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    O Direito Público Colonial Brasileiro

     por Maiara Caliman Campos Figueiredo

    Sobre a Autora*

     

    INTRODUÇÃO 

    Este artigo discute a existência de um direito público colonial, a

    partir da análise do privatismo característico da sociedade brasileira. Defendemos

    que o Brasil tornou-se ambiente favorável à formação de um direito periférico devido

    à existência de uma espécie de “imunidade de fato”, como se cada latifúndio

    estivesse coutado, ou seja, coberto com imunidade à intervenção das autoridades.

    SENHORIOS, COUTOS E HONRAS 

    Os senhorios, estabelecidos por homens ricos desde a fundação de

    Portugal até o século XVIII, foram contemplados por numerosos privilégios de

    isenção real, em virtude dos quais era vedado aos corregedores penetrar em suas

    terras isentas. Mesmo que para muitos clássicos da historiografia portuguesa e

    espanhola, a influência do direito feudal não atingiu em profundidade as instituições

    peninsulares[1],  é certo que, nas terras dos senhores, que por graça do rei as

    consideravam imunes, o nobre era quem exercia poderes jurisdicionais.

     A imunidade ou cout consistia em os

    habitantes da terra só ficarem sujeitos ao senhor e só a ele

     pagarem tributos. Os funcionários régios não podiam,

     portanto, lá entrar para fazer cobranças. Portanto, também

    era o senhor que julgava as reclamações surgidas da

    cobrança, e se constituía juiz para essas e outras questões

    contenciosas (CAETANO, 1941, p. 151). 

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    A partir do século XI, muitas concessões de imunidade fiscal foram

    estabelecidas em favor de donatários, que superintendiam em seus coutos e honras

    a administração da justiça e da polícia.[2] Todavia, “o rei reservava para si a justiça

    maior ou o direito de julgar sempre que os senhores recusassem fazê- lo” (Ibid, p.

    152).

    A partir das mudanças nas instituições de direito público, sobretudo

    de meados do século XIII até o século XV – período que contempla a influência do

    direito justinianeu – a jurisdição senhorial foi constantemente disputada pelos reis,

    que se defendia por meio dos direitos de confirmações e inquirições (direitos de

    Coroa) contra os abusos que os potentados cometiam nas terras a eles concedidas

    ou por eles usurpadas. Muitas confirmações e inquirições reconheceram a supremacia

    da jurisdição régia em antigos coutos e honras e algumas leis chegaram até mesmo

    a proibir novas concessões de imunidade.

    Apesar da tendência dos reis em limitar o poder senhorial, quando

    dos descobrimentos e conquistas ultramarinas um novo problema se levantou: como

    remunerar os serviços dos vassalos no povoamento desses territórios? Assim, as

    imunidades, antes tendentes à extinção, continuaram a fazer parte do quadro do

    direito público, sobretudo nos territórios ultramarinos.

    Assim, em 1433, o rei Dom Duarte fez doação ao Infante Dom

    Henrique do senhorio das Ilhas da Madeira, Porto Santo e Deserta, para povoá-las e

    dilatar o território português. Foi conferida jurisdição cível e criminal, salvo sentença

    de morte ou talhamento de membro, reservado o direito de recurso à Casa do Cível

    em Lisboa. Em 1457, fez-se doação à Dom Fernando das ilhas que descobrisse por

    seus navios e servidores e, depois do falecimento de Dom Henrique em 1460, doou

    o rei as ilhas de Madeira, Porto Santo, Açores e outras que tinha o falecido (GAMA

    BARROS, 1896, p. 292), invertendo a tendência de extinção das imunidades em

    território português.

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    Esses fidalgos, vassal los d’el -rei , da mesma forma que o costume

    sempre dispunha, foram privilegiados por coutos. Assim, poderiam cometer

    violências ou dar proteção à delinquentes dentro de seus domínios. Apesar de, desde

    o primeiro quartel do século XIV, as violências inatas ao viver da fidalguia tenham

    diminuído, não podemos nos iludir sobre uma possível transformação no costume.

