moda e identidade social: um estudo de caso da favela

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM CIÊNCIAS SOCIAIS Carolina Wolff Nunes Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela Paraisópolis em São Paulo Mestrado em Ciências Sociais SÃO PAULO 2019

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Page 1: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM CIÊNCIAS SOCIAIS

Carolina Wolff Nunes

Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

Paraisópolis em São Paulo

Mestrado em Ciências Sociais

SÃO PAULO

2019

Page 2: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

Carolina Wolff Nunes

Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela de

Paraisópolis em São Paulo.

Dissertação apresentada à Banca

Examinadora da Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo ao Programa de

Estudos Pós-Graduados em Ciências

Sociais, como exigência parcial para

obtenção do título de Mestre, em Ciências

Sociais, área de concentração Sociologia,

sob orientação da Prof. Dra. Marisa do

Espirito Santo Borin.

São Paulo

2019

Page 3: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

Banca Examinadora

Page 4: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

Dedico esta dissertação a todos os

jovens e estudantes, que mesmo em

momentos de repressão e cortes ás

ciências e pesquisa, como os que

estamos vivendo hoje no país,

seguem lutando e sonhando em

poder viver para a educação.

Page 5: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

Agradeço ao Conselho Nacional de Pesquisa (CNPQ) pela concessão da Bolsa

(147008/2017-4) para o mestrado, no período de 2017 a 2019, que permitiu a

realização desta pesquisa.

Page 6: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

Agradecimentos

Agradeço, em especial, a minha orientadora Marisa Borin pelo acolhimento e

total apoio nesses anos, não somente na época do mestrado, mas também, por toda

minha trajetória acadêmica, desde a Iniciação Cientifica durante a graduação e por todos

os anos que passamos juntas no Observatório das Metrópoles, tendo seus conselhos e

orientações. Sem ela esse trabalho não poderia ter sido realizado.

Agradeço também a professora Lucia Bógus, por todo apoio e carinho durante

todos os anos que estivemos trabalhando juntas no Observatório das Metrópoles, pelo

grande aprendizado, pelo acolhimento, pelo espaço proporcionado na Pós Graduação.

Meu mais carinhoso agradecimento, por em tantos momentos ter feito com que me

encantasse cada vez mais pela pesquisa.

Agradeço também a todos os professores e pesquisadores que pude conhecer e

trabalhar juntos, nos anos entre graduação e Pós e no Observatório das Metrópoles,

como as professoras Dulce Baptista e Susana Pasternak, e também tanto outros que a

cada dia me agraciavam com valiosas lições sobre o meio acadêmico e que fazem parte

da minha formação.

Agradeço, com muito carinho, a Kátia e Rafael, funcionários da Pós Graduação

em Ciências Sociais, da PUC-SP, pele excelente trabalho e constante auxílio aos alunos;

muito mais que funcionários, hoje grandes amigos.

A todos os professores da PUC - SP, que tive a honra de conhecer e participar de

suas aulas, entre Graduação e Pós, pelos inúmeros ensinamentos dentro e fora de sala de

aula. Ensinamentos esses que, com certeza, me trouxeram até o presente momento.

Meu agradecimento mais que especial e com muito amor aos meus pais, João e

Célia, por sempre me apoiarem e acreditarem nas minhas escolhas, que me motivam

sempre a ser uma pessoa melhor, por me mostrarem desde cedo a importância da

educação e que, por muitas vezes, se sacrificaram para que eu pudesse seguir estudando.

Sem eles nada disso teria sido possível.

Page 7: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

Agradeço também ao meu noivo, Caio Camillo, pelo apoio durante essa jornada

e por me ajudar a seguir em frente, sempre. Acreditando no meu trabalho e sonhos, por

não me deixar desistir.

Aos meus amigos e familiares que sempre torceram por mim.

Agradeço também, por ter por perto, durante todo o processo deste trabalho,

minha cadela Gaia, que sempre se manteve sentada ao meu lado, enquanto redigia esse

trabalho e estava sempre pronta para me alegrar quando o desânimo ou cansaço batia e

que nunca deixa de cumprir esse papel.

Page 8: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

―Talvez não tenha conseguido fazer o

melhor, mas lutei para que o melhor fosse

feito. Não sou o que deveria ser, mas

Graças a Deus, não sou o que era antes‖.

(MARTHIN LUTHER KING)

Page 9: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

RESUMO

Esse trabalho tem como objetivo analisar a moda enquanto identidade do sujeito que a

usa e sua relação com o espaço em que está inserido. Para realização deste objetivo foi

feita uma pesquisa sobre os hábitos de consumo de moda na periferia da cidade de São

Paulo, com foco na Favela de Paraisópolis, através de seus moradores, de suas lojas de

modas e do Projeto ―Periferia Inventando Moda‖ - PIM, localizado no interior desta

comunidade. O projeto PIM usa a lógica da moda como um fator de inclusão social,

aliado à capacitação profissional. A partir do vestuário e dos espaços que a moda ocupa

na vida social, pelo olhar do consumo e das lojas de moda encontradas em Paraisópolis,

procura-se identificar elementos constitutivos da cultura, da identidade e da

representação social das pessoas que lá vivem. Parte-se da premissa de que a moda é

parte importante na construção identitária das pessoas. A metodologia utilizada se

apoiou em abordagem qualitativa, especialmente em entrevistas semiestruturadas, com

lojistas, moradores, com os dois líderes do referido projeto e seus alunos, assim como,

em observação participante, durante os eventos de moda realizados em Paraisópolis pelo

PIM.

Palavras Chave: Moda; Identidade; Consumo; Capacitação Profissional; Inclusão

Social; Favela; Paraisópolis.

Page 10: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

ABSTRACT

This work aims to analyze fashion as the identity of the subject who uses it and its

relation to the space in which it is inserted. In order to achieve this goal, a survey was

carried out on the fashion consumption habits of the outskirts of the city of São Paulo,

focusing on the Favela of Paraisópolis, through its residents, its fashion stores and the

"Periferia Inventando Moda" Project - PIM , located within this community. The PIM

project uses the logic of fashion as a factor of social inclusion, combined with

professional training. From the clothing and spaces that fashion occupies in social life,

by the look of consumption and fashion stores found in Paraisópolis, seeks to identify

constitutive elements of the culture, identity and social representation of the people who

live there. It starts from the premise that fashion is an important part in the identity

construction of people. The methodology used was based on a qualitative approach,

especially in semi-structured interviews with shopkeepers, residents, with the two

project leaders and their students, as well as, in participant observation, during the

fashion events performed in Paraisópolis by PIM.

Keywords: Fashion; Identity; Consumption; Professional Training; Social inclusion;

Shanty town ; Paraisópolis.

Page 11: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1.Vista panorâmica da Favela de Paraisópolis .................................................41

Figura 2. Demarcação no mapa do espaço geográfico da Favela de Paraisópolis.

......................................................................................................................................42

Figura 3. Foto de uma das principais entradas da Favela de Paraisópolis, pela Avenida

Hebe Camargo, umas das principais avenidas da Favela.............................................42

Figura 4. Foto divulgação do primeiro evento PIM ainda com nome antigo...............51

Figura 5. Foto divulgação do último evento realizado pelo PIM.................................51

Figura 6. Foto dos modelos/alunos PIM em evento realizado pelo projeto, diversidade

de corpos na passarela..................................................................................................52

Figura 7. Foto dos alunos do PIM em aula de passarela..............................................53

Figura 8. Foto dos alunos/modelos no PIM em dia de casting....................................56

Figura 9. Foto divulgação das mídias onde o projeto foi notícia.................................61

Figura 10. Foto divulgação evento realizado pela UniPIm..........................................65

Figura 11. Mapa localizando o quadrante dentro da Favela de Paraisópolis onde o maior

percentual de lojas de roupas estão concentradas, incluindo as ruas Ernest Renan, Rua

Melchior Giola, rua Rodolf Lotze e Hebert Spencer...................................................66

Figuras 12. Fachada de uma loja de moda na Favela de Paraisópolis..........................68

Figuras 13. Banners colocados em frente às lojas como meio de propaganda............70

Page 12: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1. Índice de Desenvolvimento Humano Municipal e seus componentes - UDH -

Paraisópolis – SP.............................................................................................................43

Tabela 2. Estrutura Etária da População - UDH - Paraisópolis – SP..............................44

Tabela 3. Ocupação da população de 18 anos ou mais - UDH - Paraisópolis – SP.…...44

Tabela 4. Indicadores de Habitação - UDH - Paraisópolis – SP....................................45

Tabela 5. Vulnerabilidade Social - UDH - Paraisópolis – SP.........................................45

Page 13: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico Nº 1 - Infra Estrutura.............. ...........................................................................41

Page 14: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................15

O Processo Metodológico...............................................................................18

A Estrutura do Trabalho..................................................................................19

CAPITULO I.

Entendendo o conceito de moda..............................................................................20

CAPITULO II

Moda e Identidade....................................................................................................30

2.1 Sobre Identidades.....................................................................................30

2.2 Moda, Identidade e Consumo..................................................................34

CAPITULO III.

Sobre Moda e Identidade: um estudo de caso em Paraisópolis........................39

3.1. A favela de Paraisópolis: sua origem e história..................................40

3.1.1 Interversões Publicas em Paraisópolis...................................47

3.2. Projeto ―Periferia Inventando Moda‖ - PIM.......................................49

3.2.1 O PIM - alcances e repercussão.............................................50

3.2.2. UniPIM – moda e educação na periferia..............................61

3.3. A Moda de Rua e seu consumo em Paraisópolis.................................65

CONSIDERAÇOES FINAIS...............................................................................73

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................77

ANEXOS................................................................................................................82

Page 15: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

15

Introdução

A moda está por toda parte; é celebrada nos museus, na rua, na indústria e na

mídia. A moda tem como poder hierarquizar os indivíduos, pois, pela roupa, há

diferenciação social, tanto por gênero, classes sociais e econômicas e também pelos

espaços que ela ocupa na cidade, visto que além de ser algo artístico, econômico,

político e sociológico, ela atinge questões de expressão da identidade social

A moda não pode ser identificada à simples

manifestação das paixões vaidosas e distintivas; ela se

torna uma instituição excepcional, altamente

problemática, uma realidade sócia histórica

característica do Ocidente e da própria modernidade.

(GILLES LIPOVETSKY, 2009. p.11).

Como afirma Godart (2010), a moda como uma posição dominante surgiu ―no

ocidente‖, mais especificamente durante o período chamado: primeira modernidade. No

entanto, para ele foi durante a renascença que a moda apareceu. O capitalismo, que

assume impulso nessa época, permite a emergência de uma nova classe social – a

burguesia - que não hesitou em expressar, por meio de suas vestimentas e de seus

acessórios luxuosos, sua nova força política, econômica e social.

Não constituindo mais privilégio de casta, torna-se ela,

na sociedade dita ―democrática‖, a diferenciadora por

excelência de status, além de signo certeiro de

contemporaneidade cultural. (MELO e SOUZA, 1987,

P.13)

A moda gera diferentes pontos de vista, gostos e costumes, que coexistem entre

si, não havendo mais lugar para posturas definidas ou movimentos unificados,

apresentando uma sociedade com múltiplas identidades. Sendo assim, a partir do

vestuário, pode-se analisar e debater vários conceitos como: cultura, identidade e

Page 16: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

16

representações sociais, possibilitando que a roupa revele elementos que auxiliem o

entendimento dessas questões.

Considerando a moda como um fenômeno cultural e antropológico, Lipovetsky

(2009) fala em entrevista à revista Moda Brasil1: ―Quando o sentido da história não é

mais um objeto maior da interrogação filosófica ou teórica, há uma interrogação mais

real voltada para a vida cotidiana, para a aparência, para a identidade. Creio que, no

futuro, nas sociedades pós-modernas, os problemas das identidades religiosas, nacional,

ética e pessoal vão ter uma importância cada vez maior. É notável o quanto a imprensa

feminina tem um papel cada vez mais considerável na sociedade contemporânea. Na

imprensa, as questões individuais, da vida privada, da decoração da casa, da

maquiagem, da juventude, interessam muito às pessoas, porque na lógica da moda

desenvolveu-se o valor da vida privada, da individualidade e assim todas essas questões

tornam-se muito mais centrais‖.

Desde os primórdios da história que as pessoas usam de

objetos para interagir socialmente. A relação pessoa-

objeto é uma relação simbólica e, como tal, reveladora

de práticas sociais e culturais. (MIRANDA, 2008, p.

15).

O vestuário, além de sua função básica de cobrir e proteger o corpo, é um meio

de comunicação não verbal. Marshal McLuham (1964) ―considera que a roupa é uma

extensão da pele, funciona como meio de definição social do indivíduo. É um elemento

que participa da construção da identidade, classe e gênero; possibilita ao indivíduo

revelar e afirmar quem ele é, ou como ele gostaria de ser visto‖. A moda ajuda a compor

as diversas identidades que a realidade nos faz viver e querer dentro de uma sociedade,

onde, cada vez mais, torna-se adaptável a todos os públicos, não havendo, assim, um

isolamento por parte dos sujeitos.

1 (sem data)

Page 17: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

17

A moda se espalha por todas as camadas e a

competição, ferindo–se a todos os momentos, na rua, no

passeio, nas visitas, acelera a variação de estilos, que

mudam em espaços de tempo cada vez mais breve.

(MELO e SOUSA, p.21, 1987).

A moda acompanha a sociedade da mesma maneira que a sociedade acompanha

a moda, suas ideias, seus gostos, passando e se reinventando por épocas a fim. Serve a

estrutura social, traduz ideias e sentimento. Tanto para o consumo como para a sua

relação com a identidade de quem a usa, a moda está ligada ao espaço e tempo que é

apresentada.

Para se ter um exemplo de como a moda realmente se liga às questões

identitárias e de consumo, e como gera mudanças e cria estruturas no âmbito real,

buscou-se lugares e projetos onde a moda possa ser vista como fator de

representatividade. Para tanto, a procura por espaços mais expressivos e com dinâmicas

sociais distintas, foi algo essencial para analisar teorias sobro moda e colocá-las à prova.

Sendo assim, a periferia foi um bom caminho para se seguir com a pesquisa. Foi assim

que se conheceu o projeto PIM – Periferia Inventando Moda, situado na Favela de

Paraisópolis.

Tendo em vista que a indústria da moda permite diferentes olhares, sendo um

deles o fato de envolver formas e usos de consumo, o objetivo inicial desta dissertação

foi conhecer o Projeto PIM e entender até que ponto ele propicia a inclusão social e a

capacitação profissional de seus alunos.

Contudo, ao se analisar o referido Projeto e seus percalços ao longo de sua

existência, se redesenhou o objetivo central desta dissertação, voltando-se para o

entendimento de como é construída a relação com a moda, através do consumo, pelos

moradores da favela, descobrindo-se identidades que ela permite neste espaço social,

sem contudo se deixar de apontar a importância do projeto PIM para a moda e

moradores da periferia da cidade de São Paulo.

