o universo infantil chega aos hospitais · no momento em que a sociedade brasileira de pediatria...

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3 Sociedade Brasileira de Pediatria N o 3 Ano I Dezembro / 98 - Janeiro / 99 Crianças e adolescentes fazem teatro em favela carioca 12 Advogado fala sobre “erro médico” 5 NOTÍCIAS Sociedade é contra habilitação para menores de 18 anos Zade, a boneca que ajuda crianças a enfrentar o medo de cirurgias no Albert Sabin, em Fortaleza O universo infantil chega aos hospitais (pgs. 6,7 e 9) SBP esclarece: a inscrição para sócio é anual 8 Selo vai certificar qualidade de produtos infantis 10 O universo infantil chega aos hospitais (pgs. 6,7 e 9) Angélica de Carvalho

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Page 1: O universo infantil chega aos hospitais · No momento em que a Sociedade Brasileira de Pediatria está empenhada numa Campanha Nacional de Prevenção de Aci-dentes na Infância e

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Sociedade Brasileira de Pediatria No 3 Ano I Dezembro / 98 - Janeiro / 99

Crianças eadolescentesfazem teatro emfavelacarioca

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Advogado falasobre“erro médico”

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N O T Í C I A S

Sociedade écontrahabilitação paramenores de 18anos

Zade, a boneca queajuda crianças a enfrentaro medo de cirurgias noAlbert Sabin, em Fortaleza

O universo infantilchega aos hospitais

(pgs. 6,7 e 9)

SBP esclarece: ainscriçãopara sócio é anual

8Selo vai certificarqualidade deprodutos infantis

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O universo infantilchega aos hospitais

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PALAVRA DA PEDIATRA

PALAVRA DO DIRETOR

PALAVRA DO PRESIDENTE

fácil, porém a responsabilidade é gran-de, quando se coloca como meta a ma-nutenção da qualidade, o aumento de dezvezes o número de assinantes e a redu-ção a um terço do custo da assinatura.Conseguimos, não sem valiosa colabo-ração dos companheiros da entidade,dois avanços de extrema importância em1998:l fazer chegar a cerca de 22.000 pedi-atras cadastrados na SBP um primeironúmero extra e para 16.000 sócios qui-tes, o segundo número extra, ou seja,mostrar para os que ainda não conheci-

stamos come-çando 1999

firmes no compro-misso assumido:dar continuidadeao já bem sucedi-do Programa Na-cional de Educa-ção Continuada

em Pediatria (PRONAP). Aceitar umadiretoria, com uma equipe que trabalhaharmonicamente, fica um pouco mais

An

lica d

e C

arva

lho

tuo em pedia-tria geral, com

uma atenção espe-cial aos adolescen-tes. Sou sócia daSBP há 13 anos.Tenho recebido aspublicações, queconsidero de mui-

ta valia. Gostei muito da proposta doPRONAP. Recebi o primeiro número eacho que, programas nestes moldes,deveriam existir com mais freqüência,abrangendo um número maior de temas,inclusive casos clínicos do dia a diado consultório.

Sempre que possível, tenho freqüen-tado cursos e congressos. Participei doVII Congresso Brasileiro de Adolescên-cia e II Congresso da ASBRA, em abril

passado, em Gramado (RS). Os Serõesem Goiânia têm atendido às expectati-vas, e gostaria de ressaltar que a Socie-dade Goiana de Pediatria é muito atuan-te, tendo nos propiciado muitas oportu-nidades de reciclagem com cursos, pa-lestras e congressos.

A situação do pediatra brasileiro estámuito delicada. É preciso que se façaurgentemente uma campanha de valori-zação do generalista. Com as sub-espe-cializações, a criança não tem sido vis-ta como um ser global e este esfacela-mento tem prejudicado muito a relaçãomédico-paciente, os objetivos prioritá-rios da pediatria, inclusive a pediatriapreventiva, a puericultura, os aspectosemocionais.

Também a situação das crianças eadolescentes é preocupante e o pedi-atra deve orientar a família desde onascimento. Uma consulta não pode

SBP NotíciasUma publicação da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Conselho Editorial: Lincoln Freire, Wania del Faveroe Reinaldo Martins.

Editora e coordenadora de produção: Maria CelinaMachado (reg. prof. 2.774/ MG) /ENFIM Comunicação;

Relações Públicas da SBP: Andréa de Souza;

Projeto gráfico e diagramação: Paulo Felício;

Estagiária: Daniela Zdanowsky;

Colaboram nesta edição: Aline Meira, Ana CristinaCosta, Cláudia Rodrigues, Jenny Valverde, José EudesAlencar, os fotógrafos Angélica de Carvalho e RogérioAlbuquerque, a Agência Lumiar (PE) e o ilustradorAliedo.Colaboraram também os funcionários da SBP;

Impressão: Grafline Artes Gráficas e Editora Ltda. Av.Mem de Sá 69 - Centro - Rio de Janeiro- RJ. Cep20230-150 Tel. (021) 221-6331.

Endereço para correspondência: SBP/ Rua SantaClara, 292.Copacabana, Rio de Janeiro. CEP 22041-010. RJ. Tel./Fax (021) 548-1999.E-mail: [email protected]: http://www.sbp.com.br

esde que as-sumi a presi-

dência da Socie-dade Brasileirade Pediatria, emabril de 1998,tenho viajado portodo o país man-tendo um contato

próximo com os pediatras das diferen-tes regiões. Por isso mesmo, pude cons-tatar as dificuldades dos profissionais,para se integrarem aos programas deeducação continuada, tanto pelo altocusto, como em função da baixa remu-neração recebida pela maioria dos co-legas.

Uma das missões mais importantes

da SBP é favorecer o processo de atua-lização dos que estão mais distantes dosgrandes centros. Esta preocupação vemdesde quando preparávamos o nosso Pla-no Diretor e hoje já instituímos algumasações que objetivam levar o conheci-mento de forma facilitada a esses pro-fissionais.

Já conseguimos diminuir significati-vamente o custo do Pronap, tornando-omais acessível. Estamos agora implan-tando os congressos regionais e os cur-sos itinerantes, sendo que 70% deverãoocorrer em cidades do interior do norte enordeste. Buscaremos contemplar anosologia prevalente em cada região, apartir de indicações de temas pelas filia-das e pelos próprios pediatras. As cida-des-sede já foram escolhidas e estamosbuscando patrocínios, para a viabilização

do projeto já a partir de fevereiro.Por sua vez, os Congressos Regionais

nascem com a vocação de oferecer aospediatras uma programação científicaadequada à sua realidade local, com au-las ministradas por professores da regiãoonde se realizam, além de profissionaisde renome em todo o país. Foi o que ocor-reu em novembro, em Recife, quandoestiveram presentes cerca de 80 profes-sores. A SBP investiu muito neste even-to, inclusive promovendo a reunião do seuConselho Superior naquela cidade, parafacilitar a participação dos professores nocurso, muitos deles diretores de nossaentidade. Em 1999 vamos realizar ou-tros dois congressos, o primeiro no cen-tro-oeste. O grande marco da Sociedadeem nossa gestão, no entanto, será o Con-gresso Brasileiro no ano 2000. Mas até

lá, nosso objetivo é oferecer diferentescanais de participação ao associado.

Tem merecido também a nossa aten-ção o I Fórum de Defesa Profissional,marcado para março, no Rio de Janei-ro. Estou empenhado, juntamente coma Diretoria e o Departamento Científi-co de Defesa Profissional, em realizarum encontro representativo, que definauma estratégia de atuação em prol dadignidade, da segurança no exercícioprofissional e de uma melhor remunera-ção para o pediatra. Estes, são, aliás,os meus votos para você em 1999. Epode estar certo, a SBP está ao seu lado,trabalhando para essa conquista.

Um grande abraço,

Lincoln FLincoln FLincoln FLincoln FLincoln FreirereirereirereirereirePara falar com o presidente, o endereço ele-

trônico é: [email protected]

am o PRONAP, uma das maneiras pelasquais a nossa Sociedade promove a edu-cação continuada à distância;l fechar um acordo de patrocínio, quepermita enviar aos sócios em dia comas suas anuidades, cinco números dosCORREIOS da SBP, com artigos de re-visão escritos por renomados professo-res, além de resumos de publicaçõesestrangeiras recentes, com comentári-os do nosso corpo editorial.

Quanto às novas inscrições, porquestões operacionais, a data limite é15 de fevereiro de 1999. Considero im-

portante também informar a todos que10% do valor da assinatura retorna paraa Filiada de origem do assinante, per-mitindo à Sociedade de Pediatria local,contar com esta verba extra, paradisponibilizar outros projetos. Por fim,quero assinalar que a receptividade doPRONAP, demonstrada por manifesta-ções carinhosas, sugestões e críticasconstrutivas, tem nos trazido a convic-ção de que estamos no caminho certo.

João CoriolanoJoão CoriolanoJoão CoriolanoJoão CoriolanoJoão CoriolanoDiretor do Pronap

se prender apenas aos processos or-gânicos. Sabemos que menores aban-donados existem em todos os níveissócio-econômicos, com pais ausentes,dentro de casa. E nós podemos atuarna diminuição da incidência do uso dedrogas, da evasão escolar e da gravi-dez na adolescência.

Ivana de Brito Arrais Lousaé pediatra em Goiânia..... FFFFFoi escolhida aleatoriamente

para participar deste espaço, que a cada edição vai

ouvir um profissional. Respondeu gentilmente a

perguntas elaboradas pelo SBP Notícias. . . . . O espa-

ço também está aberto para contribuições espontâ-

neas, desde que acompanhadas de identificação

(assinatura, nome completo legível, endereço, tele-

fone para contato, e-mail e-mail e-mail e-mail e-mail se houver). As cartas

devem ser enviadas para a sede da SBP (pelo cor-

reio, fax fax fax fax fax ou e-mail e-mail e-mail e-mail e-mail. Endereços no expediente) e

serão publicadas na íntegra ou parcialmente, por

critério de espaço.

