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1 OQUINTORUMO Pantoja Ramos Maio de 2016.

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OQUINTORUMO

Pantoja Ramos

Maio de 2016.

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Prefácio

Ah, se houvesse um novo rumo. Uma direção sem diretrizes, apenas princípios. Sem ordens, só o amor orientando. Num mundo assustadoramente violento de nossa humanidade, muitos como eu escrevem como sugestão e quem sabe um pedido de socorro. Polidamente o violador te usurpa os direitos, tão Kafkiano que não percebes o quanto fostes ceifado de seu bem-estar, direito teu, direito meu. Verdade que na luta eterna da tese contra antítese para se tornar síntese, esperneiam os poderosos para não perderem suas regalias financeiras e de influência, em reação agora com força descomunal para com países possuidores de tantos necessitados como os da América Latina, África, Ásia e a parte plebéia da Europa. Todavia, não passarão! Entretanto, não poderão para sempre colocar dúvida sobre a justificativa da espécie humana enquanto ser racional a pisar sobre a Terra. Essa disputa começa em mim, começa em ti, pois ganância é sentimento ofertado a todos como um doce, alimentando a injustiça e o conflito, no amargo que fica no final a alma.

Não sejamos gananciosos, soberbos, velhacos, odiosos. Sejamos humanos. Nem norte, nem sul, nem oeste, nem leste e ao mesmo tempo tudo junto, misturado, anarquicamente organizado.

Um quinto rumo.

Baía de Bagre, Marajó, 11 de maio de 2016.

Pantoja Ramos.

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Sumário Clarividência ........................................................................................................................... 4

A Casa da Mulher .................................................................................................................... 7

oquintorumo ......................................................................................................................... 10

O Cortejo da Pergunta .......................................................................................................... 12

Piada do Dia .......................................................................................................................... 13

Pegou Fogo! .......................................................................................................................... 15

Olhar Possível ....................................................................................................................... 17

Ergo Cogito, Ergo Sum .......................................................................................................... 19

Discorrer ............................................................................................................................... 21

Mudo Sávio ........................................................................................................................... 23

BR 156 JARI ........................................................................................................................... 25

Sobrevoo ............................................................................................................................... 28

Lua de Julho .......................................................................................................................... 30

Gastura e um Papel ao Maço ............................................................................................... 31

Flor de Sapucaia .................................................................................................................... 33

Hino do Açaí .......................................................................................................................... 34

Matuta Marajoara ................................................................................................................ 36

Na Várzea, penso 3 vezes em você ....................................................................................... 37

Líquido .................................................................................................................................. 40

Stéreo & Batida ..................................................................................................................... 42

Dorme Pequena, Dorme Pequeno ....................................................................................... 44

Dom do Marajó ..................................................................................................................... 45

Vigília .................................................................................................................................... 47

Desenho escrito .................................................................................................................... 49

Estava eu vencido, Augusto dos Anjos, mas... ..................................................................... 51

Construtivos! ........................................................................................................................ 52

Babaçu Livre! ........................................................................................................................ 54

Terra à Vista, Caxiuanã! ........................................................................................................ 56

Quando a Vírgula e o Ponto Protestam pelos Pobres .......................................................... 58

@s Menin@s que Construíram a Vila................................................................................... 60

Tolerância ............................................................................................................................. 62

Ciranda da História ............................................................................................................... 64

Talvez Descartes Fosse Mais Sensível .................................................................................. 69

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Clarividência

Pedreiras-Ma, 04 de agosto de 2015.

“A clarividência é uma virtude que se adquire pela intuição, mas,

sobretudo pelo estudo...” – Milton Santos

Não vai ter desculpa Não vai ter desculpa Do caminho feito Não vai ter desculpa Não vai ter desculpa do que houve, Já é bem complicado de dissolver Assim Global JNacional É Globalizado que se diz ser O Primeiro Mundo (compre o perfume da hora) O Primeiro Mundo (qual carrão saiu agora?) O Primeiro Mundo (frango desta marca é uma delícia) O Primeiro Mundo (o cantor que é notícia) Não lhe informaram o que ocorre? Jovem independente o que lhe move? Convém filtrar Bisbilhotar

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Do Globalizado como bem é O Segundo Mundo (no Sudão milhares passam fome) O Segundo Mundo (um por cento diz quem come) O Segundo Mundo (água tem que ser vendida) O Segundo Mundo (nem uma semente criola mantida) Corre o boato de um golpe, Vira e mexe vem a galope É parcial Intestinal É Globalizado o seu querer O Primeiro Mundo (Voe com tênis como o deus Hermes) O Segundo Mundo (um menino descalço pisa em vermes) O Primeiro Mundo (Beba a cerveja e a mulher bonita) O Segundo Mundo (o menino prova sua inicial birita) Já não há desculpa Já não há desculpa Do caminho velho Já não há desculpa Há explicação do que acontece

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Pare pense siga leia um livro Do Germinal Do Capital Do matutar consigo do compreender O Primeiro Mundo (cifrões de bilhões no agronegócio) O Segundo Mundo (um deputado enrica o seu sócio) O Primeiro Mundo (saiu o livro do filme da moda) O Segundo Mundo (a moça e o rock que não incomoda) Nasce uma planta do meio da pedra Cresce em meio aos contrários seus Fruta que oferece a doçura audácia De novos sabores para o analisar Outro Mundo é Possível Paz, o Índio e a Floresta Outro Mundo É Possível Sol, Vento e Fusível Energizam o meu dia Outro Mundo é Possível Louvarei o Céu Incrível Do jeito que escolher Outro Mundo É Possível A Ciência e o Discutível O seu Milton a indagar Outro Mundo É Possível? Amantes do Equilíbrio Compartilham o Bem-Estar Outro Mundo É Possível

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A Casa da Mulher

Rio Paruahu, pensando em Belo Monte, pensando em Almeirim, 04 de outubro de 2015.

