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OBSERVAÇÃO DA COMUNICAÇÃO NÃO-VERBAL DOS ALUNOS: PODE A
OBSERVAÇÃO DA POSTURA CORPORAL CONTRIBUIR PARA UMA MELHOR
PRÁTICA DOCENTE?
Priscylla Alves Lima (orientanda)1
Neuda Alves do Lago (orientadora)2
RESUMO: A presente pesquisa-ação se embasa no conceito de crença em Barcelos (2004),
para caracterizar a opinião da docente pesquisadora sobre o rendimento escolar de seus
alunos: consiste na conclusão desenvolvida pela professora observadora, após leituras teóricas
sobre características da personalidade, que alunos encaixados no fator Neuroticismo, incluso
na teoria dos Big Five Models, propostos por McRae e Costa (1991), teriam um baixo
rendimento escolar. Para identificar traços da personalidade de seus aprendizes, a professora
se baseou nos resultados referentes ao entrecruzamento entre os princípios da teoria de
informação e percepção cinésica de Weil e Tompakow (1986), filmagens de aulas (no
decorrer de 22 de agosto a 26 de setembro de uma turma de Inglês nível 3 de um projeto de
extensão de determinada universidade), e narrativas dos alunos, em inglês, sobre suas vidas e
sentimentos. Os resultados apontam positivamente para a possibilidade de identificar fatores
de personalidade por meio das posturas corporais e comunicação não verbal. Por outro lado,
derrubam veementemente a crença da professora: um traço de personalidade não pode, por si
só, justificar o fracasso escolar de um aluno ou seu baixo rendimento durante as aulas e nem
deve ser tomado isoladamente para eventuais mensuramentos.
Palavras-chave: Ensino. Aprendizagem. Postura Corporal. Comunicação Não Verbal.
Personalidade
INTRODUÇÃO
Quando a atividade docente está em processo, é natural que o professor (a) procure por
leituras teóricas no intuito de melhorar o seu trabalho. Porém, em nosso caso, a leitura de um
texto teórico e sua conseguinte interpretação geraram efeitos de sentido que se aproximaram
de crenças e se afastaram do rigor científico. Segundo Barcelos, a definição para as
convicções geradas no cotidiano é descrita como:
Entendo crenças, de maneira semelhante à Dewey (1933), como uma forma de
pensamento, como construções da realidade, maneiras de viver e de perceber o
mundo e seus fenômenos, co-construídas em nossas experiências, e resultantes de
um processo interativo de interpretação e re-significação. Como tal, crenças são
sociais (mas também individuais), dinâmicas, contextuais e paradoxais. (2004, p. 04)
A professora, partindo de um conhecimento científico, produziu um conhecimento
empírico, uma crença, que pretendeu estudar e verificar seu estatuto de verdade. A questão
levantada então foi: “se a postura corporal revela o que sentimos, segundo Weil e Tompakow,
1 Graduanda em Letras-Inglês pela Universidade Federal de Goiás. E-mail: [email protected]
2 Pós Doutora em Literatura, professora efetiva da Universidade Federal de Goiás. E-mail:
pode a postura corporal revelar traços de personalidade?”. “De que forma a personalidade está
relacionada com o domínio de uma segunda língua?”. “A postura corporal pode revelar traços
de um mau aprendizado ou uma baixa habilidade com a língua alvo?”.
OBJETIVOS
O objetivo geral deste estudo foi questionar e verificar relações entre os modelos de
personalidade propostos por vários autores da Psicologia, entre eles Odbert e Mc Crae (1991),
os princípios de observação cinésica de Weil e Tompakow(1986) e o impacto de uma crença
de uma professora numa sala de aula de língua inglesa. Como objetivos específicos, tivemos:
1) Filmar uma sala de aula de língua inglesa durante um mês, observando as posturas
corporais dos alunos com a ajuda da etnografia, comparando aquelas com as narrativas. 2)
Verificar que relações linguagem corporal, personalidade e aprendizado de línguas
estabelecem entre si.
JUSTIFICATIVA
A Linguística Crítica Aplicada (doravante LCA) é uma abordagem útil na discussão da
multiplicidade de categorias que envolvem o processo de ensino/aprendizagem, entre elas: a
formação do professor, a análise do material didático, a pedagogia como transgressão.
