o papel do professor de educação física na escola

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Page 1: O papel do Professor de Educação Física na Escola

MESTRADO EM SUPERVISÃO PEDAGÓGICA

“TRABALHO INDIVIDUAL”

Disciplina: Metodologia da Investigação

Educacional II

Docente: Maria Luísa Branco

Carlos Alberto Maricoto Silva

Covilhã

Page 2: O papel do Professor de Educação Física na Escola

Junho / 2009

INDICE

1. Introdução

2. Papel Institucional do Professor de Educação Física.

3. Problemática.

4. Metodologia.

5. Sujeitos da Investigação.

6. Instrumentos de Recolha de Dados.

7. Elaboração do Guião da Entrevista.

8. Procedimentos Seguidos Durante a Entrevista.

9. Transcrição das Entrevistas.

10. Técnicas de Tratamento da Informação.

11. Conclusão.

12. Referências Bibliográficas.

Page 3: O papel do Professor de Educação Física na Escola

1. Introdução.

Neste trabalho que me proponho realizar, irei tentar delinear um plano de

investigação sobre uma questão que me parece pertinente. Sou professor de

educação física há vinte e três anos e sei perfeitamente qual é o meu papel

como docente, não só na actividade lectiva com os alunos, mas também na

participação nas estruturas pedagógicas da escola (Coordenador do

Departamento de Expressões com assento no Conselho Pedagógico). Em todos

os períodos a que fui chamado para coordenar um Departamento ou a

representar a Disciplina de Educação Física nos Conselhos Pedagógicos das

escolas onde leccionei, sempre tive a percepção que os docentes das outras

áreas curriculares não tinham uma noção bem clara do papel do Professor de

Educação Física (adiante designado por PEF) na escola. Em conversas

informais, todos sabiam que animavam festas de fim de período ou de ano, que

punham os alunos a correr, a saltar e a jogar à bola. Era o rapaz ou a rapariga

que aparecia de fato de treino no intervalo sempre de cara jovial e vendendo

saúde. Era “proibido” afirmar que se estava cansado ou doente porque nenhum

docente vislumbrava a possibilidade do PEF se cansar. A resposta era imediata:

nem parece de ti! Um PEF cansado! Quando era apelidado de PEF, tinha a

noção que o meu colega já tinha algum entendimento sobre o meu papel na

escola e o que representa a disciplina de Educação Física em termos

curriculares e de desenvolvimento humano. Na maioria das vezes, não era PEF,

mas sim “O Professor de Ginástica”. Na Escola do Século XXI, é ainda com

muita frequência que os docentes das outras áreas curriculares se referem ao

PEF como o “Professor de Ginástica”. Mais frequente ainda, é essa referência

por parte dos Encarregados de Educação e da Comunidade em geral, mas esta

preocupação não cabe neste trabalho.

2. Papel Institucional do Professor de Educação Física.

As orientações emanadas pelo Ministério da Educação vão no sentido vão no

sentido de fazer convergir o processo educativo para a formação integral dos

alunos, sendo assinalado um papel nuclear ao desenvolvimento de atitudes e à

consciencialização de valores e subordinando-se a aquisição de conhecimentos

ao domínio de aptidões e capacidades.

Page 4: O papel do Professor de Educação Física na Escola

No plano psicopedagógico, importa ter em conta que os alunos se encontram

numa fase de construção da sua autonomia pessoal, devendo-lhes ser

proporcionado experiências mobilizadoras de um pleno domínio de

competências intelectuais e de uma segurança de atitudes no plano

socioafectivo.

Refiro três dimensões a serem desenvolvidas na actividade docente pelo PEF.

A dimensão pessoal.

O PEF deve favorecer o desenvolvimento da autonomia pessoal, dentro

dos princípios da liberdade, da responsabilidade e da solidariedade.

Estimular o desenvolvimento de atitudes de reflexão metódica, de

abertura de espírito, de tolerância e respeito pela diferença. Fomentar o

desenvolvimento de atitudes e capacidades de relacionamento

interpessoal, com base num espírito de confiança e cooperação.

Desenvolver atitudes de iniciativa e criatividade conducentes a uma

adaptação crítica à mudança. Desenvolver a sensibilidade para as

criações culturais, artísticas e literárias e incentivar o reconhecimento

pelos valores da autodisciplina, da persistência e do trabalho.

A dimensão das aquisições fundamentais.

