na 9 2015 dossie ritos e crencas nordica

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    Notcias Asgardianasn. 9, 2015: Dossi: Ritos e crenas nrdicas Pgina 2

    SUMRIO

    - Editorial- Andr Arajo de Oliveira - p. 4

    Dossi: Ritos e crenas nrdicas

    - Arqueologia da Religio na Idade do Bronze: anlise da garota de Egtved -

    Andressa Furlan Ferreira - p. 6

    -Astronomia, ritos e crenas na Antiguidade Nrdica- Johnni Langer - p. 13

    - O simbolismo e a religiosidade nrdica pr-cristRicardo Menezes - p. 19

    -Assimilaes e influncias entre o martelo de Thor e a cruz de Cristo Munir Lutfe

    Ayoub - p. 27

    - Hel e o inferno cristo: comparaes e incongruncias - Leandro Vilar Oliveira -

    p. 36

    - Da profecia a converso: anlise da esttica literria crist na iranda ttur og

    rhalls -Jos Lucas Cordeiro Fernandes - p. 42

    - O mito de Herclio na Noruega medieval(sculos XII-XIV): breves consideraes -

    Guilherme Queiroz de Souza - p. 51

    - A influncia da Igreja catlica na demonizao da figura do elfo - Maria Helena

    Alves da Silva -. p. 58

    - A presena dos mitos pagos na igreja de Hylestad - Valmir Azevedo dos Santos

    Jnior - p. 62

    - Gods of war: uma anlise de imagens do rock de temtica nrdica - Wesley

    Avelar - p. 69

    - Notcias - p. 75

    - Normas para publicao no NA - p. 79

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    Notcias Asgardianasn. 9, 2015: Dossi: Ritos e crenas nrdicas Pgina 3

    NOTCIAS ASGARDIANAS N. 9, JANEIRO-AGOSTO DE 2015

    ISSN: 1679-9313, NOVA SRIE

    BOLETIM DO NCLEO DE ESTUDOS VIKINGS E

    ESCANDINAVOS

    DOSSI: RITOS E CRENAS NRDICAS

    Conselho Editorial:

    Prof. Dr. Hlio Pires (UNL/NEVE)Prof. Dr. Andr Muceniecks (STBNET/NEVE)

    Prof. Dr. Tho Borba Moosburger (UTP/NEVE)

    Prof. Dr. Johnni Langer (UFPB/NEVE)

    Equipe Editorial:

    Ms. Luciana de Campos (PPGL-UFPB/NEVE)

    Ms. Pablo Gomes de Miranda (UFRN/NEVE)

    Ms. Andr de Oliveira (NEVE)

    Ms. Munir Lutfe Ayoub (NEVE)

    Ricardo Wagner Menezes de Oliveira (PPGCR-UFPB/NEVE)

    Jos Lucas Cordeiro Fernandes (PPGH-UECE/NEVE)

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    Notcias Asgardianasn. 9, 2015: Dossi: Ritos e crenas nrdicas Pgina 4

    Loki acorrentado, Igreja de Kirkby Stephen, Inglaterra, sc. X.

    EDITORIAL

    O boletim Notcias Asgardianas chega a sua nona edio, um nmero

    odnico! Para harmonizar com tal proeza, nessa edio temos o prazer de

    apresentar para os nossos leitores, 10 ensaios explanando sobre temas

    vinculados aos ritos e crenas na sociedade nrdica. A religiosidade nrdica

    sempre foi um tema de interesse da academia e comunidade, essa edio do

    Notcias Asgardianas busca realizar a ponte, ou bifrst, entre os debateshistoriogrficos mais contemporneos e a sociedade que almeja, assim como

    Odin, buscar o conhecimento.

    Os ensaios feitos especialmente para esse dossi articulam-se em um

    prisma de temticas. O peridico se inicia com o texto de Andressa Furlan

    Ferreira, abrindo essa edio com uma anlise dos resqucios materiais de um

    achado da Idade do Bronze, apontando a relevncia dos estudos sobre a cultura

    material para a compreenso de uma multiplicidade de elementos da sociedade

    o qual estava inserido. Em sequncia temos o ensaio do Prof. Dr. Johnni Langer

    seguido pela exposio de Ricardo Menezes, o primeiro analisando a relao

    dos homens com os cus, em uma tica pouco trabalhada pela historiografia

    nacional, e o segundo com variedade de documentao, que enriquece as

    anlises construindo um terreno rico para crticas e construes.

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    Notcias Asgardianasn. 9, 2015: Dossi: Ritos e crenas nrdicas Pgina 5

    Em seguida apresentamos a anlise de Munir Ayoub, discorrendo sobre

    o famoso martelo de Thor e sua dicotomia com a cruz crist, posteriormente

    acompanhado pela anlise de Leandro Vilar Oliveira, o qual problematiza a

    relao de Hel e o inferno cristo, apontando suas similaridades e

    discrepncias, utilizando-se do debate historiogrfico e documentao.

    O prof. Dr. Guilherme Queiroz de Souza dignifica o peridico com sua

    exposio sobre o mito de Herclio na Noruega, expondo que mesmo em

    pocas e locais distantes ocorreu uma circularidade de informaes. Jos Lucas

    Cordeiro Fernandes volta-se para a cristandade no meio do ensaio para apontar

    elementos da esttica literria crist na iranda ttur og rhalls.

    Alm dos j citados, no poderia deixar em branco as contribuies de

    Wesley Avelar, Valmir Azevedo dos Santos e Maria Helena Alves da Silva para

    este dossi, enriquecendo ainda mais a produo nacional sobre a Escandinvia

    medieval, transitando entre demonizaes, mitos pagos e o peso da indstria

    cultural contempornea em uma de suas faces sobre a cultura nrdica.

    Por fim, encerramos esta edio doNotcias Asgardianas com as notcias

    relacionadas as pesquisas escandinavas nacionais, principalmente dolanamento de uma das mais completas e extensas obras sobre a religiosidade

    nrdica no Brasil, o Dicionrio de Mitologia Nrdica, contendo 210 verbetes em

    580 pginas. Um produto da colaborao de 21 pesquisadores nacionais e

    estrangeiros.

    Andr Arajo de Oliveira

    Mestre em Histria pela UFMA, membro do NEVE

    [email protected]

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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    Notcias Asgardianasn. 9, 2015: Dossi: Ritos e crenas nrdicas Pgina 6

    ARQUEOLOGIA DA RELIGIO NA IDADE DO BRONZE:

    ALGUMAS ANLISES DA GAROTA DE EGTVED

    Pesquisas arqueolgicas configuram revelaes nicas para o estudo de

    sociedades passadas, especialmente no que concerne s sociedades grafas,

    posto que apontam evidncias materiais prprias poca. Os resultados de

    anlises laboratoriais acerca de um achado, assim como prvias dedues de

    especialistas, certificam prticas e costumes sociais, que seriam completamente

    inacessveis ao saber, caso se dependesse somente da produo escrita. Nesse

    sentido, relatrios cientficos relativos a tais pesquisas mostram-se necessriosno somente para a compreenso dos dados obtidos, mas tambm para o

    posterior desenvolvimento de teorias humansticas.

    Quando abordada de acordo com fontes crticas e metodologia apurada,

    a arqueologia tem o potencial de revitalizar, e at mesmo reorganizar

    evidncias textuais de mitologia comparada acerca da cosmologia e religio

    pr-histricas (Kristiansen: 2013b, p. 81). Por vezes, as prticas sociais que

    culminaram em um determinado achado so eminentemente caracterizadas

    pelo vis religioso, o que denota sua relevncia aos estudos de religiosidade.

    O achado da Garota de Egtved mostra-se notrio no que tange tanto s

    prticas funerrias pr-crists quanto sua preservao material. A condio de

    seus restos materiais possibilitou anlises minuciosas de sua datao histrica e

    de sua localizao espacial, a ponto de contribuir na descoberta de aspectos da

    cultura que a circundou, conforme foram apontados no relatrio cientfico

    publicado no dia 21 de maio de 2015 pela Scientific Reports (Frei: 2015).

    Fruto das escavaes realizadas prximas vila de Egtved (Dinamarca)

    em 1921, a Garota de Egtved abarca um impressionante conjunto funerrio da

    Idade do Bronze, que envolve os restos parcialmente preservados de uma

    jovem, cuja idade foi estipulada entre 16 e 18 anos, e sua vestimenta completa.

    O atade de carvalho, no qual seus restos se encontram, foi assentado em um

    monte sepulcral grandioso, este datado de 15001100 a.C. Alm disso, um

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    recipiente pequeno, tambm encontrado dentro do caixo, guardava restos

    cremados do esqueleto de uma criana de 5 a 6 anos de idade. Ainda, em

    reportagem divulgada pela Universidade de Copenhague (2015), junto aos ps

    da Garota de Egtved, havia um pequeno balde de casca de rvore, que continha

    hidromel, myrica gale (uma espcie de planta) e oxicoco (mais conhecido como

    cranberry). Vrios fatores desse achado tais como os objetos ao seu redor, a

    qualidade txtil de seus trajes e o prprio caixo indicam que ela teria

    desfrutado de um elevado status social.

    Figura 1Tmulo da Garota de Egtved. Fonte da imagem: http://en.natmus.dk

    A anlise dendrocronolgica do achado de Egtved isto , a datao

    por meio do estudo dos anis presentes no tronco da rvore indica que a

    moa foi enterrada no atade h, aproximadamente, 3400 anos. O cabelo, o

    esmalte do dente, as unhas e partes do crebro e da pele foram preservados,

    mas no h resqucios sseos provavelmente, devido sua dissoluo nascondies cidas da gua que alagou o caixo. Ainda que no haja preservao

    ssea, a extensa variao de tecidos moles (como o cabelo e as unhas) e de

    tecidos mineralizados (no caso, o esmalte do dente), junto ao conjunto

    diversificado dos objetos sepulcrais, fornecem uma oportunidade nica para

    investigar a mobilidade a nvel individual, que foi uma das descobertas mais

    distintas da referida pesquisa arqueolgica.

    http://en.natmus.dk/http://en.natmus.dk/http://en.natmus.dk/
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    O rastreamento da mobilidade da jovem contou com a anlise da

    comparao dos resultados de istopos de estrncio. O estrncio um elemento

    relevante para a datao, uma vez que sua existncia sobre a superfcie terrestre

    est sujeita a variao geolgica. Por conseguinte, isso resulta em uma

    assinatura isotpica de estrncio para cada regio e respectivos habitantes

    pois cada ser vivo absorve uma determinada quantidade desse elemento, na

    medida em que ingere gua e alimentos locais , o que possibilita aos

    pesquisadores identificar a localizao onde seus objetos de estudo viveram.