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Pediatras alertam para o perigo da carteirinhapara adolescentes de 14 anos dirigirem motonetas

No momento em que a Sociedade Brasileira de Pediatria estáempenhada numa Campanha Nacional de Prevenção de Aci-dentes na Infância e na Adolescência, a resolução do ConselhoNacional de Trânsito (Contran), autorizando adolescentes apartir de 14 anos a dirigir legalmente motonetas de até 50cilindradas é motivo de preocupação. A liberação – veiculadapelos meios de comunicação – depende agora de regulamenta-ção pelos Departamentos Estaduais de Trânsito. O parecer da

r. José Américo de Campos, o que o preocu-r. José Américo de Campos, o que o preocu-r. José Américo de Campos, o que o preocu-r. José Américo de Campos, o que o preocu-r. José Américo de Campos, o que o preocu-pa na decisão do Contran?pa na decisão do Contran?pa na decisão do Contran?pa na decisão do Contran?pa na decisão do Contran?R:R:R:R:R: Estamos em Campanha para diminuir os alar-

mantes índices de óbitos e lesões que vitimam as cri-anças e os adolescentes e sabemos que, dentre os aci-dentes, os de trânsito estão em primeiro lugar, levandoà morte anualmente cerca de 7 mil jovens de até 18anos. Esta decisão do Contran, ao invés de atuar para

reverter esta situação, atorna mais grave, pois ha-bilita jovens que não estãomaduros para isto.P: O sr. acha que os mo-P: O sr. acha que os mo-P: O sr. acha que os mo-P: O sr. acha que os mo-P: O sr. acha que os mo-tociclos, por terem ape-tociclos, por terem ape-tociclos, por terem ape-tociclos, por terem ape-tociclos, por terem ape-nas 50 cilindradas, dei-nas 50 cilindradas, dei-nas 50 cilindradas, dei-nas 50 cilindradas, dei-nas 50 cilindradas, dei-xam de ser perigosos?xam de ser perigosos?xam de ser perigosos?xam de ser perigosos?xam de ser perigosos?R:R:R:R:R: Estes veículos podemfazer até 50 quilômetrospor hora. A esta velocida-de acidentes graves podem

acontecer. Temos que nos lembrar também que a sina-lização em nosso país costuma ser precária, que aspistas muitas vezes são escorregadias, mal ilumina-das e que não é nada fácil conseguir que os adolescen-tes usem capacetes e outras medidas de proteção. Ouseja, para os acidentes contribuem três fatores: umapessoa insegura, desprotegida de acessórios, um veí-culo perigoso e as ruas e estradas mal asfaltadas emovimentadas.P: E o fato da lei estabelecer que os jovens sóP: E o fato da lei estabelecer que os jovens sóP: E o fato da lei estabelecer que os jovens sóP: E o fato da lei estabelecer que os jovens sóP: E o fato da lei estabelecer que os jovens sópodem andar com as motonetas em ruas de pou-podem andar com as motonetas em ruas de pou-podem andar com as motonetas em ruas de pou-podem andar com as motonetas em ruas de pou-podem andar com as motonetas em ruas de pou-co movimento?co movimento?co movimento?co movimento?co movimento?R:R:R:R:R: Nas grandes cidades isto siginifica criar uma leipara ser infringida. Até porque o novo Código Nacio-nal de Trânsito não recebeu a implantação devida eadequada em todo o território nacional. Basicamentese estabeleceram as multas.P: Dra. Darci Bonetto, por que os adolescentesP: Dra. Darci Bonetto, por que os adolescentesP: Dra. Darci Bonetto, por que os adolescentesP: Dra. Darci Bonetto, por que os adolescentesP: Dra. Darci Bonetto, por que os adolescentesnão estão aptos a dirigir antes dos 18 anos?não estão aptos a dirigir antes dos 18 anos?não estão aptos a dirigir antes dos 18 anos?não estão aptos a dirigir antes dos 18 anos?não estão aptos a dirigir antes dos 18 anos?R:R:R:R:R: Os adolescentes não têm o amadurecimento neuro-psíquico que lhes daria condições de tomar decisõesrápidas em momentos de perigo. Além disso, pelas

SBP, contrário a qualquer carteira de motorista antes dos 18anos, foi assinado pelo presidente, Lincoln Freire, pelo diretorde Promoção Social, João Régis e pelos presidentes dos Depar-tamentos Científicos de Defesa dos Direitos da Criança, CéliaSilvany, Adolescência, Darci Bonetto e Segurança da Criança edo Adolescente, José Américo de Campos, remetido ao Contrane outras instituições. Em entrevista ao SBP NotíciasSBP NotíciasSBP NotíciasSBP NotíciasSBP Notícias, os diri-gentes dos Departamentos falam sobre o assunto.

FALAM OS ESPECIALISTAS

R:R:R:R:R: Esta lei, na verdade, infringe odireito à vida, à saúde e à seguran-ça garantidos pelo Estatuto da Cri-ança e do Adolescente (ECA) e pelaConstituição brasileira, em seu ar-tigo 227, aquele que estabelececomo dever da família, da socieda-de e do Estado assegurar à criançae ao adolescente, com absoluta pri-oridade, todos estes direitos.P: E quanto às punições previs-P: E quanto às punições previs-P: E quanto às punições previs-P: E quanto às punições previs-P: E quanto às punições previs-tas para os adolescentes que in-tas para os adolescentes que in-tas para os adolescentes que in-tas para os adolescentes que in-tas para os adolescentes que in-fringirem a legislação?fringirem a legislação?fringirem a legislação?fringirem a legislação?fringirem a legislação?

R:R:R:R:R: Acho importante lembrarmos que as medidas con-tidas no Estatuto não estão implantadas com a eficiên-cia necessária no país. Ou seja, a Lei de Trânsito é amesma para adultos e adolescentes, mas quando ocor-re uma infração, estes estãosujeitos às punições definidaspelo ECA, que estabelece me-didas sócio-educativas comouma forma legal de tratar osadolescentes infratores. Ecabe aqui perguntarmos:quantos estados têm estes es-tabelecimentos apropriados auma verdadeira reeducação?E quantos têm estrutura paraaplicar uma pena de liberda-de assistida ou regime de semi-liberdade, no qual épreciso que haja um orientador, que vai acompanhar ocaso nos seus vários desdobramentos?P: E sobre as condições especiais previstas nestaP: E sobre as condições especiais previstas nestaP: E sobre as condições especiais previstas nestaP: E sobre as condições especiais previstas nestaP: E sobre as condições especiais previstas nestalei?lei?lei?lei?lei?R:R:R:R:R: As próprias condições discutidas para a concessãoda carteira de habilitação a adolescentes – como aautorização dos pais ou responsáveis, a autorizaçãodo juiz competente e apólice de seguro de responsabi-lidade civil – já constatam a completa imaturidade bio-psíquica do adolescente de 14 a 18 anos. Portanto, aconcessão da carteirinha é uma incoerência sob o pon-to de vista científico e ético. n

próprias características desta fase da vida, eles sãoimpulsivos, gostam de desafiar a si próprios, aos pais,ao perigo e ao mundo. Para um adolescente, quantomais adrenalina melhor. E quem vai impedir o jovemsozinho ao volante de realizar uma aventura?P: Segundo o que foi divulgado, em caso de aci-P: Segundo o que foi divulgado, em caso de aci-P: Segundo o que foi divulgado, em caso de aci-P: Segundo o que foi divulgado, em caso de aci-P: Segundo o que foi divulgado, em caso de aci-dente os pais seriam responsabilizados. Traba-dente os pais seriam responsabilizados. Traba-dente os pais seriam responsabilizados. Traba-dente os pais seriam responsabilizados. Traba-dente os pais seriam responsabilizados. Traba-lhando há 18 anos com adolescentes, o que alhando há 18 anos com adolescentes, o que alhando há 18 anos com adolescentes, o que alhando há 18 anos com adolescentes, o que alhando há 18 anos com adolescentes, o que asra. pensa sobre isto?sra. pensa sobre isto?sra. pensa sobre isto?sra. pensa sobre isto?sra. pensa sobre isto?R: Será que os pais, ao responderem pelas infraçõescometidas ou acidentes ocorridos com seus filhos, nãovão estar contribuindo para que eles se transformemem adultos irresponsáveis?Não podemos esquecer tam-bém que o consumo do álco-ol (e tam-bém de dro-gas ilícitas)l a m e n t a v e l -mente vem cres-cendo entre os adolescen-tes no país. Ninguém temdúvidas sobre o perigo quehá na combinação entre ál-cool e volante. E se um pai não consegue impedir queseu filho beba, vai impedir que ele dirija alcoolizado?P: Dra. Célia Silvany, sob o ponto de vista daP: Dra. Célia Silvany, sob o ponto de vista daP: Dra. Célia Silvany, sob o ponto de vista daP: Dra. Célia Silvany, sob o ponto de vista daP: Dra. Célia Silvany, sob o ponto de vista dalegislação específica para crianças e adolescen-legislação específica para crianças e adolescen-legislação específica para crianças e adolescen-legislação específica para crianças e adolescen-legislação específica para crianças e adolescen-tes, qual o seu comentário?tes, qual o seu comentário?tes, qual o seu comentário?tes, qual o seu comentário?tes, qual o seu comentário?