O PEF deve favorecer a língua portuguesa com correcção e fluência

nos diversos modos de comunicação. Promover o desenvolvimento,

consolidação e aprofundamento de formas rigorosas e científicas de

raciocínio. Facultar conhecimentos necessários à compreensão de

manifestações estéticas e culturais e possibilitar o aperfeiçoamento da

sua expressão artística. Desenvolver as capacidades de integração,

elaboração e assimilação de informações e mensagens. Assegurar a

compreensão dos elementos fundamentais da metodologia científica e a

utilização das técnicas principais do trabalho intelectual e proporcionar

as bases teóricas necessárias para os alunos se familiarizarem com

alguns grandes sistemas de interpretação da realidade.

A dimensão para a cidadania.

O PEF deve favorecer a compreensão dos mecanismos de organização

e funcionamento dos diferentes grupos nos quais o aluno está inserido.

Proporcionar o aprofundamento da capacidade de analisar criticamente

informações e situações do quotidiano, o domínio de capacidades,

Page 5: O papel do Professor de Educação Física na Escola

hábitos e técnicas de trabalho pessoal e em equipa, a assunção

efectiva de responsabilidades de âmbito escolar e cívico. A formação de

jovens interessados e sensibilizados para a resolução dos problemas da

comunidade.

O PEF, a par com as três dimensões atrás referidas, tem de desenvolver um

currículo específico, assente num Programa Nacional, com incidência no

desenvolvimento dos domínios psicomotor, socioafectivo e cognitivo. Programa

esse que apresenta a forma de listas de objectivos, na estrutura das áreas e

matérias indicadas num quadro de extensão curricular. Também inclui nas

orientações metodológicas, princípios e regras a observar na estratégia

pedagógica e organização da actividade educativa.

As orientações metodológicas baseiam-se numa concepção de participação

dos alunos definida por quatro princípios fundamentais:

A garantia da actividade física correctamente motivada,

qualitativamente adequada e em quantidade suficiente, indicada pelo

tempo de prática nas situações de aprendizagem, isto é, no treino e

descoberta das possibilidades de aperfeiçoamento pessoal e dos

companheiros.

A promoção da autonomia, pela atribuição, reconhecimento e exigência

das responsabilidades que podem ser assumidas pelos alunos, na

resolução dos problemas de organização das actividades e de

tratamento das matérias.

A valorização da criatividade, pela promoção e aceitação da iniciativa

dos alunos, orientando-os para a elevação da qualidade do seu

empenho e dos efeitos positivos da actividade.

A orientação da sociabilidade no sentido de uma cooperação efectiva

entre os alunos, associando-a à melhoria da qualidade das prestações,

especialmente nas situações de competição entre equipas, e também

ao clima relacional favorável ao aperfeiçoamento pessoal e ao prazer

proporcionado pelas actividades.

3. Problemática.

Tendo enquadrado no ponto anterior o papel do PEF na Escola, surgem as

seguintes dúvidas: será que os professores das outras áreas curriculares têm

uma noção aproximada ou exacta das funções do PEF, como poderão eles

caracterizá-lo e enquadrá-lo quanto às suas funções educativas, vê-lo-ão como

Page 6: O papel do Professor de Educação Física na Escola

um “entertainer”, ou alguém com profundas responsabilidades pedagógicas,

terão eles a noção de que alguns preconceitos em relação à sua função podem

afectar emocionalmente o PEF?

Estas dúvidas motivaram-me para a realização deste trabalho, que não será

mais do que uma pequena abordagem ao tema que me proponho investigar de

um modo evidentemente residual.

Da revisão que fiz da literatura, não encontrei nenhum trabalho publicado sobre

esta matéria, pelo que parto “virgem” e inexperiente nestas questões de

investigação.

Resumo o problema a investigar a esta questão:

Qual é a percepção que os docentes das outras áreas disciplinares têm do

professor de educação física na Escola?

4. Metodologia.

De acordo com a especificidade da nossa problemática, podemos recorrer a

várias ferramentas metodológicas. Mas sendo este trabalho, mais uma

preparação para a investigação, inserido numa cadeira de mestrado, do que

uma investigação a ser validada cientificamente, este aproximar-se-à porventura

de um estudo exploratório. Utilizarei uma metodologia de investigação

qualitativa, e proponho-me descrever os factos, e se possível explica-los e

compreendê-los através do seu relacionamento, comparação e classificação.

