mesa-redonda: os desafios da pesca tradicional...
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XVI ENCONTRO NORTE E NORDESTE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E PRÉ-ALAS BRASIL
De 04 a 07 de Setembro de 2012, UFPI, Teresina - Piauí
Mesa-Redonda:Os Desafios da Pesca Tradicional: Continuidades e Mudanças
Título:PESCADORES, ESTADO E DESENVOLVIMENTO NACIONAL: DA
RESERVA NAVAL À AQUÍCOLA
Autor:
Cristiano Wellington Noberto Ramalho1
Universidade Federal de Sergipe (UFS)E-mail: [email protected]
1 Professor Adjunto de Sociologia do Departamento de Ciências Sociais (DCS) e dos Mestrados em Antropologia (NPPA) e Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) da Universidade Federal de Sergipe (UFS), e um dos coordenadores do Grupo de Estudos Mares, Ambientes e Ruralidades (GEMARES) – CNPq/UFS.
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PESCADORES, ESTADO E DESENVOLVIMENTO NACIONAL: DA RESERVA NAVAL À AQUÍCOLA2
Cristiano Wellington Noberto Ramalho
RESUMOA ação do Poder Público no Brasil sempre associou à pesca artesanal ao atraso, fato que fez com que muitas de suas intervenções buscassem subordinar os pescadores à Marinha e à indústria pesqueira ou postulasse que os mesmos deixassem a condição artesanal para – isso mais recentemente – tornarem-se aquicultores, ou seja, sujeitos modernos. O presente texto objetiva fazer um resgate dessas questões, por meio de pesquisa bibliográfica e de dados colhidos junto às comunidades de pescadores(as) do estado de Pernambuco, focalizando, em larga medida, a relação das Colônias de Pesca e os movimentos sociais da pesca com os governos brasileiros.
1. Colônia de Pescadores e as Facetas da Tutela Estatal (1919-1962)
A difícil situação e o desgaste que vinha sofrendo a Marinha Brasileira, no início do
século XX, determinaram a criação de uma política que tivesse como ponto central a
recuperação de seu prestígio, visto que a atitude de não aderir ao ideário republicano,
com a proclamação da República em 15 de novembro de 1889, levou a diminuição do seu
orçamento (CALLOU, 1994).
De modo geral, havia grande desconfiança dos republicanos para com sua força
naval, pois existia em seu “quadro de oficiais uma grande quantidade de indivíduos
ligados à nobreza e ao imperador” (NASCIMENTO, 2001, p. 117). E essa desconfiança
ganhou colorações mais graves em 1893 quando foi deflagrada a Revolta da Esquadra
em pleno governo de Floriano Peixoto, o que levou a Marinha a ter sua imagem ainda
mais desgastada na opinião pública e junto ao Governo da República, ao ser “acusada de
‘sebastianista’, por ser partidária da restauração da Monarquia” (MARTINS FILHO, 2010,
p. 33). Por conta disso, “[...] no final do século XIX, a Marinha estava em petição de
miséria” (Idem, p.45).
No intuito de superar esse contexto adverso, a Marinha concebeu alguns planos3, e
um deles - o que mais interessa-nos aqui - tinha como diretriz principal a nacionalização
da pesca, com o controle de toda região costeira do País (CALLOU, Idem; DIEGUES,
1995; RAMALHO, 1999), buscando, com isso, angariar maior visibilidade e destaque no
centro do Poder Federal.
A nacionalização da pesca era justificada por fatores econômicos, uma vez que o
não desenvolvimento industrial do setor pesqueiro sempre havia levado, consecutivas
2 O presente escrito tem como base minha pesquisa monográfica: RAMALHO, 1999.3 Um desses planos, que começou a ser tecido em disputas em 1904 a 1906, foi o de modernização dos navios de guerra da Marinha, a partir da compra de encouraçados à estaleiros ingleses no fim da primeira década do século XX, fato que aconteceu. A ideia era a de melhor equipar Marinha para defender o País de posições invasões estrangeiras, inclusive diante da própria Argentina. Nunca é demais ressaltar que esse processo de modernização e de presença de um espírito mais belicoso contaminaram várias nações, que resolveram investir pesado na construção de encouraçados, como foi o caso da Inglaterra, França, Alemanha, Japão, Rússia, EUA, Argentina, Chile, Brasil, Itália. Não é de estranhar que em 1914 explode a primeira grande guerra mundial, tendo a Europa no centro dos acontecimentos (MARTINS FILHO, 2010).
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vezes, o governo a adotar políticas de importação de enormes quantidades de pescado,
para satisfazer as necessidades da nossa crescente população nos centros mais
urbanizados (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Salvador). Ademais,
buscou-se retirar do controle dos pescadores estrangeiros a força que eles tinham no
setor em âmbito nacional, obrigando-os, no mínimo, a naturalizarem-se brasileiros,
“principalmente portugueses (poveiros)” (PAIVA, 2004, p. 53).
Essa chegada dos pescadores poveiros deixou marcas, pois “a pesca da sardinha-
verdadeira ao longo das costas Sudeste e Sul do Brasil tem antiga tradição, com
destaque desde o século XIX, sendo marcada por grande influência portuguesa”
(CALCAGNO; LOVRICH, 2009, p. 67) e de espanhóis, que pescavam com traineiras,
além de sardinhas, camarões e habitavam o bairro do Caju na então capital federal, Rio
de Janeiro, nos três primeiros decênios do século XX (DIEGUES, Idem). Na realidade,
esses estrangeiros eram detentores de técnicas e tecnologias pesqueiras mais
capitalizadas e modernas, bem como eram proprietários de barcos. Assim, a pesca
estava, se não sob o controle deles, ao menos isso passava por eles em vários locais.
Essa marcante presença de imigrantes era um dos elementos que justificou a
estratégia operada por um discurso nacionalista advindo da Marinha, com capacidade de
angariar simpatias na opinião pública, entre políticos do senado e da câmara e no próprio
poder executivo federal. Todavia, o discurso de industrialização foi uma isca, já que o
militar era a mola propulsora da criação e ação desse programa, fazendo do pescador
personagem fundamental, que deveria ser submetido ao controle da Marinha como
reserva militar, devido aos escassos braços e a falta de quadros a serem recrutados.
Definida a estratégia de atuação, coube ao Comandante da Marinha, Frederico
Villar, que foi o idealizador da política, percorrer a costa brasileira de 1919 a 1924, a
bordo da Missão do Cruzador José Bonifácio, reunindo e organizando os pescadores,
com o intuito de formar as colônias de pesca, consideradas, a partir desse instante,
“entidades dos pescadores”. Foi em direção ao estado do Pará que se realizou, em torno
de 1919, a primeira viagem de Frederico Villar. Esse militar entendia que a reunião e
organização dos pescadores, com o intuito de formar as colônias de pesca, seria um
ponto de apoio decisivo para a atuação e controle do Estado. Nesse sentido, o surgimento
das Colônias de Pescadores era, antes de qualquer coisa, um importante espaço de
realização das políticas da Marinha.
