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Controle Orgânico de Pragas NIM Azadiratcha indica

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NIM Azadirachta indica - Controle Orgânico de Pragas - 1

Controle Orgânico de Pragas

NIMAzadiratcha indica

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NIM Azadirachta indica - Controle Orgânico de Pragas - 2

Nim (Azadirachta indica)Originária da Índia, Azadirachta indica é citada nos Vedas (livros sagrados) como árvore da vida, há 4000 anos. Pertence a família Meliaceae (a mesma da Santa Bárbara ou Cinamomo, do Cedro e do Mogno), pesquisada, cultivada e com crescente utilização nos EUA, Austrália e América Central. Das substâncias ativas do Nim, a principal é a Azadirachtina, porém há outros princípios: triterpenóides, geduinas, nimbim e liminóides, que potencializam sua ação insetici-da. Cada grama de semente contém 45,71mg de óleo e 3,6mg de Azadirachtina.

PragasExistem relatos de controle de mais de 413 espécies de pragas de cultivos e criações, inclu-sive de circuito domiciliar: mosca branca, mosca minadora, mosca das frutas, pulgões, bra-sileirinho, traça das frutíferas, lagarta do cartucho, broca do tomateiro, ácaros fitófagos, trips, cochonilhas, broca e bicho mineiro do cafeeiro, bicho minador dos citrus, percevejos, vários besouros, lagartas, moscas domésticas, baratas, pulgas, mosquitos, pernilongos, inclusive Aedes aegypt, berne, carrapatos, mosca do chifre, piolho e nematoide, murchadeira (tomate e batata), ferrugem do feijoeiro, Rhizoctomia solani, R. oryzae, Sclerotium rolfssi e Fusarium oxysporum.

Propriedades do Extrato de NimAgricultura- Repelência e limitação do apetite do inseto; - Interrupção do crescimento do inseto (distúrbio na ecdise; - Morte no inseto adulto se alimentando por plantas tratadas enquanto era jovem;- Diminuição na postura dos ovos;- Morte de ninfas e ovos de insetos;- Diminui população de nematoides fitófagos;- Inibe crescimento de algumas espécies de bactérias;- Retarda a desnitrificação do solo;- Fungicida (controle 95% na ferrugem do feijão), inibe produção de aflotoxinas.

Como não provocam a morte imediata do inseto mas sim a interrupção do seu desenvolvimen-to e consequentemente diminui a população de praga, enquadra-se no conceito de Controle Biológico de Pragas.

Pecuária- Controla várias pragas: carrapato, piolho, berne, mosca do chifre, parasitoses (vermífugo), tanto através da ingestão da torta como pelo uso tópico (POUR ON e pulverização nos animais e estábulos);- A torta de Nim eliminada nas fezes, impede proliferação de mosca;- Bactericida e fungicida, indicado para as bicheiras;- É cicatrizante.

MedicinaUsado sob diversas formas (sabonetes, chás, óleo tópico e oral, cremes, géis e shampoos). Tem atuação em inúmeras doenças: gastrites, diabetes, inflamações, parasitas intestinais, úl-ceras, cáries, fendas, vitiligo, psoríase, tumores, candidíase, inflamações, piolhos, fissuras (cic-atrizante), caspas e micoses.

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CosméticaTrata caspas, hidratação cutânea, manchas hiper/hipocrômicas, rugas, acnes, etc.

ApresentaçãoNim em ÓleoUtilizar 150 a 250 ml por 20 litros de água e pulverizar as plantas, estábulos, casas, escolas, restaurantes e hospitais. Pode ser misturado com biofertilizantes diluídos em 0,5 a 1%. Não misturar o Nim com caldas bordalesas e sulfocálcica.

Modo de UsoIndicado como preventive e curative, com aplicações repetidas segundo orientação do agrôno-mo (sob conceito de manejo ecológico de pragas) e após equilíbrio do solo.

Não tóxicoNão afeta polinizadores (abelhas), predadores naturais das pragas: joaninhas, aranhas, pássa-ros, anfíbios e mamíferos, mesmo que se alimentem de insetos afetados pelo Nim. Minhocas não são afetadas (mesmo que se utilize da torta de Nim ou folhas de Nim no solo). Nim é um equilibrador ecológico da população.Os produtos derivados do Nim usados na agricultura e pecuária não oferecem nenhum risco de contaminação humana. A DL 50 do Nim é de 500 mg/kg, a do NaCl é de 3000 mg/kg (por-tanto, 66% menos tóxico que o sal de cozinha).Além disso, o Nim, tem comprovadamente ação medicinal no ser humano.

Cultivo PragasNome comum, grupos

Quantidade ml de óleo Nim em 100 litros de água

Preventivo Curativo CurativoAbóbora, melão,melancia, pepino,abobrinha

Mosca Branca 500 1000Pulgões 250 500Trips 500 1000Broca cucurbitáceas 300 1000

Algodão Pulgões, Trips 500 1000Lagartas, ácaros 500 1000

Berinjela, Jiló,Pimentão

Mosca Minadoura 250 500Traça 250 500Mosca Branca 250 500Traça da Batata 500 1000Lagartas 250 500

Café Bicho mineiro 500 1000Broca 500 1000Cigarra/Cochonilha 300 700Ácaro 300 700Lagarta 250 500

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Cítricos Frutíferas (pêssego, nectari-na, goiaba, maça,acerola, banana,abacate, mamão)

Trips 250 500Cochonilha 250 700Ácaros 250 500Minadora dos Citros 250 500Pulgões 250 500

Feijão, Vagem, Soja

Mosca minadora 250 500Mosca branca 500 1000Lagartas 200 400Percevejos 300 700

Hortaliça: alface, almeirão, chicória, rúcula, couve,couve-flor, repol-ho, alho, cebola, morango

Mosca minadora 250 500Traça 250 500Pulgões 500 1000Mosca Branca 500 1000Lagartas 250 500

Maracujá Percevejos 300 500Lagartas 500 1000Mosca das Frutas 500 1000

Milho Lagarta do cartucho 500 1000Lagarta da espiga 250 500

Tomate Mosca branca 500 1000Mosca minadora 250 700Pulgões 250 700Traça 500 1000Traça da Batata 250 700Brocas dos frutos 500 1000Ácaros 250 500Trips 250 500

Torta de NimResultado da extração a frio das amêndoas de Nim (Azadiratcha indica) com teor de 500 a 800 ppm de azadiratchtina. Quando usado no solo, o princípio ativo é absorvido da copa à raiz, que circula com a seiva protegendo a planta contra as pragas (principalmente nematoide). Usar de 250 a 500kg/ha. Na pecuária, utiliza-se misturada à ração 1g/dia/animal adulto ou 1% no sal. Para animais domésticos uma pitada da torata na ração 1x/semana.