Page 18: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

18

O Percurso Metodológico

Inicialmente, foi feita uma revisão bibliográfica, sobre os conceitos de moda,

identidade, inclusão social, consumo da moda e projetos sociais, dentre outros.

Em paralelo, foram realizadas várias visitas ao campo, através de observação

sistemática, junto ao Projeto PIM, em suas aulas, além de participação nos eventos por

ele ocorridos durante os anos de 2018 e 2019.

Foram realizadas entrevistas semiestruturadas, com os dois líderes do referido

projeto e com 8 alunos que dele participavam e, também, com 10 lojistas e 12

moradores da Favela de Paraisópolis.

Por último, através de observação direta, foram feitas visitas pelas ruas da favela

e suas lojas de roupa, sendo que a realização da pesquisa se deu de forma contínua entre

o campo e a teoria.

Através de abordagem qualitativa, Segundo Fonseca (2002), a pesquisa é

inserida no meio em que vivemos como atividade corriqueira, descrita como uma

postura, uma indagação sistemática, crítica e criativa, somada à intervenção eficaz na

realidade, ou o diálogo crítico constante com a realidade em direção teórica e prática.

A pesquisa bibliográfica é feita a partir do levantamento de

referências teóricas já analisadas e publicadas por meios

escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas

de web sites. A pesquisa documental recorre a fontes mais

diversificadas e dispersas, sem tratamento analítico, tais como:

tabelas estatísticas, jornais, revistas, relatórios, documentos

oficiais, cartas, filmes, fotografias, pinturas, tapeçarias,

relatórios de empresas, vídeos de programas de televisão, etc. A

pesquisa de campo caracteriza-se pelas investigações em que,

além da pesquisa bibliográfica e/ou documental, se realiza

coleta de dados junto a pessoas, com o recurso de diferentes

tipos de pesquisa. (FONSECA, 2002, p. 32).

Page 19: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

19

Estrutura do Trabalho

No primeiro capítulo se apresenta uma discussão teórica sobre os conceitos de

moda e a maneira como ela é vista em determinados momentos da história.

O segundo capítulo analisa a moda ligada à questão da identidade, apontando-

se, através de referências teóricas, definições de identidade na modernidade e a sua

ligação direta com a moda.

O terceiro capítulo contém uma análise da moda de rua e uma apresentação da

Favela de Paraisópolis, onde se tem uma breve descrição de sua formação histórica,

localização, assim como, do Projeto PIM, desde a sua formação, até os dias de hoje.

Está contida, também, neste capitulo, a análise das entrevistas realizadas junto aos

lojistas e moradores da comunidade em questão.

Nas Considerações Finais estão apontadas as principais conclusões da pesquisa

realizada, buscando responder às questões inicias que conduziram o processo de

elaboração da dissertação.

Page 20: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

20

CAPITULO I.

ENTENDENDO O CONCEITO DE MODA

Ao procurarmos no dicionário por uma definição sobre o significado da palavra

moda, encontramos a seguinte resposta: Moda - substantivo feminino, conjunto de

opiniões, gostos, assim como, modos de agir, viver e sentir coletivos.

Com esta simples definição, já se pode perceber que a moda ocupa um papel

importante na vida social e que nos remete à ideia de ser algo que envolve uma

identidade individual e coletiva na sociedade.

Segundo Frédéric Godart, ―em primeiro lugar, ela pode ser definida como a

indústria do vestuário e do luxo... Essa perspectiva também engloba as modas de

consumo dos indivíduos, grupos ou classes sociais que utilizam maneiras de vestir para

definir sua identidade... Em segundo lugar, a moda pode ser definida como um tipo de

mudança social especifica regular e não cumulativa e que, além do vestuário, manifesta-

se em múltiplos domínios da vida social‖. (GODART, 2010)

A moda pode afirmar, unir, diferenciar, separar e identificar; são vários os

sinônimos a ela atrelados, tornando-a, assim, um fato social amplo. Estabelece conexões

com a economia, o lazer, as artes, o consumo e a cultura a ela ligada. Com isso a moda

cria objetos portadores de significados, tornando-a um meio para a inserção e

diferenciação social. Tem como um dos seus princípios a afirmação onde diferentes

grupos e indivíduos utilizam da moda em seu vestuário ou modo de agir para se

juntarem ou se destacarem.

A moda como vestuário, como se conhece hoje, teve seu início durante a

Renascença; o capitalismo, que adquire força nessa época, admite a emergência de uma

nova classe social - a burguesia. Com isso a burguesia não mede esforços para expressar

por meio do vestuário uma nova força política, econômica e social, fazendo do uso da

moda um fator de diferenciação, obrigando, assim, a aristocracia a reagir da mesma

maneira. Portanto, o início da moda está diretamente ligado às elites, tendo como meio

fundador da moda a sua distinção e afirmação de identidades de classe.

Dessa maneira, a moda age sobre aspectos das nossas vidas guiada por uma

tentativa de definir uma identidade social dos sujeitos. Da mesma forma, oferece um

Page 21: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

21

acolhimento diante da variedade de opções oferecidas, proporciona, também, um espaço

de valor e de expressão de uma individualidade.

Há muito tempo vem se pensando a moda como uma questão de estudo

sociológico. O filósofo e sociólogo George Simmel, em seu texto intitulado ―Filosofia

da Moda‖, faz uma distinção entre moda e vestimenta, considerando a moda um

fenômeno social amplo que se aplica a todas as arenas sociais, sendo o vestuário apenas

um caso entre muitos. (SIMMEL apud LARS SVENDSEN, 2010).

Pensando a moda como uma questão ampla de estudo, Svendsen também nos

traz uma citação de Lipovetsky: ―Moda é uma forma específica de mudança social,

independentemente de qualquer objeto particular; antes de tudo, é um mecanismo social

caracterizado por um intervalo de tempo particularmente breve e por mudanças mais ou

menos ditadas pelo capricho, que lhe permitem afetar esferas muito diversas da vida

coletiva‖. (LIPOVESTSKY apud Lars SVENDSEN, 2010).

A partir desta ideia, se pode observar o vestuário como a matéria prima da moda,

sendo que seu sistema carrega um grande significado cultural e simbólico.

Em ―Filosofia da Moda‖, Simmel (2008) descreve o ser humano como sendo

dualista, integrando múltiplas versões dentro da sociedade, como indivíduo e também

pertencente a grupos sociais, na luta pela permanência nesses meios, tanto para a

elevação ou diminuição, passa por essa esfera social constituindo assim sua identidade.

Podemos ver esse movimento como uma distinção de classe dentro de uma sociedade

organizada, que usa da moda como intermediadora para diferenciar, mas também

agrupar seus indivíduos, uma vez que ela aparece em múltiplos estilos e tem relações

simultâneas.

Assim, a partir desse dualismo, a moda pode integrar ou excluir, tendo o

vestuário como ponto principal da distinção social. Em ―O Costureiro e sua grife‖,

Pierre Bourdieu (2015) cita: ―Entre todos os campos de produção de bens de luxo, a alta

costura é aquele que deixa transparecer mais claramente um dos princípios de divisão da

classe dirigente – ou seja o que estabelece oposição entre diferentes faixas etárias,

indissociavelmente caracterizada como classes endinheiradas e detentoras de poder –

além de introduzir no campo da moda certas divisões secundárias.‖

Page 22: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

22

A variedade e a distinção dos múltiplos símbolos que geram a moda seriam, para

Bourdieu, (2015), uma expressão cultural, de sentido e ou de valores dados pelos grupos

aos objetos usados, ao longo de suas experiências nos grupos sociais. A moda e todas as

práticas culturais que a ela se remete, seus meios de sociabilidade e controle, seriam

práticas pelas quais os indivíduos e os grupos se mantêm unidos ou se dissociam.

Para Bourdieu (2015), ―Se há uma situação em que são feitas coisas com

palavras, como na magia – inclusive, melhor que na magia, isso se verifica no universo

da moda. A grife, simples ―palavra colada sobre o produto‖ é sem dúvida como a

assinatura do pintor consagrado, uma das palavras mais poderosas, do ponto de vista

econômico e simbólico‖.

Segundo Bourdieu, (2015) a estrutura social é vista como um sistema

hierarquizado de poder e de privilégio. Poderes e privilégios determinados, tanto pelas

relações materiais e/ou econômicas (salário, renda), como pelas relações simbólicas

(status) e/ou culturais (diplomas) entre os indivíduos.

No que se refere ao campo da moda, onde a mesma está em constante

transformação e por isso expressa uma temporalidade reduzida, suas tendências devem

ser pensadas como algo passageiro, onde seus agentes estão sempre em busca de uma

nova maneira de distinção. Como podemos ver expresso por Bourdieu (2015), ―sem

dúvida, a moda, à semelhança da canção, da fotografia, do romance popular e de todas

as ―artes medias‖, situa-se no tempo de curta duração dos bens simbólicos perecíveis e

porque ela só pode exercer um efeito de distinção, servindo-se, sistematicamente, das

diferenças temporais, e portando, da mudança.

A moda como prática que traduz uma tendência de gosto, pode e deve ser

pensada como expressão de um conjunto de disposições de habitus, construído pelo e

no processo de socialização. Tendo a moda como um produto de culturas em grupos

diversos, expressando, assim, de uma maneira simbólica processos individuais e de

classe. Assim pensamos o habitus como um produto desse processo simultâneo de

estímulos à moda, onde a mesma expressaria de maneira exemplar a condição de

construção desse habitus referente a uma maneira particular de se socializar.

Em ―Gostos de Classe e Estilo de Vida‖, Bourdieu (1983), afirma: ―Às

diferentes posições no espaço social correspondem estilos de vida, sistemas de desvios

Page 23: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

23

diferenciais que são a retradução simbólica de diferenças objetivamente inscritas nas

condições de existência‖ no entanto, a posição que o indivíduo ocupa dentro da esfera

social define seu estilo de vida, independente da classe ocupada, mas essas práticas não

são livres e sim determinadas pelo habitus."

O papel do gosto no campo da moda é considerado de extrema importância, pois

é por meio dele que a dominação simbólica acontece. Mesmo ciente do poder de

influência dos detentores do discurso de moda, o gosto depende justamente de uma

iniciação que pode vir de berço ou de estudo. Um gosto sem liberdade é alvo do

domínio ocorrido do posicionamento construído do capital simbólico, concebido pelo

criador de moda por meio da marca e confirmada pela mídia especializada.

Outro aspecto importante do gosto é que ele é inseparável da aversão estética e

as aversões decorrem do estilo de vida, que é resultado das diferenças entre as classes.

Sendo assim, o habitus para o gosto é como a grife para a moda. Para o criador, não

basta apenas produzir modelos; se fosse assim, toda confecção seria uma marca. E para

o consumidor, não adianta possuir uma peça de uma grife consagrada, sem o

conhecimento necessário para configurar o look.

Ela é um produto tanto material, quanto simbólico, fazendo parte do cultural,

seja imitada ou expressada, de maneira singular ou coletiva.

Para Bourdieu (2015): ―Em todo campo em que as dimensões do estilo e do

estilo de vida, estabelece uma separação entre as estratégias dos dominantes e as dos

pretendente: os dominantes que só precisam ser o que são, sobressaem e distinguem-se

pela recusa ostensiva das estratégias vistosas de distinção.‖ Como no casso da alta

costura, que fornece às classes dominantes o simbolismo predominante à sua classe,

celebrando, assim, a sua própria distinção.

Mas não somente de alta costura que se permeia o campo da moda; para além da

ideia de distinção de classe, ela passa também por setores de inclusão social e de

identidade pessoal, não somente buscando a sua imitação nas classes altas, mas

afirmando culturas, gostos e estilos das massas.

Para Gilles Lipovetsky (2009), em o ―Império do Efêmero‖, ―a versatilidade da

moda encontra seu lugar e sua verdade última na existência das rivalidades de classes,

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24

nas lutas de concorrência por prestigio que opõem as diferentes camadas e parcelas do

corpo social‖.

Apenas pela lógica da distinção social, que se tem como marco em estudos de

moda, não dá conta de explicar o uso que se dá ao vestuário e nem como esse uso se dá

nos seus espaços sociais na cultura moderna. Onde as grandes mutações organizacionais

dos meios da moda fazem com que ela transite por diversas camadas e adquira múltiplas

funções sociais.

Assim, a moda hoje atua dentro de nossa sociedade como uma forte guiadora de

nossos hábitos e maneiras de consumo, onde a sedução e o efêmero tornaram-se os

princípios organizadores da vida coletiva moderna, como aponta Lipovetsky (2009).

Há tempo a moda segue incessantes variações, deriva de novas valorações

sociais, ligadas a uma nova posição e representação do indivíduo frente à sociedade. É

uma valorização da renovação das formas e do novo, em detrimento do passado.

Em seu texto, ―Os tempos Hipermodernos‖, Lipovetsky (2004) cita: ―Os

indivíduos hipermodernos são ao mesmo tempo mais informados e mais

desestruturados, mais adultos e mais instáveis, menos ideológicos e mais tributários das

modas, mais abertos e mais influenciáveis, mais críticos e mais superficiais, mais

céticos e menos profundos.‖.

Nesse sentido, a moda se estende ao corpo social, que permitiu novas formas de

se ligar a ela, onde a normatividade não se impõe mais pela disciplina, mas pela escolha

e pela individualidade e identidade de seus agentes sociais.

A era do hiperconsumo e da hipermodernidade

assinalou o declínio das grandes estruturas

tradicionais de sentido e a recuperação destas

pela lógica da moda e do consumo.

(LIPOVETSKY, (2004).

Page 25: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

25

Essa hipermodernidade2 chegou permitindo que o domínio do consumo na moda

se estendesse ao máximo, com todas as tecnologias de comunicação e informação

existentes. Assim, os indivíduos se encontram livres, capazes de exercer o livre arbítrio,

de se informar, de escolherem os seus próprios sistemas ideológicos e identitários,

embora, esses sistemas de diferenciação de classes e gostos na moda como poder de

restrição ou agrupamento continuam presentes, porém não mais se valendo da

imposição, mas sim da argumentação, sendo também endossados pela opinião pública.

A diferença é que hoje há liberdade de escolha.

―Os átomos sociais não torcem o nariz para a ideia de reencontrar-se, comunicar-

se, reagrupar-se em movimentos associativos, sendo estes marcados pelo egocentrismo,

porque a adesão é espontânea, flexível e segmentar, em todos os aspectos, conforme a

lógica da moda.‖ LIPOVETSKY, (2004).

A lógica da moda e do consumo tornou o ser social mais atento e crítico aos

objetos industriais, fazendo com que passassem a ter uma maior autonomia, pois há um

maior leque de opções para escolha e maior acesso às informações para criarem assim,

suas próprias identidades individuais e coletivas quando ligadas à moda.