    Segundo Gama Barros (1885, p. 432), “o imenso poderio dos privilegiados e a

    superioridade da sua importância política sobre a do elemento popular” fizeram com

    que os senhores continuassem à opor-se às leis.

    Os ricos-homens, os prelados, abades,

    cavaleiros e outros privilegiados diziam os concelhos ao rei em

    1331, acolhiam e traziam na sua comitiva degredados e outros

    malfeitores, não deixando que as justiças entrassem nos

    coutos e honras para prender criminosos. Clamores análogos

    se repetem em 1371 contra os grandes senhores, que faziam

    bairros coutados não só das casas que tinham para sua

     pousada nos lugares e vilas, mas também de quaisquer outras

    onde se aposentavam, deixando-as servir para refúgio aos

    malfeitores e quantos eram vazeiros em transgredir as

     posturas municipais, sem que os oficiais do rei ou do concelho

    se atrevessem a ir buscar os delinquentes à guarida, onde os

    acobertavam às imunidades dos seus protetores (Ibid, p.

    432). 

    Apesar das tentativas, desde o século XIII de coibir esses excessos,

    não foi fácil acabar com os abusos profundamente radicados. Mesmo requerendo o

    povo que a “justiça não tivesse senhores”, as circunstâncias dos novos povoamentos

    não poderiam deixar de contemplar o poder senhorial nas terras ultramarinas. Assim,

    a força da nobreza, tão ligada à posse da jurisdição, foi largamente confirmada pelas

    cartas que concediam terras coutadas.

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    O direito de couto concedido por Dom João à Pero Góis, primeiro

    capitão-mor do litoral brasileiro, assim como aos demais donatários, se encontra

    expressamente previsto na carta régia de 1536.

    D. João, etc. A quantos estas minha carta

    virem faço saber e por bem e me apraz que daqui em diante

     para sempre quaisquer pessoas de qualquer qualidade e

    condição que sejam que andarem homiziados ou ausentes por

    quaisquer delitos que tenham cometido, não sendo por cada

    um destes quatro casos seguintes, a saber, heresia, traição,

    sodomia e moeda falsa; que estes tais, indo-se para o dito

    Brasil a morar e povoar a capitania do dito Pero de Góis não

     possam lá ser presos, acusados, nem demandados,

    constrangidos, nem executados por nenhuma via, nem modo

    que pelos casos que cá tiveram cometido até o tempo em que

    se assim foram para o dito Brasil, posto que já sejam

    sentenciados e condenados à morte natural (apud VIANNA,

    1999, p. 218). 

    Mesmo nas terras não imunes por título legítimo, os privilegiados

    tornavam-na imunes por sua própria conta, arrogando para si os direitos senhoriais,

    sobretudo a jurisdição. A tolerância desses privilégios por parte da Coroa variava.

    Mas, em geral, em se tratando de terras ultramarinas, a força da ação régia eralimitada pela distância e pelo interesse no povoamento. Assim, multiplicaram-se as

    imunidades, que para fins deste artigo as chamaremos de “imunidades de fato”,

    inseridas em um novo direito público costumeiro desenvolvido nos domínios além-

    mar. [3] 

    O direito público colonial 

    http://www.historiahistoria.com.br/materia.cfm?tb=artigos&id=288#_ftn4http://www.historiahistoria.com.br/materia.cfm?tb=artigos&id=288#_ftn4http://www.historiahistoria.com.br/materia.cfm?tb=artigos&id=288#_ftn4http://www.historiahistoria.com.br/materia.cfm?tb=artigos&id=288#_ftn4

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    Não restam dúvidas quanto ao transplante da experiência europeia

    para as terras americanas. Os portugueses trouxeram com eles a língua, os

    costumes, as formas de vida cotidiana e as instituições. Porém, as vicissitudes da

    conquista da terra dificultaram a organização judiciária da forma como era em

    Portugal, por isso, muitas vezes, o direito acabou nascendo com a espada.

