novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · capítulo xiii - responsabilidade...

625

Upload: vuduong

Post on 12-Nov-2018

235 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

Page 1: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS
Page 2: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

ISBN978-85-472-1647-4

G128nGagliano,PabloStolzeNovocursodedireitocivil,v.3:responsabilidadecivil/PabloStolzeGagliano,Rodolfo

PamplonaFilho.–15.ed.–SãoPaulo:Saraiva,2017.Incluibibliografia1.Direitocivil–Brasil.2.Contratos.I.PamplonaFilho,Rodolfo.II.Título.CDU347.5(81)

Índicesparacatálogosistemático:

1.Direitocivil:responsabilidadecivil347.5(81)

PresidenteEduardoMufarej

Vice-presidenteClaudioLensing

DiretoraeditorialFláviaAlvesBravin

Conselhoeditorial

PresidenteCarlosRagazzo

GerentedeaquisiçãoRobertaDensa

ConsultoracadêmicoMuriloAngeli

GerentedeconcursosRobertoNavarro

GerenteeditorialThaísdeCamargoRodrigues

EdiçãoDeborahCaetanodeFreitasViadana

ProduçãoeditorialAnaCristinaGarcia(coord.)|LucianaCordeiroShirakawaClarissaBoraschiMaria(coord.)|KelliPriscilaPinto|MaríliaCordeiro|MônicaLandi|

TatianadosSantosRomão|TiagoDelaRosa

Diagramação(LivroFísico)MarkelangeloDesigneProjetos

RevisãoMarkelangeloDesigneProjetos

ComunicaçãoeMKTElaineCristinadaSilva

CapaRoneyCamelo

Page 3: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Livrodigital(E-pub)

Produçãodoe-pubGuilhermeHenriqueMartinsSalvador

ServiçoseditoriaisSuraneVellenich

Datadefechamentodaedição:20-12-2016

Dúvidas?

Acessewww.editorasaraiva.com.br/direito

NenhumapartedestapublicaçãopoderáserreproduzidaporqualquermeioouformasemapréviaautorizaçãodaEditoraSaraiva.

AviolaçãodosdireitosautoraisécrimeestabelecidonaLein.9.610/98epunidopeloartigo184doCódigoPenal.

Page 4: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

NovocursodeDireitoCivil—v.3

PabloStolzeGagliano

RodolfoPamplonaFilho

1ªedição—maio2003

2ªedição—jan.2004

2ªedição,2ªtiragem—mar.2005

3ªedição—set.2005

3ªedição,2ªtiragem—fev.2006

4ªedição—jul.2006

5ªedição—jul.2007

6ªedição—dez.2007

7ªedição—dez.2008

7ªedição,2ªtiragem—jul.2009

8ªedição—jan.2010

9ªedição—2011

9ªedição,2ªtiragem—2011

10ªedição—2012

10ªedição,2ªtiragem—ago.2012

11ªedição—2013

Page 5: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

12ªedição—2014

13ªedição—jan.2015

14ªedição—fev.2016

15ªedição—jan.2017

Page 6: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

PABLOSTOLZEGAGLIANO

JuizdeDireitonaBahia.ProfessordeDireitoCivildaUFBA—Universidade

FederaldaBahia,daEscoladaMagistraturadoEstadodaBahiaedoCurso

LFG.MestreemDireitoCivilpelaPUCSP—PontifíciaUniversidadeCatólica

deSãoPaulo.EspecialistaemDireitoCivilpelaFundaçãoFaculdadedeDireito

daBahia.MembrodaAcademiaBrasileiradeDireitoCivil—ABDCeda

AcademiadeLetrasJurídicasdaBahia.

RODOLFOPAMPLONAFILHO

JuizTitularda32ªVaradoTrabalhodeSalvador/BA.ProfessorTitularde

DireitoCivileDireitoProcessualdoTrabalhodaUNIFACS—Universidade

Salvador.CoordenadordosCursosdeEspecializaçãoemDireitoCivileem

DireitoeProcessodoTrabalhodaFaculdadeBaianadeDireitoedoCursode

Especializaçãoon-lineemDireitoeProcessodoTrabalhodaEstácio(em

parceriatecnológicacomoCERSCursoson-line).ProfessorAssociadoda

graduaçãoepós-graduação(MestradoeDoutorado)emDireitodaUFBA—

UniversidadeFederaldaBahia.MestreeDoutoremDireitodasRelações

SociaispelaPontifíciaUniversidadeCatólicadeSãoPaulo—PUCSP.Máster

emEstudiosenDerechosSocialesparaMagistradosdeTrabajodeBrasilpela

UCLM—UniversidaddeCastilla-LaMancha/Espanha.EspecialistaemDireito

CivilpelaFundaçãoFaculdadedeDireitodaBahia.MembroePresidente

HonoráriodaAcademiaBrasileiradeDireitodoTrabalho.Membroda

AcademiadeLetrasJurídicasdaBahia,AcademiaBrasileiradeDireitoCivil—

ABDC,InstitutoBrasileirodeDireitoCivil—IBDCivileInstitutoBrasileirode

Page 7: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

DireitodeFamília—IBDFAM.

Page 8: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Dedicamosestaobra

A nosso Senhor Jesus Cristo, pelo amor incondicional do Pai

Eterno, que concede bênçãos a quem não se julga merecedor,

colocandoanjosemnossasvidasaquemchamamosdeamigos;

à Dra. Nilza Maria Costa dos Reis, digna Juíza Federal e

brilhante professora universitária, síntese perfeita de seriedade e

doçura,“cadeiracativa”denossoscorações;

aoDr.GeraldoVilaça,colaboradordejurisprudência,portodoo

esforçoemtornarestaobraumareferênciadoutrinárianacional;

aoDr.Antonio Luiz de Toledo Pinto, por toda a amizade e o

apoioanossaobra;

aos formandos emDireito daUniversidadeFederal daBahia

—UFBA (turma2002.1) eUniversidadeSalvador—UNIFACS

(2002), que nos elegeram, respectivamente, paraninfo e patrono de

suasturmas;

aosalunosdaprimeiraturmadoCursodePós-Graduaçãoem

Direito Civil da Universidade Salvador — UNIFACS, pelas

provocaçõesàreflexãoeaodebatedonovoDireitoCivilbrasileiro.

Page 9: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Sumário

Agradecimentos

SobreaImportânciadoEstudodoDireitoCivil

PrefácioàPrimeiraEdiçãoResponsabilidadeaquatromãos

ApresentaçãodaPrimeiraEdição

NotadosAutoresàDécimaQuintaEdição

NotadosAutoresàDécimaQuartaEdição

NotadosAutoresàDécimaEdição

NotadosAutoresàOitavaEdição

NotadosAutoresàSétimaEdição

NotadosAutoresàQuintaEdição

NotadosAutoresàQuartaEdição

NotadosAutoresàTerceiraEdição

NotadosAutoresàSegundaEdição

NotadosAutoresàPrimeiraEdição

CapítuloI-IntroduçãoàResponsabilidadeJurídica

1.INTRODUÇÃO

2.CONCEITOJURÍDICODERESPONSABILIDADE

3.RESPONSABILIDADEJURÍDICAXRESPONSABILIDADEMORAL

4.RESPONSABILIDADECIVILXRESPONSABILIDADECRIMINAL

Page 10: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

CapítuloII-NoçõesGeraisdeResponsabilidadeCivil

1.CONCEITODERESPONSABILIDADECIVIL

2.BREVENOTÍCIAHISTÓRICADARESPONSABILIDADECIVIL

3.CONSIDERAÇÕESINICIAISSOBREASESPÉCIESDERESPONSABILIDADECIVIL

3.1.ResponsabilidadecivilsubjetivaxResponsabilidadecivilobjetiva

3.2.ResponsabilidadecivilcontratualxResponsabilidadecivilextracontratualouaquiliana

4.NATUREZAJURÍDICADARESPONSABILIDADECIVIL

5.FUNÇÃODAREPARAÇÃOCIVIL

6.IMPORTÂNCIADOESTUDODARESPONSABILIDADECIVIL

CapítuloIII-ElementosdaResponsabilidadeCivil

1.UMAVISÃOGERALDOSELEMENTOSDARESPONSABILIDADECIVIL

2.ALGUMASPALAVRASSOBREOELEMENTO(ACIDENTAL)CULPA

3.CONSIDERAÇÕESSOBREARESPONSABILIDADECIVILEIMPUTABILIDADE

CapítuloIV-ACondutaHumana

1.ACONDUTAHUMANA:PRIMEIROELEMENTODARESPONSABILIDADECIVIL

2.CLASSIFICAÇÃODACONDUTAHUMANA

3.ACONDUTAHUMANAEAILICITUDE

CapítuloV-ODano

1.CONCEITODEDANO

2.REQUISITOSDODANOINDENIZÁVEL

3.ESPÉCIESDEDANO:PATRIMONIAL,MORALeestético

4.DANOREFLEXOOUEMRICOCHETE

5.DANOSCOLETIVOS,DIFUSOSEAINTERESSESINDIVIDUAISHOMOGÊNEOS

6.FORMASDEREPARAÇÃODEDANOS

CapítuloVI-ODanoMoral

1.Introdução

2.APREOCUPAÇÃODOATUALCÓDIGOCIVILBRASILEIROCOMAQUESTÃODAMORALIDADE

3.CONCEITOEDENOMINAÇÃO

4.BREVENOTÍCIADEPRECEDENTESHISTÓRICOSSOBREODANOMORAL

4.1.CódigodeHamurabi

4.2.AsLeisdeManu

Page 11: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

4.3.OAlcorão

4.4.ABíbliaSagrada

4.5.Gréciaantiga

4.6.DireitoRomano

4.7.DireitoCanônico

4.8.Evoluçãohistórico-legislativanoBrasil

5.DANOMORALDIRETOEINDIRETO

6.REPARABILIDADEDODANOMORAL

6.1.Argumentoscontraareparabilidadedodanomoral

6.1.1.Faltadeumefeitopenosodurável

6.1.2.Incertezadeumverdadeirodireitoviolado

6.1.3.Dificuldadededescobriraexistênciadodano

6.1.4.Indeterminaçãodonúmerodepessoaslesadas

6.1.5.Impossibilidadedeumarigorosaavaliaçãoemdinheiro

6.1.6.Imoralidadedecompensarumadorcomdinheiro

6.1.7.AmplopoderconferidoaoJuiz

6.1.8.Impossibilidadejurídicadareparação

6.2.Naturezajurídicadareparaçãododanomoral

6.3.Cumulatividadedereparações(danosmorais,materiaiseestéticos)

7.DANOMORALEPESSOAJURÍDICA

8.DANOMORALEDIREITOSDIFUSOSECOLETIVOS

9.Odanomoraleomeioambientedetrabalho

CapítuloVII-NexodeCausalidade

1.Introdução

2.TEORIASEXPLICATIVASDONEXODECAUSALIDADE

2.1.Teoriadaequivalênciadascondições(“conditiosinequanon”)

2.2.Teoriadacausalidadeadequada

2.3.Teoriadacausalidadediretaouimediata

3.TeoriaAdotadapeloCódigoCivilBrasileiro

4.CAUSASCONCORRENTES

5.CONCAUSAS

6.ATEORIADAIMPUTAÇÃOOBJETIVAEARESPONSABILIDADECIVIL

Page 12: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

CapítuloVIII-CausasExcludentesdeResponsabilidadeCivileCláusuladenãoIndenizar

1.INTRODUÇÃO

2.CAUSASEXCLUDENTESDERESPONSABILIDADECIVIL

2.1.Estadodenecessidade

2.2.Legítimadefesa

2.3.Exercícioregulardedireitoeestritocumprimentododeverlegal

2.4.Casofortuitoeforçamaior

2.5.Culpaexclusivadavítima

2.6.Fatodeterceiro

3.Cláusuladenãoindenizar

CapítuloIX-AResponsabilidadeCivilSubjetivaeaNoçãodeCulpa

1.Introdução

2.BreveHistóricoeConceitodeCulpa:daGlóriaaoDeclínio

3.ElementosdaCulpa

4.GrauseFormasdeManifestaçãodaCulpaemSentidoEstrito(Negligência,ImprudênciaeImperícia)

5.EspéciesdeCulpa

CapítuloX-ResponsabilidadeCivilObjetivaeaAtividadedeRisco

1.INTRODUÇÃO

2.AResponsabilidadeCivilObjetivanaLegislaçãoEspecialenaAtividadedeRisco

3.ComoConciliaraResponsabilidadeCivilObjetivaeoart.944,parágrafoúnico,doatualCódigoCivil

CapítuloXI-ResponsabilidadeCivilporAtodeTerceiro

1.INTRODUÇÃO

2.TRATAMENTOLEGALDAMATÉRIA

3.RESPONSABILIDADECIVILDOSPAISPELOSFILHOSMENORES

4.RESPONSABILIDADECIVILDOSTUTORESECURADORESPELOSTUTELADOSECURATELADOS

5.RESPONSABILIDADECIVILDOEMPREGADOROUCOMITENTEPELOSATOSDOSSEUSEMPREGADOS,SERVIÇAISOUPREPOSTOS

6.RESPONSABILIDADECIVILDOSDONOSDEHOTÉIS,HOSPEDARIASEESTABELECIMENTOSEDUCACIONAISPORATODOSSEUSHÓSPEDES,MORADORESEEDUCANDOS

7.RESPONSABILIDADECIVILPELOPRODUTODECRIME

8.RESPONSABILIDADECIVILDASPESSOASJURÍDICASDEDIREITOPÚBLICOEDEDIREITOPRIVADO

Page 13: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

CapítuloXII-ResponsabilidadeCivilpeloFatodaCoisaedoAnimal

1.INTRODUÇÃO

2.AIMPORTÂNCIADODIREITOFRANCÊS

3.ADOUTRINADAGUARDADACOISAEDOANIMALNOBRASIL

4.ORESPONSÁVELCIVILPELAGUARDADACOISAOUDOANIMAL

5.TRATAMENTOLEGAL

5.1.Responsabilidadecivilpelaguardadoanimal

5.2.Responsabilidadecivilpelaruínadeedifícioouconstrução

5.3.Responsabilidadecivilpelascoisascaídasdeedifícios

6.QUESTÕESJURISPRUDENCIAISFREQUENTES

CapítuloXIII-ResponsabilidadeCivildoEstado

1.INTRODUZINDOESTEEOSPRÓXIMOSCAPÍTULOS

2.EVOLUÇÃODASTEORIASEXPLICATIVASSOBREARESPONSABILIDADECIVILDOESTADO

2.1.Teoriadairresponsabilidade

2.2.Teoriassubjetivistas

2.2.1.Teoriadaculpacivilística

2.2.2.Teoriadaculpaadministrativa

2.2.3.Teoriadaculpaanônima

2.2.4.Teoriadaculpapresumida(falsateoriaobjetiva)

2.2.5.Teoriadafaltaadministrativa

2.3.Teoriasobjetivistas

2.3.1.Teoriadoriscoadministrativo

2.3.2.Teoriadoriscointegral

2.3.3.Teoriadoriscosocial

3.TEORIAADOTADANOSISTEMAJURÍDICOBRASILEIRO

4.ALGUMASPALAVRASSOBREARESPONSABILIDADECIVILDOAGENTEMATERIALDODANO

4.1.Adenunciaçãodalide

5.PRESCRIÇÃODAPRETENSÃOINDENIZATÓRIACONTRAOESTADO

CapítuloXIV-ResponsabilidadeCivilProfissional

1.NOÇÕESFUNDAMENTAIS

2.CONCEITODEATIVIDADEPROFISSIONAL

Page 14: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

3.NATUREZAJURÍDICADARESPONSABILIDADECIVILDECORRENTEDEDANOSCAUSADOSNOEXERCÍCIODAPROFISSÃO

4.AAPLICAÇÃODOCÓDIGODEDEFESADOCONSUMIDOREDOART.927,PARÁGRAFOÚNICO,DOCÓDIGOCIVILBRASILEIRODE2002

5.CASUÍSTICA

5.1.Responsabilidadecivilmédica

5.1.1.Identificandoobrigaçõesderesultadonaatividademédica

5.1.2.Odeverdeprestarsocorro

5.1.3.Oerromédico

5.1.4.Responsabilidadecivildoshospitaisouclínicasmédicas

5.1.5.Responsabilidadecivildasempresasmantenedorasdeplanosesegurosprivadosdeassistênciaàsaúde

5.1.6.Responsabilidadecivilodontológica

5.2.Responsabilidadecivildoadvogado

5.2.1.Naturezajurídicadaobrigaçãodeprestaçãodeserviçosadvocatícios

5.2.2.Responsabilidadecivilpelaperdadeumachance

5.2.3.Aofensairrogadaemjuízoesuasconsequências

CapítuloXV-ResponsabilidadeCivilnasRelaçõesdeTrabalho

1.NOÇÕESGERAIS

2.COMPREENDENDOACARACTERIZAÇÃOJURÍDICADARELAÇÃODEEMPREGO

2.1.Consideraçõesterminológicas

2.2.Elementosessenciaisparaaconfiguraçãodarelaçãodeemprego

2.3.Sujeitosdarelaçãodeemprego:empregadoeempregador

3.DISCIPLINAEIMPORTÂNCIADARESPONSABILIDADECIVILNASRELAÇÕESDETRABALHO

3.1.Responsabilidadecivildoempregadorporatodoempregado

3.2.Responsabilidadecivildoempregadoemfacedoempregador

3.3.Olitisconsórciofacultativoeadenunciaçãodalide

3.4.Responsabilidadecivildoempregadorpordanoaoempregado

3.4.1.Responsabilidadecivildecorrentedeacidentedetrabalho

3.5.Responsabilidadecivilemrelaçõestriangularesdetrabalho

CapítuloXVI-ResponsabilidadeCivilnasRelaçõesdeConsumo

1.Introdução:OCódigodeDefesadoConsumidor

1.1.Partesnarelaçãodeconsumo:fornecedoreconsumidor

Page 15: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

1.2.Objetodarelaçãodeconsumo:produtoouserviço

2.ResponsabilidadeCivilpeloFatodoProdutoouServiço(AcidentedeConsumo)

2.1.Aresponsabilidadecivildosprofissionaisliberais

2.2.Prazoprescricionalparaapretensãoreparatóriadecorrentedoacidentedeconsumo

3.Responsabilidadecivilpelovíciodoprodutoouserviço

4.ResponsabilidadeCivilpelaInserçãodoNomedoConsumidornosBancosdeDados

CapítuloXVII-ResponsabilidadeCivildoTransportador

1.ConsideraçõesIniciais

2.OContratodeTransporte

2.1.Transportedecoisasoumercadorias

2.2.Transportedepessoas

3.TransporteGratuito

4.VisãoGeralsobreoTransporteAeronáutico

CapítuloXVIII-ResponsabilidadeCivildoEmpreiteiro,ConstrutoreIncorporador

1.NoçõesFundamentais

2.ContratosdeEmpreitada,ConstruçãoeIncorporaçãoImobiliária

3.ResponsabilidadeCivildoEmpreiteiro,doConstrutoredoIncorporador

4.IncidênciadoCódigodeDefesadoConsumidor

5.ResponsabilidadeTrabalhistanaAtividadedeConstruçãoCivil

CapítuloXIX-ResponsabilidadeCivildasInstituiçõesFinanceiras

1.EsclarecimentoTerminológico

2.PerspectivasdeAnálisedaResponsabilidadeCivil

2.1.Responsabilidadecivilemfacedosseusagentes

2.2.Responsabilidadecivilemfacedosseusclientes/consumidores

2.2.1.Responsabilidadecivilpelopagamentodechequefalso

2.2.2.Responsabilidadecivilpelofurtoouroubodosbensdepositadosemcofresbancários

2.3.Responsabilidadecivilemfacedeterceiros

CapítuloXX-ResponsabilidadeCivilDecorrentedeCrime

1.JurisdiçãoCivilxJurisdiçãoPenal

2.EfeitosCivisdaSentençaPenalCondenatória:AExecuçãoCivildaSentençaPenaleAAçãoCivil“ExDelicto”

CapítuloXXI-AAçãodeIndenização(AspectosProcessuaisdaResponsabilidadeCivil)

Page 16: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

1.AlgumasPalavrassobreaPropostadoÚltimoCapítulo

2.AIndenização

3.MétodosparaFixaçãodaIndenização

4.TarifaçõesLegaisdeIndenização

4.1.Danoscausadospordemandadedívidainexigível

4.2.Danosàvidaeàintegridadefísicadapessoa

4.3.Danosdecorrentesdeusurpaçãoeesbulho

4.4.Indenizaçãoporinjúria,difamaçãooucalúnia

4.5.Indenizaçãoporofensaàliberdadepessoal

5.QuantificaçãodeIndenizaçõesporDanosMorais

5.1.Critériosdequantificação

5.1.1.Arbitramento

5.1.2.Indenizaçõescomparâmetrostarifados

5.1.3.Outroscritériosparafixaçãodevalordeindenizaçãopordanosmorais

5.2.Algumaspalavrassobreobom-sensodojulgador

5.3.Cumulatividadedareparaçãopordanosmoraisemateriais

6.AQuestãodaculpaparaafixaçãodaindenização

7.ALegitimaçãoparaDemandarpelaIndenização

Referências

Page 17: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Agradecimentos

Nãohásensaçãomaisagradáveldoquecompartilharaalegriadeumavitória.

Registrar a gratidãopelo auxílio na bênção alcançada é, assim, tambémum

ato de manifestação de felicidade, pelo que, com o coração em júbilo,

agradecemosoapoiodetodosaquelesquecontribuíramdiretaouindiretamente

para o desenvolvimento deste volume, para a revisão dos anteriores ou

simplesmentepelaagradávelpresençanesseperíodo,como,porexemplo,nossos

pais(Pinho,VirgíniaeLourdes),irmãos(Fred,Camila,Cubinho,LuizAugustoe

Ricardo), esposase filhos (Emilia eKalline,MarinaeRodolfinhoPamplonae

GabriellaeGiovannaStolzeGagliano),Carol,OliveirosGuanaisFilho,Kalline,

MarcosBomfim(Páprica),EduardoLyraJúnior(pelapaciênciaedeterminação),

TherezaNahas (pelo “JuízoAuxiliar Itinerante”deAbrolhos),SílviodeSalvo

Venosa (nosso grande padrinho), a querida Dra. Giselda Hironaka (pela

confiança incondicional na baianidade elétrica), Paulo Augusto Meyer

Nascimento, Gilberto Oliveira, Marcelo Britto, Joselito Miranda, Mauricio

Brasil, Francisco Fontenele e a equipe JusPodivm, os colegas do Tribunal de

Justiça doEstadodaBahia e doTribunalRegional doTrabalho, os servidores

das comarcas de Amélia Rodrigues, Teixeira de Freitas, Eunápolis, Ilhéus e

Salvador,oamigoLuizFlavioGomes,OrlandoRibeiro,JoséAugustoRodrigues

Page 18: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Pinto, Tiago Alves Pacheco, Helena Coelho (Campo Grande/MS), Camilinha

Benjamim,Fabrício“Matsusalém”,LeonardoVieiraSantos,Taty“Blza”Granja,

Lena Argolo, Ricardo Didier, o atencioso amigo Rodrigo Leite, Marina

Ximenes, Lueli Santos, LeonardoGrizagoridis da Silva (RJ), GlauberDuarte,

LucasMazza,LuizCarlosdeAssisJr.(maiorcolaboradorda11.ªedição),Sérgio

Matos, Rajy, Gabriel de Fassio Paulo, José Cairo Júnior, Úrsula e Aline

(FTC/Itabuna), Lilian Castro, DanielWembleyMoura dos Santos, os amados

amigosdoIEJ(notadamenteEduardo,Flávia,JosepheMila),pelamaisbonita

solenidade de que participamos em nossas vidas, Gustavo Pereira da Silva

Couto, Marcos Avallone (MT), Leandro Fernandez, Thais Michelli,

“Salominho”Resedá,LislaineIrineu(Uberaba/MG),HenriqueCavalcante(AL),

Bruno César Maciel Braga, Gilmar França Santos, Victor Ribeiro, Antônio

Marinho da Rocha Neto, Edilberto Silva Ramos, Ney Maranhão, Fernanda

Barretto,GabrielHenriquedeMoraesPinho(UFMT),RicardoFernandes,Carla

Reny, Laossy Marquezini, Anderson Schreiber, Mateus “Tevez” Conceição,

LeilianeRibeiroAguiar (“Leila”), PaulaCabralFreitas,EdsonSaldanha, Júlia

PringsheimGarcia,NathaliaCavalcante,GilbertoFreitas,MarcelaFreitas eos

queridos alunos das cidades conveniadas ao IELF, os gerentes regionais da

Saraivaelivreiros,portodooapoionadivulgaçãodonossotrabalho,etodosos

amigosque,postonãomencionados,torcerampornossosucesso.

Page 19: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

SobreaImportânciadoEstudodoDireitoCivil

HáramosdoDireitoqueregulamapenasas relaçõesdecertascategoriasde

pessoas,comerciantes,empregadoseempregadoresouagricultores,comofazem

oDireitoComercial,oDireitodoTrabalhoouoDireitoAgrário.

Diferentementedeles,oDireitoCivilseaplicaatodasaspessoasfísicas(seres

humanos)oujurídicas.Asnormasdesseúltimodireito—oDireitoCivil—são

reunidas em um Código: o Código Civil. Como o Direito e o Código Civil

produzem efeitos sobre toda a população do país, pode-se logo perceber a

importânciaquetemoseuconhecimentoparaosmilhõesdebrasileiros.

Emais do que isso, avaliar as perplexidades que traz a edição de umnovo

CódigoCivil,causandodúvidaseincertezas(nãosóparaosleigosmastambém

paraosversados emDireito), sobre sedeterminadas situaçõesperduramou se

foram modificadas pelas regras do novo Código, é fundamental para toda a

sociedade.

Daíaenormeutilidadedeumainterpretaçãodasnormasdanovacompilação

porautoridadesnamatéria,comoosjovensejárespeitadoscivilistasprofessores

Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho. Impuseram-se eles à árdua

Page 20: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

tarefa de publicarNovo Curso de Direito Civil, em que expõem segundo um

métodomodernoadisciplinajurídicadequesãomestresuniversitários.Nãose

limitam a isto, mas realizam ainda a tarefa benemérita de acompanhar a

exposiçãodeumaanálisecomparativaentreosCódigosCivisde1916e2002,

dequetantosenecessitanosdiasatuais.

Osautores,depoisdeenriqueceremabibliografiabrasileiradedireitocomos

doisprimeirosvolumesdaobra,sobreaParteGeraleObrigações,presenteiam-

nosagoracomovastoecomplexotemadaresponsabilidadecivil.

Dignos de elogios são osmestres que estão empreendendo, com dedicação

dignadeaplauso,tãonobretarefa,mastambémoéaSaraiva,poreditaraobrae

fazê-locomtãobelaapresentaçãográfica.

LuizdePinhoPedreiradaSilva

Livre-docentedaFaculdadedeDireitodaUniversidadeFederaldaBahia.

JuizaposentadodoTRTda5.ªRegião.MembrodaAcademiaBrasileirade

LetrasJurídicas,daAcademiaNacionaldeDireitodoTrabalhoedaAcademia

deLetrasJurídicasdaBahia.

Page 21: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

PrefácioàPrimeiraEdiçãoResponsabilidadeaquatromãos

Os traçados e balizas que acolchetam arcos históricos e travessias revelam

percursosdoconhecimento,multiplicaçãoeviagens.Conheceréuma turnêna

própria cognição a fimdedescobrir.Descoberta éoque sedána travessiado

indivíduoaocidadão,dosujeitoinsularàpessoaconcreta,real,demandantede

direitosedenecessidadesfundamentais.Largoporissomesmoéohorizonteda

passagemqueaperegrinaçãopelaresponsabilidadeciviltraduz.

Sabe-sequehácaminhosquepraticamenteforamfeitosparanão teremfim,

sãoasviasqueosnavegadoresviajamefazematémesmoaviagemviajar,como

escreveuoProfessorGerdBornheim 1.Aperspectivaaberta,críticaeconstrutiva

do saber jurídico que se espanta com os dogmas e retira desse assombro

interrogações interdisciplinares que se edificam distantes das verdades únicas,

das fórmulas acabadas, do engessamento das ideias, é uma dessas passagens,

maisalameda,menosviela.

ÉporissoqueadoutrinafundantedoDireitoCivilbrasileirocontemporâneo

devehospedarcominstigaçãoumaobraque,aoladodaintençãodeinformação,

quer também assumir como uma de suas tarefas não se resumir à mera

reprodução(mesmosagaz)deconhecimentos.

Page 22: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho se dirigem para esse

itinerárioquandoproclamamque“outromitoquesedevedestruiréa ideiade

queodano,paraoDireitoCivil, toca,apenas,interessesindividuais.ODireito

Civilnãodeveserprodutodocegoindividualismohumano”.

Semsoçobraroolharnaspremissasqueelegeram,conjugamnessepercurso

tirocínio e iluminação, acumulados no magistério, na magistratura, na pós-

graduaçãoenapesquisa,lançandosuasreflexõesemvolumequecompreendea

responsabilidadecivilnocursodeDireitoCivil,cotejando-aentreoCódigoque

apassosedespedeeanovacodificaçãoqueaospoucosseinstalaentrenós.

Dessa elipse do sujeito insular deu, hors-ligne, apontamento a tese do

Professor Joaquim de Souza Ribeiro ao bem estear a tese da coexistência da

racionalidade do ordenamento com a “simultânea garantia de realização, no

plano individual e colectivo, de interesses essenciais” 2, normalmente

desprotegidos.

Pararealizaressatravessia,comoaqueseoperadacodificaçãoàconstituição,

dapatrimonializaçãoàrepersonalização,doteraoser,nãoépossívelseguirhoje

a observação (no contexto de então) de Portalis, principal redator do Código

Civil francês, segundoaqual“ennuestros tiemposhemosamadocondemasía

los cambios y las reformas” 3. Na estação de agora impende dar valor às

transformaçõesereformas,nãoobstantenãosepossa(nemsedeva)enodoaro

que do pretérito se presentifica na complexidade do contemporâneo que faz,

paradoxal e interessantemente, conviver o clássico, o moderno e o legado do

porviraindaporfazer-se.

Page 23: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Em boa hora se apresenta a obra de Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo

Pamplona Filho, especialmente porque tomou como diretrizes afastar a

responsabilidade civil dos anexos do Direito das Obrigações, e apresentam,

didaticamente, à luzde suas concepções epressupostos, os elementosgerais e

estruturantesdaresponsabilidade,daculpaedonexodecausalidade.Ésempre

oportuno que se reflita sobre esses elementos, inclusive para problematizar as

debilidades(comoassimasdesignouoProfessorMichelVilley 4)dosconceitos

tradicionaisdecontrato,propriedadeeobrigação.

O exame esmiuçado do tema em leitura límpida e franca não descura da

fundamentaçãoteóricaimprescindíveledoroldasinformaçõesquenãosepode

empanar.Assimsedá,porexemplo,aoasseveraremosautoresque“acabou-seo

tempo da hipócrita adoração do princípio da igualdade formal das partes

contratantes”.

Demais disso, em diversos momentos, sustenta-se o viés da prioridade ao

comando constitucional (quando o texto cuida, verbi gratia, da defesa do

consumidor nesse âmbito da responsabilidade civil), o que é coerente com a

principiologiaaxiológicade índoleconstitucional,aevidenciarqueumCódigo

nãonascecódigo,massimsefaz,enmarchant.Mesmoparaosdefensores 5da

codificaçãonotempocontemporâneocritica-seaausênciadevisãoprospectiva.

A clareza das assertivas não deve buscar consenso, inclusive porque a

dialética da argumentação jurídica supõe, necessariamente, a dissonância

construtiva,aalteridade,ooutroolhar,diversodamiradacomqueseestáavero

objetodeanálise.Équesedepreende,nessaangulação,quandoseconecta,na

obra, o vigente Código às “mudanças sofridas pela sociedade humana”, não

Page 24: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

sendo,porcerto,emnossover,acodificaçãode2002orepositórioprivilegiado

dasconquistasjurídicasdacondiçãohumana.

Nadaobstante,éconhecidaajudiciosaafirmaçãodeque,“enquantoexistirem

códigos civis, eles são peças fundamentais para a definição dos direitos da

cidadania” 6. E, ainda que assim não o seja, sustenta-se que, “se a sociedade

sempremuda, todoCódigoCivil, ainda que tenha todo seu conteúdo emuma

semana,nascerá,necessariamente,desatualizado” 7.

Melhor dizer, consoante Tepedino, que “o próprio direito civil, através da

legislaçãoextracodificada,deslocasuapreocupaçãocentral,quejánãosevolta

tantoparaoindivíduo,senãoparaasatividadesporeledesenvolvidaseosriscos

delasdecorrentes” 8.Éparaessamudançaparadigmáticaquearesponsabilidade

civilfoichamadaàcolação.

Daíodesafiodeacolher,nadialeticidadedosaber,adescobertadositinerários

quealcançamaalteridadeetambémomundoexterior.Porisso,asuperaçãodos

conceitos,aquebradeparadigmaseainvençãocomoregra.Sãodoisníveisde

descobrimento 9queabremhorizontesparanovoscamposda responsabilidade.

Paraingressarnessaexcursãooacessoprincipiapelanoçãodanauedoplano,

umabuscaquenacríticaenaconstruçãoreconhecelimiteepossibilidade.

Aos autores que intentam singrar essas águas desse inquietantemar nossos

cumprimentos pela contribuição que começam, com responsabilidade, a verter

paraadoutrinabrasileira.

LuizEdsonFachin

ProfessorTitulardeDireitoCivildaUFPR

Page 25: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

ApresentaçãodaPrimeiraEdição

Apresentar uma obra, um trabalho intelectual, é revelar a dimensão do

homem.

Nãoétarefafácil,poistudooquesedisserdotrabalhodecriaçãoiráprojetar-

senoseucriador.

Criadorecriaçãoestabelecemumasimbioseindissolúvel.

De certa feita, o grande penalista Alberto Silva Franco, convidado a

apresentarumtrabalhojurídico,deixouevidenciadoquãodifíciléprefaciaruma

criaçãodohomem.

Paratantodevemosconheceraobra,seuautoreoserhumanoqueserevela

emseuinterior.

Confesso que me surpreendi quando fui convidado para apresentar este

trabalho.

A surpresa liga-se ao fatode ter conhecidopessoalmenteumdos autores, o

ilustre e jovem talento Pablo Stolze, há pouco tempo, embora dele tivesse

notícia pelo seu destaque como professor universitário no Estado da Bahia e

atuação e participação, em São Paulo, como coordenador, juntamente com o

especial amigo Luiz Flávio Gomes, no “Curso Prima-Ielf” e na Faculdade

Page 26: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

AutônomadeDireitodeSãoPaulo.

Emnossoprimeiro encontropudeentendermelhor a euforiadeLuizFlávio

comonovoparceiro.

Pablo StolzeGagliano transmite um carisma e demonstra energia positiva

quenosfaz—depronto—nutrir-lheadmiraçãopelasuaenormecapacidadede

comunicação e especial formação jurídica, demonstrando segurança e

conhecimentoemtudooquediz.

ÉumcomunicadornatoeumoperadordoDireitodeescol.

ÉJuizdeDireitonoEstadodaBahiaeprofessoruniversitário,dividindoessas

tarefascomamesmaeficiênciaetalento.

Rodolfo Pamplona Filho é Juiz do Trabalho e professor universitário no

EstadodaBahia,tambémsedestacandoemtodasasáreasemqueatua.

Tambémjovem,vemserevelandoaomundojurídicocomodestaquedanova

geraçãodejuristas.

Masimpõe-sefalardacriação.

OsestudiososeoperadoresdoDireitoaquiapresentadosuniramseusespeciais

predicadose talentopara enfrentarumdesafio: comentaronovoCódigoCivil

postoalumeeemvigorapartirdejaneirode2002.

A iniciativa vem demonstrar a coragem dos personagens apresentados, pois

desde hámuito tempo oDireito Civil tornou-se uma reserva para poucos.Os

comentáriosmaisalentados,comrigorsistemáticoeplenaabrangênciasurgiram

na primeirametade do século passado, nada surgindo no horizonte doDireito

Page 27: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Privadoqueinovassenessaáreaapósesseperíodo.

ComolembrouSílviodeSalvoVenosa,naapresentaçãodovolumeI,“durante

muitas décadas nada de novo foi criado em matéria de obra sistemática no

campodoDireitoCivilemnossopaís”.

Aobservaçãodequesetratadeumdesafioeatodecoragemliga-seaofatode

que há um novo estatuto com nada menos do que 2.046 artigos para serem

dissecadoseinterpretados.Maisdoqueisso,semqualquerpontodepartidaou

comentárioanteriorquepossaservirdebase,aindaqueparadiscordar.

ForampostosàdisposiçãodosleitoresosvolumesI(ParteGeral)eII(Direito

dasObrigações).

Foi-nos confiada a apresentaçãodovolume III, dedicado exclusivamente ao

estudo daResponsabilidadeCivil, como esclarecimento de que tal temática é

ampla demais para ser estudada como mero anexo da análise do Direito das

Obrigações.

EstevolumeIII,naesteiradosdemaisjápublicados,comprovaaqualificação

dosseusinspiradoresesuasólidaformaçãojurídica.

O tema“responsabilidadecivil”é tratadocomrigorcientífico, apresentando

umíndicesistemáticoquerevelaumconteúdorico,atualeconstituindooquede

melhorpoderiaserproduzido.

Ocompromissocomaverdadenoslevaaconfessarqueobrasanteseditadas,

tratando do Direito Civil como um todo, nas quais os autores se propuseram

analisartodooCódigoCivil,registravamcomentáriossuperficiaisouincipientes

acercadaresponsabilidadeciviledaobrigaçãodeindenizar.

Page 28: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Contudo, surge agora o vislumbre de um novo porvir, mas que já se torna

realidade:apreocupaçãodosnovosjuristascomuminstitutofundamentalparaa

soluçãodeconflitoseapacificaçãosocial.

Trata-sedetrabalhodemãoesobremão,levandoacrerqueosautorestêma

virtudedemultiplicarotempo.

Oscomentáriosnãoficamnasuperfícieecomprovamquealeinãoéotexto,

masocontexto.

Maisdoque isso,atendeàadvertênciadePONTESDEMIRANDAquando

obtemperou que “toda obra de ciência — e de direção dos povos — exige

dedicaçãoeamor.Semissonãoseconstrói”(PosfáciodeseusComentáriosao

CódigodeProcessoCivil,1978).

Sepossívelforaconselhar,obtemperoquenãobastasaber;éprecisodivulgar

o saber.Nãobasta capacitar-se; é necessário contribuir para a capacitaçãodos

outros.

Nãobastaterdireitos;éprecisopoderexercê-los.Eparaalcançaressametaé

que se esforçam tantos quantos nos presenteiam com trabalhos como este que

oraapresento,comessaenvergaduraequalidade.

Novosjuristas,sejambem-vindos.

QueDEUS lhespermita continuardistraindoo tempoparanosbrindar com

umaobracompletaereveladoradeumnovoporvir.

RuiStoco

DesembargadordoTribunaldeJustiçadeSãoPaulo

Page 29: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

NotadosAutoresàDécimaQuintaEdição

Oanode2017prometeserummarcoemnossasvidas!

Nessa data, completamos 15 (quinze) anos da estreia do volume I (“Parte

Geral”)donossoNovoCursodeDireitoCivil,oprimogênitodeumaprofícua

parceria, que logo foi sucedidopor vários volumes, inclusive o presente livro,

totalmente focado na compreensão das intrincadas questões relacionadas ao

interdisciplinarcampoda“ResponsabilidadeCivil”.

Comefeito,maisdoquecolegas,tornamo-nosparceiros.

Maisdoqueparceiros,tornamo-nosamigos.

Maisdoqueamigos,tornamo-nosirmãos.

E,nessafraternidade,váriosfrutosforamgerados.

Atéomomento, lançamos, juntos,8 (oito)obras emcoautoria, a saber, sete

volumes/tomosdonossoNovoCursodeDireitoCivil (partegeral, obrigações,

responsabilidadecivil,teoriageraldoscontratos,contratosemespécie,direitode

famíliaesucessões),eumaobraapartada,ONovoDivórcio,publicadaquando

dapromulgaçãodaEmendaConstitucionaln.66.

Page 30: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Masessafraternidadecontinuaaproduzirnovosresultados!

Justamente neste ano em que “debutamos”, ao completar três lustros de

publicações,você,amigoleitor,équeganharáopresente.

Alémdahabitualededicadarevisãoeatualizaçãodotextodestanovaedição

quechegaàssuasmãos,temosaimensahonradeanunciarque,nesteano,temos

tambémaprevisãodelançardoisnovos“filhos”.

O primeiro é o volumeV da coleção, inteiramente dedicado ao estudo dos

“DireitosReais”, que já está sendo ultimado nomomento em que se redigem

estaslinhas.

Osegundoéapéroladanossaprodução:umManualdeDireitoCivil,como

cursocompletodadisciplina,quefacilitaráaconsultarápidadenossosamigos

leitoresemumúnicovolume,abrangendotodososramosdoDireitoCivil,com

precisãotécnica.

Eumfilhonãoconcorrerácomooutro.

OManual terá a característica da consulta rápida, condensada, enquanto os

tomos do Novo Curso de Direito Civil terão cortes epistemológicos bem

direcionadosàsdisciplinasespecíficas,comoaprofundamentodequestõesque

nãosãopossíveisemumaobradaenvergadurado“volumeúnico”.

Um complementando o outro, sem tomar o seu espaço, como devem se

comportarmembrosdeumamesmafamília.

Nessanovafasedenossasvidas,rendemoshomenagensavocê,queridoleitor,

portodooapoioecarinhodemonstrados.

Page 31: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Reiteramos nosso pedido para que nos ajude a cumprir o permanente

compromissodehonraramissãodeensinaronovoDireitoCivilbrasileirocom

profundidade, objetividade e leveza. Por isso, continuamos sempre abertos a

toda e qualquer sugestão de aperfeiçoamento, que pode nos ser enviada pelos

nossose-mailspessoais,aquidivulgados.

Essasaudávelinteraçãovirtualtemnosfeitomuitobem(eaumentado,acada

edição,alistadeagradecimentos...).

Muitoobrigadoportudo!

ComDeus,sempre!

Salvador,novembrode2016.

PabloStolzeGagliano<[email protected].>

RodolfoPamplonaFilho<[email protected]>

Visiteossites:www.pablostolze.com.brewww.rodolfopamplonafilho.com.br

Page 32: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

NotadosAutoresàDécimaQuartaEdição

Anualmente, a cada nova edição da obra, temos feito cuidadosa revisão e

atualizaçãodotexto.

Muitas vezes, procedemos também com ampliações, incorporando novas

reflexõesedissecandoinstitutosantesnãoabordados.

Todavia,oquefizemos,destavez,comtodaacoleção,queagoraentregamos

aonossoqueridopúblicoleitor,foimuitomaisdoqueisso...

De fato, o ano de 2015 se mostrou profícuo em matéria de produção

legislativa.

OadventodeumnovoCódigodeProcessoCivil,naperspectivadodiálogo

dasfontes,afetouprofundamenteaspectosdodireitomaterial.

Ademais,outrosdiplomasmodificarampreceitoslegislativosqueeramobjeto

de referência em edições anteriores de vários volumes desta obra, merecendo

destaque,atítuloexemplificativo,oEstatutodaPessoacomDeficiência,oque

exigiunovoesforçointelectualpara(res)sistematizaracompreensãoeoensino

detradicionaisinstitutoscivis.

Neste volume, especificamente, além da atualização da base legislativa,

Page 33: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

mantivemos a referência aos julgados até então citados, eis que uma nova

jurisprudênciadeveráserconstruídasomenteapartirde2016.

Nessecontexto,renovamostambémonossocompromissodemanteramissão

de ensinar o novo Direito Civil brasileiro com profundidade, objetividade e

leveza,sempreabertosatodaequalquersugestãodeaperfeiçoamento,peloque

informamosnossosatuaise-mailsesitesparaasaudávelinteração,pessoale/ou

virtual.

Muitoobrigadoportodooapoioquevocê,queridoleitor,nosproporciona!

ComDeus,sempre!

Salvador,novembrode2015.

PabloStolzeGagliano<[email protected]>

RodolfoPamplonaFilho<[email protected]>

Visiteossites:www.pablostolze.com.brewww.rodolfopamplonafilho.com.br

Page 34: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

NotadosAutoresàDécimaEdição

Aprimeiraediçãodoprimeirovolumedestacoleçãofoipublicadaemmarço

de2002.

Parecequefoiontem...

FizemosolançamentooficialemumgrandecongressorealizadoemSalvador

(BA),nodia3deabrilde2002e,naquelemomento,percebemosqueestávamos

diantedealgomaravilhoso,queuniriaindelevelmenteasnossasvidas,comoum

símbolodeumafraternidadeinabalável.

“Olivrosaiudocontrole...”,eraumafrasequerepetíamosumparaooutro,de

formareiterada,aoconstataroêxitodanossamodestaempreitada.

E novos livros se seguiram, inclusive este volume dedicado ao estudo da

ResponsabilidadeCivil.

Em agosto de 2011,menos de 10 anos da estreia daquele que costumamos

chamar de nosso “primogênito”, estamos redigindo estas linhas com uma

emoçãorenovada.

Vemosqueestaprofícuaparceriagerousetelivroseváriosartigosdegrande

repercussão.

Page 35: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Alcançamosmentes e almas em todo o país, seja pessoalmente, seja por e-

mailsounocontatopormeiodenossossiteeblog.

Crescemoscomosereshumanos,experimentandonovassensaçõesemnosso

convíviofamiliar,acadêmicoeprofissional.

Mantivemos o nosso “coração de estudante” aberto para tudo que nos foi

ofertado, nunca fechando nossos horizontes para a pesquisa e o renovar do

debateedoaprendizado,emcursosnoBrasilenoexterior.

Nesta nova edição, revista, ampliada e atualizada, revisamos os tópicos,

esclarecendo e sanando as inevitáveis imperfeições decorrentes da falibilidade

humanaoudamodificaçãonormativa.

Registramos, mais uma vez, o nosso agradecimento sincero pela interação

comosleitores,dasmaisdiversasformaspossíveis(salasdeaula,congressos,e-

mails, redes sociais etc.). Tal contato permite a atualização e aperfeiçoamento

constante da obra, motivo pelo qual sempre inserimos novos nomes nos

agradecimentosdolivro.

Destaforma,renovamosebuscamoscumprironossocompromissopúblicode

respeitoaosestudiososdoDireitoCivilbrasileiro.

MuitoobrigadoportudoaDeuseavocê,amigo(a)leitor(a)!

Salvador,agostode2011.

PabloStolzeGagliano<[email protected]>

RodolfoPamplonaFilho<[email protected]>

Visite os sites: www.pablostolze.com.br e

Page 36: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

www.rodolfopamplonafilho.blogspot.com

Page 37: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

NotadosAutoresàOitavaEdição

Oúltimoanoquevivemosfoirepletodegrandesemoções.

Com efeito, se iniciamos a redação do volume VII (“Direito de Família”),

destacoleção,comoânimodecompletar,omaisrápidopossível,anossaobra,

tambémtivemosimensosoutrosdesafiosquenostomaram,sobremaneira,todoo

tempolivre.

Do ponto de vista profissional, reorganizamos nossas agendas, permitindo

estabelecer novos contatos com queridos novos amigos em todos os rincões

desteBrasilcontinental.

Realizamos cursos fora doEstado e doPaís, buscando abrir, aindamais, os

horizontes, o que tem sido uma experiência enriquecedora, inclusive para este

livro.

Se problemas pessoais, notadamente de saúde na família, também nos

atacaram, sentimos, por outro lado, um forte intercâmbio de energias, com as

maravilhosas correntes de oração, pensamentos positivos e solidariedade, que

nosfizeram,quaseliteralmente,“renascerdascinzas”.

Eécomesteespíritorenovadoquetemosahonraeoprazerdeapresentarao

nossofielpúblicoleitorasnovasediçõesdonossoNovoCursodeDireitoCivil,

Page 38: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

a saber: 12.ª edição do volume I (“Parte Geral”), 11.ª edição do volume II

(“Obrigações”),8.ªediçãodovolumeIII(“ResponsabilidadeCivil”),6.ªedição

dovolumeIV,tomoI(“TeoriaGeraldosContratos”)e3.ªediçãodovolumeIV,

tomo2(“ContratosemEspécie”).

Esperamos,emCristo,terminaronovorebentodestaprofícuaparceriaainda

noanoemcurso.

E,maisumavez,aproveitamosaoportunidadeparaagradecer.

Agradecero carinhocomque somos recebidos em todosos lugares emque

palestramosouministramosaulas.

Agradecer o apoio em todos os momentos, alegres ou difíceis, por que

passamosrecentemente.

Agradecer, sempre, a interação mantida com os leitores, seja no contato

pessoalnassalasdeaula,corredoresoucongressos;sejapelaimensaquantidade

demensagenseletrônicasrecebidasdiariamente.

Comoafirmamosanteriormente,deformapública,estecompartilhardeideias

acaba transformando nossos leitores em “coautores virtuais” da obra, motivo

pelo qual sempre temos ampliado o rol de agradecimentos de cada edição de

todos os volumes, inserindo os nomes daqueles que trouxeram contribuições

paraolapidardaobra.

Receba,você,amigoleitor,onossosinceroecarinhosoabraço!

Salvador,julhode2009.

PabloStolzeGagliano<[email protected]>

Page 39: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

RodolfoPamplonaFilho<[email protected]>

Visiteossites:www.pablostolze.com.brewww.unifacs.br/revistajuridica

Page 40: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

NotadosAutoresàSétimaEdição

ÉcomgrandesatisfaçãoqueapresentamosamaisnovaediçãodovolumeIII

(“ResponsabilidadeCivil”)donossoNovoCursodeDireitoCivil.

Trata-sedasétimaconsecutiva,oque,aliadoaalgumasreimpressões,muito

nosalegra.

Consideramos essa circunstância uma bençãomaravilhosa, que gostaríamos

decompartilharcomtodosaquelesquenosincentivam.

E, por isso, mantendo o nosso habitual compromisso, fizemos questão de

revisarváriostópicos,tantoparaesclarecer,quantoparaatualizareaperfeiçoar.

Oagradecimentosinceropelainteraçãocomosleitores(sejaemsalasdeaula,

congressosoue-mails),nãopodedeixardesermencionado,pois,cadavezmais,

vislumbramostalcontatocomoumverdadeirocompartilhardeco-autoria,oque

éregistrado,sempre,nosagradecimentosdaobra!

Nesta edição, por exemplo, feita em paralelo à redação do volume VII,

dedicado ao “Direito de Família”, além dos inevitáveis aperfeiçoamentos

redacionais ou terminológicos, fizemos questão de inserir a ementa do

julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 2.591, que declarou

expressamente a aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor às

Page 41: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

instituições financeiras, o quepropugnávamospublicamente, inclusivedesde a

primeiraediçãodestevolume.

Eénessagratasensaçãodealegriapelarespostadonossopúblicoleitorque

redigimosestanota,naesperança,quasecerteza,dequeo inesgotável temada

responsabilidadecivilaindaensejaráváriasoutrasreflexõesnossasedosnossos

amigosdetodooBrasil.

Umafetuosoabraço!

Salvador,agostode2008.

PabloStolzeGagliano<[email protected]>

RodolfoPamplonaFilho<[email protected]>

Visiteossites:www.pablostolze.com.brewww.unifacs.br/revistajuridica

Page 42: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

NotadosAutoresàQuintaEdição

ÉcomgrandesatisfaçãoquetrazemosalumeumanovaediçãodovolumeIII

(“ResponsabilidadeCivil”)donossoNovoCursodeDireitoCivil.

Mantendoo compromisso como público leitor, revisamos tópicos, tanto do

pontodevistadeesclarecimentodeposicionamentosquantodeaperfeiçoamento

redacional.

Agradecemos,maisumavez,decoração, a constante interaçãoqueestamos

mantendocomosleitores,sejanocontatopessoalnassalasdeaula,corredores

oucongressos,sejapelaimensaquantidadedemensagenseletrônicasrecebidas

diariamente,comsugestõesconstrutivaseelogios.

Sentimosonossoestimadoleitorcomoumverdadeirocoautordaobra!

A este sentimento de construção coletiva de um texto, dedicamos esta nova

edição,comasincerapromessadecontinuarlutandopelotextoperfeito,objetivo

quesabemosquenuncaseráalcançado,massempreseráperseguido...

Salvador,fevereirode2007.

PabloStolzeGagliano<[email protected]>

RodolfoPamplonaFilho<[email protected]>

Page 43: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Visiteossites:www.pablostolze.com.brewww.unifacs.br/revistajuridica

Page 44: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

NotadosAutoresàQuartaEdição

Estimadosamigosleitores,

Nesta nova publicação, aperfeiçoamos alguns capítulos, inserindo novos

precedentesatualizados,segundoametaquetraçamosnosentidodedeixaresta

obrasempremoderna.

Játivemosoportunidadedeanotar,segundoditadocorrente,quelivroagente

não acaba de escrever nunca, e, para tanto, contamos sempre com a valiosa

colaboraçãodevocês.

Estamosàdisposiçãodetodos!

Umfraternalabraço!

Salvador,Bahia,em19demarçode2006.

PabloStolzeGagliano<[email protected]>

RodolfoPamplonaFilho<[email protected]>

Page 45: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

NotadosAutoresàTerceiraEdição

Otema“responsabilidadecivil”é,definitivamente,inesgotável.

Por isso, fazer umanova ediçãodestevolume, inteiramentededicado a esta

especializaçãodoDireitoCivil,ésempreumprazerrenovado,hajavistahaver

umaquantidadeenormedetemasquepodemseraprofundados.

Conceber,porém,estaterceiraediçãofoiumpoucomaiscomplicadodoque

de costume, pois, em verdade, estamos passando por um período bastante

atribuladodenossasvidas,sejaemfunçãodotérminodocursodeMestradode

Pablo na PUCSP, seja em função damudança de comarca (deEunápolis para

Ilhéus)deRodolfo,bemcomoasuaeleiçãoparaaAcademiadeLetrasJurídicas

daBahiae,principalmente,onascimentodeRodolfinho,em3dejunhode2005.

Assim, essa é uma revisão feita “entre fraldas e mamadeiras”, em um

momentomuitoespecialdenossasvidas!

Mesmo tão atarefados, isso não prejudicou o trabalho, pois não poderíamos

deixar de trazer novas reflexões sobre os temas aqui defendidos, bem como

propugnarporumaperfeiçoamento redacionaldo texto (mesmocientesdeque

elenunca alcançará aperfeição,umavezqueesta somente é reservadaparao

SenhorJesus...).

Page 46: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Oqueaquiconseguimoséfruto,porém,deumaconstantedialéticacomnosso

fiel público leitor, que nos proporciona sempre um amadurecimento das teses,

tantoemsaladeaulaquantonose-mailsrecebidosdiariamente.

Por isso,nãocansamosde registrarnossosagradecimentos, comoumpreito

de sincero reconhecimento a eles, dedicando-lhes todo o sucesso desta nova

empreitada!

Salvador,julhode2005.

PabloStolzeGagliano<[email protected]>

RodolfoPamplonaFilho<[email protected]>

Visiteossites:www.pablostolze.com.brewww.unifacs.br/revistajuridica

Page 47: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

NotadosAutoresàSegundaEdição

Foi com grande prazer que recebemos a comunicação da Editora Saraiva

encomendando a preparação dos originais da segunda edição deste terceiro

volumedonossoNovoCursodeDireitoCivil,aomesmotempoemqueeram

solicitadasaquintaediçãodovolumeIeaquartaediçãodovolumeII.

Ocustodesseprazer,porém,foiumesforçohercúleoparaconseguirsuperar

as dificuldades pessoais do dia a dia, aliadas à peculiaridade da redação do

volumeIV,aindaemandamento.

Virando noites (literalmente), conseguimos dar cabo à proposta de manter

sempre atualizada a legislação e jurisprudência da obra, aproveitando a

oportunidade, no caso concreto, para sanar as imperfeições naturais de uma

primeiraedição.

Para essa parte final, tivemos, porém, o apoio de diversos novos e velhos

amigos que, lendo a obra, não hesitaram em entrar em contato para sugerir

modificações, aperfeiçoamentos ou simplesmentemanifestar o seu agrado, em

umdiálogofranco,respeitosoeaberto,quenosagradasobremaneira.

Esperamos,sinceramente,queestenovovolumesigarealmenteatrilhaaberta

pelosseusantecessores,umavezquesimboliza,comoditonaprimeiraedição,a

Page 48: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

consolidaçãodenovasrelaçõesdefraternidadecomjuristassagradosdoDireito

Civilnacional,comoLuizEdsonFachineRuiStoco,quenospresentearamcom

a redação, respectivamente, do prefácio e apresentação, verdadeiras peças

literáriasemumaobramodestamentetécnica.

Damesma forma, na nota de abertura, na esteira dos insuperáveis Josaphat

Marinho(v.I)eJoséJoaquimCalmondePassos(v.II),outrorepresentanteda

geraçãodesbravadora da cientificidade doDireito brasileiro, o grandeLuiz de

Pinho Pedreira da Silva, um dos maiores pensadores vivos do Direito do

Trabalhonacionalemundial.

Atlast,butnotatleast,naorelhadolivro(que—convenhamos—éo“cartão

devisita”dequalquerobra,poiséapartequeprimeirose lê)contamoscoma

argutapalavradocolegaProf.PauloRobertoNalin,emtextomemorável,cujo

elogio (eexagero) somenteé justificávelpelaamizadequenosuneepelo seu

imensocoração.

EqueJesuscontinueabençoandotodosaquelesqueacreditamqueépossível

construir amizades verdadeiras em um mundo tão cheio de máscaras,

aprendendoasedesnudarintelectualmentepara,daformamaisíntegrapossível,

sonharcomumnovoperfildoprofissionaldoDireito,maispróximodocidadão

edarealizaçãodeummundomelhorparaservivido.

Salvador,novembrode2003.

PabloStolzeGagliano<[email protected]>

RodolfoPamplonaFilho<[email protected]>

Visiteosite:www.pablostolze.com.br

Page 49: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

NotadosAutoresàPrimeiraEdição

Maisumaetapavencida:terminamosaredaçãodovolumeIIIdonossoNovo

CursodeDireitoCivil.

Cadafasederedaçãodestelivrotemnosreservadoagradáveissurpresas.

Asvantagensdecomunicaçãodamodernidadepermitiramquemantivéssemos

um contato direto com nossos leitores e alunos, nos diversos cursos de pós-

graduaçãooupreparatóriosparaconcursosdequeparticipamosemtodoopaís,

possibilitando o aperfeiçoamento (processo contínuo e ilimitado) de nossas

ideias e o conhecimento de realidades regionais diferenciadas, com diversos

exemplosdeaplicaçãodamesmanormalegal.

A ideia deste volume, inteiramente dedicado ao tema da “Responsabilidade

Civil”,éfrutodanossaconvicçãodequetal temáticaéamplademaisparaser

estudadacomomeroanexodoDireitodasObrigações.

De fato, a responsabilidade civil é questão quemerece destaque da própria

disciplinadoDireitoCivil, sendomatériaafetaàTeoriaGeraldoDireito,uma

vezqueserelacionacomabsolutamentetodososramosdaárvorejurídica.

Por isso, a proposta desta parte do curso é apresentar todos os elementos

gerais e estruturantes da responsabilidade civil, realizando uma análise

Page 50: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

percucientedecadaumdosseuselementosessenciais(condutahumana,danoe

nexo de causalidade), bem como da relevância ou não da culpa para a sua

configuração.

Conhecidasaspremissasdoraciocínio,passamosatecerconsideraçõessobre

a casuística da responsabilidade civil, enfocando algumas questões específicas

de grande importância doutrinária e utilidade prática, buscando trazer arestos

jurisprudenciaisatualizadosparaacomprovaçãodastesesdefendidas.

Eajurisprudênciacolacionada,osnossosleitoresperceberão,éextremamente

atual e cuidadosamente escolhida, já que esta obra também é pensada para os

profissionaisdodireito.

É lógico que, dada a amplitude do tema aqui abordado, tais especificações

jamais poderão ser exaustivas,mas apenas exemplificativas da importância da

matéria, pelo que nossa expectativa é que, se este volume alcançar o mesmo

sucesso dos anteriores, estaremos continuamente renovando e ampliando esta

parte.

Poropçãometodológica,inclusive,algumasformasderesponsabilizaçãocivil

serão enfocadas em outros volumes de nossa obra, como, por exemplo, na

atividade de seguro, destinada ao volume IV (“Contratos”), e nas relações

familiares,reservadasparaovolumeVII(“DireitodeFamília”).

Esperamos,sinceramente,queestenovovolumepossaseguiramesmatrilha

dos anteriores, pois também simboliza a consolidaçãodenovas amizades com

ilustreseconceituadosjuristas,asaber,osdoutosLuizEdsonFachin,RuiStoco,

LuizdePinhoPedreiradaSilva ePauloRobertoNalin,quenospresentearam

Page 51: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

comaredaçãodostextosdeaberturaedeorelhadaobra.

Como sempre dito, a divulgação de nossos endereços eletrônicos ao final

desta nota tem por finalidade manter um diálogo franco e aberto com todos

aquelesquecompartilharemconoscoapaixãopeloestudodoDireitoCivil.

Equeofogodessapaixãosejaabússolaquenosconduzaparaonortedeum

amormaduroeperene.

Salvador,abrilde2003.

PabloStolzeGagliano<[email protected]>

RodolfoPamplonaFilho<[email protected]>

Visiteosite:www.pablostolze.com.br

Page 52: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

CapítuloI

IntroduçãoàResponsabilidadeJurídica

Sumário: 1. Introdução. 2. Conceito jurídico de responsabilidade. 3. Responsabilidade jurídica x

Responsabilidademoral.4.ResponsabilidadecivilxResponsabilidadecriminal.

1.INTRODUÇÃO

“Dequeméaresponsabilidade?”

Estafrase,tãoproferidanonossocotidiano,demonstraaimportânciadotema

do presente livro, dedicado ao estudo da “Responsabilidade Civil” no nosso

ordenamentojurídico.

Compreendê-laetentarrespondê-laéumdesafioaojurista,dentrodaimensa

gamaderelaçõesabrangidaspelotema.

Todavia, antes de adentrarmos à temática propriamente dita, ou seja,

especificamentenocampodareparaçãocivillatosensudedanos,épreciso,por

rigormetodológico,tentarcompreenderoconceitojurídicoderesponsabilidade.

Afinal de contas, antes de saber de quem é a responsabilidade, é preciso

entenderoqueéaresponsabilidade.

Éoquepretendemosnestecapítuloinicial.

Page 53: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

2.CONCEITOJURÍDICODERESPONSABILIDADE

O magistral JOSÉ DE AGUIAR DIAS abre o seu Tratado de

Responsabilidade Civil, obra clássica do Direito brasileiro, observando que:

“Toda manifestação da atividade humana traz em si o problema da

responsabilidade” 1.

Defato,todaaatuaçãodohomeminvadeou,aomenos,tangencia,ocampo

daresponsabilidade.

Masoqueéessaresponsabilidade?

A palavra “responsabilidade” tem sua origem no verbo latino respondere,

significando a obrigação que alguém tem de assumir com as consequências

jurídicas de sua atividade, contendo, ainda, a raiz latina de spondeo, fórmula

através da qual se vinculava, no Direito Romano, o devedor nos contratos

verbais 2.

Aacepçãoquesefazderesponsabilidade,portanto,estáligadaaosurgimento

deumaobrigaçãoderivada,ouseja,umdeverjurídicosucessivo 3,emfunçãoda

ocorrênciadeumfatojurídicolatosensu 4.

Orespaldodetalobrigação,nocampojurídico,estánoprincípiofundamental

da“proibiçãodeofender”,ouseja,aideiadequeaninguémsedevelesar—a

máxima neminem laedere, de Ulpiano 5 —, limite objetivo da liberdade

individualemumasociedadecivilizada.

Como sabemos, o Direito Positivo congrega as regras necessárias para a

convivência social, punindo todo aquele que, infringindo-as, cause lesão aos

interessesjurídicosporsitutelados.

Page 54: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Tomemos,porexemplo,oart.186doCódigoCivil 6.

Se uma pessoa, dolosa ou culposamente, causar prejuízo a outrem, fica

obrigadaarepararodano.Ouseja,seTICIO,dirigindoimprudentemente,atinge

oveículodeCAIO,ointeressejurídicopatrimonialdesteúltimorestouviolado,

por força do ato ilícito cometido pelo primeiro, que deverá indenizá-lo

espontâneaoucoercitivamente(pelaviajudicial).

Omesmoocorre,aliás,quandoumadaspartesdescumpreobrigaçãoimposta

pornormacontratual.Apartecredora,nessecaso,poderáexigira indenização

devida,pormeiodeumaaçãoderesoluçãocumuladacomperdasedanos.

Damesmaforma,masemoutrocampodetutelajurídica,aordemjurídicanão

se satisfaz com a circunstância de determinado indivíduo poder causar mal a

outro (matar alguém, por exemplo). Neste ponto, haverá também uma

responsabilidade jurídica, porém diferenciada da mencionada nos exemplos

anteriores.

Énessecontextoquesurgeaideiaderesponsabilidade.

Responsabilidade,paraoDireito, nadamais é, portanto, queumaobrigação

derivada — um dever jurídico sucessivo — de assumir as consequências

jurídicasdeumfato,consequênciasessasquepodemvariar(reparaçãodosdanos

e/oupuniçãopessoaldoagentelesionante)deacordocomosinteresseslesados.

Sobre o tema, inclusive, o Dicionário Jurídico da Academia Brasileira de

LetrasJurídicas apresenta o seguinte verbete, perfeitamente compatível com a

teseaquidefendida:

“RESPONSABILIDADE. S. f. (Lat., de respondere, na acep. de assegurar, afiançar.) Dir. Obr.

Page 55: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Obrigação,porpartedealguém,deresponderporalgumacoisaresultantedenegóciojurídicooudeato

ilícito.OBS.Adiferençaentreresponsabilidadecivilecriminalestáemqueessaimpõeocumprimento

dapenaestabelecidaemlei,enquantoaquelaacarretaaindenizaçãododanocausado” 7.

Antes de aprofundarmos a diferença entre esses dois campos de responsa-

bilizaçãojurídica,faz-semisterteceralgumasconsideraçõessobreaquestãoda

responsabilidademoral.

3.RESPONSABILIDADEJURÍDICAXRESPONSABILIDADEMORAL

Mutatis mutandis, até mesmo no âmbito da moral, a noção de

responsabilidade desponta, embora sem a coercitividade característica da

responsabilidade decorrente da violação de uma norma jurídica. De fato, por

isso,seocatólicofervorosocometeumpecado,descumprindoummandamento

religioso(normamoral),serápunidoapenasnocampopsicológico,arcandocom

asconsequênciasdoseuato(teráderezardezpais-nossos,porexemplo).

A respeito desse tema, AGUIAR DIAS, citando doutrina francesa, adverte

que:

“Ocorre, aqui, a primeira distinção entre responsabilidade jurídica e responsabilidademoral. Esta se

confina—explicamHenrietLeonMazeaud—noproblemadopecado.Ohomemsesentemoralmente

responsávelperanteDeusouperanteasuaconsciência,conformeseja,ounão,umcrente”.Earremata:

“Nãosecogita,pois,desabersehouve,ounão,prejuízo,porqueumsimplespensamento induzessa

espéciederesponsabilidade,terrenoqueescapaaocampodoDireito,destinadoaasseguraraharmonia

dasrelaçõesentreosindivíduos,objetivoque,logicamente,nãopareceatingidoporesselado” 8.

A diferença mais relevante, todavia, reside realmente na ausência de

coercitividade institucionalizada da normamoral, não havendo a utilização da

forçaorganizadaparaexigirocumprimento,umavezqueestaémonopóliodo

Estado.

Page 56: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

4.RESPONSABILIDADECIVILXRESPONSABILIDADECRIMINAL

O raciocínio desenvolvido para a formulação de um conceito de

responsabilidade, no campo jurídico, justamente pela sua generalidade, não se

restringeaoDireitoCivil (e,portanto,àResponsabilidadeCivil),aplicando-se,

respeitadasasdevidaspeculiaridades,atodososoutroscamposdoDireito,como

nasesferaspenal,administrativaetributária.

Aliás,comojátivemosoportunidadedeanotar.

“naresponsabilidadecivil,oagentequecometeuoilícitotemaobrigaçãoderepararodanopatrimonial

oumoralcausado,buscandorestaurarostatusquoante,obrigaçãoestaque,senãoformaispossível,é

convertidanopagamentodeumaindenização(napossibilidadedeavaliaçãopecuniáriadodano)oude

uma compensação (na hipótese de não se poder estimar patrimonialmente este dano), enquanto, pela

responsabilidadepenaloucriminal,deveoagentesofreraaplicaçãodeumacominaçãolegal,quepode

ser privativa de liberdade (ex.: prisão), restritiva de direitos (ex.: perda da carta de habilitação de

motorista)oumesmopecuniária(ex.:multa)” 9.

Tal diferençabásicaquanto às consequências é decorrente, emverdade, dos

sentimentossociaisehumanosquerespaldamefundamentamaresponsabilidade

jurídica.

NaspalavrasdeCAIOMÁRIODASILVAPEREIRA:

“Como sentimento social, a ordem jurídica não se compadece com o fato de que uma pessoa possa

causarmalaoutrapessoa.Vendonoagenteumfatordedesequilíbrio,estendeumarededepunições

com que procura atender às exigências do ordenamento jurídico. Esta satisfação social gera a

responsabilidadecriminal.

Comosentimentohumano,alémdesocial,àmesmaordemjurídicarepugnaqueoagenteresteincólume

emfacedoprejuízoindividual.Olesadonãosecontentacomapuniçãosocialdoofensor.Nascedaía

ideiadereparação,comoestruturadeprincípiosdefavorecimentoàvítimaedeinstrumentosmontados

para ressarcir o mal sofrido. Na responsabilidade civil estará presente uma finalidade punitiva ao

infrator aliada a uma necessidade que eu designo comopedagógica, a que não é estranha à ideia de

Page 57: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

garantiaparaavítima,edesolidariedadequeasociedadehumanalhedeveprestar” 10.

Ressalte-se, porém, que um mesmo fato pode ensejar as duas responsa-

bilizações,nãohavendobisinidememtalcircunstância,justamentepelosentido

decadaumadelasedasrepercussõesdaviolaçãodobemjurídicotutelado 11.

ComoobservaCarlosAlbertoBittar,“areparaçãorepresentameioindiretode

devolver-seoequilíbrioàsrelaçõesprivadas,obrigando-seoresponsávelaagir,

ouadispordeseupatrimônioparaasatisfaçãodosdireitosdoprejudicado.Jáa

pena corresponde à submissão pessoal e física do agente, para restauração da

normalidade social violada com o delito”, pois o “princípio que governa toda

essamatériaéodoneminemlaedere—umdosprincípiosgeraisdodireito—

consoanteoqualaninguémsedevelesar,cujosefeitosemconcretoseespraiam

pelosdoiscitadosplanos,emfunçãodointeressemaiorviolado(depessoa,ou

depessoas,deumlado;dasociedadeoudacoletividade,deoutro)econformea

técnicaprópriadosramosdoDireitoquearegem,asaber:a)DireitoCivil(para

asviolaçõesprivadas)eb)oDireitoPenal(paraarepressãopública)” 12.

Épreciso,contudo,quefiqueclaroqueambososcasos(responsabilidadecivil

e responsabilidade criminal) decorrem, a priori, de um fato juridicamente

qualificadocomoilícitoou,emoutraspalavras,comonãodesejadopeloDireito,

poispraticadoemofensaàordemjurídica 13.

Dessaforma,conformeapontaWladimirValler,baseadoemNélsonHungria,

a“ilicitudejurídicaéumasó,domesmomodoqueumsó,nasuaessência,éo

dever jurídico. Em seus aspectos fundamentais há uma perfeita coincidência

entre o ilícito civil e o ilícito penal, pois ambos constituem uma violação da

ordemjurídica,acarretando,emconsequência,umestadodedesequilíbriosocial.

Page 58: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Mas,enquantooilícitopenalacarretaumaviolaçãodaordemjurídica,querpor

suagravidadeou intensidade,aúnicasançãoadequadaéa imposiçãodapena,

noilícitocivil,porsermenoraextensãodaperturbaçãosocial,sãosuficientesas

sanções civis (indenização, restituição in specie, anulação do ato, execução

forçada etc.). A diferença entre o ilícito civil e o ilícito penal é, assim, tão

somente,degrauoudequantidade” 14.

A bem da verdade, porém, há de se lembrar que esse entendimento da

responsabilidadegeradapelapráticadeumato ilícitodevesercomplementado

pelanoçãoderesponsabilidadedecorrentedeimposiçãolegale/ouemfunçãodo

riscodaatividade,oqueaprofundaremosemcapítulopróprio 15.

Comosenãobastassetalcircunstâncialegal,numcasotípicodeexceçãoque

sófazconfirmara regra, temosodispostonosarts.188,929e930doCódigo

Civil de 2002, cuja análise sistemática nos faz vislumbrar hipóteses de

indenizaçãoporatolícito 16.

Estabelecidas essas premissas comparativas, conheçamos, agora, as noções

geraissobreResponsabilidadeCivil,queé,enfim,afinalidadedestelivro.

Page 59: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

CapítuloII

NoçõesGeraisdeResponsabilidadeCivil

Sumário:1.Conceitoderesponsabilidadecivil.2.Brevenotíciahistóricadaresponsabilidadecivil.3.

Consideraçõesiniciaissobreasespéciesderesponsabilidadecivil.3.1.Responsabilidadecivilsubjetiva

x Responsabilidade civil objetiva. 3.2. Responsabilidade civil contratual x Responsabilidade civil

extracontratualouaquiliana.4.Naturezajurídicadaresponsabilidadecivil.5.Funçãodareparaçãocivil.

6.Importânciadoestudodaresponsabilidadecivil.

1.CONCEITODERESPONSABILIDADECIVIL

De tudo o que se disse até aqui, conclui-se que a noção jurídica de

responsabilidadepressupõeaatividadedanosadealguémque,atuandoapriori

ilicitamente, viola uma norma jurídica preexistente (legal ou contratual),

subordinando-se, dessa forma, às consequências do seu ato (obrigação de

reparar).

Trazendo esse conceito para o âmbito do Direito Privado, e seguindo essa

mesma linha de raciocínio, diríamos que a responsabilidade civil deriva da

agressãoauminteresseeminentementeparticular,sujeitando,assim,o infrator,

aopagamentodeumacompensaçãopecuniáriaàvítima,casonãopossareporin

naturaoestadoanteriordecoisas.

Decompõe-se,pois,nosseguinteselementos,queserãoestudadosnodecorrer

Page 60: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

destaobra:

a)conduta(positivaounegativa);

b)dano;

c)nexodecausalidade.

Antes de dissecar cada umdesses elementos, parece-nos necessário, porém,

trazeràbailaalgumasconsideraçõesgeraissobreoinstitutodaresponsabilidade

civil,decorrentesdoaprofundamentodaspremissasadredefixadas.

Senocapítuloanteriorbuscamostraçar,deformaclara,aslinhasdiferenciais

entre a responsabilidade civil e a responsabilidade criminal, tal distinção nem

sempresemostroutãoprecisa.

Damesma forma, a discussão sobre o elemento culpa passou por profundo

desenvolvimento, que se confunde com a própria evolução das teorias da

responsabilidadecivil.

Entenderaevoluçãodetalpensamentoéoobjetodopróximotópico.

2.BREVENOTÍCIAHISTÓRICADARESPONSABILIDADECIVIL

Paraanossaculturaocidental, toda reflexão,pormaisbrevequeseja, sobre

raízes históricas de um instituto, acaba encontrando seu ponto de partida no

DireitoRomano.

Comaresponsabilidadecivil,essaverdadenãoédiferente.

De fato, nas primeiras formas organizadas de sociedade, bem como nas

civilizações pré-romanas, a origem do instituto está calcada na concepção de

Page 61: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

vingançaprivada, formaporcerto rudimentar,mascompreensíveldopontode

vistahumanocomolídimareaçãopessoalcontraomalsofrido.

É dessa visão do delito que parte o próprio Direito Romano, que toma tal

manifestaçãonaturaleespontâneacomopremissapara,regulando-a,intervirna

sociedadeparapermiti-laouexcluí-laquandosemjustificativa.Trata-sedaPena

deTalião,daqualseencontramtraçosnaLeidasXIITábuas 17.

Ressalte-se, contudo, como se sabe, queoDireitoRomanonãomanifestava

umapreocupaçãoteóricadesistematizaçãodeinstitutos,poissuaelaboraçãose

deu muito mais pelo louvável trabalho dos romanistas, numa construção

dogmáticabaseadanodesenvolvimentodasdecisõesdos juízesedospretores,

pronunciamentosdosjurisconsultoseconstituiçõesimperiais.

Há, porém, ainda na própria lei mencionada, perspectivas da evolução do

instituto,aoconceberapossibilidadedecomposiçãoentreavítimaeoofensor,

evitando-seaaplicaçãodapenadeTalião.Assim,emvezdeimporqueoautor

de umdano a ummembro do corpo sofra amesmaquebra, por força de uma

soluçãotransacional,avítimareceberia,aseucritérioea títulodepoena,uma

importânciaemdinheiroououtrosbens.

Aindacomomesmofundamentonormativo,comoobservaALVINOLIMA,

a

“esteperíodosucedeodacomposiçãotarifada,impostopelaLeidasXIITábuas,quefixava,emcasos

concretos,ovalordapenaaserpagapeloofensor.Éareaçãocontraavingançaprivada,queéassim

abolidaesubstituídapelacomposiçãoobrigatória.Emborasubsistaosistemadodelitoprivado,nota-se,

entretanto, a influência da inteligência social, compreendendo-se que a regulamentação dos conflitos

nãoésomenteumaquestãoentreparticulares.

Page 62: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

A Lei das XII Tábuas, que determinou o quantum para a composição obrigatória, regulava casos

concretos, semumprincípiogeral fixadorda responsabilidadecivil.Aactiode reputis sarciendi,que

algunsafirmamqueconsagravaumprincípiodegeneralizaçãodaresponsabilidadecivil,éconsiderada,

hoje,comonãocontendotalpreceito(LeidasXIITábuas—TábuaVIII,Lei5.ª)” 18.

Ummarconaevoluçãohistóricadaresponsabilidadecivilsedá,porém,coma

ediçãodaLexAquilia, cuja importância foi tão grande que deu nome à nova

designaçãodaresponsabilidadecivildelitualouextracontratual.

Constituída de três partes, sem haver revogado totalmente a legislação

anterior, suagrandevirtudeépropugnarpela substituiçãodasmultas fixaspor

umapenaproporcionalaodanocausado 19.Seseuprimeirocapítuloregulavao

caso damorte dos escravos ou dos quadrúpedes que pastam em rebanho; e o

segundo, o dano causado por um credor acessório ao principal, que abate a

dívidacomprejuízodoprimeiro;suaterceirapartesetornouamaisimportante

paraacompreensãodaevoluçãodaresponsabilidadecivil.

Comefeito, regulavaelaodamnuminjuriadatum,consistentenadestruição

oudeterioraçãodacoisaalheiaporfatoativoquetivesseatingidocoisacorpórea

ou incorpórea, sem justificativa legal. Embora sua finalidade original fosse

limitada ao proprietário de coisa lesada, a influência da jurisprudência e as

extensões concedidas pelo pretor fizeram com que se construísse uma efetiva

doutrinaromanadaresponsabilidadeextracontratual.

SintetizandoessavisãodaResponsabilidadeCivilnoDireitodaAntiguidade,

ensinaogenialALVINOLIMA:

“Partimos,comodizIhering,doperíodoemqueosentimentodepaixãopredominanodireito;areação

violenta perdedevista a culpabilidade, para alcançar tão somente a satisfaçãododano e infligir um

castigoaoautordoato lesivo.Penae reparação seconfundem; responsabilidadepenalecivilnão se

Page 63: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

distinguem.Aevoluçãooperou-se,consequentemente,nosentidodeseintroduziroelementosubjetivo

daculpaediferençararesponsabilidadecivildapenal.Emuitoemboranãotivesseconseguidoodireito

romanolibertar-seinteiramentedaideiadapena,nofixararesponsabilidadeaquiliana,averdadeéque

aideiadedelitoprivado,engendrandoumaaçãopenal,viuodomíniodasuaaplicaçãodiminuir,àvista

daadmissão,cadavezmaiscrescente,deobrigaçõesdelituais,criandoumaaçãomistaousimplesmente

reipersecutória. A função da pena transformou-se, tendo por fim indenizar, como nas ações

reipersecutórias, embora o modo de calcular a pena ainda fosse inspirado na função primitiva da

vingança; o caráter penal da ação da lei Aquília, no direito clássico, não passa de uma

sobrevivência” 20.

Permitindo-se um salto histórico, observe-se que a inserção da culpa como

elemento básico da responsabilidade civil aquiliana — contra o objetivismo

excessivododireitoprimitivo,abstraindoaconcepçãodepenaparasubstituí-la,

paulatinamente,pela ideiade reparaçãododano sofrido—foi incorporadano

grande monumento legislativo da idade moderna, a saber, o Código Civil de

Napoleão, que influenciou diversas legislações domundo, inclusive o Código

Civilbrasileirode1916.

Todavia, tal teoria clássica da culpa não conseguia satisfazer todas as

necessidadesdavidaemcomum,naimensagamadecasosconcretosemqueos

danos seperpetuavamsem reparaçãopela impossibilidadede comprovaçãodo

elementoanímico.

Assim,numfenômenodialético,praticamenteautopoiético,dentrodopróprio

sistema se começou a vislumbrar na jurisprudência novas soluções, com a

ampliaçãodoconceitode culpaemesmooacolhimentoexcepcionaldenovas

teorias dogmáticas, que propugnavam pela reparação do dano decorrente,

exclusivamente,pelofatoouemvirtudedoriscocriado.

Tais teorias, inclusive, passaram a ser amparadas nas legislações mais

Page 64: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

modernas, semdesprezo total à teoria tradicional da culpa, o que foi adotado,

maisrecentemente,atémesmopelonovoCódigoCivilbrasileiro,comoveremos

emtópicosposteriores.

Encerramosessasconsideraçõeshistóricas,porémlembrando,maisumavez,

omulticitadoALVINOLIMA:

“O movimento inovador se levanta contra a obra secular; a luta se desencadeia tenazmente e sem

tréguas;RipertproclamaSaleilleseJosserandos‘síndicosdamassafalidadaculpa’,e,adespeitodas

afirmações de que a teoria do risco desfaleceu no ardor de seu ataque, seus defensores persistemna

tarefa, e as necessidades econômicas e sociais da vidamoderna intensa obrigamo legislador a abrir

brechasnaconcepçãodateoriaclássicadaresponsabilidade.

Ambas,porém,continuarãoasubsistir,comoforçasparalelas,convergindoparaummesmofim,sem

que jamais, talvez, se possam exterminar ou se confundir, fundamentando, neste ou naquele caso, a

imperiosanecessidadederessarcirodano,naproteçãodosdireitoslesados” 21.

3.CONSIDERAÇÕESINICIAISSOBREASESPÉCIESDERESPONSABILIDADECIVIL

A responsabilidade civil, enquanto fenômeno jurídico decorrente da

convivência conflituosa do homem em sociedade, é, na sua essência, um

conceitouno,incindível.

Entretanto, em função de algumas peculiaridades dogmáticas, faz-se mister

estabelecer uma classificação sistemática, tomando por base justamente a

questãodaculpae,depoisdisso,anaturezadanormajurídicaviolada.

Vejamostaisclassificações.

3.1.ResponsabilidadecivilsubjetivaxResponsabilidadecivilobjetiva

Page 65: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Aresponsabilidadecivilsubjetivaéadecorrentededanocausadoemfunção

deatodolosoouculposo.

Estaculpa,porternaturezacivil,secaracterizaráquandooagentecausadordo

danoatuarcomnegligênciaouimprudência,conformecediçodoutrinariamente,

atravésdainterpretaçãodaprimeirapartedoart.159doCódigoCivilde1916

(“Art. 159. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou

imprudência,violardireito,oucausarprejuízoaoutrem,ficaobrigadoareparar

odano”), regrageralmantida, comaperfeiçoamentos,peloart.186doCódigo

Civil de 2002 (“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,

negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que

exclusivamentemoral,cometeatoilícito”).

Do referido dispositivo normativo supratranscrito, verificamos que a

obrigaçãode indenizar (repararodano) é a consequência juridicamente lógica

doatoilícito,conformeseinferetambémdosarts.1.518a1.532doCódigoCivil

de1916,constantesdeseuTítuloVII(“Dasobrigaçõesporatosilícitos”) 22.

A noção básica da responsabilidade civil, dentro da doutrina subjetiva, é o

princípiosegundooqualcadaumrespondepelaprópriaculpa—unuscuiquesua

culpa nocet. Por se caracterizar em fato constitutivo do direito à pretensão

reparatória,caberáaoautor,sempre,oônusdaprovadetalculpadoréu.

Todavia, há situações em que o ordenamento jurídico atribui a respon-

sabilidadecivilaalguémpordanoquenãofoicausadodiretamenteporele,mas

simporumterceirocomquemmantémalgumtipoderelaçãojurídica.

Nessescasos,trata-se,apriori,deumaresponsabilidadecivilindireta,emque

Page 66: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

o elemento culpa não é desprezado,mas sim presumido, em função do dever

geraldevigilânciaaqueestáobrigadooréu 23.

ComoobservaCaioMáriodaSilvaPereira,

“na tese da presunção de culpa subsiste o conceito genérico de culpa como fundamento da

responsabilidadecivil.Ondesedistanciadaconcepçãosubjetivatradicionalénoqueconcerneaoônus

daprova.Dentroda teoria clássica da culpa, a vítima temdedemonstrar a existência dos elementos

fundamentais de sua pretensão, sobressaindo o comportamento culposo do demandado. Ao se

encaminharparaaespecializaçãodaculpapresumida,ocorreumainversãodoonusprobandi.Emcertas

circunstâncias,presume-seocomportamentoculposodocausadordodano,cabendo-lhedemonstrara

ausênciadeculpa,para seeximirdodeverde indenizar.Foiummododeafirmara responsabilidade

civil,semanecessidadedeprovarolesadoacondutaculposadoagente,massemrepeliropressuposto

subjetivodadoutrinatradicional.

Em determinadas circunstâncias é a lei que enuncia a presunção. Em outras, é a elaboração

jurisprudencialque,partindodeumaideiatipicamenteassentadanaculpa,inverteasituaçãoimpondoo

deverressarcitório,anãoserqueoacusadodemonstrequeodanofoicausadopelocomportamentoda

própriavítima” 24.

Entretanto, hipóteses há emque não é necessário sequer ser caracterizada a

culpa. Nesses casos, estaremos diante do que se convencionou chamar de

“responsabilidade civil objetiva”. Segundo tal espécie de responsabilidade, o

dolo ou culpa na conduta do agente causador do dano é irrelevante

juridicamente, haja vista que somente será necessária a existência do elo de

causalidade entre o dano e a conduta do agente responsável para que surja o

deverdeindenizar.

Issonãoquerdizerqueaculpanãopossaserdiscutidaemumademandade

responsabilidadeobjetiva.

Expliquemos.

Page 67: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Para a configuração da responsabilidade objetiva 25, desconsidera-se o

elementoculpa.

Mas, nada impede, por exemplo, que o réu, em sua defesa, alegue “culpa

exclusivadavítima”paraseeximirdaobrigaçãodeindenizar.Namesmalinha,

a culpa concorrente (art. 945,CC/2002)poderá ser invocadapara se reduzir o

quantumindenizatórioasereventualmentefixado.

As teorias objetivistas da responsabilidade civil procuram encará-la como

meraquestãodereparaçãodedanos,fundadadiretamentenoriscodaatividade

exercidapeloagente.Éderessaltarqueomovimentoobjetivistasurgiunofinal

doséculoXIX,quandooDireitoCivilpassouarecebera influênciadaEscola

PositivaPenal 26.

Como jádeve ter sidopercebido,o sistemamaterial civil brasileiro abraçou

originalmenteateoriasubjetivista,conformeseinferedeumasimplesleiturado

art. 186 do Código Civil de 2002, que fixa a regra geral da responsabilidade

civil.

As teorias objetivas, por sua vez, não foramde todo abandonadas, havendo

diversasdisposiçõesesparsasqueascontemplam.

LembrandoWladimirValler,apesardeoCódigoCivilde1916

“teradotadoateoriaclássicadaculpa,ateoriaobjetivaseestabeleceuemváriossetoresdaatividade,

através de leis especiais. Assim é, por exemplo, que o Decreto n.º 2.681, de 1912, disciplina a

responsabilidadecivildasestradasdeferro,tendoemvistaoriscodaatividadeexercida.Emmatériade

acidente do trabalho, a Lei 6.367, de 19 de outubro de 1976, se fundou no risco profissional e a

reparaçãodosdanoscausadosaostrabalhadorespassouasefazerindependentementedaverificaçãoda

culpa,eemvaloresprefixados.TambémoCódigoBrasileirodoAr(Decreto-Lei32,de18denovembro

de 1966), tendo em conta o risco da atividade explorada, estabelece em bases objetivas a

Page 68: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

responsabilidade civil das empresas aéreas. A Lei 6.453, de 17 de outubro de 1977, em termos

objetivos,dispôssobrearesponsabilidadecivilpordanosnucleares” 27.

Semabandonartaisregras,inovaoCódigoCivilde2002,noparágrafoúnico

do seu art. 927, ao estabelecer que “Haverá obrigação de reparar o dano,

independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a

atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua

natureza,riscoparaosdireitosdeoutrem”.

Assim, a nova concepçãoque deve reger amatéria noBrasil é de que vige

umaregrageraldualderesponsabilidadecivil,emquetemosaresponsabilidade

subjetiva, regra geral inquestionável do sistema anterior, coexistindo com a

responsabilidade objetiva, especialmente em função da atividade de risco

desenvolvida pelo autor do dano (conceito jurídico indeterminado a ser

verificadonocasoconcreto,pelaatuaçãojudicial),exvidodispostonoart.927,

parágrafoúnico.

Todasessasconsideraçõesiniciais 28vêmàbailaemdecorrênciadeviolação

aopreceitofundamentaldoneminemlaedere,ouseja,dequeninguémdeveser

lesadopelacondutaalheia.

Todavia, a situação se torna ainda mais grave quando a lesão decorre do

descumprimentodeumaobrigaçãoespontaneamenteassumidapeloinfrator,em

funçãodacelebraçãodeumnegóciojurídico.

Trata-se da diferença entre a responsabilidade civil contratual e a aquiliana

(extracontratual),queveremosnopróximotópico.

3.2.ResponsabilidadecivilcontratualxResponsabilidadecivil

Page 69: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

extracontratualouaquiliana

Fincadosospressupostosgenéricosdaresponsabilidadecivil,nãoháamenor

dúvida de que, abstraídas as hipóteses de responsabilidade subjetiva com

presunção de culpa, ou de responsabilidade objetiva, existe uma grande

dificuldade na demonstração da culpa do agente ou da antijuridicidade de sua

condutaparaensejarasuaresponsabilizaçãocivil.

Taldificuldadeéminoradaquandoacondutaensejadoradodanoéresultante

dodescumprimentodeumdevercontratual,pois,nessahipótese,presumir-se-ia

aculpa,umavezqueaprópriaparte seobrigou,diretamente,àobrigação,ora

descumprida.

A depender, portanto, da natureza da norma jurídica violada pelo agente

causadordodano,umasubdivisão—muitomaisdidáticae legislativadoque

propriamente científica— pode ser feita, subtipificando-se a responsabilidade

civilem:contratualeextracontratualouaquiliana 29.

Assim, se o prejuízo decorre diretamente da violação de um mandamento

legal,porforçadaatuaçãoilícitadoagenteinfrator(casodosujeitoquebateem

um carro), estamos diante da responsabilidade extracontratual, a seguir

analisada.Poroutrolado,se,entreaspartesenvolvidas,jáexistianormajurídica

contratualqueasvinculava,eodanodecorrejustamentedodescumprimentode

obrigação fixada neste contrato, estaremos diante de uma situação de

responsabilidadecontratual.

Assim,teríamososeguintequadroesquemático:

Page 70: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

ResponsabilidadeCivil:

1.Contratual inadimplemento da obrigação prevista no contrato (vio-

laçãodenormacontratualanteriormentefixadapelaspartes);

2.Extracontratual

ou

Aquilianaviolaçãodiretadeumanormalegal.

Note-se,ainda,queoelementosubjetivorepresentadopeloconceitoamplode

culpa nem sempre será indispensável, uma vez que, conforme teremos a

oportunidadedever,poderáhaverresponsabilidadecivilindependentementeda

sua aferição, em hipóteses especiais previstas de forma expressa em lei, ou

quando a sua atividade normalmente desenvolvida pelo causador do dano

importaremriscoparaosdireitosdeoutrem 30.

Tradicionalmente,onossoDireitoPositivoadotouessaclassificaçãobipartida,

consagrando regrasespecíficasparaasduasespéciesde responsabilidade,com

característicaspróprias:

ResponsabilidadecontratualArts. 389 e s. e 395 e s. (CC/2002); arts.

1.056es.e956es.(CC/1916).

ResponsabilidadeextracontratualArts.186a188e927es.(CC/2002);

arts.159e1.518es.(CC/1916).

Comojávisto,queminfringedeverjurídicolatosensuficaobrigadoareparar

Page 71: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

o dano causado.Esse dever passível de violação, porém, pode ter como fonte

tantoumaobrigaçãoimpostaporumdevergeraldoDireitooupelaprópria lei

quanto uma relação negocial preexistente, isto é, um dever oriundo de um

contrato.Oprimeirocasoéconhecidocomoresponsabilidadecivilaquiliana 31,

enquantoosegundoéaepigrafadaresponsabilidadecivilcontratual 32.

Equaisasdiferençasbásicasentreessasduasformasderesponsabilização?

Três elementos diferenciadores podem ser destacados, a saber, a necessária

preexistência de uma relação jurídica entre lesionado e lesionante; o ônus da

provaquantoàculpa;eadiferençaquantoàcapacidade.

Comefeito,paracaracterizararesponsabilidadecivilcontratual,faz-semister

que a vítima e o autor do dano já tenham se aproximado anteriormente e se

vinculado para o cumprimento de uma ou mais prestações, sendo a culpa

contratualaviolaçãodeumdeverdeadimplir,queconstituijustamenteoobjeto

do negócio jurídico, ao passo que, na culpa aquiliana, viola-se um dever

necessariamentenegativo,ouseja,aobrigaçãodenãocausardanoaninguém.

Justamenteporessacircunstânciaéque,naresponsabilidadecivilaquiliana,a

culpa deve ser sempre provada pela vítima, enquanto na responsabilidade

contratual,elaé,deregra,presumida,invertendo-seoônusdaprova,cabendoà

vítima comprovar, apenas, que a obrigação não foi cumprida, restando ao

devedor o onus probandi, por exemplo, de que não agiu com culpa ou que

ocorreu alguma causa excludente do elo de causalidade. Como observa o

ilustradoSérgioCavalieriFilho,

“essa presunção de culpa não resulta do simples fato de estarmos em sede de responsabilidade

contratual.Oque édecisivo éo tipodeobrigação assumidano contrato.Seo contratante assumiu a

Page 72: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

obrigação de alcançar um determinado resultado e não conseguiu, haverá culpa presumida, ou, em

alguns casos, até responsabilidade objetiva; se a obrigação assumida no contrato foi de meio, a

responsabilidade,emboracontratual,seráfundadanaculpaprovada” 33.

Por fim,valedestacarque, em termosdecapacidade,omenorpúbere só se

vincula contratualmente quando assistido por seu representante legal — e,

excepcionalmente,secommalíciadeclarou-semaior (art.180doCódigoCivil

de2002).

4.NATUREZAJURÍDICADARESPONSABILIDADECIVIL

Já expusemos que tanto a responsabilidade civil quanto a responsabilidade

penaldecorremaprioridapráticadeumatoilícito,ouseja,deumaviolaçãoda

ordemjurídica,gerandodesequilíbriosocial,ressalvando-secomoexceção,por

rigor técnico, a possibilidade de a responsabilidade civil decorrer, também, de

uma imposição legal, seja em atividades lícitas, seja em função do risco da

atividadeexercida.

Ora, a consequência lógico-normativa de qualquer ato ilícito é uma sanção,

podendo esta ser definida, portanto, como “a consequência jurídica que o não

cumprimento de um dever produz em relação ao obrigado”, nas palavras de

EduardoGarciaMaynez 34.

Entretanto, conforme lembraAntônio LuísMachadoNeto, “talvez não haja

elemento da relação jurídica mais sujeito a descaminhos teoréticos e

despropositadosdeslocamentosconceituaisdoqueessedasanção” 35.

Isso acontece porque há uma grande confusão na utilização dos termos

“sanção” e “pena”, que constantemente são tratados como sinônimos, quando,

Page 73: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

emverdade,trata-sededoisinstitutosqueestãoemumarelaçãode“gênero”e

“espécie”.

A sanção é a consequência lógico-jurídica da prática de umato ilícito, pelo

que, em função de tudo quanto foi exposto, a natureza jurídica da

responsabilidade,sejacivil,sejacriminal,somentepodesersancionadora.

No caso da responsabilidade civil originada de imposição legal, as

indenizaçõesdevidasnãodeixamdesersanções,quedecorremnãoporforçade

algum ato ilícito praticado pelo responsabilizado civilmente, mas sim por um

reconhecimento do direito positivo (previsão legal expressa) de que os danos

causadosjáerampotencialmenteprevisíveis,emfunçãodosriscosprofissionais

daatividadeexercida,porenvolvereminteressedeterceiros.

Para encerrar, lembramos, novamente, as sempre precisas colocações de

CarlosAlbertoBittar:

“Havendo dano, produzido injustamente na esfera alheia, surge a necessidade de reparação, como

imposição natural da vida em sociedade e, exatamente, para a sua própria existência e o

desenvolvimento normal das potencialidades de cada ente personalizado.É que investidas ilícitas ou

antijurídicasnocircuitodebensoudevaloresalheiosperturbamofluxotranquilodasrelaçõessociais,

exigindo,emcontraponto,asreaçõesqueoDireitoengendraeformulaparaarestauraçãodoequilíbrio

rompido.

Nesse sentido, a teoria da responsabilidade civil encontra suas raízes no princípio fundamental do

neminem laedere, justificando-se diante da liberdade e da racionalidade humanas, como imposição,

portanto,dapróprianaturezadascoisas.Aoescolherasviaspelasquaisatuanasociedade,ohomem

assumeosônuscorrespondentes,apresentando-seanoçãode responsabilidadecomocoroláriodesua

condiçãodeserinteligenteelivre.

Realmente, a construçãodeumaordem jurídica justa— idealperseguido, eternamente,pelosgrupos

sociais—repousaemcertaspilastrasbásicas,emqueavultaamáximadequeaninguémsedevelesar.

Mas, uma vez assumida determinada atitude pelo agente, que vem a causar dano, injustamente, a

Page 74: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

outrem, cabe-lhe sofrer os ônus relativos, a fim de que se possa recompor a posição do lesado, ou

mitigar-lheos efeitosdodano, aomesmo tempoemque se faça sentir ao lesanteopesoda resposta

compatívelprevistanaordemjurídica.

Na satisfação dos interesses lesados é que, em última análise, reside a linha diretiva da teoria em

questão, impulsionada, ab origine, por forte colaboração humanista, tendente a propiciar ao lesado a

restauraçãodopatrimônioouacompensaçãopelossofrimentosexperimentados,ouambos,conformea

hipótese,cumprindo-seassimosobjetivospróprios” 36.

Portaisfundamentos,concluímosqueanaturezajurídicadaresponsabilidade

será sempre sancionadora, independentemente de se materializar como pena,

indenizaçãooucompensaçãopecuniária 37.

Mas,nofinaldascontas,qualéafunçãodareparaçãocivil?

Éoquesepretendeexplicaremseguida.

5.FUNÇÃODAREPARAÇÃOCIVIL

Jávimosqueaofensaaosbensjurídicospodegerarresponsabilizaçãoemdois

graus,quandooordenamentovisaàprevenção/repreensãopeloDireitoPúblico

(DireitoPenal)ouquandobuscaumareparaçãodosdanoscausadospeloautor

(responsabilidadecivil) 38.

Em relação a este último campo de atuação jurídica, observaClaytonReis,

comahabitualprecisão,que,aogerardano,

“o ofensor receberá a sanção correspondente consistente na repreensão social, tantas vezes quantas

forem suas ações ilícitas, até conscientizar-se da obrigação em respeitar os direitos das pessoas. Os

espíritosresponsáveispossuemumaabsolutaconsciênciadodeversocial,postoque,somentefazemaos

outrosoquequeremquesejafeitoaelespróprios.Estaspessoaspossuemexatanoçãodedeversocial,

consistente emuma conduta emoldurada na ética e no respeito aos direitos alheios. Por seu turno, a

repreensãocontidananormalegaltemcomopressupostoconduziraspessoasaumacompreensãodos

fundamentosque regemoequilíbriosocial.Por isso,a leipossuiumsentido tríplice: reparar,punire

Page 75: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

educar” 39.

Assim, na vereda de tais ideias, três funções podem ser facilmente

visualizadas no instituto da reparação civil: compensatória do dano à vítima;

punitivadoofensor;edesmotivaçãosocialdacondutalesiva.

Naprimeira função, encontra-se o objetivobásico e finalidadeda reparação

civil:retornarascoisasaostatusquoante.Repõe-seobemperdidodiretamente

ou,quandonãoémaispossíveltalcircunstância,impõe-seopagamentodeum

quantumindenizatório,emimportânciaequivalenteaovalordobemmaterialou

compensatóriododireitonãoredutívelpecuniariamente.

Comoumafunçãosecundáriaemrelaçãoàreposiçãodascoisasaoestadoem

que se encontravam, mas igualmente relevante, está a ideia de punição do

ofensor.Emboraestanãosejaafinalidadebásica(admitindo-se,inclusive,asua

nãoincidênciaquandopossívelarestituiçãointegralàsituaçãojurídicaanterior),

aprestaçãoimpostaaoofensortambémgeraumefeitopunitivopelaausênciade

cautelanapráticadeseusatos,persuadindo-oanãomaislesionar.

Eessapersuasãonãoselimitaàfiguradoofensor,acabandoporincidirnuma

terceirafunção,decunhosocioeducativo,queéadetornarpúblicoquecondutas

semelhantes não serão toleradas.Assim, alcança-se, por via indireta, a própria

sociedade,restabelecendo-seoequilíbrioeasegurançadesejadospeloDireito 40.

6.IMPORTÂNCIADOESTUDODARESPONSABILIDADECIVIL

Fixadas todas essas noções gerais sobre a responsabilidade civil, parece

despiciendoressaltarasuaimportância.

Page 76: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Todavia,“paranãodizerquenãofalamosdeflores”,umpontobásicodeveser

salientadoparaadevidacompreensãodessarelevância:ainterdisciplinariedade

doinstituto.

Comefeito,comojádissemosemoutraoportunidade,

“discorrersobreotema‘responsabilidade’nãoé,definitivamente,atribuiçãodasmaisfáceis,tendoem

vista que se trata de umamatéria de natureza interdisciplinar, pois não se refere somente aoDireito

Civil,massimapraticamentetodososoutrosramosdoDireito” 41.

Nestesentido,éoposicionamentodeMariaHelenaDiniz:

“Todamanifestaçãodaatividadequeprovocaprejuízotrazemseubojooproblemadaresponsabilidade,

quenãoéfenômenoexclusivodavida jurídica,masde todososdomíniosdavidasocial.Realmente,

emboraalgunsautores,comoJosserand,consideremaresponsabilidadecivilcomo‘agrandevedetedo

direitocivil’,naverdade,absorvenãosó todosos ramosdodireito—pertencendoàsearadaTeoria

GeraldoDireito,sofrendoasnaturaisadaptaçõesconformeaplicávelaodireitopúblicoouprivado,mas

os princípios estruturais, o fundamento e o regime jurídico são osmesmos, comprovando a tese da

unidade jurídica quanto aos institutos basilares, uma vez que a diferenciação só se opera no que

concerne às matérias, objeto de regulamentação legal — como também a realidade social, o que

demonstraocampoilimitadodaresponsabilidadecivil” 42.

Por isso, a intenção desta obra é fixar toda uma teoria geral da

responsabilidade civil e, aí sim, assentadas as bases para a edificação de um

raciocínio jurídico, enfrentar parte da casuística do instituto que, como se

percebe,éinfindável.

Observe-se,porém,que,levadaaquestãoemsentidoextremo,épossíveldizer

que a esmagadoramaioria das questões levadas ao Judiciário tocam, direta ou

indiretamente, nos temas aqui abordados, seja pela violação a deveres

contratuais,sejapordescumprimentoaregrasgeraisdeconduta.

Compreendidas essas noções básicas sobre a responsabilidade civil,

Page 77: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

passaremos a dissecar cada um dos elementos necessários para a sua

caracterização.

Page 78: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

CapítuloIII

ElementosdaResponsabilidadeCivil

Sumário: 1. Uma visão geral dos elementos da responsabilidade civil. 2. Algumas palavras sobre o

elemento(acidental)culpa.3.Consideraçõessobrearesponsabilidadecivileimputabilidade.

1.UMAVISÃOGERALDOSELEMENTOSDARESPONSABILIDADECIVIL

Feita a introdução ao apaixonante tema “ResponsabilidadeCivil”, cabe-nos

agoraapresentar,emlinhasgerais,osseuselementosbásicos.

Desdejáadvertimosqueopropósitodopresentecapítuloéproporcionarum

panoramageraldesseselementos,queserãocuidadosamentedesenvolvidosem

momentooportuno.

Conforme veremos, o esquema teórico a ser apresentado aplica-se tanto à

responsabilidadecontratualquantoàaquiliana,emborahajainteressemaiorem

desenvolver a matéria considerando a natureza desta última espécie de

responsabilidade.

Isso porque a responsabilidade contratual distingue-se por características

muitopeculiares,maisafetaàdisciplinageraldasobrigaçõesedoscontratos.

Poisbem.

Page 79: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Ao consultarmos o conceito de ato ilícito, previsto no art. 186 do Código

Civil,basefundamentaldaresponsabilidadecivil,consagradoradoprincípiode

queaninguémédadocausarprejuízoaoutrem(neminemlaedere),temosque:

“Art. 186.Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e

causardanoaoutrem,aindaqueexclusivamentemoral,cometeatoilícito”.

Analisando este dispositivo—mais preciso do que o correspondente da lei

anterior, quenão fazia expressamençãoaodanomoral—podemos extrair os

seguinteselementosoupressupostosgeraisdaresponsabilidadecivil:

a)condutahumana(positivaounegativa);

b)danoouprejuízo;

c)onexodecausalidade.

2.ALGUMASPALAVRASSOBREOELEMENTO(ACIDENTAL)CULPA

Emboramencionada no referido dispositivo de lei pormeio das expressões

“açãoouomissãovoluntária,negligênciaouimprudência”,aculpa(emsentido

lato, abrangente do dolo) não é, emnosso entendimento, pressuposto geral da

responsabilidadecivil,sobretudononovoCódigo,considerandoaexistênciade

outraespéciederesponsabilidade,queprescindedesseelementosubjetivoparaa

suaconfiguração(aresponsabilidadeobjetiva).

Ora, se nós pretendemos estabelecer os elementos básicos componentes da

responsabilidade, nãopoderíamos inserir umpressuposto aque falte a notade

Page 80: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

generalidade.

Essapreocupação,aliás,debuscarumcritérioprecisoquecunhegeneralidade

aos pressupostos da responsabilidade civil também é esboçada por CARLOS

ALBERTOGHERSI,emclássicaobra:

“Estaprimerafasecomprendeloselementoscomunesatodasituaciónfáctica,quepretendaconvertirse

en una situación jurídica de reparabilidad. Entendemos, entonces, que es como un filtro o tamiz de

análisiscientífico(sociológico-axiológico-económico-jurídico),quesedeberecorrerparapoderacceder

alasegundafase.Estoselementosbásicosocomunesson:elhechohumano,eldañoylarelaciónde

causalidad” 43.

RessaltamosapenasqueoCódigode1916,porhaversidoredigidoemuma

época de pouco desenvolvimento tecnológico, desconheceu os efeitos das

atividades de risco, o que culminou com o menosprezo da ideia da

responsabilidadesemculpa 44.

Ora,pelosimplesfatodearesponsabilidadesubjetivaseratônicadoCódigo

Beviláqua — especialmente influenciado pelo Código francês — não

poderíamoschegaraopontodeestabeleceranoçãodeculpacomopressuposto

geraldaresponsabilidadecivil.

Aliás, no curso de nossa obra, veremos que o vigenteCódigo, refletindo as

mudançassofridaspelasociedadehumana,especialmenteapósasduasgrandes

guerras,priorizoumuitomaisaideiadaresponsabilidadecalcadanaatividadede

risco(objetiva),consoantesepodenotardaleituradosseusarts.927es.

Maisatuaisdoquenunca,portanto,aspalavrasproféticasdograndeALVINO

LIMA 45:

“Estava,todavia,reservadoàteoriaclássicadaculpaomaisintensodosataquesdoutrináriosquetalvez

Page 81: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

se tenharegistradonaevoluçãodeuminstituto jurídico.Asnecessidadesprementesdavida,osurgir

dos casos concretos, cuja solução não era prevista na lei, ou não era satisfatoriamente amparada,

levaram a jurisprudência a ampliar o conceito de culpa e acolher, embora excepcionalmente, as

conclusõesdenovastendênciasdoutrinárias” 46.

Aculpa,portanto,nãoéumelementoessencial,massimacidental,peloque

reiteramos nosso entendimento de que os elementos básicos ou pressupostos

geraisdaresponsabilidadecivilsãoapenastrês:acondutahumana(positivaou

negativa),odanoouprejuízo,eonexodecausalidade,todoselesdesenvolvidos

cuidadosamentenospróximoscapítulos.

Antes, porém, de passar a eles, é importante tecer algumas rápidas

observaçõessobreaquestãodaimputabilidade.

3.CONSIDERAÇÕESSOBREARESPONSABILIDADECIVILEIMPUTABILIDADE

A título de informação doutrinária, vale expor que há quem considere a

imputabilidadeumelementoautônomoparaacaracterizaçãodaresponsabilidade

civil 47.

Contudo,entendemosqueestanoçãoseencontraenglobadanacaracterização

dospressupostosjácitados,alémdofatoderesidirsuaimportância,emverdade,

na verificação de quem é o sujeito responsável, e não se há efetivamente

responsabilidade.

Explicitando esta afirmação comum exemplo clássico, temos a hipótese de

umdanodecorrentede atopraticadopormenor absolutamente incapaz (e, por

isso, inimputável), em que a responsabilidade, mesmo assim, existirá, não

logicamentedomenor,massimdeseuresponsávellegal 48.

Page 82: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Emverdade, todas asdiscussões sobreo temada imputabilidadepodemser

resolvidas com a delimitação da necessidade de culpa ou não para a

caracterizaçãodaresponsabilidadecivil.

Nesse sentido, lembrando SAVATIER, observa CARLOS ROBERTO

GONÇALVESque

“quemdizculpadizimputabilidade.Equeumdanoprevisíveleevitávelparaumapessoapodenãoser

paraoutra, sendo iníquoconsiderardemaneira idêntica a culpabilidadedomenino e ado adulto, do

ignorante e do homem instruído, do leigo e do especialista, do homem são e do enfermo, da pessoa

normaledaprivadaderazão” 49.

Page 83: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

CapítuloIV

ACondutaHumana

Sumário: 1. A conduta humana: primeiro elemento da responsabilidade civil. 2. Classificação da

condutahumana.3.Acondutahumanaeailicitude.

1.ACONDUTAHUMANA:PRIMEIROELEMENTODARESPONSABILIDADECIVIL

Como já tivemos oportunidade de ressaltar, a responsabilidade civil é a

expressãoobrigacionalmaisvisíveldaatividadehumana.

Umfatodanatureza,diferentemente, subsumível emumacategoriamaior e

mais abrangente— de fato jurídico em sentido lato—, a despeito de poder

causardano,nãogeraria responsabilidadecivil,pornãopoder ser atribuídoao

homem.

Apenas o homem, portanto, por si ou por meio das pessoas jurídicas que

forma,poderásercivilmenteresponsabilizado.

Nessecontexto,ficafácilentenderqueaação(ouomissão)humanavoluntária

épressupostonecessárioparaaconfiguraçãodaresponsabilidadecivil.Trata-se,

emoutraspalavras,dacondutahumana,positivaounegativa(omissão),guiada

pelavontadedoagente,quedesembocanodanoouprejuízo.Assim,emnosso

Page 84: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

entendimento,atéporumimperativodeprecedêncialógica,cuida-sedoprimeiro

elementodaresponsabilidadecivilaserestudado,seguidododanoedonexode

causalidade.

O núcleo fundamental, portanto, da noção de conduta humana é a

voluntariedade, que resulta exatamente da liberdade de escolha do agente

imputável,comdiscernimentonecessárioparaterconsciênciadaquiloquefaz.

Porisso,nãosepodereconheceroelemento“condutahumana”,pelaausência

do elemento volitivo, na situação do sujeito que, apreciando um raríssimo

pergaminho do século III, sofre uma micro-hemorragia nasal e,

involuntariamente, espirra, danificando seriamente o manuscrito. Seria

inadmissível,nocaso,imputaraoagenteapráticadeumatovoluntário.Restará,

apenas,verificarmossehouvenegligênciadadiretoriadomuseupornãocolocar

o objeto em ummostruário fechado, com a devida segurança, ou, ainda, se o

indivíduoviolounormasinternas,casoemquepoderáserresponsabilizadopela

quebradessedever,enãopeloespirroemsi.

Na mesma linha de raciocínio, LUIZ ROLDÃO DE FREITAS GOMES,

citando omestre portuguêsANTUNESVARELA, lembra que ação voluntária

nãohá,porfaltardomíniodavontadehumana,quandooindivíduoage

“impelidoporforçasnaturais invencíveis(pessoaouveículo irresistivelmenteprojetadosporforçado

vento,davagamarítima,deumaexplosãooudescargaelétrica,dodeslocamentodoarqueoarranque

doaviãoprovoca,naexemplificaçãodomestreluso)” 50.

Vê-se,portanto,quesemocondãodavoluntariedadenãoháquesefalarem

açãohumana,e,muitomenos,emresponsabilidadecivil.

Uma observação final, entretanto, feita por RUI STOCO, com fulcro na

Page 85: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

doutrinadeCAIOMÁRIO,deveserlembrada:

“cumpre, todavia, assinalar que se não insere, no contexto de ‘voluntariedade’ o propósito ou a

consciênciadoresultadodanoso,ouseja,adeliberaçãoouaconsciênciadecausaroprejuízo.Esteéum

elementodefinidordodolo.Avoluntariedadepressupostanaculpaéadaaçãoemsimesma” 51.

Em outras palavras, a voluntariedade, que é pedra de toque da noção de

conduta humana ou ação voluntária, primeiro elemento da responsabilidade

civil, não traduz necessariamente a intenção de causar o dano,mas sim, e tão

somente, a consciência daquilo que se está fazendo. E tal ocorre não apenas

quandoestamosdiantedeuma situaçãode responsabilidade subjetiva (calcada

nanoçãodeculpa),mastambémderesponsabilidadeobjetiva(calcadanaideia

de risco), porque emambas as hipóteseso agente causadordodanodeve agir

voluntariamente, ou seja, de acordo com a sua livre capacidade de

autodeterminação. Nessa consciência, entenda-se o conhecimento dos atos

materiaisqueseestápraticando,nãoseexigindo,necessariamente,aconsciência

subjetivadailicitudedoato.

Assim,emoutroexemplo, sendoospais responsáveispelosdanoscausados

peloseufilhomenorde16anos,quetenhaquebradoumavidraçaaochutaruma

bola, a incapacidade absoluta da criança, bem como a sua eventual falta de

consciência da ilicitude do ato, não excluem a responsabilidade civil, o que

poderiaocorrer,todavia,sefosseprovadoque,emboraestivessemnaárea,abola

teriasedeslocadoporumarepentinarajadadevento.

2.CLASSIFICAÇÃODACONDUTAHUMANA

A depender da forma pela qual a ação humana voluntária se manifesta,

poderemosclassificá-laem:

Page 86: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

a)positiva;

b)negativa.

Aprimeiradelastraduz-sepelapráticadeumcomportamentoativo,positivo,

a exemplo do dano causado pelo sujeito que, embriagado, arremessa o seu

veículocontraomurodovizinho.

Asegundaformadeconduta,porsuavez,édeintelecçãomaissutil.Trata-se

da atuação omissiva ou negativa, geradora de dano. Se, no plano físico, a

omissãopodeserinterpretadacomoum“nada”,um“nãofazer”,uma“simples

abstenção”, no plano jurídico, este tipo de comportamento pode gerar dano

atribuível ao omitente, que será responsabilizado pelomesmo.Observe, aliás,

queoart.186 impõeaobrigaçãode indenizara todoaqueleque“poraçãoou

omissão voluntária” causar prejuízo a outrem. É o caso da enfermeira que,

violandoassuasregrasdeprofissãoeoprópriocontratodeprestaçãodeserviços

que celebrou, deixa deministrar osmedicamentos ao seu patrão, por dolo ou

desídia.

Entretanto,devemosdestacarquetambémnaaçãoomissivaavoluntariedade

da conduta se faz presente, consoante se lê nomesmo artigo de lei (“omissão

voluntária”...). Issoporque, se faltareste requisito,haveráausênciadeconduta

na omissão, inviabilizando, por conseguinte, o reconhecimento da

responsabilidadecivil.

Nesse sentido, o pensamento de EUGÉNIO RAÚL ZAFFARONI e JOSÉ

HENRIQUEPIERANGELI,perfeitamenteaplicávelaotemasobanálise:

“Nas omissões, por vezes, a pessoa não pratica a ação devida por causa de uma incapacidade de

Page 87: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

conduta:éocasodequemseachaemmeioaumacrisedehisteriaenãopodegritarparaumapessoa

cega que está caminhando para um precipício; daquele que fica paralisado em razão de um choque

emocionalnumacidenteenãopodeprestarsocorroàspessoasetc.” 52.

Observe-se, por fim, que o Código Civil brasileiro, além de disciplinar a

responsabilidade civil por ato próprio, reconhece também espécies de

responsabilidade civil indireta, por ato de terceiro ou por fato do animal e da

coisa,estudadasemmomentooportuno:

Responsabilidadecivilporatodeterceiro:

Art.932.Sãotambémresponsáveispelareparaçãocivil:

I—ospais,pelos filhosmenoresqueestiveremsobsuaautoridadeeem

suacompanhia;

II—otutoreocurador,pelospupilosecuratelados,queseacharemnas

mesmascondições;

III — o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e

prepostos,noexercíciodotrabalhoquelhescompetir,ouemrazãodele;

IV—osdonosdehotéis,hospedarias,casasouestabelecimentosondese

albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes,

moradoreseeducandos;

V—osquegratuitamentehouveremparticipadonosprodutosdocrime,até

aconcorrentequantia.

Responsabilidadecivilporfatodoanimal:

Page 88: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Art.936.Odono,oudetentor,doanimalressarciráodanoporestecausado,

senãoprovarculpadavítimaouforçamaior.

Responsabilidadecivilporfatodacoisa:

Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que

resultaremdesuaruína,seestaprovierdefaltadereparos,cujanecessidade

fossemanifesta.

Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano

provenientedascoisasquedelecaíremouforemlançadasemlugarindevido.

Nestes casos,poder-se-ia argumentarque inexistiria a condutavoluntáriado

pretensoresponsabilizado.Ledoengano,diremosnós,noscapítulospróprios 53,

umavezque,emtaissituações,ocorreriamomissõesligadasadeveresjurídicos

decustódia,vigilânciaoumáeleiçãoderepresentantes,cujaresponsabilizaçãoé

impostapornormalegal.

Por fim, mesmo quando se trata de responsabilidade civil de uma pessoa

jurídica, sempre haverá, na atividade que gerou uma responsabilização, uma

condutahumanaensejadoradodano.

3.ACONDUTAHUMANAEAILICITUDE

Frequentemente, a doutrina aponta a ilicitude como aspecto necessário da

açãohumanavoluntária,primeiroelementodaresponsabilidadecivil.

Nesse sentido, SÍLVIO DE SALVO VENOSA, grande cultor moderno do

Direito Civil, em festejada obra, preleciona: “O ato de vontade, contudo, no

Page 89: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

campodaresponsabilidadedeverevestir-sedeilicitude.Melhordiremosquena

ilicitude há, geralmente, uma cadeia de atos ilícitos, uma conduta culposa.

Raramente,ailicitudeocorrerácomumúnicoato.Oatoilícitotraduz-seemum

comportamentovoluntárioquetransgrideumdever” 54.

Na mesma linha, CAIO MÁRIO preleciona: “Do conceito de ato ilícito,

fundamento da reparação do dano, tal como enunciado no art. 159 doCódigo

Civil, e como vem reproduzido no art. 186 do Projeto n.º 634-B de 1975 55,

pode-se enunciar a noção fundamental da responsabilidade civil, em termos

consagrados, mutatis mutandis, na generalidade dos civilistas: obrigação de

reparar o dano, imposta a todo aquele que, por ação ou omissão voluntária,

negligênciaouimprudência,violardireitooucausardanoaoutrem” 56.

Defato,umavezquearesponsabilidadecivilnosremeteàideiadeatribuição

das consequências danosas da conduta ao agente infrator, é lógico que, para a

sua configuração, ou seja, para que haja a imposição do dever de indenizar, a

referidaatuaçãolesivadevasercontráriaaodireito,ilícitaouantijurídica.

Nãoéporoutromotivoqueasedelegaldaresponsabilidadecivil—art.186

—é,precisamente,oatoilícito,consoanteselênoTítuloIII,LivroIII,daParte

GeraldoCódigoCivil.

Por que, então, ao mencionarmos o primeiro elemento da responsabilidade

civil,nãoqualificamosacondutahumana,comapalavra“ilícita”?

Como já foi dito, em atenção ao estrito critério metodológico desta obra,

preocupamo-nosemelencaroselementosrealmentegenéricosoufundamentais

daresponsabilidadecivil,característicasessasnãoexistentesnacaracterísticada

Page 90: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

ilicitude.

Semignorarmosqueaantijuridicidade,comoregrageral,acompanhaaação

humana desencadeadora da responsabilidade, entendemos que a imposição do

deverdeindenizarpoderáexistirmesmoquandoosujeitoatualicitamente.Em

outraspalavras:poderáhaverresponsabilidadecivilsemnecessariamentehaver

antijuridicidade,aindaqueexcepcionalmente,porforçadenormalegal.

Porissonãosepodedizerqueailicitudeacompanhanecessariamenteaação

humanadanosaensejadoradaresponsabilização.

Parailustraroquedizemos,tomemosoexemploqueapresentamosnovolume

Idenossaobra:

“AindanocampodosDireitosReais,tambémocorreaobrigaçãodeindenizaremdecorrênciadeumato

lícitonahipóteseprevistanoart.1.313doCC/2002(similar,postonãoidêntica,àprevistanoart.587

doCC/1916):Art.1.313.Oproprietárioouocupantedoimóveléobrigadoatolerarqueovizinhoentre

no prédio, mediante prévio aviso, para: I — dele temporariamente usar, quando indispensável à

reparação,construção,reconstruçãooulimpezadesuacasaoudomurodivisório;II—apoderar-sede

coisassuas,inclusiveanimaisqueaíseencontremcasualmente.§1.ºOdispostonesteartigoaplica-se

aoscasosde limpezaou reparaçãodeesgotos,goteiras, aparelhoshigiênicos,poçosenascentes e ao

aparodecercaviva.§2.ºNahipótesedoincisoII,umavezentreguesascoisasbuscadaspelovizinho,

poderáserimpedidaasuaentradanoimóvel.§3.ºSedoexercíciododireitoasseguradonesteartigo

provierdano,teráoprejudicadodireitoaressarcimento.Excepcionalmente,portanto,aresponsabilidade

civilpoderádecorrerdeumcomportamentohumanoadmitidopelodireito” 57(grifamos).

Damesmaforma,nocasodapassagemforçada,odonodoprédioencravado

sem acesso à via pública, nascente ou porto, tem o direito de constranger o

vizinho a lhe dar passagem,mediante o pagamento de indenização cabal (art.

1.285,CC/2002).

Nesse caso, verifica-se que o vizinho constrangido poderá responsabilizar

Page 91: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

civilmenteobeneficiáriodocaminho,exigindoaindenizaçãocabível,mediante

oajuizamentodeaçãoordinária,senãohouversoluçãoamigável.

Ao encontro dessas ideias, MARTINHO GARCEZ NETO assevera poder

haver“danoreparávelsemilicitude(vonTHUR,WINDSCHEID,DEMOGUE,

CHIRONI,ROSSELeMENTHA).Exemplosde responsabilidadepelos danos

resultantes de ato lícito são: pormotivo de interesse público—a indenização

devidaporexpropriação;pormotivodeinteresseprivado—oatopraticadoem

estadodenecessidade” 58(grifamos).

Note-se,pois,àvistadetaisexemplos,queodeverderepararodanocausado,

nessescasos,decorredeumaatuaçãolícitadoinfrator,queageamparadopelo

direito.

Com isso, chega-se à óbvia conclusão de que a ilicitude não acompanha

sempre a ação humana danosa, razão por que não acrescentamos esse

qualificativonoelementosobanálise.

Por outro lado, não desconhecemos, saliente-se mais uma vez, que, como

regra geral, posto não absoluta, a antijuridicidade acompanha a ação humana

causadora do dano reparável. Por isso, ressalte-se, como imperativo de rigor

metodológico, que, por se tratar de uma situação excepcional (embora com

hipótesesfacilmenteencontráveisnoordenamentojurídico),aresponsabilização

civilporatolícitodependesempredenormalegalqueapreveja.

Finalmente,cumpre-nosregistrarquealgunsautoresdiferenciamaindaoato

ilícitodoatoilegal.Nesteúltimo,quenãorepercutirianaresponsabilidadecivil,

nãohaveriapropriamenteumaviolaçãoauminteressejurídicotutelado,massim

Page 92: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

a ausência da“realização de condições indispensáveis para a tutela jurídica de

uminteressepróprio” 59.Seriaocasodoatonuloouanulável,carecedoresdos

requisitosnecessáriosparaasuavalidade.

Adespeitodointeresseteóricodotema, taldistinçãonãoé tãosignificativa,

havendo, inclusive, diplomas que a ignoram, considerando os atos nulos e

anuláveis—exemplosclássicosde“atosilegais”—simplesmenteatosilícitos.

Nesse sentido, o art. 1.056 do Código Civil Argentino: “1.056. Los actos

anulados, aunque no produzcan los efectos de actos jurídicos, producen sin

embargo, los efectos de los ‘actos ilícitos’, o de los hechos en general, cuyas

consecuenciasdebenserreparadas”(grifosnossos).

Page 93: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

CapítuloV

ODano

Sumário: 1. Conceito de dano. 2. Requisitos do dano indenizável. 3. Espécies de dano: patrimonial,

moraleestético.4.Danoreflexoouemricochete.5.Danoscoletivos,difusoseainteressesindividuais

homogêneos.6.Formasdereparaçãodedanos.

1.CONCEITODEDANO

Indispensável a existência de dano ou prejuízo para a configuração da

responsabilidadecivil.

Mesmo em se tratando de responsabilidade contratual, o comportamento da

parteinadimplentequedeixadecumpriraobrigaçãoconvencionadacarregaem

siapresunçãodedano 60.

Sem a ocorrência deste elemento não haveria o que indenizar, e,

consequentemente,responsabilidade.

Observandoaimportânciadesteconceito,CIFUENTESobservaque:

“Paraelderechoprivado, ademásdeantijurídicoporhaber-secontrariadouna ley tomadaen sentido

material(cualquiernormaemanadadeautoridadcompetente),esnecesarioquehayaundañocausado.

Sin daño, en derechoprivado, no hay stricto sensu acto ilícito, pues este derecho tiene por finalidad

resarcir,noreprimiropunir” 61.

Page 94: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Poderíamosentãoafirmarque,sejaqualforaespéciederesponsabilidadesob

exame(contratualouextracontratual,objetivaousubjetiva),odanoé requisito

indispensávelparaasuaconfiguração,qualseja,suapedradetoque.

Comabsolutapropriedade,SÉRGIOCAVALIERIFILHO,emsuaexcelente

obra Programa de Responsabilidade Civil, salienta a inafastabilidade do dano

nosseguintestermos:

“O dano é, sem dúvida, o grande vilão da responsabilidade civil. Não haveria que se falar em

indenização,nememressarcimento,senãohouvesseodano.Podehaverresponsabilidadesemculpa,

mas não pode haver responsabilidade sem dano. Na responsabilidade objetiva, qualquer que seja a

modalidadedoriscoquelhesirvadefundamento—riscoprofissional,riscoproveito,riscocriadoetc.

—, o dano constitui o seu elemento preponderante. Tanto é assim que, sem dano, não haverá o que

reparar,aindaqueacondutatenhasidoculposaouatédolosa” 62.

Nessestermos,poderíamosconceituarodanoouprejuízocomosendoalesão

auminteressejurídicotutelado—patrimonialounão—,causadoporaçãoou

omissãodosujeitoinfrator.

Note-se, neste conceito, que a configuração do prejuízo poderá decorrer da

agressãoadireitosouinteressespersonalíssimos(extrapatrimoniais),aexemplo

daqueles representados pelos direitos da personalidade, especialmente o dano

moral 63.

Aliás, como acentuaCLAYTONREIS, “a concepção normalmente aceita a

respeito do dano envolve uma diminuição do patrimônio de alguém, em

decorrência da ação lesiva de terceiros. A conceituação, nesse particular, é

genérica. Não se refere, como é notório, a qual o patrimônio é suscetível de

redução” 64.

Page 95: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Sobre a tutela geral dos direitos da personalidade — cuja violação, como

visto, também poderá gerar responsabilidade civil—, consignamos que a sua

proteçãopoderáser:a)preventiva—pormeiodetutelainibitóriaoumesmode

tutelaespecíficacommultacominatória 65,objetivandoevitaraconcretizaçãoda

ameaça de lesão ao direito da personalidade; b) repressiva — por meio da

imposição de sanção civil (pagamento de indenização) ou penal (persecução

criminal)emcasodealesãojáhaverseefetivado” 66.

É muito importante, pois, que nós tenhamos o cuidado de nos despir de

determinadosconceitosegoisticamenteensinadospelateoriaclássicadoDireito

Civil,efixemosapremissadequeoprejuízoindenizávelpoderádecorrer—não

somentedaviolaçãodopatrimônioeconomicamenteaferível—mastambémda

vulneração de direitos inatos à condição de homem, semexpressão pecuniária

essencial.

Precisaecontundente,aesserespeito,éapreleçãodoilustradoLUIZEDSON

FACHIN:

“Apessoa,enãoopatrimônio,éocentrodosistemajurídico,demodoquesepossibiliteamaisampla

tuteladapessoa,emumaperspectivasolidaristaqueseafastadoindividualismoquecondenaohomem

àabstração.Nessaesteira,nãohá,pois,direitosubjetivoarbitrário,massemprelimitadopeladimensão

coexistencial do ser humano.Opatrimônio, conforme se apreendedo exposto porSessarego, não só

deixadeserocentrodoDireito,mastambémapropriedadesobreosbenséfuncionalizadaaohomem,

emsuadimensãocoexistencial” 67.

Aliás,outromitoquesedevedestruiréaideiadequeodano,paraoDireito

Civil,toca,apenas,ainteressesindividuais.ODireitoCivilnãodeveserproduto

do cego individualismo humano. Diz-se, ademais, nessa linha equivocada de

raciocínio,quesomenteodanodecorrentedeumilícitopenalteriarepercussões

Page 96: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

sociais.

Nadamaisfalso.

Toda formadedano,mesmoderivadodeum ilícitocivil edirigidoaumsó

homem,interessaàcoletividade.Atéporquevivemosemsociedade,eaviolação

dopatrimônio—moraloumaterial—domeusemelhante repercute, também,

naminhaesferapessoal.

Nessesentido,sábiaseatuaissãoaspalavrasdomagistralAGUIARDIAS:

“do ponto de vista da ordem social, consideramos infundada qualquer distinção a propósito da

repercussãosocialouindividualdodano.Oprejuízoimpostoaoparticularafetaoequilíbriosocial.É,a

nosso ver, precisamente nesta preocupação, neste imperativo, que se deve situar o fundamento da

responsabilidadecivil.Nãoencontramosrazãosuficienteparaconcordaremqueàsociedadeoatosó

atinge em seu aspecto de violação da norma penal, enquanto que a repercussão no patrimônio do

indivíduo sóaestediz respeito.Nãopode ser exataadistinção, seatentarmosemqueo indivíduoé

partedasociedade;queeleécadavezmaisconsideradoemfunçãodacoletividade;quetodasas leis

estabelecem a igualdade perante a lei, fórmula de mostrar que o equilíbrio é interesse capital da

sociedade” 68.

Nos próximos tópicos aprofundaremos ainda mais o estudo desse tema,

analisandoosrequisitosnecessáriosparaaconfiguraçãododanoindenizável.

2.REQUISITOSDODANOINDENIZÁVEL

Sendoareparaçãododano,comoprodutodateoriadaresponsabilidadecivil,

umasançãoimpostaaoresponsávelpeloprejuízoemfavordolesado,temosque,

emregra,todososdanosdevemserressarcíveis,eisque,mesmoimpossibilitada

a determinação judicial de retorno ao status quo ante, sempre se poderá fixar

umaimportânciaempecúnia,atítulodecompensação.

Page 97: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Todavia,paraqueodanosejaefetivamentereparável(indenizável—hipótese

mais frequente e, por isso, usada normalmente como gênero — ou

compensável),énecessáriaaconjugaçãodosseguintesrequisitosmínimos:

a)aviolaçãodeuminteressejurídicopatrimonialouextrapatrimonialde

umapessoafísicaoujurídica—obviamente,tododanopressupõeaagressãoa

um bem tutelado, de natureza material ou não, pertencente a um sujeito de

direito. Lembre-se de que aMagna Carta de 1988, neste ponto acompanhada

expressamente pelo art. 186 do novo Código Civil, reconhece a plena

reparabilidadedodanomoral,independentementedodanopatrimonial 69;

b)certezadodano—somenteodanocerto,efetivo,éindenizável.Ninguém

poderáserobrigadoacompensaravítimaporumdanoabstratoouhipotético.

Mesmo em se tratando de bens ou direitos personalíssimos, o fato de não se

poder apresentar um critério preciso para a sua mensuração econômica não

significaqueodanonãosejacerto.Talocorre,porexemplo,quandocaluniamos

alguém,maculandoasuahonra.Aimputaçãofalsadofatocriminoso(calúnia)

geraumdanocertoàhonradavítima,aindaquenãosepossadefinir,emtermos

precisos,quantovale este sentimentodedignidade.MARIAHELENADINIZ,

com propriedade, citando doutrina estrangeira, lembra que “a certeza do dano

refere-seàsuaexistência,enãoàsuaatualidadeouaoseumontante” 70.Assim,

um crime de lesões corporais que culmine com a mutilação da perna de um

jogador de futebol é dano certo, proveniente de um fato atual, que gerará

inevitáveisrepercussõesfuturas.

Acertezadodanoimplica,emregra,asuademonstraçãoemjuízo.

Page 98: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Isso,porém,devesercompreendidocomoumapremissateóricaquepermite

flexibilização.

Nocasododanopatrimonial,namodalidadedolucrocessante,comonãose

prova fato futuro, a demonstração é a da cessação da atividade, com a não

auferição de ganhos, devendo o magistrado arbitrar o valor que considera

razoávelparaoprejuízosofridopelavítima(Ex.:taxistavítimadecolisão,que

deixadetrabalharporummês).

Jánasearadosdanosmorais,éprecisoobservarquenãoéadorquedeveser

provada,mas,sim,aviolaçãoaumdireitodapersonalidade.Emdeterminadas

situações,valeacrescentar,configura-seoqueseconvencionouchamardedano

in re ipsa (demonstrado pela força dos próprios fatos), ou seja, pela própria

natureza da conduta perpetrada, a exemplo do que se dá quando se perde um

ente próximo da família (genitor, cônjuge ou descendente) ou se tem o nome

negativado 71.

Ainda analisando o requisito da certeza, devemos lembrar que a doutrina

controverte-se a respeito da reparabilidade do dano decorrente da ‘perda da

chance’(perted’unechance).Nessahipótese,temosqueanalisarseháounãoa

certezadodano.Sobreotema,exemplificaSÍLVIOVENOSA:“Alguémdeixa

de prestar exame vestibular, porque o sistema de transportes não funcionou a

contentoeosujeitochegouatrasado,nãopodendosubmeter-seàprova:podeser

responsabilizado o transportador pela impossibilidade de o agente cursar a

universidade?O advogado deixa de recorrer ou de ingressar comdeterminada

medidajudicial:podeserresponsabilizadopelaperdadeumdireitoeventualde

seucliente?” 72.Emtodosessescasos,nãopoderíamosexcluirareparabilidade

Page 99: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

dodano,desdequeainvestigaçãodonexodecausalidadealiadaàcomprovação

da efetividade do prejuízo conduzissem à necessidade de restituição do status

quo ante por meio da obrigação de indenizar. Em verdade, como se trata da

frustração de uma probabilidade concreta de ganho — mas sem que haja a

certezanoacerto—ovalorindenizatóriodevesermitigado,ouseja,fixadopor

proporcionalidade 73;

c)subsistênciadodano—querdizer,seodanojáfoireparado,perde-seo

interesse da responsabilidade civil.O dano deve subsistir nomomento de sua

exigibilidade em juízo, o que significa dizer que não há como se falar em

indenização se o dano já foi reparado espontaneamente pelo lesante.

Obviamente, se a reparação tiver sido feita às expensas do lesionado, a

exigibilidadecontinua.

Essestrêssãoosrequisitosbásicosparaquesepossaatribuiroqualificativo

“reparável”aodano.

Todososoutrosaventadosporrespeitáveldoutrina 74,comoalegitimidadedo

postulante, o nexo de causalidade e a ausência de causas excludentes de

responsabilidade, posto necessários, tocam, em nosso entendimento, mais de

pertoaaspectosextrínsecosousecundáriosàconsideraçãododanoemsi.

Por isso, seguindo um critério científico mais rígido, preferimos elencar

apenas esses três atributos, inerentes ao dano reparável, que consideramos

fundamentaisparaasuacaracterização:a)aviolaçãodeuminteressejurídico—

patrimonialoumoral;b)aefetividadeoucerteza;c)subsistência.

3.ESPÉCIESDEDANO:PATRIMONIAL,MORALEESTÉTICO

Page 100: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Tradicionalmente, a doutrina costuma classificar o dano em patrimonial e

moral.

O dano patrimonial traduz lesão aos bens e direitos economicamente

apreciáveis do seu titular. Assim ocorre quando sofremos um dano em nossa

casaouemnossoveículo.

Já advertimos, outrossim, seguindo a moderna tendência de despatrimo-

nializaçãododireitocivil,queoutrosbens,personalíssimos,tambémpodemser

atingidos,gerando,assim,aresponsabilidadecivildoinfrator.

Ainda,porém,noquetangeespecificamenteaodanopatrimonialoumaterial,

convémoanalisarmossobdoisaspectos 75:

a) o dano emergente— correspondente ao efetivo prejuízo experimentado

pelavítima,ouseja,“oqueelaperdeu”;

b) os lucros cessantes — correspondente àquilo que a vítima deixou

razoavelmentedelucrarporforçadodano,ouseja,“oqueelanãoganhou” 76.

Com referência ao dano emergente, sempre presentes são as palavras de

AGOSTINHOALVIM,queponderaser“possívelestabelecer,comprecisão,o

desfalquedonossopatrimônio,semqueasindagaçõesseperturbemporpenetrar

no terrenohipotético.Mas, com relação ao lucro cessante, omesmo já não se

dá”.Earespeitodolucrocessante,assevera,commaestria:

“Finalmente, e com o intuito de assinalar, com a possível precisão, o significado do termo

razoavelmente,empregadonoart.1.059doCódigo,diremosqueelenãosignificaquesepagaráaquilo

queforrazoável(ideiaquantitativa)esimquesepagarásesepuder,razoavelmente,admitirquehouve

lucro cessante (ideia que se prende à existênciamesma de prejuízo). Ele contém uma restrição, que

serve para nortear o juiz acerca da prova do prejuízo em sua existência, e não em sua quantidade.

Page 101: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Mesmoporque, admitidaaexistênciadoprejuízo (lucrocessante), a indenizaçãonão sepautarápelo

razoável,esimpeloprovado” 77.

A título de ilustração, leiam-se os exemplos que apresentamos em nosso

volumeII—Obrigações,quantoaodanoemergenteeaoslucroscessantes:

“Imagine que uma indústria de veículos haja celebrado um contrato de compra e venda com um

fornecedordepastilhasdefreios,quesecomprometeraaentregar-lheumlotededezmilpeçasatéodia

10. O pagamento efetivou-se no ato da celebração do contrato. No dia fixado, o fornecedor, sem

justificativa razoável, comunicou ao adquirente que não mais produziria as referidas peças. Dessa

forma,abriu-seaocredorapossibilidadederesolveronegócio,podendoexigirasperdasedanos,que

compreenderiamodanoefetivocausadopelodescumprimentoobrigacional(assuasmáquinasficaram

paradas, tendo a receita mensal diminuído consideravelmente), e, bem assim, o que razoavelmente

deixoudelucrar(seaspastilhasdefreiohouvessemchegadoatempo,oscarrosteriamsidoconcluídos,

easvendasaosconsumidoresefetivadas,comoeradeseesperar).Outroexemplo,agoraextraídodo

campo de estudo da responsabilidade extracontratual, também nos servirá. Um indivíduo, guiando

imprudentementeoseuveículo,abalroaumtáxiqueestavacorretamenteestacionado.Emtalhipótese,

ocausadordodano,porsuaatuaçãoilícita,seráobrigadoaoindenizaravítima,pagando-lheasperdase

danos,quecompreenderão,conformejávimos,odanoemergente (correspondenteaoefetivoprejuízo

materialdoveículo—carroceriadanificada,espelhoslateraisquebrados,danosàpinturaetc.),e,bem

assim,oslucroscessantes(referentesaosvaloresaquefariajusotaxistadurantetodootempoemqueo

seuveículoficouparado,emconsertonaoficina)” 78.

Claroestáqueodanoemergenteeoslucroscessantesdevemserdevidamente

comprovadosnaaçãoindenizatóriaajuizadacontraoagentecausadordodano,

sendo de bom alvitre exortar osmagistrados a impedirem que vítimasmenos

escrupulosas, incentivadorasda famigerada“indústriada indenização”, tenham

êxitoempleitosabsurdos,sembasereal,formuladoscomonítidopropósito,não

debuscarressarcimento,masdeobterlucroabusivoeescorchante.

Nesse sentido, firmou entendimento a 1.ª Turma do Superior Tribunal de

Justiça,emsededeRecursoEspecial,julgadoem23-5-1994,RSTJ,63/251,em

Page 102: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

acórdãodalavradoilustreMin.DemócritoReinaldo:

“Para viabilizar a procedência da ação de ressarcimento de prejuízos, a prova da existência do dano

efetivamente configurado é pressuposto essencial e indispensável.Aindamesmo que se comprove a

violação de um dever jurídico, e que tenha existido culpa ou dolo por parte do infrator, nenhuma

indenizaçãoserádevida,desdeque,dela,nãotenhadecorridoprejuízo.Asatisfaçãopelaviajudicial,de

prejuízo inexistente, implicaria, em relação à parte adversa, em enriquecimento sem causa. O

pressupostodareparaçãocivilestá,nãosónaconfiguraçãodaconduta‘contra jus’,mas, também,na

provaefetivadoônus,jáquesenãorepõedanohipotético”.

Ainda sobre os lucros cessantes, a recente jurisprudência do STJ continua

sendorígidaquantoànecessidadedeojulgadorutilizarobomsensoparaaferir

a sua configuração, consoante se pode perceber da leitura deste trecho de

acórdão da lavra do culto Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, no REsp

320417/RJ,DJde20-5-2002:

“Aexpressão‘oquerazoavelmentedeixoudelucrar’,constantedoart.1.059doCódigoCivil,deveser

interpretadanosentidodeque,atéprovaemcontrário,seadmitequeocredorhaveriadelucraraquilo

queobomsensodizqueobteria,existindoapresunçãodequeosfatossedesenrolariamdentrodoseu

cursonormal,tendoemvistaosantecedentes”.

Posto isso, seguindo essa linha de raciocínio, cumpre-nos lembrar que a

compensaçãodevidaàvítimasódeveráincluirosdanosemergenteseoslucros

cessantes diretos e imediatos, ou seja, só se deverá indenizar o prejuízo que

decorra diretamente da conduta ilícita (infracional) do devedor (art. 403,

CC/2002 79),excluídososdanosremotos.

“Trata-se”, segundo preleção do Desembargador CARLOS ROBERTO

GONÇALVES,“deaplicaçãodateoriadosdanosdiretoseimediatos,formulada

apropósitodarelaçãodecausalidade,quedeveexistir,paraquesecaracterizea

responsabilidadedodevedor.Assim,odevedorrespondetãosópelosdanosque

Page 103: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

seprendema seu atoporumvínculodenecessidade,nãopelos resultantesde

causasestranhasouremotas” 80.

Atéaqui,tratamosdodanopatrimonial.

Entretanto,conformedissemos,odanopoderáatingiroutrosbensdavítima,

decunhopersonalíssimo,deslocandooseuestudoparaasearadodenominado

danomoral.

Trata-se,emoutraspalavras,doprejuízoou lesãodedireitos,cujoconteúdo

nãoépecuniário,nemcomercialmenteredutíveladinheiro,comoéocasodos

direitosdapersonalidade,asaber,odireitoàvida,àintegridadefísica(direitoao

corpo,vivooumorto, e àvoz), à integridadepsíquica (liberdade,pensamento,

criações intelectuais, privacidade e segredo) e à integridade moral (honra,

imageme identidade) 81, havendo quem entenda, como o culto PAULOLUIZ

NETTO LÔBO, que “não há outras hipóteses de danos morais além das

violaçõesaosdireitosdapersonalidade” 82.

Segundo CARLOS ALBERTO BITTAR, qualificam-se “como morais os

danosemrazãodaesferadasubjetividade,oudoplanovalorativodapessoana

sociedade, em que repercute o fato violador, havendo-se, portanto, como tais

aqueles que atingemos aspectosmais íntimos da personalidade humana (o da

intimidadeedaconsideraçãopessoal),ouodaprópriavaloraçãodapessoano

meioemqueviveeatua(odareputaçãooudaconsideraçãosocial)” 83.

Conforme dissemos, o novoCódigo Civil, expressamente, em seu art. 186,

dispôs que a indenização por ato ilícito é devida, ainda que o dano seja

exclusivamente moral. Nada mais fez, nesse particular, do que explicitar

Page 104: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

determinaçõesconstitucionaisquejárespaldavamaautonomiajurídicadodano

moral 84.

OgrandemestreARRUDAALVIM, por sua vez, em excelente conferência

proferidaporocasiãodoIICongressodeResponsabilidadeCivilnosTransportes

Terrestres de Passageiros, já anotava que, mesmo na sistemática do Código

anterior,atesedareparabilidadedodanomoraleradefensável:

“Recordo aqui o artigo 159 do Código Civil, onde está dito: ‘Aquele que, por ação ou omissão

voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a

indenizar’.Nessafrase,porcausadasexpressões‘violardireito’ou‘causarprejuízo’,muitosenxergam

essaautonomiaquepoderiaterdadobaseaumamaisexpressivajurisprudênciacomvistasaindenizar

autonomamente o dano moral. Isto porque quando prescreveu o legislador que aquele que causou

prejuízodeveindenizar,taisexpressõesseriamreferentesaosdanosmateriais,masquandodisse‘violar

direito’,estaspoderiamsignificararessarcibilidadedodanomoralerespeitoaodireitoàintimidade,à

liberdade,àhonra,istoé,tudoistojáestariaprevistonoCódigoCivil” 85.

Dadaaprofundidadedotema,e,principalmente,asinfindáveiscontrovérsias

que sempre gravitam em torno do dano moral, dedicamos todo o próximo

capítuloaoseuestudo.

Vale registrar, porém, que, quebrando a linha classificatória tradicional que

dividia as espécies de dano em patrimonial e moral (ou extrapatrimonial),

considerou o Superior Tribunal de Justiça que o denominado “dano estético”

comportariaumamodalidadeautônomadedano.

Nestaseara,editou,inclusive,aSúmula387,prevendo:

“Élícitaacumulaçãodasindenizaçõesdedanoestéticoedanomoral”.

Emquepeseainexistênciademenção,notextoconstitucional,nocampodos

direitos fundamentais,a talespéciededano,épossível identificá-lacomouma

Page 105: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

lesãoaodireitoconstitucionaldeimagem,naformamencionadanoincisoVdo

art. 5.º da Constituição Federal de 1988 (“V — é assegurado o direito de

resposta,proporcionalaoagravo,alémdaindenizaçãopordanomaterial,moral

ouàimagem”).

A pergunta que não quer calar, porém, é saber se há um limite para as

adjetivações de danos ou se ainda teremos que conhecer e construir doutrina

sobreumapotencial“torredebabel”denovasmodalidadesdelesõesadireitos

noordenamentojurídicobrasileiro86.

4.DANOREFLEXOOUEMRICOCHETE

Umaoutraespéciededano,porsuascaracterísticaspeculiares,mereceanossa

especialatenção.

Trata-se do dano reflexo ou em ricochete, cujo estudo desenvolveu-se

largamentenoDireitoFrancês.

Conceitualmente, consiste no prejuízo que atinge reflexamente pessoa

próxima,ligadaàvítimadiretadaatuaçãoilícita.

Éocaso,porexemplo,dopaidefamíliaquevemaperecerpordescuidode

umsegurançadebancoinábil,emumatrocadetiros.Note-seque,adespeitode

odanohaversidosofridodiretamentepelosujeitoquepereceu,osseus filhos,

alimentandos, sofreram os seus reflexos, por conta da ausência do sustento

paterno.

Desde que este dano reflexo seja certo, de existência comprovada, nada

impedeasuareparaçãocivil.

Page 106: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Sintetizando bem o problema, CAIO MÁRIO, com habitual inteligência,

observaque:

“Se o problema é complexo na sua apresentação,mais ainda o será na sua solução.Na falta de um

princípioqueodefina francamente,oquesedeveadotarcomosoluçãoéacertezadodano.Sepela

morteouincapacidadedavítima,aspessoas,quedelasebeneficiavam,ficaramprivadasdesocorro,o

dano é certo, e cabe ação contra o causador. Vitimando a pessoa que prestava alimentos a outras

pessoas, privou-as do socorro e causou-lhes prejuízo certo. É o caso, por exemplo, da ex-esposa da

vítimaque,juridicamente,recebiadelaumapensão.Emboranãosejadiretamenteatingida,temaçãode

reparação por dano reflexo ou em ricochete, porque existe a certeza do prejuízo, e, portanto, está

positivadoorequisitododanocomoelementardaresponsabilidadecivil” 87.