Além disso, para ofertar maior força ao discurso industrializante, foi agregado o da
fiscalização ambiental enquanto fruto da própria nacionalização da pesca. Assim,
espécies do meio marinho de interesses comerciais ou de possíveis utilidades mercantis
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no futuro deveriam ser protegidas em benefício da indústria, situação que tinha sido
tentada com a criação – durou apenas 1 ano – da Estação de Biologia Marinha ligada ao
Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio em 1915. Assim, preservar os recursos
naturais aquáticos significava, antes de tudo, a proteção de um bem que tinha condições
de produzir riquezas para o País, uma reserva natural que deveria ser utilizada pelo
capital, pelo setor industrial, que necessitava de estímulos do Governo Federal para seu
nascimento, em algumas localidades, e expansão em outras.
O essencial, com isso, era o de suprimir a atuação limitante e ineficiente dos
poderes públicos locais, cuja incapacidade e o mandonismo provinciano condenavam as
nossas riquezas naturais aquáticas e os destinos da nossa nacionalidade. Um exemplo
marcante disso foi o programa - concebido pelo referido comandante - que legitimou a
Missão do Cruzado José Bonifácio, visto que dos 6 itens existentes nele, 2 estavam
ligados às questões ambientais (4º e 5º) e ao poder local numa forte simbiose. No item 4º,
era visível a condenação dos poderes municipais, fato explicitado pelo próprio Villar duas
décadas após o fim da expedição do Cruzador:
Destrói-se a nossa riqueza aquática com os processos mais daninhos: com a dinamite; com substâncias venenosas, com rêdes de malhas miudíssimas; a venda de pequenos alevinos é francamente tolerada nos mercados. Há uma verdadeira matança de tartarugas. As lagoas, e baías, preciosos viveiros e refúgios de criação, verdadeiras minas inesgotáveis da nossa fartura piscatória, são arruinadas pelas municipalidades e por elas entulhadas de modo discriminatório. O mesmo acontece até na Guanabara, que esta sendo invadida pelos aterros nesta Capital e em Niterói, e acabará entupida” (VILLAR, 1945, p. 22, grifos meu)4.
Deixar sob os cuidados das municipalidades as questões acima seria:
Uma praga e uma desgraça, que até hoje – após mais de cem anos de luta tremenda – não foi possível fazer cessar, graças à criminosa insensatez administrativa dos maus governos, manobrados pelas misérias e cegueiras egoístas do mandonismo político provinciano e da nossa cruel indiferença pelos destinos da Nacionalidade! (Idem, p. 107-108, grifos meus).
Sem dúvida, Villar não estava só nessa empreitada, porque muitos intelectuais (a
exemplo de Alberto Torres e Oliveira Vianna) colocavam-se contra o federalismo como
base da ainda jovem república, por entenderem isso como algo negativo (WEFFORT,
2006). Assim, defendiam a idéia de um poder mais centralizado e capaz de combater, no
caso de Vianna, os clãs rurais, que fracionavam a nação (VIANNA, 1987). Desse modo,
Villar estava inserido nos debates que disputavam o rumo de nossa nacionalidade.
Várias questões, além das ambientais (trabalhistas, educacionais, industrialização
da pesca, saneamento da costa), foram arregimentadas para justificar e dar maior poder,
4 No 5º. constava o seguinte enunciado: “Arruinam-se as nossas costas marítimas, os rios e lagoas – criminosas e impunemente – ficando “currais”, “cacuris”, “tapagens”e “muruadas”, que modificam o regime das águas, obstruindo inteiramente barras, rios e canais, criando bancos e determinando a extravasão das águas, que inundam largas extensões de “baixadas”, rapidamente transformadas em brejais de tremenda insalubridade. É inacreditável o que nesse particular, se tem feito na Ilha de Marajó e em todo litoral!” (Ibidem, p. 22-23).
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de convencimento, ao projeto de nacionalização da pesca e, conseqüentemente, de
controle da Marinha sobre a costa brasileira. “[...] se a Marinha não investisse nos
aspectos sociais, econômicos e ecológicos do setor pesqueiro, dificilmente o objetivo
militar seria viabilizado dadas as dificuldades financeiras - que ela própria expunha - para
concretizar um projeto de defesa nacional daquela envergadura” (CALLOU, 1988, p. 361).
O interessante é perceber como a questão ambiental foi apresentada, e como foi
inserida de maneira subordinada aos desejos de militarização, de nacionalismo. Tornou-
se uma nota residual dentro da orquestração da política da Marinha. O trecho abaixo é
bastante elucidativo:
Cada Colônia, formada pelos agrupamentos de pescadores no litoral, ilhas, rios e lagoas, seria um ponto de apôio para a ação social, administrativa e militar do Govêrno e da República. Seria um centro de orientação técnica e profissional. Um núcleo de vigilância da costa e de defesa nacional, facilmente mobilizável; de instrução e de educação cívica. Um posto de fiscalização da Pesca – defesa da fauna e da flora aquática e dos processos de trabalho em nossas águas (VILLAR, Ibidem, p. 24).
Segundo essa visão, vê-se que a colônia resumia-se, acima de tudo, a “um ponto
de apoio para a ação social, administrativa e militar do Governo e da República”. Mas,
para que isso fosse possível, seria fundamental que os pescadores fossem
transformados, pois:
Instruída e saneada, essa gente, com seus barcos, representará para a Marinha e para a Nação uma preciosa Reserva, de fácil mobilização para a defesa naval, além de constituir viveiro magnífico de hábeis marinheiros e uma considerável fonte de múltiplas atividades, interessantíssimas para o País (VILLAR, op. cit., p. 45).
Sem dúvida, o comandante acredita que isso era um projeto civilizatório capaz de
tirar da ignorância homens e mulheres dedicados à faina do mar, já que, como ele mesmo
afirmou, “transformamos a Missão do Cruzador ‘José Bonifácio’ em uma Grande
Cruzada, cuja projeção antevíamos para o futuro do Brasil” (Ibidem, p. 43, grifo do autor),
que seria a de trazer os pescadores e seus familiares aos interesses do Estado. Por isso,
“instruída e saneada” a população de pescadores estaria - sob essa ótica societária - à
altura dos desafios nacionais, ou seja, era necessário – no primeiro caso – “doutrinar;
esclarecer e lapidar o espírito desses homens com lições, ensinamentos”, e, de outro,
“torná-los sãos, aptos para receberem a cultura, suplantando suas falhas ou excessos”
bárbaros ou semibárbaros. Dessa maneira, o propósito era o de levar cultura aos incultos,
civilizar a ralé incivilizada, incorporando-a aos ritmos e sabores do mundo moderno, de
nosso projeto de Nação, da nossa identidade nacional. Essa era a “grande cruzada”
postulada por Frederico Villar, pois “quem são, em todo o Brasil, os pescadores? São
homens inteiramente alheios às conquistas da civilização e do trabalho” (op. cit., p. 46).
