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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS - UFAL FACULDADE DE DIREITO - FDA GRADUAÇÃO EM DIREITO CARLOS HENRIQUE GOMES DA SILVA THAÍS ANDRADE BASTOS DE ALMEIDA QUESTIONÁRIO AVALIATIVO

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Questionário de responsabilidade civil

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Page 1: Direito Civil Responsabilidade Civil

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS - UFALFACULDADE DE DIREITO - FDA

GRADUAÇÃO EM DIREITO

CARLOS HENRIQUE GOMES DA SILVA

THAÍS ANDRADE BASTOS DE ALMEIDA

QUESTIONÁRIO AVALIATIVO

Maceió2015

Page 2: Direito Civil Responsabilidade Civil

CARLOS HENRIQUE GOMES DA SILVA

THAÍS ANDRADE BASTOS DE ALMEIDA

QUESTIONÁRIO AVALIATIVO

Trabalho apresentado à Faculdade de Direito de Alagoas como requisito para obtenção de nota na disciplina de Responsabilidade Civil.

Orientador: Prof. Marcos Ehrhardt Jr.

Maceió2015

Page 3: Direito Civil Responsabilidade Civil

QUESTIONÁRIO

1. Costuma-se afirmar que a palavra “responsabilidade” é polissêmica. Apresente, pelo

menos, 3 sentidos que podem ser atribuídos ao tema.

2. Como ocorria a responsabilização entre os antigos?

3. Considerando o tratamento da responsabilidade civil na antiguidade, que mudanças ocorreram no período das trevas (Idade Média)?

4. Como a responsabilidade civil foi disciplinada no Código de 1916?

5. Que princípios gerais orientam a disciplina da Responsabilidade Civil?

6. Como distinguir a responsabilidade civil da responsabilidade penal nos dias atuais? Tal distinção ainda se justifica?

7. Como distinguir a responsabilidade civil da responsabilidade aquiliana? Qual é a origem do termo responsabilidade aquiliana?

8. Qual o impacto que a constituição do direito privado trouxe ao estudo da responsabilidade?

9. O que significa a expressão “direito de danos”? É possível considerá-la sinônimo de responsabilidade civil?

Page 4: Direito Civil Responsabilidade Civil

1. Costuma-se afirmar que a palavra “responsabilidade” é polissêmica. Apresente, pelo

menos, 3 sentidos que podem ser atribuídos ao tema.

No ensinamento do douto professor CARLOS ROBERTO GONÇALVES, várias

acepções podem ser atribuídas ao vocábulo reponsabilidade, dentre as quais mister destacar

três sentidos amplamente atribuídos ao termo:

Inicialmente, a palavra “responsabilidade” adquire expressão relacionada à doutrina do

livre arbítrio. Trata-se da responsabilidade em sentido ético ou moral, objeto de acirrado

debate entre libertarinistas e compatibilistas (adeptos da teoria do livro arbítrio vs.

deterministas), relacionada às escolhas morais de cada indivíduo. Partindo do pressuposto de

que o ser humano possui a capacidade ou liberdade para agir do modo como melhor lhe

aprouver, ele é responsabilizado pelas consequências dos seus atos.

Em segundo lugar, associa-se o verbete ao sentido de “espírito de dever”. Nesse

sentido, adquire conotação de dever, uma incumbência, atribuição, ônus ou encargo pelo qual

o indivíduo deve responder por. Dentro desse contexto, o termo adquire essência de

obrigação, ou seja, de fazer aquilo que se obrigou e não o que lhe apetece.

Por fim, destaca-se a noção de responsabilidade como aspecto da realidade social.

Nesse sentido, abstrai-se do conceito de responsabilidade a ideia de restauração de equilíbrio,

reparação de dano. Assim, toda atividade humana que acarrete prejuízo expõe-se às

consequências não desejadas decorrentes de sua conduta danosa, podendo ser compelido a

restaurar o status quo ante.

