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CAPÍTULO 1

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Sumário • 1. Breves considerações sobre o direito financeiro – 2. Direito tributário. Noção conceptual: 2.1. Autonomia do Direito Tributário; 2.2 Relação do Direito Tributário com Outros Ramos do Direito – 3. Tributo: 3.1. Conceito; 3.2. Es-pécies de Tributos – 4. A função do tributo no ordenamento jurídico: 4.1. Introdução; 4.2. O Tributo Fiscal; 4.3. O Tributo Extrafiscal – 5. Quadro Sinótico – 6. Informativo – 7. Questões – 8. Gabarito.

1. BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE O DIREITO FINANCEIRO

O Estado deve captar receitas para custear as necessidades públicas e, com isso, compete à ciência das finanças a investigação dos fatos, explicação dos fenômenos ligados à obtenção e ao dispêndio de dinheiro necessário ao funcionamento dos serviços a cargo do Estado.

A ciência das finanças possibilita o esclarecimento ao legislador na elaboração de lei fiscal, fazendo com que ele tenha condições de saber, por exemplo, se é conveniente o momento de sua elaboração, se é justa e adequada a medida da carga tributária, quais os efeitos econô-micos, políticos e sociais.

Porém, o Estado, no desempenho de sua atividade financeira, precisa elaborar juízos de valor, que visem a alcançar determinados fins. Necessita, então, recorrer ao direito para obter resultados práticos e favoráveis do exercício de sua atividade financeira até como ter garantias contra possíveis abusos no desempenho da atividade estatal.

Tendo em vista tanta diversidade, o direito atua como instrumento necessário e indis-pensável para propor a convivência harmoniosa entre todos.

Assim, ao direito compete cumprir um papel de repressão de certas condutas e ao mesmo tempo garantir a liberdade, por atuar na fixação de estruturas sociais, como, por exemplo, realizar o mister de implementar políticas públicas.

Surge, portanto, o Direito Financeiro, com caráter jurídico, o qual compete estabelecer as normas legais que possibilitem ao Estado executar sua atividade financeira, certo de que suas normas serão observadas pelo particular, justamente em razão do caráter de coercibili-dade de que se revestem.

Sob o ponto de vista de Aliomar Baleeiro, a ciência das finanças “é um estudo ontológico de todos os complexos aspectos sociais do fenômeno da atividade financeira dos governos, ao passo que o Direito Financeiro se limita ao aspecto jurídico daquela atividade”.1

1. DERZI, Misabel Abreu Machado. Direito Tributário Brasileiro. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 4.

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MANUAL DE DIREITO TRIBUTÁRIO – Josiane Minardi20

Assim, pode-se afirmar que o Direito Financeiro se define por um conjunto de normas que regulamenta a atividade financeira, no trato das receitas, despesas, orçamento e crédito.

A receita pública corresponde ao ingresso definitivo de dinheiro aos cofres do Estado para cumprimento de suas finalidades. Pode ser classificada da seguinte forma:

Quanto à sua periodicidadeAs receitas públicas podem ser divididas em extraordinárias e ordinárias.

As receitas extraordinárias são aquelas auferidas em caráter excepcional e temporário, como, por exemplo, os Empréstimos Compulsórios, previstos no artigo 148, I, da CF, insti-tuídos apenas em caso de guerra externa ou calamidade pública, e o Imposto Extraordinário de Guerra (art. 154, II, da CF) que a União irá criar em caso de guerra externa ou de sua iminência.

As receitas ordinárias ingressam regularmente e de forma permanente em nosso ordena-mento com a finalidade precípua de custear as necessidades públicas, tais como os impostos.

Quanto à origemAs receitas públicas são classificadas em originárias e derivadas.

As receitas públicas originárias são aquelas decorrentes da exploração do patrimônio público e atividades desenvolvidas pelo próprio Estado, como se fosse uma empresa privada com intuito lucrativo.

Os bens públicos dominicais, descritos nos artigos 99 e 101 do Código Civil, são passíveis de alienação, bem como podem possuir estrutura de regime de direito privado, atendidas as exigências legais.

Assim, os frutos (aluguéis, foros de terrenos da marinha, laudêmios, etc.) decorrentes da utilização desses bens públicos são receitas públicas originárias.

Pode-se mencionar ainda, como exemplo de receitas públicas originárias, os dividendos, os resultados obtidos (preços públicos) pela venda de produtos ou serviços desenvolvidos e prestados por empresas públicas e sociedades de economia mista.

Sem falar nos valores recebidos pela Administração Pública pela permissão da ocupação temporária das calçadas para realização de obras, para instalação de bancas de jornal, uso de vias públicas para estacionamento, barracas de feiras, etc., que também constituem receitas públicas originárias.

As receitas públicas derivadas são aquelas em que o Estado, com seu Poder de Império (atual Poder Extroverso), retira parcela de riqueza dos administrados para a consecução de seus fins, no interesse do bem comum.

São exemplos de receitas derivadas: i) tributos (impostos, taxas, contribuições de melhoria, contribuições e empréstimo compulsório); ii) multas pecuniárias (Administrativas – apli-cada aos administrados pela Administração Pública em caso de inobservância ou infração à lei; Penal – aplicada pelo Judiciário; e Fiscal – aplicada pelo descumprimento de obrigações tributárias); iii) reparações de guerra.

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Cap. 1 • CONSIDERAÇÕES INICIAIS 21

As despesas públicas, objeto do Direito Financeiro, pode significar na percepção Aliomar Baleeiro:

(...) o conjunto dos dispêndios do Estado, ou de outra pessoa de direito público, para o funcionamento dos serviços públicos. Pode significar, também, “a aplicação de certa quantia, em dinheiro, por parte da autoridade ou agente público competente, dentro duma autorização legislativa, para execução de fim a cargo do governo”.2

Pode-se afirmar, assim, que a despesa pública corresponde ao emprego das receitas para cumprimento das necessidades públicas.

No orçamento há a aprovação prévia da despesa e da receita para um período deter-minado.

Por conseguinte, o orçamento consiste num ato do Poder Legislativo que prevê e autoriza ao Poder Executivo, por certo período, as despesas destinadas ao funcionamento dos serviços públicos e outros fins adotados pela política econômica ou geral do país, assim como a arre-cadação das receitas já criadas em lei.3

O orçamento é periódico. Esse período corresponde ao exercício financeiro, ou seja, um ano, conforme determina o artigo 34 da Lei n° 4.320/64. Aplica-se, portanto, ao orçamento o Princípio da Anualidade Orçamentária (arts. 48, II; 165, III e § 5º e 166 da CF) que não se confunde com o Princípio da Anualidade Tributária que deixou de fazer parte do nosso ordenamento jurídico com a Emenda Constitucional n. 1/69, substituído pelo Prin-cípio da Anterioridade que será tratado no Capítulo 3, Item 3.6. E, para finalizar as breves considerações do Direito Financeiro tem-se o Crédito Público. Este se oriunda do fato de, em determinadas circunstâncias, o Estado não conseguir obter as receitas originárias ou derivadas para manter as necessidades públicas, de modo que se obriga a emprestar dinheiro da esfera privada. Com isso, o Crédito Público surge por meio de um contrato bilateral, autorizado por lei, em que o Estado empresta do particular determinada quantia, intervindo assim na Economia. Em suma, corresponde a um contrato cujo objeto consiste na transferência de certa quantia em dinheiro de uma pessoa particular a uma entidade pública para ser restituído, acrescido de juros, em determinado período de tempo.

A Constituição do Brasil de 1946, no artigo 5º, XV, “b”, pela primeira vez trouxe o Direito Financeiro de forma autônoma, e atribuiu a competência – para legislar sobre “normas gerais de direito financeiro” – à União, sem prejuízo da competência dos Estados, desde que limitada à legislação supletiva ou complementar. Atualmente, tal competência está prevista no artigo 24, I, da CF/88. “Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concor-rentemente sobre: I – direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico; (...)”.

Com a complexidade e quantidade de receitas administradas pela atividade financeira, logo se percebeu a necessidade de mais uma ramificação desse campo do Direito, para atender apenas as receitas derivadas, referentes aos tributos.

2. Uma Introdução à Ciência das Finanças. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1969. p. 81.3. Ibidem, p. 397.

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MANUAL DE DIREITO TRIBUTÁRIO – Josiane Minardi22

Surge, então, o Direito Tributário com o fim de regularizar as receitas oriundas da tributação (receitas derivadas), deixando para o Direito Financeiro o estudo referente às demais receitas públicas, não compreendidas no conceito de tributos.

Desse modo, tendo em vista que o estudo da atividade desempenhada pelo Estado rela-tivo ao tributo tornou-se cada vez mais relevante no ordenamento jurídico, nada mais justo que individualizá-lo como um ramo do Direito específico para sua disciplinação. Referida disciplinação se dá, sobretudo, não apenas porque o Estado utiliza a tributação como fonte de angariação de recursos financeiros, mas também como maneira de intervir na economia privada, estimulando setores, incentivando o desenvolvimento econômico das regiões e promo-vendo a redistribuição da renda.