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É nesse contexto que os termos instruir e sanear enaltecidos pelo responsável da
Missão do Cruzador José Bonifácio ganha força e razão de ser, apesar de algumas sutis
distinções que viessem assumir referente aos aludidos pensadores sociais. De modo
geral, questões de melhoramento ambiental e cultural eram necessárias. Sem dúvida,
Frederico Villar era um homem de seu tempo e, assim, propunha soluções vinculadas a
esse período e as ideologias dominantes na época5. Ao fim da Missão do Cruzador, Villar
e seus comandados fundaram cerca de 800 colônias e cadastraram mais de 100.000
pescadores no País (CALLOU, 1994). Para mobilizar os pescadores, os mecanismos
utilizados eram os mais variados, e nos revelam a política paternalista e controladora que
iria predominar, durante décadas, na vida da categoria, marcando fortemente a cultura
organizativa dos pescadores e pescadoras até os dias de hoje, em muitas localidades6.
A visão ideológica nacionalista da qual a colônia era resultado fazia do culto aos
símbolos nacionais algo presente no cotidiano da vida política dos pescadores. As
colônias, como escreveu Guedes (1984, p. 25), eram “[...] fruto de uma inspiração do
Estado, não escapando às fortes marcas do autoritarismo, presente na dinâmica dos
mecanismos de integração dessas entidades, nas estruturas do próprio Estado”, nos seus
símbolos e místicas (observar foto abaixo).
Entrada da Colônia de Pescadores de Ponta de Pedras-PE. Observa-se, no alto, símbolo da Marinha Brasileira.
Fonte: RAMALHO, Cristiano - 24/10/2008).
5 Para Callou: “É desse cenário “civilizador”, modernizador e antitradicionalista que surge um personagem importante -, que demarcaria, a meu ver, o início do que chamaremos, oficialmente, muitas décadas depois, de Extensão Rural e Extensão Pesqueira no Brasil: o capitão-de-mar-e-guerra, Frederico Villar. Entre 1909 e 1910, Villar percorre a Europa, o Japão e os Estados Unidos para estudar as indústrias de pesca dessas regiões. A industrialização da pesca representava uma estratégia importante para a Marinha, à medida que os pescadores seriam envolvidos no processo, tendo em vista as dificuldades dessa instituição em preencher seus quadros de praças. Por outro lado, a imensidão da costa e a considerada piscosidade de suas águas era outro argumento forte para o desenvolvimento das atividades pesqueiras no país. [...] Com a eclosão da I Guerra Mundial (1914-1918), o projeto de Villar é adiado, reaparecendo em 1919, através da Missão do Cruzador “José Bonifácio”, agora, numa perspectiva mais ampla em relação àquela visão meramente industrializante da pesca. A Guerra revelara o quanto a costa brasileira estava militarmente desprotegida” (CALLOU, 2007, p. 84-85).6 “Os meios que Frederico Villar se utilizava para conquistar a confiança dos pescadores eram: serviços gratuitos em embarcações; doação de redes e
barcos; prestação de serviços de saúde; defesa dos pescadores contra latifundiários, donos de embarcações e estaleiros e o cultivo ao civismo, com cerimônias nacionalistas, com forte peso ideológico” (CPP, s/d, p. 19).
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Nota-se que, para incluir os homens do mar no projeto civilizatório tão
auspiciosamente defendido para enobrecê-los, tornava-se necessário exercer um controle
sobre eles, e os pescadores se viam obrigados a associar às colônias, sob pena de
ficarem proibidos de pescar. Tal atitude era “justa” e eficaz para instruir e sanear essa
gente inculta, ao educá-los sob a luz dos desígnios supremos da pátria. Diante de tudo
isso, a estreita ligação com o poder público resultou na falta de identidade das colônias
como associações pertencentes aos pescadores. Eram compreendidas por muitos de
seus filiados como prolongamentos das ações do Estado e como entidades repressoras
e/ou paternalistas. Sobre isso, Ubirajara Timm escreveu:
Na verdade, a colônia não é fruto de uma coalizão entre pescadores. Ao contrário, é entidade imposta pelo poder público como associação compulsória e nisso se equipara, no aparato institucional dominante do pescador, com os demais órgãos representativos da área governamental (TIMM, 1977, p. 191).
Tal fato pode ser explicitado pela presença de pessoas da Marinha ou a ela ligadas
enquanto dirigentes das colônias (RAMALHO, 1999), fato que também se estendeu a
outros grupos sociais pertencentes às elites locais7.
A Colônia de Pesca, mais do que uma necessidade de uma categoria foi, de fato,
um instrumento do poder público, que condenou durante décadas o processo de
participação popular. O mesmo se dando com as federações estaduais e confederação
nacional dos pescadores. Além disso, nesse período, como responsável por cada área
em que se situava as colônias, emergiu a figura do capataz vinculado à Capitania dos
Portos, que tinha o papel de cobrar taxas aos pescadores relativas às suas embarcações
(canoas, jangadas e bateiras) e exigir deles a obrigatoriedade de associarem-se.
Em 1930, após 11 anos de surgimento das colônias, ocorreu a implantação do
Estado Novo no Brasil. A ascensão de novas classes e categorias sociais, o
questionamento ao poder restrito às elites agrárias paulistanas e mineiras (a república
café com leite) e um projeto nacional mais burguês foram às marcas desse momento
histórico. O que caracterizou primordialmente o período do governo de Getúlio Vargas foi
a forte intervenção do Estado na economia e na vida política brasileira, pois aquele era
elevado à categoria de única força com capacidade de conduzir a nação brasileira aos
seus melhores rumos, no entender de Luiz Werneck Viana (1978).
Nesse contexto, o mundo do trabalho não passou incólume, aliás, foi alvo
preferido. Os sindicatos de trabalhadores sofreram grande repressão por parte do
Ministério do Trabalho, que os registrava e sobre eles mantinha uma ação tuteladora,
7 Na época de sua criação estabeleceu-se que, para o exercício legal da profissão de pescador, era preciso estar associado a uma Colônia. Com o
tempo, os cargos de direção passaram a ser exercidos não por pescadores, mas por representantes das elites locais, atravessadores ou comerciantes, pessoas que não representavam o interesse dos próprios pescadores, mas, muitas vezes, eram os únicos a “controlar a leitura e a escrita” (TASSARA, 2005, p. 19).
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tendo como intuito básico impedir, principalmente, que pessoas ligadas ao Partido
Comunista Brasileiro (PCB) e correntes anarquistas continuassem a assumir a direção
dessas organizações. Com isso, buscou-se pôr um freio no crescimento da luta de classe
(proletariado e burguesia), para possibilitar o avanço da industrialização do País
alicerçado no sindicalismo de Estado e submissão do trabalho ao capital8.
No caso da pesca, isso apenas intensificou uma conjuntura que já existia,
especialmente quando a Marinha dividiu o mando sobre os pescadores com o Ministério
da Agricultura, cabendo a este as ações de fomento ao setor. Dessa maneira, em 1933, a
pesca passa às mãos do Ministério da Agricultura, através da Divisão de Caça e Pesca
(DCP). A Confederação Geral dos Pescadores Brasileiros (CGPB), criada no ano de
19209, estaria subordinada diretamente à DCP, e as Colônias, consequentemente,
também. Porém, continuaria a cargo da Marinha Brasileira o cadastramento dos
pescadores e dos seus barcos. Imbuído dessa conjuntura, criou-se o Código de Caça e
Pesca (CCP), primeira lei mais acabada sobre o setor pesqueiro, que previa, em um de
seus pontos, a entrega de balancetes e de relatórios mensais por parte das diretorias das
Colônias à DCP, permitindo-lhe intervir na entidade quando julgasse necessário.