Assim, surgiu um novo arranjo do regime do tempo social: uma economia

voltada ao consumo e à comunicação de massa, e uma sociedade ligada à moda

reestruturada pelas práticas do efêmero, da renovação e sedução permanente, que

permeou setores cada vez mais amplos da sociedade.

As várias facetas da moda quando ligadas a seu papel social, mostram variações

de códigos e condutas a ela ligadas, podem indicar a identidade pessoal do seu usuário

como também a sua ligação a determinado grupo de valores específicos.

Em seu livro "A moda e seu papel social", Diana Crane (2006), aponta

mudanças pelas quais o conceito de moda passa. ―Com a globalização, na virada dos

2 Para Gilles Lipovetsky, a pós-modernidade deu espaço para o estado cultural que ele chama de

hipermodernidade. Neste novo estado, a ordem social e econômica, juntamente com a cultura, são

pautados em uma senso de consumo em massa. Segundo o autor: “A sociedade hipermoderna seria a

sociedade da hipervalorização das sensações íntimas, do hipernarcisismo, onde os paradoxos da

modernidade se exibem às claras. Está muito presente a dicotomia responsável-irresponsável: Os

indivíduos hipermodernos são ao mesmo tempo mais informados e mais desestruturados, mais adultos

e mais instáveis, menos ideológicos e mais tributários das modas, mais abertos e mais influenciáveis,

mais críticos e mais superficiais, mais céticos e menos profundos”(2004).

Page 26: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

26

anos 1970 para os anos 1980, o mundo da moda foi se tornando cada vez mais

complexo e sua importância social aumentou consideravelmente. O que no século XIX

era privilegio das elites converteu-se num universo altamente segmentado, esfera de

construção de identidades e estilos de vida, por onde passaram a transitar indivíduos de

diferentes camadas sociais.‖

A moda afeta a atitude da maioria das pessoas, tanto em relação a si mesmo,

quanto em relação ao outro.

Reconstruir as mudanças na natureza da moda e nos critérios

que orientam as escoas de vestuário é um modo de entender as

diferenças entre o tipo de sociedade que está aos poucos

desaparecendo e o que está lentamente emergindo. Por um lado,

as roupas da moda personificam os ideias e valores

hegemônicos de um período determinado. Por outro, as escolhas

de vestuário refletem as formas pelas quais os membros de

grupos sociais e agrupamentos de diversos níveis sociais veem a

si mesmos em relação aos valores dominantes.‖ (CRANE,

2006)

A moda quando ligada ao vestuário se torna uma das formas mais visíveis de

consumo e com isso desempenha um papel de grande importância na construção de

identidade, nos mostrando como cada indivíduo determina sua própria forma de uso

para a moda, negociando assim suas fronteiras de status. Com isso os conceitos ligados

à moda vão variáveis, ora determinam posições, ora agrupam e por vezes geram

comportamentos por sua capacidade de fixar identidade sociais latentes. Com o passar

do tempo a moda deixa um pouco de lado a questão econômica como umas das suas

principais diferenciadores e passa a ser cada vez mais simbólica.

Para Diana Crane: ―A oferta de roupas baratas significa que aqueles cujos

recursos são limitados podem encontrar ou criar estilos pessoais que expressem a

percepção que têm de suas identidades, em vez de imitar estilos originalmente vendidos

aos mais ricos... A natureza da moda mudou, assim como as maneiras pelas quais as

respondem a ela. A moda do século XIX consistia num padrão bem definido de

Page 27: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

27

apresentação largamente adotado. A moda contemporânea é mais ambígua e

multifacetada, em concordância com a natureza altamente fragmentada das sociedades

pós-industriais‖ (2006).

Tendo em vista essas mudanças, à medida que as redes sociais do indivíduo se

expandem, ele, por sua vez, é exposto a novas formas de cultura e estilos de vida,

tornando-o mais predisposto a adotar novas formas de ser e vestir.

A variedade de opções, de estilos de vida pelo qual estamos cercados nessa era

da hipermodernidade não mais prende o indivíduo às tradições e lhe permite fazer

escolhas, onde possa criar uma auto identidade cada vez mais significativa.

―A moda contribui para redefinir identidades

sociais ao atribuir constantemente novos

significados aos artefatos. Fred David afirma

que roupas da moda são bastantes significativas

para os consumidores porque expressam as

ambivalências que cercam as identidades

sociais, tais como ―juventude versus idade,

masculinidade versus feminilidade, androgenia

versus singularidade, trabalho versus diversão,

conformismo versus rebeldia.‖ O fascínio da

moda reside nos modos como ela

continuamente redefine essas tensões e as

incorpora em novos estilos.‖ DIANA CRANE

(2006)

Portanto, esses novos conceitos e formas de ver a moda podem ser vistos como

uma preocupação com a identidade pessoal e uma maneira de se adaptar às novas

formas de organização social e cultural, onde, juntamente com as atividades de lazer, o

consumo acaba por moldar as percepções que o indivíduo gera sobre si mesmo e sobre

os outros.

Page 28: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

28

Quando pensado em modelos que expliquem o fenômeno social pelo qual a

moda se dá, o modelo ―de cima para baixo‖ usado tanto por Simmel e aprofundado por

Bourdieu era a maneira dominante pela qual a moda encontrava a sua distinção tanto

social quanto econômica. A partir do momento em que as sociedades pós-modernas

avançam e fatores demográficos e econômicos influenciam as juventudes e aumentam

seu poder de consumo comparada a gerações anteriores de jovens a influência da moda

e seus conceitos mudam.

Hoje aliados às questões de afirmação tanto pessoal como em grupos o modelo

―de baixo para cima‖ onde novos estilos aparecem em grupos de “status‖ inferiores e

passam a ser adotados por grupos de “status” superior, explicando-se novos fenômenos

e novas tendências pela qual a moda permeia.

‖ ...estilos que emergem de grupos socioeconômicos inferiores são

normalmente gerados por adolescentes e jovens adultos que pertencem

a subculturas ou tribos de estilo com modos de vestir caracterizados,

que atraem a atenção e por fim levam à imitação por parte outro grupos

etários e socioeconômico....Em ambos os modelos, o processo de

difusão para baixo ou para cima tem sido acelerado pela exposição da

mídia, o que leva à rápida informação a respeito de novos estilos em

todos os níveis do sistema". DIANA CRANE (2006).

Contudo, não se pode deixar de perceber que as trajetórias percorridas pela moda

são certamente cada vez mais complexas do que esses dois modelos sugerem.

Atualmente os consumidores não são mais percebidos como ―escravos da moda‖, onde

simplesmente imitam grandes personalidades, mas sim como agentes que buscam

estilos e gostos próprios diante do que lhe é apresentado pelos criadores, sendo cada vez

mais uma escolha do que algo imposto. Assim, o indivíduo constrói sua própria moda a

partir das opções apresentadas, usando de símbolos para tornar pessoal e carregado de

significados.

Para Crane (2006), hoje em dia, a moda tem pautas diversificadas e

contraditórias, indo de representações cada vez mais amplas. A individualidade e o

Page 29: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

29

posicionamento pessoal estão aliados ao grupo onde o indivíduo está inserido, tornando

a questão da identidade um ponto importante para análises sobre o fenômeno social que

é a moda.

Page 30: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

30

CAPÍTULO II.

MODA E IDENTIDADE

A questão da identidade está em constante discussão nas teorias sociais e

analisando-se pelo viés da moda a mesma cumpre um papel de grande importância na

criação do identitário social.

A moda apresenta posições, como afirmação, como espelho de pensamentos e

reflexões individuais e coletivas. Ao longo do tempo, a moda serviu como espelho das

dinâmicas e das práticas dos contextos onde se insere construindo-se como discurso ao

comunicar traços distintos e identitários de cada um e de cada coletividade. Inserimo-

nos numa sociedade definida pelo consumo e que é, simultaneamente, hedonista e

individualista.

Numa realidade repleta de paradoxos, a moda resulta da relação com os

consumidores e da relação que estes têm com o mundo. Molda-se à passagem do tempo,

aos lugares e aos desejos. Com a realidade atual, a moda orientada pelo fenômeno da

globalização, pela aceleração da transmissão da informação e na facilidade de acesso a

outras culturas e socialidades, conduz à construção de identidades misturadas.

A moda padroniza valores estéticos mas distingue identidades pelo seu conteúdo

social, cultural e político e nos torna parte de um todo e nos distingue simultaneamente.

Quando pensado em identidades, temos uma palavra usada para invocar e/ou

afirmar algo e quando usada pelo viés da moda pode haver variações em seu conceito.

Mesmo tendo suas limitações estruturais as questões ligadas a identidade, quando

pensando pela lógica da moda, permite que seu significado possa ser renegociado.

2.1. Sobre Identidade.

Hoje em dia pertencemos a uma sociedade que valoriza o individualismo, o

estilo pessoal, a liberdade e o desejo como formas de sermos singular.

Segundo Stuart Hall em seu livro ―A Identidade cultural na pós modernidade‖

(2005), a identidade é formada na interação do sujeito com a sociedade, num diálogo

Page 31: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

31

contínuo com o mundo. Nessa relação o sujeito se projeta e internaliza imagens e

símbolos que irão constituir sua identidade numa relação dinâmica e constante.

Contudo, podem-se identificar três entendimentos diferentes sobre identidade em

relação ao sujeito e o tempo vivido, sendo eles: o sujeito do iluminismo, o sujeito

sociológico e o sujeito pós-moderno.

..[ ] o sujeito do iluminismo estava baseado numa

concepção da pessoa humana como um indivíduo

totalmente centrado, unificado, dotado das capacidades

de razão, de consciência e de ação, cujo o centro

consistia num núcleo interior, que ela primeira vez

quando o sujeito nascia e com ele se desenvolvia, ainda

que permanecendo essencialmente o mesmo...[ ] a

noção do sujeito sociológico refletia a crescente

complexidade do mundo moderno e a consciência de

que este núcleo interior do sujeito não era autônomo e

auto-suficiente, mas era formado na relação com

―outras pessoas importantes para ele‖, que mediavam

para o sujeito os valores, sentidos e símbolos – cultura –

do mundo que ele habitava... a identidade é formada na

interação entre o eu e a sociedade...[ ] esse processo

produz o sujeito pós-moderno, conceptualizando como

não tendo uma identidade fixa, essencial ou

permanente. A identidade torna-se uma ―celebração

móvel‖ formada transformada continuamente em

relação as formas pelas quais somos representados ou

interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam [].

(HALL, 2005).

Se antes as identidades eram determinadas e pré formadas pela sociedade,

ligando, assim, o sujeito e sua cultura, agora elas são percebidas como múltiplas,

conflitantes, contrárias e em constante movimento. A identidade que antes consolidava

o sujeito e o conectava como a determinado grupo ou nacionalidade, hoje é vista como

algo que pode ser mudada e aprimorada, podendo assumirem-se diferentes identidades

Page 32: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

32

em determinado momento ou referente ao meio em que se está inserido, estando, assim,

em constante mudança, devido ao processo de globalização e ao seu impacto sobre a

identidade cultural.

A identidade torna-se uma celebração

móvel: formada e transformada

continuamente em relação às formas

pelas quais somos representados ou

interpelados nos sistemas culturais que

nos rodeiam…Assim, em vez de falar

da identidade como uma coisa acabada,

deveríamos falar de identificação, e vê-

la como um processo em andamento.

(HALL, 2005)

Stuart Hall (2005) ainda destaca que a identidade do sujeito contemporâneo é o

resultado de uma série de mudanças estruturais nas sociedades, acontecimento que

conhecemos por globalização, que caracteriza uma sociedade de mudanças rápidas e

constantes, pautada na novidade, onde as culturas e etnias mais distantes encontram-se

em conexão e coinfluência direta.

Segundo Hall (2005) ―as velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o

mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o

indivíduo moderno, até aqui visto como sujeito unificado‖. Assim as novas formas

estruturais que aparecem com as sociedades modernas acabam por transformar as ideias

sobre o sujeito e, então, assumem novas formas de se apresentar uma identidade.

Contudo, essas condições modernas possibilitam que o indivíduo se depare com

uma grande multiplicidade de escolhas sobre qual estilo e identidade seguir. Como

podemos ver apresentado por Anthony Giddens em Modernidade e Identidade (2002):

Page 33: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

33

A noção de estilo de vida soa um tanto trivial

porque é muitas vezes pensada apenas em

termos de um consumismo superficial — estilos

de vida como os sugeridos pelas imagens das

revistas ilustradas e da publicidade. Mas há algo

mais fundamental em andamento do que sugere

essa concepção: nas condições da alta

modernidade, não só seguimos estilos de vida,

mas num importante sentido somos obrigados a

fazê-lo — não temos escolha senão escolher.

Um estilo de vida pode ser definido como um

conjunto mais ou menos integrado de práticas

que um indivíduo abraça, não só porque essas

práticas preenchem necessidades utilitárias, mas

porque dão forma material a uma narrativa

particular da auto-identidade. (GIDDENS,

2002)

Para Giddens a variedade de opção e estilos disponíveis na sociedade liberta o

indivíduo da tradição e lhe permite fazer escolhas onde se cria uma auto identidade

significativa, para o outro responder a si mesmo determinadas perguntas como: Onde

você quer morar? Com quem você quer viver? Você quer trabalhar? Estudar? Existem

ingredientes de sua vida de fantasia que você gostaria de incorporar à sua vida corrente?

São fatores de grande importância para o eu como sujeito e as identidades.

Outro autor que elucida essa questão é Zygmunt.Bauman em seu texto

―Identidade‖ (2005), quando afirma que a identidade exerce um papel fundamental no

mundo hoje, no qual os indivíduos passaram a criar as suas próprias identidades e não

mais a herdá-las. Não apenas ―partem do zero‖, mas a redefinem por toda uma vida.

As identidade se tornam, em nosso mundo moderno-líquido,

mais ambivalentes e líquidas. A continuidade para roda uma

vida assim como a coerência e univocidade das identidades, não

são mais algo que exija grande preocupação. Os projetos de

vida vitalícios, hoje, já não são bem acolhidos. Uma identidade

coesa, fixada solidamente construída é vista, atualmente, como

um fardo, uma limitação da liberdade. (BAUMAN, 2005)

Page 34: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

34

As identidades, na modernidade, se tornam cada vez mais algo em construção,

uma realização de valor individual, A moda surge, deste modo, ligada à questão da

identidade pela busca de um modelo ideal e assume um papel de representação da

identidade. Desta forma, as roupas e os acessórios, adquirem o valor de símbolos,

através dos quais o sujeito se representa. Em todo esse movimento, a moda revela

questões sobre o sujeito como idade, gênero, condição social e ambições, além do

contexto cultural e regional que o sujeito está inserido.