São homens maus, são homens maus que destroem minha casa em nome de outros covardes que não tem coragem de me olhar de frente mas espera, antes de ir, dai-lhes este recado: Derrubaste minha casa caiu o esteio de minha história ali mantinha a plantinha neste canto meu filho brincou pisaste nas minhas memórias que fiz de cruel para este furacão? confesso que me balou no peito Destroços de meu coração derrubaste a casa derrubaste-me um pouco mas de repente veio-me a ideia reerguer-me pois a casa sou eu afinal sou Mulher trago a vida desde que o mundo é mundo vou me levantar vou ser exemplar outras virão juntar-se para assim sermos infinitas vejo o medo em seus olhos não contavas o quanto seríamos esta é nossa casa

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derrubaste a casa suas máquinas e homens sem emoção passarão uma vez que não há alma e seu numerário nada será para te dar a paz dorme com o choro das crianças e não sentindo consciência não fugirás dos meus olhos vem prestar contas comigo veja quanta firmeza o espelho do que é princípio da ternura e coragem vejo-te o receio e a pequenice dos atos agora sou gigante a exigir em todo o Universo Derrubaste a casa! mas acordaste a fúria! dos extremos da Terra vem ajudar-me Gaia! juntas comandantes pisaremos a cobra juntas mudaremos todos os destinos A Casa é da Mulher Tenho o rosto de todas até de sua mãe sua filha e esposa te condenam veja o enlaçado que estás um nó não percebias que somos uma só ao ferir Nossa Lei agora és réu

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derrubaste o lar da inocente que só queria paz todo teu dinheiro não vai te livrar nem mil advogados irão te escapar queres saber por que? Justiça é uma Mulher!!!!!

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oquintorumo Belém, 01 de maio de 2016.

Tento meu Norte Porém veio-me um roubo Abutres Tio Sam da Morte Pobre Lundu Sou matéria-prima Da ignorância do Sul Quinto Rumo Quinto Rumo Pra ir de encontro à paz Quinto Rumo Quinto Rumo Será crime pedir mais? Ocidental Eu queria ser Mas é direita tão bruta E lá no Leste Quanta ilusão Esqueceram sua luta Quinto Rumo Quinto Rumo A esquerda tem um custo Quinto Rumo Quinto Rumo Justificar o que é justo Rezei ao céu Santos quantos são? Sangue nos meus joelhos Agora eu oro Deixei o meu dízimo Notei velhacos velhos

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Quinto Rumo Quinto Rumo Que tal ser mais espiritual? Quinto Rumo Quinto Rumo Também é pecado capital?

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O Cortejo da Pergunta

Belém, 02 de novembro de 2015.

Por que fizeste isso ao meu pai? Que imperdoável ele fez para morrer? És o carrasco de sonhos que não sai? És afinal o dono do próprio viver? De quem é a terra? De quem é a terra? A terra de quem é? A terra de quem é? Sabias que o esposo me amava? Conhecias o bom homem que fora? Entendias por quem ele lutava? Quantos vinténs uma alma valora? Será que a Terra merece? Será que a Terra merece? Merece será a Terra? Merece será a Terra? Viram as testemunhas a alvorada? Ouviram a festa de quem lá chegou? Foi justo o combate pela enxada? O céu abriu os braços ao protetor? Me diz se assim se fez céu? Me diz se assim se fez terra? Terra irá se fazer céu? Céu irá se fazer terra?

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Piada do Dia Rio Pará, 28 de fevereiro de 2016.

Que ironia Um mosquito te zicou Que engraçado O teu lixo abrigou Que irônico Tua ambulância enguiçou Mas que coisa Nenhum leito te sobrou Piada do Dia Piada do Dia Que ironia Um banqueiro enricou Sacanagem Um Brasil mais devedor Que bonito A campanha divulgou Que Fantástico Da origem ninguém falou Piada do Dia Piada do Dia E só me resta matar mosquito! Matar mosquito é tão bonito! Não tenho esgoto mas me foi dito! País tão rico e um mosquito! Das sete pragas Aedes Egito!

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Lixão aberto gerou conflito! Cadê o dinheiro tão prometido?! Cobrar do rico é sempre um mito? Ouviu aquela? A piadinha te cutucou Essa é boa Um mosquito te azucrinou Que engraçado A raquete ali queimou Que ironia A roubalheira não te chocou Piada do Dia Piada do Dia E só me sobra dar raquetada! Minha saúde tá tão lascada! A minha vala tá tão largada! Mosquito vem dar a picada! Meu SUSto quando comparada! Com o desvio da canalhada! E joga lixo mal educada! Dignidade eletrocutada! Tão hilário Banco tanto que lucrou Bonitinho Um país que se dengou Que ironia Quem será que lhe sangrou?

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Pegou Fogo! Belém, 04 de dezembro de 2015.

Vrum Pega fogo Queima tudo Incendeia tudo aqui Queima o pasto Queima o rastro Prega o inferno mas não diz Fogo nela Queima ela Um jornal pra começar Combustível Comburente Já pensou ser presidente ? Tanta fumaça em Brasília O coringa se diverte nesta ilha Fogo Fogo armado Deputado Queima à roupa do estudante Labareda Mente lerda Chamuscaram sua escolha É carvão Inquisição Só a cinza da razão Só a fagulha Uma agulha No meio de tanta confusão

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Deus Manda a chuva Manda a cura Ou um livro de ciência Sapiência Paciência Com a nossa tão demência Não estudamos Não julgamos Este álcool colocamos Rio Evaporou E tu secou Aquela mata fugiu de ti Quanto fogo Quando o jogo Te faz herói da hipocrisia Um dia o mundo nos será presente Um dia o futuro não será tão quente E não seja passado a água corrente...

