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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO “A VEZ DO MESTRE”
O DIREITO TRIBUTÁRIO COMO INSTRUMENTO DE
EFICÁCIA AO DIREITO AMBIENTAL
Aluna: DANIELA CARVALHO SBAFFI
Orientador: Carlos Afonso Leite Leocadio
Rio de Janeiro
2006
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO “A VEZ DO MESTRE”
O DIREITO TRIBUTÁRIO COMO INSTRUMENTO DE
EFICÁCIA AO DIREITO AMBIENTAL
Monografia apresentada à Universidade
Cândido Mendes, como requisito parcial
para a obtenção do título de Especialista em
Direito Público e Tributário.
Por: Daniela Carvalho Sbaffi
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“A civilização tem isto de terrível: o poder
indiscriminado do homem abafando os
valores da natureza. Se antes recorríamos a
esta para dar uma base estável ao direito (e,
no fundo, essa é a razão do direito Natural),
assistimos, hoje, a uma trágica inversão,
sendo o homem obrigado a recorrer ao direito
para salvar a natureza que morre.” (Miguel
Reale, Memórias, São Paulo, 1986, ed.
Saraiva).
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RESUMO
Hodiernamente, inúmeras são as críticas dirigidas ao sistema
tributário brasileiro como um todo, e, em especial, à ineficácia das exações
cobradas dos contribuintes, os quais pagam os tributos, mas sentem-se
carecedores da contraprestação estatal, cujos serviços não atendem às suas
expectativas.
Nesse complexo contexto, o direito tributário também é mal visto,
uma vez que regulamenta exatamente as relações entre o contribuinte e o
fisco, através da interpretação e aplicação da lei. Por esta razão vale explicitar
as possibilidades existentes, escondidas atrás da letra fria da lei, cujo trabalho
interpretativo inerente ao exegeta, traz inúmeras possibilidades, dentre elas a
proteção ao meio ambiente, de forma firme e eficaz, como demonstrado no
presente trabalho.
O estudo realizado tem por escopo demonstrar que todo o tributo
pode atender a uma finalidade extrafiscal, ou seja, pode impor e exigir
condutas que não tenham por finalidade primeira a arrecadação da receita
financeira, mas impor medidas, cuja tutela é o bem estar social, ou a
preservação da natureza circundante, de onde, aliás, se extraem os recursos
naturais que promovem a circulação da riqueza.
Pelas razões expostas, percebe-se que o trabalho tem por
finalidade demonstrar como o direito, enquanto ciência, pode ajudar a tutelar as
questões sociais, criando mecanismos de controle e defesa pela utilização
racional do ecossistema, utilizando o tributo como instrumento de inibição de
comportamentos difusamente indesejáveis.
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SUMÁRIO
1 - Introdução.
2 - Breves Noções sobre Meio Ambiente.
3 - Da Instrumentalidade do Direito Tributário no Direito Ambiental.
4 - Dos Princípios de Direito Ambiental e o Princípio do Poluidor Pagador –
Função Fiscal do Tributo;
4.1 – O Princípio da Cooperação;
4.2 - O Princípio da Precaução;
4.3 - O Princípio do Poluidor-Pagador. 5 - Da Extrafiscalidade 5.1 – Da Realidade Infraconstitucional do Princípio da Extrafiscalidade. 6 – Dos Tributos no Direito Ambiental; 6.1 – O Sujeito Passivo da Relação Tributária e os Responsáveis Tributários
6.2 – Os Impostos; 6.2.1 – O IPTU 6.2.1.1 – A Emenda 29/2000; 6.3 – As Taxas; 6.4 – Os Preços Públicos/Tarifas. 6.5 – As Contribuições.
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7 – Conclusão.
8 – Bibliografia.
1 - INTRODUÇÃO
O presente trabalho realiza uma análise das relações jurídicas
tributárias, como instrumento de proteção do meio ambiente e sua simbiose
com o direito ambiental.
Primeiramente, é importante ressaltar, que o direito tributário é um
ramo do direito que, por sua natureza, tem conexão ampla com inúmeras
outras áreas, transformando-se em matéria de suma importância à moderna
realidade jurídica. Daí, aliás, o permanente interesse de advogados,
empresários, profissionais da área contábil-fiscal, entre outros, pelo Direito
Tributário.
Dessa forma, o estudo em comento vem tecer considerações
sobre a aplicabilidade do Direito Tributário ao Direito Ambiental, evidenciando a
possibilidade de grande sintonia entre ambos, em benefício da toda a
sociedade.
Para tanto, inicia-se o estudo com a análise do princípio do
poluidor-pagador, pelo qual se verifica a função fiscal do tributo. Após, o
enfoque deste estudo passa a ser o princípio da extrafiscalidade, o qual
constitui ampla área de atuação para o direito tributário, de onde surgem
oportunidades de grandes benefícios à defesa do meio ambiente.
Após o estudo dos principais princípios aplicáveis ao tema, este
trabalho realiza um estudo crítico das elaborações legislativas existentes e
suas conseqüências práticas, assinalando os méritos e deméritos das mesmas.
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Por fim, a conclusão do trabalho arrola as idéias demonstradas no
mesmo, de forma sucinta, evidenciando os pontos principais do trabalho
realizado.
2 - BREVES NOÇÕES SOBRE MEIO
AMBIENTE
O homem estuda a sua relação com o meio em que vive, em seu
aspecto natural, ecológico e cultural, ao que denomina de meio ambiente, o
qual pode ser: artificial, cultural, natural.
Segundo Cleucio Santos Nunes (Direito Tributário e Meio
Ambiente, São Paulo, 2005, pág. 17), artificial é aquele constituído por
realizações humanas edificadas, engloba, portanto, o meio ambiente urbano.
O meio ambiente cultural também resulta do gênero humano, porém se
restringe às obras da intelectualidade humana, como o patrimônio histórico,
artístico, paisagístico e turístico.
Evidentemente, o meio natural ou físico é constituído por recursos
naturais encontrados na natureza, indispensáveis à sobrevivência do homem,
como água, solo, ar atmosférico, elementos físicos e químicos, os quais
constituem a matéria prima utilizada para o processo de desenvolvimento
industrial e econômico.
Os recursos naturais possuem definição legal, esculpida no art.
3°, inciso V, da lei 6938/81, com a redação da lei 7.804/89, o qual arrola os
elementos da natureza, a saber: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e
subterrâneas, o mar territorial, o solo, o subsolo e os elementos da biosfera
(parte da Terra que existe vida), a fauna e a flora.
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Historicamente, desde o período iluminista até a atualidade, a
economia avançou diretamente condicionada à exploração do meio ambiente
natural, ou seja, na sua transformação direta em um produto com valoração no
mercado consumidor.
Com o crescimento vertiginoso da economia e do fenômeno
designado como consumismo, percebemos uma efetiva deteriorização do meio
ambiente natural, o qual é a base do capitalismo, o que fez surgir diversos
movimentos de preservação ambiental em todo o mundo. Assim, uma vez
verificado o perigo do esgotamento dos recursos naturais e ainda o risco da
queda da produção econômica mundial, o meio ambiente passou a ter um
tratamento protetivo, inclusive no Brasil, elevando-o ao status de patrimônio
ambiental, conforme o artigo 225 da Constituição Federal.
Além dos prejuízos econômicos, existem os efeitos sobre a
população, que é a maior vítima do consumo desorganizado e desenfreado dos
recursos naturais. É evidente a diminuição da qualidade de vida das pessoas.
Em menos de 30 (trinta) anos pode-se perceber a intensa poluição dos rios,
cujas nascentes estão secando, poluição do ar1, há o esgotamento dos
recursos minerais, entre outros tantos problemas decorrentes do desequilíbrio
ecológico2. Um exemplo do reflexo direto da poluição são os problemas
respiratórios decorrentes do ar respirado estar poluído, a escassez de água
potável, entre outros.
1 Para exemplificar tais conseqüências, pode-se observar o fenômeno da inversão térmica ocorrida no Rio de Janeiro no inverno de 2006, que tem como causa a falta de chuva nesse período, uma estiagem severa, que surpreendeu até mesmo os especialistas, conforme os dados das quatro estações de monitoramento da Prefeitura. A inversão térmica “aprisiona” uma camada de poluição sobre a cidade: a falta de chuva e de vento dificulta a dispersão dos poluentes, concluiu Túlio Brandão jornalista do “O Globo” em matéria publicada no dia 18/07/2006, pág. 18. 2Na reportagem da Revista Veja n° 38 de 27/09/06, é divulgado estudo que demonstra que os oceanos, em inúmeros casos, já ultrapassaram a sua capacidade de regeneração. Para espanto dos cientistas, algas venenosas que habitavam os mares nos tempos dos dinossauros voltaram a proliferar em uma dúzia de pontos do planeta. Outro exemplo é o que ocorre nos Estados Unidos, a toxina produzida por uma alga que prolifera com rapidez na costa da Califórnia afeta o cérebro e muda o comportamento de várias
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Existem várias causas para os desastres naturais, mas todas têm
uma origem em comum: a quantidade cada vez maior de resíduos da atividade
humana que vão parar na natureza, em especial nos oceanos.
O conteúdo das fossas e tubulações de esgoto doméstico, os
dejetos industriais, os fertilizantes e as substâncias químicas usadas na
agricultura e pecuária – todos esses elementos são ricos em nutrientes
básicos, compostos de hidrogênio, carbono, ferro e fósforo, que alteram a
composição química dos mares. Eles favorecem a proliferação de algas e
bactérias que, em excesso, consomem boa parte do oxigênio da água,
sufocam os corais, comprometem a cadeia alimentar dos oceanos e, por
extensão, a sobrevivência dos animais. As emissões de CO2 oriundas da
queima de combustíveis fósseis colaboram para a degradação dos mares,
gerando a escassez do oxigênio, criando as zonas mortas, tal fenômeno
também ocorre no ar, através do efeito estufa.3
O que salta aos olhos, é que o meio ambiente transpõe as
fronteiras geopolíticas, uma vez que o ecossistema do planeta terra é uno,
composto pela reunião interdependente de micro ecossistemas. Tal fato pode
criar obstáculos para a solução de problemas, até mesmo por esbarrar no
consagrado princípio da soberania de cada nação.
Assim, evidencia-se uma grande celeuma, a saber: como
preservar e explorar o meio ambiente ao mesmo tempo. A diminuição do
impacto ambiental é uma necessidade. Um estudo divulgado pela Organização
das Nações Unidas - ONU, revelou que na última década as emissões de
gases do efeito estufa vêm aumentando. Em 2004 foram lançados 17,8 bilhões
de toneladas na atmosfera, 1,6% a mais do que em 2003. Segundo o
espécies. Entre os leões-marinhos, as fêmeas contaminadas perdem o interesse por suas crias e chegam a atacá-las logo após o nascimento.
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especialista Dan Brown, ex-assessor do então presidente Bill Clinton, a
redução das emissões precisa ocorrer no importe aproximado de 80%, para
que o nível de CO2 seja eficazmente controlado4, diminuindo sua influência nas
alterações climáticas do planeta.
Para ser compreendida a real dimensão do problema ambiental
brasileiro, deve ser feita uma análise histórica do desenvolvimento econômico
brasileiro. À época da colonização, a visão exploradora dos europeus era
diretamente ligada ao ato de destruição, seja na extração predatória dos
recursos minerais, ou na exploração das florestas, das peles de animais,
chegando-se ao extremo de escravizar os povos nativos.
A formação das cidades, favorecida pela pobreza reinante,
ocorreu de forma desorganizada e sem maior preocupação com a preservação
do meio ambiente circundante. Note-se que, até hoje, as grandes metrópoles
do país sofrem com a falta de saneamento básico, água canalizada e com a
existência das construções irregulares, entre outras deficiências estruturais.
Gilberto Marcos Rodrigues (Direito Ambiental Internacional, São
Paulo, 2002, pág. 129), explica que o Brasil da década de 60 (sessenta),
detinha posição conservadora sobre a proteção ambiental, pois, àquela época,
era defendido o entendimento de que os chamados países em
desenvolvimento, deveriam ser excluídos da política de racionalização dos
recursos naturais, pois esta seria uma prerrogativa dos países de
desenvolvimento adiantado, sob pena de profunda desvantagem na
concorrência internacional.