2. Como ocorria a responsabilização entre os antigos?

Ministra o ilustre professor PAULO DOURADO DE GUSMÃO que, nos tempos

remotos, notadamente no Código de Hamurabi e na legislação hebraica, no tocante à

reparação dos danos, a pena do talião era aplicada. Ambas as culturas previam a pena

pecuniária para determinados delitos, embora no primeiro apenas o escravo padecesse ante a

pecúnia.

Identificando-se na sociedade arcaica a pessoa como o grupo social, entende-se que a

responsabilidade estendia-se a todos, sem qualquer distinção e sem qualquer dependência de

culpabilidade ou de maturidade mental do causador do dano. Dominava então, a

responsabilidade coletiva (a culpa coletiva). Além de coletiva, a responsabilidade também era

objetiva, vez que se ignorava a capacidade ou culpabilidade do causador do dano. Bastava

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apenas um nexo de causalidade material entre conduta e resultado danoso a outrem, devendo

ser o indivíduo imediatamente castigado, bem como sua família e destruídos seus bens.

Fiel à visão de PABLO STOLZE, é importante frisar que nestas primeiras formas

organizadas de sociedade, a origem do instituto estava calcada na concepção de vingança

privada (vindicta), coletiva ou não. Preponderou a ideia de delito como origem da

responsabilidade, gerando o dever jurídico de reparação do dano. SENISE LISBOA conclui o

pensamento aqui explanado ao lecionar que se impossibilitava qualquer consideração sobre a

noção jurídica de culpa leve ou lata, uma vez que se equiparada a prática de um delito a outro

(reparação de um dano com a prática de outro dano), fundada na Lei do Talião, que limitava a

represália da vítima sobre o agressor à proporcionalidade do dano causado.

Nas primeiras “altas culturas”, como a sumeriana e a indiana, elas passaram a ser

codificadas. Nessa fase mais evoluída, a responsabilidade corresponde a uma situação

jurídica em que se encontra uma pessoa ou sua família obrigada a compensar

pecuniariamente a vítima ou a sua família, pelas lesões ou danos a ela causados. Surge, assim,

pela primeira vez, a responsabilidade como reparação de danos. Aqui, ainda não se cogitava

culpa, mas apenas do nexo de causalidade material: quem causou o dano, mesmo que

involuntariamente, é responsável, devendo pagar pela ofensa.

Já o Direito Romano, como os antigos, pautou-se na Pena do Talião, constante na Lei

das XII Tábuas.

Antes de mais nada, é preciso afirmar que para efeitos legais entre os antigos romanos,

somente o pater, chefe de família, era sujeito de direito. Consoante descrito por FUSTEL DE

COULANGE1, este possuía poderes absolutos sobre sua família e sobre seus bens, deles

podendo dispor arbitrariamente, de modo que somente ele respondia perante a justiça, sendo

responsável pelos delitos cometidos por qualquer membro de sua família.

Todavia, segundo CARLOS ROBERTO GONÇALVES, nessa mesma lei que previa a

pena proporcional ao dano, havia vestígios de evolução do instituto, ao conceber a

possibilidade de composição entre a vítima e o ofensor, evitando-se a aplicação da pena do

Talião. A supracitada lei carregou, sobretudo, o objetivo de substituir a ideia generalizada de

castigo, introduzindo as chamadas penas de restituição, por meio da adoção de penas

patrimoniais e tarifadas.

Consequentemente, a Lei do Talião foi aos poucos sendo substituída pela composição,

pela qual seriam reparados os danos mediante compensações materiais, levando em conta o

1 COULANGES, Fustel de. A Cidade Antiga. p. 134-138. Disponível em: <http://www.ebookbrasil.org> Acesso em: 15 de março 2015.)

Page 6: Direito Civil Responsabilidade Civil

bem atingido, a idade, o sexo e a situação social do ofendido. A própria compensação foi, a

princípio, coletiva, depois se individualizou, restringindo-se à obrigação de o ofensor dar à

vítima, a título de compensação, algo valioso.