    Nas investigaes da Garota de Egtved, os pesquisadores analisaram os

    dois tipos de tecido que tinham disposio. Embora a anlise dos tecidos

    moles (um fio capilar de 23 cm e uma unha da mo) no tenham proporcionado

    informaes suficientes para a reconstituio gentica e fenotpica da jovem, foi

    possvel extrair dados sobre sua mobilidade individual. A amostra do fio

    capilar possibilitou determinar a localizao da moa durante os 23 meses

    anteriores sua morte. Destarte, a partir das anlises comparativas das

    assinaturas isotpicas de estrncio, descobriu-se que: 1) de 23 a 13 meses antes

    da morte, ela teria vivido em uma regio externa atual Dinamarca; 2) por umperodo aproximado de 9 meses antes da morte, ela teria vivido no territrio

    dinamarqus; 3) de 4 a 6 meses antes da morte, ela teria retornado s terras

    estrangeiras. De forma a corroborar com a investigao acerca dessa

    mobilidade, a comparao dos resultados do istopo de estrncio da regio

    dinamarquesa em relao aos resultados do tecido mineralizado

    exemplificado pelo esmalte do dente da jovem e pelo osso occipital compactado

    da criana revelou que ambas provieram de um local exterior Dinamarca.

    Com base nas variaes isotpicas, a equipe pesquisadora verificou que

    as assinaturas de estrncio assemelham-se s da regio ao sul da Alemanha,

    especificamente da Floresta Negra, a qual caracterizada pelo solo granito-

    gnissico recoberto por sedimentos trissicos, cuja incidncia de estrncio to

    elevada quanto varivel detectada nos resultados da Garota de Egtved. Com o

    apoio da evidncia arqueolgica, portanto, foi possvel examinar a mobilidade

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    dinmica e de longas trajetrias nas sociedades da Idade do Bronze do norte e

    oeste europeus.

    Kristian Kristiansen, professor dinamarqus da Universidade de

    Gotemburgo (Sucia), participou da pesquisa da Garota de Egtved,

    contribuindo tambm para o estudo desse achado em outras esferas. Dedicado

    aos estudos da Idade do Bronze, Kristian aborda a religio e a sociedade

    nrdica pr-histrica (2013b), de maneira a acentuar caractersticas e

    simbolismos, os quais podem ser conferidos nos materiais que compem o

    achado de Egtved. A respeito da mobilidade da jovem, por exemplo, ele sugere

    que tenha sido provocada por motivo matrimonial (Casey: 2015), dado que a

    Dinamarca e o sul da Alemanha representavam dois centros dominantes de

    poder poca, e provvel que a jovem tenha servido de estratgia poltica

    para firmar alianas tribais. Outro aspecto que Kristiansen ressalta quanto

    essas sociedades o forte fator comercial estabelecido entre esses centros, que

    consistia na troca de bronze e de mbar. O mbar, muito valioso na Idade do

    Bronze, era transportado para o Mediterrneo por intermdio das sociedades

    que habitavam a Alemanha, ao passo que estas o trocavam por bronze com oshabitantes da Dinamarca. Logo, a fim de garantir essa rota de comrcio, famlias

    da elite promoviam tais laos matrimoniais.

    Alm disso, o processo funerrio, per se, j encerra prticas e

    materialidades associadas s crenas da poca. O carvalho, entre suas diversas

    atribuies simblicas, era comumente usado para a fabricao do caixo,

    segundo o autor (Kristiansen: 2013b, p. 84). Talvez pela sua longevidade,

    simbolizava a rvore da vida, que, por sua vez, faz referncia a Yggdrasil,

    rvore responsvel por sustentar os mundos na mitologia nrdica. Tendo em

    vista outros elementos encontrados no tmulo da jovem, como o cinto solar, a

    utilizao do carvalho dificilmente foi arbitrria. Pelo contrrio,

    particularmente relevante sua associao mtica, visto que o conjunto funerrio

    encontrado em Egtved compe um retrato do pensamento mtico nrdico sobre

    a cosmologia pr-crist.

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    Kristiansen (idem) explana que o defunto e seus pertences eram

    enrolados em pele de animal (raposa ou vaca), que havia sido sacrificado ao

    deus celeste. Dessa forma, o falecido adentraria o eterno ciclo do sol, contando

    com o apoio da rvore da vida (representada pelo caixo de carvalho), o deus

    celeste e o deus solar. O autor indica que os deuses principais da Idade do

    Bronze so os deuses solares um deus masculino e uma deusa feminina e

    seus ajudantes divinos, os Gmeos Divinos (Kristiansen: 2013b, p. 83). Essa

    composio mtica atestada pela arte rupestre escandinava, bem como por

    artefatos de bronze. Ademais, a jornada solar no exclusiva dos pases

    nrdicos, posto que tambm se apresenta espalhada pelo continente europeu

    nas mais diversas culturas.

    Na poca das escavaes, os trajes da Garota de Egtved causou grande

    confuso entre os pesquisadores, por no condizer com o que at ento se

    conhecia. Em aproximadamente 1870, descobriram 3 tmulos (2 homens e 1

    mulher) da Idade do Bronze, tambm muito bem preservados, em Borum Eshj

    (Dinamarca). A mulher, diferente da Garota de Egtved, usava uma saia

    comprida.

    Figura 2Tmulo da mulher de Borum Eshj. Fonte da imagem:

    www.pinterest.com/pin/302726406177197530

    Em contrapartida, a Garota de Egtved usava uma saia curta, alm de um

    distinto cinto com uma placa de bronze em formato de disco. Tendo como base

    outras iconografias cosmolgicas da Pr-Histria, especialistas acreditam que

    http://www.pinterest.com/pin/302726406177197530http://www.pinterest.com/pin/302726406177197530http://www.pinterest.com/pin/302726406177197530
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    tal disco de bronze simbolize o sol, o que levou interpretao de que a Garota

    de Egtved fosse uma sacerdotisa do culto nrdico solar.

    Figura 3Recriao da vestimenta da Garota de Egtved. Fonte da imagem:

    https://www.pinterest.com/pin/295056213058922647/

    Em razo do comprimento da saia que a jovem de Egtved usava, o

    arquelogo dinamarqus Thomas Marius Thomsen (18701941) props que se

    tratava de uma roupa de vero, ou um modelo usado por mulheres jovens,enquanto a roupa da mulher de Borum Eshj seria uma roupa de inverno, ou

    usada por mulheres casadas. Contudo, a descoberta de mais um tmulo, em

    1935, refutou a teoria de Thomsen, j que a mulher de Skrydstrup era jovem e

    tambm vestia uma indumentria comprida (Kristiansen: 2013a, p. 762).

    Ainda h diversas questes a serem exploradas. Este ensaio procurou

    abordar de que forma a pesquisa arqueolgica foi capaz de desvelar aspectos

    histricos por meio de uma evidncia material direta da Idade do Bronze.

    Como resultados das pesquisas empreitadas no caso da Garota de Egtved,

    descobertas insignes foram realizadas, de maneira a desenvolver os estudos a

    respeito desse perodo. A mobilidade individual da jovem, por exemplo,

    apontou para a prtica de deslocamento dinmico entre as sociedades pr-

    histricas. Quanto materialidade e a religiosidade, o achado de Egtved

    despontou a interpenetrao da composio material funerria com a crena

    https://www.pinterest.com/pin/295056213058922647/https://www.pinterest.com/pin/295056213058922647/https://www.pinterest.com/pin/295056213058922647/
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    religiosa.

    Andressa Furlan Ferreira

    Mestranda em Cincias das Religies na UFPB, membro do NEVE

    [email protected]

    Referncias:

    CASEY, Michael. Glimpse of Bronze Age girl's daily life from hair, clothes. In:

    CBS News. May 21, 2015, 1:59 PM. Disponvel em:

    . Acesso em: 28 de maio de 2015.

    FREI, Karin Margarita et al. Tracing the dynamic life story of a Bronze Age

    Female. In:Scientific Report. Vol. 5, 10431; doi: 10.1038/srep10431 (2015).KRISTIANSEN, Kristian. Female Clothing and Jewellery in the Nordic Bronze

    Age. In: BERGERBRANT, Sophie; SABATINI, Serena (ed.). Counterpoint:

    Essays in Archaeology and Heritage Studies in Honour of Professor Kristian

    Kristiansen.BAR International Series 2508, 2013a.

    KRISTIANSEN, Kristian. Religion and society in the Bronze Age. In:

    CHRISTENSEN, Lisbeth et al (ed.). The Handbook of Religions in Ancient

    Europe.Acumen Publishing Limited, 2013b.

    University of Copenhagen, Faculty of Humanities. The Bronze Age Egtved Girl

    was not from Denmark. May 21, 2015. Disponvel em:

    . Acesso em: 27 de maio de 2015.

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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    ASTRONOMIA, RITOS E CRENAS NA ANTIGUIDADE

    NRDICA

    O conhecimento astronmico dos povos antigos no um tema novo na

    academia. Desde o sculo XIX a tradicional Histria da Astronomia j realizava

    diversos estudos neste sentido. Mas foi com o desenvolvimento da

    Arqueoastronomia, cincia surgida essencialmente com as pesquisas em torno

    de Stonehenge na Inglaterra aps os anos 1960, que o estudo das sociedades

    pr-histricas e sem registros escritos foi muito mais intensificado.

    Os fenmenos celestes eram parte importante da vida nas comunidades

    europias da Antiguidade. Sejam para com os povos neolticos, os germanos,

    celtas, eslavos, assim como os habitantes do Mediterrneo pr-clssico, o cu

    propiciava a regulamentao do calendrio (com os movimentos do Sol e Lua) e

    da sazonalidade agrcola (determinao da poca exata de plantar e colher pelo

    avistar de certas constelaes), mas tambm a projeo de mitos produzidos

    pelo referencial cultural (as mitologias celestes e as cosmogonias). Tambm os

    medos escatolgicos eram associados com fenmenos desconhecidos ou noprevisveis (como passagens de cometas, a viso de eclipses ou fenmenos

    atmosfricos) e transformados em mitos. E alguns rituais eram executados de

    acordo com o calendrio astronmico, relacionados tanto com o movimento do

    Sol quanto da Lua e tambm investidos de significados simblicos.

    Assim como outras culturas, os germanos antigos tiveram grande

    interesse pela Astronomia no no referencial moderno, obviamente, mas por

    meio da visualizao a olho nu de fenmenos celestes que eram considerados

    importantes para a vida cotidiana e com grande sentido mtico-religioso.

    Apesar de no termos registros detalhados ou to elaborados como os

    realizados aps a cristianizao (fundindo-se com a tradio astronmica

    clssica da Europa continental e a originada no Oriente), existem algumas

    fontes que apontam para isso. Tcito mencionou que atividades polticas e o

    calendrio germnico foram baseados no ciclo lunar (Germnia 11). Jlio Csar

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    afirmou que os germanos no realizavam batalhas antes da Lua Nova

    (Comentrios da guerra glica 50). Jordanes enunciou que os antigos Godos

    tinham conhecimentos de constelaes e do movimento de planetas e estrelas

    (Sobre a origem e feito dos Godos 10).

