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SOCIOLOGIA Profº Ney Jansen Professor de sociologia do Colégio Estadual do Paraná Mundo do trabalho: Escravidão & Assalariamento

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Page 1: Mundo do trabalho - curcepenem.files.wordpress.com Escravismo Colonial. In A Categoria Escravidão. 1980. A Contradição no Direito Escravista ... colonial, um negócio que contou

SOCIOLOGIA

Profº Ney Jansen

Professor de sociologia do

Colégio Estadual do Paraná

Mundo do trabalho: Escravidão & Assalariamento

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DEFINIÇÃO CONCEITUAL GERAL

Trabalho é toda atividade na qual o ser humano utiliza sua

energia para satisfazer necessidades ou atingir determinado

objetivo. A palavra energia é utilizada, aqui, como a

capacidade de uma pessoa para realizar uma obra, um

trabalho. Energia vem do grego: en = dentro e érgon = obra,

trabalho.

Por intermédio do trabalho, o ser humano acrescenta um

mundo novo, da cultura, ao mundo natural já existente.

Por isso, o trabalho é um elemento essencial da relação entre

os homens e a natureza; o saber e o fazer; a teoria e a prática.

Abaixo segue citação de Karl Marx sobre definição conceitual

de trabalho:

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Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a

construção das colmeias pelas abelhas atinge tal perfeição que

envergonha muitos arquitetos. Mas o que distingue o pior dos

arquitetos da melhor das abelhas é que ele projeta mentalmente a

construção antes de realizá-la. No final do processo de trabalho

obtém-se um resultado que, desde o início, já existia na mente do

trabalhador. Pois o homem não transforma apenas o material em que

trabalha. Ele realiza no material o projeto que trazia em sua

consciência. Isso exige, além do esforço físico dos órgãos que

trabalham, uma vontade orientada para um objetivo, vontade que se

manifesta pela atenção e controle de operações durante o tempo de

trabalho. (MARX, Karl. O capital. I, 1, seção III, cap. V).

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Ocorre que, de categoria central da existência para a

expressão de nossas potencialidades, o trabalho estaria

perdendo seu poder libertador. Como isso aconteceu?

É interessante ressaltar que, etimologicamente, o

termo trabalho vem do latim tripalium, nome de um

instrumento de tortura feito de três paus, usado na

antiguidade.

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O TRABALHO NAS SOCIEDADES

ESCRAVISTAS

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Diferença da escravidão de assalariamento

Confronto conceitual:

No capitalismo, para que a força de trabalho seja

mercadoria é necessário que o trabalhador venda sua força de

trabalho numa relação contratual com este ou aquele capitalista.

Doutro modo, o trabalhador se tornaria um escravo.

No caso do escravo, este é resultante da coação extra-

econômica, que dá à sujeição caráter pessoal.

Porém, como salientou Marx, por mais que pareça efeito de

convenção contratual livremente consentida, o trabalho assalariado

produtor de mais valia continua sendo na essência trabalho

forçado.

Escravo é propriedade-coisa

Assalariado é mercadoria

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Permanências no presente: o trabalho

análogo à escravidão

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Artigo 149 do código penal define trabalho análogo à

escravidão como:

1-Condições degradantes de trabalho: situações que violem

direitos fundamentais ou que coloquem em risco a vida e a

saúde do trabalhador.

2-Jornada exaustiva: quando o trabalhador é submetido a um

regime de trabalho tão árduo que sua vida e sua saúde são

colocadas em risco.

3-Servidão por dívida

4-Manutenção do trabalhador no local de trabalho através de

ameaças, fraudes e isolamento geográficos

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REPORTAGEM 1

Uma liminar concedida pelo Supremo Tribunal Federal (STF)

impedindo o governo federal de divulgar a “lista suja” do trabalho

escravo, no final do ano passado, continua em vigor. Por conta disso,

a Repórter Brasil e o Instituto do Pacto Nacional para a

Erradicação do Trabalho Escravo (InPACTO) solicitaram, com base

na Lei de Acesso à Informação, e obtiveram os dados entre maio de

2013 e maio de 2015.

http://www.vermelho.org.br/noticia/270093-1

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REPORTAGEM 2 No apagar das luzes de 2014, o relator da reforma do Código Penal na Comissão

de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado Federal, Senador Vital do Rêgo

(PMDB-PB), acatou emendas que vão de encontro a um trabalho de mais de 20

anos de órgãos de governo, de empresas, de sindicatos e de organizações da

sociedade civil, que unem esforços pela erradicação do trabalho escravo no Brasil.