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Dr. José Américo

Dra. Darci Bonetto

Dra. Célia Silvany

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Um olhar sobre a históriaPioneiro aponta caminhos para o futuro

MEMÓRIA’

jovem poeta e compositor Cazuzacostumava dizer que “o tempo nãopára”. Mas para ele e tantos ou-tros, unidos na genialidade e na

doença, o relógio parou cedo demais...Banir o espectro da morte sem-pre foi a maior batalha em todasas épocas. Sob este signo, nas-ceu e desenvolveu-se o estudo ea prática da pediatria científicano Brasil. Longe de dragões equimeras, mas enfrentando mui-tas vezes inimigos poderosos, al-guns igualmente jovens e incon-formados, desbravaram com co-ragem os caminhos daquela quebem poderia ser denominada “aarte de proteger e zelar”. Para re-cuperar um pouco desta trajetó-ria, o SBP Notícias ouviu umdos construtores da pediatria noBrasil, o dr. Azarias de AndradeCarvalho.

Dos primórdios do século, apartir do Rio de Janeiro, quandodespontaram figuras como CarlosArthur Moncorvo de Figueiredo,considerado o Pai dos PediatrasBrasileiros, Moncorvo Filho e FernandesFigueira – o fundador da Sociedade Bra-sileira de Pediatria – ao passado recen-

crianças foi ensinada por Margarido Fi-lho e Olindo Chiafarelli. O curso e o es-tágio eram ministrados no próprio con-sultório particular. Deixaram excelentesdiscípulos, como Gomes de Matos, fun-

dador da Clínica Infantil do Ipiranga eVicente Batista, introdutor do estudo dasvitaminas entre nós. Na Bahia, o ensinoficou a cargo de Francisco CastroRabello Koch. Estes professores tiveramdiscípulos que se espalharam pelo Bra-sil afora”.

É uma trajetória que começa com tí-midas medidas de proteção e assistên-cia à infância e à maternidade, até evo-luir para as atuais políticas públicas eações globais maciças, como resultadode um diagnóstico crítico-reflexivo so-bre a situação das crianças e adolescen-tes no país e o papel do pediatra nestecontexto. De acordo com o dr. Azarias,a especialidade desenvolveu-se sobre-tudo devido ao aperfeiçoamento da for-mação e abrangência das ações apoia-das no passado e no presente.

Segundo ele, há três ou quatro déca-das, a preocupação principal da pedia-tria no Brasil, era manter uma puericul-tura simples e efetiva, de acordo com a

natureza da criança e acessível aosmédicos e familiares. Posteriormente,continua, “ingressou-se em uma etapade maior aprofundamento no estudo daspatologias infantis. As viagens de al-

guns colegas ao exterior trouxeram co-nhecimentos que foram aplicados e re-lacionados às condições em que vive-mos”, explica. Da mesma forma, o en-sino especializado, antes procurado foradas Escolas Médicas, principalmente naFrança e na Alemanha – e, mais recen-temente nos Estados Unidos – adquiriuimportância no país.

A queda gradativa dos índices de

A pediatria brasileira éaceita e respeitada em to-dos os círculos acadêmicosdo mundo

Apesar dos progressos, boaparte da população mater-no-infantil ainda é carentedos elementos fundamentaispara uma saúde integral

na qualidade de ensino, com a implan-tação de residências médicas, especia-lizações e centros de referência, tam-bém contribuiu para a mudança destecenário. A pediatria brasileira passou a

ser aceita e respeitada em todosos círculos acadêmicos do mun-do e o intercâmbio de trabalhoscom países mais adiantadosconstitui estímulo permanente àsua prática.

Para o dr. Azarias, o momen-to atual aponta uma nova tendên-cia gerada pela abordagem ple-na dos aspectos relativos à cri-ança, tornando os benefícios daciência e os conhecimentos mé-dicos acessíveis à população, enão apenas privilégio para umaminoria favorecida do ponto devista sócio-econômico. “Estáhavendo uma grande expansãodos programas de pediatria so-cial e comunitária, com base emações específicas de nutrição,imunização e cuidados gerais”,observa, ressalvando que apesardesse progresso, boa parte da po-

pulação materno-infantil ainda é carentedos elementos fundamentais para a cons-trução de uma saúde integral.

“A criança, como flor que desabro-cha, é o encanto para quem tem amor eadmiração pelo que é belo. Ela vai setransformar naquele que pretende domi-nar o mundo e deve merecer toda prote-ção desde a sua geração”, poeta o pedi-atra, indo além: “Quanto melhores fo-rem as condições sociais em que vivemas crianças, tanto menor o sofrimento ea mortalidade. E quanto piores foremessas condições, mais sofrerão e maiornúmero falecerá pela falta de recursos”,conclui nesta simples equação. Para ele,“ os pediatras têm procurado, atravésda assistência individual ou comunitá-ria; preventiva ou curativa; ou, pelomenos que abranja toda a comunidade– cujo maior exemplo é a própria açãoda SBP – dar às crianças o apoio neces-sário e o direito de desfrutar o futuro comsaúde e satisfação”. •

mortalidade infantil por doenças infecto-contagiosas nos últimos trinta anos, nãodeixa dúvidas quanto à eficácia dos pro-gramas de saúde pública e os avançosdos centros de pesquisa, tratamento ediagnóstico das moléstias. A melhoria

te, com a influência de mestres comopor exemplo Pedro de Alcântara, Álvarode Aguiar, Walter Telles, LeonelGonzaga, Hélio de Martino, Luís TorresBarbosa, J. Renato Woiski (Ribeirão Pre-to), Eduardo Marcondes (SP), AntônioMárcio Lisboa (DF) e o próprio Azariasde Andrade Carvalho, muito se tem fei-to pela assistência médico-social da cri-ança brasileira.

Segundo lembra o dr. Azarias, “já naSão Paulo nos anos 30, a medicina de

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Medicina, ética e legislaçãoO primeiro Fórum de Defesa Profissional organizadopela SBP vai discutir vários temas de interesse do pe-diatra. Uma das mesas redondas será sobre o chama-do “erro médico” e outras polêmicas que envolvem as

I Fórum de Defesa Profissional da SBPI Fórum de Defesa Profissional da SBPI Fórum de Defesa Profissional da SBPI Fórum de Defesa Profissional da SBPI Fórum de Defesa Profissional da SBP

Dias 19 e 20 de março de 1999, no Rio de Janeiro.No programa, cinco mesas-redondas sobre: Coo-perativas de especialidade e central de convênio;O que a Unimed pode fazer pelo pediatria?; Listade Procedimentos Médicos da AMB; Erro Médicoe Managed Care.

função do encaminhamento, não traga prejuízos à suasaúde. Todos os fatos devem ser devidamente anota-dos em documentos.P: E quando a família quer, por algum motivo,P: E quando a família quer, por algum motivo,P: E quando a família quer, por algum motivo,P: E quando a família quer, por algum motivo,P: E quando a família quer, por algum motivo,retirar uma criança que está internada em umretirar uma criança que está internada em umretirar uma criança que está internada em umretirar uma criança que está internada em umretirar uma criança que está internada em umhospital, sem condições de receber alta. O que ohospital, sem condições de receber alta. O que ohospital, sem condições de receber alta. O que ohospital, sem condições de receber alta. O que ohospital, sem condições de receber alta. O que opediatra deve fazer? Se a criança corre risco depediatra deve fazer? Se a criança corre risco depediatra deve fazer? Se a criança corre risco depediatra deve fazer? Se a criança corre risco depediatra deve fazer? Se a criança corre risco devida, ele deve chamar a polícia?vida, ele deve chamar a polícia?vida, ele deve chamar a polícia?vida, ele deve chamar a polícia?vida, ele deve chamar a polícia?R:R:R:R:R: O melhor caminho é, sem dúvida, chamar a polí-cia. Em nosso entendimento, quem está ferindo os di-reitos de tal criança, ou mesmo cometendo um crime,neste caso, é a família.P: Se uma criançaP: Se uma criançaP: Se uma criançaP: Se uma criançaP: Se uma criançaprecisa receberprecisa receberprecisa receberprecisa receberprecisa receberuma transfusão deuma transfusão deuma transfusão deuma transfusão deuma transfusão desangue e a famíliasangue e a famíliasangue e a famíliasangue e a famíliasangue e a famíliaestá impedindo,está impedindo,está impedindo,está impedindo,está impedindo,a legando mot ivosalegando mot ivosalegando mot ivosalegando mot ivosalegando mot ivosreligiosos, o que oreligiosos, o que oreligiosos, o que oreligiosos, o que oreligiosos, o que omédico deve fazer?médico deve fazer?médico deve fazer?médico deve fazer?médico deve fazer?O pediatra tem res-O pediatra tem res-O pediatra tem res-O pediatra tem res-O pediatra tem res-paldo legal para le-paldo legal para le-paldo legal para le-paldo legal para le-paldo legal para le-var a questão aovar a questão aovar a questão aovar a questão aovar a questão aojuizado de meno-juizado de meno-juizado de meno-juizado de meno-juizado de meno-res?res?res?res?res?R:R:R:R:R: O médico nãopode, de maneira al-guma, deixar de utili-zar todos os meios pos-síveis e legalmenteconhecidos para pres-tar melhor atendimen-to, o que, em muitoscasos, significa a vidaou a morte. Não exis-te nenhum documentojurídico que ampare omédico que deixou de proceder a transfusão de san-gue em paciente que necessitava. No meu entendi-mento, o médico não precisa de amparo judicial para“salvar uma vida”.Mas, se ainda assim quiser, poderá recorrer a qual-quer autoridade (juizado de menores, promotor de jus-tiça, juiz de direito ou ao delegado de polícia) comuni-cando o fato, solicitando autorização e a tomada deprovidências cabíveis, que, neste caso, implicarão emprocesso judicial contra os familiares desta criança,por violação do Estatuto da Criança e do Adolescente.