Discorreremos um pouco sobre cada uma das séries citadas utilizando o referencial teórico
que acredita na LCA, o sistema de crenças e a transdisciplinaridade, por exemplo.
Quanto à formação do professor, a LCA vai de encontro ao ensino tecnicista, uma vez
que este não se preocupa com a renovação do conhecimento.O tecnicismo prepara o professor
como um autômato, uma vez que é fundado no treinamento:
Tradicionalmente tem-se definido treinamento como o ensino de técnicas e
estratégias de ensino que o professor deve dominar e reproduzir mecanicamente,
sem qualquer preocupação com sua fundamentação teórica [...] . Caracteriza-se por
abordagens que concebem a preparação profissional como a familiarização dos
alunos mestres com técnicas e habilidades para serem aplicadas em sala de aula. Por
outro lado, formação tem sido descrita como uma preparação mais complexa do
professor, envolvendo a fusão do conhecimento recebido com o conhecimento
experimental e uma reflexão sobre estes dois tipos de conhecimento. (LEFFA, 2001)
A aplicação da Linguística Crítica é a razão para o nosso trabalho e a nossa análise,
visto que o nosso interesse é tentar partilhar com alunos e professores uma produção reflexiva
e cultural por meio da produção e do estudo do texto discente, e de um ensino mais focado nas
reais dificuldades do aluno. Acreditamos que a partir de uma atividade interpretativa,
podemos passar pelos processos de cognição mais objetivos, básicos, intermediários até
chegar aos avançados.
REFERENCIAL TEÓRICO
Utilizando-nos dos estudos da Psicologia na área da personalidade, nossa escolha
teórica recaiu sobre os Big Five Models, uma teoria que, baseada numa pesquisa taxonômica,
conseguiu extrair do léxico da sociedade contemporânea à investigação, uma divisão dos tipos
humanos em 5 grandes fatores. Os estudiosos Allport e Odbert iniciaram, em 1936, uma
tentativa de listagem desses fatores da personalidade humana:
Allport and Odbert identified four major categories. The first category included
personality traits (e.g. sociable, aggressive, and fearful) which they defined as
“generalized” and personalizes determining tendencies – consistent and stable
modes of an individual’s adjustment to his environment (JOHN, SRIVASTAIA,
1999, p. 26)
Definido o conceito de personalidade como as tendências de ajuste de um indivíduo ao
meio pela expressão de determinadas emoções e sentimentos:
Na história do conhecimento humano, as diferenças individuais devidas ao
temperamento do sujeito têm sido atribuídas aos fatores mais diversos por autores de
povos tão diversos como gregos, persas, hindus, árabes, entre outros, os quais, cada
um a seu tempo, contribuíram para a estruturação da teoria do temperamento como a
conhecemos hoje. A literatura aponta para um interesse cíclico no que se refere aos
estudos sobre o temperamento, na medida em que as teorias da personalidade
apontam para a interrelação existente entre varáveis ambientais, comportamento e
características pessoais. As teorias estruturadas mais recentemente, via de regra,
estão preocupadas com a classificação e tipificação do temperamento a partir de seus
resultados observáveis, a saber, o comportamento. (PASQUALI, 2000, p. 4)
Havia a necessidade, na comunidade acadêmica, da determinação de quais seriam
esses temperamentos, sentimentos, esses fatores. Allport e Odbert fizeram uma listagem nesse
sentido. Entretanto, esta era um tanto disfuncional pela sua amplitude, o que gerou certas
críticas e seu posterior abandono. Surgiram outras pesquisas, como a de Cattell, que elencou
trinta e cinco variáveis de personalidade e o protótipo de uma teoria que reduziria este número
a cinco:
This Five-factor structure has been replicated by Norman (1963), Borgatta (1964),
and Digmand and Takemoto-Chock (1981) in lists derived from Cattell’s 35
variables. Following Norman (1963), the factors were initially labeled:
(I) Extraversion or Surgency (talkative, assertive, energetic)
(II) Agreebleness (good-natured, cooperative, trustful)
(III)Conscientiousness (orderly, responsible, dependable)