No ano de 1938, foi elaborado, também pela DCP, a segunda lei referente à
pesca no Brasil, denominada de Código da Pesca, de características explicitamente
assistencialistas. Nela se previa a instalação, nas Colônias de Pescadores, de serviços
médicos e odontológicos. Ademais, a lei criou o Conselho Nacional de Pesca. Em 1941,
a DCP elabora um estatuto para as Colônias, mantendo sua subordinação à Federação
Estadual dos Pescadores, à Confederação Geral dos Pescadores Brasileiros e à DCP,
mas define essas entidades como sendo do tipo Sociedade Civil, cabendo à
Confederação, agora, intervir ou não em suas diretorias. Essa constante elaboração de
leis e códigos só clarificara o teor manipulador e de controle sócio-político imposto pelo
poder público às pessoas que se dedicavam ao trabalho da pesca artesanal.
Diferente do movimento sindical, que surge como elemento autônomo ligado a
várias correntes políticas, o Estado Corporativista criou as Colônias de Pescadores como
instrumento de controle social para implementar de forma consensual as suas políticas.
O incentivo, embora de modo bastante desarticulado, do poder público para o surgimento
de uma camada empresarial sem questionamentos por parte dos pescadores foi uma das
idéias concebidas no então período getulista. Em 1942, as Colônias retornam às mãos da
8 De fato: “Como se sabe, uma das expressões máximas e duradouras desse “tão alevantado propósito” de combater a revolução social seria o
sindicalismo de Estado. Ao invés de deixar o proletariado no abandono e, portanto, sujeito a influências deletérias, era preciso integrar os sindicatos no aparelho do Estado” (ALMEIDA, 1995, p. 116).9 A idéia sobre a criação da Confederação foi concebida também por Frederico Villar, que, além disso, escreveu seu estatuto (CPP, op. cit,).
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Marinha, que, durante esse período, criou cooperativas e elaborou novos estatutos para
as Federações e Colônias, que regerem a vida política da categoria até 1988, com a
criação da constituição da república. Com essa passagem, as Colônias quase
desaparecem, fato que duraria até o surgimento da SUDEPE (Superintendência de
Desenvolvimento da Pesca), no ano de 1962, tendo a pesca retornado às mãos do
Ministério da Agricultura.
Assim, do decênio de 1930 em diante, esse controle caracterizou-se por um
“eterno” vai e vem, da Marinha para o Ministério da Agricultura, ficando em definitivo, ao
menos formalmente, nas mãos da Agricultura com a criação da SUDEPE
(Superintendência de Desenvolvimento da Pesca) em 1962. Mesmo com o aparecimento
da SUDEPE, esse mando nunca deixou de excluir a Marinha, sendo partilhado com esta,
inclusive por conta, também, da instauração da ditadura militar em 196410.
Como abordamos, de 1919 a 1962, temas ambientais, trabalhistas, políticos e
econômicos foram entendidos como aspectos que precisavam ser moldados, educados
e/ou concebidos pelos projetos de nação oriundos de setores dominantes e suas elites
políticas e intelectuais, através do Estado, e a pesca refletiu essas questões. De 1962 a
1989, o apoio e a formação de uma classe social empresarial na pesca foi o grande
projeto buscado pelo Estado, já que a industrialização do setor não havia sido
consolidada até então; e a SUDEPE não mediu esforços para essa realização, quando
objetivou acelerar tal etapa ao colocá-la no central de seu planejamento11.
2. SUDEPE e a pilhagem da natureza (1962-1989)
Com o nascimento da SEDEPE - que culminou com o reconhecimento da pesca
como indústria de base, fortemente inspirada nas idéias e práticas desenvolvimentistas12 -
objetivava-se intensificar e dar um novo impulso à industrialização do setor pesqueiro, que
ainda tinha seu esteio, em termos de produção, na pesca artesanal.
Para tanto, foram criados, nesse sentido, Planos Nacionais de Desenvolvimento
Pesqueiro, onde se estipulou linhas oficiais de créditos em 1966, via Banco Nacional de
10 Segundo Timm (1977, p. 192): “A presença da Marinha não se limitava a esses fatos históricos ou símbolos estereotipados nas colônias. O seu
pátrio poder se exerce de forma dominante nos quadros de dirigentes da confederação, das federações, da colônia e de suas capatazias, tradicionalmente comandados por elementos da reserva naval. Mas o curioso é que por força da lei, ao ministro da Agricultura compete aprovar a organização dessas entidades, empossar seus dirigentes máximos, cabendo à Sudepe supri-las com recursos financeiros e fiscalizar suas atividades”.11 No tocante a isso, a SUDEPE não destoou de outras superintendências criadas nesse mesmo momento histórico, como foram os casos da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), em 1959, e da Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), em 1966, por exemplo. Todas eram órgãos de planejamento estatal que tinham como meta principal a industrialização. Em alguns casos, a SUDEPE, por conta de sua abrangência nacional, combinou suas ações com a SUDENE e a SUDAM.12 O Estado Desenvolvimentista e as elites brasileiras compreendiam o desenvolvimento como a superação acelerada de etapas e um rompimento com um estágio “atrasado” em que imperava a economia em bases agrícolas e/ou naturais, almejando, para tanto, difundir e transplantar as organizações econômicas industriais modernas em que estavam assentadas as potências capitalistas altamente industrializadas, principalmente a norte-americana (HERCULANO, 1992). Essa lógica, na compreensão de Celso Furtado (1974), só fez intensificar o grau de dependência da economia brasileira frente às referidas potências.
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Desenvolvimento Econômico (BNDE), e fixados incentivos ficais, um ano depois (1967),
sendo empregados na "construção e importação maciça de barcos, equipamentos e infra-
estrutura de terra, dimensionando-as para uma pesca costeira que geralmente não podia
ir além da plataforma continental" (DIEGUES, 1983, p. 132). Os referidos acontecimentos,
portanto, levaram, na década de 1970, a produção da pesca artesanal a perder seu
espaço para a pesca industrial, num vertiginoso aumento da participação do setor
empresarial na produção pesqueira no País, fato que durou até 1989 com a extinção da
SUDEPE (ver tabela I).
Tabela I - PRODUÇÃO PESQUEIRA POR SETOR NO BRASIL, 1960-2005.Anos Pesca Industrial % Pesca Artesanal %
1960 36. 000 16,4 246.000 83,61970 198.000 46,6 280.000 53,41980 392.325 61,5 243.640 38,41988 372.801 60 249.284 402005 232.430 69 518.864 31
Fonte: IBGE – SUDEPE – IBAMA
Esse grande investimento público no setorial industrial provocou uma série de
prejuízos sócio-ambientais, tais como: superexploração e dilapidação de inúmeras
espécies de pescados; conflitos pelo uso dos territórios de pesca com pescadores
tradicionais; aumento da pobreza dos pescadores e suas famílias, incluindo aí a crescente
subordinação dos mesmos às empresas de pescados; e malversação dos recursos
públicos por parte dos empresários da pesca (DIEGUES, 1983; NETO, 2003; MELLO,
1985). Ademais, Violeta Loureiro (1985) vai destacar que tudo isso levou a uma profunda
depredação dos recursos pesqueiros no Norte do País, fato que a autora classificou como
de pilhagem da natureza. Pilhagem que foi sentida em outras regiões do País, com o
aparecimento, inclusive, de vários conflitos entre pescadores e barcos empresariais
pesqueiros patrocinados pelo Poder Público (DIEGUES, 1995).