Contudo, na década de 70 (setenta), a discussão internacional
sobre a questão ecológica foi intensa, o que ocasionou a retomada do debate
no Brasil, mas somente no final da década de 80 (oitenta) é que o movimento
3Fonte: A Agonia dos Oceanos, matéria de Leoleli Camargo, publicada na Revista Veja n° 38 de 27/09/06. 4Fonte: Roberta Jansen. Jornal “O Globo” de 01/09/2006, pág. 35.
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ambiental ganha força, o que culminou na famosa ECO/92, sediada no Rio de
Janeiro, levantando para o mundo a bandeira do planejamento ambiental e
ratificando o princípio do desenvolvimento sustentável, defendido pouco antes
na Conferência de Estocolmo (Nunes, Cleucio Santos, Direito Tributário e Meio
Ambiente, São Paulo, 2005, pág. 23).
Somada às questões políticas, deve ser somada a falta de
conscientização da população, que utiliza os recursos naturais sem a
preocupação da sua utilização racional. Vale observar que é nesse contexto
de desenvolvimento caótico nos diversos ecossistemas naturais e urbanos, que
o sistema de direito positivo ambiental brasileiro se ergue. (Santos, Milton.
Urbanização Brasileira, pág. 11) 5.
Apesar de tal fato ser uma realidade, existem exemplos quanto ao
resultado da mobilização social, como no caso da construção de cisternas no
sertão semi-árido nordestino, onde há um elevado índice pluviométrico, sem a
devida retenção da água das chuvas6 .
Importante notar a relevância do movimento da sociedade
organizada como instrumento de orientação política. O resultado dessa
influência resta refletida na própria Constituição da República, no artigo 170,
inciso VI7, ao limitar a atividade econômica de forma que haja o compromisso
de defesa do meio ambiente, in verbis : “ defesa do meio ambiente, inclusive
mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos
e serviços e de seus processos de elaboração e prestação.”
5Citado por Cleucio Santos Nunes, o qual ainda complementa a importância dos movimentos internacionais que tentam uniformizar as regras tuteladoras do meio ambiente. 6 Fonte: Jornal “O Globo” de Domingo, 13/08/2006. A coleta da água pluvial, na forma preconizada, acarretou melhora significativa da qualidade de vida dos moradores locais e a utilização racional de um recurso natural, a saber: a água proveniente da chuva. 7 Redação alterada em 2003, pela emenda constitucional de n°42, a redação anterior dizia simplesmente: “VI - defesa do meio ambiente”. A ampliação da redação vem demonstrar a necessidade de consagrar o tratamento diferenciado e cauteloso dispensado à tutela do meio ambiente.
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Assim, resta demonstrada a interligação entre o meio ambiente,
tributo e a atividade econômica. O primeiro sendo a fonte de matéria-prima a
ser utilizada na cadeia produtiva, o segundo é o instrumento de intervenção na
economia, através do qual o Estado retira a sua receita, que deverá ser
revertida para a sociedade, através das suas políticas sociais, trazendo o
equilíbrio para a economia e o desenvolvimento sustentável.
3 - DA INSTRUMENTALIDADE DO DIREITO
TRIBUTÁRIO NO DIREITO AMBIENTAL
A preservação do meio ambiente e a atividade tributária
encontram, no modo de produção capitalista, razão para existir e fonte para a
sua manutenção.
O Estado precisa auferir receita, para desempenhar sua função
gerencial, nos moldes do estabelecido na Constituição da República (art. 174
caput e incisos), vislumbra-se uma dependência direta do Estado e a atividade
econômica. Esta interligação dá margem à criação de estruturas burocráticas
ao exercício do poder, as quais são financiadas com recursos hauridos nas
relações sociais de produção, através dos tributos.
O Estado Fiscal trouxe como marco histórico, a independência da
receita pública aos repasses do monarca. Tal estrutura desenvolveu-se em
cinco fases, designadas Estado Patrimonial, Estado de Polícia, Estado Fiscal
Propriamente Dito, Estado Social Fiscal e o Estado Socialista. (Torres, Ricardo
Lobo. Curso de Direito Tributário, 2001, São Paulo, pág. 06).
Contudo, é no Estado Fiscal e no Estado Social-Fiscal, que é
tutelado, como bem jurídico, o meio ambiente. Vale salientar, que a primeira
fase, surgiu com o anseio da sociedade, pela não intervenção estatal, cujos
extremismos desencadearam a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais.
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Após as duas Grandes Guerras, veio uma nova fase de política
estatal, que não se desatrelou da característica arrecadatória. Entretanto, este
elemento veio adicionado a outras preocupações, como a distribuição da
renda, a qualidade dos serviços públicos, garantindo assim, políticas protetivas
à sociedade.
O Brasil, apenas recentemente, ou seja, na década de 90,
conseguiu atrelar-se ao novo conceito de Estado, que tem fundamento na
observância do equilíbrio financeiro, com a concentração nas políticas sociais
consideradas necessárias. (Torres, Ricardo Lobo. Curso de Direito Tributário,
2001, São Paulo, pág. 08).
Segundo Ives Gandra da Silva Martins (Curso de Direito
Tributário, 2000, São Paulo, pág. 05), na década de 80 (oitenta), em todo o
mundo capitalista, viu-se um esforço crescente para diminuir a carga tributária.
Em contrapartida, ao Estado, competiria intervenção mínima, administrando a
saúde, educação, justiça, previdência, com a repressão ao abuso do poder
econômico.
Apesar de o Brasil ter adotado essa concepção teórica do Estado
Social Fiscal, o aumento crescente da carga tributária8, somado às políticas
estatais insuficientes, faz com que, em essência, esteja-se diante de um
Estado eminentemente fiscal, cujas políticas sociais encontram-se à margem
da sociedade.
De todo modo, a elaboração das regras que organizam o
funcionamento da máquina estatal é matéria complexa. Toda norma, todo
texto legal, tem como fundamento uma causa e uma finalidade, seja de
repressão, definição de conduta, ou sanção.
8 Jornal O Globo de 25/08/2006: a arrecadação tributária brasileira de 2005 obteve recorde histórico.
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Ao se estudar sobre o ordenamento jurídico de uma nação,
estuda-se também a concepção de territorialidade, de abrangência de uma lei.
Afinal, uma das dificuldades encontradas é a condição geopolítica do território
e, portanto, do meio ambiente, enquanto bem jurídico tutelado, já que
ultrapassa as fronteiras físicas dos Estados.
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Ademais, as leis terão a difícil missão de retratar a política de
desenvolvimento econômico sustentável e planejamento ambiental e deverão
trazer o equilíbrio na exploração dos recursos naturais. 9 Os diplomas legais
podem e devem ser instrumentos de adequação e definição de condutas com
objetivo de impedir o manejo impróprio dos recursos naturais10, os quais são a
base da produção econômica.
Assim, modernamente se fala da função extrafiscal dos tributos,
os quais estes podem ser utilizados como instrumento de inibição de
comportamentos difusamente indesejáveis. Isso poderá ocorrer de duas
formas: através da aplicação de tributos que venham a coibir e/ou penalizar
aqueles que praticam atividades consideradas nocivas ao meio ambiente, de
forma direta e incisiva. A outra modalidade, e muito eficaz, atinge um maior
números de pessoas, está intimamente ligada à conduta de consciência
ecológica, o que pode ser feito através de incentivos fiscais, ou ao revés,
através, na majoração dos tributos vinculados à fatos geradores que reflitam
danos diretos ou indiretos ao ambiente.
9 Inobstante a CRFB ter conferido competência legislativa aos três entes federativos, é grande a celeuma quanto à competência sobre meio ambiente. A queimada dos canaviais durante o inverno constitui um grave problema ambiental que afeta boa parte dos municípios do interior paulista. A fumaça e a fuligem produzidas pelas queimadas poluem o ar e sujam as casas, causam problemas de saúde às pessoas e prejudicam outras plantações. O Órgão Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo, ao julgar a ADI 125.132.0/4-00, a qual contestava a lei municipal da prefeitura de Americana – SP, que impedia a realização da queima da cana-de-açúcar, entendeu que não cabe aos municípios legislar sobre meio ambiente. Os autores dos projetos das leis que impediram a queima de cana, impugnaram a lei estadual que criou uma moratória de 30 anos para o fim das queimadas, a qual também seria inconstitucional, por contrariar a Lei Federal 6.938/81. (Fonte Revista Consultor Jurídico de 25/08/2006). 10 A decomposição da massa de matéria orgânica produz um fluído chamado chorume, considerado uma das substâncias mais nocivas para o meio ambiente em razão da sua reduzida biodegradabilidade e alto conteúdo de metais pesados, capaz de se infiltrar, atingindo as águas subterrâneas e mananciais. Um grande aterro em São Paulo gera em torno de 1,1 milhão de litros de chorume/dia. O Brasil é possuidor da tecnologia ambiental, inclusive com projeção mundialmente reconhecida, contudo faltam políticas públicas para implementar regras de tratamento e destinação do lixo urbano. O projeto de lei de Resíduos Sólidos tramita na Câmara dos Deputados há 15 (quinze) anos. Segundo pesquisa do IBGE, 59% dos resíduos urbanos coletados são destinados de forma irregular em lixões a céu aberto, aterros, rios e alagados e 45 mil toneladas/dia de matéria orgânica são lançadas sem tratamento no meio ambiente. (Fonte: Jorge Pesce, Jornal “O Globo” de 01/10/2006. Caderno Opinião, pág. 07).
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Outro instrumento útil é o princípio da seletividade, o qual pode e
deve ser associado ao principio da extrafiscalidade do tributo. Através de
critérios legais específicos, poderá ser criada uma sistemática diretamente
atrelada ao pensamento de preservação do ecossistema.
É fundamental que os textos legais tributários tenham a finalidade
protetiva, calcada nos princípios ambientais da precaução e da cooperação, aí
sim verificaremos o direito tributário como um eficaz instrumento de
preservação do meio ambiente. Tal objetivo não é de fácil obtenção, pois, pela
sua natureza, esbarra nos interesses de grupos econômicos, daí a grande
dificuldade de êxito nos resultados esperados.
Ademais, como em algumas situações arrecada-se menos, em
outras, para determinar a proibição de conduta, aumenta-se a carga tributária
correspectiva ao seu responsável tributário, dessa forma, é possível manter o
equilíbrio fiscal, sem medidas extremadas.
Dessa sorte, pelo raciocínio exposto, percebe-se ser viável, ou
pelo menos plausível, a utilização do direito tributário, como meio ou
instrumento ao direito ambiental.
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4 - DOS PRINCÍPIOS DE DIREITO AMBIENTAL E O
PRINCÍPIO DO POLUIDOR PAGADOR – FUNÇÃO
FISCAL DO TRIBUTO
O Direito exerce papel fundamental na determinação do conceito
de políticas públicas, uma vez que estas devem ser desenvolvidas dentro da
legalidade. (Nunes, Cleucio Santos, Direito Tributário e Meio Ambiente, São
Paulo, 2005, pág. 53)11. Um exemplo de positivação legal desses princípios é
o Estatuto das Cidades, nos art. 43 a 45, onde resta prevista a participação das
entidades associativas na organização urbanística.
Em sede de direito ambiental, vários são os princípios que têm
fundamental importância, a saber: princípio da cooperação, princípio da
precaução e princípio do poluidor-pagador.
É com fulcro no princípio do poluidor-pagador, que está fundada a
autorização para utilização do direito tributário, como ferramenta para a defesa
do meio ambiente. Contudo, será feita uma breve síntese sobre a importância
dos demais princípios.
4.1) Princípio da Cooperação
O princípio da cooperação, como o próprio nome indica, tem
fundamento na idéia de que todos devem participar para a defesa do
ecossistema equilibrado.