    1 2

    Imagem 1:Meglitos de Ales, Sucia. Imagem 2: Orientaes astronmicas de Ales. Fontedas imagens:http://www.livescience.com

    Mas os mais surpreendentes registros so provenientes da Arqueologia.

    Em 1999 foi descoberto na Alemanha o disco de Nebra, datado de 1700 a. C.

    Consiste em um disco de bronze contendo as figuraes do Sol, da Lua e de

    dois arcos laterais, alm de vrias estrelas. Uma das figuras interpretada como

    sendo uma barca solar, um mito comum a vrias culturas do Ocidente e

    somado ao achado do carro solar de Trundholm, Dinamarca, representa um dosmomentos fundamentais da cosmologia antiga: a jornada simblica dos astros

    pelos vrios mundos, especialmente o dos mortos. Alm disso, Nebra tambm

    registra as Pliades um dos mais importantes asterismos do cu, demarcadora

    das pocas de colheita na Europa. Tanto o tema da barca solar quanto as

    Pliades vm sendo identificadas tambm em diversos stios de arte rupestre na

    Sucia da Idade do Bronze, como apontadas pelo astrnomo Gran Henriksson.

    Dois stios nrdicos esto apresentando antigas orientaes solares: Ales e

    Tysnes. Os meglitos suecos de Ales (imagem 1), com formato de navio e

    datao incerta (Idade do Bronze Tardia ou do Ferro), foram estudados por

    Mrner e Lind e considerados como um sofisticado calendrio solar dos

    solstcios de vero e inverno, as duas datas mais importantes do calendrio

    religioso da Europa pr-crist.

    http://www.livescience.com/http://www.livescience.com/http://www.livescience.com/http://www.livescience.com/
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    3

    Imagem 3: Monlito de Tysnes, Noruega. Fonte da imagem: fotografia enviada pelo

    pesquisador Eldar Heide em 2014, do qual agradecemos a gentileza.

    J o pilar cerimonial de Tysnes, Noruega (Idade do Ferro Tardia), alm de

    ter sido encontrado com vestgios religiosos e associado toponimicamente com

    os deuses germnicos desde o incio do sculo XX, durante o perodo do

    solstcio de inverno a luz solar incide sobre seu topo (imagem 2), iluminando o

    monlito. O fenmeno foi constatado visualmente pelo pesquisador Eldar

    Heide e possivelmente este efeito foi originado com carter intencional, masainda faltam medies geo-astronmicas pormenorizadas neste local.

    Infelizmente, a quantidade de investigaes de campo e pesquisadores em

    Arqueoastronomia na Escandinvia ainda muito reduzida.

    Segundo Rudolf Simek e Rgis Boyer, existem muitas evidncias de culto

    ao Sol na Idade do Bronze, evidenciados pela grande existncia de grafismos

    rupestres e do disco da carroa de Trundholm. No Encantamento de Merseburg, a

    deusa Sunna citada como irm de Sinthgun, mas Simek acredita que a

    combinao dos antigos smbolos solares com o navio nos contextos ritualsticos

    (que ocorrem frequentemente da Idade do Bronze aos tempos medievais),

    parecem estar conectados cultos de deuses da fertilidade (como Njrd e Freyr,

    mas que no possuem conexes diretas com personificaes solares). Em 1936

    Vilhelm Kiil argumentou que o nome Solberg significava montanha do sol,

    evidenciando algum tipo de culto solar na Escandinvia. Em 1981 o francs

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    Notcias Asgardianasn. 9, 2015: Dossi: Ritos e crenas nrdicas Pgina 16

    Rgis Boyer realizou um extenso estudo sobre o simbolismo dos mitos solares

    na Idade do Bronze da Escandinvia, inseridos em sua obra Yggdrasill: La

    religion des anciens scandinaves. Algumas das principais pinturas de Bohusln

    analisadas por Boyer, embarcaes transportando discos (relacionadas a

    procisses e rituais solares), foram analisadas pelo astrnomo Gran

    Henriksson em 1996, sendo associadas a eclipses totais do Sol nesta regio.

    Baseado em pesquisas folclricas e nas investigaes arqueolgicas de

    Anders Andrn, o pesquisador Thomas DuBois concluiu que as reas nrdica e

    bltica foram devedoras de representaes mticas solares provenientes da

    Idade do Bronze, mas tambm foi influenciada pela idia do Sol invictusda rea

    romana (durante o perodo de migraes). Tambm levanta a possibilidade de

    parte da credibilidade do culto solar ter sido perdida com a catstrofe vulcnica

    de 536 d. C. (pelo fato do Sol ter permanecido encoberto durante muito tempo

    pelos detritos na atmosfera), ao mesmo tempo em que surge uma nova

    aristocracia com novos cultos e deuses no mundo nrdico.

    4 5

    Imagem 4:Estelas de Bro I, Gotland, Sucia; Imagem 5: Estela de Vskinde, Gotland, Sucia.Ambas datadas entre 400-600 d.C. Fonte das imagens: http://diaphanee.tumblr.comA maiorparte dos pesquisadores reconhece nas espirais dominantes nas estelas gotlandesas entre ossculos IV a VII como manifestaes de cultos solares, o que muito pertinente com aspesquisas que apontamos at aqui. Alguns, porm, vo muito alm: querem reconhecer naquantidade de raios das espirais uma possvel aluso a representaes dos doze signoszodiacais (como em Bro I, onde existem 12 terminaes da espiral, ver imagem 4) ou as oitopartes da diviso do dia no mundo nrdico (devido as oito radiaes existentes na espiral deSanda). Mas isso pura especulao: a quantidade de radiaes das espirais depende do

    http://diaphanee.tumblr.com/http://diaphanee.tumblr.com/http://diaphanee.tumblr.com/
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    monumento gotlands deste perodo: trs (Hellvi); seis (Martebo; Havor; Garda I; Vskinde ver imagem 5); oito (Sanda IV); nove (Bro 24), ou seja, so detalhes puramente ornamentais eno possuem qualquer tipo de simbolismo numrico ou computo de algum tipo. E jdemonstramos que a idia do zodaco viking foi uma fantasia acadmica do sculo XIX e nopossui respaldo em nenhum tipo de pesquisa etnoastronmica ou arqueoastronmica da

    atualidade (Langer, 2015: 579-581).

    A Lua tambm vem aparecendo nos registros arqueoastronmicos,

    confirmando os relatos de Tcito e Jlio Csar. Gran Henriksson identificou na

    ilha de Gotland marcaes em sepulturas que pressupe registros lunares (um

    possvel calendrio), indicando fases da Lua Nova ou Cheia durante o solstcio

    de inverno. E o arquelogo Mike Parker-Pearson comparou diversos stios da

    Idade do Ferro em reas germnicas e nrdicas que possuem alinhamentos

    voltados para eclipses totais da lua durante o solstcio de inverno,

    demonstrando observaes e registros destes fenmenos.

    Em recente publicao, o historiador Dorian Knight analisou o episdio de

    Odin e Gunnlod no Hvaml como sendo uma descrio do ciclo lunar, com

    resultados surpreendentes. Em sntese, a pesquisa de Knight conclui que a

    descrio do relacionamento fracassado de Odin com a filha do gigante Billing

    (Hvaml 96-102) corresponde fase da Lua Cheia para Nova: o astro possuiligaes simblicas com o feminino e o cachorro no final do relato uma

    simbolizao da morte, do outro mundo e da escurido do disco (Lua Nova),

    transfigurados no medo da Lua desaparecer por meio de candeos devorando

    este astro. A narrativa triunfante de Odin acasalando com Gunnlod (Hvaml

    103-110), por sua vez, corresponde com a fase da Lua Nova Lua Cheia. Neste

    caso, a interpretao de Knight leva em conta tambm o simbolismo do

    hidromel associado com a Lua Cheia, conhecido no folclore por Lua de mel

    (conexo entre casamento e fertilidade).

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    6 7

    Imagens 6 e 7:Tabelas do calendrio lunar associados com as aventuras amorosas de Odin: noprimeiro, corresponde ao seu fracasso com a filha de Billing (Lua Cheia Lua Nova); nosegundo, corresponde ao seu triunfo com Gunnlod, obtendo o hidromel (Lua Nova LuaCheia). Fonte das imagens: Knight, 2013: 31-62.

    Deste modo, percebemos que a Escandinvia preservou uma tradio

    muito antiga de observaes e registros astronmicos desde o Neoltico, que

    agora vem sendo investigada por vrios pesquisadores e que revelam umagama variada de conhecimentos celestes nos mitos e folclore medieval:

    constelaes, movimentos solares e lunares, passagens de cometas, eclipses,

    halos, parlios, auroras, etc. Resta aos pesquisadores futuros uma melhor

    compreenso dos vnculos e relaes do conhecimento astronmico nrdico

    com a religiosidade na Antiguidade e incio da Alta Idade Mdia.

    Prof. Dr. Johnni Langer (UFPB), membro do NEVE

    [email protected]

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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    Notcias Asgardianasn. 9, 2015: Dossi: Ritos e crenas nrdicas Pgina 19

    Referncias:

    ANDRN, Anders. Tracing Old Norse Cosmology. Lund: N.A.P, 2014.

    DUBOIS, Thomas. The mythic sun: an areal perspective. Old Norse Mythology

    in its comparative contexts. Aarhus Old Norse Mythology Conference at

    Harvard University, 2013. (no prelo, artigo original enviado gentilmente

    pelo autor).

    HEIDE, Eldar. Sola og gudane p Tysnesya. Chaos58, 2012, pp. 49-57.

    KNIGHT, Dorian. A reinvestigation into astronomical motifs in eddic Poetry.

    Culture and Cosmos 17, 2013, pp. 31-62. Agradeo ao autor a gentileza do

    envio deste artigo por e-mail.

    KRISTIANSEN, Kristian. Rock art and religion: the sun journey in Indo-

    european mythology and Bronze Age rock art. In: FREDELL, A. et al

    (Eds.). Representations and communications: creating an archaeological matrix of

    Late Prehistoric rock art. London: Oxbow Books, 2010, pp. 93-115.

    LANGER, Johnni. Constelaes e mitos nrdicos/Lua e sol/Planetas e mitos

    nrdicos/Zodaco Viking. In: LANGER, Johnni (org.). Dicionrio de

    Mitologia Nrdica. So Paulo: Hedra, 2015, pp. 101-104; 287-290; 371-372;579-581.

    MRNER, N. & LIND, Bob. Ales Stones in Sweden decoded. International

    Journal of Astronomy2, 2012, pp. 23-27.

    O SIMBOLISMO E A RELIGIOSIDADE NRDICA PR-

    CRIST

    Fontes Visuais

    Os escandinavos medievais apreciavam bastante a arte esttica do

    adorno e abusavam dela. Colares, broches, pingentes e braceletes da Era Viking

    so objetos de grande valor e beleza. Muito do que sobreviveu ao tempo nos

    mostra uma pista do gosto nrdico para a arte, alm de revelar um pouco de

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    sua religiosidade. Alm das jias, encontramos diversos utenslios adornados

    com smbolos e mscaras. Itens ritualsticos, e at mesmo objetos do cotidiano

    podiam ser modificados por um arteso profissional com as ferramentas

    corretas ou por um cidado comum com sua faca.