Sem dúvida, foi o Estado, por meio da SUDEPE, quem ofereceu todo o suporte
financeiro e incentivou a criação de uma camada empresarial na atividade pesqueira,
gerando um grupo extremamente beneficiado pelo dinheiro público e profundamente
parasitário do poder Estatal. Paralelamente aos fortes incentivos à industrialização, houve
um fortalecimento das políticas autoritárias relacionadas à organização política da
categoria - resultante do golpe militar de 1964 -, demonstrada no novo Código de Pesca
(1968), que entregava ao Poder Executivo a capacidade de determinar sobre o
gerenciamento e o funcionamento das Colônias de Pescadores, mantendo, assim, o total
controle sobre a categoria. Além disso, o Código só modificava o nome da Confederação
Geral dos Pescadores para Confederação Nacional dos Pescadores, que seria também
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um braço político estratégico da SUDEPE e teria seu presidente indicado pelo gabinete do
Ministério da Agricultura.
A manifestação de interesse dos pescadores na Sudepe era mantida sob controle e vista, quando ocorria, como uma insubordinação à tutela estatal, enquanto que a receptividade à manifestação dos empresários era bem recebida e vista quase como o único interesse privado existente. A autarquia, assim, controlava os interesses dos pescadores e se aliava aos dos empresários (NETO, Idem, p. 124).
Em 1973, aquele Ministério, através da Portaria 471, estabeleceu que as Colônias
são associações civis, definindo o tipo de organização e mantendo a hierarquização e a
falta de autonomia dessas entidades frente às Federações Estaduais e à Confederação
Nacional dos Pescadores, que estavam subordinadas, respectivamente, à SUDEPE e,
com isso, ao Ministério da Agricultura. Em resumo, ao poder público. Ademais, a figura do
capataz continuava intacta (Ver Quadro), porque, no geral, a inserção da Marinha sobre a
vida dos pescadores manteve-se, sendo dividida, agora, com a SUDEPE. Prova disso
apresentou-se na indicação do primeiro Superintendente deste órgão, que foi o almirante
Paulo Moreira13.
QUADRO RELATIVO À HIERARQUIZAÇÃO E À SUBORDINAÇÃO DA COLÔNIA, FEDERAÇÃO E CONFEDERAÇÃO DE PESCADORES AOS PODERES PÚBLICOS
Fonte: RAMALHO, 1999.
Nesse momento histórico,
As únicas coisas que se acentuaram foram o domínio e o autoritarismo, respaldados numa extrema hierarquização sobre a vida da categoria, o que pode ser constatado no relato do ex-
13 Isso revela que o controle político das colônias, federações e da confederação nacional dos pescadores era feito numa parceria SUDEPE e Marinha.
É claro que muitas coisas aconteceram de 1930-1960. Contudo, a subordinação dos pescadores e de suas instâncias de representação política não sofre mudanças. Sobre esse período histórico, ler: RAMALHO (1999).
Ministério da Marinha
Ministério da Agricultura
SUDEPE
Capitania dos Portos
Confederação Nacional dos Pescadores
Federação Estadual dos Pescadores
CapataziaColônia de Pescadores
12
presidente da Colônia Z -1014, senhor Luís Amorim, ao afirmar que: “quem mandava na gente era a SUDEPE e a Capitania dos Portos” (RAMALHO, 1999, p. 43).
Com isso, o Estado continuou - agora de maneira mais intensa - a alimentar
níveis de relações diferenciadas na utilização do meio ambiente pelas camadas
socioeconômicas mais abastadas, o que potencializou a construção de um
desenvolvimento com base em padrões sociais insustentáveis, onde o:
[...] circulo vicioso de degradação social e ambiental no país tem como centro de referência um estilo de desenvolvimento amparado pelo Estado brasileiro, que historicamente subordinou os interesses do bem-estar social para os interesses de expansão do capital, na exploração dos recursos naturais (STROH, 1995, p. 277).
Por isso, é primordial afirmarmos que é através da estrutura existente entre as
classes sociais que se dá o acesso diferenciado às potencialidades oferecidas pela
natureza, haja vista o modo específico de interação do trabalho mantido pelo pescador
com o ambiente e, em contraposição, com as indústrias pesqueiras com o mesmo recurso
natural nas localidades. Desse modo, clarifica-se, portanto, que os setores dominantes
“trataram de consolidar a situação adquirida submetendo a sociedade às suas condições
de apropriação" (MARX & ENGELS, 1989, p. 41), inclusive de crise sócio-ambiental15.
Também em 1973, um novo acontecimento marcou a vida da atividade da pesca
artesanal no Brasil. A SUDEPE cria, pela primeira vez, no País, um programa de apoio ao
setor: o PESCART (Plano de Assistência à Pesca Artesanal). A difusão tecnológica passa
a ser a grande meta do Plano deste Órgão, que a enxergava como sinônimo de
desenvolvimento e rompimento com o “mundo atrasado” da produção artesanal. Ademais,
buscava-se romper com a relação partenalista que predominava entre o Estado e a
categoria. Para dar aplicabilidade ao PESCART, surge a Extensão Pesqueira, que
começa a trabalhar junto às Colônias de Pescadores. Investe-se na melhoria da infra-
estrutura das Colônias e emprega-se dinheiro junto à Confederação Nacional dos
Pescadores para que esta desenvolva políticas de apoio ao setor.
No período 1978-80 a Confederação Nacional dos Pescadores recebeu Cr$ 6,2 milhões de cruzeiros como ajuda ao setor dos pescadores colonizados e manutenção da entidade. As Colônias de Pescadores receberam Cr$ 1,6 milhões como subvenções para a melhoria de sua infraestrutura (ARAÚJO; COSTA, 1981, p. 63).
14 “Fundada em 10 de novembro de 1927, a Colônia de Pesca Z-10, do município de Itapissuma, foi a primeira entidade de pescadores surgida na região do Canal de Santa Cruz e a segunda de todo o estado de Pernambuco” (RAMALHO, Idem, p. 39). Itapissuma situa-se na região costeira norte e pertence à Região Metropolitana do Grande Recife. 15
A partir daí, pode-se afirmar que: “Na produção os homens não atuam só sobre a natureza, mas também uns sobre os outros. Produzem apenas atuando conjuntamente de um modo determinado e trocando as suas atividades umas pelas outras. Para produzir, entram em determinadas ligações e relações uns com outros, e só no seio destas ligações e relações sociais é que se efetua a sua ação sobre a natureza, só no seio destas ligações e relações sociais é que se efetua a produção” (MARX, 1987, p. 34).