Paulatinamente, a legislação romana tornou a composição econômica regra

obrigatória. Assim, sucedeu a composição tarifada, que fixava, em casos concretos, o valor da

pena a ser paga pelo ofensor.

Na fase republicana, o direito romano estabeleceu a Lex Aquilia de damnum, que

propugnava pela substituição das multas por uma pena proporcional ao dano causado. Essa lei

regulava o danum injuria datum, consistente na destruição ou deterioração da coisa alheia

por fato ativo que tivesse atingido coisa corpórea ou incorpórea, sem justificativa legal. A lei

Aquiliana fixou a culpa como elemento básico da responsabilidade civil, de encontro ao

objetivismo excessivo do direito primitivo, abstraindo a concepção de pena para substituí-la

pela ideia de reparação de dano. Com ela, surgiram as penas proporcionais ao prejuízo.

THOMAS MARKY relembra que, no direito romano, inexistia distinção nítida entre

punição e ressarcimento do dano. Apenas com o desenvolver do Estado, que tomou para si o

monopólio do direito de punir e vedou a vingança privada, é que se abandonou a concepção

de que a pena privada teria caráter de punição. Assim, começaram a desenvolver uma

pequena diferenciação entre a pena e a reparação que aos poucos evoluiu para a

diferenciação entre responsabilidade civil e penal.

De tudo acima explanado, conclui-se que a noção de responsabilidade não se assentou

no conceito de culpa, mas no conceito de dano, pois o delito se caracteriza pela existência de

prejuízo. E a introdução da culpa no estudo da responsabilidade civil só foi viabilizada pela

legislação aquiliana, que a erigiu a elemento subjetivo da responsabilidade.

3. Considerando o tratamento da responsabilidade civil na antiguidade, que mudanças

ocorreram no período das trevas (Idade Média)?

Com o fim do domínio Romano no continente europeu, os estudos desenvolvidos pela

Igreja e pelos glosadores lograram o reverdecer de vários princípios e normas provenientes da

lei romana, destacando-se a concepção segundo a qual a responsabilidade civil teria como

pressuposto a culpa. Fortaleceu-se a sistemática da Lex Aquilia de damnum, somando-a ao

sentido religioso cristão conferido à culpa como pecado.

Falecida a vingança privada com o monopólio do ius puniendi pelo Estado, o direito

foi aperfeiçoando a responsabilidade civil em toda a Europa Medieval, notadamente no direito

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francês. Esse direito estabeleceu princípios, e difundiu para outros povos o princípio aquiliano

in lege Aquilia et levíssima culpa venit (a culpa, ainda que levíssima, obriga a indenizar).

Assim, como aclara CARLOS ROBERTO GONÇALVES, o pensamento da

responsabilidade civil evoluiu para um patamar no qual o direito à reparação de danos

pressupunha a culpa, mesmo que leve, separando a responsabilidade civil, que surge perante a

vítima, da responsabilidade penal, que surge perante o Estado. Além do mais, os franceses

alcançaram a ideia de “culpa contratual”, proveniente do descumprimento de uma obrigação,

esta que independe de crime, mas deriva de negligência ou imperícia.

4. Como a responsabilidade civil foi disciplinada no Código de 1916?

Convém destacar ensinamento do ilustre professor SILVIO RODRIGUES:

O legislador de 1916 não deu à questão da responsabilidade civil

um disciplinamento sistemático. Na parte geral, em dois artigos

(159 e 160), consagrou a regra geral da responsabilidade

aquiliana e registrou algumas excludentes; ao depois

compendiou, na Parte Especial, em dois diversos capítulos,

outros dispositivos sobre o tema. Isso tudo, data venia, sem

muita ordem, nem muita sistematização.2

Além da regra geral consagrada nos dispositivos supramencionados, o legislador fez

constar nos artigos 1.537 a 1.539 as principais situações que ensejavam indenização.

