o ensino das classes gramaticais por meio de … · em síntese, foi o que se fez nesse projeto:...

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Disciplina/Área: LÍNGUA PORTUGUESA

Professor PDE: SUELI DWULATKA DLUGOSZ

Orientador: Cristiane Malinoski Pianaro Angelo - IES: UNICENTRO

Etapa: Artigo

Título: O ENSINO DAS CLASSES GRAMATICAIS POR MEIO DE

BRINCADEIRAS: É POSSÍVEL?

Tema: Ensino e aprendizagem de leitura

Palavras-chave: teoria gramatical; classes gramaticais; ludicidade; ensino

médio

Resumo: O presente artigo apresenta os objetivos, os encaminhamentos e os

resultados obtidos durante a aplicação do projeto realizado no PDE (Programa

de Desenvolvimento Educacional), durante o ano de 2017. O projeto foi

desenvolvido em uma escola pública do Estado do Paraná, tendo-se por objetivo

levar os alunos do 1° ano do Ensino Médio a ampliar os conhecimentos a

respeito das classes gramaticais, por meio de atividades lúdicas. Além disso, a

proposta enfatizou questões reflexivas e práticas a respeito de como os

professores podem usar o lúdico como recurso pedagógico nas aulas de língua

portuguesa, buscando-se possibilitar aos educandos uma melhor compreensão

dos conteúdos trabalhados. Teoricamente, o projeto baseou-se nos

pressupostos discutidos por Travaglia (2002) que defende que as aulas de

língua portuguesa, além de ensinar as habilidades de uso da língua, têm por

objetivo ensinar sobre a língua, o que resulta em conhecimento teórico a

respeito da língua e pode desenvolver a habilidade de análise de fatos da língua.

Para o desenvolvimento do projeto junto aos alunos, um caderno pedagógico foi

produzido, onde as atividades foram distribuídas em unidades para um melhor

encaminhamento pedagógico. As ações foram tomadas a partir da ludicidade:

jogos, brincadeiras, pesquisas em laboratórios de informática para a construção

de significados, tendo como principal intuito o ensino mais eficaz das classes

gramaticais por meio do lúdico. A princípio, os alunos se demonstraram meio

apáticos, talvez pela falta do desejo de aprender, porém com o passar das

atividades a maioria se envolveu e ampliou significativamente o conhecimento a

respeito das classes gramaticais, portanto adquirindo conhecimentos mais

qualitativos a respeito da língua. Tem-se muito que se fazer ainda para que a

educação se torne a ideal e de qualidade. Não basta apenas o professor

ministrar conteúdos, pois os alunos, peças principais do quebra-cabeça, também

precisam ser envolvidos para que tomem consciência de que fazem parte do

processo ensino-aprendizagem.

1. INTRODUÇÃO

O projeto “O ensino das classes gramaticais por meio de brincadeiras: é

possível?” surgiu após pesquisas junto aos professores da área de língua

portuguesa, as quais confirmaram a necessidade de refletir sobre a situação

atual do ensino da gramática, bem como de analisar as diferentes metodologias

de ensino, principalmente das classes gramaticais, desenvolvidas em sala de

aula. Observa-se que muitos professores ainda questionam se deve haver ou se

há espaço para a sistematização da gramática enquanto outros acreditam que

uma mudança deve acontecer nos modos de ensino de língua portuguesa.

Estamos diante de uma nova realidade, e essa exige do professor uma

outra postura: rever suas formas de ensinar, buscar práticas pedagógicas

alternativas, caso contrário, a decadência do ensino será inevitável.

Por meio da observação a respeito do trabalho da gramática nas aulas de

língua portuguesa, notou-se que esse conteúdo é estudado a partir de regras e

exercícios. Assim, a prática pedagógica tradicional está fundamentada na crença

de que exercícios estanques ou isolados de determinados assuntos, repetidos

exaustivamente, podem instrumentalizar o aluno para fazer uso desses

conhecimentos nas diferentes situações de interação social. Porém, o que

ocorre é que ele faz os exercícios, acerta-os, mas nem sempre consegue

entender a função dessas tarefas, não entende o porquê da sistematização

gramatical abordada nos exercícios.