2. DIREITO TRIBUTÁRIO. NOÇÃO CONCEPTUAL

Segundo o entendimento de Paulo de Barros Carvalho, Direito Tributário é “o ramo didaticamente autônomo do direito, integrado pelo conjunto das proposições jurídico-norma-tivas que correspondam, direta ou indiretamente, à instituição, arrecadação e fiscalização de tributos”.4

Hugo de Brito Machado conceitua Direito Tributário como “ramo do direito que se ocupa das relações entre fisco e as pessoas sujeitas a imposições tributárias de qualquer espécie, limitando o poder de tributar e protegendo o cidadão contra os abusos desse poder”.5

Já Regina Helena Costa define Direito Tributário como “conjunto de normas jurídicas que disciplinam a instituição, a arrecadação e a fiscalização de tributos”.6

Podemos afirmar, diante das definições acima reproduzidas, que o Direito Tributário constitui um ramo do Direito Público que disciplina princípios e regras próprias referentes à instituição, fiscalização e arrecadação de tributos entre os sujeitos envolvidos nessa relação jurídica.

Trata-se de um ramo do Direito Público, pois não há como negar a preponderância do interesse coletivo na seara da tributação.

2.1. Autonomia do Direito TributárioNão se pode afirmar que o Direito Tributário é um ramo cientificamente autônomo,

porquanto não há como conhecer e aplicar regras jurídicas isoladas, uma vez que se trata de sistema jurídico uno e indecomponível.

As regras jurídicas encontram-se entrelaçadas por vínculos de hierarquia e relações de coordenação e, por essa razão, não podem ser observadas individualmente, sob pena de ignorar o sistema de proposições prescritivas.7

4. CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 15.5. MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 30. ed. São Paulo: Malheiros, 2009. p. 50.6. COSTA, Regina Helena. Curso de Direito Tributário – Constituição e Código Tributário Nacional. São Paulo:

Saraiva, 2009. p. 10.7. CARVALHO, Paulo de Barros, op. cit., p. 14.

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Cap. 1 • CONSIDERAÇÕES INICIAIS 23

O Direito Tributário deve ser aplicado e analisado à luz de outros ramos do Direito, em virtude da interdisciplinaridade de conceitos e regras de outras matérias.

Tomemos como exemplo a regra-matriz de incidência tributária do ITBI – Imposto de Transmissão de Bens Imóveis, de competência municipal. O critério material desse tributo, segundo o artigo 156, II, da CF, é realizar a “transmissão de bem imóvel por título oneroso”. Bem imóvel é conceito desenvolvido pelo Direito Civil, assim, a transmissão só será operacio-nalizada em conformidade com as regras desse ramo do Direito. Município é pessoa política definida pelo Direito Constitucional.

Embora exista esse entendimento, muitos doutrinadores entendem, por outro lado, que o Direito Tributário por apresentar princípios e regras próprias, não aplicáveis em outras searas, seria um ramo cientificamente autônomo.

Nesse diapasão, elucida Kiyoshi Harada:“Porém, o que realmente caracteriza a autonomia do Direito Tributário é o fato de existir princípios jurídicos próprios, não aplicáveis aos demais ramos da ciência jurídica, tais como o da imunidade recíproca, imunidade genérica, da capacidade contributiva, da discriminação de rendas tributárias, da vedação de efeitos confiscatórios”.8

Luciano Amaro sustenta, todavia, que o Direito Tributário é relativamente autônomo, tanto cientificamente como didaticamente. Para o autor não existe nem mesmo autonomia didática pela impossibilidade de estudar Direito Tributário isoladamente de outros preceitos dos outros ramos do Direito:

“Portanto, se se quiser dizer que o direito tributário goza de autonomia legislativa (por ser objeto de conjuntos de normas dirigidas especificamente à disciplina dos tributos), ou que possui autonomia científica (por abrigar princípios e institutos não comuns a outros ramos do direito) e que desfruta, ademais, de autonomia didática (por ser ensinado em cadeiras autônomas nos cursos jurídicos), é preciso sublinhar que, em todos esses aspectos, a autonomia é sempre relativa. Não se legisla, nem se teoriza, nem se ensina matéria tributária sem que se tenham presentes conceitos estruturados noutros ramos da ciência jurídica”.9

Geraldo Ataliba já sustentava que por ser o Direito Tributário um sub-ramo do Direito Administrativo não gozava de autonomia científica, apenas de autonomia didática10.

Por fim, entendemos que o Direito Tributário não se configuracientificamente autô-nomo, justamente por não poder ser individualizado, deve interligar-se com os demais ramos do Direito, uma vez que o sistema é uno e indivisível. Todavia, vale lembrar que é didatica-mente autônomo, porque existe uma ramificação do Direito para disciplinar suas regras e princípios; por essa razão se estuda em cadeiras autônomas nos cursos jurídicos.

2.2. Relação do Direito Tributário com Outros Ramos do Direito

Passamos agora à análise da inter-relação do Direito Tributário com outras disciplinas do Direito.

8. HARADA, Kiyishi. Direito Financeiro e Tributário. 20 ed. São Paulo: Atlas, 2011. p. 296.9. AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 31.10. ATALIBA, Geraldo. Hipótese de Incidência Tributária. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 37.

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MANUAL DE DIREITO TRIBUTÁRIO – Josiane Minardi24

Merecem destaque as relações do Direito Tributário com o Direito Constitucional, em razão de ser a Constituição Federal competente para outorgar poderes aos Entes Federa-tivos para que esses criem e majorem tributos. Ao traçar, assim, a denominada competência tributária, delineia os limites desse poder de tributar (os princípios constitucionais tributá-rios, imunidades, etc.). Luciano Amaro sustenta que é na Constituição que encontramos os fundamentos de validade do tributo e por esse motivo poderia se chamar Direito Tributário Constitucional.11

Há conexão com o Direito Administrativo porque esse fornece o embasamento às atividades tributárias que são prestadas por autoridades administrativas, como a atividade de lançamento tributário, fiscalização, arrecadação e cobrança de tributos. Além disso, muitas vezes, devemos recorrer aos conceitos administrativos com o fim de buscar a compreensão da materialidade de tributos que estão vinculados a uma atividade estatal, como Poder de Polícia, Serviço Público e Obra Pública.

Por sua vez, no Direito Financeiro, a interdisciplinaridade decorre da própria espe-cialização do objeto de estudo, porque anteriormente o Direito Financeiro abrangia todas as receitas auferidas pelo Estado. Com o tempo, a parte de tributação passou para análise do Direito Tributário. Além disso, nos valemos de conceitos importantes daquele ramo do Direito, tais como exercício financeiro, importante na aplicação do Princípio Tributário da Anterioridade que será estudado no Subitem 3.2.6.

Há íntima relação com o Direito Ambiental, tendo em vista que o Estado pode se valer da tributação para alcançar a sustentabilidade ambiental.

Os tributos, além de funcionarem como angariadores de receitas para abastecimento dos cofres públicos (função fiscal), podem servir na tarefa educativa de direcionar condutas dos contribuintes, de forma a fazê-los participar na proteção do meio ambiente (função extrafiscal).

A tributação ambiental, revestida da técnica da extrafiscalidade, visa estimular uma conduta individual que propicie uma postura ambientalmente correta, à medida que inter-fere no patrimônio do contribuinte, que preferirá adotar atitudes menos agressivas ao meio ambiente e, assim, economizar.

3. TRIBUTO

3.1. Conceito

O tributo é uma prestação pecuniária arrecadada pelo Estado, no uso de seu Poder de Império (Poder Extroverso), com a finalidade de atender aos gastos públicos. O legislador se preocupou em estabelecer a definição de tributo, conforme se observa no artigo 3º do Código Tributário Nacional – CTN: “Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada”.

11. Direito Tributário Brasileiro, op. cit., p. 34.

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Cap. 1 • CONSIDERAÇÕES INICIAIS 25

Para melhor compreensão, passa-se à análise dos elementos que compõem o conceito de tributo:

1 Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, signifi ca dizer que consiste no cumprimento obrigatório de uma prestação em dinheiro, que independe da vontade do sujeito passivo.

O Código Tributário Nacional, ao se referir à expressão “toda prestação”, estabelece que qualquer prestação que se enquadre em todos os requisitos do seu artigo 3º será tributo, independentemente de sua denominação, conforme determina o seu artigo 4º:

Art. 4º. A natureza jurídica específica do tributo é determinada pelo fato gerador da respectiva obrigação, sendo irrelevantes para qualificá-la: I – a denominação e demais caracte-rísticas formais adotadas pela lei; II – a destinação legal do produto da sua arrecadação.

Importante evidenciar nesse momento que, embora o inciso II do artigo 4º do Código Tributário Nacional mencione a irrelevância da destinação legal do produto para qualificá--lo como tributo, esse entendimento foi superado a partir da Constituição Federal de 1988. Observe que a destinação foi considerada como relevante, com o propósito de diferenciar especificamente dois tributos dos demais: Contribuições e Empréstimos Compulsórios. Se assim não o fosse, a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, por exemplo, em que sua arrecadação está vinculada ao financiamento da Seguridade Social, consequentemente seria confundida com o Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), tendo em vista que ambos possuem como fato gerador o auferimento de renda pelas pessoas jurídicas. Portanto, para essas exações a denominação e a destinação são destacadas pelo próprio legislador constituinte, não tendo relevância a identificação do fato gerador do tributo. O que não ocorre com os impostos, taxas e contribuições de melhoria – o fato gerador é sim relevante.

Cumpre mencionar, ainda, que o desvio do produto da arrecadação, implicando a desti-nação para finalidade diversa da que justificou a instituição do tributo, pode demonstrar a inexistência, em concreto, da atividade a qual visa a custear ou sua realização em intensidade desproporcional ao custeio, causando a invalidade total ou parcial da exação.

Sobre o aspecto da Compulsoriedade, Hugo de Brito leciona que “caracteriza-se pela ausência do elemento vontade no suporte fático da incidência da norma de tributação. O dever de pagar tributo nasce independentemente da vontade”.12

Registre-se que a compulsoriedade está ligada ao nascimento da obrigação legal, diferente, portanto, de adimplemento. Não se trata de um acordo de vontades.