Esta atitude calhou vez que no momento em que se elaborou o projeto e foi ele

discutido, a responsabilidade civil não havia alcançado, quer no campo teórico, quer no

prático, a enorme difusão que desfruta nos dias atuais.

O Código Civil de 1916 adotou a teoria clássica da culpa, embora tenha a teoria

objetiva (pela qual dolo ou culpa na conduta do agente causador do dano é irrelevante

juridicamente, devendo haver somente a o elo de causalidade entre o dano e a conduta do

agente responsável para que surja o dever de indenizar) se estabelecido em vários setores da

atividade, inclusive dentro do próprio Código Civil. Assim, o art. 15 representou uma das

primeiras tentativas em consagrar essa vertente, trazendo a responsabilidade civil objetiva do

2RODRIGUES, Silvio. Direito Civil, volume IV: Responsabilidade Civil. 12ª ed. São Paulo: Saraiva, 1989, p. 1

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Estado pelos atos comissivos dos seus agentes, em abono do dispositivo constitucional (art. 37

da Constituição Federal de 1988).

Ademais o artigo retrocitado, a teoria objetiva apenas a se consagrou através de leis

especiais, ao exemplo do decreto nº. 2.681 de 1912, que disciplina a responsabilidade civil das

estradas de ferro, tendo em vista o risco da atividade exercida, lei 6.367/76, que se fundou no

risco profissional e a reparação dos danos causados aos trabalhadores, independente de

verificação de culpa.

5. Que princípios gerais orientam a disciplina da Responsabilidade Civil?

PABLO STOLZE doutrina que toda manifestação de atividade que provoca prejuízo,

traz em seu bojo o problema da responsabilidade. Sendo alocado à seara da Teoria Geral do

Direito, submete-se a todos os princípios estruturais do Direito.

Importante destacar que a acepção que se faz de responsabilidade está ligada a um

dever jurídico sucessivo, ou seja, um dever jurídico que surge decorrente da violação de outro

dever jurídico originário. O respaldo de tal obrigação, no campo jurídico, está no preceito

fundamental do “neminem laedere”, o princípio da “proibição de ofender”, ou seja, ninguém

deve ser lesado pela conduta alheia.

A responsabilidade civil também obedece dois princípios éticos jurídicos: o princípio

da culpa “unuscuique sua culpa nocet” (pelo qual haverá obrigação de reparar danos à pessoa

ou bens alheios quando o agente causador proceder de forma censurável, ou seja, com culpa

ou dolo), que fundamenta a responsabilidade subjetiva, e o princípio do risco (pelo qual

ninguém pode ser obrigado a suportar danos causados por outrem, devendo ser o lesante a

pessoa a arcar com o prejuízo, mesmo que não tivesse procedido com dolo ou culpa), que

fundamenta a responsabilidade objetiva.

Por fim, para um melhor esclarecimento da questão, elenca FELIPE PEIXOTO uma

série de princípios presentes no estudo em tele: o princípio da irrelevância da culpa para a

fixação do valor da indenização, pelo qual o valor da reparação baseia-se na extensão do

dano, não se distinguindo graus de culpa, salvo exceções; princípio da solidariedade entre os

causadores do dano, o qual diz que, em face da responsabilidade extracontratual, havendo

mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação do dano, princípio este

que possui fulcro no art. 942 do Código Civil; princípio da reparação integral, donde se

preceitua que a reparação seja verdadeiramente integral, cobrindo os prejuízos havidos em

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virtude de dano e buscando o retorno ao status quo ante; princípio da preocupação

prioritária com a vítima, que privilegia a vítima para que esta não fique sem reparação.

6. Como distinguir a responsabilidade civil da responsabilidade penal nos dias atuais?

Tal distinção ainda se justifica?

