o centro - n.º12 – 18.10.2006

24
DIRECTOR JORGE CASTILHO DESPORTO Basquetebol Futebol Futsal Rali Tiro PÁG. 14 a 17 TELEVISÃO “Os Grandes Portugueses” na crónica de Francisco Amaral PÁG. 24 ASSINE O “CENTRO” E GANHE OBRA DE ARTE | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Autorizado a circular em invólucro de plástico fechado (DE53742006MPC) Carlos Carranca José d´Encarnação Mário Martins Renato Ávila Varela Pècurto PÁG. 10, 20 e 21 OPINIÃO ANO I N.º 12 (II série) De 18 a 31 de Outubro de 2006 € 1 euro (iva incluído) Assinantes do “Centro” com 10% de desconto na compra de livros PÁG. 2 e 3 PÁGINAS 4 e 5 PÁGINA 7 PÁGINA 11 PÁGINAS 8 e 9 HÁ 70 ANOS A PRATICAR A ARTE DA TESOURA E DA NAVALHA O homem que fez a barba a Salazar - Com 82 anos continua em actividade D. João III / José Falcão: um encontro de memórias CASO ÚNICO NA EUROPA ACONTECE NA ZONA DA FIGUEIRA DA FOZ “Baleia-piloto” continua a lutar pela vida Acidente aéreo na primeira pessoa

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Versão integral da edição n.º 12 do quinzenário “O Centro”, que se publica em Coimbra. Director: Jorge Castilho. 18.10.2006. Não se esqueça de que pode ver o documento em ecrã inteiro, bastando para tal clicar na opção “full” que se encontra no canto inferior direito do ecrã onde visualiza os slides. Também pode descarregar o documento original. Deve clicar em “Download file”. É necessário que se registe primeiro no slideshare. O registo é gratuito. Para além de poderem ser úteis para o público em geral, estes documentos destinam-se a apoio dos alunos que frequentam as unidades curriculares de “Arte e Técnicas de Titular”, “Laboratório de Imprensa I” e “Laboratório de Imprensa II”, leccionadas por Dinis Manuel Alves no Instituto Superior Miguel Torga (www.ismt.pt). Para saber mais sobre a arte e as técnicas de titular na imprensa, assim como sobre a “Intertextualidade”, visite http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm (necessita de ter instalado o Java Runtime Environment), e www.youtube.com/discover747 Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.slideshare.net/dmpa, www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 , http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ , http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm , http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ , http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html

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Page 1: O Centro - n.º12 – 18.10.2006

DIRECTOR JJOORRGGEE CCAASSTTIILLHHOO

DESPORTO

ll Basquetebolll Futebolll Futsalll Ralill Tiro

PÁG. 14 a 17

TELEVISÃO

“Os GrandesPortugueses”na crónicade FranciscoAmaral

PÁG. 24

ASSINE O “CENTRO”E GANHE OBRA DE ARTE

| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |Autorizado a circular em invólucrode plástico fechado (DE53742006MPC)

nnCarlos CarrancannJosé d´EncarnaçãonnMário MartinsnnRenato ÁvilannVarela Pècurto

PÁG. 10, 20 e 21

OPINIÃO

ANO I N.º 12 (II série) De 18 a 31 de Outubro de 2006 € 1 euro (iva incluído)

Assinantesdo “Centro”com 10%de descontona comprade livros

PÁG. 2 e 3

PÁGINAS 4 e 5

PÁGINA 7

PÁGINA 11

PÁGINAS 8 e 9

HÁ 70 ANOS A PRATICAR A ARTE DA TESOURA E DA NAVALHA

O homem que feza barba a Salazar- Com 82 anos continua em actividade

D. João III / José Falcão:um encontro de memórias

CASO ÚNICO NA EUROPAACONTECE NA ZONADA FIGUEIRA DA FOZ

“Baleia-piloto”continuaa lutar pela vida

Acidente aéreona primeirapessoa

Page 2: O Centro - n.º12 – 18.10.2006

Na posse do novo Procurador Geral daRepública, a corrupção foi a situação mais emdestaque – nos discursos, bem entendido!...

Pinto Monteiro conhece bem o problema,já que integrou a Alta Autoridade contra aCorrupção, presidida por Costa Brás, queacabou por ser dissolvida (não por desnecessi-dade, possivelmente antes porque outros valo-res mais altos se levantaram…). Mas, nessemomento da sua brilhante carreira, o agorasucessor de Souto Moura deverá ter ficadocom uma noção da dimensão do problema,bem mais exacta do que o comum cidadão. Porisso sabe do que fala e fala do que sabe. É ani-

mador ouvir falar assim, com este desassombroe determinação, de um problema que vem cor-roendo toda a estrutura social portuguesa.Desde a pequeníssima corrupção que quasetodos praticam no quotidiano (por exemplo,dá-se um euro ao arrumador para que eleguarde o carro ou antes para que não o risqueou assalte?…), até à de proporções tão gigan-tescas que – sussurram algumas vozes muitocredíveis –, se viessem a ser conhecidas revela-riam valores tão avultados, denunciariam pes-soas tão altamente colocadas e atingiriam enti-dades tão respeitadas, que poderiam pôr emcausa a própria estrutura da Nação.

Todos nós, jornalistas, vamos ouvindo falarde muitas situações de alegada corrupção.Alguns de nós tentam investigar essesrumores. Mas, na maior parte dos casos, ainvestigação esbarra num emaranhado tãodenso e complexo que não permite chegar aconclusões.

E mesmo nas raras circunstâncias em queessas conclusões se conseguem obter, quasesempre faltam os meios de prova que susten-tem a denúncia pública – pelo que, avançarcom o processo acabaria por ter como conse-quência a absolvição dos corruptos e dos cor-ruptores, assim “lavados” de culpa; e, no míni-mo, o descrédito de quem ousara tentar pôrcobro à sua criminosa actuação.

Desejemos, por isso, boa sorte ao conse-lheiro Pinto Monteiro, que dela bem carece,para que não seja “triturado” pelos maisdiversos interesses que se entrechocam nasteias da Lei.

Outro tema também agora novamentetrazido à ribalta (mais adequado seria dizer àpantalha, pois quase tudo isto se faz, sobretu-do, para as televisões…) foi o da prostituição.Que, afinal, mais não é também que umaoutra forma de corrupção.

O Presidente da República andou porLisboa, a peregrinar contra a exclusão e afavor da inclusão. E nesse seu périplo visitouuma instituição que acolhe prostitutas ondedisse que não deve haver tolerância para osque exploram mulheres para prostituição. Econfessou o Chefe de Estado:

“Não conheço bem a legislação que puneestes crimes. Li uns documentos que diziamque a nossa penalização em relação a essesexploradores de mulheres é mais fraca do queacontece noutros países europeus”.

Como em muitas outras matérias, e comobem sublinhou o novo Procurador Geral nodiscurso proferido na tomada de posse, oproblema não é, em boa parte das situações, afalta de legislação, mas antes a incapacidade oufalta de vontade para que as coisas vão até aos

Tribunais - e para que aí as leis existentessejam devidamente aplicadas.

A concluir, e voltando a falar em televisão(aconselho a leitura da oportuna e muitolúcida crónica de Francisco Amaral na últi-ma página), não posso deixar de referir umadas mais caricatas “reportagens” que vi nosúltimos tempos. Foi há dias, na RTP 1, apropósito da idade da reforma. A jornalistaentendeu mostrar, como “espantoso” exem-plo, o caso de um médico que decidiu con-tinuar a atender clientes no seu consultório,apesar de ter completado agora 65 anos deidade. E para justificar esse “feito heróico”,não achou melhor do que invocar a árvoregenealógica do clínico em causa, dizendoque essa sua “indómita vontade de traba-lhar” (as palavras são minhas), deveria justi-ficar-se com o facto de ter o médico comoantepassado um fidalgo que combateu aolado de D. Afonso Henriques!...

Não sei se mais ridícula foi a afirmação dajornalista, se a posição do médico que aceitouaparecer a mostrar o quadro com a referida“árvore genealógica”, se a atitude de quempermitiu que tamanho disparate ocupassetempo na televisão pública.

O que sei é que nesta mesma edição do“Centro” falo de um barbeiro que tem 82anos e continua a trabalhar, seguramentecansando-se muitíssimo mais e ganhandomuitíssimo menos do que aquilo que omédico com 65 anos aufere nas suas con-sultas privadas.

E poderia falar de tantos outros casos deverdadeiro heroísmo, de mulheres e homensque já passaram mais de oitenta Invernos econtinuam a trabalhar duramente para tentar,apenas, sobreviver…

Seria deveras interessante que a jornalistainvestigasse a genealogia dessa legião deseniores obrigatoriamente atarefados!

Pelo menos andaria entretida até completaros 65 anos... E poderia então usufruir do des-canso assim bem merecido…

22 DE 18 A 31 DE OUTUBRO DE 2006

Director: Jorge Castilho(Carteira Profissional n.º 99)

Propriedade: AudimprensaNif: 501 863 109

Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho

Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930

Composição e montagem: Audimprensa -Rua da Sofia, 95, 3.º3000-390 Coimbra - Telefone: 239 854 150Fax: 239 854 154e-mail: [email protected]

Impressão: CIC - CORAZEOliveira de Azeméis

Tiragem: 10.000 exemplares

No sentido de proporcionar maisalguns benefícios aos assinantes deste jor-nal, o “Centro” acaba de estabelecer umacordo com a livraria on line “livros-net.com” (ver rodapé na última páginadesta edição).

Para além do desconto de 10%, o assi-nante do “Centro” pode ainda fazer aencomenda dos livros de forma muitocómoda, sem sair de casa, e nada terá apagar de custos de envio dos livros enco-mendados.

Numa altura em que se aproxima oinício de um novo ano lectivo, e em queas famílias gastam, em média, 200 euros

em material escolar por cada filho, estedesconto que proporcionamos aos assi-nantes do “Centro” assume especialsignificado (isto é, só com o que poupapor um filho fica pago o valor anual daassinatura).

Mas este desconto não se cinge aosmanuais escolares. Antes abrange todos oslivros e produtos congéneres que estão àdisposição na livraria on line “livrosnet”.

Aproveite esta oportunidade, se já é as-sinante do “Centro”.

Caso ainda não seja, preencha o boletimque publicamos na página seguinte eenvie-o para a morada que se indica.

Se não quiser ter esse trabalho, bastaráligar para o 239 854 150 para fazer a suaassinatura, ou solicitá-la através do [email protected].

São apenas 20 euros por uma assinatu-ra anual – uma importância que certamen-te recuperará logo na primeira encomendade livros.

E, para além disso, como ao lado seindica, receberá ainda, de forma automáti-ca e completamente gratuita, uma valiosaobra de arte de Zé Penicheiro – trabalhooriginal simbolizando os seis distritos daRegião Centro, especialmente concebidopara este jornal pelo consagrado artista.

Assinantes do “Centro” com 10% de descontona compra de livros

EE DD II TT OO RR II AA LL

Jorge [email protected]

Corrupção, prostituiçãotelevisão

O “Centro” tem já em fase adiantadaa construção da sua edição on line, quedentro em breve será disponibilizada aopúblico.

Trata-se de um passo coerente com aimportância que temos vindo a dedicarà Internet, nomeadamente através dasecção “Ideias Digitais”, que continua amerecer críticas muito positivas, já quenela Inês Amaral nos indica alguns dossítios mais originais e com maior interes-se, em áreas muito variadas deste fasci-nante mundo virtual que é a Internet.

Mas enquanto o nosso “site” não estádisponível, queremos estreitar os laçoscom os nossos leitores através de outromeio de comunicação virtual que está acrescer e a vulgarizar-se de forma es-pantosa: os blogues.

Assim, criámos um blogue, cujo en-dereço é

http://jornalcentro.blogspot.com

Este blogue está disponível para osleitores nos remeterem as suas críticas,mas também as suas sugestões.

OS LEITORESA PARTICIPAREM

E, indo ainda mais longe, gostaría-mos que os leitores tivessem uma efec-tiva participação nos conteúdos decada edição do “Centro”, enviando-nostextos e imagens que entendam tereminteresse para publicação (e que edita-remos se, efectivamente, preencheremos indispensáveis requisitos para esseefeito).

Os textos deverão ser curtos e focarquestões de interesse geral, ou entãocasos insólitos ou relevantes.

Quanto às imagens, podem sermesmo as captadas por telemóvel (em-bora, naturalmente, seja preferível obtê--las com máquinas digitais ou enviá-lasem papel, para melhorar a qualidade dareprodução), e deverão identificar o res-pectivo autor, a data e o local ondeforam recolhidas e o que documentam.

O desafio aqui fica, esperando querapidamente comece a merecer respos-ta de muitos leitores.

Blogue ao Centro

Page 3: O Centro - n.º12 – 18.10.2006

CCOOIIMMBBRRAA 33DE 18 A 31 DE OUTUBRO DE 2006

Nesta campanha de lançamento do jor-nal “Centro” temos uma aliciante propos-ta para os nossos leitores.

De facto, basta subscreverem uma assi-natura anual, por apenas 20 euros, paraautomaticamente ganharem uma valiosaobra de arte.

Trata-se de um belíssimo trabalho daautoria de Zé Penicheiro, expressamenteconcebido para o jornal “Centro”, com ocunho bem característico deste artistaplástico – um dos mais prestigiados pinto-res portugueses, com reconhecimentomesmo a nível internacional, estandorepresentado em colecções espalhadas porvários pontos do Mundo.

Neste trabalho, Zé Penicheiro, com oseu traço peculiar e a inconfundível utiliza-ção de uma invulgar paleta de cores, criouuma obra que alia grande qualidade artísti-ca a um profundo simbolismo.

De facto, o artista, para representar aRegião Centro, concebeu uma flor, com-posta pelos seis distritos que integram estazona do País: Aveiro, Castelo Branco,Coimbra, Guarda, Leiria e Viseu.

Cada um destes distritos é representadopor um elemento (remetendo para respec-tivo património histórico, arquitectónicoou natural).

A flor, assim composta desta forma tãooriginal, está a desabrochar, simbolizandoo crescente desenvolvimento desta RegiãoCentro de Portugal, tão rica de potenciali-dades, de História, de Cultura, de patrimó-

nio arquitectónico, de deslumbrantes pai-sagens (desde as praias magníficas até àsserras verdejantes) e, ainda, de gente hos-pitaleira e trabalhadora.

Não perca, pois, a oportunidade de re-ceber já, GRATUITAMENTE, esta mag-nífica obra de arte, que está reproduzida naprimeira página, mas que tem dimensõesbem maiores do que aquelas que ali apre-senta (mais exactamente 50 cm x 34 cm).

Para além desta oferta, passará a rece-ber directamente em sua casa (ou no localque nos indicar), o jornal “Centro”, que o

manterá sempre bem informado sobre oque de mais importante vai acontecendonesta Região, no País e no Mundo.

Tudo isto, voltamos a sublinhá-lo, porAPENAS 20 EUROS!

Não perca esta campanha promocional,e ASSINE JÁ o “Centro”.

Para tanto, basta cortar e preencher ocupão que abaixo publicamos, e enviá-lo,acompanhado do valor de 20 euros (depreferência em cheque passado em nomede AUDIMPRENSA), para a seguintemorada:

Jornal “CENTRO”Rua da Sofia. 95 - 3.º3000–390 COIMBRA

Poderá também dirigir-nos o seu pedi-do de assinatura através de:

n telefone 239 854 156n fax 239 854 154n ou para o seguinte endereçode e-mail:[email protected]

Para além da obra de arte que desde já lheoferecemos, estamos a preparar muitas out-ras regalias para os nossos assinantes, peloque os 20 euros da assinatura serão umexcelente investimento.

O seu apoio é imprescindível para queo “Centro” cresça e se desenvolva, dandovoz a esta Região.

CONTAMOS CONSIGO!

APENAS 20 EUROS POR UMA ASSINATURA ANUAL!

Assine o jornal “Centro”e ganhe valiosa obra de arte

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NA LIVRARIA “ALMEDINA ESTÁDIO”

Arquitectura e centralidades em debate“Coimbra, arquitectura, centralidades e

vivências” é o tema do ciclo de quatro debatesque se iniciou na noite de ontem (terça-feira, 17de Outubr)o, na livraria Almedina Estádio.

À hora a que encerramos esta edição o deba-te não se tinha ainda iniciado, mas elemento daorganização deu-nos conta do que estava pre-visto, nos seguintes termos:

“A cidade e as maneiras como a pensamosou como ela se projecta e afirma perante os quea vivem, os que a utilizam ou apenas a olham,são alguns dos tópicos que, sem perder de vistaa realidade de Coimbra, vão estar em foco, emmais um programa organizado pelas IdeiasConcertadas para a Almedina.

José Reis, professor da Faculdade deEconomia da Universidade de Coimbra, e oarquitecto Alexandre Alves Costa são os partici-pantes da primeira sessão (dia 17), em que se vaidebater o tema, ‘Coimbra e a centralidade, ascentralidades de Coimbra’.

Aquilo que os dois especialistas em áreasmuito diversas vão propor ao público é uma

visão e uma análise muito vivas acerca da plura-lidade de olhares que se pode ter perante umarealidade concreta. Isto é, vão discorrer sobre opapel centralizador de Coimbra, sem deixar,com isso, de interpelar velhos “clichés” que pro-vavelmente não fazem sentido hoje, fruto dasprofundas alterações que o próprio Pais prota-gonizou”.

E a organização acrescentou:“Por outras palavras, tanto José Reis como

Alexandre Alves Costa vão desafiar os presen-tes a ver Coimbra a partir do exterior e nãoapenas, como sucede quase sempre, olhar acidade exclusivamente com as lentes interpre-tativas dos que vivem no seu interior. Nofundo, aquilo que estará em causa é um deba-te sobre a centralidade do(s) poder(es) e opoder de influência de Coimbra na vasta regi-ão em que se insere. Dito de outra maneira,quais os poderes de afirmação e atracção queCoimbra tem, no contexto de uma Europa dasRegiões e numa sociedade crescentemente glo-bal e cada vez mais competitiva? Simplificando a

pergunta: Que posição central ocupa Coimbra?É à volta de “provocações” destas que os

dois intervenientes vão debater um dos temasmais sensíveis e estratégicos para o futuro dacidade. Isto, claro, sem perder de vista a relaçãoe inserção de Coimbra no todo nacional, numaaltura em que se viu preterida por Guimarãesno processo de candidatura à Capital Europeiada Cultura”.

O ciclo prossegue amanhã (quinta-feira, dia19) com a apresentação do “Inquérito à arqui-tectura do século XX em Portugal: o Centro”,com José António Banderirinha.

A 26 de Outubro o tema é, “Obras deCoimbra na 10ª Mostra Internazionale diArchitettura da Bienal de Veneza”, com a parti-cipação dos arquitectos Camilo Cortesão, JoãoMendes Ribeiro, António Bandeirinha, e doengenheiro João Rebelo.

A 31 de Outubro o ciclo encerra com o tema“Projectos”, da autoria do arquitecto ManuelAires Mateus, autor dos espaços das novas livra-rias Almedina.

Encontrodo LivroUnivesitário

No âmbito do Encontro do LivroUniversitário de Coimbra, a decorrerna Coimbra Editora (ao Arco da Al-medina), desde o passado dia 11,estão a ser apresentadas obras damais diversa índole, desde Labirintosdo Mito, de José Ribeiro Ferreira , aAs Mulheres do Mundo Contem-porâneo, de Irene Vaquinhas (hoje,dia 18, pelas 18 horas), a Lições deHistória da Idade Média, de JoãoGouveia Monteiro.

Amanhã (quinta-feira, dia 19)pelas 17 horas, os professores Amíl-car Guerra (da Faculdade de Letrasda Universidade de Lisboa) e MárioBarroca (da Faculdade de Letras daUniversidade do Porto) intervirãonuma mesa-redonda que terá comotema o interesse dos monumentosepigráficos como fonte histórica, apropósito do livro “Epigrafia - AsPedras que Falam”, da autoria deJosé d’Encarnação (professor daFaculdade de Letras da Universidadede Coimbra), editado este ano pelaImprensa da Universidade de Coim-bra.

Exposição de pinturade António Menano

“Olhares e Sonhares” é o título de uma exposição de pintura de AntónioMenano que foi inaugurada em Coimbra, no passado sábado, na GaleriaMinerva. A mostra estará patente até ao dia 6 de Novembro, na Rua deMacau, 52, em Coimbra, de segunda a sábado das 10 às 13 e das 14 às 20.

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44 EENNTTRREEVVIISSTTAA DE 18 A 31 DE OUTUBRO DE 2006

HÁ 70 ANOS A PRATICAR A ARTE DA TESOURA E DA NAVALHA

O homem que fez a barba a Salazar– Com 82 anos continua em actividadeAo longo de quase meio século

em que Salazar mandouem Portugal, muitos houvecom desejo de “lhe fazera barba”, no significadometafórico da expressão…Mas, curiosamente, tambémaconteceu que um rapazolade verdes 18 anos, ido de Coimbrapara Santa Comba Dão,fez mesmo a barba ao ditador,em sentido próprio.José Pedro, de seu nome,hoje com 82 anos, continuaa exercer o ofício que começoua praticar há sete décadas.Uma vida repleta de históriase uma história repleta de vidas,em conversa informalcom o “Centro”, que a seguirse partilha com o Leitor.

