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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL ELGA MORGANA SOARES DA SILVA O COMBATE À POBREZA: UMA ANÁLISE DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA SOB A ÓTICA DAS BENEFICIÁRIAS ATENDIDAS PELO CRAS BOM JARDIM (FORTALEZA/CE) FORTALEZA 2013

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Page 1: O COMBATE À POBREZA: UMA ANÁLISE DO PROGRAMA … COMBATE A... · A Secretaria Municipal do Trabalho Desenvolvimento Social e Combate à Fome de ... desigualdade social e garantia

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

ELGA MORGANA SOARES DA SILVA

O COMBATE À POBREZA: UMA ANÁLISE DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA SOB A ÓTICA DAS BENEFICIÁRIAS

ATENDIDAS PELO CRAS BOM JARDIM (FORTALEZA/CE)

FORTALEZA

2013

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ELGA MORGANA SOARES DA SILVA

O COMBATE À POBREZA: UMA ANÁLISE DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA SOB A ÓTICA DAS BENEFICIÁRIAS ATENDIDAS PELO

CRAS BOM JARDIM (FORTALEZA/CE)

Monografia apresentada ao curso de

graduação em Serviço Social da Faculdade

Cearense – FAC, como requisito para

obtenção do titulo de bacharelado.

Orientadora: ProfªMs Valney Rocha Maciel

FORTALEZA

2013

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Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274

S586c Silva, Elga Morgana Soares da

O combate a pobreza: uma análise do programa bolsa família

sob a ótica das beneficiárias atendidas pelo CRAS Bom Jardim

(Fortaleza-CE) / Elga Morgana Soares da Silva. Fortaleza –

2013.

86f. Il. Orientador: Profª. Ms. Valney Rocha Maciel.

Trabalho de Conclusão de curso (graduação) – Faculdade

Cearense, Curso de Serviço Social, 2013.

1. Assistência social. 2. Desigualdade social. 3. Movimentos

sociais. 4. Transferência de renda. 5. Direitos sociais I. Maciel,

Valney Rocha. II. Título

CDU 364(813.1)

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ELGA MORGANA SOARES DA SILVA

O COMBATE À POBREZA: UMA ANÁLISE DO PROGRAMA BOLSA

FAMÍLIA SOB A ÓTICA DAS BENEFICIÁRIAS ATENDIDAS PELO

CRAS BOM JARDIM (FORTALEZA/CE)

Monografia como requisito para obtenção do título de bacharelado em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense – Fac, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores.

Data de Aprovação:

Banca Examinadora

____________________________________________________

Prof.ª Ms. Valney Rocha Maciel

Faculdade Cearense

Prof.ª Ms. Mario Henrique Castro Benevides

Faculdade Cearense

____________________________________________________

Prof.ª Ms. Socorro Letícia Fernandes Peixoto

Faculdade Cearense

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, primeiramente, que sempre está ao meu lado em todos os

momentos desta longa caminha de vida acadêmica.

Aos meus pais, pelas inúmeras provas de amor que a mim dedicaram, exemplo de

amor incondicional.

À minha família de um modo geral, por todo amor, carinho e incentivos a mim

dedicados.

A todos os meus professores e seus convidados pelo carinho, dedicação e

entusiasmo demostrado ao longo do curso.

A Secretaria Municipal do Trabalho Desenvolvimento Social e Combate à Fome de

Fortaleza por ter me dado à oportunidade de realizar esta pesquisa acadêmica.

À Assistente Social Luana Vidal B. de Almeida pela atenção, dedicação, incentivo,

apoio, socialização dos dados documentais da instituição e pelo seu

acompanhamento a mim dedicado durante todo o período de realização da minha

pesquisa no CRAS.

Por fim em especial à minha querida professora Valney Rocha, orientadora deste

trabalho monográfico, pela atenção, dedicação e principalmente pela experiência

teórica e prática que a mim dedicou na construção do presente trabalho.

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“O conhecimento exige uma presença

curiosa do sujeito em face do mundo.

Requer uma ação transformadora sobre a

realidade. Demanda uma busca

constante. Implica em invenção e em

reinvenção".

(Paulo Freire)

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RESUMO

Partindo do pressuposto do entendimento dos direitos sociais enquanto ampliação

da cidadania na perspectiva da política de assistência social e das suas concepções

como uma política pública concebida aqui em seu contexto e configuração atual

desde a Constituição Federal de 1988 como política de enfrentamento a pobreza, a

desigualdade social e garantia dos mínimos sociais para a população mais

vulnerável que o presente trabalho tem como objetivo geral analisar e compreender

a trajetória histórica da política de assistência social em seu processo sociohistórico,

bem como os Programas de Transferência de Renda articulados a esta política mais

especificamente o Programa Bolsa Família e os seus impactos sociais na melhoria

das condições de vida das famílias beneficiárias tais como: o aproveitamento da

renda. Considerando a pobreza, a desigualdade social, direitos sociais e a

assistência social como categorias analíticas centrais deste trabalho, configurando-

se a pobreza, desigualdade social e os mínimos sociais preconizados na CF de

1988, bem como na PNAS e na consolidação do SUAS. A análise da realidade

estudada neste trabalho de pesquisa acadêmica foi o (CRAS) Bom Jardim junto aos

usuários desta unidade e moradores do bairro Bom Jardim local onde o CRAS se

localiza, pois minha pesquisa foi uma pesquisa de campo institucionalizada realizada

na instituição já citada; a pesquisa efetivou-se através dos dados oriundos do IBGE

– Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, dos dados dos documentos

oferecidos e fornecidos pela instituição e principalmente através das entrevistas

realizadas com os usuários da instituição, bem como da política de assistência e do

PBF, o que nos permitiu um contraponto e análise entre a visão dos usuários e

legislação pertinente na política e a sua expressa efetivação e dimensionamento de

suas potencialidades na categoria pobreza com vistas à garantia dos mínimos

sociais de seus demandatários.

PALAVRAS CHAVE: Assistência Social, Desigualdade Social, Movimentos Sociais,

Transferência de Renda, Pobreza e Direitos Sociais.

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ABSTRACT

Assuming the understanding of the social rights of citizenship while broadening the perspective of social welfare policy and his views as a public policy conceived here in its context and current configuration since the Brazilian Federal Constitution of 1988 as a policy for combating poverty, social inequality and guarantee of minimum social standards for the most vulnerable that the present research aims analyze and understand the historical trajectory of social welfare policy in its socio-historical process, as well as the income transfer programs articulated this policy more specifically Bolsa Família and its social impact on improving the living conditions of the beneficiary families such as the use of income (poverty). Considering poverty, social inequality, social rights and social assistance as core analytical categories of this work, setting up poverty, social inequality and social minimums recommended in the 1988 Brazilian Constitution, as well as in PNAS and consolidation of ITS. The analysis of the reality studied in this research work was the academic (CRAS) Bom Jardim with the users of this unit, and residents of the neighborhood where the Bom Jardim CRAS is located, because my research was a field survey conducted in institutionalized institution already mentioned; research was accomplished through the data from the IBGE - Brazilian Institute of Geography and Statistics, data and documents provided by the institution and provided primarily through interviews with users of the institution, as well as assistance policy and BPF, which allowed us to counterpoint and analysis from the view of users and relevant legislation in politics and its effect and expressed their scaling capabilities in the category poverty with a view to ensuring the minimum of their social users.

KEYWORDS: Social Work, Social Inequality, Social Movements, Transfer Income y

Poverty and Social Rights.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CRAS – Centro de Referência da Assistência Social

CF – Constituição Federal do Brasil de 1988

IPECE – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada do Ceará

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social

MDS – Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

NOB – Norma Operacional Básica

ONU – Organização das Nações Unidas

PBF – Programa Bolsa Família

PAIF – Serviço de Atenção Integral a Família

PNAS – Política Nacional de Assistência Social

SUAS – Sistema Único de Assistência Social

SEMAS – Secretária Municipal de Assistência Social de Fortaleza

SETRA – Secretária Municipal do Trabalho Desenvolvimento Social e Combate à

Fome de Fortaleza

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 09

1 O BRASIL A PARTIR DOS ANOS DE 1930 E AS POLÍTICAS SOCIAIS

PÚBLICAS ........................................................................................................

15

1.1 A Contra–Reforma do Estado e as Políticas Públicas na era Neoliberal ........ 22

1.2 A Centralidade da Política de Assistência Social no Campo da Seguridade

Social Brasileira: uma Política Pública de Direito e Combate a Pobreza ..............

37

2 A POBREZA COMO EXPRESSÃO DA QUESTÃO SOCIAL ............................. 42

2.1 Pobreza e Questão Social no Brasil e em Fortaleza ........................................ 45

2.2 O Programa de Transferência de Renda Bolsa Família como um Programa

Social de Enfrentamento a Pobreza .......................................................................

49

3 A PESQUISA DE CAMPO ................................................................................. 54

3.1 O método: Tipo de Pesquisa e o(s) Instrumento(s) de Coleta de Dados ........ 58

3.2 O Cenário e o Período de Realização da Pesquisa ......................................... 60

3.3 A Amostragem .................................................................................................. 63

3.4 O Perfil dos Sujeitos ......................................................................................... 64

3.5 As Análises ....................................................................................................... 67

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................... 74

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 78

APÊNDICES ........................................................................................................ 82

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como tema central o combate à pobreza: uma

análise do programa bolsa família sob a ótica das beneficiárias atendidas pelo CRAS

Bom Jardim município de Fortaleza. O presente trabalho estabelece uma relação

entre a concepção de pobreza, suas causas, bem como o reconhecimento da

política de assistência social enquanto política pública de enfretamento e combate a

pobreza através dos programas sociais articulados a esta política tais como o

Programa Bolsa Família, a sua importância enquanto política pública de direitos

sociais para a ampliação da cidadania, bem como a sua trajetória histórica por um

reconhecimento e efetivação enquanto política pública de direito do cidadão e dever

do Estado na oferta de seus serviços e a sua busca histórica árdua e lenta por uma

efetivação e reconhecimento como uma política pública constitucionalmente

assegurada pela Constituição Federal – CF de 1988 e pela Lei Orgânica da

Assistência Social – LOAS. O estudo realizado neste trabalho busca também

perceber qual a percepção das mulheres beneficiadas pelo programa bolsa família

sobre o programa e o que o mesmo representa para elas, bem como a compreensão

das mesmas sobre o modelo de gestão decentralizada das ações desta política na

família assim como o PBF que tem como unidade principal de intervenção a família,

bem como a compreensão das mesmas a cerca do sentido do não contributivo

contido na gestão desta política pública.

Para problematizar melhor os estudos e pesquisa realizada, inferem-se

algumas questões como ponto de partida, primeiramente em compreender e

conceber a trajetória histórica desta política pública no Brasil e a sua árdua busca

por um reconhecimento enquanto política social pública desde a Constituição

Federal de 1988, ao reconhecimento, implementação e efetivação da LOAS, e mais

precisamente os seus avanços enquanto política de direitos sociais do cidadão e sua

busca pela efetivação da plena cidadania através do seu contexto atual contido na

Política Nacional de Assistência Social – PNAS e na sistematização do Sistema

Único de Assistência Social - SUAS, no intuito de compreender como tais questões

vem se desenvolvendo na intervenção da categoria pobreza, bem como a forma de

como os programas sociais de transferência de renda como o BF atuam nesta

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problemática e os seus impactos na melhoria das condições de vida das famílias

beneficiadas.

O objetivo geral deste trabalho de pesquisa acadêmica é analisar e

compreender a árdua e lenta trajetória histórica da política de assistência social em

seu processo sociohistórico na busca por um reconhecimento enquanto política

pública de direito do cidadão, bem como o PBF e os seus impactos sociais na vida

das famílias beneficiadas tais como: o aproveitamento da renda, junto às famílias

beneficiadas residentes no bairro Bom Jardim, usuárias do CRAS – Bom Jardim,

bem como os seus objetivos específicos que são: Traçar o perfil socioeconômico

das famílias beneficiadas pelo programa que são acompanhadas pelo CRAS – Bom

Jardim; Investigar e analisar os impactos do programa BF na melhoria das

condições de vida das famílias beneficiadas, bem como o aproveitamento da renda;

e Analisar e compreender os impactos do programa na vida das famílias

beneficiadas dentro da perspectiva do modelo de proteção social não contributivo da

política de assistência social brasileira.

Meu interesse e motivação pela temática a política de assistência social e

o Programa Bolsa Família se deu através da minha experiência adquirida no estágio

supervisionado obrigatório, pois no processo de realização do estágio eu como

estagiária sempre acompanhava a minha supervisora de campo tanto nos

atendimentos individuais destas famílias beneficiadas pelo programa, como nas

visitas para acompanhamento familiar e também no acompanhamento do Cadastro

Único e das famílias que descumpriam as condicionalidades do programa. Pois em

meu estágio um dos programas que eu mais acompanhei foi o Programa Bolsa

Família, programa o qual é referenciado pela assistente social que foi minha

supervisora de campo, o que me incentivo muito a querer pesquisar sobre a

temática. Pois o meu estágio foi realizado no Centro de Referência de Assistência

Social - CRAS /Bom Jardim do município de Fortaleza, vinculado a Secretaria

Municipal do Trabalho Desenvolvimento Social e Combate à Fome - SETRA, a

extinta Secretaria Municipal de Assistência Social - SEMAS de Fortaleza que é a

unidade executora e gestora dos programas sociais de assistência social, bem como

da política de assistência no município, sendo os CRAS os responsáveis pela

execução das ações da política de proteção social básica da assistência social deste

órgão gestor do município.

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Vale ressaltar que os estudos e as pesquisas foram bastante ricos, diante

da vasta literatura e visão dos autores que se complementam e as vezes se

contradizem, mas primamos por seguir a linha de pesquisa nas teorias dos referidos

autores: Ana Elizabete Mota, Potyara Pereira, Aldaíza Sposati, Maria Carmelita

Yasbek, Maria Luiza Mestriner, Marilda Villela Iamamoto, Maria do Socorro Ferreira

Osterne, Vera da Silva Telles, dentre outros, bem como foram estudadas e

abordadas no seguinte trabalho acadêmico as seguintes categorias: a política de

assistência social, Programa Bolsa Família, família e pobreza.

Diante destas categorias e questões para uma melhor compreensão da

temática discutida no trabalho que abrange a política de assistência social e o

Programa Bolsa Família, pontuaremos um breve relato da política de assistência

social no Brasil, a partir do ano de 1930, sob o governo de Getúlio Vargas, passando

pelo regime militar (ditadura militar), pelo processo de redemocratização do Estado

brasileiro, pelo processo de contra reforma gerencial do Estado até o ano de 2003

sob o governo de Luís Inácio Lula da Silva. Analisando e destacando como esta

política pública se configura hoje em seus dias atuais, fazendo também um recorte

sobre a categoria pobreza tanto no contexto brasileiro, como em nosso estado, o

Ceará, passando também pelo município de Fortaleza, bem como também os

programas de transferência de renda articulados a política pública de assistência

social, mais especificamente o Programa Bolsa Família que atualmente é

apresentado como estratégia central na intervenção da pobreza. Como os demais

Programas inscritos no processo de redefinição da Proteção Social no Brasil. E para

a realização e discussão da pesquisa e temática, o combate á pobreza: uma análise

do Programa Bolsa Família sob a ótica das beneficiárias atendidas pelo CRAS –

Bom Jardim município de Fortaleza e para uma melhor compreensão da temática

discutida foram abordadas as seguintes categorias: a política de assistência social,

família, pobreza e PBF.

No primeiro capítulo deste trabalho denominado o Brasil a partir dos anos

de 1930 e as políticas sociais públicas apresentamos o desdobramento e trajetória

histórica da política de assistência social, bem como os seus avanços e retrocessos

na busca pela sua efetivação e implementação como uma política

constitucionalmente assegurada em sua configuração atual como política pública de

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direito do cidadão e dever do Estado na oferta de seus serviços, bem como a

implementação do sistema de proteção social de seguridade social no Brasil.

A política de assistência social em seu processo sociohistórico se deu

através do surgimento dos movimentos sociais, com a revolução industrial, por meio

das lutas da classe trabalhadora e da sua inserção no cenário politico. No Brasil a

política de assistência social se constitui nas marcas deixadas pelas particularidades

históricas da nossa sociedade, tais como: o nosso processo de colonização, o

escravismo, a desqualificação da classe trabalhadora, as lutas e movimentos sociais

feitos pela classe trabalhadora, o desenvolvimento desigual, o colonialismo e o

imperialismo são momentos que dão um sentido geral na formação da sociedade

brasileira. Nos anos 1930 com estado novo as sociedades chamadas pré –

capitalistas não se privilegiavam das forças de mercado, apenas assumiam algumas

responsabilidades sociais com a classe trabalhadora, mas não com o fim de garantir

o bem comum de todos, mas com o intuito de manter a ordem social e punir a

sociedade por conta dos protestos feitos na época pela classe trabalhadora através

dos movimentos sociais.

Pois para analisarmos a trajetória desta política é fundamental investigar

os seus retrocessos e historia e a Constituição Federal 1988 é um marco

fundamental desse processo porque reconhece a assistência social como política

social que articulada a outras políticas sociais, tais como a política previdenciária e a

política de saúde formam e compõem o campo da seguridade social brasileira.

No segundo capítulo denominado a pobreza como expressão da questão

social traz a análise da categoria pobreza; tanto no contexto brasileiro como em

nosso estado o Ceará e no município de Fortaleza, e do Programa Bolsa Família,

que a partir do surgimento e agravamento da pobreza uma das expressões da

questão social na segunda metade do século XIX, apresenta as primeiras medidas e

intervenções de proteção social para as famílias mais vulneráveis, como forma de

intervenção do Estado e Governo Federal, apresentado estes e funcionando como

um programa que em sua atualidade são programas sociais de transferência de

renda, que são apresentados como estratégias centrais na intervenção da pobreza.

No intuito de redefini o modelo e processo da Proteção Social no Brasil, que se

integra a um projeto político mais amplo que mobiliza concepções que muito têm a

revelar de sua natureza e alcance, bem como de sua compreensão acerca do

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problema para o qual se direcionam que é o caso do enfretamento a pobreza. Tais

como o Programa de Transferência de Renda Bolsa Família, que é um programa

articulado a uma política universal no estabelecimento e garantia dos mínimos

sociais de acordo com os princípios estabelecidos pela LOAS – Lei Orgânica da

Assistência Social e pelo Cadastro Único de Assistência Social do Governo Federal.

O Bolsa Família é um programa regulamentado pelo decreto lei de nº 5.209, de 17

de setembro de 2004 que regulamenta a Lei nº 10.836, de 09 de janeiro de 2004,

que cria o Programa Bolsa Família, e dá outras providências; mencionada pelo

Presidente da República Luís Inácio Lula da Silva.

Pois o Bolsa Família é um programa social que tem como principal

objetivo o enfretamento a pobreza, garantindo assim a renda mínima para a

alimentação adequada, e garantindo além do alivio imediato da pobreza reforçando

o acesso das famílias mais pobres aos seus direitos sociais básicos nas áreas de

educação, saúde e assistência social através das condicionalidades.

O terceiro e ultimo capítulo denominado a pesquisa de campo trata da

prioridade do objeto da pesquisa, com o intuito de compreender como o Programa

BF, um programa que é articulado a uma política universal que busca pela primazia

e garantia dos mínimos sociais para as famílias mais vulneráveis assim como o

programa, vem tendo seu espaço na vida das famílias beneficiadas do bairro Bom

Jardim, usuárias do (CRAS) Bom Jardim no qual foi o cenário desta pesquisa, para

os quais foi feito um breve histórico da categoria pobreza no Brasil, no Estado do

Ceará no município de Fortaleza e por fim no bairro Bom Jardim. Trata também da

compreensão, percepção e visão das famílias beneficiadas pelo Programa BF, sobre

o programa, sobre o que o mesmo representa para estas famílias, a percepção das

mesmas sobre o programa como um programa social de enfrentamento a pobreza e,

a compreensão das mesmas sobre esta problemática a pobreza e sobre o modelo

de gestão decentralizada da política bem como a compreensão das mesmas sobre o

que é a proteção social não contributiva, por fim o capitulo traz além do perfil das

famílias beneficiadas pelo programa a compreensão e visão dos usuários do

programa sobre o PBF e sobre a política e o seu modelo de funcionamento e gestão

nítido na fala e relato destas famílias entrevistadas participantes desta pesquisa e

usuárias deste programa e desta política pública.

