jornal fala favela 01
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Projeto idealizado por estudantes da Escola Jornalista Tim Lopes, participantes do projeto Adubando Raízes Locais, patrocinado pela Petrobras em 2012 e 2013.TRANSCRIPT
março 2013 • InformatIvo • ofIcIna de JornalIsmo comunItárIo • ProJeto adubando raízes locaIs
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Um complexo de sabores
Polícia Pacificadora ? Eis a questão
Alemão talentoso: um lado nunca mostrado
O Alemão precisa mais do que pacificação
A Estação certa para o seu paladar
A história do rapper Guilherme Guizo e do jogador Diego Diamantino
O Fala Favela é resultado da oficina de Jornalismo Comunitário com jovens do Conjunto de Favelas do Alemão. Sua concepção, formulação e realização é parte de um dos eixos do Projeto Adubando Raízes Locais, patrocinado pela Petrobras. A ideia da equipe técnica do projeto é pensar em estratégias de comunicação, especilamente, com jovens da localidade, a fim de por em ação a potência e o desejo desta diversidade que pulsa aqui. Este é um processo no qual vamos investir sempre.
A favela registra o pior IDHMoradores reclamam da ação de policiaisColetivo PENSA ALEMÃO
Ação do coletivo PENSA ALEMÃO - subida da CentralBOPE “passeando “ na Joaquim de Queiroz - Grota
Kinho Buttered
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O governo do Estado do Rio Janeiro come-mora antecipadamente o 1º ano da implantação da UPP’s no Alemão. A presença da polícia pacifica-dora teve como missão acabar com o tráfico no va-rejo, isto deveria ser lembrado e não comemorado. De acordo com o sociólogo Luis Machado (pro-fessor da UERJ) a função da segurança pública é o afastamento de causas perigosas, e comemorar esse feito tende a policializar as políticas sociais.
O que deveria ser motivo de comemora-ção, não se sustenta, pois ainda os moradores do alemão vivem em condições precárias no que diz respeito ao saneamento básico, a saúde e a educação. Em uma das suas falas o Secretário de Segurança Pública José Mariano Beltrame enfati-zou que a “UPP social deveria ser o maior legado para as favelas pacificadas, mas estão ocorrendo de maneira muito lenta”, reconhece o problema.
O Alemão precisa mais do que pacificação
Outro ponto importante nesse período de ocupação militar é falta de diálogo entre poli-ciais e moradores. Há não implantação de proxi-midade das relações de segurança pública com os moradores mostram que ainda falta muito a ser comemorado.
Foi inaugurada pela Presidenta Dilma Rousseff em julho de 2011, a Casa de Direitos que tinha como proposta (de acordo com MP), além de promover acesso à justiça, mediar con-flitos. Mas nunca funcionou. É de Fachada.
Esses fatos nos mostram que mesmo com a presença de UPP’S ainda existe muito o que fazer no que tange as periferias. A favela conti-nua sendo um local onde há ausências de políti-cas sociais, predomina a pobreza, violência, es-tigma, segregação, distinção social e tem o pior IDH da cidade.
Bruno Queiroga
Diogo Monteiro
Moradores do Complexo do Alemão ainda sentem a insegurança quando o assunto é polí-cia. Muitos relatam a abordagem violentra por parte de policiais militares tratando moradores como marginais.
Um morador que preferiu não se identifi-car, ao ser questionado sobre a ação da polícia na comunidade, diz o seguinte:
– Eles já revistam batendo, mandam você encostar no canto da parede, te xingam e esculacham.
Outro morador relata: – Vira e mexe eles andam rápido com os via-
turas meio das ruas da favela que é movimentada e cheio de crianças.
Até quando os moradores da comunidade vão ser tratados com falta de respeito por poli-ciais que agem desrespeitosamente?
O termo “Policia Pacificadora” é no míni-mo contraditório. Polícia que pacifica?
O Fala Favela fez contato com responsáveis pela UPP mas não obteve sucesso.
Polícia Pacificadora? Eis a questão
EXPEDIENTE
equIPe técnIca ProJeto adubando raízes locaIs: Alan Brum, David Amen, Ricardo Moura, Helcimar Lopes, Sidney Otoni // ProJeto gráfIco: Carolina Noury // colaboradores: Robson Melo, Arley Macedo // edItor: Ricardo Moura // dIagramação e textos: Bruno Queiroga, Dannilo Noia, Diogo Monteiro, Lucas Alvarenga, Stephany Oliveira // revIsão geral: Ricardo Moura, Carolina Noury e David Amen // Tiragem 2.500 exemplares // Impressão DGD Artes Gráficas // raízes em movImento: Avenida Central, 68 - Morro do Alemão - Rio de Janeiro/RJ // Tel: 2260-3998
Bistrô Estação R&R é um Restauran-te/Café de degustação de cervejas especiais, vinhos, além de ponto de encontro para ami-gos baterem um papo e ouvirem música ao vivo que acontece às sextas-feiras.
É um local pe-queno, mas que ofere-ce bom atendimento e funcionários com co-nhecimento sobre be-bidas e aperitivos.
A ideia de cons-truir o Bistrô, de acor-do com Marcelo Ra-mos (dono do espaço), se deu em Janeiro de 2012, e em novembro do mesmo ano houve a inauguração. O local era pequeno e teve que ser adaptado.