Jorge Castilho

José Marques Pedro nasceu em Coimbra,na freguesia de Santa Cruz, a 18 de Abril de1924. Os tempos eram outros, bem diferen-tes dos de hoje. Para a maior parte da miu-dagem o infantário era a rua aberta e ainfância um percurso que se fechava prema-turamente. Salvo para escassos privilegia-dos, o trabalho substituía a brincadeira compressa em demasia.

Assim foi com o José Pedro. Tinha apenas12 anos quando o Avô entendeu que chegaraa altura do gaiato ir fazer pela vida. Já tinhaum neto barbeiro e com outro no ofíciopoderia vir a arriscar-se um estabelecimentofamiliar. Mas primeiro era preciso que o rapazaprendesse a manejar a tesoura e a navalha.

E foi por mor desta anciã decisão que ofranganote de franzina dúzia se viu forçadoa entrar na Barbearia Ribeiro, na Rua daSofia, para que lhe ensinassem a arte.

O miúdo pareceu jeitoso, pois poucosdias depois já era posto à prova. Não se

pode dizer que tenha sido cliente de luxo(mas a desforra haveria de chegar logo 6anos depois, como adiante se lerá). O elei-to (melhor seria dizer a vítima…) para aestreia do aprendiz foi o “Júlio Maluco” -um daqueles pobres dementes que emtodas as épocas se encontram a vaguear portodas as ruas de todas as cidades.

José Pedro não revela se o cliente ficousatisfeito, mas presume-se que o penteadoque executou não destoaria do perfil dessaprimeira cabeça em que lançou tesoura…

APRENDER O CORTEE AS BOAS MANEIRAS

Depois de dois anos na Rua da Sofia,sabiamente o barbeirote decidiu evoluir efoi para estabelecimento na Rua das Pa-deiras. Mas esta revelou-se demasiadoestreita para as suas ambições, já que logodecidiu subir até zona mais desafogada: oCalhabé, para barbearia mesmo ao lado dalinha férrea. Essa passagem de nível foidecisiva para o futuro profissional de JoséPedro. Ali carrilou graças à pedagogia (de

instinto e experiência feita) do proprietário-executivo da barbearia. José Pedro recorda:

“O senhor António Ribas foi o meu gran-de mestre. Com ele aprendi não só a cortarcabelos e fazer barbas, mas sobretudo a terboas maneiras, a atender bem os clientes”.

Este manual prático que lhe arribava doexemplo patronal foi rapidamente interiori-zado, pois José Pedro já nessa altura deve-ria ser de natural gentileza (coisa que nelese adivinha inata e se manteve pela vidafora, sem precisão de grandes aprimora-mentos).

Sentindo-se já apto para mais alto voar,voltou à Baixa, à Barbearia Ruas, na Rua daSofia. Mas por pouco tempo.

DITADOR CLIENTEDE BARBEIRO-CARCEREIRO

A meio de uma bela manhã, tinha ele já18 experientes anos (meia dúzia de tesou-ras, pentes e navalhas), um cliente desafiou-o a ir até Santa Comba Dão – o que não eracoisa pouca para a época (estava-se em1942, o Estado era Novo, a barbearia da

Sofia velha e o Presidente do Conselho erado concelho – mais exactamente do Vi-mieiro, como José Pedro depressa saberia).

E lá foi o rapaz, com parca bagagem esem outras armas que não o grande desejode vida melhor, mesmo no fio da navalhaum pouco romba.

Para sua surpresa, o patrão barbeiro eratambém carcereiro da prisão local. Eenquanto o patrão guardava os presos nacadeia, José Pedro ia guardando os clientesque prendia com o seu fino trato e suavestesouradas.

De tal modo conquistou a confiança daclientela, que lhe chegou do alto, inespera-da e surpreendente, a desforra do “JúlioMaluco”. Só teve pena que o não vissemagora, tocando a mais imponente e quaseomnipotente cabeça do País. Ali, às suasmãos, sentado, estava Salazar. Esse mesmo,António de Oliveira Salazar, com as botasque lhe valeram alcunha a espreitar para ládo pano alvo com que, quase a medo,envolveu os ombros ditatoriais. É certo quenão teve direito a aparar-lhe o cabelo acer-tadinho…

No meio da equipa da Barbearia Santa Cruz Há alguns anos, na sua barbearia

Page 5: O Centro - n.º12 – 18.10.2006

DE 18 A 31 DE OUTUBRO DE 2006 EENNTTRREEVVIISSTTAA 55

a barba a Salazar– Com 82 anos continua em actividade

Mas, em contrapartida, fez-lhe a barba!Já nessa altura, quantos não aspirariam a

estar naquela dominante posição para dei-xar que a navalha fugisse, impetuosa, paramaus caminhos…

Não era o caso de José Pedro, que fezrápida sabatina das lições de mestre Ribaspara bem escanhoar o catedrático.

Passou no exame, com distinção!“O Doutor Salazar foi muito simpático

comigo. Era um homem simples, conversa-dor. E deve ter ficado satisfeito com o meutrabalho, pois voltou lá depois com o Dr.Pais de Sousa, que então era Ministro doInterior e tinha casa lá em Santa Comba.Também lhe fiz a barba várias vezes!” – diz,com compreensível orgulho, José Pedro.

NO DIA DA ESPIGAARRANJOU RAPARIGA

A verdade é que José Pedro depressa seconvenceu que não era com a episódicahonraria salazarista que ganhava o futuro.Santa Comba Dão fora apenas mais umpasso, mas era pouca terra para descarrilar.E tinha saudades de Coimbra.

Por isso voltou à cidade universitária, já“doutorado” em ciências capilares e técni-cas barbeirísticas.

Regressado às margens do Mondego,empregou-se na Rua Corpo de Deus, na bar-bearia do Zé d’Almeida, ensaiador da divinalarte de Talma na FNAT – Fundação Nacionalpara a Alegria no Trabalho, hoje INATEL (naépoca nem os tempos eram livres…).

Tinha o destino traçado:“Numa Quinta-Feira da Ascensão fui até

Coselhas, à apanha da espiga. E o que láapanhei foi esta rapariga” – diz, com osolhos a apontarem ternura para a Rosa quelhe perfuma a existência há 57 anos quelevam de casados.

E a sr.ª D. Rosa Cardoso de Almeida, sor-ridente, chega-se à conversa. Lembra que tra-balhava então na fábrica de camisas do sr.Alvoeiro, e pagavam-lhe à peça. Quanto maiscosia, mais ganhava. Naquela quinta-feiraganhou um namorado, quando só esperavatrazer espigas e papoilas. Casaram, D. Rosacomprou uma máquina de costura e conti-nuou, em casa, a alinhavar camisas para o sr.Alvoeiro (e assim ganhava mais do que os 5tostões por semana que lhe pagavam antes,como ajudante de costura). Desta Rosa semespinhos desfolhou o sr. José Pedro dois fil-hos, pétalas que até hoje lhe amaciam a exis-tência, como confessam ambos ao mostrar,embevecidos, as fotografias onde se vêemtambém quatro netos já adultos, mas quecontinuam a receber semanada que o Avôfaz questão de lhes enviar, mesmo insistindoeles que dela não precisem.

DE SANTA CRUZPARA O TERREIRO DA ERVA

Como em Corpo de Deus não haviamilagres, José Pedro veio em romagem até

à Barbearia Santa Cruz, mesmo ao lado daIgreja homónima.

“Um belo estabelecimento, com sete cadei-ras e muita freguesia” – lembra José Pedro.

E se é certo que os Reis repousavammesmo ali ao lado, por mais que ele se can-sasse a trabalhar não conseguia encher osbolsos: dois cortes de cabelo davam cincomil reis (25 tostões por cabeça), a barbacustava 5 tostões. Coisa pouca, mesmo paraa época.

Por isso se abalançou a mais uma aven-tura: concretizar o sonho do Avô e abrir asua própria barbearia.

Achou que o Terreiro da Erva, apesar deser local de não muito beleza, era sítio ondeos potenciais clientes estacionavam os car-ros. Encontrou uma casa que lhe pareceuadequada, desafiou um colega, o sr. Alcides(com quem mantém sociedade até hoje). Sófaltava arranjar dinheiro para compor acasa e comprar bom equipamento.

“Fui ao Banco Lisboa & Açores pedirum empréstimo, mas o gerente recusou,dizendo que o banco não estava interessa-do em ficar com uma barbearia – isto é,insinuando que eu não ia conseguir pagar.Vim-me embora revoltado, e desabafei ocaso enquanto fazia a barba a um cliente, osr. Girão, que tinha uns talhos no Mercado.E ele logo me disse para ir a outro banco,que ficaria como fiador. Assim fiz, conse-gui o empréstimo no Banco NacionalUltramarino e quando já tinha pago todasas ‘letras’ voltei ao Lisboa & Açores só paraas mostrar ao tal gerente que me recusara odinheiro!”.

QUANDO O “CORTE FRANCÊS”ERA A GRANDE MODA

A barbearia abriu no dia 28 de Maio de1965, 29 anos depois do sr. José Pedro tercortado o cabelo ao “Júlio Maluco”. Deentão para cá, pelo Terreiro da Erva têmpassado clientes ilustres (que seria cansati-vo enumerar, mas cujos nomes ele vai des-fiando) e outros que, mesmo não o sendo,têm tratamento semelhante: simpático,delicado, acolhedor e com a preocupaçãode satisfazer o gosto de cada um deles.

Ao longo dos 70 anos que leva de activi-dade profissional, depois das lições do sr.Ribas só voltou a ter aulas do ofício quan-do surgiu a moda do “corte francês”, lápela década de 70. Aí foi a uma acção deformação em Lisboa, aprendeu-lhe o jeito epôs placa a condizer no vidro do estabele-cimento:

“Foi um êxito! Não tínhamos mãos amedir!”.

Hoje a barbearia não tem tanto movi-mento. Já não dispõe de engraxador nemde manicure.

Mas está ainda viva, na casa dos 90 anos,e num Lar da Rua da Sofia, a espanholaMaruca, que tratou das mãos a tantos clien-tes, enquanto ouvinte atenta e paciente dedesabafos vários, confidente involuntáriaque sempre tinha uma palavra de estímulocom o característico sotaque da sua terra.

NEM A DOENÇA O IMPEDEDE ATENDER OS CLIENTES

Quanto ao sr. José Pedro, leva já 82 anosde vencida. Podia – e merecia! – reformar-se.Mas não quer, por causa dos clientes fiéis,que mais do que isso se tornaram amigos.

Ainda há escassos dias foi submetido auma intervenção cirúrgica (uma hérnia queo incomodava há vários anos), e já está devolta a atender os que se habituaram à suavoz calma e macia como a tesoura com queafaga os cabelos, quase a pedir-lhes perdãopor ter de os cortar.

Não sei quantos o terão ido ver aoHospital. Mas sei que ele, ao longo dostempos, sempre tem ido visitar os seus cli-entes internados, para lhes fazer a barba oucortar o cabelo.

E quando estes lhe perguntam quantodevem, ele responde, invariavelmente:

“Nada! Vim cá ver o amigo, não o cliente!”.Estes gestos de generosidade e nobreza

são hoje coisa rara.(Curiosamente, mesmo ali ao lado da bar-

bearia há outro que se lhe assemelha em ter-mos de amizade fraterna, que também é José,e que toda a cidade conhece por Zé Reis. OTerreiro, como se pode ver, tem carros emvez de erva, mas também gente invulgar).

Por tudo quanto atrás tentei dizer, maisdo que cliente do sr. José Pedro desde aminha meninice, congratulo-me por ser umdos seus muitos amigos.

Mas não foi essa circunstância que moti-vou este texto e estas imagens.

Mesmo que o não conhecesse tão deperto, acharia que a sua vida é um exemplode profissionalismo, de dedicação ao ofícioque pratica há 70 anos e, sobretudo, desaber estar e fazer, sem artifícios.

Por isso esta singela homenagem, quecertamente será partilhada pelos Leitores.

Oxalá mais alguém se lembre, comoseria de justiça, que o senhor José Pedro é,não só talvez o mais veterano barbeiro doPaís, mas também um homem de queCoimbra deve orgulhar-se.

Corte francês foi um êxito

Três imagens de outras tantas épocas

Page 6: O Centro - n.º12 – 18.10.2006

REGIONALISMOS“O Governo, através do primeiro-ministro,

José Sócrates, e do ministro da Ciência e do En-sino Superior, vem ligar a assinatura do protoco-lo com o MIT (assachusetts Institute Of Te-chnology) ao lançamento da primeira pedra paraa grande reforma da Universidade portuguesa. Aexpressão é minha, mas o sentido simbólico detodo o cerimonial de ontem no Centro Culturalde Belém e dos discursos no acto é esse. So-bretudo foi clara essa mensagem na intervençãode Mariano Gago no Fórum da TSF.

Trata-se, efectivamente, de um momentoimportante e de um acordo de enorme signifi-cado para a internacionalização da investigaçãoproduzida em Portugal. Mas se a reforma daUniversidade portuguesa começa aqui, ou éposta em causa aqui, é o que se vai ver.

Está fora de dúvida ou de qualquer suspeitaa categoria mundial e global do MIT. Importa,porém, ter em conta que o MIT não é uma uni-versidade, nem é um instituto público, é um ins-tituto privado. Porém, está classificado entre osdez melhores do mundo. Tudo o que se passou,no terreno político, e no campo universitário,para se chegar à assinatura do acordo, pôs a nu,os sintomas de autofagia com que se debate aUniversidade portuguesa. A turbulência existen-te entre as diversas e muitas universidades douniverso lusitano foi grande.

Cada universidade portuguesa está montadasobre o seu próprio umbigo. Para cada um dosseus agentes a melhor instituição é sempre a sua.As outras são sempre menores na particular hie-rarquia gradual dos rankings. Fora da universi-dade, na lógica conceptual da universidade por-tuguesa, não existe academia. Fora da universi-dade não há instituto que se preze, investigaçãoque preste. Mesmo no caso daqueles que lhestrazem nome, prestígio. Os politécnicos são ospolichinelos do sistema. Foi esta matriz centrí-peda da universidade que fez crescer comocogumelos tantas outras unidades fora do siste-ma. Hoje, é difícil a racionalização de um parquetão prolífero e desajustado que se está a esvair asi próprio. Ninguém quer juntar-se a ninguém,porque estamos num campo em que há os datribo e os gentios. Não admira, por isso, quetenha sido tão difícil chegar a um entendimentoentre tantas instituições. Subsistia a ideia "ou sónós, ou nenhum". Ironicamente conseguir umacordo destes é quase um contra naturam . Façovotos para que a "primeira pedra" não seja maisum calhau a decompor a articulação na gestãode projecto(s) comum (uns) por onde tem depassar a revolução da Universidade”.

uPPaaqquueettee ddee OOlliivveeiirraaJN 12/10/06

CONHECIMENTO E VALOREm Lisboa, em 2000, a Europa decidiu

apostar no conhecimento e na inovação, para setornar mais competitiva, face aos desafios daglobalização. Segundo o Eurostat, em 2004 aEuropa investiu em Investigação e Desenvolvi-mento 1,9% do PIB, muito longe dos 3% colo-cados como objectivo para 2010. Os EstadosUnidos investiram nesse ano 2,6% e o Japão3,2%! A própria China já está a investir 1,3%.

E, ainda em 2004, Portugal investiu apenas0,8%, sendo que a percentagem do sector em-presarial nesse investimento foi de 31,7%, con-tra 53,7% na Europa dos 25, 63,7% nos Esta-

dos Unidos, 65,7% na China (!) e 74,8% noJapão. Portugal tem investido muitos dos seusrecursos na I&D que se realiza nas Univer-sidades e em algumas outras instituições doEstado, ao contrário da generalidade dos paísesdesenvolvidos, em que os Governos apoiammais as empresas para investigarem e inovarem.

Muito tem de ser feito para que Portugal setorne mais competitivo através da inovação,desde a valorização dos métodos de aprendiza-gem da criatividade em todos os níveis de ensi-no, até ao desenvolvimento de uma cultura deresponsabilização das nossas crianças e dos nos-sos jovens, que lhes permita valorizar perma-nentemente a sua capacidade de construção deum futuro melhor para si e para os outros.

u LLuuííss PPoorrtteellaaJN 11/10/06

“PELAS BARBASDO PROFETA!”

Que Bento XVI ande a tentar deitar água nafervura do extremismo islâmico ainda aceitoque seja um acto diplomático, pois o Papa échefe de um Estado, por minúsculo que seja.

Que a Ópera de Berlim retire Mozart do car-taz... – só se considerar que se tratou de uma me-dida preventiva tão idiota como as da segurançados aeroportos, onde nos apreendem corta-unhas, pastas de Colgate e garrafinhas de água.

Mas o que sucedeu em Valência (Espanha) jápassa das marcas. Duas aldeias cortaram doprograma dos festejos a destruição de giganto-nes representando Maomé, pois, alegaram, "talcomo agora estão os ânimos, convém andarcom pés de lã". Nunca ninguém ouviu falar detais aldeias, o que não impede os seus habitan-tes de recear ser incluídos no mapa da vingançafundamentalista. Verifico que, tal como a gripedas aves nasceu no Extremo Oriente mas se vaiaproximando cada vez mais da Europa, lançan-do-a no pânico, também a paranóia da retalia-ção muçulmana se vai aproximando cada vezmais do extremo ocidental europeu. Portugaltalvez não faça mal em seguir o exemplo espa-nhol. Pelo sim, pelo não, tomemos algumas pre-cauções. Dantes, no liceu, líamos "Os Lusíadas"expurgados do canto IX, pois aquelas indecên-cias na Ilha dos Amores não podiam chegar aosolhos pudicos dos meninos e das meninas daMocidade Portuguesa. Agora, censuremos, porexemplo, o canto I, onde Camões não hesitouem escrever este horror "a malina gente quesegue o torpe Mahamede". Também será con-veniente retirar do dicionário e proibir o uso determos agressivos como "mata-mouros", "tra-balhar como um mouro" e -- sobretudo este! -"anda mouro na costa". E banir expressõesvagamente literárias, como "perro de Mafoma!"ou "Pelas barbas do Profeta!".

u SSéérrggiioo ddee AAnnddrraaddeeJN 10/10/06

SOBRE A MÁ FAMADOS PROFESSORES

Há duas realidades essenciais ligadas aos pro-blemas do ensino em Portugal em primeiro lugar,a ministra da educação tem razão na absoluta mai-oria das medidas adoptada (contesto fortementeo papel despropositado concedido aos pais eencarregados de educação na avaliação dos pro-fessores, que terá consequências muito perigosasna estabilidade das escolas); em segundo lugar, sehá culpas a atribuir pelo estado calamitoso de quese revestem alguns aspectos do ensino emPortugal, elas cabem – por maioria – aos técnicosdo próprio ministério e à burocracia "pedagógicae ideológica" que se instala periodicamente naAvenida 5 de Outubro (sindicatos incluídos).

Neste complexo, os professores - os queestão instalados no terreno - são o elo maisfraco de uma cadeia de comando em que, fre-quentemente, têm sido cobaias de vários génios,certamente talentosos, que, à distância, "imagi-nam" o ensino em Portugal. Quando falo no"terreno", quero dizer "as escolas", quero dizeros problemas de indisciplina com que têm delidar permanentemente, os contactos com ospais, a realidade fatal das agressões nos corredo-res e nos gabinetes (por alunos e pais das crian-

cinhas), a catadupa de legislação escolar em quetêm de se especializar, as alterações muitas vezesabsurdas das orientações científicas caídas doparnaso ministerial. Muitas vezes, aliás, porculpa do Ministério (que vive a desconfiar dosprofessores) eles não têm meios para reagir nemà indisciplina, nem ao insucesso escolar, nem àssalas frias de escolas públicas onde falta gás paraaquecimento, nem aos manuais escolares dequalidade confrangedora que o ministério auto-riza a circular, nem aos - repito - génios certa-mente carregados de talento que, depois derequisitados às escolas, se ocupam de reformarperiodicamente os programas e a gramática dassuas directivas. Se alguém se ocupar, durantealguns dias, a analisar grande parte dos docu-mentos de natureza pedagógica e ideológica queemanam do ministério da educação acerca decoisas tão díspares como matemática, portu-guês ou disciplina na sala de aula, fica com aimpressão de que um grupo de esquizofrénicosse entretém a punir professores e alunos comuma gramática desconhecida e absurda. Este éapenas um exemplo, mas haveria muitos. Leiamos materiais de apoio e rejubilem.

u FFrraanncciissccoo JJoosséé VViieeggaassJN 09/10/06

NAS CALMASNum tranquilo regresso à República, depois

de todos estes acontecimentos monárquicos emque a vizinha espanhola é useira e nós apenasviseira. Quem quer ser ibérico, como presunto?Em vida, claro, que para infelicidade já basta ados hermanos que naufragaram aqui mesmoem frente, despedaçados contra os rochedos deUlisses que ao longo dos anos já ceifaram umasmuitas vidas; ao lado, o porto de Leixões.