As emendas, apresentadas pelos senadores Blairo Maggi (PR-MT) e Luiz

Henrique da Silveira (PMDB-SC), alteram o conteúdo do artigo 149 do Código

Penal, que trata do crime de trabalho escravo. As mudanças excluem como

elementos definidores de trabalho análogo ao de escravo duas situações:

1-Condições degradantes de trabalho: situações que violem direitos fundamentais

ou que coloquem em risco a vida e a saúde do trabalhador.

2-Jornada exaustiva: quando o trabalhador é submetido a um regime de trabalho

tão árduo que sua vida e sua saúde são colocadas em risco.

Nota de repúdio às emendas que tentam mudar o conceito de trabalho escravo

http://www.trabalhoescravo.org.br/noticia/83

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REPORTAGEM 3

Desde 1995 até 2014, mais de 47 mil trabalhadores

foram resgatados de condições análogas à escravidão.

95% deles eram homens, 83% entre 18 e 44 anos, 33%

analfabetos, 39% só cursaram até a 4ª série, 56% no

meio urbano e 44% no meio rural.

http://g1.globo.com/economia/trabalho-escravo-

2014/platb/

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Definição Inicial de Escravidão

É uma prática social que existiu –e ainda existe- em

diferentes momentos na história das sociedades.

Quais as condições fundamentais para se definir a

escravização de um ser humano por outro?

Não é a “inexistência de salário”, ou “péssimas condições de

vida e trabalho” que definem a categoria “escravo”

Ser escravo é sinônimo de propriedade (quanto ao

produto do trabalho e ao corpo) o escravizado é

propriedade daquele que o escraviza

Escravizar significa coisificação do outro. Havia um

direito privado do senhor de escravo para castigar o

escravo.

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Citação

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“(...) Se nos voltarmos à escravidão moderna, encontraremos

uma evolução característica no direito das colônias inglesas

norte-americanas. Eis seu resumo em Brion Davis:

(...) Em 1740, a Carolina do Sul legislou que um homem que

premeditadamente matasse o escravo próprio ou alheio pagaria uma

multa de setecentas libras; a soma seria de metade por matar o escravo

num momento súbito de paixão. No entanto, a Constituição da Geórgia

de 1798 colocou a morte ou mutilação de um escravo no mesmo nível

de criminalidade da morte ou mutilação de um homem branco (...)”.

(...) Na lida diária com escravos através de gerações,

enfrentando suas mais diversas reações, desde a resistência

passiva ao trabalho até às fugas, atentados e insurreições, a

classe escravocrata amadureceu uma compressão “sábia” a

respeito do castigo e a expressou nas formas concentradas de

sua ideologia.

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Tal compreensão consistiu que o castigo deve ser moderado. O

Eclesiastes (Antigo Testamento) advertiu: “...não cometa excessos

seja com quem for, e não faças coisa alguma grave sem ter refletido”. A

legislação imperial romana proibiu castigos cruéis. As

Ordenações Filipinas autorizavam o castigo de escravos e de

outras pessoas dependentes mas puniam os excessos como o

ferimento com arma.

(...) O primeiro ato humano do escravo é o crime, desde o

atentado contra seu senhor à fuga do cativeiro. Mas a pena mais

cruel, justamente por ser uma pena, implicava o

reconhecimento de que punia um ser humano. (...)”. GORENDER, Jacob. O Escravismo Colonial. In A Categoria Escravidão. 1980.