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Por fim a relevância desta pesquisa reside na necessidade de uma

melhor análise e compreensão a cerca do modelo de proteção social não

contributivo atual do Brasil implementado na política pública de assistência social,

bem como o seu modelo de gestão decentralizada articulado aos programas sociais

como o Bolsa Família em que ambos tem em suas ações e atividades a família

como principal unidade interventiva. Propiciando assim a compreensão da

população beneficiada pelo programa e usuária do mesmo assim como da política, o

entendimento, conhecimento e compreensão a cerca do modelo de gestão da

política e o seu funcionamento, o sentido do não contributivo, bem como a

relevância e importância dos programas sociais como o Bolsa Família para estas

famílias beneficiadas, e o seu modelo de intervenção na família e não no individuo

de forma isolada assim como a política e suas ações.

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1- O BRASIL A PARTIR DOS ANOS 1930 E AS POLÍTICAS SOCIAIS PÚBLICAS

Para analisarmos a Política de Assistência Social hoje é fundamental

investigar a sua trajetória. A Constituição Federal de 1988 é um marco fundamental

desse processo porque reconhece a assistência social como política social que

articulada a outras políticas sociais, tais como a política previdenciária (Política de

Previdência Social) e a política de saúde formam e compõem o campo da

seguridade social brasileira. No Brasil, até os anos 1930 a 1940 com o governo

denominado de estado novo, não havia uma compreensão da pobreza como uma

expressão da questão social e quando esta emergia para a sociedade, era tratada e

vista por parte das autoridades como caso de polícia e era problematizada por

intermédio de seus aparelhos repressivos. Pois o governo de Getúlio Vargas era

conhecido como um governo autoritário, burguês, conservador, nacionalista,

corporativista denominado de Estado Novo, nome inspirado pela ditadura de António

de Oliveira Salazar em Portugal. Getúlio Vargas em seu governo determinou o

fechamento do Congresso Nacional e a extinção dos partidos políticos. Ele outorgou

uma nova constituição, que lhe conferia o controle total do poder executivo e lhe

permitia nomear interventores nos estados aos quais Getúlio deu ampla autonomia

na tomada de decisões, e previa um novo poder Legislativo.

No Brasil a política de assistência social se constitui nas marcas deixadas

pelas particularidades históricas da nossa sociedade, tais como: o nosso processo

de colonização, o escravismo, a desqualificação da classe trabalhadora, as lutas e

movimentos sociais feitos pela classe trabalhadora, o desenvolvimento desigual, o

colonialismo e o imperialismo são momentos que dão um sentido geral na formação

da sociedade brasileira. Nos anos 1930 com estado novo as sociedades chamadas

pré-capitalistas não se privilegiavam das forças de mercado, apenas assumiam

algumas responsabilidades sociais com as classes subalternas, ou seja, a classe

trabalhadora, mas não com o fim de garantir o bem comum de todos, mas com o

intuito de manter a ordem social e punir a sociedade por conta dos protestos feitos

na época pela classe trabalhadora através dos movimentos sociais. E com um único

objetivo; de acalma os ânimos dos trabalhadores que protestavam por melhores

condições de trabalho no ano de 1930, a sociedade burguesa através das damas da

caridade e por meio das suas ações filantrópicas na qual a política de assistência

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social tinha o caráter filantrópico e puramente assistencial, pois seguia o ideário da

igreja católica, que realizava algumas atividades e iniciativas com características

puramente assistenciais as quais são identificadas como as proformas das políticas

sociais. Dessa forma a pobreza era tratada como disfunção individual, ou seja, o

individuo era o principal responsável pela sua situação econômica, por ser pobre,

pois era pobre por que não trabalhava.

A primeira e grande regulação da assistência social no Brasil foi à

instalação do Conselho Nacional de Serviço Social – CNSS - criado em 1938.

Segundo a autora Mestriner (2001, p.57-58), o conselho foi criado como um dos

órgãos de cooperação do Ministério da Educação e Saúde, passando a funcionar

em uma de suas dependências, sendo formado por figuras ilustres da sociedade

cultural e filantrópica e substituindo o governante nas decisões enquanto as

organizações auxiliares, não obtendo assim muito sucesso.

Desta forma foi criada a primeira e grande instituição de assistência social

à Legião Brasileira de Assistência – LBA - que tem sua gênese marcada pela

presença das mulheres e pelo patriotismo. Que segundo a autora Sposati (2004,

p.19): foi desta forma que a relação da assistência social com o sentimento patriótico

foi exponenciada quando Darcy Vargas, a esposa do presidente, reúne as senhoras

da sociedade (as damas da caridade) para acarinhar as pracinhas brasileiras da

FEB – Força Expedicionária Brasileira, combatentes da segunda guerra mundial,

com cigarros e chocolates e instala a Legião Brasileira de Assistência – LBA. A ideia

de legião era a de um corpo de luta em campo, ação. Pois a sociedade burguesa

através das damas da caridade e por meio das suas ações filantrópicas na qual a

política de assistência social tinha o caráter filantrópico, pois seguia o ideário da

igreja católica, que realizava algumas atividades e iniciativas com características

puramente assistenciais as quais são identificadas como as proformas das políticas

sociais. Ainda segundo a autora Sposati (2004) em outubro de 1942 a L.B.A. se

torna uma sociedade civil de finalidades não econômicas, voltadas para congregar

as organizações de boa vontade.

Aqui a assistência social funcionava como ação social é ato de boa

vontade e não de direito de cidadania (SPOSATI, 2004, p.20). A L.B.A. assegura

estatutariamente em sua presidência às primeiras damas da República, imprimindo

dessa forma a marca do primeiro-damismo junto à assistência social e estende a

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sua ação às famílias da grande massa não previdenciária, atendendo na ocorrência

de calamidades com ações pontuais, urgentes e fragmentadas. Assim desta forma a

assistência social não seguia um ideário de uma política de direito universal de

cidadania posto pela CF de 1988 e sim de troca de favores, com características

assistências fragmentadas. Mais a partir do ano de 1964, ocorreu uma significativa

mudança na relação das forças presentes no cenário político. Mais com o golpe de

Estado em 1964 mais conhecido como o golpe militar, os governantes eleitos e

reconhecidos, são sumariamente retirados do cenário político pela força militar,

rompendo-se as regras do jogo político na escolha dos seus dirigentes. E com a

crise política que se arrastava desde a renúncia de Jânio Quadros em 1961. O vice

de Jânio era João Goulart, que assumiu a presidência num clima político adverso. O

governo de João Goulart (1961-1964) foi marcado pela abertura às organizações

sociais. Estudantes, organizações populares e trabalhadores que ganharam espaço,

causando a preocupação das classes conservadoras como, por exemplo, os

empresários, banqueiros, Igreja Católica, militares e classe média. Todos temiam

uma guinada do Brasil para o lado socialista. Vale lembrar, que neste período, o

mundo vivia o auge da Guerra Fria. Pois os militares neste período passam a

controlar as decisões econômicas, ocupando os principais cargos da administração.

Desta forma em 1968, os movimentos sociais voltam a se articular, com objetivos

diferentes, mas com um único propósito de por fim ao sistema ditatorial, destacam-

se assim os movimentos estudantis, trabalhistas, religiosos, operários e

camponeses.

O período de governo da Ditadura Militar, período em que os militantes

governaram o Brasil durante os anos de 1964 á 1985, caracterizou-se pela falta de

democracia, supressão de direitos constitucionais, censura, perseguição política e

repressão aos que eram contra o regime militar. Período conhecido como o período

de repressão policial, exílios políticos, estabelecimento de legislação autoritária, com

supressão dos direitos civis, uso da máquina estatal em favor da propaganda

institucional e política, manipulação da opinião pública através de institutos de

propaganda governamental e empresas privadas. Assim com a aproximação do

período de redemocratização e das campanhas pelas diretas Já, os movimentos

sociais voltam a se articular, com os seus agentes, como produtores da história,

como forças instituístes que, além de questionar o estado autoritário e capitalista,

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questionam a sua prática a própria centralização/burocratização tão presente nos

partidos políticos. Com toda a repressão, a sociedade civil busca maneira de por fim

ao sistema ditatorial, surgindo vários focos de manifestações, como por exemplo, a

guerrilha armada na zona urbana e rural, greves e movimentos contra a carestia. E é

neste contexto sociohistórico que a política de assistência social por meio dos

movimentos sociais, dos protestos da classe trabalhadora e da mobilização

democrática e exigência de práticas inovadoras na área social, que se da início uma

intensa discussão para a formulação de uma política pública de Assistência Social,

constitucional.

E é neste contexto que no Brasil com o processo de redemocratização do

Estado e a consolidação e efetivação da Constituição Federal de 1988 que inseri e

inscreve a política de assistência social inscrita nos artigos 203 e 204 da constituição

como: a Assistência Social que será prestada a quem dela necessitar,

independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: a

proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; a

habilitação e a reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de

sua integração à vida comunitária; dentre outros.

É nesta mesma época que os sindicatos de trabalhadores do ABC iniciam

grandes manifestações por melhorias nas condições de trabalho, além das vozes

vindas da Igreja Católica, em especial as de Dom Evaristo Arns, arcebispo de São

Paulo, e Dom Hélder Câmara, arcebispo emérito de Olinda e Recife, além de

Leonardo Boff, representante mais conhecido da Teologia da Libertação, que

defendia o engajamento social do clero, além das atividades promovidas pelas

Comunidades Eclesiais de Base (CEBS). A imprensa, especialmente a chamada

“alternativa” voltava com força à atividade, fazendo forte oposição ao governo,

incomodando ao ponto da Linha Dura habitualmente colocar bombas em bancas de

jornal que geralmente vendiam as publicações contestadoras. Além de bombas em

bancas de jornal, os radicais de direita tinham planos mais infames, que por sorte

não obtiveram sucesso, como o famoso atentado à bomba ao Rio Centro durante

um show em comemoração ao primeiro de maio. A anistia aos condenados por

crimes políticos veio em 1979, sendo que o inusitado deste gesto é que ele abonou

também os torturadores. No mesmo ano era estabelecida a nova Lei Orgânica dos

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Partidos, que acabava com o bipartidarismo, e liberava a criação de novos partidos

políticos, que começaram a surgir, como o PMDB, PDS, PFL, e ainda o PT.

Pois o período de redemocratização do nosso país o Brasil foi um período

de abertura política, ou seja, de recuperação das instituições democráticas abolidas

pelo chamado Regime Milita instalado em 1964, e que impunha desde aquele ano

um regime de exceção e de censura às instituições nacionais. O período

considerado como de redemocratização vai desde o governo Ernesto Geisel até a

eleição indireta de Tancredo Neves, que morreria pouco antes de assumir o poder,

resultando na posse de José Sarney, cujo seu período na presidência inicia na Nova

Republica, período em que teve uma busca pela efetivação dos direitos sociais e

das políticas sociais. Pois a Constituição Federal de 88 foi um marco muito

importante neste processo, pois a mesma reconhece a política de assistência social

como uma política publica de direito e dever do Estado na promoção de seus

serviços. Para que assim se regulamente e institucionalize os avanços alcançados

na CF/de 1988 tornou-se imprescindível a aprovação de leis orgânicas. A luta para a

aprovação dessas leis exigiu um complexo procedimento de organização dos

princípios preconizados na CF/de 1988. Sua deliberação esbarrou em forças

conservadoras, convertendo-se em um processo de difícil operacionalização e

efetivação.

É nesse movimento de intenso debate, que são questionadas a

burocratização e a seletividade que dificulta o acesso às políticas sociais; e a

centralidade de poder estatal que não se adapta às diferentes realidades; o caráter

pontual, formal, fragmentado e emergencial das ações e a falta de mecanismos de

participação popular. Deste modo, converteu-se para uma redefinição institucional,

baseada nos princípios da democracia participativa e descentralizada, alterando as

relações político-institucionais. Que em 11 de abril de 1991, a matéria volta à pauta

no legislativo, por iniciativa dos deputados Geraldo Alckmin Filho e Reditário Cassol.

Passa, então, a ser discutida e aperfeiçoada por uma comissão eleita no Primeiro

Seminário Nacional de Assistência Social em junho de 1991, resultando no

documento Ponto de Vista que Defendemos, servindo esse de subsídio para a

elaboração de um novo projeto de lei, com o n°3154/91. Seu trâmite no Congresso,

novamente foi adiado por questões econômicas, sociais e políticas, além da

manifestação de Aristides Junqueira, procurador da República, alegando que o

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projeto deveria ter origem no Executivo, pois o primeiro fora vetado. O Ministério do

Bem-Estar Social promoveu encontros regionais em todo o país para a discussão da

Lei Orgânica da Assistência Social, culminando na Conferência Nacional de

Assistência Social, realizada em junho de 1993, em Brasília.

O Executivo apresentou um novo projeto de lei, contrário ao que vinha

sendo negociado. Assim, com a pressão de entidades e especialistas na área, a

plenária posicionou-se construindo artigo por artigo, tornando-se tal documento

conhecido como Conferência Zero da Assistência Social. Posteriormente. Foi

encaminhado ao Congresso Nacional pela deputada Fátima Pelaes, com o n°

4100/93, sendo, em sete de dezembro de 1993, sancionada a Lei Orgânica de

Assistência Social - LOAS, pelo presidente Itamar Franco. O que segundo a autora

Mestriner a LOAS introduz um novo significado a Assistência Social enquanto

política pública de seguridade, e direito do cidadão e dever do Estado, prevendo-lhe

um sistema de gestão descentralizado e participativo, cujo eixo é posto na criação

do Conselho Nacional de Assistência Social o CNAS (MESTRINER, 2001, P.206.)

De imediato, essa Lei extingue o Conselho Nacional de Serviço Social, criado em

1938, - considerado um órgão clientelista e cartorial – e, cria o Conselho Nacional de

Assistência Social, órgão de composição paritária, deliberativo e controlador da

política de assistência social; para que desta forma a assistência social se torne

realmente uma política pública totalmente assegurada e efetivada

constitucionalmente pela Constituição, pela LOAS e pelo os órgãos controladores

desta política, tais como o Conselho Nacional de Assistência Social.

É neste intenso processo que permite a nos compreender que a

Assistência Social nasce com a Constituição Federal de 1988 e com a LOAS – Lei

Orgânica de Assistência Social. Ela existe para efetivar a política de assistência

social como uma política social pública, que alcança os seus marcos legais, o status

de política social, convergindo ao campo dos direitos, da universalização dos

acessos e da responsabilidade estatal. Entende-se por política social, as formas de

intervenção e regulamentação do Estado nas expressões da questão social,

envolvendo o poder de pressão e a mobilização dos movimentos sociais, com

perspectivas de problematizar as demandas e necessidades dos cidadãos, para que

ganhem visibilidade e reconhecimento público. É certo que a história da Política de

Assistência Social segundo a autora Yasbek, não termina com a promulgação da

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LOAS, visto que esta Lei introduziu uma nova realidade institucional, propondo

mudanças estruturais e conceituais, em um cenário com novos atores revestidos

com novas estratégias e práticas, além de novas relações interinstitucionais e

intergovernamentais, confirmando-se enquanto “possibilidade de reconhecimento

público da legitimidade das demandas de seus usuários e serviços de ampliação de

seu protagonismo” (YASBEK, 2004, p.13), assegurando-se como direito não

contributivo e garantia de cidadania e proteção social, que é o atual modelo de

proteção social contido na política de assistência social que é um modelo de

proteção social não contributivo e de gestão decentralizada.

Em 2004, após um movimento de discussão nacional, foi aprovada uma

nova Política Nacional de Assistência Social na perspectiva de implementação do

Sistema Único de Assistência Social – SUAS. Consequentemente, em 2005, fez-se

necessário a edição de uma Norma Operacional Básica que definisse as bases para

a implantação do Sistema Único de Assistência Social. Os instrumentos de

regulação da Política de Assistência Social - PNAS em vigor são, portanto, a CF/ de

88, a LOAS/ de 93, a Política Nacional de Assistência Social/ de 2004 e a Norma

Operacional Básica/SUAS/ de 2005. E neste contexto, merecem destaque as cinco

Conferências Nacionais de Assistência Social, realizadas nos últimos dez anos, que

deliberaram, avaliaram e propuseram novas bases de regulação da Política de

Assistência Social. Contribuíram com a formação de competências de gestão,

consensos e avanços nesta política (CARVALHO, 2005, p. 2).

Atualmente, a implementação efetivação do Sistema Único de Assistência

Social o SUAS no Brasil, é meta assumida conjuntamente por todos os entes

federados, num Plano de Estratégias e Metas Decenais, deliberado na Conferência

Nacional de Assistência Social, realizada em dezembro de 2.005. Na mesma

Conferência, foi aprovado o Decálogo de Direitos Socioassistenciais. Todos os

municípios e estados brasileiros elaboraram relatórios das Conferências Municipais

e Estaduais, contendo um álbum de fotografias (assim denominado porque registra a

condição atual de gestão da Política de Assistência Social nos municípios, nos

estados e no Distrito Federal) e o plano de metas para implementação do SUAS.

Disso se verifica que a Política de Assistência Social vem avançando muito

rapidamente em sua “regulação pelo Estado, na definição de seus parâmetros,

padrões, prioridades” (CARVALHO, 2005, p.1). Bem como o compromisso e a

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responsabilidade do Estado na ampliação da rede sócio assistencial e na

implementação das instituições de proteção social, tais com os CRAS – Centro de

Referência de Assistência Social. Por fim resta-nos apenas o imenso desafio de

operacionalizar os benefícios, serviços e projetos de acordo com os parâmetros,

padrões e critérios estabelecidos pelo Sistema Único de Assistência Social, sob a

lógica da proteção social. No qual se da como um modelo de uma política publica

de combate à pobreza por meio dos programas de transferência de renda

articulados a esta política como o PBF - Programa Bolsa Família e o Beneficio de

Prestação Continuada o BPC, bem como a proteção social as famílias no que se

refere ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários de seus usuários

independente de cor, raça, etnia, gênero, a efetivação e busca pela garantia dos

mínimos sociais e dos direitos sócias de cidadania.

Com o objetivo de garantir a renda mínima para as famílias em situação

de pobreza e de extrema pobreza, garantindo assim a proteção social a estas

famílias inseridas nestes programas como o PBF e o BPC. Pois as famílias

beneficiadas pelo PBF estas são inseridas no PAIF que é o Serviço de Atenção

Integral a Família destinado para o atendimento e acompanhamento das famílias

beneficiadas com o Bolsa Família, já as famílias beneficiadas com o BPC estas são

inseridas no PAF que é o Programa de Atenção Familiar, destinado para o

atendimento e acompanhamento das famílias beneficiadas como BPC.

1.1 A contra reforma do estado e as políticas públicas na era neoliberal

No ano de 1995 o Brasil estava à passa pelo processo de reforma da

gestão pública, ou seja, pelo período da reforma gerencial do estado. No qual teve

início com a publicação do plano diretor da reforma do estado e o envio para o

Congresso Nacional da emenda da administração pública que se transformaria, em

1998, na emenda 19. O Brasil, ao iniciar em 1995 sua reforma da gestão pública, foi

o primeiro país em desenvolvimento que tomou essa iniciativa, menos de dez anos

depois que Inglaterra, Austrália e Nova Zelândia iniciaram suas reformas. Desde

então a Reforma da Gestão Pública de 1995 vem avançando no país, principalmente

ao nível dos estados e municípios. Como a reforma da gestão pública é

historicamente a segunda reforma administrativa relevante do Estado moderno. Pois

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essa transição da administração burocrática para a gerencial que ocorre a partir dos

anos 1995 foi uma resposta à necessidade de maior eficiência, ou menor custo, dos

novos serviços sociais e científicos que o Estado passara a exercer, como análise

do inverso é também verdadeiro: da administração pública gerencial que é um fator

de legitimação política do Estado Social e, é desta forma, que se neutraliza a

tentativa neoliberal de reduzir os serviços sociais e científicos prestados pelo

Estado.

Ocorrendo então a transição de uma forma para outra de democracia em

que o Estado Democrático Liberal se transforma em Estado Democrático Social.