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Torta de Nim – Ficha técnica - Análise como ração, composiçãoDeterminação Torta de Nim (%)Umidade 1,5Matéria Seca 99,2Proteína Bruta 17,4Extrato Etéreo 22,3Fibra Bruta 45,4NNDT 80,6

mg/kgZn 30Cu 7Fe 134B 11

ToxidadeNão há registro de toxicidade de Nim para humanos. Na África e no Caribe, as pessoas, principalmente as crianças, comem frutos maduros de Nim. Na Índia, extratos de folhas são utilizadas no prepara de chá, desde tempos imemoriais. As folhas também são consumidas como alimento na Índia, tanto pelo homem como pelos animais (HEDGE, 1993). No Brasil, al-gumas pessoas têm acrescentado um pouco de folhas secas moídas à erva-mate, no preparo do chimarrão. Informações sobre a toxicidade do Nim, em especial da azadiractina podem ser obtidas em estudos para registro dos produtos comerciais. Resultados obtidos com dois produtos, preparados a partir de frutosw de Nim, e contendo, o primeiro, 3.000 ppm de aza-diractina e o segundo 1% de azadiractina mostram sua baixa toxicidade (Tabela 6).Em testes de toxicidade realizados com mamíferos (Tabela 7), o produto a 1% não causou mortalidade nas doses máximas por via oral aguda, dermal e por inalação. Destaca-se a re-duzida toxicidade (alta DL50) a mamíferos em comparação com outros compostos botânicos tradicionalmente utilizados (Tabela 7). Boek et al. (2004), avaliando artigos sobre os possíveis efeitos benéficos de subprodutos de Nim na saúde de mamíferos, descreveram também os efeitos tóxicos, o óleo da semente e os extratos aquosos foram menos tóxicos. A maior par-te dos compostos puros mostrou toxicidade relativamente baixa (15mg azadiractina/kg peso corporal/dia). Para todas as preparações, efeitos reversíveis na produção de machos e fêmeas foram os principais relatados após exposição subaguda ou crônica.Pássaros e morcegos alimentam-se da polpa do fruto, mas podem ser afetados pela se-mente. Em coelhos, o extrato aquoso de folhas a 10%, oferecido por via oral por 24h, cau-sou um pequeno efeito diurético (STEWART, 1997). Em cães, a injeção intravenosa de nim-bidim (um dos derivados do Nim) também causou diurese, mas a injeção muscular não teve efeito. O uso de torta ou folhas de Nim para alimentação do gado mostra resultados variáveis, às vezes causando redução de peso (KETKAR & KETKAR, 1995). A atividade mu-tagênica potencial e a atividade relacionada a possíveis danos cromossômicos desse produto foram, também, investigadas in vivo e in vitro com resultados negativos (STEWART, 1997). Goktepe et al. (2004) avaliaram o risco ecológico de azadiractina pura e dois produtos comer-ciais à base de Nim sobre seis espécies de animais aquáticos, entre as quais caranguejo, camarões e pulga-do-mar, pela medição de testes de toxicidade aguda. Observaram que apenas a pulga-do-mar se mostrou sensível e em níveis dez vezes maior do que nas doses indicadas para o controle. Assim, segundo os autores, os valores de risco desses inseticidas não excedem o critério de utilização correta dos produtos.

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Tabela 6. Toxicidade de dois produtos registrados à base de azadiractina(LARSON, 1995; STEWART, 1997).Animal testado Método Azadiractina

0,3% 1%Peixe (truta) 96h em água 8,8ml/h 160mg/l

Pato 1-16mg/kg/dia por 14 dias Não tóxicoCodorna 1.000 a 7.000 ppm por 5 dias Não tóxico Não tóxico

(testado até 4.000 ppm)Rato 14 dias – via oral Acima de 5ml/kgPorquinho-da-Índia Barbeados e pincelados por

6h em 9 dias – via dermalNão tóxico

Tabela 7. Toxicidade aguda de formulação a 1% de azadiractina em mamíferos (modificado de STEWART, 1997)Sensibilização da pele Não sensibilizadorIrritação dermal Não irritanteIrritação no olho Não irritanteToxicidade dermal DL50 > 2.000mg/kgToxidade por inalação DL50 > 5,4mg/l

Toxicidade oralAzadiractina DL50 > 5.000mg/kgPiretro (Chrysantemum cinerariefolium) DL50 > 1.500mg/kgRotenona (Derris, Lonchocarpus, Tephorosia) DL50 > 132mg/kgNicotina (Nicotiana tabacum) DL50 > 30mg/kg