11 O Autor menciona a obra de Habermas Jurgen. “Between facts and norms”. Sobre o assunto, Hely Lopes Meirelles (Direito Administrativo Brasileiro, 2001, São Paulo, pág. 83), ensina a medida sobre o princípio da legalidade: “Cumprir simplesmente a lei na frieza de seu texto não é o mesmo que atendê-la na sua letra e no seu espírito. A Administração, por isso, deve ser orientada pelos princípios do Direito e da Moral, para que ao legal, se ajunte o honesto e o conveniente aos interesses sociais.”.
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A colaboração da sociedade é decisiva para a obtenção da tutela
do meio ambiente e deve ser feita em conjunto com as políticas estatais,
conforme preconiza o art. 225 da Constituição da República Federativa do
Brasil.
Para a aplicação do princípio da cooperação, dois são os
instrumentos indispensáveis: a informação e a educação ambiental.
Um exemplo da importância desse princípio são os bons
resultados obtidos com a parceria pública privada. No Sertão de Camuaru,
Pernambuco, o alto índice pluviométrico do semi-árido nordestino é
aproveitado. A organização não governamental denominada Articulação do
Semi-Árido – Asa, com a ajuda de recursos advindos do Ministério do Meio
Ambiente, construiu 150.500 cisternas em 988 municípios, com 728.249
pessoas beneficiadas, com direito à água limpa e de boa qualidade. Cada
cisterna custa R$1,5 mil (um mil e quinhentos reais) e tem capacidade para 16
mil litros de água, volume suficiente para uma família beber e cozinhar durante
oito meses de estiagem12.
4.2) Princípio da Precaução
O princípio da precaução está previsto na Constituição da
República, art. 225, caput e §1, inciso IV, ao aduzir que o Poder Público e a
coletividade têm o dever de proteger e preservar o meio ambiente para as
presentes e futuras gerações.
O princípio da precaução é complementar ao princípio do
poluidor-pagador e da cooperação, uma vez que a prevenção deve ser o
objetivo a ser alcançado e da sua origem decorre a aplicação de cada um
desses princípios.
12 Fonte: Letícia Lins. Jornal “O Globo” de 13/08/2006, pág. 13.
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A precaução tem como fundamentos os deveres de cuidado e
necessidade. Logo, pode ser traduzido na conduta de cautela, daquele que
pretende explorar os recursos naturais.
Dessa forma, também atrelado à precaução, a Constituição da
República prevê a exigência do estudo de impacto ambiental prévio, para a
instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de degradação
ambiental.
Segundo a opinião de Cleucio Santos Nunes (Direito Tributário e
Meio Ambiente, São Paulo, 2005, pág. 55), o princípio da precaução é dotado
de grande ambivalência, à medida que sua utilização deve ser o fim primeiro da
atuação estatal e em consonância aos princípios da cooperação e do poluidor-
pagador, pois estes visam corrigir práticas agressivas ao meio ambiente. Já a
precaução, tem como principal objetivo, a adoção de critérios preventivos ao
dano, evitando, assim, a tensão social decorrente do dano ecológico.
Ao explicar o sentido da ambivalência o mesmo autor aduz que a
precaução possui características que se refletem aos demais princípios, já que
ao obrigar a adoção de políticas públicas se assemelha ao poluidor-pagador, e,
ao exigir a responsabilidade de toda a sociedade na preservação ambiental,
reveste-se de elementos de cooperação.13
Por essa razão é que o princípio da precaução serve como base
interpretativa para a aplicação dos demais princípios, por conter dois elementos
inerentes à atividade de toda a administração pública, a saber:
proporcionalidade e razoabilidade.
13 Outro exemplo da atuação conjunta dos três princípios ambientais está na multa de R$100.000,00 (cem mil reais) imputada à companhia Barcas S.A., aplicada pela Agencia Reguladora de Serviços Públicos – Agetransp, por ter aquela cobrado tarifas superiores à autorizada pela autarquia estadual. Contudo, o Conselho Diretor da Agetransp determinou a conversão do valor da multa em investimentos da concessionária em melhoria dos serviços, não previstos no contrato de concessão. Esses investimentos serão previamente aprovados pela Agência e acompanhados pela Câmara de Transportes, no prazo de até 1 (um) ano. (Fonte: Jornal “O Globo” de 20/07/2006. Reportagem de Isabela Bastos).
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Uma medida preventiva, por exemplo, seria a medição de
poluentes das fábricas, para controlar diretamente o potencial poluidor da
unidade industrial, o quê, além de torná-la alvo de uma incisiva e eficaz política
pública de prevenção, deverá incentivar medidas antipoluentes e as obriga a
investir em organizações e pesquisas de fomento para medidas preventivas
(conjunção dos princípios da precaução e da cooperação).
No que tange a prevenção, deve ser enfatizada as políticas que
têm demonstrado resultado, como a criminalização de condutas lesivas,
incentivos fiscais, de forma a desestimular o empreendedor na assunção do
risco do dano.
Outra possibilidade é o instituto da compensação financeira
vinculada ao cumprimento de obrigação ambiental. Tal instituto é um
instrumento de compartilhamento de despesas entre o poder público e as
empresas interessadas na implantação de projetos de significativo impacto
ambiental. A Lei federal 9.985/0014 impõe ao empreendedor, o pagamento de
0,5% (meio por cento) do custo total previsto para o exercício da atividade
econômica, com o objetivo de implementar as políticas de defesa do meio
ambiente.
4.3) Princípio do Poluidor-Pagador
O princípio do poluidor-pagador, esculpido no art. 225, §3° da
Constituição da República, é o fundamento para a utilização dos tributos na
seara de defesa do meio ambiente.
14 A lei foi submetida à ação direita de inconstitucionalidade – ADI 3.378, ajuizada pela Confederação Nacional da Indústria – CNI contra tal pagamento. Apenas o relator Ministro Carlos Ayres Britto proferiu seu voto, negando razão à CNI, o qual entendeu que a preservação do meio ambiente é uma responsabilidade das presentes e futuras gerações, afastando a alegação da ausência de razoabilidade do dispositivo legal, e, também, que não há outra forma de atingir esse objetivo, do que impor ao empreendedor o dever de arcar, ao menos em parte, com os custos de prevenção, controle e reparação dos impactos negativos ao meio ambiente. (Fonte Revista Consultor Jurídico de 14/06/2006 e Ambiente Vital, em 21/06/2006).
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Pelo chamado princípio do poluidor-pagador, aquele que exerce
uma atividade poluidora terá, a princípio, uma carga tributária maior, para
custear o prejuízo ambiental que poderá causar.
O artigo 225, §3° da Constituição da República traz a idéia da
causa e efeito. Uma vez cometida a irregularidade, como conseqüência,
haverá a responsabilização do poluidor, in verbis:
“As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções
penais e administrativas, independentemente da obrigação de
reparar os danos causados.”
As medidas tributárias em meio ambiente, podem ser divididas da
seguinte forma: a) na cobrança de tributos com a finalidade extrafiscal de
controle da poluição em sentido lato; b) a abstenção da exigência de tributos
como meio de incentivo ao desenvolvimento de técnicas que reduzam os
índices de agressividade ao ecossistema, ou que importem mudança de
comportamentos causadores de mais poluição. Tais enfoques tributários
podem ser considerados uma resposta à crítica que se faz, de que as exações
ensejariam uma automática autorização para poluir.
A ação tributária ativa prevista na Constituição serve de
supedâneo ao incremento e cobrança de tributos que visem inibir os avanços
descontrolados da produção sobre o meio ambiente, o que tem acarretado o
quadro geral de destruição e desigualdades sociais, já que o lucro obtido pelos
setores de produção é repartido entre poucos, contudo o dano ambiental é
suportado por todos.
22
-
Para o melhor emprego do princípio do poluidor-pagador devem
ser conhecidos os elementos que constituem a ciência econômica. O direito
tributário e o direito ambiental estão cada vez mais ligados à economia, pois
podem atuar como fator de influência desta, ao ensejar reflexos no preço final
do produto, o que pode ser feito através do repasse do aumento do tributo,
quando o insumo utilizado torna-se escasso, ou sua utilização no processo de
produção passa a ser desestimulada, para fins ambientais.
Dessa forma, o manejo dos tributos e das multas deve ser
cauteloso, por ser um elemento de influencia no equilíbrio do mercado,
demonstrando, desta forma, a responsabilidade das políticas governamentais
de planejamento tributário no meio ambiente. Um bom exemplo disso é a
tributação a maior recebida pela soja transgênica, com o objetivo de
desestimular o seu consumo, uma vez que esta matéria-prima será mais cara
que a soja comum. (Nunes, Cleucio Santos. Direito Tributário e Meio Ambiente,
São Paulo, 2005, Pág. 123).
Outro exemplo é a tributação diferenciada de produtos não
recicláveis e descartáveis, o que poderia acarretar um preço final pouco
vantajoso, acarretando uma menor aceitação do consumidor. Em
contrapartida, é óbvio que os produtos escolhidos como substitutos, poderão
gozar de algum incentivo fiscal, para que, de fato, estejam ao alcance do
destinatário final.
É certo que fatores objetivos como o preço e subjetivos como o
gosto do consumidor, influenciarão no resultado final do sucesso da política
tributária no âmbito ambiental. Contudo, com respaldo no princípio da
cooperação, não se pode deixar de lado a responsabilidade governamental,
pela difusão da conscientização ambiental, para que o círculo se feche por
inteiro dentro da sociedade.
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-
Um produto ou serviço que cause danos ambientais, não pode ser
ao mesmo tempo lucrativo. Pensar do contrário seria incentivar a degradação
ambiental, sendo certo que o direito tributário possui força suficiente para
ajudar tornar desinteressante a continuidade da exploração comercial de tais
produtos/insumos.
Saliente-se que, na produção industrial, a tecnologia pode ser
grande aliada ao desenvolvimento sustentável, basta que haja incentivo para a
tecnologia empregada, cujo resultado seja a exploração racional dos recursos
naturais e minimização de poluentes. Assim, resta configurada a importância
da relação entre a finalidade do aprimoramento tecnológico e a política
tributária empregada. Seguindo esse raciocínio, deve ainda ser observada a
tributação ativa, que deve ser utilizada com resguardo e moderação.
A tributação negativa (incentivos e isenções) tem sido recebida
com muito entusiasmo e aceitação pelos setores produtivos, já que a carga
tributária brasileira aumenta incessantemente, e, realmente, é um fator de
alteração do equilíbrio econômico, pois não apenas alcança a cadeia de
produção verticalizada (fornecedores e produtores), como diminui o poder de
compra dos consumidores. 15
Outro grande desafio reside no fato de que a tributação não deve
induzir à adoção de medidas de impacto social negativo, como demissão de
empregados, ou violar direitos. Ao mesmo tempo, não pode implicar na
redução desmedida da lucratividade dos setores produtivos. Atente-se, ainda,
que diminuição da produção não necessariamente pode representar queda de
lucratividade, pois as adaptações devem seguir políticas de substituição de
insumos e investimentos, as quais, ao final, compensarão o custo do
investimento realizado.
15 O Jornal “O Globo” de 01/09/2006, no Caderno Economia, publicou reportagem de Patrícia Eloy, informando que: “O Brasileiro paga R$2,71 bilhões de reais em impostos por dia. O volume quase
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-
A conscientização dos setores produtivos de que os recursos
naturais não são infindáveis, como outrora se imaginava, servirá de
supedâneo, para a adoção das políticas protetivas, com a certeza do
esgotamento das matérias-primas, caso ocorra a perpetuação da exploração
econômica de forma desmedida.
Como já ventilado, a indústria não é a única responsável por
praticas poluidoras, mas o próprio consumidor de bens potencialmente
poluidores, também se enquadra nesse qualificativo, a partir do momento que
utiliza materiais altamente nocivos, como plásticos16 e latas de alumínio. Isto
também deve ser controlado.