2 Em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir: o legislador infraconstitucional incorreu em redundância ao repetir o caráter pecuniário da prestação, não havia a necessidade de insistir com a locução “em moeda” ou “cujo valor nela possa se

exprimir”, pois, ao tratar de obrigação pecuniária, já indica que será paga em dinheiro.

12. MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 31. ed. São Paulo: Malheiros, 2010. P. 62.

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MANUAL DE DIREITO TRIBUTÁRIO – Josiane Minardi26

Ninguém poderá entregar ao fisco, como forma de pagamento, algo que não seja dinheiro, salvo o caso do artigo 156, XI, do CTN, que alude à dação de bem imóvel, quando houver expressa determinação legal. Observa-se que mesmo nesse caso, por se referir a uma exceção, há necessariamente a previsão em lei para autorizar o pagamento do tributo com a entrega de bem imóvel.

3 Que não constitua sanção de ato ilícito: ninguém paga o tributo por ter desres-peitado uma lei, tributo não é sanção, muito menos castigo. Ao contrário, paga-se o tributo por incorrer em uma situação estabelecida em lei como hipótese de in-

cidência tributária, ou seja, o legislador elegeu uma situação que uma vez praticada pelo sujeito, no mundo concreto, estará sujeita à incidência da norma tributária e, por essa razão, irá nascer a obrigação de pagar um tributo.

Por exemplo: a lei prevê que a hipótese de incidência tributária do Imposto sobre Renda ou Proventos de Qualquer Natureza – IR – se traduz por “auferir renda”, isto é, o sujeito terá de pagar IR quando obtiver renda, porque praticou o fato previsto em lei.

Assim sendo, pode-se afirmar que uma lei descreve hipoteticamente um estado de fato e dispõe que a realização concreta, no mundo fenomênico, do que foi descrito, determina o nascimento de uma obrigação de pagar um tributo.13

As hipóteses de incidência da norma tributária, portanto, são sempre constituídas por fatos lícitos, que uma vez ocorridos no mundo jurídico originam a obrigação de pagar o tributo.

Por exemplo:

Hipótese de incidência previsão na lei

Consequência: pagar

Auferir Renda IR – Imposto sobre Renda ou Proventos de Qualquer Natureza

Ser proprietário de veículo automotor

IPVA – Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores

Ser proprietário de imóvel urbano

IPTU – Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana

Ser proprietário de imóvel rural

ITR – Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural

Transmissão inter vivos de bem imóvel

por tulo oneroso

ITBI – Imposto sobre a Transmissão Inter Vivos, a qualquer título, por ato one-roso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição

Prestar serviços ISS – Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza

Circular mercadorias ICMS – Imposto sobre Operações de Circulação de Mercadorias

Importar mercadorias II – Imposto sobre Importação de produtos estrangeiros

Exportar mercadorias IE – Imposto sobre Exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados

13. ATALIBA, Geraldo. Hipótese de Incidência Tributária. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 53.

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Cap. 1 • CONSIDERAÇÕES INICIAIS 27

Jamais, o legislador poderá eleger como hipótese de incidência tributária uma conduta ilícita.

Nas palavras de Leandro Paulsen:“O tributo não é sanção de ato ilícito e, portanto, não poderá o legislador colocar, abstra-tamente, o ilícito como gerador da obrigação tributária ou dimensionar o montante devido tendo como critério a ilicitude (e.g., definir alíquota maior para o IR relativamente à renda advinda do jogo do bicho). Entretanto, a ilicitude subjacente é irrelevante. A aquisição de renda e a promoção da circulação de mercadorias, e.g., são, abstratamente consideradas, fatos lícitos e passíveis de serem tributados. Se a renda foi adquirida de modo ilegal ou se a mercadoria não poderia ser vendida no País, são fatos que desbordam da questão tributária, são ilicitudes subjacentes que não afastam a tributação”.14

Como bem assevera Leandro Paulsen, faz-se necessário salientar que, embora a hipótese de incidência tributária não se refira a ações ilícitas, os frutos de uma atividade ilícita podem ser objeto de tributação.

Para melhor compreensão do afirmado, exemplifica-se o caso do Imposto sobre Rendas ou Proventos de Qualquer Natureza – IR, em que a hipótese de incidência, também chamada pelo legislador de “fato gerador”, consiste em “auferir renda”. Assim, o sujeito que obtiver renda consequentemente incidirá na obrigação de pagar IR, não importando, para fins de tributação, como essa renda foi alcançada, seja por meio de atividade lícita ou ilícita. O que importa é que o sujeito incorreu na previsão da norma tributária, ou seja, auferiu renda.

Assim, se o sujeito recebeu renda de atividades ilícitas, terá de pagar o IR. Ressalte-se que não se trata de tributar atividade ilícita, mas sim de efetiva ocorrência, no mundo concreto, da hipótese de incidência tributária.

O artigo 118, I, do Código Tributário Nacional prevê que a definição do fato gerador será interpretada abstraindo-se da validade dos atos praticados pelo sujeito, in verbis:

Art. 118. A definição legal do fato gerador é interpretada abstraindo-se: I – da validade jurídica dos atos efetivamente praticados pelos contribuintes, responsáveis, ou terceiros, bem como da natureza do seu objeto ou dos seus efeitos; II – dos efeitos dos fatos efetivamente ocorridos.

No caso do sujeito que aufere renda pela venda de entorpecentes, a ilicitude se configura irrelevante para fins tributários, o que importa é que foi praticado o fato gerador, “auferir renda” e, por esse motivo, o sujeito deverá pagar IR.

O STF tem o entendimento majoritário no sentido de que praticado o fato gerador previsto em lei, deve ser pago o imposto, independentemente de a atividade ser lícita ou ilícita, conforme se observa da ementa do HC n. 77.530/RS da relatoria do Ministro Sepúl-veda Pertence:

“Drogas: tráfico de drogas, envolvendo sociedades comerciais organizadas, com lucros vultosos subtraídos à contabilização regular das empresas e subtraídos à declaração de rendi-mentos: caracterização, em tese, de crime de sonegação fiscal, a acarretar a competência da Justiça Federal e atrair pela conexão, o tráfico de entorpecentes: irrelevância da origem ilícita, mesmo quando criminal, da renda subtraída à tributação.

14. PAULSEN, Leandro. Curso de Direito Tributário. 4. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2012, p. 14.

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MANUAL DE DIREITO TRIBUTÁRIO – Josiane Minardi28

A exoneração tributária dos resultados econômicos de fato criminoso – antes de ser coro-lário do princípio da moralidade – constituiu violação do princípio da isonomia fiscal, de manifesta inspiração ética”.

Os Tribunais Superiores aplicam o princípio pecunia non olet, ou seja, o dinheiro não tem cheiro, surgido no Direito Romano. Não importa a origem da renda. Nesse caso, se considera como relevante a ocorrência do fato gerador do IR, “auferir renda”, e, por isso, aplica-se o artigo 118, I, do CTN; portanto, deve haver a tributação.

Pelo princípio da pecunia non olet extrai-se que se observa o conteúdo axiológico do valor de justiça, direcionando a exigibilidade da exação sobre quem possui capacidade contributiva, ainda que o rendimento provenha de atividade ilícita.

4 Instituída em lei. O tributo só pode ser instituído por meio de lei, de acordo com os artigos 150, I, da CF e 97 do CTN, e mediante instrumento normativo com força de lei, isto é, Medida Provisória, conforme prevê o artigo 62, § 2º, da Carta

Magna, em observância ao Princípio da Legalidade (estudado mais adiante).

5 Cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. O tributo será cobrado pelo Poder Público que não terá margem de liberdade para escolhas discricionárias. O fi scal não poderá cobrar o tributo consoante a sua conveniência

e oportunidade; deverá exigir a obrigação tributária do contribuinte exatamente como está disposto na legislação.

3.2. Espécies de Tributos

Muito se discute sobre quantas espécies tributárias subsistem no ordenamento jurídico pátrio, por conta da possibilidade de classificá-las de diversas formas, adotando-se inúmeros critérios. Diante dessa discussão, vale trazer à baila as correntes doutrinárias:

Existe a corrente binária ou bipartite, defendida por Geraldo Ataliba, Pontes de Miranda e Alfredo Augusto Becker, segundo a qual as espécies tributárias seriam classificadas em apenas impostos e taxas, posto que utilizam como critério de classificação os tributos vinculados (taxas – contraprestação estatal) e não vinculados (impostos – sem atuação estatal direta).

Há a teoria ternária ou tripartite ou tripartida ou tricotômica, defendida por Roque Antonio Carrazza e Paulo de Barros Carvalho, também contida na redação da Constituição Federal, em seu artigo 145, e no Código Tributário Nacional, artigo 5º, a qual divide os tributos em impostos, taxas e contribuição de melhoria. Essa teoria provém da teoria binária, que também se classifica como tributos vinculados (taxas e contribuição de melhoria) e não vinculados (impostos), mas também adota, como critério de classificação, o fato gerador, posto que esse elemento especifica a espécie de tributo. Aqueles que defendem essa teoria explicam que as contribuições especiais e os empréstimos compulsórios podem se enquadrar ora como taxa, ora como imposto, dependendo da análise do fato gerador.