5. Sujeitos da investigação

O critério de escolha dos sujeitos assenta no facto de serem professores do

Ensino Básico e Secundário, em efectividade de funções e pertencerem a

qualquer grupo disciplinar que não seja o de Educação Física. Procurei que

fossem de áreas diferentes e optei por um professor de língua portuguesa e um

professor que exerce funções de Presidente de um Conselho Executivo. Esta

escolha permite-me ter o ponto de vista de um professor que exerce a docência

e de um professor com responsabilidade máxima na gestão pedagógica de um

estabelecimento de ensino.

Page 7: O papel do Professor de Educação Física na Escola

6. Instrumentos de recolha de dados.

Foi utilizado um único instrumento para a recolha da informação pretendida, a

entrevista. A entrevista é do tipo semi-estruturada com as questões previamente

definidas. O questionário é aberto com formulação e ordem das perguntas fixas

e o entrevistado pode dar uma resposta longa ou curta, como queira.

A fundamentação da escolha deste instrumento é de que a entrevista é um

meio precioso no âmbito duma investigação deste tipo, pois, com ela o

investigador pretende aceder à compreensão de como os sujeitos percepcionam

e representam um dado fenómeno e que significado lhe atribuem. Este processo

ajuda à emergência do íntimo, do pensado, até então desconhecido. Pretende-

se desvendar as crenças, os significados, as ideias, as interpretações e os

sentimentos de cada sujeito. A entrevista fornece-nos o vivido, o subjectivo, o

individual e, através dele, o social e o cultural (Michelat, citado em Benavente,

1999). A opção pela entrevista semi-estruturada advém do facto de facilitar a

introdução dos tópicos de interesse. Sendo este tipo de entrevista por natureza

mais flexível, permitirá melhor respeitar o modo como cada entrevistado sentirá

necessidade de organizar o seu discurso, dando maior liberdade de resposta ao

sujeito dentro de alguns parâmetros temáticos.

7. Elaboração do guião da entrevista.

O guião da entrevista foi elaborado respeitando o “protocolo” que se exige à

utilização deste instrumento dentro do paradigma da investigação qualitativa. O

guião é constituído por um conjunto de questões abertas, inclui uma indicação

do sujeito, um texto inicial que apresenta os objectivos da entrevista, que será

lido ao entrevistado.

A elaboração do guião seguiu os passos que passo a descrever:

Selecção da amostra dos sujeitos a entrevistar (professores em

efectividade de funções de qualquer grupo disciplinar excepto de

Educação Física).

Descrição do perfil dos sujeitos (área disciplinar, habilitações

académicas, idade, tempo de serviço).

Definição do propósito da entrevista (trabalho de mestrado).

Estabelecimento do meio de comunicação (oral).

Page 8: O papel do Professor de Educação Física na Escola

Elaborar as perguntas de acordo com a problemática a investigar:

Pergunta nº1: De que maneira o Professor de Educação física

pode contribuir para a mudança na Escola?

Pergunta nº2: Qual é o espaço por excelência do Professor de

Educação Física na Escola?

Pergunta nº3: Quais são os preconceitos sofridos pelo Professor

de Educação Física na Escola?

Pergunta nº4: De que maneira o Professor de Educação Física

pode contribuir para a formação dos alunos?

Pergunta nº5: como caracteriza a atitude do Professor de

Educação Física na Escola?

Pergunta nº6: De que maneira o Professor de Educação Física é

visto pelos outros professores na Escola?

8. Procedimentos seguidos durante a entrevista.

Teve-se em conta todo o protocolo utilizado nestas situações. O entrevistado é

esclarecido sobre o que se pretende e quais os objectivos. São comunicados os

direitos garantidos nestas situações. Tenta-se criar um clima agradável com

condições de privacidade e regista-se tudo o que se diz.

9. Transcrição das entrevistas.

Entrevista ao Professor A

O professor A é licenciado em filologia germânica, é Professor Titular, docente

no grupo 220 de português e inglês, tem 53 anos e exerce a docência há 29

anos.

Foi-lhe garantido:

O direito à autodeterminação (poder de decisão de optar ou não em participar

no trabalho e garantia de não utilização de nenhum meio coercivo, podendo-

se retirar sem justificação).

O direito à intimidade (liberdade para decidir sobre a extensão da informação

fornecida, e liberdade para partilhar informações íntimas ou privadas).