Nessa linha de raciocínio surgem as discussões quanto à
responsabilidade tributária. Quando é o consumo que gera de forma imediata
as emissões, fica mais fácil realizar a distinção entre o plano material e o plano
formal. Se no primeiro plano é poluidor quem cria o bem, no segundo é
poluidor quem o utiliza, no sentido de adquiri-lo, usar e dispor do mesmo, enfim
o consumidor, sendo este, portanto o responsável tributário. 17
O produtor será o responsável enquanto o ambiente o serve pelo
fato da produção. O consumidor também será responsável pelo uso, fruição e
disposição do ecossistema, seja de forma direta, ou indireta. Assim, deve ser
analisado o contribuinte de direito, ou seja, aquele que incorre no
comportamento descrito na hipótese de incidência, ou ocupa posição que a lei
tipifica como fato gerador do imposto.
dobrou desde 2002, quando era de R$1,2 bilhão”, de acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário – IBPT. 16 Quase 90% do lixo que bóia nos oceanos é formada por materiais plásticos. Os pássaros e outros animais comem pequenos objetos desse material, julgando ser comida e morrem por asfixia ou lesões internas. Fonte: “A Praga do Lixo Plástico” Revista Veja n° 38. 17Não se quer dizer aqui, que a responsabilidade será exclusiva do consumidor, mas concorrente com a dos produtores e em proporções menores, apenas não poderão ser eximidos da sua parcela da
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O fato gerador do imposto deverá ser o próprio ato contaminante,
o sujeito passivo quem perturbou o equilíbrio ecológico e o agente
contaminador, aquele que praticou o ato causador da poluição, será o
responsável. Nem sempre o poluidor (responsável) será aquele que concentra
as qualidades de sujeito passivo e contribuinte de fato. Isto porque também
será responsável tributário, aquele que se beneficia do exercício de uma
atividade poluente ou cria condições necessárias ao desenvolvimento desta.
Ou seja, deve pagar (responsável tributário) aquele que está em
melhores condições de precaver18 a degradação ambiental, isto é, aquele que
tem o poder de controle sobre as condições que levam à ocorrência da
poluição, podendo, portanto, tomar as medidas cabíveis para a sua precaução,
independentemente de existência de culpa e nexo causal entre a ação e o
dano ambiental, cuja materialidade pode ser apenas potencial.
Assim, poderá ser devido pagamento de imposto, mesmo que o
dano não tenha ainda ocorrido.
Pelo princípio do poluidor-pagador, uma suspeita verossímil de
causa de dano potencial pode ser suficiente para a legitimação do pagamento
da exação. 19 Tal entendimento visa elidir a argumentação de que o processo
industrial utilizado seja limpo, ou seja, sem degradação ambiental direta, isso
porque o seu resultado, o produto obtido, pode ser um sério causador de danos
ao meio ambiente, neste caso o produtor ainda será o responsável tributário,
com o objetivo de pressioná-lo à adaptação de tecnologias menos gravosas.
responsabilidade, uma vez que a própria Constituição Federal confere a toda a sociedade, o ônus pela defesa ambiental. 18 Princípio do poluidor-pagador interpretado conjuntamente ao princípio da precaução. 19 Aqui entra também a discussão sobre a questão da extrafiscalidade dos tributos ambientais, bem como a influência do princípio da precaução.
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A consciência ambiental está inserida no contexto tributário, a
partir do momento que o produto similar não poluente seja mais barato do que
os produtos poluentes. É a questão da demanda, oferta e procura: o produto
mais barato será quase sempre o preferido pelo consumidor. 20
Ora, se o plástico é mais utilizado pela indústria porque é mais
barato, deve ser taxado de forma a ficar desinteressante para as empresas.
Isso porque até mesmo a indústria vai optar pelo insumo que lhe for mais
barato. Inclusive, a receita advinda com tal tributação, deverá custear a
pesquisa de medidas alternativas e de possibilidades de depósito do lixo não
degradável.
Para facilitar a viabilidade de políticas de substituição de insumos,
deve-se ter por objeto os produtos com facilidade de serem encontrados no
mercado, a fim de evitar maiores alterações no preço do produto, ou inviabilizar
a sua produção, o que diminuirá o impacto sobre a economia. Observe-se que
os tributos ecológicos terão dois nichos de incidência, produção de bens
industriais e o seu consumo. (Nunes, Cleucio Santos, São Paulo, 2005, pág.
129).
Podem ocorrer situações em que o consumidor desconhece o
potencial ofensivo de determinado produto21. Nestas hipóteses, não se poderá
repassar a responsabilidade tributária ao consumidor, até porque em algumas
circunstâncias a identificação de quem é o agente poluidor pode tornar-se
difícil, ante a complexidade de atos da cadeia produtiva e pelos efeitos difusos
e longínquos no tempo e espaço, das medidas fiscais adotadas e do custo de
sua implementação.
20 Tendo em vista a alta incidência tributária já existente, os incentivos fiscais podem fazer o diferencial do preço, desde que as empresas estejam obrigadas a repassar a benéfice no preço final. 21 Ressalte-se a importância de investimentos das empresas em políticas de conscientização dos consumidores e adotar o princípio da transparência consagrada no código de defesa do consumidor. O consumidor que também obtém do fornecedor as informações cabíveis, não pode ser deixado de lado da sua parcela na responsabilidade ambiental e tributária.
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Deve ser frisado, também, que pelo artigo 223, §3 da Constituição
da República restou consagrado o princípio do poluidor-pagador, o qual
autoriza a política repressiva após o evento danoso. Contudo, não está vedada
a aplicação de uma política preventiva de qualidade, ambas irão
complementar-se. Isso se deve ao fato de que os princípios contidos no
ordenamento jurídico devem ser interpretados de forma integrada, do contrário,
seria retirada a unicidade de todo o ordenamento jurídico pátrio.
Inobstante a autorização constitucional para o tributo ecológico,
as construções legislativas existentes no direito brasileiro, são bastante
criticadas pela jurisprudência e doutrina, sendo apontadas impropriedades
técnicas que acarretam alegações de inconstitucionalidade, o que enfraquece
os dispositivos criados. Um exemplo dessa impropriedade técnica é a Lei
6938/81 que criou uma taxa de fiscalização ambiental, a qual foi objeto de
diversos questionamentos, inclusive através da medida cautelar na ADIN n°;
2178/00, a qual suspendeu, liminarmente, a cobrança dessa exação. Com o
advento da lei nº 10.165, de 27.12.2000, houve a alteração da redação dos
artigos 17-b, 17-c, 17-d, 17-f, 17-g, 17-h e 17-i da lei nº 6.938/81, introduzidos
pela lei nº 9.960/2000, ajustando o texto legal e obtendo-se a posterior
declaração de constitucionalidade da cobrança de tal exação.
Outras críticas são no sentido de que o princípio poluidor-
pagador, pode ser interpretado como mais uma oportunidade para a majoração
desmedida de impostos, sob pena de revestir-se de características
confiscatórias.
De todo modo, o fato da Constituição Federal brasileira ter
previsto o princípio do poluidor-pagador, não significa dizer que este será o
único e melhor meio utilizado para preservação ambiental. Note-se que a Carta
Constitucional é dotada de princípios implícitos e explícitos, ambos com a sua
devida importância.
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Por fim deve ser ressaltado, que a imposição tributária revestida
de responsabilidade ambiental, deve obedecer a um tratamento uniforme e,
portanto, em âmbito nacional e, preferencialmente, internacional, a fim de
serem escoimadas as adversidades enfrentadas pelos sistemas locais de
defesa do ecossistema saudável e do desenvolvimento sustentável.
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5 - DA EXTRAFISCALIDADE
A extrafiscalidade tem em sua essência, o moderno entendimento
da utilização dos tributos, como mecanismos de controle e defesa pela
utilização racional do ecossistema.
Como já enfatizado, o Estado poderá utilizar o tributo como
instrumento de inibição de comportamentos difusamente indesejáveis, tal
situação recebeu o nome de extrafiscalidade. (Nunes, Cluecio Santos. Direito
Tributário e Meio Ambiente, São Paulo, pág. 12). Este entendimento deve
servir de critério para analisar se uma lei editada atende à sua finalidade
protetiva, ou, simplesmente, utiliza-se de tão nobre roupagem, para camuflar a
defesa de interesses políticos específicos e que desvirtuam o objetivo de
preservação do meio ambiente.
O que se pretende obter é o desenvolvimento sustentável e
equilibrado, através da utilização dos recursos naturais, ambos estão
estritamente ligados, bem como a garantia de eficácia do que se chamou de
Estado do bem estar social.
Assim, quando se coloca em pauta a discussão sobre reforma
tributária, mais do que unificar tributos, ou diminuí-los em quantidade, deve-se
pretender a utilização inteligente dos mesmos, que além de atender a sua
função eminentemente fiscal, tem o dever de atender aos interesses sociais da
sociedade, os quais estão esculpidos na Constituição Federal.
Vale reiterar, que não é apenas na extrafiscalidade que reside a
tributação ambiental (Nunes, Cluecio Santos. Direito Tributário e Meio
Ambiente, São Paulo, pág. 13), o principal princípio embasador da tributação
ambiental é o denominado princípio do poluidor-pagador.
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Importante enfatizar que a interpretação literal do §3 do art. 225,
da Constituição da República, não induz automaticamente ao efeito extrafiscal
da tributação. Contudo, como as demais normas constitucionais, seu teor não
é taxativo, ou numerus clausus, não exclui do ordenamento jurídico, outras
prerrogativas que a esta possam ser somadas, uma vez que a Carta
Constitucional é a reunião de princípios, de amplo campo de interpretações,
conforme as necessidades da sociedade. Pensar do contrário seria engessar o
trabalho interpretativo de tal Carta. Assim, não é por menos que o §3° do art.
225 da Constituição, é um dispositivo cuja locução é indeterminada, cabendo
ao intérprete a adequação à própria finalidade do princípio que o encerra.
José Afonso da Silva (Curso de Direito Constitucional Positivo,
São Paulo, 1999, pág. 100), ensina que a Constituição de um país guarda
princípios essenciais, os quais constituem regras básicas, ou postos-chaves de
interpretação e construção teórica do ordenamento jurídico.
Carlos Maximiliano (Hermenêutica e Aplicação do Direito, Rio de
Janeiro, 1999, pág. 305), jurista estudioso da hermenêutica, nos alerta para o
fato de que, a técnica de interpretação constitucional difere das disposições em
âmbito ordinário, pois aquelas possuem maior amplitude em seu alcance e são
dispostas em termos gerais, devendo-se abrir mão do que chamou de
casuística minuciosidade, ou seja, interpretações restritivas, limitadas à
literalidade do texto em que está inserido, in verbis:
“Deve o estatuto supremo condensar princípios e normas
asseguradores do progresso, da liberdade e da ordem e precisa
evitar casuística minuciosidade, a fim de não se tornar
demasiado rígido, de permanecer dúctil, flexível, adaptável, a
épocas e circunstância diversas, destinado, como é, a
longevidade excepcional.”
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Tanto a técnica utilizada tem essa finalidade flexível, que o art. 23,
inciso VI da Carta Constitucional, confere competência comum aos Municípios,
Estados, Distrito Federal e União Federal, para legislarem sobre meio
ambiente, o que ao ser combinado aos ditames do art. 225, evidencia a
amplitude do escopo de melhor proteger o meio ambiente, garantindo o caráter
extrafiscal dos tributos, que poderão ser utilizados na defesa do meio ambiente,
em todas as suas formas.
Ainda no que tange a extrafiscalidade, a Constituição Federal
arrola alguns impostos com esta função, a exemplo do IOF, II, IE, IPI e os
impostos exigidos em caso de guerra. Conforme o art. 150 §1° da CRFB, não
se aplica às referidas exações o princípio da anterioridade e o art. 153, §1°
excetua os impostos previstos nos incisos I, II, IV e V do princípio da legalidade
estrita, uma vez que permite a alteração das alíquotas de tais impostos, por ato
normativo diferente de lei.
Ocorre que tais exações além da sua finalidade fiscal, possuem
outras funções, a saber: equilibrar a balança comercial (II e IE), desestimular o
consumo de determinados produtos, por sua nocividade à saúde, à economia,
redistribuir melhor a renda (IPI), intervir no mercado financeiro, conforme a
necessidade (IOF), obter recursos para fazer frente aos naturais desajustes
econômicos, advindos pelos conflitos bélicos. (Nunes, Cluecio Santos. Direito
Tributário e Meio Ambiente, São Paulo, 2005, pág. 107).