Como identidade, a moda muda conforme o período que ela representa. Cada

época histórica tem suas crenças e valores e tem seu referencial distinto. Assim, as

representações criadas pela roupa mudam de acordo com o que representam.

Através das imagens de modelos ideais a moda cria e oferece uma manifestação

do imaginário, na qual o sujeito constrói a própria identidade.

2.2. Moda, Identidade e Consumo.

No perídio atual o indivíduo tem, como nunca antes visto, a liberdade de

estabelecer novas identidades fora das esferas econômicas e políticas e a identidade

social não está mais totalmente ligada ao poder econômico.

O consumo de bens culturais, como a moda, exerce cada vez mais um papel de

grande relevância na construção da identidade pessoal, deixando de lado a imitação das

classes superiores como algo sendo de grande importância.

Com isso, o consumo é apresentado como caminho para os consumidores que

estão em busca de algo que projete em si seus valores identitários e é nesse papel que a

moda está cada vez mais presente e o estilo de vida pode ter mais relevância do que o

status de classe, levando o indivíduo a ter uma constante preocupação com a identidade

pessoal como modo de adaptação às constantes novas maneiras de reorganização social

e cultural.

Page 35: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

35

Para Daiana Crane (2006), ―a moda contribui para redefinir identidades sociais

ao atribuir constantemente novos significados aos artefatos. Fred Davis afirma que

roupas da moda são bastante significativas para os consumidores porque expressam as

ambivalências que cercam as identidades sociais, tais como juventude versus idades,

masculinidade versus feminilidade, androgenia versus singularidades [...] trabalho

versus diversão, conformismo versus rebeldia. O fascínio da moda reside nos modos

como ela continuamente redefine essas tensões e as incorpora em novos estilos. [...]

onde as atividades de lazer, entre elas o consumo, moldam as percepções que os

indivíduos tem de si mesmos e, para muitos, são mais significativas que o trabalho‖.

O vestuário então se torna útil para ―disfarçar‖ o status social e tem o ―poder‖ de

tornar diferente e de deixar mais atraente ao depender do imaginário construído através

dela.

Portanto, na moda de consumo, que por sua vez substitui a de classe, há muito

mais opções de estilo e muito menos consenso sobre o que está na moda em

determinada época e com isso ela alcança o interesse de vários grupos em múltiplos

níveis sociais.

As lojas apresentam cada vez mais opções, pelas quais o consumidor consegue

montar um look de acordo com sua identidade, o que torna a moda um fator de

representação na sociedade contemporânea. Suas escolhas estão cada vez mais pautadas

na identificação com os grupos sociais pertencentes pelo indivíduo.

Hoje a moda tem ligação direta com o ―pessoal‖, não mais unida às tradições,

sendo que suas definições e as escolhas partem do querer individual.

Como se pode constatar com Lipovetsky, em ―A Estilização do Mundo‖ (2015),

estamos presenciando a era hipermoderna, uma sociedade do extremo, da felicidade, das

emoções, das sensações do agora do hoje, a era da estética, da arte, do novo, do

consumo, convergindo tudo pela lógica da moda, a era da sedução, da valorização do

futuro transformando a sociedade da moda com o referencial do tempo.

Page 36: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

36

A cidade industrial do capitalismo de produção tende a

ceder a vez à cidade-lazer, à cidade das compras de que

as passagens e lojas de departamentos forneceram,

Desde então, a lógica exponencial do espetáculo, do

divertimento e do consumo comercial não para de

ganhar terreno, dos bares descolados às flagship stores,

dos restaurantes às concept stores, das galerias

comerciais às lojas de luxo, das strips aos malls, dos

centros de lazer aos parques temáticos, das butiques-

hotéis aos bairros inteiramente reurbanizados para

atrair os consumidores. Mais do que nunca, o mundo

hipermoderno é o da estética mercantil e do comércio

consumista que invade e reestrutura o espaço urbano e

arquitetônico. (LIPOVETSKY, 2015).

Se a estilização do consumo se dá pelos objetos que são por ela representados,

também fala muito sobre seus consumidores; são representações de seus gostos, estilos

de vida e seus desejos, onde a moda acaba sendo o ponto de partida e mais visível para

se expressarem essas representações.

O consumidor de moda presente no tempo hipermoderno é um consumidor

estético, onde ela se torna elemento essencial para a caracterização pessoal,

valorizando-se, assim, através de novas tendências a hiperindividualidade.

Para Lipovetsky (2015) ―Até um período recente, a moda impunha uma

tendência homogênea que seguia princípios e uma temporalidade estritos. Ao mesmo

tempo, o vestuário tinha a função de classificar os grupos sociais, expressar a hierarquia

social. Não é mais assim: vivemos num tempo de moda policentrada e balcanizada em

que os valores de autonomia e a profusão dos estilos possibilitam a emancipação dos

sujeitos em relação às antigas limitações de classe‖.

Com isso todos têm a possibilidade de ―compor‖ seu estilo à vontade; o

individualismo segue se tornando o ponto chave para a moda e o consumo. Assim, não

se tem a questão da classe como sendo algo tratado como de primeira importância,

(mesmo que ainda haja divisões nesse sentido em determinados espaços ocupados pela

Page 37: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

37

elite), o gosto e a expressão da personalidade única e singular são os pontos onde o

sujeito se empenha através da moda para apresentar a imagem que tem de si mesmo

para o público que o cerca.

A relação de si com o outro é sempre fundamental e

estruturante, mas a roupa está mais a serviço da

promoção da imagem pessoal do que de uma imagem

ou posição de classe. (LIPOVETSKY, 2015).

Há tempos se pensava que para estar na moda era preciso dispor das últimas

tendências apresentada pela mídia; já não é mais o caso em um momento onde a mídia é

tão diversa e segue por vários caminhos. O sujeito da moda continua sim a ―seguir‖

tendência, mas o faz de uma maneira muito mais descompromissada com o que é

apresentado e mais comprometido com seus gostos pessoais e o com o que lhe ―cai

bem‖, não seguindo assim a moda pela moda. O valor individual tem cada vez mais

―poder‖.

A individualização na moda hipermoderna não significa

a originalidade do parecer – na verdade muito pouco

difundida, mas na escolha da própria aparência de

acordo com a imagem pessoal que queremos dar de nós

mesmo, expressão estética de si que compomos

copiando isto e não aquilo, como quisermos, quando

quisermos, de acordo com gostos subjetivos, momentos

e humores. Enquanto o regime da moda provém dos

imperativos estéticos de classe constitui-se um novo

sistema das aparências que funciona num registro mais

subjetivo, mais dissonante, mais efetivo.

(LIPOVETSKY, 2015).

Contudo, quanto menos a moda impõe seus valores e estilos, mais os

consumidores ficam desorientados em relação ao excesso de opções e à atual ausência

de uma tradição de classe que antes guiava as referências de estilo e estética. No

Page 38: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

38

momento atual o sujeito da moda é livre para fazer suas escolhas, mas pode se perder

em relação ao mercado e a si mesmo.

Para Lipovetsky (2015) as dinâmicas da individualização e do capitalismo

trabalham de mãos dadas para criar um consumidor tanto mais desorientado quanto

mais é autônomo, tanto mais desprovido de princípios estéticos quanto mais é

reconhecido como ―senhor de si mesmo‖ em matéria de aparência.

A relação com a moda se apresenta sob

uma luz contrastada. Por um lado a

época vê se multiplicarem as revistas,

os sites e as informações de moda. O

interesse pelos looks, as marcas e as

moda se exprimo em todos os meios

sociais e atinge todas as faixas etárias: é

nos pátios das escolas que nascem hoje

os fashionistas. (LIPOVETSKY, 2015).

O gosto pela moda está expresso em todo lugar; não tem mais limite social ou

financeiro e está estendido a todos os públicos. Fazendo do espaço ocupado um meio de

expressão do sujeito.

Nesse sentido, é possível se verificar o quanto esse espaço pode gerar influência

quando se trata de moda; o que se usa além de representar o ―eu‖ pode também mostrar

origens e gostos de um determinado lugar, como no caso da moda oriunda das

periferias, onde as barreias sobre o comportamento e moda usada nesses espaços vem

sendo quebrada e refletindo identidades locais e estabelecidas não mais por

determinações do centro.

A periferia já não precisa do centro e cada vez mais mostra seu ―poder‖ e

independência em relação à moda, tendo voz própria e usando suas próprias mídias para

se estabelecer; com isso a moda se espalha pela cidade e reorganiza seus espaços.

Page 39: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

39

Capitulo III.

SOBRE MODA E IDENTIDADE: UM ESTUDO DE CASO EM

PARAISÓPOLIS.

A partir da ideia de aliar o consumo da moda ao social e suas questões

identitárias, foi feita uma busca por projetos que poderiam conter essa característica.

Nesse processo, foi encontrado, por meio de mídias sociais, o Projeto PIM -Periferia

Inventando Moda.

O Projeto PIM – ―Periferia Inventando Moda‖, localizado na favela de

Paraisópolis, se denomina como uma iniciativa que usa a moda para promover a

inclusão social dos moradores da favela, usando a lógica da moda como agente de

transformação do indivíduo e do coletivo, promovendo a percepção da própria

identidade e apresentando caminhos para ampliar o desempenho social e profissional e é

nesse sentido que os idealizadores do Projeto acreditam no poder transformador da sua

intervenção, promovendo uma grande oficina de moda na favela de Paraisópolis.

Pelo fato do projeto estar localizado em Paraisópolis, o estudo ligado a esse

projeto se estendeu por toda a favela, analisando, assim, não somente o projeto mas o

consumo de moda que se estabelece nesse espaço, buscando lojas e hábitos de consumo

de seus moradores.

Estando a moda diretamente ligada à lógica do consumo, atualmente é cada vez

mais comum o indivíduo buscar conforto e satisfação pessoal ao adquirir determinada

peça ou objeto de moda, desejando passar ao mundo o seu estilo pessoal. A moda

propriamente dita e o seu consumo ultrapassam a barreira de serem tão somente produto

e compra respectivamente, mas são, também, agentes comunicadores de mensagens, de

significados e de desejos, tornando-se um fator de inclusão social, ou seja, a moda passa

a carregar um caráter identitário na vida de uma pessoa.

Page 40: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

40

A sociedade centrada na expansão das necessidades é,

antes de tudo, aquela que reordena a produção e o

consumo de massa sob a lei da obsolescência, da

sedução e da diversificação, aquela que faz passar o

econômico para a órbita da forma moda.

(LIPOVETSKY, 2009)

Com isso a moda acaba exercendo um papel de grande importância para a

inclusão social do indivíduo, podendo apresentar características de uso em um

determinado espaço e identificação com o local em que está inserido.

3.1. - A Favela de Paraisópolis: sua origem e história.

Paraisópolis é considerada a segunda maior favela da cidade de São Paulo, com

cerca de 100.000 habitantes, vivendo em 17.730 domicílios, onde 90% dos imóveis

estão irregulares. Situada na região do Morumbi, distrito da Vila Andrade,

Subprefeitura de Campo Limpo, é reconhecida como zona especial de interesse social

desde 2003 e caracteriza-se como espaço territorial em acelerada transformação3.

Entretanto, pelo Censo Demográfico de 2010, do IBGE, Paraisópolis conta com

uma população estimada bem menor, mostrando com isso a dificuldade de se obter

dados concretos para áreas de favelas, nomeadas atualmente como comunidades.

Segundo o IBGE, Paraisópolis/Porto Seguro/Jardim Colombo contam com

13.678 domicílios particulares, ocupados em aglomerados subnormais, e 56.369

habitantes. O atendimento por rede de abastecimento de água e de coleta de lixo se dá

em quase a totalidade dos domicílios das três áreas. Em relação ao atendimento por

coleta de esgoto e energia elétrica nos domicílios, tem-se 100% no Porto Seguro e

Jardim Colombo e, respectivamente, 88% e 98,6% em Paraisópolis. (IBGE, 2010)

[...] Os levantamentos HABISP (2012) contabilizam 17.159 domicílios em Paraisópolis,

Porto Seguro 612 e Jardim Colombo 3.244 moradias. Em relação à infraestrutura

urbana, Paraisópolis possui 64% de abastecimento de água, 22% de esgotamento

sanitário, 50% de coleta de lixo e 40% de rede elétrica domiciliar. O setor Porto Seguro

3Segundo dados do site oficial da Prefeitura de São Paulo.

Page 41: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

41

conta com 57% de abastecimento de água, 10% de esgotamento sanitário, 50% de coleta

de lixo e 50% de energia elétrica. No Jardim Colombo o levantamento HABISP aponta

para 59% dos domicílios com abastecimento de água, 15% com coleta de esgoto e 50%

de lixo, e 15% com rede elétrica na moradia. (CASTILHO, 2013, p. 177-179).

Gráfico Nº 1 - Infra Estrutura

Fonte. Elaborado pela autora com base no dados do censo de 2010.

Figura 1. Vista panorâmica da favela de Paraisópolis.

Foto da autora.

Page 42: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

42

Figura 2 – Demarcação no mapa do espaço geográfico da favela de Paraisópolis.

Fonte: Imagem retirada do Google)

Figura 3- Uma das principais entradas de Paraisópolis, Avenida Hebe Camargo,

uma das principais avenidas da favela.

Foto da autora.

Page 43: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

43

Segundo o portal4, o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM),

Unidade de Desenvolvimento Humano (UDH) em questão, localizada no município de

São Paulo, da RM de São Paulo, é 0,639, em 2010. Esse valor situa a UDH na faixa de

Desenvolvimento Humano Médio (IDHM entre 0,600 e 0,699). A dimensão que mais

contribui para o valor do IDHM da UDH é Longevidade, com índice de 0,774, seguida

de Renda, com índice de 0,654, e de Educação, com índice de 0,516.

Tabela 1. Índice de Desenvolvimento Humano Municipal e seus componentes –

UDH- Paraisópolis –SP.

IDHM e componentes 2000 2010

IDHM Educação 0,301 0,516

% de 18 anos ou mais com fundamental completo 24,91 37,90

% de 5 a 6 anos na escola

Razão entre a população de 5 a 6 anos de idade que estava

frequentando a escola, em qualquer nível ou série e a população

total nesta faixa etária multiplicado por 100.

40,75 87,04

% de 11 a 13 anos nos anos finais do fundamental REGULAR

SERIADO ou com fundamental completo 51,41 84,52

% de 15 a 17 anos com fundamental completo 28,25 46,38

% de 18 a 20 anos com médio completo 12,12 22,75

IDHM Longevidade 0,746 0,774

Esperança de vida ao nascer 69,78 71,45

IDHM Renda 0,658 0,654

Renda per capita 480,17 469,78

4 Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil.

Page 44: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

44

Fonte: PNUD, Ipea e FJP. In: http://atlasbrasil.org.br/2013/pt/perfil_udh/27333#idh)

Tabela 2.