Diz que é um dos mais caros da Europa epor isso os barcos fundeiam ao largo para pou-par no estacionamento; por isso também, aponte móvel que nos separa da lota deMatosinhos abre e fecha aleatoriamente, quan-do menos se espera e menos convém é umaponte divertida, atravessada por peões, bicicletase mesmo carroças.

u RRuuii RReeiinniinnhhooJN 07/10/06

RÉ PÚBLICASe tivesse que usar um rótulo ideológico na

cabeça, escrevia "Libertário já idoso, nacionalis-ta-revolucionário, católico...e republicano".

Sou republicano, muito mais por convicçãodo que por tradição. Na minha família, nuncahouve um casus belli a esse respeito. A repúblicaficou assim na minha cabeça, não por um princí-pio de infalibilidade paterna, ou de imposição tri-bal, mas pela certeza (tanto quanto há certeza empolítica) de que é, apesar de tudo, o melhor regi-me. O melhor regime, em modo comparativo, eo melhor regime, por virtudes próprias. Se aCidade-Estado é coisa de uma comunidade, deveser esta a pronunciar-se sobre os seus rumos, norespeito por legados, e no cuidado de não danifi-car sonhos futuros. As repúblicas menos doentesfazem isso melhor do que as monarquias maissaudáveis. Por outro lado, há, no mérito de cadamodelo, uma diferença importante de orientação,e preocupação. Na sua forma depurada, aRepública é o domínio da "coisa pública", dosinteresses comuns,da utilidade geral, sobre as pai-xões privadas, os egoísmos dos clãs e a visãoumbilical das linhagens de sangue. A Monarquia,também em abstracto, coloca o acento tónico noprincípio do poder conduzido, desconfiando dealgo mais do que a solidão do trono, no momen-to da decisão última.

u NNuunnoo RRooggeeiirrooJN 06/10/06

BRASILCheio de pobres, o Brasil é um dos países

mais ricos do Mundo. E dizem os estudos deprospectiva que tem condições para vir a seruma das grandes potências na economia global.

Quando se visita o Brasil, é comum ouvir-seaos taxistas Temos tudo. Uma mãe naturezariquíssima. Mulheres lindíssimas. Samba. Pe-tróleo. Aviões. Energia. Um povo único. Deus

deu-nos tudo. Só não nos deu governantes.De facto, julgo que não há ninguém, portu-

guês ou chinês, que não se encante com aquelepaís, com aquele povo.

u PPaaqquueettee ddee OOlliivveeiirraaJN 05/10/06

DIMENSÃO EUROPEIAOs jovens europeus devem ser levados a

compreender que pertencem a um complexocivilizacional comum, do qual decorre a diversi-dade das culturas e das identidades nacionais euma especial projecção da Europa no mundo.Mas não basta a compreensão, com toda ainformação que tem de estar-lhe subjacente. Oideal seria promover as condições de uma inte-riorização desse sentimento de pertença...

Alguns elementos dessa dimensão europeiasaltam à vista: a História, a geografia humana e ageografia física, a herança cultural e artística, nassuas vertentes materiais e imateriais, as línguaseuropeias. Os elementos nacionais ligados aesses aspectos têm muitas vezes prolongamen-tos e parentescos, osmoses, variações morfológi-cas e semânticas, bem como inevitáveis antago-nismos e conflitualidades de que a História dáabundante testemunho, decorrentes das relaçõesde vizinhança nas suas múltiplas vertentes e, poraí, organizam-se desde logo em manchas quetranscendem as fronteiras de cada país.

Hoje, superados muitos desses antagonis-mos por uma integração pacífica, evolutiva, ebem sucedida em muitos aspectos, a questão dadimensão europeia nos conteúdos escolaresganha um novo relevo, a despeito do princípioda subsidiariedade, cuja aplicação leva a que asmatérias relativas aos programas de educaçãosejam da competência dos Estados membros.

A verdade é que inúmeros programas, pro-cessos e actividades (Sócrates, Erasmus, Come-nius, aprendizagem ao longo da vida, Bolonha,etc., etc.) vão fazendo avançar as coisas no senti-do de se ultrapassar gradual e quase insensivel-mente essa limitação. E já há mesmo casos con-cretos em que, bilateralmente, se vai na mesmadirecção. Por exemplo, o manual de HistóriaModerna Franco-Alemã, preparado por umgrupo de especialistas dos dois países, há poucosmeses neles adoptado oficialmente para o ensi-no secundário e que representa um passo muitoimportante nesse sentido (ocorre-me, de resto,que há décadas existe uma comissão com objec-tivos semelhantes para uma História Luso--Espanhola, que não me consta tenha já chegadoa quaisquer resultados concretos).

uVVaassccoo GGrraaççaa MMoouurraaDN 11/10/06

A MADEIRAESTÁ FORA DA LEI?

A impunidade chegou a um ponto tal que anomenclatura madeirense não se preocupa se-quer em esconder-se atrás de qualquer mantodiáfano, antes se compraz numa exibição osten-sivamente hardcore e à luz do dia. Basta seguir aspistas deixadas pelos sucessivos mas inconse-quentes relatórios do Tribunal de Contas, verifi-car as situações sistemáticas de concursos públi-cos feitos à medida dos protegidos do poder,constatar como políticos-empresários votam eaprovam disposições em seu próprio benefício,em especial quando estão em jogo os interessesdo poderoso lóbi do betão que tem massacradoliteralmente a paisagem madeirense. A Madeira éuma vistosa vitrina dos meandros da corrupçãoà portuguesa, a tal que nos acostumámos a vercom maior nitidez no universo do futebol, dopoder local e das lavagens de dinheiro e financia-mentos partidários por baixo da mesa. Aliás, ésimplesmente inexplicável - ou talvez não... -como é que, até hoje, nunca houve uma efectivacuriosidade judicial pelo funcionamento dessagigantesca máquina patrimonial do poder jardi-nista que é a Fundação Social Democrata. Quemfinancia e como é financiada essa Fundação, cujasproporções superam, de longe, as das suas outrascongéneres nacionais, e que, no entanto, funcio-na sem qualquer escrutínio público?

u VViicceennttee JJoorrggee SSiillvvaaDN 11/10/06

66 OOPPIINNIIÃÃOO DE 18 A 31 DE OUTUBRO DE 2006

itações

Page 7: O Centro - n.º12 – 18.10.2006

RREEPPOORRTTAAGGEEMM 77DE 18 A 31 DE OUTUBRO DE 2006

Acidente aéreo na primeira pessoa

Desafiado pelo Director do CENTRO, o meuamigo Jorge Castilho, a relatar a situação anormalporque passei, sobreviver à queda de um avião,acedi com gosto, embora depois de muito pensar.É sempre doloroso expor a minha história publica-mente, com tanto detalhe, relembrando o horrorporque passei. Para o Jornal, espero que seja umdocumento histórico; dos leitores, espero simples-mente que leiam até ao fim.

Após sete maravilhosos dias na Tailândia, estána altura de prosseguir a viagem até Macau.

Estamos a 22 de Agosto de 1999. Levanto-mecedo, de modo a ter tempo de preparar tudo comcalma. Como líder do grupo, tento acautelar a via-gem das 119 pessoas. Destas, 41 vão directamentepara Macau; as outras 78, esperava-as um dia quenunca mais irão esquecer, dado que foram para oaeroporto Chek Lap Kok de Hong Kong, no fatí-dico voo 642, da China Airlines. Embarcariam numavião McDonnell Douglas MD-11, com 315 passa-geiros.

O tempo está a piorar e sabe-se que naquelaépoca há sempre monções na região. Mas ninguémpensa no pior, nem existe nenhuma informaçãopara cuidados especiais. Passo parte do dia no hotel,a aguardar a hora da viagem de avião que me leva-rá, a mim e a mais 77 portugueses, até ao aeropor-to internacional de Hong Kong.

Aproveito o tempo livre para escrever um pos-tal ao DNA. Nunca mais me esqueci da frase queescrevi nesse postal: “É com vontade de ficar, quevou partir.” Que verdade esta frase encerra em siprópria. Mal sabia do que me esperava.

Embora não acredite muito em coisas do desti-no, a verdade é que esta viagem parecia predestina-da. No dia da partida de Lisboa para Bangkok(Tailândia), não pude embarcar, porque tinha o meupassaporte caducado. Ironia das ironias, fui eu aconfirmar se todos os outros passaportes estariamem ordem. Só me esqueci de conferir o meu.Parecia que algo me queria dizer para não viajar.

As horas foram passando e aproximava-se ahora do transfer para o aeroporto. Tínhamos queviajar de Pattaya (para onde tínhamos ido passar 3dias) até ao aeroporto de Bangkok. Aqui, tivemos a

espera de cerca de uma hora a mais do que estavaprevisto. Na altura, não soube o motivo do atraso,nem houve qualquer explicação. Afinal, já estáva-mos em propriedade chinesa, num avião da ChinaAirlines, mais concretamente, Mandarim Airlines.E, aqui, a cultura e a organização é bem diferente danossa.

A viagem lá seguiu, duma forma normal, apesardo mau tempo existente na zona. A chegada aoaeroporto internacional de Hong Kong adivinhava-se difícil, dada a turbulência que o avião sofria, àmedida que nos aproximávamos do aeroporto.

Como sempre fazia, tentava filmar a aterragem.A turbulência era cada vez maior. Durante muitotempo, só se viam nuvens. De repente, aparecem asluzes do aeroporto. Com uma rapidez impressio-nante, estávamos quase a aterrar e a alta velocidade.A descida foi tão rápida que o trem de aterragemtraseiro parte, a asa direita bate no chão, incendian-do-se, e o avião descontrola-se acabando mesmopor capotar. Exactamente. Capotou, tal e qual umautomóvel.

Tudo se descontrola. O avião, a tripulação e ospassageiros. Os que iam a dormir, rapidamenteacordam. O pânico apodera-se da maioria dos pas-sageiros. Pessoalmente, tenho a ideia que aterrámosno mar, dado ter ficado com a cabeça debaixo deágua, depois de ter sido cuspido. Nos segundosimediatos à paragem do avião, parece que só tenhouma de duas alternativas: ou morro afogado oumorro queimado. A morte, qualquer que ela fosse,estava terrivelmente garantida. Apesar de tudo,mantenho-me incrivelmente calmo. Impressionan-temente calmo.

Dentro do avião ouvem-se gritos por tudoquanto é sítio, apesar de algumas zonas estaremmais calmas. Lá fora, os bombeiros começam a aju-dar as pessoas a sair. Com o avião a arder, o medode explosão apodera-se de todos. Cego de um dosolhos por causa do acidente e com um grande cortena testa, jorrando sangue em quantidade apreciável,ainda vi um casal asiático com uma criança, presosàs bagagens, bancos e destroços difíceis de descre-ver. Ajudo-os a sair dali, não sabendo muito bempara quê, dado que morte estava bem presente egarantida para todos. De facto, não é herói quemquer, mas sim quem está à hora certa e no sítiocerto. Perdão: na hora errada e no sítio errado.

Pela primeira vez, sinto medo a sério. Vejo umgrande incêndio e um buraco no avião onde ante-riormente tinha existido uma porta e tento reagirdepressa. Grito por João e Antonino (amigos queiam ao meu lado) e nenhum me responde. Corropara o referido buraco e atiro-me para fora do avião,não sabendo muito bem para onde. Felizmente, aágua não tinha mais de meio metro de altura.Afinal,

não tínhamos aterrado no mar. Um bombeirosegurava a criança que eu tinha ajudado a sair dosdestroços e já não o larguei mais. Apesar de seremsó 18 horas, estava de noite e não se via nada. Osangue, as dores, a cegueira, o traumatismo crania-no, os cheiros e os ventos na casa dos 150/180km/h, é tudo muito coisa para um homem só.Embora não seja dos que desistem, não estava a serfácil lidar com a situação.Afinal, estávamos no meiodo Tufão “Sam”.

Ao chegar à ambulância que já estava na pista,tento arranjar um telemóvel para ligar para casa,dado ter feito a viagem sozinho, em termos familia-res. Embora não tivesse nenhuma informação, asituação era demasiado grave e seria notícia interna-cional. Tinha que avisar a família. Assim o fiz, falan-do com a minha filha, de modo a que avisasse oresto da família, para não se preocuparem. A minhafrieza e autocontrolo voltaram, e pedi-lhe para meguardar tudo o que viesse na Imprensa (televisão ejornais) durante uma semana, porque poderia vir aprecisar mais tarde dessas informações, o que veioa acontecer para o longo processo judicial.

Finalmente, chego ao Hospital Princesa Mar-garida. Fiz a primeira intervenção cirúrgica na testa.Só depois é que me fizeram uma TAC. Dado omeu traumatismo craniano, fui internado naNeurocirurgia. Estranhamente, não me deixaramtirar a roupa durante dois dias. Nunca percebi por-quê. Trataram-me e meteram-me numa cama dehospital, com a roupa encharcada do acidente.

Os momentos seguintes ainda eram muitoangustiantes. Mudava para outro tipo de preo-cupações. Como é que estaria a minha família,sabendo que eu tinha tido um acidente deavião e não me podiam visitar? E os meuscompanheiros de viagem? Como estariam? Esaberiam eles como eu estava? Foram momen-tos dramáticos. Nos três hospitais de apoio aoacidente, entraram e saíram muitos portugues-es, tendo doze deles ficado internados. Depoisde tudo o que se passou, havia uma outra gran-de barreira a ultrapassar – como é que íamosentrar novamente num avião, para regressar a

casa? O medo era muito, mas a ansiedade deregressar a casa era maior.

A pressão a que ficámos sujeitos foi tão grande,que, muito mais tarde, os médicos disseram quesofremos de stresse pós-traumático, idêntico aostresse de guerra. Estávamos e estamos condena-dos a sofrer dum drama que afecta, e de que manei-ra, muitos milhares de pessoas.

A viagem de regresso foi, para o grupo de 77sobreviventes portugueses, uma mistura de medo,ansiedade e alegria. Era um turbilhão de emoções,difíceis de gerir.

Depois de regressar a Lisboa, já fiz várias via-gens de avião, mas sempre com alguma/muita pre-ocupação. Já nada será como dantes. Outros,porém, nunca mais conseguiram viajar. Há quempense que têm de deixar passar alguns anos, paravoltarem a viajar. O tempo irá ajudar. Puro engano!O medo é igual, quer viajem agora ou daqui acinco/dez anos. Se perdermos um ente querido, otempo vai ajudar a sarar a saudade e o sofrimento.Afinal, esse familiar ou amigo nunca mais vai mor-rer. Na viagem de avião, não! A possibilidade de serepetir o acidente, por muito remota que possa ser(em termos estatísticos, e só nesses), estará agora esempre presente.

É nestas alturas que sabemos quem está ou nãoconnosco. Institucionalmente, fui contactado peloassessor do presidente Câmara Municipal de Coim-bra, a transmitir-me a solidariedade daquele órgãoautárquico. Com o mesmo objectivo, também fuicontacto, entre muitos outros, por duas pessoas queexerciam cargos institucionais: Dr. Fausto Correia(Secretário de Estado) e Prof. José Humberto Paivade Carvalho (Director dos HUC). Refira-se, noentanto, que estes contactos foram feitos exclusiva-mente a título particular, dada a ligação de amizadeque tenho com ambos. Quem o deveria fazer a títu-lo oficial e não fez,devia ser o Dr. José Lello,na altu-ra Secretário de Estado das Comunidades. Emborao grupo não lhe perdoe, temos que ser compreen-sivos. Afinal também ele passava um grande mo-mento de ansiedade, com o risco de poder vir a nãoser eleito deputado. Por isso, qualquer pessoa enten-de (só os sobreviventes é que não), que entre espe-rar no aeroporto os 77 portugueses sobreviventesou ir com o chefe António Guterres a uma festa--comício do PS em Caminha, ele tenha optado pelafesta. Afinal, a crise dos empregos estáveis não é sóde agora e temos de compreender estas angústias…

Desta experiência tirei um ensinamento: doumuito mais valor à vida. Passei a valorizar o que defacto interessa e desvalorizo o que não tem qual-quer interesse e que anteriormente me preocupava.

O meu lema de vida é agora o seguinte: Viverintensamente cada dia, como se fosse o último.

José [email protected]

Alguns dos sobreviventes do acidente aéreo ocorrido em HongKong em 1999, encontraram-se no passado sábado (dia 14 deOutubro), na Quinta da Lagoa, em Mira, para comemorarem maisuma vez o facto de “estarem vivos”.

Nas palavras do principal organizador, José Soares, de Coimbra(autor do impressionante relato que acima publicamos), “estes encon-tros servem para nós como ‘terapia de grupo’, dado que há psiquia-tras que dizem que sofremos de stress pós-traumático”. Afirmandonão ser fácil reviver a desgraça porque passaram, acrescenta que, “porisso, alguns dos sobreviventes nunca participaram nestas reuniões,porque evitam falar sobre o acidente, que ainda é o tema principal dosnossos encontros”. Por outro lado, uma boa parte faz questão denunca faltar, dado que “é a única altura do ano em que podem fazera sua catarse com gente que entende, sem críticas, porque estão compessoas que passaram pelo mesmo”.

Igualmente de Coimbra é Antonino Neves, outro dos sobre-viventes e também ele organizador da fatídica viagem, e destes encon-tros/convívio. Ao contrário de José Soares, que continua a viajar,Antonino Neves não vê a hipótese de voltar a entrar num avião: “Sevoltasse a viajar, podia não morrer de desastre aéreo, mas possivel-

mente morreria do coração”, disse Antonino Neves ao “Centro”.Quem também marca sempre presença nestes encontros é João

Cunha, director-geral da “Mondego, Viagens e Turismo”, agência queassegurou a acidentada viagem.Também ele é um sobrevivente e con-tinua muito ligado ao “Grupo de Sobreviventes”, com quem mantémuma boa relação de amizade.

Segundo apurou o “Centro”, estes encontros devem-se muito àdeterminação e empenhamento de José Soares e, este ano, os pre-sentes fizeram-lhe o público reconhecimento. Nas suas própriaspalavras, “são pessoas minhas amigas e por isso exageraram nos elo-gios. Eu também tenho uma grande estima por todos eles”.

Apesar dos sobreviventes evitarem falar sobre o assunto, o“Centro” soube que as questões indemnizatórias que estavam pen-dentes já foram resolvidas com a maioria das vítimas deste acidenteaéreo, estando somente por solucionar o caso dos chamados “maisferidos do grupo”. José Soares confirmou-nos que a maioria jáchegou a acordo com a companhia de seguros, mas ainda há umpequeno grupo que nada recebeu, onde ele próprio se inclui.

Como nos diz José Soares, “se pedirem a cada um para contar asua experiência, vai parecer que estivemos em aviões distintos, dado

que cada um tem uma história muito diferente de todos os outros”.Foi notório o companheirismo e boa disposição de todo o grupo,

pelo que os seus membros manifestaram aos organizadores a vontadede continuarem a participar neste encontros. Estes sobreviventes vêmde muitos pontos do país, dado que era uma viagem nacional. “Hápessoas que chegam a andar mais de 600 quilómetros para partici-parem nestes convívios”, referiu José Soares ao nosso jornal.

Encontro de sobreviventes de acidente aéreo

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LICEU D. JOÃO III / ESCOLA JOSÉ FALCÃO

Convívio de antigos e actuais alu nos, professores e funcionários“Pautado ou quadriculado? É a dois tostões

cada folha”.

Esta a lenga-lenga que o sr. Pinheiro,contínuo do Liceu D. João III, repetiumilhares de vezes ao longo de algumasgerações de estudantes que o procuravampara adquirir as folhas timbradas (só o pre-ço foi aumentando…) onde obrigatoria-mente se faziam os exercícios escritos dasdiversas disciplinas. Hoje com 84 anos, masainda com boa memória, o próprio sr. Pi-nheiro recordou esta sua função de déca-das, no passado sábado (dia 14), com váriosantigos alunos que se reuniram a antigos eactuais professores e funcionários para um

almoço de convívio integrado no programadas comemorações dos 170 anos da criaçãodo Liceu de Coimbra e os 70 anos do edifí-cio do Liceu D. João III, actual EscolaSecundária de José Falcão.

A confraternização juntou largas deze-nas de pessoas com idades muito diversas(desde, pelo menos, duas senhoras já nacasa dos 90, com invejável memória e boadispoição, até antigos alunos ainda na fres-cura dos vinte, passando por todas as gera-ções intermédias).

Naquele (ainda magnífico) ginásio ondese efectuou o almoço, recordaram-se nãosó as aulas de educação física, mas tambémos bailes de gala e chás dançantes da Quei-

ma, os exames feitos em centenas das clás-sicas carteiras de madeira espalhadas atépelas galerias, ou mesmo os jogos de bas-quetebol (com destaque para um Aca-démica-Benfica, nos anos 60, que acabouantes do tempo, com cadeiras enfiadas noscestos das tabelas e cenas de pugilato quese estenderam desde o recinto do jogo atéàs galerias).

Evocaram-se muitos dos carismáticosprofessores que fizeram daquele escolauma das mais prestigiadas do País, recorda-ram-se episódios de juventude, reencontra-ram-se antigos colegas que se não viam hádezenas de anos.

Mas, mais eloquentes do que quaisquer

palavras, aqui ficam as imagens, sobretudopara que possam ser apreciadas pelos lar-gos milhares de antigos alunos, professorese funcionários que não estiveram presentes,mas que decerto nelas descobrirão carasque vão identificar, assim evocando os feli-zes anos de juventude e as memórias quedeles permanecem.

(Na próxima edição iremos aqui traçar ahistória notável deste estabelecimento deensino)

JJoorrggee CCaassttiillhhoo(antigo aluno do Liceu Nacional D. João III,

antigo professor da Escola Secundária José Falcão)

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RREEPPOORRTTAAGGEEMM 99DE 18 A 31 DE OUTUBRO DE 2006

u nos, professores e funcionários

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1100 AA PPÁÁGGIINNAA DDOO MMÁÁRRIIOO DE 18 A 31 DE OUTUBRO DE [email protected]

Há pouco mais de 10 anos, o “Jornal deNotícias” enviou-me durante quase duas sema-nas para Paris, para fazer a reportagem do refe-rendo (e do debate quente que existia nasociedade francesa) sobre o Tratado de Maas-tricht.

Foi uma experiência enriquecedora. Mas...com muitas dificuldades. Ainda não haviatelemóveis, não havia com-putadores portáteis. Fui coma máquina de escrever, batiaos textos, pedia na recepçãodo hotel que enviassem o faxpara o jornal e, à hora combi-nada, tinha de telefonar parasaber se “o material” chegaraem condições.

Hoje, é tudo diferente.Em qualquer lado há “rede”,chega-se com o portátil, es-creve-se e envia-se. E se há qualquerproblema, pega-se no telemóvel e esclarece-se oassunto de imediato.

O Mundo mudou muito nestes últimosanos. Hoje, o correio electrónico é indispensá-vel. Na revista onde trabalho, as colaborações jáchegam todas – à excepção de uma – por viaelectrónica; os textos e as fotos. Muito do“expediente comercial” também já circula poresta via: até, mesmo, alguns pagamentos.

Ou seja, no planeamento do dia de traba-lho há que considerar uma fatia de tempo paraos assuntos da Net; e, de preferência, há queestar constantemente ligado, para poderresponder com prontidão a qualquer pergunta.Não há que discutir: hoje, as coisas são assim;são diferentes.

No entanto, os jornais – quase todos com astiragens em queda – ainda não entenderam ver-dadeiramente o que está a acontecer. Olham desoslaio para a Net e, por arrastamento, para osseus conteúdos.

Actualmente, o cidadão que quer estar infor-mado tem necessariamente de recorrer à Net. Edentro desta tem de reservar algum dos seu

tempo para olhar (pelo menos, olhar) os blo-gues.

Cá por Coimbra, há alguns blogues que sãode leitura quase obrigatória – e que vão suscitan-do um interesse cada vez maior, se olharmos aonúmero de visitas e de comentários que osleitores lá deixam.

Trago hoje aqui quatro “links”. “O Piolho daSolum”, um blogue bem disposto, faz diaria-mente, logo pela manhã, um resumo do noti-ciário do dia, comenta assuntos de interesse dacomunidade e, de vez em quando, mostrafotografias de Coimbra antiga. E, pelo meio, hámuita brincadeira e textos que nos fazem sorrir.

No “Política & House”, um blogue que dámuita atenção às questões internas do Partido

Socialista, vão aparecendo textos – mais oumenos mordazes – sobre assuntos da cidade edo país. Nos últimos tempos, têm estado a serpublicados os rendimentos de alguns titularesde cargos políticos da região, com base nasdeclarações entregues no Tribunal Cons-titucional.

Crítico da actual direcção da Académica//OAF, o blogue “Pardalitos do Choupal”informa exaustivamente sobre o futebolda Briosa e a Académica em geral, divul-ga o calendário de jogos do fim-de-sema-na, informa sobre os resultados de todasas equipas e relata alguns jogos minuto-a--minuto, como ainda sucedeu no domin-go. Depois, e por entre muita polémicaestéril, surgem volta e meia textos degrande qualidade, como aquele que o ex--dirigente Fernando Pompeu publicou

na semana passada e que até segunda-feira játinha suscitado 144 (!) comentários.

Uma palavra final para o “Porta-Aviões”,que voltou a navegar há poucos dias. Criadopelo médico Maló de Abreu, é um espaço mor-daz, na linha da histórica ironia coimbrã. Por alipassam assuntos de política nacional, políticaautárquica e – não fosse o seu criador um ex--candidato à presidência da Académica/OAF –temas ligados à Briosa.

A terminar, que o texto vai longo: muita dainformação a que se tem acesso nos bloguesnão está habitualmente disponível nas páginasdos jornais. E é este desafio que os jornais nãopodem continuar a ignorar, sob pena de veremos leitores fugir. Porque, quer se queira quernão, o Mundo está mesmo diferente. Muitodiferente.

Os blogues e os jornais

A minha equipa (os juvenis da Académi-ca/OAF, recorde-se) voltou a perder. Destafeita, frente ao Pasteleira, por 2-0, num jogodisputado em Guifões (Matosinhos), mesmo àporta da Cimpor.

Foi a terceira derrota em três jogos fora decasa: 2-1 com o Boavista, 2-1 com o FC Portoe 2-0 agora. Mas ao contrário dos outros jogos,neste a minha equipa praticamente não jogou.Ou melhor, jogou no primeiro quarto-de--hora; depois disso... “apagou-se”.

Mas já lá vamos.[Antes, porém, quero dizer-vos que os meus

“dias de futebol” são sempre iguais: enquanto hájogo, ando à volta do campo com a máquina fotográ-fica, vou vendo os lances de sítios diferentes, ouvindoos comentários de uns e de outros. Quase nunca con-sigo registar os golos, porque fico curioso de ver comoa jogada termina e... pronto, já foi golo e acabei pornão tirar a foto. E lá vou andando para aqui e paralá, o que tem a grande vantagem de ver o jogo com osmeus olhos, solitariamente, sem ser sugestionado poraqueles adeptos que passam os jogos a comentá-loscontinuamente em voz alta. É, afinal, uma maniacomo qualquer outra. Já agora, há outro ritual: o deno intervalo encontrar um restaurante para o almo-ço, onde por vezes se junta muita gente – o que, dadoo número de comensais, não é tarefa fácil. Ontemfomos 19 à mesa, mas já tivemos almoços maisnumerosos...]

Vem isto a propósito porque, ontem, nestasdeambulações ao redor do campo, assisti a umepisódio curioso – e significativo.

Apesar das reduzidas dimensões docampo (100 x 60) e do vento, a Académicacomeçou a jogar bem, trocando a bola

com rapidez e empurrando o adversáriopara a área. E ga-nhou dois ou três ponta-pés de canto quase seguidos. Num deles,estava eu mesmo atrás da baliza, ouvi o“capitão” do Pasteleira dizer aos colegas:“Vamos lá a meter o pé! Eles estão a fazerde nós o que querem. É preciso jogar commais força!”.

Dito e feito. Num instante, o jogo mudoude feição. O Pasteleira começou a jogar (mais)duro, começou a dominar e acabou mesmopor marcar um golo, aos 22 minutos, creio queno primeiro remate que fez à baliza daAcadémica. E... acabou ali o jogo para a minhaequipa.

Ainda faltava uma hora até ao final, mas aAcadémica nunca mais se encontrou. Acaboua 1.ª parte à deriva, começou a 2.ª parte maiscalma. Pensou-se que ainda poderia ir atrás doempate. Mas rapidamente se viu que isso não

iria suceder. A minha equipa – que sabe jogarà bola – quis trocar de pé para pé, mas o pisoirregular não o permitia; quis jogar com calma,mas o adversário não dava espaços, não permi-tia pensar.

Assim, a 2.ª parte foi um duelo entre opontapé para a frente dos portuenses e o ten-tar jogar junto ao solo dos conimbricenses. Ecomo os outros se mostraram sempre maisrápidos, a fisionomia do jogo não se alterou.A diferença de velocidade sobre a bola deci-diu o jogo.

Em conclusão: vitória certa do Pasteleira,sem discussão.

[Já agora: ao almoço houve caldeirada e depois um“passeio higiénico” na Foz. Estava uma linda tarde,quente, dezenas de surfistas na água. Foi um dia bempassado.]PPSS –– O campeonato é interrompido. O próximo jogo, como Feirense, disputa-se no dia 5 de Novembro.

Derrota em Guifões

MÁRIO NOGUEIRA

Fomos colegas de turma na Escola do Ma-gistério Primário – éramos os únicos Máriosnuma escola repleta de Marias.

Estivemos em lados diferentes nas eleiçõespara a Associação de Estudantes.

Voltámos a defrontar-nos numas eleiçõespara o Sindicato dos Professores da ZonaCentro.

Apesar das diferenças ideológicas, manti-vemos sempre o contacto. Hoje, somosquase vizinhos numa das freguesias esqueci-das de Coimbra, longe de Doces Vidas equejandos.

Continuamos a ver-nos quando o destinocruza os nossos caminhos.

Admiro-o pela capacidade de luta, pela defe-sa constante dos valores em que acredita. Emuitos dos valores “dele” são “meus” também.

Veio para estudar e cá ficou. Coimbra já lhedeve muito – na intervenção política, na lutasindical, na dedicação ao desporto.

(publicado no blogue em 14 de Outubro)

PERGUNTAS

Como se sentirá o primeiro-ministro de umgoverno socialista ao ver tantos trabalhadoresnas ruas a protestar?

Triste?Como se sentirá o primeiro-ministro de um

governo socialista ao ver que as suas medidasnão são contestadas pelos detentores do capi-tal?

Incomodado?...Fará sentido falar hoje de socialismo?...O que vale é que é sexta-feira. Vem aí o fim-

-de-semana e a malta pensa noutras coisas.(publicado no blogue em 13 de Outubro)

AI ESTES FRANCESES!

“Portugal ainda está muito longe de chegar ao níveldos outros países europeus. E então os preços nem sefala!... O que eu não compreendo é como num país ondese ganha uma miséria se podem pagar preços milioná-rios. Em França eu pago 29.90 euros por mês, porinternet ilimitada e telefone para toda a França, assimcomo para Portugal para todas as chamadas para arede fixa”.

Encontrei hoje na Net este desabafo de umemigrante português em França.

Não há dúvida que continuamos a ser umpaís... diferente.

COMENTÁRIO DE LEITOR: É porestas e por outras que as companhias engros-sam os lucros... Para ter acesso à internet ADSLsou obrigado a ter telefone fixo e a pagar umacoima mensal de 15 euros ( com bonificação deum ano, ou seja em 2007 vou pagar mais!),tenho o telefone na sua caixa original, dentro deuma gaveta (já pensei em oferecê-lo de prenda)porque não uso, não preciso, não gasto. Eis overdadeiro estado das coisas. Só preciso mesmomesmo é da ligação à internet e sou obrigado ater telefone fixo e pagar mais pela utilização doserviço. Está bem pensado pelos senhores daPT, oh se está!

(publicado no bloague em 10 de Outubro)

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MMUUNNDDOO AANNIIMMAALL 1111DE 18 A 31 DE OUTUBRO DE 2006

CASO ÚNICO NA EUROPA ACONTECE NA ZONA DA FIGUEIRA DA FOZ

“Baleia-piloto” continua a lutar pela vidaEstá a ser quase um “milagre” de sobre-

vivência, a evolução do estado de saúde da“baleia-piloto” bebé que deu à costa próxi-mo da Nazaré no passado dia 27 de Agosto(caso que mereceu desenvolvida reporta-gem na edição do “Centro” publicada nopassado dia 20 de Setembro).

Como então referimos, trata-se de umaespécie de golfinho a que, pela forma egrandes dimensões que atinge (cerca de 7metros em adulto!), vulgarmente chamam“baleia-piloto” e a que, apesar de ser ma-cho, foi dado o nome de “Nazaré”, por tersido recolhido próximo daquela praia.

Entregue aos cuidados da “SociedadePortuguesa da Vida Selvagem” (SPVS), omamífero-bebé foi albergado num centrode recuperação eu a SPVS mantém na zonada Figueira da Foz, e onde tem estado a serseguido por uma equipa multidisciplinarque o acompanha 24 horas por dia, todosos dias.

Mas a verdade é que este esforço desin-teressado tem tido recompensa, pois“Nazaré” tem reagido bem aos tratamentose à alimentação, num caso de sobrevivênciaque os especialistas mundiais consideramúnico na Europa.

Como nos referiu o veterinário SalvadorMascarenhas (um dos elementos destaextraordinária equipa), “Nazaré”, que nestemomento terá cerca de três meses de idade,pesa já quase 120 quilos! Quanto ao apeloque lançámos neste jornal, afirma-nosSalvador Mascarenhas:

“Tem havido uma resposta satisfatóriarelativamente ao pedido de voluntários paranos ajudarem a acompanhar o nosso bebé24 horas por dia. Também algumas empre-sas já romperam o cerco e começaram aapoiar a recuperação do bebé cetáceo.Infelizmente, algumas “grandes” revelaram-se muito pequeninas (caso da TAP e daSonae) quando se desculparam com a criseeconómica para recusarem qualquer apoio!Em contrapartida, a empresa espanhola“Gre”, a quem a SPVS comprou a piscinaonde actualmente está o “Nazaré”, ofereceuoutra piscina igual (o que facilita enorme-mente a limpeza porque já se pode transfe-ri-lo para outra durante essas operações).

Também a “Astral Pool” ofereceu umfiltro de 300kg, o que melhora imenso aágua da piscina de recuperação - que temsido um dos maiores problemas, pois aqualidade da água nestas situações é cru-cial”.

“NAZARÉ” RESISTIUA GRAVE INFECÇÃO

Salvador Mascarenhas revela-nos depois:“O nosso bebé esteve acometido de uma

complicada infecção respiratória que nãocedia perante a terapêutica instituída.Então, após ponderação cuidada (porquequalquer alteração brusca pode revelar-secatastrófica) e consulta de uma rede mun-dial de técnicos que estão a apoiar-nos semreservas, decidimos alterar a terapêutica. Oque se passou nos dias seguintes foi umautêntico ‘renascimento da fénix’, com“Nazaré” a revelar-se um bebé cheio deenergia e vigor. Agora estamos todos feli-zes com a recuperação do nosso ‘Globi-cephala melas’ (designação científica destaespécie de golfinho), mas sabemos que esteprocesso vai ter altos e baixos e temos deestar preparados para o que vier a aconte-cer. A nossa luta é dia-a-dia. E não é sócom os problemas de saúde do jovem cetá-ceo, mas também com as necessidadesintrínsecas numa operação desta enverga-dura. Pensamos que está a haver um pontode viragem e pelo menos alguma parte dasociedade portuguesa já repara que algo denovo e inédito está a ser feito algures numavila perto da Figueira da Foz”.

TRATAMENTOMUITO COMPLEXO

Como acima se refere, a sobrevivênciade uma cria destas em cativeiro, especial-mente sem a mãe, é muitíssimo difícil. Parao êxito que está a ser conseguido, até aomomento, tem sido fundamental o comple-xo tratamento a que o “pequeno” golfinhoestá a ser submetido. Salvador Mascarenhasdescreve-nos alguns pormenores:

“O ‘Nazaré’ é entubado de três em trêshoras e recebe cerca de dois litros de ali-mento em cada entubação. A ementa inclui800 gr de arenque, 100 gr de lulas, 130 gr deleite próprio para bebés cetáceos, vitaminas,aminoácidos, minerais, antibióticos, etc,numa mistura resultante da experiência demuitos delfinários por esse mundo fora”.

E o veterinário acrescenta:“As informações (obtidas via e-mail na

sua maioria), que ajudaram a construir estamiraculosa fórmula, vêm confirmar a gran-de solidariedade que existe entre os técni-cos que trabalham em reabilitação de cetá-ceos, revelando uma grande abertura, não

escondendo nenhuma ideia nem conheci-mento, em prol do desenvolvimento daciência e da recuperação dos cetáceos -contrariando algum egoísmo e tacanhezque existem ainda em alguns sectores cien-tíficos. À medida que os trabalhos avan-çam, as informações sobre as análises san-guíneas, alimentação, medição, monitoriza-ção da respiração e comportamento, aspec-to e volume das fezes, etc, etc, são enviadospara diversos técnicos (veterinários, biólo-gos e outros especialistas) do globo queanalisam as informações e ajudam com assuas sugestões. Neste momento são unâni-

mes em considerar que se está a fazer umbom trabalho”.

A verdade é que as ajudas continuam aser necessárias, para que tenha êxito odesenvolvimento de “Nazaré”, nesta pri-meira fase, mas igualmente para que, maistarde, ele possa ser devolvido ao mar, o queexige um trabalho tanto ou ainda maiscomplexo do que este da luta pela sobrevi-vência.

Por isso, repetimos o apelo, todas as ajudassão úteis e se agradecem. Quem quiser sabercomo ajudar, poderá ligar para o telemóvel913 241 188, ou para o telefone 239 945 057.

Duas voluntárias agarram “Nazaré” e a bióloga responsável por um dos turnos orien-ta o tubo até ao estômago do bebé

“Nazaré” a receber o seu leite pelo tubo, operação que se repete cada três horas

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1122 RREEPPOORRTTAAGGEEMM DE 18 A 31 DE OUTUBRO DE 2006

Êxito da IX Feira Distrital do Melda Serra da Lousã

Decorreu no passado sábado (dia 14 deOutubro), na Baixa de Coimbra, a IX FeiraDistrital do Mel Certificado da Serra daLousã, da Castanha e da Noz.

Presentes dezenas de produtores devários pontos da Região Centro, que seespalharam desde a Praça 8 de Maio até aoLargo da Portagem, após a recepção, logopelas 8 horas da manhã.

Nas bancas instaladas nas Ruas Viscondeda Luz e Ferreira Borges estava exposto nãosó o mel da Serra da Lousã, devidamente cer-tificado (o que atestava a sua origem genuínae a respectiva qualidade), mas ainda muitosprodutos relacionados com a apicultura –desde os favos até à aguardente e licores demel, passando pelos mais variados produtosobtidos a partir da pura cera das abelhas.

Além disso, o elevado número de pesso-as que acorreu à Feira tinha também à suadisposição castanhas e nozes, que muitosadquiriram.

A meio da manhã iniciou-se o programade animação, que se iniciou com o desfile eactuação da Filarmónica Mirandense, logoseguida do Rancho Folclórico da Casa doPovo de Ceira.

Da parte da tarde foi a vez do RanchoFolclórico Rosas do Mondego, do GrupoFolclórico da Casa do Povo de Mira e doGrupo Folclórico Ceifeiros da Corujeira.

Ponto alto da Feira foi a sessão comemo-rativa com prova de mel, a que presidiu oSecretário de Estado do DesenvolvimentoRural e das Florestas, Rui Nobre Gonçalves,e que decorreu nas Galerias Almedina, coma presença de diversas entidades.

O encerramento de Feira estava marca-

do para as 18 horas, mas mesmo depoisdisso ainda alguns apicultores se manti-nham no local, vendendo os seus produtosaos retardatários.

O certame, que atingiu os objectivos dedivulgação e promoção do Mel da Serra daLousã, e ainda das castanhas e nozes, foi orga-nizado pelo Governo Civil de Coimbra e patro-cinado pela Região de Turismo do Centro, con-tando com a colaboração de Lousãmel –Cooperativa Agrícola dos Apicultores da Lousã

e Concelhos Limítrofes, C.R.L., Câmara Muni-cipal de Coimbra, Direcção Regional de Agri-cultura da Beira Litoral, Associação dePromoção da Baixa de Coimbra e Escola deHotelaria e Turismo de Coimbra.

Registe-se, por último, que esta feira-festa se estendeu à Praça do Comércio(Praça Velha), onde esteve patente aopúblico uma interessante mostra de espan-talhos, que despertaram a curiosidade dosmais velhos e deliciaram a pequenada.

Lousã promove produtos endógenosA Câmara Municipal da Lousã organiza em Novembro duas iniciativas destina-

das à promoção dos produtos endógenos da Serra da Lousã:Assim de 3 a 12 de Novembro, o Festival Gastronómico do Mel e da Castanha,

“Sabores de Outono”, que decorrerá em 16 restaurantes do Concelho, contandocom o apoio de diversas entidades, como sejam a Região de Turismo do Centro, aPastelaria S. Silvestre, O Licor Beirão e a LOUSÃMEL - Cooperativa deApicultores, entidade responsável pelo Mel DOP Serra da Lousã;

Nos dias 11 e 12 de Novembro decorrerá a XVII edição da Feira do Mel e daCastanha da Lousã, organizada em parceria com a LOUSÃMEL, destinada à vendae promoção do Mel da Serra da Lousã certificado, mas também à castanha e a out-ros produtos endógenos e característicos desta região e desta época do ano. Comocomplemento da Feira (que funcionará no Pavilhão Municipal de Exposições daLousã), haverá uma mostra de artesanato.