(IV) Emotional stability versus Neuroticism (calm, not neurotic, not easily
upset )
(V) Culture (intellectual, polished, independent-minded). (JOHN,
SRIVASTAIA, 1999, p.44)
Apesar de ter recebido algumas críticas devido à sua natureza empírica, (é uma
classificação taxonômica baseada numa nomenclatura popular), o Big Five é um tanto quanto
bem recebido:
O modelo de personalidade dos cinco fatores vem tendo bastante impacto na
pesquisa e na prática profissional dos psicólogos dos dias de hoje. (...) Os autores
definiram cinco grandes fatores na teoria de personalidades, distinguindo, dentro de
cada fator, uma série de facetas ou aspectos que caracterizam o fator. (...) Uma
classificação empírica tem grande valor pragmático porque ela enquadra os tipos em
termos de predominância dos tipos reais. (PASQUALI, 2000,p.44)
Como vimos, o Big Five passou por vários estágios. O que nós tomamos por
referência a título de dar andamento ao nosso estudo é o desenvolvido por McCrae e Costa
(1991), reproduzido na tabela abaixo:
FATOR FACETA
Neuroticismo Ansiedade, preocupação, raiva,
hostilidade, depressão, desencorajamento,
autoconsciência, impulsividade,
vulnerabilidade
Extroversão Calor, gregariedade, assertividade,
atividade, procura de excitamento,
emoções positivas
Abertura Fantasia, estética, sentimentos, ações,
ideias, valores
Cordialidade Confiança, fraqueza, altruísmo,
conformidade, modéstia, ternura
Conscienciosidade Competência, ordem, responsabilidade,
motivação de desempenho, autodisciplina
Qual a relação entre a personalidade, maneira pela qual as pessoas mediatizam o que
se passa dentro delas com o ambiente, categoria do comportamento humano esquematizada na
teoria dos Big Five, e a linguagem corporal? É a título de discutir o significado dos
movimentos realizados pelo corpo humano, que Weil e Tompakow proferem: “Alguém à sua
frente cruza ou descruza os braços, muda a posição do pé esquerdo ou vira as palmas das
mãos para cima. Tudo isso são gestos inconscientes e que, por isso mesmo, se relacionam
com o que se passa no íntimo das pessoas.” (WEIL, TOMPAKOW, 1986, p.15).
Movimentos corporais se relacionam com o íntimo, e este, como manifestação do que
somos e sentimos, se aflora nos gestos do corpo. Observar os movimentos dos alunos, então,
pode ser um processo útil, para que possamos conhecê-los mais rapidamente e identificar suas
reais necessidades de aprendizado, unindo o nosso olhar ao corpo, a outros dados como a
análise da escrita desses alunos (narrativas), produtividade em conversação em outra língua,
observação das relações de poder na classe e fora dela e cultura local. Não podemos deixar de
perceber que estamos realizando um processo etnográfico. Logo, numa parte inicial do nosso
trabalho, a etnografia seria uma importante aliada, pois:
Essa perspectiva baseia-se em teorias de cultura e práticas de pesquisa que vêm de
disciplinas que usam teorias sociais. Metodologicamente, a etnografia é o tipo de
pesquisa recomendada, uma vez que não se analisa os dados em termos de
causalidade, mas observam-se dados pequenos e circunstanciais reconhecendo-os
como reveladores de questões maiores que envolvem identidade, poder, relações
sociais, significados (...). Assim, descrever práticas de escrita locais permite
reconhecer a escrita como um componente cultural, identitário, e observar a
educação mais de perto, não somente como ensino, mas como aprendizagem.
(JUNG, UFLACKER, 2000, p.16)
Assim, uma observação de cunho etnográfico compõe mais uma parte do nosso
referencial teórico abordado, pois descreveremos algumas práticas de escrita de alguns alunos,
que nos ajudarão a verificar os outros componentes que formam os sujeitos, nossos
estudantes.
Com base no entrecruzamento entre Etnografia, Psicologia e Percepção Cinésica
estabelecemos os pontos de partida do nosso trabalho. Assim, este se caracteriza por
pertencer `a Linguística Crítica Aplicada, pelo seu viés transdisciplinar e pela análise de uma
produção inserida em determinado contexto cultural e histórico.