Além disso, com frequência, ouvimos queixas de pais de que ¨O filho não

gosta não das aulas de português¨ e, geralmente, a culpa desse desconforto é

destinada ao próprio aluno. Porém, cabe-nos perguntar: ¨Como estão sendo

ministradas tais aulas? Somos apenas meros emissores de conteúdos?Triste

engano! O gosto também se ensina. Chomsky1, numa entrevista em 1987, cita:

Não existe um método para ensinar química. O método para ensinar química é fazer as pessoas se interessarem, fazer com que pareça excitante, instigante, aprender química. Assim elas aprenderão. Fora isso, não há métodos. Eu acho que com relação à linguagem é basicamente a mesma coisa.

Nessa perspectiva, nosso trabalho necessita buscar, incessantemente,

novas alternativas, a fim de modificar essa realidade pela melhora do ensino dos

conteúdos, nesse caso, das classes gramaticais.

Conforme aponta Antunes (2003), é impossível a existência de uma

língua sem uma gramática. No entanto, na opinião da pesquisadora, no ensino

de gramática é importante compreender que há uma diferença entre as regras, o

ensino de nomenclaturas e classificações. As regras, por exemplo,

compreendem as seguintes situações: a descrição de como empregar os

pronomes; de como usar as flexões verbais para indicar diferenças de tempo e

de modo; de como estabelecer relações semânticas entre partes do texto

(relações de causa, de tempo, de comparação, de oposição e etc.); de quando e

como usar o artigo indefinido e o definido; de quando e de como garantir a

complementação do verbo ou de outras palavras; de como expressar

exatamente o que se quer pelo uso da palavra adequada, no lugar certo, na

posição certa (ANTUNES, 2003). Todo esse conhecimento terá como apoio a

sistematização da gramática, por meio de nomenclaturas, definições e

classificações – pronomes, artigo, verbo etc., que viabilizarão a discussão e o

aprendizado sobre os fatos da língua, as regras e o seu emprego na efetiva

produção linguística.

Diante disso, pensou-se então em apresentar uma nova metodologia para

minimizar ou sanar as dificuldades na apreensão das classificações gramaticais:

1Disponível em: https://vdocuments.net/-chomsky-em-entrevista-no-ano-de-1997-nao-existe-

um-metodo-para-ensinar-quimica-o-metodo-para-ensinar-quimica-e-fazer-as-pessoas-se-

interessarem.html

trabalhar o lúdico. Aulas mais interessantes, criativas e significativas foram

aplicadas, levando em consideração o que o aluno já tem consigo como

bagagem, a fim de um aprendizado mais efetivo. Some-se a isso que a atitude

(componente essencial de motivação) do professor influencia positiva ou

negativamente no desejo do aluno para aprender e, logo, o professor necessita

de atenção em relação a sua prática pedagógica

Partindo desse pressuposto, como afirma Paulo Freire (1978, p. 65): "a

prática de pensar a prática, é a melhor maneira de pensar certo", a busca de

novas metodologias é o caminho para tornar o ensino mais prazeroso, divertido.

Em síntese, foi o que se fez nesse projeto: levar os alunos à produção de jogos

pedagógicos sobre as classes gramaticais e ao reconhecimento do uso delas

em seu dia a dia, tanto escolar quanto em outras situações sociais.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Em seu artigo “Para que ensinar teoria gramatical?”, Travaglia (2002,