Enquanto na democracia de elites estas detêm suficiente poder para não se

deixarem influenciar pelos eleitores enquanto governam, na democracia de opinião

pública os sindicatos de trabalhadores e os partidos sociais democratas se

fortalecem e as elites políticas são constantemente obrigadas a auscultar uma

opinião pública constituída por eleitores com demandas políticas. Sendo que nesta

forma de Estado, haverá um aumento indireto de salários por meio dais leis

trabalhistas protegendo os trabalhadores, e, de outro, da forte ampliação dos

serviços sociais e científicos proporcionados pelo Estado. O Estado Social que se

torna dominante nos países desenvolvidos após a Segunda Guerra Mundial foi

resultado desse compromisso ao buscar, com razoável êxito, os cinco objetivos do

Estado - segurança, liberdade, bem-estar econômico, justiça social e proteção da

natureza - no quadro dos regimes democráticos.

O objetivo da reforma da gestão pública de 1995 é contribuir para a

formação no Brasil de um aparelho de Estado forte e eficiente. Ela compreende três

dimensões: a) uma dimensão institucional-legal, voltada à descentralização da

estrutura organizacional do aparelho do Estado através da criação de novos

formatos organizacionais, como as agências executivas, regulatórias, e as

organizações sociais; b) uma dimensão de gestão definida pela maior autonomia e a

introdução de três novas formas de responsabilização dos gestores, da

administração por resultados, da competição administrada por excelência, e do

controle social em substituição parcial dos regulamentos rígidos, da supervisão e da

auditoria, que caracterizam a administração burocrática; e c) uma dimensão cultural,

de mudança de mentalidade, visando passar da desconfiança generalizada que

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caracteriza a administração burocrática para uma confiança maior, ainda que

limitada, própria da administração gerencial.

Um dos princípios fundamentais da reforma de 1995 é o de que o Estado,

embora conservando e se possível ampliando sua ação na área social, só deve

executar diretamente as tarefas que são exclusivas de Estado, que envolvem o

emprego do poder de Estado, ou que apliquem os recursos do Estado. Entre as

tarefas exclusivas de Estado devem-se distinguir as tarefas centralizadas de

formulação e controle das políticas públicas e da lei, a serem executadas por

secretarias ou departamentos do Estado, das tarefas de execução, que devem ser

descentralizadas para agências executivas e agências reguladoras autônomas.

Todos os demais serviços que a sociedade decide prover com os recursos dos

impostos não devem ser realizados no âmbito da organização do Estado, por

servidores públicos, mas devem ser contratados com terceiros. Os serviços sociais e

científicos, para os quais os respectivos mercados são particularmente imperfeitos,

já que neles impera a assimetria de informações, devem ser contratados com

organizações públicas não estatais de serviço, as „organizações sociais‟, enquanto

que os demais podem ser de controle social, controle de resultados e competição

administrada – devem ser aplicadas tanto às agências, quanto às organizações

sociais. Ocorrendo assim uma reação nos anos 1970 a este modelo de Estado

Social, sob a logica da ideológica liberal radical - o neoliberalismo. Através de

reformas orientadas para o mercado, o neoliberalismo ganha força nas duas

décadas seguintes e busca mudar a natureza do Estado enquanto instituição

constitucional-legal para a logica mercadológica, privatista, ou seja, para a logica da

mercantilização do serviço publico ofertados pelo Estado.

Essa ideologia prega a manutenção do objetivo da segurança, deu

absoluta precedência à liberdade e subordinou os outros três objetivos ao

liberalismo econômico ao promover a diminuição do tamanho do Estado. Dessa

maneira, propunha a transformação das duas formas que o Estado havia assumido

nos 50 anos anteriores - o Estado Social, nos países desenvolvidos, e o Estado

Desenvolvimentista nos países em desenvolvimento e em seus principais

adversários. Mais com a reforma gerencial surge como consequência administrativa

à consolidação do Estado Social e ao mesmo tempo como instrumento e fator

fundamental de sua legitimação. O Estado Social só pôde ser pensado e em seguida

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estabelecido porque a administração pública burocrática proporcionava um mínimo

de eficiência que o tornava economicamente viável. Entretanto, na medida em que

avançam as reformas sociais, foi ficando claro que esse mínimo era insuficiente. O

aumento do custo dos serviços do Estado impôs a adoção da Reforma Gerencial.

Essa imposição, porém, não era apenas fiscal, mas também política. Para que o

Estado Social se mantivesse legitimado em face da ofensiva neoliberal era

necessário tornar suas ações substancialmente mais eficientes. Era necessário

proceder à Reforma Gerencial. Pois o Estado Social tornar coletivo ou público a

oferta dos serviços de educação, saúde, previdência social e assistência social; e

tornar coletivo, ao invés de individual, o seu consumo. Para que esses serviços

gratuitos e iguais para todos fossem viáveis, era preciso que o Estado fosse capaz

de oferecê-los de forma não apenas efetiva, mas também eficiente. A administração

burocrática já se havia revelado efetiva; tornou-se, entretanto, claro que, na medida

em que a dimensão dos serviços sociais do Estado aumentava a efetividade não

eram suficientes. Era preciso controlar o custo dos serviços realizados diretamente

por servidores públicos estatutários que se revelavam altos demais.

Esses custos refletiam não apenas o maior volume dos serviços públicos

e das políticas sociais públicas a eles articulados, mas também a ineficiência neles

embutida devido à rigidez da administração burocrática. A ineficiência da

administração pública burocrática tornava-se uma ameaça para a legitimidade do

Estado Social e, em consequência, abria espaço para o ataque da ideologia

neoliberal. Ficando sobre a logica do mercado as políticas e serviços ofertados pelo

Estado. As políticas sociais neste período sob a logica dos liberais era destinada a

corrigir os efeitos produzidos pelo crescimento capitalista. No qual as mesmas teria

uma finalidade redistributiva e o objetivo de reduzir as desigualdades geradas na

esfera da produção. Observa-se, contudo, que, enquanto estratégia governamental,

são incapazes de promover uma real melhoria das condições de vida da classe

trabalhadora.

O Estado atende apenas aquelas reivindicações que são aceitáveis para

o capital e para o grupo dirigente. Ao mesmo tempo, o seu surgimento acaba

revelando as limitações das teses liberais em defesa do livre jogo do mercado e de

uma compreensão da pobreza como algo natural, evidência da inferioridade do

pobre e sobre a qual o Estado não deve interferir.

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A análise das políticas sociais nesta perspectiva revela que não se trata

de atender apenas as reivindicações dos trabalhadores. Com o Welfare State, o

Estado passa também a financiar a acumulação de capital através de inúmeros

mecanismos: subsídios à produção, criação de setores estatais produtivos,

financiamento dos excedentes agrícolas, da pesquisa e tecnologia, etc. Segundo

Francisco de Oliveira os gastos com o financiamento do capital são muito maiores

do que com a reprodução da força de trabalho. Assim a política de assistência social

enquanto ação do estado à assistência social configurou-se, anos 80, como uma

ação paliativa, pontual, fragmentada, secundária, marginal. Se quer merecia o

estatuto de política social.

Era um campo de ação marcado por ações pobres, precárias, para a

parcela da população a quem a sociedade capitalista nega os direitos mais

elementares à sobrevivência. Diante da forma como se caracterizou historicamente

as ações públicas de enfrentamento à pobreza em nosso país, segundo Brasil

(1993), que chama atenção para o que ela considera de distorções nesta área:

“seu apoio”, muitas vezes, na matriz do favor, do apadrinhamento, do clientelismo e do mando, formas enraizadas na cultura política do país, sobretudo no trato com as classes subalternas (...); sua vinculação histórica com o trabalho filantrópico, voluntário e solidário dos homens em sua vida em sociedade‟‟ (BRASIL, 1993, p. 50-51).

Desta forma a assistência social toma outro posicionamento enquanto

política pública de direito universal constitucionalmente assegurada, mais que ainda

carrega em seu modelo de proteção social algumas ações de matriz conservadora,

de caráter de apoio e de favor, por conta da cultura política ainda existente em

nosso pais e na própria trajetória histórica desta política. O que a autora chama de

distorções da área social e da eficácia e efetividade desta política como uma política

pública de direito de cidadania, mais na óptica da primazia pela efetividade do direito

do cidadão usuário como um sujeito de direito e não na óptica do favor e da e da

benevolência. Para que assim esta política realmente se institucionalize como uma

política de direito universal, que vai desde a garantia do direito individual ao

universal e de pleno exercício de cidadania.

Mais a partir da Constituição de 1988 e da Lei Orgânica da Assistência

Social (Lei n.º 8742 de sete de dezembro de 1993), a assistência tornou-se uma

política de responsabilidade do Estado, direito do cidadão e, portanto, uma política

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estratégica no combate à pobreza e para a constituição da cidadania das classes

subalternas. Ao mesmo tempo, assim como em outras áreas de política pública, de

acordo com as definições legais, a gestão desta política, passa a ser efetivada por

um sistema descentralizado e participativo, cabendo aos municípios uma parcela

significativa de responsabilidade na sua formulação e execução. Assim configurada,

abriu-se para a assistência social, juntamente com a saúde e a previdência social, a

possibilidade de se constituir como política pública de seguridade social, direito do

cidadão e dever do Estado. Este aparato jurídico, ao ser aprovado, sinalizava para a

superação da assistência social como benemerência, assistencialismo e para sua

afirmação como política social. No Artigo 1º da LOAS a assistência é assim definida:

A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é política de Seguridade

Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um

conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade para garantir o

atendimento às necessidades básicas.

Alguns elementos parecem centrais no texto da LOAS: a afirmação da

assistência social como política de seguridade social, a noção de mínimos sociais, a

gratuidade dos serviços e benefícios. Estas e outras definições da referida lei e da

Constituição de 1988 no campo dos direitos sociais, “equiparam o Brasil aos

sistemas securitários das sociedades desenvolvidas” (MOTA, 1995, p. 142).

Contudo, trata-se de uma incorporação tardia e em uma conjuntura marcada por

reformas que argumentam a necessidade da adequação da seguridade social

brasileira às exigências do ajuste neoliberal. Diante disto, a seguridade social

conquistada em 1988 parece já nascer condenada ao fracasso, pela total ausência

de condições objetivas para a sua efetivação. O fracasso ou não, no entanto, não

está dado à priori. Conforme Mota (1995, p. 143), o exercício dos direitos sociais “é

sempre condicionado por processos sociais reais e que não estão subordinados aos

estatutos legais, mas sim às relações de força entre as classes”.

Assim, é preciso considerar que as conquistas legais significam apenas

um passo em direção a sua efetivação. Isto exige dos que não acreditam no fim da

história a capacidade de desvendar o momento presente e “ousar remar contra a

corrente”, sem perder de vista a natureza estrutural das situações de pobreza e

indigência da maioria da população brasileira. Nesta perspectiva é que se coloca a

pertinência do debate acerca de “mínimos sociais” explicitada no texto da LOAS,

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sobretudo no sentido de contrapor esta noção às ideias neoliberais que defendem a

redução da responsabilidade pública com as desigualdades sociais. Contra a opção

neoliberal por mercantilizar serviços sociais que são direitos constitucionais, Vieira

(1998, p. 19) argumenta que países desenvolvidos asseguram mínimos sociais

porque sabem que esta é uma forma de conter o processo de aprofundamento da

miséria. A miséria não gera consciência e solidariedade, mas gera mais miséria,

irracionalismo, violência e individualismo exacerbado. Ela não cria consciência da

miséria, e sim miséria da consciência. Para a autora Aldaíza Sposati (1997):

“a noção de mínimos sociais não é antagônica ao suposto neoliberal da seletividade e focalismo. Mas é sem dúvida alguma ao princípio liberal que entende o enfrentamento dos riscos (sociais e econômicos) como de responsabilidade individual e não social (...). Propor mínimos sociais é estabelecer o patamar de cobertura de riscos e de garantias que uma sociedade quer garantir a todos os seus cidadãos” (SPOSATI, 1997, p. 10).

Desta forma a autora, estabelece os mínimos sociais como mais que um

ato jurídico ou um ato formal, pois exige a constituição de um outro estatuto de

responsabilidade pública e social. Pois a assistência social é a proposição dos

mínimos sociais e não se coloca numa concepção minimalista fundada no limiar da

sobrevivência, mas em uma concepção de mínimos sociais que a autora considera

ampla e cidadã e que se fundamenta num padrão básico de inclusão. Esta

perspectiva supõe as seguintes garantias: a sobrevivência biológica, as condições

de poder trabalhar, a qualidade de vida, o desenvolvimento humano, o atendimento

às necessidades humanas e a garantia do acesso à renda mínima (SPOSATI, 1997,

p.13-15).

Mas, a assistência social como política fundamentada em um padrão

básico de inclusão, não foi a realmente existente no Brasil da era FHC.

Transcorridos nove anos de aprovação da LOAS ela ainda não se constituiu como

política de seguridade social. Sua execução foi marcada por ações sobrepostas,

pulverizadas, descontínuas, assistemáticas e sem impacto ou efetividade,

focalizadas na população mais vulnerável e marcada pelo paralelismo com outras

ações do governo federal, como: o programa Comunidade Solidária, o Fundo de

Combate à Pobreza (YAZBEK; GOMES, 2001, p. 3-5), os programas que integram o

Plano Plurianual (2000-2007) e o Projeto Alvorada.

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A afirmativa de Yazbek e Gomes (2001) pode ser comprovada quando se

observa que nos últimos oito anos a política de assistência social foi substituída por

um conjunto de ações que, no discurso oficial aparecem como inovação social no

trato da política social, a partir da adoção dos princípios da focalização,

descentralização e parcerias. Contudo, o que caracterizou a sua efetivação foi o

reduzido grau de responsabilidade do Estado no enfrentamento à pobreza. Na

realidade, trata-se de uma inovação extremamente conservadora que não só repôs

as velhas características das políticas sociais no Brasil (fragmentação,

desarticulação, descontinuidade, clientelismo, etc.) como as aprofundou,

acrescentando novos elementos como a focalização, que mascara a pobreza

realmente existente, efetiva o corte de recursos, privilegia programas

assistencialistas, emergenciais e descontínuos.

Na inovação conservadora a descentralização não é tomada como

estratégia de transferência do poder decisório. O município continuou sendo no

Brasil a esfera mais destituída de poder e de recursos. Conforme Erundina (1996, p.

13), mesmo tendo conquistado certa autonomia política na Constituição de 1988,

“não foi assegurado aos municípios autonomia econômica, financeira e poder real

para promover o desenvolvimento local”. Para isto, seria necessário, por exemplo,

que aos municípios fosse destinada uma maior fatia de recursos, dentro do conjunto

da arrecadação da União. A autora cita alguns dados comparativos da nossa

realidade com a de países do primeiro mundo, que são reveladores do caráter da

descentralização que aqui se desenvolve: “em países como a Suécia, 72% da

receita pública fica com os municípios (...) no Japão, Estados Unidos e em países da

Europa esse percentual oscila entre 40% a 60%. No Brasil, apenas a partir de 1988

os municípios passaram a deter uma fatia de 15% da receita pública; antes era de

5% a 6%” (idem).

A descentralização efetivada no Brasil na era FHC, no campo das

políticas sociais, foi conservadora, fundamentada na lógica neoliberal, destinada a

transferir responsabilidades para Estados e Municípios e manteve a velha

característica da política social brasileira da centralização das decisões no executivo

federal. A incipiente participação dos municípios na receita pública acaba por

favorecer as relações de favor entre o executivo federal e prefeitos, deputados

federais e senadores, os quais fazem todo tipo de negociação para arrancar

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recursos para seus estados e municípios. Aliado a isto, o discurso em defesa das

parcerias conforma uma estratégia bem sucedida de transferência de

responsabilidades para a sociedade. Esta foi, por exemplo, a lógica predominante

nas seguintes ações de combate à pobreza do governo Fernando Henrique Cardoso

o denominado governo FHC: Programa Comunidade Solidária, Comunidade Ativa,

Programa Bolsa Escola financiado pelo Fundo de Combate à Pobreza, Projeto

Alvorada, PETI - Programa de Erradicação do Trabalho Infantil e o BPC - Benefício

de Prestação Continuada.

Destas iniciativas, duas integraram o Plano Avança Brasil na condição de

programas estratégicos ou prioritários: O Comunidade Ativa e o PETI. Segundo a

Folha de São Paulo, decorridos dois anos (2000-2001) o governo destinou ao

conjunto dos 67 projetos prioritários 36,7% do total de recursos previstos, deixando

de investir R$ 19,3 bilhões. No âmbito da gestão, apenas o PETI e o Benefício de

Prestação Continuada integraram ações sob a responsabilidade da Secretaria de

Estado de Assistência Social, que também coordenou o Projeto Alvorada.

O Programa Comunidade Solidária constituiu a principal estratégia de

combate à pobreza do governo FHC em seus dois mandatos. Privilegiou a

articulação entre governo e sociedade e teve na ideia de solidariedade sua principal

filosofia. Na perspectiva do programa, o enfrentamento à pobreza não era uma

responsabilidade do Estado, mas da sociedade. Ao governo competia articular e

gerenciar as ações que se efetivavam na sociedade. No discurso governamental o

programa significou um novo modelo de atuação social baseado no princípio da

parceria capaz de gerar os recursos humanos, técnicos e financeiros necessários ao

combate eficiente da pobreza e da exclusão social. O Comunidade Ativa foi criado

em 1999, voltado para a participação do governo federal na indução do

desenvolvimento local, integrado e sustentável de localidades, comunidades e

bairros mais pobres.

O Programa Bolsa Escola foi criado pela Lei no 10.219, de 11 de abril de

2001 como Programa Nacional de Renda Mínima vinculada à educação. De acordo

com a referida Lei, o programa era “instrumento de participação financeira da União

em programas municipais de garantia de renda mínima associados a ações

socioeducativas, sem prejuízo da diversidade dos programas municipais.” O valor do

benefício era de R$ 15,00 por criança, podendo chegar até R$ 45,00, sendo que, o

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valor máximo de renda familiar per capita para ter acesso ao benefício deveria ser

até o máximo de R$ 90,00. Diante de um critério de renda dessa natureza e,

considerando que o valor de uma cesta básica de 13 itens, conforme o desse, chega

a R$ 139,14 em algumas capitais, é questionável o alcance do programa no sentido

de promover algum tipo de melhoria nas condições de vida da população

beneficiária.

Outra iniciativa do governo FHC foi o Projeto Alvorada, lançado em julho

de 2000 e destinado a combater a pobreza e reduzir desigualdades sociais em

regiões consideradas mais carentes de estados, microrregiões e municípios que

possuíam Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) inferior a 0,5 (abaixo da

mediana nacional). Conforme o IPEA (2001b, p.29) “um dos princípios desse projeto

é a focalização da política social, especialmente nas áreas de educação, saúde e

geração de renda. (...) Por intermédio do Projeto Alvorada, os programas

selecionados recebem reforço financeiro e passam a ser objeto de gerenciamento

intensivo”. A execução do projeto envolvia duas etapas: a primeira destinada à

elaboração do Plano de Apoio aos estados de Menor Desenvolvimento Humano e

uma segunda, chamada de Plano de Infraestrutura Básica para Microrregiões e

Municípios Carentes. O Projeto Alvorada era composto por quinze programas

federais já existentes, destacando-se programa de renda mínima, alfabetização de

adultos, combate à mortalidade materna e saneamento básico.

Por meio do Decreto no 3.769, de 8 de março de 2001 a coordenação do

Alvorada foi destinada à Secretaria de Estado de Assistência Social, a quem

competia articular as ações dos diversos órgãos executores, entre as quais

encontram-se as dos ministérios da Educação, da Previdência e Assistência Social,

da Saúde, do Esporte e Turismo, do Desenvolvimento Agrário, das Minas e Energia,

do Planejamento, Orçamento e Gestão, da Fazenda e da própria Secretaria de

Estado de Assistência Social (IPEA, 2001b, p. 30). Como as demais ações na área

social, o Alvorada orientou-se pelos princípios da focalização, parceria entre as

esferas de governo (federal, estadual, municipal) e a sociedade civil.

O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil foi também um programa

de renda mínima criado em 1996 e desenvolvido em parceria com estados e

municípios. O objetivo explicitado no discurso governamental era eliminar, em

parceria com os diversos setores dos governos estaduais e municipais e da

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sociedade civil, o trabalho infantil em atividades perigosas, insalubres e

degradantes. Destinou-se, prioritariamente, às famílias atingidas pela pobreza e pela

exclusão social, com renda per capita de até ½ salário mínimo, com filhos na faixa

etária de 7 a 14 anos. O valor do benefício era de R$ 25,00 por criança na zona rural

e R$ 40,00 na zona urbana. Este programa integrou as ações da Secretaria de

Assistência Social e seus recursos foram vinculado ao Fundo Nacional de

Assistência Social. Conforme informações do IPEA (2001b, p.32), o programa

envolveu as seguintes ações: bolsa criança cidadã, plano de apoio aos estados de

menor desenvolvimento humano (PADH) jornada ampliada e geração de ocupações

produtivas para famílias atendidas pelo PADH.