Ação do Nim sobre insetosOs extratos de Nim, em especial seu ingrediente ativo mais potente, a azadiractina, inibem a alimentação dos insetos, afetam o desenvolvimento das larvas e atrasam seu crescimento, re-duzem a fecundidade e a fertilidade dos adultos, alteram o comportamento, causam diversas anomalias nas células e na fisiologia dos insetos e causam mortalidade de ovos, larvas e adul-tos. Embora seu modo e ação na célula ainda não esteja totalmente esclarecido, resultados de pesquisa têm demonstrado seus efeitos em vários processos fisiológicos de grande número de espécies de insetos.A azadiractina atua de modo dose-dependentes e a sensibilidade do inseto à ação antial-imentar e à inibição de crescimento depende, portanto, não apenas da espécie de inseto, mas também da concentração de azadiractina. De modo geral, a concentrações mais baixas, os insetos frequentemente mostram alterações no desenvolvimento, e a concentrações mais altas, pode haver total inibição de alimentação (WARTHEN, 1989). A mortalidade é maior e ocorre mais rapidamente quanto maior a dose empregada. Além disso, a mortalidade causada pela azadiractina aumenta ao longo do tempo, ou seja, o número de insetos mortos após o tratamento continua a aumentar durante o ciclo de vida (MARTINEZ & VAN EMDEN, 2001). Esse efeito indica que a azadiractina pode danificar irreversivelmente determinados processos fisiológicos essenciais ao desenvolvimento do inseto. Os danos indiretos acumulam-se durante os sucessivos estádios de desenvolvimento, afetando o inseto de forma progressiva e poden-do finalmente vir a causar sua morte. A Fig. 9 mostra a mortalidade crescente do lepidóptero

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Spodoptera littoralis, tanto em direção às maiores doses aplicadas quanto no tempo, na mes-ma dose, causada por indigestão de azadiractina.

Figura 9. Mortalidade de S. littoralis em diferentes instares após larvas de 3º instar terem sido alimentadas com dieta tratada com diferentes concentrações de azadiractina (PP: pré-pupa; P: pupa) (MARTINEZ & VAN EMDEN, 2001).

Efeito AntialimentarA azadiractina torna o alimento impalatável aos insetos por ação direta, como demonstrado em gafanhotos e lepidópteros. Interfere diretamente nos quimiorreceptores de larvas pela estilmu-lação de células “deterrentes” específicas, que são células que causam comportamento an-tagônico à alimentação, situadas nas peças bucais – palpos maxilares e probócide – (BLANEY et al., 1990) e nas extremidades das pernas – nos torsos (BLANEY & SIMMONDS, 1990).De acordo com Mordue (Luntz) & Nisbet (2000), os lepidópteros são considerados extrema-mente sensíveis e a suspensão total da alimentação nesse grupo pode ser obtida com con-centrações que variam de 0,001 ppm e 500 ppm. Os ortópteros (gafanhotos, esperanças, grilos, baratas) apresentam ainda menor sensibilidade à azadiractina, sendo que o consumo alimentar do gafanhoto Locusta migratória somente se reduz a concentrações acima de 100 ppm e o de Melanoplus sanguinipes acima de 1.000 ppm.

Figura 10. Consumo foliar da vaquinha. D. speciosa, em círculos de folha de feijoeiro tratados com: a) azadiractina (S. MARTINEZ-CARVALHO, 1990 - não aplicado); (b) soluções aquosas de óleo de Nim em diferentes concentrações (m/l) (F. C. SILVA & S. S. MARTINEZ, 2001 - não publicado).

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Em experimentos realizados no IAPAR com adultos da vaquinha do feijoeiro, Diabrotica spe-ciosa, o tratamento de círculos de folhas de feijoeiro com azadiractina reduziu o consumo foliar desses adultos (Fig. 10a); o mesmo aconteceu quando os reduziu os círculos de folhas foram tratados com óleo emulsionável de Nim (Fig. 10b), sendo a ação tanto maior quanto maior a dose do composto. O óleo emulsionável de Nim causou, também, mortalidade dos adultos da vaquinha que se alimentaram dos círculos de folhas tratados, a partir do terceiro dia após o início da alimentação (Fig. 11). Mikami & Ventura (2008) também registraram os efeitos repelente e deterrente de alimentação e mortalidade sobre larvas e adultos de outro besouro crisomelídeo, o desfoliador de brássicas, Microtheca punctígera, quando ofereceram círculos de folhas de nabiça tratadas.A essa ação antialimentar ou deterrente direta, soma-se uma ação indireta, conhecida, como efeito antialimentar secundário, que pode resultar de efeitos tóxicos causados pela azadiracti-na, mesmo sem que haja contato entre o composto e as peças bucais do inseto. Desse modo, o consumo do alimento pode também ser reduzido após tratamento tópico, sobre o corpo (TANZUBIL & MACCAFFERY, 1990a), ou injeção de azadiractina na hemocele (SIEBER & REMBOLD, 1983). Um outro exemplo desse efeito alimentar secundário é que os insetos alimentados com dieta contendo azadiractina podem reduzir o consumo de alimento, mesmo após terem sido transferidos da dieta tratada com o composto para dieta normal (REMBOLD, 1989; CARVALHO & VAN EMDEN, 1995). Isso significa que um curto período de tratamento pode reduzir o consumo de alimento por um período maior. Há, porém, casos de inseto cujo comportamento de alimentação não foi efetuado após aplicação tópica e injeção de azadiracti-na, como Peridroma saucia (KOUL & ISMAN, 1991) e Manduca sexta (TIMMINS & REYNOLDS, 1982), respectivamente.A azadiractina também prejudica a utilização dos nutrientes ingeridos, reduzindo a eficiência de conversão do alimento ingerido e digerido e a atividade das enzimas do mesentério, ou intestino médio (AYYANGAR & RAO, 1989; MARTINEZ & VAN EMDEN, 1999). Pode, também, afetar diretamente as células dos músculos do canal alimentar, diminuindo a frequência de contrações e aumentando a flacidez muscular, como observado no gafanhoto L. migratória (MORDUE et al., 1985). Em consequência, o crescimento e o desenvolvimento dos insetos, bem como todos os eventos fisiológicos dependentes da alimentação adequada, desde a ab-sorção até a transformação no canal alimentar, ficam comprometidos.

Figura 11. Mortalidade da vaquinha, D. speciosa, causada pelo consumo de círculos de folha de feijoeiro tratados com soluções aquosas de óleo emulsionável de Nim em diferentes con-centrações (m/l) (F.C. SILVA & S. S. MARTINEZ, 2001 – não publicado).