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A Contradição no Direito Escravista

Existiu uma contradição permanente entre “coisa e pessoa”

no direito escravista (seja na antiguidade Romana ou no período

colonial português por exemplo).

O “direito escravista” ao longo da história reconhecia que se

punia um ser humano, expressa nas orientações por moderação nos

castigos contra seus escravos, considerando-os coisa e pessoa

simultaneamente.

A ideia de que o escravo era um “animal de trabalho” ou um

“asno” está presente no Antigo Testamento (com a expressão aos

escravos “pão, correção e trabalho”) e, de maneira semelhante, em

Aristóteles que afirmava que ao escravo bastava “pão, correção e

alimento”.

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A palavra Escravo A palavra “escravo” não existia na Antiguidade

greco-romana. O termo utilizado em latim era servus o que

pode levar à uma confusão com o termo “servo” no

feudalismo.

O termo sclavus foi utilizado pela primeira vez nos séculos

X e XI entre os germanos para se referir aos eslavos e depois

voltaria a aparecer no século XV na Península Ibérica (slave

em inglês)

Porém, muitas normas do direito escravista foram aplicadas

aos servos no feudalismo (como os castigos por exemplo)

apesar de serem categorias sociais diferentes.

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Na Antiguidade (“Grécia” Antiga, Império Romano, Egito

antigo, por exemplo) a escravidão dava-se por captura por

guerra e dívida, mas nem todos podiam ser

vendidos/comercializados.

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Na Antiguidade grega, o trabalho manual foi

considerado em várias sociedades como uma atividade

menor, desprezível, que em pouco se diferenciava da

atividade animal. Valorizava-se o trabalho intelectual,

próprio dos homens que podiam se dedicar à cidadania,

ao ócio, à contemplação e à teoria

Os gregos consideravam o trabalho a partir de 3

dimensões: o labor (atividade manual, com esforço físico

voltada à sobrevivência do corpo), poiesis (ato de

fabricar, ofícios artesanais) e práxis (atividades

intelectuais, uso da palavra e da sabedoria).

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A utilidade do escravo é semelhante à do animal. Ambos prestam

serviços corporais para atender às necessidades da vida. A natureza

faz o corpo do escravo e do homem livre de forma diferente. O escravo

tem corpo forte, adaptado naturalmente ao trabalho servil. Já o

homem livre tem corpo ereto, inadequado ao trabalho braçal, porém

apto para a vida de cidadão. Os cidadãos não devem viver uma vida

de trabalho trivial ou de negócios (estes tipos de vida são ignóbeis e

incompatíveis com as qualidades morais); tampouco devem ser

agricultores os aspirantes à cidadania, pois o lazer (ócio) é

indispensável ao desenvolvimento das qualidades morais e à pratica

das atividades políticas (Aristóteles, Política, cap. II e cap.

VIII).

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Havia a existência de Estado, comércio e escravidão em

tribos africanas (ex: Reino do Congo, Império Mali). Mas os

escravos de guerra trabalhavam para seus senhores de dois a

quatro anos e depois recebiam um pedaço de terra para seu

sustento, podiam se casar com pessoas livres, filhos não eram

considerados escravos, os escravos desempenhavam funções

administrativas e militares.

A escravidão “moderna” esteve vinculada a

práticas colonialistas e racistas.

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A escravidão na Antiguidade, não baseava-se em justificativas raciais, pois

a ideia de seres humanos superiores a outros era “natural”, socialmente

aceita, servindo de pretexto para escravidão, por guerras ou dívida.

Porém, a escravidão moderna não pode ser explicada como uma

dominação de uma raça sobre outra (isso seria uma “concepção racial da

história”) mas sim como uma ação de um sistema mercantil-

colonial, um negócio que contou com o envolvimento lucrativo de

elites nos continentes europeu, americano e africano

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Não confundir escravidão com servidão!

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O “feudalismo” foi um modo de produção e reprodução social na

Europa que, a grosso modo, durou do século IV (desagregação do

império romano) a mais ou menos século XV (na Europa ocidental).