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Cap. 1 • CONSIDERAÇÕES INICIAIS 29

Ressalta-se que se entende como tributo vinculado aquele relacionado a uma atividade estatal especificamente voltada ao contribuinte. Cita-se, como exemplo, a contribuição de melhoria, que é devida em decorrência da realização de uma obra pública, cuja consequência seja a valorização de um imóvel do contribuinte, pois há uma contraprestação estatal. Outro exemplo de tributo vinculado são as taxas que serão pagas pela utilização efetiva ou potencial de um serviço público específico e divisível ou pelo exercício regular do Poder de Polícia.

Importante, ainda, estabelecer a seguinte diferença entre taxas e contribuições de melhoria: como dito, a taxa também tem como característica a vinculação, em que a lei impõe uma pres-tação estatal direta e imediata, visto que, se houver a atuação do Estado, consequentemente nasce a obrigação tributária. Enquanto as contribuições de melhoria são devidas apenas se houver uma valorização imobiliária ao contribuinte, decorrente de uma obra pública, por esse motivos e trata de uma vinculação indireta e mediata. Frise-se que não basta a simples reali-zação de uma obra pública para a exigência do tributo, deve existir a valorização imobiliária.

Já no critério da não vinculação inexiste esta contraprestação estatal específica, há simples-mente a arrecadação de dinheiro aos cofres públicos para suprir as necessidades públicas de maneira geral, sem determinar circunstanciadamente a contraprestação estatal.

Os impostos são tributos não vinculados, em virtude de o contribuinte pagar pelo fato de ter praticado o fato gerador, sem saber exatamente qual será a contraprestação estatal.

Há a teoria quaternária ou quadripartite, tetrapartida ou quadricotômica, defendida por Bernardo Ribeiro de Moraes e Ricardo Lobo Torres, estabelecendo que os tributos são divididos em: impostos, taxas, contribuições e empréstimos compulsórios. Para essa teoria, houve a diferenciação dos empréstimos compulsórios, por se tratar de um tributo restituível, acrescentando mais esse critério de classificação.

E, por fim, a teoria quinaria ou quimpartite ou pentapartite, defendida pela doutrina majoritária (cite-se Hugo de Brito Machado) e pelo Supremo Tribunal Federal15, também prevista nos artigos 149 e 149-A da CF, entende que os tributos são divididos em: impostos, taxas, contribuições de melhoria, contribuições e empréstimos compulsórios. Para essa teoria, os empréstimos compulsórios e as contribuições especiais são espécies tributárias autônomas, distintas das taxas, impostos e contribuições de melhoria.

Vale evidenciar que tanto a Constituição Federal em seu artigo 145, quanto o artigo 5º do CTN preveem três espécies tributárias:

Impostos

Taxas

Contribuição de Melhoria

15. “(...) As diversas espécies tributárias, determinadas pela hipótese de incidência ou pelo fato gerador da respectiva obrigação (CTN, art. 4º), são: a) os impostos (CF, art. 145, I, arts. 153, 154, 155 e 156), b) as taxas (CF, art. 145, II), c) as contribuições, que são c.1) de melhoria (CF, art. 145, III), c.2) sociais (CF, art. 194), que, por sua vez, podem ser c.2.1) de seguridade social (CF, art. 195, CF, 195, § 4º) e c.2.2) salário educação (CF, art. 212, § 5º) e c.3) especiais: c.3.1) de intervenção no domínio econômico (CF, art. 149) e c.3.2) de interesse de categorias profissionais ou econômicas (CF, art. 149). Constituem, ainda, espécie tributária, d) os empréstimos compulsórios (CF, art. 148).” (Informativo Nº 397, RE – 416601, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 30/09/2005) (Grifos Nossos)

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MANUAL DE DIREITO TRIBUTÁRIO – Josiane Minardi30

Porém, também há a previsão, no artigo 148 da CF do Empréstimo Compulsório e no artigo 149 da CF das Contribuições.

Ademais, o artigo 149, também da CF, divide as contribuições em três modalidades de competência da União, que serão estudadas no Capítulo 9.

Contribuição social

Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE)

Contribuição de Interesse de Categoria Pro ssional ou Econômica

Também, não menos importante, o artigo 149-A da CF estabelece a Contribuição para Custeio do Serviço de Iluminação Pública – COSIP.

Assim, por mais que o Código Tributário Nacional adote a teoria ternária, de modo a classificar as espécies tributárias em apenas três (impostos, taxas e contribuição de melhoria), o Supremo Tribunal Federal, como dito anteriormente, adotou a teoria quinária, que classifica os tributos em cinco espécies tributárias:

Impostos

Contribuição social

Taxas

Contribuição de melhoria

Contribuições Especiais

Emprés mo compulsório

Transcreve-se a seguir o trecho do voto do Ministro do STF, Moreira Alves, em 29.06.1992, no RE n. 146.733-9/SP:

(…) “De fato, a par das três modalidades de tributos (os impostos, as taxas e as contribuições de melhoria), a que se refere o art. 145, para declarar que são competentes para instituí-los a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, os artigos

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Cap. 1 • CONSIDERAÇÕES INICIAIS 31

148 e 149 aludem a duas outras modalidades tributárias, para cuja instituição só a União é competente: o empréstimo compulsório e as contribuições sociais, inclusive as de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profi ssionais ou econômicas” (RE n. 146733-SP – São Paulo, rel. Min. Moreira Alves, DJ de 06.11.1992) (Grifos Nossos).

A maioria das bancas de concurso segue a teoria quinária. No entanto, se a prova mencionar que, segundo o Código Tributário Nacional, são três espécies tributárias, essa alternativa estará correta, pois o seu artigo 5º prevê apenas os impostos, taxas e contribuição de melhoria.

Vale mencionar que as demais exações tributárias, contribuições e o empréstimo compul-sório ingressaram no ordenamento jurídico apenas com a Constituição de 1988.

Em prova realizada pela banca CESPE, em 2008, para o cargo de Procurador/PB, uma das questões subjetivas tratava sobre a classificação dos tributos, segundo o entendimento doutrinário. Vejamos:

Exemplo de questão sobre o tema

(CESPE – Procurador do Estado – PB/2008). A doutrina propõe inúmeras classificações para os tri-butos, com base em suas especificidades, semelhanças e diferenças. Tais classificações, embora ausentes na legislação, ajudam na compreensão da natureza jurídica e aplicação de cada espécie tributária.Com foco nas principais classificações propostas pela doutrina, redija um texto dissertativo, conceituando as espécies tributárias e mencionando, necessariamente, os seguintes critérios: natureza do fato gerador, des-tinação da arrecadação, finalidade, aspectos subjetivos e objetivos da hipótese de incidência e repercussão.

A questão supracitada deveria ser respondida de acordo com a classificação demonstrada nesse Capítulo,citando os critérios de classificação adotados em cada teoria, bem como com alusão ao artigo 4º do CTN que demonstra ser a natureza jurídica do tributo determinada pelo fato gerador, sendo irrelevantes para sua qualificação a denominação e demais características formais adotadas pela lei e a destinação legal do produto da sua arrecadação. Ressaltando-se, ainda, que a partir da Constituição de 1988 a destinação da arrecadação do tributo passou a ser relevante, principalmente para distinguir as Contribuições e Empréstimos Compulsórios das demais espécies tributárias. Isso quer dizer que a Constituição de 1988 não recepcionou totalmente o referido art. 4º do CTN, segundo os adeptos à teoria quimpartite.

Com relação à hipótese de incidência, também objeto de análise na questão, deveriam ser mencionados os cinco critérios adotados pelo legislador para determinar o pagamento do tributo, quais sejam: i) critério material, ii) critério espacial, iii) critério temporal, iv) critério pessoal e v) critério quantitativo. O Capítulo 5 dessa obra irá abordar essa matéria com a devida atenção.

4. A FUNÇÃO DO TRIBUTO NO ORDENAMENTO JURÍDICO

4.1. Introdução

A fim de compreender a função do tributo no ordenamento jurídico, faz-se necessário descrever um breve histórico sobre os princípios teóricos da tributação.

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Uma primeira teoria sobre a causa dos tributos foi a do Princípio da Equivalência, a qual justificava o pagamento dos tributos pela troca de serviços prestados pelo Estado.

De acordo com o princípio da equivalência, o tributo seria pago por aquele que gozasse de uma prestação estatal, sendo que seu pagamento seria proporcional ao grau da prestação. Com base nesse princípio, os tributos seriam vinculados às suas finalidades, não se utilizando deles para cobrir interesses públicos que não correspondessem a um interesse especial dos contribuintes a eles sujeitos.16

O princípio da equivalência fazia menção apenas aos tributos vinculados, em que existia uma relação sinalagmática entre o tributo e a prestação estatal, sem considerar os não vincu-lados.

Surge, então, o Princípio do Benefício, em que se evidencia que o contribuinte concedia ao Estado uma parcela de sua riqueza individual em troca dos serviços prestados, de forma geral, pelo Estado, que contribuía para o bem-estar do particular.17 Em outras palavras, cada contribuinte pagava o tributo em conformidade com o benefício que ele recebia do Estado.

Por meio dos tributos, o Estado obtém receitas para custear as despesas públicas em busca do bem comum: prover a educação, a cultura, o lazer, melhorar a saúde da população, dar-lhe segurança, prestar-lhe serviços públicos,conservar o meio ambiente, etc.

Ocorre que tal princípio excluía aqueles que não possuíam renda, de modo que o Princípio do Benefício se tornou ineficiente.

Até o século XIX, os doutrinadores viam, na tributação, apenas um meio de alcançar o equilíbrio financeiro entre as receitas públicas e despesas públicas.

