relatório de visita favela

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA FACULDADE DE ARQUITETURA DISCIPLINA: 5707 ÁREAS RESIDENCIAIS LOCALIZAÇÃO E PLANEJAMENTO. DOCENTES: Prof.Antônio Cláudio Moreira Lima e Moreira Profa.Suzana Pasternak Profa.Maria de Lourdes Zuquim ALUNA: Letícia de Andrade Vilas Boas RELATÓRIO DE VISITA FAVELA JARDIM OLINDA DATA 27 de outubro de 2008 SÃO PAULO 2008

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Relatório de visita a uma favela reurbanizada da cidade de São Paulo, Brasil.

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Page 1: Relatório de visita favela

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA FACULDADE DE ARQUITETURA

DISCIPLINA: 5707 ÁREAS RESIDENCIAIS LOCALIZAÇÃO E PLANEJAMENTO.

DOCENTES: Prof.Antônio Cláudio Moreira Lima e Moreira

Profa.Suzana Pasternak

Profa.Maria de Lourdes Zuquim

ALUNA: Letícia de Andrade Vilas Boas

RELATÓRIO DE VISITA � FAVELA JARDIM OLINDA

DATA 27 de outubro de 2008

SÃO PAULO 2008

Page 2: Relatório de visita favela

INTRODUÇÃO

A gênese das favelas em São Paulo está estreitamente relacionada

com o movimento migratório (altas taxas de crescimento demográfico) e

o modo de produção capitalista brasileiro (industrialização com

baixos salários)1. A desigualdade social reflete na ocupação do

território urbano, onde glebas com pouco valor imobiliário (áreas de

risco, mananciais, fundos de vale, etc), tornam-se loteamentos

clandestinos, loteamentos ilegais e favelas. Essas são definidas como

� [...]todo o conjunto de unidades domiciliares construídas em

madeira, zinco, lata, papelão ou alvenaria, em geral distribuídas

desorganizadamente em terrenos cuja propriedade individual do lote

não é legalizada para aqueles que os ocupam�2.

Também possui por característica a carência da infra-estrutura

básica urbana, (água, luz, aruamento, esgoto, iluminação pública,

etc) e de equipamentos sociais (escolas, creches, postos de saúde,

etc).

Sinteticamente a evolução do fenômeno favela no município de São

Paulo e a contrapartida política pública dão-se3:

1. Anos 40 até os anos 1960 � quando aparentemete surgiram as

favelas na cidade com textos apenas estatísticos da Divisão de

Documentação da Prefeitura de São Paulo, favelas eram 'doença'

da cidade e favelados, grupo marginal a remover;

2. Anos 70 � início da expansão das favelas em São Paulo e

propostas de intervenção com alojamentos provisórios, através

da extinta SEBES (Secretaria do Bem-Estar Social do Município

de São Paulo); em pleno período autoritário a política

municipal paulistana não se resumia às remoções;

3. Anos 1980 � urbanização de favelas por programas estaduais,

como Proluz e Proágua, municipais (Profavela) e do BNH

1 MARICATO, Ermínia T. M. Metrópole na periferia do capitalismo: ilegalidade, desigualdade e violência. São Paulo:Hucitec, 1996.

2 SÃO PAULO, Secretaria Municipal da Habitação e Desenvolvimento Urbano. 1987, p.5 apud PASTERNAK, Suzana. A favela que virou cidade. In: VALENÇA, Márcio M. (org.) Cidade (i)Legal. Rio de Janeiro. MauadX, 2008. p .79.

3 VALLADARES, Licia do Prado. A invenção da favela: do mito de origem à favela.com. Rio de Janeiro: Editora dda FGV, 2005. apud PASTERNAK, Suzana. A favela que virou cidade. In: VALENÇA, Márcio M. (org.) Cidade (i)Legal. Rio de Janeiro. MauadX, 2008. p .78.

Page 3: Relatório de visita favela

(Promorar);

4. Meados doas anos 80 até 1988 � retorno das remoções e

instalação de construção de moradias populares com parcerias

privadas (operações interligadas);

5. Anos 1990 � urbanização de favelas por políticas municipais.

Segundo dados da Secretaria de Habitação do Município de São

Paulo, HABI, hoje estão sendo reurbanizadas 6 favelas de um total de

1.587 do município4, número praticamente inexpressivo diante da

realidade. Segue abaixo mapa com a distribuição das favelas no

território.5

4 http://www.habisp.inf.br/aspnet/aspx/geral/indicadores.aspx acessado 20/11/2008.5 SÃO PAULO (cidade). Secretaria Municipal do Planejamento – SEMPLA. Departamento de Estatística e Produção de

Informação – DIPRO. Olhar São Paulo – contrastes urbanos. São Paulo: Sempla, 2007.