Pelos artigos 149, §§2°, 3º, 4° e 117, §4°, I e II, todos da
Constituição Federal, verifica-se, também, o viés extrafiscal de tributos de
competência da União, assim como a contribuição de intervenção no domínio
econômico sobre a importação e comercialização de petróleo e seus derivados,
gás natural e seus derivados e álcool combustível. As finalidades extrafiscais
de tais tributos consubstanciam-se nas políticas públicas a serem
implementadas, a saber: o pagamento de subsídios, financiamento de projetos
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ambientais relacionados com a indústria do petróleo e do gás, financiamento de
programas de infra-estrutura de transportes.
O Imposto sobre a Propriedade Territorial Urbana será abordado
adiante, este também possui função extrafiscal. A elaboração da lei
10.257/2001 veio atender ao dispositivo constitucional (art. 182), que determina
o estímulo ao adequado uso da propriedade imóvel urbana, em respeito ao
princípio da sua função social.
Dessa sorte, resta evidenciado que os tributos podem ser
utilizados em sua função fiscal e extrafiscal, os quais associados podem ser
mecanismos de efetividade do desenvolvimento econômico sustentável.
5.1 - Da Realidade Infraconstitucional do Princípio
da Extrafiscalidade
Deve ser ressaltado, que a Constituição Federal não exaure todas
as possibilidades existentes para a aplicabilidade de tal princípio. Dessa sorte,
questiona-se a possibilidade de lei infraconstitucional prever outras hipóteses
de aplicabilidade do mesmo, o que acarreta inúmeras celeumas, seja por
esbarrar em questões de competência tributária, seja por ser questionada a
sua real eficácia.
Pelo artigo 3° do Código Tributário Nacional, tributo é: “toda
prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa
exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada
mediante atividade administrativa plenamente vinculada”.
Alguns autores, como Alfredo Becker, também citado por Luciano
Amaro (Curso de Direito Tributário, São Paulo, 2001, pág. 25), questionam a
rigidez e impropriedade da redação de tal dispositivo. O autor segue aduzindo,
que não se paga tributo porque foi praticada uma ilicitude, embora se possa ter
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de pagá-lo, com abstração do fato de ela ter sido praticada. Luciano Amaro
também cita Gian Antonio Mechielli, para quem a coatividade do tributo não se
confunde com a coatividade da sanção.
De todo modo, sustenta-se que a finalidade extrafiscal dos
tributos ambientais assume exações de caráter sancionatório. Discute-se,
ainda, no direito comparado, se a extrafiscalidade tributária poderia sobrepor-
se a tal vedação legal. (Forte: Francisco, Revista di Dirito Fínanziarrio e
Scienza delle Finanze, citado por Alfredo Augusto Becker, Teoria Geral do
Direito Tributário, São Paulo, 1997, pág. 601).
Contudo, Cleucio Santos Nunes (Direito Tributário e Meio
Ambiente, São Paulo, 2005, pág. 106), explica que a extrafiscalidade não
reside na simples inibição à produção econômica em sentido amplo, mas a
racionalização de tal atividade, “isto é, forçá-la a níveis de produção e
resultados condizentes com a noção de desenvolvimento sustentável.”,
afastando-se o caráter sancionatório do tributo ambiental, porque possui toda
uma finalidade preventiva, que lhe confere legitimidade, in verbis:
“a intenção do legislador é atender ao interesse público primário
de conservação do bem ambiental, diante de sua potencial
escassez o impossibilidade de renovação a curto prazo.
Considerando-se que o afã industrial ou produtor normalmente é
mais intenso do que a vontade de preservar ou de usar
racionalmente o recurso natural, o tributo aparece não
exatamente como um custo normal e inevitável da produção (o
que daria ensejo à mera arrecadação fiscal), porém como um
ônus passível de ser afastado, na medida em que o poluidor
ajuste sua produção a níveis de sustentabilidade desejáveis.”
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Importante frisar, que o tributo não pode ser aplicado de forma a
impedir o desenvolvimento da atividade econômica. Se o ônus para ser
implantada uma política protetiva for demasiadamente alto, o próprio poder
público deverá fazer-se presente, com parcerias que viabilizem o objetivo a ser
alcançado, a fim de fomentar tais medidas. Os tributos poderão ser manejados
nesta empreitada, cujo resultado com certeza representaria ainda maiores
investimentos do setor privado.
Por certo, deve-se deixar ora registrado, que toda a função
extrafiscal sobre a qual se discorre no presente trabalho, tem por fundamento
primeiro, o planejamento das mencionadas políticas públicas, que devem
anteceder a criação ou extinção de um tributo, a majoração ou diminuição de
alíquotas, ou mesmo o implemento de incentivos fiscais.
Se o Estado é incapaz de selecionar e implementar boas políticas
públicas, ocorrerá a ineficácia do tributo na sua função extrafiscal. De nada
adianta a Constituição da República, ou a lei nela baseada, conceder
prerrogativas desatendidas pelo Poder Público, pois estaremos diante de
frustrações e prejuízos sentidos pela sociedade como um todo.
Um bom exemplo de política pública eficaz pode ser visto no caso
das multas ecológicas. Caso sejam bem aplicadas poderão ter um retorno
eficaz para a sociedade, dotados de extrafiscalidade, do contrário, estará
limitada à arrecadação da receita aos cofres públicos. 22
É antiga a crítica que se faz às multas ecológicas, isoladamente
aplicadas, pois não conseguem incentivar o investimento e estudo de práticas
preventivas ao dano, cabendo ao poder público sua adequação para que seja
aplicada de forma eficiente e racional, atendendo, assim, aos fins
constitucionais.
22 Um exemplo construtivo é o da multa sofrida pela Barcas S/A, no valor de R$100.000,00, cujo valor foi revertido em investimentos ao consumidor. (Fonte: Isabela Bastos. O Globo, 20/07/2006). Já a multa
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A Constituição da República prestigiou o que se chama hoje de
moderno Estado Regulador, o qual tem fundamento exatamente no papel
principal do Estado em estabelecer normas gerais de condutas e políticas
públicas que deverão ser seguidas pelos particulares, se houver o mal
planejamento das mesmas, tal fato irá influenciar diretamente na eficácia do
caráter extrafiscal do tributo, reduzindo-o a mero instrumento de arrecadação
tributária.
Hoje, os estudos ambientais, quais sejam: EIA - Estudo de
Impacto Ambiental e Rima - Relatório de Impacto Ambiental, são fortes
instrumentos para identificar, em uma cadeia produtiva, quais as atividades que
possuem conseqüências danosas efetivas ou potenciais.
E, como o sistema de licenciamento é essencialmente estadual,
torna-se imprescindível a cooperação entre os entes federativos, para que se
alcance o resultado esperado.
Dentro do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, o
Conselho Nacional - CONAMA possui funções deliberativas e consultivas. Irá
assessorar o próprio Conselho de Governo, propondo a este, as diretrizes e
políticas governamentais para o meio ambiente e seus recursos naturais.
O CONAMA é órgão responsável pela edição de normas e
padrões nacionais com vistas ao uso racional dos recursos ambientais. Cabe,
ainda, entre outras funções, estabelecer a restrição ou perda de benefícios
fiscais concedidos pelo Poder Público, em caráter geral ou condicional e, ainda,
a perda ou suspensão de linhas de crédito em estabelecimentos oficiais, a
exemplo do BNDES.
sofrida pelo Lixão de Magé, no valor de R$150.000,00, ao contrário, não teve qualquer encaminhamento para programas ecológicos ou investimento em pesquisas. (Fonte: Isabela Bastos. O Globo, 20/07/2006).
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Significa dizer que o direito tributário pode ser utilizado com sua
função extrafiscal, se estiver coadunado com essas políticas públicas
preventivas23, do contrário, com as peças de um todo fora do lugar, haverá uma
sucessão de decisões desvirtuadas e desvinculadas.
Destarte, são visíveis os mecanismos disponíveis para a obtenção
do resultado que se pretende, contudo, vale ressaltar que associado aos
instrumentos de efetividade previstos na Constituição e na própria lei, de nada
valerá sem a obediência e respeito à finalidade para a qual tais prerrogativas
legais foram criadas e com a correspectiva vontade política para tanto.
23 Um exemplo do que são normas preventivas, pode ser demonstrado pelas novas regras de tombamento de imóveis antigos da cidade do Rio de Janeiro, o qual diminuiu a rigidez das limitações impostas aos proprietários de imóveis inseridos nessa situação jurídica, possibilitando uma limitada exploração comercial, que contribuirá para a manutenção do patrimônio histórico da cidade. (Costa, Jacqueline. Jornal O Globo, 17/07/2006).
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6 - DOS TRIBUTOS NO DIREITO AMBIENTAL
O objetivo da tributação pelo Estado deverá ser sempre a
dignidade humana. É neste contexto que os bens ambientais são
considerados essenciais à sadia qualidade de vida. Ou seja, o direito ambiental
tutela bens que estão direta e imediatamente ligados à tutela da pessoa
humana e à vida com dignidade. (Fiorillo, Celso Antonio Pacheco e Ferreira,
Renata Marques. São Paulo, 2005, pág. 56.)
A finalidade do tributo ambiental é a redução do estímulo à
fabricação e consumo de produtos poluidores associados a efeitos poluentes,
tornando-se necessário o investimento em produtos alternativos e com menor
impacto ambiental. (Barroso, Walmir Antonio. Palestra proferida sobre Direito
Ambiental Tributário em julho/2006, no Massud Plaza de São Paulo).
Além do mais, os tributos ecológicos deverão ter em seu contexto
algumas premissas, como não intervir nem alterar o contexto econômico do
mercado interno ou externo, não ser custoso para a Administração Pública, não
onerar a produção, ser destinado às políticas ambientais. Desta forma,
verifica-se a necessidade de conscientização da responsabilidade do Poder
Público, pois muitos são os critérios a serem atendidos, para a eficácia de uma
política tributária ambiental.
Uma análise quanto à utilidade e pertinência dos tributos
existentes deve ajudar a uma efetiva e estrutural reforma, mantendo-se,
extinguindo-se, ou adaptando-se as exações já existentes, saneando-se,
assim, o sistema tributário nacional pátrio. Daí o motivo pelo qual, a tributação
ativa deverá ser tratada com muita cautela24.
24 Segundo dados do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário – IBPT, a tributação brasileira atingiu o recorde de 39,41% do PIB – soma das riquezas do Brasil – apenas no primeiro trimestre de 2006. O volume de impostos pagos quase dobrou desde 2002, quando era de R$1,2 bilhão por cada brasileiro/dia. (Fonte: Patrícia Eloy. Jornal Valor Econômico de 01/09/2006).
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6.1 – O Sujeito Passivo da Relação Tributária e os
Responsáveis Tributários
O sujeito passivo da relação tributária será aquele que comete a
conduta descrita no tipo legal e que é descrita na lei como fato gerador do
imposto. Quando se fala do imposto ecológico, esbarra-se nos elementos
objetivos e subjetivos. O meio ambiente serve aos produtores e também aos
consumidores, assim o contribuinte direto normalmente é o produtor e o
indireto o consumidor.
Pelo princípio do poluidor-pagador, o fato gerador do imposto
ocorre com a prática do ato contaminante e o sujeito passivo será aquele que
perturbou o equilíbrio ecológico, sendo este o agente econômico responsável.
Não obstante, tal individuação é bastante difícil, uma vez que os
efeitos poluidores estendem-se difusamente pelo meio ambiente, cujas
conseqüências algumas vezes somente são visíveis, após longo decurso
temporal, ou seja, o prejuízo pode ser sentido até mesmo pelos produtores e
industriais que venham a necessitar do insumo ou recurso natural deteriorado.
Ainda, o fato descrito na hipótese de incidência de um tributo,
pode transformar em fato gerador um ato que, aparentemente, não seja
contaminante em si mesmo, mas sua prática tem relação ao fato principal.
Nestes casos, responsabiliza-se tanto o agente poluidor direto como o indireto.