Em outras regiões manteve-se até o início do século XX (Rússia)

“O conceito central do costume feudal não era o da propriedade, mas o das

obrigações recíprocas” (Edward P. Thompson, “Costumes em

Comum,” p. 106)

O direito à hereditariedade dos bens aos servos era uma condição de

importante diferença para com o escravo (servus) da Antiguidade

O que definia o feudalismo mais do que a posse da terra eram as

relações de fidelidade, de cunho comunitário

entre suseranos e vassalos

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Nas sociedades feudais, como no mundo greco-romano,

havia também aqueles que trabalhavam – os servos, os

camponeses livres e os aldeãos – e aqueles que viviam do

trabalho dos outros – os senhores feudais e os membros

do clero.

A terra era o principal meio de produção, e os

trabalhadores tinham direito a seu usufruto e ocupação,

mas nunca à propriedade. Muitos trabalhavam em

regime de servidão, no qual não gozavam de plena

liberdade, mas também não eram escravos. Prevalecia

um sistema de deveres do servo para com o senhor e

deste para com aquele.

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No feudalismo, a novidade na forma de compreender o trabalho

estava no papel assumido pelo cristianismo medieval. O

trabalho era visto como uma forma de sofrimento que serviria

como provação e fortalecimento do espírito para se

alcançar o reino celestial. Ou seja a “salvação” da pessoa estava no

“além-mundo”

Na Idade Média, a pobreza era considerada uma condição de

nascença. Havia uma visão positiva dessa condição, pois esta

despertava a compaixão e a caridade. Na concepção da Igreja

Católica, os ricos tinham obrigação moral de ajudar os pobres.

Acreditava-se que a pobreza era uma desgraça decorrente das

guerras ou de adversidades como doenças ou deformidades físicas.

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O trabalho na

origem do

capitalismo

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Antecedentes I-Cercamentos de terras (a partir do século XV)

Expulsão campo-cidade

Leis sanguinárias / anti-vadiagem (uso da violência para “disciplinar” a força de trabalho

II-Revolução Industrial (século XVIII em diante)

Transição:

corporações de ofício

Manufatura

Fábrica (mecanização, fragmentação do trabalho, patrão)

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A origem do trabalho assalariado

[...] Henrique VII, lei de 1530- Mendigos velhos e

incapacitados para trabalhar tem direito a uma licença para

pedir esmolas. Os vagabundos sadios serão flagelados e

encarcerados. Serão amarrados atrás de um carro e açoitados

até que o sangue lhe corra pelo corpo; em seguida prestarão

juramento de voltar à sua terra natal ou ao lugar onde moraram

nos últimos três anos, “para se porem a trabalhar”. [...] Essa lei

é modificada. [...] Na primeira reincidência de vagabundagem,

além da pena de flagelação, metade da orelha será cortada, na

segunda, o culpado será enforcado como criminoso

irrecuperável e inimigo da comunidade.

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Eduardo VI –Uma lei no primeiro ano de seu governo, 1547,

estabelece que, se alguém se recusa a trabalhar, será condenado

como escravo da pessoa que o tenha denunciado como vadio. [...]

Se o escravo desaparecer por duas semanas, será condenado à

escravatura por toda a vida e será marcado a ferro, na testa e nas

costas, com a letra S; se escapa pela terceira vez será enforcado

como traidor. [...]

Houve leis análogas na França. Nos meados do século XVII,

estabelecera-se em Paris um reino dos vagabundos. Ainda no

início do reinado de Luís XVI, pela ordenança de 13 de julho de

1777, todo homem válido de 16 a 60 anos, sem meios de

existência e sem exercer uma profissão, deveria ser mandado para

as galés. Eram de natureza semelhante o edito de Carlos V, de

outubro de 1537, para os Países Baixos [Holanda]. [...]

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[...] A burguesia nascente precisava e empregava a força de

Estado, para “regular” o salário, isto é, comprimi-lo dentro

dos limites convenientes à produção de mais valia, para

prolongar a jornada de trabalho e para manter o próprio

trabalhador num adequado estado de dependência. Temos

aí um fator fundamental da chamada acumulação primitiva.

