz dos quatro ventos; ai do Templo, ai de Jerusalm!" Foi preso, encarcerado, e aoitado quase at a morte; porm nem assim deixou de gritar pela cidade em voz alta as mesmas palavras durante trs anos, at que um dia correndo sobre os muros, enquanto gritava: "Ai de mim mesmo!" foi ferido por uma pedra e morreu.

Certa vez, pelas nove da noite resplandeceu ao redor do templo e do altar uma luz to viva, que pelo espao de meia hora pareceu estar em pleno dia; outra vez uma porta do templo, de bronze to pesada que para move-la eram precisos vinte homens, achouse aberta por si, e sem que ningum a tocasse. Alguns dias depois, em todas as povoaes circunvizinhas viram-se no ar, ao redor de Jerusalm, exrcitos em ordem de batalha, que cercavam e davam sinais de querer tom-la de assalto. Apareceu tambm um cometa que dardejava chamas com raios, e uma estrela em forma de espada que permaneceu um ano no mesmo lugar, tendo sempre a ponta voltada para a cidade. Estes sinais pressagiaram que deviam cair sobre Jerusalm graves e iminentes desastres. Com efeito, os romanos sob o mando sucessivo de Vespasiano e de Tito foram, sem saber, os instrumentos de que se valeu a ira de Deus para cumprir seus desgnios. A Nero, como j foi dito, sucedeu um imperador chamado Galba e a este, outro chamado Vitlio; ambos foram despojados do trono por seus prprios vcios e sua tirania, e se proclamou em seu lugar a um grande general chamado Vespasiano, Este amava a justia, quanto podia am-la um imperador idlatra, e era querido por todos por sua afabilidade e valor. O prprio Nero j o havia enviado para combater os judeus; porm quando o elegeram imperador, ele deixou seu filho sob os muros de Jerusalm para que continuasse a guerra, enquanto voltava Roma. Ainda viviam muitos dos que se achavam presentes morte do Salvador, quando os exrcitos romanos foram sitiar Jerusalm. Como o stio comeasse naqueles mesmos dias em que se achavam ali reunidos um grande nmero de judeus que tinham acudido de toda a Palestina e dos pases limtrofes para celebrar as festas da Pscoa, aconteceu que achando-se aquela desgraada cidade cheia de gente, de pronto comeassem a faltar alimentos, chegando a tal extremo a fome que seus habitantes arrancavam-se uns aos outros das mos as coisas mais imundas para no morrer. Houve mes que naquele estado de desespero, (coisa horrvel!) chegaram a alimentar-se de seus prprios filhos. Tomada de assalto a cidade, foram mortos um milho e cem mil judeus, e outros tantos foram reduzidos escravido. Estes como no fossem vendidos, por no haver compradores para to grande nmero de escravos, foram em parte doados e outros mortos porque no havia quem os quisesse nem de graa. Destrudas em grande parte as casas e queimado o templo, todo o povo que se pode salvar da morte ou da escravido dispersou-se pelas demais cidades; contudo a total disperso dos judeus no se realizou at princpios do segundo sculo. O Papa So Lino pode ver os infelizes judeus escravizados por Tito, chegarem a Roma aos montes, par serem condenados a penosssimos trabalhos, entre outros o de erigir um arco do triunfo a seu vencedor. Ainda v-se presentemente o candelabro com sete braos, tirado do templo de Jerusalm e o magnfico anfiteatro chamado de Flvio Tito, cujas runas admirveis ainda existem em Roma, e conhecido sob o nome de Coliseu. So Lino valeu-se deste terrvel acontecimento para confirmar na f os judeus, que se tinham convertido e para atrair a ela os menos obstinados no erro. Trabalhos e martrio de So Lino - So Lino durante dez anos de seu pontificado, alm do que trabalho na pregao e propagao do Evangelho, aplicou-se com zelo emcombater os erros de Menandro, Corinto e seus sectrios, declarando que no pertencia