Estrutura Etária da População – UDH – Paraisópolis - SP

Estrutura Etária População

(2000)

% do Total

(2000)

População

(2010)

% do Total

(2010)

Menos de 15 anos 12.534 35,76 16.672 29,58

15 a 64 anos 22.181 63,28 38.929 69,06

População de 65 anos

ou mais 339 0,97 768 1,36

Razão de dependência 58,04 - 44,80 -

Taxa de

envelhecimento 0,97 - 1,36 -

Fonte: PNUD, IPEA e FJP. In: http://atlasbrasil.org.br/2013/pt/perfil_udh/27333#idh)

Tabela 3.

Ocupação da População de18 anos ou mais – UDH- Paraisópolis -SP

Ocupação da População de 18 anos e mais - UDH 2000 2010

Taxa de atividade - 18 anos ou mais 79,35 80,83

Taxa de desocupação - 18 anos ou mais 21,76 8,04

Grau de formalização dos ocupados - 18 anos ou mais 63,60 71,97

Nível educacional dos ocupados

% dos ocupados com fundamental completo - 18 anos ou mais 26,53 38,69

% dos ocupados com médio completo - 18 anos ou mais 12,63 17,56

Rendimento médio

% dos ocupados com rendimento de até 1 s.m. - 18 anos ou

mais 16,49 12,29

% dos ocupados com rendimento de até 2 s.m. - 18 anos ou

mais 75,79 85,65

% dos ocupados com rendimento de até 5 s.m. - 18 anos ou

mais 95,44 98,81

Fonte: PNUD, IPEA e FJP. In: http://atlasbrasil.org.br/2013/pt/perfil_udh/27333#idh)

Page 45: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

45

Tabela 4

Indicadores de Habitação – UDH – Paraisópolis - SP

Indicadores de Habitação 2000 2010

% da população em domicílios com água encanada 99,90 99,86

% da população em domicílios com energia elétrica 100,00 98,84

% da população em domicílios com coleta de lixo 95,46 100,00

Fonte: PNUD, IPEA e FJP. In: http://atlasbrasil.org.br/2013/pt/perfil_udh/27333#idh)

Tabela 5

Vulnerabilidade Social – UDH – Paraisópolis - SP

Vulnerabilidade Social - UDH - Paraisópolis - SP

Crianças e Jovens 2000 2010

Mortalidade infantil 24,00 20,80

% de crianças de 0 a 5 anos fora da escola 87,99 52,27

% de crianças de 6 a 14 fora da escola 20,33 5,79

% de pessoas de 15 a 24 anos que não estudam, não trabalham e são vulneráveis, na população dessa faixa

17,05 8,03

% de mulheres de 10 a 17 anos que tiveram filhos 5,57 5,61

Taxa de atividade - 10 a 14 anos 7,10 5,59

Família

% de mães chefes de família sem fundamental e com filho menor, no total de mães chefes de família

80,79 70,33

% de vulneráveis e dependentes de idosos 0,16 0,28

% de crianças extremamente pobres 3,44 3,94

Trabalho e Renda

% de vulneráveis à pobreza 42,95 29,20

% de pessoas de 18 anos ou mais sem fundamental completo e em ocupação informal

47,03 31,18

Condição de Moradia

% da população em domicílios com banheiro e água encanada

96,08 96,16

Fonte: PNUD, IPEA e FJP. In: http://atlasbrasil.org.br/2013/pt/perfil_udh/27333#idh)

Page 46: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

46

A Favela de Paraisópolis data de 1921, com a divisão de parte do loteamento da

antiga ―Fazenda do Morumbi‖, originalmente dívida em 2.200 lotes. No final da década

de 1960, ainda com terrenos não habitados, em uma área com características rurais,

houve a sua ocupação por parte de famílias de baixa renda, grande maioria de

nordestinos, atraídos pelo emprego na construção civil. A prefeitura municipal não teve

como evitar o seu crescimento por hora desordenado e oficializou o nascimento do local

através de uma Lei de Zoneamento Geral do Município em 1968.

Em 1975, a prefeitura elaborou um plano de reurbanização, consentimento dos

proprietários e a desapropriação do espaço, que não foi consolidada por causa da falta

de recursos orçamentários e financeiros. Em 1979, o governo do Estado realizou 20%

das ligações de energia elétrica na região.

Atualmente Paraisópolis vem criando um processo para se transformar em um

novo bairro da cidade de São Paulo, ocupando hoje uma área de 800 mil metros

quadrados, sendo que 55% das famílias residem no local há mais de onze anos, 78% dos

moradores com emprego fixo trabalham na área do Morumbi.

O comércio em Paraisópolis conta com uma estimativa de 8 mil

estabelecimentos comerciais, segundo o site da Associação de Moradores de

Paraisópolis, sendo que a venda de imóveis responde pela maior fatia do mercado –

35%. Entre as lojas, predominam as de roupas e de material de construção. Em 12 de

novembro de 2008, Paraisópolis recebeu uma filial das Casas Bahia. A loja fatura R$

1,5 milhão por mês, contra R$ 700 mil dos pontos nos shoppings West Plaza e Plaza

Sul.

No ano de 1983 foi criada a União dos Moradores da Favela de Paraisópolis.

Com isso, no final da década de 1980 e no começo da de 1990, várias organizações não

governamentais começaram a atuar em Paraisópolis. Hoje, de acordo com o site

(Paraisópolis.org), que hospeda informações sobre a atual União dos Moradores e

Comércio de Paraisópolis, são mais de 25 ONGS (Organizações Não Governamentais)

atuando em diversos setores, dentro de sua área.

Fórum Multientidades de Paraisópolis congrega as ONGs do bairro e foi criado

em 1994. São cerca de 25 entidades que operam em rede, com reuniões mensais nas

Page 47: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

47

diversas organizações em sistema de rodízio, objetivando fortalecer as iniciativas

populares em Paraisópolis e os esforços para melhoria da qualidade de vida na região.

Não tem filiação política, religiosa ou comercial. (PARAISOPOLIS.ORG)

Em 2003, Paraisópolis foi reconhecida como Zona Especial de Interesse Social,

pela Prefeitura da cidade de São Paulo5. Segundo matéria feita pelo jornal ―Estado de

São Paulo‖, no ano de 2010, com o título ―Paraisópolis a queridinha dos projetos

sociais‖, nenhuma outra favela possui tantas ONGS como Paraisópolis; de acordo com

dados apresentados pela matéria, eram 64 projetos sociais atuando na região.

3.1.1 Intervenções Públicas em Paraisópolis

A Favela de Paraisópolis é um exemplo de área que recebe programas de

intervenções públicas por parte do governo municipal da cidade de São Paulo. Com o

Plano Diretor Municipal de 2002, Paraisópolis passa a ser vista como Zona Especial de

Interesse Social e em 2003 o Decreto Municipal nº 42.871/2003 conferiu à Secretaria de

Habitação e Desenvolvimento Urbano a elaboração e a implantação do Plano de

Urbanização do Complexo de Paraisópolis.

O início da implantação deste plano se dá em 2006 e visa integrar o acesso à

cidade formal, por meio da regularização urbanística e fundiária, possibilitando o acesso

dos moradores à infraestrutura, inclusão social e melhorias nas condições de habitação,

saúde e ambiental.

A execução do programa se deu pela parceria entre PMSP, SABESP,

ELETROPAULO, CDHU, Fundo Municipal de Saneamento e Infraestrutura e Fundo de

Desenvolvimento Urbano, com previsão de atender mais de 20 mil famílias.

O programa foi divido em três etapas de obras, sendo a 1ª implantada entre

junho de 2006 e agosto de 2008, incluindo a construção da escadaria da Rua Manuel

Antônio Pinto, com 104 unidades de alojamentos, em vários pontos do complexo,

pavimentação de ruas, canalização de córregos, rede de drenagem pluvial, colocação de

guias e sarjetas.

5 Fonte: https://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/zona-especial-de-interesse-social-zeis/

Page 48: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

48

A 2º etapa de obras se deu entre março de 2009 e outubro de 2010, sendo feitas

obras de infraestrutura, praças, conjuntos habitacionais e áreas de uso coletivo; nessa

etapa se deu início a implementação dos estabelecimentos institucionais de educação

como creches, saúde como AMAS e UBS e assistência social.

Com início em 2010, a 3º etapa, com contrato previsto para sua realização até

2013, contou com a proposta de serviços de 100% no atendimento de abastecimento de

água e coleta de esgoto.

Conforme dados informados pela Prefeitura de São Paulo, seriam ainda

realizadas a regularização fundiária e urbanística. Em paralelo com a reurbanização,

Paraisópolis recebeu uma unidade do complexo CEU, a construção de uma escola

técnica (ETEC), um centro de apoio psicossocial (CAPES), o centro de educação

infantil (CEI) e conta também com o Projeto Escola da Música, que foi vencedor do

Prêmio Internacional de Sustentabilidade HolcinAwards 2011, da América Latina, nível

ouro.

Em 2013, a Prefeitura de São Paulo6 anunciou um novo projeto, ou seja, um

conjunto de nove intervenções em Paraisópolis, visando beneficiar 20 mil famílias. O

investimento de cerca de R$ 90 milhões previa uma melhoria em infraestrutura,

urbanização e unidades habitacionais, sendo que serão R$ 37,3 milhões do Governo

Federal, através do PAC, R$ 55.492 milhões da PMSP e R$ 208 mil da Sabesp.

Serão nove áreas de intervenção, sendo elas: Pavilhão Social, Viaduto Rua

Pasquale, Pq. Sanfona, Muros de Contenção, Central de Triagem, Escola da Música,

Canalização do Córrego Antonico, Canalização do Córrego Jardim Colombo, obras na

Av Avenida Perimetral e a instalação de coletores tronco de esgoto.

Das nove obras em andamento, quatro incluem remoções das famílias por se

tratar de áreas de risco, em encostas, com histórico de deslizamento. Segundo

declaração oficial no site da prefeitura de São Paulo na intervenção do Parque Sanfona

658 famílias precisam ser removidas, onde já foram cadastradas 532 famílias. Com

relação à construção da Escola de Música, 625 moradias devem ser removidas da área,

18 famílias já passaram pela fase de cadastro.

6 Fonte: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/habitacao/noticias/?p=156093

Page 49: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

49

Para a canalização do Córrego Antonico já foram removidas 276 famílias. O

mesmo procedimento acontece com as obras do Córrego Jardim Colombo, cujas

remoções de 249 famílias já foram feitas. As 525 famílias que estão nas áreas dos dois

Córregos já foram cadastradas. Todas as famílias removidas serão atendidas com

unidades habitacionais na própria comunidade. Todos os projetos apresentados pela

prefeitura em 2013 ainda estão em fase de andamento, não tendo até o momento sua

completa conclusão.

3.2. Projeto PIM - Periferia Inventando Moda

O projeto PIM teve sua origem em abril de 2014, quando o idealizador e

fundador do projeto, o estilista Alex Santos, morador da Favela de Paraisópolis,

frequentava a Faculdade de Moda, no Centro Universitário Anhanguera.

A ideia do projeto surgiu quando Alex participou de um evento promovido pela

Prefeitura de São Paulo, onde ocorreu um desfile do estilista João Pimenta, e logo após

o desfile uma roda de conversa com o mesmo. Segundo relato de Alex, em uma das

entrevistas com ele realizadas, a ideia foi abordada porque um evento do porte do São

Paulo Fashion Week não vai diretamente para a periferia e a resposta dada pelo estilista

foi que a moda sai da rua e volta para a rua. Contudo, Alex Santos disse não se sentir

satisfeito com essa resposta, e a partir disso surgiu a ideia de fazer algo para a

comunidade em que morava, sendo ele morador da favela de Paraisópolis.

A primeira ideia era fazer uma exposição de roupas na favela de Paraisópolis,

mas a coordenadora da sua Faculdade sugeriu fazer um desfile das suas roupas, na

própria comunidade. Com isso pensou em como não queria ―pecar‖ nesse desfile

usando modelos de agências, visando que era um evento voltado para a comunidade e,

assim, decidiu criar um pequeno workshop de modelos apenas para formar pessoas para

esse desfile.

Esse primeiro evento foi realizado em julho de 2014 e contou, além do desfile

com peças de alunos da faculdade, também com o desfile do estilista João Pimenta e um

desfile da ONG Florescer, que é comandada pela Karina Bach.

Page 50: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

50

Para a realização desse primeiro evento, as aulas foram sediadas no CEU de

Paraisópolis, onde o próprio Alex entrou em contato com a coordenação e teve, assim,

apoio para a realização das aulas.

Os custos para a realização do evento se deram todos em formas de parceria com

a própria comunidade, como iluminação, cadeiras, divulgação (feita pelos próprios

alunos de marketing da faculdade), sem custo algum para a realização do evento.

3.2.1 O PIM: história, alcances e repercussão.

Foi a partir do evento acima descrito que o PIM realmente foi criado, tendo o

Alex Santos como fundador e como diretor criativo, o psicólogo e produtor cultural Nil

Mariano, fundador e diretor executivo. A entrada do Nil no projeto se deu através de

contato feito pelo próprio Alex, pois também sendo morador de Paraisópolis, iria ajudar

a visibilizar tanto o primeiro desfile, como dar continuidade ao projeto.

O projeto foi apresentado pelos seus fundadores como sendo um movimento

fashion sediado na comunidade de Paraisópolis, utilizando o poder transformador da

moda e da beleza para articular e capacitar jovens da periferia, promovendo o

empoderamento e a autoestima e facilitando a atuação no mercado.

Os padrões de moda e de beleza que

vemos em nossas passarelas tendem em

sua maioria a espelhar as características

e desejos da elite europeia e norte-

americana, reforçando a crença ainda

enraizada em parte da elite brasileira de

que não pertencem a esse lugar...

(ALEX SANTOS- Idealizador do PIM)

A partir desse momento, foi criado um workshop de passarela, curso

preparatório de modelos que aconteceu no CEU de Paraisópolis. A coordenação do

CEU, por já ter conhecido o projeto e apreciado o evento, realizado com o desfile, cedeu

o espaço para que eles pudessem dar continuidade. Todos os envolvidos na realização

Page 51: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

51

do projeto participaram desse primeiro evento e mostraram interesse em ajudar a

viabilizar a sua continuidade.

Na primeira fase do projeto foi feita uma divulgação nas redes sociais, buscando

pessoas da favela de Paraisópolis, que tivessem interesse no curso, tanto que o projeto

inicialmente se chamava ―Paraisópolis Inventando Moda‖. Mas como foi feita uma

grande divulgação nas mídias sociais, matérias onde o projeto era mencionado e

também em eventos de moda que o próprio coordenador e seus primeiros alunos

participavam, houve uma grande procura de pessoas de outras comunidades, mudando

assim o nome do projeto para ―Periferia Inventando Moda‖. Isso aconteceu logo no

primeiro ano e todo o recrutamento de alunos ainda se dá via mídias sociais.