MARX, Karl. O Capital. Cap. XXIV: “A chamada acumulação primitiva”. Ed.

Civilização Brasileira. Rio de Janeiro. 1982. pp-853-855.

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Consequências

Separação do trabalhador de seus meios de produção

(instrumentos)

Proletariado x burguesia

Disciplina

Controle do tempo: time is money, jornada de trabalho,

relógio mecânico, metas

Condenação do lazer (Ética medieval católica X Ética

Protestante)

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Na Inglaterra, país mãe da Revolução Industrial essa orientação

“moral” foi identificada pelo historiador inglês Edward

Thompson. Este “controle do tempo” efetuado pelas relações de

trabalho no capitalismo também são descritos por Thompson,

ao relatar dois folhetos que circulavam na cidade inglesa de

Manchester no século XVIII:

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“Já em 1700, estamos entrando na paisagem familiar do capitalismo industrial disciplinado e podemos examinar rapidamente a tentativa de se impor o “uso econômico do tempo” nos distritos manufatureiros domésticos.

Quase tudo o que os mestres queriam ver imposto pode ser encontrado nos limites de um único folheto, “Friendly advice to the poor” (Conselho amigável aos pobres) do reverendo Clayton, em 1755:

se o preguiçoso esconde a mão no colo, em vez de aplicá-la ao trabalho, se ele gasta o seu tempo em passeios, prejudica a sua constituição pela preguiça, e entorpece o seu espírito pela indolência...” (...) O trabalhador não deve flanar na praça nem perder tempo fazendo compras. Clayton reclama que ‘as igrejas e as ruas apinhadas de inúmeros espectadores” nos casamentos e funerais, “os quais apesar de miséria de sua condição faminta...não tem escrúpulos em desperdiçar as melhores horas do dia só para admirar o espetáculo...”.

Clayton reclamava que as ruas de Manchester viviam cheias de “crianças vadias e esfarrapadas, que estão só desperdiçando o tempo, mas também aprendendo hábitos de jogo”, etc. (...) Muito antes de o relógio portátil ter chegado ao alcance do artesão, Baxter e seus colegas ofereciam a cada homem o seu próprio relógio moral interior. Em seu “Christian directory” (Guia cristão) apresenta muitas variações sobre o tema de redimir o tempo: empregar todo o tempo para o dever”

THOMPSOM, Edward. Costumes em comum. São Paulo: Cia das Letras, 1998.

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No livro Costumes em Comum, o historiador britânico Edward P. Thompson comenta um costume em vários países da Europa desde o século XVI até o século XIX: o de não trabalhar na santa segunda feira.

Não se trabalhava por várias razões, mas principalmente porque nos outros dias da semana a jornada era de 12 a 18 horas diárias. Assim, os trabalhadores, procuravam compensar o excesso de horas trabalhadas. Havia ainda a dificuldade de se desenvolver o trabalho na segunda feira por causa do abuso de bebidas alcoólicas comum nos fins de semana. Nas siderúrgicas estabeleceu-se que as segundas feiras seriam utilizadas para o concerto de máquinas, mas o que prevalecia era o não trabalho, que às vezes se estendia às terças feiras.

Foram necessários alguns séculos para os capitalistas “disciplinarem” os trabalhadores para o trabalho industrial diário e regular.

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Em a Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo o

sociólogo Max Weber transcreve um texto de Benjamin

Franklin (1706-1790), um dos “pais fundadores” dos

Estados Unidos da América, sobre uma série de

orientações “morais” sobre dedicação ao trabalho:

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Lembra-te que tempo é dinheiro, aquele que com seu trabalho pode ganhar dez xelins ao dia e vagabundeia metade do dia, ou fica deitado em seu quarto, não deve, mesmo que gaste apenas seis pence para se divertir, contabilizar só essa despesa; na verdade gastou, ou melhor jogou fora, cinco xelins a mais.