p.136) discute que, em relação aos objetivos do ensino de língua portuguesa, é

possível: “a) ensinar a língua, o que resulta em habilidades de uso da língua, e

b) ensinar sobre a língua, o que resulta em conhecimento teórico (descritivo e

explicativo) sobre a língua e pode desenvolver a habilidade de análise de fatos

da língua”. O autor explica que, na primeira situação, busca-se que o aluno

tenha a competência comunicativa, isto é, seja capaz de usar a língua, lendo,

ouvindo e produzindo textos, de maneira adequada em cada contexto de

interação, compreendendo os sentidos pretendidos para atingir os seus objetivos

comunicativos. Na segunda situação, busca-se ensinar teoria gramatical para

que o aluno tenha conhecimento sobre a língua. Travaglia (2012) aponta três

objetivos para o ensino da teoria gramatical: dar informação cultural;

instrumentalizar com recursos para aplicações práticas imediatas; desenvolver o

raciocínio, a capacidade de pensar, ensinar a fazer ciência.

Considerando-se que, para a maioria dos usuários da língua, mais

importante do que ter conhecimento sobre a língua, é usar a língua nas

diferentes circunstâncias de interação social, ter a competência comunicativa

desenvolvida, os estudiosos da Linguística Aplicada e os documentos oficiais de

ensino têm recomendado que o ensino da teoria gramatical ocupe um lugar

secundário na sala de aula.

Essa postura nos levou a sugerir que o professor ou elimine o estudo teórico das atividades das aulas de língua materna ou diminua a quantidade de teoria lingüística ou gramatical de que trata em sala de aula, limitando-se, quando muito, a apresentar um quadro mais geral e básico de conhecimento sobre a língua que permita ao aluno: a) aprofundar seus conhecimentos sobre a língua, caso tenha necessidade disso; b) atender necessidades sócio-culturais; c) utilizar esse conhecimento como meio auxiliar para trabalhos com a língua (TRAVAGLIA, 2002, p.137).

Nessa perspectiva, ensinar teoria gramatical torna-se uma opção do

professor. Entretanto, caso ele opte por ensiná-la deve fazê-lo “com consciência

de fatos, como o já demonstrado de que o ensino de teoria gramatical ou

linguística não leva à formação de usuários competentes da língua, não faz bons

produtores e compreendedores de texto” (TRAVAGLIA, 2002, p.137). Desse

modo, amparando-se em uma das concepções de gramática que a toma como

teoria descritivo-explicativa da língua, portanto como teoria gramatical, o que

proporciona ao aluno a um conhecimento sobre a língua, o ensino da teoria

gramatical consiste em “uma possibilidade que a nossa consciência de

professores pode ou não transformar em fato real” . (TRAVAGLIA, 2002, p.137).

As bases para esse ensino estão, então, naquilo que o professor almeja, suas

metas e objetivos, ao ministrar aulas, tomando a gramática enquanto teoria

descritivo explicativa da língua.

Travaglia (2002, p.160) lembra que o conhecimento teórico da língua

pode ser útil, se levarmos em conta que nossa sociedade “exige de seus

cidadãos conhecimentos que, embora aparentemente não tenham qualquer

aplicação imediata à vida prática, são vistos como importantes para a formação

do indivíduo, do cidadão”. Na mesma linha, Perini (1995) defende que aprender

teria gramatical é tão importante quanto ter conhecimentos de outras ciências,

como Física e Química, que certamente não terão aplicações práticas no

cotidiano da sociedade

No que se refere ao ensino das classes gramaticais, Travaglia pontua:

O que a escola tem feito no Ensino Fundamental e Médio, é, talvez sem qualquer variação, trabalhar com as classes de palavras propostas pela teoria da Linguística Tradicional, que propõe dez classes de palavras: substantivo, adjetivo, verbo, pronome, numeral, artigo, preposição, conjunção, advérbio, interjeição. Quase sempre os professores ensinam as classes de palavras, dando: a) conceitos que permitiriam distinguir as dez classes de palavras e que são formulados com base em critérios semânticos e/ou sintáticos e/ou morfológicos; b) subtipos de algumas classes de palavras; c) flexões das classes de palavras variáveis. Quase nunca se trata do emprego das classes de palavras. (TRAVAGLIA, 2002, p.148-149)