O direito ao anonimato e à confidencialidade (os dados pessoais não são

divulgados sem autorização expressa e os resultados serão apresentados de

forma a que não seja reconhecido, não se podendo associar as respostas

individuais à identidade).

Page 9: O papel do Professor de Educação Física na Escola

O direito à protecção contra o desconforto e o prejuízo (protecção contra

inconvenientes susceptíveis de fazerem mal ou prejudicarem).

O direito a um tratamento justo e equitativo (ser informado sobre a natureza, o

fim e a duração da investigação para o qual é solicitado, assim como os

métodos utilizados na pesquisa).

Pergunta 1. De que maneira o Professor de educação Física pode contribuir

para a mudança na Escola?

Resposta: O papel do professor de Educação Física na Escola é tão

importante como o de qualquer outro docente de outra qualquer disciplina.

Contudo, pensando-se numa mudança, este revestirá um outro sentido, pois

pode, dependendo do objectivo, ser mais activo e interveniente em actividades

que pela sua própria natureza darão mais visibilidade pela actuação dos

alunos.

Pergunta 2. Qual é o espaço por excelência do Professor de Educação física

na Escola?

Resposta: O professor de Educação Física não tem um papel assim tão

diferente dos seus pares, mesmo tendo em conta a especificidade da disciplina

em si mesma. No conjunto dos docentes que compõem um conselho de turma,

todos trabalham no sentido do desenvolvimento integral dos alunos tanto na

componente de conhecimentos, como na sua formação como indivíduos e

futuros cidadãos. Certo é que, devido a essa mesma especificidade, o

professor de Educação Física, poderá estar mais sensível para a forma e

actividade física dos alunos e ao mesmo tempo, para a detecção de eventuais

problemas de saúde ( de postura, de dificuldade de respiração, por exemplo).

Pergunta 3. Quais são os preconceitos sofridos pelo Professor de Educação

Física na Escola?

Resposta: Actualmente já se não sente, segundo a minha opinião, qualquer

tipo de preconceito em relação ao professor de Educação Física, em grande

parte, devido à sua própria actuação.

Há tempos idos, sim. Em grande parte das situações, ele era o professor que

levava os meninos para a rua e os punha a correr à volta do campo quando

Page 10: O papel do Professor de Educação Física na Escola

estava bom tempo, ou lhes passava uma bola para os pés (ou mãos, mas

menos frequentemente) e os deixava “ao Deus dará”, para grande sofrimento e

desgosto da maior parte das meninas ou dos rapazes mais tímidos ou

desajeitados.

A imagem do “professor de Ginástica” tem, felizmente, vindo a afastar-se do

antigo conceito que apenas o ligava aos saltos, cambalhotas e torneios no

último dia de aulas de cada período.

Pergunta 4. De que maneira o Professor de Educação Física pode contribuir

para a formação dos alunos?

Resposta: Sendo certo que a actuação conjunta dos professores terá

necessariamente reflexo no futuro dos alunos, é ao professor de Educação

Física que cabe, em primeira instância, o treino e desenvolvimento das suas

apetências e capacidades físicas, mais do que das intelectuais. Assim, é nesta

perspectiva que se aplica com maior acuidade e apropriação a máxima latina “

mens sana in corpore sanum” (mente sã em corpo são).

O seu papel é também preponderante sempre que um aluno ou apenas gosta

da actividade física e se alheia do restante ou da maioria das outras disciplinas

(mais ligadas ao aspecto cognitivo), ou tem a atitude oposta e hostiliza tudo o

que não diz respeito a livros e cadernos.

Além disso, o respeito pelas regras e a importância do colectivo sobre o

individual pode e deve ser desenvolvido com a prática dos desportos

colectivos, sob a orientação do professor de Educação Física.

Pergunta 5. Como caracteriza a atitude do Professor de Educação Física na

Escola?

Resposta: Cada vez mais se nota o envolvimento e participação do professor

de Educação Física na vida escolar, vista como um todo. Longe vai o tempo

em que o seu espaço se confinava ao pavilhão gimnodesportivo ou aos

campos no exterior, logo que o tempo assim o permitisse. Também o facto de

muitas vezes o professor de Educação Física ter a seu cargo uma direcção de

turma, lhe veio conferir um outro papel e função na vida escolar das crianças.