Originariamente, a reponsabilidade civil e a responsabilidade penal não se distinguiam

sistematicamente. Constata-se, em tempos remotos, a predominância da vingança privada

através da autotutela, ou seja, a ideia de delito antecedeu a origem da responsabilidade. O

dever jurídico de reparação do dano era dado pelo sentimento da própria razão sem

regramentos, segundo JHERING.

Consagrado o processo de evolução do direito privado, a responsabilidade jurídica,

dada sua generalidade, se apresenta, respeitando suas peculiaridades, em diversos campos,

seja na seara cível, penal, tributária, processual ou administrativa.

Na responsabilidade civil, o agente que comete o ilícito acaba por carregar a obrigação

de reparar o dano patrimonial ou moral causado. Uma vez que não seja mais possível, essa

reparação será convertida em pagamento de indenização, se houver possibilidade de avaliar o

dano pecuniariamente ou de uma compensação, caso não se possa estimar este dano

patrimonialmente.

Enquanto que na responsabilidade penal ou criminal, o agente deverá sofrer uma

sanção legal que pode ser privativa de liberdade (ex.: prisão), restritiva de direitos (ex.: perda

da carta de habilitação de motorista) ou mesmo pecuniária (ex.: multa).

A responsabilidade civil, em linhas gerais, tem por objeto investigativo o ilícito cível.

O jurista MIGUEL FENECH observa em sua obra “O processo penal” que o ilícito cível se

diferencia do penal, principalmente, devido aos mecanismos sancionatórios, ou seja, a

resposta que se dá a essa conduta. Além disso, haja vista a relevância da sua gravidade, o

ilícito penal exige tipicidade, característica desnecessária para o ilícito cível.

Uma interessante colocação de ilustre jurista WLADIMIR VALLER, inspirada no

eterno NÉLSON HUNGRIA, merece ser ressaltada nesse espaço:

Mas enquanto ilícito penal acarreta uma violação da ordem

jurídica, quer por sua gravidade ou intensidade, a única sanção

adequada é a imposição da pena, no ilícito civil, por ser menor a

Page 10: Direito Civil Responsabilidade Civil

extensão da perturbação social, são suficientes as sanções civis

(indenização, restituição in specie, anulação do ato, execução

forçada etc.). A diferença entre o ilícito civil e o ilícito penal é,

assim, tão somente, de grau ou de quantidade.3

Sintetizando o que foi apresentado, conforme explicação retro, tal distinção ainda se

justifica, dada a relativa autonomia entre as esferas cível e penal. Nesse sentido, a professora

MARIA HELENA DINIZ corrobora com essa ideia:

Enquanto a responsabilidade penal pressupõe uma turbação

social, ou seja, uma lesão aos deveres de cidadãos para com a

ordem da sociedade, acarretando um dano social determinado

pela violação da norma penal (...) a responsabilidade civil requer

prejuízo a terceiro, particular ou Estado. A responsabilidade

civil, por ser de repercussão do dano privado, tem por causa

geradora o interesse em restabelecer o equilíbrio jurídico

alterado ou desfeito pela lesão, de modo que a vítima poderá

pedir reparação do prejuízo causado, traduzida na recomposição

do status quo ante, ou numa importância em dinheiro.4

7. Como distinguir Responsabilidade contratual da Responsabilidade Aquiliana? Qual a

origem do termo “Responsabilidade Aquiliana”?

A responsabilidade civil deriva da transgressão de uma norma jurídica preexistente

com a consequente imposição ao causador do dano do dever de indenizar. A depender da

natureza da norma jurídica preexistente violada, a responsabilidade civil poderá ser

contratual, prevista nos artigos 389 e 395 do Código Civil ou extracontratual, também

chamada de aquiliana, prevista nos artigos 186, 187 e 927 do Código Civil de 2002.

PABLO STOLZE afirma que existem três elementos diferenciadores entre a

responsabilidade contratual e a aquiliana: a necessária persistência de uma relação jurídica

entre lesionado e lesionante; o ônus da prova quanto à culpa; e a diferença quanto à

capacidade.