PROFISSÃO~

P: Quando uma acusação é feita, como o médicoP: Quando uma acusação é feita, como o médicoP: Quando uma acusação é feita, como o médicoP: Quando uma acusação é feita, como o médicoP: Quando uma acusação é feita, como o médicodeve se portar em relação à imprensa?deve se portar em relação à imprensa?deve se portar em relação à imprensa?deve se portar em relação à imprensa?deve se portar em relação à imprensa?R:R:R:R:R: Nossa experiência nos mostra que o ideal é semprereceber a imprensa e contar a verdade, resguardando,é claro, o segredo médico. Aquele médico que se re-cusa a dar uma entrevista permite que “outros falempor ele”.P: E quanto à assistência jurídica? O que oP: E quanto à assistência jurídica? O que oP: E quanto à assistência jurídica? O que oP: E quanto à assistência jurídica? O que oP: E quanto à assistência jurídica? O que osr. aconselha a quem é acusado de erro mé-sr. aconselha a quem é acusado de erro mé-sr. aconselha a quem é acusado de erro mé-sr. aconselha a quem é acusado de erro mé-sr. aconselha a quem é acusado de erro mé-dico? A primeira providência é chamar umdico? A primeira providência é chamar umdico? A primeira providência é chamar umdico? A primeira providência é chamar umdico? A primeira providência é chamar umadvogado?advogado?advogado?advogado?advogado?R:R:R:R:R: Sem dúvida, é essencial que se tenha um advogado

atuando em todos os casosde denúncia de “erro médi-co”. Porém, existem medi-das anteriores a esta a se-rem tomadas, tais como:- Imediatamente providenci-ar cópias, se possível auten-ticadas, de todos os docu-mentos referentes ao pacien-te, visto que não são poucosos casos de papeleta e ou-tros documentos que “so-mem” nos hospitais;- Discutir o caso com os co-legas que também atuaramnele, e também com a enfer-magem, funcionários admi-nistrativos e diretoria clíni-ca;- Pesquisar literatura médi-ca que dê amparo à condutatomada e esclareça a evolu-ção do caso.P: O que as entidadesP: O que as entidadesP: O que as entidadesP: O que as entidadesP: O que as entidadespodem fazer para con-podem fazer para con-podem fazer para con-podem fazer para con-podem fazer para con-

tribuir na prevenção de casos de “erro mé-tribuir na prevenção de casos de “erro mé-tribuir na prevenção de casos de “erro mé-tribuir na prevenção de casos de “erro mé-tribuir na prevenção de casos de “erro mé-dico”?dico”?dico”?dico”?dico”?R:R:R:R:R: Minas Gerais foi pioneira na busca efetiva da dis-cussão e proteção aos médicos acusados de “erromédico”. Criou, com a Associação Médica e o Sindi-cato, há sete anos, a Comissão Estadual do Médico,órgão que visa defender o médico injustamente acusa-do, mas, principalmente, discutir e preparar o profissi-onal para atuar melhor, evitando e se prevenindo depossíveis acusações. Entendemos que esta iniciativadeveria ser difundida em todo país. •

leis e a prática médica. Em entrevista ao SBP NotíciasSBP NotíciasSBP NotíciasSBP NotíciasSBP Notíciaso advogado Fernando Mitraud Ruas, da Comissão Es-tadual do Médico de Minas Gerais, adianta algumasdas questões que preocupam a categoria.

que é exatamente “erro médico”?que é exatamente “erro médico”?que é exatamente “erro médico”?que é exatamente “erro médico”?que é exatamente “erro médico”?Dr. Fernando Mitraud:Dr. Fernando Mitraud:Dr. Fernando Mitraud:Dr. Fernando Mitraud:Dr. Fernando Mitraud: O termo “erro médi-co” não é utilizado pela legislação brasileira, tra-

ta-se, na verdade, da conduta médica que possa serqualificada como negligente, imprudente ou imperita.P: Existe relação entre as condições de traba-P: Existe relação entre as condições de traba-P: Existe relação entre as condições de traba-P: Existe relação entre as condições de traba-P: Existe relação entre as condições de traba-lho (jornadas longas, falta de equipe, falta delho (jornadas longas, falta de equipe, falta delho (jornadas longas, falta de equipe, falta delho (jornadas longas, falta de equipe, falta delho (jornadas longas, falta de equipe, falta delaboratório), os baixos salários, e o chamadolaboratório), os baixos salários, e o chamadolaboratório), os baixos salários, e o chamadolaboratório), os baixos salários, e o chamadolaboratório), os baixos salários, e o chamado“erro médico”?“erro médico”?“erro médico”?“erro médico”?“erro médico”?R:R:R:R:R: Sem dúvida podemos visualizar, em alguns casos,

tal relação. Mas, de maneira al-guma, ela pode amparar a máprestação de serviços médicos.O médico não pode simples-mente se adequar ao sistema,devendo sempre denunciar asmás condições de trabalho aosConselhos profissionais(CRM,CFM), Ministério Públi-

co, Justiça e órgãos governamentais.P: Em que medida a formação que é dada nasP: Em que medida a formação que é dada nasP: Em que medida a formação que é dada nasP: Em que medida a formação que é dada nasP: Em que medida a formação que é dada nasuniversidades brasileiras tem responsabilidadeuniversidades brasileiras tem responsabilidadeuniversidades brasileiras tem responsabilidadeuniversidades brasileiras tem responsabilidadeuniversidades brasileiras tem responsabilidadeno assunto?no assunto?no assunto?no assunto?no assunto?R:R:R:R:R: A formação universitária é fundamental em qual-quer profissão, mas na medicina ela nos parece ain-da mais essencial. O médico, na maioria das vezes,se forma sem sequer conhecer o Código de ÉticaMédica. Mas a medicina não pode ser só técnica.Carecemos, cada vez mais, de formação humanística,de conhecimentos básicos de direito, não só por par-te dos médicos, mas também dos pacientes.P: O médico em greve é obrigado a atender?P: O médico em greve é obrigado a atender?P: O médico em greve é obrigado a atender?P: O médico em greve é obrigado a atender?P: O médico em greve é obrigado a atender?R:R:R:R:R: Conforme determina a legislação sobre a matéria,é necessário que se mantenha uma escala mínima deplantão. O plantonista deve fazer um atendimento pré-vio e só encaminhar para outros centros de saúde ospacientes que realmente não precisem de atendimentoimediato, ou seja, que o atraso no atendimento, em

Dr. Fernando Mitraud

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Hospitais mais próximos do universo da criançaA tendência ainda encontra barreiras, mas está em implantação no país

formando em brincadeira a dura rotina das criançasinternadas. Realizando “transfusões de milk-shake”,“transplantes de nariz vermelho” e principalmente“extraindo o mau humor”, Wellington Nogueira e suatrupe, criada há mais de seteanos em São Paulo – ondeatuam regularmente em seishospitais – expandiram seutrabalho a Campinas e Riode Janeiro.

Em vários estados, dife-rentes hospitais já desenvol-vem trabalhos exemplares. OAlbert Sabin, de Fortaleza,Ceará, trabalha com um pro-jeto humanitário que é ante-rior ao Estatuto da Criançae do Adolescente e à Consti-tuição de 1988. O Mãe Par-ticipante garante o acompa-nhamento a 270 crianças in-ternadas. Paralelamente, ohospital criou o Recanto dasMães, uma série de cursos profissionalizantes (mani-cure, cartonagem, corte e costura, entre outros) queas ajudam tanto econômica, quanto psicologicamente.As crianças com câncer têm uma área totalmente es-pecial, chamada de Peter Pan. As salas para o trata-mento de quimioterapia têm poltronas de ônibus leito,ao invés de camas. A criança senta ao lado da mãe epode curtir os peixes do aquário e a decoração da en-fermaria, toda baseada na Terra do Nunca de PeterPan. Este projeto tem a colaboração de 230 cidadãoscearenses, que apadrinharam os pacientes e suas fa-mílias, ampliando a chance de cura com seu carinho,atenção e também com cestas básicas especiais e atéajuda com emprego.

O Cirurgia Sem Medo surgiu em 1995, quando adra. Ana Maria Cavalcante e Silva, membro do Depar-tamento Científico de Cuidados Primários da SBP, as-sumiu a direção do Albert Sabin. Nasceu paradesmistificar o pavor que a criança e a família tinhamde uma operação. Na sala do pré-operatório, as crian-ças brincam com um mini centro cirúrgico de playmobil.O cenário dá direito à máscara, injeção e tudo o queexiste num centro cirúrgico de verdade. Uma psicólo-ga explica como será a cirurgia, com a ajuda de umaboneca chinesa chamada Zade, que pode ser aberta eter seus órgãos removidos. Nada é escondido da cri-ança. “Este programa reduziu muito o uso de pré-anes-tésicos. As crianças vão para a cirurgia caminhandonormalmente”, conta a dra. Ana Maria. Além destesprojetos, o hospital trabalha com outros onze, que es-

tão catalogados em um livro, a ser lançado ainda noinício de 1999. Dentre eles, o ABC Saúde, que garan-te acompanhamento escolar para doenças crônicas, oMãe Canguru e o Cidade da Criança.

Desde que o primeiro Decálogo dos Direitosda Criança Hospitalizada foi elaborado peloColégio Médico do Chile, em 1922, a idéia detransformar o ambiente hospitalar em um lo-

cal mais adequado ao mundo da criança já chegou avários países. Em 1986, a Carta Européia das Crian-ças Hospitalizadas foi o pontapé inicial para osurgimento da Associação Européia da Criança Hos-pitalizada (EACH), entidade com atuação em quasetodos os países do velho continente. No Brasil, a Soci-edade Brasileira de Pediatria elaborou, em 1995, os20 Direitos da Criança e do Adolescente Hospitaliza-do. Aprovado pela 27ª Assembléia Extraordinária doConselho Nacional dos Direitos da Criança e do Ado-lescente, o projeto se transformou na Resolução nú-mero 41 do Conanda e do Ministério da Justiça.