Adolph Wagner, no século XIX, verificou a necessidade de incluir, na atividade financeira, preocupações de natureza social, dando à tributação uma função diferente da simples arre-cadação, mas apresentando-a como possível alternativa para a redistribuição de riquezas.18

Surge, com Adolph Wagner, a ideia de que o tributo não apresentaria como causa apenas a arrecadação, contudo poderia sim trazer uma segunda função, a função social.

A visão do tributo deixou de ter apenas a função arrecadatória, passou a se voltar ao bem comum.

Essa perspectiva surge com maior ênfase com Keynes, que defendeu, ainda no século XIX, que a política fiscal deveria ser utilizada para intervir diretamente na economia, promovendo a redistribuição de riquezas e o pleno emprego.19

Atualmente, o Estado se vale efetivamente do tributo, não apenas como angariador de receitas para o abastecimento dos cofres públicos, mas para a consecução de objetivos econômicos e sociais.

16. SHOUERI, Luís Eduardo. NormasTributáriasIndutoraseIntervençãoEconômica, p. 143-144.17. Idem, ibidem, p. 144.18. Traité des science desfinances. Théorie de impositión, theoriedes taxes ethéoriegenérale dês impots, p. 111-113.19. KEYNES, John Maynard. El caminohaciala prosperidade. (The means to prosperity). In: DOMINGUES, Francisco

Del Brio (Dir.). La política fisca Le maccion. Selección de lecturas sobre política fiscal moderna, p. 92 e ss.

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Cap. 1 • CONSIDERAÇÕES INICIAIS 33

Destarte, pode-se afirmar que o tributo pode apresentar duas funções: a) a função eminen-temente arrecadatória, que retrata a fiscalidade do tributo, cujo único objetivo consiste na a arrecadação de receitas para sustentação das necessidades públicas; e b) a segunda função, que consiste em estimular ou desestimular condutas do particular consoante os objetivos sociais, políticos e econômicos do Estado, exercendo, assim, uma função extrafiscal do tributo.

4.2. O Tributo Fiscal

O tributo se define por um instrumento de soberania estatal, legal e social, composto pela receita oriunda dos particulares, para que o Estado possa desenvolver suas atividades e necessidades. Esse instrumento de soberania provém como decorrência direta da supremacia do interesse público sobre o interesse privado.

Um tributo será fiscal quando ele visar tão somente ao abastecimento dos cofres públicos, sem quaisquer outros interesses. Sua pretensão constitui puramente de obtenção de receitas para a realização de despesas voltadas ao interesse público.

Mesmo em se tratando de um Estado Democrático de Direito, de regime econômico capitalista, cujo ordenamento jurídico é composto por um regime constitucional delineado pela valorização da livre-iniciativa e pelas regras delimitadoras do poder econômico estatal, como agente preponderante, como bem assevera Marcus de Freitas Gouvêa, “[...] é axiomático adotar-se a tributação como forma de obtenção de recursos para financiar a concretização dos fins estatais”.20

Nessa linha, Marcos André Vinhas Catão aponta o entendimento adotado pela doutrina clássica, ao referir a fiscalidade ou a função fiscal dos tributos como a “[...] concretização de receitas tributárias [...]” por intermédio da aplicação legítima pelo Estado de cargas tributárias razoáveis.21

Sob a ótica de Marcus de Freitas Gouvêa, ainda sobre a fiscalidade “[...] o Estado é impelido à tributação a fim de suprir-se de meios necessários para financiar suas finalidades constitucionalmente estabelecidas”.22

Bernardo Ribeiro de Moraes identifica os tributos fiscais como tributos neutros, à medida que não provocam qualquer ingerência de cunho econômico ou social, limitando-se à anga-riação de fundos para o custeio do Estado.

“Os impostos fiscais são denominados, também, impostos neutros, porque não intervêm na ordem social e econômica. Obter recursos para o atendimento dos fins do Estado é a finalidade normal, natural, fiscal, de todo imposto. A economia clássica, condenando em princípio toda intromissão do Estado no desenvolvimento econômico, propugna pelo imposto como instrumento exclusivamente financeiro, para servir como carreador de receitas públicas necessárias para as despesas do Estado, não para outros fins”23(sic) (Grifos Nossos).

20. GOUVÊA, Marcus de Freitas. A extra fiscalidade no direito tributário, p. 40.21. Regime jurídico dos incentivos fiscais, p. 4.22. A extra fiscalidade..., op. cit., p. 39.23. Compêndio de Direito Tributário, v. 1, p. 441-442.

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Portanto, ao se referir à função arrecadatória do Estado – finalística fiscal –, visando a auferir recursos para a sua subsistência, faz-se menção ao uso do instrumento tributário totalmente desvinculado de axiomas, reportando-se apenas às despesas e às receitas.

4.3. O Tributo Extrafiscal

Diferentemente dos tributos fiscais – cuja finalidade é tão somente o abastecimento dos cofres públicos, para financiar o bem-estar comum -, o tributo extrafiscal constitui um instrumento para estimular ou desestimular condutas, na busca de objetivos econômicos, sociais e políticos do Estado.

Leandro Paulsen leciona que os tributos extrafiscais:“por onerarem determinadas situações ou operações, acabam por influenciar as escolhas dos agentes econômicos (...). Diz-se que se trata de um tributo com finalidade extrafiscal quando os efeitos extrafiscais são não apenas uma decorrência secundária da tributação, mas seu efeito principal, deliberadamente pretendido pelo legislador que se utiliza do tributo como instrumento para dissuadir ou estimular determinadas condutas”.24

Portanto, o tributo extrafiscal se define por aquele que visa induzir determinados compor-tamentos, de modo que a arrecadação passa a ser analisada em segundo plano.

Na Constituição Federal não há previsão expressa da utilização da tributação com objetivo extrafiscal, o que pode levar ao entendimento de que o tributo teria apenas efeito arrecadatório.

Conquanto não haja tal previsão expressa na Constituição sobre a extrafiscalidade tribu-tária, esse entendimento está implícito na ordem tributária constitucional, assim, é plenamente possível a utilização dessa ferramenta.

Comprova-se o alegado na observância do artigo 151, I, da CF, por exemplo, em que há, implicitamente, o reconhecimento da extrafiscalidade, quando se admite à União a “[...] concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento socioe-conômico entre as diferentes regiões do País”.

No mesmo sentido, pode-se citar o artigo 153, § 4º, da CF que prevê alíquotas progres-sivas do Imposto Territorial Rural (ITR), com o fim de desestimular a manutenção de propriedades improdutivas.

Não obstante, no artigo 182, § 4º, x há previsão de alíquotas progressivas do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU), a fim de garantir a função social da propriedade.

Menciona-se, ainda, o artigo 155, § 2º, III, da CF, no que tange à seletividade (em função da essencialidade) do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias (ICMS); o artigo 156, § 1º, II, da CF na hipótese de distinção de alíquotas do IPTU, em face da utilização e localização do imóvel; e o artigo 155, § 6º, II, na mesma distinção de alíquotas para o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), em razão do tipo e utilização do veículo, dentre tantos outros dispositivos constitucionais.

24. PAULSEN, Leandro. Curso de Direito Tributário. 4. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2012, p.9.

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Cap. 1 • CONSIDERAÇÕES INICIAIS 35

Verifica-se, também, a extrafiscalidade do IPI, no artigo 153, § 3º, I, da CF, que trata do Princípio da Seletividade, segundo o qual a tributação será em razão da essencialidade do bem – quanto mais essencial for o bem para a vida humana, menor a tributação; e, quanto menos essencial, no caso de produtos supérfluos, maior a tributação. Tal dispositivo refere--se ao estímulo tanto para a produção quanto para o consumo dos diversos tipos de bens.

A extrafiscalidade decorre da supremacia do interesse público e apresenta fins diversos do eminentemente arrecadatório.

Na visão de Misabel Derzi:

“Costuma-se denominar de extrafiscal aquele tributo que não almeja, prioritariamente, prover o Estado dos meios financeiros adequados a seu custeio, mas antes visa ordenar a propriedade de acordo com a sua função social ou a intervir em dados conjunturais (injetando ou absorvendo a moeda em circulação) ou estruturais da economia. Para isso, o ordenamento jurídico, a doutrina e jurisprudência têm reconhecido ao legislador tributário a faculdade de estimular ou desestimular comportamentos, por meio de uma tributação progressiva ou regressiva, ou da concessão de benefícios e incentivos fiscais. A Constituição expressamente os admite para promover o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes regiões do país (art. 151, I) determina ainda que o imposto territorial rural seja utilizado com fins extrafiscais, colimando alcançar a produtividade da proprie-dade rural, assim como autoriza a progressividade do imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana, para assegurar a função social da propriedade (sic)”25.

Raimundo Bezerra Falcão define:

[...] “por extrafiscalidade, entender-se-á a atividade financeira que o Estado exercita sem o fim precípuo de obter recursos para seu erário, para o fisco, mas sim com vistas a ordenar ou reordenar a economia e as relações sociais, intervindo, portanto, por exemplo, no mercado, na redistribuição de riquezas, nas tendências demográficas, no planejamento familiar. No fundo – mas não unicamente, importa em atuar sobre a economia, para mudar o panorama social” (sic).26

Para Regina Helena Costa, a extrafiscalidade aproxima-se da noção de Poder de Polícia ou de Polícia Administrativa, conceituada como a atividade estatal consistente em limitar o exercício dos direitos individuais em beneficio do interesse coletivo; e esta, na questão tribu-tária, deve levar em conta o equilíbrio entre interesse público e interesse social. Para a autora, tanto a polícia administrativa quanto a extrafiscalidade tributária, posto que se valham de meios distintos, definidos em lei, buscam moldar as condutas dos particulares conforme os objetivos de interesse público.27

Verifica-se que a lei tributária, muitas vezes, atinge com maior eficiência e eficácia seus objetivos quando, em lugar de apenas se valer da arrecadação, tenta influenciar as condutas dos contribuintes, oferecendo-lhes, por exemplo, subvenções, isenções, créditos presumidos, bonificações, etc.