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Olhar Possível São Luiz, pensando em Altamira, 06 de agosto de 2015.

Surge mais uma jovem sonhadora Pobrezinha uma amadora Carinhosa Guarda-Amor Pensa que vai mudar o mundo Mas é assim tão pequenina Mal conhece o que destina Nem sabe as batalhas pela frente Faz o pé tremer a terra Eu não teme a maior das feras E grita para o medo fugir SERÁ POSSÍVEL! E ergue o queixo assim O olhar é firme aguerrido E conta a mais bela sentença SERÁ POSSÍVEL! Passa na rua dos atrevidos Homem feito de cacos vidros Acalantos proferidos Talvez tenha ajudado o mundo É assim um condecorado Quando lhe é lembrado Até sabe o que vem adiante Faz o pé tremer a terra Afugenta a besta das feras Constrói a ideia do nada É POSSÍVEL! Erguido o queixo assim

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Um desenho de rocha nos olhos E confia na sua prudência É POSSÍVEL! Abaixou o veterano amigo Anda olhando só o umbigo E queixa - se do imposto pago E reclama da chuva fria E da dor do reumatismo EI! Não devias estar na luta?? Foi tomado por um relâmpago Seu queixo mostrou - se novo O olhar de um menino FICOU POSSÍVEL Fez o pé tremer a terra Fugiram as malditas feras E ensina que já conquistou O IMPOSSÍVEL

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Ergo Cogito, Ergo Sum Chaves, 22 de agosto de 2015.

Juntei dois baldes E assim dois filtros Peguei torneira E reguei a minha cabeça Bebi a água mais limpa Eu jovem novinha a tinta Eu pus na testa a fita escrita Curiosa Serei curiosa Curiosa O que tem atrás da porta? A América ou a Livre Escolha ? De um motor velho De ventilador E umas pás ali Plastificadas Imito agora Poseidon Conheço agora o meu dom Elétrico eu grito o som Curioso Eu serei curioso Curioso O que tem atrás da cortina? A Luz ou a Independência ? De uma pedra Eu fiz desenho Do beabá da palha Você já lê O cego que agora enxerga O poder que agora verga A faixa que ao vento erga

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CURIOSOS SEREMOS CURIOSOS CURIOSOS O QUE TEM ATRÁS DO MURO? A VIDA QUE MERECEMOS? ?

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Discorrer Rio Pará, 29 de novembro de 2015.

Depois da chuva A gota

Após a rua A curva

Sei lá só sei que penso Pra onde andam as coisas É a mente meu fardo intenso

Antes do voo Medo

Antes da lida Credo

Sei lá só digo na rama Daquilo que eu atino Medito pra manter viva A chama

Depois da quebra O reparo

Antes do fútil O raro

Antes da cura

Peleja Depois da ilusão

Que seja

Antes do pólen A flor

Depois do buquê O amor

Tudo bem pode ser Que a ordem não seja esta

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Mas tão bom pensar sim E discorrer Intento que tive pleno Com os meus pensamentos Suporto a mim mesmo Sereno

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Mudo Sávio Gurupá, Rio Amazonas, 07 de novembro de 2015.

Mudo Sávio era menino Quando sua mãe partiu Não lembra bem Mas lembra os gritos E aquilo o assustou De um jeito que o traumatizou Não falava nem um tiquito Sua voz ele até engoliu O Hummm também Sabia os ditos Mas não declarou Toda poesia com olhos declamou Quanta bagunça da molecada Anos 80 sem muito trato E Mudo Sávio não concordava Pensava que sendo distinto O diferente deveria ser lindo Opina que o preconceito era findo Nem uma palavra Nem uma palavra Nem um sonzinho Mudo Sávio era um jovem Quando sua avó partiu Chegou o acidente E viu o motorista Que ali ceifou Aquela que tanto lhe cuidou Agora sozinho naquele casebre Anos 90 tão algazarra Etílicos dias para quem bebe Tão colorido a vida do teto

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Tantas aranhas de sorriso aberto Tentou um discurso do ébrio esperto Nem uma palavra Nem uma palavra Nem um burburinho Mudo Sávio era um homem Quando evoluiu Casa ajeitada E lindo jardim Que ali cuidou Quando um dia multidão passou Gente e pedra de tão armados Século XXI tão embrutecidos Para uma jovem tão maltratada Era acusada de ser uma ladra Ou de putinha variava a piada Eis que veio a primeira pedrada Nem uma palavra Nem uma palavra Só um chorinho Mudo Sávio era um fato Protegeu a moça da dor Com o seu corpo Com sua alma E a todos espantou E enfim o peito estufou Toda a vontade pro céu gritou Paz paz paz paz Paz paz paz paz Paz paz paz paz Paz Paz ...

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BR 156 JARI

Belém, 21 de dezembro de 2015.

BR 156 Jari

lá vou eu pra um desconhecido

asfalto me dá coragem

mas sei que ali logo acaba

como acaba a ilusão

de um canto com pouco piche

alguém enganou alguém

será que também fiz parte disso?