De acordo com a então representante da SBP noConselho, dra. Célia Silvany, a Resolução é fundamen-tal para a transformação do ambiente hospitalar e ser-ve como um referencial de conduta para os profissio-nais envolvidos na rotina das instituições. Segundo ela,a chamada humanização dos hospitais é uma tendên-cia mundial que tem crescido também no Brasil. NoRio de Janeiro, a Sociedade de Pediatria do Estado,Soperj, a definiu como eixo de trabalho para 1999 eacaba de ser convidada pela Secretaria de Saúde paraimplantar o Projeto Mãe Canguru em seis unidadespúblicas do município. Dirigido aos prematuros – cri-anças de baixo peso,mas sem patologias– é um trabalho quedispensa a incubado-ra, mantendo o bebêjunto ao colo damãe.

Quanto às resis-tências ainda encon-tradas entre os pró-prios profissionaisde saúde, o dr.Donizetti DimerGianberardino Filho,presidente do De-partamento de Cui-dados Hospitalares da SBP, as associa ao desenvolvi-mento tecnológico da medicina, que acabou acostu-mando o corpo médico e de enfermagem a tratar opaciente com mais distanciamento. “Os estudos debioética dizem que medicina é arte e ciência. Em pe-diatria, este binômio deve estar muito mais ligado”,frisa. Prova disto é o crescimento do trabalho dos Dou-tores da Alegria, um grupo de 25 atores profissionaisque se dedica a visitar instituições hospitalares, trans-

REPORTAGEM

É importante entender os direitos dacriança hospitalizada não comocaridade, mas como um programacientífico

Criança tem direto a acompanhamento.Inclusive na UTI

No Instituto Materno-Infantil de Pernambuco (IMIP)também já existe a filosofia de facilitar a permanênciadas mães 24 horas por dia, em qualquer setor do hos-pital, incluindo berçário e terapia intensiva. Ao todo,são 160 leitos pediátricos, 100 leitos de cirurgiapediátrica, 14 leitos de terapia intensiva, 40 leitos deberçário e 120 leitos nas áreas de ginecologia e obs-tetrícia, destinados à atenção da mulher. Além do apoiopsicológico dado às mães, existe uma casa, dentro daprópria estrutura hospitalar, destinada ao repouso, hi-giene, guarda de roupas e recepção de visitas.

Segundo o diretor clínico da instituição, o dr. RubenSchindler Maggi, no início era grande a resistência

dos profissionais em relação ao acompanhamento naUTI. Temia-se um aumento da taxa de infecção hospi-talar. Passados 12 anos, isto não se comprovou. “Atéporque o acompanhante da criança hospitalizada – quepode ser a mãe, pai ou responsável – tem que fazertodo um treinamento, que abrange como proceder na

Dr. Donizetti Dimer observa que a hu-manização tem reduzido o tempo de in-ternação das crianças

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No Giselda Trigueiro, em Natal, as crianças usam o teatro como terapia

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sua própria higiene e a utilização de roupa apropriadadentro da UTI”, explica.

O IMIP também tem seu projeto Mãe Canguru,que segundo o dr. Ruben é fundamental para a recu-peração dos bebês prematuros. Outro trabalho im-portante realizado pelo Instituto é com o aleitamentomaterno, tanto na UTI pediátrica, quanto na UTIneonatal. Como manda o figurino, mesmo quando osbebês não podem sugar, o leite é extraído manual oumecanicamente, até que possam mamar por si pró-prios, sem mamadeiras.

A dra. Célia Silvany, que hoje preside o Depar-tamento de Defesa dos Direitos da Criança e doAdolescente da SBP, explica que é importante en-tender os 20 Direitos da Criança e do AdolescenteHospitalizado não como caridade ao próximo, massim como um programa científico. “Na literaturamundial já existem trabalhos comprovando que oestresse, a ansiedade e omedo interferem muito nosistema imunológico”,diz. Ela acrescenta que“quando a criança apre-senta um desses quadros,geralmente, a resposta aotratamento e os métodosde diagnóstico se tornambastante difíceis, interfe-rindo negativamente nosexames laboratoriais”.

Um exemplo dos bene-fícios da internação comdireitos está nos programasdesenvolvidos no HospitalSanto Antônio, que faz par-te das obras de Irmã Dul-ce, em Salvador. Por abri-gar diversas especialida-des, além de garantir oacompanhamento da mãe,pai ou responsável duran-te todo o tempo de inter-nação, os coordenadoresde especialidades ainda criaram mecanismos que pos-sibilitam um check-up para o acompanhante. No casoda mãe, ela faz, dentre outros exames, o preventivo decâncer e a avaliação cardiológica. O Programa Co-nheça Seu Hospital permite aos acompanhantes umainteração com a instituição e sua rotina de trabalho.

Criança tem direitos na relação médico-pacienteA dra. Célia Silvany frisa também que não se pode

esquecer que o processo de aproximação da mãe e dacriança internada ao ambiente hospitalar passa pelarelação médico-paciente. O médico deve dar todas asinformações sobre o caso e os procedimentos que se-rão realizados, não deixando de falar sobre a medica-ção que a criança está tomando e em que quantidade.“A humanização deve começar na universidade. Na

Bahia, já desenvolvemos este trabalho na Escola deMedicina e Saúde Pública da Universidade Católica.Parte dos estudantes compõem nosso quadro na pedia-tria. São 22 vagas para residentes, além daquelas des-tinadas aos alunos da pós-graduação e internos da fa-culdade de medicina”, explica a professora titular dainstituição. A pediatra acrescenta que é muito impor-tante chamar o paciente pelo nome, reforçando suaidentidade. “Não se deve conversar na presença deuma criança como se ela não estivesse ali”, frisa.

No Rio Grande do Norte, a experiência do Hospitalde Doenças Infecciosas Giselda Trigueiro começou demaneira diferente. Em 1994, o corpo médico da pedia-tria teve que entrar com um mandado judicial para ga-rantir o acompanhamento de uma criança em estadograve. A partir daí, estes profissionais passaram a sereunir para tentar resolver estes e outros problemas queocorriam nas enfermarias. Assim surgiu o Sorriso de

No Paraná, a situação também não é diferente.Maior hospital pediátrico da região sul do Brasil, com70% dos leitos do SUS de Curitiba, o Pequeno Prínci-pe conseguiu reduzir de 12 para 6 dias o tempo deinternação das crianças a partir da implantação dahumanização, em 1991. Segundo o dr. Donizetti Dimer,que é diretor do hospital, o programa Família Partici-pante resume a prática do Pequeno Príncipe. Os 320leitos fazem do hospital uma referência não só nacapital, como nas cidades do interior e na periferiade Curitiba.

Além da companhia da mãe ou de um responsável,o hospital montou um esquema de revezamento entreos familiares. Quem quiser acompanhar a criança in-ternada deve passar por um rápido treinamento de 30minutos para saber a rotina de funcionamento da insti-tuição – que é filantrópica e conta com 1 mil funcioná-rios, entre enfermagem, pessoal de apoio e 150 médi-

cos. Ao lado de cada leitoexiste uma poltrona para oacompanhante. Para o repou-so, foi criada uma sala combanheiros e dez camas. Dr.Donizetti conta que é comumver pessoas que não são dafamília do paciente transitan-do pelo hospital, revezandocom a família. “Não importase o acompanhante é paren-te. O que nos interessa é queseja alguém ligado à criança”.Este ano, a humanização noPequeno Príncipe chegou atéos 36 leitos da UTI. E os mé-dicos já observam que as cri-anças têm ficado menos tem-po no respirador artificial.

Um outro programa –ainda em fase de implanta-ção – também é voltado to-talmente para os direitos dacriança e do adolescentehospitalizado. Ele é compos-

to por um núcleo de profissionais de todas as cate-gorias e funciona como detector de atitudes e roti-nas já estabelecidas no hospital que venham ferir aDeclaração dos Direitos da Criança e do Adoles-cente. Um exemplo é o da ordem de Nada Por ViaOral (NPO). Normalmente, este procedimento é ado-tado para evitar que o paciente beba ou coma 12horas antes de se submeter à anestesia. Segundo odr. Donizetti, não era cabível generalizar esta nor-ma. “Um lactente não pode ficar 12 horas sem nadano organismo. Ao negarmos esta refeição, estamosferindo a Declaração. Por isso, voltamos nossa aten-ção para que, de acordo com a faixa etária, sejarespeitado um adequado limite de horas. No casode lactentes, estipulamos em duas horas antes daanestesia”, explica. (continua na página 9)

Criança, projeto que conta com parceiros, que garanti-ram a aquisição das camas para as mães acompanhan-tes, os brinquedos para a recreação, entre outras con-quistas. Seu pioneirismo levou a equipe a visitar outroshospitais, compartilhando o conhecimento adquirido.

Como apoio ao acompanhante do paciente do pro-jeto, o Lugar da Palavra serve de sala de desabafo,“onde as mães contam aos psicólogos suas angústiase preocupações e recebem orientações para a recupe-ração dos filhos”, explica o infectologista FranciscoAmérico Micussi, médico assistente do Setor de Pedi-atria do Giselda Trigueiro. O Hospital também apóia obrincar como resposta terapêutica. Uma equipe for-mada por dois auxiliares de enfermagem fez curso debrinquedista em São Paulo e acompanha as crianças,que não têm hora marcada para a brincadeira.