Igreja de Jesus Cristo aquele que seguisse seus erros monstruosos. Ainda que tenham sido aqueles tempos de muito fervor, havia alguns que iam Igreja vestidos como para ir ao teatro; So Lino em vista disto, renovou o preceito de So Paulo, e estabeleceu que todos deviam ir Igreja com modstia, e as mulheres com a cabea coberta. O zelo e doutrina deste Pontfice enchiam todos de admirao; o seu

nome s, fazia emudecer os demnios, e com o sinal da Cruz curava frequentemente obstinadas enfermidades. Um homem que havia ocupado o consulado tinha uma filha perturbada pelo esprito maligno e outros males; recorreu ao nosso santo, e este a curou com o Sinal da Cruz; porm como os sacerdotes dos dolos diziam que este milagre injuriava aos deuses, obrigaram ao tmido Saturnino, assim chamava-se o pai da menina, a condenar morte o santo Pontfice. Este depois de ficar algum tempo no crcere, foi decapitado a 23 de setembro do ano 80.

CAPTULO VII So Cleto, Segunda Perseguio - So Clemente e o Cisma de Corinto - Terceira Perseguio - Desterro e martrio de So Clemente. So Cleto, Segunda Perseguio - Os cristos gozavam de alguma tranqilidade no reinado de Tito e de Vespasiano, posto que ainda no tivessem sido revogados os sangrentos decretos de Nero pelos quais todo aquele que tinha alguma autoridade podia perseguir, a seu capricho, os fiis de Jesus Cristo. Domiciano, a quem a histria apelida de segundo Nero, ordenou que vigorassem novamente, e com maior rigor as leis de perseguio. No seu reinado So Cleto governou a Igreja doze anos. Este Pontfice nasceu em Roma, e ali o instruiu So Pedro na f; trabalhou muito durante o pontificado deste e o de So Lino. Entre as obras que se lhe atribuem, acha-se a diviso da cidade de Roma em 25 quartis ou seces; em cada uma das seces estabeleceu um sacerdote ou na sua falta um dicono, para que cuidasse das necessidades espirituais e temporais dos fiis. Achava-se ocupado em propagar o Evangelho dentro e fora da cidade de Roma, quando Domiciano ordenou que se buscasse o chefe dos cristos e que se lhe desse a morte. A impacincia do tirano em dar-lhe a morte poupo-lhe muitos e grandes suplcios; martirizaram-no no ano de 93. Autores dignos de f dizem que So Cleto foi o primeiro que usou a frmula: , com que os Papas soem comear suas cartas. So Clemente e o Cisma de Corinto - O quarto Pontfice So Clemente; este era filho de um Senador romano chamado Faustino. Foi eleito para governar a Igreja depois do martrio de So Cleto. Entre as belas instituies deste Pontfice conta-se a dos notrios ou escreventes, que se encarregavam de escrever com o maior cuidado a ordem dos sofrimentos dos mrtires, e de todas as coisas que eles diziam ou faziam em presena dos juizes ou dos imperadores: esses escritos chamavam-se "Atas dos mrtires". Causou-lhe muitos trabalhos e sofrimentos o cisma de Corinto, onde as discrdias intestinas tinham chegado a tal ponto que muitos dos fiis, negando-se a acatar a autoridade da igreja, pretendiam eleger e consagrar sacerdotes sua vontade. Crescendo o mal, pensou-se em apelar para a Igreja de Roma, me e mestra de todas as outras Igrejas, por uma extensa carta dirigida ao Sumo Pontfice. So Clemente depois de ter lido, respondeu aos Corntios outra que constitui um importante documento da antiguidade crist, e que como tal convm seja conhecida em seus pontos principais: " Igreja de Deus que est em Roma, de Corinto e aos chefes que so chamados e santificados pela vontade de Deus em Nosso Senhor Jesus Cristo. Que a graa do Senhor onipotente se aumente sempre em vs." Fala-lhes em seguida da pacincia, da doura e dos benefcios de Deus criador, e continua da maneira seguinte: " Se considerarmos quanto Deus est prximo de ns, e como nenhum pensamento pode ficar-lhe oculto, devemos certamente tratar de no fazer o