Logo, trata-se da possibilidade de utilização da função extrafiscal do tributo,
pois tal medida não incentivará a prática do ato lesivo. Por exemplo, o saco
plástico, pune-se não o uso, mas a forma como o indivíduo irá dispor do
mesmo, uma vez tratar-se de lixo tóxico.
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O consumidor, por ser o destinatário do bem poluente produzido,
poderá ser o responsável tributário de forma direta e indireta; a primeira
enquanto contribuinte de direito e na segunda, pelo fato de que alguém da
cadeia produtiva tenha praticado algum fato gerador de imposto ecológico, pois
ele, na qualidade de consumidor, é o causador último da poluição.
6.2 - OS IMPOSTOS
Diversos são os instrumentos que podem ser utilizados, para a
criação de impostos com o fito ambiental, a exemplo da competência residual
conferida à União, constante do art. 154, I da Constituição da República, desde
que respeitados os critérios ali definidos: mediante lei complementar, não
cumulatividade e base de cálculo e fato gerador não previstos na Carta
Constitucional.
Contudo, vale ressaltar, que a solução para a questão não reside
na simples criação de novos impostos, há necessidade de realizar uma
releitura dos impostos já existentes, a fim de garantir a característica da
extrafiscalidade, afastando-se da mera função fiscal tributária, uma vez que o
tributo, sozinho, torna menos eficiente a persecução da função social do
Estado.
Frise-se que o Art. 167, inciso IV, da Constituição da República,
alterado pela Emenda Constitucional 42/2003, veda que a receita obtida com
os impostos seja vinculada a alguma atividade estatal, órgão, fundo, ou
despesa, determinação esta, que ratificou o texto do art. 16 do CTN. Dessa
forma, é evidente a dificuldade de controlar o emprego dos recursos obtidos
nas políticas ambientais. Com a desvinculação das receitas advindas dos
impostos, muito se questiona sobre a eficácia destes como instrumentos de
contenção das externalidades negativas em sede de defesa do meio ambiente.
40
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Assim, a receita dos impostos possui destinação independente,
podendo ser aplicada a qualquer contraprestação estatal, não significando
vedação absoluta da aplicação da receita tributária para o meio ambiente, mas,
em verdade, a possibilidade de vinculação direta ajuda a evitar a malversação
dos recursos públicos.
Ademais, a criação de novos impostos vem agravar a já elevada
carga tributária, o que não seria saudável para os setores econômicos, nem ao
cidadão comum, que sofreria com mais esta majoração do seu custo de vida.
Deve, ainda, ser observada, a péssima qualidade na prestação dos serviços
públicos, o que amplia ainda mais os efeitos negativos da política tributária
adotada, até porque, o engessamento do setor econômico traz conseqüências
avassaladoras para o crescimento do país, como o aumento dos monopólios e
oligopólios, tão combatidos pelo direito concorrencial.
Desse modo, a política estatal de tributação ativa através dos
impostos, deve ser realizada mediante a instituição de isenções, incentivos
fiscais, ou benefícios, concedidos em prol de observância de políticas
ambientais.
A adoção de praticas ligadas à adoção de incentivos fiscais e
isenções não rechaça o princípio do poluidor-pagador, porque está em
consonância aos princípios da cooperação e precaução. Afinal, o art. 37 caput
da Constituição da República, prestigia o princípio da eficiência25, como um dos
objetivos precípuos da Administração Pública.
25 Segundo o estudo divulgado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário – IBPT, Corrupção e ineficiência administrativa consomem 1/3 (um terço) da arrecadação fiscal brasileira (foram contabilizados apenas os processos de corrupção já oficializados, processos de denúncia de superfaturamento de obras e desvio de finalidade dos recursos, como casos de nepotismo e obras inacabadas). Ou seja, o país perde todos os anos, o equivalente a 32% (trinta e dois por cento) de sua arrecadação, ou R$234,517 bilhões/ano, com corrupção e ineficiência na administração da máquina pública. Com esse dinheiro seria possível dar saneamento básico às casas de todos os moradores do Brasil (total de R$220 bilhões), poderiam ser construídas 13 milhões de moradias populares (custo de R$17 mil cada), ou 19,5 milhões de salas de aula já equipadas (custo aproximado de R$12 mil cada). Fonte: Jornal “O Globo” de 04/10/2006, Caderno Economia.
41
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Em suma, a aplicação da técnica de utilização do tributo como
instrumento inteligente para adoção de políticas públicas e privadas de
proteção ambiental é uma realidade.
Os proprietários de veículos automotores que adotaram a
transformação para o gás, recebem incentivo fiscal no pagamento anual do
IPVA. O IPI, por força do princípio da seletividade, tem ampla margem de
atuação para incentivar, ou não, a importação de determinados produtos. A lei
estadual 2.055/9326, determinou a redução das alíquotas do ICMS para fins
ecológicos, desde que as indústrias ou agroindústrias comprovem a adoção de
técnicas de defesa do meio ambiente.
E, ainda, o exemplo de compensação financeira do estado de São
Paulo, referente ao ICMS27, é um bom exemplo de como os tributos podem
servir de estímulo à adoção de técnicas protetivas ao meio ambiente. No caso,
cada município tem direito a uma porcentagem sobre o ICMS destinado aos
Estados, caso comprovem a existência de áreas de proteção ambiental.
No mesmo raciocínio podem e devem seguir a regra tributária
para os demais impostos e tributos. É a adoção de uma estratégia, que incluí a
interpretação conjunta e sistemática de todo o ordenamento jurídico e os
anseios da sociedade.
26 Art. 1º - O artigo 17 da Lei nº 1423, de 27/01/89, passou a vigorar com as seguintes alterações: “XIV - em operações com máquinas, aparelhos, equipamentos e veículos, destinados à implantação, ampliação e modernização ou relocalização de unidades industriais ou agro-industriais, que sejam aprovados por exame conjunto das Secretarias de Estado de Estado de Economia e Finanças, de Planejamento e Controle, de Indústria, Comércio, Ciência e Tecnologia e da Secretaria de Estado de Agricultura, Abastecimento e Pesca, conforme o caso, e visem à incorporação de novas tecnologias, à desconcentração industrial, à defesa do meio ambiente, segurança e saúde do trabalhador e à redução das disparidades regionais: 12% (doze por cento)”.
42
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6.2.1 - O IPTU
Em uma breve análise histórica sobre o imposto predial e
territorial urbano, percebe-se que este surge pela primeira vez, no Brasil, em
1799, como competência estadual, mas logo passou a ser municipal em 1834,
pelo chamado Ato Adicional de 1834. Tal ato determinou a criação das
Assembléias Provinciais, o que veio como reflexo da necessidade de
autonomia financeira dos entes federativos da época. (Bruno, Gilberto
Marques. IPTU - Aspectos Jurídicos Relevantes, 2002, São Paulo, pág. 183).
Pois bem, a Carta Constitucional de 1988, com o seu condão
humanista, calcado na dignidade da pessoa humana, utilizou o IPTU como
ferramenta para gerar o desenvolvimento das funções sociais da cidade e
garantir o bem estar de seus habitantes, in verbis:
“Art. 182 CRFB – A política de desenvolvimento urbano,
executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes
gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-
estar de seus habitantes.”
Com a percepção da propriedade em sua função social associada
ao princípio da dignidade da pessoa humana, surge uma nova percepção do
conceito de cidade. Afinal, para se alcançar tais objetivos, há necessidade de
organização do espaço urbano, de forma a estabelecer sua expansão e
desenvolvimento de forma organizada.
Assim verifica-se que o IPTU está diretamente ligado a políticas
urbanas, uma vez que pode ser utilizado como instrumento para a organização
da utilização do espaço urbano, garantindo a função social da propriedade28.
27 Lei 8.510 de 29 de dezembro de 1993. Fonte: site www.sp.gov.br/destaque/icms. 28 Foi retirado o direito de imunidade do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – Senac, referente ao pagamento de IPTU de imóveis sem uso, situados em Vitória/ES. A 2ª Turma do STJ negou o recurso
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Outro aspecto relevante em matéria de meio ambiente, é a subdivisão entre
meio ambiente natural e meio ambiente urbano. Cada uma delas merece uma
específica gama de normas e regras atinentes à sua proteção.
Apesar dos impostos não possuírem vinculação direta à
contraprestação destinada à defesa do meio ambiente, deve ser observado que
os mesmos podem estar revestidos de sua finalidade ambiental. O IPTU é
dirigido à viabilização de um bem ambiental, a saber: o meio ambiente urbano,
em especial as cidades. (Fiorillo, Celso Antonio Pacheco e Ferreira, Renata
Marques. Direito Ambiental Tributário, São Paulo, pág. 57).
A propriedade não é mais vista apenas como um bem jurídico
público ou privado, mas um bem ambiental. Para comprovar isto, basta
analisar o Estatuto das Cidades29, que vem regulamentar os artigos 182 e 183
da Constituição da República. Este novo diploma traz em seu bojo, conceitos
intimamente ligados à política urbana de preservação do meio ambiente
urbano, regulamenta a possibilidade de construção civil comercial, residencial,
áreas limítrofes de construções prediais de destinação mistas. Estabelece a
necessidade de criação do Plano Diretor e dá outras providências.
O Plano Diretor irá determinar, dentro de sua zona de
competência territorial, os critérios de permissão para construção de pólos
industriais, ou mesmo a classificação e reclassificação de determinadas áreas,
em consonância aos anexos da Lei 10.257/01 - o Estatuto das Cidades –
organizando, assim, o espaço urbano.
Discorrer sobre a conceituação hodierna das cidades, é tarefa
importante para entender a aplicação do IPTU, cuja hipótese de incidência
engloba características do território de uma municipalidade. O próprio Plano
da Instituição, para suspender a cobrança dos valores. Nas razões do recurso, o Ministro João Otávio de Noronha entendeu que somente o patrimônio vinculado ao fim de instituição de ensino e assistência, pode ser beneficiado pela imunidade, sendo esta a ratio legis dos artigos 9° e 14 do CTN. Resp 782305. (Fonte: site Revista Consultor Jurídico, 25/08/2006.) 29 Lei 10.257/01.
44
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Diretor de uma cidade, em consonância ao Estatuto, deverá ditar os
parâmetros para a análise do elemento espacial do IPTU. Interessante
salientar, que a palavra municipalidade tem sua origem em conceito
essencialmente jurídico, criado e definido por lei, porém, impossível negar que
tal fenômeno jurídico decorreu diretamente do crescimento das cidades. 30 .
O Estatuto entrou em vigor no dia 11 de outubro de 2001 e em
seus artigos 50 e 52, §1º, resta estabelecido o prazo de 05 (cinco) anos, para
aprovação do Plano Diretor pelo Poder Legislativo Municipal. O Prefeito da
edilidade que não o tenha aprovado antes de sua vigência, ou seja, até 11 de
outubro de 2006, fica sujeito a incorrer em improbidade administrativa, caso
não o encaminhe à Câmara Municipal. (Rocha, Bruno César Maciel, Revista
Eletrônica Consultor Jurídico, 15/06/2006).
Dessa forma, deve ser questionado se resta afastada aplicação
do Código Tributário Nacional, no artigo 32, §1°, que define os critérios, sob a
ótica do então legislador de 1966, do que poderia ser considerado como zona
urbana. Os defensores da impositividade do Plano Diretor, afirmam que o
referido artigo estaria frontalmente revogado.
Controvérsias à parte, pode-se dizer que tal dispositivo foi
absorvido pelos ditames do abrangente e detalhista Estatuto das Cidades e seu
Plano Diretor, pois os elementos essenciais dispostos no art. 32 do CTN foram
englobados pelo citado Diploma Legal.
6.2.1.1 A Emenda 29/2000
O IPTU é um imposto classificado como real, progressivo no
tempo (a periodicidade é anual), e possui aspecto espacial, uma vez que incide
sobre determinado espaço urbano, cujas características estão descritas na lei.