13
Porém, essa “ajuda” só aumentou a relação paternalista das entidades de
pescadores e pescadeiras com o poder público, já que não só as Colônias encontravam-
se amordaçadas politicamente, mas a própria Confederação Nacional dos Pescadores
estava estruturada de maneira frágil, ao não serem as vozes dos pescadores (RAMALHO,
1999). No que se refere à assistência tecnológica, podemos dizer que serviu para
fortalecer, em várias localidades, grupos com maior poder econômico - comerciantes,
detentores dos meios de trabalho da pesca – e mais influência política frente às diretorias
das entidades (isso quando não estavam dirigindo).
No entender de autores como VIEIRA (1995), a preocupação dos governos
militares em modernizar a atividade pesqueira, devido ao grande potencial de nossa faixa
costeira, de característica continental, contando com a SUDEPE como mecanismo de
intervenção, só serviu para condenar os pescadores e pescadeiras ao agravamento de
suas condições de vida e da situação de desigualdade, pois investimentos promovidos
pelo poder público em larga escala destinavam-se à industrialização do setor16.
Como se viu na tabela I, o setor empresarial só foi expressivo enquanto foi
expressivo e benevolente o apoio estatal. Após o fim da SUDEPE, a produção industrial
no Brasil caiu de 60% para cerca de 30%, aproximadamente. Ao longo desse processo,
acentuou-se o processo de pilhagem dos pescados pelo grande incremento das forças
produtivas vinculadas, fundamentalmente, à pesca industrial, em algumas regiões. É claro
que, também, o aumento da pobreza dos pescadores artesanais e sua crescente
subordinação aos comerciantes contribuíram, de maneira expressiva, para a expansão da
pesca predatória no setor artesanal. Nesse cenário, a existência da SUDEPE ocupou
papel decisivo e incisivo a construção de indicadores insustentáveis.
3. Algumas Considerações Finais: A Chegada do Mediador: o Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP) e os Conflitos Ambientais em Pernambuco
A segunda metade dos anos 60 e toda a década de 70 trazem uma nova
dinâmica no processo de luta e de organização política dos pescadores e pescadeiras.
Uma ala progressista da Igreja Católica, influenciada pela Teologia da Libertação, por
intermédio do Frei Alfredo Schnuettgen, cria, em Pernambuco o Conselho Pastoral dos
Pescadores (CPP) nos idos de 1969 e começa a desenvolver ações políticas destinadas a
modificar a situação de total marginalização em que viviam os trabalhadores e
trabalhadoras da pesca.
16 “Inserindo-se na dinâmica de modernização conservadora, a SUDEPE acaba, em última instância, servindo ao processo de agravamento dos
índices de marginalização sócio-econômica e político-cultural de expressivos segmentos da população sediada ao longo da costa”(VIEIRA, 1995, p. 307).
14
É nessa esfera que o CPP começa a organizar politicamente a categoria,
tentando fazer com que os pescadores conquistassem sua entidade representativa (a
Colônia), que se encontrava entregue – como gostavam de dizer – a pelegos e outras
pessoas que não os representavam e que muitas vezes nem eram pescadores.
Um fato novo nesse período foi o surgimento da Pastoral dos Pescadores, órgão ligado à Confederação Nacional dos Bispos no Brasil. Com a intervenção da Pastoral dos Pescadores, o escopo das lutas foi ampliado, abrangendo temas como a representação democrática, a comercialização, a aposentadoria e previdência social, etc. (DIEGUES, 1995, p. 122).
O trabalho da Pastoral dos Pescadores, de fato, impulsionou e redefiniu a vida
política dos pescadores e pescadeiras, pois estes passaram a pressionar e a exigir
modificações na forma de atuação das Colônias e um maior comprometimento de seus
dirigentes. Nos fins do ano de 1970 e primeira metade dos anos de 1980, várias colônias
de pescadores de alguns estados do Nordeste, como Pernambuco, Alagoas e Maranhão,
começaram a ser dirigidas pelos próprios pescadores, que tinham o apoio do CPP.
O trabalho de mediação realizado pelo CPP fez com que a categoria se insurgisse
contra as relações de poder impostas pelo Estado ao dar um potencial organizativo às
formas de resistência e de luta dos pescadores(as), em diversas regiões nordestinas,
tendo como foco as colônias ao estimular o surgimento de lideranças comprometidas com
a classe. A presença desses mediadores é primordial para qualificar, organizar e definir o
processo de construção sócio-política das camadas populares na nossa sociedade
(ARAÚJO, 1990), atuando, de certa maneira, na qualidade de Intelectuais Orgânicos das
camadas populares (GRAMSCI, 1995).
Pode-se dizer que o CPP é um acontecimento único na história das lutas sociais
dos pescadores e pescadoras artesanais no Brasil, pois, antes desse mediador sócio-
político, nenhum outro grupo (instituição, entidade e/ou partido) tinha se voltado com a
mesma força para mobilizar e/ou apoiar as reivindicações dos pescadores artesanais. É
claro que a presença e a cultura política difundida pelo Poder Público, através da Marinha
Brasileira e décadas depois com a SUDEPE, disseminou junto aos homens e mulheres
das águas um sentimento de fragilidade organizativa, de distanciamento, em muitas
situações, da dimensão de um fazer político classista, porém isso também se deveu a
própria inexistência de mediadores e/ou das alianças que poderia ter sido construídas
com ele, como aconteceu com o campesinato (ligas camponesas, PCB, Igreja Católica,
por exemplo), a título de comparação.
15
Na construção política do CPP e em sua parceria com as comunidades pesqueiras,
podemos destacar algumas significativas ações no estado de Pernambuco, a partir de
cinco aspectos:
1. A luta pela conquista das colônias de pesca, com a formação de novas lideranças, no intuito de torná-las, de fato, entidades representativas da categoria, como já salientamos;
2. Surgem reivindicações junto ao Estado pelos direitos trabalhistas e previdenciários dos pescadores, bem como a retirada de documentos básicos, como registro de nascimento, identidade, etc.;
3. A organização das mulheres pescadoras (pescadeiras ou marisqueiras) deu-se fortemente no litoral norte pernambucano, especialmente no município de Itapissuma. A chegada da freira Nilza Montenegro, do CPP, para morar em Itapissuma, em 1975, teve um papel importante, pois, ela percebeu que o trabalho das mulheres na pesca não era reconhecido oficialmente, apesar de existirem muitas trabalhando na mariscagem dos pescados na região. O conhecimento da realidade permitiu à Pastoral dos Pescadores entender que o trabalho a ser desenvolvido junto aos homens que de dedicavam ao trabalho da pesca artesanal, em Itapissuma, seria bastante difícil, tanto pelo grau de desconfiança quanto, principalmente, por ser uma mulher, uma freira, que o estava desenvolvendo. No entanto, ao perceberem isso, voltaram suas atenções, através da irmã Nilza Montenegro, para as mulheres pescadeiras, que não a olhavam com o mesmo receio. Esse foi o caminho, o terreno fértil para a mobilização do CPP, o das mulheres objetivando a conquista de seus direitos fundamentais, essencialmente do trabalho. Tal luta teve conseqüências positivas: em outubro de 1978, depois de 15 dias de ocupação do prédio da SUDEPE, realizada pelas mulheres pescadoras de Itapissuma, são emitidas pelo órgão, através do Decreto-Lei 81.653, as doze primeiras carteiras de pescadoras no Brasil. Cerca de 11 anos depois, um novo fato revela a força da Pastoral e da mobilização das pescadoras de Itapissuma, a saber, em 1989, é eleita, pela primeira vez no Brasil, uma mulher para a presidência de uma colônia de pesca, a pescadora Joana Mousinho. Ademais, Joana Mousinho vai tornar-se também a primeira mulher eleita, no Brasil, para uma Federação de Pescadores, a de Pernambuco, em 1994 17.