Page 11: O papel do Professor de Educação Física na Escola

Pergunta 6. De que maneira o Professor de Educação física é visto pelos

outros Professores na Escola?

Resposta: Neste momento o professor de Educação Física é, a meu ver, um

dos professores do conselho de turma que tem, como cada um dos outros

membros, a seu cargo a leccionação de uma disciplina e, por tal, a

orientação e acompanhamento dos alunos no sentido do seu

desenvolvimento integral.

A sua atitude, procurando uma maior interdisciplinaridade, também tem vindo a

modificar e condicionar de forma muito positiva a forma de ser encarado pelos

outros professores dos outros grupos disciplinares.

Entrevista ao Professor B

O professor B é licenciado em Administração Escolar, é Professor Titular,

docente no grupo 110 de 1º CEB, tem 45 anos, exerce a docência há 23 anos e

é Presidente de um Conselho Executivo.

Foi-lhe garantido:

O direito à autodeterminação (poder de decisão de optar ou não em participar

no trabalho e garantia de não utilização de nenhum meio coercivo, podendo-

se retirar sem justificação).

O direito à intimidade (liberdade para decidir sobre a extensão da informação

fornecida, e liberdade para partilhar informações íntimas ou privadas).

O direito ao anonimato e à confidencialidade (os dados pessoais não são

divulgados sem autorização expressa e os resultados serão apresentados de

forma a que não seja reconhecido, não se podendo associar as respostas

individuais à identidade).

O direito à protecção contra o desconforto e o prejuízo (protecção contra

inconvenientes susceptíveis de fazerem mal ou prejudicarem).

O direito a um tratamento justo e equitativo (ser informado sobre a natureza, o

fim e a duração da investigação para o qual é solicitado, assim como os

métodos utilizados na pesquisa).

Pergunta 1. De que maneira o Professor de educação Física pode contribuir

para a mudança na Escola?

Page 12: O papel do Professor de Educação Física na Escola

Resposta: O grupo de Educação Física é um grupo que face às actividades

que desenvolve consegue criar um bom clima quer nos alunos quer no pessoal

docente e não docente e em geral na comunidade. Desta forma consegue criar

motivação, consegue auxiliar no sucesso das outras disciplinas. Em minha

opinião, ainda é um dos grupos privilegiados que por exemplo podia ser opção

de matrícula num estabelecimento de ensino.

Pergunta 2. Qual é o espaço por excelência do Professor de Educação física

na Escola?

Resposta: O espaço por excelência é o campo. Contudo não se pode

esquecer que a sala de aula em determinados momentos é prioritária ao campo

de jogos, nomeadamente na aquisição da regra.

Pergunta 3. Quais são os preconceitos sofridos pelo Professor de Educação

Física na Escola?

Resposta: É visto na Escola pelos colegas, por vezes e na minha opinião

erradamente, como um docente que lecciona uma disciplina menor.

Pergunta 4. De que maneira o Professor de Educação Física pode contribuir

para a formação dos alunos?

Resposta: O viver em sociedade implica o cumprimento da regra. Tendo em

conta os jogos colectivos e mesmo os individuais mais concretamente no

respeito pelos espaços. É um grupo disciplinar nuclear para os alunos viverem

em sociedade.

Pergunta 5. Como caracteriza a atitude do Professor de Educação Física na

Escola?

Resposta: Disponível, cooperativo, criativo, em suma, profissional.

Pergunta 6. De que maneira o Professor de Educação física é visto pelos

outros Professores na Escola?

Page 13: O papel do Professor de Educação Física na Escola

Resposta: Em dois momentos completamente diferentes: no decurso normal

da Escola, como alguém que lecciona uma disciplina menor. Aquando da

necessidade de actividades da Escola toda, como o grupo que melhor o faz.

10. Técnicas de tratamento da informação.

Considerando o objecto e os objectivos deste estudo, a análise crítica do

discurso do entrevistado é uma forma adequada para revelar as suas

perspectivas e convicções. A opção pela análise de conteúdo deve-se ao facto

de ter escolhido a entrevista como instrumento de recolha de dados, pois é muito

útil no tratamento das questões abertas dos questionários.

Abordou-se a construção interpretativa numa abordagem estrutural conceptual

(Anselm e Corbin, 1998, citado em Afonso 2005), no sentido em que esta é

entendida como a organização dos dados em categorias específicas (…) de

acordo com as suas propriedades e dimensões, usando a descrição para

elucidar estas categorias.