Por fim, as ações de combate à pobreza no governo FHC incluiu o

Benefício de Prestação Continuada – BPC, que consiste no repasse de um salário

mínimo mensal às pessoas idosas e às portadoras de deficiência física ou psíquica

que não tenham como prover a sua sobrevivência. É um direito previsto na

Constituição de 1988 e regulamentado pela Lei Orgânica da Assistência Social. O

BPC é, conforme Gomes (2001, p. 113), uma garantia de renda que assume a

característica de certeza e regularidade, o que o Programa de Erradicação do

Trabalho Infantil voltado para atender crianças de 06 a 15 anos de idade que se

encontram em situação de trabalho infantil, este programa diferencia das tradicionais

provisões da política de assistência na forma de gestão destes programas, projetos

e serviços, cujo traço comum é o da descontinuidade e da incerteza.

Mesmo considerando-se que as ações de enfrentamento à pobreza e as

desigualdades sociais não se limitam à política de assistência social, os números

são reveladores do reduzido alcance desta política na atualidade. No campo das

ações do Programa Comunidade Solidária, por exemplo, Silva (2001, p.156) mostra,

a partir de um levantamento de dados divulgados pela Folha de São Paulo, que a

distribuição de cestas básicas em municípios do Piauí com taxa de indigência

superior a 70% da população total, atinge no máximo 23,32% das famílias

indigentes.

Aldaíza Sposati (2001) tem chamado atenção para a regressividade na

assistência social, apesar dos aparentes avanços no perfil institucional de sua

gestão. A regressividade, segundo a autora apresenta-se no seu não

reconhecimento como política de seguridade social, na ausência de definição quanto

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“as seguranças que a assistência social deve prover à população”, no predomínio de

“relações conservadoras entre assistência social e organizações sociais sob a lógica

da filantropia” e “no desconhecido impacto dos gastos públicos no âmbito da

assistência social entre as três esferas governamentais (....), o que impede o

controle social nessa área de ação” (SPOSATI, 2001, p. 57-58).

Pois diante do crescimento da pobreza e das desigualdades sociais no

Brasil, e do fato da assistência social ainda se encontrar no campo das promessas

(apesar do avanço legal), é que se considera importante o debate em torno desta

política pública na perspectiva da sua afirmação como política social orientada por

padrões de universalidade e justiça, capaz de devolver à dignidade, a autonomia, a

liberdade que as pessoas que se encontram em situações de exclusão, abrir

possibilidades para que estas pessoas estejam em condições de existir enquanto

cidadãs(os) e para a incorporação de uma cultura de direitos pela sociedade civil.

Por este caminho, o horizonte que a política de assistência social permite chegar

talvez seja o da cidadania. Mesmo que este seja um horizonte limitado e incapaz de

por fim aos mecanismos geradores da desigualdade na sociedade capitalista é

preciso considerar o seu significado dentro de cada contexto histórico. E, na

realidade brasileira, a conquista da cidadania pelas classes subalternas não pode

ser o horizonte de um projeto de transformação desta sociedade, mas, não é pouca

dada à forma como historicamente se constituiu a cidadania neste país.

A discussão da cidadania na sociedade capitalista diz respeito às formas

de compreender a questão da igualdade e da desigualdade nesta sociedade e a luta

de grupos e classes por participação no poder político e na riqueza social. Na

perspectiva liberal, a cidadania relaciona-se às lutas da nascente burguesia, para

impor limites ao poder estatal. A luta é basicamente por direitos civis, os quais se

referem à liberdade individual e destinam-se a regular a vida privada. Liberdade,

para os liberais, é quase sempre a liberdade de propriedade e que aponta para a

desigualdade. Numa perspectiva keynesiana e social democrata, Marshall distingue

no conceito de cidadania três elementos, os quais configuram os chamados direitos

civis, políticos e sociais. Os direitos civis dizem respeito à liberdade individual e a

igualdade perante a lei; os direitos políticos referem-se à participação no exercício

do poder político e os direitos sociais referem-se ao “direito a um mínimo de bem-

estar econômico e segurança, ao direito de participar por completo da herança social

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e levar a vida de um ser civilizado de acordo com os padrões que prevalecem na

sociedade” (MARSHALL, 1967, p. 63-64). O autor destaca o sistema educacional e

os serviços sociais como instituições mais diretamente relacionadas aos direitos

sociais.

Pois na concepção marshalliana rompe-se com a concepção liberal de

cidadania por reconhecer, por um lado, a obrigatoriedade do Estado em fornecer um

mínimo de provisão social básica e, por outro, que o mercado por si só é incapaz de

assegurar a todos o mínimo necessário à sobrevivência. Contudo, o autor considera

a desigualdade social necessária e condena a desigualdade excessiva (MARSHALL,

1967, p. 77-78).

Conforme Vasconcelos (1988, p. 25), Marshall “não esclarece a natureza,

os limites, o grau e as características qualitativas e quantitativas dos direitos e dos

serviços sociais”, além disso é uma abordagem que “pressupõe uma correlação

direta entre evolução do capitalismo e bem estar, trazendo implícita a ideia de uma

linearidade na extensão dos direitos inerentes à cidadania” (1989, p. 89).

Pois para o autor se trata de uma concepção de cidadania na qual a

condição de cidadão é compatível com a desigualdade real inerente à sociedade

capitalista. É nesta perspectiva que Marx, analisando o problema da emancipação

humana, no contexto da ordem burguesa do seu tempo, critica as noções de

igualdade e liberdade, presentes nos direitos humanos e civis. Para ele, os direitos

humanos são direitos do homem, enquanto membro da sociedade burguesa, à

medida que são garantidos direitos como igualdade, liberdade, segurança,

propriedade, os quais, na essência, destinam-se a fortalecer a ordem burguesa e

portanto, não possibilitam a emancipação humana, não permitem ao homem

descobrir-se como força social (MARX, 1993, p. 56-63).

Para Marx, o direito a liberdade não se funda nas relações entre os

homens, “mas antes na separação do homem a respeito do homem. É o direito de

tal separação, o direito do indivíduo circunscrito, fechado em sim mesmo” e sua

aplicação prática é o direito de propriedade privada, enquanto “o direito de fruir da

própria fortuna e dela dispor como se quiser, sem atenção pelos outros homens,

independentemente da sociedade”. Considera que o direito a igualdade não possui

significado político, diz respeito apenas ao fato de que todo homem é igualmente

considerado um alto autossuficiente. A segurança por sua vez refere-se ao conceito

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de polícia, para garantir o egoísmo da sociedade civil. Diante disso conclui que

“nenhum dos supostos direitos do homem vai além do homem egoísta, do homem

enquanto membro da sociedade civil” (MARX, 1993, p. 56-57).

Nesta perspectiva a análise marxiana permite-nos apreender os limites da

noção de cidadania nas formulações liberal e social democrata, seu caráter formal e

abstrato e sua incapacidade de romper com a desigualdade econômica e as

relações de exploração própria da sociedade capitalista. Contudo, no contexto dos

países do capitalismo periférico, entre os quais o Brasil, o debate e as lutas em torno

da cidadania assumem importância particular, dada a ausência da efetivação de

direitos, tal como estes se consolidaram nos países do capitalismo central.

Ao longo da história da humanidade e no contexto da ordem burguesa, os

direitos de cidadania tornam-se fundamentais para que as classes subalternas e o

conjunto de forças interessadas na construção de uma sociedade mais igualitária

consigam avançar na construção de projetos políticos que apontem nesta

perspectiva. Com isso, torna-se importante, sobretudo, para os excluídos do

mercado e da participação política, a luta para garantir melhores condições de vida

e por oportunidade de participar das decisões que dizem respeito à vida de toda

sociedade. No Brasil, a cidadania, enquanto garantia de direitos, inexistiu até os

anos 30. Após este período, predominou o que Wanderley G. Santos (1987)

denominou de cidadania regulada, com a garantia de direitos sociais, apenas aos

que se encontravam incluídos no mercado de trabalho. Uma cidadania que não

incomodava às classes dominantes, visto que assegurava apenas os direitos do

cidadão como eleitor e como trabalhador, incluído no mercado formal de trabalho.

A partir do final dos anos 70, as lutas dos movimentos sociais populares

fizeram emergir no país o desejo de uma cultura democrática em torno do uso dos

recursos públicos, da participação da população no processo decisório das políticas

sociais públicas, assim como, da atividade política baseada na ética. Tais lutas

asseguraram importantes conquistas no campo da cidadania, da participação

popular, da democratização do Estado e da sociedade. Mas, as conquistas obtidas,

na maioria das vezes reduzidas ao nível da legalidade, encontram limites no

agravamento das condições de vida da maioria da população, na precarização do

trabalho e todas as consequências daí decorrentes.

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Analisando a noção de cidadania que surge no Brasil, relacionada às

experiências dos movimentos sociais, no final dos anos 80, Dagnino (1994, p.107-

115) distingue-a da visão liberal, ressaltando alguns elementos que configuram o

seu caráter inovador e estratégico. Em primeiro lugar, mostra a noção de direitos

que ela supõe, cujo ponto de partida é a concepção de “um direito a ter direitos” e

não diz respeito apenas às conquistas legais, mas inclui a “invenção criativa de

novos direitos”. É também uma noção de cidadania, que surge de baixo para cima,

como estratégia dos não cidadãos. Isto possibilita a difusão de uma “cultura de

direitos”, em que a cidadania se constitui como uma proposta de sociabilidade.

Nesta perspectiva, a relação com o Estado que esta cidadania supõe, não

é baseada numa relação entre este e o indivíduo, como na lógica liberal, ao

contrário, inclui, cada vez mais, a sociedade civil. Isto implica um elemento que a

autora considera central, nesta nova cidadania: a “exigência do direito a participar

efetivamente da própria definição do sistema político”, através de fóruns e conselhos

de gestão participativa. Um último elemento, destacado por Dagnino (1994, p.112), é

que, “esta nova noção de cidadania pode constituir um quadro de referência

complexo e aberto para dar conta da diversidade de questões emergentes nas

sociedades latino-americanas” à medida que, incorpora tanto a noção de igualdade,

como a de diferença (de raça, gênero, etnia).

É no campo de uma cidadania que exige direito a ter direitos que se

coloca a importância da assistência social como política pública no Brasil. Num país

que não chegou a construir um sistema de proteção social, em que a cidadania

sempre foi um privilégio para os incluídos no mercado, a defesa da política de

assistência social, na perspectiva da justiça social, da redistributividade e da

cidadania assume uma dimensão estratégica, no sentido de ampliar a capacidade

das classes subalternas de alterar o já dado e construir novas possibilidades para a

conquista de políticas sociais universalizantes, do seu reconhecimento enquanto

sujeitos de direitos e da construção da sua hegemonia.

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1.2 A centralidade da política de assistência social no campo da seguridade

brasileira: uma política pública de direito e combate à pobreza

A Assistência Social foi garantida como Política Pública de direito do

cidadão e dever do Estado, na Constituição Federal de 1988, através dos artigos

203 e 204 e firmada através da Lei Orgânica da Assistência Social - LOAS Lei nº

8.742 de 07 de dezembro de 1993. Com isso, a Assistência Social passou a integrar

juntamente com a política de Saúde e da Previdência Social, a Política de

Seguridade Social Brasileira. Esta inserção aponta para o caráter da assistência

social como uma política de Proteção Social articulada a outras políticas sociais,

voltadas para a garantia de direitos e de condições dignas de vida.

A partir do ano de 2005, ano em que marca a história esta política no

Brasil, a Assistência Social tem-se um novo marco e modelo de gestão, de proteção

social e efetivação, através da efetivação da Lei Orgânica da Assistência Social -

LOAS por um Sistema Único de Assistência Social - SUAS com a aprovação da

nova Política Nacional de Assistência Social - PNAS, em setembro de 2004, que

veio atender a principal deliberação da IV Conferência Nacional de Assistência

Social que aconteceu em dezembro de 2003, em Brasília.

O SUAS é um sistema público não contributivo, descentralizado e

participativo que tem por função a gestão do conteúdo específico da Assistência

Social no campo da Proteção Social, sendo requisito essencial para efetivação da

Assistência Social como política pública (BRASIL, 2005). O SUAS enquanto

materialização da LOAS e regulação das ações de Assistência Social, define e

organiza elementos essenciais e imprescindíveis à execução da Política de

Assistência Social, consolidando seus princípios, diretrizes e objetivas, sendo um

sistema articulado e integrado de ações com direção para a Proteção Social, onde

serão ofertados serviços de Proteção Social Básica e Proteção Social Especial, por

níveis de complexidade, respeitando o porte dos municípios.

A proteção social básica tem como objetivos prevenir situações de risco

através do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, bem como, o

fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. Prevê a oferta de serviços,

programas e projetos locais de acolhimento, convivência e socialização de famílias,

conforme a situação de vulnerabilidade apresentada. Deverão também incluir as

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pessoas com deficiência e considerar o Benefício de Prestação Continuada e

Benefícios Eventuais como parte deste atendimento, como por exemplo, o Programa

de Atenção Integral às Famílias, Centros de Convivência de Idoso, Projetos de

Geração de trabalho e renda, serviços sócio educativos para crianças, adolescentes

e jovens que visem sua proteção e o fortalecimento de vínculos familiares, ações

socioeducativas de apoio à família, etc. Os serviços de proteção social básica serão

executados pelo Centro de Referência de Assistência Social - CRAS e pelas

entidades que fazem parte da rede prestadora de serviços de Assistência Social.

No qual a Política Nacional de Assistência Social cita que na proteção

social básica, o trabalho com as famílias deve considerar novas referências para a

compreensão dos diferentes arranjos familiares, superando o tempo e o espaço para

o reconhecimento de um modelo único baseado na família nuclear, e partindo do

suposto de que são funções básicas da família: prover a proteção e a socialização

dos seus membros; ser referência de vínculos afetivos, sociais e de identidade

grupal além de ser mediadora das relações entre seus membros e a vida social.

Através do eixo estruturante da Matricialidade Sócio Familiar, o

atendimento na Política de Assistência Social, passa a ter centralidade na família e

seus membros, pois se considera que nela encontram-se todos os segmentos. Esta

atenção se dá tendo em vista as transformações societárias e a forte pressão que os

processos de exclusão sociocultural geram sobre as famílias, acentuando suas

fragilidades e contradições, por isso, faz-se primordial sua centralidade no âmbito

das ações da Política de Assistência Social, como espaço privilegiado e

insubstituível de proteção e socialização primárias, provedora de cuidados aos seus

membros, mas, que precisa também ser cuidada e protegida.

Neste sentido a matricialidade sócio familiar passa a ter centralidade no

SUAS devido ao intenso processo de penalização das famílias, que estão cada vez

mais vulnerabilizadas. Mesmo havendo o reconhecimento da importância da família

para seus membros, é necessário que esta seja incluída como centro da Política de

Assistência Social articulada com as outras políticas públicas, tão importantes para

que o cidadão possa alcançar a promoção social. Neste sentido deve-se levar em

conta também que a família independente dos formatos que assume é mediadora

das relações entre o sujeito e a coletividade. É um espaço contraditório, marcado

pela luta cotidiana para a sobrevivência. Nesse sentido, deve-se considerar que o

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sistema imposto na sociedade não dá condições humanas para uma vida cidadã,

pois a sociedade está em movimento, é dinâmica, e sendo assim, a cada dia solicita

novas formas de sobrevivência para as famílias e seus membros seja no mundo do

trabalho assalariado ou nos setores informais.

A centralidade da política na família é com vistas à superação da

focalização, para que se processe uma política de cunho universalista, que além de

garantir a transferência de renda em patamares aceitáveis e acessíveis, se

desenvolva, prioritariamente, em redes de proteção social que suportem as tarefas

cotidianas de cuidado, e que valorizem a convivência familiar e comunitária. Pois a

primazia da atenção às famílias tem por perspectiva fazer avançar o caráter

preventivo de proteção social de modo a fortalecer laços e vínculos sociais de

pertencimento entre seus membros e indivíduos, para que suas capacidades e

qualidade de vida atentem para a concretização de direitos humanos e sociais.

É neste processo que a Política de Assistência Social é um espaço para a

defesa e atenção dos interesses e necessidades sociais, particulares das famílias e

dos seus membros mais empobrecidos e excluídos da sociedade. Este é o principal

objetivo e o principal papel da assistência social no campo da seguridade social

brasileira, garantir a proteção social as famílias em situação de risco e

vulnerabilidade social e a garantia da renda mínima e dos mínimos sociais para a

sobrevivência das famílias mais pobres. Por isso é importante a política de

assistência social, como uma política de direito de cidadania na lógica da

universalidade e na busca pela primazia, efetivação e garantia dos mínimos sociais

necessários à sobrevivência humana e os direitos sociais de cidadania, pois esta

política tem um papel fundamental no campo da seguridade social brasileira e no

processo de emancipação e proteção social da família e de seus membros, assim

como também na efetivação dos direitos das mesmas.

A política pública de assistência social como política pública de direito de

cidadania e combate a pobreza se da por conta desenvolvimento desigual do

capitalismo e da má distribuição de renda, como agravamento da questão social

decorrente das mudanças no mundo do trabalho que vêm acompanhando as

transformações produtivas que produzem aumento de desemprego, a precarização

dos serviços públicos, a precarização do trabalho, o aumento da violência, as

desigualdades sociais, a pobreza dentre outros. É desta forma que as novas

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configurações da pobreza, com o arrocho salarial, o aumento do desemprego e do

trabalho informal, e a desestabilização dos estáveis, conjuntamente com as

mudanças produzidas pelo projeto neoliberal no padrão de financiamento das

políticas públicas no Brasil (cortes indiscriminados do gasto público, privatizações,

parcerias, deterioração dos serviços e degradação da imagem do público estatal) e

na lógica das intervenções governamentais no social (baseadas cada vez mais na

focalização e na seletividade), incidem de forma direta no sistema de proteção social

no Brasil.

Mais com a efetivação da Constituição Federal de 1988 e da Lei Orgânica

de Assistência Social – LOAS marcasse uma nova configuração acerca da proteção

social no Brasil, mais especificamente no primeiro mandado de Governo do

Presidente LULA na presidência do Brasil. Pois o então governo mudo totalmente à

configuração das políticas sociais no país, bem como a política de assistência social,

na aprovação da Política de Nacional Assistência Social – PNAS em 2004, na

criação do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS e na

aprovação e efetivação do SUAS – Sistema Único de Assistência Social que

trousse uma nova configuração para o modelo de gestão da política de assistência

social, bem com na efetivação da mesma e no aumento da rede socioassitencial de

proteção social. Uma política que busca pela primazia e efetivação dos mínimos

sociais, dos direitos sociais de cidadania e pela garantia da renda mínima para as

famílias através dos programas de transferência de renda articulados a esta política,

tais como o BPC – Benefício de Prestação Continuada e o PBF - Programa Bolsa

Família.

Pois a política de assistência social como uma política

constitucionalmente assegurada tem como principal objetivo garantir à proteção

social as famílias em situação de vulnerabilidade e risco social; assim como o

programa bolsa família que tem como principal objetivo garantir à transferência

direta de renda as famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza. Pois é

nesta perspectiva que se da o modelo de proteção social da política de assistência

social que é a traves da transferência da renda para as famílias e da inserção das

mesmas nos programas de acompanhamento familiar, tais como o PAIF- Serviço de

Atenção Integral a família que é destinada para as famílias beneficiadas pelo

programa Bolsa Família e o PAF – Programa de Atenção Familiar este destinado

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para as famílias beneficiadas com o BPC. Para garantir o acompanhamento e a

proteção social a famílias inseridas nestes programas e para que através da

inserção e do acesso destas aos programas de acompanhamento familiar estas

famílias passem a ter os seus direitos sociais garantidos, bem como

acompanhamento e o desenvolvimento das mesmas dentro do modelo de gestão

decentralizada da política assistência social cuja sua centralidade é a proteção

social a família (matricialidade sócio familiar) para que assim estas famílias passem

ater aceso aos demais programas e políticas sociais.