Os Doutores da Alegria usam técnicas circenses para amenizar a dureza da rotina hospitalar

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Simpósio em Belém do ParáO I Simpósio Paraense de Atenção à Criança e Adoles-cente Portador de Necessidades Especiais, realizadopela Sociedade Paraense de Pediatria, em outubro de1998, contou com 511 participantes, entre professo-res, pediatras, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos,psicólogos, neurologistas e psiquiatras, além de 33 con-ferencistas. Um dosobjetivos do eventofoi sensibilizar os pro-fissionais, especial-mente os pediatras,para a importância dotrabalho multidiscipli-nar na recuperação ena integração dosportadores de neces-sidades especiais.Foram realizadosquatro cursos pré-simpósio, com os temas introduçãoe intervenção neonatal, follow-up do RN de risco,orteses e adaptações e reanimação neonatal. De acor-do com dra. Amira Figueiras, que presidiu o evento, éimportante que o trabalho com essas crianças seja fei-to desde o parto. A pediatra assinala que o portador denecessidades especiais deve ser visto como uma cri-ança que precisa de cuidados a mais, e que tambémpossui direitos, como saúde e educação, e deve convi-ver normalmente na sociedade. Foram realizados tam-bém dois colóquios para pais e familiares.

Filiadas inauguram sedeNa reunião da diretoria da SBP e do Conselho Superior– do qual participam os presidentes das sociedadesestaduais – realizada durante o Congresso Nacionalde Pediatria: Região Nordeste, em Recife, foi discuti-do o projeto “Linha Sede”, entre outros assuntos. ASociedade Brasileira está avaliando a possibilidade de

parceria no finan-ciamento para acompra de imó-veis para as filia-das que não pos-suem sede pró-pria. As solicita-ções apresentadasserão apreciadasna próxima reu-nião do Conselho.No Rio Grande do

Sul, a Sociedade de Pediatria já estará inaugurandosua sede em março de 1999. Serão três salas – umadelas reservada para o Jornal de Pediatria e para adiretoria do Cone-Sul. De acordo com dr. Paulo Nader,presidente da entidade, o espaço é bom e, além disto,o edifício possui um salão de convenções para 100pessoas.Duas outras entidades inauguraram sedes recentemente– a Sociedade de Pediatria do Paraná e a do Mato Grosso.Curitiba tem boa infra-estrutura, incluindo um auditó-rio para 210 pessoas e uma sala de apoio para 80. No

Mato Grosso, a Sociedade adquiriu sua sede própria,depois de 36 anos. Na cerimônia de inauguração, es-teve presente o dr. Lincoln Freire. Segundo o dr. EuzeCarvalho, presidente da filiada, possuir um espaço fixoserá fundamental para dinamizar o trabalho.

SBP participa de atividades no paísEm Petrópolis (RJ), o dr. Lincoln Freire participou dareunião da Sociedade de Pediatria do Rio de Janeiro,com toda a diretoria da entidade e os presidentes dasregionais. No estado de São Paulo, esteve em Campi-nas, onde se reuniu com pediatras da Unicamp e nacapital, para participar do encerramento das atividadesda Sociedade de Pediatria estadual no ano de 1998. EmAracaju (SE), também se reuniu com a diretoria da filiada,com os pediatras da região e participou de uma grandemobilização de lançamento da Campanha de Preven-ção de Acidentes na Infância e Adolescência.

SPSPA Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) estápromovendo sua descentralização e constituiu umgrupo de trabalho para tratar das regionais. Já exis-tiam sete, a partir das cidades de Campinas,Piracicaba, Presidente Prudente, Jundiaí, Marília,Taubaté e também na região do ABC. Agora, o pro-cesso está em andamento também em Moji das Cru-zes, Franca e Santos. Segundo o presidente da Soci-edade, dr. Clóvis Constantino, a integração com ointerior é uma prioridade.

FILIADAS

Atualize sua inscrição na SBP

1. Faça um depósito em favor da Sociedade Brasileira de Pediatria na conta nº 029292-3 da agência nº 0227-5 do Bradesco (para saber o valor da anuida-

de, integral ou parcelada em duas vezesintegral ou parcelada em duas vezesintegral ou parcelada em duas vezesintegral ou parcelada em duas vezesintegral ou parcelada em duas vezes, telefone para 021.548-1999 / Setor de Cadastro da SBP);

2. Preencha os dados do cupom abaixo;

3. Envie cópia do comprovante do depósito pelo fax 021.548-1999 ou pelo Correio, juntamente com o cupom preenchido ou reprodução deste.

Você sabia?Você sabia?Você sabia?Você sabia?Você sabia?Na Sociedade Brasileira de Pediatria, não enão enão enão enão existem mais débitos anterioresxistem mais débitos anterioresxistem mais débitos anterioresxistem mais débitos anterioresxistem mais débitos anteriores. Cada inscrição vale por um ano e pode ser feita empode ser feita empode ser feita empode ser feita empode ser feita emqualquer mêsqualquer mêsqualquer mêsqualquer mêsqualquer mês. Se você é sócio e não está quite, siga o roteiro abaixo e voltará a obter os benefícios de ser associado de uma das maioresentidades médicas do mundo:

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ENTIDADES

Estudar no hospital é direito da criança

o Pequeno Príncipe, os pacientesque ficam mais de seis dias –tempo médio de internação – têm

direito também ao acompanhamentoescolar individual. Esta preocupaçãotambém existe no Hospital das Clíni-cas de Porto Alegre. O médico PauloRoberto Antonacci Carvalho, diretorda pediatria do hospital e diretor doCurso de Reanimação Pediátrica daSBP, conta que o programa já existehá dez anos e começou para diminuiros problemas escolares gerados pelaperda de aulas. Com o tempo, os mé-dicos perceberam que era muito maisabrangente e envolvia a auto-estimada criança, que muitas vezes conse-guia evoluir até mais estudando nohospital, do que se estivesse na salade aula. “O programa cresceu tanto,que tivemos que restringir este aten-dimento aqueles que tinham repetidashospitalizações ou que ficavam maisde dez dias internados”, relata.Estas conquistas motivaram a criaçãode um curso voltado para a humaniza-ção com base na educação destas cri-anças. Daí, surgiu o livro A Criança Hos-

Pediatras latino-americanos discutem

integração

A mortalidade infantil, a desnu-trição e os acidentes são os princi-pais problemas que enfrenta a po-pulação infanto-juvenil latino-ame-ricana, todos eles, em grande par-te, derivados das condições de po-breza. Nesse quadro, uma maioraproximação entre as SociedadesNacionais de Pediatria contribuiriapara o desenvolvimento de políti-cas sanitárias comuns e projetos decooperação, incluindo um melhoraproveitamento dos recursos agrí-colas. Estas são algumas dasconclusões da pesquisa realizadapela Associação Latino-America-na de Pediatria (ALAPE) no últimoCongresso da entidade, realizadono Chile.

A respeito das prioridades emmatéria de saúde, 60% dos entre-vistados mencionaram a necessi-dade dos países latino-americanosmelhorarem os perfis nutricionais,os fatores higiênico-ambientais ea educação. Um grande número deprofissionais responsabilizou os go-vernos pelos problemas da saúde,em particular pela falta de políti-cas públicas e de recursos. Tam-bém foram destacados a Aids, oconsumo de drogas, a diarréia, asinfecções, a violência familiar e agravidez na adolescência como al-guns dos problemas que mais afe-tam as crianças e jovens.

Participaram da pesquisa 242profissionais da Argentina, Chile,Equador, Colômbia, Espanha, Pa-namá, México, República Domini-cana, Estados Unidos, Uruguai,Peru, Bolívia, Honduras, Paraguai,Costa Rica, El Salvador, Guatema-la, Nicarágua, Belize, Haiti, Cuba,Venezuela e Brasil.

DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DOADOLESCENTE HOSPITALIZADO

REPORTAGEM

1 - Direito à proteção, à vida e à saúde com absoluta prioridade e sem qual-quer forma de discriminação;

2 - Direito a ser hospitalizado quando for necessário ao seu tratamento, semdistinção de classe social, condição econômica, raça ou crença religiosa;

3 - Direito de não ser ou permanecer hospitalizado desnecessariamente porqualquer razão alheia ao melhor tratamento da sua enfermidade;

4 - Direito a ser acompanhado por sua mãe, pai ou responsável, durante todoo período de sua hospitalização, bem como a receber visitas;

5 - Direito de não ser separado de sua mãe ao nascer;

6 - Direito de receber aleitamento materno sem restrições;

7 - Direito de não sentir dor, quando existam meios para evitá-la;

8 - Direito de ter conhecimento adequado de sua enfermidade, dos cuidadosterapêuticos e diagnósticos a serem utilizados, do prognóstico, respeitada asua fase cognitiva, além de receber amparo psicológico, quando se fizer ne-cessário;

9 - Direito de desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educa-ção para a saúde, acompanhamento do currículo escolar durante sua perma-nência hospitalar;

10 - Direito a que seus pais ou responsáveis participem ativamente do seudiagnóstico, tratamento e prognóstico, recebendo informações sobre os pro-cedimentos a que será submetido;

11 - Direito a receber apoio espiritual/religioso, conforme a prática de suafamília;

12 - Direito de não ser objeto de ensaio clínico, provas diagnósticas e tera-pêuticas, sem o consentimento informado de seus pais ou responsáveis e oseu próprio, quando tiver discernimento para tal;

13 - Direito a receber todos os recursos terapêuticos disponíveis para a suacura, reabilitação e/ou prevenção secundária e terciária;

14 - Direito à proteção contra qualquer forma de discriminação, negligênciaou maus-tratos;

15 - Direito ao respeito à sua integridade física, psíquica e moral;

16 - Direito à preservação de sua imagem, identidade, autonomia de valores,dos espaços e objetos pessoais;

17 - Direito a não ser utilizado pelos meios de comunicação de massa, sem aexpressa vontade de seus pais ou responsáveis ou a sua própria vontade,resguardando-se a ética;

18 - Direito à confidência dos seus dados clínicos, bem como direito detomar conhecimento dos mesmos, arquivados na instituição pelo prazo esti-pulado em lei;

19 - Direito a ter seus direitos constitucionais e os contidos no Estatuto daCriança e do Adolescente respeitados pelos hospitais integralmente;

20 - Direito a ter uma morte digna, junto a seus familiares, quando esgotadostodos os recursos terapêuticos disponíveis.