Figura 4 – Foto divulgação do primeiro evento PIM ainda com nome antigo

Fonte: foto retirada da rede social Instagram do PIM @projetopim

Figura 5 – Foto divulgação do último evento realizado pelo PIM

Fonte: foto retirada da rede social Instagram do PIM @projetopim

Page 52: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

52

Quanto ao perfil dos alunos que o projeto abrange, foi relatado por Alex que há

uma tentativa para que se filtre o mínimo possível, tentando quebrar barreiras

consolidadas no universo das passarelas todos os tipos de corpos e gêneros são aceitos.

Porém o próprio Alex admite que não é possível inserir todo mundo, pois não adiantaria

ele dar o curso, sendo que algumas pessoas não conseguiriam ingressar no mercado de

trabalho.

Assim, perfis que não estariam totalmente no ―padrão‖ ainda dominante nas

passarelas são encaixados para revistas e outros tipos de editoriais. A única restrição

seria o fato de que os alunos devem ser moradores de periferias e de baixa renda.

Figura 6. Foto dos modelos/alunos PIM em evento realizado pelo projeto,

diversidade de corpos na passarela.

Fonte: Foto retirada da rede social Instagram do PIM @projetopim

Page 53: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

53

Logo nessa primeira fase, seus fundadores já conseguiram implantar, além do

curso preparatório de modelos, também cursos de maquiagem e fotografia, voltados

para moda. Todos esses eventos ainda eram realizados no CEU de Paraisópolis e todos

os cursos são dados por voluntários.

Sobre os cursos:

Modelo - Dirigido pelo estilista Alex Santos, no workshop de modelos jovens da

periferia recebem treinamento em passarela, postura e andamento, cultura de moda,

estilo, pose fotográfica e ética profissional. Além da capacitação profissional, os efeitos

sobre a identidade e a autoestima dos participantes são notórios e marcantes.

Figura 7. Foto dos alunos do PIM em aula de passarela

Fonte: foto retirada da rede social Instagram do PIM @projetopim

Page 54: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

54

Maquiagem - Em parceria com a Vult Cosmética, o curso de maquiagem do

PIM oferece capacitação e qualificação para jovens e adultos da comunidade do

Paraisópolis e de outras regiões da periferia, formando futuros maquiadores.

Fotografia - Ministrado pelo fotógrafo Túlio Vidal, o workshop de fotografia

oferece qualificação profissional para fotógrafos amadores e iniciantes da comunidade

de Paraisópolis, ensinando técnicas avançadas de fotografia.

Desde seu início, o PIM realiza um evento anual, com desfiles de estilistas de

periferias da cidade de São Paulo contando com a participação dos modelos do PIM.

O PIM tem como objetivo divulgar a moda produzida na periferia, como

manifestação genuína da cultura de moda nacional, proporcionando aos profissionais

capacitados nas oficinas do projeto, a oportunidade de exercitar seus conhecimentos e

promover seu trabalho; Sensibilizar a imprensa e o público especializado para a moda

marginal, simultaneamente consumida como inspiração pela high fashion, alijada dos

principais eventos, graças a uma cultura de moda ainda excludente.

.....Uma democracia mais representativa, uma moda marcada

pelo elitismo e pela segregação e num período tão peculiar, em

que a população de diversos países sai às ruas pedindo maior

representatividade, em que se ruma para estar muito longe de

representar a cultura e as pessoas de nosso país. (NIL

MARIANO - diretor do PIM).

No sentido de divulgar o trabalho do PIM e a forma como profissionais

capacitados pelo projeto possam atuar em suas áreas, o projeto produz frequentes

editoriais e ensaios fotográficos, utilizando a moda como instrumento para a inclusão

social e promoção da autoestima e protagonismo de jovens da periferia de São Paulo.

Através da realização de cursos, workshops, editoriais de moda e desfiles, criaram-se

espaços de capacitação profissional, empoderamento e visibilidade desses indivíduos,

visando romper os padrões excludentes da moda atual.

Page 55: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

55

Segundo os coordenadores, o PIM tem como MISSÃO: Consolidar-se como

uma das referências na democratização da moda e figurar entre os principais eventos de

moda da cidade de São Paulo e seus VALORES: Foco na inclusão e Respeito à

diversidade.

Nesse primeiro momento de projeto e em seus primeiros anos, o PIM obteve

alguns avanços, como a parceria para obter um espaço próprio. Esse espaço esteve

sediado na favela de Paraisópolis e seu aluguel foi pago pela parceria firmada com a

empresa Vult Cosméticos que, além de custear o espaço, cedia uma bolsa cultura para

os coordenadores, para a realização de eventos e manutenção do projeto. A partir do

momento que o PIM obteve esse espaço, as aulas e demais eventos deixaram de ser

realizados no CEU e passaram e ser feitos na seu própria sede. No entanto, essa parceria

se deu até o ano de 2018, quando a empresa informou que por motivos internos à

mesma, não renovaria os contratos e as aulas voltaram a acontecer nos espaços do CEU,

que sempre se mostrou aberto ao projeto.

Algum ganho a ser mencionado pelo PIM é a sua recente entrada com modelos

desfilando para diversos estilista, no evento anual realizado pela Casa de Criados –

importante evento de moda realizado na cidade de São Paulo, para novos estilistas.

Essa parceria com a Casa vem rendendo um grande avanço e destaque para o

PIM, tanto no lugar onde está instalado, como pela presença em vários veículos de

mídia, tanto empresa como televisiva.

Além da Casa, no ano de 2019 tiverem os primeiros modelos do PIM desfilando

para marcas no São Paulo Fashion Week (SPFW), o maior circuito de moda o país,

onde três modelos do PIM foram convidados a desfilar para a marca Ponto Firme do

estilista Gustavo Silvestre.

Em entrevista feita com seu fundador Alex Santos, fomos informados que

atualmente o projeto PIM se encontra em reestruturação devido à perda de patrocínio no

ano de 2018. No começo do ano de 2019, seus integrantes foram convidados a

participarem de um projeto potencializado pela marca SKOL, que deu origem à RODA

DO CORRE, que foi desenvolvido com três coletivos da periferia de São Paulo. No

final deste piloto foi desenvolvida uma Coleção COLLAB junto com a SKOL, onde os

modelos do projeto desfilaram.

Page 56: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

56

Figura 8. Foto dos alunos/modelos no PIM em dia de casting7

Fonte: foto retirada da rede social Instagram do PIM @projetopim)

Alex ainda mencionou algumas das metas que deseja alcançar com o projeto

como: ―Com o final do projeto desenvolvido pela SKOL, agora nossas próximas metas

são continuar desenvolvendo nossas ações do projeto à procura de apoiadores e futuros

patrocinadores. Em julho estaremos com a nona edição do PIM, que acontecerá nos dias

20 e 21 no CEU Paraisópolis. Teremos uma exposição também a ser feita pelo fotógrafo

de street style e do SPFW Leo Faria. A exposição deve ter sua estreia na semana

anterior à nona edição do PIM e, ainda, fortalecer novas parcerias, sendo uma delas pelo

SATED – Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos, onde iremos tirar o DRT

7 Casting consiste em selecionar profissionais para atuar em um evento. Os profissionais podem ser

modelos, atores/atrizes, recepcionistas, etc. O evento pode ser um desfile, uma festa, promoção,

lançamento, etc. O trabalho é feito por agências de modelos, produtoras de vídeo, cerimoniais,

estúdios, agências de eventos, áreas de marketing, entre outras.

Page 57: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

57

dos nossos modelos e teremos aula de teatro que será feito pelo SATED‖ (Alex Santos

em entrevista realizada pela autora).

Com um posicionamento de inclusão, o projeto PIM tenta abranger vários

segmentos e estilos em relação à moda, mas, segundo os organizadores, a avaliação é de

que as maioria dos estilos apresentados são os de moda urbana, afro e LGBTQ+8, que

vêm sendo, cada vez mais, representadas e se tornando identitárias nas periferias da

cidade.

Para Alex, a moda periférica tem um viés mais forte, pois é uma moda que tem

uma mensagem, um poder, pois tem relação direta com a vivência do usuário e sua

identidade pessoal.

O projeto está mais conectado com uma ideia de empoderamento pessoal, onde

os modelos são instruídos a ter uma melhora na percepção que têm de si mesmos, em

encontrar sua própria identidade, ganhar uma autoconfiança, e isso é feito através da

moda, tanto no setor profissionalizante com os cursos desenvolvidos pelo projeto como

na maneira de se vestir. Pode se perceber em conversa com os alunos que muitos não

viam a moda como algo que pudesse expressar suas personalidades, antes de

começarem a participar do projeto.

A moda era vista como algo distante e falar de moda podia ser sinônimo de

grifes, mas mesmo sem perceber ou ter a consciência do significado de moda, todos as

consumiam e carregavam algum estilo oriundo do ambiente em que estavam inseridos.

Para Alex, ao perceber a maneira de usar a moda de seus alunos, diz que muitos

já têm sua identidade e conseguem ter a ―sua‖ moda, mas acredita que ainda há pessoas

que precisam daquela ―ajudinha‖ da mídia ou aquela famosa modinha da ―novela das

nove‖; porém, não encaram isso como um problema, pois a moda deve ser democrática

e cada um seguir da maneira que mais se sentir bem.

8 Atualmente o termo LGBT é o mais utilizado, representando: lésbicas, gay, bissexuais, travestis e

transexuais. O termo foi aprovado no Brasil em 2008 em uma conferência nacional para debater os

direitos humanos e políticas públicas de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais. O Q é Queer

pode significar muitas coisas; não é sobre uma orientação sexual específica ou identidade de gênero, é

sobre se identificar como algumas das letras da sigla, mas também fazer parte de todas elas. Queer

engloba todas as orientações e identidades, sem se especificar em apenas uma delas, conforme

definição de Magô Tonhon, 2019.

Page 58: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

58

Ao acompanhar o projeto em eventos como o desfile de moda que é realizado

todo ano, com estilistas vindos de periferias e desfilados por modelos do PIM, foi

possível realizar entrevistas com alguns alunos, tendo-se, assim, uma visão mais ampla

de como era visto por eles o projeto e sua relação com a moda.

Por meio dessas entrevistas, foi constatado que metade dos alunos é oriunda de

Paraisópolis e a outra parte é de outros bairros de São Paulo.

Em média, os alunos participam do projeto em um período de 3 a 5 anos e

quanto à idade, embora variada, está em torno de 17 a 30 anos.

Em sua maioria os participantes exercem outras atividades profissionais, além de

trabalhar com moda; seja desfilando ou participando de campanhas, todos manifestam o

desejo de viver exclusivamente com trabalhos ligados à moda.

Para os alunos entrevistados, o PIM representa um lugar onde a autoconfiança

foi descoberta, onde podem expressar e até descobrir suas identidades em relação à

moda, um lugar onde se pode sonhar com outros caminhos para seguir na vida. O

projeto traz para os alunos a ideia de que podem ―ser mais‖, aprendem a ter uma olhar

diferente sobre seus corpos e como isso pode refletir na maneira como se vestem e se

apresentam para o mundo. A moda como profissão e identidade foi apresentada para os

alunos através do projeto, algo que antes possivelmente só era visto na sua forma mais

direta pelo consumo, sem ter o entendimento do porquê se consumir determinada

vestimenta.

Primeiramente me deu o poder da Auto confiança,

força, Garra e a Esperança de pensar que sempre

existirá coisas boas a serem buscadas na vida.

(DOUGLAS, aluno do PIM)

Quando questionados sobre qual o significado de moda para eles, as respostas

seguem quase um mesmo padrão de resposta: a moda está ligada à maneira de se

comportar em relação a si mesmo e aos outros, uma forma de se apresentar ao mundo

como indivíduo e ao lugar onde está inserido.

Page 59: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

59

Falar sobre o significado da moda é algo de extrema

importância e ao mesmo tempo um assunto grande,

moda é uma forma de viver, se comportar e até mesmo

um costume, pois é através desse pensamento

conseguimos transmitir o mesmo. (DOUGLAS, aluno

do PIM).

A identidade quando ligada à moda nesses casos apresenta um caráter cultural,

pois está ligada não somente ao indivíduo mas também ao social, tendo reflexo do local

onde essa moda é usada. Identidade é atitude e respeito por si e pelos outros.

Em sua maioria, acreditam que a maneira como se vestem hoje, e muito disso foi

visto e aprendido através do projeto, transmitem suas opiniões e posições, marcando,

sim, suas identidades.

Tudo que vestimos e usamos no dia a dia pode dizer

algo sobre nós, cabe a nós mostrar ou não os nossos

gostos individuais (YURI, aluno do PIM).

Em relação ao estilo, percebe-se pelos alunos que hoje não há um definido; as

peças são sempre variadas e as inspirações estão ligadas não só à mídia, mas, também,

ao lugar de origem. A rua é sempre um lugar para a moda.

A moda é liberdade, se sente livre quando se esta

desfilando, Identidade é atitude, e respeito por si e pelos

outros. Acredito que me vesti de acordo com a maneira

que penso, gosto do meu estilo e como ele é

reconhecido. (SILAS, aluno do PIM).

Para o consumo de moda, as redes sociais como Instagram acabam sendo a

maior fonte de inspiração e conhecimento, tanto sobre marcas como conteúdos sobre

Page 60: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

60

moda. Um fato a ser percebido é que entre os alunos do PIM, diferentemente do que

veremos no próximo capitulo, a compra de peças de moda se dá mais em grandes lojas

de departamento, como, por exemplo, a RENNER e outras desse segmento, pois

acreditam que tendências da moda e uma variedade de estilos são encontrados nestas

lojas. Brechós também são muito procurados por trazerem peças únicas.

Por fim, embora o projeto apresente uma mudança para os alunos, há uma falta

de entrosamento, ou seja, uma ligação direta com a comunidade onde o projeto atua; é

constantemente relatado pelos organizadores que a capacitação de alunos se dá quase

que exclusivamente por meio de redes sociais e que muitos dos moradores de

Paraisópolis não sabem da existência do projeto.

Desde que começamos o nosso trabalho na

comunidade temos um certo estranhamento ou

até mesmo uma falta de comunicação entre a

comunidade. Mas durante esses 5 anos sempre

apresentamos em evento da comunidade para

exatamente fazer esta troca de informações e

sempre mostrar o que estamos realizando dentro

da comunidade. Desta forma sempre fazemos

nossos principais eventos na comunidade para

exatamente fazer estra aproximação da

população com a moda. (ALEX SANTOS-

fundador do PIM).

Os organizadores analisam que o projeto é uma referência em relação à moda da

periferia, algo que está situado em Paraisópolis, mas a sua ligação direta com a

comunidade só se dá de fato quando ocorrem os eventos como desfile que são ali

realizados. De forma geral, o projeto acaba por promover9 a comunidade mais para as

9 Durante pesquisa realizada sobre o projeto PIM foram encontradas várias matérias em grandes meios

de comunicação como Estadão, Portal G1 de notícias, UOL, Isto É e, também, participação em

programas de televisão como, Encontro com Fatima Bernardes, Conversa com o Bial, Programa Como

Será, entre outros.