25. Nota de Atualização. In: ALIOMAR BALEEIRO. Direito Tributário Brasileiro, p. 233-234.26. Tributação e mudança social, p. 47-48.27. Princípio da capacidade contributiva, p. 49.

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A extrafiscalidade, função na qual o Estado tributa criando um ambiente de estímulos e desestímulos, orientando comportamentos e almejando a realização de algum valor cons-titucional, é também destacada por Alfredo Augusto Becker:

“A principal finalidade de muitos tributos (que continuarão a surgir em volume e varie-dade sempre maiores pela progressiva transfiguração dos tributos de finalismo clássico ou tradicional) não será a de um instrumento de arrecadação de recursos para custeio das despesas públicas, mas a de um instrumento de intervenção estatal no meio social e na economia privada (sic)”.28

Leciona Paulo de Barros Carvalho que a tributação extrafiscal visa orientar o contribuinte a planejar suas condutas, estimulando-os ou desestimulando-os, com finalidade regulatória, em plena harmonia com objetivos sociais, políticos e econômicos estatais:

“A experiência jurídica nos mostra, porém, que vezes sem conta a compostura da legis-lação de um tributo vem pontilhada de inequívocas providências no sentido de prestigiar certas situações, tidas como social, política ou economicamente valiosas, às quais o legis-lador dispensa tratamento mais confortável ou menos gravoso. A essa forma de manejar elementos jurídicos usados na configuração de tributos, perseguindo objetivos alheios aos meramente arrecadatórios, dá-se o nome de extrafiscalidade (sic)”.29

A grande maioria dos tributos, senão todos, comporta, na sua regulação, a função extra-fiscal; uns em maior grau, outros nem tanto. O nível de extrafiscalidade poderá preponderar ou não sobre a função fiscal, em virtude das decisões políticas, por parte do Poder Legislativo, e em sintonia com o Poder Executivo.30

Em algumas situações, revela-se difícil reconhecer a fiscalidade ou a extrafiscalidade de um determinado tributo. Paulo de Barros Carvalho afirma que: “Não existe, porém, entidade tributária que se possa dizer pura, no sentido de realizar tão só a fiscalidade, ou, unicamente, a extrafiscalidade”.31No seu entendimento, tanto a extrafiscalidade quanto a fiscalidade podem conviver em um mesmo tributo – apenas ora um objetivo prevalecendo sobre o outro.

Na concepção de Marcus de Freitas Gouvêa:“A fiscalidade e a extrafiscalidade são grandezas que caminham em conjunto, tanto na fundamentação do dever tributário quanto na apuração de seus efeitos. O fenômeno tributário mostra que não pode haver extrafiscalidade sem fiscalidade e que qualquer esboço de fiscalidade apresenta algum efeito extrafiscal”.32

Pode-se mencionar como exemplo de tributação fiscal e extrafiscal ao mesmo tempo, o tributo ambiental, uma vez que a extrafiscalidade está presente na medida em que o tributo é utilizado de forma diversa e mais onerosa para aquele que age em desconformidade com políticas de proteção ao meio ambiente. E, ao mesmo tempo em que a tributação age como indutora de condutas (característica da extrafiscalidade), estar-se-á transferindo, via arrecadação tributária, recursos monetários do setor privado ao público, cumprindo conco-mitantemente uma função fiscal.

28. Teoria geral do direito tributário, p. 132.29. Curso de direito tributário, p. 252-253.30. SEBASTIÃO, Simone Martins. Tributo ambiental– extrafiscalidade e função promocional do direito, p. 137.31. Curso de..., op. cit., p. 253.32. Ibidem, p. 146-147.

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Cap. 1 • CONSIDERAÇÕES INICIAIS 37

Exemplo de questão discursivasobre o tema

(TJ-DF – Juiz de Direito – DF/2011). Tendo como pano de fundo a correlação entre direito tributário e meio ambiente, desenvolva, em linhas gerais, o tema da “imposição de tributos com finalidade extra-fiscal ambiental”, posicionando-se, motivadamente, ainda que de forma sucinta, sobre haver ou não, no Direito brasileiro, um modelo de tributação equipado para a proteção do meio ambiente.

Encerramos aqui nossas Considerações Inicias. Observe abaixo no Quadro Sinótico um breve resumo do estudado até o momento, bem como questões de concursos públicos atualizadas sobre o assunto abordado. Nessa edição do livro, o gabarito de todas as questões, juntamente com os comentários, foi disposto ao final de cada Capítulo.

5. QUADRO SINÓTICO

CAPÍTULO 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Conteúdo Item

Direito nanceiro É um conjunto de normas que regulamenta a atividade financeira, no trato das receitas, despesas, orçamento e crédito. 1

Conceitos

Receita Pública

Corresponde ao ingresso definitivo de dinheiro aos cofres do Estado para cumprimento de suas finalidades.Quanto à periodicidade, as receitas públicas podem ser divididas em extraordinárias e ordinárias.As receitas extraordinárias são aquelas auferidas em caráter excep-cional e temporário. Exemplo: Imposto Extraordinário de Guerra.As receitas ordinárias ingressam regularmente e de forma per-manente em nosso ordenamento com a finalidade precípua de custear as necessidades públicas, como os impostos.Quanto à origem, as receitas públicas são classificadas em origi-nárias e derivadas.As receitas públicas originárias são aquelas decorrentes da ex-ploração do patrimônio público e atividades desenvolvidas pelo próprio Estado. Exemplo: os frutos (aluguéis, foros de terrenos da marinha, laudêmios, etc.) resultantes da utilização de bens públicos.As receitas públicas derivadas são aquelas por meio das quais o Estado, com seu Poder de Império (Poder Extroverso), retira a parcela de riqueza dos administrados para a consecução de seus fins, no interesse do bem comum. Exemplo: tributos.

1

Despesa Pública

Corresponde ao emprego das receitas para o cumprimento das necessidades públicas.No orçamento há a aprovação prévia da despesa e da receita para um período determinado.

Crédito Público

Equivale a um contrato cujo objeto consiste na transferência de certa quantia em dinheiro de uma pessoa a uma entidade pública para ser restituído, acrescido de juros, em determinado período de tempo.

Direito TributárioÉ um ramo do Direito Público que disciplina princípios e regras próprias referentes à instituição, fiscalização e arrecadação de tributos entre os sujeitos envolvidos nessa relação jurídica.

2

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CAPÍTULO 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Conteúdo Item

Autonomia do Direito Tributário

O Direito Tributário não é cientificamente autônomo, por não poder ser indi-vidualizado, deve interligar-se com os demais ramos do Direito, uma vez que o sistema é uno e indivisível. Entretanto, é didaticamente autônomo, pois existe uma ramificação do Direito para disciplinar suas regras e princípios, e é ensinado em cadeiras autônomas nos cursos jurídicos.

2.1

TributoÉ toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada me-diante atividade administrativa plenamente vinculada (art. 3º do CTN).

3

Espécies tributárias

De acordo com o Código Tributário Nacional, há três espécies (Teoria Ternária): Impostos, Taxas e Contribuições de Melhoria.Contudo, o Supremo Tribunal Federal adota a teoria Quinária, que classifica os tributos em CINCO espécies tributárias: Impostos, Taxas, Contribuições de Melhoria, Contribuições e Empréstimo Compulsório.

3.2

Função dos tributos no

ordenamento jurídico

O tributo pode apresentar duas funções: a primeira eminentemente arrecadató-ria, que retrata a fiscalidade do tributo, cujo único objetivo é a arrecadação de receitas para sustentação das necessidades públicas; e a segunda, que consiste em estimular ou desestimular as condutas do particular conforme os objetivos sociais, políticos e econômicos do Estado, exercendo, assim, uma função extra-fiscal do tributo.

4

6. INFORMATIVO

“Non olet” e atividade ilícita

É possível a incidência de tributação sobre valores arrecadados em virtude de atividade ilícita, consoante determina o artigo 118 do CTN: “A definição legal do fato gerador é interpretada abstraindo-se: I – da vali-dade jurídica dos atos efetivamente praticados pelos contribuintes, responsáveis, ou terceiros, bem como da natureza do seu objeto ou dos seus efeitos; II – dos efeitos dos fatos efetivamente ocorridos”. Com base nessa orientação, a 1ª Turma conheceu parcialmente de habeas corpus e, na parte conhecida, por maio-ria, denegou a ordem. Na espécie, o paciente fora condenado pelo crime previsto no artigo 1º, I, da Lei n. 8.137/90: “Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: I – omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias”, e sustentava a atipicidade de sua conduta, porque inexistiria obrigação tributária derivada da contravenção penal do jogo do bicho (Decreto-Lei n. 6.259/44, art. 58). O Ministro Dias Toffoli, relator, assinalou que a definição legal do fato gerador deveria ser interpretada com abstração da validade jurídica da atividade efetivamente praticada, bem como da natureza do seu objeto ou dos seus efeitos. Res-saltou que a possibilidade de tributação da renda obtida em razão de conduta ilícita consubstanciar-se-ia no princípio do non olet. Assim, concluiu que o réu praticara sonegação fiscal, porquanto não declarara suas receitas, mesmo que resultantes de ato contravencional. O Ministro Luiz Fux aludiu ao caráter sui generis da teoria geral do direito tributário. Acrescentou que seria contraditório o não pagamento do imposto pro-veniente de ato ilegal, pois haveria locupletamento da própria torpeza em detrimento do interesse público da satisfação das necessidades coletivas, a qual se daria mediante a exação tributária. Vencido o Ministro Marco Aurélio, que concedia a ordem por entender que recolhimento de tributo pressuporia atividade legí-tima. Precedente citado: HC n. 77530/RS (DJU de 18.09.1998) (STF, Informativo n. 627 – HC n. 94240/SP, rel. Min. Dias Toffoli, 23.08.2011).