Na nossa investigação, pensamos que talvez fosse interessante rever a teoria de
motivação e auto-motivação criada por Dornyei (2005) e a importância dos saberes da
Psicologia para uma evolução nas metodologias de ensino do caso observado:
“A psicologia da personalidade [...] tem feito um progresso considerável no
entendimento das bases estruturais das diferenças individuais e tem havido avanços
substanciais nos esforços taxonômicos para desenhar maiores e mais estáveis
dimensões de personalidade [...] Esses avanços, de acordo com Cantor [1990], tem
pavimentado o caminho para se prestar mais atenção a questões sobre como essas
diferenças individuais são traduzidas em características comportamentais,
examinando os lados ativos da personalidade [...] Devido a isso, através das duas
últimas décadas, os teóricos do self se tornaram interessados na natureza ativa e
dinâmica do sistema do self . Como Markus e Ruvolo [1989] resumiram, o conceito
tradicionalmente estático de representações do self foi gradualmente substituído por
um sistema do self que media e controla o comportamento contínuo e vários
mecanismos, incluindo a regulação do self.” [2005, p. 07]3
Sendo assim, podemos dizer que novas descobertas nas teorias psicológicas que
envolvem identidade e personalidade nos mostram que as pessoas desenvolvem imagens de si
mesmas baseadas em suas experiências de vidas, sucessos e fracassos. Dessa forma, os
docentes podem desenvolver, nos estudantes que estão aprendendo uma segunda língua, um
tipo de motivação que é baseada num sentimento de pertença a uma comunidade global, e
também podem tentar fazer o aluno evocar uma imagem positiva e de sucesso de si mesmo no
futuro. Será que podemos associar a todas estas concepções a postura corporal e o nível de
habilidade em se comunicar usando uma segunda língua?
O ESTUDO
A sala de aula alvo foi uma turma de Inglês III de um curso de línguas oferecido por
uma determinada Universidade. Numa turma de 10 alunos, fizemos um recorte contrastando
quatro estudantes, cujos nomes foram trocados por pseudônimos: Mary, Julie, Pat e Peter.
Comparando-os par a par em uma etnografia mediatizada pelo vídeo, filmamos durante um
mês as aulas que se estendiam durante um período de três horas. Gostaríamos de enfatizar
aqui o dia em que filmamos a produção da narrativa e um group work, ambos datados de
06/09/14. Detalharemos a seguir a postura corporal que cada um dos alunos acima citados
desenvolveu durante as filmagens:
Mary: joelhos unidos, cabeça baixa, cotovelos em cima da mesa, protegendo a folha
de papel almaço dada para a redação, cabelo cobrindo o rosto, corpo tenso.
Pat: pernas abertas, uma semiflexionada e outra apoiada em uma cadeira, cabeça
erguida, rabo de cavalo, sorrisos, corpo relaxado.
Julie: Pernas cruzadas, cabelo cobrindo o rosto, cotovelos em cima da mesa, sendo um
braço esticado sobre a mesa, cobrindo a folha com a redação.
Peter: gestos largos e amplos com o braço, ampla conversação com Pat, sorrisos, não
apóia os cotovelos na mesa.
3 Tradução nossa
Poderíamos associar esta comunicação não verbal de Mary e Julie ao Neuroticismo,
por exemplo, devido à vulnerabilidade das alunas (elas sentiam necessidade de se proteger
ante sua vulnerabilidade frente à câmera reveladora e uma certa ansiedade, receio de que a
professora visse o que estavam escrevendo) ? Estas alunas teriam um baixo rendimento? Esta
era a crença que estava instaurada como problemática inicial.
Percebemos que as garotas, com exceção de Pat, demonstram uma postura corporal
que inspira timidez, introversão, seriedade, além de um sentimento de defesa ou rejeição a
algo ou alguém (WEIL, TOMPAKOW, 1986, p. 124). Quanto a Pat e Peter, seus
movimentos são amplos, receptivos, afáveis, e eles conversam mais, as pernas e braços são
abertos várias vezes e eles sorriem amiúde, inspirando extroversão .