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2- A POBREZA COMO EXPRESSÃO DA QUESTÃO SOCIAL

A pobreza e a exclusão social assumem varias feições ambas distintas de

vários elementos tais como: a questão econômica, social, política e cultural de cada

sociedade inclusive a sociedade brasileira, onde o seu principal fator é a

desigualdade social, a exclusão social e a pobreza. Pois a condição de pobreza,

exclusão e subalternidade vem aumentando continuamente, sobretudo a partir dos

anos 90. Diante disto, a subalternidade esta relacionada à ausência de

protagonismo, ou seja, de poder expressando a dominação e a exploração. O qual

essas três categorias respectivamente configuram-se, pois como indicadores de

uma forma de inserção na vida social, ou seja, de uma condição de classe social e

de outras condições de desigualdade tais como: gênero, etnia, procedência, cor, etc.

Elas são produtos das relações vigentes na sociedade capitalista que produz e

reproduz as desigualdades tanto no âmbito social, como no econômico, politico e

cultural, principalmente com o crescimento e expansão do capitalismo que agrava

cada vez mais as desigualdades no Brasil e no mundo, tais como: o crescimento do

emprego informal, as más condições de moradia, a má distribuição de renda, as más

condições de trabalho e a precarização dos postos de trabalho. Estas diversas

formas de agravamento e expressão da questão social afetam e refletem nas más

condições de vida de toda uma população, o que segundo a autora Iamamoto (2001)

estas expressões são:

„‟Um conjunto de desigualdades sociais engendradas na sociedade capitalista madura, impensáveis sem a intermediação do Estado. Tem sua gênese no caráter coletivo da produção contraposto a apropriação privada da própria atividade humana (o trabalho), das condições necessárias á sua realização, assim como de seus frutos. É indissociável da emergência do „‟trabalho livre‟‟, que depende da venda de sua força de trabalho como meio de satisfação de suas necessidades vitais. A questão social expressa por tanto disparidades econômicas, políticas, sociais e culturais das classes sociais, mediatizadas por relações de gênero, raça, etnia e formações regionais, colocando em causas as relações entre ambos os seguimentos da sociedade civil e do poder estatal‟‟ (IAMAMOTO, 2001, p.16 à 17).

Diante destas questões expostas pela autora, podemos perceber que as

múltiplas expressões da questão social no Brasil e no mundo em sua maioria são

geradas e agravadas pelo sistema capitalista e pelo seu desenvolvimento desigual.

Como a desigualdade de renda, de moradia, de desemprego, todos podem ser

atribuídos a fatores estruturais do grande capital, seja na área socioeconômica como

na área social, o que eleva a concentração da riqueza e a precarização dos postos

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de trabalho, a desresponsabilização por parte do Estado, a precarização e o não

fortalecimento das políticas sociais, a terceirização, a não efetivação dos direitos

sociais de cidadania garantidos pela Constituição Federal de 1988, dentre outros.

Pois no Brasil nas últimas décadas, vem confirmando, infelizmente, uma

tendência de enorme desigualdade na distribuição de renda e elevados níveis de

pobreza. Um país desigual, exposto ao desafio histórico de enfrentar uma herança

de injustiça social que exclui parte significativa da sua população ao acesso as

condições mínimas de dignidade e cidadania. Pois no Brasil, 11,035 milhões de

famílias vivem em situação de extrema pobreza, o que representa 99,39% da

estimativa das famílias pobres no Brasil, ou seja, que vivem as margens da linha

pobreza. O que neste caso o Brasil tem 16,27 milhões de pessoas em situação de

pobreza e de extrema pobreza, o que representa 8,5% da população; segundo a

pesquisa realizada pelo Instituto de Geografia e Estatística (IBGE) no ano de 2009.

Neste sentido o processo de má distribuição de renda e desemprego

obriga as pessoas a procurar lugares impróprios à ocupação urbana, por não terem

condições financeiras para custear moradias dignas, habitam em favelas e em áreas

de risco desprovidas dos serviços públicos tais como: esgoto, água tratada, saúde,

habitação, educação, entre outros, que garantem uma melhor qualidade de vida

para estas pessoas mais pobres. Pois a pobreza no Brasil é um problema de ordem

social que na sua atualidade ainda impacta a nossa sociedade mediante a falta de

investimentos na classe mais pobre e a má distribuição de renda que é desigual em

nosso país, pois, boa parte do capital nacional financeiro se encontra acumulado nas

mãos de um pequeno grupo, o que é inevitável não perceber que uma grande

parcela da população vive marginalizada e amontoadas em favelas, que sofrem para

conseguir se sustentar e ter acesso às suas necessidades básicas, como saúde,

educação e lazer.

“Para a autora Amélia Cohn a superação da pobreza e da questão da inclusão social não pode ser mais vinculada ao trabalho. Isso por conta da nova dinâmica imposta pela opção por um modelo conservador de inserção econômica no Brasil na nova ordem global; em nome do qual milhares de postos de trabalho são sacrificados ao lado da precarização de outros tantos‟‟(COHN, 2001, p.84).

Desta forma podemos concluir que as diversas formas de expressão da

questão social entram em serie o que implica em uma resposta imediata do Estado e

da sociedade em dar respostas ao agravamento da desigualdade social em todo o

brasil e no mundo. Pois o Brasil, apesar de ser um dos países mais ricos do mundo,

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já que possuímos o 8º maior PIB – Produto Interno Bruto do mundo continua

registrando um dos maiores índices de miséria e fome, um triste retrato, e uma dura

realidade, que atinge mais de 32 milhões de habitantes em nosso país, ou seja,

podemos dizer que aproximadamente 16,30% de nossa população passa fome.

Mesmo com os R$ 4143 trilhões que o Brasil gerou em seu PIB só em 2011, ainda

existem milhões de homens, mulheres, idosos, crianças e bebês que simplesmente

morrem de fome, segundo dados da pesquisa realizada pelo Instituto de Geografia e

Estatística o (IBGE) no ano de 2010.

Desta forma entendemos que o significado da palavra pobreza e exclusão

social na forma como as mesmas se produz e reproduz advém do crescente estado

de miséria da população, da extrema concentração e má distribuição de renda, dos

baixos salários, da desnutrição, da mortalidade infantil dentre outros. Assim para a

autora Yazbek (2009), a pobreza, é uma expressão direta das relações sociais,

"certamente não se reduz às privações materiais" (YAZBEK, 2009, p. 73-74). É uma

categoria multidimensional, e, portanto, não se caracteriza apenas pelo não acesso

a bens, mas é uma categoria política que se traduz pela carência de direitos, de

oportunidades, de informações, de possibilidades e de esperanças (MARTINS,

1991, p. 15).

Nesta concepção da autora entendemos que a pobreza advém das

relações sociais e que estas relações não podem ser atreladas ao trabalho, ou seja,

a responsabilidade individual do individuo as suas próprias condições de vida. E sim

deve ser atrelado a um modelo de proteção social por parte do Estado, no que se

refere à proteção social dos direitos e a garantia dos mesmos, das oportunidades

para as classes subalternas, etc. Pois a maioria das pessoas estaria de pleno

acordo com uma sociedade mais justa e igualitária para todos, uma sociedade onde

não ouve-se sobrantes nem miseráveis e uma melhor intervenção por parte do

Estado na formulação e criação de políticas públicas que venham a intervir nas

desigualdades sociais causadas pelo desenvolvimento desigual do capital por meio

da intervenção estatal do Estado, mesmo que estas não atendam e nem alcancem a

todos os que dela necessitam ou seja, os seus demandantes.

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2.1 Pobreza e questão social no Brasil e em Fortaleza

A desigualdade social hoje no Brasil assume varia feições, feições as

quais são constituídos por um conjunto de seguimentos ambos distintos, tais como:

os elementos socioeconômicos e sociais, culturas e políticos próprios de cada

sociedade onde o seu principal elemento e fator é a desigualdade social,

principalmente a desigualdade de renda que esta totalmente relacionada à pobreza

e as más condições dignas de vida de toda uma sociedade. Pois a necessidade de

melhoria nas condições dignas de vida de uma população é uma condição presente

em qualquer sociedade podendo comprometer qualquer pessoa, em qualquer idade

e em qualquer momento. Entretanto, existe uma afinidade entre o aparecimento e o

agravamento das necessidades da população que vive em situação de pobreza.

Pois a pobreza refere-se às dificuldades e problemas sociais causados pelo

desenvolvimento desigual do nosso país, o que muitas veses este desenvolvimento

desigual leva a populaçaõ mais pobre ao isolamento e a exclusão social. Pois a

pobreza assume no Brasil uma dimensão bem abrangente, evidenciando um quadro

amplo para intervenção de políticas públicas de corte social, entendendo que as

políticas sociais, para serem mais eficazes, devem estar articuladas a políticas

macroeconômicas que garantam um crescimento econômico sustentado; a geração

de emprego; a elevação da renda proveniente do trabalho e, sobretudo, a

redistribuição de renda ainda altamente concentrada no Brasil.

Desta forma boa parte da população brasileira hoje vive na situação de

pobreza relativa, ou seja, vivem com o mínimo necessário para subsistirem, mas não

possuem os meios necessários para viver de acordo com a área onde estão

inseridos, nem com pessoas de status social comparável. Pois a pobreza relativa

ocorre quando um indivíduo ou uma família tem o mínimo necessário para

subsistirem, mas não possuem os meios necessários para viver de acordo com a

área onde estão inseridos, ou seja, no meio onde vivem, nem com pessoas de

status social comparável. Já outra grande parte da população vive em situação de

pobreza absoluta, ou seja, vivem sem ter o mínimo necessário para a sua

subsistência. Pois a pobreza absoluta ocorre quando uma família, individuo ou até

mesmo um determinado grupo se encontra num nível abaixo do rendimento mínimo,

o que não lhes permite comprar bens essenciais. Pois apobreza absoluta divide-se

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em: pobreza primária, quando o rendimento permite apenas a manutenção, ainda

que ao mais baixo nivel; e pobreza secundária, que ocorre quando o rendimento é

suficiente para satisfazer as necessidades básicas, mas devido à má administração

dos rendimentos, estas não são satisfeitas.

Pois segundo a pesquisa realizada pelo (IBGE) Instituto de Geografia e

Estatística no ano de 2010 mostram que a desigualdade de renda no Brasil ainda é

bastante acentuada apesar da tendência de redução observada nos últimos anos.

Embora a média nacional de rendimento domiciliar per capita fosse de R$ 668 em

2010, 25% da população recebiam até R$ 188 e metade dos brasileiros recebia até

R$ 375, menos do que o salário mínimo naquele ano (R$ 510). Pois a incidência de

pobreza era maior nos municípios de porte médio assim como o Brasil, (10 mil a 50

mil habitantes), independentemente do indicador de pobreza monetária analisado.

Enquanto a proporção média de pessoas que viviam com até R$ 70 de rendimento

domiciliar per capita no ano de 2010 era de 6,3%, nos municípios com 10 mil a 20

mil habitantes, essa proporção era duas vezes maior. Pois o Brasil tem 16,27

milhões de pessoas em situação de extrema pobreza, o que representa 8,5% da

população, segundo os dados da pesquisa realizada pelo IBGE.

Diante deste processo de acumulação e má distribuição de renda gerada

nas formações sociais capitalistas no que se refere à produção de acumulação

capitalista, baseada na exploração, é estruturalmente excludente, segundo (MARX,

1980). Esse aspecto é demonstrado por Marx em suas análises sobre o processo de

produção do capital. Como admite SPOSATI (1999, p.79.), a exclusão não é um

fenômeno novo. Decorre do processo de acumulação capitalista, apresentando um

caráter estrutural com agravamentos nas condições dignas de vida social, portanto,

é próprio da sociedade capitalista de incluir e excluir. Desta forma podemos concluir

que a exclusão social é uma expressão da realidade dos países desenvolvidos e

subdesenvolvidos assim como o Brasil, sobretudo, no final do século 20, com a

manifestação de grande elevação do desemprego, agravada pela progressiva

precarização do trabalho e pela precarização da proteção social, que marcaram a

crise da sociedade salarial gerando a quebra da cidadania e da proteção social no

Brasil. O que é bem nítido nas pesquisas realizadas pelo IBGE.

O estado do Ceará é terceiro estado mais populoso do Nordeste com

8.472.231 milhões de habitantes, 7% desses, 51,1% são pobres, ou seja, possuem

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rendimento domiciliar per capita inferior a ½ salário mínimo, sendo que 8% deste

percentual é um pouco inferior ao resultado do Nordeste, com 52,1% da população

formada por pobres, mas bastante superior a taxa de pobreza do Brasil que é de

16,27% e também apresenta a taxa de indigência, definida como a proporção de

pessoas que recebem e vivem com menos de ¼ do salário mínimo per capita e que

representam 22% da população do Estado do Ceará percentual também um pouco

menor que o Nordeste e quase o dobro do Brasil. Já em Fortaleza capital do estado

do Ceará e em todo o Brasil o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à

Fome (MDS) lançou, ano de 2011, um programa de erradicação da pobreza extrema

no Brasil, conhecido como Brasil sem Miséria. Nessas propostas, considerou-se

como linha de corte o valor de renda familiar mensal inferior a R$ 70,00 por pessoa.

Em consonância com essa política, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE), no Censo Demográfico 2010, disponibilizou um conjunto de informações

relativas à população e aos domicílios sem rendimento e com rendimento nominal

mensal domiciliar per capita inferior a esse valor, permitindo assim contabilizar o

contingente de pessoas nessa condição, seja no país como também nos estados e

municípios.

E muitos desses números já foram amplamente divulgados. Portanto

tomando por base essas informações, verificou-se que FORTALEZA e demais

municípios como Maracanaú apresentava por volta de 134 mil pessoas na extrema

pobreza em 2010, o que correspondia a 5,5% de sua população, a menor proporção

entre os municípios cearenses. Entretanto, do total de extremamente pobres no

Ceará, cerca de 1,5 milhão de pessoas, já Fortaleza reúne por volta de 8,9% desse

valor, apresentando a maior participação dentre os 184 municípios do Estado

segundo dados da pesquisa realizada pelo IBGE no ano de 2010. Portanto é

importante ressaltar que para um melhor entendimento da distribuição espacial da

miséria em nossa capital, constitui-se num passo importante no tocante a

focalização das políticas à medida que se possa direcionar novas ações capazes de

dar respostas mais consistentes e com maior agilidade na geração de emprego e

renda, a partir, por exemplo, do levantamento das potencialidades produtivas em

cada bairro.

Portanto cabe à política social o papel de garantir padrões mínimos de

vida, reduzindo a pobreza, e projetando as demandas para a proteção social, com o

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objetivo de reduzir as desigualdades, e garantir e afirmar os direitos sociais e

efetivar o universalismo das políticas públicas. Para que assim as classes

subalternas percebam nas políticas sociais a possibilidade de acesso a seus direitos

sociais de cidadania, e a satisfação de suas necessidades básicas e vitais, e a

melhoria da qualidade de vida. Pois é através das políticas sociais que se da á

universalização da renda mínima e a efetivação dos direitos das classes subalternas

no país, através dos Programas de Transferência Direta de Renda como o Programa

Bolsa Família e o BPC/LOAS o Beneficio de Prestação Continuada que são

programas e benefícios articulados as políticas sociais públicas mais

especificamente a política de assistência social.

E é por conta destas questões e desigualdades que entra a importância

dos programas de transferência de renda como o Bolsa Família que é um programa

articulado a uma política universal no estabelecimento e garantia dos mínimos

sociais de acordo com os princípios estabelecidos pela LOAS – Lei Orgânica da

Assistência Social e pelo Cadastro Único de Assistência Social do Governo Federal,

no qual verificamos uma tendência e expansão no atendimento do universo total dos

potenciais beneficiários do programa, as famílias brasileiras que se encontram

abaixo da linha da pobreza. Pois o atual modelo de proteção social da política de

assistência é o modelo de gestão decentralizada cuja sua centralidade é a proteção

social a família, partindo do principio da mudança nos padrões de relacionamentos,

das mudanças de como as famílias se constituem hoje e na melhoria das condições

de vida da população mais pobre.

Portanto a assistência social destina-se à população que vive em situação

de fragilidade decorrente da pobreza, como: a ausência de renda, o acesso precário

ou nulo aos serviços públicos, ou a fragilização de vínculos afetivos tais como:

discriminações etárias, étnicas, de gênero ou por deficiências, dentre outras. Pois é

desta forma que se dar o modelo de gestão e proteção social decentralizada desta

política, bem como a questão da matricialidade sócio familiar, ou seja, a

centralização da mesma na família; por conta desta disparidade dos modelos, nos

tipos de família adotados hoje no nosso Brasil contemporâneo, das más condições

de vida e da má distribuição de renda ainda muito concentrada em nosso país.

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2.2 O programa de transferência de renda Bolsa Família como um programa

social de enfrentamento a pobreza

Os Programas de Transferência de Renda, na sua atualidade, são

apresentados como estratégias centrais na intervenção da pobreza. Como

Programas inscritos no processo de redefinição da Proteção Social no Brasil, que

integram um projeto político mais amplo que mobiliza concepções que muito têm a

revelar de sua natureza e alcance, bem como de sua compreensão acerca do

problema para o qual se direcionam que é o caso do enfretamento a pobreza. Tais

como o Programa de Transferência de Renda Bolsa Família, que é um programa

articulado a uma política universal no estabelecimento e garantia dos mínimos

sociais de acordo com os princípios estabelecidos pela LOAS – Lei Orgânica da

Assistência Social e pelo Cadastro Único de Assistência Social do Governo Federal.

O Bolsa Família é um programa regulamentado pelo decreto lei de nº 5.209, de 17

de setembro de 2004 que regulamenta a Lei nº 10.836, de 09 de janeiro de 2004,

que cria o Programa Bolsa Família, e dá outras providências; mencionada pelo

Presidente da República Luís Inácio Lula da Silva.

Pois o PBF é programa que transfere renda diretamente para as famílias

como forma de garantir o direito humano á alimentação adequada, á educação e a

saúde, atendendo famílias com renda mensal de até RS 140,00 reais per capita e

que fazem parte do Cadastro Único, que é o número de inscrição e isenção social

para Programas Sociais do Governo Federal como forma de garantir a proteção

social as famílias mais pobres e a garantia da renda mínima para a alimentação,

pois o programa Bolsa Família parte da concepção da política de assistência social

cuja sua centralidade é a proteção social a família, trabalhando no sentido de obter

uma melhoria na qualidade de vida destas famílias por meio do acesso aos bens e

serviços sociais públicos. Pois a política de assistência social tem como principal

objetivo garantir a proteção social as famílias em situações risco e vulnerabilidade

social como forma de prevenir as situações de risco por meio do desenvolvimento de

potencialidades e aquisições, e o fortalecimento dos vínculos familiares e

comunitários; assim como o PBF que tem como objetivo garantir a transferência

direta de renda para as famílias em situação de pobreza e extrema pobreza; pois a

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transferência de renda promove o alívio imediato da pobreza e garanti o direito

humano à alimentação e reforça o acesso aos direitos sociais básicos.

Pois a pobreza é um problema de ordem social, econômica e histórica

que na sua atualidade ainda impacta a sociedade brasileira por conta da falta de

investimentos na classe mais pobre. É nesta perspectiva que entra a importância da

política de assistência como uma política constitucionalmente assegurada e o seu

status como uma política social que abrange o campo dos direitos, da

universalização dos acessos aos serviços públicos e da responsabilidade estatal

pela Constituição Federal de 1988 mais conhecida como a Constituição Cidadã, pela

LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social, pelo SUAS – Sistema Único de

Assistência Social e pela PNAS – Política Nacional de Assistência Social, que

busca pela primazia da proteção social as famílias mais pobres e que vivem em

situação de pobreza extrema. Pois a política de assistência social se constitui como

uma política publica de combate à pobreza por conta destas disparidades sociais:

tais como o desenvolvimento desigual, o desemprego a má distribuição de renda,

dentre outros, e porque muitas pessoas hoje vivem ás margem da linha da pobreza

no Brasil, em Fortaleza e em todo o mundo. É por estas questões que a política de

assistência social se constitui como uma política fundamental e de extrema

importância no campo da garantia da proteção social de seguridade social, não só

no campo da distribuição direta de renda através dos programas de transferência de

renda articulados a esta política, tais como o BF, mais também por conta da garantia

e primazia dos direitos sociais e da busca pela distribuição da justiça social em todo

o país.