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PPUUBBLLIICCIIDDAADDEE 1133DE 18 A 31 DE OUTUBRO DE 2006

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O Clube Automóvel do Centro(CAC) está em festa.Fundado em 7 de Março de 1966,o clube assinalou recentementea passagem dos 40 anosde actividade com uma reuniãode família realizadano Casino da Figueira da Foz

António José Ferreira

Em conversa com o “Centro”, o presi-dente Armando Fidalgo começou por afir-mar que “ao longo destes 40 anos desen-volvemos uma actividade muito intensa emprol do desporto automóvel”. Resumindo aactividade do CAC ao longo dos tempos,prosseguiu dizendo que “antes de 1966 jáas pessoas que fundaram o clube desenvol-viam várias organizações na área dos ‘ral-lyes’. Mas não tinham o necessário alvarápara a realização das provas, que eramentão organizadas pelo ‘100 à Hora’, umdos mais antigos e prestigiados clubes por-tugueses. Fruto desse mal-estar, de se ter nacidade provas organizadas por gente quevinha de fora, vários filhos da terra resolve-ram fundar o CAC, entre os quais o antigopresidente da Câmara, Dr. Joaquim deMoura Relvas, e outros ligados ao comércioautomóvel. Do vasto leque de provas entãoorganizadas, destaco o Rally Rainha Santa,que é das provas mais antigas do calendárioda especialidade, embora hoje em moldesdiferentes”. A primeira grande crise surge“em 1976. O clube agonizava e inclusiva-mente já não eram pagas as rendas da sede,na altura na Rua Alexandre Herculano. ADirecção então presidida pelo Dr. RochaPita e que contava, entre outros, com oCarlos Barata, o José Manuel Dinis, oCabeço, o José Rolo, o José Regêncio, o Sr.Gutierres, o Luís Carrito, conseguiu encon-trar as melhores soluções para os proble-mas e o clube arrancou para anos largos degrande fulgor e para organizações demonta, por exemplo o Rally da Figueira daFoz (1978), que durante anos atingiu oescalão de internacional durante várias edi-ções”. Mais tarde, por intermédio “donosso prezado consórcio e na altura ilustrepresidente da Câmara Municipal de Oli-veira do Hospital, Eng. Carlos Portugal,rumámos às faldas da Serra da Estrela, rea-lizando sete edições, com muito brilho”.

Há cerca de dois anos “o CAC voltou a

passar por um período menos bom. Foipreciso arregaçar as mangas e estamos atentar recuperar o clube. Na nossa terranem tudo tem que definhar. Coimbra temgente que ama muito a cidade e que, por viadisso, está disposta a dedicar-se de alma ecoração a instituições como o CAC”.Armando Fidalgo explica que, em 2002, o“Clube Automóvel do Centro fez umaaposta muito grande na internacionalizaçãodo Rallye da Figueira da Foz, que tinha vol-tado à cidade. A prova estava a ser observa-da para passar do Campeonato Nacional aoCampeonato Internacional mas, por vicissi-tudes várias que agora não vem ao casorecordar, sendo melhor até esquecer, emvez de subir, desceu. Isto apesar de todosos esforços das pessoas que então estavamà frente do clube, e tenho a certeza que osfizeram, até porque a maior parte conti-nuam a ajudar o CAC. As dificuldades avo-lumaram-se e havia que arranjar uma equi-pa de trabalho que pusesse de novo o clubea funcionar. Havia algumas linhas mestras,mas fundamentalmente o que era precisoera dar continuidade aos 38 anos de histó-ria do Clube Automóvel do Centro. Umdos objectivos prioritários passava porsubir do escalão onde estávamos para oCampeonato Nacional de Rallyes, que é onosso lugar e onde estamos de novo. A lutaé renhida e para continuarmos na 1ªDivisão sofremos uma concorrência fortís-sima e lutamos contra organizações quedispõem de meios e de retaguardas que nósinfelizmente não dispomos. Mas o que nosfalta nesse particular, sobra-nos em arrega-nho, em vontade e sobretudo em compe-tência. Temos aqui no CAC uma equipamuito competente, da qual me permitodestacar o Eng. Luís Santos, Vice-Presidente Desportivo, que tem muitaexperiência e traquejo na organização deprovas e que é uma garantia de sabermos oque estamos a fazer. Modéstia à parte, creioque estamos a desenvolver um bom traba-lho”.

Nova sede social

“As coisas têm vindo a mudar”. Ar-mando Fidalgo respondeu assim quando, apropósito dos apoios recebidos, atalhámosque Coimbra é por vezes um pouco“madrasta” para os clubes e associaçõesque fomentam a prática desportiva. “Coim-bra é uma cidade de excelência”, justificou,

“apesar de aqui e ali a tentarem ferir demorte. Mas não conseguem porque Coim-bra é uma terra fantástica. As coisas estão amudar, nomeadamente a política de darpouco a muitos, que gera descontentamen-to a longo prazo. Os tempos que corremsão de muita dificuldade, o dinheiro nãoabunda, mas penso que se os projectosforem bem apresentados acabarão por serreconhecidos. No CAC não temos grandesrazões de queixa. Este ano, através doSenhor Vereador do Desporto, o Dr. LuísProvidência, a Câmara apoiou uma iniciati-va nossa. Tratou-se do Rallye da RainhaSanta, que já não se realizava desde 1974 eque este ano voltou à Praça da República,constituindo uma grande festa”.

Ainda em matéria de apoios, ArmandoFidalgo referiu-se a um sonho antigo desucessivas Direcções do Clube Automóveldo Centro e que tem sido alvo de contactoscom a autarquia de Coimbra: “Herdámosda anterior Direcção um protocolo quevisa, a curto prazo, a construção da nossasede social. Passámos por vários pontos dacidade, desde a Rua Alexandre Herculano àArregaça. Hoje estamos neste edifício, airo-so, bonito e que dá todas as condições para

potenciar o CAC. Mas não nos chega! Sa-be-nos a pouco, queremos mais e estamosa trabalhar para esse desiderato que é, dehoje para amanhã, construirmos a nossasede. Esse dia já esteve mais longe e atéfinal do nosso mandato espero apresentaraos sócios o projecto para o novo edifício”.E o espaço físico de suporte ao clube éconsiderado muito importante, pois os seusdirigentes gostavam de ver mais associadosna sede, a conviver e a trocar impressões,sobre automóveis ou outros assuntos.Armando Fidalgo recorda que “ainda soudo tempo em que as escadas do antigo edi-fício demoravam mais tempo a descer doque a subir porque encontrava-se um semnúmero de pessoas ilustres, antigos prati-cantes que durante anos e anos levaram onome do Clube Automóvel do Centro atodo o Portugal. Lembro-me de encontrar,entre outros, o Mário de Figueiredo, o Dr.Augusto Roxo, os irmãos José e Romão deSousa. Hoje temos pena que as pessoas nãoapareçam, até porque o CAC tem uma sedeagradável e que constitui um bom ponto deencontro e de convívio que eu recomendoàs pessoas a quem o clube diz algumacoisa”.

1144 DDEESSPPOORRTTOO DE 18 A 31 DE OUTUBRO DE 2006

AUTOMOBILISMO

Clube em festaO Clube Automóvel do Centro assinalou os 40 anos de existência com uma gala

realizada no Casino da Figueira da Foz. Além de promover o convívio entre toda afamília do clube, este evento teve como ponto alto as cerca de sessenta homenagensa pessoas e entidades, nomeadamente os associados mais antigos, as Câmaras dodistrito e a Região de Turismo do Centro. Armando Fidalgo não tem dúvidas de que“esta grande festa não deixou ninguém indiferente e demonstrou que o nosso clubeestá vivo e tem pernas para andar”, aproveitando esta entrevista “para fazer doispedidos de desculpa. Durante a homenagem que fizemos a várias pessoas, por lapsonão foi chamado o nome do prezado associado João Carlos Carmo Santos e doantigo praticante Augusto Roxo”.

Mortáguarecebe Rally

Para a organização do Rally deMortágua 2006, o Clube Automóvel doCentro contou com o apoio de diversasentidades, entre as quais a CâmaraMunicipal de Mortágua. Integrada noCampeonato Nacional FPAK deRallyes, a prova está marcada para opróximo sábado, com o seguinte horá-rio: Mortágua 1 (24,62 km), 9h45;Espinho 1 (19,67 km), 10h29; Aguieira1 (15,48 km), 11h24; Mortágua 2 (24,62km), 13h15; Espinho 2 (19,67), 13h59;Aguieira 2 (15,48 km), 14h54;Mortágua (119,54), 16h15.

ARMANDO FIDALGO FALA DOS 40 ANOS DO CLUBE AUTOMÓVEL DO CENTRO

Em prol do desporto automóvel

Armando Fidalgo indica o cartaz da primeira edição do Rali da Figueira da Foz

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DDEESSPPOORRTTOO 1155DE 18 A 31 DE OUTUBRO DE 2006

Tiago Almeida

Ao cabo de seis jornadas na Liga, a Briosacontinua sem triunfar. A soma de quatro empa-tes – três deles fora de portas – até ao momen-to, parece indiciar uma recuperação pontual natabela, mas a ausência de vitórias começa a pre-ocupar dirigentes e adeptos academistas.

Manuel Machado promete melhorias, logoque a equipa atinja os automatismos necessá-rios, processo que as 15 caras novas do plantel e

a alteração da equipa técnica retardam. Frenteao Boavista, no Bessa, e Belenenses, no EstádioCidade de Coimbra, a Académica foi ligeira-mente superior aos seus adversários, contudo,nas restantes partidas, apenas assinou essedomínio em fases do encontro e não durante os90 minutos. Aconteceu assim em Setúbal, najornada inaugural, e em Paços de Ferreira –ainda que a actuação menos feliz do árbitrotenha condicionado o resultado – e, principal-mente, ante a Naval e o Nacional. Nestes dois

últimos casos, a Académica não só apresentouuma inconstância exibicional durante ojogo, como também uma gri-tante incapacidade de gerir oresultado e as emoções da par-tida. Nuances que ManuelMachado continua a vislumbrar,em prol de uma época menosaflitiva do que as anteriores.Conseguirá a Briosa entrar na sendadas vitórias? Aceitam-se apostas.

BALIZA

24 PEDRO ROMAHá mais de uma década no clube, Romavolta, esta época, a ser o dono da baliza e a

envergar a braçadeira de capitão. Cumpre o seuúltimo ano de contrato, mas é provável que prolongue ovínculo até 2008.

1 DOUGLASContratado ao Mineiros, o brasileiro Douglastentou durante a pré-época mostrar serviço

para agarrar um lugar na equipa, mas não temconvencido nos amigáveis já disputados. Assinou contratopor uma temporada, com mais duas de opção.

15 EDUARDOO “eterno suplente da casa”, pelas sucessivasépocas sentado no banco ou na bancada.

Eduardo assinou por mais uma época, mesmosabendo que um lugar titular entre os postes não seria fácilde obter.

DEFESA

27 NUNO LUISAinda não se estreou esta temporada, em vir-tude da lesão que o afasta desde Janeiro da

competição. A integrar o treino colectivo já hámais de três semanas, o seu regresso está marcado paramuito breve.

25 SONKAYANão agradou a Co Adriaanse, que o foi bus-car ao Besiktas, sendo um ano depois

emprestado à Briosa por uma temporada. FatihSonkaya, presente nos últimos quatro jogos da Liga, temmostrado o que dele muitos já esperavam: pouco.

3 DANILORelegado para terceira opção, esta época, noeixo central da defesa, o brasileiro mostra-se

ainda a Manuel Machado, que conseguiu, hámeses, segurá-lo por mais duas épocas, quando Danilo játinha um pé fora da Briosa.

4 KAKÁ“Encontrado” nas divisões inferiores doBrasil, proveniente do Grémio de Jaciara,

Claudiano Bezerra (o seu verdadeiro nome)estreou-se em Paços de Ferreira, à 6ª jornada da Liga, epromete continuar a lutar por uma vaga.

14 MEDEIROSManuel Machado gostou tanto de Medeiros,quando o treinou em Guimarães, há duas

épocas, que o indicou para a Briosa. Con-tratado por uma época, Medeiros tem sido aposta habitualpara o centro da defesa, ao lado de Litos.

21 LITOSTalvez o mais sonante reforço contratado nodefeso, depois de cinco anos ao serviço do

Málaga. Contudo, a recta inicial da época nãopodia estar a correr pior para Litos, que leva já duas expul-sões somadas.

16 LINOApesar de ter já 29 anos, Lino não era conhe-cido em terras lusas, antes da Briosa o contra-

tar ao Juventude de Caxias. Com dois golos debelo efeito já apontados, de livre directo, e bons aponta-mentos, o defesa/ala esquerdo promete.

18 VITOR VINHATerá, certamente, frente ao Desportivo dasAves, a oportunidade de se estrear no onze,

face ao castigo de Lino. Machado vê-o comoalternativa, depois de Nelo Vingada o ter considerado, na2ª volta da época passada, imprescindível.

MEIO-CAMPO

5 ALEXANDRE Médio de contenção contratado ao Corin-thians Alagoano para dar mais músculo a um

“miolo” que já o pedia. Machado conhece-obem – foi seu jogador em 2004 no Guimarães – e, por isso,vê nele um jogador útil.

6 ROBERTO BRUMEleito um dos sub-capitães, ganhou há muitoa simpatia da maioria dos adeptos. Indiscutí-

vel na manobra de Machado e, provavelmente,a representar, pela última época, o clube que o trouxe parao futebol europeu.

8 PAULO SÉRGIO Chegou do Moreirense, sem experiência naLiga principal, procura ainda adaptar-se a uma

nova realidade. Suplente por vezes utilizado,pode vir a ser importante na solidez do sector intermediário.

10 FILIPE TEIXEIRAAusente de parte dos trabalhos de pré-época,não se encontra ainda no auge da sua forma.

Quando tal acontecer, pegará de estaca numaequipa ainda órfã de um organizador como o ex-PSG.

11 DIONATTANTem passado os últimos meses sob a atençãodo departamento clínico do clube, não se vis-

lumbrando ainda o seu regresso à competição.Quando este se anunciava, o brasileiro lesionou-se de novo…

28 NUNO PILOTODiscutiu-se, durante meses, a sua continuida-de em Coimbra, que acabou por se confirmar,

com o prolongamento do contrato até 2009. Asua ligação forte ao clube e polivalência nas quatro linhasinfluenciaram a decisão.

32 PAVLOVICInternacional sérvio sub-21, veio melhorar osíndices físicos e de capacidade no jogo aéreo

do meio-campo. Tem sido aposta de ManuelMachado, mesmo provando que não pauta as suas exibi-ções pela regularidade.

87 DAME N’DOYEAssinou por uma época, com mais duas deopção, no último dia de inscrições na Liga.

Em boa hora o fez, apesar de ainda algo ina-daptado ao futebol da Briosa, até porque, ainda jovem,demonstra ter uma enorme margem de progressão.

ATAQUE

7 HÉLDER BARBOSAUma das maiores esperanças do futebol naci-onal. Tem dado até a ideia que teria já lugar

no plantel do F.C. Porto que o emprestou porum ano à Briosa. Já mostrou ser um jogador decisivo, maspromete ainda muito mais…

19 MIGUEL PEDROContratado ao Desportivo das Aves, MiguelPedro não é um criativo, por natureza, mas

tem na sua capacidade de cruzamento e veloci-dade atributos muito interessantes. Um dos jogadores commais minutos até ao momento.

22 SARMENTOEsteve perto de ser dispensado, por existiremmuitas opções para o seu lugar, mas continua,

a espaços, a mostrar que se trata de um valorseguro no plantel. Rápido e forte no duelo, Sarmento espe-ra por mais oportunidades.

30 ESTEVEZO seu passe pertence ao Boca Juniores, que oemprestou por um ano aos estudantes. Depois

de uma pré-época interessante, Estevez ainda nãojustificou, na Liga, os motivos que levaram à sua contratação.

9 GELSONContinua a evidenciar a capacidade de lutaque tanto agradou a Nelo Vingada, quando

chegou à Briosa no início da época passada.Manuel Machado também gosta dele e o brasileiro temcorrespondido. Já apontou um golo.

29 GYANOEra o goleador do Vasas de Budapeste, antesde assinar por três temporadas pela Briosa.

Bom tecnicamente, mas nem sempre lúcido nahora do remate, o avançado húngaro já marcou e prometefazê-lo mais vezes.

99 NESTORTalvez a maior decepção da ainda curta época.Suplente três vezes utilizado, lesionou-se com

gravidade e só deve regressar à competiçãodaqui a algumas semanas. Com bom toque de bola, pareceainda alheado do futebol português.

O PLANTEL DE MANUEL MACHADO

A árdua tarefa de começar do zeroFUTEBOL

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FUTSAL

JOÃO ALMEIDA PEDE MAIS APOIOS PARA O FUTSAL DO SPORT CLUB CONIMBRICENSE

“A cidade tem de acordar para o Sport”Empenhada em dar mais vidaao clube e em proporcionara prática desportiva à juventudeda cidade, a Direcção do SportConimbricense acolheu de bomgrado o projecto apresentadopor João Almeida paraa incrementação do Futsal.Com três equipasem funcionamento, a novamodalidade tem dado os passosnecessários para serdefinitivamente uma realidadeno dia-a-dia do clube.Em conversa com o “Centro”,o impulsionador do Futsalno Sport Club Conimbricenseclama por mais apoios e garanteque “vamos fazer do nossoprojecto um caso de sucessona cidade de Coimbra”

António José Ferreira

Como surgiu a ideia de o Sport se aba-lançar ao Futsal?

A ideia nasceu exteriormente ao clube. Eue um amigo decidimos começar um projectode Futsal em Coimbra, pois cremos que faltaalgo neste meio, na cidade. Começámos a versoluções e clubes que poderiam estar interessa-dos e foi assim que surgiu o Sport. Fomos auma reunião e apresentámos um projectoambicioso e que se espera vencedor dos seuspróprios objectivos. A Direcção do Sport rece-beu muito bem a ideia e a partir daí foi come-çar a preparar tudo para que no início da épocanada faltasse.

Tendo em conta que o Sport se temdedicado mais ao basquetebol, como foirecebido o Futsal e como se “encaixou” nodia-a-dia do clube?

O Basquetebol tem sido a referência doSport nos últimos anos. Mas é necessário verque o clube vive de outros desportos e não sódo Basquetebol. O Karaté, por exemplo, temsido uma aposta vencedora e neste momento é

uma referência em todo o país. O Futsal preten-de ser uma referência no clube e, neste momen-to, está a conquistar o seu espaço, a ambientar-se, a rotina está a construir-se e toda a gente vaiambientar-se a esta nova realidade. Todos traba-lhamos para um clube e todas as modalidadessão uma equipa com o objectivo de vencer coma camisola do Sport. A Direcção, os funcioná-rios e os atletas de todas as modalidades têmajudado e tudo está a correr bem.

Como decorreu o processo de formaçãodas equipas? Foi fácil a captação para osescalões mais jovens?

O processo de formação das equipas dascamadas jovens correu da melhor maneira,embora ainda exista lugar para dois jogadores,tanto nos Juvenis como nos Infantis. Ambas asequipas estão muito competitivas. A equipasénior formou-se com um grupo de amigos ecom alguns jogadores com experiência namodalidade, formando uma mescla interessan-te e ambiciosa, que, com humildade, tem sidoum exemplo para todos nós e para mim, pesso-almente, um orgulho.

O projecto tem recebido os apoiosnecessários?

Nos apoios é que está o mais difícil. Corripraticamente toda a indústria de Coimbra equase todas as lojas da “baixinha”. Foi uma ver-dadeira maratona que, infelizmente, teve quasesempre o mesmo resultado, com a mesma res-posta:”a vida está difícil”. As pessoas não enten-dem que qualquer ajuda é importante e bemrecebida. Até 50 € seriam bem aceites. Mas nãorecebemos essa resposta e é uma pena que nãoabram os olhos para este clube. Eu penso quetudo segue o exemplo da própria CâmaraMunicipal. Há coisas urgentes que têm de serfeitas e os apoios não existem. Por outro lado,temos que agradecer, e muito, à Matobra, àMotoEnergia, ao fotógrafo João Graça e aoSenhor Presidente da Junta de Freguesia deSanta Cruz, pois sem estas instituições, pessoasou empresas, certamente a modalidade tinhamorrido à nascença. Há ainda a ajuda daPastelaria Nobreza, que dá a alimentação paradepois dos jogos, e dos Tecidos de Coimbra,que ofereceram as camisolas de aquecimento.

Quais os principais objectivos para apresente época?

Os objectivos são simples: estabilizar amodalidade no clube e dizer à cidade que existi-mos. Depois disso tudo será mais fácil. Quantoa objectivos desportivos, em todos os escalõesse pretende fazer o melhor possível mas sem

qualquer tipo de objectivos utópicos. Com hu-mildade e atitude vamos viver jogo a jogo e vero que se pode fazer.

As condições oferecidas pelo “velhinho”Pavilhão da Palmeira permitem o desenvol-vimento do trabalho que têm em mente?Que melhoramentos gostariam de verintroduzidos?