    Repetiu-se no Brasil as instituições administrativas portuguesas,

    isto é, os órgãos eletivos para a administração local. Desde logo, era patente a

    debilidade da administração real longínqua e mal representada por donatários

    gananciosos e indiferentes a tudo que não fosse percepção de proveitos pecuniários.

    Assim, muitas matérias relativas aos negócios públicos eram resolvidas nas câmaras,

    que legislavam sobre quase todos os assuntos governamentais, apesar de, em

    Portugal, já terem perdido a maior parte de sua importância no século XVI.

    Apesar da tradição municipalista portuguesa, não se conseguiu

    transplantar para o Brasil o seu caráter popular. O sistema judiciário comunitário,

    organizado por conselhos locais de justiça, foi, na prática, suplantado pela ordem

    privada da Casa-Grande. A associação comunal, composta por suas câmaras, foi

    apenas uma assembleia dos senhores fazendeiros, “nobres da terra que

    reivindicavam verdadeiro privilégio de serem os únicos eleitos” (DUARTE, 1939, p.

    141).

    A burocracia real, de caráter essencialmente fiscal e fiscalizador,

    concentrava suas atividades basicamente no litoral. No interior, ela contava com a

    ajuda dos grandes proprietários, que mantinham suas milícias particulares e

    dominavam os conselhos de “homens bons” (COSTA, 1999, p. 237). Face à vastidão

    territorial do Brasil, os senhores rurais passaram a gozar de independência quase

    que absoluta em seus domínios, estendendo seus poderes às zonas urbanas

    próximas, que se integravam à clientela dos fazendeiros (Ibid, p. 250). Ao invés dos

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    representantes da Coroa portuguesa litigarem contra esses domínios ilegítimos,

    optavam, na maioria das vezes, pela conciliação.

    O privatismo característico da sociedade colonial brasileira

    encontrou na organização familiar a “única ordem perfeita e íntegra que essa

    sociedade conheceu” (Ibid, p. 123). A partir de 1532, a colonização portuguesa do

    Brasil caracterizava-se pelo domínio quase exclusivo da família rural. A sociedade se

    organizou em famílias extensas que, segundo Freyre (2003, p. 81), foi o grande fator

    colonizador. Sobre a base econômica da riqueza agrícola e do trabalho escravo, a

    família colonial reuniu uma variedade de funções sociais. Essa força social, que se

    desdobra em política, contribuiu com o império das relações privadas, principalmente

    no âmbito da justiça e da polícia.

    As famílias aparentadas apresentavam alto grau de solidariedade,

    que se sentiam unidas pelas lutas privadas. Reinavam até mesmo espécies de

    vinganças e duelos de famílias. Essa característica não teve como causa primeira a

    tradição peninsular, mas seguramente os perigos que cercavam as primeiras

    instalações desbravadoras e colonizadoras das terras tropicais. A concentração

    familiar, provocada pelo perigo comum, facilitava o enfretamento dos riscos do

    povoamento. Portanto, para a colonização, a parentela tinha que ser grande.

    Cientes das vantagens que as famílias grandes teriam no processo

    de povoamento, para a concessão das sesmarias era sempre dada preferência às

    pessoas que pudessem não só cultivar terrenos, mas povoar. O primeiro monumento

    da sesmaria no Brasil, uma carta patente dada a Martim Afonso de Souza, em 1530,

    foi bem clara quanto a isso.

    Dom João [...], etc. A quantos esta minha

    carta virem, faço saber, que as terras que Martim Affonso de

    Souza do meu conselho achar e descobrir na terra do Brasil,

    onde o envio por meu capitão mór, que se possa aproveitar

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     por esta minha carta lhe dou poder para que ele dito Martim

     Affonso de Souza possa dar às pessoas que conseguiu levar e

    às que na dita terra quiser viver e povoar, aquela parte das

    ditas terras que lhe parecer, e segundo lhe o merecer por seus

    serviços e qualidades, e das terras que assim der será para

    eles e todos os seus descendentes [...] (apud, LIMA, 1933, p.