30 Buscando a diferença semântica entre as palavras, verifica-se que as cidades foram criadas em virtude da movimentação e concentração populacional, ocorrida como conseqüência do desenvolvimento da sociedade; enquanto o município, criado recentemente na história, vem apenas organizá-la juridicamente,
45
-
A emenda constitucional 29/2000 acrescentou, ao artigo 156 da CRFB, a
progressividade na alíquota do IPTU, com base no valor, destinação e
localização do imóvel, se comercial ou residencial. A progressividade do
imposto pode ser um forte instrumento para elidir o mal uso da propriedade,
mas a questão que se coloca, é a forma como será empregada esta
prerrogativa.
Há de ser criticada a modalidade de progressividade instituída
para o IPTU, não se está protegendo o meio ambiente urbano, mas apenas
onerando aqueles que são detentores de imóveis já parametrizados no Plano
Diretor. Pergunta-se: e aqueles imóveis cuja importância ainda não foi
avaliada, ou a tabela está desatualizada? Bem, nesses casos, que variam de
município para município, a nova ordem instituída em nada irá alterar o status
quo existente.
Para atender ao escopo da lei, poderiam ser escolhidas outras
medidas vinculadas ao bem estar da sociedade, como a diminuição do imposto
territorial como estímulo aos empreendedores, ou mesmo aos bairros que
estimulassem medidas de diminuição das externalidades negativas.
Com base na alteração constitucional, os municípios vem criando
leis para majorar o IPTU, como em São Paulo, a lei n°13.250 de 27/12/2001, a
qual, foi objeto de impugnação judicial, sendo a lei, entretanto, declarada
harmônica com a Constituição Federal, esvaziando-se as alegações de
inconstitucionalidade.
Contudo, deve ser criticada a emenda constitucional 29/2000, na
medida em que, independentemente de ter sido baseada no princípio da justiça
tributária, em verdade, cria um desestímulo à valorização da área urbana e do
ambiente circundante, principalmente nas áreas das comunidades carentes.
Isto porque é muito comum que áreas urbanas sejam valorizadas pela mera
sistematizando a divisão do que conhecemos como o Poder Público, definindo seus parâmetros em textos
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especulação imobiliária e não em decorrência da ampliação dos investimentos,
mas, ao revés, pela ausência de locais alternativos que atraiam o contingente
populacional. Essa situação é perniciosa para a sociedade, ao afastar a
chance de uma real melhora na qualidade da vida urbana.
Assim, pode-se dizer que a progressividade do IPTU da forma
estabelecida na Constituição e regulamentada em lei, não trouxe eficácia no
combate à especulação imobiliária, não contribuiu, portanto, para a finalidade
extrafiscal do tributo, pois não cria mecanismos para o seu combate, logo, a
progressividade como estabelecida pode ser nociva à sociedade e, também,
que a instrumentalidade do tributo para a defesa do meio ambiente, anda lado
a lado com a eficiência do Estado e adoção de políticas sociais que através dos
tributos, podem ter um grande aliado.
6.3 - AS TAXAS
Pela sua natureza de tributo vinculado, a taxa é defendida como a
exação apropriada à defesa do meio ambiente, ante a possibilidade de
destinação da receita tributária à atividade estatal determinada.
O artigo 145, inciso II, da Constituição da República, autoriza a
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, a instituírem taxas, seja
em razão do exercício do poder de polícia, ou pela prestação efetiva ou
potencial de serviços públicos específicos e divisíveis ao contribuinte, ou
postos à sua disposição. Assim elas podem ser taxas de polícia ou de serviço,
em conformidade ao artigo 77 do Código Tributário Nacional, contudo, não
podem ter o mesmo fato gerador dos impostos, conforme reza o art. 145 §2° da
Constituição da República.
legais.
47
-
As taxas de polícia podem ser criadas de forma a remunerar a
Administração Pública, no exercício da fiscalização das áreas afetadas.
Respeitados os princípios da proporcionalidade e razoabilidade, a taxa deverá
ser atrelada à extensão da potencialidade do dano ambiental.
Com base do princípio constitucional do poluidor-pagador, os
projetos, ou empreendimentos, que respeitarem o meio ambiente, deverão ter
tratamento privilegiado, do contrário, estará sendo valorizada apenas a função
fiscal do tributo, em supressão a potencialidade extrafiscal que o mesmo pode
exercer.
A cobrança relativa ao poder de polícia deve ser diretamente
relacionada com a satisfação da necessidade da coletividade. Assim, não é
qualquer serviço público que pode ser objeto de cobrança de taxa, mas aquele
que é divisível e atrelado ao contribuinte. É, portanto, um serviço específico.
(Amaro, Luciano. Direito Tributário Brasileiro, São Paulo, 2002, pág. 32.)
Por vezes, a habitual impropriedade técnica do poder legislativo,
somado à complexidade do caso concreto, gera dificuldade quanto à
efetividade dos tributos criados, tornando-os sem aplicabilidade prática, ou sem
o resultado esperado.
No contexto das críticas às impropriedades técnicas do legislador
brasileiro, reside a grande celeuma existente sobre a Taxa de Fiscalização
Ambiental (TFA), instituída pela lei 9.960/2000, contra a qual foi ajuizada a
ADIN n°: 2171/0031, sendo substituída pela Taxa de Fiscalização e Controle
Ambiental (TFCA), criada pelas alterações introduzidas pela lei 10.165/00.
31 Ação Direta de Inconstitucionalidade n°: .2178, DF, Relator: Min. Ilmar Galvão, Autor: Confederação Nacional de Indústria – CNI e Réu: Presidente da República e Congresso Nacional. O Tribunal Pleno já declarou a constitucionalidade da TFCA, através do julgamento do Recurso Extraordinário de n°: 416.601/05, com relator o Ministro Carlos Velloso, Recorrente: Associação Gaúcha de Empresas Florestais e Recorrido: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA. “Ementa. Constitucional. Tributário. Ibama: Taxa de Fiscalização. Lei 6.938/81, com a redação da Lei 10.165/2000, artigos 17-B, 17-C, 17-D - 17-G. C.F., art. 145, II. I. – Taxa de
48
-
A Confederação Nacional da Indústria – CNI, também questionou
a lei 10.165/00, argumentando que a lei ordinária não seria o veículo legal
competente para alterar a lei que criou o Sistema Nacional do Meio Ambiente -
SISNAMA, pois esta foi recepcionada como lei complementar, por força do art.
146, III da CRFB, bem como: contrariedade ao art. 23, parágrafo único da
constituição, uma vez que o IBAMA, por ser órgão meramente executor das
políticas ambientais, não estaria legitimado a figurar como sujeito ativo do
tributo; dificuldade de individualização do sujeito passivo da reação tributária, o
que o tornaria um imposto; além de vincular o pagamento da taxa ao princípio
da capacidade contributiva, conferindo características de hipótese de incidência
de imposto.
E, ainda, critica-se a existência de dupla tributação, uma vez que
o IBAMA e demais órgão estaduais do SISNAMA já efetuam a cobrança de
taxas para a concessão de licenças para o exercício das atividades das
empresas, consubstanciadas no mesmo fato gerador, no poder do estado de
fiscalizar e controlar as atividades relacionadas ao meio ambiente.
Entretanto, apesar das diversas impugnações, o pleno do STF
declarou a constitucionalidade da Taxa de Fiscalização e Controle Ambiental -
TFCA.
Cleucio Santos Nunes (Direito Tributário e Meio Ambiente. São
Paulo, 2005, pág. 171), observa que a base de cálculo da taxa é talvez a maior
falha da TFCA. O valor da taxa a ser paga deve refletir a despesa do Estado
para a efetividade da ação governamental. Ao contrário, a mencionada taxa
tem como base de cálculo o faturamento das empresas, mas essa grandeza
econômica não caracteriza exercício de poder de polícia, mas, sim, base de
cálculo de imposto.
Controle e Fiscalização Ambiental – TCFA – do IBAMA: Lei 6.938, com a redação da Lei 10.165/2000:
49
-
A Taxa de Preservação Ambiental do arquipélago de Fernando de
Noronha é outro caso que gera discussões, uma vez que a taxa é cobrada pelo
fato de alguém transitar e/ou permanecer no arquipélago.
Há de ser ressaltado, que permanecer ou transitar não
representam fatos geradores do tributo taxa, pois não constituem taxa de
polícia, tampouco taxa de serviço, pois este precisa ser específico, divisível e
efetivo, ou, no mínimo, potencialmente efetivo. Ademais, o art. 150, V, da
Constituição Federal, veda a instituição de tributos para estabelecer limitações
ao tráfego de pessoas, ressalvada a cobrança de pedágios, para a
conservação das vias públicas. Além do mais, por se tratar de uma taxa de
valor elevado, também desrespeita o princípio da capacidade contributiva e da
isonomia.
Apesar de todas as críticas, o referido tributo continua sendo
exigido e tem fundamento legal no art. 58 e 97 do Estatuto do Distrito, o qual
permite a criação da referida exação. Tal fato tem respaldo nos benefícios
trazidos ao arquipélago, sendo a taxa um eficaz instrumento de proteção
ambiental, o qual, aliado às demais restrições existentes na localidade, é um
exemplo de obtenção do desenvolvimento sustentável.
6.4 - OS PREÇOS PÚBLICOS/TARIFA
Diversas são as dicotomias existentes sobre a distinção de preço
público e tarifa. Para Luiz Emygdio Franco da Rosa Júnior (Manual de Direito
Financeiro e Direito Tributário, Rio de Janeiro, 2006, pág. 183), tarifa e preço
público não são sinônimos.
Para o renomado autor, tarifa é denominação exclusiva para os
preços cobrados pelas concessionárias ou permissionárias de serviço público.
constitucionalidade. II. – R.E. conhecido, em parte, e não provido.”
50
-
Assim, determinados recursos naturais são explorados por entidades estatais
ou até mesmo por empresas privadas, em regime de delegação de serviço
público, distribuindo-se o recurso natural para a coletividade dos consumidores,
os quais remuneram o fornecedor por meio de tarifa, conforme o inciso III, DO
parágrafo único do artigo 175 da CRFB.
As demais receitas contratuais não devem ser denominadas de
tarifas, mas de preços. O preço público é devido pela prestação de serviço
público de apoio aos direitos sociais e econômicos, sem obstar a criação de
uma possível taxa, caso necessária, mas ao mesmo tempo financiando o
serviço prestado, in verbis:
“É aquele que o Estado estabelece para remuneração de certos
serviços seus, individualizáveis e divisíveis, que não devem
constituir objeto de exploração particular, mediante critérios que
tornem os seus preços sempre mais baixos que o da economia
privada.”. (Júnior, Luiz Emygdio Franco da Rosa, Manual de
Direito Financeiro e Direito Tributário, Rio de Janeiro, 2006, pág.
54)
Vem sendo debatida a viabilidade da cobrança pelo uso de
recurso natural pelo particular, através dos preços públicos. Algumas
experiências têm apresentado bons resultados, como a cobrança das
empresas pela utilização de recursos naturais, em conseqüência, foram
adotadas medidas de racionalização dos mesmos, sendo certo que a lei
vinculou a aplicação da receita aos investimentos de defesa do meio ambiente.
É o que ocorre com a Agência Nacional de Águas – ANA. O
artigo 4º da lei 9.984/2000 de criação dessa autarquia especial federal, permite
a cobrança de exação do permissionário que utiliza os recursos naturais
hídricos de competência da União, in verbis:
51
-
“VI - Elaborar estudos técnicos para subsidiar a definição, pelo
Conselho Nacional de Recursos Hídricos, dos valores a serem
cobrados pelo uso de recursos hídricos de domínio da União,
com base nos mecanismos e quantitativos sugeridos pelos
Comitês de Bacia Hidrográfica, na forma do inciso VI do art. 38 da
Lei no 9.433, de 1997; ......
VIII – implementar, em articulação com os Comitês de Bacia
Hidrográfica, a cobrança pelo uso de recursos hídricos de
domínio da União; ........
IX - arrecadar, distribuir e aplicar receitas auferidas por
intermédio da cobrança pelo uso de recursos hídricos de
domínio da União, na forma do disposto no art. 22 da Lei no
9.433, de 1997”.