Group work : comportamento perante o coletivo
No group work, foi pedido um diálogo usando o tópico estudado no dia (presente
perfeito). Pat e Peter ficaram no mesmo grupo, enquanto que Mary e Julie ficaram em um
grupo diferente. Peter e Pat tomaram todas as iniciativas para montar o diálogo em seu grupo,
falaram bem e com certa fluência, liderando os outros alunos e os estimulando a produzirem
oralmente. Mary e Julie, por outro lado, ficaram caladas a maior parte do tempo em seu grupo
e não travaram muita conversação.
Agora gostaríamos de enfatizar as narrativas. Como será que a habilidade da escrita é
manipulada por estes alunos? Que tipos de pistas as posturas corporais de todos estes
discentes estudados podem nos dar para identificarmos seus respectivos “modelos de
personalidade”?
Narrativas
A professora pediu que os alunos fizessem uma redação que abordasse sentimentos:
explicou que gostaria que eles escrevessem o que sentiam desde a infância até a fase adulta:
angústias, alegrias, fatos marcantes, vida escolar. Pediu, inclusive, para que eles versassem a
respeito do que sentiam ao estudar inglês e quais as metas de vida que envolviam essa língua.
Uma das crenças da docente, por inferência, preveria que os propensos a serem enquadrados
no Neuroticismo através da observação da postura corporal teriam dificuldades na produção
textual:
Mary: I live with two friends (...) But sometimes I miss my family too much, I miss
somethings that I have in the city I came from, I miss some friends and some
places, and it isn’t good. Sometimes I don’t have money to buy the things I need
(…) and this make me want to go home(…). I was a lonely child in the school, (…).
I like to be alone and just observe the other people playing (…) a boy in my
classroom hits me in the head (…). I always wanted to study English, I always like
this language, but my parents could never pay for me, so this year I win a
scholarship in a event here in the University called Soirée (sarau). So it’s a dream
that came true.
Julie: I’m sad today but I told anyone. I miss my best friend (and my boyfriend)
Shelton. He lives in *** very away from me. I cried last night because I want him
near to me.(…) I need to lose weight, I feel ugly and unhappy. I loooooove study
English. I want to go to Australia, Canada, Russia and all world. The English is very
important for my dreams come true. With faith in God and English I’ll travel and
live my life the way I always wanted.
Esses trechos revelam ausência de uma consistência verbal, mas pode-se perceber sua
coerência e coesão relativamente corretas, uso de advérbios de freqüência, de pronomes
indefinidos, de verbos modais. Conseguem seguir a ordem sintática correta, respeitando a
ordem dos adjetivos e lidando muito bem com a união entre o sintagma nominal e o sintagma
verbal. Apesar da temática da infelicidade e da saudade sempre presentes, há um espaço de
reflexão que ameniza os sofrimentos, as alunas revelam então uma perspectiva positiva de
vida mesmo na tristeza: se idealizam bem sucedidas no futuro. A imagem que fazem de si
próprias o “self” (DORNYEI, 2005), é de pessoa bem sucedida profissionalmente e
amorosamente.
Peter: Hello my name is ***, I’m 29 years old, today is 12/09/2014, a day is very
hot. (…) Yesterday went result contest with me sad. My position in contest went 41st
and went won the first 20th position in the contest. (…) But I don’t desisted. In
Sunday I’m go in Brasília to accomplish two new contest, first contest is Brasil
Arms and second is ANATEL, I’m hopeful with this contest. But my life is happy,
don’t have complain to my life. I’ve good job, I’ve good family, I’ve good house
and friends unhappied my family is far away for me.
Pat: I’m fine today because I’m calm. Only others days I’m very nervous and
impatient (…) I’m not good sleep and are very actives to make (…) I begin court
are a very friends. I like remember my past. I play with my brother. I think it is
important study English, because I find a work and need.