BR 156 Jari

Deixei pra trás a capital sacaca

agora sou um desbravador

meio ranchinho, meio sertão

espero que o pneu esteja em dia

minha reza é pro freio

caso precise eu tenho um terço

caso precise tenho o Rio Preto

Jari BR 156

Do que era perto fiz despedida

agora é seguir em frente

do lado vem um japiim

xinga a mim que sou de fora

mas um bem-te-vi pede desculpa

"não é jeito nosso de tratar os viajantes"

pousou uma folha no carro

lenço de uma lagoa gentil

Se um dia eu for devoto

farei a pé este caminho

pra provar pra mim que posso

pode até não ser Compostela

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mas é Amazônia

ai meu Deus!

é aqui Amazônia

ai meu Deus!

é estrada de sonhos

piçarrão

poeira então

um caminhão

BR 156 Jari

do Maracá venceu a lama

venceu também o homem do ônibus

o Santanense que aliviou a todos

um galinho de árvore

uma flanela no ombro

duas estátuas rei e rainha

servem os cansados migrantes

Se um dia eu for devoto

triunfarei sobre meus pecados

é só andar a esmo reto e sereno

pode não ser Compostela

mas é Amazônia

ai meu Deus!

é aqui Amazônia

ai meu Deus!

é estrada de sonhos

ladeiras vão

direção

céu e chão

Jari 156

lá do alto vejo o mundo

perde-se a vista mas não a fé

de campos lindos me sinto herói

com uma espada treinando o vento

não são búfalos que correm

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mas pedras que espantam a todos

vem águas brancas do Cajari

Se um dia eu for beato

rezarei pra castanheira

que mande as forças do Criador

além do precioso tesouro

posso não ser Santiago

mas sou Amazônia

ai meu Deus!

entretanto sou Amazônia

ai meu Deus!

sou estrada de sonhos

de canção

solidão

direção

enfim chegou o Jari

um rumo que quase se perdeu

não quero ditar a moral da história

que cada um peregrine de um jeito

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Sobrevoo

Sobrevoando Marajó, 17 de agosto de 2015.

Voar é seguro discunforme. Voar de teco-teco é mais ou menos. Viver é perigoso como diria o Rosa. Falo do Guimarães. Sobrevoar os campos do Marajó é fascinante. De um mar verde entremeado de ilhas de árvores. Quem veio primeiro? O campo? A mata? O medo? O fascínio? No princípio tudo era Marajoara, pensou o Criador. O cavalo lá uma formiguinha a correr O auge da liberdade. As garças ticam de branco meu quadro. O rio que continua. O rio que morreu. O lago que transborda. A planície transborda De belezura De uma campina a perder a vista De uma reserva por quê não para a humanidade? Mas lá não tem ouro Mas tem esperança Tem vida Tem universo Logo, tem infinito. Logo, é para sempre No meu olhar Queria que também estivesse no seu. E um caxixí a musicar na cachola Fim de passeio.

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Teco-teco voa voa Lá vem Chaves numa boa Abre os braços Amazonas Que teus campos me abençoa Pousa pousa aviãozinho Vê se pisa com jeitinho Te arreda cachorrinho TUM -TUM VRUUuuumm... Por isso que prefiro os barcos. Eita...

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Lua de Julho

Rio Pará, 31 de julho de 2015.

Lua de julho Lua luar Iluminou Meu retornar Finca a estrada Neste Rio - Mar Lua de julho Lua luar Espelha o Sol Neste rumar Volta pra casa O meu olhar Lua de julho Lua luar A borda mata Lhe decorar A vida segue Num serenar Lua de julho Vai acabar Sinto a saudade Me variar Deixa o caminho Pra tu marcar A Lua espelho Deste amar...

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Gastura e um Papel ao Maço

Curralinho, Rio Canaticu, 5 de setembro de 2015.

Aturiá De um enamorar De um envirar Pra te cercar A uruçu beijou a florescência Da mangueira escapando à lama Arribou na sua insistência A vassoura do açaí lhe chama Bom dia na subida pro tracuá Que mexia na folha da amexeira Piticó camarão veio a buiar Acenar da anhinga ali da beira A uruçu te frutificou Flor de ucuúba te belezou Esta lançante sem querer proseou No final pra falar de amor Quentura da saudade que chega Passeei na ilharga de ti Mofinei de uma cabeça tão lesa Perdi o fogo tão sem ar mandií Quebranto de um magoado do fim É insossa hoje minha comida Quem odera chamego pra mim Panemice veio-me na varrida Sol de Setembro que te esquentou É mesma luz que nos juntou Lua buchuda teu olho serenou Tu reparaste que falo de amor?

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Patauazeiro te sustentou Uma tapagem te alimentou Só pavulagem daqui que te rimou Lári-lári pra provar o amor. Extrato de pathchouli me banho Babosa eu cheiro o cabelo Senhora eu digo que ganho Espia que eu te mostro o selo Papel ao maço te recomendou Vai alembrar do que já passou Minha gastura até inflamou Só pra saber se existe Amor Faixa de século me agoniou Mas me espivito pois tu corou Aí meu Deus Tu bem abençoou Digo Amém pois ficou o Amor. Aturiá De um enamorar De um envirar Pra te cercar Enamorar Vou te envirar No Aturiá Pra te cercar Pra te cercar Vou Aturiá Vou te envirar Te enamorar

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Flor de Sapucaia Belém, 01 de janeiro de 2016.