Portanto, a despeito denão ser de fácil caracterização, o dano em ricochete

enseja a responsabilidade civil do infrator, desde que seja demonstrado o

prejuízoàvítimareflexa,consoantesepodeverificardaanálisedeinteressantes

julgados do Superior Tribunal de Justiça (REsp 254418/RJ, rel. Min. Aldir

PassarinhoJr.,DJde11-6-2001)edoTribunaldeJustiçadoRioGrandedoSul

(Ap.Cível598060713, rel.Des.Antônio JanyrDall’Agnol Júnior, julgadoem

23-9-1998):

“I—Justifica-seaindenizaçãopordanomoralquandoháapresunção,emfacedaestreitavinculação

existenteentreapostulanteeavítima,dequeodesaparecimentodoentequeridotenhacausadoreflexos

naassistênciadomésticaesignificativosefeitospsicológicoseemocionaisemdetrimentodaautora,ao

ser privada para sempre da companhia do de cujus. II—Tal suposição não acontece em relação ao

cônjugequeeraseparadodefatododecujus,habitavaemendereçodistinto, levandoaacreditarque

tanto um como outro buscavam a reconstituição de suas vidas individualmente, desfeitos os laços

afetivosqueantesosuniram,aliás,porbreveespaçodetempo.

ApelaçãoCível.DanoMoral.Protestolavradocontrapessoajurídica.Alegaçãodereflexonapessoado

sócio. Prova. Em que pese inafastável, em tese, dano reflexo, à semelhança do dano em ricochete,

quando lavradoprotestocontrasociedadecomercial, instacabaldemonstraçãoda ilicitudedopróprio

atonotarial,penadeinsucesso.Apelaçãodesprovida”.

Page 107: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Nãosedeveconfundirodanoreflexoouporricochetecomochamado“dano

indireto”.

A classificação do dano em direto ou em indireto se refere ao interesse

juridicamente tutelado que tenha sido violado. Assim, uma difamação gera,

teoricamente,umdanomoral,maspodegerar,indiretamente,danospatrimoniais

peloabalodecrédito 88.

Já o dano reflexo ou por ricochete, como visto, se refere aos sujeitos

vitimados,sejaporserotitulardointeresseviolado(avítimapropriamentedita),

sejapor teremuma relaçãodedependência comaprimeira (os lesionadospor

ricochete)89.

Por fim, vale registrar que tais classificações não se confundem — ao

contrário, podem coexistir — com o instituto da responsabilidade civil pela

perdadeumachance,naqualsetutelaapossibilidadequefoiperdida,nãoum

danoconcretamenteaferível.Aperdadeumprazopeloadvogadoouacriação

dealgumóbicenaparticipaçãoemumconcursopúblicoouatividadedesportiva

sãoexemplosdidáticossempreinvocados 90.

Odano reflexopode ser reconhecidoatémesmoaonascituropelamortedo

pai, sendoque o fato de o nascituro não tê-lo conhecido emvida não é razão

parasenegarindenização91.Imagine-se,porexemplo,umfilhoquenãotevea

oportunidadedeconheceroseupai,assassinadoaotempoemqueessefilhoera

umnascituro.O ato ilícito causador desse imensodanomoral (a perdade um

pai) consumou-se enquantoo sujeito estava sendo “gestado” (nascituro).Nada

impedeque,posteriormente,possavirapleiteararespectivaindenização.

Page 108: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

5.DANOSCOLETIVOS,DIFUSOSEAINTERESSESINDIVIDUAISHOMOGÊNEOS

Aevoluçãodasociedade,comaformaçãodeumaconsciênciadecidadania,

leva ao reconhecimento de que a tutelameramente individual não é suficiente

paracombaterasmacrolesõespassíveisdeocorrência.

Há, por isso, toda uma gama de danos coletivos lato sensu que precisa ser

tutelada através de um procedimento especial — a ação coletiva — mais

adequadoàsuanatureza.

Sobre tais ações, RODOLFO DE CAMARGO MANCUSO considera-as

cabíveis“quandoalgumníveldouniversocoletivoseráatingidonomomentoem

que transitar em julgado a decisão que a acolhe, espraiando assim seus

efeitos” 92.

A reparação dos danos morais transindividuais está positivada no

ordenamento jurídicobrasileiro, especificamente,noart. 6.º,VI,doCódigode

DefesadoConsumidor,queprescreveseremdireitosbásicosdoconsumidor“a

efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,

coletivosedifusos”.

Apesardeaprevisãoestarnodiplomaconsumerista,odanocoletivonãose

resume à seara do direito do consumidor. Qualquer interesse coletivo violado

podegerarreparaçãopordanoscoletivos,bastandoqueosrequisitosgenéricos

destareparaçãosejamreunidos.

Segundo o Superior Tribunal de Justiça, para que o danomoral coletivo se

configure “é preciso que o fato transgressor seja de razoável significância e

Page 109: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

desborde os limites da tolerabilidade; ele deve ser grave o suficiente para

produzir verdadeiros sofrimentos, intranquilidade social e alterações relevantes

naordemextrapatrimonialcoletiva”93.

Deacordocomanaturezadosinteressesoudireitosviolados,trêsespéciesde

danos coletivos lato sensu podem ser suscitadas, a saber, difusos, coletivos

(strictosensu)eindividuaishomogêneos94.

A definição legal de tais interesses, como dito, se encontra no Código de

Defesa do Consumidor brasileiro, que traz norma, nesse sentido, de natureza

geral,nãoselimitandoàsrelaçõesdeconsumo.

Assimpreceituaoart.81daLein.8.078,de11desetembrode1990:

“Art.81.Adefesadosinteressesedireitosdosconsumidoresedasvítimaspoderáserexercidaemjuízo

individualmente,ouatítulocoletivo.

Parágrafoúnico.Adefesacoletivaseráexercidaquandosetratarde:

I—interessesoudireitosdifusos,assimentendidos,paraefeitosdesteCódigo,ostransindividuais,de

naturezaindivisível,dequesejamtitularespessoasindeterminadaseligadasporcircunstânciasdefato;

II—interessesoudireitoscoletivos,assimentendidos,paraefeitosdesteCódigo,ostransindividuaisde

naturezaindivisíveldequesejatitulargrupo,categoriaouclassedepessoasligadasentresioucoma

partecontráriaporumarelaçãojurídicabase;

III — interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem

comum”.

EmboraalinguagemutilizadapeloCódigosejaextremamentetécnica,parece-

nosrelevanteexplicarcadaumdessesinteresses.

Como observa ANTONIO GIDI, “o critério científico para identificar se

determinadodireitoédifuso,coletivo,individualhomogêneoouindividualpuro

não é amatéria, o tema, o assunto abstratamente considerados, mas o direito

Page 110: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

subjetivoespecíficoquefoiviolado” 95.

Isso porque não é possível setorializar direitos em função de matérias

envolvidas, como, lamentavelmente, é muito comum se verificar. Assim, um

dano aomeio ambiente não será necessária e exclusivamente umdanodifuso,

poispodetambémensejarpretensõescomoutrostiposdetutelajurisdicional.

Os direitos difusos e coletivos, designados por JOSÉCARLOSBARBOSA

MOREIRA como direitos “essencialmente coletivos” 96 — ao revés dos

individuaishomogêneos,queseriamapenas“acidentalmentecoletivos”—,tem

comonotacomumocarátertransindividual,denaturezaindivisível,ouseja,que

transcendemaesferadeumúnicosujeitoindividualizado.

Adiferença,porém,estaránatitularidade,emque,nosprimeiros,seconfunde

com “pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato”, enquanto,

nossegundos,sereferea“grupo,categoriaouclassedepessoasligadasentresi

oucomapartecontráriaporumarelaçãojurídicabase”.

Aexemplificaçãopodefacilitaracompreensão.

Imagine-seumvazamentoemumafábrica,quetenhapoluídoumlagonasua

proximidade.Essa conduta gera danosdifusos—a toda a sociedade, que tem

um direito constitucional à defesa de um meio ambiente ecologicamente

equilibrado 97 — e também coletivos — por exemplo, dos empregados da

empresa, para exigir o cumprimento das normas de segurança e medicina do

trabalho,oumesmodacomunidade ribeirinha,quemantémrelação jurídicade

vizinhança com a indústria, para exigir a observância das regras legais

pertinentes.

Page 111: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Osdireitosindividuaishomogêneos,porsuavez,inovaçãodaLein.8.078/90,

sãoaquelesligadosporumaorigemcomum.Emboradeterminadosedivisíveis,

uma situação de fato uniforme em relação a todos os lesados autoriza a

utilização dos meios processuais correspondentes para sua defesa. Ainda nos

valendodoexemplodapoluiçãodolago,háuminteresseindividualhomogêneo

dospescadoresda região, em funçãodasperdasedanosgeradospela conduta

poluidora.

No campo contratual, também é possível verificar a ocorrência de danos

individuais homogêneos, como, por exemplo, quando uma empresa vende

determinado produto adulterado a várias pessoas espalhadas pelo país, pois,

emboradiversososnegóciosjurídicosdecompraevenda,caracterizadaestaráa

igualdadejurídicaentreoscontratos 98.

Para encerrar este tópico, achamos conveniente transcrever quadro

comparativo com os critérios distintivos mais marcantes entre tais esferas de

direitos, trazida por MANOEL JORGE E SILVA NETO, em sua tese de

doutorado 99:

Interesses Difusos ColetivosIndividuais

homogêneos

BaselegalArt. 81,

parágrafoúnico,I

Art. 81,

parágrafoúnico,

II

Art. 81,

parágrafo

único,III

Page 112: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

DESTINATÁRIOS Indeterminados Determináveis Determinados

NATUREZA Indivisível Indivisível Divisível

ELEMENTO DE

LIGAÇÃO

Situação de

Fato

Relação

JurídicaBase

Situação de

Fato

INSTRUMENTO

DEDEFESA

Ação Civil e

AçãoPopular

Ação Civil

Pública e

Mandado de

Segurança

Coletivo

Ação Civil

Coletiva

6.FORMASDEREPARAÇÃODEDANOS

Sobreasformasdereparaçãodedanos,ensinaORLANDOGOMESquehá

“reposição natural quando o bem é restituído ao estado em que se encontrava antes do fato danoso.

Constitui amais adequada forma de reparação,mas nem sempre é possível, emuito pelo contrário.

Substitui-se por uma prestação pecuniária, de caráter compensatório. Se o autor do dano não pode

restabeleceroestadoefetivodacoisaquedanificou,pagaaquantiacorrespondenteaseuvalor.Éraraa

possibilidadedareposiçãonatural.Ordinariamente,pois,aprestaçãodeindenizaçãoseapresentasoba

formadeprestaçãopecuniária,e,àsvezes,comoobjetodeumadívidadevalor.

Sebemquea reposiçãonatural sejaomodoprópriode reparaçãododano,nãopode ser imposta ao

titular do direito à indenização. Admite-se que prefira receber dinheiro. Compreende-se. Uma coisa

danificada, por mais perfeito que seja o conserto, dificilmente voltará ao estado primitivo. A

indenização pecuniária poderá ser exigida, concomitantemente com a reposição natural, se esta não

satisfizersuficientementeointeressedocredor.

Se o devedor quer cumprir a obrigação de indenizarmediante reposição, o credor não pode exigir a

Page 113: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

substituição de coisa velha, por nova, a menos que o reparo não restabeleça efetivamente o estado

anterior.Poroutro lado,odevedornãopode ser compelidoà restituição innatura, se só for possível

mediantegastodesproporcional” 100.

Em função de tais ilações, podemos concluir que um critério prático de

diferenciaçãoentreodanopatrimonialeodanomoral,alémdaquelereferenteà

esferajurídicaatingidaeàsconsequênciasgeradasdeformadiretapeloevento

danoso,reside,certamente,naformadereparação.

Tal conclusão se dá pelo fato de que, no dano patrimonial (onde restou

atingido um bem físico, de valor comensurável monetariamente), a reparação

podeserfeitaatravésdareposiçãonatural.Essapossibilidade jánãoocorreno

danomoral, eis que a honra violada jamais pode ser restituída à sua situação

anterior,porquanto,comojádissecertosábio,aspalavrasproferidassãocomo

asflechaslançadas,quenãovoltamatrás...

A reparação, em tais casos, reside no pagamento de uma soma pecuniária,

arbitradajudicialmente,comoobjetivodepossibilitaraolesadoumasatisfação

compensatória pelo dano sofrido, atenuando, em parte, as consequências da

lesão.

OqueoraseexpõejáeralecionadohámuitotempoporORLANDOGOMES,

aoafirmarque

“essedanonãoépropriamenteindenizável,vistocomoindenizaçãosignificaeliminaçãodoprejuízoe

dasconsequências,oquenãoépossívelquandosetratadedanoextrapatrimonial.Prefere-sedizerqueé

compensável.Trata-sedecompensação,enãoderessarcimento.Entendidanesses termosaobrigação

dequemoproduziu,afasta-seaobjeçãodequeodinheironãopodeseroequivalentedador,porquese

reconhece que, no caso, exerce outra função dupla, a de expiação, em relação ao culpado, e a de

satisfação, em relaçãoàvítima.Contesta-se,porém,que tenhacaráterdepena, impugnando-se,pois,

suafunçãoexpiatória.Diz-sequesuafinalidadenãoéacarretarperdaaopatrimôniodoculpado,mas,

Page 114: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

sim,proporcionarvantagemaoofendido.Admite-se,porém,semoposição,queopagamentodasoma

de dinheiro é ummodo de dar satisfação à vítima, que, recebendo-a, pode destiná-la, comodizVon

Tuhr,aprocurarassatisfaçõesideaisoumateriaisqueestimeconvenientes,acalmandoosentimentode

vingançainatonohomem” 101.

A evolução do nosso Direito descortina uma mudança de perspectiva: a

funçãosocialdaresponsabilidadecivil.

Comefeito, alémdo escopo compensatório, a indenizaçãodeve ter também

uma finalidade punitiva ou pedagógica, aspecto especialmente desenvolvido

pelos tribunais norte-americanos (“teoria dos punitive damages” ou “teoria do

desestímulo”).

Valedizer,nãoapenasparaatutelacoletiva,mastambém,noâmbitodatutela

individual,oprincípioconstitucionaldafunçãosocialapontaparaanecessidade

de,emcasosgravesoudereincidência,ojuizfixarovalorindenizatóriotambém

comoobjetivodedesestimularoofensor.

Afinal,o“meiosocialnecessitadeumarespostacondizentequebusquecoibir

assequênciasdecondutassemelhantesàquelaqueseestáacensurar”,conforme

adverteSALOMÃORESEDÁ 102.

Esta verba punitiva deveria, em nosso sentir, ser destinada a um fundo ou

entidade beneficente, como se dá, de forma semelhante, no âmbito das ações

civispúblicas.

E,postonãohaja,infelizmente,normalegalaplicandoestateoriapedagógica

noâmbitodatutela individual,sufragamosa tesedequeoprincípiodafunção

social,acimareferidoepornósreverenciado,serviriadeamparoaestalinhade

intelecção.

Page 115: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

CapítuloVI

ODanoMoral

Sumário:1.Introdução.2.ApreocupaçãodoatualCódigoCivilbrasileirocomaquestãodamoralidade.

3.Conceitoedenominação.4.Brevenotíciadeprecedenteshistóricossobreodanomoral.4.1.Código

deHamurabi. 4.2.AsLeis deManu. 4.3.OAlcorão. 4.4.ABíblia Sagrada. 4.5.Grécia antiga. 4.6.

Direito Romano. 4.7.Direito Canônico. 4.8. Evolução histórico-legislativa noBrasil. 5.Danomoral

direto e indireto. 6.Reparabilidade dodanomoral. 6.1.Argumentos contra a reparabilidade do dano

moral.6.1.1.Faltadeumefeitopenosodurável.6.1.2.Incertezadeumverdadeirodireitoviolado.6.1.3.

Dificuldade de descobrir a existência do dano. 6.1.4. Indeterminação do número de pessoas lesadas.

6.1.5.Impossibilidadedeumarigorosaavaliaçãoemdinheiro.6.1.6.Imoralidadedecompensarumador

comdinheiro.6.1.7.AmplopoderconferidoaoJuiz.6.1.8.Impossibilidadejurídicadareparação.6.2.

Natureza jurídica da reparação do dano moral. 6.3. Cumulatividade de reparações (danos morais,

materiaiseestéticos).7.Danomoralepessoajurídica.8.Danomoraledireitosdifusosecoletivos.9.O

danomoraleomeioambientedetrabalho.

1.INTRODUÇÃO

UmdosaspectospositivosdanovaCodificaçãoCivilbrasileiraéjustamenteo

reconhecimentoformaleexpressodareparabilidadedosdanosmorais.

Comefeito,dispõeomulticitadoart.186doCC/2002:

“Art. 186.Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e

causardanoaoutrem,aindaqueexclusivamentemoral,cometeatoilícito”(grifosnossos).

Emboraaquestãojáestivessepacificadapeloprópriotextoconstitucional 103,

Page 116: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

a atualização legislativa se fazia obrigatória, até mesmo por uma questão

cultural, dada a grande resistência histórica, como veremos no decorrer deste

capítulo,parasuaconsagraçãoformal.

Conheçamosmelhoraproblemática.

2.APREOCUPAÇÃODOATUALCÓDIGOCIVILBRASILEIROCOMAQUESTÃODAMORALIDADE

Antes de dissecarmos dogmaticamente toda a enorme batalha doutrinária e

jurisprudencial para reconhecimento da reparabilidade do danomoral, parece-

nos relevante tecer algumas rápidas considerações sobre a questão da

moralidade.

Sim,emboradireitoemoralnãoseconfundam 104,háemtodoonovoCódigo

Civil brasileiro uma evidente preocupação com a eticidade nas relações

jurídicas.

Isso se verifica não somente no acolhimento formal de previsão legal de

reparaçõespordanosmorais,mastambémemoutrosdispositivoslegais.

Senão,vejamos.

Noquedizrespeitoàrepetiçãodeindébito,estabeleceoart.883:

“Art.883.Não terádireitoà repetiçãoaquelequedeualgumacoisaparaobter fim ilícito, imoral,ou

proibidoporlei.

Parágrafo único.No caso deste artigo, o que se deu reverterá em favor de estabelecimento local de

beneficência,acritériodojuiz”.

Damesmaforma,nadisciplinadopoderfamiliar,preceituaoart.1.638:

“Art.1.638.Perderáporatojudicialopoderfamiliaropaiouamãeque:

Page 117: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

I—castigarimoderadamenteofilho;

II—deixarofilhoemabandono;

III—praticaratoscontráriosàmoraleaosbonscostumes;

IV—incidir,reiteradamente,nasfaltasprevistasnoartigoantecedente”.

Issosemcontaro fatodequeconsideramosqueaenumeraçãoexpressados

elementos de validade do negócio jurídico pelo Código Civil é imprecisa,

justamenteporque,dentrodosentidodasuadisciplina,aquestãodamoralidade

é,sim,umrelevanteaspectoparaoreconhecimentodavalidade 105.

Comojáafirmamos,“tambémnãoseadmitiriaacelebraçãodeumcontratode

prestaçõesdeserviçossexuais—e,consequentemente,umaeventualcobrança

judicialpeloinadimplementodacontraprestaçãopecuniária—pelofundamento

daimoralidadedaavença” 106.

Feitas tais considerações prévias, enfrentemos o instituto do dano moral, a

partirdeseuconceitoedenominação.

3.CONCEITOEDENOMINAÇÃO

Odanomoral consiste na lesão de direitos cujo conteúdo não é pecuniário,

nemcomercialmenteredutíveladinheiro.Emoutraspalavras,podemosafirmar

queodanomoraléaqueleque lesionaaesferapersonalíssimadapessoa(seus

direitosdapersonalidade),violando,porexemplo,suaintimidade,vidaprivada,

honraeimagem,bensjurídicostuteladosconstitucionalmente 107.

A apreensão deste conceito é fundamental para o prosseguimento do nosso

estudo,notadamentenoquedizrespeitoaofatodealesãosedaremdireitos—

repita-se!—“cujoconteúdonãoépecuniário,nemcomercialmenteredutívela

Page 118: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

dinheiro”.

Repisamosesseaspectodeformaaafastardenossaanálise,deumavezpor

todas, qualquer relação ao efeito patrimonial do dano moral ocorrido, pois

muitosdosdebatessobreamatéria(nestecaso,bastanteinfrutíferos)residemna

buscadeumaquantificaçãododanomoralcombasenosseusreflexosmateriais.

Ora,seháreflexosmateriais,oqueseestáindenizandoéjustamenteodano

patrimonialdecorrentedalesãoàesferamoraldoindivíduo,enãoodanomoral

propriamentedito.

Nãoéesta,definitivamente,anossaproposta,poispretendemosdemonstrara

tutela dos direitos da personalidade pelo vigente ordenamento jurídico, com a

possibilidadedecompensaçõespecuniáriasemcasodeviolações.

Apesardejátermospropostoumconceitodedanomoral,faz-semistertecer

algunscomentáriossobreadenominaçãoutilizada.

Isso porque adotamos a expressão “dano moral” somente por esta estar

amplamente consagrada na doutrina e jurisprudência pátria. Todavia,

reconhecemos que ela não é tecnicamente adequada para qualificar todas as

formasdeprejuízonãofixávelpecuniariamente.

Mesmo a expressão “danos extrapatrimoniais”, também de uso comum na

linguagem jurídica, pode se tornar equívoca, principalmente se for comparada

comaconcepçãode“patrimôniomoral”,cadavezmaisutilizadanadoutrinae

jurisprudência,quesupostamenteabrangeria,entreoutrosdireitostuteladospelo

ordenamento jurídico, a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem da

pessoa.

Page 119: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Melhorseriautilizar-seotermo“danonãomaterial”parasereferiralesõesdo

patrimônio imaterial, justamente em contraponto ao termo “dano material”,

comoduasfacesdamesmamoeda,queseriao“patrimôniojurídico”dapessoa,

físicaoujurídica.

Entretanto, como as expressões “dano moral” e “dano extrapatrimonial”

encontram ampla receptividade, na doutrina brasileira, como antônimos de

“dano material”, estando, portanto, consagradas em diversas obras relevantes

sobre o tema 108, utilizaremos indistintamente as três expressões (danomoral,

danoextrapatrimonialedanonãomaterial),semprenosentidodecontraposição

aodanomaterial.

4.BREVENOTÍCIADEPRECEDENTESHISTÓRICOSSOBREODANOMORAL

Emboraaaceitaçãodaamplareparabilidadedosdanosmoraissejatesequesó

há pouco tempo se tornou razoavelmente pacífica na maioria das legislações

contemporâneas, a história das nações nos demonstra, de forma clara, que

semprehouvepreceitosnormativosqueamparavamalgumasdessaspretensões.

Vejamos, portanto, alguns precedentes históricos de reparabilidade do dano

moral.

4.1.CódigodeHamurabi

ParaVeitValentim,o“CódigodeHamurabifoioprimeironahistóriaemque

predominamideiasclarassobredireitoeeconomia” 109.

Trata-sedeumsistemacodificadodeleis,surgidonaMesopotâmia,atravésdo

Page 120: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

rei da Babilônia, Hamurabi (1792-1750 a.C.), também conhecido por Kamo-

Rábi,quereviu,adaptoueamplioudiversasleissumériaseacadianas.

Tal código contém 282 dispositivos legais e foi descoberto graças a uma

expedição francesa, chefiada pelo arqueólogo Jacques Morgan, sendo tais

dispositivosconhecidospor intermédiodeumaversãogravadaemumaestrela

de basalto negro, encontrada originalmente em Susa-Irã, mas que hoje é

conservadanoMuseudoLouvre.

Seuprincípiogeraleraaideiadeque“ofortenãoprejudicaráofraco”,pelo

que sua interpretação nos demonstra que havia uma preocupação constante de

conferir ao lesado uma reparação equivalente, o que ficou mais conhecido

atravésdoseucélebreaxiomaprimitivo“olhoporolho,dentepordente”(alei

deTalião),constantedosparágrafos196,197e200docódigo:

“§196.Seumawilumdestruirumolhodeumawilum:destruirãoseuolho” 110.

“§197.Sequebrouoossodeumawilum:quebrarãooseuosso”.

“§200.Seumawilumarrancouumdentedeumawilumigualaele:arrancarãooseudente”.

Como observa Clayton Reis, a “noção de reparação de dano encontra-se

claramente definida no Código de Hamurabi. As ofensas pessoais eram

reparadasnamesmaclassesocial,àcustadeofensasidênticas.TodaviaoCódigo

incluíaaindaareparaçãododanoàcustadepagamentodeumvalorpecuniário”.

Confira-se,por exemplo,oquedispõemos seusparágrafos209,211e212,

que ordenavam o pagamento de uma indenização a favor da vítima, em valor

pecuniáriovigente:

“§209.Seumawilumferiro filhodeumoutroawilume, emconsequênciadisso, lhe sobrevier um

aborto,pagar-lhe-ádezciclosdepratapeloaborto” 111.

Page 121: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Note-se que este primeiro trecho se refere a hipótese de pessoas demesma

classe (awilum = homem livre). Contudo, também havia previsão para

indivíduosdeclassesdistintas:

“§211.SepelaagressãofezafilhadeumMuskenunexpeliro(fruto)deseuseio:pesarácincociclosde

prata”.

“§212.Seessamulhermorrer,elepesarámeiaminadeprata” 112.

Embora a noção inicial desta cominação legal fosse a de aplicação de

penalidade,oilustreprofessormineiroWilsonMelodaSilvajádestacavaquese

tratade“certospreceitosque,estabelecendoumaexceçãoaodireitodevindita,

ordenava,emfavordavítima,opagamentodeumaindenização,oquedenuncia

um começo da ideia de que resultou modernamente a chamada teoria da

compensaçãoeconômica,satisfatóriadosdanosextrapatrimoniais” 113.

Outrahipótesede lesão extrapatrimonial pode ser encontradano§127, que

tratava da “injúria e difamação da família” (Capítulos IX eX), nos seguintes

termos:

Ҥ127.Seumhomemlivreestendeuodedocontraumasacerdotisa,oucontraaesposadeumoutroe

nãocomprovou,arrastarãoelediantedojuizeraspar-lhe-ãoametadedoseucabelo”.

Sobreestedispositivo,comentaAugustoZenuNquesetratade“umapenade

reparaçãododanomoral,quesenãorefereadinheiroouaqualqueroutracoisa

econômica,dondeseconclui,demaneiraclaraeinsofismável,queàquelaépoca

jásereconheciaodanomoral,cujareparaçãonadatinhadepecúnia” 114.

Sendo assim, verificamos que o Código de Hamurabi buscava, indubita-

velmente,a reparaçãodas lesõesocorridas,materiaisoumorais,condenandoo

agentelesanteasofrerofensasidênticas(aplicaçãoda“LeideTalião”)oupagar

Page 122: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

importânciasemprata(moedavigenteàépoca).

4.2.AsLeisdeManu

Manu Vaivasvata, na mitologia hindu, foi um homem que, extremamente

respeitado pelos brâmanes (membros da mais alta casta daquela sociedade),

sistematizouasleissociaisereligiosasdoHinduísmo.

Embora a existência histórica de Manu seja discutível, a verdade é que o

conjuntonormativoconhecidopor“CódigodeManu”atéhojeinterferenavida

socialereligiosadaÍndia,ondeoHinduísmoaindaéaprincipalreligião.

Confrontando-o com o Código de Hamurabi, não há como negar que, do

pontodevistadacivilizaçãomoderna,oCódigodeManusignificouumavanço,

eisque,enquantonoprimeiro,aprioridadeeraoressarcimentodavítimaatravés

de uma outra lesão ao lesionador original (dano que deveria ser da mesma

natureza), o segundodeterminava a sanção através dopagamentode umcerto

valorpecuniário.

Assim, como aponta CLAYTONREIS, “suprimiu-se a violência física, que

estimulavanovareprimendaigualmentefísica,gerandodaíumciclovicioso,por

um valor pecuniário. Ora, a alusão jocosa, mas que retrata uma realidade na

história do homem, onde o bolso é a parte mais sensível do corpo humano,

produzoefeitodeobstareficazmenteoanimusdodelinquente” 115.

4.3.OAlcorão

O Alcorão também nos traz exemplos de repressão histórica às lesões na

esfera extrapatrimonial, conforme se verifica de seu item V, nos seguintes

Page 123: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

termos:

“V.Oadúlteronãopoderácasar-sesenãocomumaadúlteraouumaidólatra.Taisuniõesestãovedadas

aoscrentes”.

Talproibiçãodemonstraqueoadultériosecaracteriza,paraosmuçulmanos,

comoumaautênticalesãoaopatrimôniomoraldosindivíduos,correspondendoa

restriçãosupraindiscutivelmenteaumaformadecondenação.

Vê-se, também, que há preceitos, no Alcorão, explicitamente inspirados no

CódigodeHamurabi,como,porexemplo,oversículo127docapítuloXVI,que

reza:“Sevosvingardes,queavossavingançanãoultrapasseaafrontarecebida.

Porém,aquelesquesofreremcompaciênciafarãoumaaçãomaismeritória”.

4.4.ABíbliaSagrada

Nolivrosagradodoscristãos,maisprecisamenteemseuAntigoTestamento,

encontramosalgumaspassagensquetratam,semsombradedúvida,dareparação

dedanosmorais.

“Se um homem tomar umamulher por esposa e, tendo coabitado com ela, vier a desprezá-la, e lhe

imputarfalsamentecoisasescandalosasecontraeladivulgarmáfama,dizendo:‘Tomeiestamulhere,

quandomechegueiaela,nãoacheinelaossinaisdavirgindade’,entãoopaieamãedajovemtomarão

ossinaisdavirgindadedamoça,eoslevarãoaosanciãosdacidade,àporta;eopaidajovemdiráaos

anciãos: ‘Eudeiminha filhapara esposa a estehomem, e agora ele adespreza, e eisque lhe atribui

coisasescandalosas,dizendo:—Nãoacheinatuafilhaossinaisdavirgindade;porémeisaquiossinais

davirgindadedeminhafilha’.Eelesestenderãoaroupadiantedosanciãosdacidade.Entãoosanciãos

daquelacidade,tomandoohomem,ocastigarão,e,multando-oemcemciclosdeprata,osdarãoaopai

damoça,porquantodivulgoumáfamasobreumavirgemdeIsrael.Elaficarásendosuamulher,eele

portodososseusdiasnãopoderárepudiá-la”(Deuteronômio,22:13-19).

Como se vê, a honra era amplamente tutelada noVelhoTestamento, pois o

Page 124: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

motivoparaaaplicaçãodocastigocorporal,indenizaçãopecuniáriaeproibição

de jamais se divorciar era a divulgação de “má fama sobre uma virgem de

Israel”.

Oaltovalordacastidade,queoIsraelprimitivoadotoucomoseupadrãoeseu

orgulho, é refletido na afirmação de Tamar em II Samuel, 13:11-13 (“E

chegando-lhos,paraquecomesse,pegoudela,edisse-lhe:Vem,deita-tecomigo,

irmãminha.Porémelalhedisse:Não,irmãomeu,nãomeforces,porquenãose

faz assim em Israel; não faças tal loucura. Porque aonde iria eu com aminha

vergonha?E tu seriascomoumdos loucosde Israel.Agora,pois,peço-teque

falesaorei,porquenãomenegaráati”).

Podemos, ainda, lembrar de um outro trecho específico de reparação

pecuniáriadedanomoralsofridoemDeuteronômio,22:28-29:

“Seumhomemencontrarumamoçavirgemnãodesposadae,pegandonela,deitar-secomela,eforem

apanhados,ohomemquedelaabusoudaráaopaida jovemcinquentaciclosdeprata,e,porquantoa

humilhou,elaficarásendosuamulher;nãoapoderárepudiarportodososseusdias”.

Também nesse trecho verificamos a indenização (note-se que não se trata

tecnicamentedemulta,poisreverteaopaidamoça)comoformadereparaçãodo

danomoral,aliadaàcondenaçãonaproibiçãodedivórcio.

4.5.Gréciaantiga

Acivilizaçãogregaassumiuumpapelimportantíssimonahistóriadohomem

e, graças aos seus pensadores, seu sistema jurídico atingiu pontos bastante

elevados,comreflexos,inclusive,navigenteTeoriaGeraldoEstado.

Asleisgregasoutorgavamaocidadãoeaosseusrespectivosbensanecessária

Page 125: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

proteção jurídica, além de fixaremque a reparação dos danos a eles causados

assumiria sempre um caráter pecuniário, afastando a vingança física e pessoal

comoformadesatisfaçãoaolesado.

Sobre a matéria, Júlio Bernardo do Carmo nos informa que “Demóstenes

receberadeMídiasumaporçãodedinheiro,noqueforareprovadoporEschine,

porquereferiaaumabofetadacomqueaqueletinhasidoatingido” 116.

Já o próprio Homero, na Odisseia (rapsódia oitava, versos de 266 a 367),

refere-se a uma assembleia de deuses pagãos, pela qual se decidia sobre

reparação de dano moral, decorrente de adultério. Hefesto, o marido traído,

surpreendeu,emflagrante,noseupróprioleito,ainfielAfrodite,comoformoso

Ares. Tendo o ferreiro Hefesto reclamado aos deuses uma providência, estes

condenaramAresapagarpesadamulta,informaçãoestaque,mesmomitológica,

jádemonstraohábitodacompensaçãoeconômicapelosdanosextrapatrimoniais.

Semqualquerdúvida,“ainfluênciaculturaldessacivilizaçãofoimarcante,na

medida em que propiciaram o surgimento de legislações de grande conteúdo

político-filosófico,comoaconteceunaantigaRoma” 117.

4.6.DireitoRomano

Superada a época da vingança privada, a noção de reparação pecuniária de

danos era algo extremamente presente entre os romanos, pelo que todo ato

considerado lesivo ao patrimônio ou à honra de alguém deveria implicar uma

consequentereparação 118.

Vale lembrar queUlpiano foi o protagonista dos preceitos do JusNaturale:

Page 126: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

“Suumcuiquetribuere”,“HonesteVivere”e“Alterumnonlaedere”(esteúltimo

tambémconhecidocomo“Neminemlaedere”),significando,respectivamente,os

conceitos de justiça baseados no “dar a cada um o que é seu”, “viver

honestamente”e“nãolesaroutrem”.

A preocupação com a honra, inclusive, era profunda, traduzindo-se no

brocardo honesta fama est alterium patrimonium (a fama honesta é outro

patrimônio),oquedemonstraapossibilidadedereparação,aindaquepecuniária,

dalesãoàboaconduta,hámaisde2000anos.

NaLeidasXIITábuas(surgidasobaégidedeTerentiloArsa,oTribunodo

Povo), encontramos, inclusive, várias disposições concernentes à reparação de

danos,ondeobviamente se insereo ressarcimentodosdanosde carátermoral,

amplamentetutelados.

Oscidadãosromanos,queeventualmentefossemvítimasdeinjúria,poderiam

valer-sedaaçãopretorianaaquesedenominavainjuriarumaestimatoria.Nesta,

reclamavam uma reparação do dano através de uma soma em dinheiro,

prudentemente arbitrada pelo Juiz, que analisaria, cautelosamente, todas as

circunstânciasdocaso.

Oobjetivodestaaçãoerareparareprotegerosinteressesdovitimado,oque

podeserverificadodaleituradosseguintestrechosdaTábuaVII(Dedelictis)da

LeidasXIITábuas:

“§1.ºSeumquadrúpedecausadano,queoseuproprietárioindenizeovalordessesdanosouabandone

oanimalaoprejudicado”.

“§2.ºSealguémcausaumdanopremeditadamentequeorepare”.

“§5.ºSeoautordodanoéimpúbere,quesejafustigadoacritériodopretoreindenizeoprejuízoem

Page 127: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

dobro”.

“§8.ºMas,seassimagiuporimprudência,querepareodano;senãotemrecursosparaisso,queseja

punidomenosseveramentedoquesetivesseintencionalmente”.

“§9.ºAquelequecausardanoleveindenizará25asses” 119.

Ҥ12.Aquelequearrancarouquebrarumossoaoutremdevesercondenadoaumamultade300asses,

seoofendidoéhomemlivre;ede150asses,seoofendidoéumescravo”.

“§ 13. Se o tutor administra com dolo, que seja destituído como suspeito e com infâmia; se causou

algumprejuízoaotutelado,quesejacondenadoapagarodobroaofimdagestão”.

Amelhor interpretaçãodos§§2.ºe9.º supratranscritoséaque reconhecea

possibilidade,aindaprimária,dereparaçãodosdanosmoraispelosromanos,eis

queestesnãoquestionavamaque títuloodanoera intentado,mas somente se

esteefetivamenteocorreu,oquegerariaautomaticamenteaobrigatoriedadede

reparar.

4.7.DireitoCanônico

Podemosencontrar,noantigoDireitoCanônico,diversaspassagensemquese

constatamregrastípicasdetuteladahonra.

Nota-se, inclusive, que havia preocupação específica de se determinar

reparação pelos danos morais e materiais, consignando dispositivos que as

legislações seculares, sob a influência constante da Igreja Católica, acabaram

adotando.

A ruptura da promessa de casamento tinha, por exemplo, uma condenação

especial(“arrasesponsalícias”,queseconfiguramcomocláusulapenal),rezando

o§3.ºdocânone1.017:

“At exmatrimonii promissione, licet valida sit nec ulla iusta causa ab eadem implenda excuset, non

Page 128: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

datur actio ad petendam matrimonii celebrationem; datur tamen ad reparationem damnorum, si qua

debeatur” 120.

Previa-setambémapossibilidadedelesõesdecorrentesdacalúniaedainjúria,

em que se determinava a reparação de forma dúplice, com sanções de ordem

materialemoral,conformetextodocânone2.355:

“Siquisnonre, sedverbisvel scriptisvelaliaquavis ratione injuriarumcuiquamirrogaveritveleius

bonamfamamlaesserit,nonsolumpotestaanormamcan.1618,1938,cogiaddebitamsatisfactionem

praestandamdamnaquereparanda,sedpraestereacongruispoenisacpoenitentiispuniri,nonexclusa,si

declercisagaturetcasusferat,suspensioneautremotioneabofficioetbeneficio” 121.

OCódigodaIgrejadeterminava,inclusive,aaplicaçãodesanções,tantopara

religiosos quanto para leigos, podendo ser destacada, como exemplo de pena

canônica,a“infâmia”(perdaoudiminuiçãodaboareputação,porcausadomau

comportamentooupráticadeumdelito).

Contudo,segundonosinformaAPARECIDAI.AMARANTE,o

“direitocanônicoatual(Códigode27/novembro/1983)seguepensamentodadoutrinajurídicamoderna.

Nãodeixadeenunciarpenalidadesparacleroeleigos,umavezqueambosformamoconjunto‘povode

Deus’.Entretanto,utilizaexpressõesefigurasmaisamenascomo‘advertir’,‘repreender’,evitandoos

nomesutilizadosnoCódigoanterior ‘infâmia’, ‘degradação’,osquais causariamespantoaos leitores

contemporâneos.Ocânone220,inseridonoTítuloI(ObrigaçõeseDeveresdosFiéis)doLivroII(Do

Povo deDeus), namais acurada doutrina determina: ‘A ninguém é lícito lesar ilegitimamente a boa

famadeque alguémgoza, nemviolar o direito de cadapessoadedefender a própria intimidade’.A

reparaçãododanocausadoporqualquerdelitoestáprevistanocânone1.729,queadotaa‘constituição

departecivil’noprocessopenal” 122.

4.8.Evoluçãohistórico-legislativanoBrasil

NoBrasilColonial,duranteavigênciadasOrdenaçõesdoReinodePortugal,

nãoexistiaqualquerregraexpressasobreoressarcimentododanomoral,sendo

Page 129: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

bastantequestionávelqualquerafirmaçãodesuapossibilidadenaquelemomento

histórico.

Como adventodoprimeiroCódigoCivil brasileiro (Lei n. 3.071, de1.º de

janeirode1916,comvigorapartirde1.ºdejaneirode1917),aredaçãodosarts.

76(eparágrafoúnico) 123,79 124e159 125levouàsprimeirasdefesasdateseda

reparabilidadedodanomoral.

Neste sentido,ClóvisBeviláqua, autor do projeto deCódigoCivil de 1916,

prelecionava:

“Emmeusentir,osistemadoCódigoCivil,nassuaslinhasgerais,relativamenteaopontoquestionado,

éoseguinte:a)Tododanosejapatrimonialounão,deveserressarcido,porquemocausou,salvantea

excusadeforçamaiorque,aliás,algumasvezesnãoaproveita,porvirprecedidadeculpa.Éregrageral

sujeita a excepção; b) Com razão mais forte, deve ser reparado o damno proveniente de ato ilícito

(artigos159e1.518);c)Paraareparaçãododamnomoral,aquellequesesentelesadodispõedeacção

adequada(artigo76,parágrafoúnico);d)Masodamnomoral,nemsempre,éressarcível,nãosomente

pornãosepoderdar-lhevaloreconômico,pornãosepoderapreçá-loemdinheiro,comoainda,porque

essainsufficiênciadosnossosrecursosabreaportaaespeculaçõesdeshonestas,acobertadaspelomanto

(...) de sentimentos affectivos. Por isso o Código Civil afastou as considerações de ordem

exclusivamente moral, nos casos de morte e de lesões corpóreas não deformantes (artigos 1.537 e

1.538); e)Attendeu, porém, a essas considerações, no caso de ferimentos, que produzemaleijões ou

deformidades (artigo 1.538, parágrafos 1.º e 2.º); tomou em consideração o valor da affeição,

providenciando,entretanto,paraimpediroarbítrio,odesvirtuamento(artigo1.543);asoffensasàhonra,

à dignidade e à liberdade são outras tantas formas de damno moral, cuja indemnização o Código

disciplina; f) Além dos casos especialmente capitulados no Código Civil, como de damno moral

resarcível outros existem que elle remette para o arbitramento, no artigo 1.553, que se refere,

irrecusavelmente, a qualquermodalidadede damno, seja patrimonial oumeramente pessoal. (...).Ao

contrário, a irreparabilidade do damno moral apparece no Código como excepção, imposta por

consideraçõesdeordemethicaemental.AreparaçãoéaregraparaoDamno,sejamoral,sejamaterial.

Airreparabilidadeéexcepção” 126.

Page 130: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Contudo,emfunçãodeoart.159nãose referir expressamenteàs lesõesde

naturezaextrapatrimonial,bemcomoaargumentaçãodequearegracontidano

art. 76 se referia a dispositivo de ordem processual, condicionando,

simplesmente, o exercício do direito de ação à existência de um interesse, a

doutrina e jurisprudência nacional 127 passaram a negar, peremptoriamente, a

tesedareparabilidadedosdanosmorais.

Não se pode negar, porém, que sobrevieram leis especiais regulando

especificamenteoassunto,demaneirasetorial,dentreasquaispodemoscitaro

CódigoBrasileirodeTelecomunicações,de27deagostode1962(Lein.4.117);

oCódigoEleitoral,de15dejulhode1965(Lein.4.737);aLeideImprensa,de

9 de fevereiro de 1967 (Lei n. 5.250 — ora revogada); a Lei dos Direitos

Autorais,de14dedezembrode1973(Lein.5.988);e,depoisdapromulgação

daConstituiçãoFederalde1988,oEstatutodaCriançaedoAdolescente(Lein.

8.069,de13de julhode1990);oCódigodeDefesadoConsumidor,de11de

setembro de 1990 (Lei n. 8.078), todas elas contendo dispositivos específicos

sobre a reparação dos danos extrapatrimoniais 128. Lembre-se, ainda, a Lei da

AçãoCivilPública(Lein.7.347/85),comasmodificaçõesimpostaspelaLein.

8.884/94,fazendocomquetambémosdanosmoraispossamserobjetodeação

de responsabilidade civil em matéria de tutela dos interesses difusos e

coletivos 129.

Apesar das ilustres vozes discordantes, prevaleceu, portanto, no direito

brasileiro,numprimeiromomento,ateseproibitivadaressarcibilidadedodano

moral,admitindo-asomenteemhipótesesespeciaisexpressamenteprevistasno

CódigoCivilouemleisextravagantes.

Page 131: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Somente,defato,comapromulgaçãodavigenteConstituiçãoFederal,em5

de outubro de 1988, é que se pode falar, indubitavelmente, da ampla

reparabilidade do dano moral no direito pátrio, pois a matéria foi elevada ao

statusdos“DireitoseGarantiasFundamentais”(TítuloIIdaCF/88).

Sobreaquestão,ensinaCaioMáriodaSilvaPereiraquea

“ConstituiçãoFederalde1988veiopôrumapádecalna resistênciaà reparaçãododanomoral. (...)

Destarte,oargumentobaseadonaausênciadeumprincípiogeraldesaparece.Eassim,areparaçãodo

danomoralintegra-sedefinitivamenteemnossodireitopositivo.(...)Édeseacrescerqueaenumeração

émeramenteexemplificativa,sendolícitoàjurisprudênciaeàleiordináriaaditaroutroscasos.(...)Com

asduasdisposiçõescontidasnaConstituiçãode1988oprincípiodareparaçãododanomoralencontrou

obatismoqueainseriuemacanonicidadedenossodireitopositivo.Agora,pelapalavramaisfirmee

maisaltadanormaconstitucional,tornou-seprincípiodenaturezacogenteoqueestabeleceareparação

pordanomoralemnossodireito.Obrigatórioparaolegisladoreparaojuiz” 130.

OatualCódigoCivilbrasileiro(Lein.10.406,de10-1-2002),adequando,de

forma expressa, a legislação civil ao novo perfil constitucional, reconhece

expressamente, em seu art. 186, o instituto do dano moral 131 e,

consequentemente,porforçadoart.927,asuareparabilidade 132.

5.DANOMORALDIRETOEINDIRETO

Apenasporumaquestãoderigoracadêmico,consideramossalutardistinguir

o dano moral direto e o dano moral indireto, eis que se constituem em

classificações oriundas do requisito “causalidade entre o dano e o fato”,

imprescindívelparaaconfiguraçãododanoindenizável.

O primeiro se refere a uma lesão específica de umdireito extrapatrimonial,

comoosdireitosdapersonalidade.

Page 132: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Jáodanomoralindiretoocorrequandoháumalesãoespecíficaaumbemou

interessedenaturezapatrimonial,masque,demodoreflexo,produzumprejuízo

na esfera extrapatrimonial, como é o caso, por exemplo, do furto de um bem

comvalorafetivoou,noâmbitododireitodotrabalho,orebaixamentofuncional

ilícito do empregado, que, além do prejuízo financeiro, traz efeitos morais

lesivosaotrabalhador.

Éinteressantediferenciarodanomoral indiretododanomoralemricochete

(ou dano reflexo). No primeiro, tem-se uma violação a um direito da

personalidade de um sujeito, em função de um danomaterial por ele mesmo

sofrido;nosegundo,tem-seumdanomoralsofridoporumsujeito,emfunçãode

um dano (material ou moral, pouco importa) de que foi vítima um outro

indivíduo,ligadoaele.

6.REPARABILIDADEDODANOMORAL

Areparabilidadedodanomoral,conformevimos,étemaquevemsuscitando

diversas controvérsias na doutrina nacional e estrangeira, somente tendo se

pacificado, na ordem constitucional brasileira, com o advento daConstituição

Federalde1988,queprevêexpressamenteindenizaçõespordanomoralemseu

art. 5.º,V eX, trilha seguida, inclusive, comonãopoderia deixar de ser, pelo

atualCódigoCivilbrasileiro.

Vejamos,contudo,osargumentosdosquepropugnavampelairreparabilidade

dodanomoral.

6.1.Argumentoscontraareparabilidadedodanomoral

Page 133: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

ZulmiraPiresdeLima,embrilhanteepioneiroestudopublicadonoBoletim

da Faculdade de Direito de Coimbra (citado por todos os autores que

enfrentaramseriamenteaquestãodareparabilidadedodanomoral),sintetizaas

objeções à reparabilidade do dano extrapatrimonial em 8 (oito) sintéticos e

precisostópicos,aseguirtranscritos:

“1.ºFaltadeumefeitopenosodurável;

2.ºAincertezanestaespéciededanos,deumverdadeirodireitoviolado;

3.ºAdificuldadededescobriraexistênciadodano;

4.ºAindeterminaçãodonúmerodepessoaslesadas;

5.ºAimpossibilidadedeumarigorosaavaliaçãoemdinheiro;

6.ºAimoralidadedecompensarumadorcomdinheiro;

7.ºOilimitadopoderquetemdeconferir-seaojuiz;

8.ºAimpossibilidadejurídicadeadmitir-setalreparação” 133.

Analisemos,separadamente,cadaumadessasobjeções:

6.1.1.Faltadeumefeitopenosodurável

Este argumento tinha comopressupostobásico a ideia dedano intimamente

relacionadacomadiminuiçãodoprazer,nãoimportandoqueodireitoofendido

seja moral ou material. A ofensa ao chamado “patrimônio moral”, segundo

GABBA, seria um fenômeno com efeito moral temporário, não merecendo o

nomede“dano”,masdesimples“ofensa”.

Zulmira Pires de Lima, criticando veementemente este argumento, observa

que se a ideia de dano “dependesse da duração da sensação penosa, para

sabermosseumaofensaàhonra,àliberdadeetc.eramounãojuridicamenteum

Page 134: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

danomoral,precisávamosdeindagarotempoqueduraessasensação” 134,oque

éimpraticáveldopontodevistamédicoepsicológico.

A questão da maior ou menor duração dos efeitos da lesão somente pode

influirnaformaeintensidadedesuareparação,quevariaráquantitativamentede

acordocomascircunstâncias,enão,obviamente,nadiscussãodareparabilidade

do dano, que se constitui sempre em uma ofensa, devendo ser reparado na

medidadeseusefeitos.

Alémdisso,nãosepodedescartarofatodequepodemocorrer“doresmorais”

que durem a vida inteira, gerando perversos efeitos psicológicos e sociais,

levando, não raramente, a uma decadência física ou mesmo ao suicídio. E, a

contrariosensu,senocampodosdanosmateriaisapermanênciada lesãooua

sua durabilidade é a regra comum, não se pode negar que existem danos

materiaispassageiros,comoéoexemplodeumaagressãofísica,quegerauma

feridacurávelempoucosdias 135.

6.1.2.Incertezadeumverdadeirodireitoviolado

Esta objeção da incerteza, nos danos morais, de um verdadeiro direito

realmente violado foi sustentado pelo jurista italiano CHIRONI, como se

verificadoseguintetrecho:

“Ladottrinaordescrittanellesuelineegenerali,rivelainmoltepartiesagerazionieincertezze.Esagera,

quandononosservandoiterminielaragiondell’ingiuria,senzalaqualenonvihafattoillecito,eperciò

responsabilità, insegna che il solo affetto se offeso, sia cagion valida di danno risarcibile: dovrebbe

infattipreoccuparsi,dericercareprimadeldanno,seesiste,edincheconsista,ildirittoviolato” 136.

MINOZZI,noentanto,lherefutaaobjeçãoàaltura,aodeclararqueésempre

umasóacausadodano(aaçãoouomissãodolesante),poucoimportandoqueo

Page 135: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

bemouodireitolesadossejammateriaisoumorais.Odanoéquesebiparteem

materialoumoral,segundoanaturezadaperdaquedetermine.

Dessaforma,confunde-secausacomefeito,pois,segundoaindaMINOZZI,o

dano não patrimonial não é a abstrata lesão do direito, mas o efeito não

patrimonialdeumalesãodedireito 137.

A falha na argumentação de CHIRONI, portanto, reside no fato de não ter

percebidoqueodanomoraléoefeitonãopatrimonialdalesãodeumdireitoe

não a lesão de um direito especial e abstrato a que não se reconhece valor

jurídico.

Anãomaterializaçãoimediatadodanoemvaloreseconômicosnãoquerdizer

queelesejaetéreo.Emverdade,acertezadodanodecorredaefetivaviolaçãodo

direitonaesferaextrapatrimonial.Ofatodeosefeitosdodireitovioladoserem

imateriaisnãoimplicaeminocorrênciadeviolação,tampouconainexistênciade

direitolesado.

6.1.3.Dificuldadededescobriraexistênciadodano

O terceiro argumento, nas palavras de Zulmira Pires de Lima, reside no

entendimentodealgunsautores“queéimpossívelnamaioriadoscasos,senão

em todos,descobrir seoofendidosofreu realmenteumador,comapráticado

factoilícitoeojuizpodeacadapassoverumverdadeirosofrimentoondenãohá

maisdoqueumahipocrisiadissimuladaqueelenãoconseguedesmascarar” 138.

No nosso entendimento, acreditamos que o argumento tem sua lógica,

enquanto elemento de retórica, mas cai por terra quando confrontado com a

Page 136: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

moralidademédiadocidadãocomum.

Há situações em que não há como não se reconhecer a existência do dano

moral,comoéocaso,porexemplo,dadorqueospaisfatalmentesofremcoma

mortedeumfilho.

Nesses casos, se o fato for imputável a outrem, não deve existir qualquer

hesitação,porpartedoEstado,noreconhecimentojudicialdeumacompensação

pelodanocausado,danoesteque—sabemos—jamaispoderáserreparadona

suaintegralidade.

Contudo,podemocorrer,defato,algumascircunstânciasemquefiquedifícil

paraomagistradodescobriraverdadeiraexistênciado“danomoral”,masissose

configuramaiscomoumasimplesdificuldadedeordemprobatóriadoqueum

impedimentoàressarcibilidadedodano.

Nestes casos, é plenamente razoável que se exija do magistrado um

pronunciamentoexpressoseofatoalegado,dopontodevistadarazoabilidade

humana, pode ser considerado ensejador de uma lesão efetiva ao patrimônio

moral,negandoterminantementeapretendida“reparação”quandooconsideraro

alegadodanomerofrutodeumasensibilidadeexacerbada,nãocompatívelcom

ossentimentosdohomemmediano.

Emverdade,comoafirmaSérgioSevero,

“a dor não é elemento essencial do dano extrapatrimonial,mas, nas situações emque ela deve estar

presente, omecanismo de aferição não pode correr o risco do subjetivismo.Dessemodo, o critério

objetivo do homem-médio (reasonable man, bonus pater familiae) é bastante razoável, i. e., nas

situaçõesemqueumapessoanormalpadeceriadeumsofrimentoconsiderável,forma-seumapresunção

juristantumdeque sofreuumdanoextrapatrimonial.Talpresunçãopode ser afastadapelaprovaem

Page 137: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

contrário” 139.

NaopiniãodeMariaHelenaDiniz,aprovadaexistênciadodanomoral“não

é impossível ou difícil, visto que, se se tratar de pessoas ligadas à vítima por

vínculo de parentesco ou de amizade, haveria presunção juris tantum da

existênciadedanomoral” 140.

6.1.4.Indeterminaçãodonúmerodepessoaslesadas

Este argumento tem por base a tormentosa questão da legitimidade para

pleitear a reparação do dano moral, intimamente relacionada com o tópico

anterior.

Em sua monumental obra A Regra Moral nas Obrigações Civis, Georges

Ripertescreveusobreamatéria,nosseguintestermos:

“Amaisgravedificuldadequeseapresentaaquiconsisteemdeterminarasvítimasque têmdireitoà

reparação. Quando se trata de um prejuízo pecuniário, sabe-se que o patrimônio foi atingido e

geralmenteafaltanãovisasenãoaumapessoaouumsópatrimônio;quando,pelocontrário,setratade

sentimentosatingidos,surgeoproblema.

Sesequiseraplicaraquiasregrasdaresponsabilidadecivil,oproblemaentãotorna-seinsolúvel.Cada

pessoa lesada nos seus sentimentos é vítima da culpa; mas a existência do prejuízo e o nexo de

causalidade existente entre culpa e prejuízo são incontroláveis. O prejuízo resulta, na realidade, da

receptividade da vítima.É a sua sensibilidade que está em causa. ‘Umestoico de coração seco’ não

sofrecomamortedumparente;umamigodecoraçãosensívelsofreumagrandedorcomamortedo

seuamigo.É,deresto,porissoqueonúmerodevítimaséilimitado;todossejulgamvítimas” 141.

Ora,tantoparaestaobjeçãoquantoparaaanterior(“dificuldadededescobrir

a existência do dano”), parece-nos definitivamente que o que faltou aos

opositoresdareparabilidadedodanomoralfoiacoragemparadeclararquetodo

aquelequeefetivamentesofrerumalesão,mesmodenaturezaextrapatrimonial,

Page 138: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

deveterdireitoàindenização.

Cria-seapresunçãohominisdelegitimidadeparaosparentespróximos(paise

filhos)somentepelofatodequealigaçãosanguíneagera,emregra,umvínculo

afetivo para o “homem médio”. Essa presunção, entretanto, é juris tantum,

admitindo-se prova em contrário da inexistência de afetividade com a vítima

diretadodano.

Lembrando,novamente,WilsonMelodaSilva:

“Assim,pois,emtese,haverásempredireitoàindenização,pordanosmorais,paratodosaquelesque

foremlesados.

Esta é a norma, a regra geral. E, desta forma, o amigo, o parente próximo ou afastado, a própria

concubina, se lesados em seu patrimônio moral pelo evento causador do dano, todos eles poderão

pleitearareparação.

Não vemos, sinceramente, motivo algum racional para se estabelecer uma limitação à regra,

determinando-se que tal direito só assista aos parentes da vítima ou a essa ou àquela pessoa

exclusivamente.

Arealidadedecadadianosestáamostrarqueashipótesesdos‘estoicosdecoraçãoseco’,dequenos

falaRipert,sãoencontradiças” 142.

Sendoassim,bastanterazoávelnospareceoposicionamentodeZulmiraPires

deLima,paraquem

“paraaresoluçãodestadificuldadenãosedeveexigirumcritériorígido,consagradonumalei,masse

devedeixaraojuizafaculdadede,emcadacasoconcreto,esegundoascircunstâncias,verificarquem

sãoaspessoascujadormereceserreparada.

Assim, por exemplo, a dor sentida por um tio (ou até um parentemais afastado) com amorte dum

sobrinhoquecomelevivessedesdecriança,deveserequiparadaàdordumpaiemtaiscircunstâncias.

Nestecasoeemoutrosidênticos,nãorepugnaexigirdoofensorumareparação,pois,emboraêlenão

tenhaqueridocausaradoraosparentesdavítima,averdadeéquedeviapreveradordessaspessoas

comoconsequênciadofactoilícitoquepraticou” 143.

Page 139: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

6.1.5.Impossibilidadedeumarigorosaavaliaçãoemdinheiro

A impossibilidade de uma rigorosa avaliação em dinheiro é um dos pontos

centrais da discussão entre os que aceitam e os que rejeitam a reparação dos

danos morais, pois os primeiros consideram satisfatório um processo de

compensação,aopassoqueseusopositoresexigemumdanomatematicamente

redutívelempecúnia,sobpenadeserindevidaqualquerprestaçãomonetária.

Tal argumento toma por base uma equivocada visão da teoria da

responsabilidade civil, considerando que todos os danos devem ser fixados

pecuniariamente,peloquenuncasepoderiaindenizarodanoextrapatrimonial.

Ora,setalcritériotivessedeserrigidamenteobservado,haveriaatéhipóteses

dedanosmateriaisquenãopoderiamserressarcidos.

Como valorar objetivamente, por exemplo, uma obra de arte? Entenda-se

“valorar objetivamente” como um critério matemático rígido, e não por

parâmetrosabstratoscomocotaçãoemmercados,quepodemvariardeumdia

paraoutro.

Odinheiro,na reparaçãododanoextrapatrimonial,nãoaparececomoa real

correspondênciamonetária, qualitativaouquantitativa,dosbens atingidospela

lesão,porquanto

“nãoreparaador,amágoa,osofrimentoouaangústia,masapenasaquelesdanosqueresultaremda

privação de umbem sobre o qual o lesado teria interesse reconhecido juridicamente.O lesado pode

pleitearumaindenizaçãopecuniáriaemrazãodedanomoral,sempedirumpreçoparasuador,masum

lenitivoqueatenue,emparte,asconsequênciasdoprejuízosofrido,melhorandoseufuturo,superandoo

déficitacarretadopelodano.Nãosepergunta:Quantovaleadordospaisqueperdemofilho?Quanto

valem os desgostos sofridos pela pessoa injustamente caluniada?, porque não se pode avaliar

economicamentevaloresdessanatureza.Todavia,nadaobstaaquesedêreparaçãopecuniáriaaquem

Page 140: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

foi lesado nessa zona de valores, a fim de que ele possa atenuar alguns prejuízos irreparáveis que

sofreu” 144.

Aliás,paraencontrarmosumaespéciede“equivalência”entreadorsofridae

a indenização respectiva, deveríamos substituir, como faz Zulmira Pires de

Lima, a expressão “dor” por “conjunto de sensações dolorosas” e a palavra

“dinheiro” por “conjunto de sensações agradáveis que ele podeproporcionar”,

detalmodoquenoslembrássemosqueovalormonetáriosomenteteminteresse

para o homemnamedida emque lhe servepara a aquisiçãode coisas quede

algummodogeramprazer.Sendoassim,“quandoavaliamosumdanomoralem

dinheiro,fazemo-loporqueéodinheiroointermediáriodetodasastrocas;mas,

nofundo,nãohásenãoumaequivalênciaentreadorqueserecebeucomodano

eoprazerqueodinheiropodenosproporcionar” 145.

Sobreaquantificaçãodosdanosmorais,oqueojulgadordeveteremmenteé

queovalordacondenaçãodeveser,novigenteordenamentojurídicobrasileiro,

decorrente de um arbitramento judicial 146, ainda que a jurisprudência busque

parâmetrosparasefixartalquantumdebeatur 147.

6.1.6.Imoralidadedecompensarumadorcomdinheiro

Na nossa opinião, soa verdadeiramente hipócrita a sexta objeção levantada

contraareparabilidadedodanomoral,poismaisimoraldoquecompensaruma

lesãocomdinheiro,é,semsombradedúvida,deixarolesionadosemqualquer

tutela jurídica e o lesionador “livre, leve e solto” para causar outros danos no

futuro.

Nas palavras de Augusto Zenun, a discussão parece envolvida em

Page 141: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

“convocações sentimentais,morais, quais sejam ‘a dor não tem preço’, ‘a dor

não pode ser avaliada em dinheiro, no equivalente’... Não é assim, pois, para

tudo,há solução,vezquenão se tratade equivalência emdinheiro,masde se

exigir algo, ainda que pecuniário, para se dar satisfação ao ofendido

moralmente” 148.

ConformelembraWilsonMelodaSilva,na

“faltadereparaçãomaisadequada,dodanomoral,deumareparaçãoidealquaseimpossívelnaespécie,

quenãosedeixeavítimasemreparaçãoqualquer.Ocontrárioseriaanegaçãodosprópriospostulados,

superiores,daJustiça.Dificuldadenãoéimpossibilidade.Esenãosepodebanirporcompleto,daalma

dolesado,agrandedorsentida,queseprocure,portodososmeios,umaatenuação,aomenos,paraseu

sofrimento.Quealgosefaçaemseuproveito,aindaquecomaajudamesma,subsidiária,dodinheiro,

comoqual sepropicie a ele algum lenitivo, algumprazer, algumadistração, algumasensaçãooutra,

neutralizadora,deeuforiaoubem-estar” 149.

Éprecisoesclarecersemprequenãoháqualquerimoralidadenacompensação

dadormoralcomdinheiro,tendoemvistaquenãoseestá“vendendo”umbem

moral,massimbuscandoaatenuaçãodosofrimento,nãosepodendodescartar,

por certo, o efeito psicológico dessa reparação, que visa a prestigiar

genericamenteorespeitoaobemviolado.

6.1.7.AmplopoderconferidoaoJuiz

O receio da “ditadura do Judiciário” é que impulsiona a sétima objeção

suscitadacontraareparabilidadedosdanosmorais.

Trata-se de um temor bastante marcado pelo positivismo jurídico,

completando-se pela aceitação das premissas anteriores de que émuito difícil

determinaraexistênciadosdanosextrapatrimoniaisedaimpossibilidadedasua

Page 142: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

quantificação. Como as premissas foram negadas, tal assertiva se reduz a um

dogmasuperado.

Conforme testemunha Sérgio Severo, “a própria experiência jurídica vem

destruindoaquelemedodeumaditaduradosjuízes.Tem-seobservadoquealei

nãopossuiamobilidadedajurisprudênciaparaacompanharoprocessosocialna

resoluçãodedeterminadosproblemas,daíaimportânciacrescentedascláusulas

gerais e dos conceitos indeterminados nos sistemas jurídicos

contemporâneos” 150.

Omagistradonãoé,nemdeveser,umirresponsável,quefixaráaindenização

pelodanomoralaseubel-prazer.Aocontrário,deveráagircomascautelasde

sempre,examinandoascircunstânciasdosautosejulgandofundamentadamente.

Quanto ao juiz, aponta o advogado Augusto Zenun, “não encontra maior

dificuldadeparadecidiressecasodoqueoutroqualquer,poisadificuldadeestá

em cada um e em todos os casos, donde ter lugar a eterna vigilância,

consubstanciadanoprudentearbítriodojuiz,comono-lodizemasleis” 151.

O arbítrio do juiz, entendido no seu sentido técnico e não no pejorativo, é

inevitável, “como em todos os casos de reparação de danos, mesmo dos

puramentemateriais.Nassuasdecisõescomuns,ojuizagesemprecomarbítrio.

Perscruta os elementos probatórios, ouve as razões da parte, pensa, pondera e

resolve.Nãoagecomautomatismoenemoselementosdosautosdão,naregra

geral,acertezadofinalresultadooudafinalsentença” 152.

Além disso, como mais um elemento de superação da objeção oposta,

podemos lembrar que a decisão prolatada sempre será passível de reexame e

Page 143: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

reformajuntoàsinstânciassuperiores.

6.1.8.Impossibilidadejurídicadareparação

Por fim,oúltimoargumentoé refutadopela realidadeexistenteemdiversos

paísesdoglobo,quetêmprevisãoespecíficadareparabilidadedodanomoralem

seusrespectivosordenamentosjurídicos.

Aobjeçãocombasenaimpossibilidadejurídicadeadmissãodareparaçãodo

danomoralchegaaserrisível,poiséinequívocoqueseosbensmoraistambém

são jurídicos, qualquer violação praticada em relação aos mesmos deve ser

objetodetuteladoEstado.

“Se o interessemoral justifica a ação para defendê-lo ou restaurá-lo, é evidente que esse interesse é

indenizável,mesmoqueobemmoralnãoseexprimaemdinheiro.Seaordemjurídicasancionaodever

moraldenãoprejudicarninguém,comopoderiaelaficarindiferenteaoatoqueprejudiqueaalma,se

defendeaintegridadecorporal,intelectualefísica?” 153.

Superadas,portanto,todasasobjeçõesquantoàreparabilidadedodanomoral,

ésempreimportantelembrar,porém,aadvertênciadobrilhanteAntônioChaves,

paraquem

“propugnarpelamaisamplaressarcibilidadedodanomoralnãoimplicanoreconhecimentodetodoe

qualquer melindre, toda suscetibilidade exacerbada, toda exaltação do amor próprio, pretensamente

ferido, à mais suave sombra, ao mais ligeiro roçar de asas de uma borboleta, mimos, escrúpulos,

delicadezas excessivas, ilusões insignificantes desfeitas, possibilitem sejam extraídas da caixa de

PandoradoDireitocentenasdemilharesdecruzeiros” 154.

Sintetizandoestepensamento,lembraAparecidaAmaranteque

“para ter direito de ação, o ofendido deve ter motivos apreciáveis de se considerar atingido, pois a

existência da ofensa poderá ser considerada tão insignificante que, na verdade, não acarreta prejuízo

moral.O que queremos dizer é que o ato, tomado como desonroso pelo ofendido, seja revestido de

Page 144: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

gravidade (ilicitude) capaz de gerar presunção de prejuízo e que pequenos melindres incapazes de

ofenderosbensjurídicos(não)possamsermotivodeprocessojudicial” 155.

6.2.Naturezajurídicadareparaçãododanomoral

No tópico referente às formas de reparação de danos, constatamos que a

reposição natural não era possível na lesão aos direitos extrapatrimoniais da

pessoa,eisqueahonravioladajamaispoderiaserrestituídaaostatusquoante.

Masqualanaturezajurídicadopagamento?

Sancionadora, respondemos, sendo sanção entendida como a consequência

lógico-normativadeumatoilícito.

Entãoessepagamentoseriaumapena?

Para um segmento hoje minoritário da doutrina 156, que gozou de bastante

prestígioempassadonãolongínquo,areparaçãododanomoralnãoconstituiria

um ressarcimento, mas sim uma verdadeira “pena civil”, mediante a qual se

reprovariaereprimiriademaneiraexemplarafaltacometidapeloofensor.

Esta corrente de pensamento não dirigia suas atenções para a proteção da

vítimaouparaoprejuízosofridocomalesão,massimparaocastigoàconduta

dolosa do autor do dano. Somente isto justificaria o reconhecimento de uma

indenização por dano moral, de modo que, nas palavras do jurista argentino

JORGEJ.LLAMBÍAS,“noquedeimpuneunhechoilícitoquehamortificado

malignamentealavíctimacausándo-leunaaflicciónensuánimo” 157.

Um dos fundamentos dogmáticos para esta construção doutrinária da “pena

civil”estavajustamentenasupostaimoralidadedacompensaçãododanomoral

Page 145: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

comdinheiro(ochamadopretiodoloris—o“preçodador”),objeçãoestaquejá

seencontrahámuitosuperada,comovimos.

Por outro lado, não se pode afirmar que a reparação do dano moral se dá

atravésdeumapena,tendoemvistaqueesteinstituto,dopontodevistatécnico,

seprestaasancionar,comoformaderepressãopública,quemlesiona,aindaque

de forma mediata, interesses sociais tutelados pelo Direito Público (Direito

Criminal).

Não é este o âmbito de atuação da responsabilidade civil, fundamento

doutrinário pelo qual estamos estudando essa forma de pagamento, pois a

reparação do dano moral, pela via pecuniária, visa a sancionar violações

ocorridasnaesferaprivadadeinteresses.

Obviamente, não se despreza que o dano moral pode também motivar

consequências lógico-normativas na esfera criminal, gerando a necessidade de

umarepressãosocial,comonoscasosdecalúnia,difamaçãoeinjúria,previstos

respectivamentenosarts.138,139e140doCódigoPenal.

Eseriatalreparaçãoumaindenização?

Apesar de ser essa a expressão tradicionalmente utilizada nos pretórios

pátrios,origor técnicoimpõequesereconheçaquearespostaénegativa,haja

vistaqueanoçãode indenização tambémestá intimamente relacionadacomo

“ressarcimento” de prejuízos causados a uma pessoa por outra ao descumprir

obrigaçãocontratualoupraticaratoilícito,significandoaeliminaçãodoprejuízo

e das consequências, o que não é possível quando se trata de dano

extrapatrimonial.

Page 146: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

A reparação, em tais casos, reside no pagamento de uma soma pecuniária,

arbitradajudicialmente,comoobjetivodepossibilitaraolesadoumasatisfação

compensatória pelo dano sofrido, atenuando, em parte, as consequências da

lesão.

Na reparação do dano moral, o dinheiro não desempenha função de

equivalência,comonodanomaterial,mas,sim,funçãosatisfatória.

Quando a vítima reclama a reparação pecuniária em virtude do danomoral

que recai, por exemplo, em sua honra, nome profissional e família, não está

definitivamente pedindo o chamado pretio doloris, mas apenas que se lhe

propicieumaformadeatenuar,demodorazoável,asconsequênciasdoprejuízo

sofrido,aomesmotempoemquepretendeapuniçãodolesante.

Dessaforma,restaclaroqueanaturezajurídicadareparaçãododanomoralé

sancionadora (como consequência de um ato ilícito), mas não se materializa

atravésdeuma“penacivil”, e simpormeiodeumacompensaçãomaterial ao

lesado, sem prejuízo, obviamente, das outras funções acessórias da reparação

civil 158.

Nesse sentido, finalmente,a títulode informaçãohistórica, registre-sequeo

antigo Projeto de Lei n. 6.960/2002 (renumerado para 276/2007, antes de seu

arquivamento definitivo), pretendia inserir um segundo parágrafo no art. 944,

comaseguinteredação:“§2.ºAreparaçãododanomoraldeveconstituir-seem

compensaçãoaolesadoeadequadodesestímuloaolesante”.

Este dispositivo, digno de encômios, se aplicado com a devida cautela,

expressamente autorizaria o juiz, seguindo posicionamento já assentado em

Page 147: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Tribunais da Europa, a impor indenizações por dano moral com caráter

educativo e sancionador, especialmente se o agente causador do dano é

reincidente.

Essa nos parece a melhor solução, para que não continuemos a confundir

logicamente o gênero “sanção” com a espécie “pena” 159, eis que esta última

deve corresponder à submissãopessoal e física do agente, para restauraçãoda

normalidadesocialvioladacomodelito,enquantoacompensação(oumesmoa

indenização), pela teoria da responsabilidade civil, são sanções aplicáveis a

quemviolainteressesprivados,comoéocasodosdanosmorais.

Nãofaltam,contudo,asteorias“ecléticas”quebuscamclassificarareparação

do dano moral como uma prestação de caráter duplo, em que coexistiriam a

compensaçãoea“penacivil”.

Esse posicionamento, contudo, é questionado por alguns doutrinadores,

notadamentenoDireitoEstrangeiro.

RAMONDANIELPIZARRO,porexemplo,questionaexpressamente:

“¿Cómo conciliar la tesis punitiva del daño moral, que parte de la base de la antijuridicidad e

inmoralidaddelresarcimientodeldañomoral(“elpreciodeldolor”),conlatesisdelresarcimientoque

postula,comoyavimos,unacosmovisión totalmentediferentede lacuestión?¿Cómoconciliar ideas

quesonfrutodeunaponderaciónindividualistadelDerechoydelavidaconotrasquesonresultadode

unavisiónsolidaristadelaresponsabilidadcivil,obsesionadaporlaproteccióndelavíctima?¿Como

conciliarloinconciliabre?” 160.

Essadiscussão,contudo,tem,paranós,importânciasomenteacadêmica,pois

mesmo nos filiando à corrente de pensamento, capitaneada pelo ilustre

ORLANDOGOMES,que entende ser a reparaçãododanomoral uma sanção

Page 148: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

materializada através de uma compensação pecuniária, entendemos que a

utilizaçãodo termo“indenização”não se constitui emumaaberração jurídica,

massimapenasuma“atecniaconsagradajurisprudencialmente”.

Talvezpensandojustamentenessapossibilidadeéquetenhasidoconcebidoo

art.944doCC/2002,nosseguintestermos:

“Art.944.Aindenizaçãomede-sepelaextensãododano.

Parágrafoúnico.Sehouverexcessivadesproporçãoentreagravidadedaculpaeodano,poderáojuiz

reduzir,equitativamente,aindenização”(grifosnossos).

Issoporquenãoháqualquerlógicaemseimaginarqueodanomaterial,cuja

indenização é fixada justamente pela extensão da lesão perpetrada, em uma

operação quase aritmética, possa ser diminuída, uma vez que o prejuízo

pecuniárioéquasesempreconstatadodeformaobjetiva,aocontráriodosdanos

morais (oumesmodedanosmateriaisquantificadosporarbitramento),emque

se tem apenas uma expectativa do valor razoável, como uma forma de

compensaçãopelalesãoextrapatrimonialsofrida 161.

6.3.Cumulatividadedereparações(danosmorais,materiaiseestéticos)

Devemosaindaexplicitarqueareparaçãododanopatrimonialnãoexcluiou

substitui a indenização pelos danos morais e vice-versa, mesmo que ambos

decorramdomesmofato.

Isso porque é preciso entender que um único fato pode gerar diversas

consequênciaslesivas,tantonopatrimôniomaterializadodoindivíduoquantona

suaesferaextrapatrimonialdeinteresses.

Page 149: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Ressalte-se que a controvérsia jurisprudencial acerca da cumulatividade dos

danosmoraisepatrimoniaistemcomomarcoimportanteoanode1992,quando

oSuperiorTribunaldeJustiçaeditouaSúmula37,emconsonânciacomanova

ordemconstitucional,afirmandoque“sãocumuláveisasindenizaçõespordano

materialedanomoraloriundosdomesmofato”.

Damesma forma,háde se reconhecer apossibilidadedecumulaçãode tais

reparaçõescomindenizaçõespordanosestéticos.

Aautonomiadetalmodalidadededanofoiconsagradajurisprudencialmente

pelaSúmula387doSTJ,queexplicitou:

“Élícitaacumulaçãodasindenizaçõesdedanoestéticoedanomoral”.

Entende-sepordanoestéticoaquelequeviolaaimagemretratodoindivíduo,

havendorespaldoconstitucionalparaestaafirmaçãonaprevisãodagarantiado

“direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano

material,moralouàimagem”(art.5.º,V).

Resta saber, porém, se ainda é possível se falar em novas adjetivações de

danos(morais,psicológicos,sexuaisoudeoutranatureza),criando-severdadeira

“torredebabel”,ouseaadmissãodestatricotomiadanomoral/material/estético

(quesubstituiaconhecidadualidadedanomoral/material)é realmenteoponto

finalnestasagadereparabilidadededanosnodireitobrasileiro.

7.DANOMORALEPESSOAJURÍDICA

Havia,atébempoucotempo,acesapolêmicaacercadapossibilidadedepleito

deindenizaçãopordanosmoraisnoquedizrespeitoàpessoajurídica.

Page 150: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Porlongosanos,considerou-sequeosdanosmoraisselimitavamàs“doresda

alma”,sentimentosqueapessoajurídicajamaispoderiater,eisqueestaéuma

criaçãododireito,enãoumserorgânico,dotadodeespíritoeemoções.

Nessesentido,éacompreensãodeWilsonMelodaSilva,pioneironoestudo

dareparabilidadedodanomoralnoBrasil,nosseguintestermos:

“Outrocoroláriodoprincípioéqueaspessoas jurídicas,emsi, jamais teriamdireitoà reparaçãodos

danosmorais.Earazãoéóbvia.

Que as pessoas jurídicas sejam, passivamente, responsáveis por danos morais, compreende-se. Que,

porém,ativamente,possamreclamarindenizações,consequentesdeleséabsurdo” 162.

Entendia da mesma forma o ilustre magistrado paulista Valdir Florindo,

apoiadoemWagnerD.Giglio 163,paraquem

“deveoempregadorepararosprejuízosdeordemmoralcausadosaoempregador.Contudo,épreciso

ficar claro, a bem da boa técnica jurídica, que o empregador a que nos referimos é o empregador-

proprietário-pessoa física,poisodanomoraléumsofrimentodeordempsíquica,nãohavendocomo

considerá-lo a uma pessoa jurídica, ainda que por reflexo ela possa ser atingida pelo dano moral

lançado” 164.

Contudo,hodiernamente,nãohámaiscomoseaceitartaisposicionamentos.

Issoporquealegislaçãojamaisexcluiuexpressamenteaspessoasjurídicasda

proteçãoaos interessesextrapatrimoniais, entreosquais se incluemosdireitos

dapersonalidade.

Se é certo que uma pessoa jurídica jamais terá uma vida privada, mais

evidenteaindaéqueelapodeedevezelarpeloseunomee imagemperante o

público-alvo, sob pena de perder largos espaços na acirrada concorrência de

mercado.

Page 151: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Uma propaganda negativa de um determinado produto, por exemplo, pode

destruir toda a reputação de uma empresa, da mesma forma que informações

falsas sobre uma eventual instabilidade financeira da pessoa jurídica podem

acabarlevando-aaumaindesejávelperdadecredibilidade,comfortesreflexos

patrimoniais.

Nesse ponto, cumpre-nos transcrever o lúcido ensinamento do saudoso

ProfessorJosaphatMarinho:

“Questãoaconsiderar, também,éadaextensibilidadedosdireitospersonalíssimosàpessoa jurídica.

Nãoédadonocasogeneralizar,paraquetaisdireitosnãoseconfundamcomosdeíndolepatrimonial.

ÉporissoqueSantoroPassarellidoutrinaqueatuteladosdireitosdapersonalidadeserefere‘nãosóàs

pessoas físicas, senão também às jurídicas, com as limitações derivadas da especial natureza destas

últimas’” 165.

AConstituiçãoFederalde1988,porsuavez,aopreceituar,emseuart.5.º,X,

que “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das

pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral

decorrentedesuaviolação”,nãofezqualqueracepçãodepessoas,nãopodendo

ser o dispositivo constitucional interpretado de forma restritiva, notadamente

quando se tratam de direitos e garantias fundamentais (Título II, onde se

encontraodispositivomencionado).

Damesmaforma,aoassegurar“odireitoderesposta,proporcionalaoagravo,

alémdaindenizaçãopordanomaterial,moralouàimagem”(art.5.º,V),otexto

constitucional não apresentou qualquer restrição, devendo o direito abranger a

todos,indistintamente.

Comentando tal dispositivo, Luiz Alberto David Araújo ensina que “tanto

Page 152: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

podemutilizar-sedodireitode respostaaspessoas físicas,quantoas jurídicas,

entendidas as públicas e as privadas. É remédio de uso geral contra o poder

indevidodaimprensa” 166.

Semdeméritodereconhecerqueateoriadosdireitosdapersonalidadetenha

sido construída a partir de uma concepção antropocêntrica do direito,

consideramosinadmissívelaposiçãoquelimitaapossibilidadedesuaaplicação

àpessoanatural.

Essa tese, inclusive, já havia sido consagrada jurisprudencialmente por

Súmula doSuperiorTribunal de Justiça 167 e, agora, o atualCódigoCivil põe

fimàpolêmica,estabelecendoexpressamente:

“Art.52.Aplica-seàspessoasjurídicas,noquecouber,aproteçãodosdireitosdapersonalidade”.

8.DANOMORALEDIREITOSDIFUSOSECOLETIVOS

Umtematormentoso,aindapoucoenfrentadopeladoutrinaespecializada,se

refereàpossibilidadedeconfiguraçãode reparaçãopordanosmoraisna tutela

deinteressesdifusosecoletivos.

Issoporque,partindodapremissadequeosdanosmoraissãolesõesàesfera

extrapatrimonialdeumindivíduo,ouseja,aseusdireitosdapersonalidade,não

seriapossívelse imaginar,apriori,umdanomoral a interessesdifusos, como,

porexemplo,aomeioambienteeaopatrimôniohistórico-cultural.

Todavia,aLeidaAçãoCivilPública(Lein.7.347/85),comasmodificações

impostas pela Lei n. 8.884/94, estabeleceu expressamente a possibilidade de

reparaçãopordanosmoraisadireitosdifusos,aopreceituar,inverbis:

“Art. 1.º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de

Page 153: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

responsabilidadepordanosmoraisepatrimoniaiscausados:

I—aomeioambiente;

II—aoconsumidor;

III—abensedireitosdevalorartístico,estético,histórico,turísticoepaisagístico;

IV—aqualqueroutrointeressedifusooucoletivo;

V—porinfraçãodaordemeconômica”.

Excluídaaideia—tãodifundidaquantoerrônea—dequeodanomoraléa

dorsofridapelapessoa(ador,emverdade,éapenasaconsequênciadalesãoà

esfera extrapatrimonial), o conceito de direitos da personalidade tem que ser

ampliado para abarcar a previsão legal, tendo em vista inexistir uma

personalidadejurídicacoletivadifusa 168.

Assimsendo,odanomoraldifusotuteladopelaprevisãolegalsomentepode

sercaracterizadocomoumalesãoaodireitodetodaequalquerpessoa(enãode

umdireitoespecíficodapersonalidade).

A título de exemplo, poderíamos imaginar uma lesão difusa à integridade

corporal de toda uma população com a poluição causada em um acidente

ambiental ou violação à integridade psíquica, com o cerceio à liberdade de

conhecimento e pensamento, com a destruição de bens e direitos de valor

artístico,estético,histórico,turísticoepaisagístico.

Alimitaçãodalegitimidadeparaajuizamentodetaispretensões,bemcomoa

circunstância de que os valores obtidos reverterão para fundos específicos de

defesadedireitosdifusos 169justificasocialmentetalexceçãolegal,ressaltando

a importância constitucional, por exemplo, da defesa de um meio ambiente

ecologicamenteequilibrado 170.

Page 154: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

9.ODANOMORALEOMEIOAMBIENTEDETRABALHO

Conformevistoadrede,aLeidaAçãoCivilPública(Lein.7.347/85),comas

modificações impostas pela Lei n. 8.884/94, estabeleceu expressamente a

possibilidadedereparaçãopordanosmoraisadireitosdifusos.

Assimsendo,nadaimpedequeseconfigureumalesãoextrapatrimonialdifusa

nesse sentido, em função de atos que afetem um espaço físico convertido em

meioambientedetrabalho.

Se um ambiente laboral inseguro, por si só, já pode trazer implicações

negativas para a sua população interna, a sua poluição pode acarretar falhas

humanas ou técnicas geradoras de prejuízos incalculáveis para a comunidade

externa.

Assim,apoluiçãoaestemeioambienteoperárionãoproduzefeitosrestritos

aoâmbitocoletivodoestabelecimento,oqueimpõeaconclusãodequesetrata

de um dano potencialmente difuso que, como visto, é também tutelável

juridicamente.

Apreservaçãodeboascondiçõesdetrabalhoconfigura-se,portanto,comoum

interesse de todos, de caráter transindividual, conformado em um direito

indivisível,cujotitularéumsujeitoindeterminadoeindeterminável.

Emsuatesededoutoramento,JúlioCésardeSádaRocharegistraque

“apesardeosequipamentos,bens,maquinárioseinstalaçãoseremdepropriedadeprivadadaempresa,o

meioambientedotrabalhoconstituibeminapropriáveledecaráterdifuso,namedidaemquedeveser

entendidocomoconditiosinequanonemquesedesenrolagrandepartedavidahumana” 171.

Portalnovaperspectiva,ocarátermetaindividualdointeressenapreservação

Page 155: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

doespaçoambientaldetermina-sepeloriscoquepodevirarepresentarparaas

populaçõesexternasumhabitat laboral poluído edesequilibrado, umavezque

lesõesàsaúdefísicaementaldotrabalhadorpodemtornar-sefatosgeradoresde

falhashumanas,e,ademais,anãoobservânciadenormasinternasdesegurança

que se façam necessárias pode vir a causar falhas técnicas no próprio

procedimento produtivo, com repercussões que, muitas vezes, ultrapassam a

esferadoambientedetrabalho.

Alémdisso,valedestacarumoutroaspectodointeressesocialnapreservação

doequilíbriodoambientelaboral,salientadoporRaimundoSimãodeMelo,ao

lembrar que “omeio ambiente de trabalho adequado e seguro é um dosmais

importantes e fundamentais direitos do cidadão trabalhador, o qual, se

desrespeitado, provoca agressão a toda sociedade, que no final das contas, é

quem custeia a Previdência Social, que, por inúmeras razões, corre o risco de

nãomais poder oferecer proteção, atémesmo aos seus segurados no próximo

século” 172,portanto,asociedadeacabaporarcarcomosresultadosdestalesão.

Portudoisso,restapatenteaimportânciadesuaproteçãocomoumdireitode

todos, difusamente considerado, e não somente da coletividade restrita àquele

locus laboral determinado, impondo, se for o caso, a reparação dos eventuais

danosmoraispelosatosvioladoresdomeioambientedetrabalho 173.

Page 156: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

CapítuloVII

NexodeCausalidade

Sumário:1.Introdução.2.Teoriasexplicativasdonexodecausalidade.2.1.Teoriadaequivalênciadas

condições (conditio sine qua non). 2.2. Teoria da causalidade adequada. 2.3. Teoria da causalidade

diretaouimediata.3.TeoriaadotadapeloCódigoCivilbrasileiro.4.Causasconcorrentes.5.Concausas.

6.Ateoriadaimputaçãoobjetivaearesponsabilidadecivil.

1.INTRODUÇÃO

Apóspassarmosemrevistaosdoisprimeiroselementosda responsabilidade

civil—a condutahumana eodano (abrindo, inclusive, amplas considerações

sobre a questão do danomoral)—, cuidaremos de estudar o último, e talvez

maismelindrosodetodoseles:onexodecausalidade.

O culto SERPA LOPES, com a sagacidade que lhe era peculiar, já havia

notado a complexidade do tema, consoante se depreende deste trecho de sua

obra:

“Umadas condições essenciais à responsabilidade civil é a presençadeumnexo causal entre o fato

ilícitoeodanoporeleproduzido.Éumanoçãoaparentementefácilelimpadedificuldade.Massetrata

de mera aparência, porquanto a noção de causa é uma noção que se reveste de um aspecto

profundamente filosófico, além das dificuldades de ordem prática, quando os elementos causais, os

fatoresdeproduçãodeumprejuízo,semultiplicamnotempoenoespaço” 174.

Page 157: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

AssimcomonoDireitoPenal,ainvestigaçãodestenexoqueligaoresultado

danoso ao agente infrator é indispensável para que se possa concluir pela

responsabilidadejurídicadesteúltimo.

Trata-se, pois, do elo etiológico, do liame, que une a conduta do agente

(positivaounegativa)aodano 175.

Por óbvio, somente se poderá responsabilizar alguém cujo comportamento

houvessedadocausaaoprejuízo.

Lamentavelmente, entretanto, esta matéria é muito mal compreendida —

talvezporsermalexplicada—gerandodúvidase,frequentemente, levandoos

tribunais a adotarem posicionamentos confusos em torno domesmo objeto de

investigação, o que só acarreta prejuízo à segurança jurídica e descrédito ao

PoderJudiciário.

Vamos, então, tentar enfrentar cientificamente o problema, a fim de que o

nossoleitor,aofinaldesuaanálise,possasaircomumadequadopanoramado

assunto.

2.TEORIASEXPLICATIVASDONEXODECAUSALIDADE

Fundamentalmente,são trêsasprincipais teoriasque tentamexplicaronexo

decausalidade:

a)teoriadaequivalênciadecondições;

b)ateoriadacausalidadeadequada;

c)ateoriadacausalidadediretaouimediata(interrupçãodonexocausal).

Page 158: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Para o correto entendimento da matéria, cuidaremos de analisá-las,

separadamente, concluindo, ao final do estudo, por qual das teorias o Direito

Brasileirooptou.

2.1.Teoriadaequivalênciadascondições(“conditiosinequanon”)

ElaboradapelojuristaalemãoVONBURInasegundametadedoséculoXIX,

esta teoria não diferencia os antecedentes do resultado danoso, de forma que

tudoaquiloqueconcorraparaoeventoseráconsideradocausa.

Por isso se diz “equivalência de condições”: todos os fatores causais se

equivalem,casotenhamrelaçãocomoresultado.

CAIOMÁRIO,citandoomagistralcivilistabelgaDEPAGE,observaqueesta

teoria,

“emsuaessência,sustentaque,emhavendoculpa,todasas‘condições’deumdanosão‘equivalentes’,

istoé,todososelementosque,‘deumacertamaneiraconcorreramparaasuarealização,consideram-se

como‘causas’,semanecessidadededeterminar,noencadeamentodosfatosqueantecederamoevento

danoso,qualdelespodeserapontadocomosendooquedemodo imediatoprovocouaefetivaçãodo

prejuízo” 176.

Com isso quer-se dizer que esta teoria é de espectro amplo, considerando

elementocausaltodooantecedentequehajaparticipadodacadeiadefatosque

desembocaramnodano.

É, inclusive, a teoria adotada pelo Código Penal brasileiro, segundo a

interpretaçãodadapeladoutrinaaoseuart.13:

“Art.13,CP—Oresultado,dequedependeaexistênciadocrime,somenteéimputávelaquemlhedeu

causa.Considera-seacausaaaçãoouomissãosemaqualoresultadonãoteriaocorrido”.

Observeque,daúltimapartedodispositivo,pode-seextrairumafórmulade

Page 159: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

eliminaçãohipotética(deThyrén),segundoaqualcausaseriatodooantecedente

que,seeliminado,fariacomqueoresultadodesaparecesse.

Imagine, pois, um sujeito que arremessa, bêbado, uma garrafa contra um

transeunte, causando-lhe a morte. Se nós abstrairmos a conduta antecedente

(arremessodagarrafa),amortedesaparecerá.

Ilustrando,teríamos:

Arremessodagarrafa=CausaMorte=Resultado

Estateoria,entretanto,apresentaumgraveinconveniente.

Por considerar causa todo o antecedente que contribua para o desfecho

danoso, a cadeia causal, seguindoesta linhade intelecção,poderia levar a sua

investigaçãoaoinfinito.

Nas palavras deGUSTAVOTEPEDINO, em excelente artigo sobre o nexo

causal, “a inconveniência desta teoria, logo apontada, está na desmesurada

ampliação,eminfinitaespiraldeconcausas,dodeverdereparar,imputadoaum

sem-númerodeagentes.Afirmou-se,comfina ironia,quea fórmula tenderiaa

tornar cada homem responsável por todos os males que atingem a

humanidade” 177.

Nessa linha, se o agente saca a arma e dispara o projétil, matando o seu

desafeto,seriaconsideradocausa,nãoapenasodisparo,mastambémacompra

daarma,asuafabricação,aaquisiçãodoferroedapólvorapelaindústriaetc.,o

queenvolveria, absurdamente, umnúmero ilimitadode agentesna situaçãode

Page 160: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

ilicitude 178.

Adespeitodetudoisso,grandepartedospenalistasadotou-a,sustentandoque

aanálisedodolooudaculpadoinfratorpoderialimitá-la,valedizer,osagentes

que apenas de forma indireta interferiram na cadeia causal por não terem a

necessáriaprevisibilidade(doloouculpa)daocorrênciadodano,nãopoderiam

serresponsabilizados 179.Ofabricantedaarma,porexemplo,aoproduzi-la,não

poderiaimaginarautilizaçãocriminosadoseuproduto 180.

Emvirtude, talvez, de todos esses inconvenientes e imprecisões, os cultores

doDireitoCivilnãoabraçaramestateoria.

2.2.Teoriadacausalidadeadequada

Estateoria,desenvolvidaapartirdasideiasdofilósofoalemãoVONKRIES,

posto não seja isenta de críticas, é mais refinada do que a anterior, por não

apresentaralgumasdesuasinconveniências.

Paraosadeptosdestateoria,nãosepoderiaconsiderarcausa“todaequalquer

condição que haja contribuído para a efetivação do resultado”, conforme

sustentado pela teoria da equivalência, mas sim, segundo um juízo de

probabilidade,apenasoantecedenteabstratamente idôneoàproduçãodoefeito

danoso, ou, comoquerCAVALIERI, “causa, para ela, é o antecedente, não só

necessário,mas,tambémadequadoàproduçãodoresultado.Logo,nemtodasas

condiçõesserãocausa,masapenasaquelaqueformaisapropriadaparaproduzir

oevento” 181.

E é o próprio Desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro,

Page 161: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

citandoANTUNESVARELA,quemexemplifica:

“sealguémretém ilicitamenteumapessoaqueseapressavapara tomarcertoavião,e teve,afinal,de

pegarumoutro,quecaiueprovocouamortedetodosospassageiros,enquantooprimeirochegousem

incidenteaoaeroportodedestino,nãosepoderáconsiderararetençãoilícitadoindivíduocomocausa

(jurídica)dodanoocorrido,porque,emabstrato,nãoeraadequadaaproduzirtalefeito,emborasepossa

asseverarqueeste(nascondiçõesemqueseverificou)nãoseteriadadosenãoforaoilícito.A ideia

fundamentaldadoutrinaéadequesóháumarelaçãodecausalidadeadequadaentreofatoeodano

quandooatoilícitopraticadopeloagentesejademoldeaprovocarodanosofridopelavítima,segundo

ocursonormaldascoisaseaexperiênciacomumdavida” 182(grifosnossos).

Note-se, então, que, para se considerar uma causa “adequada”, esta deverá,

abstratamente,esegundoumaapreciaçãoprobabilística,seraptaàefetivaçãodo

resultado.

Na hipótese do disparo por arma de fogo,mencionado acima, a compra da

arma e a sua fabricação não seriam “causas adequadas” para a efetivação do

eventomorte.

É a teoria adotada no Direito Argentino, conforme se pode ler na obra de

GHERSI:“EstateoríafueadoptadapornuestroCódigoCivil,conlareformade

1968, en el art. 906. Su idea central es que todo daño le es atribuible a una

conducta—acciónuomisión—sinormalyordinariamenteacaeceasíen las

reglasdelaexperiencia” 183.

A adoçãodaprimeira (equivalênciadas condições) ou segunda (causalidade

adequada) teoria não é mera opção intelectual, uma vez que produz efeitos

práticos, consoante bem demonstrou CARDOSO GOUVEIA, citado por

CARLOSGONÇALVES:

“AdeuumapancadaligeiranocrâniodeB,aqualseriainsuficienteparacausaromenorferimentonum

Page 162: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

indivíduonormalmenteconstituído,masquecausouaB,quetinhaumafraquezaparticulardosossosdo

crânio,umafraturadequeresultouamorte.Oprejuízodeu-se,apesardeofatoilícitopraticadoporA

nãosercausaadequadaaproduziraqueledanoemumhomemadulto.Segundoateoriadaequivalência

dascondições,apancadaéumacondição‘sinequanon’doprejuízocausado,peloqualoseuautorterá

de responder. Ao contrário, não haveria responsabilidade, em face da teoria da causalidade

adequada” 184.

Opontocentralparaocorretoentendimentodesta teoriaconsistenofatode

que somente o antecedente abstratamente apto à determinação do resultado,

segundo um juízo razoável de probabilidade, em que conta a experiência do

julgador,poderáserconsideradocausa.

Seateoriaanteriorpecaporexcesso,admitindoumailimitadainvestigaçãoda

cadeiacausal,estaoutra,adespeitodemaisrestrita,apresentao inconveniente

de admitir um acentuado grau de discricionariedade do julgador, a quem

incumbeavaliar, noplano abstrato, e segundoo cursonormaldas coisas, se o

fato ocorrido no caso concreto pode ser considerado, realmente, causa do

resultadodanoso.

Ademais, esta “abstração” característica da investigação do nexo causal

segundo a teoria da causalidade adequada pode conduzir a um afastamento

absurdo da situação concreta, posta ao acertamento judicial. Conforme bem

advertiuFREITASGOMES,citandoDEPAGE,“adeterminaçãodonexocausal

é,antesdomais,uma‘quaestiofacti’,incumbindoaojuizproceder‘cumarbítrio

boni viri’, sopesando cada caso na balança do equilíbrio e da equidade” 185

(grifosnossos).

2.3.Teoriadacausalidadediretaouimediata

Page 163: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Estaúltimavertentedoutrinária,tambémdenominadateoriadainterrupçãodo

nexo causal ou teoria da causalidade necessária, menos radical do que as

anteriores, foi desenvolvida, noBrasil, pelo ilustrado ProfessorAGOSTINHO

ALVIM, em sua clássica obra Da Inexecução das Obrigações e suas

Consequências 186.

Causa,paraesta teoria,seriaapenasoantecedentefáticoque, ligadoporum

vínculodenecessariedadeao resultadodanoso,determinasseesteúltimocomo

umaconsequênciasua,diretaeimediata.

Discorrendosobreestacorrentedepensamento,ocultoesaudosoprofessorda

PUC-SPpontificava:

“AEscolaquemelhorexplicaateoriadodanodiretoeimediatoéaquesereportaànecessariedadeda

causa.Efetivamente,éelaqueestámaisdeacordocomasfonteshistóricasdateoriadodano,comose

verá”.Eemoutrotrechodesuaobra:“Supostocertodano,considera-secausadeleaquelheépróxima

ou remota,mas, com relação a esta última, émister que ela se ligue aodano, diretamente.Assim, é

indenizável todo dano que se filia a uma causa, ainda que remota, desde que ela lhe seja causa

necessária,pornãoexistiroutraqueexpliqueomesmodano.Queraleiqueodanosejaoefeitodiretoe

imediatodaexecução” 187.

Tomemosumclássicoexemplodoutrinário,paraoadequadoentendimentoda

matéria.

Caio é ferido por Tício (lesão corporal), em uma discussão após a final do

campeonatodefutebol.Caio,então,ésocorridoporseuamigoPedro,quedirige,

velozmente,paraohospitaldacidade.Notrajeto,oveículocapotaeCaiofalece.

Ora, pela morte da vítima, apenas poderá responder Pedro, se não for

reconhecidaalgumaexcludenteemseufavor.Tício,porsuavez,nãoresponderia

peloeventofatídico,umavezqueoseucomportamentodeterminou,comoefeito

Page 164: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

diretoeimediato,apenasalesãocorporal.

Note-se, portanto, que a interrupção do nexo causal por uma causa

superveniente, ainda que relativamente independente da cadeia dos

acontecimentos(capotagemdoveículo) impedequeseestabeleçaoeloentreo

resultadomorteeoprimeiroagente,Tício,quenãopoderáserresponsabilizado.

Dessaforma,concluímoscomTEPEDINOque:

“a causa relativamente independente é aquela que, em apertada síntese, torna remoto o nexo de

causalidadeanterior,importandoaquinãoadistânciatemporalentreacausaorigináriaeoefeito,mas

simonovovínculodenecessariedadeestabelecido,entreacausasupervenienteeoresultadodanoso.A

causaanteriordeixoudeserconsiderada,menosporserremotaemaispelainterposiçãodeoutracausa,

responsávelpelaproduçãodoefeito,estabelecendo-seoutronexodecausalidade” 188.

Uma questão que ainda deve ser tratada, à luz desta teoria, diz respeito ao

danoreflexoouemricochete,jávistonocapítulopassado.

Ofatodesóseconsiderarcomoatribuívelaoantecedentecausaloseuefeito

diretoouimediatonegariaaocorrênciaodanoreflexo?

Entendemosquenão.

Ofatodeseconsiderar“reflexo”ou“indireto”odanonãosignificadizerque

nãohaveráresponsabilidadecivil.Apenasquer-se,comisso,caracterizaraquela

espécie de dano que, tendo existência certa e determinada, atinge pessoas

próximas à vítima direta. Este dano, pois, para a pessoa que o sofreu

reflexamente (o alimentando que teve o pai morto, por ex.), é efeito direto e

imediatodoatoilícito.

Oquenãopodemosconfundiréestedanoreflexo—consequênciainafastável

do ilícito — com aquele que não se liga diretamente (por necessariedade) à

Page 165: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

conduta do agente, conforme exemplifica o Desembargador CARLOS

GONÇALVES,citandodoutrinafrancesa:

“Pothier fornece o exemplo de alguém que vende uma vaca que sabe pestilenta e que contamina o

rebanho do adquirente. Deve, em consequência, indenizar o valor do animal vendido e também o

daqueles que morreram em virtude do contágio. Mas não responde pelos prejuízos decorrentes da

impossibilidadedocultivodaterra,porteremsidoatingidospeladoençatambémosanimaisqueeram

utilizados nesse serviço. É que esses danos, embora filiados a ato seu, acham-se do mesmo modo

distante” 189.

Alémdemaissimples,entendemossermaisadequadaestateoria,eisquenão

apresenta o nível de insegurança jurídica e subjetividade apresentados em alto

graupelasteoriasanteriores.

3.TEORIAADOTADAPELOCÓDIGOCIVILBRASILEIRO

Existeumacertaimprecisãodoutrinária,quandosecuidadeestabelecerquala

teoriaadotadapeloCódigoCivilbrasileiro,referenteaonexodecausalidade.

Respeitável parcela da doutrina, nacional e estrangeira, tende a acolher a

teoriadacausalidadeadequada,porseafigurar,aosolhosdestesjuristas,amais

satisfatóriaparaaresponsabilidadecivil.

Inclusive no Direito Comparado, esta corrente doutrinária é bem acolhida,

conformenoticiaMARTINHOGARCEZNETO:

“EmrelaçãoaoCCfrancês,asnormasexpressassãoosarts.1.150e1.151,que,segundoadoutrinae

jurisprudência francesas, teriam assento na teoria da equivalência das condições, que a doutrina

moderna,combasenosmaisacatadoscivilistas,repele,poisajurisprudênciaagoradominanteassenta

osseusfundamentoseconclusõesnateoriadacausalidadeadequada,comosecolhedosensinamentos

deCARBONNIER(Obligations,n.91)edeMAZEAUD-TUNC” 190(grifosnossos).

NoBrasil,vozesautorizadas,comoadeCAVALIERIFILHO,sãofavoráveis

Page 166: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

aestateoria 191.

Nãoraro,aliás,aprópriajurisprudênciaacolheacausalidadeadequada:

“Ementa:Apelação cível.Responsabilidade civil.Cheque falso.Falsificação

grosseira. Devolução por insuficiência de fundos. Encerramento da conta.

Aplicaçãodateoriadacausalidadeadequada.Acondutanegligentedobancofoi

acausadiretaeimediataparaoeventodanoso,razãopelaqualéexclusivamente

responsável pelo pagamento dos cheques falsos. Inexistência de culpa

concorrentedocorrentista.Danomoralconfigurado.Critériosparaafixaçãode

um valor adequado. Juízo de equidade atribuído ao prudente arbítrio do juiz.

Compensaçãoàvítimapelodanosuportado.Puniçãoaoinfrator,consideradasas

condições econômicas e sociais do agressor, bem como a gravidade da falta

cometida, segundoumcritériode aferição subjetivo.Apeloprovido (Apelação

Cíveln.70003531589,SextaCâmaraCível,TribunaldeJustiçadoRS,Relator:

Des.CarlosAlbertoÁlvarodeOliveira,julgadoem17/04/02)”.

Entretanto,assimnãopensamos.

Alinhamo-nosaoladodaquelesqueentendemmaisacertadooentendimento

de que o Código Civil brasileiro adotou a teoria da causalidade direta ou

imediata (teoria da interrupção do nexo causal), na vertente da causalidade

necessária.

E a essa conclusão chegamos ao analisarmos o art. 403 do CC/2002

(correspondenteaoart.1.060doCódigorevogado),quedispõe:

“Art.403.Aindaqueainexecuçãoresultededolododevedor,asperdasedanossóincluemosprejuízos

efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei

processual”.

Page 167: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

CARLOS ROBERTO GONÇALVES, seguindo a mesma linha de

pensamento, é contundente ao afirmar que: “Das várias teorias sobre o nexo

causal,onossoCódigoadotou, indiscutivelmente,adodanodiretoe imediato,

comoestáexpressonoart.403;edasváriasescolasqueexplicamodanodiretoe

imediato,amaisautorizadaéaquesereportaàconsequêncianecessária” 192.

Oproblemaéque,muitasvezes,ajurisprudência 193eadoutrina,sucumbindo

talvezaocarátersedutoramenteempíricodotema,acabamporconfundirambas

asteorias,nãodispensando,entretanto,emnenhumahipótese,ainvestigaçãoda

necessariedadedacausa.

Demonstrando tal assertiva, TEPEDINO, após colacionar jurisprudência do

TribunaldeJustiçadoRiodeJaneiro,emqueselêaidentificaçãodasteorias:

“e de acordo com a teoria da causa adequada adotada em sede de responsabilidade civil, também

chamadade causadiretaou imediata” (Ac. 1995. 001.271), conclui, acertadamente: “Por todas essas

circunstâncias,pode-seconsiderarcomoprevalentes,nodireitobrasileiro,asposiçõesdoutrináriasque,

combasenoart.1060,doCódigoCivilBrasileiro,autodenominando-seoradeteoriadainterrupçãodo

nexocausal(SupremoTribunalFederal),oradeteoriadacausalidadeadequada(STJeTJRJ),exigema

causalidade necessária entre a causa e o efeito danoso para o estabelecimento da responsabilidade

civil” 194.

Portanto,adespeitodereconhecermosqueonossoCódigomelhorseamolda

àteoriadacausalidadediretaeimediata,somosforçadosareconhecerque,por

vezes,ajurisprudênciaadotaacausalidadeadequada,nomesmosentido.

Aregrapositivadabásica,comovisto,noCódigoCivil,independentementeda

teseadotada,éadoart.403.

Muitobem.

Page 168: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Nesse contexto, esclarece, com erudição, ANDERSON SCHREIBER, que,

emalgunscasos,doutrinae jurisprudência têm“dispensadoaprovadarelação

causalnotocanteaumresultadoulteriordacondutadoagente,assegurandoao

nexo de causalidade uma elasticidade que nenhuma das teorias usuais

comportaria” 195.

Vale dizer, é como se, em determinadas situações, o aplicador do direito

“forçasse a barra”, em benefício da vítima, para imputar o dever de reparar o

dano ao agente danoso, em hipóteses que, ortodoxamente, oDireito em vigor

nãopermitiria.

Entra-se,assim,nosdomíniosda“teoriadoresultadomaisgrave”,consagrada

pelas expressões inglesas “The Thin Skull Rule” ou “The Egg-Shell Skull

Rule” 196:

“A tal respeito, ilustres autores têm sustentado que o agente que pratica a conduta deve ser

responsabilizado também pelo resultadomais grave, ainda que oriundo de condições particulares da

vítima.Afirma-se que ‘as condições pessoais de saúde da vítima, bem como as suas predisposições

patológicas,emboraagravantesdoresultado,emnadadiminuemaresponsabilidadedoagente’,sendo

‘irrelevante,paratalfim,quedeumalesãoleveresulteamorteporseravítimahemofílica;quedeum

atropelamentoresultemcomplicaçõesporseravítimadiabética;quedaagressãofísicaoumoralresulte

a morte por ser a vítima cardíaca; que de pequeno golpe resulte fratura do crânio em razão da

fragilidadecongênitadoossofrontaletc.’” 197.

Vale dizer, na esteira desta teoria, se o agente do dano deu causa a um

resultadomaisgrave,aindaquenãosepossavisualizara sua responsabilidade

segundoasteoriasconvencionaisdacausalidade,seriajustoquecompensassea

vítima.

Assim,no clássico exemplodadoporCARDOSOGOUVEIA 198, emqueo

Page 169: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

cidadãodáum“levetapa”nacabeçadavítimaeestavemaóbitoporcontade

umafragilidadecraniana,pelasteoriasconvencionais,atémesmopelaausência

deprevisibilidade,nãodeveriaosujeitoresponderpelamorte.

Mas,segundoa“teoriadoresultadomaisgrave”,responderia.

E se você, amigo leitor, neste ponto, perguntar-nos se tal teoria é aplicada,

diremos: não se trata de uma regra geral amplamente admitida— até porque,

comodito,vaideencontroàsteoriastradicionaisqueexigemademonstraçãodo

efetivonexocausal—muitoembora,naprática,emdeterminadassituações,não

seja raro encontrarmos decisões que a aplicam comoum “recurso empregado,

commenorfrequência,paraaextensãodoremédioressarcitórioadomíniosque

aexigênciadademonstraçãodonexodecausalidademantinhamimunestantoà

responsabilidadesubjetivaquantoàobjetiva” 199.

Em outras palavras, por vezes, a teoria do “thin skull rule” é aplicada para

evitarqueavítima(ouosseussucessores)nãorecebaumajustaindenização.

Temainstigante,polêmicoemerecedordenossareflexão.

4.CAUSASCONCORRENTES

Problema interessante que ainda merece a nossa atenção diz respeito à

concorrênciadecausas.

Quandoaatuaçãodavítimatambémfavoreceaocorrênciadodano,somando-

seaocomportamentocausaldoagente,fala-seem“concorrênciadecausasoude

culpas”, caso em que a indenização deverá ser reduzida, na proporção da

contribuiçãodavítima.

Page 170: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Nestecasodeculpaconcorrente,cadaumresponderápelodanonaproporção

em que concorreu para o evento danoso, o que tem de ser pesado pelo órgão

julgadorquandodafixaçãodareparação,umavezquesomentehácondenação

pelaexistênciadadesproporcionalidadedaculpa.

Assim,nocaso,odanodecorreporcausadaatuaçãodeambosossujeitosda

relaçãojurídica.

WASHINGTONDEBARROSMONTEIRO,citadoporSTOCO,manifesta-

searespeitodotemanosseguintestermos:

“sehouverconcorrênciadeculpas,doautordodanoedavítima,aindenizaçãodeveserreduzida.Posto

não enunciado expressamente, esse princípio é irrecusável no sistema do direito pátrio, constituindo,

entrenós,‘jusreceptum’.Ajurisprudênciaconsagra,comefeito,asoluçãodopagamentopelametade,

nocasodeculpadeambasaspartes” 200.

Este critério, entretanto, apresentado pelo culto professor paulista, seguido

amplamente pela jurisprudência, poderá, em nosso entendimento, ser relativi-

zadopelojulgador,umavezqueomesmopodeverificar,naapreciaçãodocaso

concreto, que qualquer das partes contribuiu mais para o desenlace danoso.

Nestecaso,asuaparticipaçãonoquantumindenizatóriofinaldeveráaumentar.

OvigenteCódigoCivilbrasileiro,emregrasemequivalêncianacodificação

anterior, adotou expressamente a culpa concorrente como um critério de

quantificaçãodaproporcionalidadedaindenização,conformeseverificadoseu

art.945,inverbis:

“Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será

fixadatendo-seemcontaagravidadedesuaculpaemconfrontocomadoautordodano”.

Umaobservaçãofinal,entretanto,seimpõe.

Page 171: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

NocampodoDireitodoConsumidor,ateoriadaconcorrênciadecausasnão

temessamesmaamplitude.

Issoporque,nostermosdoart.12,§3.º,daLein.8.078de1990(Códigode

DefesadoConsumidor),somenteaculpaexclusivadavítima temocondãode

interferir na responsabilidade civil do fornecedor, excluindo-a. Em outras

palavras, a culpa simplesmente concorrente (de ambos os sujeitos da relação

jurídica),pornãohaversidoprevistapelalei,nãoeximeofornecedordeproduto

ouserviçodeindenizarintegralmenteoconsumidor.

Nessesentido,escreveZELMODENARI:

“Aculpaexclusivadavítimaéinconfundívelcomaculpaconcorrente:noprimeirocasodesaparecea

relaçãodecausalidadeentreodefeitodoprodutoeoeventodanoso,dissolvendo-seaprópriarelaçãode

responsabilidade; no segundo, a responsabilidade se atenua em razão da concorrência de culpa e os

aplicadoresdanormacostumamcondenaroagentecausadordodanoarepararpelametadeoprejuízo,

cabendo a vítima arcar com a outra metade. A doutrina, contudo, sem vozes discordantes, tem

sustentado o entendimento de que a lei pode eleger a culpa exclusiva como única excludente de

responsabilidade, como fez o Código de Defesa do Consumidor nesta passagem. Caracterizada,

portanto, a concorrência de culpa, subsiste a responsabilidade integral do fabricante e demais

fornecedoresarroladosno‘caput’,pelareparaçãodosdanos” 201.

5.CONCAUSAS

Utiliza-se a expressão “concausa” para caracterizar o acontecimento que,

anterior, concomitanteou superveniente aoantecedentequedeflagroua cadeia

causal,acrescenta-seaeste,emdireçãoaoeventodanoso.

ComoquerCAVALIERI,trata-sede“outracausaque,juntando-seàprincipal,

concorreparaoresultado.Elanãoinicianeminterrompeonexocausal,apenaso

reforça,talcomoumriomenorquedeságuaemoutromaior,aumentando-lheo

Page 172: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

caudal” 202.

A grande questão em torno do tema diz respeito à circunstância de esta

concausa interromper ou não o processo naturalístico já iniciado, constituindo

um novo nexo, caso em que o agente da primeira causa não poderia ser

responsabilizadopelasegunda.

Seestasegundacausaforabsolutamente independenteemrelaçãoàconduta

doagente—quer seja preexistente, concomitante ou superveniente—onexo

causaloriginárioestarárompidoeoagentenãopoderáserresponsabilizado.

Imagine,porexemplo,ahipótesedeumsujeitoseralvejadoporumtiro,queo

conduziria à morte, e, antes do seu passamento por esta causa, um violento

terremoto matou-o. Por óbvio, esta causa superveniente, absolutamente

independenteemfacedoagentequedeflagrouotiro,rompeuonexocausal.O

mesmoraciocínioaplica-seàscausaspreexistentes(a ingestãodevenenoantes

dotiro)econcomitantes(umderramecerebralfulminanteporforçadediabetes,

aotempoqueéatingidopeloprojétil).

Diferentemente,emsetratandodeumacausarelativamente independente—

aquela que incide no curso do processo naturalístico causal, somando-se à

conduta do agente —, urge distinguirmos se a mesma é preexistente,

concomitanteousuperveniente.

Em geral, essas concausas, quando preexistentes ou concomitantes, não

excluem o nexo causal, e, consequentemente, a obrigação de indenizar.

Tomemos os seguintes exemplos: Caio, portador de deficiência congênita e

diabetes, é atingido por Tício. Em face da sua situação clínica debilitada

Page 173: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

(anterior) a lesão é agravada e a vítima vem a falecer. No caso, o resultado

continuará imputável ao sujeito, eis que a concausa preexistente relativamente

independentenãointerrompeuacadeiacausal.Omesmoocorreseosujeito,em

razãododisparode armade fogo,vema falecerde susto (paradacardíaca), e

não propriamente do ferimento causado. Também nesta hipótese, a concausa

concomitante relativamente independente não impede que o agente seja

responsabilizadopeloquecometeu.

Entretanto,sesetratardeconcausasuperveniente—aindaquerelativamente

independenteemrelaçãoàcondutadosujeito—,onexodecausalidadepoderá

serrompidoseestacausa,porsisó,determinaraocorrênciadoeventodanoso.

É o clássico exemplo do sujeito que, ferido por outrem, é levado de

ambulânciaparaohospital, e falecenocaminho,por forçado tombamentodo

veículo.Estaconcausa,emborarelativamenteindependenteemfacedaconduta

do agente infrator (se este não houvesse ferido a vítima, esta não estaria na

ambulânciaenãomorrerianoacidente),determina,porsisó,oeventofatal,de

forma que o causador do ferimento apenas poderá ser responsabilizado, nas

searascivilecriminal,pelalesãocorporalcausada.

Em conclusão, temos que, apenas se houver determinado, por si só, o

resultadodanoso, a concausa relativamente independente superveniente haverá

rompidoonexocausal,excluindoaresponsabilidadedosujeitoinfrator.

6.ATEORIADAIMPUTAÇÃOOBJETIVAEARESPONSABILIDADECIVIL

Ateoriadaimputaçãoobjetivadoresultado,construçãodoutrináriareferente

Page 174: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

aonexodecausalidade, temganhadoposiçãodedestaqueentreoscultoresdo

DireitoPenal.

Mas,seráqueestateoriapoderiaseraplicadaàresponsabilidadecivil?

Muitos desconhecem, mas KARL LARENZ, partindo do pensamento de

HEGEL, já havia desenvolvido a teoria da imputação objetiva para o Direito

Civil, visando estabelecer limites entre os fatos próprios e os acontecimentos

acidentais 203.

No dizer do Professor LUIZ FLÁVIO GOMES: “A teoria da imputação

objetiva consiste basicamente no seguinte: só pode ser responsabilizado

penalmenteporumfato(leia-se:aumsujeitosópodeser imputadoofato),se

elecriououincrementouumriscoproibidorelevantee,ademais,seoresultado

jurídicodecorreudesserisco” 204.

Nessalinhaderaciocínio,sealguémcriaouincrementaumasituaçãoderisco

não permitido, responderá pelo resultado jurídico causado, a exemplo do que

ocorrequandoalguémdácausaaumacidentedeveículo,porestarembriagado

(criaçãodoriscoproibido),ouquandosenegaaprestarauxílioaalguémquese

afoga, podendo fazê-lo, caracterizando a omissão de socorro (incremento do

risco).

Emtodasessashipóteses,oagentepoderáserresponsabilizadopenalmente,e,

porquenãodizer,civilmente,paraaquelesqueadmitemaincidênciadateoriano

âmbitodoDireitoCivil.

Note-se, entretanto, que, se o “risco criado” é permitido, tolerado, ou

insignificante, não haverá imputação objetiva, e, por conseguinte, atribuição

Page 175: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

causalderesultado.

Nessesentido,leiam-seasregrasbásicasdateoria,citadasporLUIZFLÁVIO

GOMES 205:

Regrasbásicasdateoriadaimputaçãoobjetivadaconduta:

(a)nãoháimputaçãoobjetivaquandooriscocriadoépermitido;

(1)nas situaçõesde risconormal—éocasodeHenryGeorge, instrutor

americano,quedeuaulasdepilotagemparao terrorista suicidaMohammed

Atta,quepilotouoaviãodaAmericanAirlinescontraaTorreNortedoWTC;

(2)nasintervençõesmédicas;

(3)naslesõesesportivas;

(4)nateoriadaconfiançaetc.

(b) não há imputação objetiva quando o risco é tolerado (ou aceito

amplamente pela comunidade): aqui, seja por força da teoria da imputação

objetiva,sejaemrazãodateoriadaadequaçãosocial,ofatoéatípico;

(c) não há imputação objetiva quando o risco proibido criado é

insignificante(condutainsignificante.Exemplo:jogarumcopod’águanuma

represacom10bilhõesdelitrosdeáguaqueveioainundartodaáreavizinha;

sendoacondutadoagente,nessecaso,absolutamente insignificante,nãohá

quesefalaremfatotípico);

Poderíamos, pois, à vista de todos esses ensinamentos, indagarmos se essa

Page 176: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

teoriaéaquemelhorexplicaonexodecausalidade.

Esãoosprópriospenalistasqueconcluemnosentidodeque,antesdeservir

comoumanovateoria,aimputaçãoobjetivaservemuitomaiscomomecanismo

científicolimitadordonexodecausalidade,paraidentificarassituaçõesemque

oresultadonãopoderiaseratribuídoaoagente.

Demonstrandotalassertiva,osupracitadoautorconclui:“Sepudéssemosnos

valer de uma imagem, diríamos que o nexo de causalidade é uma peneira de

espaços grandes enquanto a imputação objetiva conta com orifícios menores.

Muitos fatos passam pelo filtro do nexo de causalidade, não porém pelo da

imputaçãoobjetiva” 206.

É, portanto, muito mais uma teoria excludente do nexo causal do que

propriamenteafirmativadasuaexistência.

EestaúltimaconclusãotambémserveparaoDireitoCivil,razãoporquenão

acolocamosaoladodasteoriasanteriormentedesenvolvidas.

Page 177: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

CapítuloVIII

CausasExcludentesdeResponsabilidadeCivileCláusuladenãoIndenizar

Sumário: 1. Introdução. 2.Causas excludentes de responsabilidade civil. 2.1.Estado de necessidade.

2.2.Legítimadefesa.2.3.Exercícioregulardedireitoeestritocumprimentododeverlegal.2.4.Caso

fortuitoeforçamaior.2.5.Culpaexclusivadavítima.2.6.Fatodeterceiro.3.Cláusuladenãoindenizar.

1.INTRODUÇÃO

Após estudarmos os elementos componentes da responsabilidade civil,

cuidaremosnestecapítulodassuascausasexcludentes.

Trata-se de matéria com importantes efeitos práticos, uma vez que, com

frequência,éarguidacomomatériadedefesapeloréu(agentecausadordodano)

nobojodaaçãoindenizatóriapropostapelavítima.

Cuidaremos,pois,dasseguintesexcludentes:

1.Estadodenecessidade;

2.legítimadefesa;

3.exercícioregulardedireitoeestritocumprimentododeverlegal;

4.casofortuitoeforçamaior;

Page 178: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

5.culpaexclusivadavítima;

6.fatodeterceiro.

Apósanalisarmostodasessasexcludentes,cuidaremostambémdacláusulade

não indenizar, tendo em vista que se trata de uma manifestação de vontade

direcionadajustamenteàexclusãodaresponsabilidade.

2.CAUSASEXCLUDENTESDERESPONSABILIDADECIVIL

Como causas excludentes de responsabilidade civil devem ser entendidas

todasascircunstânciasque,poratacarumdoselementosoupressupostosgerais

da responsabilidade civil, rompendo o nexo causal, terminam por fulminar

qualquerpretensãoindenizatória.

Essenossoconceitotemporfinalidadeestabelecerumaregraquesirvaparaa

sistematizaçãodetodasasformasderesponsabilidade,exigindo-se,assim,uma

característicadegeneralidade.

Semprejuízodoexposto,mesmoreconhecendoquea“culpa”éumelemento

acidental para a caracterização da responsabilidade civil, vale registrar que,

quandoadotadaumaperspectivasubjetivista(lembre-sequearesponsabilidade

civil aquiliana, de um modo geral, ainda exige a comprovação necessária da

culpapara incidir), taldadoanímicoéfulminadotambémcomaocorrênciada

causaexcludente.

Compreendamosmelhor essa afirmação no conhecimento, em espécies, das

retromencionadascausas.

2.1.Estadodenecessidade

Page 179: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Oestadodenecessidadetemassentolegalnoart.188doCC/2002,noseuinc.

II,conformesevêabaixo:

“Art.188.Nãoconstituematosilícitos:

I—ospraticadosemlegítimadefesaounoexercícioregulardeumdireitoreconhecido;

II—adeterioraçãooudestruiçãodacoisaalheia,oualesãoapessoa,afimderemoverperigoiminente.

Parágrafoúnico.NocasodoincisoII,oatoserálegítimosomentequandoascircunstânciasotornarem

absolutamentenecessário,nãoexcedendooslimitesdoindispensávelparaaremoçãodoperigo”.

Oestadodenecessidadeconsistenasituaçãodeagressãoaumdireitoalheio,

devalorjurídicoigualouinferioràquelequesepretendeproteger,pararemover

perigo iminente,quandoascircunstânciasdo fatonãoautorizaremoutra forma

deatuação.

Diz-se, comumente, na hipótese, haver uma “colisão de interesses jurídicos

tutelados”.

Perceba-sequeoparágrafoúnicodoreferidoartigodeleiprevêqueoestado

denecessidade“somente seráconsiderado legítimoquandoascircunstânciaso

tornaremabsolutamentenecessário,nãoexcedendoos limitesdo indispensável

paraaremoçãodoperigo”.

Comisso,quer-sedizerqueoagente,atuandoemestadodenecessidade,não

está isento do dever de atuar nos estritos limites de sua necessidade, para a

remoção da situação de perigo. Será responsabilizado, pois, por qualquer

excessoquevenhaacometer.

Diferentementedoqueocorrena legítimadefesa,oagentenão reageauma

situação injusta, mas atua para subtrair um direito seu ou de outrem de uma

situaçãodeperigoconcreto.

Page 180: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Éocasodosujeitoquedesviaoseucarrodeumacriança,paranãoatropelá-

la, e atinge omuro da casa, causando danosmateriais.Atuou, nesse caso, em

estadodenecessidade.

Note-se,entretanto,que,seoterceiroatingidonãoforocausadordasituação

deperigo,poderáexigirindenizaçãodoagentequehouveraatuadoemestadode

necessidade,cabendoaesteaçãoregressivacontraoverdadeiroculpado(opai

dobebêqueodeixousozinho,porexemplo)(arts.929e930doCC/2002).

Nessesentido,oSTJ,emacórdãodalavradoMin.AldirPassarinhoJr.(REsp

124.527,DJ,5-6-2000):

“Aempresacujopreposto,buscandoevitaratropelamento,procedeàmanobraevasivaqueculminano

abalroamentodeoutroveículo,causandodanos,respondecivilmenteporsuareparação,aindaquenão

se configure na espécie a ilicitude do ato, praticado em estado de necessidade. Direito de regresso

asseguradocontraoterceiroculpadopelosinistro,nostermosdoart.1.520c/coart.160,II,doCódigo

Civil”.

Esse dever de reparação assenta-se na ideia de equidade e solidariedade

social 207.

Analisandoessasregras,WILSONMELODASILVApondera:

“Mas... e se a situação econômica do autor material do evento for de insolvência, enquanto que,

paralelamenteaisso,portadordefortunafosseoterceiroporcujaculpaodanotevelugar?Pelaleinão

parecequeavítimativesseaçãodiretacontraoterceiro.Dostermosdaleiclaramenteseinferequeseu

direitoseriacontraoautormaterialdodano.Este, sim,éque, regressivamente,poderiavoltar-se,em

tese,contraoterceiroculpadopara,dele,haveroquehouvessedesembolsadoemproveitododonoda

coisalesada” 208.

Nota-se, pois, aí, conclui o culto autor, com inegável razão: “mais outra

incongruênciadenossa lei”,queserevelaria“nasuadefeituosaecontraditória

Page 181: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

determinaçãonoquedizrespeitoaoestadodenecessidade” 209.

2.2.Legítimadefesa

Também excludente de responsabilidade civil, a legítima defesa tem

fundamentonomesmoart.188doCódigoCivil,incisoI,primeiraparte:

“Art.188.Nãoconstituematosilícitos:

I—ospraticadosemlegítimadefesaounoexercícioregulardeumdireitoreconhecido;

II—adeterioraçãooudestruiçãodacoisaalheia,oualesãoapessoa,afimderemoverperigoiminente.

Parágrafoúnico.NocasodoincisoII,oatoserálegítimosomentequandoascircunstânciasotornarem

absolutamentenecessário,nãoexcedendooslimitesdoindispensávelparaaremoçãodoperigo”.

Diferentemente do estado de necessidade, na legítima defesa o indivíduo

encontra-se diante de uma situação atual ou iminente de injusta agressão,

dirigidaasiouaterceiro,quenãoéobrigadoasuportar.

Note-seque,nocasodessaexcludentedeilicitude,adoutrinanãorecomenda

afugacomoacondutamaisrazoávelaseadotar,umavezqueconsideralegítima

adefesadeum interesse juridicamente tutelado,desdequeoagentenão tenha

atuadocomexcesso 210.

A legítimadefesa real (art. 188, I, primeiraparte, doCC/2002) pressupõe a

reação proporcional a uma injusta agressão, atual ou iminente, utilizando-se

moderadamentedosmeiosdedefesapostosàdisposiçãodoofendido.

Adesnecessidadeou imoderaçãodosmeiosde repulsapoderácaracterizaro

excesso,proibidopeloDireito.

Valelembrarque,seoagente,exercendoasualídimaprerrogativadedefesa,

atinge terceiro inocente, terá de indenizá-lo, cabendo-lhe, outrossim, ação

Page 182: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

regressivacontraoverdadeiroagressor.

Confiram-seosarts.929e930doCC/2002:

“Art.929.Seapessoalesada,ouodonodacoisa,nocasodoincisoIIdoart.188,nãoforemculpados

doperigo,assistir-lhes-ádireitoàindenizaçãodoprejuízoquesofreram.

Art.930.NocasodoincisoIIdoart.188,seoperigoocorrerporculpadeterceiro,contraesteteráo

autordodanoaçãoregressivaparahaveraimportânciaquetiverressarcidoaolesado.

Parágrafoúnico.Amesmaaçãocompetirácontraaqueleemdefesadequemsecausouodano(art.188,

incisoI)”.

Nessesentido,a jurisprudênciapátria (Ap.Cíveln.20000110423585,TJDF,

Rel.SilvânioBarbosadosSantos,julgadoem19-08-2002):

“Civileprocessocivil.Apelação.Danomoral.Preliminares.Rejeição.Mérito.Situaçãodeperigonão

atribuível à vítima. Condenação regular. Verba reparatória exacerbada. Diminuição. Honorários

advocatíciosinfimamentearbitrados.Aumento.1.Infundadaaalegaçãodenegativadejurisdição,haja

vista teraautoridade judiciáriadeprimeirograuafastadoas tesesde legítimadefesaoudeexercício

regular de direito. 2. Para a solução da lide, de nenhuma influência, se o vigilante achou (e aqui a

suposiçãonãoécausadeforrar-sedaresponsabilidadecivil)ounãoqueoclientefosseumassaltante,

pois, o que interessa é o resultado lesivo sofrido por este. 3. Mesmo que se aceitasse a tese dos

demandados, istoé,dequeovigilante teriaatuadoemlegítimadefesaounoexercícioregulardeum

direito reconhecido, é de se ver que tal circunstância não lhe tiraria a responsabilidade de indenizar

inocentes,restandoàspessoasjurídicasodireitodeiratrásdosterceirosqueprovocaramaatuaçãodo

vigilantepararessarcimento.4.Apesardeavítimatersidoalvejadaduasvezes,quandodoassalto,não

ofoiemregiãoquecausasseperigodevida.5.Conquantoalidenãoapresentecomplexidadeforado

comum,afixaçãodeverbahonoráriaemapenas5%(cincoporcento),ofendearegradoart.20,§3.º,

doCPC.

Decisão

Dar parcial provimento ao recurso adesivo para elevar a verba honorária para 10% (dez por cento).

Unânime”.

Namesmalinha,anote-sequealegítimadefesaputativanãoisentaoseuautor

Page 183: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

daobrigaçãode indenizar.Nesse caso,mesmoem facedopróprio sujeito que

suporta a agressão — não apenas do terceiro inocente — o agente deverá

ressarcirodano,poisessaespéciedelegítimadefesanãoexcluiocaráterilícito

daconduta,interferindoapenasnaculpabilidadepenal.

Explica-se.

Encontra-seemlegítimadefesaputativaoagenteque,emfacedeumasuposta

ou imaginária agressão, repele-a, utilizando moderadamente dos meios-

necessários para a defesa do seu direito ameaçado. Exemplo clássico: Caio

encontra o seu desafeto Tício. Este, então, leva amão ao bolso para tirar um

lenço. Caio, incontinenti, imaginando que o seu inimigo vai sacar uma arma,

atiraprimeiro.Poderá,pois,emtese,alegaralegítimadefesaputativa.

Nessecaso,acondutanãodeixadeserconsideradailícita,havendo,apenas,o

reconhecimentodeumadirimentepenal(causaexcludentedeculpabilidade).

Dessa forma,adespeitodepoderesquivar-seda reprimendapenal,oagente

(dalegítimadefesa)deveráressarcirosujeitoatingido.

2.3.Exercícioregulardedireitoeestritocumprimentododeverlegal

Nãopoderáhaverresponsabilidadecivilseoagenteatuarnoexercícioregular

deumdireitoreconhecido(art.188,I,segundaparte) 211.

Issoémuitoclaro.

SealguématuaescudadopeloDireito,nãopoderáestaratuandocontraesse

mesmoDireito.

Page 184: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Tal ocorre quando recebemos autorização do Poder Público para o

desmatamento controlado de determinada área rural para o plantio de cereais.

Atua-se,nocaso,noexercícioregulardeumdireito.Damesmaforma,quando

empreendemosalgumasatividadesdesportivas,comoofuteboleoboxe,podem

surgir violações à integridade física de terceiros, que são admitidas, se não

houverexcesso 212.

Interessanteexemplodeexercícioregulardedireitoéreferidoemacórdãodo

STJ,Rel.Min.SálviodeFigueiredoTeixeira,noREsp304192/MG,julgadoem

25-6-2001:

“Direito comercial. Cheque. Endosso viciado. Banco sacado. Dever de conferência. Devolução de

cheque. Exercício regular de direito (art. 160-I, CC). Descabimento de indenização. Art. 462, CPC.

Aplicação.Precedentes.Recursoprovido.

I — Consoante proclamado em precedentes da Turma, o banco cobrador ou apresentante está

desobrigado de verificar a autenticidade da assinatura do endosso. Por outro lado, todavia, tal não

significa que a instituição financeira estaria dispensada de conferir a regularidade dos endossos, aí

incluídaalegitimidadedoendossante.

II—Igualresponsabilidadeincumbeaobancosacado,nostermosdoart.39daLeidoCheque.

III—Ageemexercícioregulardedireito(art.160-IdoCódigoCivil)obancoqueserecusaapagar

chequecomirregularidadenoendosso,nãosepodendoimputaràinstituiçãofinanceira,peladevolução

dechequecomessevício,apráticaqueculmineemindenização.

IV—Nocaso,ficaressalvadoquea improcedênciadopedidode indenizaçãonãoeximeobancoda

obrigaçãodepagarocheque,umavezdemonstradonocursodaação(art.462,CPC)aregularizaçãodo

endosso”(grifosnossos) 213.

Poroutrolado,seosujeitoextrapolaoslimitesracionaisdolídimoexercício

do seu direito, fala-se em abusodedireito, situação desautorizada pela ordem

jurídica,quepoderárepercutirinclusivenasearacriminal(excessopunível).

Page 185: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Oabusodedireitoéocontrapontodoseuexercícioregular.

Essa teoria desenvolveu-se a partir do célebre caso de Clement Bayard,

julgadoporumtribunalfrancês,noiníciodoséculopassado.Oproprietáriode

um imóvel, sem razão plausível, construiu altas hastes pontiagudas para

prejudicarovoodeaeronavesnoterrenovizinho.Cuidava-sedenítidoabusodo

direitodepropriedade 214.

Durante a vigência do Código anterior não havia norma expressa que

consagrasseessasituaçãodeilicitude,sustendoadoutrinaqueaadmissibilidade

da teoria defluiria daprópria análise do art. 160, I, segundaparte, doCódigo,

que, ao considerar lícito “o exercício regular de um direito reconhecido”,

reputariailícito,consequentemente,oseuexercícioirregularouabusivo.

ÉoqueocorrenahipóteseconstantedoREsp164391/RJ,Rel.Min.Sálviode

Figueiredo,julgadoem28-6-1999):

“Civileprocessocivil.Responsabilidadecivil.Empregadadoméstica.Suspeitadefurto.Trancamento

no apartamento.Queda do edifício. Suspeita de suicídio. Irrelevância. Responsabilidade dos patrões.

Exercício regular de direito. Inocorrência. Uso imoderado do meio. Doutrina. Recurso especial.

Pressupostos. Falsidade de documento. Matéria fática. Súmula/stj. Enunciado n. 7. Princípio da

identidadefísicadojuiz.CPC.Art.132.Sentençaproferidapelojuizdainstrução,removidoparaoutra

Vara damesmaComarca. Inocorrência de nulidade. Impossibilidade de enfrentamento de temas não

prequestionados.Recursodesacolhido.

I—A relação de trabalho entre patrão e empregada doméstica confere àquele o poder de exigir tão

somenteasobrigaçõesdecorrentesdocontratodetrabalho.Prenderoempregadonolocaldetrabalho,

soboargumentodeaveriguaçõesquantoaeventualilícitopraticado,constituiusoimoderadodomeio,

nostermosdamelhordoutrina.

II—Oexercícioregulardeumdireitonãopodeagredirodireitoalheio,sobpenadetornar-seabusivoe

desconformeaosseusfins.

Page 186: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

III — O cerceamento ao direito fundamental de ir e vir encontra no ordenamento constitucional

hipótesesrestritas,nãosepodendoatribuiraoempregadoropoderdetolheraliberdadedoempregado,

aindaqueporsuspeitadecrimecontraopatrimônio.

IV—Matériaconcernentea falsidadedocumental,decididapelas instânciasordináriascombasenos

fatosdacausa,nãopodeserrevistaemsedederecursoespecial,nostermosdovetocontidonoverbete

n.7dasúmuladestaCorte.

V—Encontrando-sejáencerradaainstruçãodofeito,asimplesremoçãodojuizqueatenhaconduzido

e concluído, máxime se efetivada para outra vara da mesma comarca, não o impede de proferir a

sentença.

VI—Atécnicadorecursoespecialexigequeostemasconcernentesaosdispositivoslegaisapontados

comovioladospelorecorrentetenhamsidodebatidosnoacórdãoimpugnado”(grifosnossos).

O Código Civil atual, por sua vez, é expresso a respeito do tema,

disciplinando,emseuart.187,oabusodedireito.

Analisando esse dispositivo, conclui-se não ser imprescindível, pois, para o

reconhecimentodateoriadoabusodedireito,queoagentetenhaaintençãode

prejudicar terceiro, bastando, segundo a dicção legal, que exceda

manifestamente os limites impostos pela finalidade econômica ou social, pela

boa-féoupelosbonscostumes.

Pronunciando-searespeitodotema,ponderaSILVIORODRIGUES:

“acreditoqueateoriaatingiuseuplenodesenvolvimentocomaconcepçãodeJosserand,segundoaqual

há abuso de direito quando ele não é exercido de acordo com a finalidade social para a qual foi

conferido,pois,comodizestejurista,osdireitossãoconferidosaohomemparaseremusadosdeuma

forma que se acomode ao interesse coletivo, obedecendo à sua finalidade, segundo o espírito da

instituição” 215.

Adotou-se, portanto, o critério finalístico para a identificação do abuso de

direito.

Page 187: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Consoanteregistramosemnossoprimeirovolume,atítulodeexemplificação,

podemosapontaralgumashipótesesdeabusodedireito:“noDireitoContratual,

anegativa injustificada,causadoradeprejuízo,decontratar,apósoproponente

nutriralegítimaexpectativadaoutraparte;noDireitodasCoisas,ousoabusivo

dodireitodapropriedade,desrespeitandoapolíticadedefesadomeioambiente;

noDireitodeFamília,aexacerbaçãodopodercorrecionaldospaisemrelação

aos filhos;noDireitodoTrabalho,oexercícioabusivododireitodegreve;no

DireitoProcessualdoTrabalho,asançãocominadanosarts.731e732daCLT,

aplicável especialmente ao reclamante, que não comparece por duas vezes à

audiênciadesignada,deixandoarquivar(extinguiroprocessosemjulgamentodo

mérito)areclamação,semprequepercebeapresençadoreclamado,paratentar

forçar uma revelia deste, no dia em que o mesmo esteja impedido de

comparecer” 216.

Em conclusão, transcrevemos a precisa observação feita por SÍLVIO

VENOSA,dereferênciaàexpressaconsagraçãodateoriadoabusodedireitono

NovoCódigoCivilbrasileiro:“OProjeto,deformaeleganteeconcisa,prescinde

da noção de culpa, no art. 187, para adotar o critério objetivo-finalístico. É

válida,portanto,aafirmaçãoapresentadadequeocritériodeculpaéacidentale

não essencial para a configuração do abuso. Adota ainda o Projeto, ao assim

estabelecer,acorrentemajoritáriaemnossomeio” 217.

Nessediapasão,foieditadooEnunciadon.37sobreoart.187doCC/2002,na

I Jornada de Direito Civil da Justiça Federal, consolidando a ideia de que “a

responsabilidade civil decorrente do abuso do direito independe de culpa e

fundamenta-sesomentenocritérioobjetivo-finalístico”.

Page 188: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Umbilicalmente ligado a essa excludente é o estrito cumprimento do dever

legal.

Não o colocamos em tópico autônomo, independentemente do exercício

regular do direito, pois concordamos com a advertência de FREDERICO

MARQUES no sentido de que “o próprio ‘cumprimento do dever legal’, não

explícitonoartigo160 218,neleestácontido,porquantoatuanoexercícioregular

deumdireitoreconhecidoàquelequepraticaumato‘noestritocumprimentodo

deverlegal’” 219.

Assim,nãoháfalar-seemresponsabilidadecivilnocasodoagentedepolícia

que arromba uma residência para o cumprimento de uma ordem judicial, por

exemplo.

Veja-se, na jurisprudência, a aplicação dessa excludente (Ap. Cível n.

2425490,TJDF,Rel.DeoclecianoQueiroga,julgadoem6-5-1993):

“Reparaçãodedanos—Procedimentosumaríssimo—Acidentedetrânsitocausadoporpolicialmilitar

em serviço — Inexistência de conduta culposa ‘stricto sensu’ — Policial que sem condições de

descanso ou revesamento cumpria ordem de patrulhamento determinada por superior hierárquico—

Excludente de responsabilidade reconhecida pela decisão monocrática— Improvimento do recurso.

Corretaéadecisãodeprimeirograuquejulgaimprocedenteaçãodereparaçãodedanospropostacontra

policialmilitarque,emrespeitoàordemdesuperiorhierárquicoe,semdescansoourevesamento,causa

acidentedetrânsito,apesardeestarobedecendoavelocidadedeterminadaparaolocalondeocorreuo

sinistro”(grifosnossos).

2.4.Casofortuitoeforçamaior

Dentre as causas excludentes de responsabilidade civil, poucas podem ser

elencadascomotãopolêmicasquantoaalegaçãodecasofortuitoouforçamaior.

Page 189: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Tal afirmação se respalda até mesmo na profunda cizânia doutrinária para

tentar definir a diferença entre os dois institutos, havendo quem veja nessa

diferença questão “meramente acadêmica”, uma vez que se trataria de

“sinônimosperfeitos” 220.

Respaldando,decertaforma,a inexistênciapragmáticadediferença, tantoo

Código de 1916 como o de 2002, em regras específicas, condensaram o

significadodasexpressõesemconceitoúnico,consoantesepodedepreenderda

análisedoseguintetextodoNovoCódigo:

“Art.393.Odevedornão respondepelosprejuízos resultantesdecaso fortuitooude forçamaior, se

expressamentenãosehouverporelesresponsabilizado.

Parágrafoúnico.Ocasofortuitooudeforçamaiorverifica-senofatonecessário,cujosefeitosnãoera

possívelevitarouimpedir”(destaquenosso) 221.

Norigorcientíficoqueaquisepropugna,parece-nosdesafiante,porém,tentar

distinguirasduasfiguras.

SegundoMARIAHELENADINIZ,“naforçamaiorconhece-seomotivooua

causa que dá origem ao acontecimento, pois se trata de um fato da natureza,

como,p.ex.,umraioqueprovocaumincêndio,inundaçãoquedanificaprodutos

ou intercepta as vias de comunicação, impedindo a entrega da mercadoria

prometida, ouum terremotoqueocasionagrandes prejuízos etc.”. Já “no caso

fortuito,oacidentequeacarretaodanoadvémdecausadesconhecida,comoo

caboelétricoaéreoqueserompeecaisobrefiostelefônicos,causandoincêndio,

explosãodecaldeiradeusina,eprovocandomorte” 222.

SILVIORODRIGUESlembraque

“asinonímiaentreasexpressõescasofortuitoeforçamaior,pormuitossustentada,temsidoporoutros

Page 190: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

repelida,estabelecendo,osváriosescritoresqueparticipamdestaúltimaposição,critériovariadopara

distinguirumadaoutra.Dentreasdistinçõesconhecidas,AGOSTINHOALVIMdánotíciadeumaque

adoutrinamodernavemestabelecendoequeapresenta,efetivamente,realinteresseteórico.Segundoa

referidaconcepção,ocasofortuitoconstituiumimpedimentorelacionadocomapessoadodevedorou

comasuaempresa,enquantoaforçamaioradvémdeumacontecimentoexterno” 223.

Parademonstrarqueosdoutrinadores,defato,nãoadotamcritérioúnicopara

a definição dos termos “caso fortuito” e “força maior”, vale conferir o

pensamentodoilustradoÁLVAROVILLAÇAAZEVEDO:“Peloqueacabamos

deperceber,casofortuitoéoacontecimentoprovindodanatureza,semqualquer

intervenção da vontade humana...”. A força maior, por sua vez, “é o fato do

terceiro,oudocredor;éaatuaçãohumana,nãododevedor,queimpossibilitao

cumprimentoobrigacional” 224.

Sem pretender pôr fim à controvérsia, pois seria inadmissível a pretensão,

entendemos, como já dissemos alhures, que “a característica básica da força

maior é a sua inevitabilidade, mesmo sendo a sua causa conhecida (um

terremoto,porexemplo,quepodeserprevistopeloscientistas);aopassoqueo

caso fortuito, por sua vez, tem a sua nota distintiva na sua imprevisibilidade,

segundo os parâmetros do homem médio. Nessa última hipótese, portanto, a

ocorrênciarepentinaeatéentãodesconhecidadoeventoatingeaparteincauta,

impossibilitando o cumprimento de uma obrigação (um atropelamento, um

roubo)” 225.

Nãoconcordamos,ainda,comaquelesque,seguindoopensamentodoculto

ARNOLDO MEDEIROS DA FONSECA 226, visualizam diferença entre

“ausênciadeculpa”e“casofortuito”,porentenderqueaprimeiraégênero,no

qual estaria compreendido o segundo. Melhor é a conclusão de SÍLVIO

Page 191: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

VENOSA,nosentidodenãoexistirinteressepráticonadistinçãodosconceitos,

inclusivepelofatodeoCódigoCivilnãotê-lofeito(art.393doCC/2002) 227.

Umdadoaseregistrar,porém,atéparamarcaranossadiscordânciasobreo

pensamentomencionado,éofatodequeocasofortuitoeaforçamaior,como

excludentes de responsabilidade, atacam justamente o nexo causal do dano

perpetrado e não necessariamente o elemento acidental culpa, embora o

elementoanímicotambémsejaalvejadocomasuaocorrência.

E o que dizer sobre a incidência de tal excludente nas hipóteses de

responsabilidadecivilobjetiva?

Aquestãoécomplexa 228,poisodesprezopeloelementoculpaé irrelevante

quandooqueseatacaéjustamenteoimprescindívelnexocausal.

Emprimeirolugar,éimportanteregistrarque,atémesmopelaanálisedaparte

final do caput do art. 393 do CC/2002, o devedor, à luz do princípio da

autonomiadavontade,podeexpressamenteseresponsabilizarpelocumprimento

daobrigação,mesmoemseconfigurandooeventofortuito.

Emexemplo jápornósventilado,“seumadeterminadaempresacelebraum

contrato de locação de gerador com um dono de boate, nada impede que se

responsabilize pela entrega da máquina, no dia convencionado, mesmo na

hipótese de suceder um fato imprevisto ou inevitável que, naturalmente, a

eximiriadaobrigação(umincêndioqueconsumiutodososseusequipamentos).

Nessecaso,assumiráodeverdeindenizarocontratante,seogeradorqueseria

locadohouversidodestruídopelofogo,antesdaefetivaentrega.Estaassunção

do risco, no entanto, para ser reputada eficaz, deverá constar de cláusula

Page 192: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

expressadocontrato” 229.

Enfrentando,porém,aquestãodaresponsabilidadecivilobjetiva,aassunção

de riscossomentepoderiaafastara responsabilizaçãonocasodecomprovação

efetiva, pelo sujeito responsabilizado, de absoluta ausência dos elementos

essenciaisdaresponsabilidadecivil(condutahumana,nexocausaledano) 230.

TratandodaresponsabilidadecivildoEstado,porexemplo,queanalisaremos

mais detidamente em capítulo próprio 231, SAULO JOSÉ CASALI BAHIA

lembraadistinçãoentreocasofortuitointernoeocasofortuitoexterno:

“O caso fortuito interno ocorreria a partir da atividade da própria administração. Seria um fato

imprevisível,masatrairiaresponsabilidadecivilaoEstado.Istoporquedeve-seentenderqueaatividade

estatalcriouumrisco.Seaadministraçãosecolocanomundofísico,guiandoumcarro,construindoum

edifício,fezsurgir,pelosófatodasuaatividade,umriscoparaosdemais.Reparará,portanto,poreste

riscoquecriou.Poucoimportaqueabarradedireçãodoveículooficialhouvessepartidopeloacasoou

o edifíciopúblicodesabadopela açãodas chuvas.Como sevê, não se exige apresençade culpa.A

teoriaéobjetiva(riscoadministrativo).

Por outro lado, haveria casos fortuitos (denominados casos fortuitos externos) que não adviriam da

atividadedaadministração,masde terceirosoudanatureza.Nestecaso,aadministraçãonãodeveria

reparar ao lesado (só a teoria do risco social fará com que o caso fortuito externo não sirva como

excludente).Numexemplo:ninguémpoderáreclamarresponsabilidadecivildoEstadoseumraiocaiu

sobresuaresidênciaedanificouotelhado” 232.

Ateseé,semdúvida,atrativa.