    Os escandinavos da Era Viking desenvolveram uma tradio, que

    remonta ao sculo IV, de erguer pedras podendo conter inscries de seu

    alfabeto rnico, representaes do cotidiano, representaes mitolgicas e

    adornos diversos. Tais rochas, tambm chamadas de pedras rnicas ou pedras

    pintadas.

    Esses monumentos estavam dispostos em locais pblicos, normalmente

    onde houvesse um fluxo significativo de pessoas, como ao lado de estradas e

    pontes, e, as que possuam inscries, normalmente se referem a algum morto

    em terras estrangeiras e seu herdeiro por direito, servindo como instrumento de

    legitimao de poder. Alm disso, alguns destes exemplares possuem uma

    decorao com imagens de animais, deuses, monstros, heris e smbolos

    religiosos.

    A cultura visual

    Objetos artsticos como um pingente com estatueta de valquria, navios

    com cabeas de monstros entalhados em sua proa ou desenhos de heris

    derrotando drages em monumentos fnebres trazem consigo um reflexo da

    religiosidade nrdica. Se aplicarmos os mtodos de estudo da imagem de Jean-

    Claude Schmitt, podemos, alm de ler a imagem, compreender sua totalidadeem sua forma e estrutura, em seu funcionamento e suas funes, ou seja,

    percebemos que estes elementos no esto isolados e no so puramente

    imagens, na realidade eles compem uma relao complexa com outros

    elementos ao seu redor, como as razes para se carregar uma estatueta no

    pescoo, ter um monstro a frente de um navio e um ato de herosmo junto ao

    seu nome.

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    Notcias Asgardianasn. 9, 2015: Dossi: Ritos e crenas nrdicas Pgina 21

    Para o pesquisador que resolve estudar a sociedade escandinava

    medieval atravs de sua arte, uma abordagem atual deve ser utilizada, tendo

    em vista que as antigas metodologias embebidas do positivismo, alm de

    restringir a serventia das imagens aos iletrados, no davam conta de entender e

    problematizar as produes artsticas e sua relao com sua sociedade, falhando

    em atingir o objetivo mais central do estudo histrico.

    Para que no recorrermos ao erro citado, encontramos na Cultura Visual

    do historiador Jean-Claude Schmitt uma metodologia adequada anlise das

    representaes imagticas religiosas nrdicas, pois ele atenta para detalhes

    muito importantes na anlise das produes imagticas que ajudam bastante na

    percepo da religiosidade viking.

    Seguindo o raciocnio de Schmitt, acreditamos que o pesquisador deve

    procurar a razo de ser das imagens religiosas nrdicas, analisando sua

    natureza e seu processo de representao e percebendo assim que, elas no

    representam a realidade, ao invs disso constroem o real de uma maneira que

    lhe prpria. Logo, deve-se, alm de ler a imagem, compreender sua totalidade

    em sua forma e estrutura, em seu funcionamento e suas funes, pois: aimagem no a expresso de um significado cultural, religioso ou ideolgico,

    como se este lhe fosse anterior e pudesse existir independentemente dessa

    expresso. Pelo contrrio, a imagem que lhe faz ser como a percebemos,

    conferindo-lhe sua estrutura, sua forma e sua eficcia social (SCHMITT, 2007,

    p. 42).

    Para tanto, deve-se estudar as imagens na profundidade sincrnica de

    sua base social, cultural e ideolgica e depois realizar uma anlise

    preocupando-se com diacronia, periodizao e uma cronologia.

    Em suma, deve-se compreender a funo esttica das obras como uma

    dimenso essencial de seu significado histrico, cultural, poltico, jurdico e

    ideolgico, servindo como documento que informa sobre o ambiente histrico

    que a produziu e ao mesmo tempo que se oferece ao olhar como uma

    manifestao de crena religiosa ou uma proclamao de prestigio social.

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    Notcias Asgardianasn. 9, 2015: Dossi: Ritos e crenas nrdicas Pgina 22

    Simbolismo

    O mundo nrdico estava recheado de imagens e smbolos. Desde o

    vesturio arquitetura, imagens e representaes de elementos religiosos

    podem ser encontrados. Smbolos solares como espirais e trisklions, elementos

    divinos como o Mjllnir, o lendrio martelo do deus Thor e at mesmo lobos,

    ursos e guias, animais totmicos, podem ser encontrados esculpidos nos mais

    diversos objetos.

    O que chama a ateno a relao dos objetos e seres ali gravados com a

    religio desse povo. De que forma se articulam? Como eles agem na prtica

    religiosa? Como eles criam e/ou so criados pela dialtica religiosa?

    Ao contrrio do que se pode pensar em uma primeira vista, como afirma

    Talal Asad,

    o smbolo no um objeto que serve como veculo para umaconcepo: ele a prpria concepo. [...] um conjunto de relaesentre objetos ou eventos agregados singularmente como complexos ouconceitos, tendo ao mesmo tempo significncia intelectual,instrumental e emocional (ASAD, 1993, p. 265).

    assim, esta concepo de smbolo quebra com conceitos mais ultrapassados de

    smbolo baseados na suposio de que os sistemas simblicos existem em

    separado das prticas religiosas, pois, como bem lembra Asad, esta viso fruto

    do pensamento moderno e de sua necessidade de articular os saberes religiosos

    em paralelo com saberes outros (ASAD, 1989, p. 268).

    Aproxima-se desta conceituao o escandinavista Johnni Langer, que ao

    afirmar que smbolos so:

    representaes visuais que transcendem o simples signo, sinal, e oseu significado, dependendo de certa interpretao racional ecarregadas de afetividade e dinamismo. O smbolo tem naturezaindefinida e ao mesmo tempo exprime-se pela emoo - no casoreligioso, da vivncia de f - e revela sua funo primordial, umarevelao existencial e individual da experincia cosmolgica. Odinamismo simblico estaria estreitamente relacionado com funesexplicatrias; substitutivas; mediadoras; unificadoras; pedaggicas;teraputicas. Dentro do universo pago germnico, podemos afirmarque os smbolos foram meios de comunicao, instrumentos paraconhecimento e construo do mundo e instrumentos de dominao(LANGER, 2010, p. 2 e 3).

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    Notcias Asgardianasn. 9, 2015: Dossi: Ritos e crenas nrdicas Pgina 23

    O autor aprofunda e esclarece a aplicabilidade do conceito na regio

    germnica. Desse modo, temos que os smbolos religiosos escandinavos devem

    ser pensados em termos de guias emocionais e psicolgicos, nunca longe de seu

    contexto, levando sempre em conta suas relaes histricas com os smbolos

    no religiosos e outros elementos da vida social. Alm disso, requerem uma

    ateno maior na relao entre as cenas e nas questes de posicionamentos,

    visibilidade e recepo do pblico.

    Vestgios visuais

    Alguns exemplos da presena e da diversidade de simbolismos

    religiosos na sociedade nrdica podem ser facilmente citados. Dentre o vasto

    corpo visual da RNPC, uma das obras mais populares e chamativas certamente

    so as pedras monumentais. Destacam-se as estelas da ilha sueca de Gotland,

    em detrimento das pedras rnicas, por serem mais ricas visualmente.

    A exemplo disto, a imponente estela de Hammars I apresenta uma srie

    de painis horizontais com representaes que podem ser facilmente

    identificados elementos religiosos, como a realizao de sacrifcios Odin

    (figura 1). Johnni Langer, ao analisar o referido nicho, demonstra que ela serefere no uma passagem mitolgica, mas uma representao do cotidiano

    religioso (LANGER, 2003, p. 105), tendo em vista que o homem armado e

    enforcado na rvore no o prprio Odin, pois este no porta a lana, arma

    consagrada desse deus, mas espada e escudo, equipamentos de um guerreiro

    comum, logo se trata de um sacrifcio. Outros elementos reforam a ligao com

    a divindade, como a presena de aves, animais totmicos odnicos, e um grande

    Valknut, o n dos mortos, um smbolo diretamente ligado ao culto de Odin.

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    Notcias Asgardianasn. 9, 2015: Dossi: Ritos e crenas nrdicas Pgina 24

    Figura 1: Pormenor da estela Hammar I.Disponvel em:https://ferrebeekeeper.files.wordpress.com/2012/08/sacrificial_scene_on_hammars_ii.png

    Outra representao de ritual pode ser encontrando em uma pequena

    placa metlica do Elmo de Torslunda (figura 2). Neste objeto, pode-se observarum homem portando lanas e espadas danando ao lado de outro tambm

    armado, mas vestido com uma pele de lobo. Esta representao fomenta o

    debate sobre o xamanismo escandinavo e o culto odnico, pois o homem com

    pele de lobo, um animal totmico e de grande simbolismo na religiosidade

    nrdica, segundo a interpretao do estudioso Pablo Gomes de Miranda, seria

    um guerreiro de elite escandinavo devoto de Odin, o berserkr, e o outro sugere

    que a dana seja parte de um ritual e esteja associada com a busca de um estado

    alterado de conscincia chamado deberserksgangr(MIRANDA, 2010, p. 9), uma

    espcie de furor guerreiro que bloqueava a dor e concedia fora sobre-humana.

    Figura 2: Reproduo de placa metlica do Elmo de Torslunda. Disponvel em:

    https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/bc/Bronspl%C3%A5t_fr_Torslunda_sn,_%C3%9

    https://ferrebeekeeper.files.wordpress.com/2012/08/sacrificial_scene_on_hammars_ii.pnghttps://ferrebeekeeper.files.wordpress.com/2012/08/sacrificial_scene_on_hammars_ii.pnghttps://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/bc/Bronspl%C3%A5t_fr_Torslunda_sn,_%C3%96land_(Antiqvitets_Akademiens_M%C3%A5nadsblad_1872_s090_fig39).jpghttps://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/bc/Bronspl%C3%A5t_fr_Torslunda_sn,_%C3%96land_(Antiqvitets_Akademiens_M%C3%A5nadsblad_1872_s090_fig39).jpghttps://ferrebeekeeper.files.wordpress.com/2012/08/sacrificial_scene_on_hammars_ii.png
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    6land_(Antiqvitets_Akademiens_M%C3%A5nadsblad_1872_s090_fig39).jpg

    Ainda na temtica do odinsmo, um pingente descoberto h poucos anos

    atrs na Dinamarca (figura 3), alm de ser a nica representao tridimensionalconhecida de uma valquria, tambm a apresenta portando armas. Como bem

    analisou Luciana de Campos, em recente estudo sobre adornos capilares da Era

    Viking, esta estatueta apresenta o caracterstico n triplo no topo da cabea,

    simbologia clara Odin, envolvendo tanto o n quanto o numeral trs

    (CAMPOS, 2014, p. 56). Alm do que, foge da comum representao de

    mulheres com longos vestidos capas e servindo chifres de bebida, o que refora

    o debate acadmico sobre as vrias facetas destas personagens mitolgicas que,

    alm de servir os guerreiros mortos no Valholl, possuam uma ligao com a

    prpria guerra, sendo responsveis por conceder a vitria ao escolhido de Odin.

    Figura 3: Pingente de valquria armada. Disponvel em:http://www.thehistoryblog.com/wp-content/uploads/2013/03/Silver-valkyrie-Odense-Museum.jpg

    Concluso

    As diversas fontes literrias e arqueolgicas da Era Viking podem

    contribuir na investigao da religiosidade de seu povo, revelando, atravs das

    imagens, tanto visuais quanto mentais, sua cosmoviso. Entretanto, ambas as

    fontes carecem de um cuidado especial, alm de um dilogo entre elas, uma vez

    que as fontes literrias so produes ps-cristianizao e as fontes

    arqueolgicas possuem ausncia de explicao. Dessa forma, uma fonte ajuda

    http://www.thehistoryblog.com/wp-content/uploads/2013/03/Silver-valkyrie-Odense-Museum.jpghttp://www.thehistoryblog.com/wp-content/uploads/2013/03/Silver-valkyrie-Odense-Museum.jpghttp://www.thehistoryblog.com/wp-content/uploads/2013/03/Silver-valkyrie-Odense-Museum.jpg
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    Notcias Asgardianasn. 9, 2015: Dossi: Ritos e crenas nrdicas Pgina 27

    2006, p. 10 41. Disponvel em:www.academia.edu/752819

    _____________. Smbolos religiosos dos Vikings: guia iconogrfico. In: Histria,

    imagem e narrativas 11, outubro/2010, p. 1-28. Disponvel em:www.academia.edu/752529

    ____________. Morte, Sacrifcio Humano e Renascimento: Uma interpretao

    Iconogrfica da Runestone Viking de Hammar I. In:Mirabilia3, 2003, p. 94-

    129.Disponvel em:www.academia.edu/761365

    MENEZES, Ricardo. Esculpindo smbolos e seres: A arte viking em pedras

    rnicas. In: Notcias Asgardianas 7, 2014, p. 43-49.

    ______________. As religiosidades vikings em monumentos de pedra. In:

    Notcias Asgardianas8, 2014, p. 43-52.

    MIRANDA, Pablo Gomes. Seguindo o Urso e o Lobo: Discusses Sobre os

    Elementos Religiosos dos Berserkir e dos Ulfhenar. In: Histria, imagem e

    narrativas11, 2010, p. 1-14.

    SAWYER, Birgit. The Viking-age rune-stones: custom and commemoration in

    early medieval Scandinavia. New York: Oxford University Press Inc., 2000.

    SCHMITT, Jean-Claude. O corpo das imagens: ensaios sobre a cultura visual na

    Idade Mdia. Traduo de Jos Rivair Macedo. Bauru: Edusc, 2007.

    ASSIMILAES E INFLUNCIAS ENTRE O MARTELO

    DE THOR E A CRUZ DE CRISTO

    No presente trabalho temos como objetivo analisar como a religio pr-

    crist dos antigos Vikings reagiu ao contato com o cristianismo pelo exemplo

    das influencias culturais trocadas entre a representao do martelo de Thor e a

    cruz de cristo. O contato entre o cristianismo e a religio pr-crista escandinava

    http://www.academia.edu/752819http://www.academia.edu/752819http://www.academia.edu/752819http://www.academia.edu/752529http://www.academia.edu/752529http://www.academia.edu/761365http://www.academia.edu/761365http://www.academia.edu/761365http://www.academia.edu/761365http://www.academia.edu/752529http://www.academia.edu/752819
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    pode ser apontado como decorrente de mltiplas experincias como as do

    sculo oito quando Willibrord, monge Ingls que trabalhava na Frsia chegou a

    estender sua misso ao territrio Danes, porem sem muitos ganhos. Durante

    todos os sculos nove e dez o contato entre ambas continuaram e os exemplos

    de monges e padres francos, anglo-saxnicos e germnicos em misso pelos

    reinos escandinavos so inmeras (Richards, 2005: 25).

    Thomas A. DuBois trabalhou essa questo de contatos e de mudanas

    ocorridas no perodo Viking, o autor ressalta em sua obra a questo da

    religiosidade nrdicas era composta por mltiplas influencias e vivencias

    advindas de outros povos com os quais os nrdicosmantinham contato como,

    por exemplo, os smi ao extremo norte da Escandinvia, os finlandeses, os

    anglo-saxnicos entre outros. Dubois salienta assim que a religio escandinava

    pr-crist deve ser entendida por sua multiplicidade que pode ser percebida

    pelas diversas comunidades que em suas relaes espao/temporais que

    acabavam por justapor ideias religiosas e praticas ritualsticas que contribuam

    para a pratica social da realidade do dia a dia (DuBois,1999:8). Assim sendo o

    cristianismo se apresentou como mais uma proposta a se vincular a outrasrealidades mticas e ritualsticas em uma mltipla influencia formadora do

    social e do religioso.

    Martelo ou machado? Resistncia ou adaptaes?

    Um dos grandes debates desenvolvidos pela perspectiva de

    compreenso do contato entre o pr-cristianismo e o cristianismo o levantado

    por historiadores e arquelogos como Thomas A. Dubois, Anne-Sofie Grslund,

    John Lindow, Lotte Motz e Egon Wamersque debatem a criao dos pingentes

    do martelo de Thor como forma de resistncia ao cristianismo ou como produto

    de um mundo pr-cristo que se altera, renova e modifica ao contato com

    outras religies (Dubois, 1999: 158-163; Grslund, 2002; Lindow, 1994: 489-490;

    Motz, 1997: 338-340; Wamers, 1999: 83-107).

    Grslund e Wamers em seus trabalhos defendem que no momento em

    que o mundo cristo e o mundo Viking entravam em contato um dos grandes

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    smbolos que os cristos carregavam como forma de devoo e proteo, o

    smbolo da cruz, foi assimilado pelos nrdicos os levando a criar os seus

    prprios smbolos de proteo como o caso do martelo de Thor, sendo assim

    uma forma de resistncia do mundo pr-cristo para com um cristianismo que

    se desenhava como religio triunfante sobre as demais (Grslund, 2002;

    Wamers, 1999: 83-107).

    Figura 1: Martelo de Thor encontrado na ilha de Kobelev, atual Dinamarca. No martelo seencontram runas que gravam a frase Hmar x is que significam isto um marte lo. Fonte:www.dailymail.co.ukAcesso em 08/07/2015.

    A teoria defendida por Grslund e Wamers, no entanto, seria muito

    questionada por outros estudos de arquelogos e historiadores como Lindow

    que aponta para a existncia de um grupo de 400 miniaturas da representao

    do martelo de Thor sendo a grande maioria proveniente da atual Sucia,

    produzidos em ferro, apresentando caractersticas como a presena de anilhos

    que apontam para uma utilizao destas miniaturas como pingentes e por fim

    recebendo a datao para o inicio do perodo Viking. Estas miniaturas levam

    Lindow a concluir que a criao do martelo de Thor estaria longe de ser uma

    mera criao de resistncia do pr-cristianismo sendo na verdade uma criao

    prpria de um mundo pr-cristo que sofreria diversas interpretaes e

    modificaes no decorrer de suas relaes com cada comunidade escandinava

    em suas pertenas as suas variveis espao/temporais (Lindow, 1994: 489).

    http://www.dailymail.co.uk/http://www.dailymail.co.uk/http://www.dailymail.co.uk/
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    Para a defesa de sua teoria Lindow segue em seu estudo a apontar a

    presena da representao de martelos e machados em gravaes feitas em

    pedra no mundo escandinavo durante a idade do bronze, a presena da

    representao do martelo de Thor que seria utilizado na Islndia para a

    demarcao dos limites de determinados territrios e ainda aponta a conexo

    entre o deus Thor e o martelo como influencia da cultura dos povos Smi que

    apresentam como um de seus deuses Horagalles que detentor de um

    machado. Lindow conclui assim que a representao de machados e martelos

    prpria do mundo escandinavo no apenas em representaes do deus Thor e

    no apenas em relao ao mundo cristo, mas tambm em contatos com outros

    povos como os Saamis e em representaes mais diversas como as da idade do

    bronze. Para Lindow assim a representao do martelo de Thor no um mero

    smbolo de resistncia da religio pr-crist escandinava e sim um elemento

    prprio do mundo nrdico desenvolvido por diversos momentos e em diversas

    conexes (Lindow, 1994: 490).

    Os estudos de Lindow vo neste sentido se aproximar dos estudos de

    Thomas A. Dubois que salienta que o formato e as interpretaes doarmamento portado por Thor no foi similar por todo o perodo pr-cristo e

    nem mesmo pelas interpretaes medievais lanadas aos mitos nrdicos: Saxo

    Grammaticus descreveria a arma de Thor como uma clava, o Landnmabk

    apresentaria na Saga de Einarr Thorgeirssons a arma de Thor como um

    machado e as representaes do Mjollnir variariam muito nos amuletos durante

    o perodo Viking. Dubois diz assim que o que compreendido como smbolo

    de resistncia ao cristianismo seria uma ultima representao do martelo de

    Thor decorrente de influencias como a gerada pela religio crist que

    concederiam aos smbolos pr-cristos como os do martelo de Thor forma mais

    fixa que por volta do sculo X iniciaria um processo de padronizao. Sobre

    esse fato Thomas A. Dubois diz que com o contato com o cristianismo a forma e

    o estilo to variado do martelo de Thor durante o perodo Viking foi ganhando

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    uniformidade com o desenvolvimento de uma noo de padro iconogrfico

    (DuBois, 1999: 161).

    Figura 2: Acima expostos esto os moldes para produo de pingentes do martelo de Thorsendo o da extrema direita o molde de Jylland datado para o sculo X e abaixo exemplares dosmesmos. Todas as peas se encontram em exposio no Museu Nacional da Dinamarca. Fonte:https://www.pinterest.com/pin/257197828694179372/Acesso em: 08/07/2015.

    Assim sendo a produo de amuletos do martelo de Thor e da cruz de

    cristo pde ser observada como uma produo do mesmo perodo, o que

    demonstra o convvio das duas crenas. A datao pode ser feita pelos moldes

    de um ferreiro encontrado na regio de Trendgrden em Jylland na atual

    Dinamarca que acreditasse ter sido usado no sculo X. Dubois afirma assim que

    seria esse paralelo um exemplo da tendncia da religio pr-crist de assimilar

    aspectos atrativos em outras religies como o cristianismo e conclui que no

    decorrer dos contatos entre ambas as religies o martelo de Thor e a cruz de

    cristo comeariam a adquirir semelhanas no tamanho, no tipo de uso e mesmo

    no formato de ambas as imagens (DuBois, 1999: 159).

    Lotte Motz por sua vez questiona o formato das representaes do que seindica como sendo o martelo de Thor, para ela estas representaes seriam na

    verdade a de laminas de machados. Em seu estudo ela parte de uma descrio

    das representaes do martelo de Thor nos pingentes do sculo X como

    possuidores de uma forma plana, s vezes elaboradamente decorada, podendo

    ser feitos de metais preciosos, sendo usados como joias ou amuletos, sem

    relao com os martelos de um ferreiro que eram habitualmente volumosos e

    feitos de ferro e madeira. Motz ainda descreve estes amuletos como sem

    https://www.pinterest.com/pin/257197828694179372/https://www.pinterest.com/pin/257197828694179372/https://www.pinterest.com/pin/257197828694179372/
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    separao entre seus eixos e suas cabeas contendo por muitas vezes uma

    decorao ininterrupta entre suas partes horizontais e verticais, alm de terem

    sempre a parte inferior mais fina e a superior mais grossa o que o leva a dizer

    que seria uma representao muito distante de um martelo que nunca

    apresenta decoraes, e que apresenta sempre sua cabea de forma mais

    volumosa do que o eixo.

    Para Motz a representao seria mais prxima de um machado que

    possuem lminas planas e podem ser encontrados feitos por metais preciosos,

    alm de como os pingentes por momentos apresentarem adornos de decoraes

    altamente elaboradas por vezes sendo estas decoraes at mesmo as mesmas

    que apresentadas nos pingentes. Sendo assim o espessamento dos pingentes

    recordariam os dos machados e a salincia da parte superior lembraria as

    curvas das arestas destas armas. Motz refora sua ideia ainda por dizer que

    representaes em miniaturas de machados eram muito populares durante toda

    a Era Viking e que algumas destas como a chamada de machado do santo Olaf

    so vendidas ate hoje (Motz, 1997: 338-340).

    Lotte Motz conclui assim que as representaes que chamamos hoje demartelos de Thor so na verdade intermediarias entre as representaes dos

    machados e da cruz, mas ela vai alm ao dizer tambm que por mais que por

    momentos o martelo de Thor tivesse assumido um papel de amuleto a serem

    carregados em colares este aspecto no seria apenas uma influencia do

    cristianismo porque como j apontado por elementos pr-cristos como os

    bracteates era prprio tambm desta religio o uso de amuletos em colares

    (Motz, 1997: 340).

    Ao analisarmos assim a pluralidade de representaes e compreenses j

    apresentadas pelo martelo de Thor podemos dizer que esse um smbolo que

    por fim sofreria e seria fruto de intercmbios culturais que o multiplicaria em

    suas representaes.

    Cristianismo e novas utilizaes e formas do martelo de Thor.

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    Nesta ultima parte de nosso trabalho buscaremos delimitar dois

    paralelos presentes no mundo escandinavo entre o martelo de Thor e a cruz de

    cristo. Os paralelos aqui a serem tratados se debruam sobre algumas funes

    adquiridas pela arma de Thor em sua mescla com as prprias funes e formas

    da cruz crist. A cruz crist tinha durante a Idade Media trs principais formas.

    A primeira forma era a de representao em amuletos ou em imagens presentes

    at mesmo nas runestones, a sua segunda forma era a chamada de Crux usualis

    essa era feita com as mos como smbolo no ar e a ultima era a relquia da cruz

    que consistia em pedaos de madeira que acreditavam ter sido retirado da

    prpria utilizada por Jesus cristo (DuBois, 1999: 140-144).

    A Crux usualis tinha tambm seu paralelo com o martelo de Thor,

    podemos reparar este fato pela historia de Hakon o Bom rei noruegus que

    havia se tornado cristo, mas no imposto religio crist a seu povo. Hakon

    quando chamado pelos chefes locais a executar seu papel como chefe de culto

    empenhou-se em proteger das antigas tradies, fazendo o sinal da cruz sobre a

    taa a ser bebida aos deuses, o que de pronto gerou um protesto por parte dos

    chefes locais que s se acalmaram com a desculpa de que na verdade o smboloda cruz representaria o martelo de Thor e que assim Hakon seguia as tradies

    de seu povo (Davidson, 2004: 41).

    O ultimo paralelo est presente nas runestones. Os nrdicos tinham o

    costume de erguer estes monumentos em homenagem aos entes queridos que j

    houvessem falecido ou como marco de inaugurao de grandes obras como

    pontes e estradas. No so raros os casos de runestones que tem como

    inscries dizeres como tais pessoas ergueram essa runestone em homenagem

    aos seus pais, mes e filhos. Justamente nestes momentos que o martelo de

    Thor e a cruz de Cristo encontram mais um de seus paralelos, pois ambos os

    smbolos so gravados juntos desses dizeres muito provavelmente com o

    intuito de proteo e representao religiosa do morto e/ou de sua famlia.

    Consideraes finais

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    Em nossa analise sobre o smbolo do martelo e da cruz podemos afirmar

    que como toda representao mitolgica do mundo pr-cristo nrdico o

    martelo de Thor no foi fixado com um padro nico e por momentos chegou

    at mesmo a ser representado com um machado. O que demonstra mais uma

    vez a pluralidade da religio nrdica pr-crist, que sem a presena de um livro

    sagrado e nem mesmo um liderana religiosa unificada, acabava por se

    apresentar atravs de mltiplos padres e que em suas relaes

    espao/temporais acabavam por justapor ideias religiosas e prticas

    ritualsticas (DuBois,1999:8).

    Compreendemos assim que em tempos de contatos entre cristianismo e

    as crenas pr-crists os cultos e utilizaes de smbolos representantes dos

    deuses como o martelo de Thor e a cruz de Cristo ganharam novas funes e

    representaes, marcando assim mais um momento de convvio e influencia de

    uma religio para com a outra. Portanto mesmo o perodo Viking e em geral a

    Idade Media sendo marcados por guerras, conflitos e discusses religiosas e

    polticas houve momentos em que integrantes dos dois lados estiveram juntos e

    puderam trocar informaes. Momentos nos quais uma religio ou um povopode se posicionar em relao ao outro no apenas de forma blica, mas

    tambm em momentos de intercmbio nos quais Vikings e cristos estiveram

    muito mais prximos do que os inmeros casos de guerra e conflitos nos

    permite imaginar.

    Este trabalho nos permite vislumbrar assim o fato de que a Historia no

    to linear e rgida como s vezes nossa mente nos deixa pensar. No podemos

    mais acreditar que com a chegada do cristianismo de um momento para o outro

    a religio nrdica deixou de existir, os reis e a sociedade nrdica tomaram todos

    os padres cristos do mediterrneo e os substituram imediatamente aos seus

    antigos valores escandinavos.

    Por ultimo no podemos simplesmente pensar que o cristianismo fora

    um projeto singular por toda a Europa como uma grande misso civilizadora,

    arrebatadora e homogeneizante. Vale lembrarmos que como houve os contatos

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    no norte da Europa tambm houve pelo resto do velho continente todo e foi

    exatamente estas formas hibridas que tornou o cristianismo por fim o que temos

    hoje e que possibilitou o surgimento das chamadas heresias como as Arianas,

    Anglicanas e como tantas outras. Fora exatamente esses tantos cristianismos

    que permitiram a terras como a Islndia continuarem as suas obras na sua

    lngua verncula e no substitu-la pelo latim o que mais tarde traria para tantas

    outras localidades a possibilidade de traduo da bblia e dos cultos cristos.

    Munir Lutfe Ayoub

    Mestre em Histria pela PUC-SP, membro do NEVE

    [email protected]

    Referncias:

    DAVIDSON, H. R. Ellis. Deuses e mitos do norte da Europa. Traduo de Marcos

    Malvezzi Leal. So Paulo: Madras, 2004.

    DUBOIS, Thomas A. Nordic religions in the viking age. Pennsylvania: University

    of Pennsylvania Press, 1999.

    GRSLUND, A. S. Ideologi och mentalitet. Om religionsskifteti Skandinavien fran en

    arkeologisk horisont. OPIA vol. 29. Uppsala: Instituitionen for arkeologioch

    antic historia, Uppsala Universitet, 2002.

    LINDOW, John. Thors hammar.Jornal of English and Germanic Philology93(4),

    1994, pp. 485-503.

    MOTZ, Lotte. The Germanic thunderweapon. Saga-Book 24 (5), 1997, pp. 329-

    350

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]
  • 7/24/2019 Na 9 2015 Dossie Ritos e Crencas Nordica

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    Notcias Asgardianasn. 9, 2015: Dossi: Ritos e crenas nrdicas Pgina 36

    RICHARDS, Julian D. THE VIKINGS A Very Short Introduction. New York:

    OXFORD University Press, 2005.

    WAMERS, E. Hammer und Kreuz. Typologische Aspekte einer

    nordeuropischen Amulettsitteaus der Zeit des Glaubenswechsels. In: M.

    Mller-Wille. Rom und Byzanzim Norden. Mainz: Akademie der

    Wissenchaften und der Literatur, 1999. pp. 83-107.

    HEL E O INFERNO CRISTO: COMPARAES E

    INCONGRUNCIAS

    Quando se fala em mundo dos mortos, normalmente pensamos em um

    lugar cheio de cadveres, fantasmas e esqueletos. Um local sombrio, inspito,

    agonizante, ptrido, degradante, etc. Todavia, as pessoas se esquecem de que o

    Paraso tambm um lugar da morte. Afinal para ir ao Paraso necessrio

    morrer primeiro. No entanto, ao se estudar a vida aps a morte ou a vida no

    alm, importante ter em mente que no existe apenas um mundo dos mortos,mas normalmente so dois, e s vezes temos trs ou mais. O mundo dos mortos

    geralmente dividido em dois sentidos: o mundo dos mortos em nvel celeste,

    como o Cu, e em nvel ctnico ou subterrneo, como o Inferno.

    Por sua vez, alm dessa diviso geogrfica em cima e baixo, tal diviso

    tambm conota uma separao moral, entre as almas boas s quais ascendem

    aos mundos celestiais, e as almas ruins, as quais decaem aos mundos

    subterrneos. Todavia essa separao moral nem sempre se d na mesma forma

    entre as religies do mundo. A noo entre bem e mal, relativa de povo para

    povo, de cultura para a cultura.

    No caso escandinavo, o mundo subterrneo da morte chamava-se Hel ou

    Helheim, o mesmo nome da deusa responsvel por tal regio, algo visto

    tambm na mitologia grega com o deus Hades. A palavra helem nrdico antigo

    era tambm utilizada para designar morte, tmulo, cova (DAVIDSON, 1963, p.

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    84). No entanto, com a cristianizao dos vikings, os missionrios e padres

    passaram a usar a palavra hel como sinnimo de infernus, no que originou a

    palavra hell.

    Todavia, existem grandes disparidades entre a descrio de Hel e do

    Inferno, como visto nas religies abramicas, especificamente no Cristianismo e

    no Islamismo, nas quais, o Inferno descrito como o mundo subterrneo da

    morte para onde seguiro todos aqueles que romperam com os ensinamentos

    de Deus, ou seja, os pecadores que no se retratarem e/ou buscarem o perdo.