Page 4: Relatório de visita favela

LOCALIZAÇÃO

Na disciplina AUP 5707 efetuamos visita a uma favela que está

passando pelo processo de urbanização, localizada na zona sul de São

Paulo no distrito do Campo Limpo. Esse participa e dá nome a

Subprefeitura do Campo Limpo que abrange ainda os distritos de Vila

Andrade e Capão Redondo.

Segundo infomações da Subprefeitura do Campo Limpo, um terço de

seus 550 mil moradores vivem em pelo menos 237 favelas dessa

regional.� [...]Há 15 áreas de risco de desabamento nos distritos,

abrangendo 6.434 domicílios, e um déficit habitacional de 50 mil

residências. Em períodos de fortes chuvas, a região é assolada pelas

cheias de córregos como o Pirajussara e o Freitas, muito em função do

despejo de entulho que a própria população faz em locais irregulares.

A taxa de analfabetismo é de 7,13%, bem acima dos 4,88% do município

de São Paulo, e a principal causa de morte em 2003 foram os

homicídios, com 278 registros.[...]�

Subprefeitura do Butantã

Município do Taboão da Serra

Subprefeitura do Campo Limpo

Represa Guarapiranga

Subprefeitura de Santo Amaro

Subprefeitura da Capela do Socorro

Subprefeitura do M'Boi Mirim

Subprefeitura Cidade Ademar

Campo Limpo

Subprefeitura do Campo Limpo

Page 5: Relatório de visita favela

ACESSIBILIDADE

A região é servida por metrô, trem e várias linhas de ônibus.

Mapa com a organização do transporte coletivo em São Paulo Trecho do mapa com as linhas do Metrô e

CPTM com o plano de expansão

Distrito do Campo Limpo

Mapa dos arredores da estação de metrô Vila das Belezas que fica a aproximadamente 2mil metros da região visitada

Jardim Olinda

Page 6: Relatório de visita favela

JARDIM OLINDA

Segundo informação da HABI6, a favela Jardim Olinda inicia sua

formação em 1970. A área ocupada de 117.500m² é em sua maior parte

pública e margea o córrego Olarias. Em 2003 através de licitação foi

contratada uma assistência técnica, GTA, para efetuar o levantamento

da região, efetuando o diagnóstico e propostas de intervenção.Eles

dividiram em setores que norteariam as prioridades de intervenção.

Para execução das obras foi efetuada licitação, onde foi

contratada a Construtora Gomes Lourenço Ltda e também através de

procedimento licitatório foi contrato o serviço de acessoria técnica

da Diagonal Urbana Consultoria, que faz a mediação entre a

comunidade, a empreiteira e técnicos da prefeitura. Essa verifica

demandas relativas a implementação do projeto de urbanização,tais

como rachaduras nas casas pela movimentação do terreno, selagem dos

barracos para evitar os DN, domicílios novos (pessoas que não constam

no cadastro e ocupam área depois do início das obras de urbanização).

6 http://www2.prefeitura.sp.gov.br/noticias/sec/habitacao/2008/02/0046 acessado 22/11/2008.

Setor 1

Setor 1

Setor 3

Setor 4Setor 2

Setor 2

Foto fonte: www.habisp.inf.br link favelas

Page 7: Relatório de visita favela

Segue fotos7 da região antes e depois da intervenção.

ANTES DEPOIS

7 http://ww2.prefeitura.sp.gov.br/albumdefotos/habitacao/2007/jardim_olinda/index.php acessado 22/11/2008.

Page 8: Relatório de visita favela

Dentro do projeto de urbanização está previsto a implementação

de 900 apartamentos8, porém foram entregues até o momento 684

unidades habitacionais. Essas foram entregues principalmente para as

famílias removidas da beira do córrego. Os apartamentos possuiem duas

tipologias:

1. � Copanzinho� (assim apelidado pelos moradores devido a

sinuosidade das varandas): 50 m², sala, dois quartos, banheiro,

cozinha e lavanderia. Varanda que funciona como circulação

entre os apartamentos. Ampla área comum, com brinquedos

dispostos no térreo.