que contrrio sua Divina Vontade, e sujeitarmo-nos ao que Ele colocou sobre ns: devemos refrear nossa lngua e domin-la com o amor do silncio." Segue recomendando-lhes que fujam do cio e da moleza porque somente quem trabalha tem direito vida, e continua assim: "Portanto devemos fazer com zelo todo o bem que pudermos, porque Deus Criador se compraz em nossas obras. Cada um permanea na ordem e no grau em que Deus por sua bondade o colocou. O fraco respeite o mais forte, o rico socorra o pobre, e o pobre bendiga a Deus pelo modo com que o prov. O sbio faa conhecer a sua sabedoria no por palavras, porm por boas obras. O humilde no fale com jactncia de si mesmo, nem faa alarde de suas aes. Quem for casto no se orgulhe, pois o dom da castidade no provm dele. Os grandes no podem existir sem os pequenos, nem os pequenos sem os grandes. No corpo humano a cabea nada pode sem os ps, nem os ps sem a cabea. O corpo no pode passar sem o servio dos mais pequenos membros". Expe em seguida as virtudes e as obrigaes prprias de todo o cristo para conservar mutuamente a caridade, e passa a fazer-lhes esta doce admoestao. "Porque h entre vs divises e rixas? Acaso no temos todos igualmente o mesmo Deus, o mesmo Jesus Cristo, o mesmo Esprito de graa derramado sobre ns, a mesma vocao em Jesus Cristo? Porque pois sendo seus membros fazemos guerra ao nosso prprio corpo? Somos to insensatos que esquecemos que uns somos membros dos outros? Vossa diviso, fiis! Tem desanimado alguns, pervertido muitos e nos tem mergulhado a todos na aflio. Cesse depressa este escndalo, prostremo-nos aos ps do Senhor; supliquemo-lhe com abundantes lgrimas, que nos perdoe e restabelea a caridade fraterna." Os Corntios tinham mandado Roma um fervoroso cristo chamado Fortunato, para que expusesse Santa S a triste diviso daquela cidade. So Clemente encarregou o mesmo mensageiro e mais quatro pessoas que levavam a carta, recomendando-lhes que voltassem logo. Conclua a carta dizendo: "Mandai-nos o quanto antes, em paz com alegria Claudia, Efebo, Valrio e Vito, que vos enviamos com Fortunato para que nos tragam quanto antes a notcia da to desejada, e por ns to suspirada, paz e concrdia; deste modo ns tambm, mais prontamente gozaremos de vossa tranqilidade." A carta impressionou tanto o nimo dos Corntios , que arrependendo-se de suas faltas, reconciliaram-se com seus pastores, pediram perdo e veneraram todos as palavras do Vigrio de Jesus Cristo que se achava em Roma. Terceira Perseguio - o imperador Trajano, embora elogiado por alguns historiadores, como prncipe sbio e clemente, foi o autor da terceira perseguio. Estamos certos disto por sua resposta a Plnio, o moo, governador da Bitnia. Escrevera-lhe este uma carta, consultando-o qual a conduta que deveria ter para com os cristos, Toda a sua culpa, lhe dizia, consiste em cantar hinos em honra de Cristo; so eles nmerosssimos e os h de idade e condio, nas cidades e nos campos, de forma que os templos de nossos deuses tm ficado quase desertos. Por outra parte sua conduta pura e inocente; porm sua pertincia em no querem acatar as ordens do imperador no que diz respeito religio, bastante para faz-los dignos do maior castigo. Tal testemunho que dava um perseguidor dos cristos do seu nmero e de sua santidade, Trajano lhe respondeu que no era necessrio pena de morte, segundo a lei, toda vez que fossem acusados ou conhecidos; resposta absurda, porque se os cristos eram culpados, porque no se devia persegui-los? E se eram inocentes, porque deviam ser castigados com pena de morte?