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Efeito Regulador de CrescimentoA atividade da azadiractina como reguladora de crescimento foi demonstrada em vasta gama de espécies de insetos e está mais relacionada a sua interferência no sistema neuroendócrino dos insetos.Os principais hormônios envolvidos na regulação do crescimento dos insetos são os hormô-nios da ecdise (ecdisona e 20-hydroxy-ecdisona) e o hormônio juvenil, produzidos, respectiv-amente, nas glândulas protorácicas e nos corpora allata, mediante estimulação por hormônios secretados no cérebro (WIGGLESWORTH, 1972). Os passos do processo estão sumarizados na Fig. 12.O modo de ação da azadiractina no sistema neurossecretor do inseto e sua interferência no desenvolvimento das formas jovens têm sido bastante estudados, mas diversos aspectos ain-da permanecem obscuros. O composto mostrou alterar os teores da ecdisona e de outros hormônios ecdisteroides na hemolinfa, possivelmente por interferir na síntese e liberação do hormônio protoracicotrópico (PPTH) do corpus alltaum, que é o hormônio que estimula a pro-dução de ecdisona pelas glândulas protorácicas. A azadiractina parece bloquear a liberação desse hormônio, causando o aumento da concentração do mesmo dentro do corpus allatum, o que resulta na redução de sua síntese pelas células neurossecretoras do cérebro, por um defeito de feedback (ver MORDUE (LUNTZ) & BLACKWELL., 1993; REMBOLD, 1995). Efeito semelhante é sugerido para a ação da azadiractina na liberação da alatropina pelos corpora cardíaca, interferindo, assim, nos teores de hormônio juvenil da hemolinfa. Embora essa seja a teoria mais aceita para a ação da azadiractina no sistema neurossecretor, ainda há con-tradições, como o caso do besouro Tenebrio molitor, que não possui glândulas produtoras do hormônio PTTH e ainda é sensível ao efeito antagonista da azadiractinia aos ecdisteroides (REMBOLD, 1995).A ação neuro-hormonal da azadiractina depende da espécie de inseto e da concentração apli-cada, e resulta em várias alterações no crescimento e no desenvolvimento dos insetos como: redução do crescimento e prolongamento do período larval (Fig. 13), aumento do número de instares larvais causado pela alteração nos teores de hormônio juvenil, inibição da ecdise (muda), deformidades e mortalidade.

Figura 12. Representação esquemática da regulação hormonal da ecdise nos insetos. O hormônio protoracicotrópico (PPTH) é sintetizado nas células laterais neurossecretórias do cérebro, liberado através dos corpora allata na hemolinfa e, subsequentemente, transporta-do às glândulas protorácicas, que são estimuladas pelo PTTH a produzirem a ecdisona. Os hormônios alatotropina (ativador) e alatostatina (inibidor), produzidos no cérebro, regulam a síntese de hormônio juvenil nos corpora allata.

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Figura 13. Redução do crescimento de lagartas de Anticarsia gemmatalis alimentadas por dois dias com dieta contendo diferentes concentrações de óleo de Nim. Quanto maior a con-centração, menor o crescimento das lagartas (S. S. MARTINEZ, 2003 – não publicado).

A azadiractina pode causar danos severos em insetos ao interferir na ecdise. Como as larvas e ninfas de insetos dependem desse processo para se desenvolver e crescer, elas são espe-cialmente afetadas. Considerando o complexo mecanismo de ação dos hormônios envolvidos na ecdise, os efeitos da azadiractina vão também depender de quais eventos fisiológicos estão em andamento no inseto no momento em que o composto é aplicado. As alterações podem resultar do bloqueio ou atraso na liberação de ecdisteróides na hemolinfa, do declínio anormal do nível de ecdisteróides ou de picos aberrantes de ecdisteróides (MORDUE et al., 1993). E assim:a) Pode haver completa inibição da ecdise e esta não se iniciar. Nesse caso, é muito comum que os insetos não morram, porém fiquem inativos por um período, geralmente seguido de mortalidade, como foi observado para a cochonilha Planococcus sp., tratada com óleo emul-sionável de Nim (Fig. 14). Nessa condição, o inseto não se alimenta e, portanto, não causa dano;b) A ecdise pode ser interrompida, causando a morte do inseto, tanto durante a fase de larva (Fig. 15a, b) ou ninfa quano durante o período de pupa (Fig. 15c);

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Figura 14. Porcentagem de indivíduos mortos e inativos da cochonilha, Planococus sp., sete dias após pulverização com óleo emulsionável de Nim em diferentes concentrações (R. DE-PIERI & S. S. Martinez, 2001 – não publicado).

Figura 15. Inibição da muda. a) Lagarta-da-soja, Anticarsia gemmatalis; na lagarta à direita a cápsula cefálica não se desprendeu; b) Lagarta de Spodoptera littoralis; c) Pupa do besouro Phaedon cochlearice.

c) A ecdise pode ser incompleta, produzindo, em caso de transformação de larva para pupa, indivíduos com características intermediárias, presentes em ambos os estádios referidos. A Fig. 16 mostra intermediários larva-pupa do lepidóptero S. littoralis que não tiveram a troca do tegumento externo de lagarta e, portanto, mantêm a cabeça e as pernas, porém sofreram a esclerotização, ou amadurecimento do tegumento, como ocorre nas pupas, e a alteração da forma de lagarta para a de pupa;

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Figura 16. Intermediários larva-pupa de Spodoptera littoralis (esquerda) e pupa normal (dire-ita).