O Pavilhão é velho, desactualizado e cominúmeros problemas que causam dificuldades àprática da modalidade. Mas é o que temos evamos tentando melhorá-lo aos poucos. Temchegado e servido para o que precisamos, masnecessita de arranjos urgentes na cobertura, poisse chover não poderá haver treinos nem jogos.É uma vergonha a quantidade de água que entrano campo pelo telhado.

Ao cabo de cerca de dois meses de traba-lho, já é possível dizer que o Futsal seimplantou definitivamente no Sport ClubeConimbricense?

Sim. Não duvidem disso! O Futsal nasceuno Sport e vai aqui ficar até nos quererem. Temestado a ser um projecto vencedor. Prova dissoé ainda não haver derrotas em jogos oficiais, emqualquer dos escalões, e estar a ser bem recebi-do por toda a gente. Com calma vamos fazer donosso projecto um caso de sucesso na cidade deCoimbra.

O público tem acorrido aos jogos?Curiosamente o público vai aumentando.

Nunca anunciámos nenhum jogo na rua, nemnada parecido. Nestas duas primeiras jornadas,praticadas em casa, preferimos ver como cor-ria, se as pessoas apareciam ou não, e a verda-de é que aparecem. A partir da próxima jorna-da vamos começar a publicitar a agenda dosjogos e vamos ver se ainda vai chamar mais aatenção. A cidade tem de acordar para estamodalidade, tem de acordar para o Sport ClubConimbricense.

Arranqueprometedor

No ano de “arranque”, o Futsal doSport Club Conimbricense conta já com 42praticantes inscritos na Associação deFutebol de Coimbra, repartidos pelas trêsequipas em competição: Seniores (treinadospor João Graça e Tiago Ferreira), Juvenis(João Almeida e Diogo Tadeu) e Infantis(Carlos Rodrigues e Olavo Simões). Emtermos desportivos o início não podia tersido melhor e mais motivador: os Senioresocupam neste momento o 2º lugar doCampeonato Distrital da 1ª Divisão, com 3vitórias (no próximo sábado recebem oSanta Clara, às 21 horas, no Pavilhão daPalmeira); os Juvenis contam igualmentepor vitórias os três jogos realizados (jogamno próximo domingo, às 11 horas, emSoure); os Infantis ainda não entraram emcampo, oficialmente, mas os bons resulta-dos verificados nos “amigáveis” deixamantever uma época a tender para o sucesso(a estreia está marcada para sábado, às 11horas, com a visita do Miro).

Os Seniores do Sport mantêm a invencibilidade no “Distrital” da 1.ª Divisão

Os juvenis ainda não perderam no Campeonato Distrital

A estreia dos Infantis está marcada para o próximo sábado

João Almeida

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DDEESSPPOORRTTOO 1177DE 18 A 31 DE OUTUBRO DE 2006

PEQUENOS ATLETAS

“A uniãofaz a força”

Como e quandoentraste para o bas-quete?

Entrei no basque-tebol porque gostavamuito de ver o meuirmão jogar esta mo-dalidade. Comecei apraticar aos sete anos.

Que importân-cia ocupa o basque-te no teu dia-a-dia?

A importância que o basquetebol tem paramim, no meu dia-a-dia, é permitir o convíviocom amigos e aprender coisas novas. É tam-bém um passatempo de que gosto muito.

Fala um pouco sobre a tua equipa esobre o ambiente vivido em torno do bas-quetebol do Olivais.

A equipa dos Iniciados “A” recebeu joga-dores novos que estão ainda em fase de adap-tação. Contudo, com o decorrer da época, otrabalho de grupo irá melhorar e os resultadosda equipa também. Quanto ao ambiente vivi-do nos Olivais é óptimo porque há muitosatletas jovens, de diferentes escalões, quesabem conviver. Deste modo o pavilhão tor-na-se um recinto agradável, com imensa ami-zade e basquetebol.

Com que principais objectivos te aba-lanças à nova época desportiva?

O meu objectivo para esta época é que aequipa consiga a melhor classificação possívele possa disputar a fase nacional.

Ganhar é importante?Ganhar é importante porque é uma manei-

ra de ver reconhecido o trabalho realizado nostreinos. Torna-se motivador, mas é importan-te saber ganhar.

Que importância atribuis ao chamado“espírito de equipa”?

O “espírito de equipa” é muito importanteporque sendo o basquetebol um desportocolectivo é fundamental que todos, de igualmodo, dêem o melhor para obter os melhoresresultados para a equipa. Como se costumadizer, “a união faz a força”.

“Só no dicionário é que o sucesso estáantes do trabalho”. Como comentas estafrase?

Na minha opinião, para se ser bem sucedi-do é necessário trabalhar no dia-a-dia, demodo a melhorar a nossa atitude e desempe-nho. A prova é que os bons resultados quepodemos obter nos jogos só serão possíveis setrabalharmos bem nos treinos.

Consegues conciliar o basquete comos estudos?

Normalmente, sim. É uma questão desaber gerir o tempo, porque são duas situaçõesimportantes para mim.

Que mensagem gostarias de deixarpara os leitores do jornal Centro?

Praticar desporto é fundamental paratodos. Principalmente para os jovens, porquecontribui imenso para o seu desenvolvimento.

André Godinho13 AnosOlivaisBasquetebol 8º Ano de Escolaridade

André Godinho é o “capitão” dosIniciados “A” do Olivais Coimbra

TIRO

BREVES DO DESPORTO REGIONAL

TORNEIOS DEMINIBASQUETE

O Olivais Coimbra leva a efeito, no pró-ximo dia 1 de Novembro, dois Torneios deMinibasquete. De manhã vão estar emacção os Minis Femininos, de acordo como seguinte calendário: Olivais/SportingFigueirense (10 horas), Anadia/SportingFigueirense (11 horas) e Olivais/Anadia(12 horas). Da parte da tarde entram emcampo os Minis B e os Minis A: Olivais//Sangalhos (14h30), Esgueira/Sangalhos(15h30) e Olivais/Esgueira (16h30).

GINÁSTICA NO OLIVAIS

A Ginástica do Olivais Futebol Clube,manutenção e aeróbica, abriu portas no

passado dia 3 do corrente, com a activida-de a funcionar às terças e quintas-feiras,entre as 18 e as 20 horas. As inscriçõesmantêm-se abertas, devendo os interessa-dos contactar a secretaria do clube, todosos dias entre as 18 e as 19 horas.

CURSO DE ÁRBITROS DEBASQUETEBOL

Estão abertas as inscrições para mais umCurso de Juízes de Basquetebol, acção pro-movida pela Associação de Basquetebol deCoimbra e pelo respectivo Conselho de Ar-bitragem.

Os interessados podem fazer a pré-ins-crição na Secretaria da Associação deBasquetebol de Coimbra, pelo e-mail

[email protected], por telefone (239 701297)ou por fax (239 404770).

REUNIÃO TÉCNICA

A Associação de Basquetebol de Coim-bra leva a efeito na próxima sexta-feira,pelas 21h30, na Escola Dra. Maria AliceGouveia, uma reunião técnica para a qualestão convocados todos os treinadoresdos escalões de Iniciados e Cadetes, mas-culinos e femininos. A ordem de traba-lhos é a seguinte: Apresentação eDiscussão do Plano de Actividades doCentro de Aperfeiçoamento TécnicoDistrital; Jornada Nacional de FormaçãoRegional (1 e 2 de Dezembro de 2006);Outros Assuntos.

JORGE BATALHA É UM DOS ENTUSIASTAS DA MODALIDADE

Sport inaugura Carreira de TiroA Carreira de Tiro do Sport ClubConimbricense é inauguradana próxima sexta-feira, às 18h30.Jorge Batalha é um dos entusiastasdo “tiro” e explicou ao “Centro”alguns aspectos da modalidade

António José Ferreira

O Sport Club Conimbricense tem tradiçõesem várias modalidades, entre as quais as queestão ligadas ao tiro de precisão. Que agoravolta a acolher, inaugurando a Carreira de Tirona próxima sexta-feira, às 18h30. A nova estru-tura está montada num pequeno ginásio, con-tíguo ao recinto de jogos, e dispõe de todas ascondições normativas para a prática e com-petição do tiro de precisão. “Que é modalidadeolímpica e na qual Portugal tem atletas bemconsagrados, entre os quais João Costa e SaraAntunes”, começou por enfatizar Jorge Batalhana conversa que travou com o “Centro” e naqual explicou que “a modalidade de tiro de pre-cisão é um desporto 90% mental, espiritual, e10% físico. Embora se trate de tiros, é uma mo-dalidade agradável para quem procura umacerta paz de espírito. Torna-se necessário coor-denar a respiração e os batimentos cardía-cos, para que no momento em que seacciona o dispositivo para disparar apessoa não se mexa”. SegundoJorge Batalha, que confessa serum “pouco hiperactivo, irrequi-eto, e ter encontrado no tiromomentos de grande tranquil-idade”, esta é uma modali-dade que reúne “um tipo degente com grande carácterhumano, camaradista, queconvive muito em torno deum espírito são. É algo queaté me emociona umpouco”. Por outro lado,avança, trata-se de um desporto “de fácil aces-so e sem idade certa para se começar. Basta quese consiga pegar numa arma que pesa cerca detrês quilos. Tenho colegas de tiro com cerca de70 anos e que atiram muito bem. Entre as sen-horas, que são mais calmas, também há exce-lentes atiradoras”.

As inscrições estãoabertas e “estamosdisponíveis paraensinar quemqueira aparecer.Vamos ver qualvai ser a acei-tação por partedas pessoas,mas estamosconvencidosque vão apa-recer algunspraticantes”.Quem estiverinteressado emexperimentar,pode dirigir-se aoPavilhão da Palmeirae “conhecer melhor otiro.

No início não recomendo a ninguém quecompre a arma, antes de experimentar e tomarcontacto com a modalidade. Primeiro vercomo é”. Para já, a nova Secção do Sport ClubConimbricense conta com quatro elementos:além de Jorge Batalha, estão inscritos FernandoCruz e Silva, Jorge Sequeiros e José Nazaré.

A concluir, Jorge Ba-talha reconheceu que

“a modalidade temum ‘fantasma’ quesão as armas, quelevam as pessoas apensarem em coi-sas más. Mas asarmas não são

más, são comouma esferográ-fica ou umafaca. Depen-dem das mãos

que lhes pegar edo que se fizer

com elas. Portantogostava que as pes-

soas entendessem que otiro de precisão é

uma actividadeintelectual, onde

há ciência epaz de

espírito e que apela à calma e à concen-tração”. E agradeceu “à FederaçãoPortuguesa de Tiro, pela cedência do materi-al e pela paciência pelo tempo de espera, etambém à Direcção do SportConimbricense, por ter acreditado e confia-do em nós”.

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1188 RREEPPOORRTTAAGGEEMM DE 18 A 31 DE OUTUBRO DE 2006

“Mercadinho do Botânico” contribuipara divulgar agricultura biológicaMárcia Arzileiro

O “Mercadinho do Botânico” voltou a abrirportas no passado sábado, no magnífico cená-rio do Jardim Botânico da Universidade deCoimbra.

Este original mercado, que tem vindo a con-quistar um crescente número de clientes, assu-me-se como “mercado de agricultura sustentá-vel”. Embora os produtos expostos para vendasejam originários de produção biológica, algunsnão apresentam a certificação. E isto porque,como foi explicado ao “Centro”, para os produ-tores poderem rotular os seus produtos comobiológicos teriam de ter a uma certificação anível europeu, cujo custo, no caso dos pequenosprodutores, não compensaria.

A verdade é que, em Portugal, os produtosbiológicos ainda são, para a maior parte das pes-soas, pouco conhecidos – e, consequentemente,pouco consumidos.

Ouve-se dizer que fazem bem à saúde, quesão bons para o meio ambiente. Mas a procuraescassa destes produtos leva a crer que a infor-mação não está ainda suficientemente divulgadajunto dos potenciais consumidores.

Paulo Coelho, um dos comerciantes de pro-dutos biológicos devidamente certificado, acre-dita que o que mais falta para o desenvolvimen-to deste sector de actividade é a informação e aeducação. E afirma: “Eu não acho que o maisimportante seja pedir dinheiro ao Estado para omodo de produção biológico. A agricultura em

geral conta com alguns apoios financeiros, omodo de produção biológico conta ainda commais uma ajuda especial para a produção.Entendo que seria importante ter apoios a nívelde educação e de informação. Por exemplo, porque é que não existe, nas escolas, uma disciplinarelativa à nutrição? É obvio que as pessoas nãocompram o que não conhecem”.

Um dos factores negativos para a comercia-lização deste tipo de produtos é a circunstânciade serem mais caros. Contudo, Paulo Coelhonão tem dúvidas relativamente a esta questão:

“Os produtos biológicos são, de facto, maiscaros. Cerca de 30% mais caros. No entanto,no que toca à qualidade do produto, o caro

acaba por sair barato. Este género de produtosé extremamente rico em nutrientes. Por exem-plo, aqui no ‘Mercadinho do Botânico’ temosum género de maçã típica do interior, chama-da ‘Bravo de Esmolfe’, que é muito saborosa,aromática e com baixo teor de água.Comparando com outras maçãs, como a‘Golden’, muito consumida em Portugal, a deEsmolfe é muito mais rica em nutrientes. A‘Golden’ contém imensa água, o que o consu-midor está a pagar é em grande parte a águacontida no produto”.

A malápia de Gouveia é outra maçã de ori-gem biológica vendida no “Mercadinho” que,tal como a de Esmolfe, é muito rica em nutrien-tes e com pouca água. “Uma das coisas quediferenciam o produto biológico do não bioló-gico é a quantidade de água na sua composição.Quanto mais água possuírem, menos sabortêm. Para além disso, os produtos biológicossão muito mais ricos em vitaminas”, realçaPaulo Coelho.

RAZÕES DO MAIOR CUSTODOS PRODUTOS BIOLÓGICOS

Mas por que é que os produtos biológicossão mais caros? Eis uma pergunta que muitosfazem.

Para Paulo Coelho a resposta é simples.Sublinha que agricultura biológica tem caracte-rísticas muito diferentes, com maiores cuidadose métodos muito mais exigentes, menos polu-entes, mais amigos da saúde e do ambiente.

Por isso, este produtor considera que a dife-rença de preço – que ronda, em média os 30%,como acima se refere – nem sequer é muito ele-vada, já que a qualidade dos produtos é muitosuperior.

E reforça:“Cultivamos as coisas na altura que devem

ser cultivadas, para serem mais ricas em nutrien-tes e minerais, e conterem menos água”.

Porque, insiste, “muitas vezes as pessoasestão a comprar fruta, mas verdadeiramenteestão a pagar é água ao preço da fruta”. E omesmo, acrescenta, se passa com a carne, ondea produção biológica é feita com os animais aoar livre, com alimentação cuidada e sem produ-tos nocivos para a saúde de quem consome acarne.

ONDE COMPRARPRODUTOS BIOLÓGICOS

Se há uns tempos atrás mal se ouvia falar emagricultura biológica, e poucos eram os locais

onde o consumidor podia adquirir os seus pro-dutos, actualmente já não é bem assim.

As grandes superfícies comerciais já sãoadeptas deste tipo de produtos, também pararesponder à procura de muitos consumidoresque já fizeram destes produtos um hábito ali-mentar diário.

No entanto, a existência de produtos frescosé praticamente inexistente.

Paulo Coelho é um dos proprietários de umaloja de Coimbra exclusivamente dedicada a estetipo de cultura, relativamente à qual nos afirma:

“A ‘Quental Biológica’ é a única loja especia-lizada nesta categoria. A loja tem alguns produ-tos frescos diariamente, mas a maior parte aindasão produtos transformados, e na maioriaestrangeiros. A diferença das grandes superfíci-es é que aqui há frescos, apesar de poucos. Masqueremos melhorar nesse sector”.

E Paulo Coelho acrescenta: “Os preços sãoum pouco mais elevados, e criou-se mesmo oestereótipo de que é uma cultura de ricos, por-que os pobres não lhes podem aceder”.

No entanto, Paulo Coelho acredita que seexistissem mais lojas com exclusividade paraeste tipo de produtos, os preços seriam cada vez

mais baixos, pois seria um mercado mais com-petitivo. E refere, a este propósito:

“Na nossa loja os preços são acessíveis, estãodentro da média. É natural que numa grandesuperfície as coisas acabem por ser mais caras, ecomo não há conhecimento deste mercado, aspessoas ficam com a ideia de que é assim emtodo o lado”.

Paulo Coelho diz que apostaram numa loja depequenas dimensões, “para servir a todos, sejamricos ou pobres”. E acrescenta: “O grande objec-tivo da loja é ser um espaço onde todos fiquemsatisfeitos, com os preços na medida certa, não ésó para quem tem mais possibilidades, mas paraqualquer cidadão. Além de preços acessíveis,também fazemos entregas ao domicílio”.

A ‘Quental Biológico’ situa-se na RuaAntero de Quental, nº 218. Tem também umsite na Internet: http://quentalbiologico.canal-blog.com.

A concluir, justo se torna elogiar aUniversidade de Coimbra, e quem dentro delaestá a promover e a apoiar este “Mercadinho doBotânico”, uma vez que esta iniciativa é umimportante contributo para desenvolver o sau-dável consumo de produtos biológicos.

Paulo Coelho

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Como dissemos em anterior artigo, oaumento número de adolescentes comexcesso ponderal no nosso país é umatendência perturbadora que justifica aatenção especial por parte dos pais, escolas,autarquias e profissionais de saúde pública.

A adolescência é um dos períodos maiscríticos no desenvolvimento humano. Ocrescimento relativamente uniforme dainfância dá então lugar a um outro bastantemais rápido. Esta fase da vida é considera-da especialmente vulnerável em termosnutricionais, devido a uma maior carênciageral e necessidades especiais de nutrientes,provocadas pela maior velocidade decrescimento e pelas alterações do estilo devida e dos hábitos alimentares que nelaocorrem. A obesidade na adolescência é, defacto, um problema grave, mais característi-co do modelo de cultura ocidental.

Embora as consequências de um excessode peso a longo prazo sejam preocupantes,nos jovens os efeitos mais graves são, sobre-tudo, os que se manifestam a curto prazo,numa fase em que a imagem do corpo é ful-cral. Acresce que nos rapazes, ao contráriodo que se passa com os homens adultos queengordam na cintura, o excesso de gordurase acumula na mesma zona das raparigas, oque altera o aspecto masculino tipo, modifi-cação que se pode acentuar com um cresci-mento moderado dos seios.

Estas mudanças fisionómicas são espe-cialmente favorecidas pelos vícios de umasociedade desenvolvida, onde predomina osedentarismo e a comida hipercalórica,com a agravante de esta ser estudada pelas

empresas de alimentação precisamente parair ao encontro do gosto dos jovens, paralhes despertar um maior apetite e pro-mover um maior consumo. É mole, come-se rapidamente, tem uma apresentaçãoatractiva, um sabor doce ou salgadoagradável ao paladar, com uma publicidadeestudada cientificamente para ficar regista-da no seu sistema nervoso central.

Os padrões de alimentação dos adoles-centes são frequentemente caóticos: tendema omitir um número crescente de refeiçõesem casa; estabelecem diferentes associaçõescom alimentos saudáveis e alimentos debaixo valor nutritivo, dando preferência aosúltimos; e o recurso a fast-food, em substi-tuição de refeições normais ou lanches,torna-se prática regular. Ora, apesar de algu-ma variedade desta alimentação ofereceruma selecção de produtos saudáveis, na gen-eralidade dos casos mais de 50% das suascalorias são provenientes de gordura.

Em termos práticos, uma alimentaçãosaudável na adolescência deverá ter comoobjectivos: possibilitar o desenvolvimentomáximo consentido pelas característicasgenéticas – cerebral, ósseo, estatural;aumentar a capacidade de resposta imunepara reduzir a susceptibilidade a doençasinfecciosas e outras; impedir o aparecimen-to de doenças metabólicas degenerativas;beneficiar a competência mental, favorecera atenção e, deste modo, contribuir paramelhores aptidões escolares.

Então, o que poderão fazer os pais paracontrariar esta preocupante tendência?

É fundamental convencer os filhos afazerem seis ou sete refeições diárias, evi-tando que fiquem mais de três horas semcomer (poderão começar por colocar nassuas mochilas um iogurte e algumasbolachas simples para uma refeição inter-calar); insistir com eles para que tomem umpequeno-almoço completo, com leite e pãoou cereais simples; habituá-los a quecomam sopa (almoço e jantar sempre que

possível) e a preferirem alimentos cozidos,grelhados ou estufados em gordura vegetal,em vez dos fritos e assados. Na selecçãodos menus e na prática das refeições, éimportante persuadi-los a preferiremementas à base de carne de peru, frango,galinha e coelho, em detrimento de carnede vaca, pato ou porco, a não comerem apele e a gordura visível da carne e do peixe,a escolherem o azeite como gordura deeleição, a optarem, quando for o caso, pelosconservados em azeite ou em água, a re-duzirem o consumo de alimentos ricos emsal ou açúcar, assim como o de bebidasgaseificadas e refrigerantes.