Desterro e martrio de So Clemente - Entre os mrtires que padeceram o martrio no reinado de Trajano, conta-se o Pontfice So Clemente. Como pertencia ele a famlia nobre, o imperador quis ter para com ele algumas condescendncias; aduziu razes, promessas e ameaas para induzi-lo a abandonar a f, porm tudo foi em vo. Irritado o imperador o condenou s minas de Quersoneso Turico, chamado hoje Crimia. Depois de uma viagem longa e penosssima, chegou o santo Pontfice ao lugar de seu desterro, e foi obrigado a trabalhar com uma turma de malfeitores. Muito o consolou a nova de que no meio dos condenados queles trabalhos achavam-se cerca de dois mil cristos, somente culpados de publicamente terem professado sua f, os quais desejavam ter entre si um ministro sagrado da Religio. O Pontfice ocupou-se logo de ajud-los e de prodigalizar-lhe os auxlios da religio, e mitigou no pouco os seus sofrimentos com o seguinte milagre: como no havia gua naqueles lugares, deviam transport-la com grande trabalho de mais de uma milha de distncia. vista disto, So Clemente rogou a Deus por eles e no mesmo instante, como nos tempos de Moiss, brotou ali mesmo uma fonte perene de gua cristalina,que satisfez as necessidades dos cristos e dos pagos. Semelhante milagre operado em

presena de to grande multido, comoveu aqueles infelizes desterrados, e um grande nmero de infiis abraou a f. O imperador, inteirado deste fato, escreveu ao governador do Quersoneso, ordenando-lhe que reprimisse e fizesse voltar idolatria os recm-convertidos; porm eles preferiram perder a vida antes de abandonar sua f. Ao mesmo Pontfice, que era seu chefe, ataram uma barra de ferro ao pescoo e o atiraram ao Mar Negro. assim concluiu gloriosamente sua vida o quarto Pontfice., depois de ter governado a Igreja durante nove anos (anos 100). Conta lenda antiga, que as guas do mar, depois da morte de So Clemente, se retiraram trs milhas para dentro, deixando ver aos fiis na praia um pequeno templo de mrmore que encerrava o corpo do santo mrtir. Confirma esta tradio uma pintura antiqssima descoberta h anos em Roma, no subterrneo da Igreja de So Clemente. (V. s. Efrem Siro). CAPTULO VIII Santo Anacleto - So Simeo de Jerusalm - Santo Incio de Antioquia. Santo Anacleto - No pontificado de Santo Anacleto sucessor de So Clemente, continuavam os estragos da perseguio. O imperador, muito ligado idolatria, ocupava-se ele prprio, de vez em quando a interrogar os cristos, com o fim de confundi-los, e os ameaava com os mais horrveis tormentos e com a morte mais dolorosa para faze-los prevaricar. Em to difceis circunstncias So Anacleto empregou os maiores esforos j para que permanecessem firmes na f os condenados ao martrio, j para refutar as heresias e preparar missionrios para enviar em propaganda do Evangelho. Entre as coisas que fez, conta-se a de ter escolhido um lugar particular no Vaticano, perto do tmulo de So Pedro, que destinou para sepultura dos Papas, fez alm disso edificar uma capela sobre o tmulo dos Prncipe dos Apstolos com esta inscrio: In memoriam Beati Petri construxit. Esta pequena Igreja, ampliada mais tarde, o famoso templo de So Pedro no Vaticano. Santo Anacleto depois de doze anos de pontificado, terminou seus dias com o martrio. Cortaram-lhe a cabea por ter ficado firme na f, no ano 112. So Simeo de Jerusalm - Poucos anos depois de Santo Anacleto conclua tambm sua carreira mortal So Simeo, bispo de Jerusalm. Durante vrios dias fizeram-lhe padecer horrveis tormentos; porm sendo vo todos esforos que faziam, Trajano o

condenou a ser crucificado, tendo 120 anos de idade. assim a ltima das testemunhas de vista de nosso Redentor padeceu um mesmo gnero de morte. (ano 114). Santo Incio de Antioquia - Santo Incio, bispo de Antioquia era, havia 40 anos, a admirao da grei, que com grandes cuidados conservava na f no meio das mais sangrentas perseguies. Trajano que se achava ento no Oriente, quis discutir com ele sobre a Religio, porm ficando confundido, ordenou que o prendessem e o conduzissem Roma afim de servir no anfiteatro de Flvio, de espetculo pblico ao povo, e ser depois pasto das feras. Ouviu Incio sua sentena com transporte de alegria, porque ardia de desejo de morrer por Jesus; porm temendo que os fiis de Roma, por meio de suas oraes, obtivessem de Deus a graa que as feras no o devorassem, escreveu-lhes uma carta muito comovedora, pedindo-lhes que no se opusessem a que ele fosse esmagado quanto antes entre os dentes das feras, como o trigo na roda do moinho, para que pudesse assim ser digno de reunir-se o mais depressa, qual alvo po, a Jesus Cristo por todos os sculos. Esta carta que contm palavra as mais honrosas para a Igreja de Roma assim principia: "Incio, chamado tambm Teforo, Igreja que conseguiu misericrdia na magnificncia do Pai Altssimo, e de Jesus seu Filho unignito; Igreja querida e iluminada pela vontade d'Aquele que quer todas as coisas segundo a caridade de Jesus Cristo nosso Deus; a qual tambm preside no lugar das regies dos Romanos; digna de Deus, digna por decoro, digna de ser chamada bem-aventurada, digna de louvor, digna de obter tudo o que deseja, castamente digna,que preside ordem universal da caridade, adornada com o nome de Cristo e do Pai que eu tambm sado em nome de Jesus Cristo Filho do Pai; aos que, segundo a carne e o esprito, esto unidos em todos os seus mandamentos, cheios da graa de Deus indivisivelmente, e limpos de toda cor estranha, desejo abundantssima e incontaminada sade em Jesus Cristo nosso Deus." Alm desta escreveu outras seis cartas cheias de mximas de f e de caridade; que formam um dos mais preciosos documentos da antiguidade crist. Chegando Roma foi conduzido para o anfiteatro e atirado s feras, que o dilaceraram logo, no deixando dele mais do que alguns ossos.Estes restos de seu corpo precioso foram levados para Antioquia e depois devolvidos para Roma onde hoje se veneram na Igreja de So clemente. Seu martrio teve lugar no ano 107. Depois de conhecido isto quem se atrever a elogiar a |Trajano, como filsofo justo e clemente? E quem no o colocar antes no catlogo destes tiranos cruis, violadores dos mais sagrados direitos da justia? CAPTULO IX Santo Alexandre 1 em presena de Aureliano - Interrogatrio de Santo Alexandre Martrio de Santo Alexandre e seus companheiros. Santo Alexandre 1 em presena de Aureliano - A Santo Anacleto sucedeu o Papa So Evaristo, natural de Belm, que ocupou o trono pontifcio cerca de nove anos, sendo martirizado no ano de 121. A este sucedeu Santo Alexandre que, ainda muito jovem, pregava com tal eficcia que chegou a converter o prefeito de Roma, chamado Hermetes, sua famlia e 1250 criados seus. Chegada a notcia aos ouvidos do imperador, este irritou-se muitssimo com ele, e desde a cidade de Selucia, onde se achava ento, mandou a Roma o conde Aureliano para que condenasse morte todos os cristos que descobrisse. Os primeiros encarcerados foram o prefeito e o Pontfice. Fizeram-lhes minuciosssimos, longos e violentos interrogatrios; experimentou-se o crcere, a fome, a sede, o ferro e o fogo, porm em vo; antes a pregao e os

milagres que em todas as partes fazia o santo Pontfice contribuam para trazer novas almas f. Interrogatrio de Santo Alexandre - "Eu quisera, lhe disse Aureliano, que me fizesses conhecer os mistrios de tua religio, e o prmio pelo qual deixas tirar a vida com tanta indiferena. Alexandre respondeu: "O que queres saber coisa santa, e Jesus nos probe falar das verdades da f aos que desejam saber no para acreditar nelas, porm para escarneclas. No conveniente, dizia o Salvador, dar as coisas santas aos ces e atirar as pedras preciosas aos porcos." - Como sou eu um co? Replicou Aureliano encolerizado. - Tua sorte inferior dos brutos, respondeu Alexandre; pois estes, sendoirracionais, no podem venerar as verdades da f que eles no conhecem, ao passo que