3 VALLER, Wladimir. A Reparação do Dano Moral no Direito Brasileiro. 3ª ed. Campinas-SP: E. V. Editora, 1995, p. 17.4 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, volume 7: responsabilidade civil. 27ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p.

Page 11: Direito Civil Responsabilidade Civil

A responsabilidade contratual é aquela em que já existia norma jurídica contratual que

vinculava as partes envolvidas e o dano decorre justamente do descumprimento de obrigação

fixada neste contrato. A culpa contratual seria a violação do dever de adimplir que é

justamente o negócio jurídico. A culpa é, geralmente, presumida cabendo à vítima apenas a

comprovação de que a obrigação não foi cumprida.

A responsabilidade extracontratual ou aquiliana é aquela em que o prejuízo decorre

diretamente da violação de um mandamento legal, por força da atuação ilícita do agente

infrator. Na culpa aquiliana viola-se um dever necessariamente negativo, ou melhor, a

obrigação de não causar dano a ninguém. Por esse motivo, a vítima deve sempre provar a

culpa do autor.

É interessante ressaltar uma ponderação feita por CARLOS ROBERTO

GONÇALVES:

Há quem critique essa dualidade de tratamento. São os adeptos

da tese unitária ou monista, que entendem pouco importar os

aspectos sob os quais se apresente a responsabilidade civil no

cenário jurídico, pois uniformes são os seus efeitos.

MARIA HELENA DINIZ afirma que o termo responsabilidade aquiliana tem origem

com a Lex Aquilia de damnum que traz uma enorme revolução nos conceitos jus-

romanísticos. Implantada na república romana, estabeleceu as bases da responsabilidade,

criando uma forma pecuniária de indenização dos prejuízos, com base no estabelecimento de

seu valor e atribuindo a origem do elemento “culpa” como fundamental na reparação do dano.

Segundo CAIO MÁRIO DA SILVA PEREIRA, serve para designar a responsabilidade

extracontratual em oposição a contratual.

8. Qual o impacto que a constitucionalização do direito privado trouxe ao estudo da

responsabilidade?

O direito privado, atualmente, segue um novo caminho metodológico: o direito civil

constitucional que visa aliar os institutos privados não só à luz do Código Civil, mas também

sob a égide da Constituição Federal de 1988, interpretando-os dentro de um todo.

O Direito Civil Constitucional está amparado em três princípios básicos numa estreita

relação com a responsabilidade civil, segundo GUSTAVO TEPEDINO, são eles: O princípio

Page 12: Direito Civil Responsabilidade Civil

da proteção da dignidade da pessoa humana, garantido no art. 1.º, III, onde a

responsabilidade civil deve ser amparada no módulo da personalização do direito privado, ou

seja, valorização da pessoa em detrimento da desvalorização do patrimônio, fenômeno

chamado de despatrimonialização; O princípio da solidariedade social garantido no artigo 3º,

I, da C.F/1988 e, por fim, o princípio da isonomia ou igualdade lato sensu, prescrito no artigo

5º, caput. De forma que a responsabilidade civil tem uma importante função social.

Para PAULO LUIZ NETTO LÔBO, existem valores que ficam consubstanciados pela

operação da constitucionalização do direito privado. São eles: a primazia do interesse da

vítima, a máxima reparação do dano e a solidariedade social. Visando sempre a máxima

satisfação possível da vítima, fazendo prevalecer seu interesse e repará-la ao máximo,

simbolizando a primazia do seu interesse e a coletivização da responsabilidade civil.

9. O que significa a expressão direito de danos? É possível considerá-la sinônimo de

responsabilidade civil?

Trata-se de uma corrente doutrinária no sentindo da junção dos regimes de

responsabilidade civil contratual e extracontratual, segundo PAULO LÔBO, visando

simplificar a compreensão e unificar a aplicação das normas de responsabilidade civil. A

expressão direito de danos pode ser considerada sinônimo de responsabilidade civil, visto que

trata do dever de indenizar os danos e as perdas da vítima. É a garantia da vítima de ser

ressarcida por um dano injusto.