Travaglia, baseando-se em Perini (1995), aponta alguns exemplos de

conhecimentos sobre as classes gramaticais necessários na vida das pessoas,

em seus estudos ou atividades profissionais:

(...) b) O conhecimento das flexões e da forma gramatical básica com que a palavra aparece nos dicionários é necessário quando alguém encontra em um texto uma palavra flexionada, portanto não na forma com que ela aparece dicionarizada, e precisa consultar o dicionário para saber o significado ou outras informações sobre a palavra. Assim, se houver a palavra encontrávamos, sem o conhecimento de que é um verbo e que aparece no dicionário no infinitivo (encontrar), a pessoa pode ficar na dúvida e não saber localizá-la, já que, no dicionário, aparecem outros itens lexicais com o mesmo radical e significados aproximados: encontrada, encontrado, encontrão, encontrar, encontrável, encontro, encontroada e encontroar; c) O conhecimento teórico das flexões e suas denominações pode ser necessário quando alguém precisa considerar a adequação de certos usos a uma determinada variedade lingüística. Isso acontece com maior freqüência em relação à variedade culta da língua. Um exemplo disso seria o caso das concordâncias nominal e verbal, que não podem ser adequadamente consideradas sem o conhecimento das flexões de gênero, número e pessoa (TRAVAGLIA, 2002, p.163)

Outra justificativa para o ensino das classes gramaticais – ou da teoria

gramatical – está na possibilidade de poder usar tal conhecimento como meio

auxiliar na discussão de elementos da língua, por exemplo, em atividades de

análise linguística (BRASIL, 1998). Nessa discussão, em vez de dizer “essa

palavra”, “esse trecho” ou outras formas mais gerais, o professor então pode

dizer: esse verbo, essa conjunção, essa oração, esse substantivo. Sendo assim,

conforme defendem os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua

Portuguesa (BRASIL, 1998, p.28): “Na perspectiva de uma didática voltada para

a produção e interpretação de textos, a atividade metalinguística deve ser

instrumento de apoio para a discussão dos aspectos da língua que o professor

seleciona e ordena no curso do ensino-aprendizagem”.

Partindo desse pressuposto, assumindo a necessidade de um trabalho

com a teoria gramatical nas aulas de língua portuguesa, sugerimos a ludicidade

para o trabalho com as classes gramaticais, de forma a permitir, através de

atividades prazerosas, criativas, divertidas, a sua efetiva compreensão e

utilização.

Dessa forma, busca-se inovar e criar estratégias de ensino para esse

processo de aprendizagem. A ludicidade pode ser uma ferramenta para o ensino

das classes gramaticais. Pensando nisso, resolvemos desenvolver o projeto

intervindo nessa dificuldade que os alunos têm de assimilação desse conteúdo,

de maneira que os alunos se sintam à vontade para construir, junto com a

professora, soluções para sanar toda essa problemática.

3. DESENVOLVIMENTO

O projeto O ENSINO DAS CLASSES GRAMATICAIS POR MEIO DE

BRINCADEIRAS: É POSSÍVEL? teve início com a realização de uma atividade

diagnóstica para o levantamento sobre o conhecimento dos alunos a respeito

das classes gramaticais. Os alunos foram instigados a participar de uma

dinâmica, visto que um dos objetivos do projeto foi proporcionar o conhecimento

através da ludicidade. Foram distribuídos três envelopes – um deles continha

todas as classes gramaticais; o outro, conceitos e, o terceiro, orações com

palavras destacadas. O desafio foi identificar → classe gramatical → conceito →

exemplos.

A partir das informações na atividade, constatou-se mais uma vez o que

outrora falávamos sobre o exposto: a dificuldade da maioria dos alunos de

identificar as classes gramaticais, apesar de esse conteúdo estar presente ao

longo da escolarização do aluno, desde as séries iniciais do ensino fundamental.