Um dia se apaixonou Um jovem castanheiro Por uma moça rica Filha de madeireiro Mas o que fazer o pobre? Só um jamaxim de posse Se ajoelhou tal nobre Arriscou aquilo que fosse Te ofereço linda Flor de Sapucaia Para enfeitar o cabelo Ou a tua saia O meu suor rega nosso amor O madeireiro raivoso O jovem expulsou O corte ganancioso Na mata começou A moça vendo aquilo Lembrou daquela flor Entendeu o seu destino Até enfrentou o trator Pare com as máquinas pela Flor de Sapucaia Pela floresta que protege Jamais caia Ali o amor tem mais valor Hoje em dia desabrocha Flor de Sapucaia Os netos sentem o cheiro Que ao mundo espalha A flor e o amor

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Hino do Açaí

Gurupá, Rio Amazonas perto do Baquiá, 06 de novembro de 2015.

Tu és meu açaí A força de todo o meu corpo Faz renascer de novo Jeito amoroso Me esforcei pra ti Sendo o meu açaí Te bebo pra me dar sustança Rede sou que te balança Tarde que é mansa Me espreguiço em ti Tu és meu açaí Amor de toda vida minha Vinho sou tua farinha Da bem torradinha Me misturo a ti Te amo ó meu açaí Meus olhos ficam encantados Sendo ou não adocicado Mesmo sem peixe assado Eu me entrego a ti Amor tu és meu açaí Se falhas vem-me a tristeza Até sinto a brabeza Mas tenhas certeza É saudade enfim Acabe não meu açaí Que ainda eu muito te quero Enquanto amanhã te espero Danço açaí bolero Tuíras de um amor sem fim

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Manhã que molha o açaí Acorda o vento de um destino Que agora canta um hino Tipo um sopro fino Deus te deu açaí

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Matuta Marajoara Belém, 06 de dezembro de 2015.

Se Descartes diz que pensa, logo existe O Marajoara existe três vezes: Pensa ao mesmo tempo se vai chover muito ou pouco Se está de pacuema ou lançante Se está enchendo ou se está vazando Matuta, Matuta, Matuta...

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Na Várzea, penso 3 vezes em você Belém, 26 de março de 2016.

Hora Preamar Já são as seis Que espero Olho o tempo É tanta água De um Rio Que é tão belo Espalhado Mas que fazer Com você? Enche meu peito Saudade Eterno cheio Da ilusão Agora seca A saudade Baixamar Vontade Só que virou A maré Vejo alguém Navegando O jeito é encher-me De fé Mesmo que ilusão Volte a me ser uma dor Lua minguante Mexe só um pouco Comigo E quando ela some Mistério Lágrima que tenho

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Também Se esconde Cadê minha frieza? Quando a lua Engravida Parece que as águas Revoltam Mexe com os líquidos Assim eu me liquido Por ti Basta a Lua Dizer Teu coração Vai caber Toda a poesia Do ser Até de novo Desaparecer De você Quando a chuva Chegar E o teu caminho Encharcar Friagem costela Amorosa Aguenta que vou Espera que vou Te esquentar

Raiou o Sol Do verão Voou a bolha Sabão Viajo naquela Esperança Pousar na tua roupa

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Espocar na tua boca Paixão

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Líquido

Gurupá, Rio Amazonas, 6 de novembro de 2015

Transbordou meu peito em Ais! Não me venha com papo líquido Descarte no ralo o sonho Liquefez o respeito a quem te quis Que filosofia é esta? Assim tão passageira O amor não te foi sólido? Meu travesseiro encharcou Não tão líquido O primeiro estágio é a negação Ah disgrama! O segundo estágio é a ira então Foi tão rápido O terceiro estágio negociação Foi tão líquido O quarto estágio é a depressão De uma tristeza que inundou o lar Não havia esteios que suportassem Tal enxurrada Foi me a vida arrastada a esmo Mas é assim mesmo No banho-maria que foste Pouco efeito fizeste Saudade tive do que não houve Não não pode! O primeiro estágio é a negação Cobardia!! O segundo estágio é a ira então Voltas um dia? O terceiro estágio negociação Eita nós O quarto estágio é a depressão

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Fui um lago O quarto estágio é a depressão São canais O quinto estágio é a aceitação Sou um rio Sugiro estágio a percepção Afluente é o mundo O novo passo é a redenção

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Stéreo & Batida

Curralinho, 27 de fevereiro de 2016.

Stéreo tão agitado Disse chiando "Eu mudo o mundo Se mudo!" Sonhava com a alegria Na manha de uma cantoria Batida por sua vez Era realista demais Talvez Encucada vê a Batida Para ser bem resolvida Lhe falta Stéreo em sua Vida Esclarecida Agulha que bem desliza Pro Stéreo falta uma Batida Batida das batalhas Disse tão grave "Vamos trampando!" Suando Acordava antes do Sol Imaginando o arrebol Stéreo por sua conta Era liberto de mala pronta Pouco esforço em sua lida Pra quê tanta investida? Ah uma Batida em sua vida

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Mas tudo bem Gira o Disco bem Se Stéreo tem sua Batida

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Dorme Pequena, Dorme Pequeno

Gurupá, 04 de outubro de 2015.

Deus embala a minha rede Deus embala a minha rede Pro nenem eu faço a prece Quando encontro a parede Dedo meu que logo cede Mas sua Força me concede Me viaja a alma é leve Sono a rede que embala Sono a rede que embala A escápula agora cala No sussurro que me fala Cheiro bom cabelo exala Minha mãe aproveite e pára Logo tu me é tão cara Boniteza que é rara Meus olhinhos que repara Deus nos embala Deus nos embala...

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Dom do Marajó

Belém, 27 de janeiro de 2016.