o homem, feito imagem e semelhana de Deus, se recusa conhec-las ou as despreza, ofende ao Criador, e pagar sua culpa no s com as penas desta vida, mas tambm com as chamas eternas do inferno. - Responde ao que te pergunto: se assim no o fizeres condeno-te aos tormentos. - Aquele que quer instruir-se na Religio de Jesus cristo deve faz-lo com humildade e no com ameaas. - Responde ao que te pergunto, e lembra-te que te achas em presena de um Juiz cujo poder temido em todo o mundo. - Aquele que se jacta de seu poder, est perto de perd-lo. - Infeliz! Tuas palavras e tua audcia sero castigadas com atrozes tormentos. - Nada fazes de novo fazendo-me atormentar. Porque, qual homem inocente que pode sair com vida de tuas mos? Junto de ti, unicamente vivem tranqilos os que renegam a Nosso Senhor Jesus Cristo; eu que espero morrer e padecer por Ele, certamente serei atormentado e morto, como o foram o glorioso Hermete e o intrpido Quirino, e todos aqueles que passaram com valor por meio de tormentos para chegar por eles vida eterna. - Qual a razo que te impele extravagncia de deixar-te matar antes que obedecer s minhas ordens? - J to disse e repito: no lcito dar aos ces as coisas santas. - Voltas a me chamar de co? Basta j de palavras; passemos aos tormentos. - No temo os tormentos que passam, porm sim aqueles que tu no temes, isto , os tormentos do inferno que no se acabaro jamais. Compreendeu ento Aureliano que falava inutilmente; por isso ordenou que despissem Alexandre e que o estendessem sobre o ecleo (instrumento de tortura). Aoitaram-no com varas e o dilaceraram com unhas de ferro. Enquanto suas carnes caiam em pedaos, punham tochas acesas debaixo de suas chagas; pareciam no entanto que aqueles agudos e penosos sofrimentos no serviam seno para aumentar as nsias que o santo Pontfice tinha de padecer. - Porque no te queixas? Perguntou-lhe admirado Aureliano. Qual a razo do teu silncio? - Quando o cristo reza, fala com Deus, e quando pensa n'Ele esquece tudo que aqui em baixo se padece. - Responde a tudo que te pergunto e farei suspender teus tormentos. - Estulto! Faze o que queres; no temo tua crueldade. - Considera ao menos tua idade, ainda no tem 30 anos, e j queres privar-te da vida?

- Tem antes mais compaixo de tua alma; pois se eu perco o corpo, salvo a alma, porm se tu perdes a alma, com ela tudo perders par sempre. Martrio de Santo Alexandre e seus companheiros - Depois de ameaas, interrogatrios e tormentos inteis, Aureliano ordenou se acendesse uma fogueira. Quando as chamas chagaram sua maior intensidade, mandou que atassem juntosAlexandre e Evncio, e os atirassem nas chamas. Quis tambm o imperador que um

sacerdote chamado Tedulo se achasse presente ao suplcio de seus companheiros para atemoriz-lo. Alexandre vendo-o triste, gritou em alta voz: "irmo Tedulo, vem aqui tu tambm, porque o quarto companheiro, isto , aquele anjo que apareceu aos trs meninos judeus no forno da Babilnia, se acha tambm conosco." Ento Tedulo se atirou fogueira. Deus operou ento o mesmo milagre que fizera no tempo de Nabucodonosor, pois o fogo perdeu seu poder e no fez dano algum queles campees de f. Eles vendo-se to prodigiosamente defendidos, puseram-se a cantar: " Senhor, tu nos hs provado com fogo, e tendo-nos purificado de nossos pecados com tua misericrdia, j no encontraste em ns nenhuma iniqidade". Furiosamente encolerizado, Aureliano ordenou que tirassem da fogueira Evncio e Tedulo e que se lhes cortasse logo a cabea e a Alexandre fez introduzir tantas pontas de ferro no corpo que em pouco tempo exalou o ltimo suspiro. Este martrio teve lugar a 3 de maio de 132. CAP