Desse modo, partimos para a pesquisa em gramáticas com o objetivo de

revisarmos os conceitos das classes gramaticais. Alguns alunos comentavam

que haviam estudado tais classes, porém não lembravam a nomenclatura,

tampouco os conceitos e exemplos. No que se refere às atividades de pesquisa,

de acordo com Bagno:

A gramática deve conter uma boa quantidade de atividades de pesquisa, que possibilitem ao aluno a produção de seu próprio conhecimento linguístico, como uma arma eficaz contra a reprodução irrefletida e acrítica da doutrina gramatical normativa. (BAGNO, 2000 p. 87).

Relembramos que, para Travaglia (2002, p.166), um dos objetivos do

ensino de língua materna consiste em desenvolver o raciocínio, a capacidade de

pensar, de ensinar a fazer ciência. Para atender esse propósito, o professor

busca dar “à aula de teoria gramatical ou linguística um caráter de um momento

de pesquisa, o que desenvolveria nos alunos uma habilidade que lhes daria

independência intelectual, por adquirirem uma capacidade de pensar”

(TRAVAGLIA, 2002, p. 166), que lhes permitirá desenvolver a autonomia no

processo de aprendizagem.

Dados os resultados após a pesquisa, os alunos foram à sala de

informática para realizarem a atividade É possível “libertar” as palavras? ,

com a finalidade de observarem os critérios de classificação vocabular: o

mórfico ou formal (estuda a palavra isoladamente, a partir dos elementos que a

constituem), sintático ou funcional (estuda a função da palavra em relação a

outras palavras num contexto) e o semântico (estuda o significado

extralinguístico do vocábulo). O aluno foi levado a perceber que cada uma das

classes gramaticais pode ser definida a partir de diferentes critérios: por

exemplo, advérbio, pelo critério morfológico, não apresenta variação; pelo

critério sintático, é a palavra que modifica o verbo, o adjetivo ou o próprio

advérbio; pelo critério semântico, é a palavra que caracteriza uma circunstância,

de lugar, de modo, de tempo.

Os alunos foram instigados a observar também o uso das classes

gramaticais, as quais variam, conforme o contexto. Por exemplo, a palavra

“muda” dependendo da classe gramatical exerce um sentido diferente na

expressão “Família Muda”, podendo significar, sendo verbo, que a família está

em mudanças; sendo adjetivo, que os membros da família não falam.

Entendemos que ensino mais significativo da língua, ou sobre a língua, a

partir das classes gramaticais, deve, portanto, privilegiar o conhecimento de

como cada classe de palavras atua na organização e produção de enunciados,

bem como sua compreensão na construção de sentido em diferentes textos.

Além disso, nesse momento, é importante o professor repassar o objetivo da

dinâmica das classes, o qual relaciona a interposição delas quanto à maneira

organizacional para o efeito compreensivo desejado nas diversas possibilidades

de construção semântica.

Para animá-los ainda mais, foi realizada uma dinâmica com dobraduras e

colagem, organizando um CUBO para as classes gramaticais variáveis e uma

PIRÂMIDE (de base triangular) para as invariáveis. Muitas ¨brincadeiras¨ foram

realizadas com esses sólidos geométricos. O jogo do STOP também fez parte

das propostas. Uma lembrança positiva: durante todas as atividades realizadas,

a presença da professora como participante foi de valor inquestionável, pois,

segundo Huizinga (1980), os professores precisam se colocar como

participantes, acompanhando todo o processo da atividade, mediando os

conhecimentos, a fim de que estes possam ser reelaborados de forma rica e

prazerosa.

É importante ressaltar que, em todas as etapas do projeto, os elogios e o

incentivo se tornaram uma constante. A alegria em vê-los construindo o

conhecimento faz com que o professor acredite numa escola de qualidade, onde

o ensino realmente aconteça.