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Cap. 1 • CONSIDERAÇÕES INICIAIS 39

7. QUESTÕES

1. (Santana do Jacaré/MG – Procurador – Reis & Reis/2015). O Código Tributário Nacional define como tributo "toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada".Os tributos têm, portanto, funções próprias que podem ser fiscal, extrafiscal ou parafiscal.Assim, a cobrança do Imposto de Renda, as alterações da alíquota do IPI e as contribuições pagas pelos pro-

fissionais aos órgãos de classe apresentam as seguintes funções, respectivamente:(A) fiscal, fiscal e extrafiscal.(B) fiscal, parafiscal e extrafiscal.(C) fiscal, extrafiscal e parafiscal.(D) Todas apresentam características fiscais.

2. (CORECON/MG – Advogado – Gestão de Concursos/2015). De acordo com a teoria pentapartida adotada pelo Supremo Tribunal Federal, que assinala a presença de cinco espécies tributárias no ordena-mento jurídico nacional, assinale a alternativa que NÃO é considerada uma espécie tributária.(A) Taxas.(B) Impostos.(C) Empréstimos compulsórios.(D) Pedágios

3. (OAB – Exame de Ordem Unificado – XII – Primeira Fase – FGV/2013). Em procedimento de fiscaliza-ção, a Secretaria da Receita Federal do Brasil identificou lucro não declarado por três sociedades empre-sárias, que o obtiveram em conluio, fruto do tráfico de entorpecentes. (A) O imposto sobre a renda é devido face ao princípio da interpretação objetiva do fato gerador, também

conhecido como o princípio do pecunia non olet.(B) Não caberá tributação e, sim, confisco da respectiva renda.(C) Não caberá tributo, uma vez que tributo não é sanção de ato ilícito.(D) Caberá aplicação de multa fiscal pela não declaração de lucro, ficando afastada a incidência do tributo,

sem prejuízo da punição na esfera penal.

4. (Procurador – PGE-GO/2013). Considerando as determinações legais vigentes, acerca dos tributos, está CORRETA a seguinte proposição:(A) Adota-se atualmente a teoria pentapartida ou quinquipartida, reconhecida pelo Supremo Tribunal

Federal, que distribui os tributos em cinco espécies: impostos, taxas, contribuições de melhoria, imposto extraordinário de guerra e contribuições diversas.

(B) Os impostos são tributos não vinculados, cujo fato gerador consiste numa situação independente de qualquer atividade estatal específica em relação ao contribuinte.

(C) As taxas e contribuições especiais são tributos contraprestacionais de referibilidade direta.(D) Os impostos residual e sobre grandes fortunas serão instituídos por meio de lei ordinária federal. (E) O ICMS é um típico imposto pessoal.

5. (Prefeitura de Iguatu/CE – Fiscal de Tributos – Pró-Município/2013). De acordo com o Código Tribu-tário Nacional “toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada” é denominada de:(A) Imposto.(B) Taxa.(C) Tributo.(D) Contribuição Social.(E) Tarifa.

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6. (Prefeitura/SP – Auditor-Fiscal Tributário Municipal I. Área de Especialização Gestão Tributária – FCC/2012). Um contribuinte deixou de emitir o documento fiscal referente a uma prestação de serviço tributada pelo ISS, tributo de competência municipal, e, como consequência, foi-lhe aplicada penalidade pecuniária pelo descumprimento dessa obrigação acessória (art. 230, caput, inciso V, alínea “a”, do Decreto Municipal n. 52.703/11). Essa penalidade pecuniária:(A) É taxa, pois tem a finalidade de ressarcir o erário pelo dano causado pelo descumprimento de uma obri-

gação acessória.(B) É imposto, pois está prevista na legislação do ISS.(C) Não é imposto, mas é tributo, em sentido amplo, pois tem natureza compulsória.(D) É tributo, porque é cobrado por meio de atividade vinculada, conforme estabelece o Código Tributário

Nacional.(E) Não é tributo, pois sanção pelo cometimento de ato ilícito não pode ser definida como tributo.

7. (PG/João Pessoa-PB – Procurador – FCC/2012). Um tributo que tenha por características ser não vin-culado a uma atividade estatal, admita, por expressa e excepcional previsão constitucional, destinação específica do produto da arrecadação e não admita previsão de restituição ao final de determinado período classifica-se como:(A) Taxa.(B) Contribuição de intervenção no domínio econômico.(C) Imposto.(D) Empréstimo compulsório.(E) Contribuição social.

8. (Câmara Municipal de Paula Freitas/PR – Advogado – UNIUV/2012). Assinale a alternativa incorreta, quanto ao Tributo, de acordo com o Código Tributário Nacional:(A) O Tributo é sempre compulsório.(B) Tributo não se confunde com sanção pecuniária por ato ilícito.(C) A natureza jurídica do Tributo é qualificada pela destinação legal do produto de sua arrecadação.(D) O Tributo deve ser instituído por lei.(E) O Tributo é cobrado mediante atividade administrativa plenamente vinculada.

9. (PG/Teresina – Procurador – FCC/2010). A partir do conceito legal de tributo, é possível afirmar que a multa NÃO é espécie de tributo porque o tributo:(A) Tem que ser instituído mediante lei, ao passo que a multa não se reveste desta obrigatoriedade.(B) É cobrado mediante atividade administrativa vinculada, enquanto a multa pode ser aplicada de forma

discricionária pelo poder público.(C) Não é sanção por ato ilícito e a multa é sanção pecuniária por prática de ato ilícito.(D) É prestação pecuniária compulsória, ao passo que a aplicação da multa não é compulsória, dependendo

de condenação administrativa.(E) Pode ser objeto de compensação, anistia e remissão, ao contrário da multa, que só pode ser objeto de

anistia.

10. (Secretaria de Estado da Administração. Secretaria de Estado de Finanças/Governo de Rondônia – Auditor Fiscal de Tributos Estaduais – FCC/2010). Sobre as características das espécies de tributos, é correto afirmar que:(A) Imposto é o tributo cuja obrigação tributária tem por fato gerador uma a vidade estatal.(B) Taxa é o tributo cuja obrigação tributária tem por fato gerador uma obra pública.(C) Contribuição de melhoria é uma espécie de tributo vinculado a uma prévia atividade estatal, qual seja,

obra pública.(D) O empréstimo compulsório é um tributo de competência comum e pode ser instituído por medida pro-

visória em caso de investimento urgente.(E) A contribuição para o custeio do serviço de iluminação pública é de competência exclusiva dos Estados

e Distrito Federal.

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Cap. 1 • CONSIDERAÇÕES INICIAIS 41

11. (Assembleia Legislativa/SP – Procurador – FCC/2010). Considere:I. Tributo é toda prestação pecuniária compulsória ou voluntária, que constitua ou não sanção de ato

ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa não vinculada.II. Constitui delegação de competência tributária o cometimento, a pessoas de direito público ou privado,

do encargo ou da função de arrecadar tributos, compreendendo as garantias e os privilégios processuais que competem à pessoa jurídica de direito público que a conferir.

III. Compete ao Distrito Federal e aos Estados não divididos em Municípios, instituir, cumulativamente, os impostos atribuídos aos Estados e aos Municípios.

IV. As taxas têm como fato gerador o exercício regular do poder de polícia, ou a discricionariedade em rela-ção a serviço público específico e indivisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição.

V. Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer ativi-dade estatal específica, relativa ao contribuinte.

Está correto o que se afirma APENAS em:(A) III e V.(B) II, IV e V.(C) II e III.(D) I e IV.(E) I, III e V.

12. (Prefeitura/SP – Auditor-Fiscal Tributário Municipal I – FCC/2007). Para que uma prestação pecu-niária compulsória possa ser conceituada como tributo, é preciso que, além de ser cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada, tenha como objeto:(A) Moeda corrente ou valor que nela possa ser expresso, constitua ou não sanção de ato ilícito e esteja

instituída em lei.(B) Unicamente moeda corrente, não constitua sanção de ato ilícito e esteja instituída em lei.(C) Moeda corrente ou valor que nela possa ser expresso, não constitua sanção de ato ilícito e esteja insti-

tuída em lei.(D) Unicamente moeda corrente, constitua ou não sanção de ato ilícito e esteja instituída em lei.(E) Moeda corrente ou valor que nela possa ser expresso, não constitua sanção de ato ilícito e esteja insti-

tuída na legislação tributária.

13. (TC/GO – Analista de Controle Externo Jurídico – FCC/2009). Os tributos classificam-se em vinculados e não vinculados. É exemplo de tributo vinculado, de forma direta, com finalidade de remunerar serviço público:(A) O imposto.(B) A taxa.(C) A contribuição de melhoria.(D) A contribuição social.(E) O empréstimo compulsório.