Page 61: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

61

mídias e para pessoas externas à favela, não tendo uma grande envolvimento e nem é

percebido ou mesmo valorizado por muitos dos moradores. O campo da moda como

algo profissionalizando ou até mesmo como fator social não desperta o interesse de

muitos desses moradores.

Figura 9. Foto divulgação das mídias onde o projeto foi notícia

Fonte: foto retirada da rede social Instagram do PIM @projetopim

3.2.2. UniPIM – moda e educação na periferia.

No ano de 2018, depois de ser convidado para participar de um evento chamado

Revirada Cultura, realizado pela ECA-USP, para a realização de um desfile, o PIM

chamou a atenção de professoras da Universidade, em que conversas com seu

coordenador Nil geraram o interesse de se levar a academia para dentro do projeto.

Nesse momento, acaba nascendo a chamada UniPIM, que é uma iniciativa que

pretende suprir a demanda de uma importante região da periferia de São Paulo por

Page 62: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

62

cultura, informação e formação de qualidade nas áreas relacionadas ao universo

simbólico da moda.

Para tanto, o PIM pretende criar um espaço de formação, criação e discussão

permanentes dentro da comunidade de Paraisópolis. O objetivo é oferecer formação

gratuita e de qualidade e promover o pensamento e a cultura de moda, favorecendo o

enriquecimento cultural, o autoconhecimento e a inserção no mercado de trabalho.

Segundo Nil, coordenador do projeto, a ―capacitação profissional para o

segmento da moda e áreas relacionadas (beleza, fotografia, pesquisa de tendências,

design etc.) além de facilitar o acesso ao mercado de trabalho, proporciona

oportunidades de convívio social amplo e possibilita o desenvolvimento de habilidades

e competências úteis nos mais diversos contextos: a leitura de comportamento social e

valores culturais; o desenvolvimento de novas linguagens criativas e de modos de ser; o

aprofundamento do cuidado de si por meio do vestir-se e embelezar-se; uma maior

compreensão dos códigos socioculturais a partir da dimensão do ser visto‖.

No Brasil, áreas relacionadas à moda, por constituírem uma fatia de mercado

bastante movimentada e em expansão, demandam grande interesse por estudo e

pesquisa, mobilizando agentes econômicos, culturais e educacionais no sentido de

viabilizar a formação qualificada, a inovação e o empreendedorismo.

A UniPIM tem como objetivos:

• Criar um espaço de discussão e criação permanentes, por meio de cursos,

palestras, vivências, congressos, debates e outras ações que coordenem e divulguem

saberes e práticas relativos à moda em geral e à moda periférica em particular;

• Oferecer capacitação profissional gratuita e de excelência na área de moda para

jovens da periferia;

• Favorecer a continuidade aos estudos e o desenvolvimento de habilidades e

capacidades;

• Promover a inserção dos profissionais no mercado por meio de estágios e

parcerias;

Page 63: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

63

• Promover eventos e intervenções nos quais os profissionais formados pela escola

possam, além de exercitar o que aprenderam, agregar a experiência em seus currículos e

portfólios, enriquecendo sua experiência profissional;

• Dar visibilidade à produção de moda e à beleza da periferia.

• Promover a inclusão social, a autoestima e o empoderamento da população

periférica e de grupos historicamente vítimas de preconceito.

Foram realizadas, no ano de 2018, ações educacionais como as oficinas Start em

parceria com a ECA-USP e a ABEPEM (Associação Brasileira de Estudos e Pesquisa

em Moda) que consistem em cursos e oficinas de imersão sobre temas como mídias

sociais, branding, fotografia, costura, dentre outros. Integrando a grade de atividades de

extensão da Escola de Comunicações e Artes, os cursos terão certificado da

Universidade de São Paulo (USP) e ocorrerão no último sábado de cada mês no CEU

Paraisópolis. As oficinas e cursos Start consistem em imersões com foco na reflexão e

aquisição de habilidades e competências, explorando modos possíveis de atuação. Os

professores trabalharão o contexto e os modos de inserção no mercado e universo da

moda. Com a duração de 08 horas, a metodologia dos cursos Start pode variar a

depender do tema a ser desenvolvido e da didática do professor, sempre privilegiando

metodologias ativas de aprendizagem, com o predomínio dos exercícios e práticas.

Todos os certificados entregues aos alunos nos cursos e oficinas terão

certificação disponibilizada pela ECA-USP.

No ano de 2018 foram realizadas as primeiras oficinas Starts que dispuseram dos

seguintes temas: ―Os sentidos da Marca na Contemporaneidade‖, ―Mídias Sociais e a

Moda‖ e ―Técnicas de Fotografia com Celular‖.

A UniPIM também centralizará as ações educacionais do ―Periferia Inventando

Moda‖, dando continuidade aos cursos de modelo, de maquiador e de fotógrafo. Os

alunos destes cursos participarão ativamente na produção dos eventos PIM em suas

edições semestrais.

Outra realização proposta pela UniPIM se dará pelo seguimento denominado

Pensando Moda, que consiste em um encontro mensal no CEU Paraisópolis com o

objetivo de difundir a cultura e o pensamento de moda, bem como promover a reflexão

Page 64: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

64

sobre o mercado, visando sobretudo estimular a atitude empreendedora dos que estão

entrando neste segmento. As atividades consistirão em congressos, palestras, mesas

redondas e debates com convidados ligados ao mercado, ao pensamento e ao ensino de

moda. A primeira edição do Pensando Moda foi realizada em 17/03/2018 com o tema:

―Como criar marcas com propósito para construir negócios de sucesso‖, ministrada por

Jaime Troiano.

Além da coordenação dos seus fundadores Alex Santos e Nil Mariano, a UniPIM

contará com a coordenação educacional de professores acadêmicos da USP, PUC-SP,

Universidade Anhembi- Morumbi, Belas Artes, SENAC-SP, entre outros.

Atualmente, o projeto da UniPIM está passando por uma reformulação e se

encontra estacionado, junto aos professores da ECA-USP e aos coordenadores do PIM,

devido à falta de adesão dos alunos aos cursos e oficinas. Foi relatado que nos

eventos/cursos oferecidos estavam presentes, em sua grande maioria, alunos de

faculdades de moda, ou áreas afins, da USP, Santa Marcelina, PUC-SP, em vez do PIM

e seus parceiros.

Essa falta de comparecimento dos alunos aos cursos foi encarada pelos

coordenadores como uma falta de entendimento do projeto, pois não houve uma real

compreensão da necessidade de se aperfeiçoar em um campo acadêmico, onde para

muitos dos alunos não é um lugar/espaço de costume por eles frequentados.

O projeto se mantém, tentando quebrar essas barreiras, muitas vezes fixadas em

espaços periféricos, pretendendo dar uma nova abordagem para o ano de 2019 e seguir

com a proposta elaborada pela UniPIM.

De início, será feita uma reformulação da ideia que será mais voltada para os

estilistas que desfilam suas marcas no PIM, por serem um grupo de pessoas mais

familiarizadas com as temáticas teóricas sobre moda, podendo assim chamar a atenção

para a escola e fazer com que gere um interesse e procura por outros grupos, como os

alunos dos cursos técnicos e pessoas das comunidades periféricas de São Paulo.

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Figura 10. Foto divulgação evento realizado pela UniPIm

Fonte: foto retirada da rede social Instagram do PIM @projetopim

3.3. A Moda de Rua e seu Consumo em Paraisópolis

Além do projeto PIM, foi realizado um trabalho de campo pelas ruas de

comércio na favela de Paraisópolis, visando conhecer o tipo de moda oferecido pelas

lojas e o do consumo por seus moradores. Por meio de entrevistas com lojistas e

consumidores foram percebidos importantes aspectos dos hábitos de consumo e estilos

que circulam pelo espaço em questão.

Entre as ruas de Paraisópolis, foi percebido que as lojas, em sua grande maioria,

se concentram em algumas ruas, onde são conhecidas pelos moradores como as ruas de

comércio.

Nesse espaço estão, além das lojas de roupas, outros pontos como farmácias,

padarias, supermercados, açougues e bancos, entre outros comércios de necessidades

básicas e variadas, incluindo uma filial das Casas Bahia localizada na rua Ernest Renan.

Entre as ruas Ernest Renan, Rua Melchior Giola, rua Rodolf Lotze e rua Hebert

Spencer, foi encontrado o maior número de lojas de roupas; na sua grande maioria as

lojas seguem um determinado padrão visual e oferecem roupas para públicos variados.

São poucas as lojas de segmentos específicos como, por exemplo, roupas para festas

formais ou estilo de peças determinadas.

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Entre as ruas mencionadas, as com maior destaque e maior concentração de

comercio são as Ruas Melchior Giola e Hebert Spencer, exceto a Rua Ernest Renan; as

demais citadas têm ligação com a Avenida Hebe Camargo, um dos pontos principais de

entrada para a favela de Paraisópolis.

Pode se observar que o que define o consumo e o consumidor não é mais a

classe social e sim o estilo de vida. As ruas do comércio mantêm um fluxo constante,

sendo quase uma extensão do centro, (nota-se uma semelhança muito grande com ruas

famosas de comércio popular como Brás e Bom Retiro), nos finais de semana.

Figura 11 - mapa localizando o quadrante dentro da favela de Paraisópolis onde o

maior percentual de lojas de roupas está concentrada, incluindo as ruas Ernest

Renan, Rua Melchior Giola, rua Rodolf Lotze e Hebert Spencer.

Fonte: Mapa retirado do Google Maps e sinalizado pela autora

Para que pudesse haver um maior entendimento dos hábitos de consumos de

Paraisópolis, foram feitas entrevistas com lojistas e moradores. Foi selecionada uma

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67

pequena amostra de lojas de roupas e moradores que estavam pelas ruas de comércio no

horário da pesquisa de campo.

A pesquisa foi feita pelas ruas de Paraisópolis, em uma sexta-feira, anterior ao

domingo de Dia das Mães, durante todo o horário comercial.

Foi percebido em relação à origem das roupas que são vendidas, na sua grande

maioria, aquelas trazidas de lojas de atacados do bairro do Brás e Bom Retiro, da cidade

de São Paulo e uma pequena parcela das lojas encomenda suas mercadorias de

fornecedores particulares oriundos de sites de internet.

Sobre as referências que são buscadas para atrair os clientes um fato a ser notado

é que os programas de TV, como novelas, já não fazem mais parte do ideal de estilo

para as lojas da periferia. Em sua maioria, as lojas buscam por influenciadores digitais,

por meio de contas na rede social Instagram, tanto de famosos como os próprios

influenciadores da comunidade; todos relataram que baseiam quase todas as suas

compras de peças pelo que é visto e seguido nessa rede social. Segundo os lojistas os

próprios clientes pedem por peças que são vistas no Instagram, levando essas

referências na loja.

Agora é tudo Instragem né, a gente fica de olho

lá e traz para a loja. (Sonia, lojista).

Mas também é percebido que as lojas refletem um estilo próprio de vestir de

seus moradores, onde, na sua maioria, seguem os mesmos estilos e modelos de peças

que são vendidas.

No caso de roupas femininas, as lojas oferecem em sua maioria entre tops, saias,

calças e shorts, sempre curtos e justos. No caso masculino camisetas são sempre

imitações de marcas de grife como Lacoste, Adidas e Calvin Klein.

Essa questão da réplica ou imitação de marcas de luxo também está muito

presente quando se fala em acessórios como bolsas, relógios, bonés e as marcas mais

copiadas são Chanel, Gucci e Louis Vuitton.

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68

Por aqui quanto mais justo e curto melhor, bem estilo

―piriquete10

‖ mesmo é só o que você vai encontrar, é o

que usam nos bailes‖. (Thiago, lojista)

Figuras 12. Fachada de uma loja de moda na Favela de Paraisópolis

Fonte: Foto da autora

Para os lojistas não há muita diferença na procura entre roupas para se ―usar no

dia a dia11

‖ e roupas com intuito de ―usar para sair12

‖, mas, se tivessem que apontar um

10

Piriguetes é um termo usado para se referir às mulheres independentes e liberais, que procuram ter

várias relações sexuais sem estabelecer um critério muito assertivo para as suas escolhas.

Frequentemente, esta palavra é usada com sentido depreciativo, para qualificar uma mulher fútil, que só

pensa em diversão e prazer. As piriguetes são estereotipadas pela sua forma de vestir. As chamadas

―roupas de piriguete‖ costumam ser bastante apelativas sexualmente, com muitas partes do corpo que não

são cobertas. (Fonte: https://www.significados.com.br/piriguete/)

11 O termo usado em questão se refere à maneira como as classes populares definem e separam suas

roupas em determinada categoria, sendo essa usada para peças mais básicas e muitas vezes tendo um

valor de compra menor.

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69

destino, afirmam que a procura por roupas para balada são um pouco maior,

principalmente entre as mulheres.

Também foi observado um segmento de lojas mesmo que em uma porção

menor, voltado para um público evangélico, onde as roupas e estilos diferem das

demais, tendo roupas mais ―comportadas‖. Foi apontado pelos lojistas que a procura por

essas lojas se dá geralmente por pessoas mais velhas.

Outro ponto importante a ser notado é o fato de que há uma minoria de lojas

com um segmento especializado ou lojas que vendam apenas roupas para uma certa

idade ou público como masculino e feminino; em sua grande maioria o público e as

roupas encontradas são diversificadas. Entre as lojas segmentadas as que vendem

apenas roupas femininas estão em maior número. Há também uma boa parcela de lojas

que vende roupas a preço único.

Com relação à faixa etária dos clientes, é percebida uma compra maior pelo

público mais jovem, que estaria na faixa dos 18 aos 35 anos, conforme informado pelos

lojistas. O público mais velho está mais concentrado nas lojas de preços únicos ou em

lojas segmentadas.

Um aspecto a ser apontado é o fato de que em todas as entrevistas se obteve

exatamente a mesma resposta para as questões em relação aos clientes que compram nas

lojas como sendo todos da própria favela de Paraisópolis e que raramente vêm pessoas

de fora para comprar com eles. E também o fato de que a maior forma de pagamento

feita pelos clientes é à vista, no dinheiro ou cartão de débito, e que poucas das compras

são parceladas.

12

O termo usado em questão se refere à maneira como as classes populares definem e separam suas

roupas em determinada categoria, sendo esse usado quando se refere às roupas compradas e separadas

para uma determinada ocasião, como festas, eventos, compromissos religiosos. Normalmente essas peças

são escolhidas com mais cuidado e investida uma soma maior de dinheiro.

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70

Figuras 13. Banners colocados em frente às lojas como meio de propaganda.