    35-36). 

    Era necessário que fossem  pater familias, assim como no antigo

    direito foraleiro português, cujo homem só era considerado cidadão dos conselhos,

    com direito às magistraturas, se “casado e com família estabelecida ou cercado de

    familiares –  ‘arraigado’, como então se dizia” (VIANNA, 1999, p. 230). Como a família

     já veio formada de Portugal sob o império do homem, no Brasil se exaltou a

    autoridade do marido, o que explica a condição de inferioridade e sujeição da mulher

    colonial brasileira.

    O grupo familiar crescia e se expandia na colônia, ao mesmo tempo

    em que uma importante instituição, saída do tipo social do padrinho, de base

    religiosa, foi se configurando: o compadrinho. Essa instituição gerava um código de

    dever moral com pessoas que não eram do mesmo sangue. Assim, qualquer família

    se obrigava moralmente a prestar ao senhor, pela relação de compadrinho, sua

    solidariedade, engrossando o fluxo de elementos estranhos ao grupo familiar.

    A partir do entrelaçamento das famílias pela afinidade de sangue ou

    pelo compadrinho, novos tipos sociais característicos foram se consolidando na

    Colônia, como o “régulo” ou “senhor-de-engenho ou fazenda, poderoso pelos seus

    escravos ou pela sua ‘cabrada’”; e o “capanga” ou “cabra matador”, que se

    organizava ao lado do potentado fazendeiro para a sua defesa pessoal e de seu

    domínio, e que não se abstinham do uso de recursos como morticínios, deprecações

    e incêndios contra os senhorios vizinhos (Ibid, p. 252).

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    As organizações parentais, poderosamente apoiadas, atravessaram

    o período colonial influindo tanto na vida privada, quanto na vida pública, inclusive

    no êxito das leis régias. Por exemplo, entre os senhores de latifúndios tinham os

    pastorais, que também estabeleceram uma tradição de violências, pilhagens e

    destruições recíprocas, chamadas, naquele tempo, de “saltadas” (Ibid, p. 211).

    Roubavam gado, depredavam fazendas, acoutavam delinquentes e negros foragidos

    das fazendas vizinhas, expropriavam pela força os proprietários mais fracos,

    abusando do poderio do seu clã de escravos e criminosos sobre as propriedades dos

    demais senhores de engenhos e senhores pastorais convizinhos, expandindo pelo

    meio ilegal da violência seus imensos latifúndios.

    Os pequenos proprietários viviam na periferia dos latifúndios, os

    meeiros lavravam a terra de seus senhores, os escravos eram suas propriedades, ou

    seja, todos, de alguma forma, ligavam-se aos grandes fazendeiros. “As relações

    pessoais de parentesco, clientela, patronagem e as formas autoritárias de poder

    geradas pelo regime de propriedade [...] reforçam o caráter absoluto do poder do

    grande proprietário rural” (COSTA, 1999, p. 237). 

    Esses mecanismos de força davam aos proprietários um formidável

    prestígio na região, que até faziam recuar, muitas vezes, as próprias autoridades da

    Coroa. Na verdade, era como se cada um dos latifúndios estivesse coberto com uma

    espécie de “imunidade de fato” à intervenção das autoridades, ou estivessem

    coutadas suas terras.

    Os famigerados senhores poderosos impunham tanto respeito, que

    muitas testemunhas se recusavam a depor nas devassas, muitas vezes, sequer

    apreciadas por falta de prova. Até mesmo as justiças ordinárias, isto é, aquelas

    eletivas, temiam penetrar em seus domínios, o que em muitos momentos chegou a

    inquietar as autoridades régias.