Lembra-te que o dinheiro é procriador por natureza e fértil. O dinheiro pode gerar dinheiro, e seus rebentos põem gerar ainda mais, e assim por diante. Cinco xelins investidos são seis, reinvestidos são sete xelins e três pence, e assim por diante, até se tornarem cem libras esterlinas. (...)

(...) Depois da industriosidade e da frugalidade, nada contribuiu mais para um jovem subir na vida do que a pontualidade e a justiça em todos os seus negócios; portanto, nunca conserves dinheiro emprestado em uma hora além do tempo prometido, senão um desapontamento fechará a bolsa de teu amigo para sempre. Fonte: Texto de Benjamin Franklin (1706-1790), intelectual, jornalista e político norte-americano do século XVIII. Texto citado em WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. Abril Cultural. São Paulo. 1980. p. 182.

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JORNADA DE

TRABALHO E

ALIENAÇÃO NO

TRABALHO

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Que é uma jornada de trabalho? De quanto é o

tempo durante o qual o capital pode consumir a força de

trabalho, cujo valor diário ele paga? Por quanto tempo

pode ser prolongada a jornada de trabalho além do tempo

de trabalho necessário à reprodução dessa mesma jornada

de trabalho?

A essas perguntas viu-se que o capital responde: a jornada

de trabalho compreende diariamente as 24 horas

completas, depois de descontar as poucas horas de descanso,

sem as quais a força de trabalho fica totalmente

impossibilitada de realizar novamente sua tarefa.

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Entende-se por si, desde logo, que o trabalhador,

durante toda a sua existência, nada mais é que força

de trabalho e que, por isso, todo o seu tempo disponível

é por natureza e por direito tempo de trabalho, portanto,

pertencente à autovalorização do capital. Tempo para

educação humana, para o desenvolvimento intelectual,

para o preenchimento de funções sociais, para o convívio

social, para o jogo livre das forças vitais físicas e

espirituais, mesmo o tempo livre de domingo –e mesmo no

país do sábado santificado- pura futilidade! [...]

MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. São Paulo. Abril. 1983, v. 1 p.211-2

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Em que consiste a alienação do trabalho?

Em primeiro lugar, o trabalho é exterior ao trabalhador, quer dizer,

não pertence à sua natureza; portanto ele não se afirma no

trabalho, mas nega-se a si mesmo, não se sente bem, mas infeliz,

não desenvolve livremente suas energias físicas e mentais, mas

esgota-se fisicamente e arruína o espírito. Por conseguinte

o trabalhador só se sente em si fora do trabalho,

enquanto no trabalho se sente fora de si. Assim, o seu

trabalho não é voluntário, mas imposto, é trabalho forçado. Não

constitui a satisfação de uma necessidade, mas apenas um meio de

satisfazer outras necessidades. O seu caráter ressalta

claramente do fato de se fugir do trabalho como da

peste (...)

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Uma vez que o trabalho alienado 1) aliena a natureza do homem,

2) aliena o homem de si mesmo, a sua função ativa, a sua atividade

vital, aliena igualmente o homem a respeito da espécie (...)

Vejamos ainda como o conceito de trabalho alienado se deve expressar e

revelar na realidade. Se o produto do trabalho me é estranho e se

contrapõe a mim como poder estranho, a quem pertencerá então? Se a

minha própria atividade não me pertence, a quem pertencerá então? Se a

minha própria atividade não me pertence, se é uma atividade alheia,

forçada, a quem pertencerá portanto?

Se o produto do trabalho não pertence ao trabalhador, se a ele se contrapõe

como um poder estranho, isso só é possível porque o produto do

trabalho pertence a outro homem distinto do trabalhador.

(...) MARX, Karl. O Trabalho Alienado in Manuscritos Econômico-Filosóficos. Ed. 70. Lisboa. 1993.

pp 157-172.

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Resumo da origem do capitalismo

Patrões: disciplina do tempo

Governos: leis sanguinárias

Escola: “o trabalho dignifica o homem”

Igrejas (protestantes, Lutero e Calvino): “deus

ajuda quem cedo madruga”; “salvação dos

pecados na prosperidade individual”, “deus

recompensa aquele que trabalha”;