Luiz do Marajó Falastes pros bons viajantes Aventuranças do que é bem justo Certezas da criança feliz adiante Voz do Marajó Espanha nos deu como presente Já não ficamos mais tão sós Cuidaste de nossa febre mais fria mais quente No escuro que se fazia Sua luz salvou quantas meninas No rapto de muitas vidas Contigo o rato viu o fim da linha Quantas vidas ataste em tão bela rede Entrelaçadas Existe Carta viva que lide Que a História te cite Foste o Dom que sonhamos Quantos abraços sorrisos do seu Marajó Ispia senhor Existe Gratidão que persiste Sua História convive Com a fé que cantamos Tu viste? Passarada meio triste Mas num remédio sorriste Sendo assim revoamos Ouviste? O clamor que resiste A Justiça consiste Na tua voz ecoamos

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Forte e para sempre O vento sopra para além dos rios do norte Que Marajó afinal existe Amostra de um país futura gente Tuas caminhadas por estradas feitas de rios Tão dedicada Assiste A Esperança que abriste Nossa fé descobriste Marajoaras nós somos

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Vigília

Rio Pará, 28 de fevereiro de 2016.

Deus... Quase que a voz não sai Assim formiga meu braço Assim formiga o resto Inseto que sou Dói o meu peito de angina Dó de mim mesmo imagina Imagino o pior De mim mesmo doutor E no escuro do teto Reparo as discussões Parece que falam que fiz Foi um dia Marca de um pecador Ying e Yang defendi-me É verdade Foi por causa do amor. Deus... Quanto devo levantar? Não tem fim esta conta Prestar contas comigo Imprestável eu sou Não consigo pagar A taberna da esquina Nem o arroz de segunda Dívida afoga afunda Não ser tão materialista Mas o credor não me deixa Acredita ele então que saldo Olha só Pra assim lhe dever

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Entrego livre o que tenho Escravo Quanto vou perecer Já se passou cinco horas De uma diária madruga Não tem fim esta agonia Canta um galo Algo corta meus pensamentos É a manhã assobiando Meu coração fica forte Minha fé reluz Espelha o Sol Espelha um objetivo Doravante serei capaz A chance de dormir em paz!!

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Desenho escrito

Belém, 06 de maio de 2016.

Ei Mãe Virei pessoa subversiva Vou ver se explico o que é isso Pra senhora entender Ó Mãe É uma coisa bagunceira Pra um mundo um tanto bagunçado Eu diria até maluco Puxa Mãe Lembra quando eu ia pra diretoria? Na escola desculpe se choraste Só você sabe de minha rebeldia Mas olha Mãe Quando fui era por algo justo Era o que eu não achava no sistema Da igualdade para todos Taí Mãe Eu não consegui mudar E na velhice ainda questiono O dinheiro que recebo E veja Mãe Sendo assim no combativo Tenho espírito de quem dançava Rock na minha juventude E assim Mãe Talvez eu vá pra diretoria Ficar de castigo mas eu juro resistir E olhe Mãe Bem dentro dos meus olhos É a mesma criatura utopia

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Na qual tu davas a mão Me abraça Mãe Que meu medo passa logo Que sapequice sou eu Que já melhor eu volto a bagunçar Te amo Mãe Eu não te fiz um desenho Mas bordei escrito aqui Essas palavras pra dizer Que ainda sou sua criança

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Estava eu vencido, Augusto dos Anjos, mas...

Belém, 29 de abril de 2016.

Eu, filho da Globo e do Amoníaco Alienado um vômito vem-me a ânsia Acordei deste vil Morpheus da minha infância A influência má dos monges do Ilíaco Augustissimamente maníaco Esta TV hoje me causa repugnância Também um togado excelso de sua instância De seu miolo edema um reino paradisíaco Mas é verme tal toga não serafina Do gene podre do qual se origina Daquele Golpe lembro que não se encerra Anda a espreitar meus votos liquefazê-los E há de deixar-me apenas os cabelos Envoltos de ódio, sangue e quem sabe a Guerra!

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Construtivos!

Belém, 03 de julho de 2015.

Alô galera!

Seu tempo chegou!

Seu tempo aqui!

Nova geração!

Olhai as nuvens

Passam rasantes!

O que farás?

Vai ficar aí quieto?

Eu tenho proposta:

Construtivos!

Construtivo tu vais ser

E passivo não vais ser

Incomodado tu vais ser

Construtivos!

Desde que eu abri o livro de história

Tenho visto do jovem a glória

De fazer o que ninguém fez

Buda tão novo com mente serena

Li Jesus revirar o sistema

Paz e Amor Paz e Amor sua teima

Construtivos

Renovados

Construtivos

Poderosos sempre existiram

Promessas quase não cumpriram

A não ser que os bolsos sorrissem

Até apertam gentil sua mão agora

Desinfetam você quando vão embora

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Cospem a todos escarram fora

Há grilhões prendendo sua alma

Um espinho no meio da sua calma

O que é justo para seu futuro?

Pouca gente dominando tudo!

Muita fome espalhada no mundo!

Qual legado?

Como eu serei lembrado?

Construtivos seremos

Multi Cor Marcharemos

Da mesmice riremos

Tão humanos seremos!

Construtivos

Construtivos

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Babaçu Livre!

São Luiz, 06 de agosto de 2015.

Canto da mulher de fibra

Babaçu Livre!

Canção que assim motiva

Sonho que eu tive

Do bom Piauí

Ao Pará irmão

Do querido Tocantins

Ao guerreiro Maranhão

Ver o cocal assim disposto

Tão sereno o seu rosto

Da liberdade como uma flor

Eu iria oferecer

Babaçu Livre pra você!

Da luta de uma quebradeira

Eu iria aprender

Na troca de seu sorriso

Eu iria oferecer

Babaçu Livre pra você!

Canto da gente de fibra

Babaçu Livre!