Fonte: Foto da autora

Em relação às falas dos moradores, foram percebidas, através das entrevistas,

alguns pontos que expressam os hábitos de consumo em Paraisópolis.

Ressalta-se o fato da maioria dos moradores não se identificarem com a noção

de identidade gerada pela moda, sendo esse um conceito que não é percebido

conscientemente no seu dia a dia.

Não penso nisso não, eu compro o que vejo na loja

e gosto. (Lurdes, moradora).

Para os moradores que veem a moda apenas como objeto de consumo, a questão

de identidade é identificada como estilo, uma maneira especifica de se vestir usando

peças que acreditam que lhes caem bem e acham bonitas e confortáveis.

Quando perguntados onde se inspiram, também seguem tendências do

Instagram; na sua minoria buscam por peças que veem nas novelas. Com isso acabam

usando as peças que são vendidas pelas lojas e não buscam por algo especifico.

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71

Agora a gente compra tudo que vê pelo celular, o povo aqui

posta13

bastante, ai quando acho legal eu procura nas lojas aqui

mesmo, as vezes já marcam a loja que é ai fica até mais fácil.

(Denize, moradora).

No dia a dia a regra é ser básico: calça jeans, shorts e blusas básicas para as

mulheres e camiseta e bermuda para os homens e isso se dá na mesma forma tanto para

crianças quanto para pessoas mais velhas. As variações dessas peças têm a ver com

relação ao estilo escolhido, como peças mais largas ou mais juntas, cores neutras ou

estampas e brilhos.

As compras por necessidade foram relatadas pela maioria dos moradores em

peças mais básicas e para trabalho e para o ―dia a dia‖, sendo geralmente peças mais

baratas, quando se busca por algo mais ―bonito e na moda‖; como muitos relataram, são

sempre roupas para ―sair‖ e sempre estão dispostos a gastar um pouco mais, segundo as

entrevistas.

Foi percebido também que homens e mulheres estão tendo praticamente a

mesma preocupação com o que vestem e pelo qual estilo são conhecidos, mas

ressaltando que essa preocupação se dá na sua maioria entre os jovens em uma faixa

etária dos 17 aos 35 anos.

Eu gosto de andar na moda, sempre compro uns pano14

novo quando posso, ai compro mais pra ir pros bailes

mesmo, as meninas gosta. (Jeferson, morador).

Entre os entrevistados que estão nessa faixa etária são também os que mais

procuram peças fora da favela, recorrendo assim às grandes lojas de departamento. As

mais citadas foram C&A e Renner. Mas ressaltam que recorrem a essas lojas quando

buscam objetos específicos que não são tão facilmente encontradas nas lojas da favela.

Contudo, esse fato acaba sendo algo mais esporádico, pois, na sua maioria, os

moradores entrevistados acabam se identificando com o estilo apresentado pelas lojas

13

Referência usada quando é feita uma publicação de fotos, textos, vídeos, em redes sociais.

14 Gíria usada para se referir à roupas.

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72

locais e também afirmam que os preços pregadas pelas lojas locais acabam sendo mais

baixo e por isso atraindo. Assim, a população.

Todos os entrevistados residem em Paraisópolis, mas a sua maioria têm seus

trabalhos fora da favela, sendo o bairro do Morumbi e região central de São Paulo com

o maior número de moradores empregados. Para os moradores que não trabalham fora

da favela, estão empregados no próprio comércio oferecido no local. Contudo, pode se

perceber que o consumo de moda oferecido em Paraisópolis acaba por suprir as

necessidades básicas e determinam, por fim, um estilo seguido pelos seus moradores.

Page 73: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

73

Considerações Finais

O papel social que a moda exerce junto ao indivíduo acaba por moldar sua

construção social da identidade através do vestuário.

A moda sofreu mudanças significativas com o passar dos anos, antes voltada

para as ―classes‖ onde só se pensava em um moda vinda de cima para baixo, em que a

imitação era o seu lugar comum e assim sua melhor maneira de poder subir em uma

escala econômica pela maneira como se vestia.

Hoje a moda se vê voltada para o consumidor, o status conferido pela classe

social tem a sua importância, mas já não é mais o fator dominante. As questões

relacionadas a estilo de vida, gênero e espaço são mais importantes para o indivíduo,

pois apresentam ao mundo sua escolha, reveladas na aparência das roupas escolhidas.

A globalização e a cultura popular mudaram a maneira com que o indivíduo se

relaciona com a moda. A construção da identidade do indivíduo se tornou ponto chave

em relação às suas escolhas sobre o que vestir.

Seus conceitos foram mudando e se adaptando com o passar do tempo e estão

cada vez mais fluidos, cada vez mais pessoais e singulares: mesmo quando seguem

padrões só se fazem em relação ao espaço e contexto social em que a moda está

localizada.

A moda segue a identidade do seu usuário, identidade essa que não é mais

estabelecida ou determinada apenas por classe, poder econômico ou localização do

indivíduo.

A identidade hoje está mais ligada ao que o ser social consome, não somente em

questões de bens materiais, mas também no conhecimento adquirido através do meio e

de seus próprios interesses.

Se consideramos que estamos na era da hipermodernidade, a nossa identidade

está diretamente ligada ao ―que podemos ser hoje‖, e vai se moldando e se

transformando a cada novo ―click‖. Não estando mais determinada por nascimento, a

identidade do indivíduo na hipermodernidade está cada vez mais democrática e ligada à

aparência do ser. É vista como algo libertário, onde cada um escolhe o que é melhor

para si, onde as poucas imposições estabelecidas podem se dar apenas pelo espaço

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social ocupado ou frequentado. Como pode ser observado quando se tem a favela de

Paraisópolis como meio de análise.

A moda estabelecida nesse espaço se dá de maneira distinta, quando se fala em

um projeto de moda que acontece lá dentro e quando se percebe realmente a moda que é

consumida. A moda separa quem vive ou estuda sobre ela e quem apenas a consome.

O PIM é percebido como um meio de formação de identidade, tendo como base

um desejo de empoderamento pessoal em relação aos seus alunos.

Mesmo que tenha um caráter profissionalizante, acaba por possibilitar mais uma

postura em relação a mudanças de comportamento e aceitação de quem se é e como a

moda pode lhe servir e ser bem empregada para a sua valorização pessoal e crescimento

da autoestima.

O PIM acaba por apresentar o caráter social e identitário da moda aos seus

alunos; o consumo acaba por ficar em segundo plano, assim como o viver da moda

acaba sendo um sonho que é constantemente buscado. O projeto se dá como um difusor

de conhecimento sobre moda.

Apresenta a seus alunos outras possibilidades de carreira, mesmo que muitas

vezes são sejam efetivadas de fato, usando a moda como algo abstrato e ampliando o

horizonte profissional e mostrando o poder que a moda pode exercer sobre como você

se apresente ao mundo.

O projeto vai mais no sentido de uma experiência fashion, e como algo até de

terapêutico em relação de como a moda pode cuidar de si e criar suas próprias

identidades. Tendo-se um efeito como a moda pode-se através do olhar do outro

melhorar o olhar que você tem de si.

Mas mesmo ligado à favela e às identidades singulares que lá não, o projeto em

si não tem ligação com a comunidade, podendo-se se observar que há uma falta de

interesse por grande parte dos moradores e também agentes que geram rentabilidade

para projetos sociais em ter uma ligação efetiva com o PIM, afinal como são citados por

seus organizadores não é todo mundo na favela gosta de moda, ele serve apenas como

uma referência em moda, mas não somente como algo de moda que é totalmente ligada

a comunidade.

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75

Já quando se pensa em moda em relação aos moradores e seu consumo, é visto

algo bastante singular e indentitário do espaço onde estão na periferia.

Pode-se observar que as lojas de roupas seguem um mesmo padrão em relação

as peças oferecidas, segue-se um estilo próprio que são usados por seus moradores,

mesmo quando são oferecidas peças para públicos diferentes, como mais jovem ou mais

velhos as peças para esses dois públicos se dão de maneira similar.

Algo importante que foi apontado pela pesquisa se relaciona com as buscas por

referências, onde pode se notar que hoje em dia se dão quase que exclusivamente

através de redes sociais como o Instagram, apontando, assim, essa ligação com o tempo

vivido pela hipermodernidade.

Seus moradores não têm uma ligação com a moda quando pensada como um

fator social, a moda é vista pela ótica do consumo e do bem estar e mesmo sem ter essa

consciência é possível enxergar que moda apresenta uma identidade a seus moradores,

que estão ligados ao espaço em que a moda ocupa dentro da favela e à maneira como

seus moradores vivem.

Não há mais necessidade de se seguir o estilo integralmente apresentado pelas

classes mais altas, mas se tem nas cópias de marcas de luxo a criação de um estilo

próprio e singular; utilizando-se dessas se cria uma noção de status mas sem deixar de

lado a identidade gerada pela moda e pelo espaço de vida que está ocupado.

Contudo podemos dizer que a periferia carrega consigo uma identidade própria,

seus moradores, mesmo que se frequente outros espaços que não seja o de sua origem,

esse moradores se mantém fieis a sua origem e consomem o que acreditam ser destinado

para si.

A moda na periferia cria, assim, seus próprios significados e estabelece intensa

relação com o que é percebido como cultura que está estabelecida nesse espaço.

Colabora para a identificação de comunidades sociais como no caso da favela de

Paraisópolis e também acaba por favorecer o consumo e valorização desses espaços em

relação aos seu moradores.

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76

A moda nos mostra que se estabelece em ―vários mundos‖, gerando assim seus

próprios símbolos e sentidos, criando e estabelecendo identidades, de uma maneira que

não para de se expandir. Em cada canto ocupado por ela, veremos uma maneira

diferente para seus usos e conceito.

Page 77: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

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Portugal. São Paulo: Mackenzie, 2016.

Page 82: Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela

82

ANEXOS I: Roteiro de entrevista com lojistas da Favela

Nome da loja

Endereço

Nome do responsável

Quanto tempo trabalha/dono da loja?

De onde vêm as roupas?

Quais as referências que mais saem?

Considera que suas roupas tem uma identidade própria da favela?

Quais as diferenças que você percebe quando vende roupa para sair e roupa para o dia a

dia?

Seus clientes são do entorno ou de toda a comunidade?

Há pessoas de fora de Paraisópolis que compram com você?

Sua maior forma de pagamento?

Clientes são mais novos ou mais velhos? (Público alvo)

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ANEXO II: Roteiro de entrevista com moradores da Favela

Nome e idade

Profissão e lugar onde trabalha

Endereço

Como você identifica a sua identidade em relação a moda? qual seria o seu estilo?

Onde você se inspira?

O que mais usa?

Quais as maiores mudanças que você percebe entre suas roupas do dia a dia com o que

você usa pra sair? Exemplos.

Compra suas roupas nas lojas de Paraisópolis?

Costuma comprar roupas em outros lugares além das lojas de Paraisópolis? Se sim, qual

o motivo dessa compra?

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ANEXO III: Roteiro de entrevistas com modelos do Projeto PIM

Nome completo

Idade

Endereço

Faz parte do projeto PIM? há quanto tempo?

Além do PIM, tem outro tipo de trabalho? Se sim, onde? (Além da função, nome e

endereço da empresa)

O que o PIM significa para você?

O que de efetivo mudou na sua vida após o PIM?

O que aprendeu com o PIM?

O que significa moda para você?

Qual a sua ideia quando se fala em identidade na moda?

Você acredita que suas roupas e sua maneira de vestir carregam a sua identidade através

da moda?

Como define seu estilo? Acredita que tenha um definido?

Onde se inspira?

O que mais usa?

Onde você consome conhecimento sobre moda? Onde busca por referências?

Onde consome moda fisicamente? Onde compra? (Lojas do bairro, lojas de

Departamento, centro, shopping, brechós), ou você mesmo produz?

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ANEXO IV: Roteiro de entrevista com fundadores do Projeto PIM

As entrevistas foram feitas com os dois fundadores do projeto, sendo que algumas

perguntas foram direcionadas apenas a um deles, por sua formação e atuação dentro do

projeto. O roteiro abaixo é um compilado dessas entrevistas; elas foram feitas de

maneira informal, em situação de conversa, obtendo-se, assim, muitas vezes, respostas

que não estavam originalmente em questões pré-formuladas.

Como se deu o início do projeto PIM?

Como você enxerga o PIM hoje? Quais avanços você consegue apontar?

Quais as metas ou desejos a serem seguidos?

Quais foram as maiores barreiras enfrentadas?

Como se deu a experiência e como foi a parceria entre o PIM e a Skol?

Você acredita que uma identidade da periferia voltada para moda realmente é mostrada

e percebida com esse tipo de evento como no caso da roda do corre?

Como se deu a entrado dos modelos do PIM na Casa de Criadores e também no SPFW?

Como foi o processo para iniciar a UniPIM? Dificuldades e avanços.

Qual o tipo de trabalho que o PIM acredita que desenvolve com seus alunos?

Quais as barreiras e avanços enfrentados para marcar essa identidade quando se ocupa

outros espaços como a casa de criados?

Qual o tipo de moda que você percebe que o PIM carrega? Diria que é algo que abrange

corpos, estilos, gostos. Como você vê isso no papel de idealizador, fundador e estando à

frente do PIM?

Você acredita que a periferia tem uma identidade própria em relação a moda? o PIM

reflete isso?

Como você vê o posicionamento do PIM dentro de Paraisópolis? é percebido?

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Qual a ligação do projeto com os moradores da favela de Paraisópolis? acredita que há

essa ligação?

Quais as barreiras burocráticas que o PIM enfrenta para se estabelecer como projeto

social?

Qual o tipo de assistência que se dá aos alunos?

Em relação aos alunos, quais os aprendizados e mudanças de comportamento são

percebidas por você?

Em relação a você, como estilista, qual a identidade de moda que você carrega?

Você, como criador e também usuário da moda, acredita que o indivíduo hoje cria sua

própria identidade e gostos, observando e assimilando o que está à sua volta, ou ainda

sofrem muita influência da mídia/redes sociais e de grandes marcas?

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ANEXO V: Fotos da favela de Paraisópolis.

Fiação elétrica Paraisópolis - Foto da autora

Foto ruas e becos Paraisópolis - Foto da autora

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Estilo predominante de tipo de moradia em Paraisópolis -

Foto da autora

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ANEXO VI: Fotos do Projeto PIM

Alunos do PIM - foto da rede social Instagram do PIM @projetopim

Modelo do PIM desfilando para a marca Ponto Firme no SPFW - foto da rede

social instagram do PIM @projetopim

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ANEXO VII: Fotos das lojas da favela de Paraisópolis

Loja 1 – foto da autora

Loja 2- foto da autora

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Loja 3 – foto da autora

Loja 4 – foto da autora

Loja 5 – foto da autora

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Loja 6 – foto da autora

Loja 7- foto da autora