    Os quais sero jogados ao fogo do Inferno, onde padecero de terrveis flagelos.

    Entretanto, quando vemos as descries de Hel contida em poemas da

    Edda Poticae na Edda em prosa(principal fonte de detalhes sobre a deusa e seu

    reino), elas nos apontam um caminho bem diferente. Primeiro, as descries so

    bastante sucintas, e na maioria das vezes apenas salientam que Hel ficava

    localizada no subterrneo, em outros casos no h menes a sua localizao.

    O Vlusp (A viso da advinha) das estrofes 31 a 39 traz menes a

    Nilfheim e Hel, onde se fala de um misterioso lugar chamado Nstrond (costa

    dos mortos) o qual ficaria localizado no extremo norte. Nas estrofes 43 e 44, sefaz meno ao reino de Hel, a um galo de cobre e um co chamado, Garm. O

    poema Baldrs draumar (Os sonhos de Balder), no qual narra a visita de Odin a

    Hel, onde o deus procurou interrogar outra advinha acerca do futuro de seu

    filho Balder.

    O Grmnisml (Os ditos de Grmnir), o Vaftrdnismal (Os ditos de

    Vaftrdnir), Alvssml (Os ditos de Alvis), Lokasenna (Escrnios de Loki) e o

    Skrnisml (Os ditos de Skrnir) fazem sucintas menes a Helheim. No poema

    escaldo Sonatorrek (Meus filhos mortos) atribudo a Egil Skallagrmsson (ca. 910-

    990), na estrofe 25, o autor diz que s lhe restava aguardar a hora de partir para

    Hel.

    Em todos esses poemas, Hel apenas mencionado como um mundo da

    morte, mas no h descries que digam que seria um local de dor e sofrimento,

    ou to pouco salientam que fosse uma regio fria, embora que no Baldrs draumar

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    diga que Odin cavalgou por nove dias at chegar a Hel, tendo que cruzar as

    profundezas do mundo. Por tal aspecto de se encontrar no subterrneo, Hel

    uma regio sombria.

    J a ideia de que Hel seria uma terra fria advm principalmente do fato

    que no Vlusp, Grmnisml e na Edda em prosa, assinalarem que tal lugar ficaria

    dentro de Nilfheim ou nas suas proximidades, sendo que Nilfheim (Terra das

    Neblinas) era descrito como um mundo nebuloso e frio, habitado pelos

    gigantes de gelo.

    No entanto, surge uma pergunta: por que um mundo gelado? Uma boa

    pista para se tentar compreender essa questo parte do meio natural que os

    vikings habitavam. A Escandinvia conhecida por possuir os mais rigorosos

    invernos da Europa, igualada apenas pela Rssia. Todavia, o inverno na

    Dinamarca mais ameno do que na Sucia, e por sua vez, a Noruega quem

    possui os invernos mais frios de ambos os trs, devido principalmente a sua

    topografia montanhosa (GRAHAM-CAMPBELL, 2006, p. 20).

    Embora o rigor do inverno variasse em cada um desses pases nrdicos,

    ainda assim, o inverno era bastante frio e dependendo da regio, ele poderiadurar meses. Para os povos que ali viviam, no haveria cenrio mais mortfero e

    degradante que a fria paisagem branca do Norte. Somando-se a isso, o fato que

    as noites invernais eram mais longas que os dias de inverno, logo, as pessoas

    nos meses do inverno, passavam maior parte do tempo na noite, no que no dia.

    Obviamente o fator geogrfico no uma resposta definitiva para poder se

    pensar na concepo de um inferno escuro, frio e gelado, mas um fator a ser

    levado em considerao.

    Quando partimos para o relato de Snorri Sturluson na Edda em prosa,

    acerca das caractersticas pelas quais ele descreve Helheim, o autor islands nos

    forneceu maiores informaes sobre a deusa Hel e seu sombrio reino, embora

    tais informaes devam ser lidas com cautela, pois Snorri possa ter

    reinterpretado o mito de Hel com base em referenciais irlandeses, celtas e

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    cristos (DAVIDSON, 1998, p. 178), concedendo uma viso mais macabra a

    deusa e seu reino.

    Seu palcio se chamava ljdnir (mido ou angstia?), uma das

    entradas do palcio era chamada Fallanda Forad (pedra do tropeo ou

    precipcio). O seu prato chamava-se Hungr (fome), a faca era Sultr

    (inanio). Sua cama se chamava Kr (leito do doente) e o cortinado era

    Bilkjanda (preocupao). A deusa possua dois servos pessoais, um homem e

    uma mulher, chamados respectivamente Ganglati (lentido) e Glangt

    (vagareza).

    Hel possua tambm um cachorro chamado Garm, o qual guardava a

    entrada para o seu reino, chamada Gnipahllir. Snorri conta que uma ponte

    dourada chamada Gjallarbr, a qual passava sobre o rio Gjll (eco) se

    conectava a entrada de Hel. Alm disso, ele mencionou que uma giganta

    chamada Modgudr, vigiaria tal entrada.

    Os objetos pessoais, os locais de seu palcio e seus servos, tudo isso

    possuem nomes que se referem a questes negativas, o que acentua a concepo

    ruim a qual essa deusa foi associada (NIEDNER, 1997, p. 214). Alm disso, taisnomes s aparecem no relato de Snorri, o que refora a opinio de Abram (2003)

    e Davidson (1998), de que o autor com base em outros referenciais literrios e

    at cristos, tenha reformulado o mito sobre Hel.

    Embora Christopher Abram (2003) no descarte que possa ter havido

    influncia de outros referenciais na escrita de Snorri, ele no concorda que o

    poeta tenha inventado Hel, e assinala que o mais provvel foi que Snorri deu

    uma nova interpretao sobre a deusa e seu reino. Em sua tese de doutorado,

    Representations of the Pagan Afterlife in Medieval Scandinavian Literature (2003), o

    autor defendeu com base na meno a outras fontes literrias, das quais

    algumas so anteriores as Eddas, que as concepes da deusa Hel e seu reino,

    no teriam se originado na imaginao de autores cristos com base na

    mitologia nrdica, como alguns chegaram a alegar.

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    A opinio de Abram que Hel no seria um inferno respaldada tambm

    pelo fato de que, em nenhum momento nos poemas se diz que Hel era um local

    de punio, pois a prpria ideia de pecado inexistia na religiosidade viking

    como vista na religio crist. Os vikings tambm no possuam uma religio

    revelada ou com dogmas, essa estava mais centrada no pragmatismo da

    realizao ritualstica (LANGER, 2009, p. 131-132).

    Mas isso no nos infere em dizer que a cultura viking fosse amoral, aptica

    e sem leis, pelo contrrio, havia noes de moralidade, regras e leis (GRAHAM-

    CAMPBELL, 2006, p. 100). Sendo que a ideia de moral da cultura viking era

    distinta da cultura crist, da para os povos j cristianizados, os vikings

    pareciam ser apenas brbaros cruis que viviam sem leis e respeito ao prximo.

    No entanto, se os vikings possuam noes de leis, moral e por sua vez no

    havia o conceito de pecado, logo, sugerir que Hel seria um local para se punir

    os pecadores, carece de melhor embasamento. Outro problema que reca nessa

    ideia de que Hel fosse um local parecido com o Inferno, o fato de que no se

    sabe quais seriam os motivos pelos quais exatamente as almas iriam para l.

    As nicas condies propriamente conhecidas se encontram na obra deSnorri, na qual ele diz que os idosos e doentes ao morrer iriam para Hel. Mas

    essas so condies biolgicas e no religiosas como visto no cristianismo e no

    islamismo, e to pouco so condies sociais e de virtude como visto no caso de

    Valhala, para onde seguiriam apenas os guerreiros fortes, valorosos e com

    glria.

    No obstante, alm desses fatores mal explicados, Snorri no diz que em

    Hel, os mortos seriam punidos por seus atos, mas sugere que a vida aps a

    morte ali, no teria a mesma glria do que em Valhala. Abram (2003, p. 10) e

    Davidson (1968, p. 84) assinalaram que a ideia de velhice e doena

    provavelmente seja uma inveno de Snorri, como forma de conceder uma

    resposta a pergunta de qual seria o motivo para ir-se a Hel, assim como, seja

    tambm parte da reelaborao do autor para criar uma dualidade que

    respaldasse sua viso de Valhala (como o paraso).

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    Por fim, Snorri salienta que Hel no seria um local de punio, mas Nilfhel

    e o palcio de Nstrond seriam os locais onde as pessoas seriam punidas por

    seus atos. O terrvel palcio de Nstrond no qual veneno goteja do teto

    mencionado nas estrofes 38 e 39 doVlusp, mas no h indicaes se tal palcio

    ficaria em Helheim. Por sua vez, a palavra Nilfhel aparece nos poemas

    Vaftrdnisml e no Baldrs draumar, mas como sinnimo para Hel, e no como

    outro lugar.

    Algumas das concluses que se pode chegar que ainda pouco se conhece

    sobre a praticidade de Hel como mundo da morte, embora os trabalhos de

    Abram e Davidson sejam os melhores neste assunto. Por outro lado, percebe-se

    que houve uma reelaborao por parte de Snorri Sturluson em se tentar

    conceder maior racionalidade a vida aps a morte da cultura viking, buscando

    encontrar um local no qual os mortos seriam punidos, e tais locais so Nilfhel e

    Nstrond. Embora que o palcio conste no Vlusp, obra datada de pelo menos

    duzentos anos antes de Snorri, a qual j mostra essa ideia de castigo, mesmo

    sendo vaga de explicao de o porqu aquele local existir para tal fim. Nastrond

    e Nilfhel embora se assemelhem ao Inferno cristo, como locais de sofrimento,ainda assim, so regies que merecem ser mais bem estudadas nos mitos.

    Leandro Vilar Oliveira

    Mestrando em Histria pela UFPB

    [email protected]

    Referncias:

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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    Notcias Asgardianasn. 9, 2015: Dossi: Ritos e crenas nrdicas Pgina 42

    ABRAM, Christopher. Representations of the pagan afterlife in medieval

    Scandinavian literature. PhD Dissertation, University of Cambridge, 2003.

    DAVIDSON, Hilda. The Road to Hel: a study of the conception of the dead in

    Old Norse literature. New York: Greenwood Press, 1968.

    DAVIDSON, Hilda. Roles of the Northern Goddess. London/New York:

    Routledge, 1998.

    EDDA MAYOR. Traduo e notas de Lus Lerate. Madrid: Alianza Editorial,

    S.A, 2004.

    LANGER, Johnni. Vikings. In: FUNARI, Pedro (Org.).As religies que o mundo

    esqueceu. So Paulo: Contexto, 2009, p. 131-144. Disponvel em:

    www.academia.edu/753503

    NIEDNER, Heinrich. Mitologa nrdica. Traduo Gloria Peradejordi. Barcelona:

    Olimpo, 1997. (Coleo Mitologia e Histria).