4. A questão ambiental, especialmente a que se originou da poluição dos rios e dos estuários tiveram grande repercussão na vida dos pescadores e das pescadoras. A poluição prejudicou frontalmente a atividade pesqueira, ocasionando a mortandade de peixes, além de infectá-los com resíduos químicos. Assim, as demandas reivindicatórias, ao focalizarem o impacto sofrido na esfera socioeconômica e/ou sócio-ambiental, levaram os trabalhadores e trabalhadoras da pesca artesanal a terem um grau maior de participação, comparando-se às outras reivindicações anteriormente expostas (direitos trabalhistas). Segundo Callou (1986, p 186), “este teve um maior poder de mobilização do que os demais apoiados pela Igreja, uma vez que a poluição interveio na atividade econômica dos pescadores de forma objetiva, visível e desastrosa".
No caso da questão ambiental, vale um olhar mais acurado, devido às
repercussões que a mesma assumiu. Nesse sentido, as formas de luta adotadas pelos
pescadores e pescadeiras, no final dos anos de 1970 e em toda década de 1980,
expressaram a reação frente às ameaças de expropriação, ocasionadas pelos problemas
relativos à questão ambiental, sendo aquele o período em que ocorreram as mais
significativas mobilizações da categoria. Começava-se, então, a compreender o conflito e
a relação antagônica entre as classes sociais, que geravam desigualdade e dominação, e
17 “O movimento ganhou mais força a partir da articulação promovida pela Pastoral com a Deputada Federal Cristina Tavares (MDB), que passou a
pressionar a SUDEPE também em Brasília” (RAMALHO, 1999, p. 48). Em relação a esse valioso momento histórico, é oportuno ler: RAMALHO, 1999.
16
a deixar de entender o Estado como o único adversário, ao romper com a não valorização
do principal agente opositor (usineiros e industriais).
Sem dúvida, os impactos sofridos pelo meio ambiente e que atingiram as pessoas que dependiam da pesca artesanal para sua sobrevivência, foram o elemento que lhes possibilitou - através do trabalho de conscientização realizado pela Pastoral - reconhecer um problema comum à categoria, que só poderia ser enfrentado de modo coletivo, por ações coletivas, organizando-se para isso. Tal fato levou esses trabalhadores e trabalhadoras a identificarem seus aliados e inimigos na construção de sua luta política como certifica (RAMALHO, 1999, p. 50).
Mesmo tendo conseguido mobilizar a categoria e tornar várias colônias expressão
dos desejos políticos dos pescadores e pescadoras, ainda era necessário quebrar
oficialmente com a tutela legal da colônia diante da SUDEPE e Marinha, que continuava
apesar da queda do regime militar em 1985. A autonomia frente ao Estado cristalizou-se,
ainda mais, em 1988 com a elaboração da Constituinte da Pesca, em relação à qual foi
realizada a mais ampla discussão acerca do setor pesqueiro, que contou, inclusive, com a
participação de vários representantes das colônias, possibilitando o surgimento do
Movimento da Constituinte da Pesca, principalmente nas regiões Norte/Nordeste,
fomentado pelo Conselho Pastoral dos Pescadores. Dessas ações nasceu o Movimento
Nacional dos Pescadores (MONAPE), em abril do mesmo ano, na cidade de Recife, PE.
Um dos objetivos dessa mobilização era a de fazer com que a Constituição Federal
abraçasse as reivindicações dos pescadores e pescadoras; desejo também comum a
outras classes e segmentos sociais populares no Brasil. Então, com Constituição de 1988,
pôs-se fim à tutela do Estado sobre as entidades representativas das camadas populares,
entre elas as colônias de pescadores.
Após a extinção da SUDEPE em 1989, foi o IBAMA o órgão que passou a absorver
parte das suas atribuições sem ter qualquer contribuição na questão do fomento da
atividade pesqueira, que era o centro da ação política da antiga SUDEPE. Criou-se,
assim, um vácuo nas políticas produtivas para o setor, visto que o IBAMA é uma
instituição conservacionista.
Do ponto de vista das mobilizações sociais vividas nas décadas de 1970 e,
principalmente, na de 1980, houve um arrefecimento geral nas lutas populares no decênio
de 1990 (GONH, 1997; SCHERER-WARREN, 1996), fato que não se distinguiu da
realidade dos pescadores e pescadoras artesanais. O avanço das políticas e da
hegemonia neoliberal colocou novos padrões sócio-econômicos e políticos, impactando a
sociedade e (re)configurando o Estado, com seu enxugamento, além de aumentar a
pobreza da população, que se somou a derrocada do socialismo real. O conjunto dessas
17
questões acabou sendo decisivas na quebra de muitas mobilizações sociais (ANTUNES,
2000; 2005), com exceção feita ao MST18.
No caso da pesca, esse refluxo sócio-político agravou-se com a crise que viveu a
própria Pastoral dos Pescadores nos anos de 1990, de definição de rumos, no ato de
repensar suas ações. Tal questão repercutiu de modo negativo, com o arrefecimento das
lutas sociais e da capacidade de mobilização da própria categoria.
Nesse mesmo momento histórico no Nordeste, um novo e poderoso sujeito social
entra em cena: os fazendeiros de camarão. Sustentando-se em largo apoio financeiro do
Banco do Nordeste Brasileiro (BNB), contando com a liberação - por parte das
companhias de fiscalização estadual do meio ambiente - para privatizarem áreas antes de
uso comum (os manguezais) sem qualquer estudo de impacto ambiental, tendo forte
apoio científico por meio das universidades, através de inúmeras consultorias prestadas
por seu quadro docente, e vivendo sob a sombra do apogeu neoliberal, a carcinicultura
expandiu-se fortemente nas regiões costeiras nordestinas, ocupando e impactando
negativamente – com o desmatamento inclusive - os mangues e estuários dessas
localidades. Em 2010, segundo a Associação Brasileira dos Criadores de Camarão
(ABCC), o cultivo de camarão ocupava uma área de 18.500 em regiões estuarinas e de
manguezais, tendo um crescimento gigantesco de 1997 (3.458 ha) a 2006 (17.000 ha)
(Tabelas II), quadruplicando seus hectares. Na base dessas ações de expansão, somou-
se o papel do MPA de converter pescadores artesanais em aquicultores.