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    Lamego (1945) relata o drama que se desenrolou na planície

    Goitacá, nos primeiros séculos de colonização. A luta pela posse do solo fértil de

    Campos, dominada pela família Asseca, é registrada em seus pormenores históricos.

    Ninguém protestava contra a Casa do Visconde Asseca, que armava seus filhos de

    poderes ditatoriais. Promoviam cargos de justiça e da milícia, perseguiam, prendiam,

    soltavam a seu bel prazer, julgavam causas cíveis e criminais, sentenciam e

    aplicavam pena de degredo.

    Nem mesmo o governador do Rio de Janeiro, inimigo primeiro dos

    Assecas, conseguia se impor contra a casa do Visconde. De nada servia nomear

    capitão-mor para seus domínios, pois o morgado o destituía. Ou mesmo prender os

     juízes da vila, pois, no fim, o fidalgo só se enchia de furor diante de sua prepotência,

    como pudemos verificar em um se seus relatos:

    Se os juízes e oficiais voltarem a seus cargos,

     ponho fogo nas minhas fazendas, nos engenhos e partidos de

    canas, reduzindo toda a capitania a um montão de ruínas,

     porque um fidalgo como eu não fica sevandijado pela ralé

    (MARTIM CORREIA apud LAMEGO, 1945, n. p.). 

    Mesmo com as revoltas do povo contra o donatarismo, os debates

    cobiçosos entre os também grandes senhores de terra e o desacato contra o

    governador e o próprio rei, no fim, a fraqueza real sempre sucumbia. No caso da

    planície Goitacá, foram cem anos de

    invulgar iniciativa de uma gente acorrentada

    a grande senhores, com a posse aleatória de glebas aforadas

    sem garantia de continuidade e a mercê das desavenças

     políticas entre potentados de ambição desmedida. Cem anos

    de demandas, de rixas, de motins, de devassas, de

    repressões, e assassinatos, de flagícios, de exílios e sob a

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    rapina das dízimas, das fintas, das derramas e dos confiscos

    oriundos do capricho indiscutível e da vontade momentânea

    de amos absolutistas (LAMEGO, 1945, n. p.).

    Dentro desse complexo social se constitui a ordem jurídica na

    colônia. Foi naCasa-Grande, de que Gilberto Freyre fala, que a função de mando e

    disciplina era estabelecida. Toda a paz da sociedade se assegurava com tolerância

    do Estado para com a Casa-Grande.

    Além disso, um reforço vindo do rei logo no início da colonização,

    que foi o estabelecimento do direito de couto, permitiu a consolidação dessa função

    de mando e disciplina na Casa Grande. Foi como se, a partir da primeira carta régia

    em 1536 que concedia direito de couto e homizio à Pero Góis, essa “imunidade de

    direito” se transformasse em uma faculdade extensiva aos senhores de engenho e

    donos de sesmarias (“imunidade de fato”). Podiam condenar escravos e até mesmo

    homens livres às penas que entendiam cabíveis, assim como absolvê-los. Por isso, a

     “imunidade de fato” não conseguiu se extinguir tão facilmente, nem mesmo com as

    correições régias.

    É certo que, apesar de termos a sensação de contemplarmos ainda

    nos dias presentes espécies de “imunidade de fato”, esta só iniciou seu processo de

    desaparecimento a partir de 1888, com o fim da grande propriedade escravagista,

    que mudou radicalmente as instituições de direito público no Brasil. As Memórias de

    Julio Belo não nos deixam mentir, ao recorda o respeito com que as autoridades

    policiais tinham diante do domínio dos senhores de engenho ainda no período do

    Império.

     As autoridades e a polícia respeitavam os

    engenhos –  informa Júlio Belo –  algumas vezes coitos de

    criminosos defendidos e inatingíveis como tabus sagrados.

    Certos senhores arrogantes não perdoavam a mais razoável

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    visita da polícia às suas propriedades. Reputavam-na um

    ultraje, de que cuidavam desafrontar-se, fosse como fosse

    (apud VIANNA, 1999, p. 215). 