É aconselhável que os filhos não tomemsistematicamente a 2 ª refeição fora de casa,mas, se tal prática não for possível, que pre-firam o almoço nas cantinas das escolas(pressionando os conselhos directivos atorná-las espaços agradáveis de convívio, aservirem refeições nutricionalmente equili-

bradas e variadas e a eliminarem as má-quinas de venda e todos alimentos hiper-calóricos dos bares); e, no caso dos filhosterem excesso de peso, é conveniente nãoos deixarem andar com muito dinheiro,para lhes reduzir as possibilidades de ten-tação por outros alimentos aliciantes, deque não necessitam.

Em casa, é recomendável dar preferênciaa alimentos de origem vegetal, fazerrefeições equilibradas e variadas, com sopa,carne, peixe, ovos, farináceos, vegetais efruta, e ensinar os filhos a tomarem uma ouduas refeições a meio da tarde, de modo aprevenir as compulsões entre o lanche e ojantar, e a beberem 1,5 l de água diariamente.

Por último, é primordial estimular os fil-hos a praticarem actividade física, na esco-la, nos ginásios ou em clubes desportivos,fazê-los caminhar a pé e organizar passeiospedestres ou com amigos. E se os pais osacompanharem tanto melhor!

SSAAÚÚDDEE 1199DE 18 A 31 DE OUTUBRO DE 2006

Paula BeirãoValente(Nutricionista)

N u t r i c i o n a n d o äAlimentação saudável na adolescência

ACUSA O PSD/PORTO

Governo esvazia matriz de investigaçãodos hospitais universitários

O PSD/Porto acusou o Governo de pre-tender esvaziar a matriz de investigação doshospitais universitários para os transformarem “meros centros de controlo de custos hos-pitalares”.

O porta-voz do PSD/Porto para a área dasaúde, Rui Nunes, antigo presidente da EntidadeReguladora da Saúde, considerou que o modeloassumido pelo Governo para a área da gestãohospitalar (as Entidades Públicas Empresariais -EPE) vai acabar por transformar os grandeshospitais universitários em “hospitais como osoutros”, menorizando a investigação.

Rui Nunes considerou “estranho e contradi-tório” que, por um lado, o Ministério da Ciênciae Ensino Superior tenha sido o único que viu asua dotação reforçada no Plano deInvestimento e Despesas de Desenvolvimentoda Administração Central (PIDDAC), enquan-to, por outro, os hospitais centrais universitáriosdo país vejam as suas verbas diminuídas.

“Até parece que o senhor primeiro-ministro

pensa, talvez em virtude da sua própria forma-ção, que as engenharias serão as únicas áreas deinvestigação e desenvolvimento em que vale apena investir”, comentou.

Rui Nunes, que falava no final de uma reuni-ão da Comissão Política Distrital doPSD/Porto realizada no passado dia 10, emque foi analisada a situação no sector da saúde,frisou que “a saúde é, em todo o mundo, umaárea fundamental de inovação e desenvolvi-mento tecnológico”. O porta-voz doPSD/Porto para a saúde considerou que odesinvestimento no s hospitais universitáriosimplica que “dezenas de anos de trabalho vãoser perdidos, ao mesmo tempo que se destróium património que levará pelo menos umageração a recuperar”.

Considerou ainda que esta situação é apenasmais um sinal comprovativo da “ausência derumo da política do Governo para o sector dasaúde”, tal como acontece com a reorganizaçãodos serviços de urgência.

Médico dos HUC alertapara o combate à cegueira

A Degenerescência Macular da Idade (DMI)é, segundo a Organização Mundial de Saúde, aprincipal causa de cegueira a partir dos 50 anosde idade, nos países desenvolvidos. Em Portu-gal estima-se que existam cerca de 300 mil casoscom DMI e surjam, por ano, mais de 3 milnovos doentes em risco de cegar.

“É muito importante que as pessoas commais de 50 anos façam visitas periódicas aooftalmologista, ou no caso de surgirem sinaisrepentinos (como a visão distorcida) procuremajuda médica e não fiquem semanas à espera”,explica Rufino Silva, oftalmologista dosHospitais da Universidade de Coimbra, subli-nhando que a doença se caracteriza por umadegradação da visão muito rápida.

A idade, a história familiar e o tabaco pare-cem ser os factores de risco comprovados.“Contudo existem estudos que avaliam qual opapel da hipertensão, do colesterol, da diabetes,etc. no desenvolvimento da DMI”, comenta oespecialista, acrescentando que, as pessoas commaior risco devem consumir alimentos ricos

em vitaminas e antioxidantes, uma vez que aju-dam a diminuir o risco da doença evoluir paraformas graves.

“Actualmente existem tratamentos que per-mitem estabilizar a visão, mas vão surgir novosmedicamentos que vão conseguir melhorar aqualidade de vida dos doentes”. Com estesnovos tratamentos, Rufino Silva acredita quepoderá haver uma diminuição do número decasos de DMI a evoluir para cegueira.

Para sensibilizar a população para este pro-blema, a Associação de Retinopatia de Portugal(ARP), em parceria com a Sociedade Portugue-sa de Oftalmologia (SPO) criou o Clube viVER,que pretende juntar pessoas interessadas emsaber mais sobre hábitos de vida saudáveis, espe-cialmente no que diz respeito à saúde dos olhos.

“É importante que a população esteja sensi-bilizada para a importância da saúde ocular,para pequenas alterações que podem fazer. Porexemplo, modificar hábitos alimentares e tabá-gicos, bem como fazer rastreios periódicos”,sublinha Rufino Silva.

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2200 OOPPIINNIIÃÃOO DE 18 A 31 DE OUTUBRO DE 2006

Como utente diário dos SMTUC, permito-tetecer algumas considerações sobre o seu funciona-mento.

Começo por dizer que, na generalidade, servembem a população muito embora oiça críticas avários horários e percursos nas linhas que servempopulações mais afastadas do centro da cidade.

Os motoristas são, na generalidade, briosos pro-fissionais, correctos nas relações com os utentes eprontos a facilitar a vida aos mais idosos ou queapresentem maior dificuldade de movimentos. Ostempos do motorista bruto e prepotente estão emvias de extinção.

Haverá algumas coisas a limar. Por exemplo,na linha 7 está-se demasiado tempo parado, aolado do Palácio da Justiça, para fazer o horário!!!Como os horários são quase incumpríveis, não sepercebe que horário se estará a fazer.

Questão mais melindrosa é a das greves. Ostrabalhadores têm direito a fazê-la e não são osutentes, os mais prejudicados, que terão direito acontestar.

Em geral, as greves são anunciadas com antece-dência e os utentes já estão preparados para as con-sequências,

O pior são os vários Plenários, anteriores e pos-teriores, que vêm sempre associados e, esses sim.apanham o utente descalço, como é costume dizer.O utente sofre as consequências no dia da greve eem mais 3 ou 4 dias por greve. Terá que ser encon-trada uma forma em que os motoristas possamexercer os seus direitos, mas que não prejudiquemde forma tão adicional os utentes.

A ECOVIA é outra questão: vemos os par-ques de estacionamento cheios, mas os miniautocar-ros a circular quase vazios. Estranho mistério...

Deveria também haver, em meu entender, umacampanha de informação junto dos jovens utentesque utilizam abusivamente os lugares destinados adoentes, idosos, grávidas e deficientes.

Apesar destes ligeiros reparos, considero quetemos melhores transportes, mais rápidos e maiscómodos que, por exemplo Lisboa e Porto

RRuuii LLuuccaass

O LEITOR A ESCREVER

Transportes públicosde Coimbra

“Milagres”em terras do Tio Sam

Não tenho por hábito relatar pormenores deviagens que fiz em tempos mais folgados.

De um modo geral estamos habituados aouvi-los, contados por amigos e até nas idas ao“café” por alguém que nem conhecemos bem.

No entanto, vale a pena dar um pouco deatenção a algumas historietas que podem ir doinesperado ao condenável.

Destas recordo a que presenciei já em plenovoo, quando uma hospedeira simpática, elegan-te e atenciosa, surgiu, oferecendo aos passagei-ros vistosos rebuçados artisticamente dispostosnum cestinho.

Agradecido, tirei dois e a oferta passou aoparceiro do lado.

Como reagiria o leitor ao vê-lo sacar os rebu-çados quase todos, enchendo um dos bolsos?

A hospedeira, manifestamente treinada parasituações destas, não reagiu.

Como boa funcionária, manteve a conve-niência comercial…

Uma outra situação aconteceu em autocarro,já na estrada a caminho de nova visita.

Um passageiro corre para o motorista eroga-lhe que volta atrás. Havia esquecido umcasaco no guarda-fatos do hotel…

O lado humorístico desta “tragédia” estevenos comentários dos companheiros do passeio.

Mas vamos aos “milagres”.

Referir os atributos da grande metrópole queé Nova York é supérfluo. Todos sabem que acidade não dorme. Até nos escritórios instala-dos nos altos edifícios as luzes conservam-seacesas toda a noite, combinação generalizadanos EUA e Canadá. É evidente que existemartérias com mais movimento do que outrasdurante a madrugada. Dos programas de via-gens que incluem cidades como esta, fazemparte um ou dois dias livres para compras e out-ras opções pessoais.

Depois de ter visto o essencial em N. Y., paratirar partido de mais um dia livre, dirigi-me aoátrio do hotel para dar uma vista de olhos àsofertas anunciadas nos panfletos expostos.

“Descobri” então a possibilidade de umaescapadela a Washington. A partida era cedíssi-mo, viagem em avião, carrinha para o circuitona cidade e à zona do Capitólio, almoço com orio Potomac a nossos pés e guia falando espa-nhol.

Mas havia um pequeno óbice: o autocarroque nos levaria ao aeroporto de N. Y. partiria às5 horas da manhã de um hotel que ficava a 10minutos a pé daquele onde me alojara.

A curta distância a percorrer levou-me,impensadamente, a dispensar o táxi – e aí voueu e minha mulher, com teres e haveres, passan-do por entre dezenas de sem-abrigo, ladrões epotenciais assassinos. Recorri ao truque da mãono bolso, fingindo possuir uma arma, emboraseja decisão que mete medo às duas partes.

Por isso, ou porque imaginassem que sópolícias se atreveriam a tal cometimento, o certoé que escapámos de uma situação que hoje nãorepetiria.

Em Washington, finda a visita e já quandoestava no aeroporto, desencadeou-se uma tre-

menda tempestade – chuva, vento, raios – queobrigou ao cancelamento de TODOS os voos.

E agora? – pensei eu, que partiria na manhãseguinte para o Canadá.

Quando me preparava para obter informa-ções sobre como regressar a N. Y. de comboio,passou por mim um dos companheiros do cir-cuito, de um grupo de espanhóis.

– Quer regressar a N. Y. não é?– Pois, mas assim só de comboio – res-

pondi.– Não, espere! Vai entrar no primeiro corre-

dor à direita, desce cinco ou seis degraus, surge-lhe um balcão, apresenta o seu bilhete à senho-ra de serviço que o carimba, entra na porta tam-bém à direita, passa pela manga e está no avião.Senta-se e espera a partida. Mas – importante! –,faz tudo sem pronunciar palavra alguma!

Segui à risca as instruções e foi assim queaconteceu o segundo “milagre”.

Regressei a N. Y. voando na cauda da tem-pestade e, para cúmulo, o avião nem vinhacheio.

Na manhã seguinte, à partida para oCanadá, no meio da azáfama que é conferirmalas, cada um perguntava aos outros comotinham passado o dia. Das trocas de impres-sões, a que mais admiração causou foi a minhaida à capital federal, na sequência do primeirodia livre que já tivera e que aproveitei para visi-tar o submarino “Growler” e o porta-aviões“Intrepid”.

Mas o “milagre” de Washington ainda hojeme dá que pensar e começo a acreditar queaquele espanhol salvador, como os outros, erafuncionário da Ibéria – companhia espanholade aviação – em excursão por terras americanas.

Mas, seria?...

Varela Pècurto

PRAÇA DAREPÚBLICA

Carlos Carranca

A propósitodo “sossegointranquilo”de Carlos Moraisdos Santos

Em medir o tempo, fala-nos CarlosMorais dos Santos, questionando-se e ques-tionando-nos quanto aos seus limites, semdeixar de afirmar que “o tempo é só espaço emomento/ A memória de uma distância/Dos grãos de pó explosão original”.

E este livro o que é se não a memória deuma distância que o autor sente, a proximi-dade das pessoas e das coisas, “o grão de póda explosão original”, que é a vida de CarlosMorais dos Santos?

Não direi como o autor “Num rio de vidajá só iluminado/ Por este sol de Inverno… aacabar”, mas, no rio do tempo navegado poruma vida que se contempla, surgem, comoestandartes dessa mesma vida, os versos deum homem apaixonado e que pelo tempo olevaram a bater-se “pela paz, pela concórdia epela razão”.

É um homem fraterno, o que sempre con-hecemos, agora registado em versos que nostornam ainda mais nítida a sua imagem.

Preocupado com o mundo, com a degra-dação dos valores, com a sua pátria, assimcomo com a velha Europa, a que chama“Europa bela”, o autor tenta erguer “Colunasde Humanidade” e, “num abraço universal”,convocar a Europa para o justo caminho dafraternidade.

Ao lermos este livro, somos levados ainterrogar-nos sobre este quase ingénuo dese-jo, este sonho irrealizável aos olhos descrentesdos políticos do nosso tempo.

Mas cada um sonha o que a sua alma lhepede, e quem deseja amplos espaços de frater-nidade só pode viver por eles.

Neste livro, que é uma longa confissão,“um espaço de partilha”, Carlos Morais dosSantos vive connosco momentos líricos,dramáticos e trágicos, como esse do“Requiem ao Pôr-do-Sol”.

O mundo percorrido pelo autor vai, aolongo da obra, tornando-se nosso, percorridotambém pela memória de quem o sentiu, oviveu e o ouviu, descrito por outros – emMarrocos com D. Sebastião, em Angola numfim de tarde na baía de Luanda, subindomontanhas sul-americanas ou jantando àmesa de um restaurante onde os artistas sereúnem em Pedra de Guaratiba, nosarredores do Rio de Janeiro.

Este livro é, sobretudo, uma longa einacabada confissão de um homem que teimaem não passar distraído pela vida.

POIS...

No Intercidades:– Eu quero paz, não quero guerra! Há

lugares para todos!... Que mais dá ir aqui ouir ali?

Muito afirmativa, a senhora. Andaria aípelos cinquenta e poucos anos.

E sentou-se ao calhas, com a mãe, sem seimportar com a marcação, porque, antes, jáquisera ocupar um lugar cujo ‘dono’ apare-cera.

A senhora não compreenderia, por maisque lhe explicassem. Ela proclamava paz,mas é assim que começam as guerras: um aocupar indevidamente o lugar do outro!...Nem sequer lhe passava pela cabeça ahipótese de alguém ter escolhido deliberada-mente aquele lugar! Curiosamente, eu esco-lho sempre o mesmo; e, apesar de pacifista,faço guerra se alguém mo ocupou.

Joséd’Encarnação

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A campanha está aí. Em força.Os funcionários públicos são o cancro do

nosso orçamento. Sessenta por cento das recei-tas cobradas são para lhes pagar os “chorudos”e chorados vencimentos.

Esta tese, perversamente repetida à sacieda-de e à sociedade, vai sendo interiorizada pelocomum dos cidadãos, alimentando no subcon-sciente certa animosidade latente originada poratitudes menos felizes de significativo númerode elementos da classe.

Todavia, quando conhecemos os seus auto-res e nos apercebemos dos objectivos, chega-

mos à conclusão de que o assunto se reveste deum execrando cinismo e duma visão distorcidado serviço público e das funções do Etado.

Por um lado, certos políticos a tentaremdissimular a sua incapacidade, a sua insaciávelavidez e as nebulosidades do seu comporta-mento, mais apostados em acautelar os pro-ventos através das estratégias partidárias defavorecimento de clientelas e de controlo doaparelho do Estado. Eles são os grandes res-ponsáveis pelo exagerado crescimento donúmero de “comensais”, pela falta de exigên-cia na qualidade, pela ausência duma avaliaçãoséria e eficaz e pelas progressões selvagensnas carreiras, à revelia do mérito e da compe-tência. Precisamente por isso e pelo enfeuda-mento das chefias, a avaliação e o emagreci-mento defendidos estão, à partida, inquinados.Há sobejas razões para se temer que fiquem

os clientes em detrimento dos competentes.Por outro lado, levanta-se a voz do capital

através de ilustres figuras gestoras, economicis-tas e empresariais, isoladas ou em convénios demediática retumbância, a puxar pelas teses domais radical liberalismo, procurando convencero cidadão de que as maleitas orçamentais sedevem às exageradas despesas do Estado e àmá gestão dos dinheiros públicos, forçando afamigerada tónica do excesso de pessoal emandando às urtigas as atribuições de regula-ção e compensação das políticas sociais que aconstituição comete ao Estado. Todos nóssabemos os seus propósitos: diminuir as suasprestações fiscais e usurpar ao Estado determi-nadas áreas de intervenção potencialmentelucrativas, nomeadamente a saúde, a educaçãoe a prevenção social.

Assume foros de extrema gravidade a ban-

deira da precariedade do emprego por eles con-cebida e já assumida pelos altos responsáveis dapolítica e da governação. Todos estamos a vero que se passa diariamente nas empresas quefecham e mudam de poiso. Todos podemospensar que isso poderá acontecer um dia quan-do aquelas fatias mudarem para o poiso dosprivados.

Se se deseja enriquecer a coesão social, for-talecer a criação de novas famílias com o cor-respondente e essencial aumento da natalidade,assegurar às novas gerações um futuro estávelque lhes permita, em tempo útil, programar asua vida, é mister de qualquer Estado dignodesse nome pugnar pela estabilidade do empre-go. Jamais pela precariedade.

É esta a filosofia correcta. No nosso enten-der, é por ela que os governos deverão pautaras suas políticas sócio-laborais.

Foi em 1852 que se deu em Portugal aReforma Postal promulgada pela RainhaD. Maria II. Mas só em Julho do anoseguinte saiu uma emissão idêntica à quetinha saído em Inglaterra, mas com o per-fil da soberana portuguesa, inspirado nomodelo inglês.

O desenho foi confiado a Francisco deBorja Freire, que segue directrizes combi-nadas, enviando depois o desenho paragravação. Depois de feita e aprovada a gra-vura, é fabricada, multiplicando assim aschapas da gravura em folhas de cinquentaou cem unidades cada uma, sendo depoisentregues à Casa da Moeda.

Estava então criado o primeiro seloportuguês, sem qualquer taxa, pois podiacircular em cartas de qualquer valor.

SELO DE D. MARIADE 25 REIS DE 1853

D. Maria II “nasceu num domingo deRamos a 4 de Abril de 1819 em terras bra-sileiras. Seus pais, o rei D. Pedro IV e suamulher a arquiduquesa Leopoldina deÁustria, tiveram a sua primeira filha noPalácio da Boavista. Ali vivia a família realfugindo aos franceses que tinham invadi-

do o reino. (…) Não teve na pia baptismalmais do que um nome pomposo e um títu-lo, como se impunha à sua condição de futu-ra rainha – Maria da Glória Joana CarlotaLeopoldina da Cruz Francisca Xavier dePaula Isidora Micaela Rafaela Gonzaga,princesa da Beira e do Grão-Pará (…).

1º CENTENÁRIODO SELO POSTAL 1$00

Desenho de Jaime Martins BarataImpressão: Heliogravados, N. V. John .

Enschedé en Zonen, de HaarlemCirculou de 3 de Outubro de 1953 até 26 de

Julho de 1956.Papel esmaltado, denteado 14 x 13 ½.Legenda “PORTUGAL” sobre fundo dou-

rado.

Na quinta de São Cristóvão, no Rio deJaneiro, Maria da Glória vai ter uma infân-cia despreocupada e feliz, educada e muitoamada pelas camareiras do palácio e pelospais. Aos 7 anos, essa alegria é interrompi-da abruptamente com a morte da mãe. Opai será o seu grande amigo e protector(…). Estava-se no ano de 1822 e a nossaprincesa contava com dois anos e meioquando nas margens do rio Ipiranga se dáo grito da independência do Brasil. EmPortugal morre entretanto D. João VI eseu filho, D. Pedro IV, residente no Brasil,vai ter de optar entre ser imperador doBrasil ou rei de Portugal.

Escolhe o Brasil e, em 1826, abdica dotrono de Portugal, em nome da filhaMaria, apenas com sete anos (…). Estamenina começa a pouco e pouco a aperce-ber que vai deixar de ser criança e que o

seu destino lhe vai impor uma condutadiferente da das outras meninas da suaidade. Aos nove anos é mandada para acorte de Viena para ser educada pela avómaterna, mulher de Francisco I (…).

Tem 15 anos quando sobe ao trono D.Maria II, 29º monarca português e asegunda rainha reinante da nossa História(…). O seu primeiro ministério, presididopelo duque de Palmela, encontra a oposi-ção das Câmaras. Mas, por agora e pormotivos políticos, é prioritário que a rai-nha se case e dê um herdeiro ao País.

Às rainhas de Portugal estava vedado ocasamento com estrangeiros e mesmo naCarta Constitucional de 1836 esse precei-to ficara expresso. As Câmaras tiveram,pois, de reunir para autorizar que a rainhapudesse casar com um estrangeiro.