Canção que assim motiva

Sonho que mantive

Mantém-se o arame

Farpado sentimento

Água sede que reclame

Um ardil desmatamento

Ver o risco da jandaia

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Agora posso entender

Quem persegue é gavião

Que não pode conceber

Babaçu Livre pra você!

Margaridas abrem a boca

Seu Cerrado a proteger

Imaginem som na mata

Bate coco com coragem

Esperança te faz mocinha

Quebra-coco com uma dança

Bate coco com vontade

A Fé é sua cunha

Meu Deus é a testemunha

Que vi mulheres-flores

Milhares ali espalhadas

Um jardim a florescer

E uma cantiga a bem-dizer

Babaçu Livre pra você!

Babaçu Livre pra você!

Babaçu Livre pra você!

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Terra à Vista, Caxiuanã!

Belém, 31 de outubro de 2015.

E seguindo pra Caxiuanã

Meus amigos e eu

Que maravilha!

E um de nós disse

Terra à Vista!!

Balançando rumo a Caxiuanã

Meus amigos e eu

Que maresia!

E um de nós disse

Que maravilha!

Fomos recebidos por gente tão gentil

Nascidas e criadas ali

Ribeira e de bem com a mata

E com os rios dali

Fomos recebidos por gente precisada

Daquilo que lhe é de direito

Apesar de ser reservada

É incerto o porvir

Um me contou que foram expulsos

Em tempo esquisito de um lado pra outro

Simplesmente enxotados por militares

Do seu lar

Outra confessou que assim era feliz

Acordava com os pássaros na sua janela

Vivia de sua farinha

Sol a Sol trabalhar

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Conhecendo as paragens de Caxiuanã

Meus amigos e eu

Que boa notícia!

Um jovem estudou

Terra à Vista!!

Não pude ir mais a Caxiuanã

Só meus amigos não eu

Mas tudo bem!

Tenho a vida inteira

À Terra, à Vista!!

Do mesmo modo recomendo Caxiuanã

Lutai pelo que é justo!

Qual o preço de sua castanha?

Qual o valor da sua floresta?

Imagine se fossem escutados!

Daqui proponho Caxiuanã

Organizados serão!

O que é uma concessão de uso?

O que é uma casa mais digna?

Cidadãos agora informados!

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Quando a Vírgula e o Ponto Protestam pelos Pobres

Belém, 23 de março de 2016.

Filha minha tu sabias que os livros dizem que os índios aqui viventes foram

sangrados dos primeiros mandatários caravelas e os nativos não entenderam nada

Filhinho meu tantos negros sequestrados de suas terras foram banto da Mãe África

quanto sussurros Minha amiga peixes -boi foram deitados pra iluminar as praças

tanto quanto onças grandes premiaram as paredes e agora só a lenda da grande

bicharada Meu amigo houve uma época em que as famílias riscaram as árvores

para as rodas do dinheiro sem trocado só graúdo do barão

PROTESTAI

PELOS POBRES PROTESTAI

PROTESTAI

DAI SENTIDO INDIGNADO

PROTESTAI

Ei vizinha tu escutou prosa antiga de seu avô quando o machado cortava o

majestoso pra garantir um punhado de baião misturado com cinza Veio ele da

secura de um chão e pra sua filha três ossinhos eram a boneca de seus sonhos do

gado gordo do coronel ruminantes Mano velho quanta terra escorreu vermelha da

gente que pedia paz e manso e pacífico lhe foi negado tinha um feitor que lhes

negava e atiçava os cães Quantas moças almoçaram no cantinho da cozinha lhe

acompanhavam os gatinhos que lambiam os seus pés no carinho que recebiam

PROTESTAI

PELOS POBRES PROTESTAI

PROTESTAI

DAI SENTIDO INCOMODADO

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PROTESTAI

Da galera vejo índios massacrados a televisão esconde os revólveres de um chapéu

de aba branca do racismo sua cor uma atriz farsante Jovens negros nas favelas

interrompidos de sua ideias que possuem talvez fosse um ministro ou um cientista

na compreensão Caia a árvore castanheira de um fogo que podia alimentar a cutia

e a senhora só a crosta lhe foi dote enquanto a cerca corria Uma cruz ali na estrada

empoeirada da estupidez dos homens Caim matando Abel em nome de um papel

verde nenhum banco depôs

PROTESTAI

PELOS POBRES PROTESTAI

PROTESTAI

DAI SENTIDO REVOLTADO

PROTESTAI

No futuro falarão de nós que sem a vírgula passamos rápido por um mundo melhor

de justiça sol descalços Por escolha Pés descalços

PROTESTAI

PELOS POBRES PROTESTAI

PROTESTAI

DAI SENTIDO AO OPRIMIDO

PROTESTAI

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@s Menin@s que Construíram a Vila

Belém, 05 de fevereiro de 2016.

Corta o Machado Com um Golpe Abre a ferida Com um Golpe Estampam nossa mãe Ali deitada na lama Mas não a foto dela Formando na escola A alegria da nova casa Nem o beijo na nossa testa Tudo isso não venderia Compras o seu sucesso? Ah não Desgraça A praça é a nossa raça Que tal uma outra Vila? Asila a gente desta vida Jura o Brasil Pelos bancos Ilude o Brasil Somos mancos Algemam o elemento Não tinha identidade Diz que chamava só Jó E Jó apanhava sem dó E o famoso CPF Que no Google aparece Forçou a agulha pro céu E Herodes enfim venceu

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Ah não Sujeito Efeito de um desrespeito Que tal outra vida? A Vila em que se acredita Foge mocinha Destas sombras Foge rapaz Destas broncas Ah sim a enxada A espada não é mais nada Cintila a pupila Tiamina da Nova Vila Pega com a mão a Argila Juntos erguendo Nova Vila

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Tolerância

Água Branca do Cajari, 15 de abril de 2016.