Pois o Programa Bolsa Família reuni quatro programas de transferência

de renda anteriores como o Bolsa Escola, Auxílio-Gás, Bolsa Alimentação e Cartão

Alimentação sob o modelo de gestão unificada. Pois a unificação de tais

programas, segundo a lei que criou o PBF, visa melhorar a gestão e aumentar a

efetividade do gasto social através da otimização e racionalização, ganhas de escala

e facilidade da interlocução do Governo Federal com estados e municípios (BRASIL,

2006). Desde 2004, o PBF encontra-se vinculado ao então recém-criado Ministério

de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), mais especificamente à

Secretaria Nacional de Renda de Cidadania (SENARC) e constitui uma das

prioridades do Governo Federal para a área social, tendo como principal objetivo

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prioriza a família como unidade de intervenção e de inserção da mesma na rede de

proteção social das políticas sociais mais especificamente a política de a assistência

social.

Como vimos, um aspecto central do desenho do Programa Bolsa família é

a focalização nas famílias pobres. Decerto, a formulação de programas sociais com

foco na família e não exclusivamente no indivíduo faz parte do debate sobre o

processo de reformas das políticas sociais desenvolvidas no país desde os anos

1980. Assim para compreendermos as razões pelas quais ocorre a retomada da

família como prioridade de intervenção nas duas últimas décadas, Carvalho (1997)

argumenta que a abordagem sobre o tema família adquire novas especificidades em

razão do reconhecimento de uma inequívoca situação de desemprego estrutural que

afeta a frágil capacidade das famílias em enfrentarem os desafios da reprodução

social de seus membros. Pois é nesta perspectiva que entra a importância da

política de assistência como uma política constitucionalmente assegurada e o seu

modelo de proteção social, que é um modelo de proteção social não contributivo

decentralizado; ou seja, um modelo de gestão decentralizada cuja centralidade é a

família (matricialidade familiar), pois a mesma parte do ponto de vista relacional: do

fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, com a sociedade, das

relações de gênero dentre outros.

Desta forma a PNAS – Política Nacional de Assistência Social do ano de

2004, parte e se baseia no modelo de família tradicional (nuclear), mais a mesma

compreende as disparidades das relações familiares adotadas hoje em nossa

sociedade, seja pela fragilidade das condições econômicas e sociais de cada

família, seja pelo formato de cada família e pelas suas relações, dentre outros. É

partindo desta perspectiva que a política de assistência tem a sua centralidade

interventiva na família assim como o BF que tem como unidade principal de

intervenção a família. Pois para compreendermos o modelo de gestão

decentralizada desta política, cuja centralidade é a família, precisamos nos

referenciar e analisar as mudanças, nos padrões de relacionamentos e os tipos de

família, tais como: os modelos de família seja ela monoparental, nuclear, patriarcal,

contemporânea, dentre outras. Bem como a noção que cada ser humano tem sobre

o que é família e o seu papel dentro da mesma.

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Pois a família no sentido popular significa pessoas aparentadas que

vivem em geral na mesma casa, particularmente o pai, a mãe e os filhos. Ou ainda,

pessoas do mesmo sangue, ascendência, linhagem, ou admitidos por adoção.

Sabemos o que é uma família já que todos já foram parte integrante de alguma

família. Pois é uma entidade por assim dizer óbvia para todos. No entanto, para

qualquer pessoa é difícil definir esta palavra e mais exatamente o conceito que a

engloba. Pois família é o conjunto de pessoas que possuem grau de parentesco

entre si e vivem na mesma casa formando um lar. Uma família tradicional é

normalmente formada pelo pai e mãe, unidos por matrimônio ou união de fato, e por

um ou mais filhos, compondo uma família nuclear ou elementar. Já a família

monoparental ela é composta por apenas um dos progenitores: pai ou mãe. Os

motivos que possibilitam essa estrutura são diversos. Englobam causas

circunstanciais como morte, abandono ou divórcio ou ainda, a decisão que na maior

parte dos casos, a decisão é da mulher de ter um filho de forma independente.

Já a família contemporânea é caracterizada pela inversão dos papéis do

homem e da mulher na estrutura familiar passando a ser a mulher a chefe de família.

Abrange a família monoparental, constituída por mãe solteira ou divorciada. Pois a

família é considerada uma instituição responsável por promover a educação dos

filhos e influenciar o comportamento dos mesmos no meio social. O papel da família

no desenvolvimento de cada indivíduo é de fundamental importância. Pois é no seio

familiar que são transmitidos os valores morais e sociais que servirão de base para o

processo de socialização da criança, bem como as tradições e os costumes

perpetuados através de gerações. E é este o principal objetivo da política de

assistência social em seu modelo atual, que é garantir a proteção social as famílias

e promover, resgatar e fortalecer os vínculos familiares das famílias. Pois a

assistência social prima pela prevenção de situações de risco por meio do

desenvolvimento de potencialidades e aquisições e o fortalecimento de vínculos

familiares e comunitários. Destina-se à população que vive em situação de

fragilidade decorrente da pobreza, ausência de renda, acesso precário ou nulo aos

serviços públicos ou fragilização de vínculos afetivos tais como: discriminações

etárias, étnicas, de gênero ou por deficiências, dentre outras. Pois é desta forma que

se dar o modelo de gestão e proteção social decentralizada desta política, bem

como a questão da matricialidade sócio familiar, ou seja, a centralização da mesma

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na família; por conta desta disparidade dos modelos e tipos de família adotados hoje

no nosso Brasil contemporâneo.

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3- A PESQUISA DE CAMPO

No Brasil e no mundo o modo de produção capitalista, e a venda da força

de trabalho é a principal forma de garantia de sobrevivência da classe trabalhadora.

Porém, nesse modo de produção, cujo objetivo primordial é a acumulação de renda

e riqueza nas mãos de poucos, o que nem sempre é possível à garantia de acesso a

um posto de trabalho e consequentemente, o acesso à renda que garanta o

atendimento as necessidades. À medida que o modo de produção capitalista foi se

desenvolvendo, sobretudo pela exploração da força de trabalho, e das revoluções

tecnológicas, milhares de postos de trabalho foram sendo destruídos e a

acumulação do capital foi se concentrando nas mãos de poucos, deixando grande

quantitativo de pessoas sem acesso a riqueza socialmente produzida.

Desta forma é preciso considerar as causas da pobreza, pois, o

atendimento das necessidades básicas depende da aquisição da renda, geralmente

proveniente do trabalho, que nem sempre é disponível no mercado para todos. A

desigualdade de renda também vem sendo apontada como causa para a geração da

pobreza, sobretudo no Brasil. Pois o desemprego estrutural, o desenvolvimento

desigual do capital, a precarização dos postos de trabalho, a desigualdade social, o

analfabetismo, dentre outras questões elevam as más condições de vida de toda

uma população, sobretudo a sua sobrevivência. Pois no Brasil segundo dados da

pesquisa realizada pela ONU – Organização das Nações Unidas no ano de 2011,

mostra que os últimos dados mostram que 2,7% da população viviam em pobreza

multidimensional. Pois cerca da metade da população urbana recebia, em média,

até R$ 415, nas áreas rurais esse valor era de aproximadamente R$ 170. Como os

dados sobre rendimento ainda são preliminares, consideram-se apenas pessoas e

domicílios com declaração de rendimento positivo, excluindo aqueles com renda

zero ou sem declaração.

Desta forma podemos considerar que a pesquisa realizada pela ONU,

através do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), mostra que 5 milhões de

pessoas ainda vivem em situação de pobreza no Brasil. O que representa 39,3% da

população, a pesquisa diz ainda que 7,8% das famílias brasileiras sofrem privações

por conta da situação de vulnerabilidade. Pois o Brasil segundo o Índice

Desenvolvimento Humano 2011 que classifica o Brasil como a 84ª posição entre 187

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países avaliados pelo índice. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil

em 2011 é de 0,718 na escala que vai de 0 a 1. O índice é usado como referência

da qualidade de vida e desenvolvimento sem se prender apenas em índices

econômicos. O que mostra o retrato da desigualdade social no Brasil e o isolamento

das classes menos favorável, ou seja, as classes subalternas. Pois a pobreza é um

fenômeno multidimensional que não se resume apenas à privação de renda, mas

também à limitação de capacidades, de melhores condições dignas de vida e de

bem estar.

Já o Estado do Ceará é o terceiro estado mais populoso do Nordeste,

pois possui 8.472.231 milhões de habitantes; sendo que destes 1,5 milhão vivem na

mais extrema pobreza, o que significa que de cada cinco pessoas, uma encontra-se

em situação de miséria no Estado. Pois o município cearense é o maior município

com números de pessoas nessa situação, o que representa 48% de sua população.

Pois o Estado do Ceará é o primeiro do Brasil a registra um número maior de

incidência de pobreza, alcançando 84% da população. Segundo a pesquisa

realizada pela ONU no ano de 2010 em 13 municípios do Ceará, há cinco anos,

cada morador consumia menos de R$ 100 por mês. Segundo a ONU, o consumo

domiciliar per capita em Saboeiro era de R$ 84,4, posicionando-se na 14º posição

no País e na liderança do Estado. Em segundo lugar aparece Choró (16º do País,

com consumo per capita de R$ R$ 85,2), seguido por Salitre (27º lugar no ranking

nacional, com R$ 89,5), Itatira (o 28º com R$ 89,5), Miraíma (30º e R$ 91,5),

Tarrafas (40º e R$ 93,6), Ererê (44º e R$ 94,6), Graça (54º e R$ 95,4), Granjeiro

(56º e R$ 95,8), Aiuaba (57º e R$ 95,8), Tejuçuoca (60º e R$ 96,6), Amontada (74º e

R$ 98,8) e Senador Sá (79º e R$ 99,8). Já Fortaleza ocupa o 4.969º no País com

consumo domiciliar per capita de R$ 336,2.

Assim podemos perceber que a desigualdade de renda, ou seja, a

pobreza ainda é muito presente em nosso estado e em todo o Brasil, o que é nítido

nos dados da pesquisa realizada pela ONU. O que exige dos nossos governantes

seja eles de âmbito Federal, Estadual e Municipal fortalecimento e efetivação de

políticas públicas de enfretamento a pobreza e que as mesmas observem as suas

várias dimensões a partir da real necessidade da população carente. Pois a pobreza

ela não envolve só a questão da renda mais também as condições de trabalho,

moradia, saúde dentre outras questões. Para Costa (2005):

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“a pobreza resulta diretamente das decisões públicas. Porem as decisões políticas são tomadas a partir da necessidade do capital, já que na sociedade moderna as necessidades humanas estão subordinadas a logica econômica do capital. Desta forma, é que o homem que serve á produção, realizada somente na medida em que recria o capital em escala ampliada” (COSTA, 2005, p.172-173).

Na concepção do autor podemos perceber que é evidente que a

população brasileira não possui recursos para satisfazerem as suas necessidades

básicas, e que as decisões políticas não podem ser tomadas de uma forma

fragmentada subordinada ais decisões do capital mias sim devem ser pensadas

para favorecer a população que vive excluída do mercado de trabalho formal e

busca assim o mercado informal, por conta da pobreza, por não terem recursos

suficientes para satisfazerem as suas necessidades básicas.

O município de Fortaleza capital do estado do Ceará está entre os

maiores municípios do estado com um índice populacional de aproximadamente dois

milhões de habitantes, que residem nos 209 bairros que fazem parte deste

município. Dentre eles os bairros: Granja Portugal, Bom Sucesso, Conjunto Ceará,

Barra do Ceará, Modubim, Parquelândia, Bela Vista, Bom Jardim, Siqueira, dentre

outros. Sendo que grande parte desta população vive em situação de pobreza

extrema. Pois segundo os dados da pesquisa realizada pelo IPECE – Instituto de

Pesquisa e Estatística Econômica do Ceará, realizada no ano de 2012, Fortaleza

capital cearense apresenta um total populacional de 2.452.185 habitantes residentes

entre os seus 209 bairros, sendo que 133.992 desta população vivem em situação

de extrema pobreza.

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Figura 01 - Contraste Social: Fortaleza Rica e Pobre

Fonte: Jornal Diário do Nordeste (Bairro Pirambú, tirada em 05/06/2009).

O município de Fortaleza capital do estado do Ceará é o que apresenta o

maior contingente, 8,9% do total de pessoas extremamente pobres no Ceará, num

montante de 1,5 milhão de pessoas no Estado, o que é natural dado o tamanho de

sua população. Por outro lado, em termos proporcionais, tem-se o menor valor,

correspondendo a 5,5% de sua população. Quanto à distribuição por bairros, a maior

proporção de miseráveis encontra-se no Manoel Dias Branco, Conjunto Palmeiras e

Parque Presidente Vargas e em termos absoluto, no Conjunto Palmeiras, com 6,2

mil pessoas. Enquanto as Regionais, destacam-se o grande contingente na V e VI,

representando quase 56% do total de pessoas na extrema pobreza em Fortaleza.

No bairro Grande Bom Jardim, um dos bairros mais abrangentes de

Fortaleza, pois o mesmo é chamado de grande Bom Jardim por ter um número

maior de bairros adjacentes a ele, pois o mesmo é dividido em duais áreas (área um

e dois) e em cinco bairros que são: Canindezinho, Siqueira, Granja Portugal, Granja

Lisboa e Bom Jardim. Os bairros adjacentes ao Bom Jardim são: Siqueira II, Granja

Lisboa, Parque Santa Cecília I e II, Bom Jardim I e II, Parque São Vicente, Granja

Portugal e as comunidades dos Conjuntos Tatumundé, Nova Conquista e

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Urucutuba; sendo que os mesmos fazem parte do território de abrangência do CRAS

– Bom Jardim segundo dados do mapeamento do território de abrangência da

instituição, que faz o trabalho social com a população residente em uma

determinada comunidade do bairro ou em alguns dos bairros que fazem parte do

território de abrangência do grande Bom Jardim, com exceção da Granja Portugal

que possui um CRAS próprio, por conta do número de famílias que cada CRAS

pode referencia, mais o mesmo este esta ligado e faz parte do grande Bom Jardim.

O bairro Bom Jardim apresenta um índice populacional de 37.758 no total

de habitantes, sendo que destes 3.061% vivem na extrema pobreza segundo o

IPECE, pois o bairro Bom Jardim é um bairro de muita vulnerabilidade social não só

no que se refere à renda mais também, as condições de moradia, saneamento

dentre outros; principalmente nas comunidades onde se concentra um maior número

de vulnerabilidade social; o que é nítido dos dados da pesquisa do IPECE e que

merecia ter uma atenção maior por parte dos nossos governantes.

O Bom Jardim fica situado ao sudoeste de Fortaleza faz divisa com três

bairros sendo eles o Siqueira, Conjunto Ceará e Bom Sucesso. O mesmo foi

atualmente escolhido pelo Ministério da Justiça para se tornar um território da paz,

através do Pronasci - Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania.

Pois são muitas as instituições que exercem trabalho dentro da comunidade, dentre

eles podem ser citadas: Movimento de Saúde Mental Comunitária do Bom Jardim, o

Centro Cultural do Bom Jardim – CCBJ, o ABC, CRAS Bom Jardim e muitas outras.

3.1 O método da pesquisa: tipo e instrumentos de coleta de dados

Minha pesquisa foi uma pesquisa de campo qualitativa com entrevista,

onde investiguei os sujeitos da minha pesquisa que foram as mulheres beneficiadas

pelo Programa de Transferência de Renda Bolsa Família, inseridas no PAIF -

Serviço de Atenção Integral a Família, residentes no bairro Bom Jardim. Nesta

pesquisa utilizei o método dialético, pois este método, o método dialético é o mais

adequado, e é um instrumental que trata da forma de fazer ciência, e cuida dos

procedimentos, das ferramentas, dos caminhos e do método a ser utilizado no

desenvolvimento da pesquisa, que trata a teoria e sua realidade com a prática. Por

isto escolhe o método dialético por que “é um conjunto de processos racionais, pra

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fazer qualquer fim teórico ou prático, e os meios dispostos convenientemente para

chegar a um fim que se deseja” (DEMO, 1995, p.112).

Pois o método dialético facilita a minha compreensão acerca do objetivo

geral da minha pesquisa e a importância da continuidade da mesma e da sua

relevância; pois o objetivo geral da minha pesquisa é compreender os impactos

sociais do Programa Bolsa Família na vida das famílias beneficiadas residentes no

bairro Bom Jardim, tais como: o aproveitamento da renda, bem como a percepção

das mulheres beneficiadas pelo programa sobre o programa, e o que este programa

significa para estas famílias e os seus impactos na vida das mesmas.

O tipo de pesquisa que adotei para realiza a pesquisa foi à pesquisa

qualitativa, que segundo Minayo (1996):

“a pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, com as ciências sociais, com o nível de realidade que não pode ser qualificado. Ela trabalha com os motivos, aspirações, crenças, valores, percepções, significados e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos a operações de variáveis” (MINAYO, 1996, p.101-102).

Para a realização da pesquisa utilizei os seguintes meios e métodos, tais

como: dados dos documentos da instituição, minhas observações no campo de

pesquisa e entrevistas, no qual foram realizadas 06 entrevistas no total, pois

trabalhei com 06 famílias em minha pesquisa, sendo estas beneficiadas com o Bolsa

Família; através do roteiro de entrevista sê-me estruturada, pois quando fui fazer a

seleção das famílias participantes, beneficiadas pelo Bolsa Família e que estavam

inseridas no grupo de família do PAIF, tinha 20 famílias inscritas no grupo no qual

tirei a amostragem de 06 delas, através do perfil das mesmas e que aceitaram

participar da pesquisa.

Pois a entrevista é essencial em uma pesquisa monográfica seja ela

qualitativa ou quanti – qualitativa, não só para o levantamento de dados numéricos

como para analise de um percentual sobre algo ou determinado assunto ou objeto

também para analisar a opinião e percepção das mulheres, de um determinado

público de pessoas a respeito de um programa, projeto ou assunto como já foi dito.

„‟a acessibilidade é destituída de qualquer rigor estatístico, pois o pesquisador seleciona os elementos a que tem acesso, admitindo que estes possam de alguma maneira representar o universo. Aplicar-se este tipo de pesquisa e de amostragem em estudos exploratórios ou qualitativos, onde não é requerido elevado nível de precisão‟‟ (GIL, 200, p. 98-99).

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E para Minayo (2012):

“a entrevista, tomada no sentido amplo de comunicação verbal, e no sentido restrito de coletas de informações sobre determinado tema científico, é a estratégia mais usada no processo de trabalho de campo. Entrevista é acima de tudo uma conversa a dois, ou entre vários interlocutores, realizada por iniciativa do entrevistador” (MINAYO, 2012, p.64).

3.2 O cenário e o período de realização da pesquisa

Minha pesquisa foi uma pesquisa institucionalizada realizada no Centro

de Referência da Assistência Social do bairro Bom Jardim, que fica localizado na rua

Cel. João Correia, 2023 de esquina com a AV. Cel. Virgílio Nogueira, praça STA

Cecília. Local em que antes da implementação do CRAS, funcionava a Creche e

Escola de Educação Infantil Dolores Alcântara. A pesquisa foi realizada no período

de cinco meses no CRAS, durante o mês de janeiro de 2013 á maio de 2013. O

CRAS – Bom Jardim em sua estrutura organizacional possui um grupo gestor, um

secretário e um distrito de assistência social, ou seja, o mesmo tem como grupo

gestor a (SETRA) Secretária Municipal do Trabalho Desenvolvimento Social e

Combate á Fome a extinta (SEMAS) Secretária Municipal de Assistência Social, o

mesmo e vinculado a Secretária Executiva Regional V e faz parte do (DAS) Distrito

de Assistência Social.

Realizei minha pesquisa durante o período de cinco meses no CRAS –

Bom Jardim, pois o mesmo é acessível para mim realizar esta pesquisa no CRAS

local onde realizei todo o meu período de estagio supervisionado obrigatório, o que

facilito muito para mim na produção, construção e elaboração do meu trabalho de

conclusão de curso e isto foi e é de muita importância para mim. E para a realização

da pesquisa utilizei os seguintes meios e métodos, tais como: dados dos

documentos da instituição, minhas observações no campo de pesquisa e

entrevistas, no qual foram realizadas 06 entrevistas no total, pois trabalhei com 06

famílias em minha pesquisa, através do roteiro de entrevista semi-estruturada, pois

escolhe a entrevista semi-estruturada devido a maior facilidade oferecida por esta

técnica em obter os dados dos entrevistados, já que, das famílias entrevistadas

algumas eram analfabetas, assim, teriam mais dificuldades em responder um

questionário escrito. Outra vantagem da entrevista semi-estruturada é a sua

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elasticidade quanto á duração, o que permite e facilita para o pesquisador ter uma

cobertura mais profundada sobre determinados assuntos e ao assunto e objeto a ser

estudado e pesquisado, bem como a possibilidade de respostas espontâneas e uma

maior liberdade por parte do entrevistador, bem como dos entrevistados. Pois

quando fui fazer a seleção das famílias participantes, beneficiadas pelo bolsa família

e que estavam inseridas no grupo de família do PAIF, tinha 20 famílias inscritas no

grupo no qual tirei a amostragem de 06 delas, através do perfil das mesmas e que

aceitaram participar da pesquisa.