A próxima etapa, a mais significativa, talvez, foram as atividades

relacionadas à pintura das classes gramaticais na escada da escola, flores feitas

em PVC que foram ¨plantadas¨ no jardim da escola, sendo que no miolo da flor

foi escrita a classe e seu conceito e com exemplos de cada classe nas pétalas.

Houve, também, a confecção de uma roleta no saguão da escola e ali foram

desenvolvidas brincadeiras envolvendo as classes gramaticais.

Dessa forma, o conteúdo, sendo ministrado por intermédio de atividades

lúdicas e interativas, foi a busca constante nesse projeto. Tudo feito ludicamente

e em parcerias, para que despertasse no aluno o verdadeiro desejo de aprender,

pois o aprendizado deve ser visto como um processo dinâmico de interação

social. Ainda, de acordo com a publicação de Gardner (1990, p.50), “A

atitude/comportamento do professor influencia positiva ou negativamente no

desejo/vontade do aluno para aprender e continuar aprendendo a língua”.

Portanto, o professor não pode perder oportunidades para elogiar e incentivar

seus alunos. Assim, cada etapa da execução do projeto foi aliada aos incentivos

e elogios aos alunos sobre as atividades que realizavam de modo a levar o

aluno a sentir-se mais entusiasmado para realizar tudo da melhor maneira

possível.

Outro fato relevante durante o processo foi o assunto ser abordado junto

aos professores participantes do GTR (Grupo de Trabalho em Rede), que faz

parte do Programa de Desenvolvimento Educacional da Secretaria de Educação

(SEED).

Os participantes tiveram acesso ao Projeto, bem como aos outros

documentos, e ressaltaram a importância da ludicidade na prática pedagógica,

visando a uma educação de qualidade. Todos, gentilmente, vislumbraram a

iniciativa, um tanto desafiadora, argumentando que tais atividades são

indispensáveis e que devem ser inseridas como proposta de trabalho no

cotidiano escolar. Alguns depoimentos comprovam os ideais propostos nesse

projeto:

¨O ensino das classes gramaticais de forma lúdica, pode despertar no

aluno o interesse em aprender tornando o ensino-aprendizagem mais

prazeroso. Muitos alunos dizem não gostar de Língua Portuguesa, mas

acredito, que o que eles não gostam é da forma como são transmitidos os

conteúdos em sala de aula. Assim, construir jogos para ensinar as classes

gramaticais motiva o aluno a aprender e permite a ele participar de todo o

processo de seu ensino-aprendizagem.¨ (JLPB)

¨A sua proposta possibilita trabalhar conteúdos gramaticais numa

perspectiva mais dinâmica da língua. Essa nova metodologia, que leva o

aluno a apreender as classes gramaticais de forma lúdica, pode ser uma

grande aliada ao professor de Língua Portuguesa e um excelente fator

motivacional para o aluno. A ludicidade para o trabalho com a gramática

permitirá, através de atividades prazerosas, criativas divertidas e

significativas, a sua compreensão e utilização da Língua Portuguesa. ¨

(MLFT)

¨Penso que um dos grandes problemas para os alunos quanto ao ensino

da gramática seja a forma como ela é trabalhada em sala,mas não sou

das que acreditam que ela deva ser banida das aulas de Língua

Portuguesa por isso acho muito interessante o projeto de intervenção da

professora Sueli. Penso que a proposta dela é bem oportuna e

interessante. ¨ (SGA)

¨Concordo que a busca por novas metodologias é o caminho. E o lúdico é

uma ferramenta motivacional importante para o enfrentamento das

dificuldades no processo ensino-aprendizagem. ¨ (CCG)

Além disso, discussões, reflexões sobre as ações pedagógicas que

norteiam a prática docente foram compartilhadas entre todos os participantes do

GTR.