d) A ecdise pode ser imperfeita, causando deformidades de diversas naturezas [MORDUE (LUNTZ) & NISBET, 2000; MARTINEZ & VAN EMDEN, 2001]. Pode deixar partes do tegumento velho aderidas ao novo (Fig. 17a) ou mutilar extremidades naus delicadas dos insetos, como as peças bucais, os tarsos (último segmento das pernas) ou as estruturas de apreensão das falsas pernas (pernas abdominais) das lagartas (Fig. 17b, c). Assim, indiretamente, a ecdise imperfeita prejudica a alimentação, a locomoção e até a capacidade do inseto de se prender aos ramos e folhas de planta onde se alimenta. Diversas outras deformidades são observadas nos adultos, tanto no corpo (Fig. 18a, b) como nos apêndices (Fig. 18c).É importante observar que os insetos que sobrevivem à ação do Nim tendem a apresentar anomalias, o que se soma em prejuízos à população, já que esses insetos não tem condições de se alimentar, desenvolver e reproduzir normalmente. A Fig. 19 mostra a porcentagem de sobrevivência de S. littoralis causada pela azadiractina em diferentes concentrações compara-da com a porcentagem desses adultos que não apresentaram anomalias aparentes, revelando considerável redução na população de insetos sadios.

Figura 17. Deformidades e anomalias causadas pelo Nim em lagartas. a) Curuquerê-do-algo-doeiro com partes da exúvia aderidas ao tegumento, b) Falsas pernas de curuquerê-do-algo-doeiro com as extremidades atrofiadas; c) Falsas pernas normais.

Figura 18. Deformidades causadas pelo Nim em adultos. a) Spodoptera littoralis que não conseguiu se libertar do invólucro da pupa; b) Phaedon cohcleriae; c) Perna de Phaedon co-chleriae, com o terceiro segmento atrofiado (direita) e normal (esquerda).

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Figura 19. Porcentagem de sobrevivência de adultos de S. littoralis e porcentagem de adultos normais após tratamento das lagartas com azadiractina (MARTINEZ & VAN EMDEN, 2001)

Em concentrações baixas, que não chegam a impedir a ecdise, pode-ser observar prolon-gamento o ciclo biológico do inseto (Tabela 10). Esse prolongamento geralmente é acompan-hado de redução na alimentação, causado pela ação antialimentar da azadiractina, e conse-quentemente redução do tamanho e do ganho de peso [MORDUE (LUNTZ) & NISBET, 2000; MARTINEZ & VAN EMDEN, 2001].

Tabela 10. Duração média (dias) de diferentes estágios de S. littoralis após as lagartas terem sido alimentadas por dois dias com dietas contendo azadiractina, durante o 3º instar (MARTI-NEZ & VAN EMDEN, 2001).

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Azadiractina (ppm) Larva Pré-pupans Pupans Total0,01 12,9 a 2,0 9,6 24,5 a0,05 13,7 ab 2,0 10,1 25,3 ab0,1 14,7 b 2,3 10,3 27,2 b0,5 17,7 c - - -1 - - -

Efeitos sobre a reproduçãoA azadiractina afeta a reprodução de várias espécies de insetos, tanto quando tratados na fase adulta (DORN, 1996) como quando tratados durante o estágio larval, com concentrações subletais (CARVALHO, 1996). A lagarta-da-soja, Anticarsia gemmatalis, pulverizada com óleo emulsionável de Nim em diferentes concentrações, no início da fase de lagarta, apresentou fecundidade das fêmeas adultas levemente reduzida em concentrações acima de 2,25ml/l, mas a fertilidade foi drasticamente afetada, não ocorrendo a germinação dos ovos depositados pelas fêmeas pulverizadas com concetração de óleo igual ou superior a 5ml/l (Fig. 20).Muitos aspectos relacionados aos efeitos do Nim sobre a reprodução dos insetos ainda neces-sitam ser esclarecidos. O composto parece afetar importantes processos relacionados à mat-uração reprodutiva tanto de machos quanto de fêmeas, retardando o início do acasalamento e do período de postura. Tais efeitos nas fêmeas podem estar relacionados ao aumento do tempo necessário para o desenvolvimento dos oócitos (REMBOLD & SIEBER, 1981). Além dis-so, o número de ovos por fêmea pode ser reduzido em decorrência dos efeitos da azadiractina na síntese de vitelogenina e pela redução na retirada de proteínas do corpo gorduroso pelos oócitos, prejudicando seu desenvolvimento e maturação (TANZUBIL & MCCAFFERY, 1990b).Em machos, embora ainda não se conheça a ação específica da azadiractina, alguns estudos mostraram que ela afeta ea espermatogênese, atrasa o início do período de postura, reduz o número de cópulas, diminui a fecundidade das fêmeas pareadas com machos tratados (CAR-VALHO, 1996) e pode prevenir totalmente a cópula por inabilidade dos machos em copularem, quando submetidos a concentrações mais elevadas (DORN, 1986). Além disso, interfere no comportamento de corte e acasalamento, como demonstrado para a cigarrinha Nilaparvata lugens; alguns insetos não conseguiram emitir o som de chamamento e outros emitiram sons irreconhecíveis (SAXENA et al., 1993).De modo geral, as células reprodutivas dos insetos desenvolvem-se após a emergência dos adultos, sendo que para muitas espécies a alimentação dos adultos durante o período é crucial para que o processo ocorra. Assim, adultos recém-emergidos, alimentados com dieta tratada com extratos de Nim, ou azadiractina, podem ter seu desenvolvimento reprodutivo afetado. Isso foi demonstrado para adultos do bicho-mineiro do café, Leucoptera coffeella, que, ao ser-em alimentados por dois dias com dieta de mel contendo óleo emulsionável de Nim, logo após a emergência, tiveram a fecundidade (número de ovos por fêmea) reduzida (Fig. 21). Também foi demonstrado em adultos da mosca-das-frutas Ceratitis capitata. Estes adultos não depos-itaram ovos quando foram mantidos em gaiolas e alimentados com dieta na forma de iscas contendo óleo comercial de Nim, na concentração de 30 ppm (0,03g de azadiractina por litro de solução) (NAKANO & ROMANO, 2002). Mahmoud & Shoeib (2008) demonstraram a ação repelente de oviposição da mosca-das-frutas Bactrocera zonata, em pêssego, ao pulverizarem os frutos com soluções de produto comercial à base de Nim, com 0,3% azadiractina. Redução da postura foi observada de forma dependente da dose quando fêmeas foram alimentadas com dieta tratada com o produto antes da maturação sexual, porém o mesmo não ocorreu quando apenas os machos foram tratados.

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Figura 20. Redução da postura e da germinação de ovos colocados por A. gemmatalis pro-venientes de lagartas que foram alimentadas com dieta tratada com óleo emulsionável de Nim por dois dias (F. C. SILVA & S. S. MARTINEZ, 2001 – não publicado).

Figura 21. Redução da postura de bicho-mineiro quando os adultos foram alimentados com dieta adicionada de óleo de Nim (R. DEPIERI & S. S. MARTINEZ, - não publicado).

Repelência de PosturaA presença de extratos de Nim sobre uma superfície pode reduzir o número de ovos deposita-dos pelos insetos sobre ela. Isso foi observado para adultos do bicho-mineiro do café, quando colocados em gaiolas para ovipositar sobre plântulas de café, previamente tratadas com o óleo emulsionável ou com extratos aquosos de frutos ou de folhas de Nim. Tanto em testes com chance de escolha, quanto em situação em que todas as plântulas foram tratadas, houve sig-nificativa redução do número de ovos depositados e da germinação desses ovos (MARTINEZ & MENEGUIM, 2003 – Fig. 22). Como referido anteriormente, algumas espécies de insetos possuem quimiorreceptores presentes nos tarsos (segmento terminal das pernas) que são capazes de detectar a presença da azadiractina, o que pode, portanto, atuar tanto na redução de alimentação quanto na de postura. Repelência de postura e, também, repelência dos adul-tos da mosca-branca Bemisia tabaci foram observadas por Cubillo et al. (1999) e Baldin et al. (2007a) em tomateiro. Esse fator é bastante valioso, pois para pragas transmissoras de viroses, como a mosca-branca, o melhor controle é evitar que o inseto se aproxime da cultura.

Figura 22. a) Repelência de postura do bicho-mineiro causada pela pulverização de óleo emulsionável de Nim sobre plântulas de cafeeiro em teste de múltipla escolha; b) germinação dos ovos pulverizados (MARTINEZ & MENEGUIM, 2003).

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Outros EfeitosAlém do processo de muda, outras funções fisiológicas que são controladas por ação hor-monal podem ser indiretamente alteradas para azadiractina. Foram relatados efeitos sobre a diapausa, o comportamento e a síntese de proteínas, o que amplia a gama de interferências da azadiractina. Além disso, foi observada a redução na transmissão de viroses por insetos vetores (HUNTER & ULLMAN, 1992).Efeitos tóxicos diretos foram também registrados nos músculos do intestino dos insetos [NA-SIRUDDIN & MORDUE (LUNTZ), 1993] e em diferentes tecidos e células, causando alterações citológicas e interrompendo a diferenciação de tecidos embrionários [HORI et al., 1984; SCHUT-ER et al., 1985). Lagartas de S. frugiperda alimentadas com soluções de produto comercial à base de Nim apresentaram alterações morfológicas no mesêntero, com degeneração do epitélio e redução de células regenerativas e de atividade secretora dessa região, após 96h, à concentração de 1,0% e 144 horas a 0,5% (CORREIA et al., 2009). Roel et al. (2010) obser-varam degeneração do epitélio do revestimento do mesêntero e da matriz peritrófica quando utilizaram um óleo comercial de Nim em concentração mais baixa, a 0,006%. Em Spodoptera littura, um óleo comercial de Nim provocou alterações celulares nos hemócitos, com perdas de partes da membrana celular, vacuolização, projeções citoplasmáticas e degeneração das organelas, com mitocôndria, retículo endoplasmático e corpo de Golgi aumentados (SHARMA et al., 2003).

Ação por Contato e IngestãoA azadiractina pode afetar os insetos por ingestão e por contato, porém sua ação por ingestão é significativamente superior. A CL50 (concentração letal para 50% da população) obtida para S. littoralis por ingestão de dieta durante dois dias mostrou-se cerca de 200 vezes inferior à obtida por pulverização (CARVALHO, 1996), revelando a eficiência muito superior da ação por ingestão sobre essa lagarta. Lagartas de Spodoptera frugiperda, a lagarta-do-cartucho, pul-

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verizadas diretamente com extrato de folhas de Nim a 1% (p/v), tiveram mortalidade de 32,2% após 10 dias, enquanto lagartas da mesma espécie, não pulverizadas, mas alimentadas com folhas de milho pulverizadas com o mesmo extrato tiveram 87,3% de mortalidade (VIANA et al., 2000). Resultados semelhantes foram obtidos com o óleo emulsionável e a lagarta-da-soja, A. gemmatalis. Obteve-se 15% de mortalidade até a fase de pupa, quando as lagartas ingeriram dieta contendo a mesma concentração durante 48h (F. C. SILVA & S. S. MARTINEZ, dados não publicados). Isso pode ser devido ao fato de a distribuição da azadiractina variar nos teci-dos do inseto, dependendo do local em que o composto é administrado, ou mesmo à relativa impermeabilidade do tegumento, demonstrada por Nicol (1994) em ninfas de gafanhoto, 72h após o tratamento, era duas vezes menor naquelas tratadas topicamente do que nas tratadas por via oral.