Já no que se refere ao cenário da pesquisa, ou seja, o CRAS – Bom

Jardim; o mesmo atender as comunidades que fazem parte do território de

abrangência do bairro ainda atende a população do bairro Granja Lisboa que

também faz parte do território de abrangência do grande bom jardim, somando

assim um total de 541.160 habitantes o que representa um total de 22,06% da

população da cidade, conforme dados do diagnóstico social da instituição.

Considerando assim um dos CRAS com o maior índice populacional e uma área de

grande abrangência. Ainda segundo os dados do diagnostico social da instituição o

Bom Jardim possui um baixo Índice de Desenvolvimento Humano o IDH (0,403) e

elevado IVH (6,23), é um bairro marcado pela migração de muitas pessoas advindas

do interior, além disso conforme o diagnostico do (CDVHS), quase metade de sua

população (49,8%), é constituída por moradores oriundos de outros bairros de

Fortaleza, o aumenta ainda mais a demanda do CRAS do bairro e as

vulnerabilidades sociais do bairro e de suas comunidades.

Segundo dados do Cadastro Único da instituição 32,9% das famílias

residentes nos bairros referenciados pelo CRAS estão inscritas no Cadastro Único

para programas sociais do Governo Federal, sendo que 2.664 destas foram

beneficiadas e inseridas no Programa Bolsa Família, o que corresponde a um total

de 9.557 beneficiários, conforme dados fornecidos pela base do Cadastro Único de

Fortaleza em novembro de 2011. O CRAS – BOM JARDIM tem suas limitações

assim como o bairro, local onde o mesmo se localiza, iniciando pela linha limite do

município de CAUCAIA com AV. H do bairro CONJUNTO CEARÁ. Desta forma

possui os seguintes: ao norte estão os bairros GRANJA PORTUGAL, e BOM

SUCESSO, a oeste está o município de CAUCAIA, já a leste estão os bairros Vila

Peri, Manoel Sátiro e Canindezinho, e ao sul está o município de MARACANAÚ

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(conforme dados das descrições limites dos bairros de Fortaleza – IBGE/Senso

2000).

Ainda Segundo os dados do Cadastro Único da instituição no primeiro

semestre de 2012, durante os meses de Janeiro, Fevereiro e Março foram inseridas

mais famílias não só no Cadastro mais também no Bolsa Família e no Grupo de

Família do PAIF – Serviço de Atenção Integral a Família, como mostra a tabela a

seguir.

Tabela 01: Números de Famílias Inseridas no Cadastro Único e no Bolsa Família.

MESES JANEIRO FEVEREIRO MARÇO

CADASTRO ÚNICO

2.327 1.054 2.438

PROGRAMA BOLSA FAMILIA

47 36 57

GRUPO DE FAMILIA (PAIF)

________ 11 31

Fonte: Dados do Cadastro Único da Instituição, primeiro semestre do ano 2012.

A tabela um mostra que o Programa Bolsa Família durante o período dos

três primeiros meses do ano de 2012, não beneficio e que não ouve um número bem

significativo de famílias beneficiadas durante este período, comparado ao número de

famílias inscritas no Cadastro Único, e no PAIF – Serviço de Acompanhamento

Integral a Família, no caso das famílias que foram beneficiadas com o programa

Bolsa Família como mostra a tabela. Pois para estas famílias beneficiadas o

programa trousse além de um benefício e ajuda de custo financeiro, o programa

trousse certa autonomia para e por parte das mulheres beneficiadas. Ainda segundo

a mesma fonte e o diagnóstico social da instituição o bairro Bom Jardim assim como

o CRAS do bairro apresenta em suas dimensões territoriais demográficas segundo

dados do senso 200 do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e o

Diagnóstico Social da Instituição um percentual de 253,1 de dimensão territorial e

um índice de 37,758 habitantes. Sendo que destes 67.760 são crianças entre 0 á 15

anos de idade; 31.514 de jovens entre 15 e 24 anos; 67.234 de adultos entre 25 e 59

anos e 8.636 de idosos com 60 anos. O que mostra que o índice populacional deste

bairro é bem significativo em sua proporção o que aumenta ainda mais a demanda

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da instituição, ou seja, do CRAS do bairro e também as más condições de vida da

população residente no bairro, por conta do grande índice populacional do mesmo.

3.3 A amostragem

Neste trabalho acadêmico, empreendemos por uma abordagem e tipo de

pesquisa qualitativa, já que esta é a mais adequada em pesquisas que procuram a

compreensão de um determinado fenômeno, percepção sobre determinado objeto

ou algo até mesmo assunto de uma determinada realidade social, programa social

ou até mesmo sobre uma política social pública, bem como de um objeto a ser

estudado. A partir da abordagem qualitativa, foram investigadas a compreensão,

percepção e a sua complexidade dos objetos e fenômenos a serem estudados e

relacionados com o tema em questão. Onde investigarei os sujeitos da minha

pesquisa que foram as mulheres beneficiadas com o Programa Bolsa Família,

inseridas no PAIF – Serviço de Atenção Integral á Família e que formam o grupo de

família do CRAS Bom Jardim, no qual investiguei e pesquisei a percepção das

mulheres beneficiadas pelo programa sobre o programa, qual a percepção que estas

famílias têm sobre o programa, o que este programa significa para estas famílias e

os seus impactos na vida das mesmas, tais como o aproveitamento da renda. Bem

como a compreensão das mesmas a cerca do modelo de gestão da política de

assistência no que se refere à descentralização de suas ações na família (modelo de

gestão decentralizada) e o sentido do não contributivo contido no modelo de gestão

e proteção social desta política pública.

No que se refere à seleção das famílias participantes, beneficiadas com o

Bolsa Família e que estão inseridas no grupo de família do PAIF, quando fui fazer a

seleção destas famílias tinha 20 famílias inscritas no grupo no qual tirei a

amostragem de 06 delas, através do perfil das mesmas e que aceitaram participar

da pesquisa. Pois algumas das famílias inscritas no grupo de família recebem

apenas o beneficio do BF, mais ambas não tem os filhos inscritos nos demais

programas da política de assistência social; já as 06 famílias participantes da minha

pesquisa também inscritas no grupo de família, ambas recebem o beneficio do BF e

tem filhos adolescentes que recebem o BVJ – Beneficio Variável Jovem e as

crianças inscritas no PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil. Pois

estas famílias que tem os seus filhos crianças e adolescentes inscritos nos demais

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programas da política, ambas recebem além do beneficio do BF o beneficio do

adolescente e da criança, dependendo do perfil da família; e no caso da criança a

mesma tem que está em situação de trabalho infantil para que possa ser inserida no

PETI. E este foi um dos critérios que utilizei para selecionar as famílias participantes

da pesquisa, pelo perfil das mesmas, contido nos dados cadastrais das mesmas na

instituição e pela disposição e interesse das mesmas em participar da pesquisa bem

como pela acessibilidade.

Pois à acessibilidade, ou seja, a amostra por conveniência ou

acessibilidade constitui o menos rigoroso de todos os tipos de amostragem. Por isso

mesmo é destituída de qualquer rigor estatístico; pois o pesquisador seleciona os

elementos a que tem acesso, admitindo com que estes possam de alguma forma

representa a população. Pois a aplicação deste tipo de amostragem em estudos

exploratórios ou qualitativos, em que não é requerido elevado nível de precisão. Pois

a amostragem por conveniência ou acessibilidade é aplicada em pessoas que

estejam normalmente ao alcance do pesquisador e dispostas a responder um

questionário escrito ou entrevista. Método o ao adotei em minha pesquisa, ou seja,

na amostra dos dados a serem analisados, bem como os critérios adotados para a

realização da mesma.

3.4 O perfil dos sujeitos

Com o intuito de melhor sistematizar as informações contidas neste item

são considerados o perfil socioeconômico das famílias participantes da pesquisa, ou

seja, as famílias beneficiadas com o Programa Bolsa Família e que estão inscritas

no grupo de família/PAIF do CRAS Bom Jardim do município de Fortaleza, sendo

que 06 famílias beneficiadas foram entrevistadas.

Para guarda o anonimato e o sigilo das famílias entrevistadas estas

serram identificadas como „‟PARTICIPANTE‟‟ recebendo uma numeração

estabelecida por ordem das entrevistas aplicadas.

PARTICIPANTE 1 – a mesma é responsável familiar, tem idade de 65

anos, casada, é mãe de 06 filhos, possui o ensino fundamental incompleto em seu

grau de escolaridade, possui renda mensal de um salario mínimo mais o benefício

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do BF e a participante não tem profissão, pois a mesma se declara como dona de

casa, ou seja, do lar.

PARTICIPANTE 2 – a mesma é solteira, chefe de família, mãe de 03

filhos, tem idade de 49 anos, a mesma se declara como não alfabetizada em seu

grau de escolaridade, a mesma vive com renda mensal de um salário mínimo que é

do seu filho mais velho de 21 anos que é especial e deficiente, mais o beneficio do

BF e a mesma não tem profissão e se declara como do lar.

PARTICIPANTE 3 – a mesma é solteira, também chefe de família, mãe

de 04 filhos, tem idade de 56 anos, tem renda mensal de 350 reais de seu trabalho,

pois a mesma fala que tem uma profissão de auxiliar de costura, mais o beneficio de

112 reais do BF e possui o ensino fundamental completo em seu grau de

escolaridade.

PARTICIPANTE 4 - a mesma é casada, mãe de 05 filhos, e se declara

como não alfabetizada em seu grau de escolaridade, tem idade de 60 anos, com

renda mensal de um salário mínimo mais beneficio do BF, sendo que este salário a

mesma fala que é de seu esposo, pois a mesma não tem profissão e se declara

como do lar.

PARTICIPANTE 5 - a mesma é solteira, chefe de família, se declara como

não alfabetizada em seu grau de escolaridade, tem idade de 45 anos, é mãe de 03

folhos, a mesma não tem profissão se declara como do lar e tem renda mensal de

455 reais, sendo esta de pensão alimentícia de seus 03 filhos, pois a mesma declara

que ambos são menores de idade, mais benefício do BF.

PARTICIPANTE 6 – a mesma é casada, mãe de 06 filhos, possui o

ensino médio completo em seu grau de escolaridade, pois a mesma declara em sua

fala que o conclui através do EJA – Programa de Educação de Jovens e Adultos, a

mesma declara que tem profissão de costureira e que trabalha nesta profissão há 02

anos, possui renda mensal de um salario mínimo renda total da família mais o

beneficio do BF, pois a mesma declara que seu esposo é autônomo, e que não

trabalha de carteira assinada, o mesmo possui a profissão de pedreiro o que nem

sempre tem trabalho e serviço, fala a participante.

Na condição de pesquisadora, senti a necessidade de construir uma

análise que permitisse uma aproximação maior com a realidade dos fatos, de modo

que o leitor entenda o que pretendi passar e contribuir para que a política de

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assistência social e os programas sociais articulados a ela possa ter uma visão

consciente de seus novos rumos e o seu presente e futuro bem como a importância

dos mesmos na efetivação e conquistas dos direitos sociais, na efetivação da

cidadania e da proteção social.

Pois podemos perceber no perfil dos sujeitos no quais foram

entrevistadas 06 famílias beneficiadas com o BF, apenas uma possui o ensino

médio completo em seu grau de escolaridade, as demais 03 delas se consideram

como não alfabetizadas, uma possui o ensino fundamental completo e a participante

um o ensino fundamental incompleto, ambas entrevistadas apenas 03 são casadas

as demais são solteiras chefes de família, algumas tem profissão outras não, se

declaram como do lar. É importante destaca também a questão da renda, pois das

06 famílias entrevistadas 04 vivem com um salario mínimo mais benefício do BF,

com exceção de duas participantes, a participante cinco que vive da pensão

alimentícia de seus 03 filhos mais o beneficio que a mesma recebe do BF e a

participante três que vive com menos de um salario mínimo, com renda mensal de

350 reais de seu salario com auxiliar de costura mais o beneficio de 112 reais do BF;

o que nem sempre é o suficiente para satisfazer as necessidades básicas de toda a

família.

Pois isto mostra o retrato da desigualdade ainda muito presente em nosso

país e em todo o mundo, e que não é diferente em nossa cidade Fortaleza;

principalmente a desigualdade de renda, o baixo índice de escolaridade e de

desemprego. E é nesta perspectiva que entra a importância das políticas sócias,

pelo menos no que se refere à assistência social aos menos desfavorecidos; no que

se refere à garantia da renda mínima, e a busca pela efetivação dos direitos

humanos e sociais dos menos desfavorecidos; dos usuários da política de

assistência social e dos programas articulados a esta política tais como o BF. Pois a

política de assistência social ela tem um importante papel nas conquistas dos

direitos humanos de cidadania e na emancipação e efetivação da proteção social,

bem como na distribuição dos mínimos sociais para as famílias mais vulneráveis,

através dos programas sociais de transferência de renda articulados a esta política,

tais como o PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (destinados a

crianças em situação de trabalho), Programa Bolsa Família e o BPC – Benefício de

Prestação Continuada da Assistência Social.

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3.5 As análises

O caminho percorrido para a realização da pesquisa no Centro de

Referência de Assistência Social do bairro Bom Jardim junto aos usuários da política

de assistência e da unidade, bem como beneficiadas com o Programa Bolsa Família

e também usuárias do mesmo, me possibilito conhecer uma infinidade de aspectos

que, em determinados momentos se expressão como limites e retrocessos, sendo

que estes em outros momentos se configuram como superações e conquistas. E

para mim como pesquisadora foi uma reaproximação muito enriquecedora que abril

perspectivas para uma abordagem bem significativa, importante e diferenciada que

se direciono para um público formado por mulheres, ambas, chefes de família pelo

programa BF, sendo este estudo um estudo fundamental para uma análise do que

se esta construindo hoje na política de assistência social.

Diante do que já foi explicado e mencionado nos tópicos anteriores

apresentados no decorrer do desenvolvimento do trabalho, vamos as análises das

falas das entrevistadas. Primeiramente foi perguntado as participantes os dados

pessoais de cada uma como já foi mencionado no tópico referente ao perfil dos

sujeitos da pesquisa, em seguida no tópico referente à política de assistência foi

perguntado:

P1- Quando perguntadas a cerca da participação em algum grupo de

convivência articulado a política de assistência social no CRAS, algumas

respondem?

R1 - Participo apenas grupo de família do CRAS. (PARTICIPANTE 2). R1- Participo do grupo do CRAS, o grupo de família. (PARTICIPANTE 6).

P2 - Na segunda pergunta ainda referente à política foi perguntado o que

a política de assistência representa para elas usuárias da mesma?

R2 - Para mim esta política representa socialização de informações, por que tem coisas que nós não sabíamos e não timos o conhecimento antes, e com as atividades da política passamos a conhecer, entender e saber. Como no encontro do grupo de hoje que falamos e discutimos sobre os diretos do trabalho e das leis que garantem os nossos direitos como trabalhadores e trabalhadoras. (PARTICIPANTE 4). R2- Para min a assistência representa não só a socialização de informações mais também a conquista de direitos. Por que com as atividades que nos acompanhamos aqui no CRAS nos passamos a conhecer mais sobre nossos direitos que antes não conhecíamos. Fala a participante. (PARTICIPANTE 1).

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Diante da fala das participantes podemos considerar que a política de

assistência é uma política de estrema importância na conquista, garantia,

viabilização e socialização de informações no que se refere aos direitos humanos e

sociais de seus usuários. Pois a “política de assistência como uma política universal

e de direito de cidadania, capaz de alargar a agenda dos direitos sociais a serem

assegurados a todos os brasileiros, de acordo com suas necessidades e

independente de sua renda, a partir de sua condição inerente de ser de direitos com

vistas a mediar o acesso dos usuários aos direitos e a mobilização social”.

(NOB/SUAS/2005).

P3- Na terceira e quarta pergunta elaborada foi perguntado as

participantes o que representava cidadania para elas, isto na terceira pergunta.

R3 - Eu acho que cidadania é o dever, o exercer a cidadania. Para mim representa o exercer a cidadania por que quando eu tenho os meus direitos garantidos e respeitados pela população eu estou sendo um cidadão, e ao mesmo tempo estou exercendo o meu dever de cidadão respeitando o direito dos outros. (PARTICIPANTE 3 ).

P4- Na quarta foi perguntado o que representava direito para elas?

R4- Direito para mim é você ter o direito a ter direito, é quando eu tenho os meus direitos respeitados, garantidos e efetivados pela lei. Pois todos nos temos direito a uma casa, alimentação, e quando estes são garantidos é sinal de que eu estou tendo o direito a ter direito como eu falei anteriormente. Direito para mim é isto é ter, vem do ter. (PARTICIPANTE 6). R4- Para mim direito é você ter o seu direito garantido e respeitado, é você ter direito a ter direito. É eu ter minha casa própria e alimentação, para mim direito é isto. Fala a participante. (PARTICIPANTE 1).

Diante das falas das participantes podemos perceber que têm certo

conhecimento sobre o que vem a ser direito e o que vem a ser cidadania, mas

durante as entrevistas tive que explica um pouco para elas a diferença entre direito e

cidadania, pois algumas confundiam um pouco, para que as entrevistadas

pudessem responder com mais clareza. Pois cidadania é o conjunto de direitos e

deveres em que nós enquanto cidadãos estamos sujeitos em nossos

relacionamentos com a sociedade em que vivemos e no ambiente familiar. Pois

cidadania e o dever, ou seja, o direito a ter direito como relata a participante. Assim

como o direito que significa normas e leis que nos possibilita a exigir algo que é de

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direito nosso ou até mesmo a exigir um determinado comportamento e posição por

parte de nossas autoridades e órgãos do governo.

P5- Na quinta pergunta foi perguntado para as entrevistadas se elas

conheciam o modelo de gestão descentralizada da política?

R5- Sim, pois acho que faz parte do modelo que envolve a participação popular da comunidade e dos usuários nas atividades da política, e também na família, por que a família é a principal unidade e foco interventivo da política, não só na pessoa isolada. Acho que se refere a isto. (PARTICIPANTE 05)

Percebemos que a entrevistada tem certo conhecimento sobre o modelo

de gestão desta política que é plenamente construída com a participação popular da

comunidade e de seus usuários, bem como a descentralização de suas ações na

família com objetivo de garantir a proteção social e o fortalecimento dos vínculos

familiares e comunitários de seus usuários tanto no meio social em que vivem como

no ambiente familiar.

P6- Na sexta pergunta ainda referente à política foi elaborada a seguinte

pergunta: se as entrevistadas conheciam o modelo de proteção social não

contributivo da política?

R6- Acho que se refere aos programas sociais da política, a forma como são formados e implementados, e que nos temos o direito a ter acesso a alguns deles mais não como uma pessoa carente pobre, mias como um cidadão usuário do programa e da política, como um cidadão usuário. Para mim é isto. (PARTICIPANTE 3).

Podemos perceber que estes depoimentos e falas demostram uma

diferença significativa de perspectivas, pois a fala da participante cinco expressa o

entendimento do modelo de gestão descentralizada da política de uma forma bem

significativa, ou seja, expressa a participação popular e comentaria, bem como as

atividades da política centradas na família e não em uma só pessoa isolada, como

retrata a participante. Já a terceira participante refere-se ao modelo de proteção

social não contributivo da política aos programas sociais e sua implementação e que

ambas tem o direito a ter acesso aos mesmos mais na condição de cidadão usuário

e não de uma pessoa pobre, de cidadão assistido o que a participante retrata bem

em seu depoimento. Pois para SPOSATI (2009 p.19); „‟implementação do modelo

de proteção social não contributivo no Brasil resulta não só da implantação de

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programas sociais de governo, mas de mudanças miais significativas que exige de

nossos governantes e gestores públicos assumir um novo papel baseado na noção

de cidadão usuário (e não de carente ou assistido) de seus direitos‟‟. Pois o sentido

do não contributivo da política de assistência se refere à diferenciação do modelo de

gestão da política previdenciária que plenamente contributiva diferente da

assistência que é uma política afiançada pelo Governo Federal, que recebe recursos

totalmente do governo e não de seus usuários. A fala da autora só confirma

fragmentos do depoimento da terceira participante que melhor respondeu a sexta

pergunta.