    Isso acontecia ainda no Império, porque a economia social se

    organizava na família e no campo. O centro de gravitação era o senhor de escravo e

    a base era o escravo, que concorreu com o “sadismo do mando, disfarçado em

     ‘princípio de autoridade’ ou ‘defesa da ordem’” (FREYRE, 2003, p. 114). 

    Essa chefia dispersa, que assumiu caráter patriarcal,  “identificável

    no mando do fazendeiro, do senhor de engenho e nos coronéis” (FAORO, 2001, p.

    872), foi se apropriando das oportunidades econômicas, numa invasão do público

    pelo privado, expediente denominado patrimonialismo.

    Representando [...] o único setor onde o

     princípio de autoridade é indisputado, a família colonial

    fornecia a ideia mais normal do poder, da respeitabilidade, da

    obediência e da coesão entre os homens. O resultado era

     predominarem, em toda a vida social, sentimentos próprios à

    comunidade doméstica, naturalmente particularista e

    antipolítica, uma invasão do público pelo privado, do Estado

     pela família (HOLANDA, 1995, p. 82). 

    Excedendo o “gosto de mando” (FREYRE, 2003, p. 114) à vida

    doméstica, a família acaba por invadir as próprias funções do Estado. Por exemplo,

    durante os anos de escravidão, coexistiu o poder punitivo privado e a pena pública.

    Na verdade, na sociedade brasileira, a pena pública foi instituída com o modo de

    produção escravista. O senhor tinha o direito privado de castigar fisicamente o

    escravo, ou seja, aplicar a disciplina punitiva doméstica. Deixar o escravo à justiça

    não caia bem para a fidalguia do senhor. Assim, a solução judicial foi convivendo com

    o poder punitivo privado.

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    Nesse raciocínio, foi no caráter patriarcal que se redundou a

    doutrina do exercício privado da justiça e violência com o fim de correção. Como

    vemos no artigo 6º do Código Criminal Imperial, se o escravo deve obediência ao

    senhor, porque não o filho, a mulher, o discípulo. O respeito à hierarquia já era um

    direito público costumeiro na sociedade colonial, que foi legitimado, posteriormente,

    com a formação do arcabouço jurídico nacional.

    Tomás Alves Junior, em Annotações theoricas e práticas ao Código

    Criminal , destaca esse respeito pela coerção privada como um direito advindo de um

    poder legítimo.

    O exercício do poder legítimo arrasta à

    necessidade de fazer mal para reprimir o mal. O poder legítimo

    divide-se em político e doméstico. O magistrado, ou pai, ou

    aquele que o representa, não podia fazer respeitar sua

    autoridade, um no Estado, outro na família, se não estivessem

    armados de meios coercitivos contra a desobediência. O mal

    que eles infligem tem o nome de pena ou castigo. Para estas

    vias de fato só procurarão obter o bem da grande como da

     pequena sociedade, e não é preciso dizer que o exercício de

    sua autoridade legítima é um meio completo de sua

     justificação, pois que ninguém quereria ser pai se não tivesse

    toda a segurança no emprego de seu poder. [...] Não se pode,

     pois, duvidar do direito que existe no pai, no senhor e no

    mestre de castigar o filho, o escravo e o discípulo (apud

    MALERBA, 1992, p. 41).

    O direito de uso da violência privada pelo senhor é uma extensão

    do poder patriarcal. No direito moderno europeu, o monopólio legítimo da violência

    é do próprio Estado. Na sociedade patriarcal, é reservada ao  pater . Esse uso da

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    violência privada pelo pai e senhor, que exercia, sobretudo, o papel de magistrado,

    foi largamente utilizado para manter a ordem na Colônia. Isso refletiu na própria

    concepção hierárquica dos demais dependentes, penetrando no universo dos brancos

    livres. Assim, a obediência passiva, ou o “masoquismo” de que Freyre fala, e

    subordinação dos inferiores hierarquicamente era como uma condição da vida social

    na Colônia, que se estendeu nos anos do Império.