Entendi bem Você xingou minha pobreza? Ah você não gosta da gente Se eu pudesse te dava uma flor Mas agora só oferto palavras Falta muito pra gente chegar? Falta muito pra você compreender? O taxímetro diz um valor Acima de suas frases Já pensaste no meu lugar? Já sentiu meu sofrimento? No retrovisor eu não enxergo luz Cuidado com a contramão Você sabia? Tem um livro Talvez bem antigo Sem aparato dizia Como era mesmo? "Amai-vos uns aos outros" Eu acho que era assim Tudo bem Não aprecias a minha cor Se o sangue for igual Aceitas ser vermelho? Porém se te der asco disso Lembras que o diferente é bonito Apática é a mesmice da cor Discriminada desprezo dá dor A corrida acabando Te faço lembrança Não vai esquecer Daquele trecho

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De um jovem senhor Que aconselhava Recomendava "Amai vos uns aos outros Como eu vos amei" Se não errei é isso Dá quanto a corrida? A César o que é de César Faz um recibo Anota aí também O meu contato Meu nome é "Amai-vos uns aos outros" Bom dia amigo

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Ciranda da História

Belém, 02 de novembro de 2015.

Outro dia reparei que meu herói não era mais lembrado Perdeu - se também a heroína no meio de tanta futilidade Não sei se é justo pelo tanto que pensaram em nós Acontecerá conosco a mesma tragédia O esquecimento? A verdadeira morte? Eu acredito tanto na vida.

Brinque uma ciranda viva

Tão alegre memória

Roda alegre criativa

De quem montou a história

Roda roda pessoinhas

Olhem no sorriso do lado

Foi a mesma cirandinha

No passado

Foi sonhado

Um final começado

Passeio pelo horizonte

Não sei que fiz, não lembro

Não quero ser poente

E sim aurora de um novo tempo

Se me ajudas a descobrir

Talvez eu volte pra você

E se recordas como agi

Vai prosseguir

Meu produzir

Não terá fim

Meu viver

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Brinque uma ciranda viva

Tão alegre memória

Roda alegre criativa

De quem montou a história

Roda roda pessoinhas

Olhem no sorriso do lado

Foi a mesma cirandinha

No passado

Foi sonhado

Um final começado

Com tanta novidade

Esqueço de manter acesa

A chama da verdade

Heróis e suas certezas

O que realmente acaba

É aquilo que não traz saudade

Gaveta empoeirada

Dou uma limpada

Rememorada

Eternizada

Vontade

Brinque uma ciranda viva

Tão alegre memória

Roda alegre criativa

De quem montou a história

Roda roda pessoinhas

Olhem no sorriso do lado

Foi a mesma cirandinha

No passado

Foi sonhado

Um final começado

Cirandar!

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Boneca de talho

De um miriti

Na cara um olhão

De um caroção

Bem preto açaí

Cuidado tatu

Cuidado cutia

Ali tá escondido

Uma armadilha

Da mandioca

Da Dona Coroca

Vem tapioca

Que coisa gostosa

Palmito dá creme?

Dá sim senhor!

Parece mingau

Gostoso sabor!

Vou tomar açaí

Quebrou a vasilha

E agora o que faço?

Usa a cuia minha filha

Envira te fiz a corda

Envira laçou o amor

Do ouriço eu fiz vaso

Agora te dou a flor

A Rede Rosada

Se viu vermelhada

Da Rede Xadrez

Jurou ser amada

Rabeta Rabetona

Rabetar rabetinha

Quantas rasas tu aguenta

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Quantos fardos de farinha?

Vai a mãe, vai o filho

Vai o avô, vai o pai

Vai cunhada, vai a sogra

Vê cachorro se não cai

Quiquió é passarinho

Quiquió é assobio

Quiquió te guiou

Onde agora é o rio

Corre maninho

Que tá espocando

É nada maninho

Jabuti tá brigando

Grita bem alto

O capelão

Chega assustou

Até o gavião

Mansinho amigo

É o peixe-boi

Mascando o mato

Pergunta o que foi?

Quieta e escuta

O pirarucu

O bicho fugiu

Alguém soltou pum?

Cadê o piquiá

Que tava aqui?

Meu avô falou

Eu vou repetir

Cadê castanheira?

Que tava aqui?

Minha avó falou

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Eu vou repetir

E o igarapé?

Que tava aqui?

Mãezinha falou

Eu vou repetir

Cadê jabuti?

Que tava aqui?

Meu pai reclamou

Eu vou repetir

Cadê natureza?

Que tava aqui?

Eu vou reclamar

Pros netos insistir

Brinque uma ciranda viva

Tão alegre memória

Roda alegre criativa

De quem montou a história...

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Talvez Descartes Fosse Mais Sensível

Rio Pará, 21 de fevereiro de 2016.

Olha Eu em função De ti Teu sorriso Em função Do que vem de mim O sol A depender Da chuva Ganho A depender Da luta Primeiro fácil assim A brisa Depende De um laço Mudo A depender Do passo Se pobre Depende Se injusto O mágico Sente falta De um circo Se existo Logo o amor existe Varia Verdade Absoluta Perdão Não depende

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Da culpa Coragem Independe De aflito Curioso Não depende Do mito Se existe Amor Logo eu existo Se abraça Logo Eu te sinto Se sorrires Logo Sou bem vindo Se respeito Logo Semelhante Semelhante Logo Sou de paz Sendo a paz logo sou canção Romântica Razão