Desta forma elaborou-se um quadro descritivo de categorias e sub-categorias,

com a respectiva definição.

Quadro descritivo das Categorias e Sub – Categorias.

Categorias Definição

Categoria A:

Papel do PEF na mudança na

Escola

Contribuição que o PEF pode dar para a

mudança na Escola.

Categoria B:

Formação dos alunos

Aprendizagens consideradas fundamentais para

o progresso dos alunos.

Categoria C:

Entendimento da profissão de

PEF

-------------------------------------

Sub – Categoria 1:

Espaço do PEF

Sub – Categoria 2:

Imagem que os outros docentes têm do PEF.

----------------------------------------------------------

Local considerado adequado à prática lectiva.

Comportamento esperado do PEF.

Page 14: O papel do Professor de Educação Física na Escola

Atitudes do PEF

Sub – Categoria 3:

Preconceitos do PEF

Percepção por parte do PEF, da imagem que os

outros docentes têm dele.

Noutra fase deste processo de análise de dados, utilizaram-se os estudos

sobre gestão operacional dos dados qualitativos (Marshall e Rossman, 1999,

citado em Afonso, 2005), que identificam seis fases nos procedimentos

analíticos do material de campo: a organização dos dados, a produção de

categorias, temas e padrões, a codificação dos dados, a testagem das

interpretações que vão imergindo, a busca de explicações alternativas e a

produção do texto final.

O processo de codificação dos dados do material empírico é segmentado em

unidades de sentido, cada uma das quais referenciada a uma dada categoria,

donde resulta a grelha de codificação.

Grelha de codificação ( unidades de análise/conteúdo/sentido )

Categorias Unidades de análise

Categoria A: Papel do PEF na

mudança da Escola

A – É tão importante como o de qualquer outro

docente de outra qualquer disciplina.

B – Ser mais activo e interveniente em

actividades que pela sua natureza darão mais

visibilidade pela actuação dos alunos.

C – Consegue criar um bom clima quer nos

alunos quer no pessoal docente e em geral na

comunidade.

D – Consegue criar motivação, consegue auxiliar

no papel das outras disciplinas.

E – Podia ser opção de matrícula num

estabelecimento de ensino.

Categoria B: Formação dos

alunos.

A – O treino e desenvolvimento das suas

apetências e capacidades físicas, mais do que

as intelectuais.

Page 15: O papel do Professor de Educação Física na Escola

B – O respeito pelas regras e a importância do

colectivo sobre o individual.

C – O cumprimento da regra.

D – O respeito pelos espaços.

E – Para os alunos viverem em sociedade.

Categoria C: Entendimento da

profissão.

--------------------------------------

Sub – Categoria 1: Espaço

do PEF.

Sub – Categoria 2: Atitudes do

PEF.

Sub – Categoria 3:

preconceitos do PEF.

A – Longe vai o tempo em que o seu espaço se

confinava ao pavilhão gimnodesportivo ou aos

campos do exterior.

B – O espaço por excelência é o campo.

C – A sala de aula em determinados momentos

é prioritária ao campo de jogos.

A – Envolvimento e participação na vida escolar

vista como um todo.

B – Disponível, cooperativo, criativo, em suma,

profissional.

A – Actualmente já não se sente, segundo a

minha opinião, qualquer tipo de preconceito.

B – Em tempos idos, sim. Ele era o professor

que levava os meninos para a rua e os punha a

correr à volta do campo.

C – A imagem do “professor de ginástica” tem,

felizmente, vindo a afastar-se do antigo conceito

que apenas o ligava aos saltos, cambalhotas e

torneios do último dia de aulas.

D – Neste momento, é um dos professores do

Conselho de Turma que tem a seu cargo a

leccionação de uma disciplina e por tal, a

orientação e acompanhamento dos alunos no

sentido do seu desenvolvimento integral.

D – É visto na escola pelos colegas, por vezes e

Page 16: O papel do Professor de Educação Física na Escola

na minha opinião erradamente, como um

docente que lecciona uma disciplina menor.

Aquando da necessidade de actividades da

Escola toda, como o grupo que melhor o faz.