Devido ao pouco espaço, Marcelo teve a ideia de montar um banheiro usando um pequeno armário de quarto como um lava-dor. Essa foi uma den-tre muitas improvisa-ções elaboradas.
– Eu tinha um so-nho de montar o Bistrô, só não tinha o lugar, en-tão, vi a garagem, mas a transformação era mui-to grande –, diz rindo. E completou: ”Eu sou meio doido gosto de escrever e desenhar, então, basicamente de-senhei a frente”.
Ele nos conta que recebia críticas de do-nos de outros Bistrôs do centro da cidade por conta do alto preço das bebidas, eles julgavam
De uma garagem a um BistrôLucas Alvarenga e Stephany Oliveira
não ter clientela sufi-ciente dentro do Ale-mão para comprá-las. Mesmo assim ele se-guiu com seu comércio.
– A minha ideia em si, era trazer conhe-cimento, claro que para eu fazer algo, eu tenho que ter um lucro. Você não vai ficar aqui até a madrugada vendendo cerveja sem ter algum lucro. Tem lucro (10%). Mas eu quero ganhar alguma coisa e mostrar o conhecimento.
O Fala Favela teve a curiosidade de saber o porquê do boteco se chamar “Bistrô Estação R&R” e ele disse:
– Estação (telefé-rico) é marketing, Bis-trô não é um bar, é um local de degustação, é um lugar diferente, e o
R&R significa Ramos e Romualdo sobrenomes meu e da minha esposa.
De acordo com Marcelo há uma va-riedade de cervejas no cardápio de diversos lugares do Brasil e do mundo e também, uma clientela fixa, “os locais” como gosta de chamar.
– Existem clientes fixos, que aqui chama-mos de “locais”. Eles fi-cam esperando a sema-na inteira querem que eu abra de domingo a domingo, mas não pos-so, pois trabalho.
Além dos “lo-cais”, também há fre-quentadores de fora do Complexo do Alemão. “Sábado passado vie-ram duas famílias do Méier, para ver o lo-cal”, afirma Marcelo.
O clima é bem ca-seiro e atrai cada vez mais público, são pes-soas que estão à pro-cura de novos sabores, novos ambientes.
Lucas Alvarenga
Variedade de sabores de cervejas
Existem clientes fixos, que aqui chamamos de “locais”. Eles
ficam esperando a semana inteira
O Bistrô Estação R&R fica localiza-do no Loteamento próximo a rua da feira de 4ª feira.
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Estima-se que o Complexo do Ale-mão tenha aproxima-damente 70 mil habi-tantes. Fica evidente a existência de jovens talentos nessa região. Vamos contar um pou-co da história de dois desses jovens.
Jovem no rapGuilherme Guizo,
17 anos, viu no rap sua arma para vencer a timi-dez e os problemas que vivenciava no Alemão.
Gui desde cedo percebeu que o rap era a sua área. Com 12 anos começou a escre-ver letras que citam a realidade e o cotidiano de um jovem suburba-no. O jovem conta que o que o levou ao rap foi a necessidade de se expressar:
– Sempre fui tími-do e ruim de desenvol-ver conversas achei na rima um jeito de expres-sar o que penso e sinto.
Membro de um grupo musical chamado SB-U Crew o garoto se move e tenta levar um pouco mais de sua arte
para a sua região através do evento Itararép.
– Aqui sempre foi uma área muito caren-te de cultura. Aí juntei uma grana, comprei dois microfones, mon-tei um evento, chamei os amigos pra fazer shows e rolou uma ba-talha de mc’s.
Perguntado so-bre a vivência no Complexo do Alemão ele responde mostran-do o orgulho de viver na comunidade:
– Ah , é o meu lar, onde eu nasci e vivo até hoje. Acho que quan-do você cresce em um lugar cercado de pro-blemas sociais, te mo-tiva a não ser só mais um a se perder. Sou da terra onde os meninos viram homens mais cedo, filosofa.
Joia do BotafogoDiego Diamanti-
no, jogador das cate-gorias de base do Bo-tafogo, 15 anos almeja voos mais altos em sua carreira.
O sonho da gran-de maioria dos jovens, não só do Alemão, é ser um jogador de futebol. Para Diego, esse sonho está cada vez mais pró-ximo de se realizar.
O garoto, do time Sub-15 botafoguense, passou por três times no futsal antes de che-gar ao “glorioso” e con-ta que chegou a Gene-ral Severiano por uma indicação de um amigo da família:
– Um amigo do meu pai avisou sobre uma peneira e fui ten-tar a sorte e graças a Deus passei.
O garoto conta
Talentos do Alemão
que seu maior ídolo é Ronaldinho Gaúcho e revela seu sonho para o futuro: “Desejo chegar a Seleção Brasileira”.
Diego fala sobre seu dia-a-dia na co-munidade e se declara ao alemão:
– Aqui me sinto bem, fiz grandes ami-zades e não quero sair daqui tão cedo. É mui-to bom viver no Com-plexo do Alemão. Fina-liza o jovem jogador.
–
Guizo já gravou seu 1° cd, chamado “Fogo no Estopim”
Cláudia Tavares
Dannilo Noia
achei na rima um jeito de
expressar o que penso e sinto
Arquivo Pessoal
Diego no treinamento