(continuação da página 7)

pitalizada, organizado por Ricardo BurgCeccim e Paulo Antonacci Carvalho eeditado pela Universidade Federal doRio Grande do Sul em 1995. É um resu-mo do seminário dirigido aos funcioná-rios do hospital. •

N

Editado no Rio Grande do Sul, o livro resumeseminário realizado no Hospital das Clínicasde Porto Alegre

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DataDataDataDataData EventoEventoEventoEventoEvento LocalLocalLocalLocalLocal ContatoContatoContatoContatoContato

Fevereiro V Congresso Internacional Índia Telefone: 91-141-80-608010 a 15 de Pediatria Tropical

Abril III Congresso Brasileiro Pediátrico Curitiba/PR Telefone: 041 342-717517 a 20 de Endocrinologia e Metabologia

Abril VII Congresso Brasileiro de Alergia Brasília/DF Telefone: 061 224-907717 a 21 e Imunologia em Pediatria

EM FOCO

I Congresso Nacional de Pediatria:Região Nordeste

Realizado pela SBP e pela Sociedade de Pediatriade Pernambuco, o Congresso reuniu, em Recife, 550pessoas, entre professores e inscritos. Foram discuti-dos diversos temas de interesse do pediatra, desde oalcoolismo na adolescência até a defesa profissional.Doenças comuns na Região Nordeste, como filariose,dengue, esquistossomose, hanseníase e calazar tam-bém foram abordadas em conferências e mesas redon-das. Além disso, foi considerado muito positivo o in-tercâmbio realizado entre pediatras de todas as regi-ões do país.

Paralelamente, um colóquio dirigido a professoresde primeiro grau e agentes de saúde contou com 300participantes e tratou de assuntos como defesa dos di-reitos da criança, infectologia, adolescência, cuida-dos primários, pediatria ambulatorial, saúde escolar enutrição. A experiência, segundo dr. Paulo Neves, pre-sidente do Congresso, foi inovadora e muito satisfatória.O próximo Congresso será em Cuiabá (MT), regiãoCentro-Oeste, de 27 a 30 de junho de 1999.

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AGENDA

Jornal de Pediatria lançaSuplementos

Os sócios quites da SBP acabaram de receber oprimeiro Suplemento do Jornal de Pediatria. Sãoartigos de atualização e revisão, encomendados aespecialistas. Cada exemplar engloba uma especia-lidade, com as últimas informações científicas dis-poníveis. O primeiro, que circulou em dezembro,tratou dos problemas respiratórios, em treze artigosque abordaram desde a poluição ambiental até aasma e a fibrose cística. O próximo exemplar serásobre doenças infecciosas e está previsto para ju-nho. Segundo o dr. Jefferson Piva, editor do jornal,a idéia é oferecer aos pediatras, regularmente, oque há de mais novo na literatura médica.

O Centro de Informações Científicasinforma

Pesquisa bibliográfica: Será gratuita para os só-cios da Sociedade a partir de março. Maiores informa-ções, na próxima edição do SBP Notícias.

Slides: Serão feitos a partir da entrega de disqueteou arquivo enviado por e-mail. O custo para sócios éde RS2,00 por slide e para não-sócios é de R$4,00,somado ao preço da remessa (simples, registrada ouSedex) do material pelo Correio. O prazo para o ser-viço é de 72 horas, mais o tempoda remessa. O material só seráenviado depois de efetuado o pa-gamento.

Pagamento: Pode ser feitoatravés de cheque nominativo àSBP enviado pelo Correio ou de-pósito na conta corrente da Soci-edade, com remessa do compro-vante de pagamento bancário porfax ou Correio. Devem estaracompanhados da especificaçãodo serviço, nome e número de ma-trícula.

Internet: A SBP abrirá umapágina para que os sócios possamdivulgar suas homepages pessoais.Os interessados devem enviar o nome que usam pro-fissionalmente, o endereço de sua página e o númerode matrícula.

Outras informações, pelo telefone 021. 548-1999/Biblioteca ou na página de serviços dahomepage da SBP: http://www.sbp.com.br

Selo da SBPO Selo da SBP já estará disponível a partir de janeiro de 1999. Trata-se de um programa

de certificação de qualidade de produtos infantis, que vem sendo elaborado há 10 anos.Segundo o diretor responsável, dr. Mário Santoro, o objetivo é garantir tranqüilidade àsfamílias, pois estas, adquirindo produtos certificados pela Sociedade Brasileira de Pedia-tria, terão segurança quanto à sua qualidade, nos requisitos em que foram avaliados.

As empresas interessadas em obter o Selo de Qualidade terão seus produtos analisadosem laboratórios indicados pela SBP. A validade será de dois anos, período em que a quali-dade será devidamente monitorada. Uma campanha publicitária comunicará o lançamentoaos pediatras, empresas e consumidores.

Curso de Reanimação PediátricaA Sociedade Brasileira de Pediatria, em parceria

com a Fundação do Coração (FUNCOR) realizou, emnovembro, treinamento para formação de instrutorespara o Curso de Reanimação Pediátrica. A metodologiaé normatizada pela American Heart Association e uni-versalmente aceita. Foram capacitados 23 pediatrasda SBP, que trabalharão em conjunto com outros 25 jáselecionados. Estão sendo instalados oito pólos regio-nais de treinamento para multiplicação do Curso. Se-

gundo o diretor da SBP responsável por este trabalho,dr. Paulo Roberto Antonacci Carvalho, o objetivo é re-alizar, em 1999, pelo menos um Curso em cada filiadae que, até o ano 2000, cerca de dois mil pediatras játenham participado. O cronograma está sendo desen-volvido e visa coincidir com congressos e encontros.As filiadas interessadas devem entrar em contato coma diretoria.

TEPAs inscrições para a prova do Título de Especialis-

ta em Pediatria (TEP), promovida pela SBP em convê-nio com a Associação Médica Brasileira, estão aber-tas desde 04 de janeiro. Poderão ser feitas até o dia 09de abril, nas filiadas estaduais da Sociedade. Sóciosquites pagam uma taxa de R$130,00 e os demais can-didatos, R$300,00. A prova será realizada no dia 29de maio de 1999, sábado, em local a ser determinadoem cada capital. Maiores informações, na Sociedadede Pediatria do seu estado.

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DEPARTAMENTOS CIENTÍFICOS´

Suplementação deVitamina A

O programa de Suplementação de Vi-tamina A do Ministério da Saúde foi apro-vado pelo Departamento de Nutrição daSBP. Consiste na receita de mega-dosesde vitamina A, a cada seis meses, nosperíodos de campanha de vacinação. Jáestá sendo aplicado na região Nordeste eno Vale do Jequitinhonha, em Minas Ge-rais. De acordo com a dra. SuzanaQueiroz, integrante do Departamento, emvárias regiões foram detectados casos dehipovitaminose A, e não apenas nas maiscarentes. Por isso, é importante que asSecretaria Estaduais de Saúde incorpo-rem o programa. A especialista informaque as doses da vitamina são válidas, poistrazem resultados a curto prazo. Devemestar associadas a uma educaçãonutricional, que, no entanto, necessita deum investimento maior, para trazer bene-fícios a longo prazo.

Congresso de PerinatologiaO XVI Congresso Brasileiro de Peri-

natologia e XIII Reunião de Enferma-gem Perinatal foi realizado pela SBP eSociedade Baiana de Pediatria em no-vembro, em Salvador. Contou com 1.557participantes e cerca de 120conferencistas brasileiros e es-trangeiros. Segundo a dra. LíciaMoreira, presidente do evento,os debates foram centrados naperinatologia preventiva. Dis-cutiu-se desde aspectos bási-cos da assistência perinatal,como aleitamento e infecções,até informações técnicas maissofisticadas. Os cursos pré-con-gresso deram ênfase ao treina-mento prático e a prova paraconcessão do Título de Espe-cialista em Neonatologia (TEN)foi aplicada, com 400 partici-pantes.

Pela importância de seustrabalhos para a neonatologiabrasileira, o Congresso home-nageou o dr. Antônio LúcioPrisco Teixeira, a dra. Concei-ção Segre e o dr. Gilberto Pe-reira. Para a dra. Lícia Moreira,“a perinatologia brasileiraestá diagnosticada”, mas “areversão do quadro atual é umproblema político”.

Prevenção de AcidentesComo parte da Campanha Nacio-Campanha Nacio-Campanha Nacio-Campanha Nacio-Campanha Nacio-

nal de Prevenção de Acidentesnal de Prevenção de Acidentesnal de Prevenção de Acidentesnal de Prevenção de Acidentesnal de Prevenção de Acidentes, oDepartamento de Segurança da Criançae do Adolescente (ex- Segurança Infan-til) frisa algumas recomendações sobretrânsitotrânsitotrânsitotrânsitotrânsito que os pediatras podem lem-brar aos pais:

ll ll l No carro, os bebês devem usar as-sento especial;

ll ll l A partir dos 5 anos, as criançasdevem sentar-se sobre uma almofada,para evitar que o cinto de segurançapasse pelo seu pescoço;

ll ll l As crianças devem ser transporta-das somente no banco traseiro do carro.Depois dos 10 anos, normalmente jápossuem altura para usar o cinto de adul-to e o Novo Código Nacional de Trânsi-to permite que sejam transportadas nobanco da frente;

ll ll l Ao atravessarem as ruas, as crian-ças menores de 10 anos devem estaracompanhadas por adultos;

ll ll l Crianças não devem andar de bici-cleta nas ruas, principalmente as movi-mentadas;

ll ll l As regras de trânsito devem serensinadas desde cedo e nunca deve serpermitido que alguém sem habilitaçãoconduza um veículo.