    Todavia, não podemos negligenciar a centralização política a

    administrativa a partir do século XVIII que levou à decadência as autoridades locais,

    isto é, das câmaras municipais, afetando profundamente a justiça privada da Casa

    Grande. Nesse período, todas as capitanias já tinham voltado ao domínio direto da

    coroa, sendo governadas por funcionários nomeados pelo rei.

    Esse processo absorvente da justiça foi muito sensível no Brasil. Os

    antigos donatários das capitanias foram cada vez mais subordinados aos

    governadores nomeados pelo rei, que restringiam seus poderes e jurisdição, restando

    apenas os direitos pecuniários auferidos de suas capitanias.

    Nessa nova ordem instituída em meados do século XVII, os

    representantes diretos do poder real reivindicaram aos poucos para si toda a

    autoridade e acabaram transformando as câmaras em executoras de suas ordens.

    No que concerne ao poder punitivo, a introdução dos juízes de fora no Brasil em

    substituição dos juízes eleitos popularmente, segundo Caio Prado Júnior (1961), foi

    um dos maiores golpes desferidos nas franquias locais, porque se criou um choque

    entre o poder punitivo senhorial e a pena pública, uma vez que os magistrados,

    antes, eram ligados à Casa Grande.

    Porém, essa tentativa de monopólio estatal da violência legítima que

    se iniciou no Brasil, em especial a partir do século XVII, não foi suficiente para alterar

    a prática punitiva colonial, uma vez que, até 1888, a sociedade ainda tinha sua

    estrutura fundada na herança rural, ou seja, no latifúndio agrário e no trabalho

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    escravo. Por isso, Comparato (1999, p. 173) nos alerta de nunca nos esquecermos

    de que os instrumentos públicos de coação monopolizados pelo Estado advieram de

    uma estrutura social privatista e sempre pertenceram, de fato, às classes

    dominantes, inclusive no Império, quando da criação do arcabouço jurídico nacional.

    Referências: 

    BRASIL. Código Criminal do Império do Brasil (1830). Disponível em: . Acesso em

    ago/set de 2014.

    CAETANO, Marcelo. História do direito português. Lisboa: Faculdade de Direito de

    Lisboa, 1941.

    COMPARATO, Fábio Konder. Direitos humanos no Brasil. Revista USP , São Paulo, n.

    43, p. 168-175, setembro/novembro, 1999.

    COSTA, Emília Viotti da. Da monarquia à república: momentos decisivos. 6.ed. São

    Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1999.

    DUARTE, Nestor. A ordem privada e a organização nacional. São Paulo: Companhia

    Editora Nacional , 1939. Versão para eBook. Disponível em: . Acesso em 31 de agosto

    de 2014.

    FAORO, Raymundo. Os donos do poder : formação do patronato político brasileiro.

    São Paulo: Globo, 2001.

    FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime

    da economia patriarcal. 48 ed. São Paulo: Global, 2003.

    GAMA BARROS, Henrique da. História da administração pública em Portugal nos

    séculos XII a XV . Tomo I. Lisboa: Imprensa Nacional, 1885.

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    GAMA BARROS, Henrique da. História da administração pública em Portugal nos

    séculos XII a XV . Tomo II. Lisboa: Typographia da Academia Real das Sciencias,

    1896.

    GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. Lisboa: Fundação Calouste

    Gulbenkian, 1995.

    HESPANHA, Antônio Manuel. Cultura jurídica europeia: síntese de um milênio.

    Florianópolis: Fundação Boiteux, 2005.

    HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil . 26 ed. São Paulo: Companhia das

    Letras, 1995.

    LAMEGO, Alberto Ribeiro. O homem e o brejo. Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do

    IBGE, 1945.