Alguns pontos me chamaram a atenção na discussão com os professores

deste grupo: falta de tempo, grande carga horária do professor, excesso de

alunos em sala, alunos desmotivados, entre outros, fazem com que professores

não busquem novas práticas pedagógicas. No entanto, após leituras, interações

e vivências/experiências compartilhadas, encorajamento de professores que

ainda acreditam na educação de qualidade, muitos chegaram à conclusão de

que podem sim inserir atividades lúdicas em suas práticas pedagógicas. Foram

momentos únicos de interação e aprendizado, sempre visando ao melhor em

prol do nosso aluno.

Já com os alunos, também foi detectado que poucas vezes a ludicidade

está presente nas aulas. Ainda, questionados a propósito, falaram que aulas

¨diferentes¨ eram mais prazerosas e faziam mais sentido. Logo, o professor que

se utiliza do lúdico como um recurso pedagógico, facilitador da aprendizagem,

tem suas aulas mais atraentes, porém é fundamental usar esse método de

forma responsável, organizada, adequada, caso contrário, será uma perda para

a qualidade do ensino.

Toda atividade realizada com as classes gramaticais fora regrada de

pesquisa, discussão, funcionalidade e, principalmente, elogios e incentivos,

buscando proporcionar ao aluno, além da criatividade e autonomia, segurança

no processo ensino-aprendizagem.

4. CONCLUSÃO

Desenvolveu-se, neste artigo, uma reflexão e compreensão em torno da

proposta de buscar novas práticas pedagógicas, para que o ensino da língua e

sobre a língua efetive-se com mais eficácia, visto que muitas atividades são

consideradas ¨chatas¨ e ¨desmotivadoras¨, o que leva ao declínio do

aprendizado.

No desenvolvimento do projeto, as ações foram tomadas a partir da

ludicidade: jogos, brincadeiras, pesquisas em laboratórios de informática para a

construção de significados, tendo como principal intuito o ensino mais eficaz das

classes gramaticais por meio do lúdico. A princípio, os alunos se demonstraram

meio apáticos, talvez pela falta do desejo de aprender, porém com o passar das

atividades a maioria se envolveu e ampliou significativamente o conhecimento a

respeito das classes gramaticais, portanto adquirindo conhecimentos mais

qualitativos a respeito da língua.

Os bons resultados foram atingidos diante da aplicação de sequência

didática, mostrando-se como metodologia de ensino viável, que objetiva a

efetividade do ensino da/sobre a língua. Portanto, a escolha pela ludicidade, no

contexto do ensino da gramática, foi uma poderosa possibilidade de renovação,

de modo a inserir mais sentido às aulas de língua portuguesa, tornando, dessa

forma, o aprendizado mais agradável e prazeroso.

A proposta nessa pesquisa não está concluída. Ao contrário, ela necessita

ser colocada em prática constantemente, a fim de que nossas aulas tornem-se

mais atraentes, significativas e, também, nosso aluno tenha orgulho de ser

eterno estudante de sua língua materna. Entretanto, isso só será concretizado,

se eu, você, nós, demonstrarmos esse encanto por ela.

5. REFERÊNCIAS

ANTUNES, Irandé. Muito além da Gramática: por um ensino de línguas sem

pedras no caminho. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.

______ .Aula de português: encontro & interação. São Paulo: Parábola

Editorial, 2003.

BAGNO, Marcos. Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Ed. Loyola,

2000.

BRASIL (1998) Parâmetros Curriculares Nacionais: 3º e 4º ciclos do Ensino

Fundamental: Língua Portuguesa. Brasília/DF: MEC/SEF.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978. HUIZINGA, J. Homo Ludens. São Paulo: Perspectiva, 1980.

TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino

da gramática no 1o e 2o graus. São Paulo: Cortez, 1996

PARANÁ. DCE – Diretrizes Curriculares da Educação Básica Língua

Portuguesa, Curitiba: SEED, 2008.

PERINI, Mário A. Gramática descritiva do Português. São Paulo: Ática, 1995.

______. Para que ensinar teoria gramatical. REVISTA DE ESTUDOS DA

LINGUAGEM, [S.l.], v. 10, n. 2, p. 135-231, dec. 2002.