    SKALLAGRIMSSON, Egil. Mis hijos muertos. In: LERATE, Luis. Poesa antiguo-

    nrdica. Madrid: Alianza Editorial, 1993, p. 119-127.

    STURLUSON, Snorri. The Uppsala Edda. Edited with introduction and notes by

    Heimir Plsson. Translated by Anthony Faulkes. London: Viking Societyfor Northern Research/University College London, 2012.

    DA PROFECIA A CONVERSO: ANLISE DA ESTTICA

    LITERRIA CRIST NAIRANDA TTUR OG RHALLS

    Pretendemos analisar, mesmo que de forma sucinta, os elementos de umaconstruo da esttica literria crist na literatura medieval islandesa,

    especificamente pensando no iranda ttur og rhalls ou iranda ttur Su-

    Hallssonar (Este ltimo: o conto de iranda filho de Hallde Sida), este que faz

    parte do Flateyjarbk ouCodex Flateyensis(GkS 1005 fol.), preservado dentro da

    lafs saga Tryggvasonar (c. 1387) (VGFSSON; UNGER, 1860: 418-421). A

    chegada do cristianismo em suas mltiplas fases de penetrao, interferiu em

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    diversos nveis do cotidiano e das camadas culturais, at que gradualmente a

    religio de cristo passou a ganhar um patamar dominante na sociedade. Dessas

    fases, uma terceira seria a de ampliao e consolidao da religio crist, onde

    por diversos motivos eclode uma literatura nica na Europa medieval no seio

    da sociedade islandesa (LANGER, 2009: 1) (SAWYER; SAWYER, 2006).

    As slendinga sgur, as sagas islandesas (sagas de famlia) foram

    produzidas entre os sculos XII e XIV, seu perodo de maior produo reside

    entre os anos de 1150 a 1350, sofrendo influncia clara de elementos cristos,

    obras hagiogrficas e por toda uma literatura clssica, assim como trabalhando

    fortemente com uma memria do passado na Islndia (BOYER, 1997: 130-134).

    Mas o ambiente de sua tessitura no o mesmo ao tempo que se refere,

    refletindo tanto ou mais do seu tempo de escrita do que o que se pretende

    contar. Nesse cenrio, os autores, em sua maioria cristos, vo inserir toda um

    esttica e mudana nos elementos do passado para favorecer o cristianismo, ou

    seja, uma mudana no que o autor soube do passado normalmente sculos IX

    XI - (ou mesmo uma criao) para favorecer a ampliao e consolidao do

    reino de Deus (obviamente que tal afirmativa no generalizante sobre toda a

    produo desse vasto gnero) (GRAHAM-CAMPBELL, 1997: 100-103).

    Figura 1: Cena do manuscrito Flteryarbk (GkS 1005 fol.), onde foi preservado o Conto deiranda. Fonte da imagem:http://warfare.altervista.org/14/Flateyjarbok.htm

    http://warfare.altervista.org/14/Flateyjarbok.htmhttp://warfare.altervista.org/14/Flateyjarbok.htmhttp://warfare.altervista.org/14/Flateyjarbok.htmhttp://warfare.altervista.org/14/Flateyjarbok.htm
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    Dentro desse cenrio de cultura escrita e valorizao da fora escrita que j

    existia antes mesmo da chegada da escrita latina (com a utilizao

    considervel da escrita rnica), elementos complementares s narrativas das

    sagas ou histrias mais curtas e rpidas, surgem em meados do sculo XIII

    como parte desse processo de mudana do mundo escrito e da valorizao da

    cultura escrita que ocorre por toda a Escandinvia. Nesse cenrio que se

    caracteriza os ttir ou contos, em uma tentativa mais prxima de traduo

    para o sentido dessa palavra agregada a seu uso no mbito literrio.

    Esses contos podem estar diretamente ligados a uma saga em especfico,

    como Halldrsttur Snorrasanar hinn fyrri, um complemento e continuao da

    histria da famlia de Snorri Goi, um dos principais personagens da Eyrbyggja

    saga. Outras vem ainda com essa ligao sobre um enredo, como a Grnlendinga

    ttur, que tem uma ligao de enredo clara com a Grnlendinga saga e a Eirks

    saga raua. Tambm encontramos narrativas livres, que mesmo possuindo

    referncias a vrios textos escritos e outras fontes, acabam fazendo sua prpria

    histria sem estarem diretamente ligadas a outro texto, como a Sjrnu- Odda

    draumur (que inclusive tem um tamanho maior em relao a outras do gnero).Assim como as sagas, osttir possuem uma narrativa direta e objetiva,

    mas como sua grande caracterstica serem curtas, muitos elementos se tornam

    ainda mais objetivos e diretos. Logo, o estilo simples, focando muitas vezes

    em um nico elemento central sem digresses desnecessrias ou

    complementares ao ensejo da trama. O prprio sentido de traduzir tal termo

    como conto, vem tambm de suas derivaes que revelam justamente essa

    brevidade em tamanho de seu texto, que por muitas vezes apresentam uma

    simples histria ao leitor com uma velocidade clara, como a rhalls ttur

    knapps e a Brgba ttur.

    Adentrando nosso caso de anlise, ns vamos encontrar esses mesmo

    elementos: clareza, objetividade e tudo isso de forma curta. Diferentemente do

    que ocorre com as sagas de famlia, em que a genealogia e a histria dos

    descendentes so um elemento claro, que se v na Gisla saga Srssonar, onde

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    seus captulos iniciais giram em torno desse passado familiar, por exemplo. J

    no respectivo ttur ns temos trs personagens claros e objetivos em que sua

    profuso psicolgica deve ser percebida de forma mais rasteira e no to repleta

    de uma esttica e complexidade psicolgica que vemos em outros casos. Por

    exemplo, na Hrafnkels saga Freysgoa, o Hrafnkell, se configura com centro da

    trama, onde sua complexidade psicolgica e seus atributos so apontados

    diretamente ou de forma sutil (como o enlao em torno da sua devoo ao deus

    Frey e a mudana do personagem que acompanha a mudana da trama).

    Os trs personagens so: rhallur, o Profeta (rhallur spmar);

    personagem que tem uma sabedoria e uma viso sobre o futuro, assim como

    um certo ar de mistrio e poder por possuir tal caracterstica. E sobre suas

    revelaes que o texto se constri. Hall; fazendeiro e possuidor de um poder,

    tanto o de terra como o de influncia, e por isso podemos presumir que talvez

    fosse umgoi, devido a suas idas ao inge pela posse de terras. Por fim, temos o

    outro nome do ttulo, irandi; Ele era o mais popular onde quer que fosse,

    porque ele era o mais talentoso dos homens, humilde e gentil com toda a gente.

    (cap. 1).Um sujeito notvel em seus feitos e conhecido por sua grandiosidade,

    onde a elevao de suas qualidades so um jogo para apresentar o tamanho do

    sacrifcio futuro que os dsirvo exigir da famlia.

    Entendendo a amizade, os aspectos e as caractersticas de cada

    personagem, ns podemos avanar na curta trama e observar que tudo ir

    ocorrer em uma festa de outono feita por Hallpara o seus. A festa se passa nas

    noites de inverno, vetrntr, que de acordo com o Zoega's Concise Dictionary of

    Old Icelandic e a sesso de referncia do The Complete Saga of Icelanders Vol. V,

    so os trs/dois primeiros dias que antecedem o inverno. Algo que ocorre na

    metade de outubro, onde um tempo particularmente sagrado do ano, com

    sacrifcios ao dsir,jogos, casamentos. Um exemplo pode ser visto no captulo 6

    da Vga- Glms saga(HREISSON, 1997: 417-422).

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    Antes da realizao da festa de outono, o profeta revela algo de suas

    vises, dizendo que em breve algo notvel e portador de mudanas ir chegar

    (comunicando isso de forma sria, ressaltando sua preocupao e reflexo).

    Sendo que antes, j havia anunciado sobre a chegada da dor que Hall sentiria

    pelo seu filho. Estas revelaes vo movendo a trama at o ponto que sua

    preocupao com a festa o faz alertar no somente Hall, mas todos os presentes

    de que algo estar por vir e que eles deveriam permanecer dormindo, ignorando

    aquilo que iria se passar. Hall confirma as palavras do profeta e pede para as

    pessoas seguirem, afinal [...] elas nunca falham. (cap. 2).

    Ao cair da noite, irandi, que estava agindo de modo corts e gentil,

    tpico de seus traos, resolve responder aos sons e chamados que se repetiram

    por trs vezes ao redor da partio, ignorando assim os avisos do amigo de seu

    pai, proferindo sua nica fala: " uma grande vergonha que todas as pessoas

    aqui ajam como se estivessem dormindo quando os convidados parecem ter

    chegado." (cap. 2). Ao sair, o filho de Hall de Sida se depara com um claro

    antagonismo posto pelo autor da narrativa, deixando claro a presena de traos

    e influncias dos escritos hagiogrficos. Do Norte, regio que chega a ser

    associada ao mal e ao Diabo no medievo (RUSSEL, 2003) de onde vem nove

    dsir vestidas em negro com espadas na mo; e do Sul, seu oposto, mulheres de

    branco em cavalos brancos, outros dsir. Essa montagem antagnica deixa claro

    uma disputa que iria ocorrer entre esses dsir, em que irandi estava se

    envolvendo, algo que vai gerar sua derrocada.

    Devemos entender que essa cena revela claramente uma disputa do bem

    contra o mal, um certo maniquesmo tpico do cristianismo. Afinal, dsir so

    grandes entidades espirituais femininas que protegem famlias, propriedades e

    at indivduos, possuindo uma certa ligao com a fylgja (literalmente

    algum que acompanha-oufetch -, visto que so espritos prximos e ligados

    a famlias ou sujeitos, como em Vatnsdla saga36) e as valqurias (Herjans dsir).

    (HREISSON, 1997: 408-409) (SIMEK, 1993: 61). Entendendo essa importncia o

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    Notcias Asgardianasn. 9, 2015: Dossi: Ritos e crenas nrdicas Pgina 47

    autor no decorrer da trama torna mais claro a existncia desse conflito nas

    palavras do profeta.

    Tempo depois encontram irandi,muito ferido e com foras suficientespara apenas para contar o que havia visto, um ltimo esforo desse to elogiado

    personagem, que acaba morrendo pouco tempo depois: Ele morreu naquela

    mesma manh de madrugada e foi colocado em um monte sepulcral de acordo

    com a tradio pag. (cap. 3); neste trecho fica em clara evidncia o carter

    cristo do autor, ao se referir a tradio pag, deixando claro na escrita do

    texto que sua tessitura foi feita em um presente cristo se referindo a um

    passado onde o paganismo reinava sobre aquelas terras. Ento, Hall questiona

    seu amigo sobre o que poderia ser essa viso de seu filho, e seu significado:

    Eu no sei, mas posso imaginar que elas no eram mulheres, mas asfylgjur que seguem sua famlia. Eu ac