    LIMA, Ruy Cirne. Origens e aspectos do regime das terras no Brasil . Porto Alegre:

    Livraria do Globo, Barcellos, Bertaso & Cia, 1933.

    MALERBA, Jurandir. Sob o verniz das idéias: Liberalismo, escravidão e valores

    patriarcais nos comentadores do Código Criminal do Império do Brasil. Dissertação

    (Mestrado em História) –  Programa de Pós-Graduação em História, Universidade

    Federal Fluminense, 1992.

    PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil contemporâneo. São Paulo: Brasiliense,

    1961.

    VIANNA, Oliveira. Instituições políticas brasileiras. Brasília: Conselho editorial do

    Senado federal, 1999.

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    16/17

    * Maiara Caliman Campos Figueiredo é bacharel em Direito pela Faculdade Casa do

    Estudante e mestranda no curso de Pós-graduação em História Social das Relações

    Políticas pela Universidade Federal do Espírito Santo, sob a orientação da Profa. Dra.

    Adriana Pereira Campos. Atualmente é bolsista FAPES.

    [1] Esse debate sobre a existência ou não do feudalismo em Portugal é o “eco que a

    obra de Francisco Cárdenas (Ensayo sobre la história de la propriedade territorial em

    España, 1873-5) origina em Alexandre Herculano (‘Da existência ou não do

    feudalismo nos reinos de Leão, Castela e Portugal’ Opúsculo, V). Herculano

    pronuncia-se negativamente [...] fundando-se: a) na não obrigatoriedade do serviço

    militar nobre; b) na não hereditariedade dos feudos; c) na utilização excepcional, nas

    fontes, da palavra ‘feudo’; d) na permanência dos laços de vassalagem ‘geral’, i.e.,

    na sujeição de todos os habitantes do reino ao rei, como seu senhor ‘natural’; e) e

    na consequente não assunção pelos senhores feudais de todos os direitos

    majestáticos (regalia, Hoheitsrechte)” (HESPANHA, 2005, p. 183-184). Gilissen

    (1995, p. 192) tem a opinião de que os modelos portugueses da organização político-

    social na Idade Média são dominados por um modelo “senhorial” e não “feudal”. Para

    Caetano, se analisarmos os elementos jurídicos do regime feudal encontraremos três

    instituições essenciais, cuja conjunção e evolução resultou no feudalismo: a

     “recomendação” (commendatio); o “benefício” (beneficium); e o “senhorio”. Este

    último corresponde ao “conjunto dos poderes de autoridade pública (ministrar

     justiça, levantar hostis, cobrar impostos...) exercidos em nome do próprio

    beneficiário nas terras possuídas com exclusão dos magistrados e oficiais do rei. Em

    Portugal, podemos até encontrar vestígios de instituições de regime feudal como a

     “recomendação” e o “benefício” (CAETANO, 1941, p. 143-153).

    [2]  Coutos eram terras cuja imunidade resultava de uma carta concedida pelo

    monarca, que geralmente variava o seu conteúdo. Já as honras eram terras cuja

    imunidade resultava da circunstância de pertencerem a um homem nobre, e não de

    concessão especial pelo rei. A constituição das honras era um costume muito antigo

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    e frequente até o reinado de Afonso II, que começou a ordenar inquirições para

    conhecer os abusos que se praticavam quanto a imunidades e usurpações de terras.

    Assim, as honras até então existentes passaram a serem denominadas “honras

    velhas” (CAETANO, 1941, p. 182). 

    [3] Oliveira Vianna em Instituições Políticas Brasileiras (1999, p. 199-219) trabalha

    dentro do capítulo referente ao “Complexo do Feudo” e aos “Clãs Feudais” com o

    conceito de “imunidade do feudo” e sua significação sociológica, no contexto da

    formação da população colonial. Apropriando-nos deste instituto feudal, trabalhamos

    com uma espécie de imunidade que decidimos chamar de “imunidade de fato”. 

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