Além da produção textual ser parca, os dois tem muitos problemas quanto à coerência,
coesão e consistência verbal. A ordem dos adjetivos não foi seguida, há problemas quanto ao
uso do verbo no passado e na forma negativa do passado. Na redação escrita por Peter, o uso
de preposições , a concordância nominal e o erro quanto ao uso do futuro são também tópicos
a serem observados. Pat escreve pouco, mistura o verbo to be na conjugação de outros verbos
no passado simples, tem dificuldades com as regras de uso de infinitivo, tem problemas com a
ortografia de determinadas palavras.
Os resultados derrubaram a crença. Julie e Mary foram as alunas que mais
apresentaram textos satisfatórios na composição gramatical das narrativas, além de coerência
e coesão excelentes em comparação com Pat e Peter, os extrovertidos que mostraram
resultados muito inferiores. Podemos ver que em todos os textos há uma temática que envolve
a ansiedade, a expectativa acerca do futuro (a maioria dos alunos são estudantes da própria
universidade e têm grandes expectativas acerca do mercado de trabalho), alguns medos, mas
as marcas de tristeza são mais presentes nos textos de Julie e Mary. Os textos de Peter e Pat
revelam selfs positivos e poderiam ser enquadrados na extroversão, pelas suas características
assertivas e emoções positivas perante os acontecimentos, porém revelam uma certa
dificuldade na escrita. Nas atividades de speaking do group work mostradas em vídeo, as
quais foram feitas através de modelos já prontos de diálogo mostrados no livro didático, Pat e
Peter foram melhor sucedidos: apresentaram uma boa leitura, boa pronúncia, boa interação e
empatia com o grupo, e conseguiram também motivar seus colegas a produzirem oralmente,
qualidades essenciais que levam o aluno a uma certa autonomia.
CONCLUSÃO
Para nós, autores deste trabalho, ficou bastante claro que a postura corporal revela
nuances comportamentais dos alunos. Este processo que perscruta e sonda; apesar de
empírico, mediatizado por câmera, pode ser adicionado sem prejuízos às estratégias docentes
para melhor conhecer os seus alunos e se familiarizar com suas necessidades. O trabalho
focado no discente pode trazer resultados mais satisfatórios, podemos criar, por exemplo, um
período da aula com atividades centradas. Uns focam na escrita, outros focam na fala, de
acordo com os resultados obtidos no entrecruzamento de dados. Podemos abordar assuntos
literários, escrita em outros gêneros textuais – neste caso, o aluno constrói seu eu-lírico na
produção textual de um poema: que tal criar alegorias para suas infelicidades e escrever, em
outra língua, usando figuras de linguagem para fazer poesia?
Crenças são instáveis. São enunciados4 a que damos um status de verdade. A
professora que coletou os dados e os entrecruzou, em seus diálogos com a orientadora do
trabalho, verificou que a pesquisa é fundamental para checar todas as inferências que
possamos fazer a respeito de leituras teóricas. Tentar aproximar a sala de aula com a leitura
passada pela academia é a força motriz que irá suscitar várias reflexões válidas para
momentos futuros de ensino/aprendizagem.
A crença revela um estereótipo. Uma imagem pré formada é um preconceito:
4 [...] é uma função de existência que pertence, exclusivamente, aos signos, e a partir da qual se pode decidir, em
seguida, pela análise ou pela intuição se eles ‘fazem sentido’ ou não, segundo que regra se sucedem ou se
justapõem, de que são signos, e que espécie de ato se encontra realizado por sua formulação (oral ou escrita).
Não há razão para espanto por não se ter podido encontrar para o enunciado critérios estruturais de unidade; é
que ele não é em si mesmo uma unidade, mas sim uma função que cruza um domínio de estruturas e de unidades
possíveis e que faz com que apareçam, com conteúdos concretos, no tempo e no espaço (FOUCAULT, 2000, p.
99).
Opinião ou crença admitida sem ser discutida ou examinada, internalizada pelos
indivíduos sem se darem conta disso, e influenciando seu modo de agir e de
considerar as coisas. O preconceito é constituído assim por uma visão de mundo
ingênua que se transmite culturalmente e reflete crenças, valores e interesses de uma
sociedade ou grupo social. O termo possui um sentido eminentemente pejorativo,
designando o caráter irrefletido e frequentemente dogmático dessas crenças, que se
revestem de uma certeza injustificada. Ex.: “o preconceito racial”. Entretanto, é
preciso admitir que nosso pensamento inevitavelmente inclui sempre preconceitos,
originários de sua própria formação, sendo tarefa da reflexão crítica precisamente
desmascarar os preconceitos e revelar sua falsidade (JAPIASSÚ, MARCONDES,
p.224, 2006).