Dos diversos noivos que lhe estavamdestinados, a madrasta vai-lhe escolher oseu próprio irmão. Fica decidido o casa-mento com Augusto de Leuchtenberg,neto de Maximiano da Baviera.

(…) O noivo morre dois meses depois.Ainda mal refeita do acontecimento, deci-dem casá-la de novo com Fernando deSaxe-Coburgo-Gotha ministro dosNegócios Estrangeiros do primeiroGoverno Constitucional (…).

Temos de admirar esta rainha que con-segue manter a cabeça fria, com um povoem pé de guerra permanente e em casacom uma prole numerosa para educar.

Nos seus 19 anos de reinado, soubesempre ser rainha e mãe ao mesmo tempo,pois, em todas as crises políticas que o paísatravessou, estava sempre D. Maria à espe-ra de um filho e as obrigações comogovernante nunca foram descuradas poresse motivo (…). Se não tivesse sido umarainha de pulso, não teria acabado o seureinado já sem guerras civis e proporcio-nando aos seus filhos que foram reis, rei-nados com uma certa estabilidade (…).

No seu reinado, apesar das vicissitudespor que passou, houve tempo para o pro-gresso. Em 1835, já fora estabelecido oensino primário gratuito. Em 1836, poracção de Sá da Bandeira, é decretado o fimdo tráfico de escravos nas colónias portu-guesas a sul do Equador. O primeiro selopostal a circular em Portugal tinha a sua

efígie em branco, moedas de ouro, prata eas primeiras de cobre (…).

A rainha tinha paixão pelo teatro, gostoesse que lhe ficara dos tempos vividos nacorte de França.

Vai empenhar-se, apoiada por Garrett,para que se construa um teatro que seráedificado no Rossio sobre as ruínas doPalácio da Inquisição – O teatro D. MariaII, segundo projecto de Fortunato Lodi.As obras vão decorrer entre 1842 e 1846.O tecto tinha pinturas de ColumbanoBordalo Pinheiro que foram destruídas noincêndio de 1964 (…).

Em 1838, vai comprar o antigo conven-to dos monges de S. Jerónimo. O paláciocomeçou a ser edificado em 1844. É omais belo exemplar da arte romântica donosso país (…).

Infelizmente D. Maria II não pode des-frutar muito deste local maravilhoso, vistoque vem a morrer de parto a 15 deNovembro de 1853 (…).”

(Texto gentilmente cedido pela Senhora D.Maria Luísa Paiva Boleo lançado no site

www.oleme.pt em 21-02-2005)

150 Anos do Primeiro Selo Português emiti-do em 13 de Março de 2003.

Designer: Eduardo AiresPicotado 12 x 12 ½ e impresso na Imprensa

Nacional Casa da Moeda.

Nunca Roland Hill pensou que a suainvenção corresse o mundo e tivesse tan-tos adeptos!

Por outro lado, o selo português - alémde abordar os temas mais diversos, tam-bém é um múltiplo de arte, altamente apre-ciado em todo o mundo, designadamentepor filatelistas dos quatro cantos do globo.

OOPPIINNIIÃÃOO 2211DE 18 A 31 DE OUTUBRO DE 2006

Renato Ávila

Estabilidade e precariedade

O primeiro selo Português

João PauloSimões

FILATELICAMENTE

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Foi em 2004 que pela primeira vez ouvifalar de uma banda de Las Vegas, os TheKillers, que tinham acabado de editar o seuálbum de estreia, “Hot Fuss”, que catapulta-do pelo “mega-hit” “Somebody Told Me”,se tornou um êxito de vendas. A primeiraamostra deste disco foi “Mr. Brightside” ( háuma excelente mistura deste tema, a “ThinWhite Duke Remix” da autoria de JacquesLu Cont ), seguindo- se “Somebody ToldMe”, “All These Things That I´ve Done” e“Smile Like You Mean It”. Há já muitosanos que os promotores de eventos musicaisos tentam trazer aos palcos nacionais, masaté ao momento sem grande sucesso.

Este ano regressam com o seu segundoregisto de originais, “Sam´s Town”, quetem sido muito aclamado pela crítica musi-cal, chegando ao ponto de serem aponta-dos como os novos U2, e, para isso muitocontribuiu o excelente “single” de apresen-tação, “When We Were Young”, que tam-bém, já foi alvo de uma série de remisturas,nomeadamente: dos Fischerspooner, deLinderberg Palace e do “repetente” JacquesLu Cont, numa edição apenas disponívelno formato de vinyl. Mas “Sam´s Town”não se resume a “When You Were Young”,

havendo a destacar uma série de outrostemas, como: “For Reasons Unknown”,“Read My Mind” e “Uncle Johnny”.

Tal como o seu antecessor, este novoregisto dos The Killers assume-se como umsério candidato a estar presente nas minhasmalas de discos para as noites de DJ.

Há umas semanas, numa daquelas pro-moções que vão sendo muito comuns nasrevistas de hoje, recebi um exemplar de“Circo de Feras” dos Xutos & Pontapés,aparentemente poderia não ser mais do queum exemplar de uma série de discos dereferência da música portuguesa, mas paramim, significava muito mais do que isso,

porque se tratava do primeiro disco querecebi, quando tinha perto de 8 anos e queme despertou para o mundo da música.

Fechou as portas nopassado sábado umdos mais míticos clubesdo rock do mundo, o“CBGB”. Situado nacidade de Nove Iorque,durante cerca de 30anos, por aqui passa-ram alguns dos maisimportantes nomes damúsica mundial, e afesta de despedida nãofoi excepção, com Pat-ti Smith a ser a anfitriãdo derradeiro concerto.

Para sugestão dasemana recordo umdos vencedores dosprémios MTV do anotransacto (cuja ceri-mónia de entrega serealizou em Lisboa),mais propriamente oprémio MTV Itália,que foi amealhado

pelos Negramaro, muito por força da exce-lência do seu último trabalho de originais“Mentre Tutto Scorre”.

PARA SABER MAIS:

- www.thekillersmusic.com- www.negramaro.it- The Killers “ Hot Fuss” (Vertigo)- The Killers “Sam´s Town” (Mercury)- Negramaro “Mentre Tutto Scorre”

(Universal)

2222 MMÚÚSSIICCAA DE 18 A 31 DE OUTUBRO DE 2006

Distorções

José Miguel [email protected]

DECORRE ATÉ 25 DE NOVEMBRO

Festival de Música de Coimbraestende-se pela Região Centro

Iniciou-se na passada semana mais uma edi-ção do Festival de Música de Coimbra (FES-MUC), que vai prolongar-se até ao próximodia 25 de Novembro, com espectáculos emoito concelhos da Região Centro.

No passado sábado de salientar a actuaçãodo grupo “The Copenhagen Concert Choir”,que apresentou música sacra dinamarquesa naCapela de S. Miguel (Universidade deCoimbra); e o trio “Cantus Anonimus”, que

interpretou música portuguesa doRenascimento na Igreja Matriz de Ançã.

De salientar este aspecto descentralizadordo FESMUC, cujo diversificado programaintegra formações como a OrquestraSinfónica Juvenil, o “Quarteto Musicalis”, o“Sax Ensemble - Quarteto de Saxofones deCoimbra”, a Orquestra Adarte, a Orquestra deSopros do Conservatório de Música deCoimbra, o “Drumming - Grupo de Per-

cussão”, o ARTRIO, Jean-Yves Fourmeau, aOrquestra Clássica do Centro e a LisbonUnderground Music Ensemble. E ainda oCoros Misto e o Orfeon Académico daUniversidade de Coimbra, bem como oOrfeão de Leiria. Haverá também diversosrecitais de piano, nomeadamente por KrystynaRaczynska, Armando Vidal, Inês Mesquita,Paulo Pacheco e João Paulo Santos.

Ao longo do FESMUC serão interpretadas

obras que vão desde a música antiga à contem-porânea (de Schenberg, Beethoven, Bach,Schubert, Chopin, Liszt, Vivaldi, Piazzolla,Davis Perez e Gabriel Fauré, Debussy,Massente, Charpentier, Milhaud, Boulanger,Messiaen, Gérad Grisey, Xenákis, Haydn,Mendelssohn, Ryuichi Sakamoto, ChicoBuarque e António Jobim), e será prestado tri-buto a grandes génios da música, comoMozart, Schumann e Lopes-Graça.

The Copenhagen Concert Choir Cantus Anonimus

HOJE À NOITE, EM COIMBRA

“A guitarra contaa sua história”com PedroCaldeira Cabral

Vai decorrer hoje (quarta-feira, dia18), no Auditório dos Hospitais daUniversidade de Coimbra, um “concer-to comentado” com Pedro CaldeiraCabral.

“Olhares cruzados - A guitarraconta a sua história” é o sugestivo títu-lo deste concerto, mais uma iniciativade muito mérito da Orquestra Clássicado Centro.

Mais informações sobre esta iniciati-va podem ser obtidas através do tele-móvel 916994160, através do qualpoderão ser também pedidos esclareci-mentos sobre a campanha de angaria-ção de sócios da Orquestra Clássica doCentro (OCC).

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IINNTTEERRNNEETT 2233DE 18 A 31 DE OUTUBRO DE 2006

O site Caricature Zone apresenta um olhar diferentesobre caras conhecidas. Diariamente são apresentadasnovas caricaturas de figuras públicas internacionais e estãodisponíveis para download wallpapers, screensavers, ima-gens compostas e caricaturas simples de inúmeras persona-lidades.

O Caricature Zone permite que o utilizador transformecaras ou crie a sua própria caricatura, recorrendo a mode-los pré-definidos. O site disponibiliza ainda postais electró-nicos, jogos e uma loja online onde se podem comprardiversos objectos com caricaturas específicas. Outro servi-ço pago é o envio de fotografias para serem caricaturadas.

Caricature Zone

endereço: http://www.magixl.com/ | categoria: entre-tenimento

A Biblioteca Digital da Ria (BIBRIA) disponibiliza na redeum valioso espólio documental, de grande interesse histórico ecultural. O projecto foi financiado pelo programa AveiroDigital e é uma iniciativa de um consórcio entre a Universidadede Aveiro e os municípios de Aveiro, Ovar e Oliveira do Bairro.O site disponibiliza jornais, monografias, gravuras, pautas mu-sicais e outras publicações de autores da região. Os documen-tos faziam parte do espólio das bibliotecas dos municípios e dauniversidade e foram digitalizados com o objectivo de divulgarde forma mais alargada os conteúdos, assim como permitir apreservação deste importante legado.

BIBRIA – Biblioteca digitaldos municípios da ria

endereço: http://bibria.cm-aveiro.pt/Forms/bibria.aspx| categoria: história

A empresa de entreternimento britânica 57 Productionslançou recentemente o iPoems, que permite fazer odownload de poesia para ser reproduzida em leitores deMP3 e iPods. O site disponibiliza poemas em formatoáudio e também em aplicações flash. Os ficheiros podemser descarregados mediante um pagamento.

A ideia é simples: promover a poesia com recurso àsnovas tecnologias. A maioria dos poetas que com “ipo-ems” na plataforma são britânicos e acreditam que aInternet pode transformar o campo da poesia.Actualmente, o iPoems disponibiliza mais de 800 poemas.

Links relacionados:

http://www.57productions.com/ - 57 ProductionsiPoemsendereço: http://www.57productions.com/new_site/

ipoems.php | categoria: poesia

A Current TV é um canal de cabo e satélite norte-ame-ricano que difunde também na Internet. Esta estação detelevisão é dirigida pelo antigo vice-presidente norte-ame-ricano Al Gore e dirige-se a um público de jovens adultos“tecnófilos”. Promovendo um modelo de comunicaçãohorizontal e bilateral, a Current TV emite uma programa-ção produzida e/ou escolhida pela sua audiência. A ideiade Gore é criar uma televisão que as pessoas realmentequeiram ver.

Os espectadores/utilizadores podem escolher as peçasque a estação irá emitir e podem enviar trabalhos (pods)para rubricas de política, tecnologia, música, moda, entreoutras. É o modelo do VC2 – “viewer-created content”. Epara isso o site disponibiliza tutoriais de como produzir erealizar vídeos (disponível na área “Current Studio”). Paracomplementar este projecto, a estação de televisão contacom duas parcerias de peso: o Google e o Yahoo. O pri-meiro disponibiliza na Internet, no Google Current, umaactualização a cada hora da programação que está a sertransmitida no cabo e por satélite. O Yahoo disponibilizana rede quatro canais independentes da estação: Buzz,Action, Driver, Traveler

Links relacionados:

http://video.yahoo.com/currenttv - The Yahoo! Cur-rent Network

http://www.current.tv/google - Google Current

Current TVendereço: http://www.current.tv/ | categoria: televi-

são, jornalismo, entretenimento

O Google lançou um novo projecto dedicado aos pro-fessores: o Google for Educators. Este site é a resposta daempresa aos recentes investimentos da Microsoft e daYahoo na área da Educação.

O Google for Educators é um guia para os professoresque pretendem utilizar as novas tecnologias na preparaçãoe no próprio contexto das aulas. Neste sentido, os utiliza-dores têm acesso a informação útil e prática sobre dozeaplicações do Google que podem ajudar a trabalhar na ver-tente educativa: Google Earth, Blogger, BookSearch,Google Maps, Google Vídeo, Picasa, Google Docs &Spreadsheets, SketchUp, Google Calendar, PersonalizedHomepage, Google Apps for Education. Tudo reunidonuma única página e com informação detalhada das vanta-gens e principais funcionalidades.

Google for Educators

endereço: http://www.google.com/educators/ index.html | categoria: educação

Pronto para partir? O Ready to Leave ajuda-o a respon-der a esta perguntar com a disponibilização de várias ferra-mentas que facilitam a vida aos viajantes. O site assume-secomo uma espécie de kit de viagens e tem também umavertente comercial, com equipamentos e produto para via-jantes.

O site apresenta um mapa mundo com informaçõesdetalhadas de cada país, sugestões de listas de equipamen-to para férias temáticas (tipo “checklist”), links sobre saúdeem viagem, um conversor de moeda, fusos horários domundo inteiro, informações sobre meteorologia e umdirectório muito completo para qualquer tipo de viagem edestino. Embora a época das tradicionais férias já tenhapassado, o Ready to Leave pode ser um óptimo ponto departida para planear os fins-de-semana prolongados que seavizinham ou até mesmo as férias natalícias.

Ready to Leave

endereço: http://www.readytoleave.com/ | categoria:viagens

IDEIAS DIGITAIS

Inês AmaralDocente do InstitutoSuperior Miguel Torga

CARICATURE ZONE

57 PRODUTIONS

READY TO LEAVE

CURRENT TV

GOOGLE FOR EDUCATORS

BIBRIA

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UM “OUTRO” 5 DE OUTUBRO

No início, a RTP tinha a sua sede na Rua deS. Domingos à Lapa e estúdios no Lumiar, emLisboa. Depois passou para a avenida 5 deOutubro. Com a “revolução” Morais Sarmento,a estação estatal de televisão juntou-se à RDP e,juntas, mudaram-se para um novo edifício naavenida Marechal Gomes da Costa.

Ora esta sequência de locais parece ter tidoefeitos sobre algumas decisões que vão sendotomadas na RTP. Se recordarmos o facto deGomes da Costa ter liderado o movimento mili-tar do “28 de Maio”, que fechou a primeiraRepública e abriu portas à ditadura, podemos

pensar que no passado dia 5 de Outubro, a RTPactuou de forma semelhante aquela que, duran-te quase vinte anos, a ditadura impôs à estação(agora chamada de “operador público”).

O que aconteceu no Telejornal das 20 horas,noventa e seis anos depois da implantação daRepública em Portugal é, de facto, dificilmenteaceitável, qualquer que seja o ponto de vista quese adopte.

A peça de abertura retomou o caso, que seveio a revelar um fait-divers, do sequestro numbanco em Setúbal. É verdade que o desfecho sóna madrugada do próprio dia 5 se verificara, maso assunto já tinha sido tratado na véspera e,àquela hora, já nada justificava o “esticar” docaso, com um representante da PSP em estúdio,comentando as imagens das operações para li-

bertar os reféns. Os pormenores arrastaram-sepor uns longuíssimos 16 minutos, explorandoum acontecimento que não mereceria mais doque um ou dois minutos.

Logo a seguir, o alinhamento dava destaque ànotícia da subida das taxas de juro, decretadapelo Banco Central Europeu. Os editores doTelejornal resolveram dedicar seis minutos à ma-téria, apesar de a própria peça não reconhecergrande importância ao assunto, ao notar que oanúncio foi “o que já todos esperavam” e que “arazão é sempre a mesma”. Não havia assimgrandes motivos para a notícia, mas a RTP resol-veu esticá-la e toca de saltar para a rua fazendoaquelas perguntas óbvias que só podem receberrespostas igualmente óbvias. Não se espera quealguém diga que ficou contente com a decisão, jáque ela significa mais encargos ao fim do mês.

Mais de vinte e dois minutos depois do iníciodo Telejornal e no terceiro lugar do alinhamen-to, chega finalmente uma das mais importantesnotícias do dia: a marcha/manifestação de pro-fessores em Lisboa, que o autor da peça consi-derou “a maior desde o 25 de Abril” e, mesmo,“o maior protesto de rua de sempre” da classedocente.

A ser assim, será aceitável que o assuntotenha sido colocado em terceiro lugar e tratadoa correr? Os dois minutos e meio que ocupoutornaram-se ridículos perante os dezasseis des-pendidos com um sequestro já em segundamão. Para lá da duração da peça, o tratamentofoi absolutamente convencional e, para os queestavam por fora do assunto (a maior parte dapopulação), os motivos profundos de tal des-contentamento ficaram por perceber. Os taisdezasseis minutos dedicados ao fait-divers do se-questro requentado, teriam sido melhor apro-veitados com uma abordagem séria do que esta-va em causa. Porque estão os professores tão re-voltados? Que consequências esta revolta podeter para as crianças e jovens portugueses? Daforma como a notícia foi desenvolvida, o que

ficou foi a ideia de que era apenas “mais umamanifestação”.

A outra notícia marcante do dia, o agenda-mento político do problema da corrupção nodiscurso comemorativo da implantação daRepública pelo Presidente Cavaco Silva, surgiuem quarto lugar e já com meia hora deTelejornal. O tema central da notícia foi tratadode passagem, mas já a abertura do Palácio deBelém ao povo, acabou por tomar o destaque.

O exemplo deste Telejornal, que vem lançarainda mais dúvidas sobre a transparência e atécompetência do serviço público, choca (e defrente) com o entusiasmo com que foi lançadaaos quatros ventos a informação de que a RTPera o segundo “operador público” que menosdinheiro gastava na Europa. Esqueceram-se dereferir as audiências comparadas, já que quanto àqualidade, essa não é mensurável.

Este caso tem por certo responsáveis. NaRTP há Director de informação, subdirectores,editores. E há também uma Administração que,pelo vistos, prefere ficar conhecida por gastarpouco sem cuidar de saber os resultados. E, jáagora, recorde-se que a Administração da RTPtem que responder perante todos nós.

OS “GRANDESPORTUGUESES”

“Os Grandes Portugueses é o novo programade entretenimento da RTP que, de forma bemdisposta, combina o Documentário com oGrande Espectáculo. É um verdadeiro desafioao País e, ao mesmo tempo, um excelente mo-mento para um debate animado entre os portu-gueses sobre a sua História.

O programa destina-se eleger – com o seuvoto – a personalidade mais marcante da Históriade Portugal. O português que você mais admira.”

É desta forma que a RTP, através do seu site,apresenta o novo programa. Guiados por umaMaria Elisa regressada, lá vamos percebendo doque se trata. A ideia base é boa, mas o seu trata-mento já está a provocar polémica. O que é um“grande português”? Se ele não se mede pela al-tura ou pelo peso, então quais são os critérios?Aparentemente e só, ser, ou ter sido conhecido.Na lista de exemplos que o site da RTP mostra,há de tudo. Desde Afonso Henriques a Figo, agrandeza portuguesa passa pelos mais diversosequívocos. A começar pela repescagem do dita-dor Salazar que não fazia parte da lista inicial.

Ana Sá Lopes, no DN, chamou a atençãopara esta “espécie de plebiscito selvagem cujaregra parece estar a assentar na desinformação ena grande confusão de princípios e valores”. Éum facto. Mas para além disto, o que me fereainda mais é a ideia saloia da RTP fazer “deforma bem disposta” uma eleição popular entretodos (já que o telespectador pode votar em sipróprio!) e assim chegar-se ao paradoxo de uma“final” entre, por exemplo, Salazar e uma dassuas vítimas – Humberto Delgado.

A RTP devia saber que a História se pode dis-cutir civilizadamente, mas nunca de “uma formabem disposta”, eufemismo escolhido pelos ven-dedores de conteúdos para a verdadeira ideia,isto é, “de uma forma inócua”.

2244 TTEELLEEVVIISS ÃÃOO DE 18 A 31 DE OUTUBRO DE 2006

PÚBLICA FRACÇÃO

Francisco [email protected]