Ação do Nim x Tamanho das LagartasDiferentemente da maioria dos produtos, a azadiractina parece afetar mais as lagartas bem desenvolvidas do que as pequenas. Martinez & Van Endem (2001) compararam a ação da aza-diractina sobre lagartas pequenas (de terceiro instar) de S. littoralis e de último instar (portanto, prestes a empupar). As lagartas foram alimentadas pro apenas dois dias com dieta artificial contendo 0,3ppm e 0,6ppm de azadiractina. Obteve-se, respectivamente, lagartas pequenas nas duas concentrações. Esses resultados reforçam a hipótese de que a ação deletéria da azadiractina está mais ligada aos distúrbios hormonais do que à ação tóxica direta. Durante o período que se segue ao último instar larval, que corresponde à pupação, ocorrem trans-formações que envolvem processos neuroendócrinos complexos (NIJHOUT, 1994), que não ocorrem com a mesma intensidade durante as ecdises entre instares, ou seja, de lagarta para lagarta, tornando aquelas prestes a empupar mais suscetíveis à ação da azadiractina.

Pragas que podem ser controladas com o NimAté 1995, cerca de 400 espécies de insetos foram relatadas como sensíveis a algum tipo de ação do Nim. A maior parte dos estudos foi realizada com lagartas e besouros e, das espécies testadas, mostraram-se mais sensíveis 136 espécies de lepidópteros, 79 de coleópteros, 50 de homópteros, 49 de dípteros e 32 de heterópteros (SCHMUTTERER & SINGH, 1995). É possível que todas as espécies de insetos sejam sensíveis, em níveis diferentes, porém dadas as variações no comportamento dessas espécies e os seus diferentes graus de exposição no ambiente, algumas podem escapar da ação do Nim.Muitos dos testes até o momento foram feitos fora do Brasil, com espécies que muitas vezes, não ocorrem no país. A utilização dos dados disponíveis na literatura é difícil na prática, pois foram testados extratos obtidos de diferentes formas e aplicados de modos diversos, o que dificulta comparações. Além disso, devido à ação múltipla do Nim, geralmente são relatados os diferentes modos de ação dos extratos, porém as doses adequadas ao controle das pragas não são indicadas.As espécies mais suscetíveis são as lagartas, cigarrinhas, e larvas de besouros que se ali-mentam diretamente das folhas tratadas. Na Tabela 11, econtram-se resultados de testes com espécies (ou gêneros) de importância econômica encontrados na literatura internacional, que também ocorrem no Brasil. De modo geral, os extratos causaram redução na alimentação, repelência, distúrbios no crescimento, redução da fecundidade e fertilidade, redução na trans-missão de viroses e mortalidade. A maior parte das investigações foi feita em laboratório, sen-do necessários mais estudos para se poder determinar com segurança as doses, frequência de aplicação, etc.Resultados de pesquisa obtidos no Brasil mostraram efeitos letais do Nim, tanto extrato de

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folhas como de sementes, como o óleo emulsionável, sobre diversas espécies de pragas (MARTINEZ, 2001a). De modo geral, os diferentes extratos de Nim têm apresentado proprie-dades semelhantes, variando a concentração necessária para atingir o mesmo nível de ação. A escolha do extrato deve-se pautar nas disponibilidade do produto e na facilidade de preparo.

Tabela 11. Principais pragas suscetíveis aos produtos derivados de Nim referidas na literatura (adaptado de Schumutterer & Singh 1995)

Espécie Nome comum Estágio Hospedeiro Teste Produto Efeito

Ortópteros

Periplaneta americana Barata A, N Ração Lab PC Rep. M, Dcr

Locusta migratoria Gafanhoto A, N Capim Lab Aza RFec, M, DCr

Schistocerca gregaria Gafanhoto A, N Repolho, trigo Lab EA Rep, DCr, M

Tisanópteros (tripes)

Caliothrips sp. Tripes N Amendoim Campo EA RPop

Frankliniella schultzei Tripes A, N Amendoim Lab O RPop, RTrVir

Thrips tabaci Tripes N Repolho Campo PC RAlim, Rpop

Hemípteros (percevejos)

Dysdercus sp. Percevejo-do-algodão A, N Algodão Lab EA, Aza DCr, RFec, M

Euschistus bifibulus Percevejo-do-tomate N Tomate Campo O, EA DCr

Nezara viridula Percevejo-verde N Tomate Lab/Campo O, EA DCr

Triatoma infestans Barbeiro N Sangue Lab Aza DCr

Homópteros (pulgões, cochonilhas, cigarrinhas)

Acyrtosiphon gossypii Pulgão A, N Feijão caupi Campo O, EA RPop

Acyrtosiphon pisum Pulgão-da-ervilha A, N Feijão vagem Lab EE DCr, RFec, M

Aphis craccivora Pulgão A, N Feijão caupi Lab O M

Aphis fabae Pulgão N Feijão vagem Lab EE M

Aphis gosssypii Pulgão-do-algodão A, N Abóbora Campo EA M

Brevicoryne brassicae Pulgão-da-couve A, N Couve, repolho Campo O, EA Rep, RFec, Rpop

Macrosiphum euphorbiae Pulgão A, N Alface Lab Aza RFec, M

Metopolophium dirhodum Pulgão N Milho Lab Aza M

Myzus persicae Pulgão A Repolho Campo O, EA RPop

Ropalosiphum maidis Pulgão A Sorgo Campo O M

Ropalosiphum padi Pulgão A Aveia Lab Aza Rep

Empoasca kerri Cigarrinha-verde N Mamona Campo EA RPop

Bemisia tabaci Mosca-branca A, N Abobrinha Campo O, EA Rep, RPop

Trialeurodes vaporiorum Mosca-branca Bico-de-papagaio L, CVeg PC M

Aleurothrixus floccosus Cochonilha A Citrus Lab EH Rpop, RFec

Diaphorina citri Cochonilha A Citrus Lab/campo O Rep

Saissetia oleae Cochonilha A Maça Campo Aza (solo) RPop

Toxoptera citricidus Cochonilha A, N Citrus Campo EA RPop

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Espécie Nome comum Estágio Hospedeiro Teste Produto Efeito

Coleópteros (besouros)