2. Com 43 m²: possui varanda individual, porém muito pequena.

Sala, quarto, banheiro, cozinha e lavanderia.

Conforme a declividade do terreno a implantação muda de 5 até 7

pavimentos, mas sempre considerando 5 pavimentos a partir do térreo.

Os moradores terão moratória de 6 meses para iniciar o pagamento das

unidades, que foram viabilizadas pela CDHU, Companhia de

Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo.

Além dos conjuntos habitacionais, existe ainda o projeto de

embriões com 25 m² que poderão ser ampliados em mais 25m² (segundo

pavimento).Essas edificações serão cedidas aos moradores que foram

escolhidos de acordo com o levantamento e cadastro com o perfil

financeiro mais comprometido e que não teria condições de arcar com

as despesas de pagamento de financiamento.

Através da urbanização foram efetuados vários melhoramentos

urbanos como instalação de equipamentos urbanos (praças e brinquedos

infantis), pavimentação (asfalto e blocos intertravados), esgoto,

água, luz, iluminação pública, e cenografia (aplicação de chapisco

colorido)

Segue fotos da visita.

8 http://www6.prefeitura.sp.gov.br/noticias/sec/habitacao/2006/09/0001 acessado 22/11/2008.

Page 9: Relatório de visita favela

Área comum do térreo

'Copanzinho' circulação e varandas

Canalização do córrego Olarias e pavimentação de calçadas e ruas

As duas tipologias de apartamentos

Apartamento de varanda individual

Page 10: Relatório de visita favela

Abertura de via interna, moradores removidos para os apartamentos e embriões Embriões

Arranjos hidráulicos dos moradoresInstalação de escadarias e recantos

Canalização de córrego encoberto pela invasão

Asfalto

Bloco intertravado

Pavimentação de ruas e calçadas

Page 11: Relatório de visita favela

Córrego canalizado com entulho e lixo Entulho disperso na área comum recém implementada

Praça com equipamentos e brinquedos Coleta do lixo

Viela com chapisco colorido

Viela com chapisco colorido

Page 12: Relatório de visita favela

Praça no meio da comunidade Depois de instalada a pavimentação os moradores fecham a rua

Comércio das moradiasCórrego descoberto sob os barracos

Intensa movimentação da obra – favela bruta

Comércio interno na favela

Page 13: Relatório de visita favela

CONCLUSÃO

A urbanização sem sombra de dúvida traz benefícios à população

moradora de favelas, porém ainda são pouquíssimas unidades ante ao

universo de favelas de São Paulo. Como já explicitado são 6

urbanizações em andamento e são 1.587 favelas, menos de 5% atendidas.

Também tem de ser investido na educação dessa população, pois

há muito entulho e lixo disperso, seja nos espaços públicos (ou de

ninguém) seja no córrego. O vandalismo pode comprometer os espaços

públicos criados, se a população não os reconhecer como seu.

Ainda há a presença muito forte da prefeitura e da empreiteira

(há setores em obra ainda), não dá para ter a percepção do

comportamento da população ante a intervenção. Saber os acertos e

erros, tudo é muito recente. A impressão que se tem é que cheira a

tinta fresca!

Embora hoje nas favelas paulistanas existam menos barracos de

madeira ou outro material mais frágil e precário9, ainda persiste

muitos problemas de salubridade como ventilação e iluminação,

problemas ambientais (poluição de córregos). O acesso a água potável,

afastamento de esgoto, e iluminação dá um salto de qualidade, mas não

significa que o Estado (esfera municipal, estadual e federal)

promoveu a correta a divisão das riquezas. E ainda tem o

inconveniente que a população favelada tem aumentado, tanto no

município de São Paulo, mas principalmente na Região Metropolitana.

Ainda é muito difícil o acesso à moradia para a população de baixa

renda.

Seria muito bom que ao invés de 6 favelas urbanizadas fossem,

pelo menos, umas mil nessa situação.

9 PASTERNAK, Suzana. A favela que virou cidade. In: VALENÇA, Márcio M. (org.) Cidade (i)Legal. Rio de Janeiro. MauadX, 2008. p .81.