14. (Procurador-Geral do Estado do Paraná/PR – UEL/COPS/2011). Dentre as alternativas abaixo, aponte aquela que estiver correta:(A) Somente os impostos são classificados como tributos vinculados.(B) As taxas são tributos que podem ser instituídos tanto em razão do exercício do poder de polícia quanto

somente pela efetiva utilização de serviços públicos específicos e divisíveis.(C) As contribuições de melhoria são classificadas como tributos não vinculados porque não decorrem da

utilização de serviços públicos, específicos e divisíveis, e sim de obras públicas.(D) Compete à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, instituir contribuições sociais, de

intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas.

(E) N. d. a.

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8. GABARITO

1. Alternativa (C). Fiscal, extrafiscal e parafiscal. Comentário: A alternativa “C” é a correta, tendo em vista que a cobrança do Imposto de Renda tem função fiscal, uma vez que visa à arrecadação. As alterações da alíquota do IPI têm função extrafiscal, pois se trata de imposto regulatório de mercado e seguem o princípio da seletividade. Já as contribuições pagas pelos profissionais aos órgãos de classe têm função parafiscal. Neste caso, a competência tributária está com uma pessoa e a capacidade ativa tributária encontra-se com outra. É a União, conforme o art. 149 da CF, que tem a competência dessa contribuição, e a capacidade ativa está com os Conselhos, como CREA, CRO, por exemplo.

2. Alternativa (D). Pedágios. Comentário: A alternativa “D” é a opção correta, o STF, ao julgar a ADI 800 concluiu que o pedágio cons-titui preço público, em virtude da natureza contratual e da não compulsoriedade, não sendo considerado, portanto, tributo.

3. Alternativa (A). O imposto sobre a renda é devido em face do princípio da interpretação objetiva do fato gerador, também conhecido como o princípio do pecunia non olet.

Comentário: O fato de existir conluio e omissão de receitas não afasta a incidência do Imposto de Renda, posto que houve a prática do fato gerador, isto é, auferir renda. Desse modo, o referido imposto é devido, mesmo que a renda obtida seja consequência de ato realizado ilicitamente. Consoante consta na letra “A”, opção correta, trata-se do princípio pecunia non olet, previsto no artigo 118 do CTN.

4. Alternativa (B). Os impostos são tributos não vinculados, cujo fato gerador consiste numa situação inde-pendente de qualquer atividade estatal específica em relação ao contribuinte.

Comentário: De acordo com o estudado no tópico das teorias das espécies tributárias, os impostos são tributos desvinculados de uma contraprestação estatal direta. Portanto, a assertiva “B” está correta. Em relação à letra “A” a questão está correta apenas na primeira parte, quando afirma que a teoria adotada pelo STF consiste na pentapartida ou quinquipartida. Entretanto, tal alternativa peca quando diferencia as espécies tributárias. Vale lembrar que para o STF os tributos são divididos em: impostos, taxas, contribuições de melhoria, contribuições especiais e empréstimos compulsórios. A resposta “C” está incorreta, posto que apenas as taxas são contraprestacionais, de referibilidade direta e imediata. A justificativa “D” está incor-reta, pois tanto os Impostos Residuais quanto o Imposto sobre Grandes Fortunas serão instituídos por meio de Lei Complementar, nos termos dos artigos 153, VII e 154, I, da CF. E, por fim, a alternativa “E” está incor-reta, porque como veremos adiante, o ICMS não é imposto pessoal, mas sim real e indireto.

5. Alternativa (C).Tributo.Comentário: Resposta em conformidade com o artigo 3º do CTN.

6. Alternativa (E). Não é tributo, pois sanção pelo cometimento de ato ilícito não pode ser definida como tributo.

Comentário: Justificativa consoante o disposto no artigo 3º do CTN.

7. Alternativa (C). Imposto.Comentário: A opção “A” está incorreta. As taxas são tributos vinculados, pois estão relacionadas a uma atividade estatal especificamente voltada ao contribuinte. Classificada como um tributo vinculado direto e imediato, uma vez que é suficiente a atuação do Estado para nascer a obrigação tributária. A letra “B” está incorreta. Essa espécie tributária caracteriza-se por ser um instrumento de intervenção no domínio econô-mico, cuja destinação dos recursos arrecadados só pode ser aplicada no financiamento da intervenção que justificou sua instituição. A contribuição de intervenção no domínio econômico não tem por fim custear as atividades ordinariamente desenvolvidas pelo Estado. A lei que institui uma contribuição de intervenção no domínio econômico deve indicar expressamente a destinação dos recursos a serem arrecadados. Nos termos do artigo 177, § 4º, II, da CF, que trata da Contribuição de intervenção no domínio econômico de combustível, por exemplo, tem-se que os recursos arrecadados serão destinados: i) ao pagamento de subsí-

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dios a preços ou transporte de álcool combustível, gás natural e seus derivados e derivados de petróleo; ii) ao financiamento de projetos ambientais relacionados com a indústria do petróleo e do gás; iii) ao financia-mento de programas de infraestrutura de transportes. A assertiva “C” está correta. Os impostos são tributos não vinculados, visto que o contribuinte paga por ter praticado o fato jurídico tributário, sem saber qual será a contraprestação estatal. Segundo o Código Tributário Nacional, “imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independentemente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte” (art. 16 do CTN). São tributos destinados a atender indistintamente às necessidades de ordem geral da Administração Pública, não apresentam destinação específica. O artigo 167, IV, da CF estabelece ser vedada a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, ressalvadas a repartição do produto da arrecadação dos impostos a que se referem os artigos 158 e 159, a destinação de recursos para as ações e serviços públicos de saúde, para a manutenção e desenvolvimento do ensino e a realização de atividades da administração tributária e a prestação de garantias às operações de crédito por antecipação de receita. Uma vez pago um imposto, só poderá ocorrer a restituição se houver pagamento indevido ou a maior, consoante preceitua o artigo 165 do CTN. A resposta “D” está incorreta. O empréstimo compulsório é uma modalidade de tributo restituível. A União deverá aplicar o produto da arrecadação ao destino determinado em lei e res-tituir posteriormente o contribuinte a quantia por ele paga a título de Empréstimo Compulsório, consoante o parágrafo único do artigo 148 da CF: “A aplicação dos recursos provenientes de empréstimo compulsório será vinculada à despesa que fundamentou sua instituição”. A justificativa “E” está incorreta. As contribui-ções sociais são destinadas ao financiamento da seguridade social, estão necessariamente direcionadas a instrumentar a atuação da União no setor da ordem social.

8. Alternativa (C). A natureza jurídica do Tributo é qualificada pela destinação legal do produto de sua arrecadação.

Comentário: À luz do artigo 4º, II, do CTN, a natureza jurídica específica do tributo é determinada pelo fato gerador da respectiva obrigação, sendo irrelevantes para qualificá-la a destinação legal do produto da sua arrecadação.

9. Alternativa (C). Não é sanção por ato ilícito e a multa é sanção pecuniária por prática de ato ilícito.Comentário: A assertiva “C” está correta, de acordo com estabelecido no caput do artigo 3º do CTN.

10. Alternativa (C). Contribuição de melhoria é uma espécie de tributo vinculado a uma prévia atividade estatal, quer dizer, à obra pública.

Comentário: A resposta “A” está incorreta, com fundamento no artigo 16 do CTN, o Imposto é tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, rela-tiva ao contribuinte. A justificativa “B” está incorreta, as taxas apresentam como base do fato gerador o exercício regular do Poder de Polícia e a utilização efetiva ou potencial de serviço público específico e divisí-vel. A alternativa “C” está correta, nos termos do artigo 145, III, da CF. A opção “D” está incorreta, o Emprés-timo Compulsório, como será visto no Capítulo 9, apresenta competência privativa da União e só poderá ser instituído mediante Lei Complementar. A letra “E” está incorreta, pois a COSIP (Contribuição para Custeio do Serviço de Iluminação Pública) só pode ser instituída pelos Municípios e Distrito Federal.

11. Alternativa (A). III e V. III. Compete ao Distrito Federal e aos Estados não divididos em Municípios instituírem, cumulativamente,

os impostos atribuídos aos Estados e aos Municípios.V. Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer ativi-

dade estatal específica, relativa ao contribuinte.Comentário: O Item I está incorreto, segundo o artigo 3º do CTN, tributo é prestação pecuniária compulsó-ria. O Item II está incorreto, nos termos do artigo 7º, § 3º, do CTN, não constitui delegação de competência o cometimento, a pessoas de direito privado, do encargo ou da função de arrecadar tributos. O Item III está correto, conforme previsto no artigo 147 da CF. O Item IV está incorreto, as taxas apresentam como base do fato gerador o exercício regular do Poder de Polícia e a utilização efetiva ou potencial de serviço público específico e divisível. O Item V está correto, consoante estabelecido no artigo 16 do CTN.

12. Alternativa (C). Moeda corrente ou valor que nela possa ser expresso, não constitua sanção de ato ilícito e esteja instituída em lei.

Comentário:A assertiva C está correta nos termos do artigo 3º do CTN.

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13. Alternativa (B). A taxa. Comentário:A justificativa “B” está correta, pois o contribuinte quando paga uma taxa sabe exatamente qual a atividade estatal que será desenvolvida.

14. Alternativa (E). N. d. a. Comentário:A alternativa “A” está incorreta, pois os impostos são classificados como tributos não vincu-lados. A opção “B” está incorreta, nos termos do artigo 145, II, da CF, as taxas podem ser instituídas pela utilização efetiva ou potencial de serviço público específico e divisível. A letra “C” está incorreta, uma vez que as contribuições de melhoria são classificadas como tributos vinculados. A assertiva “D” está incorreta, pois compete privativamente à União a instituição das contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas.