o concílio dos deuses

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«Os Lusíadas» – Consílio dos Deuses Convocatória, objectivo e constituição da assembleia (estrofes 19 a 23) Estrofe 19: O Consílio dos deuses decorre paralelamente à Viagem da Armada, cuja narração se inicia na estância 19, in media res. Os navegadores encontram-se no Índico e, de acordo com o início da narração, beneficiam de um tempo e mar calmos, favoráveis à viagem. Estrofes 20 e 21: Entretanto, Júpiter convoca todos os deuses para o Olimpo (morada dos deuses) para escutar as opiniões e determinar se os portugueses terão ou não ajuda na viagem. Por conseguinte, o plano da viagem e o plano mitológico decorrem paralelamente. Esta simultaneidade de acontecimentos (a viagem e o consílio) verifica-se, por exemplo, no uso de advérbios de tempo: “Já” (estrofe 19) e “Quando” (estrofe 20). Estas estrofes centram-se, sobretudo, na convocatória dos deuses. É Júpiter, deus supremo, quem convoca enviando o mensageiro dos deuses, Mercúrio. Os deuses que se encontravam em lugares distantes, em todo o Universo, reúnem-se no Monte Olimpo. Estrofes 22 e 23: Nestas estrofes, destacam-se as descrições de Júpiter e do espaço onde decorre o Consílio.

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Page 1: O concílio dos Deuses

«Os Lusíadas» – Consílio dos Deuses

Convocatória, objectivo e constituição da assembleia (estrofes 19 a 23)

Estrofe 19:

O Consílio dos deuses decorre paralelamente à Viagem da Armada, cuja narração se inicia na estância 19, in media res. Os navegadores encontram-se no Índico e, de acordo com o início da narração, beneficiam de um tempo e mar calmos, favoráveis à viagem.

Estrofes 20 e 21:

Entretanto, Júpiter convoca todos os deuses para o Olimpo (morada dos deuses) para escutar as opiniões e determinar se os portugueses terão ou não ajuda na viagem. Por conseguinte, o plano da viagem e o plano mitológico decorrem paralelamente. Esta simultaneidade de acontecimentos (a viagem e o consílio) verifica-se, por exemplo, no uso de advérbios de tempo: “Já” (estrofe 19) e “Quando” (estrofe 20).

Estas estrofes centram-se, sobretudo, na convocatória dos deuses. É Júpiter, deus supremo, quem convoca enviando o mensageiro dos deuses, Mercúrio. Os deuses que se encontravam em lugares distantes, em todo o Universo, reúnem-se no Monte Olimpo.

Estrofes 22 e 23:

Nestas estrofes, destacam-se as descrições de Júpiter e do espaço onde decorre o Consílio.

Os deuses estão sentados hierarquicamente. Júpiter, pela sua posição, ocupa um lugar de destaque e demonstra ser altivo, severo e soberano. Em seguida, estão sentados os deuses mais antigos e com maior importância. Seguem-se os deuses menores.

Todo o espaço reflete riqueza e poder. Por exemplo, o assento de Júpiter é de estrelas brilhantes; os assentos dos restantes deuses são ornamentados de ouro e pérolas.

Page 2: O concílio dos Deuses

Assembleia (estrofes 24 a 40)

Estrofes 24 a 29:

Dirigindo-se aos deuses, Júpiter discursa, evidenciando, desde logo, a sua vontade de ajudar a Armada de Vasco da Gama. Mesmo antes de ouvir os restantes deuses, argumenta a favor dos portugueses:

■O Fado/ Destino determina que os portugueses serão capazes de superar em fama e em glória outros povos da Antiguidade como os Assírios, Persas, Gregos e Romanos (estrofe 24);

■Trata-se de um povo simples e “pequeno”, mas, no passado, foi capaz de vencer os mouros e os castelhanos (estrofe 25), tendo enfrentado também, com determinação, os exércitos romanos (estrofe 26);

■Refere o presente dos portugueses, marcado pela ousadia, coragem e determinação: enfrentam tempos adversos, perigos e mares desconhecidos (estrofes 27, 28 e 29);

■O Destino/ Fado dos portugueses está traçado e é algo que não pode ser mudado ou contrariado (estrofe 28). Por isso, tendo em conta que os portugueses estão cansados da longa viagem, é justo que possam chegar à costa. Júpiter determina que os portugueses sejam acolhidos na costa africana, onde poderão recuperar forças e guarnecer a frota, antes de seguir viagem rumo à Índia (estrofe 29).

Estrofes 30 a 32:

Intervenção de Baco, deus do vinho, também designado por Dioniso. Percorreu o mundo, aparecendo aos homens como um libertador e ganhou especial popularidade na Índia.

Baco manifesta-se contra o apoio aos navegadores, com receio de que a sua fama possa ser esquecida no Oriente depois dos portugueses lá chegarem. Teme, por isso, perder a glória e o domínio do Oriente.

Estrofes 33 e 34:

Intervenção de Vénus, deusa grega do amor e da beleza. Designada pelos romanos como Afrodite.

Vénus defende os portugueses, por gostar deles pelas suas semelhanças, nas qualidades e na língua, com o povo romano (estrofe 33) e por saber que será celebrada em todos os locais onde eles chegarem (estrofe 34).

Page 3: O concílio dos Deuses

Estrofes 34 e 35:

Surgem rapidamente apoiantes de Baco e de Vénus e a confusão instala-se no Olimpo. A discussão é tão violenta que é comparada a um ciclone.

Estrofes 36 a 40:

Intervenção de Marte, deus da guerra.

Marte, temido e respeitado por todos os deuses, intervém a favor de Vénus. Não explicita quais são as suas motivações, mas tudo indica que é motivado pelo seu amor antigo por Vénus. Reconhece o valor dos portugueses e não aceita os argumentos de Baco que os inveja. Assim, interpela Júpiter para que este afirme a sua autoridade e faça cumprir as decisões já tomadas. Não exercer a sua autoridade poderá ser visto pelos deuses como um sinal de fraqueza.

Conclusão (estrofes 41 e 42)

Estrofe 41:

Júpiter concorda com Marte e o Consílio termina com a decisão de ajudar os portugueses na viagem para a Índia.

Estrofe 42:

«Enquanto isto» – Restabelece a noção de simultaneidade entre a viagem dos portugueses (plano da viagem) e o Consílio dos deuses (plano mitológico).