AfogamentoAfogamentoAfogamentoAfogamentoAfogamentoOutro tipo de acidente muito fre-

qüente é o afogamento. Segundo da-dos do Ministério da Saúde, eles fo-ram responsáveis por 13% dos óbitospor causas externas, de 0 a 19 anos,em 1996. A primeira medida de pro-teção é nunca deixar uma criança so-zinha perto de recipientes com água.Estes devem ser esvaziados sempreapós o uso. Além disso, o Departamen-to recomenda:

l As portas dos banheiros devem fi-car sempre fechadas;

l Piscinas devem estar cercadas portodos os lados. Mesmo as crianças quejá aprenderam a nadar não estão segu-

ras. É importante que um adulto sempreas esteja supervisionando;

l Águas agitadas e com correntezasnão são lugares apropriados para nadar.É importante também verificar a profun-didade do local e ter atenção aos mer-gulhos, principalmente os de cabeça;

l Crianças devem usar colete de se-gurança quando estiverem num barco;

l As crianças devem ser instruídassobre os perigos dos afogamentos.

E atenção, estas são situações deE atenção, estas são situações deE atenção, estas são situações deE atenção, estas são situações deE atenção, estas são situações derisco em cada faixa etária:risco em cada faixa etária:risco em cada faixa etária:risco em cada faixa etária:risco em cada faixa etária:

l De 0 a 1 anoDe 0 a 1 anoDe 0 a 1 anoDe 0 a 1 anoDe 0 a 1 anoAsfixias por sufocação ou aspiração

de corpo estranho, quedas, queimadu-ras e traumas em acidentes de trânsito,principalmente por transporte inadequa-do no carro;

l De 2 a 4 anosDe 2 a 4 anosDe 2 a 4 anosDe 2 a 4 anosDe 2 a 4 anosAcidentes de trânsito, incluindo atro-

pelamentos, afogamentos, queimaduras,choques elétricos, intoxicações exóge-nas, quedas;

l De 5 a 9 anosDe 5 a 9 anosDe 5 a 9 anosDe 5 a 9 anosDe 5 a 9 anosAcidentes de trânsito com risco mai-

or de atropelamento, quedas, queimadu-ras, afogamentos, intoxicações exóge-nas, choques elétricos, acidentes comarmas de fogo. Uma atenção especialdeve ser dada para o ambiente escolar,incluindo a entrada e saída da escola;

l De 10 a 19 anosDe 10 a 19 anosDe 10 a 19 anosDe 10 a 19 anosDe 10 a 19 anosAcidentes de trânsito, intoxicações

exógenas, com atenção especial para usode álcool e drogas, acidentes com ar-mas de fogo, afogamentos, quedas, quei-maduras. Deve ser estimulado o uso deequipamento de proteção para a práticade esportes.

Cuidados PrimáriosEm sua primeira reunião, em dezem-

bro, no Rio de Janeiro, os membros doDepartamento Científico de CuidadosPrimários, definiram seu plano de ação.Entre outras atividades, vão realizar umdiagnóstico da saúde da criança brasi-leira, a fim de formular propostas de atu-ação adequadas.Terão a tarefa de res-gatar na sua região os dados de mortali-dade e analisá-los. Também foi formadauma comissão, incumbida de formularum projeto para uma pesquisa sobremorbidade, para que se possa identifi-car melhor os tipos de doenças maiscomuns em cada região.

Em Belém do Pará, a pediatra Consuelo Oliveira está emCampanha.

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LIÇÃO DE CIDADANIANós do Morro forma profissionais de teatro na

comunidade do Vidigal, no Rio de Janeiro

TENDÊNCIAS & CULTURA^

garoto Márcio Lopes Alves nas-ceu há 13 anos na favela doVidigal, na mesma época em quesurgia ali o grupo teatral Nós do

Morro. A proposta era revolucionária:garantir um espaço democrático deprofissionalização,que revelasse talen-tos escondidos nas esquinas da comuni-dade. Mas o mote era também desper-tar a auto-estima, melhorar a qualidadede vida e transmitir valores como cida-dania. Hoje, aquele bebê - filho de umaempregada doméstica - é um dos 160integrantes do Nós, entre atores, profes-sores, técnicos e alunos. Prestes a vi-ver o personagem Teobaldo em uma mon-tagem de Romeu e Julieta, ele afirmaconvicto: “o teatro é a minha vida”.

Este é um dos exemplos de como oNós do Morro alterou o cotidiano doVidigal. Márcio troca a pelada e as brin-cadeiras derua por longase exaustivasjornadas tea-trais. “Minhamãe fica tran-qüila porquesabe o que es-tou fazendo”,conta ele, or-gulhoso. Maso futuro atorestá apenascomeçando.Outros vete-ranos, comoMary Sheila, 19 anos e Lúcio Andrey,21, já estão fazendo até cinema. Ambosintegram o elenco do filme “Orfeu”, deCáca Diegues, com estréia prevista paraabril de 99.

Erra quem pensa que o Nós do Mor-ro é um passaporte para a TV ou mesmopara o cinema. “Isso é uma conseqüên-cia”, afirma o diretor do grupo Guti Fra-ga, que procura fechar sempre bons con-tratos. Ele frisa que o trabalho é antesde tudo profissional e sem paternalismo.O que inclui muita disciplina e dedica-ção. O reconhecimento no meio teatralé evidente: o prêmio Shell e a indicaçãoda peça Machadiando para o Mambem-be, em 96 - que reúne três textos deMachado de Assis. Já o espetáculo Aba-lou, um musical funk recebeu seis indi-cações para o prêmio Coca-Cola de Te-atro Jovem em 98. O grupo foi premia-

do na categoria Projetos Especiais eConjunto da Obra.

Há sempre uma alternância entre aencenação de clássicos e textos que tra-tam do universo do Vidigal. Já forammontadas Encontros - crônica sobre osmoradores da favela - Tortura de umCoração, de Ariano Suassuna e Hoje éDia de Rock, de José Vicente, entre ou-tras peças.

“Nunca imaginei esta repercussão.É uma ida sem volta quando se desco-bre a paixão que é a arte. Alguns dosprofessores são nossos alunos de ontem.Estamos plantando uma idéia. E há um

pacto. Na novela das oito ou naBroadway, quando se chega em casa (asede do Nós do Morro) cada um ajudacomo pode. Só funciona porque há dis-ciplina, organização e responsabilidade.O que possibilita isso é a entrega, é odesejo de cada de um ao fazer esta op-ção de vida”, afirma Guti.

“O que a gente mais quer hoje é co-mer um chiclete sozinho, depois que seentra para o grupo tudo é dividido”, pon-tua com ironia, a atriz e professoraLuciana Bezerra, 20 anos, que mostrabastante desenvoltura no palco.

A história do Nós do Morro se con-funde com a história de vida do diretorGuti Fraga. Nascido à beira do rioAraguaia, em Alto Garças, o ator morahá 22 anos no Vidigal, depois de umaestada de três anos na Argentina. Em-bora não conheça Veneza, ele identifica

a atmosfera da cidade italiana no dia-a-dia da favela, onde moram cerca de 13mil pessoas. Destas, pelo menos 300,de alguma forma, já estiveramenvolvidas no projeto teatral.

“Resolvi criar o grupo porquesempre pensei na questão daoportunidade. O Nós do Morro éum grupo alternativo criado paragarantir o acesso – o acesso à cul-tura, à profissionalização, aomercado de trabalho”, explicaGuti.

Vieram outras conquistas.Ocupar espaços nobres como a Casa deCultura Laura Alvim, onde o grupo apre-sentou em dezembro os espetáculos Ma-chadiando, Abalou e seu primeiro infan-til É proibido brincar, foi uma delas.Dentro da comunidade, a efervescênciaartística formou uma platéia teatral queassiste às montagens da trupe.

Para o ator Carlos André, que atuaem Abalou, a experiência vem servindocomo lição de cidadania. “Eu nunca maisjoguei lixo na rua”, afirma. A atriz e pro-dutora Délis Herculano, 34 anos – quetambém é advogada – reconhece o ca-ráter educativo do Nós. “Os garotos mu-dam os hábitos, até a forma de conver-sar”, diz. “Eles não passam desperce-bidos, andam altivos”, completa ocoreográfo de Abalou Johayne Idefonso.

“Observo que o papo não é maisaquele pode crer”, reforça Guti, que, noentanto, detesta “os esteriótipos que asociedade impõe à favela”, como o dereduto marginal ou local violento. Irmã

de uma adolescente que pretende sermédica e filha de uma camareira dohotel Marina Palace, Mary Sheila, dizsequer perceber o movimento do tráfi-co. “Não fico sabendo”, resume. Noentanto, Délis lembra o caso de um ex-integrante do Nós que foi morto a tirosno morro.

Manter-se no grupo requer uma cer-

ta vocação. Da turma de Mary Sheila -indicada como melhor atriz para o prê-mio Coca-Cola - só restou ela. Guti ex-plica que com o aumento da procura, elee os demais parceiros (o autor dos tex-tos, Luis Paulo Correia e Castro, oiluminador Fred Pinheiro, o cenógrafoFernando Melo e a produtora-executivaMaria José) decidiram realizar testespara definir as turmas de teatro. Há tam-bém oficina de cinema e cursos técni-cos de contra-regra, iluminação, produ-ção e trilha sonora.

O apoio de orgãos públicos é cíclico.Atualmente, o Nós não conta mais com averba mensal de R$ 2 mil da SecretáriaMunicipal de Cultura. O grupo, porém,não deixa de lado a utopia. Quer com-prar a Casa Branca (um casarão antigoda favela) e transformá-la em centro cul-tural. O que todos querem, de fato, é quesempre alguém levante a bandeira do te-atro profissional comunitário no Vidigal.Alguém que cumpra o pacto. n

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Abalou, o premiado musical funk do grupo

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