Diabrotica balteata Vaquinha A Feijão caupi Lab/Campo EA RFec, RTrVir, M

Diabrotica v. virgifera Vaquinha A - Lab Aza M

Epilachna varivestris L Feijão Lab EEFo Dcr, RFec

Epilachna varivestris A Feijão Lab Aza RFec, M

Hypothenemus hampei Broca-do-café A Café Lab/Campo O, O + EAE M

Coleópteros de grãos armazenados (gorgulhos e carunchos)

Acanthoscelides obtectus Caruncho-do-feijão A Feijão Lab O, Aza Rep, RFec, RPop, DCr

Callosobruchus maculatus Caruncho-do-caupi O, L, A Feijão caupi Lab O M, RFec

Oryzophagus oryzae Gorgulho-do-arroz A Arroz Lab O RFec

Rhyzopertha dominica L, P Papel de filtro Lab O, PC RAlim, RPop

Rhyzopertha dominica L, P Milho Lab PF, PS M

Sitophilus oryzae Gorgulho L, P Trigo Lab O, EAF, EA M

Sitophilus zeamais Gorgulho L, P Milho Lab PS, PF, PT

Tenebrio molitor P - Lab Aza DCr

Tribolium Castaneum A Milho Lab PF, PT M

Zabrotes subfasciatus Caruncho-do-feijão A Feijão Lab F, PF RFec

Lepidópteros (lagartas, borboletas e mariposas

Agrotis ipsilon Lagarta-rosca L Batata Campo EA, EAF RFec

Anticarsia gemmatalis Lagarta-da-soja L Amendoim Campo EA RFec

Cydia Pomonella L Dieta artificial Lab Aza M

Diaphania nitidalis Lagarta-das-crucíferas L Pepino Campo EA, O RFec, RPop

Diatraea saccharalis Broca-de-cana L Dieta artificial Lab PS, O RFec, M

Etiella sp. L Feijão caupi Campo EA RFec, RPop

Galleria Mellonella Traça-do-mel L Dieta artificial Lab Aza DCr, M

Helicoverpa zea Lagarta-do-milho L Milho Campo EA RFec, RPop

Heliothis virescens Lagarta-do-algodão L Dieta artificial Lab Aza DCr

Manduca sexta L Tomate Campo EA, O RPop

Maruca testulalis Lagarta-da-vagem L Feijão caupi Campo EA RPop

Mocis latipes Lagarta-dos-capinzais L Milho Lab/Campo EA RPop, RFec, M

Pectinophora gossypiella Lagarta-rosada L Dieta artificial Lab Aza DCr

Pieris brassicae Lagarta-da-couve L Repolho Lab Aza RPop

Plusia sp. Lagarta-mede-palmo L Soja Campo EA, O RPop

Plutella xylostella Traça-da-couve L Repolho Campo EA, EAC DCr, RFec, RPop

Pseudoplusia includens L Tomate Campo EA, O RPop

Spodoptera frugiperda Lagarta-do-cartucho L Dieta artificial Lab Aza DCr, RFec, M

Spodoptera littoralis L Dieta artificial Lab Aza DCr, RAlim, RFec, M

Tineola bissilliella Traça de tecido L Dieta artificial Lab Aza RFec

Utheteisa pulchella L Girassol Lab EA DCr, M

Lepidópteros de grãos armazenados (traças)

Corcyra cehalonica L Farinha de trigo Campo PS DCr, M

Ephestia kuehniella L Farinha de trigo Lab EE DCr, M

Sitotroga cerealella O, L, A Grãos Lab O, T RFec, RPop

Dípteros (moscas e mosquitos)

Ceratitis capitata Mosca-das-frutas A Dieta artificial Lab EE DCr, RFec

Liriomyza sativae Mosca-minadora O, L Tomate Lab EE M

Ophimya phaeseoli L Feijão Campo TA + O RPop

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Espécie Nome comum Estágio Hospedeiro Teste Produto Efeito

Dípteros de importância médica ou veterinária

Aedes aegyptii Pernilongo - dengue L, P Ração Lab EA, Aza, O DCr, M

Anopheles subpictus Pernilongo L, P Plancton (arroz)

Campo TP RPop

Culex pipiens Pernilongo L Plancton Campo EAC ROv, M

Culex quinquefasciatus Pernilongo L, P Biscoito cão Lab O, EA, Aza, EAC DCr, RFec, M

Hematobia irritans Mosca-do-chifre L Esterco Lab O, EE, PC, PS DCr, RPop

H. irritans exígua Mosca-do-chifre L Esterco - Aza RPop

Tabanus sp. e outras Mosca-de-estábulo A Sangue - O Rep

Piolho

Pediculus capitis Piolho A, N Humanos PC RPop

Estágio: A: adulto; L: larva; N: ninfa; O: ovo.Produto: Aza: azadiractina; O: óleo; F: folha; PF; folha em pó; PS: semente em pó; PT: fruto em pó; T: torta; TP: torta em pó; EA: extrato aquoso de fruto ou semente; EAF: extrato aquoso de folha; TA: extrato aquoso de torta; EE: extrato etanólico; EAC: extrato enriquecido do fruto ou de sementes; PC: produto comercial.Efeito: DCr: distúrbio de crescimento; M: mortalidade; ARS: altera razão sexual; RAlim: reduz alimentação; RFec: reduz fecundidade; Rep: repele; RPop: reduz popula- ção; RTrVir: Reduz transmissão de vírus.

Ref. BibliográficaABREU JUNIOR, H.et. ali. Práticas alternativas de Controle de Pragas e Doenças na Agricultu-ra, Campinas, Emopi – Editora e Gráfica, 11100, 1990.SCHMUTTERER, H. The Neem Tree, source of unique products for integrated pest manage-ment, medicine, industry and other purposes, Cambridge, Tóquio VCH, 696pp, 1995.MARTINEZ, S.S., O Nim Azadiracta indica, natureza, usos múltiplos, produção, Londrina, IAPAR, 142p, 2002.MARTINEZ, S.S., O Nim Azadiracta indica, natureza, usos múltiplos, produção, 2ª ed. Londrina, IAPAR, 205p, 2011.

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