Todavia, parece-nos que, no rigormetodológico,muito doque se chamade

“caso fortuito externo” seria, simplesmente, a ausência de conduta humana

(comissiva— a prática de ato danoso, ou omissiva— a não observância de

deveres legais de conduta) imputável ao sujeito responsabilizado (no caso, à

Administração).

Page 193: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Havendo como identificar a conduta do responsabilizado, que assumiu os

riscos de sua atividade 233, somente a efetiva quebra do nexo causal poderá

ensejar o reconhecimento da excludente mencionada de responsabilidade

civil 234.

2.5.Culpaexclusivadavítima

A exclusiva atuação culposa da vítima tem também o condão de quebrar o

nexodecausalidade,eximindooagentedaresponsabilidadecivil.

Imagineahipótesedosujeitoque,guiandooseuveículosegundoasregrasde

trânsito, depara-se com alguém que, visando suicidar-se, arremessa-se sob as

suasrodas.Nessecaso,oeventofatídico,obviamente,nãopoderáseratribuído

aomotorista(agente),massim,etãosomente,aosuicida(vítima).

Outro exemplo, já no campo da responsabilidade do Estado, citado por

BANDEIRADEMELLO,merecereferência:

“figure-se que um veículo militar esteja estacionado e sobre ele precipite um automóvel particular,

sofrendoavariasunicamentenesteúltimo.Semosdoisveículosnãohaveriaacolisãoeosdanosnãose

teriamproduzido.Contudo,édeevidênciasolarqueoveículodoEstadonãocausouodano.Nãose

deveu a ele a produção do evento lesivo. Ou seja: inexistiu relação causal que ensejaria a

responsabilidadedoEstado” 235.

Nãoháfalar-se,pois,nessecaso,emresponsabilidadecivil.

Discorrendo sobre o tema,AGUIARDIAS, com habitual precisão, observa

que:“Admite-secomocausadeisençãoderesponsabilidadeoquesechamade

culpa exclusiva da vítima. Com isso, na realidade, se alude a ato ou fato

exclusivo da vítima, pelo qual fica eliminada a causalidade em relação ao

Page 194: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

terceirointervenientenoatodanoso” 236.

Mas note-se que somente se houver atuação exclusiva da vítima haverá

quebra do nexo causal. Como vimos linhas acima, havendo concorrência de

culpas (ou causas) a indenização deverá, como regra geral, ser mitigada, na

proporçãodaatuaçãodecadasujeito.

Na jurisprudência do STJ, tem-se exigido que o réu demonstre

suficientementeessacausa,paraefeitodeseeximirdaobrigaçãode indenizar,

consoante se lê no acórdãoda lavra doMin. JoséDelgado, a seguir transcrito

(REsp439408/SP,DJ,21-10-2002):

“Direito civil. Ação de reparação de danos. Responsabilidade civil. Indenização. Acidente

automobilístico.Ausênciadegradesdeproteçãono local.Demonstraçãode relaçãodecausaeefeito

entreaomissãoeasmortes.

1.Recursoespecialinterpostocontrav.Acórdãoquejulgouimprocedenteaçãoordináriadereparação

dedanosemfacedaPrefeituraMunicipaldeSãoPaulo,objetivandoaindenizaçãopelofalecimentodos

pais dos recorrentes, ao argumento de que os mesmos vieram a falecer em razão de acidente

automobilístico ocorrido na Marginal do Tietê, pois no local do acidente não existiam grades de

proteção,oqueimpediriaaquedadoveículo.

2.Paraqueseconfigurearesponsabilidadeobjetivadoentepúblico,bastaaprovadaomissãoedofato

danosoequedesteresulteodanomaterialoumoral.

3.Oexamedosautosrevelaqueestáamplamentedemonstradoqueoacidenteocorreuequeoevento

mortedeledecorreuequeaestradanãotinhagradedeproteção.

4.Arésóficariaisentadaresponsabilidadecivilsedemonstrasse—oquenãofoifeito—queofato

danosoaconteceuporculpaexclusivadavítima.

5.Aimputaçãodeculpaestálastreadanaomissãodarénoseudeverde,emsetratandodeviapública,

zelar pela segurança do trânsito e pela prevenção de acidentes (arts. 34, parágrafo 2.º, do Código

NacionaldeTrânsito,e66,parágrafoúnico,doDecreton.62.127/68).

6. Jurisdição sobre a referidamarginal de competência da ré, incumbindo a ela a suamanutenção e

Page 195: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

sinalização, advertindo os motoristas dos perigos e dos obstáculos que se apresentam. A falta no

cumprimento desse dever caracteriza a conduta negligente da Administração Pública e a torna

responsável (art. 66, parágrafo único, do Decreto n. 62.127/68) pelos danos que dessa omissão

decorrerem.

7.Estabelecidoassimonexocausalentreacondutaomissivaeo falecimentodospaisdorecorrente,

respondearépelareparaçãodosprejuízosdaídecorrentes,nocaso,osdanospatrimoniaispelacessação

dafontedesustentodosmenores.

8.Recursoprovido”(grifosnossos).

2.6.Fatodeterceiro

Nessamesmalinhaderaciocínio,interessasaberseocomportamentodeum

terceiro—quenãosejaoagentedodanoeavítima—rompeonexocausal,

excluindoaresponsabilidadecivil 237.

SegundoSÍLVIOVENOSA,“Aquestãoé tormentosana jurisprudência, eo

juiz, por vezes, vê-se perante uma situação de difícil solução. Não temos um

textoexpressodeleiquenosconduzaaumentendimentopacífico.Namaioria

dasvezes,osmagistradosdecidemporequidade,emboranãoodigam” 238.

Note-seque,aprincípio,desdequehajaaatuaçãocausaldeumterceiro,sem

quesepossaimputarparticipaçãodoautordodano,oelodecausalidaderestaria

rompido 239.

Todavia,amatérianãoépacíficae,detodasasexcludentes,estaéquemaior

resistênciaencontranajurisprudênciapátria.

Cite-se,porexemplo,aSúmula187doSupremoTribunalFederalnosentido

de que: “A responsabilidade contratual do transportador, pelo acidente com o

passageiro, não é ilidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação

Page 196: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

regressiva”.

O fundamento desse entendimento sumulado é claro na medida em que a

obrigaçãodotransportadoréderesultado,compreensivadeinafastávelcláusula

de segurança,mesmo que esta não esteja expressamente prevista no contrato.

Por isso, deverá indenizar a vítima, sem prejuízo de eventual direito de

regresso 240.

Emalgumashipóteses,entretanto,ofatodeterceiroquehajarompidoonexo

causal, sem que se possa imputar participação ao agente, exonera, em nosso

entendimento,completamenteasuaresponsabilidade,devendoavítimavoltar-se

diretamentecontraoterceiro.

Se,porexemplo,osujeitoestiverultrapassando,comoseu fusca,pelo lado

esquerdo da pista, um caminhão, e o motorista deste, imprudentemente,

arremessá-loparaforadaestrada,seráobrigado(oagentequeguiavaocarro)a

indenizaropedestrequeatropelou?Oupoderiaalegarofortuito,paraoefeitode

seeximirdaobrigaçãoderessarcir?

Emmuitosjulgados,tende-seareconheceraresponsabilidadedocausadordo

dano, a quem caberia ação regressiva contra o terceiro, mesmo em caso de

abalroamento(JTACSP,109/226,RT,646/89,RT,437/127).

Nãoentendemosassim,pois,emtalsituação,diferentementedoqueocorreno

estadodenecessidade,emqueosujeitocausadordodanoatuaparalivrar-sedo

perigo,noabalroamentodofusca,esteveículoforaapenasummeroinstrumento

nacadeiacausaldosacontecimentos.

Daíporque,nocaso,sórestariaàvítimaacionaromotoristadocaminhão.

Page 197: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Nessesentido,WILSONMELODASILVApondera:

“Seofatodeterceiro,referentementeaoqueocasionaumdano,envolveumaclaraimprevisibilidade,

necessidadee,sobretudo,marcadainevitabilidadesemque,para tanto, intervenhaamenorparcelade

culpaporpartedequemsofreoimpactosubstanciadopelofatodeterceiro,óbvioéquenenhummotivo

haveriaparaquenãoseequiparasseeleaocasofortuito.Foradaí,não.Sópelacircunstânciadesetratar

deumfatodeterceiro,nãosetornariaeleequipolenteaocasusouàvismajor” 241.

Nessesentido,ajurisprudênciapátria:

“Condutordoveículoabalroador. Inaplicabilidadedosarts.160, II, e1.520,CC.Hipótesediversada

apreciada no REsp 18.840-RJ (DJU de 28.03.94). Denunciação da lide. Improcedência do pedido

deduzidonaaçãoprincipal.Ônusdasucumbência.Preclusão.Recursodesacolhido.

I — Não há de atribuir-se responsabilidade civil ao condutor de veículo que, atingido por outro,

desgovernado,vemacolidircomcoisaalheia,provocando-lhedano,sendotalsituaçãodiversadaquela

emqueocondutordoveículo,aotentardesviar-sedeabalroamento,acabaporcausarprejuízoaoutrem.

II—Nocasoemtela,oprejuízoexperimentadopelodonodacoisadanificadanãoguardarelaçãode

causalidade com qualquer atitude volitiva do referido condutor, cujo veículo restou envolvido no

acidentecomomeroinstrumentodaaçãoculposadeterceiro”(grifosnossos) 242.

Parece-noslógico,porém,que,emsituaçõescomoessa,oônusdaprovaédo

causadormaterialdodano,quedevedemonstrarquesuaparticipaçãonoevento

danosofoicomomeroinstrumentodaatuaçãodoefetivoresponsável.

A matéria, entretanto, não é pacífica, havendo julgados, como vimos, no

sentido de autorizar que a vítima demande diretamente o causador do dano,

ressalvadoaesteodireitodeagirregressivamentecontraoterceiro,pormeioda

denunciaçãodalide(art.125,III,CPC/2015;art.70,III,CPC/1973).

3.CLÁUSULADENÃOINDENIZAR

Obviamente, pela naturezamesma do referido pacto, essa cláusula somente

Page 198: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

temcabidanaresponsabilidadecivilcontratual.

Trata-se,pois,deconvençãopormeiodaqualaspartesexcluemodeverde

indenizar,emcasodeinadimplementodaobrigação.

Após advertir que essa cláusula não poderá violar princípios superiores de

ordempública,omestreCAIOMÁRIODASILVAPEREIRA,lembrandoquea

sua admissibilidade em nosso direito é menos ampla do que no sistema

francês 243, observa: “Os seus efeitos consistem no afastamento da obrigação

consequenteaoatodanoso.Nãocontémapenasumainversãodoônusprobandi.

Dentrodocampodesuaaplicaçãoenoslimitesdesuaeficáciaéumaexcludente

de responsabilidade” 244. Daí por que também é conhecida como “cláusula de

irresponsabilidade”.

Emverdade,essacláusulanãonosagradamuito.

No Direito Civil ensinado e difundido na primeira metade do século XX,

imbuídode ideais individualistas e egoísticos, essa convenção teria lugarmais

apropriado.

Nãonosdiasdehoje,emquevivemosumrepensardoDireitoPrivado,mais

vocacionadoaossuperioresprincípiosconstitucionais,einfluenciadoporvalores

desolidarismosocial.

Oportunas, pois, nesse ponto, as poéticas e verdadeiras palavras de LUIZ

EDSONFACHIN:

“Passando por sobre o sistema tradicional do individualismo, cuja força ainda gera uma ação de

retaguardaparamantê-loincólume,osprincípiosdejustiçadistributivatornaram-sedominantes,aponto

de serem considerados tendências mundiais da ‘percepção bem concreta dessa coisa que se chama

solidariedade social que, nas modernas sociedades, já penetrou profundamente na área do direito

Page 199: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

privado’” 245.

Para esse novo Direito Civil, mais socializado, subversivo dos antigos

paradigmas,acláusuladenãoindenizar,postoquenãosejavedadapeloCódigo

Civil,écondicionadaaalgunsparâmetroscomoaigualdadedosestipulantesea

nãoinfringênciadesuperiorespreceitosdeordempública.

NãoéporoutromotivoqueoCódigodeDefesadoConsumidor,amaisbelae

revolucionária lei do País, em seu art. 25, veda cláusula que impossibilite,

exonereouatenuearesponsabilidadecivildofornecedor.

E o motivo é simples: a vulnerabilidade do consumidor aconselha a

intervençãoestatalnodomíniodaautonomiaprivada,paraconsiderarabusivaa

cláusulaquebeneficieaparteeconomicamentemaisforte.Principalmenteemse

tratando de contratos de adesão, em que a manifestação livre de vontade do

aderenteémaisreprimida.

Daí por que não consideramos válida a estipulação contratual costumei-

ramenteimpostaporempresasdeguardadeveículos(estacionamentospagos)no

sentidodenãose responsabilizarempor furtosdeobjetosocorridosno interior

dosautomóveis.

Desdequenãotenhaavítimaconcorridoexclusivamenteparaoevento(culpa

exclusiva da vítima), essa cláusula não prevalece, por ser abusiva, e a

indenizaçãohádesercabal.

Entretanto, situações há, em nosso direito, nas quais essa cláusula tem

validade,aexemplodonoticiadonoacórdãoabaixotranscrito:

“Condomínio.Furtodeveículo.Cláusuladenãoindenizar.

Page 200: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

1.Estabelecendo aConvenção cláusula de não indenizar, não há como impor a responsabilidade do

condomínio,aindaqueexistaesquemadesegurançaevigilância,quenãodesqualificaaforçadaregra

livrementepactuadapeloscondôminos.

2.Recursoespecialconhecidoeprovido”(STJ,REsp168346/SP,Rel.Min.WaldemarZveiter,DJ,6-9-

99)(grifosnossos).

Assim, à vista de todo o exposto, poderíamos fixar a premissa de que essa

cláusula só deve ser admitida quando as partes envolvidas guardarem entre si

umarelaçãodeigualdade40,deformaqueaexclusãododireitoàreparaçãonão

traduzarenúnciadaparteeconomicamentemaisfraca.246

Page 201: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

CapítuloIX

AResponsabilidadeCivilSubjetivaeaNoçãodeCulpa

Sumário:1.Introdução.2.Brevehistóricoeconceitodeculpa:daglóriaaodeclínio.3.Elementosda

culpa. 4. Graus e formas de manifestação da culpa em sentido estrito (negligência, imprudência e

imperícia).5.Espéciesdeculpa.

1.INTRODUÇÃO

Talvezonosso leitor possa ter percebido, durante a análise desta obra, que,

subvertendo a sistemática da teoria clássica da responsabilidade civil, nós

tivemos o cuidado de analisar a matéria sem o costumeiro vício de nos

deixarmosseduzirpelaideiadeculpa.

Duranteodesenvolvimentodoselementosdaresponsabilidadecivil,cuidou-

se de adotar um critério metodológico preciso, que servisse para as duas

principaisespéciesderesponsabilidade—asubjetiva(comaferiçãodeculpa)e

aobjetiva(semaferiçãodeculpa)—postas,ladoalado,peloCódigode2002.

Nãopreferimos,pois,umaemdetrimentodaoutra.

Por isso,o tópicoobjetodopresentecapítulonãofoi inseridonoestudodos

elementosourequisitoscomponentesdaresponsabilidade,emvirtudedefaltar-

Page 202: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

lheonecessáriocunhodegeneralidade.

Detalforma,reservamosopresentecapítuloparaaanálisedaculpa,temados

mais intrincados, e que já gozou de maior prestígio entre os cultores da

responsabilidade,sobretudologoapósaediçãodoCódigoCivilfrancês.

Em sequência, no Capítulo X, deitaremos olhos na responsabilidade civil

objetiva,comênfasenaatividadederisco.

2.BREVEHISTÓRICOECONCEITODECULPA:DAGLÓRIAAODECLÍNIO

Aexigênciadaculpacomopressupostodaresponsabilidadecivilrepresentou,

inegavelmente,umgrandeavançonahistóriadacivilização,namedidaemque

se abandonou o objetivismo típico das sociedades antigas, onde a resposta ao

mal causado era difusa, passando-se a se exigir um elemento subjetivo que

pudesseviabilizaraimputaçãopsicológicadodanoaoseuagente.

A despeito da falta de consenso,muitos doutrinadores apontam que foi por

meiodaLexAquilia que o conceito de culpa incorporou-se definitivamente à

responsabilidadeextracontratual(ouaquiliana)doDireitoRomano.

Observandotalaspecto,omagistralALVINOLIMAassevera:

“É incontestável, entretanto, que a evolução do instituto da responsabilidade extracontratual ou

aquiliana se operou, no direito romano, no sentido de se introduzir o elemento culpa, contra o

objetivismo do direito primitivo, expurgando-se do direito a ideia de pena, para substituí-la pela de

reparaçãododanosofrido” 247.

DoDireitoRomano—principal fonte histórica de que dispomos—para a

modernidade,aculpaencontrounoCódigoCivilfrancêsoseuprincipalanteparo

Page 203: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

normativo,espraiando-seeinfluenciandotodasaslegislaçõesmodernas.

Anossapróprialegislaçãocodificadade1916assentaaresponsabilidadecivil

nessa noção, ao estabelecer como norma genérica a responsabilidade civil

subjetiva,nostermosdoseuart.159.

Entretanto,todoesseprestígiodequegozouaideiadeculpa—entendidaem

sentido latopara compreender tambémodolo—esbarra emuma incômoda e

aparentementeintransponíveldificuldade:afixaçãosatisfatóriadoseuconceito.

Afinal,oqueseentendepor“culpa”?

SAVATIER, citado por AGUIARDIAS, após reconhecer na ideia de culpa

doiselementos(objetivo—odeverviolado,esubjetivo—aimputabilidadedo

agente),define-anos seguintes termos:“Aculpa (faute)éa inexecuçãodeum

dever que o agente podia conhecer e observar. Se efetivamente o conhecia e

deliberadamenteoviolou,ocorreodelitocivilou,emmatériadecontrato,odolo

contratual. Se a violação do dever, podendo ser conhecida e evitada, é

involuntária,constituiaculpasimples,chamada, foradamatériacontratual,de

quasedelito” 248.

Jáosalemães,comoobservaMARTON,tornariammaisobjetivaanoçãode

culpa,utilizandoparatantoocritériojustinianodobonuspaterfamilias 249.

OutradefiniçãoémencionadaporGHERSI:“Asíesquelaculpaimplicaun

juiciodereprochabilidadsobrelaconductadeunapersona,teniéndoseencuenta

la prudencia y la diligencia del actuar del sujeto.O, como enseñamRipertY

Boulanger,incurrirenculpaconsisteennoconducirsecomosedeberia” 250.

Entrenós,aculpasemprefoiconsideradapedradetoquedaresponsabilidade

Page 204: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

civil,preferindo-seidentificaremseuconceitoaideiadeviolaçãodeumanorma

jurídicaanterior.

Nessesentido,CAIOMÁRIODASILVAPEREIRA:

“A doutrina brasileira reza, mais frequentemente, no conceito vindo deMarcel Planiol (violação de

normapreexistente),semembargodeencontrarguaridaaideiade‘errodeconduta’,comoocorreem

minhasInstituiçõesdeDireitoCivil,vol.I,n.114;oucomSilvioRodrigues,DireitoCivil,vol.4,n.53;

oucomAlvinoLimaquandodizqueaculpaéumerrodeconduta,moralmenteimputávelaoagente,e

quenãoseriacometidoporumapessoaavisada,emiguaiscircunstâncias” 251.

Aindadentrodeumesforçoconceitual,oProfessorRUISTOCOpreleciona:

“Quando existe intenção deliberada de ofender o direito, ou de ocasionar

prejuízo a outrem, há o dolo, isto é, o pleno conhecimento domal e o direto

propósitodeopraticar.Senãohouvesseesseintentodeliberado,proposital,mas

oprejuízoveioasurgir,porimprudênciaounegligência,existeaculpa(stricto

sensu)” 252.

Emdecorrênciadaerudiçãodoconceito retroapresentado, reconhecemosser

umatarefapordemaisousadafixarmosumconceitonosso.

Tentaremos fazê-lo, dentro da perspectiva crítica e criadora desta obra,

embora não pretendamos esgotar a melindrosa noção de culpa em poucas

palavras.

Em nosso entendimento, portanto, a culpa (em sentido amplo) deriva da

inobservância de um dever de conduta, previamente imposto pela ordem

jurídica,ematençãoàpazsocial.Seestaviolaçãoéproposital,atuouoagente

comdolo;sedecorreudenegligência,imprudênciaouimperícia,asuaatuaçãoé

apenasculposa,emsentidoestrito.

Page 205: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Pelanaturaldificuldadedesubsunçãodocasoconcretoaoconceitoproposto,

as legislações falharam ao centralizar a responsabilidade civil no impreciso

conceitodeculpa.

Ainda mais em uma sociedade tão tumultuada como a nossa, em que a

globalização das relações econômicas, temperadas por frequentes notas de

exploração, aliada àmassificaçãodo consumoe ao incrementodo risco, torna

tãodifícilafixaçãodeumconceitotãosubjetivo.

Porisso,lembraMARTINHOGARCEZNETOque

“anoçãodeculpa,quepareciatãosólida,permitindoaRIPERT(LaRègleMoraledanslesObligations

Civiles,4.ed.,1949,n.112,pág.206)assinalarque,durantetodooséculoXIX,osjuristasnãoousaram

levantar qualquer dúvida sobre esse fundamento da responsabilidade, encontra-se, há cerca demeio

século,submetidoàcríticamaisseveradequesetemnotícianomundocontemporâneo.Enãoserápor

outrarazãoquesedáaessemovimentootítulode‘crisedaresponsabilidadecivil’” 253.

E o mais interessante de tudo é que foi no próprio Direito francês que

surgiramasprimeirasvozesdecríticaàconcepçãotradicionalapegadaàideiade

culpa.

O movimento iniciado pelas doutrinas de JOSSERAND e SALEILLES

passariaadirigirdurascríticasàconcepçãorestritivadaculpaque,dadaasua

imprecisão, não poderia resolver os complexos problemas referentes à

responsabilidadecivil 254.

A partir daí surgiria a teoria do risco, fundamento da responsabilidade

objetiva, que admitiria a possibilidade de responsabilização do sujeito que

empreendesseatividadeperigosa,independentementedaanálisedesuaculpa.

OCódigoCivilde1916,noentanto,consoante jáanotamos,profundamente

Page 206: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

influenciado pelo Direito francês, adotaria a culpa como viga de sua

responsabilidade,consoantesedepreendedaanálisedoseuart.159:

“Art.159.Aqueleque,poraçãoouomissãovoluntária,negligência,ouimprudência,violardireito,ou

causarprejuízoaoutrem,ficaobrigadoarepararodano.

Averificaçãodaculpaeaavaliaçãodaresponsabilidaderegulam-sepelodispostonesteCódigo,arts.

1.518a1.532e1.537a1.553”.

Comentandotaldispositivo,ponderaORLANDOGOMES:

“Odireitopátriobaseianaculpaaresponsabilidadedelitual.Nenhumadúvidasepodeter,comaleitura

do art. 159, doCód.Civil, de que aceitou a teoria subjetivista.Contudo, alguns escritores sustentam

que, em certas disposições, acolheu a doutrina objetiva, como se verá adiante. O fato de ter sido

consagrado o princípio da responsabilidade baseada na culpa não significa que, em nosso direito

positivo, inexistam regras consagradoras da responsabilidade fundada no risco. Leis especiais, como

dentreoutrasadeacidentedetrabalho,adotaramaconcepçãoobjetiva” 255.

ONovoCódigoCivil,porsuavez,afastando-sedaorientaçãodaleirevogada,

consagrou expressamente a teoria do risco e, ao lado da responsabilidade

subjetiva (calcada na culpa), admitiu também a responsabilidade objetiva,

consoanteseinferedaleituradoseuart.927:

“Art.927.Aqueleque,poratoilícito(arts.186e187),causardanoaoutrem,éobrigadoarepará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos

especificadosemlei,ouquandoaatividadenormalmentedesenvolvidapeloautordodanoimplicar,por

suanatureza,riscoparaosdireitosdeoutrem”(grifosnossos).

Percebe-se,então,que,aoladodaresponsabilidadedecorrentedoilícito(art.

186),emcujanoçãoencontra-seinseridaaideiadeculpa,poderáomagistrado

também reconhecer a responsabilidade civil do infrator, sem indagação do

elemento anímico (responsabilidade objetiva), em duas outras situações (além

daquela referenteaoabusodedireito—art.187—quenãopressupõeculpa),

Page 207: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

previstasnoparágrafoúnicodoreferidodispositivo.

a)noscasosespecificadosemlei;

b)quandoaatividadenormalmentedesenvolvidapeloautordodanoimplicar,

porsuanatureza,riscoparaosdireitosdeoutrem.

Como visto, a culpa passou por todo um processo de sedimentação

doutrinária,comlargoperíododeprestígioeprimazia,culminandoporperdera

importância de outrora nos ordenamentos jurídicos contemporâneos, inclusive

nonosso.

3.ELEMENTOSDACULPA

A culpa, em sentido amplo, compõe-se, segundo a doutrina tradicional, dos

seguinteselementos:

a) voluntariedadedo comportamentodo agente— ou seja, a atuação do

sujeito causador do dano deve ser voluntária, para que se possa reconhecer a

culpabilidade. Note-se que, se houver, também, vontade direcionada à

consecução do resultado proposto, a situação reveste-se de maior gravidade,

caracterizandoodolo.Neste,portanto,nãoapenasoagir,masopróprioescopo

doagenteévoltadoàrealizaçãodeumprejuízo.Naculpaemsentidoestrito,por

sua vez, sob qualquer das suas três formas de manifestação (negligência,

imprudênciaouimperícia),odanoresultadaviolaçãodeumdeverdecuidado,

semqueoagentetenhaavontadeposicionadanosentidodarealizaçãododano;

b) previsibilidade — só se pode apontar a culpa se o prejuízo causado,

vedadopelodireito, eraprevisível.Escapando-sedocampodaprevisibilidade,

Page 208: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

ingressamos na seara do fortuito que, inclusive, pode interferir no nexo de

causalidade,eximindooagentedaobrigaçãodeindenizar;

c) violaçãodeumdeverde cuidado— a culpa implica a violação de um

deverdecuidado.Seestainobservânciaéintencional,comovisto,temosodolo.

4.GRAUSEFORMASDEMANIFESTAÇÃODACULPAEMSENTIDOESTRITO(NEGLIGÊNCIA,IMPRUDÊNCIAEIMPERÍCIA)

Tradicionalmente, o nosso Código de 1916 abandonou a antiga gradação,

oriunda do Direito Romano, que estabelecia graus de culpa: grave, leve e

levíssima.

ComfundamentonadoutrinadeRUISTOCO,poderíamosexplicaressestrês

grausdaseguinteforma 256:

a) culpa grave — embora não intencional, o comportamento do agente

demonstra que omesmo atuou “como se tivesse querido o prejuízo causado à

vítima”,oqueinspirouoditado“culpalatadoloaequiparatur”;

b)culpaleve—éafaltadediligênciamédiaqueumhomemnormalobserva

emsuaconduta;

c)culpalevíssima—trata-sedafaltacometidaporforçadeumacondutaque

escaparia ao padrão médio, mas que um diligentíssimo pater familias,

especialmentecuidadosoeatento,guardaria.

DiferentementedoqueocorrenoDireitoPenal,emqueaculpaéconsiderada

paraefeitodefixaçãodasanção(pena-base),noDireitoCivil,asançãonãoestá

adstritaoucondicionadaaoelementopsicológicodaação,mas,sim,àextensão

Page 209: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

dodano.Paraefeitodeindenizar,portanto,nãosedistingue,apriori,odoloda

culpaleve,porexemplo.

Aliás,comolembraocultoCAVALIERI,“aindaquelevíssima,aculpaobriga

aindenizar(inlegeaquileaetlevissimaculpavenit)” 257.

Por isso, à luz do diploma anterior, a doutrina costumava criticar essa

distinção,apontandoasuapoucautilidade.

Nessesentido,SILVIORODRIGUES:

“Tal distinção se apresenta irrelevante em matéria de responsabilidade

extracontratual, onde a necessidade de reparar advém de culpa do agente (de

qualquer grau), mas onde o elemento predominante é o alcance do prejuízo

experimentadopelavítima”.Earremataconsiderandosermais“útiladistinção

entreaculpainconcretoeaculpainabstracto” 258.Aprimeiraseriaexaminada

nocaso sob julgamento, considerandoas circunstâncias fáticas apresentadas; a

segunda,aquelaquecontemplaohomemmédio,segundoanoçãodebonuspater

familias dos romanos. Para esse culto professor, deveria prevalecer, em nosso

sistema,aperquiriçãodaculpainconcreto,porseramaisadequada 259.

Entretanto,aimpressãoquetemosédequeoNovoCódigoCivilpassouase

importar com os graus de culpa, para efeito de mensurar a obrigação de

indenizardecorrentedaresponsabilidadecivil.

Ao analisarmos o parágrafo único do art. 944, regra sobre a qual nos

debruçaremos mais adiante ao estudarmos a indenização, constatamos que a

extensãododanodeixoudeseroúnicotermômetrodemensuraçãodareparação

civil, uma vez que se reconheceu ao juiz poderes para, agindo por equidade,

Page 210: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

reduzir o “quantum” indenizatório se verificar excessiva desproporção entre a

gravidadedaculpaeodano.

Com isso, quer-nos parecer que o legislador, lançando mão da análise dos

grausdeculpa,permitiuoabrandamentodasituaçãodoréu,facultandoaojuiz

impor-lhe sanção pecuniária menos gravosa, se verificar, no caso concreto, a

despeitodaextensãododano,queasuaculpafoileveoulevíssima.

Comentando esse dispositivo, PABLO STOLZE GAGLIANO, em artigo

publicadonoRepertóriodeJurisprudênciaIOB,observou:

“Acontece que o Código Civil recém-aprovado altera profundamente o tratamento da matéria, ao

permitir, emseuparágrafoúnicodoart. 944,queo juizpossa,por equidade,diminuir a indenização

devida,sehouverexcessivadesproporçãoentreagravidadedaculpaeodano.

Ora, tal permissivo, subvertendo o princípio de que a indenização mede-se pela extensão do dano,

permitequeojuizinvestigueculpaparaoefeitodereduziroquantumdebeatur.Éocaso,porexemplo,

de o magistrado constatar que o infrator não teve intenção de lesionar, embora haja causado dano

considerável.Seráqueavetustaclassificaçãoromanadeculpa(leve,graveegravíssima),oriundado

DireitoRomano,ressurgiudascinzas,talqualFenix?

Nãoseiatéondevaiautilidadedanorma,que,semsombradedúvida,postopossaseafigurarjustaem

determinadocasoconcreto,rompedefinitivamentecomoprincípioderessarcimentointegraldavítima.

Isso semmencionarqueo ilícitopraticadopodedecorrerdoexercíciodeatividadede risco,ouestar

previsto em legislação especial como ensejador de responsabilidade objetiva, e o juiz, para impor a

obrigaçãode indenizar,nãonecessite investigaraculpado infrator.Comoentãoexplicarque,parao

reconhecimento da responsabilidade seja dispensada a indagaçãoda culpa, e para a fixaçãodo valor

indenizatório,amesmasejainvocadaparabeneficiaroréu?” 260.

Resta-nossabercomoa jurisprudênciapátriaseposicionaráa respeitodessa

intrincadaquestão.

A priori, conforme apontamos em tópico anterior 261, a norma, embora

Page 211: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

formalmente não limitada, parece ter sido concebida sob medida para as

reparaçõespecuniáriasdedanosmorais,tendoemvistaaimpossibilidadefática

ejurídicadeseaferirobjetivamenteumvalorexatoeinquestionávelparaodano

perpetrado.

Outro tema menos polêmico diz respeito às formas pelas quais a culpa,

entendidaemsentidoestrito,semanifesta.

Nessesentido,teríamos:

a)negligência—éafaltadeobservânciadodeverdecuidado,poromissão.

Talocorre,porexemplo,quandoomotoristacausagraveacidentepornãohaver

consertadoasualanternatraseira,pordesídia;

b) imprudência — esta se caracteriza quando o agente culpado resolve

enfrentar desnecessariamente o perigo. O sujeito, pois, atua contra as regras

básicasdecautela.Casodoindivíduoquemandaoseufilhomenoralimentarum

cãodeguarda,expondo-oaoperigo;

c) imperícia — esta forma de exteriorização da culpa decorre da falta de

aptidãoouhabilidadeespecíficaparaa realizaçãodeumaatividade técnicaou

científica.Éoqueacontecequandoháoerromédicoemumacirurgiaemque

nãoseempregoucorretamenteatécnicadeincisãoouquandooadvogadodeixa

de interpor recurso que possibilitaria, segundo jurisprudência dominante,

acolhimentodapretensãodoseucliente.

Interessantenotarque,peladicçãodoart.186doCódigoCivil,a impressão

queseteméadequeolegisladornãopreviuaação“dolosa”,e,alémdisso,ao

tratar da ação “culposa”, apenas considerou a “negligência e a imprudência”,

Page 212: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

esquecendo-seda“imperícia”.

Leia-se,novamente,oartigo:

“Art. 186.Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e

causardanoaoutrem,aindaqueexclusivamentemoral,cometeatoilícito”.

Aomissãodolegislador,entretanto,éapenasaparente.

Embora não haja primado pela melhor técnica, podemos inferir desse

dispositivo que, ao fazer referência à “ação ou omissãovoluntária”, estaria o

legislador se referindo à atuação (comissiva ou omissiva) dolosa. A volunta-

riedadeaí,portanto,estariadirigidanãoaocomportamentoemsi(poisnaculpa

em sentido estrito também há “vontade de realizar a ação”), mas aos fins ou

propósitospretendidospeloagente.Dessaforma,seháintençãoouvontadede

atingirafinalidadedanosa,hádolo 262.

Namesma linha, a despeito de preferirmos uma redação que explicitasse a

imperícia,aúnicainterpretaçãorazoávelénosentidodeque,porserespéciede

negligênciatécnicaouprofissional,estariacompreendidanestaúltimaexpressão.

5.ESPÉCIESDECULPA

Porúltimo,vamosenfrentarasespéciesdeculpa.

Adependerdanaturezadodever jurídicoviolado,oagentepoderá teragido

comculpacontratualouculpaextracontratual.

Noprimeirocaso,viola-senormaprevistanocontrato,nosegundo,aatuação

do agente afronta a própria lei, a exemplo do que ocorre quando causa um

acidentedetrânsitoembriagado 263.

Page 213: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Temos, ainda, outras modalidades amplamente difundidas pela doutrina,

classificadasquantoaomodoemqueseapresentam:

a)culpainvigilando—éaquedecorredafaltadevigilância,defiscalização,

em face da conduta de terceiro por quem nos responsabilizamos 264. Exemplo

clássicoéaculpaatribuídaaopaipornãovigiarofilhoquecausaodano.No

Código de 2002, entretanto, a responsabilidade dos pais por atos dos filhos

menores,sobsuaautoridadeecompanhia,foiconsagradacomoresponsabilidade

objetiva,ouseja,semculpa,nostermosdoart.932,I;

b)culpaineligendo—éaqueladecorrentedamáescolha.Tradicionalmente,

aponta-se como exemplo a culpa atribuída ao patrão por ato danoso do

empregado ou do comitente 265. Tal exemplo também perdeu a importância

prática, remanescendo somente a título didático, considerando que o atual

Código firmou o princípio da responsabilidade objetiva nessa hipótese,

consoantesedepreendedaanálisedoart.932,III;

c)culpaincustodiendo—assemelha-secomaculpainvigilando,emboraa

expressão seja empregada para caracterizar a culpa na guarda de coisas ou

animais,sobcustódia 266.Amesmacríticaanteriorpodeserfeita.Nostermosdo

Códigode2002,o fatoda coisaoudoanimaldesafia a responsabilidade civil

objetiva, razão por que essa categoria, da mesma forma, perdeu importância

prática,subsistindomaisatítuloilustrativo;

d)culpa incomittendoouculpa in faciendo—quandooagente realizaum

atopositivo,violandoumdeverjurídico;

e) culpa in omittendo, culpa in negligendo ou culpa in non faciendo —

Page 214: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

quando o agente realiza uma abstenção culposa, negligenciando um dever de

cuidado 267.

Conformetivemosaoportunidadederessaltar,considerandoqueoCódigode

2002alçoua responsabilidadecivilobjetivaaumpostodemaior importância,

pondo-aaoladodamodalidadesubjetiva,nota-sequeessasespéciesdeculpa,e,

consequentemente,as“presunções”tradicionalmentereconhecidaspeladoutrina,

perderamaimportânciadeoutrora.

Nãotemosdúvidadequeaculpaéumconceitocadavezmaisesquecidonas

sociedades contemporâneas, caracterizadas pelo incremento do risco e pela

imprevisãoinstitucionalizada.

Importante notar, finalmente, a existência ainda da denominada culpa in

contrahendo,aquelaemqueincorreoagentenafaseanterioràelaboraçãodeum

contrato(fasedepontuaçãooudepunctação).

Trata-se, pois, deumamodalidadede culpaderivadadeumcomportamento

danoso da parte que, negando-se a celebrar o contrato esperado, prejudica o

legítimointeressedaoutra,emdetrimentodaregraéticadeboa-féobjetiva.

Nessesentido,clássicoacórdãodoTribunaldeJustiçadoRioGrandedoSul,

tendo como relator o então Desembargador Ruy Rosado de Aguiar Jr. (que,

depois, tornou-se ministro do STJ), na Apelação Cível n. 591028295

(julgamentoem6-6-1991):

“Ementa: Contrato. Tratativas. Culpa ‘in contrahendo’. Responsabilidade civil. Responsabilidade da

empresaalimentícia,industrializadoradetomates,quedistribuisementes,notempodoplantio,eentão

manifesta a intenção de adquirir o produto, mas depois resolve, por sua conveniência, não mais

industrializá-lo, naquele ano, assim causando prejuízo ao agricultor, que sofre a frustração da

Page 215: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

expectativadevendadasafra,umavezqueoprodutoficousempossibilidadedecolocação.Provimento

emparte do apelo, para reduzir a indenização àmetade da produção, pois uma parte da colheita foi

absorvidapor empresa congênere, as instânciasdaRé.Votovencido, julgando improcedente a ação”

(Ap.Cíveln.591028295,5.ªCâmaraCível,TribunaldeJustiçadoRioGrandedoSul,Rel.Des.Ruy

RosadodeAguiarJúnior,j.6-6-1991).

Namesmalinha,confira-se,emconclusão, trechode julgadodoE.Tribunal

deJustiçadoRiodeJaneiro(Ap.Cíveln.2002.001.18860,Rel.Des.Humberto

deMendonçaManes):

“Civil. Responsabilidade Civil. Ruptura das negociações preliminares. Dano moral a reparar.

Concordância da proprietária em vender o imóvel, assinando, para tanto, documentação necessária à

obtenção, pelo pretendente à compra, de financiamento junto àCaixaEconômicaFederal.A abrupta

ruptura,porpartedaproprietária,dasnegociaçõespreliminares,deixandodecompareceraCartóriopara

assinaraescrituradefinitiva,quandosuacondutafaziacreraooutrointeressadoqueonegóciojurídico

seconcretizaria, torna-a responsávelpelosprejuízoscausadosàquelequeagiudeboa-fé. Indenização

cabível,tantonoplanomaterialquantonomoral,quesejustificapelasteoriasdaculpaincontrahendo,

doabusodedireitodoatoilícitoedasregrasqueprotegemoagentedeboa-fé.Confirmaçãosubstancial

da sentença que concedeu verba de dano moral, já que composto o conflito relativamente ao dano

material.IndenizaçãodeR$10.000,00(dezmilreais)queatendeascircunstânciasdocaso,aplicando-

se,quantoàsverbasdesucumbência,aregracontidanoart.21,doCPC”.

Page 216: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

CapítuloX

ResponsabilidadeCivilObjetivaeaAtividadedeRisco

Sumário: 1. Introdução. 2.A responsabilidade civil objetiva na legislação especial e na atividade de

risco.3.Comoconciliararesponsabilidadecivilobjetivaeoart.944,parágrafoúnico,doatualCódigo

Civil.

1.INTRODUÇÃO

Neste capítulo, cuidaremos da responsabilidade civil objetiva, que ganhou

posiçãodedestaquenonovoCódigoCivil,refletindoanovafacedasociedade

contemporânea, em que o risco, especialmente decorrente do avanço

tecnológico,impôsumamudançadosantigosparadigmasdaleianterior.

Comabsolutaprecisão,demonstrandoamudançaporquepassaotratamento

daresponsabilidadecivilnoDireitobrasileiro,concluiGUSTAVOTEPEDINO:

“Com efeito, os princípios de solidariedade social e da justiça distributiva, capitulados no art. 3.º,

incisosIeIII,daConstituição,segundoosquaisseconstituememobjetivosfundamentaisdaRepública

a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, bem como a erradicação da pobreza e da

marginalizaçãoeareduçãodasdesigualdadessociaiseregionais,nãopodemdeixardemoldarosnovos

contornos da responsabilidade civil. Do ponto de vista legislativo e interpretativo, retiram da esfera

meramente individual e subjetiva o dever de repartição dos riscos da atividade econômica e da

autonomiaprivada,cadavezmaisexacerbadosnaeradatecnologia.Impõem,comolinhadetendência,

Page 217: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

o caminho da intensificação dos critérios objetivos de reparação e do desenvolvimento de novos

mecanismosdesegurosocial” 268.

Eéexatamentesobreessatendênciaobjetivistadaresponsabilidadecivilque

nosdebruçaremosapartirdeagora.

2.ARESPONSABILIDADECIVILOBJETIVANALEGISLAÇÃOESPECIALENAATIVIDADEDERISCO

Por influência do Direito francês, o Código Civil de Beviláqua calcou a

responsabilidade civil na ideia de culpa, consoante se depreende da simples

leitura do seu art. 159: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária,

negligência, ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica

obrigadoarepararodano”.

Ashipótesesde responsabilidadeobjetiva,por suavez, ficariam relegadasa

isoladospontosdaleicodificada,aexemplodaregraprevistaemseuart.1.529,

que impunha a obrigação de indenizar, sem indagação de culpa, àquele que

habitarumacasaoupartedela,pelascoisasquedelacaíremouforemlançadas

emlugarindevido.

Detalforma,aresponsabilidadecivilextracontratualouaquiliana,conforme

concebidapelocodificador,exigia,paraasuaconfiguração,alémdaaçãoilícita,

do dano e do nexo de causalidade, a perquirição do móvel subjetivo que

impulsionouocomportamentodoagente(asuaculpabilidade).

Entretanto,oavançotecnológico,favorecidosobremaneirapeloesforçobélico

característico do século XX, desenvolveu a denominada teoria do risco, que

serviriadebaseàresponsabilidadeobjetiva,ecujosreflexosseriamsentidospor

Page 218: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

grandepartedasleisespeciaisreguladorasdaatividadeeconômica 269.

Com notável acuidade, J. J. CALMON DE PASSOS sintetiza todo esse

contextohistórico:

“Osproveitos evantagensdomundo tecnológico sãopostosnumdospratosdabalança.Nooutro, a

necessidadedeovitimadoembenefíciodetodospoderresponsabilizaralguém,emquepeseocoletivo

daculpa.Odesafioécomoequilibrá-los.Nessascircunstâncias,fala-seemresponsabilidadeobjetivae

elabora-se a teoria do risco, dando-se ênfase àmera relação de causalidade, abstraindo-se, inclusive,

tantodailicitudedoatoquantodaexistênciadeculpa” 270.

Sob a influência dessas ideias, inúmeras leis especiais consagraram a nova

teoria, admitindo a responsabilização do agente causador do dano,

independentemente da prova de dolo ou culpa: o Decreto n. 2.681, de 1912

(responsabilidade das estradas de ferro por danos causados aos proprietários

marginais), a legislaçãodeacidentedo trabalho (Lein.5.316/67,oDecreton.

61.784/67,Lein.8.213/91),asLeisn.6.194/74e8.441/92(seguroobrigatório

deacidentesdeveículos—DPVAT),Lein.6.938/81(referenteadanoscausados

nomeioambiente), alémdopróprioCódigodeDefesadoConsumidor (Lein.

8.078/90),quetambémreconhecearesponsabilidadeobjetivadofornecedordo

produto ou serviço por danos causados ao consumidor. Isso tudo sem

esquecermosdaresponsabilidadeobjetivadoEstado,nostermosdoart.37,§6.º,

daConstituiçãodaRepública 271.

O atual Código Civil, por seu turno, afastando-se da orientação da lei

revogada, consagrou expressamente a teoria do risco e, ao lado da

responsabilidade subjetiva (calcada na culpa), admitiu também a

responsabilidadeobjetiva 272,consoanteseinferedaleituradoseuart.927:

“Art.927.Aqueleque,poratoilícito(arts.186e187),causardanoaoutrem,ficaobrigadoarepará-lo.

Page 219: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos

especificadosemlei,ouquandoaatividadenormalmentedesenvolvidapeloautordodanoimplicar,por

suanatureza,riscoparaosdireitosdeoutrem”(grifosnossos).

Percebe-se,então,que,aoladodaresponsabilidadedecorrentedoilícitocivil

ou do abuso de direito, em cujas noções encontra-se inserida a ideia de culpa

(arts. 186 e 187), poderá omagistrado também reconhecer a responsabilidade

civil do infrator, sem indagação de culpa (responsabilidadeobjetiva), emduas

situações,previstasnoparágrafoúnicodoreferidodispositivo:

a)noscasosespecificadosemlei;

b)quandoaatividadenormalmentedesenvolvidapeloautordodanoimplicar,

porsuanatureza,riscoparaosdireitosdeoutrem.

Aprimeirahipóteseémuitoclara.

Comosevê, anova leimantém,naquiloquecomelanão for incompatível,

todaalegislaçãoespecialquejáreconheciaaresponsabilidadesemculpa.

Asegundasituação,entretanto,nãorestoubemdefinida.

Afinal,reconhecendoaresponsabilidadeobjetivaaosagentesempreendedores

de atividade de risco, estaria o legislador referindo-se especificamente a que

categoria de pessoas? Qual seria, pois, o âmbito de incidência dessa norma?

Quem estaria aí compreendido? Apenas o agente transportador de produtos

químicosouespecializadoemmanejodematerialnuclear?Ou,então,qualquer

pessoaqueexerçaumaatividadequepossacausardano—e,porisso,comrisco

—aoutrem?

E o que dizer do motorista que guia o seu veículo, todos os dias, até o

Page 220: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

trabalho? Ninguém poderá negar tratar-se de uma atividade cujo risco é

imanente. Em tal caso, se atropelar um transeunte, seria obrigado a indenizar,

mesmosemacomprovaçãodesuaculpa?

Essas sãoapenasalgumas indagaçõesquepoderão surgir, considerando-se a

naturezafluídicadaexpressão“atividadederisco”—conceitodemasiadamente

aberto—,comaentradaemvigordoNovoCódigoCivil.

Notandoaportaabertapelolegisladoraonãodelimitaroqueseentendepor

atividade de risco, CARLOS GONÇALVES pontifica: “... a admissão da

responsabilidade sem culpa pelo exercício de atividade que, por sua natureza,

representa risco para os direitos de outrem, da forma genérica como está no

texto, possibilitará ao Judiciário uma ampliação dos casos de dano

indenizável” 273.

Trata-se, portanto, de umdos dispositivosmais polêmicos doNovoCódigo

Civil, que,pela suacaracterísticadeconceito jurídico indeterminado, ampliará

consideravelmente os poderes do magistrado. Isso porque o conceito de

atividade de risco— fora da previsão legal específica— somente poderá ser

balizadojurisprudencialmente,comaanálisedoscasosconcretossubmetidosà

apreciaçãojudicial.

NEY MARANHÃO expõe, com inteira pertinência, a forte ligação desse

enunciadolegalcomosvaloresconstitucionais,destacando,também,que,aofim

eaocabo,caberámesmoaoPoderJudiciárioatarefadeapontar,emcadacaso,

quaisatividadesensejamograuderiscoqueolegisladortememmira.Seguem

suascolocações,verbis:

Page 221: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

“Cumpresublinhara jáperceptíveleestreitíssimaconexãoaxiológicaentreoartigo1.º, incisoIII,da

CartaMagna,eoartigo927,parágrafoúnico,doCódigoCivil.Équeestepreceitoinfraconstitucional

foi gestadoeveio à luz justamente em razãodapotente força conformadoraque subjaznoprincípio

constitucional da solidariedade (artigo 3.º, inciso I), que, em específico, invadindo a seara da

responsabilidade civil, veio fomentar que se densifique, no máximo de sua potencialidade fática

(mandadodeotimização–Alexy),oprincípioconstitucionaldadignidadedapessoahumana(artigo1.º,

inciso III). Logo, o dispositivo em apreço é fruto do dever de adstrição do legislador aos valores

constitucionais. É decorrência, portanto, da dimensão objetiva dos direitos fundamentais, que, pela

irradiação de suas substantivas diretrizes, conformou a atuação do Poder Legislativo, de modo a

estabelecer,agora,naatualquadradahistória,umamaiorproteçãoaoserhumano(...).Umdosefeitos

práticosdessearranjonormativoéoraiardeumaoportunacláusulaabertadepromoçãodadignidade

humana, inferência umbilicalmente relacionada comoque dispõe o artigo 5.º, § 2.º, daConstituição

Federal. Com isso, nosso ordenamento jurídico passa a exigir um escancarado espectro de máxima

proteção da pessoa humana, ainda que nem todas as situações de risco à sua dignidade estejam

legalmentedisciplinadas.Quandodaanálisedetalfenômeno,asseveramosqueaproteçãoàpessoadeve

sempre ocorrer,mesmo que à revelia de qualquer prévia e específica tipificação legal de proteção –

exatamentecomoforaexpressamenteafirmadonoartigosobanálise–(...).Agora,fatoéqueesserisco

em grande parte só poderá ser aferido caso a caso, não havendo mesmo como se fixar,

aprioristicamente,todasasatividadesqueinduzamumgrauacentuadodeexposiçãoarisco,apontode

serem inseridosnocomandonormativodoartigo927,parágrafoúnico,doCódigoReale, sendoessa

umatarefaque terádeserexercitada,pois,compaciênciaepercuciência,à luzdascircunstânciasde

cadacasoconcreto” 274.

Na busca pela compreensão do sentido da norma, entendemos que é

imprescindívelcompreenderosentidodapalavra“risco”.

ParaMARIAHELENADINIZ,noseuprofícuoDicionárioJurídico:

“RISCO. Direito civil e direito comercial. 1. Possibilidade da ocorrência de um perigo ou sinistro

causador de dano ou de prejuízo, suscetível de acarretar responsabilidade civil na sua reparação. 2.

Medidadedanosouprejuízospotenciais,expressaemtermosdeprobabilidadeestatísticadeocorrência

edeintensidadeougrandezadasconsequênciasprevisíveis.3.Relaçãoexistenteentreaprobabilidade

de que uma ameaça de evento adverso ou acidente determinados se concretize com o grau de

vulnerabilidadedosistemareceptoraseusefeitos” 275.

Page 222: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Nonossoentendimento,aoconsignaroadvérbio“normalmente”,olegislador

quis referir-se a todos os agentes que, em troca de determinado proveito,

exerçam com regularidade atividade potencialmente nociva ou danosa aos

direitosdeterceiros.Somenteessaspessoas,pois,empreenderiamamencionada

atividadederisco,aptaajustificarasuaresponsabilidadeobjetiva 276.

Note-se, inclusive, que não se exige que a conduta lesionante seja ilícita

stricto sensu, mas, sim, pelo fato de que seu exercício habitual pode,

potencialmente, gerar danos a outrem, não sendo razoável admitir-se que a

autorizaçãolegalparaoexercíciodeumaatividadeimporteemconsiderarlícita

alesãoadireitodeterceiros.

A respeito da intelecção dessa regra, ADALBERTO PASQUALOTO

apresentou,naJornadadeDireitoCivil,realizadanoSTJ,Brasília,emsetembro

de2001,oseguinteenunciado,aprovadoàunanimidade:

“Enunciado38—Aresponsabilidadefundadanoriscodaatividade,comoprevistanasegundapartedo

parágrafo único do artigo 927, do novoCódigoCivil, configura-se quando a atividade normalmente

desenvolvida pelo autor do dano causar à pessoa determinada um ônus maior do que aos demais

membrosdacoletividade” 277(grifamos).

Emnossoentendimento,oexercíciodessaatividadederiscopressupõeainda

abuscadeumdeterminadoproveito,emgeraldenaturezaeconômica,quesurge

comodecorrência da própria atividade potencialmente danosa (risco-proveito).

Outro não é, aliás, o entendimento do grande ALVINO LIMA, quando

preleciona:“ateoriadorisconãosejustificadesdequenãohajaproveitoparao

agentecausadordodano,porquanto,seoproveitoéarazãodeserjustificativa

de arcar o agente com os riscos, na sua ausência deixa de ter fundamento a

Page 223: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

teoria” 278.

Isso bastaria, em nosso entendimento, para isentar da regra, sob análise, os

condutores de veículo, uma vez que, embora aufiram proveito, este não é

decorrência de uma atividade previamente aparelhada para a produção desse

benefício. Além do que, o direito à circulação em avenidas e rodovias é

imperativodaprópriaordemconstitucional,quenosgaranteodireitodeirevir.

Raciocíniocontrário,datavenia,seriaaconsagraçãodoabsurdo,poisestariase

dandoexegeseelásticaànormasobcomento.

A imprecisão de se trabalhar com um conceito jurídico indeterminado leva,

sucessivamente, porém, à seguinte questão: e omotorista de táxi, profissional

autônomo, que exerce sua atividade, com finalidade econômica, poderia estar

enquadradonaconcepçãodeatividadederisco?

Aperguntanãopermiteumarespostaimediata.

Comefeito,oatodedirigirnãogera,porsisó,“umônusmaiordoqueaos

demaismembrosdacoletividade”.

Todavia,asuapráticacomfinalidadelucrativatem,sim,umriscoembutido,

que não pode ser transferido para terceiros, se eles não concorreram

exclusivamenteparaosdanosocorridos.

Assim, abstraída a ocorrência de alguma excludente de responsabilidade, a

responsabilizaçãodeveráserobjetivapelosdanoscausadosnessaatividade,seo

evento danoso era potencialmente esperado, em função da probabilidade

estatísticadesuaocorrência.

Como se vê, a forma como a disciplina veio a ser inovada no sistema

Page 224: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

brasileiro pode gerar uma inicial insegurança nas relações jurídicas, pois

transmitirá para a jurisprudência a responsabilidade— sem trocadilho!— da

conceituaçãodeatividadederisconocasoconcreto 279.

Muitasoutrasintrincadasquestõespoderãosersuscitadasnadiscussãosobreo

quesecaracterizacomoatividadederiscoaensejarresponsabilizaçãoobjetiva.

Algumas delas, inclusive, como, por exemplo, a responsabilidade civil por

acidente de trabalho e a responsabilidade civil de profissionais liberais, como

médicos e advogados, serão desenvolvidas em capítulos próprios, na parte

especialdestevolume 280.

Ressalte-se, todavia, que, como se não bastasse todo esse amplo

reconhecimento da responsabilidade objetiva por ato próprio, o codificador

cuidou ainda de admiti-la nas situações de responsabilidade civil indireta (por

atodeterceiro—art.932),alémdaquelasdecorrentesdaguardadacoisaoudo

animal(arts.936,937e938),conformeestudaremosnospróximoscapítulos.

Assim, só para fixarmos um exemplo bem comum, se o meu filho menor

danificarocarroimportadodovizinho,estandoelesobaminhaautoridade(não

necessariamente guarda) e companhia, serei chamado a responder

“objetivamente”,semqueavítimasejaobrigadaaprovaraocorrênciadeculpa

invigilando,nostermosdosarts.932,I,c/c933doNovoCódigoCivil.

O mesmo raciocínio aplica-se aos tutores, curadores, patrões e donos de

hotéis, por atos praticados por seus tutelados, curatelados, empregados e

hóspedes.

É óbvio, porém, que tal responsabilidade civil não subsistirá se provada

Page 225: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

alguma excludente de responsabilidade. Exemplifiquemos, para esclarecer

melhoraquestão: seo filhomenordanificarocarro importadodovizinho,os

pais devem responder objetivamente, salvo se provarem, v. g., que o dano foi

causadoporculpaexclusivadavítima(engatouamarchaarésemperceberque

abicicletadomenorestavaparadaem lugarpermitido,adentrouabruptamente

comocarroemlugarproibidoetc.).

Caiupor terra, portanto, a tradicional “presunçãode culpa”, umavezqueo

legisladoroptouexpressamentenessashipótesespelaresponsabilidadeobjetiva.

Porfim,valelembrarque,contornandocríticasdoutrináriasquehádécadasse

repetiam,cuidouanovaLeiCodificadatambémdeestabelecer,emseuart.928,

que “o incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele

responsáveis não tiverem a obrigação de fazê-lo ou não dispuserem demeios

suficientes”.

Assim,noclássicoexemplodo“loucomilionário”,sendoocuradorpessoade

parcos recursos,opatrimôniodo incapazpoderá suportar a condenação,desde

quenãoopriveouosseusdependentesdonecessárioparaasuamantença(art.

928).

Nessesentido,mesmoantesdavigênciadoatualCódigo,oexcelenteSÍLVIO

VENOSA já advertia: “há, no entanto, moderna tendência de fazer incidir no

patrimôniodoamental a reparaçãododanopor ele causado,quando tenhaele

benssuficientesenãotenharesponsável,soboprismadaproteçãosocialampla

notocanteaorestabelecimentodoprejuízo” 281.

Dignadeencômios,nesseparticular,ainovaçãolegal.

Page 226: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

3.COMOCONCILIARARESPONSABILIDADECIVILOBJETIVAEOART.944,PARÁGRAFOÚNICO,DOATUALCÓDIGOCIVIL

Feitastodasessasconsiderações,jápodemosconcluirqueoCódigoCivilde

2002 colocou em posição de destaque a responsabilidade civil objetiva, que

passouacompreenderinúmerassituaçõesfrequentementevivenciadas,eparaas

quaisajurisprudênciatradicionalinsistiaemfazerincidirasclássicasregrasda

responsabilidadesubjetiva,estabelecendofalaciosas“presunçõesdeculpa”.

Peloamploespectrodeincidênciadalocução“atividadederisco”,arriscamo-

nosadizerqueagrandemaioriadassituaçõesderesponsabilidadecivilpostaà

apreciaçãojudicialseráresolvidasemaanálisedaculpabilidadedoinfrator.

E é exatamente por isso que não compreendemos bem, senão com certa

perplexidade,odispostonoart.944doCódigode2002:

“Art.944.Aindenizaçãomede-sepelaextensãododano.

Parágrafoúnico.Sehouverexcessivadesproporçãoentreagravidadedaculpaeodano,poderáojuiz

reduzir,equitativamente,aindenização”.

Claraéaprimeirapartedodispositivo.

É regra geral deDireito Civil que a indenizaçãomede-se pela extensão do

dano, sob pena de caracterizar enriquecimento sem causa 282. Não é, pois, a

intensidadedeculpaquealteraamensuraçãodoquantumdebeatur.Assim,seo

prejuízo é de 10, compreendendo o dano emergente e o lucro cessante, a

indenizaçãodevidatambémdeveráserde10,mesmoqueoagentecausadorda

lesãohajaatuadocomintensacargadedolo.

SemprefoiassimnoDireitoCivil,que,nesseparticular,afasta-sedoDireito

Penal, uma vez que, ocorrido um ilícito desse último jaez, o juiz criminal, ao

Page 227: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

impora reprimendaestatal (sançãopenal),graduaráapena-base,dentreoutros

critérios,deacordocomaculpabilidadedoinfrator.

Essa investigação psicológica não é exigida pelo Direito Civil para fixar a

indenizaçãodevida.Comobemdemonstrouocaputdoart.944,“aindenização

mede-sepelaextensãododano”.

AcontecequeoCódigoCivilde2002alteraprofundamenteo tratamentoda

matéria,aopermitir,emseuparágrafoúnicodoart.944,queo juizpossa,por

equidade, diminuir a indenização devida, se houver excessiva desproporção

entreagravidadedaculpaeodano.

Ora, tal permissivo, subvertendo o princípio de que a indenizaçãomede-se

pela extensão do dano, permite que o juiz investigue culpa para o efeito de

reduziroquantumdebeatur.Éocaso,porexemplo,deomagistradoconstatar

que o infrator não teve intenção de lesionar, embora haja causado dano

considerável.

Parece-nos,consoantevimosnocapítuloanterior,queavetustaclassificação

romana de culpa (leve, grave e gravíssima), oriunda do Direito Romano,

ressurgiudascinzas,talqualamitológicaPhoenix.

Éduvidosa,inclusive,atéondevaiautilidadedanorma,que,semsombrade

dúvida, embora possa se afigurar justa em determinado caso concreto, acaba

rompendodefinitivamentecomoprincípiobásicode ressarcimento integralda

vítima.

Isso sem mencionar que o ilícito praticado pode decorrer do exercício de

atividadede risco, ou estar previsto em legislação especial como ensejador de

Page 228: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

responsabilidade objetiva, e o juiz, para impor a obrigação de indenizar, não

necessiteinvestigaraculpadoinfrator.

Como então explicar que, para o reconhecimento da responsabilidade seja

dispensadaaindagaçãodaculpa,eparaafixaçãodovalorindenizatórioelaseja

invocadaparabeneficiaroréu?

Parece-nosqueolegisladornãoandoubemnesseponto,estabelecendoregra

anacrônicadiantedosistemaconsagrado.Anãoserquetaldispositivosomente

sejaaplicadoemsituaçõesderesponsabilidadesubjetiva,ouseja,amparadana

culpa, o que colocaria de fora os agentes empreendedores de atividade de

risco 283.

Essa preocupação também abateu o culto RUI STOCO, consoante se

depreendedaanálisedoseupensamento:

“Também o parágrafo único desse artigo, segundo nos parece, rompe com a teoria da restitutio in

integrumaofacultaraojuizreduzir,equitativamente,aindenizaçãosehouver‘excessivadesproporção

entreagravidadedaculpaeodano’.Aoadotarefazerretornaroscritériosdegrausdaculpaobroumal,

pois o dano material não pode sofrer influência dessa gradação se comprovado que o agente agiu

culposamente ou que há nexo de causa e efeito entre a conduta e o resultado danoso, nos casos de

responsabilidadeobjetivaousemculpa.Aliás,comoconciliaracontradiçãoentreindenizarporinteiro

quandosetratarderesponsabilidadeobjetivaeimporindenizaçãoreduzidaouparcialporqueoagente

atuoucomculpaleve,senaprimeirahipótesesequerseexigeculpa?” 284.

Detodooexposto,ficaoconviteàreflexão.

Page 229: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

CapítuloXI

ResponsabilidadeCivilporAtodeTerceiro

Sumário:1.Introdução.2.Tratamentolegaldamatéria.3.Responsabilidadecivildospaispelosfilhos

menores. 4. Responsabilidade civil dos tutores e curadores pelos tutelados e curatelados. 5.

Responsabilidade civil do empregador ou comitente pelos atos dos seus empregados, serviçais ou

prepostos.6.Responsabilidadecivildosdonosdehotéis,hospedariaseestabelecimentoseducacionais

poratodosseushóspedes,moradoreseeducandos.7.Responsabilidadecivilpeloprodutodecrime.8.

ResponsabilidadecivildaspessoasjurídicasdeDireitoPúblicoedeDireitoPrivado.

1.INTRODUÇÃO

Até aqui cuidamos da responsabilidade civil por ato próprio, ou seja,

decorrente da atividade do próprio sujeito a quem é imposta a obrigação de

indenizar.

Noentanto,épossívelqueosujeitosejachamadoarespondercivilmentepela

atuaçãodeumterceiro,ligadoasiporalgumtipodevínculojurídico,contratual

oulegal.

Trata-se da responsabilidade civil indireta ou por ato de terceiro (fato de

outrem),objetodopresentecapítulo.

2.TRATAMENTOLEGALDAMATÉRIA

Page 230: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Houveumasensívelmudançano tratamentodessamatéria, se compararmos

asdisposiçõesdoCódigode1916comodiplomade2002.

Na sistemática anterior, os responsáveis previstos no art. 1.521 (pais,

tutor/curador, patrão/amo/comitente, donos de hotéis/hospedarias ou

estabelecimentoscongêneres,diretoresdeestabelecimentoseducacionais), com

exceçãodosquehouvessemgratuitamenteparticipadodoprodutodocrime(art.

1.521, V), somente responderiam se fosse demonstrada a sua culpa ou

negligência,nostermosdoart.1.523.

Criticando essa postura do legislador, que impôs à própria vítima, em uma

acintosa inversão dos princípios da responsabilidade civil, o ônus de provar a

culpa do infrator, CLÓVIS BEVILÁQUA asseverava: “Esta prova deverá

incumbiraosresponsáveis,porissoquehácontraelespresunçãolegaldeculpa;

masoCódigo,modificandoa redaçãodosprojetos, impôsoônusdaprovaao

prejudicado.EssainversãoédevidaàredaçãodoSenado” 285.

Defato,afigura-se-nosabsurdoqueaprópriavítimatenhaqueprovaraculpa

do sujeito que deveria ter tido o cuidado de guarda, custódia ou vigilância do

agentecausadordodano.Teriaeu,portanto, lesadopelaatuaçãodeummenor

queatiçousodacáusticanapinturadomeucarro,queprovarqueoseupainãoo

vigiou devidamente? Ou seria mais justo que já pesasse contra esse pai uma

presunção de culpa (in vigilando), cabendo, pois, a ele mesmo, quando

demandado,oônusdeprovarquenãoatuoucomdesídia?

Ajurisprudênciabrasileira,entretanto,suavizandoarigidezdanorma,cuidou

de estabelecer o critério da presunção de culpa em desfavor dos responsáveis

Page 231: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

previstosnoart.1.521,facilitando,assim,oressarcimentodavítima 286.

Trata-sedepresunçõesrelativas,namedidaemqueosresponsáveispoderão

eximir-sedaobrigaçãodeindenizar,desdequeprovemnãohaverematuadocom

culpa.

No caso da responsabilidade por ato do empregado, o próprio Supremo

Tribunal Federal foi chamado a manifestar-se a respeito, editando famosa

súmula, que firmouumapresunção absoluta de culpa 287 do patrão por ato do

empregado, tornando indiscutívelasuaresponsabilidadecivil:“Súmula341.É

presumida a culpa do patrão ou comitente pelo ato culposo do empregado ou

preposto”.

Valeregistrar,inclusive,quetodasasformasderesponsabilidadecivilporato

de terceiro, previstas no mencionado artigo, decorreriam de uma culpa in

vigilando, salvo, justamente, a responsabilidade civil por ato de empregados,

serviçaiseprepostos,quesedariajustamenteporumaculpaineligendo,arcando

opatrão,amooucomitentecomosriscosdamáeleição.

Com isso, portanto, tendeu-se a reconhecer uma certa “perda de eficácia

social”dodefeituosoart.1.523doCódigoanterior,poratuação—repita-se!—

da própria jurisprudência, que passou a considerar presumida a culpa dos

responsáveisalireferidos.

Assim, com fundamento no Código anterior, teríamos o seguinte quadro

esquemático:

1.paisfilho(presunçãodeculpa invigilando);

Page 232: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

2.tutortutelado(presunçãodeculpa invigilando);

3.curadorcuratelado(presunçãodeculpa invigilando);

4.patrão, amo, comitente empregados, serviçais eprepostos (presunção

deculpaineligendo);

5. donos de hotéis, hospedarias ou estabelecimentos congêneres

hóspedes,moradores(presunçãodeculpainvigilando);

6. diretores de estabelecimentos educacionais educandos (presunção de

culpainvigilando).

Todo o sistema anterior, portanto, é calcado na ideia de culpa, ainda que

provadapormeiodepresunções,parafacilitarapostulaçãodavítima.

O Código de 2002, por sua vez, alterando significativamente esse cenário,

valendo-se visivelmente da teoria do risco, cuidou de acabar, de uma vez por

todas,comasmelindrosas“presunçõesdeculpa”,e,emumaatitudemaissériae

precisa, estabeleceu, nos termos dos seus arts. 932 e 933, que as situações ali

mencionadasderesponsabilidadecivilporatodeterceirodispensariamaprova

deculpa.

Consagrou-se,assim,aresponsabilidadeobjetiva,paraaquelashipótesesque

anteriormentevinhamtratadascomoderesponsabilidadesubjetiva(culposa)por

presunção.

A essa conclusão chegamos, ao analisarmos os referidos artigos de lei,

transcritosabaixo,inverbis:

Art.932.Sãotambémresponsáveispelareparaçãocivil:

Page 233: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

I—ospais,pelosfilhosmenoresqueestiveremsobsuaautoridadeeemsuacompanhia;

II—otutoreocurador,pelospupilosecuratelados,queseacharemnasmesmascondições;

III—oempregadoroucomitente,porseusempregados,serviçaiseprepostos,noexercíciodotrabalho

quelhescompetir,ouemrazãodele;

IV—osdonosdehotéis,hospedarias,casasouestabelecimentosondesealberguepordinheiro,mesmo

parafinsdeeducação,pelosseushóspedes,moradoreseeducandos;

V—osquegratuitamentehouveremparticipadonosprodutosdocrime,atéaconcorrentequantia.

Art.933.AspessoasindicadasnosincisosIaVdoartigoantecedente,aindaquenãohajaculpadesua

parte,responderãopelosatospraticadospelosterceirosalireferidos.

Trata-sedeenumeraçãonumerusclausus,deformaquenãosepoderáestender

asituaçõesnãoprevistas 288.

Por fim, uma última indagação se impõe: as pessoas consideradas

“responsáveis por ato de terceiro”, enumeradas no art. 932, teriam uma

responsabilidadesolidáriaousimplesmentesubsidiária?

Ao analisarmos o CódigoCivil, tanto o de 1916 quanto o de 2002, não se

verificaqualquerreferênciaexpressaà ideiaderesponsabilidadesubsidiáriano

LivrodoDireitodasObrigações.

Todavia, se o campo de investigação for ampliado para a análise de outros

livros do próprio Código Civil e da jurisprudência nacional, sem muita

dificuldadeépossívelencontrarprevisõesdessetipoderesponsabilidade.

Tratando, por exemplo, do registro da pessoa jurídica, o art. 46, V, do

CC/2002 estabelece que ele declarará “se os membros respondem, ou não,

subsidiariamente, pelas obrigações sociais”, o que, mutatis mutandis, também

estáprevisto,noquedizrespeitoaocontratosocialdassociedadessimples,no

Page 234: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

art.997,VI,doCC/2002.

Quando trata, também, da sociedade em comandita por ações, há previsão

expressadetalresponsabilidadenoart.1.091doCC/2002,inverbis:

“Art.1.091.Somenteoacionistatemqualidadeparaadministrarasociedadee,comodiretor,responde

subsidiáriaeilimitadamentepelasobrigaçõesdasociedade.

§ 1.º Se houvermais de um diretor, serão solidariamente responsáveis, depois de esgotados os bens

sociais.

§2.ºOsdiretoresserãonomeadosnoatoconstitutivodasociedade,semlimitaçãodetempo,esomente

poderãoserdestituídospordeliberaçãodeacionistasquerepresentemnomínimo2/3(dois terços)do

capitalsocial”.

No campo do Direito de Família, por exemplo, estabelece o art. 1.744 do

CC/2002umaresponsabilidadedomagistrado,queserádiretaepessoal,quando

não tiver nomeado o tutor, ou não o houver feito oportunamente;mas apenas

subsidiária, quandonão tiver exigidogarantia legal do tutor, nemo removido,

tantoquesetornoususpeito.

Masoqueseria,afinal,essaresponsabilidadesubsidiária?

Nada mais do que uma forma especial de solidariedade, com benefício ou

preferênciadeexcussãodebensdeumdosobrigados 289.

Defato,nasolidariedadepassiva,temosumadeterminadaobrigação,emque

concorreumapluralidadededevedores,cadaumdelesobrigadoaopagamento

de toda a dívida.Nessa responsabilidade solidária, há, portanto, duas oumais

pessoasunidaspelomesmodébito.

Naresponsabilidadesubsidiária,porsuavez,temosqueumadaspessoastem

odébitooriginárioeaoutra temapenasaresponsabilidadeporessedébito 290.

Page 235: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Por isso, existe uma preferência (dada pela lei) na “fila” (ordem) de excussão

(execução):nomesmoprocesso,primeirosãodemandadososbensdodevedor

(porquefoielequemsevinculou,demodopessoaleoriginário,àdívida);não

tendosidoencontradosbensdodevedorounãosendoelessuficientes,inicia-sea

excussãodebensdoresponsávelemcarátersubsidiário,portodaadívida.

Vale lembrar que a expressão “subsidiária” se refere a tudo que vem “em

reforçode...”ou“emsubstituiçãode...”,ouseja,nãosendopossívelexecutaro

efetivo devedor— sujeito passivo direto da relação jurídica obrigacional—,

devemserexecutadososdemaisresponsáveispeladívidacontraída.

Por isso, podemos afirmar que não existe, a priori, uma “obrigação

subsidiária” (motivopeloqual, talvez, os doutrinadores pátrios dedireito civil

normalmentenão sedebrucemsobreo temanessa área),mas simapenasuma

“responsabilidadesubsidiária”.

Ecomoficariam,afinal,ashipótesesprevistasnoart.932doCódigoCivil?

Emnossoentendimento,comautilizaçãodoadvérbio“também”noseucaput

(“Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil...), a lei estabeleceu

umaformadesolidariedadepassiva,oportunizandoàvítimaexigira reparação

civildiretamentedoresponsávellegal.

Éessaalinhadoparágrafoúnicodoart.942doCC/2002,aoestabelecerque

“são solidariamente responsáveis com os autores os coautores e as pessoas

designadasnoart.932”.

Cumpridaaobrigação,caberáaopagadordireitoderegressocontraapessoa

por quem se responsabilizou, ressalvada a hipótese de ser seu descendente,

Page 236: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

absolutaourelativamenteincapaz(art.934doCC/2002 291).

Umexemplo iráaclararahipótese: seopatrãopagaa indenizaçãodevidaà

vítima por conta da atuação ilícita do seu empregado, poderá, posteriormente,

cobrar deste último aquilo que desembolsou, se este tiver agido com dolo ou

culpa,conformeveremosemtópicoposterior 292.

O mesmo não acontecerá, entretanto, no caso de o pai pagar o prejuízo

causado pelo seu filhinho de 4 anos, pois o referido art. 934 impede que seja

ajuizadademandaregressivaemfacededescendenteincapaz.

3.RESPONSABILIDADECIVILDOSPAISPELOSFILHOSMENORES

Pelaordemnaturaldavida,ospais—biológicosouadotivos,poucoimporta

—sãoresponsáveisportodaaatuaçãodanosaatribuídaaosseusfilhosmenores.

NasistemáticadoCódigoanterior,oart.1.521somenteadmitiaessaformade

responsabilidadeemfacedos“filhosmenoresqueestivessemsoboseupodere

companhia”.

Com isso, admitiu-se que apenas aquele dos pais com quem o menor

mantivessecontatodiretopoderiaserchamadoàresponsabilidade.Assim,casoo

genitor não detivesse a guarda do menor, ficando este, por exemplo, em

companhia da mãe, cometido o dano, apenas esta última poderia ser

responsabilizada,ficandodeforaafigurapaterna.Claroestá,todavia,queseo

evento ocorresse durante o período do direito de visita, o pai poderia ser

responsabilizado.

Note-se, entretanto, que, enquanto vigeu o Código de 1916, essa

Page 237: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

responsabilidadesolidáriadospaisporatosdosfilhossomenteseaplicavaemse

tratandodemenorespúberes(relativamentecapazes—maioresde16emenores

de21anos).

Issoporqueoart.156daLeiCivilrevogada,semequivalentenoCódigoCivil

brasileiro de 2002, equiparava esses menores aos maiores, pelos ilícitos que

houvessem praticado. Vale dizer, caso dispusessem de patrimônio, seriam

responsabilizadosconjuntamentecomosseuspaispelodanocausado(obrigação

solidária) 293.

Emsetratandodeabsolutamenteincapaz(menorimpúbere),porsuavez,essa

regra não teria incidência, em virtude de o legislador o haver considerado

inimputável,e,porconsequência,apenassobreosseuspaispesariaaobrigação

civildeindenizar.

ComaentradaemvigordoatualCódigoCivil,amudançadetratamentolegal

damatériafoisignificativa.

Primeiramente, pela alteração da dicção do próprio inciso I do art. 932 que

substituiuasexpressões“poder”por“autoridade”,ficandoassimredigido:

“Art.932.Sãotambémresponsáveispelareparaçãocivil:

I—ospais,pelosfilhosmenoresqueestiveremsobsuaautoridadeeemsuacompanhia”.

Melhorassim.

Aexpressão“poder”noCódigoanterioreraanacrônica,namedidaemqueo

pai que não tivesse o menor em sua companhia não deixava de ter o “pátrio

poder”sobreele.

OCódigo de 2002 foimais técnico ao referir a expressão “autoridade” em

Page 238: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

lugardapalavra“poder”.Poroutro lado,aparentemente,optoupor restringira

responsabilidadeaopaiouàmãeque tivesseomenor“emsuacompanhia”,o

que pode não se afigurar justo, na medida em que a ambos os detentores do

poderfamiliarcompeteodeverdeeducar 294.

Ademais, vale lembrar que não mais se analisa culpa para efeito de

responsabilidade,aindaquesobaformadepresunção,namedidaemqueoart.

933 ressaltou que todas as modalidades de responsabilidade indireta são

objetivas.

Emaisumaobservaçãoimportantesefaznecessária.

Como jáobservado,oCódigode2002nãocontém regra semelhanteàquela

constantenoart.156daleirevogada,referenteàequiparaçãodomenorpúbere

aomaior.

Naverdade,olegisladorfoimaisalém.

No seu art. 928, subvertendo a teoria tradicional que considerava o menor

impúbereinimputável,aleicivilconsagrouaplenaresponsabilidadejurídicado

incapaz — em cujo conceito se subsume o menor —, desde que os seus

responsáveis não tivessem a obrigação de indenizar ou não dispusessem de

meiossuficientesparatanto:

“Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não

tiveremobrigaçãodefazê-loounãodispuseremdemeiossuficientes.

Parágrafoúnico.Aindenizaçãoprevistanesteartigo,quedeveráserequitativa,nãoterálugarseprivar

donecessáriooincapazouaspessoasquedeledependem”(grifamos).

Pouco importando, pois, que se trate de menor absoluta ou relativamente

Page 239: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

incapaz,seoseurepresentantenãotiveraobrigaçãodeindenizar(imaginequeo

paiestejaemcoma,eoseufilho,órfãodemãe,haja ficadoemcompanhiada

avó idosa, ocasião em que cometeu o dano), ou for pobre, poderá a vítima

demandar o próprio menor, objetivando o devido ressarcimento, caso haja

patrimôniodisponível 295.

Noentanto,oparágrafoúnicodoart.928,mitigandoaregraanterior,ressalva

que“aindenizaçãoprevistanesteartigo,quedeveráserequitativa,nãoterálugar

seprivardonecessáriooincapazouaspessoasquedeledependem”.Trata-sede

regraquetentaconciliarointeressedavítimacomasituaçãodehipossuficiência

doincapaz,quenãopoderáficaràmínguaemvirtudedesuaresponsabilização

civil.

4.RESPONSABILIDADECIVILDOSTUTORESECURADORESPELOSTUTELADOSECURATELADOS

O tutor, como se sabe, atua como representante legal do menor cujos pais

sejamfalecidos,declaradosausentesoudestituídosdopoderfamiliar.

Trata-se de ummúnus público, imposto por lei a determinadas pessoas, em

atençãoaomenor,nostermosdosarts.1.728a1.766doCódigoCivil.

Ora,comoexercepoderdedireçãosobreomenor,deverá,nostermosdoart.

932,II,responderpelosdanosqueelehajacometidoemfacedeterceiros.

Omesmosedigadocurador 296.

A curatela, diferentemente da tutela, dirige-se, em geral, à proteção das

seguintespessoas,naformadoart.1.767doCC/2002,comaredaçãodadapela

Page 240: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Lein.13.146,de6dejulhode2015(EstatutodaPessoacomDeficiência):

a)aquelesque,porcausatransitóriaoupermanente,nãopuderemexprimirsua

vontade;

b)osébrioshabituaiseosviciadosemtóxico;

c)ospródigos.

Ao lado de tais hipóteses, vale lembrar que este Estatuto prevê, em caráter

extraordinário, nos termos dos seus arts. 84 e 85, a curatela da pessoa com

deficiência que não possa se valer da tomada de decisão apoiada, instituto

previstoemseuart.116.

Atente-se, por outro lado, para o fato de que a curatela não apenas visa à

proteção demaiores,mas, também, poderá ser deferida para a salvaguarda de

interessesdonascituro(art.1.779doCC/2002).

Caso,portanto,ocurateladocometaumatolesivoaopatrimônioouadireito

deterceiro,oseucurador—pessoaaquemassistepoderdedireção—poderá

sercivilmenteresponsabilizado.

Tal regra, se levada às últimas consequências, afigura-se-nos por demais

injusta.

Nocasoda interdiçãoporprodigalidade,porexemplo,odeverdevigilância

impostoaocuradornãodeveriairaopontodetorná-losolidariamenteobrigado

pelo dano causado pelo pródigo, pois a sua assistência diz respeito apenas à

práticadeatosdedisposiçãopatrimonial.Emtodoomais,oindivíduopadecente

desse desvio comportamental rege a sua vida, sem a ingerência de quemquer

Page 241: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

queseja.

Por isso, entendemos dever o juiz ter redobrada cautela ao considerar a

responsabilidade dessas pessoas, analisando, na hipótese concreta, o grau de

participaçãoefetivadocuratelado.

Ealeianteriorgeravaaindaumoutrograveinconveniente.

Porprincípio,o“loucodetodoogênero”—expressãoinfelizqueveioaser

substituídapelanoçãode“enfermidadeoudeficiênciamental” (posteriormente

suprimidadacodificaçãocomoadventodaLein.13.146,de6dejulhode2015

(Estatuto daPessoa comDeficiência)— sempre fora considerado inimputável

emnossaordemjurídica.

Issoporque,emfacedele,nãoexistiaregrasemelhanteàquelaprevistaparao

menorpúbere(relativamenteincapaz)—art.156—queoequiparavaaomaior

peloilícitoquehouvessepraticado.Emoutraspalavras,causadoodano,restava

à vítima, tão somente, demandar o curador, a quem caberia fazer prova em

sentidocontrário,visandoilidirapresunçãodeculpainvigilando 297.

Etalsituaçãoseagravavaseocuradornãodispusessederecursosparaarcar

comoprejuízo,adespeitodariquezadoamental.

Avítimaquedariairressarcida...

Irresignada com a injustiça da questão, respeitável parcela da doutrina,

amparando-seemprincípiosdeequidadeerazoabilidade,passouaadmitirque,

emtalcaso,pudesseavítimacobraraindenizaçãodevidadopróprioincapaz.

Nessesentido,éopensamentodoprofessorSILVIORODRIGUES,consoante

Page 242: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

depreende-sedestetrechodesuaobra:

“NoBrasil,ondea legislaçãoésilentesobreaeventualresponsabilidadedoamental,oproblematem

preocupadoosjuristas,e,emborahajaquemopinenosentidodequeolegisladornãodistinguiuentreo

amentaleapessoanormal,paraefeitoderesponsabilidade,averdadeéqueaopiniãoprevalecenteéno

sentido contrário, ou seja, no de que o psicopata, sendo inimputável, não pode responder no campo

civil. Todavia, omesmo anseio de justiça que orientou os juristas, o legislador e os juízes daqueles

países acima apontados manifestou-se entre nós. Realmente, ‘de lege ferenda’, deve o juiz, por

equidade, determinar que o patrimônio do amental responda pelo dano por ele causado a terceiro

quando,seissonãoocorresse,avítimaficariairressarcida” 298(grifosnossos).

ONovoCódigoCivil,entretanto,conformevimoslinhasacima,contornouo

problema ao admitir a responsabilidade civil do incapaz que disponha de

patrimônio, respeitado o limite mínimo da renda para a sua mantença, nos

termosdoaquijátranscritoart.928,semequivalentenoCC/1916.

Assim, causado o dano, se o curador não tiver a obrigação de ressarcir

(imagine uma situação em que o indivíduo tenha causado danos antes da

designação formal do curador) ou não dispuser de condições para fazê-lo (for

pobre),opatrimôniodoincapazpoderáseratingidoparaasatisfaçãodavítima,

preservadaumarendamínimaparaasuaprópriamantençaoudaspessoasque

desidependameconomicamente(suafilhinha,porexemplo).

Finalmente, lembre-sedeque tantoo tutorquantoo curador,nos termosdo

art. 933, responderão pelo dano independentemente da existência de culpa

(responsabilidadecivilobjetiva), resguardadoodireitode regresso,nos termos

doart.934.

Algumas reflexões ainda devem ser feitas na perspectiva do Estatuto da

PessoacomDeficiência.

Page 243: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Como se sabe, este verdadeiromicrossistema jurídico reestruturou parte do

DireitoPrivadobrasileiro.

Aoconsiderarapessoacomdeficiêncialegalmentecapaz,nostermosdosseus

arts. 6.º e 84— ainda que precise se valer de institutos assistenciais como a

curatelaouatomadadedecisãoapoiadaparaatuarnavidasocial—olegislador

realizouum“saltoquântico”nadireçãodeumhorizontemaisjusto,inclusivoe

igualitário.

Nessecontexto,umaperguntaseimpõe:ocuradorcontinuariasolidariamente

responsávelpeloatodocuratelado?

Bem,oincisoIIdoart.932doCódigoCivilnãoforaexpressamenterevogado

nemalterado,especialmentepelofatodeacuratelapoderseraplicadaaoutros

sujeitos,aexemplodopródigo.

Acircunstânciadesereconheceracapacidadelegaldapessoacomdeficiência

não exclui o dever de cuidado e vigilância ínsitos à curatela, ainda que este

institutohajasidoredimensionadopeloEstatutodaPessoacomDeficiência.

Namesmalinha,aliás,paraevitarqueavítimafiqueirressarcida,adoutrina

brasileira admite a responsabilidade dos pais pelo ato do menor capaz, já

emancipadoporeles,atéquecompleteamaioridadelegal.

Omesmoraciocínio,porconsequência,podeseraplicadoàcurateladapessoa

comdeficiência,umavezque,nessescasosespecíficos,comovisto,acuratela

nãoimplicareconhecimentodeincapacidade.

5.RESPONSABILIDADECIVILDOEMPREGADOROUCOMITENTEPELOSATOSDOSSEUSEMPREGADOS,SERVIÇAISOU

Page 244: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

PREPOSTOS

AhipóteseversadanoincisoIIIdoart.932doNovoCódigoCivilbrasileiro

traz,emverdade,duassituaçõesassemelhadas,que,porém,nãoseconfundem.

Defato,aresponsabilidadecivildoempregadoroucomitente,pelosatosdos

seusempregados,serviçaisouprepostos,se justificapelopoderdiretivodesses

sujeitos em relação aos agentesmateriais do dano, sendo este o seu elemento

comum.

Todavia, há uma diferença substancial entre a natureza da relação jurídica

mantidaentreessessujeitos.

Comefeito,noprimeirocaso,exige-seaexistênciadeumarelaçãodetrabalho

subordinado (vínculo empregatício), única hipótese em que se pode esperar a

presençadeumsujeitoempregador.

Jánasegundahipótese,emquesemencionaa responsabilidadecivildeum

comitente 299,arelaçãojurídica-baseemquesepostulaaresponsabilizaçãopode

se dar das mais amplas formas de contratação civil 300 (nela, incluídas,

obviamente, as avenças comerciais), podendo se enquadrar, por exemplo, os

contratosdemandato(arts.653a685doCC/2002),comissão(arts.693a709do

CC/2002;semequivalentenoCC/1916,massimnoCódigoComercialde1850,

arts. 165 a 190, sob o nome de “comissãomercantil”), agência e distribuição

(arts.710a721doCC/2002),corretagem(arts.722a729doCC/2002)emesmo

a representação comercial autônoma (regulada pela Lei n. 4.886, de 9-12-

1965) 301,entreoutrasformascontratuais.

Nessesentido,conformedefineoinsuperávelDEPLÁCIDOESILVA:

Page 245: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

“COMITENTE.Denominaçãoquesedáàpessoaqueencarregaoutradecomprar,venderoupraticar

qualquer ato, sob suas ordens e por sua conta,mediante certa remuneração, a que se dá o nome de

comissão.

Éassimumdosparticipantesdocontratodecomissão,quejustamentedápoderesaocomissáriopara

que execute o negócio ou pratique o ato, a seu mando e sob sua conta, obrigando-se a pagar ao

comissárioasdespesasecomissõesresultantesdocontrato,eacumprirasobrigaçõesquedacomissão

(contrato)resultaremparaele.

Embora, sob vários aspectos, o comitente se assemelhe ao mandante, nem sempre ele o é, pois a

comissãopoderesultardemandatoousimplesmentedasordensparaexecuçãodeatoscomerciais,que

são feitos sob o nome e responsabilidade do comissário, que, assim, age autonomamente perante os

terceiroscomquemcontrata.

A responsabilidade do comitente, pois, relativamente aos atos praticados pela pessoa a quem os

incumbiudepraticar,decorredascondiçõesemqueforamdadasessasordens,seemvirtudedecontrato

decomissãomercantil,demandatooudepreposiçãocomercial,poissomentenestesdoisúltimoscasos,

perfeitomandanteé responsávelpelosatosdeseusmandatários, seagiremsegundosuas instruçõese

poderesdados.

Noentanto,mesmonacomissão,ocomitenteéresponsávelpelasobrigaçõesassumidaspelocomissário

nosnegóciosouoperaçõesrealizadospordeterminaçãodele” 302.

Comosevê,oquenosparecerelevante,emambasassituaçõescontidasno

inciso III, é a existência de um negócio jurídico celebrado entre o sujeito

responsabilizado e o autormaterial do dano, praticando este último a conduta

lesiva,“noexercíciodotrabalhoquelhescompetir,ouemrazãodele” 303.

Injustificável,porém,éapermanência,noCódigoCivilbrasileirode2002,da

expressãoserviçal,comosujeitopraticantedeatolesivo.

Isso porque, além de não trazer uma correspondência direta com o sujeito

responsabilizado (se empregador se refere a empregados e comitente a

prepostos, o que dizer dessa figura de “serviçais”, incrustada entre os dois

Page 246: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

sujeitos ativos?), a terminologia utilizada não é mais adequada para a

modernidade.

Aexpressão“serviçal”,antepondo-seaamo,poderiaplenamentesejustificar

paraoCódigoCivilbrasileirode1916,frutodeumprojetodeBEVILÁQUAde

1899,quandoaindaengatinhávamosnaconstruçãodeumasociedadecapitalista.

Naquela época, recém-saídos do regime escravocrata, em que não era

concebida a profissionalização das relações de trabalho, admitir relações de

servidãopoderiaseralgoaceitávelsocialmente.

Hoje,definitivamentenão!

Por isso, soadeverasestranhoqueaexpressão“amo” tenha sido suprimida,

masmantidaaideiade“serviçal”nodispositivocorrespondente.

Sepretendiaolegisladorincluirasformasdetrabalhovoluntário,despicienda

era amanutenção, pois, dentro do elástico conceito de preposto, poderiam ser

incluídostaissujeitos.

Porém, se pretendia pensar em situações de exploração em que haveria a

prestaçãodeserviçossemqualquerretribuição,emcondiçãoanálogaaotrabalho

escravo, o descumprimento damínima legislação trabalhista não converteria a

natureza jurídica da atividade, encaixando-se perfeitamente no conceito de

empregado.

Assim,preferimos entenderqueo referidodispositivo foi incluídode forma

pleonástica, apenas no sentido de reforçar a ideia de responsabilização do

tomador de serviços pelos danos causados pelo prestador, “no exercício do

trabalhoquelhescompetir,ouemrazãodele”.

Page 247: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Conforme já dito anteriormente, a redação do art. 934 do Código Civil

brasileiro de 2002 enseja o direito de regresso daquele que ressarciu o dano

causadoporoutrem.

No campo das relações de trabalho, contudo, o dispositivo deve ser

interpretado em consonância com o art. 462 da Consolidação das Leis do

Trabalho,quedispõe,inverbis:

“Art.462.Aoempregadorévedadoefetuarqualquerdescontonossaláriosdoempregado,salvoquando

esteresultardeadiantamentos,dedispositivosdeleioudecontratocoletivo.

§1.ºEmcasodedano causadopelo empregado, o desconto será lícito, desdeque esta possibilidade

tenhasidoacordadaounaocorrênciadedolodoempregado”.

Assim, para que o empregador possa descontar valores referentes a danos

causadosculposamentepeloempregado,seránecessáriaapactuaçãoespecífica,

oqueédispensável,pormedidadamaislídimajustiça,nocasodedolo.

Por fim, vale registrar que essa responsabilização se dá, inclusive, para a

preposiçãoemsedeprocessual, respondendooempregadoroucomitentepelos

atosdeseusempregadosouprepostos.

No processo trabalhista, preceitua o § 1.º do art. 843 consolidado que é

“facultado ao empregador fazer-se substituir pelo gerente, ou qualquer outro

preposto que tenha conhecimento do fato, e cujas declarações obrigarão o

preponente” (grifos nossos), incorrendo ele em fictaconfessio, todavezqueo

preposto/empregado 304 demonstrar não ter conhecimento do fato, objeto da

lide 305.

6.RESPONSABILIDADECIVILDOSDONOSDEHOTÉIS,HOSPEDARIASEESTABELECIMENTOSEDUCACIONAISPORATO

Page 248: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

DOSSEUSHÓSPEDES,MORADORESEEDUCANDOS

Podeatéparecerengraçado,mas,desdeosistemalegalanterior,osdonosde

hotéis, hospedarias e outros estabelecimentos onde se albergue por dinheiro

(albergues,motéisetc.)sãosolidariamenteresponsáveispelosdanoscausadosa

terceirosporseushóspedesoumoradores.

Claro que se o dano resulta da atuação de preposto do estabelecimento, a

responsabilidadecivildoseutitularéindiscutível.

O problema, entretanto, ganha proporções, se o dano é causado por outro

hóspede, caso em que somente a análise do caso concreto, com a aferição da

atuação causal do dono do hotel, poderá autorizar a conclusão por sua

responsabilidade.

Discorrendoarespeitodessetema,cominigualávelprecisão,prelecionaJOSÉ

DEAGUIARDIAS:

“Tudoestará,pois,emexaminar,dadoocasoconcreto,atéquepontointerveioacolaboraçãododono

dacasanofatodanoso.Éindubitávelquelheincumbe,mesmoquandohospedadorgratuito,umdever

desegurançaemrelaçãoaohóspede,poisnãosecompreendequesealbergueparalheproporcionarou

permitirodano,atravésde terceiro.Emquetermoselasepodeconsiderarcomoimpostaaodonoda

casaseráquestãoaresolver,tendoemvistaascircunstâncias” 306.

Na mesma linha, os diretores de estabelecimentos educacionais são

responsáveispelosdanoscausadosaosseuseducandosouaterceiros.

Nessesentido,observaSÍLVIOVENOSA:

“... Enquanto o aluno se encontra no estabelecimento de ensino e sob sua responsabilidade, este é

responsável não somente pela incolumidade física do educando, como também pelos atos ilícitos

praticadosporesteaterceiros.Háumdeverdevigilânciaeincolumidadeinerenteaoestabelecimento

de educação que, modernamente, decorre da responsabilidade objetiva do Código de Defesa do

Page 249: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Consumidor.O aluno é consumidor do fornecedor de serviços, que é a instituição educacional. Se o

agentesofreprejuízofísicooumoraldecorrentedaatividadenointeriordoestabelecimentoouemrazão

dele,esteéresponsável.Responde,portanto,aescola,seoalunovemaseragredidoporcolegaemseu

interior ou vema acidentar-se em seu interior. Pode atémesmo ser firmada a responsabilidade civil,

aindaqueoeducandoseencontreforadasdependênciasdoestabelecimento:imaginemosahipótesede

danos praticados por aluno em excursão ou visita organizada, orientada ou patrocinada pela escola.

Nesse caso, o dever de vigilância dos professores e educadores é ambulatório, isto é, acompanha os

alunos” 307.

Tal responsabilidade civil, comovisto, poderádecorrerdedanos causados a

terceiros ou, até mesmo, aos outros alunos, devendo-se registrar que, em se

tratandodeescolapública,aobrigaçãodeindenizarédoEstado.

Finalmente,adverte,comabsolutapropriedade,CARLOSGONÇALVESque

“em se tratando de educandos maiores, nenhuma responsabilidade cabe ao

educador ou professor, pois é natural pensar que somente aomenor é que se

dirigeessaresponsabilidade,porquantoomaiornãopodeestarsujeitoàmesma

vigilânciaquesefaznecessáriaaumapessoamenor” 308.

Mais uma vez, vale lembrar que o Novo Código considera de natureza

objetivaaresponsabilidadecivilde todasaquelaspessoasmencionadasemseu

art.932.

7.RESPONSABILIDADECIVILPELOPRODUTODECRIME

Aúltima previsão legal de responsabilidade do art. 932 refere-se a todas as

pessoas que, gratuitamente, houverem participado do produto do crime, até a

concorrentequantia.

Tais pessoas respondem, pois, solidariamente, pelos valores e bens

Page 250: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

decorrentesdapráticadocrime.

Se assim não fosse, estar-se-ia admitindo o espúrio enriquecimento dos

agentesdocrimeouseusbeneficiários.

CitandoBARROSMONTEIRO,STOCOobservaarespeitodessedispositivo

que:“Sealguémparticipougratuitamentenosprodutosdeumcrime,éclaroque

estáobrigadoadevolveroprodutodessaparticipaçãoatéaconcorrentequantia.

Odispositivosomenteconsagraumprincípiogeralmenteconhecido,queéoda

repetiçãodoindevido” 309.

8.RESPONSABILIDADECIVILDASPESSOASJURÍDICASDEDIREITOPÚBLICOEDEDIREITOPRIVADO

As pessoas jurídicas,mesmo não tendo a existência ontológica das pessoas

naturais, respondem, com seu patrimônio, por todos os atos ilícitos que

praticarem,atravésdeseusrepresentantes.

Do ponto de vista da responsabilidade civil, inexiste, inclusive, qualquer

distinçãoefetivaentreosentesdeexistênciafísicaparaosdeexistênciaideal.

Assim,independentementedanaturezadapessoajurídica(direitopúblicoou

privado), estabelecido um negócio jurídico com a observância dos limites

determinados pela lei ou estatuto, com deliberação do órgão competente e/ou

realização pelo legítimo representante, deve ela cumprir o quanto pactuado,

respondendo,comseupatrimônio,peloeventualinadimplementocontratual,na

formadoart.389doCC/2002 310.

Nocampodaresponsabilidadecivilaquilianaouextracontratual,aregrageral

Page 251: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

do neminem laedere (a ninguém se deve lesar) é perfeitamente aplicável às

pessoasjurídicas,estandoconsagradanosarts.186e187e927doCC/2002,que

nãofazemacepçãodequaispessoassãoasdestinatáriasdanorma.

Sobre a responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito público,

enfrentaremosaquestãoemcapítulopróprio,aoqualremetemosoleitor 311.

Emrelaçãoà responsabilidadecivildaspessoas jurídicasdedireitoprivado,

na mesma linha de responsabilização civil objetiva por ato de terceiro,

importantíssima norma está contida no art. 931 doCC/2002, que preceitua, in

verbis:

“Art.931.Ressalvadosoutroscasosprevistosemleiespecial,osempresáriosindividuaiseasempresas

respondemindependentementedeculpapelosdanoscausadospelosprodutospostosemcirculação”.

Tal norma se coaduna perfeitamente com as regras de responsabilização

objetivadoCódigodeDefesadoConsumidor,asquaisserãotambémabordadas

emcapítulopróprio 312.

Entendemos, ademais, que melhor do que “empresa” seria a denominação

“sociedadeempresária”,maisadequadaàdicçãodopróprioCódigoCivil.

Interessante notar, a título de curiosidade, que o antigo Projeto de Lei n.

6.960/2002(renumeradopara276/2007,antesdeseuarquivamentodefinitivo),

pretendiaalteraroreferidoart.931,parareferirqueosempresáriosindividuaise

asempresasresponderiamtambémpelosserviçosprestados.

Um ponto, porém, que deve ser observado é que, sem discussão da

responsabilidade civil das pessoas jurídicas, ainda é possível responsabilizar

patrimonialmenteseussóciose/ourepresentantes,naformadalei.

Page 252: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

De fato, dispõe o art. 790, II, do Código de Processo Civil de 2015

(equivalente ao art. 592, II, do CPC/1973), que ficam sujeitos à execução os

bens do sócio, nos termos da lei, explicitando, nomesmo diploma, o art. 795

(correspondenteaoart.596doCPC/1973):

“Art.795.Osbensparticularesdossóciosnãorespondempelasdívidasdasociedade,senãonoscasos

previstosemlei.

§1.ºOsócioréu,quandoresponsávelpelopagamentodadívidadasociedade,temodireitodeexigir

queprimeirosejamexcutidososbensdasociedade.

§2.ºIncumbeaosócioquealegarobenefíciodo§1.ºnomearquantosbensdasociedadesituadosna

mesmacomarca,livresedesembargados,bastemparapagarodébito.

§3.ºOsócioquepagaradívidapoderáexecutarasociedadenosautosdomesmoprocesso.

§4.ºParaadesconsideraçãodapersonalidadejurídicaéobrigatóriaaobservânciadoincidenteprevisto

nesteCódigo”.

Nessa responsabilização patrimonial, devem ser observadas as regras das

normas disciplinadoras de cada sociedade, em função da prática de atos

específicosdessessócios.

Nesses casos, em que se vai executar o sócio por dívidas societárias pelas

quais responde, como, por exemplo, nas hipóteses das sociedades em nome

coletivo ou das limitadas em que o sócio não integralizou o capital social, a

pessoajurídicanãopodeserignorada,nemmuitomenostidacomoinexistente.

Averificaçãodaresponsabilidadedossócios,porcontadeumasériedecausase

fatores,pressupõeaexistênciadapessoajurídica.

Alémdisso, porém, há a possibilidade da desconsideração da personalidade

jurídica,institutoquenãoseconfundecomaresponsabilidadepatrimonialdireta

deseussócios.

Page 253: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Defato,háumadistinçãonítidaentreresponsabilidadedossóciospordívidas

dasociedadeedesconsideraçãodapessoajurídica.

A disregard somente se justifica para as hipóteses em que não há

responsabilidade.Seosóciojáédiretamenteresponsável,nãoháquesefalarem

desconsideração. A teoria da desconsideração da pessoa jurídica serve,

exatamente, para achar, desvendar, revelar o verdadeiro “negociante”, que se

escondeucoma“máscara”dapessoajurídica.Serve,pois,paraassituaçõesem

queoatoé,emprincípio,lícito,sósendoilícitonamedidaemqueserevelaque

houveumabusonoexercíciododireitodeconstituirouvaler-sedeumapessoa

jurídica.

Como já dissemos anteriormente, em linhas gerais, “a doutrina da

desconsideraçãopretendeosuperamentoepisódicodapersonalidadejurídicada

sociedade,emcasodefraude,abuso,ousimplesdesviodefunção,objetivandoa

satisfação do terceiro lesado junto ao patrimônio dos próprios sócios, que

passamaterresponsabilidadepessoalpeloilícitocausado” 313.

Nessecontexto,deve-sereferiraimportantecontribuiçãodadapeloCódigode

Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90) que incorporou, em seu sistema

normativo,normaexpressaarespeitodateoriadadesconsideração:

“Art.28.Ojuizpoderádesconsiderarapersonalidadejurídicadasociedadequando,emdetrimentodo

consumidor,houverabusodedireito,excessodepoder, infraçãodalei, fatoouatoilícitoouviolação

dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência,

estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má

administração”.

(...)

“§ 5.º Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for, de

Page 254: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

algumaforma,obstáculoaoressarcimentodeprejuízoscausadosaosconsumidores”.

O Novo Código Civil, por sua vez, colocando-se ao lado das legislações

modernas, consagrou, em norma expressa, a teoria da desconsideração da

personalidadejurídica,nosseguintestermos:

“Art.50.Emcasodeabusodepersonalidadejurídica,caracterizadopelodesviodefinalidade,oupela

confusãopatrimonial,podeojuizdecidir,arequerimentodaparte,oudoMinistérioPúblicoquandolhe

couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam

estendidosaosbensparticularesdosadministradoresousóciosdapessoajurídica” 314.

Trata-sedenormaqueseafinacomatendênciademodernizaçãodoDireito

Civil,mormenteemseconsiderandooelogiávelreconhecimentodelegitimidade

doMinistérioPúblico,quandolhecouberintervir.

Page 255: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

CapítuloXII

ResponsabilidadeCivilpeloFatodaCoisaedoAnimal

Sumário: 1. Introdução. 2.A importância doDireito francês. 3.A doutrina da guarda da coisa e do

animalnoBrasil.4.O responsávelcivilpelaguardadacoisaoudoanimal.5.Tratamento legal.5.1.

Responsabilidade civil pela guarda do animal. 5.2. Responsabilidade civil pela ruína de edifício ou

construção. 5.3. Responsabilidade civil pelas coisas caídas de edifícios. 6.Questões jurisprudenciais

frequentes.

1.INTRODUÇÃO

Vivemos em uma sociedade perigosa, onde, não apenas os homens, mas

também as coisas e os animais podem acarretar graves riscos ao nosso patri-

mônioouànossaintegridadefísico-psíquica.

Não é por outra razão que já constatamos vivermos a “era do risco”,

especialmenteincrementadapeloavançotecnológico.

Poisbem.

Neste capítulo, estudaremos a responsabilidade civil decorrente dos danos

causadosporobjetosinanimadoseseresirracionais.

Trata-se, em outras palavras, do estudo da responsabilidade da pessoa que

Page 256: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

detémopoderde comandodas coisas e animais causadoresdedanos à esfera

jurídica de outrem, situação de prejuízo esta que, obviamente, não poderia

quedar-seirressarcida.

Imagine, apenas a título de ilustração, umpitbull solto— aquele simpático

cãozinhocujadentadaequivaleaalgumastoneladasdepressão—queatacauma

criança, causando-lhe lesões irreparáveis. Pondo-se de lado a indiscutível

investigaçãocriminalqueseráiniciada,nãosepoderáatribuirresponsabilidade

civilaopróprioanimal,desprovidodeinteligênciaediscernimento.

Namesmalinha,imagineodanocausadoporumgeradordeenergiaelétrica,

queexplode,queimandopessoas.

Aquemsedeveráatribuiraobrigaçãodeindenizar?

Lembra-nosAGUIARDIASque“sebemquenodireitoromanojáestivesse

fixada a chamada responsabilidade pelo fato da coisa, a locomotiva, o

automóvel, o avião, ou outros veículos que marcam a trepidação da vida

moderna e os inventos da era industrialmultiplicaram ao infinito os casos de

responsabilidadecivil,exigindomaisatençãoaosestudiosos” 315.

Obviamente que a denominação “responsabilidade pelo fato da coisa ou do

animal” dizmenos do que deveria pois, conforme já tivemos oportunidade de

frisar, a responsabilidade jurídica — penal, civil ou administrativa — é um

fenômeno inerente à atuação humana, e só interessa quando ligada ao

comportamentodaspessoas.

Concordamos, assim, com a corrente citada por CAVALIERI FILHO, que

prefere, por ser mais técnica, a expressão “responsabilidade pela guarda das

Page 257: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

coisasinanimadas”.Nessesentido,leia-seoseguintetrechodesuaobra:

“avidamodernacolocouànossadisposiçãoumgrandenúmerodecoisasquenostrazemcomodidade,

conforto e bem-estar, mas que, por serem perigosas, são capazes de acarretar danos aos outros.

Superiores razões de política social impõem-nos, então, o dever jurídico de vigilância e cuidado das

coisasqueusamos,sobpenadesermosobrigadosarepararmososdanosporelasproduzidos.Éoquese

convencionou chamar de responsabilidade pelo fato das coisas, ou como preferem outros,

responsabilidadepelaguardadascoisasinanimadas” 316(grifosnossos).

No entanto, em respeito à tradição do nossoDireito,manteremos, no título

deste capítulo, a expressão “responsabilidade civil pelo fato da coisa ou do

animal”.

Amenção, inclusive,a“fato”,enãoa“ato”, jápermitevisualizara ideiade

quesetratadeumaresponsabilizaçãoporumeventonãohumano,masque,por

uma relação jurídica firmada, deve o titular da coisa ou animal indenizar os

danoscausadosporessesseusbens.

2.AIMPORTÂNCIADODIREITOFRANCÊS

Sem sombra de dúvida, a doutrina civilista deve muito à nação francesa,

especialmentenocampodaresponsabilidadecivil.

FoiajurisprudênciadesseEstadoque,àluzdasideiasdePLANIOL,RIPERT

e BOULANGER, interpretando o Código Napoleão, chegou à teoria da

responsabilidadepelofatodacoisainanimada.

Conforme lembraCAIOMÁRIO, “a subordinaçãoda responsabilidadepelo

fato das coisas ao princípio da responsabilidade civil (que é enunciado na

disposiçãodoart.1.382daqueleCódigo)ocorreuatravésdaideiadepresunção

de culpa”. Posteriormente, lembra o professor mineiro, a doutrina viu nessa

Page 258: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

teoriaumaconsagraçãoparcialdateoriadorisco,nosentidodequeaoguardião

dacoisa,queusufruidoscômodos,caberiasuportarosincômodos(obrigaçãode

indenizar),emdecorrênciadosdanoscausadosporessamesmacoisa 317.

Apartir dodesenvolvimentodessa teorianosTribunaisdaFrança, portanto,

começou a ganhar forma e moldura jurídica na doutrina internacional a

responsabilidadepelofatodacoisae,consequentemente,doanimal.

3.ADOUTRINADAGUARDADACOISAEDOANIMALNOBRASIL

Comabsolutaprecisão,CAVALIERIlembraque talvezoprimeiro juristano

mundoatratardotema,mesmoantesdosteóricosfranceses,hajasidoobaiano

TEIXEIRADE FREITAS, em seu Esboço de 1865 que, pelo avanço de suas

ideias,restouincompreendidonaépocaemqueforaelaborado 318.

Nesseponto,vale transcrever,na íntegra,oart.3.690doEsboço,cujo título

era“Dodanocausadoporcoisasinanimadas”:

“Art. 3.690.Quando de qualquer coisa inanimada resultar dano a alguém, seu dono responderá pela

indenização,anãoprovarquedesuapartenãohouveculpa;comonosseguintescasos:

1.Desmoronamentodeedifícios,edeconstruçõesemgeralnotodoouemparte;

2.Caídadeárvoresmalarraigadas,ouexpostasacairnoscasosdeordináriaocorrência;

3.Lançamentodefumoinsólitoeexcessivodeforno,forjaoufornalha,paraasjanelasdovizinho;

4.Exalaçãodecheirosinfetosdecanos,cloacasedepósitos,paraascasasvizinhas,pormotivodesua

construção,semasprecauçõesnecessárias;

5. Umidades em paredes alheias por esterqueiras ou estrumeiras contíguas, e em geral por causas

evitáveis;

6.Compressãodoriocomvalados;

7.Obrasnovasdequalquerespécie,aindaqueemlugarpúblicocomlicença,emprejuízodeoutrem”.

Page 259: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Pela análise desse dispositivo, vê-se, com clareza, que o grande jurista já

disciplinavaaresponsabilidadepelaguardadascoisasedosanimaiscausadores

de dano, fundando a obrigação de indenizar na ideia de presunção de culpa,

consoantesedepreendedaanálisedapartefinaldocaputdoartigosobcomento.

Entretanto, nesse ponto, uma pergunta se impõe: a quem caberia essa

responsabilidade?

Éoqueenfrentaremosnopróximotópico.

4.ORESPONSÁVELCIVILPELAGUARDADACOISAOUDOANIMAL

Emnossoentendimento,oresponsávelpelareparaçãododanoprovenienteda

coisaoudoanimaléoseu“guardião”.

Porguardiãoentenda-senãoapenasoproprietário(guardiãopresuntivo),mas,

atémesmo,opossuidorouomerodetentordobem,desdeque,nomomentodo

fato,detivesseoseupoderdecomandooudireçãointelectual.

Assim, se a minha bomba d’água, malconservada, explode e lesiona um

transeunte,aobrigaçãodeindenizarseráimpostaamim,proprietárioeguardião

dacoisa,queestavasobaminhacustódiaedireção.

Diferentemente,seeucontratoumamestradordecães,confiando-lheaguarda

domeubuldogue, e este, durante uma sessãode treinamento, desprende-se da

coleira e causa dano a terceiro, obviamente que, pela reparação do dano,

responderáapenasoexpert,pois,nomomentododesenlacefatídico,detinhao

poder de comando do animal, que estava sob a sua autoridade. Raciocínio

Page 260: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

contrário, aliás, esbarraria na própria noção de nexo de causalidade, uma vez

que, no caso, o dano não poderia ser atribuído ao proprietário do cão, que o

havia confiado a um perito.O comportamento deste último foi causa direta e

imediatadoresultadolesivo.

Fixamos,portanto,apremissadequearesponsabilidadepelosdanoscausados

pela coisa ou animal há que ser atribuída àquela pessoa que, nomomento do

evento,detinhapoderdecomandosobreele.

Enote-sequeessaatribuiçãoderesponsabilidadenãoexigenecessariamente

perquirição de culpa. Ou seja, a depender do sistema legal consagrado, o

guardião poderá ser chamado à responsabilidade,mesmo que não haja atuado

com culpa ou dolo, mas pelo simples fato de haver exposto a vítima a uma

situaçãoderisco.

É lógico, porém, que, sendo a coisa ou animal de propriedade da

Administração Pública, a responsabilidade civil objetiva que esta detém pela

condutadeseusagentesaobrigaàreparaçãodosdanos,independentementedo

fato de o responsável direto pelo bemmóvel ou semovente ter tido culpa no

eventodanoso 319.

5.TRATAMENTOLEGAL

Nos próximos tópicos, verificaremos, de forma sistemática, como se dá a

responsabilizaçãocivilpelosdanoscausadosporessesbensmóveis(coisas)ou

semoventes(animais),nonossoordenamentojurídicopositivo.

5.1.Responsabilidadecivilpelaguardadoanimal

Page 261: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Infelizmente, nosúltimos anos, deparamo-nos comumcrescentenúmerode

incidentesenvolvendoanimaisferozes,porcontadafaltadecautelaecivilidade

dosseusdonosoupossuidores.

Não nos alinhamos junto àqueles que supõem uma ameaça ínsita, de raiz

genética,emdeterminadosanimais,porpensarmosqueanocividadedessesseres

decorre principalmente da forma pela qual são tratados ou criados por seus

donosoupossuidores.

Acampanhacontraacriaçãodoscãesdaraçapitbull,porexemplo,pormais

compreensível que se afigure, parte, em muitos casos, do pressuposto de

periculosidade inata do animal, quando, em verdade, a falta de bom senso e

respeitodosseusdonoséaprincipalrazãodosacidentesgraves.

Ohomemdeixouderespeitaranaturezaeoinstintodosanimais,passandoa

tratá-loscomosefossemumaextensãodesuapessoa,desuasmágoas,deseus

complexosedeseussofrimentos.

E talvez todo esse processo de banalização no tratamento dos animais,

agravado pelo crescente número de acidentes, conduziu o legislador a mudar

significativamente o tratamento legal da matéria no Novo Código Civil, que

passouaadmitirexpressamentea responsabilidadedoguardião(donooumero

detentor),independentementedaaferiçãodeculpa,ouseja,deformaobjetiva.

Comparem-se,pois,osdispositivosdosCódigosde1916ede2002:

Códigode1916:

“Art.1.527.Odono,oudetentor,doanimalressarciráodanoporestecausado,senãoprovar:

I—queoguardavaevigiavacomcuidadopreciso;

Page 262: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

II—queoanimalfoiprovocadoporoutro;

III—quehouveimprudênciadoofendido;

IV—queofatoresultoudecasofortuito,ouforçamaior”.

Códigode2002:

“Art.936.Odono,oudetentor,doanimalressarciráodanoporestecausado,senãoprovarculpada

vítimaouforçamaior”.

Note-se que, no artigo da lei revogada, admitia-se a isenção de

responsabilidade caso o dono ou detentor provasse que guardou e vigiou o

animal com o cuidado preciso, ou seja, que não atuou com culpa in

custodiendo 320ouinvigilando 321.

Na lei nova, por sua vez, a responsabilidade não pode ser ilidida nesses

termos, pois, partindo-se da teoria do risco, o guardião somente se eximirá se

provarquebradonexocausal emdecorrênciada culpa exclusivadavítimaou

eventodeforçamaior,nãoimportandoainvestigaçãodesuaculpa.

Interessantenotaraindaque,seodanoocorreestandooanimalempoderdo

própriodono,dúvidanãohánosentidodeseresteoresponsávelpelareparação,

pelofatodeseroseuguardiãopresuntivo.Se,entretanto,transferiuaposseoua

detenção do animal a um terceiro (caso do comodato ou da entrega a

amestrador),entendemosqueoseudonoseeximederesponsabilidade,pornão

deteropoderdecomandosobreele,consoantevimosacima.

Eseoanimalhouversidofurtado,e,estandonapossedo ladrão,atacarum

terceiro?

A resposta a essa indagação é formulada com absoluta precisão por nosso

Page 263: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

mestreCAIOMÁRIODASILVAPEREIRA:

“Emcasodefurto,aodonopodeserimputadaaculpainvigilando.Sefoiporteroproprietáriofaltado

ao dever de guardar que o furto ocorreu, a mesma razão que justifica a reparação pela culpa in

custodiendo se impõe ao dono que foi privado da posse do animal. Se, porém, o furto se deu não

obstanteascautelasdacustódiadevida,odonoseexonera,equiparadoqueéofurtoàforçamaior.Tal

como se dá na responsabilidade por fato das coisas em geral, e foi visto acima, se o dono perde o

comando,aresponsabilidadeincumbeaquemotemaindaquenãofundadoemdireito” 322.

Tal raciocínio que equipara o furto à forçamaior, para o efeito de eximir o

dono de responsabilidade, também se aplica nos casos de serem cometidos

outrosdelitosqueimpliquemasubtraçãodoanimal(roubo,extorsãoetc.).

Por fim, passemos em revista a jurisprudência pátria, para vermos como os

nossosTribunaistêmtratadodamatéria:

No Tribunal de Justiça do Distrito Federal (Ap. Cível n. 20000310109227,

Reg.Ac.152107,3.ªT.Civ.,Rel.JeronymodeSouza,publicadonoDJUde24-

4-2002):

“Ementa: Processo civil. Civil. Constitucional. Danos materiais. Colisão. Animais soltos na pista.

Responsabilidade do proprietário. Comprovação. Provas testemunhais. Contradição. Ônus da prova.

Obediênciaaoprincípiodeigualdadedetratamentoentreaspartes.Suspeição.Interessenacausa.1.Os

depoimentos prestados pelas testemunhas arroladas pelas partes autorizam a conclusão de ser o réu

proprietáriodosanimaiscausadoresdoacidente.Hápresunçãoderesponsabilidadedodonooudetentor

doanimalquecausedanoaoutrem,presunçãoestaafastadaseoréucomprovarumadasexcludentes

legaisarroladasnoart.1.527doCódigoCivil,inocorrentesnaespécie.2.Aínfimacontradiçãoentreos

depoimentosdas testemunhasarroladaspelaautora,ondeocondutordoveículosinistradoafirmaque

anotounomedoréunocaderno,poisaspessoasexistentesnolocaldoacidentelheinformaramqueo

proprietáriodosanimaisaliestavaeautorizouoesquartejamentodosmesmos,enquantoqueoajudante

disse tersaídodo localsemsaberonomedequemtinhaautorizado,éperfeitamentepossível,poiso

condutor pode ter feito essa anotação e não ter comentado com o ajudante, tanto assim o é, que se

chegouaonomedo réu.3.Comefeito, cumpriuo autoroônusdeprovaro fato constitutivodo seu

Page 264: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

direito,mostrando-seincabívelaalegaçãodeviolaçãoaosarts.332,333,incisoI,e335,todosdoCPC.

4. Também se constata que aos litigantes foi deferida igualdade de tratamento, pois ambos se

manifestaramnosautos,havendo, inclusive, aoitivadas testemunhasarroladaspelaspartes,devendo

serrejeitadaaalegaçãodeviolaçãoaosarts.125, incisoI,131doCPCe5.ºdaCF.5.Notocanteao

depoimentoprestadopelocondutordoveículosinistrado,oqualpoderáimplicarsuaresponsabilidade

pelosdanoscausados,casodemonstradaaculpanosinistro,entendoque,diantedoefetivointeresseno

litígio,poderáserconsideradosuspeito.Todavia,asentençamonocráticanãootomouunicamentepor

base, mas considerou o conjunto probatório, inclusive os depoimentos prestados pelas testemunhas

arroladaspeloréu.Nestediapasão,corretaautilizaçãodestesdepoimentos,comoautorizadopeloart.

404, § 4.º, do CPC, afastando a alegada violação ao § 3.º do mesmo dispositivo. 6. Com efeito,

‘cumpriuefezcumpriromagistrado,comindependência,serenidadeeexatidão,asdisposiçõeslegaise

atos de ofício’, como determina o art. 35, inciso I, da LOMAN. 7. Sentença mantida. Apelação

improvida”.

E ainda o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (Ap. Cível n.

70004113957,9.ªCâmaraCível,Rel.RejaneBins,julgadoem26-6-2002):

“Ementa: Responsabilidade civil da pessoa jurídica por fato de animal. Circo de rodeios.

Concausalidadecomatodepessoarelativamenteincapaz.Danomaterialemoral.Prova.Quantificação.

A pessoa jurídica é responsável pelos atos de seus administradores ou empregados. A exposição do

público,inclusivemenordeidade,aumacompetiçãoconsistenteemtentarmontaremmulaxucra,sob

oferta de uma caixa de bebidas alcoólicas revela culpa (art. 1.527 do CC). Reconhece-se a

concausalidade no ato do menor, com dezesseis anos, que se oferece para competir, não podendo

ignorarnoquesecompunhaodesafio,mormentedadaanaturezadadiversãodequeparticipava(circo

de rodeios). Inteligência do art. 156 do CC. Ante a ausência de prova do dano material postulado

(ressarcimentodedespesasmédico-hospitalares,quandooatendimentosedeupeloSUS),inviáveléa

condenação em indenização por danos patrimoniais. Presença do dano moral tanto pela ofensa aos

direitosdomenordeidade,comodesuaintegridadefísica,comosincômodosdecorrentesdafraturano

braço. Quantificação módica da indenização, considerada a concorrência de causas. Apelação

parcialmenteprovida”(Ap.Cível70004113957,9.ªCâmaraCível,TribunaldeJustiçadoRioGrande

doSul,Rel.Des.RejaneMariaDiasdeCastroBins,j.26-6-2002).

Finalmente, leia-se interessante julgado do Tribunal do Rio de Janeiro,

Page 265: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

prolatadoaindanavigênciadaleianterior,provenienteda2.ªCâmaraCível,Ap.

Cível n. 2001.001.00890, Relator o Professor SERGIO CAVALIERI FILHO,

julgadoem24-4-2001:

“Apelação Cível. Direitos Civil e Processual. Ação de Reparação de Danos. Lesão incurável nos

testículosdecorrentede ferozmordidadeanimal.Responsabilidadecivil do dono do animal.Artigos

5.º,X,daConstituiçãoFederal,333,I,doCódigodeProcessoCivile1.527doCódigoCivil.Oinstituto

daresponsabilidadecivil,namodalidadesubjetiva,encontra-seassentadoemtrêspressupostossemos

quaisnãoseperfaz:odano,aculpaeonexodecausalidadeentreoprimeiroeosegundo.Oart.1.527

doCódigoCivil restringe-seenquanto regradistributivadoônusdaprova,nestescasos,apenase tão

somenteaoelementoculpadotripéquepressupõearesponsabilidadecivil.Tem-seporevidente,pois,

dasimplesverificaçãodoqueconstadosrespectivosincisosquetodoseles,semexceção,referem-seà

culpabilidadedodonooudetentordoanimal.Assim,aprocedênciadopedidodereparaçãodedanos

materiais é imprescindível sejam estes, os danos, comprovados pelo demandante, nos termos do art.

333, I, do CPC, segundo o qual ao autor incumbe a prova dos fatos constitutivos de seu direito.

Restandoestesincomprovados,improsperávelapretensãoderessarcimentopelodanomaterial.Noutro

polo,verificadaa lesãoàesferaextrapatrimonialdoofendido,deveaverbaindenizatóriacoadunar-se

como dano efetivamente demonstrado, no caso, inflamação crônica nos testículos e azoospermia.A

idadedodemandantenada temquevercomaextensãodadorsofridapelaesterilidade.Menosainda

comoconstrangimento.Nemaidade,nemaproleenemmesmoacircunstânciadeseroautorcasado.

Ovalortuteladopelanorma—aintimidade,avidaprivada,aimagemeahonrareferidasnoincisoX,

doart.5.º,daConstituiçãoFederal—estámuitoalémdavirilidadeoumesmoopçãosexualefamiliar

dapessoa.Refere-seestevalor,inquestionavelmente,aaspectosintangíveisepersonalíssimos,calcada

suatutelanaideiadesolidariedadeàvítima,emrazãodaofensaquesofreuaumbemjurídicolesado

pelo agente. Sentença que se reforma,majorando-se a verba indenizatória a título de reparação pelo

danoextrapatrimonialde50(cinquenta)para500(quinhentos)saláriosmínimos.Provimentoparcialdo

recurso(RIT)”.

Valesalientarapenasque,comaentradaemvigordoNovoCódigoCivil,a

discussãodeculpaemsituaçõesdesse jaez restousuperada,nãohavendomais

espaço, em nosso entendimento, para se invocar a noção de responsabilidade

subjetivaemcasodeacidenteenvolvendoanimal.

Page 266: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

5.2.Responsabilidadecivilpelaruínadeedifícioouconstrução

Aindadentrodessetema,oCódigoCivilcuidadaresponsabilidadedecorrente

daruínadeedifícioouconstrução.

Odiplomarevogadodispunhaarespeitoemseuart.1.528:

“Art.1.528.Odonodeedifícioouconstruçãorespondepelosdanosqueresultaremdesuaruína,seesta

provierdefaltadereparos,cujanecessidadefossemanifesta”.

Comentandoessedispositivo,ALVINOLIMAsustentavaqueessanormanão

seafastavadoprincípiodaculpa,quedeveriasersuficientementeprovadapela

vítima: “Subordinando a responsabilidade à condição de ter sido a ruína

ocasionada pela falta de reparos, cuja necessidade era manifesta, restringiu o

legislador demasiadamente a responsabilidade decorrente dos danos

provenientesdaruínadeumedifício,circunscrevendoaculpaaumanecessidade

patentedeausênciadereparos” 323.

Emsentidocontrário, respeitáveisdoutrinadoresvisualizavam,nocaso,uma

excepcionalconsagraçãoderesponsabilidadesemculpapeloCódigode1916,a

exemplodo culto professorÁLVAROVILLAÇAAZEVEDO: “Por suavez, o

art.1.528domesmoCódigoresponsabilizaodonodoedifíciooudaconstrução

pelos danos, que advieremde sua ruína, se esta se causar por falta de reparos

indispensáveisàremoçãodaqueleperigo.OCódigoéclaroematribuiraodono

doprédioaresponsabilidade,poisaelecabecuidardoquelhepertence.Nãose

procura, no caso, a culpabilidade desse proprietário, cuja responsabilidade é

objetiva,sebemquepossaele,apósterindenizado,procurarreembolsar-se,com

açãoregressivacontraoculpado(porexemplo,oengenheiro,ozelador)” 324.

Adotando posição mais moderada, embora desapegada à noção de culpa

Page 267: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

defendida pelo cultoALVINOLIMA,SILVIORODRIGUESpontifica assistir

razão a AGUIAR DIAS, quando reconhece, na hipótese, uma presunção de

responsabilidade do dono do prédio, dispensando-se, consequentemente, a

demonstração cabal da vítima de que houve falta de reparos. A simples

circunstância de que o edifício ou construção ruiu seria suficiente para a

configuração da responsabilidade civil: “tanto necessitava de reparos que

caiu...” 325.

O art. 937 do Código de 2002, cuja redação é idêntica à da lei revogada,

mantémamesmadicção,deformaquepoderiaoleitorimaginarqueasdúvidas

ediscussõesarespeitodacorretaintelecçãodanormahaverãodecontinuar.

Longe de querermos pacificar a questão, mas apenas esboçando o nosso

pensamento, cuidaremos de registrar que, em nosso entendimento, essa regra

consagraindiscutivelmentearesponsabilidadecivilobjetivadodonodoedifício

ouconstrução.

Observequefalamosem“dono”,enãoemsimplespossuidoroudetentor.Se,

porexemplo,aconstruçãodoimóvelalugadodesmorona,óbvioqueresponderá

oseuproprietário,podendoassistir-lheumaeventualaçãoregressiva,nocasode

culpadolocatário.

Eavítima,paraobteradevidacompensação,nãoprecisaráprovarasuaculpa

naausênciadereparosquecausouodesfechofatídico.

Valesalientar,ainda,quea“ruína”doedifícioouconstruçãopodesignificara

sua destruição tanto total quanto parcial. A jurisprudência, aliás, tem sido

maleávelaointerpretaresseconceito,admitindoasubsunçãonessacategoriade

Page 268: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

hipóteses tais como: desprendimento de revestimentos de parede, queda de

telhasedevidros,solturadeplacasdeconcretoetc. 326.

Notequeoartigosobcomentoéperemptórioaodisporqueodonodoedifício

ouconstruçãorespondepelosdanosprovenientesdafaltadereparosnecessários,

não se considerando isenção de responsabilidade a demonstração de haver

atuadocomadiligênciaeocuidadodevidos.

Aredaçãolegal,detãocontundente,éatémesmoumpoucoagressiva.

Se quisesse admitir a responsabilidade fundada na culpa não consignaria o

preceitodeformatãocategórica.

Ademais,utilizandoumcritériode interpretaçãosistemática,a tesedequea

normaexigiriaprovadeculpaseria,nosistemainauguradopelonovodiploma,

completamente anacrônica, uma vez que todas as regras até então estudadas,

inseridasnomesmocapítulo,consagraramaresponsabilidadesemculpa.

Admitida,portanto, a responsabilidadecivilobjetiva,oproprietário somente

se eximirá se provar a quebra do nexo causal por uma das excludentes de

responsabilidade, como, por exemplo, evento fortuito ou de força maior ou,

ainda,culpaexclusivadavítima.

Emarremate,concordamoscomopensamentodomestreSÍLVIOVENOSA,

quandosustentahaveronovoCódigo,nesseponto,adotadoaresponsabilidade

civilobjetiva,mormentelevando-seemconsideraçãoseraconstruçãociviluma

atividadederisco,potencialmentedanosa:“OnovoCódigo,comojáreferimos

nos capítulos anteriores, estabelece um dispositivo geral de responsabilidade

objetiva, portanto independente de culpa, nos casos especificados em lei, ou

Page 269: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

‘quandoaatividadenormalmentedesenvolvidapeloautordodanoimplicar,por

suanatureza,riscoparaosdireitosdeoutrem’(art.927).Caberáàjurisprudência

fixar os casos de atividade perigosa ou de risco. Certamente, a área da

construção civil será abrangida por esse entendimento. Nesse campo, a

obrigação de reparar o dano emerge tão só da atividade desempenhada pelo

agente. Trata-se de evolução contemporânea e universal sentida na

responsabilidadecivilaquiliana” 327.

5.3.Responsabilidadecivilpelascoisascaídasdeedifícios

Historicamente, a modalidade em epígrafe tem raiz na responsabilidade

oriundadaactiodeeffusisetdejectisdoDireitoRomano.

Cuida-se da responsabilidade civil decorrente do dano causado pelas coisas

caídasoulançadasdeedifícios,queatinjamlugaresepessoas,indevidamente.

OnovoCódigoCivildispõearespeitoemseuart.938,cujaredaçãoémuito

semelhanteàdodispositivocorrespondentedoCódigorevogado(art.1.529):

“Art.938.Aquelequehabitarprédio,oupartedele,respondepelodanoprovenientedascoisasquedele

caíremouforemlançadasemlugarindevido”.

Corretamente,aLeide2002substituiuapalavra“casa”—constantenoartigo

superado—pela palavra “prédio”, tecnicamentemais adequada, por abranger

habitaçõesquenãosesubsumiriamnoprimeiroconceito.

Saliente-se que, diferentemente do que dispõe o artigo antecedente, a

responsabilidade pelas coisas caídas ou lançadas não é necessariamente do

proprietário da construção,mas sim do seu habitante, atingindo, dessa forma,

também,omeropossuidor(locatário,comodatário,usufrutuárioetc.).

Page 270: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Indiscutivelmente, cuida-se de responsabilidade civil objetiva, pois o agente

só se exime provando não haver participado da cadeia causal dos

acontecimentos.

Emoutraspalavras,paraefeitodereparação,nãosediscuteculpa.

Nessesentido,éonortedadopelajurisprudênciapátria:

“Naactiodeeffusisetdejectisaresponsabilidadeéobjetiva.Assim,provado

o fato e o dano do mesmo resultante, a obrigação indenizatória surge como

normalconsequência”(RT,441/233).

Interessante notar que se o dano é imputado a condomínio, não se podendo

identificar a unidade habitacional de onde partiu a coisa, a jurisprudência tem

adotadoocritérioderesponsabilizarapenasoblocodeapartamentosdeondese

poderia,segundoalógicadosfatos,partiroobjeto.Dessamaneira,osmoradores

doblocooufacedoprédioopostoaolocaldodanonãoseriamadmitidoscomo

partelegítimapararesponderemnademandaindenizatória.

Nessalinha,ajurisprudênciaparanaense:

“Para que se exija do condomínio a assunção da responsabilidade pelo

lançamentode coisas sobreoprédiovizinho, necessário se tornaque se tenha

como presumível a participação no fato de todos os condôminos. Não se

verificandoessaprobabilidade,àaçãodevemserchamadossomenteoscondô-

minosoumoradoresdosconjuntosquetêmvizinhançaecondiçãopara,decima,

lançar coisas sobre o prédio vizinho” (TAPR, 1.ª C.,Ap., Rel.Des. Schiavon

Puppi,RT,530/213).

Finalmente,ébomqueselembrequearesponsabilidadedecorrentedaqueda

Page 271: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

deobjetospode se conjugar comoutrasmodalidadesde responsabilidade civil

indireta.

Imagine que o filhinho de Caio, por brincadeira (demau gosto), arremesse

umagarrafadevidrocontendoxixisobreocarroconversíveldeTício.Claroestá

queavítimapoderábuscaroressarcimentododanojuntoaorepresentantelegal

domenor,independentementedademonstraçãodeculpainvigilando.

6.QUESTÕESJURISPRUDENCIAISFREQUENTES

Nesteúltimotópicocuidaremosdeanalisarsituaçõesespeciaisepeculiaresde

responsabilidade civil pelo fato da coisa, muito ocorrentes na jurisprudência

nacional 328.

A primeira delas diz respeito ao dano proveniente de veículo furtado ou

roubado.

Tendohavidoasubtraçãoilícitadoautomóvel,comaconsequenteocorrência

deacidente,responderiaoproprietáriodobemportalepisódiodanoso?

Emnossoentendimento,arespostanegativaseimpõe.

Nomomentoemqueotitulardodomínioou,atémesmo,omeropossuidordo

bemperde a disponibilidade sobre ele emdecorrência da subtração criminosa,

deixadeter,consequentemente,responsabilidadeporsuaguarda,razãoporque

nãopoderásercompelidoaindenizaravítimadoacidente.

Até porque, por mais fatídico que possa parecer, o sujeito que teve o seu

veículofurtadoouroubadotambémévítimadacadeiadosacontecimentos,não

podendoserconsideradoagentedesuacausação,ressalvada,apenas,ahipótese

Page 272: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

de ter agidocom indiscutívelnegligência aopropiciar a consumaçãododelito

(imaginequeoindivíduodeixouocarroaberto,comachavenaignição,emum

bairronotoriamenteviolento).

Discordamos, pois, com todas as nossas forças, da corrente doutrinária que

sustentaamantençadaresponsabilidadecivildoproprietáriodoveículoemface

davítimadoacidente,pornão terhavido“transferência jurídica”desuaposse

paraoassaltante.

Esseraciocínio,datavenia,nãoprocede.

Nomomentoemqueseconsumaocrimepatrimonial(roubo,furto,extorsão

ouassemelhado),oproprietáriodeixadedeterpoderdecomandosobreacoisa,

nãopodendomais,porconseguinte,serconsideradoseuguardião.

Nessesentido,comabsolutaprecisão,CAVALIERIFILHO:“Logo,éforçoso

concluir que o proprietário perde o poder de direção ou de comando sobre a

coisaemrazãodofurtooudoroubo,ficando,assim,privadodesuaguarda,que

passaparaoladrão” 329.

Outraquestãointeressantedizrespeitoaofurtoouroubodeveículoocorrido

nasdependênciasdecondomínio.

Porrazõeslógicas, tendosedemonstradoafalhanosistemadesegurança,o

condôminoprejudicadopoderápleitearoressarcimentodevido,porserlegítima

a suapretensão.Entretanto, caberáa eleprovar cabalmenteoalegado,para se

evitaroenriquecimentosemcausa 330.

Tendo havido reincidência de fatos criminosos, sem que o síndico ou a

assembleiageralhajaadotadoalgumaprovidênciaarespeito,acomprovaçãoda

Page 273: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

responsabilidade do condomínio fica mais facilitada, uma vez que a postura

omissivadosseusadministradoresrefletedesídiainjustificável.

Interessanteaindaéapolêmicaarespeitododanocausadoporveículolocado.

Adespeitodasveementescríticasquelhesãodirigidas,prevalecenoSupremo

Tribunal o entendimento, já sumulado (Súmula 492), no sentido de que a

empresa locadoradoveículo responderia solidariamente como locatário pelos

danoscausadosaterceiros,nousodocarrolocado.

No caso do leasing 331, a jurisprudência tem entendido que apenas o

arrendatário tem poder de comando sobre a coisa, cabendo a ele, e não ao

arrendador,aresponsabilidadeporeventuaisdanoscausados.

Nessesentido,leia-seinteressanteacórdão:

“Nocontratode‘leasing’inexisteresponsabilidadesolidáriadaempresaarrendantepelamáutilização

do objeto pela arrendatária ou seu preposto. Em se tratando de acidente automobilístico, não é o

domínioqueensejaaresponsabilidadecivil,massimapossedoveículo,mesmoporqueemtermosde

atoilícito,oquetemrelevoéacondutadoagente”(TAMG,RT,574/216).

Finalmente, uma última situação, ainda muito discutida, merece a nossa

atenção.

Tendo havido a alienação do veículo, sem que se seguisse a imediata

regularização da transferência no respectivo DETRAN, o antigo proprietário

continuaria responsável por eventuais danos causados a terceiros pelo novo

condutor?

Arespostanegativaseimpõe.

Obviamenteque, tendohavidoa transferênciadaposseedapropriedadedo

Page 274: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

veículo,oantigodonodeixadetercomandosobreacoisa,nãomaispodendoser

consideradoseuguardiãoparaefeitoderesponsabilidadecivil.

Esseentendimentoaplica-se,inclusive,nahipóteseemqueosujeitoalienao

bemaumaconcessionáriaouempresaespecializada,acompanhadodaassinatura

doDUT“embranco”,medianteaemissãodeumrecibodeentrega,emquea

adquirente se compromete a preencher o documento oficial e reconhecer as

respectivasfirmas,tãologoorevendaaumterceiro.

Claroestáque,tambémnessahipótese,casohajaarevendasemaconsequente

regularizaçãodoregistro,oantigoproprietárionãopoderiaserresponsabilizado,

uma vez que a posse e o comando intelectual da coisa já haviam sido

transferidos,anteriormente,àempresacompradoradoautomóvel.

Não é pelo simples fato de não ter havido a regularização do registro

administrativo de propriedade do bem no DETRAN que o antigo dono será

responsabilizado pelo uso da coisa, agora pertencente ao novo proprietário.A

realizaçãodestaprovidênciatemavantagemeafinalidadedeimprimireficácia

ergaomnesàalienação,porfirmarumapresunçãogeraldepublicidade(Súmula

489doSTF).Asuaausência,outrossim,acarretaapenasproblemasdenatureza

administrativa(asmultasseriamemitidasemnomedoantigodono,queteriao

ônusdedemonstraravenda),masnuncadeassunçãodaresponsabilidadecivil

pelofatodeacoisanãomaislhepertencer.

No entanto, como vimos, a falta do registro não temo condão demanter a

responsabilidadecivildoantigodono.

E para que não pairem dúvidas, concluímos nosso raciocínio esboçando a

Page 275: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

posiçãojáassentadapeloSuperiorTribunaldeJustiçaarespeitodotema:

“Súmula 132. A ausência de registro da transferência não implica a responsabilidade do antigo

proprietáriopordanoresultantedeacidentequeenvolvaoveículoalienado”.

Comcerteza,éomelhorentendimento.

Nessesentido,observaArnaldoRizzardo,aocomentaroCódigodeTrânsito

Brasileiro:

“Inclusivenopertinenteàresponsabilidadecivilpordanoscausadospeloveículorestarádefinidacom

aquelaprovidência:oadquirenteresponderápeloressarcimento.Sebemque,nestaparte,mesmoque

omitida a medida, e uma vez bem provada a transferência, a indenização recairá no comprador ou

adquirente.Aomissãoderegistronãoimplicainvalidadedonegócio.Implicasomentemaiordiscussão

quanto à credibilidade do documento, em relação a terceiros, como vastamente vêm afirmando a

doutrina e a jurisprudência. Salienta-se que a regra tem efeitos mais administrativos, não podendo

admitirquestõesderesponsabilidadecivil” 332.

Page 276: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

CapítuloXIII

ResponsabilidadeCivildoEstado

Sumário: 1. Introduzindo este e os próximos capítulos. 2. Evolução das teorias explicativas sobre a

responsabilidade civil do Estado. 2.1. Teoria da irresponsabilidade. 2.2. Teorias subjetivistas. 2.2.1.

Teoriadaculpacivilística.2.2.2.Teoriadaculpaadministrativa.2.2.3.Teoriadaculpaanônima.2.2.4.

Teoria da culpa presumida (falsa teoria objetiva). 2.2.5. Teoria da falta administrativa. 2.3. Teorias

objetivistas.2.3.1.Teoriadoriscoadministrativo.2.3.2.Teoriadoriscointegral.2.3.3.Teoriadorisco

social.3.Teoriaadotadanosistema jurídicobrasileiro.4.Algumaspalavras sobrea responsabilidade

civildoagentematerialdodano.4.1.Adenunciaçãodalide.5.Prescriçãodapretensãoindenizatória

contraoEstado.

1.INTRODUZINDOESTEEOSPRÓXIMOSCAPÍTULOS

Até o capítulo anterior, tratamos das regras gerais sobre a responsabilidade

civilnovigenteordenamentojurídicobrasileiro.

A partir de agora, propugnamos pelo enfrentamento do que chamamos de

casuística da responsabilidade civil, analisando justamente a incidência dessas

regrasestudadasemdeterminadasatividadesecircunstâncias.

Esseprimeirocapítulodaparteespecial,porsuavez,versasobreumdosmais

importantesaspectosdamatéria,qualseja,aresponsabilidadecivildoEstado.

Nessa altura da presente obra, o leitor já tem consciência de que a

Page 277: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

responsabilidadecivildoEstadoéobjetiva,tendotalafirmaçãofulcro,inclusive,

emsedeconstitucional,conformeseverificadeumasimplesleiturado§6.ºdo

art.37daConstituiçãoFederalde1988,inverbis:

“Art.37.AadministraçãopúblicadiretaeindiretadequalquerdosPoderesdaUnião,dosEstados,do

DistritoFederaledosMunicípiosobedeceráaosprincípiosdalegalidade,impessoalidade,moralidade,

publicidadeeeficiênciae,também,aoseguinte:

(...)

§ 6.ºAspessoas jurídicas dedireito público e as dedireito privadoprestadoras de serviçospúblicos

responderãopelosdanosqueseusagentes,nessaqualidade,causarematerceiros,asseguradoodireito

deregressocontraoresponsávelnoscasosdedoloouculpa”.

Seguindotaldiretriz,oCC/2002estabeleceregrasemelhante,emseuart.43,

registrando que as “pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente

responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a

terceiros,ressalvadodireitoregressivocontraoscausadoresdodano,sehouver,

porpartedestes,culpaoudolo”.

Todavia,aconsagraçãodessaformaderesponsabilizaçãonãosedeudanoite

paraodia,tendosidoproduzidafartadoutrinaespecializadasobreamatéria,nos

maisdiversossentidos.

Conheceraevoluçãodetalpensamentoéapropostadestecapítulo 333.

2.EVOLUÇÃODASTEORIASEXPLICATIVASSOBREARESPONSABILIDADECIVILDOESTADO

Historicamente,noquedizrespeitoaopresentetema,adoutrinaespecializada

registraposicionamentosquevãodesdeairresponsabilidadeabsolutaatéateoria

doriscointegral.

Page 278: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Vejamos cada uma delas, namedida domenor oumaior grau de responsa-

bilizaçãodoEstadoporcondutasdanosasdeseusagentes.

2.1.Teoriadairresponsabilidade

“Thekingcandonowrong”(“OReinadafazdeerrado”).

Esse brocardo inglês é a máxima que regeu longo período do percurso

histórico das sociedades políticas estatais, recusando-se a possibilidade de

responsabilização do Estado como reflexo do predomínio da teoria divina e

sobrenaturaldoPoder.

ComosurgimentodaconcepçãomodernadeEstado,imperavaaideiadatotal

“irresponsabilidade” do poder público. Vale dizer, o Estado absolutista não

admitia a possibilidade da reparação por eventuais danos causados pela

Administração, não se aceitando a constituição de direitos subjetivos contra o

Estadosoberanoeabsoluto.

TalinfalibilidadeestatalpressupunhaqueoEstadoera,porsisó,aexpressão

daleiedoDireito,sendoinadmissívelaideiadeconcebê-locomovioladorda

ordemqueteriapordeverpreservar.

Comadecadênciadoabsolutismo,esobainfluênciadoliberalismo,oEstado

vaiperdendoasuaimunidadedeoutrora.

ConformeobservaANTÔNIOLAGOJÚNIOR,a

“jurisprudênciafoiresponsávelpelatransformaçãodesteestadodecoisas,aoperceberqueoEstado,nas

suas diversas formas de atuação, poderia ser percebido de duas formas: ou a Administração atuava

exercendoseu‘jusimperii’e,nessescasos,procedianaqualidadedeEstadonoexercíciodoseupoder

soberano;ou,poroutro lado,atuavanagestãodeseusnegócios,exercendoatos‘iuregestionis’,pelo

Page 279: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

queseigualavaaoindivíduocomum.Apartirdessaconcepçãobipartida,admitia-seque,noprimeiro

caso,aAdministraçãopúblicaeraimune;nosegundo,atuandodeigualsortequeoparticular,sujeitava-

seàreparaçãodosdanosqueeventualmentecausasseaoutrem.Eraoiníciodaresponsabilizaçãocivil

daAdministração.Contudo, esta visãobipartidadoEstadoúnico, segundoDePage, citadoporCaio

Mário da Silva Pereira, não passava de uma construção teórica e que, portanto, gerava sérias

dificuldadesdeaplicaçãoprática,comreflexosnegativosnajurisprudência” 334.

Assim,passou-seaadmitiraresponsabilidadecivildoEstado.

O fundamento desta responsabilização, porém, também passou por longo

períododematuraçãoeevolução,conformeverificaremosnospróximostópicos.

2.2.Teoriassubjetivistas

Da prepotência da teoria da absoluta irresponsabilidade estatal pelos danos

causadosaosparticularespartiu-separao reconhecimentodaaplicabilidadeda

concepçãodaresponsabilidadesubjetiva.

Nesse caso, o fundamento da responsabilização se refere à culpa do

funcionário para a atribuição da responsabilidade ao Estado, exigindo-se,

portanto,apresençadoelementoanímicoparasuacaracterização.

Cincoteoriasprocuramexplicartalfenômeno,quaissejam,ateoriadaculpa

civilística,adaculpaadministrativa,adaculpaanônima,adaculpapresumidae

adafaltaadministrativa.

2.2.1.Teoriadaculpacivilística

A primeira teoria subjetiva, que propugnava pela responsabilização civil do

Estado, estava calcada na ideia de seus agentes (servidores) ostentarem a

condiçãodeprepostos.

Page 280: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Dessaforma,incidindooEstadoemculpainvigilandoouineligendo,deveria

serobrigadoarepararosdanoscausadosporseusrepresentantes.

Sobretalconcepção,RicardoHoyosDuquesalientaque:

“Em primeiro lugar, a responsabilidade baseia-se sobre a culpa do amo ou patrono; no caso, a

responsabilidadepúblicaseriadoEstadonaeleiçãoouvigilânciadeseuscriadosoudependentes(culpa

‘ineligendo’ou‘invigilando’),istoé,queoEstadodeverealizar,comrespeitoaseusfuncionários,uma

cuidadosaeleiçãoepermanentevigilância,senãoquervercomprometidasuaresponsabilidade.

Emsegundolugar,estaresponsabilidadeteriaocaráterdeindireta,namedidaemqueaoEstado,como

pessoajurídica,nãolheédadoagirilicitamente” 335.

Tal teoria acabavapor abarcar inúmeras situações de irressarcibilidade, pela

evidente dificuldade do particular em comprovar a existência do elemento

anímico pelo Estado, sendo esse talvez o maior motivo para o afastamento

paulatinodessatese.

Afinal, na frase atribuída a Voltaire, un droit porté trop loin devient une

injustice(“Umdireitodeixadomuitolongetorna-seumainjustiça”).

2.2.2.Teoriadaculpaadministrativa

Umasegundateoria,conhecidacomodaculpaadministrativaoudoacidente

administrativo, apresenta-se como uma fase intermediária no processo de

transição entre a responsabilidade civil com culpa e a objetivação da

responsabilidade.

Em vez de partir da visão do agente público como um preposto ou

representante do Estado, passa-se a encará-lo como parte da própria estrutura

estatal,peloque,segerardano,ofazemnomedaprópriaAdministração,uma

vezqueédelaapenasuminstrumento.

Page 281: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Os novos parâmetros para aferição da responsabilidade estatal são, agora, a

culpaincommitendoeaculpainomittendo,ouseja,oelementosubjetivoseria

respaldadonaaçãoeomissãodosseusagentes.

ComoobservaANACECÍLIAROSÁRIORIBEIRO,com

“osurgimentodestateoria,aresponsabilidadeestataldeixadeserindireta(teoriadaculpacivilística),

passandoaserdireta.Agora,bastaqueoparticulardemonstreodano,ocomportamentodofuncionário

eonexodecausalidade,entreambos,postoqueoagenteéconsideradoinstrumentodoEstado,agindo

porcontaeemrazãodeste.Comisto,restaevidenteainfluênciadateoriaorganicista,pelaqualoatodo

funcionáriopassouasercompreendidocomoatodaAdministração” 336.

Destacado por vários autores que se debruçaram especificamente sobre o

tema,ofamosocasoBlancoconstituiu-seummarcoparao reconhecimentode

talteoriaeatomadadesuaorientação.

Relatemos, em apertada síntese, o referido precedente jurisprudencial,

ocorridonaFrança,comjulgamentoem1.º-2-1873:a jovemAgnèsBlanco,ao

atravessararuadacidadedeBordeaux,naFrança,foiatropeladaporumvagão

daCompanhiaNacionaldeManufaturadeFumo.Inconformado,seupaiajuizou

açãodeindenizaçãocontraoEstado,pleiteandoareparaçãoperanteostribunais

civis. Tendo sido suscitado o conflito de atribuições, o Tribunal de Conflitos

decidiu pelo julgamento perante o Tribunal Administrativo, deixando

consignadoque“AresponsabilidadequepodeincumbiraoEstadoemrazãoda

culpa de seus agentes não pode ser regida pelos princípios que estabelece o

Código Civil para as relações de particulares com particulares; essa

responsabilidadenãoénemgeralnemabsoluta; elaexige regrasespeciaisque

variam segundo as modalidades do serviço e a necessidade de conciliar os

direitosdoEstadocomodosparticulares” 337.

Page 282: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

2.2.3.Teoriadaculpaanônima

Se, na culpa administrativa, a responsabilidade civil doEstadopassou a ser

direta, em função de conduta de determinados servidores seus, o que permitia

uma justa composição de danos, essa teoria, por sua vez, não se mostrava

satisfatória quando não era possível proceder-se à identificação individual do

causadordodano.

Mesmosabendo-sequeoprejuízodecorredaatividadeestatal,nemsempreé

fácildescobrirquemfoioagentequepraticouacondutalesiva.

Assim,poucasnãoforamassituaçõesemque,dadosogigantismoestatalea

impessoalidade na prestação de serviços, ficava a vítima sem condições de

identificarofuncionáriocausadordomalefício.

Parasituaçõescomotais,propugna-sepelateoriadaculpaanônima,exigindo-

se para a responsabilização doEstado tão somente a prova de que a lesão foi

decorrentedaatividadepública,semnecessidadedesaber,deformaespecífica,

qualfoiofuncionárioqueaproduziu.

Da mesma forma que na teoria anterior, é a jurisprudência francesa que

consagraessateoria,havendoapenasdúvidaquantoaoprimeiroprecedente 338.

2.2.4.Teoriadaculpapresumida(falsateoriaobjetiva)

Trata-sedeumavariantedateoriadaculpaadministrativa.

Asuadiferençaessencialéque,nateoriadaculpapresumida,hápresunçãoda

culpadoEstado,comaadoçãodocritériodeinversãodoônusdaprova.

Emboratenhachegadoaserdenominada,equivocadamente,responsabilidade

Page 283: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

sem culpa ou objetiva, não pode ser assim considerada, justamente porque

admitia a possibilidade de demonstração da não concorrência de culpa pelo

Estado.

2.2.5.Teoriadafaltaadministrativa

Como última teoria subjetivista, temos a chamada teoria da falta

administrativa.

A teoria epigrafada toma como espeque a visão de que a falta do serviço

estatal caracteriza a culpa da Administração, não havendo necessidade de

investigaroelementosubjetivodoagenteestatal,massim,somente,a faltado

serviçoemsimesmo 339.

ParaMARIASYLVIAZanelladiPietro,aculpadoEstadoocorrecomonão

funcionamento do serviço público (inexistência), com o seu funcionamento

atrasado (retardamento) ou, ainda, quando funciona mal (mau

funcionamento) 340.

Nestestrêscasos,ocorreráaculpadoserviço,independentementedequalquer

inquiriçãoarespeitodafaltadofuncionário 341.

Assim,oquenosparecerelevante,naadoçãodessateoria,éjustamenteque,

além dos três elementos essenciais para a caracterização da responsabilidade

civil,prove-setambém,paraoreconhecimentodaomissãoestatal,justamenteo

seu dever de agir, com a demonstração de que, não se omitindo, haveria real

possibilidadedeevitarodano 342.

Todavia, em que pesem todas essas teorias aqui expostas, o ocaso da culpa

Page 284: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

como fundamento do dever de indenizar não foi desprezado também na

responsabilizaçãocivildoEstado 343.

Éoqueveremosnospróximostópicos.

2.3.Teoriasobjetivistas

Embora muitas vezes a inversão do ônus da prova tenha gerado maior

facilidade para o reconhecimento da responsabilidade civil do Estado, a

tendênciamundialdeestabelecimentoderegrasderesponsabilizaçãosemculpa

nãopoderiapassarinalbisemrelaçãoàAdministração.

Nessa linha, segundo a melhor doutrina, três teorias foram concebidas, a

saber,adoriscoadministrativo,adoriscointegraleadoriscosocial.

Seécertoque,muitasvezes,ostribunaisdenominamteoriaobjetivaoqueé

simplesinversãodoônusdaprova,comonocasodateoriadaculpapresumida,

o fato é que afastar esse elemento subjetivo é uma medida que prestigia a

reparaçãointegraldedanoseosdireitosdecidadaniaopostosaoEstado.

Compreendamos,assim,cadaumadessasteorias.

2.3.1.Teoriadoriscoadministrativo

A ideia de risco administrativo avança no sentido da publicização da

responsabilidade e coletivização dos prejuízos, fazendo surgir a obrigação de

indenizarodanoemrazãodasimplesocorrênciadoatolesivo,semseperquirir

afaltadoserviçooudaculpadoagente.

ComoobservaoMestreSÍLVIOVENOSA,poressateoria

Page 285: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

“surge a obrigação de indenizar o dano, como decorrência tão só do ato lesivo e injusto causado à

vítima pela Administração. Não se exige falta do serviço, nem culpa dos agentes. Na culpa

administrativaexige-seafaltadoserviço,enquantonoriscoadministrativoésuficienteomerofatodo

serviço.AdemonstraçãodaculpadavítimaexcluiaresponsabilidadecivildaAdministração.Aculpa

concorrente,doagenteedoparticular,autorizaumaindenizaçãomitigadaouproporcionalaograude

culpa” 344.

2.3.2.Teoriadoriscointegral

A teoria em epígrafe leva a ideia de responsabilização às mais altas

elucubrações.

De fato, a sua aplicação levaria a reconhecer a responsabilidade civil em

qualquer situação, desde que presentes os três elementos essenciais,

desprezando-se quaisquer excludentes de responsabilidade, assumindo a

AdministraçãoPública,assim,todooriscodedanoprovenientedasuaatuação.

Trata-sedesituaçãoextrema,quenãodeveseraceita,emregra,pelaimensa

possibilidadedeocorrênciadedesvioseabusos.

Na doutrina brasileira, é possível vislumbrar que há uma confusão

terminológicaentrea teoriadoriscoadministrativoea teoriadoriscointegral,

como corretamente observaANACECÍLIAROSÁRIORIBEIRO, emnota de

rodapé:

“Zanellaatestaestamisturaentreasnomenclaturastrazendoque:‘...amaiorpartedadoutrinanãofaz

distinção,considerandoasduasexpressões—riscointegraleriscoadministrativo—comosinônimas

oufalandoemriscoadministrativocomocorrespondendoaoacidenteadministrativo.Mesmoosautores

quefalamemteoriadoriscointegraladmitemascausasexcludentesderesponsabilidade’(MariaSylvia

ZanelladiPietro,ob.cit.,p.412).TrazemosoposicionamentodeCaioMárioPereira,para ilustrara

divergênciadoutrinária,acercadasduasteorias.Paraele,odireitopositivobrasileiroadotaateoriado

risco integraloudoriscoadministrativo, trazendoasduasdistintas teoriascomosinônimas.Logoem

Page 286: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

seguida, afirma que as causas excludentes de responsabilidade podem ser aplicadas no que couber,

admitindoaselidentesnateoriadoriscointegral” 345.

A diferença entre as duas teorias, entretanto, é sensível, na medida da

admissibilidade da invocação de circunstâncias fáticas que possam romper o

nexodecausalidade,comoexcludentesderesponsabilidade.

2.3.3.Teoriadoriscosocial

Porfim,valedestacaradenominadateoriadoriscosocial,tambémconhecida

comoresponsabilidadesemrisco.

Seufundamento,segundoSAULOJOSÉCASALIBAHIA,“ébemsimples.

Se oEstado temo dever de cuidar da harmonia e da estabilidade sociais, e o

danoprovémjustamentedaquebradestaharmoniaeestabilidade,seriadeverdo

Estadorepará-lo.Oquerelevanãoémaisindividuarparareprimirecompensar,

massocializarparagarantirecompensar” 346.

Com tal teoria, prescinde-se, inclusive, da conduta humana atribuível ao

Estado,atravésdeseusagentes,paralheresponsabilizar.

EmexemploapresentadoporJOSÉDEAGUIARDIAS,talteoriapoderiaser

aplicadanassituaçõesemquesejamdesconhecidososautoresdosdelitos,nos

casosemqueestesempreendamfugasemdeixarbensousejaminsolventes 347.

Paranãodeixaravítimasemqualquerreparação,assumiriaoEstadooônus

daprovaderepará-la,semprejuízododireitoderegressocontraorealcausador

doprejuízo,querestariapreservado.

EstarepresentaaúltimafasedaresponsabilidadecivildoEstado,noentender

Page 287: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

do aqui multicitado Saulo Casali BAHIA, para quem, todavia, seu advento é

muitomaisanunciadodoqueacontecido 348,oque—convenhamos!—parece-

nos bastante razoável, tendo em vista a situação comumente precária das

finançaspúblicasbrasileiras...

3.TEORIAADOTADANOSISTEMAJURÍDICOBRASILEIRO

Algunsdoutrinadorestêmentendidoqueéateoriadaculpapresumidaquefoi

abarcadanonossosistemaconstitucional,naprevisão, já transcrita,doseuart.

37,§6.º.

ÉocasodeArnaldoMarmitt:

“Importa colocar tais postulados nos seus devidos termos, arredando o radicalismo e buscando o

verdadeiro alcance da norma constitucional. Esta traduz mero risco administrativo, estabelecendo

simples inversão do ônus probatório. É uma exceção à regra de inexistência de ressarcimento sem

prévia comprovaçãode culpa. Proposta a ação reparatória contra a entidade pública, a ela competirá

provarqueseufuncionárionãoagiuculposamente,massimavítima.Inverte-se,assim,aposição:nãoo

autor,masoréu,devecomprovar.Seaadministraçãodeixardeproduziressaprova,responderápelas

perdasedanos,cumprindoaolesadoapenaspositivaroprejuízoesuarelaçãocausalcomofato” 349.

Emborarespeitemosoposicionamentoadotado,nãopartilhamosdele.

Defato,parece-nosque,semsombradequalquerdúvida,aresponsabilidade

civil prevista na Constituição Federal de 1988 é essencialmente objetiva,

prescindindodaideiadeculpa,comopressupostoparaaobrigaçãodeindenizar.

Aconstataçãode“culpadavítima”fulminaapretensãoreparatória,nãopela

ausência de elemento subjetivo, mas sim por quebrar o nexo de causalidade

necessárioparaoreconhecimentodareparabilidadedodano 350.

Talconclusãoserespalda,aindamais,quandocompreendidanonovosistema

Page 288: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

de responsabilidade civil no Brasil, que propugna pela mais ampla

reparabilidadedosdanoscausados,justamentecomaindependênciadoelemento

culpa.

Essaafirmação,todavia,nãoimplicadizerqueonossosistematenhaadotado

asteoriasdoriscointegralouriscosocial,massimdoriscoadministrativo 351,

queadmite,portanto,aquebradonexocausal 352pelacomprovaçãodeumadas

excludentesderesponsabilidadecivil 353.

Registre-se,porém,queaaceitaçãodeumateoria—nocaso,avisãoobjetiva

do risco administrativo — não importa, necessariamente, no abandono das

anteriores,emcasodesituaçõesheterodoxamentepeculiares 354,sendopossível

asuacoexistência,adependerdecadasituaçãoconcreta 355.

Para arrematar este capítulo, teçamos algumas considerações sobre a

responsabilização civil direta ou indireta— pela via regressiva— do agente

materialdodano.

4.ALGUMASPALAVRASSOBREARESPONSABILIDADECIVILDOAGENTEMATERIALDODANO

UmatormentosaquestãosereferenãoàaçãoregressivadoEstadoemrelação

ao agente material do dano, uma vez que essa se encontra consagrada

expressamentenotextoconstitucional,mas,sim,emrelaçãoàpossibilidadede

ajuizamentodiretodaaçãocontraoagentepúblico 356,enãocontraoEstado.

Isso porque a doutrina divergiu sobre a natureza da responsabilidade do

Estado,emrelaçãoaoagentepúblico,interpretandooart.107daCF/69.

Page 289: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Hely Lopes MeireLles, por exemplo, sustentava que a responsabilidade do

ente estatal era exclusiva, assegurando-se a este o direito de regresso contra o

funcionáriocausadordodano:

“Aaçãodeindenizaçãodavítimadeveserajuizadaunicamentecontraaentidadepúblicaresponsável,

nãosendoadmissívelainclusãodoservidornademanda.OlesadoporatodaAdministraçãonadatema

vercomofuncionáriocausadordodano,vistoqueoseudireito,constitucionalmentereconhecido(art.

107), é o de ser reparado pela pessoa jurídica, e não pelo agente direto da lesão. Por outro lado, o

servidorculpadonãoestánaobrigaçãoderepararodanoàvítima,vistoquesórespondepeloseuatoou

por sua omissão perante a Administração a que serve, e só em ação regressiva poderá ser

responsabilizadocivilmente” 357.

A seguir tal linha de argumentação, a vítima só poderia ajuizar a pretensão

indenizatóriacontraoEstado.

A contrario sensu, há o entendimento de que o autor pode escolher litigar

contraoEstado,hipóteseemquearesponsabilidadeéobjetiva;oagentepúblico,

em que terá de provar dolo ou culpa; ou contra ambos, como responsáveis

solidários.

Essasegundacorrenteprevaleceuentreosdoutrinadoresbrasileiros.

Dentre eles podemos citar: OSWALDO ARANHA BANDEIRA DE

MELLO 358, ADILSON DE ABREU DALLARI 359, YUSSEF SAID

CAHALI 360eCELSOANTÔNIOBANDEIRADEMELLO 361.

Ajurisprudência,damesmaformaqueadoutrina,posiciona-sepelaadmissão

daaçãoindenizatóriacontraoEstado,oagentepúblicoouambos 362.

ComoobservapercucientementeANACECÍLIA,a

“normaconstitucional,previstanoart.37,§6.º,éclaraaodisporqueapessoajurídica,causadorado

dano,respondeperanteavítima,tendo,porém,direitoderegressocontraoseuagentequetenhaatuado

Page 290: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

com dolo ou culpa. Entretanto, esta norma não pode ser interpretada, num sentido restritivo, apenas

admitindoaaçãocontraoEstadoenegando,aocidadão,apossibilidadedelitigarcontraoagenteque

lhecausouprejuízo.Ointuitodestanormafoiconferirapossibilidadedavítimaencontrar,nafasede

execução,umpatrimôniosolvente,enãooderestringiropolopassivodaaçãoindenizatória” 363.

Apesar disso, ao interpretar o art. 37, § 6.º, da Constituição Federal, o

Supremo Tribunal Federal conclui pela impossibilidade de a vítima acionar

diretamente o agente público. O Supremo entendeu que aquele dispositivo

consagra uma dupla garantia: uma, em favor do particular, possibilitando-lhe

ação indenizatória contra a pessoa jurídica de direito público, ou de direito

privado que preste serviço público. Outra garantia, no entanto, em prol do

servidor estatal, que somente responde administrativa e civilmente perante a

pessoa jurídica a cujo quadro funcional se vincular. Este entendimento foi

ratificadoporambasasturmasdoSupremoTribunalFederalnojulgamentodo

Recurso Extraordinário n. 327.904 364 e noAgravo Regimental noAgravo de

Instrumenton.167.659 365, demodoque se tratadeentendimentoconsolidado

naCorteConstitucional.

Feitasessasconsiderações,háumaperguntaquenãoquercalar:éadmissívela

denunciaçãodalidedoagentecausadordodano?

Éoqueveremosnopróximosubtópicodestecapítulo.

4.1.Adenunciaçãodalide

Adenunciaçãoda lideéumtipode intervençãode terceiro forçada,eoseu

cabimento,nahipótesedoart.125,II,CPC/2015(equivalenteaoart.70,III,do

CPC/1973), está condicionado à possibilidade de que o condenado possa

regredircontraoutrem.

Page 291: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Assim sendo, como há previsão expressa de direito regressivo do Estado,

contraoagentematerialdodano,nocasodedoloe culpa,nada impediria,do

pontodevistateórico,aaplicaçãodoinstituto.

Há,contudo,sériaresistência,nadoutrinaejurisprudênciaespecializada,para

suaadmissão.

Isso porque os que defendem a inadmissibilidade da denunciação da lide

consideram-nadanosaàvítimaquepleiteiaaindenizaçãoperanteoEstado.

De fato, soa estranho que, respondendo o Estado objetivamente, deva ser

abertaadiscussãoparaoelementoculpa,noquedizrespeitoaaçãoregressiva

contraoagentepúblico.

Nessecaso,o ingressodofuncionárionademanda,ajuizadaoriginariamente

pela vítima contra o Estado, ensejaria, em um único processo, a formação de

duas lides, a saber: uma, referente à relaçãodoEstadocomo funcionário, em

quesefaznecessáriaademonstraçãodeculpaoudoloparaaresponsabilização

deste,eaoutra,entreoEstadoeavítima,naqualaresponsabilidadedoprimeiro

éobjetiva 366.

O dissenso jurisprudencial é evidente, havendo diversos julgados que

permitemo ingressodo funcionárioatravésdadenunciaçãoda lidepromovida

peloEstado 367,eoutrostantosemsentidocontrário 368.

Sinceramente,nanossaopinião,aquestãodeveserdecididaporumcritério

lógico.

De fato, tendo em vista a imensa multiplicidade de relações em que está

envolvido o Estado, o elemento que nos parece relevante para reconhecer a

Page 292: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

utilidadedadenunciaçãodalideépuramentepragmático.

Com efeito, se há controvérsia quanto à autoria e materialidade do ato

imputado ao servidor público, a denunciação da lide é medida da maior

importância,poisevitaráaprolaçãodesentençascontraditórias.

Emoutravia,entretanto,casoadiscussãoselimiteaoelementoanímico(dolo

ou culpa) do servidor, ampliar os limites da lide é despiciendo e pouco

interessanteparaaefetivaçãodaprestaçãojurisdicional.

Parece-nosesse,semdúvida,omelhorcritério.

5.PRESCRIÇÃODAPRETENSÃOINDENIZATÓRIACONTRAOESTADO

Toda pretensão está sujeita a umdeterminado prazo prescricional, restando-

nos, portanto, investigar qual o prazo prescricional da pretensão indenizatória

contraoEstado.

Este prazo prescricional está regulado em legislação especial, o Decreto n.

20.910/32, cujo art. 1.º estabelece que “as dívidas passivas da União, dos

EstadosedosMunicípios,bemassim todoequalquerdireitoouaçãocontraa

Fazendafederal,estadualoumunicipal,sejaqualforasuanatureza,prescrevem

emcincoanoscontadosdadatadoatooufatodoqualseoriginarem”.

Noentanto,oart.10destemesmoDecretonoschamaaatençãoaodisporque

“o disposto nos artigos anteriores não altera as prescrições de menor prazo,

constantes das leis e regulamentos, as quais ficam subordinadas às mesmas

regras”.Apardestaredação,chega-seàconclusãodequeoprazodecincoanos

Page 293: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

cederialugaraeventuaisprazosmenoresprevistosemnormasdiversas.

EissonosremeteaoCódigoCivil.

Comosabemos,oCódigoCivilde1916estabeleceuoprazoprescricionalde

vinteanosparaaspretensões indenizatórias.Esteprazoforareduzidopara três

anospeloCódigoCivilde2002.

Seriaestedispositivo,doCódigoCivilde2002,aplicávelàspretensõescontra

oEstado?

Responde-nosoSTJ.

AqueleTribunaltemapontadonosentidodequeapretensãoindenizatóriapor

responsabilidadecivildoEstadoprescreveriaemcincoanos,nostermosdoart.

1.º doDecreto n. 20.910/32, não se aplicando, na hipótese, o disposto no art.

206,§3.º,V,doCódigoCivil 369.

Page 294: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

CapítuloXIV

ResponsabilidadeCivilProfissional

Sumário: 1. Noções fundamentais. 2. Conceito de atividade profissional. 3. Natureza jurídica da

responsabilidadecivildecorrentededanoscausadosnoexercíciodaprofissão.4.AaplicaçãodoCódigo

de Defesa do Consumidor e do art. 927, parágrafo único, do Código Civil brasileiro de 2002. 5.

Casuística.5.1.Responsabilidadecivilmédica.5.1.1.Identificandoobrigaçõesderesultadonaatividade

médica. 5.1.2. O dever de prestar socorro. 5.1.3. O erro médico. 5.1.4. Responsabilidade civil dos

hospitais ou clínicas médicas. 5.1.5. Responsabilidade civil das empresas mantenedoras de planos e

seguros privados de assistência à saúde. 5.1.6. Responsabilidade civil odontológica. 5.2.

Responsabilidade civil do advogado. 5.2.1. Natureza jurídica da obrigação de prestação de serviços

advocatícios.5.2.2.Responsabilidadecivilpelaperdadeumachance.5.2.3.Aofensairrogadaemjuízo

esuasconsequências.

1.NOÇÕESFUNDAMENTAIS

Umdoscamposmaisimportantes—edecontornosporvezesdramáticos—

para a aferição da responsabilidade civil é quando ela está relacionada ao

exercíciodeumaatividadeprofissional.

De fato, tentar diagnosticar a forma de tal responsabilidade— se subjetiva

(contratualouextracontratual)ouobjetiva—éumdesafioqueempolga todos

aquelesquesedebruçamsobreotema.

EssadiagnosepodesetornaraindamaispolêmicacomoadventodoCódigo

Page 295: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Civilbrasileirode2002,naintrincadadefiniçãodoqueseja“atividadederisco”

paraoreconhecimentodaresponsabilidadecivilobjetiva.

Embora controversa, temos bem assentado nosso posicionamento sobre a

questão, o que, sem pretender criar muito suspense, já explicitaremos nos

próximostópicos.

2.CONCEITODEATIVIDADEPROFISSIONAL

Para explicitar o nosso posicionamento sobre a matéria objeto do presente

capítulo,faz-semisterconceituaroqueseentendeporatividadeprofissional.

A ideia de atividade designa a soma de ações, atribuições, encargos ou

serviçosdesempenhadospelapessoa.

Trata-se de uma palavra que, quando representa o âmbito da atividade

desenvolvida pela pessoa ou entidade jurídica, recebe qualificativos, com a

finalidadededistinguirasespéciesdeserviçosoufunções,como,porexemplo,

atividadepolítica,atividadecomercial,atividadeeconômica e/ou—oque nos

interessa!—atividadeprofissional.

Quando adjetivada dessa última forma, refere-se ao conjunto de atos

praticadosporumsujeito,emdecorrênciadoexercíciodeseuofício(profissão

autônomaousubordinada).

Valedestacar,inclusive,que,nocampodasrelaçõeslaborais,todavezquese

utilizar a expressão “atividade profissional”, entenda-se o desempenho da

atividade do trabalhador, reservando-se o termo “atividade econômica” para o

empreendimentoempresarial 370.

Page 296: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

É sobre, justamente, a responsabilidade civil por danos decorrentes do

exercíciodoofíciodotrabalhadorqueprecisamosdelimitaranaturezajurídica.

3.NATUREZAJURÍDICADARESPONSABILIDADECIVILDECORRENTEDEDANOSCAUSADOSNOEXERCÍCIODAPROFISSÃO

Partindodopressupostodequeosujeitorealizaaatividadeemdecorrênciade

sua atuação profissional, estaremos, sempre, em regra, no campo da

responsabilidadecivilcontratual.

Isso porque o exercício do ofício pressupõe, em condições normais, a

interatividade da realização de um negócio jurídico, em que o profissional se

obrigaarealizardeterminadaatividadepactuada.

Parasuadevidacompreensão,éprecisodistinguirasobrigaçõesdemeioede

resultado,poisambaspodemserderivadasdeumcontrato.

Aobrigaçãodemeioéaquelaemqueodevedorseobrigaaempreenderasua

atividade,semgarantir,todavia,oresultadoesperado.

Nelas, odevedor (profissional) seobriga tão somente ausardeprudência e

diligência normais para a prestação de certo serviço, segundo as melhores

técnicas,comoobjetivodealcançarumdeterminadoresultado,semsevincular

aobtê-lo.

As obrigações do médico, em geral, assim como as do advogado, são,

fundamentalmente, de meio, uma vez que esses profissionais, a despeito de

deverem atuar segundo as mais adequadas regras técnicas e científicas

disponíveisnaquelemomento,nãopodemgarantiroresultadodesuaatuação(a

Page 297: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

curadopaciente,oêxitonoprocesso) 371.

Jánaobrigaçãoderesultado,odevedorseobriganãoapenasaempreendera

suaatividade,mas,principalmente,aproduziroresultadoesperadopelocredor.

Éoqueocorrenaobrigaçãodecorrentedeumcontratodetransporte,emque

odevedorseobrigaa levaropassageiro,comsegurança,atéoseudestino.Se

não cumprir a obrigação, ressalvadas hipóteses de quebra do nexo causal por

eventos fortuitos (um terremoto), será considerado inadimplente, devendo

indenizarooutrocontratante.

Conforme já dissemos em volume anterior 372, “interessante questão diz

respeito à obrigação do cirurgião plástico. Em se tratando de cirurgia plástica

estética,haverá,segundoamelhordoutrina,obrigaçãoderesultado.Entretanto,

se se tratar de cirurgia plástica reparadora (decorrente de queimaduras, por

exemplo), a obrigação do médico será reputada de meio, e a sua

responsabilidadeexcluída,senãoconseguirrecomporintegralmenteocorpodo

paciente,adespeitodehaverutilizadoasmelhorestécnicasdisponíveis 373.

Emambasassituações,ter-se-áumaresponsabilidadecivilsubjetiva,emque

aprovadaculpa,pelosdanoscausados,érelevante,emborahajaumapresunção

deculpa,coma inversãodoônusdaprovadoelementoanímico,notadamente

emrelaçãoàsobrigaçõesderesultado.

Isso se dá, por óbvio, porque, na primeira forma, o obrigado só será

responsável seocredorcomprovaraausência totaldocomportamentoexigido

ou uma conduta pouco diligente, prudente e leal, ao contrário da segunda

modalidade,emqueodevedorsóseisentaráderesponsabilidadesedemonstrar

Page 298: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

quenãoagiuculposamente.Ouseja,emambasassituações,oelementoculpaé

relevante,masoônusdesuaprovadeveráserdistribuídoemfunçãodaformade

obrigaçãoavençada.

Umdado,porém,éprecisosersalientado.

Está-se,aqui,falandodaresponsabilidadecivildoprofissional,diretamenteou

pelaviaoblíquadeumaaçãode regresso, enãodoeventual intermediadorda

sua mão de obra, pela celebração de contratos de trabalho ou de outras

modalidadescivisdeprestaçõesdeserviço(empreitadas,cooperativasetc.).

Nesses casos, a responsabilidade do intermediador da mão de obra

(empregador,porexemplo)éobjetiva,comfulcronasregrasjáaquiexplicadas

da responsabilidade civil por ato de terceiro 374, independentemente da

possibilidade de ação regressiva no caso de dolo ou culpa. Assim, a

responsabilidadedohospital(prestadordeserviço)éobjetiva,aopassoqueado

médicoésubjetiva.

Mas todo e qualquer dano causado pelo exercício de uma atividade

profissionalserásemprefundamentadaemumarelaçãocontratual?

Comoregrageral, sim,masépossível,porexceção,encontrarmossituações

emquesedeveinvocaraideiaderesponsabilidadecivilextracontratual.

ÉaobservaçãodacultaProfessoraMARIAHELENADINIZ:

“Não se pode olvidar que há, sem dúvida, certas profissões dotadas de função social, daí serem

obrigações legais, de modo que o profissional responderá por elas tanto quanto pelas obrigações

assumidascontratualmente.Sãohipótesesemquecoincidemasduasresponsabilidades—acontratuale

aextracontratual—,eoprofissionaldeveráobservarasnormasreguladorasdeseuofício,umasvezes

porforçadecontratoeoutras,emvirtudedelei.Mas,comoaresponsabilidadeextracontratualsósurge

Page 299: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

na ausência de umvínculo negocial, decorre daí que, se há vínculo contratual, o inadimplemento da

obrigaçãocontratuale legalcairá,conformeocaso,naórbitadaresponsabilidadecontratualenãoda

delitual, ante apreponderânciadoelementocontratual.Todavia, emalgumashipótesespoder-se-á ter

duaszonasindependentes:adaresponsabilidadecontratualeadaresponsabilidadedelitual.P.ex.:se,

em relação ao serviço do médico, se cogitar da extensão do tratamento e de sua remuneração, do

descumprimento desses deveres resultará uma responsabilidade contratual. Se um médico fez uma

operaçãoaltamenteperigosaenãoconsentida,semobservarasnormasregulamentaresdesuaprofissão,

ocaso seráde responsabilidadeextracontratual,vistoquenãohouve inadimplementocontratual,mas

violaçãoaumdeverlegal,sancionadopelalei” 375.

Todas essas considerações partem do pressuposto da responsabilização civil

subjetivadetaisprofissionaispordanoscausadosnoexercíciodesuaatividade.

E isso é uma regra que se mantém válida, mesmo em face do Código de

DefesadoConsumidoredoart.927,parágrafoúnico,doCódigoCivilbrasileiro

de2002?

Éoqueexplicitaremosnopróximotópico.

4.AAPLICAÇÃODOCÓDIGODEDEFESADOCONSUMIDOREDOART.927,PARÁGRAFOÚNICO,DOCÓDIGOCIVILBRASILEIRODE2002

Um interessante problema que está vindo à tona, com o advento do Novo

Código Civil brasileiro, diz respeito à atuação de determinados profissionais

liberaisqueempreendematividadederisco,aexemplodemédicoseadvogados.

Ninguém discute que o exercício de tais profissões envolve acentuada

potencialidadededano:imagineoerrodeumcirurgiãoouaperdadeprazopor

um advogado. Mas será que, nesses casos, tais profissionais poderiam ser

responsabilizadosobjetivamente?

Page 300: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

EssapreocupaçãoéesboçadapelocultoMin.RUYROSADODEAGUIAR,

em excelente artigo jurídico, quando, analisando a norma do Novo Código

referenteàatividadederisco,adverte:

“A regra atinge o empresário e o profissional liberal e, nesse ponto, contraria a regra doCódigo de

DefesadoConsumidor,queexige,paraa responsabilidadedoprofissional liberal, ademonstraçãoda

culpa” 376.

Defendemos o entendimento, todavia, de que a disciplina geral de

responsabilidade civil dos profissionais liberais permanecerá de natureza

subjetiva,umavezque, embora sejaoCódigode2002“leinova”em facedo

CódigodeDefesadoConsumidor,aregraconstantenesseúltimodiploma(art.

14,§4.º) 377nãoperderávigência,porforçadoprincípiodaespecialidade.

Acreditamos que esse seja o melhor entendimento sobre a matéria,

preservando-seaautonomiaeadignidadedaatividadeprofissional.

Afinaldecontas,narelaçãocontratual,osdanoseventualmenteocorridospelo

descumprimentodaobrigaçãoavençadajátrazem,emsi,apresunçãodeculpa.

Assim, nas obrigações de meio, com a ocorrência de dano na atividade

profissional,pararesponsabilizaroagente,épreciso,aodeduziroselementosda

responsabilidade civil, provar também o elemento culpa ou, então, aí sim, o

descumprimento de um dever contratual, fazendo incidir a presunção

mencionada.

Já nas obrigações de resultado, sendo este não realizado, já terá havido o

descumprimentocontratual,incidindoapresunçãodeculpa,cujoônusdaprova

parasuaeventualelisãoédodemandado.

Page 301: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Esclarecidos nossos posicionamentos sobre amatéria, passemos a enfrentar

algumas questões relevantes sobre a casuística da responsabilidade civil

profissional.

5.CASUÍSTICA

Por umaquestãopuramente de opçãodidática, trabalharemosneste capítulo

apenas com duas das mais comuns relações profissionais que ensejam

questionamentos no campo da responsabilidade civil: a atividade médica e o

ofíciodaadvocacia.

Ressaltamos,porém,queéinfindávelaenumeraçãodesituaçõespassíveisem

discussãoemjuízo,mas,pelomenos,noquedizrespeitoàsregrasgerais,elasjá

foramexplicitadasnessecapítulo,sendo,emcadacaso,merodesdobramentoem

funçãodaspeculiaridadesdecadaofício.

5.1.Responsabilidadecivilmédica

A concepção da responsabilidade civil subjetiva pelos danos causados na

atividademédicalatosensujáencontravaguaridanoCC/1916,queestabelecia:

“Art. 1.545.Osmédicos, cirurgiões, farmacêuticos, parteiras e dentistas são obrigados a satisfazer o

dano, sempre que da imprudência, negligência, ou imperícia, em atos profissionais, resultar morte,

inabilitaçãodeservir,ouferimento”.

A importância do já transcrito § 4.º do art. 14 do Código de Defesa do

Consumidor, ao reafirmar a responsabilidade civil subjetiva dos profissionais

liberais,nosquaisseencontramosmencionadosagentesdaatividademédica 378,

se verifica na medida em que aquele diploma consagra, nas relações de

consumo,aresponsabilidadecivilobjetiva,mas,expressamente,fazaressalva,o

Page 302: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

queinfereocaráterpropositaldessasituaçãoexcepcional.

O CC/2002, por sua vez, mantém a tradição legislativa, estabelecendo, in

verbis:

“Art.951.Odispostonosarts.948,949e950aplica-seaindanocasodeindenizaçãodevidaporaquele

que,noexercíciodeatividadeprofissional,pornegligência,imprudênciaouimperícia,causaramorte

dopaciente,agravar-lheomal,causar-lhelesão,ouinabilitá-loparaotrabalho”.

Registre-se que os artigos mencionados no dispositivo supra se referem às

indenizaçõesdevidas,respectivamente,noscasosdehomicídio,lesãoouofensa

àsaúdeeimpedimentodeexercíciodeofícioouprofissão10,oquevoltaremosa

enfrentaremcapítulopróprio. 379

A distinção, já trabalhada neste capítulo, entre as obrigações de meio e de

resultado,porém,deveserlevadaemconsideração,paraefeitodadelimitaçãoda

culpabilidade.

5.1.1.Identificandoobrigaçõesderesultadonaatividademédica

Se a atividade profissional médica é, como regra geral, uma obrigação de

meio,háalgunsmisteresquepodemserinterpretadosdeoutraforma.

Éocaso,porexemplo,doscirurgiõesplásticos,cujaatuaçãonãoselimitaria

aoacompanhamentodopacientecom todososdeveresdecautela,massimao

desenvolvimento de uma conduta especificamente para a obtenção de um

resultadonoplanodarealidade.

ConoscoconcordaSÍLVIODESALVOVENOSA:

“Dizemadoutrinaea jurisprudênciaqueacirurgiaplásticaconstituiobrigaçãode resultado.Deveo

profissional, emprincípio, garantir o resultado almejado. ‘Há, indiscutivelmente, na cirurgia estética,

Page 303: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

tendênciageneralizadaasepresumiraculpapelanãoobtençãodoresultado.Issodiferenciaacirurgia

estética da cirurgia geral’ (Kfouri Neto, 1998: 165). Não resta dúvida de que a cirurgia estética ou

meramenteembelezadora traráemseubojoumarelaçãocontratual.Comonessecaso,namaioriadas

vezes, o paciente não sofre de moléstia nenhuma e a finalidade procurada é obter unicamente um

resultadoestéticofavorável,entendemosquesetratadeobrigaçãoderesultado.Nessapremissa,senão

fosse assegurado um resultado favorável pelo cirurgião, certamente não haveria consentimento do

paciente” 380.

Comojávimos,emsetratandodecirurgiaplásticaestética,aobrigaçãoéde

resultado;seforreparadora,demeio.

Uma outra atividademédica, cuja natureza é, todavia, peculiar, refere-se ao

labordosanestesistas.

Curaradoréquaseumatodivino.

Todavia, falhasnaanestesiapodemocasionardanosdedifícilou impossível

reparação.

Embora haja polêmica sobre sua caracterização como atividade-meio ou de

resultado, tendemosàprimeiravisão,umavezquesua finalidadeé justamente

possibilitar a atividadecirúrgica,peloqueo elementoculpadeve serprovado,

sendohipótesederesponsabilidadecivilsubjetiva 381.

Nessesentido,observaJURANDIRSEBASTIÃO,especialistanamatéria:

“Não obstante vozes abalizadas de que a atividade do médico anestesiologista envolve contrato de

resultado—casocontrárionãoserianecessáriooatomédico,eainda,porqueesseespecialistaagecom

arbitrariedade—,entendemosqueanaturezajurídicadessaatividadecontinuasendoapenasdemeios,

ou seja, de cautelas e de empenho quantos necessários, em cada caso de fato e de acordo com os

avançosdesseramodaCiênciaMédica,notempo.Anaturezareservasegredosqueaindaseconservam

foradoalcancedamedicina” 382.

Excepcionalmente,atividadesquedenotamumaobrigaçãodemeiopodemse

Page 304: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

converteremumaobrigaçãoderesultado 383,adependerdaformacomosedeua

pactuaçãocomoconsumidordosserviçosmédicos 384.

Um dado que nos parece relevante, porém, é que, independentemente da

natureza da obrigação avençada, o fato de a responsabilidade civil ser aferida

subjetivamente,naformadomencionadoart.14,§4.º,doCódigodeDefesado

Consumidor, não afasta a possibilidade de considerar solidariamente

responsáveistodososagentesqueestejamligadosaoresultadodanoso,dochefe

dacirurgiaatéossimplesauxiliares,desdequetodostenhamcontribuídocomo

elementoculpa.

5.1.2.Odeverdeprestarsocorro

Poucas atividades profissionais envolvem uma carga tão grande de

emotividadequantoamedicina.

Teravidadeumpaciente,emsuasmãos,esvaindo-secomogrãosdeareiana

ampulheta, tendo de decidir os rumos a serem tomados, antes que seja tarde

demais, é uma atribuiçãopara verdadeiros vocacionados, comoum sacerdócio

estabelecidoparaobemdacoletividade.

OCódigodeÉticadaAtividadeMédica,inclusive,estabeleceemseuart.1.º:

“Art.1.ºAmedicinaéumaprofissãoa serviçodasaúdedoserhumanoedacoletividadeedeveser

exercidasemdiscriminaçãodequalquernatureza”.

O juramento hipocrático de luta pela preservação da vida não deve ser

considerado uma mera formalidade para a colação de grau, mas sim uma

verdadeira regra para pautar comportamentos nessa atividade tão importante e

especializada.

Page 305: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Taisconsideraçõesvêmàbailapelaconstataçãodaexistênciadeumdeverde

prestar socorro, no que, omitindo-se, pode o profissional ser responsabilizado

civilmentepelosdanosocorridos 385.

E como deve se portar o profissional médico, diante de pacientes que não

aceitam determinados tratamentos específicos? Em um exemplo, em termos

práticos,podeomédicoserresponsabilizadocivilmenteporumdanocausadoa

umatestemunhadeJeová?

Paraquesepossacompreendermelhoraquestãodaresponsabilidadecivildo

médicopelatransfusãodesangueempacientesquenãoaceitamessetratamento

(TestemunhasdeJeová),éprecisoteremmentetrêspremissasbásicas:

a) O direito de disposição sobre o próprio corpo pertence ao paciente, de

modo que o médico não pode ministrar-lhe qualquer tratamento sem o seu

consentimento,salvoemcasodeiminenteperigodevida.

b)OdireitoàliberdadereligiosaégarantidotantopelaDeclaraçãoUniversal

dosDireitosHumanosquantopelaConstituição(art.5.º,VI 386),oquesignifica

que ninguém pode ser compelido a realizar prática condenada por sua fé e

consciência.

c) O reconhecimento de um direito à vida, também assegurado

constitucionalmente(art.5.º,caput),determinaquetodostêmdireitoàvida,mas

não direito sobre a vida, o que implica a não aceitação pelo nosso sistema

jurídicodepráticascomooabortoeaeutanásia,poisapessoanãoteriadireito

sobre a própria vida 387. Entende-se, inclusive, que oEstado tem interesse em

prolongar a vida das pessoas, pois cada uma representa um papel social

Page 306: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

relevante.

Estabelecidasaspremissas,nãodeixemosdeenfrentaroproblema.

Trata-sedeumchoqueentredireitosfundamentais(direitoàvidaxdireitoà

liberdade religiosa) que, por suavez, podem ser classificados comoprincípios

jurídicos.Porisso,oseuchoquenãoimplicaaexclusãodeumdelesdosistema,

masabuscapelasuacompatibilizaçãoemcadacasoconcreto.

Temosplenaconvicçãodeque,nocasodarealizaçãodetransfusãodesangue

empacientesquenãoaceitamesse tratamento,odireitoàvida se sobrepõeao

direitoàliberdadereligiosa,umavezqueavidaéopressupostodaaquisiçãode

todososoutrosdireitos.Alémdisso,comojácolocado,amanutençãodavidaé

interessedasociedadeenãosódoindivíduo.Ouseja,mesmoque,intimamente,

por força de seu fervor, ele se sinta violado pela transfusão feita, o interesse

socialnamanutençãodesuavidajustificariaacondutacerceadoradesuaopção

religiosa 388.

Acreditamos,realmente,queoparâmetroasertomadoésempreaexistência

ounãodeiminenteperigodevida.

No caso de pacientes maiores e capazes no momento da concessão do

consentimento, entendemos que, ausente o perigo de perda da vida,mas, só e

somentesó,arecomendaçãodotratamento,omédiconãodeveministrá-lo,sob

pena de estar constrangendo ilegalmente o paciente. Assim, caso não observe

essadeterminação,omédicocorreoriscodeserresponsabilizadocivilmente.

Havendo, porém, a situação de perigo de vida, a realização do tratamento,

aindaque semêxito, comoeventual falecimentodopaciente,nãodeve impor

Page 307: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

uma responsabilização civil do profissional, pois este estará seguindo o seu

dever 389, por força da interpretação das regras próprias do vigenteCódigo de

ÉticaMédica 390.

Mesmo no caso de pacientes que estejam, temporária ou permanentemente,

impossibilitados de manifestar sua vontade, no que se incluem os pacientes

menores,eporissoincapazes,omédicotemtambémaobrigaçãodeministraro

tratamento, até mesmo porque nem sempre é possível obter a anuência do

responsávellegal 391.

É essa a linha, inclusive, recomendada peloConselhoFederal deMedicina,

através da Resolução CFM n. 1.021/80, que, mesmo sendo anterior à

ConstituiçãoFederalde1988,aindanospareceaposiçãomaisrazoávelejusta

paraoscasosconcretos,nosseguintestermos:

“RESOLUÇÃOCFMn.1.021/80

OConselhoFederaldeMedicina,usandodaatribuiçãoquelheconfereaLei

n.3.268,de30desetembrode1957,regulamentadapeloDecreton.44.045,de

19dejulhode1958,e

Considerandoodispostonoartigo153,parágrafo2.ºdaConstituiçãoFederal;

noartigo146eseuparágrafo3.º, incisosIeIIdoCódigoPenal;enosartigos

1.º,30e49doCódigodeÉticaMédica;

Considerandoo casodepacienteque, pormotivosdiversos, inclusiveosde

ordemreligiosa,recusamatransfusãodesangue;

Considerando finalmente o decidido em sessão plenária deste Conselho

realizadanodia26desetembrode1980,

Page 308: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Resolve:

Adotar os fundamentos do anexo PARECER, como interpretação autêntica

dos dispositivos deontológicos referentes a recusa empermitir a transfusão de

sangue,emcasosdeiminenteperigodevida.

RiodeJaneiro,26desetembrode1980.

GuaraciabaQuaresmaGama

PresidenteemExercício

JoséLuizGuimarãesSantos

Secretário-Geral

PublicadanoDOU(SeçãoI—ParteII)de22/10/80

PARECERPROC.CFMn.21/80

Oproblemacriado,paraomédico,pelarecusadosadeptosdaTestemunhade

Jeová em permitir a transfusão sanguínea, deverá ser encarado sob duas

circunstâncias:

1—Atransfusãodesangueteriaprecisaindicaçãoeseriaaterapêuticamais

rápidaeseguraparaamelhoraoucuradopaciente.

Nãohaveria,contudo,qualquerperigoimediatoparaavidadopacienteseela

deixassedeserpraticada.

Nessas condições, deveria o médico atender o pedido de seu paciente,

abstendo-sederealizaratransfusãodesangue.

Nãopoderáomédicoprocederdemodocontrário,poistallheévedadopelo

Page 309: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

dispostonoartigo32,letra‘f’doCódigodeÉticaMédica:

‘Nãoépermitidoaomédico:

f) exercer suaautoridadedemaneira a limitarodireitodopaciente resolver

sobresuapessoaeseubem-estar’.

2—O paciente se encontra em iminente perigo de vida e a transfusão de

sangueéaterapêuticaindispensávelparasalvá-lo.

Em tais condições, não deverá o médico deixar de praticá-la apesar da

oposiçãodopacienteoudeseusresponsáveisempermiti-la.

O médico deverá sempre orientar sua conduta profissional pelas

determinaçõesdeseuCódigo.

Nocaso,oCódigodeÉticaMédicaassimprescreve:

‘Artigo1.º—Amedicinaéumaprofissãoquetemporfimcuidardasaúdedo

homem,sempreocupaçõesdeordemreligiosa...’.

‘Artigo30—Oalvodetodaaatençãodomédicoéodoente,embenefíciodo

qual deverá agir com o máximo de zelo e melhor de sua capacidade

profissional’.

‘Artigo 19 — O médico, salvo o caso de ‘iminente perigo de vida’, não

praticaráintervençãocirúrgicasemoprévioconsentimentotácitoouexplícitodo

pacientee,tratando-sedemenorincapaz,deseurepresentantelegal’.

Poroutrolado,aopraticaratransfusãodesangue,nacircunstânciaemcausa,

nãoestaráomédicoviolandoodireitodopaciente.

Page 310: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Realmente,aConstituiçãoFederaldeterminaemseuartigo153,parágrafo2.º

que ‘ninguémseráobrigadoa fazeroudeixarde fazeralgumacoisasenãoem

virtudedalei’ 392.

AquelequeviolaressedireitocairánassançõesdoCódigoPenalquandoeste

tratadoscrimescontraaliberdadepessoaleemseuartigo146preconiza:

‘Constrangeralguém,medianteviolênciaougraveameaça,oudepoisde lhe

haverreduzido,porqualquermeio,acapacidadederesistência,anãofazeroque

aleipermite,ouafazeroqueelanãomanda’.

Contudo,opróprioCódigoPenal,noparágrafo3.ºdessemesmoartigo146,

declara:

‘Nãosecompreendemnadisposiçãodesteartigo:

I—aintervençãomédicaoucirúrgicasemoconsentimentodopacienteoude

seurepresentantelegal,sejustificadaporiminenteperigodevida’.

A recusa do paciente em receber a transfusão sanguínea, salvadora de sua

vida, poderia, ainda, ser encarada como suicídio. Nesse caso, o médico, ao

aplicar a transfusão, não estaria violando a liberdade pessoal, pois o mesmo

parágrafo3.ºdoartigo146,agorano incisoII,dispõequenãosecompreende,

também, nas determinações deste artigo: ‘a coação exercida para impedir o

suicídio’.

Conclusão

Em caso de haver recusa em permitir a transfusão de sangue, o médico,

obedecendoaseuCódigodeÉticaMédica,deveráobservaraseguinteconduta:

Page 311: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

1.ºSenãohouveriminenteperigodevida,omédicorespeitaráavontadedo

pacienteoudeseusresponsáveis.

2.º Se houver iminente perigo de vida, o médico praticará a transfusão de

sangue, independentemente de consentimento do paciente ou de seus

responsáveis.

Dr.TelmoReisFerreira

Relator”.

Nomesmo sentido do referido parecer, ainda invocado frequentemente, foi

editadaaResoluçãon.136/1999,doCREMERJ(publicadanoDiárioOficialdo

EstadodoRiodeJaneiroem19-2-1999),tambémdisciplinandoamatéria 393.

Para o médico se acobertar, todavia, de eventual demanda indenizatória,

aconselhamosque,casopossível,ingressecompedidodealvarádeautorização

judicial 394.

5.1.3.Oerromédico

Estabelecida a premissa de que a responsabilidade civil do médico, como

atividade profissional (liberal ou empregatícia), é subjetiva, vem a lume a

questãodoerromédico.

De fato, a prestação de serviços médicos não consiste em uma operação

matemática, em que o profissional pode afirmar, de forma peremptória, que

curaráoindivíduo,dadaasuacondição,emregra,deobrigaçãodemeio.

Por isso, aprovadoelementoanímico (culpa) é tão importantequantoada

conduta humana equivocada, no que diz respeito aos deveres gerais como

Page 312: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

cidadãoeaosespecíficosdaatividadeprofissional.

ComoobservaMARIAHELENADINIZ:

“Assimsendo,seopacientevierafalecer,semquetenhahavidonegligência,imprudênciaouimperícia

na atividade do profissional da saúde, não haverá inadimplemento contratual, pois o médico não

assumiu o dever de curá--lo, mas de tratá-lo adequadamente. É preciso lembrar que não haverá

presunçãodeculpaparahavercondenaçãodomédico;ele(CDC,art.6.º,VIII)équedeveráprovarque

nãohouveinexecuçãoculposadasuaobrigaçãoprofissional,demonstrandoqueodanonãoresultoude

imperícia,negligência(AASP,2.093:180e1.ºTACSP,Ap.684.076-6,j.9-3-1998)ouimprudênciasua

(RT,407:174,357,196;JSTJ,8:294).Talprovapoderáserfeitaportestemunhas,senãohouverquestão

técnica a ser esclarecida, sendo necessário que haja liame de causalidade entre o dano e a falta do

médicodequeresultaaresponsabilidadecivil.Portanto,aresponsabilidadecivildosmédicossomente

decorre de culpa provada, constituindo uma espécie particular de culpa. Não resultando provadas a

imprudência ou imperícia ou negligência, nem o erro grosseiro, fica afastada a responsabilidade dos

doutoresemmedicina,emvirtudemesmodapresunçãodecapacidadeconstituídapelodiplomaobtido

apósasprovasregulamentares(TJRJ,ADCOAS,1982,n.84.019)” 395.

O erro médico é, em linguagem simples, a falha profissional imputada ao

exercentedamedicina.

Conformejádissemos,nacaracterizaçãodesseerroatuaoelementoanímico

culpa,especialmentesobaroupagemdaimperíciaoudanegligência.

Alémdaeventualresponsabilizaçãojurídica—penaloucivil—,omédicose

sujeita às sanções administrativas da sua entidade fiscalizadora—oConselho

FederalouEstadualdeMedicina—,podendo,emsituaçõesdemaiorgravidade,

serproibidodeexerceroseuofício.

Valelembrar,entretanto,queaimposiçãodequalquersançãoadministrativa,

nostermosdodispostonaCartadaRepública(art.5.º,LV),exigeaobservância

dodevidoprocessolegal,garantidos,assim,ocontraditórioeaampladefesa.

Page 313: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

5.1.4.Responsabilidadecivildoshospitaisouclínicasmédicas

Como já deve ter sido inferido, embora a responsabilidade civil do

profissionalmédicopermaneçasubjetiva,omesmonãopodeserditodohospital

ouclínicamédicaemqueprestaserviços.

Comefeito,porforçadanovaregraderesponsabilizaçãoobjetivaporatode

terceiro,contidanoart.932,III,doCC/2002,nãohácomodeixardeaplicaro

dispositivoparataisentidades.

Registre-se, inclusive, que essa regra se aplica também a hospitais

filantrópicos, pois a atividade com intuito assistencial não afasta a

responsabilidadepelodevergeraldevigilânciaeeleiçãoquedevemantercom

seusprofissionais 396.

Seomédicointegraoquadropessoalpermanentedohospitaloudaclínica,a

responsabilidadedestaúltimadefluimanifesta,nostermosdoreferidoart.932,

III.

Entretanto, dúvida pode haver quanto àqueles profissionais que apenas

eventualmenteutilizamaestruturafísicaelogísticadohospitalpararealizaruma

cirurgia,porexemplo.

Ainda assim, entendemos existir um liame jurídico entre o médico e a

entidade hospitalar, de modo a autorizar a responsabilização objetiva desta

última,semprejuízodeumeventualdireitoderegressocontraomédico.

Atéporquereputamosmuitodifícil—senãoimpossível—àvítimadelimitar

ediferenciar,nocasoconcreto,aparticipaçãodomédicodesidiosoouafaltade

estruturaoudehigienedohospitalparaaocorrênciadodano.

Page 314: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

5.1.5.Responsabilidadecivildasempresasmantenedorasdeplanosesegurosprivadosdeassistênciaàsaúde

Emfunçãodaprecariedadedoserviçopúblicodesaúde,asociedadebrasileira

viu se desenvolver um novo ramo de atividade econômica: a das empresas

mantenedorasdeplanosprivadosdeassistênciaàsaúde.

AmatériaéregidapelaLein.9.656,de3-6-1998,jábastantemodificadapor

normasposteriormenteeditadas.

Nela,temosasseguintesdefiniçõesemseuart.1.º,comaredaçãodadapela

MPn.2.177-44,de24-8-2001:

“Art. 1.º Submetem-se às disposições desta Lei as pessoas jurídicas de direito privado que operam

planos de assistência à saúde, sem prejuízo do cumprimento da legislação específica que rege a sua

atividade,adotando-se,parafinsdeaplicaçãodasnormasaquiestabelecidas,asseguintesdefinições:

I—PlanoPrivado deAssistência à Saúde: prestação continuada de serviços ou cobertura de custos

assistenciais a preço pré ou pós-estabelecido, por prazo indeterminado, com a finalidade de garantir,

semlimitefinanceiro,aassistênciaàsaúde,pelafaculdadedeacessoeatendimentoporprofissionaisou

serviços de saúde, livremente escolhidos, integrantes ou não de rede credenciada, contratada ou

referenciada, visando a assistência médica, hospitalar e odontológica, a ser paga integral ou

parcialmente às expensas da operadora contratada, mediante reembolso ou pagamento direto ao

prestador,porcontaeordemdoconsumidor;

II— Operadora de Plano de Assistência à Saúde: pessoa jurídica constituída sob a modalidade de

sociedade civil ou comercial, cooperativa, ou entidade de autogestão, que opere produto, serviço ou

contratodequetrataoincisoIdesteartigo;

III—Carteira:oconjuntodecontratosdecoberturadecustosassistenciaisoudeserviçosdeassistência

à saúde em qualquer dasmodalidades de que tratam o inciso I e o § 1.º deste artigo, com todos os

direitoseobrigaçõesnelecontidos.

§1.ºEstásubordinadaàsnormaseàfiscalizaçãodaAgênciaNacionaldeSaúdeSuplementar—ANS

qualquer modalidade de produto, serviço e contrato que apresente, além da garantia de cobertura

financeira de riscos de assistência médica, hospitalar e odontológica, outras características que o

Page 315: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

diferenciedeatividadeexclusivamentefinanceira,taiscomo:

a)custeiodedespesas;

b)oferecimentoderedecredenciadaoureferenciada;

c)reembolsodedespesas;

d)mecanismosderegulação;

e)qualquer restriçãocontratual, técnicaouoperacionalparaacoberturadeprocedimentossolicitados

porprestadorescolhidopeloconsumidor;e

f)vinculaçãodecoberturafinanceiraàaplicaçãodeconceitosoucritériosmédico-assistenciais.

§ 2.º Incluem-se na abrangência desta Lei as cooperativas que operem os produtos de que tratam o

incisoIeo§1.ºdesteartigo,bemassimasentidadesouempresasquemantêmsistemasdeassistênciaà

saúde,pelamodalidadedeautogestãooudeadministração.

§ 3.º As pessoas físicas ou jurídicas residentes ou domiciliadas no exterior podem constituir ou

participardocapital,oudoaumentodocapital,depessoasjurídicasdedireitoprivadoconstituídassob

asleisbrasileirasparaoperarplanosprivadosdeassistênciaàsaúde.

§4.ºÉvedadaàspessoasfísicasaoperaçãodosprodutosdequetratamoincisoIeo§1.ºdesteartigo”.

Como titulares de uma relação jurídica, decorrente da exploração de uma

atividade econômica enquadrável nas previsões tuitivas das normas discipli-

nadorasdasrelaçõesdeconsumo,parece-nosquedevemelestambémresponder

solidariamente pelos danos causados pelos profissionais credenciados ou

autorizados,nocasodeerromédico 397.

Nessesentido,dissertandojustamentesobrearesponsabilizaçãodosplanose

convêniosporerromédico,afirmouCAMILALEMOSAZI,emsuamonografia

de final de curso, que “o primeiro aspecto a ser observado é que, de fato, a

contribuiçãodestesparaoacessodapopulaçãoaserviçosdesaúdedequalidade

é inegável, como também é inegável o seu caráter comercial. Todavia, não se

podenegarqueestes,nacondiçãodemaioresbeneficiadosfinanceiramentecom

Page 316: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

as atividades desenvolvidas, devem também responder pelos eventuais danos

que seus associados venham a sofrer. (...) A partir do momento em que

credenciam sujeitos para a prestação dos serviços que lhe incumbe, o plano

assume a responsabilidade pelos atos destes, pelas regras de responsabilidade

poratodeterceiro,eculpaineligendoeinvigilando” 398.

Aúnicaobservaçãoquefazemosaessaexcelentereferênciadoutrináriaéque,

como se trata de um serviço prestado no mercado de consumo, a

responsabilidadecivildacompanhiaéobjetiva.

Ora,seosegurado(paciente)sesujeitaaumcatálogopreviamentefornecido

deprofissionais credenciados, semque tenha liberdadeplenadeescolha, claro

nosparecequeacompanhiaseguradoradevasuportaracargajurídicadodano

causadoporseumédicoautorizado.

Raciocínioinversoafigurar-se-iainjustoedissonantecomasmaiselementares

regrasderesponsabilidadecivil.

5.1.6.Responsabilidadecivilodontológica

Apenasparaarrematar este tópico,vale registrarquea responsabilidadedos

profissionais da odontologia está nomesmo nível dos exercentes da atividade

médicastrictosensu.

Emverdade,destaque-sequeoart.1.545doCódigoCivilbrasileirode1916

oscolocavanomesmopatamardemédicos,cirurgiõesefarmacêuticos 399,esua

norma equivalente no CC/2002 — o já transcrito art. 951 —, embora não

nomineexpressamentetaisprofissionais,tambémnãoosexclui,sendorazoável

Page 317: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

oreconhecimentodamanutençãodaregra,atémesmopelamençãoaoindivíduo

“paciente”.

Saliente-se, porém, com SÍLVIO VENOSA, que “ao lado da Odontologia

propriamente dita, atualmente, há inúmeros profissionais que auxiliam o

odontólogoecujaresponsabilidadetambémdeveafloraredeveserdevidamente

analisada. São atividades acessórias que dependem do dentista para seu

exercício.Emboraoprodutofinaldeseutrabalhosejaaplicadonopaciente,éao

dentistaquesedestinasuaatividade.Assimsecolocamostécnicosemprótese

dentária e o técnico de higiene bucal. Como a responsabilidade final é do

dentista, semprequehouver responsabilidadedessesprofissionais, responderão

eles,quandomuito,solidariamentecomoprofissionalprincipal.Eventualmente,

pode aflorar a responsabilidade regressiva do dentista contra esses

auxiliares” 400.

Emnossaopinião,aatividadeodontológicapodeserconsideradaderesultado,

setiverapenasfinsestéticos.

Entretanto,determinadasintervençõesparaotratamentodepatologiasbucais

deverão, por óbvias razões, ser enquadradas na categoria de “obrigações de

meios”, dada a impossibilidade de garantir o restabelecimento completo do

paciente.

5.2.Responsabilidadecivildoadvogado

Umoutroapaixonantetema,relacionadoàresponsabilidadecivilprofissional,

éaanálisedaatividadeadvocatícia.

Page 318: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Últimadasprofissõesliberais,aadvocaciaétambémomaisnobrebastiãoda

liberdade,nalutacontraaopressãonoEstadoDemocráticodeDireito.

Dadaaimportânciadetalofício,apossibilidadedeocorrênciadedanos,seja

pela utilização equivocada de técnicas inadequadas ao caso concreto ou

simplesmenteaomissãonosdeveresdedefesados interessesdocliente, éum

elementoconcretoquenãopodeserdesprezado.

Para compreender como tal responsabilização se materializa é preciso

entenderanaturezajurídicadessaatividade.

5.2.1.Naturezajurídicadaobrigaçãodeprestaçãodeserviçosadvocatícios

Aprestaçãodeserviçosadvocatíciosé,emregra,umaobrigaçãodemeio,uma

vezqueoprofissionalnãotemcomoasseguraroresultadodaatividadeaoseu

cliente.

Assim, da mesma forma como o ofício médico, demanda uma

responsabilidadecivilsubjetiva,comfundocontratualque,nocasodoprocesso

judicial,decorredomandato.

Observe-se,porém,aadvertênciadeVENOSA:

“No entanto, existem áreas de atuação da advocacia que, em princípio, são caracterizadas como

obrigaçõesderesultado.Naelaboraçãodeumcontratooudeumaescritura,oadvogadocompromete-

se,emtese,aultimaroresultado.Amatéria,porém,suscitadúvidaseocasoconcretodefiniráeventual

falhafuncionaldoadvogadoqueresulteemdeverdeindenizar.Emsíntese,oadvogadodeveresponder

porerrosdefatoededireitocometidosnodesempenhodomandato.Oexamedagravidadedependerá

do caso sob exame.Erros crassos como perda de prazo para contestar ou recorrer são evidenciáveis

objetivamente. Há condutas do advogado, no entanto, que merecem exame acurado. Não devemos

esquecer que o advogado é o primeiro juiz da causa e intérprete da norma. Deve responder, em

Page 319: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

princípio,seingressacomremédioprocessualinadequadoousepostulafrontalmentecontraaletrada

lei.No entanto, na dialética do direito, toda essa discussão será profundamente casuística.É fora de

dúvida,porém,queainabilidadeprofissionalevidenteepatentequeocasionaprejuízosaoclientegera

deverdeindenizar.Oerrodoadvogadoquedámargemàindenizaçãoéaqueleinjustificável,elementar

paraoadvogadomédio,tomadoaquitambémcomopadrãoporanalogiaao‘bonuspaterfamilias’.No

examedacondutadoadvogado,deveseraferidoseeleagiucomdiligênciaeprudêncianocasoque

aceitoupatrocinar” 401.

Oimportanteéperceber,todavia,que,emboraexercendoumaatividadecom

potencialriscodedano,aresponsabilidadecivilserásempresubjetiva(CDC,art.

14,§4.º,eLein.8.906/94—EstatutodaAdvocacia—art.32),distribuindo-se

o ônus da prova do elemento culpa em função da natureza da obrigação

avençadaegeradoradodano,embenefíciodoconsumidordoserviço.

5.2.2.Responsabilidadecivilpelaperdadeumachance

Nabuscadodiagnósticodacondutadoadvogadoqueperpetrouumdanoao

seucliente,inevitáveléaocorrênciadesituaçõesemquealesãoaopatrimônio

jurídicodoclientetenhasedadoporumacondutaomissivadoprofissional.

Acasuísticaéinfindável:faltadeproposituradeaçãojudicial;recursoouação

rescisória;nãoformulaçãodepedido;omissãonaproduçãodeprovas;extravio

deautos,ausênciadecontrarrazõesousustentaçãooral;faltadedefesaetc.

Como se tratadaperdadeumachance, jamais sepoderá saberqual seriao

resultadodojulgamentoseoatohouvessesidovalidamenterealizado.

Nessassituações,háhipótesesextremasemquefatalmentesereconheceráque

uma ação ajuizada é fadada à procedência ou à rejeição como uma aventura

processual.A imensa gama de situações intermediárias, porém, impõe admitir

Page 320: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

quesóhápossibilidadederesponsabilizaçãoseforsobejamentedemonstradoo

nexodecausalidadeeaextensãododano.

Tentando estabelecer alguns parâmetros para essa questão tão complicada,

SÉRGIO NOVAIS DIAS, em pioneira obra, traz alguns baremas de

razoabilidade:

“Em casos cuja decisão envolve interpretação legal, em relação à qual o entendimento encontra-se

sumuladopeloSupremoTribunalFederalouSuperiorTribunaldeJustiça,aprobabilidadeédequeo

julgamento se façanomesmosentidoda súmula, anão serque sedemonstreestar ela superadapela

própriajurisprudênciadotribunal.

Não sendo matéria sumulada, será considerado provável todo resultado que decorrer de uma

interpretaçãorazoáveldanormalegal,naesteiradaSúmula400doSTF.Tendo,porém,ajurisprudência

do STF e do STJ já definido, dentre as interpretações razoáveis, respectivamente das normas

constitucionaisedasnormasfederaisinfraconstitucionais,qualainterpretaçãoconsideradacorreta,será

provável o resultado que estiver em sintonia com essa jurisprudência predominante, uma vez que,

mesmo se o tribunal de segunda instância adotasse interpretação razoável, porémdissonante daquela

pacificaçãonasinstânciasextraordinárias,eraprevisívelqueapartevencidafizesseoprocessochegarà

terceira instância,mediante a interposiçãodo recursoadequado,demaneiraqueo julgamentoúltimo

esperadodocasoseriadeacordocomessainterpretação.

Quando a questão envolver valoração da matéria fática ou de prova, será provável o resultado que

decorrerdeumaavaliaçãorazoáveldaquestão” 402.

Cuidado especial devem ter os advogados, por exemplo, quanto ao

levantamento de valores de clientes e, também, ao manuseio de seus

documentos.

Quantoaosvalores,é interessanteobservarqueosprofissionaisdevem,para

prevenirresponsabilidade,evitarprocuraçõesdecunhogenéricoecompoderes

amplíssimos.

No que se refere aos documentos, devem exigir recibo do seu cliente, ao

Page 321: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

devolvê-los,paraevitaralegaçãodeextravio.

Arelaçãocliente/advogadodevesempreserpautadapelorespeitoeconfiança,

emboraumpoucodecautelanãofaçamalaninguém.

5.2.3.Aofensairrogadaemjuízoesuasconsequências

Porfim,valeteceralgumasconsideraçõessobreasconsequênciasdasofensas

irrogadasemjuízopeloadvogado.

De fato, tem o profissional da advocacia uma imunidade para sua conduta,

conforme consta expressamente do art. 142, I, do vigente Código Penal

brasileiro 403.

Talpreceitoéreforçadopelo§2.ºdoart.7.ºdaLein.8.906/94,queestabelece

que o “advogado tem imunidade profissional, não constituindo injúria,

difamaçãooudesacatopuníveisqualquermanifestaçãodesuaparte,noexercício

desuaatividade,emjuízoouforadele,semprejuízodassançõesdisciplinares

peranteaOAB,pelosexcessosquecometer” 404.

Aperguntaquenãoquercalaré:taisdispositivosdãoumaimunidadeabsoluta

ao advogado para qualquer manifestação em Juízo? Pode ele, por exemplo,

ofenderdolosamenteapartecontrária,orepresentantedoMinistérioPúblicoou

omagistrado? 405

NavisãodeRUISTOCO,seria“odiosaqualquerinterpretaçãoqueconduzisse

à conclusão de que o Estatuto da Advocacia instituiu para os advogados

imunidadepenalecivilamplaeabsoluta,nãoofazendo,contudo,comrelação

aos cidadãos, às partes no processo e aos Juízes e membros do Ministério

Page 322: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Público.Emresumo,a ‘libertasconvinciandi’doadvogadonãosedegradaem

licençaparairrogarofensasemJuízo.Emboraoart.133daConstituiçãoFederal

disponha que o advogado é indispensável à administração da Justiça, tenha-se

emmentequeseráele indispensávelenquantoagirescorreitamentesegundoas

balizas que o mandato estabeleceu. A inviolabilidade por seus atos e

manifestações no exercício da profissão, para que se estabeleça a imunidade

judiciária,pressupõeapráticadeatoslícitospermitidosenosexatostermosda

outorga e do âmbito de discussão da causa, até porque se, por um lado, o

advogadoéinviolávelporseusatos,quandonoexercíciodaprofissão,poroutro,

todaequalquerpessoaéinviolávelemsuahonra,segundooart.5.º,incisoX,da

Constituição Federal, e tem o direito de não ser ofendida ou agredida

verbalmenteemdetrimentodesuaimagemedesuahonra” 406.

Assimtambémvêmdecidindoostribunais:

“A inviolabilidade, de que trata o art. 133 da Constituição, não elide a responsabilidade penal do

advogadoporcrimecometidonoexercíciodaprofissão,porissoquecontidanoslimitesdalei.Nãose

podedizercompreendidanaimunidadejudiciáriadoart.142,I,doCódigoPenal,aofensaqueextrapola

oâmbitodadiscussãodacausa”(SuperiorTribunaldeJustiça,RHC,Rel.JoséCândido,RSTJ,38/236).

“A inviolabilidade judiciária penal do advogado está circunscrita nos limites da lei (art. 133 da

ConstituiçãodaRepública).Nãopode,assim,oanimusdefendendisertransformadoemlicençaparao

ataquedescomedidoedesnecessário” (SuperiorTribunalde Justiça,RHC,Rel.EdsonVidigal,RSTJ,

40/244).

Por isso, em uma interpretação constitucional, esperamos que o STF firme

entendimento no sentido de dar justos limites às regras doCódigoPenal e do

EstatutodaAdvocacia,semsubtrairanecessárialiberdadeaoadvogado,emprol

dalisuraedorespeitonasdemandasjudiciais.

Page 323: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Comojásedisse,liberdadeemdemasiaredundaemarbítrio...

Page 324: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

CapítuloXV

ResponsabilidadeCivilnasRelaçõesdeTrabalho

Sumário: 1.Noções gerais. 2. Compreendendo a caracterização jurídica da relação de emprego. 2.1.

Considerações terminológicas. 2.2.Elementos essenciais para a configuraçãoda relaçãode emprego.

2.3. Sujeitos da relação de emprego: empregado e empregador. 3. Disciplina e importância da

responsabilidadecivilnas relaçõesde trabalho.3.1.Responsabilidadecivildoempregadorporatodo

empregado. 3.2. Responsabilidade civil do empregado em face do empregador. 3.3. O litisconsórcio

facultativoeadenunciaçãodalide.3.4.Responsabilidadecivildoempregadorpordanoaoempregado.

3.4.1. Responsabilidade civil decorrente de acidente de trabalho. 3.5. Responsabilidade civil em

relaçõestriangularesdetrabalho.

1.NOÇÕESGERAIS

Uma das relações jurídicas mais complexas da sociedade moderna é, sem

sombradequalquerdúvida,arelaçãodetrabalhosubordinado.

Issoporquenãoháumarelaçãocomtal“eletricidadesocial”nonossomeio,

tendo em vista que o próprio ordenamento jurídico reconhece a desigualdade

fática entre os sujeitos, em uma situação em que um deles se subordina

juridicamente,deformaabsoluta, independentedautilizaçãoounãodaenergia

colocadaàdisposição.

Page 325: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Por tal razão, o sistema normativo destina ao polo hipossuficiente uma

proteçãomaiornarelaçãojurídicadedireitomaterialtrabalhista,concretizando,

noplanoideal,oprincípiodaisonomia,desigualandoosdesiguaisnamedidaem

quesedesigualem.

Todavia, a questão se torna ainda mais complexa quando tratamos da

aplicação das regras de responsabilidade civil nesse tipo de relação jurídica

especializada.

Tal “complexidade agregada” se dá pelo fato de que não é possível aplicar

isoladamente as regras de Direito Civil em uma relação de emprego, sem

observaradisciplinaprópriadetaisformasdecontratação.

Compreendê-laéodesafiodestecapítulo.

2.COMPREENDENDOACARACTERIZAÇÃOJURÍDICADARELAÇÃODEEMPREGO

Antes de fazer qualquer observação sobre a aplicação das regras de

responsabilidade civil na relação de emprego, faz-se mister, por imperativo

absolutamentelógico,compreendercomoseconfiguratalrelaçãojurídica.

Para isso, entendemos ser necessário compreender seus elementos caracteri-

zadores, bem como as peculiaridades— fáticas e normativas— dos sujeitos

envolvidos.

Todavia,preliminarmente,façamosalgumasconsideraçõesterminológicas.

2.1.Consideraçõesterminológicas

A expressão “relações de trabalho” tem, muitas vezes, uma acepção

Page 326: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

plurissignificativa.

Defato,aexpressão“trabalho”,seutilizadadeformagenéricacomoobjetode

uma relação contratual, pode levar à confusão terminológica com o que se

convencionouchamardecontratosdeatividade,quesãoaquelescaracterizados

pelofatodeumdoscontratantesaplicarsuaatividadepessoalnaconsecuçãode

umfimdesejadopelooutro.

Taltraçodeafinidade,queinspirouoseubatismo,dadoporJeanVincent,em

seuclássicoLadissolutiondecontratdetravail 407,sugeriutambémagrupá-los,

paraofimdeestudo,emvirtudedospontosdesimilaridadequequalquerdeles

podeprestar-secomocontratoindividualdeemprego,abrindocaminhoparaa

práticadasimulaçãoedafraudeàlei.

Entre esses contratos, podem ser elencados, por exemplo, a empreitada, o

agenciamento ou representação, o mandato, a sociedade, a parceria rural

(agrícolaoupecuária)eoprópriocontratoindividualdeemprego.

Inúmeras teorias explicativas foramconstruídas apropósitode estabelecer a

distinçãodocontratoindividualdeempregocomseusafins,evitando,também,

serdissimuladosobonomenjurisdealgumdeles,asaber:

a)paraaEmpreitada,tentou-seadistinçãopeloscritériosdofimdocontrato,

daprofissionalidadedoempregadoredomododeremuneraçãodoprestador;

b)paraoAgenciamentoouRepresentação,tentou-searepresentaçãojurídica

doapropriadordaatividade;

c) para o Mandato, a gratuidade da prestação, a natureza da atividade, a

representaçãodoapropriadordoresultado;

Page 327: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

d)paraaSociedade,aaffectiosocietatis;

e)paraaParceriaRural(espécietípicadeSociedade),aaffectiosocietatis.

Nenhumdessescritériosteóricossemostrouseguro,naprática,porapresentar

falhasnosresultadosdaanáliseemdeterminadoscasosconcretos.Somentepara

exemplificar,omododeremuneraçãodoempregado,porprodução,seidentifica

inteiramente com o da remuneração do empreiteiro, por obra ou serviço. A

representação está presente no contrato individual do alto-empregado, em

igualdade de condições com o do mandatário. A affectio societatis tem uma

medida de presença, no contrato com o empregado remunerado por tarefa,

similaràverificadanassociedades,deatividadeurbanaourural.

Conformedissemosemoutraoportunidade:

“Verificou-se,entretanto,queumaúltimateoria,aplicadaatodososcontratosdeatividade,mostrouum

critériodistintivoseguroparadeles isolarocontrato individualdeemprego.Essa teoria firmou-sena

Subordinação (ou Dependência) Jurídica, sempre presente na relação de emprego, de natureza

trabalhista,esempreausentenasdemais,denaturezacivil.

Por isso, todas as demais teorias se tornaram secundárias, não perdendo totalmente o interesse do

analista porque, em alguns casos, a subordinação ou dependência jurídica se torna difusa dentro das

característicasdafunçãodoprestador,comoéocasodosaltos-empregados,queapresentamtraçosde

identidade muito mais forte com o próprio empregador do que com os seus companheiros da

comunidadeexecutoradetarefas.

Em situações desse gênero, as demais teorias podem ser usadas como auxiliares, avivando, pelas

circunstânciasquerevelam,ostraçosdeperfildasubordinaçãojurídica.

Considere-se,porúltimo,queemtodososcontratosdeatividade,queconcorremcomoindividualde

emprego,hátraçosdesubordinaçãodeumcontratante(oprestadordaatividade)aooutro(oapropriador

doresultado).

Talconjunturaque,àprimeiravista,concorreriaparadificultaraseparaçãodoscontratos, tornandoa

teoriadasubordinaçãojurídicatãoinseguraquantoasdemais,étotalmenteeliminada,seforlevadoem

Page 328: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

conta,naanálise investigativa,queemqualquercontratodeatividade(principalmentenaEmpreitada,

noAgenciamentoouRepresentaçãoenoMandato,ondeaparececommaisclareza),asubordinaçãose

restringeaofimouresultadovisadopelocontrato,sendooprestadortotalmenteautônomo,quantoaos

meiosderealização,nosquaisseconcentraaaplicaçãodaenergiapessoal.

Emsentidodiametralmenteoposto, é nodesenvolvimentoda atividadeque se evidencia, com toda a

ênfase,asubordinaçãodoprestadoraoapropriador,nocontratoindividualdeemprego.Diz-se,porisso,

que sua subordinação se mostra em grau absoluto, que resulta em colocá-lo no conhecido status

subjectionis(estadodesujeição),quea incrustanopróprioconteúdodocontrato,possibilitando-lhea

qualificaçãodesubordinaçãojurídica” 408.

Feitas tais observações, ressaltamos que o objeto do presente capítulo é,

portanto, a disciplina da responsabilidade civil na relação de trabalho

subordinado,tambémconhecidacomorelaçãodeemprego.

2.2.Elementosessenciaisparaaconfiguraçãodarelaçãodeemprego

Nosistemanormativobrasileiro, a tutelados interessesdoshipossuficientes

econômicos leva à consagração de um princípio básico da proteção, que se

espraiaemváriosoutrosprincípios,comoosdairrenunciabilidadededireitose

daprimaziadarealidade.

Justamenteporcausadesteúltimoprincípio,justifica-seaprevisãodoart.442

daConsolidaçãodasLeisdoTrabalho,quedispõequeo“contratoindividualde

trabalhoéoacordotácitoouexpresso,correspondenteàrelaçãodeemprego”.

Note-se que o dispositivo legal não fala em escrito ou verbal, ambas

modalidades da forma expressa, mas sim “acordo tácito ou expresso”, o que

importa reconhecer que a relação de emprego pode emergir dos fatos,

independentementedoquefoiformalmentepactuado,oqueéumasériagarantia

Page 329: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

contraasfraudes.

Por isso mesmo, compreender o quanto necessário para caracterizar uma

relação de emprego (trabalho subordinado) é um imperativo para a análise do

temaaquiproposto.

Nesse sentido, explicitamos que quatro elementos são simultaneamente

indispensáveisparatalmister:

a) Pessoalidade: o contrato de emprego é estabelecido intuito personae,

havendosuadescaracterizaçãoquandootrabalhador(expressãoaquiutilizadana

sua acepção mais genérica) puder se fazer substituir por outro,

independentementedamanifestaçãodevontadedapartecontrária;

b)Onerosidade: o contrato de trabalho subordinado, definitivamente, não é

gratuito,devendohaversempreumacontraprestaçãopelolabordesenvolvido.A

ausência de tal retribuição, quando não for a hipótese de inadimplemento

contratual, inferirá algum outro tipo de avença, por exemplo, o trabalho

voluntário;

c)Permanência ounãoeventualidade: nesse requisito, entenda-se a ideia de

habitualidadenaprestaçãolaboral.Paraapresençadesseelementonãoseexige

o trabalho em todos os dias da semana, mas, sim, tão somente, com uma

periodicidaderazoável,comonocasodogarçom—empregado—quetrabalha

somente de quinta-feira a domingo emum clube social.O trabalho episódico,

típico do sujeito conhecido como “biscateiro”, não implica reconhecimento de

vínculoempregatício;

d)Subordinação:trata-sedoestadoemquesecolocaoempregadoperanteo

Page 330: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

empregador,quando,porforçadocontratoindividual,põesuaenergiapessoalà

disposiçãodaempresaparaaexecuçãodosserviçosnecessáriosaosseusfins.A

vinculação contratual da relação de emprego é absoluta. Exatamente porque

corresponde a um estado (status subjectionis) assumido pelo empregado, em

razão da celebração do contrato e independentemente de prestar ou não o

trabalho,équeadoutrinasefixounaqualificaçãodejurídicaparaexplicarsua

natureza,ressaltando-sequeaausênciadesubordinaçãoeconômicaoutécnicaé

irrelevante,porsisó,paraafastarovínculoempregatício,porexemplo,nocaso

de um professor universitário que não dependa do salário da instituição de

ensino para sobreviver, nem precisa de seu empregador para aprender o seu

ofício.

Além desses quatro elementos, há outros dois, acidentais, que, embora não

imprescindíveis para a caracterização da relação de emprego, auxiliam na sua

diagnose,porpermitirqueseinfiraapresençadoselementosessenciais.

Sãoeles:

a)Continuidade:trata-sedapermanêncialevadaagrauabsoluto,ouseja,não

somenteotrabalhocomhabitualidade,mastambémemtodososdiasdasemana,

observados os repousos obrigatórios. Muitas vezes presente, não é essencial,

como visto, para o reconhecimento da relação contratual prevista na

ConsolidaçãodasLeisdoTrabalho,emboraoseja,segundopartedadoutrinae

jurisprudência,paraovínculoempregatíciodoméstico 409;

b)Exclusividade:emboranadaimpeçaaexistênciademúltiplosesimultâneos

contratosdetrabalho,nãohácomosenegarqueaprestaçãoexclusivaauxiliana

Page 331: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

diagnose dos elementos pessoalidade e subordinação jurídica para a

caracterizaçãodovínculoempregatício.

Compreendidos os elementos necessários para o reconhecimento de um

vínculodeemprego,passemosaconhecerosseusdoissujeitosfundamentais.

2.3.Sujeitosdarelaçãodeemprego:empregadoeempregador

Do ponto de vista técnico, é preciso ter em mente que trabalhador é um

gênero, do qual empregado é uma das espécies, talvez amais sujeita à tutela

normativaespecializada.

Defato,segundoconsensodoutrinário,oamplogênerotrabalhadorpodeser

dividido em quatro espécies: autônomo, eventual, avulso e subordinado

(empregado), distinguindo-se pela maior ou menor gradação do elemento

subordinaçãojurídicanautilizaçãodaenergiapessoal 410.

Compreendidos os elementos para a caracterização do vínculo de emprego,

vemosqueo texto consolidado seguiu amelhor técnica jurídica ao enunciaro

conceitolegaldeempregado,conformeseverificadasimplesleituradoseuart.

3.º:

“Art. 3.ºConsidera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a

empregador,sobadependênciadesteemediantesalário.

Parágrafoúnico.Nãohaverádistinçõesrelativasàespéciedeempregoeàcondiçãodetrabalhador,nem

entreotrabalhadorintelectual,técnicoemanual”.

Oconceitolegaldeempregador,porém,estáinsculpidonoartigoanteriorda

ConsolidaçãodasLeisdoTrabalho,nosseguintestermos:

“Art. 2.º Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da

Page 332: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

atividadeeconômica,admite,assalariaedirigeaprestaçãopessoaldeserviços.

§1.ºEquiparam-seaoempregador,paraosefeitosexclusivosdarelaçãodeemprego,osprofissionais

liberais, as instituições de beneficência, as associações recreativas ou outras instituições sem fins

lucrativos,queadmitiremtrabalhadorescomoempregados.

§2.ºSemprequeumaoumaisempresas,tendo,embora,cadaumadelas,personalidadejurídicaprópria,

estiveremsobadireção,controleouadministraçãodeoutra,constituindogrupoindustrial,comercialou

de qualquer outra atividade econômica, serão, para os efeitos da relação de emprego, solidariamente

responsáveisaempresaprincipalecadaumadassubordinadas”.

Embora se possa questionar as impropriedades técnicas deste conceito,

notadamente na circunstância de tratar igualmente sujeito (pessoa) e objeto

(empresa)dedireitos(oempregadoréapessoa,sejanaturaloujurídica,sendoa

empresa mero objeto do direito de propriedade), bem como a ideia —

equivocada—dequetodoempregadordeveexerceratividadeeconômica(oque

forçouamençãoaochamado“empregadorporequiparação”noseu§1.º) 411,o

conceito ainda é válido, por revelar o caráter forfetário da atividade do

empregado.

Comefeito,quemdeveassumirosriscosdaatividadeeconômica(oumesmo

osriscoseconômicosdaatividade)éoempregador,enãooempregado,quese

subordinajuridicamente,deformaabsoluta,aopoderpatronaldedireção.

Esse é, para nós, uma premissa básica para, aí sim, entender a

responsabilidadecivilnasrelaçõesdetrabalhosubordinado.

3.DISCIPLINAEIMPORTÂNCIADARESPONSABILIDADECIVILNASRELAÇÕESDETRABALHO

Como já observamos em váriosmomentos anteriores, a nova concepção da

responsabilidadecivilnoBrasilédequetemosumaregrageraldual,persistindo

Page 333: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

a responsabilidade subjetiva, porém, agora, em coexistência como regra, não

mais como exceção, com a responsabilidade objetiva, seja em função de

previsãolegalespecífica,sejaemdecorrência—novidadelegislativa—dofato

deaatividadedesenvolvidapeloautordodanoserconsideradaderiscoparaos

direitos de outrem, conceito jurídico indeterminado a ser preenchido pelo

magistrado.

Essanovaregrasemostradegrandeimportância,emespecial,paraoDireito

doTrabalho, sejapelasprevisõesde responsabilidadecivil por atode terceiro,

seja pela circunstância de já haver enquadramento formal — por normas

regulamentares—dedeterminadasatividadeseconômicascomoderiscoàsaúde

dotrabalhador.

Para compreender essa disciplina, porém, não podemos olvidar as regras

próprias das relações contratuais trabalhistas, bem como a característica de

alteridadequeascondiciona,peloquearesponsabilidadecivilpoderásertanto

doempregadorquantodopróprioempregado,emfunçãodedanoscausadosna

relaçãojurídicadedireitomaterialtrabalhista.

Enfrentemosessadisciplina.

3.1.Responsabilidadecivildoempregadorporatodoempregado

De acordo com o novo ordenamento jurídico, a responsabilidade civil do

empregador por ato causado por empregado, no exercício do trabalho que lhe

competir,ouemrazãodele,deixoudeserumahipótesederesponsabilidadecivil

subjetiva,compresunçãodeculpa(Súmula341doSupremoTribunalFederal),

parasetransformaremhipóteselegalderesponsabilidadecivilobjetiva 412.

Page 334: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Aideiadeculpa,namodalidadeineligendo,tornou-selegalmenteirrelevante

para se aferir a responsabilização civil do empregador, propugnando-se pela

maisamplaressarcibilidadedavítima,oquesemostraperfeitamentecompatível

comavocação,aquijádemonstrada,dequeoempregadordeveresponderpelos

riscoseconômicosdaatividadeexercida.

Eessaresponsabilidadeéobjetiva,independentementedequemsejaosujeito

vitimado pela conduta do empregado, pouco importando que seja um outro

empregado7ouumterceiroaoambientelaboral(fornecedor,cliente,transeunte

etc.). 413

Todavia,essaresponsabilizaçãocivildoempregador,deformaobjetiva,pode

ensejarquemsustentequeissopoderiaestimularconluiosentreoempregadoea

vítima,comointuitodelesionaroempregador.

Seatentaçãoparaomaléumamarcahumana,oDireitonãodevesequedar

inertediantedetalcondição.

Edemonstraremosissonospróximosdoistópicos.

3.2.Responsabilidadecivildoempregadoemfacedoempregador

Conforme já expusemos em tópico anterior 414, a redação do art. 934 do

CódigoCivilde2002ensejaodireitoderegressodaquelequeressarciuodano

causadoporoutrem.

No campo das relações de trabalho, contudo, o dispositivo deve ser

interpretado em consonância com o art. 462 da Consolidação das Leis do

Trabalho,quedispõe,inverbis:

Page 335: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

“Art.462.Aoempregadorévedadoefetuarqualquerdescontonossaláriosdoempregado,salvoquando

esteresultardeadiantamentos,dedispositivosdeleioudecontratocoletivo.

§1.ºEmcasodedano causadopelo empregado, o desconto será lícito, desdeque esta possibilidade

tenhasidoacordadaounaocorrênciadedolodoempregado”.

Assim, para que o empregador possa descontar valores referentes a danos

causadosculposamentepeloempregado,seránecessáriaapactuaçãoespecífica,

sejaprévia, sejaquandodaocorrênciado eventodanoso, oque édispensável,

pormedidadamaislídimajustiça,nocasodedolo.

É óbvio que tal avença poderá ser objeto de controle judicial, em caso de

ocorrênciadequalquervícioqueleveàinvalidadedonegóciojurídico,comoa

coaçãopsicológicaparaaobtençãodetaldocumento.

Da mesma forma, o elemento anímico deverá ser comprovado pelo

empregador, evitando abusos que importariam na transferência do risco da

atividadeeconômicaparaoempregado.

Mais importante, porém, é o fato de que essa regra compatibiliza o caráter

tuitivoquedevedisciplinartodanormatrabalhistacomarígidaregradedireito

de que a ninguém se deve lesar, não se chancelando, pela via estatal, a

irresponsabilidade de trabalhadores, enquanto cidadãos, pelos atos danosos

eventualmentepraticados.

Eseodanocausadopeloempregadoforjustamenteoresultadopatrimonialde

um ato, praticado por ele, lesando direitos de terceiros, o empregador deve

responderobjetivamente?

Éoqueenfrentaremosnopróximotópico.

Page 336: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

3.3.Olitisconsórciofacultativoeadenunciaçãodalide

Se decorre da novel regra legal que o empregador responde objetivamente

pelos danos causados pelo empregado, não há óbice para que a pretensão

indenizatória seja direcionada em face do empregado, fulcrada na ideia de

responsabilidade civil subjetiva, ou, melhor ainda, diretamente contra os dois

sujeitos, propugnando por uma solução integral da lide, o que se respalda,

inclusive, napalavra “também” registradano caput domulticitado art. 932 do

CC/2002.

Trata-sedemedidadeeconomiaprocessual,poispermiteverificar,desde já,

todos os campos de responsabilização em uma única lide, evitando sentenças

contraditórias.

E se a pretensão for deduzida somente contra o empregador, caberia a

intervençãodeterceirosconhecidapordenunciaçãodalide?

A denunciação da lide, conforme ensinaMANOELANTONIO TEIXEIRA

FILHO, “traduz a ação incidental, ajuizada pelo autor ou pelo réu, em caráter

obrigatório, perante terceiro, com o objetivo de fazer com que este seja

condenado a ressarcir os prejuízos que o denunciante vier a sofrer, em

decorrênciadasentença,pelaevicção,ouparaevitarposteriorexercíciodaação

regressiva,quelheasseguraanormalegaloudisposiçãodocontrato” 415.

Estaformadeintervençãodeterceirosestáprevistanoart.125doCódigode

Processo Civil de 2015 (equivalente ao art. 70 do CPC/1973), que dispõe, in

verbis:

“Art.125.Éadmissíveladenunciaçãodalide,promovidaporqualquerdaspartes:

Page 337: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

I—aoalienanteimediato,noprocessorelativoàcoisacujodomíniofoitransferidoaodenunciante,a

fimdequepossaexercerosdireitosquedaevicçãolheresultam;

II—àquelequeestiverobrigado,porleioupelocontrato,aindenizar,emaçãoregressiva,oprejuízode

quemforvencidonoprocesso.

§1.ºOdireitoregressivoseráexercidoporaçãoautônomaquandoadenunciaçãodalideforindeferida,

deixardeserpromovidaounãoforpermitida.

§2.ºAdmite-seumaúnicadenunciaçãosucessiva,promovidapelodenunciado,contraseuantecessor

imediato na cadeia dominial ou quem seja responsável por indenizá-lo, não podendo o denunciado

sucessivopromovernovadenunciação,hipóteseemqueeventualdireitoderegressoseráexercidopor

açãoautônoma”.

A previsão do inciso I do art. 125 não interessa, por certo, ao campo das

relaçõesdetrabalho,umavezqueémuitopoucoprovávelqueodireitomaterial

discutidoemumprocessodetalnaturezaserefiraaotemaalitratado.

Todavia, a segunda hipótese (obrigação, pela lei ou pelo contrato, de

indenizar, em ação regressiva, o prejuízo do que perder a demanda) pode ser

perfeitamenteaplicávelemumlitígiodessanatureza.

Imagine-se, por exemplo, que o empregador esteja sendo acionado, sob a

alegação de que uma empregada tenha sido assediada sexualmente por um

colegadetrabalho 416.

Emfunçãodosdanosmateriaisemoraiscausadosportalempregado,nasua

atividade laboral, deve a empregadora responder objetivamente, se provados

todosostrêselementosindispensáveisparaacaracterizaçãodaresponsabilidade

civil,semquebradonexocausal.

Nessecaso,baseando-senojámencionadoart.462daConsolidaçãodasLeis

doTrabalho,éplenamentecabívelaresponsabilizaçãoregressivadoempregado.

Page 338: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Porquenãofazê-lanosmesmosautosdaaçãoprincipal?

Poder-se-iaargumentarqueissofariademoraroressarcimentodavítima,por

sergeradaumanovalideentredoissujeitos,nãotendoelainteressejurídicoem

discutiraculpa,pelaprevisãolegalderesponsabilizaçãoobjetiva.

Essanãonosparece,porém,amelhorsolução.

Imagine, por exemplo, que não seja deferida a denunciação da lide, sob tal

fundamento—muitocomum,inclusive,emaçõesderesponsabilidadecivildo

Estado 417—mas, na ação regressiva, o suposto assediador nega a autoria e

materialidadedofato.

Haveria, sem sombra de dúvida, a possibilidade jurídica de sentenças

contraditórias,quedesprestigiariamaatividadejurisdicional.

Assim sendo, consideramos não somente possível a formação do litiscon-

sórcio passivo, mas, principalmente, recomendável o eventual deferimento da

denunciaçãoda lide,garantindo-se,assim,umaresolução integraldademanda,

possibilitando uma maior celeridade na efetiva solução do litígio e uma

economiaprocessualnosentidomacrodaexpressão.

AtémesmosetalaçãofoiajuizadanaJustiçadoTrabalho,nãohaverámotivo

razoávelparaseafastaraintervençãodeterceiros,poisaregradecompetência

materialdoart.114daConstituiçãoFederalde1988estará sendoestritamente

observada, uma vez que teremos, sempre, demandas entre trabalhadores e

empregadores (no exemplo dado, empregada assediada x empregadora

responsabilizadaeempregadoraresponsabilizadaxempregadoassediador).

Page 339: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

3.4.Responsabilidadecivildoempregadorpordanoaoempregado

Umaquestãointeressantesobreotemadaresponsabilidadecivilnasrelações

detrabalhosereferenãoaosdanoscausadospeloempregado,massimaosdanos

causadosaoempregado.

Trata-sedeumadiferençarelevante.

No primeiro caso, como visto, o sistema positivado adotou a teoria da

responsabilidadecivilobjetiva.

No segundo, porém, não há uma norma expressa a disciplinar o problema,

peloquearespostadeveserencontradadentrodosistemanormativo.

E,sendoassim,arespostadependerádascircunstânciasemqueessedanofor

causado.

Seessedanodecorrerdeatodeoutroempregado,aresponsabilização,como

jáexplicitado,seráobjetiva,cabendoaçãoregressivacontraoagente,noscasos

dedoloouculpa.

Eseodano,porém, forcausadoporum terceiro,aindaquenoambientede

trabalho?

Não temos dúvida em afirmar que, na regra geral, a responsabilidade civil

continuaasersubjetiva.

Eissosomentequandonãohouveraquebradonexocausal!

Exemplifiquemos,paraquenostornemosmaisclaros.

Imagine-se, por exemplo, que um cliente do empregador, ao manobrar seu

própriocarro,colidacomocarroestacionadodoempregado,noestacionamento

Page 340: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

daempresa.

Éóbvioqueessedanopatrimonialnãodeveserexigidodoempregador,ainda

que o trabalhador esteja em seu horário de trabalho, à disposição da empresa,

pois,nessecaso,oatoéimputávelsomenteaocliente.

Diferenteéasituaçãoemqueopróprioempregadorcolideoseucarrocomo

automóvel do empregado, nas mesmas circunstâncias. Nesse caso, embora

razoavelmente fácil de provar, o elemento anímico (dolo ou culpa) deve ser

demonstradoemjuízo.

Com isso, queremos dizer que a responsabilidade civil do empregador por

danoscausadosaoempregadoserásempresubjetiva?

Nãofoiissoquedissemos.

Emverdade,acreditamosque,emcondiçõesnormais,aresponsabilidadecivil,

nesses casos, é, sim, subjetiva, salvo alguma previsão legal específica de

objetivação da responsabilidade, como a do Estado ou decorrente de ato de

empregado.

Todavia, não podemos descurar da nova regra da parte final do parágrafo

único do art. 927 do CC/2002, que estabelece uma responsabilidade civil

objetiva, quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano

implicar,porsuanatureza,riscoparaosdireitosdeoutrem.

Aregrapareceserfeitasobmedidapararelaçõesempregatícias,pois,comojá

exposto,éoempregadorquedeveassumirosriscosdaatividadeeconômica.É

lógico que o risco a que se refere a disposição celetista é o risco/proveito, ou

seja, a potencial ruína pelo insucesso da atividade econômica com que se

Page 341: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

pretendeuobterlucro.

Mas e quando essa própria atividade econômica pode, por si só, gerar um

riscomaiordedanoaosdireitosdoempregado?

Aí, sim, como uma situação supostamente excepcional, é possível, sim,

responsabilizarobjetivamenteoempregador.

Note-se,inclusive,que,porforçadenormasregulamentares,háumasériede

atividades lícitas que são consideradas de risco para a higidez física dos

trabalhadores, parecendo-nos despiciendo imaginar que, provados os três

elementos essenciais para a responsabilidade civil — e ausente qualquer

excludentederesponsabilidade—aindatenhaoempregadolesionadodeprovar

aculpadoempregador,quandoaqueledanojáerapotencialmenteesperado...

Eissovaleparaosacidentesdetrabalho?

Éoquepretendemosdefendernopróximosubtópico.

3.4.1.Responsabilidadecivildecorrentedeacidentedetrabalho

Como já percebemos, a inexistência de parâmetro legal seguro para se

compreendera“atividadederisco”remete-nosaváriascomplexasquestões.

Comosedará,pois,oenquadramentojurídicodoacidentedetrabalhonoque

tange à ação indenizatória de direito comum?Vale dizer, a latere o benefício

previdenciário,para o qual não se exige a indagação de culpa, o que dizer da

açãocivil(açãoacidentáriadedireitocomum),previstanoart.7.º,XXVIII,da

CartaMagna,queoempregadopodeajuizarcontraoempregador,casoestehaja

atuadocom“doloouculpa”?

Page 342: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Imaginequeoempregadoexerçaatividadederisco.

Nestecaso,oempregador,queexploraestaatividade,passaráaresponderpelo

danocausadopeloempregadoindependentementedacomprovaçãodeculpa?

Trata-sedeintrincadaquestão.

Paraesclarecê-la,entendamosaproblemáticadoacidentedetrabalho.

O conceito jurídico de acidente de trabalho, embora trabalhado

doutrinariamente,possuisedelegal.

ALein.6.367,de19deoutubrode1976,emseuart.2.ºdefinia:“Acidentedo

trabalhoéaquelequeocorrerpeloexercíciodo trabalhoa serviçodaempresa,

provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, ou

perda,ouredução,permanenteoutemporária,dacapacidadeparaotrabalho”.

Jáoart.19daatualLein.8.213,de24dejulhode1991,quedispõesobreos

planosdebenefíciosdaPrevidênciaSocial, trazumconceitosemelhanteaoda

lei anterior, só que mais amplo, de sorte a abranger uma classe especial de

segurados,atéentãonãotutelados,quaissejam,oprodutor,oparceiro,meeiroe

arrendatário rurais, o garimpeiro e o pescador artesanal, desde que trabalhem

individualmenteousoboregimedeeconomiafamiliar,senãovejamos:

“Art.19.Acidentedotrabalhoéoqueocorrepeloexercíciodotrabalhoaserviçodaempresaoupelo

exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão

corporalouperturbaçãofuncionalquecauseamorteouaperdaouredução,permanenteoutemporária,

dacapacidadeparaotrabalho”.

Em outras palavras, tomando o conceito legal como ponto de partida,

podemosafirmar,comAntÔnioLagoJúnior,queo

Page 343: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

“acidentedotrabalhoéaqueleacontecimentomórbido,relacionadodiretamentecomotrabalho,capaz

dedeterminaramortedoobreiroouaperdatotalouparcial,sejaporumdeterminadoperíododetempo,

seja definitiva, da capacidade para o trabalho. Integram, pois, o conceito jurídico de acidente do

trabalho:a)aperdaoureduçãodacapacidadelaborativa;b)ofatolesivoàsaúde,sejafísicaoumental

dotrabalhador;c)onexoetiológicoentreotrabalhodesenvolvidoeoacidente,eentreesteúltimoea

perdaoureduçãodacapacidadelaborativa” 418.

Trêstiposderesponsabilizaçãopodemdecorrerdaocorrênciadeumacidente

dotrabalho.

Aprimeiraéumaresponsabilizaçãocontratual,comaeventualsuspensãodo

contratodetrabalhoeoreconhecimentodaestabilidadeacidentáriaprevistano

art.118daLein.8.213/91.

A segunda é o benefício previdenciário do seguro de acidente de trabalho,

financiadopeloempregador,masadimplidopeloEstado.

Aterceira,porém,éaquegerapolêmica,tendoumanaturezapuramentecivil,

de reparação de danos, prevista no já mencionado art. 7.º, XXVIII, da

ConstituiçãoFederalde1988,nosseguintestermos:

“Art.7.ºSãodireitosdostrabalhadoresurbanoserurais,alémdeoutrosquevisemàmelhoriadesua

condiçãosocial:

(...)

XXVIII—segurocontraacidentesdetrabalho,acargodoempregador,semexcluiraindenizaçãoaque

esteestáobrigado,quandoincorreremdoloouculpa”.

Poder-se-iadefenderque,apartirdomomentoemqueaCartaConstitucional

exigiu, expressamente, a comprovação de culpa ou dolo do empregador para

impor-lheaobrigaçãodeindenizar,optouporumnúcleonecessário,fundadona

responsabilidade subjetiva, do qual o legislador infraconstitucional não se

Page 344: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

poderiaafastar.

Ademais,umaleiordinárianãopoderiasimplesmentedesconsiderarrequisitos

previamentedelineadosemnormaconstitucional, aqual, alémde se situar em

grausuperior,servecomooseuprópriofundamentodevalidade.

Se o constituinte quisesse reconhecer a responsabilidade objetiva, seria

explícito, a exemplo do tratamento dispensado à responsabilidade civil do

Estado,noart.37,§6.º.

Nãosendoassim,remanesceoprincípiodaculpa.

Todavia,aquestãonãoéassimtãodireta.

De fato, não há como negar que, como regra geral, indubitavelmente a

responsabilidade civil do empregador, por danos decorrentes de acidente de

trabalho,ésubjetiva,devendoserprovadaalgumacondutaculposadesuaparte,

em alguma dasmodalidades possíveis13, incidindo de forma independente do

seguroacidentário,pagopeloEstado. 419

Todavia,parece-nosinexplicáveladmitirasituaçãodeumsujeitoque:

•porforçadelei,assumeosriscosdaatividadeeconômica;

• por exercer uma determinada atividade (que implica, por sua própria

natureza,riscoparaosdireitosdeoutrem),respondeobjetivamentepelosdanos

causados;

•aindaassim,em relaçãoaos seusempregados, tenhaodireito subjetivode

somenteresponder,pelosseusatos,seoshipossuficientesprovaremculpa...

A aceitar tal posicionamento, vemo-nos obrigados a reconhecer o seguinte

Page 345: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

paradoxo: o empregador, pela atividade exercida, responderia objetivamente

pelosdanosporsicausados,mas,emrelaçãoaseusempregados,porcausade

danos causados justamente pelo exercício da mesma atividade que atraiu a

responsabilizaçãoobjetiva,teriaumdireitoarespondersubjetivamente...

Aquestãonãoé,porém,definitivamentesimples 420,devendoserdevidamente

dirimidapornossajurisprudência 421.

Valedestacar,ainda,quenaIVJornadadeDireitoCivildaJustiçaFederalfoi

editadooEnunciadon.377,comaseguinteredação:

“Oart.7.º,inc.XXVIII,daConstituiçãoFederalnãoéimpedimentoparaaaplicaçãododispostonoart.

927,parágrafoúnico,doCódigoCivilquandosetratardeatividadederisco”.

Taldiretrizteórica,emboranãovinculante,demonstraaplausibilidadedatese

aquidefendida,desdeaprimeiraediçãodestevolume.

3.5.Responsabilidadecivilemrelaçõestriangularesdetrabalho

Paraencerrarestecapítulo,éimportanteteceralgumasconsideraçõessobrea

responsabilidadecivilnasrelaçõestriangularesdetrabalho.

Fenômeno da modernidade, a terceirização é vista como um modelo de

excelência empresarial e administrativa, com a possibilidade de redução de

custosdemãodeobraeespecializaçãodosserviçosprestados.

Trata-se, em síntese, de uma dúplice relação jurídica, em que um sujeito

contrata os serviços de outro, em um pacto de natureza civil, e este último

contrataempregados,quetrabalhamematividadesrelacionadascomotomador

deserviços.

Page 346: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Aresponsabilidadepatrimonialparaoscréditostrabalhistasdosempregadosé

dequeméosujeitodarelaçãoobrigacional,qualseja,seuempregador,nocaso,

oprestadordeserviços.

Todavia, a jurisprudência trabalhista, consagrando uma hipótese didática de

obligatio sem debitum, construiu e acolheu a tese da responsabilidade civil

subsidiária do tomador de serviços pelos débitos trabalhistas do prestador,

estandoamatériaventiladanaSúmula(ex-Enunciado)331docolendoTribunal

SuperiordoTrabalho:

“Enunciadon.331:

ContratodePrestaçãodeServiços—Legalidade—RevisãodoEnunciadon.

256:

I—Acontrataçãodetrabalhadoresporempresainterpostaéilegal,formando-

se o vínculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo nos casos de

trabalhotemporário(Lein.6.019,de3-1-1974).

II—Acontrataçãoirregulardetrabalhador,atravésdeempresainterpostanão

gera vínculo de emprego com os órgãos da Administração Pública Direta,

IndiretaouFundacional(art.37,II,daConstituiçãodaRepública).

III — Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de

serviçosdevigilância (Lein.7.102,de20-6-1983),deconservaçãoe limpeza,

bem como a de serviços especializados ligados a atividademeio do tomador,

desdequeinexistenteapessoalidadeeasubordinaçãodireta.

IV — O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do

empregador, implica na responsabilidade subsidiária do tomador do serviço

Page 347: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

quantoàquelasobrigações,desdequetenhaparticipadodarelaçãoprocessuale

constetambémdotítuloexecutivojudicial.

V — Os entes integrantes da Administração Pública direta e indireta

respondem subsidiariamente, nas mesmas condições do item IV, caso

evidenciada a sua conduta culposa no cumprimento das obrigações da Lei n.

8.666, de 21-6-1993, especialmente na fiscalização do cumprimento das

obrigaçõescontratuais e legaisdaprestadorade serviçocomoempregadora.A

aludida responsabilidade não decorre domero inadimplemento das obrigações

trabalhistasassumidaspelaempresaregularmentecontratada.

VI—Aresponsabilidadesubsidiáriadotomadordeserviçosabrangetodasas

verbas decorrentes da condenação referentes ao período da prestação laboral”

(Res.n.174/2011,DJETdivulgadoem27,30e31-5-2011).

Diantedoexposto,aincidêncianormativaaserprocedidaéadoincisoIVdo

Enunciadon.331docolendoTribunalSuperiordoTrabalho,comafixaçãoda

responsabilidade patrimonial subsidiária da tomadora dos serviços, caso não

sejam encontrados bens da prestadora demandada para responder aos créditos

eventualmentereconhecidosnestadecisão.

Vale destacar, inclusive, que há fundamento jurídico para encontrar a

responsabilidadedatomadoradosserviçospeloscréditosdotrabalhador.

Admitamosqueamerainadimplênciadasverbastrabalhistaspelaprestadora

de serviços não transfere a responsabilidade para o tomador, ente público da

administração direta ou indireta, para fazer a apologia do teor do art. 71,

anteriormentereferido.

Page 348: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Quandoatomadoradosserviços,adespeitodeserumaentidadepública,que

sepautapelosprincípiosdalegalidade,impessoalidade,moralidade,publicidade

e eficiência (art. 37 da CF/88), deixa de fiscalizar os contratos firmados com

basenestaspremissas,eestaausênciadefiscalização,ouineficiênciadegestão,

principalmentenotocanteaocumprimentodalegislaçãolaboral,causaprejuízo

aostrabalhadores, incidenocasooteordoart.186c/coart.927doCC/2002,

não havendo como isentar de responsabilidade o ente público contratante e

beneficiáriodiretodosserviçosprestadospelotrabalhador.

Do contrário, estaríamos diante da defesa da irresponsabilidade absoluta da

parte tomadora, do que não poderão os entes públicos se socorrerem. A

responsabilidade do tomador de serviços se encaixa no conceito de

responsabilidade por ato de terceiro, que é regulada pelo Código Civil, fonte

subsidiáriadodireitodotrabalho,epeloart.8.ºdaCLT.

AAdministraçãoPúblicaincorrenaculpaineligendo,quandoescolhemala

prestadoradeserviçosreferida. Incorre tambémemculpa invigilando,quando

negligenciaafiscalizaçãodocumprimentodocontrato,especialmentenoquediz

respeito ao cumprimento das normas trabalhistas dos empregados que

derramaramsuornasatividadesparaasquaisforamcontratados.

Ressalte-se que a própriaLei n. 8.666/93, nos arts. 58 e 67, dispõe sobre a

obrigação legal do ente, ou entidade pública, em fiscalizar o cumprimento do

contrato,oqueincluiasobrigaçõesperanteterceiros,nocasoostrabalhadores.

Ademais, a prevalecer a teoria da irresponsabilidade absoluta da

AdministraçãoPública,diretaouindireta,estaríamosdiantedeviolaçãodiretaa

Page 349: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

umdos fundamentosdaRepública,dovalor socialdo trabalho (art.3.º, IV,da

CF) e da valorização do trabalho com pilastra da ordem econômica e justiça

social(arts.170e193daCF),oqueconstituiriaumabsurdo,poisseriacomose

a própria Administração Pública voltasse as costas aos problemas sociais

decorrentesdaterceirização.

Decisão doC.TST, 6.ª Turma, cujaRelatoria é doMin.MaurícioGodinho

Delgado, invoca esta compreensão acerca da responsabilidade subsidiária dos

entes,ouentidadespúblicas,verbis:

“Agravo de instrumento. Recurso de revista. Terceirização trabalhista —

Entidadesestatais—Responsabilidadeemcasodeculpa, invigilando, noque

tange ao cumprimento da legislação trabalhista e previdenciária por parte da

empresa terceirizante contratada— Compatibilidade com o art. 71 da Lei de

Licitações — Incidência dos arts. 159 do CCB/1916, 186 e 927, caput, do

CCB/2002.Decisãodenegatória.Manutenção.Amerainadimplênciadaempresa

terceirizante quanto às verbas trabalhistas e previdenciárias devidas ao

trabalhador terceirizadonão transferea responsabilidadepor taisverbasparaa

entidade estatal tomadora de serviços, a teor do disposto no art. 71 da Lei n.

8.666/93 (Lei de Licitações), cuja constitucionalidade foi declarada pelo

Supremo Tribunal Federal na ADC 16-DF. Entretanto, a inadimplência da

obrigação fiscalizatóriadaentidadeestatal tomadorade serviçosno tocanteao

preciso cumprimento das obrigações trabalhistas e previdenciárias da empresa

prestadora de serviços gera sua responsabilidade subsidiária, em face de sua

culpa invigilando, a teorda regra responsabilizatória incidente sobrequalquer

pessoa física ou jurídica que, por ato ou omissão culposos, cause prejuízos a

Page 350: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

alguém(art.186,CódigoCivil).Evidenciadaessaculpainvigilandonosautos,

incidearesponsabilidadesubjetivaprevistanoart.159doCCB/16,arts.186e

927, caput, do CCB/2002, observados os respectivos períodos de vigência.

Registre-seque,nosestritoslimitesdorecursoderevista(art.896,CLT),nãoé

viável reexaminar-se a prova dos autos a respeito da efetiva conduta

fiscalizatória do ente estatal (Súmula 126/TST). Sendo assim, não há como

asseguraroprocessamentodorecursoderevistaquandooagravodeinstrumento

interposto não desconstitui os fundamentos da decisão denegatória, que ora

subsiste por seus próprios fundamentos. Agravo de instrumento desprovido”

(Processo: AIRR 79.640-28.2008.5.11.0006, j. 2-2-2011, Rel. Min. Maurício

GodinhoDelgado,6.ªTurma,DEJTde11-2-2011.

Namesma esteira, veja-se decisão da 8.ª Turma, de relatoria daMin.Dora

MariadaCosta,inverbis:

“Agravo de instrumento em recurso de revista. 1. Responsabilidade

subsidiária. Administração Pública. Culpa in vigilando. O Tribunal Regional

decidiu a controvérsia em consonância com a Súmula 331, IV, desta Corte

Superior,quetemporfundamentoprincipalmentearesponsabilidadesubjetiva,

decorrentedaculpainvigilando(arts.186e927doCódigoCivil).Issoporque

osarts.58,III,e67daLein.8.666/93impõemàAdministraçãoPúblicaodever

de fiscalizaraexecuçãodoscontratosadministrativosdeprestaçãodeserviços

porelacelebrados.Nopresentecaso,oentepúblico tomadordosserviçosnão

cumpriu adequadamente essa obrigação, permitindo que a empresa prestadora

contratada deixasse de pagar regularmente a seus empregados as verbas

trabalhistas que lhes eram devidas. Saliente-se que tal conclusão não implica

Page 351: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

afrontaaoart.97daCFeàSúmulaVinculante10doSTF,nemdesrespeitoà

decisão do STF na ADC 16, porque não parte da declaração de

inconstitucionalidadedoart.71,§1.º,daLein.8.666/93,masdadefiniçãodo

alcance da norma inscrita no citado dispositivo com base na interpretação

sistemática, em conjunto com as normas infraconstitucionais citadas acima.

Óbice do art. 896, § 4.º, da CLT e da Súmula 333 do TST. 2. Limites da

responsabilidade subsidiária e juros moratórios. A insurgência caracteriza-se

inovaçãorecursaldaparte,tendoemvistaquenemareclamada,noseurecurso

de revista, nem o despacho denegatório trataram dessas matérias. Agravo de

instrumento conhecido e não provido” (Processo: AIRR — 101440-

13.2009.5.03.0132, j. 16-2-2011, Rel. Min. Dora Maria da Costa, 8.ª Turma,

DEJTde18-2-2011).

Atémesmonoquedizrespeitoaoônusdaprova,amatérianãoéfavorávelà

atitude de Administração Pública, conforme se pode verificar também do

seguintejulgado:

“Agravodeinstrumentodesprovido—Terceirização—Deverdefiscalização

—Administração Pública—Omissão—Culpa in vigilando— Responsabi-

lidadesubsidiária—DecisãodoSTFnaADC16.NojulgamentodaADC16,o

SupremoTribunalFederal,aodeclararaconstitucionalidadedoart.71,§1.º,da

Lein.8.666/93,ressalvouapossibilidadedeaJustiçadoTrabalhoconstatar,no

caso concreto, a culpa in vigilando da Administração Pública e, diante disso,

atribuirresponsabilidadeaoentepúblicopelasobrigações,inclusivetrabalhistas,

inobservadas pelo contratado. A própria Lei de Licitações impõe à

Administração Pública o dever de fiscalizar a execução dos contratos

Page 352: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

administrativos,conformesedepreendedosarts.58,111e67,§1.º,daLein.

8.666/93.Partindodessaspremissas,competeaoentepúblico,quandopleiteada

em juízo sua responsabilização pelos créditos trabalhistas inadimplidos pelo

contratado, apresentar as provasnecessárias a demonstraçãodeque cumpriu a

obrigaçãoprevistaemlei,sobpenaderestarcaracterizadaaculpainvigilando

da Administração Pública, decorrente da omissão quanto ao dever de

fiscalização da execução do contrato administrativo.Agravo de Instrumento a

que senegaprovimento” (AIRR—4527-94.2010.5.01.0000Acórdão redigido

por—GMCADEJT—18-3-2011).

A ideia dessa responsabilização é com base em uma culpa in eligendo do

tomador de serviços, na escolha do prestador, bem como in vigilando da

atividade exercida 422, aplicando-se analogicamente outras disposições da

legislação trabalhista,como,porexemplo,oart.455daConsolidaçãodasLeis

doTrabalho 423.

Eessaregrajurisprudencial,concebidaparacréditostrabalhistasstrictosensu,

éaplicávelparaasregrasderesponsabilidadecivilemgeral?

Nãotemosamenordúvidaemafirmarquesim.

Equaléofundamentoparatalresponsabilização?

Simplesmente,omesmodispositivoquealbergaa regrade responsabilidade

civilobjetivadoempregadorporatodosseusempregados.

Defato,dispõeoart.932,III,doCC/2002:

Art.932.Sãotambémresponsáveispelareparaçãocivil:

(...)

Page 353: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

III—oempregadoroucomitente,porseusempregados,serviçaiseprepostos,noexercíciodotrabalho

quelhescompetir,ouemrazãodele;

Ora, o que é o prestador de serviços terceirizados, senão um preposto do

tomadorparaaconsecuçãodeumadeterminadaatividade?

Ao terceirizar a atividade antes destinada à tomadora, elegeu esta um

determinadosujeito—pessoafísicaoujurídica—paraexerceraatividadeem

seu lugar. Aos olhos da comunidade, porém, aquela atividade-meio

desempenhadarealiza-secomosefeitapelatomadora 424.

Assim, por exemplo, se um determinado restaurante terceiriza o serviço de

manobristade seusclientes,deve responder, juntamentecomoempregadordo

manobrista,pelosdanoscausadosaoconsumidor,noexercíciodessafunção.

Nãosetratadeumanovidadenosistema,mas,sim,daconsagraçãodaideia

de que se deve propugnar sempre pela mais ampla reparabilidade dos danos

causados,nãopermitindoqueaquelesqueusufruemdosbenefíciosdaatividade

nãorespondemtambémpelosdanoscausadosporela.

Por fim, vale registrar que, no que diz respeito aos danos causados

diretamentepela tomadoraaoempregadodaprestadorade serviços,ahipótese

será disciplinada pelasmesmas regras da responsabilidade do empregador por

danos causados aos seus empregados (ou seja, a priori, responsabilidade

subjetiva, sem prejuízo de sua objetivização, se enquadrar a atividade na

previsãodoparágrafoúnicodoart.927doCC/2002).

E, por óbvio, quanto aos danos causados à tomadora, pelo empregado da

prestadoradeserviços,a responsabilidadeserásubjetivadoobreiro,damesma

Page 354: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

formaqueéaresponsabilidadedosempregadosprópriosdatomadora.

Page 355: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

CapítuloXVI

ResponsabilidadeCivilnasRelaçõesdeConsumo

Sumário: 1. Introdução: o Código de Defesa do Consumidor. 1.1. Partes na relação de consumo:

fornecedoreconsumidor.1.2.Objetodarelaçãodeconsumo:produtoouserviço.2.Responsabilidade

civil pelo fato do produto ou serviço (acidente de consumo). 2.1. A responsabilidade civil dos

profissionais liberais. 2.2. Prazo prescricional para a pretensão reparatória decorrente do acidente de

consumo. 3. Responsabilidade civil pelo vício do produto ou serviço. 4. Responsabilidade civil pela

inserçãodonomedoconsumidornosbancosdedados.

1.INTRODUÇÃO:OCÓDIGODEDEFESADOCONSUMIDOR

Respeitandocomandoconstitucional,queerigiuadefesadoconsumidorcomo

princípio da ordem econômica (art. 170, V, da CF), aprovou-se, no início da

décadade1990,oCódigodeDefesadoConsumidor—Lein.8.078,de12de

setembrode1990.

Trata-se, semsombradedúvida,domais importantee significativodiploma

legaldosúltimostempos.

E a essa conclusão chegamos, não apenas por constatarmos a ampla

consagração de institutos jurídicos avançados — a exemplo da teoria da

imprevisão e da desconsideração da pessoa jurídica—, mas, sobretudo, pela

Page 356: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

circunstânciadeoCDChaverpautadoumamudançadepostura ideológicado

nosso legislador, que passou a perceber amanifesta necessidade de se adotar,

também na seara do Direito Privado, uma posição mais intervencionista, em

defesadapartehipossuficientedarelaçãodeconsumo.

Acabou-se o tempo da hipócrita adoração do princípio da igualdade formal

daspartescontratantes.

As partes, sob o prisma econômico, raramente podem ser consideradas

equidistantes, principalmente nos contratos de consumo, geralmente pactuados

sobaformadeadesão,emquefiguram,deumlado,ofornecedor,e,deoutro,o

consumidor.

Fruto do labor de capacitados juristas, o Código deDefesa doConsumidor

marcou, assim, umanova era para oDireitoPrivadobrasileiro, namedida em

que,havendosocializadoasnormasregentesdasrelaçõesdeconsumo,culminou

por servir como modelo substitutivo para um Código Civil de que ainda se

carecianaépoca.

Em linhas gerais, consoante salientado pelos próprios elaboradores do

anteprojeto, o Código de Defesa do Consumidor apresenta as seguintes

características 425:

1.Formulaçãodeumconceitoamplode fornecedor, incluindoosagentes

que atuam direta ou indiretamente no mercado de consumo, abrangendo

instituiçõesfinanceirasesecuritárias.

2. Apresentação de um elenco de direitos básicos dos consumidores e

Page 357: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

instrumentosdeimplementação.

3.Proteçãocontraosdesviosdequalidadeequantidade.

4.Melhoriadoregimejurídicodosprazosdecadenciaiseprescricionais.

5.Ampliação das hipóteses de desconsideração da personalidade jurídica

dassociedades.

6.Regramentodomarketing(ofertaepublicidade).

7.Controledaspráticasecláusulasabusivas,bancosdedadosecobranças

dedívidasdeconsumo.

8.Introduçãodeumsistemasancionatóriocivilepenal.

9. Facilitação do acesso à Justiça para o consumidor, com o regramento,

inclusive,dosdireitosdifusosecoletivos.

10. Incentivo à composição privada entre consumidores e fornecedores,

especialmentecomaprevisãodeconvençõescoletivasdeconsumo.

Com todosesses instrumentos, apresentadosapenas embreve síntese,nosso

leitoramigojápodeconstataroquesignificou,emumpaíscomoonosso,cuja

tradição legislativa especialmente incrementada pelos anos da ditadura primou

emgrandepartepelomaterialismoegoístico,aentradaemvigordoCódigode

DefesadoConsumidor.

Sebemquesejamostentadosadiscorrermaissobreotema,respeitaremosa

diretrizdestaobra, e, assim, cuidaremosdecentraronosso foconaanáliseda

responsabilidadecivilpelofatoepelovíciodoprodutoouserviço.

Page 358: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Antes, porém, apresentaremos alguns conceitos básicos, indispensáveis ao

adequadoentendimentodotema.

Vamosaeles.

1.1.Partesnarelaçãodeconsumo:fornecedoreconsumidor

Nostermosdoart.2.ºdoCDC,“consumidorétodapessoafísicaoujurídica

queadquireouutilizaprodutoouserviçocomodestinatáriofinal”.

Note-se,primeiramente,queaqualidadedeconsumidornãoérestritaàpessoa

naturaloufísica,umavezque,emnossosistema,apessoajurídicatambémpode

receberessedesignativo.

Tudodependedacircunstânciadeoagenteatuarounãocomodestinatáriodo

produto ou serviço. Se, por exemplo, uma sociedade empresária compra da

indústriapeçasdeferroparamanufaturá-las, transformando-asemengrenagens

paraveículos,nãopodemosconsiderarareferidasociedade“consumidora”das

peças,pornãoserdestinatáriafinaldelas.Poroutrolado,seadquiremóveispara

escritório,poderáserreputadapartenarelaçãodeconsumotravadacoma loja

dedepartamentosquelheforneceuosbens.

Adotou-se, assim, um critério finalístico para a definição da figura do

consumidor 426.

Eoparágrafoúnicoacrescentaque“equipara-seaconsumidoracoletividade

de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de

consumo”.

Comentandoessedispositivo,JOSÉGERALDOBRITOFILOMENOobserva

Page 359: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

que

“oque se tememmira noparágrafoúnicodo art. 2.º doCódigodoConsumidor é a universalidade,

conjuntodeconsumidoresdeprodutoseserviços,oumesmogrupo,classeoucategoriadeles,edesde

que relacionados a um determinado produto ou serviço, perspectiva esta extremamente relevante e

realista,porquantoénaturalqueseprevina,porexemplo,oconsumodeprodutosouserviçosperigosos

ou então nocivos, beneficiando-se assim abstratamente as referidas universalidades e potenciais

consumidores” 427.

E essa disposição entra em consonância com a proteção do consumidor em

juízo,previstapelasnormasprocessuaisdoreferidodiplomaque,corretamente,

em uma postura democrática e socializante, não cuidou apenas de tutelar

interesses individuais, mas, também, os de natureza difusa, coletiva ou

individualhomogênea(art.81) 428.

Com isso, salientou-se a legitimidade do Ministério Público nas esferas

estadual e federal para o ajuizamento das medidas judiciais cabíveis,

especialmente a ação civil coletiva e a ação civil pública 429, em prol dessa

universalidadedeconsumidores.

Assim,umaengrenagemdefeituosaemumveículoouumprodutoalimentício

deterioradoatingiriamnúmeroindeterminadodepessoasque,indiscutivelmente,

mereceriam a proteção do Código do Consumidor, por meio da definição

insculpidanoreferidoparágrafoúnicodoart.2.º.

Feitas todas essas considerações, passemos a enfrentar agora o conceito de

fornecedor.

Conforme dispõe o art. 3.º do CDC, “fornecedor é toda pessoa física ou

jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes

Page 360: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem,

criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou

comercializaçãodeprodutosouprestaçãodeserviços”.

Note-seaamplitudedoconceito.

Nãoapenasasentidadesdedireitoprivado,mastambémasdedireitopúblico,

podemserenquadradasnoconceitodefornecedor,paraefeitodeaplicaçãodas

normasdoCDC.

Vale observar, ainda, a referência aos “entes despersonalizados”, também

subsumíveisaoconceitosupra, eque,nodizerdeFILOMENO,seriamosque

“emboranãodotadosdepersonalidadejurídica,quernoâmbitomercantil,quer

nocivil,exercematividadesprodutivasdebenseserviços,como,porexemplo,a

gigantesca Itaipu Binacional, em verdade um consórcio entre os governos

brasileiroeparaguaioparaaproduçãodeenergiahidrelétrica,equetemregime

jurídico‘suigeneris’” 430.

Nada impede, ainda, que as sociedades de fato ou irregulares (tratadas sob

denominação de “sociedades não personificadas” pelo Novo Código Civil),

desde que atuantes nomercado de consumo, sejam consideradas fornecedoras

paraefeitoderesponsabilização,nostermosdoCódigodoConsumidor.

A respeito dessa espécie de sociedade, já tivemos oportunidade de observar

emnossovolume1—ParteGeralque,nas

“sociedades irregulares ou de fato, a responsabilidade dos sócios é ilimitada (art. 990 do NCC),

devendo-seobservar queos credoresparticulares dos sócios sópodemexecutar a participaçãoqueo

devedorpossuirnasociedade,senãotiveroutrosbensdesembargados,ou,sedepoisdeexecutados,os

bensqueaindativernãoforemsuficientesparaopagamento,nostermosdoart.292doCCom.

Page 361: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Damesma forma,os credoresda sociedadedevem,primeiramente, executaropatrimônio social (art.

989 doNCC), para, na falta de bens, realizar a responsabilidade ilimitada do sócio, que, por isso, é

subsidiária(art.350doCCom)” 431e 432.

Fornecedor, portanto, é o sujeito que integra o polo ativo da relação de

consumo, ou seja, atua como alienante do bem ou prestador do serviço

pretendidopeloconsumidor,seudestinatáriofinal.

1.2.Objetodarelaçãodeconsumo:produtoouserviço

Nestetópicofalaremosumpoucosobrearelaçãodeconsumo.

Como já vimos, trata-se de uma relação jurídica pessoal travada entre o

consumidoreofornecedordoprodutoouserviço.

ALeiCodificada,porseuturno,define“produto”,nosseguintestermos:

“Art.3.º(Omissis.)

§1.ºProdutoéqualquerbem,móvelouimóvel,materialouimaterial”.

Peloamploespectrodoconceito,podemosobservarquetodoequalquerbem

jurídicodisponível,corpóreoouincorpóreo,móvelouimóvel,podeserdefinido

comoproduto.Masnãodevemosesquecerqueessebemdeveteracaracterística

da“consumibilidade”,nosentidodequeésemprevocacionadoàalienação,ou

seja,dirige-seaoconsumidor,seudestinatáriofinal.

OmulticitadoFILOMENO,com inegável razão, advertequemelhor seria a

referência legal à expressão “bens”— termomais preciso e abrangente—do

que a “produtos”, palavra de acepção mais restrita 433. Ao encontro desse

entendimento, lembramosaindaqueessaúltimaexpressãopode tersignificado

dúbio, na medida em que também pode expressar espécie de bem acessório,

Page 362: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

definidocomoumautilidadenãorenovávelqueacoisaprincipalproduz,ecuja

percepçãodiminuiasuasubstância.

Dequalquerforma,preferiuolegisladorautilizaçãodapalavraproduto.

Assim, segundo a dicção legal, poderíamos citar inúmeros exemplos de

produtos, circuláveis no mercado de consumo, desde o alimento que nos

sustenta, passando por nossas roupas, nosso veículo, e o apartamento que

compramos,semnosesquecermosdequeaaquisiçãodosreferidosbenséfeita

peloseudestinatáriofinal,oconsumidor.

Quantoaosserviços,dispõealeinosseguintestermos:

“Art.3.º(Omissis.)

(...)

§2.ºServiçoéqualqueratividadefornecidanomercadodeconsumo,medianteremuneração,inclusive

asdenaturezabancária,financeira,decréditoesecuritária,salvoasdecorrentesdasrelaçõesdecaráter

trabalhista”.

Essedispositivomereceanossaespecialatenção.

Primeiramente, fixemos a premissa de que “serviço” é expressão que nos

remeteàideiade“atividade”.

Diferentemente do produto, que é um bem acabado, o serviço traduz o

interessedoadquirentenaprópriaatuaçãodofornecedor,quelheéinteressante.

Agora,leiamosmaisumavezaregra,leitoramigo.

Vejamosqueoseualcanceéamplíssimo,paraatingirtodoequalquertipode

serviço realizado no mercado de consumo, desde que contratado mediante

remuneração (paga pelo consumidor), incluindo-se, por expressa determinação

Page 363: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

legal, as atividades de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária,

ressalvando-se,apenas,asrelaçõesempregatícias.

Dada a clareza da norma, é realmente pouco razoável que, em momento

pretérito,ela tenhasofridoincessantebombardeiojurídico,umavezque,como

sesabe,aConfederaçãoNacionaldoSistemaFinanceiro—entidadequeagrega

as mais respeitáveis entidades financeiras do país— ajuizou Ação Direta de

Inconstitucionalidade (ADIn n. 2.591), que tramitou no Supremo Tribunal

Federal,visandoadeclaraçãodeinconstitucionalidadedareferidaregra.

Eomaisincrível:pleitearamaconcessãodeliminar(tuteladeurgência),para

obter a imediata suspensão dos efeitos do CDC em face das instituições

financeiras,duranteocursodaaçãoprincipal.

Vejabem.

Nósdissemos“liminar”!

MaisdedezanossepassaramdaentradaemvigordoCódigodoConsumidor

esepretendeuobterumprovimentoliminarparabarrarosefeitosdestalei!

Caso isso ocorresse, seria, sem dúvida, a interpretação mais elástica de

periculuminmoradequesetevenotícia...dezanosdepois,alega-seoprejuízo...

Comisso,osbancoseinstituiçõesfinanceirasemgeralobjetivaramquetodos

osdispositivosdoCódigodeDefesadoConsumidor—possibilidadederevisão

doscontratos, sistemadenulidadesdecláusulasabusivas, inversãodoônusda

provaembenefíciodoconsumidor,responsabilidadecivilobjetivapelofatoou

vício do produto ou serviço, teoria da imprevisão (onerosidade excessiva),

proteção contra a publicidade enganosa (apenas para citar alguns dispositivos)

Page 364: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

— não mais fossem aplicados em suas atividades (cadernetas de poupança,

depósitos bancários, contratos de financiamento e mútuo, cartões de crédito,

contratosdeseguroetc.).

Segundo os defensores dessa tese, respeitáveis juristas, esse referido

dispositivolegalencontrar-se-iaemrotadecolisãocomosuperiormandamento

insculpido no art. 192 e parágrafos da Constituição Federal, que haveria

reservadoà leicomplementar(enãoà leiordinária,comooCDC)adisciplina

jurídicadoSistemaFinanceiroNacional:

Art. 192, CF: “O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a

promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da

coletividade,seráreguladoemleicomplementar,quedisporá, inclusive,sobre:

(...)” 434.

A atividade bancária, desta forma, enquanto não fosse editada lei

complementarqueestruturassetodoosistema,deveria,segundoessalinhadera-

ciocínio,serdisciplinadapelasLeisn.4.595,de31dedezembrode1964(Leide

Reforma Bancária), e n. 4.728, de 14 de julho de 1965 (Lei de Mercado de

Capitais), recepcionadas como leis complementares, e, bem assim, pelas

resoluçõesdoConselhoMonetárioNacionaledoBancoCentraldoBrasil.

Masondeestariaaapontadainconstitucionalidade?

Responde-nos PABLO STOLZEGAGLIANO, em palestra proferida no IV

FórumBrasil deDireito, realizado emSalvador-BA: “O fato de oCDChaver

considerado a atividade bancária, financeira, de crédito e securitária como

relação de consumo, significa que estruturou o SFN? O CDC define o que é

Page 365: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

‘serviçobancário’?Conceitua‘operaçõesdecréditoefinanciamento’?Regulaa

atividadedoBancoCentraldoBrasil?DelimitaocampodeatuaçãodoConselho

Monetário Nacional? Altera a política de juros? Claro que não!!! Apenas

considera a atividade financeira, de crédito e securitária, à luzdoprincípioda

igualdadeedadignidadedapessoahumana—,equiparávelàquelaempreendida

pelo transportador, construtor, vendedor de pãozinho, dono de boutique, que

fornecemprodutos ou serviços, todos sujeitos às normasdaLei deProteção e

DefesadoConsumidor” 435.

Por tudo isso, invocando os mais basilares princípios de razoabilidade,

igualdade e dignidade da pessoa humana, e sem subestimarmos a imensurável

capacidadeintelectualdossubscritoresdaADIn,fizemossincerosvotosdequeo

Supremo Tribunal Federal rechaçasse-a firmemente, pela sua completa

inadmissibilidade.

E, tal qual o atendimento de umaprece, embelíssimo julgamento realizado

em junhode2006,oSupremoTribunalFederal, pormaioriadevotos, julgou,

comalgumaressalva(especialmentequantoapolíticadejuros),improcedentea

referida Ação Direta de Inconstitucionalidade, pondo uma pá de cal em tal

controvérsia 436.

Observe-se, ainda, que os serviços públicos podem ser considerados

atividadesdeconsumo,nos termosdopróprioart.22doCDC,umavezqueo

administrado/usuárioéseudestinatáriofinal 437.

Oentendimentodessaregraéfácil,quandonosreferimosaosconcessionários

e permissionários de serviços públicos que recebem remuneração pelo que

Page 366: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

prestam(tarifaoupreçopúblico).

Damesmaforma,asentidadesprivadasdaAdministraçãoPúblicaindireta 438

— empresas públicas e sociedades de economia mista 439 — submetem-se à

legislação do consumidor, sobretudo em se considerando que os seus serviços

sãodenaturezacomercialouindustrial,eoregimejurídicoaplicávelédedireito

privado,parcialmentederrogadopornormaspúblicas.

Entretanto, no que tange às entidades públicas da administração indireta—

autarquias e fundações— e às entidades estatais (União, Estados,Município,

DistritoFederal),omesmoraciocínionãopodeserinvocado.

Ainda quando exigida taxa para a realização do serviço, entendemos não

poder ser este submetido às regras doDireito doConsumidor, considerando a

natureza eminentemente publicística do vínculo travado com o administrado.

Ademais,taisentidadesnãovisamlucrocomoempreendimentodaatividade,e,

por vezes, prestam o serviço gratuitamente (Universidades Públicas, Sistema

Único de Saúde). No caso, serão aplicadas as regras de Direito Público

pertinentes, inclusive as protetivas do beneficiário do serviço, a exemplo da

referenteàresponsabilidadecivilobjetivadoEstado.

Porfim,aexclusão,napartefinaldodispositivo,dasatividades“decorrentes

das relações de caráter trabalhista” se justifica pelo fato de que elas são

disciplinadaspor regraspróprias,conformevistoemcapítuloanterior 440,nada

impedindo, porém, a sua aplicação subsidiária 441, naquilo em que não for

incompatívelcomosprincípiosdoDireitodoTrabalho 442.

Fixadas tais ideias básicas, passaremos a enfrentar especificamente o tema

Page 367: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

objetodopresentecapítulo.

2.RESPONSABILIDADECIVILPELOFATODOPRODUTOOUSERVIÇO(ACIDENTEDECONSUMO)

Cuidaremos, neste tópico, da responsabilidade civil decorrente de danos

causados ao consumidor, por falha na segurança dos produtos ou serviços

fornecidos.Trata-sedaresponsabilidadepeloacidentedeconsumo,previstanos

arts.12a17.

Abre essa seção o art. 12 do Código do Consumidor, que dispõe sobre a

responsabilidadedecorrentedeprodutosdefeituosos:

“Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem

independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por

defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação,

apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou

inadequadassobresuautilizaçãoeriscos.

§1.ºOprodutoédefeituosoquandonãoofereceasegurançaquedelelegitimamenteseespera,levando-

seemconsideraçãoascircunstânciasrelevantes,entreasquais:

I—suaapresentação;

II—ousoeosriscosquerazoavelmentedeleseesperam;

III—aépocaemquefoicolocadoemcirculação.

§2.ºOprodutonãoéconsideradodefeituosopelofatodeoutrodemelhorqualidadetersidocolocado

nomercado”.

Aanálisedesseartigonãodeixamargemadúvidas:olegisladorconsagroua

responsabilidade civil objetiva nas relações de consumo. Aliás, nada mais

compreensível, se nós considerarmos a hipossuficiência do consumidor e,

sobretudo, o fato de que,muitas vezes, o fornecedor exerce uma atividade de

Page 368: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

risco.

Ressalte-se, outrossim, que mesmo não caracterizando atividade perigosa,

toda relação de consumo, ressalvadas as exceções capituladas na própria lei,

ensejaaaplicaçãodasnormasderesponsabilidadesemculpa.

Imagine, portanto, queCaio comprou um carro ou um aparelho de TV.Ao

ligar o equipamento, desencadeia-se uma série de explosões, causadoras de

queimaduras no consumidor. Poderá, portanto, responsabilizar o fabricante do

produtopelosdanosmateriaisemoraisquevierasofrer.Paratanto,dispensa-se

aprovadaculpadofornecedor.

Vale referir ainda que, se um terceiro participante da cadeia causal dos

acontecimentos vier a sofrer também o dano, poderá ser considerado

consumidor, por equiparação, nos termos do art. 17 do CDC 443. Trata-se da

figuradobystander,cujaproteçãotambéméfeitapelamesmalei.Noexemplo

supra,suponhaqueanamoradadeCaiohouvessetambémsidoatingida,casoem

que poderia ingressar com ação lastreada nas normas de proteção e defesa do

consumidor.

Na jurisprudência, podemos colacionar, a título de ilustração, o seguinte

aresto:

“ProcessualCivil.Competência.Art.101,I,doCDC.Incidência,ateordoseu

art. 17, que protege os denominados bystander. As pessoas equiparadas aos

consumidores,porforçadoart.17doCDC,podemproporaçãodeindenização

em face do fornecedor do serviço no foro do próprio domicílio. Recurso

desprovido”(TJDF,AgravodeInstrumento2001.002.11249,dataderegistro:5-

Page 369: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

4-2002, 13.ª Câmara Cível, Des. Nametala Machado Jorge, julgado em 7-2-

2002).

Interessante notar, ainda, que o Código destacou a responsabilidade do

comercianteemseuart.13 444,conferindo-lhenaturezajurídicasubsidiária,em

facedosagentesreferidosnoartigoanterior.

Nesse sentido, com absoluta precisão, pontifica CARLOS ROBERTO

GONÇALVES:

“Aresponsabilidadeprincipaléexclusivadofabricante,produtor,construtorouimportadordoproduto,

sendoqueo comerciante somente responde, subsidiariamente, quandoos responsáveisprincipais não

puderem ser identificados, bemcomoquandonão conservar, adequadamente, os produtos perecíveis.

Ressalvaoparágrafoúnicodoart.13odireitode regresso,namedidadesuaparticipaçãonoevento

danoso,àquelequeindenizaroprejudicadoquandohaviaoutrosdevedoressolidários” 445.

Note-se, portanto, que o comerciante que alienou a televisão defeituosa,

causadoradoacidente,nãoé,emprimeiroplano,responsávelpelareparaçãodo

dano,umavezquealeisólheimpõetalobrigaçãose:

a) o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser

identificados;

b)oprodutoforfornecidosemidentificaçãoclaradoseufabricante,produtor,

construtorouimportador;

c)nãoconservaradequadamenteosprodutosperecíveis.

Saliente-se, entretanto, que, em nosso entendimento, o consumidor não está

obrigadoa fazeruma investigaçãopréviadequemseja,de fato,o responsável

pelo dano causado. Poderá ajuizar a demanda contra qualquer dos agentes

participantes da cadeia causal dos acontecimentos, cabendo ao próprio

Page 370: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

comerciante,emsedededefesa,demonstrarasuailegitimidadepassiva,casose

configureumadashipótesesprevistasnoart.13.

Vale notar, ainda, que se qualquer dos participantes da relação de consumo

(fornecedores)houvercumpridoaobrigaçãodeindenizar,poderáajuizaraçãode

regresso contra aquele que considerar culpado, exercendo o seu direito de

regresso,previstonoparágrafoúnicodoart.13.

Sobrearesponsabilidadecivildocomerciantenarelaçãodeconsumo,tem-se

manifestadoajurisprudência:

“Relaçãodeconsumo—Vendadecarro0km—Concessionária—Responsabilidade—Solidariedade.

Arevendedoraautorizadadeveículorespondesolidariamentecomofabricante,independentementeda

existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeito decorrente de

apresentaçãodobem,comoéocasodecarrocomchassiadulterado.Aplicaçãoadequadadaunicidade

dainterpretaçãodoCDC,demaneiraanãodesprotegeroconsumidor.Liçãodadoutrina:quandoalude

aofornecedor,oCódigopretendealcançartodosospartícipesdocicloprodutivodistributivo,valedizer,

todos aqueles que desenvolvem as atividades descritas no art. 30, do CDC. Em matéria de

responsabilidadepor danos ... o art. 12 discrimina alguns fornecedores, responsabilizando somente o

fabricante,oprodutor,oconstrutor,bemcomooimportador,excluindo...afiguradocomerciante.Não

se encaixa, entretanto, na figura de comerciante, para efeitos do art. 13, do CDC, o revendedor

autorizado, conhecido vulgarmente como concessionário. Este último age em parceria e de forma

solidária como fabricante, pois atua nomercado com esta qualidade. Precedentes da jurisprudência.

Condenaçãobemarbitrada.Recursoconhecidoedesprovido”(TJRJ,Ap.Cíveln.2001.001.15615,data

deregistro:3-7-2002,QuintaCâmaraCível,Des.RicardoCouto,julgadoem30-4-2002).

“Denúnciadalide—Cabível,emordináriadedesnegativaçãoedanomoral,pelaRé-operadoraàsua

agentecredenciada,que‘habilitoualinhanegadapeloautor’.Nãoincide,naespécie,alegadaproibição

doart.88,queserefereaocomerciantequeindenizapelofabricanteoufornecedor(art.13,parágrafo

único),tudodoCDC.Agravodesprovido”(TJRJ,AgravodeInstrumento2002.002.13431,17.ªCâmara

Cível,Des.SeverianoIgnácioAragão,j.25-9-2002).

Nessediapasão,nãopoderíamosdeixardeconsiderarascausasexcludentesda

Page 371: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

responsabilidade civil dos fornecedores de produtos defeituosos, previstas, em

numerusclausus,pelo§3.ºdoreferidoart.12.

Sobre as causas excludentes de responsabilidade, já estudadas em capítulo

anterior 446,tivemosaoportunidadedeobservarque,dopontodevistagenérico,

consistememdeterminadascircunstânciasque,poratacarumdoselementosou

pressupostos gerais da responsabilidade civil, rompendo o nexo causal,

terminamporfulminarqualquerpretensãoindenizatória.

Poisbem.

Analisando-se o mencionado dispositivo do CDC, temos que o fabricante,

produtor,construtorouimportadorexime-sederesponsabilidade,provando:

a)quenãocolocouoprodutonomercado—defácilintelecçãoessaprimeira

causa, semelhante à alegação da defesa penal de “negativa de autoria”. Se o

fornecedordemonstrarquenãoinseriuoprodutonomercado,nãoháquesefalar

em atribuição do nexo causal, e a obrigação de indenizar desaparece por

ausênciadeagenteimputável.Comentandoessedispositivo,ZELMODENARI,

umdoselaboradoresdoanteprojetodoCDC,observaque:“Osexemplosmais

nítidosdacausaexcludenteprevistanoinc.Iseriamaquelesrelacionadoscomo

furtoouroubodoestabelecimentooucomausurpaçãodonome,marcaousigno

distintivo, cuidando-se, nesta última hipótese, de falsificação do produto. Da

mesmasorte,podeocorrerque,emfunçãodovíciodequalidade,podeocorrer

que o produto defeituoso tenha sido apreendido pela administração e,

posteriormente, à reveliado fornecedor, tenha sido introduzidonomercadode

consumo, circunstância esta eximente da sua responsabilidade” 447. Note-se,

Page 372: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

outrossim, que nem sempre poderá o fornecedor eximir-se alegando

“sabotagem”. Um exemplo irá ilustrar o que dizemos: suponha que uma

indústria de alimentos houvesse sido invadida por um indivíduo, que subtraiu

produtos para envenená-los e introduzi-los nomercado. Em tal caso, restando

evidenciada falha no sistema de segurança do estabelecimento fabril,

entendemosseradmissívelaresponsabilidadecivilsolidáriadofornecedor,sem

prejuízo do exercício do direito de regresso contra o verdadeiro causador do

dano 448;

b) que, embora haja colocado o produto nomercado, o defeito inexiste—

permitindo-nos a mesma comparação feita no tópico supra, essa defesa

corresponderiaà“negativadematerialidade”doDireitoPenal.É,inclusive,uma

alegação defensiva muito frequente. O fornecedor não nega a colocação do

produtonomercado,emborasustenteaausênciadovíciocausadordodano;

c)aculpaexclusivadoconsumidoroudeterceiro—esta,semdúvida,éuma

dascausasexcludentesmaisimportantes,sendo,emnossosentir,tambémamais

alegada.Ofornecedor,nessecaso,semnegaracolocaçãodoproduto(incisoI)

ouaexistênciadodefeito(incisoII),sustentaaquebradonexocausalporforça

da atuação exclusiva da própria vítima ou de terceiro, estranho à relação de

consumo.Éocaso,porexemplo,dosujeitoquecompraumamáquinadelavar

louçase,adespeitodovisívelavisodeadvertência,gravadoemletrasvermelhas

econsignadonomanualde instruções,nosentidodenãosepodermanusearo

bocaldeentradadeenergiaelétrica,arvora-seeletricistaecolocaodedo,para

verseamáquinaestáligada.Recebeumafortedescargaelétrica,comdanos,não

sóaoaparelho,comoaoseucorpo.Nessecaso,tendohavidoexclusivaculpada

Page 373: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

vítima,nãosepoderápretenderresponsabilizarofabricante,quenãoconcorreu,

noplanocausal,paraodesfechodanoso.Namesmaordemdeideias,jáestando

oprodutoempoderdoconsumidor,seodanodecorredaatuaçãodeumterceiro,

queoadulterapropositalmenteparacausardanoaoseuproprietário,nãopoderá

serimpostaaofabricanteaobrigaçãodeindenizar,pornãotertidoparticipação

algumanoevento.

Advirta-se, com DENARI, que “a culpa exclusiva é inconfundível com a

culpaconcorrente:noprimeirocasodesaparecearelaçãodecausalidadeentreo

defeito do produto e o evento danoso, dissolvendo-se a própria relação de

causalidade;nosegundo,aresponsabilidadeseatenuaemrazãodaconcorrência

de culpa e os aplicadores da norma costumamcondenar o agente causador do

dano a reparar pela metade o prejuízo, cabendo à vítima arcar com a outra

metade” 449. Dessa forma, seguindo a linha de raciocínio desse culto autor,

amplamenteacatadapeladoutrinaejurisprudência,umavezqueoCDCapenas

alçouàcategoriadecausaexcludenteaculpaexclusivadavítima,silenciando-se

quanto à culpa concorrente, não se podendo dar interpretação ampliativa à

norma, concluímos que, caso haja atuação culposa de ambos os lados —

consumidor(vítima)xfornecedor(agentecausadordodano)—,deveráavítima

ser integralmente ressarcida, sem mitigação do quantum condenatório. É a

melhor solução, mais afinada, inclusive, aos fundamentos ideológicos e

filosóficosdoCódigodeDefesadoConsumidor.

Observe-se, ainda, que, a despeito de a lei não elencar, no rol das causas

excludentes de responsabilidade civil, o caso fortuito e a força maior,

entendemos, por imperativo lógico, que tais circunstâncias, se interruptivas do

Page 374: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

nexocausal,podemedevemseralegadaspelofornecedor,emsedededefesa.

Nãoprocede,nesseponto,datavênia,opensamentodaquelesquesustentama

inadmissibilidade da alegação, pelo simples fato de tais causas não estarem

estampadasemlei.

E, com isso, não estamos nos contradizendo, pelo fato de havermos, linhas

atrás, afirmado tratar-se de norma que apresenta rol taxativo de causas

excludentes. Ao sustentarmos isso, apenas referimos que não poderia o

fornecedor,pormeroatodevontade,“criar”defesasnãoprevistasemlei.

Acontecequeocasofortuitoeaforçamaior,comosesabe,têmsedelegalem

nossopróprioDireitoPositivo(art.393doCC/2002),seéquenãopoderíamos

considerartaiseventosderivadosdaprópriaprincipiologiadosistema.

Nessa linha, poderíamos, seguindo a doutrina apresentada porCAVALIERI,

estabelecer uma diagnose diferencial entre fortuito interno e fortuito externo,

para efeito de concluirmos pelamantença ou não da responsabilidade civil do

fornecedor 450:

a) fortuito interno — trata-se do acontecimento imprevisível, causador de

dano de consumo, e que incide no processo de elaboração ou fabricação do

produto, ou, então, nomomento da realização do serviço. Em tais casos, por

óbvio,aresponsabilidadedofornecedor,queassumeosriscosdasuaatividade,

nãopoderáserafastada.Ademais,atéacolocaçãodoprodutoouaprestaçãodo

serviçonomercado,deveráoagenteeconômicogarantiraqualidadedaquiloque

disponibilizaaoconsumidor.Havendodano,deveráindenizar.Exemplo:durante

oprocessodefabricaçãodeumaengrenagemautomotivasensível,umleve,mas

Page 375: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

perceptível, abalo sísmico prejudicou o correto encaixe de fios, causando,

posteriormente,danoaocondutordoveículo 451;

b)fortuitoexterno—diferentementedoanterior,ofortuitoexternotraduz-se

noacontecimento imprevisível,causadordedano,que incideapósacolocação

do produto ou a prestação do serviço no mercado. É logicamente estranho à

atuação do fornecedor, que não poderá ser responsabilizado pelo dano. No

mesmoexemplosupra,seoabalosísmicoocorreapósaaquisiçãodobem,não

se poderia, por óbvio, atribuir responsabilidade ao fornecedor, pois, quando

introduziuobemnomercadodeconsumo,odefeitoinexistia.

Valelembrar,ainda,que,comoregrageral,oônusdaprovaédequemfaza

alegação.

Eessenãoéumprincípioapenasdonossoordenamentojurídico,mastambém

dopróprioDireitoComparado.

Apenas a título de ilustração, veja a referência feita por RONALD B.

STANDLER, ao comparar os sistemas penal e civil dos Estados Unidos da

América: “In civil litigation, the burden of proof is initially on the plaintiff.

However,thereareanumberoftechnicalsituationsinwhichtheburdenshiftsto

thedefendant” 452.

Emnossaordemjurídica,aregrageraléamesma.

Entretanto, em se tratandode litígiosde consumo,o art. 6.º,VIII, inverte o

ônusdaprova,embenefíciodoconsumidor,nosseguintestermos:

“Art.6.ºSãodireitosbásicosdoconsumidor:

(...)

Page 376: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

VIII—afacilitaçãodadefesadeseusdireitos,inclusivecomainversãodoônusdaprova,aseufavor,

noprocessocivil,quando,acritériodojuiz,forverossímilaalegaçãoouquandoforelehipossuficiente,

segundoasregrasordináriasdeexperiências”.

Assim, pretendendo o réu alegar, em sede de defesa, uma das excludentes

acimaestudadas,deveráomagistrado,nostermosdoart.6.º,VIII,reconhecera

inversão do ônus da prova, em benefício do consumidor. Em outras palavras,

caberáaopróprio réuprovaroalegado (nãocolocouoprodutonomercado;o

defeitoinexiste;culpaexclusivadavítimaoudeterceiro).

O art. 14 do CDC, por sua vez, regula a responsabilidade civil pelo fato

danosodecorrentedeserviçodefeituoso,nosseguintestermos:

“Art.14.Ofornecedordeserviçosresponde,independentementedaexistênciadeculpa,pelareparação

dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação de serviços, bem como por

informaçõesinsuficientesouinadequadassobreasuafruiçãoeriscos.

§ 1.º O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar,

levando-seemconsideraçãoascircunstânciasrelevantes,entreasquais:

I—omododeseufornecimento;

II—oresultadoeosriscosquerazoavelmentedeleseesperam;

III—aépocaemquefoifornecido.

§2.ºOserviçonãoéconsideradodefeituosopelaadoçãodenovastécnicas”.

Oobjetodessesdispositivos,comosepodeperceber,nãoéofornecimentode

um determinado produto, mas a realização de uma atividade de consumo, a

exemplodo serviçodoencanador,doadvogado,ou, atémesmo,da instituição

financeira 453.

Havendo remuneração, o serviço prestado ao destinatário final, ressalvada

apenasaprestaçãolaboraldoempregado,seráregidopelasnormasprotetivasdo

Page 377: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

CódigodeDefesadoConsumidor.

Note-se,damesmaforma,quea responsabilidadepeloacidentedeconsumo

decorrente da prestação de um serviço defeituoso — quer por imperícia do

prestador, quer por falta de informação ao consumidor —, tem regramento

semelhanteàqueleconsagradoaofatodoproduto,estudadosupra,umavezquea

Lein.8.078/90admitiu,expressamente,aresponsabilidadecivilobjetiva(“Art.

14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de

culpa...”).

Mais uma vez registramos que o reconhecimento da responsabilidade civil

objetiva harmoniza-se com o sistema de proteção aos direitos do consumidor,

inauguradopelaConstituiçãode1988.

Commuitapropriedade, ressaltandoanecessidadedeosempreendedoresde

atividadeeconômica—fornecedoresdeprodutosouserviços—atuaremsempre

emrespeitoaoprincípiodadignidadedapessoahumana,CARLOSEDUARDO

PIANOVSKIRUZYKsustentaqueomecanismodaresponsabilidadecivilserve

como um muro defensivo para coibir condutas atentatórias aos direitos

fundamentaisdoconsumidor:

“Noquedizrespeitoaoaspectoespecíficodaprodução,nocursodeatividadeseconômicas,dedanos

que afetem a dignidade da pessoa humana, a responsabilidade civil pode ter um papel relevante. A

operacionalização desse instituto pode produzir uma intervenção na relação meios-fins da atividade

econômica, tornando ineficienteaquiloquepodeviolaroprincípiodadignidade.Emoutraspalavras:

trata-se de tornar ineficiente aquilo que já é antijurídico, forçando a inserção na racionalidade

econômicadeumaracionalidadereprodutivadosujeito,aelaemprincípioalheia,masdaqualoagente

econômiconãopoderáolvidar,sobpenadeperdadecompetitividade” 454.

E, nessa linha de raciocínio, concluímos com facilidade que a adoção da

Page 378: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

responsabilidadeobjetiva,aliadaaoutros instrumentos jurídicosdeproteção,a

exemplo da inversão do ônus da prova, culminam por fortalecer o sistema de

defesadoconsumidor.

O realizador do serviço, por sua vez, poderá eximir-se de responsabilidade,

provandoumadassituaçõesprevistasno§3.ºdoart.14,asaber:

a)que,mesmotendoprestadooserviço,odefeitoinexiste;

b)aculpaexclusivadoconsumidoroudeterceiro.

Mutatis mutandis, as mesmas observações feitas supra para o produto

defeituoso causador de acidente de consumo aplicam-se aos prestadores de

serviço.

Especialreferênciamerecem,porém,osprofissionaisliberais,cujadisciplina

da responsabilidade civil, por razões metodológicas e didáticas, será feita em

subtópicoautônomo,aseguir.

2.1.Aresponsabilidadecivildosprofissionaisliberais

Aotratardaresponsabilidadecivilpelofatodoserviço,oCódigodeDefesa

doConsumidorressalvaasituaçãodosprofissionaisliberaisque,nostermosdo

§4.ºdoart.14,somenterespondemcomfundamentonaculpaprofissional:

“§ 4.º A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de

culpa”.

Problemainstigantedizrespeitoàintelecçãodoparágrafoúnicodoart.927do

CC/2002,queconsideraobjetivaaatividadedesenvolvidapelosempreendedores

deatividadederisco.

Page 379: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Será que, a partir de agora, responderiam os médicos e advogados —

exercentesdeatividadederisco—semaferiçãodesuaculpa?

Emborajátenhamoscuidadodamatériaemmomentoanterior 455,reiteramos

nosso entendimento de que a responsabilidade civil dos profissionais liberais

continuadenaturezasubjetiva(culposa),por forçadeconsiderarmosoCódigo

doConsumidorleiespecialemfacedonovoCódigoCivil.

Sobre o tema, vale colacionar alguns acórdãos que ressaltam a natureza

subjetivadessetipoderesponsabilidadecivil,comoosaseguirtranscritos:

“Direito do consumidor. Responsabilidade civil subjetiva. Médico. Culpa. Ausência de prova.

Responsabilidadecivilobjetiva.Estabelecimentohospitalar.Fatodoserviço.Ausênciadeprova.Dever

de indenizar. Inexistência.A relaçãoexistente entremédicoepaciente e estabelecimentohospitalar e

paciente é de consumo e, portanto, submetida às regras da legislação consumeira. Responsabilidade

civil do nosocômio: objetiva (artigo 14, caput, do Código de Proteção e Defesa do Consumidor).

Responsabilidade civil do médico: subjetiva (artigo 14, § 4.º, do Código de Proteção e Defesa do

Consumidor). Não provada a culpa do profissional liberal, nem o defeito do serviço prestado pelo

estabelecimento hospitalar, não há como reconhecer-se o direito à indenização pretendida. Sentença

integralmentemantida.Recursonãoprovido”(TJRJ,Ap.Cível2001.001.21050,3.ªCâmaraCível,Des.

WersonRego,j.17-1-2002).

“Dentista. Adoção de procedimentos errados. Responsabilidade civil. Dever de indenizar. Erros

técnicos.Constataçõespericiais.I—Aimperíciaprofissionalpraticadapelodentista,adotandotécnicas

que impedem a boa higiene bucal e facilitam as inflamações das gengivas, implicam no dever de

indenizarconsagradonoartigo1.545doCódigoCivil. II—Afrustraçãodopaciente,queprocurao

profissionalpararecuperaçãoestéticadosdentesegengivas,deveserindenizada.Ovalordareparação

deve considerar, por analogia, os parâmetros do artigo 53 da Lei de Imprensa, realçando os efeitos

negativosqueamáapresentaçãodabocaensejaaoconsumidorlesado.III—Adevoluçãointegraldo

preçodoserviçoécoroláriodaaplicaçãodoartigo18,incisoII,doCDC,dispensandoliquidaçãopor

arbitramento.IV—Recursodaconsumidoraparcialmenteprovido,negando-seprovimentoaoapelodo

profissional liberalquenãoprovouaculpaconcorrentedaautora”(TJRJ,Ap.Cível2001.001.29565,

17.ªCâmaraCível,Des.BernardoGarcez,j.20-2-2002).

Page 380: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

“Responsabilidade civil de médico. CDC. Inversão do ônus da prova. Cirurgia que, ao invés de

melhorar a visão do paciente, induz cegueira. Deslocamento de retina. Inexistência de comunicação

prévia acerca dos riscos cirúrgicos em face de condição pessoal do paciente. Negligência no pós-

operatório. Retirado o curativo e constatada a cegueira, não foi sequer marcada nova consulta para

acompanhamento do caso. Retornos do paciente por iniciativa própria. Dentre as grandes inovações

consagradas no CDC, sobreleva-se a da responsabilidade objetiva do fornecedor, mas a

responsabilidade dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa, consoante

exceçãocontidano§4.ºdoart.14doCDC.PresentesospressupostoselencadosnoincisoVIIIdoart.

6.ºdaLein.8.078/90,fazjusoconsumidoràinversãodoônusdaprova.Todavezquehouverriscoa

correr, é preciso contar com o consentimento esclarecido do paciente, só dispensável em caso de

urgência, não caracterizada nos autos. Inexistência nos autos de prova neste sentido.Negligência no

pós-operatório, descurando-se o médico de determinar o retorno do paciente para acompanhamento

indispensável, tornando o deslocamento da retina irreversível. Não comprovando o réu que agiu de

formacorreta,deixandodeaplicar todadiligênciapossívelparaobter resultadofavorável, impõe-sea

procedênciadopedido.Sentençamantida.Apelaçãoimprovida”(TJDF,Ap.Cível4633997/DF,registro

doacórdãon.103262,j.11-12-1997,3.ªTurmaCível,Rel.CarmelitaBrasil,DJU,22-4-1998).

2.2.Prazoprescricionalparaapretensãoreparatóriadecorrentedoacidentedeconsumo

Consumando-se o acidente, estabelece oCDC, em seu art. 27, que o prazo

paraoajuizamentodapretensão reparatóriade responsabilidadecivilpelo fato

do produto ou serviço é de cinco anos, iniciando-se a contagem a partir do

conhecimentododanoedesuaautoria 456.

Valeregistrarque,comosetratadenormaespecial,prevalecemesmodiante

danovaregrageraldeprescriçãodaspretensõesdereparaçãocivil,constantedo

art. 206, § 3.º, V, do CC/2002, que estabelece o prazo de três anos para sua

dedução.

3.RESPONSABILIDADECIVILPELOVÍCIODOPRODUTOOU

Page 381: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

SERVIÇO

Observação inicial deve ser feita no sentido de que oCódigo deDefesa do

Consumidor,neste tópico,nãocuidadosvícioscausadoresdeacidente—cuja

regulaçãofoifeitaacima—,mas,sim,dedefeitosque interfiramnaqualidade

oueconomicidadedoprodutoouserviço.

Vale lembrar, ainda, que o sistema reparatório inaugurado pela Lei do

Consumidor é mais abrangente do que o consagrado pelo Código Civil, não

distinguindo,ademais,osvíciosocultos(redibitórios)dosaparentes,paraefeito

deproteçãodoconsumidor 457.

Abre esta seção o art. 18, cuidando dos produtosdefeituosos, nos seguintes

termos:

“Art.18.Osfornecedoresdeprodutosdeconsumoduráveisounãoduráveisrespondemsolidariamente

pelosvíciosdequalidadeouquantidadequeostornemimprópriosouinadequadosaoconsumoaquese

destinamoulhesdiminuamovalor,assimcomoaquelesdecorrentesdadisparidade,comasindicações

constantesdorecipiente,daembalagem,rotulagemoumensagempublicitária,respeitadasasvariações

decorrentesdasuanatureza,podendooconsumidorexigirasubstituiçãodaspartesviciadas”.

Interessante que o dispositivo legal consagra uma classificação de bens não

utilizada pelo Código Civil — “duráveis e não duráveis” —, conferindo ao

consumidor, ainda, o direito de não apenas pleitear a reparação devida, mas,

também,exigirasubstituiçãodepartesviciadas.

Consagrou-se, ademais, a responsabilidade objetiva e solidária dos

fornecedoresdosprodutos,oquefacilita,comojávimos,sobremaneira,adefesa

doconsumidor.

Em sequência, o Código estabelece que, caso o consumidor reclame a

Page 382: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

reparaçãodovíciooudefeito,estenãosendosanadoemtrintadias 458,poderá,a

seucritério,exigiralternativamente:

a) a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas

condiçõesdeuso;

b) a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem

prejuízodeeventuaisperdasedanos;

c)oabatimentoproporcionalnopreço.

Com isso, oCDC, afinado com amoderna tendência doDireito Processual

Civil, escapou da antiga e cansativa fórmula das perdas e danos, abrindo ao

consumidorapossibilidadedeexigirumatutelajurídicaespecífica,compelindo

ofornecedoràsubstituiçãodoprodutoporoutro,emperfeitascondiçõesdeuso.

Não se esqueça, por outro lado, que o prazo para reclamar pelos vícios

aparentes, contado a partir da entrega efetiva do produto ou da execução do

serviço,nostermosdoart.26,decaiem:

a)noventadias,tratando-sedeprodutosduráveis;

b)trintadias,tratando-sedeprodutosnãoduráveis.

Emsetratandodevíciooculto,o§3.ºdoart.26estabelecequeoprazoinicia-

seapartirdomomentoemqueodefeitoseapresentou.

Quanto à disciplina desses prazos decadenciais, aliás, o Código inovou,

estabelecendo causas obstativas da decadência — lembre-se de que,

tradicionalmente, apenas prazos prescricionais poderiam ser interrompidos ou

suspensos—,nasseguinteshipóteses:

Page 383: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Obstamadecadência:

a) a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o

fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que

devesertransmitidadeformainequívoca—imaginequeCAIO(sempreCAIO!)

adquire uma camisa defeituosa em uma loja de roupas, e retornando ao

estabelecimento,apresentareclamação(documentada)aovendedor.Nessecaso,

enquanto não sobrevier resposta da empresa, o prazo de decadência para o

ajuizamentodaaçãojudicialestaráparalisado 459;

b)ainstauraçãodeinquéritocivil,atéoseuencerramento—enquantoestiver

emtrâmiteoexpedienteadministrativopreliminardaaçãocivilpública,também

oprazodecadencialestaráobstado.

Finalmente, o art. 20doCDCcuidada responsabilidade civil decorrentede

serviçodefeituoso.

O regramento constante desse dispositivo assemelha-se ao anterior, com as

devidasadaptaçõesànaturezadaatividadeprestada 460.

Nessecaso,aoconsumidorlesadoabre-seatríplicealternativa,sempreaoseu

critério,deexigir:

a)areexecuçãodosserviços,semcustoadicionalequandocabível 461;

b) a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem

prejuízodeeventuaisperdasedanos;

c)oabatimentoproporcionaldopreço.

Portodooexposto,brevepanoramadaresponsabilidadecivilnasrelaçõesde

Page 384: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

consumo,somos levadosacrerqueoCDC—muitomaisdoqueumsimples

diploma—éumdosmaisimportantesestatutosjurídicosdaatualidade,marco

indiscutívelnoDireitobrasileiro,equemereceespecialatençãodosestudiosos

daCiênciaJurídica.

4.RESPONSABILIDADECIVILPELAINSERÇÃODONOMEDOCONSUMIDORNOSBANCOSDEDADOS

Paraarremataropresentecapítulo,faz-semisterteceralgumasconsiderações

sobre um dos temas mais comuns no debate sobre responsabilidade civil nas

relações de consumo: a questão dos bancos de dados de devedores

inadimplentes.

De fato, em decorrência da complexização das relações jurídicas na

modernidade, em especial as relações de consumo onde a regra é a impes-

soalidade e profissionalização da prestação de serviços, precisam os

fornecedores de bens e serviços de uma maior segurança para a prática de

negócios jurídicos, notadamente no estabelecimento dos chamados

“crediários” 462.

Afinaldecontas,comoperdãodotrocadilho,somentesedevedarcréditoa

quemtemcréditonapraçacomobompagador.

Assim,aexistênciadetaisserviçosdeproteçãoaocrédito,porsisó,nãodeve

ser considerada uma prática abusiva, mas sim o exercício regular de um

direito 463.

Todavia, até mesmo pelas consequências de tal inscrição, esta deve ser

realizadacom“cuidadosdeourives”,deformaaevitarumalesãoaosdireitosdo

Page 385: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

consumidor, caso ela ocorra de forma indevida, seja pela efetiva satisfaçãodo

débito,sejapelasuaeventualdiscussãojudicialououtromotivorelevante 464.

Ainobservânciadecautelaspoderá,portanto,ensejararesponsabilizaçãocivil

detodosaquelesqueparticiparam,diretaouindiretamente,doatoqueensejoua

negativaçãoindevidadoconsumidor.

Sobreotema,confira-se,ainda,oseguinteinteressanteacórdãodoTribunalde

JustiçadoRiodeJaneiro:

“Responsabilidade civil. Relação de consumo. Responsabilidade objetiva. Registro de proteção ao

crédito.Negativaçãodonomedoconsumidor.Danomoral.Osbancosdedadosdeproteçãoaocrédito

sópodemconteranotaçõesquecorrespondamàrealidadedosfatos,sobpenadedesvirtuamentodesuas

finalidades,comprejuízoemparticularparaaimagemdoconsumidor.Logo,lícitaéapenasainclusãoe

permanência em seus registros de nomes dos consumidores inadimplentes; não daqueles que, pela

quitaçãododébito,nãomaisseencontramnessacondição.Deixandooconsumidordeserinadimplente,

cumpreaocredor tomar todasasprovidênciasnecessáriasparapermitirabaixadesseregistro.Assim

nãoprocedendo,acabapormanterilicitamenteonomedoconsumidornegativado,oqueconstitui,só

porsi,danomoral,aserdevidamentereparado.ComérciodeCalçadosLtda.eapeladaTâniaCaldeira

deSouza.AcordamosDesembargadoresdaDécimaTerceiraCâmaraCíveldoTribunaldeJustiçado

EstadodoRiodeJaneiro,àunanimidade,emrejeitarapreliminar,e,nomérito,emnegarprovimentoao

recurso.Cuida-se de ação de indenização proposta porTâniaCaldeira deSouza em face deRanissa

Comércio de Calçados Ltda. E da d. sentença, cujo relatório adota-se, que deu pela procedência do

pedido, apela a ré. Suscita a preliminar de cerceamento de defesa, ao argumento de que fora

surpreendidacomaconvolaçãodaaudiênciadeconciliação,aúnicaarealizar-senaoportunidade,na

forma do mandado de citação, para instrução e julgamento, o que a impediu de arrolar suas

testemunhas.Noplanodomérito,postulaaintegralreformadoarestomonocrático,poisanegativação

do nome da recorrida ocorrera por comprovado inadimplemento seu, tanto assim que o cheque que

emitira fora devolvido por duas vezes, por falta de provisão de fundos. Ademais, não é sua a

responsabilidade dessa negativação, como demonstra o documento de fls. 53; só expediu a carta de

anuência,diantedaafirmaçãodaapeladadequecompraraemsua loja;não transferiuochequepara

terceiros,poistodasasempresaspertencemaomesmogrupoeconômico;nãoháprovadoalegadodano

Page 386: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

moral. Recurso, tempestivo e preparado, foi respondido. Este o relatório. Rejeita-se, desde logo, a

preliminar.Comosevêdefls.44,arecorrenteforamesmocitadaparaaaudiência,naqual,superada

fasedeconciliação,deveriaapresentar suadefesa, sobpenade revelia.Alémdisso,comose tratade

procedimentosumário,cumpria-lheapresentar,comacontestação,oroldesuastestemunhas(art.278

doCPC),enãoofez;sequerrequereuproduçãodequalquerprova(fls.73).Logo,inocorreuoalegado

cerceamentodedefesa.Nomérito,orecursoporigualimprocede,porquantoad.sentençadeucorreta

soluçãoàdemanda,passandoseusfundamentosaintegraropresente,naformaregimental.Revelamos

autosqueaautora-apeladateve,deinício,seunomejustamentenegativadoemregistrodeproteçãoao

crédito por ter emitido cheque sem fundos como pagamento de compra que realizara. Revelam,

também, que essa dívida fora integralmente quitada, e que, mesmo assim, restou mantida essa

negativação. Contudo, os bancos de dados de proteção ao crédito só podem manter anotações que

correspondamà realidade dos fatos, sobpena de desvirtuamento de suas finalidades, emprejuízo de

todoseemparticulardaimagemdoconsumidor.Lícito,pois,éapenasolançamento,emseusregistros,

denomesdeconsumidoresinadimplentes(art.160,I,doCC);nãodaquelesquenãomaisseencontram

nessa condição, porque os dados não mais seriam verdadeiros (art. 43, parág. 1.º, do CDC). Por

conseguinte,seaapeladarecebeuovalorcorrespondenteaocheque,aindaqueagoranominalaoutra

empresadomesmogrupo,émaisdoqueevidentequeonegóciojurídico,quedeucausaasuaemissão,

foramesmo celebrado entre as partes. Logo, incumbia-lhe tomar as providências necessárias para a

baixa desse registro, pela imperiosa necessidade de sua atualização. Não se olvide que, na espécie,

incideoCDC,portratar-sedeiniludívelrelaçãodeconsumo.Daíquearesponsabilidadedaapelanteé

objetivaesórestariaafastadaseprovahouvessedeumadasexcludentesprevistasnoart.14,parág.3.º,

do referido diploma legal, ônus da apelante, do qual não se desincumbiu. Assim não procedendo,

acabou pormanter injustamente o nome do consumidor negativado, o que constitui, só por si, dano

moral,independentementedequalquerrepercussãonaesferadoseupatrimônio,eisquesesatisfazcom

a dor, sofrimento e humilhação por ele experimentados pela vítima. Está ínsito na própria ofensa,

decorredagravidadedoatoilícitoemsi,valedizer,existe‘inreipsa’(SérgioCavalieriFilho,Programa

deResponsabilidadeCivil,M., 2.ª ed., pág. 80); por isso que a demonstração da sua ocorrência não

demandaprova necessária à comprovaçãodos danosmateriais (art. 1.060doCC)” (TJRJ,Ap.Cível

2002.001.22821,13.ªCâmaraCível,Des.NametalaMachadoJorge,j.30-10-2002).

Por issomesmo, dada a repercussão para o patrimônio jurídico (material e

moral) do cidadão consumidor, entendemos ser importantíssima a sua

Page 387: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

cientificação prévia do propósito de proceder à inclusão do seu nome em

cadastrosdeproteçãoaocrédito,combasenoart.43,§2.º,doCódigodeDefesa

do Consumidor, que estabelece que a “abertura de cadastro, ficha, registro e

dadospessoaisedeconsumodeverásercomunicadaporescritoaoconsumidor,

quandonãosolicitadaporele”.

Sobre tal direito subjetivo, ensina Antônio Herman de Vasconcellos e

Benjamin:

“Oprimeiro direito do consumidor, em sede de arquivos de consumo, é tomar conhecimento de que

alguémcomeçouaestocarinformaçõesaseurespeito,independentementedesuasolicitaçãooumesmo

aprovação. Em decorrência disso, o consumidor, sempre que não solicitar ele próprio a abertura do

arquivo,temdireitoaserdevidamenteinformadosobreestefato” 465.

OSuperiorTribunaldeJustiça,inclusive,jáfirmouposicionamentoacercada

matéria,conformeseverificadeumasimplesleituradosseguintesarestos:

“Deacordocomoartigo43,§2.º,doCódigodeDefesadoConsumidor,ecomadoutrina,obrigatóriaé

a comunicação de sua inscrição no cadastro de proteção de crédito, na ausência dessa comunicação,

reparável o dano oriundo da inclusão indevida” (4.ª Turma, REsp 165.727/DF, Rel.Min. Sálvio de

FigueiredoTeixeira,v.u.,j.16-6-1998).

“Oregistrosomentedeveserfeitocomoprévioconhecimentodointeressado,parapermitirasmedidas

de defesa cabíveis” (4.ª Turma, REsp 22337-8-RS, Rel.Min. RuyRosado deAguiar, v. u., j. 13-2-

1995).

Nestesentido,oSTJ,inclusive,editouaSúmula359,preceituando:

“Cabe ao órgão mantenedor do Cadastro de Proteção ao Crédito a notificação do devedor antes de

procederàinscrição”.

Masdequemseriatalresponsabilidadecivil?

Nonossoentender, todososprejuízosdecorrentesdeuma indevida inclusão

devem ser suportados, solidariamente, pelo fornecedor responsável pela

Page 388: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

solicitação da “negativação” e pela pessoa jurídica mantedora do cadastro de

proteçãoaocrédito,oqueencontrarespaldonoparágrafoúnicodoart.7.ºc/co

art.14,caput,domesmodiploma.

Nesse sentido, também é a opinião de Antônio Herman de Vasconcellos e

Benjamim:

“[13.1.7] RESPONSÁVEIS PELA COMUNICAÇÃO — Os arquivos de consumo cristalizam a

conjugaçãodeesforçosdeváriossujeitos,doisdelesprincipais:ofornecedordaobrigaçãooriginaleo

administradordobancodedados.

Nostermosdoart.7.º,parágrafoúnico,doCDC:‘Tendomaisdeumautoraofensa,todosresponderão

solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo’. Isso quer dizer que

fornecedor e administrador, como agentes diretamente envolvidos no iter da inscrição, são

corresponsáveis pelos danos eventualmente causados ao consumidor por defeito de comunicação. A

hipótese,evidentemente,éderesponsabilidadesolidária,cabendo,porissomesmo,açãoderegressode

umcorresponsávelnadireçãodooutro.Competeaoconsumidorescolherumoutodososagentes,no

momentodaproposituradeeventualaçãoindenizatória” 466.

Acompanhamos, assim, as conclusões do ilustre jovem jurista EDUARDO

LIMA SODRÉ, em preciso e precioso artigo, nos seguintes termos: “A

responsabilidadepelaindevidaouirregularnegativaçãodonomedoconsumidor

é solidária, podendo a pretensão indenizatória ser deduzida, integralmente, em

face de qualquer fornecedor interveniente na relação de consumo, inclusive a

pessoajurídicamantedoradocadastrodeproteçãoaocrédito” 467.

Interessantenotar,ainda,que,estandoprescritaapretensãodecobrança,não

se justificariaamantençada inscrição.Aliás,se tiverhavidoreduçãodeprazo

prescricional pelo Código de 2002, entendemos deva este prevalecer, em

benefício do consumidor, que tem o direito de ter o seu nome retirado do

cadastrodeinadimplentes,assimqueseoperaraprescrição.

Page 389: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Valedestacar,finalmente,onãocabimentodeindenizaçãopordanomoralem

casodeanotaçãoirregularemcadastrodeproteçãoaocréditoquandojáexista

inscrição legítima feita anteriormente, tendo em vista o entendimento firmado

pelo Superior Tribunal de Justiça, constante da Súmula 385, que dispõe: “Da

anotaçãoirregularemcadastrodeproteçãoaocrédito,nãocabeindenizaçãopor

dano moral quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao

cancelamento”.

Data venia, não concordamos com este entendimento, namedida em que a

novainscriçãoilegítimajustificaria,porsisó,emvirtudedafunçãosocialedo

caráterpedagógicodaresponsabilidadecivil,afixaçãodeumajustaeadequada

verbaindenizatória.

Page 390: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

CapítuloXVII

ResponsabilidadeCivildoTransportador

Sumário: 1. Considerações iniciais. 2. O contrato de transporte. 2.1. Transporte de coisas ou

mercadorias. 2.2. Transporte de pessoas. 3. Transporte gratuito. 4. Visão geral sobre o transporte

aeronáutico.

1.CONSIDERAÇÕESINICIAIS

Com a sua peculiar sabedoria, AGUIAR DIAS observa que o estudo da

responsabilidadecivildeveuoseudesenvolvimento,emgrandeparte,aoavanço

tecnológiconotransportedecoisasepessoas:

“Oestudodaresponsabilidadecivildeve,emgrandeparte,oextraordinárioincrementoqueapresenta

em nossos dias ao desenvolvimento incessante dos meios de transporte. Sem desconhecer outros

motivosrealmentefortes,podeafirmar-sequeainfluênciadosnovosriscoscriadospeloautomóvelna

responsabilidade civil foi profunda e decisiva, no sentido de alçá-la ao seu incontestável lugar de

‘vedette’dodireitocivil,naclassificaçãoadequadadeJosserand.Oinsopitávelanseiodesetransportar

fácil e rapidamente, a que alude Julian Huxley, é responsável por essa crescente importância do

problema” 468.

Defato,namedidaemqueasociedadeexperimentouumassustadoravanço

científico, especialmente no período pós-guerra, um dos setores da atividade

humanaquemais sebeneficioucomesseesforçobélico foi, semdúvida,ode

transportes.

Page 391: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Os transportes terrestre e o aeronáutico, semnos esquecermosdomarítimo,

evoluíram,nosúltimoscemanos,maisdoqueemtodososséculosprecedentes,

desdequandoohomem,emmagníficoinsight,criouaroda.

OséculoXX,sobestaperspectiva, traduziuemseuscemanosoquenãose

conseguiuemmaisdemil.

Entretanto,oladonegrodesteincrementotecnológico,tãoimportanteparao

bem-estardoshomensdehoje, foioaumentodo riscoe,consequentemente,o

agravamentodassituaçõesdedano,inseridasnocampodaresponsabilidadecivil

aquiliana.

Em magnífico ensaio, já referenciado neste livro, JOSÉ JOAQUIM CAL-

MONDEPASSOSressaltaoincrementodoriscocomocoroláriodoavançoda

sociedade moderna em palavras magistrais, merecendo a reiteração e a

transcriçãointegral:

“Amodernidadeassentouemtrêspilares—odoEstado,odomercadoeodacomunidade.Apardisso,

deu visibilidade à dialética da convivência humana que se processa pela interação entre regulação e

emancipação.Traduziu-se, em termos ideológicos, pela trilogia daRevoluçãoFrancesa— liberdade,

igualdade e fraternidade; o Estado no papel de fiador da liberdade; omercado como propiciador da

igualdade; a fraternidade seria mera consequência da realização de ambas. A lógica intrínseca do

capitalismoeofatodehaver-seconfundidoodesenvolvimentodaracionalidadeeconômicacomoda

racionalidadetecnocientíficaimportou,entretanto,numdéficitdefraternidadeedesolidariedade.Todas

as tentativasde se compatibilizar a liberdade coma igualdade resultaram frustrantesou insuficientes

para colocar a fraternidade em condições de efetivar-se.Nem o logrou o Estado como, por igual, o

mercado,inexistindo,mesmoemmédioprazo,nocontextodafilosofiacapitalista,perspectivadeque

isso se faça possível. Essa realidade foi precisamente o que levou à teorização da responsabilidade

objetiva que, antes de ser um avanço teórico, é uma consequência inelutável dos pressupostos de

natureza sócio-político-econômica que a determinaram.Ao falarmos em responsabilidade sem culpa,

usamos,naverdade,deumeufemismoencobridordealgoqueideologicamenteprecisaserdissimulado.

Page 392: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Opuro fato da natureza, quando nos causa dano, se situa no âmbito do infortúnio, da fatalidade, da

impotência humana diante de tudo quanto ainda não é capaz de controlar. Em verdade, todas as

hipótesesderesponsabilidadesemculpasãoocorrênciasemqueocausadordodanoéresponsávelpor

eleousetornouanônimo,dadaaintensamecanizaçãoemassificaçãodavidamoderna,oudetalmodo

estádistanciadodavítimaqueseriaumainjustificávelexigênciaatribuiraolesadoodeverdeidentificá-

lo.Semesquecerque, emseunúcleo, a teoriado risco, amaisobjetivadas teoriasobjetivas, apenas

atendeaofatodehaver-setornado,emsimesmo,perigoso,emnossosdias,vivereconviver.Esetodos

somos coletivamente culpados pela adesão emprestada a esse estilo de vida, que legitimamos como

nomedeprogresso, tornamo-nos todos tambémcoletivamenteresponsáveis.Osproveitosevantagens

domundotecnológicosãopostosnumdospratosdabalança.Nooutro,anecessidadedeovitimadoem

benefíciode todospoder responsabilizaralguém,emquepeseocoletivodaculpa.Odesafioécomo

equilibrá-los.Nessascircunstâncias,fala-seemresponsabilidadeobjetivaeelabora-seateoriadorisco,

dando-seênfaseàmerarelaçãodecausalidade,abstraindo-se,inclusive,tantodailicitudedoatoquanto

daexistênciadeculpa” 469.

Feitas tais observações iniciais, passaremos a enfrentar especificamente o

temaobjetodenossocapítulo.

2.OCONTRATODETRANSPORTE

Ocontratodetransporte,cujadisciplinaéfeitaapartirdoart.730doCódigo

de2002(semcorrespondêncianoCódigorevogado),podeserdefinidocomoo

negócio jurídico bilateral, consensual e oneroso, pelo qual uma das partes

(transportador ou condutor) se obriga a, mediante remuneração, transportar

pessoaoucoisaaumdestinopreviamenteconvencionado.

Dadefiniçãolegaldefluemassuasduasespécies:

a.transportedecoisas(arts.743a756);

b.transportedepessoas(arts.734a742).

Opreçopagoao transportador recebeadenominaçãode“freteouporte”no

Page 393: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

transportedecoisas,ede“valordapassagem”notransportedepassageiros.

2.1.Transportedecoisasoumercadorias

Comfundamentonadoutrinapátria 470,podemosapresentaroseguintequadro

esquemático de direitos e obrigações das partes envolvidas no contrato de

transportedemercadorias:

1. obrigações do remetente: entrega damercadoria em condições de envio;

pagamentodopreçoconvencionado,ressalvadaahipótesedeesteseradimplido

pelodestinatário;acondicionamentodamercadoria;declaraçãodoseuvaloreda

sua natureza; recolhimento tributário pertinente; respeito às normas legais em

vigornosentidodesomenteexpedirmercadoriasdetrânsitoadmitidonoBrasil;

2.obrigaçõesdotransportador:receberacoisaasertransportadanodia,hora,

local e modo convencionados; empregar total diligência no transporte da

mercadoriapostasobasuacustódia;seguiroitinerárioajustado,ressalvadasas

hipótesesdecasofortuitoeforçamaior;entregaramercadoriaaodestinatárioda

mesma,medianteapresentaçãodo respectivodocumentocomprobatóriodesua

qualidadederecebedor(conhecimentodetransporte);respeitoàsnormaslegais

em vigor no sentido de somente expedir mercadorias de trânsito admitido no

Brasil.

Comentando o transporte de mercadorias, SÍLVIO VENOSA lembra ainda

que:“cabeaotransportadorpermitirodesembarquedamercadoria,mediantea

apresentação do conhecimento, salvo se se tratar de mercadoria sujeita a

transportesobregulamentaçãoespecialoudeendossatárioempenhor(art.106

doDecreton.51.813/63,redaçãodoDecreton.61.588/67).Cuida-sedodireito

Page 394: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

destoppageintransitu,ouvariaçãododestinodacarga.Sehouvervariaçãodo

destino, o transportador poderá pedir reajuste do frete. Se não houver acordo,

cumpriráotransporteentregandoacoisanodestinoprimitivo” 471.

Cumpre observar, para que não restem dúvidas, que o conhecimento de

transporte é o documento, derivado do próprio contrato, que contém os

necessáriosdadosdeidentificaçãodamercadoria(art.744doCC/2002).

Comespequeemtudooquesedisseatéaqui,jápodemoscomeçaraanalisar

as bases da responsabilidade civil do transportador no transporte de coisas ou

mercadorias.

Ora, indiscutivelmente, trata-se de uma responsabilidade de natureza

contratual,namedidaemqueotransportador,aoassumiraobrigação,arcacom

o dever de levar a coisa até o local de destino, devidamente protegida e em

perfeitoestadodeconservação.

No conceito de coisa, inclusive, devem ser compreendidos os semoventes

transportadosporforçadetalavençacontratual 472.

Em verdade, o transportador assume uma obrigação de resultado— e isso

também serve para o transporte de pessoas—,namedida emque se obriga a

transportaramercadoriaatéolocalacertado,emsegurança 473.

Aliás,nãoédifícilconcluirqueaesmagadoramaioria—senãoa totalidade

—das sociedadesouempresários individuaisqueatuaneste setor realizauma

atividadedeconsumo,sujeitaàsregrasdoCódigodeDefesadoConsumidor.

Porissomesmo,nãotemosdúvidaemafirmarquesetratadeumahipótesede

responsabilidade civil objetiva, e não meramente de presunção de culpa, na

Page 395: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

eventualhipótesededescumprimentodopactuado.

Cumpre-nos, todavia, advertir que a responsabilidade do transportador é

limitadaaovalorconstantedoconhecimento,nostermosdoart.750doCC,que,

como visto, veda eventual indenização suplementar, caso haja extravio ou

destruiçãodamercadoria.

Mas observe que, se o destinatário comprovar ter sofrido prejuízo a maior

decorrentedonãorecebimentodamercadoria(deixoudecelebrarumnegóciojá

devidamenteacertado,emminutadecontrato),poderá,emnossosentir,pleitear

indenização superior ao valor constante do conhecimento, considerando a

extensãododanosofrido.

Talafirmaçãosefundamentanaconcepçãobásicadaresponsabilidadecivilno

nossoordenamentojurídico,queéarestituiçãointegraldodano.

Aindacomfulcronomesmoartigodelei,verifica-sequeolegisladorcuidou

de delimitar cronologicamente a responsabilidade do transportador, ao referir

queestacomeçanomomentoemqueele,ouseusprepostos,recebemacoisae

terminaquandoéentregueaodestinatário,oudepositadaemjuízo,seaquelenão

forencontrado(art.750).

Comentando este dispositivo, o culto ZENO VELOSO ressalta a natureza

objetivada responsabilidadedo transportador: “Corremos riscospor conta do

transportador, sendo a sua responsabilidade objetiva, salvo força maior

devidamente comprovada, ou se a coisa se perdeu ou deteriorou por culpa

exclusivado remetente, comonahipótesedevícioprópriodacoisa, sendoela

facilmentedeteriorável,porexemplo,e tendosidoacircunstânciaomitidapelo

Page 396: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

expedidor” 474.

No mesmo sentido, o já citado VENOSA: “O transportador responde por

perdas e avarias na coisa, desde que não se atribua o risco ao remetente. A

responsabilidadedotransportadoréobjetiva” 475.

Claro está, portanto, que a culpaexclusivado remetenteouaocorrência do

casofortuitoedeforçamaiortemocondãodequebraronexodecausalidade,

tendo em vista que se tratam de regras gerais de excludentes de

responsabilidade.

Ressaltando a isenção de responsabilidade do transportador pelo mau

acondicionamento damercadoria pelo remetente, leia-se a seguinte ementa do

TribunaldeJustiçadoMatoGrossodoSul:

“Apelação cível — Ressarcimento de danos — Transportador — Responsabilidade presumida —

Mercadoriaavariada—Deficiênciadeacondicionamento—Conhecimentodotransportador,durantea

viagem,domauacondicionamento—Descarregamentoenovocarregamentoquedemandariamãode

obradeváriaspessoas—Estrada—Impossibilidade—Sentençamantida—Recursoimprovido.

A responsabilidadecivil do transportador éobjetiva, fundadana teoriado riscopresumido.Restando

demonstradoqueoacidentesomenteveioaocorreremvirtudedadeficiênciadocondicionamentoda

mercadoriatransportada(art.1.º,item4.º,doreferidoDecreton.2.681/12),inexisteresponsabilidadedo

transportadorpeloeventodanoso.

Nãoháfalaremresponsabilidadedotransportadorquemesmotendotomadoconhecimento,durantea

viagem, de que a carga estava mal condicionada, ainda assim deu sequência a esta, se o

descarregamentoenovocarregamentodamercadoriademandariamãodeobradeváriaspessoas,oque

naestradaéimpossível”(TJMS,Processo2001.005063-6—julgadoem17-5-2002—ApelaçãoCível

—Sumário/Itaporã,Rel.Des.JoenildodeSousaChaves—2.ªTurmaCível).

Importanotaraindaque,nocontratodetransporte(decoisasoudepessoas),

considera-se ineficaz cláusula contratual de não indenizar. Vale dizer, é

Page 397: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

inadmissível que o transportador, visando a eximir-se de responsabilidade,

estipule convencionalmente norma que a exclua totalmente. Tal providência,

inclusive, entraria em rota de colisão com os princípios do Código do

Consumidor 476,dadaarelaçãoconsumeristadessetipodenegóciojurídico.

Noplanoda jurisprudência, como já observamos emcapítulo anterior 477, o

Supremo Tribunal Federal há muito já se firmou no sentido de não admitir

cláusuladestanaturezanocontratode transporte,exvidodispostonaSúmula

161:“Emcontratodetransporteéinoperanteacláusuladenãoindenizar”.

Concordamosfirmementecomaorientaçãosumulada.

Qualquerdisposiçãoprevistanocontratode transporteemsentidocontrário,

inclusive a que limitasse o valor da indenização a um patamar inferior ao

quantum correspondente do dano efetivamente sofrido, seria considerada

abusiva, ilegal, e, inclusive, inconstitucional, por atentar contra o princípio da

dignidadedapessoahumana.

Feitas tais considerações, passemos a enfrentar um tema mais delicado: a

responsabilidadecivilnotransportedepessoas.

2.2.Transportedepessoas

Fixado o conceito do contrato de transporte, passaremos a estudar as

consequências civis decorrentes de danos causados às pessoas transportadas

(passageiros).

Mutatis mutandis, poderíamos aproveitar as observações acima esposadas

quanto aos direitos e obrigações das partes, aplicando-as ao transporte de

Page 398: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

pessoas. Registre-se, apenas, o imensurável valor daquilo que se transporta: a

vidahumana.

AGUIARDIAS,emsuamonumentalobra,jáadvertiaque,emtodoocontrato

de transporte de pessoas existe, implícita, uma cláusula de segurança ou de

incolumidade 478.

Mesmoqueoinstrumentocontratualnãoexplicite,édecorrênciadoprincípio

dafunçãosocialdocontratoedaregraéticadeboa-féobjetiva(arts.421e422

doCC/2002)queotransportadortemodeverdelevaropassageiro,asalvoeem

segurança,atéolocaldedestino.

A quebra desta obrigação implícita de natureza contratual impõe o

reconhecimento da responsabilidade objetiva do transportador, que deverá

indenizaravítimaindependentementedeteratuadoounãocomdoloouculpa.

Lembre-se, inclusive, de que o primeiro diploma brasileiro consagrador de

responsabilidadecivilobjetivafoi,precisamente,oDecretoLegislativon.2.681,

de1912,referenteàsestradasdeferro.

Estemesmoprincípio,anunciadohátantasdécadas,veioprevistopeloCódigo

deDefesadoConsumidor,queprevêaresponsabilizaçãoobjetivadofornecedor

deserviço(art.14),facilitando,destamaneira,acompensaçãodevidaàvítima.

Nãoédemaisnotarque, senãobastassea incidênciadoCDC,o serviçode

transportedepassageiros—terrestre,marítimoouaeronáutico—éconsiderado

indiscutivelmente uma atividade de risco, para a qual o Código Civil prevê,

também, a aplicação das regras da responsabilidade sem culpa, nos termos do

parágrafoúnicodoseuart.927.

Page 399: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Adisciplinaespecíficadotransportedepessoaséfeitaapartirdoart.734do

CódigoCivilque,harmonizando-secomaLeidoConsumidor,prevêque:

“Art. 734.O transportador respondepelos danos causados às pessoas transportadas e suas bagagens,

salvomotivodeforçamaior,sendonulaqualquercláusulaexcludentedaresponsabilidade.

Parágrafo único. É lícito ao transportador exigir a declaração do valor da bagagem a fim de fixar o

limitedaindenização”.

Eessaobrigaçãodesegurançaé tão importantequesomenteserá ilididaem

situaçõesexcepcionaisdequebradonexocausal,nãoeximindootransportador

pelofatodeterceiro,nostermosdaSúmula187doSTF 479:“Aresponsabilidade

contratual do transportador, pelo acidente como passageiro, não é elidida por

culpadeterceiro,contraoqualtemaçãoregressiva”.

Talpreceitovemagorareproduzidopeloart.735doCódigode2002:

“Art.735.Aresponsabilidadecontratualdotransportadorporacidentecomopassageironãoéelidida

porculpadeterceiro,contraoqualtemaçãoregressiva”.

Imagine-se, por exemplo, que um ex-empregado da companhia de viação,

visando a prejudicar seu antigo patrão, resolva folgar alguns componentes da

rodadoônibus,causandograveacidente.Emtalcaso,nãopoderáoproprietário

daempresaalegarfatodeterceiroparaseeximirdaobrigaçãodeindenizar.

Assim, poderíamos concluir que apenas a culpa exclusiva da vítima ou a

ocorrênciadeeventofortuitoexcluiriamodeverdeindenizar.

Lembre-se,ademais,conformejávimosempáginasanteriores,quesomenteo

fortuito externo tem o condão de eximir o transportador, o mesmo não

acontecendonahipótesedefortuitointerno 480.

Nesse sentido, ensina o ilustreCARLOSROBERTOGONÇALVES, ilustre

Page 400: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

DesembargadordoTJSP:

“Somenteofortuitoexterno,istoé,acausaligadaànatureza,estranhaàpessoadoagenteeàmáquina,

excluiaresponsabilidadedesteemacidentedeveículos.Ofortuitointerno,não.Assim,tem-sedecidido

queoestourodepneus,aquebradabarradedireção,orompimentodo‘burrinho’dosfreioseoutros

defeitos mecânicos em veículos não afastam a responsabilidade do condutor, porque previsíveis e

ligadosàmáquina” 481.

Questãointeressantedizrespeitoaoassaltoocorridoduranteotransporte.

Emnossaopinião,seriapordemaisinjustoimporàcompanhiatransportadora

oônusdeassumiraobrigaçãodeindenizarospassageirospelorouboocorrido,

doqualtambémfoivítima,aindamaisemseconsiderandoserdoEstadoodever

constitucionaldegarantiratodosasegurançapública 482.

Ressalve-se, apenas, a situação delituosa para a qual contribuiu a própria

companhiatransportadora,emvirtudedaatuaçãodesidiosaounegligentedoseu

preposto (queparouoônibusou atracoua embarcaçãoem local inseguro, por

exemplo).

Nessediapasão,citem-seosseguintesjulgados:

“ResponsabilidadeCivil—EstradadeFerro—PassageiroFeridoemAssalto—Ofatodeterceiroque

não exonera de responsabilidade o transportador é aquele que com o transporte guarda conexidade,

inserindo-se nos riscos próprios do deslocamento. Não assim quando intervenha fato inteiramente

estranho,comoocorretratando-sedeumassalto”(STJ—3.ªT.—REsp—Rel.EduardoRibeiro—

julgadoem21-9-1993—RSTJ52/208).

“Oroubocaracterizaforçamaiore,portanto,éexcludentedaresponsabilidadedatransportadora,exceto

se esta se expor negligentemente ao perigo, deixando de empregar as diligências e precauções

necessárias”(1.ºTACSP—Ap.Rel.JorgeAlmeida,JTACSP78/23) 483.

Recente jurisprudênciaapontanamesmadireção,consoantesepodededuzir

daanálisedosseguintesjulgados:

Page 401: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

“Responsabilidadecivil.Exclusão.Transporterodoviário.Forçamaior.ASeção,pormaioria,entendeu

que,nãoobstanteahabitualidadedaocorrênciadeassaltosàmãoarmadaemtransportescoletivos,que

colocamemriscoa incolumidadedosseususuários,nocaso incideaexcludentede responsabilidade

por forçamaior (art. 17, segunda alínea, I, doDec. n. 2.681/1912 e art. 1.058 doCC). Precedentes

citadosdoSTF:RE88.408-RJ,DJ12-7-1980;RE113.194-RJ,DJ7-8-1987;doSTJ:REsp74.534-RJ,

DJ14-4-1997;REsp200.110-RJ,DJ10-4-2000;REsp30.992-RJ,DJ21-3-1994,eREsp118.123-SP,

DJ21-9-1998”(STJ,REsp435.865-RJ,Rel.Min.BarrosMonteiro,julgadoem9-10-2002).

“Responsabilidadecivil.Transporteintermunicipal.Assaltopraticadodentrodoônibus.Casoemqueo

fato de terceiro não guarda conexidade com o transporte. Exoneração da responsabilidade do

transportador, de acordo comprecedentes do STJ:REsps 13.351, 30.992 e 35.436.Recurso especial

conhecidoeprovido”(STJ,REsp74534/RJ;RecursoEspecial1995/0046994-4,julgadoem4-3-1997,

3.ªTurma,Rel.Min.NilsonNaves).

“Civil.Responsabilidadecivil.Danosmateriaisemorais.Assaltoemônibusdetransporteinterestadual.

Caso fortuito.1)Não sedeve inverteroônusdaprovaquandoestaépossívelde serproduzidapelo

consumidor, sob pena de ferir o princípio da legalidade. 2)O assalto em ônibus interestadual, salvo

situação excepcionalíssima, constitui caso fortuito, afastando o dever de indenizar do transportador”

(TJDF,ApelaçãoCível169041,Rel.GilbertoPereiradeOliveira,DJU,18-3-2003,p.199).

“Civil. Responsabilidade civil. Roubo praticado no interior de ônibus interestadual. Caso fortuito.

Exclusão do dever de indenizar. Precedente da TurmaRecursal. 1.O roubo praticado no interior de

ônibuspodeserdefinidocomocasofortuito,porqueéfato imprevisívelqueseencontradesligadoda

vontade do sujeito passivo. 2. Por ser caso fortuito, ocorrendo sem qualquer culpa do agente

transportador,éconsideradocausadeexclusãodaresponsabilidadecivildestepelosdanosmateriaisou

morais eventualmente sofridospelospassageiros. 3.Está consagrado emnossodireitooprincípioda

exoneração do devedor pela impossibilidade de cumprir a obrigação sem culpa sua.Assim sendo, o

sujeito passivo do assalto, ocorrido no interior de ônibus de transporte público, não poderá exigir

indenização da empresa transportadora pelos prejuízos decorrentes do caso fortuito, consoante o

dispostonoart.1.058doCódigoCivil,alémdoquenãohácausalidadeentreorouboeocontratode

transporte, sendo da responsabilidade do Estado o oferecimento de segurança pública. 4. Recurso

provido.Sentençareformada”(TJDF,ApelaçãoCível130551,Rel.ArnoldoCamanhodeAssis,DJU,

19-10-2000,p.60).

EvejaaindaesteinteressantejulgadodoTJRJquevedaadenunciaçãodalide

Page 402: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

aoEstadopeloassaltoocorridonotransportedepassageiros:

“Responsabilidade civil. Assalto no interior de ônibus. Morte de passageiro. Dano moral. Não

configuração. Indenização. Descabimento.Morte de passageiro em assalto dentro do coletivo. Caso

fortuito.DenunciaçãodalideaoEstado.Danomoralinocorrente.NãocabedenunciaralideaoEstado,

pormortedepassageirodentrodepropriedadeprivada,ondeasegurançapúblicanãoatua.Ofatose

caracterizacomofortuito,postoqueinevitável.Nãohánenhumaculpadotransportador,paraqueseja

obrigadoaindenizaramortedopassageiro.Recursoprovido”(TJRJ,ApelaçãoCível2002.001.24206,

16.ªCâmaraCível,Des.BernardinoM.Leituga,julgadoem26-11-2002).

Seguindo esta mesma linha de raciocínio, CARLOS ROBERTO

GONÇALVES, com maestria, pontifica: “Pode-se afirmar, malgrado as

divergências apontadas, que são encontradas na jurisprudência, em maior

número, decisões no sentido de que o assalto a mão armada no interior de

ônibus, embora se pudesse termeios de evitá-lo, equipara-se ao caso fortuito,

assim considerado o fato imprevisível, que isenta de responsabilidade o

transportador, ao fundamento, especialmente, de que o dever de prestar

segurançapúblicaaopassageiroédoEstado,mercêdoart.144daConstituição

Federal,nãosepodendotransferi-loaotransportador” 484.

Nesseponto,cumpre-nosindagaracercadaresponsabilidadedotransportador

pelodanocausadoaseusprepostos.

Emtalcaso,estaremosdiantedeumacidentedetrabalho,jádesenvolvidoem

momento oportuno 485, em que, como visto, a responsabilidade civil do

empregadorserá,emregra,subjetiva,salvoacaracterizaçãodaatividadecomo

de riscohabitual,paraefeitode incidênciada regradoparágrafoúnicodoart.

927doCC/2002,questãosobremaneiracontrovertida,comovimos.

Outropontodignoderealcedizrespeitoàresponsabilidadedotransportador

Page 403: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

emfacedepedestres.

Umacidente,muitasvezes,nãoatingeapenasospassageiros,mastambémos

transeuntes, vale dizer, pessoas que não mantinham relação contratual com a

companhiatransportadora.

Emrelaçãoaopassageiro,conformejávimos,nomomentoemqueomesmo

adquireobilhete,ourecebeoe-maildeconfirmaçãodeaquisiçãodapassagem,

ocontratojáestáperfectibilizado.

Claro está, portanto que, em relação ao passageiro, a responsabilidade do

transportadorécontratualeobjetiva,regidapelasnormasdoCódigodeDefesa

doConsumidor.

Masequantoaoterceiro?

Imagine,apenasatítulodeilustração,queoônibus,pordesídiadomotorista

quedormiuaovolante,causougraveacidenteferindopassageiroseatropelando

pedestres.Comoficaria,afinal,asituaçãodestesúltimos?

Emnossopensamento,trata-sedesituaçãoderesponsabilidadecivilaquiliana,

também de natureza objetiva, por considerarmos o terceiro, vítima do evento,

equiparado ao passageiro/consumidor, nos termos do art. 17 do Código de

DefesadoConsumidor.

O excelente CAVALIERI lembra, ainda, que, em se tratando de transporte

público,exploradoporconcessionáriosoupermissionáriosdoserviço,aprópria

Constituição Federal, em seu art. 37, § 6.º, estabelece a responsabilidade sem

culpadotransportador 486.

Page 404: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Gostaríamos de registrar, apenas, o fato de que, muitas vezes, o próprio

pedestreéoúnicoresponsávelpeloeventofatídico.

Pesa reconhecer que a população exige do Poder Público a construção de

passarelassobremovimentadasrodovias,e,umavezconcluídaaobra,inúmeros

transeuntes insistem, de forma leviana e injustificável, em arriscar as próprias

vidas, passando por baixo da construção.Muitos demonstram, inclusive, certo

prazermórbidoemseesquivardosveículos.

Em tais casos, desde que não haja concorrência de culpa do motorista,

entendemosqueopedestre/vítimanãoterádireitoaindenizaçãoalguma—nem,

muitomenos,asuafamília—seodanodecorreuexclusivamentedesuaatuação

culposa, por estar configurada uma excludente de responsabilidade civil,

genericamentedisciplinadanonossoordenamentojurídico.

Finalmente,deve-senotarqueaobrigaçãodetransportedopassageiroimplica

anecessidadedeseguardaromesmodeverdecautelaemfacedesuabagagem

e,principalmente,deseobservaro itinerárioproposto,sobpenadeocondutor

serresponsabilizado.

Emrelaçãoàmudançadeitinerário,seestasederpormotivodeforçamaior,

o transportador não poderá ser responsabilizado, nos termos do art. 737.

Imagine, por exemplo, que em uma viagem aérea, o comandante da aeronave

(sua autoridademáxima), decida alterar a rota, por força de uma tempestade,

sendoforçadoapousaremumacidadedistantedaquelatraçadacomodestinono

planodevoo.

Em tal hipótese, não podemos pretender responsabilizar a companhia aérea,

Page 405: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

em virtude de a medida haver sido tomada em atenção à incolumidade dos

passageirosedatripulação.

Cuidados especiais devem ser tomados, ainda, no que tange à admissão de

alguns passageiros cuja situação pessoal possa pôr em risco a saúde ou a

segurançadosdemais.

O próprio Código Civil cuidou de estabelecer em seu art. 739 uma regra

aparentemente discriminatória, mas que, em verdade, visa salvaguardar um

interessepúblicosuperior:

“Art.739.Otransportadornãopoderecusarpassageiros,salvooscasosprevistosnosregulamentos,ou

seascondiçõesdehigieneoudesaúdedointeressadoojustificarem”(grifosnossos).

A título apenas de exemplo, lembre-se de que passageiros portadores de

doenças infectocontagiosas, transmissíveis pelo ar, não devem viajar em

aparelhosutilizadosporoutraspessoas.

Talmedidavisaaproteçãodosusuáriosdessesserviçosdetransporte.

Na mesma linha, passageiros armados não podem ser admitidos em

transportesdeusocoletivo,especialmenteasaeronaves.

Em nossa opinião, mesmo com o devido porte legal de arma, ressalvada a

hipótesede condução especial depresooumissão especialmente autorizada, a

arma, a critério do comandante (autoridade máxima), deve ser transportada

desmuniciada,emcompartimentodecarga.

Essasmedidasafiguram-sesobremaneiraimportantesnosdiasquecorrem,em

queosatentadosterroristastornaram-secomunsemalgunsmeiosdetransporte

—especialmenteoaéreo—emalgunsEstadosdomundo.

Page 406: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

3.TRANSPORTEGRATUITO

Questão interessante,amplamentediscutidanadoutrinae jurisprudência,diz

respeitoaodenominadotransportegratuito.

Namaisrestritaacepçãodotermo,gratuitosomentepoderáserconsideradoo

transporte de mera cortesia, a carona desinteressada, por amizade ou outro

sentimentoíntimo.

Nestesentido,oart.736doCódigode2002,semcorrespondentenoCódigo

anterior:

“Art.736.Nãosesubordinaàsnormasdocontratodetransporteofeitogratuitamente,poramizadeou

cortesia.

Parágrafo único. Não se considera gratuito o transporte quando, embora feito sem remuneração, o

transportadorauferirvantagensindiretas”.

Pela dicção da norma, podemos vislumbrar duas situações juridicamente

distintas:

a)otransportepropriamentegratuitooudemeracortesia(previstonocaputdo

artigosobcomento)—nestecaso,havendoacidenteedanocausadoaotomador

dacarona,entendemosdevaseraplicadoosistemaderegrasdaresponsabilidade

aquilianadoCódigoCivil, oque significadizerqueo juiz, nos termosdoart.

186,deveráperquiriraculpa(emsentidolato)docondutorparaefeitodeimpor-

lheaobrigaçãodeindenizar.Nãoconcordamos,datavenia,comoentendimento

de que apenas o dolo ou a culpa grave autorizariam a obrigação de indenizar

(Súmula145,STJ),sobretudopelofatodeonovoCódigoCivilnãoestabelecer

esta restrição 487. Ademais, também negamos a natureza contratual da relação

jurídica travada entre condutor e “caronista”, pela idêntica razão de não

Page 407: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

encontrar respaldo legal.Trata-se,pois, a caronaemsideumato jurídiconão

negocialque,secausardanoaopassageiropormáatuaçãodocondutor,poderá

seconverterematoilícito.Exemplo:passandopelarua,umamigopedecarona.

Momentos depois, o veículo tomba desgovernado, com danos ao condutor e

passageiro.Nestecaso,oprimeiropoderáserresponsabilizadosehouverprova

dehaveratuadocomdoloouculpa(art.186doCC).Note-sequeoart.736do

Código refere expressamente não serem aplicáveis as regras do contrato de

transporteparaestahipótese;

b) transporte interessado,semremuneraçãodireta (parágrafoúnicodoartigo

sob comento) — diferentemente, neste caso, o condutor, posto não seja

diretamenteremunerado,experimentavantagemindireta,àcustadoconduzido.

Imagine,porexemplo,umrepresentantedevendasque“fazquestãodelevaro

seucliente”atéoseustand.Ocorrendoumabalroamentolesivonocaminho,o

transportadorpoderáserresponsabilizado,segundoasregrasderesponsabilidade

civil contratual, inferidasdo sistemadedefesado consumidor.Trata-sedeum

acidentedeconsumo,geradorderesponsabilidadecivilobjetiva.Aliás,umavez

que, neste caso, deverão ser aplicadas as regras do contrato de transporte,

cumpre-noslembraraincidênciadacláusuladesegurança,impondoaobrigação

de levar o passageiro ao seu destino, são e salvo. Veja, portanto, que, em se

tratandode transporte interessado, a responsabilizaçãodo transportador émais

facilitada.Umaúltimaindagação,entretanto,seimpõe.Paranãoserconsiderado

gratuito, o referido “interesse” do condutor deve ser econômico?Uma carona

motivadaporinteressesexual,porexemplo,descaracterizariaacortesia,fazendo

incidir as regras do contrato de transporte, e, por conseguinte, da

Page 408: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

responsabilidade civil objetiva? Em nosso sentir, segundo uma interpretação

teleológica,desdequenãosejaporamizadeoumeracortesia(art.736,caput),o

transporte motivado por qualquer interesse do condutor justificaria a

descaracterizaçãodotransportegratuito(art.736,parágrafoúnico).Ademais,a

lei não refere que o interesse do transportador deva ser necessariamente

pecuniário.Assim,umacaronadadaapenasparafinssexuais(afamosa“cantada

em ponto de ônibus”) autorizaria, em nosso entendimento, a incidência das

regrasdocontratodetransporte,porforçada“vantagemindireta”experimentada

pelocondutor,nostermosdomencionadoparágrafoúnicodoart.736.Destarte,

deverá observar a cláusula implícita de segurança, podendo ser compelido a

indenizar a outra parte sem aferição de culpa. Advertimos, apenas, que a

incidência dessas regras, mais severas para o transportador, não decorre da

circunstância de estarmos diante de um contrato de transporte típico, pelo

simplesfatodeaprestaçãosexualnãoserlicitamenteadmitida.Todavia,apenas

para o efeito de facilitar a responsabilização do condutor — que atuou com

segundas intenções —, concluímos que o legislador cuidou de determinar a

aplicação das regras do contrato de transporte, afastando a alegação de mera

cortesia,visando,dessaforma,facilitarareparaçãodavítima.

Na jurisprudência, podemos ver o amplo reconhecimento da doutrina do

transporteinteressado,consoantesepodedepreenderdotrechodesteacórdãodo

STJ,dalavradoMin.RuyRosadodeAguiar(REsp238676/RJ,DJ,10-4-2000):

“Responsabilidadecivil.Transporte.Contratocomaempregadoradavítima.Honoráriosadvocatícios.

Otransportadorquecelebracontratocomempresaparaotransportedeseusempregados,nãoforneceao

passageiro um transporte gratuito e tem a obrigação de levar a viagem a bom termo, obrigação que

assumecomapessoaquetransporta,poucoimportandoquemforneceuonumerárioparaopagamento

Page 409: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

dapassagem.Deferidaaindenizaçãoatítuloderesponsabilidadecontratual,osprecedentesdestaTurma

deferemhonorárioscalculadossobreasprestaçõesvencidaseumaanualidadedasvincendas.Recurso

conhecidoemparteenessaparteprovido”.

Finalmente, é bom que se diga que o transporte clandestino não encontra

amparo legal, e qualquer acidente que venha a ocorrer em virtude domesmo

deveráserjuridicamentesuportadopelavítima.

É o caso do sujeito que sofre grave lesão por adentrar sorrateiramente o

compartimentodecargasdeumnavio.

Atuoucomculpaexclusiva,nãocabendodireitoàindenização.

Caso venha a falecer, não poderão, pelas mesmas razões expostas, os seus

familiarespleitearindenização.

4.VISÃOGERALSOBREOTRANSPORTEAERONÁUTICO

Neste último tópico, dada a sua natureza peculiar e os seus importantes

reflexos na vida prática, trataremos, em breves linhas, do transporte aéreo ou

aeronáutico.

Comabsoluta propriedade,CAIOMÁRIODASILVAPEREIRA sintetiza o

temanosseguintestermos:

“Aconstruçãodogmáticadaresponsabilidadeaeronáuticasofreuinfluêncianegativadeduasforças.De

um lado, a ausência de uma sedimentação de princípios, devido ao tempo relativamente curto de

exploração da aeronave como veículo comercial. De outro lado, a menor ocorrência de elaboração

jurisprudencial”. E conclui mais adiante o grande mestre: “A reparação dos prejuízos sofridos por

pessoasecoisastransportadassubordina-seaosprincípiosdaresponsabilidadecontratualeestáregulada

peloCódigoBrasileirodoAr” 488.

Especial atenção merece, no estudo deste tema, além do nosso Código

Page 410: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Aeronáutico (Lei n. 7.565/86) e do Código de Defesa do Consumidor, que

alterou profundamente o tratamento da matéria, a Convenção de Varsóvia,

referenteaotransporteinternacionaldepassageiros,ratificadapeloBrasil,em2

demaiode1931,epromulgadapeloDecreton.20.794/31,bemcomooDecreto

n. 5.910, de 27 de setembro de 2006, que promulgou a Convenção para a

Unificação de Certas Regras Relativas ao Transporte Aéreo Internacional,

celebradaemMontreal,em28demaiode1999,trazendonovasregrasacercada

responsabilidade do transportador aéreo (em especial, o quantum das

indenizaçõesdevidasemcasosdemorteeextraviodebagagem).

Nãotemosdúvidadeque,nãosóporsetratardeumaatividadederisco,mas,

sobretudo,porconsistiremumserviçodeconsumo,aresponsabilidadecivildo

transportadorédenaturezacontratual,porém,objetiva.

Problemainteressantedizrespeitoà incômodasituaçãodaperdaouextravio

debagagem.

Como se sabe, aConvenção deVarsóvia (alterada pela deHaia) fixava um

limiteparaocasodeperda,extravioouavariademalasebagagens.

Tal limitação, todavia, nem sempre se afigurava justa, namedida emque o

dano causado, mormente o de espectro moral, muitas vezes supera

consideravelmenteovalortarifado.

Seguindo esta linha de intelecção, oSupremoTribunal Federal, emvoto da

lavradocultoMin.MarcoAurélio,RE172.720-9/RJ,DJU,21-2-1997, firmou

entendimentonosseguintestermos:

“Ementa—OfatodeaConvençãodeVarsóviarevelar,comoregra,aindenizaçãotarifadapordanos

Page 411: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

materiais,nãoexcluiarelativaaosdanosmorais.Configuradosessespelosentimentodedesconforto,

deconstrangimento,aborrecimentoehumilhaçãodecorrentesdoextraviodemala,cumpreobservara

CartaPolíticadaRepública—incisosVeXdoart.5.º,noquesesobrepõea tratadoseconvenções

ratificadospeloBrasil”.

Interessante registrarainda trechodovotovistadoentãoMinistroFrancisco

Rezek,estudiosodoDireitoInternacional,equeseafinacomoentendimentodo

relator:

“Háumaquestãodeíndoletécnica,queéadesaberseodanomoralprevistopornossaordemjurídica

como capaz de justificar uma indenização reparatória é incompatível comaConvençãodeVarsóvia,

reformadapeladeHaia,noqueestabelecemumlimiteparaareparaçãoeofixamemUS$400,00ou

somaequivalente.

Primeiro,comoponderao relator,agarantiada reparaçãopordanomoral temestaturaconstitucional

entre nós. Isso tem relevo à hora de fazer o confronto comparativo entre um texto de produção

internacionaleumtextodeproduçãointerna.Mas,nãobastasseofatodequeagarantiaconstitucional

da indenizabilidade do dano moral é algo que prevalece sobre obrigações internacionais de nível

ordinário(nocaso,osvelhostextosdeVarsóviaedaHaia),ovotodorelatorinsinuaalgosugestivo.O

conflitohádesersempreresolvidoemfavordaConstituição,maspoderíamosevitarasconsequências

desastradas do conflito (o repúdio de uma obrigação internacional válida) se entendêssemos que os

limites têm a ver com o dano material: não se referem a essa outra figura, própria de um direito

modernoquenãopoderiaserentrevistonostrabalhosconvencionaisdeVarsóviaoudaHaia,anteriores

àsegundaGrandeGuerra” 489.

Permitimo-nos, à época, entretanto, um raciocínio mais ousado do que o

esposadopelor.STF.

Em nossa modesta opinião, na medida em que a Constituição Federal e o

Código do Consumidor (este último, lei muito posterior à Convenção de

Varsóvia) não estabeleceram nenhum tipo de tarifamento indenizatório, tanto

para o danomoral quanto para omaterial, concluímos que qualquer limitação

nesse sentido, prevista em norma anterior à Carta Política e ao próprio CDC,

Page 412: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

haveriadeserrechaçadaporfaltadelastronormativo.

Eessemesmoraciocínioseaplicavaparaashipótesesdeacidenteenvolvendo

ospassageiros.

NosTribunais,vejacomootemaeratratado:

“Transporte aéreo. Extravio de bagagem. Circunstância que por si só é suficiente para ocasionar

desconforto emocional. Danosmorais. Viabilidade. Valor. 1) Conforme precedente do col. STF (RE

172.720,RelatorMin.MarcoAurélio),oextraviodebagagememtransporteaéreo,indubitavelmente,

ocasionadesconfortoemocionalnotitulardesta,havendoincidênciadareparaçãopordanosmorais.2)

Fixadaaverbareparatóriaemvalorinferioravintesaláriosmínimos,édesemantê-la,hajavistasua

razoabilidade na espécie” (TJDF, Rel. Silvanio dos Santos, Apelação Cível no Juizado Especial

89199/DF,DJU,2-9-1999).

E veja-se ainda a incidência do CDC, em caso do insuportável over-

booking 490,consoantedecidiuoTJDF:

“Dano moral — Transporte aéreo— Overbooking— Impossibilidade de realização da viagem—

Configuração — Valor da indenização — Não aplicação do Código Brasileiro de Aeronáutica —

Quantumexcessivo—Redução—Sentençaparcialmentereformada.1.Cometedanomoral,equetem

quereparar,empresaaéreaquedeixadetransportarpassageiroquepreviamenteadquiriubilhete,sóo

fazendo no dia seguinte, em razão de overbooking, que nada mais é do que excesso de passagens

vendidas,emrazãodoriscoassumido.2.Ovalordaindenização,emsetratandodedanomoral,aser

pagoporcompanhiaaérea,nãoestáregidopeloCódigoBrasileirodeAeronáutica,maspeloCódigode

DefesadoConsumidor,quenãoestabeleceseulimitemáximo.3.Mostrando-seovalordacondenação

excessivo,devehaverasuareduçãoparapatamarmaisjusto,afastando-seoganhosemcausa.4.Devea

recorrente pagar as custas processuais e honorários advocatícios, por ter ela sucumbido na quase

totalidadedorecurso”(TJDF,ApelaçãoCívelnoJuizadoEspecial20020110357346/DF,Rel.Luciano

Vasconcellos,DJU,18-11-2002).

No Superior Tribunal de Justiça 491, vale conferir o seu quadro de

jurisprudênciacomparadareferenteàresponsabilidadecivildotransportador:

Page 413: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

ÓRGÃOJULGADOR:3.ªT,4.ªT,2.ªS

A responsabilidade civil do transportador aéreo pelo atraso de voo e pelo

extraviodebagagemoudecargarege-sepeloCódigodeDefesadoConsumidor

seoeventosedeuemsuavigência,afastando-seaindenizaçãotarifadaprevista

naConvençãodeVarsóvia.Aplica-seoprincípiodaresponsabilidadeobjetivae

considera-seabusivaacláusulaqueeventualmentelimitearesponsabilidadedo

fornecedorpelosdanoscausados.

Partindo-se de uma interpretação sistemática, verifica-se que as normas

previstasnoCódigodeDefesadoConsumidorsãodeordempúblicaeinteresse

social,revogando,portanto,alegislaçãoqueprevêindenizaçãorestritivaporato

ilícito 492.

Neste sentido, não se descarta, inclusive, a configuração do instituto de

“acidente de consumo”, quando a prestação de serviços de transporte

aeronáuticogerardanosa terceiros,devendoser aplicadooCDC,conforme já

decidiuoSuperiorTribunaldeJustiça.

Omencionado Decreto n. 5.910, de 27 de setembro de 2006, por sua vez,

passouadisciplinaramatériapormeiodosseguintesdispositivos:

“Artigo21–IndenizaçãoemCasodeMorteouLesõesdosPassageiros

1.Otransportadornãopoderáexcluirnemlimitarsuaresponsabilidade,com

relação aos danos previstos no número 1 do Artigo 17, que não exceda de

100.000DireitosEspeciaisdeSaqueporpassageiro.

2.Otransportadornãoseráresponsávelpelosdanosprevistosnonúmero1do

Artigo17,namedidaemqueexcedade100.000DireitosEspeciaisdeSaquepor

Page 414: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

passageiro,seprovaque:

a) o dano não se deveu a negligência ou a outra ação ou omissão do

transportadoroudeseusprepostos;ou

b) o dano se deveu unicamente a negligência ou a outra ação ou omissão

indevidadeumterceiro.

Artigo22–LimitesdeResponsabilidadeRelativosaoAtrasodaBagageme

daCarga

1. Em caso de dano causado por atraso no transporte de pessoas, como se

especifica noArtigo 19, a responsabilidade do transportador se limita a 4.150

DireitosEspeciaisdeSaqueporpassageiro.

2.Notransportedebagagem,aresponsabilidadedotransportadoremcasode

destruição,perda,avariaouatrasoselimitaa1.000DireitosEspeciaisdeSaque

por passageiro, a menos que o passageiro haja feito ao transportador, ao

entregar-lheabagagemregistrada,umadeclaraçãoespecialdevalordaentrega

destanolugardedestino,etenhapagoumaquantiasuplementar,seforcabível.

Nestecaso,otransportadorestaráobrigadoapagarumasomaquenãoexcederá

ovalordeclarado,amenosqueprovequeestevalorésuperioraovalorrealda

entreganolugardedestino.

3. No transporte de carga, a responsabilidade do transportador em caso de

destruição, perda, avaria ou atraso se limita a uma quantia de 17 Direitos

Especiais de Saque por quilograma, a menos que o expedidor haja feito ao

transportador,aoentregar-lheovolume,umadeclaraçãoespecialdevalordesua

entrega no lugar de destino, e tenha pago uma quantia suplementar, se for

Page 415: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

cabível.Nestecaso,otransportadorestaráobrigadoapagarumaquantiaquenão

excederáovalordeclarado,amenosqueprovequeestevalorésuperioraovalor

realdaentreganolugardedestino.

4.Emcasodedestruição,perda,avariaouatrasodeumapartedacargaoude

qualquer objeto que ela contenha, para determinar a quantia que constitui o

limitederesponsabilidadedotransportador,somenteselevaráemcontaopeso

totaldovolumeouvolumesafetados.Nãoobstante,quandoadestruição,perda,

avariaouatrasodeumapartedacargaoudeumobjetoqueelacontenhaafeteo

valordeoutrosvolumescompreendidosnomesmoconhecimentoaéreo,ouno

mesmoreciboou,senãohouversidoexpedidonenhumdessesdocumentos,nos

registrosconservadosporoutrosmeios,mencionadosnonúmero2doArtigo4,

paradeterminarolimitederesponsabilidadetambémselevaráemcontaopeso

totaldetaisvolumes.

5. As disposições dos números 1 e 2 deste Artigo não se aplicarão se for

provadoqueodanoéresultadodeumaaçãoouomissãodotransportadoroude

seusprepostos,comintençãodecausardano,oudeformatemeráriaesabendo

queprovavelmentecausariadano,sempreque,nocasodeumaaçãoouomissão

deumpreposto,seprovetambémqueesteatuavanoexercíciodesuasfunções.

6.OslimitesprescritosnoArtigo21enesteArtigonãoconstituemobstáculo

paraqueo tribunalconceda,deacordocomsua leinacional,umaquantiaque

corresponda a todo ou parte dos custos e outros gastos que o processo haja

acarretadoaoautor,inclusivejuros.Adisposiçãoanteriornãovigorará,quandoo

valordaindenizaçãoacordada,excluídososcustoseoutrosgastosdoprocesso,

não exceder a quantia que o transportador haja oferecido por escrito ao autor,

Page 416: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

dentrodeumperíododeseismesescontadosapartirdofatoquecausouodano,

ouantesdeiniciaraação,seasegundadataéposterior”.

Este novo regramento revoga as normas anteriores e, em caso de conflito

normativo, deve ser aplicado o princípio da lei mais benéfica para a vítima,

própriodasnormasdeDireitoInternacional493.

E para fecharmos com “chave de ouro” este capítulo, em que nos

preocupamos não apenas em transmitir ao nosso leitor amigo os mais

importantes subsídios doutrinários da matéria, mas, sobretudo, a recente

jurisprudência pátria, confira-se este último julgado, do Supremo Tribunal

Federal,emsededeRE258726/AL,dalavradoMin.SepúlvedaPertence,DJ,

14-6-2002,noqualseassentouaresponsabilidadecivildoEstadopeloacidente

aéreo causado pela omissão fiscalizatória do então Departamento de Aviação

Civil(DAC)494:

“Ementa: Responsabilidade civil do Estado: morte de passageiro em acidente de aviação civil:

caracterização.1.Lavradissensãodoutrináriaepretorianaacercadospressupostosdaresponsabilidade

civil do Estado por omissão (cf. RE 257.761), e da dificuldade muitas vezes acarretada à sua

caracterização,quandooriundadedeficiênciasdofuncionamentodeserviçosdepolíciaadministrativa,

a exemplodos confiados aoDAC—DepartamentodeAviaçãoCivil—, relativamente ao estadode

manutenção das aeronaves das empresas concessionárias do transporte aéreo. 2. No caso, porém, o

acórdãorecorridonãocogitoudeimputaraoDACaomissãonocumprimentodeumsupostodeverde

inspecionartodasasaeronavesnomomentoantecedenteàdecolagemdecadavoo,querazoavelmente

se afirma de cumprimento tecnicamente inviável: o que se verificou, segundo o relatório do próprio

DAC,foiumestadodetalmodoaterradordoaparelhoquebastavaadenunciaraomissãoculposados

deveresmínimosdefiscalização.3.Dequalquersorte,hánoepisódioumacircunstânciaincontroversa,

que dispensa a indagação acerca da falta de fiscalização preventiva, minimamente exigível, do

equipamento:éestaraaeronave,quandodoacidente,sobocomandodeum‘checador’daAeronáutica,

àdeficiênciadecujotreinamentoadequadosedeveu,segundoainstânciaordinária,oretardamentodas

Page 417: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

medidasadequadasàemergênciasurgidanadecolagem,quepoderiamterevitadooresultadofatal”.

Veja-se, pois, o correto entendimento do Supremo, no sentido de

responsabilizar objetivamente o Estado pela desastrosa falha de um dos seus

maisimportantesdepartamentos.

Page 418: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

CapítuloXVIII

ResponsabilidadeCivildoEmpreiteiro,ConstrutoreIncorporador

Sumário:1.Noçõesfundamentais.2.Contratosdeempreitada,construçãoeincorporaçãoimobiliária.3.

Responsabilidade civil do empreiteiro, do construtor e do incorporador. 4. Incidência do Código de

DefesadoConsumidor.5.Responsabilidadetrabalhistanaatividadedeconstruçãocivil.

1.NOÇÕESFUNDAMENTAIS

Conforme bem observa SÍLVIO VENOSA, “a responsabilidade dos

arquitetos, engenheiros, empreiteiros e construtores em geral guarda certas

particularidadesemrelaçãoaosdemaisprofissionaisliberais” 495.

De fato, a atividade dessas pessoas, por sua própria natureza, exigiria

disciplina legaldiferenciada,nãoapenaspelasingularidadedosconhecimentos

técnicos exigidos para a atuação no setor, mas, principalmente, pela

possibilidadedeosdanosporventuraocorrentesgeraremumespectrodeatuação

muitomaiordoqueoobservadonaatividadedeoutrosprofissionais,aexemplo

demédicoseadvogados.

Imagine-se,porexemplo, aquedadeuma lajeemumgrande shopping,por

força da imperícia do engenheiro responsável. Quantas pessoas poderiam, no

Page 419: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

caso,serpotencialmenteatingidas?

Por tais razões, já cuidamos de ressaltar que, em nosso entendimento, a

atividadedessesprofissionaispodeedeveserconsideradadenaturezaperigosa,

emboraasuaresponsabilidadenãosejaobjetiva,porforçadoart.14,§4.°,do

CDC, norma especial, que admite, como regra, apenas a responsabilidade

subjetivaparaosprofissionaisliberais.

Omesmo, todavia, não se poderá dizer da empresa que explora o ramo da

construçãocivil.

Neste caso, tratando-se de pessoa jurídica, não subsumível no conceito de

“profissionalliberal”,asuaresponsabilidadedeveráserconsideradadenatureza

objetiva, por força do risco criado (art. 927, parágrafo único, doCC/2002). E

casoatuenomercadodeconsumo,éopróprioCDCqueconsagraestaespécie

deresponsabilidade,embenefíciodoconsumidor(arts.12es.e18es.).

Antes, porém, de avançarmos em tão apaixonante tema, faz-se necessário

estabeleceralgunsconceitosfundamentais,extraídosdoDireitoContratual.

2.CONTRATOSDEEMPREITADA,CONSTRUÇÃOEINCORPORAÇÃOIMOBILIÁRIA

O setor da construção civil, sem dúvida, representa uma das parcelas mais

fortesdenossaeconomia.

Em excelente síntese, CARLOS ROBERTO GONÇALVES lembra que o

Código de Beviláqua apenas contemplou o contrato de empreitada, embora

atualmenteaexpressão“contratodeconstrução”sejatecnicamentemaisperfeita,

Page 420: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

porcompreenderassuasduasmodalidadesfundamentais 496:

a)aempreitada;e

b)aadministração.

O contrato de empreitada, cuja disciplina é feita pelos arts. 610 a 626 do

CC/2002, éonegócio jurídicopeloqualumadaspartes (empreiteiro) assume,

mediante o pagamento de um preço, a obrigação de realizar uma obra de

interessedeoutra (donodaobra),utilizandomateriaispróprios (empreitadade

materiais)ouapenasasuaforçadetrabalho(empreitadadelavor) 497.

O empreiteiro de construção, por sua vez, realiza obras de tamanho

considerável,segundoumprojetoespecificadoepropostopelooutrocontratante,

responsabilizando-setecnicamenteporsuaexecuçãoeriscos.

Jánocontratodeconstruçãoporadministração,oconstrutorobriga-seapenas

a realizar a obra, correndo por conta do proprietário os riscos inerentes ao

empreendimento, ficando os custos sob a sua exclusiva responsabilidade 498.

Note-seque,nestecaso,adespeitodenãohaversubordinaçãohierárquicaentre

o contratante e o construtor, este último tem menor liberdade de atuação, na

medida em que depende dos recursos financeiros da outra parte para ir

realizando a obra. Em linguagem mais coloquial, diríamos que o construtor

dependedocapitalinjetadoparair“tocandoaobra”.

Outroimportantecontratocorrelatoquemereceaindaanossaatençãoéode

incorporaçãoimobiliária.

Neste negócio jurídico, o incorporador obriga-se a construir unidades

imobiliárias, que serão repassadas aos adquirentes, na medida em que estes

Page 421: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

pagamovalorcorrespondenteconvencionado.

Em precisa definição, MELHIM CHALHUB, após ressaltar a natureza

complexadestecontrato,prelecionaque:“considera-seincorporaçãoimobiliária

onegócio jurídicopeloqual o incorporador se obriga a realizar, por si oupor

terceiros, a construção de unidades imobiliárias em edificação coletiva e, bem

assim, a transmitir a propriedade dessas unidades aos respectivos adquirentes,

firmando os respectivos contratos durante a construção; em contrapartida,

obrigam-seosadquirentesapagaropreçodasunidadesquesecomprometeram

aadquirir” 499.

Trata-sedeumafigurajurídicacomplexa,queaproximatrêspessoas:

a)oconstrutor;

b)oincorporador;

c)oadquirente.

Muito comum, aliás, haver a intervenção de uma instituição que realize o

financiamentodaobra.

A disciplina básica deste contrato continua sendo feita pela Lei n.

4.591/64 500.

Falaremos mais sobre estes temas em nosso próximo volume, dedicado ao

DireitodosContratos.

3.RESPONSABILIDADECIVILDOEMPREITEIRO,DOCONSTRUTOREDOINCORPORADOR

Feitas tais observações iniciais, passaremos a enfrentar especificamente o

Page 422: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

objetodenossocapítulo.

Aresponsabilidadecivildoempreiteiroedoconstrutoreradisciplinadapelo

art.1.245doCódigode1916,nosseguintestermos:

“Art.1.245.Noscontratosdeempreitadadeedifíciosououtrasconstruçõesconsideráveis,oempreiteiro

demateriaiseexecuçãoresponderá,durante5(cinco)anos,pelasolidezesegurançadotrabalho,assim

em razão dosmateriais, como do solo, exceto, quanto a este, se, não o achando firme, preveniu em

tempoodonodaobra”.

Trata-sedeartigocujahermenêuticadeveser feitacomcuidado,paraqueo

intérpretenãosejaconduzidoaoabsurdo.

Consoante se depreende da primeira parte do dispositivo, esta regra de

responsabilidadeaplicar-se-iaaoscontratosdeconstruçãoeempreitadaemque

háempregodemateriais,porpartedoconstrutorouempreiteiro.

Segundo a dicção legal, o responsável pela execução da obra responderá,

duranteoprazodecincoanos,pelasolidezesegurançado trabalho,assimem

razãodosmateriaisquantodosolo.

Em relação ao solo, a última parte da regra ressalva, absurdamente, a

responsabilidadeprofissional, casoo construtor ou empreiteiro, nãoo achando

firme, avise em tempo o dono da obra. Ora, caso não constate a necessária

segurança do solo, por razões óbvias e humanitárias, o responsável pela obra

deve suspender imediatamente a sua execução, e não simplesmente avisar ao

donodaobra,umavezque, aindaqueonotifique, será responsabilizadocivil,

administrativaoucriminalmente,peloacidentecausado 501.

Comentando esta circunstância, anota, com precisão, MARIA HELENA

DINIZ:“Éprecisoressaltarqueemrelaçãoàestabilidadedosolo,oart.1.245

Page 423: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

do Código Civil de 1916, ‘in fine’, responsabilizava o comitente, quando o

construtor o preveniu em tempo sobre a sua instabilidade. Mas devido às

exigências de ordem técnica e à responsabilidade do empreiteiro em todas as

fases da construção, previstas na Lei Federal n. 5.194/66, aquele artigo do

Códigonãomaisatendeaostemposatuais;porserodonodaobra,geralmente,

um leigo, não tendo capacidade nem condições técnicas para opinar sobre a

firmezadosolo,cabendotalcompetênciaaosprofissionaislegaletecnicamente

habilitados” 502.

Anormatememmira,pois,eventuaisdefeitosqueinterfiramnaestruturada

obra(paredemalfirmada,vigadefeituosa),afetandoasuasolidezesegurança,e

não meros vícios que prejudiquem a sua cômoda utilização ou simplesmente

diminuama sua economicidade (janela desalinhada), para os quais a lei prevê

regrasespecíficasreferentesaosvíciosredibitórios.

Valeobservar,ainda,queesteprazoquinquenalnãoénemseconfundecomo

prescricional para se deduzir a pretensão indenizatória em juízo, por consistir,

tão somente, em um prazo legal de garantia pela solidez e segurança da obra

realizada.Valedizer:ocorridoodanodentrodestelapsotemporal(imaginequea

marquiseruiu),oadquirenteaindateráoprazoprescricionalgeralparaexigira

indenizaçãocabível 503.

Nesse sentido, o entendimento da jurisprudência pátria, mesmo antes da

entradaemvigordoatualCódigoCivil:

“ResponsabilidadecivildoincorporadoreconstrutorfrenteaoCondomínio.Defeitosocultosdaobra.

Prescriçãovintenária.Termo inicial.Tratando-se de vícios ocultos, resultantes da própria construção,

queafetamaspartescomunsdoedifício,érazoáveladecisãoqueconsideracomotermoinicialparaa

Page 424: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

contagemdolapsoprescricionaladatado‘habite-se’,nãoprevalecendoadatadaeventualentregadas

unidades,especialmentesenãoháprovasdaentregadetodoocomplexoedificadoaseusproprietários,

anteriormente.Ajuizadaaaçãoantesdecompletadooprazodevinteanos,aplicávelàhipótese,segundo

aregradoart.177doCódigoCivil,torna-sedesinfluentequeascitaçõestenhamseformalizadoapós

esta data, não se podendo imputar a demora à parte autora (art. 219, §§ 1.º e 2.º, do CPC). Não

configuracerceamentodedefesaofatodeoperitoseposicionardeformadivergentedatesedefendida

pelaparte,respondendo,emrazãodisto,aquesitoformuladoporelasemaabrangênciapretendida,por

considerá-loimpertinenteàsconclusõestécnicasdolaudo.Seaprovatécnicanãoapontaarelaçãode

causalidadeentreosdanosalegadoseoatoilícitopraticado,nãorespondeaconstrutorapelareposição

detubulaçõesdesgastadaspelotempoepelouso,devendosuaresponsabilidadeselimitaràreparação

dosdefeitosconstrutivos,quecausamriscosàsegurançadosmoradores.Seasdemandadasderamcausa

objetivamenteinjurídicaaoprocesso,decaindoautordepartemínimadeseupedido,devemresponder

pelosencargosdasucumbência,aindaqueaprocedênciatenhasidoparcial.Recursodoautorprovido,

emparte,negando-seprovimentoaodaré”(TJRJ,Ap.Cível2002.001.15732,1.ªCâmaraCível,Rel.

Des.FernandoCabral,julgadoem22-10-2002).

“Responsabilidade civil. Defeito de construção. Ilegitimidade passiva do promitente vendedor.

Pretensãoindenizatóriafundadaemdefeitodeconstrução.Prescriçãovintenária.Súmula194doSTJ.I

—Osautorespedemindenizaçõespelosdanosmateriaisemorais,alegandodefeitosnaconstruçãoda

casa de veraneio. O fato de o primeiro réu ser promitente vendedor do imóvel, juntamente com a

mulher, que é arquiteta e responsável técnica pela obra, não o legitima a responder pelos eventuais

prejuízosdospromitentescompradores.Extinçãoporilegitimidadepassivaconfirmada.II—Opedido

indenizatório decorre de responsabilidade civil do construtor. Não pede reparação pelos vícios

redibitóriosourescisãodocontrato.Incidênciadoartigo1.245doCódigoCivil,cujaprescrição,porser

direitopessoal,évintenária.AplicaçãodaSúmula194daCorteNacional.III—Agravonãoprovido,

confirmando-se o saneador” (TJRJ,Agravode Instrumento2002.002.15023, 10.ªCâmaraCível,Rel.

Des.BernardoGarcez,julgadoem15-10-2002).

“Direito constitucional, civil eprocessual civil—Recursosde apelação—Açãode indenizaçãopor

danos morais em virtude de falecimento decorrente de acidente ocorrido em imóvel residencial —

Preliminardeilegitimidadepassiva‘adcausam’dasempresasconstrutorasafastada—Mérito:pedido

dejulgamentodoagravoretidointerposto:coisajulgada—Nãoconhecimento—Critériosdefixação

do ‘quantum’ reparatório — Razoabilidade do valor atribuído — Correção monetária e juros

moratórios:termoinicial—Honoráriosadvocatícios:ausênciadesucumbênciarecíproca—Recursos

Page 425: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

conhecidosedesprovidosàunanimidade.I—Nãohásefalaremilegitimidadepassiva‘adcausam’das

empresasdeconstruçãocivilanteaalegaçãodeprescrição,poisoprazoprescricionalprevistonoartigo

1.245doCódigoCivil refere-se àgarantia assegurada aoproprietáriodaobra, não incidindo sobre a

açãodereparaçãodedanos,naformadodispostonoart.177daquelemesmodiploma.II—Nãodeve

serconhecidoopedidodenovojulgamentoaagravoretidoseestejáfoiobjetodeanálisepelacolenda

Turmaque,pordecisãounânime,oproveuparcialmenteedeterminouoretornodosautosàinstânciade

origemcomvistas a incluir nopolopassivodademanda empresa corresponsável pela construçãodo

edifício residencial. III—Nafixaçãodo‘quantum’reparatório,a títulodedanosmorais,deveo juiz

levar em consideração, basicamente, as circunstâncias do caso, a gravidade do dano e a ideia de

sancionamento do ofensor, como forma de obstar a reiteração de casos futuros, bem assim a sua

naturezacompensatórianoterrenodasafliçõeshumanas.Atendênciahodierna,emtermosdereparação

civildedanos,épelarazoabilidadedacondenação,masemtodosossentidos.Seovaloratribuídona

sentençaseapresentacompatívelcomessesparâmetros,devesermantido.IV—Noscasosde ilícito

contratual, a correçãomonetária incidirá desde a data do evento danoso e os jurosmoratórios serão

devidosacontardacitação,conformeentendimentopacificadonocolendoSuperiorTribunaldeJustiça

(Súmula43doSTJ).V—Acondenaçãodoréuemvalorinferioraopostuladopeloautornãoconfigura,

em regra, na ação de indenização por danos morais, a sucumbência recíproca, sujeitando-se os

honoráriosadvocatíciosàprevisãolegaldoart.20,§3.º,enãoàdoart.21doCódex.Precedentesdo

colendo STJ e deste egrégio Tribunal. VI — Recursos de apelação conhecidos e desprovidos à

unanimidade”(TJDF,Ap.Cíveln.20020150058260-DF,Acórdãon.167.206,julgadoem11-11-2002,

3.ªTurmaCível,Rel.WellingtonMedeiros,DJU,12-2-2003,p.44).

“Processocivil.Carênciadaaçãodecretada.Irrelevânciadonomecomquebatizouoautoraaçãoedos

dispositivos legais indicados como fundamento do pedido. Moderna e irreversível tendência do

processo civil: instrumento de realização da justiça. Carência e prescrição afastadas. A tendência

moderna do processo é de que sirva de instrumento para a realização da justiça, aproveitando-se,

sempre,oqueresultardaexposiçãodoautor,desprezando-seequívocosnanomenclaturadaaçãoena

indicaçãodosdispositivos legais.Os fatosnarradosna inicial éque relevam.O juiz, aoqualificaros

fatos trazidos ao seu conhecimento pelas partes, não fica adstrito aos fundamentos legais por elas

invocados. Consagração dos brocardos ‘jura novit curia’ e ‘da mihi factum dabo tibi jus’. Não era

necessário que o autor anunciasse que se tratava de ação de indenização fundada no art. 1.245 do

CódigoCivil.Suficientesosfatos,cujoenquadramentojurídicocabeaojulgador.Oprazodecincoanos

do art. 1.245 do Código Civil é de garantia, não de prescrição, não tendo sido, de qualquer modo,

ultrapassadonocaso.Apeloprovido.Sentençaanulada, afastadasacarênciadecretadaeaprescrição

Page 426: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

levantadaemsegundograu”(TJDF,Ap.Cíveln.5151199-DF,Acórdãon.133.332,julgadoem23-10-

2000,4.ªTurmaCível,Rel.Des.MarioMachado,DJU,7-2-2001,p.35).

“Responsabilidadecivil.Construtor.Prescrição.Prazodegarantia. Indenização.1—Naapuraçãoda

responsabilidadedoconstrutorporeventuaisdefeitosnaobra,oprazodegarantiaéde5anos,apartir

dadatadeentrega,sendoqueodeindenizaçãoéovintenário—art.177doCC—,econta-sedesdea

constataçãodosdanos.2—Defeitosconstrutivosdetectadosemprédioresidencial—Apartamentode

cobertura. Dano material. Pedido não especificado e corretamente veiculado pela parte. Pretensão

corretamente desacolhida. Denunciação da lide. Direito de regresso. Inexistência. Descabimento. A

denunciação da lide somente tem cabimento, na hipótese do art. 70, III, doCPC, se a obrigação de

indenizarestáprevistanaleiounocontrato.Direitoderegressoindemonstrado,nãoservindoasimples

alusão ao art. 159 do CC, denotando-se incabível introduzir nos autos uma nova demanda entre

denunciante e denunciado. Decisão que acolheu a denunciação reformada. Apelo do autor e da ré

improvidos. Recurso adesivo provido” (Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Ap. Cível

70003633336,10.ªCâmaraCível,Rel.Des.PauloAntônioKretzmann,julgadoem28-11-2002).

“Apelação cível. Responsabilidade civil. Vício construtivo. Infiltrações em cobertura. Prazo de

reclamação.Aresponsabilidadedoconstrutor,noscincoanosseguintesàentregadaobra,éobjetiva,em

vistadochamadoprazodegarantia,oque,noentanto,nãofazprescreveraação,antesdevinteanos,

parahaverindenizaçãoporperdasedanos.Súmula194,doSTJ.Dequalquersorte,aaçãofoiintentada

noprazodegarantia.Comprovadasasinfiltrações,queseabarcamnoconceitodesolidezesegurança,

sendo inexitosos os reparos realizados pela ré, legítima a atitude da parte autora de reunir três

orçamentoseexecutarosserviçospelomenordeles,buscando reembolsodaconstrutora responsável.

Negaramprovimento”(TribunaldeJustiçadoRioGrandedoSul,Ap.Cível70003769130,2.ªCâmara

EspecialCível,Rel.Des.MarileneBonzaniniBernardi,julgadoem28-10-2002).

“Responsabilidadecivil.Danosconstrutivos.Responsabilidadedoconstrutorpelosdanosconstrutivos

doimóvelverificadosnoquinquênioquesegueaentregadaobra.Danosmorais.Segundooart.1.245

doCódigoCivil,oconstrutorrespondepelasolidezesegurançadaobra,cabendo-lherepararosdefeitos

deconstruçãodoprédioporeleconstruído,constatadosnoprazodecincoanosdaentregadaobra,não

odesobrigandodesseônusacartadehabitaçãoexpedidapelopoderpúblicomunicipal.Deoutrolado,

nãodáensejoadanosmoraisanegativadoconstrutordereparardanosconstrutivos,mormentequando

se julgacredordaproprietáriado imóvel,dedeterminadaquantiaquealega terdesembolsadocoma

comprademateriaisquenãoeramdesuaalçada.Apeloparcialmenteprovido”(TribunaldeJustiçado

RioGrande doSul,Ap.Cível 70005076864, 5.ªCâmaraCível,Rel.Des.MarcoAurélio dosSantos

Page 427: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Caminha,julgadoem24-10-2002).

“Direitocivil.Responsabilidadedoconstrutor.Prescrição.Nãoseaplicamaoscontratosdeempreitada

deedifíciososprazosprescricionaisdosartigos178,parágrafo5.º,incisoIV,doCódigoCivil,e26da

Lei8.078/90.Incidênciadosartigos1.245e1.246doCódigoCiviledaSúmula194doSTJ.Sentença

desconstituídadeofício.Prejudicadooexamedaapelação”(TribunaldeJustiçadoRioGrandedoSul,

Ap.Cível70003514106,5.ªCâmaraCível,Rel.Des.AnaMariaNedelScalzilli,julgadoem21-2-2002).

“Edifício de apartamentos. Defeitos. Responsabilidade do construtor. Prescrição. Não se tratando de

víciosredibitórios,areparaçãodosdanospodeserreclamadanoprazovintenário.PrecedentesdoSTJ.

Nãoacolhimentodaspreliminaressuscitadasemcontestação.Decisãoproferidaquandodosaneamento

da causa mantida. Recurso especial não conhecido” (STJ, REsp 23.672/PR; REsp 1992/0015067-5,

julgadoem13-6-1995,4.ªTurma,Rel.Min.BarrosMonteiro).

“Empreitada de construção de edifício em condomínio. Aplicação do artigo 1.245 do Código Civil.

Garantiaquinquenal.Prazoprescricionalvintenário.Oart.1.245doCódigoCivil—prazoquinquenal

de garantia—deve ser interpretado e aplicado tendo em vista as realidades da construção civil nos

temposatuais.Defeitosdecorrentesdomauadimplementodocontratodeconstrução,eprejudiciaisà

utilizaçãodasunidadesdemoradia,nãoconstituemvíciosredibitórios,esuareparaçãopodeserexigida

noprazovintenário.Nãoincidênciadoart.178,par.5,IV,doCódigoCivilaoscasosemqueodefeito

nacoisaimóvelnãosecaracterizacomovícioredibitório.Recursoespecialconhecidopelaalínea‘c’,

masnãoprovido”(STJ,REsp32.676/SP;REsp1993/0005571-2,Rel.Min.AthosCarneiro,Relatorp/

acórdãoMin.FontesdeAlencar,julgadoem9-8-1993,4.ªTurma).

Interessante notar que, se a obra houvesse sido adquirida diretamente pelo

consumidor—note-sequemuitasempresasdeconstruçãoatuamnomercadode

consumovendendoasunidadeshabitacionaisaoadquirente,semintermediários

—, a seguinte situação poderia apresentar-se ao juiz: segundo o Código de

DefesadoConsumidor,oprazoprescricionalparaexigirareparaçãocivilseria

de cinco anos (art. 27); por outro lado, se o adquirente não fosse considerado

consumidor,oprazoseriaodopróprioCódigoCivilde1916,devinteanos(art.

177).

Page 428: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Em nosso entendimento, seguindo a diretriz traçada pela Constituição da

República, que erige a defesa do consumidor à categoria de princípio

fundamentaldaordemeconômica(art.170,V),sustentávamosque,mesmopara

oconsumidor, oprazopara apostulaçãoda reparaçãoem juízodeveria serde

vinteanos,previstopeloCódigoCivil,porsetratardeleimaisbenéfica.

ComaentradaemvigordoatualCódigo,estadiscussãoperdeuimportância,

namedidaemque,nostermosdoseuart.206,§3.°,V,oprazoprescricionalda

pretensãoreparatóriacaiuparatrêsanos,demaneiraqueaaplicaçãodoprazode

cinco,previstonoart.27doCDC,afigura-se,atualmente,maisrazoávelejusto

paraoconsumidor.

E,finalmente,comoestádisciplinadaaresponsabilidadecivildoempreiteiroe

doconstrutornoCC/2002?

Sobreamatéria,dispõeoart.618:

“Art618.Noscontratosdeempreitadadeedifíciosououtrasconstruçõesconsideráveis,oempreiteiro

demateriaiseexecuçãoresponderá,duranteoprazoirredutíveldecincoanos,pelasolidezesegurança

dotrabalho,assimemrazãodosmateriais,comodosolo.

Parágrafoúnico.Decairá dodireito asseguradoneste artigoodonodaobraquenãopropuser a ação

contraoempreiteiro,noscentoeoitentadiasseguintesaoaparecimentodovíciooudefeito”.

Aprimeirapartedoartigo,muitosemelhanteaodispositivorevogado,corrige

aatecniaanteriorporjánãoconteraisençãoderesponsabilidadedoempreiteiro

ouconstrutorque,nãotendoachadoosolofirme,hajaavisadoemtempoodono

daobra.

Masseolegisladorparasseporaíseriaótimo.

Dando sequência ao nosso esforço interpretativo, deparamo-nos com um

Page 429: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

confusoparágrafoúnico.

Interpretando-oemconsonânciacomocaput,aimpressãoquesetemédeque

oprazoparapleitear reparaçãopeloprejuízo resultantededefeitode solideze

segurançaquedariaextintosenãofosseexercidoemcentoeoitentadias.

Absurdo!

Odilatadoprazodevinteanosteriasidopulverizadoamíseroscentoeoitenta

dias?

Ademais,aexpressão“decairá”nãoseriatécnica,namedidaemque,casose

pretendesse formular pretensão reparatória (imagine que o teto ruiu e feriu o

dono da obra), o correto seria “prescreverá”, uma vez que a pretensão de

reparaçãociviléformuladaemsededeaçãocondenatória 504.

Como então poderíamos interpretar este artigo, para que ele não quedasse

ineficaz?

Bem, em nosso sentir, o prazo previsto no parágrafo único deste artigo

concerne apenas a eventuais vícios de qualidade que prejudiquem a economi-

cidadeouautilizaçãodaobra realizada.Ou seja,odonodaobra teráoprazo

decadencialdecentoeoitentadiaspararedibirocontrato,rejeitandoaobra,ou,

eventualmente, pleitear o abatimento no preço, caso constate qualquer defeito

destanatureza.Trata-se,pois,de regraespecífica,queprevaleceriaem faceda

previstanoart.445doCódigoCivil,referenteaosvíciosredibitóriosemgeral.

Registre-se, porém,queo termo inicialde tal prazonão se identifica coma

celebração do negócio jurídico, mas sim com a manifestação do vício ou

defeito 505.

Page 430: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Se,entretanto,tiverhavidodanoprovenientedefalhanaestruturadaobra,por

defeito de segurança ou solidez, o direito de pleitear a reparaçãoporperdas e

danospoderá serpostuladonoprazoprescricionalgeral de três (CC)ou cinco

anos(CDC),comovistoacima,casosecuideounãoderelaçãodeconsumo.

Aúnicaadvertênciaquefazemoséaimpossibilidadedesustentarqueoprazo

seja vintenário, considerando a não adoção deste lapso temporal noCC/2002,

cujoprazomáximodaprescriçãoliberatóriaédedezanos.

Emboracitando jurisprudênciaanterioraoCC/2002,cujaadmissibilidadedo

prazo geral de vinte anos ainda era possível, JONES FIGUEIRÊDO ALVES

chegaaconclusãosemelhante,nosseguintestermos:

“Oparágrafoúnicotemconsonânciacomo§1.ºdoart.445,notocanteaosvíciosredibitórios,como

prazodecadencial,contadodomomentoemquedelestiverciênciaocomitenteouterceiroadquirente

dacoisaempreitada.Noentanto,ajurisprudênciatemefetuadosólidaeponderadadistinção,aacentuar

osentidodanorma,senãovejamosojulgadoparadigmaseguinte:‘prazoquinquenaldegarantiadeve

serinterpretadoeaplicadotendoemvistaasrealidadesdaconstruçãocivilnostemposatuais.Defeitos

decorrentesdomauadimplementodocontratodeconstrução,eprejudiciaisàutilizaçãodasunidadesde

moradia,nãoconstituemvíciosredibitórios,esuareparaçãopodeserexigidanoprazovintenário.Não

incidênciadoart.178,§5.º,IV,doCódigoCivilaoscasosemqueodefeito,nacoisaimóvel,nãose

caracteriza como vício redibitório’” (STJ, 4. T., REsp 32.676-SP,Rel. p/Acórdão oMin. Fontes de

Alencar,DJ,16-5-1994) 506.

Note-se,emconclusão,queoprazoprevistonoparágrafoúnicodoartigosob

comentonãosedirigeapretensõesindenizatóriasemgeral.

Finalmente,devemosenfrentaratemáticareferenteàresponsabilidadecivildo

incorporador.

ConformebemadverteMELHIMCHALHUB,“aLein. 4.591/64 impõeao

Page 431: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

incorporadora responsabilidadecivil ‘pelaexecuçãoda incorporação,devendo

indenizarosadquirentesoucompromissáriosdosprejuízosqueaestesadvierem

do fato de não se concluir a edificação, oude se retardar injustificadamente a

conclusãodasobras...”(art.43,II) 507.

Ora, além da responsabilidade contratual que deflui manifesta do atraso na

entregadaobra,cumpre-nosindagarseoincorporadorresponderiatambémpor

eventuaisdanosprovenientesdefalhasnaestruturadaconstrução.

Emnossoentendimento,ofatodeodanoprovirdefalhanaexecuçãodaobra

nãoeximeoincorporadorderesponsabilidade,porhavercontratadoosserviços

daconstrutoraouempreiteira,aseucritério.

Emabonodesteentendimento,invocamosoart.942doCC/2002,queprevêa

responsabilidadecivilsolidáriadetodososagentesquehajamconcorridoparao

dano:

“Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à

reparaçãododanocausado;e,seaofensativermaisdeumautor,todosresponderãosolidariamentepela

reparação.

Parágrafoúnico.Sãosolidariamenteresponsáveiscomosautoresosco-autoreseaspessoasdesignadas

noart.932”.

Desse nosso entendimento não discrepa o ilustradoCAVALIERI, consoante

podemosobservardoseguintetrechodesuaclássicaobra:

“Oincorporadorcontinuaresponsávelporqueéocontratante.Respondetambémoconstrutor,porqueé

o causador direto do dano, e tem responsabilidade legal, de ordem pública, de garantir a solidez e

segurançadaobraembenefíciodoseudonoedaincolumidadecoletiva,conformejádemonstrado.

Pondere-se, ainda, que o fim do contrato de incorporação é a edificação e esta pertence, real e

efetivamente,aosadquirentesdeunidadesautônomaseaocondomínio.Tantoéassimque,seaobranão

Page 432: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

é executada a contento, ou completamente, quem sofre os prejuízos, direta e imediatamente, são os

adquirentesdasunidadesautônomas,enãooincorporador.

Destaforma,quandooincorporadorcelebracontratocomoconstrutor,nadamaisfazdoqueestender-

lheasuaobrigação,passandoambosaserresponsáveispelaconstrução.Oincorporador,narealidade,

estáapenassefazendosubstituirpeloconstrutor” 508.

Aliás,casooincorporadoratuenomercadodeconsumo(alienandounidades

habitacionaisparadestinatáriosfinais/consumidores),maisfácilaindaseráasua

responsabilização com fulcro nas regras do Código de Defesa do

Consumidor 509.

4.INCIDÊNCIADOCÓDIGODEDEFESADOCONSUMIDOR

Conforme vimos no Capítulo XVI, o Código do Consumidor, ao definir o

fornecedor, em seu art. 3.º, cuidou de referir, expressamente, a atividade do

construtor:

“Art.3.ºFornecedorétodapessoafísicaoujurídica,públicaouprivada,nacionalouestrangeira,bem

como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação,

construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou

prestaçãodeserviços.

(...)

§2.ºServiçoéqualqueratividadefornecidanomercadodeconsumo,medianteremuneração,inclusive

asdenaturezabancária,financeira,decréditoesecuritária,salvoasdecorrentesdasrelaçõesdecaráter

trabalhista”(grifonosso).

Por tal razão, caso o aplicador do direito verifique que a referida atividade,

incluindo-se também a de incorporação imobiliária, dirige-se a adquirentes

enquadráveisnacategoriade“destinatários finaisdo serviçodeconstrução”, a

incidênciadaLeidoConsumidornãopodeserafastada.

Page 433: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Issosignificaqueosinúmerosinstrumentosjurídicosdeproteçãoprevistosna

referida lei, a exemplo da responsabilidade objetiva do agente econômico 510,

inversão do ônus da prova, aplicação do sistema de cláusulas abusivas, a

interpretaçãomaisfavorávelaocontratante/aderente—apenasparacitarosmais

comuns—sãoperfeitamenteaplicáveis.

Alémdisso,visualizadaarelaçãodeconsumo,avinculaçãodoconstrutorou

empreiteiro ao incorporador passa a se revestir de coloraçãomais intensa, na

medidaemquea responsabilidadecivil serásempresolidária,vedada, lembre-

se, a denunciação da lide, para que não haja prejuízo de ordemprocessual ao

demandante(consumidor).

Na jurisprudência, em inúmeros julgados referentes à responsabilidade civil

doconstrutor,vemosaaplicaçãoderegrasdoCDC:

“Ação de indenização. Reparos a imóvel. Falhas na construção. Responsabilidade solidária entre

incorporadora e construtora. C. de Defesa do Consumidor. Honorários de advogado. Sentença

confirmada. Ação indenizatória. Condena-se a construtora-incorporadora na reparação de falhas e

defeitos de acabamento, incompatíveis com o alto padrão do edifício. Aplica-se a lei civil e CDC.

Sentençaconfirmada,nomérito,providoapeloautoralparafixarverbahonorária,improvidoorecurso

da ré” (TJRJ,Ap.Cível 2002.001.19112, data de registro: 25-10-2002, 17.ªCâmaraCível,Rel.Des.

SeverianoIgnacioAragão,julgadoem25-9-2002).

“Contrato de construção. Compra e venda de imóvel. Vaga de garagem. Pagamento. Restituição do

preço pago a maior. C. de Defesa do Consumidor. Recurso desprovido. Contrato de construção e

compraevenda.Alienaçãodeapartamentocomdireitoaduasvagasdegaragem.Pagamentodepreço

porfraçãoidealcorrespondenteatrêsvagas.Devoluçãodadiferençadopreço.CDC,arts.3.º,6.º,III,

12 e 19, I. Constando da escritura de compra e venda metragem correspondente a três vagas de

garagem, mas tendo sido alienadas apenas duas vagas, a construtora vendedora deve restituir ao

comprador a diferença de preço entre as frações ideais correspondentes a teor dos artigos do CDC

destacados. Apelo desprovido” (TJRJ, Ap. Cível 2002.001.05367, data de registro: 29-8-2002, 2.ª

CâmaraCível,Rel.Des.GustavoKuhlLeite,julgadoem29-5-2002).

Page 434: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

“Direitoimobiliário.Promessadecompraevendaeconstrução.Atrasonaentregadaunidade.Motivo

injustificado.Cláusulasabusivas.Nostermosdoart.51,I,IV,§1.º,doCDCsãoabusivasascláusulas

queexoneremaconstrutoradeatenderoprazofixadonocontratosesedeparacomaimpossibilidade

oudemoranaobtençãodofinanciamentojuntoaoagentefinanceiro,oquelhepermiteprolongaraobra

atéquesejaobtidoofinanciamentoou,casonãoseconsiga,pelotempoquefornecessáriosegundoas

condições financeiras da construtora. Neste passo, estas cláusulas exonerativas de quaisquer

responsabilidades,sóporsi,ofendemasregrasacimaressaltadasdoCDCesãoineficazesdiantedos

promitentescompradores.Aculpapeloatrasonaentregaconduzarescisãodocontratocomadevolução

dasquantiaspagas,acrescidasdejuroslegais(art.1.062,CC).Emsetratandodedescumprimentode

contrato, emgeral, incabível o danomoral, salvo circunstâncias especialíssimas que não ocorremna

espécie.Porestarazão,concede-separcialprovimentoaorecursodaconstrutoraparaseexcluirodano

moral.Multasóédevidaemcasodemora,masnãoemcasodeinadimplemento.Tendosidojulgado

procedente o pedido principal, efetivamente, restou sem efeito a cautelar, de modo que não houve

sucumbência,devendo,assim,cadaparte suportar suasdespesas,compensando-separcialprovimento

ao recurso dos autores” (TJRJ, Ap. Cível 2001.001.24074, data de registro: 24-4-2002, 2.ª Câmara

Cível,Rel.Des.GustavoKuhlLeite,julgadoem6-3-2002).

5.RESPONSABILIDADETRABALHISTANAATIVIDADEDECONSTRUÇÃOCIVIL

Apenas para encerrar este capítulo com algo pouco trabalhado pelos

doutrinadoresdeDireitoCivil,valeteceralgumasrápidasconsideraçõessobrea

responsabilidadetrabalhistanaatividadedeconstruçãocivil.

Isso porque é óbvio que, para a realização de atividades de tal monta, é

necessáriaacontrataçãodetrabalhadores.

Aresponsabilidadepeloscréditosdecadaumdosoperáriosé,originalmente,

sem sombra de dúvida, de seus empregadores, sejam eles o empreiteiro (ou

subempreiteiro),oconstrutorouoincorporador.

Todavia,alegislaçãoprotetoratrabalhistaampliaagamaderesponsabilidade,

Page 435: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

nãosomenteparaqueméosujeitopassivodarelaçãojurídicaobrigacional,mas

tambémcriandohipóteses de solidariedade/subsidiariedade, típicos de situação

deobligatiosemdebitum.

É o caso do art. 455 daConsolidação dasLeis doTrabalho, que dispõe, in

verbis:

“Art.455.Noscontratosdesubempreitadaresponderáosubempreiteiropelasobrigaçõesderivadasdo

contratodetrabalhoquecelebrar,cabendo,todavia,aosempregados,odireitodereclamaçãocontrao

empreiteiroprincipalpeloinadimplementodaquelasobrigaçõesporpartedoprimeiro.

Parágrafoúnico.Aoempreiteiroprincipalficaressalvada,nostermosdaleicivil,açãoregressivacontra

osubempreiteiroearetençãodeimportânciasaestesdevidas,paraagarantiadasobrigaçõesprevistas

nesteartigo”.

O campo de extensão da responsabilidade civil contratual é, portanto, entre

aqueles que atuam na construção propriamente dita da obra (construtor e

empreiteiro,nesteabarcadoosubempreiteiro).

Mas e a incorporadora? Responde também pelos débitos trabalhistas do

subempreiteiroempregador?Eodonodaobra,casonãosejajuridicamenteum

incorporador?

Arespostadajurisprudênciatrabalhistaespecializadaénegativa,casosejaela

meradonadaobra.

Isso porque, não se tratando propriamente de subempreitada, não há como

invocar o art. 455 da Consolidação das Leis do Trabalho. Da mesma forma,

sendoumaprestaçãodeserviçosporumaobracerta,tambémnãoháquesefalar

em terceirização, a incidir o Enunciado 331 do colendo Tribunal Superior do

Trabalho.

Page 436: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Todavia,seexplorareconomicamenteaatividadedeincorporadorimobiliário,

responderá,também,solidariamente.

Assim sendo, a incidência normativa adequada é a contida na Orientação

Jurisprudencial n. 191, daSeção deDissídios Individuais do colendoTribunal

SuperiordoTrabalho,inseridaem8-11-2000,queestabelece:

“Donodaobra.Responsabilidade.Dianteda inexistênciadeprevisão legal, o contratode empreitada

entreodonodaobraeoempreiteironãoensejaresponsabilidadesolidáriaousubsidiárianasobrigações

trabalhistas contraídas pelo empreiteiro, salvo sendo o dono da obra uma empresa construtora ou

incorporadora”.

Page 437: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

CapítuloXIX

ResponsabilidadeCivildasInstituiçõesFinanceiras

Sumário: 1. Esclarecimento terminológico. 2. Perspectivas de análise da responsabilidade civil. 2.1.

Responsabilidade civil em face dos seus agentes. 2.2. Responsabilidade civil em face dos seus

clientes/consumidores. 2.2.1. Responsabilidade civil pelo pagamento de cheque falso. 2.2.2.

Responsabilidade civil pelo furto ou roubo dos bens depositados em cofres bancários. 2.3.

Responsabilidadecivilemfacedeterceiros.

1.ESCLARECIMENTOTERMINOLÓGICO

O nosso leitor amigo pode estar se perguntando por que não intitulamos o

presentecapítulo“responsabilidadecivildosbancos”.

Omotivoésimples:apurotécnico.

A expressão “banco”, nos dias que correm, perdeu espaço para a expressão

“instituição financeira”, mais abrangente e precisa, por caracterizar esta não

apenas os estabelecimentos que gerenciam a guarda e o depósito de valores

(bancos, na acepção tradicional), mas, sobretudo, por traduzir a ideia de

instituiçãodecrédito.

Nessesentido,ocultoprofessorARNOLDOWALD:

Page 438: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

“Na realidade, o banco moderno não se restringe a recolher as economias monetárias dos que lhas

confiam,paraemprestá-las,atravésdomútuodedinheiro,aosseusclientes,comoocorrianopassado.

Atualmente,oconceitodebancofoisubstituídooucomplementadopelodeinstituiçãofinanceira,ouaté

de conglomerado financeiro, cuja função no mercado é o exercício do crédito sob as suas novas e

sofisticadasformas,dasquaisorecebimentodedepósitosemdinheiroesuaaplicaçãoéumadasmais

antigas,masnãoaúnica”.

Econcluioautor:“É,portanto,oexercíciotécnicoeprofissionaldocrédito,

quetantopodeserdedinheiro,quantodeoutranatureza(odeassinatura,p.ex.,

atravésdoaceitecambialoudoaval),quecaracterizaainstituiçãofinanceira,eo

estabelecimento de crédito, hoje intensamente empolgados pelos chamados

serviçosbancários” 511.

Por tais razões, preferimos denominar o presente capítulo “responsabilidade

civildas instituições financeiras”,emboranãodeixemosdemencionar, emum

ponto ou outro, a palavra “banco”, com o fito de evitar repetições

desnecessárias.

2.PERSPECTIVASDEANÁLISEDARESPONSABILIDADECIVIL

Em breve síntese, poderíamos sistematizar a responsabilidade civil das

instituiçõesfinanceirassobumatrípliceperspectiva:

a)responsabilidadecivilemfacedosseusagentes;

b)responsabilidadecivilemfacedosseusclientes/consumidores;

c)responsabilidadecivilemfacedeterceiros.

2.1.Responsabilidadecivilemfacedosseusagentes

Pelosdanoscausadosaosseusprepostoseagentesautorizados,respondemas

Page 439: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

instituições na forma da legislação específica em vigor. Caso se trate de

empregado do estabelecimento, caracterizar-se-á, na hipótese de lesão, o

acidentedetrabalho,jáestudadolinhasatrás 512.

Caso não haja vínculo empregatício (imagine-se que a instituição houvesse

contratado um prestador de serviços), a responsabilidade civil pelo prejuízo

causado será regida pelas regras gerais do próprio Código Civil, que, salvo

previsãolegalespecíficaoureconhecimentodoexercíciodeatividadederisco,

importareconhecerqueseexigiráacomprovaçãodoelementoanímico(culpa)

paraaferiraresponsabilidade.

2.2.Responsabilidadecivilemfacedosseusclientes/consumidores

Nãotemosdúvidadequeoclientebancárioéumconsumidor.

Porisso,nuncareputamosindispensáveisasResoluçõesn.2.878e2.892/2001

doBACEN,referentesaodenominado“CódigodoClienteBancário”,asquais,

postonãoisentasdejustascríticas,apenasexplicitammandamentosdoCódigo

doConsumidor.

Oclientebancário,nãotemosdúvida,éconsumidor,earesponsabilidadedo

agentefinanceiroperanteeleédenaturezacontratual513.

Ressaltando o enquadramento legal do cliente bancário no conceito de

consumidor, PABLO STOLZE GAGLIANO, em palestra já citada, pontifica

que:

“Se o contrato de empréstimo (que é um contrato de adesão) estabelecesse

Page 440: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

taxa de elevação de juros diária, não estaríamos diante de cláusulas abusivas,

vedadaspeloCDC?

Ou, numa hipótese mais absurda, aventada pelo Professor NEWTON DE

LUCCA,daUniversidadedeSãoPaulo,poderiaocontratocelebradopelobanco

estabelecerque,havendoatrasoporpartedomutuário,opagamentofossefeito

obrigatoriamentede joelhosdiantedogerentedaagência,semquese ferisseo

art.71doCódigodeDefesadoConsumidor? 514

Aoconcederempréstimosefinanciamentos,talvezpossamosatéconcluirque

a instituição financeiranãoseriaummero fornecedordeserviço,mas, sim,de

umproduto—odinheiro(queéumbemconsumívelporexcelência).

E é assim que o STJ, o mais lúcido Tribunal do País, vem reiteradamente

decidindo:

‘Osbancos,comoprestadoresdeserviçosespecialmentecontempladosnoart.

3.º, parágrafo segundo, estão submetidos às disposições do CDC. A

circunstânciadeousuáriodispordobemrecebidoatravésdaoperaçãobancária,

transferindo-o a terceiros, em pagamento de outros bens ou serviços, não o

descaracterizacomoconsumidorfinaldosserviçosprestadospelobanco’(REsp

57.974/RS,Rel.Min.RuyRosadodeAguiar,julgadoem29-05-95).

Em outra oportunidade, quando da discussão do REsp 231.825/RS, oMin.

CésarAsforRochaassinalou,compropriedade,que:

Pedi vista dos autos para melhor exame da matéria, após o que de logo

registro que, no tocante à aplicação do Código de Defesa do Consumidor,

acompanhoSuaExcelência,porentenderqueaquelediplomalegalincidesobre

Page 441: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

todas as relações e contratos pactuados pelas instituições financeiras e seus

clientesenãoapenasnaparte relativaàexpediçãode talonários, fornecimento

de extratos, cobrança de contas, guarda de bens e outros serviços afins. O

próprioCDCseocupa em trazer asdefiniçõesde consumidor e fornecedorde

produto e serviço... a lei é suficientemente clara ao definir o que sejam

consumidores e fornecedores de produtos e serviços, enquadrando-se

perfeitamentenessesconceitosasinstituiçõesfinanceiras...” 515.

Ninguém discute a importância dos bancos e instituições de crédito para a

economianacional.

A saúde financeira do País interfere na vida de todos os cidadãos, e essa

atividadedeveserincentivadadentrodasleisdemercadoelivreconcorrência.

Noentanto,visandocoibirabusos,oCódigodoConsumidorestabeleceregras

deconteúdocogenteenaturezapúblicaparaodeslindedoslitígiosenvolvendoo

clientebancário(consumidor)eoagentefinanceiro.

A ausência de legislação protetiva violaria o comando constitucional que

impõe a proteção do consumidor como princípio da ordem econômica e,

também, o direito fundamental à igualdade, namedida em que a norma legal

deve imprimir igualdade jurídica — por meio do reconhecimento de

instrumentosdedefesaaohipossuficiente—emrelações jurídicasondeexista

desigualdadeeconômica 516.

Posto isso, passaremos em revista as situações mais comuns envolvendo

danosaosclientesbancários.

2.2.1.Responsabilidadecivilpelopagamentodechequefalso

Page 442: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Umdosmaistormentososproblemasenvolvendoaresponsabilidadecivildos

bancosdizrespeitoaopagamentodechequefalso.

Imagine,apenasatítulodeilustração,queoclientebancáriotenhaoseutalão

furtado, e o infrator esteja emitindo títulos, falsificando a assinatura do

correntista.

Emtalhipótese,deveriaseroestabelecimentobancárioresponsabilizadopelo

pagamentodochequefalso?

A doutrina não se entende quanto à natureza jurídica dessa espécie de

responsabilidade.Algunsressaltamasuanaturezacontratualemfacedocliente

lesado; outros, por sua vez, afirmam tratar-se de dano inserido no campo da

responsabilidadecivilaquiliana.

Nesse sentido, pondera SÍLVIO DE SALVO VENOSA: “há questões

específicasemmatériaderesponsabilidadedebancosquepreocupamadoutrina

eajurisprudência.Muitoédiscutido,porexemplo,arespeitodepagamentopela

instituiçãofinanceiradechequefalso.Oproblemaé,evidentemente,deaspecto

contratual,masosjulgadoscomfrequênciareferem-seàculpaaquiliana”.

E mais adiante conclui o culto professor palmeirense: “A nosso ver, como

acenamos, é irrelevante definir se essa culpa é contratual ou não, pois a

responsabilidade é objetiva e situa-se em sede de prestação de serviços do

fornecedor” 517.

De fato, considerando-se que a atividade bancária é serviço de consumo, o

danocausadoaocliente,desdequenãofavorecidopelaatuaçãodeste,hádeser

indenizadosegundoosprincípiosdaresponsabilidadecivilobjetiva,pelopróprio

Page 443: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

banco sacado, sem prejuízo do exercício do seu direito de regresso contra o

terceiro,culpadopelasubtraçãodotalonário.

Expliquemosmelhor.

Sehouverprovadequeoclienteatuouculposamente,facilitandoasubtração

dotalonárioeafalsificação,ounãocuidoudecientificarobancoatempopara

evitaraconsumaçãodafraude(“sustandoocheque”),poderáainstituiçãoalegar

emdefesaaquebradonexocausalporculpaexclusivadavítima,paraefeitode

seeximirdaobrigaçãodeindenizar.

Aliás,ébomrecordarqueapenasaculpaexclusivadoconsumidortemaforça

deeximirofornecedordodeverdeindenizar,nostermosdoart.14,§3.º,II,do

CDC.Aculpaconcorrente,conformejáestudamos,nãooeximedaindenização

integral.

Poressasrazões,vemoscomcertareservaaSúmula28doSTF(datadade16-

12-1963),referenteaopagamentodechequefalso:

Súmula 28 do STF: “O estabelecimento bancário é responsável pelo pagamento de cheque falso,

ressalvadasashipótesesdeculpaexclusivaouconcorrentedocorrentista” 518(grifamos).

Ora,àluzdoCódigodoConsumidor,aculpaconcorrentedocorrentistanão

eximeo fornecedordaobrigaçãode indenizar integralmenteavítimadodano,

razãoporquecremosqueomandamentolegaldeveorientarainterpretaçãoda

súmula 519.

Nessalinha,cumpre-nostrazeralumealgunsjulgadosreferentesàmatéria:

“Responsabilidade civil. Cheque. Talonário sob a guarda do banco. Furto. Legitimidade do banco.

Inocorrênciadeviolaçãodaleifederal.Dissídionãodemonstrado.Precedentes.Recursonãoconhecido.

Page 444: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

I — Pode a instituição financeira responder pelos danos sofridos por comerciante, quando esse,

tomandotodasasprecauções,recebechequecomoformadepagamento,posteriormentedevolvidopela

instituiçãofinanceiraporserdetalonáriofurtadodedentrodeumadassuasagências.

II—Paracaracterizaçãododissídio,necessárioocotejoanalíticodasbases fáticasquesustentamas

tesesemconflito”(STJ,REsp56.502/MG,DJ,24-3-1997,Rel.Min.SálviodeFigueiredoTeixeira).

“Pagamento de cheque falso pelo banco. Obrigação do banco por seus prepostos de examinar as

assinaturas.Súmula28doSTF.Culpapresumida.Devoluçãodosvaloresquepoderiamserdescontados

se usado limite em cheque especial. Impossibilidade. Tem o banco sacado obrigação de zelar pela

autenticidadedasassinaturasdeseuscorrentistas,sendopresumidaaculpa,nostermosdaSúmula28do

STF, se desconta cheque falso cuja falsidade da assinatura poderia ser percebida com algum esforço

pelo funcionário do banco. Entretanto, não é devida a indenização de valores que poderiam ter sido

descontadosdocorrentistaatítulodautilizaçãodolimitedechequeespecial,masnãooforam,poiso

autor mantinha saldo para arcar com os cheques indevidamente descontados. Não se pode falar em

indenizaçãodedanomaterialse,efetivamente,nãoseverificaumaperdanopatrimôniododemandante.

Apelo e recurso adesivo improvidos” (TJRS, Ap. Cível 70002199578, 5.ª Câmara Civil, Rel. Des.

MarcoAuréliodosSantosCaminha,julgadoem13-12-2001).

“Responsabilidade civil. Banco. Defeito do serviço. Pagamento de cheque furtado com assinatura

falsificada.Danomoralinreipsa.Relaçãodeconta-corrente.Subsunçãoaocdceseusprincípios.Fato

doconsumo.Falhadoserviço.Agecomnegligência,assimnãooferecendoasegurançaqueseespera

de serviços bancários postos à disposição dos consumidores, a instituição que aceita cheques com

assinaturaflagrantementefalsa(art.14doCDC).Ausênciadeexcludentes.Respondeobancopelafalha

doserviço,aopagarchequecomassinaturafalsa,semcompará-lacomaconstantenafichadoautor,

remetendoseusdadospararegistronocadastrodeemitentesdechequessemfundosdoBacen—CCFe

nacentralizaçãodosserviçosdebancosS/A—Serasa.InterpretaçãodaSúmulan.28doSTF.Danoin

reipsa.Seoagravomoraléconsequêncianecessáriadaviolaçãodealgumdireitodapersonalidade,a

demonstraçãode suaexistência importa, simultaneamente,provade suaocorrência.Quantificaçãoda

indenização por dano moral imposta por arbitramento, obedecendo a parâmetros da Câmara e às

circunstâncias do caso concreto, levando em consideração tanto o fator inibitório-punitivo, como

compensador. Apelo parcialmente provido” (TJRS, Ap. Cível 70005625926, 9.ª Câmara Cível, Rel.

Des.RejaneMariaDiasdeCastroBins,julgadoem19-3-2003).

NesteoutroexcelentejulgadodoTribunaldeJustiçadoDistritoFederal(Rel.

Page 445: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Des.WaldirLeôncio Jr.,Ap.Cível3.908.696/DF), observa-se a exata aferição

doserviçobancáriocomoserviçodeconsumo:

“Açãode indenizaçãomovimentadapor correntista emdesproveitodebancoque recebeu àguisade

depósito em dinheiro em sua conta-corrente depósito efetuado por falsário que utilizou de cheque

adulterado da mesma instituição — Responsabilidade civil objetiva. Os bancos são prestadores de

serviços (art. terceiro do CODECON) e a clientela é consumidora (‘pessoa jurídica que adquire ou

utilizaprodutoouserviçocomodestinatário final’,art. segundodoCODECON).Por isso respondem

objetivamentepeloseventuaisprejuízosquevenhamacausaraseusclientes(art.sexto,VII,c/cart.14

doCODECON: ‘o fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela

reparaçãodosdanoscausadosaosconsumidorespordefeitosdosserviços’).Porsuavez,opar.terceiro

deste dispositivo só exclui a responsabilidade do prestador de serviços, dentre os quais os bancos,

quando provar: ‘I — que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; II — a culpa exclusiva do

consumidoroudeterceiro’.Ademais,peloparágrafoúnicodoart.39daLei7.357/85:‘obancosacado

respondepelochequefalso,falsificadooualterado,salvodoloouculpadocorrentista,doendossanteou

dobeneficiário’”(grifamos).

Nesse diapasão, também não concordamos com a vertente que aponta no

sentidodeadmitiraresponsabilidadebancáriaapenassetiverhavidofalsificação

grosseira, não detectada. Ora, sendo grosseira ou não, a obrigação de se

aparelharcomosistematécnicodesegurançaadequadoparaevitaropagamento

dechequefalsoédobancoenãodocorrentista.

Emverdade,parece-nosque,acontrariosensu, todasas formasde lesãoaos

interesses dos clientes (consumidores) bancários/financeiros 520, como

subtraçõesindevidasemconta-corrente,atémesmopelostemidoshackers 521—

enãosomenteasrelacionadascomopagamentodechequesroubadosouasua

devolução indevida 522 —, devem ser de responsabilidade da instituição

financeira.

Nessamesmalinha,CAVALIERIafasta todaequalqueralegaçãode isenção

Page 446: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

de responsabilidade da instituição, ressalvada a hipótese de o próprio cliente

haveratuadoculposamente,favorecendoaadulteraçãodacártula:

“Forçoso é reconhecer, à luz desses princípios, que a falsificação ou adulteração de cheque do

correntista, ou qualquer outra modalidade de estelionato que leve o banco a pagar indevidamente

alguma quantia ao falsário, é perpetrada contra o banco, e não contra o correntista. O dinheiro,

indevidamente entregue ao estelionatário é do banco, a ele cabendo, portanto, suportar o prejuízo,

segundoomilenarprincípiodoresperitdomino” 523.

Aliás,nãoédemaislembrarqueasuaresponsabilidadeéobjetiva,nostermos

doCódigodeDefesadoConsumidor.

Interessantenotar,finalmente,querecentejurisprudênciadoSuperiorTribunal

deJustiça,facilitandoacompensaçãodosdanossofridospelosclientesbancários

—nãoapenaspelopagamentodechequefalso,masporqualqueratuaçãolesiva

emgeral—,firmou-senosentidodepermitirapenhoradevaloresdainstituição

financeira, contrariando a prática de somente admitir a constrição de bens de

naturezanãopecuniáriapelofatodeobanco“nãopossuirdinheiropróprio”,mas

apenasvaloresdepositadosporterceiros 524.

2.2.2.Responsabilidadecivilpelofurtoouroubodosbensdepositadosemcofresbancários

Se o nosso amigo leitor fizer uma pesquisa na jurisprudência brasileira,

observará que, como regra geral, a ocorrência de um crime equipara-se à

situação de caso fortuito ou de força maior, para o efeito de excluir a

responsabilidadecivil.

Imaginemos, apenas a título de ilustração, que Caio tenha o seu veículo

roubadoporTício.Esteúltimo,emfugadesesperada,atropelaumterceiroque

Page 447: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

vemafalecer.Ora,segundoosmaiscomezinhosprincípiosderesponsabilidade

civil, a família da vítima não poderá pretender responsabilizar Caio, sujeito

passivo do roubo, pela ausência de vínculo jurídico deste último com a

ocorrênciadodano.Ressalve-se,apenas,ahipótesedeoproprietáriodoveículo

haverfacilitadoasuasubtração.

Aalegação,pois,deCaio,paraofimdeseeximirderesponsabilidade,seria

dequeaocorrênciadoroubo—fatoalheioàsuavontade—haveriaquebradoo

nexodecausalidade,demaneiraqueapenasocriminosopoderiaserconsiderado

responsávelpeloeventofatídico.

Essaalegação,todavia,nãoprocedenocasodosestabelecimentosbancários.

QuandooptamospordepositarouinvestirasnossaseconomiasnobancoA,e

nãonobancoC,fazemos,dentreoutrosmotivos,pelaconfiançaque temosem

seusistemadesegurança.

Afinal de contas, se assim não fosse, continuaríamos guardando as nossas

economiasnocolchão.

Nessalinhadeintelecçãoficaclaroque,emhavendoasubtraçãodebensou

valores,deveráainstituiçãosuportaroprejuízo,mormenteemseconsiderandoa

suaresponsabilidadeobjetiva,nostermosdoCódigodeDefesadoConsumidor.

Em verdade, o banco pode ser considerado, no caso, depositário de tais

valores, devendo empregar todos os esforços e meios para a sua guarda e

conservação.

RUISTOCO,afastandoateoriaqueidentificavaanaturezajurídicadaguarda

debensemcofresdebancoaocontratodelocação,concluicommaestria:

Page 448: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

“Filiamo-nos, pois, à teoria do depósito, lembrando que algumas instituições bancárias da Europa,

rendendo-se às decisões judiciais determinando a indenização por objetos furtados, passaram a

desenvolversistemadefotografiareservadadosbensguardadosnascaixas,queélacradaemenvelope

inviolável, e só aberto nomomento oportuno, na presença de testemunhas ou em Juízo, demodo a

preservar o sigilo exigido pelo cliente e comprovar, quando necessário, o conteúdo da caixa de

segurança” 525.

A grande dificuldade que se apresenta ao julgador, no caso concreto, diz

respeitoàfixaçãodoquantumdevidoatítulodeindenização,noscasosdefurto

ouroubodebensdepositadosemcofresalugados,umavezqueobanconãoteria

acesso ao seu conteúdo, para efeito de mensurar com precisão o valor da

indenizaçãodevida.

Por isso,deveo juizvaler-sederegrasdeexperiênciae, inclusive,deprova

testemunhal,paraefeitodetentar,àluzdoprincípiodaverdadereal,identificar,

comomáximodeprecisão,anaturezaeovalordosbenssubtraídos.

ParaseterumanoçãodosparâmetrosutilizadospelosTribunaisdoPaíspara

oarbitramentoda indenizaçãodevida,confiram-se,emconclusão,osseguintes

julgados:

“Banco—ResponsabilidadeCivil—FurtodeValoresemCofredeAluguel—ProvadoDano—Com

relação aos danos e tendo em vista os princípios da liberdade probatória e da boa fé, conjugados à

extremadificuldadedaprovadoconteúdodocofre,deve-sedarcréditoàsdeclaraçõesdapessoalesada;

às informações do seu joalheiro há 15 anos; aos depoimentos de um provecto amigo, e à avaliação

indireta”(TJRJ,2.ªT.,EI,Rel.PauloFreitas,julgadoem15-10-1991,RT,676/151).

“Embargos infringentes.Açãode reparaçãode danosmateriais emorais.Arrombamento de cofre de

aluguelembanco.Ousuáriodecofredealuguelutilizaestemeioaoefeitodemanteremsigiloaguarda

deobjetosevaloresque,porforçadocontrato,nãoestáobrigadoarevelar.Conjuntoprobatórioeregras

daexperiênciacomumquelevamaconcluiracercadaveracidadedasalegaçõesdosautoresquantoaos

danosexperimentadosemdecorrênciadoarrombamentodocofre.Casoconcretoemqueobanconão

logroudemonstrar caso fortuitoou forçamaior e tem responsabilidadeobjetivapelo inadimplemento

Page 449: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

contratual.Embargosdesacolhidos”(TJRS,EI70004911756,3.ºGrupodeCâmarasCíveis,Rel.Des.

AnaMariaNedelScalzilli,julgadoem1.º-11-2002).

“Responsabilidade civil. Instituição bancária. Contrato de cofre de segurança. Assalto. Furto. Dano

moral. Prova.Ônus do locatário.No inadimplementoou adimplementodefeituosodas obrigações de

vigilânciaeintegridade,assumidaspelobanconocontratodecofre,odanomoralnãoestáinreipsa.A

responsabilidadeobjetiva sóatuanoplanodaculpa, razãopelaqual,mesmoà luzda teoriado risco

profissional,exigeapresençadedanoetiologicamenterelacionadocomacondutadoagente,cujaprova

é ônus da parte que alega a ofensa. Sentença mantida. Apelação desprovida” (TJRS, Ap. Cível

70001783422,9.ªCâmaraCível,Rel.Des.MaraLarsenChechi,julgadoem9-10-2002).

“Responsabilidade civil. Contrato de locação de cofre em estabelecimento bancário. Furto.

Responsabilidadedo locador, comocustodiadordo conteúdodo cofre.Estimativaporprova indireta.

Admissibilidadedesde que se compatibilize como conjunto das circunstâncias pessoais da locatária.

Embargos acolhidos” (TJRS, EI 70001020148, 2.º Grupo de Câmaras Cíveis, Rel. Des. Perciano de

CastilhosBertoluci,julgadoem11-8-2000).

2.3.Responsabilidadecivilemfacedeterceiros

Para encerrar este capítulo, épreciso tecer algumasconsiderações acercada

responsabilidadecivildasinstituiçõesfinanceirasemrelaçãoaterceiros.

Compreendidasasliçõessobreareparaçãodedanoscausadosaseusagentes

(empregadosouprestadoresdeserviço)easeusclientes,umaperguntanãoquer

calar: qual é a natureza jurídica da responsabilidade civil de tais instituições,

quandoavítimanãomantémcomelesqualquerrelaçãonegocial?

A resposta nos parece óbvia: nesse caso, deve ser aplicada a regra geral de

responsabilizaçãocivilnonossoordenamentopositivo.

Todavia, é importante lembrar que essa regra foi modificada com o novo

CódigoCivilbrasileiro.

De fato, ao lado da regra da responsabilidade civil subjetiva — também

Page 450: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

aplicávelàsinstituiçõesfinanceiras—pontificaaregradaresponsabilidadecivil

objetiva,emfunçãodoriscodaatividadehabitualmenteexercida.

Assimsendo,arespostaàperguntaformuladanãoéautomáticaouimediata.

Para respondê-la, será necessário verificar em função de qual conduta —

atribuívelàpessoa jurídicada instituição financeira—seperpetroua lesãoao

interessedeterceiro.

Caso seja algo decorrente da atividade habitualmente exercida, e não em

função de um fato isolado no seu amplo campo de relações negociais,

poderemosafirmarquearesponsabilidadecivilseráobjetiva.

Nessesentido, responsabilizandoa instituição financeirapordanocausadoa

terceiros,jáhájurisprudêncianopróprioSuperiorTribunaldeJustiça:

“Responsabilidade civil. Cheque. Talonário sob a guarda do banco. Furto. Legitimidade do banco.

Inocorrênciadeviolaçãodaleifederal.Dissídionãodemonstrado.Precedentes.Recursonãoconhecido.

I — Pode a instituição financeira responder pelos danos sofridos por comerciante, quando esse,

tomandotodasasprecauções,recebechequecomoformadepagamento,posteriormentedevolvidopela

instituiçãofinanceiraporserdetalonáriofurtadodedentrodeumadassuasagências.

II—Paracaracterizaçãododissídio,necessárioocotejoanalíticodasbases fáticasquesustentamas

teses em conflito” (STJ, REsp 56.502/MG; Ap. 1994/0033758-2, 4.ª Turma, Rel. Min. Sálvio de

FigueiredoTeixeira,julgadoem4-3-1997).

“Responsabilidade civil. Banco. Abertura de conta. Documentos de terceiro. Entrega de talonário.

Legitimidadeativa.Gerentedesupermercado.

1.Faltadediligênciadobanconaaberturadecontaseentregadetalonárioapessoaqueseapresenta

com documentos de identidade de terceiros, perdidos ou extraviados. Reconhecida a culpa do

estabelecimento bancário, responde ele pelo prejuízo causado ao comerciante, pela utilização dos

chequesparapagamentodemercadoria.

2.Ogerentedosupermercado,querespondepeloschequesdevolvidos,estálegitimadoaproporaação

Page 451: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

deindenização.Recursonãoconhecido”(STJ,REsp47.335/SP;Ap.1994/0012062-1,4.ªTurma,Rel.

Min.RuyRosadodeAguiar,julgadoem29-11-1994).

Damesmaforma,manifestou-seoTribunaldeJustiçadeMinasGerais:

“Indenização. Documento falso. Abertura de conta-corrente. Dano a terceiro não cliente.

Responsabilidade do banco. Teoria do risco profissional. Ciência do uso indevido do documento.

Manutençãodoprotesto.Responsabilidade.Quantumindenizatório.Critériosparafixação.1—Correm

por conta do Banco os riscos inerentes à sua atividade, devendo responder pelos danos causados a

terceiropelainclusãodeseunomenoSERASAenoSPC,emrazãodaaberturadeconta-correntecom

baseemdocumentofalso.2—Onãocancelamentodoprotesto,apósoconhecimentodequeoCPF

constantedochequenãopertenciaaoseuemitente,conduzàresponsabilidadepelosdanosdaíadvindos.

3— Para a fixação do quantum indenizatório, o juiz deve pautar-se pelo bom senso, moderação e

prudência,devendoconsiderar,também,osprincípiosdarazoabilidadeeproporcionalidade,bemcomo

ocomponentepunitivoepedagógicodacondenaçãoeosconstrangimentosporquepassouoofendido.

4— Preliminar rejeitada, não providos a primeira apelação e o recurso adesivo, segunda apelação

provida”(TJMG,Ap.0364499-7,2.ªCâmaraCível,Rel.PereiradaSilva,julgadoem10-9-2002).

Nocampoda responsabilizaçãodas instituições financeiras,a jurisprudência

temsido,inclusive,bastantepródigaemampliarocampoderesponsabilidadede

tais entidades, havendo acórdãos, inclusive, que lhes imputam a obrigação de

reparardanosdecorrentesdecrimesocorridosemsuasinstalações 526.

Page 452: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

CapítuloXX

ResponsabilidadeCivilDecorrentedeCrime

Sumário: 1. Jurisdição civil x jurisdição penal. 2. Efeitos civis da sentença penal condenatória: a

execuçãocivildasentençapenaleaaçãocivilexdelicto.

1.JURISDIÇÃOCIVILXJURISDIÇÃOPENAL

Opontodepartidadenossa investigaçãoacercadocrimeesua repercussão

civiléaanálisedoart.935doCódigoCivilBrasileiro(noCPP,art.66):

“Art.935.Aresponsabilidadeciviléindependentedacriminal,nãosepodendoquestionarmaissobrea

existênciadofato,ousobrequemsejaoseuautor,quandoestasquestõesseacharemdecididasnojuízo

criminal”.

Apenasestesdoisfundamentosdasentençapenalabsolutóriatêmocondãode

prejudicar definitivamente a reparação civil: negativa material do fato ou

negativadeautoria 527.

Consoantejáanotamos,aresponsabilidadejurídicaéconceito-chavedoqual

defluem os seus dois importantes ramos: a responsabilidade civil e a

responsabilidadepenal 528.

Ora, um ilícito penal— a exemplo de um homicídio ou um roubo—gera

tambémconsequênciascivis,quedeverãoserdevidamentesopesadaseaferidas

Page 453: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

nojuízopróprio,segundoasregraslegaisdecompetência.

Vê-se, portanto, da análise desse artigo, a relativa independência entre os

juízoscivilecriminal 529,namedidaemqueseproíbearediscussãodamateria-

lidadedofatooudesuaautoria,setaisquestõesjáestiveremdecididasnojuízo

criminal.Assim, no exemplo do homicídio, se o réu lograr êxito na demanda,

demonstrando cabalmente a negativa de autoria, não terá legitimidade passiva

parafigurarnopolopassivodeumademandaindenizatória.

Observe-se,nessediapasão,queoCódigodeProcessoPenal trazdisposição

no sentido de que “a ação para ressarcimento do dano poderá ser proposta no

juízocível,contraoautordocrimee,seforocaso,contraoresponsávelcivil”

(art.64).

Logo após, dispõe: “Faz coisa julgada no cível a sentença penal que

reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima

defesa, em estrito cumprimento do dever legal ou no exercício regular de

direito”.

Lembre-se, apenas, de que o reconhecimento de alguma excludente de

ilicitude—aexemplodalegítimadefesa—nemsempreimpedequeoagente

indenize,comonahipótesedeoagredido,emsuarepulsalegítima,incorrerem

errodeexecução,atingindoterceiroinocente.Deverá,pois,ressarciresteúltimo,

comaçãoregressivacontraoverdadeiroautordodano.

Outras causas de absolvição no Juízo Criminal, todavia, como a falta de

provasouaprescrição,não têmocondãodeprejudicaro trâmitedademanda

cível.

Page 454: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

2.EFEITOSCIVISDASENTENÇAPENALCONDENATÓRIA:AEXECUÇÃOCIVILDASENTENÇAPENALEAAÇÃOCIVIL“EXDELICTO”

O art. 91, I, do Código Penal estabelece como efeito da sentença penal

condenatória “tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo

crime” 530.

A vítima ou seus sucessores buscam esse ressarcimento por meio da

denominadaaçãocivilexdelicto.

O art. 63 do CPP, por sua vez, refere ainda que, com fulcro na própria

sentença penal condenatória (título executivo judicial), poderá o ofendido, seu

representantelegalouherdeiros,emvezdeintentardemandadeconhecimento,

promoverdiretamenteaexecuçãojudicial 531.

Não seria justo que, consumado o ato criminoso, a vítima ou os seus

familiaresnãotivessemodireitodedemandaroinfrator,paraefeitodebuscara

reparaçãodevida.

Aliás,apreocupaçãocomosujeitopassivodocrimeéverificadanaprópria

CartadaRepública,quandodetermina,emseuart.245,lamentavelmentepouco

conhecido, que a legislação ordinária deverá dispor sobre as hipóteses e

condiçõesemqueoPoderPúblicodaráassistênciaaosherdeirosedependentes

carentes de pessoas vitimadas por crime doloso, sem prejuízo da

responsabilidadecivildoautordoilícito.

Poisbem.

Essa “responsabilidade civil”, como já dissemos, é exigida por meio da

Page 455: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

proposituradaaçãocivilexdelicto,disciplinadanosarts.63a68doCódigode

Processo Penal, sem prejuízo de se poder, como visto, intentar diretamente a

execuçãodasentençapenaljátransitadaemjulgado.

Nesseponto,oportunassãoaspalavrasdeARAKENDEASSIS:

“Nocaráterautônomodaaçãocivilsedeparabenfazejaopçãoasseguradaàvítima.Evidentemente,os

termos da alternativa não incluem a adesão ao processo penal, pois o sistema proíbe tal espécie de

cúmuloobjetivo,somenteexcepcionadoemaspectoassazsecundário,comoseobservanotextodoart.

120doCód.deProc.Penal.

Emrazãodiretadoprincípiodaautonomia,oajuizamentodademandareparatórianãoseadscreveao

iníciodaaçãopenal.É inteiramente livreavítimaparaajuizá-la logoouaguardaropronunciamento

definitivodasentençalegalrepressiva” 532.

Oforocompetenteparaodeslindedaação,inclusiveaexecuçãobaseadaem

sentença penal condenatória, segundo assentado na doutrina, é o do local do

crimeouodoautor,nos termosdoart.53,V,a,doCPC/2015(equivalenteao

art.100,V,a,doCPC/1973.

Ainda sobre a competência, preleciona o culto FERNANDO CAPEZ,

referindo-seaoCPC/1973:

“Aaçãocivildeconhecimento,ouaexecutória,precedidadanecessáriaaçãodeliquidação,devemser

propostasperanteojuízocível(CPC,art.575,IV).Nojuízocível,emboraaaçãosefundeemdireito

pessoal, o foro territorialmente competente não é o do domicílio do réu, segundo a regra geral,

estabelecidanoart.94doCódigodeProcessoCivil.Oautor,nestecaso,temoprivilégiodeescolher

umdosforosespeciais,previstosnoart.100,parágrafoúnico,doCódigodeProcessoCivil,queassim

dispõe: ‘Nas ações de reparação de dano sofrido em razão do delito ou acidente de veículos, será

competente o foro do domicílio do autor ou do local do fato’.O autor pode, portanto, fazer uso do

privilégiodeescolheroforodeseudomicílioouforodolocalemqueocorreuainfraçãopenal” 533.

Alegitimidadeativaparaaproposituradademandareparatóriaéreconhecida

à vítima, a seu representante legal e aos sucessores, nos termos do art. 63 do

Page 456: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

CPP.Note-se, outrossim, a legitimidade extraordinária conferida aoMinistério

Públicoparaexecutarasentençapenalouajuizardiretamenteaaçãocivil,seo

titulardareparaçãododanoforpobre,nostermosdoart.68doCPP.

Trata-se,pois,dehipóteseemqueoMPatuacomosubstitutoprocessual 534.

No aspecto passivo, tem legitimidade para figurar como réu na ação civil

apenas o autor do crime ou o seu responsável civil, lembrando-se que, por

princípio constitucional, os seus herdeiros não poderão ser compelidos a

indenizaravítima(“apenanãopoderápassardapessoadocriminoso”).

Importantíssima,aliás, éaobservação feitapelomulticitadoDesembargador

doTJRS,nosentidodeque“éimperioso,nestaaltura,distinguiralegitimidade

passivadaexecuçãobaseadanasentençapenalcondenatória(art.475-N,II,do

Cód.deProc.Civil),quesópodeatingiro(s)condenado(s),noâmbitopenal,ea

daaçãoreparatória,queabrange,eventualmente,osresponsáveis,que,pornão

figurarem no processo crime, jamais poderão ser executados a partir daquele

título.Por talmotivo, desejandoo lesadoobter a reparaçãododanode algum

responsável— v.g. do empregador do motorista que provocou o acidente de

trânsito—,deveráajuizaraaçãocivildesdelogo,poisafuturacondenaçãodo

autordoilícitopenalemnadalhebeneficiaránestedesiderato” 535.

Nomesmosentido,SÍLVIODESALVOVENOSA:“Paraqueterceirossejam

chamados a reparar o dano, deve ser promovida ação de conhecimento, a

denominadaactio civilis ex delicto, sendo-lhes estranha amatéria decidida no

juízocriminal,abrindo-se,assim,ampladiscussãosobreofatoeodanonojuízo

cível” 536.

Page 457: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Uma observação pertinente, ainda, em relação a esse tipo de pretensão se

refereàprescrição.

Com efeito, o CC/2002, trazendo regra sem equivalente no CC/1916,

estabeleceu,inverbis:

“Art. 200.Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a

prescriçãoantesdarespectivasentençadefinitiva”.

Registre-se,porém,abemdaverdadeedajustiçacomostribunaisbrasileiros,

que a regra encontrava guarida, ainda que tímida, em alguns julgados

esparsos 537.

Finalmente,ébomlembrarque,desdeaediçãodaLein.9.099/95,referente

àsinfraçõespenaisdemenorpotencialofensivo—cujoâmbitodeaplicaçãofora

alterado pela edição posterior da Lei dos Juizados Especiais Federais (Lei n.

10.259/01)—,épermitidoaojuiz,nasinfraçõescompenanãosuperioradois

anos,equenãosejamdeaçãopenalpública incondicionada, instaraspartesà

composiçãocivil,emaudiência,comoefeitode,emhavendoêxito,prejudicara

persecuçãocriminal,porforçadaextinçãodapunibilidade 538.

Page 458: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

CapítuloXXI

AAçãodeIndenização(AspectosProcessuaisdaResponsabilidadeCivil)

Sumário:1.Algumaspalavrassobreapropostadoúltimocapítulo.2.Aindenização.3.Métodospara

fixaçãodaindenização.4.Tarifaçõeslegaisdeindenização.4.1.Danoscausadospordemandadedívida

inexigível.4.2.Danosàvidaeà integridade físicadapessoa.4.3.Danosdecorrentesdeusurpaçãoe

esbulho. 4.4. Indenização por injúria, difamação ou calúnia. 4.5. Indenização por ofensa à liberdade

pessoal. 5. Quantificação de indenizações por danos morais. 5.1. Critérios de quantificação. 5.1.1.

Arbitramento. 5.1.2. Indenizações com parâmetros tarifados. 5.1.3. Outros critérios para fixação de

valor de indenização por danos morais. 5.2. Algumas palavras sobre o bom-senso do julgador. 5.3.

Cumulatividade da reparação por danosmorais emateriais. 6.A questão da culpa para a fixação da

indenização.7.Alegitimaçãoparademandarpelaindenização.

1.ALGUMASPALAVRASSOBREAPROPOSTADOÚLTIMOCAPÍTULO

Chegamos,finalmente,aoúltimocapítulodestevolume.

Aquitrataremosdaindenizaçãocabívelnoreconhecimentodareparabilidade

deumdano.

Éclaroqueamatériaaquiversadaestarámuitoligadaaaspectosprocessuais

dasaçõesderesponsabilidadecivil(motivo,inclusive,dapartefinaldotítulodo

capítulo).

Page 459: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Todavia, como a finalidade do livro é ser um manual de Direito Material,

suscitaremos somente os aspectos que digam respeito a esta visão, no que se

incluematémesmoparâmetrosdequantificaçãoparaumaeventualcomposição

extrajudicial.

Enfrentemosotema.

2.AINDENIZAÇÃO

Mantendoorigormetodológicodenossaobra,antesdetrazermosparâmetros

para a quantificação de indenizações, devemos tentar conceituar o que seja

indenização.

MARIA HELENA DINIZ, em seu invejável Dicionário Jurídico, assim

explicaotermo:

“Indenização.1.Atoouefeitodeindenizar.2.Reembolsodedespesafeita.3.Recompensaporserviço

prestado. 4. Reparação pecuniária de danosmorais ou patrimoniais causados ao lesado; equivalente

pecuniáriododeverderessarciroprejuízo.5.Vantagempecuniáriaquesedáaservidorpúblicosoba

forma de ajuda de custo, diária ou transporte (Othon Sidou). 6. Ressarcimento de dano oriundo de

acidentedetrabalhoouderescisãounilateraldocontratotrabalhistasemjustacausa” 539.

Conforme ensina DE PLÁCIDO E SILVA, o termo é derivado “do latim

‘indemnis’(indene),dequeseformounovernáculooverboindenizar(reparar,

compensar, retribuir);emsentidogenéricoquerexprimir todacompensaçãoou

retribuição monetária feita por uma pessoa a outrem, para a reembolsar de

despesasfeitasouparaaressarcirdeperdastidas.

E, neste sentido, indenização tanto se refere ao reembolso de quantias que

alguémdespendeuporcontadeoutrem,aopagamentofeitopararecompensado

Page 460: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

quesefez,ouparareparaçãodeprejuízooudanoquesetenhacausadoaoutrem.

É,portanto,emsentidoamplo,todareparaçãooucontribuiçãopecuniáriaque

se efetiva para satisfazer um pagamento a que se está obrigado ou que se

apresentacomodeverjurídico.

Traz a finalidade de integrar o patrimônio da pessoa daquilo de que se

desfalcoupelosdesembolsos,derecompô-lopelasperdasouprejuízossofridos

(danos),ouaindadeacrescê-lodosproventos,aquefaz jusapessoa,peloseu

trabalho.

Emqualqueraspectoemqueseapresente,constituindoumdireito,quedeve

ser atendido por quem, correlatamente, se colocou na posição de cumpri-lo,

correspondesempreaumacompensaçãodecarátermonetário,aseratribuídaao

patrimôniodapessoa” 540.

A concepção que se deve ter, portanto, em relação à indenização, é que ela

temporfinalidadeintegrar—ou,maisprecisamente,recompor—opatrimônio

daquelequeseviulesionado.

Porissomesmo,aregrabásicaparaafixaçãodaindenizaçãonãopoderiaser

outra,senãoaconstantenocaputdoart.944doCC/2002,qualseja,adequea

“indenizaçãomede-sepelaextensãododano”.

Porissoéqueparâmetrostarifadosparaareparaçãodedanosnãosãotãobem

vistosnadoutrinaespecializada,umavezquecada situação fática temas suas

peculiaridades,sendomuitoimprovávelqueummesmoatoproduzaexatamente

asmesmasconsequênciasemdoisindivíduosdistintos.

Mascomoquantificartalindenização?

Page 461: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Éoqueveremosnospróximostópicos.

3.MÉTODOSPARAFIXAÇÃODAINDENIZAÇÃO

Reconhecido o direito à indenização, a sua liquidação se faz da mesma

maneiraqueasobrigaçõesemgeral.

Tradicionalmente, três métodos são invocados para a quantificação de

obrigaçõesilíquidas:simplescálculos,artigosdeliquidaçãoouarbitramento.

Essasmodalidades estão previstas expressamente, por exemplo, no art. 879,

caput,daCLT 541eeramtradicionalmentedisciplinadas,comtaldenominação,

noCódigodeProcessoCivil 542.

Expliquemosrapidamentecadaumadelas.

Aliquidaçãoporcálculoséaespéciemaiscotidianamenteutilizada.Elasedá

quandoexistiremnosautostodososelementossuficientesparaaquantificação

dojulgado.

Registre-sequeentendemos,apriori,queaLein.8.898,de29-6-1994,não

aboliutalmodalidadedequantificaçãodojulgado,mas,sim,apenas,modificou

aoriginariamentecontempladanoCódigo,aliquidaçãoporcálculoporcontador,

paraatribuirtaldiligênciaaoprópriointeressado,oqueaproximou,emverdade,

a disciplina doCódigo de ProcessoCivil ao tradicionalmente feito noDireito

Processual do Trabalho, conforme se verifica dos arts. 880 a 884 da

ConsolidaçãodasLeisdoTrabalho.

Ela continua plenamente invocável no sistema processual civil brasileiro,

conforme se verifica do § 2.º do art. 509 do CPC/2015 (“§ 2.º Quando a

Page 462: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

apuração do valor depender apenas de cálculo aritmético, o credor poderá

promover,desdelogo,ocumprimentodasentença”).

Já a “liquidação por artigos” é o nome que se dava ao procedimento a ser

utilizadoquandoinexistissemnosautosprovassuficientesparaaquantificação

dojulgado,devendoserestaobtidapormeiodeumprocedimentoordinário,ou

seja, trata-se de um procedimento para alegar e provar um fato novo —

entendidocomo“novo”oinexistentenosautos—necessárioparaaliquidação

dojulgado.

Éesteoprocedimentomencionadonalegislaçãoprocessualtrabalhistaeque

eratratadotambémpeloart.475-EdoCódigodeProcessoCivilde1973:“far-

se-á a liquidação por artigos, quando, para determinar o valor da condenação,

houvernecessidadedealegareprovarfatonovo”.

Sobreamatéria,jáensinavaoProf.HUMBERTOTHEODOROJÚNIOR:

“Ocredor,empetiçãoarticulada,indicaráosfatosaseremprovados(umemcadaartigo)paraservirde

baseàliquidação.Nãocabeadiscussãoindiscriminadadequaisquerfatosarroladosaopuroarbítrioda

parte. Apenas serão arrolados e articulados os fatos que tenham influência na fixação do valor da

condenaçãoounaindividuaçãodoseuobjeto.Eanenhumpretextoserá lícitoreabriradiscussãoem

tornodalide,definitivamentedecididanasentençadecondenação” 543.

Registre-seaexpressão“liquidaçãoporartigos”nãofoimantidapeloCódigo

deProcessoCivilde2015,masaconcepçãodoprocedimentocontinuaexistindo

noincisoIIdoseuart.509 544.

Por fim, a liquidação por arbitramento é feita quando inexistem elementos

objetivos para a liquidação do julgado, seja nos autos ou fora deles, devendo

valer-seomagistradodeumaestimativaparaquantificaraobrigação.

Page 463: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

VALENTIN CARRION, em seus consagrados Comentários à Consolidação

dasLeisdoTrabalho,afirmavaque,

“porarbitramento,seliquidaasentença,quandoaapuraçãonãodependedesimplescálculos,nemde

prova de fatos novos,mas seja necessário o juízo ou parecer de profissionais ou técnicos (Almeida

Amazonas,DoArbitramento).Arbitrarestáaquinãonosentidodejulgar,masdeestimar.Emprincípio,

o arbitrador será um perito,mas pode ocorrer que na impossibilidade de calcular-se com exatidão o

débito,aestimativanãotenhaoutrofundamentoqueobom-senso,oprudentearbítriodeumcidadãoou

até do próprio juiz; isto para que a ausência de elementos não impeça a reparação, quando não há

possibilidadedeencontrarelementosbastantes” 545.

O Código de Processo Civil de 2015 respalda, ainda mais, este

posicionamento, ao estabelecer, em seu art. 510 (equivalente ao art. 475-Ddo

CPC/1973):

“Art.510.Naliquidaçãoporarbitramento,ojuizintimaráaspartesparaaapresentaçãodepareceresou

documentos elucidativos, no prazo que fixar, e, caso não possa decidir de plano, nomeará perito,

observando-se,noquecouber,oprocedimentodaprovapericial”.

Autilizaçãodessesmétodosvaidepender,portanto,docasoconcreto,emque

severificaráaexistênciaounãodeelementosobjetivosparaaquantificaçãoda

indenização.

4.TARIFAÇÕESLEGAISDEINDENIZAÇÃO

Em algumas situações, inexistem parâmetros normativos, aferíveis

objetivamente,parafixarovalordaindenização.

Nessas situações, a prova da extensão do dano é fundamental para a

quantificação da reparação correspondente, em perfeita consonância com o

dispostonojátranscritocaputdoart.944,bemcomocomespequenaregrado

art.946,inverbis:

Page 464: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

“Art.946.Seaobrigaçãofor indeterminada,enãohouverna leiounocontratodisposiçãofixandoa

indenização devida pelo inadimplente, apurar-se-á o valor das perdas e danos na forma que a lei

processualdeterminar”.

Emoutrassituaçõesespecíficas,porém,aleiestabeleceparâmetrosobjetivos

paraaquantificaçãodasindenizaçõesdevidas.

NosistemadonovoCódigoCivilbrasileiro,podemos reuni-las,paraefeitos

didáticos,emalgunsgrupos.

4.1.Danoscausadospordemandadedívidainexigível

Aventuras judiciais ou cobranças extrajudiciais indevidas geram danos às

pessoasque,muitasvezes,nãosãoaferíveisobjetivamente.

Porumaquestãodeopçãolegislativa,asindenizaçõescorrespondentesforam

tarifadasnosistemabrasileiro,facilitando,sobremaneira,adeduçãoemjuízode

taispretensões.

Defato,estabelecemosarts.939a941doCódigoCivilbrasileirode2002:

“Art.939.Ocredorquedemandarodevedorantesdevencidaadívida,foradoscasosemquealeio

permita, ficará obrigado a esperar o tempo que faltava para o vencimento, a descontar os juros

correspondentes,emboraestipulados,eapagarascustasemdobro.

Art. 940. Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em parte, sem ressalvar as quantias

recebidas ou pedirmais do que for devido, ficará obrigado a pagar ao devedor, no primeiro caso, o

dobro do que houver cobrado e, no segundo, o equivalente do que dele exigir, salvo se houver

prescrição.

Art.941.Aspenasprevistasnosarts.939e940nãoseaplicarãoquandooautordesistirdaaçãoantes

de contestada a lide, salvo ao réu o direito de haver indenização por algum prejuízo que prove ter

sofrido”.

Com tais critérios, o legislador acabou por restringir a atuação do julgador,

Page 465: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

devendoonosso leitor lembrarque, seacobrança indevidasederemsedede

relaçãodeconsumo,deveráseraplicadooart.42doCDC.

4.2.Danosàvidaeàintegridadefísicadapessoa

No caso de atentados à vida e/ou à integridade física do ser humano, a

ocorrênciadedanoséevidente.

Visandofacilitaraquantificaçãodepatamaresmínimos,estabelecemosarts.

948a951:

“Art.948.Nocasodehomicídio,aindenizaçãoconsiste,semexcluiroutrasreparações:

I—nopagamentodasdespesascomotratamentodavítima,seufuneraleolutodafamília;

II—naprestaçãodealimentosàspessoasaquemomortoosdevia, levando-seemcontaaduração

prováveldavidadavítima.

Art.949.Nocasode lesãoououtraofensaàsaúde,oofensor indenizaráoofendidodasdespesasdo

tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da convalescença, além de algum outro prejuízo que o

ofendidoprovehaversofrido.

Art.950.Sedaofensaresultardefeitopeloqualoofendidonãopossaexerceroseuofícioouprofissão,

ouse lhediminuaacapacidadede trabalho,a indenização,alémdasdespesasdo tratamentoe lucros

cessantesatéaofimdaconvalescença, incluirápensãocorrespondenteà importânciadotrabalhopara

queseinabilitou,oudadepreciaçãoqueelesofreu.

Parágrafoúnico.Oprejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja arbitrada e pagade

umasóvez.

Art.951.Odispostonosarts.948,949e950aplica-seaindanocasodeindenizaçãodevidaporaquele

que,noexercíciodeatividadeprofissional,pornegligência,imprudênciaouimperícia,causaramorte

dopaciente,agravar-lheomal,causar-lhelesão,ouinabilitá-loparaotrabalho”.

Interessante notar que, em caso de homicídio, regra geral, a indenização

materialdevidaàfamíliadevítimapobreéfixadaemsaláriomínimo,calculado

mensalmente.

Page 466: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Se a vítima não for pobre, o juiz fixa o valor segundo o que a mesma

efetivamentepercebia,ousepereceumenor 546,aexpectativadoquereceberia.

Dessevalor,abate-seumafraçãocorrespondenteaoqueavítimagastariacom

elamesma(1/3,porexemplo).

O restante corresponde à indenização devida aos seus sucessores, até os 65

anosdeidadedavítima,segundoajurisprudênciaassentada.

Talverbaindenizatóriapelodanomaterialsofridopelosseusfamiliarespode

sercumuladacomaindenizaçãopordanomoral,jáquetêmnaturezadiversa.

4.3.Danosdecorrentesdeusurpaçãoeesbulho

Tambémnahipótesedelesõesaopatrimôniomaterialdapessoa,alegislação

civilestabeleceparâmetrosobjetivosparatalreparação,nostermosdoart.952:

“Art. 952. Havendo usurpação ou esbulho do alheio, além da restituição da coisa, a indenização

consistirá empagarovalordas suasdeteriorações eodevidoa títulode lucros cessantes; faltandoa

coisa,dever-se-áreembolsaroseuequivalenteaoprejudicado.

Parágrafoúnico.Paraserestituiroequivalente,quandonãoexistaaprópriacoisa,estimar-se-áelapelo

seupreçoordinárioepelodeafeição,contantoqueestenãoseavantajeàquele”.

Aregraéclaraeapenasexplicitacritériosóbviosdeindenização.

Interessante apenas esclarecer que o seu parágrafo único “estabelece a

indenizabilidadedodanomoralporofensaaumbemmaterial,quandoestenão

maisexiste” 547.

4.4.Indenizaçãoporinjúria,difamaçãooucalúnia

Noquedizrespeitoaotemaemepígrafe,estabeleceoCódigoCivilbrasileiro:

Page 467: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

“Art.953.Aindenizaçãopor injúria,difamaçãooucalúniaconsistiránareparaçãododanoquedelas

resulteaoofendido.

Parágrafo único. Se o ofendido não puder provar prejuízo material, caberá ao juiz fixar,

equitativamente,ovalordaindenização,naconformidadedascircunstânciasdocaso”.

Não havendo estabelecido critério objetivo para a fixação de indenização

comofeitopelaleirevogada(art.1.547),paraocasodecometimentodecrimes

contraahonra,andoubemolegislador,considerandoadificuldadeemmensurar

o“preçodador”.

Recorreu,pois,oparágrafoúnicoàequidade(conceitoaberto)paraefeitode

sefixardeformajustaaindenização,deacordocomaspeculiaridadesdocaso

concreto,ematençãoaoprincípiodaconcretudeedaoperacionalidadedonovo

Código, defendidos por nosso mestre REALE (coordenador da comissão

elaboradoradoCódigoCivil).

4.5.Indenizaçãoporofensaàliberdadepessoal

“Art.954.Aindenizaçãoporofensaàliberdadepessoalconsistiránopagamentodasperdasedanosque

sobrevieremaoofendido, e se estenãopuderprovarprejuízo, temaplicaçãoodispostonoparágrafo

únicodoartigoantecedente.

Parágrafoúnico.Consideram-seofensivosdaliberdadepessoal:

I—ocárcereprivado;

II—aprisãoporqueixaoudenúnciafalsaedemá-fé;

III—aprisãoilegal.”

Namesmalinha,excluíram-secritériosobjetivosdepredeterminaçãodedanos

(arts.1.550e1.551doCódigoanterior),ematençãoaofatodesetratardelesão

adireitosdapersonalidade,cujamensuraçãoémelhorfeitapelomagistrado,no

Page 468: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

casoconcreto,desdequeatuecomadevidacautelaebomsenso.

5.QUANTIFICAÇÃODEINDENIZAÇÕESPORDANOSMORAIS

ConformeobservaJOÃODELIMATEIXEIRAFILHO,

“nãohánegarqueacompensaçãopecuniáriadominanascondenações judiciais, sejapor influxosdo

cenárioeconômico,antesinstáveleagoraemfasedeestabilização,sejapelamaiorliberdadedojuizem

fixaro‘quantumdebeatur’.Devefazê-loembanhadoemprudênciaenorteadoporalgumaspremissas,

tais como: a extensão do fato inquinado (número de pessoas atingidas, de assistentes ou de

conhecedoras por efeito de repercussão); permanência temporal (o sofrimento é efêmero, pode ser

atenuadooutendeaseprolongarnotempoporrazãoplausível);intensidade(oatoilícitofoivenialou

grave,dolosoouculposo);antecedentesdoagente(areincidênciadoinfratordeveagravarareparaçãoa

serprestadaaoofendido);situaçãoeconômicadoofensorerazoabilidadedovalor” 548.

Dois são os sistemas que a dogmática jurídica oferece para a reparação

pecuniáriadosdanosmorais:osistematarifárioeosistemaaberto.

Noprimeirocaso,háumapredeterminação,legaloujurisprudencial,dovalor

da indenização, aplicando o juiz a regra a cada caso concreto, observando o

limitedovalorestabelecidoemcadasituação.SegundonosinformaORLANDO

TEIXEIRADACOSTA,éoqueocorrenosEstadosUnidosdaAmérica 549.

Jápelosistemaaberto,atribui-seaojuizacompetênciaparafixaroquantum

subjetivamentecorrespondenteàreparação/compensaçãodalesão,sendoesteo

sistemaadotadonoBrasil.

Vejamos, nos próximos tópicos, algumas sugestões de critérios legais e

doutrináriosparaaquantificaçãodareparaçãopecuniáriadodanomoral.

5.1.Critériosdequantificação

Page 469: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

5.1.1.Arbitramento

Quantoaoressarcimentodosdanosmorais,ensinaMiguelRealequesetrata

deum“domínioemquenãosepodedeixardeconferirampladiscricionariedade

aomagistradoqueexaminaosfatosemsuaconcretitude 550.

Issoporqueéinegávelaexistênciadelacunaemnossosistemalegal,nãose

podendoinvocaroutraformadequantificaçãoquenãooarbitramento.

Eisumanorma translativadoproblemadeconteúdo,pertinenteaoscritérios

dearbitramento,quenãopodemserosusuaisaplicáveisemassuntosdeordem

econômicaepatrimonial,exatamenteemrazãodanatureza‘nãopatrimonial’do

danomoral.

Pensoqueoscritériosaseremaplicados,noarbitramento,devemresultarda

natureza jurídicadodanomoral,oumelhor,da finalidadequese tememvista

satisfazermedianteaindenização”.

Dispunhaoart.1.553doCódigoCivilde1916(semequivalentenoCódigo

Civil de 2002), referente à “Liquidação das obrigações resultantes de atos

ilícitos”, que, nos casos não previstos naquele capítulo, “se fixará por

arbitramentoaindenização”.

A doutrina nacional tem reconhecido a importância desse dispositivo,

lembrando JOSÉDEAGUIARDIAS que “não é razão para não indenizar, e

assimbeneficiaroresponsável,ofatodenãoserpossívelestabelecerequivalente

exato, porque, em matéria de dano moral, o arbitrário é até da essência das

coisas” 551, observando, inclusive, que “o arbitramento, de sua parte, é, por

excelência,ocritériodeindenizarodanomoral,aliás,oúnicopossível,emface

Page 470: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

daimpossibilidadedeavaliarmatematicamenteo‘pretiumdoloris’” 552.

Em verdade, consideramos que o arbitramento é o procedimento natural da

liquidação do dano moral, até mesmo por aplicação direta do art. 509, I, do

CPC/2015(correspondenteaoart.475-CdoCPC/1973,notadamenteseuinciso

II),quedispõe,expressamente:

“Art. 509. Quando a sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida, proceder-se-á à sua

liquidação,arequerimentodocredoroudodevedor:

I—porarbitramento,quandodeterminadopelasentença,convencionadopelaspartesouexigidopela

naturezadoobjetodaliquidação;

II—peloprocedimentocomum,quandohouvernecessidadedealegareprovarfatonovo.

§ 1.º Quando na sentença houver uma parte líquida e outra ilíquida, ao credor é lícito promover

simultaneamenteaexecuçãodaquelae,emautosapartados,aliquidaçãodesta.

§2.ºQuandoa apuraçãodovalordepender apenasde cálculo aritmético,o credorpoderápromover,

desdelogo,ocumprimentodasentença.

§3.ºOConselhoNacionaldeJustiçadesenvolveráecolocaráàdisposiçãodosinteressadosprograma

deatualizaçãofinanceira.

§4.ºNaliquidaçãoévedadodiscutirdenovoalideoumodificarasentençaqueajulgou”.

Ora, o objeto da liquidação da reparação pecuniária do dano moral é uma

importânciaquecompensaalesãoextrapatrimonialsofrida.Nãohácomoevitar

a ideia de que, efetivamente, a natureza do objeto da liquidação exige o

arbitramento, uma vez que os simples cálculos ou os artigos são inviáveis, na

espécie.

Umaquestãoquenormalmenteéomitidapormuitosdosqueseaventurama

escreversobrearesponsabilidadecivilpordanosmorais,noquedizrespeitoà

sualiquidação,éaseguinte:noarbitramento,aprovapericialéindispensável?

Page 471: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Talquestãotemporbaseasreferênciasàprovapericialtantonoart.475-D,do

CPC/1973 553,quantonojátranscritoart.510doCPC/2015.

A interpretação literal dos mencionados dispositivos resultariam numa

respostapositiva.

Contudo,nuncafoiessaanossavisãosobreamatéria.

Com efeito, entendemos que a prova pericial é efetivamente o meio de

liquidaçãonaturalpara se aferir, por exemplo,danosmateriais comoos lucros

cessantes.

É esse o exemplo clássico apontado por PAULO FURTADO para as

“hipótesesemqueasentençanãopode,de logo,determinarqueoquantumse

apureporcálculodocontador,porqueessecálculodependeriadeatividadedo

“árbitro”,ouperito,queforneceriaelementosdequenãosedispõeainda” 554.

Todavia, noquediz respeito à reparaçãodosdanosmorais, a provapericial

terá pouca (se não nenhuma!) valia, uma vez que inexistemdadosmateriais a

seremapuradosparaaefetivaçãodaliquidação.

Dessaforma,anossarespostaàquestãosuscitadasemprefoinegativa.

Mascomodeveserprocedidaaliquidaçãoporarbitramentodedanosmorais

semaprovapericialmencionadapelalei?

Arespostanosparecelógica.

O Juiz, investindo-se na condição de árbitro, fixa a quantia que considera

razoávelparacompensarodanosofrido.Para isso,podeomagistradovaler-se

de quaisquer parâmetros sugeridos pelas partes 555 ou, mesmo, adotados de

Page 472: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

acordo com sua consciência e noção de equidade, entendida esta na visão

aristotélicade“justiçanocasoconcreto”.

Nessesentido,jáensinavaWASHINGTONDEBARROSMONTEIROque

“inexiste, de fato, qualquer elemento que permita equacionar com rigorosa exatidão o dano moral,

fixando-onuma somaemdinheiro.Mas será semprepossível arbitrar umquantum,maior oumenor,

tendoemvistaograudeculpaeacondiçãosocialdoofendido” 556.

E,de certa forma, anovadisposição sobre amatéria contidanoart. 510do

CPC/2015 557(equivalenteaoart.475-DdoCPC/1973)respaldaaindamaisesta

nossa visão, já que admite expressamente a decisão pelo magistrado somente

comos“pareceresoudocumentoselucidativos”apresentadospelaspartes.

Sobre a matéria, já escrevemos anteriormente 558 que existem, no vigente

ordenamento jurídico brasileiro, diversas hipóteses legais de decisão por

equidade.

Emtodosessescasos,éfacultadoexpressamentequeojulgadorpossavaler-se

deseuspróprioscritériosdejustiça,quandovaidecidir,nãoestandoadstritoàs

regras,parâmetrosoumétodosdeinterpretaçãopreestabelecidos.

ConformeensinaTÉRCIOSAMPAIOFERRAZJR.,

o“juízoporequidade,nafaltadenormapositiva,éorecursoaumaespéciedeintuição,noconcreto,

das exigências da justiça enquanto igualdade proporcional.O intérprete deve, porém, sempre buscar

uma racionalização desta intuição, mediante uma análise das considerações práticas dos efeitos

presumíveis das soluções encontradas, o que exige juízos empíricos e de valor, os quais aparecem

fundidosnaexpressãojuízoporequidade” 559.

É preciso, sem sombra de dúvida, que o magistrado, enquanto órgão

jurisdicional, não fique com seu raciocínio limitado à busca de um parâmetro

Page 473: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

objetivo definitivo (que não existe, nem nunca existirá) para todo e qualquer

caso, como se as relações humanas pudessem ser solucionadas como simples

contasmatemáticas.

Dessaforma,propugnamospelaamplaliberdadedojuizparafixaroquantum

condenatóriojánadecisãocognitivaquereconheceuodanomoral.Saliente-se,

inclusive,queseovalorarbitradoforconsideradoinsatisfatórioouexcessivo,as

partes poderão expor sua irresignação a uma instância superior, revisora da

decisãoprolatada,porforçadoduplo(quiçátriploouquádruplo,secontarmosa

instânciaextraordinária)graudejurisdição.

5.1.2.Indenizaçõescomparâmetrostarifados

O constante receio de excessos na fixação das reparações civis por danos

moraistempreocupadooslegisladoresbrasileiros.

Porisso,hánotíciadeapresentaçãodeprojetosdeleiquebuscamestabelecer

parâmetrostarifadosparaacondenaçãoemindenizaçãodetaltipo.

A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, por exemplo, havia

aprovado parâmetros para a fixação de valores arbitrados em casos de

indenizaçãopordanosmorais.DeacordocomosubstitutivodosenadorPedro

Simon (PL7124/2002) ao projeto de lei do senadorAntonioCarlosValadares

(PL 5150/99), os valores deveriam variar de R$ 20 mil a R$ 180 mil. A

proposição,noentanto,foiarquivadanaCâmaradosDeputados.

Emboraarquivada,valeapenaconhecerosubstitutivo.

“PARECERN....,DE2001

Page 474: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

DaCOMISSÃODECONSTITUIÇÃO, JUSTIÇAECIDADANIA, sobre o

ProjetodeLeidoSenadon.150,de1999,que‘dispõesobredanosmoraisesua

reparação’.

RELATOR:PEDROSIMON

I—RELATÓRIO

VemaoexamedestaComissãodeConstituição,JustiçaeCidadaniaoProjeto

deLeidoSenadon.º150,de1999,deautoriadoilustreSenadorAntonioCarlos

Valadares,que‘dispõesobredanosmoraisesuareparação’.

Aproposiçãotemporobjetivodisciplinaroinstitutododanomoraleoferecer

parâmetrosaojuizparaafixaçãodo‘quantum’indenizatório,complementando,

assim,odispostonoart.5.º,VeX,daConstituiçãoFederal.

Poroportuno, informoaosmeus ilustresParesque submeti, à apreciaçãode

um grande número de juristas, o texto do Projeto de Lei sob análise, com o

objetivodecolhersubsídiosàelaboraçãodopresenteParecer.Destacoaespecial

colaboraçãodorenomadojuristagaúchoOvídioA.BaptistadaSilva.

Seguiu,aproposiçãoemanálise,asrecomendaçõesdaLeiComplementarn.

95,de26defevereirode1998.

Noprazoregimental,nãoforamoferecidasemendas.

II—DAANÁLISE

Faz-se,aseguir,análisepormenorizadadosartigosdaproposição,bemcomo

das propostas de alterações que estarão contempladas no Substitutivo que

apresentoaofinaldesteparecer.

Page 475: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

RedaçãodaProposição

Art. 1.º Constitui dano moral a ação ou omissão que ofenda o patrimônio

moraldapessoafísicaoujurídica,edosentespolíticos,aindaquenãoatinjao

seuconceitonacoletividade.

Comentários

A conceituação do dano moral está bem definida. A inserção das pessoas

jurídicasedosentespolíticosnoroldepessoassujeitasàindenizaçãopordano

moral constitui antiga reivindicação doutrinária. Também a jurisprudência dos

nossos Tribunais, antes tímida e tergiversante, está, hoje, inclinando-se

definitivamente ao reconhecimento do direito das pessoas jurídicas de

permaneceremnopoloativooupassivodasdemandasjudiciaisquetratamdas

indenizaçõespordanomoral.

É importantedestacaro inovador arestodoSuperiorTribunalde Justiça, no

REspn. 60/033-2, relatadopelo insigneMinistroRuyRosadodeAguiar, cuja

Ementaéaseguinte:

‘Responsabilidadeciviledanomoral—pessoajurídica.Ahonraobjetivada

pessoa jurídica pode ser ofendida pelo protesto indevido de título cambial,

cabendoindenizaçãopelodanoextrapatrimonialdecorrente’.

RedaçãodaProposição

Art.2.ºSãobensjuridicamentetuteladosporestaLei:

I — inerentes à pessoa física, o nome, a honra, a fama, a imagem, a

intimidade,acredibilidade,arespeitabilidade,aliberdadedeação,aautoestima,

Page 476: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

o respeito próprio, a integridade, a segurança e o objeto dos contratos

regularmentefirmados;

II—inerentesàpessoa jurídicaeaosentespolíticos,a imagem,amarca,o

símbolo, o prestígio, o nome, a liberdade de ação, a respeitabilidade, o objeto

doscontratosregularmentefirmados,asegurançaeosigilodecorrespondência,

científico,industrialedecrédito.

Comentários

OjuristaOvídioA.BaptistadaSilva,nassuasconsideraçõessobreoart.2.º

doProjetosobanálise,afirmou:

‘O art. 2.º, I, inclui, dentre os ‘bens juridicamente tutelados’, inerentes à

pessoa física, tais como nome, a honra e a fama, também ‘a integridade, a

segurança e o objeto do contrato’. Não me parece correta essa ampliação no

conceitode‘danomoral’.TalcomoestáredigidooProjeto,seriaplausívelque

alguém postulasse indenização por ‘dano moral’, em razão de haver o

demandadoatentadocontraa‘segurança’dos‘contratosregularmentefirmados’,

ouquandoatentassecontraopróprio‘objeto’docontrato,oque,ameuver,seria

absurdo.

No mesmo art. 2.º, inc. II, incluem-se, dentre os ‘bens juridicamente

tutelados’, ‘a liberdade de ação’, a ‘intimidade’ e o ‘objeto dos contratos

regularmentefirmados’.

Considero igualmente incorreta a inclusãoda eventual agressão à ‘liberdade

de ação’ como causa capaz de legitimar uma demanda destinada a postular

indenizaçãopordanomoral.Omesmosepoderádizerdaofensaao‘objetodos

Page 477: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

contratos’.Como está noProjeto, o locador poderia postular a condenação do

inquilinoaindenizar-lheosdanosmoraisdecorrentesdadanificaçãodoimóvel

locado,umavezquetalagressãoaumbempatrimonialpoderiaserqualificada

comoagressãoinerenteàintegridadedoobjetodocontrato.

Nem me parece correto indicar como possível uma ofensa moral à

‘intimidade’dapessoajurídica.

Aliás, a própria redação do art. 2.º não é correta. A proposição inscrita no

caput do artigodispõedestemodo: ‘Sãobens juridicamente tuteladospor esta

lei’. Espera-se que, a seguir, o texto arrole os bens a que a norma se refere.

Todavia,otextocontinuaaludindoa‘inerentes’.

Lendo-se,portanto,aproposiçãonormativa,emsuaintegralidade,teremos:

‘Sãobensjuridicamentetuteladosporestaleiinerentesàpessoa’,etc.,quando

ogramaticalmentecorretoseriadizer:

‘Sãobensjuridicamentetuteladosporestaleiaquelesinerentes...’.

Nesse mesmo inc. II do art. 2.º, há referência à ‘segurança e o sigilo de

correspondência’.A seguir, está escrito: ‘científico, industrial e de crédito’.A

locuçãoestá semsentido,pois, seoquesepretendeusignificar foio sigiloda

correspondênciacientífica,esteadjetivoteriadeestargrafadocomopalavrade

gênerofeminino.Alémdisso,nãopareceapropriadaaalusãoà‘correspondência

industrial’eàcorrespondência‘decrédito’.

Os judiciosos fundamentos expendidos pelo Dr. Ovídio Baptista devem ser

acolhidos.Osubstitutivoaseguirapresentadotratarádascorreçõesdeméritoe

redacionais, de acordo com as sugestões do ilustre colaborador citado. Além

Page 478: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

disso,achamosque,paraummelhorentendimento,hajaodesmembramentoem

artigosdistintosdosdispositivoscontempladosnoartigonaformadiscriminada

dedoisincisos.

RedaçãodaProposição

Art.3.ºSãoconsideradosresponsáveispelodanomoraltodososquetenham

colaboradoparaaofensaaobemjurídicotutelado,naproporçãodaaçãoouda

omissão.

Comentários

A redação do artigo não merece correções. Estabeleceu-se a solidariedade

proporcional(deacordocomaaçãoouomissão),entreosagentesdodano.

RedaçãodaProposição

Art.4.ºAindenizaçãopordanosmoraispodeserrequeridacumulativamente,

nosmesmosautos,comadecorrentededanosmateriaisconexos.

§ 1.º Se houver cumulação de pedidos de indenização, o juiz, ao exarar a

sentença,discriminaráosvaloresdasindenizaçõesatítulodedanospatrimoniais

ededanosmorais.

§ 2.ºO valor da indenização por danosmateriais não serve de parâmetro à

reparaçãodedanosmorais.

§ 3.º A composição das perdas e danos, assim compreendidos os lucros

cessanteseosdanosemergentes,nãoserefletenaavaliaçãodosdanosmorais.

Comentários

Page 479: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Socorremo-nos,mais uma vez, das lúcidas razões expostas peloDr.Ovídio

Baptista,nasuaprestimosacolaboraçãocomonossotrabalho.Afirmaoilustre

jurista,referindo-seaoart.4.ºdaproposição:

‘Noart.4.ºentendonãoseramaisaconselhávelamençãoaosdanosmateriais

‘conexos’, pelamargem de imprecisão que o conceito de conexidade tem em

direito, especialmente em processo. Talvez melhor fosse aludir o texto à

possibilidadedepedir-seindenizaçãopordanosmoraiscumulativamentecomos

danosmateriais‘decorrentesdomesmoatolesivo’.

O§2.ºdoart.4.ºédispensável,poisaideiaqueeleexpressaestá,ameuver,

repetidano§3.ºdomesmoartigo.Julgoaconselhávelquesebusquefundiresses

doisparágrafosnumsó.

Acrescente-se,ainda,queaexpressão—nosmesmosautos—é imprópria.

Melhorseteriaditonomesmopedido.Acumulaçãoédepedidosenãodeautos.

Osautossãoúnicos.

O Substitutivo que a seguir apresento corrige as imperfeições de ordem

técnica,acimadetectadas.

RedaçãodaProposição

Art.5.ºNãotemanaturezadereparaçãodedanosmoraisaobrigatoriedadeao

pagamento de pensão a quem faz jus a ela por ter ficado impossibilitado de

trabalhar.

Comentários

Oartigosobanáliseédispensável.Oart.4.º,caput,jádizqueaindenização

Page 480: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

por danos morais pode ser requerida cumulativamente, com pedido de

indenizaçãopor danosmateriais (de acordo coma redaçãodo substitutivo).A

hipóteselevantadanoartigosobcomentoéodapossibilidadedecumulaçãode

pedidosde indenizaçãoporacidentedo trabalho,ouporatos ilícitosemgeral,

comopedidodeindenizaçãopordanomoralemdecorrênciadomesmofato.

A jurisprudência tem reconhecido essa possibilidade. Nesse sentido é o

acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal, na Apelação

Cíveln.48.162/98:

‘Ementa

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. ACIDENTE DE TRABALHO. MORTE DE

EMPREGADO.CULPADOEMPREGADOR.TEORIADORISCO.DANOS

MATERIAISEMORAIS.VALOR.

1—

2 — Valor da indenização por danos materiais e morais que se mostra

adequadonaespécienãoreclamamodificação.

3—Apeloimprovido’.

RedaçãodaProposição

Art.6.ºSomenteodanocertodádireitoàreparação.

Parágrafo único. Dano certo, para os efeitos desta Lei, é o que decorre de

condição ou fato que atinja o bem tutelado, não limitado à imaginação ou

convicçãopessoaleexclusivadasupostavítima.

Comentários

Page 481: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

DadaapropriedadedoscomentáriosqueoDr.OvídioBaptistafezsobreoart.

6.º,emreferência,passoatranscrevê-los:

‘Sugiroqueseretiredoart.6.ºareferênciaa‘danocerto’.Arazãoésimples.

Todo dano, depois de comprovado em juízo, será um dano certo. Antes da

sentença, todos eles serão necessariamente incertos, posto que objeto de

controvérsia.Danocertoéumconceitodedireitomaterial.Oqueaparececomo

certo, torna-se simples hipótese, ou simples plausibilidade (portanto, incerto)

quando posto numa relação processual litigiosa. A própria tentativa de

conceituaçãodoqueseja‘danocerto’,constantedoparágrafoúnicodoart.6.º,

nãoésatisfatória.

Dizerquesomenteo‘danocerto’dádireitoàreparaçãoéomesmoquedizer

queoproprietário temdireitode reivindicaroque lhepertence,queo locador

temdireitoàpercepçãodosaluguéisequeocredortemdireitoaopagamentoou

oacionistaaosdividendos.

Todos esses conceitos referem-se ao que acontece depois da sentença de

procedência,portanto,cuida-sedeexplicitaçãoinútil’.

Indo além dos doutos argumentos expostos pelo jurista citado, permito-me

opinar pela supressão do art. 6.º. Todos os fatos levados à apreciação judicial

dependemdeprova,salvoseocorreràrevelia.Emqualquerhipótese,opedido

indenizatório, para tornar-se exequível, depende de decisão judicial

fundamentada(art.131doCódigodeProcessoCivil).

RedaçãodaProposição

Art.7.ºAanálise,aopiniãoouocomentário,oraisouescritos,publicadosou

Page 482: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

integrantes de ação judicial, a respeito de fato ou condição, ainda que

desfavoráveisàpessoafísica,jurídica,ouaoentepolítico,sóensejamreparação

dedanosmoraissecaracterizaremcalúnia,difamaçãoouinjúria.

Comentários

Aredaçãodoartigoéconfusa.AmatériaétratadapelaLein.5.250,de9de

fevereirode1967,comassuassucessivasalterações—LeideImprensa.

Não seria recomendável restringir o direito de ação aos casos de injúria,

difamação e calúnia. O direito de ação é autônomo, público e abstrato, nas

palavrasdoprocessualistaalemãoAdolfWack.

Ojuiz,diantedosfatosnarradosnopedido,apósocontraditórioeacolheita

dasprovas,decidirá.Adecisãoseráobrigatoriamentefundamentada.

Não vislumbro a necessidade da manutenção do art. 7.º da proposição. O

Substitutivoqueoraapresentofaráasupressãodoart.7.º,emreferência.

RedaçãodaProposição

Art.8.ºAsituaçãodeirregularidadedoagenteouprepostodaadministração

nãoaisentadaresponsabilidadeobjetivadeindenizarodanomoral,ressalvado

odireitoderegresso.

Comentários

Nãohá nada amodificar no artigo sob comento, exceto a substituição do a

minúsculo da palavra administração para maiúsculo, com o objetivo de

identificaraadministraçãopública.

RedaçãodaProposição

Page 483: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Art.9.ºConstituidanodiretoocausadoàprópriavítimaeindiretooque,além

da vítima, ofende a sua família ou a coletividade, provocando-lhes justa

indignaçãoourevolta.

§1.ºCaracterizando-se,nodanoindireto,odesinteressedoofendidooudesua

família, a coletividade promoverá a ação por meio doMinistério Público, no

prazodeseismeses,acontardadataemquesecaracterizarodesinteresse.

§2.ºOdesinteressedoofendidooudesuafamíliasecaracterizapelainércia

noajuizamentodaaçãopeloprazodeseismeses,observadoodispostonoart.

12.

Comentários

Nãovislumbronecessidadedaconceituaçãododanodiretoedodanoindireto,

nem, tampouco,apossibilidadedea famíliaouacoletividadeassumirposição

de autoras de uma ação indenizatória por danosmorais.Quem representaria a

famíliaparaosfinsaqueserefereaproposição?Damesmaforma,areferência

à coletividade é vaga. Quem a representaria? Dar aoMinistério Público uma

funçãoqueépersonalíssima,fazendo-osubstituiraparte,parece-mequenãoéa

melhorsolução.

O Ministério Público já tem a função de propor a ação civil pública para

defesadomeioambiente,doconsumidor,dosbensedireitosdevalorartístico,

estético,histórico,turísticoepaisagístico(Lein.7.347,de24dejulhode1985).

Seria recomendável dar a elemais essa função—propor a ação indenizatória

por dano moral em defesa do gênero família ou da coletividade,

independentementedeumafórmulamaisdefinida?

Page 484: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Opinopelasupressãodoart.9.ºeseusparágrafos.

RedaçãodaProposição

Art. 10. Não havendo quem os represente, serão, desde a data do fato ou

condição,representadospeloMinistérioPúblicoocivilmenteincapaz,oquese

encontraemestadodecoma,odoente terminal,ouoque,porqualquer razão,

aindaqueeventual,nãopossadiscernir a respeitodaofensaoudiminuiçãodo

seupatrimôniomoral.

Parágrafo único. A indenização, na hipótese deste artigo, reverterá ao

ofendidoouàsuafamília.

Comentários

ChamonovamenteàcolaçãoaopiniãodoDr.OvídioBaptista,sobreoart.10

daproposição:

‘Nãoencontrorazãoparaqueaindenizaçãodevidaaoscivilmenteincapazes

seja outorgada a ele ‘ou a sua família’. Creio que a norma ficou obscura. A

circunstânciadeoincapaznãopoder‘discernirarespeitodaofensa’nãodeveria

autorizarqueaindenizaçãolhefosseretirada,parareverteràsuafamília’.

Ressalte-se,ainda,que‘ocivilmente incapaz,oqueseencontraemcoma,o

doente terminal, ou o que, por qualquer razão, ainda que eventual, não possa

discernirarespeitodaofensaoudiminuiçãodoseupatrimôniomoral’, tem,na

legislaçãopátria,asuaformaderepresentação.Entreelasatutelaeacuratela.

SeriarecomendáveldaraoMinistérioPúblicomaisessafunção?Nãoseriauma

intromissãoindevidanavidaprivadadaspessoas?Osentimentodedordaparte

poderia ser substituído pela ação do Ministério Público? Estaria aquele ente

Page 485: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

público, no caso, exercendo uma função que lhe é peculiar? Não encontrei

respostasparaessasindagaçõese,poressarazão,opinopelasupressãodoart.10

eseuparágrafoúnicodaproposição.

RedaçãodaProposição

Art. 11. Ao apreciar o pedido, o juiz considerará o teor do bem jurídico

tutelado,os reflexospessoais e sociaisda açãoouomissão, apossibilidadede

superaçãofísicaoupsicológica,assimcomoaextensãoeduraçãodosefeitosda

ofensa.

§1.ºSejulgarprocedenteopedido,ojuizfixaráaindenizaçãoaserpaga,a

cadaumdosofendidos,emumdosseguintesníveis:

I—ofensadenaturezaleve:atécincomileduzentosreais;

II—ofensadenaturezamédia:decincomilduzentoseumreaisaquarenta

milreais;

III—ofensadenaturezagrave:dequarentamileumreaisacemmilreais;

IV—ofensadenaturezagravíssima:acimadecemmilreais.

§ 2.º Na fixação do valor da indenização, o juiz levará em conta, ainda, a

situação social, política e econômica das pessoas envolvidas, as condições em

que ocorreu a ofensa ou o prejuízo moral, a intensidade do sofrimento ou

humilhação, o grau de dolo ou culpa, a existência de retratação espontânea, o

esforçoefetivoparaminimizaraofensaoulesãoeoperdão,tácitoouexpresso.

§3.ºAcapacidadefinanceiradocausadordodano,porsisó,nãoautorizaa

fixaçãoda indenizaçãoemvalorquepropicieo enriquecimento semcausa,ou

Page 486: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

desproporcional,davítimaoudeterceirointeressado.

§4.ºNareincidência,oudiantedaindiferençadoofensor,ojuizpoderáelevar

aotriploovalordaindenização.

§5.ºNahipótesedos§§1.ºe2.ºdoart.9.º,aindenizaçãopoderá,acritériodo

juiz, ser destinada a instituição pública de assistência social ou convertida em

prestaçãodeserviçosàcomunidade.

Comentários

No art. 11 da proposição, concentram-se as suas grandes dificuldades —

transformar uma situação de total subjetivismo na fixação dos valores das

indenizaçõespordanosmoraisaumanovaordemcomcertasregrasdefinidas.

Comobuscaraequaçãoideal?Quaisseriamosvaloresquemelhoratenderiam

aos fins da proposição? Dever-se-ia, ou não, estabelecer um teto para as

indenizações? Estas, entre outras questões, são preocupações inquietantes que

afligemaalmadolegislador.

ApartirdaCartaPolíticade1988,osjuízeseosTribunaispassaramareceber

um grande número de ações e recursos, versando sobre as indenizações por

danos morais. No âmbito recursal, os pedidos foram percorrendo os seus

caminhos. Tribunais diferentes passaram a impor indenizações sobre fatos

semelhantes em valores díspares. Estava aberta a possibilidade de recurso

especialaoSuperiorTribunaldeJustiçacomfundamentonoart.105, III, letra

‘c’, da Constituição Federal. Os julgamentos passaram a ser em série. A 4.ª

Turma do STJ fixou um teto de 500 salários mínimos — R$ 90.000,00,

conformeinformaarevistaVeja,ediçãon.1722,pg.154,de17deoutubrode

Page 487: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

2001(cópiaanexa).

Entendiporbemalterar,porviadoSubstitutivoqueoraapresento,osvalores

constantes da proposição, elevando o teto da ofensa de natureza leve paraR$

20.000,00;fixandoaofensadenaturezamédiadeR$20.000,00aR$90.000,00,

eainda, fixandoaofensadenaturezagravedeR$90.000,00aR$180.000,00.

Suprimi a ofensa gravíssima, por entender que o superlativo fazia-se

desnecessário.Ojuizpoderádosaraindenizaçãosemrecorreraele.

Asalteraçõesprocedidasnafixaçãodosvalorestiveramafinalidadededarao

juizopodermáximodeinterpretaçãosobreoscasosconcretosquevirãoàsua

análise, mas afigurou-me conveniente a adoção de um valor máximo — R$

180.000,00,ou1.000saláriosmínimos.Afaltadafixaçãodeumvalormáximo

deixariaaproposiçãosemsentido.Nãoéoutraaopiniãodoconsagradojurista

Ovídio Baptista sobre a importância da fixação do teto máximo para as

indenizaçõespordanomoral.

Não nos aproximamos demais do direito norte-americano, que admite, em

algunsdosseusEstados,asindenizaçõespordanosmoraissemqualquerlimite.

Noentanto,otetoorafixadonoSubstitutivovaialémdoqueosTribunaistêm

admitido—odobrodovalorque aEgrégia4.ªTurmadoSTJadotanos seus

julgamentos.

O§4.ºdoart.11ficouprejudicado,umavezqueoart.9.ºfoisuprimidopor

forçadoSubstitutivooraapresentado.

RedaçãodaProposição

Art. 12. Prescreve em seis meses o prazo para o ajuizamento de ação

Page 488: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

indenizatória por danos morais, a contar da data do conhecimento do ato ou

omissãolesivosaopatrimôniomoral,ressalvadoodispostono§1.ºdoart.9.º.

Comentários

Oprazoprescricionalestábemdefinido.Noentanto,énecessáriaacorreção

daredaçãodoartigo,emfacedasupressãodoart.9.ºdaproposição(redaçãodo

Substitutivo).

RedaçãodaProposição

Art. 13.Os arts. 159 e 1.518daLei n. 3.071, de 1.º de janeiro de 1916—

CódigoCivil—,nãoseaplicamàsaçõesdereparaçãodedanosmorais.

Comentários

A conceituação do dano moral e a sua reparação constituem matéria

independentedosartigosenfocadosdoCódigoCivil,porforçadoquedispõea

ConstituiçãodaRepúblicasobreoinstitutosobenfoque.

Apresentoasalteraçõesformaise redacionaisaopresenteProjetodeLei,de

acordo com as justificativas lançadas nos comentários acima, na forma de um

substitutivo.

PROJETODELEIDOSENADON.150(SUBSTITUTIVO),DE1999

Dispõesobredanosmoraisesuareparação.

OCONGRESSONACIONALDECRETA:

Art. 1.º Constitui dano moral a ação ou omissão que ofenda o patrimônio

moraldapessoafísicaoujurídica,edosentespolíticos,aindaquenãoatinjao

Page 489: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

seuconceitonacoletividade.

Art.2.ºSãobensjuridicamentetuteladosporestaLeiinerentesàpessoafísica:

o nome, a honra, a fama, a imagem, a intimidade, a credibilidade, a

respeitabilidade,aliberdadedeação,aautoestima,orespeitopróprio.

Art. 3.º São bens juridicamente tutelados por esta Lei inerentes à pessoa

jurídicaeaosentespolíticos:aimagem,amarca,osímbolo,oprestígio,onome

eosigilodacorrespondência.

Art.4.ºSãoconsideradosresponsáveispelodanomoraltodososquetenham

colaboradoparaaofensaaobemjurídicotutelado,naproporçãodaaçãoouda

omissão.

Art. 5.º A indenização por danos morais pode ser pedida cumulativamente

comosdanosmateriaisdecorrentesdomesmoatolesivo.

§ 1.º Se houver cumulação de pedidos de indenização, o juiz, ao exarar a

sentença,discriminaráosvaloresdasindenizaçõesatítulodedanospatrimoniais

ededanosmorais.

§ 2.º A composição das perdas e danos, assim compreendidos os lucros

cessanteseosdanosemergentes,nãoserefletenaavaliaçãodosdanosmorais.

Art.6.ºAsituaçãodeirregularidadedoagenteouprepostodaAdministração

nãoaisentadaresponsabilidadeobjetivadeindenizarodanomoral,ressalvado

odireitoderegresso.

Art. 7.º Ao apreciar o pedido, o juiz considerará o teor do bem jurídico

tutelado,os reflexospessoais e sociaisda açãoouomissão, apossibilidadede

Page 490: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

superaçãofísicaoupsicológica,assimcomoaextensãoeduraçãodosefeitosda

ofensa.

§1.ºSejulgarprocedenteopedido,ojuizfixaráaindenizaçãoaserpaga,a

cadaumdosofendidos,emumdosseguintesníveis:

I—ofensadenaturezaleve:atévintemilreais;

II—ofensadenaturezamédia:devintemilreaisanoventamilreais;

III— ofensa de natureza grave: de noventamil reais a cento e oitentamil

reais.

§ 2.º Na fixação do valor da indenização, o juiz levará em conta, ainda, a

situação social, política e econômica das pessoas envolvidas, as condições em

que ocorreu a ofensa ou o prejuízo moral, a intensidade do sofrimento ou

humilhação, o grau de dolo ou culpa, a existência de retratação espontânea, o

esforçoefetivoparaminimizaraofensaoulesãoeoperdão,tácitoouexpresso.

§3.ºAcapacidadefinanceiradocausadordodano,porsisó,nãoautorizaa

fixaçãoda indenizaçãoemvalorquepropicieo enriquecimento semcausa,ou

desproporcional,davítimaoudeterceirointeressado.

§4.ºNareincidência,oudiantedaindiferençadoofensor,ojuizpoderáelevar

aotriploovalordaindenização.

Art. 8.º Prescreve em seis meses o prazo para o ajuizamento de ação

indenizatória por danos morais, a contar da data do conhecimento do ato ou

omissãolesivosaopatrimôniomoral.

Art. 9.ºOs arts. 159 e 1.518 daLei n. 3.071, de 1.º de janeiro de 1916—

Page 491: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

CódigoCivil—,nãoseaplicamàsaçõesdereparaçãodedanosmorais.

Art.10.EstaLeientraemvigoremcentoevintedias,acontardadatadasua

publicação.

SaladaComissão,

Presidente

Relator”

Independentementedaaceitaçãoounão(noquesepodediscutir,inclusive,a

constitucionalidade, por uma suposta violação a um princípio de reparação

integral contido no art. 5.º, V e X, da CF), não se pode negar que, em uma

macroanálisedajurisprudênciadoSTJ,épossívelsevisualizar,paulatinamente,

abuscadecritériosmaisobjetivosparaareparaçãodedanosmorais 560.

5.1.3.Outroscritériosparafixaçãodevalordeindenizaçãopordanosmorais

Para a fixaçãodovalor da indenização, poderia o juiz, aplicando tambéma

analogia, valer-se de algumas outras previsões legais de critérios para a

quantificaçãodareparaçãododanomoral.

Oquenãoreputamosconstitucionaléqueojuizestejapresoataisparâmetros.

Entreeles,lembramos,atítuloexemplificativo,orevogadoart.84doCódigo

NacionaldeTelecomunicações(Lein.4.117/63),quepreviaque,“naestimação

dodanomoral,ojuizteráemcontanotadamenteaposiçãosocialoupolíticado

ofensor, intensidade do ânimo de ofender, a gravidade e a repercussão da

ofensa”.

Page 492: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Jáosuperadoart.53daLeideImprensa(Lein.5.250/67—inexigível,tendo

emvistaoreconhecimentodesuainconstitucionalidadepeloexcelsoSTF),por

suavez,estabeleciaque:

“Art. 53. No arbitramento da indenização em reparação de dano moral, o juiz terá em conta,

notadamente:

I— a intensidade do sofrimento do ofendido, a gravidade, a natureza e repercussão da ofensa e a

posiçãosocialepolíticadoofendido;

II—aintensidadedodoloouograudaculpadoresponsável,suasituaçãoeconômicaesuacondenação

anterior em ação criminal ou cível fundada em abuso no exercício da liberdade demanifestação do

pensamentoeinformação;

III— a retratação espontânea e cabal, antes da propositura da ação penal ou cível, a publicação ou

transmissãoda respostaoupedidode retificação,nosprazosprevistosna leie independentementede

intervençãojudicial,eaextensãodareparaçãoporessemeioobtidopeloofendido”.

Atítuloilustrativo,algunsdessescritériospodemserutilizadospelojuiz,de

formasupletiva,paraarbitraracompensaçãopecuniáriacorrespondenteaodano

moral verificado, de forma a proporcionar uma condenação o mais próxima

possíveldoidealdeJustiçanocasoconcreto.

Dopontodevistaprático,porém, consideramos salutarqueoautor, emsua

petição inicial, já sugira ao órgão julgador uma importância que considere

razoávelparaacompensaçãododanomoralsofrido,justificandoosparâmetros

queolevaramaproporessevalor.

Assim,poderáomagistradovislumbrar,objetivamente,quandodasentençade

cognição, alguns parâmetros médios para a quantificação do julgado, isso

quandojánãoforconvenienteprolataradecisãolíquida,oqueagilizaráemuito

aprestaçãojurisdicional.

Page 493: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

5.2.Algumaspalavrassobreobom-sensodojulgador

Emborasejamosdefensoresdatesedaamplaliberdadedojulgadorparafixar

a reparação do danomoral, isso não quer dizer que o juiz esteja autorizado a

fixar desarrazoadas quantias a título de indenização por danomoral, uma vez

que “não se paga a dor, tendo a prestação pecuniária função meramente

satisfatória” (STJ, 2.ª T., Proc.REsp 37.374-MG,Rel.Min.HélioMosimann,

julgadoem28-9-1994).

Aindenizaçãopordanomoraldeveterjustamenteestafunçãocompensatória,

oqueimplicadeversuaestipulaçãolimitar-seapadrõesrazoáveis,nãopodendo

constituirnuma“premiação”aolesado.

Anaturezasancionadoranãopodejustificar,atítulodesupostamenteaplicar-

se uma “punição exemplar”, que o acionante veja a indenização como um

“prêmiodeloteria”ou“poupançacompulsória”obtidaàcustadolesante.

Lembre-se, inclusive, a título de recordação histórica, que o Projeto de

Reforma do Código Civil (Projeto n. 6.960/2002, depois renumerado para

276/2007, infelizmente arquivado), acrescentava umparágrafo segundo ao art.

944doCódigoCivil,dispondoque“areparaçãododanomoraldeveconstituir-

se em compensação ao lesado e adequado desestímulo ao lesante”. Com essa

parte final, talvez considerar-se-iam abertas as portas para a consagração da

teoriadaindenizaçãododanomoralcomcaráterpunitivonoBrasil 561.Vamos

ver se os parlamentares decidirão levar à frente esta mudança. Aliás, temos

defendido em sala de aula que a aplicação da teoria do desestímulo (punitive

damage) poderia explicar com mais precisão a indenização por abandono

afetivo, tema que enfrentaremos em nosso volume dedicado ao Direito de

Page 494: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Família.

De qualquer forma, não há como se desprezar que omagistrado deve atuar

sempre, no arbitramento de seu valor, com critérios de razoabilidade e de

proporcionalidade 562.

5.3.Cumulatividadedareparaçãopordanosmoraisemateriais

Umaobservaçãoimportanteaserfeitaéaexplicitaçãodequeareparaçãodo

dano patrimonial não exclui ou substitui a indenização pelos danos morais,

mesmoqueambosdecorramdomesmofato.

Isso porque é preciso entender que um único fato pode gerar diversas

consequências lesivas, tanto no patrimôniomaterializado do indivíduo, quanto

nasuaesferaextrapatrimonialdeinteresses.

Ressalte-se que a controvérsia jurisprudencial acerca da cumulatividade dos

danosmoraisepatrimoniaistemcomomarcoimportanteoanode1992,quando

oSuperiorTribunaldeJustiçaeditouaSúmula37,emconsonânciacomanova

ordemconstitucional,afirmandoque“sãocumuláveisasindenizaçõespordano

materialedanomoraloriundosdomesmofato”.

6.AQUESTÃODACULPAPARAAFIXAÇÃODAINDENIZAÇÃO

Aideiaquedeve regera fixaçãode indenizaçõeséada restituição integral,

conformeregraestampadanocaputdoart.944doCC/2002.

Todavia, conforme afirmamos em tópico anterior, a nova codificação civil

brasileiratrouxeàbaila,noparágrafoúnicodoreferidodispositivo,normaque

limitaaindenizaçãoemfunçãoda“desproporçãoentreagravidadedaculpaeo

Page 495: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

dano”,autorizandoojuizareduzir,equitativamente,aindenização.

Trata-sedeumpreceitoquepodeservistocomoumretrocessoparadoxalno

novo sistema,umavezque, se a tendência é a responsabilidade civil objetiva,

como, após a delimitação da responsabilidade, ter-se que discutir o elemento

culpa?

Anormaéválidaeelogiável,porém,semqualquersombradedúvida,paraas

hipótesesdeculpaconcorrente,que,comovisto,nãoexcluemaresponsabilidade

civil,masdevemserlevadasemconsideração,comodeterminadonoart.945:

“Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será

fixadatendo-seemcontaagravidadedesuaculpaemconfrontocomadoautordodano”.

Outra soluçãopossível seria considerar admissível esta redução apenas para

demandas calcadas na responsabilidade subjetiva (culpa), caso em que,

analisando a situação concreta, o juiz poderia reduzir o quantum, se verificar

desproporçãoentreagravidadedaculpaeodano.

Todavia,talinterpretaçãonãoéautorizadapelaliteralidadedanorma,motivo

peloqualépossívelsediscutiremsedederesponsabilidadecivilobjetiva,ainda

quedeformaexcepcional,somentequantoàquantificaçãodojulgado.

7.ALEGITIMAÇÃOPARADEMANDARPELAINDENIZAÇÃO

Em todos os capítulos anteriores, trabalhamos com a ideia de quem deve

indenizarpordanosocorridos.

Todavia, é preciso também fazer um estudo direcionado para compreender

queméquepodeexigirtalindenização.

Page 496: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Trata-se da legitimação, conceito emprestado da ciência processual para se

entender quem está autorizado, pelo ordenamento normativo, a ser sujeito de

umadeterminadarelaçãojurídica.

É lógico que o sujeito lesionado é, naturalmente, a pessoa legitimada para

pretenderumareparação.

Taldireitosetransmiteaosseusherdeiros,namedidaemqueaexistênciade

um crédito é também transferida, ipso facto, da morte, com a abertura da

sucessão,conformeseverificadeumasimplesleituradoart.943doCC/2002:

“Art.943.Odireitodeexigirreparaçãoeaobrigaçãodeprestá-latransmitem-secomaherança”.

Eissovaletambémparaasindenizaçõespordanosmorais?

Nãovislumbramosqualquerproblemanessesentido.

O Código Civil de 2002, inclusive, já infere tal reconhecimento, ao

estabelecer legitimação para herdeiros em relação à proteção de direitos da

personalidadedodecujus,conformeconstatamosnosarts.12e20,ipsislitteris:

“Art.12.Pode-seexigirquecesseaameaça,oualesão,adireitodapersonalidade,ereclamarperdase

danos,semprejuízodeoutrassançõesprevistasemlei.

Parágrafoúnico.Emsetratandodemorto,terálegitimaçãopararequereramedidaprevistanesteartigo

ocônjugesobrevivente,ouqualquerparenteemlinhareta,oucolateralatéoquartograu”.

“Art.20.Salvoseautorizadas,ousenecessáriasàadministraçãodajustiçaouàmanutençãodaordem

pública,adivulgaçãodeescritos,atransmissãodapalavra,ouapublicação,aexposiçãoouautilização

daimagemdeumapessoapoderãoserproibidas,aseurequerimentoesemprejuízodaindenizaçãoque

couber,selheatingiremahonra,aboafamaouarespeitabilidade,ousesedestinaremafinscomerciais.

Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa

proteçãoocônjuge,osascendentesouosdescendentes”.

Ajurisprudêncianacional, inclusive,vem firmandoposição,paulatinamente,

Page 497: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

nestesentido 563,oquenosparecebastanterazoável,tendoemvistaquenãose

justifica,naespécie,umtratamentodiferenciadoquantoaosaspectospecuniários

dasreparaçõespordanosmateriaisoumorais.

Page 498: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Referências

AcademiaBrasileiradeLetrasJurídicas.DicionárioJurídico.3.ed.RiodeJaneiro:Forense,1995.

AGUIAR,RogerdaSilva.ResponsabilidadeCivil—aCulpa, oRisco e oMedo. SãoPaulo:Atlas,

2011.

AGUIAR,RuyRosadode.ObrigaçõeseContratos—ProjetodeCódigoCivil.Disponívelnositedo

ConselhodaJustiçaFederal:www.cjf.gov.br.

ALMEIDA,JoãoBatistade.AAçãoCivilColetivaparaaDefesadosInteressesouDireitosIndividuais

Homogêneos.RevistadeDireitodoConsumidor,n.34,abr./jun.2000.

Alves,JoséCarlosMoreira.DireitoRomano.6.ed.RiodeJaneiro:Forense,1998.v.2.

ALVIM,Agostinho.Da InexecuçãodasObrigaçõese suasConsequências.4.ed.SãoPaulo:Saraiva,

1972.

ALVIM,Arruda.DanoMoraleasuaCoberturaSecuritária.In:IICongressodeResponsabilidadeCivil

nosTransportesTerrestresdePassageiros,1997.

AMARANTE,Aparecida.ResponsabilidadeCivilporDanoàHonra.BeloHorizonte:DelRey,1991.

Araújo,LuizAlbertoDavid.AProteçãoConstitucional daPrópria Imagem—PessoaFísica, Pessoa

JurídicaeProduto.BeloHorizonte:DelRey,1996.

ASSIS,Arakende.EficáciaCivildaSentençaPenal.2.ed.SãoPaulo:RevistadosTribunais,2000.

ASSISJR,LuizCarlosde.ResponsabilidadeCivilDecorrentedaContaminaçãodaPessoaporAgentes

Tóxicos na Sociedade do Risco: Reparando pelo Risco Atual de Patologia Futura. Dissertação de

Mestrado.Salvador:UniversidadeFederaldaBahia,2010.

AZI,CamilaLemos.ResponsabilidadeCivilporErroMédiconoDireitoBrasileiro.2000.Monografia

apresentadanoCursodeGraduaçãoemDireitodaUNIFACS—UniversidadeSalvador,Salvador/BA,

2000.

Page 499: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Bahia,SauloJoséCasali.ResponsabilidadeCivildoEstado.RiodeJaneiro:Forense,1995.

Benjamin,AntônioHermandeVasconcellose.CódigoBrasileirodeDefesadoConsumidorComentado

pelosAutoresdoAnteprojeto.5.ed.RiodeJaneiro:Forense,1997.

Beviláqua,Clóvis.CódigoCivildosEstadosUnidosdoBrasil.5.ed.SãoPaulo:FranciscoAlves,1943,

t.II.v.5.

BITTAR,CarlosAlberto.ReparaçãoCivilporDanosMorais.SãoPaulo:RevistadosTribunais,1993.

_______.ResponsabilidadeCivil—Teoria&Prática.2.ed.RiodeJaneiro:Forense,1990.

BRAGA,PaulaSarno.AReparaçãodoDanoMoralnoMeioAmbientedoTrabalho.Disponívelem:

www.unifacs.br/revistajuridica,ed.fev.2002.

Cahali,YussefSaid.ResponsabilidadeCivildoEstado.2.ed.SãoPaulo:RevistadosTribunais,2000.

CAMARGO,AntonioLuísChaves.ImputaçãoObjetivaeDireitoPenalBrasileiro.SãoPaulo:Cultural

Paulista,2002.

CAMPO,JúlioBernardodo.ODanoMoralesuaReparaçãonoÂmbitodoDireitoCiviledoTrabalho.

RevistaLTr,SãoPaulo:LTr,mar.1996.v.60.

CAPEZ,Fernando.CursodeProcessoPenal.3.ed.SãoPaulo:Saraiva,1999.

CARRION,Valentin.ComentáriosàConsolidaçãodasLeisdoTrabalho.17.ed.SãoPaulo:Revistados

Tribunais,1993.

_______.NovaJurisprudênciaemDireitodoTrabalho.SãoPaulo:Saraiva,1995,1.ºsemestre.

CAVALIERIFILHO,Sérgio. Programa deResponsabilidadeCivil. 2. ed. São Paulo:Malheiros, fev.

2000.

CHALHUB,MelhimNamem.DaIncorporaçãoImobiliária.RiodeJaneiro:Renovar,2003.

CHAVES,Antonio.TratadodeDireitoCivil.SãoPaulo:RevistadosTribunais,1985.v.2.

CHIRONI.LaColpanelDirittoCivileOdierno—ColpaExtra-Contrattuale.2.ed.Turim:1903.v.2.

CIFUENTES,Santos.ElementosdeDerechoCivil—ParteGeneral.4.ed.BuenosAires:Astrea,1999.

COSTA,OrlandoTeixeirada.DaAçãoTrabalhistasobreDanoMoral.Trabalho&Doutrina,n.10,São

Paulo:Saraiva,set.1996.

CRUZ,GiselaSampaioda.AParteGeraldoNovoCódigoCivil.RiodeJaneiro:Renovar,2002.

DALAZEN, João Oreste. Indenização Civil de Empregado e Empregador por Dano Patrimonial ou

Page 500: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Moral.RevistadeDireitodoTrabalho,n.77,SãoPaulo:RevistadosTribunais,mar.1992,p.53.

Dallari,AdilsondeAbreu.RegimeConstitucionaldosServidoresPúblicos.2.ed.SãoPaulo:Revista

dosTribunais,1990.

Deda,ArturOscardeOliveira.DanoMoral. In:EnciclopédiaSaraivadeDireito,SãoPaulo:Saraiva,

1979.v.22.

Demogue,René.Traitédesobligationsengéneral.Paris:1924,t.IV.

DENARI,Zelmoeoutros.CódigoBrasileirodeDefesadoConsumidor—ComentadopelosAutoresdo

Anteprojeto.5.ed.RiodeJaneiro:Forense,1998.

DIAS,JosédeAguiar.DaResponsabilidadeCivil.9.ed.RiodeJaneiro:Forense,1994.v.1.

_______.DaResponsabilidadeCivil.9.ed.RiodeJaneiro:Forense,1994.v.2.

Dias,SérgioNovais.ResponsabilidadeCivildoAdvogadonaPerdadeumaChance.SãoPaulo:LTr,

1999.

DINIZ,MariaHelena.CursodeDireitoCivilBrasileiro.16.ed.SãoPaulo:Saraiva,2002.v.2.

_______.CursodeDireitoCivilBrasileiro.16.ed.SãoPaulo:Saraiva,2002.v.3.

_______.DicionárioJurídico.SãoPaulo:Saraiva,1998.4v.

diPietro,MariaSylviaZanella.DireitoAdministrativo.9.ed.SãoPaulo:Atlas,1998.

FACHIN,LuizEdson.EstatutoJurídicodoPatrimônioMínimo.RiodeJaneiro:Renovar,2001.

_______.TeoriaCríticadoDireitoCivil.RiodeJaneiro:Renovar,2000.

FerrazJr.,TercioSampaio.IntroduçãoaoEstudodoDireito.2.ed.SãoPaulo:Atlas,1996.

FERREIRA,AurélioBuarquedeHolanda.NovoDicionárioAuréliodaLínguaPortuguesa.2.ed.Rio

deJaneiro:NovaFronteira,1986.

FLORINDO,Valdir.ODanoMoraleoDireitodoTrabalho.2.ed.SãoPaulo:LTr,1996.

FONSECA,ArnoldoMedeirosda.CasoFortuitoeTeoriadaImprevisão.3.ed.RiodeJaneiro:Forense,

1958.

FURTADO,Paulo.Execução.2.ed.SãoPaulo:Saraiva,1991.

GAGLIANO,PabloStolze.ALegislaçãoBancária,oCódigodeDefesadoConsumidoreoPrincípioda

DignidadedaPessoaHumana.In:IVFórumBrasildeDireito,realizadopeloJusPodivm,noCentrode

ConvençõesdeSalvador—Bahia,maio2002.

Page 501: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

_______.AResponsabilidadeExtracontratualnoNovoCódigoCivileoSurpreendenteTratamentoda

AtividadedeRisco.RepertóriodeJurisprudência—IOB,1.ªQuinzenadeOutubro,n.19,2002,texto

3/19551.

_______.OCondomínioEdilícionoNovoCódigoCivil.Disponívelem:http:www.pablostolze.com.br,

abr.2003.

GAGLIANO, Pablo Stolze e PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil— Parte

Geral.2.ed.SãoPaulo:Saraiva,2002.v.1.

_______.NovoCursodeDireitoCivil—Obrigações.SãoPaulo:Saraiva,2002.v.2.

GARCEZNETO.Martinho.ResponsabilidadeCivilnoDireitoComparado.Riode Janeiro:Renovar,

2000.

GHERSI,CarlosAlberto.TeoríaGeneraldelaReparacióndeDaños.2.ed.BuenosAires:Astrea,1999.

GIDI,Antonio.CoisaJulgadaeLitispendênciaemAçõesColetivas.SãoPaulo:Saraiva,1995.

Giglio,WagnerD.JustaCausa.3.ed.SãoPaulo:LTr,1996.

Giustina,BeatrizDella.DanoMoral:ReparaçãoeCompetênciaTrabalhista.Trabalho&Doutrina, n.

10,SãoPaulo:Saraiva,set.1996.

GOMES,LuizFlávio.DireitoPenal—ParteGeral;TeoriadoDelito(inédita).v.2.

GOMES,LuizRoldãodeFreitas.ElementosdeResponsabilidadeCivil.RiodeJaneiro:Renovar,2000.

Gomes,Orlando.Obrigações.9.ed.RiodeJaneiro:Forense,1994.

GOMES,OrlandoeGottschalk,Elson.CursodeDireitodoTrabalho.13.ed.RiodeJaneiro:Forense,

1994.

GONÇALVES,CarlosRoberto.ResponsabilidadeCivil.8.ed.SãoPaulo:Saraiva,2003.

_______.DireitodasObrigações—ParteGeral.SãoPaulo:Saraiva,1998(Col.SinopsesJurídicas,v.

5).

_______.DireitodasObrigações—ParteEspecial—ResponsabilidadeCivil.SãoPaulo:Saraiva,2001

(Col.SinopsesJurídicas,v.6,t.II).

GRINOVER,AdaPellegrinietal.CódigoBrasileirodeDefesadoConsumidor.5.ed.RiodeJaneiro:

Forense,1998.

HIRONAKA,GiseldaM.F.Novaes (org.).Responsabilidadecivil.SãoPaulo:RevistadosTribunais,

Page 502: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

2008.

_______.ResponsabilidadePressuposta.BeloHorizonte:DelRey,2005.

HOUAISS,Antônio eVILLAR,Mauro deSalles.DicionárioHouaiss daLínguaPortuguesa.Rio de

Janeiro:Objetiva,2001.

Jesus,DamásioE.de.DireitoPenal.12.ed.SãoPaulo:Saraiva,1988.v.1.

LAGO JÚNIOR,Antônio.AResponsabilidadeCivilDecorrente doAcidente de Trabalho. In: Leão,

Adroaldo ePamplonaFilho,RodolfoMárioVeiga (coords.).ResponsabilidadeCivil.Rio de Janeiro:

Forense,2001.

_______.ResponsabilidadeCivilporAtosIlícitosnaInternet,SãoPaulo:LTr,2001.

LEÃO,Adroaldo.AResponsabilidadeCivildosAdministradoresdeEmpresas.RiodeJaneiro:Forense,

1988.

Leão, Adroaldo e Pamplona Filho, Rodolfo Mário Veiga (coords.). Responsabilidade Civil. Rio de

Janeiro:Forense,2001.

LIMA,Alvino.CulpaeRisco.2.ed.SãoPaulo:RevistadosTribunais,1999.

LIMA,ZulmiraPiresde.AlgumasConsiderações sobre aResponsabilidadeCivil porDanosMorais.

BoletimdaFaculdadedeDireito,Coimbra:UniversidadedeCoimbra,1940,2.ºsuplemento,v.15.

LISBOA,RobertoSenise.ResponsabilidadeCivilnasRelaçõesdeConsumo. SãoPaulo:Revista dos

Tribunais,2001.

Llambías,JorgeJ.TratadodeDerechoCivil—Obligaciones.BuenosAires:Perrot,1973,t.I.

LÔBO,PauloLuizNetto.DanosMoraiseDireitosdaPersonalidade.In:LEITE,EduardodeOliveira

(coord.).GrandesTemas daAtualidade—DanoMoral—AspectosConstitucionais,Civis, Penais e

Trabalhistas.RiodeJaneiro:Forense,2002.

_______.DireitodasObrigações.SãoPaulo:BrasíliaJurídica,1999.

LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de Direito Civil — Fontes Contratuais das Obrigações e

ResponsabilidadeCivil.RiodeJaneiro:FreitasBastos,2001.v.5.

MACHADONETO,A.L.CompêndiodeIntroduçãoàCiênciadoDireito.3.ed.SãoPaulo:Saraiva,

1975.

MANCUSO,RodolfodeCamargo.AçãoPopular.SãoPaulo:RevistadosTribunais,1992.

Page 503: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

MARANHÃO, Ney Stany Morais. Responsabilidade Civil Objetiva pelo Risco da Atividade: Uma

PerspectivaCivil-Constitucional.SãoPaulo:Método,2010.

MARINHO, Josaphat. Os Direitos da Personalidade no Projeto de Novo Código Civil Brasileiro.

BoletimdaFaculdadedeDireitodaUniversidadedeCoimbra—STVDIAIVRIDICA,40,Colloquia

—2.SeparatadePortugal—Brasil,CoimbraEd.,2000.

Marmitt,Arnaldo.PerdaseDanos.RiodeJaneiro:Aidê,1992.

MARQUES, Cláudia Lima e TURKIENICZ, Eduardo. Caso Teka vs. Aiglon: EmDefesa da Teoria

FinalistadeInterpretaçãodoart.2.ºdoCDC.RevistadeDireitodoConsumidor,n.36,out./dez.,2000.

MARTORELL, Ernesto E. Indemnización del daño moral por despido. 2. ed. Buenos Aires:

Hammurabi,1994.

MATIELO,FabrícioZamprogna.DanoMoral,DanoMaterialeReparação.2.ed.PortoAlegre:Sagra-

Luzzatto,1995.

MAYNEZ,EduardoGarcia.IntroducciónalEstudiodelDerecho.4.ed.México:Ed.Porrúa,1951.

Meireles,HelyLopes.DireitoAdministrativoBrasileiro.25.ed.SãoPaulo:Malheiros,2000.

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. AtoAdministrativo e Direitos dos Administrados. São Paulo:

RevistadosTribunais,1981.

_______.CursodeDireitoAdministrativo.10.ed.SãoPaulo:Malheiros,1998.

Mello, Oswaldo Aranha Bandeira de. Princípios Gerais de Direito Administrativo. Rio de Janeiro:

Forense,1969.v.2.

MELO,RaimundoSimão.MeioAmbientedoTrabalho:PrevençãodeReparação. JuízoCompetente.

Trabalho&Doutrina,SãoPaulo:Saraiva.

MINOZZI.Studiosuldannononpatrimoniale.3.ed.Milão:1917.

MIRABETE,JulioFabbrini.CódigoPenalInterpretado.SãoPaulo:Atlas,1999.

Miranda,FranciscoPontesde.TratadodeDireitoPrivado.2.ed.RiodeJaneiro:Borsoi,1958,t.XXII.

MONTEIRO,Washington deBarros. Curso deDireitoCivil—Direito das Obrigações. 30. ed. São

Paulo:Saraiva,1999.v.4.

MOREIRA,JoséCarlosBarbosa.TutelaJurisdicionaldosInteressesColetivosouDifusos.In:Temasde

DireitoProcessual;terceirasérie.SãoPaulo:Saraiva,1984.

Page 504: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Neves,AndréLuizBatista.DaIndependênciaOntológicaentreaIlicitudePenaleaCivil.OTrabalho

—Doutrina,fascículo21,Curitiba,Ed.DecisórioTrabalhista,nov.98,p.503-4.

NORONHA,E.Magalhães.DireitoPenal.11.ed.SãoPaulo:Saraiva,1974.v.1.

NORONHA,Fernando.Direitodasobrigações.2.ed.SãoPaulo:Saraiva,2007.

PAMPLONAFILHO,Rodolfo.AEquidadenoDireitodoTrabalho.FórumRevistadoIAB—Instituto

dos Advogados da Bahia, Edição Especial do 1.º Centenário de Fundação, Salvador-BA: Nova

AlvoradaEdiçõesLtda.,1997.

_______.OAssédioSexualnaRelaçãodeEmprego.SãoPaulo:LTr,2001.

_______.ODanoMoralnaRelaçãodeEmprego.3.ed.SãoPaulo:LTr,2002.

PAMPLONAFILHO,RodolfoeANDRADEJÚNIOR,LuizCarlosVilasBoas.ATorredeBabeldas

NovasAdjetivaçõesdoDano.RevistadoCursodeDireitodaUNIFACS,2014.v.14.

PAMPLONAFILHO,RodolfoeVillatore,MarcoAntônioCésar.DireitodoTrabalhoDoméstico.2.ed.

SãoPaulo:LTr,2001.

PASSOS, José Joaquim Calmon de. O Imoral nas Indenizações por Dano Moral. Disponível em:

http:www.jus.com.br.Acessoemago.2002.

Pereira,CaioMáriodaSilva.InstituiçõesdeDireitoCivil.3.ed.universitária.RiodeJaneiro:Forense,

1992.

_______.ResponsabilidadeCivil.9.ed.RiodeJaneiro:Forense,2001.

PINTO,JoséAugustoRodrigues.OImpactodoNovoCódigoCivilsobreoDireitodoTrabalho(artigo

inédito),30p.,2003.

PINTO, José Augusto Rodrigues e PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Repertório de Conceitos

Trabalhistas.SãoPaulo:LTr,2000.

Pizarro, Ramon Daniel. Daño moral — Prevención/Reparación/Punición. Buenos Aires: Editorial

HammurabiS.R.L.,1996.

REALE,Miguel.ODanoMoralnoDireitoBrasileiro.In:TemasdeDireitoPositivo.SãoPaulo:Revista

dosTribunais,1992.

_______.OProjetodoNovoCódigoCivil.2.ed.SãoPaulo:Saraiva,1999.

REIS,Clayton.AvaliaçãodoDanoMoral.3.ed.RiodeJaneiro:Forense,2000.

Page 505: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

_______.DanoMoral.4.ed.RiodeJaneiro:Forense,1995.

REQUIÃO,Rubens.CursodeDireitoComercial.23.ed.SãoPaulo:Saraiva,1998.v.1.

RESEDÁ,Salomão.AFunçãoSocialdoDanoMoral.Florianópolis:ConceitoEditorial,2009.

RIBEIRO,AnaCecíliaRosário.ResponsabilidadeCivildoEstadoporAtosJurisdicionais.SãoPaulo:

LTr,2003.

RIPERT,Georges.ARegraMoralnasObrigaçõesCivis(trad.portuguesadeO.deOliveira).SãoPaulo:

Saraiva,s/d,n.182.

RIZZARDO,Arnaldo.Comentários aoCódigo de TrânsitoBrasileiro. 4. ed. São Paulo:Revista dos

Tribunais,2003.

ROCHA, JúlioCésardeSáda.DireitoAmbiental doTrabalho—MudançadeParadigmanaTutela

JurídicaàSaúdedoTrabalhador.2001.Tese (DoutoradoemDireitodasRelaçõesSociais—Áreade

Concentração emDireitosDifusos e Coletivos). PontifíciaUniversidade Católica de São Paulo, São

Paulo.

RODRIGUES,Silvio.DireitoCivil—ParteGeral.28.ed.SãoPaulo:Saraiva,1998.v.1.

_______.DireitoCivil—ParteGeraldasObrigações.30.ed.SãoPaulo:Saraiva,2002.v.2.

_______.DireitoCivil—ResponsabilidadeCivil.17.ed.SãoPaulo:Saraiva,1999.v.4.

RUZYK, Carlos Eduardo Pianovski. A Responsabilidade Civil por Danos Produzidos no Curso de

AtividadeEconômicaeaTuteladaDignidadedaPessoaHumana:oCritériodoDanoIneficiente.In:

SILVEIRARAMOS,CarmemLucia,TEPEDINO,Gustavo(orgs.)etal.DiálogossobreDireitoCivil.

RiodeJaneiro:Renovar,2002.

SANCHES,GisleneA.DanoMoralesuasImplicaçõesnoDireitodoTrabalho.SãoPaulo:LTr,1997.

SAVATIER,René.Traitédelaresponsabilitécivileendroitfrançais.2.ed.LGDJ,1951.v.1.

SCHREIBER,Anderson.Novos Paradigmas daResponsabilidadeCivil—DaErosão dos Filtros da

ReparaçãoàDiluiçãodeDanos.2.ed.SãoPaulo:Atlas,2009.

SEBASTIÃO,Jurandir.ResponsabilidadeMédicaCivil,Criminal eÉtica. 2. ed.BeloHorizonte:Del

Rey,2000.

SEVERO,Sérgio.OsDanosExtrapatrimoniais.SãoPaulo:Saraiva,1996.

SILVA,DePlácidoe.VocabulárioJurídico.15.ed.RiodeJaneiro:Forense,1998.

Page 506: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

SILVA,WilsonMeloda.DaResponsabilidadeCivilAutomobilística.SãoPaulo:Saraiva,1974.

_______.ODanoMoralesuaReparação.3.ed.RiodeJaneiro:Forense,1983.

_______.ResponsabilidadesemCulpa.SãoPaulo:Saraiva,1974.

SILVA NETO, Manoel Jorge e. Proteção Constitucional dos Interesses Trabalhistas — Difusos,

ColetivoseIndividuaisHomogêneos.SãoPaulo:LTr,2001.

SODRÉ,Eduardo.Algumasconsideraçõesacercadalegitimidadepassivadasentidadesmantenedoras

de bancos de dados para figurar no polo passivo de demandas relativas a inclusões indevidas ou

irregularesdeconsumidoresemseuscadastrosdeproteçãoaocrédito.RevistaJurídicadosFormandos

em Direito da UFBA, ano 5, v. 7 (edição em Homenagem ao ProfessorMachado Neto), Salvador:

FaculdadedeDireitodaUniversidadeFederaldaBahia,2001.

SOUZA,NeriTadeuCamara.ResponsabilidadeCivildoMédico.JornalSíntese,PortoAlegre:Síntese,

mar.2002.

STANDLER, Ronald B. Differences between Civil and Criminal Law in the USA. Disponível em:

http:www.rbs2.com/cc.htm.Acessoem12mar.2003.

Stiglitz,GabrielA.eEchevesti,CarlosA.Eldañoresarcibleencasosparticulares.In:Responsabilidade

civil.Dir.JorgeMossetIturraspe.BuenosAires:Hammurabi,1992.

STOCO,Rui.TratadodeResponsabilidadeCivil.5.ed.SãoPaulo:RevistadosTribunais,2001.

TeixeiraFilho,JoãodeLima.ODanoMoralnoDireitodoTrabalho.RevistaLTr,n.9,set.1996.v.60.

TeixeiraFilho,ManoelAntonio.Litisconsórcio,AssistênciaeIntervençãodeTerceirosnoProcessodo

Trabalho.2.ed.SãoPaulo:LTr,1993.

TEPEDINO,Gustavo.NotassobreoNexodeCausalidade.RevistaTrimestraldeDireitoCivil,Riode

Janeiro:Padma,ano2,jun.2001.v.6.

_______.TemasdeDireitoCivil.2.ed.RiodeJaneiro:Renovar,2001.

THEODOROJÚNIOR,Humberto.CursodeDireitoProcessualCivil.11.ed.RiodeJaneiro:Forense,

1993.v.2.

TRIBUNA DO DIREITO. Dano Moral Traz Desafio a Juristas. São Paulo: Editora Jurídica MMM

Ltda.,ano4,n.39,ed.mensal,jul.1996.

Valentim,Veit.HistóriaUniversal.6.ed.SãoPaulo:Livr.MartinsEd.,1964.t.I.

Page 507: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

VALLE,ChristinoAlmeidado.DanoMoral.2.ªtiragem,RiodeJaneiro:Aide,1994.

VALLER,Wladimir. A Reparação do DanoMoral no Direito Brasileiro. 3. ed. Campinas-SP: E. V.

EditoraLtda.,1995.

VARELA,JoãodeMatos.DasObrigaçõesemGeral.9.ed.Coimbra:Almedina,1996.v.1.

VELOSO,Zeno.NovoCódigoCivilComentado(coord.RicardoFiuza).SãoPaulo:Saraiva,2002.

VENOSA,SílviodeSalvo.DireitoCivil(ParteGeral).SãoPaulo:Atlas,2001.v.1.

_______.DireitoCivil(TeoriaGeraldasObrigaçõesedosContratos).SãoPaulo:Atlas,2002.v.2.

_______.DireitoCivil(ContratosemEspécie).SãoPaulo:Atlas,2001.v.3.

_______.DireitoCivil(ResponsabilidadeCivil).3.ed.SãoPaulo:Atlas,2003.v.4.

VILLAÇA,Azevedo.TeoriaGeraldasObrigações.9.ed.SãoPaulo:RevistadosTribunais,2001.

WALD, Arnoldo. Curso de Direito Civil Brasileiro — Obrigações e Contratos. 12. ed. São Paulo:

RevistadosTribunais,1995.v.2.

_______.ONovoDireitoMonetário.2.ed.SãoPaulo:Malheiros,2002.

Watanabe,Kazuo.DemandasColetivaseosProblemasEmergentesdaPráxisForense.In:AsGarantias

doCidadãonaJustiça.SãoPaulo:Saraiva,1993.

ZAFFARONI,EugenioRaúl ePIERANGELI, JoséHenrique.Manual deDireito PenalBrasileiro—

ParteGeral.SãoPaulo:RevistadosTribunais,1997.

ZENUN,Augusto.DanoMoralesuaReparação.4.ed.RiodeJaneiro:Forense,1996.

Page 508: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

1GerdAlbertoBornheim,Oconceitodedescobrimento,RiodeJaneiro:EdUERJ,1998,p.40.

2 Joaquim de Souza Ribeiro, O problema do contrato; as cláusulas contratuais gerais e o princípio daliberdadecontratual,Coimbra:Almedina,1999,p.645.

3 Jean-EtiennePortalis,Discursopreliminar sobre el proyecto deCódigoCivil presentado el primerodepluviosodelañoIXporlaComisióndesignadaporelGobiernoConsular,BuenosAires:Abeledo-Perrot,1959,p.60.

4MichelVilley,Entornoalcontrato,lapropiedadylaobligación,BuenosAires:EdicionesGhersi,1980,p.30.

5EscreveuOppetit: “La codification, sans se confondre avec la législation, lui emprunte certains de sestraitslorsqu’ellepoursuitdesfinalitésréformatrices;enrevanche,ellesembleraits’inscrirebeaucoupmoindansl’avenirlorsqu’ellenetendqu’àlaconsolidationdestextesenvigueur”(BrunoOppetit,L’avenirdelacodification, Droits, Revue Française de Théorie, de Philosophie et de Culture Juridiques, n. 24, Lacodification,Paris:PUF,1997,p.73.

6KeilaGrinberg,CódigoCivilecidadania,RiodeJaneiro:Zahar,2001,p.73.

7KeilaGrinberg,CódigoCivilecidadania,cit.,p.72.

8GustavoTepedino, Premissasmetodológicas para a constitucionalização doDireitoCivil, inTemas deDireitoCivil,RiodeJaneiro:Renovar,1999,p.7.

9Bornheim,Oconceitodedescobrimento,cit.,p.84.

Page 509: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

1JosédeAguiarDias,DaResponsabilidadeCivil,9.ed.,RiodeJaneiro:Forense,1994,v.I,p.1.

2NoDireitoRomano, para se fixar a stipulatio, fazia-semister opronunciamentodos termosdaremihispondes?Spondeo,eraoquedevia responderaqueleque se responsabilizavapelaobrigação (videMariaHelenaDiniz,ob.cit.,p.29).Sobreamatéria,valeapenaconferiroexcelenteDireitoRomano, de JoséCarlosMoreiraAlves(6.ed.,RiodeJaneiro:Forense,1998,v.II,p.139-140).

3“Emboranãosejacomumnosautores,éimportantedistinguiraobrigaçãodaresponsabilidade.Obrigaçãoé sempre um dever jurídico originário; responsabilidade é um dever jurídico sucessivo, consequente àviolação do primeiro. Se alguém se compromete a prestar serviços profissionais a outrem, assume umaobrigação,umdeverjurídicooriginário.Senãocumpriraobrigação(deixardeprestarosserviços),violaráodeverjurídicooriginário,surgindodaíaresponsabilidade,odeverdecomporoprejuízocausadopelonãocumprimentodaobrigação.Em síntese, em todaobrigaçãoháumdever jurídicooriginário, enquantonaresponsabilidadeháumdever jurídico sucessivo.E, sendoa responsabilidadeumaespéciede sombradaobrigação(aimagemédeLarenz),semprequequisermossaberqueméoresponsávelteremosdeobservara quem a lei imputou a obrigação ou dever originário” (Sérgio Cavalieri Filho, Programa deResponsabilidadeCivil,2.ed.,3.ªtir.,SãoPaulo:Malheiros,2000,p.20).

4Sobreoconceitoeaclassificaçãodosfatosjurídicos,confira-seovolume1(“ParteGeral”),CapítuloIX(“FatoJurídicoemSentidoAmplo”),dapresenteobra.

5 O jurisconsulto romano Ulpiano proclamou três preceitos como princípios fundamentais do direito:honeste vivere (viver honestamente), neminem laedere (não lesar outrem) e suum cuique tribuere (dar acadaumoqueéseu).

6NoCC/1916,art.159.

7AcademiaBrasileiradeLetrasJurídicas,DicionárioJurídico,3.ed.,RiodeJaneiro:Forense,1995,p.679.

8AguiarDias,ob.cit.,p.4.

9PabloStolzeGagliano;RodolfoPamplonaFilho,NovoCursodeDireitoCivil—ParteGeral,2.ed.,SãoPaulo:Saraiva,2002,v.1,p.462.

10CaioMáriodaSilvaPereira,ResponsabilidadeCivil,9.ed.,6.ªtir.,2001,p.11.

11 Por exemplo, o homicídio, além de demandar a persecução criminal, pode fazer surgir a pretensãoreparatóriadosherdeirosdofalecido—queperderamapessoaresponsávelpelasuasubsistência.Sobreotema,confira-seoCapítuloXX(“AResponsabilidadeCivilDecorrentedeCrime”).

12CarlosAlbertoBittar,ResponsabilidadeCivil—Teoria&Prática,2.ed.,RiodeJaneiro:Forense,1990,p.3.

13 No mesmo diapasão, encontra-se Caio Mário da Silva Pereira (Instituições de Direito Civil, 3. ed.

Page 510: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

universitária,RiodeJaneiro:Forense,1992,v.I,p.452-453):“Nestaanálisecabetodaespéciedeilícito,

seja civil, seja criminal.Não se aponta, emverdade, umadiferença ontológica entre ume outro.Há emambos o mesmo fundamento ético: a infração de um dever preexistente e a imputação do resultado àconsciênciadoagente.Assinala-se,porém,umadiversificaçãoqueserefletenotratamentodeste,queremfunçãodanaturezadobemjurídicoofendido,queremrazãodosefeitosdoato.Paraodireitopenal,odelitoéumfatordedesequilíbriosocial,quejustificaarepressãocomomeioderestabelecimento;paraodireitociviloilícitoéumatentadocontraointeresseprivadodeoutrem,eareparaçãododanosofridoéaformaindireta de restauração do equilíbrio rompido”. Em sentido contrário, a título de curiosidade, confira-seAndréLuizBatistaNeves,DaIndependênciaOntológicaentreaIlicitudePenaleaCivil,inOTrabalho—Doutrina,fascículo21,Curitiba:Ed.DecisórioTrabalhista,nov.1998,p.503-504.

14WladimirValler,AReparaçãodoDanoMoralnoDireitoBrasileiro,3.ed.,Campinas-SP:E.V.Editora,1995,p.17.

15Confira-se,apropósito,oCapítuloX(“ResponsabilidadeCivilObjetivaeaAtividadedeRisco”).

16Dispõemosartigosmencionados:

“Art.188.Nãoconstituematosilícitos:I—ospraticadosemlegítimadefesaounoexercícioregulardeumdireitoreconhecido;II—adeterioraçãooudestruiçãodacoisaalheia,oualesãoapessoa,afimderemoverperigo iminente. Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando ascircunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para aremoçãodoperigo”(...)“Art.929.Seapessoalesada,ouodonodacoisa,nocasodoincisoIIdoart.188,nãoforemculpadosdoperigo,assistir-lhes-ádireitoàindenizaçãodoprejuízoquesofreram.Art.930.NocasodoincisoIIdoart.188,seoperigoocorrerporculpadeterceiro,contraesteteráoautordodanoaçãoregressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao lesado. Parágrafo único. A mesma açãocompetirácontraaqueleemdefesadequemsecausouodano(art.188,incisoI)”(CC/2002).

Aprofundando a questão, confira-se o tópico 3 (“ACondutaHumana e a Ilicitude”) doCapítulo IV (“ACondutaHumana”).

Page 511: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

17 “Remontando àLexXIITabularum, lá se encontramvestígios da vingança privada,marcada todaviapela intervençãodopoderpúblico,nopropósitodediscipliná-ladeumacerta forma:TabulaVIII, lei2.ª,ondeselê:simembrumrupsit,nicumeopacit,talioest(Girard,TextesdeDroitRomain,p.17).Nestafasedevindictanãosepodiacogitardaideiadeculpa,dadaarelevânciadofatomesmodevingar(AlvinoLima,CulpaeRisco,2.ed.,SãoPaulo:RevistadosTribunais,1999,p.21).Nestafase,nenhumadiferençaexisteentre responsabilidade civil e responsabilidadepenal (Malaurie eAynès, loc. cit.)” (CaioMáriodaSilvaPereira,ResponsabilidadeCivil,9.ed.,RiodeJaneiro:Forense,2001,p.2).

18AlvinoLima,ob.cit.,p.21

19“AleiAquílianãoselimitouaespecificarmelhorosatosilícitos,massubstituiuaspenasfixas,editadaspor certas leis anteriores, pela reparação pecuniária do dano causado, tendo em vista o valor da coisaduranteos30diasanterioresaodelitoeatendendo,aprincípio,aovalorvenal;mais tarde,estendeu-seodanoaovalorrelativo,porinfluênciadajurisprudência,desortequeareparaçãopodiasersuperioraodanorealmentesofrido,seacoisadiminuíssedevalor,nocasoprefixado”(AlvinoLima,ob.cit.,p.22-23).

20Ob.cit.,p.26-27.

21Ob.cit.,p.41.

22OCódigoCivilde2002,deformamaistécnica,nãoabreumtítuloparaas“obrigaçõesporatoilícito”,massim,demaneiragenérica,estabeleceumtítulopróprioparaa“responsabilidadecivil”,dividindo-oemdoiscapítulos,oprimeirosobreaobrigaçãodeindenizar(arts.927/943)eosegundosobreparâmetrosdaprópriaindenização(arts.944/954).

23 Este raciocínio continua válido, do ponto de vista da teoria geral da responsabilidade civil, embora,como veremos em capítulo próprio (Capítulo XI — “Responsabilidade Civil por Ato de Terceiro”), aresponsabilidade civil por ato de terceiros, por força do art. 933, CC/2002,migrou de uma hipótese deresponsabilidadecivilsubjetivaparaumexemploderesponsabilidadecivilobjetiva.

24CaioMáriodaSilvaPereira,ResponsabilidadeCivil,9.ed.,RiodeJaneiro:Forense,2001,p.265-266.

25Nãoseconfunda“responsabilidadecivilobjetiva”com“responsabilidadecivilcomculpapresumida”.Na primeira, despreza-se a culpa para a responsabilização; na segunda, inverte-se o ônus da prova doelemento“culpa”.

26Sobrearesponsabilidadepenalobjetiva,confiram-seas liçõesdeDamásioE.deJesus(Direito Penal,12.ed.,SãoPaulo:Saraiva,1988,v.1,p.397):“Dá-seonomederesponsabilidadepenalobjetivaàsujeiçãode alguém à imposição de pena sem que tenha agido com dolo ou culpa ou sem que tenha ficadodemonstradasuaculpabilidade,comfundamentonosimplesnexodecausalidadematerial”.

27WladimirValler,ob.cit.,p.24.

28 Enfrentaremos, comminúcias, nos Capítulos IX (“AResponsabilidadeCivil Subjetiva e aNoção de

Page 512: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Culpa”)eX(“ResponsabilidadeCivilObjetivaeaAtividadedeRisco”).

29Discorrendo sobre o tema, ponderaCarlosRobertoGonçalves: “Há quem critique essa dualidade detratamento.Sãoosadeptosda teseunitáriaoumonista,queentendempouco importarosaspectossobosquaisseapresentearesponsabilidadecivilnocenáriojurídico,poisuniformessãoosseusefeitos.Defato,basicamenteassoluçõessãoidênticasparaosdoisaspectos.Tantoemumcomoemoutrocaso,oque,emessência,serequerparaaconfiguraçãodaresponsabilidadesãoestastrêscondições:odano,oatoilícitoeacausalidade,istoé,onexodecausalidade”(ResponsabilidadeCivil,7.ed.,SãoPaulo:Saraiva,2002,p.26-27).

30Apropósito,confira-seoCapítuloX(“ResponsabilidadeCivilObjetivaeaAtividadedeRisco”).

31“Ondeserealizaamaiorrevoluçãonosconceitosjus-romanísticosemtermosderesponsabilidadecivilécomaLexAquilia,dedataincerta,masqueseprendeaostemposdaRepública(LeonardoColombo,CulpaAquiliana,p.107).Tãogranderevoluçãoqueaelaseprendeadenominaçãodeaquilianaparadesignar-searesponsabilidadeextracontratualemoposiçãoàcontratual.Foiummarcotãoacentuado,queaelaseatribuia origem do elemento ‘culpa’, como fundamental na reparação do dano” (CaioMário da Silva Pereira,ResponsabilidadeCivil,9.ed.,RiodeJaneiro:Forense,2001,p.3).

32 Sobre a perspectiva constitucional do contrato, seu conceito contemporâneo e efeitos jurídicos, cf. aexcelenteobraDoContrato:ConceitoPós-Moderno,doProfessorDoutorPauloRobertoNalin,daPUC-PR(2002,Curitiba:Juruá).

33SérgioCavalieriFilho,ProgramadeResponsabilidadeCivil,2.ed.,3.ªtir.,SãoPaulo:Malheiros,2000,p.198.

34EduardoGarciaMaynez,IntroducciónalEstudiodelDerecho,4.ed.,México:Porrúa,1951,p.284.

35A.L.MachadoNeto,CompêndiodeIntroduçãoàCiênciadoDireito,3.ed.,SãoPaulo:Saraiva,1975,p.190.

36CarlosAlbertoBittar,ReparaçãoCivilporDanosMorais,SãoPaulo:RevistadosTribunais,1993,p.16.

37ElucidativaéaseguinteexplanaçãodeMariaHelenaDiniz(ob.cit.,p.7):“Asançãoé,naspalavrasdeGoffredoTellesJr.,umamedida legalquepoderáviraser impostaporquemfoi lesadopelaviolaçãodanorma jurídica, a fimde fazer cumprir a normaviolada, de fazer reparar odano causadooude infundirrespeitoàordemjurídica.Asançãoéaconsequênciajurídicaqueonãocumprimentodeumdeverproduzem relaçãoaoobrigado.A responsabilidade civil constitui uma sançãocivil, pordecorrerde infraçãodenormadedireitoprivado,cujoobjetivoéo interesseparticular,e,emsuanatureza,écompensatória,porabrangerindenizaçãooureparaçãodedanocausadoporatoilícito,contratualouextracontratualeporatolícito”.

38Nãoqueosistemaciviltambémnãotenha,aindaqueporviaoblíqua,umescopopreventivo.Aliás,na

Page 513: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

ousadateseResponsabilidadepressuposta,deautoriadeGiseldaHironaka(BeloHorizonte:DelRey,2005),aautorasalientaesteviés,afirmando,inclusive,queasbasesdaresponsabilidadecivilatualmentevigentesdeveriamser repensadas, para se reconhecer a reparaçãododanocomopremissabásica e inafastáveldopróprioordenamento,independentementedeeventuaiscausasqueexcluamaprópriaresponsabilidade.Valedizer, nesta inovadora obra, a professora titular daUSP sustenta que, para além da culpa ou da próprianoção de risco, todo aquele que cause à vítima um dano injusto, deverá sempre indenizar. Com isso,reforçar-se-iaumaprevençãodedanos,emrespeitoaopróprioprincípiodadignidadedapessoahumana.Posto não seja uma tese ainda amplamente aplicada, mormente porque as causas excludentes deresponsabilidadesãoaceitasereconhecidaspeladoutrinatradicionalepelajurisprudência,elanosconvidaaumareflexãointeressanteeprofunda,sobainspiraçãodogêniodaautora.

39ClaytonReis,AvaliaçãodoDanoMoral,3.ed.,RiodeJaneiro:Forense,2000,p.78-79.

40Paraumaprofundamentosobreotema,confira-seasliçõesdo“Prof.Salominho”em:SalomãoResedá,AFunçãoSocialdoDanoMoral,Florianópolis:ConceitoEditorial,2009.

41RodolfoPamplonaFilho,ODanoMoralnaRelaçãodeEmprego,3.ed.,SãoPaulo:LTr,p.25.

42MariaHelenaDiniz,CursodeDireitoCivil,10.ed.,SãoPaulo:Saraiva,1996,v.7,p.3-4.

Page 514: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

43CarlosAlbertoGhersi,TeoríaGeneraldelaReparacióndeDaños,2.ed.,BuenosAires:Astrea,1999,p.55.

44Apenas em pouquíssimos dispositivos isolados a doutrina reconhece a responsabilidade sem culpa, aexemplodasregrasreferentesàresponsabilidadepelofatodacoisa,estudadasposteriormente.

45AlvinoLima,sergipanonascidoemRosáriodoCatete,em1888,éconsideradopormuitosopioneironoestudodaresponsabilidadeobjetivanoDireitoBrasileiro.Asuatesedecátedra,aprovadagloriosamenteemconcursoprestadonaFaculdadedeDireitodeSãoPaulo,noqualobteveoprimeirolugar,éumareferêncianabibliografianacionalespecializadanoestudodaResponsabilidadeCivil.

46AlvinoLima,CulpaeRisco,2.ed.,SãoPaulo:RevistadosTribunais,1999,p.39-40.

47RenéSavatier,TraitédelaResponsabilitéCivileemDroitFrançais,2.ed.,LGDJ,1951,v.1,p.5,205es.,285e291es.

48Ressalte-se,porém,maisumavez,queoNovoCódigoCivilbrasileiro,emseuart.928,estabelecenovadisciplinaparaamatéria,admitindoaresponsabilidadepatrimonialdoincapaz,nosseguintestermos:“Art.928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiveremobrigaçãodefazê-loounãodispuseremdemeiossuficientes.Parágrafoúnico.Aindenizaçãoprevistanesteartigo,quedeveráserequitativa,não terá lugarseprivardonecessárioo incapazouaspessoasquedeledependem”.

49CarlosRobertoGonçalves,ResponsabilidadeCivil,8.ed.,SãoPaulo:Saraiva,2003,p.11-12.

Page 515: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

50LuizRoldãodeFreitasGomes,ElementosdeResponsabilidadeCivil,RiodeJaneiro:Renovar,2000,p.50-51.

51RuiStoco,TratadodeResponsabilidadeCivil,5.ed.,SãoPaulo:RevistadosTribunais,2001,p.95.

52EugénioRaúlZaffaroni;JoséHenriquePierangeli,ManualdeDireitoPenalBrasileiro—ParteGeral,SãoPaulo:RevistadosTribunais,1997,p.441.

53Cf.CapítulosXI (“ResponsabilidadeCivilporAtodeTerceiro”) eXII (“ResponsabilidadeCivilpeloFatodaCoisaedoAnimal”).

54SílviodeSalvoVenosa,ResponsabilidadeCivil,3.ed.,SãoPaulo:Atlas,2003,p.22.

55Trata-sedoProjetoqueseconverteunoCódigoCivilde2002.

56CaioMáriodaSilvaPereira,ResponsabilidadeCivil,9.ed.,RiodeJaneiro:Forense,2000,p.35.

57 Pablo Stolze Gagliano; Rodolfo Pamplona Filho, Novo Curso de Direito Civil, 2. ed., São Paulo:Saraiva,2002,v.I,p.471.

58MartinhoGarcezNeto,ResponsabilidadeCivilnoDireitoComparado,RiodeJaneiro:Renovar,2000,p.142.

59MartinhoGarcezNeto,ob.cit.,p.141.

Page 516: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

60Aestipulaçãodeuma cláusula penal para o casode inadimplemento é, inclusive, uma formadepré-tarifar as perdas e danos. Sobre o tema, confira-se o Capítulo XXV (“Cláusula Penal”) do volume 2(“Obrigações”)dapresenteobra.

61SantosCifuentes,ElementosdeDerechoCivil—ParteGeneral,4.ed.,BuenosAires:Astrea,1999,p.261.

62SérgioCavalieriFilho,ProgramadeResponsabilidadeCivil,2.ed.,SãoPaulo:Malheiros,2000,p.70.

63Gramaticalmente, o termo “dano”, segundoAurélioBuarque deHolanda, tem as seguintes acepções:“DANO. [Do lat.,damnu.] S.m. 1.Mal ou ofensa pessoal; prejuízomoral:Grande dano lhe fizeram ascalúnias.2.Prejuízomaterialcausadoaalguémpeladeterioraçãoouinutilizaçãodebensseus.3.Estrago,deterioração, danificação: Com o fogo, o prédio sofreu enormes danos. Dano emergente. Jur. Prejuízoefetivo, concreto,provado. [Cf. lucrocessante.]Dano infecto. Jur. Prejuízo possível, eventual, iminente”(Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, 2. ed., Rio deJaneiro:NovaFronteira,1986,p.519).

64ClaytonReis,DanoMoral,4.ed.,RiodeJaneiro:Forense,1995,p.1.

65NoCódigodeProcessoCivilbrasileirode1973:

“Art.461.Naaçãoquetenhaporobjetoocumprimentodeobrigaçãodefazerounãofazer,ojuizconcederáa tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que assegurem oresultadopráticoequivalenteaodoadimplemento.

§1.ºAobrigaçãosomenteseconverteráemperdasedanosseoautororequererouseimpossívelatutelaespecíficaouaobtençãodoresultadopráticocorrespondente.

§2.ºAindenizaçãoporperdasedanosdar-se-ásemprejuízodamulta(art.287).

§3.ºSendorelevanteofundamentodademandaehavendojustificadoreceiodeineficáciadoprovimentofinal,élícitoaojuizconcederatutelaliminarmenteoumediantejustificaçãoprévia,citadooréu.Amedidaliminarpoderáserrevogadaoumodificada,aqualquertempo,emdecisãofundamentada.

§ 4.º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na sentença, impor multa diária ao réu,independentementedepedidodoautor,seforsuficienteoucompatívelcomaobrigação,fixando-lheprazorazoávelparaocumprimentodopreceito.

§5.ºParaaefetivaçãodatutelaespecíficaouaobtençãodoresultadopráticoequivalente,poderáojuiz,deofícioouarequerimento,determinarasmedidasnecessárias,taiscomoaimposiçãodemultaportempodeatraso,buscaeapreensão,remoçãodepessoasecoisas,desfazimentodeobraseimpedimentodeatividadenociva,senecessáriocomrequisiçãodeforçapolicial.

§6.ºOjuizpoderá,deofício,modificarovalorouaperiodicidadedamulta,casoverifiquequesetornou

Page 517: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

insuficienteouexcessiva”.

NoCódigodeProcessoCivilbrasileirode2015:

“Art.497.Naaçãoquetenhaporobjetoaprestaçãodefazeroudenãofazer,ojuiz,seprocedenteopedido,concederá a tutela específica ou determinará providências que assegurem a obtenção de tutela peloresultadopráticoequivalente.

Parágrafo único. Para a concessão da tutela específica destinada a inibir a prática, a reiteração ou acontinuação de um ilícito, ou a sua remoção, é irrelevante a demonstração da ocorrência de dano ou daexistênciadeculpaoudolo.

Art.498.Naaçãoquetenhaporobjetoaentregadecoisa,ojuiz,aoconcederatutelaespecífica,fixaráoprazoparaocumprimentodaobrigação.

Parágrafo único. Tratando-se de entrega de coisa determinada pelo gênero e pela quantidade, o autorindividualizá-la-ánapetiçãoinicial,selhecouberaescolha,ou,seaescolhacouberaoréu,esteaentregaráindividualizada,noprazofixadopelojuiz.

Art.499.Aobrigaçãosomenteseráconvertidaemperdasedanosseoautororequererouseimpossívelatutelaespecíficaouaobtençãodetutelapeloresultadopráticoequivalente.

Art. 500. A indenização por perdas e danos dar-se-á sem prejuízo damulta fixada periodicamente paracompeliroréuaocumprimentoespecíficodaobrigação”.

66Sobreotema,confira-seocapítuloV(“DireitosdaPersonalidade”)dovolume1(“ParteGeral”)destacoleção.

67LuizEdsonFachin,EstatutoJurídicodoPatrimônioMínimo,RiodeJaneiro:Renovar,2001,p.51.

68JosédeAguiarDias,DaResponsabilidadeCivil,9.ed.,RiodeJaneiro:Forense,1994,v.I,p.7-8.

69 Sobre o dano moral, tema que será cuidadosamente abordado no próximo capítulo, já tivemosoportunidadedelembrarque:“aConstituiçãoFederalde1988consagrouateoriamaisadequada,admitindoexpressamente a reparabilidade do danomoral, sem que o houvesse atrelado inseparavelmente ao danopatrimonial.Conferiu-lhe, pois, juridicidade emnível supralegal, e, alémdisso, autonomia, consoante sedepreendedostermosdoseuart.5.º,V(“éasseguradoodireitoderesposta,proporcionalaoagravo,alémdaindenizaçãopordanomaterial,moral,ouàimagem”)eX(“sãoinvioláveisaintimidade,avidaprivada,ahonraeaimagemdaspessoas,asseguradoodireitoaindenizaçãopelodanomaterialoumoraldecorrentedesuaviolação”).OSuperiorTribunaldeJustiça,porseuturno,seguindoaveredaabertapeloconstituinte,foimaisalém,firmandoentendimentonosentidodeque,adespeitodeseremjuridicamenteautônomas,asindenizações por danosmateriais emorais, oriundas domesmo fato, poderiam ser cumuladas, ex vi dodispostoemsuaSúmula37(PabloStolzeGagliano;RodolfoPamplonaFilho,NovoCursodeDireitoCivil—Obrigações,SãoPaulo:Saraiva,2002,v.II,p.317).

Page 518: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

70MariaHelenaDiniz,CursodeDireitoCivilBrasileiro—ResponsabilidadeCivil, 16. ed.,SãoPaulo:Saraiva,p.60.

71A jurisprudência temsidopródigaemreconhecersituaçõesemqueodanosecomprova in re ipsa.Atítulo meramente exemplificativo, vale lembrar hipóteses como a inscrição indevida em cadastro deinadimplentes,atrasodevoo,equívocosadministrativoseemissãodediplomassemreconhecimento.Sobreotema,confira-seaseguintenotíciadoSuperiorTribunaldeJustiça:

‘STJdefineemquaissituaçõesodanomoralpodeserpresumido

Diz a doutrina – e confirma a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ) – que aresponsabilizaçãocivilexigeaexistênciadodano.Odeverdeindenizarexistenamedidadaextensãododano,quedevesercerto(possível,real,aferível).Masatéquepontoajurisprudênciaafastaesserequisitodecertezaeadmiteapossibilidadedereparaçãododanomeramentepresumido?

O danomoral é aquele que afeta a personalidade e, de alguma forma, ofende amoral e a dignidade dapessoa.Doutrinadorestêmdefendidoqueoprejuízomoralquealguémdiztersofridoéprovadoinreipsa(pela forçadospróprios fatos).Peladimensãodofato,é impossíveldeixarde imaginaremdeterminadoscasosqueoprejuízoaconteceu–porexemplo,quandoseperdeumfilho.

Noentanto,ajurisprudêncianãotemmaisconsideradoesteumcaráterabsoluto.Em2008,aodecidirsobrea responsabilidade do estado por suposto dano moral a uma pessoa denunciada por um crime eposteriormente inocentada,aPrimeiraTurmaentendeuque,paraque‘seviabilizepedidodereparação,énecessário que o dano moral seja comprovado mediante demonstração cabal de que a instauração doprocedimentosedeudeformainjusta,despropositada,edemá-fé’(REsp969.097).

Emoutrocaso,julgadoem2003,aTerceiraTurmaentendeuque,paraqueseviabilizepedidodereparaçãofundadonaaberturadeinquéritopolicial,énecessárioqueodanomoralsejacomprovado.

A prova, de acordo com o relator, ministro Castro Filho, surgiria da ‘demonstração cabal de que ainstauração do procedimento, posteriormente arquivado, se deu de forma injusta e despropositada,refletindonavidapessoaldoautor,acarretando-lhe,alémdosaborrecimentosnaturais,danoconcreto,sejaemfacedesuasrelaçõesprofissionaisesociais,sejaemfacedesuasrelaçõesfamiliares’(REsp494.867).

Cadastrodeinadimplentes

Nocasododanoinreipsa,nãoénecessáriaaapresentaçãodeprovasquedemonstremaofensamoraldapessoa.Oprópriofatojáconfiguraodano.Umadashipóteseséodanoprovocadopelainserçãodenomedeformaindevidaemcadastrodeinadimplentes.

Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), Cadastro de Inadimplência (Cadin) e Serasa, por exemplo, sãobancosdedadosquearmazenaminformaçõessobredívidasvencidasenãopagas,alémderegistroscomoprotestodetítulo,açõesjudiciaisechequessemfundos.Oscadastrosdificultamaconcessãodocrédito,já

Page 519: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

que,pornãoteremrealizadoopagamentodedívidas,aspessoasrecebemtratamentomaiscuidadosodasinstituiçõesfinanceiras.

Umapessoaquetemseunomesujo,ouseja,inseridonessescadastros,terárestriçõesfinanceiras.Osnomespodemficarinscritosnoscadastrosporumperíodomáximodecincoanos,desdequeapessoanãodeixedepagaroutrasdívidasnoperíodo.

NoSTJ,éconsolidadooentendimentodeque‘aprópriainclusãooumanutençãoequivocadaconfiguraodanomoral in re ipsa, ou seja, dano vinculado à própria existência do fato ilícito, cujos resultados sãopresumidos’(Ag1.379.761).

EssefoitambémoentendimentodaTerceiraTurma,em2008,aojulgarumrecursoespecialenvolvendoaCompanhia Ultragaz S/A e umamicroempresa (REsp 1.059.663). No julgamento, ficou decidido que ainscriçãoindevidaemcadastrosdeinadimplentescaracterizaodanomoralcomopresumidoe,dessaforma,dispensaacomprovaçãomesmoqueaprejudicadasejapessoajurídica.

Responsabilidadebancária

Quando a inclusão indevida é feita em consequência de serviço deficiente prestado por uma instituiçãobancária,aresponsabilidadepelosdanosmoraisédoprópriobanco,quecausadesconfortoeabalopsíquicoaocliente.

OentendimentofoidaTerceiraTurma,aojulgarrecursoespecialenvolvendoumcorrentistadoUnibanco.Elequitoutodososdébitospendentesantesdeencerrarsuacontae,mesmoassim,teveseunomeincluídonoscadastrosdeproteçãoaocrédito,causandoumasériedeconstrangimentos(REsp786.239).

A responsabilidade também é atribuída ao banco quando talões de cheques são extraviados e,posteriormente,utilizadospor terceirosedevolvidos,culminandona inclusãodonomedocorrentistaemcadastro de inadimplentes (Ag 1.295.732 e REsp 1.087.487). O fato também caracteriza defeito naprestaçãodoserviço,conformeoartigo14doCódigodeDefesadoConsumidor(CDC).

Odano,noentanto,nãogeradeverdeindenizarquandoavítimadoerrojápossuirregistrosanteriores,elegítimos,emcadastrodeinadimplentes.Nestecaso,dizaSúmula385doSTJqueapessoanãopodesesentirofendidapelanovainscrição,aindaqueequivocada.

Atrasodevoo

Outrotipodedanomoralpresumidoéaquelequedecorredeatrasosdevoos,inclusivenoscasosemqueopassageiro não pode viajar no horário programado por causa de overbooking. A responsabilidade é docausador, pelo desconforto, aflição e transtornos causados ao passageiro que arcou com o pagamentosdaqueleserviço,prestadodeformadefeituosa.

Em2009,aoanalisarumcasodeatrasodevoointernacional,aQuartaTurmareafirmouoentendimentodeque ‘odanomoraldecorrentede atrasodevooprescindedeprova, sendoquea responsabilidadede seu

Page 520: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

causadoropera-seinreipsa’(REsp299.532).

O transportador responde pelo atraso de voo internacional, tanto peloCódigodeDefesa doConsumidorcomopelaConvençãodeVarsóvia,queunificaasregrassobreotransporteaéreointernacionaleenuncia:‘Respondeotransportadorpelodanoprovenientedoatraso,notransporteaéreodeviajantes,bagagensoumercadoria’.

Dessaforma,‘odanoexisteedeveserreparado.Odescumprimentodoshorários,porhorasafio,significaserviço prestado de modo imperfeito que enseja reparação, finalizou o relator, o então desembargadorconvocadoHonildoAmaral.

Atesedequearesponsabilidadepelodanopresumidoédaempresadeaviaçãofoiutilizada,em2011,pelaTerceiraTurma,no julgamentodeumagravode instrumentoque envolvia a empresaTAM.Nesse caso,houveoverbookingeatrasonoembarquedopassageiroemvoointernacional.

Oministro relator, Paulo deTarso Sanseverino, enfatizou que ‘o danomoral decorre da demora ou dostranstornossuportadospelopassageiroedanegligênciadaempresa,peloquenãoviolaaleiojulgadoquedefereaindenizaçãoparaacoberturadetaisdanos’(Ag1.410.645).

Diplomasemreconhecimento

Alunos que concluíramo curso deArquitetura eUrbanismo daUniversidadeCatólica de Pelotas, e nãopuderamexerceraprofissãoporfaltadediplomareconhecidopeloMinistériodaEducação,tiveramodanomoralpresumidoreconhecidopeloSTJ(REsp631.204).

Naocasião,arelatora,ministraNancyAndrighi,entendeuque,pornãoterainstituiçãodeensinoalertadoos alunos sobre o risco de não receberem o registro de diploma na conclusão do curso, justificava-se apresunçãododano,levandoemcontaosdanospsicológicoscausados.ParaaTerceiraTurma,ademoranaconcessãododiplomaexpõeaoridículoo‘pseudoprofissional’,queconcluiocursomassevêimpedidodeexercerqualqueratividadeaelecorrelata.

OSTJnegou,entretanto,aconcessãodopedidodeindenizaçãopordanosmateriais.Ofatodenãoestaremtodososautoresempregadosnãopoderiasertidocomoconsequênciadademoranaentregadodiploma.Arelatora,ministraNancyAndrighi,explicou,emseuvoto,que,aocontráriododanomoral,odanomaterialnãopodeserpresumido.Comonãohaviarelatosdequeeles teriamsofridoperdasreaiscomoatrasododiploma,acomprovaçãodosprejuízosmateriaisnãofoifeita.

Equívocoadministrativo

Em2003,aPrimeiraTurmajulgouumrecursoespecialenvolvendooDepartamentoAutônomodeEstradasdeRodagemdoRioGrandedoSul(DAER/RS)eentendeuquedanosmoraisprovocadosporequívocosematosadministrativospodemserpresumidos.

Naocasião,porerroderegistrodoórgão,umhomemtevedepagarumamultaindevida.Amultadetrânsito

Page 521: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

indevidamentecobradafoiconsideradapelaTerceiraTurma,nocaso,comoindenizávelpordanosmoraiseoórgão foi condenadoaopagamentodedezvezes essevalor.Adecisão significavaumprecedentepara‘queosatosadministrativossejamrealizadoscomperfeição,compreendendoaefetivaexecuçãodoqueéalmejado’(REsp608.918).

Paraorelator,ministroJoséDelgado,‘ocidadãonãopodesercompelidoasuportarasconsequênciasdamáorganização,abusoefaltadeeficiênciadaquelesquedevem,comtodaboavontade,solicitudeecortesia,atenderaopúblico’.

Deacordocomadecisão,odanomoralpresumidofoicomprovadopelacobrançadealgoquejáhaviasidosuperado,colocandoolicenciamentodoautomóvelsobcondiçãodonovopagamentodamulta.‘Édeverdaadministração pública primar pelo atendimento ágil e eficiente de modo a não deixar prejudicados osinteressesdasociedade’,concluiu.

Credibilidadedesviada

Ainclusão indevidaeequivocadadenomesdemédicosemguiaorientadordeplanodesaúdegerou,noSTJ,odeverde indenizarporserdanopresumido.FoiesseoposicionamentodaQuartaTurmaaonegarrecursoespecialinterpostopelaAssistênciaMédicaInternacional(Amil)eGestãoemSaúde,em2011.

Olivroservedeguiaparaosusuáriosdoplanodesaúdeetrouxeonomedosmédicossemqueelesfossemaomenos procurados pelo representante das seguradoras para negociações a respeito de credenciamentojuntoàquelasempresas.Osprofissionaissóficaramsabendoqueosnomesestavamnodocumentoquandopassaramareceberligaçõesdepacientesinteressadosnoserviçopeloconvênio.

Segundo o ministro Luis Felipe Salomão, relator do recurso especial, ‘a própria utilização indevida daimagemcomfinslucrativoscaracterizaodano,sendodispensávelademonstraçãodoprejuízomaterialoumoral’(REsp1.020.936).

No julgamento, o ministro Salomão advertiu que a seguradora não deve desviar credibilidade dosprofissionaisparaoplanodesaúde,incluindoindevidamenteseusnomesnoguiadestinadoaospacientes.Esse ato ‘constitui dano presumido à imagem, gerador de direito à indenização, salientando-se, aliás,inexistir necessidade de comprovação de qualquer prejuízo’, acrescentou(<http://www.stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=106255&utm_source=agencia&utm_medium=email&utm_campaign=pushsco>,acessoem1.ºnov.2012).

72SílviodeSalvoVenosa,DireitoCivil—ResponsabilidadeCivil,3.ed.,SãoPaulo:Atlas,2003,p.28.Ainda sobre este interessante tema,SérgioNovaisDias, emexcelenteobra, ponderaque: “Nas açõesderesponsabilidade civil do advogado pela perda de uma chance, inúmeras questões podem ser suscitadas,como a não contratação do advogado, o não cabimento da providência, a inexistência do nexo decausalidade,aextensãododano,aconcordânciadocliente,asquaisterãodeserexaminadasdeacordocom

Page 522: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

aspeculiaridadesdasdiversassituaçõesqueaspendências judiciaisapresentam”(ResponsabilidadeCivildoAdvogado—PerdadeumaChance,SãoPaulo:LTr,1999,p.91).Aindasobreotema,háinteressantejulgadodoSuperiorTribunaldeJustiçasobreaperdadeumachanceemprogramatelevisivo:“RECURSOESPECIAL. INDENIZAÇÃO. IMPROPRIEDADE DE PERGUNTA FORMULADA EM PROGRAMADE TELEVISÃO. PERDA DA OPORTUNIDADE. 1. O questionamento, em programa de perguntas erespostas,pelatelevisão,semviabilidadelógica,umavezqueaConstituiçãoFederalnãoindicapercentualrelativo às terras reservadas aos índios, acarreta, como decidido pelas instâncias ordinárias, aimpossibilidadedaprestaçãoporculpadodevedor, impondoodeverde ressarciroparticipantepeloquerazoavelmente haja deixado de lucrar, pela perda da oportunidade. 2. Recurso conhecido e, em parte,provido”(STJ,REsp788459/BA,Rel.Min.FernandoGonçalves,4.ªT.,julgadoem8-11-2005,DJ,13-3-2006,p.334).

73 RECURSOESPECIAL. INDENIZAÇÃO. IMPROPRIEDADEDE PERGUNTA FORMULADAEMPROGRAMADETELEVISÃO.PERDADAOPORTUNIDADE.

1.Oquestionamento,emprogramadeperguntaserespostas,pelatelevisão,semviabilidadelógica,umavezque aConstituiçãoFederal não indica percentual relativo às terras reservadas aos índios, acarreta, comodecididopelasinstânciasordinárias,aimpossibilidadedaprestaçãoporculpadodevedor,impondoodeverde ressarciroparticipantepeloque razoavelmentehajadeixadode lucrar,pelaperdadaoportunidade.2.Recurso conhecido e, em parte, provido (REsp 788.459/BA, Rel. Ministro Fernando Gonçalves, 4.ª T.,julgadoem8-11-2005,DJ,13-3-2006,p.334).

74Cf.arespeitávelobradaProfa.MariaHelenaDiniz,citada,eimportantefontedepesquisa,p.60-61.

75NoCódigoCivilde2002,cf.oart.402:“Salvoasexceçõesexpressamenteprevistasemlei,asperdasedanosdevidosaocredorabrangem,alémdoqueeleefetivamenteperdeu,oquerazoavelmentedeixoudelucrar”.

76 “Danos materiais. Dona de casa. Trata-se de ação de indenização, tendo em vista o falecimento daesposaemãedosautores,vítimadeatropelamentoporcomposição férreadepropriedadedaempresa ré.Quanto ao pedido de indenização por danos materiais, a ré impugna a conclusão do acórdão sob oargumentodequeestesdeveriamser indeferidos,namedidaqueavítimaeradonadecasaenãorecebiaremuneração.Ofatodeavítimanãoexerceratividaderemuneradanãoautorizaaconcluirque,porisso,elanão contribuía com a manutenção do lar. Os trabalhos domésticos prestados no dia a dia podem sermensurados economicamente, gerando reflexos patrimoniais imediatos. Na hipótese, releva aindaconsiderar que os recorrentes litigam sob o benefício da assistência judiciária, indício de que a vítimapertencia à família de poucas posses, fato que só vem a reforçar a ideia do prejuízo causado com suaausência para a economia do lar. Isso porque, em se tratando de família de baixa renda, amantença dogrupoéfrutodacolaboraçãodetodos,demodoqueodireitoaopensionamentonãopodeficarrestritoàprovaobjetivadapercepçãode renda,na acepção formaldo termo.Nocasovertente, amortedavítima

Page 523: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

causadapelotrágicoacidente,apardecausarinestimávelperdadeordememocionalaosrecorridos,peloquerepresentaafiguradeesposaemãenaestruturadeumlar,acarretou-lhes,também,prejuízopassíveldevaloração econômica, razão pela qual deve ser prestigiada a conclusão assentada no aresto hostilizado,reconhecendodevidaaosorarecorridosapensãopordanosmateriais.ATurma,prosseguindoojulgamento,conheceudorecursoelhedeuparcialprovimento,apenasparalimitaropensionamentoemfavordofilhomenor até aos 25 anos de idade” (STJ,REsp 402.443-MG, rel. originárioMin.CarlosAlbertoMenezesDireito,Rel.paraacórdãoMin.CastroFilho,j.2-10-2003).

77AgostinhoAlvim,Da Inexecução das Obrigações e suas Consequências, 2. ed., São Paulo: Saraiva,1955,p.206.

78PabloStolzeGagliano;RodolfoPamplonaFilho,ob.cit.,p.311-312.

79Esteartigo temaseguinte redação:“Art.403.Aindaquea inexecuçãoresultededolododevedor,asperdasedanossóincluemosprejuízosefetivoseoslucroscessantesporefeitodeladiretoeimediato,semprejuízododispostonaleiprocessual”.Areferênciaàleiprocessualsignificaqueacondenaçãonoônusdasucumbência(custasprocessuais,honoráriosdeadvogado)temtratamentoautônomonalegislaçãoadjetiva.

80Carlos RobertoGonçalves, Sinopses Jurídicas—Direito dasObrigações—ParteGeral, São Paulo:Saraiva,1998,v.5,p.140.

81RodolfoPamplonaFilho,ODanoMoralnaRelaçãodeEmprego,3.ed.,SãoPaulo:LTr,2002,p.40.Paraumavisãogenéricasobreosdireitosdapersonalidade,confira-seocapítuloprópriodePabloStolzeGagliano;RodolfoPamplonaFilho,NovoCursodeDireitoCivil,SãoPaulo:Saraiva,2002,v.I.

82 “A rica casuística que tem desembocado nos tribunais permite o reenvio de todos os casos de danosmoraisaostiposdedireitosdapersonalidade.(...)Areferênciafrequenteà‘dor’moraloupsicológicanãoéadequadaedeixaojulgadorsemparâmetrossegurosdeverificaçãodaocorrênciadedanomoral.Adoréuma consequência, não é o direito violado.O que concerne à esfera psíquica ou íntima da pessoa, seussentimentos, sua consciência, suas afeições, sua dor, correspondem aos aspectos essenciais da honra, dareputação,daintegridadepsíquicaoudeoutrosdireitosdapersonalidade.

O danomoral remete à violação do dever de abstenção a direito absoluto de natureza não patrimonial.Direitoabsolutosignificaaquelequeéoponívelatodos,gerandopretensãoàobrigaçãopassivauniversal.Edireitos absolutos de natureza não patrimonial, no âmbito civil, para fins dos danos morais, sãoexclusivamenteosdireitosdapersonalidade.Foradosdireitosdapersonalidade sãoapenas cogitáveisosdanos materiais” (Paulo Luiz Netto Lôbo, Danos Morais e Direitos da Personalidade, in Eduardo deOliveiraLeite(coordenador),GrandesTemasdaAtualidade—DanoMoral—AspectosConstitucionais,Civis,PenaiseTrabalhistas,RiodeJaneiro:Forense,2002,p.364-365).

83CarlosAlbertoBittar,ReparaçãoCivilporDanosMorais,SãoPaulo:RevistadosTribunais,1993,p.41.

84 Nesse sentido o art. 5.º, V, da Constituição— “é assegurado o direito de resposta, proporcional ao

Page 524: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem” e o art. X— “são invioláveis aintimidade,avidaprivada,ahonraeaimagemdaspessoas,asseguradoodireitoaindenizaçãopelodanomaterialoumoraldecorrentedesuaviolação”.

85ArrudaAlvim,DanoMoraleasuaCoberturaSecuritária,proferidanoIICongressodeResponsabilidadeCivilnosTransportesTerrestresdePassageiros,1997.

86Sobreotema,confira-sePAMPLONAFILHO,Rodolfo;ANDRADEJÚNIOR,LuizCarlosVilasBoas,ATorredeBabeldasNovasAdjetivaçõesdoDano,RevistadoCursodeDireitodaUNIFACS,v.14,p.49-68,2014.

87CaioMáriodaSilvaPereira,ResponsabilidadeCivil,9.ed.,RiodeJaneiro:Forense,2000,p.44.

88Confira-seotópico5(“DanoMoralDiretoeIndireto”)doCapítuloVI(“ODanoMoral”)destevolume.

89 Em nosso sentir, é possível reconhecer dano reflexo, inclusive, em face do nascituro:“RESPONSABILIDADECIVIL.ACIDENTEDOTRABALHO.MORTE.INDENIZAÇÃOPORDANOMORAL. FILHO NASCITURO. FIXAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO. DIES A QUO.CORREÇÃO MONETÁRIA. DATA DA FIXAÇÃO PELO JUIZ. JUROS DE MORA. DATA DOEVENTO DANOSO. PROCESSO CIVIL. JUNTADA DE DOCUMENTO NA FASE RECURSAL.POSSIBILIDADE,DESDEQUENÃOCONFIGURADAAMÁ-FÉDAPARTEEOPORTUNIZADOOCONTRADITÓRIO.ANULAÇÃODOPROCESSO.INEXISTÊNCIADEDANO.DESNECESSIDADE.

—Impossíveladmitir-seareduçãodovalorfixadoatítulodecompensaçãopordanosmoraisemrelaçãoaonascituro,emcomparaçãocomoutrosfilhosdodecujus,jánascidosnaocasiãodoeventomorte,porquantoo fundamento da compensação é a existência de um sofrimento impossível de ser quantificado comprecisão.

— Embora sejammuitos os fatores a considerar para a fixação da satisfação compensatória por danosmorais,éprincipalmentecombasenagravidadedalesãoqueojuizfixaovalordareparação.

—Édevida correçãomonetária sobre o valor da indenizaçãopor danomoral fixado a partir da data doarbitramento.Precedentes.

—Osjurosmoratórios,emsetratandodeacidentedetrabalho,estãosujeitosaoregimedaresponsabilidadeextracontratual, aplicando-se, portanto, a Súmula n. 54 da Corte, contabilizando-os a partir da data doeventodanoso.Precedentes-Épossívelaapresentaçãodeprovasdocumentaisnaapelação,desdequenãofiqueconfiguradaamá-fédaparteesejaobservadoocontraditório.Precedentes.

—A sistemáticadoprocesso civil é regidapeloprincípioda instrumentalidadedas formas, devendo serreputados válidos os atos que cumpram a sua finalidade essencial, sem que acarretem prejuízos aoslitigantes.

Recurso especial dos autores parcialmente conhecido e, nestaparte, provido.Recurso especial da rénão

Page 525: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

conhecido”(REsp931556/RS,Rel.Min.NANCYANDRIGHI,3.ªTurma,julgadoem17-6-2008,DJe,5-8-2008).

90 Confira-se o subtópico 5.2.2 (“Responsabilidade civil pela perda de uma chance”) do CapítuloXIV(“ResponsabilidadeCivilProfissional”)destevolume.

91STJ,4.ªTurma,REsp399028/SP,Rel.Min.SálviodeFigueiredoTeixeira,DJ15-4-2002,p.232.

92RodolfodeCamargoMancuso,AçãoPopular, SãoPaulo:Revista dosTribunais, 1992, p. 25.KazuoWatanabechegaaafirmarque“anaturezaverdadeiramentecoletivadademandadependenãosomentedalegitimação ativa para a ação e da natureza dos interesses ou direitos nela vinculados, como tambémdacausadepedirinvocadaedotipoeabrangênciadoprovimentojurisdicionalpostulado,eaindadarelaçãode adequação entre esses elementos objetivos da ação e a legitimação ad causam passiva” (Demandascoletivaseosproblemasemergentesdapráxisforense,inAsGarantiasdoCidadãonaJustiça,SãoPaulo:Saraiva,1993,p.195).

93STJ,REsp1221756/RJ,Rel.Min.MassamiUyeda,3.ªTurma,DJe,10-2-2012.

94Fala-se,nosdiasdehoje,inclusive,emdanosocial,oqual,adespeitodasimilitudecomodanomoralcoletivo,temcaracterísticaspróprias.Issoporqueodanosocialnãoatingeapenasumcírculo,umgrupoouumacoletividade,massim,emespectromaisamplo,aprópriasociedade.Éoquesedá,porexemplo,noscasos de lesão proveniente de balas perdidas (TARTUCE, Flávio. Reflexões sobre o Dano Social,disponível em: http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=3537.Acessoem11nov.2014).

95AntonioGidi,CoisaJulgadaeLitispendênciaemAçõesColetivas,SãoPaulo:Saraiva,1995,p.21.

96 José Carlos BarbosaMoreira, Tutela Jurisdicional dos Interesses Coletivos ou Difusos, in Temas deDireitoProcessual,terceirasérie,SãoPaulo:Saraiva,1984,p.195-196.

97CF/88:“Art.225.Todostêmdireitoaomeioambienteecologicamenteequilibrado,bemdeusocomumdopovoeessencialà sadiaqualidadedevida, impondo-seaoPoderPúblicoeàcoletividadeodeverdedefendê-loepreservá-loparaaspresentesefuturasgerações”.

98 Como observa Antônio Gidi, em exemplo idêntico, como “a homogeneidade decorre tão só eexclusivamente da origem comum dos direitos, estes não precisam ser iguais quantitativa ouqualitativamente.Assim, damesma forma que o quantum de cada prejuízo individual é algo peculiar eirrelevante para a caracterização da homogeneidade de tais direitos, esses prejuízos individualmentesofridos podem ser dasmais variadas espécies (patrimoniais,morais, lucros cessantes, danos emergentesetc.), sem comprometimento à referida homogeneidade. Afinal, o ‘homogêneo’ aqui não se refere aidentidadeouigualdadematemáticaentreosdireitos,masaumnúcleocomumquepermitaumtratamentouniversaleglobalizanteparatodososcasos”(ob.cit.,p.32).

Page 526: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

99ManoelJorgeeSilvaNeto,ProteçãoConstitucionaldosInteressesTrabalhistas—Difusos,ColetivoseIndividuaisHomogêneos,SãoPaulo:LTr,2001,p.42.

100OrlandoGomes,Obrigações,9.ed.,RiodeJaneiro:Forense,1994,p.51.

101OrlandoGomes,ob.cit.,p.272.

102SalomãoResedá,AFunçãoSocialdoDanoMoral,Florianópolis:ConceitoEditorial,2009,p.186.

Page 527: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

103ConstituiçãoFederalde1988:

“Art.5.ºTodossãoiguaisperantealei,semdistinçãodequalquernatureza,garantindo-seaosbrasileiroseaosestrangeirosresidentesnoPaísainviolabilidadedodireitoàvida,àliberdade,àigualdade,àsegurançaeàpropriedade,nostermosseguintes:

(...)

V—éasseguradoodireitode resposta,proporcionalaoagravo,alémda indenizaçãopordanomaterial,moralouàimagem;

(...)

X—sãoinvioláveisaintimidade,avidaprivada,ahonraeaimagemdaspessoas,asseguradoodireitoaindenizaçãopelodanomaterialoumoraldecorrentedesuaviolação.”

104Sobreotema,confira-seoCapítuloI(“NoçõesGeraisdeDireito”)dovolume1(“ParteGeral”)destaobra.

105NessaesteiraéacríticatambémdeMarcosBernardesdeMello:“Essaenumeraçãolegal,comosevê,éinsuficiente, incompleta, porque nãomenciona todas as causas de invalidade, deixando-se de referir-se,explicitamente,àpossibilidadedoobjetoesuacompatibilidadecomamoral(cujafaltaimplicanulidade—CódigoCivil,art.145,II),comotambémàinexistênciadedeficiênciadenegóciosjurídicos,dentreosquaisseincluemosvíciosqueafetamamanifestaçãodavontadeeoutrosquecomprometemaperfeiçãoecausamainvalidade,poranulabilidade,doatojurídico(CódigoCivil,art.147),alémdaanuênciadeoutraspessoas,que, em certas situações, é exigida” (Marcos Bernardes deMello, Teoria do Fato Jurídico— Plano daValidade,2.ed.,SãoPaulo:Saraiva,1997,p.17).

106PabloStolzeGagliano;RodolfoPamplonaFilho,NovoCursodeDireitoCivil—ParteGeral,2.ed.,SãoPaulo:Saraiva,2002,v.1,p.350-351.

107 “Art. 5.º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aosbrasileiroseaosestrangeirosresidentesnoPaísainviolabilidadedodireitoàvida,àliberdade,àigualdade,àsegurançaeàpropriedade,nostermosseguintes:”(...)“X—sãoinvioláveisaintimidade,avidaprivada,ahonraeaimagemdaspessoas,asseguradoodireitoaindenizaçãopeladanomaterialoumoraldecorrentedesuaviolação”.

108 A título meramente exemplificativo, confira-se Carlos Alberto Bittar (Reparação Civil por DanosMorais,SãoPaulo:RevistadosTribunais,1993),WilsonMelodaSilva(ODanoMoralesuaReparação,3.ed.,RiodeJaneiro:Forense,1983),MariaHelenaDiniz(CursodeDireitoCivil,3.ed.,SãoPaulo:Saraiva,1996,v.7),SérgioSevero(OsDanosExtrapatrimoniais,SãoPaulo:Saraiva,1996),AugustoZenun(DanoMoralesuaReparação,4.ed.,RiodeJaneiro:Forense,1996),ClaytonReis(DanoMoral,4.ed.,RiodeJaneiro: Forense, 1995), Fabrício ZamprognaMatielo (DanoMoral, DanoMaterial e Reparação, 2. ed.

Page 528: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Porto Alegre: Sagra-Luzzatto, 1995), Christino Almeida do Valle (Dano Moral, 1. ed., 2.ª tir., Rio de

Janeiro:Aide,1994),RodolfoPamplonaFilho(ODanoMoralnaRelaçãodeEmprego,3.ed.,SãoPaulo:LTr,2002),entreoutros.

109VeitValentim,HistóriaUniversal,6.ed.,SãoPaulo:MartinsEd.,1964,t.I,p.81.

110Awilumsignificahomemlivre.

111Dezciclosdepratacorrespondiamaaproximadamente80gramas.

112Meiaminadeprataequivalea250gramas.

113WilsonMelodaSilva,ODanoMoralesuaReparação,3.ed.,RiodeJaneiro:Forense,1983,p.15.

114AugustoZenun,DanoMoralesuaReparação,4.ed.,RiodeJaneiro:Forense,1996,p.6.

115ClaytonReis,DanoMoral,4.ed.,RiodeJaneiro:Forense,1995,p.12.

116JúlioBernardodoCarmo,ODanoMoralesuaReparaçãonoÂmbitodoDireitoCiviledoTrabalho,RevistaLTr,SãoPaulo:LTr,mar.1996,v.60,p.297.

117ClaytonReis,ob.cit.,p.16.

118Saliente-sequearesponsabilidadecivilnoDireitoRomanopodeservisualizadaem3(três)etapas:emprimeirolugar,cronologicamente,aLeidasXIITábuas(noano452a.C.);depois,aLexAquilia(apartirde286 a.C.); e, finalmente, a Legislação Justiniana (528/534 a.C.), que, por seu modo, subdividia-se nasInstitutas,oCodexJustinianuseoDigestoouPandectas.

119“Conta-sequeumcertoLuciusVeratiussedeliciavaverberando(esbofeteando)comasuamãoorostodoscidadãoslivresqueencontravanarua.Atrásdesivinhaumseuescravoentregando25assesatodosemqueodominusbatia”(traduzidodooriginalalemão:RomischesPrivatrecht (DireitoPrivadoRomano),9.ed.,deMaxKaser,Munique,EditoraC.H.Beck,1976,§§50,p.199-202,IV,2(p.49),v.1(p.49-50),peloProfessorDoutorWanderleidePaulaBarreto,apudClaytonReis,ob.cit.,p.18.

120 “Não se origina, contudo, da promessa de casamento, embora válida e sem nenhuma justa causaescusadoradeseunãocumprimento,umaaçãocomforçabastanteparalevaràcelebraçãodomatrimônio.Talaçãoexiste,noentanto,paraodireitodepedir-seareparaçãodosdanos”(grifosnossos).

121“Sealguém,nãocomatos,maspormeiodepalavrasouescritos,oudequalqueroutraforma,injuriaumterceiro,ouoprejudicaemsuaboafamaoureputação,nãosóseobriga,nosteoresdoscânones1.618e1.938, a dar a devida satisfação e a reparar os danos, como, também, se torna passível de penas epenitênciasproporcionadas,inclusivesesetratadeclérigoaquem,seforocaso,sedeveimporasuspensãoouaprivaçãodeofícioebenefício.”

122AparecidaAmarante,ResponsabilidadeCivilporDanoàHonra,1.ed.,BeloHorizonte:DelRey,1991,p.30.

Page 529: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

123“Art.76.Parapropor,oucontestarumaação,énecessárioterlegítimointeresseeconômico,oumoral.

Parágrafoúnico.Ointeressemoralsóautorizaaaçãoquandotoquediretamenteaoautor,ouàsuafamília.”

124“Art.79.Seacoisaperecerporfatoalheioàvontadedodono,teráesteação,pelosprejuízoscontraoculpado.”

125“Art.159.Aqueleque,poraçãoouomissãovoluntária,negligência,ouimprudência,violardireito,oucausarprejuízoaoutrem,ficaobrigadoarepararodano”.

126 Clóvis Beviláqua, Código Civil dos Estados Unidos do Brasil, 5. ed., São Paulo: Francisco Alves,1943,t.2,v.V,p.319.

127 Nesse sentido, confira-se a seguinte decisão: “Dano moral. Não é indenizável, de acordo com aorientaçãodoSupremoTribunal”(STF,2.ªT.,RE91.502,rel.Min.LeitãodeAbreu,DJ,17-10-1980).

128MesmoantesdoCódigoCivil,oDecreton.2.681,de7-12-1912,queregulaaresponsabilidadecivilnasestradasdeferro,estabeleceuquealesãocorpóreaoudeformidadeensejaumaindenizaçãoconvenientearbitradapelojuiz(art.21).Tambémareparaçãoemcasodemortefoiampliada,comportandoalimentos,auxíliooueducaçãoaqueumapessoasevejaprivadaemfunçãodoevento,aoarbítriodojuiz(art.22).

129Confira-se,apropósito,otópico8(dopresentecapítulo“DanoMoraleDireitosDifusoseColetivos”).

130CaioMáriodaSilvaPereira,ResponsabilidadeCivil,9.ed.,RiodeJaneiro:Forense,2001,p.58.

131“Art.186.Aqueleque,por açãoouomissãovoluntária,negligênciaou imprudência,violardireito ecausardanoaoutrem,aindaqueexclusivamentemoral,cometeatoilícito”.

132“Art.927.Aqueleque,poratoilícito(arts.186e187),causardanoaoutrem,ficaobrigadoarepará-lo.

Parágrafoúnico.Haveráobrigaçãoderepararodano,independentementedeculpa,noscasosespecificadosem lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza,riscoparaosdireitosdeoutrem”.

133ZulmiraPiresdeLima,“Algumasconsideraçõessobrearesponsabilidadecivilpordanosmorais”, inBoletimdaFaculdadedeDireito,UniversidadedeCoimbra,2.ºsuplemento,Coimbra,1940,v.XV,p.240.

134ZulmiraPiresdeLima,ob.cit.,p.240.

135WilsonMelodaSilva,ODanoMoralesuaReparação,3.ed.,RiodeJaneiro:Forense,1983,p.342.

136Chironi,LaColpanelDirittoCivileOdierno—ColpaExtra-Contrattuale,2.ed.,Turim,1903,v.II,n.412.

137Minozzi,Studiosuldannononpatrimoniale,3.ed.,Milão,1917,p.59apudWilsonMelodaSilva,ODanoMoralesuaReparação,3.ed.,RiodeJaneiro:Forense,1983,p.343.

138ZulmiraPiresdeLima,ob.cit.,p.242.

Page 530: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

139SérgioSevero,OsDanosExtrapatrimoniais,SãoPaulo:Saraiva,1996,p.63-64.

140MariaHelenaDiniz,ob.cit.,p.71.

141GeorgesRipert,ARegraMoral nasObrigaçõesCivis (tradução portuguesa deO. deOliveira), SãoPaulo:Saraiva,s/d,n.182,p.352.

142WilsonMelodaSilva,ob.cit.,p.349.

143ZulmiraPiresdeLima,ob.cit.,p.244-245.

144MariaHelenaDiniz,ob.cit.,p.71.

145ZulmiraPiresdeLima,ob.cit.,p.250.

146 Sobre o tema do arbitramento como forma de quantificação de obrigações ilíquidas, confira-se osubtópico4.5.2("Modalidadesdeliquidação")doCapítuloVI("ClassificaçãoEspecialdasObrigações")dov.II("Obrigações")destacoleção.

147 O STJ tem adotado o “sistema bifásico” de reparação de danos morais, conforme se verifica noseguintejulgado:

"RECURSOESPECIAL.RESPONSABILIDADECIVIL.ACIDENTEDETRÂNSITO.MORTE.DANOMORAL. QUANTUM INDENIZATÓRIO. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. CRITÉRIOS DEARBITRAMENTO EQUITATIVO PELO JUIZ. MÉTODO BIFÁSICO. VALORIZAÇÃO DOINTERESSEJURÍDICOLESADOEDASCIRCUNSTÂNCIASDOCASO.

1.Discussãorestritaàquantificaçãodaindenizaçãopordanomoralsofridopeloesposodavítimafalecidaemacidentedetrânsito,quefoiarbitradopelotribunaldeorigememdezmilreais.

2. Dissídio jurisprudencial caracterizado com os precedentes das duas turmas integrantes da SegundaSecçãodoSTJ.

3.ElevaçãodovalordaindenizaçãopordanomoralnalinhadosprecedentesdestaCorte,considerandoasduasetapasquedevemserpercorridasparaessearbitramento.

4. Na primeira etapa, deve-se estabelecer um valor básico para a indenização, considerando o interessejurídicolesado,combaseemgrupodeprecedentesjurisprudenciaisqueapreciaramcasossemelhantes.

5.Nasegundaetapa,devemserconsideradasascircunstânciasdocaso,parafixaçãodefinitivadovalordaindenização,atendendoadeterminaçãolegaldearbitramentoequitativopelojuiz.

6.Aplicaçãoanalógicadoenunciadonormativodoparágrafoúnicodoart.953doCC/2002.

7.Doutrinaejurisprudênciaacercadotema.

8.RECURSOESPECIALPROVIDO"(STJ,3.ªTurma,RecursoEspecialn.959.780/ES(2007/0055491-9),Rel.Min.PaulodeTarsoSanseverino).

Page 531: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

148AugustoZenun,DanoMoralesuaReparação,4.ed.,RiodeJaneiro:Forense,1996,p.46-47.

149WilsonMelodaSilva,ob.cit.,p.374.

150SérgioSevero,ob.cit.,p.67.

151AugustoZenun,ob.cit.,p.49.

152WilsonMelodaSilva,ob.cit.,p.376.

153MariaHelenaDiniz,ob.cit.,p.74.

154AntônioChaves,TratadodeDireitoCivil,SãoPaulo:RevistadosTribunais,1985,v.II,p.637.

155AparecidaAmarante,ResponsabilidadeCivil porDano àHonra,BeloHorizonte:DelRey, 1991, p.274.

156GeorgesRipert,ARegraMoral nasObrigaçõesCivis (tradução portuguesa deO. deOliveira), SãoPaulo:Saraiva,s/d,n.181,p.345;RenéDemogue,Traitédesobligationsengéneral,Paris,1924,t.IV,n.406;Savatier,Traitédelaresponsabilitécivileendroitfrançais,2.ed.,Paris:LGDJ,1951,t.II,n.525,v.1,p.102en.528(aindaqueesteúltimoadmitisse,emcertoscasos,queareparaçãopudesseassumircarátersatisfatóriooucompensatório).

157JorgeJ.Llambías,Tratadodederechocivil,Obligaciones,BuenosAires:Perrot,1973,t.I,n.270,p.352-353.

158Confira-se,apropósito,otópico5(“FunçãodaReparaçãoCivil”)doCapítuloII(“NoçõesGeraisdeResponsabilidadeCivil”).

159Preocupamo-nosemestabelecerestadiagnosediferencialcientífica,mesmosabendoque,porvezes,nadoutrinaenajurisprudência,taisexpressõespodemserencontradascomsentidoidêntico.

160 Ramon Daniel Pizarro, Daño moral — Prevención/Reparación/Punición, Buenos Aires: EditorialHammurabiS.R.L.,1996,p.114.

161Sobreestepolêmicodispositivolegal,voltaremosafalarnoúltimocapítulo“AIndenização(AspectosProcessuaisdaResponsabilidadeCivil)”destelivro.

162WilsonMelodaSilva,ob.cit.,p.650.

163WagnerD.Giglio,JustaCausa,3.ed.,SãoPaulo:LTr,1996,p.251.

164ValdirFlorindo,ODanoMoraleoDireitodoTrabalho,2.ed.,SãoPaulo:LTr,1996,p.47-48.

165JosaphatMarinho,OsDireitosdaPersonalidadenoProjetodeNovoCódigoCivilBrasileiro.BoletimdaFaculdadedeDireitodaUniversidadedeCoimbra—STVDIAIVRIDICA,40,Colloquia—2.SeparatadePortugal-Brasil:CoimbraEd.,ano2000,p.257.

Page 532: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

166LuizAlbertoDavidAraújo,AProteçãoConstitucionaldaPrópriaImagem,BeloHorizonte:DelRey,1996,p.113.

167STJ:Súmula227(“Apessoajurídicapodesofrerdanomoral”).

168Emsentidocontrário,confira-sePaulaSarnoBraga,“AReparaçãodoDanoMoralnoMeioAmbientedoTrabalho”,inwww.unifacs.br/revistajuridica,ediçãodefevereiro/2002.

169Lein.7.347/85:“Art.13.Havendocondenaçãoemdinheiro,aindenizaçãopelodanocausadoreverteráa um fundo gerido por um Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de que participarãonecessariamente oMinistério Público e representantes da comunidade, sendo seus recursos destinados àreconstituição dos bens lesados”. Saliente-se, a propósito, que o referido fundo já foi devidamenteregulamentadopeloDecreton.407/91.

170CF/88:“Art.225.Todostêmdireitoaomeioambienteecologicamenteequilibrado,bemdeusocomumdopovoeessencialà sadiaqualidadedevida, impondo-seaoPoderPúblicoeàcoletividadeodeverdedefendê-loepreservá-loparaaspresentesefuturasgerações”.

171JúlioCésardeSádaRocha,DireitoAmbientaldoTrabalho:mudançadeparadigmanatutelajurídicaàsaúde do trabalhador, doutorado emDireito dasRelações Sociais—Área deConcentração emDireitosDifusoseColetivos,p.195.

172 Raimundo Simão Melo, Meio Ambiente do Trabalho: prevenção de reparação. Juízo Competente.TrabalhoeDoutrina,p.164.

173 “Imaginemos a hipótese de sinistro ocorrido na planta industrial e que ocasione danos ambientais àcomunidade. Uma vez provado o nexo de causalidade entre a omissão empresarial e o dano, abre-se oprecedente não apenas para buscar a reparação do dano em si,mas também para ressarcir o patrimôniomoral da coletividade, pois irrefutavelmente conspurcado interesse difuso” (Manoel Jorge Silva Neto,ProteçãoConstitucionaldosInteressesTrabalhistas—Difusos,ColetivoseIndividuaisHomogêneos, SãoPaulo:LTr,2001,p.164).

Page 533: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

174 Miguel Maria de Lopes, Curso de Direito Civil — Fontes Acontratuais das Obrigações eResponsabilidadeCivil,5.ed.,RiodeJaneiro:FreitasBastos,2001,v.V,p.218.

175Nãosedeveconfundironexocausalcomaimputabilidade.Clássica,nessesentido,éaadvertênciadomencionadoProf.SerpaLopes: “Aprimeira, como já se disse, se relaciona comos elementosobjetivos,externos,consistentesnaatividadeouinatividadedosujeito,atentatóriadodireitoalheio,aoqualvulneraproduzindo umdanomaterial oumoral; enquanto a segunda— a imputabilidade—diz respeito pura esimplesmenteaumelementosubjetivo,interno,relativotãosóaosujeito”(ob.cit.,p.219).

176CaioMáriodaSilvaPereira,ResponsabilidadeCivil,9.ed.,RiodeJaneiro:Forense,2000,p.78.

177GustavoTepedino,NotassobreoNexodeCausalidade,RevistaTrimestraldeDireitoCivil,ano2,v.6,jun.de2001.RiodeJaneiro:Padma,p.3-19.

178 É clássico o exemplo de Binding, também lembrado por Tepedino, segundo o qual, se a teoria daequivalênciadascondiçõesfosseadotada,emtodaasuaextensão, talveztambémfosseresponsabilizado,como partícipe do adultério, “o próprio marceneiro que fabricou o leito, no qual se deitou o casalamoroso...” (cf.WilsonMelo da Silva, ResponsabilidadeSemCulpa, São Paulo: Saraiva, 1974, p. 117,citadoporGustavoTepedino,op.cit.,p.6).

179JulioFabbriniMirabete,aesserespeito,observa:“Mas,evidentemente,nãobastaarelaçãocausalparaquesepossaimputarapráticadoilícitoaumagenteque,nocampomaterial,colaborouparaoresultado.Éindispensávelqueacondutatenhasidopraticadacomdoloouculpaparaquesepossafalaremfatotípico.Em rigor, a adoção do princípio da conditio sine qua non tem mais relevância para excluir quem nãopraticouofatodoqueparaincluirquemocometeu”(CódigoPenalinterpretado,SãoPaulo:Atlas,1999,p.136).

180 A análise deste tema, profundamente ligado à seara penal, não poderia parar por aqui. Entretanto,desbordariadapropostadestaobracontinuarainvestigaçãoepesquisadoassuntonadoutrinaespecializadaenos sistemaspenais domundo.Advertimos, entretanto, emespecial aos nossos leitores quegostamdoDireitoPenal, que a teoriada equivalênciadas condições, adespeitode ser tradicionalmente adotadanoDireitoBrasileiro,temsofridodurascríticasnasúltimasdécadas,especialmenteapartirdosensinamentosdeClausRoxin.

181SérgioCavalieriFilho,ProgramadeResponsabilidadeCivil,2.ed.,SãoPaulo:Malheiros,2000,p.51.

182Idem,ibidem,p.51.

183CarlosAlbertoGhersi,TeoríaGeneraldelaReaparacióndeDaños,2ed.,BuenosAires:Astrea,1999,p.90.

184CarlosRobertoGonçalves,ResponsabilidadeCivil,7.ed.,Saraiva:SãoPaulo,2002,p.522-523.

185LuizRoldãodeFreitasGomes,ElementosdeResponsabilidadeCivil,RiodeJaneiro:Renovar,2000,p.

Page 534: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

74.

186Noplanointernacional,alinharam-seaestacorrenteautoresdoquilatedeGiorgi,Chironi,PolaccoeEnneccerus.

187AgostinhoAlvim,Da Inexecução dasObrigações e suasConsequências, 4. ed., SãoPaulo: Saraiva,1972,p.356.

188GustavoTepedino,ob.cit.,p.10.

189CarlosRobertoGonçalves,op.cit.,p.525.

190MartinhoGarcezNeto,ResponsabilidadeCivilnoDireitoComparado,RiodeJaneiro:Renovar,2000,p.212.

191Cf.SérgioCavalieriFilho,ob.cit.,p.53.

192CarlosRobertoGonçalves,ob.cit.,p.524.

193 “RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE. TRÂNSITO. ESTACIONAMENTO. Na espécie, aautora da demanda deixou seu veículo no estacionamento de aeroporto internacional e o automóvel foiretirado pelo seu filho (menor de idade), acompanhado por dois amigos (um deles maior), deixando arecorrida de exigir a exibição do comprovante de estacionamento em razão de eles informarem tê-loperdido. Por volta das 22 h daquele mesmo dia, o referido veículo foi encontrado pela Polícia Militartotalmenteavariadoemdecorrênciadacolisãocontraumpostedeiluminaçãopública,queresultou,ainda,em lesões aos seus ocupantes, dentre os quais o filho da autora. Para o Min. Relator, é inequívoca aausênciadenexocausalentreoatopraticadopelaora

recorrida (entregadoveículo ao filhoda autora e seus acompanhantes sema apresentaçãodo respectivocomprovantedeestacionamento)eodanoocorrido(decorrentedoacidenteenvolvendooreferidoveículohoras mais tarde). É evidente que o evento danoso não decorreu direta e imediatamente da supostainexecução do contrato de depósito estabelecido entre a recorrente e a sociedade empresarial recorrida,razãopelaqualnãohádesefalaremresponsabilidadedessapeloocorrido.Emmatériaderesponsabilidadecivil—contratualouextracontratual;objetivaousubjetiva—vigora,noDireitobrasileiro,oprincípiodacausalidadeadequada,tambémdenominadoprincípiododanodiretoeimediato(art.1.060doCC/1916eart.403doCódigoatual).Segundoesseprincípio,ninguémpodeserresponsabilizadoporaquiloaquenãotiverdadocausa(art.159doCC/1916eart.927doCC/2002)esomenteseconsideracausaoeventoqueproduziudiretaeconcretamenteoresultadodanoso.Aimputaçãoderesponsabilidadecivil,portanto,supõea presença de dois elementos de fato, quais sejam: a conduta do agente e o resultado danoso, e de umelementológico-normativo,onexocausal(queélógico,porqueconsistenumeloreferencial,numarelaçãode‘pertencialidade’entreoselementosdefato,eénormativo,porquetemcontornoselimitesimpostospelosistemadeDireito,segundooqualaresponsabilidadecivilsóseestabeleceemrelaçãoaosefeitosdiretoseimediatoscausadospelacondutadoagente)”(STJ,REsp325.622-RJ,Rel.Min.CarlosFernandoMathias

Page 535: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

(JuizconvocadodoTRFda1.ªRegião),j.em28-10-2008).

194Tepedino,ob.cit.,p.14.

195 Anderson Schreiber, Novos Paradigmas da Responsabilidade Civil — Da Erosão dos Filtros daReparaçãoàDiluiçãodeDanos,2.ed.,SãoPaulo:Atlas,2009,p.70.

196EssetemafoidesenvolvidoháalgunsanospelocoautorPabloStolzeGaglianoemeditorialpostadonainternet, sobre os “Novos Rumos da Responsabilidade Civil”, que serviu de base a este ponto da obra.Confira-se,atítuloexemplificativo,olink<http://www.sinpojud.org.br/destaques.php?id=1698>.

197Schreiber,citandoCavalieriFilho,nabelaobrasupramencionada.

198CitadoporCarlosRobertoGonçalves,ResponsabilidadeCivil,7.ed.,SãoPaulo:Saraiva,2002,p.522-3.

199AndersonSchreiber,ob.cit.,p.72.

200WashingtondeBarrosMonteiro,CursodeDireitoCivil,Saraiva,1971,citadoporRuiStoco,inTratadodeResponsabilidadeCivil,5.ed.,SãoPaulo:RevistadosTribunais,2001,p.99.

201ZelmoDenarieoutros,CódigoBrasileirodeDefesadoConsumidor—ComentadopelosAutoresdoAnteprojeto,5.ed.,RiodeJaneiro:Forense,1998,p.153.

202SérgioCavalieriFilho,ob.cit.,p.62.

203EstaobservaçãoédoProfessorAntonioLuísChavesCamargo,queacrescenta:“Aimputaçãoobjetiva,nateoriadeLarenz,serefereaoproblemacrucialdaação,pontoderelevâncianoDireitoPenal,inclusivenaatualidade.EstabeleceLarenz,nestesentido,que,senãoháimputaçãodofatoaosujeito,estenãopodeserconsideradocomoumacausaçãoderesultado,e,portanto,nãoexisteaprópriaação,poistudoéprodutodeumacidente”(ImputaçãoObjetivaeDireitoPenalBrasileiro,SãoPaulo:CulturalPaulista,2002,p.62).

204 Luiz Flávio Gomes, Direito Penal — Parte Geral, v. II — Teoria do Delito (inédito), capítulogentilmentecedidopelomagistralpenalistapaulistaaoProfessorPabloStolzeGagliano.

205LuizFlávioGomes,ob.cit.acima(inédita).

206LuizFlávioGomes,ob.cit.

Page 536: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

207 Essa colocação é feita por Gisela Sampaio da Cruz, citando Aguiar Dias (A Parte Geral do NovoCódigoCivil,RiodeJaneiro:Renovar,2002,p.408).

208WilsonMelodaSilva,DaResponsabilidadeCivilAutomobilística,SãoPaulo:Saraiva,1974,p.90.

209WilsonMelodaSilva,idem,p.90.

210Interessanteéainterferênciaentreojuízocíveleocriminal.Aindependênciadeambos,comosesabe,érelativa.Comoécediço,oart.65doCPPdispõefazercoisajulgadanocívelasentençapenalquehajareconhecidooestadodenecessidade,alegítimadefesa,oestritocumprimentododeverlegaleoexercícioregulardedireito(nessesentido,aliás,cf.RSTJ,93/195).

211Ressalve-seasituaçãoexcepcional,jámencionadanoCapítuloIII,deresponsabilidadecivildecorrentedeatolícito.

212Oprincípiodaadequaçãosocialtambémescudaessescomportamentos,nãoosconsiderandoilícitos,jáquesãoadmitidospelacoletividade.

213Confira-seoutrointeressanteexemplo:

“Ementa: Responsabilidade civil. Solicitação para deixar sacola no guarda-volumes, dentro doestabelecimento do hipermercado. Praxe adotada no comércio.Danomoral. Inexistência. Cliente que sesente incomodado, ao ser solicitado pelo funcionário da loja, para que deixasse a sacola, no guarda-volumes. Inocorrência de dano moral. Procedimento de rotina, adotado para com todos os clientes.Ausência de discriminação racial, pelo fato de o autor ser negro. Os funcionários agiram no estritocumprimentododever legal.Não sepodeconsiderarqualquerdissabor enfrentadopelaspessoas emseucotidiano, como fato passível de indenização por dano moral. Apelação Desprovida” (Ap. Cível n.70002638112,DécimaCâmaraCível,TribunaldeJustiçadoRioGrandedoSul,Rel.Des.LuizAryVessiniDeLima,j.25-10-2001).

214Sobreotema,confira-seotópico4(“OAbusodeDireito”)doCapítuloXVII(“AtoIlícito”)dovolume1(“ParteGeral”)destaobra.

215SilvioRodrigues,DireitoCivil—ParteGeral,28.ed.,SãoPaulo:Saraiva,1998,v.1,p.314.

216 Pablo StolzeGagliano e Rodolfo Pamplona Filho,NovoCurso deDireito Civil, 2. ed., São Paulo:Saraiva,2002,v.1,p.468.

217SílviodeSalvoVenosa,DireitoCivil—ParteGeral,SãoPaulo:Atlas,2001,p.499.

218Art.188doCC/2002.

219CitadoporCarlosR.Gonçalves,ResponsabilidadeCivil,7.ed.,SãoPaulo:Saraiva,2002,p.712.

220ArnoldoWald,CursodeDireitoCivilBrasileiro—ObrigaçõeseContratos,9.ed.,SãoPaulo:Revista

Page 537: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

dosTribunais,1990,v.2,p.111.

221NoCódigoCivilbrasileirode1916,art.1.058.

222MariaHelenaDiniz,CursodeDireitoCivilBrasileiro—TeoriaGeraldasObrigações, 16. ed., SãoPaulo:Saraiva,2002,v.2,p.346-7.

223SilvioRodrigues,DireitoCivil—ParteGeraldasObrigações,30.ed.,SãoPaulo:Saraiva,2002,v.2,p.239.

224AzevedoVillaça,TeoriaGeraldasObrigações,9.ed.,SãoPaulo:RevistadosTribunais,2001,p.270.

225PabloStolzeGagliano eRodolfoPamplonaFilho,NovoCursodeDireitoCivil—Obrigações, SãoPaulo:Saraiva,2002,v.2,p.291.

226Cf.CasoFortuitoeTeoriadaImprevisão,3.ed.,RiodeJaneiro:Forense,1958.

227SílvioVenosa,DireitoCivil—TeoriaGeraldasObrigaçõeseTeoriaGeraldosContratos,2.ed.,SãoPaulo:Atlas,2002,p.254.Nomesmosentido,reconhecendoqueocasofortuito/forçamaioreaausênciadeculpasãodefiniçõesqueseidentificam,OrlandoGomes,citandoBarassi,pontifica:“oconceitodecasofortuitoresulta,assim,dedeterminaçãonegativa.Caso,segundoBARASSI,éconceitoantitéticodeculpa”(OrlandoGomes,8.ed.,RiodeJaneiro:Forense,1992,p.179).

228Sobreotema,veja-seaseguintenotíciadositedoSTJ:

“STJanalisacasoacasooqueéfortuitoouforçamaior

Qualéaligaçãoentreumburaconomeiodaviapública,umassaltoàmãoarmadadentrodeumbancoeumurubusugadopela turbinadoaviãoqueatrasouovoodecentenasdepessoas?TodasessassituaçõesgerarampedidosdeindenizaçãoeforamjulgadosnoSuperiorTribunaldeJustiça(STJ)combasenumtemamuitocomumnoDireito:ocasofortuitooudeforçamaior.

O Código Civil diz que o caso fortuito ou de força maior existe quando uma determinada ação geraconsequências,efeitosimprevisíveis,impossíveisdeevitarouimpedir:

Caso fortuito + Força maior = Fato/Ocorrência imprevisível ou difícil de prever que gera um ou maisefeitos/consequênciasinevitáveis.

Portanto pedidos de indenização devido a acidentes ou fatalidades causadas por fenômenos da naturezapodemserenquadradosnatesedecasofortuitooudeforçamaior.

Exemplo:ummotoristaestádirigindoemcondiçõesnormaisde segurança.De repente,umraioatingeoautomóvelnomeiodarodoviaeelebateemoutrocarro.Oraioéumfatonatural.Seprovarqueabatidaaconteceu devido ao raio, que é um acontecimento imprevisível e inevitável, o condutor não pode serpunidojudicialmente,ouseja:nãovaiserobrigadoapagarindenizaçãoaooutroenvolvidonoacidente.

Page 538: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Aodemonstrarqueacausadabatidanãoestárelacionadacomoveículo,comoproblemasdemanutenção,porexemplo,ficacaracterizadaaexistênciadecasofortuitoouforçamaior.

NemtodasasaçõesjulgadasnoSTJsãosimplesdeanalisarassim.Aocontrário,amaiorpartedasdisputasjudiciaissobreindenizaçãoenvolvesituaçõesbemmaiscomplicadas.ComooprocessodeumameninadoRiodeJaneiro.Agarotaseacidentoucomumbambolênopátiodaescolaeperdeuavisãodoolhodireito.

A instituiçãode ensinodeveria ser responsabilizadapelo acidente?Ospais dameninadiziamque simeexigiram indenização por danosmorais emateriais. Por sua vez, o colégio afirmava que não podia serresponsabilizadoporquetudonãopassoudeumafatalidade.Ofatodeobambolêsepartireatingiroolhodameninanãopodiaserprevisto:achamadatesedocasofortuito.Comessaalegação,aescolaesperavaficarlivredaobrigaçãodeindenizaraaluna.

Aoanalisaropedido,oSTJentendeuqueaescoladeviaindenizarafamília.Afinal,oacidenteaconteceuporcausadeumafalhanaprestaçãodosserviçosprestadospelaprópriainstituiçãodeensino.Assimcomoesse,outrascentenasdeprocessosenvolvendocasofortuitoeindenizaçõeschegamaoSTJtodososdias.

Assaltoàmãoarmadanointeriordeônibus,trens,metrôs?ParaoSTJécasofortuito.AjurisprudênciadoTribunalafirmaqueaempresadetransportenãodeveserpunidaporumfatoinesperadoeinevitávelquenãofazpartedaatividadefimdoserviçodeconduçãodepassageiros.

Entretantoemsituaçõesdeassaltoàmãoarmadadentrodeagênciasbancárias,oSTJentendequeobancodeve ser responsabilizado, já que zelar pela segurança dos clientes é inerente à atividade fim de umainstituiçãofinanceira.

Eoburacocausadopelachuvanumaviapúblicaqueacaboumatandoumacriança?Casofortuito?Não.OSTJdecidiuquehouveomissãodoPoderPúblico,umavezqueomunicípionãoteriatomadoasmedidasdesegurançanecessáriasparaisolaraáreaafetadaoumesmoparaconsertaraerosãofluvialatempodeevitarumatragédia.

E onde entra o urubu? Numa ação de indenização por atraso de voo contra uma companhia aérea. Aempresaalegoucasofortuitoporqueumurubufoitragadopelaturbinadoaviãoduranteovoo.MasoSTJconsiderouqueacidentesentreaeronaveseurubusjásetornaramfatoscorriqueirosnoBrasil,derrubandoatesedofatoimprevisível.Resultado:acompanhiaaéreafoiobrigadaaindenizaropassageiro.

Moraldahistória:Imprevistosacontecem,massaberseocasofortuitooudeforçamaiorestánaraizdeumacidente é uma questão para ser analisada processo a processo, através das circunstâncias em que oincidenteocorreu”.

229PabloStolzeGagliano eRodolfoPamplonaFilho,NovoCursodeDireitoCivil—Obrigações, SãoPaulo,2002,v.2,p.292-3.

230 “Ementa: Responsabilidade civil. Município. Desabamento de pavilhão em ventania. Defeito de

Page 539: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

construção.Paraplegia.Pensionamento.DanoMoral.1)AtoIlícito:

Operário atingido pelos escombros de pavilhão construído pelo Município para o funcionamento deestabelecimentoindustrialduranteventania.Defeitodeconstruçãocomprovadopelaperíciatécnicaepelaprovatestemunhal.ResponsabilidadedoMunicípio,queelaborouoprojetoeconstruiuopavilhão.2)Casofortuito.Não caracterização da excludente do nexo causal do caso fortuito (vento), que não foi a causaexclusivadoevento.3)Danomoral:Caracterizaçãododanomoralpelagraveofensaàintegridadefísicadavitíma. Manutenção do valor da indenização arbitrado na sentença, que abrangeu os danos morais.Vinculaçãoapenasao saláriomínimovigentenadatada sentença.4)Custasprocessuais:OMunicípioébeneficiáriodaisençãodemetadedascustasprocessuais.ApelaçãodoMunicípiodesprovida.Sentençadeprocedênciamodificadaparcialmenteemreexamenecessário(21fls.)”(Apelaçãoereexamenecessárion.70003109642,NonaCâmaraCível,TribunaldeJustiçadoRioGrandedoSul,Rel.Des.PauloDeTarsoVieiraSanseverino,j.28-12-2001).

231Cf.CapítuloXIII(“ResponsabilidadeCivildoEstado”).

232SauloJoséCasaliBahia,ResponsabilidadeCivildoEstado,RiodeJaneiro:Forense,1995,p.71.

233Sobreo temadaAtividadedeRisco, confira-seoCapítuloX (“ResponsabilidadeCivilObjetivae aAtividadedeRisco”).

234 “Administrativo. Responsabilidade civil do Estado. Força maior. A Força Maior exclui aResponsabilidadeCivildoEstado,quandodescaracterizaonexodecausalidadeentreoeventodanosoeoserviço público; não se qualifica como tal a tentativa de roubo de veículo apreendido por trafegar semlicença,queseencontravasobaguardaderepartiçãopública,porquenessecasooEstadodeveestarpre-paradoparaenfrentarapequenacriminalidade.Responsabilidadepelosdanoscausadosnoveículo.RecursoEspecial não conhecido” (STJ, REsp 135259/SP; REsp 1997/0039492-1, DJ, 2-3-1998, p. 62, RSTJ,105/190,Min.AriPargendler,T2—2.ªTurma,j.5-2-1998).

235CelsoAntônioBandeira deMello, 10. ed., Curso deDireitoAdministrativo, São Paulo:Malheiros,1998,p.634.

236JosédeAguiarDias,DaResponsabilidadeCivil,9.ed.,RiodeJaneiro:Forense,1994,v.2,p.693.

237Aindaquedeformaindireta,oCódigoCivilreconheceessacausaexcludentenosarts.929e930.

238SílviodeSalvoVenosa,ResponsabilidadeCivil,3.ed.,SãoPaulo:Atlas,2003,p.48.

239“Ementa:Responsabilidadecivil.Furtodemalote.Atoilícitopraticadoporterceiro.Agênciabancária.Estacionamento público. Caso fortuito e força maior. Causas de exclusão. Contrato de depósito.Inexistência.1—Açãoquevisao ressarcimentodedanospatrimoniaisemoraisdecorrentesdofurtodemalote de empresa ocorrido no estacionamento de agência bancária. Hipótese em que se faz presente afigura relativa a exoneração de responsabilidade pelo fato provocado por terceiro. Caso fortuito e força

Page 540: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

maior.Inevitabilidade.Riscosinerentes.Ausênciadenexocausalaensejaraobrigaçãodobancoemrepararos danos. Precedentes jurisprudenciais e doutrinários. 2—Ausência de contrato de depósito a ensejar aresponsabilidadedainstituiçãofinanceira.Provasqueatestamqueolocalondeforaestacionadooveículoédeacessogratuitoaopúblico,semqualquerfiscalizaçãoporpartedobanco.Nexocausalnãoconfigurado.Apelo do réu provido, para julgar improcedente a ação, restando prejudicado o recurso da autora” (Ap.Cível n. 70002278869, 10.ª Câmara Cível, Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Rel. Des. PauloAntônioKretzmann,j.8-11-2001).

240Atenuandoorigordetalafirmação,confiram-seosseguintesacórdãos:

“Responsabilidadecivil.Acidente.Viapública.Atodeterceiro.

Prosseguindoojulgamento,aTurmaentendeuqueseexcluiaresponsabilidadecivildeempresaferroviáriapor acidente e graves danos provocados pelo arremesso, por terceiro, de pedra contra veículo, em viacontígua à ferrovia, vez que tal ato de vandalismo não se equipara aos riscos e deveres inerentes aosserviçosdotransporteferroviário.REsp204.826-RJ,Rel.Min.CesarAsforRocha,j.3-12-2002”.

“Responsabilidadecivil.Exclusão.Transporterodoviário.Forçamaior.

ASeção,pormaioria,entendeuque,nãoobstanteahabitualidadedaocorrênciadeassaltosàmãoarmadaem transportes coletivos, que colocam em risco a incolumidade dos seus usuários, no caso incide aexcludente de responsabilidade por forçamaior (art. 17, segunda alínea, I, doDec. n. 2.681/1912 e art.1.058doCC).PrecedentescitadosdoSTF:RE88.408-RJ,DJ,12-7-1980;RE113.194-RJ,DJ,7-8-1987;do STJ: REsp 74.534-RJ,DJ, 14-4-1997; REsp 200.110-RJ,DJ, 10-4-2000; REsp 30.992-RJ,DJ, 21-3-1994,eREsp118.123-SP,DJ,21-9-1998.REsp435.865-RJ,Rel.Min.BarrosMonteiro,julgadoem9-10-2002.”

“Responsabilidadecivil.Transporteintermunicipal.Assaltopraticadodentrodoônibus.Casoemqueofatodeterceironãoguardaconexidadecomotransporte.Exoneraçãodaresponsabilidadedotransportador,deacordocomprecedentesdoSTJ:REsp’s13.351,30.992e35.436.RecursoEspecialconhecidoeprovido”(STJ, REsp 74.534/RJ; REsp 1995/0046994-4, DJ, 14-4-1997, p. 12738, REVJUR, v. 238, p. 51, Min.NilsonNaves,T3—3.ªTurma,j.4-3-1997).

241WilsonMelodaSilva,DaResponsabilidadeCivilAutomobilística,SãoPaulo:Saraiva,1974,p.70.

242STJ,REsp54444/SP,j.21-11-94.

243ASúmula161doSTFvedaexpressamenteessacláusulanoscontratosdetransporte:“Emcontratodetransporteéinoperanteacláusuladenãoindenizar”.

244CaioMárioPereira,ResponsabilidadeCivil,9.ed.,RiodeJaneiro:Forense,2000,p.305.

245LuizEdsonFachin,TeoriaCríticadoDireitoCivil,RiodeJaneiro:Renovar,2000,p.217.

246Maisrecentemente,decidiuoSTJ:“AGRAVOREGIMENTALNOAGRAVODEINSTRUMENTO.

Page 541: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

RESPONSABILIDADECIVIL.CONDOMÍNIO.FURTOEMUNIDADEAUTÔNOMA.MATÉRIADEPROVA. SÚMULA 7/STJ. ALEGADA EXISTÊNCIA DE CLÁUSULA DE RESPONSABILIDADE.SÚMULA5/STJ.PREPOSTO.RESPONSABILIDADEOBJETIVADOCONDOMÍNIO.AUSÊNCIADEPREQUESTIONAMENTO.SÚMULA211/STJ.PRECEDENTES.

1.ASegundaSeçãodestaCorte firmouentendimentonosentidodeque“Ocondomíniosórespondeporfurtos ocorridos nas suas áreas comuns se isso estiver expressamente previsto na respectiva convenção”(EREsp268669/SP,Rel.Min.AriPargendler,DJ,26-4-2006).

2.Na hipótese dos autos, o acórdão recorrido está fundamentado no fato de que: (a) o furto ocorreu nointeriordeumaunidadeautônomadocondomínioenãoemumaáreacomum;(b)oautornãologrouêxitoemdemonstraraexistênciadecláusuladeresponsabilidadedocondomínioemindenizarcasosdefurtoerouboocorridosemsuasdependências.

3.ParaseconcluirqueofurtoocorreunasdependênciascomunsdoedifícioequetalresponsabilidadefoiprevistanaConvençãodocondomínioemquestão,comoalegaaagravante,serianecessáriorevertodooconjuntofáticoprobatóriodosautos,bemcomoanalisarascláusulasdareferidaConvenção,medidas,noentanto,incabíveisemsedederecursoespecial,ateordasSúmulas5e7destaCorte.

4. Impossibilidade de análise da questão relativa à responsabilidade objetiva do condomínio pelos atospraticadosporseusprepostosporausênciadeprequestionamento.

5.Agravoregimentalaquesenegaprovimento”(STJ,AgRgnoAgI1.102.361-RJ(2008/0215398-2),Rel.Min.RaulAraújoFilho).

Page 542: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

247AlvinoLima,CulpaeRisco,2.ed.,SãoPaulo:RevistadosTribunais,1999,p.26.

248JosédeAguiarDias,DaResponsabilidadeCivil,9.ed.,RiodeJaneiro:Forense,1994,v.1,p.110.

249 Idem,ob. cit., p. 111. “BonusPaterFamilias.Expressão latina.Bompai de família.Trata-se de umconceito padrão utilizado juridicamente como ponto de referência da diligência que se exige nocomportamentoedaavaliaçãodaculpainabstracto.

Assimsendo,obompaidefamíliaseriaoprotótipodocidadãomédio,prudente,normal,atento,dotadodeordináriainteligência,hábil,empenhadoededicado.Seriaoparadigmadohomemabstratamentediligentequecumpreseusdeveres legaisouconvencionaissemqueseconsideremsuacultura,aptidão, instrução”(MariaHelenaDiniz,DicionárioJurídico,SãoPaulo:Saraiva,1998,v.1,p.432-3).

250CarlosAlbertoGhersi,TeoriaGeneraldelaReparacióndeDaños,2.ed.,BuenosAires:Astrea,1999,p.122.

251CaioMáriodaSilvaPereira,ResponsabilidadeCivil,9.ed.,RiodeJaneiro:Forense,2000,p.69.

252RuiStoco,TratadodeResponsabilidadeCivil,SãoPaulo:RevistadosTribunais,2001,p.97.

253MartinhoGarcezNeto,ResponsabilidadeCivilnoDireitoComparado,RiodeJaneiro:Renovar,2000,p.86.

254AlvinoLima,ob.cit.,p.40.

255OrlandoGomes,Obrigações,8.ed.,RiodeJaneiro:Forense,1992,p.344.

256RuiStoco,ob.cit.,p.101.

257SérgioCavalieriFilho,ProgramadeResponsabilidadeCivil,2.ed.,SãoPaulo:Malheiros,2000,p.42.

258SilvioRodrigues,DireitoCivil—ParteGeral,28.ed.,SãoPaulo:Saraiva,1998,v.1,p.306.

259Idem,ob.cit.,p.306.

260PabloStolzeGagliano,AResponsabilidadeExtracontratualnoNovoCódigoCivileoSurpreendenteTratamentodaAtividadedeRisco,RepertóriodeJurisprudênciaIOB,1.ªquinzenadeoutubro,n.19,2002.Texto3/19551,p.529.

261Confira-seotópico6.2(“NaturezaJurídicadaReparaçãodoDanoMoral”)doCapítuloVI(“ODanoMoral”).

262Nessesentido,oDes.CarlosGonçalvesdoTJSP:“Aosereferiràaçãoouomissãovoluntária,oart.159doCódigoCivil(art.186,CC-02)cogitoudodolo.Emseguida,referiu-seàculpaemsentidoestrito,aomencionar a negligência e a imprudência” (grifos nossos) (Direito dasObrigações— Parte Especial—ResponsabilidadeCivil,SãoPaulo:Saraiva,2001,p.14(Col.SinopsesJurídicas,v.6,t.2).

Page 543: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

263Adiferenciaçãoentrearesponsabilidadecivilcontratualeaextracontratualfoidesenvolvidanotópico3.2 (“Responsabilidade Civil Contratual x Responsabilidade Civil Extracontratual ou Aquiliana”) doCapítuloII(“NoçõesGeraisdeResponsabilidadeCivil”).

264InteressantesituaçãoéprevistanaApelaçãoCível20000150053029APC/DF,Rel.Des.GeorgeLopesLeite, publicado noDJU de 12-6-2002: “Ementa: Responsabilidade civil—Fuga e desaparecimento dopaciente de clínica psiquiátrica — Culpa dos responsáveis pelo estabelecimento — Dano moral —Indenizaçãodevida.Incideemculpainvigilandoprepostosdeestabelecimentomanicomialquepermitemafuga de interno, ante a facilidade decorrente da ausência de obstáculos físicos e número insuficiente devigilantes.Cabíveléa indenizaçãopordanomoralaos familiaresdavítima,alienadamental,que fogeedesaparece.Recursoadesivodos autores conhecidoedesprovido, eprovimentoparcial do recursoda ré.Decisão: Negar provimento ao recurso adesivo dos autores e dar parcial provimento ao recurso da ré.Unânime”.Outroexemplodeculpainvigilando,estedoTJdoRiodeJaneiro(Ap.Cív.2202.001.20715,Rel.Des.ElyBarbosa,j.em15-10-2002),responsabilizatambémaavóporatodoneto:“ApelaçãoCível.ResponsabilidadeCivil.Acidentede trânsito.Menor.Condutordoveículo.Comose tratadeacidentedetrânsito,pacíficaaresponsabilidadedospaisdomenorpelosatosilícitospraticadospelomenor,culpa‘invigilando’.Solidariamente respondeavóqueautorizoumenoraconduziroveículo.Culpa incontroversa.Alémdepresumida,resultacomprovadaaculpa,faceprovaoralepericial.Apeloimprovido”.

Confira-se,ainda,oseguinteacórdãodoSTJ:

“Ementa:Turismo.Pacotedeviagem.Abatimentodopreço.Responsabilidadecivildaempresapelodanosofrido pormenor entregue a sua vigilância. É direito dos excursionistas ao abatimento proporcional dopreço,emfacedaconstataçãodedisparidadedovalorcobradocomasindicaçõesconstantesdamensagempublicitáriadeoferta(incidênciadoartigo20—IIIdoCódigodoConsumidor).Responsabilidadecivil.Aempresa de turismo que, devidamente autorizada pelo Juizado da Infância e da Juventude, promoveexcursão demenores, responde pelos danosmateriais emorais que estes venham a sofrer, por culpa invigilandoetincustodiendo,tantonaparteaérea,comonamarítimaouterrestre.Sentençaconfirmada,emparte”(ApelaçãoCível593157225,5.ªCâmaraCível,TribunaldeJustiçadoRioGrandedoSul,Rel.Des.ClarindoFavretto,j.19-5-1994).

265Sobreaculpaineligendo,confiram-seosseguintesjulgadosdoSTJ:

“Responsabilidade civil. Cirurgia. Queimadura causada na paciente por bisturi elétrico. Médico-chefe.Culpa‘ineligendo’e ‘invigilando’.Relaçãodepreposição.Dependendodascircunstânciasdecadacasoconcreto,omédico-chefepodeviraresponderporfatodanosocausadoaopacientepeloterceiroqueestejadiretamentesobsuasordens.Hipóteseemqueocirurgião-chefenãosomenteescolheuoauxiliar,aquemseimputaoatodeacionaropedaldobisturi,comoaindadeixoudevigiaroprocedimentocabívelemrelaçãoàqueleequipamento.Paraoreconhecimentodovínculodepreposição,nãoéprecisoqueexistaumcontratotípicodetrabalho;ésuficientearelaçãodedependênciaouquealguémpresteserviçossobocomandode

Page 544: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

outrem.Recursoespecialnãoconhecido”(REsp200831/RJ,Rel.Min.BarrosMonteiro,DJ,20-8-2001).

“Civil. Responsabilidade civil. Veículo dirigido por terceiro. Culpa deste a abalroar outro veículo.Obrigaçãodoproprietáriodeindenizar.Contraoproprietáriodeveículodirigidoporterceiroconsideradoculpado pelo acidente conspira a presunção ‘iuris tantum’ de culpa ‘in eligendo’ e ‘in vigilando’, nãoimportandoqueomotoristasejaounãoseupreposto,nosentidodeassalariadoouremunerado,emrazãodoque sobre ele recai a responsabilidade pelo ressarcimento do danoque a outrempossa ter sido causado.Recursoconhecidoeprovido”(STJ,REsp5756/RJ;REsp1990/0010815-2,4.ªTurma,Min.CesarAsforRocha,j.8-10-1997).

266 A título ilustrativo, vale conferir acórdão do TJRS, Rel. Des. Arnaldo Rizzardo, Ap. Cível n.590013702: “Ementa: Responsabilidade civil. Disparo de arma de fogo por menor, que atinge a regiãofrontal da cabeça da vítima, causando-lhe a cegueira irreversível. Obrigação de indenizar a cargo daspessoassobaqualestavaaguardadamenor,autoradodisparo,porincidirememculpa‘invigilando’,‘incustodiendo’ relativamenteàarma,quepermaneciaàmostraemumcômododacasadepropriedadedosréus, respectivamentemãe e tio da causadora do evento danoso. Fixação dos lucros cessantes em valorcompatível com as perspectivas dos rendimentos que auferiria a vítima, em vista da idade e do grau deinstruçãoqueatingiuquandodoevento.Recursoprovidoemparte”(Ap.Cíveln.590013702,2.ªCâmaraCível,TribunaldeJustiçadoRioGrandedoSul,Rel.Des.ArnaldoRizzardo,j.20-6-1990).

Confira-se,ainda,oseguinteacórdão:

“Ementa: Responsabilidade civil. Vendedor de carros usados. Responsabilidade como depositário. Nãotendoocomerciantedecompraevendadeveículosusados,queficoucomaguardadoautomotor,zeladopor sua conservação, segurança, permitindo, por sua negligência, o furto do veículo do espaço-estacionamento ao lado de sua residência, cabe sua responsabilização pelo possuidor legítimo do carro,maisconsectários.Embargos infringentesacolhidos” (Embargos Infringentesn.588010421,2.ºGrupodeCâmarasCíveis,TribunaldeJustiçadoRioGrandedoSul,Rel.Des.GervásioBarcellos,j.17-3-1989).

267“Culpainnonfaciendo.Direitocivil.Resultadacircunstânciadeteroagentedeixadodefazercertoatocujacomissãoevitariaodano.Porexemplo,umprofessordenataçãoque,porestardistraído,nãoacodeseualuno, que morre afogado, responde por culpa in non faciendo. Entretanto, a omissão só poderá serconsideradacausajurídicadodanosehouverexistênciadodeverdepraticaroatonãocumpridoecertezaougrandeprobabilidadedeofatoomitidoterimpedidoaproduçãodoeventodanoso”(MariaHelenaDiniz,DicionárioJurídico,SãoPaulo:Saraiva,1998,v.1,p.964).

Page 545: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

268GustavoTepedino,TemasdeDireitoCivil,2.ed.,RiodeJaneiro:Renovar,2001,p.175-6.

269Exemploderesponsabilidadeobjetivafundadanaatividadederisco, temosnesterecenteacórdãodoSTJ,REsp401397/SP,DJ, 9-9-2002,Rel.Min.NancyAndrighi: “RecursoEspecial.Ação indenizatória.TransporteAéreo.Atrasoemvooc/cadiamentodeviagem.ResponsabilidadeCivil.Hipótesesdeexclusão.CasoFortuitoouForçaMaior.Pássaros.Sucçãopelaturbinadeavião.Aresponsabilizaçãodotransportadoraéreopelosdanoscausadosapassageirosporatrasoemvooeadiamentodaviagemprogramada,aindaqueconsiderada objetiva, não é infensa às excludentes de responsabilidade civil. As avarias provocadas emturbinasdeaviões,pelotragamentodeurubus,constituem-seemfatocorriqueironoBrasil,aoqualnãosepodeatribuiranotadeimprevisibilidademarcantedocasofortuito.Édeverdetodacompanhiaaéreanãosótransportaropassageirocomolevá-loincólumeaodestino.Seaaeronaveéavariadapelasucçãodegrandespássaros, impõe a cautela seja omaquinário revisto e os passageiros remanejadospara voos alternos emoutras companhias. O atraso por si só decorrente desta operação impõe a responsabilização da empresaaérea,nostermosdaatividadederiscoqueoferece”.

270 José JoaquimCalmon de Passos, “O Imoral nas Indenizações porDanoMoral”, disponível no sitejurídicodojusnavigandi(agosto/2002):www.jus.com.br.

271Sobreotema,confira-seoCapítuloXIII(“ResponsabilidadeCivildoEstado”).

272 Recomendamos, nesse ponto, a excelente obra do Professor Roger Silva Aguiar, intitulada:ResponsabilidadeCivil:aculpa,oriscoeomedo,SãoPaulo:Atlas.

273CarlosRobertoGonçalves,ResponsabilidadeCivil,7.ed.,SãoPaulo:Saraiva,2002,p.25.

274MARANHÃO, Ney StanyMorais. Responsabilidade Civil Objetiva pelo Risco da Atividade: UmaPerspectivaCivil-Constitucional.SãoPaulo:Método,2010,p.243-245e251(grifosnooriginal).

275MariaHelenaDiniz,DicionárioJurídico,SãoPaulo:Saraiva,1998,v.4,p.215.

276Nessesentido,tambéméoentendimentodeSílvioVenosa:“Emcasosexcepcionais,levandoemcontaos aspectos da nova lei, o juiz poderá concluir pela responsabilidade objetiva no caso que examina.Noentanto, advirta-se, o dispositivo questionado explicita que somente pode ser definida como objetiva aresponsabilidadedocausadordodanoquandoestedecorrerde‘atividadenormalmentedesenvolvida’porele.Ojuizdeveavaliar,nocasoconcreto,aatividadecostumeiradoofensorenãoumaatividadeesporádicaoueventual,qualseja,aquelaque,porummomentoouporumacircunstânciapossaserumatoderisco.Nãosendolevadoemcontaesseaspecto,poder-se-átransformaremregraoqueolegisladorcolocoucomoexceção”(SílviodeSalvoVenosa,DireitoCivil—ResponsabilidadeCivil,3.ed.,SãoPaulo:Atlas,2003,v.3,p.15).

277 Proposição sobre o art. 927 da Jornada de Direito Civil (Brasília, 11 a 13 de setembro de 2002)publicadanaTribunadaMagistratura—AssociaçãoPaulistadeMagistrados,CadernoEspecialJurídico,

Page 546: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

set.2002,anoXIV,n.122,p.9.

278AlvinoLima,CulpaeRisco,2.ed.,SãoPaulo:RevistadosTribunais,1999,p.198.

279 Talvez, por isso, o grande amigo Sílvio Venosa desabafa em seu livro: “Essa norma da lei novatransfereparaajurisprudênciaaconceituaçãodeatividadederisconocasoconcreto,oquetalvezsignifiqueperigosoalargamentodaresponsabilidadesemculpa.Édiscutívelaconveniênciadeumanormagenéricaneste sentido. Melhor seria que se mantivesse nas rédeas do legislador a definição das situações deaplicaçãodateoriadorisco”(SílviodeSalvoVenosa,DireitoCivil—ResponsabilidadeCivil,3.ed.,SãoPaulo:Atlas,2003,v.3,p.15).

280 Confiram-se, a propósito, os Capítulos XIV (“Responsabilidade Civil Profissional”) e XV(“ResponsabilidadeCivilnasRelaçõesdeTrabalho”).

281SílviodeSalvoVenosa,DireitoCivil—ContratosemEspécieeResponsabilidadeCivil,SãoPaulo:Atlas,2001,v.3,p.532-3.

282Sobreoenriquecimentosemcausajátivemosoportunidadedeobservarque:“Nosistemabrasileiro,oenriquecimentoilícitotraduzasituaçãoemqueumadaspartesdedeterminadarelaçãojurídicaexperimentainjustificadobenefício,emdetrimentodaoutra,queseempobrece,inexistindocausajurídicaparatanto.Éoqueocorre,porexemplo,quandoumapessoa,deboa-fé,beneficiaouconstróiemterrenoalheio,ou,bemassim,quandopagaumadívidaporengano.Nessescasos,oproprietáriodosoloeorecebedordaquantiaenriqueceram-seilicitamenteàscustasdeterceiro”(PabloStolzeGagliano;RodolfoPamplonaFilho,NovoCursodeDireitoCivil—Obrigações,SãoPaulo:Saraiva,2002,v.2).

283 Na I Jornada de Direito Civil, referida linhas atrás, tentou-se contornar esse inconveniente com aaprovaçãodeenunciadocomoseguinteteor:“Apossibilidadedereduçãodomontantedaindenização,emfacedograudeculpadoagente,estabelecidapeloparágrafoúnicodoart.944donovoCódigoCivil,deveserinterpretadarestritivamenteporrepresentarumaexceçãoaoprincípiodareparaçãointegraldodano,nãose aplicandoàshipótesesde responsabilidadeobjetiva” (grifosnossos).Analisandoesse entendimento, aprimeiraimpressãoédequenãohaveriaoutrasolução,senãoadmitiressafaculdadedereduçãoapenasnashipóteses de responsabilidade subjetiva (culposa), o que poderia ser considerado uma regra um tantoanacrônica, pois inserida em um sistema que privilegia as hipóteses de responsabilidade calcadas naatividade de risco. Todavia, posteriormente, a IV Jornada considerou por bem atribuir nova redação aoreferido Enunciado n. 46 da I Jornada de Direito Civil, criando novo enunciado sob o n. 380, com asupressãodapartefinal“nãoseaplicandoàshipótesesderesponsabilidadeobjetiva”,oquelevantanovasreflexõessobreotema.Poder-se-iaentãoimaginarque,emverdade,ofatodesenãoanalisaraculpaemumademandaqueversesobreresponsabilidadeobjetivanãosignificariaqueelanãoconcorresse,nocasoconcreto.Nessalinha,poderia,então,oelementosubjetivoseranalisadoapenasparaefeitoderedução.Emnosso sentir, posto respeitável este entendimento, no planoprático-processual não se afigura tão simplesdispensaraanálisedaculpaparaefeitode“responsabilizar”,einvocá-laapenaspara“quantificar”pormeio

Page 547: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

deumcritériolegalredutor.Noentanto,segundoonovoenunciado,haveria,porexemplo,apossibilidadejurídica de reconhecimento do critério redutor em situações especiais, atinentes a demandas deresponsabilidadeobjetiva(ex.:responsabiliza-se,emumarelaçãodeconsumo,pelocritérioobjetivo,mas,constatando que se trata de um fato isolado, sem qualquer culpa, ou que a empresa tentou amenizar osefeitos deletérios do fato, diminui-se o valor da indenização).A tese não é simples emerece, pois, umareflexãomaisdetidaporpartedajurisprudênciabrasileira.

284 Rui Stoco, Tratado de Responsabilidade Civil — Responsabilidade Civil e sua InterpretaçãoJurisprudencial,5.ed.,SãoPaulo:RevistadosTribunais,2001,p.13.

Page 548: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

285CitadoporCarlosR.Gonçalves,ResponsabilidadeCivil,7.ed.,SãoPaulo:Saraiva,2002,p.127-8.

286 “Ementa. Civil. Responsabilidade civil. Veículo dirigido por terceiro. Culpa deste a abalroar outroveículo. Obrigação do proprietário de indenizar. Contra o proprietário de veículo dirigido por terceiroconsiderado culpado pelo acidente conspira a presunção ‘iuris tantum’ de culpa ‘in eligendo’ e ‘invigilando’, não importando que o motorista seja ou não seu preposto, no sentido de assalariado ouremunerado,emrazãodoquesobreelerecaiaresponsabilidadepeloressarcimentododanoqueaoutrempossatersidocausado.Recursoconhecidoeprovido”(STJ,j.8-10-1997,4.ªTurma,REsp5756/RJ;REsp1990/0010815-2,Rel.Min.CesarAsforRocha).

287 Nesse sentido, Arnoldo Wald: “A atitude de nossos tribunais é de fato no sentido de não admitirqualquer provadequenãohouve culpadopatrãoumavezprovada a dopreposto.A alegadapresunção‘juristantum’setransformaassimnumapresunção‘jureetdejure’,jáqueopatrãonãosepodeexonerardesuaresponsabilidadealegandoqueescolheuprepostodevidamentehabilitadoparaoexercíciodafunção”(CursodeDireitoCivilBrasileiro—ObrigaçõeseContratos, 12. ed., SãoPaulo:Revista dosTribunais,1995,v.2,p.518).

288Frequentementedeparamo-nos coma seguintepergunta: “se eu emprestaromeucarro aumamigo,respondopelodanocausadoporele?”.Regrageral,arespostanegativaseimpõe.Earazãoésimples.Nocaso, tem-se a realização de um contrato de comodato (empréstimo gratuito de coisa não fungível— ocarro),ealegislaçãoemvigornãopreviuaresponsabilidadedocomodanteporatodocomodatário.Anãoserqueoproprietáriodoveículohajaatuadocausalmenteparaaconsecuçãododano,emprestando-oaumamigobêbado.Aísimresponde,pelofundamentogenéricodoart.186(nessesentido,cf.tb.Cavalieri,ob.cit.,p.129).

289Cf.ovolume2destaobra,noCapítuloVI,item3.4.1.2.

290Sobre adiferença entreobrigação (debitum)e responsabilidade (obligatio), confira-se,novamente,ovolume 2 desta obra, especificamente, o Capítulo I (“Introdução aoDireito daObrigações”), tópico 6.1(“ConceitosCorrelatos”).

291“Art.934.Aquelequeressarcirodanocausadoporoutrempodereaveroquehouverpagodaqueleporquempagou,salvoseocausadordodanofordescendenteseu,absolutaourelativamenteincapaz”.

292Videtópico5(“ResponsabilidadeCivildoEmpregadorouComitentepelosatosdosseusEmpregados,ServiçaisouPrepostos”).

293Problemaquerestouresolvidocomareduçãodamaioridadecivildizrespeitoaoacidentecausadoporfilhohabilitadoadirigir.Nessesentido,SérgioCavalieriFilho:“Ora,sealeipermiteaomenor,apartirdos18anos, tirarcarteiradehabilitação,quepodertêmospaisparaimpedirofilhodefazeraquiloquealeipermite?”.Econclui,comprecisão:“Parece-meestar,aí,caracterizadaumahipóteseemquecessaopoderde direção dos pais sobre o filho nesse particular, afastando-lhes a responsabilidade, salvo se já tiverem

Page 549: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

ciênciadequeomesmotem-secomportadodemaneiraimprudenteaovolanteeseomitirememtomaras

providênciascabíveis”(ProgramadeResponsabilidadeCivil,SãoPaulo:Malheiros,2000,p.114).Comareduçãodamaioridadeparaos18anos,nãoháfalar-semaisemresponsabilidadedospais,pois,nocaso,amenoridadedeixoudeexistir.

Sobretalproblemanosistemaanterior,confira-seoseguinteacórdão:

“Ementa:Civileprocessual.Acidentedetrânsito.Vítimafatal.Veículocausadordirigidoepertencenteamenorpúbere legalmentehabilitado.Responsabilidadedospaisnãoconfigurada.Carênciadaação.CPC,art.267,VI.I.Achando-seomenorpúberelegalmentehabilitadoàconduçãodeveículoautomotordesuapropriedade,osdanosporeleprovocadosaterceirosemacidentenoqualtambémperdeuavidanãodevemsersuportadospelospais,eisqueodeverdevigilânciainerenteaoexercíciodopátriopodernãoseestendesobreatosparaosquaisofilhoseachavaaptoapraticardeformaabsolutamenteautônoma.II.Conquantopossível, ainda assim, em hipóteses excepcionais, atribuir-se aos pais responsabilidade civil pelocomportamento do filho menor púbere, quando, sendo de seu conhecimento que ele padece de vício(alcoolismo,drogas,etc.),doençaoutratamentoquelheretirareflexooucapacidadedediscernimentoparadirigir, se omitem na tomada das providências necessárias, tais situações não se verificam no caso dosautos.III.Recursoespecialconhecidoeprovido,extintooprocessosemJulgamentodomérito,nostermosdoart.267,VI,daleiadjetivacivil”(STJ,REsp392099/DF;REsp2001/0164175-2,j.7-3-2002,4.ªTurma,Rel.Min.AldirPassarinhoJunior).

294“CIVILEPROCESSUALCIVIL.RESPONSABILIDADEDOSPAISEDAAVÓEMFACEDEATOILÍCITOPRATICADOPORMENOR.SEPARAÇÃODOSPAIS.PODERFAMILIAREXERCIDOPORAMBOS OS PAIS. DEVER DE VIGILÂNCIA DA AVÓ. REEXAME DE FATOS. INCIDÊNCIA DASÚMULA7/STJ.DISSÍDIOJURISPRUDENCIALCOMPROVADO.

1.OTribunalaquomanifestou-seacercadetodasasquestõesrelevantesparaasoluçãodacontrovérsia,talcomolheforapostaesubmetida.Nãocabealegaçãodeviolaçãodoartigo535doCPC,quandoaCortedeorigemapreciaaquestãodemaneirafundamentada,apenasnãoadotandoatesedarecorrente.Precedentes.

2.Ação de reparação civilmovida em face dos pais e da avó demenor que dirigiu veículo automotor,participandode ‘racha’,ocasionandoamortede terceiro.Apreliminarde ilegitimidadepassivados réus,sobaalegaçãodequeocondutordoveículoatingiuamaioridadequandodaproposituradaação,encontra-sepreclusa,poisosréusnãointerpuseramrecursoemfacedadecisãoqueaafastou.

3.Quantoàalegadailegitimidadepassivadamãeedaavó,verifica-se,deplano,quenãoexistequalquernormaqueexcluaexpressamentearesponsabilizaçãodasmesmas,motivopeloqual,porsisó,nãoháfalaremviolaçãoaosarts.932,I,e933doCC.

4.Ameraseparaçãodospaisnãoisentaocônjuge,comoqualosfilhosnãoresidem,daresponsabilidadeem relação aos atos praticados pelos menores, pois permanece o dever de criação e orientação,

Page 550: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

especialmente se o poder familiar é exercido conjuntamente.Ademais, não pode ser acolhida a tese dosrecorrentes quanto a exclusão da responsabilidade da mãe, ao argumento de que houve separação e,portanto,exercíciounilateraldopoderfamiliarpelopai,poistalimplicaorevolvimentodoconjuntofáticoprobatório,oqueédefesoemsedederecursoespecial.IncidênciadaSúmula7/STJ.

5. Em relação à avó, comquemomenor residia na época dos fatos, subsiste a obrigação de vigilância,caracterizadaadelegaçãodeguarda,aindaquede forma temporária.A insurgênciaquantoaexclusãodaresponsabilidadedaavó,aquem,segundoos recorrentes,nãopoderia se imputarumdeverdevigilânciasobre o adolescente, tambémexigiria reapreciaçãodomaterial fático-probatório dos autos. Incidência daSúmula7/STJ.

6.Considerando-seaspeculiaridadesdocaso,bemcomoospadrõesadotadosporestaCortenafixaçãodovalor indenizatório a título de danosmorais pormorte, reduzo a indenização arbitrada pelo Tribunal deorigemparaovalordeR$250.000,00(duzentosecinquentamilreais),acrescidodecorreçãomonetáriaapartir desta data (Súmula 362/STJ), e juros moratórios a partir da citação, conforme determinado nasentença(fl.175),econfirmadopeloTribunaldeorigem(fls.245/246).

7.Recursoespecialparcialmenteconhecidoe,naextensão,provido”(STJ,REsp1074937/MA,Rel.Min.LuisFelipeSalomão,4.ªTurma,julgadoem1.º-10-2009,DJe,19-10-2009,grifosnossos).

295Atítulodeinformaçãohistórica,registre-sequeoantigoProjetodeLein.6.960/2002(renumeradopara276/2007,antesdeseuarquivamentodefinitivo),pretendiaalterararedaçãodessedispositivo,queficariadaseguinteforma:“Art.928.Oincapazrespondepelosprejuízosquecausar,observadoodispostonoart.932 e no parágrafo único do art. 942”. A remissão a essas duas regras nos dá a impressão de que aresponsabilidadejurídicadoincapazrestariareforçada,salientando-seasolidariedadeexistentecomoseurepresentantelegal.

296Adoutrina tradicional costuma aconselhar omagistrado a tratar commaior benevolência o tutor oucurador,pois,seocompararmosaopai,apenasesteúltimodeteriaumaresponsabilidadenaturalemfacedomenor.

297 Nesse sentido, antes da mudança de diretriz legislativa, confira-se o seguinte acórdão:“ResponsabilidadeCivil. Negócio Jurídico com pessoa interditada.Obrigação de indenizar pelo curadorapenas na hipótese de se provar seu agir culposo. Ônus da prova a cargo de quem alega. Indenizatóriaimprocedente.Recursodeautora improvido,providoodo réu” (1.ºTACSP,Ap.0962387-6, j. 6-8-2001,10.ªCâmara,Rel.AraldoTelles).

298SilvioRodrigues,DireitoCivil—ResponsabilidadeCivil,17.ed.,SãoPaulo:Saraiva,1999,v.4,p.24-5.

299 “Comitente. Adj.2g.s.2g. (1836 cf.SC) 1. JUR que ou aquele que incumbe alguém, mediante opagamentodeumacomissão,deexecutarcertosatosemseunomeesobsuadireçãoeresponsabilidade2.

Page 551: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

COMqueouaqueleque,porsuaconta,consignamercadoriasaoutrem.ETIMlat.commitens,entis,part.pres. de commitère ‘confiar’; ver met., f.hist. 1836 committente; a datação é para o subst. ANTcomissionado”(AntônioHouaisseMaurodeSallesVillar,DicionárioHouaissdaLínguaPortuguesa,RiodeJaneiro:Objetiva,2001,p.771).

300 “Ementa: Responsabilidade civil. Cirurgia. Queimadura causada na paciente por bisturi elétrico.Médico-chefe.Culpa‘ineligendo’e‘invigilando’.Relaçãodepreposição.Dependendodascircunstânciasde cada caso concreto, o médico-chefe pode vir a responder por fato danoso causado ao paciente peloterceiroqueestejadiretamentesobsuasordens.Hipóteseemqueocirurgião-chefenãosomenteescolheuoauxiliar,aquemseimputaoatodeacionaropedaldobisturi,comoaindadeixoudevigiaroprocedimentocabívelemrelaçãoàqueleequipamento.—Paraoreconhecimentodovínculodepreposição,nãoéprecisoque exista um contrato típico de trabalho; é suficiente a relação de dependência ou que alguém presteserviços sob o comando de outrem. Recurso especial não conhecido” (STJ, REsp 200831/RJ; REsp1999/0002980-1,Rel.Min.BarrosMonteiro,j.8-5-2001,4.ªTurma).

“Responsabilidadecivildeestabelecimentocomercial.Atoilícitopraticadoporpreposto.Constrangimentoilegal.Teoriada aparência.Culpa ineligendo.Danomoral. Indenização.Apelação.Reparação de danos.Constrangimento.Nãocompletadaeletronicamenteaoperação,naGerência,aA.foidestratadaporoutroprepostodaApte.,desdenhandomontantedascompraseafirmandoquedispensaclientesasuafeição,alémde exigir cheque e carteira de identidade, retendo-a, conf. prova oral e inserção parcial na contestação.Aplica-se à espécie a teoria da aparência, pouco importando se houve ou não reconhecimento de quemdestratou e o dever da Apte. é zelar, evitando que terceiros abordem seus clientes, destratando-os ouhumilhando-os,culpa‘ineligendo’ou‘invigilando’.Apeloimprovido”(TJRJ,Ap.Cível2001.001.14533,dataderegistro:3-12-2001,6.ªCâmaraCível,Des.ElyBarbosa,j.18-10-2001).

“Responsabilidadecivildepostodegasolina.Segurançaparticular.Mortedefilhomaior.Culpaineligendo.Pensãomensal.Danomoral.Aprovaproduzida,documentaletestemunhal,dáacertezadequeovigilanteque tirouavidado filhodos segundosapelantes,prestava serviçoaopostodegasolina, juntamentecomdoispoliciaisquecomaempresanãotinhamvínculoempregatício.Caracterizadaaculpaineligendo,e,emdecorrência, a responsabilidade civil da empresa.Apensãomensal é devida desde a data do evento, atéquandoavítimacompletariasessentaecincoanosdeidade,jáqueficoureconhecidoqueafamíliaperdeuacontribuição do falecido para o sustento. Desprovimento do primeiro apelo e provimento do recursoadesivo,para fixaro limite finaldapensãoemsessentaecincoanos”(TJRJ,Ap.Cível2002.001.00708,dataderegistro:19-7-2002,12.ªCâmaraCível,Des.AlexandreH.Varella,j.14-5-2002).

301ARevistaeletrônicaConsultorJurídico,em30dejulhode2002,divulgouaseguintenotícia:

“Grupo condenado — Justiça manda Baú da Felicidade indenizar consumidora. O Baú da FelicidadeUtilidadesDomésticasLtda., dogrupoSilvioSantos, foi condenadoapagarR$10milparaCarolinadeLimaPadilha.O3.ºGrupoCíveldoTribunaldeJustiçadoRioGrandedoSulentendeuqueaempresado

Page 552: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

grupocausoudanosmoraisparaaconsumidora.

Deacordocomosautos,CarolinarecebeuavisitadeduasvendedorasdoBaúinformandoqueelaganhouduascasas.UmaseriaparaCarolinaeoutraparafamiliaraserindicado.Masparaisso,precisavaadquirirepagaroitonovoscarnêsdoBaú.Aconsumidoraconcordou.

Maistarde,quandoseapresentounalojadaempresaparapegaraspassagensaéreaseviajaraSãoPaulo,foiinformadadogolpe.SegundoositeEspaçoVital,aconsumidoraentrouemdepressãoetevequeobteratendimentomédicocontinuado.

Aempresaadmitiuqueduasdesuasvendedorashaviamdadoogolpe.Aconsumidora,então,entroucomaçãopenalcontraasvendedoras.Tambémimpetrouaçãopordanosmoraiscontraaempresa.

Em primeira instância, a ação foi julgada improcedente. A Justiça entendeu que a empresa não teriaresponsabilidade no fato criminoso. A consumidora recorreu ao TJ gaúcho. O pedido, por maioria, foirejeitado.

Comoadecisãonãofoiunânime,aconsumidoraentroucomembargosinfringenteseo3.ºGrupojulgouaaçãoprocedente.Deacordocomadecisão,‘aempresaqueexploraocomérciodevendadecarnêsrespondepelareparaçãodosatosilícitosdeseusprepostos’.

LeiatrechodevotopublicadonositeEspaçoVital:

Os fatos são interpretadossegundooque,deordinário, sucedeemcasosdaespécie,emquesobrelevaaaparênciadeseriedadeedeverdadedosautoresdoestelionato,emcontraposiçãoàboa-féeàfundaemoçãodasvítimas.Talobscurecequalquerpossibilidadedelevá-lasàdesconfiançaimediata.

Irrelevante a consignação do regulamento, sobre ser ‘grátis’ a contemplação do prêmio, pois a condiçãopostapelas‘mensageirasdafelicidade’nãocaracterizavaexigênciadepagamentopelapremiação.

Justamente por representar um ‘quase nada’ diante do alto valor das duas casas é que funcionava oestratagemadogolpe.

Aqueixa da consumidora é pelas funestas consequências ao seu estadode saúde, pela decepção e pelostranstornosquepadeceuquandoseinteiroudaverdade.

Processon.70002319663”.

302DePlácidoeSilva,VocabulárioJurídico,15.ed.,RiodeJaneiro:Forense,1998,p.184.

303 “Se, por um lado, a noção de empregado é perfeitamente definida, não o é a de preposição.Nessetermo,inserem-setodasasfigurasintermediáriasnasquaissurgenebulosaaideiadepoderdiretivo.Nessashipóteses,ovínculodesubordinaçãoémaistênue.Nãoénecessárioqueessarelaçãotenhacaráteroneroso:aquelequedirigeveículoapedidodeoutrem,aindaquedefavor,tipificaanoçãodepreposto”(SílviodeSalvoVenosa,DireitoCivil—ResponsabilidadeCivil,3.ed.,SãoPaulo:Atlas,2003,v.3,p.69).

Page 553: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

304OTribunalSuperiordoTrabalho,inclusive,interpretadeformarestritaarepresentaçãoporprepostodoempregadornaJustiçadoTrabalho,preceituando,emsuaSúmula377,que“PREPOSTO.EXIGÊNCIADACONDIÇÃO DE EMPREGADO (nova redação) — Res. 146/2008, DJ 28.04.2008, 02 e 05.05.2008.Excetoquantoàreclamaçãodeempregadodoméstico,oucontramicrooupequenoempresário,oprepostodevesernecessariamenteempregadodoreclamado.Inteligênciadoart.843,§1.º,daCLTedoart.54daLeiComplementarn.123,de14dedezembrode2006”.

305Há,sobreamatéria,nessesentido,largajurisprudência,comosevêdosseguintesarestos:

“Atribuir-se a pena de ‘confissão ficta’ ao preposto que alega ignorar fato relevante ao deslinde decontrovérsia, decorre da própria exigência estabelecida pelo § 1.º do art. 843 da CLT” (TST, RR104.303/94.7,AntônioMariaThaumaturgoCortizo,Ac.5.ªT.3.634/94).

“O art. 400 doCPC, em seu inciso I, não dámargem a dubiedades, quando determina ao julgador queindefiraainquiriçãodetestemunhassobrefatosjáprovadospordocumentoouconfissão.Aliás,seria,defato, incoerente, tanto quanto contrário aos princípios da celeridade e economia processuais, se o Juizprolongasse, indefinidamente,afaseinstrutória,mesmojáhavendoformadoseuconvencimentoemcertosentido. Que a confissão ficta pode ser elidida por prova em contrário, por gerar mera presunção, éindiscutível,masdesdequetalocorraemrazãodedocumentosoutestemunhosjáconstantesdosautos,nãosendo esta a hipótese presente” (TST, RR 82.464/93.6, AntônioMaria Thaumaturgo Cortizo, Ac. 5.ª T.623/94).

“Do Preposto, indicado pelo empregador, exige-se conhecimento dos fatos. Implica em confissão, comdispensa de outras provas, o desconhecimento do Preposto sobre a matéria fática discutida nos autos”(TRT/MT,RO461/94,DiogoSilva,Ac.TP1.052/94).

306JosédeAguiarDias,DaResponsabilidadeCivil,9.ed.,RiodeJaneiro:Forense,1994,p.530.

307SílviodeSalvoVenosa,DireitoCivil—ResponsabilidadeCivil,3.ed.,SãoPaulo:Atlas,2003,v.3,p.71.

308CarlosRobertoGonçalves,DireitodasObrigações—ParteEspecial—ResponsabilidadeCivil,SãoPaulo:Saraiva,2001,p.28(Col.SinopsesJurídicas,v.6,t.2).

309RuiStoco,TratadodeResponsabilidadeCivil,5.ed.,SãoPaulo:RevistadosTribunais,2001,p.724.

310Valedestacar, inclusive,queoCódigodeDefesadoConsumidor, emseus arts. 12 a25, impõenãosomentearesponsabilizaçãopatrimonialobjetivadaspessoasjurídicaspelofatoeporvíciodoprodutoedoserviço,comotambémaresponsabilidadesubjetivaparagarantiraincolumidadeeconômicadoconsumidoranteos incidentesdeconsumoquepodemdiminuirseupatrimônioporforçadevíciodequantidadeedequalidadeporinadequação.

311Referimo-nosaoCapítuloXIII(“ResponsabilidadeCivildoEstado”).

Page 554: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

312Confira-seoCapítuloXVI(“ResponsabilidadeCivilnasRelaçõesdeConsumo”).

313PabloStolzeGaglianoeRodolfoPamplonaFilho,NovoCursodeDireitoCivil—ParteGeral,2.ed.,SãoPaulo:Saraiva,2002,v.1,p.234.

314 Para um aprofundamento sobre o tema, confira-se o tópico 9 (“Desconsideração da PersonalidadeJurídica—DisregardDoctrine)dovolume1(“ParteGeral”)dapresenteobra.

Page 555: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

315JosédeAguiarDias,DaResponsabilidadeCivil,9.ed.,RiodeJaneiro:Forense,1994,v.2,p.389.

316SérgioCavalieriFilho,ProgramadeResponsabilidadeCivil,2.ed.,SãoPaulo:Malheiros,2000,p.123.

317CaioMáriodaSilvaPereira,ResponsabilidadeCivil,9.ed.,RiodeJaneiro:Forense,2000,p.102.

318SérgioCavalieriFilho,ob.cit.,p.124.

319“Ementa:Responsabilidadecivil.Reexamenecessário.Danosocasionadosemveículoporequinodepropriedade do Estado (brigada militar). Certidão de ocorrência. Prova testemunhal. Nexo causalconfigurado.Sentençaconfirmada.Odonodeanimaistemaobrigaçãodeindenizarosdanosquandonãotomaoscuidadosnecessáriosafimdeevitaroataquedaquelesaterceiros.Art.1.527,doCC.Equinodepropriedadedabrigadamilitarqueacabouseassustandocombarulho,vindoaatingirveículodaautoraquese encontrava estacionado no parque de exposições. Certidão de ocorrência e prova testemunhal quecomprovaram os fatos narrados na exordial.Nexo causal que corrobora a assertiva da responsabilidade,determinando a reparação. Sentença confirmada em reexame necessário” (Reexame Necessário n.70002234698, 10.ª Câmara Cível, Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Rel. Des. Paulo AntônioKretzmann,j.6-12-2001).

320 “Ementa: Responsabilidade civil. Gado que invade lavoura de feijão-soja em fase de maturação,pisoteando e comendo o produto. Prova que convence quanto à identificação do dono ou detentor dosanimais.Responsabilidadereconhecidanamodalidadedeculpa‘incustodiendo’.Arts.159e1.527doCC.Opedido reconvencionalpressupõe seja conexocomopedidoda açãoprincipal (cpc, art. 315), no casoinexistente. Provimento em relação ao pedido da ação principal e desprovimento em relação ao pedidoreconvencional”(Ap.Cível197203391,2.ªCâmaraCível,TribunaldeAlçadadoRioGrandedoSul,Rel.Des.IrineuMariani,j.7-5-1998).

321 “Responsabilidade civil.Danoprovocadopor animal.Culpapresumida.Odano causadopor animalpresume-se decorrente de culpa ‘in vigilando’ do seu guardião, salvo quando comprova a ocorrência dealguma das excludentes legais de responsabilidade” (TJDF, Ap. Cível no Juizado Especial20010110218990ACJ/DF, Acórdão n. 152713, 1.ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis eCriminaisdoDistritoFederal,j.26-2-2002,Rel.FernandoHabibe,DJU,29-4-2002).

322CaioMáriodaSilvaPereira,ob.cit.,p.110.

323AlvinoLima,CulpaeRisco,2.ed.,SãoPaulo:RevistadosTribunais,1999,p.297.

324ÁlvaroVillaçaAzevedo,TeoriaGeraldasObrigações,8.ed.,SãoPaulo:RevistadosTribunais,2000,p.291.

325SilvioRodrigues,DireitoCivil—ResponsabilidadeCivil,17.ed.,SãoPaulo:Saraiva,1999,p.127.

326Nessesentido,CavalieriFilho,ob.cit.,p.138.

Page 556: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

327SílviodeSalvoVenosa,DireitoCivil—ResponsabilidadeCivil,3.ed.,SãoPaulo:Atlas,2003,p.82.

328Umaexcelentevisãodoutrináriae jurisprudencialdessasquestõespodeserencontradanasobrasdoscultosprofessoresCavalieriFilhoeRuiStoco,citadas.

329SérgioCavalieriFilho,ob.cit.,p.128.

330Sobreotema,confira-seoseguinteacórdão:

“Responsabilidade civil. Condomínio de edifício. Furto de objetos em unidade condominial. Culpa ‘invigilando’.Culpa‘ineligendo’.Danomaterial.Danomoral.Exclusão.Sucumbência.Art.21,CPC.Direitocivil. Responsabilidade civil. Condomínio. Furto em unidade autônoma. Se o condomínio prevê, naconvenção condominial, que diligenciará no sentido de garantir a segurança e policiamento das depen-dências,semexcluirasautônomasdascomuns,nãohácomoelidirsuaresponsabilidadeporfurtohavidoemapartamento,aindaque‘invigilando’.Havendoevidênciadequeháserviçosdevigilânciaterceirizada,háigualmenteculpa‘ineligendo’,jáqueosfuncionáriosdaquelaempresasãoprepostos.Responsabilidadedocondomínioconfiguradaemrelaçãoaosdanosmateriais.Necessidadedecomprovaçãodosdanosmoraisalegados, que na hipótese não têm como ser presumidos. Provimento parcial do recurso, para excluir asverbas referentes a estes últimos e determinar o rateio dos ônus sucumbenciais, na forma do art. 21 doCPC”(TJRJ,Ap.Cível2000.001.19787,dataderegistro:2-4-2002,11.ªCâmaraCível,Des.LuizEduardoRabello,j.6-2-2002).

331Oleasingéoconhecidocontratodearrendamentomercantil.Emsuaformamaiscomum,oarrendadoradquire obem, transferindo a suaposse ao arrendatário, que fica obrigado a pagar-lheumadeterminadarenda.Aofinaldoprazoprevistonocontrato,oarrendatáriopoderáoptarpelaextinçãodonegócio,pelamantençadoarrendamento,ou,ainda,pleitearaaquisiçãodacoisa.

332 Arnaldo Rizzardo, Comentários ao Código de Trânsito Brasileiro, 4. ed., São Paulo: Revista dosTribunais,2003,p.335.

Page 557: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

333 Para um aprofundamento da matéria, sugerimos a leitura do excelente Responsabilidade Civil doEstado,deautoriadeSauloJoséCasaliBahia(RiodeJaneiro:Forense,1995),fontedoutrináriamuitoútilaoestudodotema,aqualmereceuanossaespecialreferência.

334 Antonio Lago Júnior, A Responsabilidade Civil Decorrente do Acidente de Trabalho, in AdroaldoLeão; RodolfoMárioVeiga Pamplona Filho (coords.), ResponsabilidadeCivil, Rio de Janeiro: Forense,2001,p.71-2.

335RicardoHoyosDuque,LaResponsabilidadPatrimonialdelaAdministraciónPública,p.9,apudSauloJoséCasaliBahia,ob.cit.,p.22.

336AnaCecíliaRosárioRibeiro,ResponsabilidadeCivildoEstadoporAtosJurisdicionais,SãoPaulo:LTr,2003,p.24.

337 Cf. Ricardo Hoyos Duque, La Responsabilidad Patrimonial de la Administración Pública,Bogotá/Colômbia:Temis,1984,p.12,apudSauloJoséCasaliBahia,ob.cit.,p.24.OSupremoTribunalFederal, inclusive, jáapresentoumanifestaçãoseguindoestavisão:“ResponsabilidadecivildoEstado—Danos causados a particular—Casos em que o poder público é obrigado a ressarcir danos causados aparticulares, ainda mesmo inexistindo qualquer ato ilícito, desde que o serviço haja irregularmentefuncionado.AresponsabilidadedoEstadoemrelaçãoaosparticularesnãopodeserregidapelosprincípiosestabelecidosnoCódigoCivil”(STF,2.ªTurma,Rel.Min.RochaLagoa,RE9.917).

338NessesentidoéaobservaçãodeSauloJoséCasaliBahia(ob.cit.,p.26):

“SegundoAltamiraGigena,afaltaanônimasurgiucomocasoPelletier,de30.07.1873.

DiversaopiniãopossuiAguiarDias,paraquemateoriadafaltadoserviçopúblicooriginou-senoConselhodeEstadofrancês,atravésdoclássicocaso‘Anguet’.Numaagênciadecorreios,ohoráriofoiadiantadoeaportadasaídapossuíaumressalto.ComoumapessoadenomeAnguetencontrava-seaindanaagência,foiviolentamente posta para fora, demodo que quebrou uma perna e intentou ação de reparação contra oEstado.OConselhodeEstadofrancêsnãoseimportouemindividuaraautoriadalesão,considerandoquehouve,ali,culpaanônimadoserviçopúblico”.

339Nessalinha,noticiouaRevistaConsultorJurídico,de4-11-2002:

“Nomeiodocaminho—Prefeituraécondenadaaindenizarporquedaembueiro

OmunicípiodeBeloHorizontefoicondenadoaindenizarHeberMagalhãesemR$4milpordanosmorais.Elecaiuemumbueirode3,40metrosdeprofundidadepor1,90metrodelargura.NaJustiça,alegouqueteriaengolidolíquidoscontaminadosnagaleriaquerecebeesgotosdetodaaregião.Ofatoteriaafetado-lhedeformafísica,psicológicaemoral.

ATerceiraCâmaraCíveldoTribunaldeJustiçadeMinasGeraisacatouosargumentos.

Page 558: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

De acordo com os autos, o acidente teria ocorrido à noite. Magalhães teria ficado preso duranteaproximadamenteumahoraatéachegadadocorpodebombeirosparafazeroresgate.

O relator do processo, desembargador Kildare Gonçalves, entendeu que ficou demonstrada a falta desinalizaçãoemburaconaviapública,oquecaracterizaaresponsabilidadecivildomunicípio.Nessecaso,segundoodesembargador,encontra-sepresenteonexocausal.

Gonçalveslembrouqueoburacocausadordaquedafoinegligentementemantidonarua.Tambémafirmouquenãoháporqueimputaràvítimaaparticipaçãonoincidentequeresultouodanosofrido,jáquenãoeraprevisívelque,ànoite,emumpasseionaviapública,houvesseumenormebueiroaberto”.

340“Tratamentomédico.Exterior.Reembolso.Constatadaaformadeleucemiagravíssimaqueacometiaarecém-nascida filhadoautor,quenecessitava,comurgência,de transplantedemedulaóssea, sua famíliaprocurouoúnicohospitalemterritórionacionalhabilitado,àquelaépoca,arealizartalintervenção.Sucedeque,pelagrandedemandaelongalistadeespera,foramaconselhadosabuscartratamentonoexterior,poisnãosepoderia,aqui, realizaracirurgiaa tempodesalvá-la.Buscaram,então,auxíliofinanceiro juntoaoInamps,quesequedousilente.Compartedosrecursosnecessáriosobtidosemoutrasentidades,contraíramempréstimos e venderam bens, conseguindo custear, assim, a intervenção. Infelizmente, mesmo após aoperação, amenina não resistiu e veio a falecer, sendo interposta ação de cobrança coma finalidade dereaverosvaloresgastos,oqueresultounacondenaçãodaUnião,sucessoradoInamps.NoREsp,aUniãosustenta que, naquele momento, por regulamento, a concessão desse tipo de auxílio estaria suspensa.Prosseguindoo julgamento,apósvotodedesempate,aTurma,pormaioria,nãoconheceudo recurso,aofundamento de que, se estavam esgotadas no país todas as possibilidades do tratamento, urgente eimprescindívelcomosobejamenteprovado,ediantedosilênciodaautoridadecompetente,aexigênciadeprévia autorização para reembolso resta afastada, quanto mais se o art. 60 do Dec. n. 89.312/1984 aexcepciona em casos de força maior. Admitir sustar todo o custeio desses tratamentos excepcionais eurgentesénegarodireitofundamentalàsaúdeeàvida,sentenciandoopacienteàmorte.OMin.FranciulliNettoaduziuque,diantedaspeculiaridades,osilênciodoInampspoderiaserentendidocomoaquiescênciae que, defronte de direito fundamental, cai por terra qualquer outra justificativa de natureza técnica ouburocrática”(STJ,REsp338.373-PR,Rel.origináriaMin.ElianaCalmon,Rel.p/acórdãoMin.LauritaVaz,j.10-9-2002).

341MariaSylviaZanellaDiPietro,DireitoAdministrativo,9.ed.,SãoPaulo:Atlas,1998,p.411.

342 “Responsabilidade civil do Estado. Agressão física. Magistério estadual. Acidente em serviço.Pressuposto não comprovado. Recurso não provido. Responsabilidade civil. Indenizatória proposta porservidora pública contra o Estado, por ter sido agredida por aluna em escola pública. Responsabilidadesubjetiva e não objetiva do Estado, de acordo com o disposto no art. 37 pp. sexto da Constituição daRepúblicaepelateoriada‘fautedeservice’.Nãosevislumbraculpa‘invigilando’doEstadoemmanteraincolumidadefísicadeseusservidores,senãoháprovasdequeaagressãodecorreu,aomenosemparte,do

Page 559: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

fatoalegadodequeoestabelecimentopúblicoestariaabandonadoabandidosdafavelavizinha.Agressãoque,emprincípio,poderiaterocorridoemqualqueroutraescola,privadaoupública.Recursoimprovido”(TJRJ,Ap.Cível2000.001.22328,dataderegistro:29-11-2001,11.ªCâmaraCível,v.u.,Des.LuizEduardoRabello,j.13-9-2001).

343A culpa é, definitivamente, um instituto jurídico esvaziado.Atémesmonas demandas de família, adiscussãosobreaculpaé,cadavezmais,desaconselhadapeladoutrina,porserconsideradadesnecessáriaede impossível solução. A propósito, reiteramos que o tema “Responsabilidade Civil nas Relações deFamília”seráabordadoexpressamenteemnossovolume6(“DireitodeFamília”).

344SílviodeSalvoVenosa,DireitoCivil—ParteGeral,3.ed.,SãoPaulo:Atlas,2001,v.1,p.275-6.

345AnaCecíliaRosárioRibeiro,ResponsabilidadeCivildoEstadoporAtosJurisdicionais,SãoPaulo:LTr,2003,p.30.

346SauloJoséCasaliBahia,ob.cit.,p.94.

347JosédeAguiarDias,DaResponsabilidadeCivil,9.ed.,RiodeJaneiro:Forense,1994,v.2,p.778.

348SauloJoséCasaliBahia,ob.cit.,p.92.

349ArnaldoMarmitt,PerdaseDanos,RiodeJaneiro:Aide,1992,p.258.

350Sobreotema,confira-seoCapítuloVIII(“CausasExcludentesdeResponsabilidadeCivileCláusuladeNãoIndenizar”).

351 “EMENTA: RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO ESTADO (CF, ART. 37, § 6.º).CONFIGURAÇÃO. ‘BAR BODEGA’. DECRETAÇÃO DE PRISÃO CAUTELAR, QUE SERECONHECEUINDEVIDA,CONTRAPESSOAQUEFOISUBMETIDAAINVESTIGAÇÃOPENALPELO PODER PÚBLICO. ADOÇÃODESSAMEDIDADE PRIVAÇÃODA LIBERDADE CONTRAQUEMNÃOTEVEQUALQUERPARTICIPAÇÃOOUENVOLVIMENTOCOMOFATOCRIMINOSO.INADMISSIBILIDADE DESSE COMPORTAMENTO IMPUTÁVEL AO APARELHO DE ESTADO.PERDADOEMPREGOCOMODIRETACONSEQUÊNCIADA INDEVIDAPRISÃOPREVENTIVA.RECONHECIMENTO,PELOTRIBUNALDEJUSTIÇALOCAL,DEQUESEACHAMPRESENTESTODOSOSELEMENTOSIDENTIFICADORESDODEVERESTATALDEREPARARODANO.NÃOCOMPROVAÇÃO, PELO ESTADO DE SÃO PAULO, DA ALEGADA INEXISTÊNCIA DO NEXOCAUSAL.CARÁTERSOBERANODADECISÃOLOCAL,QUE,PROFERIDAEMSEDERECURSALORDINÁRIA,RECONHECEU,COMAPOIONOEXAMEDOSFATOSEPROVAS,AINEXISTÊNCIADE CAUSA EXCLUDENTE DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO PODER PÚBLICO.INADMISSIBILIDADE DE REEXAME DE PROVAS E FATOS EM SEDE RECURSALEXTRAORDINÁRIA (SÚMULA 279/STF). DOUTRINA E PRECEDENTES EM TEMA DERESPONSABILIDADECIVILOBJETIVADOESTADO.ACÓRDÃORECORRIDOQUESEAJUSTAÀJURISPRUDÊNCIADOSUPREMOTRIBUNALFEDERAL.RECONHECIDOEIMPROVIDO.

Page 560: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

DECISÃO:Opresenterecursoextraordináriofoiinterpostocontradecisão,que,proferidapeloE.TribunaldeJustiçadoEstadodeSãoPaulo,acha-seconsubstanciadaemacórdãoassimementado(fls.259):

“Indenização pleiteada em favor de pessoa indevidamente envolvida em inquérito policial arquivado.Cabimentodedanosmateriaisemorais.1.Apesardaausênciadeerrojudiciário,oEstadotemodeverdeassegurar ao cidadão o exercício dos direitos subjetivos outorgados na Constituição, com margem desegurança. 2. Inobservada aquela cautela, resulta configurada a responsabilidade objetiva e o dever dereparaçãodevidoàvítimadeimputaçãodescabida.3.Embargosinfringentesrejeitados”.

O Estado de São Paulo, no apelo extremo em questão, alega a inexistência, na espécie, do nexo decausalidadematerialentreoeventodanosoeaaçãodoPoderPúblico,eisquea“(...)demonstraçãodequeaprisãoprovisóriadoautor,para finsaveriguatórios,ocorreunosestritos limitesda lei, atravésdedecisãojudicial fundamentada e mantida pelo Tribunal em grau de ‘Habeas Corpus’, afigura-se como causaexcludentederesponsabilidadenamedidaemquerompeonexocausalentreaaçãodopoderpúblicoeoeventodanoso”(fls.269).

Oexamedestesautosconvence-medequenãoassisterazãoaoEstadoorarecorrente,quandosustenta—paradescaracterizarasuaresponsabilidadecivilobjetivaarespeitodoeventodanosoemcausa—“queaprisãoprovisóriadoautor,para finsaveriguatórios,ocorreunosestritos limitesda lei, atravésdedecisãojudicialfundamentadaemantidapeloTribunalemgraude‘HabeasCorpus’”(fls.269).

Comefeito, a situaçãode fatoquegerouogravíssimoeventonarradonesteprocesso (prisãocautelardepessoa inocente) põe em evidência a configuração, no caso, de todos os pressupostos primários quedeterminamoreconhecimentodaresponsabilidadecivilobjetivadaentidadeestatalorarecorrente.

Cumpre observar, no ponto, por oportuno, que a questão concernente ao reconhecimento do dever doEstadodereparardanoscausadosporseusagentesmereceuamplodebatedoutrinário,quesubsidiou,emseusdiversosmomentos,otratamentojurídicoqueessamatériarecebeunoplanodenossodireitopositivo.

Como se sabe, a teoria do risco administrativo, consagrada em sucessivos documentos constitucionaisbrasileiros,desdeaCartaPolíticade1946,revela-sefundamentodeordemdoutrináriasubjacenteànormade direito positivo que instituiu, em nosso sistema jurídico, a responsabilidade civil objetiva do PoderPúblico,pelosdanosqueseusagentes,nessaqualidade,causarematerceiros,poraçãoouporomissão(CF,art.37,§6.º).

Essa concepção teórica— que informa o princípio constitucional da responsabilidade civil objetiva doPoderPúblico, tantonoqueserefereàaçãoquantonoqueconcerneàomissãodoagentepúblico—fazemergir,dameraocorrênciadelesãocausadaàvítimapeloEstado,odeverdeindenizá-lapelodanopessoale/ou patrimonial sofrido, independentemente de caracterização de culpa dos agentes estatais ou dedemonstraçãodefaltadoserviçopúblico,nãoimportandoquesetratedecomportamentopositivoouquesecuide de conduta negativa daqueles que atuam em nome do Estado, consoante enfatiza omagistério da

Page 561: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

doutrina(HELYLOPESMEIRELLES,DireitoAdministrativoBrasileiro,p.650,31.ed.,2005,Malheiros;SergioCavalieriFilho,ProgramadeResponsabilidadeCivil,p.248,5.ed.,2003,Malheiros;JoséCretellaJúnior, Curso de Direito Administrativo, p. 90, 17. ed., 2000, Forense; Yussef Said Cahali,ResponsabilidadeCivil doEstado, p. 40, 2. ed., 1996,Malheiros; ToshioMukai,DireitoAdministrativoSistematizado,p.528,1999,Saraiva;CelsoRibeiroBastos,CursodeDireitoAdministrativo,p.213,5.ed.,2001, Saraiva; GuilhermeCouto de Castro, A Responsabilidade Civil Objetiva no Direito Brasileiro, p.61/62,3.ed.,2000,Forense;MônicaNicidaGarcia,ResponsabilidadedoAgentePúblico,p.199/200,2004,Fórum, v.g.), cabendo ressaltar, no ponto, a lição expendida porOdeteMedauar (DireitoAdministrativoModerno,p.430,itemn.17.3,9.ed.,2005,RT):

“Informada pela ‘teoria do risco’, a responsabilidade do Estado apresenta-se hoje, na maioria dosordenamentos, como ‘responsabilidade objetiva’. Nessa linha, não mais se invoca o dolo ou culpa doagente, omau funcionamento ou falha daAdministração.Necessário se torna existir relação de causa eefeitoentreaçãoouomissãoadministrativaedanosofridopelavítima.Éochamadonexocausalounexodecausalidade.Deixa-sedelado,parafinsderessarcimentododano,oquestionamentododoloouculpadoagente, o questionamento da licitude ou ilicitude da conduta, o questionamento do bom ou maufuncionamentodaAdministração.Demonstradoonexodecausalidade,oEstadodeveressarcir”.

Écerto,noentanto,queoprincípiodaresponsabilidadeobjetivanãoserevestedecaráterabsoluto,eisqueadmite abrandamento e, atémesmo, exclusão da própria responsabilidade civil do Estado nas hipótesesexcepcionais configuradoras de situações liberatórias — como o caso fortuito e a força maior — ouevidenciadoras de ocorrência de culpa atribuível à própria vítima (RDA 137/233—RTJ 55/50—RTJ163/1107-1109,v.g.).

Impõe-sedestacar,nesteponto,nalinhadajurisprudênciaprevalecentenoSupremoTribunalFederal(RTJ163/1107-1109,Rel.Min.CelsodeMello—AI299.125/SP),queoselementosquecompõemaestruturaedelineiam o perfil da responsabilidade civil objetiva do Poder Público compreendem (a) a alteridade dodano, (b) a causalidadematerial entre o eventus damni e o comportamento positivo (ação) ou negativo(omissão) do agente público, (c) a oficialidadeda atividade causal e lesiva imputável a agente doPoderPúblico, que, nessa condição funcional, tenha incidido em conduta comissiva ou omissiva,independentementedalicitude,ounão,doseucomportamentofuncional(RTJ140/636)e(d)aausênciadecausaexcludentedaresponsabilidadeestatal(RTJ55/503—RTJ71/99—RTJ91/377—RTJ99/1155—RTJ131/417).

Acompreensãodessetemaeoentendimentoqueresultadaexegesedadaaoart.37,§6.º,daConstituiçãoforambemdefinidoseexpostospeloSupremoTribunalFederalemjulgamentoscujosacórdãosestãoassimementados:

“RESPONSABILIDADECIVILOBJETIVADOPODERPÚBLICO—PRINCÍPIOCONSTITUCIONAL.Ateoriadoriscoadministrativo,consagradaemsucessivosdocumentosconstitucionaisbrasileirosdesdea

Page 562: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

CartaPolíticade1946,conferefundamentodoutrinárioàresponsabilidadecivilobjetivadoPoderPúblicopelos danos a que os agentes públicos houveremdado causa, por ação ou por omissão. Essa concepçãoteórica, que informa o princípio constitucional da responsabilidade civil objetiva do Poder Público, fazemergir,dameraocorrênciadeatolesivocausadoàvítimapeloEstado,odeverdeindenizá-lapelodanopessoale/oupatrimonialsofrido,independentementedecaracterizaçãodeculpadosagentesestataisoudedemonstraçãodefaltadoserviçopúblico.

Os elementos que compõem a estrutura e delineiam o perfil da responsabilidade civil objetiva do PoderPúblico compreendem (a) a alteridade do dano, (b) a causalidade material entre o eventus damni e ocomportamento positivo (ação) ou negativo (omissão) do agente público, (c) a oficialidade da atividadecausal e lesiva, imputável a agente do Poder Público, que tenha, nessa condição funcional, incidido emcondutacomissivaouomissiva,independentementedalicitude,ounão,docomportamentofuncional(RTJ140/636)e(d)aausênciadecausaexcludentedaresponsabilidadeestatal(RTJ55/503—RTJ71/99—RTJ91/377—RTJ99/1155—RTJ131/417).Oprincípiodaresponsabilidadeobjetivanãoserevestedecaráterabsoluto, eis que admite o abrandamento e, atémesmo, a exclusão da própria responsabilidade civil doEstado, nas hipóteses excepcionais configuradoras de situações liberatórias— como o caso fortuito e aforçamaior—ouevidenciadorasdeocorrênciadeculpaatribuívelàprópriavítima(RDA137/233—RTJ55/50)(...)”(RTJ163/1107-1108,Rel.Min.CelsodeMello).

“Recursoextraordinário.ResponsabilidadecivildoEstado.Mortedepresonointeriordoestabelecimentoprisional. 2. Acórdão que proveu parcialmente a apelação e condenou o Estado do Rio de Janeiro aopagamentodeindenizaçãocorrespondenteàsdespesasdefuneralcomprovadas.3.Pretensãodeprocedênciada demanda indenizatória. 4. O consagrado princípio da responsabilidade objetiva do Estado resulta dacausalidade do ato comissivo ou omissivo e não só da culpa do agente.Omissão por parte dos agentespúblicosnatomadademedidasqueseriamexigíveisafimdeserevitadoohomicídio.5.RecursoconhecidoeprovidoparacondenaroEstadodoRiodeJaneiroapagarpensãomensalàmãedavítima,aserfixadaemexecuçãodesentença”(RTJ182/1107,Rel.Min.NéridaSilveira).

Éporissoqueaausênciadequalquerdospressupostoslegitimadoresdaincidênciadaregrainscritanoart.37, § 6.º, da Carta Política basta para descaracterizar a responsabilidade civil objetiva do Estado,especialmente quando ocorre circunstância que rompe o nexo de causalidade material entre ocomportamentodoagentepúblico(positivoounegativo)eaconsumaçãododanopessoaloupatrimonialinfligidoaoofendido.

As circunstâncias do presente caso, no entanto, apoiadas em pressupostos fáticos soberanamentereconhecidos pelo Tribunal a quo, evidenciam que se reconheceu presente, na espécie, o nexo decausalidadematerial, ao contrário do que sustentado pelo Estado de São Paulo, que pretendeu tê-lo porinexistente.

DaíacorretaobservaçãofeitapeloE.TribunaldeJustiçadoEstadodeSãoPaulo,constantedoacórdãoora

Page 563: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

recorrido(fls.261):

“Nocasodosautos,comprovadaaprisãoprovisóriadoembargado,seguidadasegregaçãopreventivaedoarquivamento do inquérito policial, inafastável a conclusão de que houve falha da Administração naexecuçãodasdiligênciaspoliciais,dondeemergearesponsabilidadeobjetivadoEstado(...)”.

Inquestionável, dessemodo, que a existência do nexo causal—cujo reconhecimento, peloTribunal orarecorrido, efetivou-se em sede recursal meramente ordinária — teve por suporte análise do conjuntoprobatóriosubjacenteaopronunciamentojurisdicionalemreferência.

Essedadoassumerelevoprocessual,poisadiscussãoorasuscitadapeloEstadodeSãoPauloemtornodapretendidainexistência,naespécie,donexodecausalidadematerialrevela-seincabívelemsedederecursoextraordinário,pordependerdoexamedematériadefato,detodoinadmissívelnaviadoapeloextremo.

Comosesabe,orecursoextraordinárionãopermitequesereexaminem,nele,emfacedeseuestritoâmbitotemático, questões de fato ou aspectos de índole probatória (RTJ 161/992 — RTJ 186/703). É que opronunciamentodoTribunalaquosobrematériadefato(comooreconhecimentodaexistênciadonexodecausalidadematerial,p.ex.)reveste-sedeinteirasoberania(RTJ152/612—RTJ153/1019—RTJ158/693,v.g.).

Impende enfatizar, neste ponto, que esse entendimento (inadmissibilidade do exame, em sede recursalextraordinária, da pretendida inexistência do nexo de causalidade) tem pleno suporte no magistériojurisprudencial desta Suprema Corte (AI 505.473-AgR/RJ, Rel.Min. Joaquim Barbosa—RE 234.093-AgR/RJ,Rel.Min.MarcoAurélio—RE257.090-AgR/RJ,Rel.Min.MaurícioCorrêa—AI299.125/SP,Rel.Min.CelsodeMello,v.g.):

“Agravo Regimental em Agravo de Instrumento. Responsabilidade do Estado. Nexo de Causalidade.ReexamedeFatoseProvas.Súmula279-STF.ResponsabilidadeobjetivadoEstadopormortedepresoemcomplexopenitenciário.Alegaçõesdeculpaexclusivadavítimaedeausênciadenexodecausalidadeentreaaçãoouomissãodeagentespúblicoseoresultado.Questõesinsuscetíveisdeseremapreciadasemrecursoextraordinário,porexigiremreexamedefatoseprovas(Súmula279-STF).Precedentes.Agravoregimentalaquesenegaprovimento”(AI343.129-AgR/RS,Rel.Min.MaurícioCorrêa).

“1.Recurso.Extraordinário. Inadmissibilidade.Reexamede fatos e provas.ResponsabilidadedoEstado.Tiroteioentrepoliciaisebandidos.Mortedetranseunte.Nexodecausalidade.Reexame.Impossibilidade.OfensaindiretaàConstituição.Agravoregimentalnãoprovido.Inadmissível,emrecursoextraordinário,oreexamedosfatoseprovasemquesebaseouoacórdãorecorridopara reconhecera responsabilidadedoEstadopordanosqueseusagentescausaramaterceiro(...)”(RE286.444-AgR/RJ,Rel.Min.CezarPeluso).

“ResponsabilidadeCivilObjetivadoEstado (CF, art. 37, §6.º).PolicialMilitar, que, em seuperíododefolgaeemtrajescivis,efetuadisparocomarmadefogopertencenteàsuacorporação,causandoamortedepessoainocente.Reconhecimento,naespécie,dequeousoeoportedearmadefogopertencenteàPolícia

Page 564: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Militar eram vedados aos seus integrantes nos períodos de folga. Configuração, mesmo assim, daresponsabilidadecivilobjetivadoPoderPúblico.Precedente(RTJ170/631).PretensãodoEstadodequeseachaausente, na espécie, onexode causalidadematerial, nãoobstante reconhecidopeloTribunal a quo,comapoionaapreciaçãosoberanadoconjuntoprobatório.Inadmissibilidadedereexamedeprovasefatosem sede recursal extraordinária. Precedentes específicos em tema de responsabilidade civil objetiva doEstado. Acórdão recorrido que se ajusta à jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. Reconhecido eimprovido”(RE291.035/SP,Rel.Min.CelsodeMello).

Cumpre ressaltar,por tal razão, em facedocaráter soberanodoacórdão recorrido (que reconheceu, comapoionoexamedefatoseprovas,aausênciadedemonstraçãodarupturadonexocausalsustentadapeloEstadodeSãoPaulo),queoTribunaldeJustiçainterpretou,comabsolutafidelidade,anormaconstitucionalqueconsagra,emnossosistemajurídico,aresponsabilidadecivilobjetivadoPoderPúblico.

Comefeito,oacórdãoimpugnadonapresentesederecursalextraordinária,aofazeraplicaçãodopreceitoconstitucional em referência (CF, art. 37, § 6.º), reconheceu, com inteiro acerto, no caso em exame, acumulativaocorrênciados requisitos concernentes (1) à consumaçãododano, (2) à condutados agentesestatais, (3) ao vínculo causal entre o evento danoso e o comportamento dos agentes públicos e (4) àausência de qualquer causa excludente de que pudesse eventualmente decorrer a exoneração daresponsabilidadecivildoEstadodeSãoPaulo.

Cabe acentuar, por necessário, que esse entendimento vem sendo observado em sucessivos julgamentos,proferidosnoâmbitodestaCorte,apropósitodequestãovirtualmenteidênticaàqueoraseexaminanestasede recursal (AI 654.562-AgR/GO, Rel.Min.Marco Aurélio—RE 505.393/PE, Rel.Min. SepúlvedaPertence—RE557.922/MG,Rel.Min.EllenGracie—RE594.500/SP,Rel.Min.ErosGrau,v.g.).

Conclui-se, portanto, que a pretensão recursal deduzida peloEstado deSãoPaulo não temo amparo daprópria jurisprudênciaqueoSupremoTribunalFederalfirmouemprecedentes inteiramenteaplicáveisaocasooraemexame.

Sendo assim, e pelas razões expostas, conheço do presente recurso extraordinário, para negar-lheprovimento.

Publique-se.

Brasília,05deoutubrode2009.

(21.ºAniversáriodapromulgaçãodaConstituiçãodemocráticade1988)

MinistroCELSODEMELLORelator”(STF,RE385943/SP,decisãopublicadanoDJEde16.10.2009).

352 “Responsabilidade civil.Município. Queda de árvore. Vendaval. Forçamaior. Exclusão de nexo decausalidade.AConstituiçãoFederal, em seu art. 37, par. 6, prevê apenas a responsabilidade objetiva doestado,‘pelosdanosqueseusagentes,nessaqualidade,causarematerceiros’,nãooresponsabilizando,no

Page 565: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

entanto, por fatos provocados por condutas de terceiros ou decorrentes de fenômenos da natureza. Aresponsabilidade,nestecaso,somenteocorreriaquandoprovadoque,poromissãooufalhadeserviço,tenhaconcorrido para o evento, o que incorreu na espécie que se aponta. Sentença confirmada” (Tribunal deJustiçadoRioGrandedoSul,Ap.Cíveln.70000352617,5.ªCâmaraCível,Rel.Des.ClarindoFavretto,j.1.º-6-2000).

353 “Acidente de trânsito. Colisão de carro com animal na pista de rolamento. Morte da vítima.Responsabilidade civil de concessionária de servico público. Indenização. Sumário. Lide com culpaafirmadadaRé.Legitimidadepassivaevidenciada,transferindoaoméritoaapreciaçãodostemasemlide.Atropelamento de animal em estrada, com consequente morte de passageiro do veículo. Inexistindo aexpressa obrigação da Concessionária, quanto a elidir presença de animais na estrada, não pode ser elaresponsável.Obrigaçãoquesetransfereaodonodoanimal.Culpa‘incustodiendo’.Exegesedoart.588,§3.º,doCC,queé‘numerusclausus’.Nãohácomoseaplicaroparágrafo5.ºdocitadoartigosenãoassumiua Concessionária a expressa responsabilidade pela verificação de animais na estrada e se há normasjurídicasqueassimoestabelecemcomoobrigaçãodaPolíciaRodoviáriaFederal.Localdoacidentequeéumareta,comvalãoparaevitarpassagemdeanimais,cercasesinalizaçãoobrigandoavelocidademáximaem 60 (sessenta) quilômetros. Medidas de razoável prudência, que elidem a responsabilidade daConcessionária.Ofatodeexistirnolocalacessosabertosaoutrasvias,proporcionandoatambémpassagemde animais, nãopode, por si só, caracterizar a culpadaConcessionária.Aplicáveis ‘in hypothesis’ aLeiEstadual2.234/94,oDecreto1.655/95,aLei9.503/97,oRegimentoInternodaPolíciaRodoviáriaFederalaprovado pela Portaria 308/99 e oConvênio n. PG 032/96-00 firmado entre oDepartamento de PolíciaFederal e o DNER. Inaplicabilidade da teoria do risco integral. Provimento” (TJDF, Ap. Cível2000.001.16903, data de registro: 5-3-2001, 4.ªCâmaraCível,Des.Reinaldo P.Alberto Filho, j. 12-12-2000).

“Administração.Responsabilidade civil doEstado.Forçamaior.A forçamaior exclui a responsabilidadecivildoestado,quandodescaracterizaonexodecausalidadeentreoeventodanosoeoserviçopúblico;nãosequalificacomotalatentativaderoubodeveículoapreendidoportrafegarsemlicença,queseencontravasob a guarda de repartição pública, porque nesse caso o estado deve estar preparado para enfrentar apequena criminalidade. Responsabilidade pelos danos causados no veículo. Recurso especial nãoconhecido”(STJ,REsp135.259/SP;REsp1997/0039492-1,fonte:DJ,data:2-3-1998,PG:00062,RSTJ,v.00105,PG:00190,Rel.Min.AriPargendler,j.5-2-1998,2.ªTurma).

“ResponsabilidadecivildoEstado.Invasãodeáreacedidaporesteemparceriaagrícola.Responsabilidadeobjetiva.Forçamaior.AinvasãodeáreadadapeloEstadoemparceriaagrícola,porterceiros,caracterizaaforçamaiorexcludentedaresponsabilidadedoentepúblico,que,nocaso,atuoucomoseparticularfosse,nãoselhepodendoexigir,poroutrolado,quesejaresponsávelgenericamentepelocumprimentodasleis.Necessáriaacaracterização,aomenos,donexocausalentreaaçãodeseuagenteeosdanossuportadospordeterminadapessoa,físicaoujurídica.QuandooEstado-juizquemanteveprovisoriamenteosinvasoresna

Page 566: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

possedoimóvel,agiuomagistradoprolatordadecisãonofielexercíciodesuajurisdição,nãotendosidoatribuído aomesmo, na inicial, dolo ou culpa grave, circunstâncias que poderiamconferir ao apelante odeverde indenizar.Apeloprovido” (Tribunalde JustiçadoRioGrandedoSul,Ap.Cível70000454199,10.ªCâmaraCível,Rel.Des.LuizAryVessinideLima,j.11-5-2000).

354 “Civil. Responsabilidade civil. Elementos da responsabilidade não demonstrados. Configuração deexcludente de responsabilidade. Força maior. Inundação de residência depois de obras na via pública.Decorrência, no entanto, de intensas chuvas, acima do nível normal, que inundaramdiversas regiões doEstado. A prova robusta do agir culposo da municipalidade não ficou demonstrada, sendo apenascaracterizadoodano,oqualnãoésuficienteparaensejarodeverde indenizardaadministraçãopública.Ausênciadonexodecausalidade.Apeloprovido”(TribunaldeJustiçadoRioGrandedoSul,ApelaçãoeReexameNecessárion.70000560250,5.ªCâmaraCível,Rel.Des.CarlosAlbertoBencke,j.5-10-2000).

355“Por fim,diga-seque, se tais teoriasobedeceramaessacronologia,nãoquer issodizerquehoje sóvigoreaúltimaaaparecernocenáriojurídicodosEstados,istoé,ateoriadaresponsabilidadepatrimonialobjetivadoEstadoouteoriadoriscoadministrativo.Aocontráriodisso,emtodososEstadosacontecemouestão presentes as teorias da culpa administrativa e do risco administrativo, desprezadas as da irrespon-sabilidadeedoriscointegral.Aquela(culpaadministrativa)seaplica,porexemplo,pararesponsabilizaroEstadonoscasosdedanosdecorrentesdecasosfortuitosoudeforçamaior,emqueoEstado,normalmente,nãoindeniza.Esta(riscoadministrativo),nosdemaiscasos”(DiogenesGasparini,DireitoAdministrativo,2.ed.,SãoPaulo:Saraiva,1992,p.607).

356 A responsabilidade civil por atos judiciais e legislativos é tema que, em nosso entender, dadas aspeculiaridades ínsitas de cada uma dessas atividades políticas, desbordaria do conteúdo dessa obra,merecendotratamentoemtrabalhoespecífico.Mas,cumprindoanossapropostadedarmosamplavisãodetodaamatériaderesponsabilidadecivil,registramosqueessaresponsabilizaçãosódeveráhaversehouverabusooudesviodefinalidadedafunçãodesempenhada.Aindaassim,emhavendodanoindenizávelpelaatuaçãodesastradadolegisladoroudomagistrado,aresponsabilidade,emprimeiroplano,édoEstado,comeventual ação regressiva contra o seu presentante. Note-se, ainda, que, no caso dos juízes, o seu livreconvencimento,manifestadoemdecisõesdevidamentefundamentadas,nãopode,depersi,serinterpretadocomoatuaçãolesiva,pelosimplesfatodehavercontrariadoumadaspartes.

357HelyLopesMeirelles,DireitoAdministrativoBrasileiro,25.ed.,SãoPaulo:Malheiros,2000,p.626.Nãofoiesteoentendimento,contudo,doSupremoTribunalFederalsobreamatéria,conformeverificamosdosseguintesacórdãos:

“ResponsabilidadecivildoEstado—Exegesedoart.107daCF—Açãodiretacontraoservidorpúblicocombasenoart.159doCC—Oart.107daCFnãoimpedequeavítimadodanodecorrentedoatodeservidorpúblico—comoéoserventuáriodaJustiça,aindaquedeserventianãooficializada—proponhacontra este ação direta, com fundamento no art. 109 doCC.Recurso extraordinário conhecido,mas não

Page 567: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

provido”(STF,2.ªT.,RE,rel.MoreiraAlves,j.22-3-1983,JSTF55/230).

“Danopuramentemoral,indenizável.Direitodeopçãopelolesado,entreaaçãocontraoEstadoeaaçãodireta,propostaaoservidor(Constituição,art.107).PrecedentesdoSTF.RecursoExtraordináriodequenãoseconhece.OfatodeaConstituiçãogarantirodireitodeumaação,emqueaprovadaculpaédispensáveleopagamentoasseguradopelasforçasdoerário,nãoprivaolesadodaopçãodeagirdiretamentecontraofuncionário, culpadoe solvável, embuscadeumprocedimentomais expedidodeexecução.Aoservidorpúblico,nenhuminteresselegítimoselheatinge,porquantoestariasujeito,deoutromodo,asuportaraaçãoregressiva,faculdadedoEstado,indisponívelpeloAdministrador”(STF,1.ªT.,RE,Rel.OctavioGallotti,j.20-9-1985,RTJ115/383).

“AresponsabilidadeobjetivadoEstadopelosprejuízoscausadosporseusagentesnãoafastaodireitoquetemoprejudicadodepostularanecessáriareparaçãodiretamentedofuncionárioquecausouodano”(STF,1.ªT.,RE,Rel.Min.AntônioNéder,j.4-12-1979,RT538/275).

358PrincípiosGeraisdeDireitoAdministrativo,RiodeJaneiro:Forense,1969,v.2,p.481.

359RegimeConstitucionaldosServidoresPúblicos,2.ed.,2.ªtir.,SãoPaulo:RevistadosTribunais,1990,p.142.

360ResponsabilidadeCivildoEstado,2.ed.,SãoPaulo:RevistadosTribunais,2000,p.218-9.

361AtoAdministrativoeDireitosdosAdministrados,SãoPaulo:RevistadosTribunais,1981,p.168.

362“Relativamenteàrecomposiçãodeprejuízoscausadosporquematuainvestidodefunçãodenaturezapública,nadaimpedequeolesadoacioneexclusivamenteoEstado,como,damesmaforma,podefazê-loem relaçãoao responsáveldireto,oua ambos, conjuntamente” (TJSP,3.ªCâm.,EI,Rel.Des. J.RobertoBedran, j. 28-9-1993, JTJ,Lex, 151/117). Sobre o tema, consultem-se, ainda, as decisões noticiadas nosseguintes Informativos do STF: Info 436—RE 327.904— ação só contra a pessoa jurídica de direitopúblico, não cabendo contra o servidor, pois o § 6.º do art. 37 da CRFB/88 representaria uma duplagarantia: ao cidadão e ao servidor; Info 519—RE 344.133— ação contra a pessoa jurídica de direitopúblicooucontraapessoajurídicadedireitoprivadoprestadoradedireitopúblico.

363AnaCecíliaRosárioRibeiro,ob.cit.,p.87.

364 “RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DOESTADO: § 6.º DO ART. 37 DA MAGNA CARTA. ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM.AGENTE PÚBLICO (EX-PREFEITO). PRÁTICA DE ATO PRÓPRIO DA FUNÇÃO. DECRETO DEINTERVENÇÃO.O§6.ºdoartigo37daMagnaCartaautorizaaproposiçãodequesomenteaspessoasjurídicasdedireitopúblico,ouaspessoasjurídicasdedireitoprivadoqueprestemserviçospúblicos,équepoderão responder, objetivamente, pela reparação de danos a terceiros. Isto por ato ou omissão dosrespectivos agentes, agindo estes na qualidade de agentes públicos, e não como pessoas comuns. Essemesmo dispositivo constitucional consagra, ainda, dupla garantia: uma, em favor do particular,

Page 568: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

possibilitando-lheaçãoindenizatóriacontraapessoajurídicadedireitopúblico,oudedireitoprivadoquepreste serviço público, dado que bemmaior, praticamente certa, a possibilidade de pagamento do danoobjetivamente sofrido. Outra garantia, no entanto, em prol do servidor estatal, que somente respondeadministrativa e civilmente perante a pessoa jurídica a cujo quadro funcional se vincular. Recursoextraordinárioaquesenegaprovimento”(STF,RE327.904/SP,Rel.Min.CarlosBritto,j.15-8-2006,1.ªTurma,DJ,8-9-2006,RTJv.200(1),p.162,RNDJv.8,n.86,2007,p.75-78).

365“CONSTITUCIONAL.RESPONSABILIDADECIVILDOESTADO.ATODOAGENTEPÚBLICO:GOVERNADOR. CF, art. 37, § 6.º. I— No caso, o ato causador de danos patrimoniais e morais foipraticadopeloGovernadordoEstado,noexercíciodocargo:deveoEstadoresponderpelosdanos.CF,art.37,§6.º.II—Seoagentepúblico,nessaqualidade,agiucomdoloouculpa,temoEstadoaçãoregressivacontraele(CF,art.37,§6.º).III—REinadmitido.Agravonãoprovido”(STF,AI167.659/PR,Rel.Min.CarlosVelloso,j.18-6-1996,2.ªTurma,DJ,14-11-1996).

366“SendopresumidaaresponsabilidadedoEstado,adiscussãosobreaculpadofuncionáriointroduziriaum elemento novo na demanda que, ao invés de atender à finalidade principal da denunciação, que é aeconomiaprocessual,redundariaemdemoranotérminodainstrução,comprejuízoaoautor”(1.ºTACSP,14.ªCâm.,Ap.445.314-9,rel.JuizCarlosRobertoGonçalves,j.12-9-1990).

367 Seguindo esta orientação: “Cabe denunciação da lide ao funcionário quando o Poder Público éacionadoporterceirocombaseemilícitodaquele”(1.ºTACSP,5.ªCâm.,AI,rel.JuizJorgeTannus,j.10-3-1982,RT,568/106).“Responsabilidadecivil—ServidorPúblico—Denunciaçãoàlide—Art.70,III,doCPC — Nada impede que a Administração Pública denuncie à lide, na qualidade de terceiro, o seufuncionário,naformaestabelecidanoart.70,III,doCPC”(STJ,2.ªT.,REsp,rel.Min.JosédeJesusFilho,j.6-12-1993,RSTJ,58/260).

368“Corretooafastamentodadenúnciaà lide.Ofundamentodadenunciaçãoéo inc. III,doart.70,doCPC,comchamamentodoresponsável,porviaderegresso,emdecorrênciadevínculocontratualoulegal.A hipótese dos autos, para a espécie de denunciação, como regresso por vínculo legal, tem fulcro nainvocaçãodoart.37,par.6.º,daCF,açãoeventualqueoEstadopossaexercercontraodiretoresponsável,por culpabilidade própria. A primeira e segunda parte do citado dispositivo constitucional envolvemresponsabilidadedenaturezadiversa,umapeloriscoadministrativo,outrapelaresponsabilidadeaquiliana,aoutorgarfundamento jurídicodiversoparacadahipótese.Aintroduçãodefundamento jurídiconovonalide é incompatível com o instituto da denunciação, na espécie preconizada, art. 70, III, do CPC, cujaaplicação deve ser limitada às hipóteses de necessária garantia do resultado da demanda, por vínculocontratualou legal.Talnãose inscrevecomoahipótesededenunciaçãopresente,dadaaautonomia,dasresponsabilidadesemexame”(1.ºTACSP,1.ªCâm.Esp.dejan.1993,Ap.511.292-5,Rel.JuizOscarlinoMoeller,j.2-2-1993).

369Nessesentido,decidiuoSTJ:

Page 569: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

“PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO. EXECUÇÃO DE SENTENÇACONTRAAFAZENDAPÚBLICA.AÇÃOINDENIZATÓRIA.PRESCRIÇÃO.PRAZOQUINQUENAL(ART.1.ºDODECRETO20.910/32)XPRAZOTRIENAL(ART.206,§3.º,V,DOCC).PREVALÊNCIADALEIESPECIAL.ESPECIALEFICÁCIAVINCULATIVADOACÓRDÃOPROFERIDONORESP1.251.993/PR.IMPUGNAÇÃODOVALORFIXADOATÍTULODEVERBAHONORÁRIA(PEDIDODE REDUÇÃO). QUESTÃO ATRELADA AO REEXAME DE MATÉRIA FÁTICA. ÓBICE DASÚMULA N. 7/STJ. 1. A Primeira Seção/STJ, ao apreciar o REsp 1.251.993/PR (Rel. Min. MauroCampbellMarques,DJe, 19-12-2012), aplicando a sistemática prevista no art. 543-C doCPC, pacificouentendimentodequedeveseraplicadooprazoprescricionalquinquenalnasaçõesindenizatóriascontraaFazendaPública,nostermosdoartigo1.ºdoDecreton.20.910/1932.2.Estáconsolidadonajurisprudênciado Superior Tribunal de Justiça que a revisão da condenação em honorários, salvo nas hipóteses decondenaçõesirrisóriasouexcessivas,demandaorevolvimentodascircunstânciasfáticasdocaso.3.Ocasoconcreto—emqueaverbahonoráriafoifixadaem10%(dezporcento)sobreovalordacausaatribuídoaos embargos— não se subsume às hipóteses excepcionais admitidas por esta Corte para a revisão dacondenação em honorários, incidindo, dessarte, a vedação contida na Súmula n. 7/STJ. 4. Agravoregimentalnãoprovido”(STJ,AgRgnoAREsp278.168/RJ2012/0275956-3,Rel.Min.MauroCampbellMarques,j.2-5-2013,2.ªTurma,DJe,7-5-2013).

Confiram-se, ainda, o EREsp 1.081.885/RR,Rel.Min.HamiltonCarvalhido,DJe, 1.º-2-2011;AgRg noREsp1.149.621/PR,1.ªSeção,Rel.Min.BeneditoGonçalves,DJe,18-5-2010;EREsp1.081.885/RR,1.ªSeção,Rel.Min.HamiltonCarvalhido,DJe,1.º-2-2011;eoAgRgnoREsp1.195.013/AP,Rel.Min.TeoriAlbinoZavascki,DJe,23-5-2012.

Page 570: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

370 Nesse sentido, pode-se inferir, por exemplo, as previsões da Consolidação das Leis do Trabalho,referentesàassociaçãoemsindicato,inverbis:

“Art.511.Élícitaaassociaçãoparafinsdeestudo,defesaecoordenaçãodosseusinteresseseconômicosouprofissionaisde todososque,comoempregadores, empregados, agentesou trabalhadoresautônomos,ouprofissionais liberais, exerçam, respectivamente, a mesma atividade ou profissão ou atividades ouprofissõessimilaresouconexas.

§ 1.º A solidariedade de interesses econômicos dos que empreendem atividades idênticas, similares ouconexasconstituiovínculosocialbásicoquesedenominacategoriaeconômica.

§ 2.º A similitude de condições de vida oriunda da profissão ou trabalho em comum, em situação deemprego namesma atividade econômica ou em atividades econômicas similares ou conexas, compõe aexpressãosocialelementarcompreendidacomocategoriaprofissional.

§ 3.º Categoria profissional diferenciada é a que se forma dos empregados que exerçam profissões oufunçõesdiferenciadasporforçadeestatutoprofissionalespecialouemconsequênciadecondiçõesdevidasingulares.

§4.ºOslimitesdeidentidade,similaridadeouconexidadefixamasdimensõesdentrodasquaisacategoriaeconômicaouprofissionaléhomogêneaeaassociaçãoénatural”.

371 Sobre a atuação do advogado, recomendamos a leitura do excelente livro de Sérgio Novais Dias,ResponsabilidadeCivildoAdvogadopelaPerdadeumaChance,SãoPaulo:LTr,1999.

372PabloStolzeGagliano eRodolfoPamplonaFilho,NovoCursodeDireitoCivil—Obrigações, SãoPaulo:Saraiva,2002,v.2,p.109.

373 “A cura não pode ser o objetivo maior devido à característica de imprevisibilidade do organismohumano—mormenteemestadodedoença,oqueserefleteemlimitaçõesnoexercíciodamedicina.Jánãosepodedizeromesmoquandoestivermos frente aumatendimentomédicoporocasiãodeumacirurgiaplásticaestética(paraoscasosdecirurgiaplásticareparadoracabeaafirmaçãodecaracterizar-secomoumaobrigação de meios). A doutrina e a jurisprudência brasileira são unânimes, pelo menos até o presentemomento, em considerar os casos de cirurgia plástica estética como um contrato cujo objeto é umaobrigação de resultado. Assim, há presunção de culpa, se o médico cirurgião plástico não adimplirintegralmenteasuaobrigação(oadimplementoparcialéconsideradoumanãoexecuçãodaobrigaçãopelaqualsecomprometeucomopacientecontratante)”(NeriTadeuCamaraSouza,ResponsabilidadeCivildoMédico,JornalSíntese,PortoAlegre:Síntese,mar.2002,p.22).

374Confira-seoCapítuloXI(“ResponsabilidadeCivilporAtodeTerceiro”).

375MariaHelenaDiniz,CursodeDireitoCivilBrasileiro—ResponsabilidadeCivil,16.ed.,SãoPaulo:Saraiva,2002,v.7,p.243.

Page 571: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

376 Ruy Rosado de Aguiar, Obrigações e Contratos— Projeto de Código Civil, disponível no site doConselhodaJustiçaFederal:www.cjf.gov.br.

377Art.14,§4.º,doCDC:“Aresponsabilidadepessoaldosprofissionaisliberaisseráapuradamedianteaverificaçãodeculpa”.

378“Açãodeindenização—Danosmoraisemateriais—Nulidadedojulgado—Inocorrênciadeculpa.1—Rejeita-seaalegaçãodenulidadedojulgadoquandoamatériafoiamplamenteexaminada,nãoestandoojuizobrigadoa examinar todas as alegaçõesdaspartes, desdeque já tenha encontradomotivo suficienteparaodeslindedacontrovérsia.2—Mostrando-seadequadootratamentomédicoparaaespécie,tendoomédicoprestadoosesclarecimentosnecessários,nãosevislumbraculpacapazdeautorizarcondenaçãopordanosmoraisemateriais.3—Aassistênciamédicanãoéumaobrigaçãoderesultado,massimdemeio,responsabilizando-se o médico tão só pelo tratamento adequado. 4 — Recurso não provido. Maioria”(TJDF,Ap.Cível20000750026364A/DF,registrodoacórdãon.156071,j.11-3-2002,5.ªTurmaCível,Rel.AsdrubalNascimentoLima,Rel.Desig.HaydevaldaSampaio,DJU:26-6-2002,p.66).

379“Art.948.Nocasodehomicídio,aindenizaçãoconsiste,semexcluiroutrasreparações:

I—nopagamentodasdespesascomotratamentodavítima,seufuneraleolutodafamília;

II — na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duraçãoprováveldavidadavítima.

Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das despesas dotratamentoedoslucroscessantesatéaofimdaconvalescença,alémdealgumoutroprejuízoqueoofendidoprovehaversofrido.

Art.950.Sedaofensaresultardefeitopeloqualoofendidonãopossaexerceroseuofícioouprofissão,ouselhediminuaacapacidadedetrabalho,aindenização,alémdasdespesasdotratamentoelucroscessantesaté ao fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para que seinabilitou,oudadepreciaçãoqueelesofreu.

Parágrafoúnico.Oprejudicado,sepreferir,poderáexigirqueaindenizaçãosejaarbitradaepagadeumasóvez.”

380SílviodeSalvoVenosa,DireitoCivil—ResponsabilidadeCivil,3.ed.,SãoPaulo:Atlas,2003,v.3,p.101.

381“Responsabilidadecivil.Anestesia.Encargodaprova.Narelaçãoqueseestabeleceentreoespecialistaeopaciente,ouresponsáveis,incumbeàquele,porsenhordaciência,asprovidências,préviaseincidentais,adequadasparaoplenosucesso.Agecomculpaanestesistaque,emcirurgiadepequenoporte,jamaistendodiscutidoaopçãocomosresponsáveisporpacientedemenoridade,eignorandoexamesprévios,elegeaanestesiageral eosmeios a ela conducentes, resultandodefinitivamenteofendida a integridade físicado

Page 572: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

anestesiado. EI desacolhidos” (Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Embargos Infringentes n.597078641,3.ºGrupodeCâmarasCíveis,Rel.Des.AntônioJanyrDall’AgnolJúnior,j.1.º-8-1997).

“Civil.Responsabilidadecivil.ErroMédico.Anestesia.1.Oanestesiologistarespondepelodanocausadoaopaciente,emrazãodoprocedimentoanestésico,quandonãoobteve,previamente,anuênciapararealizaraanestesiageral(imprudência),nãorealizouexamespré-anestésicos(negligência)enãoempregoutodososrecursos técnicos existentes no bloco cirúrgico (imperícia).Valor da indenização.Voto vencido, que nãolocalizouculpanacondutadoanestesiologista.2.Apelaçãodesprovidapormaioria”(TribunaldeJustiçadoRioGrandedoSul,Ap.Cível597009992,5.ªCâmaraCível,Rel.Des.PauloAugustoMonteLopes,j.20-3-1997).

382JurandirSebastião,ResponsabilidadeMédicaCivil,CriminaleÉtica,2.ed.,BeloHorizonte:DelRey,2000,p.90.

383“Indenização.Cirurgiadelaqueaduratubária.Insucesso.CDC.Ausênciadeinformação.Obrigaçãodemeioederesultado.—Emborapossaserconsideradaobrigaçãodemeiooumesmoderesultado,emcasode cirurgia de laqueadura tubária, a responsabilidade pelo insucesso deve ser apurada mediante culpa,podendo essa ser caracterizada pela ausência de informação de percentual mínimo de insucesso.— Aausência de informação dos riscos e de consentimento do paciente atribui o dever de indenizar aofacultativo.—Sendodefimocontratoparaprestaçãodeserviçomédico—cirurgiadeligaduradetrompas—para efeito de esterilização, e, não havendo prova de que omédico sequer alertara a paciente para opossívelinsucessodacirurgia,aindaqueempercentualmínimo,aobrigaçãodeindenizarapacientepelomédicoémerocoroláriojurídico”(TJMG,númerodoprocesso:0338950-2,órgãojulgador:SextaCâmaraCível,datadojulgamento:11-4-2002,Rel.JuizBelizáriodeLacerda).

384“Médicosindenizarãomulherpordaremesperançasdecura

Dois médicos paulistas terão de pagar uma indenização a uma paciente por terem dado a ela falsasesperançasdecura.Comadecisãoda4.ªTurmadoSuperiorTribunaldeJustiça(STJ),M.B.F.vaireceberR$147milcomoreparaçãopordanosmateriaisemorais.

Elapropôs açãode indenização contraosdoismédicosque a atenderamdepoisde realizarumacirurgiaconsiderada inócua. M.B.F. perdeu a visão em 1980. Depois de consultar vários especialistas que adesenganaram,passouasertratadaporS.T.G.quelheincentivouarealizarumtratamento.ApacientefoiconvencidaasesubmeteraumacirurgianosolhosrealizadapelomédicoA.G.F.

Apesardaoperação,avisãonãofoirecuperada.Napetiçãoinicial,aautoradaaçãodizquefoiludibriadapelosmédicos,emumsupostoconluio.Iludidacomaperspectivadecura,elavendeuimóveiseveículospara custear as despesas de tratamento médico. Mas tudo teria sido em vão. Por isso, ela pediu umaindenizaçãonovalordeR$500mil.

Em1.ª instância,o juizconcluiuqueosdoismédicosforamnegligentese imprudenteseoscondenouao

Page 573: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

pagamentodosdanosmateriais,naquantiagastapelapacientecomotratamentoeacirurgia(R$67.054),edanomoralnovalorequivalentea100saláriosmínimos,ouR$20mil.Aautoradaaçãoeosegundoréu(omédicoquerealizouacirurgia)apelaramnoTribunaldeAlçadaCivildeSãoPaulo(AgênciaBrasil).

385 Em atenção à acentuada carga de solidarismo social que a atuação médica contém, já tivemosoportunidade de anotar, em nosso volume I, que consideramos espúria e imoral a exigência do “chequecaução”ouaassinaturadefiança,comocondiçãosinequaparaoatendimentomédicodeemergência:“Nãohácomonãosereconheceraocorrênciadestevícionoatodegarantia(prestaçãodefiançaouemissãodecambial)prestadopeloindivíduoquepretendainternar,emcaráterdeurgência,umparenteseuouamigopróximoemdeterminadaUnidadedeTerapiaIntensiva,esevêdiantedacondiçãoimpostapeladiretoriadohospital,nosentidodequeoatendimentoemergencialsóépossívelapósaconstituiçãoimediatadegarantiacambialoufidejussória.

Éperfeita a incidência danorma: premidodanecessidadede salvar pessoapróxima, deperigodegravedanoconhecidodaoutraparte,odeclaranteassumeobrigaçãoexcessivamenteonerosa.

Nãosepretendejustificarotratamentoclínicoemhospitalparticulardepessoadesprovidaderecursos.

Entretanto, a prestação de serviços médicos emergenciais é obrigação, não apenas jurídica, masprincipalmentemoral,decorrentedosublimejuramentodeHipócrates.Prestadooserviçoemergencial,queseprovidencieatransferênciadopacienteparaumhospitaldaredepública.Eparaestetipodeatendimentodeemergência,qualquerexigência impostacomocondição sinequanon para a pronta atuaçãomédica édescabida,podendo,inclusive,gerararesponsabilizaçãocriminaldosenvolvidos”.

386 Constituição Federal de 1988: “Art. 5.º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquernatureza,garantindo-seaosbrasileiroseaosestrangeiros residentesnoPaísa inviolabilidadedodireitoàvida,àliberdade,àigualdade,àsegurançaeàpropriedade,nostermosseguintes:(...)VI—éinviolávelaliberdadedeconsciênciaedecrença,sendoasseguradoolivreexercíciodoscultosreligiososegarantida,naformadalei,aproteçãoaoslocaisdecultoeasuasliturgias”.

387 Sobre o tema, na ótica da proteção dos Direitos da Personalidade, confira-se, inclusive, o capítuloprópriodovolumeI(“ParteGeral”)destaobra.

388 “Cautelar. Transfusão de sangue. Testemunhas de Jeová. Não cabe ao Poder Judiciário, no sistemajurídico brasileiro, autorizar ou ordenar tratamentos médico-cirúrgicos e/ou hospitalares, salvo casosexcepcionalíssimose salvoquandoenvolvidosos interessesdemenores.Se iminenteoperigodevida, édireito e dever do médico empregar todos os tratamentos, inclusive cirúrgicos, para salvar o paciente,mesmocontra a vontadedeste, e de seus familiares edequemquerque seja, aindaque aoposição sejaditada pormotivos religiosos. Importa aomédico e ao hospital demonstrar que utilizaram a ciência e atécnicaapoiadasemsérialiteraturamédica,mesmoquehajadivergênciasquantoaomelhortratamento.OJudiciárionãoserveparadiminuirosriscosdaprofissãomédicaoudaatividadehospitalar.Setransfusãode

Page 574: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

sanguefortidacomoimprescindível,conformesólidaliteraturamédico-científica(nãoimportandonaturaisdivergências), deve ser concretizada, se para salvar a vida do paciente, mesmo contra a vontade dastestemunhasdeJeová,masdesdequehajaurgênciaeperigo iminentedevida(art.146,par.3, inc. I,doCódigoPenal).Casoconcretoemquenãoseverificavatalurgência.Odireitoàvidaantecedeodireitoaliberdade,aqui incluídaa liberdadede religião.É faláciaargumentarcomosquemorrempela liberdade,pois,aísetratadecontextofáticototalmentediverso.Nãoconstaquemortopossaserlivreoulutarporsualiberdade.Háprincípios gerais de ética e de direito, que aliás norteiam aCarta dasNaçõesUnidas, queprecisam se sobrepor às especificidades culturais e religiosas; sob pena de se homologarem as maioresbrutalidades; entre eles estão os princípios que resguardamos direitos fundamentais relacionados com avidaeadignidadehumanas.Religiõesdevempreservaravidaenãoexterminá-la”(TribunaldeJustiçadoRioGrandedoSul,Ap.Cível595000373,6.ªCâmaraCível,Rel.Des.SérgioGischkowPereira, j.28-3-1995).

389 “Indenizatória — Reparação de danos— Testemunha de Jeová— Recebimento de transfusão desanguequandodesuainternação—Convicçõesreligiosasquenãopodemprevalecerperanteobemmaiortutelado pelaConstituição Federal que é a vida—Conduta dosmédicos, por outro lado, que pautou-sedentroda lei e éticaprofissional,postoque somenteefetuaramas transfusões sanguíneasapósesgotadostodos os tratamentos alternativos — Inexistência, ademais, de recusa expressa a receber transfusão desangue quando da internação da autora — Ressarcimento, por outro lado, de despesas efetuadas comexamesmédicos,entreoutras,quenãomereceacolhido,postonãoteremsidoosvaloresdespendidospelaapelante—Recursonãoprovido” (TJSP,Ap.Cível 123.430-4-Sorocaba, 3.ªCâmaradeDireitoPrivado,Rel.FlávioPinheiro,j.7-5-2002,v.u.).

390 O vigente Código de Ética Médica, do Conselho Federal de Medicina, é a Resolução CFM n.1.931/2009(publicadanoDOUde24-9-2009,SeçãoI,p.90,comretificaçãopublicadanoDOUde13-10-2009,SeçãoI,p.173,tendoentradoemvigorem13-4-2010).

Da mesma forma que a norma anterior (Resolução n. 1.246/88, de 8-1-1988, do Conselho Federal deMedicina,publicadanoDiárioOficialdaUnião,de26-1-1988),trazumcapítuloprópriosobreaRelaçãodoProfissionalcomPacienteseFamiliares,emqueestabeleceasseguintesproibições:

“Évedadoaomédico:

Art. 31. Desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante legal de decidir livremente sobre aexecuçãodepráticasdiagnósticasouterapêuticas,salvoemcasodeiminenteriscodemorte.

Art. 32. Deixar de usar todos os meios disponíveis de diagnóstico e tratamento, cientificamentereconhecidoseaseualcance,emfavordopaciente.

Art. 33. Deixar de atender paciente que procure seus cuidados profissionais em casos de urgência ouemergência,quandonãohajaoutromédicoouserviçomédicoemcondiçõesdefazê-lo.

Page 575: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Art.34.Deixardeinformaraopacienteodiagnóstico,oprognóstico,osriscoseosobjetivosdotratamento,salvoquandoacomunicaçãodiretapossalheprovocardano,devendo,nessecaso,fazeracomunicaçãoaseurepresentantelegal.

Art.35.Exageraragravidadedodiagnósticooudoprognóstico,complicaraterapêuticaouexceder-senonúmerodevisitas,consultasouquaisqueroutrosprocedimentosmédicos.

Art.36.Abandonarpacientesobseuscuidados.

§1.ºOcorrendo fatosque, a seucritério,prejudiquemobomrelacionamentocomopacienteouoplenodesempenho profissional, o médico tem o direito de renunciar ao atendimento, desde que comuniquepreviamente ao paciente ou a seu representante legal, assegurando-se da continuidade dos cuidados efornecendotodasasinformaçõesnecessáriasaomédicoquelhesuceder.

§2.ºSalvopormotivojusto,comunicadoaopacienteouaosseusfamiliares,omédiconãoabandonaráopaciente por ser este portador demoléstia crônica ou incurável e continuará a assisti-lo ainda que paracuidadospaliativos.

Art.37.Prescrevertratamentoououtrosprocedimentossemexamediretodopaciente,salvoemcasosdeurgência ou emergência e impossibilidade comprovada de realizá-lo, devendo, nesse caso, fazê-loimediatamenteapóscessaroimpedimento.

Parágrafoúnico.Oatendimentomédicoadistância,nosmoldesdatelemedicinaoudeoutrométodo,dar-se-ásobregulamentaçãodoConselhoFederaldeMedicina.

Art.38.Desrespeitaropudordequalquerpessoasobseuscuidadosprofissionais.

Art. 39 Opor-se à realização de junta médica ou segunda opinião solicitada pelo paciente ou por seurepresentantelegal.

Art. 40. Aproveitar-se de situações decorrentes da relação médico-paciente para obter vantagem física,emocional,financeiraoudequalqueroutranatureza.

Art.41.Abreviaravidadopaciente,aindaqueapedidodesteoudeseurepresentantelegal.

Parágrafo único. Nos casos de doença incurável e terminal, deve o médico oferecer todos os cuidadospaliativos disponíveis sem empreender ações diagnósticas ou terapêuticas inúteis ou obstinadas, levandosempreemconsideraçãoavontadeexpressadopacienteou,nasuaimpossibilidade,adeseurepresentantelegal.

Art. 42. Desrespeitar o direito do paciente de decidir livremente sobre método contraceptivo, devendosempreesclarecê-losobreindicação,segurança,reversibilidadeeriscodecadamétodo”.

391“Responsabilidadecivil—Cirurgia—Consentimento—agravidadedoestadodesaúdedopaciente,verificadana sala deoperações, liberaomédicodo consentimentodos interessadospara a realizaçãode

Page 576: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

umasegunda intervençãocirúrgica” (TJMG,Processo191936-8,5.ªCâmaraCível, j.6-4-1995,Rel. JuizLopesdeAlbuquerque).

392Areferência,aqui,éàConstituiçãoFederalde1969.

393Estaseoutrasnormaspodemseracessadasnositehttp://portal.cfm.org.br,aoqualremetemosoamigoleitor.

394NoEstado daBahia, aCorregedoria-Geral doTribunal de Justiçamantém, em permanente plantão,juízescorregedorespara,dentreoutrasatribuições,cuidaremdecasosdessanatureza.

395MariaHelenaDiniz,CursodeDireitoCivilBrasileiro—ResponsabilidadeCivil,16.ed.,SãoPaulo:Saraiva,2002,v.7,p.257.

396“Responsabilidadecivil.Indenizaçãoepensão.Hospitalfilantrópico.Ofatodeserentidadefilantrópicanãoisentaaresponsabilidadedeatenderaodeverde informaçãoederesponsabilizar-sepelafaltadeseumédico,quedeixoudeinformarapacientedosriscoscirúrgicos,dosquaisresultouaperdadasuavisãoporconsequênciadaintervenção”(STJ,REsp467.878-RJ,Rel.Min.RuyRosado,j.5-12-2002).

397“Responsabilidade.Dano.Plano.Saúde.Aempresaqueexploraplanodesaúdeedentistasconveniadosrespondecivilmentepelodanocausadopelosprofissionais credenciadosouautorizados, facultando-lheodireitoderegressocontraaquelesquediretamenteprestaramosserviçosdefeituosos.Precedentescitados:REsp138.059-MG,DJ11/6/2001,eREsp164.084-SP,DJ17/4/2000”(STJ,REsp328.309-RJ,Rel.Min.AldirPassarinhoJunior,j.8-10-2002).

398 Camila Lemos Azi, Responsabilidade Civil por Erro Médico no Direito Brasileiro, monografiaapresentada no Curso de Graduação em Direito da UNIFACS— Universidade Salvador, Salvador/BA,2000,p.88-89.

399 CC/1916: “Art. 1.545. Os médicos, cirurgiões, farmacêuticos, parteiras e dentistas são obrigados asatisfazer o dano, sempre que da imprudência, negligência, ou imperícia, em atos profissionais, resultarmorte,inabilitaçãodeservir,ouferimento”.

400SílviodeSalvoVenosa,DireitoCivil—ResponsabilidadeCivil,3.ed.,SãoPaulo:Atlas,2003,v.3,p.108.

401SílviodeSalvoVenosa,ob.cit.,p.176.

402SérgioNovaisDias,ResponsabilidadeCivildoAdvogadopelaPerdadeumaChance,SãoPaulo:LTr,1999,p.94.

403“Art.142.Nãoconstitueminjúriaoudifamaçãopunível:

I—aofensairrogadaemjuízo,nadiscussãodacausa,pelaparteouporseuprocurador;

II—aopiniãodesfavoráveldacríticaliterária,artísticaoucientífica,salvoquandoinequívocaaintenção

Page 577: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

deinjuriaroudifamar;

III—oconceitodesfavorávelemitidoporfuncionáriopúblico,emapreciaçãoouinformaçãoqueprestenocumprimentodedeverdeofício.

Parágrafoúnico.Noscasosdosn.IeIII,respondepelainjúriaoupeladifamaçãoquemlhedápublicidade.”

404ValedestacarqueoSTF,naADI1.127,declarouainconstitucionalidadedaexpressão“oudesacato”.

405“Danoinexistente—Grosseriadeadvogadoempetiçãonãogeradanosmorais

A Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça livrou o advogado Luiz Paulo de Barros Correia deindenizar o juiz Carlos Augusto Borges por danos morais. A Turma, por unanimidade, entendeu queexpressões grosseiras e arrogantes escritas em petição para criticar atuação do juiz não necessariamenteferemahonradeumapessoaapontodesercaracterizadodanomoralpassíveldeindenização.

OSTJrejeitourecursodojuizquealegoutersidoofendidoemumapetiçãoelaboradaporLuizPaulo,nocursodeumaaçãopopular.LuizPauloeraoadvogadodeumadaspartes.

No texto da petição, o advogado afirmou que o juiz não teria ‘razoável bom-senso’ e nem suficienteconhecimento jurídico para julgar a causa sob sua responsabilidade. Palavras como ‘equivocado’,‘despreparo’,entreoutras,tambémforamutilizadaspeloadvogado.

Emprimeirainstância,oadvogadofoicondenadoapagarumaindenizaçãopordanosmoraisequivalentea15vezesosaláriobrutodoautordaação.LuizPaulorecorreueconseguiureverteradecisãoemsegundainstância.

OsdesembargadoresdoTribunaldeJustiçadoRiodeJaneiroentenderamqueodanomoralnãohaviasidocaracterizado, pois ‘simples constrangimentos oudissabores, normais na vida comum,não configuramodanomoralindenizável’.

Inconformado,o juiz recorreuaoSTJ.Reafirmoua tesedaofensadahonraedacabida indenizaçãopordanosmorais.Entretanto,orelatordoprocesso,ministroSálviodeFigueiredoTeixeira,manteveadecisãodo TJ-RJ. Para o ministro, o advogado ‘revelou-se grosseiro e presunçoso’, mas não provocou danosmorais.

‘Nocasodosautos,acreditoqueasexpressõesutilizadaspeloadvogado,apesardegrosseirasecontráriasaodeverdeurbanidade,nãochegamaensejaroreconhecimentododanomoral’,disseSálvioTeixeira.

OrelatortranscreveuumacitaçãodoministroCesarAsforRochasobreotema:‘Meroreceiooudissabornãopodeseralçadoaopatamardodanomoral,massomenteaquelaagressãoqueexacerbaanaturalidadedosfatosdavida,causandofundadasafliçõesouangústiasnoespíritodequemelasedirige’”(Processo:REsp438.734).

406RuiStoco,TratadodeResponsabilidadeCivil,5.ed.,SãoPaulo:RevistadosTribunais,2001,p.364.

Page 578: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

407 Apud Orlando Gomes; Elson Gottschalk, Curso de Direito do Trabalho, 13. ed., Rio de Janeiro:Forense,1994,p.146.

408 JoséAugustoRodrigues Pinto;Rodolfo Pamplona Filho,Repertório de Conceitos Trabalhistas, SãoPaulo:LTr,2000,p.157.

409“Doméstico.Faxineira.Diarista.ALein.5.859de1972,quedispõesobreaprofissãodeempregadodoméstico,oconceituacomo‘aquelequeprestaserviçosdenaturezacontínuaedefinalidadenãolucrativaàpessoaouà família,noâmbito residencialdestas’.Verifica-sequeumdospressupostosdoconceitodeempregadodomésticoéacontinuidade,inconfundívelcomanãoeventualidadeexigidacomoelementodarelaçãojurídicaadvindadocontratodeempregofirmadoentreempregadoeempregadorregidospelaCLT.Continuidadepressupõeausênciadeinterrupção(cf.AurélioBuarquedeHolanda—NovoDicionáriodaLínguaPortuguesa—2.ed.),enquantoanãoeventualidadesevinculacomoserviçoqueseinserenosfinsnormaisdaatividadedaempresa.‘Nãoéotempoemsiquedeslocaaprestaçãodetrabalhodeefetivoparaeventual,masopróprionexodaprestaçãodesenvolvidapelotrabalhador,comaatividadedaempresa.’(cf.PauloEmílioRibeirodeVilhena,RelaçãodeEmprego:pressupostos,autonomiaeeventualidade).Logo,seotemponãocaracterizaanãoeventualidade,omesmonãosepoderádizernotocanteàcontinuidade,porprovocarelea interrupção.Dessa forma,nãoédomésticaa faxineirade residênciaque lácompareceemalgunsdiasdasemana,porfaltarnarelaçãojurídicaoelementocontinuidade”.(Ac.unânimeda2.ªTurmado TRT, 3.ª Região, RO 9.829/91 — Rel. Juíza Alice Monteiro de Barros). Para um estudo maisaprofundadodotema,recomendamosaleituradonossoDireitodoTrabalhoDoméstico(2.ed.,SãoPaulo:LTr,2001).

410“Valedestacarqueos trabalhadoresavulsoseeventuais são considerados, por alguns autores,merassubespéciesdesubordinados,identificadospelotraçocomumdasubordinaçãodesuaenergiapeloterceiroaquemaproveitaráoresultado,diferenciando-se,entresi,porqueaatividadeexigidadoavulsocoincide,emregra,comaatividade-fimdotomador,oquenãoacontecenotrabalhoeventual”(JoséAugustoRodriguesPintoeRodolfoPamplonaFilho,ob.cit.,p.503-504).

411“Ademais, influenciadopeloconceitoeconômicodeempresa,quesemprepressupõeaatividadecomfinalidade lucrativa, criou o legislador uma desnecessária e aberrante figura jurídica: o empregador porequiparação.

De fato, dispõe o § 1.º do art. 2.º daCLT: ‘Equiparam-se ao empregador, para os efeitos exclusivos darelaçãodeemprego,osprofissionaisliberais,asinstituiçõesdebeneficência,asassociaçõesrecreativasououtrasinstituiçõessemfinslucrativos,queadmitiremtrabalhadorescomoempregados’.

Ora, tal dispositivo é de uma redundância inacreditável! Se empresas ‘admitirem trabalhadores comoempregados’, nãohá como se imaginar que sejamoutra coisa senão empregadores!Anecessidade destedispositivo somente seexplicaporestaevidente influênciadeconceitoseconômicosnaconcretizaçãoda

Page 579: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

legislaçãotrabalhistanacional.

Muitomaistécnicoseriaquesefundissemocaputeo§1.ºdoart.2.º,paraconsiderarempregadoraqueleque,emvezdeassumirosriscosdaatividadeeconômica,assumisseosriscoseconômicosdaatividade,oqueabarcariatodosos‘empregadoresporequiparação’,inclusiveoEstado”(JoséAugustoRodriguesPintoeRodolfoPamplonaFilho,ob.cit.,p.232).

412Sobreotema,confira-seoCapítuloXI(“ResponsabilidadeCivilporAtodeTerceiro”).

413 “Responsabilidade civil.Acidente do trabalho.Empregador. Perda doolho esquerdo.Brincadeira deestilingue durante o almoço. Pensionamento. Dano moral. 1) Ato ilícito: empregado atingido no olhoesquerdo, durante o horário do almoço no estabelecimento industrial, por bucha de papelão atirada comestilinguefeitocomaborrachadeluva.Perdadavisãodoolhoesquerdo.2)Culpadaempresademandada:presençadaculpadaempresarequerida‘invigilando’(faltadecontroledosfuncionáriosàsuadisposição)e‘in omittendo’ (omissão nos cuidados devidos). 3) Culpa concorrente da vítima: não reconhecimento daculpa concorrente da vítima no caso concreto. 4) Pensionamento: redução da capacidade laborativacaracterizadapelanecessidadededispêndiodemaioresforço,emfunçãodavisãomonocular(art.1.539doCC).Fixaçãodopercentualdapensãocombasenaperíciadodmj(30%)aincidirsobrearemuneraçãodoempregadoacidentadonadatadaocorrênciadoacidente.Reduçãodovalorarbitradonasentença.5)Danomoral: caracterização do dano moral pela grave ofensa à integridade física do empregado acidentado.Manutenção do valor da indenização arbitrado na sentença, que abrangeu os danos morais e estéticos.Sentençadeprocedênciamodificada.Apelaçãoparcialmenteprovida”(TribunaldeJustiçadoRioGrandedoSul,ApelaçãoCível70003335924,9.ªCâmaraCível,Rel.Des.PaulodeTarsoVieiraSanseverino,j.12-12-2001).

414 Referimo-nos ao Capítulo XI (“Responsabilidade Civil por Ato de Terceiro”), tópico 5(“Responsabilidade Civil do Empregador ou Comitente pelos Atos dos seus Empregados, Serviçais ouPrepostos”).

415ManoelAntonioTeixeiraFilho,Litisconsórcio,AssistênciaeIntervençãodeTerceirosnoProcessodoTrabalho,2.ed.,SãoPaulo:LTr,1993,p.196.

416Sobreotema,confira-seRodolfoPamplonaFilho,AssédioSexualnaRelaçãodeEmprego,SãoPaulo:LTr,2001.

417Confira-se,apropósito,oCapítuloXIII(“ResponsabilidadeCivildoEstado”).

418AntônioLagoJúnior,AResponsabilidadeCivildecorrentedoAcidentedeTrabalho,inAdroaldoLeão;RodolfoMárioVeigaPamplonaFilho(coords.),ResponsabilidadeCivil,RiodeJaneiro:Forense,2001,p.54-55.

419“Responsabilidadecivil—Açãoindenizatória—Danomoralematerial—Acidentenotrabalho—Mortedavítimaarrimodefamília—Culpaineligendoeinvigilando—Direitoressarcitório—Recursos

Page 580: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

conhecidos,maioria,eimprovidos,unânime.1—Opreparodecustasdaapelaçãodeveserobedienteaocomandodoart.511,doCPC,i.e.,simultâneocomainterposiçãodorecurso.Alimitaçãodoconsumodeenergia elétrica, levada a efeito pelo governo, fez mudança no hábito de vida, inclusive, no horário deexpedienteaopúbliconosestabelecimentosbancários,assim,o‘apagão’écausaquejustifica,emprincípio,oretardoparaodiaseguintedopreparodecustasdorecurso.Oapelo,portanto,deveserconhecido.2—Amortedefilhode19anosde idade,vítimadedesabamentonaobraemque trabalhava,comooperário,écausa remota próxima a justificar o ressarcir pelo danomoral e também o danomaterial, desde quandoarrimo de família. 3 — Estão legitimados solidariamente no polo passivo da causa o empreiteiroresponsávelpelaobrae,também,oproprietáriodaedificação,estepelaculpaineligendoaocontratarcomquemdescumpreasleisdotrabalho,i.e.,empresairregular.4—Adoreosofrimentopelaperdadeumentequeridosãoinimagináveiseestarealidadeéconsiderada,apardoutrospormenores,pelojulgador;assim,adecisão cônscia nesse seguir, há de ser homenageada” (TJDF,ApelaçãoCivel 19980910035585/DF,Ac.151998,j.29-10-2001,1.ªTurmaCível,Rel.EduardodeMoraesOliveira,DJU,2-5-2002,p.100).

“Civil.Responsabilidadecivil.Acidentedotrabalho.Menordeidade.Omenordeidadequeseacidentanocursodajornada,manejandomáquinaemquenãoestavahabilitadoatrabalhar, temdireitoàindenizaçãodos danosmorais emateriais sofridos; responsabilidade que resulta, nomínimo, da própria omissão dodever de vigilância, imputável ao empregador, que não se desobrigaria ainda quando o menor tivessesubstituído espontaneamente o colega encarregado da tarefa perigosa. Recurso especial conhecido eprovido”(STJ,REsp435.394/PR;REsp2002/0059632-2,DJ,16-12-2002,320,Rel.Min.AriPargendler,j.12-11-2002,3.ªTurma).

“Acidenteaéreo.Responsabilidade.Empregador.Trata-sedeindenizaçãocontrabancoemrazãodamortedoempregadoemacidenteaéreonodesempenhodesuasfunções,fatoqueconfigurouacidentedetrabalho.Obancocontestou,arguiusuailegitimidadepassivaedenuncioualideàtransportadoraaérea.OTribunalaquo negou provimento ao pedido. A Turma deu provimento ao recurso do banco, afirmando que oempregador pode ser responsabilizado pela indenização devida pela morte de seu empregado quando aserviço,porémdesdequedemonstradaaculpadoempregadorpelaocorrênciadoevento,sejapelaescolhadoprocedimento,davia, domeiode transporte, da empresa transportadora, daocasião etc.” (STJ,REsp443.359-PB,Rel.Min.RuyRosado,j.3-10-2002).

420Aposição esposadaneste capítulo, após intenso e fraternal debate entreos autores, converge comatendênciaquedeveráprevalecer,nospróximosanos,emnossoDireito.Registramos,porém,porumdeverde honestidade intelectual, que tal posicionamento decorre desta clara tendência de objetivização daresponsabilidade civil que se verifica no nosso ordenamento jurídico, não obstante, do ponto de vistapessoal, haja divergência entre os próprios autores deste livro, uma vez que Pablo Stolze Gaglianopropugna,nocaso,pelateoriasubjetivistaeRodolfoPamplonaFilho,pelaresponsabilidadecivilobjetiva.

421O Tribunal Superior do Trabalho, de sua parte, já apresenta precedentes para o reconhecimento daresponsabilidadecivilobjetivadoempregadornoacidentedotrabalho:

Page 581: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

“Recurso de revista. Acidente do trabalho.Motoboy. Danomoral e estético. Responsabilidade objetiva.Teoriadoriscodaatividade.1.Teseregional,fulcradanaexegesedosartigos2.ºdaCLTe927,parágrafoúnico,doCódigoCivil,aafirmararesponsabilidadeobjetiva,nasatividadesemqueumdoscontratantesexponha o outro a risco, bemcomo a assunção, pelo empregador, dos riscos da atividade econômica. 2.PrevalecendonestaCortecompreensãomaisamplaacercadaexegesedanormacontidanocaputdoart.7.ºdaConstituiçãodaRepública,revela-seplenamenteadmissívelaaplicaçãodaresponsabilidadeobjetivaàespécie,vistoqueoacidenteautomobilísticodequefoivítimaotrabalhador—quelaboravanafunçãodemotoboy — ocorreu no exercício e em decorrência da atividade desempenhada para a reclamada,notadamente considerada de risco. Precedentes. 3. Inviolados os arts. 7.º, XXVIII, da Constituição daRepública,e186e927doCódigoCivil.Inespecíficooarestoparadigmacoligido.AplicaçãodasSúmulas23e296doTST.Recursoderevistanãoconhecido”(TST,3.ªTurma,��RecursodeRevistan.TST-RR-59300-11.2005.5.15.0086,3-8-2011,Min.Rel.RosaMariaWeberCandiotadaRosa).

“Embargos em recurso de revista. Acórdão publicado na vigência da Lei n. 11.496/2007. Dano moral.AcórdãodoTRTqueregistraaexistênciadenexodecausalidade.1.ACF,nocaputdoartigo7.º,XXVIII,refere que a responsabilidade do empregador será subjetiva. No entanto, a mesma Constituição Federalconsagrouoprincípiodadignidadedapessoahumana, segundooqual ‘aspessoasdeveriamser tratadascomoumfimemsimesmas,enãocomoummeio(objetos)’(ImmanuelKant).Nessecontexto,conclui-seque a regra prevista no artigo 7.º, XXVIII, daCF, deve ser interpretada de forma sistêmica aos demaisdireitosfundamentais.Acrescente-sequeosdireitoselencadosnoartigo7.º,XXVIII,daCF,sãomínimos,nãoexcluindooutrosque‘visemàmelhoriadesuacondiçãosocial’.Logo,oroldoartigo7.º,XXVIII,daCF,nãoéexaustivo.2.Umavezdemonstradoqueodanoocorreupelanaturezadasatividadesdaempresa,ou seja, naquelas situações em que o dano é potencialmente esperado, não há como negar aresponsabilidade objetiva do empregador. 3.Nesse sentido, emSessão do dia 4-11-2010, ao examinar oProcesson.TST-9951600-43.2006.5.09.0664,estaSBDI-1/TSTdecidiuquea responsabilidadeéobjetivaem caso de acidente em trabalho de risco acentuado. Recurso de embargos conhecido por divergênciajurisprudencial e provido” (Processo: E-ED-RR— 9951600-43.2006.5.09.0664, j. 10-2-2011, Rel.Min.Horácio Raymundo de Senna Pires, Subseção I Especializada emDissídios Individuais, DEJT de 11-3-2011).

“Recurso de revista. Acidente de trabalho. Dano moral. Indenização e pensão. A caracterização deresponsabilidade objetiva depende do enquadramento técnico da atividade empreendida como sendoperigosa. Artigo 927, parágrafo único, do Código Civil. Motorista de viagem. 1.1. Condenação aopagamentode indenizaçãopordanomoraledepensãomensal,baseadanaaplicaçãodaresponsabilidadeobjetiva, pressupõe o enquadramento técnico da atividade empreendida como sendo perigosa. 1.2. Osmotoristasprofissionais,aplicadosaotransporterodoviárioenfrentam,cotidianamente,grandesriscoscomafaltadeestruturadamalharodoviáriabrasileira.Operigodeacidenteséconstante,namedidaemqueotrabalhadorsesubmete,sempre,afatoresderiscosuperioresàquelesaqueestãosujeitosohomemmédio.

Page 582: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Nessecontexto,revela-seinafastáveloenquadramentodaatividadedemotoristadeviagemcomoderisco,oqueautorizaodeferimentodostítulospostuladoscomarrimonaaplicaçãodaresponsabilidadeobjetivaprevista no Código Civil. Recurso de revista conhecido e provido” (Processo: RR — 148100-16.2009.5.12.0035,j.16-2-2011,Rel.Min.AlbertoLuizBrescianideFontanPereira,3.ªTurma,DEJT25-2-2011).

“Indenização por danos morais. Acidente do trabalho. Atividade de risco. Teoria objetivada.Responsabilidade. O Regional constatou que o reclamante exercia a função de motorista de caminhãocaçamba,eque,diantedotravamentodatampadacaçamba,houveanecessidadedeoperaroequipamentomanualmente,oportunidadeemqueoreclamantesofreuo típicoacidentedotrabalho,ficandocomoseudedopreso entre a trava e a caçamba.Assim,havendooRegional concluídoque aprovaproduzidanosautosdemonstraaexistênciadodanosofridopeloautor(perdadodedomédiodesuamãoesquerda)eonexocausalcomasatividadesporeledesempenhadas,nãoháafastararesponsabilidadedareclamadapeloeventodanoso.Oartigo927,parágrafoúnico,doCódigoCivilde2002,c/coparágrafoúnicodoartigo8.ºdaCLT,autorizaaaplicação,noâmbitodoDireitodoTrabalho,dateoriadaresponsabilidadeobjetivadoempregador,noscasosdeacidentedetrabalhoquandoasatividadesexercidaspeloempregadosãoderisco,conforme é o caso em análise. Recurso de revista conhecido e provido” (Processo: RR — 185300-18.2005.5.18.0007,j.17-11-2010,Rel.Min.JoséRobertoFreirePimenta,2.ªTurma,DEJTde26-11-2010).

“Recurso de revista. Acidente de trabalho. Responsabilidade objetiva do empregador. Motorista decaminhão.Teoriadoriscodaatividade.Exegesequeseextraidocaputdoartigo7.ºdaCFc/cosartigos2.ºdaCLTe927,parágrafoúnico,doCC.EstaCortetementendidoqueoartigo7.º,XXVIII,daConstituiçãoFederal,aoconsagrarateoriadaresponsabilidadesubjetiva,pordoloouculpadoempregador,nãoobstaaaplicação da teoria da responsabilidade objetiva às lides trabalhistas, mormente quando a atividadedesenvolvidapeloempregadorpressupõeaexistênciaderiscopotencialàintegridadefísicaepsíquicadotrabalhador e o acidente ocorreu na vigência do novo Código Civil. Efetivamente, o artigo 7.º daConstituiçãodaRepública,aoelencaroroldedireitosmínimosasseguradosaostrabalhadores,nãoexcluiapossibilidadedequeoutrosvenhamaserreconhecidospeloordenamentojurídicoinfraconstitucional,tendoemmiraqueoprópriocaputdomencionadoartigoautorizaaointérpreteaidentificaçãodeoutrosdireitos,comoobjetivodamelhoriadacondiçãosocialdotrabalhador.Deoutraparte,ateoriadoriscodaatividadeempresarialsempreestevecontempladanoartigo2.ºdaCLT,eoCódigoCivilde2002,noparágrafoúnicodoartigo927,reconheceu,expressamente,aresponsabilidadeobjetivaparaareparaçãododanocausadoaterceiros.Nocasodosautos,nãohádúvidaquantoaoriscoimanenteàatividadeempresarialdotransportedecana-de-açúcar,eoreclamante,nacondiçãodemotorista,sofreuacidentedetrabalhoqueocasionou-lheaamputaçãodoseumembroinferiordireito,sendodevidaareparaçãocorrespondente,emrazãodosdanosmoraisemateriais.Recursoderevistanãoconhecido”(Processo:RR—114400-47.2005.5.15.0054,j.15-9-2010,Rel.Min.DoraMariadaCosta,8.ªTurma,DEJTde17-9-2010).

“Recurso de revista. Acidente do trabalho. Motorista de caminhão. Incapacidade permanente para o

Page 583: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

trabalho. Responsabilidade civil do empregador. A regra geral do ordenamento jurídico, no tocante àresponsabilidadecivildoautordodano,mantém-secomanoçãodaresponsabilidadesubjetiva(arts.186e927,caput,CC).Noplanodasrelaçõesdetrabalho,aresponsabilidadesubjetivadoempregadortemassentoinclusive constitucional (art. 7.º, XXVIII, CF). Contudo, tratando-se de atividade empresarial, ou dedinâmica laborativa (independentemente da atividade da empresa), fixadoras de risco especialmenteacentuadoparaostrabalhadoresenvolvidos,despontaaexceçãoressaltadapeloparágrafoúnicodoart.927doCC,tornandoobjetivaaresponsabilidadeempresarialpordanosacidentários(responsabilidadeemfacedorisco).Nestahipóteseexcepcional,aregraobjetivadoradoCódigoCiviltambémseaplicaaoDireitodoTrabalhoumavezqueaCartaMagnamanifestamenteadotanomesmocenárionormativooprincípiodanormamais favorável (art. 7.º, caput: ‘... alémdeoutrosquevisemàmelhoriade suacondição social’),permitindoaincidênciaderegrasinfraconstitucionaisqueaperfeiçoemacondiçãosocialdostrabalhadores.Recursoderevistaconhecidoeparcialmenteprovido”(Processo:RR—197700-51.2005.5.04.0202,j.20-4-2010,Rel.Min.MauricioGodinhoDelgado,6.ªTurma,DEJTde30-4-2010).

“Danomoral.Acidentedotrabalho.Riscoinerenteàatividade.Responsabilidadeobjetiva.Aatividadedetransportedevaloresemcarroforteé,pelasuanatureza,indubitavelmenteumaatividadederiscoacentuadoe, de acordo com o art. 2.º da CLT, os riscos da atividade econômica devem ser suportados peloempregador. Saliente-se que, embora o art. 7.º, inc. XXVIII, da Constituição da República estabeleça aobrigação do empregador, quando incorrer em dolo ou culpa, de indenizar o empregado em razão deacidente de trabalho, o caput desse dispositivo ressalta que os direitos ali previstos não o são de formataxativa, ao dispor ‘além de outros que visem àmelhoria de sua condição social’.Dessa forma, não háimpedimento constitucional para a incidência do art. 927 do Código Civil, que no seu parágrafo únicodispõe:‘Haveráobrigaçãoderepararodano,independentementedeculpa,noscasosespecificadosemlei,ouquandoaatividadenormalmentedesenvolvidapeloautordodanoimplicar,porsuanatureza,riscoparaosdireitosdeoutrem’.Dessaforma,revela-seobjetivaaresponsabilidadedoempregadorquandoháriscoinerenteàsuaatividade.RecursodeEmbargosdequeseconheceeaquesedáprovimento”(Processo:E-RR — 84700-90.2008.5.03.0139, j. 3-12-2009, Rel. Min. João Batista Brito Pereira, Subseção IEspecializadaemDissídiosIndividuais,DEJTde11-12-2009).

422“Civil—Responsabilidadecivilporfatodeterceiro—Atoilícitopraticadoporempregadoprestadorde serviço de estiva, requisitados por comandante ou armador — Inteligência dos arts. 15 da Lei n.8.630/93,255e261daCLT.I—Daexegesedasnormasdoart.15daLein.8.630/93(responsabilidadepela segurançadonavio)edosarts.255,259e261daCLT(normasdeproteçãoao trabalhador)nãosedessumequeaodonodonavioouprepostosdesteseatribuaculpainvigilandopelosserviçosdeestivaqueserealizemabordodanave,imputandoaoarmadorouaocomandanteresponsabilidade(fatodeterceiro)por ato ilícito, comprovadamente praticada por empregado de empresa prestadora requisitada para taisserviços,empresaessacujaculpa invigilandoremanesce inconteste. II—Recursoconhecidoeprovido”(STJ,REsp67227/SP;REsp1995/0027272-5,Rel.Min.WaldemarZveiter,j.5-5-1998,3.ªTurma).

Page 584: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

423“Art.455.Noscontratosdesubempreitadaresponderáosubempreiteiropelasobrigaçõesderivadasdocontrato de trabalho que celebrar, cabendo, todavia, aos empregados, o direito de reclamação contra oempreiteiroprincipalpeloinadimplementodaquelasobrigaçõesporpartedoprimeiro.

Parágrafoúnico.Aoempreiteiroprincipalficaressalvada,nostermosdaleicivil,açãoregressivacontraosubempreiteiroearetençãodeimportânciasaestedevidas,paraagarantiadasobrigaçõesprevistasnesteartigo.”

424Nestesentido,confiram-seosseguintesacórdãosdoSTJ:

“RESPONSABILIDADE CIVIL. USINA. TRANSPORTE DE TRABALHADORES RURAIS.MOTORISTA PRESTADOR DE SERVIÇO TERCEIRIZADO. VÍNCULO DE PREPOSIÇÃO.RECONHECIMENTO. Para o reconhecimento do vínculo de preposição não é preciso que exista umcontrato típico de trabalho; é suficiente a relação de dependência ou que alguém preste serviço sob ointeresseeocomandodeoutrem.Precedentes.Recursoespecialnãoconhecido” (STJ,REsp304.673-SP(2001/0020414-7),Rel.Min.BarrosMonteiro,j.em25-9-2001,DJ,11-3-2002,p.257).

“RESPONSABILIDADE CIVIL. LEGITIMIDADE DE PARTE. EMPRESA IMOBILIÁRIA QUECONTRATA TRANSPORTADORA PARA CONDUZIR INTERESSADOS ATÉ O LOTEAMENTO.PRECLUSÃO. RELAÇÃO DE PREPOSIÇÃO. 1. Matéria alusiva à legitimidade de parte já decididaanteriormente, estando coberta pela preclusão. 2. O estado de preposição não exige necessariamente apresençadeumcontrato típicode trabalho” (STJ,AgravoRegimentalnoAGn.54.523-7, (94.22148-7),DistritoFederal,Rel.Min.BarrosMonteiro,4.ªTurma,j.em21-3-1995,DJ,22-5-1995,p.14413).

Page 585: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

425AdaPellegriniGrinover,eoutros,CódigoBrasileirodeDefesadoConsumidor,5.ed.,RiodeJaneiro:Forense,1997,p.10-1.

426Nesse sentido,CláudiaLimaMarques eEduardoTurkienicz: “OCódigo deDefesa doConsumidordefine consumidor ‘stricto sensu’ no art. 2.º como ‘toda aquela pessoa física ou jurídica que adquire ouutilizaprodutoouserviçocomodestinatáriofinal’.Tivemosaoportunidadedeafirmarqueestadefiniçãoébastanteobjetiva,masquesuainterpretaçãopodeedeveserfinalística”(CasoTekavs.Aiglon:Emdefesadateoriafinalistadeinterpretaçãodoart.2.ºdoCDC,RevistadeDireitodoConsumidor,n.36,out./dez.2000,p.226).

427JoséGeraldoFilomeno,CódigoBrasileirodeDefesadoConsumidor,p.32.

428Sobreo tema,confira-se tambémoCapítuloV(“ODano”), tópico5(“DanosColetivos,DifusoseaInteressesIndividuaisHomogêneos”).

429 Conforme lembra João Batista de Almeida, “a ação civil coletiva e a ação civil pública não seconfundem.Emborasejam,porvezes,utilizadas indistintamente,umaemlugardaoutra,naverdade,sãoações típicas, distintas, com perfil e procedimento próprios e destinadas à proteção de bens diversos,emborapossuindoalgumasafinidadesemuitasdistinções.Porora,éimportanteressaltarqueaaçãocivilpúblicacriadaem1985,pormeiodaLein.7.347,paraadefesacoletivado‘consumidoredeoutrosbenstutelados’,enquadradosnacategoriade‘direitosouinteressesdifusosoucoletivos’—estes,pordefinição,denatureza transindividual e indivisíveis—,bemcomodos ‘direitos individuais homogêneosde carátersocial,consoantetêmadmitidooSTFeoSTJ.Etambémressaltarqueaaçãocivilcoletiva,criadaem1990,peloCódigodeDefesadoConsumidor,destina-seàdefesacoletivaunicamentedoconsumidor,vítimasousucessores (e não de outros bens tutelados), e é adequada para a defesa dos ‘interesses ou direitosindividuaishomogêneosdeorigemcomum’,divisíveispornatureza,apresentando,dessemodo,campodeutilização bemmais restrito do que o da ação civil pública” (AAçãoCivil Coletiva para aDefesa dosInteressesouDireitosIndividuaisHomogêneos,RevistadeDireitodoConsumidor,n.34,abr./jun.2000,p.89).

430JoséGeraldoFilomeno,ob.cit.,p.36.

431RubensRequião,CursodeDireitoComercial, 23. ed., SãoPaulo: Saraiva, 1998, v. 1, p. 353.Nadaimpede, porém, em nossa opinião— ao contrário, recomendamos a conduta —, que se ajuíze a açãotambémcontraosócio,emlitisconsórciofacultativosucessivo.

432PabloStolzeGagliano;PamplonaFilho,NovoCursodeDireitoCivil—ParteGeral,2.ed.,SãoPaulo:Saraiva,2002,v.1,p.202.

433Aliás,“naversãooriginaldaComissãoEspecialdoConselhoNacionaldaDefesadoConsumidordoMinistériodaJustiça,bemcomonotextofinalaprovadopeloplenáriodoreferidoórgãoextintopeloatualgoverno federal, em todos os momentos se fala em ‘BENS’— termo tal que de resto é inequívoco e

Page 586: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

genérico,exatamentenosentidodeapontarparaoaplicadordoCódigodeDefesadoConsumidorparaos

reaisobjetosdeinteressesnasrelaçõesdeconsumo”(Filomeno,ob.cit.,p.40).

434EstedispositivoposteriormenteseriamodificadopelaEmendaConstitucionaln.40/2003,passandoafigurarcomaseguinteredação:“Art.192.Osistemafinanceironacional,estruturadodeformaapromoverodesenvolvimentoequilibradodoPaíseaserviraosinteressesdacoletividade,emtodasaspartesqueocompõem, abrangendo as cooperativas de crédito, será regulado por leis complementares que disporão,inclusive,sobreaparticipaçãodocapitalestrangeironasinstituiçõesqueointegram”.

435GAGLIANO,PabloStolze.ALegislaçãoBancária,oCódigodeDefesadoConsumidoreoPrincípioda Dignidade da Pessoa Humana, palestra proferida no IV Fórum Brasil de Direito, realizado peloJusPodivm,noCentrodeConvençõesdeSalvador—Bahia,emmaiode2002.

436“EMENTA:CÓDIGODEDEFESADOCONSUMIDOR.ART.5.º,XXXII,DACB/88.ART.170,V,DA CB/88. INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS. SUJEIÇÃO DELAS AO CÓDIGO DE DEFESA DOCONSUMIDOR, EXCLUÍDAS DE SUA ABRANGÊNCIA A DEFINIÇÃO DO CUSTO DASOPERAÇÕES ATIVAS E A REMUNERAÇÃO DAS OPERAÇÕES PASSIVAS PRATICADAS NAEXPLORAÇÃODAINTERMEDIAÇÃODEDINHEIRONAECONOMIA[ART.3.º,§2.º,DOCDC].MOEDAETAXADEJUROS.DEVER-PODERDOBANCOCENTRALDOBRASIL.SUJEIÇÃOAOCÓDIGOCIVIL. 1.As instituições financeiras estão, todas elas, alcançadas pela incidência das normasveiculadaspeloCódigodeDefesadoConsumidor.2.‘Consumidor’,paraosefeitosdoCódigodeDefesadoConsumidor, é toda pessoa física ou jurídica que utiliza, como destinatário final, atividade bancária,financeiraedecrédito.3.Opreceitoveiculadopeloart.3.º,§2.º,doCódigodeDefesadoConsumidordeveserinterpretadoemcoerênciacomaConstituição,oqueimportaemqueocustodasoperaçõesativasea remuneração das operações passivas praticadas por instituições financeiras na exploração da interme-diaçãodedinheironaeconomiaestejamexcluídasdasuaabrangência.4.AoConselhoMonetárioNacionalincumbe a fixação, desde a perspectiva macroeconômica, da taxa base de juros praticável no mercadofinanceiro. 5. O Banco Central do Brasil está vinculado pelo dever-poder de fiscalizar as instituiçõesfinanceiras,emespecialnaestipulaçãocontratualdastaxasdejurosporelaspraticadasnodesempenhodaintermediaçãodedinheironaeconomia.6.Açãodireta julgadaimprocedente,afastando-seaexegesequesubmete às normas do Código de Defesa do Consumidor [Lei n. 8.078/90] a definição do custo dasoperações ativas e da remuneração das operações passivas praticadas por instituições financeiras nodesempenhodaintermediaçãodedinheironaeconomia,semprejuízodocontrole,peloBancoCentraldoBrasil, e do controle e revisão, peloPoder Judiciário, nos termos do disposto noCódigoCivil, em cadacaso,deeventualabusividade,onerosidadeexcessivaououtrasdistorçõesnacomposiçãocontratualdataxade juros. ART. 192, DA CB/88. NORMA-OBJETIVO. EXIGÊNCIA DE LEI COMPLEMENTAREXCLUSIVAMENTE PARA A REGULAMENTAÇÃO DO SISTEMA FINANCEIRO. 7. O preceitoveiculado pelo art. 192 daConstituição doBrasil consubstancia norma-objetivo que estabelece os fins aseremperseguidospelosistemafinanceironacional,apromoçãododesenvolvimentoequilibradodoPaíse

Page 587: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

arealizaçãodosinteressesdacoletividade.8.Aexigênciadeleicomplementarveiculadapeloart.192daConstituição abrange exclusivamente a regulamentação da estrutura do sistema financeiro. CONSELHOMONETÁRIO NACIONAL. ART. 4.º, VIII, DA LEI N. 4.595/64. CAPACIDADE NORMATIVAATINENTE À CONSTITUIÇÃO, FUNCIONAMENTO E FISCALIZAÇÃO DAS INSTITUIÇÕESFINANCEIRAS.ILEGALIDADEDERESOLUÇÕESQUEEXCEDEMESSAMATÉRIA.9.OConselhoMonetárioNacionalétitulardecapacidadenormativa—achamadacapacidadenormativadeconjuntura—no exercício da qual lhe incumbe regular, além da constituição e fiscalização, o funcionamento dasinstituiçõesfinanceiras,istoé,odesempenhodesuasatividadesnoplanodosistemafinanceiro.10.Tudooquanto exceda esse desempenho não pode ser objeto de regulação por ato normativo produzido peloConselho Monetário Nacional. 11. A produção de atos normativos pelo Conselho Monetário Nacional,quandonãorespeitemaofuncionamentodasinstituiçõesfinanceiras,éabusiva,consubstanciandoafrontaàlegalidade”(STF,ADIn2591/DF,RelatorMin.CarlosVelloso,Relatorp/AcórdãoMin.ErosGrau,j.7-6-2006,TribunalPleno,DJ,29-9-2006,p.31,Ementário,v.2249-02,p.142).

437NodesenvolvimentodestetópicoforamdefundamentalimportânciaosanimadosdiálogoscomonossoamigoerenomadoprofessordeDireitoAdministrativoDirleydaCunhaJr.,JuizFederalsubstitutoda8.ªVara,SeçãoJudiciáriadoEstadodaBahia.

438“AocomporoslineamentosbásicosdaAdministraçãofederal,oDecreto-lei200,quecontinuaaserodiplomamais importantenamatéria,emdespeitodeseus incontáveiserros técnico-jurídicos, firma-senadistinção entre administração direta e administração indireta, tal como ali delineada. Os conceitos queforjouaproximamtaldicotomiadasnoçõesmaiscomunssobrecentralizaçãoedescentralização,conformedantesexpusemos,mascomelasnãocoincidem.

Deacordocomseustermos,administraçãodiretaéaquelarealizadapeloconjuntodeórgãosintegradosnosMinistérios ou diretamente subordinados à Presidência da República. Administração indireta é adesenvolvidapor(a)autarquias;(b)empresaspúblicas;(c)sociedadesdeeconomiamistae(d)fundaçõespúblicas”(CelsoAntonioBandeiradeMello,CursodeDireitoAdministrativo,4.ed.,SãoPaulo:MalheirosEd.,1993,p.72).

439Nessesentido,noticiouaRevistaConsultorJurídico,de15-8-2002:

“Energiacortada—STJmandaCemigindenizarconsumidorapordanos

APrimeiraTurmadoSuperiorTribunaldeJustiça,porunanimidade,condenouaCompanhiaEnergéticadeMinas Gerais (Cemig) a pagar indenização por danosmorais para uma consumidora.Motivo: a Cemigcortou o fornecimento de energia elétrica para a aposentada Maria Angélica de Jesus por causa deinadimplência.AdecisãoreformasentençadoTribunaldeJustiçadeMinasGerais.

Os ministros entenderam que energia é um bem essencial à população e constitui serviço públicoindispensável.Dessaforma,ocortedofornecimentoconfigura,segundoorelator,ministroJoséDelgado,

Page 588: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

uma prática abusiva e ilegal da concessionária, mesmo sendo um meio para compelir o usuário aopagamentodatarifavencida.

Moradora de Frei Inocêncio, município de Minas Gerais, Maria Angélica propôs Ação Ordinária deReparaçãodeDanoscontraaCemig,em1999.Oargumentoédequecomocortedeenergia,pormaisdequatrohoras,aCompanhiaviolouasuahonrae imagem,por terexpostoaconsumidoraaoridículoeaoconstrangimentodiantedosvizinhos.Oato foi apontadopela aposentadacomo ‘reprovável, desumanoeilegal’,alémdeterferidoosprincípiosconstitucionaisdainocênciapresumidaedaampladefesa.

ACemigdeterminouainterrupçãodofornecimentodeenergia,nodia14dejunhode1999,porqueMariaAngélicanãopagaraascontasreferentesaosmesesdemarçoeabrildaqueleano,comvaloresdeR$26,45eR$22,86.Aaposentadanãonegaqueestavainadimplentenaocasião.Naquelemesmodia,elaefetuouopagamentoehorasdepoisaenergiafoirestaurada.Masargumentaqueotempodecortefoisuficienteparacausar-lheconstrangimentos.

Aconsumidorapediuumaindenizaçãoequivalentea500vezesovalordasfaturasvencidasnaocasiãodocorte,ousejaR$24.655,devidamenteatualizadosdejurosdemoraecorreçãomonetáriaacontardadatadofato.DeacordocomadecisãodoSTJ,entretanto,quemvaiestipularovalordaindenizaçãoéoJuízoonde a ação teveorigem,ou seja, o juizda1.ªVaraCível daComarcadeGovernadorValadares,MinasGerais.

NoentendimentodaPrimeiraTurma,ocortedeenergiaviolouoartigo22,doCódigodeProteçãoeDefesado Consumidor, segundo o qual: ‘os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias,permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviçosadequados,eficientes,segurose,quantoaosessenciais,contínuos’.

O relator também ressaltou que o artigo 42 da mesma lei não permite que o devedor seja exposto aoridículo,nemquesejasubmetidoaqualquertipodeconstrangimentoouameaça”(REsp430.812).

440Cf.CapítuloXV(“ResponsabilidadeCivilnasRelaçõesdeTrabalho”).

441NessaaplicaçãosubsidiáriadoCDCaoprocessodotrabalho,confiram-seosseguintesacórdãos:

“Derevista.Adesãodoempregadoaoplanodedesligamentovoluntário.Transaçãoextrajudicial.Direitodotrabalho. Princípio da irrenunciabilidade ou disponibilidade relativa. ‘Res dubia’ e objeto determinado.Condiçõesespecíficasdevalidadedatransaçãodoart.477,§§1.ºe2.º,daCLT.Efeitos.Arts.9.ºdaCLTe51doCDC.ODireitodoTrabalhonãocogitadaquitaçãoemcaráterirrevogávelemrelaçãoaosdireitosdoempregado,irrenunciáveisoudedisponibilidaderelativa,consoanteimpõeoart.9.ºconsolidado,porquantose admitir tal hipótese importaria obstar ou impedir a aplicação das normas imperativas de proteção aotrabalhador.Nesteparticularismoreside,portanto,anotasingulardoDireitodoTrabalhoemfacedoDireitoCivil. A cláusula contratual imposta pelo empregador que ofende essa singularidade não opera efeitosjurídicosnaesferatrabalhista,porqueatransgressãodenormacogenteimportanãoapenasnaincidênciada

Page 589: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

sanção respectiva, mas na nulidade ‘ipso jure’, que se faz substituir automaticamente pela normaheterônoma de natureza imperativa, visando à tutela da parte economicamente mais debilitada, numcontexto obrigacional de desequilíbrio de forças. Em sede de Direito do Trabalho a transação tempressupostodevalidadenaassistênciasindical,doMinistériodoTrabalhooudopróprioórgãojurisdicional,por expressadeterminação legal, alémdanecessidadededeterminaçãodasparcelasporventuraquitadas,nos exatos limites do artigo 477, §§ 1.º e 2.º, da Consolidação das Leis do Trabalho, sem prejuízo doelementoessencialrelativoàexistênciade‘resdubia’ouobjetodeterminado,quenãoseconfiguraquandoa quitação é levada a efeito com conteúdo genérico e indeterminado, pois ao tempo em que operada,nenhumadelimitaçãohaviaquantoasupostosdireitosdescumpridosoucontrovertidos,bemcomonenhumadeterminaçãoseespecificouquantoaoobjeto,sepretendiaapenassatisfazertodososdireitoseobrigaçõesdecorrentes do contrato de trabalho. A transação ou a compensação pretendidas, em termos genéricos,porque abusivas, e como tal consideradas nulas, afrontam as normas já citadas que as desqualificam,máxime quando se tem em vista princípio idêntico contido no artigo 51 da Lei n. 8.078/90 (Código deDefesadoConsumidor),segundooqualsãoconsideradasnulasdeplenodireitoascláusulascontratuaisqueestabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que colocam o consumidor em desvantagem ousejam incompatíveiscomaboa-féouaequidade,princípio inafastáveldodireitoeprocessodo trabalho.Recursoderevistaaquesedáprovimento”(TST,j.18-9-2002,RecursodeRevista,5.ªTurma,DJ,11-10-2002,Rel.JuizConvocadoVieiradeMelloFilho).

“Sociedadeporcotasderesponsabilidade limitada—Responsabilidadesubsidiáriadossócioscotistas.Ajurisprudênciatrabalhistajáfirmouentendimentonosentidoderesponsabilizaçãodossóciosdassociedadespor cotas de responsabilidade limitada por além daquelas previstas na lei reguladora da figura jurídica(Decreto n. 3.708/19). Fundada no art. 135 do CTN (que fixa a responsabilidade tributária dosadministradoressocietários),nacircunstânciadequeocréditotrabalhistarecebedaordemjurídicaproteçãoaindamaisacentuadaqueadeferidaaocréditotributário(art.8.ºdaCLT),ecomsuporteaindanateoriadadesconsideraçãodapersonalidadejurídica(liftdecorporateveil)hojejáconsagradanoDireitoComum,ateordoart.28daLein.8.078/90 (CDC)a jurisprudência temcompreendidoqueo sócio,mesmoemseretirando da sociedade, responde pelas dívidas trabalhistas da sociedade, caso esta não tenha bens paragarantiraexecuçãojudicial”(TRT3.ªRegião,j.10-2-2003,1.ªTurma,DJMG,14-2-2003,p.6,Rel.JuizMárcioFlávioSalemVidigal).

“Sociedade.Bensparticularesdossócios.Aempresacessousuasatividadesenãopossuibenssuficientespara a quitação da dívida. Diante disso, perfeitamente possível que os bens particulares dos sóciosrespondam pelo débito, porquanto a teoria da despersonalização da pessoa jurídica, prevista noordenamento jurídico, especialmente no Código de Defesa do Consumidor, permite a penhorabilidadedestesbens”(TRT10.ªRegião,j.27-9-2002,2.ªTurma,Rel.JuízaMariaPiedadeBuenoTeixeira).

442Nessesentido,dispõeoart.8.ºdaConsolidaçãodasLeisdoTrabalho:

“Art. 8.º As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais ou

Page 590: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

contratuais,decidirão,conformeocaso,pelajurisprudência,poranalogia,porequidadeeoutrosprincípiose normas gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos ecostumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particularprevaleçasobreointeressepúblico.

Parágrafo único.O direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho, naquilo em que não forincompatívelcomosprincípiosfundamentaisdeste”.

443“Art.17.ParaosefeitosdestaSeção,equiparam-seaosconsumidorestodasasvítimasdoevento”.

444“Art.13.Ocomercianteéigualmenteresponsável,nostermosdoartigoanterior,quando:

I—ofabricante,oconstrutor,oprodutorouoimportadornãopuderemseridentificados;

II—oprodutoforfornecidosemidentificaçãoclaradoseufabricante,produtor,construtorouimportador;

III—nãoconservaradequadamenteosprodutosperecíveis.

Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito de regressocontraosdemaisresponsáveis,segundosuaparticipaçãonacausaçãodoeventodanoso”.

445CarlosRobertoGonçalves,ResponsabilidadeCivil,7.ed.,SãoPaulo:Saraiva,2002,p.392.

446Cf.CapítuloVIII(“CausasExcludentesdeResponsabilidadeCivileCláusuladeNãoIndenizar”).

447ZelmoDenari,CódigoBrasileirodeDefesadoConsumidor,p.152.

448Emsituaçãoanáloga,confira-seoseguintearesto:

“Civil. Responsabilidade civil. Dano moral causado por negativação do nome do autor no SPC emdecorrência de haveremdocumentos seus, extraviados, sido fraudados por terceiro, que deles se utilizouparaobtercartãodecrédito,comoqualefetuoucomprasemlojaconveniada.Responsabilidadeobjetivadaré(art.14doCDC),nãoafastadapelasexcludentesdo§3.º,pois,comoinstituiçãofinanceiraresponsávelpor serconcedidoocartão,cumpre-lheexercer fiscalizaçãosobredadosedocumentosapresentadospelocliente.Suaomissãoemcolaborarparaarealizaçãodeperíciagrafotécnica.Incidênciadejurosmoratóriosapartirdequandotomouoautorciênciadainclusãodeseunome.Reduçãodaindenizaçãoa60saláriosmínimos.Recursoparcialmenteprovido” (TJRJ,Ap.Cível2001.001.05688,7.ªCâmaraCível,Des.LuizRoldãoF.Gomes,j.15-1-2002).

“ResponsabilidadeCivil.Cheques.Talonárioextraviadoantesdaefetivaentregaaocorrentista.Utilizaçãopor falsários.Excludentede responsabilidade.Relaçãodeconsumo.Responsabilidadeobjetivadobanco.SPC.Danomoral.Nãoexcluiaresponsabilidadedobanco,naformadoart.14,parág.3.º,II,doCDC,acircunstânciadeoschequesteremsidoemitidosporestelionatários,emcomprasnocomércio.Édobancoodeverdeguardaevigilânciadotalonárioatéasuaefetivaentregaaocorrentista.Asónegativaçãoindevidado nome do consumidor constitui dano moral, a ser devidamente reparado. Verba fixada em quantia

Page 591: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

equivalente a 50 saláriosmínimos, que, no caso, não semostra excessiva a reparar o prejuízo extrapa-trimonial suportado pelo consumidor. Conversão de ofício emmoeda corrente do valor estabelecido emsaláriosmínimos,ematençãoaocomandodoart.7.º, IV,daCF”(TJRJ,Ap.Cível2001.001.25738,13.ªCâmaraCível,Des.NametalaMachadoJorge,j.3-4-2002).

449ZelmoDenari,ob.cit.,p.153.

450SérgioCavalieriFilho,ob.cit.,p.375.

451“Consumidor.Pessoa jurídica.Bensdeconsumo intermediário.Responsabilidadecivildo fornecedordeserviços.Incêndioemsuasinstalações.Fortuitointernonãoexcludentedaresponsabilidade.Emrelaçãoaos chamados bens de consumo intermediário, a pessoa jurídica é consumidora porque os utiliza comodestinatário finalenãocomomera intermediáriaou insumidora.Époisdeconsumo, regidapeloCDC,arelação jurídica existente entre fornecedora de serviços telefônicos e seus usuários, ainda que pessoasjurídicas.Incêndionasinstalaçõesdafornecedoradosserviçoscaracterizafortuitointerno,quenãoexcluiasua responsabilidade, por integrar os riscos do negócio, ligado à organização empresarial, configurandodefeito na prestação dos serviços.Danomaterial configurado e comprovado.O incêndio, fato público enotório,nãopoderiarefletirnegativamentenahonraobjetivadausuáriadosserviçosemrelaçãoaoseubomnome comercial e conceito perante seus clientes. Desprovimento de ambos os recursos. Sentençaconfirmada” (TJRJ, Ap. Cível 2002.001.10966, 2.ª Câmara Cível, Des. Sergio Cavalieri Filho, j. 18-9-2002).

452RonaldB.Standler,DifferencesBetweenCivilandCriminalLawintheUSA,disponívelnoendereço:www.rbs2.com/cc.htm,acessadoem12-3-2003.

453Sobreadefiniçãodeserviço,confira-seoitem1.2destecapítulo.

454 Carlos Eduardo Pianovski Ruzyk, A Responsabilidade Civil por Danos Produzidos no Curso deAtividade Econômica e a Tutela da Dignidade da Pessoa Humana: o Critério do Dano Ineficiente, inDiálogos sobre Direito Civil, org. Carmem Lucia Silveira Ramos, Gustavo Tepedino e outros, Rio deJaneiro:Renovar,2002,p.144.

455Confira-se,apropósito,oCapítuloXIV(“ResponsabilidadeCivilProfissional”).

456“CódigodeProteçãoeDefesadoConsumidor—Prazodecadencialdodireitodereclamarpelosvíciosocultos em produto durável—Aplicação da norma incrustada no art. 26, II, c/c o § 3.º do Código deProteção eDefesa doConsumidor e nãoo do art. 27domesmodiploma legal, que trata da pretensão àreparaçãopelosdanoscausadosporfatodoproduto—1.A‘pretensãoàreparaçãopelosdanoscausadosporfatodoproduto(art.27doCDC),prescreveem05(cinco)anos.1.1Porfatodoprodutoentende-seodano causado ao consumidor decorrente de defeito objetivo no mesmo. 2. Computador é consideradoprodutodurável,ouseja,éemanalogiaaobemconsumívelprevistonoart.51doCódigoCivil,aquelecujoconsumonãoimportadestruiçãodaprópriasubstânciadoproduto.3.Tratando-sedevíciooculto,relativoa

Page 592: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

produtodurável,aplica-seodispostonoincisoIIdoart.26c/coseu§3.ºdaleiconsumerista.4.Sentençamantida por seus próprios e judiciosos fundamentos” (TJDF, Ap. Cível no Juizado Especial20010110607605/DF, registro do acórdão n. 154097, j. 8-5-2002, 2.ª Turma Recursal dos JuizadosEspeciaisCíveiseCriminaisdoDistritoFederal,Rel.JoãoEgmontLeôncioLopes,DJU,24-5-2002).

457Nessesentido,ZelmoDenari,ob.cit.,p.164.

458Esseprazodegarantialegaldoprodutonãoexcluiagarantiacontratual,noCódigodoConsumidor(art.50).OCódigoCivil,porsuavez,emnormainseridanaseçãodedicadaaosvíciosredibitórios(art.446),estabeleceuque,naconstânciadeeventualcláusuladegarantia,nãocorreriamosprazosparasereclamarjudicialmentepelodefeitooculto,emboraseimpusesseaoadquirenteodeverdedenunciaraoalienanteovício,nostrintadiasseguintesaoseudescobrimento,sobpenadedecadência.Talregrapoderia,emnossoentendimento,desdequenãodetrimentosaadireitodoconsumidor,seraplicadaanalogicamenteàsrelaçõesdeconsumo.

459“Relaçãodeconsumo.Decadênciadedireito.Víciooculto.Tratando-sedevícioocultoéaplicávelo§3.ºdoart.26doCDC.Havendocomunicaçãoaofornecedor,ficaobstadaadecadêncianaformadoincisoIdo§2.ºdomencionadoartigodoCDC.Adeterioraçãodocabeçotedomotor,necessitandode retífica,évício oculto, detectável por fornecedor afeto ao ramo e imperceptível pelo consumidor comum,especialmentepormulher,depoucacultura.Recursoconhecidoe improvidoàunanimidade” (TJDF,Ap.Cível no Juizado Especial 20010110915985/DF, registro do acórdão n. 158202, j. 14-5-2002, 1.ª TurmaRecursaldosJuizadosEspeciaisCíveiseCriminaisdoDistritoFederal,Rel.GilbertoPereiradeOliveira,DJU,28-8-2002).

“Relação de consumo — Prazo decadencial — Termo inicial da ciência do defeito — Suspensão dadecadência—Faltadeprovasdareclamaçãoerespostanegativa.1.Quandoovíciodoprodutoduráveléoculto, oprazodecadencial para reclamar éde90dias apartir domomento emque ficar evidenciadoodefeito(art.26,§3.º,daLeiconsumerista).2.Nostermosdo§2.º,tambémdoretrorreferidoartigo,obstaadecadência, a reclamação formulada pelo consumidor até a resposta negativa do fornecedor, a qualsuspendeoprazodecadencial.3.NãosendocomprovadaestareclamaçãoexigidapeloCDC,conclui-sequeo prazo decadencial fluiu normalmente, exaurindo-se. 3. Sentençamantida por seus próprios e jurídicosfundamentos”(TJDF,Ap.CívelnoJuizadoEspecial20010910048262/DF,registrodoacórdãon.155726,j.29-5-2002, 2.ª TurmaRecursal dos JuizadosEspeciaisCíveis eCriminais doDistrito Federal,Rel. JoãoEgmontLeôncioLopes,DJU,18-6-2002).

460“Responsabilidadecivil—Reparaçãodedanos—Restaurante—Serviçodemanobrista—Contratode depósito — Furto de veículo — Dever de indenizar. 1. A entrega do veículo ao manobrista doestabelecimento comercial configura contrato de depósito, cessando sua responsabilidade tão somentequandodevolvidasaschavesaocliente.Ademais,nãosetratademeragentileza,pois,àevidência,ovalordos serviços respectivos está embutido nos preços cobrados pelas refeições. 2. Negado provimento.

Page 593: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Unânime” (TJDF,Ap.Cível 5193199/DF, registro do acórdãon. 139522, j. 26-3-2001, 5.ªTurmaCível,Rel.ªSandradeSantis,DJU,13-6-2001).

461Tal reexecução,nos termosdo§1.º, poderá ser confiada a terceiro capacitado,por conta e riscodofornecedor.Emnossosentir,talregrasomenteseaplicaàsobrigaçõesquenãosejam,obviamente,intuitupersonae.

462 Nesse diapasão, observa Eduardo Sodré que a “evolução do capitalismo e, consequentemente, amultiplicação das transações comerciais, em especial das relações de consumo, fez com que ficasserelegada ao passado a identificação pessoal outrora existente entre fornecedor de produtos e serviços econsumidor, razãopela qual assumiu fundamental importância na sociedadehodierna, atémesmopara asobrevivência do comércio, a elaboração emanutenção de cadastros de proteção ao crédito” (“Algumasconsideraçõesacercadalegitimidadepassivadasentidadesmantenedorasdebancosdedadosparafigurarno polo passivo de demandas relativas a inclusões indevidas ou irregulares de consumidores em seuscadastrosdeproteçãoaocrédito”,RevistaJurídicadosFormandosemDireitodaUFBA,anoV,v.7(ediçãoemhomenagemaoProfessorMachadoNeto),Salvador:FaculdadedeDireitodaUniversidadeFederaldaBahia,2001,p.91).

463Nessesentido,manifesta-seajurisprudênciadoSuperiorTribunaldeJustiça:

“Comercial. Cédula rural pignoratícia. Verba honorária. Compensação. Prequestionamento. Ausência.InscriçãonoSERASA.Previsãolegal.Embargosàexecução.VedaçãodoregistropeloTribunalestadual.Cabimento.Lei n. 8.038/90, art. 43, § 4.º,CC, art. 160, I.Correçãomonetária.TR. Previsão contratual.Aplicação.I.Inadmissívelrecursoespecialemqueédebatidaquestãofederalnãoenfrentadanoacórdãoaquo. II. Legítimo é o procedimento adotado pela instituição financeira em inscrever os devedoresinadimplentes em cadastro de proteção ao crédito, por autorizado na legislação pertinente. Todavia, emhavendodiscussãojurídicasobreodébito,pertinenteodeferimentodopedidodeabstençãocomofimdeassegurar a eficácia do processo principal, sob pena de se frustrar, ao menos em parte, o direito nelediscutido, pela imediata perda da credibilidade dos autores na praça emque atuam. III.Nãohá vedaçãolegalparaautilizaçãodaTRcomoindexadordecédularuralpignoratícialivrementepactuada.PrecedentesdaCorte.IV.Recursoespecialconhecidoempartee,nessaparte,parcialmenteprovido”(STJ,j.21-6-2001,4.ªTurma,REsp324877/RS;REsp2001/0057789-0,DJ,15-10-2001,p.269,Rel.Min.AldirPassarinhoJunior).

“RecursoEspecial.CivileProcessualCivil.BancodeDados.RegistrodeInadimplência.Nome.Exclusão.Deferimento. Hipóteses restritas. O pedido de exclusão do nome do consumidor, como devedorinadimplente em cadastro de proteção ao crédito, justifica-se quando este diligencia em impugnar acobrança da dívida. Afora estas circunstâncias, não é abusivo o procedimento adotado pela instituiçãofinanceiraqueremeteonomedodevedoraoSerasa,porquantorespaldadonalegislaçãopertinente.RecursoEspecialnãoconhecido”(STJ,j.20-4-2001,3.ªTurma,REsp253771/SP;REsp2000/0031117-0,DJ,25-6-

Page 594: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

2001,p.171,Rel.Min.NancyAndrighi).

464 “Leasing. Veículo. Quitação do débito. Aponte do nome como devedor inadimplente. Serviço deProteçãoaoCrédito(SPC).Descabimento.Art.14doCPC.Danomoral.Elevação.Recursoprovido.Danomoral.Arrendatária—leasingdeveículo,quitadasasparcelascontratadas,temosagradodireitodenãosermolestadaouameaçadadenegativação,poralegadoerrodeserviçodebancoconveniadodoarrendante.Inaceitável excludentede falhade terceiro, ante a responsabilidadeobjetiva consumerista (art. 14, caput,CDC).Apeloprovido,paraelevaraverbadedanomoral”(TJRJ,Ap.Cível2002.001.21480,17.ªCâmaraCível,Des.SeverianoIgnácioAragão,j.16-10-2002).

“Processual civil—Cautelar—SPC—SERASA. I—Não há como assentir seja registrado nome dedevedor inadimplentenoSERASAounoSPC,a respeitodedébitosqueestãosendodiscutidosemaçãojudicial—precedente doSTJ. II—Recurso conhecido e provido” (STJ, j. 29-6-2000, 3.ªTurma,REsp228790/SP;REsp1999/0079317-0,DJ,23-10-2000,p.135,Rel.Min.WaldemarZveiter).

465CódigodeDefesadoConsumidor—Comentadopelosautoresdoanteprojeto,5.ed.,RiodeJaneiro:Forense,1997,p.331.

466Ob.cit.,p.400.

467EduardoSodré,ob.cit.,p.92.

Page 595: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

468JosédeAguiarDias,DaResponsabilidadeCivil,9.ed.,RiodeJaneiro:Forense,1994,v.I,p.184.

469JoséJoaquimCalmondePassos,OImoralnasIndenizaçõesporDanoMoral,disponívelnositehttp:www.jusnavigandi.com.br,doutrina.

470Cf.,arespeito,onossovolume4(“Contratos”),eaobradorenomadoSílviodeSalvoVenosa,DireitoCivil—ContratosemEspécie(Capítulo23),Atlas,2003.

471SílviodeSalvoVenosa,ob.cit.,p.487.

472NoticiouaRevistaConsultorJurídico(http://conjur.uol.com.br),de11denovembrode2002:

“Voofatal—JuízamandaVarigindenizarpormortedecachorro

AVarig foicondenadaapagar indenizaçãopordanosmoraisemateriaisàdonadeumcãoda raçaPug.Motivo:ocachorromorreuduranteumvoodaempresadoRiodeJaneiroparaMiami(EUA).

A juíza da 11.ª Vara Cível de Brasília, Maria de Fátima Rafael de Aguiar Ramos, arbitrou o valor daindenizaçãopordanosmoraisemR$10miledosdanosmateriais,emR$100mil.

Deacordocomajuíza,ficaramevidenciadasaculpaearesponsabilidadedaVarigpelosprejuízosmoraissofridos pela dona do cão, uma vez que a empresa descumpriu o contrato de transporte nos termosajustados.

Maria de Fátima afirmou que ‘cabem no rótulo de dano moral os transtornos, os aborrecimentos oucontratemposanormaisquesofreuaAutoranoseudiaadiaepelasensaçãodedesconfortoeaborrecimentoemrazãodanegligênciadaRé’.

Pelasentença,dototaldeR$100mildedanosmateriais,R$20milsãopelocãoeR$80milpeloslucroscessantes,considerando-seomenorvalordeavaliaçãodeambos.

Nocálculodoslucroscessantes,levou-seemconta,ainda,amenorestimativadaquantidadedefilhotesqueo cachorro poderia ter se estivesse vivo nos quatro anos seguintes de sua morte, a média de doisacasalamentospormêseopreçodeR$1.500,00porfilhote.

Viagemsemvolta

Nodia17dejunhode2001,ocãoembarcounovoodaVarigjuntamentecomsuaadestradoraemaisdoiscachorrosparaparticipardeumaexposição.

Adonadocãodisseque,aodesembarcaremMiami,aadestradorafoicomunicadadamortedocachorroe,semmuitasinformaçõesnemassistênciaporpartedosfuncionáriosdaVarig,elaprovidenciouaautópsiadocorpodoanimalemumaclínicaveterinária.

Deacordocomo laudodaclínica,oexamedenecropsiaedepatologiadoanimal indicoufaltadearnoestômago e intestinos, bem como contusões pulmonares decorrentes de ventilação inadequada e/ou

Page 596: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

temperatura imprópria.Adonadoanimalalegou ternotificadoaVarigparaprovidenciaraapuraçãodos

fatos que levaramàmorte do cachorro.O corpodo animal ficou congeladopor 30dias à disposiçãodaempresa.

Adonadocãoafirmouqueoanimaleracampeãomundial,cominúmerostítulosnacionaiseinternacionais,patrocinado por uma dasmais importantes empresas de rações domundo, aEffem-Pedigree.Ela alegouaindaqueoscustoscomocãoseriamcompensadoscomavendadosêmenecomaprocriaçãodireta.

AVarigargumentouquesetrêsanimaisforamtransportadosnomesmovoo,dentrodomesmocontêiner,edoischegaramaodestinosemqualquerproblemadesaúdeéinaceitávelatesedequeoterceirocãomorreupor causa de ventilação inadequada e/ou temperatura imprópria. Além disso, a empresa questionou acredibilidadedolaudodoveterinárioealegoudivergênciasquantoàidentidadedocachorromorto.

AjuízarejeitouosargumentosdaVarig.MariadeFátimalembrouqueaempresanãoprovidenciounovaanálisenocorpodoanimal.Alémdisso,paraajuíza,aidentidadedocãoficousuficientementecomprovadanosautosdoprocesso.

Segundo a Varig, a omissão da dona do cão em aplicar sedativo no mesmo, conforme exigido pelascompanhias aéreas, pode ter sido a causa damorte do animal.A juíza refutou a hipótese levantada pelaempresaporquenenhumdoscãesingeriusedativo.

Segundo a juíza, se fosse obrigatório o uso domedicamento, conforme informação da empresa, aVarigdeveriaterexigidoasedaçãodoanimal.

De acordo com a juíza, competia à empresa entregar os cães na mesma situação em que os recebeu.Afirmouque“a finalidadedacondenaçãoécompensatória,punitivae intimidativa,pois inibequeoutroserrosdamesmaespécievenhamasercometidos”.

473Sobreaobrigaçãoderesultado,jáanotamosque:“Nestamodalidadeobrigacional,odevedorseobriga,nãoapenasaempreenderasuaatividade,mas,principalmente,aproduziroresultadoesperadopelocredor.Éoqueocorrenaobrigaçãodecorrentedeumcontratodetransporte,emqueodevedorseobrigaalevaropassageiro,comsegurança,atéoseudestino.Senãocumpriraobrigação,ressalvadashipótesesdequebradonexocausalporeventosfortuitos(umterremoto),seráconsiderado inadimplente,devendo indenizarooutrocontratante.Arespeitodessetema,interessantequestãodizrespeitoàobrigaçãodocirurgiãoplástico.Em se tratando de cirurgia plástica estética, haverá, segundo amelhor doutrina, obrigação de resultado.Entretanto, se se tratar de cirurgia plástica reparadora (decorrente de queimaduras, por exemplo), aobrigaçãodomédicoseráreputadademeio,easuaresponsabilidadeexcluída,senãoconseguirrecomporintegralmenteocorpodopaciente,adespeitodehaverutilizadoasmelhorestécnicasdisponíveis”(PabloStolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, Novo Curso de Direito Civil — Obrigações, São Paulo:Saraiva,2002,v.II,p.109).

474ZenoVeloso,NovoCódigoCivilComentado—coord.RicardoFiuza,SãoPaulo:Saraiva, 2002, p.

Page 597: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

675.

475SílviodeSalvoVenosa,ob.cit.,p.488.

476 Nesse sentido, o art. 25 do Código de Defesa do Consumidor: “Art. 25. É vedada a estipulaçãocontratualdecláusulaque impossibilite, exonereouatenueaobrigaçãode indenizarprevistanestaenasSeçõesanteriores”.

477 Confira-se o Capítulo VIII (“Causas Excludentes de Responsabilidade Civil e Cláusula de NãoIndenizar”).

478AguiarDias,ob.cit.,v.I,p.185.

479 Com base nesta súmula, controvertido entendimento jurisprudencial existe no sentido de que acompanhiatransportadorarespondeemcasodearremessodeobjetoporterceirocontraoveículo,duranteaviagem.Aquestão é delicada, namedida emque a companhia nem sempre dispõe demeios para evitaracontecimentos deste jaez, provenientes da atuação de vândalos. Nessa linha, cumpre-nos transcreveracórdãodalavradoDes.CavalieriFilho,ressaltandoaisençãoderesponsabilidadedotransportadorquandoodanoseoriginardecausaestranha:“Nãorespondeotransportadorpordanodecorrentedecausaestranhaao transporte, provocado por grupo de delinquentes na prática do chamado arrastão. Tal fato, por serinevitávelenãoguardarnenhumaconexidadecomotransporte,equipara-seaofortuitoexterno,excludentedopróprionexocausal.Otransporte,emcasostais,nãoécausadoevento,apenasdesuaocasião,peloquenãopodeserincluídoentreosriscosprópriosdodeslocamento.Desprovimentodorecurso”(TJRJ,EInf.emAP.Cível3.362/96,j.2-4-1998).

480Confira-se,novamente,oCapítuloVIII(“CausasExcludentesdeResponsabilidadeCivileCláusuladeNãoIndenizar”),masespecificamenteotópico2.4(“CasoFortuitoeForçaMaior”).

481CarlosRobertoGonçalves,ResponsabilidadeCivil,7.ed.,SãoPaulo:Saraiva,2002,p.282.

482Emsentidocontrário,defendendoaresponsabilidadedotransportador,leia-seestebelotrechodevotovencido,provenientedoE.TJRJ,que,seporumlado,nãoseafinacomadoutrinamajoritária,poroutro,acaba ressaltando a necessidade de o transportador redobrar os cuidados com a segurança em trechosfrequentementemarcadosporassaltos:“Processual.Responsabilidadecivil.Assaltoaônibus.Vítimaqueéatingidano interiordecoletivoemtrocade tirosentrepassageiroseassaltantes.Alegadofatode terceiroevidenciadordefortuitoexterno. Inocorrênciaemfacedaprevisibilidadedoeventodanoso.Omissãodosempresários na tomada de providências que minorem ou evitem as ocorrências. Responsabilidadecontratual.Pensãoquedevelevaremcontaosgastosdavítimacomasuamanutenção.Juros,queporsetratarde relaçãocontratual, contam-sedacitação-recursoaquesedáparcialprovimento. I—Seocasofortuito é a expressão especialmente usada, na linguagem jurídica, para indicar todo caso, que aconteceimprevisivelmente,atuadoporumaforçaquenãosepodeevitar,revela-seinocorrenteocasofortuitonosassaltosaônibusnumaregiãocomoadaAvenidaBrasilemBonsucessoonde,infelizmente,osassaltosse

Page 598: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

sucedem.RelembrandoPlaniol, ‘os juízesdevemvivercomsuaépoca,senãoqueremqueestavivasemeles’; II—Oquestionamentodo‘comoseevitar’,nãodevesedirigiraoJudiciário,masàsempresasdesegurança que, graças ao avanço tecnológico, conhecem muito bem as formas de se coibirem eventossemelhantesaoqueseencontranarradonosautos,amenosqueessasempresassejamprimáriasnaáreadesegurança,incapazes,imperitas.AsimplescolocaçãodecâmerasemalgunscoletivosnoRiodeJaneirojádiminuiuaocorrência;III—Poroutrolado,comolembraoeminenteDesembargadorPimentelMarquesemapelaçãojulgadapelaegrégiaQuartaCâmaraCível,‘nuncaseouvefalardefortuitointernorelativoàguardadodinheiro, sabendo-sedoelogiável cuidadoeaquase impossibilidadedemeliantesemarginaisagredirem o patrimônio financeiro do transportador, ante o óbice de verdadeira barreira humana desegurança a cuidar dos emolumentos, que ficam, na hipótese da verificação (inteiramente inaceitável,convém frisar) desse fortuito, sem os correspectivos ônus, se e quando ocorrem fatos no interior doautomotor.Maisqueprevisíveisassaltosehomicídiosnointeriordeveículosdetransportecoletivo,oriscode trafegar em horas damadrugada impõe ao transportador o dever de proteger os passageiros, que asempresas de ônibus bem devem saber de que espécie a proteção a ser desenvolvida, para que restecumpridamente efetivado o contrato de transporte.O fato de terceiro não serve de arredar a cláusula deincolumidadefísicadopassageiroque,aoingressarnocoletivo,firmacontratode transportequetemporescopolevá-loaodestinodaviagemcomsuasnormaiseregularescondiçõesdevida.Odolode terceirojamais se presta a elidir a responsabilidade do transportador, pois que é previsível, e passa a estardiretamente relacionado com o fato do transporte, diferentemente do que entende a d. maioria’; IV—EnquantooJudiciário,divorciadodoseurealpapelnocontextosocial,continuarentendendoquenãosãoindenizáveis os assaltos no interior de coletivos, as empresas de ônibus, nababescamente, continuarãoindiferentesàslágrimas,àsdores,aolutoeaodesamparodaquelesqueassustentamatravésdocontratodetransporte regiamenteretribuído—ubipericulum, ibiet lucrumcollocetur—ondeestáoperigo,aí sejacolocado o lucro. Ou seja, as vantagens e as comodidades devem tocar a quem arrisca. O fato era e éperfeitamenteprevisívele fazpartedoriscodaatividadeeconômica;V—Peloprincípiodorestitutio inintegrum,devea indenizaçãocompreenderasperdasorigináriasdoevento.De formaque,na fixaçãodapensão se deve levar em conta o valor que a vítima despenderia na sua manutenção, sendo razoável afixaçãodapensãoconcedidaem2/3dosaláriomínimo;VI—Ovalordodanomoral,fixadoemreais,deveatenderaoprincípiodarazoabilidade,entendendo-secomotalofixadonasentença;VII—Osjuros,emsetratandodeculpacontratual,sãocontadosapartirdacitação;VIII—Provimentoparcialdorecurso”(TJRJ,ApelaçãoCível2001.001.15218,Rel.Des.GilbertoFernandes,j.16-10-2002).

483JurisprudênciacitadaporRuiStoco,cujaexcelenteobraserviudeimportantefontedeconsultaparaanossaobra.

484CarlosRobertoGonçalves,ob.cit.,p.286.

485Confira-seotópico3.4.1(“ResponsabilidadeCivildecorrentedeAcidentedeTrabalho”)doCapítuloXV(“ResponsabilidadeCivilnasRelaçõesdeTrabalho”).

Page 599: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

486SérgioCavalieriFilho,ob.cit.,p.210.

487JurisprudênciaanterioraonovoCódigo,baseadanareferidaSúmula145,equeentendemosdeveserrepensada, sustentava a natureza contratual deste tipo de responsabilidade, que somente imporia aocondutor o dever de indenizar se houvesse atuado com dolo ou culpa grave, no que não concordamos:“Responsabilidadecivil—Transportedesimplescortesia.Notransportebenévolo,desimplescortesia,aresponsabilidadedotransportador,pordanossofridospelotransportado,condiciona-seademonstraçãodequeresultaramdedolooudeculpagrave,aqueaqueleseequipara.Hipóteseemquesecaracterizacontratounilateral,incidindoodispostonoartigo1.057doCódigoCivil”(STJ,REsp38668/RJ,Rel.Min.EduardoRibeiro,DJ22-11-1993).

488CaioMáriodaSilvaPereira,ResponsabilidadeCivil,9.ed.,RiodeJaneiro:Forense,2000,p.224.

489AcórdãodisponívelnaRevistaBrasileiradeDireitoPrivado,abr./jun.2000,RevistadosTribunais,p.225es.

490 “Indenização—Atraso—Voo.Overbooking. Só após o atraso de cerca de 24 horas os recorridospuderamembarcaremvoointernacional, issodevidoaoexcessonalotaçãodaaeronave.Anotandoqueooverbookingépráticacondenáveleintolerável,poissólevaemcontaointeressedacompanhiaaérea,queassume o risco de deixar viajantes em terra por sua mera conveniência administrativa, em francodesrespeito ao consumidor, aTurma entendeuque, nesse caso, a aflição causada aos passageiros excedesubstancialmenteomeropercalçocomumnavidadaspessoas,gerandoodireitoàindenização”(STJ,REsp211.604-SC,Rel.Min.AldirPassarinhoJunior,j.25-3-2003).

491Disponívelnoexcelentesitewww.stj.gov.br.

492 Legislação Aplicável em Ação de Indenização contra Empresa Aérea (STF, Informativo 418): “ATurma deu provimento a recurso extraordinário interposto por empresa aérea contra acórdão da TurmaRecursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais de Natal/RN que entendera que, no conflito entrenormasdoCódigodeDefesadoConsumidor—CDCedaConvençãodeVarsóviasobreaprescrição,emação de indenização do passageiro contra empresa aérea, prevalecem as disposiçõesmais favoráveis doCódigo,queestabelecemoprazoprescricionaldecincoanos.Arecorrentesustentavaofensaaosartigos5.º,§2.º,e178daCF.NalinhadoquefirmadonojulgamentodoRE214349/RJ(DJUde11.6.99),afastou-seaapontada violação ao art. 5.º, § 2.º, da CF, por se entender que ele se refere a tratados internacionaisrelativosadireitosegarantiasfundamentais,matérianãoobjetodaConvençãodeVarsóvia,aqualtratadalimitaçãodaresponsabilidadecivildotransportadoraéreointernacional.

Considerou-se,entretanto,que,emboraválidaanormadoCDCquantoaosconsumidoresemgeral,nocasodecontratodetransporteinternacionalaéreoemobediênciaaodispostonoart.178daCF(‘Aleidisporásobre aordenaçãodos transportes aéreo, aquático e terrestre, devendo,quanto àordenaçãodo transporteinternacional,observarosacordosfirmadospelaUnião,atendidooprincípiodareciprocidade’),prevaleceo

Page 600: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

quedispõeaConvençãodeVarsóvia,queestabeleceoprazoprescricionaldedoisanos”(RE297.901/RN,Rel.Min.EllenGracie,j.7-3-2006).

493“RESPONSABILIDADECIVIL.Danomaterial—Transporteaéreo—Extraviodebagagemdaautora—Configuraçãodosprejuízosdeordemmaterial—AusênciadeDeclaraçãoespecíficadosbenscontidosna mala — Inexistência de prova cabal sobre seu conteúdo — Aplicação da indenização tarifada doProtocolo de Montreal, que emendou a Convenção de Varsóvia — Recurso da autora desprovido eparcialmente provido o da ré — Sentença parcialmente reformada — Dano moral — Procedência —Transporteaéreo—Extraviodebagagemdospassageiros—Configuraçãodosprejuízosdeordemmoral—VerbaindenizatóriaalinhadaaosparâmetroscomumenteadotadospelaTurmaJulgadoraparacasosdamesmanatureza—Recursodaautoradesprovidoeparcialmenteprovidoodaré—Sentençaparcialmentereformada”(TJSP,Apelação:APL9170731662006826SP9170731-66.2006.8.26.0000,de24-10-2011).

“RESPONSABILIDADE CIVIL — Dano material — Transporte aéreo — Extravio de bagagem —Configuração dos prejuízos de ordem material — Aplicação da indenização tarifada da Convenção deMontreal—Recursodesprovido—Sentençamantida—Danomoral—Procedência—Transporteaéreo—Extraviodebagagem—Configuraçãodosprejuízosdeordemmoral—Verba indenizatória,alinhadaaos parâmetros comumente adotados pela Turma Julgadora para casos da mesma natureza— Recursodesprovido — Sentença mantida” (TJSP, Apelação: APL 3003920532009826 SP 3003920-53.2009.8.26.0506,de14-9-2011).

“APELAÇÃO CÍVEL — AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAL —EXTRAVIODEBAGAGEMEMVOO INTERNACIONAL—RESPONSABILIDADEOBJETIVA—PREVALÊNCIADOCÓDIGODEDEFESADOCONSUMIDOR—APLICABILIDADEDANORMAMAISBENÉFICA—DANOMORALCONFIGURADO—ABALOMORALPRESUMIDO—VALORADEQUADO—DECISÃOMANTIDA.1.ARequeridarespondeobjetivamentepelaobrigaçãocontratualdetransportarincólumeopassageiroesuabagagem.2.AsnormasconsumeiristasprevalecememrelaçãoàConvençãodeVarsóviaeMontrealporse tratardenormamaisbenéficaaopassageiro.3.A indenizaçãodevidaemrazãodoextraviodebagagemdeveserintegral,nostermosdoart.734doCódigoCivil,edeveatenderaoscritériosderazoabilidadeeproporcionalidade.4.Odanomoralindependedeprovadoprejuízo,sendoevidenteoabalo,aafliçãopelaperdasuportadapelapassageiraemrazãodoextraviodesuabagagemjamaislocalizada.5.OvalorindenizatórioéfixadoaoarbítriodoJuiz,enfatizandoocarátersancionatóriopara evitar novas ocorrências, assumindo também um caráter pedagógico ao infrator. RECURSOCONHECIDOENÃOPROVIDO”(TJPR,ApelaçãoCívelAC7047447PR0704744-7,de7-4-2011).

“APELAÇÃOCÍVEL. CONTRATODE TRANSPORTEAÉREO INTERNACIONAL. EXTRAVIODEBAGAGEM. RECUPERAÇÃO DA BAGAGEM APÓS SEIS DIAS, QUANDO JÁ EM CURSO OCRUZEIRO INTERNACIONAL CONTRATADO. SUPRESSÃO E CANCELAMENTO DE VOOS.PERDA DE PERNOITE. ALTERAÇÃO DE ROTAS. DANOS MATERIAIS. DANOSMORAIS.CONVENÇÃO DE MONTREAL. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR .

Page 601: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

RESPONSABILIDADESOLIDÁRIAENTREASPARCEIRAS.RESPONSABILIDADESOLIDÁRIA”(TJRS,ApelaçãoCívelAC70043070333RS,de4-7-2011).

494AsatribuiçõesdoantigoDAC,atualmente,sãodesempenhadaspelaANAC—AgênciaNacionaldeAviaçãoCivil.

Page 602: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

495SílvioVenosa,DireitoCivil—ResponsabilidadeCivil,3.ed.,SãoPaulo:Atlas,2003,p.188.

496CarlosRobertoGonçalves,ResponsabilidadeCivil,7.ed.,SãoPaulo:Saraiva,2002,p.407.

497 “Empreitada de lavor. Responsabilidade do engenheiro. Desabamento de prédio em construção.Embora somente concorrendo com o serviço, e recebendo do dono da obra os materiais a seremempregados, o engenheiro contratado para elaborar o projeto e fiscalizar a construção é civilmenteresponsável pelo evento danoso, pois era de seu dever examinar osmateriais empregados, tais como ostijolos,erecusá-lossefrágeisoudefeituosos.Artigos159doCódigoCivil,invocadonainicial,e1.245domesmoCódigo.Aocorrênciadechuvasexcessivas,máximenaregiãodaSerradoMar,nãoconstituifatodanatureza imprevisívelaosconstrutoresdeedifícios.Divergênciapretoriananãocaracterizada.Recursoespecialnãoconhecido”(STJ,REsp8.410/SP;REsp1991/0002905-0,Rel.Min.AthosCarneiro,j.23-10-1991,4.ªTurma).

“Empreitadadeconstruçãodeedifício.Aplicaçãodoartigo1.245doCódigoCivil.Conceitode‘segurança’doprédio.Infiltraçõesdeáguaseumidade.Oart.1.245doCódigoCivildeveserinterpretadoeaplicadotendo emvista as realidades da construção civil nos dias atuais.Vazamentos nas instalações hidráulicas,constatados pericialmente e afirmados comodefeitos demaior gravidade nas instâncias locais. Prejuízosinclusive à saúde dos moradores. Não é seguro um edifício que não proporcione a seus moradorescondiçõesnormaisdehabitabilidadeesalubridade.Doutrinabrasileiraeestrangeiraquantoàextensãodaresponsabilidade do construtor (no caso, da incorporadora que assumiu a construção do prédio). Prazoquinquenaldegarantia.Recursoespecialnãoconhecido”(STJ,REsp1.882/RJ;REsp1990/0000018-1,Rel.Min.AthosCarneiro,j.6-3-1990,4.ªTurma).

498ConceitoclássicoextraídodaliçãodeHelyLopesMeirelles,DireitodeConstruir,Malheiros,cit.porCarlosGonçalves,ob.cit.,p.410.

499MelhimNamemChalhub,DaIncorporaçãoImobiliária,RiodeJaneiro:Renovar,2003,p.141.

500Trata-sedaantigaLeideCondomínios,parcialmenterevogadapelonovoCódigoCivil.Arespeitodoassunto, aliás, Pablo Stolze Gagliano, em artigo disponível no site www.pablostolze.com.br, já teveoportunidadedeobservarque: “Umdospontosmais controvertidosdonovoCódigoCivildiz respeitoàdisciplina do condomínio horizontal ou edilício, popularmente conhecido como condomínio em edifício.Com entrada em vigor do Código de 2002, vários artigos da Lei n. 4.591/64 foram revogados,remanescendo poucos dispositivos, especialmente os referentes à incorporação imobiliária.Conceitualmente,ocondomínioedilíciocaracteriza-sepelacoexistênciadeáreasdepropriedadeparticular(unidades autônomas), e áreas comuns, titularizadas por mais de um coproprietário, segundo umaconvenção previamente estabelecida” (O Condomínio Edilício no Novo Código Civil, abril de 2003,http://www.pablostolze.com.br).

501 “Responsabilidade civil. Vícios de construção. Laudo pericial. Dever de reparação dos danos. O

Page 603: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

construtorrespondepelosdanosdecorrentesdevíciodeconstruçãoetambémlhecabearesponsabilidade

poredificaremterrenoconstituídodebanhado,semtomarasdevidasprecauçõesparaevitarinfiltraçõesporcapilaridade.Recurso improvido” (Tribunal de Justiça doRioGrande do Sul,Ap.Cível 598357713, 6.ªCâmaraCível,Rel.Des.JoãoPedroPiresFreire,j.10-11-1999).

502MariaHelenaDiniz,CursodeDireitoCivilBrasileiro—ResponsabilidadeCivil,16.ed.,SãoPaulo:Saraiva,2002,p.268.

503Nessesentido,aSúmula194doSTJdispunhaque:“Prescreveem20(vinte)anosaaçãoparaobter,doconstrutor,indenizaçãopordefeitosdaobra”.

504Aesserespeito,cf.onossovolume1,ParteGeral,CapítuloXVIII(“PrescriçãoeDecadência”).

505 “Civil e processual civil — Relatório que não menciona um dos argumentos da contestação —Apreciação na sentença — Ausência de prejuízo — Recurso adesivo — Matéria não apreciada pelasentença — Ausência de embargos declaratórios — Não conhecimento — Responsabilidade civil doconstrutor — Prazo. 1) Não implica em nulidade a ausência de expressa menção no relatório de fatoalegadonadefesa,desdequeasentençaotenhaapreciado.Nãosedecretanulidadequandonãoháprejuízo.2)Nãoseconhecedorecursoatacandoomissãodasentençaquenãofoiobjetodeembargosdeclaratórios.Responsabilidadecivildoconstrutor.Edifícioqueapresentarachadurasnomesmoanoemquefoientregueaoscondôminos.Realizaçãodereparospeloconstrutor.Ressurgimentodosproblemaseassunçãoformalderesponsabilidade pelo mesmo construtor. Se os consertos realizados não resolverem o problema derachaduras aparentes, que voltam a ressurgir pouco tempo depois, a indicar deficiência da estrutura, éresponsabilidade do construtor proceder aos reparos, mesmo se decorridos mais de cinco anos desde aentrega formal da obra. Inteligência do art. 1.245, do Código Civil” (TJDF, Ap. Cível n. 4462497-DF,Acórdãon.112865,j.23-11-1998,2.ªTurmaCível,Rel.Des.GeorgeLopesLeite,DJU,12-5-1999,p.43).

506 JonesFigueirêdoAlves,NovoCódigoCivilComentado,Coord.RicardoFiúza, SãoPaulo: Saraiva,2002,p.554-5.

507MelhimNamemChalhub,ob.cit.,p.388.

508SérgioCavalieriFilho,ProgramadeResponsabilidadeCivil,2.ed.,SãoPaulo:Malheiros,2000,p.265.

509EntendimentosdoSTJ(disponíveisnositewww.stj.gov.br,acessadoemabrilde2003):

Órgãojulgador:2.ªT.e3.ªT.:

Oproprietáriodaobraresponde,solidariamentecomoempreiteiro,pelosdanosqueademoliçãodeprédiocausanoimóvelvizinho.

Órgãojulgador:4.ªT.:

O incorporador, como fornecedor de um produto durável, é solidariamente responsável pelos vícios dequalidadeouquantidade,sejamaparentes,ocultosoudeestrutura,queforemverificadosnaobra.

Page 604: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

O incorporador que não executa a obra responde solidariamente com o construtor pelos defeitos dequalidade,eventualmenteencontradosnaedificação,queatornemimprópriaàutilizaçãooulhediminuamovalor, como tambémporaquelesdecorrentesdadisparidadecomas indicaçõesconstantesdaofertaoumensagempublicitária.

Órgãojulgador:3.ªT.:

AobrainiciadamediantefinanciamentodoSistemaFinanceirodeHabitaçãoacarretaresponsabilidadecivilsolidáriadoagentefinanceiropelarespectivasolidezesegurançadaconstrução,porqueestetemobrigaçãodefiscalizaraobra.

510 Leia-se: a pessoa jurídica que atua no ramo da construção civil, uma vez que, como vimos, oengenheiroeoconstrutor,pessoalmente,respondemcombasenaculpaprofissional(art.14,§4.º,doCDC).

Page 605: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

511ArnoldoWald,ONovoDireitoMonetário,2.ed.,SãoPaulo:Malheiros,2002,p.186.

512Confira-seoCapítuloXV(“ResponsabilidadeCivilnasRelaçõesdeTrabalho”),maisespecificamenteos tópicos 3.4 (“Responsabilidade Civil do Empregador por Dano ao Empregado”) e 3.4.1(“ResponsabilidadeCivildecorrentedeAcidentedeTrabalho”).

513 Configura-se, a propósito, o tópico 1.2 (“Objeto da relação de consumo: produto ou serviço”) doCapítuloXVI(“ResponsabilidadeCivilnasRelaçõesdeConsumo”)destevolume.

514 “Art. 71. Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça, coação, constrangimento físico ou moral,afirmaçõesfalsas,incorretasouenganosas,oudequalqueroutroprocedimentoqueexponhaoconsumidor,injustificadamente, a ridículo, ou interfira com seu trabalho, descanso ou lazer. Pena— detenção de 3mesesa1anoemulta.”

515 Pablo Stolze Gagliano, Legislação Bancária, Código de Defesa do Consumidor e Princípio daDignidadedaPessoaHumana,PalestraministradanoIVFórumBrasildeDireito,realizadoemSalvador—Bahia,maiode2002.

516NoticiouaRevistaConsultorJurídico,de11-11-2002:

“Negócioarriscado—JuízadeMGmandabancoindenizarclienteporprejuízo

A6.ªCâmaraCíveldoTribunaldeAlçadadeMinasGeraiscondenouoBancoBoavistaInteratlânticoS/AaindenizarMarceloAlexandredoValleThomazpordanosmateriaisemorais.Motivo:oclientefoiinduzidoafazerumaaplicaçãodeR$11milemumfundodeinvestimentoquelhecausouprejuízo.

OTribunalcondenouoBancoBoavistaInteratlânticoaressarciroclientepelocapitalinvestido,acrescidode0,5%dejurosmoratóriosecorreçãomonetáriaapartirdacitação,alémdaindenizaçãocorrespondentea30saláriosmínimospordanosmorais.

Deacordocomosautos,emnovembrode1999,MarceloAlexandrefoiorientadopelobancoainvestirno‘FIFBoavistaMaster60’,fundodeinvestimento.Segundoocliente,agerentedaagênciadeJuizdeForadissequeaaplicaçãonãoofereciaqualquerrisco.Assim,eleinvestiuR$11mil,conformefoiaconselhado.

Depoisde12dias,recebeuanotíciadequeoinvestimentofoimalsucedido,fatoquemotivouopedidoderesgateimediato.OclienterecebeuapenasaquantiadeR$5.975,03.

O banco alegou que a culpa pelo insucesso do negócio coube à administradora dos fundos, pela mágerência,epropôsumacordoaoclientenovalordeR$3.557,35.EleteriaumprejuízodeR$1.467,02sefizesseoacordo.Porisso,resolveuajuizarumaaçãocontraobancopordanosmateriaisemorais.

Segundo a relatora da apelação, juíza Beatriz Pinheiro Caires, ‘evidenciada a culpa do banco e daadministradoradosfundospelamágestãodosnegócios,cabea recomposiçãodocapitalempregadopeloclienteinvestidor,evitandoquearquecomprejuízoinjusto’.

Page 606: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Quanto aos danos morais, a juíza afirmou que ‘comprovou-se efetivamente o surgimento de situaçãodesagradável para Marcelo Alexandre, consistente na atuação desastrosa do administrador do fundo deinvestimentos, atitude que colocou em risco as poucas economias de seu cliente, gerando frustração einsegurançaarespeitodorecebimentodonumerárioqueforainvestidojuntoaobanco’.

A turma julgadora foicomposta tambémpelos juízesDídimoInocênciodePaula (revisor)eBelizáriodeLacerda(vogal)”(Ap.369.626-4).

517SílviodeSalvoVenosa,DireitoCivil—ResponsabilidadeCivil,3.ed.,SãoPaulo:Atlas,2003,p.180.

518“Indenização—Danomaterial—Chequefurtado—Culpaconcorrente—Estabelecimentobancário— Responsabilidade civil — O banco é responsável pelo pagamento de cheque falsificado, se nãoconfiguradaaculpaexclusivaouconcorrentedocorrentista,exvidaSúmula28doSTF—Àinstituiçãofinanceiraincumbemantermecanismosprópriosepessoalespecializadoaptosaidentificarasfalsificaçõesdeassinaturaslançadasemcheques—Vislumbra-seaocorrênciadeculpaconcorrentequantoaoresgatedechequecomaassinaturafalsa,seoclientenãocomprovouterdiligenciadoemcomunicarimediatamenteaobancoofurtodotalonário”(TJMG,Proc.0240795-0,1.ªCâm.Cível,Rel.SilasVieira,j.21-10-1997).

519Nessemesmosentido,Venosa,ob.cit.,p.181.

520 “Responsabilidade civil. Indevido cadastramento de cliente em órgão de proteção ao crédito. Se aadministradora de cartão de crédito lança, na fatura, um valor mínimo para o seu pagamento,independentementedeoclientenãoterfeitopagamentosnomêsanterior,ocorridooadimplementodovalormínimo,nãopode inscrevê-lopordébitodaqueleperíodo. Ilicitudedecomportamentoe falhanoserviçoqueatraema responsabilidadecivil.Majoraçãoda indenizaçãoparaquarentasaláriosmínimos, tendoemvista as circunstâncias do caso concreto. Verba honorária fixada em 10% do valor da condenação, pelaproibiçãodereformatio inpejusedeacordocomoart.20,§3.º,doCódigodeProcessoCivil.Primeiraapelação parcialmente provida e segunda apelação provida” (Ap.Cível 70005614870, 9.ªCâmaraCível,TJRS,Rel.Des.RejaneMariaDiasdeCastroBins,j.19-3-2003).

521“Responsabilidadecivildebanco.Cadernetadepoupança.Retiradaindevidaporterceiro.Retiradasemautorizaçãodotitular.Negligência.Responsabilidadeobjetiva.Indenização.Danomoral.Desprovimentodorecurso.Responsabilidadecivil. Instituiçãobancária.Retiradadenumeráriodacontapoupançadeclienterealizadaporterceirosempermissãodocorrentista.Indenização.Danomoral.Ocasovertenteenquadra-senahipótesederesponsabilidadecontratualobjetiva,postoquehaviaentreaspartesarelaçãodeconsumoprevistanoartigo3.º,§2.º,doCDC,oquetambémfazincidirainversãoprobatóriaconstantenalegislaçãoconsumerista(art.6.º,VIII,doCDC).Cabeaobancoapelanteprovarqueossaquesefetuadosocorremporterceiroemnomedocorrentistaecomasuaautorização,oqueequivaledizerqueestateriafornecidosuasenha a outrem, permitindo os saques, o que efetivamente não pode ser apenas presumido. Devem asinstituições bancárias aprimorar sua segurança, no sentido de promovermeios eficientes de controle dopatrimônio alheio, e se assim não procedem, permitindo a violação, incorrem na culpa in custodiendo,

Page 607: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

impondo-seodeverindenizatório.Asubtraçãoimotivadadenumeráriodacontapoupançadocorrentista,causando-lhesofrimento,ansiedade,interferindonegativamentenoseucotidiano,justificaacondenaçãoemdanosmorais.Recursoconhecidoe improvido”(TJRJ,Ap.Cível2000.001.19821,dataderegistro:30-5-2001,11.ªCâmaraCível,Des.CláudiodeMelloTavares,j.11-4-2001).

522 “Danomoral.Devolução indevida de cheque.CDC.Quantum.A instituição bancária responde pelaprestaçãodefeituosadeserviços,umavezqueocasoemexameseregepelasnormasdoCDC.Devoluçãodechequespelaalínea25.Cancelamentodetalonáriopelobancosacado,quandoevidenciadaasituaçãodeextraviode talãode cheque, salvaguardandoo correntista de eventuais prejuízos.Caso emqueobanco-requeridosustouopagamentodechequesemitidospelosautores,sem,contudo,justificaradevoluçãodascártulas, já que, no caso, inexistiu extravio do talonário. Responsabilidade objetiva do fornecedor deserviços(art.14doCDC).Oconstrangimentoeostranstornoscausadosaosautoresconfiguramdanomoralpuro, independentedeprova. Indenização.O ressarcimentodeve ser estipuladocomo justa compensaçãopelosincômodosetranstornosaqueapartefoisubmetida.Apeloprovido”(TJRS,Ap.Cível70004500823,10.ªCâmaraCível,Rel.Des.LuizLúcioMerg,j.6-3-2003).

“Açãode indenização.Danosmorais.Devolução indevidadecheque.Comprovadaaculpada instituiçãobancária que devolve cheque emitido pelo autor sob a alegação de que não se encontrava regularmentepreenchido,aindaquejáhouvesseacolhidotrêscártulasquecontinhamamesmadata,deverepararoabalomoraleostranstornoscausadosaoautor.Apelodoautorprovido.Apelodobancoimprovido”(TJRS,Ap.Cível70004384798,5.ªCâmaraCível,Rel.Des.AnaMariaNedelScalzilli,j.19-12-2002).

“Responsabilidadecivil.Danomoral.Devoluçãoindevidadechequeporinsuficiênciadefundos.Inscriçãojuntoaocadastrodeinadimplentes.Respondepordanosmoraisobancoquecadastraseuclienteadimplentenosserviçosdecontroledecrédito.Dispensávelaprovaconcretadodanomoral,que,incasu,sepresume.Aexistênciadepretéritosregistrosnegativosdeveserlevadaemcontaparaaquantificaçãodareparação.Apelaçãoprovida”(TJRS,Ap.Cível70005301981,6.ªCâmaraCível,Rel.Des.AntônioGuilhermeTangerJardim,j.18-12-2002).

523SérgioCavalieriFilho,ProgramadeResponsabilidadeCivil,SãoPaulo:Malheiros,2000,p.298.

524InformativodoSTJ,abrilde2003,disponívelnositehttp://www.stj.gov.br:

“08/04/2003—STJautorizapenhoradedepósitosdeinstituiçõesfinanceiras

Odinheirodisponívelnoscaixasdasinstituiçõesfinanceiraspodeserpenhorado,comexceçãodasreservastécnicasmantidaspelasinstituiçõesnoBancoCentral.AconclusãoédaQuartaTurmadoSuperiorTribunalde Justiça (STJ).Comadecisão, aCaixaEconômicaFederal terá penhorada a quantia determinadapelaJustiçanaaçãomovidaporRisaldodaSilvaRaposoparaacomplementaçãodosrendimentosdesuacontaindividualvinculadaaoFundodeGarantiaporTempodeServiço(FGTS).

ACaixaEconômicaFederal(CEF)foicondenadapelaJustiçaacomplementarosrendimentosdacontade

Page 608: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

RisaldoRaposovinculadaaoFGTS.Parapodercontestar,naexecuçãodasentença,osvalorescobrados,aCEFindicouàpenhoraumimóveldesuapropriedade,bemquefoirejeitadoporRisaldoRaposo.

OJuízodeprimeirograuacolheuopedidodeRisaldoRaposocontraapenhoradoimóvel.Parasubstituirobem,o JuízodeterminouàCEFodepósito, emdinheiro,daquantiacobradapelocorrentista.SegundoaCEF,RisaldoRaposoestariacobrandoR$41.826,79,mas,paraainstituiçãofinanceira,ovalordevidoseriabemmenor—R$8.808,87.

A CEF apelou afirmando que a decisão de primeiro grau teria contrariado a Lei 9.069/95. Segundo ainstituição, o dinheiro existente em sua tesouraria, como em qualquer outro banco, não pertenceria aobanco,poressemotivo,seriapartedasreservasbancárias,valoresconsideradosimpenhoráveis.

OTribunalRegionalFederaldaQuintaRegiãonegouoapelomantendoapenhoradodinheiro.Comisso,aCEFrecorreuaoSTJreiterandoaalegaçãodequeapenhoradeterminadaestariacontrariandooartigo68daLei 9.069/95.De acordo com aCEF, aquela lei estaria prevendo a impenhorabilidade dos depósitos dasinstituições financeiras bancárias mantidos no Banco Central. O Ministério Público Federal apresentouparecerpelarejeiçãodorecursoentendendoque‘nemtodososvaloresmonetáriosmantidosnasinstituiçõespodemserconsideradosimpenhoráveisnaformadoartigo68daLei9.069/95’.

Oministro RuyRosado deAguiar rejeitou o recurso. Dessa forma, ficamantida a penhora dos valoresdepositadosnaCEFparaqueainstituiçãofinanceirapossacontestaraquantiacobradaporRisaldoRaposo.‘OTribunaldeorigem(TRF)decidiuemharmoniacoma jurisprudênciapacíficanesteSTJ’, ressaltouorelator citando decisões do Tribunal pela possibilidade da penhora em dinheiro de recursos do bancodevedor,desdequenãorecaiaemreservasbancáriasquealeiconsideraimpenhoráveis”.

525OmesmoautorlembraqueajurisprudênciaevoluiuapontodeoSTJtercorporificadonaSúmula130oentendimentodeque:“Aempresaresponde,peranteocliente,pelareparaçãodedanooufurtodeveículoocorridos em seu estacionamento” (Rui Stoco, Tratado de Responsabilidade Civil, 5. ed., São Paulo:RevistadosTribunais,2001,p.497).

526 “Responsabilidade civil. Banco. Assalto. Trata-se da responsabilidade do banco pela morte decorrentistaassaltadoemortoaosacardinheiroemcaixaeletrôniconointeriordaagência.Nocasocomooassaltofoidentrodoestabelecimentobancário,aindaqueforadohoráriodeexpediente,respondeobancopela segurança dos seus usuários. Com esse entendimento, prosseguindo o julgamento, a Turma nãoconheceudorecurso”(STJ,REsp488.310-RJ,Rel.originárioMin.RuyRosado,Rel.p/acórdãoMin.AldirPassarinhoJunior,j.28-10-2003).

“Civileprocessual.Açãodeindenização.Assaltoapostobancáriodentrodeprédiopúblico.Assassinatodeservidor,emseguida,duranteafuga.Responsabilidadedobanco.Ausênciadesuficientesegurançaemdiadepagamento.Nexo causal configurado.Matéria de prova.Reexame. Impossibilidade.Súmula 7-STJ. I.Concluído pelo Tribunal estadual, na interpretação dos fatos da causa, que a segurança da instalação

Page 609: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

bancáriasituadadentrodeprédiopúblicoerainteiramentedeficiente,notadamenteemsetratandodediadepagamentodafolhadeservidores,quando,notoriamente,haviagrandemovimentaçãofinanceira,respondeobancopeloassassinatodefuncionárioocorridoimediatamenteapósoassalto,aindadentrodarepartição,pelosmarginaisentãoemfuga.II.Peculiaridadedaespécie.III.Apretensãodesimplesreexamedeprovanãoenseja recurso especial—Súmula7-STJ. IV.Recurso especial não conhecido” (STJ,4.ªTurma,RE434.500—RO2002/0052407-1,Rel.Min.AldirPassarinhoJunior,j.12-8-2003).

Emsituaçãoanáloga,decidiurecentementeoSuperiorTribunaldeJustiça,conformeseverificadaseguintenotíciadeseusistemapush(atéofechamentodestaedição,ointeiroteordoacórdãonãoestavadisponívelnainternet):

“27/08/2003—Bancoécondenadoaindenizarfamíliadehomemassassinadoemassalto.

Em1996,noestadodeRondônia,BeneditoGomesdeOliveira,funcionáriodoTribunaldeContasdaUnião(TCU),foiassassinadonasescadasdoTCU.OsassassinostinhamacabadodeassaltaraagênciadobancoSudamerisqueselocalizavanointeriordoprédio.OTribunaldeJustiçadoEstadodeRondôniacondenouobanco a pagar indenização aos filhosda vítima e aQuartaTurmadoSuperiorTribunal de Justiça (STJ)reforçouadecisãodoTribunal.

Cincohomensarmadoscommetralhadorasassaltaramobanconodia14denovembrode1996,nosétimoandardoprédio.AofugirempelasescadasencontraramoservidorBeneditoGomeseatiraramacertando-lhenocoração.AqueleeradiadepagamentodosfuncionáriosdoTCUeafolhadesalárioseraalgoemtornodeR$650mil.

Adefesadosfilhosdavítimaentroucomaçãodeindenizaçãopordanosmateriaisemoraiscontraobanco.Alegou para tal que, se não fosse o assalto ao banco, Benedito Gomes não teria morrido e,consequentemente,seusfilhos,aindahojemenoresdeidade,nãoestariamapassarnecessidadesfinanceiras.

Segundooprocesso,mesmosendodiadepagamento,aúnicaresistênciaencontradapelosassaltantesfoiapresença de seguranças do TCU que estavam, por coincidência, fazendo a segurança das autoridadespresentes à cerimônia de posse dos futuros Promotores de Justiça do Estado de Rondônia. O processoressaltaque,àépoca,váriosassaltosàbancoecarros-forteforamregistradosnaregião.

Ojuizdeprimeira instânciacondenouobancoapagarpordanosmoraisaosmenoresR$50mileaindaumapensãomensal,atéqueelescompletem21anos,comvalorreferenteadoisterçosdaremuneraçãototalqueoservidorrecebia.Essadecisãofoiacatadapelasegundainstância.

Obancoalegaqueasdecisõesnãoprocedem,umavezqueavítimanãoseencontravanasdependênciasdobanco e sim na suas proximidades. Afirma ainda que a lei o ampara no sentido da desnecessidade demaioresaparatosreferentesàsegurança,jáqueobancoestavanumprédiopúblicoeéoEstadoresponsávelpelasegurançapública.

NoSTJ,oministrorelatordoprocesso,AldirPassarinho,nãoconheceudorecursoporacreditarqueofato

Page 610: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

deasegurançapúblicaserdeverdoEstadonãoafastaaresponsabilidadedobanco.‘Oassaltosedeueminstalaçõesinternasdeprédio,sabendo-sequeapolícianãotemcomofiscalizar,pordentro,atéemrespeitoàpropriedadeprivadaoupública’.

Processo: REsp 434500” (disponível em: http://www.stj.gov.br/webstj/noticias/detalhes_ noticias.asp?seq_noticia=8759).

Page 611: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

527 “Direito civil. Responsabilidade civil.Actio civilis ex delicto. Indenização por acidente de trânsito.Extinção do processo cível em razão da sentença criminal absolutória que não negou a autoria e amaterialidadedofato.Art.1.525CC.Arts.65a67CPP.Recursoprovido.

I—Sentençacriminalque,emfacedainsuficiênciadeprovadaculpabilidadedoréu,oabsolvesemnegaraautoriaeamaterialidadedofato,nãoimplicanaextinçãodaaçãodeindenizaçãoporatoilícito,ajuizadacontraapreponentedomotoristaabsolvido.

II—Aabsolviçãonocrime,porausênciadeculpa,nãovedaaactiocivilisexdelicto.

III — O que o art. 1.525 do Código Civil obsta é que se debata no Juízo cível, para efeito deresponsabilidadecivil,aexistênciadoFatoeasuaautoriaquandotaisquestõestiveremsidodecididasnoJuízocriminal”(STJ,REsp257827/SP;REsp2000/0043082-0,Rel.Min.SálviodeFigueiredoTeixeira,j.13-9-2000,4.ªTurma).

“Responsabilidadecivil.Acidentede trânsito.Culpaconcorrentedavítima.Pensãodevidaa filhomenor(danomaterial).Direitodeacrescer.

1.Aculpatantopodesercivilcomopenal.Aresponsabilidadecivilnãodependedacriminal.Conquantohajacondenaçãopenal,talnãoimpedesereconheça,naaçãocivil,aculpaconcorrentedavítima.Oqueoart.1.525doCód.Civilimpedeéquesequestionesobreaexistênciadofatoedesuaautoria.

2.Emcasodedanomaterial,aobrigaçãodepensionarfindaaosvinteequatroanos.PrecedentesdoSTJ:REsp’s61.001,DJde24.4.95,e94.538,DJde4.8.97.

3.DeacordocomoRelator, é cabível a reversãodapensãoaosdemaisbeneficiários (Súmula57/TFReREsp 17.738,DJ de 22.5.95). Ponto, no entanto, em que a Turma, pormaioria de votos, entendeu nãoconfiguradoodissídio.

4. Recurso especial conhecido pelo dissídio e provido em parte” (STJ, REsp 83889/RS; REsp1995/0069378-0,Rel.Min.NilsonNaves,j.15-12-1998,3.ªTurma).

“Civileprocessualcivil.Sentençacriminalabsolutória.Legítimadefesareconhecida.Efeitonapretensãoindenizatória.Causasuperveniente.Arts.65/CPP,160/CCe741,VI/CPC.Aabsolviçãocriminalcombaseemlegítimadefesaexcluia‘actiocivilisexdelicto’,fazendocoisajulgadanocível.AabsolviçãonoJuízoCriminal,pelomotivoacimaapontado,posterioràsentençadaaçãocivilreparatóriaporatoilícito,importaem causa superveniente extintiva da obrigação, por isso que pode ser versada nos embargos a execuçãofundada em título judicial, na previsão do art. 741,VI, doCódigo de ProcessoCivil. Recurso provido”(STJ,REsp118449/GO;REsp1997/0008609-7,Rel.Min.CesarAsforRocha,j.26-11-1997,4.ªTurma).

528 Confira-se, a propósito, o Capítulo I (“Introdução à Responsabilidade Jurídica”), tópico 4(“ResponsabilidadeCivilxResponsabilidadeCriminal”).

529“Medidacautelar.Sobrestamentodeaçãocivilexdelicto.Impossibilidade.Instânciascívelecriminal.

Page 612: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Independência,exceção.

I—Asesferascívelecriminalguardamindependência,salvoquantoàautoriaouinexistênciadofato.

II— Não se defere medida cautelar quando ausentes seus pressupostos, máxime sendo ela usada comobjetivodeimpediroacessoàjurisdiçãocível.

III—Agravoregimentaldesprovido”(STJ,AGRMC3080/MG;AgravoRegimentalnaMedidaCautelar2000/0086387-4,Rel.Min.AntôniodePáduaRibeiro,3.ªTurma,j.5-10-2000).

530ALein.11.719/2008,alterandooart.387doCódigodeProcessoPenal,noincisoIV,estabeleceuqueopróprio juiz penal, ao proferir a sentença, estabelecerá um “valor mínimo” para a reparação dos danoscausadospelainfração,considerandoosprejuízossofridospeloofendido.

531Nestesentido,dispõeoart.515,II,doCPC/2015(equivalenteaoart.475-N,II,doCPC/1973,comaredaçãoincluídapelaLein.11.232/2005):

“Art.515.Sãotítulosexecutivosjudiciais,cujocumprimentodar-se-ádeacordocomosartigosprevistosnesteTítulo:

(...)

II—asentençapenalcondenatóriatransitadaemjulgado;”.

532ArakendeAssis,EficáciaCivildaSentençaPenal,2.ed.,SãoPaulo:RevistadosTribunais,2000,p.66.

533FernandoCapez,CursodeProcessoPenal,3.ed.,SãoPaulo:Saraiva,1999,p.137.

534“Reparaçãodedanos.Açãoindenizatória‘exdelicto’.LegitimidadedoMinistérioPúblicoparaintentá-la na qualidade de substituto processual. Art. 68 do CPP. Inconstitucionalidade progressiva reconhecidapeloC.STF.Nãoimplementadaaindaadefensoriapúblicanoestadodeorigem,admite-sealegitimidadedoMinistérioPúblicoparaproporaaçãocivilexdelicto,nostermosdoart.68doCPP.PrecedentesdaEg.QuartaTurma.Recursoespecialconhecidoeprovido”(STJ,REsp94070/SP;REsp1996/0025077-4,Rel.Min.BarrosMonteiro,j.1-4-1997,4.ªTurma).

535ArakendeAssis,ibidem,p.73.

536SílviodeSalvoVenosa,DireitoCivil—ResponsabilidadeCivil,3.ed.,SãoPaulo:Atlas,2003,p.135.

537 “Processual civil. Ação civil por ilícito penal, ajuizada commais de cinco anos do fato. Fundo dedireito.Prescrição:inocorrência.Interpretaçãoharmônica(CPP,art.63,CC,art.1.525eCPC,art.475-N,II).Recursoespecialnãoconhecido.

I—Orecorridofoiferidoporpolicialmilitar.Aoinvésdeajuizar,desdelogo,açãocível(CC,art.1.525),preferiu aguardar, por15 anos, a sentençapenal condenatória transitada em julgado.OCódigoCivil faz

Page 613: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

parte de um sistema. Assim, duas normas e princípios devem ser interpretados de modo coerente,harmônico,comresultadoútil.Dessarte,nãosepodeinvocar,comofazorecorrente,aprescriçãodofundodedireito.Talinterpretaçãolevariaaoabsurdoeàiniquidade:seopróprioCPCconfereexecutoriedadeasentençapenalcondenatória transitadaemjulgado(art.548, II),nãosepoderia,coerentemente,obrigaravítimaaaforaraaçãocivildentrodoscincoanosdofatocriminoso.AfastamentodoDec.n.20.910/32.

II—Recursoespecialnãoconhecido”(STJ,REsp80197/RS;1995/0061141-4,Rel.Min.PeçanhaMartins,Rel.p/acórdãoMin.AdhemarMaciel,2.ªTurma,j.20-10-1997).

“Civil.Açãodeindenizaçãoporatoilícito.Prescrição.Aaçãocivildereparaçãodedanoexdelictofundadanaresponsabilidadeobjetivaobedeceaoprazoprescricionaldoart.1.ºdoDecreton.20.910/32ecomotal,computáveldadatadofatoouatolesivo”(STJ,REsp8273/SP;REsp1991/0002590-9,2.ªTurma,Rel.Min.AméricoLuz,j.20-9-1993).

538Arespeitodotema,cf.aobraJuizadosEspeciaisCriminais—ComentáriosàLein.9.099,de26-9-1995,AdaP.Grinoveretal.,4.ed.,SãoPaulo:RevistadosTribunais,2002.

Page 614: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

539MariaHelenaDiniz,DicionárioJurídico,SãoPaulo:Saraiva,1998,v.2,p.816.

540DePlácidoeSilva,VocabulárioJurídico,15.ed.,RiodeJaneiro:Forense,1998,p.425.

541CLT:“Art.879.Sendoilíquidaasentençaexequenda,ordenar-se-á,previamente,asualiquidação,quepoderá ser feita por cálculo, por arbitramento ou por artigos (Redação dada pela Lei n. 2.244, de 23-6-1954)”.

542Confiram-se, a títulode curiosidade,os arts. 475-B (cálculos), 475-C (arbitramento), 475-Ee475-F(artigos)doCPC/1973.

543HumbertoTheodoroJúnior,CursodeDireitoProcessualCivil,11.ed.,RiodeJaneiro:Forense,1993,v.2,p.95.

544 “Art. 509. Quando a sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida, proceder-se-á à sualiquidação,arequerimentodocredoroudodevedor:

I — por arbitramento, quando determinado pela sentença, convencionado pelas partes ou exigido pelanaturezadoobjetodaliquidação;

II—peloprocedimentocomum,quandohouvernecessidadedealegareprovarfatonovo”(grifosnossos).

545ValentinCarrion,ComentáriosàConsolidaçãodasLeisdoTrabalho,17.ed.,SãoPaulo:RevistadosTribunais,1993,p.663.

546VerSúmula491doSTF.

547ReginaBeatrizTavaresdaSilva,ob.cit.,p.854.

548JoãodeLimaTeixeiraFilho,ODanoMoralnoDireitodoTrabalho,RevistaLTr,v.60,n.9,set.1996,p.1171.

549OrlandoTeixeiradaCosta,DaAçãoTrabalhistasobreDanoMoral,Trabalho&Doutrina,n.10,SãoPaulo:Saraiva,set.1996,p.68.

550MiguelReale,ODanoMoralnoDireitoBrasileiro,inTemasdeDireitoPositivo,SãoPaulo:RevistadosTribunais,1992,p.25-26.

551JosédeAguiarDias,DaResponsabilidadeCivil,9.ed.,v.2,RiodeJaneiro:Forense,1994,p.739.

552JosédeAguiarDias,ob.cit.,p.759.

553“Art.475-D.Requeridaaliquidaçãoporarbitramento,ojuiznomearáoperitoefixaráoprazoparaaentregadolaudo.

Parágrafoúnico.Apresentadoo laudo,sobreoqualpoderãoaspartesmanifestar-senoprazode10(dez)dias,ojuizproferirádecisãooudesignará,senecessário,audiência.”

Page 615: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

554PauloFurtado,Execução,2.ed.,SãoPaulo:Saraiva,1991,p.112.

555Consideramos, inclusive,bastante razoávelqueopróprioautor,emsuapetição inicial,proponhaumparâmetroparaaquantificaçãooumesmoumvalorqueconsideresuficienteparaacompensaçãododanomoral. Tal procedimento facilitaria sobremaneira a prestação jurisdicional, pois estabeleceria limitesobjetivosàlide,noquedizrespeitoàestipulaçãodacondenação.

556WashingtondeBarrosMonteiro,CursodeDireitoCivil—DireitodasObrigações,26.ed.,SãoPaulo:Saraiva,1993,p.414.

557“Art.510.Naliquidaçãoporarbitramento,ojuizintimaráaspartesparaaapresentaçãodepareceresou documentos elucidativos, no prazo que fixar, e, caso não possa decidir de plano, nomeará perito,observando-se,noquecouber,oprocedimentodaprovapericial.”

558RodolfoPamplonaFilho,AEquidadenoDireitodoTrabalho,Forum(RevistadoIAB—InstitutodosAdvogadosdaBahia),EdiçãoEspecialdo1.ºCentenáriodeFundação,Salvador:NovaAlvoradaEdições,1997,p.144-145.

559TercioSampaioFerrazJr., IntroduçãoaoEstudodoDireito,2.ed.,2. tir.,SãoPaulo:Atlas,1996,p.304.

560“STJbuscaparâmetrosparauniformizarvaloresdedanosmorais

Pormuitosanos,umadúvidapairousobreoJudiciárioeretardouoacessodevítimasàreparaçãopordanosmorais:épossívelquantificarfinanceiramenteumadoremocionalouumaborrecimento?AConstituiçãode1988bateuomarteloegarantiuodireitoàindenizaçãopordanomoral.Desdeentão,magistradosdetodoopaíssomam,dividememultiplicamparachegaraumpadrãonoarbitramentodasindenizações.OSuperiorTribunaldeJustiça(STJ)temapalavrafinalparaessescasose,aindaquenãohajauniformidadeentreosórgãosjulgadores,estáembuscadeparâmetrosparareadequarasindenizações.

OvalordodanomoraltemsidoenfrentadonoSTJsobaóticadeatenderumaduplafunção:repararodanobuscandominimizaradordavítimaepuniroofensorparaquenãoreincida.ComoévedadoaoTribunalreapreciarfatoseprovaseinterpretarcláusulascontratuais,oSTJapenasalteraosvaloresdeindenizaçõesfixadosnasinstânciaslocaisquandosetratadequantiairrisóriaouexagerada.

A dificuldade em estabelecer com exatidão a equivalência entre o dano e o ressarcimento se reflete naquantidadedeprocessosquechegamaoSTJparadebaterotema.Em2008,foram11.369processosque,dealgumaforma,debatiamdanomoral.Onúmeroécrescentedesdeadécadade1990e,nosúltimos10anos,somou67milprocessossónoTribunalSuperior.

OministrodoSTJ,LuisFelipeSalomão, integrantedaQuartaTurmaedaSegundaSeção,édefensordeumareformalegalemrelaçãoaosistemarecursal,paraque,nascausasemqueacondenaçãonãoultrapasse40saláriosmínimos(poranalogia,aalçadadosJuizadosEspeciais),sejaimpedidoorecursoaoSTJ.“Alei

Page 616: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

processualdeveriavedar expressamenteos recursos aoSTJ.Permiti-los éumadistorçãoemdesprestígioaostribunaislocais”,criticaoministro.

Subjetividade

Quandoanalisaopedidodedanomoral,ojuiztemliberdadeparaapreciar,valorarearbitraraindenizaçãodentro dos parâmetros pretendidos pelas partes.De acordo comoministro Salomão, não há um critériolegal,objetivoetarifadoparaafixaçãododanomoral.“Dependemuitodocasoconcretoedasensibilidadedojulgador”,explica.“Aindenizaçãonãopodeserínfima,demodoaservirdehumilhaçãoavítima,nemexorbitante,paranãorepresentarenriquecimentosemcausa”,completa.

ParaopresidentedaTerceiraTurmadoSTJ,ministroSidneiBeneti,essaéumadasquestõesmaisdifíceisdoDireitobrasileiroatual.“Nãoécálculomatemático.Impossívelafastarumcertosubjetivismo”,avalia.De acordo com o ministro Beneti, nos casos mais frequentes, considera-se, quanto à vítima, o tipo deocorrência (morte, lesão física, deformidade), o padecimento para a própria pessoa e familiares,circunstânciasde fato, comoadivulgaçãomaior oumenor e consequências psicológicasduráveis para avítima.

Quanto ao ofensor, considera-se a gravidade de sua conduta ofensiva, a desconsideração de sentimentoshumanosnoagir,suasforçaseconômicaseanecessidadedemaioroumenorvalor,paraqueovalorsejaumdesestímuloefetivoparaanãoreiteração.

Tantosfatoresparaanáliseresultamemdisparidadesentreostribunaisnafixaçãododanomoral.Éoquesechamade“jurisprudêncialotérica”.OministroSalomãoexplica:paraummesmofatoqueafetainúmerasvítimas, uma Câmara do Tribunal fixa um determinado valor de indenização e outra Turma julgadoraarbitra,emsituaçãoenvolvendopartescomsituaçõesbemassemelhadas,valordiferente.“EsseéumfatormuitoruimparaacredibilidadedaJustiça,conspirandoparaainsegurançajurídica”,analisaoministrodoSTJ.“Aindenizaçãonãorepresentaumbilhetepremiado”,diz.

EstessãoalgunsexemplosrecentesdecomoosdanosvêmsendoquantificadosnoSTJ.

Mortedentrodeescola=500salários

Quandoaaçãopordanomoralémovidacontraumentepúblico(porexemplo,aUniãoeosestados),cabeàsturmasdeDireitoPúblicodoSTJojulgamentodorecurso.SeguindooentendimentodaSegundaSeção,a Segunda Turma vem fixando o valor de indenizações no limite de 300 salários mínimos. Foi o queocorreunojulgamentodoREsp860.705,relatadopelaministraElianaCalmon.Orecursoeradospaisque,entreoutrospontos,tentavamaumentarodanomoraldeR$15milpara500saláriosmínimosemrazãodamortedofilhoocorridadentrodaescola,porumdisparodearma.ASegundaTurmafixouodano,aserressarcidopeloDistritoFederal,seguindootetopadronizadopelosministros.

Opatamar,noentanto,podevariardeacordocomodanosofrido.Em2007,oministroCastroMeiralevouparaanálise,tambémnaSegundaTurma,umrecursodoEstadodoAmazonas,quehaviasidocondenadoao

Page 617: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

pagamentodeR$350milàfamíliadeumameninamortaporumpolicialmilitaremserviço.Emprimeirainstância,aindenizaçãohaviasidofixadaemcercade1.600saláriosmínimos,masotribunallocalreduziuovalor,destinandoR$100milparacadaumdospaiseR$50milparacadaumdos três irmãos.OSTJmanteveovalor,jáque,devidoàscircunstânciasdocasoeàofensasofridapelafamília,nãoconsiderouovalorexorbitantenemdesproporcional(REsp932.001).

Paraplegia=600salários

AsubjetividadenomomentodafixaçãododanomoralresultaemdisparidadesgritantesentreosdiversosTribunaisdopaís.NumrecursoanalisadopelaSegundaTurmadoSTJem2004,aProcuradoriadoEstadodoRioGrandedoSulapresentouexemplosde

julgadospelopaísparacorroborarsuatesedereduçãodaindenizaçãoaquehaviasidocondenada.

Feitorefémduranteummotim,odiretor-geraldohospitalpenitenciáriodoPresídioCentraldePortoAlegreacabou paraplégico em razão de ferimentos. Processou o Estado e, em primeiro grau, o danomoral foiarbitrado emR$ 700mil.OTribunal estadual gaúcho considerou suficiente a indenização equivalente a1.300 salários mínimos. Ocorre que, em caso semelhante (paraplegia), o Tribunal de Justiça de MinasGeraisfixouem100saláriosmínimosodanomoral.DaíorecursoaoSTJ.

A Segunda Turma reduziu o dano moral devido à vítima do motim para 600 salários mínimos (REsp604801), mas a relatora do recurso, ministra Eliana Calmon, destacou dificuldade em chegar a umauniformização, já que há múltiplas especificidades a serem analisadas, de acordo com os fatos e ascircunstânciasdecadacaso.

Mortedefilhonoparto=250salários

Passadoochoquepelatragédia,énaturalqueasvítimaspensemnoressarcimentopelosdanosebusquemisso judicialmente.Em2002, aTerceiraTurma fixouem250 saláriosmínimosa indenizaçãodevidaaospaisdeumbebêdeSãoPaulomortopornegligênciadosresponsáveisdoberçário(Ag437.968).

CasosemelhantefoianalisadopelaSegundaTurmanesteano.Porfaltadocorretoatendimentoduranteeapósoparto,acriançaficoucomsequelascerebraispermanentes.Nestahipótese,arelatora,ministraElianaCalmon,decidiuporumaindenizaçãomaior,tendoemvistaoprolongamentodosofrimento.

“Amorte do filho no parto, por negligênciamédica, embora ocasione dor indescritível aos genitores, éevidentemente menor do que o sofrimento diário dos pais que terão de cuidar, diuturnamente, do filhoinválido,portadordedeficiênciamentalirreversível,quejamaisseráindependenteouteráavidasonhadaporaquelesquelhederamaexistência”,afirmouaministraemseuvoto.Aindenizaçãofoifixadaem500saláriosmínimos(REsp1.024.693).

Fofocasocial=30milreais

O STJ reconheceu a necessidade de reparação a uma mulher que teve sua foto ao lado de um noivo

Page 618: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

publicadaemjornaldoRioGrandedoNorte,noticiandoquesecasariam.Naverdade,nãoeraelaanoiva,pelocontrário,elesecasariacomoutrapessoa.Emprimeirograu,aindenizaçãofoifixadaemR$30mil,masoTribunaldeJustiçapotiguarentendeuquenãoexistiriadanoaser ressarcido, jáqueumacorreçãoteriasidopublicadaposteriormente.NoSTJ,acondenaçãofoirestabelecida(REsp1.053.534).

Protestoindevido=20milreais

UmcidadãoalagoanoviuumaindenizaçãodeR$133milminguarparaR$20milquandoocasochegouaoSTJ.Semnuncatersidocorrentistadobancoqueemitiuocheque,houveprotestodotítulodevolvidoporpartedaempresaqueorecebeu.Bancoeempresaforamcondenadosapagarcemvezesovalordocheque(R$ 1.333).Houve recurso e aTerceiraTurma reduziu a indenização.O relator,ministro SidneiBeneti,levouemconsideraçãoqueafraudefoipraticadaporterceirosequenãohouvedemonstraçãodeabaloaocréditodocidadão(REsp792.051).

Alarmeantifurto=7milreais

Oquepodeserinterpretadocomoummeroequívocooudissaborporalgunsconsumidores,paraoutrosérazão de processo judicial.O STJ tem jurisprudência no sentido de que não gera danomoral a simplesinterrupçãoindevidadaprestaçãodoserviçotelefônico(REsp846.273).

Jánoutrocaso,noanopassado,aTerceiraTurmamanteveumacondenaçãonovalordeR$7milpordanosmorais devido a um consumidor doRio de Janeiro que sofreu constrangimento e humilhação por ter deretornaràlojaparaserrevistado.Oalarmeantifurtodisparouindevidamente.

Paraarelatoradorecurso,ministraNancyAndrighi,foirazoávelopatamarestabelecidopeloTribunallocal(REsp1.042.208).Eladestacouqueovalorseria,inclusive,menordoquenoutroscasossemelhantesquechegaramaoSTJ.Em2002,houveumprecedentedaQuartaTurmaquefixouemR$15milindenizaçãoparacasoidêntico(REsp327.679).

Tabela

AtabelaabaixotrazumresumodealgunsprecedentesdoSTJsobrecasosquegeraramdanomoral,bemcomoosvaloresarbitradosnasegundainstânciaenoSTJ.Trata-sedematerialexclusivamentejornalístico,decaráterilustrativo,comoobjetivodefacilitaroacessodosleitoresàamplajurisprudênciadaCorte.

Evento 2.ºgrau STJ Processo

Recusa em cobrir tratamento médico-hospitalar (sem dano àsaúde)

R$ 5mil

R$ 20mil

REsp986947

Page 619: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Recusaemfornecermedicamento(semdanoàsaúde) R$ 100mil

10SM REsp801181

Cancelamentoinjustificadodevoo 100SM R$8milREsp740968

Compra de veículo com defeito de fabricação; problemaresolvidodentrodagarantia

R$ 15mil

não hádano

REsp750735

Inscriçãoindevidaemcadastrodeinadimplente 500SMR$ 10mil

REsp1105974

Revistaíntimaabusivanão hádano

50SMREsp856360

Omissão da esposa ao marido sobre a verdadeira paternidadebiológicadasfilhas

R$ 200mil

mantidaREsp742137

MorteapóscirurgiadeamígdalasR$ 400mil

R$ 200mil

REsp1074251

PacienteemestadovegetativoporerromédicoR$ 360mil

mantidaREsp853854

EstuproemprédiopúblicoR$ 52mil

mantidaREsp1060856

PublicaçãodenotíciainverídicaR$ 90mil

R$22.500

REsp401358

Presoerroneamentenão há R$ 100 REsp

Page 620: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

dano mil 872630

Processos:REsp860705;REsp932001;REsp604801;Ag437968;REsp1024693;REsp1053534;REsp792051; REsp 846273; REsp 1042208; REsp 327679 (STJ, publicado em 13-9-2009. Disponível emhttp://www.stj.gov.br/portal_stj/objeto/texto/impressao.wsp?tmp.estilo=&tmp.area=398&tmp.texto=93679.Acessoem18.ago.2011).

561Comentamosessedispositivoemnossovolume2—Obrigações.

562“ResponsabilidadecivilobjetivadoPoderPúblico.Elementosestruturais.Pressupostos legitimadoresda incidênciadoart.37,§6.º,daConstituiçãodaRepública.Teoriadoriscoadministrativo.Fatodanosopara o ofendido, resultante de atuação de servidor público no desempenho de atividade médica.Procedimentoexecutadoemhos-pitalpúblico.Danomoral.Ressarcibilidade.Duplafunçãodaindenizaçãocivilpordanomoral(reparação-sanção):(a)caráterpunitivoouinibitório(exemplaryorpunitivedamages)e (b) natureza compensatória ou reparatória. Doutrina. Jurisprudência. Agravo improvido. Decisão: Orecursoextraordinário—aqueserefereopresenteagravodeinstrumento—foiinterpostocontradecisão,que, proferida pelo E. TribunalRegional Federal/2.ª Região, acha-se consubstanciada em acórdão assimementado (fls. 18): ‘Constitucional—Administrativo— Civil— Responsabilidade civil do Estado—Extracontratual — Previsibilidade (...) — Reparação — Dano material e moral — Cumulação —Cabimento—Condenaçãoexcessiva—Reforma—Sendoaresponsabilidadeobjetiva,dispensadaestáapartedeprovaraculpalatosensu,anteaadoção,pelodireitopátrio,dateoriadorisco;—Demonstradoofatoadministrativo(condutacomissivadoagente),onexocausaleoresultadodanoso,devidaareparaçãopor dano material, pois que também não houve culpa da vítima, bem como não restou configurada aexcludentederesponsabilidade;—Odanomoralencontramatrizconstitucionalcujasregrasexpressamatutela aos direitos da personalidade; — Para a quantificação do dano moral deve-se levar em conta acondiçãosocialdaspartes,agravidadedalesão,ocaráterpunitivoparaoagenteeanaturezacompensatóriadacondenaçãoparaavítima,nãopodendoserfontedelocupletamento;—Apeloeremessaparcialmenteprovidos, apenas para reduzir a condenação por danomoral arbitrada excessivamente’ (grifei). AUniãoFederal, no apelo extremoemquestão,busca sustentar, apartir doexamede fatos eda análisede laudopericial, que se registrou, na espécie, situação configuradora de força maior, apta a descaracterizar —segundoalega—onexodecausalidadematerialentreacondutadoagentepúblicoeodanocausadoaomenorDanielFelipedeOliveiraNeto,quesofreu,quandodeseunascimento,‘...afundamentofrontaldocrânio, edemacerebral e áreadecontusãohemorrágica,males essesocasionadospor ter sido retiradodoventre de sua genitora à base de fórceps’ (fls. 14).Cumpre observar que o acórdão impugnado em sederecursalextraordinária,apoiando-senaanálisedosfatosedoconjuntoprobatório,reconheceucaracterizada,naespécie,aexistênciadanecessáriarelaçãocausal,postoqueinocorrentequalquerfatocapazderomperonexo de causalidade entre a conduta comissiva do agente público federal (médico) e o evento danosoinfligido à pequena vítima (fls. 12/18). A pretensão deduzida pela União Federal encontra obstáculo

Page 621: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

insuperávelnaimpossibilidadedesereexaminarem,emsederecursalextraordinária,elementosprobatórios,inclusive aqueles de natureza pericial, considerada, quanto a estes, a soberania do pronunciamento dosTribunais ordinários sobre matéria de fato (Súmula 279/STF). Vê-se, pois, que não se revela viável orecursoextraordinárioemquestão.Éque—talcomoprecedentementeenfatizado—nãosemostracabívelproceder,emsederecursalextraordinária,aindagaçõesdecarátereminentementeprobatório,especialmentequandosebuscadiscutir,comonaespécie,elementosfáticossubjacentesàcausa.Nocaso,averificaçãodaprocedência,ounão,dasalegaçõesdeduzidaspelaparterecorrenteimplicaránecessárioreexamedefatosedeprovas, o quenão se admite na sede excepcional do apelo extremo.Essapretensão, por issomesmo,sofreasrestriçõesinerentesaorecursoextraordinário,emcujoâmbitonãosereexaminamfatoseprovas,circunstância essaque faz incidir, na espécie, aSúmula279doSupremoTribunalFederal. Incensurável,dessemodo,ofundamentoemqueseapoiaadecisãoobjetodopresenteagravodeinstrumento,revelando-se correta, por isso mesmo, a formulação, na espécie, do juízo negativo de admissibilidade do recursoextraordinário em questão (fls. 45). Cabe observar, de outro lado, presente o contexto probatóriosoberanamente estabelecido pelo acórdão objeto do recurso extraordinário em questão, que a decisãoemanada do E. TRF/2.ª Região ajusta-se à orientação jurisprudencial que o Supremo Tribunal Federalfirmou na análise do art. 37, § 6.º, da Constituição da República. Como se sabe, a teoria do riscoadministrativo,consagradaemsucessivosdocumentosconstitucionaisbrasileiros,desdeaCartaPolíticade1946,revela-sefundamentodeordemdoutrináriasubjacenteànormadedireitopositivoqueinstituiu,emnossosistema jurídico,a responsabilidadecivilobjetivadoPoderPúblico,pelosdanosqueseusagentes,nessaqualidade,causarematerceiros(CF,art.37,§6.º).Essaconcepçãoteórica,queinformaoprincípioconstitucionaldaresponsabilidadecivilobjetivadoPoderPúblico,fazemergir,dameraocorrênciadeatolesivo causado à vítimapeloEstado, o dever de indenizá-la pelos danos sofridos, independentemente decaracterizaçãode culpados agentes estatais, consoante enfatizaomagistériodadoutrina (HELYLOPESMEIRELLES, ‘Direito Administrativo Brasileiro’, p. 561, 21.ª ed., 1996, Malheiros; MARIA SYLVIAZANELLA DI PIETRO, ‘Direito Administrativo’, p. 412/413, 5.ª ed., 1995, Atlas; DIÓGENESGASPARINI, ‘Direito Administrativo’, p. 410/411, 1989, Saraiva; CELSO RIBEIRO BASTOS,‘ComentáriosàConstituiçãodoBrasil’,vol.3, tomoIII/172,1992,Saraiva;JOSÉAFONSODASILVA,‘CursodeDireitoConstitucionalPositivo’,p.620/621,12.ªed.,1996,Malheiros,v.g.).Écerto,noentanto,que o princípio da responsabilidade objetiva não se reveste de caráter absoluto, eis que admite oabrandamento e, até mesmo, a exclusão da própria responsabilidade civil do Estado, nas hipótesesexcepcionais configuradoras de situações liberatórias — como o caso fortuito e a força maior — ouevidenciadoras de ocorrência de culpa atribuível à própria vítima (RDA 137/233—RTJ 55/50— RTJ163/1107-1109,v.g.).Impõe-sedestacar,nesteponto,nalinhadajurisprudênciaprevalecentenoSupremo

Tribunal Federal (RTJ 163/1107-1109, Rel. Min. Celso de Mello), que os elementos que compõem aestrutura e delineiam o perfil da responsabilidade civil objetiva do Poder Público compreendem (a) aalteridadedodano,(b)acausalidadematerialentreoeventusdamnieocomportamentopositivo(ação)ounegativo(omissão)doagentepúblico,(c)aoficialidadedaatividadecausalelesivaimputávelaagentedo

Page 622: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Poder Público, que, nessa condição funcional, tenha incidido, como na espécie, em conduta comissiva,independentementedalicitude,ounão,doseucomportamentofuncional(RTJ140/636)e(d)aausênciadecausaexcludentedaresponsabilidadeestatal(RTJ55/503—RTJ71/99—RTJ91/377—RTJ99/1155—RTJ131/417).Éporissoqueaausênciadequalquerdospressupostoslegitimadoresdaincidênciadaregrainscritano art. 37, §6.º, daCartaPolíticabastaparadescaracterizar a responsabilidade civil objetivadoEstado, especialmente quando ocorre circunstância que rompe o nexo de causalidade material entre ocomportamentodoagentepúblicoeaconsumaçãododanopessoaloupatrimonial infligidoaoofendido.Esclareça-se,poroportuno,quetodasasconsideraçõesjáfeitasaplicam-se,semqualquerdisceptação,emtemaderesponsabilidadecivilobjetivadoPoderPúblico,asituações—comoadestesautos—emqueoeventusdamniocorreuemhospitaispúblicos(oumantidospeloPoderPúblico)ouderivoude tratamentomédico inadequado ministrado por funcionário público (RT 304/876, Rel. Min. Vilas Boas) ou, então,resultou de conduta imputável a servidor público com atuação na áreamédica (RT 659/139—RJTJSP67/106-107,v.g.):‘OEstadorespondepelacegueiraconsequenteainfecçãoadquiridaporpessoainternadaem hospital por ele mantido’ (RF 89/178, Rel. Des. Mário Guimarães — grifei). ‘Processual civil —ResponsabilidadecivildaAdministraçãoPública.I—‘Seoerrooufalhamédicaocorreremhospitalououtroestabelecimentopúblico,aresponsabilidadeserádoEstado(AdministraçãoPública),combasenoart.37,§6.º,daConstituiçãoFederal (...)’ (AC278427,Rel.JuizCastroAguiar—TRF/2.ªRegião,DJUde22/08/2003, p. 255— grifei). ‘Civil. Responsabilidade civil. Danosmateriais e danosmorais. Invalidezresultante de ato cirúrgico. Responsabilidade objetiva. Indenização devida. 1. A Fundação UniversidadeFederal deMatoGrosso, na qualidade demantenedora doHospitalUniversitário JúlioMuller, respondeobjetivamentepelosdanosresultantesdeatocirúrgicoaquefoisubmetidooautornaquelenosocômio(CF,art.37,§6.º).’(AC01000520560,Rel.JuizDanielPaesRibeiro—TRF/1.ªRegião,DJUde03/04/2003,p.142— grifei).’ (...) 2. Sendo objetiva a responsabilidade do Hospital conveniado e do INAMPS, estesrespondem pelos danos causados ou produzidos diretamente por agentes que estavam a seu serviço,independentementedaapuraçãodeculpaoudolo.OconstituinteestabeleceuparatodososentesdoEstadoe seus desmembramentos administrativos a obrigação de indenizar o dano causado a terceiro por seusservidores,independentementedeprovadeculpanocometimentodalesão.AdotouaConstituiçãoaregrado princípio objetivo de responsabilidade sem culpa pela atuação lesiva dos agentes públicos e seusdelegados’ (AC01000054165,Rel. JuizMárioCesarRibeiro—TRF/1.ªRegião,DJUde 18/06/1999, p.298—grifei). Impendeassinalar,deoutro lado,quea fixaçãodoquantumpertinenteàcondenaçãocivilimpostaaoPoderPúblico—presentesospressupostosdefatosoberanamentereconhecidospeloTribunalaquo—observou,nocasooraemanálise,aorientaçãoqueajurisprudênciadosTribunaistemconsagradonoexamedotema,notadamentenopontoemqueomagistériojurisprudencial,pondoemdestaqueaduplafunçãoinerenteàindenizaçãocivilpordanosmorais,enfatiza,quantoatalaspecto,anecessáriacorrelaçãoentre o caráter punitivo da obrigação de indenizar (punitive damages), de um lado, e a naturezacompensatóriareferenteaodeverdeprocederàreparaçãopatrimonial,deoutro.Definitiva,sobtalaspecto,alição—sempreautorizada—deCAIOMÁRIODASILVAPEREIRA(‘ResponsabilidadeCivil’,p.55e

Page 623: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

60,itensns.45e49,8.ªed.,1996,Forense),cujomagistério,apropósitodaquestãooraemanálise,assimdiscorresobreotema:‘Quandosecuidadodanomoral,ofulcrodoconceitoressarcitórioacha-sedeslocadopara a convergência de duas forças: ‘caráter punitivo’ para que o causador do dano, pelo fato dacondenação, se veja castigado pela ofensa que praticou; e o ‘caráter compensatório’ para a vítima, quereceberáumasomaque lheproporcioneprazerescomocontrapartidadomal sofrido.Oproblemade suareparaçãodeveserpostoemtermosdequeareparaçãododanomoral,apardocaráterpunitivoimpostoaoagente,temdeassumirsentidocompensatório.(...).Somenteassumindoumaconcepçãodestaordeméquesecompreenderáqueodireitopositivoestabeleceoprincípiodareparaçãododanomoral.Aissoédeseacrescerquenareparaçãododanomoralinsere-seumaatitudedesolidariedadeàvítima(AguiarDias).Avítimadeuma lesãoaalgumdaquelesdireitossemcunhopatrimonialefetivo,masofendidaemumbemjurídicoqueemcertoscasospodesermesmomaisvaliosodoqueosintegrantesdeseupatrimônio,devereceber uma soma que lhe compense a dor ou o sofrimento, a ser arbitrada pelo juiz, atendendo àscircunstânciasdecadacaso,etendoemvistaaspossesdoofensoreasituaçãopessoaldoofendido.Nemtãograndequeseconvertaemfontedeenriquecimento,nemtãopequenaquesetorneinexpressiva.Masécertoqueasituaçãoeconômicadoofensoréumdoselementosdaquantificação,nãopodeserlevadaelaaoextremo de se defender que as suas más condições o eximam do dever ressarcitório’ (grifei). Essaorientação—tambémacompanhadapelomagistériodoutrinário,queexige,noqueserefereà funçãodedesestímulo ou de sanção representada pela indenização civil por dano moral, que os magistrados eTribunais observem, no arbitramento de seu valor, critérios de razoabilidade e de proporcionalidade(CARLOSALBERTOBITTAR,‘ReparaçãoCivilporDanosMorais’,p.115e239,itensns.20e40,2.ªed.,1994,RT;PABLOSTOLZEGAGLIANO/RODOLFOPAMPLONAFILHO,‘NovoCursodeDireitoCivil’,vol.II/319,itemn.2,2.ªed.,2003,Saraiva;CARLOSALBERTOMENEZESDIREITO/SÉRGIOCAVALIERIFILHO,‘ComentáriosaoNovoCódigoCivil’,vol.XIII/348-351,itemn.4.5,2004,Forense;YUSSEF SAID CAHALI, ‘Dano Moral’, p. 175-179, item n. 4.10-D, 2.ª ed., 1998, RT; SÍLVIO DESALVOVENOSA, ‘Direito Civil: Responsabilidade Civil’, vol. 4/189-190, item n. 10.2, 2.ª ed., 2002,Atlas;MARIAHELENADINIZ, ‘CursodeDireitoCivilBrasileiro:ResponsabilidadeCivil’,vol.7/105-106, 18.ª ed., 2004, Saraiva, v.g.) — é igualmente perfilhada pelos Tribunais, especialmente pelo E.SuperiorTribunaldeJustiça,cujajurisprudência,namatériaemquestão,firmouessamesmadiretriz(REsp295.175/RJ,Rel.Min.SálviodeFigueiredoTeixeira—REsp318.379/MG,Rel.Min.NancyAndrighi—REsp355.392/RJ,Rel.p/oacórdãoMin.CastroFilho,v.g.):‘I—Aindenizaçãopordanomoralobjetivacompensar a dor moral sofrida pela vítima, punir o ofensor e desestimular este e outros membros dasociedadeacometerematosdessanatureza’ (RSTJ151/269-270,Rel.Min.AntôniodePáduaRibeiro—grifei). ‘I—A indenizaçãopordanomoral objetiva compensar adormoral sofridapelavítima, punir oofensoredesestimularesteeasociedadeacometerematosdessanatureza.Afixaçãodoseuvalorenvolveoexamedamatériafática,quenãopodeserreapreciadaporestaCorte(Súmulan.7)(...)’(REsp337.739/SP,Rel.Min.AntôniodePáduaRibeiro—grifei).Sendoassim,epelasrazõesexpostas,negoprovimentoaopresente agravo de instrumento, eis que se revela inviável o recurso extraordinário a que ele se refere.

Page 624: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

Publique-se.Brasília,11deoutubrode2004.Rel.Min.CelsodeMello”(STF,AI455846/RJ,AgravodeInstrumento,DecisãoMonocrática, RelatorMin. Celso deMello, j. 11-10-2004,DJ, 21-10-2004, p. 18;RDDP,n.22,2005,p.160-163).

563RevistaConsultorJurídico,7denovembrode2002:

“Batalhajudicial—Indenizaçãoétransmissívelaosherdeiros,decideSTJ.

O direito a indenização por danosmorais é transmissível aos herdeiros.A conclusão é da 4.ª Turma doSuperiorTribunal de Justiça, que tambémnegou redução do valor de indenização arbitrado em segundainstância(R$6.500,00),pornãoconsiderá-loexagerado.

OsministrosdoSTJrejeitaramrecursodojuizCarlosOrlandoGomes,doTribunalRegionaldoTrabalhoda2.ªRegião,contraoespóliodojuizValentinRosiqueCarrion.

ValentinCarrion, quando era juiz doTRTpaulista, entrou comumaação contra o colegaCarlosGomesexigindoumaindenizaçãopordanosmorais.Deacordocomoprocesso,nasessãododia28dejaneirode1998, os juízes teriamdiscutido adisponibilidadeorçamentária paraopagamentodediferenças salariaisparaosmagistrados.Depoisda sessão,ValentinCarrion teria sedirigidoaCarlosGomesafirmandoquetudo naquele Tribunal, como a questão das diferenças salariais, seria decidido em ‘petit comité’. CarlosGomes teria respondido às afirmações do colega repetindo várias vezes a frase: ‘O senhor é um maucaráter’.

OJuízodeprimeirograuacolheuopedidodeValentinCarrionecondenouCarlosGomesaopagamentodeumaindenizaçãodeR$6.500,00pordanosmorais.Osdoisjuízesapelaram.

ValentinCarrionpediuoaumentodaindenização.CarlosGomesafirmouqueteriaapenassedefendidodasofensasdirigidas,inicialmente,pelocolega.Casoaaçãoprosseguisse,CarlosGomessolicitouareduçãodovalorindenizatório.

Duranteatramitaçãodoapelo,oautordaaçãomorreu.Porisso,oréusolicitouaextinçãodoprocesso.Emseupedido,CarlosGomesdestacouaintransmissibilidadededireitosdepersonalidade.

Carlos Gomes também ressaltou o fato da sentença não ter transitado em julgado. Segundo ele, aindenizaçãodeterminadapelasentençaaindanãoteriasidoincorporadaaopatrimôniodeixadopelocolega.Oespóliocontestouopedidodeextinçãoafirmandoterhavidoasucessãodofalecido.

OTribunaldeJustiçadeSãoPaulo rejeitoupedidodeCarlosGomesemanteveasentença.Ele recorreuentãoaoSTJ.Norecurso,CarlosGomesreiterouaafirmaçãodequeteriaapenasrespondidoaumaofensaanteriornãoocorrendo,porisso,danomoral.Tambémreafirmouoentendimentopelaintransmissibilidadedodanomoral.

OministroRuyRosado deAguiar negou o recurso.Dessa forma ficamantida a decisão doTJ-SP pelaindenizaçãopordanosmorais.Arespeitodaocorrênciaounãododanomoral,orelatorenfatizouque‘não

Page 625: Novo curso de direito civil, v. 3 : responsabilidade civil ... · Capítulo XIII - Responsabilidade Civil do Estado 1. INTRODUZINDO ESTE E OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS 2. EVOLUÇÃO DAS

cabeaesta instância revisora(STJ)reapreciarosfatosevaloraraprovaparadarnovaversãoaoquefoijulgadocomosendoumcomportamentoofensivo’.

O relator também entendeu como correta a decisão do TJ admitindo ‘a transmissibilidade do direito àindenização, depois de intentada a açãopeloofensor’.RuyRosado lembrou adoutrinade autores comoCahali e Pontes de Miranda, destacada pelo Tribunal de Justiça, com o mesmo entendimento pelatransmissibilidade.OSTJtambémnãoreduziuovalordaindenização”(REsp440.626).