11. Conclusão.

Segundo Marshall e Rossman, (1999), (citado em Afonso 2005), à medida que

a informação se reestrutura por categorias e unidades de sentido, vai-se

ensaiando a identificação de relações lógicas entre os aspectos substantivos do

material empírico, avaliando a coerência da lógica interpretativa em construção e

a pertinência e relevância dos dados disponíveis em relação às diversas pistas

interpretativas. Esta fase da testagem das interpretações, deve ligar-se a outra

fase que podemos apelidar de confronto em que se deve desafiar a coerência da

construção interpretativa com a procura de novos dados que possam

enfraquecê-la ou contradizê-la.

Sendo este trabalho, de índole mais simples, pois interpreto-o como uma

preparação à investigação no paradigma qualitativo, sem descurar, mas também

não aplicando em profundidade todas as fases do processo de investigação,

tentarei delinear uma construção interpretativa da problemática inicialmente

definida, sem procurar validade científica que se me afigura desmesurada para

um trabalho deste calibre.

Situando a problemática definida: Qual é a percepção que os docentes das

outras áreas disciplinares têm do professor de educação física na Escola?

Verifica-se que os docentes das outras áreas disciplinares vêem o Professor de

educação física, quanto ao seu papel na mudança da Escola, como um

docente igual aos outros, que motiva os alunos e a comunidade educativa e que

através da interdisciplinaridade consegue dar visibilidade à Escola para o

exterior. É referido que pode até ser motivo para escolha de Escola, por opção

dos encarregados de educação considerarem o desporto importante na

formação dos seus educandos. É realçado o papel de visibilidade que pode

oferecer, mas nenhum dos entrevistados se refere a mudanças de metodologias

pedagógicas que podem induzir na procura da auto-regulação das

Page 17: O papel do Professor de Educação Física na Escola

aprendizagens e do desenvolvimento de competências metacognitivas, que são

as bases dos seus pressupostos metodológicos.

Quanto ao seu papel na formação dos alunos, os docentes apontam a

socialização e a educação ambiental e para a cidadania como metas. Referem

sempre o cumprimento da regra, o respeito pelos espaços e viverem em

sociedade. Também é referido o desenvolvimento das capacidades físicas. Este

entendimento aproxima-se do que realmente é o papel do Professor de

Educação Física no seu aspecto institucional e didáctico-pedagógico. Os

docentes têm a noção de duas dimensões citadas no início deste trabalho: a

dimensão pessoal, a dimensão para a cidadania, mas não é referida a dimensão

das aquisições fundamentais, que é imprescindível na construção de

competências metacognitivas.

Em relação ao entendimento da profissão, os docentes referem que o

professor de educação física ainda sofre do preconceito de que a sua disciplina

é vista por vezes com uma dimensão menor em relação às outras. Pela

distribuição de cargos pedagógicos, tem-se vindo a entender que a sua função

pedagógica é específica e complementar às outras disciplinas para a formação

integral dos alunos. Os docentes referem que o espaço que ocupa já não é

somente os campos de jogos ou o pavilhão gimnodesportivo, mas também a

sala de aula, o que faz supor a visão de uma “nova imagem”, mais condizente

com a profissão docente. Os docentes caracterizam as atitudes como um

profissional disponível, cooperativo e criativo que se envolve na participação da

vida escolar.

Em resumo, os docentes de outras áreas disciplinares têm neste momento,

uma percepção do Professor de Educação Física mais condizente com a função

docente. Como um docente que contribui para a mudança (pelo menos a

percepção do exterior), e por isso pode elevar a consideração da Escola. É visto

como tendo um papel importante para a socialização, educação ambiental e

para a cidadania. Mas ainda não é considerado como tendo relevância nas

aquisições intelectuais e científicas dos alunos. É mais visto como um promotor

de bons hábitos físicos e de saúde, a par do desenvolvimento cívico e

cooperativo, mas pouco relevante nas aquisições cognitivas.

12. Referências bibliográficas.

Page 18: O papel do Professor de Educação Física na Escola

AFONSO, N. (2005). Investigação naturalista em educação: Um guia prático e

crítico. Porto: Edições Asa.

BENAVENTE, A. (1999). Escola, professores e processos de mudança. Lisboa:

Livros Horizonte.

FODDY, W. (1996). Como perguntar: Teoria e prática da construção de

perguntas em entrevistas e questionários. Oeiras; Celta.

HILL, M. & HILL, A. (2005). Investigação por questionário. Lisboa: Edições

Silabo.

Programas de Educação Física para o Ensino Básico e Secundário. Lisboa:

Editorial do Ministério da Educação.