Sendo assim, a pesquisa se revela na sua utilidade em desmascarar as crenças, é o que
estamos tentando fazer. A primeira etapa, que corresponde a este artigo, desconstruiu o
enunciado que recebia o estatuto de verdade, afirmador da associação diretamente
proporcional entre tristeza, vulnerabilidade e baixo rendimento. Os alunos que foram
considerados “tristes”, encaixados no Neuroticismo pela avaliação cinésica e etnográfica da
docente, revelaram ótimo desempenho na escrita e os inseridos na “Extroversão” pelo mesmo
processo mostraram suas habilidades na produção oral bem como uma elevada propensão a
motivar o grupo.
Em um segundo momento, precisamos nos apoiar ainda mais na Psicologia para
aprofundar os estudos sobre personalidade e ter uma compreensão um pouco mais elevada
acerca do comportamento do discente. Podemos estudar este comportamento nos utilizando
de inúmeras abordagens e inúmeros testes servem para mensurar esta categoria, cada um
correspondendo a uma diferente corrente teórica. Pasquali (2000) cita pelo menos sete:
Myers-Briggs Type Indicator (MBTI), Keirsey-Nates Temperament Sorter (KBTS), Guilford-
Zimmerman Temperament Survey (GZTS), Pleasure-Arousal-Dominance (PAD), Pavlovian
Temperament Survey (PTS), Student Temperament Assessment Record (STAR), Inventário
Fatorial de Temperamento (IFT).
O próximo passo da nossa pesquisa é construir uma relação dialógica com
profissionais da área da Psicologia de forma que estes nos ofereçam uma visão crítica a
respeito do arcabouço teórico utilizado aliadas a alternativas possíveis, e que discutam
conosco qual abordagem seria a mais adequada para um estudo etnográfico mais aprofundado
da sala, quais os questionários mais apropriados para serem aplicados na busca da
compreensão da personalidade e, que nesse sentido, sempre contribuam para o avanço desta
linha de trabalho.
O corpo pode revelar posturais corporais antagônicas, saber lê-las é essencial. A
professora em questão tendia muito a rotular seus alunos de acordo com suas características
de personalidade e atribuía certos tipos de habilidades apenas aos alunos mais extrovertidos
enquanto que julgava os mais introvertidos e tristes teriam baixa auto estima, self negativo de
si mesmos e isso influiria em suas crenças, desmotivando-os. Percebemos que, nesse caso
específico, isso não ocorreu e que esta situação é passível de se repetir várias vezes. Assim,
rompemos com o preconceito que liga neuroticismo a dificuldades em aprendizado e o
inverso: o que liga extroversão ao sucesso absoluto . Todos os modelos de personalidade tem
algo que, em um momento ou outro, fará o sujeito ter dificuldades na formação do seu
conhecimento, cabe ao professor reconhecer estes fatores e fazer um trabalho mais
personalizado em sala de aula. Algo que verifique uma dificuldade e a esclareça
pessoalmente.
Conforme as teorias de Weil e Tompakow (1973), a observação da comunicação não
verbal está relacionada à análise das posturas corporais e estas tem uma estreita ligação com a
personalidade e, consequentemente, com a auto estima dos indivíduos. Simultaneamente, a
leitura das pesquisas a respeito de motivação feitas por Dornyei (2004), revela haver conexões
diretamente proporcionais entre a imagem que o estudante faz de si mesmo, sua autoconfiança
e sua vontade de aprender uma segunda língua. Assim, a observação nos faz levantar ainda
mais questionamentos: se a postura corporal revela a personalidade, a comunicação não verbal
pode revelar o nível de motivação do discente? Para verificar as respostas a estas perguntas,
foi realizada uma pesquisa ação numa sala de aula de um curso livre de idiomas de uma
universidade pública do Estado de Goiás.
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