Como conseqüência de tal medida, várias foram as empresas que
alteraram a conduta poluidora, minimizando os efeitos sobre o meio ambiente,
a exemplo das indústrias Klabin e Cibrapel, do setor de papel e celulose no Rio
de Janeiro, reaproveitando 100% da água captada de mananciais públicos,
desde 1994, diminuindo radicalmente a necessidade de captação de novos
recursos hídricos.
A CSN também adotou a mesma medida, investindo no
tratamento da água, significando a reutilização de 34 mil litros por segundo. A
Petroflex, maior produtora de borracha da América Latina, investiu no
reaproveitamento de 80% da água utilizada e conseqüente, acarretando
diminuição da poluição da Baía de Guanabara. 32
52
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6.5 - AS CONTRIBUIÇÕES
Inobstante todas as discussões e críticas a que as contribuições
denominadas de parafiscais (contribuições sociais, de intervenção no domínio
econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas) são
alvo, vale discorrer sobre a utilidade dessas espécies tributárias na defesa do
meio ambiente, por atenderem a exigências econômico-sociais.
As contribuições têm a sua receita previamente destinada a uma
finalidade definida no texto legal, o que não necessariamente será uma
atividade estatal de natureza essencial, mas com certeza atenderá a sua
finalidade pública. Por esta razão, existe maior visibilidade para ser percebida
a destinação e o emprego da receita, o que pode ser muito útil no âmbito de
defesa do ecossistema saudável.
As receitas provenientes dos tributos parafiscais, são destinadas
a entidades públicas ou privadas, previamente designadas em lei e em razão
dos serviços que prestam, observando o objetivo a que são vinculadas.
Assim, não se aplica o art. 167, IV, da CRFB, logo, podem ser destinadas para
órgão públicos, fundos ou entidades, o que confere maior força a sua
destinação arrecadatória, bem como a instrumentalidade do direito tributário
dentro do âmbito de fomento dos órgãos de defesa do meio ambiente
Segundo Luciano Amaro (Direito Tributário Brasileiro, São Paulo,
2002, pág. 34), as contribuições têm destinação específica e disciplina
constitucional peculiar, não constituem taxas porque não são vinculadas à
atividade estatal e muito menos impostos, por possuírem bases de cálculo,
fatos geradores e contribuintes diferenciados e especiais a cada espécie de
contribuição estabelecida.
32 Fonte: reportagens selecionadas por Cleucio Santos Nunes (Direito Tributário e Meio Ambiente. São Paulo, 2005, pág. 119). Observar que o autor ainda cita outros exemplos dignos de nota, como a empresa da Ford em Camaçari na Bahia e da General Motors do Brasil.
53
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Dentre as contribuições existentes, as de intervenção no domínio
econômico e as de caráter social, são as que melhor se adaptam à função de
defesa do meio ambiente. Com fulcro no artigo no art. 225 e 149 da CRFB, é
permitida a criação de contribuição social em matéria de meio ambiente, uma
vez tratar-se de direito social difuso ou transindividual.
Em que pese a argumentação supra, deve-se ter em mente o
cuidado de evitar a bitributação, sob pena de um mesmo fato gerador ser
objeto de tributação mais de uma vez. Se analisada de forma isolada, a mera
criação de novas exações não solucionará o problema. Os defensores das
contribuições alegam que a restrição conferida à instituição de novos impostos,
contida no art. 154, I da CRFB, deve ser interpretada literalmente, ou seja, tal
limitação não se estenderia às mesmas, até porque possuem na esteira de sua
criação, a análise da sua finalidade, o que per si, as distinguem da outra
espécie tributária.33
Luciano Amaro (Direito Tributário Brasileiro, São Paulo, 2002,
pág. 35) entende que as contribuições sociais foram inseridas na CRFB, sob o
primado do bem-estar e da justiça social e que as contribuições são
caracterizadas pela sua destinação, a fim de instrumentar a atuação da União
no setor da ordem social, o que é ratificado por Marco Aurélio Greco
(Contribuições, uma figura sui generis, São Paulo, 2000, pág. 149).
As contribuições sociais consagram o princípio do cooperativismo
entre os setores da sociedade para a obtenção de um fim comum, a saber: a
obtenção de recursos para o financiamento de práticas protetivas ao meio
ambiente e o desenvolvimento sustentável. Este princípio deve ser somado ao
da solidariedade, ou do coletivismo, que também embasa a criação das
contribuições parafiscais, pelo qual a coletividade deverá participar do custo da
proteção ambiental almejada, até porque, trata-se de direito difuso.
54
-
Luiz Emygdio F. Da Rosa Junior (Manual de Direito Financeiro e
Direito Tributário, 19ª ed, Rio de Janeiro, 2006, pág 182) ressalta que qualquer
tributo pode ter sua função extrafiscal, não apenas os parafiscais, lembrando
ainda que os tributos extrafiscais, caracterizam-se por ser empregados pelo
Estado, como instrumento de intervenção nos domínios econômico e social.
Na opinião de Cleucio Santos Nunes34 (Direito Tributário e Meio
Ambiente São Paulo, 2005, pág. 156), restaria esvaziada a característica de
extrafiscalidade das contribuições, pois teriam finalidade essencialmente
arrecadatória, diferentemente do que ocorre com os impostos, cuja
arrecadação por parte do Estado é feita visando desestimular condutas
individuais sobre o uso da propriedade ou produção de bens causadores de
impacto negativo ao meio ambiente.
Na direção oposta, Luiz Emygdio F. da Rosa Júnior (Manual de
Direito Financeiro e Direito Tributário, 19ª ed, Rio de Janeiro, 2006, pág. 359),
ao comentar a Cide do petróleo e as contribuições parafiscais baseadas no art.
149 da CRFB, aduz que possuem característica extrafiscal, in verbis:
“Trata-se de contribuição parafiscal baseada no art. 149 da CF,
posicionando-se como contribuição interventiva, como já revela a
sua denominação, tendo, portanto, fim extrafiscal.”
Vale enfatizar, que além do questionamento sobre o elevado valor
fixado para a contribuição de intervenção econômica sobre a importação,
comercialização do petróleo e derivados, gás natural e derivados e álcool
34 O autor aduz que “Diferentemente dos impostos, cuja arrecadação por parte do Estado é feita visando desestimular condutas individuais sobre o uso da propriedade, ou produção de bens causadores de impacto negativo ao meio ambiente – as contribuições sociais ambientais possuem finalidade arrecadatória. (...) Contribuição com finalidade extrafiscal é imposto extrafiscal com o nome de contribuição, pois que perderiam a respectiva identidade jurídica.”.
55
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etílico35, a chamada Cide do petróleo é objeto de outras críticas. A lei que a
instituiu determina a aplicação da receita auferida em programas ambientais,
entretanto, não fixou quais os órgãos públicos ou privados que seriam
beneficiados pelos recursos, deixando margem à discricionariedade da
administração pública.
Ressalte-se que o art. 4°, incisos I e II do CTN determina que o
nome e a destinação de uma receita são irrelevantes para a identidade de uma
espécie tributária. Dessa sorte, não basta que a destinação fiscal e o nome do
tributo sejam a de contribuição, mas que a sua finalidade esteja em
consonância ao art. 149 da CRFB, razão pela qual, se tal não ocorrer,
estaremos diante de outra espécie tributária, de um imposto.
E, ainda, em análise ao art. 149 da Constituição da República,
caso a destinação da contribuição seja alterada, incorrerá flagrante
inconstitucionalidade36, o que só poderá ser combatido mediante a identificação
e responsabilização dos agentes do Poder Público, que manipulam a máquina
estatal de forma a atender a interesses de alguns37.
Assim, o montante arrecadado deverá integrar a totalidade das
receitas públicas, destinada à atividade específica determinada por lei, ou seja,
à recuperação do meio ambiente lesado e a sua preservação. Seria muito
eficaz o estímulo à instituição de convênios e consórcios entre o poder público
35 A Cide deve ser paga pelo produtor, formulador, importador (pessoa física ou jurídica) da gasolina e suas correntes, diesel e suas correntes, querosene, óleos combustíveis, gás liquefeito de petróleo e álcool etílico combustível (artigos 2° e 3° da lei 10.336/2001). 36 A Emenda Constitucional 12/96, que incluiu o art. 74 do ADCT, deu competência à União para instituir, pelo período de até 02 (dois) anos, contribuição sobre movimentação financeira, destinando os recursos à área da saúde, contudo desde que foi instituída pela lei 9.311/96, seus recursos não foram mantidos para a área de sua destinação, ocasionando questionamentos quanto à legitimidade da sua cobrança. 37 Importante salientar a importância do aumento de instrumentos de fiscalização, pela sociedade, quanto aos agentes administrativos em qualquer esfera estatal, como bem define Sérgio Cavalieri Filho (Programa de Responsabilidade Civil, São Paulo, 2005, pág, 244) ao tecer consideração acerca da responsabilidade do administrador público: “Incluem-se na qualidade de agente público, desde as mais
altas autoridades, até os mais modestos trabalhadores que atuam pelo aparelho estatal.”.
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e o setor privado, incentivando universidades, ONGS e fundações a investirem
cada vez mais em novos estudos de tecnologias protetivas do ecossistema.
Por fim, não se pode deixar de evidenciar, a importância de
aplicar os incentivos e isenções fiscais também na seara das contribuições, até
porque a adoção de políticas ambientais representa um prévio investimento em
pesquisas, mão-de-obra especializada, entre outros, que devem ser
compensados através da redução de carga tributária.
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7 - CONCLUSÃO
O trabalho exposto pretendeu analisar o direito tributário,
enquanto instrumento de defesa ao meio ambiente, verificando as
possibilidades de sua utilização, para afastá-lo de seu cunho exclusivamente
fiscal, aproximando-o das políticas sociais, ajudando a concretizar o Estado do
Bem Estar Social.
O Direito Tributário foi apresentado com sua dupla função, a de
arrecadar receita pública para o exercício da atividade estatal, como foi
evidenciada a sua possibilidade extrafiscal, em respeito ao que determina o art.
173 caput da CRFB, que confere ao Estado o papel de agente interventor
indireto na atividade econômica do país, em consonância à nova ordem
mundial.
Não foi pretendido, neste trabalho, esgotar todas as celeumas
sobre as espécies tributárias existentes no direito pátrio e que podem ser
utilizadas em defesa do meio ambiente, mas por certo seu objetivo foi chamar a
atenção para o fato de que existe a possibilidade de serem alcançadas
políticas ambientais, através da utilização dos tributos, como um dos veículos
para a sua concretização.
Outro ponto abarcado é a relação dos princípios de direito
ambiental e tributário, os quais, em conjunto, darão maior eficácia ao objetivo
de racionalização dos recursos naturais e proteção do meio ambiente.
A intercessão do direito tributário e do direito ambiental deve ser
feita de forma cautelosa, sem imobilizar a atividade econômica, eixo basilar de
sustentação do sistema capitalista em que se funda o Estado Brasileiro.
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Para tanto, o ônus pelo desrespeito às regras ambientais deve ser
alta o bastante para que o poluidor não tente arriscar uma atividade poluidora,
devendo o poder público, a iniciativa privada e a lei, viabilizarem possibilidades
e alternativas de atuação de forma preventiva, esta é a atuação inteligente
interligada à área jurídica tributária.
O impacto de medidas tributárias sobre produtos sem
investimento em tecnologias menos poluidoras é a finalidade da tributação
ambiental, logo, sua finalidade única e exclusiva não será a receita tributária,
mas trazer eficácia para a atividade gerencial do Estado, a fim de que as
gerações futuras possuam usufruir de um meio ambiente mais equilibrado,
partindo-se de políticas atuais e corretivas de erros passados.
Impõe-se a manutenção do foco na atuação dos indivíduos, das
empresas, indústrias, enfim, compete à coletividade o dever de cuidado ao
meio ambiente, em todas as suas esferas, seja o natural ou o urbano, tal como
preconiza o art. 225 da CRFB, sob pena de esvaziar os esforços do poder
público, ao investir em políticas de educação e prevenção ambiental, se os
setores produtivos e consumidores não se unirem nesta empreitada, sendo
certa a responsabilidade de todos perante os resultados obtidos.
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8 - BIBLIOGRAFIA
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