Tabela II - EVOLUÇÃO DA CARCINICULTURA BRASILEIRA (1997-2010)19
Itens/Anos 1997 2000 2003 2006 2010Área de viveiros em hectares (ha) 3.458 6.250 14.824 17.000 18.500
Produção em tonelagem 3.600 25.000 90.190 65.000 80.000Produtividade em kg/ha/ano 1.015 4.000 6.084 4.276 4.342
Fonte: ABCC, Censo de 2010.
Assim, o que antes era historicamente território comum da pesca transformou-se
num espaço privado para a realização do capital investido na privatização dos
manguezais e no desenvolvimento do cultivo de camarão.
O surgimento da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (SEAP), em 2003, no
Governo Lula, com status de ministério reforçou ainda mais essa dinâmica, ao concentrá-
la num órgão estratégico por onde passou, construiu-se e/ou se legitimou demandas
18 Ler: PETRAS, James. As esquerdas e as novas lutas sociais na América Latina. In: Revista Lutas Sociais, nº 2, 1º semestre de 1997, São Paulo, PUC-SP.19
Observando o Quadro I, percebe-se que existiram quedas, de 2003 a 2010, na produção em tonelagem e produtividade em quilo/hectare/ano, decorrentes de doenças que afetaram os criatórios, principalmente. Todavia, mesmo com as referidas quedas, a marcha de expansão por hectare continuou intacta, saltando de 14.824 (2003) para 18.500 (em 2010). Vale dizer que, segundo a Associação Brasileira dos Criadores de Camarão (ABCC), esses números são oriundos do quadro de sócios da entidade. Nesse sentido, devido inclusive à expansão desordenada, é possível existir mais de 30.000 hectares de manguezal e regiões estuarinas ocupadas com a carcinicultura no Nordeste brasileiro, como frisou Diegues há 7 anos (DIEGUES, 2004).
18
empresarias. Em 2009, a SEAP torna-se Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA). De
modo geral, para os pescadores e pescadoras artesanais, o poder público sempre
edificou políticas mínimas, residuais, gestos periféricos numa clara interface, que buscou
não oferecer quaisquer possibilidades de empecilho, a outras políticas públicas
desenvolvidas nas regiões costeiras e ribeirinhas voltadas ao grande capital.
Além da reorganização, apesar das dificuldades, do CPP, a capacidade de
mobilização de algumas comunidades locais, que se somou ao agravamento dos
impactos produzidos pela expansão indiscriminada da carcinicultura, levaram a
emergência de uma nova luta por parte dos pescadores(as), a defesa do seus territórios
tradicionais, que passo a descrever abaixo enquanto quinto e último aspecto:
5) Diante do cenário acima aludido, que trouxe consigo um ameaça direta ao principal meio de produção da pesca (águas e pescados), os movimentos sociais de pescadores e pescadoras, o CPP, setores dentro das universidades e alguns técnicos governamentais, ao tomarem como exemplo o surgimento das Reservas Extrativistas dos seringueiros no Norte do País, viram que essa era a alternativa mais viável para defender o modo de vida daqueles que vivem da pesca artesanal, bem como para preservarem a biodiversidade local. Assim, no intuito de lutar contra a expropriação de suas antigas áreas de trabalho e, em muitos casos, de morada, respondendo a continua ameaça gerada por antigos empreendimentos (poluição das águas por usinas e industriais e a instalação de resort’s hotéis) e de novos (carcinicultura), as reivindicações nesses últimos anos têm se pautado na defesa dos territórios tradicionais da pesca, fato que se tornou principal pauta de reivindicação dos pescadores(as) e que o CPP tem levado às comunidades que assessora. Dessa maneira, a criação de Reservas Extrativistas Marinhas (Resex) e/ou Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RSD) Marinhas foram buscadas. No estado de Pernambuco, em 2007, essa luta pela defesa dos territórios colhe seu primeiro fruto, com a constituição da Resex Marinha Acaú-Goiana, entre os estados da Paraíba e de Pernambuco. Isso ofertou novo fôlego às comunidades locais, pois sua agenda de ação política concentrou-se na questão da defesa dos territórios da pesca nessa última década. Desse modo, começou-se a lutar pela constituição da Resex’s de Sirinhaém e do Rio Formoso no litoral sul (nos município de mesmo nome) e a RDS do Canal de Santa Cruz, que atinge os municípios de Itapissuma, Itamaracá, Igarassu e, também, Goiana na costa norte do estado. Entretanto, o êxito de criação da Resex Acaú/Goiana despertou reações advindas, principalmente, do Governo do Estado de Pernambuco, pois há fortes interesses em difundir o turismo na região e investir em “novas” cadeias produtivas (agroindústria, fábricas, etc.), e a pesca artesanal e as Unidades de Uso Sustentável [como as Resex e RDS] tornam-se um sério empecilho. Assim, o conflito de interesses e de classes está estabelecido.
Nesse contexto de supremacia do mercado frente à vida, em que o MPA é um dos
sujeitos principais, os pescadores e pescadoras artesanais são vistos como entraves à
realização do futuro e, no máximo, meros reprodutores de sua própria subsistência, ou
seja, de acordo com essa visão, eles são sujeitos sociais incapazes de gestarem o
desenvolvimento de localidades e regiões. A ideologia da subsistência definidora do que
vem a ser pesca artesanal é elaborada pelas elites empresariais, políticos, alguns
representantes da academia e técnicos do aparelho estatal, dentro os quais a SEAP
19
(MPA), como contraponto a uma suposta ideologia do desenvolvimento intrínseca aos
cultivos aquáticos e seus empreendimentos econômicos, fato que ganha mais molho com
a noção de esgotamento da produção pesqueira extrativista.
Para a SEAP [MPA], a aqüicultura não é uma possibilidade real de apoio do pescador artesanal, mas, significa o mecanismo de sua extinção. O governo Lula, na sua primeira gestão, propôs uma política de crédito para o setor pesqueiro incentivando uma progressiva conversão da atividade pesqueira artesanal para a aqüicultura em todo o território nacional. Partiu do argumento que tal política vinha como alternativa aos pescadores artesanais cujas espécies em que se baseiam sua atividade encontram-se, segundo critérios técnicos, sobreexplotadas. Mas cabem divergências quanto aos métodos e as interpretações acerca do que se considera sobreexplotação no contexto da questão ambiental no Brasil. De qualquer modo, a ausência de participação, ou acompanhamento, do pescador artesanal no processo de avaliação perita dos estoques bem como de consideração perita ao saber tradicional no que concerne ao status da pesca ou, numa palavra, de dialogicidade entre tais conhecimentos, é o que inviabiliza que uma alternativa menos radical do que a aqüicultura seja proposta como um elo possível entre tradição e modernidade (VALENCIO, 2008, p. 112, grifo da autora).
Nunca é demais frisar que o MPA é hoje a instância articuladora no âmbito nacional
das ações de fomento à pesca, com especial atenção para a aquicultura. Segundo
Valencio (Idem, p. 111), de modo geral:
A política de pesca que vem sendo pensada e implementada a partir da SEAP [MPA] tem seu êxito assentado na utilização de recursos tecnológicos e científicos e uma prática produtiva de alta escala para o mercado global e nacional, e sua formulação e operacionalização se dão por meio do uso do poder institucional por elites empresariais do setor.
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