Atenta FERNANDO NORONHA para a exigência, porém, quatro pressupostos à

caracterização do tema: haver um fato que seja antijurídico, que esse fato possa ser imputado

a alguém, que esse ato tenha produzido danos e tais danos possam ser juridicamente

considerados como causados pelo ato ou fato praticado.5

RODRIGO XAVIER LEONARDO dá preferência a uso do termo “direito de danos”

ponderando:

Se antes o elemento primordial da responsabilidade (expressão

que traz consigo a ideia de reprimenda, de desvalor moral) era a

culpa, hoje o elemento basilar ao dever de indenizar é o dano.

Nesse sentido, a própria expressão ‘responsabilidade civil’ tem

um significado limitado, vez que nem sempre a imputação do

5 NORONHA, Fernando. Direito das obrigações. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 468/469.

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dever de indenizar recai sobre o responsável pelo dano. Melhor

referir-se a essa disciplina, hoje, como um direito de danos.6

A esse respeito, disserta MARCOS EHRHARDT JR., com influência de JORGE MOSSET

ITURRASPE e MIGUEL A. PIEDECASAS:

Unificar os regimes, dentro perspectiva da operabilidade, um

dos princípios gerais que serviam de base para a elaboração do

Código Civil vigente, significaria uma simplificação do

tratamento atualmente conferido à matéria, facilitando sua

compreensão na medida em que “a ilicitude, a imputação, o

prejuízo e a relação de causalidade são elementos comuns,

perseguem um mesmo fim e cumprem a mesma função”.7

REFERÊNCIAS

CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 10ª ed. São Paulo: Atlas, 2012.

6 LEONARDO, Rodrigo Xavier. Responsabilidade Civil Contratual e Extracontratual: primeira anotações em face do Novo Código Civil Brasileiro, Tuiuti: Ciência Ze Cultura, n. 30, FCJ 04, Curitiba, mai. 2002, p. 114. Disponível em: <http://www.utp.br/tuiuticienciaecultura/ciclo_2/FCJ/FCJ%2030/PDF/art%206.pdf>. Acesso em 14 março de 2015.7 EHRHARDT JR., Marcos. Em busca de uma teoria geral da responsabilidade civil. Disponível em: http://www.marcosehrhardt.adv.br/index.php/artigo/2014/03/12/rm-busca-de-uma-teoria-geral-da-responsabilidade-civil. Acesso em 14 de março de 2015

Page 14: Direito Civil Responsabilidade Civil

COULANGES, Fustel de. A Cidade Antiga. Disponível em: <http://www.ebookbrasil.org> Acesso em: 15 de março 2015.)

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EHRHARDT JR., Marcos. Em busca de uma teoria geral da responsabilidade civil. Disponível em: http://www.marcosehrhardt.adv.br/index.php/artigo/2014/03/12/rm-busca-de-uma-teoria-geral-da-responsabilidade-civil. Acesso em 14 de março de 2015.

GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil, Parte Geral. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003.

GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil, volume 3: Responsabilidade Civil. 11ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 4: Responsabilidade Civil. 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2014.

GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao Estudo do Direito. 45ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012.

JHERING, Rudolph Von. O Espírito do Direito Romano, volume 4. Rio de Janeiro: Alba, 1943.

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LISBOA, Roberto Senise. Manual de Direito Civil. Volume 2 - Obrigações e Responsabilidade Civil. 3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.

LÔBO, Paulo Luiz Netto. Do contrato no Estado social: crise e transformações. Maceió: Edufal, 1983.

MARKY, Thomas. Curso Elementar de Direito Romano. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 1995.

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PEREIRA Caio Mário da Silv. Responsabilidade Civil. 9ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001.

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TEPEDINO, Gustavo. Temas de Direito Civil: Premissas metodológicas para a constitucionalização do direito civil. 3ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2004.

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