Em seguida nas perguntas relacionadas ao programa BF, foram

elaboradas as seguintes perguntas:

P7- Na sétima que se refere ao período e como iniciou a participação das

mesmas no programa?

R7- Minha participação no programa inicia após a entrega do CRAS do bairro, no momento em que eu estava desempregada, mas hoje graças a Deus estou empregada mais continuo recebendo o beneficio do BF. (PARTICIPANTE 3). R7- A minha participação no programa BF se deu depois da entrega do CRAS, e hoje já faz três anos que eu recebo este beneficio. (PARTICIPANTE 2).

Diante do relato da segunda e da terceira participante a inserção das

mesmas no programa se deu após a entrega e implementação do CRAS, o que nos

permiti perceber que a ampliação da rede e as instituições de assistência neste

município facilitam o acesso maior da população aos serviços e programas da

política de assistência social neste município. Bem como a inserção da primeira

participante que também se inseriu no programa através dos serviços da política de

assistência, por meio do CRAS do bairro Bom Jardim.

P8- Na oitava pergunta ainda referente ao BF, foi elaborada a seguinte

pergunta: hoje depois de você ter se inserido no programa qual é o total de sua

renda?

R8- Minha renda é de um salário mínimo apenas, após ter-me descrevido no BF aumentou mais um pouco, pois recebo 112 reais do beneficio. (PARTICIPANTE 1). R8 – A minha renda hoje é de 455 reais mais 68 reais do beneficio do BF. (PARTICIPANTE 5).

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Percebemos através das falas das participantes que a mesmas tiveram

acesso a uma renda maior e melhor após terem se inserido no programa, nos

permiti disser que o BF trousse melhorias para as condições de vida destas famílias

beneficiadas.

P9- Na nona pergunta foi perguntado com que frequência às mesmas

participavam das ações desenvolvidas pelas Assistentes Sociais no programa BF?

R9- Eu participo sempre. (PARTICIPANTE 1). R9- Participo sempre. (PARTICIPANTE 4).

P10- Na décima pergunta perguntamos as participantes como elas

avaliavam o programa?

R10- Eu avalio como ótimo. Porque o BF é um programa que ajuda financeiramente, pois através dele eu compro o material escolar de meus filhos e as minhas coisas pessoas, pois só casada, mas meu esposo só coloca a alimentação em casa e alguma vez compra as coisas dos meninos mais as minhas coisas pessoas eu compro com o meu beneficio, porque como sei que vou receber o beneficio no mês seguinte não preciso pedir ao meu esposo para que compre minhas coisas, pois compro minhas coisas pessoais repeti a participante com o dinheiro do meu beneficio. (PARTICIPANTE 1).

A mesma avalia o programa bolsa família como ótimo, pois o mesmo

podemos concluir que traz a garantia dos mínimos sociais para a população mais

vulnerável mesmo que de forma focalizada, bem como a ampliação do acesso das

mesmas aos demais serviços de proteção básica como saúde e educação por meio

das condicionalidades.

P11- Na décima primeira pergunta foi perguntado para as mesmas o que

o programa representava para elas?

R11- O BF é muito importante para mim e tem uma representação de ajuda não só financeira mais também de independência. Por que tenho 05 filhos, eles usam roupas novas, sapatos, porque eu compro com o dinheiro do meu beneficio não só para eles, mas também para mim, pois sou casada, mas não peso meu esposo para comprar as coisas para mim e os meninos, compro com o meu BF. (PARTICIPANTE 4). R11- Para mim o BF representa além de uma ajuda de custo uma independência, por que eu sou casada mais meu marido compra apenas a alimentação para casa e para os nossos filhos. Pois minhas coisas, roupas e coisas intimas eu compro com o dinheiro do meu beneficio que recebo do BF, por isto ele representa independência para mim além de uma ajuda de custo financeira por eu não dependo de meu marido pra comprar minhas coisas. Fala a participante. (PARTICIPANTE 1).

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P12- Na décima segunda pergunta foi perguntada qual a percepção da mesma sobre o programa.

R12- A percepção que tenho sobre o programa é que para mim ele trouxe uma ajuda, pois com o beneficio do BF eu compro roupas e causados para os meus filhos e até mesmo para mim, pois o beneficio do BF ajuda bastante. Sou casada, mas não preço ao meu marido dinheiro para comprar as minhas coisas, eu compro com o dinheiro do meu benefício. (PARTICIPANTE 6).

Percebe-se na fala das participantes que o programa não trouxe apenas

uma ajuda de custo financeira mais sim certa independência e autonomia por parte

das beneficiarias e usuárias do programa. O que me incentiva a pesquisa sobre esta

categoria autonomia, por meio de como as usuárias do programa compreendem

esta categoria o que representa autonomia para elas e como as mesmas percebem,

veem e compreendem as ações da politica de assistência para a construção desta

autonomia por parte de seus usuários.

Já na décima segunda pergunta foi elaborada a seguinte pergunta: qual a

percepção delas sobre o programa? Pois ao mesmo tempo em que elas são

beneficiadas pelo programa ambas são usuárias do mesmo.

“Minha percepção sobre o PBF eu considero como ótima, pois o programa trouxe para minha casa o que eu não podia comprar antes, como roupas boas e novas, aparelho celular bom. Pois o BF para mim chego em uma boa hora por que quando estou apertada em casa e sei que vou receber o beneficio compro as coisas que estão faltando em casa para mim e meus filhos também. Como alimentação e pago com o beneficio que recebo do programa”. Diz a participante. (PARTICIPANTE 5).

Podemos observar que a maioria dos depoimentos das entrevistadas, as

mesmas destacam o programa como um programa que trouxe uma ajuda financeira

imediata para elas, ou seja, para as famílias beneficiadas pelo programa, mas

também destacam que o programa além de uma ajuda de custo financeira trouxe

também certa independência financeira para elas, mais especificamente aquelas

que são casadas. Bem como também certa autonomia para as mesmas; o que para

mim como jovem pesquisadora envolve a importância de outras discussões: como

as relações de gênero, e a construção da autonomia por parte destas mulheres

beneficiadas pelo programa, bem como a compreensão das mesmas sobre o que é

autonomia, ou seja, a compreensão das mesmas sobre esta categoria. Pois a

política de assistência trabalha além da proteção social, as relações de gênero,

descriminação por raça, cor, etnia, relações entra familiares, no fortalecimento dos

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vínculos familiares e comunitários, na convivência familiar e com a sociedade de

uma forma geral e também na construção da autonomia de seus usuários, assim

como das mulheres beneficiadas pelo Programa BF, pois além delas serem

beneficiadas pelo programa ambas são usuárias do mesmo e da própria política; o

que me incentiva a continuar minha pesquisa no curso de especialização, pois

pretendo continuar a mesma discutindo a questão da autonomia destas mulheres

beneficiadas com o PBF, bem como sua compreensão sobre o que vem a ser esta

autonomia e a maneira de como as mesmas vem e compreendem as ações da

política pública de assistência para a construção desta autonomia.

É importante destacar também mais uma vez a importância dos

programas sociais focalizados na família, ou seja, que tenha em sua nomenclatura

como principal unidade interventiva a família, assim como o BF, bem como a

importância da política pública de assistência social de cunho universalista e a sua

importância no campo da seguridade social brasileira, bem como a importância de

suas ações para a promoção da proteção social, e efetivação dos diretos humanos e

sociais de seus usuários, principalmente das pessoas menos desfavorecidas pelo

Estado e pelo mercado de trabalho, vitimas do processo desigual do capital.

É desta forma que o Estado Brasileiro tem dentre os seus objetivos

fundamentais, declarados constitucionalmente, a erradicação da pobreza e da

marginalização e redução das desigualdades sociais e regionais. Diante dessa

realidade constitucional o objetivo passa a ser a busca de instrumentos

democráticos realizadores do direito à assistência social, dentro do novo contexto

social e econômico do Brasil. Assim, a partir de um panorama que apresenta os

paralelos entre a nossa realidade constitucional e a (não) efetivação dos direitos

fundamentais garantidos a todos os cidadãos brasileiros, o presente artigo ocupa-se

do tema relativo às políticas públicas sociais, como meios a serem utilizados para

atingir ditos objetivos constitucionais, em particular os Direitos Sociais, diminuindo

assim o abismo que separa essas realidades que é de bastante importância também

de ser considerado.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A construção da pesquisa foi bastante desafiadora no que tange a tantos

estudos, pensados, trabalhados, na tentativa de conceber um olhar focado na

questão da pobreza, na desigualdade social existente em nosso país e na trajetória

de afirmação da política de assistência social como política social pública de direito

do cidadão e dever do Estado na oferta de seus serviços a população que

demonstra em as inovações legais estabelecidas pela Constituição Federal de 1988,

pela LOAS – Lei Orgânica de Assistência Social, pela Política Nacional de

Assistência Social – PNAS e a Norma Operacional Básica/SUAS, mesmo que de

forma lenta por si só, são incapazes de modificar de imediato o legado das práticas

de assistência social sedimentadas na ajuda, na filantropia e do clientelismo. As

mudanças propostas são favoráveis, importantes e compreendidas, debatidas,

incorporadas e assumidas por todos os envolvidos no processo de gestão da política

de assistência social, em todos os níveis da federação, tais como: o governo

estadual, municipal e federal. Que também dependem do contexto econômico e

político e dos movimentos de pressão e negociação permanentes dos mesmos.

Esse processo é contraditório, lento e gradual e requer a coordenação dos Estados

e da União.

Mas analisando os avanços conquistados pela árdua história desta

política que adquiriu status de uma política social pública. Está em um grande

processo de institucionalização, de profissionalização e de alcance de racionalidade

técnica e política. Pois a regulação da mesma estabelece os fundamentos sobre os

quais está colocada a possibilidade de reversão da lógica do favor para a lógica do

direito, à proteção social para todos os cidadãos. Considerando a atual conjuntura

política, social e econômica em que se insere a Política de Assistência Social é

necessário compreender os limites e constrangimentos de ordem estrutural, que

comprometem a sua efetividade. Apesar de todos os esforços e avanços, ainda

permanece um abismo entre os direitos garantidos constitucionalmente e a sua

efetiva afirmação.

Segundo a autora Yasbek (2004, p. 26) “na árdua e lenta trajetória rumo

à sua efetivação como política de direitos e dever do estado, permanece na

Assistência Social brasileira uma imensa fratura entre o anúncio do direito e sua

efetiva possibilidade de reverter o caráter cumulativo dos riscos e possibilidades que

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permeiam a vida de seus usuários”. A investigação do processo de execução da

Política de Assistência Social é uma medida importante, na perspectiva de

implementação do Sistema Único de Assistência Social, capaz de analisar, avaliar e

construir conhecimentos sobre a área. Bem como o seu processo tido como uma

política pública de combate à pobreza e de efetivação de direitos. Pois o objetivo

desta política é garantir os mínimos sociais para as famílias em situação de pobreza

e de extrema pobreza, e também de transparecer a universalização dos acessos aos

programas, serviços e benefícios socioassistenciais, promovidas por esse modelo de

gestão descentralizada e participativa, que vem consolidar, definitivamente, a

responsabilidade do Estado brasileiro no enfrentamento da pobreza e da

desigualdade, com a participação complementar da sociedade civil organizada,

através de movimentos sociais e entidades de assistência social.

Observamos também que em muitos casos os programas articulados a

política de assistência tais como o Bolsa Família esta agregado a uma série de

obstáculos que muitas vezes comprometi a entrada de boa parte da população ao

programa, entre os quais podemos citar a seletividade dos programas sociais, pois

em muitos casos a família tem direito e esta no perfil do programa mais por receber

outro beneficio a família acaba não tendo acesso ao mesmo pois já recebe um outro

beneficio, o que nem sempre significa ser o suficiente para satisfazer as

necessidades desta família. Uma política que contempla a racionalidade financeira

sobrepuja a analise do social, que busca pela primazia e efetivação dos direitos

sociais, garantia dos mínimos sociais dentre outros.

Pois a assistência social, como toda política social pública, é um campo

de forças entre concepções, interesses, perspectivas e tradições. No entanto sua

consolidação enquanto política pública de responsabilidade do Estado e de direito

do cidadão, revela-se como um processo em transição, onde os valores e

parâmetros afirmados pela nova institucionalização trazida pelo (SUAS) Sistema

Único de Assistência Social precisam conviver cotidianamente com regenciais da

cultura política que muitas vezes atrelam a política de assistência ao trabalho e ao

desenvolvimento social infelizmente, típico da cultura patrimonialista, tecnocrática e

clientelista da política brasileira.

Também é importante considerarmos os avanços no que diz respeito aos

programas sociais de transferência de renda articulados a esta política, tais como: o

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Bolsa Família que atende mais de 13 milhões de famílias em todo território nacional

de acordo com o perfil e tipos de benefícios: o básico, o variável, o variável

vinculado ao adolescente (BVJ), o variável gestante (BVG) e o variável nutriz (BVN)

e o Benefício para Superação da Extrema Pobreza na Primeira Infância (BSP). Os

valores dos benefícios pagos pelo PBF variam de acordo com as características de

cada família - considerando a renda mensal da família por pessoa, o número de

crianças e adolescentes de até 17 anos, de gestantes, nutrizes e de componentes

da família. Com o objetivo de transferir renda diretamente para as famílias e assim

promove o alívio imediato da pobreza. Pois em nosso país muitas pessoas vivem

abaixo da linha da pobreza e com a pobreza extrema, por isto é de extrema

importância os programas de transferência de renda articulados a esta política e ao

seu modelo de proteção social não contributivo.

Observamos também no desenvolver da pesquisa outra questão,

importante a ser ressaltada que apesar de a política pública de assistência social ser

destituída a quem dela necessita, ainda existem muitas famílias que não estão

incluídas e que vivem em situação de extrema pobreza, marginalizadas da

sociedade, tanto econômica quanto espacialmente, estão isoladas e muitas vezes

desligados de seus direitos, em sua maioria pelos imensos espaços territoriais que

existem no bairro Grande Bom Jardim em especial nas comunidades adjacentes ao

bairro, onde ainda não se conseguiu chegar ou não se consegue chegar com maio

intensidade e frequência. E diante desta questão percebe-se o grande desafio desta

política que é a universalização dos direitos sociais a quem sabe sim a

concretização e erradicação da extrema pobreza em nosso país.

Enfim, são tecidas ainda algumas considerações a cerca da política de

assistência social que prima pela prevenção de situações de risco por meio do

desenvolvimento de potencialidades e aquisições e o fortalecimento de vínculos

familiares e comunitários. Destina-se à população que vive em situação de

fragilidade decorrente da pobreza, ausência de renda, acesso precário ou nulo aos

serviços públicos ou fragilização de vínculos afetivos tais como: discriminações

etárias, étnicas, de gênero ou por deficiências, dentre outras. É desta forma que se

dá o modelo de gestão e proteção social decentralizada desta política, bem como a

questão da matricialidade sócio familiar, ou seja, a centralização da mesma na

família; por conta desta disparidade dos modelos e tipos de família adotados hoje no

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nosso Brasil, seja pelo formato ou modelo adotado, ou pela situação social,

econômica, de identidade cultural destas famílias, dentre outros.

Por fim, é de muita importância e relevância que muito se avançou nesta

política, mas há muito que se avançar, pois encontramo-nos num patamar de

repensar nas conquistas e fazer delas degraus de uma escada para alcançarmos a

tão almejada garantia de diretos sociais através da ampliação da cidadania.

Também busca-se a extensão desta política a fim de que a política pública de

assistência social seja universalizada para todos que dela necessitam, no aspecto

da erradicação da extrema pobreza para termos assim um país mais justo e

igualitário para toda a sociedade. Bem como a importância desta política e de seus

programas sociais articulados a mesma tais como o BF para as mulheres

beneficiadas e a importância das ações não só desta política como também do

programa na construção da autonomia destas mulheres beneficiadas e usuárias do

programa, o que me incentiva a dar continuidade na relevância desta pesquisa

discutindo a compreensão destas usuárias do BF e da política de assistência sobre

a compreensão da categoria autonomia, ou seja, a forma como as mesmas

compreendem esta categoria, como elas veem e percebem as ações desta política

pública e do programa na construção desta autonomia, isto por parte de seus

usuários, bem como para o fortalecimento dos vínculos familiares; importantes e

relevantes a serem discutidos na continuidade da minha pesquisa monográfica na

pós-graduação, pois vou dar continuidade à mesma.

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www.ipece.gov.br: Instituto de Pesquisa e Estatística Econômica do Ceará – acesso 16/05/2013

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APÊNDICES

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APÊNDICE – 1

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Título da Pesquisa: “O Combate á Pobreza: Uma análise do Programa Bolsa

Família sob a Ótica das Beneficiárias, Atendidas Pelo CRAS Bom Jardim

(Fortaleza/Cé)”.

Pesquisador: Elga Morgana Soares da Silva

Orientadora: Prof.ª Ms Valney Rocha Maciel

O Sr. (Sra.) está sendo convidado(a) a participar desta pesquisa que tem como

finalidade analisar e compreender os impactos sociais do Programa Bolsa Família

na melhoria das condições de vida das famílias beneficiadas, tais como: o

aproveitamento da renda. Dentro da perspectiva do modelo de gestão

decentralizada e do modelo de proteção social não contributivo da política de

assistência social brasileira junto aos moradores do Bairro Bom Jardim, no município

de Fortaleza. Tal pesquisa é requisito para a conclusão do curso de Bacharelado

em Serviço Social pela Faculdade Cearense.

Ao participar deste estudo, o Sr. (Sra.) permitirá que o pesquisador utilize suas

informações para a realização desta pesquisa. Entretanto, os dados obtidos serão

mantidos em sigilo, somente o pesquisador e sua orientadora terão conhecimento

dos dados. O participante tem a liberdade de desistir a qualquer momento do

estudo caso julgue necessário, sem qualquer prejuízo. A qualquer momento poderá

pedir maiores esclarecimentos sobre a pesquisa através do telefone do pesquisador.

O maior benefício para o participante será a sua contribuição pessoal para o

desenvolvimento de um estudo científico de grande importância, onde o pesquisador

se compromete a divulgar os resultados obtidos. O Sr. (Sra.) não terá nenhum tipo

de despesa para participar desta pesquisa, bem como nada será pago por sua

participação. Após estes esclarecimentos, solicito o seu consentimento de forma

livre para participar desta pesquisa.

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CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Tendo em vista os esclarecimentos apresentados, eu, de forma livre e esclarecida,

manifesto meu consentimento em participar da pesquisa “O Combate á Pobreza:

Uma análise do Programa Bolsa Família sob a Ótica das Beneficiárias,

Atendidas Pelo CRAS Bom Jardim (Fortaleza/Cé)”.

_________________________________________

Nome do participante

_________________________________________

Assinatura do participante

_________________________________________

Assinatura do pesquisador

_________________________________________

Prof.ª Valney Rocha Maciel

Orientadora/ Faculdade Cearense

TELEFONES:

Pesquisador:

Orientadora:

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APÊNDICE – 2

ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA

Prezado, Prezada: afirmo que as respostas dadas serão utilizadas apenas para

fins acadêmicos, sendo constituintes da monografia em Serviço Social em

processo. Garanto que sua identidade será preservada por meio do anonimato,

conforme os princípios éticos em pesquisa.

1. DADOS PESSOAIS Nome:

Idade:

Escolaridade:

Profissão:

Bairro:

Naturalidade:

2. SOBRE A POLÍTICA DE ASSISTENCIA SOCIAL 01. Você Participa de algum grupo de convivência articulado a política de assistência

social no CRAS?

02. O que esta política representa para você?

03. O que representa cidadania para você?

04. O que representa direito para você?

05. Você conhece o modelo de gestão descentralizada?

06. O que pensa sobre o modelo de proteção social não contributivo?

3. SOBRE O PROGRAMA BOLSA FAMILIA 07. Em que momento e como iniciou a sua participação e sua inserção no Programa

Bolsa Família?

08. Hoje depois de você ter se inserido no programa qual é o total da sua renda?

09. Com que frequência você participa das ações desenvolvidas pelas Assistentes

Sociais no programa bolsa família?

10. Como você avalia o programa bolsa família?

11. O que este programa representa para você?

12. Qual a sua percepção sobre o programa?

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1. OBSERVAÇÕES: